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AÇÃO PENAL

Possibilidade de ANPP em ações penais privadas.

De fato, o Código de Processo Penal e a Lei 9.099/95 não impõem nenhum empecilho para o
oferecimento do acordo de não persecução penal ou para a suspensão condicional do
processo nos crimes processados mediante ação penal pública incondicionada, ação penal
pública condicionada à representação ou mesmo ação penal privada.

Vale destacar, por oportuno, que nos crimes processados mediante ação penal privada o
legitimado à propositura do ANPP, em regra, seria o querelante, todavia o Ministério Público
poderia propor caso aquele não o fizesse.

O Ministério Público do Estado de São Paulo, inclusive, já se manifestou sobre o tema em um


de seus boletins, observe:

E hoje a matéria é pacífica, no tocante ao cabimento da transação penal e da suspensão


condicional do processo nos crimes de ação penal privada. Existe, a propósito, o Enunciado nº
112, do FONAJE, Fórum Nacional Permanente dos Juízes Coordenadores dos Juizados Especiais
Criminais, inclusive mediante proposta do Ministério Público:

"Na ação penal de iniciativa privada, cabem transação penal e a suspensão condicional do
processo, mediante proposta do Ministério Público (XXVII Encontro, Palmas, TO).

Na doutrina, há quem admita o acordo de não persecução penal para os crimes de ação
penal privada, ausente vedação legal, podendo inclusive o Ministério Público propor a
avença, como fiscal da lei.

Nesse sentido, Aury Lopes Júnior e Hygina Josita:

"...2ª) Cabe ANPP aos processos de ação privada? Sim. Cabível o ANPP por ausência de
vedação legal aos crimes de ação privada que tramitam na Justiça comum desafiando o rito
especial (art. 519 a 523, CPP) ou que tramitam no JECRIM, mas o querelante não tem direito a
transação, nem a sursis processual. Inclusive, pensamos que esse debate seguirá o mesmo
rumo que no passado existiu em torno da transação penal.

Para a primeira audiência de tratativas perante o Ministério Público deverá também a vítima
ser intimada para comparecimento, com vistas a exemplo do que ocorre na transação penal,
participar da audiência e discutir as condições. Caso não compareça ou se negue a oferecer o
acordo isso não impede o membro do Parquet o proponha, na qualidade de custos legis..."
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-mar-06/limite-penal-questoespolemicas-
acordo-nao-persecucao-penal - acesso em 29 de março de 2021.
Enfim, além de não existir vedação legal ao acordo de não persecução penal em ação
privada, e, por questão de simetria ao tratamento dispensado à transação e à suspensão
condicional do processo, em princípio não há óbice ao cabimento do acordo de não
persecução penal nos crimes de ação penal privada.

E como o Ministério Público exerce a função de fiscal da lei na ação penal privada, nos
termos do art. 45, do Código de Processo Penal, nada impede que supra a omissão dos
querelantes e proponha o acordo de não persecução penal, uma vez preenchidos os
requisitos objetivos e subjetivos elencados no art. 28-A, do Código de Processo Penal. (...)

REPRESENTAÇÃO:

**Debate sobre a possibilidade de incluir companheiro(a) no rol de legitimados para


representar ou oferecer queixa em face do falecimento do ofendido.

1ª A corrente doutrina que considera analogia in malam partem, visto que ao incluir o
companheiro o rol de legitimados, estaria sendo alargado o rol de legitimados capazes de
iniciar a persecução penal em face do auto do crime, o que seria maléfico em relação ao réu.
Há divergência na doutrina sobre a inclusão do companheiro no rol do art. 31 do CPP. Em que
pese o art. 226, 3º da CF, a inclusão do companheiro nesse rol produz efeitos diretos no direito
de punir do Estado, uma vez que quanto menor o número de sucessores processuais, maiores
as chances de se operar a decadência e consequente extinção da punibilidade. Nesse sentido,
trata-se de matéria de direito material, não podendo utilizar a analogia "in malam partem". Há
doutrina respeitada nesse sentido, como Renato Brasileiro.

