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Processo nº 0321513-11.2021.8.19.0001
com fundamento no Art. 403, §3ºdo Código de Processo Penal, narrando para tanto, os
fatos e fundamentos de direito a seguir expostos:
Narra o Ministério Público em sua peça acusatória que no dia 19 de dezembro de 2021,
por volta das 10h, na Rua Jacarepiá, Raia, nesta comarca, o Acusado, consciente e
voluntariamente, trazia consigo, guardava e tinha em depósito, sem autorização e em
desacordo com determinação regulamentar, para fins de tráfico, 2100g de Cannabis
Sativa e 309g de cocaína
Além imputação da conduta prevista no Art. 33 da lei 11.343/2006, afirma que não se
sabe a data, nem com quem, mas que o Acusado se associou com o fim de praticar,
reiteradamente ou não, o crime de tráfico de drogas na comarca de Saquarema, estando
incurso nas penas dos artigos 35 lei 11.343/2006
Por fim, afirma que o Acusado, de forma livre e consciente, conduzia, em proveito
próprio ou alheio, o veículo marca CHEVROLET, modelo Tracker, de cor cinza,
ostentando a placa RJK3C33, sabendo se tratar de veículo clonado e, portanto, produto
de crime, conforme Laudo de Exame Pericial de Adulteração de Automóvel
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LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 8ª ed. rev. ampl. e atual. Salvador: Ed.
JusPodivm, 2020, pág. 688.
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(407 unidade de erva seca e 433 tubo plástico pó branco) dos presentes autos, bem como
seja determinado seu desentranhamento nos termos do Art. 5º, inciso LVI da
Constituição Federal e Art. 157 do Código de Processo Penal.
2
LOPES JR, Aury. Direito Processual Penal. 17ª ed. Editora Saraiva: São Paulo. 2020, pg 650.
3
PRADO, Geraldo. Prova penal e sistema de controle epistêmicos. 1ª ed. Editora Marcial Pons:
São Paulo. 2014, pg 76.
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4
Reclamação. Penal e Processual Penal. 2. Interceptação telefônica e
telemática. 3. Súmula Vinculante 14, do STF. Direito de defesa e
contraditório. 4. Situação de dúvida sobre a confiabilidade dos dados
interceptados juntados aos autos, embasada em elementos concretos. 5.
Necessidade de preservação da cadeia de custódia. 6.
Possibilidade de obtenção dos arquivos originais, enviados pela empresa
Blackberry, sem prejuízo à persecução penal. 7. Procedência para
assegurar à defesa o acesso aos arquivos originais das interceptações,
nos termos do acórdão (RECLAMAÇÃO n.º 32.722, Min. Rel. GILMAR MENDES,
SEGUNDA TURMA, DATA DE JULGAMENTO 07/05/2019).
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Que sentido faz o réu que estava algemando, que havia sido
agredido, ameaçado, que supostamente seria levado à delegacia por 4 baseando que
portava no veículo convidar os policiais para sua casa afirmando portar grande
quantidade de drogas lá?
que foi encontrado no veículo carga de maconha embaixo do banco do motorista; que
foram encontradas duas buchas de maconha de 10 reais e um de 50 reais que estavam
no console do carro; que o Acusado havia informado que possuía mais droga no quintal
de sua casa; que o Acusado levou os policiais até sua residência e foi encontrado um
tonel com drogas em um terreno ao lado de sua casa; que saíram da residência do Réu e
foram até a 124 DP; que no caminho o Réu informou, de livre e espontânea vontade, que
o caro era clonado e que havia pago R$ 12.000,00; que disse ter sido informado pelo
Acusado que ele era responsável pela distribuição de drogas em Bacaxá, Conrado e
Jaqueira; que não era possível perceber nenhuma adulteração no veículo; que quando
perguntado como foi a abordagem afirmou que o Acusado estava na praça de bacaxá,
que estava na rotatória parado; que nesse momento o Acusado ficou olhando para os
policiais; que quando a viatura se aproximou e o acusado abriu fuga; afirmou ter rodado
Bacaxá inteiro; que a perseguição durou mais de 5 minutos; que só foi possível fazer
a abordagem com apoio da outra viatura; que após realizar a abordagem o Acusado não
resistiu; que o Acusado não foi algemando, que quando o Acusado saiu do veículo ele
confessou estar portando drogas; que informou que o Acusado disse que levou um susto
com a viatura pois estava com droga no carro; que após a revista no veículo encontraram
drogas embaixo do banco do motorista; que eram buchas de 10 Reais mas não sabia
precisar a quantidade; que após ser indagado o Acusado informou que tinha mais
droga em sua casa enterrada no quintal; que foi colocado na viatura e não estava
algemado; que o Acusado abriu o portão para os policiais entrarem em sua residência;
que viu o pai do Acusado no quintal; que informou não ter entrado na casa; quando
indagado porque no termo de declaração ele havia informado que achou o caderno no
quarto do acusado o depoente não soube informar; quando perguntado se ele quem
havia prestado o depoimento confirmou que sim; quando perguntado porque o termo
do depoente e do outro policial estavam idênticos, não soube responder; que a droga
foi achada no terreno ao lado da casa; que a droga estava enterrada; que foi necessário
cavar para encontrar a droga; não se recorda se foi com pá ou enxada; que a droga se
encontrava em um tonel; que só tinha droga no tonel, que quando perguntado se havia
algum motivo específico para não levar o acusado diretamente a delegacia informou
que não; que olhou o chassi do carro e informou que não era possível identificar nenhum
sinal de adulteração no veículo; que não tinha autorização judicial para entrar na casa.
