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CERS

Carreiras Jurídicas 2021

DIREITO
CONSTITUCIONAL
CAPÍTULO 5
Recado para você que está assistindo às videoaulas

Prezado aluno, a princípio, estamos trazendo algumas informações relevantes para você que
está assistindo às nossas videoaulas e complementará os estudos através do conteúdo do nosso
CERS Book. Portanto, você deve estar atento que:

O CERS book foi desenvolvido para complementar a aula do professor e te dar um suporte nas
revisões!

Um mesmo capítulo pode servir para mais de uma aula, contendo dois ou mais temas, razão
pela qual pode ser eventualmente repetido;

A ordem dos capítulos não necessariamente é igual à das aulas, então não estranhe se o capítulo
03 vier na aula 01, por exemplo. Isto acontece porque a metodologia do CERS é baseada no

estudo dos principais temas mais recorrentes na sua prova de concurso público, por isso, nem
todos os assuntos apresentados seguem a ordem natural, seja doutrinária ou legislativa;

Esperamos que goste do conteúdo!

1
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Constituição 


Capítulo 2 – Poder Constituinte 
Capítulo 3 – Controle de Constitucionalidade 

Capítulo 4 – Preâmbulo Constitucional. Princípios Fundamentais 

Capítulo 5 (você está aqui!) – Direitos e Garantias Fundamentais 

Capítulo 6 – Da Organização do Estado 

Capítulo 7 – Da Organização dos Poderes. Do Poder Legislativo 

Capítulo 8 – Do Poder Executivo 


Capítulo 9 – Do Poder Judiciário 

Capítulo 10 – Do Poder Judiciário 

Capítulo 11 – Das Funções Essenciais à Justiça 

Capítulo 12 – Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas 


Capítulo 13 – Da Tributação e do Orçamento. Do Sistema Tributário

Nacional
Capítulo 14 – Das Finanças Públicas 
Capítulo 15 – Da Ordem Econômica e Financeira 
Capítulo 16 – Da Ordem Social 
Capítulo 17 – Das Disposições Constitucionais Gerais. Ato das

Disposições Constituições Transitórias (ADCT)

2
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Caro amigo concurseiro, iniciaremos agora o estudo dos direitos e garantias

fundamentais. Trata-se de tema cobrado nas provas das mais diversas carreiras jurídicas e que
é de extrema importância nos certames.

Direitos e garantias fundamentais irão cair em todas as fases do concurso e podem ser

cobrados nos aspectos da lei, da doutrina e da jurisprudência. Por isso, o presente material irá
te ajudar a encurtar o caminho entre o estudo e a aprovação.

A dica sobre a forma de estudar é, principalmente, de conhecer o conteúdo doutrinário

apontado neste material e de estar sempre atento à jurisprudência das Cortes Superiores,
principalmente do STF.

Enfim, o tema é extenso (mas não difícil) e o trabalho é árduo, então, mãos à obra!

3
SUMÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL ................................................................................................................... 6

Capítulo 5 – Parte 01 .............................................................................................................................. 6

5. Direitos e Garantias Fundamentais ............................................................................................... 7

5.1 Evolução, estrutura e funções.......................................................................................................................... 7

5.1.1 Quatro Status de Jellinek................................................................................................................................... 7

5.1.2 Classificação dos Direitos Fundamentais .................................................................................................... 9

5.1.3 Características dos direitos fundamentais ............................................................................................... 10

5.2 Teoria geral das garantias .............................................................................................................................. 12

5.3 Direitos fundamentais em espécie ............................................................................................................. 15

5.3.1 Direitos Individuais Básicos............................................................................................................................ 15

5.3.1.1. Igualdade ....................................................................................................................................................... 17

5.3.1.2. Legalidade ..................................................................................................................................................... 19

5.3.1.3. Segurança das Relações Jurídicas....................................................................................................... 19

5.3.1.4. Privacidade .................................................................................................................................................... 20

5.3.1.5. Vida .................................................................................................................................................................. 21

5.3.1.6. Liberdade ....................................................................................................................................................... 22

5.3.1.7. Propriedade .................................................................................................................................................. 24

5.4 Conflito de direitos fundamentais. O princípio da proporcionalidade. Conceito, origem,


conteúdo, elementos e subprincípios.................................................................................................................... 25

5.4.1. Os princípios da proibição de excesso e da vedação da proteção insuficiente .................... 32

5.4.2. O princípio da razoabilidade. Conceito, origem e conteúdo ......................................................... 33

5.5 Restrições a direitos fundamentais ............................................................................................................ 36

5.6 Teoria interna, teoria externa e a teoria dos “limites dos limites” ............................................... 36

4
5.7 Teoria absoluta, teoria relativa e o princípio do respeito ao conteúdo essencial dos

direitos fundamentais ................................................................................................................................................... 40

5.8 Teoria objetiva e teoria subjetiva ................................................................................................................ 41

5.8.1 Perspectiva subjetiva ........................................................................................................................................ 41

5.8.2 Perspectiva objetiva .......................................................................................................................................... 42

5.9 Eficácia vertical e horizontal dos direitos fundamentais................................................................... 43

5.9.1 Eficácia horizontal dos direitos fundamentais ....................................................................................... 43

5.9.2 Eficácia Vertical dos direitos fundamentais ............................................................................................ 44

5.9.3 Eficácia Diagonal (ou Transversal) .............................................................................................................. 44

5.10 Orçamento e reserva do possível ............................................................................................................... 45

5.11 O princípio da proibição do retrocesso social ...................................................................................... 47

QUADRO SINÓPTICO ............................................................................................................................ 50

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 55

GABARITO ............................................................................................................................................... 82

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 83

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 84

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 87

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 90

MAPA MENTAL ................................................................................................................................... 110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................... 111

5
DIREITO CONSTITUCIONAL

Capítulo 5 – Parte 01

Como referido, iniciaremos a primeira parte do capítulo que trata sobre direitos e
garantias fundamentais. Abordaremos o seu conceito, a sua evolução, a sua estrutura, as

características, os seus destinatários e a ideia de colisão de valores.

Além disso, pontuaremos diversos aspectos doutrinários, teorias e classificações para que
você, concurseiro, fique por dentro de tudo que vem sendo cobrado em provas.

Trataremos, também os pontos mais relevantes dos direitos individuais básicos como a

vida, a legalidade, a segurança das relações jurídicas, a privacidade, a igualdade, a liberdade e


a segurança.

Fica o destaque, neste momento, para o direito fundamental à liberdade de expressão,

que, com o advento da internet e, mais especificamente, das redes sociais, vem sendo muito
cobrado em provas e debatido na jurisprudência das mais diversas Cortes do país.

Trouxemos, por fim, além de diversas teorias sobre direitos fundamentais (sobre a sua

colisão, limitação, núcleo essencial, dupla dimensão, eficácia), a mais atualizada jurisprudência
sobre a matéria, com os devidos comentários, além de importantes questões que caíram em

provas, também comentadas.

6
5. Direitos e Garantias Fundamentais

5.1 Evolução, estrutura e funções

Todas as Constituições escritas modernas, no particular deste assunto, se inspiraram na

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada após a Revolução Francesa,


em 1789, que dizia que o Estado que não possuísse separação de poderes e um enunciado de

direitos individuais não teria Constituição.

Os primeiros direitos fundamentais surgiram em razão da necessidade de se impor limites e


controles aos atos praticados pelo Estado e suas autoridades constituídas. Eles nasceram como
uma proteção à liberdade do indivíduo frente à atuação abusiva do Estado.

São denominados direitos negativos, liberdades negativas, ou direitos de defesa por


exigirem uma abstenção, um não fazer do Estado em respeito à liberdade individual.

Somente no século XX, com o reconhecimento dos direitos fundamentais de segunda

dimensão - direitos sociais, culturais e econômicos1 -, os direitos fundamentais passaram a ter


feição positiva, isto é, passaram a exigir, também, a atuação comissiva do Estado, prestações

estatais em favor do bem-estar do indivíduo.

5.1.1 Quatro Status de Jellinek

O Professor alemão Georg Jellinek desenvolveu, no final do século XIX, a doutrina dos quatro

status em que o indivíduo pode encontrar-se diante do Estado buscando auxiliar na


compreensão do conteúdo e alcance dos direitos fundamentais, tendo em conta o papel por

eles desempenhado na ordem jurídica. São eles: status passivo, status negativo, status positivo
e status ativo.

O status passivo (ou status subjectionis) se dá quando o indivíduo encontra-se em posição

de subordinação aos poderes públicos, caracterizando-se como detentor de deveres para com

1
Vide questão 10
7
o Estado. Nessa situação, o Estado pode obrigar o indivíduo, mediante mandamentos e

proibições.

Em outras situações, reconhece-se que o indivíduo, possuidor de personalidade, tem o direito


de desfrutar de um espaço de liberdade com relação a ingerências dos Poderes Públicos. Em

suma, faz-se necessário que o Estado não tenha interfira na autodeterminação do indivíduo, que
tem direito a gozar de algum âmbito de ação desvencilhado da ingerência estatal. Temos, nessa

situação, o status negativo.

O status positivo (ou status civitatis) se verifica nas situações em que o indivíduo tem o
direito de exigir do Estado que atue positivamente em seu favor, que realize prestações,

ofertando serviços ou bens.

Jellinek, por fim, trata do status ativo, no qual o indivíduo desfruta de competências para
influir sobre a formação da vontade estatal, correspondendo essa posição ao exercício dos

direitos políticos, manifestados, especialmente, por meio do voto.

Subordinação aos poderes


públicos
Passivo

Sujeição a deveres fundamentais

Indivíduo com autodeterminação


OS QUATRO
Negativo
STATUS DE
JELLINEK O Estado não interfere

Positivo Atuação positiva do Estado

Participação na formação da
Ativo
vontade estatal

8
5.1.2 Classificação dos Direitos Fundamentais

O ministro Alexandre de Moraes aponta que a Constituição Federal de 1988 trouxe em seu
Título II os direitos e garantias fundamentais, subdividindo-os em cinco capítulos: direitos

individuais e coletivos; direitos sociais; nacionalidade; direitos políticos e partidos políticos.

O constituinte estabeleceu a classificação com cinco espécies ao gênero direitos e garantias


fundamentais: direitos e garantias individuais e coletivos; direitos sociais; direitos de

nacionalidade; direitos políticos; e direitos relacionados à existência, organização e participação


em partidos políticos.

Modernamente, a doutrina adota a classificação de direitos fundamentais de primeira,

segunda e terceira gerações, baseando-se na ordem histórica cronológica em que passaram a


ser constitucionalmente reconhecidos.

Direitos
Fundamentais de
Primeira Geração

Direitos
Fundamentais de
Segunda Geração

Direitos
Fundamentais de
Terceira Geração

Sobre o tema, leciona o ministro Celso de Mello, “enquanto os direitos de primeira geração
(direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais –
realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais

9
e culturais) – que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam o

princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de


titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o

princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de


desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados enquanto

valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade”.

5.1.3 Características dos direitos fundamentais

Alexandre de Moraes aponta como principais características dos direitos fundamentais as

seguintes:

a) Imprescritibilidade: os direitos fundamentais não desaparecem pelo decurso do


tempo;

b) Inalienabilidade: não há possibilidade de transferência dos direitos fundamentais


a outrem;

c) Irrenunciabilidade: em regra, os direitos fundamentais não podem ser objeto de


renúncia;

d) Inviolabilidade: impossibilidade de sua não observância por disposições


infraconstitucionais ou por atos das autoridades públicas;

e) Universalidade: devem abranger todos os indivíduos, independentemente de sua


nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-filosófica;

f) Efetividade: a atuação do Poder Público deve ter por escopo garantir a efetivação
dos direitos fundamentais;

g) Interdependência: as várias previsões constitucionais, apesar de autônomas,


possuem diversas intersecções para atingirem suas finalidades; assim, a liberdade
de locomoção está intimamente ligada à garantia do habeas corpus, bem como
à previsão de prisão somente por flagrante delito ou por ordem da autoridade
judicial;

10
h) Complementaridade: os direitos fundamentais não devem ser interpretados
isoladamente, mas sim de forma conjunta com a finalidade de alcançar os
objetivos previstos pelo legislador constituinte;

i) Relatividade ou limitabilidade: os direitos fundamentais não têm natureza


absoluta2.

Não existe uma lista taxativa de direitos fundamentais. Eles representam um conjunto
aberto, dinâmico, mutável no tempo. Essa característica dos direitos fundamentais encontra-se
expressa no § 2º do art. 5º da CRFB/1988, nos termos seguintes: "os direitos e garantias
expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por
ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte".

Neste ponto, é importante ressaltar a questão da gratuidade do registro de nascimento


e de óbito, prevista na Constituição Federal: Segundo o art. 5º, LXXVI - são gratuitos para os

reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito.

De todo modo, vale ressaltar que, embora a CF preveja expressamente a gratuidade do assento

de nascimento e óbito apenas aos reconhecidamente pobres, a Lei 9534/1997 alterou a redação
do art. 30, da Lei 6015/73, estendendo a todos a gratuidade da “registro civil de nascimento e
pelo assento de óbito, bem como pela primeira certidão respectiva”, e o STF entendeu

constitucional a gratuidade universal, por serem “atos necessários ao exercício da cidadania”


(conforme inciso LXXVII, do art. 5º da CF).3

2
Vide questão 9

11
5.2 Teoria geral das garantias

Para tratarmos da teoria geral das garantias, a primeira pergunta que precisamos fazer é

a seguinte: qual é a diferença entre um direito fundamental e uma garantia fundamental?

Enquanto o direito fundamental é o bem e a vantagem em si considerados (exemplo: o

direito à liberdade de locomoção), a garantia fundamental é o instrumento de proteção do

direito fundamental (exemplo: habeas corpus).4

Direito Garantia
fundamental Fundamental

Instrumento de
Bem e a vantagem
proteção do
em si
direito
considerados
fundamental

Ex: liberdade de
Ex: Habeas Corpus
locomoção

Já que foi citado o exemplo do habeas corpus, então, qual é a diferença entre uma

garantia fundamental e um remédio constitucional?

Na verdade, o remédio constitucional nada mais é do que espécie do gênero garantia.

4
Vide questão 11
12
Ademais, os direitos e deveres individuais e coletivos, previstos no art. 5º da CRFB, são

espécies do gênero direitos e garantias fundamentais (Título II). Com isso, apesar de o artigo 5º

falar de “direitos e deveres”, também consagrou as garantias fundamentais.

E quem são os destinatários das garantias e dos direitos fundamentais?

Apesar de o art. 5º, “caput” fazer referência somente aos brasileiros e aos estrangeiros

residentes no Brasil, a interpretação correta do dispositivo, segundo a doutrina e a jurisprudência

das Cortes Superiores, é de que devem ser entendidos como destinatárias todas as pessoas,

inclusive os estrangeiros não residentes, os apátridas e até as pessoas jurídicas. Não faria sentido

nenhum que a Lei Maior permitisse a tortura de um turista, não é mesmo?

Além disso, entende-se que o rol de direitos e garantias previstos no referido artigo é

meramente exemplificativo. Como referido em Capítulo anterior, os direitos e garantias

expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por

ela adotados, ou dos tratados internacionais de que a República Federativa do Brasil seja

parte (art. 5º, §2º, da CF).

Agora concurseiro, outro importante assunto que devemos saber acerca das garantias

fundamentais e dos direitos fundamentais é o que trata da sua aplicabilidade.

De acordo com o art. 5º, §1º, da CF os direitos e garantias fundamentais tem aplicação

imediata.

É correto dizer que as expressões “aplicabilidade” e “aplicação” são sinônimas?

Para José Afonso da Silva a expressão “aplicação imediata” quer dizer que tais normas

são dotadas de todos os meios e elementos necessários à sua pronta incidência aos fatos,
13
situações, condutas ou comportamento que elas regulam. Nessa linha, segundo Pedro Lenza, as

normas definidoras de direitos de 1ª dimensão (direitos civis e políticos) seriam de

aplicabilidade imediata, mas aquelas definidoras de direitos de 2ª dimensão (direitos

econômicos, sociais e culturais)5 seriam de aplicabilidade mediata, já que dependem de

providências ulteriores. O direito de greve e a aposentadoria especial, por exemplo, dependem

de lei para que sejam garantidos.

Assim, para que se interprete de forma correta o art. 5º, §1º, é preciso entender que

devem ser os direitos e garantias fundamentais aplicáveis o máximo possível e que o Poder

Judiciário pode ser invocado para que apliquem as normas de forma concreta.

Mas o que acontece se não houver a regulamentação da lei?

Nesse caso a CF/88 trouxe remédios para combater a “síndrome de inefetividade” das

normas de eficácia limitada, quais sejam, a ADO (ação direta de inconstitucionalidade por

omissão) e o MI (mandado de injunção), sendo que este último foi regulamentado pela Lei

n.13.300/2016, permitindo que seja extraído o correto sentido da expressão “aplicação imediata”,

prevista no art. 5º, §1º, da CF.

Por fim, apesar de haver certa divergência, quais são as principais garantias previstas

no art. 5º da Constituição?

 Inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV)


 Juízo natural (art. 5º, XXXVII)
 Júri popular (art. 5º, XXXVIII)
 Legalidade penal e retroatividade da lei penal benéfica (art. 5º, XXXIX)
 Pessoalidade da pena (art. 5º, XLV)6

5
Vide questão 2
6
Vide questão 15
14
 Individualização da pena (art. 5º, XLVI)
 Garantias ligadas à extradição (art. 5º, LI)
 Devido processo legal (art. 5º, LIV)
 Vedação da prova ilícita (art. 5º, LVI)
 Presunção de inocência (art. 5º, LVII)
 Proibição da identificação criminal do civilmente identificado (art. 5º, LVIII)
 Ação penal privada subsidiária da pública (art. 5º, LIX)
 Garantias ligadas à prisão
 Não autoincriminação (art. 5º, LXII)7
 Assistência jurídica gratuita (art. 5º, LXXIV)
 Indenização por erro judiciário (art. 5º, LXXV)
 Gratuidade dos registros de nascimento e óbito (art. 5º, LXXVI)
 Celeridade processual (art. 5º, LXXVIII)

5.3 Direitos fundamentais em espécie

5.3.1 Direitos Individuais Básicos

São considerados direitos individuais básicos os expressamente previstos no art. 5º, caput,
ou seja: vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade. Além destes, o próprio art. 5º

da Carta Magna traz, nos seus setenta e oito incisos, uma extensa relação de direitos individuais.

Uma importante característica dos direitos individuais previstos no art. 5º da Lei Maior é o
seu caráter autoaplicável, ou, relembrando a classificação estudada das normas constitucionais,

tratam-se, na sua maioria, de normas de eficácia plena ou contida, com aplicabilidade imediata.

Assim, não dependem da edição de norma regulamentadora para que possam ser exercidos,
salvo algumas poucas exceções. É o que está expressamente previsto no art. 5º, §1º.

7
Vide questão 14
15
Embora o texto constitucional não faça menção expressa aos estrangeiros não residentes no
País, é pacífico o entendimento de que eles também gozam da proteção constitucional quanto

aos direitos fundamentais. O mesmo se pode dizer das pessoas jurídicas, também merecedoras
da proteção constitucional quanto aos direitos fundamentais (tanto as de direito público quanto

as de direito privado).

Por fim, o sistema constitucional brasileiro alberga direitos fundamentais não expressos

no texto constitucional, mas que sejam decorrentes do regime e dos princípios adotados pela
Constituição Federal. Os direitos e as garantias expressos na Constituição não excluem outros

decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em
que a República Federativa do Brasil seja parte.

Isso significa que o rol de direitos do art. 5º, apesar de extremamente abrangente,

continua sendo exemplificativo, e pode ser ampliado.

