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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE ________________ – ESTADO DO __________.

Autuação por dependência

Autos sob nº: 5770395-09.2023.8.09.0049

PABLO DANIEL CRISTINO COSTA, devidamente qualificado nos


autos em epígrafe, atualmente recolhido no Centro de Inserção Social de Goianésia-
GO, por intermédio de sua defensora constituído, conforme instrumento particular de
procuração já protocolado, vêm, respeitosamente à presença de Vossa Excelência,
apresentar

PEDIDO DE REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA

Com fundamento no artigo 5º, inciso LXV, da Constituição Federal, e


no artigo 316 do Código de Processo Penal, pelos motivos de fato e de direito a seguir
expostos.

1. DA SÍNTESE FÁTICA:

O Requerente foi preso no dia 22 de janeiro deste ano, em decorrência


de mandado de prisão preventiva proveniente de inquérito policial por ter, em tese,
praticado os crimes descritos nos artigos 147 do Código Penal e 33 da Lei
11.343/2006. O fato ocorreu por volta das 14 horas, quando os policiais civis se
encaminharam até o endereço do mesmo e o encontraram na porta do mercado que
fica de frente à sua residência, onde aguardava instruções para realizar um serviço de
instalação de câmeras de vigilância, para o qual fora contratado enquanto autônomo. O
acusado permaneceu no local após a chegada dos agentes e não ofereceu qualquer
resistência ao cumprimento do mandado, no entanto, foi colocado de bruços no chão,
algemado e teve sua cabeça pressionada ao chão pelo policial, que usou seus pés
para tal.
Após ser realizada Audiência de Custódia, este Juízo optou pela
validade da prisão preventiva do Requerente, embasando a sua decisão para a
legalidade do modus operandi, justificando a necessidade de resguardar a ordem
pública, a conveniência da instrução criminal, e assegurar a aplicação lei penal, nos
termos do art. 312 do Código de Processo Penal.
Todavia, no presente momento processual não é mais cabida a
manutenção da prisão cautelar contra o Requerente, em razão que se passa a expor.

2. DOS FUNDAMENTOS:

O Requerente pugna pela sua liberdade para que possa responder


adequadamente ao processo, pela aplicabilidade do Princípio da Presunção de
Inocência, até que se esgotem todos os recursos da ampla defesa e contraditório, onde
a prisão cautelar é uma exceção.
O sistema implantado pela Lei nº 12.403/2011, as prisões cautelares
são a última ratio, ou seja, deve ser o ultimato final de todas as medidas cautelares
disponíveis em nosso ordenamento jurídico:

Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser


aplicadas observando-se a: I - necessidade para aplicação da lei penal,
para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente
previstos, para evitar a prática de infrações penais; II - adequação da
medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições
pessoais do indiciado ou acusado(...) § 6º A prisão preventiva será
determinada quando não for cabível a sua substituição por outra medida
cautelar (art. 319). (Grifo nosso)

Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão


preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o
caso, as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e
observados os critérios constantes do art. 282 deste Código. (Grifo
Nosso)

Vale ressaltar que o Requerente possui ocupação e residência fixa


(Recibos de Pagamento a Autônomo e comprovante de endereço anexo), e é réu
primário, não ostentando qualquer condenação criminal, comprometendo-se a
comparecer em todos os atos processuais solicitados.
Apesar de o Requerente estar sendo investigado em inquéritos
policiais, isto não pode ser considerado como fato desabonador de sua conduta, tendo
em vista que a Constituição Federal afirma que somente é considerado culpado após
condenação penal transitada em julgado:

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no
País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LVII. Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória. (Grifo Nosso)

Referido dispositivo consolida o Princípio da Presunção de Inocência,


garantia constitucional que permite ao acusado de uma infração penal não ser
considerado culpado, até que esgotadas todas as fases do processo, e ao final haja
sentença penal condenatória com trânsito em julgado. Diante disso, não se pode
considerar, por si só, inquéritos policiais em curso como instrumento idôneo a justificar
a manutenção da prisão preventiva da Requerente. Segue jurisprudência neste
sentido:

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO PREVENTIVA


DECRETADA NA SENTENÇA DE PRIMEIRO GRAU. RÉU QUE
PERMANECERA SOLTO DURANTE A INSTRUÇÃO CRIMINAL.
EXISTÊNCIA DE INQUÉRITOS POLICIAIS EM ANDAMENTO.
FUNDAMENTO QUE, POR SI SÓ, NÃO JUSTIFICA A PRISÃO
PREVENTIVA. ORDEM CONCEDIDA. 1. A existência de inquéritos
policiais em andamento não justifica, por si só, a decretação da prisão
preventiva. Precedentes do Superior Tribunal de Justiça. 2. Ordem
concedida. (TRF-3 – HC 2501 SP XXXXX-2. Rel.: Nelton dos Santos.
Data Julg.: 08/06/2010. Segunda turma).

