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JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA
Versão Full
SUMÁRIO
1. JURISDIÇÃO .............................................................................................................................. 5
1.1. CONCEITO........................................................................................................................... 5
1.2. PRINCÍPIOS ......................................................................................................................... 5
1.2.1. INVESTIDURA ............................................................................................................... 5
1.2.2. INDELEGABILIDADE ..................................................................................................... 5
1.2.3. JUIZ NATURAL .............................................................................................................. 6
1.2.4. IMPRORROGABILIDADE .............................................................................................. 6
1.2.5. INEVITABILIDADE ......................................................................................................... 6
1.2.6. INDECLINABILIDADE .................................................................................................... 7
1.2.7. INÉRCIA ........................................................................................................................ 7
COM O PACOTE ANTICRIME, LEI 13.964/2019, A INÉRCIA FICOU AINDA MAIS
EVIDENTE. DE FATO, NÃO PODE MAIS O JUIZ DECRETAR CAUTELARES OU PRISÃO
PREVENTIVA DE OFÍCIO, MAS SOMENTE À REQUERIMENTO DOS INTERESSADOS. .... 7
1.2.8. RELATIVIDADE OU CORRELAÇÃO ............................................................................. 7
1.3. CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO .............................................................................. 10
2. COMPETÊNCIA ....................................................................................................................... 10
2.1. CRITÉRIOS ........................................................................................................................ 10
2
2.1.1. COMPETÊNCIA MATERIAL ........................................................................................ 11
2.1.2. COMPETÊNCIA FUNCIONAL ..................................................................................... 11
2.2. COMPETÊNCIA RATIONE MATERIAE .............................................................................. 11
VISA A IDENTIFICAR, PRIMEIRAMENTE, QUAL A JUSTIÇA COMPETENTE, SE A COMUM
(FEDERAL OU ESTADUAL) OU AS ESPECIALIZADAS (MILITAR, ELEITORAL,
TRABALHISTA). .................................................................................................................... 11
2.2.1. JUSTIÇA COMUM FEDERAL ...................................................................................... 11
2.2.1.1. CRIMES POLÍTICOS............................................................................................. 13
2.2.1.2. INFRAÇÕES PENAIS PRATICADAS EM DETRIMENTO DE BENS, SERVIÇOS
OU INTERESSES DA UNIÃO OU DE SUAS ENTIDADES AUTÁRQUICAS E EMPRESAS
PÚBLICAS, EXCLUÍDAS AS CONTRAVENÇÕES E RESSALVADA A COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA MILITAR E DA JUSTIÇA ELEITORAL ................................................................ 14
2.2.1.3. CRIMES PREVISTOS EM TRATADOS OU CONVENÇÃO INTERNACIONAL,
QUANDO INICIADA A EXECUÇÃO NO PAÍS, O RESULTADO TENHA OU DEVESSE TER
OCORRIDO NO ESTRANGEIRO, OU RECIPROCAMENTE ............................................. 32
2.2.1.4. CAUSAS RELATIVAS A DIREITOS HUMANOS E O INCIDENTE DE
DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA ............................................................................ 35
2.2.1.5. CRIMES CONTRA A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ........................................ 43
2.2.1.6. CRIMES CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO E A ORDEM ECONÔMICO-
FINANCEIRA ..................................................................................................................... 44
2.2.1.7. CRIMES COMETIDOS A BORDO DE NAVIOS E AERONAVES, RESSALVADA A
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR ............................................................................ 46
2.2.1.8. CRIMES DE INGRESSO OU PERMANÊNCIA IRREGULAR DE ESTRANGEIRO 47
2.2.1.9. DISPUTAS SOBRE DIREITO INDÍGENAS ........................................................... 48
2.2.1.10. HC E MS EM MATÉRIA CRIMINAL ..................................................................... 49
2.2.1.11. JÚRI FEDERAL ................................................................................................... 49
2.2.2. TRIBUNAL DO JÚRI .................................................................................................... 51
2.2.3. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL ................................................... 52
2.3. COMPETÊNCIA RATIONE LOCI OU TERRITORIAL.......................................................... 53
2.3.1. DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU....................................................................... 55
2.3.2. CRITÉRIO SUBSIDIÁRIO – PREVENÇÃO .................................................................. 55
2.3.3. CRIMES PRATICADOS A BORDO DE NAVIOS OU AERONAVES ............................ 59
2.3.4. CRIMES PRATICADOS NO EXTERIOR ...................................................................... 59 3
2.4. COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO E A QUESTÃO DAS VARAS
ESPECIALIZADAS .................................................................................................................... 59
2.5. COMPETÊNCIA RATIONE PERSONAE – COMPETÊNCIA ABSOLUTA ........................... 62
SOBRE A COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIMES COMETIDOS POR OU CONTRA
MEMBROS DO MPDFT, SEGUE QUADRO RESUMO ELABORADO PELO PROFESSOR
MARCIO ANDRÉ : CAVALCANTE, MÁRCIO ANDRÉ LOPES. CRIMES ENVOLVENDO
MEMBROS DO MPDFTMPDFT. BUSCADOR DIZER O DIREITO, MANAUS. DISPONÍVEL
EM:<HTTPS://WWW.BUSCADORDIZERODIREITO.COM.BR/JURISPRUDENCIA/DETALHE
S/01931A6925D3DE09E5F87419D9D55055>. ACESSO EM: 25/01/2020: ........................... 65
2.5.1. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO E POSICIONAMENTO DO STF ............ 66
2.5.2. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ELEITORAL ................................................................. 68
2.5.3. AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA E FORO “PRIVILEGIADO” .................. 69
2.5.4. PRERROGATIVA DE FORO E RENÚNCIA DO MANDATO PARLAMENTAR ............ 69
2.5.5. LEI DOS JUIZADOS CRIMINAIS E PRERROGATIVA DE FUNÇÃO: .......................... 70
2.5.6. PROCESSAMENTO DE GOVERNADORES PELA PRÁTICA DE CRIME COMUM E
DESNECESSIDADE DA PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA: .......... 70
2.5.7. FORO “PRIVILEGIADO” E CORRÉUS NÃO DETENTORES DE PRERROGATIVA DE
FUNÇÃO ............................................................................................................................... 71
2.6. COMPETÊNCIA ABSOLUTA X COMPETÊNCIA RELATIVA .............................................. 72
2.7. DISTRIBUIÇÃO .................................................................................................................. 73
2.7.1. DISTRIBUIÇÃO DE MEDIDAS PREPARATÓRIAS...................................................... 73
2.8. CONEXÃO E CONTINÊNCIA ............................................................................................. 74
2.8.1. CONEXÃO ................................................................................................................... 74
2.8.2. CONTINÊNCIA ............................................................................................................ 83
2.8.3. LIMITE TEMPORAL PARA RECONHECIMENTO DA CONEXÃO/CONTINÊNCIA...... 84
2.9. FORO PREVALENTE ......................................................................................................... 85
2.10. SEPARAÇÃO DE PROCESSOS ...................................................................................... 87
2.10.1. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA ................................................................................... 87
2.10.2. SEPARAÇÃO FACULTATIVA .................................................................................... 87
2.11. PERPETUATIO JURISDICTIONIS (ART. 81, CPP)........................................................... 88
2.12. PRORROGAÇÃO DA COMPETÊNCIA............................................................................. 89
2.13. CRIAÇÃO DE ÓRGÃOS COLEGIADOS DE 1º GRAU....................................................... 90
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1. JURISDIÇÃO
1.1. CONCEITO
1.2.1. INVESTIDURA
Somente pode exercer jurisdição o juiz devidamento investido na função, após ter logrado
aprovação em concurso público de provas e títulos, salvo os casos dos quintos constitucionais
previstos para os Tribunais. Trata-se de pressuposto processual subjetivo.
1.2.2. INDELEGABILIDADE
Decorrência do princípio do juiz natural. Por ele se impede que o juiz delegue a sua
jurisdição a um órgão distinto. E quando há expedição de carta precatória, está-se falando em
desrespeito a esse princípio? A doutrina se divide em duas:
1. Não há desrespeito. Isso porque existe previsão legal expressa para tal, há uma
exceção à indelegabilidade.
2. Não há desrespeito, porém também não há exceção. Isso porque o magistrado não
delega poderes, mas apenas e tão-somente está impossibilitado de praticar atos fora dos limites
de sua competência jurisdicional. O juiz deprecado apenas irá cumprir ato do próprio juiz
competente da causa. É a corrente que prevalece. Nucci assevera que há, neste caso, uma
delegação da competência e não da jurisdição.
O juízo que irá julgar a causa deve ser previamente definido, não se permitindo tribunais de
exceção. Não importa, entretanto, em ofensa a esse princípio a remessa de processos em
andamento a Varas com competência absoluta criadas posteriormente.
Assim, se manifesta em duas dimensões:
a) Juiz competente (art. 5º, LIII, CF): de acordo com as regras de determinação de
competência pré-estabelecidas;
b) Proibição de juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII, CF) toda pessoa somente pode
ser processada por juiz previamente investido do poder jurisdicional, decorre da vedação de
criação de tribunal de exceção (portanto não se confunde com as justiças especializadas) e
determina que o juiz deve ser previamente competente para o julgamento. Tribunal ou juízo de
exceção é o que é criado ou constituído depois do crime para julgá-lo.
1.2.5. INEVITABILIDADE
As partes não podem recusar o magistrado para o qual o processo foi distribuído, salvo nos
casos de impedimentos e suspeições.
1.2.6. INDECLINABILIDADE
O juiz não pode recusar a jurisdição. Não existe, no sistema brasileiro, a sentença
branca (na qual o juiz remete à instancia superior a decisão de uma questão prevista em tratado
internacional), nem é permitido o non liquet.
1.2.7. INÉRCIA
O magistrado não pode agir de ofício, em especial para a produção de provas. Há exceção
somente em relação às provas cautelares que devem ser produzidas antes de proposta a
ação penal e ao HC concedido de ofício no curso do processo. V.g., art. 225 do CPP:
Art. 225. Se qualquer testemunha houver de ausentar-se, ou, por enfermidade ou por
velhice, inspirar receio de que ao tempo da instrução criminal já não exista, o juiz poderá, de ofício
ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe antecipadamente o depoimento.
COM O PACOTE ANTICRIME, LEI 13.964/2019, A INÉRCIA FICOU AINDA MAIS EVIDENTE.
DE FATO, NÃO PODE MAIS O JUIZ DECRETAR CAUTELARES OU PRISÃO PREVENTIVA DE
OFÍCIO, MAS SOMENTE À REQUERIMENTO DOS INTERESSADOS.
2.1. CRITÉRIOS
A competência da Justiça Federal, na esfera criminal, pode ser vista sob dois aspectos: a)
competência criminal geral - ratione personae (ofensa a interesse direto e imediato da União, suas
entidades autárquicas, fundações, empresas públicas); b) competência criminal específica -
ratione materiae (violação a interesse indireto e mediato da União, manifestado pelo poder estatal
envolvido na soberania, art. 109, IV, 1ª parte, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI).
Como já dito, a competência em questão tem caráter absoluto. Havendo conexão ou
continência de crimes entre infrações da competência da justiça estadual e da justiça federal,
prevalecerá esta última, na forma da súmula 122 do STJ (salvo casos de contravenção, crime
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militar e eleitoral).
Registra-se, ainda, que a posição do STJ é de que, havendo desclassificação na
sentença de crime inicialmente de competência da justiça federal (narrado pela denúncia
como tal), não se aplica a regra da perpetuatio jurisdictionis. Os autos devem ser remetidos
à justiça comum, com a declaração de nulidade de todos os atos decisórios. Esse também é
o entendimento do STF(2ª Turma. HC 113845/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
20/8/2013).
