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NOÇÕES DE DIREITO

PROCESSUAL PENAL
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ao contrário do que pode parecer, os incisos do artigo 1.º não
Professora Adriano Augusto Placidino Gonçalves cuidam de exceções à territorialidade da lei processual penal bra-
Graduado pela Faculdade de Direito da Alta Paulista – FA- sileira, mas sim de exceções à aplicação do Código de Processo
DAP. Penal. O inciso I do artigo 1.º contempla verdadeiras hipóteses ex-
Advogado regularmente inscrito na OAB/SP cludentes da jurisdição criminal brasileira. Considera-se praticado
em território brasileiro o crime cuja ação ou omissão, ou cujo re-
sultado, no todo ou em parte, ocorreu em território nacional (artigo
6.º do Código Penal). Considera-se, para efeitos penais, como ex-
1 APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL NO tensão do território nacional: as embarcações e aeronaves públicas
TEMPO, NO ESPAÇO E EM RELAÇÃO ÀS ou a serviço do governo brasileiro, onde quer que se encontrem,
PESSOAS. 1.1 DISPOSIÇÕES PRELIMINA-
e as embarcações e aeronaves particulares que se acharem em es-
RES DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
paço aéreo ou marítimo brasileiro ou em alto-mar ou espaço aéreo
correspondente.
Há se estudar algumas particularidades vigentes para a lei pro-
cessual no tempo:
O direito processual penal elenca condutas e procedimentos A) Princípio do efeito imediato. No direito penal, a lei penal
para a correta e justa aplicação da lei penal, para a regulamentação não retroage, salvo para beneficiar o réu.
dos “itinerários” que compõem o desenrolar cronológico de um Já no processo penal, a lei processual rege-se pelo “Principio
litígio, e pela harmonia dentro da relação jurídica processual entre do Efeito Imediato” (“tempus regit actum”), segundo o qual a nova
partes, autoridades e demais colaboradores e auxiliares da justiça. lei processual será aplicada em todos os processos em curso, não
O Estado, ao vedar - como majoritária regra - a chamada “vingan- importando se beneficia ou não o réu. Quanto aos atos processuais
ça privada” ou “justiça de mãos próprias” - como sempre se pôde já realizados, estes permanecerão válidos.
observar na tradição histórica -, chama para si o poder-dever de E se a lei tiver natureza híbrida, isto é, aspectos tanto de di-
exercer jurisdição, prevenir o delito, elucidá-lo caso materializa- reito material como de direito processual? Neste caso, apesar de
do, propiciar paridade de armas aos órgãos de acusação e defesa, alguma celeuma doutrinária, prevalece o entendimento de que o
assegurar uma conduta proba da autoridade julgadora, e, em última aspecto penal da norma deve preponderar, não se aplicando de
fase, zelar pela correta execução da pena. O processo penal atual,
imediato o dispositivo se menos benéfico ao acusado. Agora, se
pois, nada mais é que uma manifestação de acesso à justiça, so-
mais benéfico ao acusado, há uma retroatividade parcial apenas
bretudo em considerando as reformas processuais penais que vêm
da parte penal, enquanto a parte processual penal vige do instante
tornando tal atividade procedimental o mais dignitária possível às
presente para frente;
partes envolvidas na conduta penalmente reprovada.
Qual a finalidade do Direito Processual Penal? Podemos dizer
que existe uma finalidade mediata, que se confunde com a pró- B) Contagem de prazo. Há se distinguir o “prazo penal”, do
pria finalidade do Direito Penal – paz social – e uma finalidade “prazo processual”.
imediata e que outra não é senão a de conseguir a “realizabilidade No “prazo penal”, conta-se o dia do começo. Assim, ainda
da pretensão punitiva derivada de um delito, através da utilização que o ato tenha sido praticado às 22h30min do dia cinco, p. ex.,
da garantia jurisdicional”. Sua finalidade, em suma, é a de tornar tal dia já conta como sendo o primeiro da contagem do prazo.
realidade o Direito Penal. Ademais, o prazo penal é improrrogável, ou seja, caso termine em
Enquanto este estabelece sanções aos possíveis transgressores sábado, domingo, ou feriado, não se o prorroga até o próximo dia
de suas normas, é pelo Processo Penal que se aplica a sanctio jú- útil subsequente.
ris, porquanto toda pena é imposta “processualmente”. Daí dizer Já no “prazo processual”, exclui-se o dia do começo e inclui-
Manzini que ele consiste em obter, mediante a intervenção do Juiz, -se o dia do vencimento. Desta maneira, se o ato foi praticado no
a declaração de certeza, positiva ou negativa, do fundamento da dia cinco, p. ex., o prazo começa a contar do dia seis. Ademais, o
pretensão punitiva derivada de um delito. prazo processual é prorrogável para o primeiro dia útil subsequen-
Assim, não constitui o Processo Penal nem uma discussão te caso termine em sábado, domingo, feriado ou recesso judiciário.
acadêmica para resolver, in abstracto, um ponto controvertido de Ainda, acerca do prazo processual penal, há se observar a Sú-
Direito nem um estudo ético tendente à reprovação da conduta mo- mula nº 310, do Supremo Tribunal Federal, segundo a qual quando
ral de um indivíduo. Se objetivo é eminentemente prático, atual e a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação com efeito
jurídico e se limita à declaração de certeza da verdade, em relação de intimação for neste dia, o prazo judicial terá início na segunda-
ao fato concreto e à aplicação de suas consequências jurídicas. -feira imediata, salvo se não houver expediente, caso em que co-
É princípio geral do direito que as normas jurídicas limitam- meçará no primeiro dia útil que se seguir.
-se no tempo e no espaço, isto é, aplicam-se em um determinado
território e em um determinado lapso de tempo. INTERPRETAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL
A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais
cometidas em território brasileiro, sem prejuízo de convenções, Interpretação é a atividade que consiste em extrair da norma
tratados e regras de Direito Internacional. No processo penal vi-
seu exato alcance e real significado. Interpretar uma norma sig-
gora o princípio da absoluta territorialidade (artigo 1.º do Código
nifica buscar a vontade da lei, aquilo que quis disciplinar quando
de Processo Penal).
criada.

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1. Espécies lhor se entender, tem-se como exemplo de interpretação analógica
1.1. Quanto ao sujeito que elabora o inciso III, do segundo parágrafo, do art. 121, CP, que trata do
• Autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarrega- homicídio qualificado com emprego de veneno, fogo, explosivo,
do da elaboração da lei. Pode ser: asfixia, tortura “ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa
–contextual: feita pelo próprio texto interpretado; resultar perigo comum”. Veja-se que o Diploma Penal traz um rol
– posterior: feita após a entrada em vigor da lei. de casuísticas que qualificam o homicídio, como o veneno, o fogo,
• Doutrinária ou científica: feita pelos estudiosos e doutores o explosivo e a asfixia, mas diante da impossibilidade de prever
do Direito. todas as formas que destas expressas podem decorrer, faz-se a pre-
Observação: as exposições de motivos constituem forma de visão genérica de qualquer outro meio insidioso ou cruel ou de que
interpretação doutrinária, uma vez que não são leis. possa resultar perigo comum.
• Judicial: feita pelos órgãos jurisdicionais. Em suma, veja-se, enquanto na analogia não há norma para o
caso concreto, devendo-se tomar emprestada outra, na interpreta-
1.2. Quanto aos meios empregados ção analógica a norma existe, mas não regula todas as casuísticas,
• Gramatical, literal ou sintática: leva-se em conta o sentido deixando esse papel a uma disposição genérica.
literal das palavras.
• Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo- Vejamos os dispositivos do CPP que tratam do assunto:
-se aos seus fins e à sua posição dentro do ordenamento jurídico.
Art. 1º O processo penal reger-se-á, em todo o território bra-
1.3. Quanto ao resultado sileiro, por este Código, ressalvados:
• Declarativa: há perfeita correspondência entre a palavra da I - os tratados, as convenções e regras de direito internacio-
lei e sua vontade. nal;
• Restritiva: a interpretação vai restringir o seu significado, II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da Repú-
pois a lei disse mais do que queria. blica, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Pre-
• Extensiva: a interpretação vai ampliar o seu significado, pois sidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Fede-
a lei disse menos do que queria. ral, nos crimes de responsabilidade;
III - os processos da competência da Justiça Militar;
2. Interpretação da Norma Processual Penal IV - os processos da competência do tribunal especial;
A lei processual admite interpretação extensiva, pois não V - os processos por crimes de imprensa.
contém dispositivo versando sobre direito de punir. Exceções: Parágrafo único.  Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos
tratando-se de dispositivos restritivos da liberdade pessoal(prisão processos referidos nos nos IV e V, quando as leis especiais que os
em flagrante, por exemplo), o texto deverá ser rigorosamente in- regulam não dispuserem de modo diverso.
terpretado. O mesmo quando se tratar de regras de natureza mista.
Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem
3. Formas de Procedimento Interpretativo prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei an-
• Equidade: correspondência ética e jurídica da circunscrição terior.
– norma ao caso concreto;
• Doutrina: estudos, investigações e reflexões teóricas dos cul- Art. 3º A lei processual penal admitirá interpretação extensi-
tores do direito; va e aplicação analógica, bem como o suplemento dos princípios
• Jurisprudência: repetição constante de decisões no mesmo gerais de direito.
sentido em casos semelhantes.

ANALOGIA
2 INQUÉRITO POLICIAL.
Trata-se de forma de integração da lei (e não de “método de
interpretação”, como erroneamente se pensa) que almeja a supres-
são de lacunas. Através deste instituto, aplica-se a fato não regido
pela norma jurídica disposição legal aplicada a fato semelhante
(“ubi eadem ratio, ubi idem ius”). O inquérito policial é um procedimento administrativo inves-
Enquanto o direito penal veda a analogia “in malam partem” tigatório, de caráter inquisitório e preparatório, consistente em um
(isto é, em prejuízo do agente), o direito processual penal admite o conjunto de diligências realizadas pela polícia investigativa para
emprego de analogia “para o bem ou para o mal”. apuração da infração penal e de sua autoria, presidido pela autori-
Há se tomar o mais absoluto cuidado, contudo, em diferen- dade policial, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar
çar a “analogia”, da “interpretação analógica”, pois, enquanto em juízo.
naquela inexiste norma reguladora para o caso concreto (deven- A mesma definição pode ser dada para o termo circunstancia-
do ser aplicada norma que regula casuística semelhante), nesta a do (ou “TC”, como é usualmente conhecido), que são instaurados
norma traz, após uma enumeração casuística de fatos que podem em caso de infrações penais de menor potencial ofensivo, a saber,
ser abarcados pela previsão legal, uma previsão genérica de que as contravenções penais e os crimes com pena máxima não supe-
outros fatos não expressamente previstos também podem ser atin- rior a dois anos, cumulada ou não com multa, submetidos ou não a
gidos pelo objetivo do dispositivo legal. Neste diapasão, para me- procedimento especial.

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A natureza jurídica do inquérito policial, como já dito no item Se o crime é da competência da Justiça Eleitoral, também será
anterior, é de “procedimento administrativo investigatório”. E, se investigado pela Polícia Federal, já que a Justiça Eleitoral é uma
é administrativo o procedimento, significa que não incidem sobre Justiça da União (embora o Tribunal Superior Eleitoral entenda
ele as nulidades previstas no Código de Processo Penal para o pro- que, nas localidades em que não haja Polícia Federal, a Polícia
cesso, nem os princípios do contraditório e da ampla defesa. Civil estará autorizada a investigar).
Desta maneira, eventuais vícios existentes no inquérito poli- Se o crime é da competência da Justiça Estadual, usualmente
cial não afetam a ação penal a que der origem, salvo na hipótese de a investigação é feita pela Polícia Civil dos Estados, mas isso não
provas obtidas por meios ilícitos, bem como aquelas provas que, obsta que a Polícia Federal também possa investigar, caso o delito
excepcionalmente na fase do inquérito, já foram produzidas com tenha grande repercussão nacional ou envolva mais de um Esta-
observância do contraditório e da ampla defesa, como uma produ- do. Disso infere-se, pois, que as atribuições da Polícia Federal são
ção antecipada de provas, p. ex. mais amplas que a competência da Justiça Federal.

Finalidade. Visa o inquérito policial à apuração do crime e Características do inquérito policial. São elas:
sua autoria, e à colheita de elementos de informação do delito no A) Peça escrita. Segundo o art. 9º, do Código de Processo Pe-
que tange a sua materialidade e seu autor. nal, todas as peças do inquérito policial serão, num só processado,
reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela
Diferenças entre elementos informativos e prova. Os ele- autoridade policial. Vale lembrar, contudo, que o fato de ser peça
mentos informativos são aqueles colhidos na fase investigatória, escrita não obsta que sejam os atos produzidos durante tal fase
nos quais não será obrigatório o contraditório e a ampla defesa. sejam gravados por meio de recurso de áudio e/ou vídeo;
Ademais, não há obrigação de participação dialética das partes. B) Peça dispensável. Caso o titular da ação penal obtenha
Já a prova, em regra, é produzida na fase judicial, com exce- elementos de informação a partir de uma fonte autônoma (ex: a
ção das provas cautelares, que necessitem ser produzidas anteci- representação já contém todos os dados essenciais ao oferecimento
padamente. E, por ser produzida na fase judicial, obrigatoriamente da denúncia), poderá dispensar a realização do inquérito policial;
a prova deve ser produzida com participação dialética das partes, C) Peça sigilosa. De acordo com o art. 20, caput, CPP, a auto-
graças à necessidade de observância do contraditório e da ampla ridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do
defesa. fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
Mas é possível utilizar elementos de informação como fun- Mas, esse sigilo não absoluto, pois, em verdade, tem acesso
damento numa sentença condenatória? Pode-se, desde que os ele- aos autos do inquérito o juiz, o promotor de justiça, e a autoridade
mentos de informação não sejam a essência única para a conde- policial, e, ainda, de acordo com o art. 5º, LXIII, CF, com o art. 7º,
nação. Eis o teor do art. 155, do Código de Processo Penal, com XIV, da Lei nº 8.906/94 (“Estatuto da Ordem dos Advogados do
redação dada pela Lei nº 11.690/08. Brasil”), e com a Súmula Vinculante nº 14, o advogado tem acesso
Assim, o juiz pode utilizá-los acessoriamente, em conjunto aos atos já documentados nos autos, independentemente de procu-
com o universo probatório produzido à luz do contraditório e da ração, para assegurar direito de assistência do preso e investigado.
ampla defesa que indiquem a mesma trilha do que os elementos de Desta forma, veja-se, o acesso do advogado não é amplo e
informação outrora disseram. irrestrito. Seu acesso é apenas às informações já introduzidas nos
Então, afinal, para que servem os elementos de informação? autos, mas não em relação às diligências em andamento.
Se não servem como único meio para fundamentar um decreto Caso o delegado não permita o acesso do advogado aos atos
condenatório, esses elementos têm como suas finalidades precípu- já documentados, é cabível reclamação ao STF para ter acesso às
as a tomada de decisões quanto às prisões processuais, bem como informações (por desrespeito a teor de Súmula Vinculante), habe-
medidas cautelares diversas da prisão; e também são decisivos as corpus em nome de seu cliente, ou o meio mais rápido que é o
para auxiliar na formação da convicção do titular da ação penal (a mandado de segurança em nome do próprio advogado, já que a
chamada “opinio delicti”). prerrogativa violada de ter acesso aos autos é dele.
Por fim, ainda dentro desta característica da sigilosidade, há
Presidência do inquérito policial. Será da autoridade poli- se chamar atenção para o parágrafo único, do art. 20, CPP, com
cial de onde se deu a consumação do delito, no exercício de fun- nova redação dada pela Lei nº 12.681/2012, segundo o qual, nos
ções de polícia judiciária. atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade
policial não poderá mencionar quaisquer anotações referentes à
Competência para investigar. A competência para investigar instauração de inquérito contra os requerentes.
depende da justiça competente para julgar o crime. Isso atende a um anseio antigo de parcela considerável da
Assim, se o crime é de competência da Justiça Militar da doutrina, no sentido de que o inquérito, justamente por sua carac-
União, em regra será instaurado um inquérito policial militar terística da pré-judicialidade, não deve ser sequer mencionado nos
(IPM), o qual será presidido por um encarregado, que é um Oficial atestados de antecedentes. Já para outro entendimento, agora con-
das Forças Armadas. tra a lei, tal medida representa criticável óbice a que se descubra
Se o crime é da competência da Justiça Militar Estadual, tam- mais sobre um cidadão em situações como a investigação de vida
bém será instaurado um inquérito policial militar (IPM), o qual pregressa anterior a um contrato de trabalho, p. ex.;
será presidido por um encarregado, que é um Oficial da Polícia D) Peça inquisitorial. No inquérito não há contraditório nem
Militar ou dos Bombeiros. ampla defesa. Por tal motivo não é autorizado ao juiz, quando da
Se o crime é da competência da Justiça Federal, a competên- sentença, a se fundar exclusivamente nos elementos de informação
cia para investigar será da Polícia Federal. colhidos durante tal fase administrativa para embasar seu decreto

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(art. 155, caput, CPP). Ademais, graças a esta característica, não A) “Notitia criminis” de cognição imediata. Nesta, a autori-
há uma sequência pré-ordenada obrigatória de atos a ocorrer na dade policial toma conhecimento do fato por meio de suas ativida-
fase do inquérito, tal como ocorre no momento processual, deven- des corriqueiras (ex: durante uma investigação qualquer descobre
do estes ser realizados de acordo com as necessidades que forem uma ossada humana enterrada no quintal de uma casa);
surgindo; B) “Notitia criminis” de cognição mediata. Nesta, a autorida-
E) Peça indisponível. O delegado não pode arquivar o inqué- de policial toma conhecimento do fato por meio de um expedien-
rito policial (art. 17, CPP). Quem vai fazer isso é a autoridade judi- te escrito (ex: requisição do Ministério Público; requerimento da
cial, mediante requerimento do promotor de justiça; vítima);
C) “Notitia criminis” de cognição coercitiva. Nesta, a autori-
Formas de instauração do inquérito policial. Tudo depen- dade policial toma conhecimento do fato delituoso por intermédio
derá da espécie de ação penal correspondente ao crime perpetrado. do auto de prisão em flagrante.
Vejamos:
A) Se o crime a ser averiguado for de ação penal privada ou Alguns atos praticados durante o inquérito policial. De
condicionada à representação. O inquérito começa por represen- acordo com os arts. 6º, 7º, e 13, do Código de Processo Penal, são
tação da vítima ou de seu representante legal; algumas das providências a serem tomadas pela autoridade poli-
B) Se o crime a ser averiguado for de ação penal pública cial durante a fase do inquérito policial:
condicionada à requisição do Ministro da Justiça. Neste caso, o A) Dirigir-se ao local dos fatos, providenciando para que não
ato inaugural do inquérito é a própria requisição do Ministro da se alterem o estado e a conservação das coisas, até a chegada dos
Justiça; peritos criminais (art. 6º, I);
C) Se o crime a ser averiguado for de ação penal pública B) Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após
incondicionada. Neste caso, o inquérito pode começar de ofício liberados pelos peritos criminais (art. 6º, II);
(quando a autoridade policial, em suas atividades, tomou conhe- C) Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento
cimento dos fatos. Neste caso, o procedimento inicia-se por por- do fato e suas circunstâncias (art. 6º, III);
taria); por requisição do juiz ou do Ministério Público (parte da D) Ouvir o ofendido (art. 6º, IV);
doutrina entende que o ideal é que o juiz não requisite para se E) Ouvir o indiciado com observância, no que for aplicável,
manter imparcial e manter a essência do sistema acusatório. Neste do disposto no Capítulo III, do Título Vll, do Livro I, CPP (“Do
caso, a peça inaugural é a própria requisição); por requerimento da Processo em Geral”), devendo o respectivo termo ser assinado por
vítima (neste caso, o delegado deve verificar as procedências das duas testemunhas que tenham ouvido a leitura deste (art. 6º, V);
informações, e, em caso de indeferimento ao requerimento, cabe F) Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acarea-
recurso inominado dirigido ao Chefe de Polícia. Caso entenda
ções (art. 6º, VI);
pela instauração de inquérito, o ato inaugural do procedimento é a
G) Determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo
portaria); por “delatio criminis” (trata-se de notícia oferecida por
de delito e a quaisquer outras perícias (art. 6º, VII);
qualquer do povo ou pela imprensa, de modo que esta não pode
H) Ordenar a identificação do indiciado pelo processo datilos-
ser “anônima” (ou inqualificada). Neste caso, a peça inaugural do
cópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antece-
procedimento é a portaria. Ademais, vale lembrar que, para o STF,
dentes (art. 6º, VIII);
a denúncia anônima, por si só, não serve para fundamentar a ins-
I) Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de
tauração de inquérito policial, mas a partir dela o delegado deve
vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua
realizar diligências preliminares para apurar a procedência das in-
atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e
formações antes da devida instauração do inquérito); por auto de
prisão em flagrante (neste caso, a peça inaugural do inquérito é o quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do
próprio auto de prisão em flagrante). seu temperamento e caráter (art. 6º, IX);
J) Proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta
Importância em saber a forma de instauração do inquérito não contrarie a moralidade ou a ordem pública (art. 7º);
policial. A importância interessa para fins de análise de cabimento K) Fornecer às autoridades judiciárias as informações neces-
de habeas corpus, mandado de segurança, e definição de autorida- sárias à instrução e julgamento dos processos (art. 13, I);
de coatora. Se for um procedimento instaurado por portaria, p. ex., L) Realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Mi-
significa que a autoridade coatora é o delegado de polícia, logo o nistério Público (art. 13, II);
habeas corpus é endereçado ao juiz de primeira instância. Agora, M) Cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autorida-
se for um procedimento instaurado a partir da requisição do pro- des judiciárias (art. 13, III);
motor de justiça, p. ex., este é a autoridade coatora, logo, para uma N) Representar acerca da prisão preventiva (art. 13, IV) bem
primeira corrente (minoritária), o habeas corpus é endereçado ao como de outras medidas cautelares diversas da prisão (construção
juiz de primeira instância, ou, para uma corrente majoritária, o ha- doutrinária recente).
beas corpus deve ser encaminhado ao respectivo Tribunal, pois o Vale lembrar que este rol de atos não é exaustivo. Como de-
promotor de justiça tem foro por prerrogativa de função. corrência do caráter inquisitorial do inquérito policial visto alhu-
res, nada impede que, desde que não-contrária à moral, aos bons
“Notitia criminis”. É o conhecimento, pela autoridade poli- costumes, à ordem pública, e à dignidade da pessoa humana, outra
cial, acerca de um fato delituoso que tenha sido praticado. São as infindável gama de atos possa ser praticada.
seguintes suas espécies:

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Identificação criminal. Envolve a identificação fotográfica e E o art. 15, da Lei Processual Penal? Não mais se aplica o
a identificação datiloscópica. Antes da atual Constituição Federal, art. 15, CPP, segundo o qual lhe deveria ser nomeado curador pela
a identificação criminal era obrigatória (a Súmula nº 568, STF, an- autoridade policial. Isto porque, antes do atual Código Civil, os
terior a 1988, inclusive, dizia isso), o que foi modificado na atual indivíduos entre dezoito e vinte e um anos eram reputados relativa-
Lei Fundamental pelo art. 5º, LVIII, segundo o qual o civilmente mente incapazes, razão pela qual deveriam ser assistidos por cura-
identificado não será submetido à identificação criminal, “salvo dor caso praticassem infração. Com o Código Civil atual, tanto a
nas hipóteses previstas em lei”. maioridade civil como a penal se iniciam aos dezoito anos.
A primeira Lei a tratar do assunto foi a de nº 8.069/90 (“Es- É possível o “desindiciamento”? Sim. Consiste na retirada da
tatuto da Criança e do Adolescente”), em seu art. 109, segundo o condição de indiciado do agente, por se entender, durante o trans-
qual a identificação criminal somente será cabível quando houver curso das investigações, que este não tem qualquer relação com o
fundada dúvida quanto à identidade do menor. fato apurado. O desindiciamento pode ocorrer tanto de forma fa-
Depois, em 1995, a Lei nº 9.034 (“Lei das Organizações Cri- cultativa, pela autoridade policial, quanto mediante o uso de habe-
minosas”) dispôs em seu art. 5º que a identificação criminal de as corpus, impetrado com o objetivo de trancar o inquérito policial
pessoas envolvidas com a ação praticada por organizações crimi- em relação a algum agente alvo do procedimento administrativo
nosas será realizada independentemente de identificação civil. investigatório.
Posteriormente, a Lei nº 10.054/00 veio especialmente para
tratar do assunto, e, em seu art. 3º, trouxe um rol taxativo de delitos Incomunicabilidade do indiciado preso. De acordo com o
art. 21, do Código de Processo Penal, seria possível manter o indi-
em que a identificação criminal deveria ser feita obrigatoriamente,
ciado preso pelo prazo de três dias, quando conveniente à investi-
sem mencionar, contudo, os crimes praticados por organizações
gação ou quando houvesse interesse da sociedade
criminosas, o que levou parcela da doutrina e da jurisprudência
O entendimento prevalente, contudo, é o de que, por ser o
a considerar o art. 5º, da Lei nº 9.034/90 parcialmente revogado.
Código de Processo Penal da década de 1940, não foi o mesmo re-
Como último ato, a Lei nº 10.054/00 foi revogada pela Lei nº cepcionado pela Constituição Federal de 1988. Logo, prevalece de
12.037/09, que também trata especificamente apenas sobre o tema forma maciça, atualmente, que este art. 21, CPP está tacitamente
“identificação criminal”. Esta lei não traz mais um rol taxativo de revogado.
delitos nos quais a identificação será obrigatória, mas sim um art.
3º com situações em que ela será possível: Prazo para conclusão do inquérito policial. De acordo com
A) Quando o documento apresentar rasura ou tiver indícios de o Código de Processo Penal, em se tratando de indiciado preso,
falsificação (inciso I); o prazo é de dez dias improrrogáveis para conclusão. Já em se
B) Quando o documento apresentado for insuficiente para tratando de indiciado solto, tem-se trinta dias para conclusão, ad-
identificar o indivíduo de maneira cabal (inciso II); mitida prorrogações a fim de se realizar ulteriores e necessárias
C) Quando o indiciado portar documentos de identidade dis- diligências.
tintos, com informações conflitantes entre si (inciso III); Convém lembrar que, na Justiça Federal, o prazo é de quinze
D) Quando a identificação criminal for essencial para as in- dias para acusado preso, admitida duplicação deste prazo (art. 66,
vestigações policiais conforme decidido por despacho da autorida- da Lei nº 5.010/66). Já para acusado solto, o prazo será de trinta
de judiciária competente, de ofício ou mediante representação da dias admitidas prorrogações, seguindo-se a regra geral.
autoridade policial/promotor de justiça/defesa (inciso IV). Nesta Também, na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”), o prazo é
hipótese, de acordo com o parágrafo único, do art. 5º da atual de trinta dias para acusado preso, e de noventa dias para acusado
lei (acrescido pela Lei nº 12.654/2012), a identificação criminal solto. Em ambos os casos pode haver duplicação de prazo.
poderá incluir a coleta de material biológico para a obtenção do Por fim, na Lei nº 1.551/51 (“Lei dos Crimes contra a Eco-
perfil genético; nomia Popular”), o prazo, esteja o acusado solto ou preso, será
E) Quando constar de registros policiais o uso de outros no- sempre de dez dias.
mes ou diferentes qualificações (inciso V); E como se dá a contagem de tal prazo? Trata-se de prazo pro-
F) Quando o estado de conservação ou a distância temporal ou cessual, isto é, exclui-se o dia do começo e inclui-se o dia do ven-
da localidade da expedição do documento apresentado impossibi- cimento, tal como disposto no art. 798, §1º, do Código de Processo
litar a completa identificação dos caracteres essenciais (inciso VI). Penal.
Por fim, atualmente, os dados relacionados à coleta do perfil
Conclusão do inquérito policial. De acordo com o art. 10,
genético deverão ser armazenados em banco de dados de perfis
§1º, CPP, o inquérito policial é concluído com a confecção de um
genéticos, gerenciado por unidade oficial de perícia criminal (art.
relatório pela autoridade policial, no qual se deve relatar, minucio-
5º-A, acrescido pela Lei nº 12.654/2012). Tais bancos de dados
samente, e em caráter essencialmente descritivo, o resultado das
devem ter caráter sigiloso, respondendo civil, penal e administrati- investigações. Em seguida, deve o mesmo ser enviado à autoridade
vamente aquele que permitir ou promover sua utilização para fins judicial.
diversos do previsto na lei ou em decisão judicial. Não deve a autoridade policial fazer juízo de valor no relató-
rio, em regra, com exceção da Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”),
Indiciamento. “Indiciar” é atribuir a alguém a prática de uma em cujo art. 52 se exige da autoridade policial juízo de valor quan-
infração penal. Trata-se de ato privativo do delegado policial. to à tipificação do ilícito de tráfico ou de porte de drogas.
O indiciamento pode ser direto, quando feito na presença do Por fim, convém lembrar que o relatório é peça dispensável,
investigado, ou indireto, quando este está ausente. logo, a sua falta não tornará inquérito inválido.

Didatismo e Conhecimento 5
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Recebimento do inquérito policial pelo órgão do Ministé- ministerial. Por fim, como último argumento, tem-se que a bem do
rio Público. Recebido o inquérito policial, tem o agente do Minis- direito estatal de perseguir o crime, atribuir funções investigatórias
tério Público as seguintes opções: ao Ministério Público é mais uma arma na busca deste intento;
A) Oferecimento de denúncia. Ora, se o promotor de justiça B) Argumentos desfavoráveis. Como primeiro argumento
é o titular da ação penal, a ele compete se utilizar dos elementos desfavorável à possibilidade investigatória do Ministério Público,
colhidos durante a fase persecutória para dar o disparo inicial desta tem-se que tal função atenta contra o sistema acusatório. Ademais,
ação por intermédio da denúncia; fala-se em desequilíbrio entre acusação e defesa, já que terá o
B) Requerimento de diligências. Somente quando forem in- membro do MP todo o aparato estatal para conseguir a condenação
dispensáveis; de um acusado, restando a este, em contrapartida, apenas a defesa
C) Promoção de arquivamento. Se entender que o investiga- por seu advogado caso não tenha condições financeiras de condu-
do não constitui qualquer infração penal, ou, ainda que constitua, zir uma investigação particular. Também, fala-se que o Ministério
encontra óbice nas máximas sociais que impedem que o processo Público já tem poder de requisitar diligências e instauração de in-
se desenvolva por atenção ao “Princípio da Insignificância”, p. ex., quérito policial, de maneira que a atribuição para presidi-lo seria
o agente ministerial pode solicitar o arquivamento do inquérito à “querer demais”. Por fim, alega-se que as funções investigativas
autoridade judicial; são uma exclusividade da polícia judiciária, e que não há previsão
D) Oferecer arguição de incompetência. Se não for de sua legal nem instrumentos para realização da investigação Ministério
competência, o membro do MP suscita a questão, para que a auto- Público.
ridade judicial remeta os autos à justiça competente;
E) Suscitar conflito de competência ou de atribuições. Con- Vamos em seguida efetuar a leitura atenta dos dispositivos
forme o art. 114, do Código de Processo Penal, o “conflito de com- contidos no Código de Processo Penal referente aos artigos que
petência” é aquele que se estabelece entre dois ou mais órgãos versam sobre o tema “Do Inquérito Policial”:
jurisdicionais. Já o “conflito de atribuições” é aquele que se esta-
belece entre órgãos do Ministério Público.
TÍTULO II
Arquivamento do inquérito policial. Quem determina o ar- DO INQUÉRITO POLICIAL
quivamento do inquérito é a autoridade judicial, após solicitação                 
efetuada pelo membro do Ministério Público. Disso infere-se que, Art. 4º A polícia judiciária será exercida pelas autoridades
policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por
nem a autoridade policial, nem o membro do Ministério Público,
fim a apuração das infrações penais e da sua autoria. 
nem a autoridade judicial, podem promover o arquivamento de
Parágrafo único.   A competência definida neste artigo não
ofício.
excluirá a de autoridades administrativas, a quem por lei seja co-
Ademais, em caso de ação penal privada, o juiz pode promo-
metida a mesma função.
ver o arquivamento caso assim requeira o ofendido.
       
Art. 5o  Nos crimes de ação pública o inquérito policial será
Trancamento do inquérito policial. Trata-se de medida de
iniciado:
natureza excepcional, somente sendo possível nas hipóteses de
I - de ofício;
atipicidade da conduta, de causa extintiva da punibilidade, e de au- II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Mi-
sência de elementos indiciários relativos à autoria e materialidade. nistério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver
Se houver o risco à liberdade de locomoção, o meio mais adequado qualidade para representá-lo.
de se fazê-lo é pela via do habeas corpus. § 1o  O requerimento a que se refere o no II conterá sempre
que possível:
Investigação pelo Ministério Público. Apesar do atual grau a) a narração do fato, com todas as circunstâncias;
de pacificação acerca do tema, no sentido de que o Ministério Pú- b) a individualização do indiciado ou seus sinais característi-
blico pode, sim, investigar - o que se confirmou com a rejeição da cos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da
Proposta de Emenda à Constituição nº 37/2011, que acrescia um infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer;
décimo parágrafo ao art. 144 da Constituição Federal no sentido c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profis-
de que a apuração de infrações penais caberia apenas aos órgãos são e residência.
policiais -, há se disponibilizar argumentos favoráveis e contrários § 2o  Do despacho que indeferir o requerimento de abertura
a tal prática: de inquérito caberá recurso para o chefe de Polícia.
A) Argumentos favoráveis. Um argumento favorável à possi- § 3o  Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da
bilidade de investigar atribuída ao Ministério Público é a chamada existência de infração penal em que caiba ação pública poderá,
“Teoria dos Poderes Implícitos”, oriunda da Suprema Corte Norte- verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e
-americana, segundo a qual “quem pode o mais, pode o menos”, esta, verificada a procedência das informações, mandará instau-
isto é, se ao Ministério Público compete o oferecimento da ação rar inquérito.
penal (que é o “mais”), também a ele compete buscar os indícios § 4o  O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender
de autoria e materialidade para essa oferta de denúncia pela via do de representação, não poderá sem ela ser iniciado.
inquérito policial (que é o “menos”). Ademais, o procedimento in- § 5o  Nos crimes de ação privada, a autoridade policial so-
vestigatório utilizado pela autoridade policial seria o mesmo, ape- mente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha
nas tendo uma autoridade presidente diferente, no caso, o agente qualidade para intentá-la.

Didatismo e Conhecimento 6
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 6o  Logo que tiver conhecimento da prática da infração Art. 13.  Incumbirá ainda à autoridade policial:
penal, a autoridade policial deverá: I - fornecer às autoridades judiciárias as informações neces-
 I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alte- sárias à instrução e julgamento dos processos;
rem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos II -  realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Mi-
criminais; nistério Público;
II - apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após III - cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autori-
liberados pelos peritos criminais; dades judiciárias;
III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimen- IV - representar acerca da prisão preventiva.
to do fato e suas circunstâncias;        
IV - ouvir o ofendido; Art. 14.  O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado
V - ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, poderão requerer qualquer diligência, que será realizada, ou não,
do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o a juízo da autoridade.
respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe te-        
nham ouvido a leitura;
Art. 15.  Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador
VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a aca-
pela autoridade policial.
reações;
       
VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo
Art. 16.  O Ministério Público não poderá requerer a devolu-
de delito e a quaisquer outras perícias;
VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo processo da- ção do inquérito à autoridade policial, senão para novas diligên-
tiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de an- cias, imprescindíveis ao oferecimento da denúncia.
tecedentes;        
IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de Art. 17.  A autoridade policial não poderá mandar arquivar
vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua autos de inquérito.
atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele,         
e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação Art. 18.  Depois de ordenado o arquivamento do inquérito
do seu temperamento e caráter. pela autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a
        autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de ou-
Art. 7o    Para verificar a possibilidade de haver a infração tras provas tiver notícia.
sido praticada de determinado modo, a autoridade policial pode-        
rá proceder à reprodução simulada dos fatos, desde que esta não Art. 19.  Nos crimes em que não couber ação pública, os autos
contrarie a moralidade ou a ordem pública. do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde aguarda-
        rão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou se-
Art. 8o  Havendo prisão em flagrante, será observado o dis- rão entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado.
posto no Capítulo II do Título IX deste Livro.        
        Art. 20.  A autoridade assegurará no inquérito o sigilo neces-
Art. 9o  Todas as peças do inquérito policial serão, num só sário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade.
processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, Parágrafo único.  Nos atestados de antecedentes que lhe
rubricadas pela autoridade. forem solicitados, a autoridade policial não poderá mencionar
        quaisquer anotações referentes a instauração de inquérito contra
Art. 10.  O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se os requerentes. (Redação dada pela Lei nº 12.681, de 2012)
o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preven-        
tivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que Art. 21.  A incomunicabilidade do indiciado dependerá sem-
se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando
pre de despacho nos autos e somente será permitida quando o in-
estiver solto, mediante fiança ou sem ela.
teresse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir.
§ 1o  A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido
Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de
apurado e enviará autos ao juiz competente.
três dias, será decretada por despacho fundamentado do Juiz, a
§ 2o  No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas
que não tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde pos- requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério
sam ser encontradas. Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no artigo
§ 3o  Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado es- 89, inciso III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei
tiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a devolução dos n. 4.215, de 27 de abril de 1963) 
autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo        
marcado pelo juiz. Art. 22.  No Distrito Federal e nas comarcas em que houver
         mais de uma circunscrição policial, a autoridade com exercício
Art. 11.  Os instrumentos do crime, bem como os objetos que em uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, or-
interessarem à prova, acompanharão os autos do inquérito. denar diligências em circunscrição de outra, independentemen-
        te de precatórias ou requisições, e bem assim providenciará, até
Art. 12.  O inquérito policial acompanhará a denúncia ou que compareça a autoridade competente, sobre qualquer fato que
queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. ocorra em sua presença, noutra circunscrição.

Didatismo e Conhecimento 7
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 23.  Ao fazer a remessa dos autos do inquérito ao juiz A “prova antecipada”, por fim, é aquela produzida com obser-
competente, a autoridade policial oficiará ao Instituto de Identifica- vância do contraditório real (ou seja, o contraditório não é diferido
ção e Estatística, ou repartição congênere, mencionando o juízo a como nas duas hipóteses anteriores), perante a autoridade judicial,
que tiverem sido distribuídos, e os dados relativos à infração penal mas em momento processual distinto daquele previamente previsto
e à pessoa do indiciado. pela lei (podendo sê-lo até mesmo antes do processo). O melhor
exemplo é a oitiva da testemunha para perpetuar a memória da pro-
va, disposta no art. 225, da Lei Adjetiva.
3 DA PROVA.
Fatos que não precisam ser provados. São eles:
A) Fatos notórios. É o caso da chamada “verdade sabida” (ex.:
não se precisa provar que dia vinte e cinco de dezembro é Natal,
A prova é um dos institutos mais importantes do direito, por ser conforme o calendário cristão ocidental);
decorrência do direito de ação. Afinal, de nada adianta consagrar- B) Fatos axiomáticos, intuitivos. São aqueles evidentes (ex.:
-se o direito de ação, se o direito à prova não for consagrado para
“X” é atingido e despedaçado por um trem. Não será preciso um
instruí-la e irrigá-la.
exame para se apurar que a causa da morte foi o choque com o trem);
Enquanto os elementos informativos são aqueles produzidos
C) Presunções legais. São aquelas decorrentes da lei, valendo
durante a fase do inquérito policial (em regra, já que o inquérito,
como já visto, é dispensável, podendo os elementos informativos lembrar que, em se tratando de presunção relativa, contudo, admi-
ser produzidos em qualquer outro meio de investigação suficiente a tir-se-á prova em contrário;
embasar uma acusação), a prova deve ser produzida à luz do con- D) Fatos desnecessários ao deslindes da lide. São os “fatos inú-
traditório e da ampla defesa, almejando a consolidação do que antes teis” (ex.: “X” morreu de envenenamento por comida. Pouco impor-
eram meros indícios de autoria e materialidade delitiva, e, ainda, ta saber se a carne estava bem ou mal passada);
com a finalidade imediata de auxiliar o juiz a formar sua livre con- E) O direito, como regra. O direito não precisa ser provado,
vicção. salvo em se tratando de direito estadual, municipal, costumeiro, ou
Vale informar, ainda, que não poderá o juiz, nessa sua livre con- estrangeiro, se assim o requerer o juiz.
vicção, se fundar exclusivamente nos elementos informativos colhi- Posto isto, fazendo uma análise em sentido contrário, fatos que
dos durante a fase investigatória. Estes terão apenas função comple- não sejam notórios, que não sejam axiomáticos, que não sejam des-
mentar, apendicular, na formação do processo de convencimento do necessários, que não sejam presunções legais, e que não digam res-
magistrado. Isso significa dizer que a prova é, sim, essencial, para se peito como regra, necessitam ser provados.
condenar alguém. Justamente porque, a ausência de prova é um dos
motivos que pode levar à absolvição de alguém. “Prova nominada”, “prova inominada”, “prova típica”, “pro-
va atípica”, e “prova irritual”. A “prova nominada” é aquela cujo
Diferença entre “fontes de prova”, “meios de prova”, e “nomen juris” consta da lei (ex.: prova pericial).
“meios de obtenção de prova”. Vejamos: A “prova inominada” é aquela cujo “nomen juris” não cons-
A) Fontes de prova. São as pessoas ou coisas das quais se con- ta da lei, mas que é admitida por força do “Princípio da Liberdade
segue a prova. Elas independem do processo, por existirem por si só; Probatória”.
B) Meios de prova. São os instrumentos através dos quais as A “prova típica” é aquela cujo procedimento probatório está
fontes de prova são introduzidas no processo. No processo penal, previsto na lei.
vale dizer, vigora o “Princípio da Liberdade Probatória”, segundo A “prova atípica” é aquela cujo procedimento não está previsto
o qual todos os meios de prova são válidos desde que não ilícitos e/ em lei.
ou imorais; A “prova irritual” é aquela colhida sem a observância de mode-
C) Meios de obtenção da prova. São os procedimentos neces-
lo previsto em lei. Trata-se de prova ilegítima.
sários para se chegar à prova. Os meios de prova tratam de meios de
obtenção da prova, para se chegar às fontes de prova.
Alguns princípios relacionados à prova penal. São eles, além
“Prova cautelar”, “prova não repetível”, e “prova anteci- do Princípio da Liberdade Probatória, já mencionado alhures, num
pada”. A parte final, da cabeça do art. 155, CPP, se refere a estas rol exemplificativo:
três provas, produzidas em regra ainda durante a fase inquisitória, A) Princípio da presunção de inocência (ou princípio da pre-
as quais poderia o juiz se utilizar para formar sua convicção. Nada sunção de não-culpabilidade). Todos são considerados inocentes,
obstante posicionamento que clama pela sinonímia das expressões, até que se prove o contrário por sentença condenatória transitada
há se distingui-las. em julgado;
A “prova cautelar” é aquela em que existe risco de desapareci- B) Princípio da não autoincriminação. Ninguém é obrigado a
mento do objeto da prova, em razão do decurso do tempo, motivo produzir prova contra si mesmo. É por isso que o acusado pode men-
pelo qual o que se pretende provar deve ser perpetuado. O contradi- tir, pode distorcer os fatos, pode ser manter em silêncio, e tem direito
tório, aqui, é diferido, postergado. à consulta prévia e reservada com seu advogado, como exemplos;
A “prova não repetível” é aquela que não tem como ser produ- C) Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por
zida novamente, em virtude do desaparecimento da fonte probatória, meios ilícitos. São inadmissíveis no processo as provas obtidas de
como o caso de um exame pericial por lesão corporal, cujos sinais modo ilícito, assim entendidas aquelas obtidas em violação às nor-
de violência podem desaparecer com o tempo. O contraditório, aqui, mas constitucionais. Ou seja, o direito à prova não pode se sobrepor
é diferido, postergado. aos direitos fundamentalmente consagrados na Lei Maior pátria.

Didatismo e Conhecimento 8
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
“Prova ilícita” é o mesmo que “prova ilegítima”? Há quem Contudo, podem acontecer casos em que um determinado fato
diga que se tratam de expressões sinônimas. Contudo, o entendi- já não possa mais ser apurado nos autos, embora o tenha sido devi-
mento prevalente é o de que, apesar de espécies do gênero “pro- damente em outros autos, caso em que a prova emprestada pode se
vas ilegais”, “prova ilícita” é aquela violadora de alguma norma revelar um eficaz aliado na busca pela verdade real.
constitucional (ex.: a prova obtida não respeitou a inviolabilidade Vale lembrar, contudo, que a prova emprestada não vem aos
de domicílio assegurada pela Constituição), enquanto a “prova ile- autos com o “contraditório montado” do outro processo, isto é, no
gítima” é aquela violadora dos procedimentos previstos para sua processo recebedor terão as partes a oportunidade de questionar a
realização (tais procedimentos são aqueles regularmente previstos própria validade desta bem como de tentar desqualificá-la.
no Código de Processo Penal e legislação especial). Não se pode, ainda, dizer que a prova emprestada, por ser
Qual será a consequência da prova ilícita/ilegítima? Sua con- emprestada, valha “mais” ou “menos” que outra prova. Não há
sequência primeira é o desentranhamento dos autos, devendo esta mais, como já dito, “tarifação de provas”. A importância de uma
ser inutilizada por decisão judicial (devendo as partes acompanhar prova será aferida casuisticamente. Assim, em que pese o respeito
o incidente). Agora, uma consequência reflexa é que as provas de- a entendimento minoritário neste sentido, não parece ser o melhor
rivadas das ilícitas, pela “Teoria dos Frutos da Árvore Envene- argumento defender que a prova emprestada, por si só, não pode
nada”, importada do direito norte-americano, também serão inad- ser suficiente para condenar alguém.
missíveis, salvo se existirem como fonte independente, graças à
“Teoria da Fonte Independente” (considera-se fonte independente EXAME DE CORPO DE DELITO E PERÍCIAS
aquela prova que, por si só, seguindo os trâmites típicos e de pra- EM GERAL.
xe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de
conduzir ao fato objeto da prova). O corpo de delito é, em essência, o próprio fato criminal,
sobre cuja análise é realizada a perícia criminal a fim de determi-
Ônus da prova. De acordo com o art. 156, caput, do Código nar fatores como autoria, temporalidade, extensão de danos, etc.,
de Processo Penal, a prova da alegação incumbirá a quem o fizer, através do exame de corpo de delito.
embora isso não obste que o juiz, de ofício, ordene, mesmo antes A finalidade do exame de corpo de delito é comprovar a exis-
de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas conside- tência dos elementos do fato típico dos delitos “FACTI PERMA-
radas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação NENTIS” (delitos praticados com vestígios).
e proporcionalidade da medida (inciso I), ou determine, no curso Quando a infração deixar vestígios (o chamado “delito não
da instrução ou antes de proferir sentença, a realização de diligên- transeunte”), o exame de corpo de delito se torna indispensável,
cias para dirimir dúvida sobre ponto relevante (inciso II). Esse po- não podendo supri-lo a confissão do acusado. Vale lembrar, contu-
der de atuação do juiz é também conhecido por “gestão da prova” do, que não sendo possível o exame de corpo de delito, por have-
(por ser o juiz, naturalmente, um “gestor da prova”). rem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-
-lhe a falta (art. 167, CPP).
Sistemas de avaliação da prova. São eles: Muitos confundem o “corpo de delito” com o “exame de cor-
A) Sistema da íntima convicção do juiz. Aqui, o juiz é livre po de delito”. Explico. Dá-se o nome de “corpo de delito” ao local
para apreciar as provas, inclusive as que não estão nos autos. O do crime com todos os vestígios materiais deixados pela infração
problema é que, neste sistema, o juiz não está obrigado a funda- penal. Trata-se dos elementos corpóreos sensíveis aos sentidos hu-
mentar acerca dos motivos que levaram à formação de sua con- manos, ou seja, aquilo que se pode ver, tocar, etc. Contudo, “cor-
vicção. Este sistema, em nosso ordenamento, só é adotado pelos po”, não diz respeito apenas a um ser humano sem vida, mas a tudo
jurados no tribunal do júri, quando eles votam apenas “sim” ou que possa estar envolvido com o delito, como um fio de cabelo,
“não” sem precisar fundamentar as razões de sua escolha; uma mancha, uma planta, uma janela quebrada, uma porta arrom-
B) Sistema da prova tarifada. Neste sistema, as provas têm bada etc. Em outras palavras, “corpo de delito” é o local do crime
valor previamente fixado pelo legislador, cabendo ao juiz, apenas, com todos os seus vestígios; “exame de corpo de delito” é o laudo
apreciar o conjunto probatório atribuindo-lhe o valor devido. Tal técnico que os peritos fazem nesse determinado local, analisando-
sistema não é adotado no ordenamento pátrio; -se todos os referidos vestígios.
C) Sistema do livre convencimento motivado (ou sistema da Em segundo lugar, logo ao tratar deste meio de prova espécie,
persuasão racional do juiz). Trata-se do sistema adotado no orde- fica claro que a confissão do acusado, antes considerada a “rainha
namento brasileiro. Nele, o juiz tem ampla liberdade de valoração das provas”, hoje não mais possui esse “status”, haja vista uma
das provas dos autos, mas é obrigado, em contrapartida, a fun- ampla gama de vícios que podem maculá-la, como a coação e a
damentar as razões que embasam seu convencimento. Com isso, assunção de culpa meramente para livrar alguém de um processo-
decorre-se que não há prova com valor absoluto (não há a ideia -crime;
de que a confissão é a “rainha das provas”, p. ex.), e que somente
serão consideradas válidas para efeito condenatório as provas do Corpo de delito direto e indireto.
processo (o juiz não pode condenar alguém usando algo que não a) Corpo de delito direto: Conjunto de vestígios deixados
está nos autos). pelo fato criminoso. São os elementos materiais, perceptíveis pelos
nossos sentidos, resultante da infração penal. Esses elementos sen-
Prova emprestada. É aquela produzida em um processo e síveis, objetivos, devem ser objetos de prova, obtida pelos meios
transportada documentalmente para outro. Apesar da valia posi- que o direito fornece. Os técnicos dirão da sua natureza, estabele-
tiva proeminente que lhe deve ser atribuída, a prova emprestada cerão o nexo entre eles e o ato ou omissão, por que se incrimina
não pode virar mera medida de comodidade às partes, afinal, como o acusado. O corpo de delito deve realizar-se o mais rapidamente
regra, cada fato apurado numa lide depende de sua própria prova. possível, logo que se tenha conhecimento da existência do fato.

Didatismo e Conhecimento 9
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
O perito dará atenção a todos os elementos, que se vinculem - Exame: concernente à inspeção de pessoas e bens móveis;
ao fato principal, sobretudo o que possa influir na aplicação da - Vistoria: concernente à inspeção de bens imóveis.
pena. - Avaliação: estimativa do valor do bem de acordo com as
b) Corpo de delito indireto: Quando o corpo de delito se prerrogativas de mercado.
torna impossível, admite-se a prova testemunhal, por haverem
desaparecido os elementos materiais. Essa substituição do exame Perito.
objetivo pela prova testemunhal, subjetiva, é indevida, pois não O código de processo penal, agora com as corrigendas da
há corpo, embora haja o delito. Vale lembrar que o exame indire- lei n.º 11.690 de 9 de junho de 2008, diz em seu artigo 159: O
to somente deve ser realizado caso não seja possível à realização
exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por
do exame direto.
perito oficial, portador de diploma de curso superior. Na falta de
Segundo legislação específica, o exame de corpo de delito
perito oficial, o exame será realizado por duas pessoas idôneas,
poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora.
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na
Perícia Criminal área especifica, dentre as que tiveram habilitação técnica rela-
A perícia criminal é uma atividade técnico-científica previs- cionada com a natureza do exame. Estes prestarão o compromis-
ta no Código de Processo Penal, indispensável para elucidação so de e finalmente desempenhar o cargo.
de crimes quando houver vestígios. A atividade é realizada por Durante o curso de processo judicial, é permitido às partes,
meio da ciência forense, responsável por auxiliar na produção do quando à perícia: requer a oitiva dos peritos para esclarecerem a
exame pericial e na interpretação correta de vestígios. Os peritos prova ou responder a quesitos, desde que o mandado de intima-
desenvolvem suas atribuições no atendimento das requisições de ção e os quesitos ou questões a serem esclarecidos sejam enca-
perícias provenientes de delegados, procuradores e juízes ineren- minhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo
tes a inquéritos policiais e a processos penais. A perícia criminal, apresentar as respostas em laudo complementar. A atuação do
ou criminalística, é baseada nas seguintes ciências forenses: quí- perito far-se-á em qualquer fase do processo ou mesmo após a
mica, biologia, geologia, engenharia, física, medicina, toxicolo- sentença, em situações especiais. Sua função não termina com a
gia, odontologia, documentoscopia, entre outras, as quais estão reprodução de sua análise, mas se continua além dessa aprecia-
em constante evolução. ção por meio do juízo de valor sobre os fatos, o que faz a dife-
Requisitada pela Autoridade Policial, Ministério Público e rente da função de testemunha. A diferença entre testemunha e o
Judiciário, é a base decisória que direciona a investigação poli- perito é que a primeira é solicitada porque já tem conhecimento
cial e o processo criminal. Como já mencionado, a prova pericial
do fato e o segundo para que conheça e explique os fundamentos
é indispensável nos crimes que deixam vestígio, não podendo ser
da questão discutida, por meio de uma análise técnica científica.
dispensada sequer quando o criminoso confessa a prática do deli-
to. A perícia é uma modalidade de prova que requer conhecimen- A autoridade que preside o inquérito poderá nomear, nas
tos especializados para a sua produção, relativamente à pessoa causas criminais, dois peritos. Em se tratando de peritos não ofi-
física, viva ou morta, implicando na apreciação, interpretação e ciais, assinarão estes um termo de compromisso cuja aceitação
descrição escrita de fatos ou de circunstâncias, de presumível ou é obrigatória com um “compromisso formal de bem e fielmente
de evidente interesse judiciário. desempenharem a sua missão, declarando como verdadeiro o
O conjunto dos elementos materiais relacionados com a in- que encontrarem e descobrirem e o que em suas consciências en-
fração penal, devidamente estudados por profissionais especia- tenderam”. Terão um prazo de 5 dias prorrogável razoavelmen-
lizados, permite provar a ocorrência de um crime, determinan- te, conforme dispõe o parágrafo único do artigo 160 do Código
do de que forma este ocorreu e, quando possível e necessário, de processo penal. Apenas em caos de suspeição comprovada ou
identificando todas as partes envolvidas, tais como a vítima, o de impedimento previsto em lei é que se eximem os peritos da
criminoso e outras pessoas que possam de alguma forma ter re- aceitação.
lação com o crime, assim como o meio pelo qual se perpetrou o O mesmo diploma ainda assegura como dever especial que
crime, com a determinação do tipo de ferramenta ou arma utili- os peritos nomeados pela autoridade não podem recusar a indi-
zada no delito. Apesar de o laudo pericial não ser a única prova, cação, a não ser por escusa atendível (art. 277, a); não podem
e entre as provas não haver hierarquia, ocorre que, na prática, a deixar de comparecer no dia e no local designados para o exame
prova pericial acaba tendo prevalência sobre as demais. Isto se (art. 277, b); não podem deixar de entregar o laudo ou concor-
dá pela imparcialidade e objetividade da prova técnico-científica
rer para que a perícia não seja feita no prazo estabelecido (art.
enquanto que as chamadas provas subjetivas dependam do teste-
277, c). Pode ainda em casos de não comparecimento, sem justa
munho ou interpretação de pessoas, podendo ocorrer uma série
causa, a autoridade determinar a condução do perito (art. 278).
de erros, desde a simples falta de capacidade da pessoa em relatar
determinado fato, até o emprego de má fé, onde exista a intenção E falsa perícia constitui crime contra a administração da Justiça
de distorcer os fatos. (art. 342). Quando os dois peritos não chegam, na perícia crimi-
A execução das perícias criminais é de competência exclu- nal, a um ponto de vista comum, cada qual fará à parte seu pró-
siva dos Peritos Criminais. Essa afirmação é reforçada pela Lei prio relatório, chamando-se a isso perícia contraditória. Mesmo
12.030 de 2009, que estabelece que o Perito Oficial a que se re- assim, o juiz, que é o peritus peritorum, aceitará a perícia por
fere o Código de Processo Penal são o Perito Criminal, o Perito inteiro ou em parte em parte, ou não aceitará em todo, pois está
Médico-Legista e o Perito Odonto-Legista. Prova pericial (ou forma determina o parágrafo único do artigo 181 do Código Pe-
arbitramento) pode ser dividida em: nal, facultando-lhe nomear outros peritos para novo exame.

