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EXMO. SR. DR.

DESEMBARGADOR (A) PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL


DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

André Ferreira de Oliveira, advogado, brasileiro, inscrito na OAB/MG sob o


nº198.647, com endereço de e-mail andre.fo.adv@gmail.com, onde recebe avisos e
intimações, vem, respeitosamente, perante este Egrégio Tribunal de Justiça, impetrar

ORDEM DE HABEAS CORPUS COM PEDIDO DE LIMINAR

com fundamento no artigo 5º, incisos LXV e LXVIII, da Constituição Federal e


artigos 647 e 648, inciso I, ambos do Código de Processo Penal, em favor de Christopher
Ramis Sousa, brasileiro, solteiro, desempregado, filho de José Cleuson de Sousa e Orlantina
Dias dos Santos, RG nº 15.063.378 e CPF nº 073.06.146-58, residente e domiciliado na Rua
O, nº 358, bairro Morro Alto, Vespasiano/MG, CEP 33.200.000, atualmente recolhido no
Presidio de Pedro Leopoldo, em razão de constrangimento ilegal sofrido por parte do Juiz de
Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de Vespasiano/MG, nos autos da ação penal que
tramita na mesma vara sob o nº 0026695-59.2020.8.13.0290, em razão dos fatos e
fundamentos jurídicos abaixo.

I) Dos fatos

Conforme consta nos autos do processo 0026695-59.2020.8.13.0290, o requerente foi


preso no dia 17 de junho de 2020 em flagrante delito pela suposta pratica de crime de roubo.

O requere foi recolhido no CERESP Gameleira no mesmo dia e, logo após,


encaminhado ao Presidio de Pedro Leopoldo e assim permanece desde então, sem que
houvesse a Audiência de Custódia, convertendo o flagrante diretamente à prisão preventiva, e
qualquer manifestação futura, no decorrer do processo, do magistrado sobre a liberdade do
requerente, ou fundamentos que justificassem sua segregação.
A defesa do paciente, provocou o juízo a quo em relação à falta da Audiência de
Custódia e ao prazo do art. 316, parágrafo único do Código de Processo Penal, no dia
18/09/2020, tornando-se o juiz inerte até a presente data.

II) Do Direito

Diante o ocorrido, em 15/07/2020, após manifestação da defesa sobre o pedido de


liberdade provisória/revogação da prisão preventiva do acusado Christopher Ramis Sousa, o
magistrado de Vespasiano discorreu o seguinte:

3- Quanto ao pedido de liberdade provisória/revogação da prisão preventiva do


acusado Christopher Ramis Sousa, formulado às ff. 89/90, apesar dos argumentos
trazidos pela Defesa, entendo que ainda se encontram presentes os requisitos e
fundamento ensejadores da prisão preventiva e, em consequência, deve ser mantida
a prisão cautelar efetivada.

Não sobrevieram novos fatos ou fundamentos capazes de modificar a decisão que


decretou a prisão preventiva dos denunciados (f. 73), motivo pelo qual tenho que a
manutenção da custódia decretada é medida que se impõe.

Conforme decisão que decretou a prisão preventiva do réu, existem indícios


suficientes acerca da autoria e da materialidade do delito.

O crime pelo qual o réu está respondendo é grave, consistente em um roubo


qualificado, e ele foi reconhecido pela vítima como um dos autores do delito. Além
disso, não é a primeira vez que o acusado se vê envolvido em uma notícia de crime,
já que possui passagens policiais anteriores registradas em seu desfavor por crimes
de roubo e tráfico, de maneira que a manutenção da sua prisão é imprescindível
para garantir a ordem pública e evitar que o sentimento de impunidade se alastre
na sociedade, revelando-se muito temerária uma soltura neste momento.

A Defesa alega que o acusado enquadra-se no grupo de risco que deve ficar isolado
durante o período da Pandemia. Contudo, o fato de possuir uma doença
respiratória, por si só, não deve justificar a soltura do acusado quando há vários
outros motivos para mantê-lo acautelado, inclusive para garantia da ordem
pública, como já exposto.

Nesse descortino, a Nota Técnica COES MINAS COVID19 n. 17, de 30/03/2020


traz as devidas recomendações às unidades prisionais quanto às abordagens aos
detentos neste momento, trazendo tratamentos diferenciados para quem possui
algum tipo de doença respiratória a fim de resguardar a saúde dos detentos, razão
pela qual não há justificativa para a soltura pleiteada.
Eventuais condições pessoais favoráveis ao denunciado, tais como residência fixa e
ocupação lícita, não lhes são garantidoras à revogação de sua prisão preventiva ou
concessão de liberdade provisória, se existem outras que lhe recomendam a
segregação cautelar, como é o caso dos autos.

