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Inteiro Teor (12541871) 4/17/17, 14:17

RECURSO CÍVEL Nº 5002745-52.2016.4.04.7114/RS


RELATOR : GIOVANI BIGOLIN
RECORRENTE : VOLMIR LUIZ FERREIRA DOS PASSOS
ADVOGADO : VILSON MEYRING
RECORRIDO : EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS - ECT

ACÓRDÃO

ACORDAM os Juízes da 5ª TURMA RECURSAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS


FEDERAIS DO RIO GRANDE DO SUL, por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO ao recurso
da parte autora, nos termos do voto do(a) Relator(a).
Porto Alegre, 30 de março de 2017.

Giovani Bigolin
Juiz Federal Relator

Documento eletrônico assinado por Giovani Bigolin, Juiz Federal Relator, na forma do artigo 1º, inciso
III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
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RECURSO CÍVEL Nº 5002745-52.2016.4.04.7114/RS


RELATOR : GIOVANI BIGOLIN
RECORRENTE : VOLMIR LUIZ FERREIRA DOS PASSOS
ADVOGADO : VILSON MEYRING
RECORRIDO : EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS - ECT

VOTO

Trata-se de recurso inominado interposto pela parte autora em ação na qual


demanda a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, objetivando a reforma da sentença
que julgou improcedentes os pedidos de indenização por danos materiais e morais decorrentes de
atraso na entrega da mercadoria.

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A autora requer sejam julgados integralmente procedentes os pedidos iniciais, em


especial, seja a ré condenada a indenização por danos materias e morais, visto que caracterizada a
falha na prestação do serviço da ECT.

Passo a análise dos argumentos recursais, bem como dos fatos e do direito aplicável
ao caso concreto.

1. Natureza jurídica da responsabilidade da Empresa Brasileira de Correios e


Telégrafos (ECT)

Entendo que a imputação de responsabilidade civil à ECT pressupõe o esclarecimento


das seguintes premissas, cujo encadeamento definirá se e em que medida a natureza jurídica das
funções outorgadas pela legislação federal e exercidas pela parte ré autoriza o reconhecimento de
dano indenizável.

A Constituição Federal, ao estruturar as competências materiais exclusivas da União


Federal, atribuiu-lhe a função de manter o serviço postal e o correio aéreo nacional (art. 21, X,
CRFB/88).

O art. 2º da Lei n.º 6.538/1978, de sua vez, dispõe que o serviço postal e o serviço de
telegrama são explorados pela União, através de empresa pública vinculada ao Ministério das
Comunicações.

Consoante dispõe seu Estatuto Social, recentemente modificado, a Empresa Brasileira


de Correios e Telégrafos - ECT constitui-se em empresa pública vinculada ao Ministério das
Comunicações, criada pelo Decreto-Lei nº 509/1969, regida pela legislação federal e por este
Estatuto (art. 1º, Decreto nº 8.016/2013).

A atividade desenvolvida por essa pessoa jurídica de direito privado, integrante da


Administração Pública Indireta federal (art. 4º, II, "b", Decreto-Lei n.º 200/1967), abrange o
recebimento, expedição, transporte e entrega de objetos de correspondência, valores e encomendas
(art. 7º, Lei n.º 6.538/1978).

A natureza jurídica dos serviços prestados pela ECT foi objeto de profícua discussão
no âmbito do Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da ADPF n.º 46, em que o Min.
Eros Grau, na qualidade de relator para o acórdão, fez ver que o "serviço postal --- conjunto de
atividades que torna possível o envio de correspondência, ou objeto postal, de um remetente para
endereço final e determinado --- não consubstancia atividade econômica em sentido estrito.
Serviço postal é serviço público" (ADPF n.º 46, Tribunal Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/
Acórdão Min. Eros Grau, julgado em 05/08/2009 - excerto grifado da ementa).

Nessa linha de pensamento, o Supremo Tribunal Federal tem reconhecido à ECT


amplo espectro de direitos e deveres concernentes ao regime jurídico-administrativo de matriz
constitucional, de que são exemplos, entre outros, assistir aos seus empregados públicos o direito

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público subjetivo à dispensa motivada (RE n.º 589998, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 20/03/2013); bem como, mediante reinterpretação do art. 173, § 2º, à luz
de outros princípios constitucionais, ser beneficiária da imunidade tributária recíproca,
relativamente a impostos, prevista no art. 150, VI, "a", da CRFB/88 (ACO n.º 789, Tribunal Pleno,
Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 01/09/2010).