Deve observar o aluno que no caso de posterior absolvição, a conclusão é diversa: “Definida
a competência da Justiça Federal para o processo e o julgamento de crime estadual e federal, em
razão da conexão ou continência, a absolvição posterior pelo crime federal não enseja
incompetência superveniente, em observância à regra expressa do artigo 81 do Código de
Processo Penal e ao princípio da perpetuatio jurisdicionis”. STF. 1ª Turma. RE 1002034 AgR, Rel.
Min. Roberto Barroso, julgado em 31/03/2017.
Destaca-se que o STF já afastou a competência da justiça do trabalho para julgar e
processar ações penais, a saber:
“Competência criminal. Justiça do Trabalho. Ações penais. Processo e julgamento.
Jurisdição penal genérica. Inexistência. Interpretação conforme dada ao art. 114, I, IV e IX, da CR,
acrescidos pela EC n. 45/2004. Ação direta de inconstitucionalidade. Liminar deferida, com efeito,
ex tunc. O disposto no art. 114, I, IV e IX, da Constituição da República, acrescidos pela Emenda
Constitucional n. 45, não atribui à Justiça do Trabalho competência para processar e julgar ações
penais.” (ADI 3.684-MC, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 1º-2-07, DJE de 3-8-07)
Esses crimes não estão definidos na CR/88. A doutrina deles trata como crimes dirigidos,
subjetiva e objetivamente, de modo imediato, contra o Estado enquanto unidade orgânica
concretizadora das instituições políticas e sociais. Atualmente, deles tratam a Lei nº 7.170/83.
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Crime político é aquele que lesiona ou ameaça lesionar a estrutura política vigente em
um país, as instituições e os valores do Estado. Alguns autores o definem tomando em
consideração o móvel que anima o agente (ofensa à ordem política da União, estados, DF ou
municípios). Para Damásio de Jesus, os crimes políticos dividem-se em puros e mistos (ofendem
simultaneamente a ordem política e outro bem jurídico). Não são da competência da Justiça
Federal os crimes propriamente militares ou eleitorais de natureza política.
Para Vladimir Souza Carvalho, a competência federal para o julgamento dos crimes
políticos depende de dois pressupostos: 1) a definição de crime político por lei ordinária; e 2) a
atribuição de competência à Justiça Federal, também por lei ordinária. Assim, não haveria
hoje crime político a ser julgado no âmbito federal. Os crimes previstos na Lei de Segurança
Nacional seriam da competência da Justiça Militar. Mas, para Roberto Silva Oliveira, os artigos
da Lei nº 7.170/83 que atribuíam à Justiça Militar a competência para julgar as infrações
contra a segurança nacional não foram recepcionados pela CR/88. Portanto, esses crimes são
políticos e da competência da Justiça Federal.
A CF (art. 102, II, b) estabelece que compete ao STF julgar em Recurso Ordinário o crime
político. Assim, da sentença proferida por juiz federal em relação a crime político não cabe
apelação, mas ROC ao STF.
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Dito isso, é preciso ter em mente que são bens da União todos aqueles arrolados no art.
20 da CR/88. Recaindo a conduta criminosa sobre tais bens, a competência será, em regra,
da Justiça Federal.
Igualmente se a conduta recair sobre os bens das fundações públicas de direito público,
autarquias e empresas públicas federais.
Casuística
Súmula 208, STJ : “Compete à justiça federal processar e julgar prefeito municipal por
desvio de verba sujeita a prestação de contas perante o órgão federal”.
Súmula 209, STJ: “Compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de
verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
Extração ilegal de minérios (art. 55, Lei nº 9.605/98). É crime de competência da Justiça
Federal, pois os recursos minerais são bens da União.
Extração de areia. Depende do local. Se ocorrer em lagos, rios e quaisquer correntes
de água em terrenos de domínio da União, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de
limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem
como os terrenos marginais e as praias fluviais, em ilhas fluviais e lacustres nas zonas
limítrofes com outros países, as praias marítimas, ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas,
destas, as áreas referidas no art. 26, II, CR, será da competência da Justiça Federal. As
infrações cometidas em outros locais serão da competência da Justiça Estadual. (Nesse
sentido: CC 49.330/RJ, Rel. Ministro Paulo Medina, Terceira Seção, julgado em 13.09.2006,
DJ 05.02.2007). Ainda sobre o tema, relevante o seguinte precedente:
Inserir dados falsos em CTPS com o fim de levantar depósito do FGTS, omissão de
dados CTPS e estelionato e falsidade ideológica praticados para recebimento de benefício
do INSS são considerados crimes federais.
Não obstante, o STF, via primeira turma, já entendeu que a omissão na anotação da CTPS
seria de competência estadual. (STF. 1ª Turma. Ag.Reg. na Pet 5084, Rel. Min. Marco Aurélio,
julgado em 24/11/2015).
Conflito negativo de competência. Penal. Delito de falsificação de documento público.
Omissão de dados na carteira de trabalho e previdência social do empregado. Lesão direta a
interesse da união. Art. 109, inciso IV, da Carta Magna. Competência da justiça federal.
A partir do julgamento no conflito de competência n. 127.706/RS, de relatoria do Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, esta egrégia Terceira Seção pacificou o entendimento no sentido de
que "o sujeito passivo primário do crime omissivo do art. 297, § 4.º, do Diploma Penal, é o Estado,
e, eventualmente, de forma secundária, o particular, terceiro prejudicado, com a omissão das
informações, referentes ao vínculo empregatício e a seus consectários da CTPS. Cuida-se,
portanto de delito que ofende de forma direta os interesses da União, atraindo a
competência da Justiça Federal, conforme o disposto no art. 109, IV, da Constituição
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Federal" (DJe 9/4/2014).
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(AgRg no CC 154.855/SP, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Terceira Seção, julgado
em 13/12/2017, DJe 15/12/2017)
Habeas corpus. Hospital credenciado com o sistema único de saúde. Estelionato cometido
contra o SUS. Recebimento de despesa de paciente que possui plano de saúde particular.
Prejuízo da união. Competência da justiça federal. Cobrança indevida de valores de paciente
usuário do SUS. Estelionatos em continuidade delitiva. Súmula nº 122/STJ. Ilegalidade.
Inocorrência. Ordem denegada.
1. Hipótese em que o primeiro fato criminoso imputado ao paciente deixa certo o prejuízo ao SUS
e, por conseguinte, a competência da Justiça Federal. Isso porque o paciente, mesmo recebendo
do plano de saúde privado os valores referentes aos atendimentos médicos e internações,
expedia autorizações de internação ideologicamente falsas ao SUS, induzindo-o a erro. Por isso,
também recebia do Sistema Único de Saúde, indevidamente, os valores que já haviam sido pagos
pela empresa particular.
2. Evidenciado que o primeiro crime foi cometido em detrimento do Sistema Único de Saúde, é
certa a competência da Justiça Federal para apreciar e julgar o paciente, independentemente de
quem seja o prejudicado pelo segundo delito, haja vista a conexão, incidindo o enunciado n° 122
desta Corte Superior de Justiça.
[...]
(STJ, HC 76.689/RS, Rel. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, julgado em
17/06/2010, DJe 04/10/2010)
“Hipótese em que a intenção dos agentes era a de obter vantagem ilícita em detrimento do
SUS, na medida em que visavam, mediante a apresentação de documentação ideologicamente
falsa, ao pagamento de uma cirurgia estética não coberta pelo referido sistema de saúde. (...) 3.
Nesse contexto narrado pela denúncia há, pelo menos, um crime de tentativa de estelionato
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contra o SUS – o que basta para a fixação da competência da Justiça Federal, a teor do art. 109,
inciso V, da Constituição da República –, sendo que o possível prejuízo suportado pela Clínica é
questão adstrita à esfera cível a ser resolvida pelo juiz natural da causa. (STJ, HC 70.912/MT, Rel.
Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 21.02.2008, DJ 17.03.2008)
Súmula 73, STJ: “A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em tese,
o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual”.
Caso especial: STJ. 3ª Seção. CC 116527-BA, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
11/4/2012 – Decidiu que inexiste conexão no caso em que o acusado foi pego com drogas e
dinheiro falso, sendo o tráfico de competência estadual e o crime de falsificação de moeda de
competência federal.
Outros casos:
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ROUBO. CARTEIRO. COMPETÊNCIA.
Aqui há uma peculiaridade: o serviço postal pode ser objeto de contrato de franquia.
Nesse caso, se o lesado for o franqueado a competência será da justiça estadual e não da
justiça federal já que não terá havido lesão direta a União. O furto praticado numa dessas 23
agências franqueadas vai atingir diretamente o patrimônio do franqueado e não o patrimônio das
EBCT. O mesmo ocorre em relação ao Banco Postal:
Veja que o STJ, inovando, reconheceu a “agência de correio comunitária”, que opera
mediante convênio, e não franquia com particulares. Nesse caso, a competência será da Justiça
Federal:
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interesse público ou social no funcionamento do serviço postal por parte da empresa
pública federal e por isso há maior similitude com as agências próprias. Dessa forma, a
competência será da Justiça Federal. CC 122.596-SC, 3S, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 8/8/2012.
INTERESSES
Para firmar a competência federal, o interesse deve ser imediato, direto, específico.
Casuística
Súmula 62, STJ: “compete à justiça estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
CTPS, atribuído à empresa privada”. Mas, se a falsificação for realizada para viabilizar o
recebimento de seguro-desemprego, programa mantido com recursos federais (FAT), a
competência é da Justiça Federal.
Crimes contra a Previdência Social previstos no Código Penal (arts. 168-A e 337-A) são
da competência federal, assim como o crime contra a ordem tributária (Lei nº 8.137/91) que
envolver tributo federal.
Crime de arma de fogo, embora caiba ao órgão federal a fiscalização, a competência é da
justiça estadual, mesmo nos casos de arma “raspada”, de uso proibido ou origem estrangeira.
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Penal. Conflito de competência. Crime de porte ilegal de arma de fogo com numeração
raspada. Art. 16, Parágrafo único, incisos I e IV, da Lei 10.826/03. Ofensa à fé pública da união.
Não-ocorrência. Ausência de ofensa a bens, serviços ou interesses da união. Competência da
justiça estadual.
1. A Lei 10.826/03 (Estatuto do Desarmamento) visa melhorar a segurança pública, através do
recolhimento de armas de fogo e munições sem os registros pertinentes, tendo como bem jurídico
tutelado a segurança pública.
2. Em regra, a competência para processar e julgar os crimes elencados na Lei 10.826/03 é da
competência da Justiça Estadual.
3. O fato de o registro de armas ser efetuado no órgão submetido ao Ministério da Justiça, por si
só, não enseja o deslocamento da competência para a Justiça Federal, o que revela interesse
genérico e reflexo da União, pois não há ofensa a seus bens, serviços ou interesses.
4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 2ª Vara Criminal de Campo
Grande/RJ, ora suscitante.
(STJ, CC 98.787/RJ, Rel. Ministro Arnaldo Esteves Lima, Terceira Seção, julgado em 26/08/2009,
DJe 23/09/2009)
“O porte ilegal de arma de fogo de uso restrito ou proibido ou de origem estrangeira não enseja,
por si só, a competência da justiça federal. Somente ocorrerá o deslocamento da competência,
quando houve lesão aos bens, interesses ou serviços da União Federal” (HC 59.349/RJ, Rel.
