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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA
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SUMÁRIO
1. JURISDIÇÃO .............................................................................................................................. 5
1.1. CONCEITO........................................................................................................................... 5
1.2. PRINCÍPIOS ......................................................................................................................... 5
1.2.1. INVESTIDURA ............................................................................................................... 5
1.2.2. INDELEGABILIDADE ..................................................................................................... 5
1.2.3. JUIZ NATURAL .............................................................................................................. 6
1.2.4. IMPRORROGABILIDADE .............................................................................................. 6
1.2.5. INEVITABILIDADE ......................................................................................................... 6
1.2.6. INDECLINABILIDADE .................................................................................................... 7
1.2.7. INÉRCIA ........................................................................................................................ 7
COM O PACOTE ANTICRIME, LEI 13.964/2019, A INÉRCIA FICOU AINDA MAIS
EVIDENTE. DE FATO, NÃO PODE MAIS O JUIZ DECRETAR CAUTELARES OU PRISÃO
PREVENTIVA DE OFÍCIO, MAS SOMENTE À REQUERIMENTO DOS INTERESSADOS. .... 7
1.2.8. RELATIVIDADE OU CORRELAÇÃO ............................................................................. 7
1.3. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO .............................................................................. 10
2. COMPETÊNCIA ....................................................................................................................... 10
2.1. CRITÉRIOS ........................................................................................................................ 10
2
2.1.1. COMPETÊNCIA MATERIAL ........................................................................................ 11
2.1.2. COMPETÊNCIA FUNCIONAL ..................................................................................... 11
2.2. COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE .............................................................................. 11
VISA A IDENTIFICAR, PRIMEIRAMENTE, QUAL A JUSTIÇA COMPETENTE, SE A COMUM
(FEDERAL OU ESTADUAL) OU AS ESPECIALIZADAS (MILITAR, ELEITORAL,
TRABALHISTA). .................................................................................................................... 11
2.2.1. JUSTIÇA COMUM FEDERAL ...................................................................................... 11
2.2.1.1. CRIMES POLÍTICOS............................................................................................. 13
2.2.1.2. INFRAÇÕES PENAIS PRATICADAS EM DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS
OU INTERESSES DA UNIÃO OU DE SUAS ENTIDADES AUTÁRQUICAS E EMPRESAS
PÚBLICAS, EXCLUÍDAS AS CONTRAVENÇÕES E RESSALVADA A COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA MILITAR E DA JUSTIÇA ELEITORAL ................................................................ 14
2.2.1.3. CRIMES PREVISTOS EM TRATADOS OU CONVENÇÃO INTERNACIONAL,
QUANDO INICIADA A EXECUÇÃO NO PAÍS, O RESULTADO TENHA OU DEVESSE TER
OCORRIDO NO ESTRANGEIRO, OU RECIPROCAMENTE ............................................. 32
2.2.1.4. CAUSAS RELATIVAS A DIREITOS HUMANOS E O INCIDENTE DE
DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA ............................................................................ 35
2.2.1.5. CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................ 43
2.2.1.6. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO E A ORDEM ECONÔMICO-
FINANCEIRA ..................................................................................................................... 44
2.2.1.7. CRIMES COMETIDOS A BORDO DE NAVIOS E AERONAVES, RESSALVADA A
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ............................................................................ 46
2.2.1.8. CRIMES DE INGRESSO OU PERMANÊNCIA IRREGULAR DE ESTRANGEIRO 47
2.2.1.9. DISPUTAS SOBRE DIREITO INDÍGENAS ........................................................... 48
2.2.1.10. HC E MS EM MATÉRIA CRIMINAL ..................................................................... 49
2.2.1.11. JÚRI FEDERAL ................................................................................................... 49
2.2.2. TRIBUNAL DO JÚRI .................................................................................................... 51
2.2.3. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL ................................................... 52
2.3. COMPETÊNCIA RATIONE LOCI OU TERRITORIAL.......................................................... 53
2.3.1. DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU....................................................................... 55
2.3.2. CRITÉRIO SUBSIDIÁRIO – PREVENÇÃO .................................................................. 55
2.3.3. CRIMES PRATICADOS A BORDO DE NAVIOS OU AERONAVES ............................ 59
2.3.4. CRIMES PRATICADOS NO EXTERIOR ...................................................................... 59 3
2.4. COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO E A QUESTÃO DAS VARAS
ESPECIALIZADAS .................................................................................................................... 59
2.5. COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE – COMPETÊNCIA ABSOLUTA ........................... 62
SOBRE A COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIMES COMETIDOS POR OU CONTRA
MEMBROS DO MPDFT, SEGUE QUADRO RESUMO ELABORADO PELO PROFESSOR
MARCIO ANDRÉ : CAVALCANTE, MÁRCIO ANDRÉ LOPES. CRIMES ENVOLVENDO
MEMBROS DO MPDFTMPDFT. BUSCADOR DIZER O DIREITO, MANAUS. DISPONÍVEL
EM:<HTTPS://WWW.BUSCADORDIZERODIREITO.COM.BR/JURISPRUDENCIA/DETALHE
S/01931A6925D3DE09E5F87419D9D55055>. ACESSO EM: 25/01/2020: ........................... 65
2.5.1. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E POSICIONAMENTO DO STF ............ 66
2.5.2. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL ................................................................. 68
2.5.3. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E FORO “PRIVILEGIADO” .................. 69
2.5.4. PRERROGATIVA DE FORO E RENÚNCIA DO MANDATO PARLAMENTAR ............ 69
2.5.5. LEI DOS JUIZADOS CRIMINAIS E PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: .......................... 70
2.5.6. PROCESSAMENTO DE GOVERNADORES PELA PRÁTICA DE CRIME COMUM E
DESNECESSIDADE DA PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA: .......... 70
2.5.7. FORO “PRIVILEGIADO” E CORRÉUS NÃO DETENTORES DE PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO ............................................................................................................................... 71
2.6. COMPETÊNCIA ABSOLUTA X COMPETÊNCIA RELATIVA .............................................. 72
2.7. DISTRIBUIÇÃO .................................................................................................................. 73
2.7.1. DISTRIBUIÇÃO DE MEDIDAS PREPARATÓRIAS...................................................... 73
2.8. CONEXÃO E CONTINÊNCIA ............................................................................................. 74
2.8.1. CONEXÃO ................................................................................................................... 74
2.8.2. CONTINÊNCIA ............................................................................................................ 83
2.8.3. LIMITE TEMPORAL PARA RECONHECIMENTO DA CONEXÃO/CONTINÊNCIA...... 84
2.9. FORO PREVALENTE ......................................................................................................... 85
2.10. SEPARAÇÃO DE PROCESSOS ...................................................................................... 87
2.10.1. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA ................................................................................... 87
2.10.2. SEPARAÇÃO FACULTATIVA .................................................................................... 87
2.11. PERPETUATIO JURISDICTIONIS (ART. 81, CPP)........................................................... 88
2.12. PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA............................................................................. 89
2.13. CRIAÇÃO DE ÓRGÃOS COLEGIADOS DE 1º GRAU....................................................... 90

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1. JURISDIÇÃO

1.1. CONCEITO

Trata-se do poder-dever pertinente ao Estado-juiz de aplicar o direito ao caso concreto. De


acordo com Grinover, Scarance e Gomes Filho, “é a função do Estado de atuação do direito (no
caso, o direito penal) ao caso concreto, por meio da qual o Estado se substitui aos titulares dos
interesses em conflito para, imparcialmente, buscar a pacificação do conflito, com justiça”.
A jurisdição penal, monopolizada pelo Estado, realiza a função de aplicação do direito penal
aos fatos violadores dos bens, direitos e valores reconhecidos pelo corpo social, na exata medida
e proporção previamente indicadas em lei (Pacelli).
O caráter substitutivo da jurisdição é absoluto no direito penal, pois não pode o
direito de punir ser exercido independentemente do processo (Dinamarco, Ada e Cintra). A
doutrina aponta inexistir exceção porque a legítima defesa não caracterizaria direito de punir.
Apesar disso, há quem veja exceção prevista no art.52, I e II da CF, ao estabelecer atribuição de
julgamento para o Senado Federal nos crimes de responsabilidades cometidos por altas
autoridades, como o Presidente da República.
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1.2. PRINCÍPIOS

1.2.1. INVESTIDURA

Somente pode exercer jurisdição o juiz devidamento investido na função, após ter logrado
aprovação em concurso público de provas e títulos, salvo os casos dos quintos constitucionais
previstos para os Tribunais. Trata-se de pressuposto processual subjetivo.

1.2.2. INDELEGABILIDADE

Decorrência do princípio do juiz natural. Por ele se impede que o juiz delegue a sua
jurisdição a um órgão distinto. E quando há expedição de carta precatória, está-se falando em
desrespeito a esse princípio? A doutrina se divide em duas:
1. Não há desrespeito. Isso porque existe previsão legal expressa para tal, há uma
exceção à indelegabilidade.
2. Não há desrespeito, porém também não há exceção. Isso porque o magistrado não
delega poderes, mas apenas e tão-somente está impossibilitado de praticar atos fora dos limites
de sua competência jurisdicional. O juiz deprecado apenas irá cumprir ato do próprio juiz
competente da causa. É a corrente que prevalece. Nucci assevera que há, neste caso, uma
delegação da competência e não da jurisdição.

1.2.3. JUIZ NATURAL

O juízo que irá julgar a causa deve ser previamente definido, não se permitindo tribunais de
exceção. Não importa, entretanto, em ofensa a esse princípio a remessa de processos em
andamento a Varas com competência absoluta criadas posteriormente.
Assim, se manifesta em duas dimensões:
a) Juiz competente (art. 5º, LIII, CF): de acordo com as regras de determinação de
competência pré-estabelecidas;
b) Proibição de juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII, CF) toda pessoa somente pode
ser processada por juiz previamente investido do poder jurisdicional, decorre da vedação de
criação de tribunal de exceção (portanto não se confunde com as justiças especializadas) e
determina que o juiz deve ser previamente competente para o julgamento. Tribunal ou juízo de
exceção é o que é criado ou constituído depois do crime para julgá-lo.

OBS: A convocação de juízes de primeiro grau para substituir desembargadores, no entender


do STF, não viola o juízo natural, considerando que há previsão no art.118 da LC 35/79f (LOMAM)
6
1.2.4. IMPRORROGABILIDADE

Em regra, no processo penal, não há a prorrogação da competência, salvo nos casos


expressamente previstos no CPP. Lembrar que a prorrogação da competência ocorre quando o
juiz abstratamente não competente se torna competente para julgar a causa concretamente
submetida à sua apreciação.
É o caso, v.g., da competência em razão do lugar da infração, que pode ser
prorrogada. Somente pode haver prorrogação no caso de incompetência relativa e desde que
não excepcionada tempestiva e fundamentadamente. Há a prorrogação, v.g., por prevenção ou
por conexão.
Com base neste princípio é que se pode afirmar que, em processo penal, é inadmissível
acordo para mudança de competência do juiz natural.

1.2.5. INEVITABILIDADE

As partes não podem recusar o magistrado para o qual o processo foi distribuído, salvo nos
casos de impedimentos e suspeições.
1.2.6. INDECLINABILIDADE

O juiz não pode recusar a jurisdição. Não existe, no sistema brasileiro, a sentença
branca (na qual o juiz remete à instancia superior a decisão de uma questão prevista em tratado
internacional), nem é permitido o non liquet.

1.2.7. INÉRCIA

O magistrado não pode agir de ofício, em especial para a produção de provas. Há exceção
somente em relação às provas cautelares que devem ser produzidas antes de proposta a
ação penal e ao HC concedido de ofício no curso do processo. V.g., art. 225 do CPP:

Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por
velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício
ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.

COM O PACOTE ANTICRIME, LEI 13.964/2019, A INÉRCIA FICOU AINDA MAIS EVIDENTE.
DE FATO, NÃO PODE MAIS O JUIZ DECRETAR CAUTELARES OU PRISÃO PREVENTIVA DE
OFÍCIO, MAS SOMENTE À REQUERIMENTO DOS INTERESSADOS.

1.2.8. RELATIVIDADE OU CORRELAÇÃO 7


O magistrado está adstrito àquilo que lhe foi pedido, não podendo haver julgamento extra,
citra ou ultra petita. Porém, no processo penal, conforme já visto, o que determina a
congruência da sentença são os fatos narrados na inicial, e não os tipos penais apontados
pelos sujeitos ativos da ação penal condenatória.
Porém, alguns institutos permitem a modificação do pedido:
a) Emendatio libelli: art. 383, CPP: “O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na
denúncia ou na queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em
consequência, tenha de aplicar pena mais grave”. Isso porque iura novit curia (o juiz conhece o
direito).
O momento adequado para corrigir os equívocos de tipificação é o da prolação da
sentença. Não se pode, no caso, falar em prejuízo para o réu, pois ele se defende dos fatos
narrados na exordial, e não do tipo penal enquadrado.
A emendatio tem cabimento até mesmo no segundo grau de jurisdição, havendo
restrição apenas se implicar em reformatio in pejus. Porém, nenhuma restrição haverá caso a
ação seja de competência originária do Tribunal. Caso recente:
O réu foi condenado a 4 anos de reclusão pela prática do crime previsto no art. 4º, caput, da
Lei nº 7.492/86. O Tribunal, em recurso exclusivo da defesa, reclassificou a conduta para os art.
16 e 22, parágrafo único, da Lei nº 7.492/86, mantendo, contudo, a pena em 4 anos de reclusão.
Para o STF não houve nulidade, sendo possível a realização de emendatio libelli em segunda
instância no julgamento de recurso exclusivo da defesa, desde que não gere reformatio in pejus,
nos termos do art. 617 do CPP. Como a pena foi mantida pelo Tribunal, não houve prejuízo ao
réu. STF. 2ª Turma. HC 134872/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 27/3/2018.
Se o magistrado antever que em razão da emendatio ele é incompetente ou se mostra
possível a suspensão condicional do processo, deverá invocar o instituto de imediato,
preferencialmente no momento da admissão da inicial, sem adiantar a desclassificação
formal do delito.
Nesse sentido, assim decidiu o STJ: “O juiz pode, mesmo antes da sentença, proceder à
correta adequação típica dos fatos narrados na denúncia para viabilizar, desde logo, o
reconhecimento de direitos do réu caracterizados como temas de ordem pública
decorrentes da reclassificação do crime.” (STJ. 6ª Turma. HC 241.206/SP, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 11/11/2014. Info 553)
O STF também adota este entendimento: “(...) Segundo a jurisprudência do Supremo
Tribunal Federal é a sentença o momento processual oportuno para a emendatio libelli, a 8
teor do art. 383 do Código de Processo Penal. 2. Tal posicionamento comporta relativização
– hipótese em que admissível juízo desclassificatório prévio –, em caso de erro de direito,
quando a qualificação jurídica do crime imputado repercute na definição da competência.
Precedente. (...) STF. 1ª Turma. HC 115831, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 22/10/2013.’
b) Mutatio libelli: tem cabimento quando os fatos narrados na inicial são dissonantes daqueles
apurados na instrução criminal (art. 384, CPP). A partir da Lei nº 11.719/08, ao perceber o juiz que
os fatos efetivamente ocorridos são divergentes, pouco importa se mais ou menos gravosos
do que os inicialmente idealizados, irá oportunizar o aditamento por parte do MP, o qual
disporá do prazo de 05 dias para fazê-lo, podendo indicar até três testemunhas para cada
fato novo.
Assim que realizado o aditamento, a defesa terá o mesmo prazo para se manifestar,
indicando a mesma quantidade de testemunhas.
Rejeitando o juiz o aditamento, caberá recurso em sentido estrito (RESE). Recebendo, pode
a defesa manejar HC na expectativa de que os novos elementos lançados aos autos sejam
afastados, por falta de justa causa ou por qualquer outro motivo relevante.
Recebido o aditamento, deve ser marcada nova audiência. Se o promotor permanecer inerte
quanto ao aditamento, cabe ao juiz invocar o art. 28 do CPP, remetendo os autos ao Procurador-
Geral de Justiça.
A mutatio libelli não é cabível na fase recursal, pois senão haveria evidente supressão
de instância.
O juiz ficará adstrito aos termos do aditamento. Isso quer dizer que, retomada a
instrução e percebendo o magistrado que os fatos realmente ocorridos eram os originalmente
narrados, não poderá ele revitalizar os termos da denúncia inicial, cabendo condenar ou absolver
o réu com base no fatos trazidos no aditamento.
Nada impede que o membro do MP, em razão de eventual absolvição trazida pelo
aditamento, apresente nova denúncia, nos mesmos moldes daquela que equivocadamente foi
superada pelo aditamento, já que os fatos narrados serão outros, inexistindo ofensa à coisa
julgada e observada a prescrição.
Caso o aditamento tenha sido feito para acrescer circunstância que qualifique o
crime, o juiz poderá realizar a condenação na forma simples, se entender inexistir a
qualificadora, já que, em tese, o tipo derivado contém o tipo básico. O mesmo ocorre se o
aditamento for para incluir causa de aumento de pena, podendo o juiz desconsiderar sua
existência. 9
O réu denunciado por crime na forma consumada pode ser condenado em sua forma
tentada, mesmo que não tenha havido aditamento à denúncia. A tentativa não é uma figura
autônoma, pois a vontade contrária ao direito existente na tentativa é igual à do delito consumado.
O delito pleno (consumado) e a tentativa não são duas diferentes modalidades de crime,
mas somente uma diferente manifestação de um único delito. (STJ. 6ª Turma. HC 297.551-
MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 5/3/2015. Info 557).
Por sua vez, quando na denúncia não houver descrição sequer implícita de
circunstância elementar da modalidade culposa do tipo penal, o magistrado, ao proferir a
sentença, não pode desclassificar a conduta dolosa do agente (assim descrita na denúncia)
para a forma culposa do crime, sem a observância do regramento previsto no art. 384,
caput, do CPP. A prova a ser produzida pela defesa, no decorrer da instrução criminal, para
comprovar a ausência do elemento subjetivo do injusto culposo ou doloso, é diferente em cada
hipótese. Em outras palavras, a prova que o réu tem que produzir para provar que não agiu com
negligência, imprudência ou imperícia é diferente da prova que deverá produzir para demonstrar
que não agiu com dolo (vontade livre e consciente). Assim, se a denúncia não descreve sequer
implicitamente o tipo culposo, a desclassificação da conduta dolosa para a culposa, ainda que
represente aparente benefício à defesa, em razão de imposição de pena mais branda, deve
observar a regra inserta no art. 384, caput, do CPP a fim de possibilitar a ampla defesa. (STJ. 6ª
Turma. REsp 1.388.440-ES, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 5/3/2015. Info 557)

1.3. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO

a) Inércia: os órgãos jurisdicionais são inertes, dependendo de provocação para deflagrar o


processo penal. Exceção há no HC concedido de ofício pelo magistrado.
b) Substitutividade: o Estado substitui a vontade das partes na resolução do litígio, não se
permitindo, no processo penal, nenhuma forma de autotutela. Questiona-se se a prisão em
flagrante permitida a qualquer do povo não seria uma exceção à substitutividade. Teoricamente
não, já que esse tipo de prisão é pré-processual.
c) Lide: a lide no processo penal é diferente no processo civil, já que ocorre a partir do
momento em que a pessoa agride algum bem jurídico penalmente protegido. Modernamente,
entende-se que no processo penal não há, propriamente, uma lide, uma vez que defesa e
acusação buscam um mesmo objetivo, que é o justo provimento jurisdicional. O MP não é só mero
acusador, mas também fiscal da lei e guardião da sociedade.
d) Imutabilidade: o exercício da jurisdição deságua na imutabilidade após o trânsito em
julgado da decisão final, ressalvada a possibilidade de revisão criminal a qualquer tempo em favor
do réu.
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2. COMPETÊNCIA

Competência é a divisão do poder/dever de exercer a jurisdição entre os diversos órgãos


judiciários, sendo ela que confere legitimidade às decisões e permite aferir a ilegitimidade de
outras.
O estabelecimento das competências jurisdicionais, além de racionalizar o trabalho do Poder
Judiciário, confere efetividade ao princípio do juiz natural.

2.1. CRITÉRIOS

A fixação da competência leva em conta as características da questão criminal sub judice,


devendo ser estudada em três aspectos:
a) Critério ratione materiae: objetiva indicar qual a Justiça competente e os critérios de
especialização, levando em conta a natureza da infração;
b) Critério ratione personae: art. 69, VII, CPP. Leva em consideração a importância das
funções desempenhadas por determinadas pessoas, enfocando o foro por prerrogativa de função;
c) Critério ratione loci: visa a identificar o juízo territorialmente competente, considerando
como parâmetros o local da consumação do delito, além do domicílio ou residência do réu.

2.1.1. COMPETÊNCIA MATERIAL

Objetiva indicar qual a Justiça competente e os critérios de especialização, levando em


conta a natureza da infração, aquilo que está sendo discutido na ação penal.

2.1.2. COMPETÊNCIA FUNCIONAL

Leva em conta o elemento de distribuição dos atos processuais praticados no curso


do processo, devendo ser analisada sob três aspectos:
a) Fase do processo: a depender do juiz que atua, é um ou outro competente para
determinados atos, como ocorre com o juiz que julga e o juiz na fase de execução criminal;
b) Objeto do juízo: há uma distribuição de tarefas na decisão das várias questões trazidas
durante o processo, como ocorre entre o juiz togado e os juízes leigos no Júri;
c) Grau de jurisdição: é a chamada competência funcional vertical, de acordo com a
atribuição de julgar os recursos interpostos.
Há ainda a subdivisão:
a) Competência funcional horizontal: Quando inexiste hierarquia entre os 11
orgãos jurisdicionais.
b) Competência funcional vertical: Qunado há hierarquia. È o caso da
competência funcional por grau de jurisdição.

2.2. COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE

VISA A IDENTIFICAR, PRIMEIRAMENTE, QUAL A JUSTIÇA COMPETENTE, SE A COMUM


(FEDERAL OU ESTADUAL) OU AS ESPECIALIZADAS (MILITAR, ELEITORAL, TRABALHISTA).

2.2.1. JUSTIÇA COMUM FEDERAL


Tem sua competência expressamente contemplada na CR/88, tratando o art. 108 dos TRF’s
e o 109 dos juízes federais.
A competência da Justiça Federal tem caráter absoluto. Ela é fixada de modo taxativo na
CR, não podendo, pois, ser ampliada por lei infraconstitucional. Nesse sentido:

Ementa:- Ação direta de inconstitucionalidade. Inciso V do art. 5º; § 1º do art. 7º; § § 2º e 3º


do art. 8º; art. 13; incisos I e II do art. 14; § § 2º e 4º do art. 14; § § 4º e 5º do art. 14; inciso II e
alíneas do § 4º do art. 14; art. 15, incisos I, II, III e § 3º; § 5º do art. 16; art. 17; § 1º do art. 18;
parágrafo único do art. 21; § 1º do art. 22; parágrafo único do art. 23; art. 24; art. 25; e art. 26 da
Medida Provisória n.º 2.152-2, de 1º de junho de 2001 2. Sustentação de ofensa aos artigos 2º; 5º,
incisos III, XXXII, XXXV, LIII, LIV, e LV; 84, IV; 170, V; 174, § 1º; 175 e 225, § 1º, IV, da
Constituição da República. 3. Prejudicada a medida cautelar em face da decisão na ADIN 2468,
quanto aos arts. 5º, V; 14 a 18; 21 e seu parágrafo único; 22 e 23 da Medida Provisória n.º 2152-2.
4. 4. Competência da Justiça Federal definida na Constituição, não cabendo a lei ordinária
e, menos ainda, a medida provisória sobre ela dispor.
(ADI 2.473 MC, Relator(a): Min. Néri da Silveira, Tribunal Pleno, julgado em 13/09/2001, DJ 07-
11-2003 PP-00081 Ement vol-02131-02 PP-00386)

A competência da Justiça Federal, na esfera criminal, pode ser vista sob dois aspectos: a)
competência criminal geral - ratione personae (ofensa a interesse direto e imediato da União, suas
entidades autárquicas, fundações, empresas públicas); b) competência criminal específica -
ratione materiae (violação a interesse indireto e mediato da União, manifestado pelo poder estatal
envolvido na soberania, art. 109, IV, 1ª parte, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI).
Como já dito, a competência em questão tem caráter absoluto. Havendo conexão ou
continência de crimes entre infrações da competência da justiça estadual e da justiça federal,
prevalecerá esta última, na forma da súmula 122 do STJ (salvo casos de contravenção, crime
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militar e eleitoral).
Registra-se, ainda, que a posição do STJ é de que, havendo desclassificação na
sentença de crime inicialmente de competência da justiça federal (narrado pela denúncia
como tal), não se aplica a regra da perpetuatio jurisdictionis. Os autos devem ser remetidos
à justiça comum, com a declaração de nulidade de todos os atos decisórios. Esse também é
o entendimento do STF(2ª Turma. HC 113845/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
20/8/2013).
Deve observar o aluno que no caso de posterior absolvição, a conclusão é diversa: “Definida
a competência da Justiça Federal para o processo e o julgamento de crime estadual e federal, em
razão da conexão ou continência, a absolvição posterior pelo crime federal não enseja
incompetência superveniente, em observância à regra expressa do artigo 81 do Código de
Processo Penal e ao princípio da perpetuatio jurisdicionis”. STF. 1ª Turma. RE 1002034 AgR, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgado em 31/03/2017.
Destaca-se que o STF já afastou a competência da justiça do trabalho para julgar e
processar ações penais, a saber:
“Competência criminal. Justiça do Trabalho. Ações penais. Processo e julgamento.
Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação conforme dada ao art. 114, I, IV e IX, da CR,
acrescidos pela EC n. 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida, com efeito,
ex tunc. O disposto no art. 114, I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela Emenda
Constitucional n. 45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar ações
penais.” (ADI 3.684-MC, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 1º-2-07, DJE de 3-8-07)

Compete à Justiça Federal Processar e Julgar:

2.2.1.1. CRIMES POLÍTICOS

Art. 109. [...]


IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou
interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Esses crimes não estão definidos na CR/88. A doutrina deles trata como crimes dirigidos,
subjetiva e objetivamente, de modo imediato, contra o Estado enquanto unidade orgânica
concretizadora das instituições políticas e sociais. Atualmente, deles tratam a Lei nº 7.170/83.
13
Crime político é aquele que lesiona ou ameaça lesionar a estrutura política vigente em
um país, as instituições e os valores do Estado. Alguns autores o definem tomando em
consideração o móvel que anima o agente (ofensa à ordem política da União, estados, DF ou
municípios). Para Damásio de Jesus, os crimes políticos dividem-se em puros e mistos (ofendem
simultaneamente a ordem política e outro bem jurídico). Não são da competência da Justiça
Federal os crimes propriamente militares ou eleitorais de natureza política.
Para Vladimir Souza Carvalho, a competência federal para o julgamento dos crimes
políticos depende de dois pressupostos: 1) a definição de crime político por lei ordinária; e 2) a
atribuição de competência à Justiça Federal, também por lei ordinária. Assim, não haveria
hoje crime político a ser julgado no âmbito federal. Os crimes previstos na Lei de Segurança
Nacional seriam da competência da Justiça Militar. Mas, para Roberto Silva Oliveira, os artigos
da Lei nº 7.170/83 que atribuíam à Justiça Militar a competência para julgar as infrações
contra a segurança nacional não foram recepcionados pela CR/88. Portanto, esses crimes são
políticos e da competência da Justiça Federal.
A CF (art. 102, II, b) estabelece que compete ao STF julgar em Recurso Ordinário o crime
político. Assim, da sentença proferida por juiz federal em relação a crime político não cabe
apelação, mas ROC ao STF.

