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Universidade São Judas Tadeu – Faculdade de Direito

Direito Processual Penal I – Prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

1ª Aula: Ponto 1 – Princípios constitucionais aplicados ao processo penal – o devido processo


legal

Direito Processual Penal I


1) Conceito: é o conjunto de normas e princípios que disciplinam a composição das lides
penais, por meio da aplicação do direito penal objetivo.
Posição enciclopédica: ramo do direito público interno.
2) Jus Puniendi x Jus Persequendi: direito de punir (abstrato e concreto) e exercício pelo
processo. Pretensão Punitiva x direito de liberdade
3) Finalidade do direito processual penal: paz social e realização da pretensão punitiva estatal
derivada de um crime, mediante a garantia da jurisdição.
Jurisdição: atividade é atividade pela qual o Estado-juiz se substitui aos titulares de interesses
em conflito, para, de forma imparcial, aplicar o direito ao caso concreto, restabelecendo a
ordem e pondo fim ao litígio (lide). A jurisdição apresenta as seguintes características:
substitutividade, escopo de atuação do direito, inércia (nemo iudex sine actore),
imutabilidade (coisa julgada) e presença de lide (* e absolvição pedida pelo MP?).
4) Princípios regentes do Direito Processual Penal
4.1) Verdade real: a função punitiva do Estado deve ser dirigida efetivamente contra aquele
que praticou a infração penal, portanto o processo penal deve buscar retratar os fatos
exatamente como ocorreram no mundo natural. O juiz deve ir além da atividade desidiosa das
partes na coleta de material e provas na busca da verdade como ocorreu.
4.2) Contraditório e Ampla Defesa: a bilateralidade da ação gera a bilateralidade do processo,
de modo que as partes, frente ao juiz, não são antagônicas, mas colaboradoras necessárias.
Assim, o réu deve conhecer o teor da acusação para poder contrariá-la (audiatur et altera
pars), isto é, o réu tem o direito de ser ouvido. Ampla defesa engloba a auto-defesa e a defesa
técnica (por advogado). Deve ser observada a ordem natural do processo (*em regra, a defesa
fala por último). Vide art. 5º, incisos LV e LVI da CF.
4.3) Igualdade das partes e paridade de armas (par conditio): no processo penal, embora as
partes estejam em pólos opostos, têm os mesmos direitos e garantias, com iguais ônus,
obrigações e faculdades. É uma conseqüência do processo do tipo acusatório. A CF elevou a
acusação e defesa à condição de funções essenciais à Justiça (arts. 127 e 133, CF). Sem a
igualdade processual, não haveria equilíbrio e isso seria a negação da justiça. Para que haja
igualdade é preciso que as partes disponham das “mesmas armas” (par conditio), pois os
direitos e poderes conferidos à acusação devem ser reconhecidos à defesa e vice-versa
(*embargos infringentes e revisão criminal privativos da defesa – favor libertatis).
4.4) Favor Rei ou favor libertatis e presunção de inocência: no processo penal a dúvida
sempre será favorável ao acusado, se houver duas interpretações deve-se optar pela mais
benéfica. Só a defesa tem certos recursos como os embargos infringentes, a revisão criminal
(rescisória penal) e ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória (art. 5º, LVII, CF). Vide súmula nº. 9 do STJ (prisão processual não viola o
princípio da presunção de inocência).
4.5) Juiz natural: ou juiz constitucional, é uma conseqüência do art. 5º, LIII, da CF que dispõe
que ninguém será processado e nem sentenciado senão pelo juiz competente. Juiz natural é
aquele legal e constitucionalmente investido em função das regras de competência
estabelecidas antes da infração penal, com as garantias da imparcialidade e independência.
Desse princípio decorre também a proibição dos tribunais de exceção.
4.6) Motivação das decisões judiciais: ou fundamentação, como garantia do devido processo
legal (art. 93, IX, CF). O fundamento das decisões ou motivação judicial tem como premissa ou
mesmo natureza o pressuposto de validez do processo, revestindo-se de nulidade absoluta as
decisões sem fundamentação. Pressupostos da motivação judicial: A motivação das decisões
judiciais tem como pressupostos: a) o exercício da lógica e atividade intelectual do juiz; b)
individuação das normas aplicáveis; c) análise dos fatos; d) sua qualificação jurídica; e)
consequências jurídicas (princípio do livre convencimento motivado).
4.7) Duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII, CF): Quando a duração de um processo
supera o limite da duração razoável, o processo em si mesmo se transforma numa pena. Basta
fazermos um exercício imaginário e nos identificarmos com alguém que, além de estar
sofrendo a pena processual (la pena de banquillo, como chamam os espanhóis) por ser réu há
mais de 13 anos, teve suas contas bancárias bloqueadas durante todo esse tempo (Professor
Aury Lopes Jr.).
4.8) Inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos: são inadmissíveis, no processo, as
provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI, CF). Tais provas são vedadas, pouco importa se
são ilícitas (obtidas com violação à regra de direito material, mediante a prática de algum
ilícito penal, civil ou administrativo como, por exemplo, a busca e apreensão sem lastro
judicial; confissão obtida por tortura) ou ilegítimas (aquelas produzidas com violação a regras
processuais, como por exemplo, o depoimento prestado com violação à proibição do art. 207
do CPP – sigilo). Ilicitude por derivação ou contaminação (Fruits of poisonous tree theory).
Vide redação do art. 157 do CPP (Lei 11690/2008).
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Ponto 2 – Aplicação da lei processual penal no tempo e espaço

1. Lei Processual Penal no Tempo – princípio da imediatidade.

ATIVIDADE E EXTRATIVIDADE

Atividade: trata-se do período situado entre a entrada em vigor da lei e sua


revogação.
Extratividade: corresponde à incidência da lei fora de seu período de vigência:
Retroatividade: é a incidência da norma em relação a período anterior à entrada
em vigor.
Ultratividade: é a incidência da norma em relação a período posterior à sua
revogação.

O art. 2º do CPP consagra o princípio da imediatidade (ou do efeito imediato),


segundo o qual as normas processuais penais têm aplicação imediata,
independentemente de serem benéficas ou prejudiciais ao réu, sem efeito retroativo. É
a posição tradicional da doutrina, que leva em consideração a seguinte distinção:
a) Leis Penais puras: são aquelas que regulam o poder punitivo (ius puniendi) estatal,
com respeito à tipificação de crimes; penas; regimes de cumprimento etc. Aqui vigora
o preceito de retroatividade de lei mais benéfica (lex mitior) e irretroatividade de lei
mais gravosa (lex gravior);
b) Leis Processuais Penais puras: são aquelas que regulam o início, o
desenvolvimento e o fim do processo penal, como perícias, rol de testemunhas, ritos
etc. Aplica-se o princípio da imediatidade e não há efeito retroativo.
c) Leis mistas: são aquelas que possuem características penais e processuais penais.
Aqui se aplica a regra do Direito Penal: a lei mais benéfica é retroativa e mais gravosa
não retroage. Vide o exemplo da Lei nº. 9099/95 que exigia representação da
vítima nos casos de lesões corporais leves e culposas. Vide hipótese de uma lei
que diga que a ação penal é privada e no decorrer do processo surja nova lei
dizendo que é caso de ação penal pública incondicionada: aqui continuará
sendo ação penal privada (ultra-atividade da lei mais benéfica).

 Uma releitura constitucional do princípio da imediatidade (prof. Aury


Lopes Jr): o art. 2º do CPP deve ser lido e interpretado á luz do art. 5º, XL, CF, pois
não se pode pensar o direito penal desconectado do processo penal, mas deve
ser feita uma análise dentro do sistema penal. O gênero “lei penal” abrange as
espécies “lei penal material” e “lei penal processual”, regidas pelo mesmo
preceito constitucional de retroatividade de lei mais benéfica e irretroatividade
de lei mais severa. O caráter mais benigno ou mais gravoso é feito a partir da
ampliação ou diminuição da esfera de proteção constitucional.

2. Aplicação da Lei Processual Penal no Espaço

REGRA GERAL: O art. 1º do CPP adotou o princípio da


territorialidade, significando que se aplica a lei processual penal brasileira a todas
as infrações penais cometidas em território nacional (lex fori). Por outro lado, nos
crimes à distância (conduta e resultado em localidades distintas), o art. 6º do Código
de Processo Penal adotou a teoria da ubiqüidade, considerando praticada a infração
penal em território brasileiro quando aqui ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em
parte (ainda que o resultado tenha ocorrido ou deva ocorrer no exterior), assim como
os crimes em que o resultado tenha ocorrido ou deva ocorrer no Brasil (ainda que a
ação ou omissão tenha se dado no exterior).

EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE (só valem para as normas


penais):
a. Tratados, convenções e regras de direito internacional (art. 1º, I, CPP): a subscrição
pelo Brasil de tratado ou convenção, ou sua participação em organização internacional
disciplinada por regras próprias, afasta a jurisdição penal brasileira.
b. Prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado,
nos crimes conexos com os do Presidente, e dos ministros do STF, nos crimes de
responsabilidade (art. 1º, II, CPP): são as hipóteses de jurisdição penal política, em
que determinadas condutas não serão apuradas pelo Judiciário, mas sim por órgãos
do Legislativo.
c. Processos de competência da Justiça Militar (art. 1º, III, CPP): Na medida em que a
Justiça Militar integra o rol das jurisdições penais especiais, rege-se ela por regras
próprias (CPM e CPPM, especialmente), furtando-se à incidência das normas
processuais comum, salvo quando, no âmbito do processo penal, for omisso o CPPM.
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Ponto 2 (cont.)– Sistemas processuais e Interpretação da lei processual


penal

1. Sistemas processuais

1.1 CONCEITO: sistema processual penal é um conjunto de normas que


são aplicáveis a partir da ocorrência de um delito, que se inicia com o
oferecimento da inicial acusatória (denúncia ou queixa) e se finda com a
execução da pena imposta em sede de condenação ou com o trânsito em
julgado de sentença absolutória.

1.2 ESPÉCIES: três são as espécies de sistemas processuais penais, quais


sejam, inquisitivo, acusatório e misto. Dependendo do sistema adotado
conheceremos a política criminal do Estado, bem como sua postura em razão
dos direitos humanos fundamentais.

a) INQUISITIVO: no sistema inquisitivo um só órgão investiga, acusa e


julga. O juiz dá início à acusação. Uso da tortura como meio de obtenção da
“rainha das provas” – a confissão do implicado. Inexistência de imparcialidade
do juiz. O processo é escrito e sigiloso. Vigorou na Roma antiga, mas começou
a decair após a Revolução Francesa (1789). Inexistem ampla defesa e
contraditório. Santa Inquisição e as ordálias.

b) ACUSATÓRIO: neste sistema órgãos diferentes investigam, acusam,


defendem e julgam, garantindo assim maior equilíbrio, transparência e respeito
á ampla defesa e imparcialidade do julgamento. Apesar da nítida separação
de funções, o juiz não é mero expectador, podendo produzir prova ex officio,
em busca da verdade real. O processo também é escrito, mas é público
(somente em situações excepcionais poderá haver restrição à publicidade).
aqui vigora o princípio da paridade de armas. A cada acusação formulada
caberá à defesa refutar e contrariar. É o sistema que vigora no Brasil com certa
temperança, malgrado existir uma etapa pré-processual, que compreende o
inquérito policial, mas neste não há processo, e sim procedimento
administrativo. Daí se falar que o modelo brasileiro é do tipo ACUSATÓRIO
IMPURO.

c) MISTO: há uma mistura dos dois sistemas. Existe uma etapa preliminar
de investigação criminal, levada a cabo pela polícia judiciária, orientada pelo
MP; depois ocorre a fase de instrução levada a efeito pelo juiz de instrução
com a produção de provas e todas as garantias de ampla defesa e
contraditório. É o sistema dos EUA.

2. Interpretação da lei processual penal

Interpretar a norma jurídica é fixar-lhe o sentido e alcance. O art. 5º da LINDB


determina que na interpretação se deve buscar a vontade da lei e não a
vontade quem a fez.

2.1. Espécies de interpretação:

a) Quanto à origem: leva-se em conta quem a fez. Pode ser:

I) Autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarregado de


elaborar a norma.
II) Doutrinária ou científica: feita pelos juristas e estudiosos do Direito. As
exposições de motivos são um exemplo marcante.
III) Jurisprudencial ou judicial: feita pelos órgãos encarregados da
jurisdição.

b) Quanto aos meios empregados: leva-se em conta o modo pelo qual o


intérprete busca o verdadeiro sentido da norma. Pode ser:

I) Literal ou gramatical: leva-se em conta o sentido literal das palavras.


II) Teleológica: busca-se a vontade da lei, atentando-se para seus fins e á
sua posição no ordenamento jurídico.
III) Histórica: leva em conta todo o processo de criação da norma.

c) Quanto ao resultado: é o alcance dado pelo intérprete. Pode ser:


I) Declarativa: existe perfeita correlação entre a letra da lei e sua vontade.
II) Restritiva: quando a letra escrita da lei foi além de sua vontade (a lei
disse mais do que queria) e, por isso, o intérprete reduz seu significado e
alcance.
III) Extensiva: quando a letra escrita da lei foi aquém de sua vontade (a lei
disse menos do que queria) e, por isso, o intérprete amplia seu significado e
alcance.
IV) Progressiva, Adaptativa ou Evolutiva: é aquela que, ao longo do
tempo e das mudanças político-sociais, adapta-se à realidade presente.
V) Analógica: a norma, após uma enumeração casuística, traz uma
formulação genérica que deve ser interpretada de acordo com os casos
anteriormente elencados. A norma regula o caso de modo expresso, embora
genericamente.

 Nos termos do art. 3º do CPP, a lei processual penal permite


interpretação extensiva e analógica, podendo ser:
a) in bonam partem (quando beneficia o réu);
b) in malam partem (quando prejudica o réu).

*** Todavia não se pode interpretar a lei processual penal sem


observância do sistema jurídico brasileiro, sobretudo da CF.
Do Inquérito Policial (CPP arts. 4º
a 23)

1. Introdução

• Crime – ius puniendi – ius persequendi


• Jurisdição – instauração da instância
• Procedimento preliminar
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
2. Conceito de inquérito policial

É um procedimento de investigação
administrativa, em sentido estrito, que mediante
a atuação da polícia judiciária, guarda a
finalidade de apurar a materialidade da infração
penal, cometida ou tentada, e a respectiva
autoria, ou co-autoria, para servir ao titular da
ação penal (Sérgio M. Pitombo).
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
• Do conceito emergem 4 pontos básicos acerca
do inquérito policial:
a) É um procedimento cautelar;
b) de natureza administrativa;
c) que contém investigação policial;
d) acerca de fato, supostamente violante da
norma penal, bem como de sua autoria.
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
3. Características
a) procedimento escrito (art. 9º, CPP);
b) sigiloso (art. 20, CPP);
c) oficialidade;
d) autoritariedade (presidido por autoridade
pública, art. 144, § 4º, CF);
e) Indisponibilidade e inquisitividade;
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
4. Valor probatório

Definitividade (perícias, avaliações,


apreensões etc) x transitoriedade
(testemunhos, interrogatório, oitiva da vítima
etc)
Vide art. 155, CPP – Princípio da livre
convicção na apreciação de prova produzida
em contraditório judicial
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
5. Vícios
Por não de tratar de processo
contraditório, mas, sim, procedimento
administrativo, os vícios eventualmente
constantes no inquérito não induzem, não
atingem a ação penal. Eventual irregularidade
poderá invalidar o ato (exemplo: prisão em
flagrante ao arrepio da lei).
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
6. Início do Inquérito Policial (instauração)

a) Crime de ação penal pública incondicionada


(CPP, art. 5º, I e II, §§ 1º, 2º e 3º)
• de ofício – por portaria ou auto de prisão em
flagrante (as espécies de notitia criminis);
• por requisição judicial ou do MP;
• Delatio criminis – requerimento da vítima ou
de seu representante legal. Indeferimento →
recurso ao Chefe de Polícia.
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
b) Crime de ação penal pública condicionada
(CPP, art. 5º, § 4º)

• mediante representação do ofendido ou de


seu representante legal (menor);

• mediante requisição do Ministro da Justiça.


Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
c) Crime de ação penal privada (CPP, art. 5º, §
5º)

• mediante requerimento escrito ou verbal


(reduzido a termo) do ofendido ou de seu
representante legal.
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
7. Providências e atribuições do Delegado de Polícia (art.
6º, CPP)
• comparecimento e preservação do local de crime;
• apreensão de objetos relacionados ao crime;
• coletar todas as provas da infração penal;
• ouvir o ofendido e o indiciado;
• proceder à reconstituição do crime;
• determinar acareações;
• requisitar exame de corpo de delito e outras perícias;
• indiciar o implicado, juntar vida pregressa e identificação
criminal etc.
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
• Além disso, o delegado de polícia pode
representar pela decretação de prisão
temporária ou preventiva, pelo arresto e
seqüestro de bens, pelo exame de insanidade
mental do indiciado, por medidas protetivas
em caso de violência doméstica etc.
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
8. Indiciamento
É a imputação a alguém, no inquérito policial, da
prática de infração penal, sempre que houver
indícios razoáveis e suficientes de autoria.
É a declaração formal de que o então suspeito é
visto como provável autor do ilícito penal.
Ato tripartite: interrogatório + identificação
criminal + antecedentes sociais, culturais,
econômicos, familiares etc.
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
9. Encerramento e Prazos

Concluídas as investigações criminais, a


autoridade policial (delegado) deverá fazer
minucioso relatório do que tiver sido apurado
no inquérito policial (CPP, art. 10, § 1º)
Prazos (regra comum) – conclusão – 30 dias
(indiciado solto) e 10 dias (indiciado preso)
Do Inquérito Policial (CPP arts.
4º a 23)
• Prazos especiais:
• Justiça Federal: 30 dias (solto) e 15 dias
(preso).
• Lei de Drogas : 90
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Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 3 – Ação Penal

Aula 1 – Noções Iniciais

 Conceito
É o direito de pedir ao Estado-juiz a aplicação do direito penal objetivo a um
caso concreto.

