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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 6ª VARA CÍVEL DA

COMARCA DE BRASÍLIA – DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS

Processo: 0733828-05.2022.8.07.0001

BANCO VOLKSWAGEN S/A, sociedade inscrita no CNPJ/MF sob o nº


59.109.165/0001-49, com sede na Rua Volkswagen, nº 291, Bairro Jabaquara, São Paulo/SP,
vem, por seus advogados (doc. 1), nos autos da ação que lhe move, JAIME MARTINS
LINS vem, respeitosamente, apresentar a sua

CONTESTAÇÃO

pelos motivos de fato e de direito a seguir descritos.

1. SÍNTESE DA INICIAL:

Cuida-se de ação em que se alega a existência de cláusulas abusivas e


encargos indevidos, referentes ao contrato 45752922 firmado em 08/12/2020.
Alega a parte autora que adquiriu o veículo, VOLKSWAGEN 5U7 - GOL
1.0 12V ETA./GAS. 4P 9BWAG45U4MT096440 com um valor de R$ 15.510,00 (quinze mil e
quinhentos e dez reais) de entrada, sendo o valor total da cédula de crédito em R$ 57.849,60
(cinquenta e sete mil e oitocentos e quarenta e nove reais e sessenta centavos) a ser pago em
48 parcelas de R$ 1.205,20 (um mil e duzentos e cinco reais e vinte centavos).

A parte Autora ingressou com a presente demanda buscando a revisão do


contrato.

Contudo, como se demonstrará a seguir, os pleitos são infundados e, em


sua maioria, contrários à jurisprudência há muito consolidada.

2. DO JUÍZO 100% DIGITAL:

Oportunamente, com todo respeito e acatamento, discorda da adoção do


juízo 100% digital no presente caso, conforme autorizado pelo art. 3° e § 1° da Resolução n°
354/2020 do CNJ.

Tal recusa se deve ao volume de processos sob a responsabilidade deste


peticionante, sendo imprescindível que as intimações continuem sendo feitas através do DJE
ou sistemas eletrônicos, a fim de evitar prejuízos aos clientes e efetivo controle dos prazos.

Contudo, importante mencionar, ainda, que tal recusa é apenas com relação
ao recebimento de intimações e não há óbice para realização de demais atos de forma digital,
nos termos do § 5º do artigo citado acima.

Assim, informa que não há qualquer contrariedade à realização de


audiências pelo meio virtual e indica abaixo o e-mail cgv.virtuais@cgvadvogados.com.br, como
meio exclusivo para envio de links de audiências, vedadas demais intimações.

3. PRELIMINARMENTE:
3.1 DA IMPUGNAÇÃO AO VALOR DA CAUSA:

Os valores dos pedidos somados compreendem o valor final da petição,


além de tudo isso, o valor da causa é requisito da petição inicial.

O art. 291 do Código de Processo Civil prevê: “A toda causa será atribuído
valor certo, ainda que não tenha conteúdo econômico imediatamente aferível."

Ou seja, o valor da causa deve ser baseado nos pedidos e mérito da petição
inicial, o qual deverá estar expressamente mencionado nos pedidos, sob pena de inépcia da
inicial.

A parte autora atribui valor econômico a causa, porém deve corresponder


ao valor integral do contrato.

Assim, a parte autora atribui valor extraordinário à sua peça de ingresso.

Deste modo, caso tenha algum erro face ao valor da causa este deve ser
alegado na primeira oportunidade dos autos.

Conforme exposto acima, o valor da causa deve ser baseado nos pedidos,
havendo visivelmente uma discrepância entre os valores trazidos pela parte.

Sendo assim, pugna-se pela correção do valor da causa.

3.2. DA IMPUGNAÇÃO À JUSTIÇA GRATUITA:

A justiça gratuita é concedida pelo Poder Público para viabilizar o acesso à


justiça àqueles que não têm recursos necessários para pagar custas, despesas processuais e
os honorários advocatícios. O benefício pode ser contestado ou até mesmo reconhecido de
ofício pelo D. Juiz quando a outra parte não fizer jus, como é o presente caso.
Ademais, insta consignar que, caso a parte Autora fosse hipossuficiente,
não teria entabulado com este Banco Contestante um financiamento de automóvel na
quantia de R$ 57.849,60 (cinquenta e sete mil e oitocentos e quarenta e nove reais e
sessenta centavos) a ser paga em 48 parcelas no valor de R$ 1.205,20 (um mil e duzentos e
cinco reais e vinte centavos).

Além das provas fáticas e documentais apresentadas, a parte autora indicou


advogado particular para patrocinar sua causa, com isso, resta concluído que não faz jus ao
benefício, devendo imediatamente promover o pagamento das custas e despesas
processuais, a fim de evitar o imediato cancelamento da distribuição do feito, nos termos do
artigo 290 do Novo Código de Processo Civil. 1

Verifica-se, ainda, que o autor não juntou nenhum documento que


comprove sua carência financeira. E, sobre a necessidade de comprovar através de
documentos a alegação de hipossuficiência, segue posicionamento jurisprudencial:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. AÇÃO INDENIZATÓRIA.


PESSOA FÍSICA. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DA DIFICULDADE FINANCEIRA. INDEFERIMENTO. A mera
alegação de necessidade é relativa, podendo o julgador exigir a demonstração da efetiva
necessidade ou incapacidade financeira que impossibilite a parte de suportar as custas
processuais. Impossibilidade de deferimento do benefício apenas com a declaração da
necessidade, se outros elementos dessa condição são exigidos pelo magistrado. Agravo a
que se nega seguimento. (Agravo de Instrumento nº. 70076345057, Décima Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em 25/01/2018. TJ-RS – AI
70076345057 RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Data de Julgamento: 25/01/2018, Décima Sétima
Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 26/01/2018).

1AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.


DECLARAÇÃO DE POBREZA. PRESUNÇÃO RELATIVA. POSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA DE PROVA DA ALEGADA
POBREZA. HIPOSSUFICIÊNCIA NÃO COMPROVADA. JUSTIÇA GRATUITA NÃO CONCEDIDA. RECURSO
DESPROVIDO. 1. A declaração de pobreza, a princípio, dispensa o requerente de comprovação; entretanto, há
possibilidade de se exigir prova da hipossuficiência quando assim o entender o magistrado ou quando houver impugnação
da parte contrária. 2. A apresentação de "declaração de imposto de renda ou sua inexistência" exigida pelo magistrado a
quo apresenta-se razoável para fins de elucidar a alegada insuficiência. Contudo, esta exigência não foi cumprida, vez que,
da análise dos autos, depreende-se que a autora é uma comerciante, possuindo rendimentos mensais, ao contrário do que
alega, de modo que sua alegada hipossuficiência não restou comprovada. 3. Agravo desprovido, à unanimidade. (TJ-PE -
AGR: 3533135 PE, Relator: Jones Figueirêdo, Data de Julgamento: 13/11/2014, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação:
19/11/2014)
APELAÇÃO CÍVEL. REVISÃO DE CONTRATO. FINANCIAMENTO DE VEÍCULO EM
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. SENTENÇA QUE DETERMINOU O CANCELAMENTO DA
INICIAL. INSURGÊNCIA DA PARTE AUTORA. PEDIDO DE JUSTIÇA GRATUITA.
INDEFERIMENTO PELO JUÍZO A QUO. DETERMINAÇÃO PARA EFETUAR O
PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS. AGRAVO RETIDO INTERPOSTO NA
VIGÊNCIA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973. ATO JURÍDICO PERFEITO.
POSSIBILIDADE DE ANÁLISE, DE ACORDO COM A PARTE FINAL DO ARTIGO 14 DO
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. AUSÊNCIA DE REEDIÇÃO NAS RAZÕES DE
APELAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREPARO. INEXISTÊNCIA DE PROVAS DA
HIPOSSUFICIÊNCIA. BENESSE INDEFERIDA NESTE GRAU DE JURISDIÇÃO. APELO
DESERTO. Recurso não conhecido. (TJSC, Apelação Cível n. 0301912-14.2015.8.24.0058, de São
Bento do Sul, rel. Des. Guilherme Nunes Born, Primeira Câmara de Direito Comercial, j. 01-02-
2018).

Por esses motivos, a parte autora não faz jus ao benefício, devendo
imediatamente promover o pagamento das custas e despesas processuais, nos termos do
artigo 290 do Código de Processo Civil. 2

Outrossim, em caso de impossibilidade do pagamento à vista, das custas,


requer seja possibilitado ao Autor o devido parcelamento, nos termos do §6º do art. 98 do
Código de Processo Civil.

Alternativamente, caso não seja este o entendimento de Vossa Excelência,


REQUER-SE a intimação da parte autora para que apresente voluntariamente suas
despesas mensais, comprovantes de pagamento ou cópia da última Declaração de

2AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA.


DECLARAÇÃO DE POBREZA. PRESUNÇÃO RELATIVA. POSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA DE PROVA DA ALEGADA
POBREZA. HIPOSSUFICIÊNCIA NÃO COMPROVADA. JUSTIÇA GRATUITA NÃO CONCEDIDA. RECURSO
DESPROVIDO. 1. A declaração de pobreza, a princípio, dispensa o requerente de comprovação; entretanto, há
possibilidade de se exigir prova da hipossuficiência quando assim o entender o magistrado ou quando houver impugnação
da parte contrária. 2. A apresentação de "declaração de imposto de renda ou sua inexistência" exigida pelo magistrado a
quo apresenta-se razoável para fins de elucidar a alegada insuficiência. Contudo, esta exigência não foi cumprida, vez que,
da análise dos autos, depreende-se que a autora é uma comerciante, possuindo rendimentos mensais, ao contrário do que
alega, de modo que sua alegada hipossuficiência não restou comprovada. 3. Agravo desprovido, à unanimidade. (TJ-PE -
AGR: 3533135 PE, Relator: Jones Figueirêdo, Data de Julgamento: 13/11/2014, 4ª Câmara Cível, Data de Publicação:
19/11/2014)
Imposto de Renda, como único meio possível de comprovar que possui ou não condições
arcar com o ônus financeiro deste processo.

Embora possa parecer providência extrema, a obtenção da Declaração de


Imposto de Renda da autora é o único meio eficaz de inibir o aproveitamento indevido da
concessão de Justiça Gratuita, impedindo aqueles que pleiteiam e conseguem gratuidade
indevida à parte que possui condições financeiras, mas que por ardil ou comodidade prefere
usufruir indevidamente e de maneira vergonhosa desta benesse social.

3.3. DA ILEGITIMIDADE PASSIVA PARA RESTITUIÇÃO DOS VALORES


RELATIVOS AO SEGURO DE PROTEÇÃO FINANCEIRA:

A parte autora indica a inserção da cobrança de valor correspondente ao


seguro de proteção financeira no seu contrato, requerendo que a instituição financeira seja
condenada a restituí-la.

No entanto, o Banco Réu é parte ilegítima no que tange à restituição desses


valores e quitação do contrato, tendo em vista que apenas disponibiliza o crédito aos
consumidores para aquisição de bens, não sendo responsável pelo contrato de seguro
firmado pelo autor. Vejamos.

O seguro materializa-se através de um contrato que uma pessoa física ou


jurídica (segurado) faz com uma pessoa jurídica (seguradora), que lhe garante o
recebimento de um montante em espécie ou a reposição do bem, caso ocorram eventos que
estejam previstos no objeto do negócio jurídico.

Independentemente do fato de os consumidores poderem contratar o


seguro de proteção financeira diretamente com as seguradoras, optam por financiar o
pagamento do prêmio na mesma operação de financiamento do veículo.

Desta forma, os valores são repassados à Seguradora, sendo esta a parte


legítima para eventual devolução de valores referentes ao seguro de proteção financeira.
No que tange a apólice de seguro firmada com a Cardif do Brasil Vida e
Previdência S.A, estamos diante de ilegitimidade gritante, visto que o Banco Volkswagen
não possui qualquer responsabilidade quanto ao pagamento do prêmio do seguro.

Ademais, se a parte autora realizou qualquer pagamento, seja a que título


for, conforme alegou em sua exordial, tal pagamento foi repassado à Seguradora, e por essa
razão, não deve o banco ser responsabilizado pela restituição ou pagamento desses valores.

Sabe-se que para estar presente à legitimidade passiva, é preciso que exista
relação de sujeição diante da pretensão do autor, estabelecendo um vínculo entre a
pretensão e o Réu, o que evidentemente não há no caso em tela.

Isto porque não se pode vincular terceiro, neste caso o Banco Volkswagen,
que atua no ramo de concessão de créditos, e não no ramo de seguros, a uma relação
obrigacional que não lhe diz respeito.

Assim, o Banco Volkswagen é parte ilegítima para figurar no polo passivo


da presente ação, no que tange à restituição dos valores concernentes ao seguro de proteção
financeira, razão pela qual, requer o acolhimento desta preliminar.

