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Edição 2022

Juizados Especiais Criminais


Lei 9.099/95

Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL – JECRIM
APRESENTAÇÃO................................................................................................................................ 4
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (Lei 9.099/95)............................................................................ 5
1. JECRIM E PACOTE ANTICRIME ................................................................................................ 5
1.1. INAPLICABILIDADE DO JUIZ DAS GARANTIAS................................................................ 5
1.2. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL ........................................................................ 5
2. PREVISÃO CONSTITUCIONAL DOS JUIZADOS ...................................................................... 6
3. OBJETIVOS DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS..................................................................... 6
4. JURISDIÇÃO CONSENSUAL ...................................................................................................... 7
5. BENEFÍCIOS DA LEI 9.099/95 .................................................................................................... 7
6. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9.099/95 ............................................................................... 9
7. CRITÉRIOS/PRINCÍPIOS ORIENTADORES E FINALIDADES DOS JUIZADOS ..................... 9
7.1. PRINCÍPIO DA ORALIDADE .............................................................................................. 10
7.2. PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE ......................................................................................... 10
7.3. PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE ..................................................................................... 11
7.4. PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL ..................................................................... 11
7.5. PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL .................................................................. 12
8. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL ............................................................. 12
8.1. HIPÓTESES DE MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS PREVISTAS NA
LEI 12
8.1.1. Conexão e continência (art. 60, parágrafo único) ....................................................... 12
8.1.2. Impossibilidade de citação pessoal do acusado (art. 66, parágrafo único) ................ 13
8.1.3. Complexidade da causa (art. 77, § 2º) ........................................................................ 14
8.2. NATUREZA DA COMPETÊNCIA DO JEC: ABSOLUTA OU RELATIVA? ........................ 14
9. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO (IMPO) ...................................................... 15
9.1. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE IMPO ............................................................................. 15
9.2. INFRAÇÃO DE OFENSIVIDADE INSIGNIFICANTE, INFRAÇÃO DE MÉDIO POTENCIAL
OFENSIVO E INFRAÇÃO DE ÍNFIMO POTENCIAL OFENSIVO ................................................ 17
9.3. ESTATUTO DO IDOSO (ART. 94 DA LEI 10.741/03) ....................................................... 18
9.4. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (E COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS
TRIBUNAIS) ................................................................................................................................... 19
9.5. CRIMES ELEITORAIS ........................................................................................................ 19
9.6. INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO ................................................. 19
9.7. LEI 11.340/06 (LEI MARIA DA PENHA) ............................................................................. 20
9.7.1. Varas especializadas ................................................................................................... 21
10. APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95 NA JUSTIÇA MILITAR .......................................................... 22
11. COMPETÊNCIA TERRITORIAL NO ÂMBITO DOS JUIZADOS (ART. 63) .......................... 22

CS – JECRIM 2023.1 1

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12. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO).................................................... 23
12.1. PREVISÃO LEGAL .......................................................................................................... 23
12.2. ATRIBUIÇÃO PARA LAVRATURA DO TCO .................................................................. 24
12.3. PRISÃO EM FLAGRANTE (ART. 69, PARÁGRAFO ÚNICO) ....................................... 25
13. FASE PRELIMINAR ................................................................................................................ 25
14. COMPOSIÇÃO DOS DANOS CIVIS (art. 74) ........................................................................ 25
15. REPRESENTAÇÃO NOS JUIZADOS (art. 75) ...................................................................... 27
16. TRANSAÇÃO PENAL (art. 76) ............................................................................................... 27
16.1. CONCEITO ...................................................................................................................... 28
16.2. MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AÇÃO PENAL PÚBLICA . 28
16.3. REQUISITOS ................................................................................................................... 28
16.3.1. Infração de menor potencial ofensivo ...................................................................... 28
16.3.2. Não ser caso de arquivamento do termo circunstanciado ...................................... 29
16.3.3. Não ter sido o autor da infração condenado ........................................................... 29
16.3.4. Não ter sido o agente beneficiado por transação penal pelo prazo de 5 anos
anteriores 29
16.3.5. Circunstâncias favoráveis ........................................................................................ 30
16.3.6. Reparação do dano ambiental nos crimes ambientais ........................................... 30
16.4. LEGITIMIDADE PARA OFERECIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL ........................... 30
16.4.1. Juiz ........................................................................................................................... 30
16.4.2. Ministério Público ..................................................................................................... 31
16.5. RECUSA INJUSTIFICADA POR PARTE DO TITULAR DA AÇÃO PENAL EM
OFERECER A PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL ................................................................ 32
16.5.1. Por parte do ofendido nos crimes de ação penal privada ....................................... 32
16.5.2. Por parte do Ministério Público nos crimes de ação penal pública ......................... 32
16.6. MOMENTO PARA O OFERECIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL .............................. 33
16.7. DESCUMPRIMENTO INJUSTIFICADO DA TRANSAÇÃO PENAL HOMOLOGADA ... 33
16.8. RECURSOS CABÍVEIS EM RELAÇÃO À TRANSAÇÃO PENAL ................................. 34
17. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO (art. 77 e seguintes) ...................................................... 34
17.1. AUDIÊNCIA PRELIMINAR .............................................................................................. 34
17.1.1. Início da ação penal - Oferecimento oral da denúncia ............................................ 34
17.1.2. Diligências indispensáveis ....................................................................................... 35
17.1.3. Citação do acusado em audiência (art. 78) ............................................................. 36
17.2. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO ........................................................... 36
17.2.1. Renovação das soluções consensuais (art. 79) ...................................................... 36
17.2.2. Defesa/resposta preliminar (art. 81 da Lei) ............................................................. 37
17.2.3. § 1º-A do art. 81 ....................................................................................................... 38
17.2.4. (Des)necessidade de resposta à acusação ............................................................ 39
17.2.5. Juízo de admissibilidade da peça acusatória .......................................................... 39

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17.2.6. Possibilidade de absolvição sumária ....................................................................... 40
17.2.7. Ordem dos atos na audiência de instrução e julgamento ....................................... 41
18. SISTEMA RECURSAL NA LEI 9.099/95 ................................................................................ 41
18.1. ÓRGÃOS DO SISTEMA RECURSAL DO JECRIM ....................................................... 42
18.2. APELAÇÃO NO JECRIM (art. 82)................................................................................... 42
18.3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO JECRIM (art. 83) ................................................. 43
18.4. RECURSO EXTRAORDINÁRIO/RECURSO ESPECIAL NO JECRIM ......................... 44
18.5. HABEAS CORPUS NO JECRIM..................................................................................... 45
18.6. MANDADO DE SEGURANÇA ........................................................................................ 45
18.7. REVISÃO CRIMINAL NO JECRIM ................................................................................. 45
18.8. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE JECRIM E JUÍZO COMUM .......................... 46
19. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (art. 89) ..................................................... 46
19.1. CABIMENTO.................................................................................................................... 46
19.1.1. “Igual ou inferior a um ano” ...................................................................................... 47
19.1.2. “Não esteja sendo processado” ............................................................................... 48
19.1.3. “Condenado por outro crime” ................................................................................... 48
19.1.4. “Demais requisitos que autorizam a suspensão condicional da pena (sursis)” – art.
77 do CP 48
19.1.5. “Prévio recebimento da peça acusatória” ................................................................ 48
19.2. INICIATIVA PARA A PROPOSTA................................................................................... 49
19.3. CABIMENTO EM AÇÃO PENAL PRIVADA ................................................................... 49
19.4. CONDIÇÕES DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO .............................. 49
19.5. REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO .................................................................................... 50
19.6. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE ...................................................................................... 51
19.7. SUSPENSÃO DA PRESCRIÇÃO ................................................................................... 51
19.8. RECURSO CABÍVEL CONTRA A DECISÃO QUE SUSPENDE O PROCESSO ......... 51
19.9. CABIMENTO DE HABEAS CORPUS ............................................................................. 51
19.10. DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO ................................................................................ 52
19.11. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NOS CRIMES AMBIENTAIS ............ 52
20. (IN)APLICABILIDADE DO ART. 12-A .................................................................................... 53
21. DIFERENÇAS ENTRE CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E JUIZADOS ESPECIAIS
CRIMINAIS ......................................................................................................................................... 53
22. JURISPRUDÊNCIA EM TESE ............................................................................................... 55

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APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Legislação Penal Especial possui como base as aulas dos professores Renato
Brasileiro, Cleber Masson e Vinícius Marçal, serão analisadas dezesseis leis, as mais cobradas em
concurso público.

