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Tribunal Regional do Trabalho

Direito Processual Civil

Resposta do Réu
RESPOSTA DO RÉU

1. Respostas do Réu

O réu, integrado à relação jurídica processual por meio da citação, passa a ter ciência da
existência da demanda movida contra ele, sendo essa a sua primeira informação dentro do
procedimento.

Desse modo, o réu, pelos princípios do contraditório e da ampla defesa, tem o direito de
estruturar sua forma de atuar no processo, defendendo-se daquilo que pretende o autor, bem
como, se for o caso, pedindo e até reconvindo.

Apesar das inúmeras espécies de resposta do réu, analisaremos somente duas delas: a
contestação e a reconvenção.

1.1 Contestação

A contestação será oferecida em um prazo de 15 dias, incumbindo ao réu alegar toda a sua
matéria de defesa (Princípio da Eventualidade ou Concentração de defesa), expondo as razões
de fato ou de direito com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que serão
produzidas. Em outras palavras, ela deve ser protocolada em Cartório em 15 dias, não basta
que seja despachada pelo juiz. A pretensão constante da contestação é sempre declarativa
negativa. Outrossim, como a reconvenção é apresentada no corpo da contestação, seu prazo é
o mesmo.

O termo a quo para a contagem desta quinzena é a data da audiência de tentativa de


conciliação. Caso não ocorra esta audiência, seja pelo desinteresse de ambas as partes, seja em
razão do direito em questão ser indisponível, a data será da petição do réu informando que
não deseja tentar a conciliação. O termo inicial nesse caso independe de qualquer intimação
específica para a prática do ato.

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Ainda, havendo litisconsórcio passivo, o prazo de cada um terá termo inicial autônomo,
contado do protocolo do respectivo pedido de não realização da audiência (a qual, não custa
frisar, para a maioria da doutrina, somente não será realizada se todos os litisconsortes, ativos
e passivos, declararem desinteresse – em caso contrário, ela será realizada e todos deverão
comparecer, obrigatoriamente).

O prazo para resposta será duplicado se o réu for Fazenda Pública ou Ministério Público,
se o réu for defendido pela Defensoria Pública ou se houver litisconsórcio com procuradores
diferentes.

Enunciado 122, da II Jornada de Processo Civil do CJF/STJ: O prazo de contestação é


contado a partir do primeiro dia útil seguinte à realização da audiência de conciliação ou
mediação, ou da última sessão de conciliação ou mediação, na hipótese de incidência do art.
335, inc. I, do CPC. O prazo começa a correr a partir da audiência de tentativa de conciliação.
(art. 335, I, do CPC).

Enunciado 510 do FPPC: Frustrada a tentativa de autocomposição na audiência referida no


art. 21 da Lei 9.099/1995, configura prejuízo para a defesa a realização imediata da instrução
quando a citação não tenha ocorrido com a antecedência mínima de 15 dias.

Enunciado 124, da II Jornada de Processo Civil do CJF/STJ: Não há preclusão consumativa


do direito de apresentar contestação, se o réu se manifesta, antes da data da audiência de
conciliação ou de mediação, quanto à incompetência do juízo.

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Além do mencionado, deve o réu alegar toda a matéria de defesa na contestação (art. 336,
do CPC), de acordo com o princípio da eventualidade/concentração da defesa. Nesse sentido,
não há que se falar em ampliação dos limites objetivos da demanda com a contestação: o
pedido e a causa de pedir estão na petição inicial. Somente os fundamentos de fato e de direito
da petição inicial que formam a causa de pedir; os fundamentos de defesa, não. Todavia, é
certo dizer que a contestação amplia a cognição do magistrado, já que este deverá analisá-la
ao sentenciar.

Neste sentido, antes de analisar as defesas de mérito propriamente ditas, o juiz deve avaliar
as chamadas de defesas processuais, referentes com à regularidade processo. As defesas de
mérito podem ser divididas em duas: i) diretas, as quais tratam de negação do fato constitutivo
do direito do autor; ou ii) indiretas, quando, apesar de o réu reconhecer fato constitutivo, ele
opõe outro, impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do demandante.

Quando o réu apresentar qualquer fato que possa modificar, impedir ou extinguir o direito
do autor, este será intimado para apresentar impugnação à contestação, no prazo também de
15 dias, por meio de réplica. Isso porque, em respeito ao princípio do contraditório, o autor
tem o direito de influenciar na decisão do julgador a respeito das alegações do réu em sua
contestação.