3.4. PRETENSÃO RESISTIDA:

Antes de apresentar sua contestação, o réu chama a atenção para o abuso


do direito de ação pela parte autora.

Como em tantos outros casos, o réu tem sido citado para responder a ações
judiciais sem que a parte autora tenha, previamente, tentado a solução amigável do litígio.
O que se vê, portanto, é uma preferência pela judicialização em vez da busca pela solução
amigável do conflito, solução esta que é princípio basilar do CPC, positivado no art. 3º, §§
2º e 3º, do referido diploma3.

3CPC: art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. (...) § 2º O Estado promoverá, sempre
que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual
Essa primazia da judicialização acaba por abarrotar o sistema judiciário com
demandas que poderiam ser resolvidas de forma prévia e consensual, caso os demandantes
fizessem uso dos canais disponíveis para a resolução de conflitos, como, por exemplo, o
Serviço de Atendimento ao Cliente e Ouvidoria (disponibilizados através de e-mail, site na
Internet e telefone), bem como, a ferramenta consumidor.gov.br4 do Senacon/MJ, à qual o réu
aderiu.

Segundo último estudo publicado no site do Conselho Nacional da Justiça


– CNJ no Relatório Justiça em números 2019, em média um juiz julgou quase 8 casos por dia
útil, num Judiciário que possui uma carteira de 78,7 milhões de processos ativos que
demanda gastos da ordem de R$ 93,7 bilhões.

Trata-se, portanto, de movimentação excessiva, desnecessária e açodada do


Judiciário que ajuda a privar toda a sociedade da possibilidade de decisões céleres, porém
pensadas e analisadas sem a constante pressão decorrente da necessidade de se lidar com
volume desumano de ações. Em outras palavras, em situações como a presente resta
flagrante que uma parte da população terceiriza indevidamente ao Poder Judiciário o dever
de buscar o diálogo, prejudicando assim a sociedade como um todo que depende do
Judiciário para solucionar casos em que o diálogo foi infrutífero.

Em tais situações, diversos tribunais têm extinguido a demanda em razão


do abuso do direito de ingressar com ação judicial sem antes tentar a solução amigável do
conflito5. O STJ já pacificou no REsp nº 1.349.453/MS6, julgado pelo rito dos recursos

de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público,
inclusive no curso do processo judicial.
4Visitado em 29/10/2019: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI295576,91041-
Pretensao+resistida+nas+relacoes+de+consumo+consumidorgovbr.
5TJRS, 9ª Câmara Cível, Apel. nº 70079041182, Rel. Des. Eugênio Facchini Neto, DJe 16/11/2018; TJRS, 17ª Câmara Cível,
Ag. Inst. nº 70077234706, Rel. Des. Paulo Sérgio Scarparo, DJe 2/07/2018; TJRS, 9ª Câmara Cível, Ag. Inst. nº 70068818301,
Rel. Des. Carlos Eduardo Richinitti, DJe 13/05/2016.
6STJ, Segunda Seção, REsp 1349453/MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 02/02/2015: “PROCESSO CIVIL. RECURSO
ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C DO CPC. EXPURGOS INFLACIONÁRIOS EM
CADERNETA DE POUPANÇA. EXIBIÇÃO DE EXTRATOS BANCÁRIOS. AÇÃO CAUTELAR DE EXIBIÇÃO DE
DOCUMENTOS. INTERESSE DE AGIR. PEDIDO PRÉVIO À INSTITUIÇÃO FINANCEIRA E PAGAMENTO DO
CUSTO DO SERVIÇO. NECESSIDADE. 1. Para efeitos do art. 543-C do CPC, firma-se a seguinte tese: A propositura de ação
cautelar de exibição de documentos bancários (cópias e segunda via de documentos) é cabível como medida preparatória a fim de instruir
a ação principal, bastando a demonstração da existência de relação jurídica entre as partes, a comprovação de prévio pedido
à instituição financeira não atendido em prazo razoável, e o pagamento do custo do serviço conforme previsão contratual e
normatização da autoridade monetária”.
repetitivos, a imprescindibilidade da via administrativa para o requerimento de exibição de
documentos, tendo, inclusive, estendido tal necessidade para as ações de exibição de
contas7. O STJ entende, portanto, que o autor, ao deixar de buscar a via administrativa antes
da propositura da demanda, demonstra a ausência de interesse de agir, devendo a demanda
ser extinta, nos termos do art. 485, VI, do CPC.

Em mencionadas decisões, verifica-se verdadeira homenagem do Judiciário


aos meios de solução amigável de conflitos que em última instância contribui para a
desjudicialização não somente das relações de consumo, mas da sociedade brasileira como
um todo.

Dessa forma, o mesmo raciocínio deve ser aplicado ao caso em questão, eis
que o demandado possui canal próprio para a solução do conflito de maneira prévia, o que
não foi observado pela parte autora.

Requer-se, portanto, a extinção da demanda nos termos do art. 485, VI, do


CPC, ou, alternativamente, conforme permite o art. 1908 e 313, II9, do CPC, a suspensão da
demanda a fim de possibilitar a composição das partes por meio da ferramenta

7STJ, Segunda Seção, REsp 1561427/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, DJe 02/04/2018: “RECURSO ESPECIAL.
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR FECHADA. AÇÃO PARA EXIGIR CONTAS. INTERESSE DE
AGIR. IMPRESCINDIBILIDADE. RESGATE. DIREITO À ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA DOS VALORES VERTIDOS
PELO EX-PARTICIPANTE. PRESTAÇÃO DE CONTAS EM FORMA MERCANTIL. INUTILIDADE. 1. Aquele que administra
bens ou interesses alheios está obrigado a prestar contas da administração, do mesmo modo que aquele que tenha seus bens ou interesses
administrados por outrem tem direito a exigir as contas correspondentes à gestão. 2. Por um lado, a instauração de demanda judicial,
com o escopo de obter a prestação de contas, tem o objetivo de liquidar a relação de direito material, constituindo procedimento com a
destinação específica de compor litígio real entre as partes, só ressaindo o interesse quando haja recusa na dação ou na aceitação das
contas particulares. 3. Por outro lado, por ocasião do julgamento de leading case, sob o rito da repercussão geral, pelo Plenário - RE
631.240, relator Ministro Roberto Barroso -, o STF perfilhou o entendimento de que a instituição de condições para o regular exercício
do direito de ação é compatível com o art. 5º, XXXV, da Constituição. Para se configurar a presença do interesse de agir, é preciso haver
necessidade de ir a juízo, não se caracterizando, no tocante a requerimento administrativo, ameaça ou lesão a direito antes da sua
apresentação, da apreciação e do indeferimento. 4. O resgate é instituto jurídico existente no regime de previdência privada, pelo qual
o ex-participante, que ainda não atingiu a qualidade de assistido (beneficiário) do plano de benefícios, opta por se desligar da relação
jurídica contratual - hipótese em que tem direito, tão somente, à devolução, com atualização monetária, dos valores que aportou ao
fundo do respectivo plano de benefícios (Súmulas 289 e 290 do STJ). Com efeito, a controvérsia teria de se limitar à reserva de poupança,
não se vislumbrando interesse processual da autora para o exame de aspectos diversos acerca da gestão do fundo formado, pois não mais
integra a coletividade de participantes e beneficiários do plano de benefícios. 5. Recurso especial provido”.
8CPC: Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes
estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus,
poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo.
9CPC: Art. 313. Suspende-se o processo: II - pela convenção das partes.
consumidor.gov.br, bem como pelos demais canais oficiais10, e evitando, portanto, o
prosseguimento de litígio desnecessário.

4. MÉRITO:

4.1. DO CONTRATO COMO INSTRUMENTO FORMAL E MATERIALMENTE


VÁLIDO:

Ao contrário das alegações da Autora, o contrato questionado é perfeito e


acabado, firmado livre e espontaneamente por ele, devidamente dentro das formalidades
legais exigidas, e com alguma vantagem, já que foi ela quem procurou o Contestante e não
o contrário.

Desse modo, causa estranheza a Autora, após a formalização e pagamento


das prestações do contrato, alegar irregularidades, já que quando o assinou, anuiu com
todos os seus termos, conforme abaixo:

10Central de Relacionamento: 0800-7701936 | Capitais e Regiões Metropolitanas: 4003 6636 | SAC: 0800-7701926 |
Deficiente auditivo/fala: 0800-7701935 | Ouvidoria: 0800-7012834 | https://www.vwfs.com.br | Banco Central do Brasil:
145 (custo de uma ligação local).
Portanto, inexiste qualquer vício de consentimento que possa implicar na
anulação do que foi pactuado, revelando-se evidente a ausência de impedimento ou vício
nas tratativas do contrato.

Cumpre esclarecer que o contrato avençado entre as partes é típico e


perfeitamente válido. Das sábias palavras de ANTÔNIO CARLOS EFING, extrai-se:

“Conforme já dito anteriormente, a maior parte dos contratos bancários se constitui de contratos de
adesão, que, segundo a conceituação estampada pelo art. 54 da Lei 8.078/90, “é aquele cujas cláusulas
tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor
de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo”.

... a maioria dos contratos bancários é caracterizada como contratos de adesão, isso porque ao
consumidor não é possibilitada a discussão de cláusulas contratuais, bem como porque geralmente
tais contratos são do tipo formulário, contendo diversos espaços em branco onde são preenchidos
somente alguns dados contratuais (qualificação do consumidor, data de emissão, vencimento, valor
etc.), restando imutável e inflexível a maioria das condições ajustadas. (...) Nesta situação, não pode
se dar ao luxo de discutir as cláusulas da avença, especialmente quando o banco fornecedor já
apresenta o instrumento contratual elaborado, restando ao consumidor aderir a ele ou não. 11”

Como já mencionado, não cabe ao Autor afirmar neste momento, que os


valores cobrados são indevidos, isto porque o contrato celebrado é claro, de fácil
entendimento, confeccionado em prol do consumidor, sendo especificadas todas as tarifas,
não podendo prosperar as suas alegações.

REALMENTE, NÃO É CRÍVEL QUE O AUTOR PENSE QUE PODERIA


UTILIZAR-SE DO CAPITAL ADIANTADO PELO RECORRENTE, E DEPOIS REVISAR
AS TARIFAS COBRADAS.

Diante disso, mister salientar que as teses defendidas pelo Autor não são
novas, já tendo sido exaustivamente discutidas e – o que é mais importante – rejeitadas em

11EFING, Antônio Carlos. Contratos e Procedimentos Bancários à luz do Código de Defesa do Consumidor. 1. ed., 2 tir., São
Paulo: RT, 1999, p.172.
todos os Tribunais, especialmente, pelo Supremo Tribunal Federal e também pelo Superior
Tribunal de Justiça.

A razão de tal rejeição é relativamente simples, conforme já constatado por


nossas Cortes, os encargos previstos nas cláusulas contratuais, ora questionado pelo
Autor, simplesmente obedecem às normas e às condições que regulamentam o mercado
financeiro, havendo previsão na resolução do Conselho Monetário Nacional – CMN
(BACEN) sob o n.º 3.909/2010.

Em outras palavras, todas as condições contratuais estabelecidas entre as


partes derivam de normas legais validamente editadas, de forma que a atribuição da pecha
de “abusiva”, na forma do artigo 51 do Código do Consumidor, torna-se manifestamente
inaplicável, até mesmo por uma questão de respeito a princípios fundamentais do
ordenamento jurídico brasileiro, tais como o da reserva legal e o do pacta sunt servanda.

Sendo assim, o valor cobrado é efetivamente devido, nos termos do


contrato celebrado e da legislação em vigor, sem a existência de qualquer taxa ou encargo
indevido.

Com efeito, se a autora optou por firmar um contrato com o contestante,


foi simplesmente porque considerou este negócio mais vantajoso.

Insta ressaltar que o encargo em debate está previsto no contrato firmado e


assinado pelo Autor, o qual era previamente conhecido por ele, que efetivamente recebeu
uma via do contrato, não havendo agora que se alegar desconhecimento dos termos
constantes da avença, devendo os pedidos serem julgados totalmente improcedentes.

4.2. PODER REGULAMENTADOR DO CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL


(CMN) E BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN):
Nos termos do artigo 21, inciso VII, da Constituição Federal, cabe ao CMN
disciplinar as normas de crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em
todas as suas formas (artigo 4º, inciso VI, da Lei 4.595/64)12.

Assim, a cobrança de qualquer tarifa e demais encargos são disciplinados


pelos normativos do CMN, denominados ‘Resoluções’ que são publicados pelo BACEN,
para serem seguidos pelas instituições financeiras.

4.3. LEGALIDADE DO RESSARCIMENTO DOS SERVIÇOS PRESTADOS AO AUTOR:

Com o advento da Resolução do CMN n° 3518/07 esclarecida na Carta-


Circular BACEN 3295/08, as instituições financeiras passaram a financiar o custo de
serviços prestados por terceiros, no caso, pela concessionária, como consta expressamente
no Formulário do Custo Efetivo Total (CET) assinado pelo autor, que amparou a operação
de financiamento do veículo, em cumprimento à Resolução CMN n° 3517/07.

