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Processo n° 0801210-22.2023.8.19.0041
I – DOS FATOS
Conforme informações constantes do Auto de Prisão em Flagrante,
no dia 12 de julho de 2023, que, o CB PMERJ W. SILVA em patrulhamento
de rotina junto com seus colegas de farda SGT PMERJ MARTINS e SD
PMERJ LUCIANO, quando tiveram a atenção voltada para o Acusado,
vítima de prisão ilegal.
Informou o miliciano que, devido a um volume na cintura do
Acusado a guarnição suspeitou que ele poderia estar portando arma de fogo,
visto que há 02 (duas) semanas fora vítima de Tentativa de Homicídio no
mesmo bairro em que o Acusado fora abordado pela guarnição.
Aduz ainda que, no momento da abordagem, após busca minuciosa,
verificaram na verdade que o paciente trazia consigo um aparelho celular na
cintura.
Acrescentando que após encontrarem o referido celular este foi
entregue à esposa do Acusado.
Em continuidade com esdrúxula diligência, os milicianos
solicitaram que o Acusado apresentasse documento de identificação, o que
foi prontamente atendido pelo Acusado.
Aduz os milicianos que, após consulta no sistema SUPTIC/PMERJ,
supostamente, verificaram que o CPF cadastrado no documento apresentado
pelo Acusado seria de outra pessoa.
Diante do narrado, conduziram o Acusado até à Delegacia de
Polícia, onde lhe foi dada voz de prisão pela suposta prática de Falsidade
Ideológica e Associação ao Tráfico de Drogas.
Em sede de Audiência de Custódia, que se deu no dia 14 de julho
de 2023, a autoridade coatora converteu a prisão em flagrante em prisão
preventiva.
II – DO DIREITO
II.1 – DO RELAXAMENTO DA PRISÃO PREVENTIVA. DA
AUSÊNCIA DE FLAGRANTE DELITO, DA NULIDADE DA
PRISÃO
Como se sabe, a prisão em flagrante tem por escopo privar a
liberdade de locomoção daquele que é surpreendido em uma situação de
flagrância, a qual é executada independentemente de autorização judicial,
conforme preceitua nossa Carta Magna em seu art. 5°, inciso LXI.
O artigo 302 do Código de Processo Penal traz as espécies de
flagrante admitidas no Direito brasileiro, contendo a seguinte redação:
“Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I – está cometendo a infração penal;
II – acaba de cometê-la;
III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo
ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que
faça presumir ser autor da infração;
IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos,
armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele
autor da infração.”
Apesar de o legislador ter se valido de uma ordem decrescente de
imediatidade, tal elemento deve SEMPRE estar presente. Nesta seara,
destaca-se o ensinamento de Paulo Rangel:
“tem início com o fogo ardendo (está cometendo a
infração penal – inciso I), passa por uma
diminuição da chama (acaba de cometê-la – inciso
II, depois a perseguição direcionada pela fumaça
deixada pela infração penal (inciso III) e, por
último, termina com o encontro das cinzas
ocasionadas pela infração penal (é encontrado logo
depois – inciso IV).”
Ocorre que, no caso em tela, as modalidades de prisão em flagrante
reconhecidas pelo ordenamento jurídico pátrio, tem-se que INEXISTIU
FLAGRANTE DELITO, tornando a prisão NULA.
Isso porque, conforme consta do Auto de Prisão em Flagrante, a
esdrúxula diligência em virtude da atitude suspeita do Acusado. Cabe
ressaltar que, seguindo a lógica dos policiais, o Acusado vive
constantemente em atitude suspeita. Sendo certo, que após a revista pessoal
no Acusado NADA de ilícito foi encontrado em sua posse.
No momento da abordagem, os policiais não viram o Acusado
cometendo qualquer ato indicativo de traficância, como venda efetiva da
droga, anúncio de venda ou sequer abordaram um usuário que tenha dito
que comprou droga com o Acusado.
Tampouco obtiveram notícia de que o Acusado acabara de
apresentar o suposto CPF falso à terceiros, ensejando a prática recente do
crime de Falsidade Ideológica.
Verifica-se que houve, tão somente, uma presunção de que o
Acusado seria, supostamente, associado ao tráfico de drogas e que estaria
praticando o crime de falsidade ideológica, mediante o suposto CPF falso
que foi encontrado na posse do mesmo, documento este que sequer foi
periciado para comprovar a falsidade do mesmo.
A identidade do Acusado NÃO É FALSA, esse fato é
inquestionável. O servidor público do DETRAN/RJ cometeu um ERRO
material, que foi colocar na identidade da vítima o CPF da sua tia, haja vista
que o comprovante de residência está em nome da tia. Na conta de água em
anexo, que foi o mesmo comprovante utilizado para obter a Carteira de
Idntidade Digital o CPF é o da tia da vítima.
Não há enquadramento legal do tipo penal de falsidade ideológica,
porque a tia da vítima não noticia o crime de falsidade ideológica. O fato
ocorrido é antijurídico, porque a tia não foi prejudicada pelo erro do Detran.
