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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ.

LIVRE DISTRIBUIÇÃO

Impetrante: Beltrano de Tal


Paciente: Pedro Fictício
Autoridade Coatora: MM Juiz de Direito da 00ª Vara da Comarca ... (PR)

[ PEDIDO DE APRECIAÇÃO URGENTE(LIMINAR) – RÉU PRESO ]

O advogado BELTRANO DE TAL, brasileiro, casado,


maior, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Paraná, sob o nº 112233,
com seu escritório profissional consignado no timbre desta, onde receberá intimações,
vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, para, sob a égide dos arts.
648, inciso II, da Legislação Adjetiva Penal c/c art. 5º, inciso LXVIII da Lei
Fundamental, impetrar a presente

ORDEM DE HABEAS CORPUS,


1
(com pedido de “medida liminar”)

em favor de PEDRO FICTÍCIO, brasileiro, solteiro, mecânico, possuidor do RG. nº.


11223344 – SSP(PR), residente e domiciliado na Rua X, nº. 000 – Curitiba (PR), ora
Paciente, posto que se encontra sofrendo constrangimento ilegal por ato do eminente
Juiz de Direito da 00ª Vara da Comarca de .... (PR), o qual, do exame do auto de prisão
em flagrante(CPP, art. 310, inc. II), converteu essa em prisão preventiva, sem a devida
motivação, em face de pretenso crime de roubo qualificado, cuja decisão dormita nos
autos do processo nº. 33344.55.06.77/0001, como se verá na exposição fática e de direito
a seguir delineadas.

1 – SÍNTESE DOS FATOS

Colhe-se dos autos do processo supra-aludido que o


Paciente fora preso em flagrante delito, em 00 de abril do ano de 0000, pela suposta
prática de crime de roubo majorado(CP, art. 157, § 2º), cuja cópia do auto em
flagrante ora acosta-se.(doc. 01).

Por meio do despacho que demora às fls. 12/12 do processo


criminal em espécie, o Magistrado a quo, na oportunidade que recebera o auto de prisão
em flagrante(CPP, art. 310), converteu essa em prisão preventiva, sob o enfoque da
garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal( CPP, art. 310, inc. I), o
que se observa pelo teor do referido decisum nesta oportunidade acostado.(doc. 02)
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Por conveniência, abaixo evidenciamos trecho da decisão em
vertente, proferida pela Autoridade Coatora:

“ Passo a apreciar a eventual conveniência da convolação da prisão em


flagrante em preventiva ou, ao revés, conceder a liberdade provisória, na medida
do enfoque estatuído no art. 310, incs. II e III, do Estatuto de Ritos. Compulsando
os autos, verifico que inexiste qualquer elemento capaz de alterar a classificação
penal feita pela douta Autoridade Policial, apoiada que o fez nas convicções
colhidas dos fólios da pela inquisitória.

É de solar clareza, no cenário jurídico atual, que o crime de roubo, por


sua gravidade que importa à sociedade, por si só, já distancia a hipótese da
concessão da liberdade provisória.

(...)

Devo registrar, por outro ângulo, que a crime contra o patrimônio, cada
vez mais constante e eficiente, maiormente sob a modalidade de roubo com
emprego de uso de arma de fogo, deve ser combatida eficazmente pelo Judiciário,
onde, em última análise.

Vislumbro, mais, a decretação da prisão preventiva é a medida acertada à


hipótese em relevo, visto que tal proceder é de conveniência da instrução
criminal, para garantia da ordem pública e para assegurar a aplicação da lei
penal.

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Por tais considerações, CONVOLO A PRISÃO EM FLAGRANTE PARA
A FORMA ACAUTELATÓRIA DE PRISÃO PREVENTIVA. “

Essas são, algumas considerações necessárias à elucidação

fática.