2.2.1.2. INFRAÇÕES PENAIS PRATICADAS EM DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS OU


INTERESSES DA UNIÃO OU DE SUAS ENTIDADES AUTÁRQUICAS E EMPRESAS PÚBLICAS,
EXCLUÍDAS AS CONTRAVENÇÕES E RESSALVADA A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR
E DA JUSTIÇA ELEITORAL

Trata-se da competência criminal geral, em razão da pessoa, afetando à Justiça Federal


tudo o que atingir os itens listados. A competência é fixada em atenção à pessoa do ofendido.
As infrações praticadas contra as sociedades de economia mista, os sindicatos, as
concessionárias de serviço público e as entidades particulares de ensino superior são
processadas e julgadas pela Justiça Estadual.
Para que se possa fixar a competência da justiça federal é preciso que o crime atinja
diretamente bem, serviço ou interesse da união. A ofensa reflexa, por via oblíqua, não ensejará a
competência da justiça federal.
BENS

14
Dito isso, é preciso ter em mente que são bens da União todos aqueles arrolados no art.
20 da CR/88. Recaindo a conduta criminosa sobre tais bens, a competência será, em regra,
da Justiça Federal.
Igualmente se a conduta recair sobre os bens das fundações públicas de direito público,
autarquias e empresas públicas federais.
Casuística

Súmula 208, STJ : “Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por
desvio de verba sujeita a prestação de contas perante o órgão federal”.

Súmula 209, STJ: “Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de
verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.

Extração ilegal de minérios (art. 55, Lei nº 9.605/98). É crime de competência da Justiça
Federal, pois os recursos minerais são bens da União.
Extração de areia. Depende do local. Se ocorrer em lagos, rios e quaisquer correntes
de água em terrenos de domínio da União, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de
limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem
como os terrenos marginais e as praias fluviais, em ilhas fluviais e lacustres nas zonas
limítrofes com outros países, as praias marítimas, ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas,
destas, as áreas referidas no art. 26, II, CR, será da competência da Justiça Federal. As
infrações cometidas em outros locais serão da competência da Justiça Estadual. (Nesse
sentido: CC 49.330/RJ, Rel. Ministro Paulo Medina, Terceira Seção, julgado em 13.09.2006,
DJ 05.02.2007). Ainda sobre o tema, relevante o seguinte precedente:

Processo penal. Agravo regimental no conflito de competência. Extração irregular de areia.


Área particular. Ausência de lesão a bens, serviços ou interesses da união. Competência da
justiça estadual. Agravo não provido.
1. O bem a reclamar a tutela jurisdicional, porquanto privada a área ambiental afetada, situada às
margens de rio estadual, não é de domínio federal, de modo que não se visualiza, neste momento
processual, lesão a bens, serviços ou interesses da União ou de suas entidades autárquicas ou
empresas públicas a atrair a competência da Justiça Federal.
2. Agravo regimental não provido.
(AgRg no CC 153.183/RJ, Rel. Ministro Ribeiro Dantas, Terceira Seção, julgado em 25/10/2017,
DJe 31/10/2017)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. INQUÉRITO POLICIAL. JUSTIÇA FEDERAL E


JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL. PARCELAMENTO IRREGULAR URBANO E DANO 15
AMBIENTAL. LOCAL INSERIDO EM ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DA BACIA DO
RIO SÃO BARTOLOMEU, CRIADA POR DECRETO FEDERAL. LEI SUBSEQUENTE QUE
DELEGOU A ADMINISTRAÇÃO E FISCALIZAÇÃO AO PODER EXECUTIVO DO DISTRITO
FEDERAL. CIRCUNSTÂNCIA QUE EXCLUI O INTERESSE FEDERAL. COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL. 1. A orientação jurisprudencial desta Corte é de que se o
crime ambiental for cometido em unidade de conservação criada por decreto federal, evidencia-se
o interesse federal na manutenção e preservação da região, ante a possível lesão a bens,
serviços ou interesses da União, nos termos do art. 109, IV, da Constituição Federal.
Precedentes da Terceira Seção.
2. No caso, embora o local do dano ambiental esteja inserido na Área de Proteção
Ambiental da Bacia do Rio São Bartolomeu, criada pelo Decreto Federal n. 88.940/1993, não
há falar em interesse da União no crime ambiental sob apuração, já que lei federal
subsequente delegou a fiscalização e administração da APA para o Distrito Federal (art. 1º
da Lei n. 9.262/1996). 3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da
Vara Criminal e Tribunal do Júri de São Sebastião/DF, o suscitado.
(CC 158.747/DF, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
13/06/2018, DJe 19/06/2018)
OBS- Se houve a delegação da fiscalização para entidade estadual, a competência é estadual

Inserir dados falsos em CTPS com o fim de levantar depósito do FGTS, omissão de
dados CTPS e estelionato e falsidade ideológica praticados para recebimento de benefício
do INSS são considerados crimes federais.
Não obstante, o STF, via primeira turma, já entendeu que a omissão na anotação da CTPS
seria de competência estadual. (STF. 1ª Turma. Ag.Reg. na Pet 5084, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 24/11/2015).
Conflito negativo de competência. Penal. Delito de falsificação de documento público.
Omissão de dados na carteira de trabalho e previdência social do empregado. Lesão direta a
interesse da união. Art. 109, inciso IV, da Carta Magna. Competência da justiça federal.
A partir do julgamento no conflito de competência n. 127.706/RS, de relatoria do Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, esta egrégia Terceira Seção pacificou o entendimento no sentido de
que "o sujeito passivo primário do crime omissivo do art. 297, § 4.º, do Diploma Penal, é o Estado,
e, eventualmente, de forma secundária, o particular, terceiro prejudicado, com a omissão das
informações, referentes ao vínculo empregatício e a seus consectários da CTPS. Cuida-se,
portanto de delito que ofende de forma direta os interesses da União, atraindo a
competência da Justiça Federal, conforme o disposto no art. 109, IV, da Constituição
16
Federal" (DJe 9/4/2014).

Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 1ª Vara de Cascavel -


SJ/PR, o suscitado.
(CC 145.567/PR, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, julgado em 27/04/2016, DJe
04/05/2016)
Processual penal. Recurso em sentido estrito. Inserção falsa de informação em carteira de
trabalho e previdência social (CTPS). Redução do tempo de serviço. Caracterização do delito do
art. 297, § 3º, II, do Código Penal. Ausência de interesse da União (art. 109, IV, da CR/88).
Competência da justiça estadual. Súmula N. 62 do STJ.
[...]
3. Verifica-se a competência da Justiça Federal quando os dados inseridos na CTPS têm por
objetivo criar condições para obtenção de benefício previdenciário junto ao INSS, caso não
verificado nos autos, em que foi anotado período menor que o efetivamente laborado, de modo a
frustrar direitos trabalhistas do indivíduo, o qual não teve o vínculo empregatício reconhecido,
sendo, estes, portanto, da competência da Justiça Estadual.
4. Recurso em sentido estrito não provido.
(TRF1, RSE 0004454-63.2002.4.01.3500/GO, Rel. Juiz Tourinho Neto, Conv. Juíza federal Maria
Lúcia Gomes De Souza (conv.), Terceira Turma, e-DJF1 p.36 de 18/03/2011)

Crime ambiental em rio da União, em regra, enseja competência da justiça estadual:

Agravo regimental no conflito negativo de competência. Crime ambiental. Art. 34 da Lei nº


9.605/98. Inexistência de ofensa a bens, serviços ou interesses da união. Competência da Justiça
Estadual. Recurso a que se nega provimento.
1. A proteção ao meio ambiente constitui matéria de competência comum da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, motivo pelo qual, para se afirmar ser o delito contra a fauna
de competência da Justiça Federal, é necessário que se revele evidente interesse da União, a teor
do disposto no art. 109, inciso IV, da Constituição Federal.
2. No caso, não obstante a pesca tenha ocorrido em rio que banha mais de um estado, não há
nos autos qualquer indício de que o crime tenha repercutido para além do local em que
supostamente praticado, de modo a autorizar a conclusão de que teria havido lesão a bem da
União.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.

17
(AgRg no CC 154.855/SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, julgado
em 13/12/2017, DJe 15/12/2017)

AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. CRIME AMBIENTAL. PESCA


PREDATÓRIA. RIO QUE BANHA MAIS DE UM ESTADO DA FEDERAÇÃO. AUSÊNCIA DE
LESÃO A BENS, SERVIÇOS OU INTERESSES DA UNIÃO. PREJUÍZO LOCAL. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA ESTADUAL. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. A competência para a
preservação do meio ambiente é matéria comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
nos termos do art. 23, VI e VII, da Constituição Federal. 2. Para atrair a competência da Justiça
Federal é necessário que os danos ambientais produzidos pela prática de pesca predatória
em rio interestadual tenham repercutido para além do local em que supostamente
praticada. 3. No caso, apesar da pesca predatória ter ocorrido em rio de natureza
interestadual, não ficou demonstrado que o delito tenha causado prejuízo à União, suas
autarquias ou empresas públicas, razão pela qual deve ser reconhecida a competência da
Justiça Estadual para o processamento do feito. 4. Agravo regimental improvido.(STJ - AgRg no
CC: 152534 SP 2017/0125245-4, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento:
13/02/2019, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 19/02/2019)
SERVIÇOS
Abrange extensa gama de atividades desenvolvidas pela União, como a atividade
jurisdicional (justiça do trabalho; crime comum praticado contra juiz eleitoral, STJ, CC 45.552, j.
08.11.2006), o serviço postal, os serviços de telecomunicações, de saúde, segurança pública etc.
O crime praticado contra o servidor público federal, no exercício da função, afeta o serviço,
justificando a competência federal. O crime praticado pelo servidor no exercício da função
também afeta a normalidade e probidade que se espera dos serviços da União (exemplos:
homicídio praticado por policial rodoviário federal no patrulhamento, concussão). Outros
exemplos: desacato, resistência à prisão efetuada por policiais federais, crimes contra a
Administração praticados por funcionários públicos e por particulares.
Caso recentíssimo julgado pelo STF: STF. 1ª Turma.HC 157012/MS, Rel. Min. Marco
Aurélio, julgado em 10/12/2019 (Info 963): Policial Rodoviário Federal, voltando para casa do
trabalho, se deparou com motorista realizando manobra indevida e realizou abordagem
culminando em discussão e disparo, com morte do motorista. O STF entendeu que a competência
seria estadual, pois não há vinculação com o cargo de Policial e inexistia dever de abordar
naquela ocasião.
Casuística
Crime de concussão praticado por médico conveniado ao SUS, por resultar em prejuízo 18
apenas ao particular (e.g., cobrar consulta ao paciente, quando esse serviço deveria ser gratuito),
é de competência da justiça estadual. Essa é a posição do STJ e STF (RE 429.171, Rel. Min.
Carlos Britto, j. 14.09.04). Há, entretanto, posição doutrinária e jurisprudencial de que seria
competente a justiça federal, pois a concussão não é crime contra o patrimônio. Mas, reitera-se: a
posição do STJ e STF é de ser da justiça comum.

Penal. Conflito de competência. Crimes cometidos por médicos e profissionais de hospitais


conveniados ao SUS. Desmembramento. Sentença definitiva em relação aos crimes de
estelionato e falsificação de documento público e quadrilha ou bando. Súmula 235/STJ. Óbice à
reunião dos processos. Delitos remanescentes de concussão e quadrilha. Competência da justiça
estadual.
1. Há conexão quando evidenciado o concurso de agentes para a prática do delito e a prova de
uma infração constitui elemento relevante na apuração da outra infração.
2. "A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado" (Súmula
235/STJ).
3. Remanescendo somente os delitos de concussão e formação de quadrilha, pela eventual
conduta de receber valores de clientes atendidos por meio do SUS, não se evidencia prejuízo a
ente federal, produzindo tão-somente efeitos no âmbito particular, sendo a competência da Justiça
Estadual.
4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo de Direito da Comarca de Marau/RS,
ora suscitado.
(STJ, CC 84.813/RS, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Terceira Seção, julgado em 10/06/2009,
DJe 29/06/2009)

Penal. Conflito de competência. Concussão. Atendimento a usuário do SUS. Vantagem.


Ofensa a bens, serviços ou interesse da união. Inocorrência. Competência da justiça estadual.
Ausência de conflito de jurisdição. Não-conhecimento do conflito. Concessão de habeas corpus de
ofício.
1. Inexistência de conflito de jurisdição a ser dirimido, não se podendo dele conhecer, pois o Juízo
Federal não possui o poder de declinar de sua competência, haja vista já ter sido a questão
apreciada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região mediante a interposição de recurso em
sentido estrito.
2. Compete à Justiça Estadual processar e julgar o feito destinado a apurar crime de concussão
consistente na cobrança de honorários médicos ou despesas hospitalares a paciente do SUS por
se tratar de delito que acarreta prejuízo apenas ao particular, sem ofensa a bens, serviços ou
interesse da União.
19
3. Os juízes e os tribunais têm competência para expedir, de ofício, ordem de habeas corpus
quando, no curso de processo, verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer
coação ilegal.
4. Conflito não-conhecido. Ordem de habeas corpus concedida de ofício para reformar o
entendimento exarado pelo Tribunal a quo e determinar seja o feito processado pelo Juízo de
Direito da 2ª Vara da Comarca de Ijuí/RS.
(STJ, CC 36.081/RS, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Terceira Seção, julgado em 13/12/2004,
DJ 01/02/2005, p. 403)

Crime de estelionato (e.g.,fraude na realização de procedimento não coberto pelo sistema,


como cirurgia estética) praticado contra o SUS. Nesse caso específico, em que há dano a
serviço prestado pela União, a competência é, sim, federal. Confira-se:

Habeas corpus. Hospital credenciado com o sistema único de saúde. Estelionato cometido
contra o SUS. Recebimento de despesa de paciente que possui plano de saúde particular.
Prejuízo da união. Competência da justiça federal. Cobrança indevida de valores de paciente
usuário do SUS. Estelionatos em continuidade delitiva. Súmula nº 122/STJ. Ilegalidade.
Inocorrência. Ordem denegada.
1. Hipótese em que o primeiro fato criminoso imputado ao paciente deixa certo o prejuízo ao SUS
e, por conseguinte, a competência da Justiça Federal. Isso porque o paciente, mesmo recebendo
do plano de saúde privado os valores referentes aos atendimentos médicos e internações,
expedia autorizações de internação ideologicamente falsas ao SUS, induzindo-o a erro. Por isso,
também recebia do Sistema Único de Saúde, indevidamente, os valores que já haviam sido pagos
pela empresa particular.
2. Evidenciado que o primeiro crime foi cometido em detrimento do Sistema Único de Saúde, é
certa a competência da Justiça Federal para apreciar e julgar o paciente, independentemente de
quem seja o prejudicado pelo segundo delito, haja vista a conexão, incidindo o enunciado n° 122
desta Corte Superior de Justiça.
[...]
(STJ, HC 76.689/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em
17/06/2010, DJe 04/10/2010)

“Hipótese em que a intenção dos agentes era a de obter vantagem ilícita em detrimento do
SUS, na medida em que visavam, mediante a apresentação de documentação ideologicamente
falsa, ao pagamento de uma cirurgia estética não coberta pelo referido sistema de saúde. (...) 3.
Nesse contexto narrado pela denúncia há, pelo menos, um crime de tentativa de estelionato
20
contra o SUS – o que basta para a fixação da competência da Justiça Federal, a teor do art. 109,
inciso V, da Constituição da República –, sendo que o possível prejuízo suportado pela Clínica é
questão adstrita à esfera cível a ser resolvida pelo juiz natural da causa. (STJ, HC 70.912/MT, Rel.
Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 21.02.2008, DJ 17.03.2008)

Síntese: se o agente se valer do SUS para causar prejuízo a particulares, a


competência será da Justiça Estadual, pois é reflexo o interesse da União; porém, se a
conduta for voltada a obter benefícios indevidos do SUS, a ofensa é direta, o que atrai a
competência da Justiça Federal.
Desvio de Verbas do SUS: Compete à Justiça FEDERAL processar e julgar as ações
penais relacionadas com o DESVIO de verbas originárias do SUS (Sistema Único de
Saúde), independentemente de se tratar de valores repassados aos Estados ou Municípios
por meio da modalidade de transferência “fundo a fundo” ou mediante realização de
convênio.

Penal. Agravos regimentais em conflito de competência. ação penal. crime de lavagem e


ocultação de bens e valores. Contrato firmado entre pessoa jurídica e órgão estadual. Recursos,
em parte, provenientes do sistema único de saúde (SUS). Incorporação da verba ao patrimônio
estadual. Irrelevância. Repasse sujeito ao controle interno do Poder Executivo federal e do tribunal
de contas da União. Interesse da União. Precedentes da terceira seção. competência da justiça
federal.
1. Por estarem sujeitas à fiscalização dos órgãos de controle interno do Poder Executivo federal,
bem como do Tribunal de Contas da União, as verbas repassadas pelo Sistema Único de Saúde -
inclusive na modalidade de transferência "fundo a fundo" - ostentam interesse da União em sua
aplicação e destinação. Eventual desvio atrai a competência da Justiça Federal para conhecer da
matéria, nos termos do art. 109, IV, da Constituição Federal.
2. Agravos regimentais improvidos.
(AgRg no CC 129.386/RJ, Rel. Ministro Sebastião Reis Júnior, Terceira Seção, julgado em
11/12/2013, DJe 19/12/2013)
Agravo regimental no conflito de competência. processo penal. crimes de quadrilha, falsidade
ideológica, peculato e corrupção passiva. Desvio de verbas provenientes do sistema único de
saúde - sus. Controle do poder executivo federal e do tribunal de contas da união. Competência
da justiça federal. Súmula 208/STJ.
1. Segundo o posicionamento do Supremo Tribunal Federal e desta Corte de Justiça, compete à
Justiça Federal processar e julgar as causas relativas ao desvio de verbas do Sistema Único de 21
Saúde - SUS, independentemente de se tratar de repasse fundo a fundo ou de convênio, visto que
tais recursos estão sujeitos à fiscalização federal, atraindo a incidência do disposto no art. 109, IV,
da Carta Magna, e na Súmula 208 do STJ.
2. O fato de os Estados e Municípios terem autonomia para gerenciar a verba financeira destinada
ao SUS não elide a necessidade de prestação de contas perante o Tribunal de Contas da União,
nem exclui o interesse da União na regularidade do repasse e da correta aplicação desses
recursos.
3. Portanto, a competência da Justiça Federal se mostra cristalina em virtude da existência de
bem da União, representada pelas verbas do SUS, bem como da sua condição de entidade
fiscalizadora das verbas federais repassadas ao Município.
4. Não trazendo o agravante tese jurídica capaz de modificar o posicionamento anteriormente
firmado, é de se manter a decisão agravada na íntegra, por seus próprios fundamentos 5.Agravo
regimental a que se nega provimento.
(AgRg no CC 122.555/RJ, Rel. Ministro Og Fernandes, Terceira Seção, julgado em 14/08/2013,
DJe 20/08/2013)
Em suma: verbas do SUS: competência da Justiça Federal (CC 122.555-RJ);
estelionato contra o SUS: competência da Justiça Federal (CC 95134-MG); cobrança indevida
de serviços médico/hospitalares acobertados pelo SUS: Justiça Estadual.
Moeda falsa. A competência é da justiça federal, pois compete exclusivamente à União
emitir moeda, por meio do BACEN (art. 164, CR). O mesmo vale para moeda estrangeira, pois
cabe também a essa autarquia federal o controle da regularidade do mercado cambial brasileiro.
No entanto, sendo a falsificação grosseira, será caso, em tese, de crime de estelionato e o
julgamento caberá à justiça comum.

Súmula 73, STJ: “A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese,
o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual”.

Caso especial: STJ. 3ª Seção. CC 116527-BA, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
11/4/2012 – Decidiu que inexiste conexão no caso em que o acusado foi pego com drogas e
dinheiro falso, sendo o tráfico de competência estadual e o crime de falsificação de moeda de
competência federal.
Outros casos:

22
ROUBO. CARTEIRO. COMPETÊNCIA.

A Justiça Federal é a competente para processar e julgar os crimes de roubo praticados


contra carteiro da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) no exercício de sua função,
com fulcro no disposto do art. 109, IV, da CF. Segundo ponderou o Min. Relator, não obstante os
objetos subtraídos pertencerem a particulares, no momento do cometimento da infração, eles se
encontravam sob a guarda e responsabilidade da ECT. Logo, o delito de roubo teria atingido, de
forma direta, bens, serviços e interesses da empresa pública federal. Destacou-se que, tanto no
crime de furto quanto no de roubo, o sujeito passivo não é apenas o proprietário da coisa móvel,
mas também o possuidor e, eventualmente, até mesmo o mero detentor. Afirmou-se ser o caso de
aplicação do enunciado da Súm. n. 147-STJ: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os
crimes praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da
função”. Assim, uma vez reconhecida a incompetência absoluta da Justiça estadual para o
julgamento da causa, a Turma concedeu de ofício a ordem para determinar a anulação dos
provimentos judiciais proferidos, facultando a ratificação do juízo competente dos atos
anteriormente praticados, inclusive dos decisórios não referentes ao mérito da causa. HC
210.416-SP, 5T, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/12/2011.
EMENTA: COMPETÊNCIA. Criminal. Crime de roubo. Subtração de bens em poder de
carteiro, no exercício de suas funções. Servidor efetivo da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos. Violência contra servidor do quadro de empresa pública federal. Lesão material direta
e específica a serviço e a bem da União. Ação penal da competência da Justiça Federal. Revisão
criminal julgada procedente. Processo anulado. Recurso extraordinário improvido. Inteligência do
art. 157 do CP, cc. art. 109, IV, da CR. É da competência da Justiça Federal, o processo de ação
penal por crime de roubo de objetos em poder de servidor efetivo da Empresa Brasileira de
Correios e Telégrafos, no exercício de suas funções de carteiro. (STF, RE 473033, Relator(a):
Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, julgado em 11/11/2008, DJe-232 DIVULG 04-12-2008 Public
05-12-2008 Ement VOL-02344-03 PP-00526 RTJ VOL-00207-03 PP-01208 RT v. 98, n.882, 2009,
p. 529-531)
OBS: Mesma conclusão repetida no julgado de 2016: (STJ - HC: 314683 SP 2015/0012741-7,
Relator: Ministro NEFI CORDEIRO, Data de Julgamento: 08/03/2016, T6 - SEXTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 15/03/2016)

Aqui há uma peculiaridade: o serviço postal pode ser objeto de contrato de franquia.
Nesse caso, se o lesado for o franqueado a competência será da justiça estadual e não da
justiça federal já que não terá havido lesão direta a União. O furto praticado numa dessas 23
agências franqueadas vai atingir diretamente o patrimônio do franqueado e não o patrimônio das
EBCT. O mesmo ocorre em relação ao Banco Postal:

Conflito negativo de competência. Roubo majorado praticado em agências dos correios.


Banco postal. Inexistência de prejuízo à empresa brasileira de correios e telégrafos. Competência
da justiça estadual. Competente o juízo suscitado.
1. Firmou-se o entendimento nesta Corte Superior de Justiça que, nos casos de delitos praticados
em detrimento da Empresa Brasileira dos Correios e Telégrafos-EBCT, a competência será
estadual quando o crime for perpetrado contra agência franqueada e houver ocasionado efetivo
prejuízo unicamente a bens jurídicos privados. Por outro lado, incidirá o art. 109, IV, da
Constituição Federal, nos casos em que a ofensa for direta à EBCT, ou seja, ao serviço-fim dos
correios, os serviços postais, atraindo, pois, a competência federal. No caso em apreço, o dano
causado à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos fora estimado em R$ 1,15 e R$ 32,04,
sendo que o prejuízo sofrido pelo Banco do Brasil fora estimado em R$ 9.000,00. Dessa forma,
diante do prejuízo ínfimo à empresa pública federal (EBCT), com dano quase que exclusivo ao
Banco do Brasil, bem como em razão desta instituição financeira se obrigar, por contrato (Banco
Postal), a ressarcir os valores subtraídos da agência do correio, que se enquadra como agência
franqueada, é de se reconhecer a competência da Justiça Estadual para o julgamento do feito.
2. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 1ª Vara de
Tóxicos de Belo Horizonte/MG, o suscitado.
(CC 155.448/MG, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, julgado em 22/02/2018, DJe
02/03/2018)

Veja que o STJ, inovando, reconheceu a “agência de correio comunitária”, que opera
mediante convênio, e não franquia com particulares. Nesse caso, a competência será da Justiça
Federal:

COMPETÊNCIA. AGÊNCIA DE CORREIOS COMUNITÁRIA.


Nos crimes praticados contra agências da ECT a fixação da competência depende da natureza
econômica do serviço prestado. Quando é explorado diretamente pela empresa pública, a
competência é da Justiça Federal. Se a exploração for feita por particular, mediante franquia, a
Justiça estadual será a competente. No caso, trata-se de uma Agência de Correios Comunitária
operada mediante convênio, em que há interesse recíproco dos agentes na atividade
desempenhada, inclusive da empresa pública. Assim, a Seção entendeu que prevalece o

24
interesse público ou social no funcionamento do serviço postal por parte da empresa
pública federal e por isso há maior similitude com as agências próprias. Dessa forma, a
competência será da Justiça Federal. CC 122.596-SC, 3S, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 8/8/2012.

INTERESSES
Para firmar a competência federal, o interesse deve ser imediato, direto, específico.
Casuística

Súmula 62, STJ: “compete à justiça estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
CTPS, atribuído à empresa privada”. Mas, se a falsificação for realizada para viabilizar o
recebimento de seguro-desemprego, programa mantido com recursos federais (FAT), a
competência é da Justiça Federal.

As falsas anotações na CTPS somente não serão de competência da JF quando a


motivação for “somente” suprimir direitos trabalhistas.

Conflito negativo de competência. Penal. Delito de falsificação de documento público.


Omissão de dados na carteira de trabalho e previdência social do empregado. Lesão direta a
interesse da união. Art. 109, inciso IV, da carta magna. Competência da justiça federal. A partir do
julgamento no conflito de competência n. 127.706/RS, de relatoria do Ministro Rogerio Schietti
Cruz, esta egrégia Terceira Seção pacificou o entendimento no sentido de que "o sujeito passivo
primário do crime omissivo do art. 297, § 4.º, do Diploma Penal, é o Estado, e,
eventualmente, de forma secundária, o particular, terceiro prejudicado, com a omissão das
informações, referentes ao vínculo empregatício e a seus consectários da CTPS. Cuida-se,
portanto de delito que ofende de forma direta os interesses da União, atraindo a
competência da Justiça Federal, conforme o disposto no art. 109, IV, da Constituição
Federal" (DJe 9/4/2014).
Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 1ª Vara de Cascavel - SJ/PR, o
suscitado.
(CC 145.567/PR, Rel. Ministro Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, julgado em 27/04/2016, DJe
04/05/2016)

Crimes contra a Previdência Social previstos no Código Penal (arts. 168-A e 337-A) são
da competência federal, assim como o crime contra a ordem tributária (Lei nº 8.137/91) que
envolver tributo federal.
Crime de arma de fogo, embora caiba ao órgão federal a fiscalização, a competência é da
justiça estadual, mesmo nos casos de arma “raspada”, de uso proibido ou origem estrangeira.
25
Penal. Conflito de competência. Crime de porte ilegal de arma de fogo com numeração
raspada. Art. 16, Parágrafo único, incisos I e IV, da Lei 10.826/03. Ofensa à fé pública da união.
Não-ocorrência. Ausência de ofensa a bens, serviços ou interesses da união. Competência da
justiça estadual.
1. A Lei 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento) visa melhorar a segurança pública, através do
recolhimento de armas de fogo e munições sem os registros pertinentes, tendo como bem jurídico
tutelado a segurança pública.
2. Em regra, a competência para processar e julgar os crimes elencados na Lei 10.826/03 é da
competência da Justiça Estadual.
3. O fato de o registro de armas ser efetuado no órgão submetido ao Ministério da Justiça, por si
só, não enseja o deslocamento da competência para a Justiça Federal, o que revela interesse
genérico e reflexo da União, pois não há ofensa a seus bens, serviços ou interesses.
4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de Campo
Grande/RJ, ora suscitante.
(STJ, CC 98.787/RJ, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Terceira Seção, julgado em 26/08/2009,
DJe 23/09/2009)
“O porte ilegal de arma de fogo de uso restrito ou proibido ou de origem estrangeira não enseja,
por si só, a competência da justiça federal. Somente ocorrerá o deslocamento da competência,
quando houve lesão aos bens, interesses ou serviços da União Federal” (HC 59.349/RJ, Rel.
Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 07.11.2006, DJ 18.12.2006 p. 426)

OBS: Deve ser feita ressalva para o caso de tráfico transnacional de armas, que atrai a
competência federal, vide julgado recente de 2019 do STJ:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. TRÁFICO DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO.


