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EXCELENTÍSSIMOSENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 6 ° VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE - MG

Francisco Pereira da Silva, brasileiro, Solteiro, portador do CPF/MF nº 99999.99, com


Documento de Identidade de n° 44444, residente e domiciliado na Rua Francisco
Joaquim, n°43, bairro, CEP: 67859-999, Belo Horizonte – MG à presença de Vossa
Excelência, com fundamento no artigo 5º, inciso LXV da Constituição
Federal combinado com os artigos 301 e seguintes do Código de Processo Penal,
requerer o

RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE

pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos:

DOS FATOS

O Requerente em questão, foi abordado e preso em flagrante no dia 17 de dezembro


2022, em uma cafeteria localizada no centro de Belo Horizonte, por ter supostamente
praticado o Golpe do PIX por meio de seu notebook pessoal, no qual no mesmo foi
constatado todas as informações necessárias para o devido flagrante. A informação
prestada é de que o mesmo teria sido o responsável pelo dito ato que originou-se do
depoimento prestado pela polícia civil, na qual informa que Francisco, já vinha sendo
investigado a algum tempo por ser acusado de diversos Golpes do PIX através de
invasão de dispositivos informáticos, fazendo que suas vítimas realizassem depósitos
em seu nome, porém as vítimas realizavam achando que se tratava de algum parente
próximo ou um amigo no qual estaria precisando do valor. Ademais, vale destacar que o
auto da prisão em flagrante delito foi remetido ao juízo competente após 2 dois meses.

DO DIREITO

Considerando-se os fatos acima expostos, é possível afirmar, primeiramente, que a


prisão em questão é ilegal pois, o auto de prisão em flagrante delito não foi remetido ao
juízo competente no seu prazo legal, sendo que o prazo máximo para tal ato é de 24
(vinte e quatro) horas, como expresso no artigo 310 Caput. CPP.

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo


máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o
juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do
acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública
e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá,
fundamentadamente: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
(Vigência).