Três livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar),
ano 2018, b) Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ano 2020, e c) Juizados Especiais
Cíveis e Criminais (Maurício Ferreira e Renato Manucci), ano 2021, todos da Editora Juspodivm.

Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito


(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito), bem
como a Jurisprudência em Tese do STJ. Destacamos: é importante você se manter atualizado com
os informativos, reserve um dia da semana para ler no site do Dizer o Direito.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos da lei, mas, ressaltamos, que é


necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos! Bons estudos!

Equipe Cadernos Sistematizados.

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JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (Lei 9.099/95)

1. JECRIM E PACOTE ANTICRIME

1.1. INAPLICABILIDADE DO JUIZ DAS GARANTIAS

O art. 3º-C do CPP (encontra-se com a eficácia suspensa), incluído pelo Pacote Anticrime,
prevê que a competência do juiz das garantias engloba todas as infrações penais, salvo as infrações
de menor potencial ofensivo (objeto de competência do JECrim).

Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange todas as infrações


penais, exceto as de menor potencial ofensivo, e cessa com o recebimento
da denúncia ou queixa na forma do art. 399 deste Código.

Nos Juizados há o TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), que consiste em um


“procedimento investigatório” extremamente simples. Na prática, tratando-se de infração de menor
potencial ofensivo, sequer há uma investigação propriamente dita, dificilmente haverá decretação
de medidas cautelares, de meios de utilização de prova (busca domiciliar, interceptação), não
havendo, portanto, quase nenhuma intervenção do juiz. Assim, não há motivo para aplicar a figura
do juiz das garantias, já que não haverá nenhuma contaminação do julgador.

1.2. ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL

O art. 28-A do CPP, com redação dada pela Lei 13.964/2019, passou a prever o acordo de
não persecução penal, que consiste em um negócio jurídico de natureza extrajudicial,
necessariamente homologado pelo juiz competente, celebrado pelo MP e o autor do delito,
necessariamente assistido por um defensor, que confessa formal e circunstanciadamente a prática
de um delito, sujeitando-se ao cumprimento de certas condições não privativas de liberdade, em
troca do compromisso do Parquet de não oferecer denúncia, declarando-se ao final a extinção da
punibilidade, se o acordo for cumprido.

A transação penal possui preferência sobre o acordo de não persecução penal, uma vez que
o próprio CPP prevê que sendo cabível a transação penal, o acordo de não persecução penal estará
afastado.

Além disso, caso o acusado tenha sido beneficiado nos 5 anos anteriores com uma
transação penal, com uma suspensão condicional do processo ou com um acordo não persecução,
não terá direito à celebração, conforme previsto no próprio art. 28-A:

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado


formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou
grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério
Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as
seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente:

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§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica nas seguintes
hipóteses:
I - se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais
Criminais, nos termos da lei;
III - ter sido o agente beneficiado nos 5 (cinco) anos anteriores ao
cometimento da infração, em acordo de não persecução penal, transação
penal ou suspensão condicional do processo.

2. PREVISÃO CONSTITUCIONAL DOS JUIZADOS

Está previsto no art. 98 da CF/88, in verbis:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:


I - juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis
de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo,
mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses
previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes
de primeiro grau;
§ 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da
Justiça Federal.

A CF/88 deixa claro que a competência dos juizados será para julgar as infrações de menor
potencial ofensivo (IMPO), observando os princípios da celeridade, da informalidade e da
economia processual. Além disso, será permitido a transação.

Por fim, a CF/88 autoriza que os recursos das decisões dos juizados sejam analisados pelas
turmas recursais.

Em suma, a Carta Magna prevê o seguinte no que tange aos juizados especiais:

1) Infração de menor potencial ofensivo;

2) Procedimento oral e sumaríssimo;

3) Transação penal;

4) Julgamento dos recursos por turmas de primeiro grau.

3. OBJETIVOS DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS

1) Conferir uma prestação jurisdicional mais célere para os crimes de menor potencial
ofensivo, evitando, assim, a prescrição;

2) Revitalizar a figura da vítima;

3) Jurisdição consensual (descrito abaixo).

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Como o tema foi cobrado em concurso?
(DPE-SC - Defensor - FCC - 2021): Em relação ao procedimento processual
penal relativo aos Juizados Especiais Criminais, os principais objetivos da Lei
nº 9.099/1995 na esfera processual penal são a aplicação da pena privativa
de liberdade e a reparação dos danos sofridos pela vítima. Errado.

4. JURISDIÇÃO CONSENSUAL

JURISDIÇÃO CONSENSUAL JURISDIÇÃO CONFLITIVA

Busca do consenso no processo penal.


Há o conflito entre acusação X defesa.
Acordo entre MP e autor da infração penal.

Pena de multa ou restritiva de direitos


(alternativa às penas e/ou penas alternativas), Pena privativa de liberdade.
isto é, penas não privativas de liberdade.

Princípio da obrigatoriedade/princípio da
Mitigação de princípio da jurisdição conflitiva.
indisponibilidade.

Salienta-se que o princípio da obrigatoriedade é substituído pelo princípio da


discricionariedade regrada, em virtude da transação penal. Percebe-se que, aqui, a denúncia
ainda não foi oferecida.

No mesmo sentido, o princípio da indisponibilidade da ação penal pública é mitigado pela


suspensão condicional do processo, prevista no art. 89 da Lei. Nota-se que, aqui, a denúncia já
foi oferecida.

5. BENEFÍCIOS DA LEI 9.099/95

Destaca-se, a priori, o instituto descarcerizador ao autor do fato que, após a lavratura do


termo circunstanciado, for imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de
a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, nos termos do art. 69,
parágrafo único:

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará


termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o
autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames
periciais necessários.
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em
caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de
cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
vítima.

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Há também os institutos despenalizadores, em que o consenso entre as partes pode evitar
a instauração do processo ou, pelo menos, impedir seu prosseguimento, sendo eles:

1) Composição dos danos civis: acarreta a renúncia ao direito de queixa ou de


representação, com a consequente extinção da punibilidade (art. 74, parágrafo único);

Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada
pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser
executado no juízo civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação
penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta
a renúncia ao direito de queixa ou representação.

2) Transação penal: permite o imediato cumprimento de pena restritiva de direitos ou multa,


evitando-se a instauração do processo (art. 76);

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal


pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério
Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas, a ser especificada na proposta.

3) Representação nos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas: o não


oferecimento da representação dentro do prazo de seis meses, a contar do conhecimento
da autoria, acarreta a decadência e consequente extinção da punibilidade (art. 88);

Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial,


dependerá de representação a ação penal relativa aos crimes de lesões
corporais leves e lesões culposas.

4) Suspensão condicional do processo: recebida a denúncia, pode o juiz determinar a


suspensão do processo, submetendo o acusado a um período de prova, sob a obrigação
de cumprir certas condições. Findo esse período de prova sem revogação, o juiz declarará
extinta a punibilidade (art. 89).

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Ante todo o exposto, é preciso evidenciar a diferença entre despenalizar e


descriminalizar.

Segundo Renato Brasileiro, despenalizar significa adotar processos ou medidas


substitutivas ou alternativas, de natureza penal ou processual, que visam, sem rejeitar o caráter
ilícito da conduta, dificultar, evitar ou restringir a aplicação da pena de prisão ou sua execução ou,
ainda, pelo menos, sua redução.

Descriminalizar, por outro lado, significa retirar o caráter de ilícito ou de ilícito penal do fato.
Existem duas vias pelas quais é possível dar-se a descriminalização: via legislativa ou via judicial.

