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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000027578

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal nº


1503103-32.2019.8.26.0597, da Comarca de Sertãozinho, em que é apelante N. G. DA C.,
é apelado M. P. DO E. DE S. P..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 16ª Câmara de Direito Criminal


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao
recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores CAMARGO ARANHA


FILHO (Presidente sem voto), OTÁVIO DE ALMEIDA TOLEDO E GUILHERME DE
SOUZA NUCCI.

São Paulo, 21 de janeiro de 2021.

NEWTON NEVES
Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO Nº: 43623


APEL Nº: 1503103-32.2019.8.26.0597
COMARCA: SERTÃOZINHO
APTE...: NÉRIO GARCIA DA COSTA
APDO...: MINISTÉRIO PÚBLICO

*IMPORTUNAÇÃO SEXUAL Quadro probatório que se


mostra seguro e coeso para evidenciar autoria e materialidade do
delito Validade da fala da vítima, corroborada por outros
elementos Versão exculpatória isolada nos autos Manutenção
do tipo reconhecido em 1º grau, porque mais adequado à realidade
dos fatos Pena, regime e substituição por prestação pecuniária
bem dosados Recurso desprovido (voto nº 43623)*.

A r. sentença de fls. 108/113, com


relatório adotado, julgou procedente a ação penal
para condenar NÉRIO GARCIA DA COSTA à pena de 01 ano
de reclusão, no regime prisional aberto, por ofensa
ao artigo 215-A, do Código Penal, substituída a pena
corporal por prestação pecuniária à vítima no
importe de R$ 8 mil, “para fins de adiantamento de
indenização por danos morais, minimizando seu prejuízo
emocional, certamente causado pela conduta do acusado”.

Recorre o réu, às fls. 122/128, por sua


absolvição, alegando insuficiência do conjunto
probatório e também atipicidade da conduta.

Recurso processado e respondido, com


manifestação ministerial, em ambas as instâncias,
por seu desprovimento.

É o relatório.

Foi o réu denunciado porque, em 03 de

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outubro de 2.019, no período da manhã, na Rua João


Borghetti, nº 1975, Jardim Recreio dos Bandeirantes,
em Sertãozinho, praticou contra Marluce Belo de
Oliveira e sem a sua anuência, ato libidinoso com o
objetivo de satisfazer a própria lascívia.

Segundo a inicial acusatória, Marluce


trabalhou no Condomínio Edifício Bandeirantes,
situado no endereço acima descrito, por mais de 16
anos, mas acabou dispensada pelo empregador, ao que
passou a conversar com os moradores oferecendo
serviço de faxina.

Assim é que, no dia dos fatos, sabendo


da situação acima narrada, Nério pediu para que
Marluce entrasse em seu apartamento para uma
possível faxina, ao que ela observou a
desnecessidade de visitar o imóvel por conhecer as
unidades padrões do condomínio, informando o valor
que cobraria pelo serviço.

O acusado, então, insistiu para que a


ofendida ingressasse em seu apartamento, com o
pretexto de conhecê-lo e, assim que Marluce entrou,
a fim de satisfazer sua própria lascívia, Nério
retirou o pênis para fora, pedindo para que a
mulher o acariciasse, além de segurar com força a
mão da vítima chegando a encostar em seu órgão
sexual.

Durante a prática do ato libidinoso, o


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réu dizia que estava carente e pedia um beijo em seu


pênis, logrando Marluce dele se desvencilhar e
deixar o local.

Pese o empenho do combativo e zeloso


defensor, não há se falar em absolvição de Nério,
vez que materialidade e autoria delitivas restaram
devidamente comprovadas por meio da prova oral.

Ao ser ouvido na Delegacia, ocasião em


que acompanhado de seu advogado, o réu afirmou que,
no dia dos fatos, encontrava-se na garagem em que
estaciona seu veículo quando foi interpelado por
Marluce, que declarou ter sido dispensada pelo
empregador, oferecendo seus serviços de faxina. O
interrogando, então, disse que não precisava por já
ter uma ajudante, ao que Marluce passou a insistir,
inclusive dizendo que reduziria o valor cobrado.
Foram, então, ao seu apartamento, ocasião em que,
após ver o imóvel, Marluce pegou seu número de
telefone e disse que ligaria mais tarde, ficando ali
poucos minutos. Ainda naquele dia, o interrogando
perdeu uma ligação da vítima e, ao retornar, não foi
atendido, nunca mais falando com a mulher. Negou
veementemente tê-la tocado, alegando estranheza
quanto ao fato de a acusação ter aparecido
justamente no início de sua campanha política (fls.
07).