Com base nesse dispositivo, a Constituição brasileira contém cláusula aberta que permite
acolher os chamados direitos materialmente fundamentais ou direitos fundamentais em sentido

material, que são aqueles não previstos expressamente por ela, mas que, por força de sua
essencialidade, são direitos fundamentais, detentor da mesma dignidade dos direitos
constitucionalizados. A essa abertura podemos denominar, com apoio em JORGE MIRANDA, de

não tipicidade dos direitos fundamentais. CANOTILHO sustenta que, “em virtude de as normas
que os reconhecem e protegem não terem a forma constitucional, estes direitos são chamados

de direitos materialmente fundamentais. Por outro lado, trata-se de uma ‘norma de FATTISPECIE
ABERTA’, de forma a abranger, para além das positivações concretas, todas as possibilidades de
‘direitos’ que se propõem no horizonte da ação humana”.

16
Veja como o tema foi abordado recentemente na prova de Promotor de Justiça do MPE-

GO, em 2019.

(Banca: MPE-GO - 2019 - Promotor de Justiça Substituto - Prova Anulada) O sistema

constitucional brasileiro alberga direitos fundamentais não expressos no texto constitucional,


mas que sejam decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição Federal.
Correta!

5.3.1.1. Igualdade

O direito à igualdade está consagrado no art. 5º, caput, da Constituição Federal, que diz:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”.8 Seu significado é intuitivo,
vale dizer, proíbe-se toda e qualquer forma de discriminação injustificada entre as pessoas.

A ideia fundamental do princípio da igualdade é a que todos devem ser tratados de

forma igual perante a lei, ou seja, todos nascem e vivem com os mesmos direitos e deveres
perante a coletividade e o Estado.

É importante notar que o conteúdo deste princípio não impõe uma igualação absoluta

entre todas as pessoas, já que há situações em que é inegável a necessidade de se


desigualar pessoas que se encontrem em situações desiguais, visando exatamente conferir

aquilo que se chama de igualdade material. Por isso é que se fala que respeitar o princípio
da igualdade é igualar os iguais, na medida das suas igualdades, e desigualar os desiguais, na

medida das suas desigualdades.

8
Vide questão 6
17
 Ações afirmativas (discriminações positivas)

Consistem em políticas públicas ou programas privados, em geral de caráter temporário,


desenvolvidos com a finalidade de reduzir desigualdades decorrentes de discriminações, ou de
uma hipossuficiência econômica ou física, por meio de uma concessão de alguma vantagem.

Ações afirmativas são medidas especiais e concretas para assegurar o desenvolvimento


ou a proteção de certos grupos, com o fito de garantir-lhes, em condições de igualdade, o
pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades fundamentais. (Art. 2°, II, da Convenção

para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, da Organização das Nações


Unidas, ratificada pelo Brasil em 1968).

São modalidades ou exemplos de ações afirmativas empregadas em vários países:

 Levar em consideração critérios como a raça, o gênero ou outros aspectos que


caracterizem grupos minoritários para promover sua integração social;

 Afastar requisitos de antiguidade para a permanência ou promoção de membros de

categorias socialmente dominantes em determinados ambientes profissionais;

 Definir distritos eleitorais para o fortalecimento das minorias representadas por estes
distritos eleitorais; e

 Estabelecer cotas ou reserva de vagas para integrantes de setores marginalizados.

 Sistemas de cotas

Decisão do STF - O sistema de cotas em universidades públicas, com base em critério

étnico-racial, é CONSTITUCIONAL. No entanto, as políticas de ação afirmativa baseadas no


critério racial possuem natureza transitória.

É importante ressaltar que as políticas de ação afirmativa baseadas no critério racial

possuem natureza transitória já que as desigualdades entre negros e brancos não resultam,
como é evidente, de uma desvalia natural ou genética, mas decorrem de uma acentuada

18
inferioridade em que aqueles foram posicionados nos planos econômico, social e político em

razão de séculos de dominação dos primeiros pelos segundos.

Assim, as políticas de ação afirmativa fundadas na discriminação reversa apenas são


legítimas se a sua manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do quadro de

exclusão social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam converter-se em
benesses permanentes, instituídas em prol de determinado grupo social, mas em detrimento da

coletividade como um todo, situação incompatível com o espírito de qualquer Constituição que
se pretenda democrática.

5.3.1.2. Legalidade

Este importantíssimo princípio constitucional vem proclamado no art. 5º, II, que declara:
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei” .

É a base primordial dos chamados Estados de Direito, como o Brasil, que primam por

garantir a todos os que estiverem sob sua Soberania a segurança de que só se verão obrigados
a praticar certa conduta ou a se abster de fazer algo se assim a lei previr.

5.3.1.3. Segurança das Relações Jurídicas

Quando se fala em segurança das relações jurídicas, fala-se no direito que todos têm de

saber as consequências exatas dos atos jurídicos que venham a praticar. É a segurança conferida
aos indivíduos de que não serão pegos de surpresa por novas e inesperadas situações que lhe
prejudiquem.

Em nome desta segurança é que o princípio geral acerca da aplicação das leis é o da
irretroatividade, ou seja, as leis só alcançam as situações posteriores à sua elaboração. Poderão
retroagir somente nos casos em que não prejudiquem ao direito adquirido, ato jurídico perfeito

e a coisa julgada.

19
 Direito adquirido: considera-se adquirido o direito se ele já tiver se incorporado

ao patrimônio do seu titular, que o pode exercer a qualquer tempo, só não o


tendo feito ainda porque não quis.

 Ato jurídico perfeito: é o ato jurídico já realizado e consumado de acordo com

todos os requisitos que a lei vigente prevê.

 Coisa julgada: é a decisão judicial definitiva, ou seja, da qual já não caiba recurso.
Depois de transitada em julgado (ultrapassadas todas instâncias de recurso), a

sentença proferida num processo judicial confere às partes a certeza de que não
será modificada.

5.3.1.4. Privacidade

O art. 5º, X, da CF, estabelece que “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e
a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”.

Pelo texto da Constituição se percebe que o direito à privacidade compreende a tutela


da intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas.

 Intimidade9 é aquilo que é interior de cada ser humano. É o direito de estar


só, de ser respeitado em sua vida particular. Diz respeito a cada indivíduo
individualmente considerado, como seus segredos, seu diário, sua lista de e-

mails.

 Já a vida privada constitui a convivência do indivíduo com seus amigos e família,


ou seja, a que se vive no lar ou em locais fechados, É o direito de conduzir a

vida familiar e social sem a interferência indesejada de terceiros, como vizinhos,


jornalistas, curiosos etc.

 A honra é um atributo pessoal de todo indivíduo. Abrange sua autoestima, ou


seja, aquilo que cada pessoa pensa de si mesma (honra subjetiva) e o conceito

9
Vide questão 17
20
do indivíduo perante os outros, a reputação que possui no meio social (honra

objetiva).

 Já a imagem compreende a imagem-retrato, a imagem-atributo e a imagem-


voz. A chamada imagem-retrato é a representação gráfica, fotográfica,

televisionada ou cinematográfica do indivíduo. Neste sentido, é o direito que


todos têm de não ver sua representação reproduzida por qualquer meio de

comunicação sem a devida autorização. A imagem-atributo é o retrato moral do


indivíduo, o conjunto dos seus traços caracterizadores, seus comportamentos

reiterados. Por sua vez, a imagem-voz é o timbre sonoro do indivíduo.

O art. 5º, XI, da CF, proclama que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial ”.

Como se observa no próprio texto constitucional, a inviolabilidade de domicílio não é


absoluta, já que há casos em que é possível o ingresso na casa do indivíduo sem sua

autorização.

Ressalte-se que as três primeiras exceções (prisão em flagrante, prestação de socorro e


desastre) podem acontecer a qualquer hora do dia ou da noite, enquanto que a última

(cumprimento de ordem judicial) só pode ocorrer durante o dia. O STF tem considerado como
“durante o dia”, sendo o intervalo compreendido entre o amanhecer até o pôr do sol.

5.3.1.5. Vida

O direito à vida é o principal direito individual, o bem jurídico de maior relevância


protegido pela Constituição, pois o exercício dos demais direitos depende de sua existência.

Deve ser compreendido de maneira extremamente abrangente, incluindo o direito de nascer,


de permanecer vivo, de defender a própria vida, enfim, de não ter o processo vital interrompido

senão pela morte espontânea e inevitável.

21
Do direito à vida decorre uma série de direitos, como o direito à integridade física e

moral, a proibição da pena de morte e da venda de órgãos, a punição como crime do homicídio,
da eutanásia, do aborto e da tortura10.

5.3.1.6. Liberdade

Liberdade, em termos jurídicos, é o direito de fazer ou não fazer alguma coisa senão
em virtude da lei. Um indivíduo é livre para fazer tudo aquilo que a lei não proibir. Considerando

o princípio da legalidade (art. 5º, II), apenas as leis podem limitar a liberdade individual.

O art. 5º, IV, estabelece que “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o
anonimato”11. Se a CRFB assegura a liberdade de manifestação de pensamento, as pessoas são
obrigadas a assumir a responsabilidade por aquilo que exteriorizarem. Ninguém pode fugir da
responsabilidade do pensamento exteriorizado, escondendo-se sob a forma do anonimato. O

direito de manifestação do pensamento deve ser manifestado de forma responsável, não


se tolerando o exercício abusivo deste direito em detrimento da honra das demais

pessoas12.

No art. 5º, V, a Constituição assegura “o direito de resposta, proporcional ao agravo, além


da indenização por dano material, moral ou à imagem”. Trata-se do exercício o direito de defesa
da pessoa que foi ofendida pela imprensa em razão da publicação de uma notícia inverídica.

A liberdade de consciência é de foro íntimo, interessando apenas ao indivíduo. Por sua


própria natureza, é de caráter indevassável e absoluto e não está sujeita a qualquer forma de
controle pelo Estado. Abrange a liberdade de crença religiosa (art. 5º, VI) e a liberdade de
consciência em sentido estrito, que se refere ao pensamento não relacionado a questões

religiosas. Inclui o direito de professar ou não uma religião, de acreditar ou não numa ou mais
divindades ou de ser ateu13.

10
Vide questão 8
11
Vide questão 18
12
Vide questões 1 e 16
13
Vide questão 4
22
A CRFB de 1988, preocupada em assegurar ampla liberdade de manifestação de

pensamento, veda expressamente qualquer atividade de censura ou licença (art. 5º, IX). Por
censura entende-se a verificação da compatibilidade entre um pensamento que se pretende

exprimir e as normas legais vigentes. Por licença, a exigência de autorização de qualquer agente
ou órgão para que um pensamento possa ser exteriorizado14.

A liberdade de reunião deve ser entendida como agrupamento de pessoas, organizado,

de caráter transitório, com uma determinada finalidade. Em locais abertos ao público, a CRFB
assegura, no art. 5º, XVI, desde que observados certos requisitos: a) reunião pacífica, sem

armas; b) fins lícitos; c) aviso prévio à autoridade competente; e d) realização em locais


abertos ao público. O aviso prévio mencionado não se confunde com a necessidade de prévia

autorização do Poder Público. Sua finalidade é unicamente evitar a frustração de outra reunião
previamente marcada para o mesmo local. O direito de passeata é também assegurado pela CF,
pois esta nada mais é do que uma reunião em movimento.

A Constituição protege a liberdade de expressão no seu duplo aspecto: positivo e


negativo. O positivo é a livre possibilidade de manifestação de qualquer pessoa e permite a
responsabilização nos termos constitucionais. É a liberdade com responsabilidade. O negativo

proíbe a ilegítima intervenção do Estado por meio de censura prévia.

No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de publicações


jornalísticas, bem como tornou excepcional qualquer tipo de intervenção estatal na divulgação

de notícias e de opiniões, já que “os direitos que dão conteúdo à liberdade de imprensa são
bens de personalidade que se qualificam como SOBREDIREITOS. Daí que, no limite, as relações

de imprensa e as relações de intimidade, vida privada, imagem e honra são de mútua


excludência, no sentido de que as primeiras se antecipam, no tempo, às segundas; ou seja, antes

de tudo prevalecem as relações de imprensa como superiores bens jurídicos e natural forma de
controle social sobre o poder do Estado, sobrevindo as demais relações como eventual

responsabilização ou consequência do pleno gozo das primeiras.”

14
Vide questão 5
23
Afirmou-se, ainda, que a liberdade de expressão desfruta de uma posição preferencial no

Estado democrático brasileiro, por ser uma pré-condição para o exercício esclarecido dos demais
direitos e liberdades. Assim, eventual uso abusivo da liberdade de expressão deve ser reparado,

preferencialmente, por meio de retificação, direito de resposta ou indenização. Ao determinar a


retirada de matéria jornalística de sítio eletrônico de meio de comunicação, viola-se essa

orientação.

Nesse sentido, o MPE-GO cobrou esse entendimento na prova de Promotor de Justiça:

(Banca: MPE-GO - 2019 - Promotor de Justiça Substituto - Prova Anulada) Segundo

entendimento do Supremo Tribunal Federal, a liberdade de imprensa tem, na Constituição


Federal de 1988, característica de “sobredireito”, com precedência sobre a imagem, a honra, a

intimidade e a vida privada, o que afasta a possibilidade de controle prévio, pelo Poder Judiciário,
sobre o exercício de referida liberdade. CORRETA!

5.3.1.7. Propriedade

O direito de propriedade encontra-se assegurado no art. 5º, XXII, da Lei Maior, sendo

conceituado tradicionalmente pelo art. 1.228 do Código Civil (Lei 10.406/02), como sendo o
direito conferido a todos “de usar, gozar, e dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de
quem quer que injustamente os possua”.

Esta antiga e tradicional definição, todavia, hoje precisa ser revista, tendo em vista que a
Constituição de 1988 trouxe a figura da função social da propriedade, a teor do seu art. 5º, XXIII,
que diz: “a propriedade atenderá a sua função social”.

24
Isto quer dizer que não se concebe mais o direito de propriedade como um direito

absoluto do seu titular que pode ser exercido à revelia dos interesses sociais. Ao contrário, a
função social da propriedade impõe a utilização da coisa de acordo com a conveniência social

e os interesses da sociedade.

5.4 Conflito de direitos fundamentais. O princípio da


proporcionalidade. Conceito, origem, conteúdo, elementos e
subprincípios.

Concurseiro, trataremos de forma específica, nesse momento, sobre o importante

princípio da proporcionalidade.

Como já elucidado no item 1.5.2 do primeiro capítulo, o princípio da proporcionalidade

emana das ideias de justiça, equidade, bom senso e serve de regra de interpretação do

ordenamento jurídico.

Tendo em vista que não existe hierarquia entre direitos fundamentais, no caso de sua

colisão, a forma correta de solução é a técnica do balanceamento, que deve observância ao

princípio da proporcionalidade. Por este método, é preciso avaliar o caso concreto para que

se ponderem os direitos, sem que seja gerado sacrifício de qualquer deles.

Ademais, importante não confundir o conflito entre direitos fundamentais com a

concorrência de direitos fundamentais. Enquanto no conflito há o choque, no caso de

concorrência há o afluxo de direitos, ou seja, ocorre uma situação em que é possível exercer

dois ou mais direitos fundamentais ao mesmo tempo.

25
Direitos Fundamentais

Conflito Concorrência
Choque (colisão) Afluxo
Exercício de mais de um
Ponderação
direito ao mesmo tempo

E o que é o princípio da proporcionalidade?

O princípio da proporcionalidade é uma peça fundamental no ordenamento jurídico de

um Estado Democrático, sendo instrumento de tutela dos direitos fundamentais que utiliza

para a sua concretização o método hipotético dedutivo. A sua natureza jurídica é a de princípio

jurídico regulador dos conflitos entre direitos fundamentais e demais princípios insculpidos na

Constituição.

E qual é a sua origem?

De acordo com Virgílio Afonso da Silva, o seu surgimento se deu na jurisprudência

alemã, que compreende o sistema do Civil Law. Por outro lado, parte da doutrina, que não

distingue o princípio da proporcionalidade com o da razoabilidade, aponta como marco

histórico a Magna Carta inglesa, no sistema do “Common Law”, que traz a inscrição de que “ o

homem livre não deve ser punido por um delito menor, senão na medida desse delito, e por

um grave delito ele deve ser punido de acordo com a gravidade do delito ”.

26
Quais os elementos ou subprincípios da proporcionalidade?

Como já referido no capítulo 1, que trata sobre os princípios de interpretação

constitucional (item 1.5.2), três são os elementos do princípio da proporcionalidade: adequação;

necessidade; e proporcionalidade em sentido estrito. Rememorem-se:

 Necessidade: por alguns denominada exigibilidade, a adoção da medida que possa


restringir direitos só se legitima se indispensável para o caso concreto e não se puder
substituí-la por outra menos gravosa;

 Adequação: também chamado de pertinência ou idoneidade, quer significar que o


meio escolhido deve atingir o objetivo perquirido;

 Proporcionalidade em sentido estrito: sendo a medida necessária e adequada, deve-


se investigar se o ato praticado, em termos de realização do objetivo pretendido,
supera a restrição a outros valores constitucionalizados. Podemos falar em máxima
efetividade e mínima restrição.

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS NO CONTEXTO DA COVID 19

O COVID-19, também chamado de “novo coronavírus”, trata-se de uma doença

contagiosa com potencial de gerar um colapso nos sistemas público e privado de saúde. Em

razão do crescimento do número de infectados e de mortos ao redor do mundo, a Organização

Mundial da Saúde (OMS) considerou, em 11 de março de 2020, a COVID-19 uma pandemia.

27
Seguindo as recomendações da OMS, as entidades federativas do Brasil determinaram

medidas de isolamento social, fechamento de comércios, fechamento de fronteiras, restrições à

circulação de transportes privados, fechamento de igrejas, impossibilidade de realização de

eventos e até restrições ao lazer, dentre outras medidas que implicam em flagrantes hipóteses

de mitigação, ainda que temporária, de direitos e garantias fundamentais previstas no artigo 5º

da Constituição Republicana de 1988, tais como a livre iniciativa, liberdade de locomoção,

liberdade religiosa e direito ao lazer.

Em consequência da crise sanitária, no dia 20 de março de 2020, através do Decreto

Legislativo nº 6 foi decretado o estado de calamidade pública brasileiro, nos termos da

solicitação do Presidente da República encaminhada por meio da Mensagem, conforme o artigo

84, XI da CRFB/88.15 Ressalta-se que não houve decretação dos estados de exceção.

Diante do todo exposto, verifica-se que há uma clara colisão entre direitos fundamentais.

De um lado encontra-se o direito a saúde e o direito à vida e de outro, principalmente, os

direitos à livre iniciativa, à liberdade de locomoção e à liberdade religiosa. A partir disso,

questiona-se qual o método adequado para equacionar a colisão entre direitos

fundamentais.

Diante da atual situação de pandemia, determinadas restrições e limitações impostas pelo

Poder Público encontram legitimação diante da colisão entre o direito à vida, o direito à saúde

e outros direitos fundamentais. Explica-se:

15
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: XI - remeter mensagem e plano de governo ao Congresso
Nacional por ocasião da abertura da sessão legislativa, expondo a situação do País e solicitando as providências que julgar
necessárias.
28
Sabe-se que os direitos e as garantias fundamentais possuem um papel central no Estado

democrático de direito e, por isso, devem ser aplicados e efetivados pelos três Poderes da

República.

Porém, na atual conjuntura mundial, há a necessidade de combate ao COVID-19 que é

uma doença extremamente contagiosa e, por essa razão, está havendo mitigação de alguns

direitos fundamentais e consequentemente um conflito entre eles.

Quando há um conflito de direitos e garantias fundamentais, busca-se a conciliação entre

eles, segundo a respectiva relevância no caso concreto.

Trata-se do chamado juízo de ponderação. Segundo Gilmar Mendes e Paulo Gustavo

Gonet Branco16, o juízo de ponderação a ser exercido liga-se ao princípio da proporcionalidade,

que exige que o sacrifício de um direito seja útil para a solução do problema, que não haja

outro meio menos danoso para atingir o resultado desejado e que seja proporcional em sentido

estrito, isto é, que o ônus imposto ao sacrificado não sobreleve o benefício que se pretende

obter com a solução.