Note-se, por oportuno, que ao autor cumpre tão somente responder às alegações novas do
réu. De forma que, se trouxer novas alegações também, o réu poderá triplicar, naturalmente,
em respeito aos princípios da isonomia e contraditório. Mas isso ocorrerá excepcionalmente,
ok?

No que tange às defesas relacionadas à regularidade do processo, o art. 337 (do CPC) prevê
as hipóteses de alegações preliminares à contestação1, sendo que, por ter incluído diversas
novas hipóteses, que antes eram alegadas por meio de exceção, é um assunto recorrentemente
cobrado em prova. Assim, o candidato deve ter conhecimento claro sobre todo o rol de
preliminares. No entanto, este não é taxativo.

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São tratadas como defesas preliminares em razão do local ideal dentro da contestação para
serem alegadas (antes das defesas de mérito). Frise-se, cabe ao juiz analisar as defesas
processuais antes das defesas de mérito (defesas substanciais). O ponto em comum que reúne
todas essas espécies de defesa é a sua característica de não dizerem respeito propriamente
ao direito material alegado pelo autor, mas tão somente à regularidade formal do processo.

Com exceção da incompetência relativa e do compromisso arbitral, as preliminares


devem ser conhecidas de ofício, razão pela qual não precluem caso não alegadas na
contestação pelo réu. Em outras palavras, as defesas podem ser divididas assim: i) as de ordem
pública, que são aquelas que podem ser conhecidas pelo juiz de ofício (objeções); e ii) as que
não são de ordem pública e, que, portanto, devem ser alegadas ou precluem (exceções).

Desse modo são defesas processuais, segundo o art. 337, do CPC, são:

• Inexistência ou nulidade da citação

Quando a citação não foi efetivamente realizada, por não ter sequer existido a citação como
ato notificatório do réu. Outra situação que pode ser tratada em preliminar vem a ser a nulidade
da citação, quando em verdade o ato citatório se realizou, mas de forma inválida.

• Incompetência absoluta e relativa

As incompetências absoluta e relativa restam arguíveis na contestação como preliminar de


mérito, visando a resolver a questão o quanto antes possível, evitando perda de tempo para a
estrutura do processo. Isso porque, correndo ação perante juízo incompetente, há grandes
chances de haver algum prejuízo para as partes, o que, por sua vez, fará com que os atos sejam
nulos.

Nesse ponto, convém fazer um destaque: caso o réu alegue incompetência como preliminar
de contestação, ele poderá apresentar a defesa no foro do seu próprio domicílio, o que deverá
ser comunicado ao juiz da causa de imediato e, se possível, por meio eletrônico. Nesta hipótese,
a distribuição da contestação será feita por dependência para o juízo que recebeu a carta
precatória de citação do réu. Outrossim, reconhecida a competência do foro indicado pelo réu
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(diferente daquele indicado pelo autor, pois), o juízo para o qual foi distribuída a contestação
ou a carta precatória será considerado prevento (art. 340, §2º, CPC), desde que seja competente
para a causa (Enunciado 426 do FPPC).

• Incorreção do valor da causa

Busca-se aqui, antes de discutir o mérito, evitar desnecessária discussão sobre o valor da
causa, fazendo com que, em sede de preliminar de mérito, na contestação, o réu traga esta
questão para que possa, de imediato, ser resolvida pelo juiz, pois, conforme estruturado o valor
da causa, há de ser recolhido o valor de distribuição da demanda e potencial forma de fixação
dos honorários sucumbenciais.

• Inépcia da petição inicial

É verificada pelo juiz antes mesmo da citação, acarretando o indeferimento da inicial. No


entanto, caso o juiz não o faça, compete ao réu alegar em preliminar, cujo acolhimento
acarretará a extinção do processo sem resolução de mérito. Vale lembrar que já estudamos
os casos de inépcia da petição inicial.

• Perempção

Concretiza-se em caso de extinção da demanda por 3 vezes em razão do abandono,


porquanto há proibição de propositura de nova demanda, pela 4ª vez, contra o réu com o
mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu
direito, nos termos do § 3º do art. 486 do CPC, sendo que no quarto ajuizamento cabe ao réu
alegar em preliminar a perempção, cujo acolhimento também acarretará a extinção do processo
sem resolução de mérito.

• Litispendência

Haverá litispendência quando se constatar que se repete ação (337, § 3º, do CPC) que está
em curso (ação idêntica, mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido),

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anteriormente ajuizada e ainda em curso (sem trânsito em julgado), competindo ao réu alegar
como preliminar, sendo que o acolhimento poderá acarretar a extinção sem resolução de
mérito do processo cujo registro ou a distribuição da petição inicial tenha sido realizado
por último.