Didatismo e Conhecimento 10
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
As partes poderão arguir de suspeitos os peritos, e o juiz de- quanto na perícia criminal são os servidores públicos. Quanto ao
cidirá de plano e sem recurso, à vista da matéria alegada e prova fiel cumprimento do dever de ofício, os primeiros prestam com-
imediata (art. 105). Não poderão ser peritos: promissos a cada vez que são designados pelo juiz e, os segun-
I – os que estiverem sujeitos a interdição de direito menciona- dos, o compromisso está implícito com a posse no cargo público,
da nos números I e II do artigo 47 do Código Penal; a não ser nos casos dos chamados peritos nomeados ad hoc.
II – os que tiverem prestado depoimento no processo no pro-
cesso ou opinado anteriormente sobre o objeto da perícia; Formulação de quesitos pelo Ministério Público, assistente
III – os analfabetos e menores de 21 anos (art. 279). de acusação, ofendido, querelante, e acusado.
Podem, o Ministério Público, o assistente de acusação, o
É extensível aos peritos, no que lhe for aplicável, disposto so- ofendido, o querelante, e o acusado, formular quesitos e indicar
bre a suspeição dos juízes (art. 280); assistente técnico. Eis o teor do previsto no segundo parágrafo,
I – se for amigo ou inimigo capital de qualquer das partes; do art. 159, do Código de Processo Penal;
II – se ele, seu conjugue ou descendente estiver respondendo a
processo análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; Laudo pericial.
III – se ele, seu conjugue, ou parente consanguíneo, ou afim, O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de dez
até terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a pro- dias, podendo este prazo ser prorrogado em casos excepcionais a
cesso que tenha de ser julgado por qualquer das partes; requerimento dos peritos. No laudo pericial, os peritos descreve-
IV – se tiver aconselhado qualquer das partes; rão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos even-
V – se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer tuais quesitos formulados. Tratando-se de perícia complexa, isto
das partes; é, aquela que abranja mais de uma área de conhecimento espe-
VI – se for sócio, acionista, ou administrador de sociedade cializado, será possível designar a atuação de mais de um perito
interessada no processo. oficial, bem como à parte será facultada a indicação de mais de
um assistente técnico;
Para que a Justiça não fique sempre na dependência direta de
um ou de outro perito, criaram-se, há alguns anos, em alguns es-
Autópsia.
tados, como na Bahia e São Paulo, os Conselhos Médico-Legais,
A autópsia será feita no cadáver pelo menos seis horas após
espécies de corte de apelação pericial cujos objetivos são a emis-
o óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
são de pareceres médico-legais mais especializados, funcionando
julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que deverão
também como órgãos de consultas dos próprios peritos. Eram,
declarar no auto (art. 162, caput, CPP). No caso de morte vio-
normalmente, compostos de autoridades indiscutíveis em medici-
lenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não
na legal e representados por professores da disciplina, diretores de
houver infração penal que apurar ou quando as lesões externas
institutos Médico-Legais, propor um membro do Ministério Públi-
permitirem precisar a causa da morte e não houver necessidade
co indicado pela Secretaria do Interior e Justiça.
de exame interno para a verificação de alguma circunstância re-
levante (art. 162, parágrafo único, CPP);
Atividades Desenvolvidas
As atividades desenvolvidas pelos peritos são de grande com-
plexidade e de natureza especializada, tendo por objeto executar Exumação de cadáver.
com exclusividade os exames de corpo de delito e todas as perí- Em caso de exumação de cadáver, a autoridade providen-
cias criminais necessárias à instrução processual penal, nos termos ciará que, em dia e hora previamente marcados, se realize a dili-
das normas constitucionais e legais em vigor, exercendo suas atri- gência, da qual se lavrará auto circunstanciado (art. 163, caput,
buições nos setores periciais de: Acidentes de Trânsito, Auditoria CPP). Neste caso, o administrador do cemitério público/parti-
Forense, Balística Forense, Documentoscopia, Engenharia Legal, cular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediência.
Perícias Especiais, Fonética Forense, Identificação Veicular, Infor- Agora, havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exumado,
mática, Local de Crime Contra a Pessoa, Local de Crime Contra se procederá ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação
o Patrimônio, Meio Ambiente, Multimídia, Papiloscopia, dentre e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de tes-
outros. A função mais relevante do Perito Criminal é a busca da temunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade,
verdade material com base exclusivamente na técnica. Não cabe no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações
ao Perito Criminal acusar ou suspeitar, mas apenas examinar os (art. 166, CPP);
fatos e elucidá-los. Desventrar todos os aspectos inerentes aos ele-
mentos investigados, do ponto exclusivamente técnico. Fotografia dos cadáveres.
Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que
Responsabilidades Civil e Penal do Perito forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as
Aos peritos oficiais ou inoficiais são exigidas obrigações de lesões externas e vestígios deixados no local do crime (art. 164,
ordem legal e a ilicitude de suas atividades caracteriza-se como CPP). Para representar as lesões encontradas no cadáver, os pe-
violação a um dever jurídico, algumas delas com possíveis reper- ritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas foto-
cussões a danos causados a terceiros. Em tese, pode-se dizer que gráficas, esquemas ou desenhos, todos devidamente rubricados
os peritos na área civil são considerados auxiliares da justiça, en- (art. 165, CPP);

Didatismo e Conhecimento 11
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Crimes cometidos com destruição/rompimento de obstácu- Como ele é realizado? Sua realização é excepcional. Ele so-
lo à subtração da coisa. mente será utilizado se para prevenir risco à segurança pública,
Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de quando exista fundada suspeita de que o preso integra organiza-
obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, ção criminosa ou de que, por outra razão, possa fugir durante o
além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, deslocamento; se para viabilizar a participação do réu neste ato
por quais meios e em que época presumem ter sido o fato praticado processual, quando haja relevante dificuldade para seu compare-
(art. 171, CPP); cimento em juízo, por enfermidade ou outra circunstância pesso-
al; ou se para impedir a influência do réu no ânimo de testemunha
Material guardado em laboratório para nova perícia. ou da vítima, desde que não seja possível colher o depoimento
Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material sufi- destas por videoconferência; se for necessário por questão de
ciente para a eventualidade de nova perícia. Ademais, sempre que gravíssima utilidade pública.
conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, Ademais, sua determinação é feita pelo juiz, por decisão
provas microfotográficas, desenhos ou esquemas (art. 170, CPP); fundamentada, tomada de ofício ou a requerimento das partes.
Ainda, da decisão que determinar a realização do interrogatório
Incêndio. por videoconferência, as partes deverão ser intimadas com, no
No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar mínimo, dez dias de antecedência.
em que houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a Também, antes do interrogatório por videoconferência, o
vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor preso poderá acompanhar, pelo mesmo sistema, a realização de
e as demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato todos os atos da audiência única de instrução e julgamento.
(art. 173, CPP); Por fim, o juiz garantirá o direito de entrevista prévia e reser-
vada do réu com seu defensor (como ocorre em qualquer moda-
Exame para reconhecimento de escritos. lidade de interrogatório judicial);
Deve-se observar, de acordo com o art. 174, da Lei Adjetiva, o C) Fases do interrogatório. São duas fases (procedimento
seguinte: a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito bifásico, como dito alhures), a saber, sobre a pessoa do acusa-
será intimada para o ato (se for encontrada) (inciso I); para a com-
do (o interrogando será perguntado sobre a residência, meios de
paração, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa
vida ou profissão, oportunidades sociais, lugar onde exerce a sua
reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de
atividade, vida pregressa, se foi preso ou processado alguma vez,
seu punho, ou sobre cuja autenticidade não houver dúvida (inciso
se houver suspensão condicional ou condenação e qual foi a pena
II); a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os
imposta caso o indivíduo tenha sido processado, obviamente); e
documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos públi-
sobre os fatos (será perguntado ao interrogando se é verdadei-
cos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser retira-
ra a acusação que lhe é feita, onde estava ao tempo em que foi
dos (inciso III); quando não houver escritos para a comparação ou
cometida a infração e se teve notícia desta, sobre as provas já
forem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa
apuradas, se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou
escreva o que lhe for ditado, valendo lembrar que, se estiver au-
por inquirir, se conhece o instrumento com que foi praticada a in-
sente a pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá
ser feita por precatória, em que se consignarão as palavras que a fração ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido
pessoa será intimada a escrever (inciso IV); apreendido, e, se não sendo verdadeira a acusação, se tem algum
Importante, ressaltar, que o juiz não fica adstrito ao laudo, po- motivo particular a que atribuí-la e se conhece, então, quem teria
dendo rejeitá-lo no todo ou em parte (art. 182, CPP). sido o autor da infração, se tem algo mais a alegar em sua defesa
etc.);
DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO E DA CON- D) Pluralidade de acusados. Havendo mais de um acusado,
FISSÃO serão interrogados separadamente (art. 191, CPP);
E) Interrogatório do surdo-mudo. Ao surdo serão apresen-
Interrogatório do acusado. Consiste o interrogatório em tadas por escrito as perguntas, que ele responderá oralmente; ao
meio de defesa do acusado (em outros tempos, já houve diver- mudo, as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-as por
gência se consistiria o interrogatório em meio de defesa ou mero escrito; ao surdo-mudo, as perguntas serão formuladas por escri-
meio de prova). Disso infere-se que é facultado ao acusado ficar to e do mesmo modo dará a resposta (art. 192, CPP);
em silêncio, mentir, ser acompanhado por seu advogado, deixar de F) Interrogando analfabeto (total ou parcialmente). Caso o
responder às perguntas que lhe forem feitas etc. interrogando não saiba ler ou escrever, intervirá no ato, como
A) Características. Trata-se de ato personalíssimo (não pode intérprete e sob compromisso, a pessoa habilitada a entendê-lo
ser realizado por interposta pessoa); de ato público (em regra); (art. 192, parágrafo único, CPP);
assistido tecnicamente por advogado (lembrando que é meio de G) Interrogando que não fala a língua nacional. Se o inter-
defesa); e bifásico (sobre as duas fases melhor se falará a seguir); rogando não falar a língua nacional, sua oitiva será feita por meio
B) “Interrogatório por videoconferência”. Esta é inovação de intérprete (art. 193, CPP);
prevista pela Lei nº 11.900/2009, apesar de parte minoritária da H) Reinterrogatório. A todo tempo, o juiz poderá proceder a
doutrina ainda sustentar a inconstitucionalidade desta forma de novo interrogatório de ofício ou a pedido fundamentado de qual-
interrogatório. quer das partes (art. 196, CPP).

Didatismo e Conhecimento 12
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Confissão. A confissão, como qualquer outro meio de pro- B) Dever de comunicação ao ofendido. O ofendido será co-
va, destina-se à apuração da verdade dos fatos. municado dos atos processuais relativos ao ingresso e à saída do
Se o interrogando confessar a autoria, será perguntado sobre acusado da prisão, à designação de data para audiência e à senten-
os motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorre- ça e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem (art.
ram para a infração. 201, §2º, CPP). As comunicações ao ofendido deverão ser feitas
A) Confissão e seu valor relativo. Não se pode dizer que a no endereço por ele indicado, admitindo-se, por sua opção, o uso
confissão seja algo absoluto. O valor da confissão se aferirá pe- de meio eletrônico (art. 201, §3º, CPP);
los critérios adotados para outros elementos de prova, e para sua C) Direitos do ofendido. Antes do início da audiência, bem
apreciação o juiz deverá confrontá-la com as demais provas do como durante sua realização, será reservado espaço separado para
processo, verificando se entre ela e estas existe compatibilidade o ofendido (art. 201, §4º, CPP). Ademais, se entender necessário,
ou concordância. Pode ser, p. ex., que a confissão esteja ocorren- poderá o juiz encaminhar o ofendido para atendimento multidis-
do sob coação, ou mesmo para acobertar a real autoria do delito. ciplinar, a expensas do ofensor ou do Estado (art. 201, §5º, CPP).
Logo, hoje não há mais se falar na confissão como “rainha das Por fim, o juiz deverá tomar as providências necessárias à preser-
provas”, como era no sistema inquisitorial; vação da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido,
B) Silêncio do acusado. O silêncio do acusado não importará podendo, inclusive, determinar segredo de justiça em relação aos
confissão, mas poderá constituir elemento para a formação do con- dados, depoimentos e outras informações constantes dos autos a
vencimento do juiz, conforme consta do art. 198, da Lei Adjetiva seu respeito para evitar sua exposição aos meios de comunicação
Penal. Desta maneira, se o acusado se manter em silêncio, não se (art. 201, §6º, CPP).
presumirão verdadeiros os fato alegados contra ele como é possí-
vel de acontecer no processo civil. Entretanto, quando da formação
de seu convencimento, autoriza-se que a autoridade judicial utilize TESTEMUNHAS.
tal silêncio como mais um (e não como item exclusivo) dos ele-
mentos em prol da sua convicção; “Testemunha” é a pessoa sem qualquer interesse no deslinde
C) Formas de confissão. A confissão pode ser tanto judicial da lide processual penal, que apenas relata à autoridade judicial
sua percepção sobre os fatos, em face do que viu, ouviu ou sentiu
como extrajudicial. Se feita extrajudicialmente, deverá ser tomada
(ela utiliza-se, veja, de sua percepção sensorial).
por termo nos autos;
Consoante o disposto no art. 203, do Código de Processo Pe-
D) Espécies de confissão. A confissão pode ser simples (quan-
nal, a testemunha fará, sob palavra de honra, a promessa de dizer a
do o confitente simplesmente confessa, sem agregar ou modificar
verdade do que souber e lhe for perguntado, devendo declarar seu
informações constantes dos autos); complexa (quando o réu re-
nome, sua idade, seu estado, sua residência, sua profissão, lugar
conhece vários fatos criminosos); ou qualificada (quando o réu
onde exerce a atividade, se é parente de alguma das partes e em
confessa agregando fatos novos e modificativos que até então não
que grau, bem como relatar o que souber.
eram sabidos, ou, ainda que sabidos, não eram comprovados por A) Espécies de testemunhas. Há se distinguir as testemunhas
outros meios); numerárias, das extranumerárias, dos informantes, das referidas,
E) Características da confissão. A confissão é: divisível (pode das próprias, das impróprias, das diretas, das indiretas, e das “de
ser que o indivíduo confesse apenas uma parte dos crimes. Nada antecedentes”.
obsta que a parte não confessada também tenha sido praticada As numerárias são aquelas arroladas pelas partes de acordo
por este acusado. Neste caso, os outros elementos de prova serão com o número máximo previsto em lei.
fundamentais para a descoberta da autoria (ou não) da parte não As extranumerárias são as ouvidas por iniciativa do juiz após
confessada); e retratável (admite-se “voltar atrás” na confissão. serem compromissadas.
Isso não representa empecilho a que o indivíduo seja condenado Os informantes são aquelas pessoas que não prestam com-
mesmo tendo se retratado da confissão, caso o conjunto probatório promisso e têm o valor de seu depoimento, exatamente por isso,
aponte que foi o acusado, de fato, quem praticou a infração). bastante reduzido.
As referidas são ouvidas por juiz após outros que depuseram
antes delas a elas fazerem menção.
DO OFENDIDO As próprias são as que depõem sobre o fato objeto do litígio.
As impróprias são a que prestam depoimento sobre um ato do
O “ofendido” é o titular do direito lesado ou posto em perigo. processo, como o interrogatório, p. ex.
É a vítima, e, como tal, suas declarações correspondem à versão As diretas são as que prestam depoimento sobre um fato que
que lhe cabe dos fatos, tendo, consequencialmente, natureza pro- presenciaram
batória. As indiretas são as que prestam o depoimento de fatos que
Conforme o art. 201, caput, do Código de Processo Penal, ouviram dizer por palavras de outros.
sempre que possível o ofendido será qualificado e perguntado so- As “de antecedentes” são aquelas que prestam informações
bre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu relevantes quanto à dosagem e aplicação da pena, por se referirem,
autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo suas de- primordialmente, a condições pessoais do acusado;
clarações. B) Pessoas que podem ser testemunha. Qualquer pessoa pode
A) Ofendido que, intimado, deixa de comparecer sem justo ser testemunha, como regra. O depoimento será prestado oralmen-
motivo. Se, intimado, deixa o ofendido de comparecer sem justo te, não sendo permitido à testemunha trazê-lo por escrito. Não se
motivo, poderá ele ser conduzido à autoridade judicial mediante vedará a testemunha, contudo, acesso a meros breves apontamen-
auxílio das autoridades policiais; tos para que não se esqueça de nada;

Didatismo e Conhecimento 13
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
C) Pessoas que podem se recusar a depor. O ascendente, o K) Presença do réu na produção da prova testemunhal. Se
descendente, o afim em linha reta, o cônjuge e o convivente, o o juiz verificar que a presença do réu poderá causar humilhação,
irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado não estão obri- temor, ou sério constrangimento à testemunha ou ao ofendido, de
gados a depor, salvo se não for possível, por outro modo, obter-se modo que prejudique a verdade do depoimento, fará a inquirição
a prova do fato e de suas circunstâncias (art. 206, CPP); por videoconferência e, somente na impossibilidade dessa forma,
D) Pessoas que estão proibidas de depor. As pessoas que, em determinará a retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a
razão de função, ministério, ofício ou profissão, devem guardar se- presença do seu defensor (art. 217, caput, CPP);
gredo, estão proibidas de depor, salvo se, desobrigadas pela parte
L) Oitiva do Presidente da República, do Vice-Presidente da
interessada, quiserem dar seu testemunho (art. 207, CPP);
República, dos Senadores, dos Deputados Federais, dos Minis-
E) Pessoas que não serão compromissadas ao prestar teste-
tros de Estado, dos Governadores de Estados e Territórios, dos
munho. É o caso dos doentes e deficientes mentais; dos menores
de quatorze anos; e do ascendente, descendente, afim em linha reta, Secretários de Estado, dos Prefeitos Municipais, dos Deputados
cônjuge e convivente, irmão e pai, mãe, ou filho adotivo do acusado Estaduais, dos membros do Poder Judiciário, dos membros do
(art. 208, CPP); Ministério Público, dos Ministros dos Tribunais de Contas da
F) Modo de inquirição das testemunhas. As testemunhas se- União, dos Estados e do Distrito Federal. Estes serão inquiri-
rão ouvidas individualmente, de modo que uma não saiba do que dos em local, dia e hora previamente designados pelo juiz (art.
foi falado pela outra (art. 210, caput, primeira parte, CPP). O juiz 221, caput, CPP). Ademais, o Presidente da República, o Vice-
deve advertir sobre a possibilidade de incurso no crime de falso -Presidente da República, o Presidente do Senado, o Presidente
testemunho (art. 210, caput, parte final, CPP). As perguntas serão da Câmara dos Deputados, e o Ministro Presidente do Supremo
formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por
o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação escrito, caso em que as perguntas formuladas pelas partes e de-
com a causa ou importarem na repetição de outra já repetida (aliás, feridas pelo juiz lhe serão transmitidas por ofício (art. 221, §1º,
essa possibilidade de perguntas feitas diretamente às testemunhas CPP);
é inovação trazida pela Lei nº 11.690/2008, já que antes, graças ao M) Oitiva dos militares. Os militares serão requisitados jun-
“Sistema Presidencialista das Audiências”, as perguntas eram feitas to à sua autoridade superior (art. 221, §2º, CPP);
ao juiz, que só então as repassava às testemunhas. Agora, conforme N) Oitiva dos funcionários públicos. A expedição do man-
se pode observar do art. 212, caput, do Código de Processo Penal, dado deve ser imediatamente comunicada ao chefe da repartição
isso mudou).
em que servirem, com indicação do dia e da hora marcados (art.
Prosseguindo, o juiz não permitirá que a testemunha manifeste
221, §3º, CPP);
suas apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa
O) Oitiva por carta precatória. A testemunha que morar fora
do fato (tal característica remonta a um almejo de dinamismo e obje-
tividade no depoimento prestado pela testemunha. Não se quer que da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de sua re-
a testemunha manifeste impressões pessoais a respeito dos fatos. sidência, mediante carta precatória (que não suspenderá a ins-
Deve ela se resumir a esclarecer o que viu/ouviu/sentiu). trução criminal), intimadas as partes (art. 222, caput, CPP). Vale
Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar lembrar que, aqui, também é prevista a possibilidade de oitiva da
a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos que a tornem sus- testemunha por videoconferência ou outro recurso tecnológico
peita de parcialidade ou indigna de fé (art. 214, primeira parte, CPP). de transmissão de sons e imagens em tempo real, permitida a
Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se, tanto quanto presença do defensor e podendo ser realizada, inclusive, durante
possível, às expressões usadas pelas testemunhas, reproduzindo a realização da audiência de instrução e julgamento (art. 222,
fielmente suas frases (art. 215, CPP). O depoimento da testemunha §3º, CPP);
será reduzido a termo, e assinado por ela, pelo juiz, e pelas partes P) Oitiva por carta rogatória. Aplica-se à carta rogatória o
(se a testemunha não souber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a que se acabou de falar da carta precatória, respeitando-se a par-
alguém que o faça por ela, depois de lido na presença de ambos); ticularidade de que as cartas rogatórias somente serão expedidas
G) Inquirição de pessoas impossibilitadas por enfermidade ou se demonstrada previamente sua imprescindibilidade, arcando a
velhice. As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhi- parte requerente com os cursos do envio (art. 222-A, CPP);
ce, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem (art. Q) Prova testemunhal “para perpetuar a memória da pro-
220, CPP); va”. É aquela prevista no art. 225, do Código de Processo Penal,
H) Testemunha que não conhecer a língua nacional. Quando a
segundo o qual, se qualquer testemunha houver de ausentar-se,
testemunha não conhecer a língua nacional, será nomeado intérprete
ou, por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao
para traduzir as perguntas e respostas (art. 223, caput, CPP);
tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício
I) Testemunha surda-muda. Tratando-se de surdo, mudo, ou
surdo-mudo, proceder-se-á tal como no interrogatório do acusado ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhes antecipada-
para estas situações (art. 223, parágrafo único, CPP); mente o depoimento. Tal produção antecipada deve-se à existên-
J) Testemunha que deixa de comparecer sem justo motivo. Se, cia de risco de que a prova testemunhal não possa ser produzida,
regularmente intimada, a testemunha deixa de comparecer sem mo- ou porque a testemunha terá de ausentar-se, ou porque está muito
tivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua enferma e provavelmente não viva muito tempo, ou porque está
apresentação ou determinar que seja conduzida por oficial de justiça, idosa e, caso espere o regular trâmite processual, pode não estar
que poderá solicitar o auxílio de força pública (art. 218, CPP); viva até lá;

Didatismo e Conhecimento 14
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
R) Número de testemunhas. No procedimento comum ordi- A) Conceito de “documento”, para efeito de prova. Quaisquer
nário, este número é de oito no máximo para cada parte (art. escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares, serão
401, CPP); no procedimento comum sumário, esse número é de considerados documentos, com fulcro na cabeça do art. 232, CPP.
no máximo cinco para cada parte (art. 532, CPP); no procedi- Inclusive, à fotografia do documento, devidamente autenticada, se
mento sumaríssimo, três é o número máximo de testemunhas de dará o mesmo valor do original (art. 232, parágrafo único, CPP).
cada parte; e no plenário do júri o número máximo é de cinco O que são “instrumentos”? São documentos confeccionados
testemunhas para cada parte (art. 422, CPP). Vale lembrar, ain- com o estrito objetivo de fazer prova, como os contratos, p. ex. O
da, que de acordo com o segundo parágrafo, do art. 209, CPP, não conceito de documento é muito mais amplo que o de “instrumen-
será computada como testemunha a pessoa que nada souber que to”, portanto;
interesse à decisão da causa. Também não entrarão nessa conta- B) Restrição a documento. De acordo com o art. 233, da
gem o mero informante e a mera testemunha referida (art. 401, Lei Adjetiva, as cartas particulares, interceptadas ou obtidas por
meios criminosos, não serão admitidas em juízo, salvo se exibidas
§1º, CPP).
pelo respectivo destinatário para defesa de seu direito (ainda que
não haja consentimento do remetente);
DO RECONHECIMENTO
C) Determinação judicial de juntada de documento. Se o juiz
tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante
O reconhecimento de pessoas/coisas é o ato pelo qual alguém da acusação ou da defesa, providenciará, independentemente de
verifica e confirma (ou nega) a identidade de pessoa ou coisa que requerimento de qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se
lhe é mostrada. possível (art. 234, CPP);
De acordo com o art. 226, CPP, o itinerário do “reconheci- D) Documento em língua estrangeira. Os documentos em lín-
mento” é o seguinte: a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento gua estrangeira, sem prejuízo de sua juntada imediata, serão, se
será convidada a descrever a pessoa/coisa que deva ser reconheci- necessário, traduzidos por tradutor público, ou, na falta, por pessoa
da (inciso I); a pessoa/coisa cujo reconhecimento se pretender será idônea nomeada pela autoridade (art. 236, CPP);
colocada, se possível, ao lado de outras pessoas/coisas que com ela E) Devolução do documento às partes. Os documentos origi-
tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o nais, juntos a processo findo, quando não exista motivo relevante
reconhecimento a apontá-la (inciso II); se houver razão para recear que justifique a sua conservação nos autos, poderão, mediante re-
que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de inti- querimento e ouvido o Ministério Público, ser entregues à parte
midação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que os produziu, ficando o traslado nos autos (art. 238 CPP);
que deve ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta F) Documento particular e sua autenticidade. A letra e firma
não veja aquela (inciso III) (de acordo com o parágrafo único, do dos documentos particulares serão submetidas a exame pericial,
art. 226, CPP, o disposto neste inciso não terá aplicação na fase quando contestada a sua autenticidade (art. 235, CPP);
da instrução criminal ou em plenário de julgamento); do ato de G) Documento no júri. De acordo com o art. 479, do Código
reconhecimento se lavrará auto pormenorizado, subscrito pela au- de Processo Penal, durante o julgamento não será permitida a leitu-
toridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e ra de documento ou a exibição de objeto que não tiver sido juntado
por duas testemunhas presenciais (inciso IV). aos autos com a antecedência mínima de três dias úteis, dando-se
Vale lembrar, por fim, que se várias forem as pessoas chama- ciência à outra parte (compreende-se nessa proibição a leitura de
das a efetuar o reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma jornais ou qualquer outro escrito, bem como a exibição de vídeos,
fará a prova em separado, evitando-se qualquer comunicação entre gravações, fotografias, laudos, quadros, croqui ou qualquer outro
elas (art. 228, CPP). meio assemelhado, cujo conteúdo versar sobre a matéria de fato
submetida à apreciação e julgamento dos jurados).
DA ACAREAÇÃO
DA BUSCA E APREENSÃO
Sempre que houver divergência de declarações sobre fatos
ou circunstâncias relevantes, a acareação será admitida, com su-
Trata-se de medida cuja essência visa evitar o desaparecimen-
pedâneo no art. 229, caput, do Código de Processo Penal, entre to de provas, podendo ser realizada tanto na fase inquisitorial como
acusados, entre acusados e testemunha, entre testemunhas, entre durante a ação penal. A apreensão, neste diapasão, nada mais é que
acusado ou testemunha e a pessoa ofendida, entre ofendidos etc. o resultado da busca, isto é, se a busca resulta frutífera, procede-se
(as combinações são múltiplas, veja-se). à apreensão da coisa buscada.
Com efeito, os acareados serão reperguntados, para que expli- A) Espécies de busca. A busca pode ser domiciliar (art. 240,
quem os pontos de divergências (ou seja, os acareados já devem §1º, CPP) ou pessoal (art. 240, §2º, CPP);
ter sido ouvidos uma vez, fora da acareação), reduzindo-se a termo B) Hipóteses em que se utiliza a busca e apreensão. De acordo
o ato de acareação. com o primeiro parágrafo, do art. 240, CPP, a busca domiciliar é
comumente utilizada para prender criminosos (alínea “a”); para
DOS DOCUMENTOS apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos (alí-
nea “b”); para apreender instrumentos de falsificação ou de con-
Documentos de prova. Salvo os casos expressos em lei, as trafação e objetos falsificados ou contrafeitos (alínea “c”); para
partes poderão apresentar documentos em qualquer fase do pro- apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de
cesso. crime ou destinados a fim delituoso (alínea “d”); para descobrir

Didatismo e Conhecimento 15
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu (alínea H) Cláusula de reserva de jurisdição. A busca domiciliar so-
“e”); para apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado mente pode ser determinada pela autoridade judiciária. Uma Co-
ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento de missão Parlamentar de Inquérito, p. ex., não tem competência para
seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato (alínea “f”); para determinar busca domiciliar.
apreender pessoas vítimas de crimes (alínea “g”); e para colher Ainda, convém lembrar que essa busca somente poderá ser
qualquer elemento de convicção (alínea “h”). feita durante o dia (a noite será possível desde que haja anuência
Já consoante o segundo parágrafo, do mesmo art. 240, a bus- do morador). “Dia”, conforme entendimento prevalente do crité-
ca pessoal será utilizada quando houver fundada suspeita de que rio misto, vai das seis horas da manhã (desde que já tenha nascido
alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas o sol) até dezoito horas (desde que o sol ainda não tenha se posto).
letras “b”, “c”, “d”, “e”, e “f” do primeiro parágrafo visto acima; I) Busca em mulher. A busca em mulher será feita por outra
C) Requerimento da busca. A busca poderá ser determinada mulher em regra, se isso não importar retardamento ou prejuízo
de ofício ou a requerimento de qualquer das partes (art. 242, CPP); da diligência;
D) Conteúdo do mandado de busca. Deverá o mandado, con- J) Busca em território de jurisdição alheia. A autoridade ou
forme o art. 243, CPP, indicar, o mais precisamente possível, a seus agentes poderão penetrar no território de jurisdição alheia,
casa em que será realizada a diligência e o nome do respectivo ainda que de outro Estado, quando, para o fim de apreensão, fo-
proprietário ou morador, ou, no caso de busca pessoal, o nome da
rem no encalço de pessoa ou coisa, devendo apresentar-se à com-
pessoa que terá de sofrê-la ou os sinais que a identifiquem (inciso
petente autoridade local, antes da diligência ou após, conforme a
I); mencionar os motivos e o fim da diligência (inciso II); ser subs-
urgência desta (art. 250, caput, CPP). Conforme o primeiro pará-
crito pelo escrivão e assinado pela autoridade que o fizer expedir
grafo, do art. 250, da Lei Adjetiva, se entenderá que a autoridade
(inciso III); se houver ordem de prisão, esta constará do próprio
texto do mandado de busca (§1º); ou seus agentes vão no encalço de pessoa ou coisa quando tendo
E) Documento em poder do defensor do acusado. Não será conhecimento direto de sua remoção ou transporte, a seguirem
permitida a apreensão de documento em poder do defensor do sem interrupção, embora depois a percam de vista (alínea “a”), ou,
acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito (art. ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por informações
243, §2º, CPP); fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está sendo removi-
F) Busca independente de mandado. A busca pessoal inde- da ou transportada em determinada direção, forem ao seu encalço
penderá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada (alínea “b”). Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para
suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligências,
objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a me- entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos mandados que
dida for determinada no curso de busca domiciliar (art. 244, CPP); apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimidade, mas de
G) Modo de execução da busca domiciliar. As buscas domi- modo que não frustre a diligência (art. 250, §2º, CPP).
ciliares serão executadas durante o dia, salvo se o morador con-
sentir que se realizem a noite, e, antes de penetrarem na casa, os Em seguida, se faz necessária a leitura atenta dos dispositivos
executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem contidos no Código de Processo Penal referente aos artigos que
os represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta (art. 245, serão objeto de questionamento no presente concurso:
caput, CPP). Se a própria autoridade der busca, declarará previa-
mente sua qualidade e o objeto da diligência (art. 245, §1º, CPP).
Em caso de desobediência, será arrombada a porta e forçada a en- TÍTULO VII
trada (art. 245, §2º, CPP). Resistindo o morador ainda assim, será DA PROVA
permitido o emprego de força contra coisas existentes no interior
da casa, para o descobrimento do que se procura (art. 245, §3º, CAPÍTULO I
CPP). Ausente o morador, deverá ser intimado a assistir a diligên- DISPOSIÇÕES GERAIS
cia qualquer vizinho, se houver e estiver presente (art. 245, §4º,                 
CPP). Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procurar,
Art. 155.  O juiz formará sua convicção pela livre apreciação
o morador será intimado a mostrá-la (art. 245, §5º, CPP). Sen-
da prova produzida em contraditório judicial, não podendo fun-
do descoberta a pessoa/coisa que se procura, será imediatamente
damentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
apreendida e posta sob custódia da autoridade ou de seus agentes
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
(art. 245, §6º, CPP). Finda a diligência, os executores lavrarão auto
circunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais, repetíveis e antecipadas. 
sem prejuízo do disposto no art. 245, §4º (art. 245, §7º, CPP). Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas se-
Este “modus operandi” também vige se tiver de se proceder rão observadas as restrições estabelecidas na lei civil. 
à busca em compartimento habitado ou em aposento ocupado de         
habitação coletiva ou em compartimento não aberto ao público, Art. 156.  A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sen-
onde alguém exercer profissão ou autoridade. do, porém, facultado ao juiz de ofício:  
Por fim, há se lembrar que, em casa habitada, a busca será I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção
feita de modo que não moleste os moradores mais do que o indis- antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, obser-
pensável para o êxito da diligência. vando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; 
Não sendo encontrada a pessoa/coisa buscada, os motivos da II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir
diligência serão comunicados a quem tiver sofrido a busca, se as- sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre
sim o requerer (art. 247, CPP); ponto relevante. 

Didatismo e Conhecimento 16
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 157.  São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde des-
processo, as provas ilícitas, assim entendidas as obtidas em viola- creverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos
ção a normas constitucionais ou legais.  quesitos formulados.
§ 1o  São também inadmissíveis as provas derivadas das ilí- Parágrafo único.  O laudo pericial será elaborado no prazo
citas, salvo quando não evidenciado o nexo de causalidade entre máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos
umas e outras, ou quando as derivadas puderem ser obtidas por excepcionais, a requerimento dos peritos. 
uma fonte independente das primeiras.         
§ 2o  Considera-se fonte independente aquela que por si só, Art. 161.  O exame de corpo de delito poderá ser feito em
seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação qualquer dia e a qualquer hora.
ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da        
prova.  Art. 162.  A autópsia será feita pelo menos seis horas depois
§ 3o  Preclusa a decisão de desentranhamento da prova de- do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
clarada inadmissível, esta será inutilizada por decisão judicial, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declara-
facultado às partes acompanhar o incidente. rão no auto.
§ 4o  (VETADO) (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) Parágrafo único.  Nos casos de morte violenta, bastará o sim-
ples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal
CAPÍTULO II que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a
DO EXAME DO CORPO DE DELITO, E DAS PERÍCIAS causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a
EM GERAL verificação de alguma circunstância relevante.
               
Art. 158.  Quando a infração deixar vestígios, será indispen- Art. 163.  Em caso de exumação para exame cadavérico, a
sável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente
supri-lo a confissão do acusado. marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circuns-
         tanciado.
Art. 159.  O exame de corpo de delito e outras perícias serão
Parágrafo único.  O administrador de cemitério público ou
realizados por perito oficial, portador de diploma de curso supe-
particular indicará o lugar da sepultura, sob pena de desobediên-
rior. 
cia. No caso de recusa ou de falta de quem indique a sepultura, ou
§ 1o  Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2
de encontrar-se o cadáver em lugar não destinado a inumações, a
(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior
autoridade procederá às pesquisas necessárias, o que tudo cons-
preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habili-
tará do auto.
tação técnica relacionada com a natureza do exame. 
        
§ 2o  Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem
Art. 164. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição
e fielmente desempenhar o encargo. 
em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, to-
§ 3o  Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de
acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação das as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. 
de quesitos e indicação de assistente técnico.         
§ 4o O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo Art. 165.  Para representar as lesões encontradas no cadáver,
juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas
peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.  fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.
§ 5o  Durante o curso do processo judicial, é permitido às        
partes, quanto à perícia:  Art. 166.  Havendo dúvida sobre a identidade do cadáver exu-
I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou mado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identifi-
para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e cação e Estatística ou repartição congênere ou pela inquirição de
os quesitos ou questões a serem esclarecidas sejam encaminhados testemunhas, lavrando-se auto de reconhecimento e de identidade,
com  antecedência  mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar no qual se descreverá o cadáver, com todos os sinais e indicações.
as respostas em laudo complementar;  Parágrafo único.  Em qualquer caso, serão arrecadados e
II – indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pa- autenticados todos os objetos encontrados, que possam ser úteis
receres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em au- para a identificação do cadáver.
diência.         
§ 6o  Havendo requerimento das partes, o material probatório Art. 167.  Não sendo possível o exame de corpo de delito, por
que serviu de base à perícia será disponibilizado  no  ambiente do haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá
órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na presença de suprir-lhe a falta.
perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossível        
a sua conservação.  Art. 168.  Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame
§ 7o  Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a exame complemen-
uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a tar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofí-
atuação de mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um cio, ou a requerimento do Ministério Público, do ofendido ou do
assistente técnico.  acusado, ou de seu defensor.

Didatismo e Conhecimento 17
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 1o  No exame complementar, os peritos terão presente o auto Art. 175.  Serão sujeitos a exame os instrumentos empregados
de corpo de delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo. para a prática da infração, a fim de se Ihes verificar a natureza e
§ 2o  Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito a eficiência.
no art. 129, § 1o, I, do Código Penal, deverá ser feito logo que        
decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime. Art. 176.  A autoridade e as partes poderão formular quesitos
§ 3o  A falta de exame complementar poderá ser suprida pela até o ato da diligência.
prova testemunhal.        
                 Art. 177.  No exame por precatória, a nomeação dos peritos
Art. 169.  Para o efeito de exame do local onde houver sido far-se-á no juízo deprecado. Havendo, porém, no caso de ação
praticada a infração, a autoridade providenciará imediatamente privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser feita pelo
para que não se altere o estado das coisas até a chegada dos pe- juiz deprecante.
ritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos Parágrafo único.  Os quesitos do juiz e das partes serão
ou esquemas elucidativos. transcritos na precatória.
Parágrafo único.  Os peritos registrarão, no laudo, as altera-        
ções do estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequên- Art. 178.  No caso do art. 159, o exame será requisitado pela
cias dessas alterações na dinâmica dos fatos.  autoridade ao diretor da repartição, juntando-se ao processo o
        laudo assinado pelos peritos.
Art. 170.  Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão        
material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre Art. 179.  No caso do § 1o do art. 159, o escrivão lavrará o
que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográfi- auto respectivo, que será assinado pelos peritos e, se presente ao
cas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas. exame, também pela autoridade.
        Parágrafo único.  No caso do art. 160, parágrafo único, o
laudo, que poderá ser datilografado, será subscrito e rubricado
Art. 171.  Nos crimes cometidos com destruição ou rompi-
em suas folhas por todos os peritos.
mento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escala-
       
da, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que
Art. 180.  Se houver divergência entre os peritos, serão con-
instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o
signadas no auto do exame as declarações e respostas de um e de
fato praticado.
outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a auto-
       
ridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autori-
Art. 172.  Proceder-se-á, quando necessário, à avaliação de
dade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos.
coisas destruídas, deterioradas ou que constituam produto do cri-                 
me. Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no
Parágrafo único.  Se impossível a avaliação direta, os peritos caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade ju-
procederão à avaliação por meio dos elementos existentes nos au- diciária mandará suprir a formalidade, complementar ou escla-
tos e dos que resultarem de diligências. recer o laudo. 
        Parágrafo único.  A autoridade poderá também ordenar que
Art. 173.  No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar convenien-
e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver re- te.
sultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do         
dano e o seu valor e as demais circunstâncias que interessarem à Art. 182.  O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-
elucidação do fato. -lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte.
               
Art. 174.  No exame para o reconhecimento de escritos, por Art. 183.  Nos crimes em que não couber ação pública, obser-
comparação de letra, observar-se-á o seguinte: var-se-á o disposto no art. 19.
I - a pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito        
será intimada para o ato, se for encontrada; Art. 184.  Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz
II - para a comparação, poderão servir quaisquer documen- ou a autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes,
tos que a dita pessoa reconhecer ou já tiverem sido judicialmente quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.
reconhecidos como de seu punho, ou sobre cuja autenticidade não
houver dúvida; CAPÍTULO III
III - a autoridade, quando necessário, requisitará, para o exa- DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO
me, os documentos que existirem em arquivos ou estabelecimentos         
públicos, ou nestes realizará a diligência, se daí não puderem ser Art. 185. O acusado que comparecer perante a autoridade
retirados; judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e interro-
IV - quando não houver escritos para a comparação ou fo- gado na presença de seu defensor, constituído ou nomeado.
rem insuficientes os exibidos, a autoridade mandará que a pessoa § 1o  O interrogatório do réu preso será  realizado, em sala
escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a pessoa, mas em própria, no estabelecimento em que estiver recolhido, desde que
lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, estejam garantidas a segurança do juiz, do membro do Ministério
em que se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a Público e dos auxiliares bem como a presença do defensor e a
escrever. publicidade do ato. 

Didatismo e Conhecimento 18
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o  Excepcionalmente, o juiz, por decisão fundamentada, de § 2o Na segunda parte será perguntado sobre: 
ofício ou a requerimento das partes, poderá realizar o interrogató- I - ser verdadeira a acusação que lhe é feita; 
rio do réu preso por sistema de videoconferência ou outro recurso II - não sendo verdadeira a acusação, se tem algum motivo
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real, desde particular a que atribuí-la, se conhece a pessoa ou pessoas a quem
que a medida seja necessária para atender a uma das seguintes fi- deva ser imputada a prática do crime, e quais sejam, e se com elas
nalidades:  esteve antes da prática da infração ou depois dela; 
I - prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada III - onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se
suspeita de que o preso integre organização criminosa ou de que, teve notícia desta; 
por outra razão, possa fugir durante o deslocamento;  IV - as provas já apuradas; 
II - viabilizar a participação do réu no referido ato processual, V - se conhece as vítimas e testemunhas já inquiridas ou por
quando haja relevante dificuldade para seu comparecimento em ju- inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas; 
ízo, por enfermidade ou outra circunstância pessoal;  VI - se conhece o instrumento com que foi praticada a infração,
III - impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da ou qualquer objeto que com esta se relacione e tenha sido apreen-
vítima, desde que não seja possível colher o depoimento destas por dido; 
videoconferência, nos termos do art. 217 deste Código;  VII - todos os demais fatos e pormenores que conduzam à eluci-
IV - responder à gravíssima questão de ordem pública.  dação dos antecedentes e circunstâncias da infração; 
§ 3o  Da decisão que determinar a realização de interrogatório VIII - se tem algo mais a alegar em sua defesa. 
por videoconferência, as partes serão intimadas com 10 (dez) dias         
de antecedência.  Art. 188. Após proceder ao interrogatório, o juiz indagará das
§ 4o  Antes do interrogatório por videoconferência, o preso po- partes se restou algum fato para ser esclarecido, formulando as per-
derá acompanhar, pelo mesmo sistema tecnológico, a realização de guntas correspondentes se o entender pertinente e relevante. 
todos os atos da audiência única de instrução e julgamento de que        
tratam os arts. 400, 411 e 531 deste Código.  Art. 189. Se o interrogando negar a acusação, no todo ou em
§ 5o  Em qualquer modalidade de interrogatório, o juiz garan- parte, poderá prestar esclarecimentos e indicar provas.
                
tirá ao réu o direito de entrevista prévia e reservada com o seu de-
Art. 190. Se confessar a autoria, será perguntado sobre os mo-
fensor; se realizado por videoconferência, fica também garantido
tivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas concorreram para
o acesso a canais telefônicos reservados para comunicação entre
a infração, e quais sejam. 
o defensor que esteja no presídio e o advogado presente na sala de
audiência do Fórum, e entre este e o preso. 
Art. 191. Havendo mais de um acusado, serão interrogados
§ 6o  A sala reservada no estabelecimento prisional para a re-
separadamente.
alização de atos processuais por sistema de videoconferência será
                
fiscalizada pelos corregedores e pelo juiz de cada causa, como tam- Art. 192. O interrogatório do mudo, do surdo ou do surdo-mu-
bém pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil.  do será feito pela forma seguinte: 
§ 7o  Será requisitada a apresentação do réu preso em juízo nas I - ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que
hipóteses em que o interrogatório não se realizar na forma prevista ele responderá oralmente;
nos §§ 1o e 2o deste artigo.  II - ao mudo as perguntas serão feitas oralmente, respondendo-
§ 8o  Aplica-se o disposto nos §§ 2o, 3o, 4o e 5o deste artigo, no -as por escrito; 
que couber, à realização de outros atos processuais que dependam III - ao surdo-mudo as perguntas serão formuladas por escrito
da participação de pessoa que esteja presa, como acareação, re- e do mesmo modo dará as respostas. 
conhecimento de pessoas e coisas, e inquirição de testemunha ou Parágrafo único. Caso o interrogando não saiba ler ou escre-
tomada de declarações do ofendido.  ver, intervirá no ato, como intérprete e sob compromisso, pessoa
§ 9o  Na hipótese do § 8o deste artigo, fica garantido o acompa- habilitada a entendê-lo.
nhamento do ato processual pelo acusado e seu defensor.                  
         Art. 193. Quando o interrogando não falar a língua nacional, o
Art. 186. Depois de devidamente qualificado e cientificado do interrogatório será feito por meio de intérprete.
inteiro teor da acusação, o acusado será informado pelo juiz, antes         
de iniciar o interrogatório, do seu direito de permanecer calado e de Art. 195. Se o interrogado não souber escrever, não puder ou
não responder perguntas que lhe forem formuladas.  não quiser assinar, tal fato será consignado no termo. 
Parágrafo único. O silêncio, que não importará em confissão,                 
não poderá ser interpretado em prejuízo da defesa.  Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interro-
                 gatório de ofício ou a pedido fundamentado de qualquer das partes. 
Art. 187. O interrogatório será constituído de duas partes: so-
bre a pessoa do acusado e sobre os fatos.  CAPÍTULO IV
§ 1o Na primeira parte o interrogando será perguntado sobre DA CONFISSÃO
a residência, meios de vida ou profissão, oportunidades sociais, lu-        
gar onde exerce a sua atividade, vida pregressa, notadamente se foi Art. 197.  O valor da confissão se aferirá pelos critérios ado-
preso ou processado alguma vez e, em caso afirmativo, qual o juízo tados para os outros elementos de prova, e para a sua apreciação o
do processo, se houve suspensão condicional ou condenação, qual juiz deverá confrontá-la com as demais provas do processo, verifi-
a pena imposta, se a cumpriu e outros dados familiares e sociais.  cando se entre ela e estas existe compatibilidade ou concordância.

Didatismo e Conhecimento 19
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 198.  O silêncio do acusado não importará confissão, mas Art. 206.  A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de
poderá constituir elemento para a formação do convencimento do depor. Poderão, entretanto, recusar-se a fazê-lo o ascendente ou des-
juiz. cendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o
        irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não
Art. 199.  A confissão, quando feita fora do interrogatório, será for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato
tomada por termo nos autos, observado o disposto no art. 195. e de suas circunstâncias.
               
Art. 200.  A confissão será divisível e retratável, sem prejuízo do Art. 207.  São proibidas de depor as pessoas que, em razão de
livre convencimento do juiz, fundado no exame das provas em con- função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, salvo
junto. se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemu-
nho.
CAPÍTULO V        
DO OFENDIDO Art. 208.  Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203
         aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 (quatorze)
Art. 201.  Sempre que possível, o ofendido será qualificado e per- anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.
guntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma        
ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as Art. 209.  O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras
suas declarações.  testemunhas, além das indicadas pelas partes.
§ 1o  Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem moti- § 1o  Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a
vo justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.  que as testemunhas se referirem.
§ 2o  O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos § 2o  Não será computada como testemunha a pessoa que nada
ao ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data souber que interesse à decisão da causa.
para audiência e à sentença e respectivos acórdãos que a mantenham                 
ou modifiquem.  Art. 210.  As testemunhas serão inquiridas cada uma de per si, de
§ 3o  As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no ende-
modo que umas não saibam nem ouçam os depoimentos das outras,
reço por ele indicado, admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de
devendo o juiz adverti-las das penas cominadas ao falso testemunho. 
meio eletrônico. 
Parágrafo único. Antes do início da audiência e durante a sua
§ 4o  Antes do início da audiência e durante a sua realização,
realização, serão reservados espaços separados para a garantia da
será reservado espaço separado para o ofendido. 
incomunicabilidade das testemunhas. 
§ 5o  Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofen-
       
dido para atendimento multidisciplinar, especialmente nas áreas psi-
Art. 211.  Se o juiz, ao pronunciar sentença final, reconhecer que
cossocial, de assistência jurídica e de saúde, a expensas do ofensor
ou do Estado. alguma testemunha fez afirmação falsa, calou ou negou a verdade,
§ 6o  O juiz tomará as providências necessárias à preservação remeterá cópia do depoimento à autoridade policial para a instaura-
da intimidade, vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, ção de inquérito.
inclusive, determinar o segredo de justiça em relação aos dados, de- Parágrafo único.  Tendo o depoimento sido prestado em plená-
poimentos e outras informações constantes dos autos a seu respeito rio de julgamento, o juiz, no caso de proferir decisão na audiência
para evitar sua exposição aos meios de comunicação.  (art. 538, § 2o), o tribunal (art. 561), ou o conselho de sentença, após
a votação dos quesitos, poderão fazer apresentar imediatamente a
CAPÍTULO VI testemunha à autoridade policial.
DAS TESTEMUNHAS                 
        Art. 212.  As perguntas serão formuladas pelas partes diretamen-
Art. 202.  Toda pessoa poderá ser testemunha. te à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a
        resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repeti-
Art. 203.  A testemunha fará, sob palavra de honra, a promes- ção de outra já respondida. 
sa de dizer a verdade do que souber e Ihe for perguntado, devendo Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz pode-
declarar seu nome, sua idade, seu estado e sua residência, sua pro- rá complementar a inquirição. 
fissão, lugar onde exerce sua atividade, se é parente, e em que grau, Art. 213.  O juiz não permitirá que a testemunha manifeste suas
de alguma das partes, ou quais suas relações com qualquer delas, e apreciações pessoais, salvo quando inseparáveis da narrativa do fato.
relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou        
as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade. Art. 214.  Antes de iniciado o depoimento, as partes poderão
        contraditar a testemunha ou arguir circunstâncias ou defeitos, que
Art. 204.  O depoimento será prestado oralmente, não sendo per- a tornem suspeita de parcialidade, ou indigna de fé. O juiz fará con-
mitido à testemunha trazê-lo por escrito. signar a contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só
Parágrafo único.  Não será vedada à testemunha, entretanto, excluirá a testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos
breve consulta a apontamentos. previstos nos arts. 207 e 208.
               
Art. 205.  Se ocorrer dúvida sobre a identidade da testemunha, Art. 215.  Na redação do depoimento, o juiz deverá cingir-se,
o juiz procederá à verificação pelos meios ao seu alcance, podendo, tanto quanto possível, às expressões usadas pelas testemunhas, re-
entretanto, tomar-lhe o depoimento desde logo. produzindo fielmente as suas frases.

Didatismo e Conhecimento 20
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 216.  O depoimento da testemunha será reduzido a termo,  § 3o  Na hipótese prevista no caput deste artigo, a oitiva de
assinado por ela, pelo juiz e pelas partes. Se a testemunha não sou- testemunha poderá ser realizada por meio de videoconferência ou
ber assinar, ou não puder fazê-lo, pedirá a alguém que o faça por outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em
ela, depois de lido na presença de ambos. tempo real, permitida a presença do defensor e podendo ser rea-
                 lizada, inclusive, durante a realização da audiência de instrução
Art. 217.  Se o juiz verificar que a presença do réu poderá cau- e julgamento. 
sar humilhação, temor, ou sério constrangimento à testemunha ou         
ao ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, fará Art. 222-A.  As cartas rogatórias só serão expedidas se de-
a inquirição por videoconferência e, somente na impossibilidade monstrada previamente a sua imprescindibilidade, arcando a par-
dessa forma, determinará a retirada do réu, prosseguindo na inqui- te requerente com os custos de envio. 
rição, com a presença do seu defensor.  Parágrafo único.  Aplica-se às cartas rogatórias o disposto
Parágrafo único. A adoção de qualquer das medidas previstas nos §§ 1o e 2o do art. 222 deste Código. 
no caput deste artigo deverá constar do termo, assim como os moti-        
vos que a determinaram.  Art. 223.  Quando a testemunha não conhecer a língua na-
         cional, será nomeado intérprete para traduzir as perguntas e res-
Art. 218.  Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de postas.
comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à au- Parágrafo único.  Tratando-se de mudo, surdo ou surdo-mu-
toridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida do, proceder-se-á na conformidade do art. 192.
por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força públi-        
ca. Art. 224.  As testemunhas comunicarão ao juiz, dentro de um
         ano, qualquer mudança de residência, sujeitando-se, pela simples
Art. 219. O juiz poderá aplicar à testemunha faltosa a multa omissão, às penas do não-comparecimento.
prevista no art. 453, sem prejuízo do processo penal por crime de        
desobediência, e condená-la ao pagamento das custas da diligên- Art. 225.  Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou,
cia.  por enfermidade ou por velhice, inspirar receio de que ao tempo
        da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício ou a
Art. 220.  As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por
requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente
velhice, de comparecer para depor, serão inquiridas onde estiverem.
o depoimento.
        
Art. 221. O Presidente e o Vice-Presidente da República, os
CAPÍTULO VII
senadores e deputados federais, os ministros de Estado, os governa-
DO RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS
dores de Estados e Territórios, os secretários de Estado, os prefeitos
       
do Distrito Federal e dos Municípios, os deputados às Assembleias
Art. 226.  Quando houver necessidade de fazer-se o reconhe-
Legislativas Estaduais, os membros do Poder Judiciário, os minis-
cimento de pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:
tros e juízes dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Dis-
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convida-
trito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo serão inquiridos
em local, dia e hora previamente ajustados entre eles e o juiz.  da a descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
§ 1o  O Presidente e o Vice-Presidente da República, os presi- Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será coloca-
dentes do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo da, se possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer
Tribunal Federal poderão optar pela prestação de depoimento por semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento
escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e deferi- a apontá-la;
das pelo juiz, Ihes serão transmitidas por ofício.  III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para
§ 2o  Os militares deverão ser requisitados à autoridade supe- o reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência,
rior.    não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a
§ 3o  Aos funcionários públicos aplicar-se-á o disposto no art. autoridade providenciará para que esta não veja aquela;
218, devendo, porém, a expedição do mandado ser imediatamente IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenoriza-
comunicada ao chefe da repartição em que servirem, com indicação do, subscrito pela autoridade, pela pessoa chamada para proce-
do dia e da hora marcados.   der ao reconhecimento e por duas testemunhas presenciais.
        Parágrafo único.  O disposto no no III deste artigo não terá
Art. 222.  A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz aplicação na fase da instrução criminal ou em plenário de julga-
será inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, expedindo-se, mento.
para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as        
partes. Art. 227.  No reconhecimento de objeto, proceder-se-á com
§ 1o  A expedição da precatória não suspenderá a instrução as cautelas estabelecidas no artigo anterior, no que for aplicável.
criminal.        
§ 2o  Findo o prazo marcado, poderá realizar-se o julgamento, Art. 228.  Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o
mas, a todo tempo, a precatória, uma vez devolvida, será junta aos reconhecimento de pessoa ou de objeto, cada uma fará a prova em
autos. separado, evitando-se qualquer comunicação entre elas.

Didatismo e Conhecimento 21
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
CAPÍTULO VIII CAPÍTULO X
DA ACAREAÇÃO DOS INDÍCIOS
               
Art. 229.  A acareação será admitida entre acusados, entre acu- Art. 239.  Considera-se indício a circunstância conhecida e
sado e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou testemunha provada, que, tendo relação com o fato, autorize, por indução, con-
e a pessoa ofendida, e entre as pessoas ofendidas, sempre que diver- cluir-se a existência de outra ou outras circunstâncias.
girem, em suas declarações, sobre fatos ou circunstâncias relevantes.
Parágrafo único.  Os acareados serão reperguntados, para que CAPÍTULO XI
expliquem os pontos de divergências, reduzindo-se a termo o ato de DA BUSCA E DA APREENSÃO
acareação.
       
       
Art. 240.  A busca será domiciliar ou pessoal.
Art. 230.  Se ausente alguma testemunha, cujas declarações di-
§ 1o  Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões
virjam das de outra, que esteja presente, a esta se darão a conhecer
os pontos da divergência, consignando-se no auto o que explicar ou a autorizarem, para:
observar. Se subsistir a discordância, expedir-se-á precatória à auto- a) prender criminosos;
ridade do lugar onde resida a testemunha ausente, transcrevendo-se b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
as declarações desta e as da testemunha presente, nos pontos em c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e
que divergirem, bem como o texto do referido auto, a fim de que se objetos falsificados ou contrafeitos;
complete a diligência, ouvindo-se a testemunha ausente, pela mesma d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na
forma estabelecida para a testemunha presente. Esta diligência só prática de crime ou destinados a fim delituoso;
se realizará quando não importe demora prejudicial ao processo e o e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à de-
juiz a entenda conveniente. fesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou
CAPÍTULO IX em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu
DOS DOCUMENTOS conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
        g) apreender pessoas vítimas de crimes;
Art. 231.  Salvo os casos expressos em lei, as partes poderão h) colher qualquer elemento de convicção.
apresentar documentos em qualquer fase do processo. § 2o  Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada
       
suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos
Art. 232.  Consideram-se documentos quaisquer escritos, ins-
mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.
trumentos ou papéis, públicos ou particulares.
       
Parágrafo único.  À fotografia do documento, devidamente au-
tenticada, se dará o mesmo valor do original. Art. 241.  Quando a própria autoridade policial ou judiciária
        não a realizar pessoalmente, a busca domiciliar deverá ser precedi-
Art. 233.  As cartas particulares, interceptadas ou obtidas por da da expedição de mandado.
meios criminosos, não serão admitidas em juízo.        
Parágrafo único.  As cartas poderão ser exibidas em juízo pelo Art. 242.  A busca poderá ser determinada de ofício ou a reque-
respectivo destinatário, para a defesa de seu direito, ainda que não rimento de qualquer das partes.
haja consentimento do signatário.        
        Art. 243.  O mandado de busca deverá:
Art. 234.  Se o juiz tiver notícia da existência de documento re- I - indicar, o mais precisamente possível, a casa em que será
lativo a ponto relevante da acusação ou da defesa, providenciará, realizada a diligência e o nome do respectivo proprietário ou mo-
independentemente de requerimento de qualquer das partes, para rador; ou, no caso de busca pessoal, o nome da pessoa que terá de
sua juntada aos autos, se possível. sofrê-la ou os sinais que a identifiquem;
Art. 235.  A letra e firma dos documentos particulares serão sub- II - mencionar o motivo e os fins da diligência;
metidas a exame pericial, quando contestada a sua autenticidade. III - ser subscrito pelo escrivão e assinado pela autoridade que
        o fizer expedir.
Art. 236.  Os documentos em língua estrangeira, sem prejuízo de § 1o  Se houver ordem de prisão, constará do próprio texto do
sua juntada imediata, serão, se necessário, traduzidos por tradutor
mandado de busca.
público, ou, na falta, por pessoa idônea nomeada pela autoridade.
§ 2o  Não será permitida a apreensão de documento em poder
       
Art. 237.  As públicas-formas só terão valor quando conferidas do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo
com o original, em presença da autoridade. de delito.
               
Art. 238.   Os documentos originais, juntos a processo findo, Art. 244.  A busca pessoal independerá de mandado, no caso de
quando não exista motivo relevante que justifique a sua conservação prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja
nos autos, poderão, mediante requerimento, e ouvido o Ministério na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam
Público, ser entregues à parte que os produziu, ficando traslado nos corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de
autos. busca domiciliar.