Posto isso, em consonância com o Ministério Público, INDEFIRO o pedido


liberdade provisória/revogação da prisão preventiva do acusado Christopher
Ramis Sousa.

O Código de Processo Penal, discorre:

Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão
preventiva se, no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo
para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a
justifiquem. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)

Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da


decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias,
mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal .
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

Assim, é uma medida positiva, de contenção do poder punitivo estatal, estabelecer um


dever de cautela, sob pena de a prisão ser considerada ilegal.

Analisando todas as peças constantes do feito em andamento, verifica-se a


inocorrência de quaisquer das hipóteses do artigo 312, do CPP que autorizam a prisão
preventiva, a saber: a) Garantia da Ordem Pública; b) Garantia da Ordem Econômica; c) Para
Assegurar a Aplicação da Lei Penal e; d) Por Conveniência da Instrução Criminal.

De tal modo, não subsistem motivos ensejadores para a prisão preventiva do


requerente, visto que, além dos problemas médicos já demonstrados nos autos, enquadrando
o requerente no grupo de risco do COVID-19, o mesmo possui residência fixa, residindo com
sua genitora na mesma comarca há vários anos, não havendo, atualmente, indícios de
qualquer quebra das garantias.

A “garantia da ordem publica”, apontada pelo magistrado a quo, não é fundamento


cautelar! Percebe-se que por “ordem publica” se quer tudo, mas, em verdade, não se tem
nada. Ou seja, dentro da ordem publica tenta-se inserir todo e qualquer argumento favorável
aos interesses dos órgãos de persecução penal, o que acaba em sentido inverso, esvaziando
ainda mais de sentido de expressão já carente de significado.

Portanto, fica evidenciado que as prisões preventivas para garantia da ordem publica
não são de natureza cautelar e assim, são substancialmente inconstitucionais. Pois trata-se de
uma degeneração transformar uma medida processual em atividade tipicamente
“policialesca”, utilizando-se indevidamente como medida de segurança publica.

De tal modo, diante dos argumentos da autoridade coatora e sua inercia em relação ao
disposto no Código de Processo Penal, não é difícil constatar que a prisão do paciente desafia
o remédio do Habeas Corpus, ante a absoluta ausência de justificativa para fundamentar sua
manutenção no cárcere.

A prisão no caso em voga não constitui medida mais justa/adequada/razoável para o


caso, eis que antes dela, o magistrado poderia ter procedido ao revigoramento das medidas
protetivas, bem como poderia ter aumentado o rol das medidas, modificando-as ou ter
requisitado assistência policial para fiscalizar e intervir no efetivo cumprimento destas.
Nenhuma providência foi adotada pelo magistrado neste sentido. A prisão funcionou como
meio de forçar a obrigação de cunho cautelar.

Portanto, não há que se falar em fundamentos suficientes para ensejar a custódia


cautelar do paciente. Não resta demonstrado nenhum dos requisitos do artigo 312, do CPP. E,
assim, superado tais 90 dias, o julgador deve analisar a necessidade da manutenção, com
novos argumentos fundamentados, sem prejuízo da aplicação de outras medidas cautelares e
eventualmente necessárias, caso contrário, é completamente desproporcional e inadmissível
tal prisão preventiva.

Ao paciente deve ser assegurado o direito de responder ao processo em liberdade, por


não representar qualquer ameaça à ordem pública, à instrução do processual e por não haver
possibilidade de se frustrar a aplicação da lei penal, configurando, repita-se, constrangimento
ilegal a manutenção da prisão do paciente.

III) Dos pedidos

Ante o exposto, requer:

a) A manifestação de V. Exa. sobre tal revisão da manutenção da prisão


preventiva;
b) Caso não haja motivos para tal manutenção, o relaxamento da prisão
preventiva com a expedição do devido alvará de soltura;
c) Subsidiariamente, caso V. Exa. entenda, que substitua a prisão preventiva por
medida cautelar diversa.
Nestes termos,
Pede deferimento.

Belo Horizonte, 18 de setembro de 2020.

ANDRÉ FERREIRA DE OLIVEIRA

OAB/MG 198.647

https://www.conjur.com.br/2019-abr-26/stj-relaxa-prisao-flagrante-falta-
audiencia-custodia

https://www.conjur.com.br/dl/pedido-hc-audiencia-custodia-tj-rj.pdf

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