• Coisa julgada

Ocorre quando se repete uma ação idêntica que já foi estabilizada pela imutabilidade e,
consequente, indiscutibilidade, provenientes da formação da coisa julgada, não sendo mais
possível, em decorrência disto, recorrer. Assim, o acolhimento da preliminar terá como
consequência a extinção do processo sem resolução de mérito.

• Conexão

É forma de modificação da competência, ocorrendo quando duas ou mais ações tiverem o


mesmo objeto ou a mesma causa de pedir. Assim, a reunião das ações propostas em separado
far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas simultaneamente, evitando-se, desta forma,
decisões conflitantes e garantindo relação entre as demandas e decisões em decorrência da
ligação entre as ações; em sendo acolhida a preliminar de conexão entre processos, serão
reunidos, sendo decidido pelo juízo que tenha primeiro ocorrido o registro ou a distribuição
da petição inicial, pois prevento.

• Incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização

Trata-se de vícios processuais, sendo que o acolhimento da preliminar acarretará a


suspensão do processo com prazo para que sejam sanados.

• Convenção de arbitragem

Em se tratando de direitos patrimoniais disponíveis, as partes com capacidade para


contratar poderão convencionar o juízo arbitral, efetivo negócio jurídico processual, o que fará
com que a solução e decisão para o caso sejam do juízo arbitral. Todavia, isso não exclui a

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possibilidade de alguma questão decidida na arbitragem ser apreciada pelo Poder Judiciário;
portanto, se o autor ingressa com ação judicial, caberá ao réu alegar em preliminar a convenção
de arbitragem, sob pena de preclusão.

• Ausência de legitimidade ou de interesse processual

Ocorre quando ausentes quaisquer das condições da ação.

Quando o réu alegar que é parte ilegítima ou que não é o responsável pelo prejuízo
invocado, o autor será ouvido para, querendo, aditar a inicial e substituir o réu originário pelo
que foi indicado na contestação, em 15 dias. Nesse caso, os honorários advocatícios serão
fixados entre 3 e 5%. Note, no entanto, que o autor não é obrigado a aditar e sequer precisar
fundamentar sua posição.

Aqui é interessante notar que o NCPC trouxe esse mecanismo para suprir ilegitimidade da
parte, cuja amplitude é muito maior do que a da nomeação à autoria do CPC/73.

Enunciado 42 do FPPC: O dispositivo [art. 339, CPC] aplica-se mesmo a procedimentos


especiais que não admitem intervenção de terceiros, bem como aos juizados especiais cíveis,
pois se trata de mecanismo saneador, que excepciona a estabilização do processo.

Enunciado 44 do FPPC: A responsabilidade a que se refere o art. 339 é subjetiva.

Enunciado 123 da II Jornada de Processo Civil do CJF/STJ: Aplica-se o art. 339 do CPC à
autoridade coatora indicada na inicial do mandado de segurança e à pessoa jurídica que
compõe o polo passivo.

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Enunciado 152 do FPPC: O autor terá prazo único para requerer a substituição ou inclusão
de réu (arts. 338, caput; 339, §§ 1º e 2º), bem como para a manifestação sobre a resposta (arts.
350 e 351).

Enunciado 296 do FPPC: Quando conhecer liminarmente e de ofício a ilegitimidade passiva,


o juiz facultará ao autor a alteração da petição inicial, para substituição do réu, nos termos dos
arts. 339 e 340, sem ônus sucumbenciais.

Enunciado 511 do FPPC: A técnica processual prevista nos arts. 338 e 339 pode ser usada,
no que couber, para possibilitar a correção da autoridade coatora, bem como da pessoa jurídica,
no processo de mandado de segurança.

• Falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar

Nos casos em que a lei exige que o autor preste caução para ingressar com a ação, a ausência
deverá ser alegada em preliminar, acarretando um vício processual, o qual, não sanado, terá
como consequência a extinção do processo sem resolução de mérito, pois indispensável o
pagamento referido

• Indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça

Se não for caso de concessão de gratuidade da justiça, nos termos da lei, comprovando tal
fenômeno, pode o réu arguir, a título de preliminar de mérito, a situação de que a concessão
foi indevida.

Ao se analisar o art. 337, do CPC, percebemos que o réu, nas preliminares da contestação,
deve alegar todas as questões processuais. Frise-se, ademais, que o rol do mencionado artigo
não é taxativo.

Já as defesas de mérito dizem respeito justamente ao direito material alegado pelo autor.
Na defesa de mérito o objetivo do réu é convencer o juiz de que o direito material que o autor

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alega possuir, em sua petição inicial, não existe. É, portanto, o conteúdo da pretensão do autor
o objeto de impugnação por meio da defesa de mérito.

