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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO . . . .

LIVRE DISTRIBUIÇÃO

Impetrante: Beltrano de Tal


Paciente: Francisco Fictício
Autoridade Coatora: MM Juiz de Direito da 00ª Vara da Comarca ...

PEDIDO DE APRECIAÇÃO URGENTE (LIMINAR) – RÉU PRESO

O advogado BELTRANO DE TAL, casado, advogado, inscrito


na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Ceará, sob o nº 112233, com seu escritório
profissional consignado no timbre desta, onde receberá intimações, vem, com o devido
respeito à presença de Vossa Excelência, para, sob a égide dos arts. 648, inciso II, da
Legislação Adjetiva Penal c/c art. 5º, inciso LXVIII da Lei Fundamental , impetrar a presente

ORDEM DE HABEAS CORPUS,


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(com pedido de “medida liminar”)

em favor de FRANCISCO FICTÍCIO, brasileiro, solteiro, comerciante, possuidor do RG. nº.


11223344 – SSP(CE), residente e domiciliado na Rua X, nº. 000 – Cidade (CE), ora
Paciente, posto que se encontra sofrendo constrangimento ilegal, por ato do eminente Juiz
de Direito da 00ª Vara da Comarca da Cidade, o qual converte prisão em flagrante e prisão
preventiva, mesmo se tratando de delito culposo, cuja decisão dormita nos autos do
processo nº. 33344.55.06.77/0001, como se verá na exposição fática e de direito a seguir
delineadas.

1 – SÍNTESE DOS FATOS

Colhe-se dos autos do processo supra-aludido que o


Paciente fora denunciado pelo Ministério Público Estadual, em 00 de abril do ano de
0000, como incurso no tipo penal previsto nos arts. 302, caput, do Código de Trânsito.
Desse modo, para acusação o Paciente cometera delito de crime de homicídio culposo
na direção de veículo automotor. (doc. 01).

Em face do despacho inaugural, o qual demora às fls. 12/14 do


processo criminal em espécie, o Magistrado a quo, na oportunidade que recebera o auto de
prisão em flagrante (CPP, art. 310), converteu essa em prisão preventiva. Na ocasião o Juiz
entendera que o crime perpetrado causou revolta e clamor público em toda Cidade. Acosta-
se referido decisum. (doc. 02)
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Por conveniência, abaixo evidenciamos trecho da decisão em
vertente:

“Passo a apreciar a eventual conveniência da convolação da prisão em flagrante em


preventiva ou, ao revés, conceder a liberdade provisória, na medida do enfoque estatuído
no art. 310, incs. II e III, do Estatuto de Ritos. Compulsando os autos, verifico que inexiste
qualquer elemento capaz de alterar a classificação penal feita pela douta Autoridade
Policial, apoiada que o fez nas convicções colhidas dos fólios da pela inquisitória.

O homicídio em espécie causou revolta nesta Cidade, tamanha a futilidade do crime. De


outro modo, o depoimento da testemunha Francisca Paulina expressa claramente todo o
clamor social por Justiça: “Que, do nada o veículo veio em alta velocidade e atropelou o
pobre inocente que passava na calçada; Que, o falecido era um senhor idoso; Que, acha
que toda cidade quer o Francisco preso; Que, se não fosse preso, acha que a população
iria fazer alguma desgraça contra ele, porque a vítima era pessoa de bem e ajudava
bastante as pessoas carentes daqui;”
( . . . .)
Do cenário carreado aos fólios do inquérito policial, sem qualquer sombra de dúvida o
crime perpetrado reclama a prisão do réu, maiormente pela irresponsabilidade, futilidade e
a comoção que trouxera à pequena cidade de Cidade.

(...)
Por conseguinte, decretar-se a prisão preventiva é a medida mais acertada à hipótese em
relevo, visto que tal proceder é de toda conveniência à instrução criminal, para garantia da
ordem pública e para assegurar a aplicação da lei penal.
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Por tais considerações, CONVOLO A PRISÃO EM FLAGRANTE PARA A FORMA
ACAUTELATÓRIA DE PRISÃO PREVENTIVA. “

Essas são algumas considerações necessárias à elucidação


fática.

2 – DO INVOCADO CONSTRANGIMENTO ILEGAL

2.1. O suposto crime não é doloso. Impertinência da prisão preventiva.

A qualificação delituosa em estudo se resume ao pretenso crime de


homicídio culposo na direção de veículo. Esse delito tem previsão estatuída no Código
de Trânsito, que assim reza:

CÓDIGO DE TRÂNSITO

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:

Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se


obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

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Com as alterações da Legislação Adjetiva Penal, com a nova
redação dada pela Lei 12.403/11, mais precisamente do conteúdo expresso no art. 313,
vê-se que a prisão preventiva não mais se coaduna com crimes culposos:

CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da
prisão preventiva:

I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a
4 (quatro) anos;

De outro bordo, infere-se que o Paciente não se enquadra em


nenhuma outra das hipóteses fixadas na aludida regra processual, o que, de pronto, acosta-se as
certidões comprobatórias. (docs. 03/07)