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A primeira implica uma decisão do legislador de retirar do âmbito do proibido determinada conduta,
com isso ampliando o âmbito de liberdade. Quando uma lei faz desaparecer a natureza de ilícito de
um determinado fato falamos em abolitio criminis. Pela via judicial ou interpretativa, o aplicador da
lei restringe o âmbito do proibido valendo-se dos princípios limitadores do ius puniendi estatal (como
o princípio da insignificância).

6. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9.099/95

Logo que entrou em vigor, muito se discutiu sobre a constitucionalidade da Lei, em virtude
da possibilidade de jurisdição consensual, na qual o autor do fato cumpre uma espécie de pena
alternativa sem o devido processo legal.

Isto posto, no Inquérito 1.055, o STF confirmou a constitucionalidade da Lei dos Juizados,
ao argumento da expressa previsão na Lei Maior:

STF: - LEI N. 9.099/95 - CONSAGRAÇÃO DE MEDIDAS


DESPENALIZADORAS - NORMAS BENÉFICAS - RETROATIVIDADE
VIRTUAL. - Os processos técnicos de despenalização abrangem, no plano
do direito positivo, tanto as medidas que permitem afastar a própria incidência
da sanção penal quanto aquelas que, inspiradas no postulado da mínima
intervenção penal, tem por objetivo evitar que a pena seja aplicada, como
ocorre na hipótese de conversão da ação pública incondicionada em ação
penal dependente de representação do ofendido (Lei n. 9.099/95, arts. 88 e
91). A Lei n. 9.099/95, que constitui o estatuto disciplinador dos Juizados
Especiais, mais do que a regulamentação normativa desses órgãos
judiciários de primeira instância, importou em expressiva transformação do
panorama penal vigente no Brasil, criando instrumentos destinados a
viabilizar, juridicamente, processos de despenalização, com a inequívoca
finalidade de forjar um novo modelo de Justiça criminal, que privilegie a
ampliação do espaço de consenso, valorizando, desse modo, na definição
das controvérsias oriundas do ilícito criminal, a adoção de soluções fundadas
na própria vontade dos sujeitos que integram a relação processual penal.
Esse novíssimo estatuto normativo, ao conferir expressão formal e positiva
as premissas ideológicas que dão suporte as medidas despenalizadoras
previstas na Lei n. 9.099/95, atribui, de modo consequente, especial primazia
aos institutos (a) da composição civil (art. 74, parágrafo único), (b) da
transação penal (art. 76), (c) da representação nos delitos de lesões culposas
ou dolosas de natureza leve (arts. 88 e 91) e (d) da suspensão condicional
do processo (art. 89). As prescrições que consagram as medidas
despenalizadoras em causa qualificam-se como normas penais
benéficas, necessariamente impulsionadas, quanto a sua
aplicabilidade, pelo princípio constitucional que impõe a lex mitior uma
insuprimível carga de retroatividade virtual e, também, de incidência
imediata. (STF, Pleno, Inq. 1.055/ QO/AM, Rel. Min. Celso de Mello, j.
24/04/1996).

7. CRITÉRIOS/PRINCÍPIOS ORIENTADORES E FINALIDADES DOS JUIZADOS

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Estão previstos no art. 62 da Lei, in verbis:

Art. 62. O processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos critérios


da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima
e a aplicação de pena não privativa de liberdade.

Ressalta-se que os demais princípios constitucionais serão aplicados aos processos do


juizado, a exemplo da ampla defesa e do contraditório.

7.1. PRINCÍPIO DA ORALIDADE

Deve-se dar preferência à palavra falada sobre a escrita, sem que esta seja excluída. Cita-
se, como exemplo, o art. 77, que prevê denúncia oral (deve ser reduzida a termo):

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de
pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese
prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de
imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências
imprescindíveis.

Importante destacar que do princípio da oralidade derivam 4 subprincípios:

1) Concentração: consiste na tentativa de redução do procedimento a uma única


audiência, objetivando encurtar o lapso temporal entre a data do fato e a do julgamento.

2) Imediatismo: deve o juiz proceder diretamente à colheita de todas as provas, em contato


imediato com as partes. Em regra, o contato deve ser feito de maneira presencial.
Excepcionalmente, deve-se admitir a videoconferência, aplicando o CPP
subsidiariamente, nos termos do art. 92:

Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de


Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

3) Irrecorribilidade das interlocutórias: pelo menos em regra, as decisões interlocutórias


são irrecorríveis. Obviamente, poderá haver impugnação, tanto por meio de preliminar
de futura e eventual apelação, quanto por meio de habeas corpus e da revisão criminal.

4) Identidade física do juiz: o juiz que presidir a instrução deverá, pelo menos em regra,
proferir sentença. Esse princípio também está previsto no art. 399, § 2º, do CPP:

Art. 399. Recebida a denúncia ou queixa, o juiz designará dia e hora para a
audiência, ordenando a intimação do acusado, de seu defensor, do Ministério
Público e, se for o caso, do querelante e do assistente.
§ 2º O juiz que presidiu a instrução deverá proferir a sentença.

7.2. PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE

Procura-se diminuir o quanto possível a massa dos materiais que são juntados aos autos do
processo sem que se prejudique o resultado da prestação jurisdicional.

CS – JECRIM 2023.1 10

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O § 1º do art. 77 da Lei dos Juizados é um exemplo deste princípio. Assim segue:

Art. 77, § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base
no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do
inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a
materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova
equivalente.

Em relação à obrigatoriedade do exame de corpo de delito, há na doutrina 2 correntes:

1) 1ª corrente: baseada na interpretação literal do art. 77, § 1º da Lei 9.099/95, entende


que o exame de corpo de delito não é necessário para o oferecimento da denúncia, mas
é indispensável para que a sentença seja proferida.

2) 2ª corrente: sustenta que nem mesmo na sentença será necessário o exame de corpo
de delito. Assim, a materialidade pode ser comprovada por simples boletim médico, por
exemplo, em razão do princípio da simplicidade.

7.3. PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE

Não há necessidade de se adotar formas sacramentais, nem tampouco de se observar o


rigorismo formal do processo, desde que a finalidade do ato processual seja atingida, a exemplo do
disposto no art. 65 da Lei dos Juizados:

Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as


finalidades para as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados
no art. 62 desta Lei.
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo.
§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada
por qualquer meio hábil de comunicação.
§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por
essenciais. Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento
poderão ser gravados em fita magnética ou equivalente.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-BA - Delegado - IBFC - 2022): No que diz respeito ao preceituado na
Lei nº 9.099/1995, a qual disciplina os Juizados especiais criminais, é correto
afirmar que os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se em
horário noturno, conforme dispuserem as normas de organização judiciária.
Correto.

(TJ-MS - Juiz - FCC - 2020): Em relação aos Juizados Especiais Criminais,


correto afirmar que os atos processuais serão públicos e poderão realizar-se
em horário noturno e em qualquer dia da semana, incabível, porém, a prática
em outras comarcas. Errado.

7.4. PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL

Entre 2 alternativas igualmente válidas, deve-se optar pela menos onerosa às partes e ao
próprio Estado.

CS – JECRIM 2023.1 11

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7.5. PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL

Guarda relação com a necessidade de rapidez e agilidade do processo, objetivando-se


atingir a prestação jurisdicional no menor tempo possível, a fim de evitar a prescrição.

8. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL

Pode-se afirmar que, com relação às infrações penais, a competência dos Juizados é fixada
com base em 2 critérios:

1) Natureza da infração penal: infração de menor potencial ofensivo (art. 61).

2) Inexistência de circunstância que desloque a competência para o juízo comum: é


o que ocorre, por exemplo, nas hipóteses de conexão e continência com infração penal
comum (art. 60, parágrafo único), impossibilidade de citação pessoal do autuado (art. 66,
parágrafo único) e quando evidenciada a complexidade da causa (art. 77, § 2°).