Ministra Laurita Vaz, Quinta Turma, julgado em 07.11.2006, DJ 18.12.2006 p. 426)
OBS: Deve ser feita ressalva para o caso de tráfico transnacional de armas, que atrai a
competência federal, vide julgado recente de 2019 do STJ:
Crimes contra as finanças públicas (CP art. 359-A a 359H) serão da competência da
Justiça Federal, se as finanças forem da União.
Crimes Ambientais. Aqui, há muitas situações de dúvida na definição da competência.
Mas, sempre se deve ter presente que somente ocorrerá competência federal se houver ofensa a
bens, serviços ou interesses DIRETOS da União. Em regra, é da competência da Justiça
Estadual. Lembre-se, ainda, que a súmula 91 do STJ foi cancelada, a qual atribuía à justiça
federal os crimes contra a fauna. No mesmo rumo, foi a razão do veto ao art. 26, parágrafo
único, da Lei de Crimes Ambientais.
Não compete à JF julgar crime ambiental ocorrido em programa Minha Casa Minha Vida
pelo simples fato de a CEF ter atuado como agente financiador da obra:
Conflito de competência. Crime ambiental. Poluição. Art. 54, § 2º, V da Lei n. 9.605/98.
Deságue de esgoto em nascentes localizadas em área de proteção ambiental. Programa
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habitacional popular minha casa minha vida (PMCMV). Fiscalização da aplicação dos recursos
públicos pela Caixa Econômica Federal (CEF). Atuação como mero agente financeiro.
Fiscalização do cronograma da obra para liberação de recursos. Contrato que isenta a CEF de
responsabilidade pela higidez da obra. Competência da justiça estadual. 1. O presente conflito de
competência deve ser conhecido, por se tratar de incidente instaurado entre juízos vinculados a
Tribunais distintos, nos termos do art. 105, inciso I, alínea d, da Constituição Federal. 2. Em
análise à jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça - STJ constata-se haver
diferenciação de responsabilidade da CEF conforme sua atuação como agente meramente
financeiro ou como agente executor de políticas públicas responsável pela execução da
obra. Todavia, verifica-se que o fato de o imóvel não estar edificado não implica, por si só,
a responsabilização da CEF por dados causados pela obra, sendo imprescindível a análise
contratual e riscos por ela assumidos. Precedentes. Para a responsabilização da CEF por
dano ambiental causado pela obra é imprescindível sua atuação na elaboração do projeto,
mormente em se tratando de direito penal que inadmite a responsabilidade objetiva. O
contrato entre a CEF e a construtora evidencia que o acompanhamento da obra foi restrito à
verificação de conclusão de etapas para a liberação do financiamento, sem responder, contudo,
pela higidez da obra, que ficou a cargo apenas da construtora. Na espécie, verifica-se que a
fiscalização da CEF limitou-se ao cumprimento do cronograma da obra para fins exclusivamente
financeiros. 3. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da
Vara do Juizado Especial Criminal de Santa Rosa/RS, o suscitante. (CC 139.197/RS, Rel. Ministro
Joel Ilan Paciornik, Terceira Seção, julgado em 25/10/2017, DJe 09/11/2017)
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de navios ou aeronaves; (d) houver grave violação de direitos humanos; ou ainda (e) guardarem
conexão ou continência com outro crime de competência federal; ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral, conforme previsão expressa da Constituição. (...) 7. (a) Os
compromissos assumidos pelo Estado Brasileiro, perante a comunidade internacional, de
proteção da fauna silvestre, de animais em extinção, de espécimes raras e da
biodiversidade, revelaram a existência de interesse direto da União no caso de condutas
que, a par de produzirem violação a estes bens jurídicos, ostentam a característica da
transnacionalidade. (b) Deveras, o Estado Brasileiro é signatário de Convenções e acordos
internacionais como a Convenção para a Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas
Naturais dos Países da América (ratificada pelo Decreto Legislativo nº 3, de 1948, em vigor no
Brasil desde 26 de novembro de 1965, promulgado pelo Decreto nº 58.054, de 23 de março de
1966); a Convenção de Washington sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e da
Fauna Selvagens em Perigo de Extinção (CITES ratificada pelo Decreto-Lei nº 54/75 e
promulgado pelo Decreto nº 76.623, de novembro de 1975) e a Convenção sobre Diversidade
Biológica CDB (ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo nº 2, de 8 de fevereiro de
1994), o que destaca o seu inequívoco interesse na proteção e conservação da biodiversidade e
recursos biológicos nacionais. (c) A República Federativa do Brasil, ao firmar a Convenção para a
Proteção da Flora, da Fauna e das Belezas Cênicas Naturais dos Países da América, em vigor no
Brasil desde 1965, assumiu, dentre outros compromissos, o de “tomar as medidas necessárias
para a superintendência e regulamentação das importações, exportações e trânsito de espécies
protegidas de flora e fauna, e de seus produtos, pelos seguintes meios: a) concessão de
certificados que autorizem a exportação ou trânsito de espécies protegidas de flora e fauna ou de
seus produtos”. (d) Outrossim, o Estado Brasileiro ratificou sua adesão ao Princípio da Precaução,
ao assinar a Declaração do Rio, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
e Desenvolvimento (RIO 92) e a Carta da Terra, no “Fórum Rio+5”; com fulcro neste princípio
fundamental de direito internacional ambiental, os povos devem estabelecer mecanismos de
combate preventivos às ações que ameaçam a utilização sustentável dos ecossistemas,
biodiversidade e florestas, fenômeno jurídico que, a toda evidência, implica interesse direto da
União quando a conduta revele repercussão no plano internacional. (...) 10. Recurso
extraordinário a que se dá provimento, com a fixação da seguinte tese: “Compete à Justiça
Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais
silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por Tratados e
Convenções internacionais”.
(RE 835558, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Tribunal Pleno, julgado em 09/02/2017, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-174 DIVULG 07-08-2017 PUBLIC 08-08-2017)
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Crime cometido no exterior: Quem julga, no Brasil, crime cometido por brasileiro no
exterior e cuja extradição tenha sido negada?
Segundo o STF: O fato de o delito ter sido cometido por brasileiro no exterior, por si só, não
atrai a competência da justiça federal. Assim, em regra, compete à Justiça Estadual julgar o
crime praticado por brasileiro no exterior e que lá não foi julgado em razão de o agente ter fugido
para o Brasil, tendo o nosso país negado a extradição para o Estado estrangeiro. Somente será
de competência da Justiça Federal caso se enquadre em alguma das hipóteses do art. 109 da
CF/88. (STF. 1ª Turma. RE 1.175.638 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 2/4/2019 –
Info 936).
Contudo, o STJ entende de forma diversa: Compete à Justiça Federal o processamento e
o julgamento da ação penal que versa sobre crime praticado no exterior que tenha sido transferida
para a jurisdição brasileira, por negativa de extradição. (STJ. 3ª Seção. CC 154.656-MG, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 25/04/2018 – Info 625). Este entendimento já foi objeto de questão de
prova para ingresso na magistratura:
Ano: 2018 Banca: IBFC Órgão: TRF - 2ª REGIÃO Prova: IBFC - 2018 - TRF - 2ª REGIÃO -
Juiz Federal Substituto
Sobre a competência em processo penal assinale a alternativa correta:
A - Compete à Justiça Federal o processamento e o julgamento de ação penal que versa sobre
crime praticado no exterior, que tenha sido transferida para a jurisdição brasileira por negativa de
extradição.
B - O simples fato de o delito ser praticado pela internet é suficiente para fixar a competência da
Justiça Federal, sendo desnecessário demonstrar a internacionalidade da conduta ou de seus
resultados.
C - Compete ao Superior Tribunal de Justiça dirimir conflito de competência entre Tribuna]
Regional Federal e Turma Recursal de Juizado Especial Federal Criminal de uma mesma Região,
independentemente da existência de subordinação administrativa.
D - Compete à Justiça Federal processar e julgar crimes de competência da Justiça Estadual,
sempre que os delitos tenham sido descobertos em cumprimento de mandado de busca e
apreensão expedido por juiz federal, sendo irrelevante, na hipótese, avaliar a existência de
conexão entre as causas.
E - Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crimes relativos ao desvio de verbas
públicas repassadas pela União aos municípios, ainda que sujeitas à posterior prestação de
contas perante órgão federal.
Gabarito: Letra A
Disponibilizar ou adquirir material pornográfico envolvendo criança ou adolescente é 30
delito de competência federal, quando praticado por meio da Internet.
Veja Ano: 2014 Banca: TRF - 2ª Região Órgão: TRF - 2ª REGIÃO Prova: TRF - 2ª Região -
2014 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal
Analise as proposições e, ao final, responda:
I – É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados em
detrimento de bens, serviços ou interesse de fundações públicas federais.
II - É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados em
detrimento de bens de concessionária de serviços públicos federais.
III - É da competência penal da Justiça Federal processar e julgar os crimes contra a fauna.
A - Apenas a assertivas I está correta.
B - Apenas as assertivas I e II estão corretas. 32
C - Apenas as assertivas I e III estão corretas.
D - Apenas as assertivas II e III estão corretas.
E - Todas as assertivas estão corretas.
Gabarito: Letra A
questão sobre alguns temas até aqui analisados:
Nesses casos, mesmo que o crime tenha sido previsto em tratado ou convenção, caso a
infração se limite às fronteiras brasileiras, a competência será da Justiça estadual. Isso porque a
Constituição determinou a TRANSNACIONALIDADE do crime para que ele seja afeto à
Justiça Federal. Trata-se, pois, de crimes à distância. V.g., o Brasil é signatário de tratado no
qual se compromete a combater o tráfico de entorpecentes. Entretanto, tal crime geralmente será
de competência da Justiça estadual, salvo se houver entrada ou saída de drogas do país, ou seja,
se evidenciada sua transnacionalidade.
Ademais, se o crime tiver conexão internacional, mas não existir tratado ou convenção
internacional prevendo a sua repressão, não se configura a competência da JF. Nesse
sentido:
O IDC também é cabível em matéria de ações de cunho civil, uma vez que os
pressupostos expostos podem perfeitamente restar configurados nessa seara processual.
Sobre o tema, são relevantes os seguintes julgados, especialmente por destacarem todos os
requisitos para a admissibilidade do instituto:
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das atividades estatais tendentes à responsabilização dos autores dos delitos apontados, a
ineficiência constitui a ausência de obtenção de resultados úteis e capazes de gerar
consequências jurídicas, não obstante o conjunto de providências adotadas.
7. Ainda que seja evidente que a ineficiência dos órgãos encarregados de investigação,
persecução e julgamento de crimes contra os direitos humanos, é situação grave e deve
desencadear no seio dos Conselhos Nacionais e dos órgãos correcionais a tomada de
providências aptas à sua resolução, não é ela, substancialmente, o propulsor da necessidade de
deslocamento da competência. Ao contrário, é a ineficácia do Estado, revelada pela total ausência
de capacidade de mover-se e, assim, de cumprir papel estruturante de sua própria existência
organizacional, o fator desencadeante da federalização.
Desnecessidade do deslocamento em inúmeros casos atestada pelo próprio procurador-geral da
república em sua derradeira manifestação. Delitos que foram objeto de investigação, denúncia e
pronunciamento judicial pelas autoridades do estado de goiás. Pleito de rejeição acolhido.