Didatismo e Conhecimento 22
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 245.  As buscas domiciliares serão executadas de dia, § 2o  Se as autoridades locais tiverem fundadas razões para
salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de duvidar da legitimidade das pessoas que, nas referidas diligên-
penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado cias, entrarem pelos seus distritos, ou da legalidade dos manda-
ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, dos que apresentarem, poderão exigir as provas dessa legitimi-
a abrir a porta. dade, mas de modo que não se frustre a diligência.
§ 1o  Se a própria autoridade der a busca, declarará previa-
mente sua qualidade e o objeto da diligência.
§ 2o  Em caso de desobediência, será arrombada a porta e 4 AÇÃO PENAL.
forçada a entrada.
§ 3o  Recalcitrando o morador, será permitido o emprego
de força contra coisas existentes no interior da casa, para o
descobrimento do que se procura. A ação penal consiste no direito de pedir ao Estado tutela
§ 4o  Observar-se-á o disposto nos §§ 2o e 3o, quando ausen- jurisdicional para resolver um problema que concretamente se
tes os moradores, devendo, neste caso, ser intimado a assistir à apresenta. Com o fato delituoso, nasce para o Estado o direito de
diligência qualquer vizinho, se houver e estiver presente. buscar e punir um culpado. Esta busca e esta punição necessitam
§ 5o  Se é determinada a pessoa ou coisa que se vai procu- respeitar um percurso que, pré-judicialmente, em geral se dá pelo
rar, o morador será intimado a mostrá-la. inquérito policial (estudado no item anterior), e, judicialmente, se
§ 6o  Descoberta a pessoa ou coisa que se procura, será inicia com a ação penal (que, a partir de agora, se passa a estudar).
imediatamente apreendida e posta sob custódia da autoridade
ou de seus agentes. Características da ação penal. São elas:
A) A ação penal é pública. Trata-se de direito público. Por
§ 7o  Finda a diligência, os executores lavrarão auto cir-
isso, por exemplo, o mais correto seria dizer ação penal “de inicia-
cunstanciado, assinando-o com duas testemunhas presenciais,
tiva privada”, e não “ação penal privada”, afinal, toda ação penal é
sem prejuízo do disposto no § 4o.
pública. A iniciativa é que pode ser privada;
        B) A ação penal é direito subjetivo. Isto porque, o seu titular
Art. 246.  Aplicar-se-á também o disposto no artigo ante- tem o direito de exigir a prestação jurisdicional, já que ao Estado-
rior, quando se tiver de proceder a busca em compartimento -juiz veda-se o “non liquet” (o poder de o juiz não julgar, por não
habitado ou em aposento ocupado de habitação coletiva ou em saber como decidir);
compartimento não aberto ao público, onde alguém exercer C) A ação penal é direito autônomo. Ou seja, a ação penal não
profissão ou atividade. se confunde com o direito material que se pretende tutelar. “Direito
        processual” e “direito material” são ciências distintas há tempos;
Art. 247.  Não sendo encontrada a pessoa ou coisa procu- D) A ação penal é direito abstrato. Isto porque, o acusado não
rada, os motivos da diligência serão comunicados a quem tiver é considerado culpado desde o começo da ação penal. Para que
sofrido a busca, se o requerer. isto ocorra, é preciso que haja sentença condenatória ou absolu-
        tória imprópria (aplicação de medida de segurança) transitada em
julgado. O fato de alguém ser alvo de uma ação penal não importa
Art. 248.  Em casa habitada, a busca será feita de modo que
pré-condenação deste agente;
não moleste os moradores mais do que o indispensável para o
E) A ação penal é direito específico. É direito específico, por
êxito da diligência.
estar relacionada a um caso concreto.
       
Art. 249.  A busca em mulher será feita por outra mulher, se Condições da ação penal. Tratam-se de condições que regu-
não importar retardamento ou prejuízo da diligência. lam o exercício do direito. Com efeito, estas condições podem ser
        genéricas ou específicas.
Art. 250.  A autoridade ou seus agentes poderão penetrar 1 Condições genéricas. São aquelas que devem estar presen-
no território de jurisdição alheia, ainda que de outro Estado, tes em toda e qualquer ação penal. São elas:
quando, para o fim de apreensão, forem no seguimento de pes- A) Possibilidade jurídica do pedido. O pedido formulado
soa ou coisa, devendo apresentar-se à competente autoridade deve encontrar amparo no ordenamento jurídico, ou seja, deve se
local, antes da diligência ou após, conforme a urgência desta. referir a uma providência admitida pelo direito objetivo;
§ 1o  Entender-se-á que a autoridade ou seus agentes vão B) Legitimidade para agir. Deve-se perguntar “quem pode”, e
em seguimento da pessoa ou coisa, quando: “contra quem se pode” manejar ação penal.
A regra geral é a de que no polo ativo da ação penal pública
a) tendo conhecimento direto de sua remoção ou transporte,
figura o Ministério Público; no polo ativo da ação penal de inicia-
a seguirem sem interrupção, embora depois a percam de vista;
tiva privada figura o ofendido; e no polo passivo, sendo a ação pe-
b) ainda que não a tenham avistado, mas sabendo, por in-
nal pública ou privada, figurará o provável autor do fato delituoso
formações fidedignas ou circunstâncias indiciárias, que está maior de dezoito anos;
sendo removida ou transportada em determinada direção, forem C) Interesse de agir. Composto pelo trinômio necessidade/
ao seu encalço. adequação/utilidade.

Didatismo e Conhecimento 23
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Pela necessidade, vai-se analisar até que ponto a existência Diverge amplamente a doutrina quanto a essa possibilidade:
de ação penal é fundamental para elucidação da causa. Pode ser quem entende que isso não é possível, ampara-se no argumento
que em um determinado caso uma solução extrajudicial seja muito de que isso torna a acusação incerta e causa insegurança jurídica
melhor, por exemplo. ao acusado; quem entende que isso é possível, afirma que, como o
Já a adequação consiste no perfilhamento da medida buscada acusado se defende meramente de fatos, e não de uma tipificação
por meio da ação penal com o instrumento apto a isso. Assim, a imposta, nada obsta que subsista um crime em detrimento de outro
título ilustrativo, caso se almeje trancar uma ação penal cuja única e a condenação por um ou por outro seja pedida na acusação;
sanção cominada ao delito seja a de multa, não se mostra como D) Pouco importa a definição jurídica que o agente ministerial
medida mais adequada à utilização do habeas corpus, já que não atribui ao acusado. Este sempre se defenderá dos fatos narrados, e
há risco à liberdade de locomoção, mas sim por meio do mandado não do tipo penal imputado;
de segurança. E) Com base no art. 46, CPP, o prazo para oferecimento da
Por fim, a utilidade consiste na eficácia prática que uma ação denúncia (que é um prazo de natureza processual penal, isto é,
deve ter. Se não há nada a ser apurado, ou não há qualquer sanção contado da forma do art. 798, CPP) será de cinco dias, estando o
a ser aplicada, inútil e desnecessária será a ação penal; réu preso (contado da data em que o órgão do Ministério Público
receber o inquérito policial), e de quinze dias, estando o réu solto
D) Justa causa. Trata-se de condição genérica da ação pre-
ou afiançado. Agora, se o agente do MP tiver dispensado o inqué-
vista apenas no processo penal (art. 395, III, CPP), mas não no
rito, o prazo para a exordial acusatória contar-se-á da data em que
processo civil. Consiste em se obter o mínimo de provas indispen-
tiver recebido as peças informativas substitutivas do procedimento
sável para o início de um processo, até para com isso não submeter
administrativo investigatório (art. 46, §1º, CPP).
o cidadão à situação degradante e embaraçosa que desempenha a Há, ainda, prazos especiais na legislação extravagante para
persecução criminal na vida de uma pessoa. oferecimento de denúncia, como o de dez dias para crime eleito-
ral, o de dez dias para tráfico de drogas, o de quarenta e oito horas
2 Condições específicas. São condições exigidas apenas para para crime de abuso de autoridade, e o de dois dias para crimes
alguns delitos. Dentre elas, se podem mencionar a requisição do contra a economia popular;
Ministro da Justiça; o laudo pericial nos crimes contra a proprie- F) De acordo com o art. 395, CPP, a denúncia será rejeitada
dade imaterial; o exame preliminar em crimes de tóxicos; a repre- quando for manifestamente inepta (inciso I); quando faltar pressu-
sentação do ofendido etc. posto processual ou condição para o exercício da ação penal (in-
ciso II); e quando faltar justa causa para o exercício da ação penal
Classificação das ações penais. A classificação das ações pe- (inciso III);
nais observa, em regra, o titular para sua propositura. G) Da decisão que recebe a denúncia não cabe qualquer recur-
1 Ação penal pública. É de iniciativa exclusiva do Ministério so, devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou mandado
Público (órgão do Estado, composto por promotores e procurado- de segurança, que não são recursos, mas sim meios autônomos de
res de justiça no âmbito estadual, e por procuradores da República, impugnação. Já da que rejeita a denúncia ou a acolhe apenas par-
no federal). Na ação pública vigora o princípio da obrigatorieda- cialmente cabe recurso em sentido estrito, por força do art. 581, I,
de, ou seja, havendo indícios suficientes, surge para o Ministério CPP, conforme será estudado na parte de recursos.
Público o dever de propor a ação. A peça processual que dá início Vale lembrar apenas que, excepcionalmente, na Lei nº
à ação penal pública é a denúncia, sendo suas características prin- 9.099/95, de acordo com seu art. 82, a rejeição da inicial acusatória
cipais: desafia o recurso de apelação.
A) A denúncia conterá a exposição do fato criminoso, com Isto posto, feitas estas considerações acerca da denúncia, a
todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado (ou escla- seguir há se estudar as espécies de ação penal pública.
recimentos pelos quais se possa identificá-lo), a classificação do
crime e, quando necessário, o rol de testemunhas (art. 41, CPP). A 1.1 Ação penal pública incondicionada. É a regra no ordena-
ausência destes requisitos pode levar à inépcia da denúncia. mento processual penal. Para que ação penal seja de outra espécie,
isso deve estar expressamente previsto. Se não houver previsão
Também, a impossibilidade de identificar o acusado com seu
diversa, entende-se pública a ação penal.
verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação pe-
Com efeito, a titularidade da ação penal pública incondicio-
nal, quando certa a identidade física. Assim, se descoberta poste-
nada é do Ministério Público, com fundamento no art. 129, I, da
riormente a qualificação, basta fazer retificação por termo nos au-
Constituição Federal, que a exercerá por meio de denúncia, como
tos, sem prejuízo da validade dos atos precedentes (art. 259, CPP); já dito.
B) Na hipótese de concurso de agentes, ou em crimes de con- São princípios aplicados à ação penal pública incondicionada:
curso necessário, a denúncia deve especificar a conduta de cada A) Princípio da inércia da jurisdição. Com adoção do sistema
um. É posicionamento pacífico no Supremo Tribunal Federal e no acusatório, ao juiz não é dado iniciar o processo de ofício. O juiz
Superior Tribunal de Justiça de que a denúncia genérica deve ser precisa ser provocado, para sair de sua posição estática, inerte;
de todo evitada, por prejudicar o direito de defesa do(s) agente(s) B) Princípio do “ne bis in idem”. Ninguém receberá condena-
envolvido(s); ção por crime a que já tenha sido condenado. Logo, ninguém pode
C) É possível “denúncia alternativa”? Neste caso, o agente ser processado duas vezes pela mesma imputação, conforme cons-
ministerial pede a condenação por um crime “X”, ou, caso isso ta do art. 8º, n. 4, da Convenção Americana de Direitos Humanos;
não fique provado, que seja o agente condenado, com a mesma C) Princípio da intranscendência. A ação penal não pode pas-
narrativa acusatória fática, pelo crime “Y”. sar da pessoa do autor do delito (art. 5º, XLV, da CF);

Didatismo e Conhecimento 24
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
D) Princípio da obrigatoriedade (ou da legalidade processu- C) Forma da representação do ofendido. Trata-se de peça sem
al). Por tal, presentes as condições da ação, o Ministério Público rigor formal, bastando que fique devidamente demonstrado o in-
é obrigado a oferecer denúncia. As exceções a tal princípio são teresse da vítima ou de seu representante legal em representar o
as hipóteses de transação penal (art. 76, da Lei nº 9.099/95), de ofensor. Conforme o art. 39, da Lei Processual Penal, o direito de
acordo de leniência (art. 35, da Lei nº 8.884/94), de termo de ajus- representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procura-
tamento de conduta em crimes ambientais, e de parcelamento do dor com poderes especiais, mediante declaração, escrita ou oral,
débito tributário; feita ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade po-
E) Princípio da indisponibilidade. Se o Ministério Público é licial. Ato contínuo, o primeiro parágrafo do mencionado disposi-
obrigado a oferecer denúncia, não pode, consequencialmente, de- tivo prevê que a representação feita oralmente ou por escrito, sem
sistir da ação penal pública (art. 42, CPP). A exceção a tal princípio assinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu represen-
é a suspensão condicional do processo, prevista no art. 89, da Lei tante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou
nº 9.099/95, na qual, enquanto em período de cumprimento das autoridade policial, presente o órgão do MP, quando a este houver
condições impostas ao acusado, ficam os agentes estatais inertes sido dirigida. Por fim, o parágrafo segundo do art. 39 prevê que a
quanto à continuidade da persecução criminal; representação conterá todas as informações que possam servir à
apuração do fato e da autoria;
F) Princípio da divisibilidade. Para os tribunais superiores, o
D) Direcionamento da representação. É feita à autoridade po-
Ministério Público pode denunciar alguns dos corréus, sem preju-
licial, ao Ministério Público, ou ao juiz, pessoalmente ou por re-
ízo do prosseguimento das investigações em relação aos demais.
presente com procuração atribuidora de poderes especiais para tal;
Há quem entenda, todavia, que havendo elementos de informação, E) Prazo para oferecimento da representação. Assim como a
o Ministério Público é obrigado a denunciar todos os suspeitos, de queixa-crime, a representação está sujeita ao prazo decadencial de
modo que o princípio aplicável à ação penal pública seria o “da seis meses, em regra contados do conhecimento da autoria. Trata-
indivisibilidade”, e não o “da divisibilidade”. -se de prazo penal, isto é, o dia do início é contabilizado (art. 10,
Prevalece, contudo, na doutrina e na jurisprudência, que em CP);
sede de ação penal pública o que vale é o “Princípio da Divisibili- F) Retratação da representação. Depois de oferecida a denún-
dade”, razão pela qual foi aqui incluído; cia, não é mais possível retratar-se da representação. Eis o teor do
G) Princípio da oficiosidade. O Ministério Público não neces- art. 25, do Código de Processo Penal;
sita qualquer autorização para oferecer denúncia. G) Retratação da retratação da representação. Trata-se de
uma nova representação, ou seja, o agente representou, se retratou,
1.2 Ação penal pública condicionada. O Ministério Público e então se retrata da retratação. Ela é possível, desde que dentro do
depende do implemento de uma condição, que pode ser a represen- prazo decadencial de seis meses;
tação do ofendido, ou a requisição do Ministro da Justiça. H) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja
A sua titularidade também compete ao Ministério Público, que representação. A representação oferecida não vincula o agente mi-
o faz por meio de denúncia. A diferença é que, enquanto na ação nisterial a oferecer denúncia se averiguar que o fato descrito não
pública incondicionada não carece o MP de qualquer autorização, constitui delito, ou, ainda que constitua, não mais é possível sua
na condicionada fica o órgão ministerial subordinado justamente punibilidade;
a uma autorização prévia que se faz por meio de representação/ I) Requisição do Ministro da Justiça. É condição específica
requisição. de procedibilidade (ex.: crimes contra a honra do Presidente da
Os princípios que norteiam esta espécie de ação são os mes- República, nos moldes do art. 145, CP). Trata-se, essencialmente,
mos da ação penal pública incondicionada. de ato político praticado pelo Ministro da Justiça, endereçado ao
Com efeito, há se estudar algumas questões pertinentes à re- Ministério Público na figura de seu Procurador Geral;
presentação do ofendido e à requisição do Ministro da Justiça: J) A requisição do Ministro da Justiça está sujeita a prazo
A) Representação do ofendido. É a manifestação do ofendi- decadencial? Não. O crime contra o qual se exige a requisição está
sujeito à prescrição, mas a requisição do Ministro da Justiça não se
do ou de seu representante legal no sentido de que tem interesse
sujeita a prazo decadencial;
na persecução penal do fato delituoso. Ela deve ser oferecida por
K) Possibilidade de retratação da requisição. Há divergência
pessoa maior de dezoito anos através de advogado, ou, se menor
na doutrina. Para uma primeira corrente, não se admite retratação
de dezoito anos, é o representante legal deste quem procura um da requisição, justamente pela grande natureza política que este
advogado para que o faça. Se houver colisão de interesses entre o ato importa; para uma segunda corrente, essa retratação é, sim,
menor e seu representante, nomeia-se curador especial, na forma admitida, desde que feita antes do oferecimento da peça acusató-
do art. 33, do Código de Processo Penal. ria. O posicionamento que vem se consolidando na doutrina bem
Ademais, com fundamento no primeiro parágrafo, do art. 24, como nos Tribunais é que não é cabível a retratação da requisição
CPP, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente (Tourinho Filho, Fernando Capez).
por decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge L) Não vinculação do Ministério Público mesmo que haja re-
(ou convivente), ao ascendente, ao descendente, ou irmão; quisição. Vale o mesmo que foi dito para a representação.
B) Natureza jurídica da representação do ofendido. Em regra,
a representação funciona como condição específica de procedibi- 2 Ação penal de iniciativa privada. Trata-se de oportunidade
lidade aos processos que ainda não tiveram início. Por outro lado, conferida ao ofendido de oferecer queixa-crime caso entenda ter
se o processo já está em andamento, a representação passa a ser sido vítima de delito. Vale dizer que, como a regra no silêncio do
uma condição de prosseguibilidade da ação penal, já que, para legislador é a ação penal pública incondicionada, para que a ação
que o processo prossiga, uma condição superveniente tem de ser penal seja de iniciativa privada deve haver previsão legal neste
sanada; sentido.

Didatismo e Conhecimento 25
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Há se discorrer sobre algumas das características principais C) Princípio da intranscendência. Também aplicado à ação
da queixa-crime: penal pública, já foi devidamente explicado;
A) De acordo com o art. 30, do Código de Processo Penal, ao D) Princípio da oportunidade (ou princípio da conveniência).
ofendido ou a quem tenha qualidade para representá-lo (querelan- Mediante critérios de oportunidade ou conveniência, o ofendido
te) caberá intentar ação privada contra o ofensor (querelado). Ade- pode optar pelo oferecimento ou não da queixa.
mais, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente Dentro de tal princípio, há se estudar o instituto da renúncia,
por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na através do qual a vítima (ou seu representante legal ou procurador
ação passará ao cônjuge (ou convivente), ascendente, descenden- com poderes especiais) demonstra seu desejo, de maneira expres-
te, ou irmão (se houver colisão de interesses entre o menor e seu sa (quando o faz explícita e deliberadamente mediante declaração
representante, nomeia-se curador especial, na forma do art. 33, do assinada) ou tácita (quando tem condutas incompatíveis com seu
Código de Processo Penal). desejo de processar o ofensor, como manter com ele relações ami-
Como se não bastasse, de acordo com o art. 36, CPP, se com- gáveis, p. ex.), de não exercer a ação.
parecer mais de uma pessoa com direito de queixa, terá preferência A renúncia é instituto pré-processual. Uma vez realizada, não
o cônjuge (ou convivente), e, em seguida, o parente mais próximo se admite retratação;
da ordem de enumeração constante do art. 31 (cônjuge, ascendente, E) Princípio da disponibilidade. Na ação privada, a decisão
descendente, irmão), podendo, entretanto, qualquer delas prosse- de prosseguir ou não é do ofendido. É uma decorrência do princí-
guir na ação, caso o querelante desista da instância ou a abandone; pio da oportunidade. O particular é o exclusivo titular dessa ação,
B) Com supedâneo no art. 44, CPP, a queixa poderá ser dada porque o Estado assim o desejou, e por isso, lhe é dada a prerro-
por procurador com poderes especiais, devendo constar do ins- gativa de exercê-la ou não, conforme suas conveniências. Mesmo
trumento do mandado o nome do querelante e a menção do fato o fazendo, ainda lhe é possível dispor do conteúdo do processo
criminoso (salvo quando tais esclarecimentos dependerem de dili- (a relação jurídica material) até o transito em julgado da sentença
gências que devem previamente ser requeridas no juízo criminal); condenatória, por meio do perdão ou da perempção.
C) A queixa-crime deve conter todos os elementos da denún- Dentro de tal postulado, há se estudar dois institutos, a saber,
cia previstos no art. 41, CPP, valendo a mesma ressalva feita no art. o perdão da vítima e a perempção.
259, da Lei Processual; O perdão é ato bilateral, isto é, precisa ser aceito pelo imputa-
D) De acordo com o art. 45, CPP, a queixa, ainda quando a do (ao contrário da renúncia, que é ato unilateral). Ocorre quando
ação penal for privativa do ofendido, poderá ser aditada pelo Mi- já instaurado o processo (não é pré-processual como a renúncia);
é irretratável; pode ser expresso ou tácito (o silêncio do acusado,
nistério Público, a quem caberá intervir em todos os termos subse-
de acordo com o art. 58, CPP, implica aceitação do perdão); pro-
quentes do processo;
cessual ou extrajudicial (de acordo com o art. 59, CPP, a aceitação
E) O prazo para oferta de queixa-crime é decadencial de seis
do perdão fora do processo constará de declaração assinada pelo
meses, contados com a natureza de prazo penal (art. 10, CP) do
querelado, ou por seu representante legal, ou por procurador com
conhecimento da autoridade delitiva, tal como o prazo para a re-
poderes especiais); e por fim, pode ser ofertado até o trânsito em
presentação do ofendido nos delitos de ação penal pública condi-
julgado da sentença final.
cionada à representação. A exceção ao início da contagem de prazo Já a perempção, prevista no art. 60, CPP, revela a desídia do
se dá no caso do crime previsto no art. 236, do Código Penal (cri- querelante quando, iniciada a ação penal, deixa de promover o an-
me de induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento ao damento do processo durante trinta dias seguidos (inciso I); quan-
casamento), em que o prazo de seis meses para queixa começa a do, falecendo o querelante ou sobrevindo sua incapacidade, não
contar do trânsito em julgado da sentença que anule o casamento comparece em juízo para prosseguir no processo dentro do prazo
no âmbito cível, conforme disposto no parágrafo único do aludido de sessenta dias qualquer das pessoas a quem couber fazê-lo (res-
dispositivo; salvado o disposto no art. 36, CPP) (inciso II); quando o querelante
F) Da decisão que recebe a queixa não cabe qualquer recurso, deixa de comparecer sem motivo justificado a qualquer ato do pro-
devendo-se utilizar, se for o caso, habeas corpus ou mandado de cesso a que deva estar presente (inciso III, primeira parte); quando
segurança, que não são recursos, mas sim meios autônomos de o querelante deixa de formular o pedido de condenação nas alega-
impugnação. Já da que rejeita a queixa ou a acolhe apenas par- ções finais (inciso III, segunda parte); quando, sendo o querelante
cialmente cabe recurso em sentido estrito, por força do art. 581, I, pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor (inciso IV);
CPP, conforme será estudado na parte de recursos. F) Princípio da indivisibilidade. O processo de um obriga ao
Isto posto, feitas estas considerações acerca da queixa-crime, processo de todos. Portanto, se o querelante renuncia ao direito de
há se discorrer sobre as espécies de ação penal privada. queixa em relação a um dos ofensores, isto se estende aos demais.
Eis o teor que se pode extrair do art. 48, do Código de Processo
2.1 Ação penal exclusivamente privada. É possível sucessão Penal. Da mesma maneira, o perdão dado a um dos ofensores se
processual, já que, apesar de competir ao ofendido a iniciativa de estende aos demais querelados, desde que estes também aceitem-
manejo, o art. 31, CPP permite que cônjuge (ou convivente), as- -no (art. 51, CPP).
cendente, descendente ou irmão nela prossigam no caso de morte O “fiscal” desse princípio será o Ministério Público, nos ter-
do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial. mos do art. 48, CPP, o qual velará pela indivisibilidade da ação
São princípios aplicáveis à ação penal exclusivamente priva- penal.
da:
A) Princípio da inércia da jurisdição. Também aplicado à 2.2 Ação penal privada personalíssima. Não é possível a
ação penal pública, já foi devidamente explicado; sucessão processual. No caso de morte da vítima, extingue-se a
B) Princípio do “ne bis in idem”. Também aplicado à ação punibilidade por não admitir sucessão (ex: o delito previsto no art.
penal pública, já foi devidamente explicado; 236, do Código Penal).

Didatismo e Conhecimento 26
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
É como se vê, um direito personalíssimo e intransferível. Art. 28.  Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apre-
Os princípios aplicáveis à ação penal exclusivamente privada sentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial
também se aplicam à ação penal privada personalíssima. ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de conside-
rar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito
2.3 Ação penal privada subsidiária da pública (ou ação pe- ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a
nal privada supletiva). Somente é cabível diante da inércia deli- denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para ofe-
berada do Ministério Público. recê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então
De acordo com o inciso LIX, do art. 5º, da Constituição Fede- estará o juiz obrigado a atender.
ral, será admitida ação penal privada nos crimes de ação pública,
se esta não for intentada no prazo legal. No mesmo sentido, o art. Art. 29.  Será admitida ação privada nos crimes de ação pú-
29, da Lei Processual Penal, regulamenta o preceito constitucional blica, se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Mi-
nistério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
e prevê que será admitida ação privada nos crimes de ação pública,
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer
se esta não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Pú-
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de
blico aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.
intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de
prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência Art. 30.  Ao ofendido ou a quem tenha qualidade para repre-
do querelante, retomar a ação como parte principal (o terceiro sentá-lo caberá intentar a ação privada.
parágrafo, do art. 100, CP, também trata da ação penal privada
supletiva que aqui se estuda). Art. 31.  No caso de morte do ofendido ou quando declarado
Vale lembrar que, para caber tal ação, é necessária delibera- ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou pros-
da desídia do agente do Ministério Público. Caso tal membro não seguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou
tenha ofertado denúncia porque entendeu não ser o caso, desauto- irmão.
rizado fica o agente ofendido a manejar a ação privada subsidiária
da pública. Art. 32.  Nos crimes de ação privada, o juiz, a requerimento
Por fim, cabe ressaltar que caso o Ministério Público retome da parte que comprovar a sua pobreza, nomeará advogado para
a ação penal manejada pelo querelante subsidiário por negligência promover a ação penal.
deste, a doutrina costuma designar tal retomada de “ação penal §1º Considerar-se-á pobre a pessoa que não puder prover às
indireta”. despesas do processo, sem privar-se dos recursos indispensáveis
ao próprio sustento ou da família.
§2º Será prova suficiente de pobreza o atestado da autoridade
Em seguida, se faz necessária a leitura atenta dos dispositivos
policial em cuja circunscrição residir o ofendido.
do Código de Processo Penal pertinentes ao tema:
Art. 33.  Se o ofendido for menor de 18 anos, ou mentalmente
TÍTULO III enfermo, ou retardado mental, e não tiver representante legal, ou
DA AÇÃO PENAL colidirem os interesses deste com os daquele, o direito de queixa
poderá ser exercido por curador especial, nomeado, de ofício ou
Art. 24.  Nos crimes de ação pública, esta será promovida por a requerimento do Ministério Público, pelo juiz competente para
denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o o processo penal.
exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou de representação
do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. Art. 34.  Se o ofendido for menor de 21 e maior de 18 anos,
§1º No caso de morte do ofendido ou quando declarado au- o direito de queixa poderá ser exercido por ele ou por seu repre-
sente por decisão judicial, o direito de representação passará ao sentante legal.
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão.
§2º Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento Art. 35. Revogado pela Lei nº 9.520/97.
do patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação
penal será pública. Art. 36.  Se comparecer mais de uma pessoa com direito de
queixa, terá preferência o cônjuge, e, em seguida, o parente mais
Art. 25.  A representação será irretratável, depois de ofereci- próximo na ordem de enumeração constante do art. 31, podendo,
entretanto, qualquer delas prosseguir na ação, caso o querelante
da a denúncia.
desista da instância ou a abandone.
Art. 26.  A ação penal, nas contravenções, será iniciada com o Art. 37.  As fundações, associações ou sociedades legalmente
auto de prisão em flagrante ou por meio de portaria expedida pela constituídas poderão exercer a ação penal, devendo ser represen-
autoridade judiciária ou policial. tadas por quem os respectivos contratos ou estatutos designarem
ou, no silêncio destes, pelos seus diretores ou sócios-gerentes.
Art. 27.  Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciati-
va do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, Art. 38.  Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu
fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e representante legal, decairá no direito de queixa ou de represen-
indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção. tação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do

Didatismo e Conhecimento 27
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-se-
art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da -á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber
denúncia. novamente os autos.
Parágrafo único.  Verificar-se-á a decadência do direito de §1º Quando o Ministério Público dispensar o inquérito poli-
queixa ou representação, dentro do mesmo prazo, nos casos dos cial, o prazo para o oferecimento da denúncia contar-se-á da data
arts. 24, parágrafo único, e 31. em que tiver recebido as peças de informações ou a representação
§2º O prazo para o aditamento da queixa será de 3 dias, con-
Art. 39.  O direito de representação poderá ser exercido, pes- tado da data em que o órgão do Ministério Público receber os
soalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante autos, e, se este não se pronunciar dentro do tríduo, entender-se-á
que não tem o que aditar, prosseguindo-se nos demais      termos
declaração, escrita ou oral, feita ao juiz, ao órgão do Ministério
do processo.
Público, ou à autoridade policial.
§1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assi- Art. 47.  Se o Ministério Público julgar necessários maiores
natura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante esclarecimentos e documentos complementares ou novos elemen-
legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou au- tos de convicção, deverá requisitá-los, diretamente, de quaisquer
toridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando autoridades ou funcionários que devam ou possam fornecê-los.
a este houver sido dirigida.
§2º A representação conterá todas as informações que pos- Art. 48.  A queixa contra qualquer dos autores do crime obri-
sam servir à apuração do fato e da autoria. gará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua
§3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a auto- indivisibilidade.
ridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente,
remetê-lo-á à autoridade que o for. Art. 49.  A renúncia ao exercício do direito de queixa, em rela-
§4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este re- ção a um dos autores do crime, a todos se estenderá.
duzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta
proceda a inquérito. Art. 50.  A renúncia expressa constará de declaração assina-
§5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se da pelo ofendido, por seu representante legal ou procurador com
com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem poderes especiais.
a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no Parágrafo único.  A renúncia do representante legal do me-
nor que houver completado 18 (dezoito) anos não privará este do
prazo de quinze dias.
direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o direito do
primeiro.
Art. 40.  Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os
juízes ou tribunais verificarem a existência de crime de ação pú- Art. 51.  O perdão concedido a um dos querelados aprovei-
blica, remeterão ao Ministério Público as cópias e os documentos tará a todos, sem que produza, todavia, efeito em relação ao que
necessários ao oferecimento da denúncia. o recusar.

Art. 41.  A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato Art. 52.  Se o querelante for menor de 21 e maior de 18 anos,
criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do o direito de perdão poderá ser exercido por ele ou por seu repre-
acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a sentante legal, mas o perdão concedido por um, havendo oposição
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemu- do outro, não produzirá efeito.
nhas.
Art. 53.  Se o querelado for mentalmente enfermo ou retarda-
Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação do mental e não tiver representante legal, ou colidirem os interes-
penal. ses deste com os do querelado, a aceitação do perdão caberá ao
curador que o juiz Ihe nomear.
Art. 43. Revogado pela Lei nº 11.719/08.
Art. 54.  Se o querelado for menor de 21 anos, observar-se-á,
quanto à aceitação do perdão, o disposto no art. 52.
Art. 44.  A queixa poderá ser dada por procurador com pode-
res especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome Art. 55.  O perdão poderá ser aceito por procurador com po-
do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais deres especiais.
esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previa-
mente requeridas no juízo criminal. Art. 56.  Aplicar-se-á ao perdão extraprocessual expresso o
disposto no art. 50.
Art. 45.  A queixa, ainda quando a ação penal for privativa
do ofendido, poderá ser aditada pelo Ministério Público, a quem Art. 57.  A renúncia tácita e o perdão tácito admitirão todos
caberá intervir em todos os termos subsequentes do processo. os meios de prova.

Art. 46.  O prazo para oferecimento da denúncia, estando o Art. 58.  Concedido o perdão, mediante declaração expressa
réu preso, será de 5 dias, contado da data em que o órgão do nos autos, o querelado será intimado a dizer, dentro de três dias,
Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 se o aceita, devendo, ao mesmo tempo, ser cientificado de que o
dias, se o réu estiver solto ou afiançado. No último caso, se houver seu silêncio importará aceitação.

Didatismo e Conhecimento 28
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único.  Aceito o perdão, o juiz julgará extinta a De acordo com o art. 282, do Código de Processo Penal, as
punibilidade. medidas cautelares previstas no Título IX, do Código de Processo
Penal, intitulado “Da Prisão, das Medidas Cautelares e da Liber-
Art. 59.  A aceitação do perdão fora do processo constará de dade Provisória”, deverão ser aplicadas observando-se a necessi-
declaração assinada pelo querelado, por seu representante legal dade para aplicação da lei penal, para a investigação ou instrução
ou procurador com poderes especiais. criminal e, nos casos expressamente previstos, para evitar a prática
de infrações penais (inciso I), bem como a adequação da medida à
Art. 60.  Nos casos em que somente se procede mediante quei- gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do
xa, considerar-se-á perempta a ação penal: indiciado ou acusado (inciso II).
I - quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o Se está falando, com isso, que urge a observância do binômio
andamento do processo durante 30 dias seguidos; necessidade/adequação quando da análise de imposição de prisão
II - quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua inca- processual/medida cautelar diversa da prisão. Pode ser que, num
pacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir no proces- extremo mais gravoso, a prisão preventiva seja a mais adequada.
so, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a Já noutro extremo, mais brando, pode ser que a liberdade provi-
quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36; sória seja palavra de ordem. Qualquer coisa que ficar entre estes
III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo dois extremos pode importar a imposição de medida cautelar de
justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presen- natureza diversa da prisão processual.
te, ou deixar de formular o pedido de condenação nas alegações Prisão em flagrante. A prisão em flagrante consiste numa
finais; medida de autodefesa da sociedade, caracterizada pela privação da
IV - quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extin- liberdade de locomoção daquele que é surpreendido em situação
guir sem deixar sucessor. de flagrância, independentemente de prévia autorização judicial. A
própria Constituição Federal autoriza a prisão em flagrante, em seu
Art. 61.  Em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer art. 5º, LXI, o qual afirma que ninguém será preso senão em fla-
extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício. grante delito, ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade
Parágrafo único.  No caso de requerimento do Ministério Pú- judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou
blico, do querelante ou do réu, o juiz mandará autuá-lo em aparta- crime propriamente militar, definidos em lei.
do, ouvirá a parte contrária e, se o julgar conveniente, concederá A expressão “flagrante” deriva do latim “flagrare”, que sig-
o prazo de cinco dias para a prova, proferindo a decisão dentro de nifica “queimar”, “arder”. Isso serve para demonstrar que o deli-
cinco dias ou reservando-se para apreciar a matéria na sentença to em flagrante é o delito que está “ardendo”, “queimando”, “que
final. acaba de acontecer”.
Por isso, qualquer do povo poderá, e as autoridades policiais e
Art. 62.  No caso de morte do acusado, o juiz somente à vista seus agentes deverão, prender quem quer que seja encontrado em
da certidão de óbito, e depois de ouvido o Ministério Público, de- flagrante delito.
clarará extinta a punibilidade.
Natureza da prisão em flagrante. Trata-se de tema outrora
excessivamente divergente, mas que parece caminhar para um en-
tendimento uníssono graças ao advento da Lei nº 12.403/11.
5 PRISÃO E LIBERDADE PROVISÓRIA. Conforme um primeiro entendimento, por independer de pré-
5.1 LEI Nº 7.960/1989 (PRISÃO TEMPORÁ- via ordem judicial, a prisão em flagrante seria uma espécie de ato
RIA) 5.2 DA PRISÃO EM FLAGRANTE. administrativo, não sendo modalidade autônoma de prisão caute-
5.3 DA PRISÃO PREVENTIVA. 5.4 DA LIBER- lar, portanto.
DADE PROVISÓRIA COM OU SEM FIANÇA. Para um segundo posicionamento, a prisão em flagrante seria
modalidade de prisão cautelar autônoma, por reclamar pronun-
ciamento judicial acerca de sua manutenção. Este posicionamento
despreza, veja-se, a inexistência de prévia ordem judicial para re-
alizar tal prisão.
Por fim, de acordo com uma terceira corrente, a prisão em
A restrição da liberdade é medida excepcional na natureza flagrante é ato complexo, composto de uma primeira fase adminis-
humana. Aqui, a despeito da existência de “prisões penais” - estu- trativa, que se dá com sua efetivação (isto é, a captura do acusado),
dadas pelo direito penal e pela execução penal - e da “prisão civil” e de uma segunda fase processual, que se dá com sua apreciação
(em caso de dívida de alimentos) - estudada pelo direito constitu- pela autoridade judicial acerca de sua manutenção ou não de acor-
cional, pelo direito internacional, e pelo direito civil - somente se do com a presença dos requisitos e pressupostos ensejadores da
estudará as tipicamente denominadas “prisões processuais”, decre- prisão preventiva.
tadas durante a fase investigatória ou judicial. Diz-se que o assunto caminha para a pacificação, pois, se des-
Nada obstante, temas circundantes ao tópico “prisões proces- de a Lei nº 6.416/77 não mais se vislumbra a possibilidade de ficar
suais” também merecem atenção especial. Se está falando, den- alguém preso em flagrante durante todo o processo (o juiz, desde
tre outros, da liberdade provisória, com ou sem fiança, da prisão 1977, deveria apreciar a presença dos requisitos ensejadores da
domiciliar, e das recentes medidas cautelares diversas da prisão, prisão preventiva para manter ou não o flagrante), agora, com a
inauguradas pela Lei nº 12.403/11. Lei nº 12.403/11, ficou a prisão em flagrante em condição excep-

Didatismo e Conhecimento 29
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
cionalíssima, já que, de acordo com o atual art. 310, CPP, o juiz, ao F) Em até vinte e quatro horas após a realização da prisão, será
receber o auto de prisão em flagrante, deverá fundamentadamente encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante, e
relaxar a prisão se ilegal (inciso I), converter a prisão em flagrante caso o autuado não informe o nome de seu advogado, será enca-
em preventiva se presentes os requisitos do art. 312, CPP e se reve- minhada cópia integral deste auto para a Defensoria Pública (art.
larem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas 306, §1º, CPP);
da prisão (inciso II), ou conceder liberdade provisória, com ou sem E) No mesmo prazo de vinte e quatro horas, será entregue ao
fiança (inciso III). preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade,
Veja-se, pois, que a prisão em flagrante se solidificou, atual- com o motivo da prisão, o nome do condutor e o das testemunhas
mente, como uma “prisão pré-cautelar”, porque necessariamente (art. 306, §2º, CPP);
será ato meramente primário a uma análise acerca da prisão pro- F) Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá
cessual/medida diversa da prisão/liberdade provisória. O terceiro fundamentadamente relaxar a prisão ilegal, ou converter a prisão
entendimento é o que tende a prevalecer, portanto: a prisão em em flagrante em preventiva (quando presentes os requisitos do art.
flagrante como ato administrativo não deve prevalecer já que a 312, do Código de Processo Penal, e quando se revelarem ina-
flagrância não mais é um fim em si mesmo (razão pela qual a pri- dequadas as medidas cautelares diversas da prisão), ou conceder
meira corrente “cai por terra”); a prisão em flagrante não tem na- liberdade provisória com ou sem fiança (art. 310, CPP);
tureza cautelar, pois é justamente a cautelaridade da medida que a G) Se o juiz verificar pelo auto que o agente praticou o fato
autoridade judicial vai buscar ao apreciar as hipóteses do art. 310, em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do
CPP (razão pela qual a segunda corrente vai à bancarrota); a pri- dever legal, ou exercício regular de um direito (todos previstos no
são em flagrante é, sim, ato complexo (ou “pré-cautelar”), porque art. 23, do Código Penal), poderá, fundamentadamente, conceder
embora comece como um ato administrativo, seu relaxamento ou ao acusado liberdade provisória, mediante termo de compareci-
conversão em prisão preventiva/liberdade provisória (isto é, sua mento a todos os atos processuais, sob pena de revogação (art. 310,
judicialização) é meramente questão de tempo. parágrafo único, CPP).
Obtempera-se que, não havendo autoridade no lugar em que
Funções da prisão em flagrante. São elas: se tiver efetuado a prisão, o preso será apresentado à prisão do
A) Evitar a fuga do infrator; lugar mais próximo (art. 308, CPP).
B) Auxiliar na colheita de elementos probatórios; Por fim, se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberdade,
C) Impedir a consumação ou o exaurimento do delito. depois de lavrado o “APF” (auto de prisão em flagrante) (art. 309,
CPP).
Procedimento do flagrante. O procedimento da prisão em
flagrante está essencialmente descrito entre os art. 304 e 310, do Espécies/modalidades de flagrante. Vejamos a classificação
Código de Processo Penal: feita pela doutrina:
A) Apresentado o preso à autoridade competente, ouvirá esta
A) Flagrante obrigatório. É aquele que se aplica às autorida-
o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, entregando a este
des policiais e seus agentes, que têm o dever de efetuar a prisão
cópia do termo e recibo de entrega do preso (art. 304, caput, pri-
em flagrante;
meira parte, CPP);
B) Flagrante facultativo. É aquele efetuado por qualquer pes-
B) Em seguida, procederá a autoridade competente à oitiva
soa do povo, embora não seja o indivíduo obrigado a prender em
das testemunhas que o acompanharem e ao interrogatório do acu-
flagrante, caso isso ameace sua segurança e sua integridade;
sado sobre a imputação que lhe é feita, colhendo, após cada oitiva,
C) Flagrante próprio (ou flagrante perfeito) (ou flagrante
suas respectivas assinaturas, lavrando a autoridade, ao final, o auto
(art. 304, caput, parte final, CPP); verdadeiro). É aquele que ocorre se o agente é preso quando está
C) A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontrem cometendo a infração ou acaba de cometê-la. Sua previsão está nos
serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministé- incisos I e II, do art. 302, do Código de Processo Penal;
rio Público e à família do preso ou à pessoa por ele indicada (art. D) Flagrante impróprio (ou flagrante imperfeito) (ou “quase
306, caput, CPP); flagrante”). É aquele que o ocorre se o agente é perseguido, logo
D) Resultando das respostas às perguntas feitas ao acusado após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
fundada suspeita contra o conduzido, a autoridade mandará reco- situação que se faça presumir ser ele autor da infração. Sua previ-
lhê-lo à prisão, exceto no caso de livrar-se solto ou de prestar fian- são está no terceiro inciso, do art. 302, do Diploma Adjetivo Penal.
ça, e prosseguirá nos atos do processo ou inquérito se para isso for Vale lembrar que não há um prazo pré-determinado para esta
competente (se não o for, enviará os autos à autoridade que o seja) perseguição, desde que ela seja contínua, ininterrupta. Assim, pode
(art. 304, §1º, CPP); um agente ser perseguido por vinte e quatro horas após a prática
E) A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto delitiva, p. ex., e ainda assim ser autuado em flagrante;
de prisão em flagrante, mas, nesse caso, com o condutor deverão E) Flagrante presumido (ou flagrante ficto). É aquele que
assiná-lo ao menos duas pessoas que tenham testemunhado a apre- ocorre se o agente é encontrado, logo depois do crime, com ins-
sentação do preso à autoridade (art. 304, §2º, CPP). Quando o acu- trumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele o
sado se recusar a assinar, não souber ou não puder fazê-lo, o auto autor da infração. Sua previsão está no art. 302, IV, CPP;
de prisão em flagrante será assinado por duas testemunhas que te- F) Flagrante preparado (ou “crime de ensaio”) (ou delito
nham ouvido sua leitura na presença deste (art. 304, §3º, CPP). Na putativo por obra do agente provocador). A autoridade policial
falta ou no impedimento do escrivão, qualquer pessoa designada instiga o indivíduo a cometer o crime, apenas para prendê-lo em
pela autoridade lavrará o auto, depois de prestado o compromisso flagrante. O entendimento jurisprudencial, contudo, é no sentido
legal (art. 305, CPP); de que esta espécie de flagrante não é válida, por se tratar de cri-

Didatismo e Conhecimento 30
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
me impossível. Neste sentido, há até mesmo a Súmula nº 145, do desta previa-se legalmente a possibilidade de decretar o juiz prisão
Supremo Tribunal Federal, segundo a qual não há crime quando a preventiva de ofício também durante as investigações, o que era
preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consu- bastante criticado pela doutrina garantista).
mação;
G) Flagrante esperado. Aqui, a autoridade policial sabe que Pressupostos da prisão preventiva. Há se distinguir os
o delito vai acontecer, independentemente de instigá-lo ou não, “pressupostos” dos “motivos ensejadores” da prisão preventiva
e, portanto, se limita a esperar o início da prática do delito, para (estes últimos serão estudados no tópico seguinte). São pressupos-
efetuar a prisão em flagrante. Trata-se de modalidade de flagran- tos:
te perfeitamente válida, apesar de entendimento minoritário que o A) Prova da existência do crime. É o chamado “fumus comissi
considera inválido pelos mesmos motivos do flagrante preparado; delicti”;
H) Flagrante prorrogado (ou “ação controlada”) (ou fla- B) Indícios suficientes de autoria. É o chamado “periculum
grante protelado). A autoridade policial retarda sua intervenção, libertatis”.
para que o faça no momento mais oportuno sob o ponto de vista Chama-se a atenção, preliminarmente, que o processualismo
da colheita de provas. Sua legalidade depende de previsão legal. penal exige “prova da existência do crime”, mas se contenta com
Atualmente, encontra-se na Lei nº 12.850/13 (“Nova Lei das Or- “indícios suficientes de autoria”. Desta maneira, desde que haja
ganizações Criminosas”) e na Lei nº 11.343/06 (“Lei de Drogas”). um contexto probatório maciço acerca dos fatos, dispensa-se a cer-
Na Lei nº 12.850/13, em seu art. 3º, III, a ação controlada é teza acerca da autoria, mesmo porque, em termos práticos, caso
permitida em qualquer fase da persecução penal, porém ao contrá- fique realmente comprovada, a autoria só o ficará, de fato, quando
rio do previsto pela revogada Lei nº 9.034/95, devem ser observa- de um eventual decreto condenatório definitivo.
dos alguns requisitos para o procedimento, tais como: comunicar No mais, há se ter em mente que, para que se decrete a prisão
sigilosamente a ação ao juiz competente que, se for o caso, esta- preventiva de alguém, basta um dos motivos ensejadores da prisão
belecerá os limites desta e comunicará ao Ministério Público; até preventiva, mas os dois pressupostos devem estar necessariamente
o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao previstos cumulativamente. Então, sempre deve haver, obrigato-
juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma riamente, os dois pressupostos (existência do crime e indícios de
de garantir o êxito das investigações e ao término da diligência, autoria), mais ao menos um motivo ensejador (ou a garantia da
elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação controlada. Ou- ordem pública, ou a garantia da ordem econômica, ou o assegu-
trossim, na Lei nº 11.343/06, em seu art. 53, II, a ação controlada é ramento da aplicação da lei penal, ou a conveniência da instrução
possível, desde que haja autorização judicial, ouvido o Ministério criminal, ou o descumprimento de qualquer das medidas cautela-
res diversas da prisão).
Público.
I) Flagrante forjado (ou flagrante fabricado) (ou flagrante
Motivos ensejadores da prisão preventiva. Eles estão no art.
maquinado). É o flagrante “plantado” pela autoridade policial (ex.:
312, do Código de Processo Penal, e devem ser conjugadas com
a autoridade policial coloca drogas nos objetos pessoais do inves-
a prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. A
tigado somente para prendê-lo em flagrante).
saber:
A) Para garantia da ordem pública. É o risco considerável
Apresentação espontânea do acusado. Trata-se de tema
de reiteração de ações delituosas, em virtude da periculosidade do
novo, graças ao advento da Lei nº 12.403/11. agente.
Antes de tal diploma normativo, o art. 317, CPP, previa que O “clamor social” causado pelo delito autoriza à decretação
a apresentação espontânea do acusado à autoridade não impediria de prisão preventiva por “garantia da ordem pública”? Prevalece
a decretação da prisão preventiva. Ou seja, a prisão em flagrante que sim, pois, do contrário, se o indivíduo for mantido solto, há
não era possível (já que não havia flagrante: foi o agente quem se risco de caírem as autoridades judiciais e policiais em descrédito
apresentou à autoridade policial, e não a autoridade policial que foi para com a sociedade;
no encalço do agente), o que não obstava, contudo, a decretação de B) Para garantia da ordem econômica. Trata-se do risco de
prisão preventiva. reiteração delituosa, porém relacionado com crimes contra a or-
Com a nova lei, tal dispositivo foi suprimido, causando algu- dem econômica. A inserção deste motivo (na verdade, uma espé-
ma divergência doutrinária acerca da possibilidade de se prender cie da garantia da ordem pública) se deu pelo art. 84, da Lei nº
em flagrante ou não em caso de livre apresentação por parte do 8.884/94 (“Lei Antitruste”);
acusado. Apesar de inexistir qualquer entendimento doutrinário/ C) Por conveniência da instrução criminal. Visa-se impedir
jurisprudencial consolidado, até agora tem prevalecido a ideia de que o agente perturbe a livre produção probatória. O objetivo,
que a apresentação espontânea continua impedindo a prisão em pois, é proteger o processo, as provas a que o Estado persecutor
flagrante. ainda não teve acesso, e os agentes (como testemunhas, p. ex.) que
podem auxiliar no deslinde da lide;
Prisão preventiva. Em qualquer fase da investigação policial D) Para assegurar a aplicação da lei penal. Se ficar demons-
ou do processo penal caberá a prisão preventiva decretada pelo trado concretamente que o acusado pretende fugir, p. ex., invia-
juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do bilizando futura e eventual execução da pena, impõe-se a prisão
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por repre- preventiva por este motivo;
sentação da autoridade policial (art. 311, CPP). E) Em caso de descumprimento de qualquer das medidas
De antemão já se pode observar que à autoridade judicial é cautelares diversas da prisão. As “medidas cautelares diversas da
vedada a decretação de prisão preventiva de ofício na fase do in- prisão” são novidade no processo penal, e foram trazidas pela Lei
quérito policial (isso é novidade da Lei nº 12.403, já que antes nº 12.403/2011.

Didatismo e Conhecimento 31
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Hipóteses em que se admite prisão preventiva. São elas, de A segunda delas é a inexigibilidade de recolhimento à pri-
acordo com o art. 312, CPP: são para apelar, como se entendia no hoje revogado (pela Lei nº
A) Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberda- 11.719/08) art. 594, CPP, o que acabava por constituir grave ofensa
de máxima superior a quatro a quatro anos (inciso I); ao duplo grau de jurisdição.
B) Se o agente tiver sido condenado por outro crime doloso, A terceira delas, prevista no art. 366, CPP, que trata da sus-
em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no art. pensão do processo e do prazo prescricional (e será estudado mais
64, I, do Código Penal (configuração do período depurador) (in- à frente), atine à informação de que, ainda que foragido/ausente o
ciso II); acusado, deverá o magistrado fundamentar eventual decisão que
C) Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a decrete prisão preventiva deste. Desta maneira, o mero “sumiço”
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com defici- do acusado não é, por si só, elemento decretador automático de
ência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência prisão preventiva.
(inciso III);
D) Quando houver dúvidas sobre a identidade civil da pessoa Recurso de decisão acerca da prisão preventiva. Conforme
ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê- o art. 581, V, CPP, se o juiz de primeiro grau indeferir requerimen-
-la (neste caso, o preso deve imediatamente ser posto em liberdade to de prisão preventiva ou revogar a medida colocando o agente
após a identificação, salvo de outra hipótese recomendar a manu- em liberdade, caberá recurso em sentido estrito.
tenção da medida) (parágrafo único). Uma questão que fica em zona nebulosa diz respeito à revoga-
ção de prisão preventiva em prol de uma medida cautelar diversa
Revogação da prisão preventiva. Isso é possível se, no trans- da prisão. Há quem diga que a lógica é mesma das hipóteses aci-
correr do processo, verificar a autoridade judicial a falta de motivo ma vistas que desafiam recurso em sentido estrito, por importarem
para que subsista a prisão preventiva. Assim, em sentido contrário, maior grau de liberdade ao agente, o que denotaria o manejo de
também poder decretá-la se sobrevierem razões que a justifiquem. tal instrumento. Por outro lado, há quem entenda que tal decisão
De toda forma, a decisão que decretar, substituir ou denegar a seja irrecorrível por ausência de previsão legal expressa. Não há
prisão preventiva será sempre motivada. qualquer entendimento consolidado sobre o tema.
De toda maneira, há se observar que o recurso em sentido
Prisão preventiva e excludentes de culpabilidade e de ili- estrito somente será cabível caso se indefira o requerimento de
citude. De acordo com o art. 314, do Diploma Processual Penal, preventiva (caso o requerimento seja deferido não há previsão re-
a prisão preventiva em nenhum momento será decretada se o juiz cursal), ou caso se revogue a medida (caso a medida seja mantida
verificar pelas provas constantes dos autos ter o agente praticado
não há previsão recursal).
o fato em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito
cumprimento do dever legal, ou no exercício regular de um direito
Substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar.
(excludentes de ilicitude).
O art. 317, da Lei Processual, inovou (graças à Lei nº 12.403/11)
Apesar da ausência de previsão acerca das excludentes de cul-
ao disciplinar que a prisão domiciliar consiste no recolhimento do
pabilidade, é forte o entendimento no sentido de que o art. 314
indiciado em sua residência, só podendo dela ausentar-se com au-
deve a elas ser aplicado por analogia, com exceção da hipótese de
inimputabilidade (art. 26, caput, CP), afinal, o próprio Código de torização judicial. Trata-se de medida humanitária a ser tomada
Processo Penal permite a absolvição sumária do agente se o juiz em situações especiais, desde que se comprove a real existência
verificar a existência de manifesta causa excludente de culpabili- da excepcionalidade (parágrafo único, do art. 318, do Código de
dade, salvo inimputabilidade (art. 297, II, CPP). Processo Penal).

Inexistência de qualquer hipótese de prisão preventiva au- Hipóteses de substituição da prisão preventiva pela domi-
tomática. Não há se falar, sob qualquer hipótese, na prisão pre- ciliar. Isso será possível quando o agente for (art. 318, CPP):
ventiva como efeito automático de algum ato. A) Maior de oitenta anos (inciso I);
Um bom exemplo disso é o parágrafo primeiro, do art. 387, B) Extremamente debilitado por motivo de doença grave (in-
CPP (antigo parágrafo único, mas hoje renumerado pela Lei nº ciso II);
12.736/2012), segundo o qual o juiz decidirá, fundamentadamente, C) Imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de
sobre a manutenção ou, se for o caso, imposição de prisão preven- seis anos de idade ou com deficiência (inciso III);
tiva ou de outra medida cautelar, sem prejuízo do conhecimento da D) Gestante a partir do sétimo mês de gravidez ou sendo esta
apelação que vier a ser interposta. de alto risco (inciso IV).
Outro exemplo é o art. 366, da Lei Processual, pelo qual se o
acusado, citado por edital, não comparecer nem constituir defen- Prisão temporária. A prisão temporária é uma das espécies
sor, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, de prisão cautelar, mais apropriada para a fase preliminar ao pro-
podendo o juiz determinar a produção antecipada de provas urgen- cesso, tendo vindo como substitutiva da suspeita (e ilegal/incons-
tes, e, se for o caso, decretar prisão preventiva. titucional) “prisão para averiguações”. Embora não prevista no
Várias informações podem ser extraídas destes dois únicos Código de Processo Penal, a Lei nº 7.960/89 a regulamenta.
dispositivos. Esta lei tem origem na Medida Provisória nº 111/89, razão
A primeira delas é que não há mais se falar em prisão preven- pela qual parcela minoritária da doutrina afirma ser tal lei incons-
tiva como efeito automático da condenação. Pode ser o caso de, titucional, por não ser dado a Medidas Provisórias regulamentar
mesmo diante de decreto condenatório, entender a autoridade judi- prisões. O Supremo Tribunal Federal, contudo (e é essa a posi-
cial que o acusado pode ficar solto esperando o trânsito em julgado ção absolutamente prevalente), tem entendimento de que a Lei nº
do processo no qual litiga. 7.960/89 é plenamente constitucional.

Didatismo e Conhecimento 32
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Requisitos para se promover a prisão temporária. Cabe- C) O juiz poderá, de ofício ou a requerimento do Ministério
rá prisão temporária, de acordo com o primeiro artigo, da Lei nº Público e do advogado, determinar que o preso lhe seja apresenta-
7.960/89: do, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade policial
A) Quando esta for imprescindível para as investigações do e submetê-lo a exame de corpo de delito;
inquérito policial (inciso I); D) Decretada a prisão temporária, se expedirá mandado de
B) Quando o indiciado não tiver residência fixa ou não for- prisão (em duas vias), uma das quais será entregue ao indiciado
necer elementos necessários ao esclarecimento de sua atividade e servirá como nota de culpa. Vale lembrar que a prisão somente
(inciso II); poderá ser executada depois de expedido o mandado judicial (aqui
C) Quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer reside a principal diferença em relação à “prisão para averigua-
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do ções”, extinta pela Lei nº 7.960/89, em que a autoridade policial
indiciado nos crimes de homicídio doloso (art. 121, caput e seu meramente recolhia o indivíduo ao claustro e se limitava a notifi-
§2º, CP), sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§1º car a autoridade judicial disso);
e 2º, CP), roubo (art. 157, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), extorsão E) Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o preso
(art. 158, caput, e seus §§1º e 2º, CP), extorsão mediante seques- dos direitos previstos no art. 5º, da Constituição Federal (vale lem-
tro (art. 159, caput, e seus §§1º, 2º e 3º, CP), estupro e atentado brar que os presos temporários deverão permanecer, obrigatoria-
violento ao pudor (art. 213, caput, CP), epidemia com resultado mente, separados dos demais detentos);
de morte (art. 267, §1º, CP), envenenamento de água potável ou F) Decorrido o prazo de prisão temporária, o indivíduo deverá
substância alimentícia ou medicinal qualificado pela morte (art. ser imediatamente posto em liberdade, salvo se tiver havido a con-
270, caput, c.c. art. 285, CP), quadrilha ou bando (art. 288, CP), versão da medida em prisão preventiva.
genocídio em qualquer de suas formas típicas (arts. 1º, 2º e 3º, da
Lei nº 2.889/56), tráfico de drogas (art. 33, Lei nº 11.343/06), e Prisão especial. De acordo com o art. 295, do Código de Pro-
crimes contra o sistema financeiro (Lei nº 7.492/86) (inciso III). cesso Penal, serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, à dis-
Neste diapasão, uma pergunta que convém fazer é a seguinte: posição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão antes
quantos destes requisitos precisam estar presentes para se decretar de condenação definitiva:
a prisão temporária? Há várias posições na doutrina. A) Os ministros de Estado (inciso I);
B) Os Governadores ou Interventores de Estados ou Territó-
Um primeiro entendimento defende que o requisito “C” deve
rios, o Prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, os
estar sempre presente, seja ao lado do requisito “A”, seja ao lado
Prefeitos Municipais, os Vereadores e os chefes de Polícia (inciso
do requisito “B”. Ou seja, sempre devem estar presentes dois re-
II). Vale lembrar que este dispositivo tem redação dada pela Lei
quisitos ao menos.
nº 3.181/57, por isso a expressão “Prefeito do Distrito Federal”.
Um segundo entendimento, mais radical, defende que basta a
Hoje esta expressão não mais se opera, haja vista possuir o Dis-
presença de apenas um requisito.
trito Federal um Governador, e não um Prefeito;
Um terceiro entendimento defende que é necessária a presen-
C) Os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de
ça dos três requisitos conjuntamente. Economia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados
Um quarto entendimento diz que é necessária a presença dos (inciso III);
três requisitos, mais as situações previstas no art. 312, do Código D) Os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito” (inciso IV);
de Processo Penal, o qual regula a prisão preventiva. E) Os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados,
Não há um entendimento prevalente, todavia. do Distrito Federal e dos Territórios (inciso V);
F) Os magistrados (inciso VI);
Prazo da prisão temporária. De acordo com o art. 2º, da Lei G) Os diplomados por qualquer das faculdades superiores da
nº 7.960/89, o prazo da prisão temporária é de cinco dias, prorro- República (inciso VII);
gável por igual período em caso de comprovada e extrema neces- H) Os ministros de confissão religiosa (inciso VIII);
sidade. I) Os ministros do Tribunal de Contas (inciso IX);
Agora, se o crime for hediondo ou equiparado, o parágrafo J) Os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função
quarto, do art. 2º, da Lei nº 8.072/90 (popularmente conhecida por de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapaci-
“Lei dos Crimes Hediondos”), prevê que o prazo da prisão tempo- dade para o exercício daquela função (inciso X);
rária será de trinta dias, prorrogável por igual período em caso de K) Os Delegados de Polícia e os Guardas-Civis dos Estados e
comprovada e extrema necessidade. Territórios, ativos e inativos (inciso XI).

