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AO EXCELENTÍSSIMO JUÍZO DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE

ABELARDO LUZ-SC.

Processo nº 00000000000-00.

ANTÔNIO, brasileiro, solteiro, mecânico,


portador da cédula de identidade RG nº 00000-
00, inscrito no CPF sob nº 000.000.000-00,
residente e domiciliado na Rua da ABC, na
cidade de Abelardo Luz, por seu advogado que
abaixo subscreve, na ação penal promovida pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO SANTA
CATARINA, que alega a suposta consumação de
crime previsto no Art. 217-A do C, vêm
respeitosamente à presença de Vossa
Excelência, apresentar tempestivamente, com
fulcro nos artigos 396 caput e 396-A do Código
de Processo Penal, a presente:

CONTESTAÇÃO À ACUSAÇÃO

Nos termos e fundamentos de direito que


seguem.

1. SÍNTESE DA ACUSAÇÃO

O Ministério Público do Estado do Maranhão ofereceu


denúncia em face de ANTÔNIO, imputando ao mesmo, o delito
descrito no Art. 217-A do Código de Processo Penal.

Segundo as alegações do i. parquet, o mesmo teria tido


contato físico com as genitais da menor HERMÍNIA, no primeiro
dia do mês de março de 2020. Na época, a vítima contava com 09
anos de idade e estava, no momento do suposto acontecimento,
junto com seu genitor e irmão em uma borracharia localizada
nas proximidades da Linha Loro, interior do Município de
Abelardo Luz/SC.

Entretanto, tais acusações não correspondem com a


verossimilhança dos fatos, pelas razões que demonstrar-se-á a
seguir.

2. DA CONDUTA ILIBADA DO ACUSADO

Faz-se necessário expor que, o cidadão acusado ANTÔNIO,


é pessoa íntegra, de bons antecedentes, que jamais respondeu
qualquer processo crime ou inquérito policial, exceto este em
epígrafe.

Indubitável que o cidadão acusado jamais teve


participação em qualquer tipo de delito ou organização
criminosa, visto que é primário, possui bons antecedentes,
sempre foi pessoa honesta, trabalha como mecânico. Possui
residência fixa, qual seja na Rua ABC, s/n, Cidade de Abelardo
Luz, onde reside.

Cumpre ratificar que o mesmo sempre se colocou a inteira


disposição da Justiça para esclarecimento dos fatos, não se
evadindo.

Mesmo após a denúncia, que data do ano de 2020, o


acusado permanece levando uma vida tranquila e ordeira,
trabalhando com as próprias mãos e vivendo de forma pacífica,
o que demonstra que não possui uma personalidade voltada para
o mundo do crime.

3. DA INÉPCIA DA DENÚNCIA

Preliminarmente, verifica-se a inépcia da denúncia(e,


consequentemente, tem-se a ausência de justa causa para a ação
penal). Trata-se de vício insanável, gerador de nulidade
absoluta para os posteriores atos praticados no processo.
Ao não especificar a correspondente e necessária
adequação típica da participação do Acusado em relação aos
delitos constantes na denúncia, pormenorizando e subordinando
sua conduta ao tipo penal, inviabilizando o correto e
necessário exercício defensivo do mesmo.

Conforme explica o art. 41, CPP, a peça acusatória


deverá ser apresentada contendo o máximo de informações
possíveis sobre os fatos apurados. Isso tem o fim de propiciar
o devido exercício da ampla defesa e do contraditório.

Ocorre que o próprio CPP,preceitua que a não observância


dessa condição, pelo órgão acusatório, configura uma das
hipóteses para a rejeição imediata da denúncia, conforme
estabelecido pelo Art. 395, Inciso I, do Código de Processo
Penal, vide trecho do dispositivo:

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:

I - for manifestamente inepta;

II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da


ação penal; ou

III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Ou seja, a peça inicial gera a inépcia, pois a descrição


dos fatos é apresentada de maneira truncada, lacunosa e em
desacordo com os dados constantes do inquérito.

Ademais, de acordo com o artigo 159, CCP, quando a


infração deixar vestígios, é indispensável o exame de corpo de
delito, prova que não compõe os autos e então implica no
reconhecimento de sua inépcia.

4. DA VERDADE DOS FATOS


A vítima, acompanhada de seu pai e de seu irmão, de fato
foi até a borracharia do acusado, que está localizada nas
proximidades de sua residência, ocasião em que o acusado
realizou a troca do pneu defeituoso do veículo de seu genitor.
Na sequência, foi até os fundos do terreno, onde há uma árvore
frutífera, colheu alguns frutos e os entregou ao mesmo.