1. Não persistindo mais o desejo de alteração da competência da Justiça Estadual à Justiça
Federal, consoante derradeira manifestação do Procurador-Geral da República, merece ser
adotada parte de sua conclusão para rejeição do pedido: Como se extrai da verificação
individualizada dos diversos feitos mencionados na petição inicial, é inegável reconhecer que,
quanto a alguns deles, não se tem elementos suficientes para afirmar a incapacidade das
autoridades estaduais de fornecerem resposta ainda tempestiva, afastando o risco, neste
momento, de se ter como caracterizada a hipótese de deslocamento de competência (pág.1868).
Deslocamento da competência. Morosidade judiciária que, por si só, não justifica a pretensão.
Adoção de providências diversas mais eficazes. Crimes também alvo de investigação policial e
deflagração de ações penais em trâmite na primeira instância. Causas complexas. Lentidão
processual que não tem o condão de determinar a transferência da competência da Justiça
estadual à justiça federal. Proporcionalidade que recomenda outras medidas. Rejeição do pedido
principal neste ponto.
1. Existindo, mesmo diante de duas (02) ações penais complexas, pela natureza da causa, pelo
envolvimento de agentes estatais e o próprio número de denunciados e vítimas, a investigação
policial que permitiu a oferta de denúncia e resposta pelo Poder Judiciário de 1º Grau, inviável e
desproporcional mostra-se a procedência do pleito de deslocamento. Mesmo sendo perceptível
que os atos não transcorrem em prazo desejável, nessas situações específicas não se encontra
caracterizada a incapacidade, ineficácia, omissão ou mesmo inércia das autoridades constituídas
39
do Estado de Goiás, valendo anotar-se que a morosidade judiciária não é aludida, neste incidente
constitucional, como fundamento direto da pretensão.
2. A excepcionalidade do deslocamento de competência implica que à sua acolhida não é
suficiente a mera confirmação de atraso na prestação jurisdicional, recomendando-se a adoção de
medidas diversas, menos drásticas e, quiçá, mais eficazes, como solução do quadro apontado.
3. Em cinco (05) ações penais referidas pelo Procurador-Geral da República, consoante
demonstram os autos, ocorreu, a priori, a regular investigação por parte das autoridades policiais,
desencadeadora da oferta de denúncia pelo Ministério Público Estadual, após o que, diante da
complexidade dos crimes, iniciou-se um processo ainda não concluído.
4. Apesar de estarmos diante de preocupante atraso na prestação jurisdicional, tal cenário não
revela a incapacidade, ineficácia, omissão ou inércia por parte das autoridades goianas, requisito
indispensável à procedência deste incidente, pois o fator primordial para o deslocamento da
competência é a ineficácia dos órgãos estatais encarregados da investigação, persecução e
julgamento dos crimes.
5. Invocando-se novamente o princípio da proporcionalidade, mostra-se viável e adequada a
implementação de medidas distintas por este Superior Tribunal de Justiça, que poderão trazer
celeridade e eficácia à resposta penal.
Inquéritos policiais referentes a crimes de tortura e supostos homicídios, atribuídos a agentes
estatais, ainda não concluídos. Ausência de fundamento plausível para o grave atraso na
persecução penal. Diligências recentes, após a propositura deste incidente constitucional, que não
indicam solução às investigações. Quadro a demonstrar ineficácia da atuação das autoridades.
Fatos característicos de grave violação a direitos humanos. Procedência, neste particular, do
pleito de deslocamento de competência.
1. Somente após 06 (seis) anos da data do episódio, com a instauração deste incidente e a
realização de uma diligência in loco, os órgãos estatais perceberam o desparecimento de uma
pessoa em circunstâncias que supõem a ocorrência de um homicídio e, então, determinaram a
instauração do competente inquérito policial. Este cenário indica a total ineficácia da atuação das
autoridades locais no caso específico, desnudando situação de grave omissão dos deveres do
Estado, ainda mais quando os órgãos competentes, mesmo formalmente cientes de que um
cidadão havia desaparecido, fato indicador de um delito contra a vida, nada fizeram a respeito de
imediato.
2. D'outra parte, é perceptível, e justifica o deslocamento de competência da Justiça Estadual para
40
a Federal, a desarmonia nas atividades destinadas à persecução penal quando, embora se tenha
como reconhecida na fase indiciária a responsabilidade disciplinar dos investigados, não há a
imediata tomada de providências para oferta da imputação penal. No particular, observa-se que, a
despeito da existência de sindicância com o indiciamento de diversos policiais e de inquérito
policial instaurado, passados quatro (04) anos da suposta prática delitiva, as autoridades ainda se
batem pela obtenção de informações a respeito da conclusão ou não do procedimento indiciário.
3. Restando demonstrado, por fim, que somente a deflagração do IDC determinou o impulso à
investigação do desparecimento de dois (02) indivíduos na Comarca de Alvorada do Norte, ao que
tudo indica fruto de atuação ilícita de policiais militares, necessário aqui também o deslocamento
de competência requerido pelo Procurador-Geral da República, mormente quando evidente que
decorridos quase cinco (05) anos do fato e aproximadamente seis (06) meses da diligência in
loco, não se tem notícias de progressão na persecução penal.
4. Incidente de Deslocamento de Competência julgado procedente, em parte, nos termos do voto
do Relator.
(IDC 3/GO, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 10/12/2014, DJe 02/02/2015)
Incidente de deslocamento de competência. Justiças estaduais dos estados da paraíba e de
Pernambuco. Homicídio de vereador, notório defensor dos direitos humanos, autor de diversas
denúncias contra a atuação de grupos de extermínio na fronteira dos dois estados. Ameaças,
atentados e assassinatos contra testemunhas e denunciantes. Atendidos os pressupostos
constitucionais para a excepcional medida.
1. A teor do § 5.º do art. 109 da Constituição da República, introduzido pela Emenda
Constitucional n.º 45/2004, o incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal
fundamenta-se, essencialmente, em três pressupostos: a existência de grave violação a direitos
humanos; o risco de responsabilização internacional decorrente do descumprimento de
obrigações jurídicas assumidas em tratados internacionais; e a incapacidade das instâncias e
autoridades locais em oferecer respostas efetivas.
2. Fatos que motivaram o pedido de deslocamento deduzido pelo Procurador-Geral da República:
o advogado e vereador pernambucano MANOEL BEZERRA DE MATTOS NETO foi assassinado
em 24/01/2009, no Município de Pitimbu/PB, depois de sofrer diversas ameaças e vários
atentados, em decorrência, ao que tudo leva a crer, de sua persistente e conhecida atuação
contra grupos de extermínio que agem impunes há mais de uma década na divisa dos Estados da
Paraíba e de Pernambuco, entre os Municípios de Pedras de Fogo e Itambé.
41
3. A existência de grave violação a direitos humanos, primeiro pressuposto, está sobejamente
demonstrado: esse tipo de assassinato, pelas circunstâncias e motivação até aqui reveladas, sem
dúvida, expõe uma lesão que extrapola os limites de um crime de homicídio ordinário, na medida
em que fere, além do precioso bem da vida, a própria base do Estado, que é desafiado por grupos
de criminosos que chamam para si as prerrogativas exclusivas dos órgãos e entes públicos,
abalando sobremaneira a ordem social.
4. O risco de responsabilização internacional pelo descumprimento de obrigações derivadas de
tratados internacionais aos quais o Brasil anuiu (dentre eles, vale destacar, a Convenção
Americana de Direitos Humanos, mais conhecido como "Pacto de San Jose da Costa Rica") é
bastante considerável, mormente pelo fato de já ter havido pronunciamentos da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos, com expressa recomendação ao Brasil para adoção de
medidas cautelares de proteção a pessoas ameaçadas pelo tão propalado grupo de extermínio
atuante na divisa dos Estados da Paraíba e Pernambuco, as quais, no entanto, ou deixaram de
ser cumpridas ou não foram efetivas. Além do homicídio de MANOEL MATTOS, outras três
testemunhas da CPI da Câmara dos Deputados foram mortos, dentre eles LUIZ TOMÉ DA SILVA
FILHO, ex-pistoleiro, que decidiu denunciar e testemunhar contra os outros delinquentes. Também
FLÁVIO MANOEL DA SILVA, testemunha da CPI da Pistolagem e do Narcotráfico da Assembleia
Legislativa do Estado da Paraíba, foi assassinado a tiros em Pedra de Fogo, Paraíba, quatro dias
após ter prestado depoimento à Relatora Especial da ONU sobre Execuções Sumárias, Arbitrárias
ou Extrajudiciais. E, mais recentemente, uma das testemunhas do caso Manoel Mattos, o
Maximiano Rodrigues Alves, sofreu um atentado a bala no município de Itambé, Pernambuco, e
escapou por pouco. Há conhecidas ameaças de morte contra Promotores e Juízes do Estado da
Paraíba, que exercem suas funções no local do crime, bem assim contra a família da vítima
Manoel Mattos e contra dois Deputados Federais.
5. É notória a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas,
reconhecida a limitação e precariedade dos meios por elas próprias. Há quase um
pronunciamento uníssono em favor do deslocamento da competência para a Justiça Federal,
dentre eles, com especial relevo: o Ministro da Justiça; o Governador do Estado da Paraíba; o
Governador de Pernambuco; a Secretaria Executiva de Justiça de Direitos Humanos; a Ordem
dos Advogados do Brasil; a Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado da
Paraíba.
6. As circunstâncias apontam para a necessidade de ações estatais firmes e eficientes, as quais,
42
por muito tempo, as autoridades locais não foram capazes de adotar, até porque a zona limítrofe
potencializa as dificuldades de coordenação entre os órgãos dos dois Estados. Mostra-se,
portanto, oportuno e conveniente a imediata entrega das investigações e do processamento da
ação penal em tela aos órgãos federais.
7. Pedido ministerial parcialmente acolhido para deferir o deslocamento de competência para a
Justiça Federal no Estado da Paraíba da Ação Penal n.º 022.2009.000.127-8, a ser distribuída
para o Juízo Federal Criminal com jurisdição no local do fato principal; bem como da investigação
de fatos diretamente relacionados ao crime em tela. Outras medidas determinadas, nos termos do
voto da Relatora.
(IDC. 2/DF, Rel. Ministra Laurita Vaz, Terceira Seção, julgado em 27/10/2010, DJe 22/11/2010)
Ano: 2014 Banca: MPE-PR Órgão: MPE-PR Prova: MPE-PR - 2014 - MPE-PR - Promotor
Quanto ao incidente constitucional de deslocamento de competência de um caso criminal da
esfera estadual para a Justiça Federal é correto dizer:
A) Preceitua a Constituição Federal que lei complementar definirá os crimes, conjugados à
comprovação de grave violação de direitos humanos, em relação aos quais caberá o incidente de
deslocamento de competência;
B) O Procurador-Geral de Justiça, do estado federativo do local do crime, é legitimado pela CF
para ajuizar o incidente perante o Superior Tribunal de Justiça;
C) A inoperância do aparato policial do Estado Federativo para solucionar o crime, é um dos
requisitos explicitados na norma constitucional para motivar o deslocamento da competência do
caso criminal para a Justiça Federal;
D) Mesmo que o processo criminal esteja em vias de julgamento, não restará impedida a
propositura do incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal;
E) Conforme estatui a Constituição Federal, cabe ao Procurador-Geral da República propor o
incidente de deslocamento de competência junto ao Supremo Tribunal Federal.
Gabarito: Letra D
Engloba os crimes previstos nos arts. 197 a 207 do CP, mas somente serão julgados na
Justiça Federal se houver ofensa à coletividade dos trabalhadores, não ofensas individuais. Os
crimes decorrentes de greve são da competência da Justiça federal, porque a greve é um
movimento de defesa da coletividade, é uma deliberação coletiva dos trabalhadores. Todo ato
contrário ou abusivo ao direito de greve caracteriza infração à organização geral do trabalho.