Procedimento da prisão temporária. O procedimento está Conceito e finalidade da prisão especial. Não se pode consi-
previsto nos arts. 2º e 3º, da Lei nº 7.960/89: derar a prisão especial uma modalidade autônoma de prisão caute-
A) A prisão temporária não pode ser decretada de ofício pelo lar, sendo, apenas, uma forma especial de cumprimento da prisão
juiz, dependendo de representação da autoridade policial ou de re- cautelar (ela somente é cabível, como se pode extrair da leitura da
querimento do Ministério Público (na hipótese de representação cabeça do art. 295, CPP, “antes da condenação definitiva”; depois
da autoridade policial, o juiz, antes de decidir, deverá ouvir o Mi- do decreto condenatório consumado, cessa esta “regalia” para o
nistério Público); preso provisório).
B) O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser Com efeito, a prisão especial consiste exclusivamente no re-
fundamentado e prolatado dentro do prazo de vinte e quatro horas, colhimento em local distinto da prisão comum. Não havendo es-
contados a partir do recebimento da representação ou do requeri- tabelecimento específico para o preso especial, este será recolhido
mento; em cela distinta do mesmo estabelecimento.

Didatismo e Conhecimento 33
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Ademais, a cela especial poderá consistir em alojamento co- E) Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
letivo, atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho
concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento fixos (inciso V);
térmico adequados à existência humana. Ressalvada a previsão do F) Suspensão do exercício de função pública ou de atividade
quarto parágrafo, do art. 295, do Código de Processo Penal, que de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio
prevê que o preso especial não será transportado juntamente com o de sua utilização para a prática de infrações penais (inciso VI);
preso comum, os demais direitos e deveres do preso especial serão G) Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes
os mesmos do preso comum. praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos con-
Por fim, não se deve confundir a prisão especial de que trata o cluírem ser inimputável ou semi-imputável e houver risco de rei-
art. 295, CPP, com a exigência de separação entre presos provisó- teração (inciso VII);
rios e presos definitivos, de que tratam o art. 300, da Lei Processu- H) Fiança, nas infrações penais que a admitem, para assegurar
al Penal, e o art. 84, caput, da Lei nº 7.210/84. o comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução de seu
andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial
Particularidade acerca da prisão especial para quem, efe- (inciso VIII);
tivamente, exerceu a função de jurado. O art. 295, X, do Código I) Monitoração eletrônica (inciso IX). Tal medida já havia sido
de Processo Penal, prevê que os cidadãos que já tiverem exercido trazida para o âmbito da execução penal, pela Lei nº 12.258/10, e,
efetivamente a função de jurado terão direito à prisão especial. agora, também o foi para o prisma processual.
Tal dispositivo guardava absoluta consonância com o art. 439,
CPP, com redação dada pela Lei nº 11.689/08, segundo o qual o Possibilidade de cumulação de medidas cautelares diver-
exercício efetivo da função de jurado constituiria serviço público sas da prisão e necessidade de fundamentação, sempre, da
relevante e asseguraria prisão especial. aplicação de medida cautelar, seja ou não diversa da prisão.
No entanto, a Lei nº 12.403/11 (“Nova Lei de Prisões”) deu O art. 310, II, CPP, fornece um “norte” para a aplicação de medi-
nova redação a este art. 439, para prever, apenas, que o exercício das cautelares diversas da prisão. De acordo com tal dispositivo,
efetivo da função de jurado constituirá serviço publico relevante e o juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deverá converter
estabelecerá presunção de idoneidade moral. Há se observar, pois, esta prisão em preventiva, se presentes os requisitos do art. 312,
que nada mais se fala acerca da função de jurado dar direito à pri-
CPP, e se revelarem inadequadas as medidas cautelares diversas
são especial.
da prisão.
Por tal razão, apesar de ser tema recente na doutrina e na ju-
Isso somente demonstra que, seguindo tendência iniciada na
risprudência, tem prevalecido o entendimento de que o art. 295, X,
execução penal, de aprisionamento corporal via pena privativa de
CPP, foi tacitamente revogado, e, atualmente, não mais é possível
liberdade somente quando estritamente necessário, também assim
a concessão ao direito de prisão especial àquele que efetivamente
passa a acontecer no ambiente processual, o que retira da prisão
exerceu a função de jurado.
preventiva grande poder de atuação ao se prevê-la, apenas, em úl-
Medidas cautelares diversas da prisão. Antes do advento timo caso. Assim, atualmente, primeiro o juiz verifica se é caso de
da Lei nº 12.403/11, as únicas opções cabíveis na seara processu- liberdade provisória pura e simples; depois, se é caso de liberdade
al eram o aprisionamento cautelar do acusado ou a concessão de provisória com medida cautelar diversa da prisão; depois, se é caso
liberdade provisória, em dois extremos antagonicamente opostos de liberdade provisória mais a cumulação de medidas cautelares
que desconsideravam hipóteses em que nem a liberdade e nem diversas da prisão; e, apenas por último, se é caso de aprisiona-
o aprisionamento cautelar eram as medidas mais adequadas. Em mento processual.
razão disso, após o advento da “Nova Lei de Prisões”, inúmeras Assim, toda e qualquer decisão exarada pela autoridade judi-
opções são conferidas no vácuo deixado entre o claustro e a liber- cial quanto ao tema “prisões processuais” deve ser fundamentada.
dade, opções estas conhecidas por “medidas cautelares diversas Ao juiz compete decretar prisão preventiva fundamentadamente;
da prisão”. ao juiz compete conceder liberdade provisória fundamentada-
mente; ao juiz compete decretar medida cautelar diversa da prisão
Medidas cautelares diversas da prisão em espécie. Elas fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida caute-
estão no art. 319, do CPP, e são inovação trazida pela Lei nº lar diversa da prisão em outra medida cautelar diversa da prisão
12.403/2011 São elas: fundamentadamente; ao juiz compete converter a medida cautelar
A) Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi- diversa da prisão em prisão processual fundamentadamente.
ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades (inciso Neste diapasão, outra questão que merece ser analisada diz
I); respeito à possibilidade de cumulação de medidas cautelares di-
B) Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares versas da prisão.
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado Ora, pode ser que, num determinado caso concreto, apenas
ou acusado permanecer distante destes locais para evitar o risco de uma medida cautelar não surta efeito, e, ainda assim, não seja o
novas infrações (inciso II); caso de se impor prisão processual ao acusado. Nesta hipótese, é
C) Proibição de manter contato com pessoa determinada perfeitamente passível de se decretar mais de uma medida caute-
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, dela o indiciado lar diversa da prisão. É o caso da proibição de acesso a determi-
ou acusado deva permanecer distante (inciso III); nados lugares (art. 319, II) e a determinação de comparecimento
D) Proibição de ausentar-se da Comarca, quando a permanên- periódico em juízo (art. 319, I), como exemplo, ou da suspensão
cia seja conveniente ou necessária para a investigação/instrução do exercício da função pública (art. 319, VI) e da proibição de
(inciso IV); ausentar-se da Comarca (art. 319, IV), como outro exemplo, ou da

Didatismo e Conhecimento 34
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
monitoração eletrônica (art. 319, IX) e da fiança (art. 319, VIII), Agente concessor de fiança. Em regra, a fiança é requerida à
como último exemplo. Tudo depende, insiste-se, da necessidade da autoridade judicial, que decidirá em quarenta e oito horas (art. 322,
medida, e da devida fundamentação feita pela autoridade policial. parágrafo único, do Código de Processo Penal).
A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos ca-
Liberdade provisória, com ou sem fiança. Ausentes os re- sos de infração cuja pena privativa de liberdade máxima não seja
quisitos que autorizam a decretação da prisão preventiva ou de superior a quatro anos (art. 322, caput, CPP).
medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão, o juiz deverá conceder
ao acusado liberdade provisória. Trata-se de garantia assegurada Hipóteses que não admitem fiança. De acordo com os arts.
constitucionalmente, no art. 5º, LXVI, da Constituição Federal, se- 323 e 324, do Código de Processo Penal, não será concedida fian-
gundo o qual ninguém será levado à prisão ou nela mantido quan- ça:
do a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança. A) Nos crimes de racismo (art. 323, inciso I). Segue-se, aqui,
o art. 5º, XLII, da Constituição Federal;
Espécies de liberdade provisória. São, tradicionalmente, B) Nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e dro-
três as espécies de liberdade provisória, a saber, a obrigatória, a gas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos (art.
permitida, e a vedada: 323, inciso II). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIII, da Constituição
A) Liberdade provisória obrigatória. O entendimento preva- Federal;
lente na doutrina, atualmente, é o de que a liberdade provisória C) Nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou mili-
concedida ao acusado que “se livra solto” foi revogada pela Lei tares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (art.
nº 12.403/11, já que, após tal conjunto normativo, não mais é a 323, inciso III). Segue-se, aqui, o art. 5º, XLIV, da Constituição
liberdade provisória mera medida de contracautela à imposição Federal;
de prisão preventiva, podendo ser o caso atualmente, portanto, de D) Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an-
liberdade provisória juntamente ou não com medida cautelar di- teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer
versa da prisão. Mesmo porque, o art. 321, CPP, que previa esta das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 do Código de
hipótese em que o acusado “se livrava solto” foi revogado, tendo Processo Penal (art. 324, inciso I);
sido substituído por redação absolutamente diferente da anterior. E) Em caso de prisão civil ou militar (art. 324, inciso II);
Assim, conforme entendimento doutrinário prevalente, a “liberda- F) Quando presentes os motivos que autorizam a decretação
de provisória obrigatória” foi suprimida pelo advento da Lei nº
da prisão preventiva (art. 312) (art. 324, inciso III);
12.403/11;
G) Art. 7º, da Lei nº 9.034/95 (“Lei das Organizações Crimi-
B) Liberdade provisória permitida. Se não for o caso da con-
nosas”). Os agentes que tenham intensa e efetiva participação na
versão da prisão em flagrante em preventiva por estarem presentes
organização criminosa não serão admitidos a prestar fiança;
os requisitos de tal prisão processual (art. 310, II, CPP), ou, se não
H) Art. 3º, da Lei nº 9.613/98 (“Lei de Lavagem de Capitais”).
houver hipótese que enseje a determinação de prisão preventiva
Tal dispositivo preceitua que os crimes previstos na “Lei de Lava-
por si só (art. 321, CPP), ou se o juiz verificar que o indivíduo
praticou o fato em excludente de ilicitude/culpabilidade (art. 310, gem de Capitais” são insuscetíveis de fiança;
parágrafo único, CPP), é permitido à autoridade judicial a con- I) Art. 31, da Lei nº 7.492/86 (“Lei de Crimes contra o Sistema
cessão de liberdade provisória, cumulada ou não com as medidas Financeiro”). Tal dispositivo afirma que os crimes previstos nesta
cautelares diversas da prisão; lei, e apenados com reclusão, não serão passíveis de fiança se pre-
C) Liberdade provisória vedada. O entendimento prevalente sentes os motivos ensejadores da prisão preventiva.
da doutrina e da jurisprudência, mesmo antes da Lei nº 12.403/11,
é o de que a liberdade provisória não pode ser vedada, admita Valor da fiança. Para determinar o valor da fiança, a auto-
ou não o delito fiança, e, ainda, independentemente do que diz ridade terá em consideração a natureza da infração, as condições
o diploma legal. Isto ficou ainda mais clarividente com a “Nova pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias
Lei de Prisões”, de maneira que, atualmente, é possível liberdade indicativas de sua periculosidade, bem como a importância prová-
provisória com fiança, liberdade provisória sem fiança, liberdade vel das custas do processo, até final julgamento (art. 326, CPP).
provisória com a cumulação de medida cautelar, liberdade provi- Neste diapasão, de acordo com o art. 325, da Lei Processual
sória sem a cumulação de medida cautelar, liberdade provisória Penal, o valor da fiança será fixado pela autoridade que a conceder
mediante o cumprimento de obrigações, e liberdade provisória nos seguintes limites:
sem o cumprimento de obrigações. A) De um a cem salários mínimos, quando se tratar de in-
fração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não for
Recurso em sede de liberdade provisória. Consoante o art. superior a quatro anos (inciso I);
581, V, do Código de Processo Penal, a decisão que conceder li- B) De dez a duzentos salários mínimos, quando o máximo da
berdade provisória desafia recurso em sentido estrito. Já a decisão pena privativa de liberdade cominada for superior a quatro anos
que negar tal instituto é irrecorrível, podendo ser combatida pela (inciso II).
via do habeas corpus, que não é recurso, mas meio autônomo de Vale lembrar que, de acordo com o art. 330, do Código de
impugnação. Processo Penal, a fiança será sempre definitiva, e consistirá em de-
pósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos da
Fiança. A fiança é instituto que teve seu âmbito de aplicação dívida pública (federal, estadual ou municipal), ou em hipoteca
reforçado e ampliado pela Lei nº 12.403/11, seja através de sua inscrita em primeiro lugar. A avaliação de imóvel ou de pedras/
permissão para delitos que antes não a permitiam, seja através de objetos/metais preciosos será feita por perito nomeado pela auto-
sua existência como medida cautelar diversa da prisão, seja como ridade. Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida
condicionante ou não da concessão de liberdade provisória. pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa.

Didatismo e Conhecimento 35
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Dispensa/redução/aumento da fiança. Se assim recomendar Ademais, caso haja inovação na tipificação delitiva, e o novo
a situação econômica do preso, a fiança poderá ser (primeiro pará- tipo vede fiança outrora concedida, também é caso de sua cassa-
grafo, do art. 325, CPP): ção.
A) Dispensada, na forma do art. 350 deste Código (inciso I). Da decisão que julga cassada a fiança cabe recurso em sentido
Neste caso, o juiz analisa a capacidade econômica do acusado e, estrito (art. 581, V, CPP).
verificando ser esta baixa, concede-lhe a liberdade provisória e o
sujeita às condições dos arts. 327 e 328, CPP. Vale lembrar que Reforço da fiança. Trata-se de um implemento à fiança outro-
essa “prova de capacidade econômica” pode ser feita de qualquer ra prestada, seja porque o foi de maneira insuficiente, seja porque
maneira, e, uma vez demonstrada, prevalece não ser mera discri- ocorreu nova tipificação do delito fazendo-se mister a elevação de
cionariedade do magistrado concedê-la, mas sim direito subjetivo seu valor, seja porque ocorreu o perecimento de bens hipotecados,
do beneficiário; seja porque ocorreu a depreciação de pedras/metais/objetos pre-
B) Reduzida até o máximo de dois terços (inciso II); ciosos. Se tal reforço não for realizado, a fiança será julgada sem
C) Aumentada em até mil vezes (inciso III). efeito.
Da decisão que julga sem efeito a fiança cabe recurso em sen-
Obrigações do afiançado e quebra da fiança. A concessão tido estrito (art. 581, V, CPP).
de liberdade provisória com fiança obriga o afiançado às seguintes
condições: Em seguida, se faz necessária a leitura atenta dos dispositivos
A) A fiança obrigará o afiançado a comparecer perante a au- contidos no Código de Processo Penal referente aos artigos que
toridade todas as vezes que for intimado para atos do inquérito, da serão objeto de questionamento no presente concurso:
instrução criminal, e do julgamento (art. 327, CPP);
B) O afiançado não poderá mudar de residência sem prévia TÍTULO IX
permissão da autoridade processante (art. 328, primeira parte, DA PRISÃO, DAS MEDIDAS CAUTELARES E DA LI-
CPP); BERDADE PROVISÓRIA
C) O afiançado não poderá ausentar-se por mais de oito dias
de sua residência sem comunicar à autoridade processante onde Art. 282.  As medidas cautelares previstas neste Título deve-
possa ser encontrado (art. 328, segunda parte, CPP); rão ser aplicadas observando-se a: 
D) O afiançado deverá comparecer, uma vez intimado, a todos I - necessidade para aplicação da lei penal, para a investiga-
os atos do processo, salvo justo motivo (art. 341, I, CPP); ção ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos,
E) O afiançado não poderá obstar deliberadamente o anda- para evitar a prática de infrações penais; 
mento processual (art. 341, II, CPP); II - adequação da medida à gravidade do crime, circunstân-
F) O afiançado não poderá descumprir medida cautelar cumu- cias do fato e condições pessoais do indiciado ou acusado. 
lativamente imposta com a fiança (art. 341, III, CPP); § 1o  As medidas cautelares poderão ser aplicadas isolada ou
G) O afiançado não poderá resistir injustificadamente à ordem cumulativamente. 
judicial (art. 341, IV, CPP); § 2o  As medidas cautelares serão decretadas pelo juiz, de
H) O afiançado não poderá praticar nova infração penal dolo- ofício ou a requerimento das partes ou, quando no curso da in-
sa (art. 341, V, CPP). vestigação criminal, por representação da autoridade policial ou
Descumprida qualquer destas condições, estará ocorrendo a mediante requerimento do Ministério Público. 
chamada quebra de fiança, consoante a cabeça do art. 341, CPP, § 3o  Ressalvados os casos de urgência ou de perigo de inefi-
que poderá importar a perda de metade de seu valor (que será re- cácia da medida, o juiz, ao receber o pedido de medida cautelar,
vertido em favor do fundo penitenciário após deduzidas as custas determinará a intimação da parte contrária, acompanhada de có-
e demais encargos a que o acusado estiver obrigado, conforme pia do requerimento e das peças necessárias, permanecendo os
prevê o art. 346, CPP), a imposição de outras medidas cautelares autos em juízo. 
ou a decretação de prisão preventiva (se for o caso), bem como a § 4o  No caso de descumprimento de qualquer das obrigações
impossibilidade de nova prestação de fiança no mesmo processo. impostas, o juiz, de ofício ou mediante requerimento do Ministério
Da decisão que julga quebrada a fiança cabe recurso em senti- Público, de seu assistente ou do querelante, poderá substituir a
do estrito (art. 581, VII, CPP). medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar
a prisão preventiva (art. 312, parágrafo único). 
Perda da fiança. Se o acusado, condenado, não comparecer § 5o  O juiz poderá revogar a medida cautelar ou substituí-la
para o início do cumprimento da pena privativa de liberdade defi- quando verificar a falta de motivo para que subsista, bem como
nitivamente imposta, independentemente do regime, a fiança será voltar a decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem. 
dada por perdida. Neste caso, consoante o art. 345, da Lei Proces- § 6o  A prisão preventiva será determinada quando não for
sual, o seu valor, deduzidas as custas e demais encargos a que o cabível a sua substituição por outra medida cautelar (art. 319). 
acusado estiver obrigado, será recolhido ao fundo penitenciário.
Da decisão que julga perdida a fiança cabe recurso em sentido Art. 283.  Ninguém poderá ser preso senão em flagrante deli-
estrito (art. 581, VII, CPP). to ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, em decorrência de sentença condenatória transitada
Cassação da fiança. A fiança a ser cassada, como regra, é em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtu-
aquela concedida equivocadamente (ex.: foi concedida fiança ao de de prisão temporária ou prisão preventiva. 
réu mesmo tendo ele praticado crime hediondo). Apenas o Poder § 1o  As medidas cautelares previstas neste Título não se apli-
Judiciário pode determinar a cassação, de ofício ou a requerimento cam à infração a que não for isolada, cumulativa ou alternativa-
da parte. mente cominada pena privativa de liberdade. 

Didatismo e Conhecimento 36
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2o  A prisão poderá ser efetuada em qualquer dia e a qual- § 2o  Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão de-
quer hora, respeitadas as restrições relativas à inviolabilidade do cretada, ainda que sem registro no Conselho Nacional de Justiça,
domicílio.  adotando as precauções necessárias para averiguar a autentici-
dade do mandado e comunicando ao juiz que a decretou, devendo
Art. 284.  Não será permitido o emprego de força, salvo a este providenciar, em seguida, o registro do mandado na forma
indispensável no caso de resistência ou de tentativa de fuga do do caput deste artigo. 
preso. § 3o  A prisão será imediatamente comunicada ao juiz do local
de cumprimento da medida o qual providenciará a certidão extra-
Art. 285.  A autoridade que ordenar a prisão fará expedir o ída do registro do Conselho Nacional de Justiça e informará ao
respectivo mandado. juízo que a decretou. 
Parágrafo único.  O mandado de prisão: § 4o  O preso será informado de seus direitos, nos termos do
a) será lavrado pelo escrivão e assinado pela autoridade; inciso LXIII do art. 5o da Constituição Federal e, caso o autuado
b) designará a pessoa, que tiver de ser presa, por seu nome, não informe o nome de seu advogado, será comunicado à Defen-
alcunha ou sinais característicos; soria Pública. 
c) mencionará a infração penal que motivar a prisão; § 5o  Havendo dúvidas das autoridades locais sobre a legi-
d) declarará o valor da fiança arbitrada, quando afiançável timidade da pessoa do executor ou sobre a identidade do preso,
a infração; aplica-se o disposto no § 2o do art. 290 deste Código. 
e) será dirigido a quem tiver qualidade para dar-lhe execu- § 6o  O Conselho Nacional de Justiça regulamentará o re-
ção. gistro do mandado de prisão a que se refere o caput deste artigo. 

Art. 286.  O mandado será passado em duplicata, e o executor Art. 290.  Se o réu, sendo perseguido, passar ao território
entregará ao preso, logo depois da prisão, um dos exemplares com de outro município ou comarca, o executor poderá efetuar-lhe a
declaração do dia, hora e lugar da diligência. Da entrega deverá prisão no lugar onde o alcançar, apresentando-o imediatamente à
o preso passar recibo no outro exemplar; se recusar, não souber autoridade local, que, depois de lavrado, se for o caso, o auto de
ou não puder escrever, o fato será mencionado em declaração, flagrante, providenciará para a remoção do preso.
assinada por duas testemunhas. § 1o - Entender-se-á que o executor vai em perseguição do
réu, quando:
a) tendo-o avistado, for perseguindo-o sem interrupção, em-
Art. 287.  Se a infração for inafiançável, a falta de exibição
bora depois o tenha perdido de vista;
do mandado não obstará à prisão, e o preso, em tal caso, será
b) sabendo, por indícios ou informações fidedignas, que o réu
imediatamente apresentado ao juiz que tiver expedido o mandado.
tenha passado, há pouco tempo, em tal ou qual direção, pelo lugar
em que o procure, for no seu encalço.
Art. 288.  Ninguém será recolhido à prisão, sem que seja exi-
§ 2o  Quando as autoridades locais tiverem fundadas razões
bido o mandado ao respectivo diretor ou carcereiro, a quem será
para duvidar da legitimidade da pessoa do executor ou da legali-
entregue cópia assinada pelo executor ou apresentada a guia ex-
dade do mandado que apresentar, poderão pôr em custódia o réu,
pedida pela autoridade competente, devendo ser passado recibo até que fique esclarecida a dúvida.
da entrega do preso, com declaração de dia e hora.
Parágrafo único.  O recibo poderá ser passado no próprio Art. 291.  A prisão em virtude de mandado entender-se-á feita
exemplar do mandado, se este for o documento exibido. desde que o executor, fazendo-se conhecer do réu, Ihe apresente o
mandado e o intime a acompanhá-lo.
Art. 289.  Quando o acusado estiver no território nacional,
fora da jurisdição do juiz processante, será deprecada a sua pri- Art. 292.  Se houver, ainda que por parte de terceiros, re-
são, devendo constar da precatória o inteiro teor do mandado.  sistência à prisão em flagrante ou à determinada por autoridade
§ 1o  Havendo urgência, o juiz poderá requisitar a prisão por competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem poderão
qualquer meio de comunicação, do qual deverá constar o motivo usar dos meios necessários para defender-se ou para vencer a re-
da prisão, bem como o valor da fiança se arbitrada.  sistência, do que tudo se lavrará auto subscrito também por duas
§ 2o  A autoridade a quem se fizer a requisição tomará as testemunhas.
precauções necessárias para averiguar a autenticidade da comu-
nicação. Art. 293.  Se o executor do mandado verificar, com segurança,
§ 3o  O juiz processante deverá providenciar a remoção do que o réu entrou ou se encontra em alguma casa, o morador será
preso no prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da efetivação intimado a entregá-lo, à vista da ordem de prisão. Se não for obe-
da medida.  decido imediatamente, o executor convocará duas testemunhas e,
sendo dia, entrará à força na casa, arrombando as portas, se pre-
Art. 289-A.  O juiz competente providenciará o imediato re- ciso; sendo noite, o executor, depois da intimação ao morador, se
gistro do mandado de prisão em banco de dados mantido pelo não for atendido, fará guardar todas as saídas, tornando a casa
Conselho Nacional de Justiça para essa finalidade.  incomunicável, e, logo que amanheça, arrombará as portas e efe-
§ 1o  Qualquer agente policial poderá efetuar a prisão deter- tuará a prisão.
minada no mandado de prisão registrado no Conselho Nacional Parágrafo único.  O morador que se recusar a entregar o réu
de Justiça, ainda que fora da competência territorial do juiz que oculto em sua casa será levado à presença da autoridade, para
o expediu.  que se proceda contra ele como for de direito.

Didatismo e Conhecimento 37
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 294.   No caso de prisão em flagrante, observar-se-á o Parágrafo único.  O militar preso em flagrante delito, após
disposto no artigo anterior, no que for aplicável. a lavratura dos procedimentos legais, será recolhido a quartel da
instituição a que pertencer, onde ficará preso à disposição das au-
Art. 295.  Serão recolhidos a quartéis ou a prisão especial, toridades competentes. 
à disposição da autoridade competente, quando sujeitos a prisão
antes de condenação definitiva: CAPÍTULO II
I - os ministros de Estado; DA PRISÃO EM FLAGRANTE
II - os governadores ou interventores de Estados ou Territó-        
rios, o prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários, Art. 301.  Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais
os prefeitos municipais, os vereadores e os chefes de Polícia; e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em
III - os membros do Parlamento Nacional, do Conselho de flagrante delito.
Economia Nacional e das Assembleias Legislativas dos Estados;        
IV - os cidadãos inscritos no “Livro de Mérito”; Art. 302.  Considera-se em flagrante delito quem:
V – os oficiais das Forças Armadas e os militares dos Estados, I - está cometendo a infração penal;
do Distrito Federal e dos Territórios; II - acaba de cometê-la;
VI - os magistrados; III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido
VII - os diplomados por qualquer das faculdades superiores ou por qualquer pessoa, em situação que faça presumir ser autor
da República; da infração;
VIII - os ministros de confissão religiosa; IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, ob-
IX - os ministros do Tribunal de Contas; jetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da infração.
X - os cidadãos que já tiverem exercido efetivamente a função        
de jurado, salvo quando excluídos da lista por motivo de incapa- Art. 303.  Nas infrações permanentes, entende-se o agente em
cidade para o exercício daquela função; flagrante delito enquanto não cessar a permanência.
XI - os delegados de polícia e os guardas-civis dos Estados e         
Territórios, ativos e inativos.  Art. 304. Apresentado o preso à autoridade competente, ou-
§ 1o A prisão especial, prevista neste Código ou em outras virá esta o condutor e colherá, desde logo, sua assinatura, en-
tregando a este cópia do termo e recibo de entrega do preso. Em
leis, consiste exclusivamente no recolhimento em local distinto da
seguida, procederá à oitiva das testemunhas que o acompanharem
prisão comum. 
e ao interrogatório do acusado sobre a imputação que lhe é feita,
§ 2o  Não havendo estabelecimento específico para o preso
colhendo, após cada oitiva suas respectivas assinaturas, lavrando,
especial, este será recolhido em cela distinta do mesmo estabe-
a autoridade, afinal, o auto. 
lecimento.
§ 1o  Resultando das respostas fundada a suspeita contra o
§ 3o A cela especial poderá consistir em alojamento coletivo,
conduzido, a autoridade mandará recolhê-lo à prisão, exceto no
atendidos os requisitos de salubridade do ambiente, pela concor-
caso de livrar-se solto ou de prestar fiança, e prosseguirá nos atos
rência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento tér- do inquérito ou processo, se para isso for competente; se não o for,
mico adequados à existência humana. enviará os autos à autoridade que o seja.
§ 4o O preso especial não será transportado juntamente com § 2o  A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto
o preso comum.  de prisão em flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deve-
§ 5o Os demais direitos e deveres do preso especial serão os rão assiná-lo pelo menos duas pessoas que hajam testemunhado a
mesmos do preso comum.  apresentação do preso à autoridade.
§ 3o Quando o acusado se recusar a assinar, não souber ou
Art. 296.  Os inferiores e praças de pré, onde for possível, se- não puder fazê-lo, o auto de prisão em flagrante será assinado
rão recolhidos à prisão, em estabelecimentos militares, de acordo por duas testemunhas, que tenham ouvido sua leitura na presença
com os respectivos regulamentos. deste. 
       
Art. 297.  Para o cumprimento de mandado expedido pela Art. 305.  Na falta ou no impedimento do escrivão, qualquer
autoridade judiciária, a autoridade policial poderá expedir tantos pessoa designada pela autoridade lavrará o auto, depois de pres-
outros quantos necessários às diligências, devendo neles ser fiel- tado o compromisso legal.
mente reproduzido o teor do mandado original.                 
Art. 306.  A prisão de qualquer pessoa e o local onde se en-
Art. 298 - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). contre serão comunicados imediatamente ao juiz competente, ao
Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por ele indi-
Art. 299.  A captura poderá ser requisitada, à vista de manda- cada. 
do judicial, por qualquer meio de comunicação, tomadas pela au- § 1o  Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da
toridade, a quem se fizer a requisição, as precauções necessárias prisão, será encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em
para averiguar a autenticidade desta.  flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu advogado,
cópia integral para a Defensoria Pública.  
Art. 300.  As pessoas presas provisoriamente ficarão separa- § 2o  No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante re-
das das que já estiverem definitivamente condenadas, nos termos cibo, a nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da
da lei de execução penal.  prisão, o nome do condutor e os das testemunhas. 

Didatismo e Conhecimento 38
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 307.  Quando o fato for praticado em presença da auto- IV - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
ridade, ou contra esta, no exercício de suas funções, constarão do Parágrafo único.  Também será admitida a prisão preven-
auto a narração deste fato, a voz de prisão, as declarações que tiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou
fizer o preso e os depoimentos das testemunhas, sendo tudo assi- quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la,
nado pela autoridade, pelo preso e pelas testemunhas e remetido devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
imediatamente ao juiz a quem couber tomar conhecimento do fato identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção
delituoso, se não o for a autoridade que houver presidido o auto. da medida. 
       
Art. 308.  Não havendo autoridade no lugar em que se tiver Art. 314.  A prisão preventiva em nenhum caso será decretada
efetuado a prisão, o preso será logo apresentado à do lugar mais se o juiz verificar pelas provas constantes dos autos ter o agen-
próximo. te praticado o fato nas condições previstas nos incisos I, II e III
        do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de
Art. 309.  Se o réu se livrar solto, deverá ser posto em liberda- 1940 - Código Penal.
de, depois de lavrado o auto de prisão em flagrante.
        
Art. 315.  A decisão que decretar, substituir ou denegar a pri-
Art. 310.  Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz
são preventiva será sempre motivada. 
deverá fundamentadamente: 
I - relaxar a prisão ilegal; ou 
II - converter a prisão em flagrante em preventiva, quando Art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no
presentes os requisitos constantes do art. 312 deste Código, e se correr do processo, verificar a falta de motivo para que subsista,
revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares di- bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que a justi-
versas da prisão; ou  fiquem.
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. 
Parágrafo único.  Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em CAPÍTULO IV
flagrante, que o agente praticou o fato nas condições constantes DA PRISÃO DOMICILIAR
dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de
7 de dezembro de 1940 - Código Penal, poderá, fundamentada- Art. 317.  A prisão domiciliar consiste no recolhimento do in-
mente, conceder ao acusado liberdade provisória, mediante termo diciado ou acusado em sua residência, só podendo dela ausentar-
de comparecimento a todos os atos processuais, sob pena de re- -se com autorização judicial. 
vogação. 
Art. 318.  Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela
CAPÍTULO III domiciliar quando o agente for: 
DA PRISÃO PREVENTIVA I - maior de 80 (oitenta) anos; 
II - extremamente debilitado por motivo de doença grave; 
Art. 311.  Em qualquer fase da investigação policial ou do III - imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor
processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; 
ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério IV - gestante a partir do 7o (sétimo) mês de gravidez ou sendo
Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da esta de alto risco. 
autoridade policial.  Parágrafo único.  Para a substituição, o juiz exigirá prova
idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo. 
Art. 312.  A prisão preventiva poderá ser decretada como ga-
rantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência CAPÍTULO V
da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal,
DAS OUTRAS MEDIDAS CAUTELARES
quando houver prova da existência do crime e indício suficiente
de autoria. 
Art. 319.  São medidas cautelares diversas da prisão: 
Parágrafo único.  A prisão preventiva também poderá ser de-
cretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condi-
impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4o).  ções fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; 
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
Art. 313.  Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
a decretação da prisão preventiva:  ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o risco
I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberda- de novas infrações; 
de máxima superior a 4 (quatro) anos;  III - proibição de manter contato com pessoa determinada
II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sen- quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado
tença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I ou acusado dela permanecer distante; 
do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a perma-
1940 - Código Penal;  nência seja conveniente ou necessária para a investigação ou ins-
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar con- trução; 
tra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e traba-
urgência;  lho fixos; 

Didatismo e Conhecimento 39
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade Art. 325.  O valor da fiança será fixado pela autoridade que a
de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio conceder nos seguintes limites: 
de sua utilização para a prática de infrações penais;  a) (revogada); 
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de cri- b) (revogada); 
mes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos c) (revogada). 
concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código I - de 1 (um) a 100 (cem) salários mínimos, quando se tratar
Penal) e houver risco de reiteração;  de infração cuja pena privativa de liberdade, no grau máximo, não
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o for superior a 4 (quatro) anos; 
comparecimento a atos do processo, evitar a obstrução do seu an- II - de 10 (dez) a 200 (duzentos) salários mínimos, quando o
damento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial;  máximo da pena privativa de liberdade cominada for superior a
IX - monitoração eletrônica.  4 (quatro) anos. 
§ 1o  Se assim recomendar a situação econômica do preso, a
§ 1o  (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
fiança poderá ser: 
§ 2o  (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
I - dispensada, na forma do art. 350 deste Código; 
§ 3o  (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). II - reduzida até o máximo de 2/3 (dois terços); ou 
§ 4o  A fiança será aplicada de acordo com as disposições III - aumentada em até 1.000 (mil) vezes. 
do Capítulo VI deste Título, podendo ser cumulada com outras § 2o  (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
medidas cautelares.  I -  (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
II - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 320.  A proibição de ausentar-se do País será comunica- III -  (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
da pelo juiz às autoridades encarregadas de fiscalizar as saídas
do território nacional, intimando-se o indiciado ou acusado para Art. 326.   Para determinar o valor da fiança, a autoridade
entregar o passaporte, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.  terá em consideração a natureza da infração, as condições pesso-
ais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indi-
CAPÍTULO VI cativas de sua periculosidade, bem como a importância provável
DA LIBERDADE PROVISÓRIA, COM OU SEM FIANÇA das custas do processo, até final julgamento.

Art. 321.  Ausentes os requisitos que autorizam a decretação Art. 327.  A fiança tomada por termo obrigará o afiançado a
da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, comparecer perante a autoridade, todas as vezes que for intimado
impondo, se for o caso, as medidas cautelares previstas no art. para atos do inquérito e da instrução criminal e para o julga-
mento. Quando o réu não comparecer, a fiança será havida como
319 deste Código e observados os critérios constantes do art. 282
quebrada.
deste Código. 
I - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). Art. 328.  O réu afiançado não poderá, sob pena de quebra-
II - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). mento da fiança, mudar de residência, sem prévia permissão da
autoridade processante, ou ausentar-se por mais de 8 (oito) dias
Art. 322.  A autoridade policial somente poderá conceder de sua residência, sem comunicar àquela autoridade o lugar onde
fiança nos casos de infração cuja pena privativa de liberdade má- será encontrado.
xima não seja superior a 4 (quatro) anos. 
Parágrafo único.  Nos demais casos, a fiança será requerida Art. 329.  Nos juízos criminais e delegacias de polícia, have-
ao juiz, que decidirá em 48 (quarenta e oito) horas.  rá um livro especial, com termos de abertura e de encerramento,
numerado e rubricado em todas as suas folhas pela autoridade,
Art. 323.  Não será concedida fiança:  destinado especialmente aos termos de fiança. O termo será lavra-
I - nos crimes de racismo;  do pelo escrivão e assinado pela autoridade e por quem prestar a
II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e fiança, e dele extrair-se-á certidão para juntar-se aos autos.
drogas afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos;  Parágrafo único.  O réu e quem prestar a fiança serão pelo
III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou mi- escrivão notificados das obrigações e da sanção previstas nos
litares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;  arts. 327 e 328, o que constará dos autos.
IV - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
Art. 330.  A fiança, que será sempre definitiva, consistirá em
V - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011).
depósito de dinheiro, pedras, objetos ou metais preciosos, títulos
da dívida pública, federal, estadual ou municipal, ou em hipoteca
Art. 324.  Não será, igualmente, concedida fiança:  inscrita em primeiro lugar.
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança an- § 1o  A avaliação de imóvel, ou de pedras, objetos ou metais
teriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer preciosos será feita imediatamente por perito nomeado pela au-
das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;  toridade.
II - em caso de prisão civil ou militar;  § 2o  Quando a fiança consistir em caução de títulos da dívida
III - (Revogado pela Lei nº 12.403, de 2011). pública, o valor será determinado pela sua cotação em Bolsa, e,
IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação sendo nominativos, exigir-se-á prova de que se acham livres de
da prisão preventiva (art. 312).  ônus.

Didatismo e Conhecimento 40
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 331.   O valor em que consistir a fiança será recolhido Art. 341.  Julgar-se-á quebrada a fiança quando o acusado: 
à repartição arrecadadora federal ou estadual, ou entregue ao I - regularmente intimado para ato do processo, deixar de
depositário público, juntando-se aos autos os respectivos conhe- comparecer, sem motivo justo; 
cimentos. II - deliberadamente praticar ato de obstrução ao andamento
Parágrafo único.  Nos lugares em que o depósito não se pu- do processo; 
der fazer de pronto, o valor será entregue ao escrivão ou pessoa III - descumprir medida cautelar imposta cumulativamente
abonada, a critério da autoridade, e dentro de três dias dar-se-á com a fiança; 
ao valor o destino que Ihe assina este artigo, o que tudo constará IV - resistir injustificadamente a ordem judicial; 
do termo de fiança. V - praticar nova infração penal dolosa. 

Art. 332.  Em caso de prisão em flagrante, será competente Art. 342.  Se vier a ser reformado o julgamento em que se de-
para conceder a fiança a autoridade que presidir ao respectivo clarou quebrada a fiança, esta subsistirá em todos os seus efeitos
auto, e, em caso de prisão por mandado, o juiz que o houver ex-
pedido, ou a autoridade judiciária ou policial a quem tiver sido Art. 343.  O quebramento injustificado da fiança importará
requisitada a prisão. na perda de metade do seu valor, cabendo ao juiz decidir sobre a
imposição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decre-
Art. 333.   Depois de prestada a fiança, que será concedida tação da prisão preventiva.
independentemente de audiência do Ministério Público, este terá    
vista do processo a fim de requerer o que julgar conveniente. Art. 344.  Entender-se-á perdido, na totalidade, o valor da
fiança, se, condenado, o acusado não se apresentar para o início
Art. 334.  A fiança poderá ser prestada enquanto não transitar do cumprimento da pena definitivamente imposta. 
em julgado a sentença condenatória. 
Art. 345.  No caso de perda da fiança, o seu valor, deduzidas
Art. 335.  Recusando ou retardando a autoridade policial a as custas e mais encargos a que o acusado estiver obrigado, será
concessão da fiança, o preso, ou alguém por ele, poderá prestá-la, recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. 
mediante simples petição, perante o juiz competente, que decidirá
em 48 (quarenta e oito) horas. Art. 346.  No caso de quebramento de fiança, feitas as de-
duções previstas no art. 345 deste Código, o valor restante será
Art. 336.  O dinheiro ou objetos dados como fiança servirão recolhido ao fundo penitenciário, na forma da lei. 
ao pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação
pecuniária e da multa, se o réu for condenado.  Art. 347.  Não ocorrendo a hipótese do art. 345, o saldo será
Parágrafo único.  Este dispositivo terá aplicação ainda no entregue a quem houver prestado a fiança, depois de deduzidos os
caso da prescrição depois da sentença condenatória (art. 110 do encargos a que o réu estiver obrigado.
Código Penal). 
Art. 348.  Nos casos em que a fiança tiver sido prestada por
Art. 337.  Se a fiança for declarada sem efeito ou passar em meio de hipoteca, a execução será promovida no juízo cível pelo
julgado sentença que houver absolvido o acusado ou declarada órgão do Ministério Público.
extinta a ação penal, o valor que a constituir, atualizado, será res-
tituído sem desconto, salvo o disposto no parágrafo único do art. Art. 349.  Se a fiança consistir em pedras, objetos ou metais
336 deste Código.  preciosos, o juiz determinará a venda por leiloeiro ou corretor.

Art. 338.  A fiança que se reconheça não ser cabível na espé- Art. 350.  Nos casos em que couber fiança, o juiz, verifican-
cie será cassada em qualquer fase do processo. do a situação econômica do preso, poderá conceder-lhe liberdade
provisória, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327
Art. 339.  Será também cassada a fiança quando reconhecida e 328 deste Código e a outras medidas cautelares, se for o caso. 
a existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classi- Parágrafo único.  Se o beneficiado descumprir, sem motivo
ficação do delito. justo, qualquer das obrigações ou medidas impostas, aplicar-se-á
o disposto no § 4o do art. 282 deste Código.
Art. 340.  Será exigido o reforço da fiança:
I - quando a autoridade tomar, por engano, fiança insuficien- LEI Nº 7.960, DE 21 DE DEZEMBRO DE 1989.
te;
II - quando houver depreciação material ou perecimento dos Dispõe sobre prisão temporária.
bens hipotecados ou caucionados, ou depreciação dos metais ou
pedras preciosas; O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Con-
III - quando for inovada a classificação do delito. gresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Parágrafo único.  A fiança ficará sem efeito e o réu será re-
colhido à prisão, quando, na conformidade deste artigo, não for Art. 1° Caberá prisão temporária:
reforçada. I - quando imprescindível para as investigações do inquérito
policial;

Didatismo e Conhecimento 41
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
II - quando o indicado não tiver residência fixa ou não forne- “Art. 4° ...............................................................
cer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade; i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de
III - quando houver fundadas razões, de acordo com qualquer medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou
prova admitida na legislação penal, de autoria ou participação do de cumprir imediatamente ordem de liberdade;”
indiciado nos seguintes crimes:
a) homicídio doloso (art. 121, caput, e seu § 2°); Art. 5° Em todas as comarcas e seções judiciárias haverá um
b) sequestro ou cárcere privado (art. 148, caput, e seus §§ 1° plantão permanente de vinte e quatro horas do Poder Judiciário
e 2°); e do Ministério Público para apreciação dos pedidos de prisão
c) roubo (art. 157, caput, e seus §§ 1°, 2° e 3°); temporária.
d) extorsão (art. 158, caput, e seus §§ 1° e 2°);
e) extorsão mediante sequestro (art. 159, caput, e seus §§ 1°, Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
2° e 3°);
f) estupro (art. 213, caput, e sua combinação com o art. 223, Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário.
caput, e parágrafo único);
g) atentado violento ao pudor (art. 214, caput, e sua combina-
ção com o art. 223, caput, e parágrafo único); 6 PROCESSO E JULGAMENTO
h) rapto violento (art. 219, e sua combinação com o art. 223 DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE
caput, e parágrafo único); DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS.
i) epidemia com resultado de morte (art. 267, § 1°);
j) envenenamento de água potável ou substância alimentícia
ou medicinal qualificado pela morte (art. 270, caput, combinado
com art. 285); O procedimento especial previsto no art. 514 do CPP é cabível
l) quadrilha ou bando (art. 288), todos do Código Penal; em todos os crimes funcionais afiançáveis, ficando excluídos os
m) genocídio (arts. 1°, 2° e 3° da Lei n° 2.889, de 1° de outu- inafiançáveis.
bro de 1956), em qualquer de sua formas típicas; Os crimes funcionais são aqueles cometidos pelo funcioná-
n) tráfico de drogas (art. 12 da Lei n° 6.368, de 21 de outubro rio público, no exercício de suas funções, contra a administração
de 1976);
pública. Dentre estes estão: (a) crimes funcionais próprios: só
o) crimes contra o sistema financeiro (Lei n° 7.492, de 16 de
podem ser praticados por funcionário público, ou seja, a ausência
junho de 1986).
desta condição leva à atipicidade da conduta; (b) crimes funcio-
nais impróprios: são aqueles que também podem ser praticados
Art. 2° A prisão temporária será decretada pelo Juiz, em face
por particulares, ocorrendo tão somente uma nova tipificação.
da representação da autoridade policial ou de requerimento do
A inexistência da condição de funcionário público leva à
Ministério Público, e terá o prazo de 5 (cinco) dias, prorrogável
desclassificação para outra infração. Tanto os crimes funcionais
por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.
§ 1° Na hipótese de representação da autoridade policial, o próprios como os crimes funcionais impróprios sujeitam-se ao
Juiz, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. procedimento especial, bastando que sejam afiançáveis. Os únicos
§ 2° O despacho que decretar a prisão temporária deverá ser inafiançáveis são excesso de exação e facilitação de contraban-
fundamentado e prolatado dentro do prazo de 24 (vinte e quatro) do ou descaminho.
horas, contadas a partir do recebimento da representação ou do Vejamos as nuanças relativas a este procedimento:
requerimento. A) Hipótese de cabimento. O rito aqui reproduzido tem cabi-
§ 3° O Juiz poderá, de ofício, ou a requerimento do Ministério mento quando o crime imputado a funcionário público for afiançá-
Público e do Advogado, determinar que o preso lhe seja apresen- vel, e, ainda, desde que o funcionário não tenha foro privilegiado
tado, solicitar informações e esclarecimentos da autoridade poli- por prerrogativa de função;
cial e submetê-lo a exame de corpo de delito. B) Infrações que comportam a aplicação de tal rito. São
§ 4° Decretada a prisão temporária, expedir-se-á mandado aquelas previstas nos arts. 312 a 326, do Código Penal (pecula-
de prisão, em duas vias, uma das quais será entregue ao indiciado to, concussão, corrupção passiva, facilitação de contrabando ou
e servirá como nota de culpa. descaminho, prevaricação, condescendência criminosa, violência
§ 5° A prisão somente poderá ser executada depois da expedi- arbitrária, abandono de função etc.);
ção de mandado judicial. C) Notificação do acusado. De acordo com o art. 514, do Có-
§ 6° Efetuada a prisão, a autoridade policial informará o pre- digo de Processo Penal, nos crimes afiançáveis, estando a denún-
so dos direitos previstos no art. 5° da Constituição Federal. cia/queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará
§ 7° Decorrido o prazo de cinco dias de detenção, o preso de- a notificação do acusado para responder por escrito, no prazo de
verá ser posto imediatamente em liberdade, salvo se já tiver sido quinze dias (é esta característica que torna especial o procedimen-
decretada sua prisão preventiva. to). Tal resposta antecede ao próprio recebimento da peça acusató-
ria, de maneira que, se o juiz se convencer dos argumentos utiliza-
Art. 3° Os presos temporários deverão permanecer, obrigato- dos pelo defensor, poderá rejeitar a denúncia/queixa com base no
riamente, separados dos demais detentos. art. 395, do Código de Processo Penal.
Há se tomar especial atenção, contudo, em relação à Súmula
Art. 4° O art. 4° da Lei n° 4.898, de 9 de dezembro de 1965, nº 330, STJ, segundo a qual é desnecessária a resposta preliminar
fica acrescido da alínea i, com a seguinte redação: de que trata o art. 514, CPP, na ação penal instruída por inquérito

Didatismo e Conhecimento 42
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
policial. Parcela considerável da doutrina discorda de tal posicio- Em 1979, sob o reinado de Carlos II, surge o Habeas Corpus Act,
namento, alegando que, esteja ou não a ação penal instruída por consagrando o habeas corpus como remédio eficaz para soltura de
inquérito policial (ou elemento informativo equivalente), continua pessoas que estivessem ilegalmente presas. No entanto, nesse caso
tal defesa a ser obrigatória, por observância da cláusula do devido só caberia habeas corpus se a pessoa estivesse sendo acusada de
processo legal, do contraditório, e da ampla defesa. É este, inclu- crime, não cabendo nas demais situações de prisão ilegal. Em 1789
sive, o posicionamento prevalente no Supremo Tribunal Federal, o instituto foi incluído na Declaração Universal de Direitos do Ho-
nada obstante a Súmula do Superior Tribunal de Justiça; mem e do Cidadão, sendo que em 1816 o alcance do habeas corpus
D) Recebimento da denúncia/queixa. Com o recebimento da foi ampliado para garantir a liberdade até mesmo dos indivíduos
inicial acusatória, o procedimento se “ordinariza”. presos que não estivessem sendo processados por nenhum crime.
Em nossa legislação o habeas corpus surgiu com a promul-
Assim dispõe o Código de Processo Penal acerca do assunto: gação do Código de Processo Criminal, em 1932, sendo que o
instituto já constava implicitamente desde a Constituição Imperial
CAPÍTULO II de 1824. A primeira forma existente foi o habeas corpus libera-
DO PROCESSO E DO JULGAMENTO DOS CRIMES tório (cidadão preso), sendo que com as reformas de 1832 surgiu
DE RESPONSABILIDADE DOS FUNCIONÁRIOS PÚ- também o habeas corpus preventivo (cidadão ameaçado em sua
BLICOS liberdade de locomoção). Na Constituição Republicana de 1891
        o habeas corpus é citado pela primeira vez em uma Magna Carta,
Art. 513.  Os crimes de responsabilidade dos funcionários sendo que tal instituto perdura até os dias atuais.
públicos, cujo processo e julgamento competirão aos juízes de
direito, a queixa ou a denúncia será instruída com documentos Conceito: É o remédio judicial que tem a finalidade de evitar
ou justificação que façam presumir a existência do delito ou com ou fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de locomoção
declaração fundamentada da impossibilidade de apresentação de decorrente de ilegalidade ou de abuso de poder.
qualquer dessas provas.
        Natureza Jurídica: Ação penal popular com assento consti-
Art. 514.   Nos crimes afiançáveis, estando a denúncia ou tucional, voltada à tutela da liberdade ambulatória, funcionando
queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e ordenará a no- em certos casos como ação penal cautelar, em outros como ação
tificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo rescisória, ou como ação declaratória se o processo estiver em an-
de quinze dias. damento.
Parágrafo único.  Se não for conhecida a residência do acu-
sado, ou este se achar fora da jurisdição do juiz, ser-lhe-á nomea- Espécies: (a) liberatório ou repressivo: destina-se a afastar o
do defensor, a quem caberá apresentar a resposta preliminar. constrangimento ilegal já efetivado à liberdade de locomoção; (b)
        preventivo: destina-se a afastar uma ameaça à liberdade de loco-
Art. 515.  No caso previsto no artigo anterior, durante o prazo moção. Nessa hipótese expede-se salvo-conduto.
concedido para a resposta, os autos permanecerão em cartório,
onde poderão ser examinados pelo acusado ou por seu defensor. Legitimidade Ativa: Pode ser impetrado por qualquer pes-
Parágrafo único.  A resposta poderá ser instruída com docu- soa, independentemente de habilitação legal ou representação de
mentos e justificações. advogado (dispensada a formalidade de procuração). O analfabeto
        pode impetrar, desde que alguém assine a seu rogo, o promotor
Art. 516.  O juiz rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho pode impetrar, assim como o delegado de polícia, pessoa jurídica
fundamentado, se convencido, pela resposta do acusado ou do seu em favor de pessoa física, etc..
defensor, da inexistência do crime ou da improcedência da ação.
        Legitimidade Passiva: Prevalece o entendimento de que
Art. 517.  Recebida a denúncia ou a queixa, será o acusado pode ser impetrado habeas corpus contra ato de particular, caben-
citado, na forma estabelecida no Capítulo I do Título X do Livro I. do também contra juiz de direito, promotor de justiça, delegado de
        polícia, etc.
Art. 518.  Na instrução criminal e nos demais termos do pro-
cesso, observar-se-á o disposto nos Capítulos I e III, Título I, deste Admissibilidade: Não cabe impetração de habeas corpus du-
Livro. rante estado de sítio, mas somente com relação ao mérito da refe-
rida impetração. No caso de transgressão militar também não cabe
a impetração com relação ao mérito das punições militares. Não
7 O HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO. cabe habeas corpus, também, contra a dosimetria da pena de multa
pois esta pena não pode ser convertida em privativa de liberdade e,
por último, não se admite habeas corpus contra omissão de relator
de extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova
A origem do habeas corpus remonta o direito romano, onde não constava nos autos, nem ele foi provocado a respeito, nem se
todo cidadão podia reclamar a exibição de homem livre detido admite impetração visando exame aprofundado ou valoração de
ilegalmente por meio de uma ação privilegiada, conhecida como provas. São hipóteses de cabimento, então (art. 648 do CPP): (a)
interdictum de libero homine exhibendo. Parte da doutrina aponta quando não houver justa causa: justa causa é a existência de funda-
a Magna Carta do Rei João Sem Terra, em 1215, como sua origem. mento jurídico e suporte fático autorizadores do constrangimento.

Didatismo e Conhecimento 43
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Só há justa causa em situação de flagrante delito, ou por ordem es- cional da decisão de tribunal superior que denegar habeas corpus
crita e fundamentada de autoridade competente, exceto em caso de em única instância; (d) cabe recurso ordinário constitucional ao
transgressões militares; (b) quando alguém estiver preso por mais STJ da decisão denegatória de habeas corpus proferida em única
tempo do que a lei determina: a jurisprudência entende que, em ou última instância pelos TRFs ou pelos Tribunais dos Estados ou
se tratando de prisão preventiva, somente uma dilação de tempo do DF.
excessiva admite a impetração de habeas corpus; (c) quando quem
ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; (d) quando Em seguida acompanharemos os dispositivos do CPP perti-
houver cessado o motivo que determinou a coação; (e) quando não nentes ao assunto:
se admitir a fiança, nos casos em que a lei a prevê; (f) quando o CAPÍTULO X
processo for manifestamente nulo; (g) quando já estiver extinta a DO HABEAS CORPUS E SEU PROCESSO
punibilidade do agente.
Art. 647.  Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer
Competência: (a) do juiz de direito de primeira instância: ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na
para trancar inquérito policial. Porém, se o inquérito tiver sido re- sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.
quisitado por autoridade judiciária, a competência será do tribu-
nal de segundo grau competente, de acordo com sua competência Art. 648.  A coação considerar-se-á ilegal:
recursal; (b) do Tribunal de Justiça: quando a autoridade coatora I - quando não houver justa causa;
for representante do Ministério Público Estadual; (c) do Tribunal II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que de-
Regional Federal: se a autoridade coatora for juiz federal; (d) do termina a lei;
Superior Tribunal de Justiça: quando o coator ou paciente for Go- III - quando quem ordenar a coação não tiver competência
vernador, desembargador, membro do TRF, TER ou TRT, mem- para fazê-lo;
bros dos conselhos ou Tribunais de Contas municipais, membros IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
do MPU que oficiem perante tribunais, etc.; (e) do Supremo Tribu- V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos ca-
nal Federal: quando o coator for Tribunal Superior, ou o coator ou sos em que a lei a autoriza;
paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos VI - quando o processo for manifestamente nulo;
diretamente à jurisdição do STF. VII - quando extinta a punibilidade.

Impetração: A impetração de habeas corpus pode ser feita Art. 649.  O juiz ou o tribunal, dentro dos limites da sua juris-
por qualquer pessoa, denominada impetrante, admitindo-se sua dição, fará passar imediatamente a ordem impetrada, nos casos
interpretação por fax, telex, telegrama, e até mesmo telefone. É em que tenha cabimento, seja qual for a autoridade coatora.
cabível liminar se os instrumentos que instruírem a petição eviden-
ciarem a ilegalidade da coação. Só é cabível a impetração de novo Art. 650.  Competirá conhecer, originariamente, do pedido
habeas corpus quando haja novos fundamentos que não tenham de habeas corpus:
sido analisados no pedido anterior. I - ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos no
Art. 101, I, g, da Constituição;
Processamento: (a) recebida a petição, se o réu estiver solto, II - aos Tribunais de Apelação, sempre que os atos de violên-
o juiz poderá determinar que o mesmo se apresente em dia e hora cia ou coação forem atribuídos aos governadores ou interventores
que for designado; (b) o paciente preso só não será apresentado dos Estados ou Territórios e ao prefeito do Distrito Federal, ou a
no caso de grave enfermidade, ou de não estar sob a guarda do seus secretários, ou aos chefes de Polícia.
pretenso coator, sendo que o juiz poderá ir até o paciente, em caso § 1o  A competência do juiz cessará sempre que a violência
de doença; (c) o juiz determina a realização de outras diligências ou coação provier de autoridade judiciária de igual ou superior
necessárias, ouvindo o paciente, e decidindo no prazo de vinte e jurisdição.
quatro horas; (d) O MP não se manifesta quando o habeas corpus § 2o  Não cabe o habeas corpus contra a prisão administra-
for impetrado perante juiz de direito. Somente se manifesta quan- tiva, atual ou iminente, dos responsáveis por dinheiro ou valor
do o remédio for impetrado perante tribunal. pertencente à Fazenda Pública, alcançados ou omissos em fazer o
seu recolhimento nos prazos legais, salvo se o pedido for acompa-
Julgamento e Efeitos: (a) concessão do habeas corpus libera- nhado de prova de quitação ou de depósito do alcance verificado,
tório implica em colocação do réu em liberdade; (b) se a ordem de ou se a prisão exceder o prazo legal.
habeas corpus preventivo for concedida expede-se salvo-conduto;
(c) se a ordem for concedida para anular processo este será reno- Art. 651.  A concessão do habeas corpus não obstará, nem
vado a partir do momento em que se verificou a eiva; (d) quando porá termo ao processo, desde que este não esteja em conflito com
a ordem for concedida para trancar inquérito policial ou ação pe- os fundamentos daquela.
nal, impedirá seu curso natural; (e) a decisão favorável de habeas
corpus pode ser estendida a outros interessados que estejam em Art. 652.  Se o habeas corpus for concedido em virtude de
situação idêntica a do paciente beneficiado. nulidade do processo, este será renovado.