8.1. HIPÓTESES DE MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS PREVISTAS NA LEI

São 3 hipóteses:

1) Conexão e continência (art. 60, parágrafo único);

2) Impossibilidade de citação pessoal do acusado (art. 66, parágrafo único);

3) Complexidade da causa (art. 77, § 2º).

8.1.1. Conexão e continência (art. 60, parágrafo único)

Possuem a seguinte redação legal:

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados
e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das
infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de
conexão e continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o
tribunal do júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e
continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da
composição dos danos civis.

Para melhor ilustrar, imagine que “A” tenha praticado um crime de desacato, infração de
menor potencial ofensivo (pena de 6 meses a 2 anos, ou multa) e tenha cometido um homicídio
doloso, crime de competência do júri. Se os delitos tivessem sido praticados sem conexão e sem
continência, o desacato seria julgado no JECrim e o homicídio no júri.

Havendo conexão e continência, para alguns doutrinadores, os processos deveriam ser


separados, eis que uma lei ordinária não pode excepcionar uma regra constitucional, pois a própria
CF prevê a competência do JECrim para o julgamento das infrações de menor potencial ofensivo.
Salienta-se, contudo, que se trata de entendimento minoritário.

CS – JECRIM 2023.1 12

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A maioria da doutrina entende que havendo conexão ou continência, os processos devem
ser reunidos em um verdadeiro simultaneus processus, sendo a competência do juízo com força
atrativa. No exemplo acima, seria o júri.

De acordo como art. 60, parágrafo único da Lei 9.099/95, em havendo conexão entre uma
IMPO e um crime do juízo comum (ou do júri), ambos os delitos deverão ser processados e julgados
perante o juízo comum (ou do júri), devendo, no caso, ser observados os institutos despenalizadores
(composição civil dos danos/transação penal) em relação à IMPO.

Em síntese, sempre que houver conexão e continência, aplica-se o rito maior.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-PR - Promotor - MPE-PR - 2021): Em conformidade com a Lei
9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais), no processo perante o Tribunal do
Júri, admite-se a aplicação da transação penal. Correto.

8.1.2. Impossibilidade de citação pessoal do acusado (art. 66, parágrafo único)

Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que
possível, ou por mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz
encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do
procedimento previsto em lei.

A citação no JECrim (sumaríssimo) é pessoal, ou seja, não se admite citação por edital, que
vai contra a celeridade deste rito.

Em não sendo possível a citação pessoal, os autos são remetidos ao juízo comum, para que
se proceda à citação por edital, observando-se o procedimento sumário, bem como os institutos
despenalizadores, conforme determina o art. 538 do CPP:

Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o


juizado especial criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes
para a adoção de outro procedimento, observar-se-á o procedimento
sumário previsto neste Capítulo.

Além disso, o julgamento de eventual apelação será feito pelo TJ e não pela Turma Recursal.

Obs.: o processo somente será remetido ao juízo comum após o


oferecimento da denúncia. Além disso, mesmo sendo encontrado o
acusado posteriormente, não será restabelecida a competência do
JECrim, podendo haver a aplicação dos institutos despenalizadores.

Evidencia-se, por fim, outras formas de citação:

1) Citação por carta precatória? É possível SIM.


2) Citação por carta rogatória? A doutrina e a jurisprudência não admitem, pois vai contra
os princípios do Juizado (celeridade, informalidade, oralidade).

CS – JECRIM 2023.1 13

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3) Citação por hora certa? Segundo o Enunciado 110 do XXV FONAJE (Fórum nacional
dos juizados especiais), é cabível citação por hora certa nos juizados.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-BA - Delegado - IBFC - 2022): No que diz respeito ao preceituado na
Lei nº 9.099/1995, a qual disciplina os Juizados especiais criminais, é correto
afirmar que a citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que
possível, ou por mandado. Correto.

(DPE-SC - Defensor - FCC - 2021): Em relação ao procedimento processual


penal relativo aos Juizados Especiais Criminais, caso o réu não seja
encontrado pessoalmente para citação processual, o juiz suspenderá
imediatamente o processo, arquivando os autos até ulterior localização.
Errado.

8.1.3. Complexidade da causa (art. 77, § 2º)

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de
pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese
prevista no art. 76 desta Lei (transação), o Ministério Público oferecerá ao
Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências
imprescindíveis.
§ 2º. Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a
formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o
encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art.
66 desta Lei (remessa ao juízo comum).

Art. 66, Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz
encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do
procedimento previsto em lei.

É o caso de prova pericial de maior complexidade ou do grande número de acusados


no processo. O procedimento a ser observado será o comum sumário (art. 538 do CPP).

Isto posto, questiona-se: quem julga a apelação contra a decisão da vara criminal que
julga a IMPO complexa? Cabe ao TJ ou à Turma Recursal? Quem julga é o Tribunal de Justiça,
uma vez que a competência da Turma Recursal é limitada à apreciação de decisões oriundas de
Juizados.

8.2. NATUREZA DA COMPETÊNCIA DO JEC: ABSOLUTA OU RELATIVA?

A questão é polêmica, havendo 2 correntes:

1) 1ª corrente: segundo Ada Grinover, Gustavo Badaró e Mirabete, a competência é


absoluta, não só porque está prevista na CF/88 como também porque é uma
competência estabelecida em razão da matéria (infração de menor potencial ofensivo).

CS – JECRIM 2023.1 14

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Há, contudo, uma crítica sobre tal corrente, uma vez que a competência absoluta não pode
ser prorrogada. Porém, como visto acima, a própria lei prevê 3 hipóteses de modificação da
competência.

2) 2ª corrente: de acordo com Pacelli, a competência dos Juizados tem natureza relativa,
caracterizando mera nulidade relativa o julgamento de uma IMPO perante o juízo
comum, mas desde que analisado o cabimento dos institutos despenalizadores da Lei
9.099/95.

A sua natureza relativa é justificada pelas hipóteses de modificação de competência


previstas na própria Lei, conforme supramencionado.

Por fim, salienta-se que o STF adotou a 2ª corrente, definindo que a competência dos
JECrims para os feitos envolvendo infrações de menor potencial ofensivo é relativa:

Por unanimidade, a Corte julgou improcedente o pedido formulado. Concluiu


que os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência
relativa para o julgamento das infrações de menor potencial ofensivo,
razão pela qual se permite que essas infrações sejam julgadas por outro
juízo com vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela conexão
ou continência, observados, quanto àqueles, os institutos
despenalizadores, quando cabíveis. Na visão do STF, não consta do art.
98, I, da CF, determinação de exclusividade dos Juizados Especiais Criminais
para o julgamento das infrações de menor potencial ofensivo. Assim, se
praticada infração penal de menor potencial ofensivo em concurso com outra
infração penal comum e deslocada a competência para a Justiça comum ou
Tribunal do Júri, não há óbice, senão determinação constitucional, à
aplicação dos institutos despenalizadores da transação penal e da
composição civil dos danos quanto à infração de menor potencial ofensivo,
em respeito ao devido processo legal. Ademais, não se deve somar à pena
máxima da infração de menor potencial ofensivo com a da infração conexa
(de maior gravidade) para excluir a incidência da fase consensual e ser
invocada como fator impeditivo da transação penal ou composição civil dos
danos. (STF, ADI 5264, 07/12/2020).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-RN - Delegado - FGV - 2021): A Lei nº 9.099/1995 dispõe sobre os
Juizados Especiais Criminais, próprios para o julgamento dos delitos de
menor potencial ofensivo, prevendo regramento e institutos próprios. De
acordo com a referida legislação e outras subsequentes, os crimes de menor
potencial ofensivo sempre serão julgados no Juizado Especial Criminal.
Errado.

9. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO (IMPO)

9.1. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE IMPO

CS – JECRIM 2023.1 15

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A redação original do art. 61 previa, basicamente, que todas as contravenções penais, bem
como os crimes com pena máxima não superior a 01 ano, ou multa, salvo crimes submetidos a
procedimento especial, eram considerados infrações de menor potencial ofensivo:

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para


efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a um ano, excetuados os casos em que a lei
preveja procedimento especial.

