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AO DOUTO JUÍZO DA __ VARA FEDERAL DA COMARCA DE

XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX {foro do consumidor}

“DOLORES UMBRIDGE”, brasileira, aposentada, [qualificação


completa], sem endereço eletrônico, vem respeitosamente à presença de
Vossa Excelência, neste ato representado por seu procurador signatário, que
junta neste ato procuração com endereço profissional completo, para
recebimento de intimações e notificações, com fulcro no art. 5º, inciso V da
CF/88, cumulado com os artigos 186 e 927 do CC/02, Lei nº 8.078/90 e artigo
3º da Lei nº 10.259/01 propor a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO,


CUMULADA COM C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DANOS MORAIS em
face de

BANCO ITAÚ CONSIGNADO S.A., pessoa jurídica de direito


privado, inscrita sob o CNPJ sob o nº 33.885.724/0001-19, com sede na PC
ALFREDO EGYDIO DE SOUZA ARANHA, n 100, TORRE CONCEICAO
ANDAR 9, PARQUE JABAQUARA, SAO PAULO/SP, CEP: 04.344-902,
endereço
eletrônico_UNIDADEDEATENDIMENTOAFISCALIZACAO@CORREIO.ITAU.C
OM.BR, na pessoa do seu representante legal, e

BANCO BRADESCO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita sob


o CNPJ sob o nº 60.746.948/0001-12, com sede na NUC CIDADE DE DEUS,
s/nº, VILA YARA, OSASCO/SP, CEP: 06.029-900, endereço eletrônico
desconhecido, na pessoa do seu representante legal, e
BANCO BMG S/A, pessoa jurídica de direito privado, inscrita sob o
CNPJ sob o nº 61.186.680/0001-74, com sede na AV PRESIDENTE
JUSCELINO KUBITSCHEK, n 1830, ANDAR 10 11 13 E 14 BLOCO 01 E 02
PARTE SALA 101 102 112 131 141, VILA NOVA CONCEICAO, SAO
PAULO/SP, CEP: 04.543-000, endereço eletrônico
FISCAL@BANCOBMG.COM.BR, na pessoa do seu representante legal, e

BANCO CETELEM, pessoa jurídica de direito privado, inscrita sob o


CNPJ sob o nº 00.558.456/0001-71, com sede na AL RIO NEGRO, n 161,
andar 17, ALPHAVILLE INDUSTRIAL, BARUERI/SP, CEP: 06.454-000,
endereço eletrônico desconhecido, na pessoa do seu representante legal, e

BANCO PAN, pessoa jurídica de direito privado, inscrita sob o CNPJ


sob o nº 59.285.411/0001-13, com sede na AV PAULISTA, n 1374, andar 16,
BELA VISTA, SAO PAULO/SP, CEP: 01.310-100, endereço eletrônico
desconhecido, na pessoa do seu representante legal, e

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL (INSS), autarquia


federal criada pela Lei nº 8.029, artigo 14, de 12 de abril de 1.990, e pelo
Decreto nº 99.350, de 27 de junho de 1.990, na pessoa do seu representante
legal, pelas razões de fatos e de direito à seguir expostos:

1. PRELIMINARMENTE
1. DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA

A Autora é pessoa pobre na acepção do termo e não possui


condições financeiras para arcar com as custas processuais e honorários
advocatícios sem prejuízo do próprio sustento, razão pela qual desde já requer
o benefício da Gratuidade de Justiça, assegurados pela Lei nº 1060/50 e
consoante o art. 98, caput, do novo CPC/2015, verbis:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da
justiça, na forma da lei.
Mister frisar, ainda, que, em conformidade com o art. 99, § 1º, do
novo CPC/2015, o pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado por
petição simples e durante o curso do processo, tendo em vista a possibilidade
de se requerer em qualquer tempo e grau de jurisdição os benefícios da justiça
gratuita, ante a alteração do status econômico.

Para tal benefício, a Requerente junta declaração de


hipossuficiência e comprovante de renda, os quais demonstram a inviabilidade
de pagamento das custas judicias sem comprometer sua subsistência,
conforme clara redação do Código de Processo Civil de 2015:

Art. 99. O pedido de gratuidade da justiça pode ser formulado na


petição inicial, na contestação, na petição para ingresso de terceiro
no processo ou em recurso.

§ 1o Se superveniente à primeira manifestação da parte na


instância, o pedido poderá ser formulado por petição simples, nos
autos do próprio processo, e não suspenderá seu curso.

§ 2o O juiz somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos


elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais para a
concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido,
determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos
pressupostos.

§ 3º Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência


deduzida exclusivamente por pessoa natural.

Assim, por simples petição, sem outras provas exigíveis por lei, faz
jus, a Requerente, ao benefício da gratuidade de justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. JUSTIÇA GRATUITA.


INDEFERIMENTO DA GRATUIDADE PROCESSUAL. AUSÊNCIA
DE FUNDADAS RAZÕES PARA AFASTAR A BENESSE.
CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. CABIMENTO. Presunção relativa
que milita em prol da autora que alega pobreza. Benefício que não
pode ser recusado de plano sem fundadas razões. Ausência de
indícios ou provas de que pode a parte arcar com as custas e
despesas sem prejuízo do próprio sustento e o de sua família.
Recurso provido. (TJ-SP 22234254820178260000 SP 2223425-
48.2017.8.26.0000, Relator: Gilberto Leme, Data de Julgamento:
17/01/2018, 35ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação:
17/01/2018)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. GRATUIDADE DA JUSTIÇA.


CONCESSÃO. Presunção de veracidade da alegação de
insuficiência de recursos, deduzida por pessoa natural, ante a
inexistência de elementos que evidenciem a falta dos
pressupostos legais para a concessão da gratuidade da justiça.
Recurso provido. (TJ-SP 22259076620178260000 SP 2225907-
66.2017.8.26.0000, Relator: Roberto Mac Cracken, 22ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 07/12/2017)

A assistência de advogado particular não pode ser parâmetro ao


indeferimento do pedido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. PEDIDO DE GRATUIDADE DE


JUSTIÇA. CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. HIPOSSUFICIÊNCIA.
COMPROVAÇÃO DA INCAPACIDADE FINANCEIRA. REQUISITOS
PRESENTES. 1. Incumbe ao Magistrado aferir os elementos do
caso concreto para conceder o benefício da gratuidade de justiça
aos cidadãos que dele efetivamente necessitem para acessar o
Poder Judiciário, observada a presunção relativa da declaração de
hipossuficiência. 2. Segundo o § 4º do art. 99 do CPC, não há
impedimento para a concessão do benefício de gratuidade de
Justiça o fato de as partes estarem sob a assistência de
advogado particular. 3. O pagamento inicial de valor relevante,
relativo ao contrato de compra e venda objeto da demanda, não é,
por si só, suficiente para comprovar que a parte possua
remuneração elevada ou situação financeira abastada. 4. No caso
dos autos, extrai-se que há dados capazes de demonstrar que o
Agravante, não dispõe, no momento, de condições de arcar com as
despesas do processo sem desfalcar a sua própria subsistência. 4.
Recurso conhecido e provido. (TJ-DF 07139888520178070000 DF
0713988-85.2017.8.07.0000, Relator: GISLENE PINHEIRO, 7ª
Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 29/01/2018)

Assim, considerando a demonstração inequívoca da necessidade da


Requerente, tem-se por comprovada sua necessidade, fazendo jus ao
benefício.

