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EXMº. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA


PÚBLICA DA COMARCA DE IPIAÚ – BAHIA.

O MUNICÍPIO DE IBIRAPITANGA, pessoa jurídica de direito


público interno, inscrito no CNPJ sob nº003.846.753/0001-
64, com sede na Praça Manoel Jorge e Silva, 38 - Centro,
Ibirapitanga - BA, 45500-000, por meio da sua Procuradoria
Geral, conforme ato de nomeação anexo (Doc. 01), com
fundamento nos Arts. 183, inciso III do art. 335 e 336 todos
do CPC cc o art. 847 da CLT, vem apresentar a sua
resposta, na forma de CONTESTAÇÃO, em face de
VERONILDES MARIA SANTOS, consubstanciada nos
argumentos fático-jurídicos doravante alinhados.

PRELIMINARES:
I – DA ASSISTÊNCIA GRATUITA REQUERIDA PELA
AUTORA – PELO INDEFERIMENTO
A Autora é servidora pública Municipal percebe vencimentos
superiores ao estabelecida na Jurisprudência para ser
assistida gratuitamente, vejamos:
A 3ª Turma do STJ, por maioria, decidiu pela possibilidade de indeferimento
imediato do pedido de gratuidade de justiça quando houver elementos
suficientes para evidenciar o descabimento da autorização no caso concreto.
Apenas nos casos em que pendem dúvidas é que a parte deverá ser intimada

1
antes da decisão judicial, para que tenha a oportunidade de comprovar sua
hipossuficiência. 
O julgado vai ao encontro da jurisprudência pretérita do STJ, que admite a
negativa de gratuidade da justiça sempre que o juiz, à luz dos elementos dos
autos, entender pela falta de pressupostos legais à concessão do benefício.
Nesta linha, o Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva afirmou que "o parágrafo 2º
do artigo 99 do Código de Processo Civil de 2015 (...) deve ser interpretado no
sentido de que a prévia intimação só se justifica quando houver dúvida ou
insuficiência dos elementos dos autos a evidenciar a situação econômico-
financeira da parte requerente do benefício".

Portanto, a própria juntada dos contracheques pela autora já verifica o


quanto a mesma percebe como remuneração, que de plano, deveria
ser indeferida o pedido feito pela autora. Pelo indeferimento do pedido
de assistência judiciária.

1. RESUMO DOS FATOS.

1.1 – Versão reclamante.

Alegou a reclamante ter sido contratado pelo reclamado para


ocupar emprego público de auxiliar de ensino em
06.06.1979. Diz que em razão da promulgação da
Constituição Federal de 1988 a reclamante foi promovida ao
emprego público de professor.

Narra que mediante a reclamação trabalhista n o 0001033-


82.2011.5.05.0581, houve reconhecimento da condição de

2
empregada pública municipal da reclamante, nos termos
sentença judicial transitada em julgado.

Diz que, embora fosse reconhecido a condição de


empregada pública a reclamante não efetuou o recolhimento
dos valores de FGTS devidos a reclamante.

Com base neste contexto requer diversos direitos


trabalhistas com fundamento na CLT.

1.2 – Versão reclamado.


A reclamante exercia função pública de professora e não
emprego público, conforme tese discorrida nos itens 3 e 5
desta peça.
2. TEMPESTIVIDADE.

É pacífico o entendimento de que o efeito processual da


revelia aplica-se normalmente à Fazenda Pública, qual seja,
de não ser intimada para os demais atos processuais, sendo
certo que poderá intervir nos autos a qualquer momento e
em qualquer fase, recebendo o processo no estado em que
se encontrar (artigo 346, parágrafo único, CPC).

Contudo, o efeito material da revelia não pode ser


aplicado à Fazenda Pública (inciso II, art. 345 CPC). É que
por ser indisponível o direito tutelado, não se pode admitir

3
que a ausência de defesa gere presunção de que os fatos
alegados pelo autor são verdadeiros, isentando-o de produzir
provas a este respeito.