2 – DA ILEGALIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA

– O Paciente não ostenta quaisquer das hipóteses previstas no art. 312 do CPP
- Ilegalidade da convolação da prisão em flagrante para prisão preventiva

O Paciente é primário, de bons antecedentes, com ocupação


lícita e residência fixa, o que se comprova com as certidões aqui carreadas. (docs. 03/07)

Não havia nos autos do inquérito policial, maiormente no auto


de prisão em flagrante -- nem assim ficou demonstrado no despacho prolatado pela
Autoridade Coatora --, quaisquer motivos que implicassem na decretação preventiva do
Paciente. Desse modo, pertinente e necessária a concessão do benefício da liberdade
provisória, com ou sem fiança.(CPP, art. 310, inc. III).

Vejamos, a propósito, julgados originários do Egrégio


Superior Tribunal de Justiça:

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PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. ROUBO CIRCUNSTANCIADO. PRÉVIO
MANDAMUS DENEGADO. PRESENTE WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO
ORDINÁRIO. INVIABILIDADE. VIA INADEQUADA. PRISÃO CAUTELAR. NULIDADE.
FALTA DE JUSTA CAUSA PARA DECRETAR A CUSTÓDIA. SUPRESSÃO DE
INSTÂNCIA. GRAVIDADE ABSTRATA DO CRIME. MOTIVAÇÃO INIDÔNEA.
OCORRÊNCIA. FALTA DE INDICAÇÃO DE ELEMENTOS CONCRETOS A JUSTIFICAR
A MEDIDA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus, em
prestígio ao âmbito de cognição da garantia constitucional, e, em louvor à lógica
do sistema recursal. In casu, foi impetrada indevidamente a ordem como
substitutiva de recurso ordinário. 2. Se o apontado vício no reconhecimento
pessoal do paciente e ausência de justa causa para a prisão cautelar, deixaram de
ser debatidos perante a corte originária, não merece conhecimento o writ neste
ponto, sob pena de supressão de instância. Precedentes. 3. A prisão processual
deve ser configurada no caso de situações extremas, em meio a dados sopesados
da experiência concreta, porquanto o instrumento posto a cargo da jurisdição
reclama, antes de tudo, o respeito à liberdade. In casu, prisão provisória que não
se justifica ante a ausência de fundamentação idônea. 4. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida de ofício a fim de que o paciente possa aguardar em
liberdade o trânsito em julgado da ação penal, se por outro motivo não estiver
preso, sem prejuízo de que o juízo a quo, de maneira fundamentada, examine se é
caso de aplicar uma ou mais dentre as medidas cautelares implementadas pela Lei
nº 12.403/11, ressalvada, inclusive, a possibilidade de decretação de nova prisão,

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caso demonstrada sua necessidade. (STJ; HC 298.385; Proc. 2014/0162567-7; SP;
Sexta Turma; Relª Minª Maria Thereza Assis Moura; DJE 26/09/2014)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ROUBO MAJORADO. ART. 312 CPP.


PERICULUM LIBERTATIS.
LIBERTATIS. INDEFERIMENTO DO DIREITO DE RECORRER EM
LIBERDADE. FUNDAMENTAÇÃO INSUFICIENTE. RECURSO PROVIDO.
1. A jurisprudência desta corte superior é remansosa no sentido de que a
determinação de segregação do réu antes de transitada em julgado a condenação
deve efetivar-se apenas se indicada, em dados concretos dos autos, a necessidade
da cautela (periculum libertatis), à luz do disposto no art. 312 do CPP. 2. Assim, a
prisão provisória se mostra legítima e compatível com a presunção de inocência
somente se adotada, mediante decisão suficientemente motivada, em caráter
excepcional, não bastando invocar, para tanto, aspectos genéricos, posto que
relevantes, relativos à modalidade criminosa atribuída ao acusado ou às
expectativas sociais em relação ao poder judiciário, decorrentes dos elevados
índices de violência urbana. 3. Não se mostram suficientes as razões invocadas
para embasar a ordem de prisão do ora recorrente tanto na decretação original
quanto na sentença, ao indeferir o direito de recorrer em liberdade, porquanto
deixaram de contextualizar, em dados concretos dos autos, a necessidade
cautelar de segregação do réu. 4. O juiz singular apontou genericamente a
presença dos vetores contidos no art. 312 do Código de Processo Penal, sem
indicar motivação suficiente para justificar a necessidade de manter o recorrente
cautelarmente privado de sua liberdade, cingindo-se a tecer considerações