Observem o delito do art. 203 do CP: “frustrar, mediante fraude ou violência, direito 43
assegurado pela legislação do trabalho”. O STJ decidiu que se tal crime for praticado contra um
trabalhador, competirá à Justiça Estadual processar e julgar o feito (CC 108.867/SP, DJe de
19/4/2010).
Até pouco tempo atrás se considerava que o crime de redução à condição análoga à de
escravo (art. 149, CP) era crime contra a organização do trabalho, devendo ser afeto à Justiça
Federal, ainda que praticado em face de somente uma pessoa.
O STF pacificou o tema, para fixar a competência da Justiça Federal:
Nesses casos, não basta que o crime afete o Sistema Financeiro Nacional para que a
competência seja federal, é imprescindível que lei ordinária preveja expressamente que os
crimes serão julgados pela Justiça Federal. É o que ocorre, v.g., na Lei nº 7.492/96. Sendo
assim, mesmo que praticado contra pessoa jurídica de direito privado, é da justiça federal a
competência. Nesse sentido:
“A Turma indeferiu habeas corpus em que alegada a competência da justiça estadual para
processar e julgar os pacientes, denunciados por estelionato e pela suposta prática de crime
contra o Sistema Financeiro Nacional (CP, art. 171 e Lei 7.492/86, art. 5º), consistente na
operação, em instituição financeira de direito privado, de esquema de pagamento de notas frias. A
impetração sustentava que o feito envolveria apenas interesses privados e que os pacientes não
ocupavam, à época dos fatos, cargo de direção ou de administração naquela instituição, o que
afastaria a incidência da referida Lei 7.492/86. Reputou-se que a regra nela contida (‘Art. 26. A
ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida pelo Ministério Público Federal,
perante a Justiça Federal.’) não colidiria com aquela prevista no art. 109, VI, da CR (...). Nesse
sentido, entendeu-se acertada a decisão do STJ que assentara a competência da justiça
federal para o processamento da causa, não obstante o envolvimento de instituição
privada. No ponto, enfatizou-se a presença de interesses da União consubstanciados no
controle, na higidez e na legalidade do Sistema Financeiro Nacional. Ademais, em reforço à
atração da competência da justiça federal para o exame do caso, ressaltou-se que a denúncia
noticiaria que a operação do esquema delituoso utilizara-se da falsificação de documento
supostamente emitido pelo Banco Central do Brasil e que um dos pacientes detinha, à época dos
fatos, poderes e atribuições próprias de gerente de operações.” (HC 93.733).
Processual penal. Factoring. Crime contra o sistema financeiro nacional. Inexistência. Empréstimo
a juros abusivos. Usura. Competência da justiça estadual.
1. A caracterização do crime previsto no art. 16, da Lei n° 7.492/86, exige que as operações
irregulares tenham sido realizadas por instituição financeira.
2. As empresas popularmente conhecidas como factoring desempenham atividades de fomento
mercantil, de cunho meramente comercial, em que se ajusta a compra de créditos vencíveis,
mediante preço certo e ajustado, e com recursos próprios, não podendo ser caracterizadas como
instituições financeiras.
3. In casu, comprovando-se a abusividade dos juros cobrados nas operações de empréstimo,
configura-se o crime de usura, previsto no art. 4°, da Lei n° 1.521/51, cuja competência para 45
julgamento é da Justiça Estadual.
4. Conflito conhecido para declarar a competência do juízo estadual, o suscitado.
(STJ, CC 98.062/SP, Rel. Ministro Jorge Mussi, Terceira Seção, julgado em 25/08/2010, DJe
06/09/2010)
Agravo regimental no conflito de competência. Crime contra o sistema financeiro nacional.
Adequação típica. Inocorrência.
1. A Lei nº 7.492/86, em seu art. 25, elenca os sujeitos ativos dos crimes nela tipificados, os quais
não guardam relação com a função desenvolvida pelos acusados dos crimes ora em apuração.
2. No caso, não se verifica que o cargo ostentado pelos denunciados corresponda a qualquer
daqueles inscritos no art. 25 da Lei acima mencionada, o que afasta a hipótese de o crime ter se
dado em desfavor do Sistema Financeiro Nacional.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ, AgRg no CC 108.909/PR, Rel. Ministro Og Fernandes, Terceira Seção, julgado em
25/08/2010, DJe 20/09/2010)
Os crimes contra a ordem econômico-financeira, no entender da maioria dos doutrinadores,
abarcam os crimes contra o sistema financeiro. Com este posicionamento, entende-se que a Lei
n° 7.492/86 também define crimes que afetam a ordem econômico-financeira.
Entretanto, as leis que definem crimes contra a ordem econômico-financeira strictu sensu
mais conhecidas são, em suma, a Lei n° 8.137/90 e a Lei n° 8.176/91. E, como estes diplomas
legais não têm disposição específica no sentido da competência da Justiça Federal para o
julgamento dos crimes neles previstos, a jurisprudência pacificamente se direcionou a firmar a
competência da Justiça Comum Estadual.
No entanto, a competência federal pode ser firmada, é claro, pela regra geral do inciso IV,
ou seja, se afetar diretamente bens, serviços e interesses da União, suas autarquias e empresas
públicas.
Em relação às aeronaves, não importa o porte, todos os crimes nelas cometidos serão
julgados na Justiça Federal, estejam elas em voo ou em solo.
A competência da Seção Judiciária, segundo a jurisprudência pátria, firma-se pelo primeiro
porto ou aeroporto onde o navio ou aeronave aportar ou pousar após o crime.
E é evidente que o navio ou a aeronave, se estrangeiros e privados, devem estar navegando
ou sobrevoando o território brasileiro, que, no caso do mar territorial, estende-se até o limite de 12
(doze) milhas marítimas de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e
insular brasileiro, tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas 47
oficialmente no Brasil (art.1°, Lei nº 8.617/93). Não se aplica a lei brasileira se o navio ou
aeronave estrangeiro, ainda que em território nacional, for de natureza pública ou a serviço de
outro governo (Código Penal, art. 5°, §2°).
Se o navio ou a aeronave for brasileiro, e não se encontrar em território estrangeiro (salvo se
de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro), a competência para o crime será da
Justiça Federal. Trata-se, por ficção, de uma extensão do território nacional (Código Penal, art. 5°,
§1°). Mas, ainda que em território estrangeiro, o crime praticado em aeronaves ou embarcações
brasileiras de natureza privada fica sujeito à Justiça Federal desde que o crime não seja julgado
no estrangeiro (Código Penal, art. 7°, II, c).
ATUALIZAÇÃO IMPORTANTE: Compete à justiça estadual julgar crimes cometidos no
interior de balão de ar quente tripulado, por não se enquadrar no conceito de aeronave
(STJ, 3 seção, CC 143.400-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas. Julgado em 24/04/2019).
Penal e processual penal. Conflito negativo de competência. Denúncia que envolve crimes
de favorecimento à prostituição, submissão à prostituição, rufianismo, venda de bebidas alcoólicas
a adolescentes e formação de quadrilha, praticados com participação de índios e com exploração
sexual de adolescentes indígenas. Inexistência de crimes relacionados a disputa sobre direitos
indígenas. art. 109, XI, da CF/88. Súmula 140/STJ. Incidência. competência do juízo de direito da
comarca de coronel Bicaco/rs. I. Os delitos praticados são crimes comuns, que não se relacionam
com disputa sobre direitos indígenas, na forma do art. 109, XI, da CF/88. II. O Plenário do
Supremo Tribunal Federal já se manifestou no sentido de que a competência da Justiça
Federal, fixada no art. 109, XI, da Constituição Federal, "só se desata quando a acusação
seja de genocídio, ou quando, na ocasião ou motivação de outro delito de que seja índio o
agente ou a vítima, tenha havido disputa sobre direitos indígenas, não bastando seja
aquele imputado a silvícola, nem que este lhe seja vítima e, tampouco, que haja sido
praticado dentro de reserva indígena." (STF, RE 419.528, Rel. p/ acórdão Ministro Cezar
Peluso, Pleno, DJU de 09/03/2007, p. 26). III. Caso é de aplicação da Súmula 140/STJ: "Compete
a Justiça Comum estadual processar e julgar crime em que o indígena figure como autor ou
vítima." IV. Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo de Direito da Comarca de
Coronel Bicaco/RS, o suscitado. (CC 38.517/RS, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Terceira
Seção, julgado em 24/10/2012, DJe 31/10/2012)
Conflito negativo de competência. Crimes de calúnia e difamação entre índios. Súmula 140/STJ.
Não incidência. Disputa relacionada à liderança e ocupação da aldeia Wahuri, do povo javaé, na
Ilha do Bananal. Interesse de toda a comunidade indígena. art. 109, XI, e art. 231 da Constituição
da República. competência da justiça federal.
1. Em regra, a competência para processar e julgar crime que envolva índio, na condição de réu
ou vítima, é da Justiça Estadual, conforme preceitua o enunciado nº 140 da Súmula desta Corte,
segundo o qual: "Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o indígena
figure como autor ou vítima." 2. Todavia, a competência será da Justiça Federal toda vez que a
questão versar acerca de disputa sobre direitos indígenas, incluindo as matérias referentes à
organização social dos índios, seus costumes, línguas, crenças e tradições, bem como os direitos
sobre as terras que tradicionalmente ocupam, conforme dispõem os arts. 109, XI, e 231, ambos
da Constituição da República de 1988. 3. Na hipótese, verifica-se que os fatos narrados no termo
circunstanciado, os quais, em tese, caracterizam crimes de calúnia e difamação, tiveram como 49
causa a situação de conflito na comunidade indígena do Povo Javaé, notadamente a disputa pela
posição de cacique da Aldeia Wahuri, na Ilha do Bananal, atingindo os interesses coletivos de
toda a comunidade indígena, situação que afasta a incidência da Súmula 140/STJ e atrai a
competência da Justiça Federal. 4. Conflito conhecido para declarar a competência do Juízo
Federal de Gurupi - SJ/TO, o suscitante. (CC 123.016/TO, Rel. Ministro Marco Aurélio Bellizze,
Terceira Seção, julgado em 26/06/2013, DJe 01/08/2013)
OBS: Calúnia e difamação praticados na disputa pela posição de cacique: Competência Federal
(STJ. 3ª Seção. CC 123016-TO, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 26/6/2013 (Info 527).
A Constituição não arrola os crimes que cabem à Justiça Estadual. Arrola apenas os crimes
da Justiça Comum Federal, deixando à Justiça Estadual a competência residual, ou seja, de julgar
todos os crimes que não caibam àquela. Isso não torna a competência da Justiça Estadual
relativa. A competência da Justiça estadual é absoluta, para julgar os crimes estaduais. Por
exemplo: se o sujeito for pego portando arma, transitando de um estado da federação para outro,
a Justiça Federal é absolutamente incompetente para processar e julgar esse crime, sendo
absoluta a competência da Justiça Estadual.
Necessária, portanto, a análise da súmula 122, STJ: “Compete à Justiça Federal o processo
e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a
regra do artigo 78, II, ‘a’1, do CPP”.Assim como a competência da Justiça Estadual, a da Justiça 52
Federal também é absoluta. Contudo, não haveria ofensa à Constituição com a atribuição a esta
Justiça da competência de julgar crime daquela?Não, desde que efetivamente haja conexão. Ou
seja, sendo os fatos efetivamente intrincados, havendo estrita relação objetiva, subjetiva ou
teleológica, com impossibilidade de separação dos julgamentos sob pena de inviabilizar o
exercício da jurisdição, é mister que a Justiça Federal conheça dos delitos eis que as hipóteses de
sua competência são expressas na Constituição da República.
