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CERS CARREIRAS

JURÍDICAS

CARREIRAS JURÍDICAS

DIREITO CIVIL
CAPÍTULO 08
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – LINDB - Lei de Introdução às Normas do Direito



Brasileiro
Capítulo 2 – Teoria Geral do Direito 
Capítulo 3 – Pessoa Jurídica 

Capítulo 4 – Direitos da Personalidade 


Capítulo 5 – Domicílio 
Capítulo 6 – Bens Jurídicos 
Capítulo 7 – Teoria do ato, fato e negócio jurídico 

Capítulo 8 (você está aqui!) – Defeitos do Negócio Jurídico 

Capítulo 9 – Prescrição e Decadência 

Capítulo 10 – Introdução, elementos e classificação das Obrigações 


Capítulo 11 - Transmissão, Adimplemento, Extinção e Inadimplemento

das Obrigações

Capítulo 12 – Responsabilidade Civil 


Capítulo 13 – Teoria Geral dos Contratos 
Capítulo 14 – Contratos em espécie I 
Capítulo 15 – Contratos em espécie II 
Capítulo 16 – Posse e Direitos Reais 
Capítulo 17 – Direito de família 
Capítulo 18 – Direito sucessório 

1
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Caro aluno, nesse capítulo, estudaremos os vícios do negócio jurídico, os prazos em que

eles podem ser alegados, a teoria das invalidades e, por último, a prova do negócio jurídico. A
análise dos institutos da prescrição e decadência será realizada no próximo capítulo, quando

iremos encerrar o estudo da Parte Geral do Código Civil de 2002.

Esse capítulo tem muita relevância para todas as carreiras jurídicas, pois abarca o estudo
de dispositivos da lei que costumam ser bastante cobrados em provas objetivas, tanto direta
quanto indiretamente, por meio de casos práticos.

Uma boa compreensão da Teoria das Invalidades ajudar-lo-á a compreender temas da


parte especial, como contratos em espécie, sucessões, dentre outros. Também, o tema dos

defeitos dos negócios jurídicos costuma cair muito nas provas objetivas, devendo ser muito
bem estudado.

A abordagem do presente capítulo é basicamente legalista, não havendo muita ênfase

doutrinária, por não ser cobrada nos certamente e com destaque para apenas alguns julgados
importantes que foram selecionados e devem ser lidos como complemento do estudo dos
institutos.

Nesse capítulo, é fundamental que, após a sua leitura, o aluno saiba diferenciar e
conceituar os defeitos do negócio jurídico, bem com suas consequências, de nulidade ou
anulabilidade e os prazos decadenciais em que cada negócio pode ser anulado.

Parece muita informação, mas o capítulo não será muito extenso. Os assuntos abordados
não são difíceis. Basta uma leitura atenta, em conjunto com uma constante revisão e a
formulação de questões.

2
Preste atenção nesse capítulo o qual não tem um assunto muito complexo para nunca

errar uma questão acerca do seu tema. Se bem estudado e gravado, o aluno certamente
garantirá uma ou mais questões no seu certame.

Vamos aos estudos?

3
SUMÁRIO

DIREITO CIVIL ........................................................................................................................................... 6

Capítulo 8 .................................................................................................................................................. 6

8. Teoria dos Negócios Jurídicos ....................................................................................................... 6

8.1 Dos Defeitos do Negócio Jurídico .................................................................................................................. 6

8.1.1 Erro substancial ou ignorância (artigo 138 a 144 do CC) ..................................................................... 7

8.1.2 Dolo (artigo 145 a 150 do CC) ...................................................................................................................... 10

8.1.3 Coação (artigo 151 a 155 do CC) ................................................................................................................. 11

8.1.4 Lesão (artigo 157 CC)......................................................................................................................................... 12

8.1.5 Estado de perigo (artigo 156 CC) ................................................................................................................. 13

8.1.6 Fraude contra credores (artigo 158 a 165)............................................................................................... 15

8.1.6.1 Ação Pauliana ..................................................................................................................................................... 16

8.1.7 Simulação ................................................................................................................................................................ 19

8.2 Teoria das Invalidades do Negócio Jurídico ............................................................................................ 22

8.2.1 Invalidade do Negócio Jurídico ..................................................................................................................... 22

8.2.2 Inexistência dos Negócios Jurídicos ............................................................................................................ 22

8.2.3 Nulidade dos Negócios Jurídicos (nulidade absoluta -artigo 166 CC) ........................................ 23

8.2.4 Anulabilidade dos Negócios Jurídicos (nulidade relativa) ................................................................. 25

8.3 Da prova do negócio jurídico ........................................................................................................................ 28

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 32

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 37

GABARITO ............................................................................................................................................... 56

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 57

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 58

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LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 60

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 61

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 69

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 70

5
DIREITO CIVIL

Capítulo 8

Nesse capítulo estudaremos os defeitos do negócio jurídico, que devem ser


constantemente revisados, principalmente a fraude contra credores. Também será analisada a

teoria das invalidades e a prova dos negócios jurídicos.

8. Teoria dos Negócios Jurídicos

8.1 Dos Defeitos do Negócio Jurídico

Após estudarmos todos os elementos do negócio jurídico no Capítulo 7, é necessário


compreender os vícios que podem incidir nesta espécie de ato jurídico.

A validade é elemento essencial dos negócios jurídicos, de maneira que, para


produzirem os efeitos pretendidos, é essencial a manifestação livre, correspondente à intenção
do agente, desde que não contrarie a lei.

Os defeitos, também denominados de vícios dos negócios jurídicos, atingem a

vontade do agente, acarretando negócios passíveis de anulação ou nulidade. Neste sentido,


são anuláveis os negócios jurídicos, quando a declaração de vontade emanar erro
substancial, dolo, coação, lesão, estado de perigo ou fraude contra credores. E, por sua

vez, são nulos os negócios jurídicos quando a declaração de vontade destes emanarem de
simulação1.

1 Sobre os defeitos do negócio jurídico, em geral, resolva as questões 1, 2, 5, 6, 7 e 8.


6
Vício da vontade/do consentimento – o defeito está na formação da vontade (vontade
interna) e o prejudicado é um dos contratantes.

Vícios sociais – o defeito está na manifestação da vontade (vontade externa) e o


prejudicado é sempre um terceiro (simulação e fraude contra credores).

8.1.1 Erro substancial ou ignorância (artigo 138 a 144 do CC)

Poderia ser percebido por qualquer pessoa de diligência normal. O erro é a falsa
percepção da realidade, uma atuação positiva em equívoco, enquanto a ignorância é o
desconhecimento, um estado negativo. O erro é efeito invalidante do NJ, nos termos do artigo

138 do CC:

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações


de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser
percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio.

O erro, para anular o negócio, segundo a doutrina clássica, deve ser substancial e

escusável (desculpável). Quem foi negligente ao concluir o negócio jurídico não pode,
posteriormente, invocar o erro. Em outras palavras, a ordem jurídica não pode premiar a

negligência ou a falta de zelo, razão pela qual o erro tem que ter sido desculpável, nos termos
do artigo 138 do CC, de acordo com o critério do homem médio.

Contudo, a doutrina moderna, à luz do princípio da confiança, não exige mais a


escusabilidade do erro, conforme dispõe o Enunciado 12, da I Jornada de Direito Civil: “é
irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança”.

7
O falso motivo só vicia o negócio jurídico quando a declaração de vontade nele

expressa é determinante para a constituição do negócio, uma vez provado o prejuízo.

O erro pode ser acidental ou substancial. O erro acidental é aquele de menor

relevância, que, mesmo se conhecido, o negócio teria sido firmado (presumivelmente). Deste
modo, o erro acidental não gera a anulabilidade do negócio jurídico, nem confere direito à

indenização. Por sua vez, o erro substancial ou essencial é de maior relevância e sua presença
torna anulável o negócio jurídico. Importante ressaltar que a diferença entre os tipos de erro

está não nos valores envolvidos no negócio, mas sim na relevância do erro para a sua
conclusão.

Espécies de erro (artigo 139 do CC):

● Sobre o objeto: erro sobre as características e qualidades essenciais do bem


objeto.

● Sobre o negócio: a parte erra sobre a própria manifestação de vontade, esta


imagina ter celebrado um negócio, quando na verdade celebrou outro.

● Sobre a pessoa: sobre a identidade ou qualidade essencial da pessoa. Tem


aplicação especial no direito de família (art. 1556 e 1557 CC).

Jurisprudência do STJ (também explicada no final do capítulo): pode ocorrer erro no

momento do registo de nascimento de um filho. Homem que reconheceu a paternidade de


filho de esposa, por acreditar que o filho era seu, contudo, posteriormente, descobre que não
é o pai biológico. Nesse caso, pode alegar o erro sobre a pessoa, quando imediatamente após
a descoberta romper o vínculo afetivo com a criança. Caso, continue a ter uma relação, um
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vínculo afetivo com esta, o pai será reconhecido como pai socioafetivo, não importando,

portanto, ser ou não pai biológico e ter ou não sido levado a erro no momento do
reconhecimento da paternidade, no nascimento da criança.

● Erro de direito: é possível causa de invalidade do negócio jurídico, incidindo no


campo de atuação permissiva da norma, ou seja, consiste em um erro sobre e

ilicitude do fato. Isso não significa que a parte está se recusando à aplicação da lei,
mas ao celebrar o negócio ela pode incorrer em um erro de interpretação,

imaginando ser lícito o que é ilícito, nesse caso ficando claro sua boa-fé ela
podendo invocar o erro de direito para invalidá-lo, devendo ser o motivo único e

principal do negócio.

O erro na indicação da pessoa ou coisa só viciará o negócio jurídico se, pelas

circunstâncias do ato, não se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.

O erro não prejudicará a validade do ato se, a pessoa a quem a manifestação de

vontade se dirige, se oferecer para executar o ato em conformidade com a vontade real do
sujeito, ou seja, o erro pressupõe prejuízo.

Erro vs. Vício Redibitório: o primeiro, conforme já explicado acima, é a equivocada

representação da realidade. Por sua vez, o vício redibitório não toca o psiquismo do agente,
incidindo, portanto, na própria coisa objetivamente considerada. Se o adquirente por força

de uma compra e venda, recebe coisa com defeito oculto que lhe desvalora ou prejudica sua

9
utilização (vício redibitório), poderá rejeitá-la, redibindo o contrato ou, se quiser, exigindo

abatimento do preço.

8.1.2 Dolo (artigo 145 a 150 do CC)

Ocorre quando uma das partes (ou um terceiro) age com intenção prejudicial, com
manifesta intenção dolosa para obter vantagem em relação ao outro. No dolo, aquele que

manifesta a vontade é conduzido à prática do ato com intenção dolosa. É um erro provocado,
ou seja, uma das partes é enganada, há um ardil, um engodo.

Se o dolo for principal (essencial), anulará o negócio jurídico (artigo 145), pois, sem a
manifestação de vontade, este não existiria. Por outro lado, se acidental (artigo 146), ou seja,

não é determinante do negócio jurídico, não anula, mas a parte que agiu com dolo
responderá pelo pagamento das perdas e danos dele decorrentes.

Nos termos do artigo 150 do CC, se ambas as partes agem com dolo, nenhuma delas

poderá invocá-lo para anular o negócio jurídico.

De acordo com o artigo 148, o dolo praticado por terceiro vicia o negócio jurídico

em prejuízo do beneficiário que tinha ciência do dolo empregado. Se o beneficiário não


sabia, ou tinha condições de saber do dolo de terceiro, apenas responderá por perdas e

danos, subsistindo o negócio.

O dolo praticado pelo representante legal da parte (artigo 149) só obriga o

representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve. Contudo, se


o representante for convencional, o beneficiário responderá solidariamente pelos danos
causados por este.

Por fim, mas não menos importante, há no artigo 147 a disposição quanto ao dolo
negativo, o qual traduz a afronta ao princípio da boa-fé, sendo uma omissão intencional de

manifestação de vontade em prejuízo de outra parte. É o conhecido como silêncio intencional.

10
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de
uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte
haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o
negócio não se teria celebrado.

8.1.3 Coação (artigo 151 a 155 do CC)

Deve ser moral (vis compulsiva), uma violência psicológica, que ocorre quando a
declaração de vontade foi praticada após séria ameaça da parte contrária (ou de terceiro), que

incuta no paciente o temor de dano iminente à sua pessoa, sua família ou a seus bens. Para
apreciar a coação, o juiz levará em conta as condições da vítima e das circunstâncias em

que ocorreram o caso (artigo 152 CC), isto é, deve-se analisar o caso concreto, e não as
condições do homem médio. Ademais, nos termos do artigo 153: “Não se considera coação a
ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temos reverencial.”.

O negócio jurídico será viciado pela coação exercida por terceiro, se dela tivesse

conhecimento ou devesse ter a parte a quem lhe aproveita, respondendo solidariamente por
perdas e danos.

Tem-se que a coação é uma ameaça, enquanto o dolo é um engodo.