Cabe destacar que o a lei não exige atestada miserabilidade do


requerente, sendo suficiente a "insuficiência de recursos para pagar as custas,
despesas processuais e honorários advocatícios"(Art. 98, CPC/15), conforme
destaca a doutrina:

"Não se exige miserabilidade, nem estado de necessidade, nem


tampouco se fala em renda familiar ou faturamento máximos. É
possível que uma pessoa natural, mesmo com bom renda mensal,
seja merecedora do benefício, e que também o seja aquela sujeito
que é proprietário de bens imóveis, mas não dispõe de liquidez. A
gratuidade judiciária é um dos mecanismos de viabilização do
acesso à justiça; não se pode exigir que, para ter acesso à
justiça, o sujeito tenha que comprometer significativamente sua
renda, ou tenha que se desfazer de seus bens, liquidando-os
para angariar recursos e custear o processo." (DIDIER JR.
Fredie. OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Benefício da Justiça
Gratuita. 6ª ed. Editora JusPodivm, 2016. p. 60)

Por tais razões, com fulcro no artigo 5º, LXXIV da Constituição


Federal e pelo artigo 98 do CPC, requer seja deferida a gratuidade de justiça a
requerente.

2. DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO
Em preliminar, a autora requer seja observada a regra contida na
Lei nº 10.741/03 e art. 1.048, I, do CPC, que assegura a preferência na
tramitação do feito aos idosos.

Observe a legislação referida:

Art. 71 da Lei no 10.741/2003. É assegurada prioridade na


tramitação dos processos e procedimentos e na execução dos atos
e diligências judiciais em que figure como parte ou interveniente
pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, em
qualquer instância. § 1 ̊ O interessado na obtenção da prioridade a
que alude este artigo, fazendo prova de sua idade, requererá o
benefício à autoridade judiciária competente para decidir o feito,
que determinará as providências a serem cumpridas, anotando-se
essa circunstância em local visível nos autos do processo. § 2. A
prioridade não cessará com a morte do beneficiado, estendendo-se
em favor do cônjuge supérstite, companheiro ou companheira, com
união estável, maior de 60 (sessenta) anos. § 3 ̊ A prioridade se
estende aos processos e procedimentos na Administração Pública,
empresas prestadoras de serviços públicos e instituições
financeiras, ao atendimento preferencial junto à Defensoria Publica
da União, dos Estados e do Distrito Federal em relação aos
Serviços de Assistência Judiciária. § 4 ̊ Para o atendimento
prioritário será garantido ao idoso o fácil acesso aos assentos e
caixas, identificados com a destinação a idosos em local visível e
caracteres legíveis.

Art. 1.048 do CPC. Terão prioridade de tramitação, em qualquer


juízo ou tribunal, os procedimentos judiciais: I – em que figure
como parte ou interessado pessoa com idade igual ou superior a
60 (sessenta) anos ou portadora de doença grave, assim
compreendida qualquer das enumeradas no art. 6º , inciso XIV, da
Lei n 7.713, de 22 de dezembro de 1988; (...)
A autora nasceu em xxxxxxxxxx, contando, portanto, com mais de
60 (sessenta) anos de idade.

Pelo exposto, requer seja concedida tramitação preferencial.

3. DA LEGITIMIDADE PASSIVA DO INSS – E DA


RESPONSABILIDADE OBJETIVA PARA RESPONDER
PELOS DANOS PERQUIRIDOS NA PRESENTE
DEMANDA

In statu assertiones, possui a Autarquia legitimidade passiva para


integrar a lide relativa ao indevido cadastramento de débito consignado em
benefício previdenciário e à reparação pelos danos causados

No mais, importa analisar a legislação pertinente, para aferir a


responsabilidade do INSS pelos danos causados.

A Instrução Normativa INSS/DC n.º 121/2005, em seu art. 8º (fl.


199), expressamente determina que: no caso do segurado apresentar
qualquer reclamação, a Agência do INSS deverá solicitar da instituição
financeira a comprovação prévia e expressa da autorização do segurado
quanto à consignação em folha. Caso não atendida tal solicitação no prazo de
até cinco dias úteis, deverá a Agência “cancelar a consignação no sistema de
benefícios”.

In casu, os descontos em folha de pagamento indevidos


começaram em xxxxxxxxxxxxxxxx, tendo a parte autora manifesta-se perante
a irregularidade de tais descontos, sendo que nada foi efetuado pelo INSS
para solucionar o problema em questão.

De acordo com os procedimentos previstos na Instrução Normativa


supracitada, o INSS não demonstrou à autora que solicitou que a instituição
financeira comprovasse a celebração do contrato e a autorização expressa de
consignação do débito.

Em casos análogos, o INSS restou responsabilizado solidária e/ou


subsidiariamente pelos danos decorrentes aos empréstimos indevidamente
autorizados, e nunca requisitados por aposentados e pensionistas, senão
vejamos:

ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. INSS E BANCO


VOTORANTIM S/A. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. RENOVAÇÃO
POR TELEFONE. AUSÊNCIA DE PROVA DA CONTRATAÇÃO.
DEVER DE RESSARCIR. DANO MORAL NÃO DEMONSTRADO.
1. Lide envolvendo os empréstimos consignados firmados pela
autora com o Banco Votorantim S/A, em março e maio de 2009,
respectivamente, os quais alega não ter renovado. Afirmou ter sido
surpreendida com a renovação não autorizada, por duas vezes a
primeira avença e uma vez a segunda, em 7.8.2010, 7.12.2010 e
7.9.2011, tomando os empréstimos novos números, estendidos os
prazos para pagamento das parcelas e fixadas novas taxas de
juros, com o correspondente desconto em seu benefício
previdenciário. Recurso da instituição financeira quanto à
indenização por danos materiais e morais pretendida pela parte
autora e ao quantum arbitrado. 2. O Código de Defesa do
Consumidor (CDC)é aplicável às instituições financeiras (súmula
297 do STJ), cuja responsabilidade contratual é objetiva, nos
termos do art. 14, independentemente de culpa pelos danos
causados aos seus clientes, bastando haver demonstração do fato
lesivo, do nexo de causalidade e do dano. 3. Diante da
impossibilidade de a demandante produzir a prova negativa - de
que não requereu as renovações em questão -, cabia à instituição
financeira comprovar a regularidade das operações de crédito
realizadas em nome da autora, o que não fez, tendo apenas
reiterado diversas vezes que foram solicitadas por telefone,
informação insuficiente a demonstrar sua alegação. "Se a tratativa
se deu por via telefônica, verbal, ainda assim far-se-ia
indispensável o registro daquele negócio, mesmo porque defeso
seria presumir o assentimento quando carente o seu respaldo de
qualquer elemento fidedigno". 4. Configurada a responsabilidade
da apelante pelas operações de crédito não requeridas, cabe à
instituição financeira cessar os descontos e devolver à autora os
valores indevidamente descontados de seu benefício
previdenciário devendo ser os valores compensados com a quantia
efetivamente creditada na conta corrente da autora, a ser apurado
em liquidação de sentença. 5. Independentemente da
responsabilidade pelos danos materiais, para que se configure o
dever de indenizar pelos danos morais, mister se faz demonstração
do dano alegado, em medida que ultrapasse o limite do mero
aborrecimento. A autora, entretanto, não trouxe aos autos
elementos que denotem o abalo que ultrapasse o limite do mero
aborrecimento, cumprindo observar que os empréstimos originários
foram contratados pela autora, como ela afirma na inicial, de forma
consignada e com o mesmo valor de parcela mensal, não havendo
duplicidade de cobrança na folha de pagamento ou abalo de
crédito noticiado. 6. A alegação do dano moral de forma genérica
não pode ser acatada como subsídio apto a ensejar a condenação
da ré ao pagamento da pretendida indenização. Nesse sentido:
TRF2, 8ª Turma Especializada, AC 200951010115809, Rel. Des.
Fed. GUILHERME DIEFENTHAELER, E-DJF2R 21.10.2014. 7.
Apelação parcialmente provida. 1 (TRF-2 - AC:
00133084620144025101 RJ 0013308-46.2014.4.02.5101, Relator:
MARCELO PEREIRA DA SILVA, Data de Julgamento: 24/05/2017,
8ª TURMA ESPECIALIZADA)

RESPONSABILIDADE CIVIL. DÉBITO CONSIGNADO.


DESCONTO INDEVIDO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. 1. Trata-
se de lide relativa à reparação de danos morais e materiais
decorrentes do desconto indevido de débito consignado em folha
de pagamento de benefício previdenciário. Não existia qualquer
dívida autorizada pelo segurado. Tanto o INSS quanto o banco
responsável pelo cadastramento do empréstimo são partes
legítimas ad causam. 2. Apesar da imediata a reclamação formal
do segurado, o INSS tardou a cumprir as determinações legais
aplicáveis e solicitar da instituição financeira os documentos
necessários, contribuindo para a excessiva demora na interrupção
dos descontos indevidos. 3. Por outro lado, a instituição financeira
deve responder por todos os danos causados pela falha no
cadastramento do empréstimo. Falha confessada, e grosseira, de
modo que é equiparável à situação de má fé. Ainda que não o
fosse, o Estatuto do Consumidor é aplicável ao caso, já que a
autora é consumidora por equiparação, e o valor arbitrado está em
consonância com os parâmetros da Lei 8.078/90. 4. É devida, além
da reparação pelos danos materiais, a compensação pelos danos
morais causados à pessoa idosa, em razão da redução expressiva
de sua aposentadoria, por nove meses, comprometendo seu
sustento e o de sua família. Os valores de R$ 10.000,00, devido
pelo banco, e de R$ 5.000,00, pelo INSS, fixados pela sentença,
mostram-se razoáveis, sem importar enriquecimento indevido e
com grau suficiente para cumprir o aspecto punitivo necessário. 5.
Apelações desprovidas. (TRF-2 - AC: 428663 RJ
2005.51.02.006875-6, Relator: Desembargador Federal
GUILHERME COUTO, Data de Julgamento: 13/04/2009, SEXTA
TURMA ESPECIALIZADA, Data de Publicação: DJU -
Data::22/04/2009 - Página::225)

Por sua vez, em relação ao INSS, o artigo 37, § 6º, da Constituição


Federal dispõe sobre a responsabilidade objetiva das pessoas jurídicas de
direito público e das de direito privado prestadoras de serviços públicos,
caracterizada pela presença dos seguintes requisitos: conduta lesiva, dano e
nexo de causalidade, os quais estão presentes na hipótese dos autos.

O regime legal aplicável ao desconto em proventos previdenciários,


de valores de empréstimo consignado contratado por segurado da
Previdência Social, encontra-se previsto no artigo 6º da Lei 10.820/2003.
De acordo com a legislação, cabe ao segurado contratar o
empréstimo na instituição financeira de sua escolha e autorizar a retenção,
pelo INSS, do valor devido na parcela mensal do respectivo benefício
previdenciário (caput). O INSS deve fixar regras de funcionamento do
sistema, incluindo todas as verificações necessárias (§ 1º e incisos), sendo
responsável, especificamente, conforme o § 2º do artigo 6º da
Lei 10.820/2003, pela:

"I - retenção dos valores autorizados pelo beneficiário e repasse à


instituição consignatária nas operações de desconto, não cabendo
à autarquia responsabilidade solidária pelos débitos contratados
pelo segurado;

II - manutenção dos pagamentos do titular do benefício na mesma


instituição financeira enquanto houver saldo devedor nas
operações em que for autorizada a retenção, não cabendo à
autarquia responsabilidade solidária pelos débitos contratados pelo
segurado".

A responsabilidade da autarquia pela retenção e repasse de


valores dos proventos do segurado, bem como para o pagamento de tais
dívidas às instituições financeiras, envolve a de conferência da regularidade
da operação, objetivando evitar fraudes, uma vez ser atribuição legal da
autarquia não apenas executar as rotinas próprias, mas também instituir as
normas de operacionalidade e funcionalidade do sistema, conforme previsto
nos incisos do § 1º do artigo 6º da Lei 10.820/2003.

O INSS não se desincumbe de suas responsabilidades ao


simplesmente reter e repassar valores informados pelo DATAPREV, pois, in
casu, não agiu com a cautela necessária no sentido de conferir, com rigor, os
dados do segurado e da operação para evitar situações de fraude, devendo
responder pelos danos decorrentes da lesão.