Tornou a negar a prática delitiva em


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Juízo, afirmando que, chegando em casa, foi abordado


por Marluce, que o aguardava na garagem, passando
ela a sondar quem morava com o interrogando, que
informou que estava se separando da esposa e que o
filho não mais residia com ele. A mulher, então,
ofereceu-se para limpar seu imóvel, o que ele
recusou por já ter uma moça que presta o serviço em
seu lar, passando ela a insistir, dizendo que
reduziria o valor cobrado e se convidando a conhecer
o apartamento. Já no imóvel, Marluce passou a,
fornecendo um valor mais baixo, insistir para que a
contratasse. Marluce então saiu do apartamento,
chegou até a escada e, em seguida, retornou dizendo
que ligaria mais tarde, entendendo o interrogando,
inclusive por ter a mulher passado a falar sobre sua
vida afetiva, que ela se insinuava sexualmente para
ele, inclusive com aproximação física, o ele
resolveu ignorar. Já no dia seguinte, o interrogando
entrou em contato com o subsíndico a fim de relatar
a situação, tendo aquele dito para relaxar porque a
vítima já havia sido dispensada. Relatou os fatos
ainda à sua ex-esposa, que o chamou de “bobo” por
ter deixado uma mulher entrar no apartamento, vez
que é pessoa pública e sondado, à época, para
concorrer à Prefeitura Municipal. Esclareceu ter
permitido que Marluce subisse ao seu apartamento,
mesmo não pretendendo contratar seus serviços,
diante da insistência da mulher. Indagado pelo N.
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Magistrado sobre o motivo de não ter relatado, na


Delegacia e perante o seu advogado, o assédio por
ele sofrido, mesmo tendo informado anteriormente ao
subsíndico, disse não se recordar se assim afirmou
para a autoridade policial. Não soube esclarecer o
motivo que Marluce poderia ter para lhe acusar
falsamente, desconhecendo ter sido ela instrumento
de outro político visando prejudicá-lo. Esclareceu,
ao final, que, diversamente do que constou em seu
interrogatório extrajudicial, Marluce ligou para seu
telefone enquanto estavam na garagem, a fim de
registrar o número, tendo ele apenas retornado
posteriormente para confirmar de quem seria a
ligação (mídia digital).

Sua versão, no entanto, não convence.

Perante a d. autoridade policial,


Marluce contou que, após ser dispensada do trabalho
no condomínio, onde laborou por 16 anos, passou a
conversar com os moradores do prédio a fim de
oferecer serviços de faxina, assim fazendo também
com Nério, que para lá se mudara havia cerca de um
mês. O réu, então, pediu que ela o acompanhasse até
o apartamento para estimar o valor da faxina, ao que
ela disse não ser necessário, por conhecer a planta
das unidades, informando o valor que cobraria.
Diante da insistência de Nério para que conhecesse o
imóvel, a declarante acabou cedendo e, assim que ali

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entrou, viu que o réu retirou seu membro sexual para


fora, pedindo que o acariciasse e o beijasse,
alegando estar carente. Ainda, pegou à força a mão
da depoente, que chegou a encostar no órgão genital
de Nério. A declarante, então, disse que era uma
mulher casada e pediu que abrisse a porta, mas só
conseguiu ser liberada pelo acusado após prometer
que voltaria mais tarde (fls. 05).

Sob o crivo do contraditório, a vítima


declarou que, após ser dispensada do serviço no
condomínio, foi orientada pela síndica a conversar
com Nério, o que ela fez na portaria -seu posto de
trabalho até então -, oferecendo serviço de faxina.
O acusado disse que talvez precisasse e perguntou o
valor, pedindo para que ela o reduzisse após ela
informar ser R$ 120,00. Disse ele, então, para que
ela conhecesse seu apartamento a fim de ver como era
organizado, o que ela recusou, dizendo já conhecer
as unidades do edifício. Diante da grande
insistência do réu e encontrando-se frustrada com a
recente demissão, aceitou acompanhá-lo até o imóvel
pensando inclusive em cobrar mais barato e, assim
que ela entrou, notou que Nério tirou o pênis para
fora, pedindo que fizesse carinho nele porque estava
carente, o que por ela recusado afirmando ser
casada. Notando a dificuldade em convencer o réu a
deixá-la sair, a declarante fingiu que estava tudo

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bem e prometeu que voltaria mais tarde, mesmo sem


pretender assim fazer. Entrou em contato, então, com
Caroline e Karina, narrando a elas os fatos, sendo
orientada a denunciá-lo. Indagada pelo I. Juiz,
esclareceu que, enquanto ela tentava deixar o
apartamento, Nério puxava seu braço, acreditando que
chegou a relar no pênis por estar ela agitada, não
se recordando se ele também pediu que beijasse o
pênis. Negou ter pedido o número de telefone de
Nério, afirmando que ele tinha o dela (mídia
digital).