Na coação de terceiro (artigo 154 e 155 CC), caso o beneficiário soubesse ou tivesse

como saber, o negócio é anulado respondendo solidariamente com o coator pelas perdas e
danos. Por outro lado, se não soubessem, nem tivesse como saber, o negócio é mantido
respondendo apenas o coator pelas perdas e danos.

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8.1.4 Lesão (artigo 157 CC)

Ocorre lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência,
assume prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. Neste

caso, serão considerados os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio
jurídico. A lesão exsurge da necessidade econômica de uma das partes ou de sua

inexperiência.

São, portanto, 2 os elementos da lesão: objetivo, que é a desproporção entre as

prestações; subjetivo: abuso da necessidade ou inexperiência da outra parte.

No CDC (artigo 6º, V, artigo 39, V e artigo 51, IV), a lesão não é causa de anulabilidade, e sim
de NULIDADE.

Segundo o Enunciado 290, da IV Jornada de Direito Civil: A lesão acarretará a


anulação do negócio jurídico quando verificada, na formação deste, a desproporção manifesta

entre as prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente necessidade ou a


inexperiência do lesado.

Nos termos do parágrafo 2º do artigo 157 do CC, não será decretada a anulação do

negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a


redução do proveito. Tem-se aqui a chamada convalidação da lesão.

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Lesão vs. Teoria da Imprevisão: Na lesão, o negócio jurídico já nasce desequilibrado,
enquanto na Teoria da Imprevisão, o negócio jurídico nasce válido e, depois, se desequilibra,

pois ocorre em contratos de execução continuada ou diferida. Ademais, a lesão invalida o


negócio jurídico, já pela referida teoria, revisa-se ou resolve-se o contrato.

Ainda, fala-se em “Teoria da Lesão” em sede contratual, isto é, a possível revisão


contratual, com base na lesão (art. 157, §2º CC).

8.1.5 Estado de perigo (artigo 156 CC)

Configura-se o estado de perigo, quando alguém, premido da necessidade de salvar-

se, ou a pessoa de sua família, de grave dano material ou moral, conhecido pela outra parte,
assume obrigação excessivamente onerosa. É o estado de necessidade aplicado ao Direito

Civil.

Exige-se o DOLO DE APROVEITAMENTO, ou seja, o conhecimento da parte da situação

da outra.

Há a interpretação extensiva do §2º do artigo 157 sobre lesão para tal hipótese de
convalidação seja também aplicado ao estado de perigo, nos termos do Enunciado 148 do

CJF. Ou seja, caso seja oferecido suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar
com a redução do proveito, não será decretada a anulação do negócio jurídico.

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Qual a diferença entre a lesão e o estado de perigo?

O estado de perigo difere da lesão, pois tem uma maior gravidade, uma vez que não se está

em frente a uma simples necessidade ou inexperiência socioeconômica, mas sim o perigo é a


saúde mental, física ou material. Além, de a parte favorecida ter ciência do perigo.

Um exemplo de perfeita aplicação do estado de perigo opera-se na exigência de

determinados hospitais, para a emissão de cheque caução ou a assinatura de termo contratual


como condição para o atendimento de emergência.

Estes vícios estudados são os vícios de consentimento, porém, existem, também, os vícios
sociais:

● Fraude contra credores (art. 158 a 165 do CC) – ocorre quando há uma intenção
de prejudicar credores (consilium fraudis) e um evento danoso para eles (eventos
damni).

● Simulação (art. 167 do CC) - consiste em uma declaração de vontade distinta da


vontade real, com a concordância de ambas as partes e visando, geralmente, a fugir
de obrigações/imperativos legais e prejudicar terceiros;

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Existe, atualmente, debate doutrinário se a simulação ainda se constitui como vício social,
porém, as bancas de concurso seguem o entendimento da doutrina majoritária, considerando

esse vício do negócio jurídico como vício social, conforme defendem Paulo Lôbo e Flávio

Tartuce.

8.1.6 Fraude contra credores (artigo 158 a 165)2

É um vício social que se dá com a transmissão gratuita de bens ou remissão de dívidas,


quando o devedor já for insolvente, ou for reduzido à insolvência pela prática destes negócios.

É um ato negocial que reduz o patrimônio do devedor, prejudicando o credor anterior. A


fraude somente pode ser cometida pelo devedor que tem seu passivo maior que o ativo, pelo

devedor insolvente ou à beira da insolvência.

Os atos fraudulentos gratuitos dispensam a prova de má-fé, exigindo-se apenas o

prejuízo do credor, já os onerosos exigem o conluio fraudulento e o prejuízo do credor. O


conluio fraudulento é presumido se a insolvência for notória ou houvesse motivo para ser

conhecida pelo outro contratante.

A ocorrência de fraude contra credores exige 3:

a) a anterioridade do crédito;

b) a comprovação de prejuízo ao credor (eventus damni);

c) que o ato jurídico praticado tenha levado o devedor à insolvência e

2
Sobre o tema resolva a questão 4.
3
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1294462/GO, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região), julgado
em 20/03/2018.
15
d) o conhecimento, pelo terceiro adquirente, do estado de insolvência do devedor

(scientia fraudis).

Quais são as hipóteses legais de fraude contra credores?

 Negócio de transmissão gratuita de bens (artigo 158 CC): não precisa provar a má-fé;

 Perdão fraudulento (remissão fraudulenta de dívida, artigo 158 CC): também não
precisa provar a má-fé;

 Negócio jurídico fraudulento oneroso (artigo 159 CC): aqui a demonstração da fraude é
mais dificultada, pois, além dos requisitos gerais (prejuízo e má-fé do devedor), deve
ficar provado ou que a insolvência do devedor era notória ou que havia motivo para
ser conhecida pela outra parte;

 Antecipação fraudulenta de pagamento feita a um dos credores quirografários (artigo


162 CC);

 Outorga fraudulenta de dívida (artigo 163 CC).

8.1.6.1 Ação Pauliana


A ação anulatória (ação de defesa para fraude contra credores), neste caso, é chamada
de Ação Pauliana, ou Ação Revocatória, que deverá ser proposta contra o devedor, a pessoa
que celebrou o negócio jurídico com ele e o terceiro de má-fé. Trata-se de um litisconsórcio

passivo necessário.

A legitimidade ativa dessa ação é do credor preexistente, quirografário ou não (artigo

158, §2º CC). O principal autor da ação pauliana seria o credor sem garantia, contudo, o
credor com garantia pode também ser interessado, se a garantia for insuficiente.

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Caso e o terceiro esteja de boa-fé em negócio jurídico oneroso, ele não sofrerá os

efeitos da sentença pauliana, permanecendo com o bem, de maneira que o credor


prejudicado terá que buscar outros bens do devedor.

O negócio jurídico anulável poderá ser convalidado pelas partes, desde que respeitados
os direitos de terceiros. Se não for o caso de convalidação, a anulação poderá ser pleiteada no

prazo de quatro anos – prazo decadencial (artigo 178 CC).

O adquirente pode pagar em juízo em sede de ação pauliana afastando a fraude, pois
não paga em favor do insolvente. Consagra o princípio da conservação do negócio jurídico.

Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não


tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente,
desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os
interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens,
poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.

Existe uma relação umbilical entre conservação do negócio jurídico e função social do
contrato. Enunciado 22 – I Jornada do STJ: “a função social do contrato prevista no art. 421,
CC, constitui cláusula geral que reforça o princípio da consagração de conservação do
contrato, assegurando trocas úteis e justas”.

Por fim, vale ressaltar que a sentença da ação pauliana tem, nos termos do CC, natureza

jurídica desconstitutiva ou constitutiva negativa.

 FRAUDE CONTRA CREDORES X FRAUDE À EXECUÇÃO

FRAUDE CONTRA CREDORES FRAUDE À EXECUÇÃO


Instituto de direito civil. Instituto de direito processual civil.
O devedor tem ações executivas ou
O devedor tem obrigações assumidas e
condenatórias propostas contra si e aliena o
aliena o patrimônio.
patrimônio.

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Fraude à parte, ou seja, envolve ordem Fraude ao processo, ou seja, envolve ordem
privada. pública.
Não há necessidade de uma ação específica
Há necessidade de uma ação específica
para o seu reconhecimento. Pode ser
(pauliana)4 para o seu reconhecimento.
reconhecida nos próprios autos da execução.
Os atos praticados são inválidos (sentença
Os atos praticados são ineficazes (decisão
constitutiva negativa) – plano da
declaratória) – plano de eficácia.
validade.

Leia a tabela novamente, aluno! Essa diferenciação confunde muitas pessoas, então
vamos agora para mais detalhes:

A situação jurídica da fraude à execução é mais danosa que a contra credores, porque
atentatória, a um só tempo, aos interesses do credor e à administração da justiça (artigo

792 do CPC). É caracterizada quando o ato de alienação é praticado depois da citação do


devedor para a ação judicial (ainda que em processo de conhecimento, capaz de reduzi-lo a

insolvência) ou do registro da penhora ou da hipoteca, no cartório de imóveis.5

Importante destacar quanto ao tema a súmula 375 do STJ: “O reconhecimento da

fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova da má-fé


do terceiro adquirente.”.

A comprovação da fraude à execução é simplificada em relação à fraude pauliana, pois

na primeira basta a demonstração do elemento objetivo (esvaziamento patrimonial), sendo


desnecessária a discussão acerca do elemento subjetivo (intenção fraudulenta). Assim, se o

devedor alienar um bem após a citação (em ação capaz de reduzi-lo à insolvência), a
legislação presume (relativamente) o conluio fraudulento, caracterizando a fraude a

execução.

Em suma, são causas de anulabilidade do negócio jurídico:

4 Súmula 195 STJ: “Em embargos de terceiros, não se anula ato jurídico, por fraude contra credores.”
5
DE FARIAS, Cristiano Chaves. MANUAL DE DIREITO CIVIL
18
● A celebração por pessoa relativamente incapaz;

● Por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude
contra credores.

O único vício que enseja NULIDADE é a SIMULAÇÃO!

8.1.7 Simulação6
Na simulação celebra-se um negócio jurídico que tem aparência normal, mas que não

pretende atingir o efeito que juridicamente deveria produzir. Há um desacordo entre a


vontade declarada e a vontade interna, em outras palavras, entre a essência e a aparência.

Para melhor explicar tal instituto, vamos compará-lo aos defeitos do negócio jurídico já

estudados:

 Tanto na simulação como no dolo há má-fé, mas no dolo uma das partes é vítima,
enquanto na simulação há conluio para prejudicar terceiro ou a própria sociedade;

 Na fraude contra credores não se simula nada, é um negócio jurídico explicito e há uma
vítima qualificada, específica, qual seja, o credor preexistente. A simulação, por sua vez, é
muito mais aberta, uma vez que se aparenta ser juridicamente normal, aquilo que não
é.

O Enunciado 578 do CJF afirma que para ser declarada a simulação não é necessária

ação própria, pois se trata de negócio jurídico nulo.

Espécies de simulação:

6
Sobre o tema resolva a questão 3.
19
 Simulação ABSOLUTA: celebra-se um negócio jurídico aparentemente normal, MAS que
não visa a produzir efeito jurídico algum. Exemplo: cidadão casado com medo dos
efeitos da partilha do divórcio celebra um contrato no qual ele deve transferir bens em
pagamento a um amigo, que guarda os bens, somente para devolvê-los ao primeiro
futuramente, sem produzir efeito algum.

 Simulação RELATIVA (dissimulação): celebra-se um negócio jurídico com o objetivo


de, como uma máscara, encobrir outro negócio de efeitos jurídicos proibidos.
Exemplo: pessoa casada faz um contrato de compra e venda de bens à sua amante (o
CC proíbe doação à amante), mas na verdade ele cede o bem e ela não paga nada.

À luz do princípio da conservação dos atos, nos termos da parte final do artigo 167 e
do enunciado 153 da III JDC, na simulação relativa poderá o juiz, aproveita o negócio
jurídico dissimulado se não houver ofensa à lei ou a direito de terceiros. Exemplo:
descobre-se que a esposa já é casada, logo o casamento é nulo, então se pode
aproveitar a doação.

O CC não aceita mais a denominada “Simulação Inocente”, a qual é feita sem a


intenção de prejudicar terceiros, de maneira que toda simulação invalida o negócio. Tal fato

ocorre pois, na simulação a causa da nulidade está relacionada com a repercussão social
condenável do ato, e não com a intenção das partes. A presunção do dano social, em suma,

faz-se presente na simulação.

Ainda, cabe observar o Enunciado 294 da IV JDC, segundo a qual considerando-se o


tratamento de ordem pública conferido à simulação, que pode inclusive ser reconhecida de
ofício pelo juiz, qualquer pessoa, inclusive os simuladores, poderão alegá-la em juízo.

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O que é RESERVA MENTAL?

Também denominada de reticência por alguns autores, a reserva mental se configura,


quando o agente resguarda um propósito íntimo na declaração da vontade que projeta,

podendo ter repercussão jurídica nos termos do artigo 110 do CC.

Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor


haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se
dela o destinatário tinha conhecimento.

