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OAB

EXAME DE ORDEM

DIREITO PROCESSUAL
PENAL
Capítulo 02
CAPÍTULOS

Capítulo 1 – Sistemas Processuais. Princípios. 

Capítulo 2 (você está aqui!) – Aplicação da Lei Processual Penal. 

Capítulo 3 – Inquérito policial. 


Capítulo 4 – Ação penal. 
Capítulo 5 – Competência Criminal. 
Capítulo 6 – Das provas. 
Capítulo 7 – Das prisões. 
Capítulo 8 – Questões e processos incidentes. 
Capítulo 9 – Sujeitos e Comunicação dos atos. 
Capítulo 10 – Processo e Procedimentos. 
Capítulo 11 – Sentença e Nulidades 
Capítulo 12 – Recursos 
Capítulo 13 – Ações Autônomas 

1
SOBRE ESTE CAPÍTULO

E ai, OABeiro! Tudo certinho?

A apostila de número 02 do nosso curso de Direito Processual Penal tratará sobre A Aplicação

da Lei processual Penal, matéria que é comumente cobrada no Exame de Ordem ao decorrer
desses anos! De acordo com a nossa equipe de inteligência, esse assunto esteve presente 1

VEZ nos últimos 3 anos, sendo considerado um assunto de baixíssima recorrência.

Adicionamos questões de outras carreiras jurídicas para que você pudesse assimilar o conteúdo
visto, ok?

Lembre-se: A resolução de questões é a chave para a aprovação!

Vamos juntos!

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SUMÁRIO

DIREITO PROCESSUAL PENAL ............................................................................................................... 5

Capítulo 2 .................................................................................................................................................. 5

2. Lei Processual Penal no Espaço. Lei Processual Penal no Tempo. Interpretação da lei

processual penal. ..................................................................................................................................... 5

2.1 Lei processual penal no Espaço...................................................................................................................... 5

2.1.1 Princípio da territorialidade .............................................................................................................................. 5

2.1.2 Exceções ao princípio da territorialidade ................................................................................................... 6

2.1.3 Tratados, convenções e regras do direito internacional...................................................................... 7

2.1.4 Prerrogativas de autoridades nos crimes de responsabilidade ........................................................ 8

2.1.5 Processos da competência da Justiça Militar ........................................................................................... 9

2.1.6 Processos de competência do tribunal especial e os crimes de imprensa ................................. 9

2.1.7 Outros casos............................................................................................................................................................ 9

2.2 Lei Processual Penal no Tempo ................................................................................................................... 10

2.2.1 Princípio tempus regit actum ....................................................................................................................... 10

2.2.2 Normas processuais mistas (híbridas ou materiais) ............................................................................ 12

2.2.3 Normas processuais heterotópicas ............................................................................................................ 13

2.3 Interpretação da Lei processual Penal ...................................................................................................... 14

2.3.1 Interpretação extensiva.................................................................................................................................... 14

2.3.2 Analogia ................................................................................................................................................................. 15

2.3.3 Analogia e interpretação analógica ........................................................................................................... 15

2.3.4 Suplemento dos princípios gerais do direito ........................................................................................ 16

QUADRO SINÓTICO .............................................................................................................................. 17

QUESTÕES COMENTADAS ................................................................................................................... 18

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GABARITO ............................................................................................................................................... 28

QUESTÃO DESAFIO ................................................................................................................................ 29

GABARITO QUESTÃO DESAFIO ........................................................................................................... 30

LEGISLAÇÃO COMPILADA .................................................................................................................... 32

JURISPRUDÊNCIA................................................................................................................................... 33

MAPA MENTAL ...................................................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................................... 40

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Capítulo 2

2. Lei Processual Penal no Espaço. Lei Processual Penal no

Tempo. Interpretação da lei processual penal.

2.1 Lei processual penal no Espaço

2.1.1 Princípio da territorialidade

O Código de Processo Penal adota o princípio da territorialidade ou da lex fori para


reger a sua aplicabilidade no espaço. Atividade jurisdicional é uma das formas de exercer a

soberania nacional, por isso, em regra, não pode ser exercida além das fronteiras do respectivo
Estado – locus regit actum.

Pelo princípio da territorialidade, quando um ato de um processo brasileiro precisa ser

praticado no exterior (por exemplo, citar uma testemunha que mora na França), a lei processual
a ser aplicada é a do país onde o ato será realizado. Enquanto isso, aplica-se a lei processual
brasileira aos atos processuais praticados no Brasil, mas referentes a processos estrangeiros.

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O direito penal usa o princípio da territorialidade (art. 5º do CP) e da extraterritorialidade

incondicionada e condicionada (art. 7º do CP), o direito processual penal usa o princípio da


territorialidade ou lex fori (art. 1º do CPP).

Portanto, aplicamos o Código de Processo Penal (CPP) a todos os processos que tramitem
na justiça brasileira, ainda que o direito material aplicado seja outro.

Sempre?

Não! A doutrina elenca três situações em que a lei processual penal de um Estado pode

ser aplicada fora de seus limites territoriais:

a) aplicação da lei processual penal de um Estado em território nullius;

b) quando houver autorização do Estado onde deva ser praticado o ato processual;

c) em caso de guerra, no território ocupado.

2.1.2 Exceções ao princípio da territorialidade

O art. 1º do CPP prevê o princípio da territorialidade no nosso processo penal e, em


seguida, estabelece algumas exceções, casos em que não aplicamos o CPP em processos

brasileiros.

Art. 1º, do CPP – O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este
Código, ressalvados:

I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;

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II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado,
nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo
Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade;

III - os processos da competência da Justiça Militar;

IV - os processos da competência do tribunal especial;

V - os processos por crimes de imprensa.

Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos.
IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.

Obs.: os incisos IV e V estão riscados porque não foram recepcionados pela CF/88.

Também não aplicamos o CPP, pelo princípio da especialização, quando a própria

legislação extravagante, específica sobre a matéria, dispõe sobre o processamento e julgamento


penal. É o caso dos crimes eleitorais, dos crimes de abuso de autoridade, de competência
originária dos Tribunais, das infrações de menor potencial ofensivo, dos crimes falimentares, da

Lei Maria da Penha, do Estatuto do Idoso e da Lei de Drogas.

Por fim, o art. 5º, § 4º, da Constituição Federal, prevê que “o Brasil se submete à jurisdição
de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão”. Temos, portanto, mais

uma ressalva à regra do princípio da territorialidade: não aplicamos a lei processual penal
brasileira aos crimes praticados no país quando o Brasil reconhecer a jurisdição penal

internacional para o caso.

