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Superior Tribunal de Justiça

HABEAS CORPUS Nº 732.517 - SP (2022/0090694-7)


RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADA : MARIA VICTORIA DE BARROS CAMPOS - SP311426
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : MARCELO PAULO CORREIA JUNIOR (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
EMENTA
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE
DROGAS. BUSCA PESSOAL. REQUISITOS DO ART. 244 DO CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL. AUSÊNCIA DE FUNDADA SUSPEITA.
ILICITUDE DAS PROVAS OBTIDAS. ABSOLVIÇÃO. ORDEM DE
HABEAS CORPUS CONCEDIDA, EM CONFORMIDADE COM O
PARECER MINISTERIAL.
1. No caso dos autos, a busca pessoal realizada pelos guardas municipais
foi justificada apenas com base no fato de que o Acusado andava
apressadamente pelo local, estava nervoso e carregava uma mochila, em região
conhecida pelo comércio ilegal de entorpecentes. As referidas circunstâncias não
revelam, por si sós, conduta delitiva, não configurando a situação de flagrância,
nos termos do art. 301 do Código de Processo Penal, que pudesse autorizar a
abordagem pelos guardas municipais.
2. Convém assinalar que não consta da sentença nem mesmo do
acórdão atacado que os guardas municipais teriam visualizado o Réu vendendo
drogas ou mesmo praticando qualquer outro crime que justificasse a busca
pessoal. Outrossim, a posterior situação de flagrância não legitima a revista
pessoal realizada ilegalmente, pois amparada em meras suposições ou
conjecturas.
3. Ordem de habeas corpus concedida para, em conformidade com o
parecer ministerial, anular as provas obtidas mediante a busca pessoal realizada
pelos guardas municipais, bem como as provas delas decorrentes e, em
consequência, absolver o Acusado da imputação feita na Ação Penal n.
1517517-07.2021.8.26.0228.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Sexta Turma
do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por
unanimidade, conceder a ordem, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros
Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Antonio Saldanha Palheiro e Olindo Menezes
(Desembargador Convocado do TRF 1ª Região) votaram com a Sra. Ministra Relatora.
Brasília (DF), 02 de agosto de 2022(Data do Julgamento)

MINISTRA LAURITA VAZ


Relatora

Documento: 2194518 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2022 Página 1 de 4
Superior Tribunal de Justiça
HABEAS CORPUS Nº 732.517 - SP (2022/0090694-7)
RELATORA : MINISTRA LAURITA VAZ
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADA : MARIA VICTORIA DE BARROS CAMPOS - SP311426
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : MARCELO PAULO CORREIA JUNIOR (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

RELATÓRIO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:


Trata-se de habeas corpus, sem pedido liminar, impetrado em favor de
MARCELO PAULO CORREIA JUNIOR contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo proferido na Apelação Criminal n. 1517517-07.2021.8.26.0228.
Consta nos autos que o Paciente foi condenado, em primeira instância, às penas
de 6 (seis) anos, 9 (nove) meses e 20 (vinte) dias de reclusão, em regime inicial fechado, e
pagamento de 680 (seiscentos e oitenta) dias-multa, por infração ao art. 33, caput, da Lei n.
11.343/2006, pois foi surpreendido com 650,34g de maconha e 117,1g de crack (fls. 41-46).
Contra a sentença a Defesa interpôs apelação, que não foi provida (fls. 47-58).
No presente writ, a Impetrante alega que as provas obtidas por meio da busca
pessoal realizada no Paciente por guardas municipais são ilícitas, pois não foi demonstrada a
necessária justa causa para a efetivação da medida invasiva.
Aduz que "a abordagem realizada carece de legalidade, tendo em vista que
não cabe às Guardas Municipais o policiamento ostensivo" (fl. 5).
Afirma que o "paciente tão somente andava apressadamente, na região
conhecida como 'Cracolândia'. Não se vislumbra situação idônea que indicasse fundada
suspeita a ensejar a busca pessoal. Os guardas municipais não viram atos criminosos
sendo praticados, o que configuraria o flagrante" (fl. 6).
Requer "seja definitivamente concedida a ordem para ABSOLVER o
paciente, com base no art. 386, inciso II, do Código de Processo Penal" (fl. 9).
As informações foram prestadas às fls. 65-86.
O Ministério Público Federal opinou pelo não conhecimento do writ, mas pela
"concessão de habeas corpus, de ofício, para reconhecer a ilegalidade na apreensão da
droga e, consequentemente, absolver o paciente, com fulcro no art. 387, inciso VII, do
CPP" (fl. 94).