A respeito desta questão, a jurisprudência do e. Superior Tribunal


de Justiça e do Tribunal Regional Federal da 5ª Região:

"ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL. EMPRÉSTIMO


CONSIGNADO FRAUDULENTO. INDENIZAÇÃO. LEGITIMIDADE
E RESPONSABILIDADE DO INSS. REEXAME DE PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. 1. O INSS é responsável
pelo repasse às instituições financeiras das parcelas
descontadas dos proventos de aposentadoria por força de
contratação de empréstimo consignado, ainda que o banco
contratado seja diverso daquele em que o aposentado recebe
o benefício. 2. O Tribunal de origem, com arrimo no conjunto
probatório dos autos, consignou que a autarquia previdenciária
não procedeu de forma diligente, a fim de se certificar sobre a
existência da fraude, de maneira que restou caracterizada a
responsabilidade do INSS pela produção do evento danoso. A
alteração dessa conclusão, tal como colocada a questão nas
razões recursais, demandaria, necessariamente, novo exame dos
elementos fáticos constante dos autos, providência vedada em
recurso especial, conforme o óbice previsto na Súmula 7/STJ. 3.
Agravo regimental a que se nega provimento". ..EMEN: (AGRESP
201300643741, SÉRGIO KUKINA, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJE
DATA:12/09/2013 ..DTPB:.)(grifei)

"CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. EMPRÉSTIMO


CONSIGNADO FRAUDULENTO REALIZADO EM NOME DE
APOSENTADA. DESCONTO EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
LEGITIMIDADE DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA E DO INSS.
DANOS MATERIAIS E MORAIS. CONFIGURADOS. 1. Hipótese
de apelação oposta pelo Instituto Nacional do Seguro Social -
INSS, em face de sentença que julgou procedente o pleito autoral,
objetivando a condenação dos réus, de forma solidária, ao
pagamento de indenização por danos morais no valor de
R$5.000,00 (cinco mil reais) e danos materiais correspondentes ao
dobro da 1ª parcela de empréstimo consignado acrescido de juros
e correção monetária. Honorários e custas processuais fixados em
R$ 1.000,00 (um mil reais). 2. Embora o Instituto não tenha
participado diretamente da concessão de empréstimo,
celebrou o convênio sem averiguar a autenticidade do suposto
empréstimo consignado realizado em nome da Autora. 3. Não
houve comprovação de que havia autorização da titular do
benefício, conforme exigência do art. 6º da Lei nº 10.820/03,
com redação dada pela Lei nº 10.953/04, e da Instrução
Normativa do INSS/PRES nº 128, de 16 de Maio de 2008. 4. No
tocante aos danos morais, além do INSS, deve ser condenada,
também, a instituição financeira. Aquele por ter realizado os
descontos nos proventos do autor sem a devida autorização e
o banco porque foi negligente ao conceder o empréstimo sem,
ao menos, certificar-se da autenticidade e da veracidade dos
documentos e informações obtidos. 5. Observa-se que o valor
fixado na sentença em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), a título de
danos morais, a serem pagos solidariamente entre o INSS e o
Banco BMG S/A, é razoável e proporcional. 6. Apelação
improvida". (AC 00170409620104058300, Desembargador Federal
Marcelo Navarro, TRF5 - Terceira Turma, DJE - Data::11/06/2013 -
Página::360.) (grifei)

O fato de terceiro ter propiciado ou colaborado para a eclosão do


dano é questão a ser discutida em ação própria a fim de não prejudicar o
exame da responsabilidade específica dos réus em relação à vítima da
fraude.

Portanto, evidente a legitimidade do ente e a sua responsabilidade


objetiva, seja solidária e/ou subsidiária, para figurar na presente demanda.

2. DOS FATOS
A Autora é pessoa idosa, que preza pela sua seguridade benefícios
previdenciários, sendo que recentemente, aos consultar seus extratos de
benefício, restou surpreendida com diversos descontos indevidos, cada um de
uma requerida diferente, o que lhe causou tamanho desespero.

A demandante possui 02 benefícios previdenciários, sejam eles:


xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Os descontos indevidos, não autorizados e nunca contratados pela


Autora são:

 APOSENTADORIA NB xxxxxxxxxxxxx
o xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx;
 PENSÃO NB xxxxxxxxxxxxxxxxxx
o xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Assim, sendo, por não terem sido autorizados ou realizados pela


parte autora, necessária a intervenção do poder judiciário no caso em apreço,
para que tais descontos sejam cessados, declarando-se todos eles indevidos,
com a devolução da quantia equivocadamente descontada da autora, em
dobro, e todos os demais pedidos comtemplados dentro da presente exordial.

4. DOS FUNDAMENTOS DE MÉRITO

a) DA INCIDÊNCIA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR


E DA INVERSÃO DO ÔNUS DE PROVA

Inicialmente, impende ressaltar que há, na espécie, inequívoca


relação consumerista entre as partes litigantes, de tal sorte que, além da
legislação atinente ao mercado financeiro, se impõe a aplicabilidade do Código
de Defesa do Consumidor (Lei n.º 8.078/90).

As partes se amoldam com perfeição aos conceitos legais de


consumidor e fornecedor, nos termos dos arts. 2º e 3º, do CDC. Ademais, a
relação estabelecida se enquadra na conceituação de relação de consumo,
apresentando todos os aspectos necessários para a aplicabilidade do codex
consumerista, vez que esta legislação visa coibir infrações inequivocamente
cometidas no caso em exame.

Esse contexto conduz a uma inexorável desigualdade material que


clama pela incidência do CDC.

O CDC no seu artigo 6º é muito claro, pois preceitua que são


direitos básicos do consumidor a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como os riscos que
apresentem.

Corolário lógico da aplicabilidade do CDC ao caso objeto desta


demanda é a inversão do ônus probatório, conforme dispõe o art. 6º, VIII, do
CDC, verbis:

Art. 6º - São direitos básicos do consumidor: (...)

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a


inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

A inversão do ônus da prova, em favor do consumidor, está


alicerçada na aplicação do princípio constitucional da isonomia, “pois o
consumidor, como parte reconhecidamente mais fraca e vulnerável na relação
de consumo (CDC 4º I), tem de ser tratado de forma diferente, a fim de que
seja alcançada a igualdade real entre os partícipes da relação de consumo. O
inciso comentado amolda-se perfeitamente ao princípio constitucional da
isonomia, na medida em que trata desigualmente os desiguais, desigualdade
essa reconhecida pela própria lei.”

Trata-se da materialização exata do Princípio da Isonomia, segundo


o qual, todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os
limites de sua desigualdade, como já deliberado pelo STJ:
"(...) aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos
profissionais da saúde vinculados de alguma forma ao hospital,
respondem solidariamente a instituição hospitalar e o profissional
responsável, apurada a sua culpa profissional. Nesse caso, o
hospital é responsabilizado indiretamente por ato de terceiro, cuja
culpa deve ser comprovada pela vítima de modo a fazer emergir o
dever de indenizar da instituição, de natureza absoluta (arts. 932 e
933 do CC), sendo cabível ao juiz, demonstrada a
hipossuficiência do paciente, determinar a inversão do ônus da
prova (art. 6º, VIII, do CDC)" (REsp 1.145.728/MG, Relator o
Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, DJe de 28.6.2011).

