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Tribunal de Justiça da Paraíba

PJe - Processo Judicial Eletrônico

09/11/2021

Número: 0871375-84.2019.8.15.2001
Classe: APELAÇÃO CÍVEL
Órgão julgador colegiado: 1ª Câmara Cível
Órgão julgador: Des. Leandro dos Santos
Última distribuição : 28/09/2020
Valor da causa: R$ 2.430,32
Processo referência: 0871375-84.2019.8.15.2001
Assuntos: Financiamento de Produto
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
ANA MARIA ALVES TAVARES (APELANTE) GIZELLE ALVES DE MEDEIROS VASCONCELOS
(ADVOGADO)
KEHILTON CRISTIANO GONDIM DE CARVALHO
(ADVOGADO)
bv financeira sa credito financiamento e investimento JOAO FRANCISCO ALVES ROSA (ADVOGADO)
(APELADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
12925 08/10/2021 19:29 Acórdão Acórdão
299
Poder Judiciário
Tribunal de Justiça da Paraíba
Des. Leandro dos Santos

ACÓRDÃO

APELAÇÃO CÍVEL Nº 0871375-84.2019.8.15.2001

RELATOR : Desembargador LEANDRO DOS SANTOS

APELANTE : Ana Maria Alves Tavares

APELADA : BV Financeira S.A

ORIGEM : Juízo da 3ª Vara Cível da Capital

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLAÚSULA


CONTRATUAL COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO
DOS JUROS INCIDENTES SOBRE TARIFAS DECLARADAS ILEGAIS EM
PROCESSO ANTERIOR. PRESCRIÇÃO DECLARADA. IRRESIGNAÇÃO DO
AUTOR. PRESCRIÇÃO DECENAL DO ARTIGO 205 DO CÓDIGO CIVIL.
TERMO A QUO. TÉRMINO DO CONTRATO. SENTENÇA ANULADA.
IMPOSSIBILIDADE DE JULGAMENTO IMEDIATO DIANTE DA NÃO
TRIANGULARIZAÇÃO DO FEITO SOB PENA DE OFENSA AO PRINCÍPIO DO
CONTRADITÓRIO. RETORNO DOS AUTOS AO PRIMEIRO GRAU.
PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO.

Prescrição. Prazo decenal. Nas ações em que se pretende a repetição dos juros incidentes
sobre as tarifas declaradas ilegais em processo anterior, o prazo prescricional a ser aplicado
é o decenal, previsto no artigo 205 do Código Civil, com termo inicial computado não da
data da assinatura do contrato, mas sim da data do vencimento da última parcela. Sentença
anulada. Impossibilidade de Julgamento imediato. Retorno dos autos à origem.

RELATÓRIO

Assinado eletronicamente por: Leandro dos Santos - 08/10/2021 19:29:41 Num. 12925299 - Pág. 1
http://pje.tjpb.jus.br:80/pje2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21100819294112500000012877717
Número do documento: 21100819294112500000012877717
Trata-se de Apelação Cível interposta por Ana Maria Alves Tavares contra a Sentença proferida pelo Juiz
da 3ª Vara Cível de Capital, que julgou IMPROCEDENTE O PEDIDO, reconhecendo a prescrição do
pedido pleiteado, extinguindo o processo com resolução do mérito. Sem condenação em honorários, pois
não instaurado o contraditório.

Irresignada, a Autora alega, preliminarmente, que a prescrição não se operou, posto que o prazo para a
propositura da ação seria decenal, previsto no artigo 205 do Código Civil. Sustenta que o reconhecimento
da prescrição é um grande equívoco, tendo em vista que os prejuízos se acumulam ao longo das parcelas.
Defende, ainda desta forma a aplicação do prazo prescricional de 10 anos, conforme artigo 205, do
Código Civil, bem como que o marco inicial da contagem do referido prazo é o vencimento da última
parcela, que é o momento em que os prejuízos cessam.

Contrarrazões – id 8048143.

Instada a se pronunciar, a Procuradoria Geral de Justiça na ofertou parecer de mérito (Id 8226159).

É o relatório.