Melhor esclarecendo, a vítima em momento algum tentou se passar
por outra pessoa, que no caso seria sua tia, bem como a legitimada do CPF
que está constando na identidade apreendida, também não noticiou o crime
de falsidade ideológica.
Argumentado, para que haja o fato típico, antijurídico e culpável do
crime de falsidade ideológica, é essencial que o autor do crime de falsidade
ideológica tenha agido com dolo de se passar por outra pessoa, o que não
ocorreu, porque está nítido, evidente e cristalino que o erro foi do servidor
do Detran.
Veja que conforme os documentos em anexo, foi agendado data e
hora para vítima comparecer ao DETRAN para fazer sua nova identidade
digital.
Nesse sentido, como a vítima, que não tem antecedentes criminais,
conforme as certidões do DETRAN/RJ, TJRJ e Justiça Federal, não cabe a
privação da liberdade, conforme Jurisprudência infra colacionada:
“0027794-79.2011.8.19.0042 – APELAÇÃO Des(a).
DENISE VACCARI MACHADO PAES –
Julgamento: 19/09/2019 – QUINTA CÂMARA
CRIMINAL. APELAÇÕES. ARTIGO 171 E 299
AMBOS DO CÓDIGO PENAL EM CÚMULO
MATERIAL. Não há de se falar em reconhecimento
de prevenção, ancorada na decisão nos autos do
processo 0010216-79.2006.8.19.0042, porque no
feito já operou o trânsito em julgado. Inteligência da
Súmula 253 do Superior Tribunal de Justiça.
FALSIDADE IDEOLÓGICA – Discute-se na
doutrina acerca do enquadramento típico do sujeito
que pratica os crimes de estelionato e falso,
existindo, por sua vez, quatro posições a respeito do
assunto: 1°) a falsidade documental absorve o
estelionato; 2°) há concurso material de crimes; 3°)
há concurso formal de crimes; e, por último, 4°) o
estelionato absorve a falsidade documental, não
assistindo razão ao Parquet de 1° grau, porque, de
acordo com o posicionamento doutrinário e
jurisprudencial, o fato de FRANCISCA ter inserido
declaração falsa no translado de escritura pública
para obtenção de vantagem indevida, configura,
apenas, o delito de estelionato (Súmula 17 do
Superior Tribunal de Justiça). E por antever esta
Julgadora a ocorrência do fenômeno da prescrição
em relação ao delito do artigo 171 do Código Penal,
examino os pedidos ministeriais de – aumento da
pena-base, com a valoração dos maus antecedentes
e incidências das circunstâncias do artigo 61, II,
“b” e “g”, do citado diploma legal -, consignando-
se não ser hipótese de valoração de maus
antecedentes, porquanto além de não haver Folha
de Antecedentes Criminais cerreada aos autos, é
cediço que ações penais em andamento não
chancelam elevação da pena-base (Súmula 444 do
Superior Tribunal de Justiça) e de aplicação das
agravantes do artigo 61, II, “b” e “g”, do codex
penal – a primeira -, por inexistir outro delito,
sendo, assim, incompatível com o descrito no
dispositivo legal e – a segunda – ao se considerar
que a denúncia não faz qualquer menção ao
cometimento de delito com abuso de poder ou
violação de dever inerente a cargo, ofício,
ministério ou profissão. ESTELIONATO.
PRESCRIÇÃO. – Por ser matéria de ordem pública,
a teor do artigo 61 do Código de Processo Penal,
deve ser reconhecida, de ofício, em qualquer grau
de jurisdição. E por afastar os efeitos da sentença
penal condenatória, prefere à análise de qualquer
outra matéria, consignando-se que o prazo
prescricional de tal delito será obtido cotejando-se
as penas cominadas com os artigos 109, IV e 110, §
1° ambos do Código Penal, por ser a reprimenda
inferior a 04 (quatro) anos, sendo aquietado em 08
(OITO ANOS) e verificando-se que os fatos
ocorreram em 06/08/1999 e o recebimento da
denúncia data de 21/05/2012, restou aquele
extrapolado, impondo-se a extinção da punibilidade
decorrente do reconhecimento da prescrição da
pretensão punitiva em favor da acusada, segundo a
norma dos artigos 107, inciso IV e 110, § 2° ambos
do citado diploma legal, não havendo óbice para o
reconhecimento da prescrição retroativa ao se
considerar a redação do artigo revogado, uma vez
que a Lei 12.234/2010 é norma de caráter material
posterior aos fatos, não podendo retroagir para
prejudicar a ré (artigo 5°, XL da Constituição
Federal), afastando-se, ainda, o prequestionamento
firmado pelas partes. RECURSO MINISTERIAL
DESPROVIDO APELO DEFENSIVO PROVIDO.”
A verdade real é que ocorreu um erro material, até poque no
próprio sítio do DETRAN/RJ há possibilidade de requerer correção de erro
material de Identidade.
Ultrapassada esta primeira parte, está nítido, evidente e cristalino,
que não há fato típico, antijurídico e culpável descrito no tipo penal do
artigo 35 da Lei 11.343/2006, qual seja, Associação ao Tráfico de Drogas.
0177656-38.2020.8.19.0001 - APELAÇÃO
Nestes termos,
Pede deferimento.