Recursos: (a) cabe Recurso em Sentido Estrito da decisão do Art. 653.  Ordenada a soltura do paciente em virtude de habe-
juiz que conceder ou negar a ordem de habeas corpus; (b) cabe as corpus, será condenada nas custas a autoridade que, por má-fé
recurso oficial da concessão; (c) cabe recurso ordinário constitu- ou evidente abuso de poder, tiver determinado a coação.

Didatismo e Conhecimento 44
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único.  Neste caso, será remetida ao Ministério § 1o  Se a decisão for favorável ao paciente, será logo pos-
Público cópia das peças necessárias para ser promovida a respon- to em liberdade, salvo se por outro motivo dever ser mantido na
sabilidade da autoridade. prisão.
§ 2o  Se os documentos que instruírem a petição evidenciarem
Art. 654.  O habeas corpus poderá ser impetrado por qual- a ilegalidade da coação, o juiz ou o tribunal ordenará que cesse
quer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério imediatamente o constrangimento.
Público. § 3o  Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o pa-
§ 1o  A petição de habeas corpus conterá: ciente admitido a prestar fiança, o juiz arbitrará o valor desta, que
a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer poderá ser prestada perante ele, remetendo, neste caso, à autori-
violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou dade os respectivos autos, para serem anexados aos do inquérito
ameaça; policial ou aos do processo judicial.
b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de § 4o  Se a ordem de habeas corpus for concedida para evitar
simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor; ameaça de violência ou coação ilegal, dar-se-á ao paciente salvo-
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quan- -conduto assinado pelo juiz.
do não souber ou não puder escrever, e a designação das respec- § 5o  Será incontinenti enviada cópia da decisão à autoridade
tivas residências. que tiver ordenado a prisão ou tiver o paciente à sua disposição, a
§ 2o  Os juízes e os tribunais têm competência para expedir fim de juntar-se aos autos do processo.
de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo § 6o  Quando o paciente estiver preso em lugar que não seja
verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coa- o da sede do juízo ou do tribunal que conceder a ordem, o alvará
ção ilegal. de soltura será expedido pelo telégrafo, se houver, observadas as
formalidades estabelecidas no art. 289, parágrafo único, in fine,
Art. 655.  O carcereiro ou o diretor da prisão, o escrivão, o ou por via postal.
oficial de justiça ou a autoridade judiciária ou policial que emba-
raçar ou procrastinar a expedição de ordem de habeas corpus, as Art. 661.  Em caso de competência originária do Tribunal de
informações sobre a causa da prisão, a condução e apresentação Apelação, a petição de habeas corpus será apresentada ao secre-
do paciente, ou a sua soltura, será multado na quantia de duzen- tário, que a enviará imediatamente ao presidente do tribunal, ou
tos mil-réis a um conto de réis, sem prejuízo das penas em que
da câmara criminal, ou da turma, que estiver reunida, ou primeiro
incorrer. As multas serão impostas pelo juiz do tribunal que julgar
tiver de reunir-se.
o habeas corpus, salvo quando se tratar de autoridade judiciária,
caso em que caberá ao Supremo Tribunal Federal ou ao Tribunal
Art. 662.  Se a petição contiver os requisitos do art. 654, §
de Apelação impor as multas.
1o, o presidente, se necessário, requisitará da autoridade indicada
como coatora informações por escrito. Faltando, porém, qualquer
Art. 656.  Recebida a petição de habeas corpus, o juiz, se
daqueles requisitos, o presidente mandará preenchê-lo, logo que
julgar necessário, e estiver preso o paciente, mandará que este
Ihe seja imediatamente apresentado em dia e hora que designar. Ihe for apresentada a petição.
Parágrafo único.  Em caso de desobediência, será expedido
mandado de prisão contra o detentor, que será processado na for- Art. 663.  As diligências do artigo anterior não serão ordena-
ma da lei, e o juiz providenciará para que o paciente seja tirado das, se o presidente entender que o habeas corpus deva ser inde-
da prisão e apresentado em juízo. ferido in limine. Nesse caso, levará a petição ao tribunal, câmara
ou turma, para que delibere a respeito.
Art. 657.  Se o paciente estiver preso, nenhum motivo escusa-
rá a sua apresentação, salvo: Art. 664.  Recebidas as informações, ou dispensadas, o habe-
I - grave enfermidade do paciente; as corpus será julgado na primeira sessão, podendo, entretanto,
Il - não estar ele sob a guarda da pessoa a quem se atribui a adiar-se o julgamento para a sessão seguinte.
detenção; Parágrafo único.  A decisão será tomada por maioria de vo-
III - se o comparecimento não tiver sido determinado pelo juiz tos. Havendo empate, se o presidente não tiver tomado parte na
ou pelo tribunal. votação, proferirá voto de desempate; no caso contrário, prevale-
Parágrafo único.  O juiz poderá ir ao local em que o pacien- cerá a decisão mais favorável ao paciente.
te se encontrar, se este não puder ser apresentado por motivo de
doença. Art. 665.  O secretário do tribunal lavrará a ordem que, assi-
nada pelo presidente do tribunal, câmara ou turma, será dirigida,
Art. 658.  O detentor declarará à ordem de quem o paciente por ofício ou telegrama, ao detentor, ao carcereiro ou autoridade
estiver preso. que exercer ou ameaçar exercer o constrangimento.
Parágrafo único.  A ordem transmitida por telegrama obede-
Art. 659.  Se o juiz ou o tribunal verificar que já cessou a vio- cerá ao disposto no art. 289, parágrafo único, in fine.
lência ou coação ilegal, julgará prejudicado o pedido.
Art. 666.  Os regimentos dos Tribunais de Apelação estabele-
Art. 660.  Efetuadas as diligências, e interrogado o paciente, cerão as normas complementares para o processo e julgamento do
o juiz decidirá, fundamentadamente, dentro de 24 (vinte e quatro) pedido de habeas corpus de sua competência originária.
horas.

Didatismo e Conhecimento 45
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 667.  No processo e julgamento do habeas corpus de ção social. A prevenção especial da pena compreende a ressocia-
competência originária do Supremo Tribunal Federal, bem como lização do preso para evitar a reincidência. A moderna concepção
nos de recurso das decisões de última ou única instância, denega- da pena dá especial relevo aos fins da pena, sem desconsiderar a
tórias de habeas corpus, observar-se-á, no que Ihes for aplicável, sua essência, a retribuição. A aparente antinomia entre prevenção
o disposto nos artigos anteriores, devendo o regimento interno do e retribuição se resolveria com as teorias-margem ou teorias con-
tribunal estabelecer as regras complementares. ciliatórias. A pena adequada à culpabilidade deve deixar a mar-
gem aos fins da pena”.
Em verdade, numa melhor análise do exposto veremos que
este se trata do objetivo e não do objeto da execução penal. Em
8 LEI DE EXECUÇÃO PENAL
uma visão restrita ao formalismo, poderíamos dizer que o objetivo
(LEI Nº 7.210/1984).
da execução penal é apenas a realização do conjunto das normas
jurídicas referentes à execução de todas as penas. Porém, o arti-
go 1º da LEP preleciona que a execução penal tem como obje-
tivo “efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e
A execução penal é um procedimento destinado à efetiva apli- proporcionar condições para a harmônica integração social do
cação da pena ou da medida de segurança que fora fixado anterior- condenado e do internado”. Dessa forma, vemos que os objetivos
mente por sentença. Trata-se de processo autônomo que é regu- primordiais da LEP são “propiciar meios para que a sentença seja
lamentado pela lei execução penal nº 7.210/1984, serão juntadas integralmente cumprida e a reintegração do sentenciado ao con-
as cópias imprescindíveis do processo penal para acompanhar o vívio social”.
cumprimento da pena e da concessão de benefícios do apenado. De tal modo, efetivar vem no sentido de tornar concreta a sub-
Cada acusado terá um processo de execução separado, mesmo missão do condenado à sanção imposta. E integração social har-
que tenham figurado como litisconsortes na ação penal, uma vez mônica porque ao restringir sua liberdade, não poderá abominá-lo
que não há a figura do litisconsorte necessário neste instituto, em do convívio social ao qual deverá retornar. O dispositivo transmite
virtude do princípio da individualização da pena. a intenção de submeter o preso a um tratamento penitenciário, ofe-
É requisito essencial da execução penal a existência de título recendo-se ao condenado os meios necessários a uma participação
executivo judicial, uma pena concreta aplicada pelo juiz na senten- construtiva na comunidade.
ça condenatória ou medida de segurança (absolvição imprópria), Apesar disso, não podemos entender a “reeducação” apenas
transitado em julgado ou não. E esta, para ser aplicada necessita do aspecto didático, temos que perceber que esta tem um objeti-
vo muito maior de motivos e finalidades capazes de fornecer ao
de um processo. Este é conduzido pelo Poder Judiciário, dentro
condenado uma “visão melhorada das normas culturais”; o “ree-
dos ditames do devido processo legal e todos os demais princí-
ducar” é disponibilizar ao interessado as condições para que o ho-
pios constitucionais referentes a um processo penal (individuali-
mem enclausurado ou recém libertado, em querendo, possa delas
zação da pena, ampla defesa, o contraditório, entre outros); sendo
se aproveitar. Ninguém pode obrigar o homem a voltar-se para o
também competência deste a resolução dos incidentes (pedidos de
bem; não se pode adentrar no íntimo da consciência do detido, isso
progressão, de livramento condicional, de remição de penas, etc.)
excede a competência do Estado, porém podemos buscar meios
e demais questões que sobrevenham à execução da pena. 
para incentivá-lo.
Não podemos esquecer que é de suma importância a partici- Convém esclarecer que não existe a certeza de um tratamento
pação dos órgãos administrativos; inclusive com autonomia para eficaz e milagroso através do qual o Estado receberá em suas ins-
a realização de alguns atos, como é o caso da remoção de presos tituições o autor de uma infração penal, o submeterá às fórmulas
entre os estabelecimentos penais de um mesmo Estado ou ainda a eleitas pela lei e o devolverá recuperado, ressocializado ou ree-
permissão para o trabalho externo. ducado. Mas em todas as situações na qual haja a possibilidade
No processo penal a execução penal é um novo processo e desta recuperação, ressocialização, reeducação, o que deve sempre
possui caráter jurisdicional e administrativo. Busca efetivar as dis- haver é a disposição do Estado em oferecer as condições para o
posições de sentença ou de decisão criminal e oferecer condições condenado, ao final do cumprimento de sua pena, tenha acrescido
para a integração social do condenado e do internado. à sua personalidade a percepção da escala de valores da sociedade
Existem divergências no que se refere a classificação da natu- a qual está vinculado, e da inexorável necessidade de convivência
reza jurídica da execução penal haja vista que há quem defenda se em grupo, porquanto sua natureza humana o exige.
tratar de natureza jurisdicional e outros de natureza administrativa. É nessa esteira que Miguel Reale Junior fala do retorno do
Há que se admitir que o juiz da execução penal pratique atos admi- condenado à vida social com o Estado exercendo um papel de sus-
nistrativos, mas também exerce jurisdição, deste modo verifica-se citar novas atitudes, ou indicar o esforço por outros caminhos: “o
que o processo de execução possui natureza jurídica híbrida. potencial é apenas o de sugerir, incitar, suscitar, indicar, estimular
a autodeterminação do condenado a atitudes favoráveis à solu-
- DO OBJETO E DA APLICAÇÃO DA LEI DE EXECU- ção de suas dificuldades. O que não se pode pretender é modificar
ÇÃO PENAL sua personalidade para moldá-la ao padrão de acomodação da
sociedade”.
O objeto da execução penal é a pena concretamente aplicada
pelo juiz na sentença condenatória, ou na Medida de Segurança. Portanto, submeter um cidadão a uma pena deve significar
Jason Albergaria, um dos participantes da comissão idealiza- proporcionar ao Estado a reprovação do fato cometido e ao conde-
dora do projeto que deu origem à LEP, nos ensina que: “o objeto da nado as condições de acréscimos pessoais rumo à sintonia com os
execução da pena consiste na reeducação do preso e sua reinser- valores e a cultura vivida em comunidade.

Didatismo e Conhecimento 46
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Assim, preleciona a LEP sobre o assunto: A classificação deve ser feita pela Comissão Técnica de Clas-
sificação que deve elaborar programa individualizador da execu-
TÍTULO I ção da pena do preso com vistas na sua reinserção social, além de
Do Objeto e da Aplicação da Lei de Execução Penal acompanhar a execução das penas privativas de liberdade e restri-
tivas de direitos, devendo propor as progressões e regressões dos
Art. 1º A execução penal tem por objetivo efetivar as dispo- regimes, bem como as conversões (art. 6° da LEP).
sições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições Insta salientar, que ao condenado e ao internado serão asse-
para a harmônica integração social do condenado e do internado. gurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela
lei. E ainda, é vedada qualquer distinção de natureza racial, social,
Art. 2º A jurisdição penal dos Juízes ou Tribunais da Justiça religiosa ou política.
ordinária, em todo o Território Nacional, será exercida, no proces-
so de execução, na conformidade desta Lei e do Código de Pro- Vamos acompanhar o que dispõe a LEP acerca do tema:
cesso Penal.
Parágrafo único. Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso TÍTULO II
provisório e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando Do Condenado e do Internado
recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária. CAPÍTULO I
Da Classificação
Art. 3º Ao condenado e ao internado serão assegurados todos
os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Art. 5º Os condenados serão classificados, segundo os seus
Parágrafo único. Não haverá qualquer distinção de natureza antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da
racial, social, religiosa ou política. execução penal.

Art. 4º O Estado deverá recorrer à cooperação da comunidade Art. 6o  A classificação será feita por Comissão Técnica de
nas atividades de execução da pena e da medida de segurança. Classificação que elaborará o programa individualizador da pena
privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisório.
- DO CONDENADO E DO INTERNADO
Art. 7º A Comissão Técnica de Classificação, existente em
Durante muitos séculos, os condenados ficavam amontoados cada estabelecimento, será presidida pelo diretor e composta, no
em calabouços e ali eram atirados todos os presos, sadios e do- mínimo, por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) psiquiatra, 1 (um)
entes, loucos e normais, homens e mulheres, maiores e menores, psicólogo e 1 (um) assistente social, quando se tratar de condenado
pessoas de alta, média e baixa periculosidade. Não havia distinção à pena privativa de liberdade.
de espécie alguma. Viviam misturados, na mais pavorosa promis- Parágrafo único. Nos demais casos a Comissão atuará junto
cuidade. ao Juízo da Execução e será integrada por fiscais do serviço social.
Somente no século XIX, após a Revolução Francesa, é que se
começou a fazer a separação. Primeiramente passou-se a distinguir Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de
entre presos sadios e doentes, pois havia casos em que portadores liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminoló-
de moléstias infectocontagiosas ocasionavam a morte de todos os gico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada
demais presos; em seguida, entre homens e mulheres; entre maio- classificação e com vistas à individualização da execução.
res e menores. Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser
A classificação dos condenados é requisito fundamental para submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de li-
demarcar o início da execução científica das penas privativas de berdade em regime semiaberto.
liberdade e da medida de segurança.
Com relação à individualização da pena, esta é norma cons- Art. 9º A Comissão, no exame para a obtenção de dados reve-
titucional, conforme exposto no artigo 5°, XLVI, 1ª parte, da CF: ladores da personalidade, observando a ética profissional e tendo
“a lei regulará a individualização da pena”. Na Lei de Execução sempre presentes peças ou informações do processo, poderá:
Penal o assunto é tratado também em seu artigo 5° que dispõe que I - entrevistar pessoas;
“os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes II - requisitar, de repartições ou estabelecimentos privados,
e personalidade, para orientar a individualização da execução pe- dados e informações a respeito do condenado;
nal”. III - realizar outras diligências e exames necessários.
A execução penal não pode ser igual para todos os presos, pois
não são todos iguais. Art. 9o-A.  Os condenados por crime praticado, dolosamente,
Segundo Mirabete (1996, p. 50) individualizar a pena signifi- com violência de natureza grave contra pessoa, ou por qualquer
ca dar a cada preso as oportunidades e elementos necessários para dos crimes previstos no art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de
alcançar a sua reinserção social, posto que é pessoa, ser distinto. 1990, serão submetidos, obrigatoriamente, à identificação do perfil
Nos termos da Lei de Execução Penal, a classificação dos genético, mediante extração de DNA - ácido desoxirribonucleico,
condenados se faz segundo os seus antecedentes e personalidade por técnica adequada e indolor. (Incluído pela Lei nº 12.654, de
(art.5°). Desde os primórdios da Criminologia se prega um exame 2012)
médico-psicológico-social, conhecido como exame da personali- § 1º A identificação do perfil genético será armazenada em
dade, a fim de se reunir o maior número possível de dados acerca banco de dados sigiloso, conforme regulamento a ser expedido
do delinquente. pelo Poder Executivo. (Incluído pela Lei nº 12.654, de 2012)

Didatismo e Conhecimento 47
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
§ 2º A autoridade policial, federal ou estadual, poderá requerer VI - estabelecer regras sobre a arquitetura e construção de es-
ao juiz competente, no caso de inquérito instaurado, o acesso ao tabelecimentos penais e casas de albergados;
banco de dados de identificação de perfil genético. (Incluído pela VII - estabelecer os critérios para a elaboração da estatística
Lei nº 12.654, de 2012)   criminal;
VIII - inspecionar e fiscalizar os estabelecimentos penais, bem
- DOS ÓRGÃOS DA EXECUÇÃO PENAL assim informar-se, mediante relatórios do Conselho Penitenciário,
requisições, visitas ou outros meios, acerca do desenvolvimento
Os órgãos da execução penal estão enumerados no art. 61 da da execução penal nos Estados, Territórios e Distrito Federal, pro-
lei de execução penal e são: O Conselho Nacional de Política Cri- pondo às autoridades dela incumbida as medidas necessárias ao
minal e Penitenciária; o Juízo da Execução; o Ministério Público; seu aprimoramento;
o Conselho Penitenciário; os Departamentos Penitenciários; o Pa- IX - representar ao Juiz da execução ou à autoridade admi-
tronato; o Conselho da Comunidade e a Defensoria Pública. nistrativa para instauração de sindicância ou procedimento admi-
nistrativo, em caso de violação das normas referentes à execução
TÍTULO III penal;
Dos Órgãos da Execução Penal X - representar à autoridade competente para a interdição, no
CAPÍTULO I todo ou em parte, de estabelecimento penal.
Disposições Gerais
CAPÍTULO III
Art. 61. São órgãos da execução penal: Do Juízo da Execução
I - o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária;
II - o Juízo da Execução; Art. 65. A execução penal competirá ao Juiz indicado na lei
III - o Ministério Público; local de organização judiciária e, na sua ausência, ao da sentença.
IV - o Conselho Penitenciário;
V - os Departamentos Penitenciários; Art. 66. Compete ao Juiz da execução:
VI - o Patronato; I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer
VII - o Conselho da Comunidade. modo favorecer o condenado;
VIII - a Defensoria Pública.  II - declarar extinta a punibilidade;
III - decidir sobre:
CAPÍTULO II a) soma ou unificação de penas;
Do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciá- b) progressão ou regressão nos regimes;
ria c) detração e remição da pena;
d) suspensão condicional da pena;
Art. 62. O Conselho Nacional de Política Criminal e Peniten- e) livramento condicional;
ciária, com sede na Capital da República, é subordinado ao Minis- f) incidentes da execução.
tério da Justiça. IV - autorizar saídas temporárias;
V - determinar:
Art. 63. O Conselho Nacional de Política Criminal e Peniten- a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e
ciária será integrado por 13 (treze) membros designados através de fiscalizar sua execução;
ato do Ministério da Justiça, dentre professores e profissionais da b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em
área do Direito Penal, Processual Penal, Penitenciário e ciências privativa de liberdade;
correlatas, bem como por representantes da comunidade e dos Mi- c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de
nistérios da área social. direitos;
Parágrafo único. O mandato dos membros do Conselho terá d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substitui-
duração de 2 (dois) anos, renovado 1/3 (um terço) em cada ano. ção da pena por medida de segurança;
e) a revogação da medida de segurança;
Art. 64. Ao Conselho Nacional de Política Criminal e Peni- f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;
tenciária, no exercício de suas atividades, em âmbito federal ou g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra
estadual, incumbe: comarca;
I - propor diretrizes da política criminal quanto à prevenção do h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do
delito, administração da Justiça Criminal e execução das penas e artigo 86, desta Lei.
das medidas de segurança; i) (VETADO); 
II - contribuir na elaboração de planos nacionais de desenvol- VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de
vimento, sugerindo as metas e prioridades da política criminal e segurança;
penitenciária; VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais,
III - promover a avaliação periódica do sistema criminal para tomando providências para o adequado funcionamento e promo-
a sua adequação às necessidades do País; vendo, quando for o caso, a apuração de responsabilidade;
IV - estimular e promover a pesquisa criminológica; VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal
V - elaborar programa nacional penitenciário de formação e que estiver funcionando em condições inadequadas ou com infrin-
aperfeiçoamento do servidor; gência aos dispositivos desta Lei;

Didatismo e Conhecimento 48
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade. Art. 70. Incumbe ao Conselho Penitenciário:
X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.  I - emitir parecer sobre indulto e comutação de pena, excetu-
ada a hipótese de pedido de indulto com base no estado de saúde
Obs.: Caso o preso esteja implantado no sistema carcerário, o do preso; 
mesmo estará submetido à jurisdição da Vara de Execuções Penais II - inspecionar os estabelecimentos e serviços penais;
correspondente ao estabelecimento penal que estiver recluso. III - apresentar, no 1º (primeiro) trimestre de cada ano, ao
Caso o mesmo encontre-se cumprindo pena em Cadeia Pú- Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, relatório
blica local (não implantado) o mesmo se submeterá à jurisdição dos trabalhos efetuados no exercício anterior;
do juízo que prolatou a sentença ou do local em que se encontrar IV - supervisionar os patronatos, bem como a assistência aos
preso. egressos.
Sendo a condenação de pena restritiva de direitos ou sursis,
a Comarca competente é a do domicílio do sentenciado, para que CAPÍTULO VI
lá possa cumprir as obrigações impostas próximo aos familiares Dos Departamentos Penitenciários
e sem ter que viajar. E se este mudar de domicílio a execução o
acompanhará. A mesma regra se aplica ao sentenciado que estiver SEÇÃO I
cumprindo pena em liberdade. Do Departamento Penitenciário Nacional

CAPÍTULO IV Art. 71. O Departamento Penitenciário Nacional, subordinado


Do Ministério Público ao Ministério da Justiça, é órgão executivo da Política Penitenci-
ária Nacional e de apoio administrativo e financeiro do Conselho
Art. 67. O Ministério Público fiscalizará a execução da pena Nacional de Política Criminal e Penitenciária.
e da medida de segurança, oficiando no processo executivo e nos
incidentes da execução. Art. 72. São atribuições do Departamento Penitenciário Na-
cional:
Art. 68. Incumbe, ainda, ao Ministério Público: I - acompanhar a fiel aplicação das normas de execução penal
I - fiscalizar a regularidade formal das guias de recolhimento em todo o Território Nacional;
e de internamento; II - inspecionar e fiscalizar periodicamente os estabelecimen-
II - requerer: tos e serviços penais;
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do III - assistir tecnicamente as Unidades Federativas na imple-
processo executivo; mentação dos princípios e regras estabelecidos nesta Lei;
b) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de exe- IV - colaborar com as Unidades Federativas mediante convê-
cução; nios, na implantação de estabelecimentos e serviços penais;
c) a aplicação de medida de segurança, bem como a substitui- V - colaborar com as Unidades Federativas para a realização
ção da pena por medida de segurança; de cursos de formação de pessoal penitenciário e de ensino profis-
d) a revogação da medida de segurança; sionalizante do condenado e do internado.
e) a conversão de penas, a progressão ou regressão nos regi- VI – estabelecer, mediante convênios com as unidades fede-
mes e a revogação da suspensão condicional da pena e do livra- rativas, o cadastro nacional das vagas existentes em estabeleci-
mento condicional; mentos locais destinadas ao cumprimento de penas privativas de
f) a internação, a desinternação e o restabelecimento da situ- liberdade aplicadas pela justiça de outra unidade federativa, em
ação anterior. especial para presos sujeitos a regime disciplinar. 
III - interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade Parágrafo único. Incumbem também ao Departamento a co-
judiciária, durante a execução. ordenação e supervisão dos estabelecimentos penais e de interna-
Parágrafo único. O órgão do Ministério Público visitará men- mento federais.
salmente os estabelecimentos penais, registrando a sua presença
em livro próprio. SEÇÃO II
Do Departamento Penitenciário Local
CAPÍTULO V
Do Conselho Penitenciário Art. 73. A legislação local poderá criar Departamento Peniten-
ciário ou órgão similar, com as atribuições que estabelecer.
Art. 69. O Conselho Penitenciário é órgão consultivo e fiscali-
zador da execução da pena. Art. 74. O Departamento Penitenciário local, ou órgão similar,
§ 1º O Conselho será integrado por membros nomeados pelo tem por finalidade supervisionar e coordenar os estabelecimentos
Governador do Estado, do Distrito Federal e dos Territórios, dentre penais da Unidade da Federação a que pertencer.
professores e profissionais da área do Direito Penal, Processual
Penal, Penitenciário e ciências correlatas, bem como por represen- SEÇÃO III
tantes da comunidade. A legislação federal e estadual regulará o Da Direção e do Pessoal dos Estabelecimentos Penais
seu funcionamento.
§ 2º O mandato dos membros do Conselho Penitenciário terá Art. 75. O ocupante do cargo de diretor de estabelecimento
a duração de 4 (quatro) anos. deverá satisfazer os seguintes requisitos:

Didatismo e Conhecimento 49
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
I - ser portador de diploma de nível superior de Direito, ou IV - diligenciar a obtenção de recursos materiais e humanos
Psicologia, ou Ciências Sociais, ou Pedagogia, ou Serviços So- para melhor assistência ao preso ou internado, em harmonia com a
ciais; direção do estabelecimento.
II - possuir experiência administrativa na área;
III - ter idoneidade moral e reconhecida aptidão para o desem- CAPÍTULO IX
penho da função. DA DEFENSORIA PÚBLICA
Parágrafo único. O diretor deverá residir no estabelecimento,
ou nas proximidades, e dedicará tempo integral à sua função. Art. 81-A.  A Defensoria Pública velará pela regular execução
da pena e da medida de segurança, oficiando, no processo executi-
Art. 76. O Quadro do Pessoal Penitenciário será organizado vo e nos incidentes da execução, para a defesa dos necessitados em
em diferentes categorias funcionais, segundo as necessidades do todos os graus e instâncias, de forma individual e coletiva. 
serviço, com especificação de atribuições relativas às funções de
direção, chefia e assessoramento do estabelecimento e às demais Art. 81-B.  Incumbe, ainda, à Defensoria Pública:
funções. I - requerer:  
a) todas as providências necessárias ao desenvolvimento do
Art. 77. A escolha do pessoal administrativo, especializado, processo executivo; 
de instrução técnica e de vigilância atenderá a vocação, preparação b) a aplicação aos casos julgados de lei posterior que de qual-
profissional e antecedentes pessoais do candidato. quer modo favorecer o condenado;  
§ 1° O ingresso do pessoal penitenciário, bem como a pro- c) a declaração de extinção da punibilidade; 
gressão ou a ascensão funcional dependerão de cursos específicos d) a unificação de penas;
de formação, procedendo-se à reciclagem periódica dos servidores e) a detração e remição da pena; 
em exercício. f) a instauração dos incidentes de excesso ou desvio de exe-
§ 2º No estabelecimento para mulheres somente se permitirá cução; 
o trabalho de pessoal do sexo feminino, salvo quando se tratar de g) a aplicação de medida de segurança e sua revogação, bem
pessoal técnico especializado. como a substituição da pena por medida de segurança; 
h) a conversão de penas, a progressão nos regimes, a suspen-
são condicional da pena, o livramento condicional, a comutação
CAPÍTULO VII
de pena e o indulto; 
Do Patronato
i) a autorização de saídas temporárias; 
j) a internação, a desinternação e o restabelecimento da situ-
Art. 78. O Patronato público ou particular destina-se a prestar
ação anterior; 
assistência aos albergados e aos egressos (artigo 26).
k) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra
comarca; 
Art. 79. Incumbe também ao Patronato:
l) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1o do art.
I - orientar os condenados à pena restritiva de direitos; 86 desta Lei; 
II - fiscalizar o cumprimento das penas de prestação de serviço II - requerer a emissão anual do atestado de pena a cumprir; 
à comunidade e de limitação de fim de semana; III - interpor recursos de decisões proferidas pela autoridade
III - colaborar na fiscalização do cumprimento das condições judiciária ou administrativa durante a execução; 
da suspensão e do livramento condicional. IV - representar ao Juiz da execução ou à autoridade admi-
nistrativa para instauração de sindicância ou procedimento admi-
CAPÍTULO VIII nistrativo em caso de violação das normas referentes à execução
Do Conselho da Comunidade penal; 
V - visitar os estabelecimentos penais, tomando providências
Art. 80.  Haverá, em cada comarca, um Conselho da Comuni- para o adequado funcionamento, e requerer, quando for o caso, a
dade composto, no mínimo, por 1 (um) representante de associa- apuração de responsabilidade; 
ção comercial ou industrial, 1 (um) advogado indicado pela Se- VI - requerer à autoridade competente a interdição, no todo ou
ção da Ordem dos Advogados do Brasil, 1 (um) Defensor Público em parte, de estabelecimento penal.
indicado pelo Defensor Público Geral e 1 (um) assistente social Parágrafo único.  O órgão da Defensoria Pública visitará pe-
escolhido pela Delegacia Seccional do Conselho Nacional de As- riodicamente os estabelecimentos penais, registrando a sua presen-
sistentes Sociais.  ça em livro próprio.
Parágrafo único. Na falta da representação prevista neste arti-
go, ficará a critério do Juiz da execução a escolha dos integrantes - DOS ESTABELECIMENTOS PENAIS
do Conselho.
Podemos considerar como Estabelecimentos Penais qualquer
Art. 81. Incumbe ao Conselho da Comunidade: edificação destinada a receber os sujeitos passivos da tutela penal,
I - visitar, pelo menos mensalmente, os estabelecimentos pe- antes da condenação, durante o cumprimento da pena e após a sua
nais existentes na comarca; liberação. Neste contexto podemos considerar os presos provisó-
II - entrevistar presos; rios, os condenados a penas privativas de liberdade ou restritiva de
III - apresentar relatórios mensais ao Juiz da execução e ao direitos, os inimputáveis e semi-imputáveis submetidos a Medidas
Conselho Penitenciário; de Segurança e egresso.

Didatismo e Conhecimento 50
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
São necessárias algumas separações dirigidas aos condenados Desta forma, o Conselho Nacional de Política Criminal e Pe-
durante o cumprimento da pena, de acordo com suas característi- nitenciária, defende o posicionamento de que se deve procurar
cas. Assim, nasce à necessidade da construção de diversos estabe- adaptar o sentenciado por meios sociais, não à prisão e à solidão,
lecimentos penais, cada um capaz de atender às peculiaridades de mas sim à liberdade e à convivência, assim não podendo ser aco-
sua clientela. Busca-se atender também a outros fatores relevantes lhido o RDD. Embora existam tais argumentos contra o regime de
a progressão de regime no cumprimento da pena e à situação atual exceção, a sua aplicabilidade se demonstra uma arma eficaz contra
do preso, se condenado ou provisório. Por essa razão, indicam as o crime organizado, sendo até mesmo, para muitos doutrinadores o
regras mínimas da ONU que os presos pertencentes a categorias isolamento contínuo uma melhor forma de individualização.
diversas deverão ser instalados em estabelecimentos diversos e em
diferentes seções, inclusive diante do tratamento correspondente a 3. Colônia Penal Agrícola, Industrial ou Similar (Regime
ser aplicado. Semiaberto). As colônias são destinadas ao cumprimento de pena
no regime semiaberto decorrentes de condenação originária nes-
1. Penitenciárias (Regime Fechado). As penitenciárias são te regime, ou por motivos que determinem a regressão do regime
as destinadas ao condenado à pena de reclusão, caracteriza-se por aberto ou progressão do fechado.
uma limitação das atividades em comum dos presos e por maior Obrigatoriamente, o cumprimento da pena em regime semia-
controle e vigilância sobre eles. berto, deve ser submetido aos reincidentes condenados à pena de
São destinados ao cumprimento de pena no regime fechado os detenção, independente da duração da pena, haja vista que o regi-
presos de alta periculosidade, considerados estes os que têm ele- me fechado não se destina aos condenados às penas de detenção.
vada quantidade de pena a cumprir, grande quantidade de crimes, Da mesma forma, os condenados não reincidentes desde que rece-
presos reincidentes, etc. Os autores de delitos hediondos são desti- bam condenação superior a quatro anos e, ainda, se encontram na
nados ao cumprimento de penas no regime fechado independente mesma situação os condenados não reincidentes que tenham pena
da quantidade de pena ou por não ser reincidente. igual ou inferior a quatro anos, desde que pelas circunstâncias do
Poderão também ser destinados inicialmente ao regime fecha- delito não tiver em condições de iniciar o cumprimento da pena no
do os não-reincidentes condenados as penas de reclusão igual ou regime aberto.
inferior a oito anos se assim entender o juiz diante dos critérios Os estabelecimentos destinados ao cumprimento de pena no
previstos no art. 33, §3º do C.P. Se o delito for punido com deten- regime semiaberto têm configuração arquitetônica mais simples,
ção ainda que reincidente o condenado ou a pena seja superior a uma vez que as precauções de segurança são menores do que as
oito anos, é inadmissível a fixação do regime fechado para cum- previstas para as penitenciárias. Neles, os presos movimentam-se
primento da pena. com relativa liberdade, a guarda do presídio não utiliza armas, a
vigilância é discreta e o sentido de responsabilidade do preso en-
2. Regime Disciplinar Diferenciado (RDD). O RDD teve
fatizado.
sua origem no Estado de São Paulo, com a edição da Resolução
As variedades dos tipos de colônias se justificam em razão
da Secretária de Administração Penitenciária nº 26/2001, diante
da realidade nacional. Não seria eficaz uma colônia agrícola ao
da necessidade de combater o desenfreado crescimento da crimi-
condenado oriundo das metrópoles, que ao retornar ao mercado de
nalidade organizada. Prevê a possibilidade de isolamento do preso
trabalho não encontraria lugar para trabalhar. Uma das intenções
por 360 dias, desde que aplicado a líderes de facções criminosas
ou portadores de comportamentos inadequados. Começou a ser do trabalho nestas colônias é propiciar ao recluso que regressa ao
aplicado na Penitenciária de Presidente Bernardes, considerada de mundo livre oportunidades de subsistir licitamente.
Segurança Máxima. Tanto o preso condenado, quanto o provisó-
rio, nacional ou estrangeiro, desde que se enquadre nos requisitos 4. Casa de Albergado ou PAD (Regime Aberto). Destinam-
exigidos no artigo 52 da LEP, poderá ser incluído no RDD. -se ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime
Para inclusão no regime de exceção, a autoridade administra- aberto e da pena de limitação de fim de semana.
tiva diretora do estabelecimento deverá elaborar um requerimento O regime da prisão aberta ou Casa de Albergado é fundado
circunstanciado e alegar um dos motivos acima, encaminhando ao na autodisciplina e responsabilidade do condenado para com a co-
Juízo da Execução para análise do pedido, que deverá realizar di- munidade que convive. O Estado suprime a fiscalização pela con-
ligências para a comprovação da real necessidade de aplicação da fiança de que o reeducando cumprirá com seus deveres e manterá
medida. Após, manifestação do Ministério Público e da Defesa do um comportamento social adequado a reintegrá-lo ao mundo livre.
prejudicado, o juiz contará com 15 dias para prolatar sua decisão. Outra espécie de prisão aberta é a denominada “prisão domiciliar”.
Trata-se, tal pedido de um procedimento jurisdicionalizado (não A prisão domiciliar, ou mais apropriadamente, o regime aber-
sendo cabível a transferência administrativa), ou seja, um verda- to domiciliar é uma medida excepcional destinada a permitir que
deiro incidente à execução. determinadas pessoas possam cumprir sua pena em suas residên-
A principal crítica que se encontra ao regime de exceção, é cias. O artigo 117 da LEP enumera as hipóteses: “I) condenado
que a lei não definiu parâmetros do que seria “alto risco” para a maior de 70 (setenta) anos; II) condenado acometido de doença
ordem e segurança do estabelecimento e da sociedade e também grave; III) condenada com filho menor ou deficiente físico ou men-
não existe uma definição legal do que seriam as “organizações cri- tal; IV) condenada gestante”.
minosas”. De tal forma, na ausência destes dispositivos legais que A ideia da Casa de Albergado é pela própria definição, a de
claramente definam as hipóteses descritas, possibilita-se assim que abrigar o condenado que precisa de cuidados, antes de alcançar a
sejam cometidas desvairadas arbitrariedades coloca-se em risco última fase da execução da pena. Deposita-se uma extrema con-
a aplicação do preceito. Bem como, critica-se que, o isolamento fiança àquele que terá completa liberdade de trabalhar durante o
celular foge aos requisitos e fins da pena considerada do ponto de dia, sem vigilância, e retornar para o descanso noturno e de final
vista social. de semana.

Didatismo e Conhecimento 51
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
O reeducando tem que cumprir às condições impostas pelo Diante de tal situação a Secretária de Segurança Pública de
juiz da execução, aceitas por este, sob pena de ser regredido no São Paulo e a Secretária de Administração Penitenciária atuando
caso do descumprimento de algumas destas. em conjunto aos poucos é passada a tutela dos presos a Secretá-
Em razão do retorno objetivado à comunidade, a lei preconiza ria da Administração Penitenciária, em estabelecimentos públicos
a construção da Casa de Albergado nos centros urbanos, separados construídos para abrigar a população dos Distritos, Delegacias e
dos demais estabelecimentos, sem obstáculos físicos contra a fuga, Cadeias Públicas, recebendo os presos provisórios que esperam
como, arames farpados, cercas, alarmes, etc. julgamento.
Apesar da previsão legal de que cada região deverá possuir
uma Casa de Albergado, são poucas as instalações nesse sentido. 9. Fundação Casa. A Fundação Centro de Atendimento So-
Na ausência do estabelecimento aberto, prevalece o entendimento cioeducativo ao Adolescente (CASA) antigamente conhecida
de que ainda que fora dos casos do artigo 117 da LEP, poderá ser como Fundação Estadual para Bem-Estar do Menor (FEBEM) é
deferido o regime domiciliar. uma autarquia do Governo do Estado de São Paulo vinculada à Se-
cretaria de Estado da Justiça e da Defesa da Cidadania. Sua função
5. Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico. A ado- é executar as medidas socioeducativas aplicadas pelo Poder Judi-
ção das medidas de segurança trouxe consigo a exigência de di- ciário aos adolescentes autores de atos infracionais com a idade
verso estilo arquitetônico e da existência de aparelhagem interna de 12 a 21 anos incompletos, conforme determina o Estatuto da
nos estabelecimentos penais destinados a receber os inimputáveis Criança e do Adolescente (ECA).
e semi-imputáveis, com condições mínimas de salubridade.
Deste modo, o Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Vamos conferir o que prevê a Lei de Execução Penal sobre o
é um hospital-presídio, um estabelecimento penal que visa assegu- tema:
rar a custódia do internado. O estabelecimento deve apresentar ca-
racterísticas hospitalares, contando com aparelhagem apropriada TÍTULO IV
às diversas formas de tratamento. Dos Estabelecimentos Penais
Também é internado no Hospital de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico o condenado que, durante o cumprimento da pena pri- CAPÍTULO I
vativa de liberdade, venha a sofrer de doença mental ou apresentar Disposições Gerais
qualquer tipo de perturbação da saúde mental.
Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condena-
do, ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao
6. Ambulatório. O agente inimputável quando praticar crime
egresso.
punível com detenção será submetido a tratamento ambulatorial ao
§ 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, se-
invés de ser determinada a sua internação.
rão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua condi-
Assim sendo, o Ambulatório deverá receber os submetidos a
ção pessoal. 
medidas de segurança que não tenham a necessidade de perma-
§ 2º - O mesmo conjunto arquitetônico poderá abrigar estabe-
necer custodiados. O tratamento pode ser realizado no próprio
lecimentos de destinação diversa desde que devidamente isolados.
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, ou em estabeleci-
mento com características médicas, com capacidade de atender as Art. 83. O estabelecimento penal, conforme a sua natureza,
peculiaridades exigidas. deverá contar em suas dependências com áreas e serviços desti-
nados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e prática
7. Cadeia Pública. Exige a lei que cada Comarca tenha pelo esportiva.
menos uma cadeia pública, diante da necessidade de resguardar a § 1º Haverá instalação destinada a estágio de estudantes uni-
administração da Justiça Criminal e a permanência do preso provi- versitários.
sório próximo a seu meio familiar. § 2o  Os estabelecimentos penais destinados a mulheres serão
As regras mínimas exigem que as pessoas que ainda não fo- dotados de berçário, onde as condenadas possam cuidar de seus
ram julgadas merecem tratamento diferenciado, por terem em seu filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo, até 6 (seis) meses de
benefício à presunção de inocência, ficando separada das conde- idade.
nadas. § 3o  Os estabelecimentos de que trata o § 2o deste artigo deve-
Porém, com o desastroso estado na qual atingiu a acumulação rão possuir, exclusivamente, agentes do sexo feminino na seguran-
de presos provisórios e condenados em distritos policiais, o Esta- ça de suas dependências internas. 
do de São Paulo teve que criar Centros de Detenção Provisória, § 4o  Serão instaladas salas de aulas destinadas a cursos do
para abrigar os presos mantidos em Distritos e desativar as cadeias ensino básico e profissionalizante.
anexas. § 5o  Haverá instalação destinada à Defensoria Pública. 

8. Centro de Detenção Provisória. Com a explosão no au- Art. 84. O preso provisório ficará separado do condenado por
mento da população carcerária em São Paulo, tanto na capital sentença transitada em julgado.
como no interior se tornou insustentável a manutenção de presos § 1° O preso primário cumprirá pena em seção distinta daque-
em Distritos Policiais ou Delegacias de Polícia, sendo na maioria la reservada para os reincidentes.
das vezes o preso provisório submetido ao convívio com o con- § 2° O preso que, ao tempo do fato, era funcionário da Ad-
denado. ministração da Justiça Criminal ficará em dependência separada.

Didatismo e Conhecimento 52
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 85. O estabelecimento penal deverá ter lotação compatí- Art. 92. O condenado poderá ser alojado em compartimento
vel com a sua estrutura e finalidade. coletivo, observados os requisitos da letra a, do parágrafo único,
Parágrafo único. O Conselho Nacional de Política Criminal e do artigo 88, desta Lei.
Penitenciária determinará o limite máximo de capacidade do esta- Parágrafo único. São também requisitos básicos das depen-
belecimento, atendendo a sua natureza e peculiaridades. dências coletivas:
a) a seleção adequada dos presos;
Art. 86. As penas privativas de liberdade aplicadas pela Jus- b) o limite de capacidade máxima que atenda os objetivos de
tiça de uma Unidade Federativa podem ser executadas em outra     individualização da pena.
unidade, em estabelecimento local ou da União.
§ 1o A União Federal poderá construir estabelecimento penal CAPÍTULO IV
em local distante da condenação para recolher os condenados, Da Casa do Albergado
quando a medida se justifique no interesse da segurança pública ou
do próprio condenado. Art. 93. A Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de
§ 2° Conforme a natureza do estabelecimento, nele poderão pena privativa de liberdade, em regime aberto, e da pena de limi-
trabalhar os liberados ou egressos que se dediquem a obras públi- tação de fim de semana.
cas ou ao aproveitamento de terras ociosas.
§ 3o Caberá ao juiz competente, a requerimento da autoridade
Art. 94. O prédio deverá situar-se em centro urbano, separado
administrativa definir o estabelecimento prisional adequado para
dos demais estabelecimentos, e caracterizar-se pela ausência de
abrigar o preso provisório ou condenado, em atenção ao regime e
obstáculos físicos contra a fuga.
aos requisitos estabelecidos.

CAPÍTULO II Art. 95. Em cada região haverá, pelo menos, uma Casa do Al-
Da Penitenciária bergado, a qual deverá conter, além dos aposentos para acomodar
os presos, local adequado para cursos e palestras.
Art. 87. A penitenciária destina-se ao condenado à pena de Parágrafo único. O estabelecimento terá instalações para os
reclusão, em regime fechado. serviços de fiscalização e orientação dos condenados.
Parágrafo único. A União Federal, os Estados, o Distrito Fe-
deral e os Territórios poderão construir Penitenciárias destinadas, CAPÍTULO V
exclusivamente, aos presos provisórios e condenados que estejam Do Centro de Observação
em regime fechado, sujeitos ao regime disciplinar diferenciado,
nos termos do art. 52 desta Lei.  Art. 96. No Centro de Observação realizar-se-ão os exames
gerais e o criminológico, cujos resultados serão encaminhados à
Art. 88. O condenado será alojado em cela individual que con- Comissão Técnica de Classificação.
terá dormitório, aparelho sanitário e lavatório. Parágrafo único. No Centro poderão ser realizadas pesquisas
Parágrafo único. São requisitos básicos da unidade celular: criminológicas.
a) salubridade do ambiente pela concorrência dos fatores de
aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à exis- Art. 97. O Centro de Observação será instalado em unidade
tência humana; autônoma ou em anexo a estabelecimento penal.
b) área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).
Art. 98. Os exames poderão ser realizados pela Comissão Téc-
Art. 89.  Além dos requisitos referidos no art. 88, a penitenci- nica de Classificação, na falta do Centro de Observação.
ária de mulheres será dotada de seção para gestante e parturiente e
de creche para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e meno- CAPÍTULO VI
res de 7 (sete) anos, com a finalidade de assistir a criança desam- Do Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico
parada cuja responsável estiver presa.
Parágrafo único.  São requisitos básicos da seção e da creche
Art. 99. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico
referidas neste artigo: 
destina-se aos inimputáveis e semi-imputáveis referidos no artigo
I – atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as di-
retrizes adotadas pela legislação educacional e em unidades autô- 26 e seu parágrafo único do Código Penal.
nomas; e  Parágrafo único. Aplica-se ao hospital, no que couber, o dis-
II – horário de funcionamento que garanta a melhor assistên- posto no parágrafo único, do artigo 88, desta Lei.
cia à criança e à sua responsável. 
Art. 100. O exame psiquiátrico e os demais exames necessá-
Art. 90. A penitenciária de homens será construída, em local rios ao tratamento são obrigatórios para todos os internados.
afastado do centro urbano, à distância que não restrinja a visitação.
Art. 101. O tratamento ambulatorial, previsto no artigo 97, se-
CAPÍTULO III gunda parte, do Código Penal, será realizado no Hospital de Custó-
Da Colônia Agrícola, Industrial ou Similar dia e Tratamento Psiquiátrico ou em outro local com dependência
médica adequada.
Art. 91. A Colônia Agrícola, Industrial ou Similar destina-se
ao cumprimento da pena em regime semiaberto.

Didatismo e Conhecimento 53
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
CAPÍTULO VII Se o condenado for reincidente, no caso de pena de reclusão,
Da Cadeia Pública sua pena começa a ser cumprida obrigatoriamente em regime fe-
chado; o critério quantitativo só vale para os primários. Ainda, se o
Art. 102. A cadeia pública destina-se ao recolhimento de pre- condenado embora primário, não preencher os requisitos do artigo
sos provisórios. 59 do CP (bons antecedentes, boa conduta social etc.), começará,
obrigatoriamente, em regime fechado.
Art. 103. Cada comarca terá, pelo menos 1 (uma) cadeia pú-
blica a fim de resguardar o interesse da Administração da Justiça No caso de pena de detenção, se o condenado for reincidente,
Criminal e a permanência do preso em local próximo ao seu meio ou não preencher os requisitos do artigo 59 do CP, começará, obri-
social e familiar. gatoriamente, em regime semiaberto.

Art. 104. O estabelecimento de que trata este Capítulo será Progressão de Regimes
instalado próximo de centro urbano, observando-se na construção
as exigências mínimas referidas no artigo 88 e seu parágrafo único O regime é o “modo de ser da execução da pena”, ou seja, qual
desta Lei. a maneira do cumprimento desta.
O juiz do processo de conhecimento após o cálculo da pena
- DA EXECUÇÃO DAS PENAS EM ESPÉCIE utilizando-se do sistema trifásico, deverá obrigatoriamente deter-
A pena privativa de liberdade consiste no cerceamento tem- minar o regime de cumprimento da pena.
porário do direito de ir e vir do indivíduo. É temporário, diante da A sentença penal condenatória ao transitar em julgado perma-
proibição as penas de caráter perpétuo prevista na Constituição necerá imutável até que os fatos não se modifiquem. A alteração
Federal. da situação fática existente ao tempo da condenação faz com que
Apesar de seus efeitos reconhecidamente nocivos e da for- o Juízo da Execução promova as necessárias adaptações a fim de
te reação que ela se tem manifestado, principalmente nos últimos adequar a decisão à nova realidade. Assim, o fato de alguém ter
anos, é o meio de proteção social contra o delito praticado. recebido um determinado regime de cumprimento de pena não sig-
O Código Penal somente reconhece duas espécies de pena pri- nifica que tenha de permanecer todo o tempo nesse mesmo regime.
vativa de liberdade: reclusão e detenção. A diferença entre elas O processo de execução é dinâmico e, como tal, está sujeito
está no regime penitenciário a que a pena está sujeita. a modificações. Todavia, o legislador previu a possibilidade de al-
Estão previstos três regimes para a privação da liberdade: fe-
guém, que inicia o cumprimento de sua pena em um regime mais
chado, semiaberto e aberto. O sistema adotado é o progressivo,
admitindo-se a progressão segundo o mérito e a regressão pelo gravoso, obter o direito de passar a uma forma mais branda. A isso
demérito. Nos dois primeiros, há a possibilidade do condenado di- se denomina progressão de regime.
minuir seu tempo de privação através do trabalho, o que é conhe- O Código Penal em seu artigo 33, § 2º preconiza que “as pe-
cido por remição. Em todos, o tempo de prisão provisória deverá nas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma pro-
ser descontado, possibilitando-se a detração. gressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes
O principal objetivo do sistema é constituir um estímulo à boa critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais
conduta e à adesão do recluso ao regime que lhe aplica, e lograr rigoroso”.
que esse regime, consiga aos poucos sua reforma moral e sua pre- A LEP prevê alguns requisitos objetivos e subjetivos para a
paração para futura vida em liberdade. Tudo isso sobre a égide da ocorrência de progressão nos regimes de cumprimento da pena
máxima individualização possível das normas de tratamento peni-
privativa de liberdade, sendo que todos devem ser rigorosamente
tenciário e participação do condenado na vida carcerária.
observados:
Reclusão I) cumprir ao menos um sexto da pena no regime anterior;
II) ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pelo
Pode começar a ser cumprida em três regimes distintos: I) Re- diretor do estabelecimento.
gime Fechado: estabelecimentos de segurança máxima e média; III) se o condenado por crime contra a administração publica
regime inicial quando a pena aplicada exceda a 8 anos; II) Regime terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada
Semiaberto: é aquele em que a pena é cumprida em colônias pe- a reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do
nais agrícolas e industriais; regime inicial quando a pena aplicada ilícito praticado, com os acréscimos legais.
for superior a 4 anos, mas não exceder a 8 anos e; III) Regime
Aberto: o sujeito trabalha durante o dia e, à noite e nos dias de
Requisito Objetivo (lapso temporal)
folga, deve se recolher à Casa de Albergado ou à prisão ou esta-
belecimento congênere; regime inicial quando a pena aplicada for
igual ou inferior a 4 anos. O primeiro requisito exigido para que haja possibilidade de
progressão diz respeito ao tempo de pena cumprida.
Detenção Se o sentenciado cumpriu 1/6 da pena e, presentes os demais
requisitos, irá obter a progressão do regime fechado para semia-
A pena de detenção jamais pode começar a ser cumprida no berto, para que possa progredir para o aberto deverá, novamente,
regime fechado. Essa é a grande diferença entre a pena de detenção cumprir o requisito temporal. O novo cumprimento de 1/6 da pena
e a pena de reclusão. Tem somente dois regimes iniciais: I) Regime é contado a partir da efetiva progressão de regime e não a partir de
Semiaberto: quando a pena aplicada exceder a 4 anos; II) Regime quando este teria adquirido lapso para progressão. Ocorre o mes-
Aberto: quando a pena aplicada for igual ou inferior a 4 anos. mo em relação a uma eventual regressão. Para que possa pleitear
nova progressão, deverá cumprir 1/6 do restante da pena aplicada.

