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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO
PROCESSO PENAL II (noite) 2021.1
PROF. SÉRGIO REBOUÇAS

ALUNO(A): EVERSON PEREIRA DUARTE


MATRÍCULA: 513867

QUESTIONAMENTOS:

1. Diferencie os diferentes níveis de acesso à comunicação: interceptação


telefônica, escuta telefônica e gravação telefônica.
RESPOSTA: A Lei 9.296/96 regulamenta o instituto da interceptação das
comunicações telefônicas. Tal dispositivo regulamenta o inciso XII do Art 5º da
Constituição Federal, que declara a inviolabilidade das comunicações, exceto por ordem
judicial, para fins de investigação criminal ou instrução processual penal.
Desta forma, a Lei 9.296/96 diferencia os níveis de acesso à comunicação da
seguinte forma:
a) A interceptação telefônica é a obtenção de prova na qual nenhum dos
interlocutores sabe que a conversa está sendo gravada por um terceiro, e somente é lícita
mediante ordem judicial.
b) Na escuta telefônica, um dos interlocutores sabe que a conversa está sendo
gravada por um terceiro e concorda com o procedimento. Sua licitude está ligada à
autorização judicial;
c) A gravação telefônica é realizada por um dos interlocutores, mesmo que com
apoio de terceiro, conforme decisão da Sexta Turma do STJ.
Cabe também ressaltar, que o Art 2º da Lei 9.296/96 as hipóteses de não cabimento
da interceptação telefônica.
2. A suspensão do processo penal ocorre quando citado por edital, o acusado não
aparece ou não constitui advogado. O prazo prescricional da ação fica suspenso para
sempre? Discorra sobre, referindo a posição dominante na jurisprudência.
RESPOSTA: O Art 366 do Código de Processo Penal estabelece a suspensão do
processo penal e do prazo prescricional e não determina o período destas suspensões.
Porém, somente a Constituição Federal pode elencar a imprescritibilidade de certos
crimes (racismo e a ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado
Democrático), sendo vedada ao legislador ordinário a criação de novas hipóteses de
imprescritibilidade. Tal lacuna legislativa ensejou em vários posicionamentos
diferentes.
A corrente mais adotada até último julgamento do STF em 2020, e que gerou a
súmula 415 do STJ, estabeleceu que o prazo prescricional seria regulado pelo tempo
máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, nos termos do Art 109 do
Código Penal. Após esse prazo, a despeito da suspensão do processo permanecer
suspenso, o prazo prescricional voltaria a correr.
Todavia, havia também divergências dentro do próprio STJ no qual adotava-se o
regulamentado na súmula 415 com relação a suspensão do prazo prescricional, mas
levando o mesmo prazo para o prosseguimento do processo penal, no qual era nomeado
um defensor dativo.
Cabe ressaltar que apesar dessa corrente ser a mais adotada no STJ, no STF o
entendimento era das suspensões permanecerem por prazo indeterminado.
Por fim, o entendimento adotado na súmula 415 do STJ, foi confirmado
integralmente pelo STF, pacificando a questão, no RE nº 600.851/20.
3. Explique e diferencie a emendatio libelli e a mutatio libelli e discorra sobre suas
relações com a regra da correlação entre acusação e sentença.
RESPOSTA: a emendatio libelli e a mutatio libelli são instrumentos possíveis de
serem utilizados pelo juiz a fim de se alcação o postulado normativo da regra da
correlação entre acusação e sentença, Isto é, os fatos narrados da petição inicial devem
ter relação lógica com a sentença.
Ao proferir a sentença, o juiz, ao verificar que a tipificação do crime não
corresponde aos fatos narrados na petição inicial, poderá aplicar a emendatio libelli,
atribuindo nova tipificação jurídica apesar de fatos narrados na inicial serem exatamente
iguais aos fatos provados.
A emendatio libelli está positivada no Art 383, do CPP:
O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou
queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em
conseqüência, tenha de aplicar pena mais grave.