2.1.3 Tratados, convenções e regras do direito internacional

O art. 1º do CPP acima citado deixa claro que devemos adotar o respectivo Código para

reger todos os processos penais do Brasil. Entretanto, logo após estabelecer essa premissa,
elenca algumas exceções, casos em que não vamos usar o CPP, mesmo em processos penais

pátrios.

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A primeira exceção legal ao princípio da territorialidade são as regras do direito

internacional, materializadas em tratados e acordos aos quais o Brasil tenha aderido.

A partir dessa exceção, o STJ entende que não há ilegalidade quando utilizamos em
processo penal brasileiro, com base em acordo de cooperação internacional em matéria penal,

provas e informações produzidas a partir da quebra de sigilo bancário determinado por


autoridade estrangeira (HC 231.633/PR).

Também por força de normas internacionais, especificamente da Convenção de Viena sobre

Relações Diplomáticas, temos que seguir as seguintes regras em detrimento das do CPP: Chefes
de governo estrangeiro ou de Estado estrangeiro, suas famílias e membros das comitivas,

embaixadores e suas famílias, funcionários estrangeiros do corpo diplomático e suas famílias, e


funcionários de organizações internacionais como a ONU, gozam de imunidade diplomática, ou

seja, se cometerem delito no Brasil, só podem responder por ele em seu país de origem.

Aprofundando o assunto, essa imunidade pode ser expressamente renunciada pelo Estado
acreditante, aquele que envia o seu representante.

2.1.4 Prerrogativas de autoridades nos crimes de


responsabilidade

O crime de responsabilidade na realidade é uma infração política, cometida por uma


autoridade no exercício de suas funções. Por isso o nosso ordenamento jurídico atribuiu a essa
natureza de crime um julgamento igualmente político.

O inciso II do art. 1º do CPP afirma que não será aplicado o respectivo Código aos crimes
de responsabilidade cometidos pelo Presidente da República, pelos Ministros de Estado quando
o crime de responsabilidade for conexo com o do Presidente, e aqueles cometidos pelos

Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Nesse contexto, a título de exemplo, o art. 52 da CF/88 atribui como competência privativa
do Senado Federal processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes

de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do

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Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; e processar e

julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça


e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-

Geral da União nos crimes de responsabilidade.

2.1.5 Processos da competência da Justiça Militar

Não se aplica o CPP no âmbito da Justiça Militar porque ela tem o seu próprio Código

Penal Militar e o seu próprio Código de Processo Penal Militar. O CPP comum só deve ser
aplicado na Justiça Militar quando houver omissão da lei específica e sua aplicação não causar

prejuízo da índole do processo penal militar.

2.1.6 Processos de competência do tribunal especial e os crimes


de imprensa

Os incisos IV e V do art. 1º do CPP, referentes à competência do tribunal especial e aos

crimes de imprensa, respectivamente, não foram recepcionados pena CF/88. Quando o Código
fez menção ao tribunal especial, referia-se ao instituto previsto na Constituição de 1937, o antigo
Tribunal de Segurança Nacional, extinto pela Constituição de 1946. Atualmente, os crimes contra

a segurança nacional são definidos pela Lei 7.170/83 e, segundo o art. 109, IV da CF/88, os
processos e julgamentos cabem à Justiça Federal. Os crimes de imprensa eram previstos na Lei

5.250/67, declarada não recepcionada pela CF/88 pelo Supremo através da ADPF 130.

2.1.7 Outros casos

Com o surgimento de diversas leis especiais após o início da vigência do CPP, em 1º de

janeiro de 1942, foram criados vários procedimentos distintos que, por foça do princípio da
especialidade, devem ser aplicados em detrimento do Código de Processo Penal.

O Código Eleitoral define a competência da Justiça Eleitoral para julgar os crimes eleitorais
nele previstos; a Lei 4.898/65 prevê o processo e julgamento dos crimes de abuso de autoridade;
o procedimento dos crimes de competência originária dos Tribunais é previsto em lei especial

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(Lei 8.038/90); as infrações de menor potencial ofensivo devem ser processadas e julgadas nos

Juizados Especiais Criminais, regulamentados pela Lei 9.099/95; o Estatuto do Idoso, a Lei Maria
da Penha e a Lei de Drogas também possuem peculiaridades procedimentais que ressalvam a

aplicação do CPP. Nesses casos, o CPP deve ser aplicado apenas subsidiariamente.

2.2 Lei Processual Penal no Tempo

2.2.1 Princípio tempus regit actum

O estudo do direito intertemporal é extremamente importante tendo em vista as sucessões

de alterações normativas que sofremos durante os anos. Sabemos que a norma penal segue a
regra da irretroatividade, salvo para beneficiar o réu. Mas como funciona a aplicação da lei
processual penal no tempo?

Art. 2º, do CPP – A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade
dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

O art. 2º do CPP consagra o princípio tempus regit actum, o que significa dizer que a lei
processual penal tem aplicabilidade imediata. Mas o que isso quer dizer? A aplicabilidade

imediata da norma de processo penal faz com que a nova lei seja aplicada no momento em
que entra em vigor, não importando se vai agravar ou beneficiar a situação do réu, sem prejuízo
dos atos processuais já praticados.

A aplicação imediata da nova lei processual penal se fundamenta porque, em tese, uma
nova lei deve ser melhor do que a antiga, mais satisfatória aos interesses da justiça e trazer mais
garantias às partes.

Você já sabe quem em janeiro de 2020 entrou em vigor a Lei 13.904/19, conhecida como

“Pacote Anticrime”, certo? Quando uma lei processual nova entra em vigor, é claro que os novos
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processos devem seguir o novo procedimento e que os processos conclusos com base na lei

anterior devem ser respeitados. Mas o que acontece com os processos que estão em
andamento?

Esse problema também aconteceu com a reforma processual de 2008, que inovou

profundamente o procedimento do Tribunal do Júri e o procedimento comum. Foi assim que a


doutrina criou três sistemas distintos em busca de solucionar a questão:

 Sistema da unidade processual: considera que o processo é uma unidade, apesar de

ser composto por atos distintos. Portanto, para essa corrente doutrinária, um processo
só poderia ser regulado por uma única lei. No caso em análise, o processo deve ser

regido pela lei mais antiga, com ultratividade, pois se fosse possível a aplicar a lei
nova, resultaria em efeitos retroativos da lei processual.