Caroline Kroll Ciavatta disse que, no


dia dos fatos, estava em sua casa quando Marluce ali
chegou nervosa e, passando a chorar, relatou ter
sido assediada por Nério, não se recordando a
depoente dos detalhes. De seu apartamento, a
ofendida entrou em contato com a síndica, Karina.
Confirmou que, naquela data, a vítima havia sido
dispensada de seu trabalho no condomínio, passando a
oferecer serviço de faxina a alguns moradores,
incluindo a declarante. Acrescentou ser Nério uma
pessoa boa e respeitosa, confirmando, quando
indagada pela defesa do réu, que Marluce ajuizou
ação trabalhista contra o condomínio com base em
alegações que, segundo soube por terceiros, são
inverídicas (mídia digital).

Karina Pavan, síndica do condomínio,

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contou que, após dispensar Marluce do trabalho por


contenção de gastos, orientou-a oferecer serviço de
faxina aos moradores. No dia dos fatos, a vítima
ligou apavorada dizendo que falou com Nério na
garagem e, após ele insistir, acabou subindo em seu
apartamento, onde aquele pegou sua mão e pediu que
tocasse suas partes íntimas. Negou já ter Marluce
causado qualquer problema, esclarecendo que Nério
ali residia havia um ou dois meses, desconhecendo
qualquer reclamação sobre ele. Negou que a ofendida
tenha ingressado com ação trabalhista contra o
condomínio (mídia digital).

Adolfo Henrique Kroll, então


subsíndico, informou que, no dia dos fatos, recebeu
um telefonema de sua filha, Caroline, que lhe contou
os fatos então relatados pela suposta vítima, com
quem não teve contato direto. O depoente disse para
que informassem então à síndica, o que por elas
feito. Já no dia seguinte, foi procurado por Nério
que, declarando-se incomodado com o assédio sofrido
pela funcionária em seu imóvel, pediu para dispensá-
la. Declarou nunca ter tido problemas com Nério ou
Marluce, apesar de a funcionária ter ingressado com
ação trabalhista contra o condomínio com algumas
alegações que julga inverídicas (mídia digital).

Por fim, Maria das Dores Martins Duarte


declarou trabalhar na casa de Nério desde que ele

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era casado, passando a limpar o apartamento


quinzenalmente após a separação. Garantiu ser o réu
homem respeitador consigo e também com suas filhas
(mídia digital).

Assim, cotejadas as provas trazidas aos


autos, imperiosa se mostra a manutenção da
condenação de Nério como lançada.

De se ver que Marluce sempre relatou os


fatos da mesma forma, apesar de pequenos
esquecimentos, esclarecendo que, após o réu insistir
para que o acompanhasse até seu apartamento, ali
exibiu seu pênis pedindo para que o tocasse por
estar carente e, em dado momento, ainda puxou seu
braço, acreditando que chegou a “relar” no órgão
genital daquele.

Outrossim, Caroline e Karina


confirmaram o estado de nervosismo da vítima logo
após os fatos, relatando a primeira que Marluce
chegou a chorar ao narrar o assédio.

Cumpre observar ser inócua a discussão


quanto ao local em que os envolvidos se encontraram
portaria ou garagem por se tratar de questão
periférica, vez que os fatos teriam se dado no
interior do apartamento de Nério, salientando-se
aqui que o motivo para a vítima tê-lo abordado foi
confirmado pelas testemunhas, qual seja, oferecer os
serviços de limpeza, assim como fez com Caroline,
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por exemplo.

Nério, por sua vez, alega sem qualquer


embasamento fático estar Marluce mentindo, mesmo não
tendo apontado qualquer motivo para que o
prejudicasse, não parecendo se tratar de perseguição
política.

Não se pode perder de vista, ademais,


que apresentou ele relevantes contradições em seus
depoimentos, vez que, na Delegacia, perante advogado
constituído, nada mencionou sobre as supostas
insinuações sexuais por Marluce, o que causa grande
estranheza, por ser questão determinante ao deslinde
dos fatos já que aduz ter sido ela quem insistiu em
subir para o apartamento, não convencendo tenha ele
simplesmente se esquecido da circunstância perante a
d. autoridade policial em momento no qual se
defendia de grave acusação.

Isto considerado, como bem ponderado


pelo I. Magistrado sentenciante, “está bastante
evidente que ele contou ao senhor Adolfo com medo,
sabendo que havia praticado um ilícito contra a vítima e
já pretendendo se precaver de alguma acusação” (fls.
112).