VOTO

DA PREJUDICIAL DE MÉRITO - PRESCRIÇÃO

Analisando-se a alegação da parte Recorrente, afirma que o termo inicial da contagem é data de
vencimento da última parcela do contrato, e não a data de celebração do contrato.

De fato, esse termo inicial (data da assinatura do instrumento contratual) é o adotado pelo STJ para as
Ações Revisionais de Contrato típicas. Confira-se:

Assinado eletronicamente por: Leandro dos Santos - 08/10/2021 19:29:41 Num. 12925299 - Pág. 2
http://pje.tjpb.jus.br:80/pje2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21100819294112500000012877717
Número do documento: 21100819294112500000012877717
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO. MÚTUO
BANCÁRIO. PRESCRIÇÃO. TERMO A QUO. DATA DA ASSINATURA DO
AJUSTE.

1. Ação revisional de contrato.

2. O termo inicial do prazo prescricional decenal nas ações de revisão de contrato


bancário, em que se discute a legalidade das cláusulas pactuadas, é a data da
assinatura do contrato. Súmula 568/STJ.

3. Agravo interno não provido.

(AgInt nos EDcl no REsp 1897309/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 15/03/2021, DJe 18/03/2021)

Todavia, nas ações em que se busca a repetição dos valores pagos a título de juros incidentes sobre as
tarifas declaradas ilegais em processo anterior, o prazo prescricional a ser aplicado é o decenal, previsto
no artigo 205 do Código Civil, com termo inicial computado não da data da assinatura do contrato, mas
sim da data do vencimento da última parcela. A propósito, oportuno transcrever o seguinte julgado da
nossa Corte de Justiça:

PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA QUARTA


CÂMARA CÍVEL ACÓRDÃO Apelação Cível nº 0804641-40.2019.8.15.0001 Apelante:
Ivo Freire da Silva Apelada: Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S/A
APELAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS. EXTINÇÃO DO PROCESSO COM JULGAMENTO DO MÉRITO.
PRESCRIÇÃO RECONHECIDA EM PRIMEIRO GRAU. IRRESIGNAÇÃO DO
PROMOVENTE. PREJUDICIAL DE PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. PRAZO
DECENAL. INTELIGÊNCIA DO ART. 205, DO CÓDIGO CIVIL. RELAÇÃO
OBRIGACIONAL DE DIREITO PESSOAL. MARCO INICIAL. DATA DE
VENCIMENTO DA ÚLTIMA PRESTAÇÃO. DESCONSTITUIÇÃO DA SENTENÇA.
RETORNO DOS AUTOS AO JUÍZO ORIGINÁRIO. CAUSA NÃO MADURA PARA
JULGAMENTO. INAPLICABILIDADE DO ART. 1.013, §3º, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. PROVIMENTO DO RECURSO. - Tratando-se a relação
obrigacional de cunho de direito pessoal, o prazo prescricional, para o ajuizamento de ação
revisional de contrato, é decenal, nos moldes do art. 205, do código civil. - O termo inicial
da prescrição é o dia de vencimento da última prestação, por se tratar de obrigação única,
que se convalida com o adimplemento integral do valor emprestado. - Ausentes os
requisitos legais, não pode o Tribunal ad quem, aplicar o disposto no art. 1.013, §3º, do
Código de Processo Civil, e julgar, de imediato, a lide.

Assinado eletronicamente por: Leandro dos Santos - 08/10/2021 19:29:41 Num. 12925299 - Pág. 3
http://pje.tjpb.jus.br:80/pje2g/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21100819294112500000012877717
Número do documento: 21100819294112500000012877717
(0804641-40.2019.8.15.0001, Rel. Des. Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho,
APELAÇÃO, 4ª Câmara Cível, juntado em 06/08/2019).