1.2) Características:

a) É um direito autônomo que não se confunde com o direito material que se


quer tutelar;
b) É um direito abstrato, que independe do resultado final do processo (é pré-
processual);
c) É um direito subjetivo, pois o titular pode exigir do Estado-juiz a prestação
jurisdicional;
d) É um direito público, pois a atividade jurisdicional que se pretende provocar
é de natureza pública (monopólio jurisdicional), estatal.
 Espécies de ação penal

conhecimento

ação penal cautelar

execução
condições +
Incondicionada
pressupostos

pública
Representação da
vítima;
condicionada
Requisição do
ação penal ministro justiça

genérica

privada

personalíssima

 Condições da ação penal


São requisitos que subordinam o exercício do direito de ação;
 Possibilidade jurídica do pedido
 Interesse de agir
 Legitimidade para agir

 Condições específicas de procedibilidade


 Representação do ofendido/requisição do ministro da justiça
 Entrada do agente em território nacional
 Autorização do Parlamento → crimes comuns (Presidente,
Governadores)
 Coisa julgada na sentença que, por motivo de erro ou impedimento,
anule o casamento, no crime de induzimento a erro essencial (ação penal
privada personalíssima).
3.1) Possibilidade Jurídica do Pedido → a providência pedida ao Judiciário só será

viável se a lei, em abstrato, expressamente a admitir. Se o fato narrado não constituir

crime, a denúncia deverá ser rejeitada. Se se verificar após a defesa preliminar →

absolvição sumária (art. 397, III, CPP). Relaciona-se à tipicidade penal, por exemplo, o

MP não pode denunciar por incesto, pois não existe tipo penal.

3.2) Interesse de agir → necessidade + utilidade + adequação. *excludente de ilicitude

caracterizada no inquérito leva ao arquivamento.

Necessidade → inerente ao processo penal, não se pode impor sanção penal sem o

devido processo legal;

Utilidade → eficácia da atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor;

Adequação → processo penal condenatório e no pedido de aplicação da sanção penal.

3.3) Legitimação para agir → pertinência subjetiva da ação. É a legitimação para

ocupação dos pólos ativo (MP, ofendido) e passivo (provável autor). Partes legítimas

são os titulares dos interesses materiais em conflito (direito de punir x liberdade). O

MP não pode propor queixa crime (ação privada).

As condições da ação devem ser analisadas pelo juiz quando do

recebimento da denúncia/queixa, de ofício pelo juiz; caso falte qualquer uma delas, o

juiz deverá REJEITAR a inicial e declarar o autor CARENTE DE AÇÃO (art. 395, II, CPP) ou

carecedor de ação.

Vide arts. 395 a 397 do CPP – absolvição sumária


4) Ação Penal Pública Incondicionada

Titularidade: MP com exclusividade (art. 129, I, CF)

 Exceção: desídia do MP (art. 5º, LIX, CF) – ação penal privada subsidiária

 Princípios

a) Obrigatoriedade: o MP não pode se recusar a propor a ação penal;

Mitigação – Lei nº 9099/95 – transação penal

b) Indisponibilidade: (CPP, art. 42 e 576), o MP não pode desistir da ação e


nem do recurso;
c) Oficialidade: ó órgão da persecução penal é publico, estatal (MP). Mesmo a
investigação criminal é pública e oficial feita pela polícia civil. Exceção: ação
penal privada;
d) Indivisibilidade: a ação penal deverá recair sobre todos aqueles que
praticaram a infração penal. *** STF/Jurisprudência – divisibilidade –
exclusão de co-autores devidamente justificada
e) Intranscendência: a ação penal só poderá ser proposta contra a pessoa a
quem se atribui a prática do crime.

5) Ação Penal Pública Condicionada

É aquela cujo exercício se subordina a uma condição especial ou específica (condição


de procedibilidade), seja a representação do ofendido ou de seu representante legal,
seja a requisição do ministro da Justiça.

5.1) Ação Penal Pública Condicionada à Representação


Neste caso o MP só pode dar início se a vítima ou seu representante legal o
autorizarem por meio de uma manifestação de vontade. Iniciou a ação? Não pode
mais dela dispor.

 Ver crimes que dependem de representação (regra geral = ação


incondicionada)
 Natureza jurídica: condição objetiva de procedibilidade. Vide art. 107, IV, CPB
– Decadência – prazo para representar.
 Titular: maior de 18 anos. Se menor ou enfermo mental → representante legal
 Se o ofendido morrer/ou ausente → cônjuge, ascendente, descendente,

irmão, consoante art. 24, § 1º, CPP;

 Se mais de um sucessor comparecer para representar, aplica-se o art. 36, CPP

→ os mais próximos excluem os mais remotos.

 Pessoa Jurídica – cf dispuser o estatuto ou gerente/diretor

 Ofendido incapaz e sem representante legal – juiz nomeia um curador

especial, que não está obrigado a representar, tem discricionariedade para

optar.

 Prazo: art. 38, CPP – 6 meses do dia em que vier a saber quem é o autor do

crime.

 Forma: não existe forma solene, pode ser nas declarações, no corpo do boletim

de ocorrência, por petição etc. Deve, entretanto, contar a narração do fato e

a evidência inequívoca de que se quer ver processar o suspeito.

 Representação x apenas um dos suspeitos → estender-se-á aos demais co-

autores, o MP pode propor a ação x todos. Isso se denomina de EFICÁCIA

OBJETIVA DA REPRESENTAÇÃO.

 Destinatários: Juiz, MP, Delegado de Polícia


 IRRETRATABILIDADE: art. 25, CPP e art. 102, CPB – não pode depois de

oferecida a denúncia. **** só pode antes de se oferecer a denúncia e pela

mesma pessoa que representou.

***** próxima aula: ação penal nos crimes sexuais e ação penal privada.
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Ponto 3 – Ação Penal – aula II

1) Ação Penal nos crimes x liberdade sexual

Com o advento da Lei nº 13718/18 foi feita alteração na


redação do art. 225 do CPB estabelecendo que, doravante, nos crimes
contra a dignidade sexual (liberdade sexual, costumes) a ação penal será
pública incondicionada. Isto quer dizer que não há necessidade de a
vítima de estupro, por exemplo, representar. Tanto o MP como a Polícia
Civil deve agir de ofício.
Observe-se, por oportuno, que referida lei acrescentou dois
novos tipos penais: art. 215 A – Importunação sexual (caso típico do
sujeito que se masturba e molesta mulheres no metrô) e o art. 218 C que
tipifica o delito de divulgação de material pornográfico.

2) Ação Penal Privada

2.1) Conceito → É aquela em que o Estado transfere a legitimidade para a


propositura da ação penal à vítima ou seu representante legal (ius
persequendi), mas o direito de punir (ius puniendi) permanece sob o
monopólio do Estado.
 Legitimação extraordinária (substituição processual) → o ofendido
exerce em nome próprio um interesse alheio (o interesse estatal na
repressão criminal).
2.2) Fundamento → evitar que o escândalo processual (strepitus
processus) provoque um mal ainda maior que o próprio crime.

2.3) Titular → ofendido (vítima) ou seu representante legal, art. 30, CPP. O
autor é chamado de querelante (queixoso ou quereloso) e o réu é
denominado de querelado.

Prazo: decadencial de 6 meses*

Em caso de morte ou ausência da vítima segue-se a regra do art. 31 do


CPP, passando o direito de queixa para o cônjuge, ascendente,
descendente ou irmão. Por cônjuge deve-se entender também o
convivente (art. 226, § 3º, CF) e o parceiro homo afetivo (ADPF
132/2011). É bom lembrar que o parente mais próximo exclui o mais
distante.

2.4) Princípios:

a) Oportunidade – a vítima pode ou não propor a ação penal;


b) Disponibilidade – a vítima decide se vai até o fim, podendo desistir;
c) Indivisibilidade – ou a vítima processa todos ou não processa
nenhum, não pode escolher quem vai processar (nos casos de co-
autoria), vide art. 48, CPP.

* Rejeição da queixa por renúncia tácita (art. 49) → é causa extintiva de


punibilidade que se comunica aos demais querelados.

d) Intranscendência – só pode ser proposta a ação x autor/partícipe

2.5) Espécies

 Ação penal privada propriamente dita;


 Ação penal Privada Personalíssima (art. 236, § único, CPB);
 Ação Penal Privada Subsidiária da Pública (art. 5º, LIX, CF e
art. 29, CPP)

A ação penal privada subsidiária da pública (ou supletiva) pode ser


proposta no prazo de 6 meses decorridos do prazo para o MP se
manifestar. Neste caso, o MP poderia: ou denunciar; ou devolver o IP para
a polícia completar diligências ou pedir o arquivamento. Apenas se o
Promotor não fizer absolutamente nada é que há espaço para a ação
penal subsidiária.

2.6) Prazos

 6 meses da ciência de quem é o autor do delito;


 6 meses do trânsito em julgado da sentença que anular o
casamento (ação penal personalíssima);
 30 dias da homologação do laudo pericial nos crimes x
propriedade imaterial.

3) Denúncia/Queixa-crime

3.1) Conceito: é a petição inicial acusatória, com a exposição por escrito


de fatos que a constituem, com a indicação de aplicação da lei penal a
quem é o suposto autor da infração penal.

3.2) Requisitos (art. 41, CPP)

a) Descrição dos fatos em todas as suas circunstâncias → não se admite


imputação vaga, imprecisa, pois ofende o direito de ampla defesa.

 no concurso de agentes deve-se indicar e especificar a conduta de


cada um;
 crimes de autoria coletiva – STJ – admite narração genérica

 Denúncia alternativa: atribui ao réu mais de uma conduta


penalmente relevante de forma alternada, de modo que, se uma delas
não ficar comprovada, o réu poderá ser condenado subsidiariamente pela
outra. Exemplo: denúncia por roubo/receptação. A posição majoritária
não admite acusação incerta, pois é abusiva e ofende o direito à ampla
defesa.

b) Qualificação do acusado → a inicial deve conter os dados que


individualizem o autor (identificação criminal, perfil genético).

c) Classificação jurídica do fato → a correta tipificação da conduta não


vincula o juiz, que poderá dar ao fato definição jurídica diversa. O juiz fica
adstrito aos fatos narrados na peça acusatória. O autor deve indicar o
artigo e não apenas o nome do crime.

d) Rol de testemunhas → é o momento temporal indicado para


arrolamento de testemunhas. Se não o fizer ocorre preclusão.
** exceção: diligências necessárias após a audiência de instrução.

e) Pedido de condenação → de preferência expresso.

f) Endereçamento da petição → em qual juízo é oferecida a acusação.

g) O nome, cargo e a posição funcional do acusador (denunciante) e


assinatura → exemplo: 8º Promotor de Justiça da Capital
 Na queixa-crime o ofendido exerce pessoalmente o direito de ação
ou por procurador com poderes especiais.

3.3) Omissões (art. 569, CPP) → as eventuais omissões podem ser


supridas até a sentença.

3.4) Prazo para a denúncia (art. 46, CPP)


Réu solto: 15 dias
Réu preso: 5 dias
Crime eleitoral: 10 dias
Crime x economia popular: 2 dias
Abuso de autoridade: 48 horas
Crimes da Lei de Drogas (exceto uso): 10 dias

3.5) Prazo para a queixa-crime (art. 38, CPP)


6 meses, contados da data em que o ofendido vier a saber quem é o autor
do crime. É prazo de direito material (direito penal) e, portanto, é
DECADENCIAL. Inclui-se o dia do início (dies a quo) e se exclui o final (dies
ad quem). Não se admite prorrogação.

3.6) Aditamento pelo MP (art. 45, CPP)


Prazo de 3 dias do recebimento dos autos.
3.7) Rejeição da denúncia ou queixa (art. 395, CPP)
 Inépcia
 Falta de pressuposto processual
 Ausência de justa causa
 Falta de condição da ação (atipicidade).

3.8) Ação Penal e Extinção da Punibilidade


a) Decadência (art. 107, IV, CPB) → perda do direito de ação pelo fato de
não ter sido exercido no prazo legal. Via direta a atingir o direito de punir
do Estado. Vide art. 103, CP: em regra 6 meses, contados do dia em que o
ofendido vier a saber quem é o autor do delito.
b) Perempção (art.107, IV, CPB) → é a perda do direito de prosseguir na
ação penal privada, como consequente sanção em razão da INÉRCIA do
querelante (art. 60, CPP).
c) Renúncia ao direito de queixa (art. 107, V, 1ª parte, CPB) → é ato
unilateral de desistência do direito de ação por parte do ofendido. É
sempre anterior ao oferecimento da queixa-crime. Pode ser expressa ou
tácita. Ver art. 49, CPP : a renúncia ao direito de queixa em face de um
autor alcança aos demais co-autores.
d) Perdão do ofendido (art. 107, V, 2ª parte, CPB) → é o caso do perdão
aceito (o autor tem que aceitar o perdão). Trata-se da revogação do ato
praticado pelo querelante, que desiste de prosseguir na ação penal.
Pressupõe queixa oferecida e devidamente recebida. É ato bilateral,
porque precisa da aceitação do querelado.
Universidade São Judas Tadeu – Faculdade de Direito

Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 5 – Ação Civil Ex Delicto

1) Independência das instâncias penal e civil (art. 935, CCB);

Ato ilícito e a obrigação de indenizar e reparar o dano (arts. 186, 187 e 927 do CCB);

2) Efeito genérico da condenação criminal: obrigação de reparar o dano (art. 91,

I, CPB): independente de se expressar tal obrigação na sentença; assim, a

condenação criminal transitada em julgado faz coisa julgada também no juízo cível,

para efeito de reparação do dano ex delicto, impedindo que o autor do fato renove

nessa instância o que já se decidiu no juízo penal; e, pois, por se tratar de efeito

genérico da condenação, não precisa ser necessariamente declarado na

sentença, ao contrário dos efeitos específicos (art. 92, CPB);

3) Ilícito penal também caracteriza ilícito civil, pois este é uma violação em grau

menor da ordem jurídica: sentença penal condenatória transitada em julgado vale

como título executivo judicial no juízo cível (CPP, art. 63), possibilitando ao

ofendido obter a reparação do dano, sem necessidade de ajuizar ação civil de

conhecimento. E se a vítima propuser ação civil de conhecimento? Extinção do

processo sem resolução do mérito: falta de interesse de agir (não precisa rediscutir o

mérito);

4) Execução da sentença condenatória: a Lei n. 11719/2008 acrescentou o §

único ao art. 63, permitindo que o ofendido promova a execução pelo valor mínimo

fixado na sentença, sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente

sofrido. Se o réu discordar: deverá questionar na apelação;

5) Ações civil e criminal correndo paralelamente: para evitar decisões

contraditórias, o juiz cível pode suspender o processo por até um ano (art. 64, §

único do CPP e art. 313, V, a, CPC);


6) Excludentes de ilicitude e absolvição (art. 65, CPP): atos penal e civilmente

lícitos. *** E o terceiro lesado ou dono da coisa danificada? Perde tudo? Não, neste

caso, o autor do dano terá ação regressiva contra o causador do perigo, para haver o

valor que foi obrigado a reparar (arts. 929 e 930, CCB); são os casos de estado de

necessidade agressivo e aberratio ictus na legítima defesa;

7) Sentença absolutória que reconhecer a inexistência material do fato

impede a reparação civil (art. 66, CPP); algo muito lógico, pois se o fato inexistiu no

mundo naturalístico, não vai repercutir em nenhuma esfera do direito;

8) Absolvição por excludente ou negativa de autoria, com base no art. 386,

IV, CPP: também fica afastada a ação de reparação de danos;

9) Condenação penal de inimputável: o autor responderá com seus bens

pessoais somente se seus responsáveis não puderem fazê-lo ou não tiverem bens

suficientes (art. 928, CCB);

10) Arquivamento do inquérito policial; decisão que julgar extinta a

punibilidade; sentença absolutória que julgar que o fato não constitui crime;

absolvição com fundamento no art. 386, II, V, VI e VII do CPP: todas estas

hipóteses não excluem o aforamento da ação cível ex delicto;

11) Titularidade: o ofendido, seu representante legal, herdeiros. Titular o

direito for pobre: MP ou Defensoria Pública.

12) Foro competente: juízo civil, no domicílio do autor ou do local do fato,

para a ação de reparação de dano sofrido em razão de delito (art. 53, V, CPC).

13) Prazo prescricional tem seu termo inicial a partir do trânsito em julgado

da condenação penal (3 anos). *** Vítima menor: só conta a partir da data em que

completar 16 anos (art. 206, § 3º, V, CCB)


Universidade São Judas Tadeu – Curso de Direito

Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 5 – Jurisdição e Competência – Aula 1

1) Jurisdição: conceito e características

É a atividade por meio da qual o Estado se substitui às partes em conflito,


aplicando coercitivamente a vontade da lei ao caso concreto. Juris + dictio
(ação de dizer o direito).

