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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL

DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Habeas Corpus em favor de PATRICK


Autoridade Coatora: Juíza de Direito da Vara Criminal da Comarca de Sant’ana do
Livramento

COLENDA CÂMARA CRIMINAL,


EMINENTES DESEMBARGADORES,

PATRICK, por intermédio de sua procuradora constituída, vem ao Juízo, respeitosamente,


impetrar o presente

HABEAS CORPUS
COM PEDIDO LIMINAR

em favor de PATRICK, profissão, brasileiro, RG, CPF, atualmente recolhido na


Penitenciária Estadual de Santana do Livramento, apontando como autoridade coatora o MM.
Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de Santana do Livramento, pelos fatos e
fundamentos
I. RELATÓRIO

O réu foi preso em flagrante pelo suposto crime de tráfico de drogas, na situação,
portava 500g de maconha. Além disso, teve a prisão em flagrante convertida em prisão
preventiva.
Ocorre, no entanto, que apesar de ter sido decretada a prisão preventiva do paciente, a
audiência de custódia não foi realizada por ora. A não realização da solenidade fere a
resolução nº 213 de 2015, do Conselho Nacional de Justiça.
Por conseguinte, há de frisar que o flagrante foi realizado sem quaisquer diligências
investigativas, havendo sido baseada somente por notitia criminis feita por terceiro. Ainda,
relevante ressaltar ser o réu primário e possuir bons antecedentes.
Não conformada com a ilegalidade da prisão e do procedimento, revela-se a
necessidade da impetração do presente remédio em favor do paciente.
É o sucinto relatório.

II. FUNDAMENTOS

A) DA AUSÊNCIA DE PROPORCIONALIDADE E DE NECESSIDADE DE


GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA

Com a vênia do entendimento da autoridade coatora, mostra-se imperioso reconhecer


a afronta aos princípios processuais penais vigentes no Estado Democrático de Direito,
considerando estar se olvidando de que a prisão cautelar é medida excepcional e só justificada
por dados concretos, bem como somente deve ser mantida por meio dos critérios de
proporcionalidade e de razoabilidade.
Apenas caso presentes os requisitos das medidas cautelares e, especificamente, da
prisão, poderá ser decretada a medida. Exige-se a necessidade e a adequação, não presentes na
hipótese.
No caso em tela, muito embora o requisito da admissibilidade esteja presente,
considerando aparente delito com pena máxima superior a 4 anos - conforme o disposto no
art. 313 do Código de Processo Penal, a necessidade não resta evidenciada.
Isto posto, é necessário evidenciar a ínfima quantidade de maconha que portava o
paciente, além de tratar-se de réu primário e possuir bons antecedentes. Dito isso, não existe
qualquer indício de que a quantidade de droga portada destinava-se ao comércio, sendo que
poderia ter adquirido tal quantia tão somente para o uso, conduta que não pode ser penalizada
com prisão.
Por mais que não seja o paciente considerado usuário (art. 28 da Lei 11.343/06), faz-se
necessário evidenciar que possui bons antecedentes e é primário, configurando hipótese de
“tráfico privilegiado”, com fulcro no art. 33, §4º da Lei 11.343/06, hipótese de diminuição de
um sexto a dois terços da pena.
Ante o exposto, é notável que a manutenção da prisão preventiva é extremamente
desproporcional com a gravidade dos fatos narrados. Evidencia-se o art. 312, do CPP, neste
ponto:
Art. 312 do CPP. A prisão preventiva poderá ser decretada como
garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência
da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal,
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado

A partir disso, evidencia-se que a conduta do paciente não desestabilizou a ordem


pública ou econômica, não havendo nenhum indício que sua liberdade traria risco à aplicação
da lei penal, considerando tratar-se de ação pontual, considerando os seus bons antecedentes.

B) DA ILEGALIDADE DA NÃO REALIZAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE


CUSTÓDIA

Ao receber o auto de prisão em flagrante, a magistrada determinou que fosse dada


vista dos autos ao Ministério Público. Logo, após parecer do ente ministerial, homologou a
prisão em flagrante e a converteu em prisão preventiva, sem ter sido designada audiência de
custódia.
A decisão que homologou a prisão em flagrante e a converteu em preventiva é nula de
pleno direito, considerando que houve decretação da prisão preventiva antes a realização de
audiência de custódia.
A resolução nº 213, de 15 de dezembro de 2015 do CNJ determina a apresentação de
todo indivíduo preso à autoridade judicial no prazo de 24 horas, da mesma forma em que o
artigo 310 , §4º, do Código de Processo Penal consigna que, transcorrido o prazo de vinte e
quatro horas, “a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará
também a ilegalidade da prisão”.
Outrossim, conforme entendimento jurisprudencial, a decretação da prisão preventiva
não convalida a ilegalidade da não realização da audiência de custódia:
“Nos termos do decidido liminarmente na ADPF 347/DF (Relator(a): Min.
Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado em 9-9-2015), por força do Pacto
dos Direitos Civis e Políticos, da Convenção Interamericana de Direitos
Humanos e como decorrência da cláusula do devido processo legal, a
realização de audiência de apresentação é de observância obrigatória.
Descabe, nessa ótica, a dispensa de referido ato sob a justificativa de que o
convencimento do julgador quanto às providências do art. 310 do CPP
encontra-se previamente consolidado. A conversão da prisão em flagrante
em preventiva não traduz, por si, a superação da flagrante irregularidade, na
medida em que se trata de vício que alcança a formação e legitimação do ato
constritivo. (STF, HC 133.992/DF, 1ª T., rel. Min. Edson Fachin, j.
11-10-2016, DJe 257, de 2-12-2016).”