Tal verbete deve ser interpretado de maneira restritiva, cum grano salis. Sua incidência se
reserva aos casos em que de fato há conexão de crimes, clara e suficiente para retirar a
competência, também absoluta, da Justiça Comum Estadual. É que o Juízo Estadual é o juiz
natural em matéria de crimes estaduais. Embora se saiba que a Súmula 122 do STJ não agride
esse postulado, a jurisprudência não tem olvidado essa circunstância. Assim é que inúmeros
julgados têm revelado que a aplicação desse enunciado sumular se restringe a situações nas
1 Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras:
(Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
[...]
Il - - no concurso de jurisdições da mesma categoria: (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; (Redação dada pela Lei nº
263, de 23.2.1948)
quais efetivamente comprovada hipótese de conexão, não sendo suficientes meras circunstâncias
casuais a ligarem os delitos da alçada estadual a crimes da órbita federal.
Lembre-se, a propósito, que, de acordo com a jurisprudência dos Tribunais Superiores, a
“competência federal há de se ajustar aos casos de ofensa concreta. Deve se limitar àquelas
infrações diretamente praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses a que se refere o
artigo 109, IV, da CF/88, e não aos casos de ofensa indireta, ou reflexa, que, de um modo ou de
outro, sempre ocorrerá”.
Assim, em uma interpretação contrario sensu, se houver frágil ligação circunstancial,
os delitos serão, em verdade, autônomos. O simples fato de a apuração de crimes da
alçada da Justiça Federal e da Justiça Estadual ter se iniciado a partir de uma mesma
diligência (ex.: prisão em flagrante ou busca e apreensão) não representa liame
circunstancial suficiente a autorizar o processamento conjunto perante a Justiça Federal.
2 Há uma corrente doutrinária que defende que se houver homicídio plurilocal, deve prevalecer a teoria da
atividade, e não do resultado. Fala-se, por exemplo, em homicídio plurilocal, naqueles casos em que a conduta típica é
ocorre em local distinto do lugar da ação, o STJ tem decisões estabelecendo a competência no
local em que se consumou o resultado qualificador, seguindo a regra do art. 70:
“1. Hipótese na qual a defesa alega que os réus estão sendo processados por juízo
incompetente, pois o crime apurado consumou-se na Comarca de Dourados⁄MS, eis que a mera
subtração do veículo no município de Angélica não teria o condão de fixar a competência naquela
comarca.
2. Nos crimes qualificados pelo resultado, fixa-se a competência no lugar onde ocorreu o evento
qualificador, ou seja, onde o resultado morte foi atingido, assim, tendo os corpos das vítimas do
latrocínio sido encontrados na Comarca de Dourados, e havendo indícios de que lá foram
executadas, a competência se faz pela regra geral disposta nos arts. 69, I e 70, "caput", do CPP.”
(RHC 22295/MS, Rel. Min. Jane Silva (Desembargadora convocada do TJMG), j. 28/11/2007)
SÚMULA 521 STF O foro competente para o processo e julgamento dos crimes de
estelionato, sob a modalidade da emissão dolosa de cheque sem provisão de fundos, é o do local
onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado.
Quanto ao falso testemunho por meio de carta precatória, a competência é do juízo onde foi
prestado o depoimento, ou seja, onde o delito foi consumado. 54
c) Teoria da ubiquidade ou eclética: é aplicada em relação aos crimes cuja atividade se
iniciou no Brasil, mas o resultado se deu em outro país, ou vice-versa (crimes à distância). Serve
para definir a competência internacional da Justiça brasileira.
Nesses delitos, o próprio CPP (art. 70, §1º e 2º), além do CP (art. 6º), indica que deve ser
considerado como local do crime tanto o lugar da ação quanto aquele em que ocorreu ou
deveria ter ocorrido o resultado. O processo desses crimes, cometidos fora do território
nacional, é disciplinado no art. 88 do CPP, que indica que será competente (i) a Justiça estadual
da capital do Estado onde por último residiu o acusado, ou (ii) a Justiça estadual da capital da
República, se jamais houver residido no Brasil.
realizada em lugar e o resultado morte sobrevém em outro. É no lugar da prática da conduta típica que está a prova. A
prova do crime, o local do crime, as testemunhas, tudo está no local da realização da conduta típica. A busca da
verdade real, a facilitação da instrução criminal, justificariam essa solução. Os defensores dessa posição se valem
unicamente do art. 6º do CP para defendê-la. Essa posição é aceita pelo STJ, mas o Supremo tem uma posição mais
conservadora. As decisões do supremo neste assunto aplicam o art. 70, negando a possibilidade de reconhecer a
competência do juiz do lugar da prática dos atos de execução. Primeiro porque razões de ordem prática não
autorizam a inobservância da lei, isso tem que ser considerado pelo legislador da reforma da lei. O art. 6º, diz o
Supremo, não tem nada a ver com esse assunto. A competência territorial é definida no CPP e o art. 70 adotou o critério
do locus comissi delicti. O art. 6º do CP que trata do lugar do crime é uma espécie de norma de direito penal
internacional que justifica a aplicação da lei penal brasileira naqueles crimes que a doutrina chama de crimes a
distância, que não tem nada a ver com os crimes plurilocais.
Será da justiça federal a competência para os crimes previstos em tratados e convenções,
quando, iniciada a execução no Brasil, com resultado no estrangeiro, ou reciprocamente.
OBS: Não confundir crime à distância (mais de um país) com plurilocal (que envolve
duas ou mais comarcas).
E se houver a criação de vara especializada? Como fica? O STJ já decidiu que o processo
deve ser deslocado para a vara especializada, quando estava em trâmite em vara comum, pois a
competência é absoluta. Evidentemente que todos os atos já praticados permanecerão incólumes.
Nesse sentido:
OBS: No seguinte julgado o STF entendeu pela perpetuatio jurisdiconis, devendo o processo
permanecer na vara originária, com igual competência da posterior criada. Caso importante, por
tratar do triste homicidio de Auditores do Trabalho no Municipio de Unaí.:
EMENTA HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME DE HOMICÍDIO PRATICADO
CONTRA SERVIDORES FEDERAIS. TRIBUNAL DO JÚRI. COMPETÊNCIA. JUSTIÇA
FEDERAL. CRIAÇÃO SUPERVENIENTE DE VARA FEDERAL NO LOCAL DO CRIME.
PERPETUATIO JURISDICTIONIS. ARTIGO 3º DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ARTIGO
87 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 1. A superveniente criação de Vara Federal com
jurisdição no Município do local dos crimes não resulta em incompetência do Juízo Federal que
realizou a instrução criminal. 2. No âmbito da Justiça Federal - competência fixada, no caso,
em função do crime de homicídio praticado contra quatro servidores federais no exercício
das suas funções -, a 9ª Vara Federal da Subseção Judiciária de Belo Horizonte e a Vara
Federal criada posteriormente à instauração das ações penais, em Unaí, local dos crimes,
são Varas de competência geral. 3. Aplicável o princípio da perpectuatio jurisdictionis (art.
87 do Código de Processo Civil c/c art. 3º do Código de Processo Penal), não demonstradas as
situações de excepcionalidade no preceito que o consagra - supressão de órgão do Judiciário ou
alteração de competência em razão da matéria ou da hierarquia. Precedente desta Suprema
Corte. 4. Ordem de habeas corpus denegada, com a cassação da liminar anteriormente
concedida.
(HC 117871, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ROSA WEBER,
Primeira Turma, julgado em 28/04/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-128 DIVULG 30-06-
62
2015 PUBLIC 01-07-2015)
É próprio das aristocracias das ordens sociais É próprio das aristocracias das
instituições governamentais
3A competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça comum
estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.
Crime cometido em local diverso daquele perante o qual a autoridade possui a
prerrogativa de função: Imagine-se a situação na qual um promotor de Justiça de São Paulo
venha a cometer um crime no Estado de Minas Gerais. A competência será determinada pelo
local da infração, com julgamento perante o Tribunal de Justiça de Minas Gerais ou prevalecerá a
competência originária do Tribunal de Justiça de São Paulo, onde o agente é promotor? A
doutrina, de forma quase unânime, posiciona-se pela segunda alternativa. De sorte que a
competência ratione personae (por prerrogativa de função), importa em exceção à regra geral do
art. 70 do CPP, que determina a competência pelo local em que consumado o delito (competência
ratione loci). Sendo assim, porque excepcional, prevalece aquela primeira sobre esta última.
Vale observar que esse raciocínio não se restringe aos crimes cometidos por membros do
Ministério Público ou da magistratura. Aproveitando nosso exemplo acima, imaginemos que o
autor do crime, perpetrado no Estado de Minas Gerais, seja um parlamentar do Estado de São
Paulo. O julgamento, neste caso, caberá ao Tribunal de Justiça de São Paulo, por força de
expressa disposição contida na Constituição bandeirante, pela qual “compete ao Tribunal de
Justiça [...] processar e julgar originariamente: nas infrações penais comuns [...] os Deputados
Estaduais” (art. 74, inc. I da CE).
E se um membro do Ministério Público comete um crime da alçada federal? A orientação é a
mesma, e a competência originária para o julgamento será do Tribunal de Justiça, não do Tribunal 65
Regional Federal. Isso porque o art. 108, inc. I, “a”, da Constituição atribui aos Tribunais Regionais
Federais a competência para julgar membros do parquet “da área de sua jurisdição”, isto é,
aqueles que compõem o Ministério Público Federal e não os demais.
A propósito, no que se refere ao Ministério Público, sua lei orgânica nacional (Lei n°
8.625/1993) é expressa ao dispor, no art. 40, inc. IV, que constitui prerrogativa do membro do
parquet “ser processado e julgado originariamente pelo Tribunal de Justiça de seu Estado, nos
crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada exceção de ordem constitucional”.
Crime cometido em local diverso daquele perante o qual a autoridade possui a prerrogativa de
função
“Para julgamento de Membro do Ministério Público, competente é o Tribunal de Justiça do Estado
onde ele exerce sua função, ainda que o delito tenha sido praticado em outro Estado da
Federação” (TJMG – Rel. Gudesteu Biber – RT 712/442).
66
(obs: neste julgado o Relator afirma que o PGJ-
MPDFT é autoridade federal, mas que, por força
de lei, será competente o TJDFT)
MS contra ato do chefe do MPDFT no TRF da 1º Região
exercício de atividade submetida à jurisdição (STJ REsp 1.303.154-DF, Info 587).
administrativa federal
No julgamento, perante o Supremo Tribunal Federal, da Ação Penal nº 937, na qual foi
relator o Min. Luís Roberto Barroso (j. em 03.05.2018), se discutiu a questão relativa ao “foro por
prerrogativa de função” no que tange ao parlamentar (deputados federais e senadores). Ao final
do julgamento, por maioria de votos, foi emitida a seguinte tese:
“(i) O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos durante o
exercício do cargo [a partir da diplomação] e relacionados às funções desempenhadas; e (ii) Após
o final da instrução processual, com a publicação do despacho de intimação para apresentação de
alegações finais, a competência para processar e julgar ações penais não será mais afetada em
razão de o agente público vir a ocupar outro cargo ou deixar o cargo que ocupava, qualquer que
seja o motivo”. A partir dessa relevante decisão, conferiu-se nova leitura ao disposto no art. 53, §
1º, da Constituição, segundo o qual “os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma,
serão submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal”.
