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DIREITO
CONSTITUCIONAL
CAPÍTULO 5
Recado para você que está assistindo às videoaulas
Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você que
está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do nosso
CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:
O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte nas
revisões!
Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas, razão
pela qual pode ser eventualmente repetido;
A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o capítulo
03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada no
estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso, nem
todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;
1
CAPÍTULOS
2
SOBRE ESTE CAPÍTULO
fundamentais. Trata-se de tema cobrado nas provas das mais diversas carreiras jurídicas e que
é de extrema importância nos certames.
Direitos e garantias fundamentais irão cair em todas as fases do concurso e podem ser
cobrados nos aspectos da lei, da doutrina e da jurisprudência. Por isso, o presente material irá
te ajudar a encurtar o caminho entre o estudo e a aprovação.
apontado neste material e de estar sempre atento à jurisprudência das Cortes Superiores,
principalmente do STF.
Enfim, o tema é extenso (mas não difícil) e o trabalho é árduo, então, mãos à obra!
3
SUMÁRIO
5.6 Teoria interna, teoria externa e a teoria dos “limites dos limites” ............................................... 36
4
5.7 Teoria absoluta, teoria relativa e o princípio do respeito ao conteúdo essencial dos
GABARITO ............................................................................................................................................... 82
JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 90
5
DIREITO CONSTITUCIONAL
Capítulo 5 – Parte 01
Como referido, iniciaremos a primeira parte do capítulo que trata sobre direitos e
garantias fundamentais. Abordaremos o seu conceito, a sua evolução, a sua estrutura, as
Além disso, pontuaremos diversos aspectos doutrinários, teorias e classificações para que
você, concurseiro, fique por dentro de tudo que vem sendo cobrado em provas.
Trataremos, também os pontos mais relevantes dos direitos individuais básicos como a
que, com o advento da internet e, mais especificamente, das redes sociais, vem sendo muito
cobrado em provas e debatido na jurisprudência das mais diversas Cortes do país.
Trouxemos, por fim, além de diversas teorias sobre direitos fundamentais (sobre a sua
colisão, limitação, núcleo essencial, dupla dimensão, eficácia), a mais atualizada jurisprudência
sobre a matéria, com os devidos comentários, além de importantes questões que caíram em
6
5. Direitos e Garantias Fundamentais
O Professor alemão Georg Jellinek desenvolveu, no final do século XIX, a doutrina dos quatro
eles desempenhado na ordem jurídica. São eles: status passivo, status negativo, status positivo
e status ativo.
de subordinação aos poderes públicos, caracterizando-se como detentor de deveres para com
1
Vide questão 10
7
o Estado. Nessa situação, o Estado pode obrigar o indivíduo, mediante mandamentos e
proibições.
suma, faz-se necessário que o Estado não tenha interfira na autodeterminação do indivíduo, que
tem direito a gozar de algum âmbito de ação desvencilhado da ingerência estatal. Temos, nessa
O status positivo (ou status civitatis) se verifica nas situações em que o indivíduo tem o
direito de exigir do Estado que atue positivamente em seu favor, que realize prestações,
Jellinek, por fim, trata do status ativo, no qual o indivíduo desfruta de competências para
influir sobre a formação da vontade estatal, correspondendo essa posição ao exercício dos
Participação na formação da
Ativo
vontade estatal
8
5.1.2 Classificação dos Direitos Fundamentais
O ministro Alexandre de Moraes aponta que a Constituição Federal de 1988 trouxe em seu
Título II os direitos e garantias fundamentais, subdividindo-os em cinco capítulos: direitos
Direitos
Fundamentais de
Primeira Geração
Direitos
Fundamentais de
Segunda Geração
Direitos
Fundamentais de
Terceira Geração
Sobre o tema, leciona o ministro Celso de Mello, “enquanto os direitos de primeira geração
(direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais –
realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais
9
e culturais) – que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o
seguintes:
f) Efetividade: a atuação do Poder Público deve ter por escopo garantir a efetivação
dos direitos fundamentais;
10
h) Complementaridade: os direitos fundamentais não devem ser interpretados
isoladamente, mas sim de forma conjunta com a finalidade de alcançar os
objetivos previstos pelo legislador constituinte;
Não existe uma lista taxativa de direitos fundamentais. Eles representam um conjunto
aberto, dinâmico, mutável no tempo. Essa característica dos direitos fundamentais encontra-se
expressa no § 2º do art. 5º da CRFB/1988, nos termos seguintes: "os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por
ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte".
De todo modo, vale ressaltar que, embora a CF preveja expressamente a gratuidade do assento
de nascimento e óbito apenas aos reconhecidamente pobres, a Lei 9534/1997 alterou a redação
do art. 30, da Lei 6015/73, estendendo a todos a gratuidade da “registro civil de nascimento e
pelo assento de óbito, bem como pela primeira certidão respectiva”, e o STF entendeu
2
Vide questão 9
11
5.2 Teoria geral das garantias
Para tratarmos da teoria geral das garantias, a primeira pergunta que precisamos fazer é
Direito Garantia
fundamental Fundamental
Instrumento de
Bem e a vantagem
proteção do
em si
direito
considerados
fundamental
Ex: liberdade de
Ex: Habeas Corpus
locomoção
Já que foi citado o exemplo do habeas corpus, então, qual é a diferença entre uma
4
Vide questão 11
12
Ademais, os direitos e deveres individuais e coletivos, previstos no art. 5º da CRFB, são
espécies do gênero direitos e garantias fundamentais (Título II). Com isso, apesar de o artigo 5º
Apesar de o art. 5º, “caput” fazer referência somente aos brasileiros e aos estrangeiros
das Cortes Superiores, é de que devem ser entendidos como destinatárias todas as pessoas,
inclusive os estrangeiros não residentes, os apátridas e até as pessoas jurídicas. Não faria sentido
Além disso, entende-se que o rol de direitos e garantias previstos no referido artigo é
expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por
ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a República Federativa do Brasil seja
Agora concurseiro, outro importante assunto que devemos saber acerca das garantias
De acordo com o art. 5º, §1º, da CF os direitos e garantias fundamentais tem aplicação
imediata.
Para José Afonso da Silva a expressão “aplicação imediata” quer dizer que tais normas
são dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua pronta incidência aos fatos,
13
situações, condutas ou comportamento que elas regulam. Nessa linha, segundo Pedro Lenza, as
Assim, para que se interprete de forma correta o art. 5º, §1º, é preciso entender que
devem ser os direitos e garantias fundamentais aplicáveis o máximo possível e que o Poder
Judiciário pode ser invocado para que apliquem as normas de forma concreta.
Nesse caso a CF/88 trouxe remédios para combater a “síndrome de inefetividade” das
normas de eficácia limitada, quais sejam, a ADO (ação direta de inconstitucionalidade por
omissão) e o MI (mandado de injunção), sendo que este último foi regulamentado pela Lei
n.13.300/2016, permitindo que seja extraído o correto sentido da expressão “aplicação imediata”,
Por fim, apesar de haver certa divergência, quais são as principais garantias previstas
no art. 5º da Constituição?
5
Vide questão 2
6
Vide questão 15
14
Individualização da pena (art. 5º, XLVI)
Garantias ligadas à extradição (art. 5º, LI)
Devido processo legal (art. 5º, LIV)
Vedação da prova ilícita (art. 5º, LVI)
Presunção de inocência (art. 5º, LVII)
Proibição da identificação criminal do civilmente identificado (art. 5º, LVIII)
Ação penal privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX)
Garantias ligadas à prisão
Não autoincriminação (art. 5º, LXII)7
Assistência jurídica gratuita (art. 5º, LXXIV)
Indenização por erro judiciário (art. 5º, LXXV)
Gratuidade dos registros de nascimento e óbito (art. 5º, LXXVI)
Celeridade processual (art. 5º, LXXVIII)
São considerados direitos individuais básicos os expressamente previstos no art. 5º, caput,
ou seja: vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. Além destes, o próprio art. 5º
da Carta Magna traz, nos seus setenta e oito incisos, uma extensa relação de direitos individuais.
Uma importante característica dos direitos individuais previstos no art. 5º da Lei Maior é o
seu caráter autoaplicável, ou, relembrando a classificação estudada das normas constitucionais,
tratam-se, na sua maioria, de normas de eficácia plena ou contida, com aplicabilidade imediata.
Assim, não dependem da edição de norma regulamentadora para que possam ser exercidos,
salvo algumas poucas exceções. É o que está expressamente previsto no art. 5º, §1º.
7
Vide questão 14
15
Embora o texto constitucional não faça menção expressa aos estrangeiros não residentes no
País, é pacífico o entendimento de que eles também gozam da proteção constitucional quanto
aos direitos fundamentais. O mesmo se pode dizer das pessoas jurídicas, também merecedoras
da proteção constitucional quanto aos direitos fundamentais (tanto as de direito público quanto
as de direito privado).
Por fim, o sistema constitucional brasileiro alberga direitos fundamentais não expressos
no texto constitucional, mas que sejam decorrentes do regime e dos princípios adotados pela
Constituição Federal. Os direitos e as garantias expressos na Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte.
Isso significa que o rol de direitos do art. 5º, apesar de extremamente abrangente,
Com base nesse dispositivo, a Constituição brasileira contém cláusula aberta que permite
acolher os chamados direitos materialmente fundamentais ou direitos fundamentais em sentido
material, que são aqueles não previstos expressamente por ela, mas que, por força de sua
essencialidade, são direitos fundamentais, detentor da mesma dignidade dos direitos
constitucionalizados. A essa abertura podemos denominar, com apoio em JORGE MIRANDA, de
não tipicidade dos direitos fundamentais. CANOTILHO sustenta que, “em virtude de as normas
que os reconhecem e protegem não terem a forma constitucional, estes direitos são chamados
de direitos materialmente fundamentais. Por outro lado, trata-se de uma ‘norma de FATTISPECIE
ABERTA’, de forma a abranger, para além das positivações concretas, todas as possibilidades de
‘direitos’ que se propõem no horizonte da ação humana”.
16
Veja como o tema foi abordado recentemente na prova de Promotor de Justiça do MPE-
GO, em 2019.
5.3.1.1. Igualdade
O direito à igualdade está consagrado no art. 5º, caput, da Constituição Federal, que diz:
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.8 Seu significado é intuitivo,
vale dizer, proíbe-se toda e qualquer forma de discriminação injustificada entre as pessoas.
forma igual perante a lei, ou seja, todos nascem e vivem com os mesmos direitos e deveres
perante a coletividade e o Estado.
