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1.

Da citação e resposta à acusação + Absolvição Sumária

Após o recebimento da peça acusatória, o juiz vai então determinar a citação do acusado
para que ele possa responder à acusação, sendo essa resposta por escrito e no prazo de
10 (dez) dias. Isso conforme o art. 396, caput, CPP.

Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o


juiz, se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para
responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

A citação deve ser feita pessoalmente, via de regra. A exceção será naqueles casos em
que o acusado não for encontrado, em que haverá, então, a citação por edital. Há,
também, a situação da citação por hora certa, caso o acusado se oculte para não ser
citado, em que será nomeado defensor dativo e o processo retornará ao seu curso.

Para os casos de citação por edital = Se não apresentada a resposta à acusação, deve ser
determinada a suspensão do processo e da prescrição, nos termos do art. 366 do CPP.

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz
determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso,
decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

Interessante é citar o entendimento de Renato Brasileiro, de que essa apresentação de


defesa, chamada de Resposta à acusação, não se confundiria com a defesa prévia (já
extinta, que ocorria quando o réu ou defensor, logo após o interrogatório ou no prazo de
3 (três) dias, oferecia alegações escritas e arrolava testemunhas). Com as alterações da
Lei 11.719 de 2008, o procedimento comum ordinário foi modificado e tal redação foi
extinta.

Outra situação em que não se poderia confundir a resposta à acusação, é com a defesa
preliminar. Isto porque, enquanto a resposta a acusação vem após o recebimento da peça
acusatória e da citação do acusado, a defesa preliminar é aquela oportunidade dada ao
acusado de ser ouvido antes de o juiz receber a peça acusatória, visando impedir a
instauração de um processo. E essa defesa preliminar vem a caber em outros
procedimentos, como a lei de drogas, nos Juizados Especiais Criminais... enfim, que não
são objeto do procedimento comum ordinário.

Quadro comparativo:
A resposta à acusação tem previsão no art. 396-A do CPP, e antes de verificar o escopo
legal, é importante observar: Conforme Renato Brasileiro, a resposta à acusação visa,
principalmente, a Absolvição sumária do réu, visto que a peça acusatória já foi recebida
pela autoridade judiciária. A absolvição sumária está delineada no art. 397 do CPP,
juntamente às suas hipóteses que eventualmente poderão fazer com que o juízo encerre
o processo.

Mas defensor deverá também se ater ao 396-A, caso não venha a ocorrer a Absolvição
Sumária após os autos retornarem da conclusão ao juiz.

Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá argüir preliminares e alegar tudo o que
interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas
pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação,
quando necessário. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Mas é importante dizer que a resposta à acusação e o aprofundamento dessa defesa


depende também do caso concreto, podendo o advogado, se assim ele estiver
convencido da suficiência dos seus elementos probatórios, emprenhar-se em formar o
convencimento do juiz no sentido para um julgamento antecipado da lide, por exemplo.
Se assim não entender, poderá também não antecipar seus argumentos nesse momento.

Nessa resposta à acusação, a defesa também poderá arguir exceções processuais, e estas
serão processadas em apartado:
§ 1o A exceção será processada em apartado, nos termos dos arts. 95 a 112 deste
Código. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

§ 2o Não apresentada a resposta no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir


defensor, o juiz nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por
10 (dez) dias.

E ainda, a resposta à acusação não pode ser apresentada pelo próprio acusado, a não ser
que este seja advogado. Sendo a resposta à acusação de mérito e obrigatória, somente
profissional da advocacia pode oferecer e a contagem do prazo processual de 10 dias
para responder inicia a contagem a partir da sua efetiva citação. (e não da data da
juntada aos autos do mandado ou da carta precatória). Esse entendimento está na
Súmula 710 do STF:

No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos


autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

Importante! O prazo para defensor público não será de 10 dias, mas sim 20 dias, já que
esses profissionais gozam do prazo em dobro.

Se o acusado for citado por edital e não apresentar resposta, vigora o art. 366 do CPP,
elencado anteriormente. Se ele tomar conhecimento, daí surge o Parágrafo único do Art.
396, CPP, em que o prazo flui a partir do seu:

Parágrafo único. No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a
fluir a partir do comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído.