INDÍCIO SUFICIENTE DE MERCANCIA E TRANSNACIONALIDADE DA CONDUTA.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. LESÃO AOS INTERESSES DA UNIÃO. CONFLITO
DE COMPETÊNCIA CONHECIDO. DECLARADA A COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL. 1.
Conforme art. 109, V, da Constituição Federal - CF, compete à Justiça Federal o julgamento de
crime à distância se preenchido o duplo requisito da existência de nexo de transnacionalidade e
de o Brasil ser signatário de tratado ou convenção internacional para a repressão do crime em
tese praticado. 2. O Estado brasileiro é signatário de instrumento internacional (Protocolo contra a
Fabricação e o Tráfico Ilícitos de Armas de Fogo, suas Peças e Componentes e Munições -
complementando a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional -,
promulgado pelo Decreto n. 5.941, de 26/10/2006), no qual se comprometeu a tipificar a conduta 26
como crime. Precedente: CC 126.235/PR, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO,
DJe 18/11/2016 3. Na espécie, embora o indiciado tenha permanecido calado em seu
interrogatório, existem indícios no sentido de que o delito foi praticado mediante transposição de
fronteira, informados por Agente da Polícia Federal. Ademais, constata-se que a conversa
havida entre indiciado e Agente da Polícia Federal, com informação de que a arma foi
adquirida no Uruguai para venda em território brasileiro, foi presenciada por dois policiais
militares e um escrivão da polícia civil. Observa-se, ainda, que, por ocasião do flagrante,
além do armamento (1 fuzil calibre 556 da marca Palermo, 1 fuzil calibre 556 Smith
Wesson), foi encontrada quantia de R$ 950,00 (novecentos e cinquenta reais) em dinheiro em
notas diversas e $ 340,00 (trezentos e quarenta) pesos Uruguaios, o que indica, em tese, a
possibilidade de mercancia e não de mera posse de arma de uso restrito. Por derradeiro, a
operação que resultou no flagrante foi iniciada em razão de notícia de que o ora indiciado
encontrava-se em situação suspeita na Praia Barra do Chuí, balneário no extremo sul do Brasil,
localizado no município gaúcho de Santa Vitória do Palmar, que faz divisa com o povoado de
Barra del Chuy, no Uruguai. 4. Nas circunstâncias em que o conflito de competência foi
apresentado a esta Corte Superior, com razão o Juízo Estadual suscitado, na medida em que os
autos carreiam indícios suficientes da transnacionalidade delitiva. 5. Conflito conhecido para
declarar competente o Juízo Federal da 2ª Vara de Rio Grande - SJ/RS, o suscitante.(STJ - CC:
164168 RS 2019/0057747-4, Relator: Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Data de Julgamento:
24/04/2019, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 07/05/2019)

Crimes contra as finanças públicas (CP art. 359-A a 359H) serão da competência da
Justiça Federal, se as finanças forem da União.
Crimes Ambientais. Aqui, há muitas situações de dúvida na definição da competência.
Mas, sempre se deve ter presente que somente ocorrerá competência federal se houver ofensa a
bens, serviços ou interesses DIRETOS da União. Em regra, é da competência da Justiça
Estadual. Lembre-se, ainda, que a súmula 91 do STJ foi cancelada, a qual atribuía à justiça
federal os crimes contra a fauna. No mesmo rumo, foi a razão do veto ao art. 26, parágrafo
único, da Lei de Crimes Ambientais.
Não compete à JF julgar crime ambiental ocorrido em programa Minha Casa Minha Vida
pelo simples fato de a CEF ter atuado como agente financiador da obra:

Conflito de competência. Crime ambiental. Poluição. Art. 54, § 2º, V da Lei n. 9.605/98.
Deságue de esgoto em nascentes localizadas em área de proteção ambiental. Programa

27
habitacional popular minha casa minha vida (PMCMV). Fiscalização da aplicação dos recursos
públicos pela Caixa Econômica Federal (CEF). Atuação como mero agente financeiro.
Fiscalização do cronograma da obra para liberação de recursos. Contrato que isenta a CEF de
responsabilidade pela higidez da obra. Competência da justiça estadual. 1. O presente conflito de
competência deve ser conhecido, por se tratar de incidente instaurado entre juízos vinculados a
Tribunais distintos, nos termos do art. 105, inciso I, alínea d, da Constituição Federal. 2. Em
análise à jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça - STJ constata-se haver
diferenciação de responsabilidade da CEF conforme sua atuação como agente meramente
financeiro ou como agente executor de políticas públicas responsável pela execução da
obra. Todavia, verifica-se que o fato de o imóvel não estar edificado não implica, por si só,
a responsabilização da CEF por dados causados pela obra, sendo imprescindível a análise
contratual e riscos por ela assumidos. Precedentes. Para a responsabilização da CEF por
dano ambiental causado pela obra é imprescindível sua atuação na elaboração do projeto,
mormente em se tratando de direito penal que inadmite a responsabilidade objetiva. O
contrato entre a CEF e a construtora evidencia que o acompanhamento da obra foi restrito à
verificação de conclusão de etapas para a liberação do financiamento, sem responder, contudo,
pela higidez da obra, que ficou a cargo apenas da construtora. Na espécie, verifica-se que a
fiscalização da CEF limitou-se ao cumprimento do cronograma da obra para fins exclusivamente
financeiros. 3. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da
Vara do Juizado Especial Criminal de Santa Rosa/RS, o suscitante. (CC 139.197/RS, Rel. Ministro
Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, julgado em 25/10/2017, DJe 09/11/2017)

Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter


transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas
ou protegidas por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. (STF. Plenário. RE
835558/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/2/2017, repercussão geral. Info 853):

Recurso extraordinário. repercussão geral reconhecida. Constitucional. Processual penal.


Crime ambiental transnacional. Competência da justiça federal. Interesse da união reconhecido.
Recurso extraordinário a que se dá provimento. (...) 4. A competência da Justiça Federal aplica-se
aos crimes ambientais que também se enquadrem nas hipóteses previstas na Constituição, a
saber: (a) a conduta atentar contra bens, serviços ou interesses diretos e específicos da União ou
de suas entidades autárquicas; (b) os delitos, previstos tanto no direito interno quanto em tratado
ou convenção internacional, tiverem iniciada a execução no país, mas o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro - ou na hipótese inversa; (c) tiverem sido cometidos a bordo

28
de navios ou aeronaves; (d) houver grave violação de direitos humanos; ou ainda (e) guardarem
conexão ou continência com outro crime de competência federal; ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral, conforme previsão expressa da Constituição. (...) 7. (a) Os
compromissos assumidos pelo Estado Brasileiro, perante a comunidade internacional, de
proteção da fauna silvestre, de animais em extinção, de espécimes raras e da
biodiversidade, revelaram a existência de interesse direto da União no caso de condutas
que, a par de produzirem violação a estes bens jurídicos, ostentam a característica da
transnacionalidade. (b) Deveras, o Estado Brasileiro é signatário de Convenções e acordos
internacionais como a Convenção para a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas
Naturais dos Países da América (ratificada pelo Decreto Legislativo nº 3, de 1948, em vigor no
Brasil desde 26 de novembro de 1965, promulgado pelo Decreto nº 58.054, de 23 de março de
1966); a Convenção de Washington sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da
Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES ratificada pelo Decreto-Lei nº 54/75 e
promulgado pelo Decreto nº 76.623, de novembro de 1975) e a Convenção sobre Diversidade
Biológica CDB (ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo nº 2, de 8 de fevereiro de
1994), o que destaca o seu inequívoco interesse na proteção e conservação da biodiversidade e
recursos biológicos nacionais. (c) A República Federativa do Brasil, ao firmar a Convenção para a
Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América, em vigor no
Brasil desde 1965, assumiu, dentre outros compromissos, o de “tomar as medidas necessárias
para a superintendência e regulamentação das importações, exportações e trânsito de espécies
protegidas de flora e fauna, e de seus produtos, pelos seguintes meios: a) concessão de
certificados que autorizem a exportação ou trânsito de espécies protegidas de flora e fauna ou de
seus produtos”. (d) Outrossim, o Estado Brasileiro ratificou sua adesão ao Princípio da Precaução,
ao assinar a Declaração do Rio, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento (RIO 92) e a Carta da Terra, no “Fórum Rio+5”; com fulcro neste princípio
fundamental de direito internacional ambiental, os povos devem estabelecer mecanismos de
combate preventivos às ações que ameaçam a utilização sustentável dos ecossistemas,
biodiversidade e florestas, fenômeno jurídico que, a toda evidência, implica interesse direto da
União quando a conduta revele repercussão no plano internacional. (...) 10. Recurso
extraordinário a que se dá provimento, com a fixação da seguinte tese: “Compete à Justiça
Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais
silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por Tratados e
Convenções internacionais”.
(RE 835558, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2017, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-174 DIVULG 07-08-2017 PUBLIC 08-08-2017)
29
Crime cometido no exterior: Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no
exterior e cuja extradição tenha sido negada?
Segundo o STF: O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não
atrai a competência da justiça federal. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual julgar o
crime praticado por brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em razão de o agente ter fugido
para o Brasil, tendo o nosso país negado a extradição para o Estado estrangeiro. Somente será
de competência da Justiça Federal caso se enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da
CF/88. (STF. 1ª Turma. RE 1.175.638 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/4/2019 –
Info 936).
Contudo, o STJ entende de forma diversa: Compete à Justiça Federal o processamento e
o julgamento da ação penal que versa sobre crime praticado no exterior que tenha sido transferida
para a jurisdição brasileira, por negativa de extradição. (STJ. 3ª Seção. CC 154.656-MG, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 – Info 625). Este entendimento já foi objeto de questão de
prova para ingresso na magistratura:

Ano: 2018 Banca: IBFC Órgão: TRF - 2ª REGIÃO Prova: IBFC - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO -
Juiz Federal Substituto
Sobre a competência em processo penal assinale a alternativa correta:
A - Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento de ação penal que versa sobre
crime praticado no exterior, que tenha sido transferida para a jurisdição brasileira por negativa de
extradição.
B - O simples fato de o delito ser praticado pela internet é suficiente para fixar a competência da
Justiça Federal, sendo desnecessário demonstrar a internacionalidade da conduta ou de seus
resultados.
C - Compete ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflito de competência entre Tribuna]
Regional Federal e Turma Recursal de Juizado Especial Federal Criminal de uma mesma Região,
independentemente da existência de subordinação administrativa.
D - Compete à Justiça Federal processar e julgar crimes de competência da Justiça Estadual,
sempre que os delitos tenham sido descobertos em cumprimento de mandado de busca e
apreensão expedido por juiz federal, sendo irrelevante, na hipótese, avaliar a existência de
conexão entre as causas.
E - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crimes relativos ao desvio de verbas
públicas repassadas pela União aos municípios, ainda que sujeitas à posterior prestação de
contas perante órgão federal.
Gabarito: Letra A
Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente é 30
delito de competência federal, quando praticado por meio da Internet.

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes consistentes em disponibilizar ou adquirir


material pornográfico envolvendo criança ou adolescente (arts. 241, 241-A e 241-B do ECA),
quando praticados por meio da rede mundial de computadores (internet). (STF. RE 628624,
Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno,
julgado em 29/10/2015, Acórdão Eletrônico Repercussão Geral - Mérito DJe-062 DIVULG 05-04-
2016 PUBLIC 06-04-2016)

Existem situações diversas já firmadas pelo STJ:

Caso o material pornográfico envolvendo crianças seja encontrado armazenado em um


computador, sem indícios de disponibilização na rede mundial, a competência é estadual ( STJ,
CC 103.011-PR). Pela mesma razão, a troca das imagens entre dois e-mails por pessoas
residentes no Brasil não atrai a competência federal. No CC 150.564-MG, O STJ entendeu que se
as imagens forem trocadas entre destinatários certos via watsapp ou facebook, ainda assim, a
competência é estadual.
CONTRAVENÇÕES PENAIS
As contravenções, por expressa disposição constitucional, estão fora da competência
jurisdicional da Justiça Federal. E se houver crime afeto à Justiça Federal conexo a contravenção,
quem deve julgar?
A amplamente majoritária doutrina preconiza a separação dos processos. A Justiça
Federal processaria e julgaria o crime da sua competência e a contravenção penal ficaria
no âmbito da competência da justiça do estado, no âmbito do juizado especial criminal
estadual. Isso porque a regra da unidade de processo e julgamento nos casos de conexão
está prevista no CPP. E é a lei maior que afasta da competência dos juízos federais o
processo e julgamento das contravenções.
Assim decidiu o STJ, por sua 3ª Seção:

Agravo regimental no conflito negativo de competência. Contravenções penais. Ilícitos que


devem ser processados e julgados perante o juízo comum estadual, ainda que ocorridos em face
de bens, serviços ou interesse da união ou de suas entidades. Súmula n.º 38 desta Corte.
Configuração de conexão probatória entre contravenção e crime, este de competência da justiça
comum federal. Impossibilidade, até nesse caso, de atração da jurisdição federal. Regras
processuais infraconstitucionais que não se sobrepõem ao dispositivo de extração constitucional
31
que veda o julgamento de contravenções pela justiça federal (art. 109, inciso IV, da Constituição
da República). Declaração da competência do juízo de direito do juizado especial cível da
comarca de Florianópolis/SC para o julgamento da contravenção penal prevista no art. 68, do
Decreto-lei n.º 3.688, de 3 de outubro de 1941. Agravo desprovido.
1. É entendimento pacificado por esta Corte o de que as contravenções penais são julgadas pela
Justiça Comum Estadual, mesmo se cometidas em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União ou de suas entidades. Súmula n.º 38 desta Corte.
2. Até mesmo no caso de conexão probatória entre contravenção penal e crime de competência
da Justiça Comum Federal, aquela deverá ser julgada na Justiça Comum Estadual. Nessa
hipótese, não incide o entendimento de que que compete à Justiça Federal processar e julgar,
unificadamente, os crimes conexos de competência federal e estadual (Súmula n.º 122 desta
Corte), pois tal determinação, de índole legal, não pode se sobrepor ao dispositivo de extração
constitucional que veda o julgamento de contravenções por Juiz Federal (art. 109, inciso IV, da
Constituição da República).
Precedentes.
3. Agravo regimental desprovido. Mantida a decisão em que declarada a competência do Juízo de
Direito do Juizado Especial Cível da Comarca de Florianópolis/SC para o julgamento da
contravenção penal prevista no art. 68, do Decreto-Lei n.º 3.688, de 3 de outubro de 1941.
(AgRg no CC 118914/SC, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, julgado em 29/02/2012, DJe
07/03/2012)

OBS: Renato Brasileiro sustenta que há exceção, quando a contravenção é praticada


por autoridade com prerrogativa de foro no TRF. Exemplo de contravenção praticada por
Juiz Federal.

Veja Ano: 2014 Banca: TRF - 2ª Região Órgão: TRF - 2ª REGIÃO Prova: TRF - 2ª Região -
2014 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal
Analise as proposições e, ao final, responda:
I – É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados em
detrimento de bens, serviços ou interesse de fundações públicas federais.
II - É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados em
detrimento de bens de concessionária de serviços públicos federais.
III - É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a fauna.
A - Apenas a assertivas I está correta.
B - Apenas as assertivas I e II estão corretas. 32
C - Apenas as assertivas I e III estão corretas.
D - Apenas as assertivas II e III estão corretas.
E - Todas as assertivas estão corretas.
Gabarito: Letra A
questão sobre alguns temas até aqui analisados:

2.2.1.3. CRIMES PREVISTOS EM TRATADOS OU CONVENÇÃO INTERNACIONAL, QUANDO


INICIADA A EXECUÇÃO NO PAÍS, O RESULTADO TENHA OU DEVESSE TER OCORRIDO NO
ESTRANGEIRO, OU RECIPROCAMENTE

Nesses casos, mesmo que o crime tenha sido previsto em tratado ou convenção, caso a
infração se limite às fronteiras brasileiras, a competência será da Justiça estadual. Isso porque a
Constituição determinou a TRANSNACIONALIDADE do crime para que ele seja afeto à
Justiça Federal. Trata-se, pois, de crimes à distância. V.g., o Brasil é signatário de tratado no
qual se compromete a combater o tráfico de entorpecentes. Entretanto, tal crime geralmente será
de competência da Justiça estadual, salvo se houver entrada ou saída de drogas do país, ou seja,
se evidenciada sua transnacionalidade.
Ademais, se o crime tiver conexão internacional, mas não existir tratado ou convenção
internacional prevendo a sua repressão, não se configura a competência da JF. Nesse
sentido:

CC. Injúria. Crime praticado por meio de internet.


A Seção entendeu que compete à Justiça estadual processar e julgar os crimes de injúria
praticados por meio da rede mundial de computadores, ainda que em páginas eletrônicas
internacionais, tais como as redes sociais Orkut e Twitter. Asseverou-se que O SIMPLES FATO
DE O SUPOSTO DELITO TER SIDO COMETIDO PELA INTERNET NÃO ATRAI, POR SI SÓ, A
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. Destacou-se que a conduta delituosa – mensagens de
caráter ofensivo publicadas pela ex-namorada da vítima nas mencionadas redes sociais – não se
subsume em nenhuma das hipóteses elencadas no art. 109, IV e V, da CF. O delito de injúria não
está previsto em tratado ou convenção internacional em que o Brasil se comprometeu a combater,
por exemplo, os crimes de racismo, xenofobia, publicação de pornografia infantil, entre outros.
Ademais, as mensagens veiculadas na internet não ofenderam bens, interesses ou serviços da
União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Dessa forma, declarou-se
competente para conhecer e julgar o feito o juízo de Direito do Juizado Especial Civil e Criminal.
CC 121.431-SE, 3S, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 11/4/2012.
33
O crime em pauta pode ser qualquer um já previsto na legislação penal comum ou especial.
O tratado ou a convenção internacional não o cria – esta tarefa é do legislador ordinário. O papel
do tratado é escolher entre os delitos aqueles que, pelos efeitos de internacionalidade, devem ser
combatidos conjuntamente pelos países. A convenção eleva o crime a uma condição especial a
ponto de passar a ser julgado pela Justiça Federal se ocorrente, na conduta criminosa, um
pressuposto indispensável: a cooperação internacional de agentes, a extraterritorialidade ou a
extensão da conduta ou de seus efeitos a mais de um país.
Alguns crimes que devem ser combatidos em conjunto com outros países por força de
tratados ratificados pelo Brasil:
- tráfico de entorpecentes (Dec. 54.216/64 e Dec. 79.388/77);
- moeda falsa (Dec. 3.074/38);
- transferência ilegal de criança para o exterior e pornografia infantil (Decreto legislativo
28/90 e Dec. 99.710/99);
- tráfico de mulheres (Dec. 5.017/04);
- danificação ou destruição de cabos submarinos;
- infrações praticadas a bordo de aeronaves (Dec. 66.520/70);
- genocídio (Dec. 30.822/52);
- apoderamento ilícito de aeronaves (Dec. 70.201/72);
- tortura (Dec. 40/91 e Dec. 98.386/89);
- atos de violência em aeroportos (Dec. 2611/98);
- crimes contra pessoas que gozam de proteção internacional (Dec. 3167/99)
- tomada de reféns (Dec. 3517/00);
- crimes de corrupção ativa e tráfico de influência nas transações comerciais internacionais
(Decreto 3.678/00).
- Não constata a transnacionalidade, a competência permanece estadual:
Ementa: habeas corpus. Alegação de vício procedimental. Competência para processar e
julgar crime de incitação à discriminação cometido por meio da internet. Ofensas dirigidas a
pessoas determinadas. 1. Não se declara a nulidade do ato processual que não houver influído na
decisão da causa. 2. É da Justiça estadual a competência para processar e julgar o crime de
incitação à discriminação racial por meio da internet cometido contra pessoas
determinadas e cujo resultado não ultrapassou as fronteiras territoriais brasileiras. 3.
Ordem denegada.(HC 121283, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Primeira Turma,
julgado em 29/04/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-091 DIVULG 13-05-2014 PUBLIC 14-
05-2014) 34
Crimes de violação de direito autoral e contra a lei de software decorrentes do
compartilhamento ilícito de sinal de TV por assinatura, via satélite ou cabo, por meio de serviços
de cardsharing:
Penal e processual penal. Conflito negativo de competência. Compartilhamento de sinal de TV por
assinatura, via satélite ou cabo. Card sharing. Artigo 109, inciso V, da CF/88. Normativo
internacional vigente. Transnacionalidade da conduta. Competência da justiça federal. 1. De
acordo com o art. 109, V, da Constituição Federal, a competência da jurisdição federal se dá pela
presença concomitante da transnacionalidade do delito e da assunção de compromisso
internacional de repressão, constante de tratados ou convenções internacionais. 2. No caso em
análise, o Ministério Público do Estado de São Paulo, a partir de notitia criminis formulada pela
Associação Brasileira de Televisão por Assinatura, requereu a busca e apreensão de elementos
de prova acerca da prática de crimes de violação de direitos autorais e contra a Lei de Software,
relacionados à atividade de fornecimento ilícito de sinal de TV por assinatura. 3. O requisito
inicial de previsão normativa internacional é constatado pela Convenção de Berna,
integrada ao ordenamento jurídico nacional através do Decreto nº 75.699, de 6 de maio de
1975, e reiterada na Organização Mundial do Comércio - OMC por acordos como o TRIPS
(Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights) - Acordo sobre Aspectos dos
Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (AADPIC), incorporado pelo
Decreto nº 1355, de 30 de Dezembro de 1994, com a previsão dos princípios de proteção ao
direitos dos criadores, além de diversos outros tratados e convenções multilaterais
assinados pelo Brasil, fixando garantias aos patrimônios autorais e culturais. 4. O segundo
requisito constitucional, de tratar-se de crime à distância, com parcela do crime no Brasil e
outra parcela do iter criminis fora do país, é constatado pela inicial prova da atuação
transnacional dos agentes, por meio da internet. 5. Conflito conhecido para declarar
competente o juízo federal da 9ª vara criminal da seção judiciária do Estado de São Paulo, ora
suscitante.
(CC 150.629/SP, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, Terceira Seção, julgado em 22/02/2018, DJe
28/02/2018)

2.2.1.4. CAUSAS RELATIVAS A DIREITOS HUMANOS E O INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE


COMPETÊNCIA

Tanto o inquérito policial quanto o julgamento cabem à Justiça Federal. Se iniciado o IP na


Justiça estadual, deverá ser declinada a atribuição e remetidos os autos à Polícia Federal. A
diferença é que, enquanto o juiz estadual praticará atos que serão nulos, por incompetência 35
absoluta, os atos da polícia estadual são apenas irregulares, podendo ser aproveitados
pela Polícia Federal.
Lembrar que o § 5º do art. 109, acrescentado pela EC nº 45/04, estabelece o seguinte:

§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República,


com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal”.

Importante realizar as seguintes observações:


a) Se o STJ negar o pedido de deslocamento de competência, caberá recurso extraordinário
para o STF;
b) Não houve a criação de foro privilegiado, pois a causa será julgada, se deslocada,
perante a Justiça Federal de primeira instância;
c) Acolhido o pedido de deslocamento da competência, os atos até então praticados são
válidos, pois a autoridade era a competente;
d) O STJ tem considerado como pressuposto para a federalização da competência a
incapacidade das autoridades estaduais de desincumbirem-se de suas funções, motivo pelo
qual será exigido o contraditório, com a oitiva do juiz de direito e do promotor de justiça, os quais
poderão demonstrar que estão cumprindo satisfatoriamente seus deveres e que é desnecessário
o deslocamento.
O deslocamento de competência – em que a existência de crime praticado com grave
violação aos direitos humanos é pressuposto de admissibilidade do pedido – deve atender ao
princípio da proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito),
compreendido na demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações decorrentes
de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta de vontade
política ou de condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder à devida
persecução penal.
Não há que se cogitar em qualquer espécie de diferenciação qualitativa no que tange à
jurisdição prestada no terreno da Justiça Federal diante daquela entregue na seara da justiça dos
Estados. Tampouco se pode afirmar, sob o ângulo estritamente jurídico, que a Justiça Federal
esteja menos sujeita a pressões e ameaças que interfiram na independência do julgamento,
embora aspectos circunstanciais possam, aqui e acolá, revelar essa ocorrência no plano fático
(por exemplo, o fato de a Justiça Federal não estar tão interiorizada, encontrando-se mais 36
próxima, portanto, de centros urbanos onde a presença do Estado é mais sentida pela população).
O ponto central reside na possibilidade de a união ser responsabilizada no plano
internacional mercê do descumprimento de obrigações por ela assumidas – lembre-se que
somente a união pode manter relações com estados estrangeiros e participar de
organizações internacionais (CR, art. 21, I) – em sede de tratados de direitos humanos. E
isso pode se dar exatamente em razão da atuação de um ramo do Judiciário que esteja, na visão
dos órgãos internacionais incumbidos de zelar pelo atendimento a tais tratados, a materializar
grave violação dos direitos humanos.
Por conta disso é que se torna admissível que a União, para evitar ou mesmo remediar essa
afronta aos direitos humanos consagrados pela comunidade das nações e que está a impulsionar
a sua responsabilização no plano internacional, traga para o cenário da Justiça Federal o
destrinchamento do caso, de sorte a que a atuação da Justiça dos Estados não seja o fator
determinante dessa responsabilidade, o que refugiria ao alcance daquele ente federado. Nessa
linha - convém citá-lo - é que palmilha o art. 28 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
(Pacto de São José da Costa Rica, internalizado através do Decreto nº 678/92):
“Artigo 28
1. Quando se tratar de um Estado-Parte constituído como Estado federal, o governo nacional do
aludido Estado-Parte cumprirá todas as disposições da presente Convenção, relacionadas com as
matérias sobre as quais exerce competência legislativa e judicial.
2. No tocante às disposições relativas às matérias que correspondem à competência das
entidades componentes da federação, o governo nacional deve tomar imediatamente as medidas
pertinentes, em conformidade com sua constituição e suas leis, a fim de que as autoridades
competentes das referidas entidades possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento
desta Convenção.”