É importante notar que o conteúdo deste princípio não impõe uma igualação absoluta
aquilo que se chama de igualdade material. Por isso é que se fala que respeitar o princípio
da igualdade é igualar os iguais, na medida das suas igualdades, e desigualar os desiguais, na
8
Vide questão 6
17
Ações afirmativas (discriminações positivas)
Definir distritos eleitorais para o fortalecimento das minorias representadas por estes
distritos eleitorais; e
Sistemas de cotas
possuem natureza transitória já que as desigualdades entre negros e brancos não resultam,
como é evidente, de uma desvalia natural ou genética, mas decorrem de uma acentuada
18
inferioridade em que aqueles foram posicionados nos planos econômico, social e político em
exclusão social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se em
benesses permanentes, instituídas em prol de determinado grupo social, mas em detrimento da
coletividade como um todo, situação incompatível com o espírito de qualquer Constituição que
se pretenda democrática.
5.3.1.2. Legalidade
Este importantíssimo princípio constitucional vem proclamado no art. 5º, II, que declara:
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” .
É a base primordial dos chamados Estados de Direito, como o Brasil, que primam por
garantir a todos os que estiverem sob sua Soberania a segurança de que só se verão obrigados
a praticar certa conduta ou a se abster de fazer algo se assim a lei previr.
Quando se fala em segurança das relações jurídicas, fala-se no direito que todos têm de
saber as consequências exatas dos atos jurídicos que venham a praticar. É a segurança conferida
aos indivíduos de que não serão pegos de surpresa por novas e inesperadas situações que lhe
prejudiquem.
Em nome desta segurança é que o princípio geral acerca da aplicação das leis é o da
irretroatividade, ou seja, as leis só alcançam as situações posteriores à sua elaboração. Poderão
retroagir somente nos casos em que não prejudiquem ao direito adquirido, ato jurídico perfeito
e a coisa julgada.
19
Direito adquirido: considera-se adquirido o direito se ele já tiver se incorporado
Coisa julgada: é a decisão judicial definitiva, ou seja, da qual já não caiba recurso.
Depois de transitada em julgado (ultrapassadas todas instâncias de recurso), a
sentença proferida num processo judicial confere às partes a certeza de que não
será modificada.
5.3.1.4. Privacidade
O art. 5º, X, da CF, estabelece que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”.
mails.
9
Vide questão 17
20
do indivíduo perante os outros, a reputação que possui no meio social (honra
objetiva).
O art. 5º, XI, da CF, proclama que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial ”.
autorização.
(cumprimento de ordem judicial) só pode ocorrer durante o dia. O STF tem considerado como
“durante o dia”, sendo o intervalo compreendido entre o amanhecer até o pôr do sol.
5.3.1.5. Vida
21
Do direito à vida decorre uma série de direitos, como o direito à integridade física e
moral, a proibição da pena de morte e da venda de órgãos, a punição como crime do homicídio,
da eutanásia, do aborto e da tortura10.
5.3.1.6. Liberdade
Liberdade, em termos jurídicos, é o direito de fazer ou não fazer alguma coisa senão
em virtude da lei. Um indivíduo é livre para fazer tudo aquilo que a lei não proibir. Considerando
o princípio da legalidade (art. 5º, II), apenas as leis podem limitar a liberdade individual.
O art. 5º, IV, estabelece que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato”11. Se a CRFB assegura a liberdade de manifestação de pensamento, as pessoas são
obrigadas a assumir a responsabilidade por aquilo que exteriorizarem. Ninguém pode fugir da
responsabilidade do pensamento exteriorizado, escondendo-se sob a forma do anonimato. O
pessoas12.
religiosas. Inclui o direito de professar ou não uma religião, de acreditar ou não numa ou mais
divindades ou de ser ateu13.
10
Vide questão 8
11
Vide questão 18
12
Vide questões 1 e 16
13
Vide questão 4
22
A CRFB de 1988, preocupada em assegurar ampla liberdade de manifestação de
pensamento, veda expressamente qualquer atividade de censura ou licença (art. 5º, IX). Por
censura entende-se a verificação da compatibilidade entre um pensamento que se pretende
exprimir e as normas legais vigentes. Por licença, a exigência de autorização de qualquer agente
ou órgão para que um pensamento possa ser exteriorizado14.
de caráter transitório, com uma determinada finalidade. Em locais abertos ao público, a CRFB
assegura, no art. 5º, XVI, desde que observados certos requisitos: a) reunião pacífica, sem
autorização do Poder Público. Sua finalidade é unicamente evitar a frustração de outra reunião
previamente marcada para o mesmo local. O direito de passeata é também assegurado pela CF,
pois esta nada mais é do que uma reunião em movimento.
de notícias e de opiniões, já que “os direitos que dão conteúdo à liberdade de imprensa são
bens de personalidade que se qualificam como SOBREDIREITOS. Daí que, no limite, as relações
de tudo prevalecem as relações de imprensa como superiores bens jurídicos e natural forma de
controle social sobre o poder do Estado, sobrevindo as demais relações como eventual
14
Vide questão 5
23
Afirmou-se, ainda, que a liberdade de expressão desfruta de uma posição preferencial no
Estado democrático brasileiro, por ser uma pré-condição para o exercício esclarecido dos demais
direitos e liberdades. Assim, eventual uso abusivo da liberdade de expressão deve ser reparado,
orientação.
intimidade e a vida privada, o que afasta a possibilidade de controle prévio, pelo Poder Judiciário,
sobre o exercício de referida liberdade. CORRETA!
5.3.1.7. Propriedade
O direito de propriedade encontra-se assegurado no art. 5º, XXII, da Lei Maior, sendo
conceituado tradicionalmente pelo art. 1.228 do Código Civil (Lei 10.406/02), como sendo o
direito conferido a todos “de usar, gozar, e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de
quem quer que injustamente os possua”.
Esta antiga e tradicional definição, todavia, hoje precisa ser revista, tendo em vista que a
Constituição de 1988 trouxe a figura da função social da propriedade, a teor do seu art. 5º, XXIII,
que diz: “a propriedade atenderá a sua função social”.
24
Isto quer dizer que não se concebe mais o direito de propriedade como um direito
absoluto do seu titular que pode ser exercido à revelia dos interesses sociais. Ao contrário, a
função social da propriedade impõe a utilização da coisa de acordo com a conveniência social
e os interesses da sociedade.
princípio da proporcionalidade.
emana das ideias de justiça, equidade, bom senso e serve de regra de interpretação do
ordenamento jurídico.
Tendo em vista que não existe hierarquia entre direitos fundamentais, no caso de sua
princípio da proporcionalidade. Por este método, é preciso avaliar o caso concreto para que
concorrência há o afluxo de direitos, ou seja, ocorre uma situação em que é possível exercer
25
Direitos Fundamentais
Conflito Concorrência
Choque (colisão) Afluxo
Exercício de mais de um
Ponderação
direito ao mesmo tempo
um Estado Democrático, sendo instrumento de tutela dos direitos fundamentais que utiliza
para a sua concretização o método hipotético dedutivo. A sua natureza jurídica é a de princípio
jurídico regulador dos conflitos entre direitos fundamentais e demais princípios insculpidos na
Constituição.
alemã, que compreende o sistema do Civil Law. Por outro lado, parte da doutrina, que não
histórico a Magna Carta inglesa, no sistema do “Common Law”, que traz a inscrição de que “ o
homem livre não deve ser punido por um delito menor, senão na medida desse delito, e por
um grave delito ele deve ser punido de acordo com a gravidade do delito ”.
26
Quais os elementos ou subprincípios da proporcionalidade?
contagiosa com potencial de gerar um colapso nos sistemas público e privado de saúde. Em
27
Seguindo as recomendações da OMS, as entidades federativas do Brasil determinaram
eventos e até restrições ao lazer, dentre outras medidas que implicam em flagrantes hipóteses
84, XI da CRFB/88.15 Ressalta-se que não houve decretação dos estados de exceção.
Diante do todo exposto, verifica-se que há uma clara colisão entre direitos fundamentais.
fundamentais.
Poder Público encontram legitimação diante da colisão entre o direito à vida, o direito à saúde
15
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso
Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar
necessárias.
28
Sabe-se que os direitos e as garantias fundamentais possuem um papel central no Estado
democrático de direito e, por isso, devem ser aplicados e efetivados pelos três Poderes da
República.
uma doença extremamente contagiosa e, por essa razão, está havendo mitigação de alguns
que exige que o sacrifício de um direito seja útil para a solução do problema, que não haja
outro meio menos danoso para atingir o resultado desejado e que seja proporcional em sentido
estrito, isto é, que o ônus imposto ao sacrificado não sobreleve o benefício que se pretende
16
MENDES, Gilmar Ferreira. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 13 ed. ver. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2018.
29
comprovação da eficácia do detector de mentiras, o que geraria violação dos direitos
incluindo o direito à vida e às liberdades públicas e privadas. Dessa forma, ante o caráter
conflito entre eles, haja a ponderação pelo aplicador do direito e decida-se pela
aplicação do princípio mais adequado ao caso concreto. Nesse contexto, esta Turma, ao
apenas para prestar esclarecimentos, sem alteração do julgado. (TST - Acórdão Ed-rr -
(grifos acrescidos)
necessários ao gozo do direito à saúde dos cidadãos. O Supremo Tribunal Federal assentou
o entendimento de que o Poder Judiciário pode, sem que fique configurada violação ao
17
Vide questão 3
30
princípio da separação dos Poderes, determinar a implementação de políticas públicas nas
regimental a que se nega provimento. (STF - Acórdão Are 801676 Agr / Pe - Pernambuco,
Esclarece-se que, embora fundamentais, tais direitos não são absolutos. Dessa forma,
podem ser mitigados sem violar a Constituição Republicana de 1988, ou seja, em situações
Neste sentido, por exemplo, a CRFB/88, em seu artigo 136 e 137 autoriza que em caso
de decretação de estado de defesa, bem como no caso de decretação do estado de sítio seja
No estado de defesa, artigo 136 da CRFB/88, permite restrições aos direitos de reunião,
31
imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; a suspensão da liberdade de reunião; a busca
bens.
deficiente?
atuação estatal que exceda o estritamente o necessário para o atingimento do fim almejado.
fundamental.
18
Vide questões 12 e 13
32
Princípio da Princípio da
proibição do proibição da
excesso proteção deficiente
Como dito, o princípio da proporcionalidade tem origem na jurisprudência alemã (Civil Law), ao
passo que o princípio da razoabilidade, como se verá, tem a sua origem na Magna Carta de
1215 e tem a sua dogmática atrelada aos pensadores norte-americanos (Common Law).
estrutura de maior racionalidade, enquanto o da razoabilidade liga-se a uma relação entre meio
e fim.
33
Por fim, é de se dizer que no princípio da razoabilidade existe uma preponderância da
eficácia negativa de conter arbítrios. Por outro lado, o princípio da proporcionalidade atua
como maior instrumento de eficácia positiva, já que, além de conter excessos, se presta a
Princípio da Princípio da
Proporcionalidade Razoabilidade
Origem na Origem na
jurisprudência Magna Carta
alemã de 1215
Common Law
Civil Law
Eficácia
Eficácia positva
negativa
34
O princípio da razoabilidade é originário da garantia do devido processo legal
substancial e da cláusula “law of the land”, que nos remete à Magna Carta de 1215: “o homem
livre não deve ser punido por um delito menor, senão na medida desse delito, e por um grave
O princípio surgiu dentro de um ideário processual, contudo, com o tempo, evoluiu para
Nessa linha, a razoabilidade foi prevista pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos (PIDCP), a que o Brasil aderiu em 1992. O seu ingresso expresso na nossa Constituição,
por sua vez, se deu com a EC 45/2004, que trouxe para o ordenamento jurídico pátrio a acepção
razoabilidade?