19
hipotéticas sobre eventos futuros e incertos, divorciadas de qualquer lastro
material a indicar, idoneamente, o risco à ordem pública ou à aplicação da Lei
penal. 5. Os argumentos trazidos no julgamento do habeas corpus original pelo
tribunal a quo, tendentes a justificar a prisão provisória, não se prestam a suprir a
deficiente fundamentação adotada em primeiro grau, sob pena de, em ação
concebida para a tutela da liberdade humana, legitimar-se o vício do ato
constritivo ao direito de locomoção do paciente. 6. Recurso provido para que o
recorrente possa aguardar em liberdade o trânsito em julgado da ação penal, se
por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo da possibilidade de nova
decretação da prisão preventiva, se concretamente demonstrada sua necessidade
cautelar, sem prejuízo de imposição de medida alternativa, nos termos do art. 319
do CPP. (STJ; RHC 46.761; Proc. 2014/0074867-7; BA; Sexta Turma; Rel. Min.
Rogério Schietti Cruz; DJE 15/09/2014)

– O decisório limitou-se a apreciar a gravidade abstrata do delito


- Houve a decretação da prisão preventiva, sem a necessária fundamentação

Não bastasse isso, a decisão combatida se fundamentou


unicamente em uma gravidade abstrata do delito contra o patrimônio. Portanto, nada se
ostentou quanto ao enquadramento em uma das hipóteses que cabível se revela a prisão
cautelar.(CPP, art. 312)

Nesse ínterim, a Autoridade Coatora, nobre Juiz de Direito


operante na 00ª Vara da Comarca de ... (PR), não cuidou de estabelecer qualquer liame
19
entre a realidade dos fatos colhida dos autos e alguma das hipóteses previstas no art. 312
da Legislação Adjetiva Penal.

Desse modo, ao se convolar a prisão em flagrante para prisão


preventiva, mesmo diante da absurda e descabida pretensa alegada gravidade do crime
em liça, deveria ter motivado a decisão. Assim, não há como verificar se a prisão
preventiva se conforta com as hipóteses previstas no art. 312 do Código de Processo
Penal, ou seja: a garantia da ordem pública ou da ordem econômica, a conveniência da
instrução criminal e a segurança da aplicação da Lei Penal, quando houver prova da
existência do crime e indício suficiente da autoria.

Note-se, pois, que o Magistrado não cuidou de elencar


quaisquer fatos ou atos concretos que representassem minimamente a garantia da
ordem pública, não havendo qualquer indicação de que seja o Paciente uma ameaça ao
meio social, ou, ainda, que o delito fosse efetivamente de grande gravidade.

Outrossim, inexiste qualquer registro de que o Paciente


cause algum óbice à conveniência da instrução criminal, nem muito menos
fundamentou sobre a necessidade de assegurar a aplicação da lei penal, não
decotando, também, quaisquer dados(concretos) de que o Paciente, solto, poderá se
evadir do distrito da culpa.

Dessarte, o fato de imputação de “crime grave”, como


aludido no decisório, não possibilita, por si só, na decretação da prisão preventiva do
Paciente.

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Dessa forma, a decisão em comento é ilegal, também por
mais esse motivo, sobretudo quando vulnera a concepção trazida no bojo do art. 93, inc.
IX, da Carta Magna e, mais, do art. 315 da Legislação Adjetiva Penal.