Desta feita, requer-se, desde já, o deferimento da inversão do ônus


da prova, com fulcro no art. 6º, VIII do CDC.

b) DA INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO CONTRATUAL COM AS


REQUERIDAS E DA REPETIÇÃO DE INDÉBITO

O artigo 42, parágrafo único do CDC prevê a possibilidade de


pagamento, em dobro, ao consumidor no caso de cobrança indevida, a
chamada repetição de indébito:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não


será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida


tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do
que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e
juros legais, salvo hipótese de engano justificável. (grifo meu)

As requeridas, de forma NEGLIGENTE, concederam um empréstimo


e/ou autorizações de desconto de cartão em folha de pagamento do benefício
previdenciário em nome da parte autora, SEM A SOLICITAÇÃO DA MESMA,
o que leva a crer que se trata de alguma AÇÃO FRADULENTA. Porém,
independente das razões que possam ter induzido o requerido ao erro, a parte
requerente não pode arcar com as consequências decorrentes da negligencia
das instituições bancárias/financeiras, razão pela qual deverão ser declarados
inexistentes os contratos com a devolução, em dobro, do valor cobrado
indevidamente da parte autora.

Há muito a jurisprudência tem se manifestado sobre o assunto:

DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÍVIDA CUMULADA COM


INDENIZAÇÃO. EMPRÉSTIMO. Transação bancária reconhecida
como ilegítima. Falha na prestação do serviço. Fraude reconhecida.
DANO MORAL. NÃO OCORRÊNCIA. Negativação inexistente. Não
comprovação da inscrição do nome do autor perante os órgãos de
proteção ao crédito. Mero aborrecimento. Moral inabalada. Dano
não configurado. Sentença mantida. Apelação não provida. (TJ-SP -
APL: 10093997820178260248 SP 1009399-78.2017.8.26.0248,
Relator: Jairo Oliveira Júnior, Data de Julgamento: 22/11/2018, 15ª
Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 22/11/2018)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. FRAUDE NA
CONTRATAÇÃO. DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DA DÍVIDA.
Hipótese em que a fornecedora deixou de evidenciar a contratação,
ônus que lhe incumbia, ex vi do art. 373, II, do CPC. Ausente prova
da contratação, impõe-se a declaração de inexistência da dívida.
DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. Comprovada a ilicitude do ato
praticado pelo réu, que descontou indevidamente do benefício
previdenciário da parte autora parcelas de empréstimo que esta não
contraiu, causando-lhe angústia e transtornos que ultrapassam a
esfera do mero aborrecimento, caracterizado está o dano moral
puro, exsurgindo, daí, o dever de indenizar. APELAÇÃO
DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70077573186, Décima Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Roberto Lessa
Franz, Julgado em 24/05/2018). (TJ-RS - AC: 70077573186 RS,
Relator: Paulo Roberto Lessa Franz, Data de Julgamento:
24/05/2018, Décima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia 04/06/2018)

Assim sendo, a parte autora pleiteia a declaração de INEXISTÊNCIA


de todas as relações contratuais citadas entre ela e as referidas requeridas,
bem como que seja deferida a repetição do indébito pleiteado, acrescidos de
juros e correções monetárias.

Reitera que, por ser parte hipossuficiente, fica a cargo dos Réus a
comprovação da (i)legalidade dos empréstimos.

c) DA FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS – DEVER DE


INDENIZAR

Em se tratando de aplicação do CDC, deve ser levado em


consideração todo o narrado, porquanto a situação em comento é clara no
sentido de que, como fornecedora de produtos e serviços, as empresas
requeridas deverão responder de objetivamente pelos atos praticados
indevidamente contra a pessoa da requerente:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua
fruição e risco.

Assim, são aplicáveis as normas da lei consumerista, mormente as


inerentes à proteção contratual, à oferta e publicidade, às práticas comerciais e
às cláusulas abusivas.

Caracterizada a relação jurídica de consumo, inafastáveis as normas


do Código de Defesa do Consumidor para a disciplina da relação acima
descrita.
Ainda cabe mencionar o que está previsto no inciso VIII do artigo 6 o
do Código de Defesa do Consumidor: “A facilitação da defesa de seus direitos,
inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências” (grifo nosso).

A mais nova e moderna doutrina aponta o dever de qualidade nas


relações de consumo como um dos grandes nortes instituídos pelo Código de
Defesa do Consumidor. Tal dever de qualidade encontra-se visceralmente
ligado à necessidade de se conferir segurança e eficiência aos serviços
prestados aos consumidores, notadamente em práticas relacionadas à
prestação de serviços essenciais, como é o caso dos autos.

Sobre o tema, vale transcrever o magistério constante na obra


conjunta dos doutrinadores Antônio Herman V. Benjamin e Cláudia Lima
Marques:

“Realmente, a responsabilidade do fornecedor em seus aspectos


contratuais e extracontratuais, presentes nas normas do CDC (art.
12 a 27), está objetivada, isto é, concentrada no produto ou no
serviço prestado, concentrada na existência de um defeito (falha na
segurança) ou na existência de um vício (falha na adequação, na
prestabilidade). Observando a evolução do direito comparado, há
toda uma evidência de que o legislador brasileiro inspirou-se na
idéia de garantia implícita do sistema da commom law (implied
warranty). Assim, os produtos ou serviços prestados trariam em si
uma garantia de adequação para o seu uso, e, até mesmo, uma
garantia referente à segurança que deles se espera. Há
efetivamente um novo dever de qualidade instituído pelo CDC, um
novo dever anexo à atividade dos fornecedores. (...)”. 1

Ao tratar-se da segurança nas relações de consumo, não se pode


perder de vista os riscos inerentes à sociedade de massa, os quais são

1
Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais. 4 ed. São
Paulo: RT, 2002, p. 222
impossíveis de eliminar, cumprindo ao Poder Judiciário o difícil papel de
controlá-los. Como bem salientou o doutrinador acima aludido, “o objetivo da
teoria da qualidade – na vertente de proteção à incolumidade físico-psíquica do
consumidor – não é reduzir todos os riscos associados com produtos ao
patamar zero, já que o custo seria muito maior do que aquele que os indivíduos
e a sociedade podem arcar. O que se pretende é que todos os esforços sejam
encetados no sentido de assegurar que os riscos mantenham-se no limite do
razoável”2 .

Ademais, a súmula nº 479 do Superior Tribunal de Justiça possui a


seguinte redação: "As instituições financeiras respondem objetivamente pelos
danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por
terceiros no âmbito de operações bancárias".

É certo que sua responsabilidade só pode ser elidida ante a


demonstração de que o defeito inexistiu ou que se deu por fato exclusivo da
vítima ou de terceiro, nos termos do que dispõe o artigo, 14, § 3º, incisos I e II,
do referido estatuto, o que não ocorreu na espécie.

O fato de terceiro ter praticado fraude, utilizando dados da parte


demandante para contratar, não tem o condão de eximir o réu de sua
responsabilidade. Isso porque, o requerido, diante da atividade de risco
desenvolvida, responde pelas disfunções de sua atividade, absorvendo os
danos decorrentes, que não podem ser repassados ao consumidor.

Em idêntico sentido, trago à baila julgado de Recurso Especial


Representativo de Controvérsia do Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA.


