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ACÓRDÃO
Giovani Bigolin
Juiz Federal Relator
Documento eletrônico assinado por Giovani Bigolin, Juiz Federal Relator, na forma do artigo 1º, inciso
III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº 17, de 26 de março de
2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço eletrônico
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12541871v11 e, se solicitado, do código CRC 3AF262D5.
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Signatário (a): Giovani Bigolin
Data e Hora: 17/03/2017 18:12
VOTO
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Passo a análise dos argumentos recursais, bem como dos fatos e do direito aplicável
ao caso concreto.
O art. 2º da Lei n.º 6.538/1978, de sua vez, dispõe que o serviço postal e o serviço de
telegrama são explorados pela União, através de empresa pública vinculada ao Ministério das
Comunicações.
A natureza jurídica dos serviços prestados pela ECT foi objeto de profícua discussão
no âmbito do Supremo Tribunal Federal, quando do julgamento da ADPF n.º 46, em que o Min.
Eros Grau, na qualidade de relator para o acórdão, fez ver que o "serviço postal --- conjunto de
atividades que torna possível o envio de correspondência, ou objeto postal, de um remetente para
endereço final e determinado --- não consubstancia atividade econômica em sentido estrito.
Serviço postal é serviço público" (ADPF n.º 46, Tribunal Pleno, Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/
Acórdão Min. Eros Grau, julgado em 05/08/2009 - excerto grifado da ementa).
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público subjetivo à dispensa motivada (RE n.º 589998, Tribunal Pleno, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 20/03/2013); bem como, mediante reinterpretação do art. 173, § 2º, à luz
de outros princípios constitucionais, ser beneficiária da imunidade tributária recíproca,
relativamente a impostos, prevista no art. 150, VI, "a", da CRFB/88 (ACO n.º 789, Tribunal Pleno,
Rel. Min. Marco Aurélio, Rel. p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 01/09/2010).
Insta salientar, adicionalmente, que a amplitude do art. 3º, § 2º, do Código de Defesa
do Consumidor permite caracterizar a ECT como fornecedora, haja vista a prestação de serviço
mediante remuneração (art. 32, Lei n.º 6.538/1978), o que a sujeita às regras de responsabilização
objetiva dos arts. 12 e 14 desse diploma normativo.
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(...)
2. Caso do autos
É incontroverso que a entrega da encomenda mencionada pela autora demandou prazo superior
ao estipulado pela parte ré, conforme documento juntado aos autos (E1, OUT9). Contudo, tem-se
que não houve violação considerável desse prazo. Com efeito, o objeto foi postado no dia
11/11/2015 e chegou no destino no dia 30/11/2015, assim ultrapassou 6 dias úteis do prazo fixado
para envio de mercadorias expresso (EMS).
Da leitura dos autos, extrai-se que os bens enviados pelo demandante (celular, caneca e fotos)
eram para ser entregues à sua filha, em decorrência da primeira comunhão da menina, sendo
que as fotos serviram como lembrancinhas que seriam dadas naquela ocasião. Contudo, da
própria argumentação da parte, que, gize-se, não restou provada nos autos, tal cerimônia iria
ocorrer no dia 05/12/2015, ou seja, 05 dias após a chegada dos objetos postados.
Diante de tais circunstâncias, entende a parte autora seu direito a reparação pelos danos
materiais e morais sofridos, diante do não cumprimento do prazo fixado pelos Correios, o que
acarretou a insuficiência de prazo para que a filha angariasse os valores para quitar o imposto
de exportação e adotar as demais medidas a fim de recolher os objetos enviados.
Aduz a parte autora que diante da demora na entrega da mercadoria, não restou prazo hábil,
haja visto que, com o atraso no translado do OBJETO o tempo ficou curto para a sua retirada e
pagamento dos impostos em tempo hábil ao dia das festividades da primeira comunhão datada
para 05/12/2015. Argumenta ainda, que da demora no translado do OBJETO enviado ao país de
destino contratado, originou dificuldades para entrega do Objeto no País destino, ou seja, o
OBJETO restou encaminhado a Unidade Administrativa em fiscalização Aduaneira do País
destino, desta feita o atraso gerou transtornos para o Remetente e Destinatário.
Assim a parte autora postula a devolução do valor pago pelo serviço postal, bem como o
ressarcimento do valor declarado do objeto ou a devolução dos objetos postados, alegando que
ainda encontram-se em posse da ECT.
Com efeito, observa-se que o documento juntado pela ré indica claramente que o autor já
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recebeu as mercadorias (E4, OUT4 e E9, INF2). Dessa forma, totalmente descabido o pedido de
ressarcimento dos valores dos objetos ou devolução dos mesmos, haja vista que já foram
devolvidos ao demandante. Isto posto, a entidade ré agiu de acordo com o previsto no próprio
contrato entabulado entre as partes (E1, OUT8). Tanto é assim, que o próprio demandante
acabou por desistir do pedido, conforme petição juntada no evento 13. Restando superada tal
análise.