Enquanto a reserva mental estiver oculta, não há nenhuma repercussão jurídica. O


problema reside quando a reserva mental é manifestada: se a outra parte não tem

conhecimento desta, o negócio jurídico é válido, contudo, se a outra parte conhece a reserva
mental, o negócio jurídico é nulo, pois o instituto é similar à simulação.

O que diferencia a simulação da reserva mental?

Diversamente do que ocorre na reserva mental, na simulação os contratantes agem em

conluio para prejudicar terceiro. Na reserva mental o declarante não age em conluio com a
outra parte, pretendendo prejudicá-lo. A simulação invalida o negócio jurídico e a reserva

mental não. Entretanto, se a outra parte tinha conhecimento da reserva mental, o negócio
jurídico será nulo.

21
8.2 Teoria das Invalidades do Negócio Jurídico7

Na análise da invalidade deve-se respeitar em primeiro plano o princípio da conservação:


sempre que o juiz puder, ele deve, na medida do possível, tentar conservar o negócio inválido.

Um exemplo legal de tal princípio é o artigo 184 do CC, pelo qual o juiz afasta a cláusula
inválida, mantendo o restante do negócio, conservando assim o negócio jurídico.

Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de


um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for
separável; a invalidade da obrigação principal implica a das
obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação
principal.

8.2.1 Invalidade do Negócio Jurídico

Quando o negócio jurídico se apresenta de forma irregular, defeituosa, tal irregularidade


ou defeito pode ser mais ou menos grave, e o ordenamento jurídico pode atribuir reprovação

maior ou menor. Existem três categorias para invalidar ou declarar inexistente os negócios
jurídicos: negócios jurídicos inexistentes, nulos (nulidade absoluta) e anuláveis (nulidade
relativa).

8.2.2 Inexistência dos Negócios Jurídicos

No ato ou negócio inexistente, pode haver uma aparência de ato ou negócio jurídico.

Ou seja, embora possua aparência material, o ato ou negócio jurídico não possui conteúdo
jurídico. Na verdade o ato não se formou para o direito.

7 Sobre o tema vide questões 9 e 10.


22
8.2.3 Nulidade dos Negócios Jurídicos (nulidade absoluta -
artigo 166 CC)

Trata-se de vício que impede o ato de ter existência legal e produzir efeito, em razão
de não ter obedecido qualquer requisito essencial.

A Nulidade pode atingir todo o ato, como regra, ou apenas parte dele se assim o

ordenamento e a própria natureza do negócio permitir.

A nulidade repousa sempre em causas de ordem pública.

Ademais, sempre que a lei disser “é vedado” ou “é proibido”, sem dizer qual a sanção, a

sanção é a nulidade absoluta.

Em regra, prova-se o ato nulo de forma objetiva, pelo próprio instrumento utilizado
para o ato ou por prova literal. Porém, existem casos em que a nulidade deverá ser provada

por outros meios, quando for contestada ou posta em dúvida. Assim, a nulidade é penalidade
que faz com que qualquer efeito do ato, desde o momento da sua formação, deixe de existir.

A sentença que decretar a nulidade vai retroagir (tem efeito ex tunc) até a data de

nascimento do ato viciado. Desde este momento desaparecem os efeitos do ato, ficando
como se o mesmo nunca tivesse ocorrido. Porém, muitas vezes, embora o ato seja tido como
nulo, dele decorre efeitos de ordem material.

As partes contratantes devem ser reconduzidas ao estado anterior, ocorre que nem
sempre, fisicamente, isto será possível. Por isso dispõe o artigo 182 do CC:

23
Art. 182. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao
estado, em que antes dele se achavam, e não sendo possível
restituí-las, serão indenizadas com o equivalente.

Além disso, o artigo 168 do CC nos informa que as nulidades dos artigos antecedentes
podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público, quando lhe
couber intervir. Complementa o ensinamento no seu parágrafo único ao dizer que as

nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos
seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las ainda que a

requerimento das partes.

Sendo assim, também ao juiz é determinado que decrete a nulidade de ofício, se dela
tomar conhecimento, sem necessidade de qualquer provocação, no entanto não pode supri-la

mesmo que as partes assim tenham solicitado.

As partes só conseguirão obter os efeitos jurídicos derivados do ato ou negócio jurídico


se executarem (firmarem) o ato todo novamente e, desta vez, de acordo com a lei.

Ainda sobre este assunto temos o artigo 184 do CC. Da leitura deste artigo

apreendemos que a nulidade pode ser Total ou Parcial:

● Total quando afeta todo o negócio

● Parcial quando se limita a algumas de suas cláusulas. A nulidade parcial somente

será possível se o negócio for divisível.

Assim o negócio jurídico será nulo quando:

● Celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

● For ilícito, impossível ou indeterminável seu objeto;


24
● O motivo, comum a ambas as partes for ilícito;

● Não revestir das formas prescritas em lei;

● For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;

● Tiver por objeto fraudar a lei imperativa;

● A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

● Simulação

Também é considerada causa de invalidade do negócio jurídico a sua simulação. Porém,

subsistirá o que se dissimulou, for válido em sua substância ou forma.

O negócio jurídico nulo não está sujeito à confirmação e nem convalesce (artigo
169) com o decurso do tempo. Porém, poderá ser reconhecida a fungibilidade do negócio

jurídico, se este contiver requisitos essenciais a outro, quando o fim a que visavam as partes
permitir supor que teriam o querido, se houvessem previsto a nulidade. Ainda, nos termos do

Enunciado 537: “A previsão contida no artigo 169 não impossibilita que, excepcionalmente,
negócios jurídicos nulos produzam efeitos a serem preservados quando justificados por

interesses merecedores de tutela.”

8.2.4 Anulabilidade dos Negócios Jurídicos (nulidade relativa)

A anulabilidade (nulidade relativa) é sanção mais branda ao negócio jurídico. Encontra-


se prevista no artigo 171 do CC (cujo rol é exemplificativo):

“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o


negócio jurídico:
I – por incapacidade relativa do agente;
II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão
ou fraude contra credores.”

25
Prezando pela boa-fé, que deve regular os atos da vida civil, se o menor, entre

dezesseis e dezoito anos invocou dolosamente sua idade para celebrar negócio jurídico, não
poderá utilizar-se de sua incapacidade relativa, como forma de eximir-se de sua obrigação.

É importante registrar que a anulação é concedida a pedido do interessado. Não cabe

ao MP intervir nessas ações devido a sua natureza privada.

O ato ou negócio anulável é imperfeito, mas seu vício não é tão grave para que haja
interesse público em sua declaração. Desse modo, a lei oferece alternativa ao interessado, que

pode conformar-se com o ato, tal como foi praticado, sendo certo que sob essa situação o
ato terá vida plena (artigo 172 a 174 CC).

O negócio jurídico produz efeitos até ser anulado. Os efeitos da anulação passam a

correr a partir do decreto anulatório, não retroage (tem efeitos ex nunc). Além disso, a
anulação dependerá sempre de sentença e não poderá ser pronunciada de ofício (artigo 177

CC).

Até que seja proferida a sentença anulatória, o negócio anulável gera efeitos jurídicos o
que se convencionou chamar de eficácia INTERIMÍSTICA.

O que é a eficácia interimística? Sinônimo de provisória, expressa uma produção de efeitos


jurídicos de natureza interina, podendo, no entanto, tornar-se definitiva com a realização de

determinados fatores como, por exemplo, o negócio jurídico subordinado à condição


resolutiva, que pode tanto se desfazer na hipótese de inocorrência do implemento ou se

tornar definitiva com a realização desta.

26
A anulabilidade deve ser impugnada dentro de prazos decadenciais declarados por lei

(artigo 178 e 179 CC).

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se


a anulação do negócio jurídico, contado:

I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou


lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;

III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável,


sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois
anos, a contar da data da conclusão do ato.

Na forma do artigo 179, toda vez que o legislador disser que tal ato é anulável, sem

estabelecer prazo, este será de dois anos.

Os negócios jurídicos anuláveis podem convalescer (ser sanados) por duas razões,
tornando-se assim eficazes: primeiramente, pelo decurso do tempo, pois os atos anuláveis

têm prazo de prescrição ou decadência mais ou menos longos; decorrido o lapso prescricional
ou decadencial, o ato ou negócio torna-se perfeitamente válido. Lembrando que há

ratificação presumida do ato, quando o interessado que podia impugná-lo não o faz. A
segunda possibilidade de convalescimento do negócio anulável é a ratificação (ou

confirmação). Ao contrário do que ocorre com o negócio nulo, o negócio anulável pode ser
ratificado, confirmado.

Ratificar ou confirmar é dar validade a ato ou negócio que poderia ser desfeito por

decisão judicial. Por meio da ratificação, há renúncia à faculdade de anulação. Essa


confirmação poderá ser expressa ou tácita.

27
Será expressa quando houver declaração do interessado que estampe a substância do

ato, com intenção manifesta de torná-lo isento de causa de anulação. A confirmação tácita é
permitida quando o negócio já foi cumprido em parte e o devedor estava ciente do vício.

O que é a “CONVERSÃO” do negócio jurídico inválido?

É uma forma de aproveitamento do negócio jurídico inválido (nulo ou anulável), é


uma medida sanatória do negócio inválido, uma medida que visa saná-lo. Na forma do artigo

170 CC, o ordenamento jurídico brasileiro, consagra a conversão do negócio jurídico inválido:
trata-se de uma medida sanatória por meio da qual se aproveitam os elementos materiais de

um negócio nulo ou anulável, convertendo-o em outro negócio de fins lícitos.

Na conversão não se está confirmando o mesmo negócio, está se aproveitando os


elementos materiais de tal negócio, transformando-o em OUTRO negócio, então válido. O

juiz retira da categoria A em que ele é inválido e o transforma em categoria B (válido),


aproveitando os elementos materiais do negócio (suporte fático), conforme a vontade das

partes, que se pudessem previr a nulidade o teriam feito deste modo.

Exemplo: a conversão de uma compra e venda NULA por vício de forma (escritura
pública) em promessa de compra e venda.

8.3 Da prova do negócio jurídico

O Código Civil trata da prova do negócio jurídico no último título da sua Parte Geral.

28
Em termos processuais, o Brasil segue o sistema da persuasão racional ou do livre

convencimento motivado. O juiz pode analisar as provas apresentadas e formar o seu


convencimento de maneira livre, mas deve fundamentar todas suas decisões no processo.

Veja o que reza o art. 371 do Código de Processo Civil:

Art. 371, CPC. “O juiz apreciará a prova constante dos autos,


independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará,
na decisão as razões da formação de seu convencimento”.

A análise da apreciação das provas pelo magistrado e do ônus da prova de cada parte
será melhor tratada em Processo Civil. Na nossa matéria estudaremos como o negócio jurídico

pode ser provado.

Tal tema está regulado em lei com vias de uma maior segurança nas relações jurídicas.
Inclusive, o direito à prova é um direito subjetivo, que pode ser depreendido do direito

subjetivo de ação (artigo 5º, incisos XXXIV e XXXV, CF). Como há o direito de iniciar o
processo e obter a prestação jurisdicional, nota-se o direito subjetivo de provar os fatos

alegados em juízo.

Questões sobre prova do negócio jurídico não costumam ter muita incidência na prova
de Direito Civil. Assim, recomendamos que o aluno apenas leia os artigos do Código Civil que

destacaremos abaixo.

 Art. 212. Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser
provado mediante:
I - confissão;
II - documento;
III - testemunha;
IV - presunção;
V - perícia.
 Art. 213. Não tem eficácia a confissão se provém de quem não é capaz de dispor do
direito a que se referem os fatos confessados.

29
Parágrafo único. Se feita a confissão por um representante, somente é eficaz nos
limites em que este pode vincular o representado.
 Art. 214. A confissão é irrevogável, mas pode ser anulada se decorreu de erro de fato
ou de coação.
 Art. 215. A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé
pública, fazendo prova plena.
 Art. 218. Os traslados e as certidões considerar-se-ão instrumentos públicos, se os
originais se houverem produzido em juízo como prova de algum ato.
 Art. 219. As declarações constantes de documentos assinados presumem-se
verdadeiras em relação aos signatários.
Parágrafo único. Não tendo relação direta, porém, com as disposições principais ou com
a legitimidade das partes, as declarações enunciativas não eximem os interessados em
sua veracidade do ônus de prová-las.
 Art. 220. A anuência ou a autorização de outrem, necessária à validade de um ato,
provar-se-á do mesmo modo que este, e constará, sempre que se possa, do próprio
instrumento.
 Art. 221. O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por quem
esteja na livre disposição e administração de seus bens, prova as obrigações
convencionais de qualquer valor; mas os seus efeitos, bem como os da cessão, não se
operam, a respeito de terceiros, antes de registrado no registro público.
Parágrafo único. A prova do instrumento particular pode suprir-se pelas outras de
caráter legal.
 Art. 223. A cópia fotográfica de documento, conferida por tabelião de notas, valerá
como prova de declaração da vontade, mas, impugnada sua autenticidade, deverá
ser exibido o original.
Parágrafo único. A prova não supre a ausência do título de crédito, ou do original,
nos casos em que a lei ou as circunstâncias condicionarem o exercício do direito à sua
exibição.
 Art. 226. Os livros e fichas dos empresários e sociedades provam contra as pessoas a
que pertencem, e, em seu favor, quando, escriturados sem vício extrínseco ou
intrínseco, forem confirmados por outros subsídios.