 Sistema das fases processuais: considera que cada fase processual pode ser regulada

por um procedimento diferente. Portanto, no caso de sucessão de leis no tempo, é


possível que, a cada nova fase do processo, ele seja regulado pela lei diferente em

vigor.

 Sistema de isolamento dos atos processuais: considera que o ato processual já


praticado em observância à lei anterior não pode ser atingido pela lei nova.

Entretanto, a lei nova deve ser aplicada aos próximos atos, sem precisar observar a
mudança de fase processual. É o sistema adotado pelo Brasil, estabelecido pelo art.

2º do CPP e pelo princípio do tempus regit actum, e que deve ser adotado para os
processos penais atuais em relação à parte processual da nova lei do Pacote Anticrime.

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Não confunda, OABeiro: a aplicação da lei penal considera o momento da prática delituosa

(tempus delicti), enquanto a aplicação da lei processual penal considera o momento da prática
do ato processual (tempus regit actum).

2.2.2 Normas processuais mistas (híbridas ou materiais)

Existem dois tipos de normas processuais: as normas genuinamente processuais e as

normais processuais materiais. Essa divisão é doutrinária e tem um enorme efeito prático para
a aplicação da lei processual penal no tempo.

As normas genuinamente processuais são aquelas que tratam do puramente do

procedimento. Nesses casos, aplicamos sem dúvidas a regra do art. 2º do CPP.

Quando uma norma atinge ao mesmo tempo matéria de direito penal e de direito
processual, a denominamos de norma mista. Diante de uma norma processual mista, devemos

usar os mesmos critérios da norma material para a sua sucessão no tempo, ou seja, se for mais
benéfica ao agente, deve continuar sendo aplicada para os fatos ocorrido em sua vigência,
mesmo depois de revogada – ultratividade da lei processual penal mista mais benéfica; e no

caso de a nova lei mista ser mais benéfica ao réu, deve ser adotada retroativamente para regular
os fatos ocorridos antes de sua vigência.

Concluindo: diante de uma norma híbrida, que apresenta preceitos materiais e processuais,

deve prevalecer o aspecto material.

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2.2.3 Normas processuais heterotópicas

As normas heterotópicas podem ocorrer de duas formas: quando normas materiais estão
inseridas em leis processuais ou quando normas processuais estão inseridas em leis penais, de

direito material. No primeiro caso, aplicamos a regra da retroatividade para beneficiar o réu,
mas no segundo caso a norma processual deve ter aplicação imediata, característica das normas

processuais penais, mesmo em um diploma de natureza de direito penal.

Qual a diferença entre as normas processuais mistas e as normas processuais


heterotópicas? As normas heterotópicas possuem natureza material ou processual, apesar de

estarem inseridas em uma lei de natureza distinta, enquanto isso, as normas processuais mistas
possuem uma dupla natureza – material e processual ao mesmo tempo.

Exemplo de norma heterotópica: o direito ao silêncio do acusado durante o seu

interrogatório, norma material, está previsto no art. 186 do CPP, diploma processual.

Exemplo de norma processual mista: a Lei 9.099/95, que dispõe sobre os Juizados Especiais
Criminais, é uma norma processual mista ou híbrida tendo em vista que, apesar de prever o

procedimento sumaríssimo, nele inclui diversos institutos despenalizadores, como a composição


civil dos danos e a transação penal, que implicam diretamente no exercício do jus puniendi.

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Toda norma, por mais objetiva que seja, precisa ser interpretada. A atividade interpretativa

da norma visa entender o seu verdadeiro significado e qual o real alcance dele.

O que o intérprete deve procurar é o conteúdo da lei e a sua vontade ( mens legis), e não
a intenção do legislador (mens legislatoris), pois, uma vez em vigor, a lei passa a ter uma

existência autônoma.

A lei processual penal deve seguir todas as regras e princípios hermenêuticos das demais
leis, mas o art. 3º do CPP expressa uma distinção entre o direito penal material e o direito penal

processual: no primeiro não cabe qualquer atividade hermenêutica que vise ampliar o objeto da
norma, como a analogia in malam partem, mas no processo penal a própria lei permite a

interpretação extensiva, a interpretação analógica e o suplemento dos princípios gerais do


direito.

Art. 3º do CPP – A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

2.3 Interpretação da Lei processual Penal

2.3.1 Interpretação extensiva

Quanto ao resultado, a interpretação pode ser classificada como:

 Declaratória: o significado da norma limita-se à sua literalidade, o intérprete não


amplia nem restringe o seu alcance;

 Restritiva: ocorre quando a norma “diz mais do que queria dizer”, cabendo ao

intérprete restringir o seu alcance para alcançar o real significado;

 Extensiva: ocorre quando a norma “diz menos do que queria dizer”, como em uma
omissão involuntária do legislador, cabendo ao intérprete ampliar a sua incidência;

 Progressiva: busca adaptar o alcance da norma às transformações sociais, jurídicas,


científicas e morais. A interpretação progressiva visa manter a efetividade da norma
diante do novo contexto social.

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O Código de Processo Penal admite expressamente a interpretação extensiva. Portanto, ela

pode ser utilizada pelo aplicador do direito independentemente de beneficiar ou prejudicar o


réu.

Um exemplo de interpretação extensiva é a que a doutrina aplica ao art. 254 do CPP ao

entender que os jurados também estão sujeitos à suspeição. Ora, os jurados, apesar de leigos,
são juízes. Na interpretação extensiva, o intérprete amplia o conteúdo do termo para alcançar

o verdadeiro sentido da norma.

2.3.2 Analogia

A analogia consiste em aplicar uma norma prevista em lei a um caso semelhante para o

qual não há previsão legal. A analogia não é uma forma de interpretação, mas sim um método
de integração das normas, que objetiva suprir as lacunas do ordenamento jurídico.

Por exemplo, o CPP não trata da superveniência de lei processual que altera as regras de

competência e, nesse caso, devemos aplicar analogicamente e subsidiariamente as regras do


Código de Processo Civil.

2.3.3 Analogia e interpretação analógica

A interpretação analógica é a atividade que amplia o alcance da norma, tendo em vista


que o legislador não é capaz de prever todas as situações possíveis na sociedade. Para que o

uso da interpretação analógica não esbarre no princípio da legalidade, o legislador usa a


seguinte fórmula: detalha exemplos que deseja regulamentar e, em seguida, faz um fechamento

genérico do dispositivo legal, permitindo que todas as situações semelhantes sejam abrangidas.