O primeiro conteúdo é o que traz a relação das normas gerais com as peculiaridades do
caso concreto. Desta feita, pode servir para indicar se o caso se adapta ou não à norma.
Por fim, num terceiro viés, a razoabilidade é utilizada para estabelecer a relação entre
duas grandezas.
35
De todo modo, assim como o princípio da proporcionalidade, o princípio da razoabilidade
pode ser compreendido como um instrumento de correta aplicação das normas jurídicas.
Sim, é admissível que sejam realizadas limitações em direitos fundamentais, já que estes
não têm caráter absoluto. Essa é a visão contemporânea e relativista dos direitos fundamentais,
Assim, a modelação dos direitos fundamentais pode se dar por uma lei ordinária, caso a
CF assim estipule. O exemplo disso é o das normas de eficácia contida, como o direito ao livre
Observe-se, contudo, que existem limites para as restrições, já que não se pode atingir
interno do direito, que contém a sua essência e que não pode ser restringido.
A teoria do limite dos limites provém da Alemanha e significa que é possível a limitação
finalidade deve ser a de ampliar a tutela do direito fundamental. E mais, não só os limites
36
inerentes ao direito fundamental podem trazer limitações ao direito, mas também os limites
externos.
Contudo, até que ponto pode haver a limitação aos direitos fundamentais?
É exatamente daí que decorre a essência “teoria dos limites dos limites”, conforme
explicaremos.
Como referido, hoje em dia é feita uma leitura relativista dos direitos fundamentais, ou
seja, de que não podem ser vistos como absolutos e de que inexiste hierarquia entre eles.
Deste modo, duas são as teorias que acerca da maneira que um direito fundamental pode
A teoria interna aponta que os limites dos direitos fundamentais são fixados por um
processo interno ao próprio direito e sem a influência de outras normas. Assim, através da
interpretação do próprio direito é que se chega aos seus limites. São os chamados limites
imanentes. O objeto, portanto, é único: o direito fundamental, que terá os seus próprios limites.
Por outro lado, a teoria externa, que combina melhor com a teoria relativista dos direitos
37
A definição dos limites externos se dá a partir da conciliação entre o direito fundamental
e os demais direitos. Com isso, o direito “definitivo” será apurado após a aplicação do princípio
da proporcionalidade.
Como se nota, na teoria externa existem dois objetos, enquanto na teoria interna existe
apenas um. Na teoria interna é visto apenas o direito em si, já na teoria externa existem dois
ao direito, mas também os limites externos. Daí decorre a “teoria dos limites dos limites”.
Mas porque se diz “limites dos limites”? De onde vem essa ideia?
38
A ideia de “limites dos limites” pode ser traduzida como a verificação de que as limitações
aos direitos fundamentais devem ser limitadas para evitar o seu completo desvirtuamento
ou anulação. Não se pode atingir o núcleo duro do direito fundamental. Com isso, é de se dizer
Nessa senda, não basta apenas observar o núcleo essencial dos direitos fundamental,
além disso deve estar explícita no texto (para proteção da segurança jurídica), deve ser de
cunho geral e abstrato (para evitar casuísmos) e, por fim, deve ser proporcional (adequada,
necessária e proporcional em sentido estrito). O Supremo costuma utilizar a teoria dos limites
Generalidade e abstração
O que deve ser observado?
(evitar casuísmos)
Proporcionalidade
(adequação, necessidade e
proporcionalidade em
sentido estrito)
39
5.7 Teoria absoluta, teoria relativa e o princípio do respeito
ao conteúdo essencial dos direitos fundamentais
Após compreendidas as teorias interna e externa, bem como a teoria dos limites dos
limites, é preciso entender a teoria absoluta e a relativa que delimitam o núcleo essencial dos
direitos fundamentais.
inatingível de cada direito fundamental, um mínimo cuja restrição está fora de alcance do
Para a correta delimitação de tal núcleo, existem duas teorias: a absoluta e a relativa.
Na teoria absoluta o núcleo é uma unidade substancial autônoma que fixa seu conteúdo
fundamental em duas: uma parte suscetível de restrição e outra imune a qualquer intervenção,
A teoria relativa, por sua vez, aponta que o núcleo essencial é maleável e apurado em
cada caso concreto, por ponderação. Nos casos extremos seria admissível, inclusive, o
Por fim, há quem indique uma teoria mista, que concilia as duas anteriores. Nesta, o
núcleo essencial é apurado em cada caso concreto (teoria relativa), porém haverá uma parcela
40
Em suma, o que se precisa ter em mente é que ao darmos a natureza de princípio aos
direitos fundamentais, possibilitamos que haja a sua restrição. Mas esta restrição nunca pode
Reconhecer uma dupla dimensão aos direitos fundamentais é considerar que eles se
apresentam como direitos subjetivos individuais, essenciais à proteção da pessoa humana, bem
como expressão de valores objetivos de atuação e compreensão do ordenamento jurídico.
Essa perspectiva tem foco principal no sujeito, no titular do direito. Desta forma, os
direitos fundamentais geram direitos subjetivos aos seus titulares, permitindo que estes exijam
comportamentos, negativos ou positivos, dos destinatários.
41
5.8.2 Perspectiva objetiva
42
5.9 Eficácia vertical e horizontal dos direitos fundamentais
Antes existia apenas eficácia vertical: Estado → Indivíduo. Os direitos eram aplicados na
relação de subordinação existente entre Estado e indivíduo, a fim de proteger este em face
daquele.
Com o passar do tempo constatou-se que o ‘inimigo’ não era apenas o Estado, mas
também outros indivíduos (relação indivíduo → indivíduo). Dessa forma, surgiu a eficácia
horizontal dos direitos, ou seja, sua aplicação nas relações entre particulares. É chamada de
horizontal, pois não existe subordinação, mas sim uma coordenação, uma igualdade entre
as partes da relação.
Assim, com a evolução constitucional, esse raciocínio foi conduzido para o que hoje se
denomina de eficácia horizontal dos direitos e garantias fundamentais, no sentido de considerar
que tais fundamentos, muito embora criados para regular as relações verticais, de subordinação,
entre o Estado e os seus súditos, passam a ser empregados nas relações privadas, envolvendo
pessoas físicas e jurídicas de direito privado19.
Uma das hipóteses da incidência dos direitos fundamentais nas relações privadas encontra-
se no art. 7º da Constituição da República, que tem como destinatários os empregados e
empregadores privados.
Outra previsão está expressa no inciso V do art. 5.º, o qual assegura o direito de resposta,
proporcional ao agravo (nesse caso, o sujeito passivo será o órgão de imprensa, privado).
Assim, de modo resumido, não só o Estado deve respeitar os direitos fundamentais, mas
também os particulares.
19
Vide questão 7
43
5.9.2 Eficácia Vertical dos direitos fundamentais
44
Relação entre Estado e
cidadãos
Vertical Subordinação
Limitação da atuação
estatal
Eficácias dos direitos
fundamentais
Relação entre
particulares
Coordenação
Horizontal (ausência de
subordinação)
Relações entre
Diagonal (ou particulares marcadas
transversal) por notória
desigualdade de forças
Entretanto, é preciso destacar que no atual contexto da CF/88, bem como da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) e da Lei Geral Financeira (L. 4.320/64), o orçamento público
assumiu papel ainda mais relevante de implementação dos direitos fundamentais, adotando
a condição de orçamento-programa. É ferramenta de implementação dos direitos e garantias
constitucionais em que cada ente deve contemplar o Estado Social de Direitos, independente
da política partidária e administrativa. O Estado deve ser visto com a função de assegurar o bem
estar de seus membros e tal implementação é prevista no orçamento. Assim, há
discricionariedade política relativa no gasto e na implementação das políticas públicas. A
45
discricionariedade se refere à política a ser implementada e não aos direitos fundamentais a
serem contemplados. Admite-se a variação das políticas, mas não que algum direito fundamental
seja renegado no orçamento.
Nessa linha, o Poder Judiciário tem a função de intervir nas atividades discricionárias do
Estado para corrigir eventuais erros que afastem as políticas públicas da implementação de
direitos fundamentais.
Além disso, a nossa Lei Maior ainda prevê limites mínimos de gastos em determinadas
áreas, como saúde e educação, que podem ser controlados pelo Judiciário.
Ok, compreendidas essas linhas gerais do que é orçamento público no atual contexto da
CRFB, é de se perguntar: O que é a teoria da reserva do possível?
A teoria da reserva do possível tem origem na jurisprudência alemã e surgiu para ponderar
acerca do cumprimento, pelo Estado, de metas não fundamentais.
No caso alemão foi posta sob a análise do Judiciário, por um grupo de estudantes, o
acesso às universidades aos que não passaram no processo seletivo, com base no direito à
livre escolha do trabalho, ofício ou profissão. Portanto, nasceu a teoria para ponderar o
cumprimento de metas não fundamentais do Estado. Para equilibrar e disponibilizar recursos
excedentes naquilo que continua sendo demandado pela população.
Verifica-se que o Estado alemão não negou a educação a tais estudantes, apenas
estipulou um processo seletivo para o acesso à universidade. Por isso, foi utilizada a teoria da
reserva do possível para justificar a não disponibilização daquelas vagas específicas. Tratou de
direitos secundários e não fundamentais dos estudantes que pugnavam pela livre escolha do
trabalho, ofício ou profissão.
O aluno agora deve estar se perguntando: e como essa teoria é aplicada no contexto
brasileiro?
46
Há quem entenda que a jurisprudência nacional desnaturou a ideia alemã em detrimento
de direitos essenciais. A crítica é a de que no território nacional essa teoria cria uma hierarquia
entre direitos fundamentais. Somente os direitos de primeira geração seriam assegurados por
completo, sendo que os demais podem ser extenuados, ou seja, postos à sorte da teoria da
reserva do possível.
Nessa linha, não podem ser extintos direitos sociais já implementados e deve ser evitado
fundamento foi o de exigir sempre um grau crescente de implementação dos direitos sociais.
47
É importante lembrar que não incumbe ao Judiciário promover a implementação de
não pode se omitir quando o Executivo e o Legislativo não cumprirem as suas funções,
Pública realize obras e reformas emergenciais em presídios para que sejam garantidos direitos
ampliativa.
de direitos sociais originários e direitos sociais derivados. Os originários são aqueles que decorre
diretamente das normas constitucionais. Já os derivados são aqueles que foram concretizados
Para mais, deve-se ter em mente a ideia das “tragic choices” (escolhas trágicas). É o
embate entre alocar o dinheiro público para concretizar o direito de uma pessoa e,
eventualmente, prejudicar o resto da população. Esse conceito vem dos dilemas que podem ser
48
enfrentados pelo Poder Público. É o caso do fornecimento, pelo Estado, de medicamento custoso
a uma pessoa que está em situação grave de saúde em detrimento do resto da sociedade.