ATENÇÃO: No que se refere aos desembargadores, o STJ já levanta a tese de que, crime
comum ou não, o foro deve permanecer, evitando-se constrangimento de ser o réu processado e
julgado por juiz de instância inferior vinculado àquele tribunal. No caso, desembargador havia sido
acusado, perante o STJ, de ter cometido o crime de lesão corporal. Diante da decisão proferida
pelo STF na AP 937, o Ministério Público Federal pediu a remessa do processo à primeira
instância. Mas, por maioria, a Corte Especial do STJ rejeitou o pedido e manteve o foro especial.
De acordo com a decisão, as razões que justificam o foro por prerrogativa ultrapassam aquela
utilizada pelo STF para manter o benefício nos casos em que a autoridade comete o crime no
exercício do cargo e em razão dele, isto é, a liberdade e a independência no exercício das
funções. Subjaz à decisão do STF, com efeito, que se o crime não é cometido no exercício do
cargo nem em razão dele não se justifica a prerrogativa porque a conduta criminosa não tem
ligação com a independência e a liberdade de exercer a função. Mas, no caso de
desembargadores, a Corte Especial do STJ considerou que o foro por prerrogativa não existe para
garantir apenas o pleno exercício das funções do acusado, mas também para garantir que o
julgador reúna as condições de imparcialidade para um julgamento adequado, o que não se
verifica se acusado e julgador são vinculados ao mesmo tribunal. (AP 878, j. 21/11/2018).
Quando praticado um crime por juiz estadual e do Distrito Federal ou por membro do
Ministério Público, como já foi visto, a competência para julgamento é do respectivo Tribunal de
Justiça por força de expressa previsão constitucional (art. 96, inc. III da CF). No âmbito federal,
segundo o art. 108, inc. I, “a”, a Carta, compete aos Tribunais Regionais Federais processar e
julgar, originariamente, nos crimes comuns e de responsabilidade, os membros do Ministério
Público da União. Sucede que ambos os dispositivos fazem ressalva quanto à competência da
Justiça Eleitoral.
De forma que, perpetrado um crime eleitoral por um juiz de direito, a competência
originária para o julgamento será do Tribunal Regional Eleitoral do Estado da Federação ao qual
estiver vinculado o magistrado. É o que se depreende do art. 29, inc. I, “d”, da Lei n° 4.737/1965 68
(Código Eleitoral), ao dispor que compete aos Tribunais Regionais processar e julgar
originariamente “os crimes eleitorais cometidos pelos juízes eleitorais”. Atente-se para o fato de
que a própria Constituição, em seu art. 121, ao tratar da Justiça Eleitoral, conferiu à lei
complementar a possibilidade de dispor sobre a competência dos tribunais eleitorais. À falta,
porém, dessa lei complementar, continuam em pleno vigor as disposições do Código Eleitoral.
Foi omisso este diploma, no entanto, caso cometido um crime eleitoral por um membro do
Ministério Público. Mas por uma análise do texto constitucional (posterior ao Código Eleitoral),
pode-se concluir, sem maior esforço, que a competência, nesse caso, será também do TRE. É
que o art. 96, inc. III da CF, dispõe que cabe ao Tribunal de Justiça o julgamento de membros do
Ministério Público, “ressalvada a competência da Justiça Eleitoral”. Assim, conquanto o Código
Eleitoral não faça menção aos membros do parquet, é de se entender que a ressalva contida na
parte final do dispositivo constitucional desloca, para a Justiça Eleitoral, a competência para julgar
originariamente os membros do Ministério Público, caso cometam um crime eleitoral. De resto, a
simetria que caracteriza ambas as carreiras – da Magistratura e do Ministério Público – a merecer
tratamento igualitário, permite se concluir dessa forma.
A propósito, a Lei Complementar n° 75/1993, que organiza o Ministério Público da União,
elenca dentre as prerrogativas de seus membros, o julgamento pelo respectivo Tribunal Regional
Federal, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral (art. 18, inc. II, “c”).
“A competência penal originária do Tribunal Regional Eleitoral para processar e julgar, nos
crimes eleitorais, agentes públicos que detêm, em razão de seu ofício, prerrogativa de foro
perante o Tribunal de Justiça estadual (como os Deputados Estaduais e os Prefeitos Municipais,
p. ex.) tem sido reconhecida por esta Suprema Corte, na linha da diretriz consagrada na Súmula
702/STF” (STF – Inq. n° 3357-PR – Rel. Celso de Mello, j. 25.03.2014).
Compete à Justiça Eleitoral julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos.
Cabe à Justiça Eleitoral analisar, caso a caso, a existência de conexão de delitos comuns aos
delitos eleitorais e, em não havendo, remeter os casos à Justiça competente. STF. Plenário. Inq
4435 AgR-quarto/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 13 e 14/3/2019.
69
sentido de que ações de improbidade administrativa possuem natureza civil. Lembremos que no
julgamento da ADI 2797, em 15.09.2005, o STF declarou inconstitucionais os §§ 1º e 2º do art. 84,
do CPP, que estendiam o foro por prerrogativa de função também às infrações de improbidade
administrativa.
Portanto, a competência originária do STF, para julgamento de detentores os cargos
listados no art. 102, “b” e “c” da Constituição restringe-se a ações de cunho criminal. Sendo assim,
não compete à mais alta Corte do país o julgamento dessa espécie de ação. Esse posicionamento
foi reafirmado pelo Plenário do STF, em julgamento ocorrido em 10.05.2018, na Petição n. 3240,
na qual foi relator para o Acórdão o Ministro Luis Roberto Barroso.
Caso praticado um crime de menor potencial ofensivo de que trata a Lei 9.099/95, por
agente que detenha a prerrogativa de função, a aplicação das medidas despenalizadoras caberá
ao respectivo órgão que teria competência originária para o processo-crime. Perpetrado, assim,
um crime de menor potencial ofensivo por um deputado federal, caberá ao Supremo Tribunal
Federal homologar a transação penal, pois aquela Corte é competente para o julgamento de
crimes cometidos por membro do Congresso Nacional.
Antigo julgado do STF entendia que o STJ, competente para julgar governadores pela
prática de crimes comuns, devia, antes, contar com a autorização da Assembleia Legislativa,
quando competência para tanto fosse estabelecida no âmbito da respectiva Constituição Estadual 70
(RE n. 153.968-BA, Rel. Ilmar Galvão, Tribunal Pleno, j. 06.10.1993). No mesmo sentido: STF -
RE n. 159230, Rel. Sepúlveda Pertence, j. 28.03.1994 (RTJ 158/280). Ou ainda: STF – HC n.
80511, Rel. Celso de Mello, j. 21.08.2001, p. 00049).
Essa questão foi debatida no STJ (AgRg na Ação Penal nº 836 – DF – Rel. Herman
Benjamin, j. 05.10.2016), quando, por votação apertada, foi sufragada a mesma tese, isto é,
segundo aquele Tribunal Superior, o julgamento do governador deve contar com a prévia
autorização da respectiva Assembleia Legislativa. O principal argumento vem extraído do
chamado princípio da simetria, a possibilitar que normas previstas na Constituição (in casu, o art.
86 da Carta, que prevê a necessidade de prévia autorização da Câmara dos Deputados para
julgamento do Presidente da República pelo STF – enquanto no exercício - nas infrações penais
comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade), sejam adotadas por
Constituições Estaduais, desde que, por óbvio, observem a mesma diretriz do preceito
constitucional.
Sucede que, revisitando o tema, o Supremo Tribunal Federal repudiou esse entendimento,
no sentido, portanto, de que o STJ prescinde da prévia autorização da Assembleia Legislativa
local para processamento do governador. Por conseguinte, Constituições Estaduais que
continham esse dispositivo foram alvo de diversas ações diretas de inconstitucionalidade,
concluindo a mais alta Corta do país pela inconstitucionalidade da norma. Nesse sentido, julgadas
em maio de 2017, as ADIs 4764, 4797 e 4798.
O argumento principal reside no fato de que a prévia autorização da Câmara dos
Deputados se justifica em face da altíssima função exercida pelo presidente da República e,
bem por isso, conta com expressa previsão constitucional a respeito (art. 86 da CF). Na
hipótese de governadores, a extensão desse privilégio só faria incentivar o “conluio” entre
Legislativo e Executivo locais. Um dado de cunho prático, nessa linha de raciocínio, foi
lembrado pelo Ministro Luís Roberto Barroso, ao destacar que o STJ solicitou, em 52 vezes, a
autorização das mais diversas Assembleias Estaduais para o processamento do respec tivo
governador. Desses pedidos, 36 nem foram respondidos, 15 foram negados e apenas 1
autorizado, a implicar na mais absoluta impunidade dos Governador es locais.
Quando um mesmo fato é cometido por vários agentes, sendo que alguns deles detêm o
foro por prerrogativa de função e outros não, todos os réus devem ser julgados em um feito único.
Suponha-se, assim, um crime cometido por um deputado federal em concurso com outra pessoa
que não possui nenhum cargo público. O julgamento do parlamentar, por força de expressa
71
disposição constitucional, caberá ao Supremo Tribunal Federal. Essa competência originária se
estenderá também ao outro agente, ainda que não possua nenhuma condição pessoal que
justifique a prerrogativa e função, ensejando o julgamento unitário. Regras de competência que
cuidam da conexão e continência, previstas no Código de Processo Penal, justificam a formação
desse litisconsórcio passivo, com o objetivo de impedir que sejam proferidas decisões
contraditórias e, no aspecto prático, que provas se dispersem, em franco prejuízo ao bom
andamento da Justiça. A propósito, vale conferir o enunciado da Súmula 704 do Supremo,
segundo a qual ‘não viola as garantias do juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal
a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de
um dos denunciados’.
Quando se admite a separação dos processos: A regra geral, como visto acima, é a do
simultaneus processus, a impor que detentor do chamado foro privilegiado e corréu sejam
julgados em um único processo. Uma observação, contudo, é da maior relevância: é que mesmo
o STF, dependendo da análise do caso concreto, tem admitido o desmembramento do processo
para julgamento em separado dos corréus: o detentor de prerrogativa de função diante daquela
Corte e, os demais, perante o juízo comum. Tal entendimento, segundo o Supremo, tem lastro na
dicção do art. 80 do CPP, e se justifica, por exemplo, quando excessivo o número de acusados.
Não há, porém, um critério objetivo a determinar quando é o caso de desmembramento, ou não,
do processo. Como já anotou o STF, “o que ocorre, na prática, é que cada relator, atento às
peculiaridades do caso concreto e no que diz respeito à conveniência da instrução e ao princípio
da razoável duração do processo, decide monocraticamente se procede ou não ao
desmembramento.” (Inq 3507, Rel. Gilmar Mendes, j. 08.05.2014, DJe 11.06.2014)
2.7. DISTRIBUIÇÃO
De acordo com o art. 75, p. único, a distribuição realizada para o efeito da concessão de
fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia
ou queixa prevenirá a da ação penal.
Assim, vê-se que o juiz que já adotar medidas cautelares no caso terá, em regra,
competência para julgar o mérito da ação penal que vir a ser ajuizada.
Isso, entretanto, é visto com reservas por muitos juristas, visto que, supostamente, tiraria a
isenção do magistrado ao julgar, especialmente por aqueles que defendem a necessidade de
existir um juiz de instrução.
Tal regra sofrerá modificação com a figura do juiz de garantias, cuja eficácia foi suspensa
pelo Min. Fux na Medida Cautelar na ADI 6299 DF. De fato, com a implementação do juiz de
garantias haverá uma cisão, ficando sob o encargo deste todas as medidas cautelares e
probatórias na fase inquisitiva, de tal forma que o juiz que analisa cautelares não julgará o mérito.
