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OAB

EXAME DE ORDEM

DIREITO PROCESSUAL
PENAL
Capítulo 04
CAPÍTULOS

Capítulo 1– Sistemas Processuais. Princípios. 


Capítulo 2 – Aplicação da Lei Processual Penal. 
Capítulo 3 – Inquérito policial. 

Capítulo 4 (você está aqui!) – Ação penal. 

Capítulo 5 – Competência Criminal. 


Capítulo 6 – Das provas. 
Capítulo 7 – Das prisões. 
Capítulo 8 – Questões e processos incidentes. 
Capítulo 9 – Sujeitos e Comunicação dos atos. 
Capítulo 10 – Processo e Procedimentos. 
Capítulo 11 – Sentença e Nulidades 
Capítulo 12 – Recursos 
Capítulo 13 – Ações Autônomas 

1
SOBRE ESTE CAPÍTULO

E ai, OABeiro! Tudo certinho?

A apostila de número 04 do nosso curso de Direito Processual Penal tratará sobre Ação Penal,

matéria que é comumente cobrada no Exame de Ordem ao decorrer desses anos! De acordo
com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente 7 VEZES nos últimos 3 anos,

sendo considerado um assunto de altíssima recorrência.

Assim, é imprescindível que você dedique um tempo para estudar este conteúdo com calma e
responda as questões que tratam sobre o referido tema, ok?

Aqui, a banca costuma seguir o seu padrão: Apresentar um caso hipotético, pelo qual a resposta

é respaldada na legislação vigente. Por isso, recomendamos a leitura atenta da letra seca da lei
e entendimentos jurisprudenciais, e sempre em companhia de alguma doutrina à sua escolha.

Adicionamos questões de outras carreiras jurídicas para que você assimile ainda mais o conteúdo

visto, ok? 😉

Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação!

Vamos juntos!

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SUMÁRIO

DIREITO PROCESSUAL PENAL ............................................................................................................... 5

Capítulo 4 .................................................................................................................................................. 5

4. Ação Penal.................................................................................................................................................................... 5

4.1 Introdução ................................................................................................................................................................ 5

4.1.1 O Processo penal tem lide?.............................................................................................................................. 6

4.2 Condições da ação penal .................................................................................................................................. 7

4.2.1 Condições genéricas da ação penal ............................................................................................................. 8

4.2.2 Justa Causa ........................................................................................................................................................... 15

4.2.3 Condições específicas da ação penal ........................................................................................................ 16

4.2.4 Condições de prosseguibilidade da ação penal ................................................................................... 17

4.2.5 Condições objetivas de punibilidade ........................................................................................................ 18

4.3 Pressupostos processuais ............................................................................................................................... 19

4.4 Modalidades de ação penal .......................................................................................................................... 22

4.5 Ação Penal Pública ............................................................................................................................................ 24

4.5.1 Ação penal pública incondicionada ........................................................................................................... 24

4.5.2 Ação penal pública condicionada ............................................................................................................... 25

4.6 Ação Penal Privada ............................................................................................................................................ 29

4.6.1 Ação penal privada propriamente dita ..................................................................................................... 30

4.6.2 Ação penal privada personalíssima ............................................................................................................ 31

4.6.3 Ação penal privada subsidiária da pública ............................................................................................. 31

4.7 Requisitos da denúncia e da queixa-crime ............................................................................................ 33

4.8 Princípios da ação penal pública ................................................................................................................ 35

4.8.1 Princípio do ne procedat iudex ex officio ............................................................................................... 35

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4.8.2 Princípio do ne bis in idem ........................................................................................................................... 35

4.8.3 Princípio da obrigatoriedade ........................................................................................................................ 36

4.8.4 Princípio da indisponibilidade ...................................................................................................................... 37

4.8.5 Princípio da intranscendência ....................................................................................................................... 38

4.8.6 Princípio da (in)divisibilidade ........................................................................................................................ 38

4.8.7 Princípio da oficialidade/ autoritariedade ............................................................................................... 39

4.8.8 Princípio da oficiosidade ................................................................................................................................. 39

4.9 Princípios da ação penal privada ................................................................................................................ 40

4.9.1 Princípio da oportunidade ............................................................................................................................. 40

4.9.2 Princípio da disponibilidade .......................................................................................................................... 42

4.9.3 Princípio da indivisibilidade ........................................................................................................................... 44

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 46

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 48

GABARITO ............................................................................................................................................... 61

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 62

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 63

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 65

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 66

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 72

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 73

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Capítulo 4

4. Ação Penal

4.1 Introdução

Segundo Renato Brasileiro (2018), o direito de ação penal é o direito público subjetivo
da parte acusadora de pedir ao Estado-Juiz que, mediante o devido processo legal, aplique
o direito penal objetivo em um caso concreto.

O direito de ação se fundamenta no art. 5º, XXXV da CF/88, que determina que a lei não
excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Perceba que o direito de
ação penal não é exercido pelo acusador conta o acusado. O direito de ação penal é exercido

contra o Estado, presentado pela figura do juiz, para que ele exerça a sua jurisdição, ou seja,
para que ele diga o direito a ser aplicado ao caso concreto.

Não confunda direito de ação com a ação penal/processo! O direito de ação é o direito
de exigir do Estado o exercício da jurisdição, enquanto a ação propriamente dita, o processo, é

uma relação jurídica que se inicia com o exercício do direito de ação.

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O direito de ação penal é um direito público – é exercido contra o Estado, pois a atividade

jurisdicional que se pretende provocar é de natureza pública; subjetivo – é titularizado pelo


Ministério Público, pelo ofendido ou por seu representante legal, que podem exigir do Estado

a prestação da jurisdição em um caso concreto; abstrato – independentemente do resultado


do processo penal, o direito de ação existe e pode ser exercido mesmo em casos de

improcedência do pedido da acusação; autônomo – o direito de ação não se confunde com o


direito material que se pretende tutelar; determinado e específico – é conexo a um determinado

fato concreto especificamente imputado a um agente; e instrumental – apesar de não se


confundir com o processo, o direito de ação serve para dar início a ele e, consequentemente,
instrumentalizar a solução dos conflitos.

A ação penal tem fundamento legal tanto no Código Penal, como no Código de Processo
Penal, pois é matéria relacionada com o direito de punir do Estado, o que lhe atribui caráter de
norma mista – material e processual. Portanto, na sucessão de leis no tempo, aplicamos a lei

mais favorável ao réu quando ela versar sobre as condições da ação e sobre as causas extintivas
de punibilidade relacionadas à representação ou à ação penal de iniciativa privada.

4.1.1 O Processo penal tem lide?

A clássica concepção de lide, segundo Carnelutti, é de um conflito de interesses qualificado


por uma pretensão resistida.

Sabendo que a preservação da liberdade individual do inocente interessa tanto ao Estado


quanto a condenação do culpado, podemos afirmar que o conceito de lide concebido por
Carnelutti não deve ser aplicado ao processo penal.

Pense bem: no processo penal o Estado deve perseguir apenas a correta aplicação da lei,
inocentando quem for inocente e sancionando quem for culpado. Não há, necessariamente, um
conflito de interesses.

O promotor deve ser promotor de justiça e não promotor de acusação. Por isso, o
Ministério Público tem legitimidade, por exemplo, para requerer a absolvição do réu e, inclusive
recorrer em seu benefício.
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Ademais, não há pretensão resistida quando o réu está de acordo com o pedido

condenatório da acusação e, ainda assim, é indispensável a sua defesa técnica.

Ao contrário do Processo Civil, a lide não é um elemento obrigatório do processo penal.


Em vez de “lide”, no processo penal existe a pretensão punitiva, que é o poder do Estado de

exigir de quem comete um crime a submissão à sanção penal.

Segundo Badaró (2009), é através da pretensão punitiva que o Estado procura tornar
efetivo o ius puniendi. Entretanto, essa pretensão punitiva não pode ser resolvida sem um

processo, sendo uma pretensão que já nasce insatisfeita.

4.2 Condições da ação penal

Segundo a teoria eclética, adotada pelo nosso Código de Processo Civil, o direito de ação
é o direito ao julgamento do mérito da causa, independentemente de ser ou não favorável ao
pedido do autor. A existência desse direito não está relacionada com a existência do direito

material que se pretende tutelar, mas está vinculada à determinadas condições, requisitos
formais, chamados de condições da ação, desenvolvidas pelo processualista Liebmem.

O Código de Processo Penal não especifica quais são as condições da ação, apenas afirma

que, se elas não estiverem presentes, a inicial acusatória deve ser rejeitada. Com isso, usamos
subsidiariamente o Código de Processo Civil para definir as condições da ação.

As condições da ação são aferidas à luz da relação jurídica de direito material objeto do

processo, mas não se confunde com o seu mérito. Segundo a teoria da asserção, a presença
das condições da ação deve ser apreciada pelo juiz com base nas informações prestadas na

peça inicial, que devem ser tomadas como verdadeiras para esta finalidade de filtro processual.

Elas devem ser analisadas de forma preliminar e sumária, ou seja, no processo penal elas
devem ser averiguadas no momento do juízo de admissibilidade da denúncia. Se as condições

estiverem ausentes, deve ser expedida uma sentença terminativa de carência de ação, sem
formação de coisa julgada material.

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Entretanto, no processo penal é perfeitamente possível o reconhecimento da sua nulidade

absoluta por carência das condições da ação em qualquer momento. Por fim, se for necessária
uma cognição mais aprofundada pelo juiz para a análise da presença das condições da ação, a

carência da ação será questão de mérito, com formação de coisa julgada formal e material.

Exemplo: com o final do processo penal, o juiz reconheceu que a denúncia foi oferecida
contra um inocente. Nesse caso, o magistrado deve proferir uma sentença absolutória de mérito,

que fará coisa julgada formal e material. Caso o juiz tivesse reconhecido a falha da denúncia no
momento do seu recebimento, deveria declarar a ilegitimidade passiva ad causam e extinguir o

processo sem resolução de mérito.

No processo penal as condições da ação se dividem em condições genéricas, aplicáveis a


qualquer ação penal, e condições específicas, também chamadas de condições de

procedibilidade, aplicáveis apenas em determinadas infrações, acusados ou situações previstas


em lei.

4.2.1 Condições genéricas da ação penal

Parte da doutrina entende que o processo penal deve seguir uma teoria geral do processo
e, por isso, define como condições genéricas da ação penal as mesmas condições da ação civil

– legitimidade e interesse de agir. Sem elas, a denúncia deverá ser rejeitada.

Legitimidade de agir, ou legitimatio ad causam, é a pertinência subjetiva da ação. Como


assim? Há legitimidade de agir quando uma situação prevista em lei permite que determinado
sujeito proponha uma demanda judicial e que outro determinado sujeito seja demandado no
respectivo polo passivo.

Assim, temos a legitimidade ativa quando o autor afirma ser titular do direito subjetivo

material objeto da demanda, e legitimidade passiva quando a obrigação que corresponde


àquele direito é do demandado.

Quanto à legitimidade ativa no processo penal temos o seguinte cenário:

AÇÃO PENAL PÚBLICA Ministério Público

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AÇÃO PENAL DE Ofendido ou seu
INICIATIVA PRIVADA representante legal

Em casos excepcionais, teremos como legitimados ativos o curador especial, os sucessores


do ofendido, ou até mesmo entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou indireta,

ainda que sem personalidade jurídica, assim como associações destinadas à defesa dos
interesses e dos direitos do consumidor.

Conflito de atribuições entre os Ministérios Públicos: quando há um conflito de

atribuição entre órgãos do mesmo MP estadual, quem deve dirimir esse conflito e determinar
quem é o legitimado é o respectivo Procurador-Geral de Justiça; e quando há um conflito de
atribuição entre os vários Ministérios Públicos da União – MPF, MPT, MPM, MPDFT – quem deve

dirimir esse conflito e determinar o legitimado é o Procurador-Geral da República.

Quando há um conflito de atribuição entre Ministérios Públicos distintos, seja um MP


estadual contra outro MP estadual, ou um MP estadual contra o MP Federal, quem deve dirimir

esse conflito e determinar quem é o legitimado, segundo o Supremo Tribunal Federal, é o


Procurador Geral da República – PGR.

Olha que observação legal: quem vai resolver o conflito de competência entre as jurisdições

é o STJ, e por muito tempo o STF entendeu que esse tribunal também resolveria os conflitos
entre os MPs diferentes por ser um “conflito virtual de competência”. Depois, o STF passou a

entender que ele próprio deveria dirimir os conflitos entre o Ministério Público estadual e o
Ministério Público Federal, pois isso seria um conflito de competência entre o estado e a União.

Entretanto, quando falamos de MP estamos tratando de atribuições e não de


competências! Por isso, atualmente, o Supremo entende que esses conflitos são decididos pelo

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próprio PGR. Esse entendimento causa muita polêmica, tendo em vista que o PGR é o chefe do

MP da União, sem nenhum tipo de hierarquia dentro do MP estadual.

Portanto, o primeiro passo para analisar o preenchimento das condições da ação no


processo penal é saber se ela é pública ou de iniciativa privada. Depois, passamos para o polo

passivo.

Tem legitimidade passiva o agente que supostamente é autor, coautor ou partícipe de uma
infração penal – crime ou contravenção. Como a autoria é tema de mérito no processo penal,

muitos doutrinadores ensinam que ela não tem relevância no exame preliminar das condições
da ação. Entretanto, isso é uma afirmação equivocada.

Como vimos, pela teoria da asserção, para a verificar se há condições da ação, as

informações trazidas na inicial devem ser tomadas como verdadeiras. Se, sem nenhum juízo de
valorativo de provas, for possível verificar que o acusado não é autor, coautor ou partícipe da

infração penal a ele imputada pela acusação, a inicial deve ser rejeitada por carência das
condições da ação, especificamente, por ilegitimidade passiva.

