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ESTADO DE ALAGOAS.
AUTOS Nº:
I – DOS FATOS
No dia 23 de março de 2023, por volta das 17h30min, o acusado foi abordado
por policiais na Rua José Lopes da Silva, Bairro Centros, Arapiraca – Alagoas. Consta nos autos
que a guarnição estava fazendo ronda policial de rotina, quando avistaram o réu MIGUEL
GARZA, próximo ao mercado público momento em que este se assustou com a presença da
guarnição e tentou desfazer de algumas sacolas que estava em sua posse. O réu foi
denunciado pelo crime previsto no artigo 33, caput, da Lei n° 11.343/2006, tipificado como
tráfico de drogas.
Conforme está apresentado nos autos, o início da abordagem se deu a partir
de uma percepção realizada por parte dos policiais militares, uma vez que acreditaram na
realização de uma atividade suspeita do Réu. Nesse sentido, diante do que está narrado no
termo de depoimento do policial, tem-se que o agente da segurança notou uma atitude de
nervosismo e inquietação por parte do acusado, antes do momento da abordagem.
Desse modo, foi realizada audiência de instrução e julgamento, deu-se vista
aos autos ao Membro do Ministério Público e posteriormente, o Representante do Ministério
Público apresentou Alegações Finais por Memoriais.
São os fatos.
II – DO MÉRITO
II. I – DA ILICITUDE DA PROVA OBTIDA – TEORIA DA ÁRVORE DOS FRUTOS ENVENENADOS
Consoante ao que é observado na descrição dos fatos, tem-se que os Policiais
Militares realizaram uma busca pessoal no acusado, em razão de terem considerado a
realização de uma atividade suspeita por parte desse. Preliminarmente, faz-se necessário
destacar que a busca em veículo é equiparada à busca pessoal, sendo, inclusive, o
posicionamento adotado pelo Supremo Tribunal Federal:
“HABEAS CORPUS – ATO INDIVIDUAL – ADEQUAÇÃO. O
HABEAS CORPUS É ADEQUADO EM SE TRATANDO DE
IMPUGNAÇÃO A ATO DE COLEGIADO OU INDIVIDUAL.
APREENSÃO – AUTOMÓVEL – BUSCA PESSOAL –
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL - DESNECESSIDADE. A apreensão de
elementos de convicção em automóvel, a teor do artigo 240,
§ 2º, do Código de Processo Penal, constitui caso de busca
pessoal, que, uma vez havendo fundada suspeita da
existência de provas, prescinde de prévia autorização
judicial. PRISÃO PREVENTIVA – FLAGRANTE – LATROCÍNIO. O
flagrante, considerada a criminosa, sinaliza a periculosidade
do envolvido.
Desse modo, para que seja realizada a busca pessoal sem o mandado judicial,
com exceção dos casos de prisão e de determinação no curso de busca domiciliar, é primordial
que essa medida seja realizada com a presença de fundada suspeita da posse de objetos que
representem corpo de delito. Diante disso, não cabe a realização de busca pessoal apenas
com a mera desconfiança de que o agente está com a posse de determinado objeto, fazendo
com que a realização deva ser amparada por condições objetivas que demonstrem a grande
possibilidade de que sejam encontrados os objetos trazidos pela legislação penal.
Ocorre que, no caso em análise, a busca pessoal realizada pelos agentes da
segurança pública foi justificada apenas com a sustentação de que o acusado ficou nervoso e
inquieto ao avistar a viatura. Ora, esse cenário carrega uma exorbitante atitude enraizada de
muito subjetivismo, fazendo com que o comportamento nervoso não deva ser caracterizado
como uma fundada suspeita para realização da busca pessoal.
Inclusive, essa foi à narrativa apresentada pelos Policiais Militares na audiência
de instrução e julgamento, visto que a testemunha de acusação, ora o Policial Militar apontou
que: “A Guarnição estava em patrulhamento quando se deparou com um indivíduo, que, ao
avistar a guarnição demonstrou nervosismo.” Acrescentando, ainda, que: “ jogou uma sacola
de plástico, e que ao realizar uma busca no indivíduo fora encontrada uma quantidade de
entorpecentes.”