Os Tribunais utilizam o juízo de ponderação em casos de colisão de direitos e princípios

fundamentais, método também aplicado no STF:

“EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL DECORRENTE DE

SUBMISSÃO DE EMPREGADO A TESTE DE POLÍGRAFO. APARENTE COLISÃO DE PRINCÍPIOS

FUNDAMENTAIS. Os fundamentos utilizados no acórdão embargado levaram em

consideração a jurisprudência desta Corte, a falta de previsão normativa no país e a não

16
MENDES, Gilmar Ferreira. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 13 ed. ver. e atual. São Paulo:
Saraiva, 2018.
29
comprovação da eficácia do detector de mentiras, o que geraria violação dos direitos

fundamentais da intimidade e dignidade do trabalhador. A doutrina majoritária e a

jurisprudência entendem que não existem direitos fundamentais absolutos17, aí se

incluindo o direito à vida e às liberdades públicas e privadas. Dessa forma, ante o caráter

de relatividade dos princípios fundamentais torna-se possível que, em caso de possível

conflito entre eles, haja a ponderação pelo aplicador do direito e decida-se pela

aplicação do princípio mais adequado ao caso concreto. Nesse contexto, esta Turma, ao

examinar o caso concreto apresentado para julgamento (pedido de indenização pela

utilização do polígrafo na relação de trabalho), certamente levou em consideração as

aparentes colisões entre princípios fundamentais, utilizando o método da ponderação

de bens, que se operacionaliza mediante os postulados da proporcionalidade, da unidade

da Constituição e da concordância prática. Embargos de declaração conhecidos e providos

apenas para prestar esclarecimentos, sem alteração do julgado. (TST - Acórdão Ed-rr -

1332-08.2011.5.05.0016, Relator(a): Min. Alexandre de Souza Agra

Belmonte, data de julgamento: 29/06/2016, data de publicação: 01/07/2016, 3ª Turma)”

(grifos acrescidos)

“EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.

DIREITO À SAÚDE. FORNECIMENTO PELO PODER PÚBLICO DO TRATAMENTO ADEQUADO.

SOLIDARIEDADE DOS ENTES FEDERATIVOS. OFENSA AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS

PODERES. NÃO OCORRÊNCIA. COLISÃO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS. PREVALÊNCIA DO

DIREITO À VIDA. PRECEDENTES. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no

sentido de que, apesar do caráter meramente programático atribuído ao art. 196 da

Constituição Federal, o Estado não pode se eximir do dever de propiciar os meios

necessários ao gozo do direito à saúde dos cidadãos. O Supremo Tribunal Federal assentou

o entendimento de que o Poder Judiciário pode, sem que fique configurada violação ao

17
Vide questão 3
30
princípio da separação dos Poderes, determinar a implementação de políticas públicas nas

questões relativas ao direito constitucional à saúde. O Supremo Tribunal Federal entende

que, na colisão entre o direito à vida e à saúde e interesses secundários do Estado, o

juízo de ponderação impõe que a solução do conflito seja no sentido da preservação

do direito à vida. Ausência de argumentos capazes de infirmar a decisão agravada. Agravo

regimental a que se nega provimento. (STF - Acórdão Are 801676 Agr / Pe - Pernambuco,

Relator(a): Min. Roberto Barroso, data de julgamento: 19/08/2014, data de publicação:

03/09/2014, 1ª Turma)” (grifos acrescidos)

Esclarece-se que, embora fundamentais, tais direitos não são absolutos. Dessa forma,

diante de determinadas circunstâncias excepcionais, os direitos e garantias fundamentais

podem ser mitigados sem violar a Constituição Republicana de 1988, ou seja, em situações

de grave crise e instabilidade ocorre a necessidade de imposição de medida mais rigorosas

que podem implicar a restrição desses direitos.

Neste sentido, por exemplo, a CRFB/88, em seu artigo 136 e 137 autoriza que em caso

de decretação de estado de defesa, bem como no caso de decretação do estado de sítio seja

possível a supressão de alguns direitos e garantias fundamentais.

No estado de defesa, artigo 136 da CRFB/88, permite restrições aos direitos de reunião,

ainda que exercida no seio das associações; de sigilo de correspondência; e de sigilo de

comunicação telegráfica e telefônica. Já no estado de sítio, artigo 137 da CRFB/88, é possível a

obrigação de permanência em localidade determinada; a detenção em edifício não destinado a

acusados ou condenados por crimes comuns; as restrições relativas à inviolabilidade da

correspondência, ao sigilo das comunicações, à prestação de informações e à liberdade de

31
imprensa, radiodifusão e televisão, na forma da lei; a suspensão da liberdade de reunião; a busca

e apreensão em domicílio; a intervenção nas empresas de serviços públicos; e a requisição de

bens.

5.4.1. Os princípios da proibição de excesso e da vedação da


proteção insuficiente

O que são os princípios da proibição do excesso e da proibição da proteção

deficiente?

O princípio da proibição do excesso18 está relacionado à impossibilidade de uma

atuação estatal que exceda o estritamente o necessário para o atingimento do fim almejado.

Já o princípio da proibição da proteção deficiente significa que nem a lei e nem o

Estado podem apresentar insuficiência em relação à garantia dos direitos fundamentais. Há

o dever do Estado e dos aplicadores do direito de assegurarem a proteção de um direito

fundamental.

18
Vide questões 12 e 13
32
Princípio da Princípio da
proibição do proibição da
excesso proteção deficiente

Nem a lei e nem o Estado


podem apresentar
Impossibilidade de uma insuficiência em relação à
atuação estatal que exceda garantia dos direitos
o estritamente o necessário fundamentais. Há o dever
para o atingimento do fim do Estado e dos aplicadores
almejado do direito de assegurarem a
proteção de um direito
fundamental

5.4.2. O princípio da razoabilidade. Conceito, origem e


conteúdo

A primeira pergunta que se deve fazer é se o princípio da proporcionalidade se

confunde com o princípio da razoabilidade.

Apesar de haver certa divergência, é de se dizer que os princípios não se confundem.

Como dito, o princípio da proporcionalidade tem origem na jurisprudência alemã (Civil Law), ao

passo que o princípio da razoabilidade, como se verá, tem a sua origem na Magna Carta de

1215 e tem a sua dogmática atrelada aos pensadores norte-americanos (Common Law).

Além disso, o princípio da proporcionalidade exige uma motivação dentro de uma

estrutura de maior racionalidade, enquanto o da razoabilidade liga-se a uma relação entre meio

e fim.

33
Por fim, é de se dizer que no princípio da razoabilidade existe uma preponderância da

eficácia negativa de conter arbítrios. Por outro lado, o princípio da proporcionalidade atua

como maior instrumento de eficácia positiva, já que, além de conter excessos, se presta a

fornecer medidas apropriadas para a solução de conflitos concretos, materializando o seu

desenvolvimento por meio de seus subprincípios da adequação, da necessidade e da

proporcionalidade em sentido estrito.

Princípio da Princípio da
Proporcionalidade Razoabilidade

Origem na Origem na
jurisprudência Magna Carta
alemã de 1215

Common Law
Civil Law

Motivação Relação entre


estruturada meio e fim

Eficácia
Eficácia positva
negativa

Qual é a origem do princípio da razoabilidade?

34
O princípio da razoabilidade é originário da garantia do devido processo legal

substancial e da cláusula “law of the land”, que nos remete à Magna Carta de 1215: “o homem

livre não deve ser punido por um delito menor, senão na medida desse delito, e por um grave

delito ele deve ser punido de acordo com a gravidade do delito ”.

O princípio surgiu dentro de um ideário processual, contudo, com o tempo, evoluiu para

uma perspectiva substancial (substantive due process of law).

Nessa linha, a razoabilidade foi prevista pelo Pacto Internacional dos Direitos Civis e

Políticos (PIDCP), a que o Brasil aderiu em 1992. O seu ingresso expresso na nossa Constituição,

por sua vez, se deu com a EC 45/2004, que trouxe para o ordenamento jurídico pátrio a acepção

da razoável duração do processo (art. 5º, LXXVIII).

Se os princípios não se confundem, então, qual o conteúdo do princípio da

razoabilidade?

Diversas são as acepções da razoabilidade.

O primeiro conteúdo é o que traz a relação das normas gerais com as peculiaridades do

caso concreto. Desta feita, pode servir para indicar se o caso se adapta ou não à norma.

Numa segunda perspectiva, se presta a aferir se determinada medida adotada é

congruente com o fim pretendido.

Por fim, num terceiro viés, a razoabilidade é utilizada para estabelecer a relação entre

duas grandezas.

35
De todo modo, assim como o princípio da proporcionalidade, o princípio da razoabilidade

pode ser compreendido como um instrumento de correta aplicação das normas jurídicas.

5.5 Restrições a direitos fundamentais

É possível haver a restrição a direitos fundamentais?

Sim, é admissível que sejam realizadas limitações em direitos fundamentais, já que estes

não têm caráter absoluto. Essa é a visão contemporânea e relativista dos direitos fundamentais,

embasada na ideia de que não existe hierarquia entre eles.

Assim, a modelação dos direitos fundamentais pode se dar por uma lei ordinária, caso a

CF assim estipule. O exemplo disso é o das normas de eficácia contida, como o direito ao livre

exercício de profissão, que é realizado nos termos da lei.

Observe-se, contudo, que existem limites para as restrições, já que não se pode atingir

o núcleo duro do direito, o que o desnaturalizaria, violando a proporcionalidade. É o limite

interno do direito, que contém a sua essência e que não pode ser restringido.

5.6 Teoria interna, teoria externa e a teoria dos “limites dos


limites”

O que significa a teoria do limite dos limites?

A teoria do limite dos limites provém da Alemanha e significa que é possível a limitação

dos direitos fundamentais previstos na Constituição por normas infraconstitucionais, mas a

finalidade deve ser a de ampliar a tutela do direito fundamental. E mais, não só os limites

36
inerentes ao direito fundamental podem trazer limitações ao direito, mas também os limites

externos.

Contudo, até que ponto pode haver a limitação aos direitos fundamentais?

É exatamente daí que decorre a essência “teoria dos limites dos limites”, conforme

explicaremos.

Como referido, hoje em dia é feita uma leitura relativista dos direitos fundamentais, ou

seja, de que não podem ser vistos como absolutos e de que inexiste hierarquia entre eles.

Deste modo, duas são as teorias que acerca da maneira que um direito fundamental pode

ser restringido pela ação do Estado: teoria interna e teoria externa.

A teoria interna aponta que os limites dos direitos fundamentais são fixados por um

processo interno ao próprio direito e sem a influência de outras normas. Assim, através da

interpretação do próprio direito é que se chega aos seus limites. São os chamados limites

imanentes. O objeto, portanto, é único: o direito fundamental, que terá os seus próprios limites.

Por outro lado, a teoria externa, que combina melhor com a teoria relativista dos direitos

fundamentais, indica que a definição dos limites se dá em duas etapas.

A primeira é a da identificação do conteúdo inicialmente protegido, que merece ser a

mais ampla possível. Já a segunda é a de definir os limites externos.

E como se dá essa identificação de limites externos?

37
A definição dos limites externos se dá a partir da conciliação entre o direito fundamental

e os demais direitos. Com isso, o direito “definitivo” será apurado após a aplicação do princípio

da proporcionalidade.

Como se nota, na teoria externa existem dois objetos, enquanto na teoria interna existe

apenas um. Na teoria interna é visto apenas o direito em si, já na teoria externa existem dois

objetos, o da visualização do direito fundamental e o da sua ponderação com os demais, ou

seja, a verificação das limitações impostas.

Portanto, para conhecer a proteção definitiva é preciso utilizar o princípio da

proporcionalidade. Não só os limites inerentes ao direito fundamental podem trazer limitações

ao direito, mas também os limites externos. Daí decorre a “teoria dos limites dos limites”.

Limitação aos direitos


fundamentais
Teoria Interna Teoria Externa
•Os limites dos direitos fundamentais são •A definição dos limites dos direitos
fixados por um processo interno ao fundamentais se dá em duas etapas:
próprio direito e sem a influência de •i) Identificação do conteúdo inicialmente
outras normas protegido;
•Limites imanentes •ii) definição dos limites externos
•Limites externos
•Conciliação entre o direito fundamental
e os demais direitos (proporcionalidade)

Mas porque se diz “limites dos limites”? De onde vem essa ideia?

38
A ideia de “limites dos limites” pode ser traduzida como a verificação de que as limitações

aos direitos fundamentais devem ser limitadas para evitar o seu completo desvirtuamento

ou anulação. Não se pode atingir o núcleo duro do direito fundamental. Com isso, é de se dizer

que os limites foram estipulados para que as limitações possam ocorrer.

Nessa senda, não basta apenas observar o núcleo essencial dos direitos fundamental,

além disso deve estar explícita no texto (para proteção da segurança jurídica), deve ser de

cunho geral e abstrato (para evitar casuísmos) e, por fim, deve ser proporcional (adequada,

necessária e proporcional em sentido estrito). O Supremo costuma utilizar a teoria dos limites

dos limites nos julgamentos envolvendo o fornecimento de medicamentos (ARE 745745).

As limitações aos direitos


fundamentais devem ser
Núcleo essencial dos
limitadas para evitar o seu
direitos fundamental
completo desvirtuamento
ou anulação
Teoria dos limites
dos limites

Generalidade e abstração
O que deve ser observado?
(evitar casuísmos)

Proporcionalidade
(adequação, necessidade e
proporcionalidade em
sentido estrito)

39
5.7 Teoria absoluta, teoria relativa e o princípio do respeito
ao conteúdo essencial dos direitos fundamentais

Após compreendidas as teorias interna e externa, bem como a teoria dos limites dos

limites, é preciso entender a teoria absoluta e a relativa que delimitam o núcleo essencial dos

direitos fundamentais.

Como já indicado, o conteúdo essencial dos direitos fundamentais é uma garantia

inatingível de cada direito fundamental, um mínimo cuja restrição está fora de alcance do

legislador ou do próprio intérprete em eventual juízo de ponderação.

Para a correta delimitação de tal núcleo, existem duas teorias: a absoluta e a relativa.

Na teoria absoluta o núcleo é uma unidade substancial autônoma que fixa seu conteúdo

por si só, independentemente de qualquer situação concreta. Divide-se a norma de direito

fundamental em duas: uma parte suscetível de restrição e outra imune a qualquer intervenção,

independentemente dos valores envolvidos no caso concreto.

A teoria relativa, por sua vez, aponta que o núcleo essencial é maleável e apurado em

cada caso concreto, por ponderação. Nos casos extremos seria admissível, inclusive, o

esvaziamento total de um direito fundamental.

Por fim, há quem indique uma teoria mista, que concilia as duas anteriores. Nesta, o

núcleo essencial é apurado em cada caso concreto (teoria relativa), porém haverá uma parcela

do direito que não poderá ser tocada (teoria absoluta).

40
Em suma, o que se precisa ter em mente é que ao darmos a natureza de princípio aos

direitos fundamentais, possibilitamos que haja a sua restrição. Mas esta restrição nunca pode

ocorrer de modo a esvaziar o direito fundamental, atingindo a dignidade humana.

Teorias acerca da delimitação do núcleo essencial dos


direitos fundamentais

Absoluta Relativa Mista

Unidade substancial autônoma


Núcleo essencial é maleável e
que fixa seu conteúdo por si Une elementos das duas
apurado em cada caso
só, independentemente de teorias
concreto, por ponderação
qualquer situação concreta

O núcleo essencial é apurado em


Norma de direito fundamental
cada caso concreto (teoria
dividida em duas partes: a Possível o esvaziamento em casos
relativa), porém, haverá uma
suscetível e a imune a extremos
parcela do direito que não poderá
internvenções
ser tocada (teoria absoluta)

5.8 Teoria objetiva e teoria subjetiva

Reconhecer uma dupla dimensão aos direitos fundamentais é considerar que eles se
apresentam como direitos subjetivos individuais, essenciais à proteção da pessoa humana, bem
como expressão de valores objetivos de atuação e compreensão do ordenamento jurídico.

5.8.1 Perspectiva subjetiva

Essa perspectiva tem foco principal no sujeito, no titular do direito. Desta forma, os
direitos fundamentais geram direitos subjetivos aos seus titulares, permitindo que estes exijam
comportamentos, negativos ou positivos, dos destinatários.

41
5.8.2 Perspectiva objetiva

Os direitos fundamentais estão ligados a interesses essenciais da sociedade, necessários


a uma salutar convivência e para a proteção da dignidade da pessoa humana. As normas de
direitos fundamentais funcionam como LIMITES ao poder estatal, bem como uma DIRETRIZ
para a sua atuação.

Os direitos fundamentais, consagrados nas constituições democráticas, renderiam um


esclarecimento, apontando quais são os bens jurídicos mais importantes para a sociedade.
Assim, indicam os valores básicos em torno dos quais todo o sistema jurídico está construído.

A dimensão objetiva também dá ensejo a uma EFICÁCIA DIRIGENTE, criando para o


Estado o dever de permanente concretizar e realizar o conteúdo dos direitos materiais. O Estado
existe para realizar o bem comum. Se os bens mais importantes para a sociedade estão
consagrados nos direitos fundamentais, então, eles indicam os valores que o Estado deve atuar
para sempre proteger e incrementar.

Dupla dimensão dos direitos fundamentais

Perspectiva subjetiva Perspectiva objetiva


Direitos subjetivos individuais, essenciais à Expressão de valores objetivos de atuação
proteção da pessoa humana e compreensão do ordenamento jurídico

Foco nos interesses essenciais da sociedade, necessários a


Foco principal no sujeito uma salutar convivência e para a proteção da dignidade da
pessoa humana

Direitos fundamentais geram direitos subjetivos aos seus


LIMITES ao poder estatal, bem como uma DIRETRIZ para a
titulares, permitindo que estes exijam comportamentos,
sua atuação.
negativos ou positivos, dos destinatários

42
5.9 Eficácia vertical e horizontal dos direitos fundamentais

5.9.1 Eficácia horizontal dos direitos fundamentais

Antes existia apenas eficácia vertical: Estado → Indivíduo. Os direitos eram aplicados na
relação de subordinação existente entre Estado e indivíduo, a fim de proteger este em face
daquele.

Com o passar do tempo constatou-se que o ‘inimigo’ não era apenas o Estado, mas
também outros indivíduos (relação indivíduo → indivíduo). Dessa forma, surgiu a eficácia
horizontal dos direitos, ou seja, sua aplicação nas relações entre particulares. É chamada de
horizontal, pois não existe subordinação, mas sim uma coordenação, uma igualdade entre
as partes da relação.

Assim, com a evolução constitucional, esse raciocínio foi conduzido para o que hoje se
denomina de eficácia horizontal dos direitos e garantias fundamentais, no sentido de considerar
que tais fundamentos, muito embora criados para regular as relações verticais, de subordinação,
entre o Estado e os seus súditos, passam a ser empregados nas relações privadas, envolvendo
pessoas físicas e jurídicas de direito privado19.

Uma das hipóteses da incidência dos direitos fundamentais nas relações privadas encontra-
se no art. 7º da Constituição da República, que tem como destinatários os empregados e
empregadores privados.

Outra previsão está expressa no inciso V do art. 5.º, o qual assegura o direito de resposta,
proporcional ao agravo (nesse caso, o sujeito passivo será o órgão de imprensa, privado).

Assim, de modo resumido, não só o Estado deve respeitar os direitos fundamentais, mas
também os particulares.

19
Vide questão 7
43
5.9.2 Eficácia Vertical dos direitos fundamentais

A eficácia vertical é aquela decorrente de uma relação entre o Estado e os cidadãos,


relação na qual o Estado assume posição de superioridade em relação aos cidadãos.

Nessa relação, os direitos fundamentais exercem o papel de limitar a atuação estatal,


servindo como valores que devem direcionar as ações do Estado, impedindo abusos e
ingerências arbitrárias na esfera de liberdades individuais, além de garantir a prestação devida
das utilidades públicas necessárias aos indivíduos.

5.9.3 Eficácia Diagonal (ou Transversal)

Inicialmente, é importante saber que a teoria da eficácia diagonal dos direitos


fundamentais, desenvolvida pelo autor Sérgio Gamonal, é um desdobramento da teoria da
eficácia horizontal.

Consiste na necessária incidência e observância dos direitos fundamentais em relações


privadas (particular-particular) que são marcadas por uma notória desigualdade de forças,
em razão da hipossuficiência ou da vulnerabilidade de uma das partes da relação.