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É o relatório.

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HABEAS CORPUS Nº 732.517 - SP (2022/0090694-7)
EMENTA
HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO ILÍCITO DE
DROGAS. BUSCA PESSOAL. REQUISITOS DO ART. 244 DO CÓDIGO
DE PROCESSO PENAL. AUSÊNCIA DE FUNDADA SUSPEITA.
ILICITUDE DAS PROVAS OBTIDAS. ABSOLVIÇÃO. ORDEM DE
HABEAS CORPUS CONCEDIDA, EM CONFORMIDADE COM O
PARECER MINISTERIAL.
1. No caso dos autos, a busca pessoal realizada pelos guardas municipais
foi justificada apenas com base no fato de que o Acusado andava
apressadamente pelo local, estava nervoso e carregava uma mochila, em região
conhecida pelo comércio ilegal de entorpecentes. As referidas circunstâncias não
revelam, por si sós, conduta delitiva, não configurando a situação de flagrância,
nos termos do art. 301 do Código de Processo Penal, que pudesse autorizar a
abordagem pelos guardas municipais.
2. Convém assinalar que não consta da sentença nem mesmo do
acórdão atacado que os guardas municipais teriam visualizado o Réu vendendo
drogas ou mesmo praticando qualquer outro crime que justificasse a busca
pessoal. Outrossim, a posterior situação de flagrância não legitima a revista
pessoal realizada ilegalmente, pois amparada em meras suposições ou
conjecturas.
3. Ordem de habeas corpus concedida para, em conformidade com o
parecer ministerial, anular as provas obtidas mediante a busca pessoal realizada
pelos guardas municipais, bem como as provas delas decorrentes e, em
consequência, absolver o Acusado da imputação feita na Ação Penal n.
1517517-07.2021.8.26.0228.

VOTO

A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):


Passo a apreciar a alegação de nulidade das provas obtidas por meio da busca
pessoal realizada no Acusado.
O art. 244 do Código de Processo Penal dispõe que "[a] busca
pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita
de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam
corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar".
Nesse particular, a execução da busca pessoal sem mandado, como medida
autônoma, depende da presença de fundada suspeita da posse de objetos que constituam
corpo de delito. Para tanto, ressalto que "não é suficiente, está claro, a mera conjectura ou
desconfiança sobre tal posse, mas a suspeita amparada por circunstâncias objetivas que
permitam uma grave probabilidade de que sejam encontradas as coisas mencionadas pela

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lei" (GOMES FILHO, Antonio Magalhães; TORON, Alberto Zacharias; BADARÓ, Gustavo
Henrique (org.). Código de processo penal comentado. 4. ed. São Paulo: Thomson Reuters
Brasil, 2021. Livro eletrônico. RL-1.36).
No ponto, transcrevo o seguinte excerto dos depoimentos dos guardas municipais
prestados na fase judicial (fl. 43; sem grifos no original):

"O primeiro afirmou que a prisão aconteceu durante trabalho


realizado em operação de limpeza na região da 'cracolândia'. O réu estava
apressado e nervoso, saindo do 'fluxo'. Realizada a abordagem, na posse
direta do agente foi encontrada uma mochila com drogas e dinheiro. O
acusado alegou que ganharia certa importância para realizar o transporte
do material entorpecente. Não conhecia o acusado. Ele estava sujo e
cansado. Não aparentava ser morador de rua. O réu alegou ser usuário de
droga.
O segundo guarda municipal, em relato mais conciso, disse que o
acusado foi abordado na Rua Helvétia com drogas na 'parte íntima' e em
uma mochila. Eram cocaína, crack e maconha. O acusado disse que
receberia dinheiro para realizar o transporte do material nocivo. Não
conhecia o réu. Ele estava sujo."

