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Há um violinista famoso e vai ter um concerto fulcral para a evolução na carreira. Há outro
violinista invejoso que não queria que aquele triunfasse e pensou em esconder-lhe o violino,
prejudicando-o no concerto. Quando o violinista famoso chegou ao quarto do hotel, estava lá o seu
violino. Isto será um furto? Art 203º CP. Não há aqui intenção de apropriação. Está previsto no art
208º o furto de uso de automóvel. O MP, num caso destes, pede ao tribunal que condene o autor do
furto pelo furto de uso de violino, por analogia. A questão é que não se pode punir um crime por
analogia – art 1º/3 CP. É proibida a analogia incriminatória, entre outas. Mas só não é permitida
quando for em desfavor do arguido.
O princípio da legalidade criminal também impede que a lei incriminatória surja depois do
facto praticado. A lei tem de ser prévia à conduta do agente.
Em momento X, o senhor A dispara sobre o senhor B com intenção de matar. No momento Z,
o senhor B faleceu. Por absurdo podemos supor que o homicídio não era punido no momento A. Mas
entrou em vigor no momento Y, antes de B morrer. A foi julgado depois da publicação da lei e da
morte da vítima.
O momento da prática do facto é o momento em que A atuou, devido ao princípio da
legalidade criminal: à data da prática do facto, não havia lei que incriminasse a sua conduta.
Um crime de furto: L1 punia com uma pena de prisão até 3 anos. A furtou a B uma coisa. A
certa altura, a L2 estabelece que o furto deixa de ser punido. Nº 2 do art 2º CP.
Até ao ano 2000, a detenção para consumo e o consumo de droga era crime. O senhor A
detinha uma pequena quantidade para consumo. A Lei nº 30/2000 veio dizer que até uma
determinada quantidade, a detenção e consumo de droga passa a ser uma contraordenação, que tem
como sanção uma coima. A conduta não passou a ser indiferente para a sociedade. Ela é censurável,
só que de outra maneira. Américo Taipa de Carvalho, na sua obra “Sucessão de leis penais”: na Lei
das Contraordenações também há um princípio da legalidade contraordenacional, que impede a
aplicação retroativa de uma contraordenação. Assim, o sujeito seria absolvido. A proibição da
retroatividade das contraordenações tem sentido quando a conduta era lícita no momento da prática
do ato. Mesmo que não entrássemos por este caminho, o art 2º/4 dava-nos a solução, porque o
legislador não se refere a “leis penais” e apenas a “leis posteriores”.
Saber, quando ocorre um determinado crime, qual é o Estado tem jurisdição sobre ele. Qual é
o critério principal segundo o qual o facto pode ser julgado em Portugal?
O princípio fundamental, a conexão de um facto com o Estado, que deve determinar que o
facto seja julgado nesse Estado poderia ser o vínculo da nacionalidade do autor. O que significaria
que nós, fossemos nós onde fossemos, seríamos julgados pelos tribunais portugueses. Mas este
princípio levanta dificuldades. Desde logo, não é nada prático.
A maior parte dos países adotou o critério da territorialidade, segundo o qual o lugar da
prática do facto é o sítio onde se faz o julgamento, já que é aí que se fazem sentir as necessidades de
prevenção. É também mais fácil, em princípio, fazer o processo-crime, recolhes as provas, etc., no
sítio onde o crime foi cometido. Deste modo, por norma, não haverá conflitos de jurisdição nem
vazios de jurisdição (não ficam crimes por julgam por serem praticados “em terra de ninguém”).
Os factos praticados em Portugal são julgados pelos tribunais portugueses – art 4º.
c) Estando em causa dois países membros da união europeia, de que outro modo poderia
resolver-se o problema?
Mandato de detenção europeu.
1. A e B, amigos de longa data, passeavam numa zona comercial do Porto quando, sem que
qualquer um deles se tivesse apercebido, C, artista de rua, munido de uma máscara de extraterrestre,
os surpreendeu e assustou.
b) Suponha agora que A e B viajavam num comboio e foi durante a viagem que A alvejou B.
Poucos km depois, estando B ainda moribundo, dá-se um descarrilamento e B morre no embate.
Quid iuris?
O resultado não é imputável à conduta de A.
5. A matou B no aeroporto, quando este se preparava para embarcar. O avião em que B teria
viajado caiu, não tendo havido sobreviventes. B teria, pois, morrido, mesmo se A o não tivesse
matado. Quid iuris?
Trata-se do problema da causalidade hipotética ou virtual. Ele não morreria nas mesmas
circunstâncias e no mesmo tempo exato. Há um intervalo entre a conduta e o resultado que se
verificaria se ele não o tivesse matado.
Há quem considere que estas duas situações (a causalidade virtual e o caso anterior) são
diferentes. O comportamento lícito alternativo releva juridicamente. E, assim, a causa virtual ou
hipotética não releva nestes casos de crimes de ação.