Neste sentido, o STJ:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO.


AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO.
EFEITO MATERIAL DA REVELIA. CONFISSÃO.
NÃO APLICABILIDADE.
1. Não se aplica à Fazenda Pública o efeito
material da revelia, nem é admissível, quanto aos
fatos que lhe dizem respeito, a confissão, pois os
bens e direitos são considerados indisponíveis.
2. Agravo regimental a que se nega seguimento.
(AgRg no REsp 1170170/RJ, Rel. Ministro OG
FERNANDES, SEXTA TURMA, julgado em
01/10/2013, DJe 09/10/2013)
Por fim, registre-se que, a tese ora apresentada pelo
reclamado trata-se de matéria de ordem pública a ser
observada por este juízo. Isto porque as leis de ordem
pública de direito material importam, de fato, em restrições à
liberdade das partes, impõem padrões de comportamento,
prescrevem a nulidade dos atos praticados em sua violação.

A expressão ordem pública está relacionada com os valores


extraídos de um consenso social e jurídico do ordenamento,
adequado aos acontecimentos históricos. E, relacionados
diretamente com os sentimentos de justiça e moralidade

4
resguardados pelos direitos e garantias fundamentais.
Segundo Candido Rangel Dinamarco1:
São de ordem pública ( processuais ou
substanciais) referentes a relações que
transcendam a esfera de interesses dos
sujeitos privados, disciplinando relações
que os envolvam mas fazendo-o com
atenção ao interesse da sociedade, como
um todo, ou ao interesse público. Existem
normas processuais de ordem pública e
outras, também processuais que não o
são.

Posta assim a questão, deve ser recebida a presente


contestação

3. PRELIMINAR.

Preliminarmente, cumpre-nos, nos termos dos incisos II e IV


do Art. 337 do CPC, pedir o arquivamento da presente ação,
sem julgamento do mérito, pelos motivos de fato e de direito
que a seguir exporemos:

Humberto Theodoro Júnior2, com a elegância e clareza que


lhe é peculiar, define da seguinte forma os pressupostos
processuais:

1
DINAMARCO, Candido Rangel. (Instituições de direito processual
civil. 4. Ed. ver. Atual. São Paulo: Malheiros. 2004, v. I, p. 69
2
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 40 ed. Vol I. Rio
de Janeiro: Forense, 2003, pág. 55.

5
Os pressupostos são aquelas exigências legais,
sem cujo atendimento o processo, como relação
jurídica, não se estabelece ou não se desenvolve
validamente. E, em conseqüência, não atinge a
sentença que deveria apreciar o mérito da causa.

Neste diapasão, o presente processo encontra-se eivado de


duas nulidades, a primeira delas, está ligada a um
pressuposto processual subjetivo que se refere a
competência do juiz da causa para julgar o presente
processo, haja vista que o vínculo de trabalho da
reclamante com o reclamado, embora tenho iniciado
pelo regime CLT em razão da Constituição Federal de
1988 alterou-se para regime único estatutário (doc.
04/05) como se verá adiante na exposição do item 5
desta contestação, portanto, é esse Juízo,
absolutamente incompetente para resolver esta
contenda, uma vez que tal competência é da Vara da
Fazenda Pública da Comarca de Ubatã. Aliás este,
também, é o entendimento do STF, em diversos julgados, a
saber:
EMENTA: INCONSTITUCIONALIDADE. Ação
direta. Competência. Justiça do Trabalho.
Incompetência reconhecida. Causas entre o
Poder Público e seus servidores estatutários.
Ações que não se reputam oriundas de relação
de trabalho. Conceito estrito desta relação.
Feitos da competência da Justiça Comum.
Interpretação do art. 114, inc. I, da CF, introduzido
pela EC 45/2004. Precedentes. Liminar deferida
para excluir outra interpretação. O disposto no art.
114, I, da Constituição da República, não abrange
as causas instauradas entre o Poder Público e
servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-

