Você está na página 1de 7

ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPV A 22023


Disciplina/Matéria: DIREITO PENAL PARTE ESPECIAL
Sessão: 15 - Dia 01/11/2023 - 08:00 às 09:50
Professor: JOSE MARIA DE CASTRO PANOEIRO

15 Tema: Crimes contra a Administração Pública VI. Crimes contra a administração da justiça II. 1)
Crimes previstos nos artigos 348 a 359 do CP. a) Sujeitos do delito; b) Tipicidade objetiva e
subjetiva. 2) Aspectos controvertidos. 3) Concurso de crimes. 4) Pena e ação penal.

1ª QUESTÃO:
FLAVIO, advogado, atuou como representante e procurador do Município de Ferraz de Vasconcelos,
credor no processo de falência da sociedade empresária Incoval Válvulas Industriais LTDA., que foi
requerida pela Wr Estudos Econômico-Financeiros S/C LTDA.
No mesmo processo, na ocasião da arrematação de um bem da sociedade falida, FLAVIO atuou como
advogado da sociedade empresária Jovi Empreendimentos Imobiliários, que não sendo credora,
logrou êxito em arrematar o referido bem.
Em razão dos fatos narrados, o Ministério Público denunciou FLAVIO como incurso nas penas do
artigo 355, parágrafo único, do Código Penal.
Foi correta a tipificação penal feita pelo parquet? Fundamente a sua resposta.

DIREITO PENAL - CP03 - 05 - CPV - 2º PERÍODO 2023 16/10/2023 - Página 1 de 7


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESPOSTA:
STJ
Processo REsp 1722255 / SP
RECURSO ESPECIAL 2018/0025791-0
Relator(a) Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR (1148)
Órgão Julgador T6 - SEXTA TURMA
Data do Julgamento 04/09/2018
Data da Publicação/Fonte DJe 14/09/2018
Ementa PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ESPECIAL. IMPUTAÇÃO DE PRÁTICA DO
CRIME DE PATROCÍNIO SIMULTÂNEO OU TERGIVERSAÇÃO. ART. 355, PARÁGRAFO
ÚNICO, DO CP. ATIPICIDADE DA CONDUTA. INEXISTÊNCIA DE CONFLITO DE
INTERESSES. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA RESTABELECIDA.
1. Na hipótese dos autos, não ficou configurado o patrocínio simultâneo de partes contrárias no
mesmo processo, muito menos a presença de interesses antagônicos entre as partes. Ausentes os
elementos que configuram o tipo penal em questão, deve ser considerada atípica a conduta
praticada.
2. Irrelevante a alegação de que o Município de Ferraz de Vasconcelos tem interesse, na ação
falimentar, de que a venda do bem da massa falida atinja o maior valor de venda, de modo a
satisfazer o máximo de seu crédito, porquanto vigora no direito falimentar o princípio do par
conditio creditorum, o qual estabelece que todos os credores da empresa falida devem receber
tratamento paritário, dando-se aos que integram uma mesma classe iguais chances de
efetivação de seus créditos, nos termos do art. 126 da Lei n. 11.101/2005.
3. No caso, a proposta de arrematação do bem imóvel favorece a todos os credores da massa
falida, inexistindo, com isso, atuação contra os interesses

DIREITO PENAL - CP03 - 05 - CPV - 2º PERÍODO 2023 16/10/2023 - Página 2 de 7


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

doMunicípio.
4. Recurso especial provido para reformar o acórdão recorrido e consequentemente, restabelecer a
sentença às fls. 281/283.