Por fim, não podemos nos esquecer que nos momentos de crise econômica e de medidas
de austeridade existe a chamada “jurisprudência da crise”. Tal conceito foi muito invocado
pelo Tribunal Constitucional português que se atenta aos limites materiais do Estado para a
concretização de direitos. Todavia, mesmo nestes casos, vem à tona a ideia dos “limites do
sacrifício” que indica que é preciso observar, para a efetivação da restrição de direitos, os
49
QUADRO SINÓPTICO
50
As várias previsões constitucionais, apesar de
INTERDEPENDÊNCIA autônomas, possuem diversas intersecções para
atingirem suas finalidades.
RELATIVIDADE OU
Os direitos fundamentais não têm natureza absoluta.
LIMITABILIDADE
Subordinação aos
poderes públicos
Passivo
Sujeição a deveres
fundamentais
Indivíduo com
autodeterminação
OS QUATRO
Negativo
STATUS DE
O Estado não
JELLINEK
interfere
Atuação positiva do
Positivo
Estado
Participação na
Ativo formação da
vontade estatal
51
Princípio da Princípio da
Proporcionalidade razoabilidade
Origem na Origem na
jurisprudência Magna Carta
alemã de 1215
Common Law
Civil Law
Eficácia
Eficácia positva
negativa
52
As limitações aos direitos
fundamentais devem ser
Núcleo essencial dos
limitadas para evitar o seu
direitos fundamental
completo desvirtuamento
ou anulação
Teoria dos limites
dos limites
Generalidade e abstração
O que deve ser observado?
(evitar casuísmos)
Proporcionalidade
(adequação, necessidade e
proporcionalidade em
sentido estrito)
53
Dupla dimensão dos direitos fundamentais
Vertical Subordinação
Limitação da atuação
estatal
Eficácias dos direitos
fundamentais
Relação entre
particulares
Coordenação (ausência
Horizontal
de subordinação)
Relações entre
Diagonal (ou particulares marcadas
transversal) por notória
desigualdade de forças
54
QUESTÕES COMENTADAS
Questão 1
direito e não pode ser restringido por meio de censura estatal, salvo a praticada em sede
jurisdicional
a) Certo
b) Errado
Comentário:
direito e não pode ser restringido por meio de censura estatal, salvo a praticada em sede
jurisdicional”.
Errado! Em primeiro lugar cumpre apontar que a liberdade de expressão não está prevista no
art. 1º da CF. A partir disso já seria possível resolver a questão. Mas vale ir além e entender de
onde veio esse trecho. Assim, é de se destacar que o presente enunciado se trata de uma parte
de um julgado do STF (Info 767) no qual a Corte dispôs que “a liberdade de manifestação do
pensamento, que representa um dos fundamentos em que se apoia a própria noção de Estado
55
democrático de direito e que não pode ser restringida, por isso mesmo, pelo exercício ilegítimo
da censura estatal, ainda que praticada em sede jurisdicional”. Portanto, gabarito: errado.
Questão 2
(CESPE - 2019 - MPC-PA - Procurador de Contas) No que se refere à teoria geral dos direitos
Comentário:
A temática das dimensões dos direitos fundamentais é sempre cobrada em provas. Veja-se:
Errada! O Direito de resistência é inerente à pessoa humana, sendo uma liberdade individual:
Primeira geração.
“B) a igualdade formal é característica típica dos direitos fundamentais de segunda dimensão”.
56
Errada! O direito de greve se encaixa na segunda geração, assim como o direito à sindicalização.
São os direitos sociais ou liberdades positivas. os direitos de terceira geração, que materializam
poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais,
consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de
desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto
valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade.” (MS 22.164,
rel. min. Celso de Mello, j. 30-10-1995).
Questão 3
(CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público) Acerca dos direitos à liberdade de expressão e
Embora as notícias falsas que circulam na Internet (fake news) prejudiquem o acesso à
informação, a liberdade de expressão e de comunicação é direito humano absoluto, portanto
a) Certo
b) Errado
Comentário:
Errada! É importante enfatizar que o direito à liberdade de expressão não é um direito absoluto,
ele pode estar sujeito a restrições, conforme indicado pelo art. 13 da Convenção em seus
57
parágrafos 4 e 5. Da mesma forma, a Convenção Americana, no seu art. 13.2, prevê a
modo algum limitar, para além do estritamente necessário, a plena liberdade de expressão e
tornar-se um mecanismo direto ou indireto de censura prévia. Para determinar outras
Questão 4
(FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público) O art. 19, I, CF/88, proíbe que a União, Estados,
Distrito Federal e Municípios estabeleçam cultos religiosos ou igrejas, que os subvencionem ou
mantenham com eles relação de dependência ou aliança. Ao mesmo tempo, a CF/88 garante a
liberdade de consciência e de crença (art. 5º , VI), bem como assegura que ninguém pode ser
privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política (art. 5º
, VIII). Tais normas compõem o que se denomina de Estado Laico. Sobre a laicidade estatal, no
A) não houve divergência entre os Ministros do STF no sentido de afirmar ser o Brasil um Estado
Laico e que o ensino religioso confessional está de acordo com os Tratados Internacionais de
Direitos Humanos.
C) ficou estabelecido que o ensino religioso confessional em escolas públicas abre campo para
o estabelecimento de relações indevidas, sob o ângulo da laicidade, entre Estado e religião, e
58
que a disciplina pode abranger a transmissão de conhecimentos gerais sobre ideias, regras e
D) a partir de uma distinção entre laicidade e laicismo, entendeu-se que viola o primado do
Estado Laico a menção explícita a Deus no preâmbulo da Constituição, os feriados religiosos, o
E) entendeu-se que o ensino religioso nas escolas públicas não viola a laicidade estatal sob o
argumento, dentre outros, de que seria de matrícula facultativa, podendo ser até mesmo
confessional, pois a laicidade estatal tem significado de “neutralidade” e não de “oposição” ou
“beligerância” às religiões.
Comentário:
Cumpre apontar, antes de ingressar no contexto de cada alternativa, que o tema ora debatido
foi abordado na ADI 4439 (Info 879 do STF) que tratava sobre o ensino confessional. Nos termos
do art. 210, §1º, da CF, “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. Assim, em síntese, ponderou o
STF que as escolas públicas podem oferecer ensino religioso confessional, ou seja, vinculado a
uma religião específica, desde que se garanta a oportunidade para todas as doutrinas das outras
religiões. No caso, foi julgada improcedente a ADI supracitada pela apertada maioria de 6x5.
Vamos às alternativas:
“A) não houve divergência entre os Ministros do STF no sentido de afirmar ser o Brasil um
Estado Laico e que o ensino religioso confessional está de acordo com os Tratados Internacionais
de Direitos Humanos.”
Errada! Na verdade, houve divergência entre os Ministros do STF acerca de estar o ensino
verificar que a decisão disse que o ensino poderia ser confessional e que é admitida a admissão
de professores na qualidade de representantes das religiões.
“C) ficou estabelecido que o ensino religioso confessional em escolas públicas abre campo para
o estabelecimento de relações indevidas, sob o ângulo da laicidade, entre Estado e religião, e
que a disciplina pode abranger a transmissão de conhecimentos gerais sobre ideias, regras e
práticas das diversas correntes religiosas.”
Errada! Não foi este o entendimento que prevaleceu, conforme indicado na explanação inicial.
“D) a partir de uma distinção entre laicidade e laicismo, entendeu-se que viola o primado do
Estado Laico a menção explícita a Deus no preâmbulo da Constituição, os feriados religiosos, o
descanso dominical e muitas outras manifestações religiosas institucionalizadas pelo Poder
Público, como, por exemplo, a aposição do crucifixo no plenário da mais alta Corte do País”.
“E) entendeu-se que o ensino religioso nas escolas públicas não viola a laicidade estatal sob o
argumento, dentre outros, de que seria de matrícula facultativa, podendo ser até mesmo
confessional, pois a laicidade estatal tem significado de “neutralidade” e não de “oposição” ou
“beligerância” às religiões”.
Questão 5
(CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto) No que se refere à liberdade de expressão,
60
B) A legislação pertinente determina que os comentários de usuários da Internet nas páginas
Comentário:
Nos tempos atuais em que diversos litígios ocorrem no campo da internet, é preciso conhecer
os detalhes da matéria atinentes ao direito à liberdade de expressão, bem como ao direito de
resposta. Vejamos:
“A) De acordo com o STF, o consumo de droga ilícita em passeata que reivindique a
descriminalização do uso dessa substância é assegurado pela liberdade de expressão”.
Errada! Segundo o julgado do STF na ADPF 187 (Marcha da Maconha), não é assegurado pela
“B) A legislação pertinente determina que os comentários de usuários da Internet nas páginas
eletrônicas dos veículos de comunicação social se sujeitem ao direito de resposta do ofendido”.
61
efeitos desta Lei, considera-se matéria qualquer reportagem, nota ou notícia divulgada por
veículo de comunicação social, independentemente do meio ou da plataforma de distribuição,
publicação ou transmissão que utilize, cujo conteúdo atente, ainda que por equívoco de
informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome, a marca ou a imagem
de pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação. § 2º - São excluídos da
definição de matéria estabelecida no § 1o deste artigo os comentários realizados por usuários
da internet nas páginas eletrônicas dos veículos de comunicação social.
“C) A publicação de informações falsas em veículos de comunicação social não está assegurada
pela liberdade de imprensa”.
Correta! É o que entendeu o STJ no AREsp 1265555 PR ao pontuar que a liberdade de imprensa
- embora amplamente assegurada e com proibição de controle prévio – acarreta a
de resposta do ofendido nem a ação de reparação por dano moral. É o que dispõe o art. 2º, §3,
da referida Lei. Veja-se: “A retratação ou retificação espontânea, ainda que a elas sejam
“E) Além do direito de resposta, a liberdade de expressão garante o direito de acesso e exposição
de ideias em veículos de comunicação social”
Errada! O direito ao acesso à informação – previsto nos art. 5º, XXXIII, art. 37, §3º, II e art. 216,
§2º - não se confunde com o direito à liberdade de expressão.
62
Questão 6
jurídico dos direitos fundamentais, julgue o item que se segue à luz das disposições da CF.
a) Certo
b) Errado
Comentário:
Errado! O direito de greve é um direito social, previsto art. 9º do Título II (Direitos e Garantias
(Direitos e deveres individuais e coletivos) do mesmo título. Note-se que o gênero é direito
fundamental, enquanto a espécie é direito social.
Questão 7
defesa.