Didatismo e Conhecimento 54
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Existem entendimentos no sentido de que a pena a ser com- me criminológico continua não sendo a regra, mas exceção que de-
putada deveria ser a pena ainda a cumprir. Exemplo: o condenado verá ser devidamente fundamentada, pelo juiz das execuções. Ge-
a pena de 6 anos em regime fechado deveria cumprir 1 ano para ralmente, é solicitado nos delitos cometidos com maior gravidade.
atingir o regime semiaberto. A pena restante seria de 5 anos. Desta O entendimento do STJ encontra-se em consonância com a
pena cumpriria apenas 10 meses, o equivalente a um sexto. As cor- Súmula Vinculante nº 26 que já havia pacificado tal entendimento
rentes que apóiam este pensamento alegam que a pena que já foi com relação à possibilidade de realização de exame criminológico
cumprida deve ser considerada extinta, e não mais computar para nos casos de crimes hediondos, desde que fosse necessário.
este efeito. Todavia o STF vem mantendo entendimento diverso,
não desprezando o período cumprido, e considerando a pena total Oitiva do Ministério Público
no cálculo da progressão.
A progressão de regime prisional, sem a prévia manifestação
do Ministério Público, torna nula a decisão, por desrespeito ao arti-
Requisito Subjetivo (Mérito do sentenciado)
go 67 da LEP, pois o Parquet atua com função dúplice na execução
penal, tanto como titular do jus puniendi, representando o Estado,
Comprovação do mérito do sentenciado se faz necessário quanto na função de custus legis, fiscalizando o respeito à lei du-
para a obtenção da progressão, este deverá ser avaliado com base rante a execução da pena.
no comportamento carcerário deste durante a execução da pena.
Enquanto há colaboração nos trabalhos internos, o respeito à hie- Crimes Hediondos
rarquia e disciplina da administração do presídio, o respeito aos
funcionários e demais presos, estes se constituem como elementos A Lei nº 8.072/90 em seu artigo 2º, §1º previa que a pena apli-
positivos para análise do mérito do sentenciado. Já a tentativa de cada em razão da pratica de crimes hediondos ou assemelhados,
fuga, rebeliões e demais faltas disciplinares demonstram a presen- seria cumprida integralmente no regime fechado, sendo vedado
ça de demérito, caractere impossibilitador da progressão para um qualquer tipo de progressão de regime.
regime mais brando de cumprimento de pena. Durante muito tempo se discutiu a constitucionalidade deste
Ao exigir bom comportamento e não especificar seus requi- artigo, até que o Excelso Supremo Tribunal Federal ao julgar os
sitos e consequências, a legislação traz uma lacuna, não regula- autos de Habeas Corpus nº 82.959/SP, em 23 de março de 2006,
mentando o procedimento para que o condenado punido com falta reconheceu a inconstitucionalidade desta.
grave venha a conseguir a progressão de regime. Alguns juízes a partir desta decisão passaram conceder a pro-
A jurisprudência, dividida, entrelaça duas correntes. Na pri- gressão de regime com base nas regras do artigo 112 da LEP, pre-
vistas para os crimes comuns, isto é, o cumprimento de 1/6 da pena
meira, considera que a prática de falta grave, que conforme a lei
para progressão.
justifica a regressão, deverá ser considerada como interrupção do Contudo, outros juízes acreditavam que a decisão proferida
prazo de um sexto e o condenado deverá cumprir um novo período no habeas corpus, foi exercida no controle difuso de constitucio-
equivalente para ter direito a novo pedido de progressão. Uma se- nalidade, com eficácia inter partes, se mantendo em pleno vigor a
gunda corrente entende exatamente o oposto, alegando que a falta vedação de progressão aos crimes hediondos.
não causa interrupção do prazo e após seis meses do cometimento Com o advento da Lei nº 11.464 de 28 de março de 2007 foi
da falta se encontra o sentenciado reabilitado de sua conduta po- dada nova redação ao artigo 2º da Lei nº 8.072/90, permitindo-se
dendo fazer novo pedido. a progressão de regime nos casos de crimes hediondos e equipa-
rados, exigindo-se o cumprimento de 2/5 da pena, se o apenado
Realização de Exame Criminológico for primário, e 3/5 da pena, se reincidente.
Surge com isto uma nova controvérsia, partes dos juristas vi-
A discussão que gira em torno do exame criminológico ad- ram esta lei como verdadeira hipótese de novatio legis in mellius,
vém de uma reforma legislativa à LEP em 2003. Até então, exigia- sujeita, portanto, à aplicação retroativa. Portanto, todos os crimes
-se como requisito para progressão de regime, não só o cumpri- hediondos praticados antes da lei aplicar-se-iam os novos lapsos
mento de pelo menos 1/6 da pena (requisito objetivo) e o mérito já que antes não era permitida à progressão. De outro lado esta
do sentenciado, mas também um parecer da Comissão Técnica de lei não poderia retroagir tendo em vista que os lapsos que esta
Classificação e exame criminológico (requisito subjetivo). Depois traz para a progressão eram mais gravosos ao sentenciado já que o
lapso aplicado aos delitos anteriores a lei era do artigo 112 da LEP,
da alteração sofrida pelo artigo 112, não há mais previsão expressa
ou seja, cumprimento de 1/6 da pena.
sobre a exigência do exame criminológico. Hoje, para progressão
Diante de tal controvérsia o STF editou a Súmula Vinculan-
de regime, além do requisito temporal, há exigência de bom com- te nº 26, estipulando que para efeito de progressão de regime no
portamento carcerário apenas, que será atestado pelo diretor do cumprimento de pena por crime hediondo, ou equiparado, o juízo
estabelecimento penal. Com a nova redação dada ao artigo 112 da execução terá que observar a inconstitucionalidade do artigo 2º
da LEP pela Lei nº 10.792/03, não é mais necessário a realização da Lei nº 8072/90, aplicando assim os lapsos previstos na LEP para
de exame criminológico para a progressão do regime. Contudo, progressão dos crimes cometidos antes da Lei nº 11.464/07.
mesmo após a alteração alguns juízes continuaram exigindo a re-
alização de tal exame para a progressão, que este não havia sido Regressão de Regime
abolido apenas tinha deixado de ser obrigatório.
Para acabar com as controvérsias o STJ editou a Súmula 439, Ocorre a regressão quando o sentenciado é transferido a um
que afirma que o exame criminológico é admitido para atender as regime mais rigoroso. As hipóteses para regressão são: I) praticar
peculiaridades do caso e em decisão motivada. Esta é a orientação fato definido como crime doloso ou falta grave; II) sofrer conde-
que devemos seguir então, partindo-se do pressuposto que o exa- nação, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena

Didatismo e Conhecimento 55
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
em execução, torne incabível o regime e; III) quando no regime I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência
aberto, frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a multa escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profis-
cumulativamente imposta. sionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional
Deste modo, presentes as condições acima o juiz estará auto- - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; 
rizado a rever o regime de cumprimento, e regredir o sentencia- II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. 
do gradualmente ao regime mais severo imediatamente anterior. § 2o  As atividades de estudo a que se refere o § 1o deste artigo
Ressalta-se que, diferentemente do que ocorre nas hipóteses de poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia
progressão, na regressão é possível a transferência direta do regi- de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades
me aberto para o fechado. educacionais competentes dos cursos frequentados. 
§ 3o  Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas
Prática de Falta Grave diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se com-
patibilizarem. 
As faltas disciplinares classificam-se em leves, médias e gra- § 4o  O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no
ves. As faltas leves e médias serão definidas pela legislação local. trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-se com a remição.
São faltas graves as relacionadas no artigo 50 da LEP: “incitar § 5o  O tempo a remir em função das horas de estudo será
ou participar de movimentos para subverter a ordem ou a disci- acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão do ensino funda-
plina; fugir; possuir indevidamente, instrumento capaz de ofen- mental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde
der a integridade física de outrem; provocar acidente de trabalho; que certificada pelo órgão competente do sistema de educação.
descumprir, no regime aberto, as condições impostas; inobservar § 6o  O condenado que cumpre pena em regime aberto ou se-
os deveres previstos nos incisos II (é dever do condenado a obe- miaberto e o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela
diência ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional,
relacionar-se) e V (é dever do condenado a execução do trabalho, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova, ob-
das tarefas e das ordens recebidas) do artigo 39 da LEP; tiver em servado o disposto no inciso I do § 1o deste artigo.
sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou si- § 7o  O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão
milar, que permita a comunicação com outros presos ou com o cautelar.
ambiente externo”. § 8o  A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos
o Ministério Público e a defesa. 
Poderá o juiz, determinar cautelarmente a regressão do conde-
nado que fugir, sem ofensa ao disposto no artigo 112, §2º, da LEP. Destarte, a remição é um instituto em que, pelo trabalho ou
Sem prejuízo posteriormente quando recapturado, proceder-se-á a estudo, dá-se como cumprida parte da pena. Porém, esta não reduz
oitiva do condenado em respeito ao princípio da ampla defesa. o total da pena imposta ao condenado, mas abrevia o tempo de
O cometimento de falta disciplinar de natureza grave durante sua duração. Por isso, determina a lei que seja ela computada para
o cumprimento da pena obsta a concessão de benefícios, devendo progressão (artigo 111 da LEP) e para a concessão do livramento
o lapso temporal ser contado a partir da prática da infração. A prá- condicional e indulto (artigo 128 da LEP).
tica de falta grave implica ainda na perda dos dias remidos ou a
remir anteriores ao fato. Livramento Condicional
Súmula nº 441 do STJ: a falta grave não interrompe o prazo
para obtenção de livramento condicional. O livramento condicional trata-se de um instituto, destinado a
permitir a redução do tempo de prisão com a concessão antecipada
Unificação de Penas e provisória da liberdade do condenado; quando é cumprida a pena
privativa de liberdade, mediante o preenchimento de determinados
Quando o sentenciado sofrer nova condenação durante o cum- requisitos e a aceitação de certas condições.
primento de pena por delito cometido anteriormente e o total da O livramento condicional conforme entendimento de vasta
pena restante com a pena imposta ultrapassar os limites legais es- doutrina e jurisprudência consiste na última fase da execução pe-
tipulados para o regime, nos termos do artigo 33 do Código Penal, nal, pois implica na liberação do sentenciado. Enquanto no regime
haverá a possibilidade de regressão para um regime de pena mais aberto o sentenciado cumpre pena privativa de liberdade, no li-
rigoroso. vramento condicional ele está sujeito ao período de prova, motivo
pelo qual este instituto delineia-se como a transição entre a prisão
Remição e a liberdade.
De acordo com o artigo 83 do Código Penal o preso pode-
A remição de penas permite que o condenado que cumpre a rá receber o livramento condicional desde que: “I) condenado a
pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho pena de privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos;
ou por estudo, parte do tempo de execução da pena inicialmente II) cumprido um período mínino de pena na seguinte proporção:
atribuído na sentença nos termos do artigo 126 da LEP, vejamos: -mais de 1/3 (um terço) da pena se o condenado não for rein-
Art. 126.  O condenado que cumpre a pena em regime fechado cidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; -mais de 1/2
ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do (metade) da pena se o condenado for reincidente em crime doloso;
tempo de execução da pena. -mais de 2/3 (dois terços) da pena, nos casos de condenação por
§ 1o  A contagem de tempo referida no caput será feita à razão crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecen-
de:  tes e drogas afins e terrorismo, se o apenado não for reincidente

Didatismo e Conhecimento 56
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
específico em crimes desta natureza; III) comprovado comporta- Para melhor definir o instituto, se deveria considerá-lo expressa-
mento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho mente como suspensão condicional da execução penal, haja vista
no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria que não é a condenação que fica suspensa, uma vez que esta sub-
subsistência mediante trabalho honesto; IV) tenha reparado, salvo siste para todos os efeitos legais. Assim, considera-se a condena-
efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; ção para exigência do pagamento da multa ou o ressarcimento de
e V) se condenado por crime doloso, cometido com violência ou dano, para reconhecimento da reincidência ou a recusa de segunda
grave ameaça à pessoa, constatem-se condições pessoais que fa- aplicação do mesmo benefício legal, com exceção, deste modo
çam presumir que o liberado não voltará a delinquir”. unicamente de seu efeito privativo de liberdade.
Durante o cumprimento do livramento, exige-se do condena- O sursis é considerado pela doutrina moderna como um di-
do um comportamento adequado, que no mínimo se satisfaça com reito subjetivo do réu, e sempre que o condenado preencher os
uma conduta distante da prática de infrações penais. requisitos será obrigatório ao juiz conceder àquele a suspensão da
Se vier a cometer alguma infração penal o juiz poderá orde- execução.
nar sua prisão, suspendendo-se o curso do livramento condicional. Para a concessão do sursis o juiz examinará os seguintes pres-
supostos: “I) montante da pena privativa de liberdade aplicada;
Não é a suspensão automática, tendo que ser declarada expressa-
II) o condenado não seja reincidente em crime doloso; III) a cul-
mente pelo juiz da execução para que tenha efeito.
pabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do
Posteriormente, sobrevindo uma sentença condenatória defi-
agente, bem como os motivos e as circunstâncias que autorizem a
nitiva à pena privativa de liberdade a revogação do livramento será concessão do benefício; IV) não seja indicada ou cabível a substi-
obrigatória (infração penal punida com pena de multa ou restritiva tuição prevista no artigo 44 do Código Penal (penas alternativas)”.
deverá ser analisada caso a caso). Pode ocorrer a revogação facul-
tativa do livramento condicional, quando o liberado não satisfizer Compete ao juiz da execução decidir a respeito da revogação
os termos da sentença concessória. do sursis (artigo 162 da LEP), da modificação das condições e re-
O sistema da LEP considera uma grave afronta à confiança na gras estabelecidas na sentença que concedeu (artigo 158, §2º da
autodisciplina do condenado a prática de um crime durante o curso LEP), da prorrogação do prazo quando ocorrer causa facultativa
do benéfico. Desta maneira, se tem um tratamento diferenciado de revogação (artigo 81, §3º do CP), da decretação da extinção da
quando da revogação do livramento, o período em que o condena- punibilidade pelo decurso do prazo sem a ocorrência de causa de
do esteve em liberdade não é computado como pena cumprida, e revogação (artigo 82 do CP), bem como estabelecer as condições
ao retornar ao cárcere, deverá cumpri-lo novamente. do benefício quando lhe for conferida a incumbência pelo Tribunal
Sendo, porém a infração penal anterior a vigência do livra- e a realização da audiência admonitória na hipótese de concessão
mento, o tempo de liberdade deverá ser computado para todos os pela instância superior (artigo 159, §2º da LEP).
efeitos.
Da Execução da Pena de Multa
Da Execução das Penas Restritivas de Direitos
A pena de multa é considerada uma pena não institucional.
São penas alternativas as penas privativas de liberdade, ex- Possui a finalidade de evitar a privação da liberdade do sentencia-
pressamente previstas em lei, tendo por fim evitar o encarceramen- do que tenha uma infração penal de menor gravidade, favorecendo
to de determinados criminosos, autores de infrações penais con- sua permanência no convívio familiar.
sideradas mais leves, promovendo-lhes a recuperação através de O artigo 49 do CP reza que a pena de multa consiste na obri-
restrição de certos direitos. gação de pagar ao fundo penitenciário a quantia fixada na sentença
No nosso ordenamento jurídico estão previstas cinco espécies e calculada em dias-multa. É a obrigação do sentenciado de pagar
de penas restritivas de direitos: prestação pecuniária, perda de ao Estado determinada quantia certa.
Em razão de sua origem esta poderá aparecer previamente
bens e valores, prestação de serviços à comunidade ou a entida-
cominada em abstrato, isolada, cumulativa ou alternativa com a
des públicas, interdições temporárias de direitos e limitação de
pena privativa de liberdade, independente de cominação na parte
fim de semana.
especial ou legislação extravagante.
As penas restritivas de direitos são autônomas e substitutivas.
São substitutivas porque derivam da permuta que se faz após a Em seguida transcrevemos o que prevê a LEP sobre o assun-
aplicação, na sentença condenatória, da pena restritiva de direito to:
e autônomas porque subsistem por si mesmas após a substituição.
Cabe ressaltar que o Supremo Tribunal Federal em recente de- TÍTULO V
cisão proferida no julgamento do Habeas Corpus nº 97.256/RS, Da Execução das Penas em Espécie
declarou inconstitucional a vedação da aplicação da substituição
da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos quando CAPÍTULO I
cabível no crime de tráfico de entorpecentes prevista no art. 33, Das Penas Privativas de Liberdade
§4º da Lei nº 11.343/06.
SEÇÃO I
Da Suspensão Condicional da Execução da Pena (SURSIS) Disposições Gerais

O sursis é conhecido como a suspensão condicional da pena, Art. 105. Transitando em julgado a sentença que aplicar pena
o réu condenado a pena privativa de liberdade não será submetido privativa de liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, o Juiz
a sua execução se preencher os pressupostos estabelecidos na lei. ordenará a expedição de guia de recolhimento para a execução.

Didatismo e Conhecimento 57
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 106. A guia de recolhimento, extraída pelo escrivão, que a nos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom compor-
rubricará em todas as folhas e a assinará com o Juiz, será remetida tamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento,
à autoridade administrativa incumbida da execução e conterá: respeitadas as normas que vedam a progressão. 
I - o nome do condenado; § 1o A decisão será sempre motivada e precedida de manifes-
II - a sua qualificação civil e o número do registro geral no tação do Ministério Público e do defensor.
órgão oficial de identificação; § 2o Idêntico procedimento será adotado na concessão de li-
III - o inteiro teor da denúncia e da sentença condenatória, vramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados
bem como certidão do trânsito em julgado; os prazos previstos nas normas vigentes. 
IV - a informação sobre os antecedentes e o grau de instrução;
V - a data da terminação da pena; Art. 113. O ingresso do condenado em regime aberto supõe
VI - outras peças do processo reputadas indispensáveis ao a aceitação de seu programa e das condições impostas pelo Juiz.
adequado tratamento penitenciário.
§ 1º Ao Ministério Público se dará ciência da guia de recolhi- Art. 114. Somente poderá ingressar no regime aberto o con-
mento. denado que:
§ 2º A guia de recolhimento será retificada sempre que so- I - estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-
brevier modificação quanto ao início da execução ou ao tempo de -lo imediatamente;
duração da pena. II - apresentar, pelos seus antecedentes ou pelo resultado dos
§ 3° Se o condenado, ao tempo do fato, era funcionário da Ad- exames a que foi submetido, fundados indícios de que irá ajustar-
ministração da Justiça Criminal, far-se-á, na guia, menção dessa -se, com autodisciplina e senso de responsabilidade, ao novo re-
circunstância, para fins do disposto no § 2°, do artigo 84, desta Lei. gime.
Parágrafo único. Poderão ser dispensadas do trabalho as pes-
Art. 107. Ninguém será recolhido, para cumprimento de pena soas referidas no artigo 117 desta Lei.
privativa de liberdade, sem a guia expedida pela autoridade judi-
ciária. Art. 115. O Juiz poderá estabelecer condições especiais para a
§ 1° A autoridade administrativa incumbida da execução pas- concessão de regime aberto, sem prejuízo das seguintes condições
sará recibo da guia de recolhimento para juntá-la aos autos do pro- gerais e obrigatórias:
cesso, e dará ciência dos seus termos ao condenado. I - permanecer no local que for designado, durante o repouso
§ 2º As guias de recolhimento serão registradas em livro es- e nos dias de folga;
II - sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados;
pecial, segundo a ordem cronológica do recebimento, e anexadas
III - não se ausentar da cidade onde reside, sem autorização
ao prontuário do condenado, aditando-se, no curso da execução, o
judicial;
cálculo das remições e de outras retificações posteriores.
IV - comparecer a Juízo, para informar e justificar as suas ati-
vidades, quando for determinado.
Art. 108. O condenado a quem sobrevier doença mental será
internado em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico.
Art. 116. O Juiz poderá modificar as condições estabelecidas,
de ofício, a requerimento do Ministério Público, da autoridade ad-
Art. 109. Cumprida ou extinta a pena, o condenado será posto ministrativa ou do condenado, desde que as circunstâncias assim
em liberdade, mediante alvará do Juiz, se por outro motivo não o recomendem.
estiver preso.
Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário
SEÇÃO II de regime aberto em residência particular quando se tratar de:
Dos Regimes I - condenado maior de 70 (setenta) anos;
II - condenado acometido de doença grave;
Art. 110. O Juiz, na sentença, estabelecerá o regime no qual o III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou men-
condenado iniciará o cumprimento da pena privativa de liberdade, tal;
observado o disposto no artigo 33 e seus parágrafos do Código IV - condenada gestante.
Penal.
Art. 118. A execução da pena privativa de liberdade ficará
Art. 111. Quando houver condenação por mais de um crime, sujeita à forma regressiva, com a transferência para qualquer dos
no mesmo processo ou em processos distintos, a determinação do regimes mais rigorosos, quando o condenado:
regime de cumprimento será feita pelo resultado da soma ou uni- I - praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;
ficação das penas, observada, quando for o caso, a detração ou II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada
remição. ao restante da pena em execução, torne incabível o regime (artigo
Parágrafo único. Sobrevindo condenação no curso da execu- 111).
ção, somar-se-á a pena ao restante da que está sendo cumprida, § 1° O condenado será transferido do regime aberto se, além
para determinação do regime. das hipóteses referidas nos incisos anteriores, frustrar os fins da
execução ou não pagar, podendo, a multa cumulativamente im-
Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em for- posta.
ma progressiva com a transferência para regime menos rigoroso, a § 2º Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, deverá
ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao me- ser ouvido previamente o condenado.

Didatismo e Conhecimento 58
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 119. A legislação local poderá estabelecer normas com- § 2o  Quando se tratar de frequência a curso profissionalizante,
plementares para o cumprimento da pena privativa de liberdade de instrução de ensino médio ou superior, o tempo de saída será o
em regime aberto (artigo 36, § 1º, do Código Penal). necessário para o cumprimento das atividades discentes.
§ 3o  Nos demais casos, as autorizações de saída somente po-
SEÇÃO III derão ser concedidas com prazo mínimo de 45 (quarenta e cinco)
Das Autorizações de Saída dias de intervalo entre uma e outra.
SUBSEÇÃO I
Da Permissão de Saída Art. 125. O benefício será automaticamente revogado quando
o condenado praticar fato definido como crime doloso, for punido
Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fecha- por falta grave, desatender as condições impostas na autorização
do ou semiaberto e os presos provisórios poderão obter permissão ou revelar baixo grau de aproveitamento do curso.
para sair do estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um Parágrafo único. A recuperação do direito à saída temporária
dos seguintes fatos: dependerá da absolvição no processo penal, do cancelamento da
I - falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, as- punição disciplinar ou da demonstração do merecimento do con-
cendente, descendente ou irmão; denado.
II - necessidade de tratamento médico (parágrafo único do ar-
tigo 14). SEÇÃO IV
Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo di- Da Remição
retor do estabelecimento onde se encontra o preso.
Art. 126.  O condenado que cumpre a pena em regime fechado
Art. 121. A permanência do preso fora do estabelecimento terá ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do
a duração necessária à finalidade da saída. tempo de execução da pena.
§ 1o  A contagem de tempo referida no caput será feita à razão
SUBSEÇÃO II de: 
Da Saída Temporária I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência
escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profis-
Art. 122. Os condenados que cumprem pena em regime se- sionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional
miaberto poderão obter autorização para saída temporária do esta- - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias; 
belecimento, sem vigilância direta, nos seguintes casos: II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho. 
I - visita à família; § 2o  As atividades de estudo a que se refere o § 1o deste artigo
II - frequência a curso supletivo profissionalizante, bem como poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia
de instrução do 2º grau ou superior, na Comarca do Juízo da Exe- de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades
cução; educacionais competentes dos cursos frequentados. 
III - participação em atividades que concorram para o retorno § 3o  Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas
ao convívio social. diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se com-
Parágrafo único.  A ausência de vigilância direta não impede a patibilizarem. 
utilização de equipamento de monitoração eletrônica pelo conde- § 4o  O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no
nado, quando assim determinar o juiz da execução.  trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-se com a remição.
§ 5o  O tempo a remir em função das horas de estudo será
Art. 123. A autorização será concedida por ato motivado do acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão do ensino funda-
Juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a administração mental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde
penitenciária e dependerá da satisfação dos seguintes requisitos: que certificada pelo órgão competente do sistema de educação.
I - comportamento adequado; § 6o  O condenado que cumpre pena em regime aberto ou se-
II - cumprimento mínimo de 1/6 (um sexto) da pena, se o con- miaberto e o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela
denado for primário, e 1/4 (um quarto), se reincidente; frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional,
III - compatibilidade do benefício com os objetivos da pena. parte do tempo de execução da pena ou do período de prova, ob-
servado o disposto no inciso I do § 1o deste artigo.
Art. 124. A autorização será concedida por prazo não superior § 7o  O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão
a 7 (sete) dias, podendo ser renovada por mais 4 (quatro) vezes cautelar.
durante o ano. § 8o  A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos
§ 1o  Ao conceder a saída temporária, o juiz imporá ao bene- o Ministério Público e a defesa. 
ficiário as seguintes condições, entre outras que entender compa-
tíveis com as circunstâncias do caso e a situação pessoal do con- Art. 127.  Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até
denado:  1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no art. 57,
I - fornecimento do endereço onde reside a família a ser visi- recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar. 
tada ou onde poderá ser encontrado durante o gozo do benefício; 
II - recolhimento à residência visitada, no período noturno;  Art. 128.  O tempo remido será computado como pena cum-
III - proibição de frequentar bares, casas noturnas e estabele- prida, para todos os efeitos.
cimentos congêneres. 

Didatismo e Conhecimento 59
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 129.  A autoridade administrativa encaminhará mensal- Art. 137. A cerimônia do livramento condicional será realiza-
mente ao juízo da execução cópia do registro de todos os conde- da solenemente no dia marcado pelo Presidente do Conselho Pe-
nados que estejam trabalhando ou estudando, com informação dos nitenciário, no estabelecimento onde está sendo cumprida a pena,
dias de trabalho ou das horas de frequência escolar ou de ativida- observando-se o seguinte:
des de ensino de cada um deles.   I - a sentença será lida ao liberando, na presença dos demais
§ 1o  O condenado autorizado a estudar fora do estabelecimen- condenados, pelo Presidente do Conselho Penitenciário ou mem-
to penal deverá comprovar mensalmente, por meio de declaração bro por ele designado, ou, na falta, pelo Juiz;
da respectiva unidade de ensino, a frequência e o aproveitamento II - a autoridade administrativa chamará a atenção do liberan-
escolar.       do para as condições impostas na sentença de livramento;
§ 2o  Ao condenado dar-se-á a relação de seus dias remidos.  III - o liberando declarará se aceita as condições.
§ 1º De tudo em livro próprio, será lavrado termo subscrito
Art. 130. Constitui o crime do artigo 299 do Código Penal por quem presidir a cerimônia e pelo liberando, ou alguém a seu
declarar ou atestar falsamente prestação de serviço para fim de ins- rogo, se não souber ou não puder escrever.
truir pedido de remição. § 2º Cópia desse termo deverá ser remetida ao Juiz da exe-
cução.
SEÇÃO V
Art. 138. Ao sair o liberado do estabelecimento penal, ser-lhe-
Do Livramento Condicional
-á entregue, além do saldo de seu pecúlio e do que lhe pertencer,
uma caderneta, que exibirá à autoridade judiciária ou administrati-
Art. 131. O livramento condicional poderá ser concedido pelo
va, sempre que lhe for exigida.
Juiz da execução, presentes os requisitos do artigo 83, incisos e § 1º A caderneta conterá:
parágrafo único, do Código Penal, ouvidos o Ministério Público e a) a identificação do liberado;
Conselho Penitenciário. b) o texto impresso do presente Capítulo;
c) as condições impostas.
Art. 132. Deferido o pedido, o Juiz especificará as condições § 2º Na falta de caderneta, será entregue ao liberado um salvo-
a que fica subordinado o livramento. -conduto, em que constem as condições do livramento, podendo
§ 1º Serão sempre impostas ao liberado condicional as obri- substituir-se a ficha de identificação ou o seu retrato pela descrição
gações seguintes: dos sinais que possam identificá-lo.
a) obter ocupação lícita, dentro de prazo razoável se for apto § 3º Na caderneta e no salvo-conduto deverá haver espaço
para o trabalho; para consignar-se o cumprimento das condições referidas no artigo
b) comunicar periodicamente ao Juiz sua ocupação; 132 desta Lei.
c) não mudar do território da comarca do Juízo da execução,
sem prévia autorização deste. Art. 139. A observação cautelar e a proteção realizadas por
§ 2° Poderão ainda ser impostas ao liberado condicional, entre serviço social penitenciário, Patronato ou Conselho da Comunida-
outras obrigações, as seguintes: de terão a finalidade de:
a) não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à auto- I - fazer observar o cumprimento das condições especificadas
ridade incumbida da observação cautelar e de proteção; na sentença concessiva do benefício;
b) recolher-se à habitação em hora fixada; II - proteger o beneficiário, orientando-o na execução de suas
c) não frequentar determinados lugares. obrigações e auxiliando-o na obtenção de atividade laborativa.
d) (VETADO) Parágrafo único. A entidade encarregada da observação cau-
telar e da proteção do liberado apresentará relatório ao Conselho
Art. 133. Se for permitido ao liberado residir fora da comarca Penitenciário, para efeito da representação prevista nos artigos 143
do Juízo da execução, remeter-se-á cópia da sentença do livramen- e 144 desta Lei.
to ao Juízo do lugar para onde ele se houver transferido e à autori-
Art. 140. A revogação do livramento condicional dar-se-á nas
dade incumbida da observação cautelar e de proteção.
hipóteses previstas nos artigos 86 e 87 do Código Penal.
Parágrafo único. Mantido o livramento condicional, na hipó-
Art. 134. O liberado será advertido da obrigação de apresen-
tese da revogação facultativa, o Juiz deverá advertir o liberado ou
tar-se imediatamente às autoridades referidas no artigo anterior.
agravar as condições.
Art. 135. Reformada a sentença denegatória do livramento, Art. 141. Se a revogação for motivada por infração penal ante-
os autos baixarão ao Juízo da execução, para as providências ca- rior à vigência do livramento, computar-se-á como tempo de cum-
bíveis. primento da pena o período de prova, sendo permitida, para a con-
cessão de novo livramento, a soma do tempo das 2 (duas) penas.
Art. 136. Concedido o benefício, será expedida a carta de li-
vramento com a cópia integral da sentença em 2 (duas) vias, reme- Art. 142. No caso de revogação por outro motivo, não se com-
tendo-se uma à autoridade administrativa incumbida da execução putará na pena o tempo em que esteve solto o liberado, e tampouco
e outra ao Conselho Penitenciário. se concederá, em relação à mesma pena, novo livramento.

Didatismo e Conhecimento 60
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 143. A revogação será decretada a requerimento do Mi- Art. 146-D.  A monitoração eletrônica poderá ser revogada: 
nistério Público, mediante representação do Conselho Penitenciá- I - quando se tornar desnecessária ou inadequada; 
rio, ou, de ofício, pelo Juiz, ouvido o liberado. II - se o acusado ou condenado violar os deveres a que estiver
sujeito durante a sua vigência ou cometer falta grave.
Art. 144.  O Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Pú-
blico, da Defensoria Pública ou mediante representação do Conse- CAPÍTULO II
lho Penitenciário, e ouvido o liberado, poderá modificar as condi- Das Penas Restritivas de Direitos
ções especificadas na sentença, devendo o respectivo ato decisório SEÇÃO I
ser lido ao liberado por uma das autoridades ou funcionários in- Disposições Gerais
dicados no inciso I do caput do art. 137 desta Lei, observado o
disposto nos incisos II e III e §§ 1o e 2o do mesmo artigo.  Art. 147. Transitada em julgado a sentença que aplicou a pena
restritiva de direitos, o Juiz da execução, de ofício ou a reque-
Art. 145. Praticada pelo liberado outra infração penal, o Juiz rimento do Ministério Público, promoverá a execução, podendo,
poderá ordenar a sua prisão, ouvidos o Conselho Penitenciário e o para tanto, requisitar, quando necessário, a colaboração de entida-
Ministério Público, suspendendo o curso do livramento condicio- des públicas ou solicitá-la a particulares.
nal, cuja revogação, entretanto, ficará dependendo da decisão final.
Art. 148. Em qualquer fase da execução, poderá o Juiz, mo-
Art. 146. O Juiz, de ofício, a requerimento do interessado, do tivadamente, alterar, a forma de cumprimento das penas de pres-
Ministério Público ou mediante representação do Conselho Peni- tação de serviços à comunidade e de limitação de fim de semana,
tenciário, julgará extinta a pena privativa de liberdade, se expirar o ajustando-as às condições pessoais do condenado e às característi-
prazo do livramento sem revogação. cas do estabelecimento, da entidade ou do programa comunitário
ou estatal.
Seção VI
Da Monitoração Eletrônica  SEÇÃO II
Da Prestação de Serviços à Comunidade

Art. 146-A.  (VETADO).  Art. 149. Caberá ao Juiz da execução:


I - designar a entidade ou programa comunitário ou estatal,
Art. 146-B.  O juiz poderá definir a fiscalização por meio da devidamente credenciado ou convencionado, junto ao qual o con-
monitoração eletrônica quando:  denado deverá trabalhar gratuitamente, de acordo com as suas ap-
I - (VETADO); tidões;
II - autorizar a saída temporária no regime semiaberto;   II - determinar a intimação do condenado, cientificando-o da
III - (VETADO); entidade, dias e horário em que deverá cumprir a pena;
IV - determinar a prisão domiciliar;  III - alterar a forma de execução, a fim de ajustá-la às modifi-
V - (VETADO); cações ocorridas na jornada de trabalho.
Parágrafo único.  (VETADO).  § 1º o trabalho terá a duração de 8 (oito) horas semanais e será
realizado aos sábados, domingos e feriados, ou em dias úteis, de
Art. 146-C.  O condenado será instruído acerca dos cuidados modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho, nos horários
que deverá adotar com o equipamento eletrônico e dos seguintes estabelecidos pelo Juiz.
deveres: § 2º A execução terá início a partir da data do primeiro com-
I - receber visitas do servidor responsável pela monitoração parecimento.
eletrônica, responder aos seus contatos e cumprir suas orientações; 
II - abster-se de remover, de violar, de modificar, de danificar Art. 150. A entidade beneficiada com a prestação de serviços
de qualquer forma o dispositivo de monitoração eletrônica ou de encaminhará mensalmente, ao Juiz da execução, relatório circuns-
permitir que outrem o faça;   tanciado das atividades do condenado, bem como, a qualquer tem-
III - (VETADO);  po, comunicação sobre ausência ou falta disciplinar.
Parágrafo único.  A violação comprovada dos deveres previs-
tos neste artigo poderá acarretar, a critério do juiz da execução, SEÇÃO III
ouvidos o Ministério Público e a defesa:  Da Limitação de Fim de Semana
I - a regressão do regime; 
II - a revogação da autorização de saída temporária;  Art. 151. Caberá ao Juiz da execução determinar a intimação
III - (VETADO);  do condenado, cientificando-o do local, dias e horário em que de-
IV - (VETADO);  verá cumprir a pena.
V - (VETADO);  Parágrafo único. A execução terá início a partir da data do
VI - a revogação da prisão domiciliar;  primeiro comparecimento.
VII - advertência, por escrito, para todos os casos em que o
juiz da execução decida não aplicar alguma das medidas previstas Art. 152. Poderão ser ministrados ao condenado, durante o
nos incisos de I a VI deste parágrafo.  tempo de permanência, cursos e palestras, ou atribuídas atividades
educativas.

Didatismo e Conhecimento 61
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Parágrafo único.  Nos casos de violência doméstica contra a § 4º O beneficiário, ao comparecer periodicamente à entidade
mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do fiscalizadora, para comprovar a observância das condições a que
agressor a programas de recuperação e reeducação. está sujeito, comunicará, também, a sua ocupação e os salários ou
proventos de que vive.
Art. 153. O estabelecimento designado encaminhará, mensal- § 5º A entidade fiscalizadora deverá comunicar imediatamente
mente, ao Juiz da execução, relatório, bem assim comunicará, a ao órgão de inspeção, para os fins legais, qualquer fato capaz de
qualquer tempo, a ausência ou falta disciplinar do condenado. acarretar a revogação do benefício, a prorrogação do prazo ou a
modificação das condições.
SEÇÃO IV § 6º Se for permitido ao beneficiário mudar-se, será feita co-
Da Interdição Temporária de Direitos municação ao Juiz e à entidade fiscalizadora do local da nova resi-
dência, aos quais o primeiro deverá apresentar-se imediatamente.
Art. 154. Caberá ao Juiz da execução comunicar à autoridade
competente a pena aplicada, determinada a intimação do conde- Art. 159. Quando a suspensão condicional da pena for con-
nado. cedida por Tribunal, a este caberá estabelecer as condições do be-
§ 1º Na hipótese de pena de interdição do artigo 47, inciso I, nefício.
do Código Penal, a autoridade deverá, em 24 (vinte e quatro) ho- § 1º De igual modo proceder-se-á quando o Tribunal modifi-
ras, contadas do recebimento do ofício, baixar ato, a partir do qual car as condições estabelecidas na sentença recorrida.
a execução terá seu início. § 2º O Tribunal, ao conceder a suspensão condicional da pena,
§ 2º Nas hipóteses do artigo 47, incisos II e III, do Código Pe- poderá, todavia, conferir ao Juízo da execução a incumbência de
nal, o Juízo da execução determinará a apreensão dos documentos, estabelecer as condições do benefício, e, em qualquer caso, a de
que autorizam o exercício do direito interditado. realizar a audiência admonitória.

Art. 155. A autoridade deverá comunicar imediatamente ao Art. 160. Transitada em julgado a sentença condenatória, o
Juiz da execução o descumprimento da pena. Juiz a lerá ao condenado, em audiência, advertindo-o das consequ-
Parágrafo único. A comunicação prevista neste artigo poderá ências de nova infração penal e do descumprimento das condições
ser feita por qualquer prejudicado. impostas.

Art. 161. Se, intimado pessoalmente ou por edital com prazo


CAPÍTULO III
de 20 (vinte) dias, o réu não comparecer injustificadamente à audi-
Da Suspensão Condicional
ência admonitória, a suspensão ficará sem efeito e será executada
imediatamente a pena.
Art. 156. O Juiz poderá suspender, pelo período de 2 (dois)
a 4 (quatro) anos, a execução da pena privativa de liberdade, não
Art. 162. A revogação da suspensão condicional da pena e a
superior a 2 (dois) anos, na forma prevista nos artigos 77 a 82 do
prorrogação do período de prova dar-se-ão na forma do artigo 81 e
Código Penal.
respectivos parágrafos do Código Penal.
Art. 157. O Juiz ou Tribunal, na sentença que aplicar pena Art. 163. A sentença condenatória será registrada, com a nota
privativa de liberdade, na situação determinada no artigo anterior, de suspensão em livro especial do Juízo a que couber a execução
deverá pronunciar-se, motivadamente, sobre a suspensão condi- da pena.
cional, quer a conceda, quer a denegue. § 1º Revogada a suspensão ou extinta a pena, será o fato aver-
bado à margem do registro.
Art. 158. Concedida a suspensão, o Juiz especificará as condi- § 2º O registro e a averbação serão sigilosos, salvo para efeito
ções a que fica sujeito o condenado, pelo prazo fixado, começando de informações requisitadas por órgão judiciário ou pelo Ministé-
este a correr da audiência prevista no artigo 160 desta Lei. rio Público, para instruir processo penal.
§ 1° As condições serão adequadas ao fato e à situação pessoal
do condenado, devendo ser incluída entre as mesmas a de prestar CAPÍTULO IV
serviços à comunidade, ou limitação de fim de semana, salvo hipó- Da Pena de Multa
tese do artigo 78, § 2º, do Código Penal.
§ 2º O Juiz poderá, a qualquer tempo, de ofício, a requeri- Art. 164. Extraída certidão da sentença condenatória com
mento do Ministério Público ou mediante proposta do Conselho trânsito em julgado, que valerá como título executivo judicial, o
Penitenciário, modificar as condições e regras estabelecidas na Ministério Público requererá, em autos apartados, a citação do
sentença, ouvido o condenado. condenado para, no prazo de 10 (dez) dias, pagar o valor da multa
§ 3º A fiscalização do cumprimento das condições, reguladas ou nomear bens à penhora.
nos Estados, Territórios e Distrito Federal por normas supletivas, § 1º Decorrido o prazo sem o pagamento da multa, ou o depó-
será atribuída a serviço social penitenciário, Patronato, Conselho sito da respectiva importância, proceder-se-á à penhora de tantos
da Comunidade ou instituição beneficiada com a prestação de ser- bens quantos bastem para garantir a execução.
viços, inspecionados pelo Conselho Penitenciário, pelo Ministério § 2º A nomeação de bens à penhora e a posterior execução
Público, ou ambos, devendo o Juiz da execução suprir, por ato, a seguirão o que dispuser a lei processual civil.
falta das normas supletivas.

Didatismo e Conhecimento 62
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 165. Se a penhora recair em bem imóvel, os autos aparta- Assim preleciona a Lei de Execução Penal:
dos serão remetidos ao Juízo Cível para prosseguimento.
TÍTULO VI
Art. 166. Recaindo a penhora em outros bens, dar-se-á prosse- Da Execução das Medidas de Segurança
guimento nos termos do § 2º do artigo 164, desta Lei.
CAPÍTULO I
Art. 167. A execução da pena de multa será suspensa quando Disposições Gerais
sobrevier ao condenado doença mental (artigo 52 do Código Pe-
nal). Art. 171. Transitada em julgado a sentença que aplicar medida
de segurança, será ordenada a expedição de guia para a execução.
Art. 168. O Juiz poderá determinar que a cobrança da multa se
efetue mediante desconto no vencimento ou salário do condenado, Art. 172. Ninguém será internado em Hospital de Custódia e
nas hipóteses do artigo 50, § 1º, do Código Penal, observando-se Tratamento Psiquiátrico, ou submetido a tratamento ambulatorial,
o seguinte: para cumprimento de medida de segurança, sem a guia expedida
I - o limite máximo do desconto mensal será o da quarta parte pela autoridade judiciária.
da remuneração e o mínimo o de um décimo;
II - o desconto será feito mediante ordem do Juiz a quem de Art. 173. A guia de internamento ou de tratamento ambulato-
direito; rial, extraída pelo escrivão, que a rubricará em todas as folhas e a
III - o responsável pelo desconto será intimado a recolher subscreverá com o Juiz, será remetida à autoridade administrativa
mensalmente, até o dia fixado pelo Juiz, a importância determi- incumbida da execução e conterá:
nada. I - a qualificação do agente e o número do registro geral do
órgão oficial de identificação;
Art. 169. Até o término do prazo a que se refere o artigo 164 II - o inteiro teor da denúncia e da sentença que tiver aplicado
desta Lei, poderá o condenado requerer ao Juiz o pagamento da a medida de segurança, bem como a certidão do trânsito em jul-
multa em prestações mensais, iguais e sucessivas. gado;
§ 1° O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências III - a data em que terminará o prazo mínimo de internação, ou
para verificar a real situação econômica do condenado e, ouvido o do tratamento ambulatorial;
Ministério Público, fixará o número de prestações. IV - outras peças do processo reputadas indispensáveis ao
§ 2º Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação adequado tratamento ou internamento.
econômica, o Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Pú- § 1° Ao Ministério Público será dada ciência da guia de reco-
blico, revogará o benefício executando-se a multa, na forma pre- lhimento e de sujeição a tratamento.
vista neste Capítulo, ou prosseguindo-se na execução já iniciada. § 2° A guia será retificada sempre que sobrevier modificações
quanto ao prazo de execução.
Art. 170. Quando a pena de multa for aplicada cumulativa-
mente com pena privativa da liberdade, enquanto esta estiver sen- Art. 174. Aplicar-se-á, na execução da medida de segurança,
do executada, poderá aquela ser cobrada mediante desconto na naquilo que couber, o disposto nos artigos 8° e 9° desta Lei.
remuneração do condenado (artigo 168).
§ 1º Se o condenado cumprir a pena privativa de liberdade ou CAPÍTULO II
obtiver livramento condicional, sem haver resgatado a multa, far- Da Cessação da Periculosidade
-se-á a cobrança nos termos deste Capítulo.
§ 2º Aplicar-se-á o disposto no parágrafo anterior aos casos Art. 175. A cessação da periculosidade será averiguada no fim
em que for concedida a suspensão condicional da pena. do prazo mínimo de duração da medida de segurança, pelo exame
das condições pessoais do agente, observando-se o seguinte:
- DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA I - a autoridade administrativa, até 1 (um) mês antes de expirar
o prazo de duração mínima da medida, remeterá ao Juiz minucioso
O juiz reconhecendo que o réu praticou um fato típico e anti- relatório que o habilite a resolver sobre a revogação ou permanên-
jurídico e averiguando que o sentenciado é inimputável ou semi- cia da medida;
-inimputável e perigoso, ou seja, tem alta probabilidade de voltar a II - o relatório será instruído com o laudo psiquiátrico;
delinquir, poderá aplicar medidas de segurança. III - juntado aos autos o relatório ou realizadas as diligências,
A medida de segurança nos termos da lei deverá ser aplicada serão ouvidos, sucessivamente, o Ministério Público e o curador
obrigatoriamente ao réu inimputável e ao semi-inimputável, facul- ou defensor, no prazo de 3 (três) dias para cada um;
tativamente em substituição à pena, quando o acusado necessitar IV - o Juiz nomeará curador ou defensor para o agente que
de especial tratamento curativo. não o tiver;
Esta será fixada com o prazo mínimo de um ano e o máxi- V - o Juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes,
mo de três anos, e poderá ser detentiva (internação em hospital de poderá determinar novas diligências, ainda que expirado o prazo
custódia e tratamento psiquiátrico) e não detentiva (sujeição do de duração mínima da medida de segurança;
sentenciado a tratamento ambulatorial). VI - ouvidas as partes ou realizadas as diligências a que se
refere o inciso anterior, o Juiz proferirá a sua decisão, no prazo de
5 (cinco) dias.

Didatismo e Conhecimento 63
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 176. Em qualquer tempo, ainda no decorrer do prazo mí- O indulto trata-se de ato administrativo discricionário, emi-
nimo de duração da medida de segurança, poderá o Juiz da execu- tido pelo Presidente da República, constitucionalmente previsto
ção, diante de requerimento fundamentado do Ministério Público como uma de suas competências privativas no artigo 84, XII da
ou do interessado, seu procurador ou defensor, ordenar o exame CF. Pode ser individual ou coletivo.
para que se verifique a cessação da periculosidade, procedendo-se Em sua origem, o indulto é um ato de clemência coletiva, sem
nos termos do artigo anterior. individualização, que pelas condições dos condenados, a natureza
da infração, a quantidade ou qualidade da pena encontram-se na
Art. 177. Nos exames sucessivos para verificar-se a cessação situação prevista no decreto.
da periculosidade, observar-se-á, no que lhes for aplicável, o dis- O indulto individual pode ser total (ou pleno), alcançando
posto no artigo anterior. todas as sanções impostas ao condenado, ou parcial (ou restrito)
com a redução ou substituição da sanção imposta ao condenado,
caso em que toma o nome de comutação. No indulto há perdão da
Art. 178. Nas hipóteses de desinternação ou de liberação (ar-
pena, na comutação dispensa-se o cumprimento de parte da pena
tigo 97, § 3º, do Código Penal), aplicar-se-á o disposto nos artigos aplicada.
132 e 133 desta Lei. Quando o decreto de indulto for publicado, o juiz, de ofício
ou a requerimento do interessado, do Ministério Público, por ini-
Art. 179. Transitada em julgado a sentença, o Juiz expedirá ciativa do Conselho Penitenciário ou da autoridade administrativa,
ordem para a desinternação ou a liberação. após instaurar o incidente, ouvirá as partes e decidindo pelo provi-
mento, declarará extinta a punibilidade.
- DOS INCIDENTES DE EXECUÇÃO
TÍTULO VII
Qualquer causa acessória que prejudique a normal conclusão Dos Incidentes de Execução
do processo será considerada como um incidente. CAPÍTULO I
A LEP prevê, expressamente, como incidentes da execução: Das Conversões
as conversões (artigo 180), o excesso ou desvio (artigo 185) e a
anistia e o indulto (artigo 187). Art. 180. A pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois)
anos, poderá ser convertida em restritiva de direitos, desde que:
Do Excesso ou Desvio I - o condenado a esteja cumprindo em regime aberto;
II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena;
III - os antecedentes e a personalidade do condenado indi-
Ocorre excesso na execução quando a medida aplicada ul-
quem ser a conversão recomendável.
trapassa a necessária, em desproporção visível. Deste modo, se o
Art. 181. A pena restritiva de direitos será convertida em pri-
sentenciado está preso por mais tempo que o determinado na sen- vativa de liberdade nas hipóteses e na forma do artigo 45 e seus
tença, ou ainda, quando fica isolado (sanção disciplinar) por mais incisos do Código Penal.
de 30 dias, há o excesso. § 1º A pena de prestação de serviços à comunidade será con-
O desvio pode ser positivo ou negativo, indica a finalidade da vertida quando o condenado:
pena não está sendo cumprida. Assim toda vez que a autoridade se a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido,
afastar dos parâmetros legais fixados pela LEP para o cumprimen- ou desatender a intimação por edital;
to da pena, estará agindo com desvio na execução. Por exemplo, b) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou progra-
não permitir que o maior de 70 anos, que se encontra em regime ma em que deva prestar serviço;
aberto, tenha direito à prisão domiciliar. c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe
foi imposto;
Conversões d) praticar falta grave;
e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liber-
A conversão é a substituição de uma sanção por outra, pena dade, cuja execução não tenha sido suspensa.
ou medida de segurança, no curso da execução. O sentenciado, § 2º A pena de limitação de fim de semana será convertida
dentro dos parâmetros fixados pela LEP poderá sofrer determina- quando o condenado não comparecer ao estabelecimento designa-
do para o cumprimento da pena, recusar-se a exercer a atividade
das alterações no cumprimento de sua pena, durante a execução,
determinada pelo Juiz ou se ocorrer qualquer das hipóteses das
que podem ser favoráveis ou desfavoráveis. A conversão ocorrerá
letras “a”, “d” e “e” do parágrafo anterior.
sempre através de um procedimento judicial. § 3º A pena de interdição temporária de direitos será conver-
tida quando o condenado exercer, injustificadamente, o direito in-
Anistia e Indulto terditado ou se ocorrer qualquer das hipóteses das letras “a” e “e”,
do § 1º, deste artigo.
A anistia é a declaração, por parte do Estado, de que abdica Art. 182.  (Revogado)
do jus puniendi de certa conduta criminosa praticada em um de-
terminado lugar, e em uma determinada época. Trata-se de um ato Art. 183.  Quando, no curso da execução da pena privativa
político, de competência exclusiva da União previsto no artigo 21, de liberdade, sobrevier doença mental ou perturbação da saúde
XVII da CF e entregue ao Congresso Nacional através do artigo mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da
48, VIII. Portanto, a anistia somente poderá ser concedida através Defensoria Pública ou da autoridade administrativa, poderá deter-
de lei. minar a substituição da pena por medida de segurança. 

Didatismo e Conhecimento 64
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Art. 184. O tratamento ambulatorial poderá ser convertido em - DO PROCEDIMENTO JUDICIAL
internação se o agente revelar incompatibilidade com a medida.
Parágrafo único. Nesta hipótese, o prazo mínimo de interna- O procedimento correspondente às situações previstas nesta
ção será de 1 (um) ano. Lei será judicial, desenvolvendo-se perante o Juízo da execução.
CAPÍTULO II O procedimento judicial iniciar-se-á de ofício, a requerimento do
Do Excesso ou Desvio Ministério Público, do interessado, de quem o represente, de seu
cônjuge, parente ou descendente, mediante proposta do Conselho
Art. 185. Haverá excesso ou desvio de execução sempre que Penitenciário, ou, ainda, da autoridade administrativa.
algum ato for praticado além dos limites fixados na sentença, em
normas legais ou regulamentares. Competência do Juiz das Execuções Criminais
Inicia-se a competência do juiz das execuções com o trânsito
Art. 186. Podem suscitar o incidente de excesso ou desvio de em julgado da condenação (art. 669 do CPP). Frise-se, no entanto,
execução: a admissibilidade da execução provisória da sentença transitada
I - o Ministério Público; em julgado para o MP, sendo também competente o juiz das exe-
II - o Conselho Penitenciário; cuções. Por outras palavras, estando pendente de apreciação re-
III - o sentenciado; curso exclusivo da defesa, torna-se viável a execução imediata da
IV - qualquer dos demais órgãos da execução penal. sentença condenatória. Nesse sentido, posicionaram-se o Conse-
lho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo,
CAPÍTULO III por intermédio do Provimento n. 653/99, e a Corregedoria Geral
Da Anistia e do Indulto da Justiça (Provimento n.15/99). O Procurador-Geral de Justiça
do Estado de São Paulo determinou a publicação do Aviso sob n.
Art. 187. Concedida a anistia, o Juiz, de ofício, a requerimento 337/99, no qual noticiou a orientação da Promotoria das Execu-
do interessado ou do Ministério Público, por proposta da autorida- ções Criminais da Capital, nos seguintes termos: “A execução pro-
de administrativa ou do Conselho Penitenciário, declarará extinta visória é admissível, nos termos do Provimento n. 653/99 do Con-
a punibilidade. selho Superior da Magistratura, salvo nas hipóteses em que houver
recurso da acusação com possível reformatio in pejus, hipótese em
Art. 188. O indulto individual poderá ser provocado por peti- que deverão ser tomadas as medidas judiciais competentes, por se
ção do condenado, por iniciativa do Ministério Público, do Conse- tratar de posição institucional”. É importante não vincular o início
lho Penitenciário, ou da autoridade administrativa. da competência do juiz das execuções, que se dará nos casos su-
pracitados, com o princípio do processo de execução. O início do
Art. 189. A petição do indulto, acompanhada dos documentos processo de execução ocorrerá com a autuação da guia de recolhi-
que a instruírem, será entregue ao Conselho Penitenciário, para a mento (art. 105).
elaboração de parecer e posterior encaminhamento ao Ministério
da Justiça. Guia de Recolhimento

Art. 190. O Conselho Penitenciário, à vista dos autos do pro- Como o próprio nome indica, trata-se de documento que orien-
cesso e do prontuário, promoverá as diligências que entender ne- tará a execução da pena privativa de liberdade. Segundo o disposto
cessárias e fará, em relatório, a narração do ilícito penal e dos fun- no art. 107 da LEP, ninguém será recolhido para cumprimento da
damentos da sentença condenatória, a exposição dos antecedentes pena privativa de liberdade, sem a guia expedida pela autoridade
do condenado e do procedimento deste depois da prisão, emitindo judiciária. É o juiz do processo de conhecimento que determinará
seu parecer sobre o mérito do pedido e esclarecendo qualquer for- a elaboração e a expedição da guia de recolhimento, desde que o
malidade ou circunstâncias omitidas na petição. condenado esteja preso ou assim que tal fato lhe for comunicado.
O conteúdo da guia de recolhimento está disciplinado no art. 106
Art. 191. Processada no Ministério da Justiça com documen- da LEP. Ela conterá: o nome do condenado; sua qualificação civil
tos e o relatório do Conselho Penitenciário, a petição será submeti- e o número do registro geral no órgão oficial de identificação; o
da a despacho do Presidente da República, a quem serão presentes inteiro teor da denúncia e da sentença condenatória, bem como
os autos do processo ou a certidão de qualquer de suas peças, se da certidão do trânsito em julgado; a informação dos antecedentes
ele o determinar. e o grau de instrução; a data do término da pena; outras peças do
processo reputadas indispensáveis ao adequado tratamento peni-
Art. 192. Concedido o indulto e anexada aos autos cópia do tenciário. A guia de recolhimento será alterada, quando necessário
decreto, o Juiz declarará extinta a pena ou ajustará a execução aos pelo juiz da execução, especialmente quanto ao início e ao término
termos do decreto, no caso de comutação. de cumprimento da pena. Segundo determina o art. 76 do CP, no
concurso de infrações, executar-se-á primeiramente a pena mais
Art. 193. Se o sentenciado for beneficiado por indulto coleti- grave. O CPP, no art. 681, complementa a orientação dispondo que
vo, o Juiz, de ofício, a requerimento do interessado, do Ministério será executada primeiro a de reclusão, depois a de detenção e, por
Público, ou por iniciativa do Conselho Penitenciário ou da autori- último, a de prisão simples.
dade administrativa, providenciará de acordo com o disposto no Compete ao juiz do processo de conhecimento, na sentença, a
artigo anterior. fixação do regime inicial para o cumprimento da pena privativa de
liberdade, nos termos do art. 110 da LEP, observado o disposto no

Didatismo e Conhecimento 65
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
art. 33 do CP. Para a determinação do regime inicial concorrerão Art. 199. O emprego de algemas será disciplinado por decreto
os critérios estabelecidos no art. 59 do CP (culpabilidade, antece- federal.
dentes, conduta social, personalidade do agente; motivos, circuns-
tâncias e consequências do crime; comportamento da vítima) Art. 200. O condenado por crime político não está obrigado
Se a sentença for omissa a respeito, ela poderá ser suprida pelo ao trabalho.
juiz que a prolatou, por força de embargos declaratórios ou de ofí-
cio, enquanto não transitar em julgado. O tribunal, no exame de re- Art. 201. Na falta de estabelecimento adequado, o cumpri-
curso, poderá determinar que o juiz de primeiro grau complete sua mento da prisão civil e da prisão administrativa se efetivará em
função jurisdicional indicando o regime adequado, suficiente para
seção especial da Cadeia Pública.
a reprovação e prevenção do crime (art. 59 do CP).Se o condena-
do tiver outras condenações, a tarefa de preenchimento da lacuna
verificada na sentença poderá ser atribuída ao juiz das execuções. Art. 202. Cumprida ou extinta a pena, não constarão da folha
A ele competirá, ainda, a fixação do regime inicial quando hou- corrida, atestados ou certidões fornecidas por autoridade policial
ver várias condenações impostas em processos distintos (diversas ou por auxiliares da Justiça, qualquer notícia ou referência à con-
guias de recolhimento). denação, salvo para instruir processo pela prática de nova infração
penal ou outros casos expressos em lei.
Agravo em Execução
Art. 203. No prazo de 6 (seis) meses, a contar da publicação
De todas as decisões proferidas pelo juiz da execução penal, desta Lei, serão editadas as normas complementares ou regulamen-
caberá o recurso de agravo, sem efeito suspensivo; ficando, desta tares, necessárias à eficácia dos dispositivos não autoaplicáveis.
forma, revogadas as disposições do Código de Processo Penal que § 1º Dentro do mesmo prazo deverão as Unidades Federati-
previam o cabimento de recurso em sentido estrito para determina- vas, em convênio com o Ministério da Justiça, projetar a adap-
das matérias em execução penal.
tação, construção e equipamento de estabelecimentos e serviços
O STF editou a Súmula nº 700, neste sentido: “é de cinco dias
o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da penais previstos nesta Lei.
execução penal”. Pacificando assim qualquer controvérsia. § 2º Também, no mesmo prazo, deverá ser providenciada a
aquisição ou desapropriação de prédios para instalação de casas
Vamos acompanhar o que dispõe a LEP acerca do assunto: de albergados.
§ 3º O prazo a que se refere o caput deste artigo poderá ser
TÍTULO VIII ampliado, por ato do Conselho Nacional de Política Criminal e
Do Procedimento Judicial Penitenciária, mediante justificada solicitação, instruída com os
projetos de reforma ou de construção de estabelecimentos.
Art. 194. O procedimento correspondente às situações previs- § 4º O descumprimento injustificado dos deveres estabeleci-
tas nesta Lei será judicial, desenvolvendo-se perante o Juízo da dos para as Unidades Federativas implicará na suspensão de qual-
execução. quer ajuda financeira a elas destinada pela União, para atender às
despesas de execução das penas e medidas de segurança.
Art. 195. O procedimento judicial iniciar-se-á de ofício, a
requerimento do Ministério Público, do interessado, de quem o
represente, de seu cônjuge, parente ou descendente, mediante pro- Art. 204. Esta Lei entra em vigor concomitantemente com a
posta do Conselho Penitenciário, ou, ainda, da autoridade admi- lei de reforma da Parte Geral do Código Penal, revogadas as dispo-
nistrativa. sições em contrário, especialmente a Lei nº 3.274, de 2 de outubro
de 1957.
Art. 196. A portaria ou petição será autuada ouvindo-se, em 3
(três) dias, o condenado e o Ministério Público, quando não figu-
rem como requerentes da medida.
§ 1º Sendo desnecessária a produção de prova, o Juiz decidirá 9 DISPOSIÇÕES
de plano, em igual prazo. CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO
§ 2º Entendendo indispensável a realização de prova pericial DIREITO PROCESSUAL PENAL.
ou oral, o Juiz a ordenará, decidindo após a produção daquela ou
na audiência designada.

Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de


agravo, sem efeito suspensivo. Como visto, o Processo Penal em nosso país encontra-se res-
guardado e norteado não apenas por princípios infraconstitucio-
- DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS nais, mas também por preceitos fundamentais com embasamento
constitucional, retratando postulados essenciais da política proces-
TÍTULO IX sual penal adotada pelo ordenamento jurídico pátrio.
Das Disposições Finais e Transitórias A contemplação de certas instituições jurídicas processuais
penais na Constituição Federal é justificada face à necessidade de
Art. 198. É defesa ao integrante dos órgãos da execução penal, que tais princípios restem imunes às leis infraconstitucionais e,
e ao servidor, a divulgação de ocorrência que perturbe a segurança assim, sejam insuscetíveis de “eventuais artimanhas legislativas
e a disciplina dos estabelecimentos, bem como exponha o preso à e a possibilidade de se macular ou por em risco a segurança do
inconveniente notoriedade, durante o cumprimento da pena. processo penal contra direitos e garantias pessoais”. Pretende-se,

Didatismo e Conhecimento 66
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
destarte, preservar conquistas relativas ao pleno exercício da defe- aplicar-se em relação à finalidade e efeitos da medida considerada,
sa da pessoa alvo da persecução penal, sem a preocupação de, por devendo estar presente por isso uma razoável relação de propor-
questões políticas do País, ter-se alterada, com certa facilidade, a cionalidade entre os meios empregados e a finalidade perseguida,
segurança processual, possibilitando o surgimento de desvios, ex- sempre em conformidade com os direitos e garantias constitucio-
cessos ou qualquer tipo de abuso que venha a prejudicar o devido nalmente protegidos. Assim, os tratamentos normativos diferen-
processo legal. ciados são compatíveis com a Constituição Federal quando veri-
Observe-se que a persecução penal rege-se por padrões nor- ficada a existência de uma finalidade razoavelmente proporcional
mativos que traduzem limitações ao poder do Estado, protegendo ao fim visado”.
o cidadão do arbítrio judicial e da coerção estatal, salvaguardando Em que pese a expressa disposição constitucional da igual-
sua liberdade individual que só poderá ser restringida se o órgão dade perante a lei, a absoluta igualdade jurídica e formal não é
acusador conseguir comprovar, mediante elementos de certeza suficiente para prover a efetiva isonomia insculpida no espírito do
produzidos sob a égide do contraditório e da ampla defesa, a cul- legislador constituinte. Almeja-se, então, a igualdade substancial,
pabilidade do réu. material ou proporcional, consubstanciada na máxima aristotélica
Insta observar que, não obstante as disciplinas processuais do tratamento igual aos iguais e desigual aos desiguais, na medida
embasarem-se, sobretudo, em princípios constitucionais, alguns de sua desigualdade.
destes têm aplicação diversa no campo do processo civil e do A busca da igualdade proporcional encontra guarida em nos-
processo penal, ora apresentando feições ambivalentes (regra da so ordenamento jurídico, sendo que, conforme esclarecem Cintra,
disponibilidade e da verdade formal, no processo civil – regra da Grinover e Dinamarco, “a aparente quebra do princípio da isono-
indisponibilidade e da verdade real, no processo penal), ora com mia, dentro e fora do processo, obedece exatamente ao princípio
aplicação idêntica em ambos os ramos do direito processual (prin- da igualdade real e proporcional, que impõe tratamento desigual
cípios da imparcialidade do juiz, do contraditório, da livre con- aos desiguais, justamente para que, supridas as diferenças, se atin-
vicção). ja a igualdade substancial”.
A seguir, cumpre-se discorrer, em apertada síntese, acerca Especificamente no Processo Penal, o princípio da igualdade
dos mais importantes princípios constitucionais que, a partir da é norteado pelo princípio do favor rei, que prescreve a prevalente
Constituição Cidadã de 1988, consubstanciaram-se em diretrizes proteção do status libertatis do réu em contraste com o ius punien-
inafastáveis à interpretação e ao regramento do arcabouço jurídi- di estatal. Como por exemplo, cite-se os artigos 386, VI (absolvi-
co brasileiro, visando a dar-lhe feição condizente com o Estado ção por insuficiência de provas), 607 e 609, parágrafo único (re-
Democrático de Direito adotado pela Carta Política em seu artigo cursos privativos da defesa) e 623 e 626, parágrafo único, (revisão
somente em favor do réu), todos do Código de Processo Penal. Na
1°. Tendo em vista o escopo do presente trabalho, será feita uma
seara do processo civil, o princípio da paridade de armas legitima
abordagem dentro da óptica do Direito Processual Penal.
normas tendentes a reequilibrar as partes e permitir a efetiva igual-
dade na lide.
1 Igualdade
Emana do caput do artigo 5° da Constituição Federal de 1988
2 Legalidade
a determinação de que “todos são iguais perante a lei, sem distin-
Pedra basilar do Estado de Direito e igualmente vital ao Esta-
ção de qualquer natureza”. Consagra-se, aí, o princípio da igual-
do Democrático de Direito, o princípio da legalidade está expres-
dade de direitos, sendo a todos assegurado um tratamento igualitá- samente previsto no artigo 5°, inciso II, da Constituição Federal
rio em três planos distintos: a) frente ao legislador e ao executivo, de 1988, onde se assegura que “ninguém será obrigado a fazer ou
no exercício constitucional de edição de leis, atos normativos e deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Atente-se,
medidas provisórias; b) frente ao intérprete dos dispositivos nor- contudo, que não se trata do império da lei nos moldes da genera-
mativos em vigência; c) frente ao próprio particular. lidade apregoada pelo Estado de Direito, mas da sujeição de toda
Aos primeiros, incumbe a criação de normas isonômicas, ve- atividade à lei democrática, expressão da vontade do povo, que
dados os tratamentos abusivamente diferenciados a pessoas que atende aos princípios da igualdade e da justiça no intuito de igualar
se encontram em situações idênticas. Aos intérpretes, em especial materialmente os desiguais.
as autoridades públicas, incumbe o dever de aplicar a lei e atos Fundado no princípio da legitimidade, decorrente do próprio
normativos de maneira igualitária, sem qualquer distinção em ra- Estado Democrático de Direito, o princípio da legalidade estabele-
zão de classe social, raça, sexo, religião, convicções filosóficas ou ce, nos dizeres de José Afonso da Silva, que “o Estado, ou o Poder
políticas. Quanto ao particular, não poderá pautar-se em condutas Público, ou os administradores não podem exigir qualquer ação,
discriminatórias, preconceituosas ou racistas, sob pena de respon- nem impor qualquer abstenção, nem mandar tampouco proibir
sabilidade civil e penal. nada aos administradores, senão em virtude em lei”.
Veda a Lei Maior as diferenciações arbitrárias, as discrimi- O princípio da legalidade é, por essência, um limite consti-
nações sem sentido, os tratamentos desiguais sem qualquer fina- tucional ao poder arbitrário do Estado, pois prevê que apenas por
lidade lícita acolhida pelo direito. Leciona Alexandre de Moraes meio de espécies normativas elaboradas com o devido rigor téc-
que, in verbis: nico – igualmente previsto nos dispositivos da Lei Maior – é que
“A desigualdade na lei se produz quando a norma distingue o Poder Público poderá criar obrigações para o indivíduo. Como
de forma não razoável ou arbitrária um tratamento específico a primado da lei, salienta Alexandre de Moraes, “cessa o privilégio
pessoas diversas. Para que as diferenciações normativas possam da vontade caprichosa do detentor do poder em benefício da lei”.
ser consideradas não discriminatórias, torna-se indispensável que Destarte, no princípio da legalidade, mais do que um direito, tem-
exista uma justicativa objetiva e razoável, de acordo com critérios -se uma garantia constitucional que impede a interveniência estatal
e juízos valorativos genericamente aceitos, cuja exigência deve senão por meio de lei.