O IDC também é cabível em matéria de ações de cunho civil, uma vez que os
pressupostos expostos podem perfeitamente restar configurados nessa seara processual.
Sobre o tema, são relevantes os seguintes julgados, especialmente por destacarem todos os
requisitos para a admissibilidade do instituto:

Incidente de deslocamento de competência. Art. 109, § 5º, da Carta Política. Medida


constitucional excepcionalíssima. Requisitos cumulativos. Grave violação a direitos humanos.
Risco de descumprimento do avençado com estados-membros quando da subscrição de tratado 37
internacional. Demonstração da total incapacidade das autoridades locais em propiciarem a
persecução penal. Exame dos pressupostos à luz dos princípios da proporcionalidade e
razoabilidade. Incapacidade, ineficácia e ineficiência. Distinção imprescindível.
1. A Emenda Constitucional n. 45/2004 introduziu no ordenamento jurídico a possibilidade de
deslocamento da competência originária, em regra da Justiça Estadual, à esfera da Justiça
Federal, no que toca à investigação, processamento e julgamento dos delitos praticados com
grave violação de direitos humanos (art. 109, § 5º, da Constituição da República Federativa do
Brasil).
2. A Terceira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, ao apreciar o mérito de casos distintos -
IDCs n. 1/PA; 2/DF; 5/PE -, fixou como principal característica do incidente constitucional a
excepcionalidade. À sua procedência não só é exigível a existência de grave violação a direitos
humanos, mas também a necessidade de assegurar o cumprimento de obrigações internacionais
avençadas, em decorrência de omissão ou incapacidade das autoridades responsáveis pela
apuração dos ilícitos.
3. A expressão grave violação a direitos humanos coaduna-se com o cenário da prática dos
crimes de tortura e homicídio, ainda mais quando levados a efeito por agentes estatais da
segurança pública.
4. A República Federativa do Brasil experimenta a preocupação internacional com a efetiva
proteção dos direitos e garantias individuais, tanto que com essa finalidade subscreveu acordo
entre os povos conhecido como Pacto de San José da Costa Rica. O desmazelo aos
compromissos ajustados traz prejudiciais consequências ao Estado-membro, pois ofende o
respeito mútuo, global e genuíno entre os entes federados para com os direitos humanos.
5. Para o acolhimento do Incidente de Deslocamento de Competência é obrigatória a
demonstração inequívoca da total incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer
respostas às ocorrências de grave violação aos direitos humanos. No momento do exame dessa
condição devem incidir os princípios da proporcionalidade e razoabilidade, estes que, embora não
estejam expressamente positivados, já foram sacramentados na jurisprudência pátria.
6. Não se pode confundir incapacidade ou ineficácia das instâncias e autoridades locais com
ineficiência. Enquanto a incapacidade ou ineficácia derivam de completa ignorância no exercício

38
das atividades estatais tendentes à responsabilização dos autores dos delitos apontados, a
ineficiência constitui a ausência de obtenção de resultados úteis e capazes de gerar
consequências jurídicas, não obstante o conjunto de providências adotadas.
7. Ainda que seja evidente que a ineficiência dos órgãos encarregados de investigação,
persecução e julgamento de crimes contra os direitos humanos, é situação grave e deve
desencadear no seio dos Conselhos Nacionais e dos órgãos correcionais a tomada de
providências aptas à sua resolução, não é ela, substancialmente, o propulsor da necessidade de
deslocamento da competência. Ao contrário, é a ineficácia do Estado, revelada pela total ausência
de capacidade de mover-se e, assim, de cumprir papel estruturante de sua própria existência
organizacional, o fator desencadeante da federalização.
Desnecessidade do deslocamento em inúmeros casos atestada pelo próprio procurador-geral da
república em sua derradeira manifestação. Delitos que foram objeto de investigação, denúncia e
pronunciamento judicial pelas autoridades do estado de goiás. Pleito de rejeição acolhido.
1. Não persistindo mais o desejo de alteração da competência da Justiça Estadual à Justiça
Federal, consoante derradeira manifestação do Procurador-Geral da República, merece ser
adotada parte de sua conclusão para rejeição do pedido: Como se extrai da verificação
individualizada dos diversos feitos mencionados na petição inicial, é inegável reconhecer que,
quanto a alguns deles, não se tem elementos suficientes para afirmar a incapacidade das
autoridades estaduais de fornecerem resposta ainda tempestiva, afastando o risco, neste
momento, de se ter como caracterizada a hipótese de deslocamento de competência (pág.1868).
Deslocamento da competência. Morosidade judiciária que, por si só, não justifica a pretensão.
Adoção de providências diversas mais eficazes. Crimes também alvo de investigação policial e
deflagração de ações penais em trâmite na primeira instância. Causas complexas. Lentidão
processual que não tem o condão de determinar a transferência da competência da Justiça
estadual à justiça federal. Proporcionalidade que recomenda outras medidas. Rejeição do pedido
principal neste ponto.
1. Existindo, mesmo diante de duas (02) ações penais complexas, pela natureza da causa, pelo
envolvimento de agentes estatais e o próprio número de denunciados e vítimas, a investigação
policial que permitiu a oferta de denúncia e resposta pelo Poder Judiciário de 1º Grau, inviável e
desproporcional mostra-se a procedência do pleito de deslocamento. Mesmo sendo perceptível
que os atos não transcorrem em prazo desejável, nessas situações específicas não se encontra
caracterizada a incapacidade, ineficácia, omissão ou mesmo inércia das autoridades constituídas

39
do Estado de Goiás, valendo anotar-se que a morosidade judiciária não é aludida, neste incidente
constitucional, como fundamento direto da pretensão.
2. A excepcionalidade do deslocamento de competência implica que à sua acolhida não é
suficiente a mera confirmação de atraso na prestação jurisdicional, recomendando-se a adoção de
medidas diversas, menos drásticas e, quiçá, mais eficazes, como solução do quadro apontado.
3. Em cinco (05) ações penais referidas pelo Procurador-Geral da República, consoante
demonstram os autos, ocorreu, a priori, a regular investigação por parte das autoridades policiais,
desencadeadora da oferta de denúncia pelo Ministério Público Estadual, após o que, diante da
complexidade dos crimes, iniciou-se um processo ainda não concluído.
4. Apesar de estarmos diante de preocupante atraso na prestação jurisdicional, tal cenário não
revela a incapacidade, ineficácia, omissão ou inércia por parte das autoridades goianas, requisito
indispensável à procedência deste incidente, pois o fator primordial para o deslocamento da
competência é a ineficácia dos órgãos estatais encarregados da investigação, persecução e
julgamento dos crimes.
5. Invocando-se novamente o princípio da proporcionalidade, mostra-se viável e adequada a
implementação de medidas distintas por este Superior Tribunal de Justiça, que poderão trazer
celeridade e eficácia à resposta penal.
Inquéritos policiais referentes a crimes de tortura e supostos homicídios, atribuídos a agentes
estatais, ainda não concluídos. Ausência de fundamento plausível para o grave atraso na
persecução penal. Diligências recentes, após a propositura deste incidente constitucional, que não
indicam solução às investigações. Quadro a demonstrar ineficácia da atuação das autoridades.
Fatos característicos de grave violação a direitos humanos. Procedência, neste particular, do
pleito de deslocamento de competência.
1. Somente após 06 (seis) anos da data do episódio, com a instauração deste incidente e a
realização de uma diligência in loco, os órgãos estatais perceberam o desparecimento de uma
pessoa em circunstâncias que supõem a ocorrência de um homicídio e, então, determinaram a
instauração do competente inquérito policial. Este cenário indica a total ineficácia da atuação das
autoridades locais no caso específico, desnudando situação de grave omissão dos deveres do
Estado, ainda mais quando os órgãos competentes, mesmo formalmente cientes de que um
cidadão havia desaparecido, fato indicador de um delito contra a vida, nada fizeram a respeito de
imediato.
2. D'outra parte, é perceptível, e justifica o deslocamento de competência da Justiça Estadual para

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a Federal, a desarmonia nas atividades destinadas à persecução penal quando, embora se tenha
como reconhecida na fase indiciária a responsabilidade disciplinar dos investigados, não há a
imediata tomada de providências para oferta da imputação penal. No particular, observa-se que, a
despeito da existência de sindicância com o indiciamento de diversos policiais e de inquérito
policial instaurado, passados quatro (04) anos da suposta prática delitiva, as autoridades ainda se
batem pela obtenção de informações a respeito da conclusão ou não do procedimento indiciário.
3. Restando demonstrado, por fim, que somente a deflagração do IDC determinou o impulso à
investigação do desparecimento de dois (02) indivíduos na Comarca de Alvorada do Norte, ao que
tudo indica fruto de atuação ilícita de policiais militares, necessário aqui também o deslocamento
de competência requerido pelo Procurador-Geral da República, mormente quando evidente que
decorridos quase cinco (05) anos do fato e aproximadamente seis (06) meses da diligência in
loco, não se tem notícias de progressão na persecução penal.
4. Incidente de Deslocamento de Competência julgado procedente, em parte, nos termos do voto
do Relator.
(IDC 3/GO, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 10/12/2014, DJe 02/02/2015)
Incidente de deslocamento de competência. Justiças estaduais dos estados da paraíba e de
Pernambuco. Homicídio de vereador, notório defensor dos direitos humanos, autor de diversas
denúncias contra a atuação de grupos de extermínio na fronteira dos dois estados. Ameaças,
atentados e assassinatos contra testemunhas e denunciantes. Atendidos os pressupostos
constitucionais para a excepcional medida.
1. A teor do § 5.º do art. 109 da Constituição da República, introduzido pela Emenda
Constitucional n.º 45/2004, o incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal
fundamenta-se, essencialmente, em três pressupostos: a existência de grave violação a direitos
humanos; o risco de responsabilização internacional decorrente do descumprimento de
obrigações jurídicas assumidas em tratados internacionais; e a incapacidade das instâncias e
autoridades locais em oferecer respostas efetivas.
2. Fatos que motivaram o pedido de deslocamento deduzido pelo Procurador-Geral da República:
o advogado e vereador pernambucano MANOEL BEZERRA DE MATTOS NETO foi assassinado
em 24/01/2009, no Município de Pitimbu/PB, depois de sofrer diversas ameaças e vários
atentados, em decorrência, ao que tudo leva a crer, de sua persistente e conhecida atuação
contra grupos de extermínio que agem impunes há mais de uma década na divisa dos Estados da
Paraíba e de Pernambuco, entre os Municípios de Pedras de Fogo e Itambé.

41
3. A existência de grave violação a direitos humanos, primeiro pressuposto, está sobejamente
demonstrado: esse tipo de assassinato, pelas circunstâncias e motivação até aqui reveladas, sem
dúvida, expõe uma lesão que extrapola os limites de um crime de homicídio ordinário, na medida
em que fere, além do precioso bem da vida, a própria base do Estado, que é desafiado por grupos
de criminosos que chamam para si as prerrogativas exclusivas dos órgãos e entes públicos,
abalando sobremaneira a ordem social.
4. O risco de responsabilização internacional pelo descumprimento de obrigações derivadas de
tratados internacionais aos quais o Brasil anuiu (dentre eles, vale destacar, a Convenção
Americana de Direitos Humanos, mais conhecido como "Pacto de San Jose da Costa Rica") é
bastante considerável, mormente pelo fato de já ter havido pronunciamentos da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, com expressa recomendação ao Brasil para adoção de
medidas cautelares de proteção a pessoas ameaçadas pelo tão propalado grupo de extermínio
atuante na divisa dos Estados da Paraíba e Pernambuco, as quais, no entanto, ou deixaram de
ser cumpridas ou não foram efetivas. Além do homicídio de MANOEL MATTOS, outras três
testemunhas da CPI da Câmara dos Deputados foram mortos, dentre eles LUIZ TOMÉ DA SILVA
FILHO, ex-pistoleiro, que decidiu denunciar e testemunhar contra os outros delinquentes. Também
FLÁVIO MANOEL DA SILVA, testemunha da CPI da Pistolagem e do Narcotráfico da Assembleia
Legislativa do Estado da Paraíba, foi assassinado a tiros em Pedra de Fogo, Paraíba, quatro dias
após ter prestado depoimento à Relatora Especial da ONU sobre Execuções Sumárias, Arbitrárias
ou Extrajudiciais. E, mais recentemente, uma das testemunhas do caso Manoel Mattos, o
Maximiano Rodrigues Alves, sofreu um atentado a bala no município de Itambé, Pernambuco, e
escapou por pouco. Há conhecidas ameaças de morte contra Promotores e Juízes do Estado da
Paraíba, que exercem suas funções no local do crime, bem assim contra a família da vítima
Manoel Mattos e contra dois Deputados Federais.
5. É notória a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas,
reconhecida a limitação e precariedade dos meios por elas próprias. Há quase um
pronunciamento uníssono em favor do deslocamento da competência para a Justiça Federal,
dentre eles, com especial relevo: o Ministro da Justiça; o Governador do Estado da Paraíba; o
Governador de Pernambuco; a Secretaria Executiva de Justiça de Direitos Humanos; a Ordem
dos Advogados do Brasil; a Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado da
Paraíba.
6. As circunstâncias apontam para a necessidade de ações estatais firmes e eficientes, as quais,

42
por muito tempo, as autoridades locais não foram capazes de adotar, até porque a zona limítrofe
potencializa as dificuldades de coordenação entre os órgãos dos dois Estados. Mostra-se,
portanto, oportuno e conveniente a imediata entrega das investigações e do processamento da
ação penal em tela aos órgãos federais.
7. Pedido ministerial parcialmente acolhido para deferir o deslocamento de competência para a
Justiça Federal no Estado da Paraíba da Ação Penal n.º 022.2009.000.127-8, a ser distribuída
para o Juízo Federal Criminal com jurisdição no local do fato principal; bem como da investigação
de fatos diretamente relacionados ao crime em tela. Outras medidas determinadas, nos termos do
voto da Relatora.
(IDC. 2/DF, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, julgado em 27/10/2010, DJe 22/11/2010)

Ano: 2014 Banca: MPE-PR Órgão: MPE-PR Prova: MPE-PR - 2014 - MPE-PR - Promotor
Quanto ao incidente constitucional de deslocamento de competência de um caso criminal da
esfera estadual para a Justiça Federal é correto dizer:
A) Preceitua a Constituição Federal que lei complementar definirá os crimes, conjugados à
comprovação de grave violação de direitos humanos, em relação aos quais caberá o incidente de
deslocamento de competência;
B) O Procurador-Geral de Justiça, do estado federativo do local do crime, é legitimado pela CF
para ajuizar o incidente perante o Superior Tribunal de Justiça;
C) A inoperância do aparato policial do Estado Federativo para solucionar o crime, é um dos
requisitos explicitados na norma constitucional para motivar o deslocamento da competência do
caso criminal para a Justiça Federal;
D) Mesmo que o processo criminal esteja em vias de julgamento, não restará impedida a
propositura do incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal;
E) Conforme estatui a Constituição Federal, cabe ao Procurador-Geral da República propor o
incidente de deslocamento de competência junto ao Supremo Tribunal Federal.
Gabarito: Letra D

2.2.1.5. CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Engloba os crimes previstos nos arts. 197 a 207 do CP, mas somente serão julgados na
Justiça Federal se houver ofensa à coletividade dos trabalhadores, não ofensas individuais. Os
crimes decorrentes de greve são da competência da Justiça federal, porque a greve é um
movimento de defesa da coletividade, é uma deliberação coletiva dos trabalhadores. Todo ato
contrário ou abusivo ao direito de greve caracteriza infração à organização geral do trabalho.
Observem o delito do art. 203 do CP: “frustrar, mediante fraude ou violência, direito 43
assegurado pela legislação do trabalho”. O STJ decidiu que se tal crime for praticado contra um
trabalhador, competirá à Justiça Estadual processar e julgar o feito (CC 108.867/SP, DJe de
19/4/2010).
Até pouco tempo atrás se considerava que o crime de redução à condição análoga à de
escravo (art. 149, CP) era crime contra a organização do trabalho, devendo ser afeto à Justiça
Federal, ainda que praticado em face de somente uma pessoa.
O STF pacificou o tema, para fixar a competência da Justiça Federal:

Recurso extraordinário. Constitucional. Penal. Processual penal. Competência. Redução a


condição análoga à de escravo. Conduta tipificada no art. 149 do Código Penal. Crime contra a
organização do trabalho. Competência da justiça federal. Artigo 109, inciso VI, da constituição
federal. Conhecimento e provimento do recurso.
1. O bem jurídico objeto de tutela pelo art. 149 do Código Penal vai além da liberdade individual, já
que a prática da conduta em questão acaba por vilipendiar outros bens jurídicos protegidos
constitucionalmente como a dignidade da pessoa humana, os direitos trabalhistas e
previdenciários, indistintamente considerados.
2. A referida conduta acaba por frustrar os direitos assegurados pela lei trabalhista, atingindo,
sobremodo, a organização do trabalho, que visa exatamente a consubstanciar o sistema social
trazido pela Constituição Federal em seus arts. 7º e 8º, em conjunto com os postulados do art. 5º,
cujo escopo, evidentemente, é proteger o trabalhador em todos os sentidos, evitando a usurpação
de sua força de trabalho de forma vil.
3. É dever do Estado (lato sensu) proteger a atividade laboral do trabalhador por meio de sua
organização social e trabalhista, bem como zelar pelo respeito à dignidade da pessoa humana
(CF, art. 1º, inciso III).
4. A conjugação harmoniosa dessas circunstâncias se mostra hábil para atrair para a competência
da Justiça Federal (CF, art. 109, inciso VI) o processamento e o julgamento do feito.
5. Recurso extraordinário do qual se conhece e ao qual se dá provimento.
(RE 459510, Relator(a): Min. Cezar Peluso, Relator(a) p/ Acórdão: Min. Dias Toffoli, Tribunal
Pleno, julgado em 26/11/2015, Acórdão Eletrônico DJe-067 DIVULG 11-04-2016 PUBLIC 12-04-
2016)

2.2.1.6. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO E A ORDEM ECONÔMICO-FINANCEIRA

Art. 109 [...]


VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o
44
sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

Nesses casos, não basta que o crime afete o Sistema Financeiro Nacional para que a
competência seja federal, é imprescindível que lei ordinária preveja expressamente que os
crimes serão julgados pela Justiça Federal. É o que ocorre, v.g., na Lei nº 7.492/96. Sendo
assim, mesmo que praticado contra pessoa jurídica de direito privado, é da justiça federal a
competência. Nesse sentido:

“A Turma indeferiu habeas corpus em que alegada a competência da justiça estadual para
processar e julgar os pacientes, denunciados por estelionato e pela suposta prática de crime
contra o Sistema Financeiro Nacional (CP, art. 171 e Lei 7.492/86, art. 5º), consistente na
operação, em instituição financeira de direito privado, de esquema de pagamento de notas frias. A
impetração sustentava que o feito envolveria apenas interesses privados e que os pacientes não
ocupavam, à época dos fatos, cargo de direção ou de administração naquela instituição, o que
afastaria a incidência da referida Lei 7.492/86. Reputou-se que a regra nela contida (‘Art. 26. A
ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público Federal,
perante a Justiça Federal.’) não colidiria com aquela prevista no art. 109, VI, da CR (...). Nesse
sentido, entendeu-se acertada a decisão do STJ que assentara a competência da justiça
federal para o processamento da causa, não obstante o envolvimento de instituição
privada. No ponto, enfatizou-se a presença de interesses da União consubstanciados no
controle, na higidez e na legalidade do Sistema Financeiro Nacional. Ademais, em reforço à
atração da competência da justiça federal para o exame do caso, ressaltou-se que a denúncia
noticiaria que a operação do esquema delituoso utilizara-se da falsificação de documento
supostamente emitido pelo Banco Central do Brasil e que um dos pacientes detinha, à época dos
fatos, poderes e atribuições próprias de gerente de operações.” (HC 93.733).
Processual penal. Factoring. Crime contra o sistema financeiro nacional. Inexistência. Empréstimo
a juros abusivos. Usura. Competência da justiça estadual.
1. A caracterização do crime previsto no art. 16, da Lei n° 7.492/86, exige que as operações
irregulares tenham sido realizadas por instituição financeira.
2. As empresas popularmente conhecidas como factoring desempenham atividades de fomento
mercantil, de cunho meramente comercial, em que se ajusta a compra de créditos vencíveis,
mediante preço certo e ajustado, e com recursos próprios, não podendo ser caracterizadas como
instituições financeiras.
3. In casu, comprovando-se a abusividade dos juros cobrados nas operações de empréstimo,
configura-se o crime de usura, previsto no art. 4°, da Lei n° 1.521/51, cuja competência para 45
julgamento é da Justiça Estadual.
4. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo estadual, o suscitado.
(STJ, CC 98.062/SP, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 25/08/2010, DJe
06/09/2010)
Agravo regimental no conflito de competência. Crime contra o sistema financeiro nacional.
Adequação típica. Inocorrência.
1. A Lei nº 7.492/86, em seu art. 25, elenca os sujeitos ativos dos crimes nela tipificados, os quais
não guardam relação com a função desenvolvida pelos acusados dos crimes ora em apuração.
2. No caso, não se verifica que o cargo ostentado pelos denunciados corresponda a qualquer
daqueles inscritos no art. 25 da Lei acima mencionada, o que afasta a hipótese de o crime ter se
dado em desfavor do Sistema Financeiro Nacional.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ, AgRg no CC 108.909/PR, Rel. Ministro Og Fernandes, Terceira Seção, julgado em
25/08/2010, DJe 20/09/2010)
Os crimes contra a ordem econômico-financeira, no entender da maioria dos doutrinadores,
abarcam os crimes contra o sistema financeiro. Com este posicionamento, entende-se que a Lei
n° 7.492/86 também define crimes que afetam a ordem econômico-financeira.
Entretanto, as leis que definem crimes contra a ordem econômico-financeira strictu sensu
mais conhecidas são, em suma, a Lei n° 8.137/90 e a Lei n° 8.176/91. E, como estes diplomas
legais não têm disposição específica no sentido da competência da Justiça Federal para o
julgamento dos crimes neles previstos, a jurisprudência pacificamente se direcionou a firmar a
competência da Justiça Comum Estadual.
No entanto, a competência federal pode ser firmada, é claro, pela regra geral do inciso IV,
ou seja, se afetar diretamente bens, serviços e interesses da União, suas autarquias e empresas
públicas.

2.2.1.7. CRIMES COMETIDOS A BORDO DE NAVIOS E AERONAVES, RESSALVADA A


COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR

Todos os crimes havidos dentro de navios e aeronaves, sejam culposos ou dolosos,


consumados ou tentados, serão julgados pela Justiça Federal, à exceção das embarcações e
aeronaves militares.
A definição de navio se encontra no art. 11 da Lei nº 2.180/54. Não se consideram navios as
46
canoas, lanchas, botes etc. Crimes praticados a bordo de embarcações pequenas serão
julgados na Justiça estadual, salvo, evidentemente, se forem os crimes federais.
O STJ restringiu ainda mais o conceito de navio, adotando o conceito de pontencial
deslocamento para atrair a competência da Justiça Federal:

Conflito de competência. Desenvolvimento clandestino de atividades de telecomunicação.


Crime cometido a bordo de navio ancorado no porto de Paranaguá. Situação de potencial
deslocamento. Competência da justiça federal.1. A Constituição Federal, em seu art. 109, IX,
expressamente aponta a competência da Justiça Federal para processar e julgar "os crimes
cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar". 2. Em
razão da imprecisão do termo "navio" utilizado no referido dispositivo constitucional, a doutrina e a
jurisprudência construíram o entendimento de que "navio" seria embarcação de grande porte o
que, evidentemente, excluiria a competência para processar e julgar crimes cometidos a bordo de
outros tipos de embarcações, isto é, aqueles que não tivessem tamanho e autonomia
consideráveis que pudessem ser deslocados para águas internacionais. 3. Restringindo-se
ainda mais o alcance do termo "navio", previsto no art. 109, IX, da Constituição, a
interpretação que se dá ao referido dispositivo deve agregar outro aspecto, a saber, que ela
se encontre em situação de deslocamento internacional ou em situação de potencial
deslocamento. 4. Os tripulantes do navio que se beneficiavam da utilização de centrais
telefônicas clandestinas, para realizar chamadas internacionais, pertenciam a embarcação que
estava em trânsito no Porto de Paranaguá, o que caracteriza, sem dúvida, situação de potencial
deslocamento. Assim, a competência, vista sob esse viés, é da Justiça Federal.
5. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal e Juizado Especial de Paranaguá
- SJ/PR.
(CC 118.503/PR, Rel. Ministro Rogerio Schietti Cruz, Terceira Seção, julgado em 22/04/2015, DJe
28/04/2015)

Em relação às aeronaves, não importa o porte, todos os crimes nelas cometidos serão
julgados na Justiça Federal, estejam elas em voo ou em solo.
A competência da Seção Judiciária, segundo a jurisprudência pátria, firma-se pelo primeiro
porto ou aeroporto onde o navio ou aeronave aportar ou pousar após o crime.
E é evidente que o navio ou a aeronave, se estrangeiros e privados, devem estar navegando
ou sobrevoando o território brasileiro, que, no caso do mar territorial, estende-se até o limite de 12
(doze) milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e
insular brasileiro, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas 47
oficialmente no Brasil (art.1°, Lei nº 8.617/93). Não se aplica a lei brasileira se o navio ou
aeronave estrangeiro, ainda que em território nacional, for de natureza pública ou a serviço de
outro governo (Código Penal, art. 5°, §2°).
Se o navio ou a aeronave for brasileiro, e não se encontrar em território estrangeiro (salvo se
de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro), a competência para o crime será da
Justiça Federal. Trata-se, por ficção, de uma extensão do território nacional (Código Penal, art. 5°,
§1°). Mas, ainda que em território estrangeiro, o crime praticado em aeronaves ou embarcações
brasileiras de natureza privada fica sujeito à Justiça Federal desde que o crime não seja julgado
no estrangeiro (Código Penal, art. 7°, II, c).
ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE: Compete à justiça estadual julgar crimes cometidos no
interior de balão de ar quente tripulado, por não se enquadrar no conceito de aeronave
(STJ, 3 seção, CC 143.400-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas. Julgado em 24/04/2019).

2.2.1.8. CRIMES DE INGRESSO OU PERMANÊNCIA IRREGULAR DE ESTRANGEIRO

O mero ingresso de estrangeiro irregularmente no território nacional não é crime, tão-


somente infração administrativa sujeita à sanção de deportação. O que será julgado é o crime
cometido pelo estrangeiro para regularizar ou perpetuar a sua permanência no Brasil. Assim, é
típico o ato praticado pelo estrangeiro para alcançar a apontada finalidade, como o registro falso
de nascimento, o uso de documento falso, ou a falsidade ideológica. (competência Federal)
Os crimes são:
a) Reingresso de estrangeiro expulso - art. 338, CP;
b) Fraude de lei sobre estrangeiro - arts. 309 (usar nome falso para ingressar) e parágrafo
único (atribuir a estrangeiro falsa qualidade), CP;
c) Art. 232-A, CP (promoção de migração ilegal – Lei 13.445/2017).
CASUÍSTICA: Compete à Justiça Federal apreciar o pedido de medida protetiva de
urgência decorrente de crime de ameaça contra a mulher cometido por meio de rede social
de grande alcance, quando iniciado no estrangeiro e o seu resultado ocorrer no Brasil.CC
150.712/SP, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
10/10/2018, DJe 19/10/2018).