Com efeito, consta do Formulário CET, em seu item “B”, tanto o valor do
veículo vendido à vista, como o valor do veículo quando vendido por financiamento
bancário. Ademais, o item “C” do Formulário CET discriminou todos os valores referentes
aos pagamentos feitos a terceiros que poderiam ser incluídos no financiamento. É
justamente neste item, que expressamente constou identificada a cobrança da comissão dos
serviços prestados pela concessionária. Ali, a parte autora assinalou a opção pelo
financiamento desse serviço identificando, para pagamento por sua conta e ordem, a
denominação social e o CNPJ da concessionária.

Assim sendo, pode-se observar que o BANCO VOLKSWAGEN S/A


destacou claramente a cobrança da comissão pelo serviço, seu valor e a quem é devida,

12Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República: VI -
Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas as suas formas, inclusive aceites,
avais e prestações de quaisquer garantias por parte das instituições financeiras;
escolhendo e optando a parte autora pelo financiamento do serviço, tudo em conformidade
com os normativos publicados pelo BACEN.

Comprova-se, ainda, que a contratação desse serviço deu-se por prévia,


expressa e explícita concordância do autor, conforme os artigos 40, 46 e 52 do CDC13.

Vale destacar que a possibilidade de ressarcimento dos serviços prestados


por terceiro teve a sua previsão considerada legal, nos termos do REsp. nº 1.255.573 – RS,
em sede de Repetitivo, como assim esclareceu a Ministra Maria Isabel Gallotti na
Reclamação 15.154 – SP14 proposta pelo próprio BANCO VOLKSWAGEN S/A.

4.4. DA LEGALIDADE DA COBRANÇA DE TARIFAS:

13Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio discriminando o valor da
mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de início
e término dos serviços. Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não
lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem
redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços
que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros
requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional; II -
montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; III - acréscimos legalmente previstos; IV - número e
periodicidade das prestações; V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

14RECLAMAÇÃO Nº 15.154 - SP (2013/0376848-4) RELATORA: MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI


RECLAMANTE: BANCO VOLKSWAGEN S/A ADVOGADO : MARCELO TESHEINER CAVASSANI E OUTRO(S)
RECLAMADO : TURMA DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS DO COLÉGIO RECURSAL DE PENHA DE
FRANÇA – SÃO PAULO – SP INTERES. : DONIZETE TENORIO BARBOSA ADVOGADO : MARCLEY MARTINS SILVA
(...) “Trata-se de reclamação, com pedido de liminar, proposta pelo Banco Volkswagen S/A contra acórdão proferido pela
Turma dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do Colégio Recursal de Penha de França - São Paulo - SP que, negando
provimento a recurso inominado, determinou a devolução em dobro dos valores cobrados a título de tarifas bancárias –
mais especificamente, Taxa de Cadastro e Taxa de Serviços Prestados – consideradas abusivas, por entendê-las
correspondentes a serviços inerentes às atividades da financeira, já cobertas pelos juros e sem a devida especificação do
serviço efetivamente prestado. (...) Aduz, ao final, que o acórdão ora reclamado encontra-se em divergência com a
jurisprudência desta Corte, mormente em relação ao REsp n. 1.251.331/RS, onde teria se firmado o entendimento de que
a cobrança das taxas bancárias em discussão, por si só, não se apresenta como abusiva, característica esta que deve ser
comprovada se o fim é extirpá-las do contrato. (...) Assim delimitada a controvérsia, passo a decidir. (...) No caso em exame,
observo que a decisão reclamada determinou a restituição de todos os valores cobrados como tarifas e encargos,
especificados em contrato bancário, sob fundamento genérico. (...) Não foi declinado fundamento algum, relacionado às
circunstâncias do caso concreto ou a parâmetro de mercado, para que se alcançasse a conclusão acerca de sua abusividade.
(...) Verificando, ainda, a presença dos requisitos da medida de urgência pleiteada, concedo a liminar para o fim de
suspender o acórdão reclamado até o julgamento desta Reclamação.
O Superior Tribunal de Justiça, em sede de Recurso Repetitivo REsp
1.251.331/RS, 1.255.573/RS, 1.578.553/SP e 1.639.259/SP, consolidou entendimento pela
legalidade da cobrança das Tarifas de Abertura de Crédito (TAC), Tarifa de Emissão de
Carnê (TEC), Tarifa de Cadastro (TC), Serviços Prestados por terceiros. Tarifa de Avaliação
do bem (TEB), Despesa de registro do contrato, registro do gravame, Seguro de proteção
financeira e impossibilidade de descaracterização da mora, fixando as seguintes teses:

REsp 1.251.331/RS, 1.255.573/RS:

“(...)

1ª TESE

Nos contratos bancários celebrados até 30.4.2008 (fim da vigência da Resolução CMN 2.303/96) era
válida a pactuação das tarifas de abertura de crédito (TAC) e de emissão de carnê (TEC), ou outra
denominação para o mesmo fato gerador, ressalvado o exame de abusividade em cada caso concreto.

2ª TESE

Com a vigência da Resolução CMN 3.518/2007, em 30.4.2008, a cobrança por serviços bancários
prioritários para pessoas físicas ficou limitada às hipóteses taxativamente previstas em norma
padronizadora expedida pela autoridade monetária. Desde então, não mais tem respaldo legal a
contratação da Tarifa de Emissão de Carnê (TEC) e da Tarifa de Abertura de Crédito (TAC), ou
outra denominação para o mesmo fato gerador. Permanece válida a Tarifa de Cadastro expressamente
tipificada em ato normativo padronizador da autoridade monetária, a qual somente pode ser cobrada
no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira.” (REsp 1.251.331 – RS -
Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJ 28/08/13). (grifos nossos)

REsp 1.578.553/SP:

“(...)

TESES FIXADAS PARA OS FINS DO ART. 1.040 DO CPC/2015:


2.1. Abusividade da cláusula que prevê a cobrança de ressarcimento de serviços prestados por
terceiros, sem a especificação do serviço a ser efetivamente prestado;

2.2. Abusividade da cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da comissão do


correspondente bancário, em contratos celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada em vigor
da Res.-CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula no período anterior a essa resolução, ressalvado
o controle da onerosidade excessiva;

2.3. Validade da tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que prevê o
ressarcimento de despesa com o registro do contrato, ressalvadas a:

2.3.1. abusividade da cobrança por serviço não efetivamente prestado; e a

2.3.2. possibilidade de controle da onerosidade excessiva, em cada caso concreto” (REsp 1.578.553–
RS - Rel. Min. Paulo De Tarso Sanseverino, DJ 06/12/2018

REsp 1.639.259/SP:

“2.1 - Abusividade da cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da despesa com o registro
do pré-gravame, em contratos celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada em vigor da Res.-
CMN 3.954/2011, sendo válida a cláusula pactuada no período anterior a essa resolução, ressalvado
o controle da onerosidade excessiva.

2.2 - Nos contratos bancários em geral, o consumidor não pode ser compelido a contratar seguro com
a instituição financeira ou com seguradora por ela indicada.

2.3 - A abusividade de encargos acessórios do contrato não descaracteriza a mora.” (REsp


1.639.259/SP - Rel. Min. Paulo De Tarso Sanseverino, DJ 19/12/2018

Conforme será demostrado nos tópicos a seguir, no caso concreto foram


observados todos os critérios estabelecidos nos repetitivos, de relatoria da Min. Maria Isabel
Gallotti e Min. Paulo de Tarso Sanseverino, considerando a cobrança da(s)
tarifa(s)/ressarcimento(s) devidas, vez que encontravam-se presentes: a existência de
regulamentação do Conselho Monetário Nacional (CMN), a correspondência a serviços
efetivamente prestados e a previsão clara e expressa em contrato, devendo ser reconhecida
a regularidade dos atos praticados.
4.5. LEGALIDADE DAS DESPESAS DO EMITENTE/REGISTRO DE CONTRATO:

A despesa identificada pela autora trata-se, da despesa do emitente, como


previsto em contrato:

As despesas do emitente representam única e exclusivamente os custos de


responsabilidade da parte autora para a constituição da alienação fiduciária que deu em
garantia à operação de financiamento, nos termos do artigo 490 do Código Civil (CC) e
Resolução do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) n° 320/09.

Os valores foram previamente discriminados à autora que, ainda assim,


optou pelo financiamento desse valor nos termos do artigo 40 do CDC.

Vale destacar que a possibilidades de ressarcimento das despesas do


emitente está facultada na Resolução CMN n° 3.919/10, sendo a sua previsão considerada
legal nos termos do REsp. nº 1.255.573 – RS, em sede de Repetitivo, como assim esclareceu
a Ministra Maria Isabel Gallotti na Reclamação 15.154 – SP proposta pelo próprio BANCO
VOLKSWAGEN S/A.

A cobrança da tarifa denominada Registro de Contrato corresponde ao


registro da alienação fiduciária junto ao DETRAN.

Esse registro é exigido por força do artigo 1361 do Código Civil, além da
previsão expressa na Resolução nº 320/09 do Contran, tratando-se de requisito necessário
para a operação desejada pelo consumidor, até para que a alienação fiduciária conste no
Certificado de Registro de Veículo – CRV.
Neste sentido, deve ser destacado novamente o Recurso Repetitivo Resp
1.578.553/SP, momento que o Superior Tribunal de Justiça ratificada a validada desta
cobrança:

“2.3. Validade da tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que prevê o
ressarcimento de despesa com o registro do contrato, ressalvadas a:

2.3.1. abusividade da cobrança por serviço não efetivamente prestado;

(...)” (REsp 1.578.553– RS - Rel. Min. Paulo De Tarso Sanseverino, DJ 06/12/2018)

Oportuno ressaltar que é garantido a possibilidade de registro e pagamento


diretamente pelo cliente junto ao prestador de serviço credenciado pelo órgão de trânsito,
não restando dúvidas quanto à legalidade da cobrança e sua necessidade intrínseca.

Como acima pode ser visto, resta comprovado que o instrumento de


contratação atende ao princípio da transparência, nos termos do CDC, bem como, o
princípio da livre iniciativa, nos termos do art. 170 da Constituição Federal, onde sempre
foram de conhecimento de qualquer cliente, antes mesmo da formalização da operação, por
meio de ampla divulgação nos meios de comunicação, incluindo internet, televisão e jornais.

4.5.1. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE:

Diferentemente do quanto decidido nos REsps repetitivos 1.251331/RS e


1.255.573/RS (tarifas), 1.061.530/RS (juros remuneratórios) e 973.827/RS (capitalização de
juros), o critério da comparação do valor cobrado com a “média de mercado praticada pelas
demais instituições financeiras”, não se adequa à realidade do ‘registro de contrato’.

Isso porque o valor cobrado a título de registro de contrato não sofre


ingerência da instituição financeira, mas sim dos órgãos registrais. Trata-se tão somente do
repasse ao cliente do valor pago ao órgão responsável pelo registro, figurando a instituição
financeira como mero intermediário e facilitador.
Logo, para se aferir a existência de abusividade no valor cobrado a título de
registro de contrato, basta apurar no sítio do respectivo órgão registral (DETRAN ou
CARTÓRIO) qual o valor dessa despesa na data base do contrato.

O contrato firmado entre as partes prevê o ressarcimento com o registro do


contrato, valor esse cobrado pelo DETRAN/CARTÓRIO conforme se extrai do respectivo
sítio na Internet, de modo que ausente qualquer abusividade na cobrança.

4.6. LEGALIDADE DA COBRANÇA DA TARIFA DE CADASTRO:

Os financiamentos concedidos posteriormente à 30/04/2008 estão passíveis


da cobrança da Tarifa de Cadastro que, nos termos da Resolução CMN nº 3.919/10, tem
como fato gerador a realização de pesquisa em serviços de proteção ao crédito, base de
dados, informações cadastrais, tratamento de dados e informações necessárias ao início do
relacionamento decorrente da contratação de operação de crédito, não podendo ser cobrada
cumulativamente.

Este tema atualmente já se encontra pacificado pelo STJ através da Súmula


nº 566, a seguir descrita: “Nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da Resolução-
CMN n.º 3.518/2007, em 30/4/2008, pode ser cobrada a tarifa de cadastro no início do relacionamento
entre o consumidor e a instituição financeira”.

A Tarifa de Cadastro não constitui uma imposição abusiva de valor ao


pretendente ao crédito. Efetivamente é um serviço específico e individualizado prestado ao
cliente, cujo valor pode variar caso a caso, inclusive, estando – ainda – prevista sua
possibilidade no próprio Código de Defesa do Consumidor (CDC), em seu artigo 52, inciso
I15.