Nesse sentido, o julgado a seguir do Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ANULATÓRIA DE NEGÓCIO JURÍDICO CUMULADA


COM REPETIÇÃO DO INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -
CONTRATO BANCÁRIO - ANULAÇÃO DO NEGÓCIO POR ERRO - PRAZO
DECADENCIAL - PRETENSÃO DE REVISÃO DAS CLÁUSULAS CONTRATUAIS -
PRESCRIÇÃO AFASTADA - INDEFERIMENTO DE PROVAS DISPENSÁVEIS À
SOLUÇÃO DA LIDE - CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CONFIGURADO -
CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO E EMPRÉSTIMO CONSIGNADO -
VIOLAÇÃO AO DEVER DE INFORMAÇÃO ACERCA DA NATUREZA DA
CONTRATAÇÃO - EQUIPARAÇÃO DAS TAXAS DE JUROS DAS OPERAÇÕES -
EXCEPCIONAL POSSIBILIDADE - DANOS MORAIS - INOCORRÊNCIA NO CASO.

1. O prazo para se pleitear a anulação do negócio jurídico por erro é de quatro anos,
contados do dia em que se realizou o negócio, sob pena de decadência do direito de
anulação.

2. A pretensão revisional de contrato bancário cumulada com pedido de repetição de


indébito possui natureza pessoal e prescreve no prazo de 10 (dez) anos, possuindo como
termo inicial a data do vencimento da última parcela, quando a obrigação é contratada para
adimplemento em prestações sucessivas.

3. Não configura cerceamento de defesa o indeferimento de prova que se revela inútil ou


desnecessária ao julgamento do mérito, constatando-se suficientes à solução da lide os
demais elementos probatórios presentes nos autos.

4. Possível, excepcionalmente, a equiparação das taxas de juros do empréstimo contraído


por cartão de crédito consignado aos encargos aplicáveis sobre o empréstimo consignado
convencional, quando verificada, no caso concreto, a manifesta violação ao dever da
instituição financeira de prestar informação clara e adequada sobre a natureza e
características da operação, induzindo o consumidor a legítimo equívoco acerca da espécie
de mútuo.

5. Ausente nexo de causalidade entre a conduta da instituição financeira e a violação aos


direitos de personalidade alegada pelo autor, não há como se acolher a pretensão
indenizatória a título de danos morais.

Assinado eletronicamente por: Leandro dos Santos - 08/10/2021 19:29:41 Num. 12925299 - Pág. 4
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6. Apelação parcialmente provida. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.20.484005-2/001,
Relator(a): Des.(a) -Fausto Bawden de Castro Silva (JD Convocado) , 9ª CÂMARA
CÍVEL, julgamento em 23/03/2021, publicação da súmula em 26/03/2021)

Isso porque a prescrição do direito de ação concernente a repetição do indébito, quando a obrigação é
contratada para adimplemento em prestações sucessivas, somente tem início após a realização do último
pagamento. Desse modo, verificando-se que o contrato foi assinado em abril de 2006 (Id 8048118), com o
pagamento da última parcela prevista para abril de 2010 (termo inicial), o termo final do prazo decenal foi
atingido em março de 2020. Logo, conclui-se que não se operou a prescrição, vez que a presente demanda
foi proposta no ano de 2019.

Portanto, deve ser anulada a Sentença e determinado o retorno dos autos ao primeiro grau para o regular
processamento do feito, ficando impossibilitado o julgamento imediato da causa por esta instância
recursal sob pena de ofensa ao princípio do contraditório, tendo em vista a ausência de citação do
Promovido para compor o processo.

Feitas essas considerações, PROVEJO, PARCIALMENTE, A APELAÇÃO PARA AFASTAR A


PRESCRIÇÃO, ANULANDO A SENTENÇA, e, consequentemente, determinando o retorno dos
autos ao primeiro grau para citação do Promovido e regular processamento do feito.

É o voto.

Presidiu a sessão o Excelentíssimo Desembargador Leandro dos Santos. Participaram do julgamento,


além do Relator, o Excelentíssimo Desembargador Leandro dos Santos, a Excelentíssima Desembargadora
Maria de Fátima Moraes Bezerra Cavalcanti e o Excelentíssimo Desembargador José Ricardo Porto.

Presente à sessão a Representante do Ministério Público, Dra. Janete Maria Ismael da Costa Macedo,
Procuradora de Justiça.

Sessão Virtual realizada no período de 04 a 13 de outubro de 2021.

Desembargador LEANDRO DOS SANTOS

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Número do documento: 21100819294112500000012877717
Relator

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Número do documento: 21100819294112500000012877717

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