Lado outro, no plano da legislação infraconstitucional, o Superior Tribunal de Justiça


tem reconhecido à ECT algumas das prerrogativas processuais típicas da Fazenda Pública, tais
como a prescrição qüinqüenal do Decreto nº 20.910/1932 (AgRg no REsp n.º 1308820/DF, 2ª
Turma, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 04/06/2013), impenhorabilidade de bens
(REsp n.º 620.279/MG, 3ª Turma, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em
25/10/2005) e isenção do recolhimento de custas na Justiça Federal (REsp n.º 1.087.745/SP, 1ª
Turma, Rel. Min. Denise Arruda, julgado em 05/11/2009).

Esse complexo feixe de prerrogativas torna possível subsumir a situação retratada


nestes autos à incidência da norma contida no art. 37, § 6º, da Constituição Federal, quando dispõe
que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

A nota característica da responsabilidade objetiva consagrada neste dispositivo


reside, consoante seguro magistério doutrinário, na desnecessidade de o lesado pela conduta
estatal provar a existência de culpa do agente ou do serviço, sendo suficiente a demonstração
de: fato administrativo, entendido como qualquer forma de conduta, omissiva ou comissiva,
atribuída ao Poder Público; dano, material ou imaterial, comprovadamente suportado pelo sujeito
de direitos que pleiteia a reparação; nexo de causalidade entre o dano suportado e o fato
administrativo, cuja prova recai sobre quem o alega (CARVALHO FILHO, José dos Santos.
Manual de direito administrativo. 23.ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2010. p. 605).

Insta salientar, adicionalmente, que a amplitude do art. 3º, § 2º, do Código de Defesa
do Consumidor permite caracterizar a ECT como fornecedora, haja vista a prestação de serviço
mediante remuneração (art. 32, Lei n.º 6.538/1978), o que a sujeita às regras de responsabilização
objetiva dos arts. 12 e 14 desse diploma normativo.

Essa sobreposição de regimes jurídicos levou a doutrina especializada a afirmar que,


malgrado a teoria do diálogo das fontes não tenha obtido sucesso em matéria de serviços públicos, é
certo que as normas do CDC, ao incidir sobre o fornecimento de serviços públicos, seja pela
Administração Pública Indireta, seja por intermédio de concessionários ou permissionários, reclama
a conciliação das imposições oriundas do Direito Administrativo com a proteção do consumidor
(MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. 6.ed. São Paulo: RT,
2011. p. 586).

Nessa linha de raciocínio, assentada sua natureza de pessoa jurídica de direito


privado prestadora de serviço público, bem como a responsabilidade de natureza objetiva daí
decorrente, resta examinar se há dano, material ou moral, a ser imputado à Empresa Brasileira de

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Correios e Telégrafos (ECT).

2. Situação "sub judice"

A sentença recorrida resolveu a lide da seguinte forma:

(...)
2. Caso do autos

É incontroverso que a entrega da encomenda mencionada pela autora demandou prazo superior
ao estipulado pela parte ré, conforme documento juntado aos autos (E1, OUT9). Contudo, tem-se
que não houve violação considerável desse prazo. Com efeito, o objeto foi postado no dia
11/11/2015 e chegou no destino no dia 30/11/2015, assim ultrapassou 6 dias úteis do prazo fixado
para envio de mercadorias expresso (EMS).

Da leitura dos autos, extrai-se que os bens enviados pelo demandante (celular, caneca e fotos)
eram para ser entregues à sua filha, em decorrência da primeira comunhão da menina, sendo
que as fotos serviram como lembrancinhas que seriam dadas naquela ocasião. Contudo, da
própria argumentação da parte, que, gize-se, não restou provada nos autos, tal cerimônia iria
ocorrer no dia 05/12/2015, ou seja, 05 dias após a chegada dos objetos postados.

Diante de tais circunstâncias, entende a parte autora seu direito a reparação pelos danos
materiais e morais sofridos, diante do não cumprimento do prazo fixado pelos Correios, o que
acarretou a insuficiência de prazo para que a filha angariasse os valores para quitar o imposto
de exportação e adotar as demais medidas a fim de recolher os objetos enviados.

Assim, ante a responsabilidade objetiva da demandada, exsurge a análise quando ao dever de


indenizar.

3. Dos danos materiais

Aduz a parte autora que diante da demora na entrega da mercadoria, não restou prazo hábil,
haja visto que, com o atraso no translado do OBJETO o tempo ficou curto para a sua retirada e
pagamento dos impostos em tempo hábil ao dia das festividades da primeira comunhão datada
para 05/12/2015. Argumenta ainda, que da demora no translado do OBJETO enviado ao país de
destino contratado, originou dificuldades para entrega do Objeto no País destino, ou seja, o
OBJETO restou encaminhado a Unidade Administrativa em fiscalização Aduaneira do País
destino, desta feita o atraso gerou transtornos para o Remetente e Destinatário.