Ainda, quanto ao atraso na entrega, mesmo que se considerasse a explanação ventilada pelo
demandante, ainda assim, não haveria prejuízo comprovado, haja vista que entre a entrega e a
data da realização da cerimônia religiosa, havia prazo suficiente para que a destinatária
procedesse à retirada dos objetos. Da mesma forma, está o fato de existir a cobrança
alfandegária: tal expediente estava previsto tanto no contrato assinado pela parte, quanto é
de conhecimento geral. E ainda, importante consignar que a existência de remessa alfandegária
e cobrança de tributo em território estrangeiro, em nada diz respeito a ora ré, não se lhe
podendo atribuir qualquer responsabilidade ou ingerência pelo fato.
Desta feita, não há decorrência lógica entre o atraso na entrega e a não retirada dos objetos pela
destinatária, tampouco, nenhum fato atribuível à ré como causador do insucesso das intenções
do autor. Neste prisma, entendo que não restou provado o nexo de causa e efeito entre o atraso
na entrega do objeto EBO34185269BR e a devolução ao autor dos objetos postados e não
retirados.
Analisando o caso concreto, consigno que não faz jus o demandante a indenização por danos
materiais, uma vez que, apesar de comprovado o atraso na entrega da mercadoria, não há
comprovação de que este atraso prejudicou de alguma forma o objetivo da postagem,
considerando que havia tempo hábil para a retirada, antes mesma da informada (e não
comprovada) cerimônia.
Ainda, quanto ao valor cobrado pela postagem, correto o pagamento, haja vista que o que cabia
à demandada foi feito, a postagem foi realizada, ainda que com alguns dias de atraso, os objetos
foram encaminhados e deixados à disponibilização do destinatário, tal como devido, que só não
os retirou por sua exclusiva vontade. Isto posto, é dever da parte remetente arcar com custos da
postagem, tal como ocorreu.
Quanto ao ponto, cumpre destacar que não houve comprovação de qualquer dano moral
suportado pela parte autora. O demandante sequer comprovou que efetivamente ocorreu a
cerimônia religiosa de sua filha e a data que esta teria se realizado, nem mesmo qualquer outra
circunstância de prejuízo efetivamente vivenciado.
Importante salientar que para a caracterização do dano moral se exige excepcionalidade, uma
intensidade de sofrimento que não seja aquela própria dos aborrecimentos corriqueiros de uma
vida normal. A lesão moral, para ensejar o direito de reparação deve ser injusta e grave. Injusta
por ser contrária ao direito, isto é, decorrente de um ato ilícito. Grave por ser uma perturbação
capaz de não apenas aborrecer a parte lesada, mas, também, causar-lhe excepcional sofrimento.
Trata-se de qualificar a perturbação moral sofrida como "dano moral", a ponto de justificar a
condenação da parte responsável ao pagamento de uma indenização, seja qual for o seu
montante pecuniário.
Todavia, a despeito da demora na entrega da mercadoria postada, tal fato, isoladamente, não
caracteriza o dano moral indenizável, que pressupõe ofensa grave e injusta que atinja a
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dignidade humana.
O que se demonstrou nos autos foi o atraso no recebimento de uma mercadoria. Não houve, no
tratamento entre as partes, qualquer conduta lesiva ou humilhante.(...)
No caso dos autos, a encomenda foi enviada em 11/11/2015. O prazo previsto para a
entrega era de 5 dias úteis, expirando em 18/11/2015. é fato incontroverso que a mercadoria chegou
ao destino em 30/11/2015, com 12 dias de atraso.
Logo, quanto ao dano material, a parte autora postula a devolução do valor pago pelo
serviço postal, bem como o ressarcimento do valor declarado do objeto ou a devolução dos objetos
postados.
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cobertura do seguro de vida (AgRg no AREsp 172.571/RN, 4ª Turma, Rel. Min. Raul Araújo,
julgado em 17/12/2013); exclusão de cobertura, por parte do plano de saúde, relativamente a
medicamentos dedicados ao tratamento da quimioterapia (REsp n.º 1.411.293/SP, 3ª Turma, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 03/12/2013); entre outros.
Sendo assim, não se presume, na hipótese em exame, o dano moral. Portanto, resta
necessária a comprovação do dano moral alegado. Entendo que a parte autora não logrou
apresentar, no decurso da lide, qualquer elemento probatório apto a atestar a existência de
abalo extrapatrimonial sofrido, de modo que o pedido improcede.
Em precedente mais recente, análogo ao caso destes autos, decidiu-se que o "dano
moral deve trazer ao indivíduo transtornos que superem os simples dissabores da vida cotidiana. E,
dos fatos narrados nos autos, não há como se inferir o dano de per si. Assim, caberia à parte
autora demonstrar que a conduta da demandada ocasionara lesão tão grave a si, a ponto de ferir e
rebaixar sua dignidade. Tal prova, contudo, não veio aos autos" (RI n.º 5001322-
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3. Decisão
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Giovani Bigolin
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