No mesmo sentido, a exordial acusatória narra o seguinte (fl. 39; grifos diversos
do original):

"Segundo o apurado, guardas municipais realizavam a segurança


de agentes de limpeza na região da 'Cracolândia', quando observaram o
denunciado em atitude suspeita, andando apressadamente pelo local, razão
pela qual resolveram verificar.
Devidamente abordado e realizada busca pessoal, os guardas
municipais encontraram, no interior de uma mochila em poder de
MARCELO, a quantia de R$ 596,00 (quinhentos e noventa e seis reais), bem
como as drogas acima descritas."

Na sentença, observo que o Magistrado afastou a referida preliminar de nulidade,


consignando, em suma, o que se segue (fl. 42; sem grifos no original):

"De início rejeito a tese preliminar defensiva (prova ilícita), haja


vista que o acusado estava em situação de flagrante delito e qualquer
pessoa poderia prendê-lo (artigo 301 do Código de Processo Penal).
Legítima a atuação dos guardas municipais, que realizam no local trabalho
de grande importância durante a limpeza da região central. O réu estava
nervoso, possuía uma mochila (atitude suspeita em região de notório tráfico
de drogas), sendo compreensível e recomendável que fosse abordado por
agentes públicos."
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Por fim, a esse respeito, a Corte a quo manifestou-se nos seguintes termos (fl.
49; sem grifos no original):

"Inicialmente, anote-se que não merece acolhida a alegação de que


houve ilegalidade no flagrante, em razão de os guardas municipais terem
realizado busca pessoal no apelante.
Nunca é demais lembrar que o artigo 144, § 8º, da Constituição
Federal estipula aos guardas municipais a função de proteção de bens,
serviços e instalações do Município e tal atribuição evidentemente abrange
a fiscalização das ruas da cidade e do que nelas ocorre.
Assim, ante a fundada suspeita de prática do crime de tráfico de
drogas, crime este permanente, pelo apelante, correta a ação dos guardas
no sentido de abordá-lo, cumprindo salientar que a suspeita tanto era real
que foi confirmada, diante do encontro de considerável quantidade e
variedade de drogas na mochila carregada por Marcelo."

De fato, "[h]avendo fundada suspeita a configurar situação de flagrante


delito, mostra-se lícita a abordagem pessoal feita pela Guarda Civil Municipal, que não
atua, nessa hipótese, como polícia investigativa" (AgRg no HC 695.254/SP, Rel. Ministra
LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 26/10/2021, DJe 04/11/2021; sem grifos no
original).
Ocorre que, no caso dos autos, a busca pessoal realizada pelos guardas
municipais foi justificada apenas com base no fato de que o Acusado andava apressadamente
pelo local, estava nervoso e carregava uma mochila, em região conhecida pelo comércio ilegal
de entorpecentes – "Cracolândia".
As referidas circunstâncias não revelam, por si sós, conduta delitiva, não
configurando a situação de flagrância, nos termos do art. 301 do Código de Processo Penal, que
pudesse autorizar a abordagem pelos guardas municipais.
Convém assinalar que não consta da sentença nem mesmo do acórdão atacado
que os guardas municipais teriam visualizado o Réu vendendo drogas ou mesmo praticando
qualquer outro crime que justificasse a busca pessoal. Outrossim, a posterior situação de
flagrância não legitima a revista pessoal realizada ilegalmente, pois amparada em meras
suposições ou conjecturas.
Nessa linha de entendimento, "[n]ão satisfazem a exigência legal, por si sós,
meras informações de fonte não identificada (e.g. denúncias anônimas) ou intuições e
impressões subjetivas, intangíveis e não demonstráveis de maneira clara e concreta,

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apoiadas, por exemplo, exclusivamente, no tirocínio policial. Ante a ausência de descrição
concreta e precisa, pautada em elementos objetivos, a classificação subjetiva de
determinada atitude ou aparência como suspeita, ou de certa reação ou expressão
corporal como nervosa, não preenche o standard probatório de fundada suspeita
exigido pelo art. 244 do CPP" (RHC 158.580/BA, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI CRUZ,
SEXTA TURMA, julgado em 19/04/2022, DJe 25/04/2022; sem grifos no original).
No mesmo sentido, cito os seguintes precedentes da Sexta Turma desta Corte
Superior, prolatados em situações semelhantes:

"HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. BUSCA PESSOAL


REALIZADA POR GUARDA MUNICIPAL. AUSÊNCIA DE FUNDADAS
SUPEITAS. CONTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ALEGAÇÃO
DE INDEVIDA INVASÃO DE DOMICÍLIO. JUSTA CAUSA. AUSÊNCIA.
PRECEDENTES.
[...]
2. Ao analisar o contexto da prisão do paciente, verifica-se que não
havia fundada suspeita de que o mesmo estivesse praticando qualquer delito
no momento de sua abordagem, pois os guardas municipais afirmam que
realizavam patrulhamento no bairro Santa Rita, momento em que a
guarnição avistou dois indivíduos que adentraram no imóvel de numeral
525, que aparentemente havia deixado o local e recuaram ao perceber a
presença policial, razão pela qual, ante a fundada suspeita, decidiram pela
abordagem. Ora, não ficou consignado em sentença nem no acórdão
impugnado que os policiais haviam presenciado o paciente e o corréu
vendendo entorpecentes ou mesmo praticando qualquer outro delito que
justificasse sua apreensão.
3. Ademais, também não há qualquer referência a investigação
preliminar ou menção a situações outras que poderiam caracterizar a justa
causa para a revista pessoal, como campanas no local, monitoramento do
suspeito, ou, ao menos, movimentação de pessoas a indicar a traficância.
4. Nesse contexto, não se pode admitir que a posterior situação de
flagrância, por se tratar o tráfico de delito que se protrai no tempo,
justifique a revista pessoal realizada ilegalmente, pois amparada em mera
suspeita, conjectura.
[...]
6. Ordem concedida para, reconhecendo a nulidade das provas
obtidas ilicitamente, bem como as delas derivadas, absolver o paciente com
fundamento no art. 386, II, do Código de Processo Penal. Estendo os efeitos
da presente decisão ao corréu Jhonatan Catarino Gomes." (HC 655.308/SP,
Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em
17/05/2022, DJe 20/05/2022; sem grifos no original.)

"RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS.

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PRISÃO EM FLAGRANTE. PROVA ILÍCITA. REVISTA PESSOAL E
VEICULAR REALIZADA POR GUARDA MUNICIPAL. SITUAÇÃO DE
FLAGRÂNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. JUSTA CAUSA NÃO VERIFICADA.
ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.
1. Considera-se ilícita a busca pessoal, domiciliar pessoal e
veicular executadas por guardas municipais sem a existência da necessária
justa causa para a efetivação da medida invasiva, nos termos do art. § 2º do
art. 240 do CPP, bem como a prova derivada da busca pessoal.
2. Tendo a busca pessoal ocorrido apenas com base em parâmetros
subjetivos dos agentes de segurança, sem a indicação de dado concreto
sobre a existência de justa causa para autorizar a medida invasiva, deve ser
reconhecida a ilegalidade por ilicitude da prova, determinando-se o
trancamento da ação penal.
3. Recurso em habeas corpus provido para declarar ilegal a
apreensão e, consequentemente, determinar o trancamento da ação penal."
(RHC 142.588/PR, Rel. Ministro OLINDO MENEZES, DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TRF 1.ª REGIÃO, SEXTA TURMA, julgado em
25/05/2021, DJe 31/05/2021; sem grifos no original.)

"HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. PROVA ILÍCITA.