Já na Delegacia na presença de seu


advogado, repise-se -, havia confirmado que chegou a
ligar de volta para Marluce naquele dia o que
poderia indicar que realmente buscou contatá-la,
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mesmo não precisando de funcionária - mas, em Juízo,


resolveu se retratar neste ponto, garantindo que
apenas telefonou por não saber a quem pertencia a
outra linha.

De se ver que, apesar de Adolfo e


Caroline terem afirmado que Marluce ajuizou ação
trabalhista contra o condomínio com base em
inverdades, a própria síndica negou conhecer
qualquer processo como o informado, não se podendo
considerar tais declarações porque não comprovadas,
portanto.

Nem se diga, outrossim, que a vítima


buscou com a mentira ganhar vantagem ilícita porque,
como informado pelo próprio réu, sequer o procurou
após os fatos aqui relatados, somente sendo fixado
valor para reparação dos danos morais, neste, porque
assim requerido pelo órgão acusatório.

Em casos de crimes como o aqui tratado,


geralmente praticados na clandestinidade, já se
decidiu que:

“A palavra da vítima é a viga mestra da


estrutura probatória, e a sua acusação, firme e segura,
em consonância com as demais provas, autoriza a
condenação” (RT 750/682).

“Nos crimes contra os costumes, a palavra


da vítima surge com coeficiente probatório de ampla
valoração, ainda mais se corroborada pelos demais

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elementos dos autos” (RT 666/295).

“Nos crimes contra os costumes, de


violência carnal, em que a prova da autoria fica
reduzida praticamente às declarações das vítimas, não
devem ser as mesmas infirmadas quando uníssonas e
firmes. Têm valor preponderante, superior às do acusado”
(RT 610/335).

“Em temas de delitos sexuais, é verdadeiro


truísmo dizer que quem pode informar da autoria é quem
sofreu a ação. São crimes que exigem o isolamento, o
afastamento de qualquer testemunha, como condição mesmo
de sua realização, de sorte que negar crédito à ofendida
quando aponta quem a atacou é desarmar totalmente o
braço repressor da sociedade” (RT 442/380).

E, na hipótese ora debatida, como já


visto, a fala de Marluce encontra respaldo em outros
elementos dos autos, não se demonstrando minimamente
como caberia à d. defesa, nos termos do artigo
156, da legislação processual penal qualquer
motivo que teria ela para prejudicar pessoa que
sequer conhecia direito.

Comprovados, portanto, os fatos como


narrados na denúncia, também não há se falar em
absolvição do recorrente pela atipicidade da
conduta, tampouco em desclassificação delitiva.

O artigo 215-A, do Código Penal, prevê


como crime de importunação sexual “Praticar contra

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alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o


objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de
terceiro”, o que verificado no ato praticado por
Nério.

Com efeito, o ora apelante exibiu o


pênis a Marluce e insistiu para que o tocasse,
constrangendo-a ao contato físico, chegando a puxá-
la pelo braço numa tentativa de fazê-la se
aproximar, o que sem seu consentimento. Agiu assim
de forma a satisfazer sua lascívia, tanto que pedia
para ela tocar o órgão sexual, ofendendo a dignidade
e liberdade sexuais da vítima.

Configurado está, portanto, o tipo pelo


qual se viu o ora apelante, não havendo se falar em
mera obscenidade, convindo destacar que “ato
libidinoso ou ato de libidinagem é, via de regra, o
inspirado pela concupiscência e destinado à satisfação
do instinto sexual, em suas proteiformes
manifestações”2.

Vale dizer, finalmente, que o contato


físico nem sempre é exigido para a configuração de
atos libidinosos já, tendo decidido o E. STJ que “Em
situações excepcionais, tem-se que o crime de estupro
pode se caracterizar, inclusive, em situações nas quais
não há contato físico entre o agente e a vítima. 'A
maior parte da doutrina penalista pátria orienta no

2
Direito Penal, E. Magalhães Noronha, Ed. Saraiva, 3° vol., 1982, pg. 128
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sentido de que a contemplação lasciva configura o ato


libidinoso constitutivo dos tipos dos arts. 213 e 217-A
do Código Penal - CP, sendo irrelavante, para a
consumação dos delitos, que haja contato físico entre
ofensor e ofendido' (RHC 70.976/MS, Rel. Ministro JOEL
ILAN PACIORNIK, Quinta Turma, julgado em 2/8/2016, DJe
de 10/8/2016)” (HC 611.511/SP, Rel. Ministro REYNALDO
SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
06/10/2020, DJe 15/10/2020).

Mantém-se, portanto, a condenação de


Nério como lançada.

Ausente inconformismo pontual, é de se


ver que a pena fixada não merece qualquer reparo,
pois imposta no mínimo legal, assim como o regime
aberto e a prestação pecuniária.

Ante o exposto, nega-se provimento ao


recurso.
É como voto.

Newton Neves
Relator

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