Didatismo e Conhecimento 67
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Por fim, insta analisar a diferença que há entre o princípio 4 Contraditório
da legalidade e o da reserva legal. Enquanto que o primeiro é de O princípio do contraditório é uma garantia fundamental da
abrangência mais ampla, estabelecendo que qualquer comando ju- justiça, consubstanciada no brocardo romano audiatur et altera
rídico há de ser dado por meio de uma regra normativa geral, o pars. A Carta Política de 1988 consagrou em seu artigo 5°, inciso
princípio da reserva legal, mais específico, incide naquelas maté- LV, que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e
rias cuja regulamentação há de ser feita necessariamente por meio aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
de lei formal. Ensina-nos José Afonso da Silva, citando Crisafulli, defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.
que “tem-se, pois, a reserva de lei quando uma norma constitucio- No Processo Penal, diferente do que ocorre no âmbito civil,
nal atribui determinada matéria exclusivamente à lei formal (ou a a efetiva contrariedade à acusação é imperativa para o atingimen-
atos equiparados, na interpretação firmada na praxe, subtraindo-a, to dos escopos jurisdicionais, objetivo só possível com a absoluta
com isso, à disciplina de outras fontes, àquela subordinadas”. paridade de armas conferida às partes. O réu, pelo princípio do
Alexandre de Moraes, em estudo à diferenciação entre prin- contraditório, tem o direito de conhecer a acusação a ele imputa-
cípio da legalidade e o da reserva legal, esclarece que, enquanto
da e de contrariá-la, evitando que venha a ser condenado sem ser
o primeiro opera de maneira genérica e abstrata, o segundo ope-
ouvido. Trata-se da exteriorização da ampla defesa, impondo uma
ra concretamente, incidindo tão-somente sobre os campos mate-
riais especificados pela Constituição. Explica o sapiente doutri- condução dialética do processo, pois “a todo ato produzido caberá
nador que “se todos os comportamentos humanos estão sujeitos igual direito da outra parte de opor-se-lhe ou de dar-lhe a versão
ao princípio da legalidade, somente alguns estão submetidos ao que lhe convenha, ou, ainda, de fornecer uma interpretação jurídi-
da reserva da lei. Este é, portanto, de menor abrangência, mas de ca diversa daquela feita pelo autor”.
maior densidade ou conteúdo, visto exigir o tratamento de matéria Percebe-se, portanto, que o princípio do contraditório é uma
exclusivamente pelo Legislativo, sem participação normativa do garantia constitucional que assegura a ampla defesa do acusado,
Executivo”. proporcionando a este o exercício pleno de seu direito de defesa.
Merecem destaque as palavras de J. Canuto Mendes de Almeida
3 Devido Processo Legal que, sobre o tema, ensina, in verbis:
O processo é o instrumento pelo qual a prestação jurisdicional “A verdade atingida pela justiça pública não pode e não deve
é exercida pelo Estado-Juiz seguindo os imperativos da ordem ju- valer em juízo sem que haja oportunidade de defesa do indiciado.
rídica que, sinteticamente, envolve a garantia do contraditório e a É preciso que seja o julgamento precedido de atos inequívocos de
plenitude do direito de defesa, sendo estes corolários do princípio comunicação ao réu: de que vai acusado; dos termos precisos des-
do devido processo legal. sa acusação; e de seus fundamentos de fato (provas) e de direito.
Historicamente, a garantia do devido processo legal foi es- Necessário também é que essa comunicação seja feita a tempo de
boçada como law of the land, prevista no artigo 39 da Magna
possibilitar a contrariedade: nisso está o prazo para conhecimento
Carta, outorgada em 1.215, por João Sem-Terra. Com o passar do
exato dos fundamentos probatórios e legais da imputação e para
tempo, o instituto passou a ser chamado de due process of law e
sedimentou-se como garantia na Constituição dos Estados Unidos oposição da contrariedade e seus fundamentos de fato (provas) e
da América (Emendas V e XIV). Posteriormente, as constituições de direito.”
européias – italiana, portuguesa, espanhola, alemã, belga – inte- Júlio Fabrini Mirabete e Fernando da Costa Tourinho Filho
graram o devido processo legal no rol de suas garantias. lecionam do princípio do contraditório decorrem duas importantes
Salienta o ilustre doutrinador Scarance Fernandes que, num regras: a da igualdade processual e a da liberdade processual. Pela
primeiro momento, tinha-se uma visão individualista do devido primeira, as partes acusadora e acusada estão num mesmo plano e,
processo legal, concebido como uma forma de resguardar direitos por conseguinte, têm os mesmos direitos; pela segunda, o acusado
públicos subjetivos das partes. Contudo, tal pensamento sucumbiu tem a faculdade, entre outras, de nomear o advogado que bem en-
à ótica publicista que considera as regras do cogitado princípio tender, de apresentar provas lícitas que julgar as mais convenientes
garantias - e não direitos - das partes e do próprio processo como e de formular ou não reperguntas às testemunhas.
justo instrumento de prestação jurisdicional. Scarance Fernandes alerta sobre a diferença existente entre o
Com efeito, é por meio do processo que a parte pode, legal e contraditório e a igualdade processual. In verbis:
legitimamente, obter o deferimento de sua pretensão, de seu direito “O contraditório põe uma parte em confronto com a outra,
garantido. A atividade jurisdicional do Juiz, no intuito de ofertar ao exigindo que tenha ela ciência dos atos da parte contrária, com
caso a solução mais justa, é exercida tendo como palco o processo, possibilidade de contrariá-los. O princípio da igualdade, por ou-
onde, equilibradamente, as partes têm garantia ativa - na medida tro lado, coloca as duas partes em posição de similitude perante
em que, utilizando-o, pode reparar ilegalidades - e passiva - porque
o Estado e, no processo, perante o juiz. Não se confunde com o
impede a justiça pelas próprias mãos e possibilita a plenitude de
contraditório, nem o abrange. Apenas se relacionam, pois ao se ga-
defesa contra a pretensão punitiva do Estado, desautorizado que
está de impor restrições à liberdade do indivíduo sem o devido rantir a ambos os contendores o contraditório também se assegura
processo legal. tratamento igualitário.”
A Constituição Federal consagrou expressamente o princípio Neste diapasão, o princípio do contraditório também encontra
do due process of law, dispondo em seu artigo 5°, inciso LIV, que guarida na obrigatoriedade do caráter imparcial do órgão jurisdi-
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido cional. De fato, “o juiz, por força de seu dever de imparcialidade,
processo legal”. Assegura-se, portanto, a toda pessoa a garantia de coloca-se entre as partes, mas eqüidistantes delas: ouvindo uma,
não ser privada de sua liberdade ou da propriedade de seus bens não pode deixar de ouvir a outra; somente assim se dará a ambas a
sem a tramitação de um processo segundo a forma estabelecida possibilidade de expor suas razões, de apresentar suas provas, de
em lei. influir sobre o convencimento do juiz”.

Didatismo e Conhecimento 68
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Do exposto, tem-se que a necessidade de informação e a pos- delito, perícia, exame do local do crime, prisão provisória, fian-
sibilidade de reação são elementos essenciais do contraditório, que ça) seriam submetidas ao crivo do contraditório posteriormente,
deverá ser exercido de forma plena – durante todo o desenrolar da no processo, permitindo-se ao agora acusado contestar as provi-
causa - e efetiva – proporcionando condições reais de contrarieda- dências cautelares tomadas pela Autoridade Policial, bem como
de dos atos praticados pela parte ex adverso. a prova pericial realizada no Inquérito Policial. Fala-se, portanto,
Nesse sentido, afirmam Cintra, Grinover e Dinamarco que o em  contraditório diferido ou postergado, pois, como esclarece
contraditório não admite exceções e que, em virtude de sua na- Greco Filho, a “Constituição não exige, nem jamais exigiu, que o
tureza constitucional, deve ser substancialmente observado e não contraditório fosse prévio ou concomitante ao ato”.
apenas formalmente, devendo as normas que o desrespeitem serem Tourinho Filho reconhece que o indiciado pode ser privado de
consideradas inconstitucionais. sua liberdade em casos de flagrante, prisão temporária ou preven-
No Processo Civil, o princípio do contraditório também deve tiva, mas para essas situações, afirma o autor, deve o investigado
ser respeitado. Entretanto, e aqui se faz diferente, enquanto que valer-se do emprego do remédio heróico do habeas corpus, pros-
no Processo Penal a contrariedade deve ser plena e efetiva, na seguindo em sua tese da inadmissibilidade do contraditório na fase
seara civil basta que ao réu seja ofertada a oportunidade de rea- investigatória.
ção proporcionada pela citação, garantindo ao réu o direito de, se
quiser, participar do processo e responder aos atos da parte con- 5 Ampla Defesa
trária. Isso porque, enquanto que no Processo Civil tramitam, em O Estado tem o dever de proporcionar a todo acusado con-
regra, litígios sobre direitos disponíveis e o juiz pode satisfazer-se dições para o pleno exercício de seu direito de defesa, possibili-
com a verdade formal, no âmbito penal, os direitos em jogo são tando-o trazer ao processo os elementos que julgar necessários ao
indisponíveis e predomina o incessante desejo de o órgão juris- esclarecimento da verdade. Esta defesa há de ser completa, abran-
dicional descobrir a verdade real. No primeiro, o réu tem o ônus gendo não apenas a defesa pessoal (autodefesa)e a defesa técnica
de se defender, no segundo, tem o dever. Tendo em vista esta di- (efetuada por profissional detentor do ius postulandi), mas também
ferença, alguns doutrinadores preferem referir-se ao princípio do a facilitação do acesso à justiça, por exemplo, mediante a pres-
contraditório no Processo Civil como princípio da bilateralidade tação, pelo Estado, de assistência jurídica integral e gratuita aos
da audiência.
necessitados.
Acerca da aplicabilidade ou não do princípio do contraditório
Vicente Grego Filho afirma que a ampla defesa é constituí-
na fase pré-processual há diferentes posicionamentos na doutrina.
da a partir dos seguintes fundamentos: “a) ter conhecimento claro
Scarance e Tourinho Filho entendem que a Constituição Fe-
da imputação; b) poder apresentar alegações contra a acusação; c)
deral, em seu artigo 5°, inciso LV, ao mencionar a necessidade do
poder acompanhar a prova produzida e fazer contraprova; d) ter
contraditório nos processos judiciais e administrativos, não abran-
defesa técnica por advogado, cuja função, aliás, agora, é essencial
geu o Inquérito Policial, uma vez que este não pode ser conside-
à Administração da Justiça (art. 133 [CF/88]); e e) poder recorrer
rado um processo administrativo e nem mesmo um procedimento,
da decisão desfavorável”.
pois “falta-lhe característica essencial do procedimento, ou seja, a
formação de atos que devam obedecer a uma seqüência predeter- Com bastante razão e proficiência, afirma o douto estudioso
minada pela lei, em que, após a prática de um ato, passa-se à do que a ampla defesa é o cerne ao redor do qual se desenvolve o
seguinte até o último da série, numa ordem a ser necessariamente Processo Penal. Não se trata de mero direito, mas de uma dupla ga-
observada”. Ademais, ensina Tourinho Filho que o sobredito dis- rantia: do acusado e do justo processo. É uma condição legitimante
positivo constitucional faz menção a litigantes e na fase da investi- da própria jurisdição.
gação pré-processual não há litigante. Ressalta o insigne doutrina- Scarance Fernandes assevera que, embora estejam inegavel-
dor que a expressão processo administrativo contida na Lei Maior mente relacionados, não há relação de primazia ou derivação en-
não se refere ao Inquérito Policial, mas ao processo instaurado pela tre os princípios da ampla defesa e do contraditório, sendo ambos
Administração Pública para apuração de ilícitos administrativos, decorrentes da garantia constitucionalmente assegurada do devido
pois, nestes casos, há possibilidade de aplicação de uma sanção. processo legal.
Prossegue argumentando que “em face da possibilidade de inflição Convém salientar que o princípio constitucional da ampla
de ‘pena’, é natural deva haver o contraditório e a ampla defesa, defesa, expressamente previsto no artigo 5°, inciso LV, da Cons-
porquanto não seria justo a punição de alguém sem o direito de tituição Federal, não se confunde com a plenitude de defesa, insti-
defesa”, e que, em se tratando de Inquérito Policial, nenhuma pena tuto consagrado no artigo 5°, inciso XXXVIII, letra “a”, da Carta
pode ser imposta ao indiciado. Saliente-se que, de fato, a Autori- Magna de 1988. Este, na verdade, encontra-se dentro do princípio
dade Policial não acusa, apenas investiga. maior da ampla defesa, consubstanciando-se na garantia da apre-
Rogério Lauria Tucci, em contrapartida, sustenta que, para ciação de todas as teses e argumentos despendidos aos jurados e
maior garantia da liberdade e melhor atuação da defesa, há a ne- também ao magistrado.
cessidade de uma contraditoriedade efetiva e real em todas as fases O princípio da ampla defesa tem reflexos importantes dentro
da persecução, inclusive na fase pré-processual. Justifica-se o au- do Direito Processual Penal, norteando a aplicação das regras in-
tor com o instituto denominado contraditório posticipato ou dife- fraconstitucionais visando ao fiel respeito e salvaguarda dos pre-
rido, onde não há “violação à garantia da bilateralidade da audiên- ceitos fundamentais assegurados pela Constituição Federal. Neste
cia, que, firme, se vê apenas diferida para momento ulterior à pro- diapasão, alguns dispositivos do nosso Código de Processo Penal
nunciação de ato decisório liminar, prosseguindo-se regularmente de 1941 carecem ser analisados e relidos sob a nova ótica da Lei
no procedimento instaurado”. Assim sendo, as medidas cautelares Maior, a fim de que as garantias da Constituição Cidadã sejam
restritivas de ordem patrimonial ou pessoal (exame de corpo de plenamente exercitadas.

Didatismo e Conhecimento 69
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Assim, tem entendido a jurisprudência que, para a garantia Verifica-se a necessariedade da defesa técnica na medida em
da ampla defesa, o profissional constituído pelo réu deve ser sem- que, sem ela, não seria possível garantir-se a paridade de armas no
pre intimado para a realização de todos os atos processuais, con- processo, o que, per si, seria suficiente para a nulidade dos atos
trariando a regra do artigo 501 do CPP. De igual forma, devem praticados (artigo 564, III, “c”, CPP).
ser intimados acusador, réu e defensor para efeitos de trânsito em Considerando que a relação entre o acusado e seu defensor
julgado da sentença condenatória, pouco importando, no caso do deve pautar-se na confiança, cabe àquele constituir advogado se-
acusado, se este se encontra preso ou não. Isso revela uma clara e gundo seu livre arbítrio. Entretanto, não o fazendo, determinam
necessária releitura do artigo 392 do mesmo diploma legal. Ainda os artigos 263 e 265, do Código de Processo Penal, que o juiz,
em face do princípio da ampla defesa, o sigilo previsto no artigo obrigatoriamente, nomeie um defensor, não podendo o causídico
20 do CPP não pode ser oposto ao advogado do suspeito e a re- nomeado, sem motivo imperioso, renunciar à defesa.
gra do artigo 21, que permitia a incomunicabilidade do indiciado, Como já dito, mesmo o acusado que não dispõe de recursos
encontra-se revogada. para custear o patrocínio de advogado constituído tem direito à
Questão afeta à defesa e que é bastante controvertida na juris- assistência judiciária integral gratuita, segundo garante o artigo 5°,
prudência é a possibilidade ou não de nulidade decorrente da falta inciso LXXIV, da Constituição Federal de 1988. Sendo o acusado
de requisição de acusados presos para os atos de instrução. Predo- legalmente habilitado para o exercício da advocacia e, como tal,
mina o posicionamento de que é possível a arguição de nulidade conhecedor técnico das especificidades processuais, poderá exer-
relativa do processo se ficar provado o prejuízo para a defesa, uma cer, motu proprio, sua defesa técnica.
vez que, nesse caso, entende-se que o exercício da autodefesa não Por ser o direito de defesa garantia da própria justiça e condi-
teria sido efetivo. ção de paridade armas, imprescindível à concreta atuação do con-
Outra controvérsia envolvendo a influência do princípio da traditório e, consequentemente, à própria imparcialidade do juiz,
ampla defesa no Código de Processo Penal diz respeito a possibili- a defesa técnica torna-se indeclinável e irrenunciável, sem a qual
dade ou não de se seguir o processo sem as alegações finais, razões não seria possível se atingir uma solução justa.
ou contrarrazões de apelação quando o defensor, muito embora A defesa técnica há de ser plena, manifesta durante todo o
regularmente intimado, deixa de oferecê-las no prazo legal. Sobre processo, assegurando ao acusado, em todas as etapas do iter pro-
a ausência de alegações finais, concluiu o STJ tratar-se de peça cessual, as garantias que lhe são constitucional e legalmente con-
essencial da defesa e, portanto, não apresentada pelo advogado feridas, tais como o contraditório, o direito à prova e a garantia do
constituído, deve o Juiz, antes de prolatar a sentença, nomear de- duplo grau de jurisdição.
fensor para fazê-lo (RHC 1682-SP). No tocante às contrarrazões, A simples constituição ou nomeação de advogado para atu-
o STF decidiu que a não apresentação das mesmas em recurso do ar na causa não é suficiente para se comprovar a efetividade da
Ministério Público, havendo risco de ser agravada a situação do defesa. Não basta a presença do advogado, mas sua efetiva atu-
réu, constitui violação ao princípio do contraditório e da ampla ação no sentido de assistir com diligência e afinco ao seu cliente,
defesa (HC 71.234-RS). proporcionando-lhe o completo exercício de sua ampla defesa.
Importante inovação na garantia do direito de defesa foi trazida Cumpre ao juiz conduzir o processo e zelar para a preservação dos
ao ordenamento jurídico pátrio pela Lei n° 9.271, de 17/04/1996, princípios constitucionalmente assegurados às partes (contraditó-
que alterou o Código de Processo Penal, dando nova redação aos rio, igualdade de armas, devido processo legal, ampla defesa, en-
artigos 366 e 368. Em síntese, a alteração do referido dispositivo tre outros). Verificando o magistrado que uma atuação negligente,
representou o fim da visão tradicional de que o acusado poderia ser desatenciosa ou superficial do advogado está causando desnível na
condenado à revelia, prestigiando a atuação efetiva e concreta do balança da igualdade entre acusação e defesa, deverá, em cotejo
contraditório e da ampla defesa. Sob este prisma, dispõe o caput do com fortes evidências constatadas nesse sentido e sempre atento à
artigo 366 que “se o acusado, citado por edital, não comparecer, imparcialidade que deve nortear os atos judiciais, declarar o acusa-
nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do indefeso, solicitando-lhe que nomeie, num prazo estabelecido,
do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção an- novo defensor, sob pena de ser-lhe nomeado um a critério do juízo
tecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar (artigos 263 e 497, V, do CPP).
prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.”. Outrossim, Ao contrário da defesa técnica, o direito de autodefesa, em-
determina o artigo 368 que “estando o acusado no estrangeiro, em bora não possa ser desprezado pelo magistrado, é renunciável, ou
lugar sabido, será citado mediante carta rogatória, suspendendo-se seja, poderá o acusado, se assim desejar, declinar sua presença
o curso do prazo de prescrição até o seu cumprimento”. no interrogatório e em outros atos processuais de instrução, bem
como abster-se de postular pessoalmente aquilo que lhe é permiti-
1. Defesa Técnica e Autodefesa do por lei. Tem-se, portanto, as três facetas básicas da autodefesa:
No âmbito Processo Penal, o já mencionado princípio da am- 1) direito de audiência, quando, pessoalmente, tem a oportunidade
pla defesa compreende, em linhas gerais, o direito à defesa técni- de defender-se, apresentando ao juiz da causa sua versão dos fatos;
ca durante todo o processo e também o direito ao exercício da au- 2) direito de presença, por meio do qual lhe é facultado acompa-
todefesa. A primeira apresenta-se como uma defesa necessária, nhar os atos de instrução e, assim, auxiliar o defensor na realização
indeclinável, que deve ser plenamente exercida visando à máxima de sua defesa; e 3)  direito de postular  pessoalmente sua defesa,
efetividade possível. A segunda, por sua vez, é renunciável, exerci- interpondo recursos, impetrando habeas corpus e formulando
da pelo próprio acusado, sem interferência do defensor, a partir da pedidos relativos à execução de pena, sendo que, nestes casos, o
atuação pessoal junto ao magistrado por meio do interrogatório ou acusado ou sentenciado dá o impulso inicial ao ato, devendo, a
pela presença física aos principais atos processuais. posteriori, ser assistido por um defensor.

Didatismo e Conhecimento 70
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
O interrogatório é considerado ato de defesa renunciável, e caso diverso da verdadeira colidência de defesas, pois, nesta, o
não apenas um meio de prova, conforme equivocadamente dis- mesmo advogado assume a tarefa de defender dois réus cujas defe-
posto nos artigos 185 e seguintes do CPP, haja vista que o acusado sas são inconciliáveis por haver conflito de interesses. No caso em
não tem o dever, e nem pode ser obrigado, a fornecer elementos de testilha, contudo, tem-se uma aparente colidência, em regra plena-
prova contra sí. Outrossim, o acusado não é obrigado a comparecer mente conciliável, entre a defesa técnica e a autodefesa relativas
ao ato do interrogatório, sendo que, se o fizer, não tem o dever de ao mesmo acusado. Grinover, Scarance e Gomes Filho asseveram
dizer a verdade e nem mesmo, se assim desejar, de responder às que a apreciação sucessiva das linhas de defesa apresentadas é a
perguntas da autoridade. É justamente o direito ao silêncio que solução acertada para dirimir o aparente conflito que, na verdade,
“garante o enfoque do interrogatório como meio de defesa e que consubstancia-se em mera incompatibilidade lógica.
assegura a liberdade de consciência do acusado”. Alerta-nos os eminentes doutrinadores que pode acontecer,
Observe-se, entretanto, que o ato do interrogatório não poderá porém, que a defesa técnica ignore os argumentos defensivos apre-
deixar de ser levado a termo pelo juiz se o acusado apresentar-se sentados pelo réu em sua autodefesa. Neste caso, deverá o juiz
para depor, sob pena de cerceamento de autodefesa, uma vez que a proceder às seguintes análises: primeiramente, verificar se, no caso
liberdade desta é ampla, podendo ser exercitada pela exposição de em apreciação, o comportamento do defensor significou deixar o
argumentos contrários à tese da acusação ou pela simples postura réu indefeso, circunstância que, se constatada, implicará em nuli-
de permanecer em silêncio. Tamanha é a importância da autodefe- dade absoluta do processo, tendo em vista a incompatibilidade ter
sa que, não obstante os procedimentos penais preverem momentos afetado a defesa como um todo. Caso o resultado dessa primeira
certos para a realização do interrogatório, o acusado não interro- análise seja negativo, então deverá o juiz apreciar as diversas teses
gado no tempo determinado pelas normais processuais, mas que de defesa, também sob pena de nulidade. Já entenderam nossos
“venha a ser preso no curso do processo penal, ou compareça, es- Tribunais que, numa situação de total disparidade entre a autode-
pontaneamente ou em virtude de intimação, perante a autoridade fesa e a defesa técnica, sendo a apresentada pelo defensor a mais
judiciária, deve ser interrogado, sob pena de nulidade (art. 185). benéfica, deverá esta prevalecer sobre aquela.
Se a notícia da prisão surgir em grau de recurso, deve o tribunal
baixar os autos a fim de que se proceda ao interrogatório antes do 3 Direito ao Silêncio
julgamento”. Por força do artigo 564, III, “e”, do CPP, há nulidade O direito a não se auto-incriminar foi concebido, num primei-
insanável na falta de interrogatório do réu presente. ro momento, a partir da interpretação sistemática de consagradas
Em que pese a infringência à garantia constitucional impli- garantias constitucionais, notadamente, os princípios da ampla
car, prima facie, em nulidade absoluta do processo, os casos per- defesa, da presunção de inocência e, como não poderia deixar de
tinentes a ausência do ato processual defensivo necessitam, para ser, do devido processo legal. Concluiu-se, portanto, que ninguém
tanto, de análise da amplitude do prejuízo causado. Caso o pre- seria obrigado a se auto-incriminar, não podendo o acusado ou sus-
juízo seja suficiente a ponto de macular a defesa como um todo, peito ser coagido a produzir prova contra si mesmo.
a nulidade será absoluta (art. 564, III, “a”, “c”, “e”, “g”, “l”, “o”, A Convenção Americana de Direitos Humanos, também co-
CPP). Em contrapartida, havendo o vício de um ato defensivo que nhecida como Pacto de São José da Costa Rica, ratificada pelo
governo brasileiro por meio do Decreto n° 678, de 06/11/1992, in-
não tem o condão de interferir na amplitude de defesa, a nulidade
seriu, expressamente, no contexto jurídico-positivo de nosso país,
será relativa, dependendo da comprovação do prejuízo. É que, se-
o princípio de que a pessoa não está obrigada a produzir prova
gundo ensinam Grinover, Scarance e Gomes Filho, “nesses casos,
contra si mesma, prevendo em seu artigo 8°, n.2, “g”, que “toda
o vício ou a inexistência do ato defensivo pode não levar, como
pessoa tem direito de não ser obrigada a depor contra si mesma,
consequência necessária, à vulneração do direito de defesa, em sua
nem a declarar-se culpada”.
inteireza, dependendo a declaração de nulidade de demonstração
Do amplo princípio que veda a forçosa auto-incriminação, de-
do prejuízo à atividade defensiva como um todo”. corre o direito ao silêncio, manifestamente previsto no artigo 5°,
A Súmula 523 do Supremo Tribunal Federal sedimentou o en- inciso LXIII, da Constituição Federal de 1988, quando assegura
tendimento exposto ao estabelecer que “no processo penal, a falta que “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de
de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família
anulará se houver prova de prejuízo ao réu”. e de advogado”.
Muito embora o texto constitucional tenha se referido apenas
2 Colidência de Defesas ao preso, entendem a doutrina e a jurisprudência que a interpreta-
Diante da necessidade já exposta de uma defesa efetiva, não ção da regra constitucional, em cotejo com o princípio da presun-
se admite, em nossos Tribunais, a colidência de defesas, ou seja, ção de inocência, deve ser no sentido de que a garantia ao silêncio
um mesmo advogado patrocinando, em juízo, a defesa de dois acu- seja assegurada a toda e qualquer pessoa que sofra investigações
sados valendo-se de teses antagônicas. De fato, não poderá o cau- penais ou que esteja sendo acusada em juízo criminal, devendo o
sídico sustentar duas defesas colidentes, sendo certo que um dos ônus da culpabilidade ser imputado à acusação.
acusados restará prejudicado, compromentendo seu amplo direito Nesse contexto, face ao reconhecimento constitucional da
de defesa. Nesse sentido, Grinover, Scarance e Gomes Filho aler- prerrogativa de permanecerem em silêncio, o investigado, o indi-
tam que “a nomeação de um só defensor para réus que apresentem ciado e o réu têm o direito subjetivo de, se assim desejarem, não
versões antagônicas para os fatos apontados como delituosos sa- responderem às perguntas que lhes forem formuladas por qualquer
crifica irremediamente o direito de defesa”. autoridade ou agente do Estado, porquanto, escolhendo permane-
Não raro, pode ocorrer de as linhas de defesa técnica e autode- cer calados - exercitando, assim, legitimamente a prerrogativa que
fesa apresentarem, entre si, argumentação divergente, alternativa, têm - não podem sofrer qualquer restrição ou prejuízo de ordem
cumulável ou até mesmo excludente. Trata-se, no particular, de jurídica no plano da persecução penal.

Didatismo e Conhecimento 71
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
José Carlos Gobbis Pagliuca esclarece que a cláusula legi- É mister observar, contudo, que, em regra, um interrogatório
timadora do direito ao silêncio consagrou, no âmbito do sistema viciado invalida as provas dele decorrentes, ainda mais se essen-
normativo constitucional brasileiro, diretriz proclamada em 1971, cial para a validade de outro ato processual. Neste caso específico,
pela Quinta Emenda que compõe o Bill of Rights norte-americano. a nulidade do interrogatório comunicar-se-á com os atos processu-
Acrescenta o ilustre autor que o direito de ficar em silêncio “inse- ais embasados no mesmo, conforme já se pronunciou a 1ª Turma
re-se no alcance concreto da cláusula constitucional do devido pro- do STF no julgamento do HC 78.708-SP (RTJ 168/977): “Em prin-
cesso legal. E esse direito ao silêncio inclui, até mesmo de forma cípio, ao invés de constituir desprezível irregularidade, a omissão
implícita, a prerrogativa processual de o indiciado ou réu negar, do dever de informação ao preso dos seus direitos, no momento
ainda que falsamente, perante a autoridade policial ou judiciária, a adequado, gera efetivamente a nulidade e impõe a desconsideração
prática da infração penal que lhe foi imputada”. de todas as informações incriminatórias dele anteriormente obti-
Rogério Tucci também ressalta que o direito de permanecer das, assim com as provas derivadas”.
calado “não pode importar desfavorecimento do imputado, até Frise-se, entretanto, que a posição do Supremo Tribunal Fe-
mesmo porque consistiria inominado absurdo entender-se que o deral, conforme restou evidenciado no bojo do sobredito julgado,
exercício de um direito, expresso na Lei das Leis como fundamen- é a de que deve ser ponderada a orientação da defesa do réu no
tal ao indivíduo, possa acarretar-lhe qualquer desvantagem”. processo: se a de realmente permanecer silente, fazendo o ônus
Sobre esta questão, pronunciou-se o Pleno do Supremo Tri- da prova recair sobre a acusação; ou se de intervenção ativa no
bunal Federal assegurando que “o réu, ainda negando falsamente processo, situação na qual, segundo nosso Excelso Pretório, o réu
a prática do delito, não pode, em virtude do princípio constitucio- abdica do direito de manter-se calado e das consequências da falta
nal que protege qualquer acusado ou indiciado contra a auto-in- de informação oportuna a respeito.
criminação, sofrer, em função do legítimo exercício desse direito, Por último, resta analisar o caso em que o réu não é cienti-
restrição que afete o seu estatus poenalis” (HC 68.742-DF, Rel. ficado de seu direito de permanecer calado, mas, mesmo assim,
Ministro Ilmar Galvão – DJU 02.04.93). deixa de responder às perguntas feitas pela autoridade interrogan-
À luz do explanado, o direito ao silêncio há de ser exercido te ou, se respondendo, nega as acusações que lhe são imputadas.
de maneira plena, sem pressões – sejam elas diretas ou indiretas Percebe-se que, neste caso particular, não há prejuízo à autodefesa
– destinadas a forçar o depoimento do acusado. Na esteira desses e nem à defesa como um todo, um vez que do interrogatório não
pensamentos, os artigos 186 e 198 do Código de Processo Penal resultaram informações incriminatórias que pudessem influenciar
no convencimento do juiz da causa. Por essa razão, não há por que
perdem sua eficácia quando em cotejo com a Constituição Federal,
se declarar a nulidade do ato.
não tendo sido recepcionados pela Lei Maior de 1988, uma vez
que aludem a prejuízos ao interrogado face ao legítimo exercício
Acusatório
do direito constitucional de permanecer em silêncio.
Julio Fabbrini Mirabete ensina que são três os sistemas pro-
Grinover, Scarance e Gomes Filho alertam, entretanto, que o
cessuais utilizados na evolução histórica do direito, distinguindo-
Superior Tribunal de Justiça já entendeu “não constituir nulidade a
-os segundo as formas com que se apresentam e os princípios que
advertência feita ao interrogado, nos termos do art. 186 do CPP, de
os informam. São eles: o sistema inquisitivo, o sistema acusató-
que seu silêncio poderia prejudicá-lo, quando não provado qual- rio e o sistema misto.
quer prejuízo para a defesa” (STJ, RHC 6524-SP, DJU 30.06.97, O sistema inquisitivo teve suas raízes na organização política
Boletim IBCCrim 58/204). Continuam os insígnes autores as- do império romano, onde se admitia ao juiz iniciar o processo ex
sertando que, de fato, a nulidade poderá ser absoluta ou relativa, officio. Foi revigorado na Idade Média e, a partir do século XV, por
dependendo do exame concreto das circunstâncias, porquanto, se influência do Direito Penal da Igreja, alastrou-se pelo continente
implicar em comprometimento da defesa como um todo, será irre- europeu e só entrou em declínio com a Revolução Francesa. Ve-
mediável, caso contrário, será parcial. rifica-se, na verdade, que o sistema inquisitivo não é um legítimo
É importante notar que apenas o denominado interrogatório processo de apuração da verdade, mas, nas palavras de Mirabete,
de mérito, enquanto autodefesa, está acobertado pelo direito ao “uma forma auto-defensiva de administração da justiça”. Isso por-
silêncio, devendo as perguntas sobre a qualificação do interrogado que nele inexistem regras de igualdade e liberdade processuais,
(artigo 188, caput, CPP) serem prontamente respondidas, visto que desenrolando-se, em regra, secretamente, por impulso oficial e em
suas respostas não ensejam atos defensivos. busca da rainha das provas, a confissão, permitindo-se, para tanto,
Por fim, ainda sobre o interrogatório, cumpre frisar que um ví- o uso da tortura.
cio grave que este ato pode apresentar é a falta de informação sobre No processo inquisitivo, as funções de acusar, defender e jul-
o direito de o indiciado ou acusado permanecer calado. Seguindo gar encontram-se concentradas em um único órgão, o juiz. Neste
a mesma linha de pensamento já explicitada, Grinover, Fernandes contexto, nenhuma garantia é oferecida ao réu, transformando-o
e Gomes Filho instruem que a ausência de tal informação resulta em mero objeto do processo. Falta ao referido sistema elementos
nulidade do interrogatório sob duas dimensões, in verbis: essenciais do denominado due process of law, como, por exemplo,
“a mais grave, consubstanciada na nulidade de todo o proces- a publicidade dos atos processuais, a imparcialidade do juiz e as
so, a partir do interrogatório, se, no caso, o ato viciado redundou garantias do contraditório e da ampla defesa.
no sacrifício da autodefesa e, consequentemente, da defesa como O  sistema acusatório, em contrapartida, implica o estabele-
um todo. Ou, na dimensão mais moderada, pela invalidade do in- cimento de uma relação processual triangular (actum trium per-
terrogatório, com sua necessária repetição, mas sem que os atos sonarum), onde o órgão jurisdicional encontra-se como imparcial
sucessivos fiquem contaminados, se se verificar que o conteúdo aplicador da lei e as partes acusadora e acusada estão em pé de
das declarações não prejudicou a defesa como um todo e os atos igualdade, asseguradas as garantias do contraditório e da ampla
sucessivos”. defesa.

Didatismo e Conhecimento 72
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Este sistema teve origem na Inglaterra e na França, após a autorização da própria Constituição Federal nesse sentido, p.ex.,
revolução, e é hoje o adotado na maioria dos países americanos e Senado – artigo 52, incisos I e II) e proscrever os tribunais de
em muitos da Europa. exceção, aqueles criados post factum. Assim, nenhum órgão, por
Segundo Tourinho Filho, as principais características do siste- mais importante que seja, se não tiver o poder de julgar assentado
ma acusatório são, in verbis: na Constituição Federal não poderá exercer a jurisdição. Tem-se,
“a) o contraditório, como garantia político-jurídica do cida- salienta a doutrina, a mais alta expressão dos princípios fundamen-
dão; b) as partes acusadora e acusada, em decorrência do contra- tais da administração da justiça.
ditório, encontram-se no mesmo pé de igualdade; c) o processo é O insigne Professor Scarance afirma que a dúplice garantia
público, fiscalizável pelo olho do povo; excepcionalmente permi- assegurada pelo cogitado princípio – proibição de tribunais extra-
te-se uma publicidade restrita ou especial; d) as funções de acusar, ordinários e de subtração da causa ao tribunal competente, desdo-
defender e julgar são atribuídas a pessoas distintas e, logicamente, bra-se em três regras de proteção: “a) só podem exercer jurisdi-
não é dado ao juiz iniciar o processo (ne procedat judex ex officio); ção os órgãos instituídos pela Constituição Federal; b) ninguém
e) o processo pode ser oral ou escrito; f) existe, em decorrência do pode ser julgado por órgão instituído após o fato; c) entre os juízes
contraditório, igualdade de direitos e obrigações entre as partes, pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de competências que
pois non debet licere actori, quod reo non permittitur; g) a iniciati- exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem
va do processo cabe à parte acusadora, que poderá ser o ofendido quer que seja”.
ou seu representante legal, qualquer cidadão do povo ou um órgão Acentua Vicente Greco Filho que “não se admite a escolha de
do Estado”. magistrado para determinado caso, nem a exclusão ou afastamen-
Por fim, o  sistema misto, também chamado de sistema acu- to do magistrado competente; quando ocorre determinado fato, as
satório formal, combina elementos acusatórios e inquisitivos, em regras de competência já apontam o juízo adequado, utilizando-se,
maior ou menor medida, dependendo do ordenamento jurídico em até, o sistema aleatório de sorteio para que não haja interferência
que é aplicado. Em regra, constitui-se de uma instrução inquisiti- na escolha”.
va, onde estão compreendidas a investigação preliminar e a instru- É bem verdade que há casos especialíssimos de deslocação
ção preparatória, e de um juízo contraditório a posteriori, quando da competência, como no caso previsto no artigo 424 do CPP (de-
do julgamento. É ainda o sistema utilizado em alguns países da saforamento no procedimento do Tribunal do Júri), entretanto,
Europa e até da América Latina, como é o caso da Venezuela. entende-se que, por estarem determinados pelo interesse público
A Lei Maior de 1988 assegurou, entre nós, a utilização do e da própria justiça, não ferem o princípio do juiz natural, pois o
sistema acusatório no Processo Penal, uma vez que estabelece os intuito é a busca do julgamento justo.
princípios do contraditório e da ampla defesa (art. 5°, LV), deter- Grinover, Scarance e Gomes Filho, além de outros doutrina-
mina que a ação penal pública deve ser privativamente promovida dores, defendem que com a garantia do juiz natural assegura-se a
pelo Ministério Público (art. 129, I), garante o princípio do juiz imparcialidade do órgão jurisdicional, não como atributo do juiz,
natural ou constitucional (arts. 5°, LIII, e 92 a 126) e também as- mas como pressuposto de existência da própria atividade jurisdi-
segura a publicidade dos atos processuais, facultando à lei sua res- cional. Por isso, afirmam que sem o juiz natural não há jurisdição,
trição apenas quando a defesa da intimidade ou o interesse social pois a relação jurídica não pode nascer.
o exigirem (art. 5°, LX), dentre outras normas e princípios que Os mesmos estudiosos asseveram que além de o julgamento
visam à imparcialidade do órgão jurisdicional e à igualdade e à da causa ser de incumbência do juiz natural, é mister que perante
liberdade das partes acusadora e acusada na seara da apuração da este também seja instaurado e desenvolvido o processo, não sendo
verdade real. possível o aproveitamento dos atos instrutórios realizados por juiz
constitucionalmente incompetente. Neste diapasão, os artigos 108,
Juiz Natural §1°, e 567, ambos do CPP, devem ser relidos a fim de se adequa-
O  princípio do juiz natural ou juiz constitucional, também rem à garantia do juiz natural, restringindo-se sua aplicação apenas
chamado de princípio do juiz competente, no direito espanhol, aos casos de incompetência infraconstitucional. Em se tratando de
e princípio do juiz legal, no direito alemão, originou-se, historica- juiz constitucionalmente incompetente, não pode haver aproveita-
mente, no ordenamento anglo-saxão, desdobrando-se, a posterio- mento dos atos, não-decisórios e decisórios, uma vez que o artigo
ri, nos constitucionalismos norte-americano e francês. Entre nós, o 5°, inciso LIII, da Lei Maior refere-se à garantia de que “ninguém
referido princípio inseriu-se deste o início das Constituições. será processado nem sentenciado senão pela autoridade compe-
Trata-se de princípio que garante ao cidadão o direito de não tente” (grifos acrescidos).
ser subtraído de seu Juiz Constitucional ou Natural, aquele pré- De igual forma, também carece de releitura o artigo 564, I, do
-constituído por lei para exercer validamente a função jurisdicio- CPP, que dispõe ser caso de nulidade os atos praticados por juiz in-
nal. competente. Como já mencionado, a garantia do juiz natural é um
Assegura expressamente a Constituição Federal que “ninguém pressuposto de existência da atividade jurisdicional. Sob este pris-
será processado nem sentenciado senão pela autoridade competen- ma, os atos praticados por juiz constitucionalmente incompetente
te” (artigo 5°, inciso LIII) e que “não haverá juízo ou tribunal de são inexistentes e não nulos. Em decorrência disso, o processo e a
exceção” (artigo 5°, inciso XXXVII). Outrossim, determina a Car- sentença eventualmente prolatada são juridicamente inexistentes.
ta Política de 1988 que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Questão interessante é saber se o réu, submetido a julgamento
Judiciário qualquer lesão ou ameaça a direito” (artigo 5°, XXXV). por juiz constitucionalmente incompetente, estaria sujeito a nova
Dentro deste contexto, buscam os dispositivos constitucionais persecução penal sobre os mesmos fatos, uma vez considerando-se
impedir que pessoas estranhas ao organismo judiciário exerçam que a sentença prolatada seria inexistente e, como tal, não estaria
funções que lhe são específicas (salvo, é claro, quando houver tecnicamente suscetível à formação da coisa julgada.

Didatismo e Conhecimento 73
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Grinover, Scarance e Gomes Filhos entendem que “o rigor “a presença do público nas audiências e a possibilidade do
técnico da ciência processual há de ceder perante os princípios exame dos autos por qualquer pessoa do povo representam o mais
maiores do  favor rei  e do  favor libertatis, fazendo prevalecer o seguro instrumento de fiscalização popular sobre a obra dos ma-
dogma do ne bis in idem, impedindo nova persecução penal a res- gistrados, promotores públicos e advogados. Em última análise,
peito do fato em tela”. Esclarecem os insignes estudiosos que, não o povo é o juiz dos juízes. E a responsabilidade das decisões ju-
obstante o princípio do ne bis in idem estar tecnicamente ligado ao diciais assume outra dimensão, quando tais decisões hão de ser
fenômeno da coisa julgada e que juridicamente inexistente a sen- tomadas em audiência pública, na presença do povo”.
tença esta não poderia transitar em julgado, no terreno da persecu- A regra geral da publicidade está, pois, em correspondência
ção penal estão em jogos valores preciosos do indivíduo, como sua com os interesses da sociedade e em consonância com o sistema
vida, sua liberdade e sua dignidade, e que, nesse particular, o ne bis acusatório, contrapondo-se ao processo do tipo inquisitivo onde
in idem assume dimensão autônoma, impedindo nova persecução os atos eram feitos a portas fechadas, secretamente, sem qualquer
penal do réu pelos mesmos fatos já julgados. Observam os autores fiscalização do povo ou mesmo do próprio acusado. A publicidade
que a garantia do juiz natural é erigida em favor do réu e não em permite, de fato, a transparência da atividade jurisdicional, evitan-
detrimento aos direitos deste. do-se excessos ou arbitrariedades no decorrer do processo, que,
Acerca dos chamados tribunais ou juízos de exceção, assim em regra, poderá ser fiscalizado pelos cidadãos a qualquer tempo.
considerados aqueles criados após o fato a ser julgado, a proibi- Diz-se “em regra”, pois o princípio da publicidade encontra
ção dos mesmos não abrange o impedimento da criação de  jus-
exceções previstas na própria Lei Maior (p.ex. art. 5°, XXXVIII,
tiça ou vara especializada, pois, nestes casos, não há criação de
“b”) e também na legislação infraconstitucional (artigos 483 e 792,
órgãos, mas simples atribuição de órgãos já inseridos na estrutura
§1°, do CPP). Por essa razão, a doutrina classifica a publicidade
judiciária, fixada na Constituição Federal, para julgamento de ma-
em plena (popular imediata ou geral) e restrita (especial, media-
térias específicas, objetivando a melhoria na aplicação da norma
substancial. ta, interna ou para as partes).
Cintra, Grinover e Dinamarco salientam a necessidade de se A primeira refere-se a publicidade sem exceções, quando os
distinguir tribunais de exceção de justiças especiais, como a Mili- atos podem ser assistidos por qualquer pessoa e estão abertos a
tar, a Eleitoral e a Trabalhista, lembrando que estas são instituídas todo o público. É a regra geral, devendo qualquer hipótese de res-
pela Lei Maior, com anterioridade à prática dos fatos a serem por trição ser expressamente prevista em lei, de acordo com os limites
elas apreciados e, portanto, não constituem ofensa ao princípio do constitucionalmente assegurados.
juiz natural. A publicidade restrita se apresenta quando um número redu-
Inclui-se na proibição dos tribunais de exceção os foros privi- zido de pessoas ou apenas as partes e seus defensores podem ter
legiados, criados como favor pessoal, mas exclui-se as hipóteses ciência e/ou estar presentes aos atos do processo. Tal limitação
de competência por prerrogativa de função, onde é levada em con- à regra geral da publicidade popular encontra amparo quando o
ta a função exercida pelo réu e não a sua pessoa, inexistindo, neste decoro, a defesa da intimidade e o interesse social aconselhem que
caso, favorecimento ou discriminação. não sejam divulgados determinados atos, também a fim de evitar
escândalos, inconvenientes graves ou perigo de perturbação da or-
Publicidade dem.
Determina a Constituição Federal que “a lei só poderá res- Não obstante a garantia oferecida pelo princípio da publici-
tringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da in- dade, deve-se evitar a publicidade desnecessária e sensacionalis-
timidade ou o interesse social o exigirem” (artigo 5°, inciso LX). ta. Esclarecem Cintra, Grinover e Dinamarco que a publicidade,
Estabelece ainda que “todos os julgamentos dos órgãos do Poder como garantia política que é, tem por finalidade o controle da opi-
Judiciário são públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob nião pública nos serviços da justiça, não devendo ser confundida
pena de nulidade, podendo a lei, se o interesse público o exigir, li- com o sensacionalismo que afronta a dignidade. E mais, in verbis:
mitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus “toda precaução há de ser tomada contra a exasperação do
advogados, ou somente a estes” (artigo 93, inciso IX) e que “todos princípio da publicidade. Os modernos canais de comunicação de
têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu inte- massa podem representar um perigo tão grande como o próprio
resse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão pres-
segredo. As audiências televisionadas têm provocado em vários
tadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas
países profundas manifestações de protesto. Não só os juízes são
aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e
perturbados por uma curiosidade malsã, como as próprias partes e
do Estado” (artigo 5°, inciso XXXIII).
as testemunhas vêem-se submetidas a excessos de publicidade que
Tem-se, portanto, a elevação a dogma constitucional do prin-
cípio da publicidade dos atos processuais, antes previsto apenas infringem seu direito à intimidade, além de conduzirem à distorção
no caput do artigo 792 do Código de Processo Penal que já orien- do próprio funcionamento da Justiça, através de pressões impostas
tava que “as audiências, sessões e os atos processuais serão, em a todos os figurantes do drama judicial”.
regra, públicos e se realizarão nas sedes dos juízos e tribunais, com Por fim, é mister considerar que a doutrina diverge em relação
assistência dos escrivães, do secretário, do oficial de justiça que ao princípio da publicidade e sua aplicação nos atos pré-proces-
servir de porteiro, em dia e hora certos, ou previamente designa- suais referentes ao Inquérito Policial. Tourinho Filho ensina que,
dos”. pela natureza inquisitiva da fase pré-processual, a publicidade não
O princípio da publicidade revela-se numa preciosa garantia o atinge, até porque determina o artigo 20 do CPP que a autoridade
do indivíduo e da sociedade no tocante ao exercício da jurisdição, assegurará no Inquérito o sigilo necessário. Ademais, acrescenta
considerando-se que, nos dizeres de Cintra, Grinover e Dinamar- o autor, a Constituição Federal menciona a publicidade dos atos
co, in verbis: processuais, e os do Inquérito não o são.

Didatismo e Conhecimento 74
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Por outro lado, Cintra, Grinover e Dinamarco esclarecem que, por isso, não gera efeitos penais, e na transação, em que pese a
não obstante a regra de sigilo imposta ao Inquérito Policial por existência de sentença homologatória que atesta uma sanção vo-
força do dispositivo retrocitado, o Estatuto da Advocacia (Lei n° luntariamente aceita pelo agente, não há reconhecimento de cul-
8.906/94), ao estabelecer como direitos do advogado o de “exa- pabilidade e sequer figura em certidão de antecedentes criminais,
minar em qualquer repartição policial, mesmo sem procuração, salvo para os fins constantes no artigo 76, §4°, in fine, da Lei n°
autos de flagrante e de Inquérito, findos ou em andamento, ainda 9.099/95. Outrossim, nos crimes de média gravidade quando o
que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apon- órgão acusador, de acordo com as circunstâncias do caso, pode
tamentos” (art. 7°, inciso XIV) e o de “ingressar livremente nas propor a suspensão condicional do processo (artigo 89 da Lei n°
salas e dependências de audiências, secretarias, cartórios, ofícios 9.099/95).
da justiça, serviços notoriais e de registro, e, no caso de delegacias Imperioso notar que a mesma indisponibilidade existente na
e prisões, mesmo fora da hora do expediente e independentemente instauração do Inquérito Policial e na propositura da ação penal
da presença de seus titulares (art. 7°, inciso VI, “b’), praticamente também deve nortear a tramitação dos mesmos, não sendo per-
fez com que o sigilo dos Inquéritos desaparecesse. mitido à Autoridade Policial e nem ao Ministério Público desis-
tir de suas investigações ou da ação, respectivamente (arts. 17 e
Obrigatoriedade 42 do CPP). Também prevê o artigo 576 do CPP a aplicação do
O princípio da obrigatoriedade, também chamado de princí- princípio da indisponibilidade em matérias recursais, sendo certo
pio da indisponibilidade, é o que predomina no processo penal. que o órgão acusador não tem a faculdade de desistir do recurso
Segundo ele, a autoridade policial é obrigada a instaurar Inquérito interposto. Trata-se da regra da irretratabilidade que, igualmente,
Policial e o órgão do Ministério Público não pode deixar de pro- sofre exceções. É o caso dos crimes de ação privada, nos quais as
mover a ação penal quando houver a prática de um crime apurado normais infraconstitucionais (arts. 49, 51 e ss e 60, CPP) admitem
mediante ação penal pública, conforme dispõem os artigos 5°, 6° e os institutos da renúncia, do perdão e da perempção, e dos crimes
24, do CPP. Tal princípio contrapõe-se ao da oportunidade ou dis- de ação pública condicionada à representação, onde é possível a
ponibilidade, pelo qual o órgão estatal tem a faculdade de promo- retratação antes de oferecida a denúncia (art. 25, CPP).
ver ou não a ação penal, de acordo com a máxima  minima non Em que pese não restarem dúvidas da predominância do prin-
curat praetor, devendo o Estado abster-se de coisas insignificantes cípio da obrigatoriedade em nosso sistema processual penal, há
e, assim, deixar de promover o jus puniendiquando verificar, sob o forte tendência em se atenuar sua rigidez admitindo-se certa flexi-
prisma do interesse público, que do exercício da ação penal poderá
bilidade no tocante à oportunidade e conveniência da persecução
advir maiores inconvenientes que vantagens.
penal. Vejamos.
A prevalência do princípio da obrigatoriedade em nosso pro-
Figueiredo Dias adverte que o princípio da legalidade deve
cesso criminal tem razão de ser pelo caráter público das normas
continuar a constituir o ponto de partida da modelagem do sistema,
penais materiais e pela necessidade de se assegurar à coletividade
porém, continua o autor, in verbis:
uma convivência tranqüila e pacífica. Ora, sendo o crime uma le-
“bem se compreende que, relativamente a certos casos con-
são irreparável ao interesse coletivo, o Estado não tem apenas o di-
cretos, a promoção e a prossecução obrigatórias do processo penal
reito, mas o dever de punir aqueles que violarem a ordem jurídica
causem à comunidade jurídica maior dano que vantagem – máxi-
numa ameaça à harmonia e à paz social. Sob essa óptica, os órgãos
incumbidos da persecução penal não têm poderes discricionários me, atento o pequeno significado da questão para o interesse pú-
para apreciarem a oportunidade ou conveniência da instauração blico, ou conexionado este com dificuldades de prova, inflação do
de Inquérito Policial ou da propositura da ação penal, conforme número de processos, pequena probabilidade de executar a conde-
o caso. nação, etc. (vg., relativamente a fatos cometidos no estrangeiro ou
Cintra, Grinover e Dinamarco lecionam que no princípio da por pessoa que não se encontre no país) – e que, em tais casos, se
indisponibilidade está a base do Processo Penal e que, reforçando deixe ao MP uma certa margem de discricionariedade”.
o que já foi dito, enquadrado um fato na tipificação legal, nenhuma Na elaboração do Código de Processo Penal Tipo para Améri-
parcela de discricionariedade pode ser atribuída aos órgãos res- ca Latina, constou no item IX de sua Exposição de Motivos que, in
ponsáveis pela  persecutio criminis.  Ademais, asseveram que se verbis:
algumas infrações são consideradas tão insignificantes a ponto de “nenhum sistema penal processa todos os casos que se pro-
a persecução penal tornar-se inconveniente, compete ao legislador duzem em uma sociedade; ao contrário, as estatísticas universais
descriminalizá-las. e nacionais demonstram a escassa quantidade de casos que são so-
Há, contudo, algumas exceções ao princípio da obrigatorieda- lucionados pelos diversos sistemas. O direito de nossos países, em
de. Estas podem ser observadas, por exemplo, nos casos de ação geral, se aferra ao chamado ‘princípio da legalidade’, que preten-
penal privada e naqueles de ação penal pública condicionada à de sejam perseguidas todas as ações puníveis, segundo uma regra
representação ou à requisição. Nessas situações, o ius accusatio- geral de obrigação. Em que pese o princípio, na prática operam
nis dependerá da manifestação de vontade do ofendido ou de seu diversos critérios de seleção informais e politicamente caóticos,
representante legal ou ainda da expressa disposição do Ministro inclusive dentro dos órgãos de persecução penal e dos órgãos judi-
da Justiça. ciais do Estado. Decorre então que é necessário introduzir critérios
Outras exceções podem ser verificadas nas infrações penais que permitam conduzir essa seleção de casos de forma razoável e
de menor potencial ofensivo (Lei n° 9.099/95 e Lei n° 10.209/01), em consonância com convenientes decisões políticas. Isso signifi-
onde é clara a mitigação do princípio da obrigatoriedade. Na Lei ca modificar, em parte, o sistema de exercício das ações do Código
dos Juizados Especiais, a composição, quando aplicada, tem por Penal, tolerando exceções à ‘legalidade’, com critérios de oportu-
conseqüência a renúncia ao direito de queixa ou representação, e, nidade, legislativamente orientados”.