É perfeitamente possível um equívoco de digitação na denúncia ou a existência de

homônimos, identificáveis em uma análise sumária. Por exemplo, é possível que a denúncia seja
feita erroneamente contra a testemunha, o que permite de plano a rejeição da denúncia por

carência de legitimidade passiva, dispensada qualquer dilação probatória.

A pessoa jurídica tem legitimidade no processo penal?

E em relação à legitimidade passiva, é admitida a denúncia contra pessoa jurídica apenas

nos casos de crimes ambientais, por força de determinação constitucional.

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Quanto à legitimidade passiva, atualmente já é fato que a pessoa jurídica possui direitos

da personalidade inerentes ao indivíduo, na medida de sua compatibilidade. O próprio Código


Civil dispõe em seu art. 52 que se aplica às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos

direitos da personalidade.

Entre esses direitos da personalidade está o direito à honra, bem jurídico tutelado
penalmente no capítulo V do Código Penal. A pergunta é: se uma pessoa jurídica for vítima de

uma difamação, que protege a honra objetiva, está legitimada a propor ação penal? Sim! A
pessoa jurídica é dotada de honra objetiva e pode ser vítima de difamação, figurando no polo

ativo da demanda criminal mediante queixa-crime.

A legitimidade que estamos estudando agora não se confunde com a legitimatio ad


processum, que é a capacidade de estar em juízo, pressuposto processual de validade.

A capacidade processual é a possibilidade de exercer direitos e deveres processuais. O

ofendido menor de 18 anos não tem capacidade processual para oferecer queixa-crime,
portanto, o seu representante legal deve atuar no processo, não como parte, mas como aquele

que dá à parte capacidade de estar em juízo.

A capacidade processual e a legitimidade processual também não se confundem com a


capacidade postulatória, que é a aptidão de postular perante o Poder Judiciário. Se o ofendido

não for advogado, deve suprir essa incapacidade por meio da representação voluntária
necessária.

Por fim, não podemos confundir a capacidade processual, a capacidade postulatória e a

legitimidade com a capacidade de ser parte, que é pressuposto de existência do processo. A


capacidade de ser parte é decorrência da capacidade de adquirir direitos e contrair obrigações.

Especificamente no processo penal, além das pessoas físicas e jurídicas, alguns entes são
classificados como pessoas formais. Por exemplo, as entidades e órgãos da Administração direta
ou indireta destinados à defesa dos direitos e interesses do consumidor, mesmo que sem

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personalidade jurídica, são legitimados para atuar como assistentes do MP e para ajuizar queixa-

crime subsidiária em caso de inércia do órgão ministerial.

Sobre o tema da legitimidade processual, ainda destacamos a seguinte classificação:

 Legitimidade ordinária: segundo o art. 18 do CPC, ninguém poderá pleitear direito

alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico.


Portanto, em regra, só é possível pleitear a defesa de direito próprio em nome próprio.
No âmbito do processo penal, temos a legitimidade ordinária nos casos de ação penal

pública, pois a própria CF/88 outorga a sua titularidade ao MP.

 Legitimidade extraordinária: é a exceção no ordenamento jurídico e deve ser


expressamente prevista em lei a autorização para que alguém possa pleitear em nome

próprio interesse alheio. Também chamada de substituição processual, a legitimidade


extraordinária ocorre no processo penal em casos como o da ação penal de iniciativa

privada, caso em que o ofendido ou o seu representante legal age em nome próprio
na defesa de interesse do Estado, que continua sendo o titular da pretensão punitiva.

Não confunda: a legitimidade extraordinária com a sucessão processual. Esta última ocorre

quando um sujeito assume a posição de outro no processo, ocorrendo uma mudança subjetiva
da relação jurídica processual.

Há uma troca de sujeitos, como ocorre no caso previsto no art. 31 do CPP - No caso de

morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer
queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

A legitimidade extraordinária também não se confunde com a representação processual.

Há representação processual quando o sujeito está em juízo defendendo direito alheiro em


nome alheio. O representante processual não é parte no processo, a parte é o representando,

trata-se de um instituto relacionado à capacidade de estar em juízo, como ocorre na ação penal
de iniciativa privada quando o ofendido é menor de 18 anos e precisa de um representante
legal para estar em juízo.

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Quando o ofendido for menor de 18 anos, mentalmente enfermo, ou retardado mental e

não tiver representante legal ou os interesses deles colidirem, será nomeado um curador
especial pelo juiz, de ofício ou a requerimento do MP.

Ao contrário da representação, na legitimidade extraordinária o substituto processual é parte

e o substituído não é, por mais que os seus interesses estejam sendo discutidos no processo.

Outra condição genérica da ação penal é o interesse de agir. Ele está relacionado com a
utilidade da prestação jurisdicional que se pretende com o exercício do direito de ação. O

acusador deve demonstrar na sua inicial a necessidade de recorrer ao Judiciário para obter a
tutela pretendida. Não é o momento de analisar a legitimidade da pretensão, deve-se apenas

analisar se é preciso a providência judicial pleiteada para alcançar o resultado pretendido pelo
autor.

O interesse de agir deve ser analisado sobre o trinômio da necessidade x adequação x

utilidade:

 Necessidade de obtenção da tutela jurisdicional pleiteada;


 Adequação entre o pedido e a proteção jurisdicional; e
 Utilidade/ eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor.
A necessidade estará presente nas situações em que o autor não puder alcançar o bem da
vida pretendido sem a intervenção judicial. No caso da pretensão punitiva, sempre haverá
necessidade, que está implícita em qualquer ação penal condenatória. Isso ocorre porque

nenhuma sanção penal poderá ser aplicada sem o devido processo legal – princípio nulla pena
sine judicio.

A adequação é o ajustamento da providência judicial requerida com o resultado pretendido

de solução do conflito. Como só temos um tipo de ação penal condenatória, a adequação é um


aspecto do interesse de agir que não tem muita relevância no processo penal, salvo nas ações

penais não condenatórias.

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Por fim, a utilidade consiste na eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse

do autor. Portanto, só haverá utilidade se houver possibilidade de realizar o jus puniendi estatal
com a eventual aplicação de sanção penal ao fim do processo.

Você já ouviu falar em prescrição virtual ou prescrição em perspectiva? Quando antes ou


durante o processo penal fica constatado que em eventual condenação a pena que será imposta

ao acusado inevitavelmente será fulminada pela prescrição da pretensão punitiva retroativa,


dizemos que há prescrição virtual, ou prescrição em perspectiva.

Por exemplo, em um furto simples, com pena de reclusão de 1 a 4 anos, se o acusado é

menor de 21 anos, primário e com bons antecedentes, mesmo antes de começar o processo já
é possível vislumbrar que a eventual sentença condenatória fixará a pena no mínimo legal.

Ademais, o prazo para a prescrição da pretensão punitiva para a pena de 1 ano, que é de 4
anos, deve ser diminuído pela metade devido a idade do acusado, passando a ser de 2 anos.

Se entre a data do crime e a data da vista dos autos pelo MP já se passaram mais de 2

anos, o Promotor já pode vislumbrar a prescrição retroativa até mesmo antes de propor a ação
penal.

A prescrição virtual não tem previsão em nosso ordenamento jurídico, portanto, não pode

ser usada como argumento para requerer o arquivamento de um inquérito em vez de propor a
ação penal. Mas, quando nos deparamos com casos assim, podemos dizer que há falta interesse

de agir por inexistência de utilidade para o processo?

Grande parte da doutrina defende que, nesses casos, o MP deve requerer o arquivamento
do inquérito policial com base na falta de interesse de agir. Apesar disso, a jurisprudência dos
Tribunais Superiores não aceita essa tese, argumentando que, além de não ter previsão legal da

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prescrição virtual, essa prática violaria o princípio da não culpabilidade, pois partiria do

pressuposto que o acusado seria condenado no final do processo.

Nesse contexto, o STJ editou a Súmula 438 que dispõe: “é inadmissível a extinção da
punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva com fundamento em pena hipotética,

independentemente da existência ou sorte do processo penal”.

Além disso, a Lei 12.234 de 2010 deu nova redação ao art. 110, §1º do CP, que passou a
dispor: “A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação

ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma
hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa”. Com isso, acabou a

prescrição da pretensão punitiva retroativa entre a data do crime e a data do recebimento da


inicial acusatória.

4.2.2 Justa Causa

A justa causa é o suporte probatório mínimo, constituído da prova de materialidade e dos


indícios suficientes de autoria da infração penal, que vai embasar a peça acusatória. A pergunta

que se faz é: a justa causa é uma das condições genéricas da ação penal?

Sobre o assunto temos três correntes doutrinárias. A primeira afirma que a justa causa é
uma condição da ação específica do processo penal; a segunda corrente doutrinária afirma que

a justa causa é uma condição da ação penal, mas não tem natureza autônoma, pois na verdade
a justa causa é o interesse de agir no processo penal; e a terceira linha de pensamento afirma

que a justa causa não é uma condição da ação, apesar se precisar ser analisada no processo
penal.

A primeira corrente é a majoritária na doutrina brasileira, mas o art. 395 do CPP trata as

condições da ação e a justa causa como coisas diferentes, tratando de cada uma em incisos
diferentes quando elenca as hipóteses de rejeição da denúncia ou queixa, o que fortalece a

terceira corrente doutrinária.

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Para os defensores da primeira corrente, a previsão da justa causa em separado das

condições da ação no CPP quis apenas ressaltar a necessidade de sua observação, e não estaria
diferenciando-as. A necessidade do destaque para a justa causa se fundamentaria porque o CPP

não expressa quais seriam as condições da ação, usando subsidiariamente as condições do


processo civil que, obviamente, não trata da justa causa.

Independentemente da posição adotada, é fato que a presença da justa causa é

indispensável para a admissibilidade da inicial acusatória.

Você sabe o que é justa causa duplicada?

Nos crimes de lavagem de capitais não basta a presença de lastro probatório mínimo
quando à ocultação de bens, direitos ou valores, também é indispensável que na denúncia fique

comprovado que tais bens, direitos ou valores são provenientes direta ou indiretamente de
infração penal.

Portanto, o acusador deve demonstrar na inicial a prova da materialidade do crime de

lavagem de capitais e da infração penal antecedente. Ressalta-se que o crime de lavagem de


capitais será punível mesmo que se desconheça a autoria da infração antecedente, que seu

autor seja isento de pena ou que esteja extinta a sua punibilidade.

4.2.3 Condições específicas da ação penal

Em determinas situações, além das condições genéricas da ação penal, incluída a justa
causa, a lei exige o preenchimento de condições específicas para o exercício do direito de ação.

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Elas também devem ser verificadas no momento de admissibilidade da inicial acusatória e,

se não estiverem presentes, também será causa de rejeição da denúncia ou queixa. Caso a
ausência das condições específicas não seja notada no momento adequado, nada impede que

em outra fase processual, quando o magistrado perceber a sua ausência, o processo seja
anulado ab initio.

Temos como exemplos de condições específicas da ação penal:

 Representação do ofendido – nos crimes de ação penal pública condicionada à


representação.
 Requisição do Ministro da Justiça – nos crimes de ação penal pública condicionada
à requisição, como por exemplo, crimes contra a honra do Presidente da República.
 Provas novas quando o inquérito policial tiver sido arquivado por falta de provas
– de acordo com a Súmula 524 do STF, “arquivado o inquérito policial, por despacho
do juiz, a requerimento do Promotor, não pode a ação penal ser iniciada sem novas
provas”.
 Provas novas após a preclusão da decisão de impronúncia – em crimes dolosos
contra a vida, de competência do Tribunal do Júri, se o juiz não se convencer da
materialidade do fato ou da existência de indícios suficientes de autoria,
fundamentadamente, irá impronunciar o acusado. Entretanto, enquanto não ocorrer
a extinção da punibilidade, é possível nova denúncia se houver prova nova, que
passa a ser condição específica para o exercício do direito de ação.
 Autorização da Câmara dos Deputados – por dois terços de seus membros, a
Câmara de Deputados precisa autorizar a instauração de processo contra o
Presidente da República, o seu Vice-Presidente e contra os Ministros de Estado.
 Trânsito em julgado da sentença que anule o casamento por erro ou
impedimento – para os crimes de induzimento a erro essencial e de ocultação de
impedimento de casamento.

4.2.4 Condições de prosseguibilidade da ação penal

As condições da ação penal são as condições de procedibilidade, e devem estar presentes


para que o processo tenha início. Elas não se confundem com as condições de

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prosseguibilidade, que são condições supervenientes da ação, necessárias para que o processo

prossiga.

Um exemplo de condição de prosseguibilidade é o art. 152 do CPP, que determina a


suspensão do processo até que o acusado se restabeleça de doença mental que sobreveio à

infração. Portanto, a retomada da higidez mental do acusado no caso de insanidade


superveniente é uma condição de prosseguibilidade do processo. Enquanto isso não acontecer,

o processo fica suspenso, paralisado, com o prazo prescricional correndo normalmente – é o


que a doutrina chama de crise de instância.

Outro exemplo de condição de prosseguibilidade que podemos citar é o seguinte: com a

entrada em vigor da Lei 9.099/95, que trata dos Juizados Especiais, passou-se a exigir
representação do ofendido ou do seu representante legal para a propositura da ação penal nos

crimes de lesão corporal leve e culposa. Sabemos que a representação é uma condição de
procedibilidade, mas nos casos dos processos em andamento quando a lei dos Juizados

Especiais entrou em vigor, a representação era uma condição de prosseguibilidade. O ofendido,


ou o seu representante legal, foi intimado para que no prazo de 30 dias oferecesse a
representação, sob pena de decadência.

4.2.5 Condições objetivas de punibilidade

As condições objetivas de punibilidade são aquelas que, por questões de política criminal,

a punibilidade do sujeito fica condicionada à presença de elementos ou circunstâncias que não


estão expressas no tipo penal e são exteriores à conduta do agente.