2.2.1.9. DISPUTAS SOBRE DIREITO INDÍGENAS

Somente são de competência da Justiça federal os crimes que afetem a coletividade


indígena. Nesse sentido:
Súmula 140, STJ: “Compete à Justiça comum estadual processar e julgar crime em que o
indígena figure como autor ou vítima”. Isso prevalece mesmo se o índio estiver ainda sob a tutela 48
da FUNAI, sendo considerado aculturado.
Sobre o tema, os seguintes julgados:

Penal e processual penal. Conflito negativo de competência. Denúncia que envolve crimes
de favorecimento à prostituição, submissão à prostituição, rufianismo, venda de bebidas alcoólicas
a adolescentes e formação de quadrilha, praticados com participação de índios e com exploração
sexual de adolescentes indígenas. Inexistência de crimes relacionados a disputa sobre direitos
indígenas. art. 109, XI, da CF/88. Súmula 140/STJ. Incidência. competência do juízo de direito da
comarca de coronel Bicaco/rs. I. Os delitos praticados são crimes comuns, que não se relacionam
com disputa sobre direitos indígenas, na forma do art. 109, XI, da CF/88. II. O Plenário do
Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de que a competência da Justiça
Federal, fixada no art. 109, XI, da Constituição Federal, "só se desata quando a acusação
seja de genocídio, ou quando, na ocasião ou motivação de outro delito de que seja índio o
agente ou a vítima, tenha havido disputa sobre direitos indígenas, não bastando seja
aquele imputado a silvícola, nem que este lhe seja vítima e, tampouco, que haja sido
praticado dentro de reserva indígena." (STF, RE 419.528, Rel. p/ acórdão Ministro Cezar
Peluso, Pleno, DJU de 09/03/2007, p. 26). III. Caso é de aplicação da Súmula 140/STJ: "Compete
a Justiça Comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou
vítima." IV. Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo de Direito da Comarca de
Coronel Bicaco/RS, o suscitado. (CC 38.517/RS, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Terceira
Seção, julgado em 24/10/2012, DJe 31/10/2012)
Conflito negativo de competência. Crimes de calúnia e difamação entre índios. Súmula 140/STJ.
Não incidência. Disputa relacionada à liderança e ocupação da aldeia Wahuri, do povo javaé, na
Ilha do Bananal. Interesse de toda a comunidade indígena. art. 109, XI, e art. 231 da Constituição
da República. competência da justiça federal.
1. Em regra, a competência para processar e julgar crime que envolva índio, na condição de réu
ou vítima, é da Justiça Estadual, conforme preceitua o enunciado nº 140 da Súmula desta Corte,
segundo o qual: "Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena
figure como autor ou vítima." 2. Todavia, a competência será da Justiça Federal toda vez que a
questão versar acerca de disputa sobre direitos indígenas, incluindo as matérias referentes à
organização social dos índios, seus costumes, línguas, crenças e tradições, bem como os direitos
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, conforme dispõem os arts. 109, XI, e 231, ambos
da Constituição da República de 1988. 3. Na hipótese, verifica-se que os fatos narrados no termo
circunstanciado, os quais, em tese, caracterizam crimes de calúnia e difamação, tiveram como 49
causa a situação de conflito na comunidade indígena do Povo Javaé, notadamente a disputa pela
posição de cacique da Aldeia Wahuri, na Ilha do Bananal, atingindo os interesses coletivos de
toda a comunidade indígena, situação que afasta a incidência da Súmula 140/STJ e atrai a
competência da Justiça Federal. 4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo
Federal de Gurupi - SJ/TO, o suscitante. (CC 123.016/TO, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,
Terceira Seção, julgado em 26/06/2013, DJe 01/08/2013)
OBS: Calúnia e difamação praticados na disputa pela posição de cacique: Competência Federal
(STJ. 3ª Seção. CC 123016-TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013 (Info 527).

2.2.1.10. HC E MS EM MATÉRIA CRIMINAL

Será de competência da Justiça federal quando a autoridade coatora ou o impetrado for


autoridade federal, ressalvada a competência dos tribunais superiores.

2.2.1.11. JÚRI FEDERAL

Ocorrerá nas seguintes hipóteses:


a) Homicídio contra servidor federal, no exercício da função;
b) Homicídio, infanticídio, induzimento ao suicídio ou aborto praticado por funcionário público
federal no exercício da função;
c) Homicídio, induzimento ao suicídio, infanticídio ou aborto praticado a bordo de navio ou
aeronave;
d) Homicídio, induzimento ao suicídio, infanticídio ou aborto praticado contra qualquer
pessoa conexo a crime da competência da Justiça Federal;
e) Art. 29 da Lei de Segurança Nacional.
Havendo concorrência entre a competência do júri e o foro por prerrogativa de função
previsto da CF/88, prevalece este último. Mas se o foro por prerrogativa for instituído por
Constituição Estadual, prevalece a competência do Júri (Súmula 721, STF). A previsão consta da
Súmula Vinculante 45: A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o
foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.
Se houver conexão entre crime contra a vida e outro crime federal, ambos deverão ser
julgados por Júri Federal, salvo se o autor tiver prerrogativa de função perante tribunal
prevista na Constituição da República, hipótese em que esta prevalecerá.
O júri federal encontra uma breve previsão legal no Decreto-Lei nº 253/67.
Importante Jurisprudência:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. ROUBO ARMADO A AGÊNCIA DOS


50
CORREIOS. TENTATIVA DE HOMICÍDIO CONTRA POLICIAIS MILITARES ESTADUAIS.
CONEXÃO. OCORRÊNCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO.
1. Há precedentes desta Corte reconhecendo a competência da Justiça comum Estadual para
julgar o crime de homicídio praticado contra policiais militares estaduais, ainda que no
contexto do delito federal de contrabando. (CC 153.306/RS, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 22/11/2017, DJe 29/11/2017.) 2. Situação diversa, entretanto, é aquela em que o
crime contra a vida em desfavor de agentes estatais, consumado ou tentado, é praticado no
contexto de crime de roubo armado contra órgãos, autarquias ou empresas públicas da
União. Isso porque, nesta hipótese, a íntima relação entre a violência, elementar do crime de
roubo, e o crime federal (roubo armado) atrai a conexão.
3. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 11ª Vara da Seção
Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul, o suscitado.
(CC 165.117/RS, Rel. Ministro RIBEIRO DANTAS, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 23/10/2019,
DJe 30/10/2019)
2.2.2. TRIBUNAL DO JÚRI

Possui competência mínima determinada na Constituição da República, a qual poderá ser


ampliada por lei federal infraconstitucional. Além disso, há ampliação em razão de conexão.
A ele compete o julgamento dos crimes contra a vida, NA FORMA TENTADA OU
CONSUMADA, quando praticados por agentes sem prerrogativa de foro prevista na CR/88. Se a
prerrogativa de foro for prevista na Constituição Estadual, prevalece a competência do Júri.
Compete ao tribunal do Júri:
a) Julgar os crimes dolosos contra a vida praticados por ou contra indígena, se não envolver
interesse da coletividade indígena (júri estadual);
b) Julgar os réus que praticaram crime contra a vida quando em concurso com pessoas que
possuem prerrogativa de foro prevista na CR/88 (Nos termos da Súmula 721, do STF, haverá a
SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE PROCESSOS);

OBS: Súmula vinculante 45-STF: A competência constitucional do tribunal do júri prevalece


sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual.
Assim, se um vice-governador com foro previsto na Constituição estadual perante o TJ pratica
crime contra a vida, será julgado pelo Tribunal do Júri. Se o mesmo governador pratica crime de
estelionato, será julgado no TJ respectivo. 51
Concurso entre júri e jurisdição comum ou especial: se um crime doloso contra a vida for
conexo a um crime comum, ambos irão a Júri. Havendo concorrência entre crime doloso contra a
vida e infração de menor potencial ofensivo, ambos irão a júri, devendo, quanto ao último, ser
oportunizada a transação penal e a composição civil dos danos. Havendo concorrência de júri e
crime de competência da Justiça Federal, ambos deverão ser julgados por um júri a ser realizado
na esfera federal. Havendo concorrência entre crime de júri e crime de competência da
justiça especializada, os processos deverão ser separados.
No procedimento do Júri, é necessária a realização da seguinte distinção:
a) Se o juiz impronunciar o réu ou o absolver sumariamente, havendo infrações conexas,
deverá remeter os autos ao juízo competente, não se observando a perpetuação da jurisdição;
b) Se, no plenário, os jurados desclassificarem o crime doloso contra a vida, o julgamento
não só deste, mas também dos conexos, fica afeto ao juiz Presidente.
c) Já se os jurados absolverem o réu, estão reconhecendo que são competentes para o
feito, e por isso continuam aptos para apreciar as infrações conexas.
IMPRONÚNCIA OU ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA Remessa dos crimes conexos ao
juízo competente (art.81 CPP)
DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME NO PLENÁRIO Juiz Presidente julga os crimes
(att492, §1 CPP)
ABSOLVIÇÃO DO RÉU PELO CS Conselho de sentença julga também
infrações conexas

2.2.3. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL

A Constituição não arrola os crimes que cabem à Justiça Estadual. Arrola apenas os crimes
da Justiça Comum Federal, deixando à Justiça Estadual a competência residual, ou seja, de julgar
todos os crimes que não caibam àquela. Isso não torna a competência da Justiça Estadual
relativa. A competência da Justiça estadual é absoluta, para julgar os crimes estaduais. Por
exemplo: se o sujeito for pego portando arma, transitando de um estado da federação para outro,
a Justiça Federal é absolutamente incompetente para processar e julgar esse crime, sendo
absoluta a competência da Justiça Estadual.
Necessária, portanto, a análise da súmula 122, STJ: “Compete à Justiça Federal o processo
e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a
regra do artigo 78, II, ‘a’1, do CPP”.Assim como a competência da Justiça Estadual, a da Justiça 52
Federal também é absoluta. Contudo, não haveria ofensa à Constituição com a atribuição a esta
Justiça da competência de julgar crime daquela?Não, desde que efetivamente haja conexão. Ou
seja, sendo os fatos efetivamente intrincados, havendo estrita relação objetiva, subjetiva ou
teleológica, com impossibilidade de separação dos julgamentos sob pena de inviabilizar o
exercício da jurisdição, é mister que a Justiça Federal conheça dos delitos eis que as hipóteses de
sua competência são expressas na Constituição da República.
Tal verbete deve ser interpretado de maneira restritiva, cum grano salis. Sua incidência se
reserva aos casos em que de fato há conexão de crimes, clara e suficiente para retirar a
competência, também absoluta, da Justiça Comum Estadual. É que o Juízo Estadual é o juiz
natural em matéria de crimes estaduais. Embora se saiba que a Súmula 122 do STJ não agride
esse postulado, a jurisprudência não tem olvidado essa circunstância. Assim é que inúmeros
julgados têm revelado que a aplicação desse enunciado sumular se restringe a situações nas

1 Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras:
(Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
[...]
Il - - no concurso de jurisdições da mesma categoria: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; (Redação dada pela Lei nº
263, de 23.2.1948)
quais efetivamente comprovada hipótese de conexão, não sendo suficientes meras circunstâncias
casuais a ligarem os delitos da alçada estadual a crimes da órbita federal.
Lembre-se, a propósito, que, de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, a
“competência federal há de se ajustar aos casos de ofensa concreta. Deve se limitar àquelas
infrações diretamente praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses a que se refere o
artigo 109, IV, da CF/88, e não aos casos de ofensa indireta, ou reflexa, que, de um modo ou de
outro, sempre ocorrerá”.
Assim, em uma interpretação contrario sensu, se houver frágil ligação circunstancial,
os delitos serão, em verdade, autônomos. O simples fato de a apuração de crimes da
alçada da Justiça Federal e da Justiça Estadual ter se iniciado a partir de uma mesma
diligência (ex.: prisão em flagrante ou busca e apreensão) não representa liame
circunstancial suficiente a autorizar o processamento conjunto perante a Justiça Federal.

2.3. COMPETÊNCIA RATIONE LOCI OU TERRITORIAL

A norma geral de determinação da competência territorial está determinada no art. 70 do


CPP: “a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração ou,
no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”.
Existem três teorias a respeito do local do crime:
53
a) Teoria da atividade: competência seria determinada pelo local da ação ou da omissão. É
adotada nas hipóteses de crime tentado e, segundo Ada Pellegrini Grinover, Antônio
Magalhães Gomes Filho, Antônio Scarance Fernandes e Luiz Flávio Gomes, no âmbito dos
Juizados Especiais Criminais: "A competência de foro será estabelecida pelo lugar em que for
praticada a infração penal, ou seja, onde esgotados todos os meios ao alcance do autor do fato,
independentemente do lugar em que venha a ocorrer o resultado” (Juizados especiais
criminais: comentários à Lei 9.099, de 26.09.1955. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2005, p. 90).
No caso do crime de homicídio iniciado em um local e consumado em outro, a
jurisprudência admite a competência da comarca em que houve a ação. Isso para facilitar a
colheita de provas.
b) Teoria do resultado: o juízo competente é o do local onde se consumou o delito, sendo
esta a teoria que prevalece, principalmente nos crimes plurilocais, onde os atos executórios
ocorrem em local distinto do resultado2. No caso de crimes em que o resultado qualificado

2 Há uma corrente doutrinária que defende que se houver homicídio plurilocal, deve prevalecer a teoria da
atividade, e não do resultado. Fala-se, por exemplo, em homicídio plurilocal, naqueles casos em que a conduta típica é
ocorre em local distinto do lugar da ação, o STJ tem decisões estabelecendo a competência no
local em que se consumou o resultado qualificador, seguindo a regra do art. 70:

“1. Hipótese na qual a defesa alega que os réus estão sendo processados por juízo
incompetente, pois o crime apurado consumou-se na Comarca de Dourados⁄MS, eis que a mera
subtração do veículo no município de Angélica não teria o condão de fixar a competência naquela
comarca.
2. Nos crimes qualificados pelo resultado, fixa-se a competência no lugar onde ocorreu o evento
qualificador, ou seja, onde o resultado morte foi atingido, assim, tendo os corpos das vítimas do
latrocínio sido encontrados na Comarca de Dourados, e havendo indícios de que lá foram
executadas, a competência se faz pela regra geral disposta nos arts. 69, I e 70, "caput", do CPP.”
(RHC 22295/MS, Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora convocada do TJMG), j. 28/11/2007)

SÚMULA 521 STF O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local
onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.

Quanto ao falso testemunho por meio de carta precatória, a competência é do juízo onde foi
prestado o depoimento, ou seja, onde o delito foi consumado. 54
c) Teoria da ubiquidade ou eclética: é aplicada em relação aos crimes cuja atividade se
iniciou no Brasil, mas o resultado se deu em outro país, ou vice-versa (crimes à distância). Serve
para definir a competência internacional da Justiça brasileira.
Nesses delitos, o próprio CPP (art. 70, §1º e 2º), além do CP (art. 6º), indica que deve ser
considerado como local do crime tanto o lugar da ação quanto aquele em que ocorreu ou
deveria ter ocorrido o resultado. O processo desses crimes, cometidos fora do território
nacional, é disciplinado no art. 88 do CPP, que indica que será competente (i) a Justiça estadual
da capital do Estado onde por último residiu o acusado, ou (ii) a Justiça estadual da capital da
República, se jamais houver residido no Brasil.

realizada em lugar e o resultado morte sobrevém em outro. É no lugar da prática da conduta típica que está a prova. A
prova do crime, o local do crime, as testemunhas, tudo está no local da realização da conduta típica. A busca da
verdade real, a facilitação da instrução criminal, justificariam essa solução. Os defensores dessa posição se valem
unicamente do art. 6º do CP para defendê-la. Essa posição é aceita pelo STJ, mas o Supremo tem uma posição mais
conservadora. As decisões do supremo neste assunto aplicam o art. 70, negando a possibilidade de reconhecer a
competência do juiz do lugar da prática dos atos de execução. Primeiro porque razões de ordem prática não
autorizam a inobservância da lei, isso tem que ser considerado pelo legislador da reforma da lei. O art. 6º, diz o
Supremo, não tem nada a ver com esse assunto. A competência territorial é definida no CPP e o art. 70 adotou o critério
do locus comissi delicti. O art. 6º do CP que trata do lugar do crime é uma espécie de norma de direito penal
internacional que justifica a aplicação da lei penal brasileira naqueles crimes que a doutrina chama de crimes a
distância, que não tem nada a ver com os crimes plurilocais.
Será da justiça federal a competência para os crimes previstos em tratados e convenções,
quando, iniciada a execução no Brasil, com resultado no estrangeiro, ou reciprocamente.
OBS: Não confundir crime à distância (mais de um país) com plurilocal (que envolve
duas ou mais comarcas).

2.3.1. DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU

Não sendo conhecido o local da consumação do crime, a competência será determinada


pelo domicílio ou residência do réu (art. 72, caput).
NAS AÇÕES EXCLUSIVAMENTE PRIVADAS, O QUERELANTE PODE OPTAR por propor
a ação no local da consumação ou no domicílio ou residência do réu (art. 73, CPP). Tal faculdade
de escolha não tem cabimento, entretanto, nas ações penais privadas subsidiárias da
pública.

2.3.2. CRITÉRIO SUBSIDIÁRIO – PREVENÇÃO

Caso os critérios anteriores sejam insuficientes para a fixação da competência, será


competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato (art. 72, § 2º, CPP). Ou seja, o juiz
prevento, que recebe a inicial acusatória ou que primeiro despacha na fase de inquérito policial.

PROCESSO PENAL. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. HOMICÍDIO. LOCAL DA


55
CONSUMAÇÃO. INCERTEZA. ART. 70, § 3.º, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. CRITÉRIO
DA PREVENÇÃO.
1. Sendo incerto o local da consumação do delito, em tese ocorrido entre duas Comarcas
limítrofes, é de se aplicar o critério da prevenção, nos moldes do que determina o art. 70, § 3.º, do
Código de Processo Penal. In casu, tendo havido a anterior prática de atos processuais por parte
de um dos magistrados, determinação de busca e apreensão, a ele deve ser atribuída a
competência, em razão da prevenção.
2. Conflito conhecido para julgar competente o JUÍZO DE DIREITO DE ENTRE RIOS - BA, o
suscitante.
(STF, CC 113.174/BA, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO,
julgado em 09/02/2011, DJe 17/02/2011)
Competência. Prevenção. Cautelar. Formação de quadrilha. Crime contra o Sistema Financeiro
Nacional. Lavagem e/ou ocultação de capitais.
Torna-se prevento o juízo que decreta a quebra de sigilo fiscal e ordena a expedição de
mandados de busca e apreensão de bens de investigados por crimes permanentes praticados em
território de duas ou mais jurisdições envolvendo lavagem ou ocultação de capitais contra o
Sistema Financeiro Nacional. Unânime. (TRF1, 3T, Ap 2003.36.00.014442-8/MT, rel. Des. Federal
Tourinho Neto, em 18/03/2013.)

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PUBLICAÇÃO DE


PORNOGRAFIA ENVOLVENDO CRIANÇA OU ADOLESCENTE ATRAVÉS DA REDE MUNDIAL
DE COMPUTADORES - ORKUT. ART. 241 DO ECA. PECULIARIDADES DO CASO
CONCRETO. DÚVIDAS QUANTO AO LOCAL DE ONDE EMANARAM AS IMAGENS PEDÓFILO-
PORNOGRÁFICAS. ART. 72, § 2º, DO CPP. COMPETÊNCIA FIRMADA PELA PREVENÇÃO EM
FAVOR DO JUÍZO ONDE AS INVESTIGAÇÕES TIVERAM INÍCIO.
1. No caso, não há divergências acerca da transnacionalidade necessária à determinação da
competência da Justiça Federal, já que se trata de site de relacionamento internacional - OrKut -
que possibilita a qualquer pessoa dele integrante o acesso dos dados constantes da página em
qualquer local do mundo. 2. Não se olvida que a jurisprudência desta Corte posicionou-se no
sentido de que o delito capitulado no art. 241, da Lei n. 8.069/1990 se consuma com o ato de
publicação das imagens. Contudo, ao que se tem, na hipótese, configurada dúvida quanto ao local
do cometimento da infração, pois não foi possível apurar de onde se partiu (local) a publicação
das imagens e tampouco o responsável pela divulgação das fotos contendo pornografia infantil.
3. Ante a regra contida no § 2º do art. 72 do Código de Processo Penal, firmar-se-á a
competência, no caso, pela prevenção, em favor do Juízo Federal de São Paulo onde as
56
investigações tiveram início.
4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo Federal da 8ª Vara Criminal da Seção
Judiciária de São Paulo - SP, o suscitado.
(CC 130.134/TO, Rel. Ministra MARILZA MAYNARD (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO
TJ/SE), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/10/2013, DJe 21/11/2013)

Nos crimes continuados e permanentes, ocorridos em duas ou mais comarcas ou subseções


judiciárias, a competência também será definida pela prevenção, aquele juiz que primeiro tomar
conhecimento do fato. Somente pode haver prevenção entre foros/juízos igualmente
competentes. Isso porque a prevenção causa a determinação da competência, excluindo
todos os demais órgãos abstratamente competentes.
Prevenção significa antecipação; concorrendo dois ou mais juízes de igual competência,
prevalente é aquele que primeiro pratica atos do processo ou medidas relativas ao mesmo, ainda
que anteriores ao oferecimento da denúncia ou queixa.
Juízes igualmente competentes são aqueles que possuem mesma competência material e
territorial. Juízes com competência cumulativa possuem idêntica competência material, mas
estão situados em foros diferentes. Tem-se as seguintes hipóteses de estabelecimento da
prevenção:
a) Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais comarcas/subseções judiciárias e a
infração tenha sido praticada em suas divisas (art. 70, § 3º);
b) Tratando-se de crime continuado ou permanente que se estenda pelo território de mais de
uma comarca/seção judiciária (art. 71);
c) Quando não se conhecer o local da consumação do delito ou do domicílio ou residência
do réu (art. 72, § § 1º e 2º).
A fixação da competência por prevenção elimina a hipótese de distribuição do feito
principal, salvo se o juízo que atuou no feito preparatório verificar, posteriormente, que a infração
sob investigação é de sua absoluta incompetência.
Importante: a inobservância da regra da competência por prevenção é caso de nulidade
relativa, somente podendo ser suscitada até o momento da defesa preliminar. Após, há
preclusão: Súmula 706, STF: “É relativa a nulidade decorrente da inobservância da competência
penal por prevenção.

EMENTA: - PENAL. PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. COMPETÊNCIA.


PREVENÇÃO. EXIGÊNCIA DE DISTRIBUIÇÃO. NULIDADE RELATIVA. INOCORRÊNCIA DE
PREJUÍZO PARA A DEFESA. CPP, art. 563. I. - A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é
57
no sentido de que a regra do art. 83 do Código de Processo Penal deve ser entendida em
conjugação com o parágrafo único do art. 75, de modo que a decretação de medidas urgentes,
em procedimentos que não obedeceram à regra de distribuição, não previnem a competência do
juiz. II. - A inobservância dessa regra gera nulidade meramente relativa, passível de
reconhecimento apenas quando evidenciado o prejuízo para a defesa que, no caso, não
restou demonstrado. III. - H.C. indeferido.
(STF, HC 83086, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Segunda Turma, julgado em 16/12/2003,
DJ 12-03-2004 PP-00052 EMENT VOL-02143-03 PP-00588)

Uma vez fixada a competência por prevenção, fica excluída a possibilidade de


distribuição processual.
Há um caso que chama a atenção ante a especial relevância. Como se viu, o CPP fixa a
competência, via de regra, pelo local da consumação do resultado naturalístico. No entanto, no
caso de crimes contra a vida, a competência tem sido fixada de acordo com a teoria da
atividade, ante a maior facilidade de se levantar provas e apurar o delito, conforme o
seguinte informe noticiado no informativo 715 do STF:
Competência e crime plurilocal
A 1ª Turma negou provimento a recurso ordinário em habeas corpus no qual se pretendia a
declaração de incompetência do juízo processante para que a ação penal fosse remetida à
comarca em que ocorrido o resultado naturalístico — morte — do delito de homicídio culposo
imputado a médica (CP, art. 121, § 3º c/c o § 4º). Na espécie, a recorrente fora denunciada porque
teria deixado de observar dever objetivo de cuidado que lhe competiria em sua profissão e agido
de forma negligente durante o pós-operatório da vítima, inclusive em afronta ao que disporia o
Código de Ética Médica. No acórdão recorrido, o STJ mantivera a competência do lugar em que
se iniciaram os atos executórios do delito de homicídio culposo, uma vez que facilitaria a apuração
dos fatos e a produção de provas, bem assim garantiria a busca da verdade real. Ratificou-se
manifestação do Ministério Público, em que assentado ser possível excepcionar a regra do art. 70,
caput, do CPP (“A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução”) para
se facilitar a instrução probatória. Esclareceu-se que o atendimento médico teria ocorrido em um
município e a vítima falecera noutro. Enfatizou-se estar-se diante de crime plurilocal a justificar a
eleição do foro em que praticados os atos. 58
RHC 116200/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 13.8.2013. (RHC-116200)

Portanto, são hipóteses legais de utilização da regra de prevenção:


a) CRIME NA DIVISA DE DUAS OU MAIS JURISDIÇÕES
Havendo (i) incerteza quanto à localização exata da divisa das jurisdições, (ii) incerteza
quanto ao local exato do delito, (iii) infrações que alcançam jurisdições distintas.
b) CRIMES CONTINUADOS E PERMANENTES PRATICADOS EM MAIS DE UMA
JURISDIÇÃO
c) QUANDO INCERTO O LOCAL DA INFRAÇÃO
1. RÉU SEM RESIDÊNCIA CERTA OU COM PARADEIRO INCERTO
2. RÉU COM RESIDÊNCIAS EM COMARCAS DIFERENTES
3. CORRÉUS COM RESIDÊNCIAS EM COMARCAS DIFERENTES
Nesses casos, será firmada a competência pela prevenção desde que não seja conhecido o
local da infração. Nos casos de réu sem residência certa ou com paradeiro incerto, o CPP fala
expressamente que “será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato”.
d) CASOS EM QUE DOIS JUÍZES COMPETENTES EM RAZÃO DE CONEXÃO OU
CONTINÊNCIA
Será resolvida a competência pela prevenção quando não houver outro meio previsto em lei
no art. 78, I e II.
Atos de natureza puramente administrativa, como despacho em inquérito concedendo
prazo maior para sua conclusão, não tornam o juízo prevento, nem aqueles atos no curso
dos plantões judiciários realizados após o expediente, tendo em vista que serão
considerados atos emergenciais.

2.3.3. CRIMES PRATICADOS A BORDO DE NAVIOS OU AERONAVES

Em relação à competência material, já foi visto que é da Justiça Federal. Já em relação à


competência territorial, temos que:
Viagens nacionais: é competente o local onde primeiro pousar ou primeiro atracar a
aeronave ou o navio, após a ocorrência da infração, mesmo fora da rota original (art. 89).
Viagens internacionais: se a aeronave vem do estrangeiro para o Brasil, ou parte do
Brasil para o exterior, a competência será fixada, respectivamente, pelo local da chegada
ou da saída. Porém, necessário é lembrar que o crime deve ter sido praticado em solo brasileiro,
ainda que por ficção (art. 90).
Se a embarcação estiver apenas passando por território brasileiro, sendo ela estrangeira e
nela ocorrer um crime, sem afetar a paz interna, o Brasil não irá julgá-lo, face o princípio do 59
direito de passagem inocente, previsto na Convenção de Montego Bay.

2.3.4. CRIMES PRATICADOS NO EXTERIOR

Nos casos em que se aplica o princípio da extraterritorialidade, o juízo competente será o da


capital do Estado onde por último tiver residido o infrator ou, não havendo, será a capital
da República (art. 88, CPP).