Considera-se, por muito relevante, que o serviço de cadastro envolve


diversas finalidades, como: (i) a implementação de procedimentos de checagem do
endereço dos clientes; (ii) a prestação de informação da situação do cliente à central de risco
administrada pelo Banco Central do Brasil; (iii) o encaminhamento de comprovantes anuais
de quitação das operações do cliente, na forma da Lei Federal nº 12.007/2009; (iv)
manutenção de infraestrutura para atendimento ao cliente; (v) disponibilização do extrato
anual de valores cobrados, na forma da Resolução CMN nº 3.919/10.

Resta evidente que o serviço de cadastro é um procedimento de cautela e


de sustentação de um sistema financeiro saudável, sendo certo, ainda, que o preço cobrado
à autora em nenhuma circunstância se revela despropositado.

Saliente-se que em razão da Autorregulação Bancária (Normativo Sarb


005/2009), o consumidor não é obrigado a contratar o serviço de cadastro junto à Instituição
Financeira, já que tem alternativas de providenciar pessoalmente os documentos
necessários à comprovação de sua idoneidade financeira ou contratar terceiro (despachante)
para fazê-lo (e-STJ fl. 459-460).

O próprio PROCON/SP, ao se manifestar no STJ, na condição de amicus


curiae, quando do Julgamento do RESP, afetado em repetitivo nº 1.251.331/RS, envolvendo
a matéria aqui tratada e que deu origem a Súmula 566 do STJ, reconhece que o BANCO
VOLKSWAGEN S/A age com total transparência ao Consumidor, conferindo a ele a opção
pelo financiamento ou não do Cadastro, descaracterizando, assim, a prática de “venda
casada” por parte desta instituição, conforme transcrição que segue:

“ (...) O segundo ponto a ser analisado é a falta de opção do consumidor. A tarifa é sempre cobrada,
já que à exceção do Banco Volkswagen, nenhuma outra instituição dá opção ao consumidor para que
ele possa evitar o pagamento. O “serviço” não é exclusivo das entidades financeiras. Qualquer

15Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao
consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: I - preço do produto
ou serviço em moeda corrente nacional;
cidadão pode acessar os dados e apresentar os documentos que comprovem sua idoneidade. Além
disso, se for considerado “serviço prestado ao cliente”, o que se faz apenas “ad argumentandum”,
estaríamos diante de uma venda casada, já que não é dado ao consumidor realizar o serviço por seus
próprios meios. (...)”

Demonstrada a legalidade da cobrança pelo serviço correspondente ao


cadastro e demais despesas inerentes a uma operação de financiamento, que em nada
contraria o CDC e as normas do CMN, entende esta instituição que a cobrança da Tarifa de
Cadastro é totalmente devida.

4.6.1. AUSÊNCIA DE ABUSIVIDADE:

Os valores cobrados a título de Tarifa de Cadastro devem ser analisados por


meio da invocação de parâmetros objetivos do mercado e circunstâncias do caso concreto,
não bastando à mera remissão a conceitos jurídicos abstratos ou a convicção subjetiva do
magistrado.

O valor da Tarifa de Cadastro apresenta variação conforme o tipo de


operação contratada (abertura de conta de depósitos/poupança ou contratação de operação
de crédito), em razão das diferentes diligências necessárias à confecção do cadastro.
Naturalmente, os negócios que envolvem a concessão de crédito apresentam maior risco e,
consequentemente, revestem-se de mais formalidades e garantias, aumentando o custo da
tarifa16.

Nesse sentido, o valor da tarifa varia conforme canal de contratação


utilizado pelo consumidor, onde em operações contratadas diretamente nas agências
bancárias, os serviços de confecção de cadastro apresentam menor custo por envolverem

16No tocante a identificação da abusividade, não poderia ser mais precisa a afirmação realizada pela Ministra Maria Isabel
Gallotti em seu julgado do Resp nº 1.255.573, onde descreveu o seguinte: “Reafirmo o entendimento acima exposto, no
sentido da legalidade das tarifas bancárias, desde pactuadas de forma clara no contrato e atendida a regulamentação
expedida pelo conselho Monetário Nacional e pelo Banco central, ressalvando abuso devidamente comprovado, caso a
caso, em comparação com os preços cobrados no mercado. Esse abuso há de ser objetivamente demonstrado, por meio
da invocação de parâmetros objetivos de mercado e circunstâncias do caso concreto, não bastando a mera remissão a
conceitos jurídicos abstratos ou à convicção subjetiva do magistrado.”
uma relação direta e presencial entre a instituição financeira e o cliente. Por outro lado, os
serviços prestados em outros estabelecimentos envolvem uma estrutura mais complexa,
com a participação de terceiros (tais como revendas de veículos e seus prestadores de
serviços etc), fato este que acaba elevando os custos envolvidos em tais serviços.

A contratação por meio de canais de terceiros (concessionárias) apresenta


maior conveniência ao consumidor, que, entretanto, sempre pode, a seu critério, optar pela
contratação de operações (inclusive de financiamento de veículos) diretamente nas
agências.

Essas diferenças foram levadas em consideração, no descrito julgamento


paradigmático, restando expressamente estabelecida, naquela decisão, orientação no
sentido de que a abusividade de cada cobrança deverá ser comprovada, atestando-se
objetivamente os valores praticados em cada caso concreto com aqueles divulgados pelo
Banco Central do Brasil para o mesmo tipo de operação (mesma tarifa) e pelo mesmo canal
de contratação (agência bancária ou correspondente), tirando-se a média dos valores
praticados pelas diversas instituições financeiras.

Para subsidiar essa análise é que se junta informações do site do Banco


Central do Brasil demonstrando a média dos valores cobrados a título de tarifa de cadastro,
para pessoas físicas e jurídicas, por Financeiras, que são os seguintes:

Canal de Tipo de Valor Periodicidade Valor


Contratação Cliente máximo Médio
Sociedades de Pessoa 50.000,00 Por evento 1097,34
Crédito, Física
Financiamento e
Investimento
Sociedades de Pessoa 50.000,00 Por evento 1260,83
Crédito, Jurídica
Financiamento e
Investimento

A média dos valores praticados revela, inequivocamente, que não há


abusividade no valor da tarifa cobrada no caso desses autos.
4.7. DA LEGALIDADE DOS ACESSÓRIOS FINANCIADOS:

Em que pese o autor alegar que há ilegalidade na cobrança dos acessórios,


razão nenhuma lhe assiste.

Neste ponto, necessário destacar que a compra de opcionais na


concessionária não constitui ilícito, em verdade, é facultado ao autor adquirir o veículo e
requerer a instalação de película, soleira, protetor de cárter, dentre outros acessórios que
possam ser instalados no veículo.

Em regra, o autor pode adquirir com recursos próprios, contudo, por


diversas vezes os consumidores optam por financiar essas compras junto com o valor do
veículo, como foi o caso.

Necessário destacar que este serviço/produto não fazem parte das


atribuições do requerido, ao revés, o réu apenas financiou os valores que o autor, em comum
acordo com o vendedor, teve que gastar com a aquisição e serviços.

Sobre este assunto, o Superior Tribunal de Justiça se manifestou, em sede


de recurso repetitivo, tema 958:

TESES FIXADAS PARA OS FINS DO ART. 1040 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL/2015:


2.1. Abusividade da cláusula que prevê a cobrança de ressarcimento de serviços prestados
por terceiros, sem a especificação do serviço a ser efetivamente prestado; 2.2. Abusividade
da cláusula que prevê o ressarcimento pelo consumidor da comissão do correspondente bancário, em
contratos celebrados a partir de 25/02/2011, data de entrada em vigor da Res.-CMN 3.954/2011,
sendo válida a cláusula no período anterior a essa resolução, ressalvado o controle da onerosidade
excessiva; 2.3. Validade da tarifa de avaliação do bem dado em garantia, bem como da cláusula que
prevê o ressarcimento de despesa com o registro do contrato, ressalvadas a: 2.3.1. Abusividade da
cobrança por serviço não efetivamente prestado; e a 2.3.2. Possibilidade de controle da onerosidade
excessiva, em cada caso concreto. STJ – julgamento de Recurso Repetitivo – Tema 958 – Resp
1578553/SP – Min. Paulo de Tarso Sanseverino (1144) – S2 – Dje (06/12/2018)
A vontade foi livremente manifestada previamente à contratação do
financiamento no Formulário CET, e ratificada no momento em que emitiu a Cédula de
Crédito Bancário.

Ressalte-se, inclusive, haver a cláusula em destaque na Cédula de Crédito


Bancário do autor com a expressa menção de que iniciativa de contratação de qualquer
produto é de exclusiva iniciativa e responsabilidade dele, inexistindo, portanto, como
condição para concessão do financiamento a contratação do serviço impugnado.

Ademais, o autor sabe que comprou de opcional, sendo má-fé alegar


desconhecimento, inclusive, o autor saiu com cópias dos recibos abaixo:
Considerando não ter sido a contratação do serviço um condicionante para
concessão do financiamento, não há que se falar em venda casada.

A exigência do valor integral e em dobro do Serviços e acessórios


contratados pelo autor, que ainda dele se beneficia e usufrui, claramente configura um
enriquecimento sem causa, vedado pelo nosso ordenamento jurídico.

Imperioso ressaltar, ainda, que o BANCO VOLKSWAGEN S/A é parte


absolutamente ilegítima para devolver qualquer valor a título do Serviço contratado pelo
autor.

4.8. DO IOF COBRADO:

A legislação ainda determina às instituições financeiras a responsabilidade


pela cobrança do tributo – IOF e o seu recolhimento ao Tesouro Nacional (art. 5º do Decreto
nº 2.219/97).

Portanto, é o entendimento do Superior Tribunal de Justiça que o é lícito aos


contratantes convencionar o pagamento do Imposto sobre Operações Financeiras e de
Crédito (IOF), sujeitando-o aos mesmos encargos contratuais.

Quanto à possibilidade de se incluir no montante financiado o valor


correspondente ao IOF, a eminente Ministra Maria Isabel Gallotti salientou no voto
condutor do REsp repetitivo 1.251.331/RS a legalidade da pactuação de financiamento
acessório do “IOF, tributo de responsabilidade do mutuário”, de modo que é flagrante a
improcedência dos pedidos aqui impugnados.

Ademais, tratando-se de imposto, não há como o ora contestante ser


responsável pela sua restituição, pois não se trata de cobrança opcional.

4.9. DA RESTITUIÇÃO DO PRÊMIO SEGURO:

A parte autora pretende a restituição dos valores pagos a título de seguro,


contudo, razão não lhe assiste.

Em primeiro, é preciso ratificar os termos da preliminar acima delineada, já


que o banco apenas é responsável pela concessão do crédito ao consumidor, a fim de que
este possa adquirir o veículo de sua escolha, dentro dos termos pactuados.

Inconteste é que na celebração do contrato de financiamento ao titular do


contrato foi dada opção de contratar ou não o referido seguro, sendo que ele optou por
contratar junto à Seguradora Cardif do Brasil Vida e Previdência S/A, oferecida – não
imposta, pelo banco, tomando conhecimento de seu inteiro teor, tanto que assinou todas as
vias sem objeção, inclusive, recebendo o Certificado de Seguro da própria Seguradora.

Neste sentido, a contratação da franquia/gap e ap pelo autor se deu por


livre escolha do autor, sendo claro que assinou os documentos de forma apartada conforme
informado acima, não havendo dúvidas acerca da livre opção exercida pelo autor.

Conforme visto no contrato assinado, o BANCO VOLKSWAGEN apenas atua como


estipulante do seguro, e não como seguradora, ao passo que a corretora é a Volkswagen
Corretora de Seguros Ltda, de forma muito clara no contrato assinado juntado aos autos
com a presente contestação:
O seguro materializa-se através de um contrato que uma pessoa física ou
jurídica (segurado) faz com uma pessoa jurídica (seguradora), que lhe garante o
recebimento de um montante em espécie ou a reposição do bem, caso ocorram eventos que
estejam previstos no objeto do negócio jurídico.

Com efeito, por ser a Seguradora a única responsável pelo recebimento dos
valores a título de prêmio seguro, não é crível que a instituição financeira seja compelida ao
pagamento de quaisquer valores ou restituição.

4.10. AUSÊNCIA DE VENDA CASADA DOS SEGUROS:

O Seguro de Proteção Financeira comercializado pela Seguradora CARDIF


DO BRASIL VIDA E PREVIDÊNCIA SA que foi contratado pela autora por meio da
Volkswagen Corretora de Seguros Ltda., na Concessionária Volkswagen, em instrumento
apartado à operação de financiamento, que atendeu o artigo 760 do CC e artigo 9º do
Decreto-Lei n° 73/66.

Assim, esse produto encontra-se registrado na SUSEP sob o n°


15414001501/2005-31 e tem como finalidade a cobertura de morte ou invalidez total por
acidente, desemprego involuntário e incapacidade física total temporária, sendo que estas
coberturas estão delimitadas conforme descrito nas Condições Resumidas do Seguro de
Proteção Financeira.