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De forma diversa, a analogia, como já foi dito, é um método de integração das normas,

deve ser usada quando há uma omissão involuntária do legislador. Observe que na interpretação
analógica, apesar de não ser explicito na literalidade do dispositivo legal, a hipótese de aplicação

da norma já está prevista pelo legislador, pois o próprio dispositivo deixa aberta a sua aplicação
em casos semelhantes.

2.3.4 Suplemento dos princípios gerais do direito

As normas jurídicas são abstratas e, em diante das situações concretas, podem ser
insuficientes. Os princípios gerais do direito suprem as lacunas normativas, é uma forma de

integração das normas.

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB dispõe em seu art. 4º: Quando
a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios

gerais de direito. Outras normas fazem menção aos princípios gerais do direito, assim como no
nosso CPP, em seu art. 3º supracitado.

Mas quais são esses princípios? Trata-se de uma expressão bem vaga que nos remete a

inumeráveis soluções principiológicas fundamentais de um ordenamento jurídico que, ainda que


não positivadas ou escritas em algum lugar, constituem um pressuposto lógico do sistema.

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QUADRO SINÓTICO

Princípio da territorialidade - regra


Ressalvas:
Tratados, convenções e regras de direito internacional;
Prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos
Lei Processual no
ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente
Espaço da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos
crimes de responsabilidade;
Processos da competência da Justiça Militar;
Outros casos, pelo princípio da especialidade.
Princípio tempus regit actum.
Aplicação imediata da nova lei;
Sem prejuízo da validade dos atos processuais já praticados.
Sistema de isolamento dos atos processuais: quando há
sucessão de leis processuais no tempo, os processos em
Lei Processual no andamento devem passar a obedecer a nova norma, mas não
Tempo precisam repetir os atos já praticados.
Normas processuais mistas: possuem natureza processual e
material concomitantemente. Devem seguir o regramento das
leis materiais quando à sucessão no tempo. Ou seja, retroagem
para beneficiar o réu.
Interpretação da Lei Interpretação extensiva

Processual Penal Aplicação analógica


Suplemento dos princípios gerais do direito

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QUESTÕES COMENTADAS

Questão 1

(XXII EXAME DE ORDEM – FGV - 2017) Em 23 de novembro de 2015 (segunda feira), sendo o

dia seguinte dia útil em todo o país, Técio, advogado de defesa de réu em ação penal de
natureza condenatória, é intimado da sentença condenatória de seu cliente. No curso do prazo

recursal, porém, entrou em vigor nova lei de natureza puramente processual, que alterava o
Código de Processo Penal e passava a prever que o prazo para apresentação de recurso de
apelação seria de 03 dias e não mais de 05 dias. No dia 30 de novembro de 2015, dia útil, Técio

apresenta recurso de apelação acompanhado das respectivas razões. Considerando a hipótese


narrada, o recurso do advogado é

A) intempestivo, aplicando-se o princípio do tempus regit actum (o tempo rege o ato), e o novo
prazo recursal deve ser observado.

B) tempestivo, aplicando-se o princípio do tempus regit actum (o tempo rege o ato), e o antigo
prazo recursal deve ser observado.

C) intempestivo, aplicando-se o princípio do tempus regit actum (o tempo rege o ato), e o


antigo prazo recursal deve ser observado.
D) tempestivo, aplicando-se o princípio constitucional da irretroatividade da lei mais gravosa, e

o antigo prazo recursal deve ser observado.

Comentário:

Pelo princípio do tempus regit actum, a lei processual penal tem aplicação imediata aos
processos em curso, mas só se aplica aos ATOS PROCESSUAIS FUTUROS, ou seja, não se aplica
àqueles que já foram realizados, nos termos do art. 2º do CPP.

No caso do recurso, como o prazo recursal já havia se iniciado antes da entrada em vigor da lei

nova, esse prazo será regido pela lei antiga (que vigorava quando o prazo começou a fluir).
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Assim, a lei processual nova só se aplica aos prazos recursais FUTUROS, não àqueles que já se
iniciaram antes de sua vigência.

Assim, considerando o prazo antigo (05 dias), o recurso é tempestivo, pois o prazo findou em

28.11.2015, que foi sábado, sendo prorrogado até dia 30.11.2015, dia útil seguinte.

Questão 2

(XIX EXAME DE ORDEM – FGV - 2016) João, no dia 2 de janeiro de 2015, praticou um crime

de apropriação indébita majorada. Foi, então, denunciado como incurso nas sanções penais do
Art. 168, §1º, inciso III, do Código Penal. No curso do processo, mas antes de ser proferida
sentença condenatória, dispositivos do Código de Processo Penal de natureza exclusivamente
processual sofrem uma reforma legislativa, de modo que o rito a ser seguido no recurso de
apelação é modificado. O advogado de João entende que a mudança foi prejudicial, pois é

possível que haja uma demora no julgamento dos recursos.

Nesse caso, após a sentença condenatória, é correto afirmar que o advogado de João

A) deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, pois se aplica ao caso o princípio da
imediata aplicação da nova lei.

B) não deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, em razão do princípio da


irretroatividade da lei prejudicial e de o fato ter sido praticado antes da inovação.
C) não deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, em razão do princípio da

ultratividade da lei.
D) deverá respeitar o novo rito do recurso de apelação, pois se aplica ao caso o princípio da

extratividade.

Comentário:

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Importante salientar que a Lei Processual Penal tem aplicação imediata, sem prejuízo dos atos

já praticados, a teor do que dispõe o art. 2º do Cógido de Processo Penal:

"Art. 2º. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos

realizados sob a vigência da lei anterior"

Questão 3

(FAURGS - 2016 - TJ-RS - Juiz de Direito Substituto - ADAPTADA) A lei processual penal
mais nova aplica-se retroativamente, determinando a necessidade de repetição de todos os atos

instrutórios já realizados sob a vigência da legislação revogada.


( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

Como já vimos repetitivamente, a lei processual penal deve respeitar os atos processuais

já praticados, devendo ser aplicada imediatamente apenas aos atos produzidos após a sua
vigência.

Questão 4

(FCC - 2015 - TJ-SE - Juiz Substituto) A lei processual penal,

A) não admite aplicação analógica, salvo para beneficiar o réu.


B) não admite aplicação analógica, mas admite interpretação extensiva.

C) somente pode ser aplicada a processos iniciados sob sua vigência.


D) admite o suplemento dos princípios gerais de direito.
E) admite interpretação extensiva, mas não o suplemento dos princípios gerais de direito.

