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Seção 2

Seção 1 SUA PETIÇÃO

DIREITO CIVIL

DIREITO
CIVIL
Seção 01
Seção 2

DIREITO CIVIL
Sua causa!

Prezado(a) aluno(a), vamos iniciar a seção 02 e nela iremos abordar a resposta da petição inicial em
respeito ao corolário do princípio do contraditório e ampla defesa, previstos no inciso LV do art. 5º da
CRFB.

Na seção 01 vimos que Joffrey e Tommen Lannister ajuizaram ação de interdição, distribuída à 3ª Vara
de Família e Sucessões da Comarca de Porto Real – BA, em face de sua irmã Myrcella, a qual estaria
internada em uma clínica de recuperação desde o ano de 2004, devido a problemas psiquiátricos, vício
em substâncias tóxicas e um histórico recorrente de prodigalidade, com episódios onde, supostamente,
gastou fortunas em uma única noite com drogas.

Os autores afirmam que a interdição é necessária, posto que, em decorrência do falecimento de seu
pai, Robert Baratheon, uma grande fortuna foi deixada de herança e Myrcella, tendo a plena confiança
dele, estaria em poder das senhas bancárias, mesmo diante dos problemas que tem.

Ocorre que diferente do afirmado pelos autores, Myrcella alega estar em pleno gozo de suas faculdades
mentais, não possuindo mais qualquer resquício de problemas psicológicos, não fazendo uso de
qualquer substância psicoativa e ainda, não apresentando qualquer episódio de prodigalidade, posto
que os valores que alegam terem sidos gastos em uma única noite, não tiveram nenhuma relação com
drogas.

A requerida afirma que optou por viver na clínica devido ao acolhimento que sempre lhe foi dado e os
fortes laços de amizade que formou, desta forma, sustenta que está no local por livre e espontânea
vontade e não por necessidade.

Myrcella aponta quer seu pai lhe confiou as senhas bancárias antes de falecer justamente por não
confiar em seus irmãos e tendo plena ciência de sua recuperação. Afirma ainda que também não tem
qualquer confiança ou mesmo laços de amizade com seus irmãos, razão pela qual, se alguém deveria
cuidar de seu patrimônio, na remota hipótese de procedência da ação, deveria ser o Dr. Ramsay Bolton,
administrador da clínica de recuperação “Trono de Ferro”, localizada à Rua do Porto, na cidade de Porto
Real – BA, onde está internada, posto que, nestes muitos anos em que passou no local, firmou um forte
laço afetivo com o mesmo.

Myrcella apontou ainda estar surpresa, posto que tomou conhecimento da ação por meio de citação
encaminhada ao e-mail de sua prima, cujo prenome é idêntico ao seu e ainda, tomou ciência que seus
irmãos foram agraciados com os benefícios da gratuidade de justiça sob alegação de que estariam
desempregados, o que não condiz com a realidade econômica dos mesmos, até porque, em que pese

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a juntada aos autos da carteira de trabalho em branco, os autores possuem uma vinícola de sucesso
no sul do país.

Diante da necessidade a seguir, convidamos o(a) aluno(a) a compreender a situação fática e


desenvolver uma resposta satisfatória à sua cliente, agora Myrcella Lannister, na finalidade de lhe
garantir suporte jurídico para evitar a interdição ou, alternativamente, garantir que lhe seja nomeado o
curador de sua confiança, até porque, sua relação com os irmãos é tão ruim que os considera seus
inimigos. Cabe frisar que após a citação, foi realizada entrevista na forma do art. 751 do CPC.

Alerto que a inversão dos papeis foi por questões meramente didáticas, para garantir a visão jurídica de
todos os lados e possíveis direitos a serem alegados (o que na prática seria vedado pelo Estatuto de
Ética e Disciplina, conforme art. 20 do Código de Ética e Disciplina da OAB).

Fundamentando!
Entre as possíveis respostas a ação judicial, a de maior relevância é a contestação, onde o réu exerce
seu direito de defesa no prazo comum de 15 dias (art. 335 – com variação do termo inicial),
apresentando toda a matéria de defesa (processual e de mérito) que tenha para alegar em seu favor
(art. 336), inclusive as provas que pretende produzir.

O termo inicial do prazo para o réu contestar a ação é a partir da data de audiência de conciliação ou
de mediação, ou da última sessão de conciliação, quando qualquer parte não comparecer ou,
comparecendo, não houver autocomposição (vide art. 335, I). Mas se o réu se manifestar dizendo que
não tem interesse na conciliação ou mediação, o prazo correrá desta manifestação (vide art. 335, II).
Entretanto, quando a causa versar sobre direito que não aceita autocomposição ou por ter o autor,
manifestado na petição inicial pela não intenção de conciliação, o prazo correrá na forma do disposto
no art. 231, conforme a modalidade de citação que tenha sido efetivada (art. 335, II).