Outro fato que chamou a atenção desse patrono foi que não há
no inquérito o Auto de apreensão das drogas. Ao analisar a perícia do material
apreendido, em nenhum momento foi mencionado pelo perito que o material se
encontrava acondicionado em um tonel ou em uma lata de leite.
Está nítido que foi uma versão arquitetada para legitimar a ação
dos policiais na invasão do domicílio.
“que estava em casa no dia dos fatos; que não viu como os
policiais entraram; que viu a viatura e o filho algemado; que eram quatro policiais; que
dois entraram na casa e dois do lado de fora; que não viu nada nas mãos dos policiais;
que os policiais não falaram nada com ele; que não sabe quanto tempo os policiais
ficaram na casa; que os policiais estavam com um caderno na mão; que estava ele, a
neta dele e madrinha da neta; que os policiais entraram e saíram; que o acusado morava
com ele; que o acusado trabalhava em uma casa de rações; que o acusado saiu de casa
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oito/oito e meia; que era dia de folga do acusado; que tem um terreno do lado; que tem
uma casa, uma piscina; que a neta ficou chorando; que estavam perto da televisão na
churrasqueira; que dá para ver o quintal todo; que dava para ver os policiais; que não
viu os policiais cavando e nem achando drogas; que os policiais não acharam nada.”.
- Como seria possível uma pessoa com a mão algemada para trás
ser capaz de abrir um portão?
“que não são verdadeiros os fatos; que tinha droga, mas era só
4 baseado, não era na quantidade indicada pelos policiais; que não tinham drogas na
residência dele; que não sabe onde os policiais tiraram essa droga; que levaram ele para
dentro de casa; que pegaram uma caderno de anotações; que o caderno era de anotações
de empréstimos, que só saíram com o caderno de sua casa; que as drogas apresentadas
saíram da viatura dos policiais; que comprou o carro pela internet pela OLX; que tinha
o documento do carro; que no momento da compra o vendedor tinha informando que
o carro estava em busca e apreensão, que ele comprou com objetivo de acertar o
financiamento, que o veículo possuía documento, que o carro já foi parado em blitz e
nada aconteceu, que não conhecia os policiais; que não sabe informar porque os policiais
prejudicariam ele; que nunca foi preso ou processado antes; que já foi testemunha; que
trabalhava na época dos fatos; que trabalhava com agropecuária; que saiu de casa umas
oito e pouca, nove horas da manhã; que tinha saído para comprar pão e ir na feira; que
os policiais foram atrás dele e acionaram a sirene; que encostou o carro; que
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encontraram quatro baseados no carro; que os policiais agrediram ele, colocaram arma
na cara dele; que os policiais foram até a casado acusado porque estavam pedindo
dinheiro a ele para liberá-lo; que pediram R$ 20.000,00 para liberar, mas não tinha; que
foram até a casa dele por terem achado o endereço dele em uma correspondência; que
não autorizou a entrada dos policiais; que ele estava algemado; que não faria sentido
ter dito que tinham mais drogas dentro de casa; que não tinha drogas em casa; que os
policiais pegaram a chave no bolso dele e entraram na casa; que levaram ele para
dentro de casa; que fizeram buscas na casa; que ficou dentro de casa, não viu lá fora; que
não viu policial com mão suja de terra; que levaram ele para a Delegacia; que comprou
o carro pela internet; que viu o anúncio e comprou; que ia pagar R$ 65.000,00; que
pagou R$30.000,00 à vista e iria parcelar o restante, que a pessoa que vendeu depois
sumiu; que nem sabe o que é carro clonado; que não falou para o policial que o carro
era clonado; que já foi parado em outras blitz e não deu nada; que até hoje não sabe se o
carro é clonado ou não; que tem documento do carro 2021; que estava sozinho no carro;
que não é envolvido no tráfico de drogas; que trabalha; que ganha na Agrobom
R$1.380,00 mais horas extras; que chega a um R$ 1.700,00; que trabalha em uma
lanchonete também; que o caderno era dinheiro que estava emprestando a juros; que
conseguiu dinheiro pois arrendaram um sítio; que tem três filhos; que não tinha nada
nas mãos dos policiais quando eles saíram da residência, só o caderno.”.
Tal versão pode ser confirma por toda narrativa distorcida dos
policiais.
TRÁFICO DE DROGAS:
RECEPTAÇÃO:
https://recordtv.r7.com/fala-brasil/videos/homem-fica-no-
prejuizo-ao-descobrir-que-comprou-veiculo-clonado-pela-internet-13042022
5) DA DOSIMETRIA DA PENA
i. Caso vossa Excelência entenda que o Acusado agiu com culpa na aquisição do
veículo, desclassificar para receptação culposa.
l. Substituir a pena privativa pela restritiva de direitos, nos termos do art. 44 do CP;
m. Aplicar a suspensão condicional da pena, em observância ao art. 77 do CP.
VINÍCIUS BERNARDINI
OAB-RJ 225.438