II Nas relações entre a imprensa e os particulares, a imprensa deve observar o direito à honra,
sob pena de consequências como direito de resposta e indenização por dano material ou moral.
63
As afirmações I e II contemplam situações que exemplificam a
Comentário:
Do entendimento de cada assertiva é possível chegar à única alternativa que pode ser entendida
defesa”.
A partir da narrativa da assertiva I é possível constatar que se trata da eficácia vertical dos
direitos fundamentais. Conforme elucidado no capítulo, na eficácia vertical os direitos
fundamentais são aplicados na relação entre o Estado e indivíduo, a fim de proteger este em
face daquele.
“II Nas relações entre a imprensa e os particulares, a imprensa deve observar o direito à honra,
sob pena de consequências como direito de resposta e indenização por dano material ou moral.”
64
Note-se que em nenhuma das duas assertivas há a hipótese de eficácia diagonal, que se trata
da situação em que há a relação entre dois particulares, mas um deles está em posição superior,
Gabarito letra D.
Questão 8
(FCC – 2020 – TJ-MS – Juiz Substituto) À luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,
terapêuticos, autorizadas em lei federal, viola o direito à vida, pela potencialidade de formação
gravidez de feto anencéfalo viola o direito à vida, recaindo na esfera de proteção que a legislação
instituída por lei e observada a identidade de natureza jurídica das instituições de ensino
superior envolvidas, é incompatível com a Constituição, segundo a qual o acesso aos níveis mais
D) admitem-se limitações ao livre exercício de atividade econômica, ainda que sob a forma de
cobrança indireta de tributos, desde que estabelecidas por lei e com vistas à tutela de outros
65
E) admitem-se limitações por lei ao livre exercício das profissões, sendo consideradas legítimas
quando o inadequado exercício de determinada atividade possa vir a causar danos a terceiros
Comentário:
A presente questão aborda pontos muito cobrados em prova, quais sejam, a Lei de
“A) o uso de células-tronco embrionárias, ainda que em pesquisas científicas para fins
terapêuticos, autorizadas em lei federal, viola o direito à vida, pela potencialidade de formação
Errada! O uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas para fins terapêuticos não
viola o direito à vida. Esta utilização foi regulada pela Lei de Biossegurança (L. 11.105/05) nos
seguintes termos: “Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-
tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não
desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3
(três) anos, contados a partir da data de congelamento”. Nessa linha, cumpre apontar que o STF
66
”B) é compatível com a Constituição Federal a interpretação segundo a qual a interrupção da
gravidez de feto anencéfalo viola o direito à vida, recaindo na esfera de proteção que a legislação
Errada! Não se considera vedada a interrupção da gravidez de feto anencéfalo. De acordo com
à dignidade e à autodeterminação.
instituída por lei e observada a identidade de natureza jurídica das instituições de ensino
superior envolvidas, é incompatível com a Constituição, segundo a qual o acesso aos níveis mais
Errada! De acordo com o STF no tema 57 da Repercussão Geral, é compatível com a constituição
“D) admitem-se limitações ao livre exercício de atividade econômica, ainda que sob a forma de
cobrança indireta de tributos, desde que estabelecidas por lei e com vistas à tutela de outros
Errada! De acordo com a jurisprudência do STF é vedada a restrição imposta pelo Estado ao
livre exercício de atividade econômica ou profissional por meio de cobrança indireta de tributos
67
”E) admitem-se limitações por lei ao livre exercício das profissões, sendo consideradas legítimas
quando o inadequado exercício de determinada atividade possa vir a causar danos a terceiros
Correta! De acordo com o STF “nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados
ao cumprimento de condições legais para o seu exercício. A regra é a liberdade. Apenas quando
houver potencial lesivo na atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de fiscalização
Questão 9
que tem tanto uma faceta negativa como outra positiva. Em sua faceta negativa ele veda as
positiva, ele impõe ao Estado a adoção de medidas voltadas ao combate dessas práticas e à
A) As liberdades públicas são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira absoluta,
68
B) Há que se distinguir entre o discurso religioso (que é centrado na própria crença e nas razões
da crença) e o discurso sobre a crença alheia, especialmente quando feito com o intuito de
C) Para o transexual, ter uma vida digna importa em ver reconhecida a sua identidade sexual,
sob a ótica psicossocial, a refletir a verdade real por ele vivenciada e que se reflete na sociedade.
dos negros e dos índios. Não por coincidência, os que mais se alocam nos patamares
Comentário:
Prezado(a) concurseiro(a), a primeira coisa que se precisa ter em mente na presente questão é
A) As liberdades públicas são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira absoluta,
Errada (e deveria ser assinalada)! Conforme elucidado no capítulo, no que se refere a direitos
públicas.
69
B) Há que se distinguir entre o discurso religioso (que é centrado na própria crença e nas razões
da crença) e o discurso sobre a crença alheia, especialmente quando feito com o intuito de
Correta! Nesse sentido o julgado do STF no RHC 146.303 que trouxe a seguinte previsão: “O
Há que se distinguir entre o discurso religioso (que é centrado na própria crença e nas razões
da crença) e o discurso sobre a crença alheia, especialmente quando se faça com intuito de
ao mesmo direito. Como apontado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgado recorrido, a
conduta do paciente não consiste apenas na ‘defesa da própria religião, culto, crença ou
ideologia, mas, sim, de um ataque ao culto alheio, que põe em risco a liberdade religiosa
C) Para o transexual, ter uma vida digna importa em ver reconhecida a sua identidade sexual,
sob a ótica psicossocial, a refletir a verdade real por ele vivenciada e que se reflete na sociedade.
Correta! Trata-se de trecho da decisão proferida pelo STJ no REsp 1008398/SP, publicada no
70
dos negros e dos índios. Não por coincidência, os que mais se alocam nos patamares
Correta! Trata-se de trecho da decisão proferida pelo STF na ADI 3.330 de maio de 2012 que
É de se notar que a presente questão trouxe trechos complexos de alguns julgados das Cortes
Superiores, contudo, para chegar à resposta correta bastava saber o básico, ou seja, a
Questão 10
Comentário:
71
Conforme estudado, são direitos de primeira dimensão os destinados a assegurar a soberania
Assim, a única alternativa correta é a letra A. Contudo, importante saber que a segunda
dimensão está atrelada aos direitos sociais, econômicos e culturais e a terceira dimensão aos
Por fim, para alguns autores existem a quarta, a quinta e a sexta dimensões. Não existe
unanimidade acerca de tais conceitos. Assim, a quarta dimensão seriam os direitos ligados à
direitos à identidade individual, ao patrimônio genético, à proteção contra o abuso das técnicas
de clonagem e à paz. O de sexta dimensão seria o direito à água potável, segundo a ONU.
Questão 11
que as garantias fundamentais são os instrumentos através dos quais se assegura o exercício
dos aludidos direitos, destacando-se que a garantias nem sempre estarão nas regras definidas
a) Certo
b) Errado
72
Comentário:
proteção do direito fundamental (exemplo: habeas corpus). Ademais, os remédios são espécies
do gênero garantias fundamentais. Assim, todo remédio é garantia fundamental, mas nem toda
Questão 12
A liberdade de expressão, que também se aplica aos ambientes virtuais, garantida pelo Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, é responsabilidade exclusiva dos Estados, e não das
a) Certo
b) Errado
Comentário:
“A liberdade de expressão, que também se aplica aos ambientes virtuais, garantida pelo Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, é responsabilidade exclusiva dos Estados, e não das
73
Errada! Os direitos humanos devem ser respeitados por pessoas físicas e jurídicas, de direito
Questão 13
a) Certo
b) Errado
Comentário:
lado, o princípio da Proibição de proteção Deficiente se dá quando o estado não legisla acerca
de um determinado direito fundamental desprotegendo-o.
74
Questão 14
A previsão constitucional de que o preso deve ser informado de seu direito de permanecer
calado aplica-se não apenas a este, mas também a qualquer pessoa na condição de testemunha,
indiciado ou réu.
a) Certo
b) Errado
Comentário:
“A previsão constitucional de que o preso deve ser informado de seu direito de permanecer
calado aplica-se não apenas a este, mas também a qualquer pessoa na condição de testemunha,
indiciado ou réu”.
Errado! A testemunha não tem o direito de permanecer calada, mas apenas o indiciado ou réu,
respondendo, inclusive, por crime de falso testemunho. Contudo, a testemunha não é obrigada
Questão 15
(CESPE/CEBRASPE – 2018 – PC-SE– Delegado de Polícia) Julgue o item seguinte, relativo aos
condenado, razão pela qual as sanções relativas à restrição de liberdade não alcançarão parentes
do autor do delito.
75
a) Certo
b) Errado
Comentário:
É importante destacar que a presente questão e as seguintes, apesar de não serem de carreiras
jurídicas propriamente ditas, foram postas como um “plus” no material para fins de
aprendizagem. Elas trazem a temática aqui abordada e merecem a devida observância.
responsabilidade pessoal (art. 5º, XLV, CF) e não se confunde com o princípio da individualização
da pena, previsto no art. 5º, XLVI, no sentido de que a pena deverá ser sempre individualizada
Questão 16
De acordo com o STF, é inconstitucional proibir que emissoras de rádio e TV difundam áudios
a) Certo
b) Errado
76
Comentário:
inibir a liberdade de expressão a partir de mecanismos de censura prévia. STF. Plenário. ADI
4451/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20 e 21/6/2018 (Info 907). Nessa linha, a
Questão 17
(CESPE - 2019 - TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Remoção) Com relação
à garantia constitucional de tratamento igualitário sem distinção de qualquer natureza, a CF
estabelece que
B) votos de analfabetos são facultativos e, em razão da condição particular desse grupo, não
C) a igualdade perante a lei seja garantida aos estrangeiros residentes no Brasil, desde que
naturalizados, e aos brasileiros.
E) sejam assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos todos os direitos previstos para
77
Comentário:
Errada! O art. 5º, I, da CF não aponta essa diferença: "homens e mulheres são iguais em direitos
“B) votos de analfabetos são facultativos e, em razão da condição particular desse grupo, não
Errada! Em que pese o voto e o alistamento eleitoral dos analfabetos ser facultativo (art. 14,
“C) a igualdade perante a lei seja garantida aos estrangeiros residentes no Brasil, desde que
Errada! Inexiste a exigência no art. 5º, “caput”, da CF de que os estrangeiros sejam naturalizados
para que façam jus à igualdade perante a lei: "todos são iguais perante a lei, sem distinção de
“D) haja igualdade de direitos entre trabalhador com vínculo empregatício permanente e
trabalhador avulso.”
78
Correta! A igualdade entre estas categorias está prevista no art. 7º, XXXIV da CF/88: “igualdade
“E) sejam assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos todos os direitos previstos para
Errada! Nem todos os direitos assegurados para os trabalhadores urbanos e rurais são
concedidos aos trabalhadores domésticos, nos termos do art. 7º, parágrafo único, da CF: “São
assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI,
VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as
previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência
social”.