Assim a parte autora postula a devolução do valor pago pelo serviço postal, bem como o
ressarcimento do valor declarado do objeto ou a devolução dos objetos postados, alegando que
ainda encontram-se em posse da ECT.

Em contestação, a Ré requer a improcedência do feito, mencionando que conforme rastreamento


do objeto (E4, OUT4), o serviço foi prestado, chegando o objeto até o país de destino. Por
questões alfandegárias e alheias ao serviço prestado pela ECT, o objeto permaneceu retido na
alfândega do Peru e acabou não sendo retirado pela destinatária, por razões que a ECT
desconhece e pelas quais não pode ser responsabilizada. Não tendo havido o pagamento dos
impostos pelo destinatário, conforme informado pelo próprio autor à página 3 da inicial, o
objeto retornou ao Brasil, tendo sido devolvido ao remetente em 25/05/2016.

Com efeito, observa-se que o documento juntado pela ré indica claramente que o autor já

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recebeu as mercadorias (E4, OUT4 e E9, INF2). Dessa forma, totalmente descabido o pedido de
ressarcimento dos valores dos objetos ou devolução dos mesmos, haja vista que já foram
devolvidos ao demandante. Isto posto, a entidade ré agiu de acordo com o previsto no próprio
contrato entabulado entre as partes (E1, OUT8). Tanto é assim, que o próprio demandante
acabou por desistir do pedido, conforme petição juntada no evento 13. Restando superada tal
análise.

Ainda, quanto ao atraso na entrega, mesmo que se considerasse a explanação ventilada pelo
demandante, ainda assim, não haveria prejuízo comprovado, haja vista que entre a entrega e a
data da realização da cerimônia religiosa, havia prazo suficiente para que a destinatária
procedesse à retirada dos objetos. Da mesma forma, está o fato de existir a cobrança
alfandegária: tal expediente estava previsto tanto no contrato assinado pela parte, quanto é
de conhecimento geral. E ainda, importante consignar que a existência de remessa alfandegária
e cobrança de tributo em território estrangeiro, em nada diz respeito a ora ré, não se lhe
podendo atribuir qualquer responsabilidade ou ingerência pelo fato.

Desta feita, não há decorrência lógica entre o atraso na entrega e a não retirada dos objetos pela
destinatária, tampouco, nenhum fato atribuível à ré como causador do insucesso das intenções
do autor. Neste prisma, entendo que não restou provado o nexo de causa e efeito entre o atraso
na entrega do objeto EBO34185269BR e a devolução ao autor dos objetos postados e não
retirados.

Analisando o caso concreto, consigno que não faz jus o demandante a indenização por danos
materiais, uma vez que, apesar de comprovado o atraso na entrega da mercadoria, não há
comprovação de que este atraso prejudicou de alguma forma o objetivo da postagem,
considerando que havia tempo hábil para a retirada, antes mesma da informada (e não
comprovada) cerimônia.

Ainda, quanto ao valor cobrado pela postagem, correto o pagamento, haja vista que o que cabia
à demandada foi feito, a postagem foi realizada, ainda que com alguns dias de atraso, os objetos
foram encaminhados e deixados à disponibilização do destinatário, tal como devido, que só não
os retirou por sua exclusiva vontade. Isto posto, é dever da parte remetente arcar com custos da
postagem, tal como ocorreu.

Assim, improcede o presente pedido.

4. Dos danos morais

Quanto ao ponto, cumpre destacar que não houve comprovação de qualquer dano moral
suportado pela parte autora. O demandante sequer comprovou que efetivamente ocorreu a
cerimônia religiosa de sua filha e a data que esta teria se realizado, nem mesmo qualquer outra
circunstância de prejuízo efetivamente vivenciado.

Importante salientar que para a caracterização do dano moral se exige excepcionalidade, uma
intensidade de sofrimento que não seja aquela própria dos aborrecimentos corriqueiros de uma
vida normal. A lesão moral, para ensejar o direito de reparação deve ser injusta e grave. Injusta
por ser contrária ao direito, isto é, decorrente de um ato ilícito. Grave por ser uma perturbação
capaz de não apenas aborrecer a parte lesada, mas, também, causar-lhe excepcional sofrimento.
Trata-se de qualificar a perturbação moral sofrida como "dano moral", a ponto de justificar a
condenação da parte responsável ao pagamento de uma indenização, seja qual for o seu
montante pecuniário.