30
 Parágrafo único. A prova resultante dos livros e fichas não é bastante nos casos em
que a lei exige escritura pública, ou escrito particular revestido de requisitos especiais,
e pode ser ilidida pela comprovação da falsidade ou inexatidão dos lançamentos.
 Art. 227. (revogado)
IMPORTANTE! Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a prova
testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova por escrito.
 Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II - Revogado
III - Revogado
IV - o interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes;
 V - os cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau
de alguma das partes, por consanguinidade, ou afinidade.
§ 1 o Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o depoimento
das pessoas a que se refere este artigo.
§ 2 o A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições com
as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de tecnologia assistiva.
 Art. 231. Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá
aproveitar-se de sua recusa.
 IMPORTANTE! Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a
prova que se pretendia obter com o exame.

31
QUADRO SINÓTICO

DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO


VÍCIOS DA O defeito está na formação da vontade (vontade interna)
VONTADE OU DO e o prejudicado é um dos contratantes
CONSENTIMENTO
O erro é a falsa percepção da realidade.
O erro, para anular o negócio, segundo a doutrina clássica,
deve ser substancial e escusável (desculpável).
Erro substancial ou Erro substancial: torna anulável o negócio jurídico.
ignorância Erro acidental: não torna anulável o negócio jurídico.
Erro de direito: ficando claro a boa-fé da parte, ela pode
invocar o erro de direito para invalidar o negócio,
devendo ser este o motivo único e principal do negócio.
É um erro provocado, ou seja, uma das partes é enganada,
há um ardil, um engodo.
 Se o dolo for principal (essencial), anulará o negócio
jurídico (artigo 145).
 Se o dolo for acidental (artigo 146), ou seja, não é
Dolo (arts. 145 a determinante do negócio jurídico, não o anula, mas a
150, CC) parte que agiu com dolo responderá pelo pagamento
das perdas e danos dele decorrentes.
O silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato
ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui
omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não
se teria celebrado.
Ocorre quando a declaração de vontade foi praticada após
séria ameaça da parte contrária (ou de terceiro), que incuta
Coação (arts. 151 a no paciente o temor de dano iminente à sua pessoa, sua
155, CC) família ou a seus bens. É uma violência psicológica.
Não se considera coação a ameaça do exercício normal
de um direito, nem o simples temos reverencial.

32
Na coação de terceiro (artigo 154 e 155 CC), caso o
beneficiário soubesse ou tivesse como saber, o negócio é
anulado respondendo solidariamente com o coator pelas
perdas e danos.
Ocorre lesão quando uma pessoa, sob premente
necessidade, ou por inexperiência, assume prestação
manifestamente desproporcional ao valor da prestação
oposta.
 2 elementos da lesão: objetivo, que é a desproporção
Lesão (art. 157, CC) entre as prestações; subjetivo: abuso da necessidade ou
inexperiência da outra parte.
 Convalidação da lesão: não será decretada a anulação
do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou
se a parte favorecida concordar com a redução do
proveito.
Ocorre estado de perigo quando alguém, premido da
necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de
grave dano material ou moral, conhecido pela outra parte,
Estado de perigo assume obrigação excessivamente onerosa.
(art. 156, CC)  IMPORTANTE: Exige-se o DOLO DE APROVEITAMENTO,
ou seja, o conhecimento da parte acerca da situação da
outra.

O defeito está na manifestação da vontade (vontade


VÍCIOS SOCIAIS
externa) e o prejudicado é sempre um terceiro.
É um ato negocial que reduz o patrimônio do devedor,
prejudicando o credor anterior.
Os atos fraudulentos gratuitos dispensam a prova de má-
Fraude contra fé, exigindo-se apenas o prejuízo do credor, já os
credores (arts. 158 a onerosos exigem o conluio fraudulento e o prejuízo do
165, CC) credor. O conluio fraudulento é presumido se a insolvência
for notória ou houvesse motivo para ser conhecida pelo
outro contratante.

33
 Ação pauliana ou ação revocatória: ação de defesa para
fraude contra credores. Deverá ser proposta contra o
devedor, a pessoa que celebrou o negócio jurídico
com ele e o terceiro de má-fé. Trata-se de um
litisconsórcio passivo necessário.
 A legitimidade ativa dessa ação é do credor
preexistente.
 Caso e o terceiro esteja de boa-fé em negócio
jurídico oneroso, ele não sofrerá os efeitos da
sentença pauliana.
 Se não for o caso de convalidação, a anulação
poderá ser pleiteada no prazo de quatro anos
(prazo decadencial).

Na simulação celebra-se um negócio jurídico que tem


aparência normal, mas que não pretende atingir o efeito
que juridicamente deveria produzir. Há um desacordo
entre a vontade declarada e a vontade interna.
 O único vício que enseja a NULIDADE (e não a anulação)
do negócio jurídico é a SIMULAÇÃO.
 Simulação ABSOLUTA: celebra-se um negócio jurídico
aparentemente normal, MAS que não visa a produzir
efeito jurídico algum.
Simulação  Simulação RELATIVA (dissimulação): celebra-se um
negócio jurídico com o objetivo de, como uma máscara,
encobrir outro negócio de efeitos jurídicos proibidos.
 Na simulação os contratantes agem em conluio para
prejudicar terceiro. Na reserva mental o declarante não
age em conluio com a outra parte, pretendendo
prejudicá-lo. A simulação invalida o negócio jurídico e a
reserva mental não. Entretanto, se a outra parte tinha
conhecimento da reserva mental, o negócio jurídico será
nulo.
TEORIA DAS INVALIDADES

34
 negócios jurídicos inexistentes,
 nulos (nulidade absoluta) e
Níveis
 anuláveis (nulidade relativa).

Embora possua aparência material, o ato ou negócio jurídico


Inexistência do
não possui conteúdo jurídico. Na verdade o ato não se
NJ
formou para o direito.
Trata-se de vício que impede o ato de ter existência legal e
produzir efeito, em razão de não ter obedecido qualquer
requisito essencial. Sempre é causa de ordem pública.
 A sentença que decretar a nulidade vai retroagir (tem
efeito ex tunc) até a data de nascimento do ato viciado.
Causas de nulidade absoluta do NJ: for celebrado por pessoa
absolutamente incapaz; for ilícito, impossível ou
Nulidade indeterminável seu objeto; o motivo, comum a ambas as
absoluta do NJ partes for ilícito; não revestir das formas prescritas em lei; for
(art. 166, CC) preterida alguma solenidade que a lei considere essencial
para a sua validade; tiver por objeto fraudar a lei imperativa; a
lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática,
sem cominar sanção; e a simulação.

 O negócio jurídico nulo não está sujeito à confirmação


e nem convalesce (artigo 169) com o decurso do
tempo.

A anulabilidade (nulidade relativa) é sanção mais branda ao


negócio jurídico - prevista no artigo 171 do CC, cujo rol é
exemplificativo:
Nulidade relativa I - por incapacidade relativa do agente;
do NJ – II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de
anulabilidade perigo, lesão ou fraude contra credores.
(art. 171, CC) Os efeitos da anulação passam a correr a partir do decreto
anulatório, que não retroage (tem efeitos ex nunc). Além
disso, a anulação dependerá sempre de sentença e não poderá
ser pronunciada de ofício (art. 177 CC).

35
Até que seja proferida a sentença anulatória, o negócio
anulável gera efeitos jurídicos o que se convencionou chamar
de eficácia INTERIMÍSTICA.
A anulabilidade deve ser impugnada dentro de prazos
decadenciais declarados por lei (arts. 178 e 179 CC).
“Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para
pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:
Prazos I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
decadenciais II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de
para a nulidade perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio
relativa ser jurídico;
impugnada III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a
incapacidade”.
Na forma do artigo 179, toda vez que o legislador disser que
tal ato é anulável, sem estabelecer prazo, este será de dois
anos.

36
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(AOCP - Prefeitura de Juiz de Fora - MG - Procurador Municipal - 2016) Segundo o que

dispõe o Código Civil Brasileiro, “quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação

oposta”, ocorre
a) dolo.
b) lesão.

c) coação.
d) erro ou ignorância.

e) estado de perigo.

Comentário:

Aluno, muitas questões de prova são como a presente. Cobram o conceito dos diferentes
defeitos dos negócios jurídicos. Vejamos os comentários acerca das alternativas.

GABARITO: B

A) Incorreta. O vício elencado no enunciado, trata da hipótese de lesão, dispensando-se a


verificação do dolo (artifício ardiloso empregado para enganar alguém, com intuito de
benefício próprio), ou má-fé, da parte que se aproveitou. E conforme prevê o artigo 145, do
Código Civil, são os negócios jurídicos anuláveis por dolo, somente quando este for a sua

causa.

B) Correta. De acordo com o Art. 157, ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente
necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional

ao valor da prestação oposta.

37
Veja que a lesão, constitui-se então como um vício de consentimento decorrente do

abuso praticado em situação de desigualdade de um dos contratantes, por estar sob


premente necessidade, ou por inexperiência, se obrigando a prestação manifestamente

desproporcional ao valor da prestação oposta.

C) Incorreta. A alternativa está incorreta pois o vício elencado no enunciado, trata da hipótese
de lesão, e não de coação, cujo tratamento é dado no artigo 151 do CC: “Art. 151. A coação,

para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de
dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Parágrafo único.
Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas

circunstâncias, decidirá se houve coação.”


Perceba que a coação pode ser conceituada como uma pressão física ou moral

exercida sobre o negociante, visando obrigá-lo a assumir uma obrigação que não lhe
interessa.

D) Incorreta. A alternativa está incorreta, pois o vício elencado no enunciado, trata da

hipótese de lesão, e não de erro ou ignorância, cujo tratamento é dado nos artigos 138 e
seguintes do CC:
 “Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade
emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência
normal, em face das circunstâncias do negócio.
 Art. 139. O erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das
qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a
declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou
principal do negócio jurídico.
 Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão
determinante”.

38
E) Incorreta. A alternativa está incorreta, pois o vício elencado no enunciado, trata da hipótese

de lesão, e não do estado de perigo, cujo tratamento é dado no artigo 156 do CC:
 “Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de
salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte,
assume obrigação excessivamente onerosa.
Verifique então, que de acordo com o art. 156 do CC, haverá estado de perigo toda vez que o
próprio negociante, pessoa de sua família ou pessoa próxima estiver em perigo, conhecido da

outra parte, sendo este a única causa para a celebração do negócio.

Questão 2

(FCC - TJMS - Juiz Substituto - 2020) Verificando a condição culturalmente baixa de José

Roberto, lavrador em Ribas do Rio Pardo, Glauco Silva adquire sua propriedade agrícola por
R$ 500.000,00, quando o valor de mercado era o de R$ 2.000.000,00. A venda se deu por
premente necessidade financeira de José Roberto. Essa situação caracteriza

a) erro por parte de José Roberto, em função de sua inexperiência e premente necessidade,
anulando-se o negócio jurídico, sem convalidação por se tratar de erro substancial.

b) estado de perigo, pela premente necessidade de José Roberto, que o fez assumir prejuízo
excessivamente oneroso, anulando-se o negócio jurídico, sem possibilidade de convalidação.

c) dolo de oportunidade de Glauco Silva, anulando-se o negócio jurídico por ter sido a
conduta dolosa a causa da celebração do negócio jurídico, podendo este ser convalidado

somente se for pago o valor correto, de mercado, pelo imóvel.


d) lesão, pela manifesta desproporção entre o valor do bem e o que foi pago por ele, em
princípio anulando-se o negócio jurídico, salvo se for oferecido suplemento suficiente por

Glauco Silva, ou se este concordar com a redução do proveito.


e) tanto lesão como estado de perigo, nulificando-se o negócio jurídico pela gravidade da

conduta, sem possibilidade de ratificação ou convalidação pela excessiva onerosidade a José


Roberto.

Comentário:

39
Aluno, essa questão aplica os conceitos estudados a um caso concreto.

O gabarito é a alternativa D.

A) Incorreta. Erro é a falsa noção da realidade, sendo considerado um vício de consentimento,


que gera a anulabilidade do negócio jurídico quando for substancial (art. 139 do CC). Exemplo:

a pessoa compra uma bijuteria, mas pensa estar comprando uma joia. Já o erro acidental recai
sobre qualidades secundárias do negócio, de maneira que não gera efetivo prejuízo.

O legislador, ao tratar da matéria nos arts. 138/144 do CC, de fato, não fala da
possibilidade de convalidação do negócio jurídico, mas é o que acontece, no final das contas,
se o negócio jurídico não for anulado. Diante do negócio jurídico realizado com vício de

consentimento (erro, dolo, lesão, coação e estado de perigo), surge para a parte prejudicada o
direito potestativo de propor ação anulatória dentro do prazo decadencial de 4 anos (art. 178

do CC). E se ela não exercer este direito dentro do prazo decadencial? O vício convalesce,
morre com o decurso do tempo. Desta forma, o negócio jurídico não terá sido anulado, mas

convalidado.
Não é à toa que há autores que preferem utilizar a expressão “convalidação" para

caracterizar o convalescimento do ato anulável por força do decurso do tempo, como é o


caso do Marcos Bernardes de Mello.

