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2) Nos termos do artigo 5º, inciso LXXVII, da Constituição Federal,

a ação popular é um instrumento que se destina a invalidar atos


lesivos ao patrimônio público, a moralidade administrativa, ao meio
ambiente e ao patrimônio histórico cultural. A Lei nº 4.717, de 1965,
que regulamenta a ação popular, exige, como um dos seus
pressupostos, a demonstração da ilegalidade ou imoralidade
praticada pelo Poder Público e a lesão ao patrimônio público.
Disserte sobre o binômio à luz do artigo 5º, LXXVII e artigo 37,
caput, ambos da Constituição Federal, e acórdão ARE 824781
RG/MT – Plenário – STF (máximo 20 linhas).

Cumpre ressaltar que a ação popular é ajuizada por qualquer pessoa,


englobada no sentido estrito de povo, ou seja, em pleno gozo de seus
direitos políticos, exercendo sua cidadania, de modo que que, o interessado
aciona o poder público (judiciário), com finalidade de anular qualquer ato
lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente
e ao patrimônio histórico cultural.

Dentre estes aspectos, vislumbra-se uma dificuldade quanto ao conceito


mais adequado de moralidade pública, tendo em vista que o administrador
público deve pautar suas obrigações na ética, razoabilidade, justiça,
honestidade, compreendidos pelo princípio da boa-fé e lealdade. Entretanto,
são termos abstratos que dificultam a aplicação em casos concreto,
principalmente no que se refere a ação popular, já que existem atos que
podem se coadunar com a legislação, mas que encontram barreiras como
uma conduta aceita por uma determinada sociedade.

Com isso, geram controvérsias quanto o elemento probatório do binômio


lesividade/ilegalidade, sendo que determinada corrente adota o pensamento
quanto a necessidade do interessado em comprovar o prejuízo e a
demonstração da imoralidade, e noutro aspecto, existem doutrinadores que
defendem a moralidade administrativa como pressuposto autônomo da ação
popular, ou seja, mesmo sem a comprovação da lesão ao erário público.

Quanto a isso, o STF reconheceu a repercussão geral da matéria e pacificou


o entendimento de que ação popular independe de comprovação de prejuízo
aos cofres públicos, de acordo com o entendimento firmado através do ARE
824781/2015.

Inicialmente, a ação foi ajuizada por um cidadão de Cuiabá que teve o


processo extinto sem resolução do mérito em primeira instância,
fundamentando o magistrado que não havia provas de lesividade ao
patrimônio público. O processo subiu até o SFT em grau de recurso, depois
de mantida a decisão no TJ/MT.

Ao se pronunciar pela existência repercussão geral na matéria, o relator do


processo, ministro Dias Toffoli, observou que o tema ultrapassa os
interesses subjetivos das partes, pois se trata de definir quais as condições
para o exercício da ação popular, “importantíssimo instrumento de exercício
da cidadania”.

“Embora divirjam as partes quanto ao conteúdo do próprio texto


constitucional, o qual cuidou de disciplinar os requisitos para a propositura
da mencionada ação constitucional, o tema retratado não é novo para esta
Corte. O mérito da tese posta nestes autos foi decidido, em oportunidades
diversas, pelas duas Turmas do Supremo Tribunal Federal, no mesmo
sentido, não havendo qualquer divergência sobre a interpretação da matéria
por esta Corte”, destacou o ministro Dias Toffoli ao reafirmar a
jurisprudência.

Assim, o ministro se manifestou no sentido de conhecer do agravo e prover


o recurso extraordinário para reformar o acórdão do TJ-MT, determinando o
retorno dos autos à primeira instância para que seja processado e julgado o
mérito da demanda.

Com isso, verifica-se que, por ora, em nosso ordenamento jurídico, existe
autonomia entre o que era considerado um binômio da
legalidade/lesividade, de modo que se entende pela manutenção do ação ao
cidadão quanto ao exercício da ação popular trazida pela Constituição
Federal de 1988.

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