REVISTA PESSOAL. AUSÊNCIA DE FUNDADAS SUSPEITAS.
ILEGALIDADE. OCORRÊNCIA. ABSOLVIÇÃO. HABEAS CORPUS
CONCEDIDO.
1. Considera-se ilícita a revista pessoal realizada sem a existência
da necessária justa causa para a efetivação da medida invasiva, nos termos
do art. § 2º do art. 240 do CPP, bem como a prova derivada da busca
pessoal.
2. Se não havia fundadas suspeitas para a realização de busca
pessoal no acusado, não há como se admitir que a mera constatação de
situação de flagrância, posterior à revista do indivíduo, justifique a medida.
Assim, o fato de o acusado se amoldar ao perfil descrito em denúncia
anônima e ter empreendido fuga ante a tentativa de abordagem dos policiais
militares, não justifica, por si só, a invasão da sua privacidade, haja vista a
necessidade de que a suspeita esteja fundada em elementos concretos que
indiquem, objetivamente, a ocorrência de crime no momento da abordagem,
enquadrando-se, assim, na excepcionalidade da revista pessoal.
3. Habeas corpus concedido para reconhecer a nulidade das provas
obtidas a partir da busca pessoal realizada, bem como as delas derivadas,
anulando-se a sentença para que outra seja prolatada, com base nos
elementos probatórios remanescentes." (HC 625.819/SC, Rel. Ministro NEFI
CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 23/02/2021, DJe 26/02/2021; sem
grifos no original.)

Assim, considerando que as provas coletadas por meio da busca pessoal são
ilícitas, a própria demonstração da materialidade e da autoria delitiva está viciada, o que impõe a
declaração de nulidade do processo e a absolvição do Acusado do crime previsto no art. 33,

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caput, da Lei n. 11.343/2006.
Igual compreensão foi ressaltada, a propósito, pela Procuradoria-Geral da
República, no parecer que ofereceu para instruir os presentes autos, do qual extraio o seguinte
trecho (fls. 93-94; sem grifos no original):

"Todavia, o caso em análise é diferente, uma vez que se extrai da


inicial acusatória que os guardas civis 'guardas municipais realizavam a
segurança de agentes de limpeza na região da 'Cracolândia', quando observaram
o denunciado em atitude suspeita, andando apressadamente pelo local, razão pela
qual resolveram verificar.' (fl. 39).
Nesse contexto, confira-se o que restou decido por essa Corte
Superior de Justiça: 'a realização de busca pessoal, segundo o § 2º do art. 240
do CPP, consagra que é necessária a presença de fundada suspeita para que
esteja autorizada a medida invasiva, estando ausente de razoabilidade considerar
que, por si só, um indivíduo que está andando em via pública, ainda que nervoso
com a presença dos guardas municipais, enquadre-se na excepcionalidade da
revista pessoal, sem a necessidade de se atuar como polícia judiciária.' (HC
561.329/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
16/06/2020, DJe 29/06/2020).
Por conseguinte, deve ser reconhecida a ilegalidade na apreensão
da droga.
Ante o exposto, o Ministério Público Federal, como custos iuris,
postula o não conhecimento do writ e a concessão de habeas corpus, de
ofício, para reconhecer a ilegalidade na apreensão da droga e,
consequentemente, absolver o paciente, com fulcro no art. 387, inciso VII,
do CPP."

Ante o exposto, CONCEDO a ordem de habeas corpus para, em conformidade


com o parecer ministerial, anular as provas obtidas mediante a busca pessoal realizada pelos
guardas municipais, bem como as provas delas decorrentes e, em consequência, absolver o
Acusado da imputação feita na Ação Penal n. 1517517-07.2021.8.26.0228.
É o voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA

Número Registro: 2022/0090694-7 HC 732.517 / SP


MATÉRIA CRIMINAL

Números Origem: 15175170720218260228 21956592021

EM MESA JULGADO: 02/08/2022

Relatora
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra LAURITA VAZ
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. PAULO DE SOUZA QUEIROZ
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA

AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADO : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADA : MARIA VICTORIA DE BARROS CAMPOS - SP311426
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
PACIENTE : MARCELO PAULO CORREIA JUNIOR (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO

ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Previstos na Legislação Extravagante - Crimes de Tráfico Ilícito e
Uso Indevido de Drogas - Tráfico de Drogas e Condutas Afins

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, concedeu o habeas corpus, nos termos do voto da
Sra. Ministra Relatora.
Os Srs. Ministros Sebastião Reis Júnior, Rogerio Schietti Cruz, Antonio Saldanha
Palheiro e Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região) votaram com a Sra.
Ministra Relatora.

Documento: 2194518 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 12/08/2022 Página 10 de 4

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