B) Incorreta. “Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de


salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume
obrigação excessivamente onerosa" (art. 156 do CC). Exemplo: alguém que tem uma pessoa
de sua família sequestrada, tendo sido fixado como resgate o valor de R$ 10.000,00. Um

terceiro, tendo conhecimento do fato, oferece para pessoa justamente esse valor por uma joia,
cujo valor gira em torno de R$ 50.000,00. O negócio é realizado, pois a pessoa estava movida

pelo desespero.
De acordo com o § 2º do art. 157, não se decretará a anulação do negócio jurídico caso
seja oferecido suplemento suficiente ou se a parte favorecida concordar com a redução do
proveito. Tal previsão é referente à lesão, mas a doutrina, em consonância com o princípio
da conservação do negócio jurídico, entende que esse dispositivo legal deve ser aplicado,
40
também, ao estado de perigo e é nesse sentido que temos o Enunciado 148 do CJF: “Ao

estado de perigo (art. 156 do CC) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2º do art. 157".
Assim, é possível a sua convalidação.

C) Incorreta. Dolo nada mais é do que induzir alguém a erro, o que não ocorreu no caso

narrado.

D) Correta. “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação
oposta" (art. 157 do CC).

Percebam que o legislador exige dois elementos para a sua configuração: a premente
necessidade ou inexperiência, elemento subjetivo (necessidade financeira de José Roberto),

e a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta, elemento


objetivo (o comprador pagou R$ 500.000,00, quando o valor de mercado era o de R$

2.000.000,00).
De acordo com o art. 157, § 2º do CC, “não se decretará a anulação do negócio, se for

oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do


proveito", em conformidade com o Princípio da Conservação do Negócio Jurídico.
Em complemento, temos o Enunciado 149 do CJF: “Em atenção ao princípio da

conservação dos contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à
revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar
os contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2º, do Código Civil de 2002".

E) Incorreta. A situação não caracteriza estado de perigo, mas lesão. Os vícios de


consentimento não geram a nulidade, mas a anulabilidade do negócio jurídico. Os vícios que

geram a nulidade são bem mais graves, por ofenderem preceito de ordem pública, não
convalescendo pelo decurso do tempo (art. 169 do CC). Já os vícios que geram a
anulabilidade, não são considerados tão graves, por envolverem os interesses das partes.

41
Questão 3

(CESPE - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto - 2019) Dino, pai de três filhos e atualmente em

seu segundo casamento, resolveu adquirir um imóvel, em área nobre de Salvador, para com
ele presentear o caçula, único filho da sua atual união conjugal. A fim de evitar eventuais
problemas com os outros dois filhos, tidos em casamento anterior, Dino decidiu fazer a

seguinte operação negocial:

• vendeu um dos seus cinco imóveis e, com o dinheiro obtido, adquiriu o imóvel para o filho
caçula; e

• colocou na escritura pública de venda e compra, de comum acordo com os vendedores do


referido imóvel, o filho caçula como comprador do bem.

Alguns meses depois, os outros dois filhos tomaram conhecimento das transações realizadas e

resolveram ajuizar ação judicial contra Dino, alegando que haviam sofrido prejuízos.

Nessa situação hipotética, conforme a sistemática legal dos defeitos e das invalidades dos
negócios jurídicos, os dois filhos prejudicados deverão alegar, como fundamento jurídico do

pedido, a ocorrência de

a) reserva mental, também conhecida como simulação unilateral, que deve ensejar a
declaração de inexistência do negócio jurídico de venda e compra e o retorno das partes

ao status quo ante.

b) causa de anulabilidade por dolo, vício de vontade consistente em artifício, artimanha,


astúcia tendente a viciar a vontade do destinatário ou de terceiros.

c) simulação relativa, devendo ser reconhecida a invalidade da venda e compra e declarada a

validade da doação, que importará adiantamento da legítima.

d) simulação absoluta, devendo ser reconhecida a invalidade da venda e compra e da doação,


com retorno ao status quo ante.

42
e) simulação relativa, devendo ser reconhecida a invalidade da compra e venda e declarada a

validade da doação, o que, contudo, não implicará adiantamento da legítima.

Comentário:

Entende-se por simulação uma declaração enganosa de vontade, visando produzir


efeito diverso do ostensivamente indicado. A simulação pode ser absoluta ou relativa. Na

primeira, as partes realizam um negócio jurídico destinado a produzir efeito jurídico algum. Na
segunda (relativa) as partes criam um negócio com finalidade de encobrir outro negócio
jurídico que produzirá efeitos proibidos na lei (doação de um bem para a amante, por

exemplo). No caso concreto, é clara a presença da simulação relativa, também chamada de


dissimulação.

A simulação, conforme estudamos neste capítulo, é uma das hipóteses de nulidade do


negócio jurídico, expressa no artigo 167 do CC. Trata-se de um ato fictício praticado para

encobrir outro. Para se configurar a simulação é necessário ter havido a intenção de praticar
ato diverso do que é praticado e a finalidade de enganar, seja fraudando a lei, ou

prejudicando ou beneficiando terceiros. No caso em tela, temos uma aparente compra e


venda que foi simulada para encobrir uma doação.
A lei determina que apesar de nulo o negócio simulado, subsistirá o dissimulado se
válido for na substância e na forma, aplicando-se, quando possível, princípio da conservação
dos negócios jurídicos. Por isso, deve ser reconhecida a invalidade da venda e compra e

declarada a validade da doação. Por fim, tal doação válida do pai ao filho caçula em
detrimento dos demais herdeiros configura adiantamento de legítima, conforme previsão do

art. 544 do CC. Portanto, mostra-se correta a alternativa C.

Não se trata de dolo, como apresenta a assertiva B, uma vez que neste vício de
vontade, há uma artimanha ou manobra para efetuar uma declaração de vontade que não
seria emitida, se o declarante não tivesse sido enganado. No caso em tela, houve comum
acordo entre o real comprador e os vendedores do referido imóvel. A reserva mental, presente
na alternativa A, também não corresponde ao que está informado na questão. A existência de

43
um acordo de vontades distingue a simulação da reserva mental. Essa segunda se caracteriza

pela situação em que o declarante manifesta vontade para realização de um negócio que não
deseja, mas sem o consentimento da outra parte, conforme art. 110 CC.

Questão 4

(CESPE – PGE-AM – Manaus - Procurador do Município – 2018) À luz das disposições do

direito civil pertinentes ao processo de integração das leis, aos negócios jurídicos, à prescrição
e às obrigações e contratos, julgue o item a seguir.

Será viável a anulação de transmissão gratuita de bens por caracterização de fraude contra
credores, ainda que a conduta que se alegue fraudulenta tenha ocorrido anteriormente ao

surgimento do direito do credor.


a) Certo

b) Errado

Comentário:

O item está errado, portanto o gabarito é a letra B.

A fraude contra credores é um vício social, que gera a anulabilidade do negócio


jurídico, com previsão no art. 158 e seguintes do CC, podendo ser conceituada como a

atuação maliciosa do devedor, em estado de insolvência ou na iminência de assim tornar-


se, que dispõe de maneira gratuita ou onerosa o seu patrimônio, para afastar a

possibilidade de responderem os seus bens por obrigações assumidas em momento anterior à


transmissão. Exemplo: o vencimento das dívidas encontra-se próximo e o devedor aliena os

seus bens ao terceiro, que está ciente do estado de insolvência do alienante.


Em regra, a fraude contra credores, é formada por um elemento subjetivo (conluio

fraudulento), que é a intenção de prejudicar credores, e um elemento objetivo, que é atuar


em prejuízo dos credores.

44
Nos atos de disposição gratuita de bens ou de remissão de dívida, o art. 158

dispensa a presença do elemento subjetivo, pois a má-fé é presumida. No entanto, de


acordo com o § 2º do art. 158, “SÓ OS CREDORES QUE JÁ O ERAM AO TEMPO DAQUELES

ATOS podem pleitear a anulação deles". Percebam que o legislador exige que o ATO DE
TRANSMISSÃO DO BEM SEJA POSTERIOR À CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO, pois, do

contrário, não há que se falar em fraude contra credores.


Assim, encontra-se errado o item do enunciado ao afirmar que a fraude contra credores

pode ocorrer mesmo antes do surgimento do direito do credor.


Para complementar, lembre-se do Enunciado 292 do CJF, que trata da matéria: “Para os
efeitos do art. 158, § 2º, a anterioridade do crédito é determinada pela causa que lhe dá

origem, independentemente de seu reconhecimento por decisão judicial".

Questão 5

(CESPE - TJ-SC - Juiz de Direito Substituto - 2019) A declaração enganosa de vontade que

vise à produção, no negócio jurídico, de efeito diverso do apontado como pretendido consiste
em defeito denominado

a) simulação.

b) erro.

c) dolo.

d) lesão.

e) reserva mental.

Comentário:

Gabarito: alternativa A

45
a) Correta. Na simulação há um descompasso entre ser e querer. A vontade do sujeito é

velada, dando lugar a um negócio jurídico que cria efeitos jurídicos não pretendidos
(simulação) ou mascara fatos verdadeiros (dissimulação). A vontade é sub-repticiamente

omitida para que se forjem efeitos jurídicos que, de outro modo, não surgiriam.

b) Incorreta. O erro é uma falsa percepção da realidade, influenciando na celebração de


negócio jurídico, dizendo respeito (i) à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração

ou a alguma das qualidades a ele essenciais, (ii) à identidade ou qualidade essencial da pessoa
a quem se refira a declaração de vontade ou (iii) ao motivo único ou principal do negócio

jurídico (caso em que não deve implicar recusa à aplicação da lei). Incorrendo o agente em
falsa percepção em qualquer destas três, haverá erro.

c) Incorreta. O dolo é compreendido como a atuação da contraparte ou de terceiros, ambos

de má-fé, que, enganando o sujeito, o induz a celebrar determinado negócio jurídico. Não há
declaração enganosa de vontade; a declaração das partes é legítima, embora a declaração do

lesado tenha sido ilegitimamente induzida.

d) Incorreta. O descrito no enunciado nada tem a ver com o instituto da lesão lesão. Veja o
texto do art. 157, CC: “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou

por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da


prestação oposta”.

e) Incorreta. A reserva mental não é defeito do negócio jurídico, não estando prevista como tal no
Capítulo IV do Código Civil. Os defeitos dos negócios jurídicos são: erro, dolo, coação, lesão, estado de
perigo, fraude contra credores. A simulação é causa de invalidade do negócio jurídico.

A reserva mental é aquilo que não se declara, existindo apenas na mente de quem celebra
um negócio jurídico. Trata-se, portanto, de uma reserva silenciosa e oculta.

Questão 6

(FCC - DPE-SP - Defensor Público - 2019) Sobre os defeitos do negócio jurídico, é correto
afirmar:
46
a) O negócio jurídico celebrado com simulação é anulável mesmo sem ter causado prejuízos a

terceiros.

b) O dolo acidental não anula o negócio jurídico e, portanto, não gera direito à indenização.

c) Desde que escusável, é anulável o negócio jurídico por erro in negotio, in persona e in

corpore.

d) O negócio jurídico celebrado com coação é nulo mesmo que a coação seja praticada por
terceiro.

e) A lesão pode anular o negócio jurídico ainda que a desproporção das prestações se

manifeste posteriormente à celebração do negócio.

Comentário:

Gabarito: alternativa C

a) Incorreta. A simulação torna o negócio NULO, e não anulável. Veja o que dispõe o art.
167, CC: “É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido
for na substância e na forma”.

b) Incorreta. Conforme o art. 146, CC, o dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e
danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro
modo. Portanto, incorreta a alternativa ao afirmar que o dolo acidental não gera direito à

indenização.

c) Correta. O erro é a falsa percepção da realidade e, para que gere a anulabilidade do


negócio jurídico, ele deve ser substancial.

No erro “in negotio", previsto no inciso I do art. 139, a parte manifesta a sua vontade
supondo celebrar determinado negócio jurídico, mas, na verdade, realiza outro diferente,
como acontece, por exemplo, com a pessoa que empresta uma coisa e a outra pensa que

houve uma doação.

47
O erro “in persona", previsto no inciso II, diz respeito à identidade ou à qualidade

essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade relevante. No erro “in corpore",
previsto no inciso I, a manifestação de vontade incide sobre objeto diferente daquele que o

agente tinha em mente, como comprar um terreno situado em uma rua conhecida, valorizada,
quando, na verdade, o terreno localiza-se em uma rua com o mesmo nome, só que em outro

município, bem desvalorizado.

Todos esses erros acima mencionados são substanciais.

Além de substancial, deve o erro ser escusável, desculpável, justificável, que é o erro
cometido pelo homem médio, que atua com grau normal de diligência. É o que se

depreende da leitura no art. 138, CC, quando o legislador diz que é anulável o negócio
jurídico quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser

percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

Dessa forma, mostra-se correto o afirmado na assertiva C.