Questão 18
(FCC - 2019 - TJ-MA - Analista Judiciário - Direito) Segundo a Constituição Federal, bem
C) é inconstitucional fixar cotas em universidades para alunos que sejam egressos de escolas
públicas, por ofensa ao princípio da igualdade.
79
E) é ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
Comentário:
“B) é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, desde que
haja prévia licença do Poder Público.”
“C) é inconstitucional fixar cotas em universidades para alunos que sejam egressos de escolas
públicas, por ofensa ao princípio da igualdade.”
Errada! No caput do artigo 5º é garantida igualdade para todos. Essa igualdade é dividida em
formal e material. A fixação de cotas é expressão da igualdade material, já que busca o alcance
de um nível de igualdade entre os inicialmente desiguais. Isso é constitucional, segundo o STF.
Errada! Art. 5º, XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas
atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;
E) é ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
Correta! Súmula Vinculante nº 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja
a modalidade do depósito.
80
Questão 19
(CESPE/CEBRASPE – 2013 – DPF – Delegado de Polícia Federal) No que diz respeito aos
jurídica.
a) Certo
b) Errado
Comentário:
XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;
81
GABARITO
Questão 1 - Errado
Questão 2 - E
Questão 3 - Errado
Questão 4 - E
Questão 5 - C
Questão 6 – Errado
Questão 7 - D
Questão 8 - E
Questão 9 - A
Questão 10 – A
Questão 11 - Certa
Questão 12 - Errado
Questão 13 - Errado
Questão 14 - Errado
Questão 15 - Errado
Questão 16 - Certa
Questão 17 - D
Questão 18 - E
Questão 19 - Errado
82
QUESTÃO DESAFIO
83
GABARITO QUESTÃO DESAFIO
Jurisprudência do STF entende que condenar o jornal seria uma forma de censura, o
a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Por outro lado, o inciso
IX dispõe que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença. E o inciso XIV prevê que é assegurado a todos o
danos morais contra o jornal alegando que houve violação aos direitos de imagem.
Nesse sentido, decidiu a Suprema Corte que a Constituição assegura que não pode haver
restrição censória ao agir da imprensa. Entendeu o STF que não existe irregularidade ou
84
descaberia falar em indenização por danos morais. Conf. STF, ARE 892127 AgR/SP, rel. Min.
proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. O inciso
X deste artigo que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
A esse respeito:
Este caso chegou ao STF após o Tribunal de Justiça de São Paulo condenar o jornal Folha
de S.Paulo a pagar R$ 60 mil de indenização a familiares de vítima de assassinato. O homem
foi atingido dentro de seu carro, quando voltava de viagem de negócios, numa troca de tiros
na rodovia Anhanguera, durante assalto a carros fortes, e uma foto sua dentro do carro foi
publicada no jornal, segundo a família, “sem os cuidados necessários de preservar a imagem do
morto”.
publicação de imagens.
Contra essa decisão monocrática, os familiares interpuseram agravo regimental, que foi
analisado pela 2ª Turma do STF. Em seu voto, a ministra Cármen manteve seu entendimento e
foi seguida por Edson Fachin e Celso de Mello.
85
Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski divergiram (corretamente, ao meu sentir). Leia um
trecho do voto do Gilmar: "O acórdão recorrido não restringiu a liberdade de imprensa. Não
houve nenhuma espécie de censura prévia ou proibição de circulação de informação. Houve sim
ponderação entre a liberdade de imprensa e o direito à imagem, honra, intimidade e vida privada
como forma de posterior verificação da responsabilidade civil."
Conjur: Jornal não deve indenizar por publicar foto de cadáver em reportagem, diz
Supremo. Conjur: 24/10/2018. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2018-out-24/jornal-
nao-indenizara-publicar-foto-cadaver-reportagem#:~:text=O%20caso%20chegou%20ao%20Sup
remo,familiares%20de%20v%C3%ADtima%20de%20assassinato.&text=Segundo%20a%20minist
ra%2C%20a%20decis%C3%A3o,STF%2C%20firmada%20em%20diversos%20precedentes.>.
Acesso em: 28 de Setembro de 2020.
86
LEGISLAÇÃO COMPILADA
Constituição: arts. 3º, IV; 5º, incisos e parágrafos; 7º; 14; 19, I e III; 21, XVI 37, §3º;
196; 210, §1º; 216, §2º; 220, §4º
Código Civil: art. 1.228
Código Penal: art. 287
L. 13.188/15: art. 2º e seus parágrafos
L. 11.105/05: art. 5º
Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, da
ONU: art. 2º, II
Convenção Americana de Direitos Humanos: arts. 13 e seus parágrafos; 134.
Comentário: vale destacar que os dispositivos em apreço já foram cobrados em provas, motivo
pelo qual se faz necessária a sua leitura.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848compilado.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13188.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D65810.html
https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm
Súmula Vinculante 1
87
Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso
concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante de termo de adesão instituído pela Lei
Complementar nº 110/2001.
Súmula Vinculante 25
É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
Súmula Vinculante 37
Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o
fundamento de isonomia.
A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da
autorização destes.
Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a sua
verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida.
A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art 5º, XXXVI, da Constituição da República, não é invocável pela
entidade estatal que a tenha editado.
Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o valor da causa.
Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público.
A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou da permanência.
O art. 35 do decreto-lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi revogado pelos incisos LXI e
LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.
88
Súmula 403 STJ
Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.
É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumulaVinculante
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_601_700
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_701_800
https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Jurisprudencia/Sumulas
89
JURISPRUDÊNCIA
STF. Plenário. ADPF 722/DF. Rel. Min. Cármen Lúcia. j. 20/08/2020 (Info 987)
Comentário: Trata-se do julgamento de medida cautelar em sede de ADPF ajuizada por partido
político em face de uma investigação sigilosa aberta pelo Ministério da Justiça contra o
“movimento antifascismo”. São dossiês secretos contra servidores públicos, principalmente
ADI 3092. Plenário. Rel. Min. Marco Aurélio. j. 22/06/2020. DJe 17/08/2020)
20
Vide questão 19
90
contratação de empresa cujo quadro seja integrado por pessoa condenada ante a prática de crime ou
contravenção envolvendo atos discriminatórios, considerada a inobservância ao princípio da intransmissibilidade
da pena e ao artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal.
o seu integrante possuem personalidades distintas. O fato de uma pessoa, integrante dos
quadros de uma pessoa jurídica, ter sido condenada por crime ou contravenção envolvendo
atos discriminatórios não pode ensejar prejuízo à pessoa jurídica. As restrições jurídicas
decorrentes de processo judicial ou administrativo não podem transbordar a dimensão
STF. Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa
Weber, julgados em 6 e 7/5/2020 (Info 976).
A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde decorrente do covid-19, as empresas de telefonia
fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos nomes, números de telefone e
endereços. Segundo a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas oficial, com o
objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das empresas. As informações disciplinadas pela MP
954/2020 configuram dados pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas constitucionais que asseguram
a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade (art. 5º, X e XII).
Sua manipulação e tratamento deverão respeitar esses direitos e os limites estabelecidos pela Constituição. A MP
954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição porque diz que os dados serão utilizados exclusivamente
para a produção estatística oficial, mas não delimita o objeto da estatística a ser produzida, nem a finalidade
específica ou a sua amplitude. A MP 954/2020 não apresenta também mecanismos técnico ou administrativo para
proteger os dados pessoais de acessos não autorizados, vazamentos acidentais ou utilização indevida. Diante disso,
constata-se que a MP violou a garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão
substantiva (princípio da proporcionalidade).
Comentário: Nota-se que o presente julgado trata do princípio da razoabilidade sem fazer a
distinção com o princípio da proporcionalidade. Como visto, o princípio da razoabilidade é
originário da garantia do devido processo legal substancial e da cláusula “law of the land”, que
nos remete à Magna Carta de 1215. Assim, o princípio surgiu dentro de um ideário processual,
contudo, com o tempo, evoluiu para uma perspectiva substancial (substantive due process of
91
law). Nessa senda, o Plenário do STF entendeu que a Medida Provisória 954/2020 violava o
devido processo legal substantivo ao determinar a concessão, pelas empresas de telefonia, dos
dados dos clientes ao governo (IBGE) de forma indiscriminada, violando a liberdade individual,
STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado
em 30/4/2020 (Info 975)
No início da pandemia decorrente do covid-19 foi proposta ADO pedindo que o Presidente da República e os
Presidentes da Câmara e do Senado editassem lei instituindo o pagamento de um valor mínimo em favor dos mais
necessitados a fim de assegurar a alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana. Alguns
dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº 13.982/2020, que criou um benefício semelhante ao
que se pretendia na ação. A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um benefício financeiro no valor
de R$ 600,00 por mês, pago pela União a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI),
autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer proteção emergencial, pelo prazo de 3 meses, às
pessoas que perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus. Diante disso, o STF decidiu: a)
conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em tese, ação direta de inconstitucionalidade por
omissão para discutir o tema); b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado uma vez que foi aprovado
o auxílio emergencial (Lei nº 13.982/2020) e, consequentemente, foi satisfeito o objeto da ADO.
Comentário: é possível fazer relação do presente julgado, de forma ampla, com o próprio direito
à vida. O direito à vida é o principal direito individual, o bem jurídico de maior relevância
protegido pela Constituição, pois o exercício dos demais direitos depende de sua existência.
de uma lei que impedisse que fosse violado o direito à vida da população, principalmente mais
carente, em decorrência da falta de alimentação. Como referido no curso do capítulo, o STF já
STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).
92
A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro,
não significa restrição indevida à liberdade de imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa decisão não
configura ofensa ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a Lei de Imprensa
(Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as investigações e evitar
possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além disso, a decisão teve
como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas cuja sanidade mental era discutível
na época, tendo sido, posteriormente, declarado inimputável em razão de “transtorno delirante persistente”.
correta a decisão que, naquele momento, entendeu por proibir a sua entrevista, dentro de um
juízo de proporcionalidade.
STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.
É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas do Distrito
Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal. Essa lei, ao restringir
a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art. 19, III, da CF/88, tendo em
vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros. Vale ressaltar que a inconstitucionalidade não está no
fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas, mas sim em razão de a lei ter restringindo
as vagas para alunos do Distrito Federal, em detrimento dos estudantes de outros Estados da Federação.
Comentário: Cabe ressaltar que é constitucional, segundo o STF (RE 597285/RS), o sistema de
cotas fundado em características peculiares ligadas à cor, etnia, classe social ou até por ser o
aluno oriundo de escolas públicas. Contudo, no presente julgado é realizada uma diferenciação
entre brasileiros sem que exista uma razão aceitável. A Lei Distrital estipulou um percentual de
vagas das universidades públicas que deveria ser destinado a alunos de escolas públicas do
Distrito Federal. Com isso, excluiu alunos de escolas públicas dos outros Estados da Federação.