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Comentário:

A questão exige do candidato o conhecimento do art. 3º do CPP, que dispõe: “a lei


processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o

suplemento dos princípios gerais de direito”. Portanto, a alternativa “A” está errada porque
a lei processual penal admite a aplicação analógica, independentemente de beneficiar o
réu; a alternativa “B” está errada porque, apesar de realmente admitir a interpretação

extensiva, a lei processual penal também admite a aplicação analógica. A letra “C” está
errada porque, de acordo com o art. 2º do CPP, a lei processual tem aplicação imediata,
ou seja, aplica-se até mesmo nos processos em andamento; por fim, a letra “E” está errada
porque a lei processual admite o suplemento dos princípios gerais do direito.

Questão 5

(FAPEC - 2015 - MPE-MS - Promotor de Justiça Substituto - ADAPTADA) O princípio da lex


fori admite relativização no processo penal.
( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

O princípio da lex fori admite relativização no processo penal. Lembra das exceções
elencadas no art. 1º do CPP? Tratados, convenções e regras de direito internacional, as

prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos


crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal
Federal, nos crimes de responsabilidade, os processos de competência da Justiça Militar e

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outras situações em função do princípio da especialidade, são casos de relativização do

princípio da lex fori, também chamado de princípio da territorialidade, no processo penal.

Questão 6

(MPE-SP - 2015 - MPE-SP - Promotor de Justiça) Assinale a alternativa correta:


A) A lei processual penal que entrar em vigor, alterando as regras de competência, não é
aplicável aos processos em curso.

B) Se o ato processual for complexo e iniciar-se sob a vigência de uma lei de natureza processual
penal e, antes de se completar, outra for promulgada, modificando-o, devem ser obedecidas as

normas da lei antiga.


C) A lei processual penal deverá retroagir se for mais favorável ao acusado.

D) Se a lei nova tiver natureza mista sua aplicação é imediata e irretroativa, posto que prejudicial
ao acusado.

E) Todas as alternativas estão incorretas.

Comentário:

O ato processual complexo pode ser iniciado sob a égide de uma lei e, antes de ser

concluído, passar a vigorar outra norma que o altere. A princípio parece complicada a
situação, as a doutrina e a jurisprudência são pacíficas e entendem que nesse caso o ato

processual complexo deve seguir os preceitos da lei mais antiga. Ademais, a alternativa “B”
fala que houve “promulgação” de lei nova. A simples promulgação de uma lei processual
em nada altera as regras dos processos em curso. Apenas quando essa lei promulgada

entrar em vigor, ou seja, a partir de sua vigência, é que podemos falar na sua aplicação e
debater em quais atos processuais ela deve incidir.

A lei processual penal que entrar em vigor, alterando as regras de competência, é aplicável

aos processos em curso, assegurando-se os atos já produzidos; a lei processual não

22
retroage, mesmo em benefício do réu (irretroatividade da lei processual penal); se as leis

mistas, ou híbridas, forem favoráveis ao réu podem retroagir.

Questão 7

(FCC - 2015 - TJ-RR - Juiz Substituto) A lei processual penal brasileira:


A) admite interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios
gerais de direito.

B) aplica-se desde logo, em prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei
anterior.

C) retroage no tempo para obrigar a refeitura dos atos processuais, caso seja mais benéfica ao
réu.

D) não admite definição de prazo de vacatio legis.


E) será aplicada nos atos processuais praticados em outro território que não o brasileiro, em

casos de extraterritorialidade da lei penal.

Comentário:

Mais uma vez o examinador requer que o candidato conheça os termos do art. 3º do CPP:

“a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como
o suplemento dos princípios gerais de direito”.

A alternativa “B” está incorreta porque, apesar de a lei processual penal ser aplicada desde

logo, deve respeitar os atos já praticados sob a vigência da lei anterior (segurança jurídica).
A alternativa “C” também aborda o tema da sucessão de leis no tempo. Lembre-se sempre

que a lei processual penal não vai retroagir, mesmo que seja em benefício do réu (salvo
lei processual penal mista).

23
A aplicação imediata da norma processual penal deve ser feita a partir de sua vigência e

não a partir de sua publicação. Portanto, nada impede que ela tenha um prazo de vacatio
legis, como afirma a alternativa “D”.

Por fim, o princípio adotado para a aplicação da norma processual penal brasileira no

espaço é o da territorialidade, previsto no art. 1º do CPP. Por ele, a lei processual penal
brasileira deve ser aplicada apenas nos atos processuais praticados em nosso território.

Questão 8

(FCC - 2015 - TJ-PE - Juiz Substituto) Antonio está sendo processado pela prática do delito
de furto qualificado. É correto dizer que, caso haja mudança nas normas que regulamentam o

procedimento comum ordinário,


A) a nova lei se aplica ao processo no estágio em que se encontra, se concluída a fase de

instrução.
B) a nova lei apenas se aplica se benéfica ao acusado.

C) os atos praticados sob a vigência da lei anterior são válidos.


D) a nova lei se aplica ao processo no estágio em que se encontra, apenas se ainda não recebida
a denúncia contra Antonio.
E) os atos praticados sob a vigência da lei anterior precisam ser ratificados, caso contrário não
serão considerados válidos.

Comentário:

A alternativa “A” prevê o sistema das fases processuais, mas o nosso ordenamento jurídico

adota o sistema de isolamento dos atos. A nova lei processual penal deve ser aplicada ao
caso imediatamente, independentemente se ser ou não benéfica ao réu e
independentemente da fase processual em que esteja o processo. Ademais, os atos

24
processuais já praticados de acordo com a lei anterior devem ser respeitados e não

precisam ser ratificados.

Questão 9

(FGV - 2013 - TJ-AM - Juiz) Sobre a aplicação da Lei Processual Penal, é correto afirmar que;
A) no Brasil, adota-se integralmente o princípio da irretroatividade da lei processual penal, que
impede que as inovações na norma processual penal sejam aplicadas de imediato para fatos

praticados antes de sua entrada em vigor.


B) ela admitirá interpretação extensiva e o suplemento de princípios gerais do direito, mas não

a aplicação analógica.
C) o processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, pelo Código de Processo Penal,

não havendo qualquer ressalva prevista neste diploma.


D) as normas previstas no Código de Processo Penal de natureza híbrida, ou seja, com conteúdo

de direito processual e de direito material, devem respeitar o princípio que veda a aplicação
retroativa da lei penal, quando seu conteúdo for prejudicial ao réu.
E) ela admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, mas não o suplemento dos

princípios gerais do direito.