Para complementar, vale ressaltar o Enunciado 12 do CJF: “na sistemática do art. 138, é
irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança".

d) Incorreta. Coação é um vicio de consentimento, que gera a anulabilidade e não a

nulidade do negócio jurídico. Pode ser conceituada como pressão física ou moral exercida
sobre o negociante, visando obriga-lo a assumir uma obrigação que não lhe interessa.

Ainda que praticada por terceiros, a coação enseja a anulação do negócio jurídico,
mas desde que dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta
responderá solidariamente com aquele por perdas e danos (art. 154 do CC).

e) Incorreta. Diz o legislador, no art. 157 do CC, que “ocorre a lesão quando uma pessoa, sob

premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente


desproporcional ao valor da prestação oposta". O exemplo dado pela doutrina é do

empregador que coloca à disposição de seus empregados mercadorias, no próprio local de


trabalho, com preços bem superiores aos praticados no comércio. De acordo com o § 1º do

48
referido dispositivo legal, “aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores

vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico”.

Portanto, de acordo com o art. 157, §1º, CC, a alternativa encontra-se incorreta pois a
desproporção deve evidenciar-se ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico, e não

posteriormente.

Questão 7

(VUNESP - TJ-SP - Juiz Substituto - 2018) Um enfermo, detentor de boa situação financeira

e colecionador de relógios valiosos, cujos preços alardeava, contratou um cuidador que,


depois de ganhar a confiança do patrão, e na ausência da família deste, exigiu que lhe

vendesse por R$ 1.000,00 um relógio avaliado em R$ 15.000,00, sob a ameaça de trocar os


medicamentos que ministrava, agravando a saúde do doente, que já piorara, podendo levá-lo

à morte. Um mês depois, adquirido o relógio pelo valor exigido, abandonou o emprego. Esse
negócio jurídico poderá ser anulado por

a) coação, no prazo decadencial de quatro anos, contado do dia em que ela cessar.

b) erro, no prazo decadencial de dois anos, contado a partir da realização do negócio.

c) dolo, no prazo decadencial de dois anos, desde o abandono do emprego.

d) lesão, no prazo decadencial de quatro anos, contado a partir da realização do negócio.

Comentário:

Gabarito: alternativa A

Trata-se, no caso narrado, de evidente coação realizada pelo cuidador.

De acordo com o art. 151, caput, CC, “a coação, para viciar a declaração da vontade, há
de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua
pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

49
É preciso dizer que a coação deve ser o fator determinante para a realização do ato,

isto é, a vítima não o realizaria caso não fosse intimidada, pouco importando se o negócio
em si é prejudicial ou inviável para a vítima, exatamente como ocorrido no caso em tela.

O prazo decadencial de quatro anos, contado a partir do dia em que a coação cessar

está correto, conforme o que determina o art. 178, I CC: “é de quatro anos o prazo de
decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado: I - no caso de coação,

do dia em que ela cessar;”.

Quando à assertiva B, cabe mencionar que o erro ou ignorância (arts. 138 a 144 do
Código Civil) consiste no defeito do negócio jurídico pelo qual a vontade do agente é

manifestada a partir de uma falsa percepção da realidade, o que não se encaixa com a
hipótese do caso concreto. Ademais, também está errado o prazo decadencial para a

anulação, que é de quatro anos (e não de dois), conforme o artigo 178, II, CC.

Quando à assertiva C, o dolo (arts. 145 a 150 do Código Civil) é o defeito do negócio
jurídico em que uma das partes utiliza-se de uma manobra ardilosa (comissiva ou omissiva)

com o fim de enganar a vítima, induzindo-a à prática do ato. Também


será anulável, sujeitando-se ao prazo de 4 anos a contar da realização do negócio (arts. 171,

II e art. 178, II). Assim, tanto incorreto afirmar que o prazo para anulação é de dois anos a
contar do abandono do emprego, quanto que se enquadra no caso analisado.

A lesão (art. 157 do Código Civil) ocorre quando alguém, por inexperiência ou sob

premente necessidade, assume prestação manifestamente desproporcional à prestação


oposta, o que não ocorreu no caso em tela, logo, a afirmativa D é falsa.

Não obstante, de fato o prazo para pleitear a anulação do negócio viciado pela lesão é

de 4 anos a contar da sua realização (arts. 171, II e 178, II).

Questão 8

50
(Fundação CEFET-Bahia - MPE-BA - Promotor de Justiça - 2018) A respeito dos vícios de

consentimento, observadas as disposições do Código Civil, é correto afirmar que

a) o erro acidental ou secundário acarreta a anulabilidade de um ato ou negócio jurídico.

b) o erro por desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias é causa eficiente

para a anulação do negócio jurídico.

c) todo ato doloso, independentemente da natureza e intensidade do dolo, é anulável.

d) a pressão psicológica ou ameaça exercida sobre uma pessoa, se atinge apenas seus bens,
não vicia o ato jurídico.

e) no estado de perigo, o ato jurídico é praticado independentemente do dolo de

aproveitamento e do perigo de dano grave.

Comentário:

Gabarito: alternativa B

a) Incorreta. O art. 138, CC dispõe que são anuláveis os negócios jurídicos, quando as
declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa

de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

O erro acidental ou secundário não acarreta a anulabilidade de um ato ou negócio


jurídico.

b) Correta. Essa alternativa também se baseia no art. 138, CC: “São anuláveis os negócios

jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser
percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio”.

c) Incorreta. Quando o dolo for a causa do negócio jurídico, tal negócio é anulável. Porém,

nem todo ato doloso será anulado, como no caso de ambas as partes procederem com
dolo.

51
 Art. 145, CC. “São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua
causa”.
 Art. 150. “Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para
anular o negócio, ou reclamar indenização”.

d) Incorreta. A pressão psicológica ou ameaça exercida sobre uma pessoa, ainda que atinja
apenas seus bens, vicia o ato jurídico. Veja o que dispõe o art. 151, CC: “A coação, para

viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano
iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens”.

e) Incorreta. No estado de perigo, o ato jurídico é praticado com dolo de aproveitamento,

que se traduz pelo conhecimento do grave dano por uma parte, e a outra parte assume
obrigação excessivamente onerosa. Veja o que reza o art. 156, CC: “Configura-se o estado de
perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de

grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa”.

Questão 9

(VUNESP - TJMT - Juiz Substituto - 2018) João é casado com Maria, sob o regime de

separação convencional de bens. Entretanto, ele possui uma concubina, chamada Rita.
Pretendendo dar um presente a esta última, João propõe a Paulo, pai de Rita, que este lhe

compre um apartamento (de propriedade exclusiva de João), por um preço irrisório, e o dê em


usufruto vitalício a Rita. Após o negócio, Paulo propôs a João que este lhe vendesse uma casa
na praia, também de sua exclusiva propriedade, pelo valor que entendesse justo. Apesar de
Paulo nunca ter ameaçado ou sequer insinuado que poderia contar a alguém a respeito do

negócio anterior, temendo que, se contrariasse Paulo, poderia ter o seu segredo revelado,
João vendeu a Paulo a casa na praia por metade de seu valor de mercado.

A respeito dos negócios narrados, é correto afirmar que

a) o contrato de compra e venda do apartamento é nulo, podendo ser declarada a nulidade a


qualquer tempo. O contrato de compra e venda da casa de praia é válido.

52
b) ambos os contratos são nulos. As nulidades não são suscetíveis de confirmação e não

convalescem pelo tempo, podendo ser declaradas a qualquer tempo.

c) o contrato de venda do apartamento é nulo, podendo ser declarado a qualquer tempo.


Diferentemente, o contrato de compra e venda da casa na praia é anulável, podendo ser

desconstituído num prazo de até 4 anos.

d) ambos os contratos são anuláveis. O prazo prescricional para sua anulação é de 4 anos,
contados da celebração dos negócios jurídicos, e somente Maria é legitimada para pleitear a

anulação da venda do apartamento.

e) o contrato de compra e venda do apartamento é anulável, podendo ser desconstituído num


prazo de até 4 anos. O contrato de compra e venda da casa de praia é válido.

Comentário:

Gabarito: alternativa A

A venda do apartamento é nula, já que feita por simulação, que se caracteriza por um

desacordo intencional entre a vontade interna e a declarada, no sentido de criar,


aparentemente, um ato jurídico que, de fato, não existe, ou então oculta, sob determinada

aparência, o ato realmente querido. No caso, ocorreu a hipótese do art. 167, §1º, I.

Entretanto, o segundo negócio jurídico é válido visto que Paulo nada fez para que João
temesse qualquer atitude sua, fazendo uma reserva mental e realizando o negócio jurídico

com Paulo. A reserva mental nada mais é do que uma declaração de vontade do agente,
resguardando, em seu íntimo, o desejo de não cumprir com o contrato. Veja o que dispõe o

art. 110, CC: “A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a
reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha
conhecimento”.

53
Questão 10

(CESPE - TJ-CE - Juiz Substituto - 2018) Maria decidiu alugar um imóvel de sua propriedade

para Ana, que, no momento da assinatura do contrato, tinha dezessete anos de idade. Nessa
situação hipotética, o contrato celebrado pelas partes é

a) nulo, uma vez que foi firmado por pessoa absolutamente incapaz, condição que pode servir

de argumento para Ana extinguir o contrato.

b) anulável, portanto, passível de convalidação, ressalvado direito de terceiros.

c) válido, desde que tenha sido formalizado por escritura pública, visto que tem por objeto um
imóvel.

d) nulo, porque Ana deveria ter sido representada por um de seus genitores.

e) válido, ainda que Ana não possua capacidade de direito para celebrar o contrato de

aluguel.

Comentário:

Gabarito: alternativa B

A resposta da questão está baseada nos artigos 171, I e 172, ambos do CC.

 Art. 171. “Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio
jurídico: I - por incapacidade relativa do agente;”
 Art. 172. “O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de
terceiro”.

Lembre-se que, se o contrato tivesse sido celebrado por absolutamente incapaz,

efetivamente seria nulo (art. 166, I, CC). Ocorre que Ana possuía dezessete anos de idade,
sendo relativamente incapaz, sendo o contrato apenas anulável.

Por último, cabe mencionar que ainda que a locação tenha por objeto bem imóvel, o

contrato não será realizado por escritura pública. A escritura pública somente é exigida, não

54
havendo disposição legal em contrário, para negócios jurídicos relativos a direitos

reais incidentes sobre imóveis com valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente
no país (art. 108, CC). A locação, por ser direito pessoal, não depende de escritura pública –

embora seja de bom tom registrar o contrato para que seja oponível a eventual terceiro
adquirente do imóvel.

55
GABARITO

Questão 1 - B

Questão 2 - D

Questão 3 - C

Questão 4 - B

Questão 5 - A

Questão 6 - C

Questão 7 - A

Questão 8 - B

Questão 9 - A

Questão 10 - B

56
QUESTÃO DESAFIO

Joaquim é dono de uma grande fazenda no Estado da Bahia e, em razão de

um problema de saúde da sua mãe, se vê obrigado a vendê-la o mais rápido

possível. Assim, Joaquim coloca à venda a fazenda avaliada em R$

5.000.000,00 (cinco milhões de reais) por R$ 500.000,00 (quinhentos mil


reais), visando obter, de forma rápida, valores necessários para o pagamento

do tratamento de saúde da sua mãe. Desse modo, pergunta-se: Caso um

comprador decida adquirir esse imóvel, mesmo sem a intenção de auferir um


ganho exagerado na compra e nem causar prejuízo ao vendedor, apenas

aproveitando o que considera um excelente negócio, esse negócio jurídico é


válido? Fundamente. Ademais, esse negócio jurídico pode ser convalidado?

Responda em até 5 linhas

57
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

De acordo com o art. 157 do CC, trata-se de um negócio jurídico com eivado pelo vício

da lesão, o que torna o negócio jurídico anulável. Quanto à possibilidade de convalidação,


o § 2º do art. 157 do CC prevê a sua possibilidade caso o comprador concorde em
suplementar o valor anteriormente pago.

Você deve ter abordado os seguintes pontos em sua resposta:

 Negócio jurídico anulável.

O art. 157 do CC fundamenta a ocorrência da lesão, vejamos: “Ocorre a lesão quando

uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação


manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. ” Nesses termos, a lesão

caracteriza-se pela conjugação de dois elementos. O primeiro, de natureza subjetiva, é o


constrangimento à vontade da parte declarante derivada de premente necessidade ou

inexperiência. É chamada dolo de aproveitamento. O segundo, de natureza objetiva, é a


desproporção manifesta entre a obrigação assumida pela parte declarante e a prestação
oposta, já que uma parte haverá de ter um lucro exagerado em detrimento do outro.