Elas não se confundem com as condições da ação penal, que estão relacionadas ao

exercício do direito de ação; enquanto as condições objetivas de punibilidade estão relacionadas


com o direito penal. Por isso, a ausência de condição da ação gera a anulação do processo, e
não a absolvição do respectivo acusado. Ao contrário, a ausência de condição objetiva de

punibilidade impede o início da persecução penal e, se mesmo assim for proposta a ação penal,
haverá absolvição do acusado, decisão de mérito que faz coisa julgada formal e material.

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Essas condições são objetivas porque independem de dolo ou culpa agente, pois são fatos

externos à sua conduta. Conceitua-se a condição objetiva de punibilidade como um


acontecimento futuro e incerto que é exigido pelo legislador para que o fato se torne punível.

Exemplos de condição objetiva de punibilidade: a sentença declaratória de falência para os

crimes previstos na Lei 11.101/05 – Lei de Falências; e a decisão final do procedimento


administrativo nos crimes materiais contra a ordem tributária.

4.3 Pressupostos processuais

Os pressupostos processuais, assim como as condições da ação, também são necessários


para a admissibilidade da inicial acusatória. Portanto, a ausência de algum dos pressupostos do

processo ensejará a rejeição da denúncia ou queixa.

Eles podem ser classificados como subjetivos ou objetivos. Os subjetivos se relacionam


com o juiz e com as partes, enquanto os objetivos

Quanto ao juiz, temos os seguintes pressupostos processuais: a investidura, a competência


e a imparcialidade. A investidura de um magistrado pode ocorrer de várias formas, por exemplo,
no primeiro grau ela se dá após a aprovação em concurso de provas e títulos e, nos tribunais,

os seus membros podem ser investidos através de promoção na carreira de juiz pelos critérios
de antiguidade ou de merecimento, além da possibilidade de investidura através das vagas do

quinto constitucional.

A competência, que é a medida de jurisdição de um magistrado; e a imparcialidade, que


consiste na falta de interesse do juiz na causa, sem nenhum tipo de impedimento ou suspeição.

Quanto às partes, são pressupostos processuais que ela tenha capacidade de ser parte,

capacidade processual e capacidade postulatória. Para ter capacidade de ser parte é preciso
ter mais de 18 anos. Se um acusado tiver menos de 18 anos responderá um processo de acordo

com as regras do ECA e o CPP será usado apenas de forma subsidiária.

19
Lembre-se que o inimputável por doença mental tem capacidade de ser parte em um

processo penal, até mesmo porque existe ações de prevenção penal, que são aquelas que não
objetivam a condenação do acusado, mas sim a sua absolvição impropria e aplicação de uma

medida de segurança.

Portanto, se o examinador te preguntar se o inimputável tem capacidade de ser parte no


processo penal, você vai responder: DEPENDE! O inimputável por idade não tem capacidade de

ser parte, mas o inimputável por doença mental, tem. 😉

A capacidade processual, por sua vez, consiste na capacidade de exercer plenamente os


atos da vida civil. Para as pessoas que não possuem capacidade processual, o juiz deve nomear,

de ofício ou a requerimento, um curador, que vai representar a parte que não tem capacidade
processual no decorrer do processo.

No caso do inimputável por doença mental que vimos acima, ele tem capacidade de ser

parte, pode ser réu no processo penal, mas não tem capacidade processual, pois não é capaz
de exercer os atos da vida civil. Por isso, nos processos penais que tenham como parte um

inimputável por doença mental, deve existir um curador.

Com isso, podemos afirmar que o inimputável menor de 18 anos não tem capacidade
processual e nem capacidade de ser parte no processo penal, enquanto o inimputável por

doença mental, apesar de ter capacidade de ser parte, não tem capacidade processual.

Por fim, a capacidade postulatória é a capacidade de atuar em juízo, que pertence ao


advogado. Quanto ao réu, existe no processo penal a autodefesa e a defesa técnica, obrigatória

e que precisa de capacidade postulatória para ser exercida. Ou seja, o réu do processo penal

20
precisa de um advogado para suprir a falta de capacidade postulatória (salvo se ele for

advogado), seja ele contratado, defensor público ou defensor dativo.

Também é exigida a capacidade postulatória quando a vítima (ou o seu representante


legal) ingressa como autor em uma ação penal. Ela deve possuir capacidade de ser parte e

capacidade processual, entretanto, a sua falta de capacidade postulatória é suprida por um


advogado. Assim, podemos afirmar que titularidade da ação penal de iniciativa privada é da

vítima, mas o seu exercício se dá por intermédio do advogado. Ademais, é claro que se a própria
vítima for advogado(a), poderá exercer a capacidade postulatória em causa própria.

Os pressupostos processuais de caráter objetivo se dividem em pressupostos processuais

intrínsecos e extrínsecos. Os pressupostos extrínsecos consistem na ausência de alguma causa


impeditiva, como a litispendência e a coisa julgada. E o pressuposto processual intrínseco é a

regularidade do processo.

21
Investidura

Juiz Competência

Imparcialidade
Subjetivos
Capacidade de
ser parte

Capacidade
Partes
processual

Pressupostos Capacidade
processuais postulatória

Litispendência
Extrínsecos
Coisa julgada
Objetivos

Regularidade
Intrínsecos
do processo

4.4 Modalidades de ação penal

A ação penal de conhecimento pode ser dividida em modalidades dependendo da razão

da provocação da tutela jurisdicional. Em regra, ela é condenatória, mas também temos ação
penal de natureza constitutiva e declaratória.

A ação penal condenatória pode ser própria ou imprópria. A primeira visa sancionar o réu,

enquanto a segunda, a ação penal condenatória imprópria, vida a prevenção – é a hipótese em


que o próprio MP reconhece a imputabilidade por doença mental e pede a absolvição imprópria
do acusado, com aplicação de medida de segurança.

22
A ação de natureza constitutiva visa criar, modificar ou extinguir uma situação jurídica e,

no processo penal, isso ocorre nas ações de revisão criminal, pedido de homologação de
sentença estrangeira, pedido de extradição passiva e no habeas corpus para anular processo

por ausência de citação. Mais rara, mais não impossível, a ação penal de natureza declaratória
objetiva a declaração da existência ou não de uma relação jurídica, como por exemplo, um

habeas corpus que vise a declaração da extinção de punibilidade.

Não é possível imaginar a existência de um processo cautelar autônomo no âmbito penal,


mas é perfeitamente possível a concessão de medidas cautelares que, inclusive, são muito

comuns nas situações em que providências urgentes sejam necessárias para garantir o exercício
da jurisdição.

Por fim, a ação penal pode ser de execução. Ao contrário do processo civil, em que a

execução obedece ao princípio da demanda, no processo penal a execução deve ocorrer de


ofício.

Atenção para a novidade! Após muito debate doutrinário e jurisprudencial, o Pacote


Anticrime, Lei 13.964/19, alterou o art. 51 do Código Penal para afirmar que a pena de multa
deve ser executada perante o juiz da execução penal.

Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante
o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas
à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e
suspensivas da prescrição.

23
No tema do presente capítulo nos interessa apenas as ações penais condenatórias, também

chamadas de ação penal propriamente ditas, que buscam a condenação ou a absolvição


imprópria do acusado. Elas são classificadas como ação penal de iniciativa pública e ação penal

de iniciativa privada.

AÇÃO
PENAL

DE INICIATIVA DE INICIATIVA
PÚBLICA PRIVADA

PROPRIAMENTE
INCONDICIONADA CONDICIONADA PERSONALÍSSIMA SUBSIDIÁRIA
DITA

4.5 Ação Penal Pública

A ação penal de iniciativa pública, ou simplesmente ação penal pública, é titularizada pelo
Ministério Público, de acordo com o art. 129, I da CF: “são funções institucionais do Ministério
Público: I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei”.

Para promover a ação pública, o MP utilizará a denúncia como peça inaugural, que deve
conter a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando

necessário, o rol das testemunhas.

4.5.1 Ação penal pública incondicionada

A regra no sistema jurídico é que a ação penal seja pública incondicionada, portanto,
quando a lei não disser expressamente qual o tipo de ação penal aplicado ao crime, ele será de
ação penal pública incondicionada, na qual o MP é o titular e não se submete às condições
específicas de representação ou requisição para exercer o direito de ação.

24
Art. 24, § 2º, CPP – Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do patrimônio
ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal será pública.

Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em
que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e
indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.

4.5.2 Ação penal pública condicionada

A ação penal pública pode ser condicionada à representação do ofendido ou à requisição

do Ministro da Justiça. Nesses casos, o Ministério Público continua sendo o titular da ação penal,
mas não pode exercer o seu direito de ação de ofício, como nos casos de ação penal pública
incondicionada.

Quando a lei exige a representação do ofendido ou a requisição do Ministro da Justiça, o


MP só está autorizado a oferecer a denúncia quando essas condições estiverem presentes.

Art. 24, do CPP – Nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do
Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da
Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.

A ação penal será condicionada à representação do ofendido em crimes como a ameaça,

a lesão corporal leve ou culposa, o furto de coisa comum, entre outros.

Preste atenção em algumas considerações importantes relacionadas à matéria:

 Os crimes de lesão corporal leve ou culposa cometidos no contexto de violência


doméstica ou familiar contra a mulher, que se enquadram na Lei Maria da Penha, são de
ação penal pública incondicionada, pois o dispositivo que condicionada a persecução
penal desses crimes à representação do ofendido está na Lei 9.099/95 (Lei dos Juizados
25
Especiais), que não se aplica aos casos da Lei Maria da Penha por disposição expressa do
seu art. 41.
 Existem casos de ação penal pública condicionada à representação no âmbito de
incidência da Lei Maria da Penha, como o crime de ameaça.
 A Lei 13.718/18 transformou todos os crimes contra a dignidade sexual em crimes de
ação penal pública incondicionada. Antes de 25 setembro de 2018, a regra era a de que
os crimes sexuais seriam de ação penal pública condicionada à representação do ofendido
(exceções: vítima menor de 18 anos ou vítima vulnerável – casos em que a ação penal já
era pública incondicionada).
 A Lei 13.718/18 é uma lei processual mista por tratar da matéria de ação penal, por isso,
aplicamos a regra do direito material na sua sucessão no tempo, ou seja, a lei nova deve
retroagir apenas para beneficiar o réu. Como a nova lei de 2018 não exige mais a
condicionante para o exercício da ação, ela prejudicaria os agentes que cometeram o
crime antes da sua vigência e não foram representados. Portanto, ela não deve retroagir,
devemos aplicar a nova lei apenas para os crimes cometidos após 25/09/2018.
 A Súmula 608 do STF dispõe que “no crime de estupro, praticado mediante violência real,
a ação penal é pública incondicionada” e, apesar de muito criticada pela doutrina, só se
aplica aos crimes praticados antes da Lei 13.718/18.
 O estelionato, tipificado no art. 171 do CP como “obter, para si ou para outrem, vantagem
ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício,
ardil, ou qualquer outro meio fraudulento” passou a ser, em regra, de ação penal pública
condicionada à representação do ofendido por meio do pacote anticrime – Lei 13.964/19,
que entrou em vigor 24/01/2020. As exceções, casos em que o crime de estelionato
continua sendo de ação penal pública incondicionada, são: quando a vítima for a
Administração Pública direta ou indireta, criança ou adolescente, pessoa com deficiência
mental, maior de 70 anos ou incapaz.

A representação do ofendido é uma condição específica de procedibilidade que consiste

em qualquer manifestação inequívoca da vontade de deflagrar a persecução penal em juízo.

26
Não é exigido qualquer rigor formal, como por exemplo, a presença de advogado, servindo

como representação até mesmo a notitia criminis apresentada verbalmente em delegacia e


reduzida à termo.

O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com

poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério
Público, ou à autoridade policial.1

A titularidade do poder de representar é do ofendido ou do seu representante legal,

contudo, se ele morrer ou for declarado ausente por meio de decisão judicial, esse poder passará
aos seus sucessores – C.A.D.I.: cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.

Art. 24, § 1º, do CPP – No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por
decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente
ou irmão.

Para realizar a representação, o ofendido possui um prazo de natureza decadencial de 6


meses, contados do conhecimento da autoria do delito. Por ser um prazo decadencial, é de

direito matéria, ou seja, inclui o dia do início na contagem e desconsidera as frações de dia.
Ademais, é improrrogável, não se interrompe e nem se suspende.

Formulada a representação, é possível a retratação do ofendido até o momento do

oferecimento da denúncia pelo MP.

Art. 25. A representação será irretratável, depois de oferecida a denúncia.

Especificamente nos casos de aplicação da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), a retratação
da representação da ofendida é possível, mas deve atender requisitos próprios previstos no art.

1
Vide questão 03 dessa apostila

27
16: só será admitida perante o juiz, em audiência especialmente designada com tal finalidade,

antes do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.

É possível a retratação da retratação? Apesar de não existir previsão legal, a doutrina

majoritária entende que é possível uma nova representação depois da retratação, ou seja, uma
retratação da retratação. Portanto, é possível que o ofendido represente e se retrate quantas

vezes quiser até o fim do prazo decadencial – 6 meses contados do reconhecimento da autoria.

A representação do ofendido é de caráter objetivo, ela se refere ao fato e não à pessoa.


Assim, se o ofendido representar um dos coautores, o Ministério Público poderá oferecer

denúncia quanto a todos os demais agentes envolvidos.

Por fim, devemos salientar que a representação do ofendido não vincula o Ministério
Público. Ela funciona como uma autorização e como um pedido, mas se o membro do MP

entender que não há motivos para processar o agente, não estará obrigado.

A ação penal será pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça em crimes


contra a honra do Presidente da República, de Chefe de Governo Estrangeiro, praticados no

exterior por estrangeiro contra brasileiro, e em outros casos previstos na Lei de Segurança
Nacional.