Comentário:

O sistema jurídico brasileiro adota o princípio da irretroatividade da lei processual penal


como regra. As normas processuais híbridas, ou mistas, são exceções que seguem os
preceitos das normas materiais quanto à sucessão no tempo, ou seja, se mais benéficas ao

réu, devem ser aplicadas de forma retroativa; e se prejudiciais a ele, não devem retroagir.

A norma processual penal admite a interpretação extensiva, a aplicação analógica e o


suplemento dos princípios gerais do direito, conforme a literalidade do art. 3º do CPP.

25
Por fim, de acordo com o art. 1º do CPP, os processos penais brasileiros devem seguir o

estabelecido naquele Código, consagrando o princípio da territorialidade. Entretanto, o


próprio dispositivo faz algumas ressalvas, situações em que, mesmo em processos penais

brasileiros, não usaremos o CPP como regramento.

Questão 10

(CESPE - 2013 - PG-DF - Procurador) No que se refere à lei processual penal no espaço e no

tempo, julgue os itens que se seguem.


A lei processual penal será aplicada desde logo, sem prejuízo da validade dos atos instrutórios

realizados sob a vigência de lei processual anterior, salvo se esta for, de alguma maneira, mais
benéfica ao réu que aquela.

( ) CERTO

( ) ERRADO

A aplicação do princípio da territorialidade, previsto na lei processual penal brasileira, poderá

ser afastada se, mediante tratado internacional celebrado pelo Brasil e referendado internamente
por decreto, houver disposição que determine, nos casos que ele indicar, a aplicação de norma

diversa.

( ) CERTO
( ) ERRADO

Comentário:

A lei processual penal será aplicada desde logo (aplicabilidade imediata), sem prejuízo da
validade que quaisquer atos, inclusive instrutórios, já realizados sob a vigência de lei

processual anterior, mesmo que esta for, de alguma maneira, mais benéfica ao réu.
26
O art. 1º do CPP determina como regra para a aplicação da lei processual penal no espaço

o princípio da territorialidade. Em seguida, o mesmo dispositivo elenca algumas ressalvas,


entre elas o tratado internacional que o Brasil tenha aderido. Ou seja, se há tratado

internacional, celebrado pelo Brasil e referendado internamente por decreto, e nesse


tratado houver disposição que determine a aplicação de norma diversa em determinados

casos, esta norma será aplicada em detrimento do CPP.

27
GABARITO

Questão 1 – ALTERNATIVA B

Questão 2 – ALTERNATIVA A

Questão 3 – ERRADO

Questão 4 – ALTERNATIVA D

Questão 5 – CERTO

Questão 6 – ALTERNATIVA B

Questão 7 – ALTERNATIVA A

Questão 8 – ALTERNATIVA C

Questão 9 – ALTERNATIVA D

Questão 10 – ERRADO / CERTO

28
QUESTÃO DESAFIO

Levando-se em conta a classificação doutrinária, quanto à origem


ou ao sujeito que a realiza, como pode ser classificada a
interpretação da norma processual penal?

Responda em até 5 linhas

29
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

A interpretação/aplicação do direito, quanto à origem, é classificada doutrinariamente em:

autêntica ou legislativa, doutrinária ou científica e judicial ou jurisprudencial.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

 autêntica ou legislativa

Segundo os juristas Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (2017) a interpretação “autêntica

ou legislativa: é a realizada pelo próprio legislador que, através de outro texto de lei, faz os
esclarecimentos necessários sobre determinado assunto, podendo ser: contextual, leia-se, aquela

realizada no corpo do próprio texto interpretado, ou posterior, é dizer, em outro diploma


subsequente à norma interpretada. É importante ressaltar que a norma interpretativa, dando a

devida acepção ao conteúdo da norma interpretada, tem efeito retroativo. Ex.: o CPP, no -seu
art. 302, traz a acepção daquilo que se entende por prisão em flagrante.".

 doutrinária ou científica

Outra classificação doutrinaria da interpretação na norma processual penal levando-se em conta


à origem ou ainda o sujeito que realiza essa interpretação, tem-se a interpretação doutrinária

ou científica. Conforme os ensinamentos que os professores Nestor Távora e Rosmar Rodrigues


Alencar (2017) expõem em sua obra, a interpretação classificada em “doutrinária ou científica: é

aquela realizada pelos estudiosos do direito. Atente-se que a exposição de motivos do Código
é forma de interpretação doutrinária, pois não tem conteúdo de lei.

 judicial ou jurisprudencial

Por fim, a classificação da interpretação quanto à origem pode ser judicial ou jurisprudencial.
Conforme Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (2017) essa intepretação “judicial ou

jurisprudencial: é a interpretação/aplicação do direito conferida pelos juízes e tribunais. É de se


ressaltar que a EC no 45/2004 introduziu o art. 103-A na Carta Magna, prevendo a súmula
vinculante no direito brasileiro. Destarte, o Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por

30
provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre

matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá
efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública

direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei. Ademais, a súmula terá por objetivo a validade, a

interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual
entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança

jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.”

31
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Lei Processual Penal no Espaço:

 CPP: art. 1º;


 CF/88: Art. 5º, §4º.

Lei Processual Penal no Tempo:

 CPP: art. 2º;

Interpretação da Lei Processual Penal:

 CPP: art. 3º;

32
JURISPRUDÊNCIA

Lei Processual Penal no Espaço

 STJ - HC: 231633 PR 2012/0014377-1, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento:
25/11/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 03/12/2014

(...) CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL E LAVAGEM DE DINHEIRO (ARTIGOS 16 E 22 DA LEI
7.492/1986 E ARTIGO 1º, INCISO VI, DA LEI 9.613/1998). VIOLAÇÃO À LEI COMPLEMENTAR 105/2001. QUEBRA DO
SIGILO BANCÁRIO DOS PACIENTES NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. AUSÊNCIA DE AUTORIZAÇÃO DA
JUSTIÇA BRASILEIRA. DESNECESSIDADE. MEDIDA QUE FOI IMPLEMENTADA EM INVESTIGAÇÃO EM CURSO EM
NOVA IORQUE. COMPARTILHAMENTO DAS PROVAS OBTIDAS COM A JUSTIÇA BRASILEIRA MEDIANTE ACORDO
DE COOPERAÇÃO ENTRE OS PAÍSES. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO CARACTERIZADO. 1. A competência
internacional é regulada ou pelo direito internacional ou pelas regras internas de determinado país acerca da
matéria, tendo por fontes os costumes, os tratados normativos e outras regras de direito internacional. 2. Em
matéria penal adota-se, em regra, o princípio da territorialidade, desenvolvendo-se na justiça pátria o processo e
os respectivos incidentes, não se podendo olvidar, outrossim, de eventuais tratados ou outras normas internacionais
a que o país tenha aderido, nos termos dos artigos 1º do Código de Processo Penal e 5º, caput, do Código Penal.
Doutrina. 3. No caso dos autos, inexiste qualquer ilegalidade na quebra do sigilo bancário dos acusados, uma vez
que a medida foi realizada para a obtenção de provas em investigação em curso nos Estados Unidos da América,
tendo sido implementada de acordo com as normas do ordenamento jurídico lá vigente, sendo certo que a
documentação referente ao resultado da medida invasiva foi posteriormente compartilhada com o Brasil por meio
de acordo existente entre os países. (...).