Trechos da notícia da decisão: "Restabelecida sentença que absolveu advogado da acusação de defender
partes contrárias.
A Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento a um recurso para restabelecer
sentença que absolveu sumariamente um advogado acusado do crime de patrocínio simultâneo - quando o
profissional defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.
O advogado atuou como procurador do município de Ferraz de Vasconcelos (SP) em processo de falência
contra a empresa Incoval Válvulas Industriais Ltda., na condição de credor, e também, na mesma ação,
como representante da empresa Jovi Empreendimentos Imobiliários, em ato jurídico de arrematação de
imóvel da falida.
A sentença considerou que o município não é parte adversa da Jovi Empreendimentos na demanda
judicial, por isso não se configurou o crime de patrocínio simultâneo, também chamado de
tergiversação no Código Penal. Para o relator do recurso do advogado no STJ, ministro Sebastião
Reis Júnior, foi correta a interpretação da primeira instância.
"Como o recorrente apenas apresentou proposta de arrematação de bem imóvel da massa falida em nome
da empresa Jovi Empreendimentos Imobiliários, não se pode falar em conflito de interesses, porquanto tal
providência, na realidade, favorece os credores da massa falida, entre eles o município de Ferraz de
Vasconcelos; não visualizo, em momento algum, a atuação contra os interesses do município, que, repito,
como parte credora, objetiva receber os valores devidos pela empresa falida", fundamentou o ministro.
Situações diversas
O relator destacou que somente a conduta de quem efetivamente representa, como advogado ou
procurador judicial, na mesma lide, partes contrárias, encontra adequação típica na figura descrita
no artigo 355, parágrafo único, do Código Penal.
Sebastião Reis Júnior afirmou que o conflito apenas seria reconhecido, conforme

DIREITO PENAL - CP03 - 05 - CPV - 2º PERÍODO 2023 16/10/2023 - Página 3 de 7


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

mencionouo juízo de primeira instância, se a empresa Jovi Empreendimentos, representada


pelo acusado, também fosse credora da empresa falida, o que não aconteceu no caso.
Para o ministro, não chega a caracterizar conflito de interesses nem mesmo o fato de o
município, credor na ação falimentar, desejar que o imóvel atingisse o maior valor de venda,
"de modo a satisfazer o máximo possível de seu crédito", enquanto à arrematante interessava a
aquisição pelo preço mais baixo.
Ele destacou que a alienação do ativo no processo falimentar foi realizada pela modalidade de
propostas fechadas, e não houve notícia de nenhuma impugnação.
O Tribunal de Justiça de São Paulo havia reformado a sentença para dar prosseguimento à ação penal
por entender que o crime imputado ao advogado é formal, sendo desnecessária a comprovação de
dano efetivo.

2ª QUESTÃO:
CAIO foi condenado à pena de 8 anos de reclusão, e no curso do cumprimento da pena, lhe foi
concedido o benefício da saída temporária.
Após o seu o retorno à penitenciária, CAIO passou mal e foi levado ao hospital, onde foi submetido a
uma cirurgia para a retirada de 3 chips de celulares, ingeridos minutos antes de ele retornar ao
presídio.
Com base no fato narrado, CAIO deverá responder por algum crime? Em caso positivo, tipifique a
conduta dele.

RESPOSTA:
STJ (HC 619776/DF - Julgado em 26/04/2021)
Notícia veiculada em 27/04/2021
Para Quinta Turma, introdução de chip de celular em presídio não caracteriza crime
Entrar em presídio com chip de celular não corresponde ao crime de fazer ingressar aparelho
telefônico em estabelecimento prisional sem autorização legal (artigo 349-A do Código Penal). Essa
conclusão decorre da observância estrita ao princípio da legalidade, tendo em vista que o legislador se
limitou a punir a introdução de telefone ou similar na prisão, não fazendo qualquer referência a seus
componentes ou acessórios.
Com esse entendimento, a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) absolveu do delito
previsto no artigo 349-A do Código Penal um detento que, após saída temporária da prisão, voltou
para o estabelecimento com três chips de celular.
O relator do habeas corpus, ministro Ribeiro Dantas, explicou que, não havendo lei prévia que defina
como crime o ingresso de chip em presídio, impõe-se a absolvição do acusado, como consequência da
aplicação do princípio da legalidade.