Como elucidado em capítulos anteriores, é objetivo fundamental da República promover o bem
de todos sem preconceitos de origem (art. 3º, IV, CF). Além disso, é vedado que os entes
federados criem distinções entre brasileiros ou preferências entre si (art. 19, III, CF). Portanto, a
Lei do Distrito Federal violou frontalmente o princípio da igualdade.
93
STF. Plenário. ADI 2259, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2020.
O STF julgou parcialmente procedente a ADIN 2259, realizando uma interpretação conforme à Constituição da
Tabela IV da Lei nº 9.289/96, para: Reconhecer a imunidade tributária das certidões requeridas ao Poder Judiciário
que forem voltadas para a defesa de direitos ou o esclarecimento de situação de interesse pessoal, presumindo
essas finalidades quando a certidão pleiteada for concernente ao próprio requerente, sendo desnecessária, nessa
hipótese, expressa e fundamentada demonstração dos fins e das razões do pedido. Por outro lado, para a concessão
da gratuidade da certidão quando o pedido tiver objeto interesse indireto ou de terceiros, mostra-se imprescindível
a demonstração da finalidade.
STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2019 (Info 940). STF. 1ª Turma.
RE 307108/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
12/11/2019 (Info 959).
O art. 38 da Lei nº 8.880/94 previu que a URV deveria ser utilizada como parâmetro de cálculo dos índices de
correção monetária nos dois primeiros meses de implantação do Plano Real. As pessoas que tinham contratos em
vigor e que haviam sido celebrados antes da Lei nº 8.880/94 começaram a questionar a aplicação imediata deste
dispositivo. Alegaram que a sua aplicação aos contratos em vigor seria inconstitucional por violar o direito
adquirido (art. 5º, XXXVI, da CF/88). O STF não concordou com essa tese e decidiu que: É constitucional o art. 38
da Lei nº 8.880/94 e que a sua aplicação imediata para os contratos em vigor não violou a garantia do “direito
adquirido”, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. Não é possível opor a cláusula de proteção ao direito
adquirido ou ato jurídico perfeito em face da aplicação imediata de normas que tratam de regime monetário, as
quais possuem natureza estatutária e institucional, como é a situação daquelas responsáveis por substituir uma
moeda por outra. As normas que tratam do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária -,
têm natureza institucional e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade, razão pela qual sua
incidência é imediata, alcançando as situações jurídicas em curso de formação ou de execução.
Comentário: o presente julgado pode ser relacionado de forma direta com o direito individual
básico da segurança das relações jurídicas. Como visto o curso do capítulo, todos têm de saber
as consequências exatas dos atos jurídicos que venham a praticar. Em nome desta segurança é
que o princípio geral acerca da aplicação das leis é o da irretroatividade, ou seja, as leis só
94
alcançam as situações posteriores à sua elaboração. Poderão as leis retroagir somente nos casos
em que não prejudiquem ao direito adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada. No caso
em apreço se decidiu que não houve violação ao direito adquirido, pois as normas que tratam
STJ. 2ª Turma. REsp 1666294-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/09/2019 (Info 658).
STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado
em 28/3/2019 (Info 935).
É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual
de animais em cultos de religiões de matriz africana.
fundamentais como a liberdade religiosa, a igualdade, além da ideia de seu balanceamento com
Nessa linha, é constitucional a lei estadual que permite o sacrifício de animais em cultos de
religiões de matriz africana, não ofendendo a competência da União para editar normas gerais
95
de proteção do meio ambiente, porquanto inexiste lei federal tratando sobre o sacrifício de
animais com finalidade religiosa. Vale destacar que a LCA (L. 9.605/98), que tutela a fauna
silvestre, especialmente a caça, também não tratou, nem indiretamente, sobre imolação de
animais em cultos religiosos. Assim, o Estado-membro tem liberdade para legislar. Ademais, tal
previsão não fere a laicidade. A proteção legal às religiões de matriz africana não representa
privilégio, mas mecanismo de assegurar a liberdade religiosa. Também não se viola o princípio
da igualdade. A cultura afro-brasileira merece maior atenção do Estado, pela sua estigmatização
e por ser alvo de preconceito. A proibição do sacrifício dos animais negaria a própria essência
se materializa a igualdade. Por fim, não há violação ao dever constitucional de amparo aos
animais. Como se nota, se deve evitar que a tutela de um valor constitucional relevante (meio
consome carnes de várias espécies. Reforce-se que o abate por estas religiões não é cruel, mas
rápido e mediante degola. Obs.: Merece realce, também, que o Ministério da Agricultura
com preceitos religiosos, desde que sejam destinados ao consumo por comunidade religiosa
STJ. 3ª Turma. REsp 1771866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/02/2019 (Info
642).
Comentário: trata-se de julgado que aborda a temática da liberdade de expressão. Nessa linha,
pontua-se que é possível que o magistrado condene o autor da ofensa, com base em dispositivos diversos
da Lei de Imprensa, a divulgar a sentença condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que
cometida a ofensa à honra. O direito de retratação e ao esclarecimento da verdade têm previsão na CF e na
Lei Civil, não tendo sido afastado pelo STF na ADPF 130. O princípio da reparação integral possibilita a
indenização em pecúnia e in natura para dar efetividade à responsabilidade civil.
STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/10/2018 (Info 922).
São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem ou promovam: • o ingresso de agentes
públicos em universidades públicas e privadas; • o recolhimento de documentos (ex: panfletos); • a interrupção de
aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários; • a realização de atividade disciplinar
docente e discente e a coleta irregular de depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de
ideias e divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob a administração de
universidades públicas e privadas.
Comentário: a ideia central do presente julgado é a de que violam a CF/88 os atos de busca e
apreensão de materiais de cunho eleitoral e a suspensão de atividades de divulgação de ideias
em universidades públicas e privadas. Foi proposta a ADPF em decorrência da pluralidade de
decisões sobre a matéria, que se considera ato do poder público passível de controle por esta
via, nos termos do art. 1º da Lei da ADPF. Ademais, a ADPF é o meio para questionar a
interpretação judicial de normas constitucionais e legais. Nessa linha, no caso concreto o STF
STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).
Não viola a Constituição Federal a cobrança de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios
Militares do Exército Brasileiro. Os Colégios Militares apresentam peculiaridades que fazem com que eles sejam
97
instituições diferentes dos estabelecimentos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.
Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis. A quota mensal escolar exigida nos
Colégios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que
não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação. Por fim, deve-se esclarecer
que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui
natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais. Portanto, são válidos
os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.
Comentário: veja-se que é possível relacionar a temática abordada no presente julgado com as
ideias abordadas no capítulo ligadas às restrições aos direitos fundamentais, especialmente a
teoria externa e a teria dos “limites dos limites”.
STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ ac. Min. Luiz Fux, julgado em
5/6/2018 (Info 905). Sobre o mesmo tema: STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 6/3/2018 (Info 893).
Uma decisão judicial determinou a retirada de matéria de “blog” jornalístico, bem como a proibição de novas
publicações, por haver considerado a notícia ofensiva à honra de delegado da polícia federal. Essa decisão afronta
o que o STF decidiu na ADPF 130/DF, que julgou não recepcionada a Lei de Imprensa. A ADPF 130/DF pode ser
utilizada como parâmetro para ajuizamento de reclamação que verse sobre conflito entre a liberdade de
expressão e de informação e a tutela das garantias individuais relativas aos direitos de personalidade. A
determinação de retirada de matéria jornalística afronta a liberdade de expressão e de informação, além de
constituir censura prévia. Essas liberdades ostentam preferência em relação ao direito à intimidade, ainda que a
matéria tenha sido redigida em tom crítico. O Supremo assumiu, mediante reclamação, papel relevante em favor
da liberdade de expressão, para derrotar uma cultura censória e autoritária que começava a se projetar no Judiciário.
Comentário: O STF entendeu que é preciso haver uma maior tolerância quanto às matérias de
cunho potencialmente lesivo à honra de agentes públicos, especialmente quando existente
expressão possui uma posição preferencial (preferred position) em relação aos demais direitos.
O seu afastamento é excepcional e o ônus argumentativo é de quem sustenta o direito oposto.
Ademais, a censura é proibida pela CF/88, ou seja, o Estado não pode interferir na manifestação
do pensamento.
98
Quais são os motivos pelos quais a liberdade de expressão ocupa um lugar privilegiado?
Se a liberdade de expressão não é absoluta, quais são os limites impostos pelo constituinte?
direitos da personalidade?
Sim, assim como a liberdade de expressão, os direitos da personalidade são dotados de estatura
constitucional. Assim, inexiste hierarquia entre estes e aquele. Portanto, pode haver a colisão.
99
Os direitos da personalidade são, segundo o Min. Barroso, os direitos inerentes a toda pessoa
humana, como versão privada dos direitos fundamentais, e sua aplicação às relações com outros
indivíduos como regra geral.
Não há como definir, a priori, qual deve prevalecer. É preciso que seja realizada a ponderação
Merece destaque que o Min. Barroso aponta 8 critérios para a ponderação entre a liberdade
de expressão e os direitos da personalidade. Vejamos:
100
6. Existência de interesse público na divulgação: em tese, a divulgação de todo fato
verdadeiro é de interesse público;
7. Existência de interesse público na divulgação de fatos relacionados à atuação de órgãos
públicos;
8. Preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia da
divulgação: o uso abusivo da liberdade de expressão pode ser reparado pela retificação,
retratação, direito de resposta, responsabilização civil e penal. A proibição da divulgação só
deve ser utilizada no último caso.
STF. Plenário. ADI 2566/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgado em 16/5/2018 (Info 902).
É inconstitucional o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98. Esse dispositivo proíbe, no âmbito da programação das
emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo tendente a
converter pessoas a uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia. O STF entendeu que essa proibição afronta
os arts. 5º, IV, VI e IX, e 220, da Constituição Federal. A liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo, o
uso de argumentos críticos, o consenso e o debate público informado e pressupõe a livre troca de ideias e não
apenas a divulgação de informações.
Comentário: Cumpre apontar que a Lei 9.612/89 é a que trata das rádios comunitárias (Serviço
de Radiodifusão Comunitária).
No art. 4º, §1º, de referida Lei veio previsto que “ é vedado o proselitismo de qualquer natureza
Desta feita, o STF entendeu que essa previsão viola os seguintes dispositivos constitucionais:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) IV - é livre
a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (...) VI - é inviolável a
liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; (...)
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença;”
101
“Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob
qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto
nesta Constituição”.
Por fim, indicou o Pretório Excelso que a liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo,
o uso de argumentos críticos, o consenso e o debate público informado. Pressupõe a livre troca
STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/2018 (Info 899).
Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem ser mantidos sob reserva.
