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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE PASSO FUNDO - RS

Processo Nº: 000.000.000

MARCIO, já qualificado nos autos da ação penal infracitada, que lhe move o
MINISTÉRIO PÚBLICO por seu advogado que esta lhe subscreve, vem, a
honrosa presença de Vossa Excelência apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS POR MEMORIAIS

com fundamento no art. 403, §3º do Código de Processo Penal pelas razões de
fatos e de direitos a seguir expostos:

DOS FATOS
Marcio, nascido em 25 de setembro de 1995 (portanto com 25 anos de
idade), na cidade de Passo Fundo, pertencendo a uma família humilde. Na
data de 25 de abril de 2016, dirigiu-se a casa noturna VIV, localizada na cidade
de Passo Fundo, a fim de assistir ao show de uma banda sertaneja.
No local, o rapaz ingeriu certa dose de bebida alcoólica, e conheceu
Sandra, tendo pago a ela igualmente duas cervejas enquanto conversavam.
Após o transcurso da noite Marcio convidou Sandra para irem a um motel,
momento em que ela aceitou e o acompanhou ao motel Golden, localizado
igualmente na cidade de Passo Fundo. Embora aparentasse idade inferior a
dezoito anos, Sandra estava dentro da boate, a qual exigia a exibição de
documentos para comprovação da maioridade e igualmente ao adentrarem no
motel a mesma apresentou documentos para que o casal pudesse ingressar no
local.
Apesar da identificação apresentada foi realizada, por meio de denúncia
de uma amiga de Sandra, Jurema, a prisão em flagrante de Marcio, pelo crime
de estupro de vulnerável, visto que Sandra tinha 13 anos na data do ocorrido.
Marcio foi denunciado no dia 12 de maio de 2016 pelo representante do
Ministério Público, junto a 2a Vara Criminal da Comarca de Passo Fundo,
tendo sido a denúncia recebida e o processo encaminhado sob a numeração
00.001.
No dia 30 de julho de 2016, Marcio foi condenado a 8 anos de prisão, na
modalidade de reclusão, haja vista ser primário e ter bons antecedentes,
apesar de constar no processo a identidade falsa de Sandra e testemunhas da
apresentação da mesma na casa noturna e no motel.
Inconformado com a decisão Marcio moveu recurso de apelação, o qual
foi recebido pela 3a Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul, alegando por isso erro de tipo, já que desconhecia a idade da vítima. O
Ministério Público, em sua manifestação derradeira, requereu a condenação
nos termos da sentença de primeiro grau, afirmando que a falsificação era
grosseira e que o réu deveria ter desconfiado dela e das características da
vítima.
O recurso foi decidido por maioria em prol da manutenção da
condenação, tendo sido o voto divergente acolhedor da tese defensiva.

DOS DIREITOS

O acusado está sendo processado pelo crime de estupro de vulnerável


(art. 217-A do CP). O réu conheceu a vítima em uma balada e acabaram no
decorrer da festa criando uma certa intimidade, em nenhum momento o réu
chegou a perguntar a idade da vítima pelo fato de o local ser frequentado por
pessoas maiores de idade, deste modo pensou que a mesma também era
maior de idade, assim como as testemunhas afirmaram que também acharam
que a vítima era mais velha pelo comportamento e pelas vestimentas, no fim da
noite os dois manterão relações sexuais.
No dia seguinte o acusado veio descobrir por meio da denúncia de uma
amiga da vítima que a mesma tinha apenas 13 anos de idade, ficando o
mesmo em estado de choque, pois, não tinha a mínima ideia de tais fatos.
Desse modo, não resta dúvidas de que o acusado agiu em erro de tipo
essencial escusável previsto no art. 20 do CP, neste caso permite somente a
punição por culpa, mas o tipo penal imputado ao réu não prevê forma culposa
de modo que, a conduta é formalmente atípica.
Os crimes em que deixam vestígios exigem que sejam feito exame de
corpo de delito nos termos do art. 158 do CPP, para a produção de provas e
configuração dar circunstâncias geradas pela conduta. Não foi feito o exame
pericial
Diante de tais fatos não resta dúvidas de que o acusado agiu em erro,
não pensou em nenhum momento que estava agindo contra a lei, praticando,
portanto, conduta atípica. Mas caso assim não entenda Vossa Excelência que
seja a pena fixada no mínimo legal, pois o acusado é réu primário, tem bons
antecedentes e residência fixa, as circunstâncias judiciais estão ao seu favor.
Deve também ser excluído o concurso de crimes do art. 69 do CP, pois,
com o advento da lei 12. 015/2009, o crime de estupro de vulnerável e o de
atentado violento ao pudor se tornaram um tipo misto alternativo, devendo ser
considerado um crime único.
Requereu ainda o ministério público que iniciasse o cumprimento da pena
em regime fechado pela por fazer o crime parte do rol do art. 1º da lei 8.072
sendo o crime hediondo, de forma que, o art. 2º, §1º da mesma lei defende o
início de cumprimento de pena em regime fechado. Ocorre que, o STF já julgou
tal dispositivo inconstitucional de acordo com o art. 33, §2º, "a" prevê regime
inicial fechado para crimes com pena superior a 8 anos, o que não é o caso,
devendo então fixar o regime inicial semiaberto para o acusado.

DOS PEDIDOS
Diante de todo o exposto requer seja a presente ação recebida e provida
de forma que seja reconhecida a atipicidade da conduta por erro de tipo
essencial inevitável absolvendo o réu sumariamente nos termos do art. 386, III
do CPP. Caso não entenda Vossa Excelência dessa forma, que seja a pena
fixada no mínimo legal reconhecendo as circunstâncias judiciais a favor do
acusado, excluindo o concurso de crimes por ser um tipo misto alternativo,
fixando o regime inicial de cumprimento de pena no regime semiaberto.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Passo fundo - RS, 21 de setembro de 2016

Advogado
OAB

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