I - relaxar a prisão ilegal; ou II - converter a prisão em flagrante em


preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art. 312
deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas
cautelares diversas da prisão; ou III - conceder liberdade provisória,
com ou sem fiança. Na forma legal, é imperioso que a audiência de
custódia seja realizada 24 horas depois do fato, quedando-se inerte o
Poder Judiciário nesse ponto, uma vez que ela fora feita dois meses
depois do fato. Cumpre ressaltar que a jurisprudência nacional é no
sentido de que a audiência de custódia deve ser realizada dentro do
prazo legal, sob pena de nulidade da prisão, conforme destaca-se a
seguir na decisão do Augusto Superior Tribunal de Justiça, in verbis:
Em liminar, o ministro Rogerio Schietti determinou o relaxamento da
prisão em flagrante. Segundo ele, a ilegalidade presente no caso
justifica a não aplicação da Súmula 691 do Supremo Tribunal
Federal, a qual, em princípio, impediria o exame do pedido da defesa
antes da conclusão do julgamento do HC anterior no tribunal
estadual. Segundo o relator, o artigo 1º da Resolução 213 do CNJ —
em conformidade com decisão do STF na Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental 347 — Fundamentando! 4
determina que toda pessoa presa em flagrante seja obrigatoriamente
apresentada, em até 24 horas, à autoridade judicial competente.
Considerando que a prisão em flagrante se caracteriza pela
precariedade, de modo a não se permitir a sua subsistência por tantos
dias sem a homologação judicial e a convolação em prisão
preventiva, identifico manifesta ilegalidade na omissão apontada,
afirmou o ministro. Schietti frisou que, apesar de relaxar o flagrante,
essa ordem não prejudica a possibilidade de decretação da prisão
preventiva, se for concretamente demonstrada sua necessidade, ou de
imposição de alguma medida alternativa prevista no artigo 319 do
Código de Processo Penal. Ele lembrou a importância de o juiz
avaliar a necessidade de manutenção da prisão preventiva, pois a
medida atinge um dos bens jurídicos mais expressivos do cidadão: a
liberdade. (HC 485.355) No escólio do Professor Renato Brasileiro,
define-se a audiência de custódia na forma a seguir: Na sistemática
adotada pelo Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/19), a audiência de
custódia pode ser conceituada como a realização de uma audiência
sem demora após a prisão em flagrante (preventiva ou temporária) de
alguém, permitindo o contato imediato do custodiado com o juiz das
garantias, com um defensor (público, dativo ou constituído) e com o
Ministério Público. (LIMA, 2020, p. 1017) Noutro giro, destaca-se
que a demora em realizar a audiência de custódia gera um ônus para
o Poder Judiciário, não sendo possível a imposição de uma prisão
preventiva após o descumprimento do prazo legal, merecendo a
análise da peça adequada ao caso. No que diz respeito aos elementos
da prisão preventiva, o membro do Ministério Público fundamentou
o seu pedido pelo fato de múltiplas serem as vítimas e pelas quantias
elevadas que o agente conseguira adquirir. Ora, isso por si só não
autoriza a aplicação do art. 312, CPP, com base na garantia da ordem
pública, devendo existir elementos concretos de que o acusado solto
poderá voltar a delinquir, fugir do país ou ameaçar testemunhas e
vítimas. O simples fato narrado pelo Promotor de Justiça não tem o
condão de lançar um decreto prisional. O artigo 312, CPP, possui a
seguinte redação: Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada
como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da
lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do
imputado. Quanto aos requisitos da prisão preventiva, menciona-se
que a sua decretação deve ser feita com base em elementos concretos
e hábeis, não sendo suficiente a quantidade de vítima ou valor
subtraído, notadamente quando o crime foi feito por uma só pessoa
sem qualquer vínculo com organização criminosa, no pensamento do
Superior Tribunal de Justiça: 5 PENAL E PROCESSUAL PENAL.
AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS
CORPUS.ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. INEXISTÊNCIA DE
ARGUMENTOS HÁBEIS A DESCONSTITUIR O DECISÓRIO
IMPUGNADO. PRISÃO EM FLAGRANTE.
NULIDADE.AUSÊNCIA DE SITUAÇÃO DE FLAGRÂNCIA.
QUESTÃO SUPERADA. SUPERVENIÊNCIA DA PRISÃO
PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA.
PERICULOSIDADE CONCRETA DO AGENTE. INTEGRANTE
DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA VOLTADA À PRÁTICA DE
DELITOS PATRIMONIAIS CONTRA PESSOA JURÍDICA
VINCULADA AO BANCO SANTANDER. RISCO DE
REITERAÇÃO DELITIVA. AGRAVANTE QUE PRATICOU O
DELITO EM GOZO DE LIBERDADE PROVISÓRIA.
NECESSIDADE DE GARANTIR A ORDEM PÚBLICA E DE
INTERROMPER A ATUAÇÃO DE ORGANIZAÇÃO