As defesas de mérito podem ser divididas em:

• Defesa de mérito direta

Na defesa de mérito direta o réu enfrenta frontalmente os fatos e os fundamentos


jurídicos narrados pelo autor na petição inicial, buscando demonstrar que os fatos não
ocorreram conforme narrado ou ainda que as consequências jurídicas pretendidas pelo autor
não são as mais adequadas ao caso concreto.

• Defesa de mérito indireta

A defesa de mérito indireta desenvolve-se sem a impugnação dos fatos e da fundamentação


jurídica que compõe a causa de pedir exposta pelo autor em sua petição inicial, consubstanciada
na alegação de fato novo, que seja impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

São considerados fatos impeditivos aqueles que, anteriores ou simultâneos ao fato


constitutivo do direito, impedem que esse gere seus regulares efeitos, gerando um efeito
negativo sobre o fato constitutivo.

Os fatos extintivos são aqueles que colocam fim a um direito, conforme o próprio nome
sugere, sendo necessariamente posteriores ao surgimento da relação jurídica de direito material.

Os fatos modificativos, necessariamente posteriores ao surgimento da relação de direito


material, são aqueles que atuam sobre a relação jurídica de direito material, gerando sobre ela
uma modificação subjetiva ou objetiva.

• Princípio da Impugnação Específica dos Fatos

Segundo o art. 341, do CPC, serão presumidos verdadeiros os fatos que não sejam
impugnados especificamente pelo réu em sua contestação. A impugnação específica é um
ônus do réu de rebater pontualmente todos os fatos narrados pelo autor com os quais não

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concorda, tornando-os controvertidos e em consequência fazendo com que componham o
objeto da prova.

Ressalte-se que o ônus da impugnação específica não se aplica ao advogado dativo,


curador especial e ao defensor público, que podem elaborar a contestação com fundamento
em negativa geral, instituto que permite ao réu uma impugnação genérica de todos os fatos
narrados pelo autor, sendo tal forma de reação o suficiente para tornar todos esses fatos
controvertidos (art. 341, parágrafo único, do CPC).

Mesmo que o réu não possa se valer da negativa geral, o art. 341 do CPC, em seus três
incisos, prevê exceções ao princípio da impugnação específica dos fatos, impedindo que um
fato alegado pelo autor que não tenha sido impugnado especificamente seja presumido
verdadeiro:

➢ Fatos a cujo respeito não se admite a confissão (direitos indisponíveis);

➢ Petição inicial desacompanhada de instrumento público que a lei considere da substância


do ato (por exemplo, certidão de casamento, certidão de óbito);

➢ Fatos que estejam em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

• Princípio da Eventualidade

Também conhecido como princípio da concentração de defesa, exige-se que de uma vez
só o réu apresente todas as matérias que possui em sua defesa, ainda que os eventos
narrados sejam incompatíveis entre si. A cumulação é eventual porque o réu alegará as matérias
de defesa indicando que a posterior seja enfrentada na eventualidade de a matéria defensiva
anterior ser rejeitada pelo juiz.

O princípio da concentração das defesas na contestação é excepcionado em três hipóteses,


previstas pelos incisos do art. 342, do CPC, sendo que nesses casos o réu poderá alegar a
matéria defensiva após a apresentação da contestação:

➢ Relativas a direito ou a fato superveniente;

➢ Competir ao juiz conhecer delas de ofício;


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➢ Por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e grau de
jurisdição.

1.2 Reconvenção

Alexandre Câmara conceitua a reconvenção como uma “demanda proposta pelo réu em
face do autor”. Marcus Vinicius Gonçalves, no mesmo sentido, ensina que “haverá duas ações
em um mesmo processo”. Em outras palavras, trata-se de um mecanismo de contra-ataque, o
qual deve ser exercido no mesmo prazo da contestação (15 dias), sob pena de preclusão
consumativa (art. 343, do CPC). Em regra, não se permite que o réu formule pretensão em face
do autor na contestação, salvo nas ações de natureza dúplice.

Portanto, caso o réu pretenda formular pedidos em face do autor, deverá fazê-lo por meio
da reconvenção (a qual, como visto, possui a natureza de uma nova ação). Já que, na
contestação, o juiz se limitará a apreciar os pedidos formulados pelo autor, acolhendo-os ou
não. Na reconvenção, o juiz terá de decidir não apenas os pedidos do autor, mas também os
apresentados pelo réu, na reconvenção. E não é necessário que a natureza da ação de
reconvenção seja a mesma da ação do autor. Por ex.: é possível uma reconvenção condenatória
do réu em ação declaratória e vice-versa.