6
estatutária. (ADI no 3395 MC/DF – Distrito Federal,
Tribunal Pleno, Min. Rel. Cezar Peluso,
Julgamento: 05.04.2006) (grifo nosso)

A Segunda nulidade que observa-se no presente processo,


passa pela inépcia da inicial, nos termos do inciso III do §1 o
do Art. 330 do CPC, haja vista a impossibilidade jurídica do
pedido, uma vez que os pedidos da inicial defluem de uma
relação de trabalho pelo regime celetista, enquanto que de
fato e de direito a relação de trabalho entre a reclamante e o
reclamado se deu por meio do regime estatutário , estando
esta relação de trabalho, submetida ao regime único
estatutário do reclamado, nos termos da Lei Municipal no
334/1993 (Instituiu o Regime Jurídico Único para todos
os servidores públicos municipais) (Doc. 05).

Inadequado seria esquecer que as nulidades aqui


apontadas, deixam a ação carente de condições para o seu
prosseguimento, Humberto Theodoro Júnior 3, ensinando-nos
sobre condição da ação, deixa patente que:
A existência da ação depende de alguns
requisitos constitutivos que se chamam ‘condição
da ação’, cuja ausência, de qualquer um deles,
leva à ‘carência de ação’, e cujo exame deve ser
feito, em cada caso concreto, preliminarmente à
apreciação do mérito, em caráter prejudicial.

Continua o mestre, em sua preciosa obra, para chegar e


concluir:

3
THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 40 ed. Vol I. Rio
de Janeiro: Forense, 2003, pág. 49.

7
À falta de uma condição da ação, o processo será
extinto, prematuramente, sem que o Estado dê
resposta ao pedido de tutela jurisdicional do autor,
isto é, sem julgamento do mérito (art. 267, nº IV).
Haverá ausência do direito de ação, ou, na
linguagem dos correntes processualistas, ocorrerá
carência da ação.

Com base nos argumentos deste tópico pugnamos para que


V.Exa. reconheça a ausência de pressupostos processuais
decretando o impedimento da instrução da relação
processual ou nulidade do processo.

4. PREJUDICIAL DE MÉRITO.

O regime único estatutário do reclamado existe desde


1993, conforme Lei Municipal no 334/1993 (Doc. 05).

Como se ver o regime único estatutário do reclamado existe


há mais de 30 (trinta) anos, logo o pedido da reclamante está
fulminada pela prescrição bienal nos termos da SÚMULA Nº
382  TST - MUDANÇA DE REGIME CELETISTA PARA
ESTATUTÁRIO. EXTINÇÃO DO CONTRATO.
PRESCRIÇÃO BIENAL.

Assim, diante do ajuizamento da presente ação apenas em


2023, vale dizer, quase 30 (trinta) anos após o suposto termo
final da prescrição, constata-se a extinção da pretensão da
reclamante, uma vez ocorrida a prescrição bienal.

8
Pelas razões de direito aqui expostas, a pretensão
autoral não merece prosperar. Portanto, requer deste
Juízo O ACOLHIMENTO DA PRESCRIÇÃO, como
prejudicial de mérito, com a consequente extinção do
processo com resolução do mérito, nos moldes do art.
487, II do CPC.

5. DO REGIME ESTATUÁRIO.

Diferentemente do que afirmou a reclamante, a sua


relação de trabalho com o reclamado, nos termos dos
arts. 1º e 140 da Lei Municipal no 334/1993 (Estatuto do
Servidor Público Municipal) (doc. 05) combinada com o art.
18 da Lei Orgânica Municipal (Doc. 04), iniciou-se pelo
regime celetista mas alterou-se para regime único
estatuário a partir de 1993, verbis:

LEI ORGÂNICA MUNICIPAL:

Art. 18- O regime jurídico único dos servidores da


administração pública direta das autarquias e das
fundações públicas será aquele fixado em lei.