Ao contrário da representação do ofendido, a requisição do Ministro da Justiça deve ser

feita formalmente, sem prazo decadencial estabelecido. Portanto, enquanto não houver a
prescrição do crime, o Ministro da Justiça poderá oferecer a requisição ao Ministério Público.

A requisição do Ministro da Justiça também tem eficácia objetiva, ou seja, se refere ao fato

e não ao seu agente. Portanto, a partir da requisição o Ministério Público poderá oferecer
denúncia sobre todos os participantes do fato, independentemente de citados ou não pelo

Ministro.

28
Apesar de se chamar “requisição”, assim como a representação do ofendido, a requisição

do Ministro da Justiça não vincula o MP, que tem independência funcional e não está
subordinado hierarquicamente ao Ministério da Justiça.

Cabe retratação da requisição do Ministro da Justiça? diferentemente do que ocorre com

a retratação da representação do ofendido, o tema não foi tratado pela lei e a jurisprudência
nunca teve oportunidade de se manifestar sobre o assunto. Na doutrina, alguns defende, que

não seria possível essa retratação porque não há previsão legal e a retratação demonstraria
grande instabilidade institucional, pois a requisição de um Ministro de Estado é um ato político.

Por outro lado, uma doutrina mais moderna defende que a retratação da requisição seria
possível exatamente porque não há uma proibição legal e a mudança de um ato político é

perfeitamente compatível com o regime democrático de direito.

4.6 Ação Penal Privada

A ação penal de iniciativa privada é titularizada pelo ofendido ou pelo seu representante

legal, que a promoverá mediante queixa-crime, seguindo todos os requisitos da denúncia –


exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou

esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário,


o rol das testemunhas – e por intermédio de advogado.

Mesmo não sendo titular das ações penais privadas, o Ministério Público deve atuar em

todos os atos do processo como custos legis, ou melhor, como afirma a doutrina mais moderna,
como custos juris. Portanto, podemos afirmar que não existe processo penal sem participação
do Ministério Público.

Existem três tipos de ação penal de iniciativa privada: a ação penal privada exclusiva,
também chamada de ação penal exclusivamente privada, ou ainda de ação penal privada
propriamente dita; a ação penal privada personalíssima; e a ação penal privada subsidiária da

pública, também chamada de ação penal privada supletiva.

29
4.6.1 Ação penal privada propriamente dita

A ação penal privada propriamente dita é a regra entre os crimes de ação penal privada.
O seu titular é o ofendido ou o seu representante legal e em caso de sua morte ou declaração

de ausência por decisão judicial, a legitimidade ativa da ação penal passará para o seu cônjuge,
ascendente, descendente ou irmão (o famoso CADI).

Obs.: quando a legislação se refere ao cônjuge, podemos interpretar de forma a abranger

o companheiro e a companheira.

Para a apresentação da queixa-crime, o ofendido ou o seu representante legal possui o


prazo decadencial de 6 meses, contados do conhecimento da autoria.2

Os exemplos clássicos de crimes de ação penal privada são os crimes contra a honra –

calúnia, injúria e difamação. Entretanto, temos algumas exceções, casos em que esses crimes
não serão de ação penal privada: primeiramente, a ação penal será pública incondicional nos

casos de injúria real ou de crimes eleitorais contra a honra; a ação penal será pública
condicionada à representação do ofendido em crimes de injúria qualificada e em crimes contra

a honra de funcionário público no exercício de suas funções ou em razão delas; e a ação penal
será pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça quando o crime contra a honra

for cometido contra o Presidente da República ou contra Chefe de Governo estrangeiro.3

Quanto ao crime contra a honra de funcionário público, o STF editou a Súmula 714 que
dispõe: “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público,

2
Vide questão 01 desse material
3
Vide questão 04 desse material

30
condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de

servidor público em razão do exercício de suas funções”.

Posteriormente o próprio Supremo explicou que, em verdade, a legitimidade é alternativa,


pois não seria possível que o ofendido e o MP atuassem ao mesmo tempo como titulares da

ação penal. Portanto, na prática, ou o funcionário público ofendido oferece a queixa-crime, ou


ele oferece representação para que o Ministério Público possa denunciar.

4.6.2 Ação penal privada personalíssima

A ação penal privada personalíssima se diferencia da ação penal privada propriamente

dita porque nela a morte da vítima não permite que a titularidade da ação seja passada para
os seus sucessores (CADI). Ou seja, só a vítima pode oferecer a queixa-crime e a sua morte

extingue a punibilidade do infrator.

Só existem dois casos de ação penal personalíssima no Brasil, e ambos estão tipificados no
art. 236 do Código Penal – erro essencial sobre a pessoa no casamento e a ocultação dolosa de

impedimento no casamento, que não seja um casamento anterior (que seria crime de bigamia).

A ação penal depende do oferecimento da queixa-crime pelo contraente do casamento


que foi enganado, dentro do prazo decadencial de 6 meses, que tem como marco inicial o

trânsito em julgado da sentença judicial que anular o casamento.

Portanto, ação penal não pode ser intentada senão depois de transitar em julgado a
sentença cível que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.

4.6.3 Ação penal privada subsidiária da pública

Por fim, a ação penal privada subsidiária da pública pode ser proposta nas situações em

que o Ministério Público, titular da ação penal pública, fica inerte por mais tempo do que a lei

31
autoriza, sem oferecer a denúncia, requisitar novas diligências, declinar a competência, suscitar

conflito de competência, e nem requerer o arquivamento do inquérito.

Nessas situações, o ofendido (ou o seu representante legal) está autorizado a propor uma
queixa-crime subsidiária, mesmo que o crime seja de ação penal pública, no prazo decadencial

de 6 meses, contados do fim do prazo legal previsto para o MP se manifestar, sem essa
manifestação.

Lembre-se que a ação penal subsidiária deve ser intentada pelo ofendido. Por isso, não
são todos os crimes de ação penal pública que admitem a ação penal privada subsidiária, pois

nem todos os crimes possuem um ofendido específico, como por exemplo, o tráfico de drogas
e os crimes ambientais, que chamamos de crimes vagos – crimes que atingem a coletividade.

Nas ações penais privadas subsidiárias cabe ao Ministério Público, aditar a queixa, repudiá-

la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos


de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a

ação como parte principal.

Em todas as modalidades de ação penal privada o Ministério Público pode fazer um


aditamento da queixa-crime, sem acrescentar fato e réus. Entretanto, especificamente na ação

penal privada subsidiária o MP tem ampla legitimidade de aditamento, podendo, inclusive,


acrescentar corréus.

Ademais, a ação penal privada subsidiária da pública não é compatível com o perdão do
ofendido ou com a perempção, que são institutos típicos das outras ações penais privadas e
que extinguem o processo e a punibilidade do réu. Caso haja o perdão do querelante ou a

32
perempção na ação penal privada subsidiária, o Ministério Público deve retomar o processo

como seu titular.

4.7 Requisitos da denúncia e da queixa-crime

O CPP estabelece quatro requisitos para a inicial acusatória – denúncia ou queixa.4

 Exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias;


 Qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo;
 Classificação do crime; e
 Rol de testemunhas.
Os dois primeiros são considerados essenciais e, portanto, obrigatórios. Assim, a falta de
um deles faz com a denúncia ou queixa seja rejeitada por inépcia. Todavia, os outros dois

requisitos não são essenciais e, portanto, mesmo que não estejam presentes será possível
receber a denúncia ou queixa.

A exigência de exposição do fato criminoso em todas as suas circunstâncias significa

que o fato deve ser narrado na peça acusatória, permitindo que o réu possa conhecer o que a
ele está sendo imputado e exercer o seu direito de defesa.

Exposição do fato criminoso, os crimes societários e os crimes multitudinários:

Os crimes societários são aqueles praticados por intermédio de pessoas jurídicas. Não é a
pessoa jurídica que comete o crime, pois isso só pode ocorrer nos crimes ambientais, mas ela

serve para que pessoas naturais pratiquem a conduta criminosa, como ocorre em uma
sonegação fiscal, por exemplo. Já os crimes multitudinários são aqueles praticados em multidão.

4
Vide questão 07 e 08 desse material
33
Nos crimes societários, ao denunciar os sócios, o MP não tem como individualizar e narrar

todas as condutas e fatos em suas circunstâncias. A exigência desse requisito para o recebimento
da denúncia dificultaria a ação do MP ao ponto de gerar impunidade dos autores.

Visto isso, a jurisprudência passou a aceitar em determinados casos, como nos crimes

societários e nos crimes multitudinários, a denúncia genérica, que é aquela que não preenche
o primeiro requisito do art. 41 do CPP.

Quando for possível a apresentação da denúncia genérica basta que MP demonstre a

vinculação dos acusados ao fato criminoso, sem necessariamente pormenorizar a sua atuação.

Prioritariamente a lei exige como segundo requisito da peça acusatória a qualificação do


acusado, com seu nome completo, profissão, estado civil, sua documentação...

Se essa qualificação não for possível, é necessário que a parte autora esclareça formas de
identificar o agente. Imagine que um sujeito preso em flagrante não se identifica na forma civil
e a sua identificação criminal não encontra correspondência nos bancos de dados disponíveis.

Nessa hipótese é plenamente possível descrevê-lo na peça acusatória a partir de outros


elementos, até mesmo com o seu número de registro no sistema carcerário.

A classificação do crime não é um requisito essencial da peça acusatória porque o juiz

não está vinculado a ele para proferir a sua decisão. No processo penal o juiz está vinculado
aos fatos narrados. Portanto, se o acusador narra um furto e insere a conduta do agente no

tipo penal do roubo, o juiz analisará o furto.

Por fim, o rol de testemunhas deve ser apresentado no momento da denúncia ou queixa,
quando for necessário. A testemunha é apenas um dos vastos meios de provas admitidos no

direito, assim, um processo pode ser instruído por outras provas que não seja essa. Temos então
um requisito que não é essencial, pois a sua ausência não causará rejeição da peça acusatória.

Especificamente em relação à queixa-crime, se o querelante não for advogado, ainda

temos a exigência da procuração com poderes especiais específicos para o oferecimento da

34
inicial, apontando quem se quer processar e qual o fato pelo qual se quer processar. Caso a

queixa seja oferecida sem essa procuração, o juiz não deve rejeitar a denúncia de plano, deve
dar oportunidade para que o vício seja sanado.

Tradicionalmente era entendido que a juntada dessa nova procuração com poderes

especiais deveria ocorrer dentro do prazo decadencial da ação penal. Entretanto, o STJ definiu
que essa alteração da queixa pode ser feita à qualquer tempo.

4.8 Princípios da ação penal pública

4.8.1 Princípio do ne procedat iudex ex officio

Com a adoção do sistema acusatório pelo nosso ordenamento jurídico, o órgão de


acusação deve obrigatoriamente ser distinto do órgão julgador. Portanto, o juiz não pode dar

início ao processo de ofício. Também é a partir do princípio do ne procedat iudex officio que
retiramos proibição de o juiz proferir provimento à matéria que não tenha sido levada ao
processo pelas partes (princípio da correlação entre a acusação e a sentença).

O princípio em análise impede que o magistrado inicie uma ação penal condenatória de
ofício, mas não impede que possam conceder habeas corpus de ofício quando, no curso do
processo, verificarem que alguém está sofrendo ou presta a sofrer coação ilegal.

Por fim, cabe destacar que a inércia do juiz é aplicável tanto à ação penal pública, como à
ação penal privada.

4.8.2 Princípio do ne bis in idem

Também conhecido como princípio da inadmissibilidade da persecução penal múltipla, o


princípio do ne bis in idem é aplicável tanto à ação penal pública, quanto à ação penal privada.

Ele significa que ninguém pode ser processado duas vezes pela mesma imputação.

Assim, entende-se que duas ações penais são idênticas quando têm o mesmo acusado no
polo passivo e o mesmo fato criminoso a ele atribuído.

35
Portanto, se um acusado for absolvido de um crime por falta de provas, depois do

respectivo trânsito em julgado não é mais possível oferecer uma nova denúncia ou queixa em
relação ao mesmo fato, mesmo que com novas provas.

Até mesmo se a decisão absolutória ou extintiva de punibilidade for proferida por um juiz

incompetente, o acusado fica impedido de ser novamente processado pelos mesmos fatos
perante a justiça competente. A decisão do juízo incompetente não é inexistente, mas sim nula.

Sabendo que não há revisão criminal pro societate, não é possível que o agente seja novamente
processado pela mesma imputação.

Reforçamos que a aplicação do princípio do ne bis in idem só ocorre quando o fato

imputado ao agente for o mesmo. No HC 285.589/MG, a 5ª Turma do STJ decidiu que se o


agente tiver sido condenado em uma primeira ação penal pelo crime de roubo contra uma

instituição bancária não poderá ser condenado por crime de roubo contra o gerente do banco
em um segundo processo se ambos os crimes aconteceram no mesmo contexto fático.

Devemos aplicar o princípio da consunção ao objeto do processo penal, ou seja, tudo o

que pode ser imputado ao acusado no mesmo fático deve ser feito sob pena de jamais poder
vir a sê-lo novamente.

Por fim, o princípio do ne bis in idem não pode ser aplicado aos casos em que o primeiro

julgamento baseado em certidão de óbito falsa. Nesses casos, o Supremo entende que é possível
a revogação da decisão que extingue a punibilidade do acusado por inexistência de coisa julgada

em sentido estrito. Caso contrário, o acusado estaria se beneficiando de uma conduta ilícita.

4.8.3 Princípio da obrigatoriedade

Diante da prova da materialidade de infração penal e indícios suficientes de autoria ou

participação, o Ministério Público é obrigado a oferecer a denúncia.

36
Exceções ao princípio da obrigatoriedade: nos crimes de menor potencial ofensivo, o MP

pode propor uma transação penal; no acordo de colaboração premiada é possível cláusula
que desobrigue o MP de oferecer a denúncia; e o acordo de não persecução penal, que não

está previsto em lei, mas apenas em uma resolução do CNMP, por meio do qual o MP pode
deixar de oferecer denúncia em algumas situações.