Exemplo clássico da eficácia diagonal dos direitos fundamentais reside na relação de


trabalho entre uma empresa e seu empregado, a qual, muito embora seja uma relação entre
particulares, apresenta uma parte claramente vulnerável em relação à outra (precipuamente sob
o aspecto econômico da relação).

44
Relação entre Estado e
cidadãos

Vertical Subordinação

Limitação da atuação
estatal
Eficácias dos direitos
fundamentais
Relação entre
particulares

Coordenação
Horizontal (ausência de
subordinação)

Relações entre
Diagonal (ou particulares marcadas
transversal) por notória
desigualdade de forças

5.10 Orçamento e reserva do possível

Caro concurseiro, para entender a teoria da reserva do possível é preciso assimilar, em


primeiro lugar, o que é o orçamento público.

Orçamento público é o documento estabelece a origem das receitas e as autorizações


de despesas vinculadas a um plano de Estado. É um instrumento de gestão das receitas e das
despesas, com a previsão da arrecadação e do investimento público.

Entretanto, é preciso destacar que no atual contexto da CF/88, bem como da Lei de
Responsabilidade Fiscal (LC 101/00) e da Lei Geral Financeira (L. 4.320/64), o orçamento público
assumiu papel ainda mais relevante de implementação dos direitos fundamentais, adotando
a condição de orçamento-programa. É ferramenta de implementação dos direitos e garantias
constitucionais em que cada ente deve contemplar o Estado Social de Direitos, independente
da política partidária e administrativa. O Estado deve ser visto com a função de assegurar o bem
estar de seus membros e tal implementação é prevista no orçamento. Assim, há
discricionariedade política relativa no gasto e na implementação das políticas públicas. A

45
discricionariedade se refere à política a ser implementada e não aos direitos fundamentais a
serem contemplados. Admite-se a variação das políticas, mas não que algum direito fundamental
seja renegado no orçamento.

Nessa linha, o Poder Judiciário tem a função de intervir nas atividades discricionárias do
Estado para corrigir eventuais erros que afastem as políticas públicas da implementação de
direitos fundamentais.

Além disso, a nossa Lei Maior ainda prevê limites mínimos de gastos em determinadas
áreas, como saúde e educação, que podem ser controlados pelo Judiciário.

Ok, compreendidas essas linhas gerais do que é orçamento público no atual contexto da
CRFB, é de se perguntar: O que é a teoria da reserva do possível?

A teoria da reserva do possível tem origem na jurisprudência alemã e surgiu para ponderar
acerca do cumprimento, pelo Estado, de metas não fundamentais.

Isso mesmo, metas NÃO fundamentais. A ideia germânica é a de que os recursos


públicos são limitados, então, os setores fundamentais não podem ser prejudicados por setores
secundários. Então, nos casos em que setores primários sejam prejudicados por setores
secundários, estes últimos devem ser reduzidos.

No caso alemão foi posta sob a análise do Judiciário, por um grupo de estudantes, o
acesso às universidades aos que não passaram no processo seletivo, com base no direito à
livre escolha do trabalho, ofício ou profissão. Portanto, nasceu a teoria para ponderar o
cumprimento de metas não fundamentais do Estado. Para equilibrar e disponibilizar recursos
excedentes naquilo que continua sendo demandado pela população.

Verifica-se que o Estado alemão não negou a educação a tais estudantes, apenas
estipulou um processo seletivo para o acesso à universidade. Por isso, foi utilizada a teoria da
reserva do possível para justificar a não disponibilização daquelas vagas específicas. Tratou de
direitos secundários e não fundamentais dos estudantes que pugnavam pela livre escolha do
trabalho, ofício ou profissão.

O aluno agora deve estar se perguntando: e como essa teoria é aplicada no contexto
brasileiro?

46
Há quem entenda que a jurisprudência nacional desnaturou a ideia alemã em detrimento
de direitos essenciais. A crítica é a de que no território nacional essa teoria cria uma hierarquia
entre direitos fundamentais. Somente os direitos de primeira geração seriam assegurados por
completo, sendo que os demais podem ser extenuados, ou seja, postos à sorte da teoria da
reserva do possível.

O STF já tratou do dever do administrador de cumprir os direitos fundamentais ligados à


manutenção da vida. Contudo, vida sem dignidade não é vida. Não basta assegurar a vida se
não forem assegurados os demais direitos fundamentais. A reserva do possível, como dito, deve
ser utilizada apenas quando estivermos falando de direitos não fundamentais (não essenciais).

5.11 O princípio da proibição do retrocesso social

O princípio da proibição do retrocesso significa vedar a desconstrução daquilo que foi

construído ou concretizado pela regulamentação de normas constitucionais. Não se pode

retroceder e revogar ou prejudicar o direito já reconhecido ou concretizado.

A doutrina indica que os destinatários deste princípio são o legislador ordinário e,

também, o constituinte derivado.

Nessa linha, não podem ser extintos direitos sociais já implementados e deve ser evitado

que se atinja o núcleo essencial do direito. O exemplo marcante é o do Tribunal Constitucional

português que reconheceu a inconstitucionalidade de lei que pretendeu reduzir os beneficiários

do chamado “rendimento mínimo”, que seria o equivalente ao bolsa-família brasileiro. O

fundamento foi o de exigir sempre um grau crescente de implementação dos direitos sociais.

47
É importante lembrar que não incumbe ao Judiciário promover a implementação de

políticas públicas. Tal atribuição pertence ao Executivo e ao Legislativo. Entretanto, o Judiciário

não pode se omitir quando o Executivo e o Legislativo não cumprirem as suas funções,

comprometendo o direito. Um exemplo seria o da determinação judicial de que a Administração

Pública realize obras e reformas emergenciais em presídios para que sejam garantidos direitos

fundamentais dos presos.

Nessa linha, não se pode confundir a judicialização e o ativismo judicial. A judicialização

é o ato de levar ao Judiciário problemas relacionados à falta de concretização de direitos sociais.

Já o ativismo judicial é a postura de conferir interpretação ao texto constitucional de forma

ampliativa.

Outro importante destaque é ter o conhecimento acerca da diferença entre os conceitos

de direitos sociais originários e direitos sociais derivados. Os originários são aqueles que decorre

diretamente das normas constitucionais. Já os derivados são aqueles que foram concretizados

pelo legislador infraconstitucional.

Para mais, deve-se ter em mente a ideia das “tragic choices” (escolhas trágicas). É o

embate entre alocar o dinheiro público para concretizar o direito de uma pessoa e,

eventualmente, prejudicar o resto da população. Esse conceito vem dos dilemas que podem ser

48
enfrentados pelo Poder Público. É o caso do fornecimento, pelo Estado, de medicamento custoso

a uma pessoa que está em situação grave de saúde em detrimento do resto da sociedade.

Por fim, não podemos nos esquecer que nos momentos de crise econômica e de medidas

de austeridade existe a chamada “jurisprudência da crise”. Tal conceito foi muito invocado

pelo Tribunal Constitucional português que se atenta aos limites materiais do Estado para a

concretização de direitos. Todavia, mesmo nestes casos, vem à tona a ideia dos “limites do

sacrifício” que indica que é preciso observar, para a efetivação da restrição de direitos, os

princípios da proporcionalidade e da igualdade.

49
QUADRO SINÓPTICO

CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Os direitos fundamentais não desaparecem pelo


IMPRESCRITIBILIDADE decurso do tempo.

Não há possibilidade de transferência dos direitos


INALIENABILIDADE
fundamentais a outrem.

Em regra, os direitos fundamentais não podem ser


IRENUNCIABILIDADE
objeto de renúncia.

Impossibilidade de sua não observância por


INVIOLABILIDADE disposições infraconstitucionais ou por atos das
autoridades públicas.

Devem abranger todos os indivíduos,


UNIVERSALIDADE independentemente de sua nacionalidade, sexo, raça,
credo ou convicção político-filosófica.

A atuação do Poder Público deve ter por escopo


EFETIVIDADE
garantir a efetivação dos direitos fundamentais.

50
As várias previsões constitucionais, apesar de
INTERDEPENDÊNCIA autônomas, possuem diversas intersecções para
atingirem suas finalidades.

Os direitos fundamentais não devem ser


interpretados isoladamente, mas sim de forma
COMPLEMENTARIDADE
conjunta com a finalidade de alcançar os objetivos
previstos pelo legislador constituinte.

RELATIVIDADE OU
Os direitos fundamentais não têm natureza absoluta.
LIMITABILIDADE

Subordinação aos
poderes públicos
Passivo
Sujeição a deveres
fundamentais

Indivíduo com
autodeterminação
OS QUATRO
Negativo
STATUS DE
O Estado não
JELLINEK
interfere

Atuação positiva do
Positivo
Estado

Participação na
Ativo formação da
vontade estatal

51
Princípio da Princípio da
Proporcionalidade razoabilidade

Origem na Origem na
jurisprudência Magna Carta
alemã de 1215

Common Law
Civil Law

Motivação Relação entre


estruturada meio e fim

Eficácia
Eficácia positva
negativa

Limitação aos direitos


fundamentais
Teoria Interna Teoria Externa
•Os limites dos direitos fundamentais são •A definição dos limites dos direitos
fixados por um processo interno ao fundamentais se dá em duas etapas:
próprio direito e sem a influência de •i) Identificação do conteúdo inicialmente
outras normas protegido;
•Limites imanentes •ii) definição dos limites externos
•Limites externos
•Conciliação entre o direito fundamental
e os demais direitos (proporcionalidade)

52
As limitações aos direitos
fundamentais devem ser
Núcleo essencial dos
limitadas para evitar o seu
direitos fundamental
completo desvirtuamento
ou anulação
Teoria dos limites
dos limites

Generalidade e abstração
O que deve ser observado?
(evitar casuísmos)

Proporcionalidade
(adequação, necessidade e
proporcionalidade em
sentido estrito)

Teorias acerca da delimitação do núcleo essencial dos


direitos fundamentais

Absoluta Relativa Mista

Unidade substancial autônoma


Núcleo essencial é maleável e
que fixa seu conteúdo por si Une elementos das duas
apurado em cada caso
só, independentemente de teorias
concreto, por ponderação
qualquer situação concreta

O núcleo essencial é apurado em


Norma de direito fundamental
cada caso concreto (teoria
dividida em duas partes: a Possível o esvaziamento em casos
relativa), porém, haverá uma
suscetível e a imune a extremos
parcela do direito que não poderá
internvenções
ser tocada (teoria absoluta)

53
Dupla dimensão dos direitos fundamentais

Perspectiva subjetiva Perspectiva objetiva


Direitos subjetivos individuais, essenciais à Expressão de valores objetivos de atuação
proteção da pessoa humana e compreensão do ordenamento jurídico

Foco nos interesses essenciais da sociedade, necessários a


Foco principal no sujeito uma salutar convivência e para a proteção da dignidade da
pessoa humana

Direitos fundamentais geram direitos subjetivos aos seus


LIMITES ao poder estatal, bem como uma DIRETRIZ para a
titulares, permitindo que estes exijam comportamentos,
sua atuação.
negativos ou positivos, dos destinatários

Relação entre Estado e


cidadãos

Vertical Subordinação

Limitação da atuação
estatal
Eficácias dos direitos
fundamentais
Relação entre
particulares

Coordenação (ausência
Horizontal
de subordinação)

Relações entre
Diagonal (ou particulares marcadas
transversal) por notória
desigualdade de forças

54
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(CESPE/CEBRASPE – 2015 – DPU – Defensor Público Federal) No tocante aos direitos e

garantias fundamentais, julgue o próximo item.

O direito à liberdade de expressão representa um dos fundamentos do Estado democrático de

direito e não pode ser restringido por meio de censura estatal, salvo a praticada em sede

jurisdicional

a) Certo

b) Errado

Comentário:

“O direito à liberdade de expressão representa um dos fundamentos do Estado democrático de

direito e não pode ser restringido por meio de censura estatal, salvo a praticada em sede

jurisdicional”.

Errado! Em primeiro lugar cumpre apontar que a liberdade de expressão não está prevista no

art. 1º da CF. A partir disso já seria possível resolver a questão. Mas vale ir além e entender de
onde veio esse trecho. Assim, é de se destacar que o presente enunciado se trata de uma parte
de um julgado do STF (Info 767) no qual a Corte dispôs que “a liberdade de manifestação do
pensamento, que representa um dos fundamentos em que se apoia a própria noção de Estado

55
democrático de direito e que não pode ser restringida, por isso mesmo, pelo exercício ilegítimo

da censura estatal, ainda que praticada em sede jurisdicional”. Portanto, gabarito: errado.

Questão 2

(CESPE - 2019 - MPC-PA - Procurador de Contas) No que se refere à teoria geral dos direitos

fundamentais e aos direitos e deveres individuais e coletivos, é correto afirmar que

A) o chamado direito de resistência inclui-se entre os direitos fundamentais de segunda


dimensão.

B) a igualdade formal é característica típica dos direitos fundamentais de segunda dimensão.

C) o direito de greve é classificado como direito fundamental de terceira dimensão.

D) a titularidade dos direitos fundamentais de terceira dimensão é sempre individual.

E) o direito à comunicação inclui-se entre os direitos fundamentais de terceira dimensão.

Comentário:

A temática das dimensões dos direitos fundamentais é sempre cobrada em provas. Veja-se:

“A) o chamado direito de resistência inclui-se entre os direitos fundamentais de segunda


dimensão”.

Errada! O Direito de resistência é inerente à pessoa humana, sendo uma liberdade individual:
Primeira geração.

“B) a igualdade formal é característica típica dos direitos fundamentais de segunda dimensão”.

Errada! A igualdade meramente civil ou formal é direito fundamental de primeira geração, ao


passo que a igualdade material ou efetiva, porquanto exija intervenção estatal, é uma grandeza
de uma outra etapa evolutiva do direito, abarcando já os direitos sociais de segunda dimensão.

“C) o direito de greve é classificado como direito fundamental de terceira dimensão”.

56
Errada! O direito de greve se encaixa na segunda geração, assim como o direito à sindicalização.
São os direitos sociais ou liberdades positivas. os direitos de terceira geração, que materializam
poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais,
consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de
desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto
valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade.” (MS 22.164,
rel. min. Celso de Mello, j. 30-10-1995).

“D) a titularidade dos direitos fundamentais de terceira dimensão é sempre individual”.

Errada! Os direitos fundamentais de terceira geração, ligados ao valor fraternidade ou


solidariedade, são os relacionados ao desenvolvimento ou progresso, ao meio ambiente, à
autodeterminação dos povos, bem como ao direito de propriedade sobre o patrimônio comum
da humanidade e ao direito de comunicação. São direitos transindividuais, em rol
exemplificativo, destinados à proteção do gênero humano.

“E) o direito à comunicação inclui-se entre os direitos fundamentais de terceira dimensão”.

Correta! Vide comentário anterior.

Questão 3

(CESPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público) Acerca dos direitos à liberdade de expressão e

de comunicação e ao acesso à informação, julgue o item seguinte.

Embora as notícias falsas que circulam na Internet (fake news) prejudiquem o acesso à
informação, a liberdade de expressão e de comunicação é direito humano absoluto, portanto

imune a qualquer forma de regulação.

a) Certo

b) Errado

Comentário:

Errada! É importante enfatizar que o direito à liberdade de expressão não é um direito absoluto,
ele pode estar sujeito a restrições, conforme indicado pelo art. 13 da Convenção em seus
57
parágrafos 4 e 5. Da mesma forma, a Convenção Americana, no seu art. 13.2, prevê a

possibilidade de estabelecer restrições à liberdade de expressão, que se manifestam através da


aplicação de responsabilidade adicional pelo exercício abusivo deste direito, que não deve de

modo algum limitar, para além do estritamente necessário, a plena liberdade de expressão e
tornar-se um mecanismo direto ou indireto de censura prévia. Para determinar outras

responsabilidades, é necessário cumprir três requisitos, a saber: 1) devem ser expressamente


estabelecidas pela lei; 2) devem ser concebidas para proteger os direitos ou a reputação de

terceiros, ou a proteção da segurança nacional, a ordem pública ou a saúde ou moral pública;


e 3) devem ser necessárias em uma sociedade democrática. [Corte IDH. Caso Herrera Ulloa vs.
Costa Rica. Exceções preliminares, mérito, reparações e custas. Sentença de 2-7-2004.]

Questão 4

(FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público) O art. 19, I, CF/88, proíbe que a União, Estados,
Distrito Federal e Municípios estabeleçam cultos religiosos ou igrejas, que os subvencionem ou

mantenham com eles relação de dependência ou aliança. Ao mesmo tempo, a CF/88 garante a
liberdade de consciência e de crença (art. 5º , VI), bem como assegura que ninguém pode ser

privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política (art. 5º
, VIII). Tais normas compõem o que se denomina de Estado Laico. Sobre a laicidade estatal, no

julgamento da ADI 4439,

A) não houve divergência entre os Ministros do STF no sentido de afirmar ser o Brasil um Estado
Laico e que o ensino religioso confessional está de acordo com os Tratados Internacionais de

Direitos Humanos.

B) prevaleceu o entendimento no sentido de o ensino religioso ministrado em escolas públicas


ser de matrícula efetivamente facultativa e ter caráter não confessional, vedada a admissão de

professores na qualidade de representantes das religiões para ministrá-lo.

C) ficou estabelecido que o ensino religioso confessional em escolas públicas abre campo para
o estabelecimento de relações indevidas, sob o ângulo da laicidade, entre Estado e religião, e

58
que a disciplina pode abranger a transmissão de conhecimentos gerais sobre ideias, regras e

práticas das diversas correntes religiosas.

D) a partir de uma distinção entre laicidade e laicismo, entendeu-se que viola o primado do
Estado Laico a menção explícita a Deus no preâmbulo da Constituição, os feriados religiosos, o

descanso dominical e muitas outras manifestações religiosas institucionalizadas pelo Poder


Público, como, por exemplo, a aposição do crucifixo no plenário da mais alta Corte do País.

E) entendeu-se que o ensino religioso nas escolas públicas não viola a laicidade estatal sob o

argumento, dentre outros, de que seria de matrícula facultativa, podendo ser até mesmo
confessional, pois a laicidade estatal tem significado de “neutralidade” e não de “oposição” ou

“beligerância” às religiões.

Comentário:

Cumpre apontar, antes de ingressar no contexto de cada alternativa, que o tema ora debatido
foi abordado na ADI 4439 (Info 879 do STF) que tratava sobre o ensino confessional. Nos termos
do art. 210, §1º, da CF, “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos

horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. Assim, em síntese, ponderou o
STF que as escolas públicas podem oferecer ensino religioso confessional, ou seja, vinculado a

uma religião específica, desde que se garanta a oportunidade para todas as doutrinas das outras
religiões. No caso, foi julgada improcedente a ADI supracitada pela apertada maioria de 6x5.

Vamos às alternativas:

“A) não houve divergência entre os Ministros do STF no sentido de afirmar ser o Brasil um
Estado Laico e que o ensino religioso confessional está de acordo com os Tratados Internacionais
de Direitos Humanos.”

Errada! Na verdade, houve divergência entre os Ministros do STF acerca de estar o ensino

religioso brasileiro de acordo com os Tratados Internacionais de Direitos Humanos.

”B) prevaleceu o entendimento no sentido de o ensino religioso ministrado em escolas públicas


ser de matrícula efetivamente facultativa e ter caráter não confessional, vedada a admissão de
professores na qualidade de representantes das religiões para ministrá-lo.”
59
Errada! Apesar de estar correto o trecho que indica que a matrícula é facultativa, é preciso

verificar que a decisão disse que o ensino poderia ser confessional e que é admitida a admissão
de professores na qualidade de representantes das religiões.

“C) ficou estabelecido que o ensino religioso confessional em escolas públicas abre campo para
o estabelecimento de relações indevidas, sob o ângulo da laicidade, entre Estado e religião, e
que a disciplina pode abranger a transmissão de conhecimentos gerais sobre ideias, regras e
práticas das diversas correntes religiosas.”

Errada! Não foi este o entendimento que prevaleceu, conforme indicado na explanação inicial.