2.4. COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO E A QUESTÃO DAS VARAS


ESPECIALIZADAS

Especificada a Justiça (Comum Federal ou Estadual/Militar/etc.) e o foro (comarca/seção


judiciária) competentes, cabe agora a determinação do juízo competente, cujo problema de
definição de competência ocorre apenas em comarcas/subseções judiciárias com mais de um juiz
com igual competência no território.
Se essa situação ocorrer, a competência fixar-se-á pela distribuição. Porém, se a lei de
organização judiciária estabelecer varas especializadas, deve-se observar o critério legal, visto
que varas especializadas possuem competência material (logo, absoluta), aplicando-se
subsidiariamente o da distribuição.
Assim, v.g., se na subseção judiciária de Uberlândia, da seção judiciária de Minas Gerais,
estiverem lotados 03 juízes federais com competência criminal não especializada, os processos
terão julgamento conforme distribuição. Entretanto, se um deles estiver lotado em vara específica
para julgamento de crimes de tóxicos, feitos que versem sobre o crime de tráfico não serão
distribuídos, já que todas as ações criminais com tal objeto serão diretamente encaminhadas ao
juízo especializado.
Se dentre os três juízes com igual competência criminal, um tiver atuado na fase policial,
torna-se, em regra, prevento, não se havendo falar em distribuição (a distribuição, na verdade, já
houve no procedimento preparatório).
Lembrar que AS VARAS ESPECIALIZADAS TÊM COMPETÊNCIA ABSOLUTA EM
RAZÃO DA MATÉRIA:

HABEAS CORPUS LIBERATÓRIO. LAVAGEM E OCULTAÇÃO DE BENS E VALORES E


CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL. PRISÃO PREVENTIVA DECRETADA
PELO JUÍZO DA VARA CRIMINAL FEDERAL DE FLORIANÓPOLIS (SC), ESPECIALIZADA EM
CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO. COMPETÊNCIA RECONHECIDA. PRECEDENTES DO
STJ E STF. MANUTENÇÃO DA PRISÃO DO PACIENTE. ORDEM DENEGADA.
60
1. A questão sobre a criação de Varas Federais especializadas em crimes de lavagem e
ocultação de bens e valores não é nova nesta Corte de Justiça, cujo entendimento cristalizou-se
no sentido da regularidade de tais alterações na organização judiciária federal, fixando-se,
outrossim, a competência absoluta desses juízos, pois determinada em razão da matéria.
[...]
(STJ, HC 104.374/SC, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado
em 21/08/2008, DJe 15/09/2008)

E se houver a criação de vara especializada? Como fica? O STJ já decidiu que o processo
deve ser deslocado para a vara especializada, quando estava em trâmite em vara comum, pois a
competência é absoluta. Evidentemente que todos os atos já praticados permanecerão incólumes.
Nesse sentido:

PROCESSO PENAL. HABEAS CORPUS. SONEGAÇÃO FISCAL. (1) CRIAÇÃO DE VARA


ESPECIALIZADA. MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA. PERPETUATIO JURISDICIONIS.
INOCORRÊNCIA. (2) JULGAMENTO DO PRÉVIO WRIT. TURMA COMPOSTA
MAJORITARIAMENTE POR JUÍZES CONVOCADOS. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL.
SUBSTITUIÇÃO EVENTUAL. CONSTRANGIMENTO. AUSÊNCIA.
1. Não há se falar em nulidade no encaminhamento dos autos de ação penal para outra Vara, em
razão de modificação da Lei de Organização Judiciária, por meio do quê se criou juízo
especializado para apreciar crimes contra a ordem tributária e contra a Administração Pública.
Inexiste, na hipótese, modificação espúria de competência, mas alteração da estrutura judicial a
fim de otimizar a prestação jurisdicional.
2. Não são nulos são os julgamentos de recursos proferidos por Câmara composta,
majoritariamente, por juízes de primeiro grau, por violação ao princípio do juiz natural e aos artigos
93, III, 94 e 98, I, da CR, quando se está diante de substituição eventual, regimentalmente
disciplinada.
3. Ordem denegada.
(STJ, HC 88.282/PE, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA,
julgado em 13/08/2009, DJe 31/08/2009)

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS, LAVAGEM DE


DINHEIRO, SONEGAÇÃO FISCAL ETC. CONEXIDADE ENTRE OS CRIMES. COMPETÊNCIA
DA JUSTIÇA FEDERAL. CRIAÇÃO DE VARA ESPECIALIZADA. REDISTRIBUIÇÃO DOS
FEITOS. COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA, PORTANTO, ABSOLUTA.
1. Entre os vários delitos perpetrados, evidencia-se o liame entre os agentes, pretensamente
61
integrantes de uma organização criminosa, dedicada primordialmente ao tráfico internacional de
drogas, o que enseja a competência da Justiça Federal.
2. A especialização da 3ª Vara Federal de Campo Grande - SJ/MS para os crimes contra o
sistema financeiro nacional e de lavagem de capital implica o estabelecimento de competência em
razão da matéria e, portanto, absoluta, o que determina a remessa dos feitos, mesmo em
andamento, para a Vara Especializada, atraindo, também, as ações conexas.
3. Conflito conhecido, sendo declarado competente o Juízo Federal da 3ª Vara de Campo Grande
- SJ/MS, devendo os autos da ação penal autuada sob o n.º 019.00.004207-0 serem a este
imediatamente remetidos. Medida Cautelar n.º 11.205/MS, em apenso, julgada prejudicada por
perda de seu objeto.
(STJ, CC 57.838/MS, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/04/2006,
DJ 15/05/2006, p. 157)

OBS: No seguinte julgado o STF entendeu pela perpetuatio jurisdiconis, devendo o processo
permanecer na vara originária, com igual competência da posterior criada. Caso importante, por
tratar do triste homicidio de Auditores do Trabalho no Municipio de Unaí.:
EMENTA HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE HOMICÍDIO PRATICADO
CONTRA SERVIDORES FEDERAIS. TRIBUNAL DO JÚRI. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA
FEDERAL. CRIAÇÃO SUPERVENIENTE DE VARA FEDERAL NO LOCAL DO CRIME.
PERPETUATIO JURISDICTIONIS. ARTIGO 3º DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ARTIGO
87 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 1. A superveniente criação de Vara Federal com
jurisdição no Município do local dos crimes não resulta em incompetência do Juízo Federal que
realizou a instrução criminal. 2. No âmbito da Justiça Federal - competência fixada, no caso,
em função do crime de homicídio praticado contra quatro servidores federais no exercício
das suas funções -, a 9ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Belo Horizonte e a Vara
Federal criada posteriormente à instauração das ações penais, em Unaí, local dos crimes,
são Varas de competência geral. 3. Aplicável o princípio da perpectuatio jurisdictionis (art.
87 do Código de Processo Civil c/c art. 3º do Código de Processo Penal), não demonstradas as
situações de excepcionalidade no preceito que o consagra - supressão de órgão do Judiciário ou
alteração de competência em razão da matéria ou da hierarquia. Precedente desta Suprema
Corte. 4. Ordem de habeas corpus denegada, com a cassação da liminar anteriormente
concedida.
(HC 117871, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROSA WEBER,
Primeira Turma, julgado em 28/04/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-128 DIVULG 30-06-
62
2015 PUBLIC 01-07-2015)

2.5. COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE – COMPETÊNCIA ABSOLUTA

Em determinadas situações, cometido um crime – não em virtude da pessoa, mas do cargo


por ela ocupado – a competência para julgamento não é do local onde se deu o fato, mas sim de
um Tribunal. É a chamada competência por prerrogativa de função (ratione personae), prevista no
CPP e em Constituições (Federal e Estaduais). Não se trata de privilégio (daí a inconveniência da
denominação foro privilegiado), como costumeiramente afirmado, mas de verdadeira garantia à
sociedade, já que se busca um julgamento mais imparcial e isento. Muito mais nocivo seria deixar
a critério de um outro promotor da cidade de Ribeirão Preto, que mantém vínculo com o autor do
crime, a decisão de denunciar ou não o colega ou tolerar-se que um dos juízes da comarca,
também muito próximo ao réu, fosse responsável por seu julgamento.
Quanto à errônea utilização da expressão foro privilegiado, traçamos o quadro abaixo:
PRIVILÉGIO PRERROGATIVA

Exceção da lei comum deduzida da situação de Conjunto de precauções que


superioridade das pessoas que a desfrutam rodeiam a função e que servem para
o exercício desta

É subjetivo e anterior à lei É objetiva e deriva da lei

Tem uma essência pessoal Anexo à qualidade do órgão

É poder frente à lei É conduto para que a lei se cumpra

É próprio das aristocracias das ordens sociais É próprio das aristocracias das
instituições governamentais

Competência originária do STF: A competência por prerrogativa de função, prevista na


Constituição, refere-se ao Supremo Tribunal Federal, ao Superior Tribunal de Justiça, aos
Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça. Assim, cabe ao Supremo Tribunal Federal,
63
nos termos do art. 102, inc. I da Carta, o julgamento, pela prática de crimes comuns, do
Presidente da República e seu vice, Deputados Federais e Senadores, Ministros de Estado e o
Procurador-Geral da República (alínea “b”). E pela prática de crimes comuns, bem como nos
crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e
da Aeronáutica, os membros dos Tribunais Superiores (STF, STJ, TSE, TST, STM), os do
Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente (alínea
“c”). A Lei n° 11.036/2004 equipara à condição de Ministros de Estado “o Chefe da Casa Civil, o
Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, o Chefe da Secretaria de Comunicação de
Governo e Gestão Estratégica, o Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, o Chefe
da Secretaria de Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência da República, o
Advogado-Geral da União, o Ministro de Estado do Controle e da Transparência e o Presidente do
Banco Central do Brasil”.
De se ver, porém, que a alínea “c”, do art. 102, I da CF, faz uma ressalva ao disposto no art.
52, inc. I da Carta, de tal sorte que, nos crimes de responsabilidade, em que são julgados
Presidente e o Vice-Presidente da República, bem como os Ministros de Estado e os
Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, a competência é do Senado Federal. O
mesmo se dará se réus forem Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho
Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da
República e o Advogado-Geral da União (art. 52, inc. II da CF).
Competência originária do Superior Tribunal Justiça: Conforme disposto no art. 105, inc.
I, “a”, da CF, cumpre ao STJ o julgamento, pela prática de crimes comuns, dos Governadores dos
Estados e Distrito Federal. Cabe, ainda, julgar “os Desembargadores e membros dos Tribunais de
Contas dos Estados e Distrito Federal, dos Desembargadores dos Tribunais Regionais Federais,
dos Tribunais Regionais Eleitorais, dos Tribunais Regionais do Trabalho, dos membros dos
Tribunais de Contas dos Municípios e dos membros do Ministério Público da União que oficiem
perante os Tribunais”, pela prática de crimes comuns e de responsabilidade. Tratando-se de crime
de responsabilidade praticado por Governador do Estado, o julgamento se dará na forma prevista
na respectiva Constituição estadual, como previsto na Lei n° 1.079/1950 (art. 78).
Sobre o tema, recente julgado do STJ firmou: O STJ é incompetente para julgar crime
praticado durante mandato anterior de Governador, ainda que atualmente ocupe referido cargo
por força de nova eleição. No caso concreto, assentou a corte que o foro por prerrogativa de
função exige contemporaneidade e pertinência temática entre os fatos em apuração e o exercício
da função pública, sendo que o término de um determinado mandato acarreta, por si só, a
cessação do foro por prerrogativa de função em relação ao ato praticado nesse intervalo, razão
pela qual não possui o STJ competência para julgamento, devendo a ação penal tramitar na 64
primeira instância. STJ. Corte Especial. QO na APn 874-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
15/05/2019 (Info 649).
Competência originária dos Tribunais Regionais Federais: Face ao disposto no art. 108,
inc. I, “a”, da CF, cabe o julgamento pelos TRFs, pela prática de crimes comuns e de
responsabilidade, dos juízes federais (inclusive, juízes da Justiça Militar e da Justiça Trabalhista) e
dos membros do Ministério Público da União que não atuem nos tribunais. Aqueles que atuarem
perante os Tribunais Superiores, como já visto, serão julgados pelo STJ (art. 105, I, “a”, da CF).
Aqui, parte da doutrina entende que é o único caso em que a Justiça Federal julgaria
contravenção, desde que cometida por uma das pessoas listadas acima.
Competência originária dos Tribunais de Justiça: Dispõe a Constituição, ainda, em seu
art. 29, inc. X, que o prefeito municipal será julgado perante o Tribunal de Justiça. Também o
serão os juízes e promotores de Justiça estaduais e do Distrito Federal, nos termos do art. 96, inc.
III, da CF, ainda que se trate de um crime doloso contra a vida. Caso o prefeito municipal cometa
um crime da competência da Justiça Federal, deverá ser julgado pelo respectivo Tribunal Regional
Federal de sua região. Nesse sentido, a Súmula 702 do STF3.

3A competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça comum
estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.
Crime cometido em local diverso daquele perante o qual a autoridade possui a
prerrogativa de função: Imagine-se a situação na qual um promotor de Justiça de São Paulo
venha a cometer um crime no Estado de Minas Gerais. A competência será determinada pelo
local da infração, com julgamento perante o Tribunal de Justiça de Minas Gerais ou prevalecerá a
competência originária do Tribunal de Justiça de São Paulo, onde o agente é promotor? A
doutrina, de forma quase unânime, posiciona-se pela segunda alternativa. De sorte que a
competência ratione personae (por prerrogativa de função), importa em exceção à regra geral do
art. 70 do CPP, que determina a competência pelo local em que consumado o delito (competência
ratione loci). Sendo assim, porque excepcional, prevalece aquela primeira sobre esta última.
Vale observar que esse raciocínio não se restringe aos crimes cometidos por membros do
Ministério Público ou da magistratura. Aproveitando nosso exemplo acima, imaginemos que o
autor do crime, perpetrado no Estado de Minas Gerais, seja um parlamentar do Estado de São
Paulo. O julgamento, neste caso, caberá ao Tribunal de Justiça de São Paulo, por força de
expressa disposição contida na Constituição bandeirante, pela qual “compete ao Tribunal de
Justiça [...] processar e julgar originariamente: nas infrações penais comuns [...] os Deputados
Estaduais” (art. 74, inc. I da CE).
E se um membro do Ministério Público comete um crime da alçada federal? A orientação é a
mesma, e a competência originária para o julgamento será do Tribunal de Justiça, não do Tribunal 65
Regional Federal. Isso porque o art. 108, inc. I, “a”, da Constituição atribui aos Tribunais Regionais
Federais a competência para julgar membros do parquet “da área de sua jurisdição”, isto é,
aqueles que compõem o Ministério Público Federal e não os demais.
A propósito, no que se refere ao Ministério Público, sua lei orgânica nacional (Lei n°
8.625/1993) é expressa ao dispor, no art. 40, inc. IV, que constitui prerrogativa do membro do
parquet “ser processado e julgado originariamente pelo Tribunal de Justiça de seu Estado, nos
crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada exceção de ordem constitucional”.

Crime cometido em local diverso daquele perante o qual a autoridade possui a prerrogativa de
função
“Para julgamento de Membro do Ministério Público, competente é o Tribunal de Justiça do Estado
onde ele exerce sua função, ainda que o delito tenha sido praticado em outro Estado da
Federação” (TJMG – Rel. Gudesteu Biber – RT 712/442).

SOBRE A COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIMES COMETIDOS POR OU CONTRA


MEMBROS DO MPDFT, SEGUE QUADRO RESUMO ELABORADO PELO PROFESSOR MARCIO
ANDRÉ : CAVALCANTE, MÁRCIO ANDRÉ LOPES. CRIMES ENVOLVENDO MEMBROS DO
MPDFTMPDFT. BUSCADOR DIZER O DIREITO, MANAUS. DISPONÍVEL
EM:<HTTPS://WWW.BUSCADORDIZERODIREITO.COM.BR/JURISPRUDENCIA/DETALHES/01931
A6925D3DE09E5F87419D9D55055>. ACESSO EM: 25/01/2020:

SITUAÇÃO QUEM JULGA


Crime praticado contra o MPDFT Justiça do Distrito Federal
(STJ. CC 122.369-DF)
Crime praticado contra membro do MPDFT no Justiça do Distrito Federal
exercício de suas funções. (STJ. CC 119.484-DF)
Crime praticado por Promotor de Justiça do Justiça Federal (TRF da 1ª Região)
MPDFT. (STJ. REsp 336857-DF)
HC contra ato de membro do MPDFT. Justiça Federal (TRF da 1ª Região)
(STJ. HC 67416-DF e STF. RE 418852-DF)
MS contra ato do Procurador-Geral de Justiça Justiça do Distrito Federal (TJDFT)
do MPDFT. (STJ. REsp 1236801-DF)

66
(obs: neste julgado o Relator afirma que o PGJ-
MPDFT é autoridade federal, mas que, por força
de lei, será competente o TJDFT)
MS contra ato do chefe do MPDFT no TRF da 1º Região
exercício de atividade submetida à jurisdição (STJ REsp 1.303.154-DF, Info 587).
administrativa federal

2.5.1. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E POSICIONAMENTO DO STF

No julgamento, perante o Supremo Tribunal Federal, da Ação Penal nº 937, na qual foi
relator o Min. Luís Roberto Barroso (j. em 03.05.2018), se discutiu a questão relativa ao “foro por
prerrogativa de função” no que tange ao parlamentar (deputados federais e senadores). Ao final
do julgamento, por maioria de votos, foi emitida a seguinte tese:

“(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo [a partir da diplomação] e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após
o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em
razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que
seja o motivo”. A partir dessa relevante decisão, conferiu-se nova leitura ao disposto no art. 53, §
1º, da Constituição, segundo o qual “os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma,
serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”.

Importantíssima consequência desse julgado consistiu em se definir que o chamado foro


privilegiado somente tem aplicação aos crimes que, além de cometidos durante o exercício da
função pública, guardam alguma relação com o exercício do cargo (propter officium). A despeito
de alguma dificuldade que possa surgir na definição do que consistiria, exatamente, esse
exercício do cargo, parece óbvio que não faria nenhum sentido que um parlamentar, ainda
que no exercício da função pública, fosse processado perante o STF por, por exemplo, ter
praticado uma lesão corporal contra a esposa.
Efeitos da decisão junto ao Superior Tribunal de Justiça: Com fundamento no princípio
da simetria, ao apreciar questão de ordem na Ação Penal nº. 866 (j. em 07/05/2018), o STJ
aplicou, no âmbito de sua competência, o entendimento firmado pelo STF, determinando o envio
dos autos à Justiça da Paraíba, pela prática de crime por seu governador antes da diplomação no
cargo. Argumentou o ministro Luis Felipe Salomão, com razão e com base na decisão do STF,
que “a mesma lógica deve ser aplicada pelo Superior Tribunal de Justiça em relação às pessoas
detentoras de mandato eletivo com prerrogativa de foro perante ele.”
67
Síntese: Claro que algumas questões ficaram em aberto, já que nem mesmo eram objeto
de debate na ação judicial, razão pela qual não poderia o STF dar solução a todas as alternativas
que se abriram a partir do memorável julgamento. Assim, por exemplo, o julgamento de membros
da Magistratura, do Ministério Público, dos Tribunais de Contas estaduais. E mesmo de prefeitos
municipais, ante a diversidade de tratamento que lhes é dado pelas diversas Constituições
Estaduais. Mas são debates que devem ser enfrentados assim que surgirem na prática.

 ATENÇÃO: No que se refere aos desembargadores, o STJ já levanta a tese de que, crime
comum ou não, o foro deve permanecer, evitando-se constrangimento de ser o réu processado e
julgado por juiz de instância inferior vinculado àquele tribunal. No caso, desembargador havia sido
acusado, perante o STJ, de ter cometido o crime de lesão corporal. Diante da decisão proferida
pelo STF na AP 937, o Ministério Público Federal pediu a remessa do processo à primeira
instância. Mas, por maioria, a Corte Especial do STJ rejeitou o pedido e manteve o foro especial.
De acordo com a decisão, as razões que justificam o foro por prerrogativa ultrapassam aquela
utilizada pelo STF para manter o benefício nos casos em que a autoridade comete o crime no
exercício do cargo e em razão dele, isto é, a liberdade e a independência no exercício das
funções. Subjaz à decisão do STF, com efeito, que se o crime não é cometido no exercício do
cargo nem em razão dele não se justifica a prerrogativa porque a conduta criminosa não tem
ligação com a independência e a liberdade de exercer a função. Mas, no caso de
desembargadores, a Corte Especial do STJ considerou que o foro por prerrogativa não existe para
garantir apenas o pleno exercício das funções do acusado, mas também para garantir que o
julgador reúna as condições de imparcialidade para um julgamento adequado, o que não se
verifica se acusado e julgador são vinculados ao mesmo tribunal. (AP 878, j. 21/11/2018).

2.5.2. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL

Quando praticado um crime por juiz estadual e do Distrito Federal ou por membro do
Ministério Público, como já foi visto, a competência para julgamento é do respectivo Tribunal de
Justiça por força de expressa previsão constitucional (art. 96, inc. III da CF). No âmbito federal,
segundo o art. 108, inc. I, “a”, a Carta, compete aos Tribunais Regionais Federais processar e
julgar, originariamente, nos crimes comuns e de responsabilidade, os membros do Ministério
Público da União. Sucede que ambos os dispositivos fazem ressalva quanto à competência da
Justiça Eleitoral.
De forma que, perpetrado um crime eleitoral por um juiz de direito, a competência
originária para o julgamento será do Tribunal Regional Eleitoral do Estado da Federação ao qual
estiver vinculado o magistrado. É o que se depreende do art. 29, inc. I, “d”, da Lei n° 4.737/1965 68
(Código Eleitoral), ao dispor que compete aos Tribunais Regionais processar e julgar
originariamente “os crimes eleitorais cometidos pelos juízes eleitorais”. Atente-se para o fato de
que a própria Constituição, em seu art. 121, ao tratar da Justiça Eleitoral, conferiu à lei
complementar a possibilidade de dispor sobre a competência dos tribunais eleitorais. À falta,
porém, dessa lei complementar, continuam em pleno vigor as disposições do Código Eleitoral.
Foi omisso este diploma, no entanto, caso cometido um crime eleitoral por um membro do
Ministério Público. Mas por uma análise do texto constitucional (posterior ao Código Eleitoral),
pode-se concluir, sem maior esforço, que a competência, nesse caso, será também do TRE. É
que o art. 96, inc. III da CF, dispõe que cabe ao Tribunal de Justiça o julgamento de membros do
Ministério Público, “ressalvada a competência da Justiça Eleitoral”. Assim, conquanto o Código
Eleitoral não faça menção aos membros do parquet, é de se entender que a ressalva contida na
parte final do dispositivo constitucional desloca, para a Justiça Eleitoral, a competência para julgar
originariamente os membros do Ministério Público, caso cometam um crime eleitoral. De resto, a
simetria que caracteriza ambas as carreiras – da Magistratura e do Ministério Público – a merecer
tratamento igualitário, permite se concluir dessa forma.
A propósito, a Lei Complementar n° 75/1993, que organiza o Ministério Público da União,
elenca dentre as prerrogativas de seus membros, o julgamento pelo respectivo Tribunal Regional
Federal, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral (art. 18, inc. II, “c”).

“A competência penal originária do Tribunal Regional Eleitoral para processar e julgar, nos
crimes eleitorais, agentes públicos que detêm, em razão de seu ofício, prerrogativa de foro
perante o Tribunal de Justiça estadual (como os Deputados Estaduais e os Prefeitos Municipais,
p. ex.) tem sido reconhecida por esta Suprema Corte, na linha da diretriz consagrada na Súmula
702/STF” (STF – Inq. n° 3357-PR – Rel. Celso de Mello, j. 25.03.2014).

Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos.
Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos comuns aos
delitos eleitorais e, em não havendo, remeter os casos à Justiça competente. STF. Plenário. Inq
4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019.

2.5.3. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E FORO “PRIVILEGIADO”

Após alguma divergência jurisprudencial e doutrinária, firmou-se o entendimento no

69
sentido de que ações de improbidade administrativa possuem natureza civil. Lembremos que no
julgamento da ADI 2797, em 15.09.2005, o STF declarou inconstitucionais os §§ 1º e 2º do art. 84,
do CPP, que estendiam o foro por prerrogativa de função também às infrações de improbidade
administrativa.
Portanto, a competência originária do STF, para julgamento de detentores os cargos
listados no art. 102, “b” e “c” da Constituição restringe-se a ações de cunho criminal. Sendo assim,
não compete à mais alta Corte do país o julgamento dessa espécie de ação. Esse posicionamento
foi reafirmado pelo Plenário do STF, em julgamento ocorrido em 10.05.2018, na Petição n. 3240,
na qual foi relator para o Acórdão o Ministro Luis Roberto Barroso.

2.5.4. PRERROGATIVA DE FORO E RENÚNCIA DO MANDATO PARLAMENTAR

O STF, na mencionada AP 937, não somente restringiu o alcance do foro dos


parlamentares federais para os crimes funcionais, como também estabeleceu que, uma vez
publicado o despacho para que as partes apresentem suas manifestações finais (art. 11 da Lei nº
8.038/90), a competência do tribunal deve ser prorrogada para que sejam preservadas a
efetividade e a racionalidade da prestação jurisdicional. Isso evita inclusive manobras processuais
como a ocorrida na Ação Penal 396, no curso da qual, prestes a ser julgado, o parlamentar
renunciou ao mandato para deslocar o processo para a primeira instância. Naquele caso
específico, o pleno do Supremo decidiu pela ineficácia da renúncia para fins de fixação de
competência diante – nas palavras da ministra Cármen Lúcia – de uma “fraude processual
inaceitável”. Estabelecida a perpetuatio jurisdictionis, evitam-se de uma vez por todas manobras
da mesma natureza.

2.5.5. LEI DOS JUIZADOS CRIMINAIS E PRERROGATIVA DE FUNÇÃO:

Caso praticado um crime de menor potencial ofensivo de que trata a Lei 9.099/95, por
agente que detenha a prerrogativa de função, a aplicação das medidas despenalizadoras caberá
ao respectivo órgão que teria competência originária para o processo-crime. Perpetrado, assim,
um crime de menor potencial ofensivo por um deputado federal, caberá ao Supremo Tribunal
Federal homologar a transação penal, pois aquela Corte é competente para o julgamento de
crimes cometidos por membro do Congresso Nacional.

2.5.6. PROCESSAMENTO DE GOVERNADORES PELA PRÁTICA DE CRIME COMUM E


DESNECESSIDADE DA PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA:

Antigo julgado do STF entendia que o STJ, competente para julgar governadores pela
prática de crimes comuns, devia, antes, contar com a autorização da Assembleia Legislativa,
quando competência para tanto fosse estabelecida no âmbito da respectiva Constituição Estadual 70
(RE n. 153.968-BA, Rel. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, j. 06.10.1993). No mesmo sentido: STF -
RE n. 159230, Rel. Sepúlveda Pertence, j. 28.03.1994 (RTJ 158/280). Ou ainda: STF – HC n.
80511, Rel. Celso de Mello, j. 21.08.2001, p. 00049).
Essa questão foi debatida no STJ (AgRg na Ação Penal nº 836 – DF – Rel. Herman
Benjamin, j. 05.10.2016), quando, por votação apertada, foi sufragada a mesma tese, isto é,
segundo aquele Tribunal Superior, o julgamento do governador deve contar com a prévia
autorização da respectiva Assembleia Legislativa. O principal argumento vem extraído do
chamado princípio da simetria, a possibilitar que normas previstas na Constituição (in casu, o art.
86 da Carta, que prevê a necessidade de prévia autorização da Câmara dos Deputados para
julgamento do Presidente da República pelo STF – enquanto no exercício - nas infrações penais
comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade), sejam adotadas por
Constituições Estaduais, desde que, por óbvio, observem a mesma diretriz do preceito
constitucional.
Sucede que, revisitando o tema, o Supremo Tribunal Federal repudiou esse entendimento,
no sentido, portanto, de que o STJ prescinde da prévia autorização da Assembleia Legislativa
local para processamento do governador. Por conseguinte, Constituições Estaduais que
continham esse dispositivo foram alvo de diversas ações diretas de inconstitucionalidade,
concluindo a mais alta Corta do país pela inconstitucionalidade da norma. Nesse sentido, julgadas
em maio de 2017, as ADIs 4764, 4797 e 4798.
O argumento principal reside no fato de que a prévia autorização da Câmara dos
Deputados se justifica em face da altíssima função exercida pelo presidente da República e,
bem por isso, conta com expressa previsão constitucional a respeito (art. 86 da CF). Na
hipótese de governadores, a extensão desse privilégio só faria incentivar o “conluio” entre
Legislativo e Executivo locais. Um dado de cunho prático, nessa linha de raciocínio, foi
lembrado pelo Ministro Luís Roberto Barroso, ao destacar que o STJ solicitou, em 52 vezes, a
autorização das mais diversas Assembleias Estaduais para o processamento do respec tivo
governador. Desses pedidos, 36 nem foram respondidos, 15 foram negados e apenas 1
autorizado, a implicar na mais absoluta impunidade dos Governador es locais.