Em havendo multiplicidades de réus, o prazo é comum a todos, em regra. E no caso de as partes não
terem intenção da audiência de conciliação ou mediação, o prazo para cada um deles correrá a partir
da data do respectivo protocolo desta manifestação (art. 335, §1°).

Na contestação, cabe ao réu alegar toda matéria de defesa (“princípio” da eventualidade – vide arts.
336/342 do CPC). Assim, incumbe ao réu todas as alegações que tenha em seu favor, ainda que
contraditórias entre si, sob pena de preclusão (ou seja, a perda da possibilidade de alegar
posteriormente). Assim, pesa ao réu, na sua contestação, alegar todas as defesas relacionadas à
regularidade do processo (ex.: falta de alguma “condição da ação” ou pressuposto processual) e a
defesa de mérito (que será direta quando o réu admitir o fato constitutivo e lhe opuser outro, impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do demandante).

A revelia é o acontecimento (fato processual), de efeito material e efeitos processuais. O art. 344 traz a
presunção relativa de veracidade das alegações de fato formuladas pelo autor na sua pretensão, no
caso de o réu não contestar.

Com a ausência da apresentação da contestação, ocorrem os seguintes efeitos processuais: julgamento


antecipado do mérito (art. 335, II CPC– nos casos de operado o efeito material da revelia e não tendo

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o revel requerido a produção de contraprovas) e não tendo advogado constituído os prazos processuais
para o revel correrão, sempre, da data em que seja divulgada notícia dos atos decisórios no diário oficial
(art. 346 CPC).

Cabe ao réu, a observância do princípio da impugnação específica dos fatos, (vide art. 341 do CPC),
onde serão presumidos verdadeiros os fatos que não forem impugnados especificamente pelo réu, na
contestação. Assim, podemos afirmar que é um ônus do réu, na contestação, apontar/rebater
especificamente toda a narração dos fatos, sob pena de preclusão. Esse ônus não se estende ao
curador especial, ao advogado dativo e ao defensor público, por disporem do fundamento da “negativa
geral” (ferramenta que possibilita a impugnação genérica).

Já a reconvenção é a demanda proposta pelo réu, em face do autor, porém dentro do mesmo processo,
ampliando o objeto deste, sendo oferecida na mesma peça que a contestação (vide art. 343 e seu §6°
do CPC), isso se o juízo da causa principal for competente para dele conhecer.

Ainda que processadas em conjunto, a contestação e reconvenção são independentes (vide art. 343,
§2°), podendo até haver a ampliação subjetiva do processo (trazer terceiro para o processo) onde o réu-
reconvinte se litisconsorte com um terceiro para ajuizar a demanda reconvencional em face do autor-
reconvindo (art. 343, §3° e §4° do CPC). Assim que apresentada a reconvenção, é necessário, em nome
do princípio do contraditório e ampla defesa, ouvir o autor, que terá quinze dias para apresentar resposta
(art. 343, §1°), podendo contestar a reconvenção oferecendo “reconvenção a reconvenção”, na mesma
peça.

Em se tratando do procedimento especial de interdição, o art. 752 do CPC impõe que dentro do prazo
de 15 (quinze) dias contado da entrevista, o interditando poderá impugnar o pedido, fazendo-o por meio
de contestação.

1. Defesas processuais

As defesas processuais (defesas indiretas), não tem como objeto a essência do litígio (vide art. 337 do
CPC), e são alegadas em preliminar, antes das defesas de mérito. Estas são analisadas pelo juiz antes
do mérito e são identificadas pela consequência do seu acolhimento no caso concreto, podendo ser
defesas preliminares dilatórias e peremptórias.

1.1 Defesa preliminar dilatória (que não põe fim ao processo).

a. Inexistência ou nulidade de citação (art. 337, I, do CPC) - é de ordem pública, e operando, o prazo
de resposta será devolvido, porém não extingue o processo (art. 239, §1°, do CPC).

b. Incompetência do juízo (art. 337, II, do CPC) – matéria de ordem pública, mas deve vir no tópico
da contestação. O juiz intima o autor para responder (vide art. 10 do CPC).

c. Conexão/continência do juízo (art. 337, VIII, do CPC) – Previstos nos arts. 55 e 56 do CPC, tendo
como efeito a reunião dos processos perante o juízo prevento.