Ciente dos benefícios da cobertura securitária, optou a autora financiar


pagamento do prêmio, na mesma operação de financiamento do veículo. A vontade foi
livremente manifestada previamente à contratação do financiamento no Formulário CET,
campo B.6 e ratificada no momento em que emitiu a Cédula de Crédito Bancário.

Ressalte-se, inclusive, haver a cláusula em destaque na Cédula de Crédito


Bancário da autora com a expressa menção de que iniciativa de contratação de qualquer
produto securitário é de exclusiva iniciativa e responsabilidade dele, inexistindo, portanto,
como condição para concessão do financiamento a contratação do seguro.

Ou seja, a contratação do seguro não foi uma condicionante para concessão


do financiamento, não há que se falar em venda casada, sendo a opção do recorrente a
contratação do seguro.

Ademais, há de se destacar o teor do Recurso Repetitivo REsp 1.061.530/RS,


na Súmula 381 do STJ e no REsp n. 1.639.320/SP, submetido ao regime dos recursos
repetitivos.

Com efeito, ressalta-se que o Egrégio STJ, ao apreciar o REsp n.


1.639.320/SP, submetido ao regime dos recursos repetitivos, dispôs que nos contratos
bancários em geral, o consumidor não pode ser compelido a contratar seguro com a
instituição financeira ou com seguradora por ela indicada.

Logo, a prática vedada é compelir o consumidor a contratar seguro com a


instituição financeira ou com a seguradora por ela indicada, o que configura venda casada.

De longe que ofertar o seguro de uma seguradora – sendo que isso sequer
ocorreu, dando a opção a parte autora de contratar ou não o seguro configura a prática
rechaçada nesse julgado.

Vale ressaltar que a situação concreta que embasou o precedente do STJ em


questão é inclusão de uma simples cláusula com a prévia indicação da seguradora e com o
seguinte teor: "Seguro de Proteção Financeira na Itaú Seguros S.A. [x] Sim [ ] Não". Não é esta,
porém, a situação em tela, pois houve adesão voluntária da parte, conforme as assinaturas
apostas em documentos separados constando de forma detalhada todas as condições
contratuais e limites segurados. Tal circunstância afasta a prática da venda casada. Sobre
o tema:

APELAÇÕES REVISIONAL DE CONTRATO BANCÁRIOFINANCIAMENTO DE


VEÍCULO SENTENÇA DE PARCIALPROCEDÊNCIA RECURSOS DE AMBAS AS
PARTES.1. RECURSO DO AUTOR.1.1. JUROS ABUSIVIDADE Inocorrência Encargos
contratuais não limitados a 12% ao ano Inaplicabilidade da Lei de Usura Excesso da cobrança deve
ser demonstrado em cada caso concreto, mediante a comprovação de descompasso entre a realidade
do mercado e o quanto cobrado pela instituição financeira, o que não se verifica no caso concreto.1.2.
CAPITALIZAÇÃO ADMISSIBILIDADE - Contrato celebrado por instituição financeira
posteriormente à edição da MP 1.963-17/00, reeditada sob o nº 2.170-36/01 - Possibilidade de
capitalização composta de juros em período inferior a um ano Utilização da Tabela Price que não é
vedada Precedente desta C. Câmara.1.3. TARIFA DE CADASTRO Possibilidade de cobrança
Recurso Especial 1251331/RS, sob o rito do art. 543-C, do Código de Processo Civil: “Permanece
válida a Tarifa de Cadastro expressamente tipificada em ato normativo padronizador da autoridade
monetária, a qual somente pode ser cobrada no início do relacionamento entre o consumidor e a
instituição financeira”.1.4. TARIFA DE REGISTRO DE CONTRATO Cobrança permitida
Precedente do c. STJ, em sede de recurso repetitivo (REsp 1.578.553/SP, Tema 958) Onerosidade
excessiva não constatada no caso concreto.1.5. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA Inovação em
sede recursal Pleito de afastamento da cobrança de valores a tal título não formulado na inicial
Recurso, no tema, não conhecido. 2. RECURSO DO BANCO. SEGURO Ausência de
abusividade no caso concreto Comprovação, por parte da casa bancária, de que o autor
firmou proposta de adesão ao seguro, não havendo indícios de vício de consentimento.
RECURSO DO AUTOR RECURSO DO AUTOR CONHECIDO EM PARTE E, NO
QUECONHECIDO, DESPROVIDO. RECURSO DO RÉU PROVIDO.

(TJSP; Apelação Cível 1027185-95. SERGIO GOMES: 37ª Câmara de Direito Privado; FORO
REGIONAL XII – NOSSA SENHORA DO Ó - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 13/05/2022;
Data de Registro: 16/05/2022)

Ação revisional de contrato de financiamento, cumulada com pedido de consignação em pagamento


e antecipação de tutela – Cédula de Crédito Bancário – Financiamento de veículo – Parcial
procedência – Recurso do autor com razões dissociadas da fundamentação da r. sentença recorrida –
Apelação idêntica a outras interpostas – Comodismo inaceitável – Ausência dos pressupostos da
regularidade formal do recurso – Inobservância ao art. 1010, II, do CPC – Não conhecimento –
Cobrança de Seguro proteção – Abusividade não configurada – Autor que optou pela sua
contratação (Recurso Repetitivo – Resp 1.639.320/SP) – Descabimento da devolução do
valor – Sentença reformada para julgar a ação improcedente – Recurso do autor não
conhecido e provido o do réu.

(TJSP; Apelação Cível 1027640-36.2021.8.26.0224; Relator (a): Thiago de Siqueira; Órgão


Julgador: 14ª Câmara de Direito Privado; Foro de Guarulhos - 4ª Vara Cível; Data do Julgamento:
05/04/2022; Data de Registro: 05/04/2022)
Apelação – Contrato bancário – Cédula de Crédito Bancário – Contrato de financiamento para
aquisição de veículo – Ação revisional – Improcedência – Código de Defesa do Consumidor –
Incidência – Súmula n. 297 do E. Superior Tribunal de Justiça – Encargos financeiros – Abusividade
da taxa de juros pactuada não evidenciada – Capitalização de juros – É permitida a capitalização de
juros com periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da
publicação da Medida Provisória nº 1.963-17/2000 (em vigor como MP-2.170-36/2001), desde que
expressamente pactuada – A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada –
Prevalecimento, no caso, da nova orientação acolhida pelo E. Superior Tribunal de Justiça no
julgamento do Recurso Especial n. 973.827-RS, processado nos termos do art. 543-C do CPC –
Tarifas bancárias – Tarifa de cadastro – Ausência de comprovação de que a tarifa cobrada não se
referiu ao início de relacionamento – Abusividade não configurada – Tarifa de registro de contrato
– Cobrança cabível – Serviço efetivamente prestado – Tarifa de avaliação do bem – Cobrança cabível
– Serviço também efetivamente prestado – (Recurso Repetitivo REsp 1.578.553/SP – Cobrança de
Seguro Proteção Financeira, Seguro Auto RCF e Cap. Parc. Premiável – Abusividade não
configurada – Réu que demonstrou ter o autor optado pela contratação dos serviços
(Recurso Repetitivo – Resp 1.639.320/SP) – Sentença mantida – Recurso improvido.

(TJSP; Apelação Cível 1002415-13.2021.8.26.0483; Relator (a): Thiago de Siqueira; Órgão


Julgador: 14ª Câmara de Direito Privado; Foro de Presidente Venceslau - 1ª Vara; Data do
Julgamento: 05/04/2022; Data de Registro: 05/04/2022)

“Apelação - Contrato bancário Cédula de Crédito Bancário - Contrato de financiamento para


aquisição de veículo Ação revisional Procedência parcial Código de Defesa do Consumidor -
Incidência - Súmula n. 297 do E. Superior Tribunal de Justiça Cobrança de Seguro Proteção
Financeira, Seguro Auto Casco e Seguro Auto RCF Abusividade não configurada Autor que
optou pela sua contratação (Recurso Repetitivo Resp 1.639.320/SP) Recurso provido. (...)
Na presente hipótese, o réu apresentou nos autos proposta de adesão a estes seguros com
a assinatura do autor, demonstrando que houve opção por sua contratação.” (TJSP;
Apelação Cível 1029988-45.2019.8.26.0564; Relator (a): Thiago de Siqueira; Órgão Julgador: 14ª
Câmara de Direito Privado; Foro de São Bernardo do Campo - 1ª Vara Cível; Data do Julgamento:
11/05/2020; Data de Registro: 12/05/2020)

SEGURO PRESTAMISTA – Contrato de financiamento de veículo – Contratação conjunta –


Inequívoca facultatividade da avença acessória – Possibilidade – Venda casada – Inexistência: – Não
caracteriza venda casada a contratação de seguro prestamista, em apartado ao contrato
de financiamento, quando verificada a inequívoca facultatividade da avença acessória,
colocado à disposição da contratante. RECURSO PROVIDO.

(TJSP; Apelação Cível 1016903-82.2020.8.26.0361; Relator (a): Nelson Jorge Júnior; Órgão
Julgador: 13ª Câmara de Direito Privado; Foro de Mogi das Cruzes - 2ª Vara Cível; Data do
Julgamento: 05/08/2021; Data de Registro: 05/08/2021)

Outrossim, resta nítido que a pactuação do seguro se deu por manifestação


inequívoca da vontade de contratar os seguros, sendo o contrato questionado perfeito e
acabado, firmado livre e espontaneamente pelas partes contratantes
(segurado/corretora/seguradora), devidamente dentro das formalidades legais exigidas,
sem que o apelado fosse compelido na formalização do contrato, inclusive, constando com
assinatura em documento apartado da cédula bancária, vejamos:

Assim, conforme imagem acima, resta nítido que a parte autora pactuou o
contrato com a seguradora, intermediado pela corretora, sendo o BVW apenas a estipulante,
i.e., o banco não determinou a seguradora.

Portanto, inexiste qualquer vício de consentimento que possa implicar na


anulação do que foi pactuado, revelando-se evidente a ausência de impedimento ou vício
na contratação do seguro.

Considerando não ter sido a contratação do seguro um condicionante para


concessão do financiamento, não há que se falar em venda casada, sendo que a contratação
do seguro ocorreu por livre escolha da parte autora.

Ainda sobre o tema:


EMENTA – DIREITO CIVIL E CONSUMIDOR. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO.
APELAÇÃO CÍVEL. VENDA CASADA DE SEGURO COM FINANCIAMENTO
BANCÁRIO. NÃO CONFIGURADA. VENDA OPCIONAL DO SEGURO. CONFIGURADA.
TEMA 972 DOS RECURSOS REPETITIVOS - STJ. APELAÇÃO CONHECIDA E PROVIDA.
I – A venda de um seguro em conjunto com o financiamento configura-se como abusivo somente
quando o seguro é estabelecido de forma impositiva no contrato de adesão, sendo totalmente lícito
sempre quando houver a simples oferta do produto para o contratante-consumidor sem qualquer tipo
de imposição ou condição. Esse é o entendimento do Tema 972 dos Recursos Repetitivos, fixado nos
autos do Resp 1.639.320/SP e 1.639.259/SP. II - Não evidencio qualquer ilegalidade na venda do
seguro pelo banco apelante, visto que tal produto não foi inserido compulsoriamente no contrato de
financiamento, e sim posto à disposição da compradora, ficando bem retratado tal circunstância à fl.
64 dos autos, em que foi juntado o orçamento de operação de crédito do Banco Itaucard, elaborado
especificamente para a apelada, nele constando o quadro opcional de aquisição de seguro, o qual foi
assinalado positivamente, além da firma da apelada no final do documento, validando a compra do
produto bancário. III – Recurso conhecido e provido17.

VOTO Nº: 47007 PAPEL.Nº: 1053705-26.2019.8.26.0002

COMARCA: SÃO PAULO (FORO REGIONAL DE SANTO AMARO)

APTE./APDO.: JODEAL OLIVEIRA DE ALCÂNTARA

APTE./APDO.: BV FINANCEIRA S/A CRÉDITO, FINANCIAMENTO E INVESTIMENTO.

REVISIONAL DE CONTRATO - Cédula de Crédito Bancário Financiamento de veículo


Abusividade de juros e taxas aplicadas ao contrato parcial procedência da ação Inconformismo
Aplicação das regras do Código de Processo Civil - Contrato com parcelas fixas – Capitalização
prevista na MP 2170-36/2001 Juros contratuais que não se mostram abusivos - Contratação do
serviço bancário de forma livre e espontânea, devendo-se observar o "pacta sunt servanda" - Tarifas
previstas no contrato Ausência de ilegalidade Seguro e título de capitalização regularmente
contratados com empresa terceira, ausente qualquer indício de imposição ou venda casada pela

17https://jurisprudencia.s3.amazonaws.com/TJ-AM/attachments/TJ-
AM_AC_06366277020178040001_9395d.pdf?AWSAccessKeyId=AKIARMMD5JEAD4VJ344N&Expires=1602618843&Sign
ature=6Q%2F9KvRrWXRUY3k7aNJBYDD0wIk%3D
Financeira Ação improcedente - Sentença reformada Recurso do autor não provido e recurso da ré
provido18.