O acordo de não persecução penal vem sendo muito criticado por não ser previsto em lei,

mas quem defende a sua constitucionalidade alega que o Supremo Tribunal Federal entende
que as resoluções do CNJ e do CNMP possuem normatividade primária, ou seja, têm força de
lei.

4.8.4 Princípio da indisponibilidade

De acordo com o princípio da indisponibilidade, o Ministério Público não pode desistir da

ação penal.

Esse princípio ainda se estende à fase recursal, ou seja, além de não poder desistir da ação
penal, o MP não pode desistir dos recursos que eventualmente tenha interposto. Interessante

notar que na fase recursal não vigora o princípio da obrigatoriedade, portanto, o MP não é
obrigado a recorrer, mas, se eventualmente o fizer, não poderá desistir.

Nos casos em que, após o oferecimento da denúncia, o próprio representante do MP se

convence da inocência do acusado, ele deve requerer a sua absolvição (que não vincula o juiz),
mas não desistir ou abandonar a ação.

37
Sobre o assunto, vale a pena destacar que o art. 385 do CPP dispõe que nos crimes de

ação pública, o juiz poderá proferir sentença condenatória, ainda que o Ministério Público tenha
opinado pela absolvição, bem como reconhecer agravantes, embora nenhuma tenha sido

alegada.

A exceção ao princípio da indisponibilidade é a suspensão condicional do processo,


instituto previsto na lei dos Juizados Especais que estabelece a possibilidade de o MP propor a

suspensão do processo entre 2 e 4 anos, desde que o sujeito cumpra algumas condições.
Passado o prazo e cumpridas as condições, haverá a extinção do processo e da punibilidade do

agente.

4.8.5 Princípio da intranscendência

O princípio da intranscendência é um princípio aplicável tanto à ação penal pública quanto

à ação penal privada. Ele é derivado do princípio da intranscendência das penas, do direito
penal, também chamado de princípio da pessoalidade das penas ou de princípio da

personalidade das penas.

No direito penal ele significa que a pena não pode passar da pessoa do condenado,
enquanto no processo penal ele significa que a condição de réu não pode passar da pessoa do

réu.

Portanto, se o réu morre, extingue-se o processo, pois ninguém poderá sucedê-lo nesta
condição.

4.8.6 Princípio da (in)divisibilidade

Quando temos mais de um autor ou partícipe em um fato criminoso, mas só há indícios


suficientes de autoria para subsidiar uma denúncia contra um ou alguns deles, majoritariamente,

a doutrina e a jurisprudência aplicam o princípio da divisibilidade da ação penal pública.

38
Segundo esse princípio, nada impede que o Ministério Público ofereça denúncia contra um

ou alguns autores ou partícipes do crime e continue a investigar o(s) outro(s), que pode(m) ou
não ser processado(s) a posteriori.

Se o MP se convencer dos indícios de autoria do(s) autor(es) ou partícipe(s) que continuou

investigando, poderá aditar a primeira denúncia ou oferecer uma nova, dependendo da


conveniência do momento processual.

Os doutrinadores, minoritários, que defendem a aplicação do princípio da indivisibilidade

na ação penal pública não negam essa possibilidade de primeiro denunciar um(ns) agente(s) e
depois outro(s), mas afirmam que, como ao final o MP deve processar todos eles, o princípio a

ser aplicado é o da indivisibilidade da ação penal, que é a ideia de que todos os envolvidos
precisam ser processados, como um desdobramento do princípio da obrigatoriedade.

4.8.7 Princípio da oficialidade/ autoritariedade

O princípio da oficialidade significa que a titularidade da ação penal pública pertence a um


órgão oficial do Estado – que é o Ministério Público.

O princípio da autoritariedade, muitas vezes tratado como sinônimo do princípio da

oficialidade, significa que devemos ter uma autoridade pública à frente da ação penal pública –
que é o membro do MP.

4.8.8 Princípio da oficiosidade

O princípio da oficiosidade é a possibilidade de o Ministério Público agir de ofício,

independentemente de provocação.

Atenção: o princípio da oficiosidade só se aplica aos casos de ação penal pública


incondicionada, que é aquela que não depende de representação do ofendido ou do seu

representante legal e nem de requisição do Ministro da Justiça.

39
4.9 Princípios da ação penal privada

4.9.1 Princípio da oportunidade

Ao contrário da ação penal pública que obedece ao princípio da obrigatoriedade, na ação


penal privada temos a incidência do princípio da oportunidade.

Assim, se o ofendido está diante da prova da materialidade do crime e indícios suficientes

de autoria ou participação, ele não está obrigado a oferecer a queixa-crime, que só será
oferecida se lhe parecer conveniente e oportuno.

A renúncia é o instituto que concretiza o princípio da oportunidade, portanto, ocorre antes

do exercício da ação penal. A renúncia pode ser expressa ou tácita. A primeira ocorre quando
formalmente o ofendido declara que não vai exercer o seu direito de ação. A renúncia expressa

constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com
poderes especiais.5

A Renúncia é um assunto que o examinador ama cobrar quando se trata da ação penal.
Vejamos como este assunto foi cobrado no exame de ordem:

(XXIV EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Lívia, insatisfeita com o fim do relacionamento
amoroso com Pedro, vai até a casa deste na companhia da amiga Carla e ambas começam a

quebrar todos os porta-retratos da residência nos quais estavam expostas fotos da nova
namorada de Pedro. Quando descobre os fatos, Pedro procura um advogado, que esclarece a

natureza privada da ação criminal pela prática do crime de dano.

5
Vide questão 02 e 05 desse material

40
Diante disso, Pedro opta por propor queixa-crime em face de Carla pela prática do crime de

dano (Art. 163, caput, do Código Penal), já que nunca mantiveram boa relação e ele tinha
conhecimento de que ela era reincidente, mas, quanto a Lívia, liga para ela e diz que nada fará,

pedindo, apenas, que o fato não se repita.


Apesar da decisão de Pedro, Lívia fica preocupada quanto à possibilidade de ele mudar de

opinião, razão pela qual contrata um advogado junto com Carla para consultoria jurídica.
Considerando apenas as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que ocorreu

A) renúncia em relação a Lívia, de modo que a queixa-crime não deve ser recebida em relação
a Carla.

B) renúncia em relação a Lívia, de modo que a queixa-crime deve ser recebida apenas em relação
a Carla.

C) perempção em relação a Lívia, de modo que a queixa-crime deve ser recebida apenas em
relação a Carla.

D) perdão do ofendido em relação a Lívia, de modo que a queixa-crime deve ser recebida
apenas em relação a Carla.

Observação: A questão acima citada e o seu respectivo comentário encontram-se no


final da apostila! Não deixe de dar uma conferida, ok? 😉

A renúncia tácita ocorre quando o ofendido fica inerte, deixando correr o prazo decadencial

para propor a ação que, em regra, é de 6 meses contados do conhecimento da autoria; ou


quando o ofendido pratica ato incoerente com a vontade de processar alguém criminalmente.

Atenção: nos crimes do CPP, a aceitação de uma indenização não representa uma renúncia

tácita. Já nos crimes do Juizado Especial, a aceitação de uma indenização pode representar uma
composição civil dos danos, que extingue a punibilidade do agente.

Ainda, vale destacar que a renúncia quanto ao exercício do direito de queixa contra um
dos autores do crime se estende aos demais coatores e partícipes. Assim, o ofendido deve
processar todos infratores, ou não processar nenhum. A fiscalização da obediência dessa regra

41
cabe ao Ministério Público, que deve aditar a queixa caso verifique que o querelante não acusou

todos os agentes.

O ato de renunciar é unilateral, ou seja, não depende da concordância do ofensor.

4.9.2 Princípio da disponibilidade

Na ação penal privada é perfeitamente possível que o querelante, depois de oferecida a


queixa-crime, desista da ação penal.

Vimos que o instituto que concretiza o princípio da oportunidade é a renúncia, agora,

temos dois institutos que concretizam o princípio da disponibilidade: o perdão do ofendido e a


perempção.

O perdão do ofendido ocorre durante o processo e precisa da concordância do acusado

(trata-se de um ato bilateral). Se o querelado aceitar o perdão, haverá extinção do processo e


da sua punibilidade.

Art. 55, do CPP – O perdão poderá ser aceito por procurador com poderes especiais.

Assim como a renúncia, o perdão do ofendido também se estende a todos os querelados.

Entretanto, como se trata de um ato bilateral, podemos dizer que a proposta de perdão se
estende a todos, mas ele só produzirá efeitos para aqueles que o aceitarem. Havendo recusa de

algum(ns) querelado(s), o processo deve continuar normalmente apenas contra ele(s).

O perdão tem o prazo de 10 dias para ser aceito ou recusado. Passados esses 10 dias sem
resposta do querelado, considera-se que há aceitação. É o que chamamos de perdão tácito.

A perempção também extingue o processo e a punibilidade do querelado. Ela ocorrer nas

seguintes hipóteses legais previstas no art. 60 do CPP:

42
 Quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos;
 Quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer
em juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias,
qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
Art. 31. No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial,
o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão.6

Art. 36. Se comparecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência o
cônjuge, e, em seguida, o parente mais próximo na ordem de enumeração constante do
art. 31, podendo, entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante desista
da instância ou a abandone.

 Quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer


ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de
condenação nas alegações finais;
 Quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar
sucessor.
Os sucessores de uma pessoa jurídica são previstos no seu respectivo contrato ou estatuto
social. Caso ele seja silente quanto à sucessão, incide o art. 60, IV do CPP.

6
Vide questão 10 desse material.
43
Os institutos estudados – renúncia, perdão do ofendido e perempção – só se aplicam às

ações privadas propriamente ditas e às ações privadas personalíssimas. Não é possível aplicá-
los nos casos de ação penal privada subsidiária da pública.

Nesse contexto, alguns autores falam em perempção imprópria, que seria uma das

hipóteses de perempção do art. 60 do CPP em ação penal privada subsidiária da pública.


Entretanto, a perempção imprópria não extinguiria o processo e nem a punibilidade do agente,

mas sim faria com que o Ministério Público reassumisse a titularidade do processo.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NA AÇÃO PENAL PRIVADA


Instituto Momento Forma Aceitação
Antes do início Expressa Não precisa
RENÚNCIA do processo ou
tácita
Após o início Expresso Precisa
PERDÃO do processo ou
tácito

4.9.3 Princípio da indivisibilidade7

Segundo o princípio da indivisibilidade, a queixa-crime não pode ser oferecida apenas


contra alguns dos autores do crime. O querelante deve processar todos os coautores e

partícipes, ou nenhum deles.

7
Vide questão 09 desse material.
44
O Ministério Público deve zelar pela aplicação desse princípio como custos legis na ação penal

de iniciativa privada. Portanto, caso verifique que o autor não processou todos os envolvidos
no fato criminoso, o MP tem o dever de se pronunciar para que o querelante regularize a sua

peça inicial ou reconheça a sua renúncia em relação a todos. O MP não pode incluir os
agentes que faltam na queixa crime porque ele não é titular da ação.

45
QUADRO SINÓTICO

DIREITO DE AÇÃO
Direito público subjetivo da parte acusadora
de pedir ao Estado-Juiz que, mediante o
Conceito
devido processo legal, aplique o direito penal
objetivo em um caso concreto.
 Público
 Subjetivo
 Abstrato
Características
 Autônomo
 Delimitado e específico
 instrumental
CONDIÇÕES DA AÇÃO
Condições genéricas Condições específicas
 Legitimidade  Representação do ofendido
 Interesse de agir  Requisição do Ministro da Justiça
 Justa causa  Provas novas quando o inquérito for
arquivado por fata de provas
 Provas novas após a preclusão da
decisão de impronúncia
 Autorização da Câmara dos Deputados
 Trânsito em julgado da sentença que
anule casamento por erro ou
impedimento
 ...
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
Subjetivos Objetivos
JUIZ PARTES EXTRÍNSECOS INTRÍNSECOS

46
 Investidura  Capacidade de  Litispendência Regularidade do
 Competência ser parte  Coisa julgada processo
 Imparcialidade  Capacidade
processual
 Capacidade
postulatória
REQUISITOS DA DENÚNCIA OU QUEIXA
 Exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias
 Qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo
 Classificação do crime
 Rol de testemunhas, quando necessário
AÇÃO PENAL
Incondicionada
à representação do
DE INICITIVA PÚBLICA ofendido
Condicionada
à requisição do
Ministro da Justiça
Propriamente dita
DE INICIATIVA PRIVADA Personalíssima
Subsidiária da pública
PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL
PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PÚBLICA PRINCÍPIOS DA AÇÃO PENAL PRIVADA
Princípio do ne procedat iudex ex officio Princípio do ne procedat iudex ex officio
Princípio do ne bis in idem Princípio do ne bis in idem
Princípio da intranscendência Princípio da intranscendência
Princípio da obrigatoriedade Princípio da oportunidade
Princípio da indisponibilidade Princípio da disponibilidade
Princípio da divisibilidade Princípio da indivisibilidade
Princípio da oficialidade
Princípio da autoritariedade
Princípio da oficiosidade

47
QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(XXX EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) Após uma partida de futebol amador, realizada em

03/05/2018, o atleta André se desentendeu com jogadores da equipe adversária. Ao final do


jogo, dirigiu-se ao estacionamento e encontrou, em seu carro, um bilhete anônimo, em que

constavam diversas ofensas à sua honra. Em 28/06/2018, André encontrou um dos jogadores
da equipe adversária, Marcelo, que lhe confessou a autoria do bilhete, ressaltando que Luiz e
Rogério também estavam envolvidos na ofensa.