1.2. Defesas preliminares peremptórias (que geram a extinção sem a resolução do mérito).

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a. inépcia da petição inicial (art. 337, IV, do CPC) – Prevista no art. 330, §1°, do CPC. A petição inicial
é considerada inepta quando apresenta a falta de pedido ou causa de pedir; o pedido for indeterminado,
ressalvadas as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico; da narração dos fatos não
decorrer logicamente a conclusão ou quando pedidos forem incompatíveis entre si.

b. Perempção (art. 337, V, do CPC) – Prevista no art. 486, §3°, do CPC, se o autor der causa, por três
vezes, à extinção do processo, este não poderá intentar nova ação contra o réu com o mesmo objeto,
ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa de seu direito.

c. Litispendência (art. 337, VI, do CPC) – Está opera quando dois ou mais processos idênticos
existirem concomitantemente, caracterizando-se a identidade pela verificação no caso concreto da
tríplice identidade – mesmas partes, mesma causa de pedir e mesmo pedido.

d. Coisa julgada (art. 337, VII, do CPC) – Opera o trânsito em julgado material.

e. Convenção de arbitragem (art. 337, X, do CPC) – A Lei n° 9.307/1996, considera a convenção de


arbitragem como um gênero do qual a cláusula compromissória e o compromisso arbitral são as duas
espécies.

f. Carência da ação (art. 337, XI, do CPC) – Foi excluída do sistema a possibilidade jurídica do pedido,
pelo CPC, restando apenas a legitimidade da parte e o interesse de agir. A ausência de um deles, gera
a extinção do processo sem a resolução do mérito.

1.3. Defesas dilatórias potencialmente peremptórias

a. Incapacidade de parte, defeito de representação ou falta de autorização (art. 337, IX, do CPC).

b. Falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar (art. 337, XII, do CPC) –
Na ausência de tal comprovação deverá o juiz de ofício determinar que o autor emende a petição inicial
no prazo de quinze dias, sob “pena” de indeferimento da petição inicial (vide três casos: arts. 83, 486,
§2° e art. 968, II, todos do CPC).

c. Incorreção do valor da causa (art. 337, III, Do CPC) – O art. 293 dispõe que a impugnação ao valor
da causa será apresentada em preliminar de contestação, sob pena de preclusão. Este artigo é claro
ao prever que, sendo acolhida a alegação do réu o juiz dará prazo para o autor complementar as custas,
sempre que necessário.

d. Carência de ação por ilegitimidade de parte (art. 337, XI do CPC) – Conforme dispõe o art. 338
do CPC, o autor poderá emendar, no prazo de 15 dias, o sujeito que compõe o polo passivo.

e. Indevida concessão do benefício da gratuidade de justiça (art. 337, XIII, do CPC) – Sendo
acolhida essa defesa preliminar, o autor será intimado a recolher as custas processuais em aberto. Não
o fazendo, gerará a extinção terminativa do processo.

2. Defesas de mérito

Neste momento, o réu convence o juiz de que o direito material invocado pelo autor não amolda o caso
concreto. Esta ação é classificada como defesa de mérito direta e indireta.

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2.1. Defesa de mérito direta – O réu enfrenta frontalmente os fatos e os fundamentos jurídicos
apresentados pelo autor na peça inicial, buscando desconstituir a sua pretensão. Tal defesa se
evidencia e se desenvolve dentro dos fatos e da fundamentação jurídica, trazendo contra-fatos e outras
fundamentações jurídicas.

2.2. Defesa de mérito indireta – Nesta modalidade de defesa não se nega os fatos e fundamentos
apresentados na inicial, mas o réu traz um fato novo de natureza impeditiva, modificativa ou extintiva
do direito do autor.

PONTO DE ATENÇÃO
Nesta seção, é importante observar que a impugnante/contestante,
inconformada com as alegações, aponta não ter sequer confiança nos
seus irmãos, sendo necessária atenção à existência de pedido
alternativo a ser realizado quando da defesa de seus interesses.

Vamos peticionar!
Caro(a) aluno(a), o objetivo desta seção é fomentá-lo(a) de informações para lhe conduzir à solução da
situação problema, lhe garantindo estratégia.
Note que novos elementos foram trazidos em defesa de Myrcella. Aqui o(a) aluno(a) deverá observar
qual a peça de resposta adequada, bem como se assegurar dos fundamentos jurídicos que
desconstituam a pretensão dos autores.

As matérias de defesa processual (dilatória e peremptória), que são alegadas antes das de mérito,
podem estar presentes, daí não perder a oportunidade sob pena de possível perecimento preclusivo do
respectivo direito.

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