Imperioso ressaltar, ainda, que o BANCO VOLKSWAGEN S/A é parte


absolutamente ilegítima para devolver qualquer valor a título de prêmio securitário. Isso
porque o prêmio não é a ele dirigido, e sim a uma Seguradora do mercado nacional que
ofereça ditas garantias para eventos futuros, pelo que deve ser julgado improcedente.

De qualquer forma, nos termos da cláusula 9ª do Certificado de Seguro é


sempre facultado ao consumidor, e a qualquer tempo, desistir do seguro, fazendo jus ao
recebimento parcial do prêmio, em inteligência ao disposto no artigo 764 do CC.

Assim sendo, a opção pela desistência que pode ser feita diretamente à
Seguradora ou Corretora, nos canais de atendimento gratuito por elas disponibilizado,
jamais foi feita, de forma que ainda está a parte autora amparada pelo benefício securitário.

A exigência do valor integral do prêmio seguro pela autora, que ainda dele
se beneficia, claramente configura um enriquecimento sem causa, vedado pelo nosso
ordenamento jurídico.

Dito isso, requer a improcedência dos pedidos e, caso seja determinada a


restituição, que essa seja proporcional, descontando-se, portanto, o período em que o autor
ficou assegurado.

4.11. LEGALIDADE DOS JUROS REMUNERATÓRIOS:

Com a edição da Lei 4.595/64, recepcionada pela CF/88 como Lei


Complementar, as instituições financeiras não se submetem aos dispositivos do Decreto
22.626/33 (Súmula 596/STF)19, na medida em que se atribuiu ao Conselho Monetário

18https://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/943852688/apelacao-civel-ac-10537052620198260002-sp-1053705-
2620198260002?ref=serp
19Sumula 596 “As disposições do Decreto nº 22.626/33 não se aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados
nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas, que integram o sistema financeiro nacional.
Nacional – CMN a competência exclusiva para regulamentar as taxas de juros e outras
formas de remuneração das operações bancárias e financeiras.

No julgamento do REsp repetitivo 1.061.530/RS, a 2ª. Seção do C. STJ


reafirmou a inaplicabilidade da Lei de Usura às instituições financeiras e fixou orientação
no seguinte sentido: (i) às Instituições Financeiras não se aplicam as limitações da Lei de
Usura; (ii) que o Conselho Monetária Nacional, por força dos arts. 3º, VII e 4º, VI e IX e 9º da
Lei 4.595/64, tem competência exclusiva para dispor sobre a remuneração das Instituições
Financeiras; (iii) logo, a taxa de juros remuneratórios só pode ser limitada à taxa média de
mercado quando verificada a abusividade (art. 51, §1º, CDC); (iv) a abusividade dos juros
remuneratórios só pode ser declarada quando a taxa do contrato for 1,5 vez superior à taxa
média de mercado (diferença de 50%) ; (v) a contratação de taxa de juros acima da taxa
média de mercado, por si só, não indica abusividade, de modo que a redução só pode
ocorrer em casos excepcionais.

E de acordo com os REsps repetitivos 1.112.879/PR e 1.112.880/PR, caso o


contrato não informe a taxa de juros remuneratórios ou caso não tenha sido juntado aos
autos, os juros remuneratórios devem ser fixados de acordo com a taxa média de mercado
para o mesmo tipo de operação em exame.

Vale salientar, entretanto, que a taxa de juros de mercado não pode ser
considerada como limite absoluto na medida em que é a média de diversas taxas praticadas
no mesmo período e para o mesmo tipo de operação, servindo apenas de parâmetro para
aferição de abusividade da taxa pactuada no caso concreto.

A propósito, de acordo com os fundamentos do Recurso Repetitivo nº


1.061.530/RS, não é abusiva a contratação de taxa de juros remuneratórios acima da taxa
média, desde que se respeite o limite máximo de 1,5 vez a taxa divulgada pelo Banco
Central. Veja-se acórdão do STJ no mesmo sentido:

“PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. MORA. NOTIFICAÇÃO
EXTRAJUDICIAL. AÇÃO REVISIONAL. SÚMULA N. 83/STJ. JUROS REMUNERATÓRIOS.
TAXA MÉDIA. ABUSIVIDADE NÃO CONSTATADA. DECISÃO MANTIDA.
1. Nos pedidos de busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente, a demonstração da mora pode
ser feita mediante protesto, por carta registrada expedida por cartório de títulos ou documentos ou por
simples carta registrada, não se exigindo que a assinatura do aviso de recebimento seja do próprio
destinatário. Precedentes.

2. Conforme o entendimento consolidado na Súmula n. 380/STJ, "a simples propositura da ação de


revisão de contrato não inibe a caracterização da mora do autor", necessitando-se, para esse fim, de
comprovada abusividade dos encargos exigidos no período de normalidade contratual.

3. A taxa média de mercado apurada pelo Banco Central para operações similares, na mesma
época do empréstimo, pode ser usada como referência no exame da abusividade dos juros
remuneratórios, mas não constitui valor absoluto a ser adotado em todos os casos. No caso
concreto, não foi demonstrada significativa discrepância entre a taxa média de mercado e o
índice pactuado entre as partes.

4. Agravo interno a que se nega provimento20. (grifos acrescentados).

No caso em tela, verifica-se que as partes pactuaram a taxa de juros de


12,55% a.a., enquanto, à época da contratação, a média de mercado divulgada pelo Banco
Central era de 22,00% a.a.

Desta forma, não procede o pleito à limitação da taxa de juros contratada


em patamar inferior à média de mercado, não sendo, portanto, abusivos, nos termos fixados
pelo C. STJ no julgamento do REsp repetitivo 1.061.530/RS.

Contudo, considerando a alegação extremamente genérica, cumpre


esclarecer que a cobrança de juros remuneratórios pela indisponibilidade de capital não se
trata apenas de prática inerente das operações bancárias, mas praxe de mercado como um
todo.

A parte autora apresentou um cálculo unilateral e que, tão somente, fez


recalcular o contrato com o afastamento das cláusulas que entende abusivas, não havendo
razoabilidade em tal procedimento.

20STJ, DJ 5 abr. 2019, AgInt no AREsp 1230673/MS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira.
Válido destacar a taxa de juros remuneratórios prevista no contrato:

Quanto ao cálculo do autor, primeiramente deve ser destacado que sequer


apresenta o método utilizado e, por outro lado, tão somente alega que existem abusividades
e que houve aplicação de taxa de juros divergente da prevista no contrato.

Não pode o cálculo ser feito com a exclusão do CET da maneira que
pretende o autor, pois, assim, a taxa de juros não reflete as condições contratuais.

Portanto, persistindo alegação exclusivamente genérica, requer-se seja


julgado improcedente o pedido inicial.

4.13. DA LEGALIDADE DA CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS:

O pleito de afastamento da capitalização mensal de juros é igualmente


improcedente.

Além da inaplicabilidade da Lei de Usura às instituições financeiras, como


já demonstrado, o art. 28, § 1º, I, da Lei 10.931/01 admite a pactuação de juros capitalizados
na Cédula de Crédito Bancário, em qualquer periodicidade, desde que prevista no
instrumento. No caso, a previsão da capitalização dos juros e a forma de cálculo da taxa
estão expressamente previstas:
Assim, e sendo certo que a taxa anual é superior ao duodécuplo da taxa
mensal, além de constar expressamente no contrato a “taxa de juros ao mês prefixados e
capitalizados”, não há dúvidas quanto ao fato de que inexiste qualquer ilegalidade nos
termos da Cédula de Crédito Bancária, consoante decidido pelo C. STJ no julgamento do
REsp repetitivo 973.827/RS:

“3. Teses para os efeitos do art. 543-C do CPC: É permitida a capitalização de juros com
periodicidade inferior a um ano em contratos celebrados após 31.3.2000, data da publicação da
Medida Provisória n. 1.963-17/2000 (em vigor como MP 2.170-36/2001), desde que expressamente
pactuada.’ – ‘A capitalização dos juros em periodicidade inferior à anual deve vir pactuada de forma
expressa e clara. A previsão no contrato bancário de taxa de juros anual superior ao
duodécuplo da mensal é suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada”.

Resta evidente, portanto, que o pleito autoral que visa anular a clausula que
prevê a capitalização de juros, não possui qualquer respaldo fático ou jurídico, eis que se
trata de matéria já consolidada nos Tribunais Superiores.

4.14. DO DESCABIMENTO DA SUBSTITUIÇÃO DO SISTEMA DE AMORTIZAÇÃO


FRANCÊS PELO MÉTODO GAUSS:

Equivoca-se a parte autora ao pretender a substituição do sistema de


amortização Francês pelo método linear ponderado, também chamado por método de
Gauss, pois tal método proporciona o recálculo da parcela de um financiamento em três
etapas; (i) o ajuste do período representado por “n – 1”, (ii) o apontamento do ponto médio,
(iii) o cálculo do capital remunerado por intermédio de uma média e (iv) a divisão do item
“iii” pelo item “i” indica o valor da parcela.

O método de Gauss, a seguir, exposto de forma unificada, realiza a


contagem dos juros remuneratórios sobre uma média do capital, ao longo do financiamento,
aplicando um redutor, denominado por ponto médio, “(n – 1)”, que acaba por diminuir, em
um período, a incidência dos juros remuneratórios e consequentemente apresenta valor
inferior como parcela mensal.

Recálculo da parcela Gauss = { C ( i x n ) + C } ÷ { [ 1 + ( i “(n - 1)” ) + 1 ] ÷ 2 } n

Quando aplicamos a um Sistema de Amortização a Curva de Gauss,


realizamos uma distribuição de médias dos juros ao longo do financiamento, como se eles
fossem calculados a partir de dados estatísticos, imprecisos, aplicando um redutor ao valor
da prestação, para que os valores “médios dos juros e da amortização” tenham um
comportamento estatístico normal.

Dessa forma, o método de Gauss não proporciona o cálculo de uma


prestação mensal, constituída por uma parcela de amortização do capital (restituição do
valor financiado) e por uma segunda parcela de juros remuneratórios (remuneração do
Financiador pelo período em que se absteve dos recursos empregados no financiamento),
apenas apresentando o que seria uma única parcela mensal, sem distinguir, mensalmente,
o capital da remuneração.

Notoriamente, na Matemática Financeira, o cálculo de juros simples se dá


pelo emprego da razão, onde o juro é obtido como resultado da multiplicação da taxa
mensal pelo período, seguidamente multiplicado pelo capital, em progressão aritmética, ou
seja, acumuladamente, corroborando-se com o raciocínio de Assaf Neto:

O regime de capitalização simples comporta-se como se fosse uma progressão aritmética (PA),
crescendo os juros de forma linear ao longo do tempo. Nesse critério, os juros somente incidem sobre
o capital inicial da operação (aplicação ou empréstimo), não se registrando juros sobre o saldo dos
juros acumulados.

Dessa forma, pode-se afirmar que o método de Gauss não segue o raciocínio
elementar da Matemática Financeira, deixando de calcular o juro sobre o capital, mês a mês,
em progressão aritmética de modo que sequer promove o cálculo de juros lineares (juros
simples).

O afirmado também é corroborado com as opiniões dos peritos, Francisco


Prisco Neto, às fls. 873 até 875 dos autos do processo nº. 0000487.10.2013.8.26.0003, nomeado
pelo juízo da 4ª Vara Cível do Foro Regional III do Jabaquara, SP, além do perito Éder
Nogueira Sales, nomeado pelo juízo do Foro Regional de Joaquim Távora, PR, que em
resposta ao quesito número três, formulado nos autos do processo 133/02, fls. 629:

De fato o método de Gauss que tem sido utilizado em pericias e em outros temas de finanças não
reflete o valor dos juros simples ao longo de uma série de pagamentos. Por ser muito controverso o
assunto, não é estranho que existam duas correntes de entendimento. No entanto, não é uma forma
matemática de cálculo de juros simples, pois ao final de uma série de pagamentos evidencia-se que
não alcança a remuneração do capital pela modalidade de juros simples.

Portanto, não merece guarida o pleito autoral.

4.15. DA LEGALIDADE DE UTILIZAÇÃO DA TABELA PRICE:

Não é demais também destacar que a Tabela Price é um sistema de


amortização, que se compõe de uma subparcela de amortização e outra subparcela de juros,
sendo a atualização do saldo devedor precedida da amortização.

Importante esclarecer que a aplicação da Tabela Price visa apenas


remunerar o capital emprestado durante o tempo em que ficou à disposição do devedor, já
que seria impensável a hipótese de um cliente tomar emprestada determinada quantia e
devolver essa quantia ao banco em 2, 3, 4 ou 5 anos sem qualquer juros!