JULGAMENTO PELA SISTEMÁTICA DO ART. 543-C DO CPC.
RESPONSABILIDADE CIVIL. INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS. DANOS
CAUSADOS POR FRAUDES E DELITOS PRATICADOS POR
TERCEIROS. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. FORTUITO

2
Comentários ao código de proteção ao consumidor, coordenador Juarez de Oliveira, São Paulo: Saraiva,
1991,p. 45
INTERNO. RISCO DO EMPREENDIMENTO. 1. Para efeitos do art.
543-C do CPC: As instituições bancárias respondem
objetivamente pelos danos causados por fraudes ou delitos
praticados por terceiros - como, por exemplo, abertura de
conta-corrente ou recebimento de empréstimos mediante
fraude ou utilização de documentos falsos -, porquanto tal
responsabilidade decorre do risco do empreendimento,
caracterizando-se como fortuito interno. 2. Recurso especial
provido. (REsp 1197929/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 24/08/2011, DJe 12/09/2011)

No caso em apreço, denota-se os transtornos oriundos da


privação de verba alimentar suportados pelo demandante, em decorrência
dos descontos indevidos em seu benefício previdenciário, por
empréstimo que não contraiu.

A matéria já se encontra consolidada jurisprudência, conforme se


depreende dos seguintes precedentes jurisprudenciais:

APELAÇÕES CÍVEIS. RESPONSABILIDADE CIVIL.


CONTRATAÇÃO FRAUDULENTA DE EMPRÉSTIMO BANCÁRIO.
DESCONTOS CONSIGNADOS EM APOSENTADORIA.
REPETIÇÃO DE INDÉBITO EM DOBRO. DANOS MORAIS
CONFIGURADOS. POSSIBILIDADE DE MAJORAÇÃO DO
"QUANTUM" NO CASO CONCRETO. - Cabe à instituição financeira
responder objetivamente pelos danos oriundos do mau
funcionamento dos serviços. Dever de segurança (Súm. 479/STJ).
Caso concreto em que correta a declaração de inexistência da
relação jurídica e dos respectivos débitos bem como a reparação
pelos danos daí decorrentes, tendo em vista que a prova dos autos
evidenciou que não foi o autor quem contratou o empréstimo
consignado em sua aposentadoria. - Não é necessária a
caracterização de má-fé do fornecedor para que a repetição do
indébito seja em dobro, nos moldes do que estabelece o art. 42,
parágrafo único, do CDC. - Embora a mera cobrança indevida não
gere, a priori, indenização de cunho moral, os transtornos apontados
nos autos extrapolam o mero dissabor, especialmente
considerando que o autor, idoso, teve parcelas debitadas de
seu soldo, verba de natureza alimentar. Possibilidade, no caso,
de majoração da verba de 03 mil para 08 mil reais. Prestígio ao
caráter punitivo e pedagógico do instituto, sobremaneira diante da
condição financeira de ambas as partes, extensão dos danos, do
valor envolvido na fraude e postulados da razoabilidade e
proporcionalidade. - Verba honorária majorada, forte nas diretrizes
do art. 85, §2º, do NCPC. APELAÇÃO DO AUTOR PARCIALMENTE
PROVIDA E DO RÉU DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº
70071504641, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Carlos Eduardo Richinitti, Julgado em 19/04/2017) (Grifei)

APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. RESPONSABILIDADE


CIVIL. RELAÇÃO DE CONSUMO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE
INEXISTÊNCIA DE DÉBITO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO
POR DANOS MORAIS. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO.
CONTRATAÇÃO INDEMONSTRADA. DESCONTO DE VALORES
DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. ADOÇÃO DA TEORIA DO
RISCO DO EMPREENDIMENTO. RESPONSABILIDADE PELO
FATO DO SERVIÇO. ART. 14, § 1º, I A III, DO CDC. Adotada a
teoria do risco do empreendimento pelo Código de Defesa do
Consumidor, todo aquele que exerce atividade lucrativa no mercado
de consumo tem o dever de responder pelos defeitos dos produtos
ou serviços fornecidos, independentemente de culpa.
Responsabilidade objetiva do fornecedor pelos acidentes de
consumo. AUSÊNCIA DE CONTRATAÇÃO. DESCONTOS
INDEVIDOS EFETUADOS EM BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
DÉBITO INEXISTENTE. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA "OPE
LEGIS". FORTUITO INTERNO. DEVER DE INDENIZAR
CARACTERIZADO. Defeito do serviço evidenciado através da
celebração, pela instituição financeira demandada, de contrato de
financiamento com terceiro em nome da parte autora, mediante
fraude ou ardil. Inexistência de comprovação, pelo demandado, de
que tomou todas as cautelas devidas antes de proceder à
contratação, de modo a elidir sua responsabilidade pela quebra do
dever de segurança, nos moldes do art. 14, § 3º, I e II, do CDC.
Inversão do ônus da prova "ope legis". Fraude perpetrada por
terceiros que não constitui causa eximente de responsabilidade, pois
caracterizado o fortuito interno. DANO MORAL IN RE IPSA.
Demonstrada a ocorrência de descontos indevidos no benefício
previdenciário de titularidade do demandante, eis que despidos
de autorização, daí resulta o dever de indenizar. Dano moral "in
re ipsa", dispensando a prova do efetivo prejuízo sofrido pela
vítima em face do evento danoso. ARBITRAMENTO DO
"QUANTUM" INDENIZATÓRIO. MANUTENÇÃO. Montante da
indenização que deve ser arbitrado em atenção aos critérios de
proporcionalidade e razoabilidade, bem assim às peculiaridades do
caso concreto. Toma-se em consideração os parâmetros
usualmente adotados pelo colegiado em situações similares.
JUROS DE MORA. RESPONSABILIDADE CIVIL
EXTRACONTRATUAL. SÚMULA 54 DO STJ. Os juros moratórios,
em se tratando de responsabilidade extracontratual, incidem desde
a data do evento danoso (Súmula 54 do STJ). APELAÇÃO
DESPROVIDA. RECURSO ADESIVO PARCIALMENTE PROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70067788943, Nona Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Miguel Ângelo da Silva, Julgado em
23/11/2016) (Grifei)

APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO E INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL. EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. FRAUDE NA
CONTRATAÇÃO. DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DA DÍVIDA.
Hipótese em que a fornecedora deixou de evidenciar a contratação,
ônus que lhe incumbia, ex vi do art. 373, II, do CPC. Ausente prova
da contratação, impõe-se a declaração de inexistência da dívida.
DANO MORAL. CONFIGURAÇÃO. Comprovada a ilicitude do ato
praticado pelo réu, que descontou indevidamente do benefício
previdenciário da parte autora parcelas de empréstimo que esta
não contraiu, causando-lhe angústia e transtornos que
ultrapassam a esfera do mero aborrecimento, caracterizado
está o dano moral puro, exsurgindo, daí, o dever de indenizar.
APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível Nº 70077573186,
Décima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo
Roberto Lessa Franz, Julgado em 24/05/2018). (TJ-RS - AC:
70077573186 RS, Relator: Paulo Roberto Lessa Franz, Data de
Julgamento: 24/05/2018, Décima Câmara Cível, Data de Publicação:
Diário da Justiça do dia 04/06/2018) (Grifei)

Portanto, existindo a falha na prestação dos serviços evidente o


direito de ser indenizado pelo ocorrido.

d) DOS DANOS MORAIS/EXTRAPATRIMONIAIS

Restou demonstrado nos fatos os danos extrapatrimoniais que


devem ser indenizados pelos Requeridos à Autora, uma vez que se viu privada
de sua verba alimentar, com descontos que jamais permitiu ou autorizou,
ceifando assim parcela importantíssima de seus rendimentos.