2ª o tema já foi debatido no STJ, que considerou possível a inclusão:

Ementa da APn 912/RJ - STJ

QUEIXA-CRIME. ACUSAÇÃO CONTRA DESEMBARGADORA DO TJRJ. PRERROGATIVA DE FORO


NO STJ. CRIME DE CALÚNIA CONTRA PESSOA MORTA. QUEIXA PARCIALMENTE RECEBIDA.
2. Por se tratar de crime de calúnia contra pessoa morta (art. 138, 2.º, do Código Penal), os
Querelantes - mãe, pai, irmã e companheira em união estável da vítima falecida - são partes
legítimas para ajuizar a ação penal privada, nos termos do art. 24, 1.º, do Código de Processo
Penal (" 1.º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o
direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão"). 3. A
companheira, em união estável reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge para o
processo penal, podendo figurar como legítima representante da falecida. Vale ressaltar que
a interpretação extensiva da norma processual penal tem autorização expressa no
art. 3.º do CPP ("A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação
analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito"). 4. Ademais, "o STF já
reconheceu a 'inexistência de hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas
formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo doméstico', aplicando-se a união
estável entre pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e mesmas consequências da união
estável heteroafetiva' [...]". (RE 646721, Relator Min. MARCO AURÉLIO, Relator (a) p/ Acórdão:
Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO
REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-204 DIVULG 08-09-2017 PUBLIC 11-09-2017).
A companheira, em união estável homoafetiva reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge
para o processo penal, possuindo legitimidade para ajuizar a ação penal privada. STJ. Corte
Especial. APn 912-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/08/2019 (Info 654).

* PROCESSO JUDICIALIFORME

A ação penal sem demanda era a chamada Ação de Ofício, ou processo judicialiforme, onde o
juiz poderia dar início a um processo de ofício, sem ser provocado, o que não restou
recepcionado pela Constituição Federal de 1988.

Até o advento da Constituição Federal de 1988, era possível que o órgão jurisdicional desse
início a um processo penal condenatório de oficio (processo judicialiforme). Era o que ocorria
nas hipóteses estabelecidas na Lei n°4.611/65 (crimes culposos de lesão corporal ou de
homicídio) e nos casos de contravenções penais: vide arts. 26 e 531 (o art. 531 teve sua
redação alterada pela Lei n°11. 719/08). Consistia o processo judicialiforme, assim, na
possibilidade de se dar início a um processo penal através de auto de prisão em flagrante ou
por meio de portaria expedida pela autoridade policial ou judiciária, daí por que era
denominado de ação penal ex officio (sem provocação).

Com a outorga da titularidade da ação penal pública ao Ministério Público pela Constituição
Federal, doutrina e jurisprudência já eram uníssonas em apontar que os arts. 26 e 531 (em sua
redação original) não haviam sido recepcionados pela Carta Magna de 1988. Com a reforma
processual de 2008, não há mais qualquer dúvida acerca da inaplicabilidade de tais
dispositivos: a uma, porque o art. 531 teve sua redação modificada, dispondo, atualmente,
sobre o procedimento sumário; a duas, porque o art. 257, I, do CPP, passou a prever de
maneira expressa que ao Ministério Público cabe promover, privativamente, a ação penal
pública, na forma estabelecida no CPP, revogando, tacitamente, o art. 26 do CPP.

* AÇÃO DE PREVENÇÃO PENAL

Segundo Renato Brasileiro, a ação de prevenção penal é aquela ajuizada com o objetivo de se
aplicar ao inimputável do art. 26, caput, do CP, exclusivamente, medida de segurança.