LEI No 334/1993

[...]

9
A publicidade da lei municipal em tela fica atesta-se por
meio das declarações do Poder Legislativo e Executivo
Municipal (doc. 03), em razão de na época de sua sanção
não existir Diário Oficial no reclamado.

Como pode-se observar a Lei Orgânica Municipal determinou


que o regime jurídico único dos servidores públicos
municipais seria aquele fixado por lei, o que foi feito
mediante a Lei Municipal no 334/1993 (Estatuto do Servidor
Público Municipal), portanto o Município de Ibirapitanga não
admite outro regime de trabalho para seus servidores senão
o Estatutário. Logo, dúvida não poderá existir quanto ao
regime de trabalho estabelecido entre a reclamante e o
reclamado, nem da condição de servidora pública
municipal em que se encontrava a reclamante, ocupando
não o cargo, mas a função de professora, haja vista a
impossibilidade de existir no reclamado 02 (dois)
regimes de trabalho, tendo em vista a proibição contida
no art. 39 da nossa Constituição Federal ao dizer que:
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios instituirão, no âmbito de sua
competência, regime jurídico único e planos
de carreira para os servidores da

10
administração pública direta, das autarquias e
das fundações públicas. (grifo nosso).

É sobremodo importante assinalar que o art. 39 da


Constituição Federal foi alterado pela Emenda Constitucional
19/1998, mas que foi reestabelecido por conta da ADIN n o
2.135-4.

Inadequado seria esquecer também que, a reclamante,


conforme contracheque juntado pela mesma, demonstra que
ocupa ela o cargo público de professora pelo regime
estatuário e não emprego público, este própria do regime
CLT e aquele próprio do regime estatutário, vejamos:

id. 9c940ca
Aliás este entendimento é pacífico na doutrina
administrativista, José dos Santos Carvalho Filho 4, por
exemplo diz que:
A expressão emprego público é utilizada para
identificar a relação funcional trabalhista, assim
como se tem usado a expressão empregado
público como sinônimo da de servidor público
trabalhista. Para bem diferenciar as situações, é
importante lembrar que servidor trabalhista tem
função (no sentido de tarefa, atividade), mas não
ocupa cargo. O servidor estatutário tem o cargo
que ocupa e exerce as funções atribuídas ao
cargo. (grifo no original).

4
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. Ed. 15. Rio
de Janeiro: Lúmen Júris, 2006. p. 505.

11
Neste mesmo sentido entende Hely Lopes Meirelles 5, ao nos
ensinar que:
Os empregados públicos são todos os
titulares de emprego público (não de
cargo público) da Administração direta e
indireta, sujeitos ao regime jurídico da CLT, daí
serem chamados de “celetistas". Não ocupam
cargo público e sendo celetistas, não têm
condição de adquirir a estabilidade constitucional
(CF, art. 41), nem podem ser submetidos ao
regime de previdência peculiar, como os titulares
de cargo efetivo e os agentes políticos.

É sobremodo importante assinalar também que, a carteira de


trabalho e previdência social – CTPS, tem 02 (duas)
finalidades, uma de cunho trabalhista e outra de cunha
previdenciário, as anotações em carteira a que se referiu a
reclamante, foi feita sim pelo reclamado, mas com um único
fim, previdenciário, isto porque o regime previdenciário do
reclamado é o Geral (INSS), logo são feitas tais anotações
com uma única finalidade, facilitar o acesso dos seus
servidores aos benefícios previdenciários do Instituto
Nacional de Seguro Social – INSS. Aliás outro entendimento,
jamais poderá prosperar, pelos seguintes motivos:

I. primeiro, porque é a próprio reclamante que afirma


em sua inicial que exerce junto ao reclamado o
cargo público de professora e comprova com

5
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 27ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2002, p. 388-389.

