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AV1-Direito Penal

DISCUSSIVAS (QUESTÃO 3 e 4)

3. Determinada pessoa furtou uma peça de picanha, três tabletes de caldo e


uma peça de queijo muçarela do interior de um supermercado. O juízo de
origem reconheceu a insignificância e a absolveu. No entanto, o Ministério
Público interpôs apelação, que foi julgada procedente. A Defensoria Pública do
Rio de Janeiro agravou então à 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, que
negou a insignificância sob argumento de que o valor não pode ser
considerado ínfimo, por ultrapassar 10% do salário-mínimo vigente à época
dos fatos. Ao analisar o HC, porém, Gilmar Mendes afirmou que deve ser
aplicado o princípio, tendo em vista que os objetos foram restituídos e a
conduta não causou lesividade relevante à ordem social. Aproveitou para
reafirmar seu entendimento de que não é razoável movimentar o Direito Penal
e todo o aparelho do estado-polícia e do estado-juiz para atribuir relevância a
casos de furto como o da hipótese. Gilmar Mendes também destacou que a
jurisprudência do Supremo tem sido no sentido de que a insignificância da
infração penal que tenha o "condão de descaracterizar materialmente o tipo
impõe o trancamento do processo penal por falta de justa causa"

Considerando o contexto apresentado, faça o que se pede nos itens seguintes:


Explique pormenorizadamente a orientação jurisprudencial que os tribunais
superiores impõem para a caracterização bagatelar nesse tipo de
comportamento. (1 Ponto)

RESPOSTA:
Os tribunais superiores, quais sejam o SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (STJ) e
o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) têm entendimentos próprios a respeito da
caracterização do crime de bagatela.
Para o STJ é preciso de se considerar o custo de um processo, de forma que não se
justifica a persecução penal por valores irrisórios pois o sistema judiciário está sobrecarregado
e não suporta julgar crimes com insignificância penal na conduta, cujo bem jurídico violado é
irrelevante se comparado ao gasto do dinheiro público na punição deste delito, além do fato
de que os infratores acabam retornando à sociedade menos civilizados e mais propensos a
novos delitos.
Já para o STF Supremo Tribunal Federal, para a caracterização da Bagatela deve-se
ter:
1) A mínima ofensividade da conduta, de forma que a mesma não signifique lesão de
impacto na esfera pessoal e econômica da vítima.
2) A inexistência de periculosidade social do ato, ou seja, não representa perigo de
dano relevante a esfera patrimonial e pessoal do indivíduo.
3) O reduzido grau de reprovabilidade do comportamento, como no caso de furto de
alimentos nos quais é notório que a sociedade tende a mitigar a repreensão moral a este tipo
de conduta.
4) A inexpressividade da lesão provocada.

4. Acerca dos costumes, em matéria penal, partindo do exemplo que o jogo do


bicho permanece contravenção penal, responda as questões feitas sobre o
tema pelo professor Rogério Sanches (Manual de Direito Penal Parte Geral,
2018): a) costumes criam infrações penais? Costumes revogam infrações
penais? Qual, então, a finalidade dos costumes no ordenamento jurídico-
penal? (1 Ponto)

RESPOSTA:

A questão versa sobre o costume como uma das fontes do direito penal.
Na letra (a) a resposta é não, uma vez que a criminalização das condutas está restrita à
tipicidade legais da mesma, sendo por isso mesmo existente a caracterização da atipicidade
quando a conduta não encontra respaldo na legislação, daí advindo o princípio a reserva legal
na qual é privativo à lei a criminalização das condutas.
Quanto à revogação há correntes diversas, sendo que uma defende que sim o costume
pode revogar norma no caso de não ter mais relevância social. Outra corrente, que não pode
revogar, mas que o juiz pode deixar de aplica-la quando não mais desejada no meio social.
Por fim uma terceira via na qual apenas outra lei pode revogar a lei penal.
Em relação a finalidade dos costumes, o mesmo teria como tal, nortear a interpretação
de legislação penal visto que a mesma é aplicada no meio social onde surgem e se
desenvolvem os costumes.