Nesse rumo é o magistério de Edilson Mougenot Bonfim:

“Preenchido esse requisito, a medida será possível nos seguintes casos:


a) se o crime for doloso e punido com pena privativa de liberdade máxima
superior a 4(quatro) anos de reclusão.
Referido requisito foi acrescentado pela Lei n. 12.403, de 4 de maio de 2011.
Verifica-se que, diferentemente do previsto no art. 313, I, que foi revogado, o CPP
não só exige que o crime seja doloso,
doloso, mas também que seja punido com pena
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privativa de liberdade (tal requisito também é necessário para imposição de
qualquer medida cautelar) e que a pena máxima prevista seja superior a 4
(quatro) anos de reclusão (HC 107617/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, 23.8.2011)”
(BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de processo penal. 8ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2013, p. 535)
(não existem os negritos no texto original)

É de todo oportuno também gizar as lições de Norberto Avena:

“Permanece, como se vê, a necessidade de que se tratem de crimes dolosos,


dolosos, o
que exclui a sua decretação nas hipóteses de crimes culposos e de contravenções
penais. “ (AVENA, Norberto Cláudio Pâncaro. Processo penal: esquematizado. 4ª
Ed. São Paulo: Método, 2012, p. 934)
(sublinhas nossas)

O Egrégio Superior Tribunal de Justiça já deliberou acerca do


tema em vertente, trilhando pela impossibilidade de prisão preventiva em crimes culposos:

PENAL. HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÂNSITO. PRÉVIO MANDAMUS


DENEGADO. PRESENTE WRIT SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO.
INVIABILIDADE. VIA INADEQUADA. PRISÃO PREVENTIVA. APLICAÇÃO DA LEI
PENAL. CRIME CULPOSO. IMPOSSIBILIDADE. FLAGRANTE ILEGALIDADE.

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EXISTÊNCIA. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE
OFÍCIO.
1. É imperiosa a necessidade de racionalização do emprego do habeas corpus, em
prestígio ao âmbito de cognição da garantia constitucional e em louvor à lógica do
sistema recursal. In casu, foi impetrada indevidamente a ordem como substitutiva
de recurso ordinário. 2. A prisão processual deve ser configurada no caso de
situações extremas, em meio a dados sopesados da experiência concreta,
porquanto o instrumento posto a cargo da jurisdição reclama, antes de tudo, o
respeito à liberdade. 3. In casu, existe manifesta ilegalidade, pois foi decretada a
custódia provisória pelo juízo de origem, fundamentalmente, na fuga do paciente,
que teria sido ouvido pela autoridade policial e não mais foi localizado, mesmo
após ser citado por edital. Tal fundamentação poderia justificar a prisão cautelar,
não fosse o fato de se tratar de crime culposo. 4. O art. 366 do código de processo
penal autoriza, em certas situações, a decretação da prisão provisória, nos termos
do art. 312 do código de processo penal, quando o acusado é citado por edital,
mas não comparece em juízo nem constitui defensor. Contudo, após a
promulgação da Lei nº 12.403/11, o art. 312 do código de processo penal deve ser
interpretado sistematicamente à luz do art. 313 do mesmo código, que não
admite a decretação de prisão preventiva em crimes culposos. 5. Habeas corpus
não conhecido. Ordem concedida, de ofício, a fim de que o paciente possa
aguardar em liberdade o trânsito em julgado da ação penal, se por outro motivo
não estiver preso. (STJ
(STJ - HC 270.325; Proc. 2013/0145063-4; RN; Sexta Turma;
Relª Min. Maria Thereza Assis Moura; DJE 26/03/2014)

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Com esse enfoque, é altamente ilustrativo outro norte
jurisprudencial quanto à ilegalidade da prisão preventiva em casos de crimes culposos , que
é a hipótese aqui tratada:

HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR


(ART. 302, PARÁGRAFO ÚNICO, I, DO CTB). PRISÃO PREVENTIVA.
INADEQUAÇÃO. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS DO ART. 313, I, DO
CPP. DESPROPORCIONALIDADE. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. ORDEM
CONCEDIDA.
Por ser de modalidade culposa o crime previsto no artigo 302, parágrafo único, I,
do CTB, bem como por possuir sanção corpórea compreendida entre os intervalos
de 2 (dois) a 4 (quatro) anos de detenção, de modo a não se adequar a hipótese
ao previsto no art. 313, I, do CPP, a revogação da prisão preventiva é medida que
se impõe, a fim de afastar a ocorrência de constrangimento ilegal, conforme
jurisprudência desta Corte em consonância com o entendimento do Superior
Tribunal de Justiça. Ordem concedida. (TJES; HC 0009218-68.2014.8.08.0000;
Primeira Câmara Criminal; Rel. Des. Ney Batista Coutinho; Julg. 27/08/2014; DJES
05/09/2014)

HABEAS CORPUS. CRIME DE HOMICÍDIO CULPOSO NA DIREÇÃO DE VEÍCULO


AUTOMOTOR. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA PARA GARANTIA DA ORDEM
PÚBLICA.