Suas características mais importantes são: substitutividade, inércia, escopo


de atuação do direito, definitividade e presença de lide* (controvérsia
penal, para alguns).

Prof. Aury Lopes → Jurisdição – poder-dever → direito de punir x garantia


fundamental da liberdade (acesso/juiz natural/celeridade, art. 5º, XXXV, CF).

2) Princípios Informadores da Jurisdição


a) Juiz Natural: art. 5º, LIII, CF, autoridade pré-fixada segundo critérios
constitucionais → vedação do juízo de exceção (art. 5º, LIV, CF).
b) Investidura: a jurisdição só pode ser exercida por quem estiver
regularmente investido no cargo de juiz (juiz togado).
c) Devido processo legal: conforme art. 5º, LIV, CF. O devido processo
legal abrange o contraditório e a ampla defesa, juiz natural e
publicidade.
d) Inafastabilidade (Indeclinabilidade, amplo acesso, cf art. 5º, XXXV,
CF): nenhum juiz pode se subtrair à função jurisdicional, nem a lei
poderá fazê-lo.
e) Indelegabilidade: nenhum juiz pode delegar suas funções a outro, pois
violaria o princípio do juiz natural. Exceção: cartas precatórias e
rogatórias – colaboração judicial.
f) Inevitabilidade (irrecusabilidade): as partes não podem recusar o juiz.
Exceção: Impedimento, suspeição, incompetência; recusa peremptória
no Júri.
g) Correlação: deve haver congruência entre a sentença e o pedido (não
pode ser ultra ou extra petita).
h) Inércia: em regra o juiz não pode agir de ofício (nemo iudex sine
actore).

3) COMPETÊNCIA PENAL

absoluta, não se prorroga,


matéria não há preclusão, juiz
reconhece de ofício

absoluta, não se prorroga,


Classificação pessoa não há preclusão, juiz
reconhece de ofício

relativa, deve ser arguida


pelo réu no 1º momento que
lugar falar no processo, sob pena
de preclusão e prorrogação
da competência

3.1 Definição: temos que fazer 3 perguntas → qual é a justiça? o acusado


tem foro especial? Qual o órgão competente?

Para definição da Justiça competente deve-se analisar a MATÉRIA,


começando pela mais restrita das justiças especiais (militar federal estadual,
eleitoral) para, por exclusão, chegar às justiças comuns, primeiro a federal e,
finalmente, a estadual (mais residual de todas). Por isso temos que conhecer a
competência de cada uma das justiças.

I) Justiças especiais
 Militar – Federal (art. 124, CF) – crimes militares; Estadual (art. 125, §
4º CF) – crimes militares + agente ser “militar do Estado”. Conduta
tipificada no COM ou outra lei e art. 9º (ação envolva segurança militar;
operações de paz).
 Pode um civil ser julgado na justiça militar? Sim, desde que presentes os
requisitos legais, mas APENAS na justiça militar federal;
 Crime doloso x vida de civil praticado por militar: Júri popular (art.
125, § 4º, CF, estando em atividade e exista interesse militar; Justiça
militar da União (militar for federal e estiver em atividade, cf art. 9º,
CPM). Vide Súmulas 06 e 53 do STJ;
 Eleitoral: julga crimes eleitorais (art. 121, CF + Cód. Eleitoral); crime
eleitoral conexo c/ crime x vida→ Cisão.

II) Justiças Comuns


 Justiça Federal: situações do art. 109, IV e ss, CF.
 Prevalece sobre a justiça comum estadual (art. 78, III, CPP + Súmula
122-STJ).
 Nunca julga contravenções (Súmula 38/STJ);
 Crimes praticados x soc. econ. mista (Estadual, Súmula 42/STJ);
 Servidor Público Federal (vítima ou autor –propter officium Justiça
Federal, inclusive Júri Federal, STJ- Súmula 147);
 Tráfico de drogas (Internacional/Federal, Interno/Estadual);
 Crimes cometidos a bordo de navios/aeronaves – Justiça Federal,
exceto se for da competência da justiça militar;
 Crimes ambientais: regra geral, justiça estadual (art. 109, CF);
 Crimes praticados fora do Território nacional: desde que presente uma
situação de extraterritorialidade da lei penal (art. 7º, CP)→ julga na justiça
estadual (art. 88, CPP – p/definir lugar), justiça federal (art. 109, CF, exceto
inciso II);
 Júri: art. 74, CPP + art. 109, CF
 Jecrim Federal – art. 109, CF + crime de menor potencial ofensivo da Lei
n° 9099/95.

 Justiça Estadual – mais residual de todas

 definir órgão julgador quando há prerrogativa funcional

STF

STJ

TRFs TJs

Júri Júri est.

Juiz
Juiz est.
federal

Jecrim Jercim est.

III) PRERROGATIVA DE FUNÇÃO


Algumas pessoas, em razão do cargo ou função exercidos, têm a
prerrogativa de serem julgadas por determinados tribunais (é o que se
denomina de foro especial por prerrogativa de função).
 Prerrogativas importantes: art. 102, I, b e c Cf; art. 105, I, a, CF;
art. 96, III, CF; art. 108, I, a CF e art. 29, X, CF.
 Governador SP: acusação – juízo de admissibilidade pela Alesp
(2/3 votos). Crime Comum: STJ; Crime de Responsabilidade: Lei n°.
1079/50, 5 deputados estaduais + 5 desembargadores (art. 49, pte
final CE).
 Prerrogativa de função x Júri Popular: se a prerrogativa foi fixada
pela CF ela prevalece; se a prerrogativa foi fixada por CE ou outra
lei, prevalece o Júri.
 Prerrogativa de função + conexão/continência x Júri: quem tem
prerrogativa (Tribunal); particular (Júri);
 Prerrogativa de função para vítima de crime: não existe nenhuma
regra. ***Exceção: crime x honra, a exceção da verdade deve ser
oposta no Tribunal;
 Prefeitos: crimes comuns (TJ, nunca o júri); crime eleitoral (TRE);
crime federal (crime x bens e serviços da União- TRF); infrações
político-administrativas – Câmara Municipal (impeachment).

IV) Qual é o foro competente (lugar)


Se em razão da natureza do crime e da qualidade do agente (existência ou
não de foro especial), for de competência da justiça de 1º grau → define-se
o foro segundo os arts. 70/71 ou 88 a 90, CPP.
 Lugar do crime/crime plurilocal: lugar do crime é aquele em que
se esgotou o potencial lesivo/ofensivo, ainda que diverso de onde se
consumou. Exemplo: sujeito é atropelado em Campinas e socorrido
vem a óbito em SP, o lugar do crime de homicídio culposo é
Campinas.
 Crime continuado/permanente – prevenção (art. 71).
Universidade São Judas Tadeu – Curso de Direito

Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 5 – Jurisdição e Competência – Aula 3

1) Competência por conexão

Conexão é o vínculo que se estabelece entre dois ou mais fatos que os


entrelaça, sugerindo sua reunião num só processo, para se evitar que ocorram
decisões contraditórias. Além da economia processual óbvia, anota-se a
necessidade de segurança jurídica e prestígio à justiça.

Efeitos: reunião das ações penais num só processo e prorrogação da


competência.

1.1) Espécies de Conexão

1.1.1) INTERSUJETIVA

a) por simultaneidade (art. 76, I, 1ª parte, CPP) → quando duas ou mais


infrações são praticadas ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, sem
que haja liame (vínculo) entre elas. Não há concurso de agentes. É o caso da
autoria colateral. A autoria colateral ocorre quando dois agentes têm a
intenção de obter o mesmo resultado, porém um desconhece a vontade do
outro, sendo que o objetivo poderá ser atingido pela ação de somente um deles
ou pela ação de ambos. Exemplo: Caio e Tício pretendem matar Julio, e para
tanto se escondem próximo à sua residência, sem que um saiba da presença
do outro, e atiram na vítima. Assim, Caio e Tício responderão por homicídio em
autoria colateral já que um não tinha conhecimento da ação do outro (não há
vínculo psicológico). Exemplo: Descontentes com a derrota de seu time em
casa, torcedores resolvem depredar o estádio.
b) por concurso (art. 76, I, 2ª parte, CPP) → quando duas ou mais
infrações são praticadas por várias pessoas em concurso, embora
diversos o tempo e o lugar. Aqui ocorre ajuste de vontades e propósitos para o
mesmo fim. Exemplo: Grandes quadrilhas de sequestradores (um planeja,
outro executa, outro mantém a vítima em cativeiro, outro negocia o resgate
etc), todos devem ser julgados pelo mesmo juiz.

c) por reciprocidade (art. 76. I, in fine, CPP) → quando duas ou mais


infrações são praticadas por várias pessoas umas contra as outras. Exemplo: É
o caso das lesões corporais recíprocas em briga de torcidas rivais. Fatos
conexos: um só processo. Não é exemplo pertinente o crime de rixa pois é
delito de concurso necessário.

1.1.2) OBJETIVA ou LÓGICA (art. 76, II, CPP)

Ocorre quando uma infração penal é praticada para facilitar a execução da


outra (conexão objetiva teleológica) ou para ocultar, garantir vantagem ou
impunidade a outra infração (conexão objetiva consequencial). Exemplos:
traficante de drogas mata policial para garantir a venda a seus clientes; sujeito
mata a esposa e esconde (oculta) o cadáver.

1.1.3) INSTRUMENTAL ou PROBATÓRIA (art. 76, III, CPP)

Ocorre quando a prova de uma infração influir na outra. Exemplo: José furta
um relógio e o vende a Pedro que sabe da procedência criminosa do objeto.
Instaura-se um só processo porque a prova do furto é prejudicial à receptação.
2) COMPETÊNCIA POR CONTINÊNCIA

Não há separação de processos porque uma causa está contida (faz parte) da
outra. As hipóteses de continência estão no art. 77 do CPP.

2.1) Quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração
penal (art. 77, I, CPP) → é um só crime (e não vários), praticados em concurso
de agentes (art. 29, CP). Aqui existe vínculo entre agentes e não entre
infrações. Exemplo: crime de rixa (crime plurissubjetivo de condutas
contrapostas).

2.2) Concurso formal (art. 70, CP) , aberratio ictus (art. 73, CP) e aberratio
criminis (art. 74, CP) → aqui ocorre pluralidade de infrações, mas unidade de
conduta.

Concurso formal: uma só ação com 2 ou mais resultados. Exemplo: motorista


em excesso de velocidade perde a direção, atropela e mata 4 pessoas que
estavam no ponto de ônibus (há 4 homicídios culposos).

Aberratio Ictus: é o erro na execução, o desvio no golpe. O agente atinge


pessoa diversa da pretendida ou além de atingir quem queria, também atinge
terceiro inocente. Exemplo: o sujeito dispara tiros contra a vítima e também
atinge um pedestre que passava nas proximidades.

Aberratio Criminis: aqui o sujeito, por erro na execução, pratica outro crime,
ou ainda realiza o crime pretendido e o não pretendido. Exemplo: para se
vingar de um lojista que lhe cobrou preços abusivos, o indivíduo joga uma
pedra na vidraça da loja e quebra o vidro (dano), mas também atinge o
vendedor (lesão corporal).
3) Foro Prevalente (art. 78, CPP)

Ocorrendo a reunião dos processos pela conexão ou continência, poderá haver


prorrogação da competência em relação a um dos crimes. Qual juízo
prevalecerá?

a) Júri x Justiça comum → Júri.


b) Justiça comum (várias infrações) x justiça comum → crime + grave, o
procedimento penal mais amplo prevalecerá (ampla defesa, CF).
c) Infrações de igual gravidade (e todas da justiça comum) → prevalecerá o
juízo do lugar onde houver o maior número de infrações cometidas.
d) Caso não haja diferença entre a jurisdição competente, gravidade e nº
de infrações → prevenção.
e) Justiça comum x Justiça especial → prevalece a especial. Vide CF (Júri
e justiça especial), no caso de homicídio e crime eleitoral, haverá cisão, pois
o Júri julgará o homicídio e a justiça eleitoral julgará o crime eleitoral. Júri x
Prerrogativa de Função (depende: se foi a CF que outorgou a prerrogativa,
prevalece sobre o Júri; se foi a Constituição estadual ou lei estadual ou federal
que outorgou a prerrogativa, prevalece o Júri).
f) Justiça comum estadual x justiça comum federal: prevalece a federal.
g) Crime cometido por juiz de direito em concurso com pessoas sem
foro especial→ Tribunal de Justiça para todos.

4) Separação de processos

a) Justiça comum x justiça militar: civil será julgado na justiça comum e o


militar na justiça militar. Ver Súmula 90 STJ.
b) Justiça comum x juízo da infância: cisão, pois o menor é inimputável.
c) Corréus (um deles doente mental): cisão, suspende-se o processo em
relação ao louco por meio do incidente de insanidade mental do acusado.
d) Elevado número de réus ou vários crimes em circunstâncias de tempo
ou lugar diferentes: separação facultativa.
e) Conexão/continência: o juiz ao absolver o réu do crime que motivou a
reunião dos processos, continuará competente para julgar os outros
(perpetuatio jurisdictionis).
f) Júri – desclassificação – juiz presidente julga- Lei n. 9099/95 (art. 69 e
ss).
g) Crimes conexos no Júri: jurados absolvem no crime doloso contra a vida
e continuam competentes para os outros delitos.

 PERPETUATIO JURISDICTIONIS

Significa que, uma vez iniciada a ação penal em determinado foro, mesmo que
alterada a competência por regra de organização judiciária posterior, firma-se a
competência do juiz prevento. Assim, caso o réu esteja sendo processado em
determinada Comarca “Y”, que abrange o Município “X”, ainda que,
futuramente, este Município torne-se Comarca autônoma, continua o processo
a correr na Comarca “Y”. É a aplicação analógica de regra contida no Código
de Processo Civil. Verifica-se, no entanto, que a perpetuatio jurisdictionis
não se aplica, quando houver alteração da matéria. Assim, imagine-se que
o processo supramencionado está correndo na Comarca “Y”, em Vara de
competência cumulativa e não especializada. Caso a lei posterior de
organização judiciária crie, na Comarca “X”, uma Vara privativa, cuidando
somente da matéria objeto do feito, deve-se proceder à imediata remessa do
processo para a Vara criada. Tal se dá porque a competência territorial é
prorrogável e relativa, o que não ocorre com a competência em razão da
matéria. Portanto, criada em determinada Comarca, em outro exemplo
semelhante, uma Vara privativa do júri, todos os feitos que correm nas demais
Varas criminais comuns serão remetidos para a recém-criada Vara (prof.
Guilherme Nucci).

 PREVENÇÃO: toda vez que existirem dois ou mais juízes igualmente


competentes, segundo todos os critérios, para o julgamento da causa, a
competência será pré-fixada, antecipada (juízo prevento), mediante a prática
de ato inequívoco no inquérito/ação (decretação de preventiva, concessão de
fiança judicial etc).
Para o Prof. Knippel: “O artigo 83, CPP determina que será considerado
prevento o juízo competente que tiver antecedido aos outros, igualmente
competentes, na prática de algum ato do processo ou de medida a este
relativa, ainda que na fase do inquérito policial.

Portanto, o conceito de prevenção no processo penal é distinto daquele contido


no processo civil.

Exemplo: crimes continuados praticados em São Paulo, São Bernardo e


São Caetano. Imaginando que em São Paulo ocorreu a primeira decisão
judicial, mesmo que na fase do inquérito (indeferimento do relaxamento
de prisão em flagrante, por exemplo), será este o foro competente, pela
prevenção.

A prevenção é utilizada nas seguintes situações:


a) quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando
incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de
duas ou mais jurisdições (70, § 3º, CPP);
b) crime continuado ou permanente, praticada em território de duas ou mais
jurisdições (71, CPP);
c) não sendo conhecido o lugar da infração, caso o réu possuir mais de uma
residência (72, § 1º, CPP);
d) na determinação da competência pela continência ou conexão, nos casos de
jurisdições da mesma categoria, caso os crimes sejam da mesma gravidade e
tenham sido praticados em igual número (78, II, "c", CPP)”.
Universidade São Judas Tadeu – Curso de Direito

Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 5 – Jurisdição e Competência – Aula 2

1) Competência pelo lugar da Infração: teoria adotada e regras


especiais.

a) Teoria da atividade: lugar do crime é o da ação ou omissão, pouco


importa onde se deu o resultado;
b) Teoria do resultado: lugar do crime é onde se deu o resultado, não
importando o lugar da conduta;
c) Teoria da Ubiquidade: lugar do crime é tanto o da conduta quanto o do
resultado.
 Crimes à distância – ubiquidade (exemplo: carta injuriosa de SP a
Buenos Aires);
 Crimes plurilocais – conduta e resultado dentro do território nacional,
mas em locais diferentes – art. 70, CPP, a competência é a do lugar da
consumação.
 Crimes de menor potencial ofensivo (Lei nº. 9099/95) – lugar da
conduta.
 Regras especiais: Latrocínio – juiz singular (STF/Súmula 603); crimes
em divisas (prevenção, art. 70, § 3º, CPP); crimes continuados e
permanentes, praticados em território de 2 ou mais jurisdições
(prevenção, art. 71, CPP); alteração da comarca por lei, depois de
instaurada a ação penal (STJ → manutenção da competência original);
estelionato por meio de cheque sem fundos (STF/Súmula 521 – local onde
se deu a recusa do pagamento); falso testemunho por precatória (juízo
deprecado); uso de documento falso (local da falsificação); Índio
(STJ/Súmula 140, justiça comum estadual).
 ATENÇÃO: No homicídio, quando a morte é produzida em local
diverso daquele em que foi realizada a conduta, a jurisprudência
entende que o local competente é o da ação/omissão e não o do
resultado (STJ/RHC 793). Posição que afronta o texto da lei (art. 70,
CPP).