Enunciado 120, da II Jornada de Processo Civil do CJF/STJ: Deve o juiz determinar a


emenda também na reconvenção, possibilitando ao reconvinte, a fim de evitar a sua rejeição
prematura, corrigir defeitos e/ou irregularidades.

Enunciado 45 do FPPC: Para que se considere proposta a reconvenção, não há necessidade


de uso desse nomen iuris, ou dedução de um capítulo próprio. Contudo, o réu deve manifestar

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inequivocamente o pedido de tutela jurisdicional qualitativa ou quantitativamente maior que
a simples improcedência da demanda inicial.

Enunciado 46 do FPPC: A reconvenção pode veicular pedido de declaração de usucapião,


ampliando subjetivamente o processo, desde que se observem os arts. 259, I, e 328, § 1º, II
[do CPC].

Súmula 237, STF: O usucapião pode ser arguido pela defesa. – Isso pode ser feito em ação
possessória, desde que para fins de proteção da posse, e não para registrá-la. Há, todavia, uma
exceção legal, podendo o reconhecimento da usucapião alegada em defesa ser usado para
registro: usucapião especial urbano (art. 10, §2º do Estatuto da Cidade).

Súmula 258, STF: É admissível reconvenção em ação declaratória. – Nesse caso, o réu deve
formular um tipo diferente de pretensão, sem ser a existência ou inexistência da relação jurídica.
Afinal, esta já é a pretensão do autor de uma ação declaratória, concorda? Então faltaria interesse
processual. Caso o réu deseje apenas negar a existência da relação jurídica, deve fazê-lo por
meio de contestação.

Súmula 292, STJ: A reconvenção é cabível na ação monitória, após a conversão do


procedimento em ordinário. – Aqui é importante levar em consideração que, nesta ação, após
a resposta do réu, o procedimento a ser adotado no processo é, justamente, o comum.
Outrossim, não se pode perder de vista que, na ação monitória, há proibição legal de
reconvenção à reconvenção (art. 702, §6º, CPC).

Devemos tomar muita atenção nos casos em que o juiz indefere a reconvenção de plano,
pois, nesse caso, NÃO se está diante de uma sentença, mas, sim, de uma decisão interlocutória,
já que o juiz ainda não encerrou o processo.

Ainda, o réu-reconvinte pode, em litisconsórcio do terceiro, ajuizar demanda por meio de


reconvenção contra o autor-reconvindo. Outra hipótese para se ter em mente: o réu-reconvinte
pode criar um litisconsórcio superveniente, ao utilizar-se da reconvenção para demandar contra
o autor-reconvindo e um terceiro.

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Neste tema, é mister entender que, no caso de o autor ser substituto processual de outrem,
ao réu só cabe reconvir contra o substituído, e desde que o primeiro tenha legitimidade
extraordinária para ser substituto do substituído em questão também na reconvenção (art. 343,
§5º do CPC). Em resumo: o que não pode é que a reconvenção seja formulada somente por
quem não é réu, tampouco em face apenas de quem não é autor.

Ademais, o autor da ação principal pode contestar (em 15 dias) a reconvenção formulando
pedido de denunciação da lide ou chamamento ao processo. Outrossim, apesar de haver
celeuma na doutrina a respeito, prevalece que o autor, além de contestar, pode reconvir
oferecendo reconvenção da reconvenção (reconventio reconventionis) na mesma peça, criando
a situação de reconvenções sucessivas. Ainda com relação ao autor da ação principal, se este
não contestar a reconvenção, não deve ser considerado revel.

Enunciado 133, da II Jornada de Processo Civil do CJF/STJ: É admissível a formulação de


reconvenção em resposta aos embargos de terceiro, inclusive para o propósito de veicular
pedido típico de ação pauliana, nas hipóteses de fraude contra credores.

Vale informar, ainda, que o réu pode propor reconvenção independentemente de oferecer
contestação.

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O curador especial tem legitimidade para propor reconvenção em favor do réu cujos
interesses está defendendo (STJ REsp 1.088.068-MG, Info 613).

Segundo disciplina o Superior Tribunal de Justiça, a compensação de dívida pode ser alegada
em contestação. A compensação é meio extintivo da obrigação, caracterizando-se como defesa
substancial de mérito ou espécie de contradireito do réu. A compensação pode ser alegada em
contestação como matéria de defesa, independentemente da propositura de reconvenção, em
obediência aos princípios da celeridade e da economia processual2.