12
contracheque que declara expressamente ser o
regime estatuário, sem nunca ter se oposto a sua
mudança de regime ao longo de 3 (três) décadas,
vindo tão somente o fazer agora;

II. segundo, porque o reclamado demonstrou por meio


das leis municipais aqui mencionadas que, seus
servidores estão vinculados ao regime de trabalho
estatutário e não celetista, em razão da Lei Municipal
no 334/1993 ter criado o regime único estatutário no
âmbito do reclamado, conforme determinação contida
no art. 39 da Constituição Federal e no art. 18 da Lei
Orgânica Municipal, não sendo revoga a referida lei e
nem declarada sua inconstitucionalidade pelo poder
judiciário, continuar ela em pleno vigor a produzir seus
efeitos;

III. terceiro - porque o regime de trabalho deve ser


provado mediante lei, visto decorrer ele do
princípio da legalidade, o que no caso em exame,
portanto, incumbiria a reclamante, produzir
robusta prova de tal regime (CLT), por ser este o
fato constitutivo do seu direito (Arts. 818 da CLT e
373, I do CPC), o que, até o momento não o fez;

IV. quarto, porque o art. 39 da Constituição Federal não


permite dualidade de regime, devendo os entes

13
federados adotarem regime jurídico único de trabalho;

V. quinto - porque o inciso II do art. 37 da Constituição


Federal, deixa bem claro que cargo é diferente de
emprego.

VI. sexto - porque a sentença do processo n o


0001033-82.2011.5.05.0581 não tem poder para
fazer presumir o regime de trabalho da reclamada,
em razão de error injudicando, ademais um ato
judicial não pode ser superior a Constituição
Federal e a lei, visto que aquele decorre destas,
logo não há que se falar em presunção de regime,
quando fica claro que a reclamante é servidora
pública e não empregada pública. Ademais,
seria irrazoável presumir a existência de relação
trabalho pelo regime CLT em situação em que a lei
expressamente disciplina como estatuário.

Como vemos é impossível de prosperar a tese autoral da


existência de 02 (dois) regimes de trabalho no município
reclamado, primeiro porque a Constituição Federal proíbe e
segundo porque nenhuma legislação juntou a reclamante
aos autos para prova sua tese, pelo contrário a reclamante
sita a legislação de um outro município que nada tem a ver
com o reclamado, vejamos:

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Razão também não assiste a reclamante quando diz existir
direito adquirido a regime jurídico celetista e não ser possível
a mudança de regime da reclamante de celetista para
estatuário, contrariando o entendimento pacífico da
jurisprudência, vejamos:
TRANSMUTAÇÃO AUTOMÁTICA DO REGIME
CELETISTA PARA O ESTATUTÁRIO.
SERVIDOR PÚBLICO ADMITIDO PELO REGIME
CELETISTA ANTES DA CONSTITUIÇÃO DE
1988. AUSÊNCIA DE CONCURSO PÚBLICO.
EMPREGADO CONTRATADO HÁ MENOS DE
CINCO ANOS ANTES DA CONSTITUIÇÃO DE
1988. IMPOSSIBILIDADE. CONTRIBUIÇÕES
PARA O FGTS. Admite-se a possibilidade de
transmutação automática do regime celetista
para o estatutário apenas nos casos em que o
empregado, contratado sem concurso público
antes da Constituição de 1988, tenha adquirido
a estabilidade, na forma do artigo 19, caput, do
Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias. [...]Em contrapartida, em situação
como a dos autos, em que o reclamante foi
contratado em 01/01/1986, ou seja, há menos de
5 (cinco) anos antes da promulgação da
Constituição de 1988, preserva-se o regime
jurídico celetista para todos os efeitos, porquanto
nula a transposição automática para o regime
estatutário, a corroborar a declaração da
competência desta Justiça Especializada para
apreciar a causa. A formação do vínculo de
emprego com o ente público em período