2) Competência pelo domicílio ou residência do réu

a) não se sabendo o local do crime, a competência se dá pelo domicílio

do réu (art. 72, caput, CPP);

b) réu com mais de um domicílio: prevenção (art. 72, § 1º, CPP);

c) Réu sem residência ou com o paradeiro ignorado: prevenção (art.

72, § 2º, CPP);

d) Ação penal privada: querelante pode optar pelo foro da residência do

réu ou o do lugar do crime (art. 73, CPP).

3) Federalização das causas relativas a Direitos Humanos. Do

incidente de deslocamento de competência (EC 45/2004).

Sempre que houver grave violação de direitos humanos em determinado

Estado e isso comprometer a lisura ou imparcialidade do inquérito policial ou

processo criminal, o PGR poderá suscitar no STJ o deslocamento da

competência para a Justiça Federal, com a consequente transferência do

inquérito para a polícia federal ou do processo para a vara federal respectiva. É

o que se depreende do art. 109, inc. VA e § 5º da CF.


Incidente de deslocamento → inquérito ou processo → PF ou JF –

proporcionalidade (adequação e necessidade).

4) Tribunal Penal Internacional (TPI): órgão de jurisdição transnacional

com competência para julgar os crimes de genocídio, de guerra, x humanidade,

de agressão injustificada (art. 5º, § 4º, CF). Exerce jurisdição residual, pois só

se instaura uma ação no TPI depois de esgotada a via processual interna do

país vinculado. Vide diferenças entre extradição e “surrender” (entrega).

Imunidades constitucionais ou diplomáticas não impedem a atuação do TPI.

5) Competência por distribuição: havendo mais de um juiz competente no

foro do processo, a competência será determinada pela DISTRIBUIÇÃO.

Depois de fixado o foro competente, bem como a justiça competente é possível

que existam mais de um juiz competente, sendo que será prevento o juiz que

adiantar-se aos demais na prática de algum ato ou medida a este relativa,

ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (decretação da

prisão preventiva, concessão de fiança e etc). Não havendo prevenção

processar-se-á a distribuição realizada por sorteio para fixação de um

determinado juiz dentre os competentes. Exemplos: distribuição de inquérito;

decretação de prisão preventiva; busca e apreensão, concessão de fiança

judicial etc.
Universidade São Judas Tadeu – Curso de Direito

Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 5 - Competência Penal aula II

1. Da competência pelo lugar da infração

A regra da competência pelo local da infração vem definida no art. 70, CPP,
1ª parte, segundo a qual o foro competente será estabelecido pelo local da
consumação do crime. Consumação (art. 14, I, CP) – considera-se o crime
consumado quando nele se reúnem todos os elementos descritos no tipo.

1.1 Peculiaridades

a) Homicídio doloso: o homicídio se consuma no local da morte


(cessação da atividade encefálica) e o julgamento deve se dar no tribunal do
Júri da Comarca em que tal resultado venha a acontecer. Entretanto, a
jurisprudência abriu exceção contra legem no sentido do julgamento se dar
pelo Júri do local da ação incriminada, pela melhor coleta de provas e vestígios
do crime (* salvo se a vítima for servidor público federal no exercício das
funções, ou ocorrido a bordo de navio ou avião, situações que transferem o
feito para o Júri Federal).
b) Homicídio culposo: existe divergência quanto ao tema, mas
entendemos que deva ser aplicada a regra do art. 70, CPP – juízo singular é
o competente do local do resultado.
c) Crimes qualificados pelo resultado: deve ser julgado no local onde
houver o evento agravador (exemplo do roubo de veículo com retenção de
vítima numa cidade e a morte da vítima – latrocínio – dá-se noutra cidade).
Esse mesmo raciocínio vale para os crimes qualificados pelo resultado lesão
grave ou morte.
d) Apropriação indébita: o crime se consuma no local onde o agente
inverte a posse da coisa, sendo aí o local para julgamento.
e) Emissão de cheques sem fundo (art. 171, § 2º, VI, CP): a conduta é
emitir (colocar) o cheque sem fundos em circulação, entregando-o ao
beneficiário. O foro competente é o do local em que está situado o banco
sacado (do emitente do cheque). Ver Súmula nº 521 do STF e 244 do STJ.
f) Estelionato comum mediante falsificação de cheque: aqui o agente
emite cheque de terceiro, fazendo-se passar pelo correntista, falsificando sua
assinatura. Como em qualquer modalidade de estelionato comum (art. 171,
caput, CP), a consumação se dá no momento da obtenção da vantagem
ilícita, por isso, o foro competente é o do local onde o cheque foi passado
e o agente recebeu a vantagem. Vide Súmula 48 do STJ.
g) Estelionato mediante remessa bancária de valores de uma cidade
para outra: é comum que golpista publique anúncios de jornal e consiga
enganar incautos de diversas cidades que, mediante contato telefônico, são
convencidas a efetuar depósito na conta do estelionatário. Assim o dinheiro sai
da conta de uma cidade X e entra na conta de uma cidade Y. O local
competente é onde se situa o banco do criminoso (onde o dinheiro ficou
disponível), mesmo que o golpista saque valores em caixas eletrônicos de
outros lugares**.
h) Furto via eletrônica: clonagem de cartão ou uso de senha da internet,
trata-se de furto, o foro competente é o do local do banco da vítima (momento
da subtração).
i) Duplicata simulada: crime formal, com a emissão do título ‘frio’,
colocando-o em circulação.
j) Falso testemunho prestado em precatória: local do crime é no lugar
onde foi prestado o depoimento falso (juízo deprecado).
k) Uso de passaporte falso: Súmula 200/STJ: o juízo federal
competente para processar e julgar acusado de crime de uso de
passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou. Local de
embarque ou desembarque.
l) Crime de desobediência na modalidade omissiva: local onde o
agente resiste à ordem legal, descumprindo-a (exemplo: ordem judicial
expedida em Santos para ser cumprida em Praia Grande e o perito de Praia
Grande não cumpre).
m) Contrabando ou descaminho: STJ súmula 151: “a competência para
processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela
prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens”.
n) Crimes falimentares: ver art. 183 da Lei de Falências, compete ao juiz
criminal da jurisdição onde tenha sido decretada a falência, concedida a
recuperação judicial ou homologado o plano de recuperação extrajudicial,
conhecer da ação penal pelos crimes falimentares. Justiça estadual.
o) Infrações de menor potencial ofensivo: vide art. 63 da Lei n. 9099/95,
lugar em que for praticada (ação ou resultado) a infração penal. Teoria da
Ubiquidade (art. 6º, CP).
p) Genocídio: Lei nº. 2889/56. O STF decidiu (RE 351487/RR) que o bem
jurídico protegido não é a vida, mas a existência do grupo étnico, racial etc.
Assim, conexão de HDs com genocídio – Júri.
q) Crimes tentados: art. 70, CPP, parte final, a competência é do lugar do
último ato executório.
r) Crimes permanentes em território de duas ou mais comarcas:
crimes permanentes são aqueles cuja consumação se prolonga no tempo,
como por exemplo, o crime de extorsão mediante sequestro. O crime se
consuma com a tomada da vítima, mas se mantém em consumação enquanto
a vítima estiver em poder dos sequestradores em cativeiro. No caso da vítima
sequestrada em São Paulo e levada a um cativeiro em Diadema, o art. 71 do
CPP diz que a ação penal pode ser proposta tanto num como noutro lugar,
devendo a competência ser fixada pela prevenção.
*** Prevenção: ocorre quando um juiz realiza algum ato relevante antes
mesmo da ação penal (decretação de prisão preventiva no ip; exame de
insanidade mental etc).
s) Crimes à distância: são delitos realizados parte no Brasil e parte no
estrangeiro. Duas hipóteses: I) crime iniciado no Brasil e consumado no
exterior (art. 70, § 1º, CPP, lugar no Brasil onde se deu o último ato de
execução); II) último ato de execução se deu no exterior para produzir
efeitos no Brasil (art. 70, § 2º, CPP, lugar em que o crime embora
parcialmente tenha produzido ou deveria produzir o resultado).
t) Crimes praticados fora do território nacional: aplicação do art. 7º do
CP, extraterritorialidade da lei penal. Aplicação do art. 88 do CPP. O réu será
julgado na capital do Estado brasileiro onde por último tenha morado; caso não
tenha residido no Brasil, será julgado na capital federal.
u) Crimes cometidos a bordo de navio ou aeronave que se aproxima
ou se distância do país: Justiça Federal. Os crimes cometidos em qualquer
embarcação nas aguas territoriais brasileiras ou nos rios e lagos
fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar
serão processados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em
que a embarcação tocar após o crime; ou quando se afastar do país, pela
justiça do lugar do último porto que tenha tocado – art. 89, CPP. Os
crimes cometidos a bordo de aeronave nacional, dentro do espaço aéreo
brasileiro ou em alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira dentro do
espaço aéreo nacional, serão julgados pela justiça da comarca em cujo
território se verificar o pouso após o crime, ou pela comarca de onde
houver partido a aeronave (art. 90, CPP).
v) Crime praticado em local incerto na divisa de duas ou mais
comarcas – critério da prevenção.
Universidade São Judas Tadeu – Curso de Direito

Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 6 – Das Questões e Processos Incidentes (arts. 92 a 154, CPP).

1) Conceito de questões incidentes

São eventualidades que podem ocorrer no processo e que devem ser


resolvidas pelo juiz antes da solução da causa principal. E a questão
incidental é a controvérsia que sobrevém no curso do processo e que o juiz
deve solucionar antes do desfecho da causa principal.

2) Espécies:
a) Questões prejudiciais (arts. 92/94, CPP);
b) Exceções (arts. 95/111, CPP);
c) Incompatibilidades e Impedimentos (art. 112, CPP);
d) Conflito de jurisdição (arts. 113 a 117, CPP);
e) Restituição de coisa apreendida (arts. 118 a 124, CPP);
f) Medidas assecuratórias (arts. 125 a 144ª, CPP);
g) Incidente de falsidade (arts. 145 a 148, CPP);
h) Incidente de insanidade mental do acusado (arts. 149 a 154, CPP);

2.1) Questão Prejudicial


É a questão JURÍDICA que se apresenta no curso da ação penal, versando
sobre elemento integrante do crime e cuja solução, fugindo à competência do
juiz criminal, provoca a suspensão daquela ação.
HÁ UMA DEPENDÊNCIA LÓGICA ENTRE ELA E A SOLUÇÃO DO FEITO.

Elementos essenciais da prejudicialidade:


I) Anterioridade lógica→ influi no mérito;
II) Necessariedade → além da lógica, a questão necessária,
indispensável. Exemplo: Casamento nulo x crime de bigamia;
III) Autonomia → a questão pode ser resolvida em processo autônomo,
distinto daquele em que aparece a questão prejudicada;
IV) Competência na apreciação → pode ser decidida no juízo criminal,
mas pode ser julgada excepcionalmente pelo juízo cível.

2.1.1) Classificação:

2.1.1.1) Quanto ao mérito:

 Homogênea → quando pertencer ao mesmo ramo do direito da questão


principal. Exemplo: a exceção da verdade no crime de calúnia (art. 138,
§ 3º, CP);
 Heterogênea → quando se referir a ramo diferente do direito. Exemplo:
anulação de casamento e crime de bigamia (direito civil x direito penal);
 Total → quando se referir por completo na questão prejudicada, isto é,
se interferir sobre a própria existência do delito (tipicidade);
 Parcial → quando se referir apenas a uma circunstância (atenuante,
agravante, qualificadora).

2.1.1.2) Quanto ao efeito:

 Obrigatória ou necessária → suspende o processo, caso o juiz a


considere séria e fundada. É o caso da controvérsia sobre o estado das
pessoas (casado, solteiro). Exemplo: crime de bigamia;

 Facultativa → quando o juiz tiver a faculdade de suspender ou não o


processo, independentemente de reconhecer a questão como
importante para a solução da lide (art. 93, CPP). Exemplo: discussão
sobre a propriedade da coisa e o crime de furto (“coisa alheia”).

2.1.1.3) Quanto ao juízo competente para resolver a questão principal:


 Não devolutivas → referem-se às questões homogêneas e será
sempre o juiz criminal o competente para decidir. Exemplo: exceção da
verdade e a calúnia;

 Devolutivas absolutas → referem-se às questões heterogêneas, cuja


solução obrigatoriamente será dada pelo juízo cível. REQUISITOS: a)
versar sobre o estado das pessoas, conforme art. 92, CPP (casado,
divorciado, morto etc); b) ser elementar ou circunstância do fato
imputado; c) controvérsia séria, fundada e relevante;

 Devolutivas relativas → a questão poderá ou não ser julgada no cível,


a critério do juiz criminal (art. 93, CPP). REQUISITOS: a) não versar
sobre o estado civil das pessoas; b) competência do juízo cível; c) de
difícil solução; d) não sofra restrições da lei civil quanto à sua prova; e)
já existir ação cível em andamento, quando do momento da suspensão
do processo criminal.

3) Prejudicial e prescrição (art. 116, I, CP)

Suspenso o curso da ação penal ocorre uma causa impeditiva da prescrição da


pretensão punitiva.

4) Questão prejudicial e questão preliminar


 Prejudicial – acolhida → mérito
 Preliminar – acolhida → não julga o mérito
 Prejudicial – autônoma
 Preliminar – só existe em face da principal
 Prejudicial – nem sempre se resolve no juízo criminal
 preliminar – só se resolve no juízo criminal.
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Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 6 – aula 2 - Das Questões e Processos Incidentes (arts. 92 a 154,


CPP).

1) Exceção de Suspeição

Trata-se de um incidente de rejeição do juiz, quando a parte alegar falta de


imparcialidade ou outro motivo que afete a isenção dele. É DILATÓRIA (arts.
96/107, CPP), porque não extingue o processo, apenas o dilata, prolonga no
tempo.

Amizade íntima (quase parente)

Inimizade capital (ódio)

MOTIVOS: (art. 254, CPP) Juiz, cônjuge responderem a processo por

fato análogo etc

Conceito de cônjuge: mais amplo, para incluir companheiro (art. 226, §§ 3º e


4º, CF) e até o parceiro homo afetivo (STF/ADPF 132/2011).

2) Juiz → declara-se ex officio (arts. 97/254 1ª pte.) ou por exceção da


parte, conforme arts. 98 e 254, in fine.

CNJ – Resolução nº. 82 – declaração de suspeição por razão de foro íntimo. E


declina-se à Corregedoria em separado, conforme se verá abaixo.

 a exceção de suspeição deve preceder às demais, por questão


de ordem pública, salvo se baseada em motivo superveniente
(art. 96, CPP).
3) Requisitos da exceção

a) Interposição por petição → assinada pela parte ou por procurador com


poderes especiais. Pode o Defensor Dativo interpor? Sim, desde que
nomeado pelo juiz e o réu também assine o documento.
b) Formalização com as provas necessárias e ou testemunhas

4) HIPÓTESES DA EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO

O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por
qualquer das partes se for amigo íntimo (capaz de suportar qualquer sacrifício
pela parte) ou inimigo capital (aversão capaz que se traduz em ódio, rancor, ou
sentimento apto ao desejo de vingança) de qualquer das partes (art. 254, I –
CPP). Em razão da suspeição dizer respeito a parte, não é induzida caso se
constate a causa geradora ocorrer em relação ao advogado da parte.

Ocasiona-se também a suspeição do juiz quando, ele, seu cônjuge,


ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por “fato
análogo”, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; se ele, seu cônjuge,
ou parente, consangüíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar
demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das
partes; se tiver “aconselhado” qualquer das partes; se for credor ou devedor,
tutor ou curador, de qualquer das partes; se for sócio, acionista ou
administrador de sociedade interessada no processo. (art. 254, II, III, IV, V e VII
– CPP c/c art. 226, § 3º – CF/88)

A suspeição não poderá ser declarada nem reconhecida, quando a parte


injuriar o juiz ou de propósito der motivo para criá-la. (art. 256 – CPP)

Arguida a suspeição do órgão do Ministério Público, o juiz, depois de ouvi-lo,


decidirá, sem recurso, podendo antes admitir a produção de provas no prazo
de três dias.
A participação de membro do Ministério Público na fase investigatória criminal
não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da
denúncia. (Súmula 234 do STJ)

Entretanto, os órgãos do Ministério Público não funcionarão nos processos


em que o juiz ou qualquer das partes for seu cônjuge, ou parente,
consangüíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive,
e a eles se estendem, no que lhes for aplicável, as prescrições relativas à
suspeição e aos impedimentos dos juízes. (art. 258 – CPP)

As partes poderão também arguir de suspeitos os peritos, os intérpretes e os


serventuários ou funcionários de justiça, decidindo o juiz de plano e sem
recurso, à vista da matéria alegada e prova imediata.