Nesse passo, verifica-se que a utilização da Tabela Price não implica na


capitalização de juros sobre juros, prática conhecida como anatocismo, pois os juros
cobrados mensalmente incidem sobre o capital inicial e são amortizados por parte da
prestação mensal, não ultrapassando aqueles definidos pela legislação ou implicando em
desequilíbrio contratual.
Em julgamento realizado em 05/05/2015 o Superior Tribunal de Justiça
firmou entendimento sobre a legalidade de utilização da Tabela Price, sendo oportuno
transcrever a seguinte ementa:

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 649.895 - MS (2015/0005732-3)


RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO AGRAVANTE : CAIXA DE PREVIDÊNCIA DOS
FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL PREVI ADVOGADOS : ADILSON
SARTORELLO E OUTRO(S) ALCEU LUIZ CARREIRA E OUTRO(S) AGRAVADO :
FÁTIMA APARECIDA DOMINGOS ADVOGADO : JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA E
OUTRO(S) EMENTA AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.
REVISÃO CONTRATUAL. POSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO DO ATO JURÍDICO PERFEITO.
MATÉRIA CONSTITUCIONAL. PRINCÍPIO DO PACTA SUNT SERVANDA.
MITIGAÇÃO. TABELA PRICE. LEGALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A matéria do art. 6º, caput e § 1º, da LICC, possui índole constitucional, motivo pelo qual é vedada
sua análise em sede de recurso especial. Precedentes. 2. É permitida a revisão das cláusulas
contratuais pactuadas, diante do fato de que o princípio do pacta sunt servanda vem sofrendo
mitigações, mormente ante os princípios da boa-fé objetiva, da função social dos contratos e do
dirigismo contratual. 3. Já tendo sido reconhecida pelo Tribunal de origem a legalidade da utilização
do sistema Price, não há que se falar em interesse de agir quanto a este ponto. 4. Agravo regimental
a que se nega provimento.

E ainda:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SFH. TABELA PRICE.


LEGALIDADE.1. "Não é ilegal a utilização da Tabela Price para o cálculo das prestações da casa
própria, pois, por meio desse sistema, o mutuário sabe o número e os valores das parcelas de seu
financiamento" (REsp 755.340/MG, 2ª Turma, Rel. Min JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJ
20.2.2006, p.309). 2. A mera utilização da Tabela Price não basta para se comprovar a existência de
capitalização ilegal de juros. Hipótese em que as instâncias ordinárias concluíram pela não
ocorrência de anatocismo. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag
1.425.074/DF, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em
4/10/2012, DJe de 10/10/2012)

AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 130.256 - SP (2011/0293683-0) RELATOR


: MINISTRO RAUL ARAÚJO AGRAVANTE : WLADMIR SANCHES BARROSO ROMERO
ADVOGADO : LORAINE CONSTANZI E OUTRO(S) AGRAVADO : CHEMIN
INCORPORADORA S/A ADVOGADO : MARIA TERESA PILAR EMENTA AGRAVO
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL.
CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. OFENSA AO ART. 535, II, DO CPC.
INEXISTÊNCIA. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CONFIGURADO. JULGAMENTO
CITRA PETITA . NÃO OCORRÊNCIA. OFENSA À LEI 8.078/90. AUSÊNCIA DE
INDICAÇÃO DO DISPOSITIVO VIOLADO. SÚMULA 284/STF. ANÁLISE DE
DISPOSIÇÕES DE OFÍCIO. VEDAÇÃO. SÚMULA 381/STJ. TABELA PRICE.
LEGALIDADE. AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Não se constata violação ao art. 535, I e II, do
CPC quando a col. Corte de origem dirime, fundamentadamente, todas as questões que lhe foram
submetidas. Havendo manifestação expressa acerca dos temas necessários à integral solução da lide,
ainda que em sentido contrário à pretensão da parte, fica afastada qualquer omissão, contradição ou
obscuridade. 2. No presente caso, o col. Tribunal de origem afastou o alegado cerceamento de defesa,
consignando a desnecessidade de produção de nova prova pericial, na medida em que a perícia
contábil realizada nos autos mostra-se suficiente para análise da demanda, notadamente para atestar
que as parcelas foram calculadas corretamente e de acordo com o instrumento firmado pelas partes.
3. Nesse contexto, para se chegar à conclusão de que a prova cuja produção foi requerida pela parte
seria ou não indispensável à solução da controvérsia seria necessário se proceder ao reexame do
conjunto fático-probatório dos autos, providência incompatível com a via estreita do recurso especial,
a teor da Súmula 7 do STJ.4. As questões submetidas às instâncias ordinárias foram suficiente e
adequadamente delineadas, com abordagem integral do tema e fundamentação compatível, não
havendo que se falar, portanto, em ofensa ao art. 460 do CPC.5. No que tange à apontada ofensa à
Lei 8.078/90, o recorrente, nas razões do especial, não indicou, especificamente, quais os dispositivos
legais que eventualmente teriam sido violados pelo aresto hostilizado. Tal aspecto torna patente a
falta de fundamentação do recurso especial, circunstância que atrai a incidência da Súmula 284/STF.
6. É pacífica a compreensão jurisprudencial no âmbito da eg. Segunda Seção desta col. Corte
Superior de Justiça, consolidada no julgamento do Recurso Especial nº 1.061.530/RS, nos termos do
procedimento dos recursos representativos da controvérsia (Código de Processo Civil, art. 543-C e
Resolução nº 8/2008 do STJ), no sentido de que, embora aplicável o Código de Defesa do Consumidor
nos contratos bancários, não é possível, de ofício, o reconhecimento da nulidade e, por conseguinte,
a revisão de cláusulas contratuais consideradas abusivas, sob pena de ofensa ao princípio do tantum
devolutum quantum apellatum . 7. A utilização do Sistema Francês de Amortização, Tabela Price,
para o cálculo das prestações da casa própria não é ilegal e não enseja, por si só, a incidência de juros
sobre juros, sendo necessário demonstrar a existência de amortizações negativas, o que não ocorreu
no caso dos autos. 8. Agravo regimental a que se nega provimento.

Diante dos arestos supratranscritos, resta estreme de dúvidas que a


utilização da Tabela Price é perfeitamente legal.

4.16. POR EVENTUALIDADE: DA AUSÊNCIA DE DESCARACTERIZAÇÃO DA


MORA:

Eventual descaracterização da mora deve observar os requisitos definidos


pela Segunda Seção do STJ nos julgamentos, sob o rito dos recursos repetitivos, do REsp
1.061.530/RS e do e no REsp 1.639.259/SP.

De acordo com o REsp 1.061.530/RS, “o reconhecimento da abusividade


nos encargos exigidos no período da normalidade contratual (juros remuneratórios e
capitalização) descaracteriza a mora; porém, não descaracteriza a mora o ajuizamento
isolado de ação revisional, nem mesmo quando o reconhecimento de abusividade incidir
sobre os encargos inerentes ao período de inadimplência contratual21".

O raciocínio desenvolvido no julgamento do REsp repetitivo 1.061.530/RS


é no sentido de que a mora só pode ser descaracterizada quando a culpa pelo
inadimplemento não puder ser imputada ao devedor – e, no caso de contratos bancários,
isso ocorre quando houver abusividade em encargos que mexam com toda a estrutura da
dívida, não apenas uma parte irrisória22!

21STJ, DJ 10 mar. 2009, REsp 1061530/RS, Relª. Minª. Nancy Andrighi.


22STJ, DJ 10 mar. 2009, REsp 1061530/RS, Relª. Minª. Nancy Andrighi: ““Porém, deve-se deixar claro que é o eventual
abuso na exigência dos chamados “encargos da normalidade” – notadamente nos juros remuneratórios e na capitalização
de juros – que deve ser levado em conta para tal análise, conforme definido no precedente EDcl no AgRg no REsp
842.973/RS, 3ª Turma, Rel. originário Min. Humberto Gomes de Barros, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado
em 21.08.2008. De outro modo, o eventual abuso em algum dos encargos moratórios não descaracteriza a mora. Esse abuso
deve ser extirpado ou decotado sem que haja interferência ou reflexo na caracterização da mora em que o consumidor
tenha eventualmente incidido, pois a configuração dessa é condição para incidência dos encargos relativos ao período da
inadimplência, e não o contrário” (negrito acrescentado).
Essa orientação restou sedimentada e definitivamente esclarecida no
julgamento do REsp 1.639.259/SP, igualmente sob o rito dos recursos repetitivos,
oportunidade em que o STJ editou orientação no sentido de que “a abusividade de encargos
acessórios do contrato não descaracteriza a mora".

Como se observa, o STJ já definiu que apenas o reconhecimento de


abusividade dos chamados “encargos da normalidade”, com especificação de que essa
expressão se refere à taxa de juros remuneratórios e ao regime da capitalização dos juros, é
capaz de descaracterizar a mora do devedor.

Improcedente, portanto, o pedido de reconhecimento quanto a


descaracterização da mora formulado nesta demanda.

4.17. LEGALIDADE DOS ENCARGOS MORATÓRIOS:

Não efetuando, o pagamento do boleto até a data de vencimento, o cliente


estará em mora e deverá pagar os encargos respectivos, entre eles juros remuneratórios,
acrescidos de juros moratórios de 1% ao mês e multa de 2% sobre os valores devidos,
conforme previsto na cláusula 5ª do contrato.

A prática adotada pelo Contestante está em conformidade com as


limitações previstas no art. 52, §1º do CDC, nas Súmulas 285 e 379 do STJ e no REsp
repetitivo nº 1.061.530-RS.

Ou seja, se a parte autora deixar de realizar o pagamento dentro da data


aprazada poderá ocorrer a incidência, juros de mora de 12% ao ano e cláusula penal
moratória de 2%.
Além disso, como é do conhecimento de qualquer cidadão, quando a parte
financiada fica inadimplente por um longo período o débito é encaminhado aos escritórios
de cobrança prestadores de serviços, bem como é realizado apontamento perante os órgãos
de proteção ao crédito.

Com isso, à luz da cláusula 5, também é possível a incidência de honorários


advocatícios judiciais ou extrajudicial na proporção de até 10% do débito.

Exatamente por isso devem ser julgados improcedentes os pleitos autorais.

4.18. DA VALIDADE DOS DÉBITOS REALIZADOS – INEXISTÊNCIA DE DANOS


MATERIAIS – IMPOSSIBILIDADE DE RESTITUIÇÃO COM JUROS:

O contrato firmado entre a parte autora e a instituição financeira atende a


todos os requisitos de validade dos negócios jurídicos definidos no art. 104 do Código Civil.

A parte autora, pessoa capaz, manifestou livremente sua vontade ao anuir


com os termos dos contratos, cujo objeto é lícito, possível e determinado, não sendo possível
a revisão de cláusulas contratuais, já que devidamente pactuadas.

Desta forma, não resiste ao bom direito tal pleito visto que a contratação se
deu de forma regular, sendo devido o contrato e os valores cobrados da parte autora.

Por todo o amplamente exposto, descabe – inteiramente – o pleito de


repetição dos valores em pauta.

Neste sentido cabe esclarecer que a devolução do valor pago apenas será
devida quando se demonstrar que se cobrou “valor indevido”, o que não é o caso, conforme
demonstrado.

Ou seja, na eventualidade de ser efetuado um pagamento indevido, quem


tiver recebido fica obrigado a devolver a quantia, devidamente corrigida, sob pena d e
configurar enriquecimento sem causa.
Ocorre que, como amplamente exposto, todo o valor recebido pelo réu era
devido, com previsão expressa em instrumento contratual, de modo que descabe
condenação à restituição, devendo os pedidos serem julgados improcedentes.

Contudo, ainda que se entenda pela restituição dos valores, esses não
podem ser feitos nos termos que a parte autora pleiteia, sendo certo que qualquer
restituição deve ter a incidência dos juros legais de 1% a.m., não havendo de se falar em
juros contratuais/remuneratórios, sob pena de enriquecimento ilícito da parte autora.

Ainda, em relação ao pleito de restituição dos valores com a aplicação dos


juros remuneratórios, ou seja, contratuais, o STJ já firmou entendimento acerca da
impossibilidade, em julgamento de Recurso Especial em sede de Repetitivo e, em
decorrência das decisões exaradas em sentido contrário pelas Turmas Recursais, a Corte
Superior afasta tal condenação por meio de Reclamação:

RECLAMAÇÃO. ACÓRDÃO PROLATADO POR TURMA RECURSAL DE JUIZADO


ESPECIAL. RESOLUÇÃO N. 12/2009. CONTRATO DE FINANCIAMENTO. LEGALIDADE
NA COBRANÇA DE TARIFAS. REPETIÇÃO DO INDÉBITO. RESTITUIÇÃO DO VALOR
PAGO A MAIOR COM OS MESMOS ENCARGOS PRATICADOS PELO BANCO.