De bom alvitre registrar as lições doutrinárias de Eugênio


Pacelli de Oliveira, o qual, destacando linhas acerca da necessidade de fundamentação
no decreto da prisão preventiva, assevera que:

“ Se a prisão em flagrante busca sua justificativa e fundamentação, primeiro,


na proteção do ofendido, e, depois, na garantia da qualidade probatória, a prisão
preventiva revela a sua cautelaridade na tutela da persecução penal, objetivando
impedir que eventuais condutas praticadas pelo alegado autor e/ou por terceiros
possam colocar em risco a efetividade do processo.
processo.
A prisão preventiva, por trazer como conseqüência a privação da liberdade
antes do trânsito em julgado, somente se justifica enquanto e na medida em que
puder realizar a proteção da persecução penal, em todo o seu iter procedimental,
e, mais, quando se mostrar a única maneira de satisfazer tal necessidade.
necessidade.
(...)
Em razão da gravidade, e como decorrência do sistema de garantias
individuais constitucionais, somente se decretará a prisão preventiva ‘por ordem
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.’, conforme se
observa com todas as letras no art. 5º, LXI, da Carta de 1988.” (Oliveira, Eugênio
Pacelli de. Curso de Processo Penal.
Penal. 16ª Ed. São Paulo: Atlas, 2012. Págs. 542-543)
( os destaques são nossos )

19
Em nada discrepando desse entendimento, com a mesma
sorte de entendimento lecionam Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar que:

“ O art. 315 do CPP exige fundamentação no despacho que decreta a medida


prisional. Tal exigência decorre também do princípio constitucional da motivação
das decisões judiciais(art. 93, IX, CF). O magistrado está obrigado a indicar no
mandado os fatos que se subsumem à hipótese autorizadora da decretação da
medida.
medida. Decisões vazias, com a simples reprodução do texto da lei, ou que
impliquem meras conjecturas, sem destacar a real necessidade da medida pelo
perigo da liberdade, não atendem à exigência constitucional, levando ao
reconhecimento da ilegalidade da prisão.” (Távora, Nestor; Alencar, Rosmar
Rodrigues. Curso de direito processual penal.
penal. 7ª Ed. Bahia: JusPODIVM, 2012. Pág.
589).
( não existem os destaques no texto original )

Vejamos também o que professa Norberto Avena:

“ Infere-se do art. 315 do CPP, e também por decorrência constitucional(art.


93, IX, da CF), o decreto da prisão preventiva deve ser fundamentado quanto aos
pressupostos e motivos ensejadores.” (Avena, Norberto Cláudio Pâncaro.
Processo Penal: esquematizado.
esquematizado. 4ª Ed. São Paulo: Método, 2012. Pág. 951).

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Convém ressaltar, mais uma vez, arestos deste Egrégio
Superior Tribunal de Justiça:

HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA. SÚMULA Nº 691/STF. AUSÊNCIA DE


FUNDAMENTAÇÃO CONCRETA. ILEGALIDADE MANIFESTA.
Ordem concedida para deferir liberdade provisória ao paciente. (STJ; HC 281.561;
Proc. 2013/0368693-1; SP; Sexta Turma; Rel. Min. Sebastião Reis Júnior; DJE
26/09/2014)

RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO. PRISÃO


EM FLAGRANTE CONVERTIDA EM PREVENTIVA. SEGREGAÇÃO ANTECIPADA
BASEADA NA GRAVIDADE ABSTRATA DOS FATOS CRIMINOSOS E NA PRETENSA
PERICULOSIDADE SOCIAL DA AGENTE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO
CONCRETA DA ORDEM CONSTRITIVA À LUZ DO ART. 312 DO CPP. CONDIÇÕES
PESSOAIS. FAVORABILIDADE. MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS.
ADEQUAÇÃO E SUFICIÊNCIA. COAÇÃO ILEGAL EM PARTE DEMONSTRADA.
RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Há constrangimento ilegal quando a preventiva encontra-se fundada na
gravidade dos fatos criminosos denunciados e na pretensa periculosidade social
da agente, isso com base na própria conduta denunciada, dissociada de qualquer
elemento concreto e individualizado que indicasse a indispensabilidade da prisão
cautelar à luz do art. 312 do CPP. 2. Mostra-se necessária, devida e suficiente a
imposição de medidas cautelares alternativas, dadas as circunstâncias do delito e
as condições pessoais da acusada, primária, de bons antecedentes, com
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residência fixa e profissão definida. 3. Condições pessoais favoráveis, mesmo não
sendo garantidoras de eventual direito à soltura, merecem ser devidamente
valoradas, quando demonstrada a possibilidade de substituição da prisão por
cautelares diversas, proporcionais, adequadas e suficientes ao fim a que se
propõem. 4. Recurso parcialmente provido para revogar a custódia preventiva da
recorrente, mediante a imposição das medidas alternativas à prisão previstas no
art. 319, I, IV e V, do código de processo penal. (STJ; RHC 49.690; Proc.
2014/0175973-1; SP; Quinta Turma; Rel. Min. Jorge Mussi; DJE 25/09/2014)

HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. CONDENAÇÃO. SUBSTITUIÇÃO DA


PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVAS DE DIREITOS. PROVIMENTO
DO RECURSO DE APELAÇÃO INTERPOSTO PELO ÓRGÃO MINISTERIAL. PRISÃO
PREVENTIVA DECRETADA. ART. 312 DO CPP. PERICULUM LIBERTATIS. AUSÊNCIA
DE FUNDAMENTAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR COMO
EFEITO AUTOMÁTICO DA CONDENAÇÃO. IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA.
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. A jurisprudência desta corte superior é remansosa no sentido de que a
determinação de segregar o réu, antes de transitada em julgado a condenação,
deve efetivar-se apenas se indicada, em dados concretos dos autos, a necessidade
da cautela (periculum libertatis), à luz do disposto no art. 312 do CPP. 2. Assim, a
prisão provisória se mostra legítima e compatível com a presunção de inocência
somente se adotada, em caráter excepcional, mediante decisão suficientemente
motivada. Não basta invocar, para tanto, aspectos genéricos, posto que

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relevantes, relativos à modalidade criminosa atribuída ao acusado ou às
expectativas sociais em relação ao poder judiciário, decorrentes dos elevados
índices de violência urbana. 3. No caso dos autos, a corte de origem não
apresentou nenhuma fundamentação para determinar a expedição de mandado
de prisão em desfavor do paciente, porquanto deixou de contextualizar, em dados
concretos dos autos, a necessidade de segregação do réu, de modo que a cautela
extrema parece haver sido decretada como efeito automático da condenação. 4.
Na hipótese, o tribunal estadual sequer mencionou a presença dos vetores
contidos no art. 312 do Código de Processo Penal para justificar a necessidade de
impor ao paciente a segregação cautelar. 5. Habeas corpus não conhecido, mas
concedido de ofício, para que o paciente possa aguardar em liberdade o trânsito
em julgado da ação penal, se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo da
possibilidade de nova decretação da prisão preventiva, se concretamente
demonstrada sua necessidade cautelar, ou de imposição de medida alternativa,
nos termos do art. 319 do CPP. (STJ; HC 290.554; Proc. 2014/0056304-7; RJ; Sexta
Turma; Rel. Min. Rogério Schietti Cruz; DJE 08/09/2014)

Do Supremo Tribunal Federal também se espraiem julgados


dessa mesma natureza de entendimento:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS IMPETRADO CONTRA DECISÃO