Por fim, a não apresentação da resposta à acusação no processo implicará em nulidade


absoluta, por isso, se o citado não constituir defensor, o juiz nomeará um para que a
ofereça. Tendo o réu sido citado pessoalmente e ainda assim deixou de apresentar
resposta à acusação, o processo correrá a sua revelia. Se ele comparecer em momento
posterior, aí cessam os efeitos da revelia e ele participará do processo no estado em que
se encontra.

2. Possível Oitiva da acusação:

No procedimento comum ordinário, nada diz a lei acerca de oitiva do Ministério Público
(ou do querelante) após a apresentação da resposta à acusação pelo acusado, tanto que o
art. 397 do CPP segue no sentido da conclusão dos autos, para a análise de uma possível
absolvição sumária.

Contudo, há correntes doutrinárias que entendem que deve se observar o princípio do


contraditório e, por isso, precisaria o juiz abrir vista dos autos ao Ministério Público ou
ao querelante após a apresentação da resposta, quando a defesa apresentar alegações,
fatos ou provas que a acusação não tinha prévia ciência.

No HC 105.739/RJ, STF, 1ª Turma, o STF entendeu que quando apresentada resposta à


acusação com arguição de preliminares, é plenamente possível a oitiva do Ministério
Público para que haja definição quanto à sequência, ou não, do processo penal,
observando-se ao contraditório. Mas observe que, quando a manifestação defensiva se
restringir à refutação genérica da acusação (do MP ou querelante), aí não há necessidade
de se ouvir a acusação, para que não seja violado o princípio da paridade de armas. Isto
porque a acusação viria a sempre se pronunciar duas vezes.

3. Da proposta de Suspensão Condicional do Processo.

No procedimento comum ordinário, há uma “oportunidade processual” em que deve ser


oferecido ao acusado uma eventual proposta de suspensão condicional do processo
formulada pelo Ministério Público.

Antes da Lei nº 11.719/08, essa oportunidade era no interrogatório (primeiro ato da


instrução probatória). Porém, com a reforma processual de 2008, tendo o interrogatório
sido deslocado para o final da audiência una de instrução e julgamento, essa lei não
tratou qual seria agora tal momento.

Há a corrente que entende que a proposta de suspensão condicional do processo deva


ser feita apenas ao final da audiência una de instrução e julgamento. Então, após a
colheita de toda a prova oral o juiz indagaria ao acusado se ele aceita ou não a proposta
formulada pelo MP.

E há a corrente que afirma que a oportunidade processual correta para o oferecimento da


proposta é imediatamente antes da designação da audiência una de instrução e
julgamento, quando afastada a possibilidade de absolvição sumária do acusado. Em
resumo, o juiz determinaria a notificação do acusado para comparecer em juízo somente
com o objetivo de dizer, na presença de seu defensor, se aceita ou não a proposta
oferecida. Se rejeitada a proposta, será designada a audiência de instrução e julgamento,
pois o procedimento seguirá seu curso normal, já que não ocorreu a absolvição sumária
ou aceite.

4. Designação da audiência e realização:

Nesse sentido, observa-se o art. 399, CPP:

Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a
audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério Público
e, se for o caso, do querelante e do assistente. (Redação dada pela Lei nº
11.719, de 2008).

§ 1o O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o


poder público providenciar sua apresentação. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).

§ 2o O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença. – Princípio da


identidade física do juiz

Com a ressalva de que também será necessária a notificação do ofendido, mesmo ele
não sendo querelante ou assistente do MP ou não tenha sido requerido o depoimento de
qualquer das partes. Isto porque a vítima também precisa ser comunicada dos atos
processuais.

Prazo: A lei não trata de prazo ou antecedência mínima para a intimação das partes, mas
deve-se observar uma antecedência razoável, por assim dizer, em relação à data
designada. Já houve julgados que trataram da antecedência mínima de 48 horas, ao
passo que também há a aplicação subsidiária do CPC, sendo o prazo, entre a data da
publicação da pauta e da sessão de julgamento, de pelo menos 5 (cinco) dias.

Prazo para ocorrer a audiência uma instrução e julgamento: Prazo máximo de 60 dias,
conforme art. 400, CPP. Isso em teoria, já que nada a lei diz se esse prazo do
procedimento ordinário seria quanto ao acusado solto ou preso, aplicando-se a ambos.
Para o acusado preso, há prioridade e deve-se evitar excesso. Para o acusado solto, seria
um prazo “impróprio”, que não traz maiores consequências.

Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de


60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição
das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o
disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às
acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o
acusado.

Aspecto prático: Tais prazos são impraticáveis, visto a superlotação de inquéritos e


processos nas varas criminais. A doutrina, em suma, dispõe do entendimento que esse
prazo restaria importante somente ao acusado preso, em razão das suas circunstâncias.

Quanto à produção de provas, embora haja a faculdade para produzir e requerer elas,
é completamente possível que haja decisão judicial fundamentada recusando certa
prova ou afastando-as quando forem ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou
protelatórias.

§ 1o As provas serão produzidas numa só audiência, podendo o juiz indeferir as


consideradas irrelevantes, impertinentes ou protelatórias. (Incluído pela Lei nº
11.719, de 2008).

a) Prova irrelevante: é aquela que, apesar de tratar do objeto da causa, não possui
aptidão de influir no julgamento da causa (v.g., acareação por precatória);

b) Prova impertinente: é aquela que não diz respeito à questão objeto de discussão no

processo;

c) Prova protelatória: é aquela que visa apenas ao retardamento do processo.

Juiz também pode negar perícia requerida pelas partes, quando não for necessário o
esclarecimento da verdade (exceção: corpo de delito) e na oitiva de testemunhas,
também pode indeferir perguntas que não tenham relação com a causa ou que torne a
repetir pergunta já respondida.

Do requerimento de diligências originados pelo que foi apurado na instrução: Será


feito na própria audiência. Exceção: Se o interrogatório for por meio de CP, aí se admite
vista dos autos às partes, para que manifestem se há interesse em realizar diligência, no
prazo de 5 dias.

Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o


querelante e o assistente e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja
necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na
instrução. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Se a diligência era de necessidade à época do início do processo: Em tese, já deveria
ter sido formulado no oferecimento da peça acusatória ou no da resposta à acusação.

4. Alegações orais/memoriais e Sentença.

Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão


oferecidas alegações finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela
acusação e pela defesa, prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir,
sentença.

§ 1o Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será


individual – visando a paridade de armas.

§ 2o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação desse, serão concedidos


10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa

§ 3o O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados,


conceder às partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de
memoriais. Nesse caso, terá o prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença. –
Memoriais, realizados na forma escrita.

E se houver diligência imprescindível: A audiência será concluída sem as alegações


finais

Art. 404. Ordenado diligência considerada imprescindível, de ofício ou a requerimento


da parte, a audiência será concluída sem as alegações finais.

Parágrafo único. Realizada, em seguida, a diligência determinada, as partes


apresentarão, no prazo sucessivo de 5 (cinco) dias, suas alegações finais, por
memorial, e, no prazo de 10 (dez) dias, o juiz proferirá a sentença

- As alegações são o último ato postulatório das partes antes da prolação da sentença.
Primeiro a acusação, depois o assistente deste, se houver, e por fim o Defensor.

E se não forem apresentados alegações?

Corrente minoritária: Acredita que não são termos essenciais do processo, sendo mera
faculdade das partes.

Na ótica do MP: A não apresentação pode ser tratada pelo Magistrado como tentativa
de desistência do processo. O que é incompatível com o dever legal do MP, em razão da
indisponibilidade da ação penal pública. Tal entendimento está ligado ao doutrinador
Renato Brasileiro. Obs: Julgados do STJ que vão a contrario sensu e hoje entendem
que a não apresentação compõe mera irregularidade.

E se for ação penal privada? Sendo crime de ação penal privada subsidiária da
pública, e evidenciada essa negligência do querelante, o MP retomará a ação como parte
principal. Se for exclusivamente privada e personalíssima: Daí o querelante não
postulou a condenação do acusado, acarretando na extinção da punibilidade em face da
perempção.

Na ótica da defesa: É a última oportunidade de manifestação antes da sentença, sendo


imprescindível, em face do princípio da ampla defesa. Se o advogado não apresentar e
verificada sua negligência ou má-fé, pode o juiz intimar o acusado para constituir novo
advogado, sob pena de ser nomeado defensor dativo, visto que o acusado não pode ser
prejudicado pelo descuido do defensor.

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