Não houve decurso suficiente do lapso temporal em que o


acusado ficou fora do alcance do genitor da vítima para que os
fatos acusados sejam possíveis. Não bastasse, estranha o fato
de nenhuma das pessoas que estavam no local no momento notarem
qualquer atitude suspeita, tendo em vista que é um lugar amplo
e bem iluminado.

Ademais, não existe a possibilidade de a acusação ser


verdadeira, pois o irmão da vítima ficou encarregado de cuidar
da mesma, estando a todo tempo observando, razão pela qual não
há a possibilidade do acusado praticar a ação sem que o irmão
presenciasse.

5. DO DIREITO

Conquanto o caráter desta defesa seja prévia, deve-se


evidenciar alguns aspectos importantes:

a) DO LAUDO PERICIAL

Pela leitura dos depoimentos das testemunhas constantes


dos autos, bem como do laudo pericial, conclui-se que não
houve violência física no ato sexual contra a vítima, o que
afasta as figuras qualificadas do tipo penal, senão vejamos.
Nenhuma testemunha viu ou comentou acerca de alguma marca ou
sinal externo de agressão na vítima nos depoimentos prestados,
o que pelo menos em tese, harmoniza-se com a conclusão de que
o ato sequer existiu.
B) DA AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DA CONSUMAÇÃO DO ATO
DELITUOSO

Ainda, caso supostamente acontecido o ato delituoso, não


há sequer um do início da sua execução. Não foi o que
aconteceu, certamente. A narrativa acusatória não demonstra
minimamente qualquer contato com a infante, muito menos
beijos, carícias etc. Nada, absolutamente nada faz crer o
início da execução do suposto crime.

Com esse enfoque, urge salientar o Magistério de Cezar


Roberto Bitencourt, in verbis:

O passo seguinte é a preparação da ação


delituosa que constitui os chamados atos
preparatórios, os quais são externos ao
agente, que passa da cogitação à ação
objetiva; arma-se dos instrumentos necessários
à prática da infração penal, procura o local
mais adequado ou a hora mais favorável para a
realização do crime etc. De regra, os atos
preparatórios também não são puníveis, apesar
de opiniões dos positivistas que reclamam a
punição como medida de prevenção . . .( ... )

Imperioso evidenciar a ementa de julgado nesse sentido,


originário do Superior Tribunal de Justiça:

RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL.


CONSUMAÇÃO. DESNECESSIDADE DO REEXAME FÁTICO.
PRÁTICA DE ATO LIBIDINOSO DIVERSO DA CONJUNÇÃO
CARNAL. VIOLAÇÃO DO ART. 217 - A, C/C ART. 14,
II, AMBOS DO CÓDIGO PENAL. RECURSO ESPECIAL
CONHECIDO E PROVIDO.1. A controvérsia atinente
ao inadequado reconhecimento da tentativa do
crime de estupro de vulnerável prescinde do
reexame de provas, sendo suficiente a
revaloração de fatos incontroversos
explicitados no acórdão recorrido. 2. Nega-se
vigência ao art. 217 - A, c/c o art. 14, II,
ambos do CP, quando, diante de atos lascivos,
diversos da conjunção carnal e atentatórios à
liberdade sexual das vítimas (criança de 10
anos de idade), se reconhece a tentativa do
delito, "não sendo razoável ou justo que atos
preparatórios sejam considerados como atos de
consumação delitiva ". 3. Recurso conhecido e
provido, a fim de reconhecer a forma consumada
do crime de estupro de vulnerável praticado
contra a vítima [c.], de modo que a pena pelo
delito praticado contra essa ofendida seja
fixada em 12 anos de reclusão [ ... ]

De mais a mais, confira-se um outro julgado:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE ROUBO TENTADO


MAJORADO. EMPREGO DE ARMA. CONCURSO DE
AGENTES. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA. INSURGÊNCIA
MINISTERIAL.1. Crime de roubo majorado. Prova
produzida que não comprova, modo inequívoco,
terem os réus dado início aos atos
executórios, apoderando-se de bens móveis
alheios mediante grave ameaça, violência ou
outro meio capaz de reduzir à impossibilidade
de defesa a vítima. Conduta que não
ultrapassou o campo dos atos meramente
preparatórios, impuníveis no direito penal
pátrio. Absolvição dos réus. Sentença mantida.
2. Crime de porte ilegal de arma. Tese
ministerial acolhida. Condenação do réu luis
felipe pelo crime de porte ilegal de arma,
observados os elementos de convicção
inequívocos no sentido de que foi supreendido
portando um revólver marca taurus, calibre 38,
com numeração raspada ou suprimida, municiada
com cinco cartuchos intactos, sem autorização
e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar. Conduta expressamente descrita
pela inicial acusatória e confirmada pela
própria confissão do réu nesse sentido.
Condenação que se mostra possível ante a sua
absolvição pelo crime de roubo, cuja
condenação levaria ao reconhecimento da
consunção. 3. Aplicação da pena. Pena-base
estabelecida no mínimo legal cominado, isto é,
três (3) anos de reclusão, tornada definitiva
na ausência de outras causas modificadoras de
pena. Reconhecida a atenuante da menoridade
penal, que, todavia, sem reflexos na pena,
exegese da Súmula nº 231 do STJ. Pena de multa
estabelecida em dez (10) dias-multa.
Estabelecido o regime aberto para início de
cumprimento da pena. Deferida a substituição
da pena privativa de liberdade por duas penas
restritivas de direitos, na forma de duas
prestações de serviço à comunidade. 4.
Detração. Considerada a inteligência do art.
387, § 2º, do CPP, reconhecido o direito à
detração própria pelo período de prisão
cautelar neste processo. 5. Custas
processuais. Suspensas em razão da Assistência
Judiciária Gratuita ora deferida. Apelo
ministerial parcialmente provido. Unânime
[ ... ]