Ademais, o respeitável doutrinador Silvio de Salvo Venosa nos ensina o momento em


que se observado o requisito objetivo da lesão: “A desproporção das prestações deve ser
aferida no momento de contratar. Quando surge posteriormente ao negócio, é irrelevante,

pois, nessa hipótese, estaríamos no campo da cláusula rebus sic stantibus (teoria da
imprevisão). A desproporção do preço deve ser apurada pela técnica pericial, devidamente

ponderada pelo julgador.” (Venosa, Sílvio de Salvo. Código Civil interpretado; coautora Cláudia
Rodrigues. – 4. ed., – São Paulo: Atlas, 2019, p. 471).

 Art. 157, § 2º, do CC.

De acordo com o art. 157, § 2º, do CC: “Não se decretará a anulação do negócio, se for
oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do

proveito.” Sobre essa possibilidade de convalidação do negócio jurídico, o professor Fábio


58
Ulhoa Coelho aduz: “ se partir dela uma proposta de proporcionalização das prestações

negociais – por meio de suficiente suplemento do devido ou redução do proveito – ,


importando esta no reequilíbrio do negócio jurídico, preservar-se-á sua validade. Nessa

hipótese, deveras, desaparecido o elemento objetivo, descaracteriza-se a lesão.” (Coelho, Fábio


Ulhoa. Curso de direito civil: parte geral I, volume 1 – 2. ed. – São Paulo: Thomson Reuters

Brasil, 2020, p. 212).

Assim, a menos que o comprador concorde em pagar os R$ 4.500.000,00 (quatro


milhões e quinhentos mil reais) pelo imóvel, o negócio é anulado. Retornará o bem ao

patrimônio de Joaquim, que deve restituir os R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais) ao


comprador.

59
LEGISLAÇÃO COMPILADA

DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO E TEORIA DAS INVALIDADES

 Código Civil: Artigos 138 a 184.


Destaques: arts. 156, 157 e 158 a 165.

 Súmula 195, STJ

Em embargos de terceiro não se anula ato jurídico, por fraude contra credores.

 Súmula 375, STJ

O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-
fé do terceiro adquirente.

PROVA DO NEGÓCIO JURÍDICO

 Código Civil: Artigos 212 a 232.

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JURISPRUDÊNCIA

ERRO

 STJ. 3ª Turma. REsp 1330404-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 5/2/2015 (Info 555).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. 1. PREFACIAL. PRINCÍPIOS DA


CONCENTRAÇÃO DA DEFESA NA CONTESTAÇÃO E DA ADSTRIÇÃO. VIOLAÇÃO. NÃO OCORRÊNCIA. EMENDA DA
INICIAL, AQUIESCIDA PELA PARTE REQUERIDA, COM REITERAÇÃO DAS MATÉRIAS DE DEFESAS DESENVOLVIDAS
NO CURSO DO PROCESSO. 2. MÉRITO. DECLARANTE, SOB A PRESUNÇÃO PATER IS EST, INDUZIDO A ERRO.
VERIFICAÇÃO. RELAÇÃO DE AFETO ESTABELECIDA ENTRE PAI E FILHO REGISTRAIS CALCADA NO VÍCIO DE
CONSENTIMENTO ORIGINÁRIO. ROMPIMENTO DEFINITIVO. FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA. NÃO CONFIGURAÇÃO. 3.
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. Afigura-se absolutamente estéril a discussão afeta à observância ou não dos
princípios da eventualidade e da adstrição, notadamente porque a tese de paternidade socioafetiva, não trazida
inicialmente na contestação, mas somente após o exame de DNA, conjugada com a também inédita alegação de
que o demandante detinha conhecimento de que não era o pai biológico quando do registro, restou, de certo
modo, convalidada no feito. Isso porque o autor da ação pleiteou a emenda da inicial, para o fim de explicitar o
pedido de retificação do registro de nascimento do menor, proceder aquiescido pela parte requerida, que,
posteriormente, ratificou os termos de sua defesa como um todo desenvolvida no processo. 2. A controvérsia
instaurada no presente recurso especial centra-se em saber se a paternidade registral, em desacordo com a
verdade biológica, efetuada e declarada por indivíduo que, na fluência da união estável estabelecida com a
genitora da criança, acredita, verdadeiramente, ser o pai biológico desta (incidindo, portanto, em erro), daí
estabelecendo vínculo de afetividade durante os primeiros cinco/seis anos de vida do infante, pode ou não ser
desconstituída. 2.1. Ao declarante, por ocasião do registro, não se impõe a prova de que é o genitor da criança a
ser registrada. O assento de nascimento traz, em si, esta presunção, que somente pode vir a ser ilidida pelo
declarante caso este demonstre ter incorrido, seriamente, em vício de consentimento, circunstância, como
assinalado, verificada no caso dos autos. Constata-se, por conseguinte, que a simples ausência de convergência
entre a paternidade declarada no assento de nascimento e a paternidade biológica, por si, não autoriza a
invalidação do registro. Ao marido/companheiro incumbe alegar e comprovar a ocorrência de erro ou
falsidade, nos termos dos arts. 1.601 c.c 1.604 do Código Civil. Diversa, entretanto, é a hipótese em que o
indivíduo, ciente de que não é o genitor da criança, voluntária e expressamente declara o ser perante o Oficial de
Registro das Pessoas Naturais ("adoção à brasileira"), estabelecendo com esta, a partir daí, vínculo da afetividade
paterno-filial. A consolidação de tal situação (em que pese antijurídica e, inclusive, tipificada no art. 242, CP), em
atenção ao melhor e prioritário interesse da criança, não pode ser modificada pelo pai registral e socioafetivo,
afigurando-se irrelevante, nesse caso, a verdade biológica. Jurisprudência consolidada do STJ. 2.2. A filiação

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socioativa, da qual a denominada adoção à brasileira consubstancia espécie, detém integral respaldo do
ordenamento jurídico nacional, a considerar a incumbência constitucional atribuída ao Estado de proteger toda e
qualquer forma de entidade familiar, independentemente de sua origem (art. 227, CF). 2.3. O estabelecimento da
filiação socioafetiva perpassa, necessariamente, pela vontade e, mesmo, pela voluntariedade do apontado pai, ao
despender afeto, de ser reconhecido como tal. É dizer: as manifestações de afeto e carinho por parte de pessoa
próxima à criança somente terão o condão de convolarem-se numa relação de filiação, se, além da caracterização
do estado de posse de filho, houver, por parte daquele que despende o afeto, a clara e inequívoca intenção de
ser concebido juridicamente como pai ou mãe daquela criança. Portanto, a higidez da vontade e da
voluntariedade de ser reconhecido juridicamente como pai, daquele que despende afeto e carinho a outrem,
consubstancia pressuposto à configuração de toda e qualquer filiação socioafetiva. Não se concebe, pois, a
conformação desta espécie de filiação, quando o apontado pai incorre em qualquer dos vícios de consentimento.
Na hipótese dos autos, a incontroversa relação de afeto estabelecida entre pai e filho registrais (durante os
primeiros cinco/seis anos de vida do infante), calcada no vício de consentimento originário, afigurou-se
completamente rompida diante da ciência da verdade dos fatos pelo pai registral, há mais de oito anos. E,
também em virtude da realidade dos fatos, que passaram a ser de conhecimento do pai registral, o
restabelecimento do aludido vínculo, desde então, nos termos deduzidos, mostrou-se absolutamente impossível.
2.4. Sem proceder a qualquer consideração de ordem moral, não se pode obrigar o pai registral, induzido a
erro substancial, a manter uma relação de afeto, igualmente calcada no vício de consentimento originário,
impondo-lhe os deveres daí advindos, sem que, voluntária e conscientemente, o queira. Como assinalado, a
filiação sociafetiva pressupõe a vontade e a voluntariedade do apontado pai de ser assim reconhecido
juridicamente, circunstância, inequivocamente, ausente na hipótese dos autos. Registre-se, porque relevante:
Encontrar-se-ia, inegavelmente, consolidada a filiação socioafetiva, se o demandante, mesmo após ter obtido
ciência da verdade dos fatos, ou seja, de que não é pai biológico do requerido, mantivesse com este,
voluntariamente, o vínculo de afetividade, sem o vício que o inquinava. 2.5. Cabe ao marido (ou ao
companheiro), e somente a ele, fundado em erro, contestar a paternidade de criança supostamente oriunda
da relação estabelecida com a genitora desta, de modo a romper a relação paterno-filial então conformada,
deixando-se assente, contudo, a possibilidade de o vínculo de afetividade vir a se sobrepor ao vício, caso,
após o pleno conhecimento da verdade dos fatos, seja esta a vontade do consorte/companheiro (hipótese, é
certo, que não comportaria posterior alteração). 3. Recurso Especial provido, para julgar procedente a ação
negatória de paternidade.” (negritamos)

Comentário:
Conforme o STJ, se o pai descobre que a criança não é seu filho biológico, e que,
portanto, foi induzido em erro quando do registro da criança, ele poderá contestar a

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paternidade e pedir a ratificação do registro. Para que seu nome não conste mais como pai,
no entanto, é indispensável que ele tenha se afastado da criança no momento em que
descobriu a verdade, para que possa ser, também, rompido o vínculo afetivo.
Caso o pai, mesmo enganado, não se afaste da criança e mantenha os vínculos
afetivos, não será mais possível ratificar o registro. Isso porque considera-se,
implicitamente, que ele queria continuar sendo pai socioafetivo da criança, não podendo se
arrepender e cancelar o registro.

SIMULAÇÃO

 STJ. 4ª Turma. REsp 1076571-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 11/3/2014 (Info 538).

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE IMISSÃO DE POSSE CUMULADA COM AÇÃO CONDENATÓRIA -
COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA FIRMADO COM CLÁUSULA DE RETROVENDA - AO CONCLUIR QUE O
NEGÓCIO JURÍDICO FOI CELEBRADO NO INTUITO DE GARANTIR CONTRATO DE MÚTUO USURÁRIO E,
PORTANTO, CONSISTIU EM SIMULAÇÃO PARA OCULTAR A EXISTÊNCIA DE PACTO COMISSÓRIO, O
TRIBUNAL DE ORIGEM PROCEDEU À REFORMA DA SENTENÇA PROFERIDA PELO MAGISTRADO SINGULAR,
JULGANDO IMPROCEDENTES OS PEDIDOS VEICULADOS NA DEMANDA - PACTO COMISSÓRIO - VEDAÇÃO
EXPRESSA - ARTIGO 765 DO CÓDIGO CIVIL 1916 - NULIDADE ABSOLUTA - MITIGAÇÃO DA REGRA INSERTA NO
ARTIGO 104 DO DIPLOMA CIVILISTA (1916) - POSSIBILIDADE DE ARGUIÇÃO COMO MATÉRIA DE DEFESA -
INSURGÊNCIA RECURSAL DA PARTE AUTORA. Ação de imissão de posse cumulada com ação condenatória
ajuizada pelo promissário comprador em face de um dos alienantes, visando à desocupação do imóvel, bem
assim ao ressarcimento dos prejuízos experimentados (aluguéis). Sentença de procedência reformada pelo
Tribunal de origem, ao reputar demonstrada a simulação e o pacto comissório firmado entre as partes e,
portanto, a nulidade do compromisso de compra e venda com cláusula de retrovenda, julgando improcedentes
os pedidos veiculados na demanda. 1. A ausência de debate, pelas instâncias ordinárias, do conteúdo normativo
dos dispositivos apontados como violados impede o conhecimento das teses recursais subjacentes, porquanto
não configurado o necessário prequestionamento. Incidência do óbice inserto na Súmula 211/STJ. 2. É nulo o
compromisso de compra e venda que, em realidade, traduz-se como instrumento para o credor ficar com o
bem dado em garantia em relação a obrigações decorrentes de contrato de mútuo usurário, se estas não
forem adimplidas. Isso porque, neste caso, a simulação, ainda que sob o regime do Código Civil de 1916 e,
portanto, concebida como defeito do negócio jurídico, visa encobrir a existência de verdadeiro pacto
comissório, expressamente vedado pelo artigo 765 do Código Civil anterior (1916). 2.1 Impedir o devedor de
alegar a simulação, realizada com intuito de encobrir ilícito que favorece o credor, vai de encontro ao princípio
da equidade, na medida em que o "respeito aparente ao disposto no artigo 104 do Código Civil importaria

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manifesto desrespeito à norma de ordem pública, que é a do artigo 765 do mesmo Código", que visa, a toda
evidência, proteger o dono da coisa dada em garantia (Cf. REsp nº 21.681/SP, Rel. Ministro Eduardo Ribeiro,
Terceira Turma, DJ 03/08/1992) 2.2 Inexiste para o interessado na declaração da nulidade absoluta de
determinado negócio jurídico, o ônus de propor ação ou reconvenção, pois, tratando-se de objeção substancial,
pode ser arguida em defesa, bem como pronunciada ex officio pelo julgador. 3. Recurso especial conhecido em
parte e, na extensão, não provido”. (negritamos)

Comentário:
O julgado acima selecionado traz um exemplo de simulação.
“A”, alegando que comprou um imóvel de “B”, ajuizou uma ação de imissão de posse
contra ele. Em sua defesa “B” afirmou que na verdade, o negócio jurídico realizado entre ele e
“A” foi simulado. Explicou que “A” é um agiota e que para lhe emprestar dinheiro, obrigou
que “B” assinasse uma promessa de compra e venda de seu apartamento, contendo uma
cláusula de retrovenda.
A cláusula de retrovenda está prevista no art. 505, CC e é lícita. Essa cláusula permite
que o vendedor compre novamente a coisa que vendeu, no prazo máximo de três anos. No
entanto, ela é usada por agiotas da seguinte forma: se o devedor conseguir pagar sua dívida,
ele pode utilizar a cláusula de retrovenda para recuperar seu imóvel. Mas se o devedor não
for capaz de pagar a dívida, o imóvel fica com o agiota para sempre.
Se analisarmos a situação acima descrita, na realidade, trata-se de um contrato de
mútuo, com um pacto comissório. Esse pacto permite que o credor fique com a coisa dada
em garantia, caso o devedor não cumpra a sua parte. O pacto comissório é vedado pelo
Código Civil. O ordenamento jurídico proíbe que o credor fique diretamente com a coisa. O
que ele deve fazer é vender a coisa dada em garantia, pegar o valor a ele devido e devolver o
saldo (se houver) para o devedor.
“A”, em réplica, afirmou que “B” não poderia ter alegado a simulação do negócio
jurídico em sede de contestação. Tal argumento não foi acolhido pelo STJ.
Nese julgado, portanto, o STJ decidiu que a simulação pode ser alegada como
matéria de defesa em sede de contestação. E também, deu razão à “B” ao declarar nulo o
compromisso de compra e venda, com retrovenda, que na realidade encobria um pacto
comissório, representando verdadeira simulação.