Em 2001, por conta da edição da Lei 10.259/01 (Juizados Especiais Federais), o conceito
começa a ser modificado, eis que o parágrafo único do art. 2º prevê como IMPO, os crimes com
pena máxima não superior a 02 anos, ou multa:

Art. 2º Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os


feitos de competência da Justiça Federal relativos à infrações de menor
potencial ofensivo.
Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo,
para os efeitos desta Lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a dois anos, ou multa.

Obs.: a Lei não falava em contravenção, mas por razão óbvia, pois a
Justiça Federal não julga contravenções.

À vista disso, surgiu uma discussão à época: teria a Lei do JEF alterado o conceito da Lei
do JEC? Assim, 2 teorias surgiram:

1) Teoria dualista (sistema bipartido): haverá dois conceitos distintos de IMPO, um na


Justiça Estadual (pena máxima de 1 ano), outro na Justiça Federal (pena máxima não
superior a 2 anos), em razão da expressão “desta Lei”.

2) Teoria monista (sistema unitário): há conceito único de IMPO, pois o parágrafo único
do art. 2º da Lei 10.259/01 teria revogado tacitamente a redação original do art. 61 da
Lei 9.099/95. Prevaleceu o sistema unitário, em homenagem ao princípio da isonomia.

No entanto, toda essa discussão foi esvaziada em 2006 quando, por meio da Lei 11.313/06,
modificou-se o conceito de IMPO previsto no art. 61 da Lei 9.099/95:

Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para


os efeitos desta Lei, as (todas) contravenções penais e os crimes a que a lei
comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com
multa.

Evidencia-se, por fim, que a Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/2019) possui crimes
em que a pena varia de 6 meses a 2 anos e, consequentemente serão julgados pelo JECrim.

Contudo, tratando-se de Lei Maria da Penha não se aplica a Lei 9.099/95.

Ante todo o exposto, tem-se o seguinte conceito atual de IMPO: entende-se por infração
de menor potencial ofensivo todas as contravenções penais e crimes com pena máxima não
superior a 02 anos, cumulada ou não com multa, independentemente de os crimes serem

CS – JECRIM 2023.1 16

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submetidos a procedimento especial, ressalvadas as hipóteses envolvendo violência doméstica e
familiar contra a mulher.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-MS - Delegado - FAPEC - 2021): Consideram-se infrações penais de
menor potencial ofensivo, para os efeitos da Lei nº 9.099/95, as
contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não
superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. Correto.

(PC-RN - Delegado - FGV - 2021): A Lei nº 9.099/1995 dispõe sobre os


Juizados Especiais Criminais, próprios para o julgamento dos delitos de
menor potencial ofensivo, prevendo regramento e institutos próprios. De
acordo com a referida legislação e outras subsequentes, consideram-se
infrações de menor potencial ofensivo aquelas em que apena máxima não é
superior a dois anos e não possuem a elementar violência ou grave ameaça
à pessoa. Errado.

9.2. INFRAÇÃO DE OFENSIVIDADE INSIGNIFICANTE, INFRAÇÃO DE MÉDIO POTENCIAL


OFENSIVO E INFRAÇÃO DE ÍNFIMO POTENCIAL OFENSIVO

São conceitos diversos, os quais não se confundem com IMPO.

Infração de ofensividade insignificante é aquela em que é possível a aplicação do


princípio da bagatela (insignificância), de modo a afastar a tipicidade material. Importante relembrar
os 4 pressupostos para aplicação do princípio da insignificância, de acordo com o STF:

1) Mínima ofensividade da conduta;

2) Nenhuma periculosidade social da ação;

3) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;

4) Inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Infração de médio potencial ofensivo, segundo a doutrina, são aquelas em que se admite
a suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95), ou seja, são crimes e contravenções
com pena mínima igual ou inferior a um ano:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Por exemplo, furto simples que possui pena mínima igual a um ano, mas como a pena
máxima é superior a dois anos, não vai para o juizado.

Infração de ínfimo potencial ofensivo, por sua vez, é aquela em que não é cominada pena
privativa de liberdade, a exemplo do art. 28 da Lei de Drogas.

CS – JECRIM 2023.1 17

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Infração de máximo potencial ofensivo, por fim, são aquelas que não admitem a
suspensão condicional do processo, ou seja, que têm pena mínima cominada superior a 1 ano.

9.3. ESTATUTO DO IDOSO (ART. 94 DA LEI 10.741/03)

Possui a seguinte previsão:

Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de
liberdade não ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto
na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que
couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal.

Em crimes contra o idoso previstos no Estatuto com pena máxima não superior a 04 anos
aplica-se o procedimento sumaríssimo. Entretanto, só vai para o JECrim se for uma infração de
menor potencial ofensivo. Do contrário, vai para um juízo comum, seguindo o procedimento
sumaríssimo, de modo a dar uma resposta mais célere.

Atenção: somente se aplica o procedimento sumaríssimo e não os


benefícios da transação e da composição civil dos danos. O Estatuto
do Idoso não quis beneficiar o infrator, mas sim o idoso, com um rito
mais célere (STJ).

Nesse liame, destaca-se o Informativo 556 do STF, na ADI 3.096 promovida pelo PGR, para
dar ao dispositivo interpretação conforme a CF/88, no sentido de somente se aplicar o procedimento
e não os benefícios da Lei 9.099/95:

LEI 10.741/2003: CRIMES CONTRA IDOSOS E APLICAÇÃO DA LEI


9.099/95. 2 Aplica-se a Lei 9.099/95 apenas nos aspectos estritamente
processuais, não se admitindo, em favor do autor do crime, a incidência de
qualquer medida despenalizadora — v. Informativo 556. Concluiu-se que,
dessa forma, o idoso seria beneficiado com a celeridade processual, mas o
autor do crime não seria beneficiado com eventual composição civil de danos,
transação penal ou suspensão condicional do processo. Vencidos o Min. Eros
Grau, que julgava improcedente o pleito, e o Min. Marco Aurélio, que o julgava
totalmente procedente. ADI 3096/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 16.6.2010.

Destaca-se que, ao contrário da Lei Maria da Penha, não há proibição para aplicação da Lei
9.099/95.

Em suma, tem-se que:

1) Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima não superior a 2 anos: é
tratado como infração de menor potencial ofensivo. Logo, será julgado pelos Juizados,
e terá direito aos institutos despenalizadores.

2) Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima superior a 2 anos e que
não ultrapasse os 4 anos: nesse caso, aplica-se o art. 94. Logo, o delito será da
competência do juízo comum, aplicando-se o procedimento comum sumaríssimo.

CS – JECRIM 2023.1 18

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3) Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima superior a 4 anos: é da
competência do juízo comum, aplicando-se o procedimento comum ordinário.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-SC - Promotor - CESPE - 2021): A aplicação da Lei n.º 9.099/1995,
prevista no Estatuto do Idoso, não se estende a benefícios como transação
penal. Correto.

9.4. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (E COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS


TRIBUNAIS)

Trata-se de crimes relacionados ao exercício funcional e mantida a relação funcional. Por


exemplo, o Deputado Federal que no exercício da função cometa um crime relacionado a ela, será
julgado no respectivo tribunal e não pelo JECrim.

Ressalta-se que o julgamento pelo respectivo tribunal não impede a aplicação dos institutos
despenalizadores.

Por outro lado, diante da nova orientação do STF, quando o crime não tiver relação com as
funções, a competência será do JECrim.

9.5. CRIMES ELEITORAIS

IMPO eleitoral não vai para o JECrim, mas sim para a Justiça Eleitoral, aplicando-se os
institutos despenalizadores.

Segundo o TSE, é possível a adoção da transação e da suspensão condicional do processo


em relação a crimes eleitorais, salvo em relação àqueles que contam com um sistema punitivo
especial (ex.: Código Eleitoral, no art. 334, que possui pena de cassação do registro do candidato,
que não pode ser objeto de transação).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-PR - Promotor - MPE-PR - 2021): No processo de competência da
justiça eleitoral é cabível a suspensão condicional do processo quando a pena
mínima cominada ao crime for igual ou superior a 1 ano, mesmo havendo
conexão de crime não eleitoral em relação ao qual não caiba a suspensão.
Errado.