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Medida que se revela inadequada e desproporcional no caso concreto.
Possibilidade de substituição por medidas cautelares diversas. Ordem concedida.
(TJGO; HC 0232289-88.2014.8.09.0000; Pirenópolis; Segunda Câmara Criminal;
Rel. Des. Jairo Ferreira Júnio; DJGO 20/08/2014; Pág. 434)

HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO CULPOSO. LIBERDADE


PROVISÓRIA. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DA PRISÃO PREVENTIVA. FALTA DE
FUNDAMENTAÇÃO NA DECISÃO DENEGATÓRIA. OCORRÊNCIA.
Embora a ostentação das condições pessoais da primariedade, residência fixa e
ocupação lícita, por si só, não seja capaz de desconstituir uma custódia cautelar,
tais características associadas à carência de fundamentação na decisão primeva
que mantém o paciente no cárcere é bastante para lhe restabelecer o status
libertatis.. Se a decisão que contém o indeferimento do pedido de liberdade
provisória não está fundamentada em dados concretos dos autos, deve ser
cassada, sem prejuízo da decretação de nova prisão provisória, se fatos novos
assim a justificarem. (TJMG; HC 1.0000.14.051676-6/000; Rel. Des. Júlio Cezar
Guttierrez; Julg. 06/08/2014; DJEMG 13/08/2014)

HABEAS CORPUS.
Tentativa de homicídio qualificado e homicídio culposo. Art. 121, §2º, incisos II e
IV, c/c o art. 14, II, e, art. 121, §3º todos do Código Penal. Paciente condenado em
julgamento perante o tribunal do júri. Decretada prisão preventiva com

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fundamento na garantia da ordem pública e do cumprimento da Lei penal.
Ausência de fundamentos consoante art. 312 do CPP. Constrangimento ilegal
configurado. Segregação decretada antes do trânsito em julgado da condenação,
caracteriza constrangimento ilegal. Habeas corpus concedido. (TJPR; HC Crime
1206790-8; Irati; Primeira Câmara Criminal; Rel. Juiz Conv. Benjamim Acacio de
Moura e Costa; DJPR 05/08/2014; Pág. 348)

HABEAS CORPUS. CRIME DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO CULPOSO. PRISÃO EM


FLAGRANTE. PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA. FALTA DE REQUISITOS PARA
PRISÃO PREVENTIVA. DECRETO DESPIDO DE FATO CONCRETO A ENSEJAR A
CUSTÓDIA PRÉVIA. COAÇÃO EVIDENTE. LIMINAR RATIFICADA. ORDEM
CONCEDIDA.
A simples menção à gravidade abstrata do delito e a simples reprodução dos
termos legais do art. 312 do CPP (no caso a ordem pública), baseada em meras
suposições e divorciada de fatos concretos, não são suficientes para respaldar a
medida constritiva, ainda mais quando o único delito doloso praticado é o de
embriaguez ao volante, cuja pena máxima não excede a 3 (três) anos de detenção.
(TJMT; HC 86409/2014; Campo Novo do Parecis; Rel. Des. Onivaldo Budny; Julg.
30/07/2014; DJMT 01/08/2014; Pág. 254)

3 - DO PEDIDO DE “MEDIDA LIMINAR”

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A leitura, por si só, da decisão que decretou a prisão preventiva
do Paciente, demonstra na singeleza de sua redação a sua fragilidade legal e factual.

A ilegalidade da prisão se patenteia pela impossibilidade da


custódia provisória em casos de crimes culposos.

Igualmente o endereço do Paciente é certo e conhecido,


mencionado no preâmbulo desta impetração, não havendo nada a indicar que o Paciente irá
se furtar à aplicação da lei penal.

A liminar buscada tem apoio no texto de inúmeras regras,


inclusive do texto constitucional, quando revela, sobretudo, a ausência completa de
fundamentação na decisão em enfoque.

Por tais fundamentos, uma vez presentes a fumaça do bom


direito e o perigo na demora, requer seja LIMINARMENTE garantido ao Paciente a sua
liberdade de locomoção, sobretudo quando inexistem elementos a justificar a manutenção
do encarceramento.

A fumaça do bom direito está consubstanciada nos elementos


suscitados em defesa do Paciente, na doutrina, na jurisprudência, na argumentação e no
reflexo de tudo nos dogmas da Carta da República.

O perigo na demora é irretorquível, estreme de dúvidas e


facilmente perceptível, maiormente em razão da ilegalidade da prisão.
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Com efeito, encontram-se atendidos todos os requisitos da
medida liminar, onde, por tal motivo, pleiteia-se que

a expedição incontinenti de alvará de soltura, ou


sucessivamente,
seja ao Paciente concedido o direito à liberdade provisória, sem
fiança.

4 - EM CONCLUSÃO

O Paciente, sereno quanto à aplicação do


decisum, ao que expressa pela habitual pertinência jurídica dos
julgados desta Casa, espera deste respeitável Tribunal a concessão
da ordem de soltura do Paciente, ratificando-se a liminar almejada.

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de setembro do ano de 0000.

Fulano(a) de Tal
Impetrante - Advogado(a)

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