Para Tourinho Filho: , A AÇÃO PENAL CONDENATÓRIA SE BIFURCA

1. AÇÃO PENAL PROPRIAMENTE DITA, tendo por finalidade a aplicação a pena privativa
de liberdade.
2. AÇÃO DE PREVENÇÃO PENAL, visando à imposição de medida de segurança. No
entendimento de Noberto Avena, a essa modalidade de ação penal, que
visa, exclusivamente, à absolvição com aplicação de medida de segurança
(denominada de absolvição imprópria) dá-se o nome de ação de prevenção penal.

Entretanto, para o Cebraspe, nas ações de prevenção é possível ter-se sentença declaratória,
como de extinção da punibilidade pela prescrição, que não se confunde com a de absolvição.

AÇÕES PENAIS PRIVADAS:

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça adota o entendimento de não ser cabível


perempção antes do recebimento da peça acusatória, vejamos:
AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSO PENAL. QUEIXA-CRIME.
CRIMES CONTRA A HONRA. CALÚNIA. PEREMPÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO DO ART.
41 DO CPP. INÉPCIA DA INICIAL. INEXISTÊNCIA. DESCRIÇÃO SUFICIENTE DOS FATOS.
PRECEDENTES. Nos termos do artigo 60, inciso I, do Código de Processo Penal, não há falar
em perempção antes do recebimento da queixa-crime, devendo ser afastada sua ocorrência
em razão do não comparecimento dos querelantes ou de seu advogado na sessão de
julgamento em que foi recebida a inicial acusatória. Não há falar em inépcia da queixa-crime
que narra devidamente as condutas criminosas imputadas ao recorrente, com todas as
circunstâncias relevantes, indicando no que teria consistido o crime de calúnia por ele
praticado, consistente na imputação aos querelantes de fato criminoso consubstanciado no
desvio e apropriação de recursos recebidos pelos institutos por eles presididos. Agravo
regimental improvido. (STJ, 6ª Turma, AgRg REsp 1670607/SP, Rel. Min. Maria Thereza de
Assis Moura, j. 05/04/2018, DJe 16/04/2018)

Conforme o artigo 107 do CP:

"Extingue-se a punibilidade:

pela morte do agente;

pela anistia, graça ou indulto;

pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;

pela prescrição, decadência ou perempção;

pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;

pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;

pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei".

As hipóteses que possuem caráter personalíssimo não se comunicam com os coautores e


partícipes, como a morte do agente, o perdão judicial, a retratação, e a prescrição.

A única hipótese que se comunica é a perempção. A perempção é a perda do direito de seguir


na ação em razão da inércia do querelante, que tem como consequência a extinção da
punibilidade em relação ao querelado. Nessa hipótese, os coautores e partícipes também
serão beneficiados, pois o querelado estará impedido de seguir com a ação penal privada.
FATO TIPICO

TIPICIDADE

tipicidade penal = tipicidade formal + tipicidade material.

Tipo – É um modelo genérico criado pelo legislador. Ex: redação do art. 121 CP

Tipicidade – É o juízo de subsunção pelo qual se afere se a conduta praticada na vida real se
encaixa no modelo de tipo penal criado pelo legislador

O tipo penal define o crime e a pena (tipo incriminador).

- Tipo penal fundamental: possui apenas núcleo e elementos.

- Tipo penal derivado: possui núcleo, elementos e circunstâncias. (essas circunstancias se


agregam ao tipo fundamental para aumentar ou diminuir a pena, exemplo: qualificadoras,
privilégios, causas de aumento ou diminuição).