Com isso, o Superior Tribunal de Justiça aponta, em sua jurisprudência, a
impossibilidade de realizar a busca pessoal apenas pelo fato do policial ter considerado a
atitude suspeita:
“RECURSO EM HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. BUSCA
PESSOAL. AUSÊNCIA DE FUNDADA SUSPEITA. ALEGAÇÃO
VAGA DE ATITUDE SUSPEITA. INSUFICIÊNCIA. ILICITUDE DA
PROVA OBTIDA. TRANCAMENTO DO PROCESSO. RECURSO
PROVIDO.”
[...]
Assim, observa-se uma ilicitude perante a busca pessoal realizada, uma vez
que não foi realizada em acordo com o ordenamento jurídico, tendo em vista a ausência de
fundada suspeita de que o autor estaria com os elementos do crime.
Ademais, outro ponto deve ser corroborado para a análise da problemática em
questão é a atitude dos policiais que estavam fazendo a ronda, na medida em que a lei não
permite a busca pessoal praticada como rotina do policiamento ostensivo. A legislação penal
apenas admite buscas pessoais com notória motivação, sendo excluídas, desse modo, as
fundadas em denúncias anônimas, intuições e impressões subjetivas, enraizadas apenas na
experiência policial.
Por último, diante do que foi exibido supra, é importante mencionar a
incidência da Teoria dos Frutos da Árvore Envenenada, elencada no artigo 5°, inciso LVI da
Constituição Federal. A teoria aponta que se uma prova é ilícita, as demais provas obtidas a
partir dessa última também estariam impedidas de licitude por consequência.
Assim, no caso em tela, todo o aparato probatório utilizado pela acusação deve
ser desconsiderado, na medida em que a prova (busca pessoal), que gerou toda a situação
analisada, foi uma conduta ilícita, fazendo com que as derivadas sejam nulas. Devendo, dessa
maneira, serem desentranhadas do processo, com fulcro no artigo 157 do Código de Processo
Penal brasileiro e em conformidade com a exposição constitucional.
Diante disso, nota-se que o inciso VII desse artigo apresenta o cenário em que
inexiste prova suficiente para a condenação. É o caso dos autos, na medida em que, conforme
já exposto anteriormente, não se consegue extrair provas aptas a condenar o acusado.
Exige-se, portanto, a aplicação desse artigo no caso dos autos, visto que não se
consegue extrair provas aptas a condenar o acusado. Assim, a absolvição é a medida de
justiça que se impõe.
Desse modo, acrescenta-se a existência do princípio processual do in dubio pro
reo, visto que, na dúvida, deve-se sempre interpretar a situação em favor do acusado, com o
objetivo de garantir a eficácia constitucional do princípio da presunção de inocência, trazido
pelo artigo 5°, inciso LVII da CF. É importante reforçar que, diante da falta de comprovação de
materialidade e autoria, além da análise dos pontos mencionados acima, deve o Réu ser
absolvido.
Desse modo, percebe-se que o Réu faz jus à redução da pena, devendo essa
diminuição ser aplicada ao máximo, em observância ao caso concreto.
IV – DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer:
a) A absolvição do acusado, com fulcro no artigo 386, inciso VII do CPP, mediante
o que foi colacionado na fundamentação apontada, devendo ser julgada improcedente a
denúncia;
b) Subsidiariamente, caso os pedidos acima não sejam atendidos, solicita-se:
b1) A aplicação da diminuição de pena prevista no parágrafo 4º, artigo 33 da
Lei nº 11.343/2006;
b2) A aplicação da pena no mínimo legal, em razão da incidência das
circunstâncias favoráveis no presente caso;
b3) A fixação do regime inicial aberto no cumprimento de pena, em virtude da
pena que será imposta, com fulcro no artigo 33, §2º, alínea “c” do Código Penal brasileiro;
b4) A realização da detração penal, prevista no artigo 42 do Código Penal, pelo
fato do acusado já ter erroneamente, data máxima vênia, cumprindo pena de forma
preventiva.
Local, data.
ADVOGADA
OAB/AL