• Independência da Reconvenção

Dispõe o art. 343, § 2º, do CPC que na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para
manifestar pretensão própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.

Como já foi dito, a reconvenção é uma nova ação, em que pese não forme um novo processo.
Desse modo, apresentada a reconvenção, esta passa a ser autônoma relativamente à ação
originária, de forma que, se por qualquer razão, a ação originária for extinta sem resolução do
mérito, inclusive a desistência do autor, tal extinção não afetará a reconvenção, que prosseguirá
normalmente (art. 343, § 2°, do CPC). O mesmo ocorre se a reconvenção for prematuramente
extinta, prosseguindo normalmente a ação originária.

Assim, a desistência da ação ou a ocorrência de causa extintiva que impeça o exame de seu
mérito não obsta ao prosseguimento do processo quanto à reconvenção.

Outrossim, quando as pretensões do réu não forem conexas com a ação principal nem com
os fundamentos de defesa, o réu não poderá reconvir, devendo ajuizar processo autônomo.
Sobre isso, Alexandre Câmara faz, com razão, uma interessante observação: o termo “conexão”
do art. 343 do CPC (dispositivo que traz a norma em comento) não utiliza o mesmo conceito
dos demais artigos deste diploma legal, mormente o art. 55. Para que haja a conexão entre a
ação principal e a reconvenção ou entre a reconvenção e os fundamentos da defesa, basta que
haja “algum traço comum capaz de justificar a reunião em um só processo”. Neste sentido,

2
STJ. 3ª Turma. REsp 1524730-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 18/8/2015 (Info 567).
15
afirma-se que não é necessária a identidade de causa de pedir ou de pedido, que é o que se
dá no art. 55 do CPC.

A respeito disso, Marcus Vinicius Gonçalves, apesar de apontar que o conceito de conexão
está no art. 55 do CPC, conclui de forma semelhante, ao ensinar que há conexão quando
houver relação entre os objetos das ações ou, ainda, entre as razões de fato e de direito
expostas pelo réu justificarem que o pedido inicial seja desacolhido pelo julgador. Ex.: em
ação declaratória de inexigibilidade de título de crédito, o réu pode reconvir pedindo a
condenação do autor ao pagamento da dívida; há conexão porque o objeto das duas ações
guarda relação com a mesma dívida.

Essa discussão a respeito do conceito de conexão gera discussão no âmbito jurídico. O


conceito que normalmente temos em mente de que apenas há conexão se 2 ou mais ações
tiverem o mesmo pedido (objeto) ou causa de pedir. Esta é a definição legal usada no CPC/73
e é chamada de concepção/teoria tradicional. Porém, há estudiosos (e o STJ, como veremos a
seguir) que entendem que não é necessário que as situações se encaixem perfeitamente neste
conceito legal. Segundo a teoria materialista, deve-se analisar a relação jurídica das ações e,
sendo a mesma ou ao menos vinculadas, há conexão por prejudicialidade. O CPC/15, apesar de
manter a definição tradicional no caput do art. 55, no §3º deste dispositivo adota a concepção
materialista: “serão reunidos para julgamento conjunto os processos que possam gerar risco de
prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso decididos separadamente, mesmo sem
conexão entre eles”. Somente não será possível o julgamento conjunto se implicar modificação
de competência absoluta. O STJ já decidiu neste sentido ainda na época do CPC/73, in verbis:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA. CONEXÃO. REUNIÃO DE AÇÕES. RELAÇÃO DE


PREJUDICIALIDADE ENTRE AS CAUSAS. PROCESSO DE CONHECIMENTO E DE EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE DE
JULGAMENTO CONJUNTO. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO. 1. Uma causa, mercê de não poder

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ser idêntica à outra, pode guardar com a mesma um vínculo de identidade quanto a um de seus elementos
caracterizadores. Esse vínculo entre as ações por força da identidade de um de seus elementos denomina-se,
tecnicamente, de conexão. (FUX, Luiz. Curso de direito processual civil. Rio de Janeiro: Forense, 2001). 2. A
moderna teoria materialista da conexão ultrapassa os limites estreitos da teoria tradicional e procura
caracterizar o fenômeno pela identificação de fatos comuns, causais ou finalísticos entre diferentes ações,

superando a simples identidade parcial dos elementos constitutivos das ações. 3. É possível a conexão entre
um processo de conhecimento e um de execução, quando se observar entre eles uma mesma origem, ou seja,
que as causas se fundamentam em fatos comuns ou nas mesmas relações jurídicas, sujeitando-as a uma análise
conjunta. 4. O efeito jurídico maior da conexão é a modificação de competência, com reunião das causas em um