9.6. INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO

Foi trazido pela Lei 13.060/2014 que entrou em vigor em 23 de dezembro de 2014.

Dispõe o art. 4º da referida Lei que:

Art. 4o Para os efeitos desta Lei, consideram-se instrumentos de menor


potencial ofensivo aqueles projetados especificamente para, com baixa
probabilidade de causar mortes ou lesões permanentes, conter, debilitar ou
incapacitar temporariamente pessoas.

CS – JECRIM 2023.1 19

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Os instrumentos de menor potencial ofensivo são armas não letais, a exemplo do gás
lacrimogêneo, arma de choque.

O art. 2º da Lei 13.060/2014 prevê, ainda, que:

Art. 2o Os órgãos de segurança pública deverão priorizar a utilização dos


instrumentos de menor potencial ofensivo, desde que o seu uso não coloque
em risco a integridade física ou psíquica dos policiais, e deverão obedecer
aos seguintes princípios:
I - legalidade;
II - necessidade;
III - razoabilidade e proporcionalidade.
Parágrafo único. Não é legítimo o uso de arma de fogo:
I - contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que não represente risco
imediato de morte ou de lesão aos agentes de segurança pública ou a
terceiros; e
II - contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto
quando o ato represente risco de morte ou lesão aos agentes de segurança
pública ou a terceiros.

Importante salientar que NÃO se confunde com os institutos despenalizadores.

9.7. LEI 11.340/06 (LEI MARIA DA PENHA)

Observe-se a redação do art. 41 da Lei Maria da Penha:

Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher (art. 5º e art. 7º), independentemente da pena prevista, não se aplica
a Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995.

Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, qualquer que seja
a pena, é vedada a incidência da Lei 9.099/95, ou seja, não pode ser aplicado o procedimento
sumaríssimo, nem a competência será do JECrim, tampouco os institutos despenalizadores.

Analisando o disposto no art. 41 da Lei Maria da Penha, o STF entendeu que o preceito
alcança toda e qualquer prática delituosa contra a mulher, até mesmo quando consubstancia
contravenção penal, como é a relativa às vias de fato.

Quanto à (in)constitucionalidade do referido dispositivo, a Suprema Corte também concluiu


que, ante a opção político-normativa prevista no art. 98, inciso I, e a proteção versada no art. 226,
§ 8°, ambos da Constituição Federal, surge harmônico com esta última o afastamento peremptório
da Lei 9.099/95 – mediante o art. 41 da Lei 11.340/06 – no processo-crime a revelar violência contra
a mulher.

A Súmula 536 do STJ corrobora o entendimento do STF:

Súmula 536 STJ: A suspensão condicional do processo e a transação penal


não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

CS – JECRIM 2023.1 20

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Na mesma linha, no julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade 19/DF, o
Supremo julgou procedente o pedido para assentar a constitucionalidade dos artigos 1°, 33 e 41 da
Lei 11.340/2006.

Considerou-se que, ao criar mecanismos específicos para coibir e prevenir a violência


doméstica contra a mulher e estabelecer medidas especiais de proteção, assistência e punição,
tomando como base o gênero da vítima, o legislador teria utilizado meio adequado e necessário
para fomentar o fim traçado pelo art. 226, § 8°, da Constituição Federal, não sendo possível
considerar-se ilegítimo o uso do sexo como critério de diferenciação, visto que a mulher seria
eminentemente vulnerável no tocante a constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em
âmbito privado.

Sob o enfoque constitucional, consignou-se que a norma seria corolário da incidência do


princípio da proibição de proteção insuficiente dos direitos fundamentais. Sublinhou-se que a lei em
comento representaria movimento legislativo claro no sentido de assegurar às mulheres agredidas
o acesso efetivo à reparação, à proteção e à justiça. Discorreu-se que, com o objetivo de proteger
direitos fundamentais, à luz do princípio da igualdade, o legislador editara microssistemas próprios,
a fim de conferir tratamento distinto e proteção especial a outros sujeitos de direito em situação de
hipossuficiência, como o Estatuto do Idoso e o da Criança e do Adolescente.

9.7.1. Varas especializadas

Verifica-se a redação do art. 14 da Lei Maria da Penha:

Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher,


órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser
criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados, para
o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher.

O dispositivo refere-se aos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher, porém,
deve-se compreender que se refere não aos juizados especiais criminais, mas sim à criação de
varas especializadas.

Para o STF, o art. 14 recomenda a criação das varas especializadas, não obriga. Por isso,
não há falar em inconstitucionalidade.

Em continuidade, importante evidenciar o disposto no art. 33 da Lei 11.340/06:

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e


Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências
cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de
violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do
Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais,
para o processo e o julgamento das causas referidas no caput.

O art. 33 reconhece que há uma carência de juiz no Brasil, assim, não sendo possível a
criação das varas especializadas, a competência poderá ser declinada para uma vara criminal, o
juiz criminal irá acumular.

CS – JECRIM 2023.1 21

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Por fim, ressalta-se a Súmula 542 do STJ, a qual está em consonância com o que foi
decidido pelo STF:

Súmula 542 STJ – A ação penal relativa ao crime de lesão corporal


leve/grave/gravíssima resultante de violência doméstica e familiar contra a
mulher é pública incondicionada.

Tratando-se de lesão corporal culposa, a ação será pública condicionada à representação.

10. APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95 NA JUSTIÇA MILITAR

No início da vigência da Lei, como não havia qualquer vedação, tanto o STJ quanto o STF
admitiam sua aplicação ao âmbito militar. No entanto, em 1999 surgiu a Lei 9.839/99, que
acrescentou o art. 90-A à Lei dos Juizados, proibindo a sua aplicação no âmbito da Justiça Militar:

Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça


Militar.

A Lei 9.839/99 tem natureza gravosa, pois priva o acusado do gozo dos institutos
despenalizadores da Lei 9.099/95. Desse modo, o art. 90-A só se aplica aos crimes militares
praticados após a sua vigência, tendo em vista se tratar de uma novatio legis in pejus.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-PR - Promotor - MPE-PR - 2021): A partir da Lei 13.689/2020 (Pacote
Anticrime) no processo de competência da justiça militar estadual
expressamente passou a ser cabível a transação penal quando a pena
máxima do crime é inferior a 2 anos. Errado.

(MPE-PR - Promotor - MPE-PR - 2021): No processo de competência da


justiça militar federal é cabível o julgamento de não militar, exclusivamente
quando tratar-se de crime cometido em coautoria, diferentemente da
competência da justiça militar estadual em que o não militar em crime
cometido em coautoria não é julgado, e neste último caso, segundo a Lei
9.099/1995, é cabível a suspensão condicional do processo quando a pena
mínima atribuída ao crime for igual ou superior a 1 ano. Errado.

11. COMPETÊNCIA TERRITORIAL NO ÂMBITO DOS JUIZADOS (ART. 63)

Inicialmente, destaca-se que o CPP determina que a competência será fixada pelo local em
que for consumado o delito, nos termos do art. 70:

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se


consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado
o último ato de execução.

Diferentemente, a Lei dos Juizados determina que a competência será fixada pelo local em
que a infração foi praticada, conforme disposto no art. 63:

CS – JECRIM 2023.1 22

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Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi
praticada a infração penal.

A Lei dos Juizados é uma das exceções ao CPP, pois usa a expressão “lugar em que foi
praticada a infração penal”. Diante disso, qual teoria teria sido adotada? Há 3 correntes:

1) 1ª corrente (prevalente): Por “praticada” entende-se o local da conduta (teoria da


atividade).

2) 2ª corrente: é sinônimo de consumada (teoria do resultado).

3) 3ª corrente: a Lei do JEC adota a teoria mista. Seria competente tanto o local da ação
quanto o local da consumação (teoria da ubiquidade).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-MS - Delegado - FAPEC - 2021): De acordo com a Lei nº 9.099/95, a
competência do Juizado será determinada pelo lugar onde se consumar a
infração penal. Errado.

