solteiro, freelancer, portador do documento de identidade RG n.º 3.519.953 e inscrito no CPF sob o n.º 078.564.769-40, residente e domiciliado na Rua José de Patta, n.º 345, apto 201, Ed. Verona, Centro, Criciúma/SC, CEP 88802-240, neste ato representado por sua procuradora ROSANGELA DAMINELLI, brasileira, solteira, cabeleireira, portadora da cédula de identidade RG n.º 1.329.241 e inscrita no CPF sob o n.º 341.931.972-04, residente e domiciliada na Rua José de Patta, n.º 345, apto 201, Ed. Verona, Centro, Criciúma/SC, CEP 88802-24, vem respeitosamente diante de Vossa Excelência, por meio de sua advogada infra-assinada, propor
AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE
RELAÇÃO JURÍDICA C/C REPARAÇÃO POR DANOS MORAIS E TUTELA ANTECEDENTE PARA EXCLUSÃO DE NOME DO BANCO DE DADOS SPC E SERASA
Em face de BANCO BRADESCO, pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CNPJ sob o n.º CNPJ. 60.746.948/0345-21, com endereço na Avenida Rui Barbosa, n.º 21, Centro, Criciúma/SC, CEP 88.801-120 pelas razões fáticas e jurídicas abaixo elencadas:
I – DA JUSTIÇA GRATUITA
O requerente não possui condições financeiras de
custear as despesas do processo, pois atualmente está fora do mercado de trabalho formal, atuando como freelancer e é contribuinte autônomo do INSS, e seus proventos são insuficientes seus para pagar todas as despesas processuais, inclusive o recolhimento das custas iniciais, o que se extrai dos documentos que seguem em anexo. Por tais razões, pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita, assegurados pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei 13.105/2015 (CPC), artigo 98 e seguintes.
II – DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
O requerente opta pela dispensa de audiência
conciliatória.
III - DOS FATOS
No dia 16/11/2020, o requerente esteve no comércio
a fim de realizar compras com o pagamento a prazo, o que foi impossibilitado devido a com a informação de que estava com o seu nome inscrito nos cadastros dos inadimplentes em razão de suposto débito com o requerido. Por meio da declaração da Serasa, constatou que sua negativação refere-se a dívida com vencimento em data de 26/01/2016, cuja cobrança é de um adiantamento de conta realizada por meio do contrato n.º 07864769000040AD. A surpresa do requerente ocorreu porque não possui débito algum junto ao referido banco, até porque teve a procedência de uma ação de indenização, autos n.º 020.12.024023-8, com decisão prolatada em 02/03/2015, que dispõe: Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos formulados na inicial para DECLARAR inexistentes os débitos debatidos nos autos e CONDENAR a parte requerida ao pagamento de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título de indenização por danos morais, devendo incidir, sobre o valor, juros de mora de 1% ao mês desde o registro da impontualidade, e correção monetária, conforme variação do INPC, a partir da presente data.
Na sentença, houve o reconhecimento da teoria da
aparência e da boa-fé na apresentação do documento de adesão ao pacto de negociação e a liquidação do débito decorrente do contrato de cartão de crédito, cujo contrato é o mesmo que vem sendo atualmente cobrado. Arguiu ainda o magistrado, que considerando o saldo zerado na conta do requerente e o pedido de encerramento, presume-se que todos os pactos acessórios haviam sido extintos, o que leva a presunção de que nada mais havia para justificar a informação de débito que motivou aquela demanda, e a evidência de tal mácula foi passível de compensação financeira por abalo moral. No presente caso, o requerente sequer foi comunicado acerca de tal débito, que é vigente pelo período de quase 05 (cinco) anos, ou seja, originado meses após ter se encerrado o processo mencionado acima, que versa sobre o mesmo motivo.
IV – DA TUTELA DE URGÊNCIA
A inscrição do consumidor em cadastro de maus
pagadores impede a realização de compras; abertura de conta bancária; obtenção de empréstimos, obtenção de talão de cheques, dentre outros entraves financeiros, pois a consulta aos órgãos de proteção ao crédito é realizada por qualquer tipo de estabelecimento para cientificar-se da situação do cliente. Há fundado receio de dano irreparável, ou de difícil reparação, pois a negativação do nome do requerente lhe restringe o exercício de seus atos jurídicos. Requer a antecipação dos efeitos da tutela, para que o requerido retire imediatamente o nome do requerente do quadro de devedores, sob pena de agravar-se ainda mais a situação. São requisitos para a concessão da tutela de urgência o fundamento da demanda que evidencie a probabilidade do direito e o justificado receio de ineficácia do provimento final, em síntese o fumus boni iuris e o periculum in mora. Assim dispõe a Lei nº 8.078/90 Código de Defesa do Consumidor: Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento. § 3º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo justificado receio de ineficiência do provimento final, é lícito ao juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o réu. Ainda no mesmo sentido, o Código de Processo Civil que preceitua: Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. § 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la. § 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia. § 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. (...) Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se: I - a sentença lhe for desfavorável; II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias; III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor. Parágrafo único. A indenização será liquidada nos autos em que a medida tiver sido concedida, sempre que possível.