Elementos do tipo:

1. OBJETIVOS - são aqueles que exprimem um juízo de certeza compreensível por


qualquer pessoa, não precisam de valoração parar ser compreendidos. Ex: alguém do
crime de homicídio.
2. SUBJETIVOS –vai além do dolo e tem relação com o especial fim de agir buscado pelo
agente. Ele era chamado de dolo específico pela doutrina clássica e a doutrina
espanhola o denomina de elemento subjetivo do injusto. É a finalidade especial
buscada pelo agente.
3. NORMATIVOS – exigem valoração por parte do aplicador do direito. Ex: o que se
entende por ato obsceno.
Essa valoração pode ser:
c.1. Jurídicos ou impróprios: são aqueles cuja compreensão depende de análise de um
conceito fornecido pelo Direito. Exemplo: “documento”; “funcionário público”.
c.2. Culturais, morais ou extrajurídicos: são aqueles envolvem conceitos de outras
áreas do conhecimento. Exemplos: “ato obsceno”; “fogo”; “veneno” - o conceito de
veneno é fornecido pela química.
4. MODAIS- Os elementos modais são aqueles que dizem respeito ao tempo, local e
modo de execução do crime. Exemplo de crime modal: art. 123, CP – crime de
infanticídio - como o crime deve ser praticado “durante o parto ou logo após” só há
crime se a mãe mata o próprio filho durante o parto ou logo após (condição de
tempo). A maior parte da doutrina entende que esses elementos já estão inseridos nos
estudados anteriormente.

Classificação doutrinária do tipo penal

Tipo normal: é aquele que, além do núcleo, contém somente elementos objetivos.

Tipo anormal: é aquele que, além do núcleo e elementos objetivos, contém elementos
subjetivos e/ou normativos.

Obs.: Para o finalismo penal todo tipo é anormal (o dolo e a culpa estão no tipo penal).
Tipo fechado/cerrado: é aquele que contém descrição detalhada/completa/minuciosa da
conduta criminosa. Exemplo: homicídio simples; furto simples.

Tipo aberto: é aquele que não contém descrição detalhada/completa/minuciosa da conduta


criminosa. O tipo aberto contempla alguns elementos normativos, de forma que a
compreensão do tipo aberto demanda juízo de valor.

• Os tipos culposos estão contidos em tipos penais abertos, Exceção: receptação culposa (art.
180, §3º, CP). CP, Art. 180, § 3º. “Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela
desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se
obtida por meio criminoso: (

Tipo simples: é aquele que contém um único núcleo. Exemplo: homicídio (núcleo: matar),
furto (núcleo: subtrair).

Tipo misto: é aquele que contém dois ou mais núcleos e pode ser:

a) alternativo; crime de ação múltipla; ou crime de conteúdo variado: é aquele que contém
dois ou mais núcleos e a prática de dois ou mais desses núcleos contra o mesmo objeto
material caracteriza um único crime. Exemplo: tráfico de drogas – o art. 33, caput, da Lei
11.343/2016 possui 18 núcleos. Obs.: Se as condutas são praticadas contra objetos/matérias
diversos tem-se concurso de crimes. Exemplo: importar cocaína, guardar maconha e vender
heroína – nesse caso, são três crimes distintos.

b) cumulativo: contém dois ou mais núcleos e a prática de dois ou mais núcleos caracteriza
concurso de crimes. Exemplo: art. 242, CP - se o agente pratica dois ou mais núcleos desse
artigo, ele responde por todos eles em concurso de crimes. CP, art. 242, caput: “Dar parto
alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido ou substituí-
lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:”

Tipo congruente e tipo incongruente

Tipo congruente: é aquele em que há coincidência entre a vontade do agente e o resultado


produzido. Exemplo: crime doloso consumado – “matar alguém”: o agente mata a vítima e o
crime se consuma.

Tipo incongruente é aquele em que não há coincidência entre a vontade do agente e o


resultado produzido (o resultado que o agente pretendia produzir). Exemplo: crime culposo

Tipo preventivo “crime obstáculo”. O crime obstáculo é aquele em que o legislador antecipa a
tutela penal por tipificar como crime autônomo um ato que isoladamente considerado
representaria a mera preparação de outro crime. Exemplo: porte ilegal de arma de fogo;
petrechos para a falsificação de moeda (art. 291, CP), associação criminosa (art. 288 do CP);
organização criminosa (art. 1º da Lei 12.850/13)

DOLO

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