(TJ-MS - Juiz - FCC - 2020): Em relação aos Juizados Especiais Criminais,


correto afirmar que a competência será determinada pelo lugar em que foi
praticada a infração penal ou pelo domicílio da vítima, a critério desta. Errado.

12. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (TCO)

12.1. PREVISÃO LEGAL

Está disposto no art. 69 da Lei 9.099/95:

Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará


termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o
autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos exames
periciais necessários.

É uma das primeiras novidades da Lei do JECrim. No âmbito dos Juizados, é desnecessária
a instauração de inquérito policial (em homenagem à celeridade e à informalidade).

O TCO funciona, basicamente, como um relatório sumário do fato (da IMPO), contendo a
identificação das partes envolvidas, a menção à infração praticada e demais elementos de
informação que tenham sido apurados, com indicação das provas, visando à formação da opinio
delicti pelo titular da ação penal.

Todavia, é possível haver inquérito em IMPO? SIM, nos casos de maior complexidade.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-BA - Delegado - IBFC - 2022): No que diz respeito ao preceituado na
Lei nº 9.099/1995, a qual disciplina os Juizados especiais criminais, é correto
afirmar que na fase preliminar, a autoridade policial que tomar conhecimento
da ocorrência deverá lavrar termo circunstanciado e o encaminhar

CS – JECRIM 2023.1 23

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imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando as
requisições dos exames periciais necessários. Correto.

(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Considerando o sistema de juizados


especiais criminais, previsto na Lei n.° 9.099/1995, e a jurisprudência do STJ
e STF sobre a matéria, é correto afirmar que o procedimento de apuração de
infrações de menor potencial ofensivo não admite a realização de exames
periciais, haja vista a necessidade de brevidade na conclusão do processo.
Errado.

(PC-PR - Delegado - NC-UFPR - 2021): A autoridade policial responsável


pela lavratura do termo circunstanciado deverá encaminhá-lo imediatamente
ao Juizado, cabendo ao juiz, ao receber o termo, a requisição de exames
periciais necessários. Errado.

12.2. ATRIBUIÇÃO PARA LAVRATURA DO TCO

De acordo com o art. 69, quem lavra o TCO é a autoridade policial. Contudo, quem seria
autoridade policial? Existem 2 correntes:

1) 1ª corrente (minoritária): o TCO pode ser lavrado pela polícia judiciária (civil e federal),
bem como pela polícia militar, já que o TCO é um boletim de ocorrência mais detalhado.

2) 2ª corrente (majoritária): o TCO é um procedimento investigatório e, como tal,


assemelha-se ao IP, por isso só poderá ser lavrado pela polícia judiciária. Não se admite
a lavratura de TCO por policial militar.

Importante consignar que o art. 48 da Lei de Drogas prevê que nos casos do art. 28, será
lavrado termo circunstanciado (§ 2º). O § 3º do art. 48, interpretado a contrario sensu, prevê que a
lavratura do TC seria feita pela própria autoridade judicial, o que é considerado uma aberração aos
olhos da doutrina, já que viola o sistema acusatório.

Art. 48, § 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se


imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente
encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste, assumir o compromisso
de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e providenciando-se
as requisições dos exames e perícias necessários.
§ 3º Se ausente a autoridade judicial, as providências previstas no § 2º deste
artigo serão tomadas de imediato pela autoridade policial, no local em que se
encontrar, vedada a detenção do agente

Contudo, o STF, na ADI 3807, entendeu que o “termo circunstanciado não é um


procedimento investigativo, mas mera peça informativa com descrição detalhada do fato e as
declarações do condutor do flagrante e do autor do fato. Logo, a possibilidade de sua lavratura pelo
órgão judiciário não entraria em rota de colisão com os §§ 1º e 4º do art. 144 da Constituição
Federal, nem tampouco com a garantia da imparcialidade do julgador”.

CS – JECRIM 2023.1 24

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Como o tema foi cobrado em concurso?
(PC-MS - Delegado - FAPEC - 2021): O Supremo Tribunal Federal entende
que a pessoa detida pelo crime previsto no art. 28 da Lei nº 11.343/2006
(posse de drogas para consumo pessoal) deve ser encaminhada
imediatamente ao juiz e não à autoridade policial, e o próprio magistrado deve
lavrar o termo circunstanciado e requisitar os exames e as perícias
necessárias. Somente se não houver disponibilidade do juízo competente,
deve o autor ser encaminhado à autoridade policial, que então adotará tais
providências. Correto.

12.3. PRISÃO EM FLAGRANTE (ART. 69, PARÁGRAFO ÚNICO)

Art. 69, Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em
caso de violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de
cautela, seu afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a
vítima.

A pessoa em situação de flagrante será capturada e conduzida de forma coercitiva à delegacia


de polícia. Contudo, ao invés da lavratura de APF, será lavrado o TC.

Entretanto, a lavratura do TC está submetida a 2 condições alternativas: comparecimento


imediato ao JECrim ou compromisso de a ele comparecer posteriormente. Se o agente não vai para
o JECrim e não presta o compromisso, não resta alternativa: será lavrado o APF.

13. FASE PRELIMINAR

Ocorre antes do processo judicial (segunda fase) e busca-se:

1) A composição civil dos danos;

2) A transação penal.

Art. 72. Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério


Público, o autor do fato e a vítima e, se possível o responsável civil,
acompanhados por seus advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade
da composição dos danos e da aceitação da proposta de aplicação imediata
de pena não privativa de liberdade.

Trata-se de uma audiência eminentemente conciliatória, motivo pelo qual a presença das
partes é facultativa. Além disso, não há condução coercitiva.

14. COMPOSIÇÃO DOS DANOS CIVIS (art. 74)

Dispõe o art. 74 da Lei dos Juizados que:

CS – JECRIM 2023.1 25

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Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada
pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser
executado no juízo civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação
penal pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta
a renúncia ao direito de queixa ou representação.

É uma medida despenalizadora.

Visa valorizar a vítima, nada mais é do que um acordo entre o autor da infração e a vítima.

Se a infração for de ação penal privada ou pública condicionada à representação, uma vez
feita a composição dos danos, a consequência será a renúncia ao direito de queixa e de
representação, acarretando a extinção da punibilidade do autor do fato.

É possível a composição dos danos civis em crime de ação penal pública


incondicionada? Em tese, a Lei dos Juizados afirma que a composição é cabível em crimes de
ação penal privada, havendo renúncia ao direito de queixa. Prevê, ainda, a composição para os
crimes de ação penal pública condicionada à representação, acarretando, igualmente, em renúncia
ao direito de representação. Contudo, apesar do silêncio da Lei, é possível a composição civil de
danos nos crimes de ação penal pública incondicionada, mas não traz benefícios.

De acordo com Renato Brasileiro, a composição civil de danos, no caso de ação penal
incondicionada, poderia ser feita utilizando o arrependimento posterior (ponte de prata), previsto no
art. 16 do CP, ensejando uma redução da pena, desde que houvesse a efetiva reparação do dano,
nos seguintes termos:

Art. 16. Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços.

Essa medida foi pensada para as infrações que produzem danos materiais ou morais a uma
vítima determinada. Em regra, o MP não intervém nessa fase, salvo se o ofendido for incapaz.

Reduzida a termo e homologada, a composição vale como título executivo judicial a ser
executado na Vara Cível. Se o valor não ultrapassar 40 salários-mínimos, a execução se dará no
Juizado Especial Cível (JEC).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Considerando o sistema de juizados
especiais criminais, previsto na Lei n.° 9.099/1995, e a jurisprudência do STJ
e STF sobre a matéria, é correto afirmar que tratando-se de crime de ação
penal privada ou pública condicionada à representação, a realização de
composição civil dos danos entre autor e vítima gera a extinção da
punibilidade. Correto.

(PC-MS - Delegado - FAPEC - 2021): Dispõe a lei que a composição dos


danos civis será reduzida a escrito e, quando homologada pelo juiz mediante
sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil
competente. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal

CS – JECRIM 2023.1 26

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pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a
renúncia ao direito de queixa ou representação. Correto.