CRIMINOSA. CONDIÇÕES PESSOAIS FAVORÁVEIS.
IRRELEVÂNCIA. MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS.
INSUFICIÊNCIA. RISCO DE CONTAMINAÇÃO PELA COVID-
19. RECOMENDAÇÃO N. 62 DO CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA - CNJ. RÉU NÃO INSERIDO NO GRUPO DE RISCO.
AGRAVO DESPROVIDO. 1. Não obstante os esforços do
agravante, a decisão deve ser mantida por seus próprios fundamentos.
2. O acórdão do Tribunal de origem está em consonância com a
remansosa jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça no
sentido de que a homologação da prisão em flagrante e sua conversão
em preventiva tornam superado o argumento de irregularidades na
prisão em flagrante, diante da produção de novo título a justificar a
segregação. 3. Em vista da natureza excepcional da prisão preventiva,
somente se verifica a possibilidade da sua imposição quando
evidenciado, de forma fundamentada e com base em dados concretos,
o preenchimento dos pressupostos e requisitos previstos no art. 312
do Código de Processo Penal - CPP. Deve, ainda, ser mantida a
prisão antecipada apenas quando não for possível a aplicação de
medida cautelar diversa, nos termos previstos no art. 319 do CPP. No
caso dos autos, verifico estarem presentes elementos concretos a
justificar a imposição da segregação antecipada. As instâncias
ordinárias, soberanas na análise dos fatos, entenderam demonstrada a
periculosidade do agravante, evidenciada pelo fato de que
supostamente integraria estruturada e numerosa organização
criminosa, voltada para a prática de delitos de furtos e estelionatos
contra a pessoa jurídica Super Pagamentos e Administração de Meios
Eletrônicos S.A. - Superditigal, vinculada ao banco Santander;
circunstâncias que demonstra risco ao meio social, justificando a
segregação cautelar. Ademais, o Tribunal de origem ressaltou o risco
de reiteração delitiva, pois o agravante estava em gozo de liberdade
provisória concedida em 17/1/2021, nos autos do processo n.
1501881-15.2019.8.26.0537, que apura a prática dos delitos de
associação criminosa, estelionato, furto qualificado e falsificação de
documento particular. Nesse contexto, forçoso concluir que a prisão
processual está devidamente fundamentada na garantia da ordem
pública e para interromper a atuação de organização criminosa, não
havendo falar, portanto, em existência de evidente flagrante
ilegalidade capaz de justificar a sua revogação. 4. É entendimento do
Superior Tribunal de Justiça que as condições favoráveis do paciente,
por si sós, não impedem a manutenção da prisão cautelar quando
devidamente fundamentada. 6 5. Inaplicável medida cautelar
alternativa quando as circunstâncias evidenciam que as providências
menos gravosas seriam insuficientes para a manutenção da ordem
pública. 6. O risco trazido pela propagação da doença não é
fundamento hábil a autorizar a revogação automática de toda
custódia cautelar, ou sua substituição por prisão domiciliar, sendo
imprescindível, para tanto, conforme ressaltado pelo ilustre Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, a comprovação dos seguintes
requisitos: "a) sua inequívoca adequação no chamado grupo de
vulneráveis do COVID-19; b) a impossibilidade de receber
tratamento no estabelecimento prisional em que se encontra; e c)
risco real de que o estabelecimento em que se encontra, e que o
segrega do convívio social, causa mais risco do que o ambiente em
que a sociedade está inserida" (AgRg no HC 561.993/PE, QUINTA
TURMA, DJe 4/5/2020). Na hipótese dos autos, o recorrente não
comprovou que está inserido no grupo de risco ou que necessite
atualmente de assistência à saúde não oferecida pela penitenciária,
não se encontrando, portanto, nas hipóteses previstas pela
Recomendação do CNJ. Destaca-se que o Tribunal de origem
informou que a Secretaria de Administração Penitenciária adotou
medidas criteriosas para combater a pandemia nas unidades
prisionais, inclusive, toda a população carcerária já se encontra
vacinada. 7. Agravo regimental desprovido (AgRg no HC 700026 /
SP). É preciso observar, por fim, os seguintes dispositivo
constitucionais: Artigo 5º, inciso LXV da CR/88 Art. 5º Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: IV - é livre a
manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; LXV- a
prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

DO PEDIDO
Diante do exposto, requer-se a Vossa Excelência o RELAXAMENTO DA PRISÃO
EM FLAGRANTE imposta ao Requerente, a fim de que este possa permanecer em
liberdade durante o processo, com a expedição do alvará de soltura, como medida de
justiça.

Nestes termos,

pede e espera deferimento.

Belo Horizonte/MG 03 de março de 2023.

Gabriela Navarro

OAB n° 993.222 – MG

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