Comentário: Em matéria penal adota-se, em regra, o princípio da territorialidade, desenvolvendo-se na justiça


pátria o processo e os respectivos incidentes, não se podendo olvidar, outrossim, de eventuais tratados ou outras
normas internacionais a que o país tenha aderido, nos termos dos artigos 1º do Código de Processo Penal e 5º,
caput, do Código Penal.

 STF. ADPF 130/DF, Rel. Min. Carlos Britto, 30/04/2009.

EMENTA: ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF). LEI DE IMPRENSA.


ADEQUAÇÃO DA AÇÃO. REGIME CONSTITUCIONAL DA “LIBERDADE DE INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA”, EXPRESSÃO
SINÔNIMA DE LIBERDADE DE IMPRENSA. A “PLENA” LIBERDADE DE IMPRENSA COMO CATEGORIA JURÍDICA
PROIBITIVA DE QUALQUER TIPO DE CENSURA PRÉVIA. A PLENITUDE DA LIBERDADE DE IMPRENSA COMO
REFORÇO OU SOBRETUTELA DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE

33
EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL. LIBERDADES QUE DÃO CONTEÚDO ÀS
RELAÇÕES DE IMPRENSA E QUE SE PÕEM COMO SUPERIORES BENS DE PERSONALIDADE E MAIS DIRETA
EMANAÇÃO DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. O CAPÍTULO CONSTITUCIONAL DA
COMUNICAÇÃO SOCIAL COMO SEGMENTO PROLONGADOR DAS LIBERDADES DE MANIFESTAÇÃO DO
PENSAMENTO, DE INFORMAÇÃO E DE EXPRESSÃO ARTÍSTICA, CIENTÍFICA, INTELECTUAL E COMUNICACIONAL.
TRANSPASSE DA FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS PROLONGADOS AO CAPÍTULO PROLONGADOR.
PONDERAÇÃO DIRETAMENTE CONSTITUCIONAL ENTRE BLOCOS DE BENS DE PERSONALIDADE: O BLOCO DOS
DIREITOS QUE DÃO CONTEÚDO À LIBERDADE DE IMPRENSA E O BLOCO DOS DIREITOS À IMAGEM, HONRA,
INTIMIDADE E VIDA PRIVADA. PRECEDÊNCIA DO PRIMEIRO BLOCO. INCIDÊNCIA A POSTERIORI DO SEGUNDO
BLOCO DE DIREITOS, PARA O EFEITO DE ASSEGURAR O DIREITO DE RESPOSTA E ASSENTAR RESPONSABILIDADES
PENAL, CIVIL E ADMINISTRATIVA, ENTRE OUTRAS CONSEQUÊNCIAS DO PLENO GOZO DA LIBERDADE DE
IMPRENSA. PECULIAR FÓRMULA CONSTITUCIONAL DE PROTEÇÃO A INTERESSES PRIVADOS QUE, MESMO
INCIDINDO A POSTERIORI, ATUA SOBRE AS CAUSAS PARA INIBIR ABUSOS POR PARTE DA IMPRENSA.
PROPORCIONALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS MORAIS E
MATERIAIS A TERCEIROS. RELAÇÃO DE MÚTUA CAUSALIDADE ENTRE LIBERDADE DE IMPRENSA E DEMOCRACIA.
RELAÇÃO DE INERÊNCIA ENTRE PENSAMENTO CRÍTICO E IMPRENSA LIVRE. A IMPRENSA COMO INSTÂNCIA
NATURAL DE FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA E COMO ALTERNATIVA À VERSÃO OFICIAL DOS FATOS.
PROIBIÇÃO DE MONOPOLIZAR OU OLIGOPOLIZAR ÓRGÃOS DE IMPRENSA COMO NOVO E AUTÔNOMO FATOR
DE INIBIÇÃO DE ABUSOS. NÚCLEO DA LIBERDADE DE IMPRENSA E MATÉRIAS APENAS PERIFERICAMENTE DE
IMPRENSA. AUTORREGULAÇÃO E REGULAÇÃO SOCIAL DA ATIVIDADE DE IMPRENSA. NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO
DA LEI Nº 5.250/1967 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO. PROCEDÊNCIA
DA AÇÃO. (...)

10- NÃO RECEPÇÃO EM BLOCO DA LEI 5.250 PELA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL.

10.1. Óbice lógico à confecção de uma lei de imprensa que se orne de compleição estatutária ou orgânica. A
própria Constituição, quando o quis, convocou o legislador de segundo escalão para o aporte regratório da parte
restante de seus dispositivos (art. 29, art. 93 e § 5º do art. 128). São irregulamentáveis os bens de personalidade
que se põem como o próprio conteúdo ou substrato da liberdade de informação jornalística, por se tratar de bens
jurídicos que têm na própria interdição da prévia interferência do Estado o seu modo natural, cabal e ininterrupto
de incidir. Vontade normativa que, em tema elementarmente de imprensa, surge e se exaure no próprio texto da
Lei Suprema.

10.2. Incompatibilidade material insuperável entre a Lei n° 5.250/67 e a Constituição de 1988. Impossibilidade de
conciliação que, sobre ser do tipo material ou de substância (vertical), contamina toda a Lei de Imprensa: a) quanto
ao seu entrelace de comandos, a serviço da prestidigitadora lógica de que para cada regra geral afirmativa da
liberdade é aberto um leque de exceções que praticamente tudo desfaz; b) quanto ao seu inescondível efeito

34
prático de ir além de um simples projeto de governo para alcançar a realização de um projeto de poder, este a se
eternizar no tempo e a sufocar todo pensamento crítico no País.