Todavia, a despeito da demora na entrega da mercadoria postada, tal fato, isoladamente, não
caracteriza o dano moral indenizável, que pressupõe ofensa grave e injusta que atinja a

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dignidade humana.

O que se demonstrou nos autos foi o atraso no recebimento de uma mercadoria. Não houve, no
tratamento entre as partes, qualquer conduta lesiva ou humilhante.(...)

2.1. Dos danos materiais

No caso dos autos, a encomenda foi enviada em 11/11/2015. O prazo previsto para a
entrega era de 5 dias úteis, expirando em 18/11/2015. é fato incontroverso que a mercadoria chegou
ao destino em 30/11/2015, com 12 dias de atraso.

Logo, quanto ao dano material, a parte autora postula a devolução do valor pago pelo
serviço postal, bem como o ressarcimento do valor declarado do objeto ou a devolução dos objetos
postados.

Assim, entendo manifestamente improcedentes tais pedidos, visto que a


mercadoria chegou ao destino, ainda que com atraso, ficando à disposição do destinatário.
Portanto, não há reparos a serem feitos, em tal aspecto, na sentença recorrida.

2.2 Dos danos morais

Na falta de critérios objetivos, a definição do conteúdo e do alcance dos danos que se


projetam sobre a esfera extrapatrimonial dos sujeitos de direitos é questão tormentosa na doutrina e
na jurisprudência, levando o julgador, não raro, a situações de perplexidade.

Superados os estágios teóricos da irreparabilidade do dano moral e da sua


inacumulabilidade com o dano material - sepultados, no ordenamento jurídico brasileiro, por força
do art. 5º, X, da Constituição Federal e do art. 186 do Código Civil -, o risco que agora espreita a
ponderada aplicação do Direito é o de se ingressar na fase da sua industrialização, quando o
aborrecimento banal ou a sensibilidade exacerbada são travestidos de "dano moral".

Digo isso em atenção ao dissenso jurisprudencial, e aos ponderáveis argumentos que


esteiam ambas as posições divergentes, ao redor da condenação da ECT, a título de danos morais,
quando extravia correspondência, valores e encomendas sob sua responsabilidade.

É certo que ambas as Turmas de Direito Privado, no âmbito do Superior Tribunal de


Justiça, já manifestaram entendimento no sentido de não reconhecer ao inadimplemento
contratual, como regra geral, potencial caracterizador de dano extrapatrimonial ao
contratante lesado (AgRg no AREsp n.º 77.069/SP, 4ª Turma, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
06/02/2014; REsp n.º 1.399.931/MG, 3ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 11/02/2014).

No entanto, o moderno trânsito das relações negociais engendra hipóteses


desafiadoras dessa visão tradicional, na exata medida em que ilumina a projeção lesiva, já
encampada pela jurisprudência pátria, do dano material oriundo do inadimplemento sobre a esfera
de direitos extrapatrimoniais do credor: falha na entrega de mercadoria adquirida pela internet
(REsp n.º 1.399.931/MG, 3ª Turma, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 11/02/2014); negativa de

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cobertura do seguro de vida (AgRg no AREsp 172.571/RN, 4ª Turma, Rel. Min. Raul Araújo,
julgado em 17/12/2013); exclusão de cobertura, por parte do plano de saúde, relativamente a
medicamentos dedicados ao tratamento da quimioterapia (REsp n.º 1.411.293/SP, 3ª Turma, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2013); entre outros.

Nessa linha de argumentação, o dano moral contratual restará configurado quando,


"embora a prestação tenha conteúdo patrimonial, o interesse do credor na prestação pode,
conforme as circunstâncias, apresentar um caráter extrapatrimonial, porque ligado à sua saúde ou
de pessoas de sua família, ao seu lazer, à sua comodidade, ao seu bem-estar, à sua educação, aos
seus projetos intelectuais" (ANDRADE, André Gustavo Corrêa de. Dano moral em caso de
descumprimento de obrigação contratual. In: Revista de direito do consumidor. Volume 53.
Jan./Mar. 2005. p. 55).

No caso em tela, importante salientar que o não se trata de extravio de


correspondência comum aos casos julgados por esta Turma Recursal, quando o dano é
caracterizado in re ipsa - presumido pela ocorrência do fato. Trata-se de atraso na entrega de
mercadoria.