“D) a partir de uma distinção entre laicidade e laicismo, entendeu-se que viola o primado do
Estado Laico a menção explícita a Deus no preâmbulo da Constituição, os feriados religiosos, o
descanso dominical e muitas outras manifestações religiosas institucionalizadas pelo Poder
Público, como, por exemplo, a aposição do crucifixo no plenário da mais alta Corte do País”.

Errado! Cumpre apontar que a laicidade significa a neutralidade do Estado em relação ao

fenômeno religioso. Já o laicismo é uma perspectiva de resistência e oposição ao fenômeno


religioso.

“E) entendeu-se que o ensino religioso nas escolas públicas não viola a laicidade estatal sob o
argumento, dentre outros, de que seria de matrícula facultativa, podendo ser até mesmo
confessional, pois a laicidade estatal tem significado de “neutralidade” e não de “oposição” ou
“beligerância” às religiões”.

Correta! Este foi o entendimento fixado no julgamento da ADI 4439.

Questão 5

(CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto) No que se refere à liberdade de expressão,

à liberdade de imprensa e aos seus limites, assinale a opção correta.

A) De acordo com o STF, o consumo de droga ilícita em passeata que reivindique a


descriminalização do uso dessa substância é assegurado pela liberdade de expressão.

60
B) A legislação pertinente determina que os comentários de usuários da Internet nas páginas

eletrônicas dos veículos de comunicação social se sujeitem ao direito de resposta do ofendido.

C) A publicação de informações falsas em veículos de comunicação social não está assegurada


pela liberdade de imprensa.

D) A retratação ou retificação espontânea de mensagem de conteúdo ofensivo à honra ou


imagem de outrem impede eventual direito de resposta do ofendido.

E) Além do direito de resposta, a liberdade de expressão garante o direito de acesso e exposição

de ideias em veículos de comunicação social.

Comentário:

Nos tempos atuais em que diversos litígios ocorrem no campo da internet, é preciso conhecer
os detalhes da matéria atinentes ao direito à liberdade de expressão, bem como ao direito de

resposta. Vejamos:

“A) De acordo com o STF, o consumo de droga ilícita em passeata que reivindique a
descriminalização do uso dessa substância é assegurado pela liberdade de expressão”.

Errada! Segundo o julgado do STF na ADPF 187 (Marcha da Maconha), não é assegurado pela

liberdade de expressão o consumo de drogas ilícitas em passeatas que reivindiquem a


descriminalização do uso dessas substâncias.

“B) A legislação pertinente determina que os comentários de usuários da Internet nas páginas
eletrônicas dos veículos de comunicação social se sujeitem ao direito de resposta do ofendido”.

Errada! A legislação pertinente - ou seja, a Lei do Direito de Resposta (Lei n. 13.188/15) -


determina que os comentários de usuários da Internet nas páginas eletrônicas dos veículos de

comunicação social não se sujeitam ao direito de resposta do ofendido, porquanto não se


consideram “matéria”. Ela os exclui expressamente no seu art. 2º, §2º. Veja-se: Art. 2º: Ao
ofendido em matéria divulgada, publicada ou transmitida por veículo de comunicação social é
assegurado o direito de resposta ou retificação, gratuito e proporcional ao agravo. § 1º Para os

61
efeitos desta Lei, considera-se matéria qualquer reportagem, nota ou notícia divulgada por
veículo de comunicação social, independentemente do meio ou da plataforma de distribuição,
publicação ou transmissão que utilize, cujo conteúdo atente, ainda que por equívoco de
informação, contra a honra, a intimidade, a reputação, o conceito, o nome, a marca ou a imagem
de pessoa física ou jurídica identificada ou passível de identificação. § 2º - São excluídos da
definição de matéria estabelecida no § 1o deste artigo os comentários realizados por usuários
da internet nas páginas eletrônicas dos veículos de comunicação social.

“C) A publicação de informações falsas em veículos de comunicação social não está assegurada
pela liberdade de imprensa”.

Correta! É o que entendeu o STJ no AREsp 1265555 PR ao pontuar que a liberdade de imprensa
- embora amplamente assegurada e com proibição de controle prévio – acarreta a

responsabilidade a posteriori pelo eventual excesso e não compreende a divulgação de


especulação falsa.

“D) A retratação ou retificação espontânea de mensagem de conteúdo ofensivo à honra ou


imagem de outrem impede eventual direito de resposta do ofendido”.

Errada! De acordo com a Lei do Direito de Resposta, a retratação ou retificação espontânea de


mensagem de conteúdo ofensivo à honra ou imagem de outrem não impede eventual direito

de resposta do ofendido nem a ação de reparação por dano moral. É o que dispõe o art. 2º, §3,
da referida Lei. Veja-se: “A retratação ou retificação espontânea, ainda que a elas sejam

conferidos os mesmos destaque, publicidade, periodicidade e dimensão do agravo, não


impedem o exercício do direito de resposta pelo ofendido nem prejudicam a ação de reparação
por dano moral”.

“E) Além do direito de resposta, a liberdade de expressão garante o direito de acesso e exposição
de ideias em veículos de comunicação social”

Errada! O direito ao acesso à informação – previsto nos art. 5º, XXXIII, art. 37, §3º, II e art. 216,
§2º - não se confunde com o direito à liberdade de expressão.

62
Questão 6

(CESPE/CEBRASPE – 2017 – DPU – Defensor Público Federal) A respeito da teoria e do regime

jurídico dos direitos fundamentais, julgue o item que se segue à luz das disposições da CF.

Os direitos fundamentais individuais incluem o direito à intimidade, o direito ao devido processo

legal e o direito de greve.

a) Certo

b) Errado

Comentário:

“Os direitos fundamentais individuais incluem o direito à intimidade, o direito ao devido

processo legal e o direito de greve”.

Errado! O direito de greve é um direito social, previsto art. 9º do Título II (Direitos e Garantias

Fundamentais), Capítulo II (Direitos Sociais), da Constituição. Já os direitos à intimidade e ao


devido processo legal são direitos fundamentais individuais e estão previstos no Capítulo I

(Direitos e deveres individuais e coletivos) do mesmo título. Note-se que o gênero é direito
fundamental, enquanto a espécie é direito social.

Questão 7

(CESPE - 2018 - PGE-PE - Procurador do Estado) Considere as duas afirmações a seguir.

I Em um processo judicial, o Estado deve assegurar a observância do contraditório e da ampla

defesa.

II Nas relações entre a imprensa e os particulares, a imprensa deve observar o direito à honra,

sob pena de consequências como direito de resposta e indenização por dano material ou moral.

63
As afirmações I e II contemplam situações que exemplificam a

A) eficácia horizontal dos direitos fundamentais.

B) eficácia externa dos direitos fundamentais.

C) eficácia diagonal dos direitos individuais.

D) eficácia vertical e a eficácia horizontal dos direitos individuais, respectivamente.

E) eficácia externa e a eficácia vertical dos direitos individuais, respectivamente.

Comentário:

Do entendimento de cada assertiva é possível chegar à única alternativa que pode ser entendida

como correta. Vejamos:

“I Em um processo judicial, o Estado deve assegurar a observância do contraditório e da ampla

defesa”.

A partir da narrativa da assertiva I é possível constatar que se trata da eficácia vertical dos
direitos fundamentais. Conforme elucidado no capítulo, na eficácia vertical os direitos
fundamentais são aplicados na relação entre o Estado e indivíduo, a fim de proteger este em
face daquele.

“II Nas relações entre a imprensa e os particulares, a imprensa deve observar o direito à honra,

sob pena de consequências como direito de resposta e indenização por dano material ou moral.”

Trata-se de situação de eficácia horizontal, porquanto a relação se dá entre dois particulares.

64
Note-se que em nenhuma das duas assertivas há a hipótese de eficácia diagonal, que se trata

da situação em que há a relação entre dois particulares, mas um deles está em posição superior,

como nas relações trabalhistas e nas de consumo.

Gabarito letra D.

Questão 8

(FCC – 2020 – TJ-MS – Juiz Substituto) À luz da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal,

em matéria de direitos e garantias fundamentais e aspectos correlatos,

A) o uso de células-tronco embrionárias, ainda que em pesquisas científicas para fins

terapêuticos, autorizadas em lei federal, viola o direito à vida, pela potencialidade de formação

de pessoa humana, cuja dignidade recebe proteção máxima constitucional.

B) é compatível com a Constituição Federal a interpretação segundo a qual a interrupção da

gravidez de feto anencéfalo viola o direito à vida, recaindo na esfera de proteção que a legislação

penal outorga a esse bem jurídico, vedando sua prática.

C) a obrigatoriedade de aceitação de transferência de alunos entre universidades, ainda que

instituída por lei e observada a identidade de natureza jurídica das instituições de ensino

superior envolvidas, é incompatível com a Constituição, segundo a qual o acesso aos níveis mais

elevados do ensino é assegurado segundo a capacidade de cada um.

D) admitem-se limitações ao livre exercício de atividade econômica, ainda que sob a forma de

cobrança indireta de tributos, desde que estabelecidas por lei e com vistas à tutela de outros

princípios constitucionais da ordem econômica, como a livre concorrência e a redução das

desigualdades regionais e sociais.

65
E) admitem-se limitações por lei ao livre exercício das profissões, sendo consideradas legítimas

quando o inadequado exercício de determinada atividade possa vir a causar danos a terceiros

e desde que obedeçam a critérios de adequação e razoabilidade.

Comentário:

A presente questão aborda pontos muito cobrados em prova, quais sejam, a Lei de

Biossegurança e, principalmente, a jurisprudência do STF acerca de direitos e garantias

fundamentais. Vamos às alternativas:

“A) o uso de células-tronco embrionárias, ainda que em pesquisas científicas para fins

terapêuticos, autorizadas em lei federal, viola o direito à vida, pela potencialidade de formação

de pessoa humana, cuja dignidade recebe proteção máxima constitucional.”

Errada! O uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas para fins terapêuticos não

viola o direito à vida. Esta utilização foi regulada pela Lei de Biossegurança (L. 11.105/05) nos

seguintes termos: “Art. 5º É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-

tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não

utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam embriões

inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação

desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3

(três) anos, contados a partir da data de congelamento”. Nessa linha, cumpre apontar que o STF

julgou constitucional esse artigo na ADI 3510.

66
”B) é compatível com a Constituição Federal a interpretação segundo a qual a interrupção da

gravidez de feto anencéfalo viola o direito à vida, recaindo na esfera de proteção que a legislação

penal outorga a esse bem jurídico, vedando sua prática.”

Errada! Não se considera vedada a interrupção da gravidez de feto anencéfalo. De acordo com

o julgado do STF na ADPF 54 inexiste crime na hipótese de interrupção da gravidez de feto

anencéfalo, devendo prevalecer os direitos da mulher à liberdade sexual e reprodutiva, à saúde,

à dignidade e à autodeterminação.

“C) a obrigatoriedade de aceitação de transferência de alunos entre universidades, ainda que

instituída por lei e observada a identidade de natureza jurídica das instituições de ensino

superior envolvidas, é incompatível com a Constituição, segundo a qual o acesso aos níveis mais

elevados do ensino é assegurado segundo a capacidade de cada um”.

Errada! De acordo com o STF no tema 57 da Repercussão Geral, é compatível com a constituição

a previsão legal que assegure, na hipótese de transferência ex officio de servidor, a matrícula

em instituição pública, se inexistir instituição congênere à de origem

“D) admitem-se limitações ao livre exercício de atividade econômica, ainda que sob a forma de

cobrança indireta de tributos, desde que estabelecidas por lei e com vistas à tutela de outros

princípios constitucionais da ordem econômica, como a livre concorrência e a redução das

desigualdades regionais e sociais”.

Errada! De acordo com a jurisprudência do STF é vedada a restrição imposta pelo Estado ao

livre exercício de atividade econômica ou profissional por meio de cobrança indireta de tributos

(ARE 914.045 RG)

67
”E) admitem-se limitações por lei ao livre exercício das profissões, sendo consideradas legítimas

quando o inadequado exercício de determinada atividade possa vir a causar danos a terceiros

e desde que obedeçam a critérios de adequação e razoabilidade .”

Correta! De acordo com o STF “nem todos os ofícios ou profissões podem ser condicionados

ao cumprimento de condições legais para o seu exercício. A regra é a liberdade. Apenas quando

houver potencial lesivo na atividade é que pode ser exigida inscrição em conselho de fiscalização

profissional” (RE 414.426).

Questão 9

(FUNDEP – 2019 – MPE-MG – Promotor de Justiça Substituto) A propósito do direito ao

reconhecimento, leia o texto a seguir: “É possível falar em um direito fundamental ao

reconhecimento, que é um direito ao igual respeito da identidade pessoal. Trata-se de um direito

que tem tanto uma faceta negativa como outra positiva. Em sua faceta negativa ele veda as

práticas que desrespeitam as pessoas em sua identidade, estigmatizando-as. Na dimensão

positiva, ele impõe ao Estado a adoção de medidas voltadas ao combate dessas práticas e à

superação de estigmas existentes.” (SARMENTO, Daniel. Dignidade da pessoa humana. 2. ed.

Belo Horizonte: Fórum, 2016. p. 257).

De acordo com o posicionamento doutrinário acima, as assertivas seguintes harmonizam-se com

o direito ao reconhecimento, exceto:

A) As liberdades públicas são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira absoluta,

observadas as diretrizes definidas na própria Constituição Federal.

68
B) Há que se distinguir entre o discurso religioso (que é centrado na própria crença e nas razões

da crença) e o discurso sobre a crença alheia, especialmente quando feito com o intuito de

atingi-la, rebaixá-la ou desmerecê-la (ou a seus seguidores).

C) Para o transexual, ter uma vida digna importa em ver reconhecida a sua identidade sexual,

sob a ótica psicossocial, a refletir a verdade real por ele vivenciada e que se reflete na sociedade.

D) Toda a axiologia constitucional é tutelar de segmentos sociais brasileiros historicamente

desfavorecidos, culturalmente sacrificados e até perseguidos, como, por exemplo, o segmento

dos negros e dos índios. Não por coincidência, os que mais se alocam nos patamares

patrimonialmente inferiores da pirâmide social.

Comentário:

Prezado(a) concurseiro(a), a primeira coisa que se precisa ter em mente na presente questão é

que é exigida a alternativa INCORRETA. Partindo dessa premissa, vejamos:

A) As liberdades públicas são incondicionais, por isso devem ser exercidas de maneira absoluta,

observadas as diretrizes definidas na própria Constituição Federal.

Errada (e deveria ser assinalada)! Conforme elucidado no capítulo, no que se refere a direitos

fundamentais, no contexto contemporâneo, adota-se a postura de limitabilidade. Assim, não

existem direitos absolutos. É o princípio da relatividade ou da convivência das liberdades

públicas.

69
B) Há que se distinguir entre o discurso religioso (que é centrado na própria crença e nas razões

da crença) e o discurso sobre a crença alheia, especialmente quando feito com o intuito de

atingi-la, rebaixá-la ou desmerecê-la (ou a seus seguidores).

Correta! Nesse sentido o julgado do STF no RHC 146.303 que trouxe a seguinte previsão: “O

direito à liberdade religiosa é, em grande medida, o direito à existência de uma multiplicidade

de crenças/descrenças religiosas, que se vinculam e se harmonizam – para a sobrevivência de

toda a multiplicidade de fés protegida constitucionalmente – na chamada tolerância religiosa.

Há que se distinguir entre o discurso religioso (que é centrado na própria crença e nas razões

da crença) e o discurso sobre a crença alheia, especialmente quando se faça com intuito de

atingi-la, rebaixá-la ou desmerecê-la (ou a seus seguidores). Um é tipicamente a representação

do direito à liberdade de crença religiosa; outro, em sentido diametralmente oposto, é o ataque

ao mesmo direito. Como apontado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgado recorrido, a

conduta do paciente não consiste apenas na ‘defesa da própria religião, culto, crença ou

ideologia, mas, sim, de um ataque ao culto alheio, que põe em risco a liberdade religiosa

daqueles que professam fé diferente [d]a do paciente’”.

C) Para o transexual, ter uma vida digna importa em ver reconhecida a sua identidade sexual,

sob a ótica psicossocial, a refletir a verdade real por ele vivenciada e que se reflete na sociedade.

Correta! Trata-se de trecho da decisão proferida pelo STJ no REsp 1008398/SP, publicada no

seu informativo 415, que tratou sobre a Lei de Registros Públicos.

D) Toda a axiologia constitucional é tutelar de segmentos sociais brasileiros historicamente

desfavorecidos, culturalmente sacrificados e até perseguidos, como, por exemplo, o segmento

70
dos negros e dos índios. Não por coincidência, os que mais se alocam nos patamares

patrimonialmente inferiores da pirâmide social.

Correta! Trata-se de trecho da decisão proferida pelo STF na ADI 3.330 de maio de 2012 que

tratou sobre o Programa Universidade para Todos (PROUNI).

É de se notar que a presente questão trouxe trechos complexos de alguns julgados das Cortes

Superiores, contudo, para chegar à resposta correta bastava saber o básico, ou seja, a

característica da relatividade dos direitos fundamentais.

Questão 10

(CESPE - 2018 - PGE-PE - Procurador do Estado) Os direitos destinados a assegurar a soberania

popular mediante a possibilidade de interferência direta ou indireta nas decisões políticas do

Estado são direitos

A) políticos de primeira dimensão.

B) políticos de terceira dimensão.

C) políticos de segunda geração.

D) sociais de segunda geração.

E) sociais de primeira dimensão.

Comentário:

71
Conforme estudado, são direitos de primeira dimensão os destinados a assegurar a soberania

popular mediante a possibilidade de interferência direta ou indireta nas decisões políticas do

Estado. A primeira geração está relacionada aos direitos civis e políticos.

Assim, a única alternativa correta é a letra A. Contudo, importante saber que a segunda

dimensão está atrelada aos direitos sociais, econômicos e culturais e a terceira dimensão aos

direitos ligados à solidariedade ou fraternidade.

Por fim, para alguns autores existem a quarta, a quinta e a sexta dimensões. Não existe

unanimidade acerca de tais conceitos. Assim, a quarta dimensão seriam os direitos ligados à

democracia, à informação e ao pluralismo. Há quem diga, também, que seriam direitos de

globalização ou direito à engenharia genética. Já os direitos de quinta dimensão seriam os

direitos à identidade individual, ao patrimônio genético, à proteção contra o abuso das técnicas

de clonagem e à paz. O de sexta dimensão seria o direito à água potável, segundo a ONU.

Questão 11

(MPE-SC – 2019 – MPE-SC – Promotor de Justiça Substituto – Matutina)

Os direitos fundamentais são bens e vantagens prescritos na norma constitucional, ao passo

que as garantias fundamentais são os instrumentos através dos quais se assegura o exercício

dos aludidos direitos, destacando-se que a garantias nem sempre estarão nas regras definidas

constitucionalmente como remédios constitucionais.

a) Certo

b) Errado
72
Comentário:

Correta! Enquanto o direito fundamental é o bem e a vantagem em si considerados

(exemplo: o direito à liberdade de locomoção), a garantia fundamental é o instrumento de

proteção do direito fundamental (exemplo: habeas corpus). Ademais, os remédios são espécies

do gênero garantias fundamentais. Assim, todo remédio é garantia fundamental, mas nem toda

garantia fundamental é um remédio constitucional.

Questão 12

(CESPE/CEBRASPE – 2019 – DPE-DF – Defensor Público) Acerca dos direitos à liberdade de

expressão e de comunicação e ao acesso à informação, julgue o item seguinte.

A liberdade de expressão, que também se aplica aos ambientes virtuais, garantida pelo Pacto

Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, é responsabilidade exclusiva dos Estados, e não das

empresas privadas do setor.

a) Certo

b) Errado

Comentário:

“A liberdade de expressão, que também se aplica aos ambientes virtuais, garantida pelo Pacto

Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, é responsabilidade exclusiva dos Estados, e não das

empresas privadas do setor”.