Nesta linha de raciocínio, o Código de Processo Penal estabelece


medidas que assegurem o desenvolvimento regular do processo com a presença do
acusado sem sacrifício de sua liberdade, deixando a prisão cautelar apenas para as
hipóteses de absoluta necessidade. Passa-se a analisar a ausência do requisito
ensejador da prisão cautelar, previsto no artigo 312 do Código de Processo Penal.
O Requerente não apresenta nenhum risco para a ordem pública, pelo
qual entende-se pela expressão da necessidade de se manter em ordem a sociedade,
que, como regra, é abalada pela prática de um delito. Verifica-se que o Requerente foi
informado sobre o inquérito policial em destaque em outubro de 2023, quando do
cumprimento de mandado de busca e apreensão realizado na residência, e até a
presente data, passaram-se mais de 3 meses, não existiu nenhum fato que demonstre
que a sociedade encontra-se abalada pelos supostos crimes a ele imputado, razão pela
qual não se pode cometer a injustiça de presumir uma periculosidade inexistente, muito
menos qualquer razão se tem para se cogitar possível fuga.

Impor ao Requerente o cumprimento antecipado de uma pena é fechar


os olhos aos princípios que norteiam o ordenamento jurídico, em especial, no que se
refere a presunção de inocência e a dignidade da pessoa humana.
Deve-se levar em consideração ainda, o fato de que o acusado é
arrimo de família, e responsável pela subsistência de seus filhos menores impúberes,
os quais estão sob sua égide (certidões de nascimento em anexo)
No que tange a conveniência da instrução criminal, o Requerente não
pretende, e de nenhuma forma perturbará ou dificultará a busca da verdade real, no
desenvolvimento da marcha processual, não podendo, também, presumir tal fato, pois
inexiste nos autos quaisquer elementos que indiquem um entendimento em sentido
contrário, como mesmo afirmado por este Juízo em sua decisão.
Ademais, o Requerente tem consciência de que a instrução criminal é o
meio hábil de exercer o direito constitucional do contraditório e da ampla defesa, e de
provar sua inocência, razão pela qual não se pode presumir que a mesma se voltará
contra o único meio que possibilitará o exercício de sua defesa.
Por fim, quanto a aplicação da lei penal, que visa garantir a finalidade
útil do processo, qual seja, garantir ao Estado o seu exercício do direito de punir,
aplicando a sanção devida a quem é considerado o autor de uma infração penal,
também não se encontra presente.
Dessa forma, é perfeitamente cabível que sejam impostas medidas
cautelares diversas da prisão, previstas no artigo 319 do Código de Processo Penal:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:


I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas
pelo juiz, para informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando,
por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado
permanecer distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela
permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga
quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de
natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos
concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e
houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial:
IX - monitoração eletrônica.

Portanto, a liberdade poderá ser concedida ao Requerente,


decretando, subsidiariamente, as medidas cautelares diversas da prisão, conforme
preconiza os artigos 319 e 320 ambos do Código de Processo Penal, isto porque, as
suas circunstâncias e condições pessoais dão ensejo a aplicação de tais medidas.

3. DOS PEDIDOS:

Diante de todo o exposto, pede-se, encarecidamente a Vossa


Excelência, nos termos do artigo 316, ab initio, do Código de Processo Penal, a
revogação da prisão preventiva do requerente PABLO DANIEL CRISTINO COSTA,
com a expedição do competente alvará de soltura e, na possibilidade de compreender
necessária, a aplicação de medidas cautelares previstas no artigo 319 do Código de
Processo Penal, as quais Vossa Excelência entender ser justa e cabível ao presente
caso.

Termos em que pede e espera deferimento.

Barro Alto - GO, data do protocolo eletrônico.

LAYANE APARECIDA FERREIRA CHAVES


OAB/GO n.º 69.738

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