Sendo assim, não se presume, na hipótese em exame, o dano moral. Portanto, resta
necessária a comprovação do dano moral alegado. Entendo que a parte autora não logrou
apresentar, no decurso da lide, qualquer elemento probatório apto a atestar a existência de
abalo extrapatrimonial sofrido, de modo que o pedido improcede.

Ademais, esta 5ª Turma Recursal tem diferenciado as situações de extravio e


atraso (RI n.º 5010109-30.2015.404.7108), admitida, na última hipótese, a condenação a título de
dano moral tão somente nos casos de atraso irrazoável, quando decorridos meses desde a data
prevista para entrega (RI n.º 5026802-16.2015.404.7100, Rel. Juiz Fed. Andrei Pitten Velloso,
julgado em 15/12/2015).

Segundo relatos na inicial e no recurso, a mercadoria enviada pelo


demandante (celular, caneca e fotos) eram para ser entregue à sua filha, em decorrência de primeira
comunhão, sendo que as fotos serviram como lembrancinhas que seriam entregues em tal ocasião,
no dia 05/12/2015.

Conforme supramencionado (item 2.1), a encomenda foi enviada em 11/11/2015.


O prazo previsto para a entrega era de 5 dias úteis, expirando em 18/11/2015. Por fim, é fato
incontroverso que a mercadoria chegou ao destino em 30/11/2015, com 12 dias de atraso, antes
portanto da cerimônica que ocorreu no dia 05/12/2015.

Em precedente mais recente, análogo ao caso destes autos, decidiu-se que o "dano
moral deve trazer ao indivíduo transtornos que superem os simples dissabores da vida cotidiana. E,
dos fatos narrados nos autos, não há como se inferir o dano de per si. Assim, caberia à parte
autora demonstrar que a conduta da demandada ocasionara lesão tão grave a si, a ponto de ferir e
rebaixar sua dignidade. Tal prova, contudo, não veio aos autos" (RI n.º 5001322-

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06.2015.404.7110, Rel. Juíza Fed. Joane Unfer Calderaro, julgado em 24/05/2016).

Em face dessas considerações, tendo em vista especialmente que o atraso na entrega


da mercadoria não mostrou-se irrazoável (12 dias) e a mercadoria chegou ao destino antes da data
da cerimônica para a qual foi enviada, entendo não caracterizado o dano moral no caso em
análise, devendo a sentença merece ser confirmada pelos seus próprios fundamentos, indeferindo-
se, igualmente, o dano extrapatrimonial.

3. Decisão

Nesses termos, o voto é no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recuso da


autora, mantendo a sentença ser mantida por seus próprios fundamentos, acrescidos dos
supramencionados.

A decisão da Turma Recursal assim proferida, no âmbito dos Juizados Especiais, é


suficiente para interposição de quaisquer recursos posteriores.

Importa destacar que o magistrado, ao analisar o tema controvertido, não está


obrigado a rebater, um a um, os argumentos deduzidos pelas partes (REsp 1.396.951/PR, 3ª Turma,
Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/11/2013). Em assim sendo, rejeito todas as
alegações do recorrente que não o tenham sido expressamente, porquanto desnecessária a análise
das mesmas para se chegar às conclusões alcançadas nesta decisão.

Considero expressamente prequestionados todos os dispositivos constitucionais e


infraconstitucionais enumerados pelas partes nas razões e contrarrazões recursais, aos quais inexiste
violação. A repetição dos dispositivos é desnecessária, para evitar tautologia.

Esclareço, de qualquer modo, que é incabível a interposição de recurso especial


contra decisão proferida por Turma Recursal (Súmula 203 do Superior Tribunal de Justiça) e que os
pedidos de uniformização de jurisprudência prescindem do requisito do prequestionamento. Assim,
sequer há razão para o formal prequestionamento de normas infraconstitucionais.

Eventuais embargos para rediscutir questões já decididas, ou mesmo para


prequestionamento, poderão ser considerados protelatórios.

Em conformidade com o art. 55 da Lei 9.099/1995, condeno a parte autora, recorrente


vencida, ao pagamento das custas e de honorários advocatícios, estes fixados em 10% (dez por
cento) sobre o valor atualizado da condenação, ou, não havendo condenação, sobre o valor
atualizado da causa. Em qualquer das hipóteses, o montante dos honorários não deverá ser inferior
ao valor máximo previsto na tabela da Justiça Federal para a remuneração dos Advogados Dativos
nomeados como auxiliares no âmbito dos JEFs (Resolução-CJF nº 305/2014, Tabela IV).
Exigibilidade suspensa nos casos de AJG.

Ante o exposto, voto por NEGAR PROVIMENTO ao recurso da parte autora.

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III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
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