DE RELATOR DE TRIBUNAL SUPERIOR QUE INDEFERIU PLEITO CAUTELAR EM
IDÊNTICA VIA PROCESSUAL. FLAGRANTE ILEGALIDADE. SÚMULA Nº 691/STF.
SUPERAÇÃO. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. QUANTIDADE E NATUREZA DA
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DROGA APREENDIDA (60G DE MACONHA). PRISÃO EM FLAGRANTE
CONVERTIDA EM PREVENTIVA COM FUNDAMENTO APENAS NA GRAVIDADE EM
ABSTRATO DO DELITO. AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DE BASE EMPÍRICA
IDÔNEA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO. HABEAS CORPUS
EXTINTO POR INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO.
1. A prisão cautelar para garantia da ordem pública e para conveniência da
instrução criminal é ilegítima quando fundamentada, como no caso sub examine,
tão somente na gravidade in abstracto, ínsita ao crime. Precedentes: HC
114.092/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, Segunda Turma, dje de 26/3/2011; HC
112.462/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, dje 20/03/2013; HC
114.029/SP, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, dje 22/2/2013); HC
107.316/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, Primeira Turma, dje 28/2/2013). 2. In casu,
a) o paciente foi preso em flagrante, em 31/12/2013, e denunciado pela suposta
prática do delito previsto no artigo 33, caput, da Lei nº 11.343/06 (tráfico de
entorpecentes), pois foi surpreendido com 60 (sessenta) gramas de maconha e R$
500,00 (quinhentos reais) em espécie. B) a prisão em flagrante foi convertida em
preventiva com base apenas na gravidade em abstrato do crime, sem
apresentação de fundamentação de de demonstração da presença dos requisitos
previstos no art. 312 do código de processo penal. C) a quantidade e a natureza da
droga apreendida. 60 (sessenta) gramas de maconha. Não revelam maior
periculosidade do réu para inviabilizar o direito de responder a ação penal em
liberdade. 3. A vedação legal à liberdade provisória ao preso em flagrante por
tráfico de entorpecentes, prevista no art. 44 da Lei nº 11.343/2006, foi julgada
inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (hc 104.339/SP, Rel. Min. Gilmar

19
mendes), devendo, contudo, o magistrado apreciar a existência dos requisitos da
prisão preventiva à luz do artigo 312 do código de processo penal. 4. O Supremo
Tribunal Federal não é competente para julgar habeas corpus impetrado em face
de decisão de relator de tribunal superior que indefere a ordem em idêntica via
processual com base na Súmula nº 691/STF. A supressão de instância inequívoca,
revela-se a malferir o princípio do juiz natural (art. 5º, xxxvii e liii) na hipótese em
que o writ impetrado nesta corte versa a mesma fundamentação submetida ao
tribunal inferior. Precedentes: HC 107.053-AgR, Primeira Turma, relator o ministro
Ricardo Lewandowski, dje de 15/04/11; HC 107.415, Segunda Turma, relator o
ministro Joaquim Barbosa, dje de 23.03.11; HC 104.674-AgR, Primeira Turma,
relatora a ministra cármen lúcia, dje de 23.03.11; HC 102.865, Segunda Turma,
relatora a ministra Ellen Gracie, dje de 08.02.11. 5. A manutenção da prisão
preventiva com base em fundamentação inidônea justifica a superação da Súmula
nº 691/STF. Precedentes: HC 112.640, Primeira Turma, relator o ministro Dias
Toffoli, DJ de 14/09/2012; HC 112.766, Primeira Turma, relatora a ministra Rosa
Weber, DJ de 7/12/2012; HC 111.844, Segunda Turma, relator o ministro Celso de
Mello, DJ de 01/02/2013; HC 111.694, Segunda Turma, relator o ministro gilmar
Mendes, dje de 20/03/2012. 6. Habeas corpus extinto por inadequação da via
eleita. Ordem concedida, de ofício, para assegurar ao paciente o direito de
aguardar em liberdade o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória,
salvo se por outro motivo deva permanecer preso. (STF; HC 121.250; SE; Primeira
Turma; Rel. Min. Luiz Fux; Julg. 06/05/2014; DJE 22/05/2014; Pág. 42)