10.3 São de todo imprestáveis as tentativas de conciliação hermenêutica da Lei 5.250/67 com a Constituição, seja
mediante expurgo puro e simples de destacados dispositivos da lei, seja mediante o emprego dessa refinada técnica
de controle de constitucionalidade que atende pelo nome de “interpretação conforme a Constituição”. A técnica
da interpretação conforme não pode artificializar ou forçar a descontaminação da parte restante do diploma legal
interpretado, pena de descabido incursionamento do intérprete em legiferação por conta própria. Inapartabilidade
de conteúdo, de fins e de viés semântico (linhas e entrelinhas) do texto interpretado. Caso-limite de interpretação
necessariamente conglobante ou por arrastamento teleológico, a pré-excluir do intérprete/aplicador do Direito
qualquer possibilidade da declaração de inconstitucionalidade apenas de determinados dispositivos da lei sindicada,
mas permanecendo incólume uma parte sobejante que já não tem significado autônomo. Não se muda, a golpes
de interpretação, nem a inextrincabilidade de comandos nem as finalidades da norma interpretada. Impossibilidade
de se preservar, após artificiosa hermenêutica de depuração, a coerência ou o equilíbrio interno de uma lei (a Lei
federal nº 5.250/67) que foi ideologicamente concebida e normativamente apetrechada para operar em bloco ou
como um todo pro indiviso.

11. EFEITOS JURÍDICOS DA DECISÃO. Aplicam-se as normas da legislação comum, notadamente o Código Civil,
o Código Penal, o Código de Processo Civil e o Código de Processo Penal às causas decorrentes das relações
de imprensa. O direito de resposta, que se manifesta como ação de replicar ou de retificar matéria publicada é
exercitável por parte daquele que se vê ofendido em sua honra objetiva, ou então subjetiva, conforme estampado
no inciso V do art. 5º da Constituição Federal. Norma, essa, “de eficácia plena e de aplicabilidade imediata”,
conforme classificação de José Afonso da Silva. “Norma de pronta aplicação”, na linguagem de Celso Ribeiro Bastos
e Carlos Ayres Britto, em obra doutrinária conjunta.

12. PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. Total procedência da ADPF, para o efeito de declarar como não recepcionado pela
Constituição de 1988 todo o conjunto de dispositivos da Lei federal nº 5.250, de 9 de fevereiro de 1967.

Lei Processual Penal no Tempo

 STF - ADI: 1719/DF, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. 18/06/2007, Tribunal Pleno, DJe 072 02-08-
2007.

PENAL E PROCESSO PENAL. JUIZADOS ESPECIAIS. ART. 90 DA LEI 9.099/1995. APLICABILIDADE. INTERPRETAÇÃO
CONFORME PARA EXCLUIR AS NORMAS DE DIREITO PENAL MAIS FAVORÁVEIS AO RÉU. O art. 90 da lei 9.099/1995
determina que as disposições da lei dos Juizados Especiais não são aplicáveis aos processos penais nos quais a
fase de instrução já tenha sido iniciada. Em se tratando de normas de natureza processual, a exceção estabelecida
por lei à regra geral contida no art. 2º do CPP não padece de vício de inconstitucionalidade. Contudo, as normas
de direito penal que tenham conteúdo mais benéfico aos réus devem retroagir para beneficiá-los, à luz do que

35
determina o art. 5º, XL da Constituição federal. Interpretação conforme ao art. 90 da Lei 9.099/1995 para excluir de
sua abrangência as normas de direito penal mais favoráveis aos réus contidas nessa lei.

Interpretação da Lei Processual Penal

 APn 912-RJ, Rel. Min. Laurita Vaz, Corte Especial, por unanimidade, julgado em 07/08/2019, DJe
22/08/2019

QUEIXA-CRIME. ACUSAÇÃO CONTRA DESEMBARGADORA DO TJRJ. PRERROGATIVA DE FORO NO STJ. CRIME DE


CALÚNIA CONTRA PESSOA MORTA. QUEIXA PARCIALMENTE RECEBIDA (...) 2. Por se tratar de crime de calúnia
contra pessoa morta (art. 138, § 2.º, do Código Penal), os Querelantes – mãe, pai, irmã e companheira em união
estável da vítima falecida – são partes legítimas para ajuizar a ação penal privada, nos termos do art. 24, §1º, do
Código de Processo Penal ("§ 1.º No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial,
o direito de representação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão"). 3. A companheira, em
união estável reconhecida, goza do mesmo status de cônjuge para o processo penal, podendo figurar como legítima
representante da falecida. Vale ressaltar que a interpretação extensiva da norma processual penal tem autorização
expressa no art. 3.º do CPP ("A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem
como o suplemento dos princípios gerais de direito"). 4. Ademais, "o STF já reconheceu a 'inexistência de hierarquia
ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo
doméstico', aplicando-se a união estável entre pessoas do mesmo sexo as mesmas regras e mesmas consequências
da união estável heteroafetiva (...).

Comentário: a interpretação extensiva da norma processual penal tem autorização expressa no art. 3.º do CPP ("A
lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios
gerais de direito")

 STF. Plenário. Inq 3983/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, julgado
em 3/9/2015 (Info 797).

É cabível a aplicação analógica do art. 191 do CPC (“Quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-
lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos”), ao
prazo previsto no art. 4º da Lei 8.038/1990 (“Apresentada a denúncia ou a queixa ao Tribunal, far-se-á a notificação
do acusado para oferecer resposta no prazo de quinze dias”). Com base nesse entendimento, o Plenário resolveu
questão de ordem suscitada pelo Ministro Teori Zavascki (relator) e, em consequência, deferiu, por maioria, o
pedido formulado por denunciado no sentido de que lhe fosse duplicado o prazo de oferecimento de resposta à
acusação. A Corte reiterou, desse modo, o que decidido na AP 470 AgR-vigésimo segundo e vigésimo quinto/MG
(DJe de 24.9.2013 e de 17.2.2014, respectivamente). Vencidos os Ministros Teori Zavascki, Edson Fachin, Roberto

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Barroso e Rosa Weber, que indeferiam o pleito por considerarem incabível a aplicação analógica do art. 191 do
CPC ao prazo previsto no art. 4º da Lei 8.038/1990.

37
MAPA MENTAL

38
39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LIMA, Renato Brasileiro. Manual de Processo Penal. 6ª ed. Salvador – Jus Podivm. 2018.

SOUZA, Carlos Fernando Mathias. Princípios Gerais do Direito. Revista de Informação Legislativa – Brasília a. 38 n.
152 out./dez. 2001.

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