A suspeição dos jurados deverá ser arguida oralmente, decidindo de plano


do presidente do Tribunal do Júri, que a rejeitará se, negada pelo recusado,
não for imediatamente comprovada, o que tudo constará da ata.

Em relação à testemunha, antes de iniciado o depoimento, as partes poderão


contraditá-la argüindo circunstâncias ou defeitos, que a tornem suspeita de
parcialidade, ou indigna de fé. Hipótese em que, o juiz fará consignar a
contradita ou arguição e a resposta da testemunha, mas só excluirá a
testemunha ou não Ihe deferirá compromisso nos casos previstos em lei. (art.
214 – CPP)

Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito


(procedimento preparatório da ação penal), mas deverão elas declarar-se
suspeitas, quando ocorrer motivo legal.

A resolução 82 editada pelo Conselho Nacional de justiça regulamentou,


no caso de “suspeição por foro íntimo”:

Resolução nº 82, de 09 de junho de 2009

Art. 1º No caso de suspeição por motivo íntimo, o magistrado de


“primeiro grau” fará essa afirmação nos autos e, em ofício reservado,
imediatamente exporá as razões desse ato à Corregedoria local ou a
órgão diverso designado pelo seu Tribunal.
Art. 2º No caso de suspeição por motivo íntimo, o magistrado de
“segundo grau” fará essa afirmação nos autos e, em ofício reservado,
imediatamente exporá as razões desse ato à Corregedoria Nacional de
Justiça.

Art. 3º O órgão destinatário das informações manterá as razões em pasta


própria, de forma a que o sigilo seja preservado, sem prejuízo do acesso
às afirmações para fins correcionais.

Art. 4º Esta resolução entrará em vigor na data de sua publicação.

Ministro GILMAR MENDES

Tramita no Supremo Tribunal Federal – STF a Ação Direta de


Inconstitucionalidade – ADI 4.260, protocolada em 26 de junho de 2009, sendo
requerentes a Associação Brasileira de Magistrados – AMB e outras
associações representativas da categoria. A referida ação direta impugna a
Resolução 82, de 09.06.2009, do Conselho Nacional de Justiça, que impõe aos
magistrados de primeiro e segundo grau novo procedimento no que diz
respeito às declarações de suspeição por motivo de foro íntimo, alegando para
tal, afronta aos princípios e garantias fundamentais dos magistrados e a
competência privativa da união para legislar.

EFEITOS DA EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO

Se reconhecer a suspeição, o juiz sustará a marcha do processo, mandará


juntar aos autos a petição do recusante com os documentos que a instruam, e
por despacho se declarará suspeito, ordenando a remessa dos autos ao
substituto.

Caso o juiz não aceite a suspeição, mandará autuar em apartado a petição,


dará sua resposta dentro em três dias, podendo instruí-la e oferecer
testemunhas, e, em seguida, determinará sejam os autos da exceção
remetidos, dentro em vinte e quatro horas, ao juiz ou tribunal a quem competir
o julgamento.

Admitida a arguição de suspeição do juiz, o juiz ou tribunal, procederá a citação


das partes, e marcará dia e hora para a inquirição das testemunhas, seguindo-
se o julgamento, independentemente de mais alegações. Se a suspeição for de
manifesta improcedência, o juiz ou relator a rejeitará liminarmente. Caso
Julgada procedente além de afastar o magistrado da presidência do processo,
ficarão “nulos” os atos do processo principal, pagando o juiz as custas, no caso
de erro inescusável, se rejeitada e evidenciada a malícia da alegação da
exceção pelo excipiente, a este será imposta a multa.

As exceções serão processadas em autos apartados e não suspenderão, em


regra, o andamento da ação penal.

Pode ainda gerar a NULIDADE dos atos já praticados pelo juiz (efeitos ex
tunc).

Entretanto, poderá ocorrer a suspensão do processo principal, a


requerimento da parte contrária, caso reconheça a procedência da
argüição de suspeição, até que se julgue o incidente da suspeição. (art.
102 – CPP).

Quem alega a exceção é o EXCIPIENTE;


Aquele contra quem se alega é o EXCEPTO.
Universidade São Judas Tadeu – Curso de Direito

Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 6 – aula 3 - Das Questões e Processos Incidentes (arts. 92 a 154,


CPP).

I - Exceções

1) Incompetência do Juízo (art. 95, CPP)

É a ausência de capacidade funcional do juiz (declinatoria fori).

Deve ser oposta por escrito ou oral (reduzida a termo) nos termos dos arts.
108/109, CPP.

Incompetência relativa (territorial): deve ser arguida na defesa inicial, sob pena
de preclusão.

2) Litispendência

Dá-se a litispendência quando uma ação repete outra já em curso. Vigora o


princípio do “non bis in idem”.

Pedido (sanção)

Litispendência:
Partes
mesmos →

Causa de pedir
(fato criminoso)
3) Ilegitimidade de parte

Envolve não apenas a legitimidade ou titularidade do direito de ação, mas a


capacidade para seu exercício. Exemplo: Querelante que NÃO é o
representante legal do ofendido.

4) Coisa Julgada

Coisa julgada é a qualidade dos efeitos de uma decisão judicial (imutabilidade


e irrecorribilidade). Funda-se no princípio do “non bis in idem”.

Vide art. 621, CPP – REVISÃO CRIMINAL.

II – Restituição de coisas apreendidas

Vide art. 6º, II, CPP → apreensão dos instrumentos do crime ou a ele
relacionados no inquérito policial.

Apreensão de coisas relacionadas ao delito em consequência de BUSCA (art.


240, § 1º, a-h, CPP)

Objetos não suscetíveis de apreensão → sequestro (art. 132, CPP).

Ver art. 91, II, a, CP – passam para a UNIÃO

Objetos restituíveis no inquérito policial (art. 120, § 3º, CPP) – o MP deverá ser
ouvido; não interessar a retenção do objeto; direito induvidoso do reclamante e
não ter sido feita a apreensão em poder de terceiro de boa fé.

III – Busca e apreensão

É medida cautelar destinada a evitar o desaparecimento de prova. Pode haver


busca sem apreensão, apreensão sem busca e busca com apreensão.

a) Natureza jurídica: medida cautelar e meio de prova;


b) Objeto – enumeração taxativa do art. 240, CPP;
c) Busca em repartição pública: 2 posições.
d) Domicílio: conceito bastante amplo (exclusividade).
e) Dia/noite : 2 teorias – astronômica (período que vai da alvorada ao
crepúsculo e vice-versa) e objetiva (dia é das 6 às 18h e noite o inverso).
Posição mais aceita: a segunda. Vide CF.
f) Restrição: art. 243, § 2º, CPP – não se apreende documentos que
estejam em poder do defensor do réu, salvo se constituírem o próprio
corpo de delito (falsificação, por exemplo).
g) Busca pessoal: feita no indivíduo, pastas, bolsas, malas etc e em
veículos que estejam em sua posse. deve guardar a ‘fundada suspeita’
de que se oculte algo incriminado (drogas, armas, produto do crime etc).
h) Busca em mulher: ****** deve ser efetuada, preferencialmente por outra
mulher, desde que não retarde a diligência.
i) Apreensão: é o apossamento físico do bem material desejado e que
possa servir como meio de prova. É apossamento legal.

IV – Incidente de Falsidade

Recai sobre documento, autua-se em apartado e se suspende o processo


principal, com prazo de 48h para a parte contrária responder.

Em seguida, prazo sucessivo de 3 dias para as partes produzirem provas.

Pode ser levantada pelo juiz, MP, advogado com poderes especiais.

Efeitos: desentranhamento e remessa ao MP.

Não faz coisa julgada material em prejuízo de posterior processo penal ou civil.

** o réu pode ser absolvido no processo por crime de falso e o documento ter
sido reconhecido como falso no incidente (exemplo: negativa de autoria).
V – Incidente de insanidade mental do acusado

a) Cabimento: em caso de dúvidas acerca da integridade psíquica do autor


de um delito
b) Instauração: na fase de inquérito policial ou na ação penal
c) Ordem judicial (cláusula de reserva de jurisdição): só pode ocorrer por
ordem do juiz de direito → de ofício, ou mediante requerimento do MP,
defensor, curador, cônjuge, ascendente, descendente ou irmão do réu e,
ainda, por representação do Delegado de Polícia).
d) Procedimento: o juiz baixa portaria e nomeia curador ao réu; suspende-
se o processo; mas não se suspende o fluxo prescricional; as partes
podem oferecer quesitos; os peritos fazem os exames (45 dias); se os
peritos concluírem que o réu era inimputável/semi-imputável, segue o
curso do processo com curador; se os peritos concluírem que o réu
adquiriu a doença após a prática do crime, o processo fica suspenso.
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Ponto 6 – Das Questões e Processos Incidentes (arts. 92 a 154, CPP).

1) Das Medidas Assecuratórias (arts. 125 e ss, CPP)

1.1. Noções iniciais: o papel da vítima:


a) Protagonismo: vingança privada;
b) Neutralização: processo estatal;
c) Redescoberta (1985): processo como meio punitivo e reparatório

2) Processo Reparatório

Funções do processo penal: proteção dos direitos da vítima (justiça


penal) + reparação dos prejuízos.

 Lei nº. 9099/95 → composição civil dos danos → extinção da punibilidade

3) Conceito de medidas assecuratórias

São providências cautelares de natureza processual urgentes e provisórias


com o fim de assegurar a eficácia de uma futura decisão judicial.

3.1) Sequestro (arts. 125 e 132, CPP)


É a medida destinada a efetuar a constrição de bens imóveis (art. 125) ou
móveis (art. 132) adquiridos com os proventos do crime (o proveito do crime).
Ver art. 91, II, b do CPB → perda do produto obtido com o crime
A propósito: CF, art. 243, § único → confisco de bens envolvidos com o tráfico

3.2.) Arresto
É medida acautelatória constritiva que recai sobre a generalidade do patrimônio
do indiciado com o fim de assegurar futura indenização pelo dano decorrente
do crime (ex delicto).
Sequestro x Arresto: “sequestro pesca com vara e arresto joga tarrafa”.
3.2.1) Requisitos
a) Indícios de origem ilícita (indícios veementes);
b) decretação somente pelo juiz de direito;
c) Pode ser requerido pelo MP ou ofendido;
d) Pode ser por representação do Delegado de Polícia;
e) Pode ser ex officio pelo juiz (inércia relativa).

Processa-se em apartado (art. 129), deferido, expede-se ofício e, se for


possível, tem que constar no registro de imóveis.
Defesa do réu ou terceiro de boa fé – embargos (contestação).

3.2.2.) Levantamento do sequestro


É a perda da sua eficácia. Pode se dar:
a) se a ação penal não for proposta no prazo de 60 dias contados da
efetivação da medida;
b) se o terceiro a quem os bens foram transferidos prestar caução;
c) se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu por sentença
transitada em julgado.

3.3) Hipoteca legal

É direito real de garantia em virtude do qual um bem imóvel, que continua em


poder do devedor, assegura ao credor o pagamento de uma dívida.

 Medida real que recai sobre o patrimônio lícito do réu para efeito
indenizatório (conferir art. 91, I, CP).
 Especialização da hipoteca legal (art. 135, §§, CPP): petição
discriminando os bens que quer gravar e se processa em apartado;
requisitos → prova inequívoca da materialidade e indícios de autoria; a
finalidade é satisfazer o dano provocado pelo crime bem como o
pagamento da pena de multa e despesas processuais; na sentença,
caso condenatória os autos vão para o juízo civil e se for absolutória,
cancela-se a hipoteca.
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Ponto 6 – Das provas (arts. 155 e seguintes CPP)

1. Conceito: é o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz e por


terceiros destinados a levar ao juiz a convicção acerca da existência ou
inexistência de um fato, da falsidade ou veracidade de uma afirmação.

2. Finalidade: formar a convicção do juiz sobre os elementos essenciais


para o deslinde da causa.

3. Objeto: é toda circunstância, fato ou alegação referente ao litígio sobre


os quais há incertezas, e que precisem ser demonstrados perante ou juiz para
o desate da causa.

4. Fatos que independem de prova:

a) Axiomáticos: ou intuitivos, são os fatos evidentes (ver art. 162, CPP).


Exemplo: ciclista é morto atropelado por um trem.
b) Notórios: é a verdade sabida. Exemplo: o fogo queima, a água molha,
dia 07/09 se comemora a independência etc.
c) Presunções legais: são as conclusões decorrentes da própria lei.
Exemplo: o menor é inimputável e a acusação não pode provar o
contrário.
d) Inúteis: são aqueles que não influenciam na apuração da verdade real.
Princípio frustra probatur quod probantumnomrelevat. São os fatos,
verdadeiros ou não, que não influenciam na solução da causa, na
apuração da verdade real. Exemplo: a testemunha afirma que o crime se
deu em momento próximo ao jantar, e o juiz quer saber quais os pratos
que foram servidos durante tal refeição.
5. Fatos que dependem de prova
Todos os demais fatos devem ser provados, inclusive os aceitos pelas
partes.
A prova deve ser: admissível (permitida por lei); pertinente (relacionada ao
processo); concludente (esclarecer ponto controvertido) epossível de
realização.

6. Prova do direito: iuranovitcuria


Porém é preciso provar direito estadual, municipal, estrangeiro e costumeiro

** Provas Legais – arts. 158 a 250, CPP – rol meramente exemplificativo,


pois existem as chamadas “provas inominadas”, como por exemplo, o
reconhecimento fotográfico, a recogniçãovisuográfica de local de crime etc.

7. Prova Proibida (art. 5º, LVI, CF)


É a prova vedada quando produzida por meios ilícitos, contrariando uma
norma legal (ou constitucional) específica. Pode ser: a) Ilegítima, por
violação de norma processual, como por exemplo o documento
apresentado no Júri, sem que a outra parte tenha tido tempo de apreciá-lo
(art. 479, CPP) ou b) Ilícita, quando a afronta atinge norma de direito
material, como por exemplo, a confissão obtida por tortura (Lei nº.
9455/97). *** ver nova redação do art. 157, CPP.

7.1 Provas Ilícitas por derivação ou contaminação. A teoria da árvore com


frutos envenenados

Vício de origem – contaminação das demais provas decorrentes


Mitigação pro réu – princípio da proporcionalidade
Nosso CPP, no art. 157, mencionou regras constitucionais e legais. . Ocorre
que paralelamente às normas constitucionais e legais existem também as
normas internacionais (previstas em tratados de direitos humanos). Por
exemplo: Convenção Americana sobre Direitos Humanos. No seu art. 8º ela
cuida de uma série (enorme) de garantias. Todas essas regras fazer parte
(também) do nosso devido processo legal. Provas obtidas (fora do momento
processual) com violação a essas garantias são provas que colidem com o
devido processo legal. Logo, são obtidas (também) de forma ilícita.
Não importa, como se vê, se a norma violada é constitucional ou internacional
ou legal: caso venha a prova a ser obtida com violação a qualquer uma dessas
normas, não há como deixar de reconhecer sua ilicitude (que conduz,
automaticamente, ao sistema da inadmissibilidade). Exemplo: prova obtida
(fora do processo) com violação ao direito de não autoincriminação (que está
previsto no art. 8º da CADH) é prova ilícita. Ninguém é obrigado a participar
da reprodução simulada do evento delituoso, ninguém é obrigado a
fornecer padrões gráficos ou padrões vocais, para efeito de perícia
criminal (STF, HC 96.219-MC-SP, rel. Min. Celso de Mello).

7.2. Art. 157, § 1º - Limitação da fonte independente e Art. 157, § 2º


Limitação da descoberta inevitável
Exceção ou teoria da fonte independente (independentsource): alguns
autores chegam a admitir como exceção a prova independente. Mas
convenhamos: se a prova é independente ela possui validade absoluta e total e
não tem nada a ver com a teoria da prova derivada. Em síntese: a prova
independente é autônoma, não pode ser vinculada com a prova derivada. Por
isso que não é exceção. Por força do 1º do art. 157 do CPP são também
inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando (...) as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras. No parágrafo
seguinte (2º) o legislador preocupou-se em definir o que (no entender dele)
seria essa fonte independente: Considera-se fonte independente aquela que
por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou
instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova.
O legislador aqui fez uma grande confusão entre prova independente e
descoberta inevitável. A prova independente, de outro lado, não tem nada a ver
com a prova derivada. Não pode ser invocada como uma exceção, sim, ela
possui validade plena e absoluta.

2ª exceção ou limitação: exceção da descoberta inevitável


(inevitablediscovery) : o sujeito, mediante tortura, confessou o fato e indicou o
local onde se encontrava o corpo da vítima. A polícia para lá se dirigiu,
encontrou o procurado corpo mas, ao mesmo tempo, se deparou com mais de
uma centena de pessoas (com pás e enxadas) que precisamente procuravam,
no parque indicado, o referido corpo. A descoberta seria inevitável. Logo, a
prova obtida pelos policiais é ilícita por derivação (em razão de ter havido
tortura na confissão) mas é válida. Por quê? Porque ela seria descoberta
inevitavelmente. O 2º do art. 157 diz: Considera-se fonte independente aquela
que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação
ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da prova. Ele
chamou de prova independente o que, na verdade, é a descoberta inevitável. E
ainda descreveu mal a descoberta inevitável, porque ela pode ter como
protagonista um particular (ou particulares) (daí a impropriedade de se falar em
trâmites típicos e de praxe próprios da investigação ou instrução criminal).