5.FGV - 2021 - OAB - Exame de Ordem Unificado XXXII - Primeira


Fase (ADAPTADA)
Paulo e Júlia viajaram para Portugal, em novembro de 2019, em comemoração
ao aniversário de um ano de casamento. Na cidade de Lisboa, dentro do
quarto do hotel, por ciúmes da esposa que teria olhado para terceira pessoa
durante o jantar, Paulo veio a agredi-la, causando-lhe lesões leves
reconhecidas no laudo próprio. Com a intervenção de funcionários do hotel
que ouviram os gritos da vítima, Paulo acabou encaminhado para Delegacia,
sendo liberado mediante o pagamento de fiança e autorizado seu retorno ao
Brasil.
Paulo, na semana seguinte, retornou para o Brasil, sem que houvesse qualquer
ação penal em seu desfavor em Portugal, enquanto Júlia permaneceu em
Lisboa. Ciente de que o fato já era do conhecimento das autoridades
brasileiras e preocupado com sua situação jurídica no país, Paulo procura você,
na condição de advogado(a), para obter sua orientação.
Considerando apenas as informações narradas, você, como advogado(a), deve
esclarecer que a lei brasileira
(1 Ponto)
não poderá ser aplicada, tendo em vista que houve prisão em flagrante em Portugal e em
razão da vedação do bis in idem.
poderá ser aplicada diante do retorno de Paulo ao Brasil, a depender do retorno de Júlia e de
sua manifestação de vontade sobre o interesse de ver o autor responsabilizado criminalmente.
poderá ser aplicada, desde que Júlia retorne ao país e ofereça representação no prazo
decadencial de seis meses.
poderá ser aplicada, ainda que Paulo venha a ser denunciado e absolvido pela justiça de
Portugal.
poderá ser aplicada diante do retorno de Paulo ao Brasil, independentemente do
retorno de Júlia e de sua manifestação de vontade sobre o interesse de ver o autor
responsabilizado criminalmente.

6.FGV - 2019 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXVIII - Primeira Fase


(ADAPTADA)
Sílvio foi condenado pela prática de crime de roubo, ocorrido em 10/01/2017,
por decisão transitada em julgado, em 05/03/2018, à pena base de 4 anos de
reclusão, majorada em 1/3 em razão do emprego de arma branca, totalizando
5 anos e 4 meses de pena privativa de liberdade, além de multa.

Após ter sido iniciado o cumprimento definitivo da pena por Sílvio, foi editada,
em 23/04/2018, a Lei nº 13.654/18, que excluiu a causa de aumento pelo
emprego de arma branca no crime de roubo. Ao tomar conhecimento da
edição da nova lei, a família de Sílvio procura um(a) advogado(a).

Considerando as informações expostas, o(a) advogado(a) de Sílvio


(1 Ponto)
não poderá buscar alteração da sentença, tendo em vista que houve trânsito em julgado da
sentença penal condenatória.
poderá requerer ao juízo da execução penal o afastamento da causa de aumento e,
consequentemente, a redução da sanção penal imposta.
deverá buscar a redução da pena aplicada, com afastamento da causa de aumento do
emprego da arma branca, por meio de revisão criminal.
deverá buscar a anulação da sentença condenatória, pugnando pela realização de novo
julgamento com base na inovação legislativa.
poderá requerer ao juízo de conhecimento o afastamento da causa de aumento de pena.

7.FGV - 2018 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XXVI - Primeira


Fase (ADAPTADA)
Jorge foi condenado, definitivamente, pela prática de determinado crime, e se
encontrava em cumprimento dessa pena. Ao mesmo tempo, João respondia a
uma ação penal pela prática de crime idêntico ao cometido por Jorge. Durante
o cumprimento da pena por Jorge e da submissão ao processo por João, foi
publicada e entrou em vigência uma lei que deixou de considerar as condutas
dos dois como criminosas. Ao tomarem conhecimento da vigência da lei nova,
João e Jorge o procuram, como advogado, para a adoção das medidas
cabíveis.
Com base nas informações narradas, como advogado de João e de Jorge, você
deverá esclarecer que
(0.5 Pontos)
não poderá buscar a extinção da punibilidade de Jorge em razão de a sentença condenatória
já ter transitado em julgado, mas poderá buscar a de João, que continuará sendo considerado
primário e de bons antecedentes.
poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos civis e
penais da condenação de Jorge, inclusive não podendo ser considerada para fins de reincidência
ou maus antecedentes.
poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos
penais da condenação de Jorge, mas não os extrapenais.
não poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, tendo em vista que os fatos foram
praticados anteriormente à edição da lei.
poderá buscar a extinção da punibilidade dos dois, fazendo cessar todos os efeitos penais da
condenação de Jorge, assim como os extrapenais.