Por dano moral entende-se o dano que atinge os atributos da


personalidade, como imagem, bom nome, a qualidade ou condição de ser de
uma pessoa, a intimidade e a privacidade. Tem natureza compensatória e não
ressarcitória. Para o dano patrimonial há a reparação, para o dano à
personalidade, há o regime de compensação.

Para Stoco (2011), os direitos da personalidade são direitos


fundamentais com origens e raízes constitucionais. São, portanto, direitos do
homem, competindo ao Estado o dever de defendê-los. Os direitos da
personalidade são aqueles sem os quais todos os outros direitos subjetivos
perderiam o interesse. Nesse sentido, também afirmam Arnoldo Wald e Bruno
Pandori Giancoli (2012) que os direitos à honra, ao nome, à intimidade, à
privacidade e à liberdade estão englobados no direito à dignidade, esta que é a
base de todos os valores.

Para Venosa (2012), o direito ao dano moral reside no fato de que


ninguém deve prejudicar o próximo (neminem laedere). E, continua o
doutrinador sustentando que o conceito de culpa é alargado, não mais se
amoldando à trilogia imprudência, negligência e imperícia. O vasto campo da
responsabilidade extranegocial transita na esfera da culpa implícita ou
evidente.

Para Yussef Sair Cahali (2011a), em “Dano Moral”, tanto no dano


patrimonial quanto no extrapatrimonial, é permanente o caráter sancionatório e
aflitivo, portanto, não há distinção ontológica substancial, quando muito em
grau. Gisela Sampaio da Cruz Guedes (2011), por sua vez, esclarece que o
dano moral no Brasil é utilizado como “válvula de escape”, sempre que o
julgador resolve fazer certos ajustes de conta, para não deixar a vítima sem
reparação.

O Código Civil, por sua vez, estabelece a responsabilidade pela


prática de atos ilícitos causadores de danos morais nos artigos 186 e 927, aqui
transcritos:

Art. 186 – aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência


ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927 – aquele que por ato ilícito causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Não fosse por isso, como já ressalvado, a demanda deve ser


analisada à luz das regras e princípios estabelecidos pela legislação de
consumo, que facilita a defesa dos direitos do consumidor em juízo, inclusive
mediante a inversão do ônus probatório.

Neste sentido, aplica-se o disposto no art. 14 do CDC, tendo em


vista a relação de consumo entre as partes, sendo que, diante a falha na
prestação dos serviços das Requeridas, independe da culpa, possuem
responsabilidade objetiva pelos danos causados ao consumidor.

Frisa-se que não podem as Requeridas alegar excludentes de


ilicitudes, tais como culpa exclusiva da vítima, sem que prove cabalmente suas
alegações, por forçado artigo 373, inciso II, do NCPC.

Ademais, a Constituição Federal de 1.988, no artigo 5º, incisos V e


X, prevê a proteção ao patrimônio moral, in verbis:

“V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,


além da indenização por dano material, moral ou à imagem”;

(…) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação.”

Assim, perfeitamente cabível à espécie a aplicação dos arts. 186 e


927, do Código Civil Brasileiro, que asseguram o direito à reparação moral.

 O Código de Defesa do Consumidor, no seu artigo 6º, protege a


integridade moral dos consumidores, pois refere que são direitos básicos do
consumidor a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos.

Ainda, consoante a assertiva propalada por José de Aguiar Dias: “O


conceito de dano é único, e corresponde a lesão de um direito” (Da
Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 737).

Bem como ainda, por Moral, na dicção de Luiz Antônio Rizzatto


Nunes, entende-se “(…) tudo aquilo que está fora da esfera material,
patrimonial do indivíduo” (O Dano Moral e sua interpretação jurisprudencial.
São Paulo: Saraiva, 1999, p. 1).

Reputa-se o dano moral como uma dor interior, não apreciável


economicamente, pois se cinge a um sentimento negativo, que não causa
modificações no mundo exterior, mas, tão-somente, na esfera íntima do
ofendido.

MAS NO CASO EM APREÇO, NÃO SÓ O SENTIMENTO


NEGATIVO DEVE SER SOPESADO, COMO TAMBÉM O SENTIMENTO DE
IMPOTENCIA FRENTE AS REQUERIDAS, QUE DEIXOU DE DILIGENCIAR E
PROTEGER O CONSUMIDOR, SEM CONTAR A DESÍDIA EM RESOLVER
SEU PROBLEMA DE FORMA EXTRAJUDICIAL.

Destarte, in casu o DANO MORAL existe in re ipsa, bastando para


a sua reparação a prática do ato ilícito com reflexo nas relações psíquicas do
Autor, notadamente, no que tange à sua tranquilidade, segurança, tendo sido
LITERALMENTE violado os seus direitos.

Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva


inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa,
ipso facto está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural,
uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras de experiência
comum.”(in Programa de Responsabilidade Civil, 6ª ed., Malheiros, 2005, p.
108)

Para ser indenizado por dano moral é necessário, tão somente, que
o consumidor identifique a parte que lhe praticou o ilícito retro mencionado,
sendo desnecessário comprovar que houve efetivamente o dano.

O caso em comento trata de má prestação de serviço,


inadequação do serviço, violação da honra do Autor diante de terceiros e
violação da dignidade humana.

Sendo assim, inquestionável o dever de indenizar o Autor, tendo em


a situação já narrada, que merece ser imputada a responsabilidade às
Requeridas.

e) DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Uma vez reconhecida a existência do dano moral, e o consequente


direito à indenização dele decorrente, necessário se faz analisar o aspecto do
quantum pecuniário a ser considerado e fixado, não só para efeitos de
reparação do prejuízo, mas também sob o cunho de caráter punitivo ou
sancionaria, preventivo, repressor.

E essa indenização que se pretende em decorrência dos danos


morais,  há de ser arbitrada, mediante estimativa prudente, que possa em
parte, compensar o "dano moral" do Autor.