André, em 17/11/2018, procurou seu advogado, apresentando todas as provas do crime


praticado, manifestando seu interesse em apresentar queixa-crime contra os três autores do

fato. Diante disso, o advogado do ofendido, após procuração com poderes especiais, apresenta,
em 14/12/2018, queixa-crime em face de Luiz, Rogério e Marcelo, imputando-lhes a prática dos

crimes de calúnia e injúria.


Após o recebimento da queixa-crime pelo magistrado, André se arrependeu de ter buscado a

responsabilização penal de Marcelo, tendo em vista que somente descobriu a autoria do crime
em decorrência da ajuda por ele fornecida. Diante disso, comparece à residência de Marcelo,
informa seu arrependimento, afirma não ter interesse em vê-lo responsabilizado criminalmente

e o convida para a festa de aniversário de sua filha, sendo a conversa toda registrada em mídia
audiovisual.

Considerando as informações narradas, é correto afirmar que o(a) advogado(a) dos querelados
poderá

A) questionar o recebimento da queixa-crime, com fundamento na ocorrência de decadência, já

que oferecida a inicial mais de 06 meses após a data dos fatos.


B) buscar a extinção da punibilidade dos três querelados, diante da renúncia ao exercício do
direito de queixa realizado por André, que poderá ser expresso ou tácito.

48
C) buscar a extinção da punibilidade de Marcelo, mas não de Luiz e Rogério, em razão da

renúncia ao exercício do direito de queixa realizado por André.


D) buscar a extinção da punibilidade dos três querelados, caso concordem, diante do perdão

oferecido a Marcelo por parte de André, que deverá ser estendido aos demais coautores.

Comentário:

prazo da ação privada (6 meses) inicia do conhecimento da autoria, não do fato! Portanto,

se foi sabido dia 28 de junho, o prazo para apresentar a queixa vai até o fim de dezembro.

Sobre a desistência de persistir com o intuito de processar, observe que foi após o
recebimento da inicial. Isso caracteriza o perdão, e sobre ele vale a leitura do art. 51 do

CPP; 106, I, §1º e 107, V, do CP. Estes artigos aclaram que o perdão:

- É bilateral. Portanto pode ser recusado pelo querelado.

- Pode ser expresso ou tácito. A postura de convidar o querelado para um aniversário

configura um perdão tácito.

- Se concedido a um, a todos aproveita (que aceitarem), pois a ação privada é regida pelo
princípio da indivisibilidade. Não é meio para vinganças e perseguições.

- Ela extingue a punibilidade.

Questão 2
(XXVIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2019) Gabriel, nascido em 31 de maio 1999, filho de Eliete,

demonstrava sua irritação em razão do tratamento conferido por Jorge, namorado de sua mãe,
para com esta. Insatisfeito, Jorge, no dia 1º de maio de 2017, profere injúria verbal contra
Gabriel.

49
Após a vítima contar para sua mãe sobre a ofensa sofrida, Eliete comparece, em 27 de maio de

2017, em sede policial e, na condição de representante do seu filho, renuncia ao direito de


queixa. No dia 02 de agosto de 2017, porém, Gabriel, contra a vontade da mãe, procura auxílio

de advogado, informando que tem interesse em ver Jorge responsabilizado criminalmente pela
ofensa realizada.

Diante da situação narrada, o(a) advogado(a) de Gabriel deverá esclarecer que

A) Jorge não poderá ser responsabilizado criminalmente, em razão da renúncia do representante


legal do ofendido, sem prejuízo de indenização no âmbito cível.
B) poderá ser proposta queixa-crime em face de Jorge, mas, para que o patrono assim atue,

precisa de procuração com poderes especiais.


C) Jorge não poderá ser responsabilizado criminalmente em razão da decadência, tendo em

vista que ultrapassados três meses desde o conhecimento da autoria.


D) poderá ser proposta queixa-crime em face de Jorge, pois, de acordo com o Código de

Processo Penal, ao representante legal é vedado renunciar ao direito de queixa.

Comentário:

CPP Art. 50 - A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por seu
representante legal ou procurador com poderes especiais. Parágrafo único: A renúncia do

representante legal do menor que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do

direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do primeiro.”

Questão 3
(XXVII EXAME DE ORDEM – FGV - 2018) Flávio apresentou, por meio de advogado, queixa-

crime em desfavor de Gabriel, vulgo “Russinho”, imputando-lhe a prática do crime de calúnia,


pois Gabriel teria imputado falsamente a Flávio a prática de determinada contravenção penal.

50
Na inicial acusatória, assinada exclusivamente pelo advogado, consta como querelado apenas o

primeiro nome de Gabriel, o apelido pelo qual é conhecido, suas características físicas e seu
local de trabalho, tendo em vista que Flávio e sua defesa técnica não identificaram a completa

qualificação do suposto autor do fato. A peça inaugural não indicou rol de testemunhas, apenas
acostando prova documental que confirmaria a existência do crime. Ademais, foi acostada ao

procedimento a procuração de Flávio em favor de seu advogado, na qual consta apenas o nome
completo de Flávio e seus dados qualificativos, além de poderes especiais para propor eventuais

queixas-crime que se façam pertinentes.


Após citação de Gabriel em seu local de trabalho para manifestação, considerando apenas as
informações expostas, caberá à defesa técnica do querelado pleitear, sob o ponto de vista

técnico, a rejeição da queixa-crime,

A) sob o fundamento de que não poderia ter sido apresentada sem a completa qualificação do
querelado, sendo insuficiente o fornecimento de características físicas marcantes, apelido e local

de trabalho que poderiam identificá-lo.


B) porque, apesar de fornecidos imprescindíveis poderes especiais, a síntese do fato criminoso

não consta da procuração.


C) porque a classificação do crime não foi adequada de acordo com os fatos narrados, e a
tipificação realizada vincula a autoridade judicial.

D) tendo em vista que não consta, da inicial, o rol de testemunhas.

Comentário:

Art. 44 Código de Processo penal


A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do
instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando

tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo
criminal.

51
Questão 4
(XXIV EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Tiago, funcionário público, foi vítima de crime de
difamação em razão de suas funções. Após Tiago narrar os fatos em sede policial e demonstrar

interesse em ver o autor do fato responsabilizado, é instaurado inquérito policial para investigar
a notícia de crime.

Quando da elaboração do relatório conclusivo, a autoridade policial conclui pela prática delitiva
da difamação, majorada por ser contra funcionário público em razão de suas funções, bem como

identifica João como autor do delito. Tiago, então, procura seu advogado e informa a este as
conclusões 1 (um) mês após os fatos.
Considerando apenas as informações narradas, o advogado de Tiago, de acordo com a

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, deverá esclarecer que

A) caberá ao Ministério Público oferecer denúncia em face de João após representação do


ofendido, mas Tiago não poderá optar por oferecer queixa-crime.

B) caberá a Tiago, assistido por seu advogado, oferecer queixa-crime, não podendo o ofendido
optar por oferecer representação para o Ministério Público apresentar denúncia.

C) Tiago poderá optar por oferecer queixa-crime, assistido por advogado, ou oferecer
representação ao Ministério Público, para que seja analisada a possibilidade de oferecimento de
denúncia.

D) caberá ao Ministério Público oferecer denúncia, independentemente de representação do


ofendido

Comentário:

Nos crimes contra a honra, a regra é perseguir a pena mediante ação penal privada da
vítima ou de seu representante legal. Entretanto, será penal pública condicionada à
representação no caso de o delito ser cometido contra funcionário público, no exercício

52
das suas funções (art.141,II, CP) e condicionada à requisição do Ministro da Justiça no caso

do n. I do art 141(contra o Presidente da República ou chefe de governo estrangeiro).

Vejamos a súmula 714, STF:

É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público,

condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções..

Questão 5
(XXIV EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Lívia, insatisfeita com o fim do relacionamento
amoroso com Pedro, vai até a casa deste na companhia da amiga Carla e ambas começam a

quebrar todos os porta-retratos da residência nos quais estavam expostas fotos da nova
namorada de Pedro. Quando descobre os fatos, Pedro procura um advogado, que esclarece a

natureza privada da ação criminal pela prática do crime de dano.


Diante disso, Pedro opta por propor queixa-crime em face de Carla pela prática do crime de

dano (Art. 163, caput, do Código Penal), já que nunca mantiveram boa relação e ele tinha
conhecimento de que ela era reincidente, mas, quanto a Lívia, liga para ela e diz que nada fará,

pedindo, apenas, que o fato não se repita.


Apesar da decisão de Pedro, Lívia fica preocupada quanto à possibilidade de ele mudar de
opinião, razão pela qual contrata um advogado junto com Carla para consultoria jurídica.

Considerando apenas as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que ocorreu

A) renúncia em relação a Lívia, de modo que a queixa-crime não deve ser recebida em relação
a Carla.

B) renúncia em relação a Lívia, de modo que a queixa-crime deve ser recebida apenas em relação
a Carla.

C) perempção em relação a Lívia, de modo que a queixa-crime deve ser recebida apenas em
relação a Carla.

53
D) perdão do ofendido em relação a Lívia, de modo que a queixa-crime deve ser recebida

apenas em relação a Carla.

Comentário:

A renúncia pode ser expressa ou tácita. Poderá ser formalizada por meio de procurador
com poderes especiais (art. 50 do CPP). Se for dirigida a um dos autores, deverá ser

estendida a todos, em virtude do princípio da indivisibilidade (art, 49, CPP): A renúncia ao


exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, a todos se estenderá.

Questão 6
(XXIII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) No dia 31 de dezembro de 2015, Leandro encontra,

em uma boate, Luciana, com quem mantivera uma relação íntima de afeto, na companhia de
duas amigas, Carla e Regina.

Já alterado em razão da ingestão de bebida alcoólica, Leandro, com ciúmes de Luciana, inicia
com esta uma discussão e desfere socos em sua face. Carla e Regina vêm em defesa da amiga,

mas, descontrolado, Leandro também agride as amigas, causando lesões corporais leves nas
três.
Diante da confusão, Leandro e Luciana são encaminhados a uma delegacia, enquanto as demais

vítimas decidem ir para suas casas. Após exame de corpo de delito confirmando as lesões leves,
Luciana é ouvida e afirma expressamente que não tem interesse em ver Leandro

responsabilizado criminalmente.
Em relação às demais lesadas, não tiveram interesse em ser ouvidas em momento algum das

investigações, mas as testemunhas confirmaram as agressões. Diante disso, o Ministério Público,


em 05 de julho de 2016, oferece denúncia em face de Leandro, imputando-lhe a prática de três

crimes de lesão corporal leve.


Considerando apenas as informações narradas, o(a) advogado(a) de Leandro

54
A) não poderá buscar a rejeição da denúncia em relação a nenhum dos três crimes.
B) poderá buscar a rejeição da denúncia em relação ao crime praticado contra Luciana, mas não

quanto aos delitos praticados contra Carla e Regina.


C) poderá buscar a rejeição da denúncia em relação aos três crimes.

D) não poderá buscar a rejeição da denúncia em relação ao crime praticado contra Luciana, mas
poderá pleitear a imediata rejeição quanto aos delitos praticados contra Carla e Regina.

Comentário:

Lei 9.099/1995: Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial,

dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e
lesões culposas.

Súmula 542 do STJ: A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência

doméstica contra a mulher é pública incondicionada

Questão 7
(CESPE - 2019 - TJ-BA - Juiz de Direito Substituto) Tendo como fundamento a jurisprudência
dos tribunais superiores, assinale a opção correta, a respeito de ação penal.

A) Em razão do princípio da indivisibilidade, o não ajuizamento de ação penal contra todos os


coautores de crime de roubo implicará o arquivamento implícito em relação àqueles que não
forem denunciados.

B) A inexistência de poderes especiais na procuração outorgada pelo querelante não gerará a


nulidade da queixa-crime quando o consequente substabelecimento atender às exigências

expressas no art. 44 do CPP.

55
C) Na queixa-crime, a omissão involuntária, pelo querelante, de algum coautor implicará o

reconhecimento da renúncia tácita do direito de queixa pelo juiz e resultará na extinção da


punibilidade.

D) No caso de ação penal privada, eventual omissão de poderes especiais na procuração


outorgada pelo querelante poderá ser sanada a qualquer tempo por iniciativa do querelante.

E) No caso de crime praticado contra a honra de servidor público no exercício de suas funções,
a vítima tem legitimação concorrente com o MP para ajuizar ação penal.

Comentário:

A falta dos requisitos formais da denúncia ou queixa, previstos no art. 41 do CPP, é causa
de inépcia da inicial. Segundo o art. 395 do CPP, quando a peça acusatória for

manifestamente inepta, ela deve ser rejeitada.

Nos crimes de ação penal pública, segundo o art. 385 do CPP, o juiz pode sentenciar
condenando o réu, mesmo quando o Ministério Público opine pela sua absolvição nas

alegações finais. É uma forma de concretizar o princípio da indisponibilidade da ação penal,


pois se o juiz estivesse vinculado aos pedidos das alegações finais do MP, de forma oblíqua

ele poderia desistir da ação penal.

A representação do ofendido e a requisição do Ministro da Justiça são condições


específicas de procedibilidade em casos de ação penal pública condicionada.

Por fim, segundo a súmula 453 do STF, “não se aplicam à segunda instância o art. 384 e

parágrafo único do Código de Processo Penal, que possibilitam dar nova definição jurídica
ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou

implicitamente, na denúncia ou queixa”.

Portanto, o STF não admite a mutatio libelli em julgamento de apelação, pois a alteração
dos fatos contidos na inicial viola o princípio da presunção de inocência e do devido
processo legal. Entretanto, é possível a emendatio libelli em segundo grau de jurisdição,

56
pois o instituto não muda os fatos da inicial, apenas a sua capitulação legal e o réu

defende-se dos fatos.