Já a mutatio libelli pode ser utilizada pelo juiz quando ele verifica que os fatos
provados na instrução probatória não correspondem aos fatos narrados na inicial. Neste
caso, o juiz deverá remeter ao Ministério Público para aditar a peça inicial.
Podemos verificar a mutatio libelli no Art 384, do CPP:
Encerrada a instrução probatória, se entender cabível nova definição
jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de
elemento ou circunstância da infração penal não contida na acusação, o
Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5
(cinco) dias, se em virtude desta houver sido instaurado o processo em
crime de ação pública, reduzindo-se a termo o aditamento, quando feito
oralmente.
4. Discorra sobre a teoria da serendipidade (encontro fortuito de provas) na busca e
apreensão, referindo as posições na jurisprudência.
RESPOSTA: A serendipidade é o encontro de provas, de forma inesperada, de
crimes não relacionados àquele que está sendo investigado. Tal fato pode ocorrer em
interceptações de comunicações, busca e apreensão e em outros procedimentos de
obtenção de provas.
Existem duas posições sobre essa teoria:
A primeira chama-se serendipidade de primeiro grau, e exige que a prova tenha
nexo causal com o crime que está sendo investigado originariamente. Essa posição
argumenta ser inadmissível a violação da garantia constitucional de privacidade sem
autorização judicial. Argumenta ainda, que no caso de busca e apreensão, o juiz delimita
o âmbito de abrangência da investigação ao fato a ser provado, de modo que qualquer
prova obtida, diversa do objeto investigado, estaria sem respaldo legal.
A segunda chama-se serendipidade de segundo grau não exige nexo de causalidade
entre a prova fortuita e o fato a ser investigado. Essa é a jurisprudência é consolidada
pelo STF desde 2016.
Argumenta-se, que a exigência de nexo causal supracitado viola o princípio da
proporcionalidade por exigir da autoridade investigante um conhecimento prévio que
ela não tem condições de possuir. Além disso, a busca e apreensão são medidas
autorizadas judicialmente, portanto estariam sob a proteç ão legal e ignorar a
descoberta de novo crime seria abraçar injustificadamente a impunidade.
5. Discorra sobre a ação civil ex delicto, seu objetivo, suas formas e os efeitos de
uma sentença penal absolutória sobre ela.
RESPOSTA: a ação civil ex delicto tem por objetivo reparar um dano causado por um
fato criminoso, nos termos do Art 63 do Código de Processo Penal. Ou seja, transitada
em julgado a ação penal condenatória, o ofendido poderá promover uma ação cível de
reparação do dano causado.
A execução desta reparação poderá ser fixada nos termos do inciso IV do caput do
Art 387 do CPP, tornando a sentença condenatória criminal obrigação certa, exigível e
líquida.
Ao mesmo tempo, a sentença absolutória não impede a propositura da ação civil ex
delicto, como prevê os Art 66 e inciso III do Art 67 do CPP. Neste caso, o juiz da ação
cível poderá aplicar o Art 315 do Código de Processo Civil, suspendendo o processo da
seguinte forma:
Art. 315. Se o conhecimento do mérito depender de verificação da
existência de fato delituoso, o juiz pode determinar a suspensão do
processo até que se pronuncie a justiça criminal.

§ 1º Se a ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) meses,


contado da intimação do ato de suspensão, cessará o efeito desse,
incumbindo ao juiz cível examinar incidentemente a questão prévia.

§ 2º Proposta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo prazo


máximo de 1 (um) ano, ao final do qual aplicar-se-á o disposto na parte
final do § 1º.

Cabe ressaltar que a sentença que absolve o réu por excludente da


antijuridicidade, nos termos do art. 65 do Código de Processo Penal, impede a
propositura da ação supracitada, pois não houve crime.
Entretanto, nos casos de excludente de culpabilidade, a ação ex delicto deve ser
proposta contra o mandante ou coautor.

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