2.5.7. FORO “PRIVILEGIADO” E CORRÉUS NÃO DETENTORES DE PRERROGATIVA DE


FUNÇÃO

Quando um mesmo fato é cometido por vários agentes, sendo que alguns deles detêm o
foro por prerrogativa de função e outros não, todos os réus devem ser julgados em um feito único.
Suponha-se, assim, um crime cometido por um deputado federal em concurso com outra pessoa
que não possui nenhum cargo público. O julgamento do parlamentar, por força de expressa
71
disposição constitucional, caberá ao Supremo Tribunal Federal. Essa competência originária se
estenderá também ao outro agente, ainda que não possua nenhuma condição pessoal que
justifique a prerrogativa e função, ensejando o julgamento unitário. Regras de competência que
cuidam da conexão e continência, previstas no Código de Processo Penal, justificam a formação
desse litisconsórcio passivo, com o objetivo de impedir que sejam proferidas decisões
contraditórias e, no aspecto prático, que provas se dispersem, em franco prejuízo ao bom
andamento da Justiça. A propósito, vale conferir o enunciado da Súmula 704 do Supremo,
segundo a qual ‘não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal
a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de
um dos denunciados’.
Quando se admite a separação dos processos: A regra geral, como visto acima, é a do
simultaneus processus, a impor que detentor do chamado foro privilegiado e corréu sejam
julgados em um único processo. Uma observação, contudo, é da maior relevância: é que mesmo
o STF, dependendo da análise do caso concreto, tem admitido o desmembramento do processo
para julgamento em separado dos corréus: o detentor de prerrogativa de função diante daquela
Corte e, os demais, perante o juízo comum. Tal entendimento, segundo o Supremo, tem lastro na
dicção do art. 80 do CPP, e se justifica, por exemplo, quando excessivo o número de acusados.
Não há, porém, um critério objetivo a determinar quando é o caso de desmembramento, ou não,
do processo. Como já anotou o STF, “o que ocorre, na prática, é que cada relator, atento às
peculiaridades do caso concreto e no que diz respeito à conveniência da instrução e ao princípio
da razoável duração do processo, decide monocraticamente se procede ou não ao
desmembramento.” (Inq 3507, Rel. Gilmar Mendes, j. 08.05.2014, DJe 11.06.2014)

Quando é possível o desmembramento do processo?


“A presente medida é determinada com apoio no art. 80 do CPP, que autoriza a separação do
feito, presente motivo relevante que torne conveniente a adoção de tal providência, como sucede
nas hipóteses em que se registra pluralidade de investigados e/ou de denunciados” (STF – Inq. n°
3357-PR – Rel. Celso de Mello, j. 25.03.2014).
“A cisão da causa penal, de caráter meramente facultativo, fundada em qualquer das hipóteses
previstas no art. 80 do CPP (dentre as quais, a ocorrência de motivo relevante que torne
conveniente a adoção de referida separação), pode efetivar-se, de modo legítimo, sempre a
critério do órgão judiciário competente, ainda que configurada, na espécie, a existência de vínculo
de conexidade ou de relação de continência e não obstante presentes, no procedimento
persecutório, investigados detentores de prerrogativa de foro” (STF – Inq n° 2601 QO- RJ – Rel.
Celso de Mello, j. 20.10.2011, DJe 16.05.2013).
72
 ATENÇÃO: Diante da decisão proferida pelo STF na AP 937, na qual se restringiu o foro
dos parlamentares federais para crimes funcionais, parece mais coerente com o espírito dessa
decisão não mais se estender o foro para corréus sem essa prerrogativa.

2.6. COMPETÊNCIA ABSOLUTA X COMPETÊNCIA RELATIVA

A incompetência relativa é instituto dilatório do processo, já que não o extingue caso


acolhida, apenas faz com que o juízo excepto remeta os autos ao juízo competente. Caso ela não
seja suscitada em tempo hábil, haverá a prorrogação, restando preclusa a oportunidade para
tanto.
As partes só podem alegar a incompetência relativa dentro do prazo para apresentar a
defesa prévia, que é de 10 dias.
Segundo o art. 567 do CPP, a incompetência do juízo anula somente os atos
decisórios. Para Nestor Távora, em se tratando de incompetência absoluta, deverá ocorrer a
anulação de todos os atos. Isso, porém, é controvertido na doutrina, e, nos tribunais, há
orientação de que mesmo no caso de incompetência absoluta é possivel a ratificação de atos
decisórios:

“Eventual reconhecimento da incompetência do Juízo da 1ª Vara Criminal da comarca de


São Luís⁄MA não tem o condão de anular os decretos de prisão expedidos em desfavor do
paciente, uma vez que é pacífico neste Superior Tribunal de Justiça que mesmo nos casos de
incompetência absoluta é possível a ratificação dos atos decisórios, o que reforça a inexistência
de ilegalidade passível de ser sanada na via eleita” (STJ, AgRg no HC 467.614/MA, Rel.Min.
Jorge Mussi, 20/09/2018).

No processo penal, somente o critério territorial é relativo; todos os demais são


absolutos.

2.7. DISTRIBUIÇÃO

Havendo mais de um juiz com igual competência na comarca/subseção judiciária, a


competência firmar-se-á pela distribução. É critério subsidiário à prevenção, já que se
qualquer dos juízes tiver praticado atos no processo, ele estará prevento, não restando
espaço para a distribuição. 73
Porém, entenda: não haverá distribuição para o julgamento da ação penal. A medida
preparatória tem de ter sido distribuída anteriormente, salvo se conexa a algum processo já em
curso.

2.7.1. DISTRIBUIÇÃO DE MEDIDAS PREPARATÓRIAS

De acordo com o art. 75, p. único, a distribuição realizada para o efeito da concessão de
fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia
ou queixa prevenirá a da ação penal.
Assim, vê-se que o juiz que já adotar medidas cautelares no caso terá, em regra,
competência para julgar o mérito da ação penal que vir a ser ajuizada.
Isso, entretanto, é visto com reservas por muitos juristas, visto que, supostamente, tiraria a
isenção do magistrado ao julgar, especialmente por aqueles que defendem a necessidade de
existir um juiz de instrução.
Tal regra sofrerá modificação com a figura do juiz de garantias, cuja eficácia foi suspensa
pelo Min. Fux na Medida Cautelar na ADI 6299 DF. De fato, com a implementação do juiz de
garantias haverá uma cisão, ficando sob o encargo deste todas as medidas cautelares e
probatórias na fase inquisitiva, de tal forma que o juiz que analisa cautelares não julgará o mérito.
2.8. CONEXÃO E CONTINÊNCIA

Não são bem um critério de fixação de competência; antes, de modificação, atraindo para
um determinado juízo os crimes ou infratores que poderiam ser julgados separadamente, por
órgãos diversos.
Assim, a separação de processos é uma faculdade do juiz quando:
a) As infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes;
ou
b) Houver excessivo número de acusados;
Se as infrações tiverem ocorrido nas mesmas circunstâncias de tempo ou de lugar,
como, por exemplo, em decorrência de concurso formal de crimes, o juiz não está
autorizado a promover a separação.

2.8.1. CONEXÃO

Trata-se da ligação existente entre duas ou mais infrações, levando a que sejam apreciadas
perante o mesmo órgão jurisdicional. A conexão é uma questão de fato, que pode ter como efeito
a reunião dos processos conexos no juízo prevento ou no juízo sem igual competência territorial
que primeiro recebeu a denúncia, ou, ainda, no local do crime mais grave.
74
Logo: conexão (e continência) é fato, alteração da competência em decorrência dela é
efeito.
Por conexão entende-se o nexo entre duas ou mais infrações quando estas se
encontrarem entrelaçadas por um vínculo que aconselha a junção dos processos. Na
continência, uma causa está contida na outra, não sendo possível a cisão. A diferença
básica é que na conexão haverá pluralidade de condutas, enquanto na continência haverá apenas
uma conduta, gerando um ou vários resultados. É irrelevante para fins de enquadramento em um
ou outro caso o número de agentes envolvidos na prática.
Para que haja conexão, deve haver a pluralidade de condutas delituosas, e não só de
resultados. Assim, se houver concurso formal de crimes (um tiro, duas mortes, sem ou com
desígnios autônomos, por exemplo), não há se falar em conexão.

HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. PACIENTE (INVESTIGADOR DA POLÍCIA CIVIL)


DENUNCIADO POR FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO, ABUSO DE AUTORIDADE E
EXTORSÃO PERANTE A JUSTIÇA FEDERAL. CONEXÃO. POSTERIOR ABSOLVIÇÃO PELO
CRIME QUE ATRAIU A COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL (FACILITAÇÃO DE
CONTRABANDO) E CONDENAÇÃO PELO CRIME DE CONCUSSÃO. IRRELEVÂNCIA. ART. 81
DO CPP (PERPETUATIO JURISDICTIONIS). PRECEDENTES DO STJ. PARECER DO MPF
PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. ORDEM DENEGADA.
1. Estabelecida a competência da Justiça Federal em face da conexão entre crimes da
competência estadual e federal, encerrada a instrução criminal, a absolvição ou a desclassificação
quanto ao delito que atraiu a competência para a Justiça Federal não retira a sua competência
para apreciar as demais imputações. Art. 81 do CPP.
[...]
2. HC denegado, em consonância com o parecer ministerial.
(STJ, HC 112.990/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado
em 29/10/2009, DJe 07/12/2009)

PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO.


CONEXÃO. PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. DESNECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA.
COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO LOCAL DA INFRAÇÃO. MODIFICAÇÃO. CONEXÃO
OBJETIVA. CONEXÃO INSTRUMENTAL. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE AVOCAÇÃO DA
COMPETÊNCIA. SEPARAÇÃO FACULTATIVA DOS PROCESSOS. PEDIDO CONHECIDO E,
NESSA EXTENSÃO, ORDEM DENEGADA.
1. Em regra a questão relativa à existência de conexão não pode ser analisada em habeas corpus
porque demanda revolvimento do conjunto probatório, sobretudo, quando a conexão é
75
instrumental; todavia, quando o impetrante oferece prova pré-constituída, dispensando dilação
probatória, a análise do pedido é possível.
2. Em regra, a competência do Juízo para processar e julgar a causa é determinada pelo critério
do local em que o delito se consumou, contudo, a conexão pode funcionar como critério
modificativo da competência.
3. A ação penal que se refere à conduta praticada para ocultar outro crime ou para nele conseguir
impunidade é conexa objetivamente àquela em relação a qual se pretendia a impunidade.
4. Quando a prova de uma infração influi direta e necessariamente na prova de outra há liame
probatório suficiente a determinar a conexão instrumental.
5. Não há avocação de competência quando esta é declinada por um dos Juízos para o outro em
face da conexão.
6. EMBORA A CONEXÃO TENHA POR FINALIDADE GARANTIR A UNIÃO DOS PROCESSOS
PARA UMA MELHOR APRECIAÇÃO DA PROVA PELO JUÍZO, EVITANDO-SE DECISÕES
CONFLITUOSAS, PODE OCORRER A INCONVENIÊNCIA DESSA JUNÇÃO, ENSEJANDO O
TRÂMITE SEPARADO, MAS MANTENDO-SE, POR COROLÁRIO, O MESMO JUÍZO.
7. Pedido conhecido e, nessa extensão, ordem denegada.
(STJ, HC 113.562/PR, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO
TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 09/06/2009, DJe 03/08/2009)

COMPETÊNCIA. CRIME. MOEDA FALSA. RECEPTAÇÃO. CONEXÃO.


Foram apreendidas, além de diversos bens móveis supostamente produto de crime, notas falsas
de R$ 5,00 durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão expedido no bojo de
um inquérito policial no qual se investigava a prática de crime de receptação. Assim, a questão
resume-se em saber se há conexão entre os delitos de moeda falsa e receptação para justificar a
competência da Justiça Federal para processá-los e julgá-los. A Seção entendeu ser competente
a Justiça comum estadual para julgar o feito referente ao crime de receptação (art. 180, caput, do
CP) e a Justiça Federal, ao crime de moeda falsa (art. 289, § 1º, do CP), pois não estão presentes
quaisquer causas de modificação de competência inseridas nos arts. 76 e 77 do CPP, o que, por
consequência, afasta a aplicação da Súm. n. 122-STJ. Afastou-se, também, a eventual
configuração da conexão nas modalidades objetiva e instrumental, uma vez que não se
extraem dos autos quaisquer indícios de que os crimes tenham sido praticados com o
intuito de facilitar ou ocultar um ou outro, nem existe a possibilidade de a produção de
prova de uma infração influir na da outra, pois inexiste vínculo probatório entre elas, por se
tratar, aparentemente, de condutas independentes. Precedentes citados: CC 115.687-SP, DJe
7/6/2011, e CC 81.206-SC, DJe 9/9/2008. CC 110.702-RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em
76
22/6/2011.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO. ART. 313-A DO CÓDIGO PENAL.


PRELIMINAR REJEITADA. CONTINUIDADE DELITIVA NÃO DETERMINA COMPETÊNCIA POR
CONEXÃO OU CONTINÊNCIA. MATERIALIDADE COMPROVADA. AUTORIA DUVIDOSA.
AUSENTES PROVAS DE TER O RÉU CONCORRIDO PARA A INFRAÇÃO PENAL. RECURSO
DA DEFESA PROVIDO E APELAÇÃO DA ACUSAÇÃO PREJUDICADA. 1. Segundo a denúncia,
o réu se associou com funcionário do INSS para que este, mediante inserção de dados falsos em
sistema de informações, concedesse fraudulentamente benefícios previdenciários intermediados
pelo réu. 2. Rejeitada preliminar que pretendia anular a sentença e determinar a reunião de todos
os feitos que têm o réu em seu polo passivo. A CONTINUIDADE DELITIVA NÃO DETERMINA
COMPETÊNCIA POR CONEXÃO OU CONTINÊNCIA, como se infere da leitura dos arts. 76 e 77
do CPP. 3. Não demonstrado cabalmente nos autos que o réu realmente se associou com o
funcionário do INSS para a prática dos ilícitos descritos na denúncia. 4. Recurso da defesa a que
se dá provimento e recurso de acusação prejudicado.
(TRF3, ACR 00080336520054036181, DESEMBARGADOR FEDERAL COTRIM GUIMARÃES,
TRF3 - SEGUNDA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:19/04/2012 ..FONTE_REPUBLICACAO:.)
Existem várias hipóteses de conexão (art. 76, I, CPP):
a) Conexão intersubjetiva: quando as infrações praticadas estão interligadas pela autoria de
duas ou mais pessoas. Ela se triparte em:
1. Conexão intersubjetiva por simultaneidade: ocorrem várias infrações, praticadas ao
mesmo tempo, por várias pessoas reunidas num mesmo lugar, sem o prévio acordo
criminoso. Por exemplo, quando um caminhão de carga tomba e várias pessoas começam a
pilhar para si os IPAD´s que estavam no carregamento. Exemplo:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CRIME AMBIENTAL. REPRESENTAÇÃO


CRIMINAL. PRESENÇA DA CONEXÃO INTERSUBJETIVA ENTRE OS FATOS. REUNIÃO DAS
AÇÕES PENAIS. CONFLITO PROCEDENTE. Consta da exoridal que Nelson Shinji Yoshioka foi
denunciado pela suposta prática do crime previsto no artigo 34, caput, c.c artigo 36, ambos da Lei
nº 9.605/98, por ter sido surpreendido, no dia 22 de novembro de 2006, com outros turistas a
bordo da embarcação JM-I, de propriedade de João Batista Fernandes Sobrinho, praticando atos
de pesca na Estação Ecológica Tupinambás, unidade de conservação da marinha sob a gestão
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (IBAMA). Os agentes de
fiscalização do IBAMA lavraram autos de infração para cada passageiro da embarcação e
encaminharam uma única comunicação de crime ambiental para o Ministério Público Federal. As
infrações penais foram praticadas ao mesmo tempo, sob as mesmas circunstâncias e por
77
várias pessoas reunidas nas embarcações que estavam na unidade de conservação da
marinha sob a gestão do IBAMA. A existência de vínculo intersubjetivo entre os fatos
praticados impõe a reunião dos processos. A prorrogação da competência, em função da
conexão intersubjetiva, tem por objetivo facilitar a apuração dos fatos, bem como evitar
decisões contraditórias. A Representação Criminal nº 2007.61.03.001882-8 foi distribuída à 3ª
Vara Federal de São José dos Campos. Este Juízo ficou prevento para as demais ações
relacionadas com à embarcação denominada JM-I, nos termos dos artigos 78, inciso II, alínea "c"
e 83 do Código de Processo Penal. Conflito de competência procedente. Declarada a
competência do Juízo da 3ª Vara Federal de São José dos Campos para processar e julgar o
feito.
(TRF3, CJ 00963638320074030000, DESEMBARGADORA FEDERAL VESNA KOLMAR, TRF3 -
PRIMEIRA SEÇÃO, e-DJF3 Judicial 1 DATA:28/09/2009)

2. Conexão intersubjetiva concursal: ocorre quando várias pessoas, previamente acordadas,


praticam várias infrações, embora diverso o tempo e o lugar. Exemplo:
HC. COMPETÊNCIA. TRÁFICO INTERNACIONAL DE DROGAS.
Trata-se de HC em favor de paciente que foi preso preventivamente e denunciado por tráfico de
drogas e associação para o tráfico. Sustentando a incompetência do juízo federal que avocou
processo em trâmite na Justiça estadual, o impetrante afirma que os fatos objeto do processo
instaurado na Justiça Federal já eram objeto de ação penal anterior em trâmite no juízo estadual
no qual houve a decretação da prisão preventiva dos acusados e a expedição de cartas
precatórias para a oitiva das testemunhas de acusação e defesa. Alega, ainda, a ocorrência
da perpetuatio jurisdictionis daquele juízo, sendo ilegal o encaminhamento do feito ao juízo
federal. Ocorre, porém, que os fatos descritos perante a Justiça estadual, resultando na prisão dos
acusados, estavam relacionados com aqueles que foram objeto da Operação Marambaia,
responsável pela investigação de um grupo especializado no tráfico internacional de
entorpecentes, em cujo processo o paciente é réu. Por isso, o Tribunal a quo determinou a
reunião do feito que tramitava no juízo estadual com aquele que tramitava no juízo federal,
encaminhando os autos ao último. O Min. Relator manteve esse entendimento porquanto
caracterizada a chamada conexão intersubjetiva por concurso, aplicando-se ao caso a Súm. n.
122/STJ, a qual preceitua o seguinte: “Compete à Justiça Federal o processo e julgamento
unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra
do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal”. Também, não houve a inépcia da proemial nem
78
ausência da justa causa, pois a denúncia ampara-se em suporte probatório mínimo e apto a
deflagrar a persecução penal, indicando a possível autoria dos delitos, estando, entre os
elementos de prova, as interceptações de conversas telefônicas judicialmente autorizadas.
Quanto ao excesso de prazo, o pedido está prejudicado, pois foi proferida sentença condenatória
em 31/1/2011. Com essas e outras considerações, a Turma julgou prejudicado em parte o pedido
e, no mais, denegou a ordem. Precedentes citados: HC 95.339-SP, DJe 1º/7/2010; HC 160.026-
BA, DJe 23/2/2010, e HC 173.401-SP, DJe 26/6/2010. HC 169.989-RS, Rel. Min. Og Fernandes,
julgado em 28/2/2012.

PENAL E PROCESSO PENAL - CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA - AÇÃO


PENAL - ARTS. 203, § 2º e 207, § 2º, DO CÓDIGO PENAL - CRIMES CONTRA A
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO - CONCURSO DE PESSOAS - DELITOS CONSUMADOS EM
TEMPO E LOCALIDADES DISTINTOS - CONEXÃO INTERSUBJETIVA POR CONCURSO -
COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITADO, FORO EM QUE SE CONSUMOU A INFRAÇÃO
PENAL MAIS GRAVE - INTELIGÊNCIA DO ART. 78, II, DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL -
NÃO OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA RELATIVO AO CRIME
OCORRIDO NA JURISDIÇÃO DO SUSCITADO - CONFLITO PROCEDENTE. I - Denunciados
incursos nas penas dos delitos 203, § 2º e 207, § 2º, ambos do Código Penal. Incontestável está a
conexão dos delitos, por clara aplicação do artigo 76 do Código de Processo Penal. II - Com a
conexão, a competência deve ser fixada nos termos prescritos pelo Código de Processo Penal,
notadamente no artigo 78. III - Deve, pois, ser fixada a competência do juízo da localidade em que
consumado o delito de aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional,
cuja pena cominada é mais grave do que a prevista para o da frustração de direito assegurado por
lei trabalhista. IV - Não ocorrência da prescrição da pretensão punitiva do crime ocorrido na
jurisdição do juízo suscitante, pois, o delito de frustração de direito assegurado por lei trabalhista,
possui pena máxima privativa de liberdade de 2 (dois) anos. Somando-se a causa especial de
aumento de pena prevista no parágrafo segundo, porque as vítimas são indígenas, em patamar
máximo, 1/3 (um terço), alcança-se um montante de 2 (dois) anos e 8 (oito) meses. Daí, para que
tivesse ocorrido a prescrição no presente caso, nos termos do Art. 109, IV, do CP, necessário
tivesse ocorrido 8 (oito) anos da data do fato até os dias de hoje, o que efetivamente não ocorreu,
visto que o fato ocorreu em março de 2002. V - Conflito procedente.
(TRF3, CC 00873627420074030000, DESEMBARGADOR FEDERAL BAPTISTA PEREIRA, TRF3
- PRIMEIRA SEÇÃO, DJU DATA:01/02/2008)

3. Conexão intersubjetiva por reciprocidade: ocorre quando várias infrações são praticadas
79
por diversas pessoas, umas contra as outras.
Não havendo vinculação entre as infrações, não se pode falar em conexão.
b) Conexão objetiva, material, teleológica ou finalística (art. 76, II, CPP): ocorre quando uma
infração é praticada para ocultar ou facilitar uma outra, ou para conseguir vantagem ou
impunidade relativamente a outra infração.

PROCESSUAL PENAL - HABEAS CORPUS - HOMICÍDIO QUALIFICADO E ASSOCIAÇÃO,


EM QUADRILHA OU BANDO, PARA O FIM DE COMETER CRIMES RELACIONADOS AO
TRÁFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES - CONEXÃO - ART. 76, II, DO CPP -
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL - SÚMULA 122 DO STJ - DECRETAÇÃO DE PRISÃO
PREVENTIVA - ART. 312 DO CPP - AMEAÇA À ORDEM PÚBLICA E À APLICAÇÃO DA LEI
PENAL CONCRETAMENTE DEMONSTRADA - ORDEM DENEGADA.
I - Descrevendo a denúncia conduta que, em tese, configura homicídio qualificado, que teria sido
praticado para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem do crime de
associação, em quadrilha ou bando, para a prática de delitos relacionados ao tráfico internacional
de entorpecentes, em conexão teleológica (art. 76, II, do CPP), a competência é determinada pela
conexão, incidindo, na espécie, o entendimento da Súmula 122 do STJ.
II - "Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, "a", do Código de
Processo Penal" (Súmula 122/STJ).
III - Demonstrados a materialidade do delito e os indícios de autoria, não merece reforma a
decisão que decreta a prisão preventiva, justificando, de forma concreta, a necessidade da
custódia cautelar para garantia da ordem publica e para assegurar a aplicação da lei penal (art.
312 do CPP).
IV - Ordem denegada.
(TRF1, HC 2008.01.00.046844-9/AM, Rel. Desembargadora Federal Assusete Magalhães,
Terceira Turma,e-DJF1 p.89 de 31/10/2008)

RECURSO EM HABEAS CORPUS - PENAL - PROCESSO PENAL - CRIME DE


SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA - CRIME CONTRA A PREVIDÊNCIA
SOCIAL, MEDIANTE A INSERÇÃO DE DECLARAÇÕES FALSAS EM CARTEIRA DE
TRABALHO E PREVIDÊNCIA SOCIAL - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL - PRELIMINAR
REJEITADA - COAÇÃO ILEGAL NÃO CARACTERIZADA - EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS
SUFICIENTES PARA O PROSSEGUIMENTO DO INQUÉRITO POLICIAL - RECURSO A QUE SE
NEGA PROVIMENTO - SENTENÇA INTEGRALMENTE MANTIDA. 1. É de se afirmar a
competência desta Justiça para apurar o crime em questão, uma vez que o delito previsto
80
no artigo 337-A do Código Penal, segundo consta, foi supostamente cometido em
detrimento de autarquia federal, vale dizer, o INSS. 2. Quanto ao crime do artigo 297, §3º ,II,
do Código Penal, tem-se que a conduta de inserção de falsa declaração em Carteira de
Trabalho e Previdência Social é conexa com a do delito de sonegação de contribuição
social, pela possibilidade de aquela ter sido praticada para facilitar ou ocultar esta última,
vale dizer, no caso ocorreu a conexão teleológica (artigo 76, II, do Código de Processo Penal).
3. Havendo mais de um crime e sendo pelo menos um deles da competência federal, há a atração
dos demais para a Justiça Federal, não se aplicando o disposto no artigo 78,II, "a", do Código de
Processo Penal. Súmula 122 do STJ. 4. Preliminar rejeitada. [...]
(TRF3, RSE 00077596920044036106, DESEMBARGADORA FEDERAL RAMZA TARTUCE,
TRF3 - QUINTA TURMA, DJU DATA:08/04/2005 ..FONTE_REPUBLICACAO:.)