Além disso, são altamente ilustrativos os julgados


abaixo evidenciados, esses tratando especificamente de crime
sexual:

APELAÇÃO. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. COGITAÇÃO E


PREPARAÇÃO. ATOS IMPUNÍVEIS. DÚVIDA RESOLVIDA
EM FAVOR DO RÉU. ABSOLVIÇÃO. MANUTENÇÃO.O iter
criminis é composto das fases de cogitação,
preparação, execução, consumação e
exaurimento. A cogitação corresponde à
elaboração mental, ao planejamento do crime
que o agente pretende executar. Não sendo
exteriorizada nenhuma conduta, a cogitação não
assume relevância penal. Os atos
preparatórios, desde que lícitos, também não
são puníveis, por não colocarem o bem jurídico
em situação de perigo. A condenação criminal
não se satisfaz com meros indícios. Não sendo
possível perquirir qual era a real intenção do
agente e não se podendo afirmar que tenha sido
iniciada a execução do crime contra a
dignidade sexual da menor, a manutenção da
absolvição é medida de rigor [ ... ]

Como citado, o denunciado não tem histórico de cometer


crimes, como também não ameaçou a vítima ou sua família no
decorrer do processo, também manteve uma conduta idônea no
decorrer do processo, ajudando na elucidação dos fatos.

Portanto, verifica-se que estão ausentes os requisitos


autorizadores da prisão preventiva previstos no art. 312 do
CPP, razão pela qual requer seja revogada nos termos do art.
316 do CPP.

6. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Diante do exposto requer se digne Vossa Excelência:

a) a rejeição da denúncia por manifesta inépcia;


determinando-se assim, a expedição do competente alvará de
soltura;

b) Seja repetido (ou retirado dos autos) o depoimento


prestado perante a autoridade policial, desta vez com
observância das garantias constitucionais, ou então tomada
outra medida que guarde compatibilidade com a cláusula do
devido processo legal, pois inadmissível que uma peça
corrompida possa adentrar o processo e influenciar a tomada de
decisões;

c) Seja rejeitada de plano a denúncia, com fulcro nos


art. 395, e incisos, do CPP, eis que objetiva a denúncia
imputar responsabilidade penal sob conduta atípica ;

d) Subsidiariamente, seja o denunciado absolvido


sumariamente, em conformidade com o art. 397, III do Código de
Processo Penal;

e) Caso superadas as preliminares, o que admitimos


apenas por amor à argumentação – requer sejam intimados, na
qualidade de testemunha os elencados no rol abaixo:

1-Jão da Silva, borracheiro, inscrito no CPF sob o nª


xx, residente e domiciliado na Linha Loro, interior do
Município de Abelardo Luz/SC.

2-Ezequiel Solforoso,estudante, irmão da vítima,maior,


inscrito no CPF sob o nª xx, residente e domiciliado na Linha
Loro, interior do Município de Abelardo Luz/SC

3-Ari Solforoso, empresário, pai da vítima, inscrito no


CPF sob o nª xx, residente e domiciliado na Linha Loro,
interior do Município de Abelardo Luz/SC
f) No mérito, requer que a presente denúncia seja
julgada totalmente IMPROCEDENTE.

g) protesta-se desde já, por todos os meio de provas


admitidas em direito, quais sejam: depoimento pessoal, prova
documental, prova pericial, e notadamente, pela prova
testemunhal.

Termos em que pede deferimento.

Abelardo Luz, 12 de Março de 2021.

Leonardo Henrique Lucatelli

OAB/SC 00.001

Guilherme Eduardo Araldi

OAB/SC 00.002

Guilherme Tussi Ayres Torres

OAB/SC 00.003

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