73
Errada! Os direitos humanos devem ser respeitados por pessoas físicas e jurídicas, de direito

público ou de direito privado. As empresas de comunicação também devem garantir a liberdade


de expressão no meio virtual. Há responsabilidade corporativa de se respeitar os direitos

humanos. FONTE: CESPE

Questão 13

(CESPE/CEBRASPE – 2019 – DPE-DF – Defensor Público) Acerca dos direitos e garantias

fundamentais e de seus princípios fundamentais, julgue o item que se segue.

Consagrado na esfera criminal, o princípio constitucional da proibição do excesso consiste na

vedação ao Estado de descriminalizar ou atenuar a tutela penal de certas condutas ofensivas a


direitos fundamentais.

a) Certo

b) Errado

Comentário:

“Consagrado na esfera criminal, o princípio constitucional da proibição do excesso consiste na


vedação ao Estado de descriminalizar ou atenuar a tutela penal de certas condutas ofensivas a
direitos fundamentais”.
Errado! O princípio da proibição do excesso está relacionado à impossibilidade de uma atuação
estatal que exceda o estritamente o necessário para o atingimento do fim almejado. Por outro

lado, o princípio da Proibição de proteção Deficiente se dá quando o estado não legisla acerca
de um determinado direito fundamental desprotegendo-o.

74
Questão 14

(CESPE/CEBRASPE – 2019 – DPE-DF – Defensor Público) Acerca dos direitos e garantias

fundamentais e de seus princípios fundamentais, julgue o item que se segue.

A previsão constitucional de que o preso deve ser informado de seu direito de permanecer

calado aplica-se não apenas a este, mas também a qualquer pessoa na condição de testemunha,

indiciado ou réu.

a) Certo

b) Errado

Comentário:

“A previsão constitucional de que o preso deve ser informado de seu direito de permanecer

calado aplica-se não apenas a este, mas também a qualquer pessoa na condição de testemunha,

indiciado ou réu”.

Errado! A testemunha não tem o direito de permanecer calada, mas apenas o indiciado ou réu,
respondendo, inclusive, por crime de falso testemunho. Contudo, a testemunha não é obrigada

a depor sobre aspectos que possam incriminá-la (nemo tenetur se detegere).

Questão 15

(CESPE/CEBRASPE – 2018 – PC-SE– Delegado de Polícia) Julgue o item seguinte, relativo aos

direitos e deveres individuais e coletivos e às garantias constitucionais.

O princípio da individualização da pena determina que nenhuma pena passará da pessoa do

condenado, razão pela qual as sanções relativas à restrição de liberdade não alcançarão parentes

do autor do delito.

75
a) Certo

b) Errado

Comentário:

É importante destacar que a presente questão e as seguintes, apesar de não serem de carreiras

jurídicas propriamente ditas, foram postas como um “plus” no material para fins de
aprendizagem. Elas trazem a temática aqui abordada e merecem a devida observância.

O princípio da individualização da pena determina que nenhuma pena passará da pessoa do


condenado, razão pela qual as sanções relativas à restrição de liberdade não alcançarão parentes
do autor do delito.

Errado! O princípio em apreço é o da intranscendência da pena, pessoalidade ou

responsabilidade pessoal (art. 5º, XLV, CF) e não se confunde com o princípio da individualização
da pena, previsto no art. 5º, XLVI, no sentido de que a pena deverá ser sempre individualizada

para cada infrator, conforme a gravidade do delito.

Questão 16

(CESPE/CEBRASPE – 2018 – Polícia Federal – Delegado de Polícia Federal) A respeito dos

direitos fundamentais e do controle de constitucionalidade, julgue o item que se segue.

De acordo com o STF, é inconstitucional proibir que emissoras de rádio e TV difundam áudios

ou vídeos que ridicularizem candidato ou partido político durante o período eleitoral.

a) Certo

b) Errado

76
Comentário:

Correto! São inconstitucionais quaisquer leis ou atos normativos tendentes a constranger ou

inibir a liberdade de expressão a partir de mecanismos de censura prévia. STF. Plenário. ADI
4451/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20 e 21/6/2018 (Info 907). Nessa linha, a

liberdade de expressão autoriza que os meios de comunicação optem por determinados


posicionamentos e exteriorizem seu juízo de valor, bem como autoriza programas humorísticos,
“charges” e sátiras realizados a partir de trucagem, montagem ou outro recurso de áudio e

vídeo, como costumeiramente se realiza, não havendo nenhuma justificativa constitucional


razoável para a interrupção durante o período eleitoral.

Questão 17

(CESPE - 2019 - TJ-DFT - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Remoção) Com relação
à garantia constitucional de tratamento igualitário sem distinção de qualquer natureza, a CF

estabelece que

A) homens e mulheres sejam iguais em direitos, ressalvadas hipóteses de vulnerabilidade da


mulher quanto às obrigações.

B) votos de analfabetos são facultativos e, em razão da condição particular desse grupo, não

têm o mesmo caráter de sigilo dos votos dos demais cidadãos.

C) a igualdade perante a lei seja garantida aos estrangeiros residentes no Brasil, desde que
naturalizados, e aos brasileiros.

D) haja igualdade de direitos entre trabalhador com vínculo empregatício permanente e


trabalhador avulso.

E) sejam assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos todos os direitos previstos para

os trabalhadores urbanos e rurais.

77
Comentário:

Apesar de a presente questão tratar ser do concurso de Titular de Serviços de Notas e de

Registros, vale a sua observância.

“A) homens e mulheres sejam iguais em direitos, ressalvadas hipóteses de vulnerabilidade da

mulher quanto às obrigações”.

Errada! O art. 5º, I, da CF não aponta essa diferença: "homens e mulheres são iguais em direitos

e obrigações, nos termos desta Constituição".

“B) votos de analfabetos são facultativos e, em razão da condição particular desse grupo, não

têm o mesmo caráter de sigilo dos votos dos demais cidadãos”.

Errada! Em que pese o voto e o alistamento eleitoral dos analfabetos ser facultativo (art. 14,

§1º, II, a, CF), inexiste restrição ao caráter sigiloso do seu voto .

“C) a igualdade perante a lei seja garantida aos estrangeiros residentes no Brasil, desde que

naturalizados, e aos brasileiros.”

Errada! Inexiste a exigência no art. 5º, “caput”, da CF de que os estrangeiros sejam naturalizados

para que façam jus à igualdade perante a lei: "todos são iguais perante a lei, sem distinção de

qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos

termos seguintes [...]".

“D) haja igualdade de direitos entre trabalhador com vínculo empregatício permanente e

trabalhador avulso.”

78
Correta! A igualdade entre estas categorias está prevista no art. 7º, XXXIV da CF/88: “igualdade

de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso”.

“E) sejam assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos todos os direitos previstos para

os trabalhadores urbanos e rurais.”

Errada! Nem todos os direitos assegurados para os trabalhadores urbanos e rurais são

concedidos aos trabalhadores domésticos, nos termos do art. 7º, parágrafo único, da CF: “São

assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI,

VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as

condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações

tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os

previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência

social”.

Questão 18

(FCC - 2019 - TJ-MA - Analista Judiciário - Direito) Segundo a Constituição Federal, bem

como o entendimento do Supremo Tribunal Federal sobre os direitos e garantias fundamentais,

A) é livre a manifestação do pensamento, ainda que exercida sob o anonimato.

B) é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, desde que


haja prévia licença do Poder Público.

C) é inconstitucional fixar cotas em universidades para alunos que sejam egressos de escolas
públicas, por ofensa ao princípio da igualdade.

D) as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas

por decisão judicial, exigindo-se, em ambos os casos, o trânsito em julgado.

79
E) é ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

Comentário:

Caro(a) Concurseiro (a), iniciaremos as questões comentadas com o importante destaque de


que é preciso conhecer não só a doutrina e a jurisprudência acerca desta temática, como
também o texto expresso da Constituição. Vejamos:

“A) é livre a manifestação do pensamento, ainda que exercida sob o anonimato.”

Errada! Art. 5º. V - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

“B) é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, desde que
haja prévia licença do Poder Público.”

Errada! Art. 5º, IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de


comunicação, independentemente de censura ou licença;

“C) é inconstitucional fixar cotas em universidades para alunos que sejam egressos de escolas
públicas, por ofensa ao princípio da igualdade.”

Errada! No caput do artigo 5º é garantida igualdade para todos. Essa igualdade é dividida em
formal e material. A fixação de cotas é expressão da igualdade material, já que busca o alcance
de um nível de igualdade entre os inicialmente desiguais. Isso é constitucional, segundo o STF.

“D) as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades


suspensas por decisão judicial, exigindo-se, em ambos os casos, o trânsito em julgado.”

Errada! Art. 5º, XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas
atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;

E) é ilícita a prisão civil do depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

Correta! Súmula Vinculante nº 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja
a modalidade do depósito.

80
Questão 19

(CESPE/CEBRASPE – 2013 – DPF – Delegado de Polícia Federal) No que diz respeito aos

direitos fundamentais, julgue o item que se segue.

O exercício do direito de associação e a incidência da tutela constitucional relativa à liberdade

de associação estão condicionados à prévia existência de associação dotada de personalidade

jurídica.

a) Certo

b) Errado

Comentário:

“O exercício do direito de associação e a incidência da tutela constitucional relativa à liberdade


de associação estão condicionados à prévia existência de associação dotada de personalidade
jurídica”.

Errado! O exercício do direito de associação e a incidência da tutela constitucional relativa à

liberdade de associação não estão condicionados à prévia existência de associação dotada de


personalidade jurídica. Trata-se de direito de eficácia plena, independente de qualquer atuação

do Estado ou do particular. Vejam-se os incisos do art. 5º que tratam do tema:

XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de


autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

XIX - as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades


suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;

XX - ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

XXI - as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para


representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;
a

81
GABARITO

Questão 1 - Errado

Questão 2 - E

Questão 3 - Errado

Questão 4 - E

Questão 5 - C

Questão 6 – Errado

Questão 7 - D

Questão 8 - E

Questão 9 - A

Questão 10 – A

Questão 11 - Certa

Questão 12 - Errado

Questão 13 - Errado

Questão 14 - Errado

Questão 15 - Errado

Questão 16 - Certa

Questão 17 - D

Questão 18 - E

Questão 19 - Errado

82
QUESTÃO DESAFIO

Determinado veículo jornalístico divulgou notícia acerca de um


crime contendo uma fotografia da vítima ensanguentada e o rosto
desfigurado na cena. A imagem era explícita, não foi editada de
forma a ocultar o rosto da vítima. Diante da situação exposta,
responda: Conforme jurisprudência do Supremo o ato em questão
configura extrapolação da liberdade de imprensa e violação aos
direitos de personalidade da vítima e de seus familiares? É cabível
pretensão indenizatória, sob o fundamento de estar caracterizada a
situação geradora de dano moral?

Responda em até 5 linhas

83
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Jurisprudência do STF entende que condenar o jornal seria uma forma de censura, o

que afronta a liberdade de informação jornalística. O STF já consolidou que é intransmissível


o direito de dano moral, já que a ofensa moral é subjetiva e, portanto, caberia apenas ao
ofendido a pretensão de indenização.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 STF entende pela não censura do jornal.

Nos termos do art. 5.º da CF, V, é assegurado o direito de resposta, proporcional ao


agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. O inciso X prevê que são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito

a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação. Por outro lado, o inciso
IX dispõe que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença. E o inciso XIV prevê que é assegurado a todos o

acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional.


Por derradeiro, o art. 220 assegura que a manifestação do pensamento, a criação, a expressão
e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição,

observado o disposto nesta Constituição.

Em situação concreta, jornal divulgou a foto do cadáver de um indivíduo morto em


tiroteio ocorrido em via pública. Os familiares do morto ajuizaram ação de indenização por

danos morais contra o jornal alegando que houve violação aos direitos de imagem.

Nesse sentido, decidiu a Suprema Corte que a Constituição assegura que não pode haver
restrição censória ao agir da imprensa. Entendeu o STF que não existe irregularidade ou

abusividade ao exercício da liberdade de imprensa, a qual, assegurada pela Constituição Federal,


deve ser interpretada e aplicada nos termos da consolidada jurisprudência da Corte, no sentido
da liberdade de informação jornalística e da proibição à censura. Portanto, para a Corte

84
descaberia falar em indenização por danos morais. Conf. STF, ARE 892127 AgR/SP, rel. Min.

Cármen Lúcia, julgamento em 23.10.2018.

 Concentração de poder: centrípetas ou centrífugas

Como dito, o art. 5.º da Constituição Federal, V, é assegurado o direito de resposta,

proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem. O inciso
X deste artigo que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

A esse respeito:

Este caso chegou ao STF após o Tribunal de Justiça de São Paulo condenar o jornal Folha
de S.Paulo a pagar R$ 60 mil de indenização a familiares de vítima de assassinato. O homem

foi atingido dentro de seu carro, quando voltava de viagem de negócios, numa troca de tiros
na rodovia Anhanguera, durante assalto a carros fortes, e uma foto sua dentro do carro foi
publicada no jornal, segundo a família, “sem os cuidados necessários de preservar a imagem do

morto”.

O TJ-SP entendeu que o direito fundamental à liberdade de informação não isenta a


responsabilidade civil de órgãos de imprensa e fixou uma condenação. Segundo o tribunal

estadual, “era desnecessária a publicação da foto do rosto desfigurado do falecido, sem o


cuidado de sombrear a imagem” — tanto que outros jornais divulgaram a notícia sem a

publicação de imagens.

Em decisão monocrática, a ministra Cármen Lúcia entendeu que a decisão do TJ-SP


censurou a atuação da imprensa, “substituindo-se ao jornalista e ao jornal para impor o que

considera ‘desnecessário’”. Segundo a ministra, a decisão diverge da jurisprudência do STF,


firmada em diversos precedentes. Assim, ela proveu o recurso e negou o pedido de indenização.

Contra essa decisão monocrática, os familiares interpuseram agravo regimental, que foi

analisado pela 2ª Turma do STF. Em seu voto, a ministra Cármen manteve seu entendimento e
foi seguida por Edson Fachin e Celso de Mello.

85
Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski divergiram (corretamente, ao meu sentir). Leia um

trecho do voto do Gilmar: "O acórdão recorrido não restringiu a liberdade de imprensa. Não
houve nenhuma espécie de censura prévia ou proibição de circulação de informação. Houve sim

ponderação entre a liberdade de imprensa e o direito à imagem, honra, intimidade e vida privada
como forma de posterior verificação da responsabilidade civil."

Em concordância com os Ministros que divergiram (e ficaram vencidos): o TJSP acertou

ao entender que a fotografia da vítima na cena do crime sem o devido sombreamento da


imagem configura extrapolação da liberdade de imprensa e violação aos direitos de

personalidade da vítima e de seus familiares".

Conjur: Jornal não deve indenizar por publicar foto de cadáver em reportagem, diz
Supremo. Conjur: 24/10/2018. Disponível em <https://www.conjur.com.br/2018-out-24/jornal-

nao-indenizara-publicar-foto-cadaver-reportagem#:~:text=O%20caso%20chegou%20ao%20Sup
remo,familiares%20de%20v%C3%ADtima%20de%20assassinato.&text=Segundo%20a%20minist

ra%2C%20a%20decis%C3%A3o,STF%2C%20firmada%20em%20diversos%20precedentes.>.
Acesso em: 28 de Setembro de 2020.

86
LEGISLAÇÃO COMPILADA

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

 Constituição: arts. 3º, IV; 5º, incisos e parágrafos; 7º; 14; 19, I e III; 21, XVI 37, §3º;
196; 210, §1º; 216, §2º; 220, §4º
 Código Civil: art. 1.228
 Código Penal: art. 287
 L. 13.188/15: art. 2º e seus parágrafos
 L. 11.105/05: art. 5º
 Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, da
ONU: art. 2º, II
 Convenção Americana de Direitos Humanos: arts. 13 e seus parágrafos; 134.

Comentário: vale destacar que os dispositivos em apreço já foram cobrados em provas, motivo
pelo qual se faz necessária a sua leitura.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848compilado.htm

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13188.htm

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1950-1969/D65810.html

https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm

 Súmula Vinculante 1

87
Ofende a garantia constitucional do ato jurídico perfeito a decisão que, sem ponderar as circunstâncias do caso
concreto, desconsidera a validez e a eficácia de acordo constante de termo de adesão instituído pela Lei
Complementar nº 110/2001.

 Súmula Vinculante 25

É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

 Súmula Vinculante 37

Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o
fundamento de isonomia.

 Súmula 629 STF

A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da
autorização destes.

 Súmula 636 STF

Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a sua
verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela decisão recorrida.

 Súmula 654 STF

A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art 5º, XXXVI, da Constituição da República, não é invocável pela
entidade estatal que a tenha editado.

 Súmula 667 STF

Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o valor da causa.

 Súmula 686 STF

Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público.

 Súmula 711 STF

A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou da permanência.

 Súmula 280 STJ

O art. 35 do decreto-lei n° 7.661, de 1945, que estabelece a prisão administrativa, foi revogado pelos incisos LXI e
LXVII do art. 5° da Constituição Federal de 1988.

88
 Súmula 403 STJ

Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins
econômicos ou comerciais.

 Súmula 419 STJ

Descabe a prisão civil do depositário judicial infiel.

 Súmula 444 STJ

É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumulaVinculante

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_601_700

http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_701_800

https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Jurisprudencia/Sumulas

89
JURISPRUDÊNCIA

DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

 STF. Plenário. ADPF 722/DF. Rel. Min. Cármen Lúcia. j. 20/08/2020 (Info 987)

EMENTA: MEDIDA CAUTELAR NA ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO FUNDAMENTAL. ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA


DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA. PRODUÇÃO E DISSEMINAÇÃO DE DOSSIÊ COM
INFORMAÇÕES DE SERVIDORES FEDERAIS E ESTADUAIS INTEGRANTES DE MOVIMENTO ANTIFASCISMO E DE
PROFESSORES UNIVERSITÁRIOS. DESVIO DE FINALIDADE. LIBERDADES DE EXPRESSÃO, REUNIÃO E
ASSOCIAÇÃO20. MEDIDA CAUTELAR DEFERIDA.

Comentário: Trata-se do julgamento de medida cautelar em sede de ADPF ajuizada por partido
político em face de uma investigação sigilosa aberta pelo Ministério da Justiça contra o
“movimento antifascismo”. São dossiês secretos contra servidores públicos, principalmente

professores e policiais. Alegou-se o uso da estrutura do pública para a perseguição política e


ideológica. Indicou-se, ademais, a tentativa do governo de interferir no direito à expressão do

pensamento, à íntima convicção política, filosófica ou ideológica. Assim, segundo o partido


impetrante, a postura do Ministério da Justiça estaria violando o direito fundamental à liberdade

de expressão, à reunião, à associação, à inviolabilidade da intimidade, da vida privada e da


honra. Deste modo, foi requerida, em sede cautelar, a suspensão de qualquer ato do Ministério
que produza ou compartilhe informações da vida pessoal, das escolhas pessoais e políticas de

pessoas do movimento antifascista ou outras que estejam exercendo a sua liberdade de


expressão, reunião ou associação lícita. A medida cautelar foi deferida.

 ADI 3092. Plenário. Rel. Min. Marco Aurélio. j. 22/06/2020. DJe 17/08/2020)

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – PROIBIÇÃO DE CONTRATAR – EMPRESA – QUADRO – CRIME OU CONTRAVENÇÃO –


ATOS DISCRIMINATÓRIOS – CONDENADO. Surge inconstitucional vedação, à Administração Pública, de

20
Vide questão 19
90
contratação de empresa cujo quadro seja integrado por pessoa condenada ante a prática de crime ou
contravenção envolvendo atos discriminatórios, considerada a inobservância ao princípio da intransmissibilidade
da pena e ao artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal.

Comentário: trata-se de julgado que aborda a garantia da pessoalidade ou intransmissibilidade


da pena, previsto no art. 5º, XLV, da Constituição. É importante lembrar que a pessoa jurídica e

o seu integrante possuem personalidades distintas. O fato de uma pessoa, integrante dos
quadros de uma pessoa jurídica, ter sido condenada por crime ou contravenção envolvendo

atos discriminatórios não pode ensejar prejuízo à pessoa jurídica. As restrições jurídicas
decorrentes de processo judicial ou administrativo não podem transbordar a dimensão

estritamente pessoal do infrator para atingir direitos de terceiros.