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HABEAS CORPUS. PEDIDO DE EXTENSÃO DA ORDEM CONCENDIDA A CORRÉU.
ART. 580 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. PRISÃO EM FLAGRANTE POR
TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. INDEFERIMENTO DE
LIBERDADE PROVISÓRIA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. PEDIDO DE
EXTENSÃO DEFERIDO.
I. No caso sob exame, o indeferimento do pedido de liberdade provisória
formulado pelo ora requerente também se fundou na necessidade de se
preservar a ordem pública em razão da gravidade abstrata dos delitos e por
conveniência da instrução criminal, fazendo-se alusão, ainda, à hediondez do
crime de tráfico, fundamentos insuficientes para manter o requerente na prisão.
II. Segundo remansosa jurisprudência desta corte, não basta a gravidade do crime
e a afirmação abstrata de que os réus oferecem perigo à sociedade e à saúde
pública para justificar a imposição da prisão cautelar. Assim, o STF vem repelindo
a prisão preventiva baseada apenas na gravidade do delito, na comoção social ou
em eventual indignação popular dele decorrente, a exemplo do que se decidiu no
HC 80.719/SP, relatado pelo ministro Celso de Mello. III. Requerente que se
encontra em situação fático-processual idêntica à do paciente beneficiado neste
writ (valdecir), pois ambos foram condenados pelos delitos de tráfico ilícito de
drogas e associação para o tráfico, o que faz incidir o art. 580 do código de
processo penal. lV. Extensão da ordem concedida para colocar o ora requerente
em liberdade provisória, devendo ser expedido o respectivo alvará de soltura
somente se por outro motivo não estiver preso, sem prejuízo de que o magistrado
de primeiro grau, caso entenda necessário, fixe, de forma fundamentada, uma ou
mais de uma das medidas cautelares previstas no art. 319 do código de processo

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penal (na redação conferida pela Lei nº 12.403/2011). (STF
(STF - HC 110.132; SP;
Segunda Turma; Rel. Min. Ricardo Lewandowski; Julg. 16/10/2012; DJE
08/11/2012; Pág. 65)

3 - DO PEDIDO DE “MEDIDA LIMINAR”

A leitura, por si só, da decisão que decretou a prisão


preventiva do Paciente, demonstra na singeleza de sua redação a sua fragilidade legal e
factual.

A ilegalidade da prisão se patenteia pela ausência de algum


dos requisitos da prisão preventiva e, mais, porquanto não há óbice à concessão da
liberdade provisória, além da ausência de fundamentação na decisão que negou o intento
formulado nos autos em favor do ora Paciente.

O endereço do Paciente é certo e conhecido, mencionado no


caput, desta impetração, não havendo nada a indicar se furtar ela à aplicação da lei penal.

A liminar buscada tem apoio no texto de inúmeras regras,


inclusive do texto constitucional, quando revela, sobretudo, a ausência completa de
fundamentação na decisão em enfoque.

Por tais fundamentos, requer-se a Vossa Excelência, em razão


do alegado no corpo deste petitório, presentes a fumaça do bom direito e o perigo na
demora, seja LIMINARMENTE garantido ao Paciente a sua liberdade de locomoção,

19
maiormente porque tamanha e patente, como ainda clara, a inexistência de elementos a
justificar a manutenção do encarceramento.

A fumaça do bom direito está consubstanciada, nos elementos


suscitados em defesa do Paciente, na doutrina, na jurisprudência, na argumentação e no
reflexo de tudo nos dogmas da Carta da República.

O perigo na demora é irretorquível e estreme de dúvidas,


facilmente perceptível, não só pela ilegalidade da prisão que é flagrante. Assim, dentro
dos requisitos da liminar, sem dúvida, verifica-se o alicerce necessário para a concessão
da medida liminar,

com expedição incontinenti de alvará de soltura, ou


sucessivamente,
seja ao Paciente concedido o direito à liberdade provisória, sem
fiança.

4 - EM CONCLUSÃO

O Paciente, sereno quanto à aplicação do


decisum, ao que expressa pela habitual pertinência jurídica dos
julgados desta Casa, espera deste respeitável Tribunal a concessão
da ordem de soltura do Paciente, ratificando-se a liminar almejada,
19
cassando-se a ordem de prisão preventiva e permitindo-lhe
beneficia-se do instituto da liberdade provisória, sem fiança.

Respeitosamente, pede deferimento.

Curitiba(PR), 00 de setembro do ano de 0000.

Fulano(a) de Tal
Impetrante - Advogado(a)

19

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