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Documento: 2194518 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2022 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 732.517 - SP (2022/0090694-7)
RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADA : MARIA VICTORIA DE BARROS CAMPOS - SP311426
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : MARCELO PAULO CORREIA JUNIOR (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
RELATÓRIO
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É o relatório.
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Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 732.517 - SP (2022/0090694-7)
EMENTA
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE
DROGAS. BUSCA PESSOAL. REQUISITOS DO ART. 244 DO CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL. AUSÊNCIA DE FUNDADA SUSPEITA.
ILICITUDE DAS PROVAS OBTIDAS. ABSOLVIÇÃO. ORDEM DE
HABEAS CORPUS CONCEDIDA, EM CONFORMIDADE COM O
PARECER MINISTERIAL.
1. No caso dos autos, a busca pessoal realizada pelos guardas municipais
foi justificada apenas com base no fato de que o Acusado andava
apressadamente pelo local, estava nervoso e carregava uma mochila, em região
conhecida pelo comércio ilegal de entorpecentes. As referidas circunstâncias não
revelam, por si sós, conduta delitiva, não configurando a situação de flagrância,
nos termos do art. 301 do Código de Processo Penal, que pudesse autorizar a
abordagem pelos guardas municipais.
2. Convém assinalar que não consta da sentença nem mesmo do
acórdão atacado que os guardas municipais teriam visualizado o Réu vendendo
drogas ou mesmo praticando qualquer outro crime que justificasse a busca
pessoal. Outrossim, a posterior situação de flagrância não legitima a revista
pessoal realizada ilegalmente, pois amparada em meras suposições ou
conjecturas.
3. Ordem de habeas corpus concedida para, em conformidade com o
parecer ministerial, anular as provas obtidas mediante a busca pessoal realizada
pelos guardas municipais, bem como as provas delas decorrentes e, em
consequência, absolver o Acusado da imputação feita na Ação Penal n.
1517517-07.2021.8.26.0228.
VOTO
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lei" (GOMES FILHO, Antonio Magalhães; TORON, Alberto Zacharias; BADARÓ, Gustavo
Henrique (org.). Código de processo penal comentado. 4. ed. São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2021. Livro eletrônico. RL-1.36).
No ponto, transcrevo o seguinte excerto dos depoimentos dos guardas municipais
prestados na fase judicial (fl. 43; sem grifos no original):
No mesmo sentido, a exordial acusatória narra o seguinte (fl. 39; grifos diversos
do original):
Por fim, a esse respeito, a Corte a quo manifestou-se nos seguintes termos (fl.
49; sem grifos no original):
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apoiadas, por exemplo, exclusivamente, no tirocínio policial. Ante a ausência de descrição
concreta e precisa, pautada em elementos objetivos, a classificação subjetiva de
determinada atitude ou aparência como suspeita, ou de certa reação ou expressão
corporal como nervosa, não preenche o standard probatório de fundada suspeita
exigido pelo art. 244 do CPP" (RHC 158.580/BA, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 19/04/2022, DJe 25/04/2022; sem grifos no original).
No mesmo sentido, cito os seguintes precedentes da Sexta Turma desta Corte
Superior, prolatados em situações semelhantes:
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PRISÃO EM FLAGRANTE. PROVA ILÍCITA. REVISTA PESSOAL E
VEICULAR REALIZADA POR GUARDA MUNICIPAL. SITUAÇÃO DE
FLAGRÂNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. JUSTA CAUSA NÃO VERIFICADA.
ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.
1. Considera-se ilícita a busca pessoal, domiciliar pessoal e
veicular executadas por guardas municipais sem a existência da necessária
justa causa para a efetivação da medida invasiva, nos termos do art. § 2º do
art. 240 do CPP, bem como a prova derivada da busca pessoal.
2. Tendo a busca pessoal ocorrido apenas com base em parâmetros
subjetivos dos agentes de segurança, sem a indicação de dado concreto
sobre a existência de justa causa para autorizar a medida invasiva, deve ser
reconhecida a ilegalidade por ilicitude da prova, determinando-se o
trancamento da ação penal.
3. Recurso em habeas corpus provido para declarar ilegal a
apreensão e, consequentemente, determinar o trancamento da ação penal."
(RHC 142.588/PR, Rel. Ministro OLINDO MENEZES, DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1.ª REGIÃO, SEXTA TURMA, julgado em
25/05/2021, DJe 31/05/2021; sem grifos no original.)
Assim, considerando que as provas coletadas por meio da busca pessoal são
ilícitas, a própria demonstração da materialidade e da autoria delitiva está viciada, o que impõe a
declaração de nulidade do processo e a absolvição do Acusado do crime previsto no art. 33,
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caput, da Lei n. 11.343/2006.
Igual compreensão foi ressaltada, a propósito, pela Procuradoria-Geral da
República, no parecer que ofereceu para instruir os presentes autos, do qual extraio o seguinte
trecho (fls. 93-94; sem grifos no original):
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PAULO DE SOUZA QUEIROZ
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADA : MARIA VICTORIA DE BARROS CAMPOS - SP311426
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : MARCELO PAULO CORREIA JUNIOR (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico Ilícito e
Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, concedeu o habeas corpus, nos termos do voto da
Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Antonio Saldanha
Palheiro e Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região) votaram com a Sra.
Ministra Relatora.
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