8.FGV - 2013 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XI - Primeira


Fase (ADAPTADA)
No ano de 2005, Pierre, jovem francês residente na Bulgária, atentou contra a
vida do então presidente do Brasil que, na ocasião, visitava o referido país.
Devidamente processado, segundo as leis locais, Pierre foi absolvido.

Considerando apenas os dados descritos, assinale a afirmativa correta.


(0.5 Pontos)
Não é aplicável a lei penal brasileira, pois como Pierre foi absolvido no estrangeiro, não ficou
satisfeita uma das exigências previstas à hipótese de extraterritorialidade condicionada.
É aplicável a lei penal brasileira, pois o caso narrado traz hipótese de extraterritorialidade
incondicionada, exigindo- se, apenas, que o fato não tenha sido alcançado por nenhuma causa
extintiva de punibilidade no estrangeiro.
É aplicável a lei penal brasileira, pois o caso narrado traz hipótese de
extraterritorialidade incondicionada, sendo irrelevante o fato de ter sido o agente
absolvido no estrangeiro.

Não é aplicável a lei penal brasileira, pois como o agente é estrangeiro e a conduta foi
praticada em território também estrangeiro, as exigências relativas à extraterritorialidade
condicionada não foram satisfeitas.
é aplicável a lei penal brasileira, pois o caso narrado traz hipótese de extraterritorialidade
condicionada, sendo irrelevante o fato de ter sido o agente absolvido no estrangeiro.

9.FGV - 2013 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XI - Primeira


Fase (ADAPTADA)
produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar. Pena – reclusão de 5
(cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e
quinhentos) dias-multa”.

Analisando o dispositivo acima, pode-se perceber que nele não estão inseridas
as espécies de drogas não autorizadas ou que se encontram em desacordo
com determinação legal ou regulamentar.

Dessa forma, é correto afirmar que se trata de uma norma penal


(0.5 Pontos)
em branco homogênea.
em branco heterogênea.
incompleta (ou secundariamente remetida).
em branco inversa (ou ao avesso).
nenhuma das anteriores está correta

10.FGV - 2012 - OAB - Exame de Ordem Unificado - VII - Primeira


Fase (ADAPTADA)
John, cidadão inglês, capitão de uma embarcação particular de bandeira
americana, é assassinado por José, cidadão brasileiro, dentro do aludido barco,
que se encontrava atracado no Porto de Santos, no Estado de São Paulo.
Nesse contexto, é correto afirmar que a lei brasileira (0.5 Pontos)
não é aplicável, uma vez que a embarcação é americana, devendo José ser processado de
acordo com a lei estadunidense.
é aplicável, uma vez que a embarcação estrangeira de propriedade privada estava
atracada em território nacional.
é aplicável, uma vez que o crime, apesar de haver sido cometido em território estrangeiro, foi
praticado por brasileiro.
não é aplicável, uma vez que, de acordo com a Convenção de Viena, é competência do
Tribunal Penal Internacional processar e julgar os crimes praticados em embarcação estrangeira
atracada em território de país diverso.
não é aplicável, uma vez que a embarcação estrangeira de propriedade privada estava
atracada em território nacional.

11.CESPE - 2008 - OAB-SP - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase (ADAPTADA)


Assinale a opção correta com base nos princípios de direito penal na CF.
(0.5 Pontos)
O princípio básico que orienta a construção do direito penal é o da intranscendência da
pena, resumido na fórmula nullum crimen, nulla poena, sine lege.
Segundo a CF, é proibida a retroação de leis penais, ainda que estas sejam mais favoráveis ao
acusado.
Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e
a decretação de perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas até os sucessores e contra
eles executadas, mesmo que ultrapassem o limite do valor do patrimônio transferido.
O princípio da humanidade veda as penas de morte, salvo em caso de guerra declarada,
bem como as de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e as cruéis.
Segundo a CF, sempre é proibida a retroação de leis penais.

12.Relacionando as regras de Direito Penal no tempo com problemas práticos 
sobre conflito de normas, assinale a alternativa correta. (0.5 Pontos)
A lei excepcional ou temporária não se aplica ao fato ocorrido durante a sua vigência.
Considera-se praticado o crime no momento do resultado, ainda que outro seja o momento
da ação ou omissão, conforme narra a teoria da ubiquidade.
Lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, desde
que ainda não julgados por sentença condenatória transitada em julgado.
A lei penal posterior, que de qualquer modo prejudicar o agente, aplica-se aos fatos
anteriores.
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime,
cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

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