2.8. CONEXÃO E CONTINÊNCIA
Não são bem um critério de fixação de competência; antes, de modificação, atraindo para
um determinado juízo os crimes ou infratores que poderiam ser julgados separadamente, por
órgãos diversos.
Assim, a separação de processos é uma faculdade do juiz quando:
a) As infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes;
ou
b) Houver excessivo número de acusados;
Se as infrações tiverem ocorrido nas mesmas circunstâncias de tempo ou de lugar,
como, por exemplo, em decorrência de concurso formal de crimes, o juiz não está
autorizado a promover a separação.
2.8.1. CONEXÃO
Trata-se da ligação existente entre duas ou mais infrações, levando a que sejam apreciadas
perante o mesmo órgão jurisdicional. A conexão é uma questão de fato, que pode ter como efeito
a reunião dos processos conexos no juízo prevento ou no juízo sem igual competência territorial
que primeiro recebeu a denúncia, ou, ainda, no local do crime mais grave.
74
Logo: conexão (e continência) é fato, alteração da competência em decorrência dela é
efeito.
Por conexão entende-se o nexo entre duas ou mais infrações quando estas se
encontrarem entrelaçadas por um vínculo que aconselha a junção dos processos. Na
continência, uma causa está contida na outra, não sendo possível a cisão. A diferença
básica é que na conexão haverá pluralidade de condutas, enquanto na continência haverá apenas
uma conduta, gerando um ou vários resultados. É irrelevante para fins de enquadramento em um
ou outro caso o número de agentes envolvidos na prática.
Para que haja conexão, deve haver a pluralidade de condutas delituosas, e não só de
resultados. Assim, se houver concurso formal de crimes (um tiro, duas mortes, sem ou com
desígnios autônomos, por exemplo), não há se falar em conexão.
3. Conexão intersubjetiva por reciprocidade: ocorre quando várias infrações são praticadas
79
por diversas pessoas, umas contra as outras.
Não havendo vinculação entre as infrações, não se pode falar em conexão.
b) Conexão objetiva, material, teleológica ou finalística (art. 76, II, CPP): ocorre quando uma
infração é praticada para ocultar ou facilitar uma outra, ou para conseguir vantagem ou
impunidade relativamente a outra infração.
2.8.2. CONTINÊNCIA
É o vínculo que une vários infratores a uma única infração, ou a reunião de várias
infrações num só processo por decorrerem de conduta única, ou seja, do resultado de concurso
formal próprio ou impróprio de crimes. Tem-se:
a) Continência por cumulação subjetiva (art. 77, I, CPP): quando duas ou mais pessoas
concorrem para a prática de uma mesma infração, o que se dá com a coautoria ou participação.
b) Continência por cumulação objetiva (art. 77, II, CPP): implica na reunião, em um só
processo, de vários resultados lesivos advindos de uma só conduta (concurso formal). Hipóteses:
1. CONCURSO FORMAL: O agente, mediante uma só conduta, pratica dois ou mais
crimes. Nesses casos, a ação tramitará conjunta, sendo aplicada a pena de um só crime
(se idênticas), ou do crime mais grave (se diversas), acrescida, em qualquer caso, de um
sexto até a metade.
2. ABERRATIO ICTUS COMPLEXA (com resultado duplo ou múltiplo): Ocorre
quando por erro na execução, o agente atinge outra pessoa que não queria atingir, além
da que desejava. Aplica-se a mesma regra do concurso formal, ou seja, é aplicada a pena
de um só crime (se idênticas), ou do crime mais grave (se diversas), acrescida, em
qualquer caso, de um sexto até a metade. Não se fala em continência na aberratio ictus
“comum” (quando provocada apenas um resultado, ainda que diverso do pretendido), uma
vez que não há pluralidade de crimes.
3. ABERRATIO DELICTI: Ocorre quando o agente busca determinado resultado, mas
alcança, além deste resultado, outro não desejado. Aplica-se, do mesmo modo, a regra do
concurso formal.Na modalidade simples do aberratio delicti, não se fala em continência,
porque só um crime será praticado.
Se um dos processos já houver sido julgado, não mais devem os feitos ser reunidos. Isso
porque, além de ter encerrado o juízo de primeira instância de um deles, não cabe reunião de feito
sob instrução com feito já julgado, perante o Tribunal, sob pena de suprimir instância.
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Ano: 2017 Banca: TRF - 2ª Região Órgão: TRF - 2ª REGIÃO Prova: TRF - 2ª Região -
2017 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto
Analise as assertivas sobre a competência penal e, depois, marque a opção correta:
I - A conexão entre crimes da competência da Justiça Federal e da Estadual não enseja a
reunião dos feitos;
II — São requisitos para o deferimento do incidente de deslocamento de competência para a
Justiça Federal a grave violação de direitos humanos, a necessidade de assegurar o
cumprimento, pelo Brasil, de obrigações decorrentes de tratados internacionais e a incapacidade
de o estado membro, por suas instituições e autoridades, levar a cabo, em toda a sua extensão, a
persecução penal.
III - Se cometidos durante o horário de expediente, compete à Justiça Federal julgar os delitos
praticados por funcionário público federal.
A - Apenas a assertiva I está correta.
B - Apenas a assertiva II está correta.
C - Apenas a assertiva III está correta
D - Todas as assertivas estão corretas.
E - Apenas as assertivas II e III estão corretas.
Gabarito: Letra B
2.9. FORO PREVALENTE
c) Concurso entre jurisdições da mesma categoria: essa hipótese serve para se fixar o juízo 86
competente quando houver conexão ou continência. Nesse caso, adotam-se as seguintes regras:
1. Prevalência do foro do local da consumação do crime mais grave5;
2. Se as infrações interligadas tiverem igual gravidade, prevalece o juízo do local da
consumação do maior número de crimes;
3. Se as infrações forem de igual gravidade e em igual quantidade, prevalece o foro
prevento.
Se, mesmo havendo conexão ou continência, os processos tramitarem em separado, a
autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros
magistrados, salvo se já tiver ocorrido, no processo desgarrado, a prolação da sentença que
4 Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unifi cado dos crimes conexos de competência federal e estadual,
não se aplicando a regra do art. 78, II, a, do Código de Processo Penal.
5 Infração com pena mais grave, para os fins de fixação de competência (art. 78, II, a, do CPP), é aquela em que a
pena máxima cominada é a mais alta, e não a que possui maior pena mínima. Na determinação da competência por
conexão ou continência, havendo concurso de jurisdições da mesma categoria, preponderará a do lugar da infração à
qual for cominada a pena mais grave. A gravidade do delito, para fins penais, é estabelecida pelo legislador. Por isso,
tem-se por mais grave o delito para o qual está prevista a possibilidade de, abstratamente, ser conferida pena maior. O
legislador permitiu cominar sanção mais alta a determinado delito porque previu hipóteses em que a conduta ocorre sob
particularidades de maior reprovabilidade, razão pela qual essa deve, em abstrato, ser entendida como a mais grave.
HC 190.756-RS, 5T, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 23/10/2012.
encerre a primeira fase processual (art. 82, CPP). Nesse caso, somente haverá unidade ulterior
para fins de soma ou unificação das penas.
Prevista no art. 80, CPP. Ocorre nas seguintes hipóteses, mediante decisão do juiz:
a) Infrações praticadas em circunstâncias de tempo e lugar diferentes;
b) Número excessivo de acusados.
É facultado ao juiz, nas hipóteses legais de conexão ou de continência de causas, ordenar a
separação de processos, ainda que ocorrente qualquer das situações previstas no art. 80 do CPP.
(STF, HC N. 103.149-RS)
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. LAVAGEM DE DINHEIRO. TRÊS
AÇÕES PENAIS. ALEGADA OCORRÊNCIA DE CRIME ÚNICO. SEPARAÇÃO DOS
PROCESSOS COM APOIO NO ART. 80 DO CPP. DECISÃO FUNDAMENTADA. RECURSO A
QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O Supremo Tribunal Federal firmou orientação, no sentido de
que é facultativa a “separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em
circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e
para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante (CPP, art. 80)” (HC
92.440, da relatoria da ministra Ellen Gracie). Na mesma linha: HC 103.149, da relatoria do
ministro Celso de Mello. 2. A via processualmente contida da ação constitucional do habeas
corpus não é apropriada para o acatamento da tese de crime único. Via de verdadeiro atalho que
não comporta a renovação de atos próprios da instrução criminal. 3. Recurso a que se nega
provimento.
(RHC 106755, Relator(a): Min. AYRES BRITTO, Segunda Turma, julgado em 25/10/2011,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-084 DIVULG 30-04-2012 PUBLIC 02-05-2012)
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2.11. PERPETUATIO JURISDICTIONIS (ART. 81, CPP)
Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no
processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou
que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará
competente em relação aos demais processos.
PENAL E PROCESSUAL PENAL - ARTS. 288, 317, 318, 333 E 334, DO CÓDIGO PENAL -
ALEGADA INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA - FIXAÇÃO EM RAZÃO DO LUGAR - COMPETÊNCIA
RELATIVA PRECLUSÃO - DESMEMBRAMENTO DO FEITO E INACESSIBILIDADE ÀS PROVAS
- ALEGAÇÃO NÃO COMPROVADA - CORRELAÇÃO ENTRE A DENÚNCIA E A SENTENÇA -
INTERCEPTAÇÃO TELEFÔNICA - VALIDADE DE PROVA - INVESTIGAÇÃO PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO E OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL - DENÚNCIA
ANÔNIMA - VALIDADE - PRELIMINARES AFASTADAS - ATIPICIDADE DO FATO -
AFASTAMENTO - CRIME PRÓPRIO DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO - ART. 30 E 327 DO CÓDIGO
PENAL - CRIME DE FACILITAÇÃO DO DESCAMINHO - COMPROVAÇÃO - DECRETAÇÃO DA
PERDA DAS MERCADORIAS E DO CARGO PÚBLICO - MANUTENÇÃO - CRIME DE
QUADRILHA - NÚMERO DE AGENTES INFERIOR AO ESTABELECIDO NO TIPO PENAL - NÃO
OCORRÊNCIA - CORRUPÇÃO PASSIVA - AUSÊNCIA DE LIAME ENTRE A VANTAGEM
INDEVIDA E PRÁTICA DO CRIME POR PARTE DOS RÉUS - ABSOLVIÇÃO MANTIDA. 1. A
alegação de incompetência absoluta foi acertadamente rechaçada pelo MM. Juízo, ao
sublinhar que a competência em razão do lugar é relativa e que a questão precluiu em face
do transcurso do momento processual apropriado para argui-la, ou seja, a defesa prévia,
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operando-se, assim, a prorrogação da competência. [...] (TRF3, AC 2005.61.19.001170-0).
Muito discutida era a possibilidade ou não de criação de órgãos colegiados de primeiro grau
para julgamento de crimes mais graves, como aqueles que envolvem organizações criminosas. A
necessidade de tal inovação era algo que se impunha com urgência, haja vista a alta
periculosidade dessas organizações e a necessidade de se dotar o Poder Judiciário de
mecanismos que garantissem a independência e a imparcialidade, além da própria segurança
pessoal dos juízes.
O STF, analisando lei do estado de Alagoas, julgou CONSTITUCIONAL a criação de Vara
Especializada e COLEGIADA para julgamento de crimes praticados por organizações criminosas,
conforme notícia veiculada no informativo 668. Em síntese, restou assentado o seguinte:
ANOTAÇÕES
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