3ª exceção ou limitação: exceção da contaminação expurgada: o agente


confessa mediante tortura e indica seu co-autor, que também confessa. Essa
segunda prova é ilícita por derivação e não vale. Dias depois o co-autor, na
presença de seu advogado, delibera confessar livremente o delito perante o
juiz. A contaminação precedente fica expurgada. A nova confissão, feita na
presença de advogado, possui valor jurídico. Ou seja: expurga a contaminação
precedente. Nisso reside a teoria da contaminação expurgada, que não foi
acolhida expressamente pelo CPP brasileiro, mas é razoável. Cuida-se, pois,
de teoria que pode ser admitida pelos juízes e tribunais brasileiros.

8. Provas Ilícitas e Interceptação telefônica


O art. 5º, XII, CF exige ordem judicial; para instrução processual penal ou prova
no inquérito e lei específica.
Lei nº 9296/96 → o juiz pode decretar a quebra do sigilo telefônico de ofício ou
a requerimento do MP ou mediante representação do Delegado de Polícia.
Requisitos: indícios razoáveis de autoria; não existir outro meio de prova
e o fato-típico seja punido com pena de reclusão.

 interceptação telefônica em sentido estrito (‘grampeamento”) –


ocorre sem a ciência dos interlocutores;
 escuta telefônica – captação da conversa com a ciência de um dos
interlocutores (ex: crime de extorsão mediante sequestro);
 interceptação ambiental – captação da conversa entre presentes, feita
por terceiros, dentro do ambiente em que se situam sem o conhecimento
destes;
 escuta ambiental – é a interceptação de conversa entre presentes, feita
por terceiro, com o conhecimento de um ou de alguns;
 gravação clandestina – é a captação (gravação) feita pelo próprio
interlocutor sem o conhecimento do outro.

9. Princípios gerais da prova

a) Autorresponsabilidade das partes → as partes assumem as


consequências de sua inatividade, seus erros etc;
b) Audiência contraditória → toda prova admite contrariedade (art. 5º,
LV, CF);
c) Comunhão das provas ou aquisição → as provas servem a ambas as
provas no interesse da justiça;
d) Oralidade → prevalece a palavra falada (depoimentos, interrogatório
etc) do que a declaração por escrito (informações);
e) Concentração → as provas devem ser produzidas numa única
audiência ou em mais de uma conquanto que não haja grande intervalo
entre elas;
f) Publicidade → atos são públicos (exceção – segredo de justiça, vide
arts. 201, § 6º - tutela da intimidade, vida privada, honra etc e 792, § 1º -
risco de perturbação da ordem, perigo grave etc);
g) Livre convencimento motivado → cabe ao juiz valorar as provas,
inexiste hierarquia entre elas. Ver prova técnica.
h) Privilégio contra autoincriminação → confere-se ao
investigado/acusado a prerrogativa de não produzir prova contra si
mesmo.
Continuação>>>aula 2

10. Classificação das provas (classificar = ordenar segundo critérios)

a) Quanto ao objeto (o fato a ser demonstrado) – Direta, quando incide


sobre ele; Indireta, quando pela lógica dedutiva alcança o fato principal;
b) Quanto ao valor/efeito – Plena, é convincente, absoluta (DNA,
filmagem); Indiciária, há um juízo de probabilidade, vigora nas fases em que
não se exige um juízo de certeza (decretação de prisão preventiva);
c) Quanto ao sujeito – Real, incide em coisa externa, distinta da pessoa
(ex: arma, lugar, cadáver etc); Pessoal, tem origem na pessoa humana (ex:
depoimentos, interrogatório, conclusão pericial etc);
d) Quanto à forma –Testemunhal, resulta de depoimento de sujeito
estranho ao processo sobre fatos de seu conhecimento referentes ao litígio;
Documental, feita por documentos; Material, obtida por meio químico, físico
ou biológico (ex: exames periciais).

11. Meios de Prova – meio de prova é tudo o que possa servir, direta ou
indiretamente, à demonstração da verdade que se busca no processo.
Exemplos: documentos, perícias, testemunhas etc.
Ver art. 155, caput, CPP: Livre convencimento motivado (sistema do CPP).
**** exceção Tribunal do Júri (íntima convicção dos jurados).

12. Ônus da prova – é o encargo que têm os litigantes de provar, pelos


meios admissíveis, a verdade dos fatos. “QUEM TEM INTERESSE EM
AFIRMAR, CABE PROVAR”.
A prova da alegação (onusprobandi) incumbe a quem a fizer (art. 156, caput,
CPP). Contudo, não se trata de trata de preceito absoluto, conquanto o juiz
pode determinar de ofício a produção de provas relevantes e/ou urgentes (art.
156, I e II, CPP, como por exemplo, a ouvida de uma testemunha moribunda).
Ministério Público → fato criminoso + autoria + elemento subjetivo
(dolo/culpa);
Acusado (Defesa) → excludentes (ilicitude, culpabilidade), atenuantes etc.
13. Prova Emprestada
Chama-se de prova emprestada aquela produzida em outro processo e que
depois venha a ser transportada por traslado, certidão ou qualquer outro meio
autenticatório para produzir efeitos como prova em processo diferente do
original.Tratando-se da chamada prova emprestada (produzida em
determinado processo e transportada documentalmente para outro, com o
propósito de, neste, produzir efeitos), necessária a observância dos princípios
constitucionais que regem as provas em geral.E, observado o princípio do
contraditório, para que se admita sua utilização, tal prova deve ter sido
produzida em processo formado entre as mesmas partes ou, ao menos, em
que tenha figurado como parte aquele contra quem se pretenda fazer valer os
elementos probatórios.
A prova emprestada vale como prova documental. E significativa parte da
doutrina e da jurisprudência (STJ/STF) sustenta que a prova emprestada não
pode gerar efeitos contra quem não tenha figurado como uma das partes no
processo originário.

14. Álibi (“em outra parte”)


O álibi representa toda alegação fática feita pelo acusado visando demonstrar
a impossibilidade material de ter participado do crime. É prova negativa,
pois rejeita, nega, desconstitui a prova em que se baseia a acusação.
Exemplo: Fulano é denunciado por furto, mas no dia e hora do crime estava em
viagem aérea.

15. Das provas em espécie. Prova pericial (arts. 158 e ss do CPP).

15.1. Conceito: é um meio de prova que consiste em um exame elaborado por


pessoa qualificada, em regra, acerca de fatos necessários ao desate da causa.
É um juízo de valoração específico (científico, artístico, contábil etc) feito por
especialista (perito, expert). Tratando-se de uma prova pessoal, a perícia tem
certa dose de subjetividade, reclamando uma apreciação pessoal que, em
alguns casos, pode variar de perito para perito. Não vincula o juiz, que é o
peritumperitorum (art. 182, CPP).
15.2. Natureza jurídica: é um meio de prova, com valor especial (assume
posição intermediária entre a prova e a sentença). Representa um plus em face
da prova e um minus em relação à sentença.

15.3. Requisitos (art. 159, CPP): perícia oficial (1 só perito).


Vide art. 159, § 1º e a Súmula 361/STF, aplicável aos peritos não oficiais.

15.4. Determinação das perícias: as perícias são determinadas (requisitadas)


pelo Delegado de Polícia (art. 6º, VII, CPP) e pelo Juiz de Direito.

15.5. Espécies de perícias

a) Perícia percipiendi – aqui o exame se limita a apontar as percepções


colhidas, com a descrição do objeto examinado, sem juízo valorativo;
b) Perícia deducendi– aqui o perito interpreta cientificamente o fato;
c) Perícia intrínseca – é aquela que incide sobre a materialidade da infração
penal. Exemplo: necropsia.
d) Perícia extrínseca – tem por objeto elementos externos ao crime, que não
compõem a sua materialidade, mas que servem como meio de prova. Exemplo:
local de crime.
e) Perícia vinculatória – quando o juiz fica adstrito ao laudo do perito. Não
vigora entre nós, conforme reza o art. 182, CPP.
f) Perícia Liberatória – o juiz pode ou não se vincular ao laudo, tendo livre
convencimento. É o sistema do CPP. Vide art. 182.
g) Perícia oficial – feita por técnico habilitado, que integra o serviço público
estatal. No Júri, os jurados não se vinculam ao laudo, porém, em se tratando
de decisão contrária à prova dos autos cabe Apelação.

15.6. Procedimento pericial


a) Iniciativa: delegado/juiz;
b) Realização: vide art. 159 – oferecimento de quesitos;
c) Corporificação: laudo escrito.
Continuação>>>aula 3

16. Das Perícias (arts. 158 a 184, CPP)

16.1. Laudo pericial: é um documento formal elaborado por perito, o qual deve
conter descrição minuciosa do objeto examinado, as respostas aos quesitos
formulados, fotografias, desenhos, croquis etc. Pode haver laudo
complementar em caso de dúvida ou obscuridade.

16.2. Do exame de corpo de delito (art. 158): é uma espécie de perícia em


que os experts descrevem suas observações e impressões acerca do crime.
**Não confundir com corpo de delito (corpus criminis): é o conjunto de
vestígios materiais (elementos sensíveis) deixados pela infração penal, isto é,
representa a materialidade delitiva. Elementos sensíveis são os vestígios
corpóreos perceptíveis aos sentidos humanos. É o crime em sua tipicidade.
Espécies:
a) Direto: feito sobre o próprio corpo de delito (cadáver, janela destruída,
chave falsa etc);
b) Indireto: feito através de um raciocínio dedutivo sobre um fato narrado por
testemunhas ou por dados paralelos, sempre que impossível o exame
direto(ficha clínica hospitalar, filmagens etc).

16.3. Indispensabilidade (obrigatoriedade) do exame de corpo de delito


Se a infração penal deixar vestígios (delictafactipermanentis) é indispensável
o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não o suprindo a confissão do
acusado (art. 158, CPP). Exemplo: homicídio, estupro. Sua não realização gera
NULIDADE.
Já nas infrações penais que não deixam vestígios (delictafacti transeuntes)
não há obrigatoriedade de feitura do exame de corpo de delito. Exemplo: injúria
verbal, furto simples.
 vide art. 167, CPP → não sendo possível o exame de corpo de delito
por terem desaparecido os vestígios (principais e periféricos) →
prova testemunhal.
16.4. Algumas espécies de perícias

a) Necropsia ou necroscopia (art. 162, CPP): o CPP fala em autópsia,


mas esse termo é criticado pela medicina legal. A necropsia é o exame feito em
cadáver, por médico legista, a fim de se determinar a “causa mortis”. O Laudo é
denominado de laudo necroscópico ou laudo cadavérico.
b) Perícia em lesões corporais: visa determinar a extensão e gravidade
de lesões sofridas pela vítima. Na impossibilidade de detectar a gravidade no
primeiro exame, é necessário fazer um exame complementar. Vide art. 168,
CPP.
c) Exumação: é o desenterramento do cadáver para exame posterior, em
oposição à inumação (sepultamento).
d) Exame grafotécnico (art. 174, CPP): é o exame feito sobre escritos de
próprio punho, com vistas à autenticidade ou não desses escritos, mediante
comparação de letras. O investigado deverá fornecer espontaneamente
material para comparação, pois não está obrigado a produzir prova contra si
mesmo.

17. Perito: é o órgão técnico auxiliar da justiça.

Perito oficial: presta compromisso de bem e fielmente servir e exercer a


função quando assume o cargo, logo que nomeado e empossado.
Perito Louvado (não oficial): não pertence aos quadros funcionais do Estado,
mas uma vez nomeado, deve prestar compromisso. Não se esquecer da regra
do art. 159, § 1º, CPP, que exige que a nomeação de peritos louvados (quando
não há perito oficial) deva recair sobre profissionais idôneos, com curso
superior na área de conhecimento a que se refere o exame a ser efetuado.

** vide arts. 277/278, CPP (obrigatoriedade de aceite da nomeação sob


pena de multa e condução coercitiva).
18. Do interrogatório (arts. 185 a 196, CPP)
É o ato judicial no qual o juiz ouve o acusado acerca da imputação que lhe é
feita. É ato privativo do juiz e personalíssimo do acusado.
Tem natureza jurídica MISTA, porque é meio de prova e de autodefesa do réu.
Ampla Defesa = autodefesa + defesa técnica (por advogado)

mediante o
Direito de audiência
interrogatório

AUTODEFESA
de conhecimento de
Direito de presença todas as alegações e
posições do processo

 Conseqüência do princípio da ampla defesa: privilégio contra auto-


incriminação (“Nemo tenetur se detegere”)→ não fornecer DNA;
material gráfico, sangue, urina, soprar etilômetro (bafômetro) etc.
 Ademais o réu tem o direito fundamental ao silêncio (art. 5º, LXII,
CF c/c o art. 186 do CPP).

18.1. Características do interrogatório


a) Ato processual personalíssimo → somente o réu pode ser interrogado;
b) Ato privativo do juiz → só o juiz poderá interrogar o acusado. É
indispensável a presença do defensor do início ao fim (art. 185, caput e § 1º,
CPP);
c) Ato oral (verbal) → o ato é verbalizado e reduzido a termo por escrito.
Exceção: perguntas por escrito ao surdo e respostas escritas do mudo (art.
192). Ao réu estrangeiro será nomeado intérprete (art. 193);
d) Ato não preclusivo → não preclui, pois pode ser realizado a qualquer
tempo e quantas vezes o juiz entender por bem fazê-lo (art. 196).

18.2. Ausência de interrogatório no curso da ação penal


Há duas posições: nulidade relativa (pois pode ser feito a qualquer instante) e
nulidade absoluta (prejuízo presumido, é a posição majoritária)

18.3. Interrogatório por videoconferência (Lei nº. 11900/2009)


Ao mudar a redação dos §§ do art. 185, bem como acrescentar outros, a lei
permitiu a utilização do sistema de videoconferência ou outro recurso
tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo real em interrogatório
de presos e outros atos processuais, como acareação, reconhecimento de
pessoas e de coisas, inquirição de testemunhas ou declarações da vítima.
Assim sendo, pode o juiz de direito, em situações excepcionais e por
decisão motivada, ex officio ou a requerimento das partes, realizar a oitiva
por videoconferência, na forma do art. 185, § 2º do CPP:

a) prevenir risco à segurança pública, quando exista fundada suspeita de


que o preso integre organização criminosa ou de que, por outra razão, possa
fugir durante o deslocamento;

b) viabilizar a participação do réu no referido ato processual, quando haja


relevante dificuldade para seu comparecimento em juízo, por enfermidade
ou outra circunstância pessoal;

c) impedir a influência do réu no ânimo de testemunha ou da vítima, desde


que não seja possível colher o depoimento destas por videoconferência, nos
termos do art. 217 deste Código;

d) responder à gravíssima questão de ordem pública.

 Da decisão que determinar o interrogatório por videoconferência as


partes serão intimadas com 10 dias de antecedência.
 Na hipótese de o interrogatório não ser realizado no estabelecimento
carcerário na presença do juiz ou pelo sistema de videoconferência, será
requisitada sua apresentação em juízo (art. 185, § 7º, CPP), tal como
também preceitua o art. 399, §1º.
 Da mesma forma, de acordo com o § 3º do art. 222, CPP, na hipótese
em que a testemunha morar fora da jurisdição, a sua oitiva poderá ser feita
por meio de videoconferência, permitida a presença do defensor e podendo
ser realizada, inclusive, durante a audiência de instrução e julgamento.

18.4. Silêncio e mentira do réu

A lei processual penal permite ao réu confessar, negar, silenciar ou mentir.


Poderá mentir porque não presta compromisso, logo não há sanção prevista
para sua mentira. Assim, o juiz não poderá mais advertir o réu de que o seu
silêncio poderá ser interpretado em prejuízo de sua defesa.
*** Se o silêncio é direito do acusado e forma de realização de sua
defesa, não se pode conceber que o exercício desta, através do silêncio,
possa ser interpretado em prejuízo do réu.
*** ATENÇÃO: a negativa do acusado em responder às perguntas de
identificação (nome, filiação, RG etc) caracteriza contravenção penal
(LCP, art. 68).

18.5. Espécies de Interrogatório

a) do analfabeto com deficiência para se comunicar → por intérprete, art.


192, § único, CPP;
b) do estrangeiro → com auxílio de intérprete, art. 193, CPP;
c) do mudo, do surdo e do surdo-mudo → ao mudo, perguntas orais e
respostas escritas; ao surdo, perguntas escritas e respostas verbais e ao
surdo-mudo, ambas serão por escrito (art. 192, I a III, CPP).

 se o interrogado não souber escrever, não puder ou não quiser


assinar, tal fato será consignado no termo.

18.6. Réu revel → pode ser interrogado a qualquer momento em que


comparecer aos termos do processo.
18.7. Conteúdo do interrogatório

a) Identificação (art. 187, § 1º, CPP), relativa à pessoa do acusado; nesta


primeira parte do interrogatório inexiste acusação, razão pela qual não há
direito ao silêncio.

b) Mérito (art. 187, § 2º, CPP), relativo aos fatos imputados a ele.