APELAÇÃO CRIMINAL - TRÁFICO DE ENTORPECENTES - CORRUPÇÃO ATIVA -


COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL - INEXISTÊNCIA DE QUESTÃO PREJUDICIAL - NÃO
CONHECIMENTO DA PRELIMINAR DE INÉPCIA DA DENÚNCIA QUANTO AO CRIME
DEFINIDO NO ARTIGO 14 DA LEI Nº 6.368/76 - INOCORRÊNCIA DE NULIDADE DA
SENTENÇA ORIUNDA DE DEFEITO DE MOTIVAÇÃO - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE NO
TOCANTE AO DELITO PREVISTO NO ARTIGO 16 DA LEI Nº 6.368/76 - MATERIALIDADE
DEMONSTRADA - ABSOLVIÇÃO DA PRÁTICA DELITIVA DESCRITA NO ARTIGO 333 DO
CÓDIGO PENAL - ABSOLVIÇÃO DO CRIME DE TRÁFICO - APELAÇÕES PROVIDAS. 1. Três
réus (Odair, Aloísio e João Antônio) condenados pela prática do crime de tráfico por transportarem
substância entorpecente ou que determina dependência física ou psíquica, num total de 41
ampolas de Diazepam 10 mg; 14 caixas de Diazepam 10 mg, contendo cada uma 20
comprimidos; 1 caixa de Olcadil 2 mg, contendo 20 comprimidos e 1 caixa de Ritalina 10 mg,
contendo 20 comprimidos, sem autorização legal ou regulamentar. Os réus Odair e Aloísio foram
também condenados pela prática delitiva descrita no artigo 333 do Código Penal. O réu Odair foi
condenado, ainda, como incurso no artigo 16, caput, da Lei nº 6.368/76. 2. Cuida-se de conexão
objetiva, haja vista que para garantir a impunidade do delito de tráfico de substâncias
entorpecentes e para consumar citado crime, os réus teriam cometido o delito de
corrupção ativa, incidindo, in casu, as Súmulas 122 e 147 do Superior Tribunal de Justiça, e
artigo 81 do Código de Processo Penal, sendo competente para processamento e
julgamento da causa a Justiça Federal. [...]
(TRF3, ACR 00074387620004036105, DESEMBARGADOR FEDERAL JOHONSOM DI SALVO,
TRF3 - PRIMEIRA TURMA, DJU DATA:09/01/2007.)
81
c) Conexão instrumental ou probatória (art. 76, III, CPP): tem cabimento quando a prova de
uma infração ou de suas elementares influir na prova de outra infração. Sobre o tema:

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FRAUDES FINANCEIRAS PELA


INTERNET. PROGRAMA DE COMPUTADOR "TROJAN". DELITOS COMETIDOS EM
DIFERENTES LOCALIDADES. COMPETÊNCIA.
1. A conexão probatória a que alude o art. 76, II - CPP, como critério de fixação de competência,
somente ocorre "quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias
elementares influir na prova de outra infração", NÃO RESULTANDO CARACTERIZADA, POR VIA
DE CONSEQUÊNCIA, QUANDO, ENTRE DUAS OU MAIS INFRAÇÕES, EXISTIR APENAS UM
LIAME EPISÓDICO DE PROVAS, ou uma justaposição de elementos informativos, sem aptidão
para relacionar, causal e reciprocamente, as elementares dos vários crimes considerados.
2. A consumação de fraudes em entidades bancárias, pela internet, a partir da utilização de um
mesmo programa de computador (trojan), em unidades diversas da Federação, deve ser
processada e julgada no lugar de cada crime, não se justificando a remessa dos autos à Seção
Judiciária onde tenham sido iniciadas as investigações, a título de conexão probatória, apenas
pelo fato de ali ter sido montado programa inicial das fraudes "trojan".
3. Conflito de competência conhecido. Declaração da competência do Juízo suscitante.
(TRF1, CC 2005.01.00.008257-6/MA, Rel. Desembargador Federal Olindo Menezes, Segunda
Seção,DJ p.02 de 16/06/2005)

PENAL E PROCESSUAL PENAL - CRIMES PREVISTOS NOS ARTS. 33 C/C 40, I, e 35 DA


LEI 11.343/2006 (TRÁFICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO) E ARTS. 147
(AMEAÇA), 331 (DESACATO) E 329, § 2º (RESISTÊNCIA) DO CÓDIGO PENAL - CONEXÃO
PROBATÓRIA - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL - ART. 78, III, DO CPP - SÚMULA 122
DO STJ - CARÁTER TRANSNACIONAL DO TRÁFICO NÃO CONTIDO, AINDA QUE
IMPLICITAMENTE, NA DENÚNCIA OFERTADA PERANTE O JUÍZO ESTADUAL - DECLINAÇÃO
DA COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL - CONDENAÇÃO POR TRÁFICO
INTERNACIONAL, PELA JUSTIÇA FEDERAL, SEM OBSERVÂNCIA DO ART. 384 DO CPP
(MUTATIO LIBELLI) - NULIDADE - APLICAÇÃO DO ART. 384 DO CPP, EM SEGUNDA
INSTÂNCIA - IMPOSSIBILIDADE - SÚMULA 453 DO STF - ABSOLVIÇÃO PELO TRÁFICO
INTERNACIONAL - CONDENAÇÃO PELO TRÁFICO INTERNO - DOSIMETRIA DA PENA -
FALTA DE ADEQUADA FUNDAMENTAÇÃO PARA A FIXAÇÃO DA PENA-BASE -
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS INERENTES AO TIPO PENAL - ANTECEDENTES CRIMINAIS
SEM TRÂNSITO EM JULGADO - VEDAÇÃO À UTILIZAÇÃO DE INQUÉRITOS POLICIAIS E
AÇÕES PENAIS EM CURSO, PARA AGRAVAR A PENA-BASE - SÚMULA 444 DO STJ -
82
CONSEQUENTE REDUÇÃO DA PENA-BASE IMPOSTA PELA SENTENÇA, PARA O DELITO
DO ART. 33, CAPUT, DA LEI 11.343/2006 - REGIME INICIALMENTE FECHADO - ART. 2º, § 1º,
DA LEI 8.072/90, NA REDAÇÃO DA LEI 11.464/2007 - REPARAÇÃO DO DANO, POR FORÇA
DO ART. 387, IV, DO CP, INTRODUZIDO PELA LEI 11.719, DE 20/06/2006 -
INAPLICABILIDADE - EXTENSÃO PARCIAL DOS EFEITOS DO JULGAMENTO DO RECURSO
AO CO-RÉU, QUE NÃO APELOU - ART. 580 DO CPP. I - A conexão probatória entre o
suposto tráfico interno de drogas e associação para o tráfico, narrados na denúncia
ofertada perante a Justiça Estadual, e os fatos puníveis que teriam sido praticados contra
os Policiais Rodoviários Federais em serviço (ameaça, resistência, desacato e lesão
corporal) atrai a competência da Justiça Federal para processar e julgar ambos os feitos,
sendo certo que, uma vez estabelecida tal competência por conexão, não mais há de se
retroceder, mesmo quando não comprovada a prática do ilícito que determinara a
competência federal para processar e julgar um dos delitos, a teor do disposto na Súmula
122 do egrégio STJ e no art. 81 do CPP. [...]
(TRF1, ACR 200841000075895, DESEMBARGADORA FEDERAL ASSUSETE MAGALHÃES,
TRF1 - TERCEIRA TURMA, 14/01/2011)
PROCESSO PENAL. DELITOS DE ESTELIONADO E MOEDA FALSA. CONEXÃO
INSTRUMENTAL. PRODUÇÃO DE PROVAS. COMPETENCIA DA JUSTIÇA FEDERAL.
ANULAÇÃO EM PARTE DA SENTENÇA. 1. Competência da Justiça Federal para apreciar os
delitos previstos nos artigo 171, "caput" e 289, §1º, ambos do Código Penal. A dinâmica dos
fatos, inclusive o depoimento prestado em juízo pelo acusado, mostrou que as moedas
falsas encontradas na posse do acusado seriam utilizadas para subsidiar a banca do jogo
de "tampinhas", aonde eram praticados os fatos, em tese, considerados fraudulentos,
portanto, é inequívoco que a prova produzida nos autos repercutirá na elucidação de
ambos os delitos. 2. Diante do reconhecimento da conexão instrumental entre os delitos
previstos nos artigos 171, "caput" e 289, §1º, ambos, do Código Penal, considerando que o
segundo delito é de competência da Justiça Federal, é de rigor a unificação dos feitos na 8ª
Vara Criminal Federal de São Paulo, nos termos da Súmula 122 do Superior Tribunal de
Justiça. 3. No que pertine ao delito do moeda falsa, a sentença é nula, tendo em vista a
necessidade de julgamento unificado decorrente da conexão instrumental verificada na espécie. 4.
Apelação do Ministério Público Federal que se dá provimento para reconhecer a competência da
Justiça Federal para processar e julgar também o delito previsto no artigo 171, "caput", do
Estatuto Repressivo. 5. Sentença anulada na parte em que examinou o delito previsto no artigo
289, §1º, do Código Penal.
83
(TRF3, ACR 00026703420044036181, DESEMBARGADORA FEDERAL VESNA KOLMAR, TRF3
- PRIMEIRA TURMA, e-DJF3 Judicial 1 DATA:03/03/2010)

2.8.2. CONTINÊNCIA

É o vínculo que une vários infratores a uma única infração, ou a reunião de várias
infrações num só processo por decorrerem de conduta única, ou seja, do resultado de concurso
formal próprio ou impróprio de crimes. Tem-se:
a) Continência por cumulação subjetiva (art. 77, I, CPP): quando duas ou mais pessoas
concorrem para a prática de uma mesma infração, o que se dá com a coautoria ou participação.
b) Continência por cumulação objetiva (art. 77, II, CPP): implica na reunião, em um só
processo, de vários resultados lesivos advindos de uma só conduta (concurso formal). Hipóteses:
1. CONCURSO FORMAL: O agente, mediante uma só conduta, pratica dois ou mais
crimes. Nesses casos, a ação tramitará conjunta, sendo aplicada a pena de um só crime
(se idênticas), ou do crime mais grave (se diversas), acrescida, em qualquer caso, de um
sexto até a metade.
2. ABERRATIO ICTUS COMPLEXA (com resultado duplo ou múltiplo): Ocorre
quando por erro na execução, o agente atinge outra pessoa que não queria atingir, além
da que desejava. Aplica-se a mesma regra do concurso formal, ou seja, é aplicada a pena
de um só crime (se idênticas), ou do crime mais grave (se diversas), acrescida, em
qualquer caso, de um sexto até a metade. Não se fala em continência na aberratio ictus
“comum” (quando provocada apenas um resultado, ainda que diverso do pretendido), uma
vez que não há pluralidade de crimes.
3. ABERRATIO DELICTI: Ocorre quando o agente busca determinado resultado, mas
alcança, além deste resultado, outro não desejado. Aplica-se, do mesmo modo, a regra do
concurso formal.Na modalidade simples do aberratio delicti, não se fala em continência,
porque só um crime será praticado.

2.8.3. LIMITE TEMPORAL PARA RECONHECIMENTO DA CONEXÃO/CONTINÊNCIA

Se um dos processos já houver sido julgado, não mais devem os feitos ser reunidos. Isso
porque, além de ter encerrado o juízo de primeira instância de um deles, não cabe reunião de feito
sob instrução com feito já julgado, perante o Tribunal, sob pena de suprimir instância.

84
Ano: 2017 Banca: TRF - 2ª Região Órgão: TRF - 2ª REGIÃO Prova: TRF - 2ª Região -
2017 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto
Analise as assertivas sobre a competência penal e, depois, marque a opção correta:
I - A conexão entre crimes da competência da Justiça Federal e da Estadual não enseja a
reunião dos feitos;
II — São requisitos para o deferimento do incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal a grave violação de direitos humanos, a necessidade de assegurar o
cumprimento, pelo Brasil, de obrigações decorrentes de tratados internacionais e a incapacidade
de o estado membro, por suas instituições e autoridades, levar a cabo, em toda a sua extensão, a
persecução penal.
III - Se cometidos durante o horário de expediente, compete à Justiça Federal julgar os delitos
praticados por funcionário público federal.
A - Apenas a assertiva I está correta.
B - Apenas a assertiva II está correta.
C - Apenas a assertiva III está correta
D - Todas as assertivas estão corretas.
E - Apenas as assertivas II e III estão corretas.
Gabarito: Letra B
2.9. FORO PREVALENTE

As regras do foro prevalente servem para solucionar os conflitos de competência, regras


estas previstas no art. 78, CPP. Porém, frise-se desde logo que A REUNIÃO EM UM SÓ
PROCESSO QUE IMPLIQUE VIOLAÇÃO DAS REGRAS DE COMPETÊNCIA FIXADAS NA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO SERÁ POSSÍVEL, devendo prevalecer a separação dos
feitos.
a) Concurso entre júri e jurisdição comum ou especial: se um crime doloso contra a vida for
conexo a um crime comum, ambos irão a Júri. Havendo concorrência entre crime doloso contra a
vida e infração de menor potencial ofensivo, ambos irão a júri, devendo, quanto ao último, ser
oportunizada a transação penal e a composição civil dos danos. Havendo concorrência de júri e
crime de competência da Justiça Federal, ambos deverão ser julgados por um júri a ser realizado
na esfera federal. Havendo concorrência entre crime de júri e crime de competência da justiça
especializada, os processos deverão ser separados.
b) Concurso entre jurisdição de diversas categorias: havendo concorrência entre órgãos
de hierarquia distinta, prevalece o de maior hierarquia. Se, por exemplo, um prefeito municipal
comete um crime de peculato, ele será julgado pelo Tribunal de Justiça, pois goza da chamada
prerrogativa de função ou foro privilegiado. Se esse prefeito cometeu o crime em concurso com
terceira pessoa, esta, apesar de não gozar do privilégio, será também julgada pelo Tribunal, num
85
único processo, levando-se em conta, aqui, a maior graduação do órgão de 2º grau. A se conferir,
nessa linha de raciocínio, o enunciado da Súmula 704 do STF, in verbis: “Não viola as garantias
do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão
do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados”.
Reitera-se aqui que diante da decisão proferida pelo STF na AP 937, na qual se restringiu o
foro dos parlamentares federais para crimes funcionais, parece mais coerente com o espírito
dessa decisão não mais se estender o foro para corréus sem essa prerrogativa.
SE AMBOS OS INFRATORES POSSUÍREM FORO PRIVILEGIADO PREVISTO NA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, MAS EM ÓRGÃOS DISTINTOS, IMPÕE-SE A SEPARAÇÃO
DOS PROCESSOS, pois a aplicação das regras de foro prevalente, em razão da conexão ou
continência, implicaria em violação da Constituição.
Concurso entre jurisdição comum e especial: prevalecerá esta última. Justiça especial, como
o nome indica, é aquela criada para conhecer de questões específicas, como a Justiça Eleitoral, a
Militar, a Trabalhista. Já a Justiça comum, é residual, significa dizer, julga todo o resto que não é
destinado às Justiças Especiais. No confronto entre uma e outra, prevalece a Justiça Especial.
Assim, se no dia da eleição o agente furta um ônibus (competência da justiça comum), para
fornecer transporte gratuito a eleitores (crime eleitoral – art. 301 do Código Eleitoral), ambos os
delitos deverão ser julgados em um único processo, que tramitará perante a Justiça Eleitoral, que
é especial. Vale observar que a Justiça Federal é considerada especial em relação à Justiça
estadual, segundo entendimento de parte da doutrina. Assim, se um crime é da competência da
Justiça Federal e um outro conexo é da competência da Justiça Estadual, mesmo que este último
tenha uma pena superior, o julgamento de ambos estará afeto à Justiça Federal (Súmula 122 do
STJ4).
Em julgado recente o STF firmou a competência da Justiça eleitoral, em detrimento da
Federal para analisar cimes eleitorais conexos com crimes comuns, no caso, Caixa Dois, falsidade
e corrupção passiva:

COMPETÊNCIA – JUSTIÇA ELEITORAL – CRIMES CONEXOS. Compete à Justiça


Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos – inteligência dos artigos
109, inciso IV, e 121 da Constituição Federal, 35, inciso II, do Código Eleitoral e 78, inciso IV, do
Código de Processo Penal.(Inq 4435 AgR-quarto, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal
Pleno, julgado em 14/03/2019, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-182 DIVULG 20-08-2019 PUBLIC
21-08-2019)

c) Concurso entre jurisdições da mesma categoria: essa hipótese serve para se fixar o juízo 86
competente quando houver conexão ou continência. Nesse caso, adotam-se as seguintes regras:
1. Prevalência do foro do local da consumação do crime mais grave5;
2. Se as infrações interligadas tiverem igual gravidade, prevalece o juízo do local da
consumação do maior número de crimes;
3. Se as infrações forem de igual gravidade e em igual quantidade, prevalece o foro
prevento.
Se, mesmo havendo conexão ou continência, os processos tramitarem em separado, a
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros
magistrados, salvo se já tiver ocorrido, no processo desgarrado, a prolação da sentença que

4 Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unifi cado dos crimes conexos de competência federal e estadual,
não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal.
5 Infração com pena mais grave, para os fins de fixação de competência (art. 78, II, a, do CPP), é aquela em que a

pena máxima cominada é a mais alta, e não a que possui maior pena mínima. Na determinação da competência por
conexão ou continência, havendo concurso de jurisdições da mesma categoria, preponderará a do lugar da infração à
qual for cominada a pena mais grave. A gravidade do delito, para fins penais, é estabelecida pelo legislador. Por isso,
tem-se por mais grave o delito para o qual está prevista a possibilidade de, abstratamente, ser conferida pena maior. O
legislador permitiu cominar sanção mais alta a determinado delito porque previu hipóteses em que a conduta ocorre sob
particularidades de maior reprovabilidade, razão pela qual essa deve, em abstrato, ser entendida como a mais grave.
HC 190.756-RS, 5T, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/10/2012.
encerre a primeira fase processual (art. 82, CPP). Nesse caso, somente haverá unidade ulterior
para fins de soma ou unificação das penas.

2.10. SEPARAÇÃO DE PROCESSOS

Mesmo havendo conexão ou continência, é possível que os processos tramitem


separadamente, seja por força de lei, seja por obediência aos preceitos constitucionais. A
separação poderá ser obrigatória ou facultativa.

2.10.1. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA

Prevista em rol não taxativo no art. 79 do CPP. Hipóteses:


a) Concurso entre jurisdição comum e militar;
b) Concurso entre jurisdição comum e o juízo de menores: por força do art. 104 do ECA e do
art. 228 da CR/88;
c) Superveniência de doença mental: em havendo corréus, advindo insanidade em um
deles, restará a separação de processos, pois o procedimento irá evoluir em razão do imputável;
d) Fuga de corréu: havendo fuga, o processo ficará suspenso em relação ao corréu fugitivo.
Nesse caso, o processo segue separadamente para os demais.
e) Recusas no júri: a matéria atualmente é tratada no art. 469 do CPP, que impõe a
87
separação dos julgamentos quando forem dois ou mais réus. Assim, se em virtude das recusas
peremptórias dos jurados (aquelas recusas que não exigem justificativas), não for obtido o número
mínimo de jurados, que é de sete (naquilo que a doutrina chama de estouro da urna), deverá ser
separado o processo.
f) Crime contra a vida praticado em concurso de agentes, com um deles tendo prerrogativa
de foro prevista na CR/88: nesse caso, impõe-se a separação de processos: a pessoa que não
possui prerrogativa de função será julgada no Tribunal do Júri, enquanto a que possui, será
julgada perante o foro por prerrogativa de função.

2.10.2. SEPARAÇÃO FACULTATIVA

Prevista no art. 80, CPP. Ocorre nas seguintes hipóteses, mediante decisão do juiz:
a) Infrações praticadas em circunstâncias de tempo e lugar diferentes;
b) Número excessivo de acusados.
É facultado ao juiz, nas hipóteses legais de conexão ou de continência de causas, ordenar a
separação de processos, ainda que ocorrente qualquer das situações previstas no art. 80 do CPP.
(STF, HC N. 103.149-RS)
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LAVAGEM DE DINHEIRO. TRÊS
AÇÕES PENAIS. ALEGADA OCORRÊNCIA DE CRIME ÚNICO. SEPARAÇÃO DOS
PROCESSOS COM APOIO NO ART. 80 DO CPP. DECISÃO FUNDAMENTADA. RECURSO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O Supremo Tribunal Federal firmou orientação, no sentido de
que é facultativa a “separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e
para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante (CPP, art. 80)” (HC
92.440, da relatoria da ministra Ellen Gracie). Na mesma linha: HC 103.149, da relatoria do
ministro Celso de Mello. 2. A via processualmente contida da ação constitucional do habeas
corpus não é apropriada para o acatamento da tese de crime único. Via de verdadeiro atalho que
não comporta a renovação de atos próprios da instrução criminal. 3. Recurso a que se nega
provimento.
(RHC 106755, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 25/10/2011,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 30-04-2012 PUBLIC 02-05-2012)
88
2.11. PERPETUATIO JURISDICTIONIS (ART. 81, CPP)

Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no
processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou
que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará
competente em relação aos demais processos.

Trata-se do reconhecimento de que, em havendo reunião de infrações/infratores pela


conexão ou continência, o juiz prevalente, mesmo que venha a absolver ou desclassificar a
infração que determinou a atração, continuará competente para julgar os demais. Não se trata de
critério de determinação da competência, e sim de manutenção da competência já
determinada.
No procedimento do Júri, é necessária a realização da seguinte distinção:
a) Se o juiz impronunciar o réu ou o absolver sumariamente, havendo infrações conexas,
deverá remeter os autos ao juiz competente, não se observando a perpetuação da jurisdição.
b) Se, no plenário, os jurados desclassificarem o crime doloso contra a vida, o julgamento
não só do crime desclassificado, mas também dos conexos, fica afeto ao juiz presidente.
c) Já se os jurados absolverem o réu, estão reconhecendo que são competentes para o
feito, e por isso continuam aptos para apreciar as infrações conexas.

Informativo 436, STJ. COMPETÊNCIA. CONEXÃO. DELITOS. EXTINÇÃO. PUNIBILIDADE.


Em conflito de competência entre o suscitante juízo de Direito e o suscitado juízo federal, consta
dos autos que o MPF ofereceu denúncia contra um agente quanto à suposta prática do delito
descrito no art. 334, caput, do CP (descaminho) e contra os outros dois corréus pela suposta
prática do delito previsto no art. 180 do CP (receptação). Entretanto, com relação ao primeiro
denunciado, houve a extinção da punibilidade devido ao seu falecimento. Diante disso, o juízo
federal declinou de sua competência para o julgamento dos corréus em favor do juízo estadual.
Porém, o MP estadual manifestou-se no sentido de competir à Justiça Federal o julgamento do
feito, com base na perpetuatio jurisdictionis. Observou, ainda, o MP estadual que, nos termos do
art. 81 do CPP, nos casos de conexão ou continência, quando há absolvição ou desclassificação
do crime que atraiu a competência, o feito continua no mesmo juízo para apreciação dos demais
delitos conexos. Para a Min. Relatora, as razões de conduzir a competência no processo
penal são sempre de ordem pública, pois decorrem da CR/1988. Assim, as normas de
conexão, de índole meramente legal, não poderiam sobrepor-se aos regramentos
89
constitucionais de determinação de competência. Logo, na hipótese de conexão entre os
crimes de descaminho e de receptação, em que o primeiro atraiu a competência da Justiça
Federal para processar e julgar os delitos, não mais existindo atração para a Justiça
Federal processar e julgar o feito devido à extinção da punibilidade pela morte do agente,
desaparece o interesse da União, o que desloca a competência para a Justiça estadual.
Destaca que não é o caso de aplicação do princípio da perpetuatio jurisdictionis: o juiz não
proferiu sentença de mérito, apenas decretou de oficio a extinção da punibilidade. Diante do
exposto, a Seção conheceu do conflito para declarar competente o juízo de Direito, o suscitante.
Precedentes citados do STF: HC 69.325-GO, DJ 4/12/1992; do TFR: CC 7.043-RS, DJ 6/11/1986.
CC 110.998-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 26/5/2010.

2.12. PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA

A definição do instituto é a mesma do processo civil, ou seja, um juízo que era


abstratamente incompetente será tido, para o caso concreto, como competente. A particularidade
no processo penal é que a prorrogação, no caso de incompetência relativa, ocorre pelo fato de o
réu não apresentar exceção de incompetência relativa até o momento da defesa prévia. Nesse
sentido:

PENAL E PROCESSUAL PENAL - ARTS. 288, 317, 318, 333 E 334, DO CÓDIGO PENAL -
ALEGADA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA - FIXAÇÃO EM RAZÃO DO LUGAR - COMPETÊNCIA
RELATIVA PRECLUSÃO - DESMEMBRAMENTO DO FEITO E INACESSIBILIDADE ÀS PROVAS
- ALEGAÇÃO NÃO COMPROVADA - CORRELAÇÃO ENTRE A DENÚNCIA E A SENTENÇA -
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA - VALIDADE DE PROVA - INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO E OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL - DENÚNCIA
ANÔNIMA - VALIDADE - PRELIMINARES AFASTADAS - ATIPICIDADE DO FATO -
AFASTAMENTO - CRIME PRÓPRIO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO - ART. 30 E 327 DO CÓDIGO
PENAL - CRIME DE FACILITAÇÃO DO DESCAMINHO - COMPROVAÇÃO - DECRETAÇÃO DA
PERDA DAS MERCADORIAS E DO CARGO PÚBLICO - MANUTENÇÃO - CRIME DE
QUADRILHA - NÚMERO DE AGENTES INFERIOR AO ESTABELECIDO NO TIPO PENAL - NÃO
OCORRÊNCIA - CORRUPÇÃO PASSIVA - AUSÊNCIA DE LIAME ENTRE A VANTAGEM
INDEVIDA E PRÁTICA DO CRIME POR PARTE DOS RÉUS - ABSOLVIÇÃO MANTIDA. 1. A
alegação de incompetência absoluta foi acertadamente rechaçada pelo MM. Juízo, ao
sublinhar que a competência em razão do lugar é relativa e que a questão precluiu em face
do transcurso do momento processual apropriado para argui-la, ou seja, a defesa prévia,
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operando-se, assim, a prorrogação da competência. [...] (TRF3, AC 2005.61.19.001170-0).

2.13. CRIAÇÃO DE ÓRGÃOS COLEGIADOS DE 1º GRAU

Muito discutida era a possibilidade ou não de criação de órgãos colegiados de primeiro grau
para julgamento de crimes mais graves, como aqueles que envolvem organizações criminosas. A
necessidade de tal inovação era algo que se impunha com urgência, haja vista a alta
periculosidade dessas organizações e a necessidade de se dotar o Poder Judiciário de
mecanismos que garantissem a independência e a imparcialidade, além da própria segurança
pessoal dos juízes.
O STF, analisando lei do estado de Alagoas, julgou CONSTITUCIONAL a criação de Vara
Especializada e COLEGIADA para julgamento de crimes praticados por organizações criminosas,
conforme notícia veiculada no informativo 668. Em síntese, restou assentado o seguinte:

O STF decidiu que é constitucional a criação, pelos Estados-membros, de varas


especializadas em razão da matéria, seja no âmbito cível, seja no âmbito penal. Vale ressaltar, no
entanto, que essa vara criminal especializada não pode julgar crimes dolosos contra a vida, uma
vez que são de competência do Tribunal do Júri. Articulou-se possível que lei estadual instituísse
órgão jurisdicional colegiado em 1º grau. Rememoraram-se exemplos equivalentes, como Tribunal
do Júri, Junta Eleitoral e Turma Recursal. Analisou-se que a composição de órgão jurisdicional
inserir-se-ia na competência legislativa concorrente para versar sobre procedimentos em matéria
processual (CF, art. 24, XI). Explicitou-se que a colegialidade funcionaria como reforço à
independência dos julgadores. ADI 4414/AL, rel. Min. Luiz Fux, 30 e 31.5.2012.

Principais pontos desse julgado:


a) É constitucional a previsão de que, na 17ª Vara Criminal da Capital de Alagoas, os
processos sejam julgados por um colegiado de 5 juízes.
b) É possível que lei estadual institua órgão jurisdicional colegiado em 1º grau.
c) Já existem outros exemplos de órgão jurisdicional colegiado em 1º grau, como é o caso
do Tribunal do Júri, da Junta Eleitoral e da Turma Recursal.
d) A lei estadual alagoana atuou de maneira legítima tendo como objetivo preservar a
independência do juiz na persecução penal de crimes envolvendo organizações criminosas
e) Não houve legislação acerca de processo, competência da União; antes, legislou-se
sobre procedimento em matéria processual e organização judiciária.
f) Sendo o julgamento conduzido por um colegiado de juízes, torna-se mais difícil a
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ocorrência de pressões e ameaças sobre os magistrados.
g) Desse modo, a colegialidade funcionaria como reforço à independência dos julgadores. O
conteúdo da decisão tomada no colegiado não pode ser imputado a um único juiz, e assim torna
difusa a responsabilidade de seus membros, reduzindo os riscos.
Sobre o ponto, a lei 12.694/2012, recentemente alterada pela lei 13.964/2019 (pacote
anticrime):
Art. 1º-A. Os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais Federais poderão instalar, nas
comarcas sedes de Circunscrição ou Seção Judiciária, mediante resolução, Varas Criminais
Colegiadas com competência para o processo e julgamento: (Incluído pela Lei nº 13.964, de
2019)
I - de crimes de pertinência a organizações criminosas armadas ou que tenham armas à
disposição; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
II - do crime do art. 288-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal); e (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
III - das infrações penais conexas aos crimes a que se referem os incisos I e II do caput
deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 1º As Varas Criminais Colegiadas terão competência para todos os atos jurisdicionais no
decorrer da investigação, da ação penal e da execução da pena, inclusive a transferência do
preso para estabelecimento prisional de segurança máxima ou para regime disciplinar
diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 2º Ao receber, segundo as regras normais de distribuição, processos ou procedimentos
que tenham por objeto os crimes mencionados no caput deste artigo, o juiz deverá declinar da
competência e remeter os autos, em qualquer fase em que se encontrem, à Vara Criminal
Colegiada de sua Circunscrição ou Seção Judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
§ 3º Feita a remessa mencionada no § 2º deste artigo, a Vara Criminal Colegiada terá
competência para todos os atos processuais posteriores, incluindo os da fase de execução.
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um e-mail para materiais@themas.com.br. Não esqueça de indicar o curso em que você está
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ANOTAÇÕES
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