Questão 8
(FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto) Para que a ação penal tenha justa
causa e possibilite a ampla defesa do acusado, a denúncia deverá conter os seguintes requisitos

essenciais:
A) Exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou

esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário,


o rol das testemunhas.
B) Exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime, o rol das testemunhas
e o pedido de condenação.

C) Exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou


esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime, o rol das testemunhas

e pedido alternativo para o caso de desclassificação do crime.


D) Exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado e

da vítima ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-los, a classificação do crime e o rol


completo das provas que se pretende produzir.

E) Exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou


esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime, o rol das
testemunhas, o pedido de condenação e o procedimento a ser observado.

Comentário:

De acordo com o art. 41 do CPP, a denúncia e a queixa-crime devem conter: a exposição

do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias; a qualificação do acusado ou

57
esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo; a classificação do crime; e, quando

necessário, o rol das testemunhas.

Os dois primeiros requisitos são essenciais, sendo a peça considerada inepta caso estejam
ausentes. Entretanto, a classificação do crime e o rol de testemunhas não são requisitos

essenciais, pois, em primeiro lugar, o juiz não está vinculado à classificação feita pelo
acusador, mas sim apenas aos fatos narrados; em segundo lugar, porque existem diversos

meios de provas, sendo a testemunhal apenas um deles. Portanto, podemos ter um


processo penal que não precise de prova testemunhal.

Questão 9
(FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto) Estabelece o Código de Processo

Penal que o Ministério Público velará pela indivisibilidade da ação penal de iniciativa privada.
Sobre o tema, é correto afirmar:

A) Caso julgue necessários maiores esclarecimentos e documentos complementares, o Ministério


Público terá o prazo de três dias para aditar a queixa.
B) A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores do crime, deverá

ser aceita pelo beneficiário.


C) A queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos.

D) Em caso de abandono da ação penal privada pelo querelante, o Ministério Público deverá
assumir a acusação.

E) Na hipótese de ação penal perempta, o Juiz, somente após ouvir o Ministério Público, poderá
declarar extinta a punibilidade do querelado.

Comentário:

Segundo o princípio da indivisibilidade da ação penal de iniciativa privada, se o querelante


oferecer queixa-crime contra qualquer dos autores do crime, está obrigado a processar

todos os coautores e partícipes.

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Em caso de abandono da ação penal privada pelo querelante, o Ministério Público não

poderá assumir a acusação, pois não é legitimado para tanto. O MP é titular apenas da
ação penal pública.

De fato, o Ministério Público deve opinar em todos os atos processuais penais, mesmo nas

ações penais privadas, como custos legis. Entretanto, a sua oitiva pelo juiz para declarar a
extinção da punibilidade do querelado em caso de perempção não é exigida legalmente.

Ao contrário, o art. 61 do CPP afirma que o juiz deverá declará-la de ofício.

Caso julgue necessários maiores esclarecimentos e documentos complementares, o MP


não vai aditar a queixa. Ele deverá requisitar as informações que julgar necessárias

diretamente de quaisquer autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.

A renúncia ao exercício do direito de queixa é um ato unilateral, feito antes do início do


processo e, portanto, não precisa ser aceita pelo beneficiário.

Questão 10
(FCC - 2018 - MPE-PB - Promotor de Justiça Substituto) No caso de morte do ofendido, a

ordem preferencial para se exercer o direito de queixa, segundo o que dispõe o Código de
Processo Penal, é

A) ascendente, descendente e cônjuge.


B) cônjuge, ascendente, descendente e irmão.

C) descendente, ascendente e irmão.


D) ascendente, descendente e representante legal.
E) cônjuge, descendente, ascendente e tutor ou curador.

Comentário:

59
Na ação penal privada propriamente dita, se o ofendido morrer ou for declarado ausente

por meio de decisão judicial, o direito de oferecer a queixa-crime passará para o seu
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, segundo o art. 31 do CP.

Se mais de um dos sucessores processuais comparecerem para exercer o direito de ação,

a preferência será do cônjuge e, em seguida, do parente mais próximo na ordem de


enumeração do art. 31 (C.A.D.I.).

Sobre a preferência, ainda cabe ressaltar que em caso de desistência ou abandono da ação
pelo querelante, qualquer outro legitimado a suceder o ofendido na ação penal privada

poderá prosseguir com a ação.

60
GABARITO

Questão 1 – ALTERNATIVA D

Questão 2 – ALTERNATIVA D

Questão 3 – ALTERNATIVA B

Questão 4 – ALTERNATIVA C

Questão 5 – ALTERNATIVA A

Questão 6 – ALTERNATIVA D

Questão 7 – ALTERNATIVA E

Questão 8 – ALTERNATIVA A

Questão 9 – ALTERNATIVA C

Questão 10 – ALTERNATIVA B

61
QUESTÃO DESAFIO

Nos casos de crime contra a honra de servidor público em razão do


exercício de suas funções, é exclusiva a legitimidade do Ministério
Público, condicionada à representação do ofendido, para intentar a
respectiva ação penal?

Responda em até 5 linhas

62
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Não. Nos termos da súmula 714 do STF, é concorrente a legitimidade do ofendido,

mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 É concorrente a legitimidade do ofendido e do MP


Em regra, os crimes contra a honra são de ação penal privada. Entretanto, em se tratando de

crime contra a honra de servidor público cometido em razão de suas funções

“Primeiramente, destaco que, ao contrário do que afirma o impetrante, quando se tratar de


crime contra a honra de servidor público cometido em razão de suas funções, a legitimidade

para a propositura da ação penal é concorrente, nos termos da Súmula 714/STF (...). A
representação não exige forma especial, sendo suficiente para suprir os seus efeitos a inequívoca
manifestação de vontade do ofendido no sentido de que o ofensor seja processado

criminalmente, a qual pode ser verificada no boletim de ocorrência, na notitia criminis, nas
declarações do ofendido na polícia ou em juízo” (HC 100.588, Rel. Min. Ellen Gracie, julgado

14/09/2010).

“A admissão da ação penal pública, quando se cuida de ofensa propter officium (em razão do
cargo), para conformar-se à Constituição, há de ser entendida como alternativa à disposição do

ofendido, jamais como privação de seu direito de queixa” (RHC 82.549).

 Súmula 714 do STF


A súmula 714 foi aprovada pelo STF em 24/09/2003:

“É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do ministério público,

condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de
servidor público em razão do exercício de suas funções”.

Sobre o tema:

63
“Exige-se, para o fim de balizar a legitimação concorrente do Ministério Público (Súmula

714, deste STF) quando o funcionário público é ofendido em razão de suas funções,
contemporaneidade entre as ofensas e o exercício do cargo, mas não contemporaneidade entre

a data da denúncia e o exercício do cargo. O ordenamento jurídico confere legitimação ao


Ministério Público em razão da necessidade de se tutelar, nessas hipóteses, além da honra

objetiva ou subjetiva do funcionário, o interesse público atingido quando as ofensas são


irrogadas em razão da função exercida. Ocorre que, nesses casos - quando há nexo de causa e

efeito entre a função exercida pelo ofendido e as ofensas por ele sofridas -, também vulnerado
resta de forma reflexa o bem jurídico Administração Pública” (Inq 3.438, Rel. Min. Rosa Weber,
julgado em 11/11/2014).

64
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Ação Penal:

 CPP: art. 24 ao art. 62.


 CP: art. 100 ao art. 106.

65
JURISPRUDÊNCIA

Ação Penal:

 STF - HC: 72451 SP, Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 27/02/1996, SEGUNDA
TURMA, Data de Publicação: DJ 19-04-1996 PP-12213 EMENT VOL-01824-02 PP-00264
(...) AÇÃO PENAL - LEGITIMIDADE PASSIVA - IDENTIFICAÇÃO DATILOSCOPICA - IMPRESSÕES DIGITAIS
DISCREPANTES. Exsurgindo descompasso entre as impressões digitais constantes do boletim de identificação
criminal alusivo ao delito e as do acusado via denuncia, impõe-se a conclusão sobre a ilegitimidade passiva,
declarando-se nulo o processo a partir, inclusive, da peça primeira, ou seja, da denúncia.

 STF - RE: 616752 RS, Relator: Min. DIAS TOFFOLI, Data de Julgamento: 08/06/2011, Data de
Publicação: DJe-112 DIVULG 10/06/2011 PUBLIC 13/06/2011.
DECISÃO: Vistos. O Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul interpõe recurso extraordinário, com
fundamento na alínea “a” do permissivo constitucional, contra acórdão proferido pela Turma Recursal Criminal dos
Juizados Especiais do Tribunal de Justiça estadual, assim do: “APELAÇÃO CRIME. CONTRAVENÇÃO PENAL. JOGOS
DE AZAR. ART. 50, DO DECRETO-LEI Nº 3688/1941. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO PELA PENA
PROJETADA. É possível declarar extinta a punibilidade do autor do fato quando se antevê, modo inequívoco, a
prescrição de eventual pena a ser aplicada em caso de condenação. APELAÇÃO IMPROVIDA” (fl. 59). Os embargos
de declaração opostos (fls. 66 a 70), foram rejeitados (fls. 73 a 75). O recorrente sustenta, basicamente, que “o
decisum, ao desacolher os Embargos Declaratórios, sob os argumentos de que inexiste omissão ou contradição,
acabou por negar vigência ao artigo 93, IX, da Constituição Federal” (fl. 87). Aduz, ainda, que ao “extinguir a
punibilidade dos recorridos antes sequer da existência de uma sentença condenatória, a Turma Recursal Criminal
do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, sem dúvida alguma, negou vigência ao artigo 5º, incisos
LIV, LV e LVII, da Constituição Federal” (fl. 87). Requer o provimento do presente recurso para que “seja afastada a
extinção da punibilidade dos recorridos, determinando-se o prosseguimento do processo” (fl. 90). Examinados os
autos, decido. A irresignação merece prosperar, uma vez que o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no exame
da questão de ordem no Recurso Extraordinário nº 602.527/RS, Relator o Ministro Cezar Peluso, decidiu pela
existência de repercussão geral e reafirmou a jurisprudência predominante da Corte acerca da inadmissibilidade de
extinção da punibilidade em virtude da decretação da assim chamada prescrição em perspectiva. O acórdão daquele
julgado está assim ementado: “AÇÃO PENAL. Extinção da punibilidade. Prescrição da pretensão punitiva 'em
perspectiva, projetada ou antecipada'. Ausência de previsão legal. Inadmissibilidade. Jurisprudência reafirmada.
Repercussão geral reconhecida. Recurso extraordinário provido. Aplicação do art. 543-B, § 3º, do CPC. É inadmissível
a extinção da punibilidade em virtude de prescrição da pretensão punitiva com base em previsão da pena que
hipoteticamente seria aplicada, independentemente da existência ou sorte do processo criminal” (DJe de 18/12/09).

66
O Tribunal a quo divergiu dessa orientação ao assentar no acórdão recorrido a possibilidade de extinção da
punibilidade em razão da prescrição frente uma pena hipoteticamente considerada. Ante o exposto, conheço do
recurso extraordinário e lhe dou provimento (art. 21, § 2º do RISTF). Publique-se. Brasília, 8 de junho de 2011.
Ministro DIAS TOFFOLI Relator Documento assinado digitalmente

Comentário: o Plenário do Supremo Tribunal Federal, no exame da questão de ordem no Recurso Extraordinário
nº 602.527/RS, Relator o Ministro Cezar Peluso, decidiu pela existência de repercussão geral e reafirmou a
jurisprudência predominante da Corte acerca da inadmissibilidade de extinção da punibilidade em virtude da
decretação da assim chamada prescrição em perspectiva.

 RHC 61.822/DF, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 17/12/2015, DJe
25/02/2016.
PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES.
LEI Nº 9.099/95. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. OCORRÊNCIA. RECURSO
PROVIDO. A despeito da Lei nº 9.099/95 ser pautada por critérios da oralidade, simplicidade e informalidade, a
inicial acusatória (denúncia ou queixa-crime), mesmo nas infrações de menor potencial ofensivo, deve vir
acompanhada com o mínimo embasamento probatório, ou seja, com lastro probatório mínimo apto a demonstrar,
ainda que de modo indiciário, a efetiva realização do ilícito penal. Recurso ordinário provido para determinar o
trancamento do Processo nº 2014.01.1.033564-5/DF.

Comentário; mesmo nas infrações de menor potencial ofensivo, deve vir acompanhada com o mínimo

embasamento probatório, ou seja, com lastro probatório mínimo apto a demonstrar, ainda que de modo indiciário,

a efetiva realização do ilícito penal.

 STJ - RHC: 14575 MS 2003/0093430-8, Relator: Ministro PAULO MEDINA, Data de Julgamento:
16/11/2004, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 06/12/2004 p. 364RT vol. 835 p. 508
PENAL E PROCESSO PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. "LAVAGEM DE DINHEIRO". ARTIGO 1º,
INCISO V, DA LEI Nº 9.613/98. INÉPCIA DA DENÚNCIA E FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO PENAL.
INOCORRÊNCIA. CERTEZA QUANTO AO CRIME ANTECEDENTE. DESNECESSIDADE NA FASE DE INSTAURAÇÃO
DA AÇÃO PENAL. RECURSO IMPROVIDO. - Não é inepta a denúncia que descreve minuciosamente fatos
subsumíveis ao disposto no artigo 1º, inciso V, da Lei nº 9.613/98, incluindo a narrativa dos crimes antecedentes
que se amoldam ao previsto no inciso V, do mesmo artigo. - Se não há injustiça ou erro manifestos, sendo vedada
a incursão vertical na matéria fático-probatória, não há também que se falar em denúncia abusiva, absurda ou
infundada e, nessa linha, também não se mostra injustificado o ato de recebimento da peça inaugural da Ação
Penal. - Não é necessária, para a instauração da ação penal ou para o ato de recebimento da denúncia, a
certeza quanto aos crimes antecedentes. - O Habeas Corpus não se presta à análise de teses defensivas relativas
ao mérito da imputação. - Recurso improvido.