19. Da Confissão, do ofendido e da Prova testemunhal (arts.197 a 225)

a) Conceito de confissão → é a aceitação pelo réu da acusação que lhe é


dirigida em um processo penal.

b) Espécies de confissão:

I) Simples – quando o confitente reconhece pura e simplesmente a prática


criminosa, assumindo a autoria delitiva;

II) Qualificada – quando o confitente assume o fato a ele atribuído, mas opõe
uma excludente de ilicitude ou dirimente de culpabilidade. Exemplo: cheque se
fundos emitido como se fora promissória;

III) Complexa – quando o confitente reconhece, de forma simples, várias


imputações;

IV) Judicial – prestada no próprio processo diante do juiz;

V) Extrajudicial – produzida fora dos autos do processo, isto é, na fase do


inquérito policial;

VI) Explícita – quando o confitente reconhece, espontânea e expressamente,


ser o autor da infração penal;

VII) Implícita – quando o pretenso autor da infração procura ressarcir o


ofendido dos prejuízos causados pela infração.

c) Valor probante da confissão


O juiz deverá aquilatar a confissão em conjunto com as demais provas
produzidas, relativizando o seu valor. Não é mais a “rainha das provas”.

d) Características (art. 200)

 retratabilidade: o acusado pode se desdizer, ou seja, se retratar;

 divisibilidade: a confissão pode se dar no todo ou em parte, com relação ao


crime atribuído ao confitente. Exemplo: homicídio + legítima defesa.

 atenção: a pura e simples negação do fato praticado não equivale à


retratação, pois esta pressupõe o conhecimento da confissão anterior.

e) Confissão ficta ou presumida → ao contrário do processo civil, não existe


no processo penal por absoluta falta de previsão legal.

f) Delação → chamamento de correu. É a atribuição da prática de crime a


terceiro, feita pelo acusado, em seu interrogatório, e pressupõe que o delator
também confesse a sua participação. Vale como prova testemunhal.
g) Delação premiada → Na delação premiada, o acusado aponta outras
pessoas igualmente responsáveis pela prática da infração penal e, em troca
das informações prestadas, úteis à elucidação do delito, recebe algum
benefício do Estado com amparo legal. Ou seja, acordam benesses em troca
de afirmativas relevantes à busca da verdade no processo penal. Para o
reconhecimento da delação premiada têm-se genericamente os seguintes
requisitos:
 A demonstração de um grupo criminoso com a prática de crimes coletivos,
uma forma de concurso de delinqüentes;
 A confissão por parte de um dos membros participantes seja espontâneo –
ato de iniciativa do delator, sem interferência de terceiros - ou voluntária –
irrelevante quem motivou a prática do ato, bastando que se efetive sem
coação - devendo estar vinculada a um dos indivíduos envolvidos, pois do
contrário, tratará de testemunho;
 A identificação dos demais coautores ou participes, ou a localização da
vitima ou a recuperação total ou parcial do produto do crime.
20. Do Ofendido (art. 201, CPP)

Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as


circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas
que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. Se, intimado
para esse fim, deixar de comparecer sem motivo justo, o ofendido poderá ser
conduzido à presença da autoridade.

O ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao ingresso e à


saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença
e respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem.

As comunicações ao ofendido deverão ser feitas no endereço por ele indicado,


admitindo-se, por opção do ofendido, o uso de meio eletrônico.

Antes do início da audiência e durante a sua realização, será reservado espaço


separado para o ofendido.

Se o juiz entender necessário, poderá encaminhar o ofendido para atendimento


multidisciplinar, especialmente nas áreas psicossocial, de assistência jurídica e
de saúde, a expensas do ofensor ou do Estado.

O juiz tomará as providências necessárias à preservação da intimidade,


vida privada, honra e imagem do ofendido, podendo, inclusive, determinar
o segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras
informações constantes dos autos a seu respeito para evitar sua exposição aos
meios de comunicação.

21. Da Prova Testemunhal (arts. 202 a 225, CPP)

21.1. Conceito: é meio de prova em que toda pessoa, estranha ao feito e


eqüidistante das partes, é chamada ao processo para falar, compromissada,
sobre os fatos perceptíveis e seus sentidos e relativos ao objeto do litígio.
21.1.2. Características da prova testemunhal:
a) judicialidade, só vale se produzida em juízo;
b) Oralidade, colhida por narrativa verbal (art. 204). * exceção: surdo, mudo
etc;
c) Objetividade, a testemunha deve depor sobre os fatos, sem externar
opiniões ou juízos valorativos;
d) Retrospectividade, o testemunho se dá sobre fatos passados (pretéritos);
e) Imediação, a testemunha deverá dizer daquilo que captou imediatamente
através dos sentidos;
f) Individualidade, cada testemunha depõe isolada de outras.

21.1.3. Características das testemunhas


a) Só pessoa humana pode servir como testemunha (pessoa jurídica não é
testemunha);
b) Somente pessoa estranha ao processo e eqüidistante das partes (para não
haver suspeição ou impedimento);
c) Deve ter capacidade jurídica e mental para depor;
d) Deve ter sido convocada para depor;
e) Não emite opinião, mas relata objetivamente o que sabe;
f) Só fala sobre fatos do processo.

21.1.4. Dispensa e proibições


** Regra geral: dever de testemunhar (art. 206, CPP)
a) Dispensados → cônjuge, ascendente, descendente, irmão e os afins em
linha reta (sogro, nora etc) do acusado. Se depuserem, não prestam
compromisso;
b) Proibidos de depor → art. 207, CPP, por resguardo do sigilo em razão de
função (atividade pública), ministério (encargo religioso), ofício (atividade
manual) ou profissão (atividade intelectual). *** Deputados e Senadores
também não estão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas ou
prestadas em razão do exercício do mandato (art. 53, § 6º, CF).

21.1.5. Testemunha suspeita


É aquela que, por motivos psíquicos ou morais, não pode ou não quer dizer a
verdade.
Testemunha incapaz é proibida de depor.
Testemunha suspeita não tem credibilidade.

21.1.5.1. Causas de suspeição


São elas: antecedentes criminais ou conduta anti-social; amizade íntima ou
inimizade capital; suspeita de suborno etc.
21.1.5.2. Contradita
É a forma processual adequada para argüir a suspeição ou inidoneidade da
testemunha.
Depois da contradita, o juiz tem 4 opções:
a) Consulta se a testemunha deseja ser ouvida (dispensa, art. 206);
b) Exclui a testemunha (art. 207);
c) Ouve-a sem compromisso (art. 208);
d) Toma o depoimento, valorando-o depois.

21.1.5.3. Número de Testemunhas


a) Procedimento ordinário – até 8 (art. 401, CPP);
b) Procedimento sumário – até 5 (art. 532, CPP);
c) Procedimento Sumaríssimo – até 3 (Lei nº. 9099/95);
d) Procedimento do Júri – até 5 (Plenário, art. 422).

 Observação: não são computados no número máximo, o ofendido, os


informantes e as testemunhas do juízo (art. 401, § 1º).

21.1.5.4. Classificação das testemunhas


a) Numerárias: são arroladas pelas partes, conforme o número legal, são
compromissadas;
b) Extranumerárias: ouvidas pela iniciativa do juiz e também são
compromissadas;
c) Informantes: não prestam compromisso (são extranumerárias);
d) Referidas: ouvidas pelo juiz, quando reportadas por outras testemunhas já
ouvidas (art. 209, § 1º, CPP);
e) Próprias: depõem sobre o fato litigioso;
f) Impróprias: depõem sobre algum fato do processo (exemplo: captura em
flagrante);
g) Diretas: depõem sobre fato presenciado;
h) Indiretas: depõem por “ouvir dizer”;
i) Fedatária: são aquelas que presenciam a leitura do auto de prisão em
flagrante, na presença do acusado, e nele lança sua assinatura, quando o
autuado recusa-se a assiná-lo, não sabe ou não pode fazê-lo (art. 304, § 3º,
CPP);
j) de Antecedentes: prestam informações sobre o acusado que podem ser
levadas em consideração na dosimetria da pena (art. 59, CP).

21.1.5.5. Deveres da Testemunha


a) Comparecer ao local determinado, no dia e hora designados;
b) Identificar-se;
c) Prestar o depoimento e dizer a verdade.

21.1.5.6. Depoimento infantil


Admite-se como prova, com valor relativo, e o menor de 14 anos não presta
compromisso.

21.1.5.7. Testemunho de policiais


O policial não está impedido de prestar depoimento,no entanto o valor da prova
deve ser relativizado e sopesado com outros elementos de prova.

21.1.5.8. Lugar do depoimento


É o foro da causa. Exceções: arts. 220/221 do CPP (enfermo, velho,
presidente da república, senador, deputado federal, ministro de Estado,
Governadores etc).

21.1.5.9. Precatórias (art. 222, CPP) – as partes devem ser INTIMADAS da


expedição de carta precatória.
21.1.5.10. Militares (art. 221, § 2º, CPP) – são requisitados ao superior.
21.1.5.11. Funcionários Públicos (art. 221, § 3º, CPP) – por ofício e
notificado o chefe da repartição.
22. Do Reconhecimento de Pessoas e de Coisas (arts. 226 a 228, CPP)

22.1. Conceito → é o meio processual formal pelo qual alguém é chamado


para verificar e confirmar a identidade de uma pessoa ou coisa que lhe é
apresentada com outra que viu no passado. É meio de prova. Para Guilherme
Nucci, “é o ato pelo qual uma pessoa admite e afirma como certa a identidade
de outra pessoa ou a qualidade de uma coisa.”.

22.2. Procedimento – art. 226, I a IV, CPP (eminentemente extrajudicial).


Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de
pessoa, proceder-se-á pela seguinte forma:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a
descrever a pessoa que deva ser reconhecida;
II - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se
possível, ao lado de outras que com ela tiverem qualquer semelhança,
convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o
reconhecimento, por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a
verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a autoridade
providenciará para que esta não veja aquela;
IV - do ato de reconhecimento lavrar-se-á auto pormenorizado, subscrito
pela autoridade, pela pessoa chamada para proceder ao reconhecimento e por
duas testemunhas presenciais.
Parágrafo único. O disposto no no III deste artigo não terá aplicação na
fase da instrução criminal ou em plenário de julgamento. (GRIFO NOSSO)

22.3. Reconhecimento de coisas


É o ato processual de verificação e confirmação, feito em armas, instrumentos
e objetos do crime ou relacionados a ele (joias, relógios, eletrodomésticos etc).
Se várias forem as pessoas chamadas a efetuar o reconhecimento de pessoa
ou de objeto, cada uma fará a prova em separado, evitando-se qualquer
comunicação entre elas (art. 228), devendo a autoridade tomar as mesmas
cautelas e providências do reconhecimento pessoal ao reconhecimento de
coisa (art. 227).
23. Da Acareação (arts. 229 e 230, CPP).

Acareação é meio de prova que coloca frente a frente pessoas que


prestaram depoimentos controvertidos, perguntando-as sobre as
divergências. Acarear (ou acaroar) é pôr em presença uma da outra, face a
face, pessoas cujas declarações são divergentes. A acareação é, portanto o
ato processual consistente na confrontação das declarações de dois ou mais
acusados, testemunhas ou ofendidos, já ouvidos, e destinado a obter o
convencimento do juiz sobre a verdade de algum fato em que as declarações
dessas pessoas forem divergentes. (MIRABETE, 2006, p. 311).
Pode ser feita ex officio (juiz ou delegado) ou a requerimento das partes. Pode
ser realizada entre: a) testemunha x testemunha; b) testemunha x réu; c)
testemunha x vítima; d) réu x vítima; e) réu x réu; e, f) vítimas x vítimas,
ou seja, é possível a acareação entre todos que são ouvidos.
Será realizada sempre que existirem pontos controvertidos e qualquer das
partes pode requerer a acareação além da possibilidade de ser determinada de
ofício pelo Juiz.
Houve um depoimento anterior, mas com conteúdos colidentes, motivo pelo
qual os acareados serão reperguntados, para que expliquem os pontos de
divergências reduzindo a termo, todo ato de acareação.
A acareação não é providência obrigatória na instrução da causa, tratando-se
de medida sujeita ao prudente arbítrio do juiz. (Ap. crim. n. 37.943 - Araçatuba -
TACrimSP - 4ª Câmara - rel. Juiz Cunha Camargo, RT 436/394).
É possível a sua realização por precatória, chamada pela doutrina de
acareação indireta.
Aplica-se quando necessário o uso da videoconferência.

24. Dos Documentos (prova documental – art. 232 e ss, CPP)

24.1. Conceito legal → quaisquer escritos, instrumentos ou papéis, públicos


ou particulares (art. 232).
Documento é a coisa que representa um fato, de sorte a torna-lo permanente
e idôneo, reproduzindo-o em juízo.
Instrumentos são os escritos confeccionados já com a finalidade de provar
determinados fatos, enquanto papéis são os escritos NÃO produzidos com
o fim de provar um fato, mas que, eventualmente, podem servir como
prova.

condensam
graficamente o
Escritos pensamento de
alguém

fotografias

filmagens,
Documentos
gravações

pinturas

emails, msgs por


aplicativos etc

24.2 Função do documento

Há 3 aspectos:

a) Dispositivo: necessário/indispensável ao ato jurídico;

b) Constitutivo: indispensável à formação do ato (é parte dele);


c) Probatório: de função processual.

24.3. Produção do Documento

a) Espontânea: exibição, juntada ou leitura pela parte;

b) Provocada (coacta): segue a forma do art. 234, CPP (Se o juiz tiver notícia
da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação ou da
defesa, providenciará, independentemente de requerimento de qualquer das
partes, para sua juntada aos autos, se possível).

 O juiz não pode admitir a juntada de cartas particulares, interceptadas ou


obtidas por meios criminosos (art. 5º, LVI, CF e art. 233, caput, CPP). Também
não são aceitas as provas derivadas (ilicitude por derivação).

24.4. Autor do documento: é o responsável por sua existência

aquele que fez e assinou

aquele para quem se


Autor do documento elaborou o documento
estando assinado

aquele que manda que se


elabore o documento, mas
que pelo costume não se lhe
impõe a assinatura para a
validade (docs. domésticos)
24.5. Classificação dos Documentos

a) Publico: formado por quem exerce função pública (exemplo: certidão


judicial);

b) Privado: formado por um particular;

c) Autógrafo: quando coincidem o autor do documento e o autor do fato


documentado;

d) Heterógrafo: quando o autor do documento é terceiro em relação ao


autor do fato documentado (exemplo: documento público)

24.5.1. Produção da prova documental

Quando não existe expressa disposição legal sobre determinada prova, o art.
231 do CPP diz que ela poderá ser produzida em qualquer fase do processo,
devendo sempre dar ciência a parte contrária para se manifestar conforme
determina o contraditório. Todavia, no Procedimento do Júri, conforme tema
já discutido, o documento deverá ser juntado com três dias antes do
julgamento, para estar habilitado como prova em Plenário (art.479 do CPP),
sob pena de preclusão.

24.6. Autenticidade documental

É a certeza de que o documento provém do autor nele indicado (fonte legítima).

Ver Lei nº. 13726/2018 – exibição de original + xerox, cujo art. 3º


transcrevo:
Art. 3º Na relação dos órgãos e entidades dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios com o cidadão, é dispensada a exigência
de:
I - reconhecimento de firma, devendo o agente administrativo, confrontando
a assinatura com aquela constante do documento de identidade do signatário,
ou estando este presente e assinando o documento diante do agente, lavrar
sua autenticidade no próprio documento;
II - autenticação de cópia de documento, cabendo ao agente
administrativo, mediante a comparação entre o original e a cópia, atestar
a autenticidade;
III - juntada de documento pessoal do usuário, que poderá ser substituído
por cópia autenticada pelo próprio agente administrativo;
IV - apresentação de certidão de nascimento, que poderá ser substituída por
cédula de identidade, título de eleitor, identidade expedida por conselho
regional de fiscalização profissional, carteira de trabalho, certificado de
prestação ou de isenção do serviço militar, passaporte ou identidade funcional
expedida por órgão público;
V - apresentação de título de eleitor, exceto para votar ou para registrar
candidatura;
VI - apresentação de autorização com firma reconhecida para viagem de
menor se os pais estiverem presentes no embarque. (grifo nosso).

24.7. Documento e Instrumento


 Documento é qualquer coisa representativa de um ato ou fato. É público
quando formado por oficial público (certidão, atestado de antecedentes etc.) e
é particular quando formado por particular (carta, e-mail).
 Instrumento é documento pré-constituído com o propósito de servir, no
futuro, de prova ao ato nele representado. Reclama forma solene. (ex:
procuração por instrumento público). O instrumento pode ser público,
quando produzido por oficial público (ex: escritura pública, procuração por
instrumento público etc.) ou particular, quando formado por particular (ex:
letra de câmbio).

24.8. Originais e cópias


 Original → é o documento genuíno, o escrito inicial (ex: sentença);
 Cópia → é a reprodução do documento original (ex: cópia xerox);
 Espécies de cópias1: translado é a cópia textual/autêntica feita por
tabelião e certidões que são as cópias autênticas dos livros de notas etc.

1
A pública forma no Cartório de Notas é um documento elaborado pelo Tabelião que tem a
finalidade de extrair palavra por palavra, tudo o que está ou se encontra no inscrito original,
quando ocorre dificuldade de extrair segunda via no órgão originário de origem do ato.
24.9. Vícios dos documentos

a) Extrínsecos (externos) → atingem as formalidades do documento;


b) Intrínsecos (internos) → dizem respeito ao conteúdo (essência) do
documento.