15
anterior à promulgação da Constituição de
1988, à míngua de realização de concurso
público, desautoriza a transposição
automática do regime celetista para o
estatutário, se não havia transcorrido o prazo
de 5 (cinco) anos entre a data da contratação e
a promulgação da Constituição de 1988, nos
termos do artigo 19, caput, do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias. [...].
(TRT-2 10002544820195020441 SP, Relator:
RODRIGO GARCIA SCHWARZ, 2ª Turma -
Cadeira 4, Data de Publicação: 23/10/2020)
(grifamos)

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Lei


do Estado do Amazonas que realizou a
modificação do regime dos servidores do Instituto
de Medicina Tropical de Manaus para o regime
estatutário. Transformação dos empregos em
cargos públicos. Ocupação automática dos cargos
públicos pelos antigos servidores celetistas.
Ausência de distinção entre servidores
concursados e não concursados. Violação dos
arts. 37, II; e 39 da Constituição Federal, e do art.
19, § 1º, do ADCT. Parcial procedência.
Interpretação conforme à Constituição. Modulação
dos efeitos da decisão. Efeitos ex nunc. 1. Não se
afigura inconstitucional a lei amazonense
quando promove a modificação do regime
jurídico dos funcionários da autarquia, já que
o Estado do Amazonas atendeu a
determinação constitucional de conformar
seus servidores da administração direta,
autárquica ou fundacional a um regime
jurídico de sujeição uniforme, no caso, ao
regime estatutário. O Instituto de Medicina
Tropical de Manaus, como autarquia, deveria, de
fato, ter seus servidores submetidos ao regime
estatutário, não mais se admitindo que os
servidores da autarquia permanecessem regidos
pela CLT. Entretanto, não é possível extrair-se do
art. 39 da Constituição que a adoção do regime
único deva se dar em desconformidade com a
regra imperativa do concurso público (art. 37, II,
da CF/88). 2. A inconstitucionalidade do art. 1º da

16
lei questionada aflora da extensão com que se
promoveu a transposição do regime dos
funcionários da autarquia estadual, uma vez que a
norma não especificou a quais servidores se
dirigia o comando. A expressão “atuais servidores
sujeitos ao regime trabalhista” pode dizer respeito,
sem dúvida, a servidores que foram contratados
sem realização de concurso até a data de
publicação da lei, no caso, 7 de maio de 1993. No
entanto, esses servidores, se contratados
antes do novo regime constitucional,
poderiam não atender os requisitos previstos
no art. 19 do ADCT da Constituição, em
especial o do exercício ininterrupto por cinco
anos, e, ainda assim, serem todos
aproveitados como servidores estatutários. É
necessário se conferir interpretação conforme
à Constituição à expressão “os atuais
servidores sujeitos ao regime trabalhista”
contida no art. 1º da Lei nº 2.205 do Estado do
Amazonas, de 7 de maio de 1993, para excluir
do âmbito de sua incidência os servidores que
não foram admitidos por meio de concurso
público e que não estavam em exercício há
pelo menos 5 anos ininterruptos na data da
promulgação da Constituição da República,
nos termos do art. 19 do ADCT da
Constituição Federal. 3. A Lei 2.205/93
determinou, ainda, em seu art. 2º, a
transformação dos empregos ocupados pelos
então servidores da autarquia em cargos públicos.
A segunda parte da disposição (“mantidas as
atuais situações funcionais de seus titulares, que
passam a ser regidas pela Lei nº 1.762/86”)
acabou por vincular a transformação à
consequente titularização desses cargos pelos
servidores beneficiários da modificação do
regime. Essa transposição automática equivale ao
aproveitamento de servidores, ainda que não
concursados, em cargos efetivos, nos quais a
investidura se devia dar, conforme a atual
Constituição, mediante prévia submissão de tais
servidores a concurso público, seja aquele
previsto no art. 37, inciso II, de seu texto
permanente, seja o concurso para fins de
efetivação mencionado no § 1º do art. 19 do