mesmo juízo. A modificação apenas não acontecerá nos casos de competência absoluta, quando se
providenciará a suspensão do andamento processual de uma das ações, até que a conexa seja, enfim,

resolvida. 5. O conhecimento do recurso fundado na alínea "c" do permissivo constitucional pressupõe a


demonstração analítica da alegada divergência. A demonstração da divergência não se satisfaz com a simples
transcrição de ementas, mas com o confronto entre trechos do acórdão recorrido e das decisões apontadas como

divergentes, mencionando-se as circunstâncias que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados, caso

contrário não se terá por satisfeito o disposto no § 2º do art. 255 do RISTJ. 6. Recurso especial a que se nega
provimento. (REsp 1221941/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 24/02/2015, DJe
14/04/2015) (Info 559).

Por fim, ressalte-se que a reconvenção:

➢ é própria do processo de conhecimento, não sendo cabível no processo de execução;


➢ cabe reconvenção em ação rescisória, desde que a pretensão do réu também consista
em desconstituir a mesma sentença ou acordão do autor, mas com fundamentos diversos.
➢ apenas cabe nos processos de jurisdição contenciosa, ou seja, não há cabimento em
ações de jurisdição voluntária;
➢ não é cabível em embargos à execução3 e nos processos de liquidação, porque
demanda dilação probatória e exige a prolação de sentença de mérito;
➢ não cabe em sede de juizados especiais (nesta seara cabe o pedido contraposto dentro
da contestação);
➢ o réu que não contesta pode reconvir e, neste caso, não será revel;
➢ exige o preenchimento das condições da ação, afinal, como vimos, ela é uma ação;

3
STJ. 2ª Turma. REsp 1528049-RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/8/2015 (Info 567).
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➢ deve ter fundamento conexo com a ação principal ou com o fundamento da defesa;
➢ para que seja cabível, o mesmo juízo que tenha competência para julgar a ação principal,
tenha competência para julgá-la; e
➢ é preciso que tenha, ela e a ação principal, procedimentos compatíveis.

2. Revelia

2.1 Conceito

Como já referido, o réu possui a faculdade de se defender dos fatos alegados pelo autor,
caso opte em não se defender, sofrerá as consequências de tal omissão (art. 250, II, do CPC).

Diz-se que ocorre a revelia quando o réu, regularmente citado, deixa de apresentar
contestação no prazo legal. A revelia é a condição do réu que não apresentou contestação
ou apresentou-a fora do prazo, pois. É a omissão do réu, entende? Assim, mesmo que o réu
tenha constituído advogado nos autos, se não apresentar contestação será revel. Por outro lado,
se o réu reconvir, mas não contestar, não será revel.

O tratamento dado à revelia não implica nenhuma afronta ao princípio do contraditório,


pois esse, no processo civil, em regra se satisfaz com a oportunidade de exercício da defesa.
Desse modo, desde que regularmente citado, está garantido ao réu o direito de se defender,
mas a sua ausência não impede o prosseguimento do processo.

Assim, a revelia ocorre quando há ausência de contestação do réu devidamente citado, e


presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formuladas pelo autor, ocorrendo aquilo que
se chama de confissão ficta. Consequentemente, o juiz pode julgar de imediato se os fatos
presumidamente verdadeiros da inicial forem suficientes para o acolhimento do pedido.

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A revelia é uma espécie do gênero contumácia (inércia de qualquer das partes, que deixa de
praticar ato processual que era ônus seu), específica para a hipótese de o réu não apresentar
defesa.

2.2 Efeitos da Revelia

A doutrina aponta três efeitos da revelia:

• Presunção (relativa) de veracidade dos fatos narrados na inicial

A ausência jurídica de resistência do réu diante da pretensão do autor faz com que o juiz
repute verdadeiros os fatos alegados pelo autor.

Reputam-se verdadeiros somente os fatos alegados pelo autor, de forma que a matéria
jurídica naturalmente estará fora do alcance desse efeito da revelia. Aplicando-se o princípio
do iura novit curia (o juiz sabe o direito), é inadmissível a vinculação do magistrado à
fundamentação jurídica do autor somente porque o réu não contesta a demanda, tornando-se
revel. A exclusão da matéria de direito da presunção gerada pela revelia é o que explica o
julgamento de improcedência do pedido do autor mesmo sendo revel o réu e ocorrendo a
presunção de veracidade dos fatos alegados na petição inicial no caso concreto.