Assim, a página do Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por meio da quebra de
sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI).
e a quebra do sigilo de dados afigura-se como exceção. A implementação de tal quebra deve
se dar a partir de ordem judicial, sendo certo que as CPIs detêm poderes de investigação de
De acordo com o Min. Alexandre de Moraes é possível constatar que foi dada publicidade aos
valores informados pelos impetrantes em suas declarações de imposto de renda, montantes que
constam de suas movimentações financeiras, receitas e distribuição de lucros e discriminação
de bens adquiridos. Com isso, não poderiam ter sido publicados, porquanto tais dados são
protegidos pelo sigilo constitucionalmente assegurado.
102
E prossegue dizendo que as informações fiscais e bancárias, sejam as constantes nas próprias
instituições financeiras, sejam as constantes na Receita Federal ou organismos congêneres do
Destaca, também, que a inviolabilidade dos sigilos bancário e fiscal não é absoluta, podendo
ser afastada quando estiverem sendo utilizados para ocultar a prática de atividades ilícitas e
Portanto, na linha dos argumentos esposados, decidiu o STF que a página do Senado Federal
na internet não pode divulgar os dados obtidos por meio da quebra de sigilo determinada
pela CPI dos Correios.
"Marcha da Maconha". Manifestação legítima, por cidadãos da República, de duas liberdades individuais
revestidas de caráter fundamental: o direito de reunião (liberdade-meio) e o direito à livre expressão do
pensamento (liberdade-fim). (...) Vinculação de caráter instrumental entre a liberdade de reunião e a liberdade de
manifestação do pensamento. (...) A liberdade de expressão como um dos mais preciosos privilégios dos cidadãos
em uma república fundada em bases democráticas. O direito à livre manifestação do pensamento: núcleo de que
se irradiam os direitos de crítica, de protesto, de discordância e de livre circulação de ideias. Abolição penal (abolitio
criminis) de determinadas condutas puníveis. Debate que não se confunde com incitação à prática de delito
nem se identifica com apologia de fato criminoso. Discussão que deve ser realizada de forma racional, com
respeito entre interlocutores e sem possibilidade legítima de repressão estatal, ainda que as ideias propostas
possam ser consideradas, pela maioria, estranhas, insuportáveis, extravagantes, audaciosas ou inaceitáveis. O sentido
de alteridade do direito à livre expressão e o respeito às ideias que conflitem com o pensamento e os valores
dominantes no meio social. Caráter não absoluto de referida liberdade fundamental (CF, art. 5º, IV, V e X;
Convenção Americana de Direitos Humanos, art. 13, § 5º). A proteção constitucional à liberdade de pensamento
como salvaguarda não apenas das ideias e propostas prevalecentes no âmbito social, mas, sobretudo, como amparo
21
Vide questão 5
103
eficiente às posições que divergem, ainda que radicalmente, das concepções predominantes em dado momento
histórico-cultural, no âmbito das formações sociais. O princípio majoritário, que desempenha importante papel no
processo decisório, não pode legitimar a supressão, a frustração ou a aniquilação de direitos fundamentais, como
o livre exercício do direito de reunião e a prática legítima da liberdade de expressão, sob pena de comprometimento
da concepção material de democracia constitucional. A função contramajoritária da jurisdição constitucional no
Estado Democrático de Direito. Inadmissibilidade da "proibição estatal do dissenso". Necessário respeito ao
discurso antagônico no contexto da sociedade civil compreendida como espaço privilegiado que deve valorizar o
conceito de "livre mercado de ideias". O sentido da existência do free marketplace of ideas como elemento
fundamental e inerente ao regime democrático (AC 2.695 MC/RS, rel. min. Celso de Mello). A importância do
conteúdo argumentativo do discurso fundado em convicções divergentes. A livre circulação de ideias como signo
identificador das sociedades abertas, cuja natureza não se revela compatível com a repressão ao dissenso e que
estimula a construção de espaços de liberdade em obséquio ao sentido democrático que anima as instituições da
República. As plurissignificações do art. 287 do CP: necessidade de interpretar esse preceito legal em harmonia
com as liberdades fundamentais de reunião, de expressão e de petição. Legitimidade da utilização da técnica da
interpretação conforme à Constituição nos casos em que o ato estatal tenha conteúdo polissêmico.
Comentário: a ADPF 54 foi a ação que tratou da interrupção da gravidez de feto anencéfalo.
Dentre os direitos ponderados no caso concreto é possível indicar a vida e a integridade física
e corporal da mulher e do feto, além da liberdade de escolha da mulher (autonomia), privacidade
e da saúde. Tratou-se, também, da laicidade do Estado brasileiro. Por fim, concluiu o STF que
inexiste crime na hipótese de interrupção da gravidez de feto anencéfalo, devendo prevalecer
os direitos da mulher à liberdade sexual e reprodutiva, à saúde, à dignidade e à
autodeterminação.
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RE 603.616, rel. min. Gilmar Mendes, j. 5-11-2015, P, DJE de 10-5-2016
Inviolabilidade de domicílio – art. 5º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem mandado judicial em caso
de crime permanente. (...) Fixada a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só
é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori,
que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados.
Primeiro é preciso ter em mente que o art. 5º, XI, da CF dispõe sobre a inviolabilidade de
domicílio, apontando que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. Assim, durante o dia é possível ingressar
na casa de alguém caso:
Por outro lado, durante a noite é possível ingressar na casa de alguém caso:
Nota-se, portanto, que não é possível invadir a casa de alguém, por ordem judicial, durante a
noite.
Ademais, é preciso que se defina o que é “dia” para fins de inviolabilidade de domicílio. Há
divergência, contudo, o critério mais seguro é cronológico, ou seja, considerar o horário que
105
vai das 6h às 18h. Existem os que sustentam o critério físico-astronômico, ou seja, entre o
crepúsculo e a aurora. Por fim, o CPC indica que os atos processuais serão realizados em dias
úteis, das 6h às 20h. Todavia, como indicado, o melhor critério é o primeiro.
O CP traz o conceito de casa ao tratar do crime de violação de domicílio no seu artigo 150 e
parágrafos. De forma simples, é possível entender que a definição de casa inclui toda a sua
estrutura, como o quintal, a garagem e o porão. Também são inseridos os compartimentos de
natureza profissional, desde que fechado o acesso ao público em geral (como escritórios,
consultórios e gabinetes). Por fim, os aposentos de habitação coletiva, ainda que de ocupação
temporária (como o hotel, o motel, a pensão e a pousada).
Vale ressaltar que no Inq 2424 julgado pelo STF em novembro de 2018 o STF permitiu que fosse
realizada a busca e apreensão e instalada escuta ambiental, durante a noite, por ordem judicial,
em escritório vazio de advocacia. Isso porque na hipótese o advogado era suspeito da prática
de crimes e os praticava no âmbito do seu escritório a pretexto do exercício da profissão.
Indique-se, ainda, que um veículo, em regra, não é considerado casa, sendo possível ser
examinado sem mandado judicial. Excepcionalmente, contudo, caso seja utilizado para a
habitação do indivíduo, ele pode ser considerado casa (como o trailer, a cabine do caminhão e
os barcos).
Sendo assim, caso haja fundadas razões de que exista droga em determinada casa será possível
que os policiais invadam a residência, sem ordem judicial e sem o consentimento do morador.
Observe-se, contudo, que as “fundadas razões” deverão ser posteriormente expostas pela
autoridade, sob pena de responder nos âmbitos penal, civil e administrativo, além de o ato ser
considerado nulo.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO. A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus
seguidores não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
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Comentário: A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode
configurar, a depender do caso, racismo, pois a lei prevê como crime a prática, indução,
mesmo que dizendo que uma é melhor que a outra. Só configurará crime se o discurso for
de dominação, opressão, restrição de direitos ou violação da dignidade da pessoa humana
dos demais grupos. Caso se pregue o dever de ajudar os inferiores, salvação espiritual, não
haverá crime.
EMBRIÃO CRIOPRESERVADO. Não se exige que o indivíduo tenha deixado um documento escrito dizendo que
desejava ser submetido à criogenia, podendo essa vontade ser provada por outros meios, como a declaração do
familiar mais próximo.
Comentário: Não se exige formalidade específica, como documento escrito do morto, para
submeter o corpo à criogenia após a morte. Basta declaração de parente familiar mais próximo
de que essa era a vontade do falecido. Criogenia humana (criopreservação) é a técnica de
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Art. 20 da L. 7.716/81. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa. § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio
dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
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Ementa: “Constitucional. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei de biossegurança. Impugnação
em bloco do art. 5º da Lei n. 11.105, de 24de março de 2005 (Lei de biossegurança). Pesquisas
com células-tronco embrionárias. Inexistência de violação do direito à vida. Constitucionalidade
do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas para fins terapêuticos.
Descaracterização do aborto. Normas constitucionais conformadoras do direito fundamental a
uma vida digna, que passa pelo direito à saúde e ao planejamento familiar. Descabimento de
utilização da técnica de interpretação conforme para aditar à lei de biossegurança controles
desnecessários que implicam restrições às pesquisas e terapias por ela visadas. Improcedência
total da ação” (ADI 3510/DF).
Comentário: trata-se do julgado em que o STF liberou a pesquisa com células tronco
embrionárias. Nele restou fixado que não há violação da vida nem da dignidade da pessoa
planejamento familiar e à pesquisa científica, sendo que o espírito da sociedade fraternal aponta
Esclareceu a Min. Cármen Lúcia que as células-tronco embrionárias podem gerar qualquer tecido
humano. Assim, a sua pesquisa, ao contrário de violar a vida humana, contribui para dignificá-
la.
Para o Min. Carlos Britto o zigoto (embrião em estágio inicial) é a primeira fase do embrião
humano, a célula-ovo ou célula-mãe, que representa realidade distinta da pessoa natural, já que
não tem cérebro formado. Por isso, não se pode falar em violação do direito à vida.
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Já a Min. Ellen Gracie dispôs que o ninho natural do acolhimento do zigoto é o útero. Em não
sendo assim, não se pode qualificar a célula embrionária como pessoa, sendo que a ordem
jurídica nacional qualificou como pessoa aquele nascido com vida. Além disso, o pré embrião
também não é um nascituro, já que para isso seria necessário que houvesse probabilidade de
vir a nascer, o que não ocorre com os embriões inviáveis ou destinados ao descarte.
O Min. Marco Aurélio, por sua vez, asseverou que jogar no lixo embriões descartados para a
reprodução humana seria um gesto de egoísmo e uma grande cegueira, quando eles podem
De arremate, o Min. Celso de Mello disse que o Estado não pode ser influenciado pela religião
e que a permissão da pesquisa em apreço possibilitará que milhões de brasileiros, que hoje
sofrem e que se acham postos à margem da vida, possam ter acesso ao direito básico e
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MAPA MENTAL
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Conteúdo Jurídico. O núcleo essencial dos direitos fundamentais, 2020. Disponível em:
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Blog do Eduardo Gonçalves. SABE O QUE É A TESE DOS LIMITES DOS LIMITES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?
VAI CAIR! 2020. Disponível em: <http://www.eduardorgoncalves.com.br/2019/01/sabe-o-que-e-tese-dos-limites-
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