8. A, para receber um prémio do seguro, pega fogo à sua casa. Um dos bombeiros chamados
para apagar o incêndio morre ao tentar salvar uma pessoa que estava na casa. Deve a morte do
bombeiro imputar-se a A?
Não deve imputar-se porque, neste caso, mesmo assim, há a imputação do resultado a um
âmbito de responsabilidade alheia. É o caso de heterocolocação em perigo livremente aceite ou
consentida, em que o bombeiro não cria o perigo, mas, com consciência do perigo, se deixa pôr em
risco por outrem, pela conduta de A. É da sua própria e livre vontade entrar no perigo criado por
outro. Então aquilo que lhe pudesse acontecer não é imputável a A. Isto tem só a ver com o âmbito
de proteção do tipo. É quase um risco inerente à profissão de bombeiro.
Fórmula geral da doutrina da conexão do risco: imputa-se o resultado à conduta quando esse agente
criar ou potenciar um risco não permitido sempre que seja esse risco a concretizar-se no resultado típico.
3. A decide matar B. Sabendo que este se desloca habitualmente num Nissan encarnado, com
a matrícula X, espera-o logo de manhã, à saída da garagem de sua casa. Ao ver o carro, A dispara
sobre o condutor. Horrorizado, descobre que afinal, naquele dia, era C, filho de B, que ia ao volante.
Quid iuris?
Já não é um erro sobre a factualidade típica. O tipo legal de crime em causa é o homicídio. O
agente representou e quis matar B. Há um crime projetado e doloso, mas não contra C, que foi a
vítima. Trata-se de um erro sobre a pessoa. Este erro é irrelevante. O crime continua a ser o de
a) Imagine agora que B ia efetivamente ao volante, mas que o tiro de A lhe saiu pouco
certeiro. O atingido não foi B, mas sim D, mulher de B, que ia sentada a seu lado. Quid iuris?
É um erro na execução. Não há, na verdade, nenhum erro intelectual. A ação adequada a
matar B não foi bem-sucedida, acabando por ser D a vítima. Aqui entra um fator importante da
casualidade. A ideia de Figueiredo Dias é dizer que não devemos agravar a punibilidade do A
quando, de facto, ter morrido outra pessoa se deve a uma casualidade. Aqui a solução é de concurso.
Tentativa de homicídio simples e, porventura, homicídio simples consumado negligente.
c) E, por último, quid iuris se a bala pouco certeira de A matou apenas o cão de B, que ia
também dentro do carro.
A técnica é a mesma.
A queria matar B e queria que ele morresse afogado. E ele morre porque bateu com a cabeça
no pilar da ponte da qual foi atirado. O crime projetado era matar por afogamento; o crime praticado
foi matar por traumatismo. A lógica é que o erro não releva. Na fase da imputação do resultado à
conduta, o risco de se atirar uma pessoa de uma ponta abaixo implica vários resultados possíveis.
Além disso, o homicídio é um crime de execução livre.
Mas e se o CP tinha tipos diferentes para várias formas de matar? Nesse caso, havia
homicídios de execução vinculada, sendo que o erro relevava.
Há um caso ainda de “dolus generalis”. O agente projeta um crime, que se consuma sobre o
objeto projetado, mas por meio diferente. O agente consumou o crime com uma ação diferente da
projetada; ação essa prevista como meio de encobrimento do crime.
A queria matar B à paulada. Pensou também na maneira de encobrir o crime: meter o cadáver
num saco e atirá-lo ao rio. Aconteceu que B parecia morte, mas não estava. Morreu asfixiado. A ação
através da qual ele intencionava matar não foi consumada. E não existia dolo na ação que realmente
levou à morte. Mas, no seu todo, cumpriu-se tudo o que ele queria, daí que se diga que o dolo é
“geral”. O Dr. Figueiredo Dias diz que o risco que o agente criou e estava previsto foi criado e,
embora não como o agente o tenha pensado, acabou por consumar a ação. Não há nenhuma
interrupção de nexo causal. O erro não releva.
Há um último erro, previsto no art. 16º, nº 1, que exclui o dolo: erro sobre as proibições
legais. O agente representa e quer aquilo que está a fazer, só que não sabe que isso é um crime. Não
tem noção do caráter proibido da conduta. Do ponto de vista intelectual, ele representa toda a
factualidade típica. Só que no fim descobre que essa conduta era proibida criminalmente. Só que esse
erro não pode excluir o dolo, em princípio. O Dr. Figueiredo Dias que há certas proibições cujo
desconhecimento pode excluir o dolo. Na maior parte dos casos, basta o agente representar a conduta
4. A, banqueiro, vem sendo repetidamente ameaçado de morte por um grupo terrorista. Uma
noite, sente que alguém rasteja pela erva do jardim, mesmo junto da parede da casa. Pensando que
chegara a hora do atentado, pega na arma e dispara um tiro certeiro na direção de quem assim se
aproximava. Afinal, veio a verificar que matara o seu próprio filho, que procurava entrar em casa
pela janela, para que o pai não se apercebesse de que chegava fora de horas. Quid iuris?