Readequação da pena
Em reforço a essa posição, o magistrado citou precedentes do STJ que entenderam ser necessária a
estrita observância do princípio da legalidade na tipificação de condutas penais, a exemplo do RHC
98.058, no qual a Sexta Turma afastou uma condenação por adulteração de sinal identificador de
veículo porque o fato envolveu um semirreboque, e não um veículo automotor, mencionado
expressamente na definição do crime pelo Código Penal.
Além de absolver o detento pelo delito do artigo 349-A do CP, a Quinta Turma readequou sua pena
pelo crime de tráfico de drogas para sete anos de reclusão - mantendo, contudo, o regime fechado
para início de cumprimento da pena.

DIREITO PENAL - CP03 - 05 - CPV - 2º PERÍODO 2023 16/10/2023 - Página 4 de 7


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPV A 22023


Disciplina/Matéria: DIREITO PENAL PARTE ESPECIAL
Sessão: 16 - Dia 01/11/2023 - 10:10 às 12:00
Professor: JOSE MARIA DE CASTRO PANOEIRO

16 Tema: Crimes Contra o Estado Democrático de Direito. Crimes previstos nos artigos 359-I a 359-
R do CP e disposições comuns (art. 359-T do CP). a) Sujeitos do delito; b) Tipicidade objetiva e
subjetiva. c) Aspectos controvertidos. d) Pena e ação penal.

1ª QUESTÃO:
DANIEL, deputado federal, divulgou em sua rede social (YouTube) três vídeos nos quais aparece
fazendo ameaças ao Supremo Tribunal Federal e desferindo agressões verbais aos Ministros que, à
época, iriam apreciar o inquérito no qual DANIEL era investigado e que culminou na apresentação da
denúncia pelo Ministério Público.
Os conteúdos foram publicados em 17 de novembro e em 6 de dezembro de 2020, intitulados "Na
ditadura você é livre, na democracia é preso!" e "Convoquei as Forças Armadas para intervir no
STF".
Com base nesses fatos, o Ministério Público denunciou DANIEL como incurso nas penas do art. 23,
IV c/c o art. 18 da Lei nº 7.170/83 (Lei de Segurança Nacional).
A defesa não contestou os fatos narrados na denúncia, mas sustenta: (i) que as suas declarações
estariam acobertadas pela imunidade parlamentar material prevista no art. 53, caput, da Constituição
Federal; (ii) a abolitio criminis em relação aos delitos previstos na Lei de Segurança Nacional (Lei nº
7.170/83) em razão da entrada em vigor da Lei nº 14.197/2021.
Analise de forma fundamentada as alegações defensivas, indicando por qual crime e pena DANIEL
deverá responder.

DIREITO PENAL - CP03 - 05 - CPV - 2º PERÍODO 2023 16/10/2023 - Página 5 de 7


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RESPOSTA:
STF
AP 1044
NÚMERO ÚNICO: 0036863-31.2021.1.00.0000
Origem: DF - DISTRITO FEDERAL
Relator: MIN. ALEXANDRE DE MORAES
Julgamento: 19/4/2022

Trechos do acórdão:
Quanto a imunidade parlamentar
Em que pese a própria defesa não ter arguido, em sede preliminar, a incidência de imunidade
parlamentar nas condutas imputadas ao réu, o Plenário desta SUPREMA CORTE já afastou a sua
aplicação, pois as condutas e declarações não estão abrangidas pela imunidade material -
inviolabilidade (CF, art. 53, caput) - enquanto espécie qualificada do gênero "liberdade de expressão".
O Plenário do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, no juízo de recebimento da denúncia ora
analisada (Pet 9.456, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, DJe de 21/6/2021), por unanimidade,
afastou, tanto a alegação de exercício de liberdade de expressão, quanto a inexistência de imunidade
parlamentar prevista no art. 53, caput, da Constituição Federal, pois a jurisprudência da CORTE é
pacífica no sentido de que:
(a) a liberdade de expressão não permite a propagação de discursos de ódio e ideias contrárias à
ordem constitucional e ao Estado de Direito;
(b) a garantia constitucional da imunidade parlamentar material somente incide no caso de as
manifestações guardarem conexão com o desempenho da função legislativa ou que sejam proferidas
em razão desta, não sendo possível utilizá-la como verdadeiro escudo protetivo para a prática de
atividades ilícitas