No tocante ao quantum indenizatório, entendo que ao quantificar a


indenização por dano moral o julgador deve atuar com razoabilidade,
observando o caráter indenizatório e sancionatório de modo a compensar o
abalo suportado, sem caracterizar enriquecimento ilícito. Ou seja, “... a
indenização a esse título deve ser fixada em termos razoáveis, não se
justificando que a reparação venha a constituir-se em enriquecimento indevido,
com manifestos abusos e exageros, devendo o arbitramento operar com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa e ao porte econômico das
partes, orientando-se o juiz pelos critérios sugeridos pela doutrina e pela
jurisprudência, com razoabilidade, valendo-se de sua experiência e do bom
senso, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso.” (REsp
245727/SE, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, 4ª Turma, DJ
05/06/2000 p. 174).

No caso, levando-se em conta a atividade desenvolvida pela


ofensora, cujos lucros levam à presunção de sua maior capacidade econômica,
observando-se ainda, a desídia de sua conduta, é de rigor que a verba
indenizatória seja de, no mínimo, R$ 10.000,00, ou em valor justo e condizente
à ser arbitrado por este magistrado, que represente não só uma medida para
tentar reparar o dano causado a autora, mas também um valor que leve em
consideração uma medida da parte requerida ser coibida a praticar ato lesivo
contra terceiros.

f) DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO (CPC, art. 319, inc. VII)

Em homenagem ao princípio da razoável duração do processo, o


Promovente opta pela não realização de audiência conciliatória (CPC, art. 319,
inc. VII), haja vista a escassa possibilidade de transação judicial entre os
litigantes.

3. DA TUTELA DE URGÊNCIA

O NCPC dispõe em seu artigo 300, § 2º a tutela de urgência:

Art. 300.  A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou o risco ao resultado útil do processo.

[...]

§ 2 o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após


justificação prévia

Com base nas alegações ora expendidas, bem como na evidente


lesão e legislação vigente, imperiosa necessidade do deferimento da tutela de
urgência pretendida, para a finalidade de que sejam suspensos os
descontos dos valores acima descriminados pela parte autora, dos seus
benefícios previdenciários, como medida de justiça, até que transitado em
julgado o presente feito, confirmando-se os efeitos da tutela na sentença.

Os fatos declinados ensejam o deferimento da medida cautelar


pleiteada, eis que presentes os requisitos autorizados de sua concessão, ou
seja:
O FUMUS BONI IURIS, que se resume na plausibilidade da
existência do direito invocado por um dos sujeitos da relação jurídico-material,
ou seja, na possibilidade que a tese por ele defendida venha a ser sufragada
pelo judiciário; no caso concreto, porque a parte autora, de fato, nunca contraiu
os empréstimos e nem realizou as compras provenientes dos descontos de
cartões, que indevidamente foram abatidos/descontados do seu benefício
previdenciário.

O PERICULUM IN MORA, que se revela pelo dano irreparável que


no caso podem ser apontados como: porquanto se for permitido que os
descontos continuem se perpetrando nas verbas alimentares da autora, a parte
está tendo seus rendimentos alimentares ceifados indevidamente, beneficiando
tão somente as instituições financeiras ora combatidas.

Isso posto, requer seja concedida TUTELA DE URGÊNCIA, com


fulcro nos artigos 497 de 300, ambos do NCPC, para o fim de que sejam
suspensos os descontos dos valores acima descriminados pela parte
autora, dos seus benefícios previdenciários, como medida de justiça, até
que transitado em julgado o presente feito, confirmando-se os efeitos da
tutela na sentença, o que deve ser reconhecido por este juízo, tendo em vista,
principalmente, os documentos anexos que comprovam a verossimilhança dos
fatos declinados nesta peça processual, bem como os requisitos necessários
para a concessão desta;

4. DOS PEDIDOS

Diante o exposto, requer à Vossa Excelência:

a) Requer seja concedida TUTELA DE URGÊNCIA, com fulcro nos


artigos 497 de 300, ambos do NCPC, para o fim de que sejam
suspensos os descontos dos valores acima descriminados pela
parte autora, dos seus benefícios previdenciários, como medida
de justiça, até que transitado em julgado o presente feito,
confirmando-se os efeitos da tutela na sentença, o que deve ser
reconhecido por este juízo, tendo em vista, principalmente, os
documentos anexos que comprovam a verossimilhança dos fatos
declinados nesta peça processual, bem como os requisitos
necessários para a concessão desta, sob pena de multa diária à ser
fixada;
b) Requer seja determinada a prioridade no trâmite do processo, por
ser a parte autora pessoa idosa;
c) Requer que seja a ré citada para que, querendo, conteste a
presente ação no momento processual oportuno, sob pena de
revelia e confissão;
d) Requer a inversão do ônus da prova, em favor do autor, nos
termos do artigo 6º, VIII do CDC, por se tratar de relação de
consumo, onde fica, por consequência, evidenciada a
vulnerabilidade deste;
e) Requer a produção de todos os meios de prova em direito
admitidos, notadamente a prova documental, testemunhal e
depoimento pessoal do representante da ré, sob pena de confissão
ficta, reiterando, ainda, o pedido de inversão do ônus da prova, nos
termos do preceituado no artigo 6 o, inciso VIII, do Código de Defesa
do Consumidor;
f) A total procedência da presente ação, para:
i. Reconhecer a responsabilidade objetiva das
instituições financeiras e do INSS no caso em apreço,
sendo ambas solidárias ou subsidiárias entre si;
ii. Declarar a inexistência de débitos junto às
instituições financeiras requeridas, anulando-se todo e
qualquer contrato com as mesmas, voltando as partes ao
status quo antes de tais contratações indevidamente
efetuadas e não autorizadas pela demandante.
iii. Determinar a devolução, em dobro, das quantias
indevidamente cobradas e descontadas da autora, que
somam a quantia de [parcelas indevidamente
descontadas em dobro];
iv. Condenar a ré ao pagamento de uma indenização
por danos morais, pelos prejuízos causados ao
requerente, no valor de, no mínimo, R$ 10.000,00, ou em
valor justo e condizente com o caso concreto à ser
arbitrado por Vossa Excelência, corrigidos
monetariamente e acrescidos de juros legais nos termos
da Súmula 43 e 54 do Superior Tribunal de Justiça;
v. Confirmar a antecipação de tutela;
g) a condenação da ré ao pagamento das custas e demais despesas
processuais, inclusive em honorários advocatícios sucumbenciais,
que deverão ser arbitrados por este Juízo, conforme norma do artigo
85 do NCPC;
h) a concessão do benefício da justiça gratuita, por ser a autora
pessoa sem condições de arcar com as custas, honorários
advocatícios e demais despesas processuais, sem prejuízo ao
sustento próprio e de sua família, consoante declaração anexa.

Dá-se à causa o valor de R$ [soma do dano moral + parcelas indevidamente


descontadas em dobro]

Nestes termos, pede e espera deferimento.

(CIDADE), 10 de May de 2023.

ADVOGADO

OAB

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