17
ADCT. 4. Mesmo os celetistas estabilizados pela
regra do art. 19 do ADCT, e agora amparados
pelo regime estatutário, não poderiam titularizar
cargo de provimento efetivo sem a aprovação em
concurso ao qual se refere o § 1º do art. 19 do
ADCT. Esses possuem apenas o direito de
permanecer na função para as quais foram
admitidos, somente vindo a adquirir efetividade no
cargo quando se submeterem a certame público.
A interpretação a ser conferida ao art. 2º deve ser
mais restritiva que a atribuída ao art. 1º da lei
estadual, devendo-se excluir do âmbito de
incidência da expressão “mantidas as atuais
situações funcionais de seus titulares, que
passam a ser regidas pela Lei nº 1.726/86”,
contida no art. 2º da Lei estadual nº 2.205/93, os
servidores que não tenham se submetido ao
concurso público previsto no art. 37, II, da
Constituição Federal, ou ao concurso para fins de
efetivação referido no § 1º do art. 19 do ADCT. 5.
Igual interpretação conforme à Constituição deve
ser conferida aos §§ 1º e 2º do art. 3º da Lei
2.205/93, restringindo-se o âmbito de sua
incidência apenas àqueles servidores
concursados. Não é cabível assegurar aos
servidores não concursados – inclusive os
estáveis na forma do art. 19 do ADCT que não
realizaram concurso de efetivação (§ 1º) – a
concessão de vantagens e deveres próprios dos
servidores públicos ocupantes de cargos efetivos.
6. Considerando-se que a lei combatida está em
vigor há mais de 28 anos e que, provavelmente,
muitos dos servidores admitidos até sua edição
estão, atualmente, recebendo proventos de
aposentadoria, ou seus dependentes, pensões
por morte, hão de se modular os efeitos da
decisão, com fundamento no art. 27 da Lei
9.868/99, para se conferir ao julgado efeitos ex
nunc, ficando expressamente ressalvados dos
efeitos da decisão os servidores que já estejam
aposentados e aqueles que, até a data de
publicação da ata deste julgamento, tenham
preenchido os requisitos para a aposentadoria.
Precedentes. 7. Ação julgada parcialmente
procedente.

18
(STF - ADI: 3636 AM, Relator: DIAS TOFFOLI,
Data de Julgamento: 11/10/2021, Tribunal Pleno,
Data de Publicação: 07/01/2022) (grifamos).

Observe-se que a Adin no 1.150-2 do STF citada pela


reclamante, encontra-se superada pela ADI n o 3636 AM, a
qual permite a mudança de regime sem no entanto conferir
ao empregado todos os direitos de um servidor efetivo ou
concursado.

6. PEDIDOS.

Por tais razões, requer a V.Exa. que:


I. acolha a prejudicial de mérito, com a consequente
extinção do processo com resolução do mérito, nos
moldes do art. 487, II do CPC;
II. em caso de não acolhimento da prejudicial de mérito,
acolha as preliminares arguidas e julgue o processo
sem reconhecimento do mérito, nos termos dos incisos
IV e VI do art. 485 do CPC;
III. na remota hipótese de não acolhimento das
preliminares e da prejudicial de mérito, julgue
improcedente o pedido da reclamante.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em


direito admitidos, notadamente orais, documentais e outros
que se fizerem necessários.

19
Nestes termos,
Pede deferimento.

Ibirapitanga-Ba, em 09 de junho de 2023.

FULANO DE TAL
Procurador Geral do Município
OAB-Ba no

Documentos anexos:
N° N° TIPO DOCUMENTO OBSERVAÇÃO
DOC. FLS.
01 02 Ato Nomeação Procurador
02 02 Termo de posse prefeito
03 Declarações publicidade
leis.
04 67 Lei Orgânica Municipal
05 43 Lei Municipal no 334/1993
06

20
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