 Falsidade é a alteração da verdade, consciente ou inconsciente, com


prejuízo a direito alheio.
 Falsidade material → cria-se um documento falso ou se adultera um
documento existente. Exemplo: CNH adulterada.
 Falsidade ideológica → refere-se ao conteúdo do ato declarado no
documento. Exemplo: Declaração falsa de emprego na carteira de trabalho.
 Verificação de assinatura → é a contestação da assinatura do documento
particular que cessa a sua fé enquanto não comprovada a sua veracidade.

24.10. Falsidade/Incidente processual


A arguição de falsidade documental é uma questão incidental no processo
penal (arts. 145 a 148).
Argüida, por escrito, a falsidade de documento constante dos autos, o juiz
observará o seguinte processo:
I - mandará autuar em apartado a impugnação, e em seguida ouvirá a parte
contrária, que, no prazo de 48 horas, oferecerá resposta;
II - assinará o prazo de três dias, sucessivamente, a cada uma das partes, para
prova de suas alegações;
III - conclusos os autos, poderá ordenar as diligências que entender
necessárias;
IV - se reconhecida a falsidade por decisão irrecorrível, mandará desentranhar
o documento e remetê-lo, com os autos do processo incidente, ao Ministério
Público.
A argüição de falsidade, feita por procurador, exige poderes especiais. O juiz
poderá, de ofício, proceder à verificação da falsidade. Qualquer que seja a
decisão, não fará coisa julgada em prejuízo de ulterior processo penal ou civil
(a decisão é incidenter tantum).
25. Dos Indícios e presunções (art. 239, CPP)

 Indício → é a circunstância conhecida e provada, a partir da qual, mediante


raciocínio lógico, por indução, obtém-se a conclusão sobre um outro fato.
Indício é o sinal demonstrativo do crime.

 Indução: do particular para o geral

 Dedução: do geral para o particular

 Presunção → é um conhecimento fundado sobre a ordem normal das


coisas e que vale até prova em contrário (juris tantum). As presunções
absolutas não admitem prova em contrário. Ex: inimputabilidade de menor
(presunção de inculpabilidade absoluta); certidão tem fé pública (presunção
relativa, porque admite prova de falsidade).

 Natureza jurídica → são meios de prova, isto é, provas indiretas, obtidas


por meio de raciocínio lógico.

 Valor probatório → é válido como qualquer outro meio de prova. Não se


esquecer do art. 155 (sistema de livre convicção do juiz). Todavia os indícios
devem ser sérios e fundados.

 Prova de fora da terra → é a que deva ser produzida em território sob


jurisdição diversa da do juiz da causa (ex: oitiva de testemunha por precatória).
É preciso que o sujeito da prova se encontre em território fora da
jurisdição do juiz da causa e que a prova seja admissível e não possua
caráter protelatório.
 Prova antecipada → é aquela produzida antes do momento destinado à
instrução criminal. Pode se dar:
 Preventivamente: para preservação de um direito;
 Cautelarmente: evitar o perecimento (depoimento ad perpetuam rei
memoriam, exames periciais);
 Incidentalmente cautelar: sequestro (bens obtidos com os proventos
do crime) e arresto (todos os bens).
26 - BUSCAS E APREENSÕES (Prof. Sérgio Pitombo)

objetos;

a) reais (por meio) documentos ;

semoventes;

01. Meios de provas

indiciado, ou acusado;

b) pessoais (por meio) testemunhas;

ofendido.

02. As buscas e as apreensões, sob o enfoque processual, não


consistem em meios de prova. São providências cautelares, que, de modo
eventual, podem portar indícios. Asseguram meios de prova. As medidas
cautelares, quanto à finalidade, classificam-se destinadas a preservar
elementos de convicção e voltadas a garantir o resultado prático do
processo de conhecimento ou de execução. Elas, assim, recaem sobre
coisas móveis, ou imóveis, semoventes, pessoas e, ainda, provas. Devem
surgir na lei; voltar-se a fins legítimos; mostrar-se proporcional do fim
almejado; ser adequada, tanto que concretizada, ao fim desejado.
a) em flagrante delito
(arts. 293/4 e 302, n.
IV, do Cód. de Proc.
Penal);

03. Busca domiciliar, garantia individual de


ou varejamento inviolabilidade da in-
(art. 240, § 1º, timidade e do domicílio
Cód. de Proc. (art. 5º, ns. X e XI, C. R.)
Penal)

b) com observância das


formalidades legais
(art. 150, § 3º, do Cód.
de Proc. Penal c/c arts.
241 e 243,do Cód. de
Proc. Penal ).

04. Busca em qualquer local público, ou de uso comum.


a) com observância das
formalidades legais (arts.
241, 243 e 249, do Cód.
de Proc. Penal );

garantia indi-
b) durante a prisão, ou
vidual de invio-
quando houver fundada
labilidade, inti-
05. Busca pessoal, ou suspeita de que a pessoa
midade e da
revista (art. 240, esteja na posse de arma
pes-soa física
§ 2º, do Cód. de proibida, ou de objetos,
(art. 5º, ns. X e
Proc. Penal ) ou papéis, que cons-
LXIX, da Const.
tituam corpo de delito,
da República.)
ou quando a medida for
determinada no curso de
busca domiciliar (art.
244, do Cód. de Proc.
Penal ).

a) qualquer compartimento habilitado;

06. Conceito legal de casa b) aposento ocupado de habilitação


(art. 150, § 4º do Cód. coletiva,
Penal e art. 246, do Cód. c) compartimento não aberto ao público,
de Proc. Penal) onde alguém exerce profissão, ou
atividade
- pessoas vítimas de crime

objetos
- coisas móveis
07. Apreendem –se documentos ou papéis

- semoventes

1a.) perdimento de bens, por efeito


da condenação (art. 91, n. II, do
Cód. Penal) ;

a) p/ fins penais
2a.) confisco especial ou juris-
administrativo (arts. 119, 122,
142 e 779, do Cód. de Proc.
Penal).
08. Apreensões

1b.) exame de corpo de delito (art.


158, Cód. de Proc. Penal);
b) p/ fins processuais

penais. 2b) outras perícias (art. 169 e seg.


do Cód. de Proc. Penal).

09. Busca e apreensão, contrates e confrontos:


BUSCA APREENSÃO

A - Busca é procura. Atividade para A - Apreensão consiste na tomadia


descobrimento de coisa ou pessoa, que se preventiva, ou incidental e conserva-
procura. tória de coisas, ou de pessoas, do
poder de quem as retém, ou detém,
para fins penais, ou processuais penais;

B – Ostentam restrições às garantias de B - Emergem como limitações ao poder


liberdade individual: inviolabilidade, de individual de deter pessoas e de reter
domicilio e intimidade da pessoa física do coisas (pátrio poder, tutela, curatela,
indivíduo (art. 5º, ns. XI e XLIX, Const. da ou direitos de posse, propriedade e
República); reais);

C - Há busca sem apreensão; C - Existe apreensão sem busca,


nascente em exibição, ou encontro;

D- Ocorre para o fim de colher qualquer D – Só se apreende coisa móvel, pessoa


elemento material de convicção (art. 240, ou semovente.
§ 1º, alínea “h”). Esta atividade pode levar
a ato diverso de apreender. A colheita tem
por objeto coisa de que, normalmente,
ninguém se apossa;

E - Busca-se, também, para prisão, exames


e vistorias, citação, intimação e notifica-
ção, bem como para proteção.
10. Em tema de busca e de apreensão, atentar para o
procedimento, nos crimes contra a propriedade imaterial (arts. 240, § 1º e
257, do Cód. de Proc. Penal e 183, in fine, do Dec.– lei nº 7.903/45). Ainda,
não esquecer a lei, que regula a liberdade de manifestação do
pensamento e de informação (Lei nº 5.250/67, art. 58). Também, ter olhos
para o Código Brasileiro de Telecomunicações (art. 70, parágrafo único).
Examinar a arrecadação, na Lei de Falências (arts. 108 e seguintes).
Universidade São Judas Tadeu – Curso de Direito

Direito Processual Penal I – prof. Nestor Sampaio Penteado Filho

Ponto 6 – Atos de comunicação processual – Aulas 1 e 2

1) Citação
Citação é o ato oficial pelo qual, ao início da ação penal, dá-se ciência ao acusado do teor
acusatório dela, chamando-o para integrar a relação processual penal.

SÓ O ACUSADO PODE SER CITADO

Citação em que não se mostre o teor da denúncia ou queixa-crime é NULA → viola a CF

 Insano mental → citação pessoal. Exceção: se no incidente de insanidade mental,


provocado no inquérito policial, se descobrir que o réu é insano, o juiz nomeia-lhe um
curador, que deverá ser citado.
 Pessoa Jurídica: responsabilidade penal (art. 225, § 3º, CF), a citação deverá ser feita no
representante legal (disposição dos estatutos).

2) Quem determina (ordena) a citação

Juiz de direito → oficial de justiça

Lei nº. 9099/95 (Juizados especiais criminais/crimes de menor potencial ofensivo) → qq


funcionário.

3) Falta de citação – ato imprescindível → Nulidade Absoluta (art. 564, III, ‘e’, CPP)

 Atenção para o art. 570, CPP → saneado o feito, desde que o interessado compareça
espontaneamente a juízo, ainda que para alegar que a citação foi nula.
 o interrogatório não é mais o 1º ato do processo após a citação. Vide Lei nº. 11689/08 e
Lei nº. 11719/08 → interrogatório agora integra a audiência concentrada.
 citação – defesa prévia ou preliminar
4) Casos de conhecimento da acusação antes mesmo da citação

 Competência originária dos tribunais (Lei nº. 8038/90 c/c Lei nº. 8658/93);
 Lei de Drogas (Lei nº. 11343/06);
 Crimes de Responsabilidade de Funcionários Públicos – arts. 514 e seg. CPP), neste caso
existe uma resposta preliminar que o acusado deverá apresentar.

5) Efeitos da citação válida → dar ciência ao réu e chamá-lo para integrar a relação
processual

torna prevento
o juízo

interrompe a
Citação Válida NÃO
prescrição

induz
litispendência

6) Consequências do não atendimento à citação

Se o réu ficar inerte ocorre sua contumácia que gera revelia. Neste caso, aplica-se o art. 367,
CPP → o processo segue sem a presença do acusado. Se o réu estiver sob fiança →
quebramento da fiança, com perda para o Estado de metade de seu valor (arts. 328/343,
CPP). O juiz pode, conforme o caso, até decretar a prisão preventiva do acusado.

7) Classificação
a) Real (pessoal ou ad faciem) → é feita na pessoa do acusado, via de regra por mandado
judicial (art. 351, CPP); por carta precatória (art. 353, CPP); por carta de ordem (do órgão
judicial superior); por requisição (art. 358, CPP) e carta rogatória (arts. 368/369, CPP).
b) Ficta (presumida) → feita por publicação (DO) ou por afixação no local de costume (art.
361 e ss. CPP).
 Citação por hora certa (art. 362, CPP) → na forma dos arts. 251/254 CPC, se o réu se
ocultar, será citado fictamente, devendo o oficial de justiça deixar contra-fé com parentes ou
vizinho.

8) Citação por mandado (ordem judicial por escrito, formal).

Dá-se quando o réu encontra-se em local certo e sabido dentro do território do juízo
processante.

LUGAR: país, estado e cidade.

SABIDO: bairro, rua, nº e endereço.

8.1) Requisitos intrínsecos do mandado (vide art. 352, CPP)

Art. 352. O mandado de citação indicará:

I - o nome do juiz;

II - o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;

III - o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;

IV - a residência do réu, se for conhecida;

V - o fim para que é feita a citação;

VI - o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;


VII - a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.

 a falta de assinaturas do juiz e do escrivão – NULIDADE (Vide art. 564, IV, CPP)

8.2) Requisitos extrínsecos da citação por mandado

a) Leitura do mandado ao citando - irregularidade


b) Entrega de contrafé ao citando (inteiro teor + cópia da inicial) – nulidade
c) Certificação da realização da diligência – irregularidade

 Momento da citação: A citação poderá ser realizada a qualquer tempo, dia e hora,
inclusive domingos e feriados, durante o dia ou à noite. Se o oficial de justiça não encontrar o
citando, deverá procurá-lo nos limites territoriais da circunscrição do juízo processante.

ATENÇÃO, não se deve proceder à citação nos seguintes casos (art. 244, CPC):
 Doente grave (terminal);
 Nos 3 primeiros dias de casamento;
 Durante culto religioso;
 Ao cônjuge/parente até 2º grau do morto, no dia da morte e no período de luto (7 dias
subsequentes).

9) Citação por precatória (art. 353, CPP)


Ocorre quando o réu está fora da comarca, porém em local certo e sabido dentro do território
nacional.
REQUISITOS: art. 354, CPP – além dos requisitos da citação por mandado, deve conter a
indicação do juízo deprecante e do juízo deprecado.
Precatória Itinerante (art. 355, § 1º, CPP). Se o juízo deprecado verificar que o réu se encontra
em território sujeito à jurisdição de outro juiz a reste remeterá (art. 355, § 1.º, CPP). É muito
útil no caso de réu que muda constantemente de endereço, como, por exemplo, empregado
de circo.

10) Citação do militar, do preso, do funcionário público.


Militar → ofício requisitório ao chefe (art. 358, CPP).

Preso → pessoalmente por mandado (art. 360, CPP).

Funcionário Público → por mandado e o chefe deverá ser notificado.

 Réu no estrangeiro → carta rogatória → se estiver em local certo e sabido –


suspende-se o prazo prescricional até juntada da precatória nos autos. Se o réu estiver em
LINS no exterior (local incerto e não sabido) – citação por edital com prazo de 15 dias.
 Citação em legações estrangeiras: Por força do art. 369, a citação será feita por meio
de carta rogatória. São citadas as pessoas que não gozem de imunidades referidas em
tratados, convenções ou regras de Direito Internacional, e que se encontrem em legações
estrangeiras. Será dirigida ao Ministério da Justiça, e este, então, solicitará ao Ministro das
Relações Exteriores o seu cumprimento. Não porque o Brasil entenda que as sedes das
embaixadas sejam território estrangeiro, mas apenas por cortesia.

11) Citação por carta de ordem


São determinadas pelos Tribunais aos juízos de primeiro grau para que citem o acusado
residente em sua comarca e que tenha foro especial por prerrogativa de função.

12) Citação por Edital

Ocorre quando o réu estiver em L.I.N.S (Local Incerto e Não Sabido) → art. 363, § 1º, CPP. A
prova de que o réu se encontra em local incerto e não sabido se dá com a certidão do oficial de
justiça.
Entretanto, o réu deverá ser procurado em todos os endereços que constarem nos autos.
Prazo : 15 dias

Réu em local inacessível (epidemia, calamidade, guerra civil etc) → 15 dias.

12.1) Requisitos (art. 365, CPP):


 o nome do juiz que a determinar;

 o nome do réu, ou, se não for conhecido, os seus sinais característicos, bem como sua
residência e profissão, se constarem do processo;

 o fim para que é feita a citação;

 o juízo e o dia, a hora e o lugar em que o réu deverá comparecer;

 o prazo, que será contado do dia da publicação do edital na imprensa, se houver, ou da


sua afixação.

 Formalidades extrínsecas à citação por edital: (art. 365, § único, CPP)


O edital será afixado à porta do edifício onde funcionar o juízo e será publicado pela
imprensa, onde houver, devendo a afixação ser certificada pelo oficial que a tiver feito e a
publicação provada por exemplar do jornal ou certidão do escrivão, da qual conste a
página do jornal com a data da publicação.

 Inovação (art. 366, CPP)


Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada
das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva. EXCEÇÃO: Lei
nº. 9613/98 – Lavagem de dinheiro.

13) Intimação e Notificação

Intimação: é a ciência dada à parte, no processo, da prática de um ato, despacho ou sentença.


Refere-se a um ato já passado, já praticado.
Notificação: é a comunicação à parte, ou outra pessoa, do dia, lugar e hora de um ato a que
deva comparecer ou praticar. Refere-se a um ato futuro.

Regra geral: vale o mesmo das citações.


 PUBLICAÇÃO NO ÓRGÃO OFICIAL, INCLUÍNDO, SOB PENA DE NULIDADE, O NOME DO
RÉU: (art. 370) - Defensor constituído; - Advogado do querelante; - Assistente de acusação.
 Reitere-se que deve haver dupla intimação do réu + seu defensor pelo DO

 Ausência de órgão de publicação, nem jornal: Será feita pelo Escrivão, pessoalmente,
ou por mandado, ou via postal com aviso de recebimento (AR), ou por qualquer outro meio
idôneo.

 Intimação do Ministério Público e do defensor nomeado: A intimação é sempre


pessoal (370, § 4º, CPP). A fluência do prazo para o MP começa a partir do recebimento dos
autos na instituição e não da data em que o promotor apõe o seu “ciente” nos autos. Art. 370
(...) § 4º A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será pessoal. (Incluído pela
Lei nº 9.271, de 17.4.1996).
 Oitiva de testemunha por precatória: O juiz intimará apenas da expedição da carta
precatória - Súmula 273-STJ: "Intimada a defesa da expedição da carta precatórias torna-se
desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado".

 Vide Súmula nº. 310/STF → quando a intimação cair na 6ª feira, o prazo se inicia na 2ª
feira, salvo se for feriado.

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