 STF. Plenário. ADI 6387, ADI 6388, ADI 6389, ADI 6390 e ADI 6393 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa
Weber, julgados em 6 e 7/5/2020 (Info 976).

A MP 954/2020 determinava que, durante a emergência de saúde decorrente do covid-19, as empresas de telefonia
fixa e móvel deveriam fornecer ao IBGE os dados dos seus clientes: relação dos nomes, números de telefone e
endereços. Segundo a MP, essas informações seriam utilizadas para a produção das estatísticas oficial, com o
objetivo de realizar entrevistas não presenciais com os clientes das empresas. As informações disciplinadas pela MP
954/2020 configuram dados pessoais e, portanto, estão protegidas pelas cláusulas constitucionais que asseguram
a liberdade individual (art. 5º, caput), a privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade (art. 5º, X e XII).
Sua manipulação e tratamento deverão respeitar esses direitos e os limites estabelecidos pela Constituição. A MP
954/2020 exorbitou dos limites traçados pela Constituição porque diz que os dados serão utilizados exclusivamente
para a produção estatística oficial, mas não delimita o objeto da estatística a ser produzida, nem a finalidade
específica ou a sua amplitude. A MP 954/2020 não apresenta também mecanismos técnico ou administrativo para
proteger os dados pessoais de acessos não autorizados, vazamentos acidentais ou utilização indevida. Diante disso,
constata-se que a MP violou a garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF), em sua dimensão
substantiva (princípio da proporcionalidade).

Comentário: Nota-se que o presente julgado trata do princípio da razoabilidade sem fazer a
distinção com o princípio da proporcionalidade. Como visto, o princípio da razoabilidade é

originário da garantia do devido processo legal substancial e da cláusula “law of the land”, que
nos remete à Magna Carta de 1215. Assim, o princípio surgiu dentro de um ideário processual,

contudo, com o tempo, evoluiu para uma perspectiva substancial (substantive due process of
91
law). Nessa senda, o Plenário do STF entendeu que a Medida Provisória 954/2020 violava o

devido processo legal substantivo ao determinar a concessão, pelas empresas de telefonia, dos
dados dos clientes ao governo (IBGE) de forma indiscriminada, violando a liberdade individual,

a privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade.

 STF. Plenário. ADO 56/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado
em 30/4/2020 (Info 975)

No início da pandemia decorrente do covid-19 foi proposta ADO pedindo que o Presidente da República e os
Presidentes da Câmara e do Senado editassem lei instituindo o pagamento de um valor mínimo em favor dos mais
necessitados a fim de assegurar a alimentação, o mínimo existencial e a dignidade da pessoa humana. Alguns
dias após o ajuizamento da ADO, foi publicada a Lei nº 13.982/2020, que criou um benefício semelhante ao
que se pretendia na ação. A Lei nº 13.982/2020 instituiu o “auxílio emergencial”, um benefício financeiro no valor
de R$ 600,00 por mês, pago pela União a trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI),
autônomos e desempregados, e que tem por objetivo fornecer proteção emergencial, pelo prazo de 3 meses, às
pessoas que perderam sua renda em virtude da crise causada pelo coronavírus. Diante disso, o STF decidiu: a)
conhecer da ação (significa que o STF entendeu ser cabível, em tese, ação direta de inconstitucionalidade por
omissão para discutir o tema); b) mas, quanto ao mérito, julgar o pedido prejudicado uma vez que foi aprovado
o auxílio emergencial (Lei nº 13.982/2020) e, consequentemente, foi satisfeito o objeto da ADO.

Comentário: é possível fazer relação do presente julgado, de forma ampla, com o próprio direito
à vida. O direito à vida é o principal direito individual, o bem jurídico de maior relevância
protegido pela Constituição, pois o exercício dos demais direitos depende de sua existência.

Deve ser compreendido de maneira extremamente abrangente, incluindo o direito de nascer,


de permanecer vivo, de defender a própria vida, enfim, de não ter o processo vital interrompido
senão pela morte espontânea e inevitável. Ao ser ajuizada a presente ADO se buscou a edição

de uma lei que impedisse que fosse violado o direito à vida da população, principalmente mais
carente, em decorrência da falta de alimentação. Como referido no curso do capítulo, o STF já

se manifestou no sentido de que não pode o Estado alegar problemas orçamentários ou o


princípio da reserva do possível quando estiver em jogo este direito.

 STF. 1ª Turma. Rcl 32052 AgR/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/4/2020 (Info 973).

92
A decisão judicial que proibiu a realização de entrevista com Adélio Bispo, autor da facada contra Jair Bolsonaro,
não significa restrição indevida à liberdade de imprensa nem representa censura prévia. Logo, essa decisão não
configura ofensa ao entendimento firmado pelo STF na ADPF 130, que julgou não recepcionada a Lei de Imprensa
(Lei nº 5.250/67). A decisão judicial impediu a entrevista com o objetivo de proteger as investigações e evitar
possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio do investigado. Além disso, a decisão teve
como finalidade proteger o próprio custodiado, que autorizou a entrevista, mas cuja sanidade mental era discutível
na época, tendo sido, posteriormente, declarado inimputável em razão de “transtorno delirante persistente”.

Comentário: O presente julgado pode ser correlacionado à garantia da não autoincriminação.


Dentre os argumentos ponderados no caso concreto foi apontado que poderia ser prejudicado
o direito ao silêncio de um acusado que tinha a sanidade mental discutível. Assim, entendeu

correta a decisão que, naquele momento, entendeu por proibir a sua entrevista, dentro de um
juízo de proporcionalidade.

 STF. Plenário. ADI 4868, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/03/2020.

É inconstitucional a lei distrital que preveja que 40% das vagas das universidades e faculdades públicas do Distrito
Federal serão reservadas para alunos que estudaram em escolas públicas do Distrito Federal. Essa lei, ao restringir
a cota apenas aos alunos que estudaram no Distrito Federal, viola o art. 3º, IV e o art. 19, III, da CF/88, tendo em
vista que faz uma restrição injustificável entre brasileiros. Vale ressaltar que a inconstitucionalidade não está no
fato de ter sido estipulada a cota em favor de alunos de escolas públicas, mas sim em razão de a lei ter restringindo
as vagas para alunos do Distrito Federal, em detrimento dos estudantes de outros Estados da Federação.

Comentário: Cabe ressaltar que é constitucional, segundo o STF (RE 597285/RS), o sistema de
cotas fundado em características peculiares ligadas à cor, etnia, classe social ou até por ser o
aluno oriundo de escolas públicas. Contudo, no presente julgado é realizada uma diferenciação

entre brasileiros sem que exista uma razão aceitável. A Lei Distrital estipulou um percentual de
vagas das universidades públicas que deveria ser destinado a alunos de escolas públicas do

Distrito Federal. Com isso, excluiu alunos de escolas públicas dos outros Estados da Federação.
Como elucidado em capítulos anteriores, é objetivo fundamental da República promover o bem

de todos sem preconceitos de origem (art. 3º, IV, CF). Além disso, é vedado que os entes
federados criem distinções entre brasileiros ou preferências entre si (art. 19, III, CF). Portanto, a
Lei do Distrito Federal violou frontalmente o princípio da igualdade.

93
 STF. Plenário. ADI 2259, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/02/2020.

O STF julgou parcialmente procedente a ADIN 2259, realizando uma interpretação conforme à Constituição da
Tabela IV da Lei nº 9.289/96, para: Reconhecer a imunidade tributária das certidões requeridas ao Poder Judiciário
que forem voltadas para a defesa de direitos ou o esclarecimento de situação de interesse pessoal, presumindo
essas finalidades quando a certidão pleiteada for concernente ao próprio requerente, sendo desnecessária, nessa
hipótese, expressa e fundamentada demonstração dos fins e das razões do pedido. Por outro lado, para a concessão
da gratuidade da certidão quando o pedido tiver objeto interesse indireto ou de terceiros, mostra-se imprescindível
a demonstração da finalidade.

Comentário: o direito à gratuidade de certidão se trata de uma garantia fundamental dotada


de eficácia plena e aplicabilidade imediata, portanto, não precisa de lei que a regulamente.

 STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/5/2019 (Info 940). STF. 1ª Turma.
RE 307108/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado em
12/11/2019 (Info 959).

O art. 38 da Lei nº 8.880/94 previu que a URV deveria ser utilizada como parâmetro de cálculo dos índices de
correção monetária nos dois primeiros meses de implantação do Plano Real. As pessoas que tinham contratos em
vigor e que haviam sido celebrados antes da Lei nº 8.880/94 começaram a questionar a aplicação imediata deste
dispositivo. Alegaram que a sua aplicação aos contratos em vigor seria inconstitucional por violar o direito
adquirido (art. 5º, XXXVI, da CF/88). O STF não concordou com essa tese e decidiu que: É constitucional o art. 38
da Lei nº 8.880/94 e que a sua aplicação imediata para os contratos em vigor não violou a garantia do “direito
adquirido”, prevista no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal. Não é possível opor a cláusula de proteção ao direito
adquirido ou ato jurídico perfeito em face da aplicação imediata de normas que tratam de regime monetário, as
quais possuem natureza estatutária e institucional, como é a situação daquelas responsáveis por substituir uma
moeda por outra. As normas que tratam do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária -,
têm natureza institucional e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade, razão pela qual sua
incidência é imediata, alcançando as situações jurídicas em curso de formação ou de execução.

Comentário: o presente julgado pode ser relacionado de forma direta com o direito individual
básico da segurança das relações jurídicas. Como visto o curso do capítulo, todos têm de saber
as consequências exatas dos atos jurídicos que venham a praticar. Em nome desta segurança é
que o princípio geral acerca da aplicação das leis é o da irretroatividade, ou seja, as leis só

94
alcançam as situações posteriores à sua elaboração. Poderão as leis retroagir somente nos casos

em que não prejudiquem ao direito adquirido, ato jurídico perfeito e a coisa julgada. No caso
em apreço se decidiu que não houve violação ao direito adquirido, pois as normas que tratam

do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária -, têm natureza institucional


e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade, razão pela qual sua incidência é

imediata, alcançando as situações jurídicas em curso de formação ou de execução, como os


contratos em vigor antes desta Lei.

 STJ. 2ª Turma. REsp 1666294-DF, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 05/09/2019 (Info 658).

Viola o princípio da presunção de inocência o impedimento de participação ou registro de curso de formação ou


reciclagem de vigilante, por ter sido verificada a existência de inquérito ou ação penal não transitada em julgado.
Assim, não havendo sentença condenatória transitada em julgado, o simples fato de existir um processo penal em
andamento não pode ser considerada antecedente criminal para o fim de impedir que o vigilante se matricule no
curso de reciclagem. STJ. 2ª Turma. REsp 1597088/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/08/2017. A
existência de condenação criminal transitada em julgado impede o exercício da atividade profissional de vigilante
por ausência de idoneidade moral.

Comentário: trata-se de julgamento que tratou de da garantia fundamental da presunção de


inocência (art. 5º, LVII, CF).

 STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado
em 28/3/2019 (Info 935).

É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual
de animais em cultos de religiões de matriz africana.

Comentário: O presente julgado tem imensa relevância, porquanto trata de direitos

fundamentais como a liberdade religiosa, a igualdade, além da ideia de seu balanceamento com

a proibição de crueldade contra animais.

Nessa linha, é constitucional a lei estadual que permite o sacrifício de animais em cultos de

religiões de matriz africana, não ofendendo a competência da União para editar normas gerais
95
de proteção do meio ambiente, porquanto inexiste lei federal tratando sobre o sacrifício de

animais com finalidade religiosa. Vale destacar que a LCA (L. 9.605/98), que tutela a fauna

silvestre, especialmente a caça, também não tratou, nem indiretamente, sobre imolação de

animais em cultos religiosos. Assim, o Estado-membro tem liberdade para legislar. Ademais, tal

previsão não fere a laicidade. A proteção legal às religiões de matriz africana não representa

privilégio, mas mecanismo de assegurar a liberdade religiosa. Também não se viola o princípio

da igualdade. A cultura afro-brasileira merece maior atenção do Estado, pela sua estigmatização

e por ser alvo de preconceito. A proibição do sacrifício dos animais negaria a própria essência

da pluralidade cultural, com a consequente imposição de determinada visão de mundo. Assim,

se materializa a igualdade. Por fim, não há violação ao dever constitucional de amparo aos

animais. Como se nota, se deve evitar que a tutela de um valor constitucional relevante (meio

ambiente) aniquile o exercício de um direito fundamental (liberdade de culto). Assim, é

desproporcional impedir todo e qualquer sacrifício religioso quando diariamente a população

consome carnes de várias espécies. Reforce-se que o abate por estas religiões não é cruel, mas

rápido e mediante degola. Obs.: Merece realce, também, que o Ministério da Agricultura

possui IN do ano 2000 que regulamenta os métodos de insensibilização para o abate

humanitário de animais de açougue e prevê que “é facultado o sacrifício de animais de acordo

com preceitos religiosos, desde que sejam destinados ao consumo por comunidade religiosa

que os requeira ou ao comércio internacional (...)”.

 STJ. 3ª Turma. REsp 1771866-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/02/2019 (Info
642).

O direito à retratação e ao esclarecimento da verdade possui previsão na Constituição da República e na Lei


Civil, não tendo sido afastado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF 130/DF. O princípio da
96
reparação integral (arts. 927 e 944 do CC) possibilita o pagamento da indenização em pecúnia e in natura, a fim
de se dar efetividade ao instituto da responsabilidade civil. Dessa forma, é possível que o magistrado condene o
autor da ofensa a divulgar a sentença condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que foi cometida a
ofensa à honra, desde que fundamentada em dispositivos legais diversos da Lei de Imprensa.

Comentário: trata-se de julgado que aborda a temática da liberdade de expressão. Nessa linha,

pontua-se que é possível que o magistrado condene o autor da ofensa, com base em dispositivos diversos

da Lei de Imprensa, a divulgar a sentença condenatória nos mesmos veículos de comunicação em que
cometida a ofensa à honra. O direito de retratação e ao esclarecimento da verdade têm previsão na CF e na
Lei Civil, não tendo sido afastado pelo STF na ADPF 130. O princípio da reparação integral possibilita a
indenização em pecúnia e in natura para dar efetividade à responsabilidade civil.

 STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 31/10/2018 (Info 922).

São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem ou promovam: • o ingresso de agentes
públicos em universidades públicas e privadas; • o recolhimento de documentos (ex: panfletos); • a interrupção de
aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários; • a realização de atividade disciplinar
docente e discente e a coleta irregular de depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de
ideias e divulgação do pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob a administração de
universidades públicas e privadas.

Comentário: a ideia central do presente julgado é a de que violam a CF/88 os atos de busca e
apreensão de materiais de cunho eleitoral e a suspensão de atividades de divulgação de ideias
em universidades públicas e privadas. Foi proposta a ADPF em decorrência da pluralidade de

decisões sobre a matéria, que se considera ato do poder público passível de controle por esta
via, nos termos do art. 1º da Lei da ADPF. Ademais, a ADPF é o meio para questionar a
interpretação judicial de normas constitucionais e legais. Nessa linha, no caso concreto o STF

entendeu que houve violação aos direitos fundamentais da liberdade de manifestação do


pensamento e das garantias inerentes à autonomia universitária.

 STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 24/10/2018 (Info 921).

Não viola a Constituição Federal a cobrança de contribuição obrigatória dos alunos matriculados nos Colégios
Militares do Exército Brasileiro. Os Colégios Militares apresentam peculiaridades que fazem com que eles sejam

97
instituições diferentes dos estabelecimentos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais, legais e institucionais.
Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis. A quota mensal escolar exigida nos
Colégios Militares não representa ofensa à regra constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que
não há violação ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação. Por fim, deve-se esclarecer
que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui
natureza tributária (não é tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais. Portanto, são válidos
os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que disciplinam essa cobrança.

Comentário: veja-se que é possível relacionar a temática abordada no presente julgado com as
ideias abordadas no capítulo ligadas às restrições aos direitos fundamentais, especialmente a
teoria externa e a teria dos “limites dos limites”.

 STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ ac. Min. Luiz Fux, julgado em
5/6/2018 (Info 905). Sobre o mesmo tema: STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso,
julgado em 6/3/2018 (Info 893).

Uma decisão judicial determinou a retirada de matéria de “blog” jornalístico, bem como a proibição de novas
publicações, por haver considerado a notícia ofensiva à honra de delegado da polícia federal. Essa decisão afronta
o que o STF decidiu na ADPF 130/DF, que julgou não recepcionada a Lei de Imprensa. A ADPF 130/DF pode ser
utilizada como parâmetro para ajuizamento de reclamação que verse sobre conflito entre a liberdade de
expressão e de informação e a tutela das garantias individuais relativas aos direitos de personalidade. A
determinação de retirada de matéria jornalística afronta a liberdade de expressão e de informação, além de
constituir censura prévia. Essas liberdades ostentam preferência em relação ao direito à intimidade, ainda que a
matéria tenha sido redigida em tom crítico. O Supremo assumiu, mediante reclamação, papel relevante em favor
da liberdade de expressão, para derrotar uma cultura censória e autoritária que começava a se projetar no Judiciário.

Comentário: O STF entendeu que é preciso haver uma maior tolerância quanto às matérias de
cunho potencialmente lesivo à honra de agentes públicos, especialmente quando existente

interesse público. A retirada de matéria exige a caracterização inequívoca do comportamento


doloso contra a vítima. Embora não haja hierarquia entre direitos fundamentais, a liberdade de

expressão possui uma posição preferencial (preferred position) em relação aos demais direitos.
O seu afastamento é excepcional e o ônus argumentativo é de quem sustenta o direito oposto.
Ademais, a censura é proibida pela CF/88, ou seja, o Estado não pode interferir na manifestação
do pensamento.

98
Quais são os motivos pelos quais a liberdade de expressão ocupa um lugar privilegiado?

Segundo o Min. Roberto Barroso, cinco são os motivos.

1. Este direito fundamental é essencial para a democracia, porquanto o livre fluxo de


informações e a formação de um debate público robusto e irrestrito são condições essenciais
para que sejam tomadas as decisões da coletividade;
2. É primordial, ainda, para a dignidade humana, eis que permite que as pessoas se expressem
de forma desinibida, expondo as suas ideias e visões de mundo. Além disso, se presta para
que seja possível acessar as ideias dos demais indivíduos;
3. Relaciona-se com a busca da verdade, pois o confronto entre ideias pode ser visto como
um caminho para tal persecução;
4. É instrumento para que se goze da liberdade de debate público, de reunião, de associação
e para o exercício de direitos políticos;
5. Funciona como meio para que seja preservada a cultura e a história da sociedade.

Se a liberdade de expressão não é absoluta, quais são os limites impostos pelo constituinte?

Também são cinco limites da liberdade de expressão:

I. A vedação do anonimato (art. 5º, IV);


II. O direito de resposta (art. 5º, V);
III. O dever de respeitar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art.
5º, X);
IV. A classificação indicativa (art. 21, XVI)
V. As restrições à propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas e terapias (art. 220,
§4º).

É possível haver o confronto em o direito fundamental à liberdade de expressão e os

direitos da personalidade?

Sim, assim como a liberdade de expressão, os direitos da personalidade são dotados de estatura
constitucional. Assim, inexiste hierarquia entre estes e aquele. Portanto, pode haver a colisão.

99
Os direitos da personalidade são, segundo o Min. Barroso, os direitos inerentes a toda pessoa

humana, como versão privada dos direitos fundamentais, e sua aplicação às relações com outros
indivíduos como regra geral.

Eles se dividem, segundo a doutrina, em dois grupos:

a) direitos à integridade física, englobando a vida, o direito ao próprio corpo e o direito


ao cadáver;
b) direitos à integridade moral, abarcando a honra, a imagem, a privacidade e o direito
moral de autor.