Além disso, há quatro hipóteses previstas nos incisos do art. 345, do CPC em que a revelia
não gerará a presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor, vejamos:

➢ Havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação

Aqui é importante observar que só não haverá presunção de veracidade dos fatos da petição
inicial se:

o Houver contestação de um litisconsorte unitário, porque o julgamento deve ser único;


o Houver contestação de um litisconsorte simples, que alegue fato comum, que também
diga respeito ao revel.

Assim, se for um fato específico que diga respeito a apenas um dos réus, a presunção de
veracidade não será afastada para os outros.

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➢ Quando o litígio versar sobre direitos indisponíveis

São disponíveis os direitos patrimoniais e privados, sobre os quais se pode transigir. Neste
sentido, via de regra, são indisponíveis os direitos extrapatrimoniais ou públicos, não sendo
cabível confissão.

Existe celeuma a respeito de duas situações, sendo válida a menção:

o Ações de separação judicial: nestas lides há direitos indisponíveis, como os relativos


à guarda e educação dos filhos. Assim, somente caberá a revelia no que tange aos
direitos disponíveis;
o Ações em que a Fazenda Pública é ré: prevalece o entendimento de que não se
aplicam os efeitos da revelia. Porém isso não pode ser usado como um “escudo” da
Fazenda Pública para não se manifestar, nem produzir provas necessárias para o
processamento e julgamento do processo.

➢ Quando a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere
indispensável à prova do ato

O juiz, naturalmente, não pode presumir verdadeiro um ato jurídico que somente pode ser
provado por meio de documentos. Ex.: contrato de venda de um imóvel. O art. 406 do CPC vai
ao encontro desse raciocínio.

➢ Quando as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem


em contradição com prova constante dos autos

Aqui é interessante verificar que, caso o réu não seja revel – em razão de ter contestado –,
porém deixe de impugnar alguns fatos, estes serão, sim, considerados verdadeiros (se não forem
as exceções suso mencionadas) e dispensarão, consequentemente, produção de provas.

• Desnecessidade de intimação do réu (que não tenha patrono nos autos) para os
demais atos do processo

Diz o art. 346, do CPC, que contra o revel que não tenha patrono nos autos os prazos fluirão
da data de publicação de cada ato decisório no órgão oficial. Importante notar que para a

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geração desse efeito (dispensa de intimação) não basta que o réu seja revel, sendo também
indispensável que não esteja representado por patrono nos autos.

• Hipóteses do art. 341 do CPC

Nesses casos, ainda que o réu não se manifeste especificamente a respeito dos fatos narrados
na inicial, eles não serão considerados verdadeiros:

➢ Não for admissível, a seu respeito, a confissão;


➢ A petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da
substância do ato;
➢ Estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto; e
➢ O réu for representado por defensor público, ao advogado dativo e ao curador
especial

Enunciado 167 do FONAJE: não se aplica nos Juizados Especiais a necessidade de publicação
no Diário Eletrônico quando o réu for revel.

• Julgamento antecipado do mérito

O art. 355, II, do CPC, prevê que o juiz julgará antecipadamente o pedido, proferindo sentença
com resolução de mérito, quando o réu for revel, ocorrer o efeito previsto no art. 344 e não
houver requerimento de prova, na forma do art. 349.

Desse modo, o dispositivo prevê que o julgamento antecipado do mérito somente


acontecerá na hipótese de revelia com presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor.

Além disso, o julgamento antecipado não será admitido se o réu, fazendo-se representar
nos autos a tempo, requerer a produção de provas. Aliás, cumpre mencionar que o revel pode
intervir em qualquer fase procedimental, mas recebe o processo no estado em que estiver,
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nos termos do parágrafo único do art. 346 e do art. 349, ambos do CPC. Portanto, para produzir
provas, deve intervir no momento oportuno.

Súmula 231, STF: O revel, em processo civil, pode produzir provas, desde que compareça
em tempo oportuno.

2.3 Ingresso do Réu Revel no Processo

O réu revel é bem-vindo ao processo, podendo dele passar a participar a qualquer momento.
Segundo o art. 346, parágrafo único, do CPC, o revel poderá intervir no processo em qualquer
fase, recebendo o processo no estado em que se encontrar. Significa dizer que, apesar de o réu
revel ser bem-vindo, permitindo-se o seu ingresso a qualquer momento do processo, essa
intervenção tardia deve respeitar as regras de preclusão, de forma que não se admitirá o
retrocesso procedimental. O réu revel terá participação garantida a partir do momento de sua
intervenção, mas atos processuais passados, já protegidos pela preclusão, não poderão ser
repetidos ou praticados originariamente.

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