IMPOSSIBILIDADE. APLICAÇÃO DE JUROS REMUNERATÓRIOS DE 1% AO MÊS.

1. Afasta-se a determinação da remuneração do capital a ser restituído com base nas taxas aplicáveis
exclusivamente à atividade bancária, pois apenas as instituições financeiras estão autorizadas a
cobrar juros remuneratórios excedentes a 1% (um por cento) ao mês.

2. A cobrança abusiva de valores obriga a instituição financeira à repetição do indébito acrescido


apenas de juros legais e correção monetária.

3. Reclamação parcialmente procedente. RECLAMAÇÃO Nº 29.358 - ES (2016/0006675-5).


MINISTRO JOÃO OTÁVIO DE NORONHA. 26.04.2016.

Portanto, descabido o pleito do Autor.

4.19. DA INVIABILIDADE DA SANÇÃO DE DEVOLUÇÃO EM DOBRO:


Incabível o pleito de aplicação da sanção de dobra dos valores em pauta,
com fundamento no artigo 42 do CDC23, na hipótese, somente para argumentar, de
devolução da importância paga.

Segundo jurisprudência, a sanção apenas pode ser aplicada quando ficar


cabalmente comprovada a conduta contrária à boa-fé objetiva. Neste sentido se pronunciou
o STJ no EAREsp 676608/RS:

“A RESTITUIÇÃO EM DOBRO DO INDÉBITO (PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 42 DO


CDC) INDEPENDE DA NATUREZA DO ELEMENTO VOLITIVO DO FORNECEDOR QUE
COBROU O VALOR INDEVIDO, REVELANDO-SE CABÍVEL QUANDO A COBRANÇA
INDEVIDA CONSUBSTANCIAR CONDUTA CONTRÁRIA À BOA-FÉ OBJETIVA.

Na hipótese, estaríamos, no máximo, diante de um engano justificável, já


que a cobrança foi embasada em previsão contratual válida, que, judicialmente, pode vir a
ser declarada nula.

Assim, resta latente que o banco não agiu de forma contrária à boa-fé
objetiva, apresentando o contrato e o crédito.

Portanto, na eventualidade de se considerar indevida a cobrança de alguma


tarifa ou despesa ora questionada, o que se admite apenas em respeito ao princípio da
eventualidade, sua devolução deverá ocorrer de forma simples, na medida em que a
cobrança foi realizada em boa-fé, com base em disposições contratuais estabelecidas entre
as partes, o que não pode ser considerado como conduta contrária à boa-fé objetiva.

4.20. DA IMPUGNAÇÃO À INDENIZAÇÃO PELOS DANOS MORAIS


PRETENDIDOS:

23CDC: Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a
qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.
Restou demonstrada a impossibilidade de procedência dos pedidos
autorais, tendo em vista não ter havido falha na prestação de serviço por parte do réu.

Como já mencionado, não havendo qualquer falha na prestação de serviços


por parte do réu, posto que as cobranças decorreram de regular contratação, não há que se
falar em responsabilização.

Todavia, em atenção ao princípio da eventualidade, expõe-se que a


indenização dos supostos danos morais não merece ser acolhida.

Neste sentido, cabe esclarecer que, conforme restou demonstrado, a


Instituição Financeira agiu dentro do seu exercício regular de direito, ao efetuar referida
cobrança.

Portanto, estando demonstrada a exigibilidade do débito, não há que se


falar em indenização por danos morais.

Há certas hipóteses em que o fato não é capaz de, por si só, gerar um
resultado danoso ao psiquismo do sujeito lesado, demandando prova inequívoca de que o
desdobramento causal do ilícito perpetrado foi hábil a ultrajar os direitos inerentes à
personalidade.

A obrigação de indenizar surge com o preenchimento dos três requisitos da


responsabilidade civil em geral: a ação, o dano e o nexo de causalidade entre eles. Exige-se
comprovação do dano que deve extrapolar o aspecto estritamente patrimonial, atingindo a
esfera dos direitos da personalidade, o que não restou comprovado.

Ademais, a parte autora não logrou êxito em comprovar ter sofrido


qualquer abalo em sua honra e dignidade a justificar a pretensão indenizatória. E, como é
de conhecimento geral, mesmo nos casos em que o dano experimentado seja de natureza
moral, a vítima é obrigada a produzir prova mínima da ocorrência desse dano sempre que
não tiver a seu favor a presunção iuris tantum quanto ao prejuízo que reclama, por força do
artigo 373, I do CPC.

Nesse sentido, destaca-se o seguinte entendimento:


“Ainda que se trate de relação de consumo, envolvendo responsabilidade objetiva do
prestador de serviços, não se pode olvidar a necessidade de se demonstrar a existência dos
danos sofridos e do nexo de causalidade destes com a conduta do fornecedor. [...] Ausente
a comprovação do abalo psicológico ou das lesões de ordem moral causadas pela cobrança
indevida, mostra-se incabível a indenização por danos morais, configurando-se o ocorrido
como meros aborrecimentos. [...] A indenização por dano moral não pode servir como fonte
de enriquecimento do indenizado24 [...]”.

Esta é a hipótese em exame, pois a parte autora pretende receber verba


indenizatória por motivos que demonstram meramente o dissabor com a situação, o que
não é tutelado pelo Direito. Não bastasse isso, não há quaisquer indícios da existência de
danos imateriais decorrentes de qualquer ato ou prática do BVW.

Eventual dano moral apenas poderia ser arbitrado em caso de falha na


prestação do serviço, o que não ocorreu no caso em tela.

Meras situações de constrangimento - isto quando efetivamente ocorre, o


que não é o caso dos presentes autos - não se tipificam como dano moral, eis que ausentes
os elementos caracterizadores de tal espécie de dano, não justificando, portanto,
indenização em favor da parte autora, sob pena de enriquecimento sem causa.

Desse modo, seja por ausência de qualquer conduta deletéria praticada pelo
BVW em detrimento da parte autora, seja ainda pela ausência de consequências capazes de
provocar sofrimento indenizável por sua gravidade, ainda que se pudesse dar guarida ao
enredo da parte autora, o pleito indenizatório a título de danos morais deve ser julgado
improcedente, eis que ausentes os elementos necessários à configuração do dever de
indenizar, conforme arts. 186 e 927 do Código Civil.

Por todo o exposto, não estão preenchidos os requisitos para condenação ao


pagamento de indenização por danos morais, motivo pelo qual requer-se seja julgado
improcedente os pedidos, no que se refere aos danos morais.

24TJMG. Apelação Cível 1.0194.12.003804-8/001, Rel. Des. João Cancio, 18ª Câmara Cível DJe em 22/09/2015.
4.21. O VALOR DA INDENIZAÇÃO – PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE:

Todavia, em atenção ao princípio da eventualidade, mesmo que


estivéssemos diante de um caso a ensejar indenização por danos morais, esta deve ser fixada
sob prismas tais que a reparação não gere um enriquecimento sem causa de quem a pleiteia,
obedecendo a parâmetros razoáveis, sem abusos e exageros para que não seja banalizado o
instituto, o que se dá quando confundido com mero percalço, dissabor ou contratempo a
que estão sujeitas as pessoas em sua vida comum.

Deste modo, a indenização deve ser mensurada pela extensão do dano e


deve ser reduzida quando fixada desproporcionalmente, nos termos do art. 944 do Código
Civil:

Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o
juiz reduzir, equitativamente, a indenização.

Desta forma, em caso de condenação ao pagamento de indenização por


danos morais, o que se admite apenas por argumentar, pugna-se para que o valor seja
arbitrado dentro dos parâmetros da razoabilidade, em observância às peculiaridades do
caso concreto, sob pena de resultar em enriquecimento ilícito da parte autora.

Diante do exposto, requer que seja indeferido o pedido de indenização por


dano moral, e, sucessivamente, na eventualidade de condenação, em atenção ao disposto no
artigo 944 do Código Civil, que o valor da indenização seja fixado de forma justa e
equitativa, coibindo-se o enriquecimento injustificado da parte autora e a indústria de
indenizações que assoberba o Poder Judiciário.

4.22. DA IMPOSSIBILIDADE DE CONSIGNAR OS VALORES:

A Autora requereu em tutela antecipada de urgência requerendo


consignação em pagamento.
MM. Juiz, em que pese os argumentos da parte autora, temos que seu pleito
é totalmente descabido e infundado.

Não há nos autos nenhuma prova de que efetivamente as cláusulas


contratuais pudessem se revestir de alguma ilegalidade, muito menos qualquer discussão
sobre elas, não cabendo assim a suspensão contratual.

Destarte, não se pode pôr em risco a segurança jurídica das relações


contratuais sem que existam fundados motivos que apontem para a verossimilhança das
alegações, o que não se verifica no caso concreto.

Registre-se, ainda, que a parte Autora está em posse do bem e desfrutando


deste, contudo, sem a devida contraprestação, o que beira à má-fé e, portanto, justificando
assim o pedido para que a conduta seja coibida em qualquer instância.

Ausentes, pois, os requisitos do art. 300 do Código de Processo Civil, de


rigor o indeferimento da tutela de urgência nos moldes pretendidos. No caso, a revisão do
contrato traz ao réu diversos riscos quanto ao recebimento posterior dos valores que lhe são
devidos, o que por si só desautoriza a concessão da tutela de urgência.

Além disso, para que seja deferida a consignação em pagamento pretendida


pela parte autora, deverão ser preenchidos os requisitos expressos nos artigos 313 e 335 do
Código Civil e art.330, §3º do Código de Processo Civil. Em suma, o credor não está obrigado
a receber de modo diverso do pactuado, ainda que mais vantajoso para si, ou na pior
hipótese, ter seu contrato alterado de mútuo feneratício oneroso para gratuito, tal como
pretendido na petição inicial.

Por fim, consigna-se que não se pode aceitar o pedido de depósito das
parcelas, seja para afastar a mora, seja para pagamento das parcelas vincendas. O
deferimento, no caso concreto, ensejaria verdadeira afronta à segurança jurídica.

Isso posto, requer-se o indeferimento da tutela antecipadamente requerida


e subsequentemente, dos pedidos, que se referem a tornar definitivos os efeitos da tutela.
4.23. DA IMPOSSIBILIDADE DE INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA:

A inversão do ônus da prova (art. 6º, VIII, CDC) não é automática, sendo
admitida somente quando presentes os seus pressupostos: a verossimilhança das alegações
do Autor e a sua hipossuficiência.

No caso, não se vislumbra tal verossimilhança; ao contrário, é de se


presumir que, diante da formalização espontânea do contrato pelo autor, lei entre as partes,
estava de acordo todas as cobranças, bem como que os serviços descritos em contrato foram
executados.

Em que pese não seja necessária a prova cabal dos fatos alegados, para fins
de inversão do ônus da prova, pelas alegações genéricas observadas na petição inicial não
restou demonstrada a plausibilidade ou a probabilidade das alegações autorais.

A hipossuficiência a ensejar a inversão do ônus da prova não é a econômica,


mas a relacionada com a possibilidade de produzir provas constitutivas do direito, sendo
que no presente caso a parte autora possui elementos necessários ao seu dispor a fim de
comprovar suas alegações.

Do mesmo modo não se verificar hipossuficiência técnica a ensejar a


inversão do ônus da prova pois, quanto à matéria controvertida, tem a parte autora plena
capacidade de produzir provas constitutivas de seu direito.

Ressalta-se que a questão versada na presente demanda é eminentemente


jurídica, não fática, estando a parte autora devidamente assistida por advogado.

Nas palavras de Humberto Theodoro Júnior:

"Sem basear-se na verossimilhança das alegações do consumidor ou na sua hipossuficiência, a


faculdade judicial não pode ser manejada em favor do consumidor, sob pena de configurar-se ato
abusivo, com quebra do devido processo legal." (THEODORO JUNIOR, Humberto. Direitos do
Consumidor. 2ª ed.,Ed. Forense, 2001, p. 134.).
Não estando presentes os requisitos, como se dá no presente caso, não há
que se falar na inversão do ônus da prova.

5. REQUERIMENTOS FINAIS:

Requer seja acolhida a(s) preliminar (es) arguida (s), e, no mérito, sejam
julgados improcedentes os pedidos formulados na inicial, haja vista a inexistência de
qualquer ilegalidade nos termos da operação firmada entre as partes.

Protesta-se por todos os meios de prova em Direito admitidos.

Em tempo, requer-se que se digne determinar a anotação dos nomes de seus


patronos Dr. Eduardo Chalfin, OAB/DF 49.965, a capa dos autos, bem como que seja
providenciado o necessário cadastramento para as intimações efetuadas por intermédio do
Diário Oficial, evitando-se, com isso, futuras alegações de prejuízos e nulidades.

Nestes termos,
Pede Deferimento.
Curitiba, 19 de setembro de 2022.

EDUARDO CHALFIN
OAB/DF 49.965

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