Nessa linha de raciocínio, para a concessão da
liminar, estão presentes os requisitos do fumus boni juris e do periculum in mora. Este se caracteriza mediante a evidência do direito a ser protegido, que é documento que aponta permanência da inscrição no nome do requerente no cadastro restritivo, enquanto aquele exsurge do perigo estar impossibilitado de praticar todos os atos negociais em que se necessita a positivação de seu nome nos cadastros de proteção de crédito, em caso de não haver o deferimento imediato da presente liminar. Como estão exaustivamente demonstrados o fumus boni iuris e o periculum in mora, requer a imediata retirada do nome do requerente do cadastro de proteção de crédito relativamente à dívida inexistente. A tutela pretendida nesta demanda deverá ser concedida de forma antecipada, posto que o requerente preencha os requisitos do artigo 273 do NCPC. A jurisprudência é pacífica ao afirmar que o dano moral se presume nos casos de inscrição indevida em cadastros de inadimplentes. Tal dano, chamado de dano moral puro, independe de comprovação, de forma que é certo o dever do requerido em indenizar requerente. Deste modo, provado que o requerido mantém o nome do requerente indevidamente cadastrado nos bancos de dados de restrição creditícia sem causa que o legitimasse, impõe que responda pelos danos morais daí decorrentes, que na hipótese, configuram-se in re ipsa.
VI - DO DIREITO E DANO MORAL
Para que se caracterize o dano moral, é
imprescindível que haja: - Ato ilícito, causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência; - Ocorrência de um dano seja ele de ordem patrimonial ou moral; - Nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente. Dano moral, frise-se, é o dano causado injustamente a outrem, que não atinja ou diminua o seu patrimônio; é a dor, a mágoa, a tristeza infligida injustamente a outrem com reflexo perante a sociedade. Neste sentido, pronunciou-se o E. Tribunal de Justiça do Paraná: O dano simplesmente moral, sem repercussão no patrimônio, não há como ser provado. Ele existe tão-somente pela ofensa, e dela é presumido, sendo bastante para justificar a indenização” (TJPR - Rel. Wilson Reback – RT 681/163). O artigo 927 do Código Civil preconiza: Art. 927. Aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo A negativação foi perpetrada ao arrepio da lei e não precedida da necessária notificação escrita ao requerente, que mesmo ciente que não possui tal débito, teve seu direito violado, conforme menciona o artigo 43 § 2 do Código de Defesa do Consumidor: Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes. § 2º A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitado por ele. O requerente experimentou situação constrangedora, angustiante, tendo sua moral abalada, em razão deste incidente com seus reflexos prejudiciais, o que é suficiente para ensejar danos morais, até porque, o contrato que motivou a suposta negativação se encerrou em 2010 e teve respaldada sentença judicial nesse mesmo sentido em 2015. É oportuno mencionar o mandamento da Constituição Federal de 1988, que é muito clara ao dispor, no seu art. 5º, inciso X, in verbis: X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo material ou moral decorrente de sua violação. O requerido afrontou de modo confesso e consciente o texto constitucional acima transcrito, devendo, por isso, ser condenado à indenização pelo dano moral sofrido pelo requerente.
VII - DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
O Código de Defesa do Consumidor, no artigo 6º,
inciso VIII possibilita a inversão do ônus da prova a favor do consumidor, visando facilitar sua defesa, isso a critério do juiz, quando for verossímil sua alegação, ou quando for hipossuficiente. A verossimilhança é mais que um indício de prova, tem uma aparência de verdade, o que no caso em tela, constata-se por intermédio de documento que aponta a negociação mencionada alhures. Por outro lado, a hipossuficiência no caso em tela se configura na diminuição de capacidade do consumidor diante da situação de vantagem da empresa. O requerente não possui a capacidade e meios técnicos para comprovar as negociações do banco, que devido à sua vantagem econômica e por deter o registro do histórico dos débitos em seu sistema, deve arcar com o dever de comprovar que a existência da dívida. Dessa forma, a relevância da inversão do ônus da prova está em fazer com que o consumidor de boa-fé se torne mais consciente de seus direitos e a empresa mais responsável e garantidora dos serviços que põe no mercado. Portanto, haja vista a verossimilhança das alegações do requerente e sua hipossuficiência, requer a inversão do ônus da prova ao seu favor,nos termos do art. 6º, VIII da Lei nº 8.078/90.
VIII- DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
Diante de todo o exposto, requer:
a) A concessão da antecipação dos efeitos da tutela,
para que o reclamado retire o nome do requerente do banco de dados do Serviço de Proteção ao Crédito, sob pena de multa diária no valor de R$ 100,00 (cem reais) por dia que não o cumprir; b) A concessão da Justiça Gratuita, nos termos da Lei nº 1.060/50, assegurados pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e pela Lei 13.105/2015 (NCPC), artigo 98 e seguintes, pois o requerente não possui condições financeiras de custear as despesas do processo sem o prejuízo próprio e de sua família; c) A citação do reclamado para responder a presente ação, sob pena de revelia e confissão quanto à matéria de fato se não o fizer; d) A procedência total dos pedidos, no sentido de que o requerido seja condenando ao pagamento de 20 (vinte) salários mínimos a título de danos morais por cobrar dívida já prescrita e paga; e) A inversão do ônus da prova; f) A condenação do requerido ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação. Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos, como prova documental, pericial, testemunhal e o depoimento pessoal do preposto do requerido, sob pena de confesso se não o fizer; Dá-se à causa o valor de R$ 20.900,00 (vinte mil e novecentos reais). Nesses termos, Pede Deferimento. Criciúma, 24 de novembro de 2020.