Didatismo e Conhecimento 75
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
Sobre o tema, manifesta-se Scarance afirmando que, in verbis: Decorre do princípio da presunção de inocência, ou do estado
“com o aumento populacional e conseqüente incremento da de inocência, como preferem alguns, que: a liberdade do acusa-
criminalidade, há que se admitir no plano legal certa discricio- do só pode ser restringida antes da sentença definitiva a título de
nariedade de atuação do órgão acusatório, principalmente em in- medida cautelar que seja efetivamente necessária e conveniente,
frações mais leves ou em determinadas situações concretas onde nos termos da lei; cabe ao órgão acusador o ônus de comprovar
não há maior interesse em punir. A adoção integral do princípio da a culpabilidade do acusado, não tendo este o dever de provar sua
obrigatoriedade exigiria do Estado, mormente nas grandes cida- inocência; para prolatar a sentença condenatória, o juiz deve estar
des, um número infindável de juízes e promotores para que fossem plenamente convencido de que o réu foi o autor do ilícito penal
julgadas todas as infrações. Na prática diária a autoridade policial apurado, sendo que, havendo dúvidas quanto à sua responsabili-
tem, até com o assentimento público, oportunidade de não instau- dade, deverá o juiz absolver o réu. Neste último caso, tem-se o
rar inquéritos policiais em várias ocasiões, em virtude da pequena consagrado princípio do in dubio pro reo, ou seja, em caso de au-
gravidade dos fatos noticiados. Acaba, por isso, existindo grande sência de provas suficientes capazes de dirimir por completo qual-
discricionariedade da autoridade policial ante o inevitável fato de quer dúvida a respeito da autoria do delito, deverá o juiz prolatar
que o elevado número de crimes noticiados não permite que sejam
sentença absolutória a favor do acusado, na forma do artigo 386,
todos objeto de investigação e processo”.
VI, do CPP. Convém observar que os princípios da presunção de
Alguns autores, como Euclides Custódio da Silveira e Frede-
rico Marques, entendem que a redação do artigo 28 do CPP con- inocência e do in dubio pro reo, embora integrem o gênero favor
feriu ao Ministério Público certa margem de discricionariedade rei, não se confundem.
para requerer o arquivamento do Inquérito Policial. Pautam-se os Em síntese, enquanto não for definitivamente condenado por
eminentes estudiosos na expressão “razões invocadas”, contida meio de sentença penal condenatória transitada em julgado, presu-
no referido dispositivo legal, a qual, acreditam, poderia referir-se me-se o réu inocente e como tal deve ser tratado. Sob este prisma,
também a infrações leves, pouco interessantes ao órgão acusador, Mirabete entende que, por força do princípio constitucional da pre-
tendo em vista o insignificante dano causado à sociedade. Este po- sunção de inocência, ficaram evidentemente revogados os artigos
sicionamento é completamente rechaçado por Fernando Tourinho 393, II, e 408, §1°, do Código de Processo Penal.
Filho, para o qual tais “razões invocadas” dizem respeito apenas à Édson Luís Baldan ensina que o direito de ser presumido
ausência de materialidade ou prova de autoria. inocente possui quatro funções básicas: “limitação à atividade
Concluindo o presente tópico, cite-se o posicionamento de legislativa, critério condicionador das interpretações das normas
Scarance Fernandes sobre o assunto, in verbis: vigentes, critério de tratamento extra-processual em todos os seus
“Na prática, em grandes centros é praticamente impossível aspectos (inocente); obrigatoriedade de o ônus da prova da prática
que de todo crime seja iniciado processo, o que, se ocorresse, re- de um fato delituoso incidir sempre sobre o acusador, pelo critério
presentaria o caos em um Justiça já atravancada; é comum, em da não culpabilidade”. Prossegue o ilustre autor lecionando que
casos de lesão de pequena intensidade ao bem jurídico, ser pedido três exigências decorrem da previsão constitucional da presunção
arquivamento de inquérito com o beneplácito do Poder Judiciá-
da inocência, quais sejam:
rio, invocando-se muitas vezes razões até de política criminal ou
fundamentando-se o requerimento justamente na pouca relevân- “a) o ônus da prova dos fatos constitutivos da pretensão penal
cia do fato. Outro caminho consistiu em dar maior elasticidade pertence com exclusividade à acusação, sem que se possa exigir a
ao conceito de justa causa para a ação penal, fundando-a na via- produção por parte da defesa de provas referentes a fatos negati-
bilidade da acusação; assim, se os indícios vindos da investigação vos (prova diabólica); b) necessidade de colheita de provas ou de
não permitiam antever possibilidade de sucesso da ação penal, ela repetição de provas já obtidas perante o órgão judicial competente,
não era intentada. Mais ainda, formou-se corrente que admite o mediante o devido processo legal, contraditório e ampla defesa;
arquivamento do inquérito quando, pelas circunstâncias do caso, a c) absoluta independência funcional do magistrado na valoração
sentença condenatória seria ineficaz porque inevitável a prescrição livre das provas”.
pela pena em concreto; fala-se então em falta de interesse de agir O STF firmou entendimento sobre o tema, determinando
ante a inabilidade de se obter sentença eficaz.” que, in verbis:
“nenhuma acusação penal se presume provada. Não compe-
Presunção de Inocência e In Dubio Pro Reo te ao réu demonstrar a sua inocência. Cabe ao Ministério Público
Tourinho Filho considera o princípio da presunção de inocên- comprovar, de forma inequívoca, a culpabilidade do acusado. Já
cia como o coroamento do due process of law. Segundo Castanhei- não mais prevalece, em nosso sistema de direito positivo, a regra,
ra Neves, “é um ato de fé no valor ético da pessoa, próprio de toda que, em dado momento histórico do processo político brasileiro
sociedade livre”. (Estado Novo), criou, para o réu, com a falta de pudor que caracte-
Garante o artigo 5°, inciso LVII, da Constituição Federal que
riza os regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
própria inocência (Decreto-lei n. 88 de 20.12.1937, art. 20, no. 5)”
sentença penal condenatória”, elevando o princípio da presunção
de inocência a dogma constitucional, tal como proclamado no ar- (HC n° 73.338/RJ – RTJ 161/264).
tigo 11 da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948. É importante notar que a presunção de inocência constitucio-
Ressalte-se que o mencionado princípio já se encontrava inserido nalmente assegurada é do tipo juris tantum e, por assim ser, poderá
no ordenamento jurídico brasileiro em conseqüência da adesão do ser afastada pelas provas produzidas no decorrer do devido proces-
Brasil à Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de so legal, sempre sob o manto do contraditório e da ampla defesa.
São José da Costa Rica), conforme Decreto n° 678/92, a qual dis- Face ao preceito da presunção de inocência, as exigências per-
põe em seu artigo 8°, n° 2, que “toda pessoa acusada de delito tem tinentes à prisão cautelar ficaram mais rigorosas, justificando-se tal
direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove medida apenas quando estritamente necessária e respaldada pela
legalmente sua culpa”. lei. Do contrato, ensina-nos Tourinho Filho, o réu estaria sofrendo

Didatismo e Conhecimento 76
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
antecipadamente uma pena, sendo considerado culpado antes da Nada impede, contudo, que o Juiz, na sentença condenatória
sentença penal condenatória, numa clara ofensa à festejada garan- recorrível, decrete a prisão do réu. Entretanto, ao fazê-lo, deverá
tia da presunção de inocência: “Não havendo perigo de fuga do fundamentar seu ato constritivo na necessidade da medida caute-
indiciado ou imputado e, por outro lado, se ele não estiver criando lar, à luz do artigo 312 do CPP.
obstáculo à averiguação da verdade buscada pelo Juiz, a prisão
provisória torna-se medida inconstitucional”. Verdade Real
Na esteira desses pensamentos, não podem as redações dos A atual concepção publicista do processo não mais admite
artigos 393, I, e 594 do CPP, do artigo 35 da Lei n° 6.368/76 e do o órgão jurisdicional agindo como se fosse mero expectador da
demanda judicial. Reconhecida sua autonomia, enquadrada como
artigo 2°, §2°, da Lei n° 8.072/90 subsistirem tal qual se encon-
ramo do Direito Público e considerando a finalidade sócio-política
tram. Verdadeiramente, se o réu não pode ser considerado culpado
da função jurisdicional, cumpre ao Juiz, em especial no processo
enquanto a sentença penal condenatória não transitar em julgado, criminal, exercer o ius puniendi estatal somente contra aquele que
não parece ser correta a obrigação de ter que se recolher à prisão efetivamente praticou a infração penal, nos limites de sua culpa.
para poder recorrer à jurisdição superior. Tourinho Filho assevera Para tanto, o Processo Penal não deve encontrar limites na for-
que se pode inferir do texto constitucional, “com clareza de doer ma ou na iniciativa das partes, ao contrário, impõe-se-lhe a busca
nos olhos, que o réu tem o direito público subjetivo de natureza e o descobrimento da verdade real, material, ou seja, cumpre ao
constitucional de apelar em liberdade”. Juiz averiguar além dos limites artificiais da verdade formal, com
Ante o exposto, toda e qualquer prisão anterior ao trânsito em o intuito claro e determinado de valer fazer a função punitiva em
julgado da sentença penal condenatória deve revestir-se de nature- face daquele que realmente tenha cometido um ilícito penal.
za cautelar, sob pena de se estar ferindo o princípio da presunção Bastante em voga no Processo Civil, é denominada verdade
de inocência. Sobre o tema, mais uma vez Tourinho Filho disserta formal aquela criada por atos ou omissões das partes, presunções,
e orienta que, in verbis: ficções, transações e outros institutos jurídicos pertinentes. No âm-
“Quando ocorre uma prisão em flagrante, e não estando pre- bito civil, o órgão jurisdicional pode satisfazer-se com a verdade
sente qualquer das circunstâncias que autorizam a decretação da formal, limitando-se a acolher o que as partes levam ao processo.
prisão preventiva, o indiciado tem o direito de ficar em liberdade, Destarte, confiando no interesse das partes para descobrir a verda-
nos termos do parágrafo único do art. 310 do CPP; se o cidadão co- de, o juiz pode restringe-se às provas trazidas por estas aos autos,
meteu um crime inafiançável, mas não foi preso em flagrante, sua procedimento até certo ponto aceitável visto a disponibilidade, em
regra, dos direitos em questão.
prisão preventiva somente poderá ser decretada se for necessária,
Ocorre que, no Processo Penal, os direitos são indisponíveis,
e a lei diz quando ela se torna necessária: se o agente está pertur- numa clara prevalência do interesse público sobre a autonomia pri-
bando a ordem pública ou a ordem econômica, se está criando obs- vada, o que, per si, configura razão suficiente para o predomínio
táculo à instrução criminal, ou se está pretendendo subtrair-se da do sistema da livre investigação das provas. Assim sendo, é dever
eventual aplicação da lei penal. Ausentes tais circunstâncias, não do juiz dar seguimento ao processo quando da inércia da parte, de-
poderá ser preso preventivamente. […] Pela mesma razão, se for terminar ex officioprovas que entender necessárias à instrução da
condenado por sentença não transitada em julgado, sua prisão pro- causa e conhecer de circunstâncias sem a provocação das partes,
visória, ou o seu antecipado cumprimento de pena, só se justifica tudo isso visando sempre ao completo esclarecimento da verdade
se ele estiver dando sinais de que pretende subtrair-se à aplicação real.
da lei penal. Senão, não.” Cintra, Grinover e Dinamarco lecionam, valendo-se de uma
Cumpre alertar que apenas fato de o réu ter maus antecedentes visão mais contemporânea do Processo, que, in verbis:
ou ter praticado crime hediondo não é suficiente para justificar a “o processo civil, hoje, não é mais eminentemente dispositivo,
prisão antes da sentença condenatória definitiva. Nesse sentido, o como era outrora; e o processo penal, por sua vez, transformando-
Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo julgou que “se durante -se de inquisitivo em acusatório, não deixou completamente à mar-
a instrução criminal o réu manteve a liberdade, porque a custódia gem uma parcela de dispositividade das provas. Impera, portanto,
era desnecessária, impossível a prisão durante o recurso baseada tanto no campo processual penal como no campo processual civil,
simplesmente em maus antecedentes reconhecidos na sentença” o princípio da livre investigação das provas, embora com doses
maiores de dispositividade no processo civil”.
(RT 658/297). E ainda, “segundo revelam os autos, o paciente,
De fato, já há algum tempo que, mesmo na seara civil, os po-
embora não tenha bons antecedentes, permaneceu em liberdade
deres do órgão jurisdicional estão sendo paulatinamente aumenta-
durante toda a instrução. Não foi preso em flagrante e não se en- dos, fazendo com que o juiz passe de expectador inerte à posição
tendeu necessária sua prisão preventiva. E, em liberdade, não deu ativa de perquiridor da verdade. A diferença então para o Processo
causa de qualquer embaraço quanto ao processamento da ação pe- Penal é que, naquele, na maioria dos casos, o juiz, embora possa
nal. De justiça, portanto, deferir-se a ele, pelo menos, o direito de assumir algumas iniciativas das partes (arts. 130 e 342, CPC), tem
continuar em liberdade até o julgamento definitivo da ação penal” a faculdade de satisfazer-se com a verdade formal apresentada nos
(HC 198.476/7). No que concerne ao fato de ter praticado crime autos. Neste, entretanto, o juiz penal só aceitará a verdade formal
hediondo, pronunciou-se o STJ afirmando que “a manutenção da excepcionalmente, se não dispuser de meios capazes para assegu-
prisão em flagrante só se justifica quando presentes os requisitos rar a verdade material.
ensejadores da prisão preventiva, nos moldes do art. 310, parágra- Afirmam Cintra, Grinover e Dinamarco que, in verbis:
fo único, do CPP. O fundamento único da configuração de crime “enquanto no processo civil o princípio do dispositivo foi aos
hediondo ou afim, sem qualquer outra demonstração de real ne- poucos se mitigando, a ponto de permitir-se ao juiz uma ampla
cessidade, nem tampouco da presença dos requisitos autorizadores gama de atividades instrutórias de ofício (v. ainda CPP, art. 440),
da prisão preventiva, não justifica a prisão em flagrante” (REsp n° o processo penal caminhou em sentido oposto, não apenas substi-
243.893/SP). tuindo o sistema puramente inquisitivo pelo acusatório (no qual se

Didatismo e Conhecimento 77
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
faz uma separação nítida entre acusação e jurisdição: CPP, art. 28), rando como o núcleo em torno do qual gravitam esses direitos,
mas ainda fazendo concessões ao princípio dispositivo (cf. Art. conferindo-lhes um caráter sistemático. Os direitos fundamentais
386, inc. VI), sem falar na Lei dos Juizados Especiais Criminais possuem a finalidade justamente de proteger a dignidade do ser
(lei n. 9.099/95).” humano, promovendo condições dignas de sobrevivência.
Inegável a afirmação de que o princípio da verdade real não A consagração da dignidade da pessoa humana como funda-
vige de forma absoluta em nosso Processo Penal. Exemplos de mento constitucional brasileiro gera consequências jurídicas tais
mitigação do citado princípio podem ser facilmente identificados quais o dever de respeito, de proteção e de promoção. O dever
em algumas situações, tais como: após uma absolvição transita- de respeito exige basicamente uma abstenção estatal, impedindo
da em julgado, não é possível rescindi-la mesmo quando surjam
que o Estado adote medidas que violem a dignidade da pessoa
provas concludentes contra o réu; possibilidade de transação nas
humana, o que ocorre quando o ser humano é tratado pelo Estado
ações privadas com o perdão do ofendido; a perempção provo-
cada pela omissão ou desídia do querelante; e outras causas de como mero instrumento para atingir outras finalidades.
extinção da punibilidade que, de uma forma ou de outra, podem O dever de proteção é o que advém dos direitos fundamen-
impedir a descoberta da verdade real. tais, impondo ao legislador a criação de normas que se adequem
Há, portanto, tanto no Processo Civil quanto no Processo à proteção da dignidade, sendo vedada a proteção insuficiente,
Penal uma conciliação dos princípios do dispositivo com o da li- bem como impondo ao judiciário a utilização da dignidade da
vre investigação judicial. O juiz, em ambos, pode transigir com a pessoa humana como vetor de interpretação dos casos ligados
verdade real, sendo certo que, na seara criminal, tal transigência aos direitos fundamentais.
é, e deve ser, bem menor. O dever de promoção, por fim, impõe que os poderes públi-
Concluindo, Tourinho Filho, com bastante propriedade, traz cos adotem medidas no sentido de promover o acesso a bens e
à baila o que alguns doutrinadores chamam de verdade processu- utilidades considerados indispensáveis a uma vida digna, ao que
al ou verdade forense. In verbis: se chama de mínimo existencial. Trata-se do acesso à saúde, por
“mesmo na justiça penal, a procura e o encontro da verdade exemplo.
real se fazem com as naturais reservas oriundas da limitação e
A dignidade da pessoa humana, como fundamento consagra-
falibilidade humanas, e, por isso, melhor seria falar de ‘verdade
do na Carta Magna, tem importância incomensurável no atual
processual’ ou ‘verdade forense’, até porque, por mais que o Juiz
procure fazer uma reconstrução histórica do fato objeto do pro- cenário do direito brasileiro, aplicando-se tanto nas relações en-
cesso, muitas e muitas vezes o material de que ele se vale poderá tre particulares quanto nas relações entre Estado e particulares. A
conduzi-lo a uma ‘falsa verdade real’; por isso mesmo Ada P. noção de dignidade humana deve ser concebida de forma ampla,
Grinover já anotava que ‘verdade e certeza são conceitos absolu- abrangendo os mais diversos aspectos da vida humana.
tos, dificilmente atingíveis, no processo ou fora dele’ (A iniciati-
va instrutória do juiz no processo penal acusatório, RF, 347/6).” QUESTÕES
Ao que parece, a expressão verdade processual, também de-
fendida por Ada Pellegrini Grinover, é a mais correta por estar 1. (TRE/CE - Analista Judiciário - Administrativa -
em consonância com os ditames da moderna processualística pe- FCC/2012) Mário comete um crime de homicídio a bordo de
nal e com o tipo de verdade que efetivamente se pode encontrar um navio brasileiro de grande porte em alto mar, que faz o
no iter processual criminal. trajeto direto entre Santos (São Paulo/Brasil) e Cape Town
(África do Sul) e será processado e julgado pela justiça.
Da dignidade da pessoa humana
A) da comarca de São Paulo, Capital do Estado de São
Paulo, de onde o navio partiu.
Por fim, ainda considerando os preceitos constitucionais
aplicados ao processo penal, temos que falar sobre a dignidade B) da Capital Federal do Brasil (Brasília), pois o crime
da pessoa. ocorreu em alto mar.
A dignidade da pessoa humana está consagrada no artigo 1º, C) da África do Sul, em Cape Town, primeiro porto que
II da Constituição Federal como um dos fundamentos da Repú- tocará a embarcação após o crime, pois este foi cometido em
blica Federativa do Brasil, tida como valor supremo. Ela é con- alto mar, em águas internacionais.
siderada um atributo inerente a todo ser humano, uma qualidade D) da comarca de Santos, último porto que tocou.
própria, e não um direito conferido exclusivamente pelo ordena- E) da África do Sul, na cidade de Bloemfontein, capital
mento jurídico. judiciária do país.
Justamente por ser atributo inerente a toda pessoa humana,
a dignidade não comporta gradações, de forma que uma pessoa As embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade
não tem mais ou menos dignidade do que outra, não há hierarquia privada que se encontram em alto mar são consideradas como
quanto à dignidade. Pelo simples fato de ser humana a pessoa extensão do território nacional, desta forma, o homicídio pratica-
merece o respeito à sua dignidade, seja qual for sua raça, cor,
do por Mário será julgado de acordo com a legislação do Brasil,
condição social, opção sexual, idade, etc.
sendo a comarca responsável para elucidação do fato a última em
Como um dos fundamentos constitucionais pátrios - ao lado
da soberania, cidadania, valores sociais do trabalho e da livre que estava a embarcação (art. 89 do CPP).
iniciativa e do pluralismo político -, a dignidade da pessoa hu-
mana tem estreita relação com os direitos fundamentais, figu- Resposta: “D”.

Didatismo e Conhecimento 78
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
2. (MPE/AL - Promotor de Justiça - FCC/2012) De acor- 4. (TJ/AC - Técnico Judiciário Área Judiciária - CES-
do com o Código de Processo Penal, a lei processual penal PE/2012) Acerca dos princípios aplicáveis ao direito processu-
A) retroage para invalidar os atos praticados sob a vigên- al penal e da aplicação da lei processual no tempo e no espaço,
cia da lei anterior, se mais benéfica. julgue o item seguinte.
B) não admite aplicação analógica.
C) admite suplemento dos princípios vitais de direito. A extraterritorialidade da lei processual penal brasileira
D) admite interpretação extensiva, mas não suplemento ocorrerá apenas nos crimes perpetrados, ainda que no estran-
dos princípios gerais de direito. geiro, contra a vida ou a liberdade do presidente da República
E) admite aplicação analógica, mas não interpretação ex- e contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito
tensiva. Federal, de estado, de território e de município.

Os princípios são de suma importância no ordenamento jurídi- A) Certo


B) Errado
co brasileiro constituindo ideias gerais e abstratas, que expressam,
em menor ou maiores escala todas as normas que compõem a seara
Nos termos do artigo 1º do Código de Processo Penal, o pro-
do direito. Neste sentido, a lei processual penal admite ser comple-
cesso penal é regido “em todo o território brasileiro” por este esta-
mentada com os princípios vitais de direito, servindo estes ainda tuto, princípio que se aplica, salvo disposição em contrário às leis
como uma de suas fontes formais, servindo para suprir lacunas e processuais extravagantes. O princípio da territorialidade é fixado,
omissões da lei. como regra em nosso Código Penal, porém, seguindo a tendên-
cia geral das legislações modernas, abre várias exceções a esse
RESPOSTA: “C”. princípio, determinando a aplicação da lei penal brasileira a certos
fatos praticados no estrangeiro, conforme o disposto no artigo 7º
3. (TJ/PE - Analista Judiciário - Administrativa - FCC deste Diploma legal. A extraterritorialidade ocorrerá, nos seguintes
/2012) A respeito da aplicação da lei processual no espaço, con- casos: crimes contra a vida ou a liberdade do Presidente da Repú-
sidere: blica; crimes contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Dis-
I. embarcações brasileiras de natureza pública, onde quer trito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa
que se encontrarem. pública, sociedade de economia mista, autarquia ou fundação ins-
II. aeronaves brasileiras a serviço do governo brasileiro, tituída pelo Poder Público; crimes contra a administração pública,
onde quer que se encontrem. por quem está a seu serviço; crimes de genocídio, quando o agente
III. embarcações brasileiras mercantes ou de propriedade for brasileiro ou domiciliado no Brasil; e ainda, crimes que, por
privada, que se acharem em alto mar. tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir; crimes prati-
IV. aeronaves brasileiras mercantes ou de propriedade cados por brasileiro; crimes praticados em aeronaves ou embarca-
privada que se acharem no espaço aéreo brasileiro. ções brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em
V. embarcações brasileiras mercantes ou de propriedade território estrangeiro e aí não sejam julgados.
privada, que se acharem no espaço aéreo de outro país.
Considera-se território brasileiro por extensão as indica- RESPOSTA: “B”.
das
APENAS em
A) I e V. 5. (TRE/MS - Analista Judiciário - Área Judiciária - CES-
B) III e IV. PE/2013) No que diz respeito à aplicação da lei processual no
tempo, no espaço e em relação às pessoas, assinale a opção cor-
C) II e III.
reta.
D) I, II, IV e V.
A) Por força do princípio tempus regit actum, o fato de lei
E) I, II, III e IV.
nova suprimir determinado recurso, existente em legislação
anterior, não afasta o direito à recorribilidade subsistente pela
Nos termos do artigo 1º, caput, do Código de Processo Penal, lei anterior, quando o julgamento tiver ocorrido antes da en-
o processo penal é regido “em todo o território brasileiro” por este trada em vigor da lei nova.
estatuto, princípio que se aplica, salvo disposição em contrário, B) A nova lei processual penal aplicar-se-á imediatamente,
às leis extravagantes. Podemos definir como território nacional, invalidando os atos realizados sob a vigência da lei anterior
em sentido estrito, o solo (e subsolo), as águas interiores, o mar que com ela for incompatível.
territorial, a plataforma continental e o espaço aéreo, com limi- C) O princípio da imediatidade da lei processual penal
tes reconhecidos, sendo considerado o território por extensão (ou abarca o transcurso do prazo processual iniciado sob a égide
ficção) para efeitos penais e processuais, conforme o disposto no da legislação anterior, ainda que mais gravosa ao réu.
artigo 5º, §1º, do Código Penal, as embarcações e aeronaves brasi- D) A lei processual penal posterior, que de qualquer modo
leiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro, onde favorecer o agente, aplicar-se-á aos fatos anteriores, ainda que
quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem em E) De acordo com o princípio da territorialidade, aplica-se
alto mar ou no espaço aéreo correspondente. a lei processual penal brasileira a todo delito ocorrido em ter-
ritório nacional, sem exceção, em vista do princípio da igual-
RESPOSTA: “E”. dade estabelecido na Constituição Federal de 1988.

Didatismo e Conhecimento 79
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
De acordo com o artigo 2º do CPP, “a lei processual penal aplicar- De acordo com a redação do artigo 13 do CPP, cabe a autori-
-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a dade policial, dentre outras atribuições, representar acerca da prisão
vigência da lei anterior”. Assim, vige no processo penal o princípio preventiva. Ao representante do Ministério Público caberá decidir
tempus regit actum, do qual derivam dois efeitos: a) os atos processu- ou não sobre o arquivamento do inquérito policial ou oferecer a de-
ais praticados sob a égide da lei anterior se consideram válidos; b) as núncia ao juiz. A autoridade policial não necessita requisitar a rea-
normas processuais tem aplicação imediata, regulando o desenrolar do lização de diligências probatórias, pois a presidência do inquérito
processo. fica a seu cargo. Por fim, quem apresenta ao juiz a queixa-crime,
é o ofendido ou seu representante legal, nos crimes de ação penal
RESPOSTA: “A”. privada.

6. (Polícia Civil/ES – Perito Criminal – FUNCAB/2013) Nos RESPOSTA: “A”.


termos do Código de Processo Penal, o inquérito policial será ini-
ciado: 9. (MPDFT – Promotor de Justiça – MPDFT/2013) Acerca
A) de ofício, independentemente de se tratar de crimes de ação do inquérito policial, assinale a alternativa CORRETA:
penal pública ou privada. A) O ato de instauração de inquérito policial é inerente à
B) exclusivamente por meio de requisição do Ministério Públi- Polícia Judiciária, podendo o Ministério Público, excepcional-
co à autoridade policial. mente, lavrar a portaria inicial.
C) exclusivamente por representação do ofendido, quando se B) A verificação da procedência das informações, providên-
tratar de crimes de ação penal pública incondicionada. cia cabível em seguida ao recebimento da notícia do crime, con-
D) somente a requerimento do ofendido, quando se tratar de diciona a instauração do inquérito policial à plena comprovação
crimes de ação penal privada. da ocorrência da infração penal.
E) mediante representação do ofendido, independentemente C) A autoridade policial não poderá instaurar inquérito po-
de se tratar de ação penal pública ou privada. licial se o crime for de ação penal pública condicionada à repre-
sentação e esta não estiver formalmente assinada pelo ofendido
Nos crimes de ação penal privada, a autoridade policial somente ou seu representante legal.
poderá iniciar o inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para D) O requerimento do ofendido, dirigido à autoridade po-
intentá-la. (art. 5º, § 5º, do CPP) licial, é bastante para, posteriormente, dar início à ação penal
privada.
RESPOSTA: “D”. E) A autoridade judiciária, ao ler notícia da prática de um
crime de ação penal pública incondicionada em um jornal, pode
7. (Polícia Civil/ES – Perito Criminal – FUNCAB/2013) Logo determinar a instauração de inquérito policial.
que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade
policial deverá: A notitia criminis de cognição direta ou imediata, ocorre quan-
A) dispensar a realização de exame de corpo de delito. do a autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de
B) relatar o inquérito policial, cuidando para a correta identi- suas atividades rotineiras, de jornais, da investigação feita pela pró-
ficação do ofendido e do indiciado. pria polícia judiciária, ou seja, por outro meio alheia a comunicação
C) realizar a reconstituição simulada dos fatos relacionados ao formal do delito. Com isso, a autoridade policial ao ler notícia da
crime. prática de um crime de ação penal pública incondicionada em um
D) apreender os objetos que tiverem relação com o fato, para jornal, pode determinar a instauração de inquérito policial.
depois liberá-los aos peritos criminais.
E) dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem RESPOSTA: “E”.
o estado e a conservação das coisas, até a chegada dos peritos cri-
minais. 10. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2010) So-
bre ação penal, assinale a alternativa CORRETA.
A alternativa correta é a “E”, tendo em vista o que prevê o artigo A) A ação penal é pública condicionada à representação nos
6º do CPP, onde dentre outras providências disciplina que logo a auto- casos de crime de furto cometido em prejuízo de tio ou sobrinho,
ridade policial tenha conhecimento da prática da infração penal deverá com quem o agente coabita.
dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e B) A ação penal privada exclusiva só pode ser proposta pelo
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais. ofendido.
C) Dá-se ação penal privada personalíssima quando o exer-
RESPOSTA: “E”. cício compete exclusivamente ao ofendido, havendo, no entanto,
sucessão por morte ou ausência.
8. (Polícia Civil/ES – Perito Criminal – FUNCAB/2013) De D) Segundo entendimento do STF, não é concorrente a legi-
acordo com o Código de Processo Penal, cabe à autoridade policial: timidade do ofendido e do Ministério Público, para a ação penal
A) representar acerca da prisão preventiva. por crime contra a honra de servidor público em razão do exer-
B) decidir sobre o arquivamento do inquérito policial. cício de suas funções.
C) oferecer a denúncia ao juiz. E) Inexiste possibilidade de ação penal de iniciativa pública
D) requisitar ao juiz ou ao Ministério Público a realização de extensiva nos casos em que o crime elementar constitutivo do
diligências probatórias. tipo do crime de iniciativa privada é de ação penal pública in-
E) apresentar ao juiz a queixa-crime. condicionada.

Didatismo e Conhecimento 80
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
No processo penal é corrente a divisão subjetiva das ações, Quem tem a legitimidade para iniciar a ação penal pública,
isto é, em função da qualidade do sujeito que detém a sua titulari- seja incondicionada ou condicionada a representação, é o Ministé-
dade. Segundo este critério as ações penais serão públicas ou pri- rio Público, e este oferece a acusação por meio da denúncia e não
vadas. Em regra, a ação penal sempre será pública, salvo quando por queixa ao juiz competente. Desta forma, o item analisado está
a lei expressamente a declara privativa do ofendido (art. 100, do errado.
CP). Neste sentido, diante da previsto no artigo 182, III, do Código
Penal que menciona que nos casos de crime de furto cometido em RESPOSTA: “B”.
prejuízo de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita somente
se procede a ação penal mediante representação do ofendido, outro 13. (MPE/MA - Promotor Substituto - MPE/MA/2014) So-
tipo de ação não será permitida. Desta forma, a alternativa correta bre denúncia e queixa, é incorreto afirmar:
é a “A” A) O rol de testemunhas não é indispensável;
B) A apuração prévia do crime por meio de inquérito poli-
RESPOSTA: “A”. cial não é obrigatória;
C) Devem conter a narrativa do fato criminoso e a respec-
11. (DPE/TO - Defensor Público - CESPE/2013) Acerca da tiva classificação jurídica;
ação penal, assinale a opção correta. D) O recebimento das duas iniciais acusatórias sempre in-
A) Admite-se a incidência da perempção na ação penal terrompe o prazo prescricional;
privada subsidiária da pública se o ofendido não promover a E) Consideradas as duas ações penais, a decadência obsta
queixa no prazo de seis meses, atingindo a prescrição, também, apenas o ajuizamento da queixa.
o direito do titular originário da persecução penal.
B) A legitimidade para a propositura de todas as ações A decadência não obsta apenas o ajuizamento da queixa, nos
penais é concorrente, consoante atual entendimento uniforme crimes de ação penal pública condicionada à representação, se esta
dos tribunais superiores, e, caso a ação não seja intentada pelo não for oferecida no prazo legal, o titular da ação (Ministério Pú-
MP, poderá ser proposta pelo ofendido ou por seu representan- blico) é impedido de oferecer a denúncia e, portanto, gera também
te legal, conforme o caso.
a extinção da punibilidade pela decadência. Assim, a alternativa
C) O início da ação penal não coincide com o oferecimento
incorreta é a “E”.
da peça inicial acusatória pública ou queixa crime.
D) No processo penal condenatório a instauração da ins-
RESPOSTA: “E”.
tância, com a propositura da ação penal, é ato complexo.
E) Admite-se, na ação pena pública incondicionada, que a
14. (MPE/MA - Promotor Substituto - MPE/MA/2014) Um
peça inaugural acusatória possa conter imputação alternativa
dos princípios abaixo não se aplica à ação penal privada:
em relação aos fatos, sendo vedada, de forma expressa pelo
A) Legalidade processual;
CPP, a alternatividade em relação à autoria.
B) Conveniência;
A alternativa “A” está errada, pois se tratando de ação pe- C) Intranscendência;
nal privada subsidiária da pública, a negligência do ofendido não D) Inadmissibilidade da persecução penal múltipla;
causa a perempção, devendo o Ministério Público retomar a ação E) Indivisibilidade.
como parte principal (art. 29 do CPP). A alternativa “B” está incor-
reta, haja vista que a ação penal pública compete privativamente O princípio da legalidade processual impõe ao Ministério Pú-
ao Ministério Público (art. 257 do CPP). A alternativa “C” está blico o dever de promover a ação penal, por esta razão, tal preceito
incorreta, considerando que o início da ação penal dar-se-á com não é aplicado na ação penal privada, pois impera neste instituto o
o oferecimento da peça acusatória pública (denúncia) ou queixa princípio da conveniência (oportunidade), onde cabe ao titular do
crime. Por fim, a alternativa “E” está incorreta, porque a peça inau- direito de agir a faculdade de propor ou não a ação privada.
gural acusatória não pode conter imputação alternativa em relação
aos fatos, pois torna a acusação incerta, dificultando em muito, e RESPOSTA: “A”.
às vezes até inviabilizando, o exercício da defesa. Desse modo, a
alternativa correta é a “D”. 15. (TRF 3ª Região - Analista Judiciário - Oficial de Jus-
tiça Avaliador Federal – FCC/2014) André, juiz da Justiça do
RESPOSTA: “D”. Trabalho, devidamente representado, ajuizou ação penal de
iniciativa privada, mediante queixa-crime, contra Bruno, seu
12. (DEPEN - Agente Penitenciário - CESPE/2013) Julgue vizinho de condomínio, pela prática dos crimes de injúria e
o item subsequente. difamação de que teria sido vítima durante assembleia condo-
minial ocorrida no edifício em que residem, no último dia 02 de
A ação penal pública condicionada à representação da novembro. Em relação a este fato,
vítima inicia-se mediante o recebimento da queixa pelo juiz A) a competência para processar e julgar este fato é da
competente. Justiça Federal, porquanto a vítima seja funcionário público
federal.
A) Certo. B) a legitimidade para propositura da ação é exclusiva do
B) Errado. Ministério Público, mediante representação da vítima.

Didatismo e Conhecimento 81
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
C) a legitimidade para propositura da ação penal é concor- 18. (Polícia Civil/ES – Perito Criminal – FUNCAB/2013)
rente entre Ministério Público, mediante representação, e vítima. Assinale a alternativa correta a respeito da prova pericial, se-
D) trata-se de hipótese de foro por prerrogativa de função, gundo o Código de Processo Penal.
em razão de a vítima ser juiz da Justiça do Trabalho. A) É vedada a atuação de mais de um perito oficial, bem
E) o caso deve ser processado mediante propositura de quei- como a indicação de mais de um assistente técnico pelas partes.
xa na Justiça estadual, perante juiz de primeiro grau. B) Os peritos não oficiais e os assistentes técnicos indica-
dos pelas partes estão dispensados de prestar o compromisso
Os delitos praticados são processados mediante queixa, nos ter- de bem e fielmente desempenhar seu encargo.
mos do que prevê o artigo 145 do Código Penal. Desta forma, a al- C) Havendo requerimentos das partes, o material proba-
ternativa correta é a “E”, pois agiu corretamente André, sendo seu tório que serviu de base à perícia será disponibilizado no am-
caso processado mediante a propositura de queixa na Justiça estadual, biente do órgão oficial, que manterá sempre sua guarda, e na
perante juiz de primeiro grau. Apenas a título de curiosidade, caso An- presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo
dré tivesse sido ofendido por seu vizinho em razão de suas funções, a se for impossível a sua conservação.
alternativa correta seria a “B”, de acordo com o disposto no parágrafo D) Na falta de perito oficial, o exame de corpo de delito não
único do artigo 145 do Código Penal. será realizado e estará autorizado seu suprimento por prova
testemunhal.
RESPOSTA: “E”. E) Nas conclusões a respeito da matéria fática, o juiz fica-
rá adstrito ao laudo, não podendo rejeitá-lo totalmente, sendo
16. (Polícia Militar/SC – Soldado - IOBV/2013) De acordo permitida, contudo, a designação de nova perícia a ser elabo-
com o Código de Processo Penal, qual o tipo de prova indispensá- rada ou outro perito.
vel quando a infração deixar vestígios?
A) O exame de corpo de delito, direto ou indireto, não poden- Conforme a redação do artigo 159, §6º, do CPP, havendo re-
do supri-lo a confissão do acusado. querimento das partes, o material probatório que serviu de base
B) O interrogatório do acusado. à perícia será disponibilizado  no  ambiente do órgão oficial, que
C) A confissão, pois supre todas e quaisquer provas do pro-
manterá sempre sua guarda, e na presença de perito oficial, para
cesso.
exame pelos assistentes, salvo se for impossível a sua conservação. 
D) Acareação das testemunhas que viram os vestígios.
RESPOSTA: “C”.
Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame
de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão
19. (Polícia Civil/ES – Perito Criminal – FUNCAB/2013)
do acusado, nos termos do artigo 158 do CPP.
O laudo pericial deverá ser elaborado no prazo máximo de:
A) 10 dias, sujeito à prorrogação, em qualquer caso, mas
RESPOSTA: “A”.
a critério do juiz, a requerimento das partes, peritos ou assis-
17. (Polícia Civil/GO - Escrivão de Polícia - UEG/2013) No tentes técnicos.
que concerne às provas, segundo o Código de Processo Penal, o B) 30 dias, sujeito à prorrogação, em casos excepcionais, a
magistrado requerimento das partes, peritos ou assistentes técnicos.
A) que, durante o curso do processo ou da investigação cri- C) 10 dias, sujeito à prorrogação, em casos excepcionais, a
minal, tiver contato com as provas consideradas ilícitas ou ilegais requerimento dos peritos.
não poderá, após declará-las inadmissíveis, proferir sentença ou D) 30 dias, sujeito à prorrogação, em casos excepcionais, a
acórdão. requerimento dos peritos.
B) poderá ordenar, de ofício, mesmo antes de iniciada a ação E) 30 dias, sujeito à prorrogação, em qualquer caso, mas a
penal, a produção antecipada das provas consideradas urgentes e critério do juiz a requerimento dos peritos.
relevantes, observando a necessidade, adequação e proporciona-
lidade da medida. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão mi-
C) formará sua convicção pela livre apreciação das provas e, nuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos for-
dessa forma, poderá fundamentar sua sentença exclusivamente mulados. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10
nos elementos informativos colhidos na fase de investigação cri- dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a
minal. requerimento dos peritos (art. 160 do CPP).
D) não poderá, em face do princípio acusatório, mesmo no
curso da instrução, determinar diligências de ofício para dirimir RESPOSTA: “C”.
dúvida sobre ponto processual relevante.
20. (Polícia Cívil/SP - Investigador de Polícia - VU-
Desde que entenda necessário é facultado ao Magistrado (juiz) NESP/2014) O Código de Processo Penal considera, entre ou-
ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada tros, como meios de prova:
de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a necessi- A) busca e apreensão; retrato falado; interrogatório do
dade, adequação e proporcionalidade da medida (art. 156, I, do CPP). acusado; confissão.
B) reconhecimento de coisas; investigação policial; inqui-
RESPOSTA: “B”. rição de testemunha; retrato falado.

Didatismo e Conhecimento 82
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
C) interrogatório do acusado; retrato falado; reconheci- minal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
mento de pessoas; acareação. prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. Desta
D) investigação policial; interrogatório do acusado; con- forma, a alternativa “E” está incorreta, porque não são pressupos-
fissão; acareação. tos para a decretação da prisão preventiva prova da materialidade
E) reconhecimento de pessoas; reconhecimento de coisas; do fato e prova da autoria.
confissão; acareação.
RESPOSTA: “E”.
Meio de prova é tudo o que possa ser utilizado para a demons-
tração da ocorrência dos fatos alegados e perseguidos no processo.
São os instrumentos necessários para comprovar a existência ou 23. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2010)
não da verdade de um fato. O Código de Processo Penal vislumbra Sobre prisão temporária, assinale a alternativa INCORRETA.
como meios de prova: exame de corpo de delito e perícias em ge- A) A prisão temporária pode ser decretada de ofício pelo
ral; interrogatório do acusado; confissão; oitiva do ofendido; das juiz e só caberá em crime de ação penal pública.
testemunhas; reconhecimento de pessoas e coisas; acareação e do- B) Não poderá ser decretada prisão temporária com fulcro
cumentos. Neste contexto, a alternativa correta é a “E”. em apenas um dos incisos do art. 1º da Lei nº 7.960/89.
C) Os presos temporários deverão permanecer, obrigato-
RESPOSTA: “E”. riamente, separados dos demais detentos.
D) A fase própria para se decretar prisão temporária é no
21. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2010) curso do inquérito policial.
Sobre prisão em flagrante é INCORRETO afirmar: E) A prisão temporária tem prazo certo, previsto em lei.
A) dá-se o quase-flagrante quando alguém é perseguido,
logo após, por qualquer pessoa, em situação que faça presumir A decretação da prisão temporária não poderá ser de ofício
ser ele o autor da infração; pelo Juiz, devendo existir representação da autoridade policial ou
B) nos crimes permanentes, entende-se o agente em fla- requerimento do Ministério Público.
grante delito enquanto não cessar a permanência;
C) o flagrante diferido constitui exceção ao dever de pren- RESPOSTA: “A”.
der;
D) não é possível a prisão em flagrante do eventual infra- 24. (TRF/1ª REGIÃO - ANALISTA JUDICIÁRIO -
tor em crime de ação penal privada; FCC/2011) A prisão temporária:
E) a natureza jurídica do flagrante coercitivo é o estrito A) não possibilita a liberação do agente pela autoridade
cumprimento do dever legal. policial sem alvará de soltura expedido pelo juiz que a decre-
tou, ainda que tenha terminado o prazo de sua duração.
Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus B) pode ser decretada pelo juiz de ofício, independente-
agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em fla- mente de representação da autoridade policial.
grante delito. Assim, incorreto afirmar que não é possível a prisão C) só pode ser decretada no curso da ação penal, se hou-
em flagrante do eventual infrator em crime de ação penal privada. ver prova da materialidade do delito e indícios veementes da
autoria.
RESPOSTA: “D”. D) é uma modalidade de prisão cautelar, cuja finalidade é
assegurar uma eficaz investigação policial, quando se tratar da
22. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2010) apuração de infração penal de natureza grave.
Assinale a alternativa INCORRETA. E) pode ser prorrogada tantas vezes quantas forem neces-
A) A prisão preventiva não pode ser decretada nos crimes sárias, desde que seja imprescindível para a investigação do
culposos. delito.
B) A apresentação espontânea do acusado à autoridade
não impedirá a decretação da prisão preventiva nos casos em A alternativa “A” está errada, pois, com supedâneo no sétimo
que a lei a autoriza. parágrafo, do art. 2º, da Lei nº 7.960/89, decorrido o prazo de cin-
C) A prisão preventiva poderá ser decretada como garan- co dias (ou dez dias, caso tenha havido prorrogação), o preso será
tia da ordem pública. imediatamente posto em liberdade, independentemente de expedi-
D) A prisão preventiva poderá ser decretada quando do ção de alvará de soltura. O indivíduo somente não será colocado
descumprimento das medidas protetivas de urgência previstas em liberdade caso já tenha sido decretada sua prisão preventiva.
na Lei Maria da Penha. A alternativa “B” está incorreta. O juiz não pode decretar a prisão
E) São pressupostos para decretação da prisão preventiva: temporária de ofício, por depender de representação da autoridade
prova da materialidade do fato e prova da autoria. policial/requerimento do Ministério Público (art. 2º, caput, primei-
ra parte, da Lei nº 7.960/89). A alternativa “C” não está certa. A
A prisão preventiva é fundamentada por regras existentes no prisão temporária não é decretada no curso da ação penal, mas
artigo 312 do CPP. Os requisitos ali exigidos, independentemen- durante as investigações do inquérito policial (art. 1º, I, da Lei nº
te da natureza ou gravidade do crime são imprescindíveis para a 7.960/89). A alternativa “E” está incorreta. O prazo de duração da
autorização da prisão preventiva, quais sejam a garantia da ordem prisão temporária é de cinco dias prorrogáveis por mais cinco dias
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução cri- desde que haja necessidade (art. 2º, caput, da Lei nº 7.960/89), ou

Didatismo e Conhecimento 83
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
de trinta dias prorrogáveis por mais trinta fundamentadamente em A) O procedimento especial somente se aplica aos delitos
se tratando de crime hediondo/equiparado (art. 2º, §4º, da Lei nº cometidos por funcionário público no exercício da sua função.
8.072/90). Desta maneira, a única alternativa correta é a letra “D” B) A necessidade da notificação do acusado para oferecer
(a qual convém assinalar), haja vista ser a prisão temporária uma resposta prévia se estende ao coautor ou partícipe, ainda que
modalidade de prisão cautelar (ao lado da prisão em flagrante e da este não seja funcionário público, que, assim, também terá di-
prisão preventiva), cuja finalidade é assegurar uma eficaz investi- reito a ser previamente ouvido.
gação policial (ela deve ser imprescindível para as investigações C) O prazo para responder por escrito à acusação é de 15
policiais), quando se tratar da apuração de infração penal de natu- dias.
reza grave prevista em alguma das alíneas do inciso III, do art. 1º, D) A denúncia pode ser oferecida independentemente do
da Lei nº 7.960/89. inquérito policial, apesar de ser indispensável à presença da
justa causa.
RESPOSTA: “D”. E) A resposta preliminar ocorre antes do recebimento da
denúncia, diferentemente do que ocorre no procedimento or-
25. (DEPEN - Agente Penitenciário - CESPE/2013) Julgue dinário.
o item subsequente.
A alternativa incorreta é a “B”, pois a notificação do acusado
Em regra, o prazo para a prisão temporária é de cinco para, previamente ao recebimento da denúncia, manifestar-se so-
dias, prorrogáveis por mais cinco dias, quando necessário. No bre o tema, apresentando sua defesa e evitando que seja a inicial
entanto, em caso de crimes considerados hediondos, o prazo recebida, é privativa do funcionário público, não se estendendo ao
da prisão temporária é de trinta dias, prorrogáveis por mais particular que seja coautor ou participe.
trinta dias.
RESPOSTA: “B”.
A) Certo.
B) Errado. 28. (TRF/3ª REGIÃO - Juiz Federal - TRF 3ª RE-
GIÃO/2013) Concernente ao habeas corpus assinale a alter-
O prazo da prisão temporária está previsto no artigo 2º da Lei nativa incorreta:
nº 7.960/89, sendo este, em regra, de 5 (cinco) dias, prorrogável A) O Juiz de primeiro grau não tem competência para
por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. conceder a ordem de ofício;
B) quando já tenha cessada a violência ou coação ilegal, o
Contudo, a Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos), em seu
juiz deverá considerar prejudicado o pedido;
artigo 2º, §4º, prevê uma exceção, onde para os crimes hediondos
C) se o pedido for favorável ao paciente, será imediata-
e equiparados o prazo da prisão temporária será de 30 (trinta) dias
mente posto em liberdade, expedindo o juiz alvará de soltura
prorrogáveis por mais trinta dias.
clausulado;
D) o órgão do Ministério Público possui legitimidade para
26. (MPE/SC - Promotor de Justiça Manhã - MPESC/2013)
impetrar a ordem;
Analise o enunciado abaixo e assinale “verdadeiro” ou “falso”.
E) cessará a competência do juiz para apreciar o pedido
quando a violência advier de autoridade judiciária de igual
No processo e julgamento dos crimes de responsabilidade jurisdição.
dos funcionários públicos, o juiz rejeitará a queixa ou denún-
cia, em despacho fundamentado, se convencido, pela resposta Encontra-se incorreta apenas a alternativa “A”, pois os juí-
do acusado ou do seu defensor, da falta de provas do crime ou zes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem
da improcedência da ação. de habeas  corpus, quando no curso de processo verificarem que
alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal (artigo
A) Verdadeiro 654, §2º, do CPP).
B) Falso
RESPOSTA: “A”.
O enunciado apresentado é “falso”, tendo em vista que o juiz
rejeitará a queixa ou denúncia, em despacho fundamentado, se 29. (Polícia Civil/ES – Perito Criminal – FUNCAB/2013)
convencido, pela resposta do acusado ou do seu defensor, da “ine- O habeas corpus, nos termos do Código de Processo Penal e da
xistência do crime” ou da improcedência da ação. E não da “falta Constituição Federal:
de provas do crime” como constou. É o que disciplina o artigo 516 A) pode se fundamentar em extinção da punibilidade,
do CPP. mesmo que já transitada em julgado a sentença condenatória.
B) não pode ser concedido de ofício pelo juiz.
RESPOSTA: “B”. C) não pode se fundamentar em mera nulidade processual.
D) não pode se voltar contra prisão administrativa ou dis-
27. (TJ/AM - Analista Judiciário II - Oficial de Justiça ciplinar.
Avaliador - FGV/2013) Nos crimes de responsabilidade do E) se volta exclusivamente contra as prisões em flagrante
funcionário público, a lei processual penal prevê procedimento realizadas sem justa causa, ou prisão temporária com prazo
especial. A esse respeito, assinale a afirmativa incorreta. excedido.

Didatismo e Conhecimento 84
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
A existência de causa extintiva da punibilidade do agente é 32. (SEJUS/PI - Agente Penitenciário – NUCEPE/2010) So-
uma das hipóteses de cabimento do habeas corpus que se encontram bre habeas corpus, é INCORRETO afirmar:
enumeradas no artigo 648 do CPP, desta maneira, mesmo que já A) o habeas corpus pode ser liberatório, repressivo e pre-
transitada em julgado à sentença condenatória presente o constran- ventivo;
gimento ilegal poderá ser interposto o remédio heroico. B) o habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer
pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério
RESPOSTA: “A”. Público;
C) caberá habeas corpus quando alguém estiver preso por
30. (PC/ES - Médico Legista - FUNCAB/2013) O habeas mais tempo do que determina a lei;
corpus poderá ser impetrado: D) é cabível impetração de habeas corpus com o objetivo
A) por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem. de acelerar o inquérito policial;
B) somente pelo ofendido, representado por seu advogado. E) não há que se falar em impetração de habeas corpus
C) somente pelo ofendido, dispensada a representação por em favor de pessoas desconhecidas, de forma coletiva e inde-
advogado. terminada.
D) somente pelo Ministério Público.
E) somente pelo ofendido ou pelo Ministério Público. O habeas corpus é o remédio judicial que tem a finalidade
de evitar ou fazer cessar a violência ou a coação à liberdade de
O habeas corpus é a ação penal popular com assento consti- locomoção decorrente de ilegalidade ou de abuso de poder, não
tucional, voltada à tutela da liberdade de ir e vir, que surge sempre sendo cabível sua impetração com o objetivo de acelerar o inqué-
que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou rito policial.
coação ilegal a esta. O habeas corpus poderá ser impetrado por qual-
quer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério RESPOSTA: “D”.
Público. É o que dispõe o artigo 654 do CPP.
33. (SEJUS/ES - Agente Penitenciário - VUNESP/2013) No
RESPOSTA: “A”. Centro de Observação realizar-se-ão os exames gerais e o cri-
minológico, cujos resultados serão encaminhados
31. (TJ/AL - Auxiliar Judiciário - CESPE/2012) A respeito A) ao defensor público do preso primário.
do habeas corpus e seu processo, assinale a opção correta. B) ao defensor particular do preso provisório.
A) A concessão da ordem de habeas corpus não implica ne- C) ao Juiz da condenação.
cessariamente em obstrução ao trâmite da ação penal principal D) à Comissão Técnica de Classificação.
ou na própria extinção da ação, desde que os fundamentos desta E) ao Diretor do Hospital de Custódia e Tratamento Psi-
não estejam em conflito com os fundamentos da ação de habeas quiátrico.
corpus.
B) Ordenada a soltura do acusado preso em virtude de ha- Nos termos do artigo 96 da LEP, os resultados dos exames rea-
beas corpus, não haverá condenação nas custas processuais da lizados no Centro de Observação serão encaminhados à Comissão
autoridade que, por má-fé ou evidente abuso de poder, tiver de- Técnica de Classificação.
terminado a coação; no entanto, essa autoridade fica impedida
de efetuar novamente a prisão do acusado. RESPOSTA: “A”.
C) Os juízes e os tribunais têm competência para expedir
ordem de habeas corpus quando, no curso de processo, restar 34. (SEJUS/ES - Agente Penitenciário - VUNESP/2013) A
evidenciado que alguém esteja sofrendo ou esteja na iminência penitenciária destina-se ao condenado à pena de reclusão em
de sofrer coação ilegal, desde que requerido por quem sofre a A) regime fechado.
coação ou pelo MP. B) medida de segurança.
D) Se a ilegalidade decorrer do fato de não ter sido o cidadão C) penas alternativas.
admitido a prestar fiança em delegacia de polícia, o juiz arbitra- D) detenção forçada.
rá o valor da fiança, que, no entanto, não poderá ser prestada E) regime semiaberto.
em juízo, mas apenas perante a autoridade policial competente.
E) Só será concedida ordem de habeas corpus a quem sofrer As penas impostas na Execução Penal são cumpridas nos es-
violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, não se tabelecimentos penais. Considera-se estabelecimento penal qual-
justificando a concessão da ordem em caso de mero temor de se quer edificação destinada a receber os sujeitos passivos da tutela
estar na iminência de ser preso injustamente. penal, antes da condenação, durante o cumprimento da pena e após
a sua liberação. Assim, os estabelecimentos penais destinam-se ao
A concessão do habeas corpus não obstará, nem porá termo ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso pro-
processo, desde que este não esteja em conflito com os fundamentos visório e ao egresso. As penitenciárias são as destinadas ao con-
daquela, nos termos do artigo 651 do CPP. Assim, segue o inquérito denado à pena de reclusão, caracteriza-se por uma limitação das
policial se for arbitrada fiança ou posto em liberdade o indiciado, atividades em comum dos presos e por maior controle e vigilância
prossegue a ação penal se for reconhecido o excesso de prazo, etc. sobre eles. Deste modo, a alternativa correta é a “A”.

RESPOSTA: “A”. RESPOSTA: “A”.

Didatismo e Conhecimento 85
NOÇÕES DE DIREITO PROCESSUAL PENAL
35. (SEJUS/ES - Agente Penitenciário - VUNESP/2013) A 38. (SEJUS/ES - Agente Penitenciário - VUNESP/2013) A
Casa do Albergado destina-se ao cumprimento de pena privativa execução da pena privativa de liberdade ficará sujeita à for-
de liberdade em regime aberto, e da pena de ma regressiva, com a transferência para qualquer dos regimes
A) detenção. mais rigorosos, quando o condenado
B) reclusão. A) ficar impossibilitado, por acidente, de prosseguir no
C) limitação de fim de semana. trabalho.
D) interdição temporária de direitos. B) praticar fato definido como crime doloso ou falta grave.
E) multa. C) ficar impossibilitado, por acidente, de prosseguir nos
estudos.
A Casa de Albergado estabelecimento penal destinado ao cum- D) for ameaçado de morte.
primento de pena privativa de liberdade, em regime aberto e da pena E) estiver acometido de doença grave.
de limitação de fim de semana (art. 93 da LEP). É fundado na auto-
disciplina e responsabilidade do condenado para com a comunidade Do mesmo jeito que a pena será executada na forma progressi-
que convive. O Estado suprime a fiscalização pela confiança de que o va, é legalmente admissível que possa ocorrer a regressão, isto é, a
reeducando cumprirá com seus deveres e manterá um comportamento passagem de regime menos severo (aberto ou semiaberto) ao mais
social adequado a reintegrá-lo ao mundo livre. rigoroso (semiaberto ou fechado). Tal situação poderá ocorrer se
o condenado: a) praticar fato definido como crime doloso ou falta
RESPOSTA: “C”. grave e sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena, somada
ao restante da pena em execução, torne incabível o regime, confor-
36. (SEJUS/ES - Agente Penitenciário - VUNESP/2013) O me dispõe o artigo 118 da LEP.
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos
inimputáveis e RESPOSTA: “B”.
A) semi-imputáveis.
B) gestantes e parturientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
C) condenados acometidos de doença grave.
D) imputáveis. BRASIL. Código de Processo Penal. In.: Portal da Presidên-
E) presos provisórios doentes cia da República, 2014. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/decreto-lei/del3689compilado.htm>. Acessado em:
O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico é um hospital- 12 de maio de 2014.
-presídio, um estabelecimento penal que visa assegurar a custódia do
internado. A adoção das medidas de segurança trouxe consigo a exi- GARCIA, Flúvio Cardinelle Oliveira. Os limites constitucio-
gência de diverso estilo arquitetônico e da existência de aparelhagem nais do poder punitivo do Estado - Página 5/5. Jus Navigandi,
interna nos estabelecimentos penais, devendo conter as condições mí- Teresina, ano 9, n. 291, 24 abr. 2004. Disponível em: <http://jus.
nimas de salubridade para receber os inimputáveis e semi-imputáveis, com.br/artigos/4994>. Acesso em: 2 de dezembro de 2014.
destinados ao cumprimento de pena nestes estabelecimentos.
BRITO, Alexis Augusto Couto de. Execução Penal. São Pau-
RESPOSTA: “A”. lo: Quartier Latin, 2006.

37. (SEJUS/ES - Agente Penitenciário - VUNESP/2013) Os CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal: parte geral.
condenados que cumprem pena em regime fechado ou semiaber- 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
to e os presos provisórios poderão obter permissão para sair do
estabelecimento, mediante escolta, quando ocorrer um dos se- LAZARINI, Pedro. Código Penal Comentado e Leis Espe-
guintes fatos: ciais Comentadas. São Paulo: Editora Primeira Impressão, 2007.
A) condenada gestante ou parturiente.
MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. 18. ed. São
B) estiver trabalhando ou comprovar a possibilidade de fazê-
Paulo: Atlas, 2007.
-lo imediatamente.
C) sair para o trabalho e retornar, nos horários fixados.
MORAES, Alexandre de; SMANIO, Gianpaolo Poggio. Le-
D) condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental.
gislação Penal Especial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2005.
E) falecimento ou doença grave do cônjuge.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e
De acordo com o que prevê o artigo 120 da LEP, os condena- Execução Penal. 10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
dos que cumprem pena em regime fechado ou semiaberto e os presos
provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento,
mediante escolta, quando ocorrer o falecimento ou doença grave do
cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão e por neces-
sidade de tratamento médico.

RESPOSTA: “E”.

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