A partir disso, deve ser reconhecida a nulidade da homologação do flagrante, tendo em


vista a não realização da audiência de custódia.

III. DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

Como alternativas à prisão processual, desde já requer sejam determinadas, não sendo
o caso de concessão da liberdade provisória, alguma das medidas cautelares diversas da prisão
previstas no art. 319, do CPP, sugerindo-se o comparecimento periódico em juízo quando
assim determinado e proibição de ausência da Comarca enquanto necessário para a instrução.
Nesse sentido, a doutrina:
Vale dizer que, embora impropriamente designadas de substitutivas à prisão
preventiva, pelo §6º, do artigo 282 do CPP, as medidas previstas no artigo 319
caracterizam-se como alternativas à prisão processual porque configuram obstáculo
à sua decretação. Por isso, se é possível tutelar o processo com as alternativas
processuais, a orientação dominante na Corte Interamericana veda recurso à prisão
preventiva.

O sistema de medidas cautelares pessoais deixa claro que as medidas cautelares


alternativas à prisão são preferíveis em relação à prisão preventiva, dentro da ótica de que
sempre se deve privilegiar os meios menos gravosos e restritivos de direitos fundamentais.
Somente quando nenhuma das medidas alternativas for adequada às finalidades assecuratórias
que o caso exige, é que se deverá verificar o cabimento da medida mais gravosa, no caso, a
prisão preventiva. Nesse sentido é que deve ser interpretado o novo §6º do art. 282: “a prisão
preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida
cautelar (art. 319)”.
A preferibilidade das medidas cautelares alternativas à prisão tem, como reverso da
moeda, a excepcionalidade da prisão preventiva. A prisão preventiva é a extrema ratio,
somente podendo ser determinada quando todas as outras medidas alternativas se mostrarem
inadequadas.
VI. DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA CONCESSÃO DA LIMINAR.

Diante do exposto acima, é inafastável a presença, no presente caso, dos requisitos que
permitem a concessão da medida liminar. A plausibilidade do direito é evidente, uma vez que
os fatos em análise não requerem qualquer apreciação subjetiva, pois o constrangimento ilegal
sofrido pelo paciente é manifesto.Trata-se, em suma, de simples questão de direito.
Além disso, o perigo da demora também é claro, uma vez que o dano moral infligido
ao paciente, privado de sua liberdade sem respaldo legal, é irreparável.
É importante destacar que, uma vez superado o momento crítico e harmonizada a
situação, a prisão deixa de ser justificada. Isso ocorre não apenas devido à completa
desproporcionalidade com relação à punição que o ato em questão poderia representar, mas
também porque ninguém pode ser mantido sob custódia indefinidamente. Ademais, não há
informações sobre a apresentação de denúncia e o início de um processo penal, o que sugere
que a prisão provisória poderia perdurar por um período igual ou superior à pena potencial em
caso de condenação, o que evidencia a desproporcionalidade da medida neste momento.
Portanto, solicita-se a concessão da ordem neste habeas corpus, inicialmente sob a
forma de liminar, a fim de assegurar a imediata libertação do paciente.

V. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer-se, com fulcro no parágrafo 2º do art. 600 do Código de


Processo Penal
a) a CONCESSÃO LIMINAR DA ORDEM DE HABEAS CORPUS, para
revogar de forma imediata a prisão preventiva do réu, expedindo-se o
competente alvará de soltura;
b) a REQUISIÇÃO DAS DEVIDAS INFORMAÇÕES DA AUTORIDADE
COATORA, caso esta Corte repute necessário;
c) ao final, a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, com concessão de
ordem de habeas corpus em favor do paciente;
d) caso indeferido o pedido anterior, em sede liminar, a SUBSTITUIÇÃO DA
PRISÃO POR MEDIDA CAUTELAR DIVERSA, nos termos do art. 319
do CPP.

Desde já se prequestiona a matéria aventada, para fins de recurso especial e


extraordinário.

Nesses termos, aguarda o deferimento.


De Santana do Livramento para Porto Alegre, data.

Advogada,
OAB

Discentes: Larissa Duarte Moreira e Maria Antonia Camargo

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