Nessa linha, diante do confronto entre a liberdade de expressão e os direitos da


personalidade, qual deve prevalecer?

Não há como definir, a priori, qual deve prevalecer. É preciso que seja realizada a ponderação

do conflito pelo princípio da proporcionalidade e suas três etapas.

Merece destaque que o Min. Barroso aponta 8 critérios para a ponderação entre a liberdade
de expressão e os direitos da personalidade. Vejamos:

1. Veracidade do fato: a informação falsa não goza de proteção constitucional. Note-se,


entretanto, que a verdade aqui tratada não é a verdade objetiva, mas a verdade subjetiva,
subordinada a um juízo de plausibilidade e ao ponto de observação de quem a divulga.
Para que seja responsabilizado aquele que divulga é preciso que reste evidenciado o dolo
na difusão da falsidade ou a clara negligência na apuração do fato;
2. Licitude do meio empregado na obtenção da informação: assim como não é permitido o
uso de provas ilícitas no processo, a Constituição não permite que sejam divulgadas notícias
quando o acesso à informação se deu por meio de um crime.
3. Personalidade pública ou privada da pessoa objeto da notícia: essa aferição se presta a
definir o grau de exposição a que a pessoa deve se sujeitar;
4. Local do fato: é preciso analisar, também, se os locais dos fatos são protegidos pelo direito
à intimidade ou se são reservados;
5. Natureza do fato: é preciso verificar se o fato é sigiloso ou se ele se relaciona à intimidade
da pessoa;

100
6. Existência de interesse público na divulgação: em tese, a divulgação de todo fato
verdadeiro é de interesse público;
7. Existência de interesse público na divulgação de fatos relacionados à atuação de órgãos
públicos;
8. Preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia da
divulgação: o uso abusivo da liberdade de expressão pode ser reparado pela retificação,
retratação, direito de resposta, responsabilização civil e penal. A proibição da divulgação só
deve ser utilizada no último caso.

 STF. Plenário. ADI 2566/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
julgado em 16/5/2018 (Info 902).

É inconstitucional o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98. Esse dispositivo proíbe, no âmbito da programação das
emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo tendente a
converter pessoas a uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia. O STF entendeu que essa proibição afronta
os arts. 5º, IV, VI e IX, e 220, da Constituição Federal. A liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo, o
uso de argumentos críticos, o consenso e o debate público informado e pressupõe a livre troca de ideias e não
apenas a divulgação de informações.

Comentário: Cumpre apontar que a Lei 9.612/89 é a que trata das rádios comunitárias (Serviço
de Radiodifusão Comunitária).

No art. 4º, §1º, de referida Lei veio previsto que “ é vedado o proselitismo de qualquer natureza

na programação das emissoras de radiodifusão comunitária”.

Desta feita, o STF entendeu que essa previsão viola os seguintes dispositivos constitucionais:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...) IV - é livre
a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (...) VI - é inviolável a
liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; (...)
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença;”

101
“Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob
qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto
nesta Constituição”.

Além de realizar controle de constitucionalidade, o STF realizou controle de convencionalidade,


indicando que o dispositivo vai de encontro ao artigo 134 da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos, que prevê que a impossibilidade de sujeitar o direito à liberdade de expressão

e de pensamento à censura prévia e que a responsabilização deve ser ulterior.

Por fim, indicou o Pretório Excelso que a liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo,
o uso de argumentos críticos, o consenso e o debate público informado. Pressupõe a livre troca

de ideias e não a mera divulgação de informações.

 STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/2018 (Info 899).

Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem ser mantidos sob reserva.
Assim, a página do Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por meio da quebra de
sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI).

Comentário: Trata-se de julgado em que entram em conflito o direito à informação e o direito


à privacidade, eis que houve a divulgação de informações sigilosas dos impetrantes na página
do Senado Federal na internet. Foi a chamada “CPI dos Correios”.

De acordo com o entendimento do STF, a privacidade decorre da dignidade da pessoa humana

e a quebra do sigilo de dados afigura-se como exceção. A implementação de tal quebra deve
se dar a partir de ordem judicial, sendo certo que as CPIs detêm poderes de investigação de

autoridades judiciais, mas os dados obtidos possuem a destinação única de servirem à


investigação. Por isso, devem ser mantidos sob reserva, não cabendo divulgá-los.

De acordo com o Min. Alexandre de Moraes é possível constatar que foi dada publicidade aos

valores informados pelos impetrantes em suas declarações de imposto de renda, montantes que
constam de suas movimentações financeiras, receitas e distribuição de lucros e discriminação

de bens adquiridos. Com isso, não poderiam ter sido publicados, porquanto tais dados são
protegidos pelo sigilo constitucionalmente assegurado.

102
E prossegue dizendo que as informações fiscais e bancárias, sejam as constantes nas próprias
instituições financeiras, sejam as constantes na Receita Federal ou organismos congêneres do

Poder Público, constituem parte da vida privada da pessoa física ou jurídica.

Destaca, também, que a inviolabilidade dos sigilos bancário e fiscal não é absoluta, podendo
ser afastada quando estiverem sendo utilizados para ocultar a prática de atividades ilícitas e

presentes os seguintes requisitos:

a) Autorização judicial ou determinação de CPI;


b) Indispensabilidade - ou seja, em caráter de absoluta excepcionalidade - dos dados
constantes de determinada instituição financeira, Receita Federal ou Fazendas Públicas.
c) Individualização do objeto da investigação e da pessoa investigada;
d) Manutenção do sigilo em relação às pessoas estranhas à causa
e) Utilização dos dados somente para a investigação.

Portanto, na linha dos argumentos esposados, decidiu o STF que a página do Senado Federal

na internet não pode divulgar os dados obtidos por meio da quebra de sigilo determinada
pela CPI dos Correios.

 ADPF 187, rel. min. Celso de Mello, j. 15-6-2011, P, DJE de 29-5-201421.

"Marcha da Maconha". Manifestação legítima, por cidadãos da República, de duas liberdades individuais
revestidas de caráter fundamental: o direito de reunião (liberdade-meio) e o direito à livre expressão do
pensamento (liberdade-fim). (...) Vinculação de caráter instrumental entre a liberdade de reunião e a liberdade de
manifestação do pensamento. (...) A liberdade de expressão como um dos mais preciosos privilégios dos cidadãos
em uma república fundada em bases democráticas. O direito à livre manifestação do pensamento: núcleo de que
se irradiam os direitos de crítica, de protesto, de discordância e de livre circulação de ideias. Abolição penal (abolitio
criminis) de determinadas condutas puníveis. Debate que não se confunde com incitação à prática de delito
nem se identifica com apologia de fato criminoso. Discussão que deve ser realizada de forma racional, com
respeito entre interlocutores e sem possibilidade legítima de repressão estatal, ainda que as ideias propostas
possam ser consideradas, pela maioria, estranhas, insuportáveis, extravagantes, audaciosas ou inaceitáveis. O sentido
de alteridade do direito à livre expressão e o respeito às ideias que conflitem com o pensamento e os valores
dominantes no meio social. Caráter não absoluto de referida liberdade fundamental (CF, art. 5º, IV, V e X;
Convenção Americana de Direitos Humanos, art. 13, § 5º). A proteção constitucional à liberdade de pensamento
como salvaguarda não apenas das ideias e propostas prevalecentes no âmbito social, mas, sobretudo, como amparo

21
Vide questão 5
103
eficiente às posições que divergem, ainda que radicalmente, das concepções predominantes em dado momento
histórico-cultural, no âmbito das formações sociais. O princípio majoritário, que desempenha importante papel no
processo decisório, não pode legitimar a supressão, a frustração ou a aniquilação de direitos fundamentais, como
o livre exercício do direito de reunião e a prática legítima da liberdade de expressão, sob pena de comprometimento
da concepção material de democracia constitucional. A função contramajoritária da jurisdição constitucional no
Estado Democrático de Direito. Inadmissibilidade da "proibição estatal do dissenso". Necessário respeito ao
discurso antagônico no contexto da sociedade civil compreendida como espaço privilegiado que deve valorizar o
conceito de "livre mercado de ideias". O sentido da existência do free marketplace of ideas como elemento
fundamental e inerente ao regime democrático (AC 2.695 MC/RS, rel. min. Celso de Mello). A importância do
conteúdo argumentativo do discurso fundado em convicções divergentes. A livre circulação de ideias como signo
identificador das sociedades abertas, cuja natureza não se revela compatível com a repressão ao dissenso e que
estimula a construção de espaços de liberdade em obséquio ao sentido democrático que anima as instituições da
República. As plurissignificações do art. 287 do CP: necessidade de interpretar esse preceito legal em harmonia
com as liberdades fundamentais de reunião, de expressão e de petição. Legitimidade da utilização da técnica da
interpretação conforme à Constituição nos casos em que o ato estatal tenha conteúdo polissêmico.

Comentário: o julgado que trata da “Marcha da Maconha” é um paradigma quando se fala do


direito fundamental à liberdade de expressão do pensamento. Restou definido que apesar de
ser legítima a manifestação por cidadãos fazendo uso do direito de reunião (liberdade-meio) e
do direito à liberdade de expressão (liberdade-fim), não é absoluta referida liberdade
fundamental. Fomenta-se o livre mercado de ideias (free marketplace of ideas), típico das
sociedades abertas e afasta-se a proibição estatal do dissenso, entretanto, o debate não pode
se confundir com a incitação à prática de delito nem se identifica com a apologia de fato
criminoso.

 ADPF 54, rel. min. Marco Aurélio, j. 12-4-2012, P, DJE de 30-4-2013

O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente neutro quanto às religiões.

Comentário: a ADPF 54 foi a ação que tratou da interrupção da gravidez de feto anencéfalo.
Dentre os direitos ponderados no caso concreto é possível indicar a vida e a integridade física
e corporal da mulher e do feto, além da liberdade de escolha da mulher (autonomia), privacidade
e da saúde. Tratou-se, também, da laicidade do Estado brasileiro. Por fim, concluiu o STF que
inexiste crime na hipótese de interrupção da gravidez de feto anencéfalo, devendo prevalecer
os direitos da mulher à liberdade sexual e reprodutiva, à saúde, à dignidade e à
autodeterminação.

104
 RE 603.616, rel. min. Gilmar Mendes, j. 5-11-2015, P, DJE de 10-5-2016

Inviolabilidade de domicílio – art. 5º, XI, da CF. Busca e apreensão domiciliar sem mandado judicial em caso
de crime permanente. (...) Fixada a interpretação de que a entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só
é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori,
que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar,
civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade dos atos praticados.

Comentário: o julgado em apreço fixa parâmetros para a validade da entrada forçada em


domicílio sem mandado judicial. Antes de indicar tais parâmetros, cumpre apontar que em
outras oportunidades o STF já definiu que a mera intuição de que está havendo tráfico de
drogas na casa não autoriza o ingresso sem mandado judicial ou consentimento do morador
(REsp 1574681-RS). Também apontou que não é permitido o ingresso na residência do
indivíduo pelo simples fato de haver denúncias anônimas e ele ter fugido da polícia (RHC
83501-SP). Vejamos agora às balizas:

Primeiro é preciso ter em mente que o art. 5º, XI, da CF dispõe sobre a inviolabilidade de
domicílio, apontando que “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”. Assim, durante o dia é possível ingressar
na casa de alguém caso:

i. Seja para prestar socorro;


ii. Haja flagrante delito;
iii. Haja desastre;
iv. Exista determinação judicial.

Por outro lado, durante a noite é possível ingressar na casa de alguém caso:

i. Seja para prestar socorro;


ii. Haja flagrante delito;
iii. Haja desastre.

Nota-se, portanto, que não é possível invadir a casa de alguém, por ordem judicial, durante a
noite.

Ademais, é preciso que se defina o que é “dia” para fins de inviolabilidade de domicílio. Há
divergência, contudo, o critério mais seguro é cronológico, ou seja, considerar o horário que

105
vai das 6h às 18h. Existem os que sustentam o critério físico-astronômico, ou seja, entre o
crepúsculo e a aurora. Por fim, o CPC indica que os atos processuais serão realizados em dias
úteis, das 6h às 20h. Todavia, como indicado, o melhor critério é o primeiro.

E o que significa casa?

O CP traz o conceito de casa ao tratar do crime de violação de domicílio no seu artigo 150 e
parágrafos. De forma simples, é possível entender que a definição de casa inclui toda a sua
estrutura, como o quintal, a garagem e o porão. Também são inseridos os compartimentos de
natureza profissional, desde que fechado o acesso ao público em geral (como escritórios,
consultórios e gabinetes). Por fim, os aposentos de habitação coletiva, ainda que de ocupação
temporária (como o hotel, o motel, a pensão e a pousada).

Vale ressaltar que no Inq 2424 julgado pelo STF em novembro de 2018 o STF permitiu que fosse
realizada a busca e apreensão e instalada escuta ambiental, durante a noite, por ordem judicial,
em escritório vazio de advocacia. Isso porque na hipótese o advogado era suspeito da prática
de crimes e os praticava no âmbito do seu escritório a pretexto do exercício da profissão.

Indique-se, ainda, que um veículo, em regra, não é considerado casa, sendo possível ser
examinado sem mandado judicial. Excepcionalmente, contudo, caso seja utilizado para a
habitação do indivíduo, ele pode ser considerado casa (como o trailer, a cabine do caminhão e
os barcos).

Outra baliza para verificar a possibilidade de ingresso no domicílio é a de o agente estar


cometendo flagrante delito. Observe-se, contudo, que no caso de crimes permanentes é possível
o ingresso, a exemplo do tráfico de drogas nas modalidades “ter em depósito” e “guardar”.

Sendo assim, caso haja fundadas razões de que exista droga em determinada casa será possível
que os policiais invadam a residência, sem ordem judicial e sem o consentimento do morador.
Observe-se, contudo, que as “fundadas razões” deverão ser posteriormente expostas pela
autoridade, sob pena de responder nos âmbitos penal, civil e administrativo, além de o ato ser
considerado nulo.

 Informativo 893, STF:

LIBERDADE DE EXPRESSÃO. A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus
seguidores não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.

106
Comentário: A incitação de ódio público feita por líder religioso contra outras religiões pode
configurar, a depender do caso, racismo, pois a lei prevê como crime a prática, indução,

incitação à discriminação ou preconceito de raça ou religião, havendo a qualificadora para o


caso de ter se dado por meio de comunicação social ou publicação22. Nesse sentido, já havia o
STF se manifestado em novembro de 2016 (Info 849), na análise do caso “Jonas Abib”, em que

o padre escreveu um livro voltado ao público da Igreja Católica, criticando o espiritismo e


religiões de matriz africana. Na hipótese foi decidido que não houve crime, porquanto a CF

garante a liberdade religiosa, que inclui a escolha da religião e o proselitismo, que é o


empreendimento de esforços para convencer outras pessoas a se converterem à sua religião,

mesmo que dizendo que uma é melhor que a outra. Só configurará crime se o discurso for
de dominação, opressão, restrição de direitos ou violação da dignidade da pessoa humana
dos demais grupos. Caso se pregue o dever de ajudar os inferiores, salvação espiritual, não
haverá crime.

 Informativo 645, STJ:

EMBRIÃO CRIOPRESERVADO. Não se exige que o indivíduo tenha deixado um documento escrito dizendo que
desejava ser submetido à criogenia, podendo essa vontade ser provada por outros meios, como a declaração do
familiar mais próximo.

Comentário: Não se exige formalidade específica, como documento escrito do morto, para
submeter o corpo à criogenia após a morte. Basta declaração de parente familiar mais próximo
de que essa era a vontade do falecido. Criogenia humana (criopreservação) é a técnica de

congelamento do corpo com o intuito de reanimação futura (ressuscitar) caso sobrevenha

descoberta científica que possibilite o retorno à vida.

22
Art. 20 da L. 7.716/81. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional. Pena: reclusão de um a três anos e multa. § 2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por intermédio
dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
107
 Ementa: “Constitucional. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei de biossegurança. Impugnação
em bloco do art. 5º da Lei n. 11.105, de 24de março de 2005 (Lei de biossegurança). Pesquisas
com células-tronco embrionárias. Inexistência de violação do direito à vida. Constitucionalidade
do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas científicas para fins terapêuticos.
Descaracterização do aborto. Normas constitucionais conformadoras do direito fundamental a
uma vida digna, que passa pelo direito à saúde e ao planejamento familiar. Descabimento de
utilização da técnica de interpretação conforme para aditar à lei de biossegurança controles
desnecessários que implicam restrições às pesquisas e terapias por ela visadas. Improcedência
total da ação” (ADI 3510/DF).

Comentário: trata-se do julgado em que o STF liberou a pesquisa com células tronco

embrionárias. Nele restou fixado que não há violação da vida nem da dignidade da pessoa

humana. Assim, o art. 5º da Lei de Biossegurança não merece reparo. Veja-se:

“Art. 5º da Lei de Biossegurança. É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização


de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização
in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I
– sejam embriões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais,
na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei,
depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento”.

Ressalte-se que na oportunidade prevaleceu que a CF garante o direito à vida, à saúde, ao

planejamento familiar e à pesquisa científica, sendo que o espírito da sociedade fraternal aponta

no sentido da utilização das células-tronco embrionárias para curar doenças.

Esclareceu a Min. Cármen Lúcia que as células-tronco embrionárias podem gerar qualquer tecido

humano. Assim, a sua pesquisa, ao contrário de violar a vida humana, contribui para dignificá-

la.

Para o Min. Carlos Britto o zigoto (embrião em estágio inicial) é a primeira fase do embrião

humano, a célula-ovo ou célula-mãe, que representa realidade distinta da pessoa natural, já que

não tem cérebro formado. Por isso, não se pode falar em violação do direito à vida.

108
Já a Min. Ellen Gracie dispôs que o ninho natural do acolhimento do zigoto é o útero. Em não

sendo assim, não se pode qualificar a célula embrionária como pessoa, sendo que a ordem

jurídica nacional qualificou como pessoa aquele nascido com vida. Além disso, o pré embrião

também não é um nascituro, já que para isso seria necessário que houvesse probabilidade de

vir a nascer, o que não ocorre com os embriões inviáveis ou destinados ao descarte.

O Min. Marco Aurélio, por sua vez, asseverou que jogar no lixo embriões descartados para a

reprodução humana seria um gesto de egoísmo e uma grande cegueira, quando eles podem

ser usados para curar doenças;

De arremate, o Min. Celso de Mello disse que o Estado não pode ser influenciado pela religião

e que a permissão da pesquisa em apreço possibilitará que milhões de brasileiros, que hoje

sofrem e que se acham postos à margem da vida, possam ter acesso ao direito básico e

inalienável que é o direito à busca da felicidade.

109
MAPA MENTAL

110
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROSO, Luis Roberto. Curso de Direito Constitucional. 4 ed. São Paulo – Saraiva. 2013.

BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

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CANOTILHO, Jose Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição - 7º Edição.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional. 6 ed. rev. Coimbra: Livraria Almedina, 1993.

LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 22. ed. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional – 7. ed. – Salvador: JusPodvm, 2019.

MARTINS, Flávia Bahia. Direito Constitucional. – 6. ed. – Salvador: JusPodivm.

NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. Salvador, BA: JusPodivm, 2018.

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,Constitui%C3%A7%C3%A3o%20e%20proporcionalidade%3A%20direitos%20fundamentais%20entre%20a%20proib
i%C3%A7%C3%A3o%20do%20excesso,a%20proibi%C3%A7%C3%A3o%20da%20prote%C3%A7%C3%A3o%20defici
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111
Lex. Direitos Fundamentais - Reserva do Possível e o Orçamento Público, 2020. Disponível
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Conteúdo Jurídico. O núcleo essencial dos direitos fundamentais, 2020. Disponível em:
<https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/41570/o-nucleo-essencial-dos-direitos-fundamentais> Acesso
em 07.11.2020

Blog do Eduardo Gonçalves. SABE O QUE É A TESE DOS LIMITES DOS LIMITES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS?
VAI CAIR! 2020. Disponível em: <http://www.eduardorgoncalves.com.br/2019/01/sabe-o-que-e-tese-dos-limites-
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Acesso em 07.11.2020

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