(...)
A previsão constitucional do Estado Democrático de Direito consagra a obrigatoriedade do País ser
regido por normas democráticas, com observância da Separação de Poderes, bem como vincula a
todos, especialmente as autoridades públicas, ao absoluto respeito aos direitos e garantias
fundamentais, com a finalidade de afastamento de qualquer tendência ao autoritarismo e concentração
de poder.
A Constituição Federal não permite a propagação de ideias contrárias à ordem constitucional e ao
Estado Democrático (CF, arts. 5º, XLIV; 34, III e IV), nem tampouco a realização de manifestações
nas redes sociais visando o rompimento do Estado de Direito, com a extinção das cláusulas pétreas
constitucionais Separação de Poderes (CF, art. 60, §4º), com a consequente, instalação do arbítrio.
A liberdade de expressão e o pluralismo de ideias são valores estruturantes do sistema democrático. A
livre discussão, a ampla participação política e o princípio democrático estão interligados com a
liberdade de expressão tendo por objeto não somente a proteção de pensamentos e ideias, mas
também opiniões, crenças, realização de juízo de valor e críticas a agentes públicos, no sentido de
garantir a real participação dos cidadãos na vida coletiva.
Dessa maneira, tanto são inconstitucionais as condutas e manifestações que tenham a nítida finalidade
de controlar ou mesmo aniquilar a força do pensamento crítico, indispensável ao regime democrático;
quanto aquelas que pretendam destruí-lo, juntamente com suas instituições republicanas; pregando a
violência, o arbítrio, o desrespeitoà S

DIREITO PENAL - CP03 - 05 - CPV - 2º PERÍODO 2023 16/10/2023 - Página 6 de 7


ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

eparação de Poderes e aos direitos fundamentais, em suma, pleiteando a tirania, o arbítrio, a violência
e a quebra dos princípios republicanos, como se verifica pelas manifestações criminosas e
inconsequentes do réu DANIEL SILVEIRA

Quanto a abolitio criminis


Ocorre, porém, que INEXISTIU ABOLITIO CRIMINIS, pois a evolução legislativa produzida pelo
Congresso Nacional em defesa da Democracia e de suas Instituições efetuou o fenômeno jurídico
conhecido como CONTINUIDADE NORMATIVO-TÍPICA, estabelecendo - na nova lei - as
elementares dos tipos penais utilizados pelo Ministério Público no momento do oferecimento da
denúncia; mantendo, dessa forma, as condutas descritas no campo da ilicitude penal.

Quanto a aplicação da lei penal no tempo


Por fim, para efeito de aplicação da pena, importante a análise da sucessão de leis penais no tempo e
sua possível retroatividade, nos termos do art. 5º, XL, da Constituição Federal.
O art. 18 da antiga Lei de Segurança Nacional previa a pena de reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos. O
atual art. 359-L do Código Penal prevê a pena de reclusão de 4 (quatro) a 8 (oito) anos. Assim, a
condenação do réu deverá levar em conta a pena prevista do artigo revogado, considerada a
ULTRATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS BENÉFICA.
(...)
Dessa maneira, deve ser aplicada a LEI PENAL MAIS BENÉFICA AO RÉU (art. 23, IV, combinado
com o art. 18, ambos da Lei 7.170/83), que possuirá ULTRATIVIDADE, aplicando-se aos fatos
praticados durante sua vigência, uma vez que o preceito secundário da norma revogadora (atual art.
359-L, do Código Penal) é mais severa e o texto constitucional VEDA A RETROATIVIDADE IN
PEJUS.

DIREITO PENAL - CP03 - 05 - CPV - 2º PERÍODO 2023 16/10/2023 - Página 7 de 7

Você também pode gostar