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 STJ - HC: 46409 DF 2005/0126341-2, Relator: Ministro PAULO GALLOTTI, Data de Julgamento:
29/06/2006, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação: DJ 27/11/2006 p. 320LEXSTJ vol. 209 p. 273
HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO INDÉBITA DE CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS. ADITAMENTO DA DENÚNCIA
QUE INCLUI O PACIENTE COMO CO-RÉU. ALEGAÇÃO DE FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A AÇÃO, BEM COMO DE
OCORRÊNCIA DO ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO. IMPROCEDÊNCIA. ARTIGO 569 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E DENEGADA. 1 - A tese da não participação do paciente nos atos de
administração da empresa demanda revolvimento probatório, impróprio de ser realizado na via estreita do habeas
corpus, impondo-se notar que não se extrai dos documentos que instruem o writ a presença de elemento que
evidencie primus ictus oculi essa circunstância. 2 - Improcede a alegação de arquivamento implícito do inquérito
em relação ao paciente, visto que o artigo 569 do Código de Processo Penal admite o aditamento da denúncia
para suprir, antes da sentença, suas omissões, de modo, por certo, a tornar efetivos os princípios da
obrigatoriedade da ação penal pública e da busca da verdade real. 3 - A vedação ao oferecimento de denúncia
sem novas provas tem aplicação, a teor do enunciado nº 524 da Súmula do Supremo Tribunal Federal, nos casos
em que o inquérito, por despacho do Juiz e a requerimento do Ministério Público, tenha sido anteriormente
arquivado por falta de base probatória para o oferecimento da acusação, o que não é, por evidente, a hipótese
dos autos. 4 - A alegação de inépcia do aditamento da denúncia por falta de individualização da conduta do
paciente se trata de matéria não examinada pelo acórdão atacado, não podendo ser aqui analisada, sob pena de
indevida supressão de instância. 5 - Habeas corpus parcialmente conhecido e denegado.

 HC 173.397-RS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 17/3/2011.


INQUÉRITO POLICIAL. ARQUIVAMENTO. COISA JULGADA MATERIAL. Cuida-se de habeas corpus em que se discute,
em síntese, se a decisão que determina o arquivamento do inquérito policial no âmbito da Justiça comum,
reconhecendo a atipicidade do fato e a incidência de cláusula excludente da ilicitude, impede o recebimento da
denúncia pelo mesmo fato perante a Justiça especializada, no caso a Justiça Militar. A Turma concedeu a ordem
ao entendimento de que a decisão de arquivamento do inquérito policial no âmbito da Justiça comum, acolhendo
promoção ministerial no sentido da atipicidade do fato e da incidência de causa excludente de ilicitude, impossibilita
a instauração de ação penal na Justiça especializada, uma vez que o Estado-Juiz já se manifestou sobre o fato,
dando-o por atípico, o que enseja coisa julgada material. Registrou-se que, mesmo tratando-se de decisão proferida
por juízo absolutamente incompetente, deve-se reconhecer a prevalência dos princípios do favor rei, favor libertatis
e ne bis in idem, de modo a preservar a segurança jurídica que o ordenamento jurídico demanda. Precedentes
citados do STF: HC 86.606-MS, DJ 3/8/2007; do STM: CP-FO 2007.01.001965-3-DF, DJ 11/1/2008; do STJ: APn 560-
RJ, DJe 29/10/2009; HC 90.472-RS, DJe 3/11/2009; RHC 17.389-SE, DJe 7/4/2008; HC 36.091-RJ, DJ 14/3/2005, e HC
18.078-RJ, DJ 24/6/2002.

 HC 285.589/MG, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 04/08/2015, DJe
17/09/2015

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PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL. NÃO CABIMENTO. VIOLAÇÃO À
COISA JULGADA. PROIBIÇÃO DO NE BIS IN IDEM. PACIENTE CONDENADO DUAS VEZES PELOS MESMOS FATOS.
FLAGRANTE ILEGALIDADE. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. I - A Primeira
Turma do col. Pretório Excelso firmou orientação no sentido de não admitir a impetração de habeas corpus
substitutivo ante a previsão legal de cabimento de recurso ordinário (v.g.: HC n. 109.956/PR; Rel. Min. Marco Aurélio,
DJe de 11/9/2012; RHC n. 121.399/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe de 1º/8/2014 e RHC n. 117.268/SP, Rel. Min. Rosa
Weber, DJe de 13/5/2014). As Turmas que integram a Terceira Seção desta Corte alinharam-se a esta dicção, e,
desse modo, também passaram a repudiar a utilização desmedida do writ substitutivo em detrimento do recurso
adequado (v.g.: HC n. 284.176/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJe de 2/9/2014; HC n. 297.931/MG, Quinta
Turma, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe de 28/8/2014; HC n. 293.528/SP, Sexta Turma, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
DJe de 4/9/2014 e HC n. 253.802/MG, Sexta Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, DJe de 4/6/2014). II -
Portanto, não se admite mais, perfilhando esse entendimento, a utilização de habeas corpus substitutivo quando
cabível o recurso próprio, situação que implica o não-conhecimento da impetração. Contudo, no caso de se verificar
configurada flagrante ilegalidade apta a gerar constrangimento ilegal, recomenda a jurisprudência a concessão da
ordem de ofício. III - Não obstante as nuances constantes dos decretos condenatórios relativamente aos bens
subtraídos pelo paciente, é evidente que as condenações incidiram sobre o mesmo fato criminoso, implicando em
indevido bis in idem em desfavor do paciente. IV - Malgrado o roubo cometido contra a vítima Paulo José de
Oliveira, gerente do estabelecimento bancário, não tenha sido apreciado na primeira ação, vindo à tona apenas no
segundo processo, ele também se encontra sob o âmbito de incidência do princípio ne bis in idem, porque fora
praticado no mesmo contexto fático da primeira ação, podendo ser levado ao conhecimento do juízo de origem
já naquela oportunidade, o que não ocorreu. V - Não há se falar em arquivamento implícito, rechaçado pela
doutrina e pela jurisprudência pátria, porque não se cuida, in casu, de fatos diversos, mas sim de um mesmo fato
com desdobramentos diversos e apreciáveis ao tempo da instauração da primeira ação penal. Habeas corpus não
conhecido. Ordem concedida de ofício para anular a ação penal n. 04504661-2, que tramitou perante o d. Juízo de
Direito da 2ª Vara Criminal da Comarca de Belo Horizonte/MG, por violação ao princípio ne bis in idem.

 STJ, 6ª Turma, REsp. 1.324.760-SP, Rel. para acórdão Min. Rogerio Schietti Cruz, j. 16/12/2014,
DJe 18/2/2015.
RECURSO ESPECIAL. PROCESSO PENAL. REVISÃO CRIMINAL. PUBLICAÇÃO DE ACÓRDÃO QUE NÃO CORRESPONDE
AO JULGAMENTO DO ÓRGÃO COLEGIADO. COISA JULGADA. NÃO OCORRÊNCIA. PERCEPÇÃO DO EQUÍVOCO PELO
TRIBUNAL APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO. DESCONSIDERAÇÃO DA PUBLICAÇÃO. POSSIBILIDADE. SEGURANÇA
JURÍDICA. LEALDADE E ÉTICA PROCESSUAIS. PRETENDIDAS CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DECORRENTES DE ATOS
ILÍCITOS. DESCONSIDERAÇÃO. SUSPEIÇÃO DE JULGADORES. UTILIZAÇÃO DE EXPRESSÕES INADEQUADAS.
CIRCUNSTÂNCIA INSUFICIENTE A CONFIGURAR PARCIALIDADE NO JULGAMENTO. 1. O processo, em sua atual
fase de desenvolvimento, é reforçado por valores éticos, com especial atenção ao papel desempenhado pelas
partes, cabendo-lhes, além da participação para construção do provimento da causa, cooperar para a efetivação, a

69
observância e o respeito à veracidade, à integralidade e à integridade do que se decidiu, conforme diretrizes do
Estado Democrático de Direito. 2. A publicação intencional de acórdão ideologicamente falso – que não retrata,
em nenhum aspecto, o julgamento realizado – com o objetivo de beneficiar uma das partes, mesmo após o
trânsito em julgado, não pode reclamar a proteção de nenhum instituto do sistema processual (coisa julgada,
segurança jurídica etc.) 3. Ao sistema de invalidades processuais aplicam-se todas as noções da teoria do direito
acerca do plano de validade dos atos jurídicos de maneira geral. No processo, a validade do ato processual, tal
como ocorre com os fatos jurídicos, também diz respeito à adequação do suporte fático que lhe subjaz e lhe serve
de lastro. 4. A manutenção dos efeitos da publicação ilícita, eventualmente pretendida pelas partes, refoge à própria
finalidade da revisão criminal que, ao superar a intangibilidade da sentença transitada em julgado, cede espaço
aos impetrativos da justiça substancial. 5. É bem verdade que a revisão criminal encontra limitações no direito
brasileiro, e a principal delas diz respeito à modalidade de decisão que pode desconstituir. Desde que instituída a
revisão criminal na Constituição de 1891, é tradição do processo penal brasileiro reconhecer – tomando o princípio
do favor rei como referência – que somente as sentenças de condenação podem ser revistas. 6. A revisão pro
societate, cumpre dizer, reclamaria a mesma lógica que explica a revisão pro reo, qual seja, a necessidade de
preservar a verdade e a justiça material, sobretudo quando o tempo demonstra a falsidade das provas sobre as
quais se assentou a decisão absolutória, de modo a comprometer a legitimidade da sentença perante a comunhão
social. 7. Embora entre nós não se preveja, normativamente, ainda que em caráter excepcional, a possibilidade de
revisão do julgado favorável ao réu, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal autoriza desconstituir decisão
terminativa de mérito em que se declarou extinta a punibilidade do acusado, em conformidade com os arts. 61 e
62 do Código de Processo Penal, tendo em vista a comprovação, posterior ao trânsito em julgado daquela decisão,
de que o atestado de óbito motivador do decisum fora falsificado. 8. Ainda que a hipótese em exame não reproduza
o caso de certidão de óbito falsa, retrata a elaboração de acórdão de conteúdo ideologicamente falsificado sobre
o qual se pretende emprestar os efeitos da coisa julgada, da segurança jurídica e da inércia da jurisdição, o que
ressoa incongruente com a própria natureza da revisão criminal que é a de fazer valer a verdade. 9. A
desconstituição do acórdão falso não significa que houve rejulgamento da revisão criminal, muito menos se está a
admitir uma revisão criminal pro societate. Trata-se de simples decisão interlocutória por meio da qual o Judiciário,
dada a constatação de flagrante ilegalidade na proclamação do resultado de seu julgado, porquanto sedimentado
em realidade fática inexistente e em correspondente documentação fraudada, corrige o ato e proclama o resultado
verdadeiro (veredicto). Pensar de modo diverso (é que) ensejaria ofensa ao princípio do devido processo legal, aqui
analisado sob o prisma dos deveres de lealdade, cooperação, probidade e confiança, que constituem pilares de
sustentação do sistema jurídico-processual. 10. O processo, sob a ótica de qualquer de seus escopos, não pode
tolerar o abuso do direito ou qualquer outra forma de atuação que dê azo à litigância de má-fé. Logo, condutas
contrárias à verdade, fraudulentas ou procrastinatórias conspurcam o objetivo publicístico e social do processo, a
merecer uma resposta inibitória exemplar do Judiciário. 11. Portanto, visto sob esse prisma, não há como se tolerar,
como argumento de defesa, suposta inobservância à segurança jurídica quando a estabilidade da decisão que se
pretende seja obedecida é assentada justamente em situação de fato e em comportamento processual que o

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ordenamento jurídico visa coibir. 12. A seu turno, o emprego, por desembargador que oficiou nos autos, de
expressões inadequadas ou de linguajar não compatível com a nobre função de julgar não significa, por si só, a
ocorrência de julgamento parcial. A suspeição se comprova pelo laço íntimo de afeição ou de desafeição e não
pela ausência de técnica escorreita de linguagem. 13. Recurso Especial não provido.

 STJ - RHC: 55142 MG 2014/0343392-0, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de Julgamento:
12/05/2015, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 21/05/2015
PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL PRIVADA. INÉPCIA DA
QUEIXA-CRIME. INOCORRÊNCIA. PRINCÍPIO DA INDIVISIBILIDADE. ART. 49 DO CPP. RECURSO DESPROVIDO. I - Se
a queixa, fundada em elementos suficientes, permite a adequação típica, ela não é inepta e nem peca pela falta de
justa causa (precedentes). II - In casu, consta da queixa-crime que o recorrente utilizava em sua empresa
equipamento cuja patente de invenção teria sido concedida ao querelante, perante o INPI - Instituto Nacional da
Propriedade Industrial. Relata, ainda, que por meio de medida cautelar de busca e apreensão, foi realizada perícia,
que teria constatado a contrafação em um dos itens patenteados. Conclui, por fim, que o ora recorrente "adquire
as peças de reposição de pessoas que não estão autorizadas pelo titular da patente ou as produz em suas
dependências". Não há que se falar, portanto, na presente hipótese, em inépcia da queixa-crime. III - Na hipótese,
também não se vislumbra a alegada violação ao princípio da indivisibilidade da ação penal privada, porquanto a
despeito das alegações do recorrente de que o querelante deixou de observar o referido princípio, da análise
acurada da exordial acusatória conclui-se que em momento algum o querelante renunciou, nem ao menos
tacitamente, ao jus accusationis. IV - "O reconhecimento da renúncia tácita ao direito de queixa exige a
demonstração de que a não inclusão de determinados autores ou partícipes na queixa-crime se deu de forma
deliberada pelo querelante" (v.g.: HC 186.405/RJ, Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 11/12/2014). Recurso
ordinário desprovido.

71
MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 6ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.

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