FRAUDE CONTRA CREDORES

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 STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1294462/GO, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado
do TRF 5ª Região), julgado em 20/03/2018

EMENTA: “AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. FRAUDE CONTRA CREDORES. COMPROVAÇÃO.


PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS EXIGIDOS. AGRAVO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. A ocorrência de fraude
contra credores demanda a anterioridade do crédito, a comprovação de prejuízo ao credor (eventus damni),
que o ato jurídico praticado tenha levado o devedor à insolvência e o conhecimento, pelo terceiro
adquirente, do estado de insolvência do devedor (scientia fraudis). 2. Agravo interno parcialmente provido.”
(negritamos)

Comentário:
Nesse julgado, o STJ solidificou os requisitos necessários para a caracterização da
fraude contra credores, são eles:
i) a anterioridade do crédito;
ii) a comprovação de prejuízo ao credor;
iii) que o ato jurídico praticado tenha levado o devedor à insolvência e
iv) o conhecimento, pelo terceiro adquirente, do estado de insolvência do devedor.

 STJ. 4ª Turma. REsp 1100525-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 16/4/2013 (Info 521).

EMENTA: “DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. AÇÃO PAULIANA. SUCESSIVAS
ALIENAÇÕES DE IMÓVEIS QUE PERTENCIAM AOS DEVEDORES. ANULAÇÃO DE COMPRA DE IMÓVEL POR
TERCEIROS DE BOA-FÉ. IMPOSSIBILIDADE. LIMITAÇÃO DA PROCEDÊNCIA AOS QUE AGIRAM DE MÁ-FÉ, QUE
DEVERÃO INDENIZAR O CREDOR PELA QUANTIA EQUIVALENTE AO FRAUDULENTO DESFALQUE DO
PATRIMÔNIO DO DEVEDOR. PEDIDO QUE ENTENDE-SE IMPLÍCITO NO PLEITO EXORDIAL. 1. A ação pauliana
cabe ser ajuizada pelo credor lesado (eventus damni) por alienação fraudulenta, remissão de dívida ou
pagamento de dívida não vencida a credor quirografário, em face do devedor insolvente e terceiros adquirentes
ou beneficiados, com o objetivo de que seja reconhecida a ineficácia (relativa) do ato jurídico - nos limites do
débito do devedor para com o autor -, incumbindo ao requerente demonstrar que seu crédito antecede ao
ato fraudulento, que o devedor estava ou, por decorrência do ato, veio a ficar em estado de insolvência e,
cuidando-se de ato oneroso - se não se tratar de hipótese em que a própria lei dispõe haver presunção de
fraude -, a ciência da fraude (scientia fraudis) por parte do adquirente, beneficiado, sub-adquirentes ou sub-
beneficiados. 2. O acórdão reconhece que há terceiros de boa-fé, todavia, consigna que, reconhecida a fraude
contra credores, aos terceiros de boa-fé, ainda que se trate de aquisição onerosa, incumbe buscar
indenização por perdas e danos em ação própria. Com efeito, a solução adotada pelo Tribunal de origem

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contraria o artigo 109 do Código Civil de 1916 - correspondente ao artigo 161 do Código Civil de 2002 - e
também afronta a inteligência do artigo 158 do mesmo Diploma - que tem redação similar à do artigo 182 do
Código Civil de 2002 -, que dispunha que, anulado o ato, restituir-se-ão as partes ao estado, em que antes dele
se achavam, e não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente. 3. "Quanto ao direito
material, a lei não tem dispositivo expresso sobre os efeitos do reconhecimento da fraude, quando a ineficácia
dela decorrente não pode atingir um resultado útil, por encontrar-se o bem em poder de terceiro de boa-fé.
Cumpre, então, dar aplicação analógica ao artigo 158 do CCivil [similar ao artigo 182 do Código Civil de 2002],
que prevê, para os casos de nulidade, não sendo possível a restituição das partes ao estado em que se achavam
antes do ato, a indenização com o equivalente. Inalcançável o bem em mãos de terceiro de boa-fé, cabe ao
alienante, que adquiriu de má fé, indenizar o credor." (REsp 28.521/RJ, Rel. Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR,
QUARTA TURMA, julgado em 18/10/1994, DJ 21/11/1994, p. 31769) 4. Recurso especial parcialmente provido.”
(negritamos)

Comentário:
De acordo com o STJ, em sede de ação pauliana, o juiz deve reconhecer a eficácia do
negócio jurídico com o adquirente de boa-fé e condenar todos os que estavam de má-fé,
em caso de alienações sucessivas, a indenizar o autor da ação. O adquirente de boa-fé,
portanto, não perderia o imóvel.

CONVALIDAÇÃO DOS VÍCIOS

 STJ. 3ª Turma. REsp 1368960-RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 7/6/2016 (Info 585).

EMENTA: “RECURSOS ESPECIAIS. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE. 1. ALTERAÇÃO CONTRATUAL REALIZADA


MEDIANTE FALSIFICAÇÃO DA ASSINATURA DO SÓCIO CONTROLADOR DA EMPRESA. CONVALIDAÇÃO
ADMITIDA PELAS INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS. 2. NEGÓCIO JURÍDICO NULO DE PLENO DIREITO. AUSÊNCIA DE
MANIFESTAÇÃO DA VONTADE DO DECLARANTE. ILICITUDE DA OPERAÇÃO REALIZADA. INTELIGÊNCIA DO
ART. 166, II, DO CÓDIGO CIVIL. 3. IMPOSSIBILIDADE DE RATIFICAÇÃO (CONVALIDAÇÃO). ART. 169 DO
CÓDIGO CIVIL. NORMA COGENTE. NULIDADE ABSOLUTA (EX TUNC). VIOLAÇÃO AO INTERESSE PÚBLICO.
NEGÓCIO REALIZADO POR MEIO DE COMETIMENTO DE CRIME PREVISTO NO CÓDIGO PENAL. SUPRIMENTO DA
NULIDADE PELO JUIZ. INVIABILIDADE. ART. 168, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC/02. 4. A MANUTENÇÃO DO
ARQUIVAMENTO, PERANTE A JUNTA COMERCIAL, DE DECLARAÇÃO CUJA ASSINATURA DE UM DOS
SIGNATÁRIOS É SABIDAMENTE FALSA REVELA, AINDA, OFENSA AO PRINCÍPIO DA VERDADE REAL, NORTEADOR
DOS REGISTROS PÚBLICOS. 5. SOMENTE COM A RENOVAÇÃO (REPETIÇÃO) DO NEGÓCIO, SEM OS VÍCIOS QUE
O MACULARAM, SERIA POSSÍVEL VALIDAR A TRANSFERÊNCIA DO CONTROLE SOCIETÁRIO DA EMPRESA, O QUE
NÃO OCORREU NO CASO CONCRETO. 6. RECURSOS PROVIDOS. 1. Hipótese em que as instâncias ordinárias

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concluíram que, embora tenha havido a falsificação da assinatura do sócio majoritário nas alterações contratuais
arquivadas na Junta Comercial, em que se transferiu o controle societário da empresa Servport - Serviços
Portuários e Marítimos Ltda. para os réus, o referido negócio foi convalidado, pois o autor lavrou escritura
pública ratificando o ocorrido e dando ampla, geral e irrevogável quitação. 2. A questão posta em discussão trata
de nulidade absoluta, pois o art. 166, inciso II, do Código Civil proclama ser nulo o negócio quando for ilícito o
seu objeto, valendo ressaltar que essa ilicitude não é apenas do bem da vida em discussão, mas, também, da
própria operação jurídica realizada, a qual, no caso, configura, inclusive, crime previsto no Código Penal. 2.1. Com
efeito, embora não haja qualquer vício no objeto propriamente dito do negócio jurídico em questão (cessão
das cotas sociais da empresa Servport), a operação realizada para esse fim revela-se manifestamente ilícita
(falsificação da assinatura de um dos sócios), tornando o negócio celebrado nulo de pleno direito, sendo,
portanto, inapto a produzir qualquer efeito jurídico entre as partes. 3. A teor do disposto nos arts. 168, parágrafo
único, e 169, ambos do Código Civil, a nulidade absoluta do negócio jurídico gera, como consequência, a
insuscetibilidade de convalidação, não sendo permitido nem mesmo ao juiz suprimir o vício, ainda que haja
expresso requerimento das partes. 4. Ademais, a manutenção do arquivamento de negócio jurídico perante a
Junta Comercial, cuja assinatura de um dos declarantes é sabidamente falsa, ofende, ainda, o princípio da
verdade real, o qual norteia o sistema dos registros públicos. 5. Se as partes tinham interesse em manter a
transferência das cotas da empresa Servport, deveriam renovar (repetir) o negócio jurídico, sem a falsificação da
assinatura de quaisquer dos envolvidos, ocasião em que os efeitos seriam válidos a partir de então, isto é, a
alteração do quadro societário somente se daria no momento do novo negócio jurídico, o que, contudo, não
ocorreu na espécie. 6. Recursos especiais providos.” (negritamos)

Comentário:
Nesse julgado, o STJ decidiu que não é possível a convalidação de um negócio
jurídico que nasceu nulo. No caso, dois sócios falsificaram a assinatura de um outro sócio
para que fosse alterado o quadro social e eles se tornassem sócios majoritários.
Essa operação foi baseada em um ato ilícito e não pode ser convalidada mesmo que o
sócio prejudicado pela falsidade tenha, posteriormente, ratificado o ato.

PROVA

 STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 24940-RJ, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em
18/2/2014 (Info 536).

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EMENTA: “AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESSARCIMENTO. PATROCÍNIO
DE AÇÕES DE ACIDENTE DE TRABALHO EM FACE DO INSS COM CÁLCULOS EXORBITANTES. HOMOLOGAÇÃO
DOS CÁLCULOS PELO EX-JUIZ DE DIREITO, QUE TERIA AGIDO COM FRAUDE E CONLUIO COM OS DEMAIS
ACUSADOS. SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. ART. 1.525 DO CC/16 (CORRESPONDENTE ART. 935 DO
CC/2002). INDEPENDÊNCIA DAS ESFERAS CIVIL E CRIMINAL. POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO DE PROVAS
OBTIDAS NO PROCESSO CRIMINAL, DESDE QUE OBSERVADO O CONTRADITÓRIO. AUSENTE A OFENSA AO
ART. 133 DO CPC. POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO DO MAGISTRADO NOS CASOS DE FRAUDE E DOLO.
NEGADO PROVIMENTO AO AGRAVO REGIMENTAL. 1. A utilização de provas colhidas no processo criminal
como fundamentação para condenação à reparação do dano causado não constitui violação ao art. 935 do
CC/2002 (1.525 do CC/16). 2. Não há óbices para que o Juízo cível fundamente a decisão em provas
colhidas na seara penal, desde que observado o devido processo legal. In casu, os réus da Ação de
Ressarcimento também figuraram no pólo passivo da Ação Penal, portanto, restaram observados os princípios do
contraditório e ampla defesa, pois os acusados tiveram oportunidade de se manifestar sobre as provas colhidas.
3. Agravo Regimental desprovido.” (negritamos)

Comentário:
Nesse julgado, o STJ decidiu ser possível o uso de provas colhidas no processo penal,
mesmo sem o trânsito em julgado, para fundamentar a ação de reparação de danos no
juízo cível.

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIAS, Cristiano Chaves de. Manual de Direito Civil - Volume Único - 2. ed. atual. e ampl. - Salvador:
JusPodivm, 2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único - Volume Único - 8. ed. rev, atual. e ampl. - Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018.

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