(DPE-SC - Defensor - FCC - 2021): Em relação ao procedimento processual


penal relativo aos Juizados Especiais Criminais, a composição civil dos danos
realizada pelas partes em audiência preliminar não implica renúncia ao direito
de representação ou queixa. Errado.

15. REPRESENTAÇÃO NOS JUIZADOS (art. 75)

Determina o art. 75 da Lei 9.099/95:

Art. 75. Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente
ao ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que
será reduzida a termo.
Parágrafo único. O não oferecimento da representação na audiência
preliminar não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no
prazo previsto em lei.

Percebe-se que para o art. 75, a representação deve ser feita em juízo. No entanto, a
jurisprudência tem considerado válida a representação feita perante a autoridade policial, quando
da lavratura do TC. Isso se justifica principalmente porque o prazo decadencial é de 6 meses a partir
do conhecimento da autoria.

Ademais, a representação deve ser encarada como qualquer ato que demonstre a intenção
do ofendido de ver o agente ser processado, prescindindo-se de formalidades desnecessárias. Não
sendo feita a representação (em juízo ou na delegacia), deve-se aguardar o decurso do prazo de
06 meses para que se possa falar em decadência.

16. TRANSAÇÃO PENAL (art. 76)

Possui a seguinte previsão legal:

Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal


pública incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério
Público poderá propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
multas, a ser especificada na proposta.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá
reduzi-la até a metade.
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena
privativa de liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela
aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente
a adoção da medida.

CS – JECRIM 2023.1 27

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§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida
à apreciação do Juiz.
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração,
o Juiz aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em
reincidência, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo
benefício no prazo de cinco anos.
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida
no art. 82 desta Lei.
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de
certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo
dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação
cabível no juízo cível.

16.1. CONCEITO

É um instituto despenalizador.

Trata-se de negócio jurídico celebrado entre o titular da ação penal e o autor do fato, sempre
assistido por seu defensor, pelo qual se propõe a aplicação imediata de pena restritiva de direito ou
multa, dispensando-se a instauração do processo.

A transação não implica em reconhecimento de culpa ou comprovação de inocência. Está


ligada à doutrina italiana do “nolo contendere” (não contestação, não reconhecimento de culpa).

Não configura antecedente criminal, tampouco conduz à reincidência. Os efeitos da


transação são a impossibilidade de nova transação no prazo de 05 anos e de celebração de acordo
de não persecução penal, caso tenha transacionado nos 5 anos anteriores.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(DPE-MT - Defensor - FCC - 2022): A reincidência no processo penal impede
o oferecimento de transação penal caso a condenação de crime anterior
tenha sido à pena privativa de liberdade, mas não impede a composição de
danos prevista na Lei nº 9.099/1995. Correto.

16.2. MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AÇÃO PENAL PÚBLICA

A transação é o melhor exemplo de mitigação ao princípio da obrigatoriedade da ação penal,


pois ela permite que o MP deixe de oferecer a denúncia. Entretanto, não há ampla
discricionariedade do MP, haja vista que a lei já prevê requisitos para a transação. Por conta disso,
a doutrina diz que na transação penal vige o princípio da discricionariedade regrada ou
mitigada.

16.3. REQUISITOS

16.3.1. Infração de menor potencial ofensivo

Apenas contravenções ou crimes, com pena máxima não superior a dois anos, estão sujeitos
à transação penal, ressalvado os crimes da Lei Maria da Penha.

CS – JECRIM 2023.1 28

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Como o tema foi cobrado em concurso?
(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Considerando o sistema de juizados
especiais criminais, previsto na Lei n.° 9.099/1995, e a jurisprudência do STJ
e STF sobre a matéria, é correto afirmar que admite-se transação penal para
os crimes dolosos com pena máxima inferior ou igual a 2 anos e para os
delitos culposos, independentemente da sanção aplicada. Errado.

(PC-PR - Delegado - NC-UFPR - 2021): Na hipótese de concurso material de


crimes, será firmada a competência do Juizado Especial Criminal quando a
pena máxima individual de cada um dos crimes não for superior a 2 anos.
Errado.

16.3.2. Não ser caso de arquivamento do termo circunstanciado

Ressalta-se que qualquer procedimento investigatório pode ser arquivado, não apenas o
inquérito policial. Dessa forma, sendo caso de arquivamento, não haverá transação.

Ademais, os fundamentos para o arquivamento (de qualquer procedimento investigatório)


podem ser extraídos dos arts. 395 e 397 do CPP:

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:


I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal;
ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal.

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste


Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.

16.3.3. Não ter sido o autor da infração condenado

Para ter direito à transação penal, o autor da infração não pode ter sido condenado por
sentença definitiva pela prática de crime a pena privativa de liberdade, destacando-se o conceito
de cada um desses:

1) Sentença definitiva: é aquela que já transitou em julgado. Significa dizer que não basta
acórdão condenatório, devendo ter transitado em julgado.

2) Crime: condenação por contravenção penal não impede a transação penal.

3) Pena privativa de liberdade: condenação à pena de multa ou restritiva de direitos não


é óbice à transação penal.

16.3.4. Não ter sido o agente beneficiado por transação penal pelo prazo de 5 anos anteriores

CS – JECRIM 2023.1 29

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O único efeito concreto que deriva de uma transação penal é o impedimento de nova
transação pelo lapso de 5 anos.

16.3.5. Circunstâncias favoráveis

Antecedentes, conduta social, personalidade do agente, bem como os motivos e as


circunstâncias do fato.

16.3.6. Reparação do dano ambiental nos crimes ambientais

Tratando-se de crime ambiental, para que seja possível a transação penal, o dano deverá
ser reparado, conforme determina o art. 27 da Lei 9.605/98:

Art. 27. Nos crimes AMBIENTAIS de menor potencial ofensivo, a proposta de


aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76
da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada
desde que tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que
trata o art. 74 da mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

16.4. LEGITIMIDADE PARA OFERECIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL

16.4.1. Juiz

A proposta de transação penal não pode ser concedida ex officio pelo juiz.

Durante muito tempo houve essa discussão. Uma primeira corrente dizia que a transação
penal seria um direito subjetivo do acusado. Por conta disso, ela poderia ser concedida de ofício
pelo juiz. Essa corrente não ganhou corpo na jurisprudência. Por quê?

Simples. Se for transação, ela pressupõe a aceitação de ambas as partes. Além disso, se o
juiz pudesse conceder a transação de ofício, ele estaria “usurpando” um poder que não é seu: poder
de promover a ação penal pública.

Assim, prevalece atualmente que, caso o juiz não concorde com a recusa injustificada da
proposta de transação penal por parte do MP, deve remeter a questão ao Procurador-geral (ou
Câmara Criminal do MPF).

Nesse sentido é a Súmula 696 do STF, que apesar de dispor sobre a suspensão condicional
do processo, aplica-se perfeitamente à transação, uma vez que ambos os institutos refletem o
exercício do direito de ação:

Súmula 696 do STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da


suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça
a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao procurador-geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.

Salienta-se que o art. 28 do CPP citado pela Súmula é com a redação antiga, antes do
Pacote Anticrime, em que havia um controle judicial do arquivamento. Com o advento da Lei

CS – JECRIM 2023.1 30

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13.964/2019, de acordo com a nova redação do art. 28 do CPP (ainda com a eficácia suspensa),
não há mais controle judicial. Contudo, o juiz continua podendo aplicar por analogia.

16.4.2. Ministério Público

Pela leitura do caput do art. 76 da Lei 9.099/95, observa-se que há referência APENAS à
ação penal pública, seja ela condicionada (representação) ou incondicionada, com expressa
legitimação do MP para oferecer a transação penal.

Diante disso, indaga-se: é possível transação penal em crime de ação penal privada?
Com base no princípio da isonomia, a doutrina afirma que não é razoável excluir a possibilidade de
transação penal aos crimes de ação penal privada.

Assim, seria perfeitamente cabível a transação penal nos casos de crimes de ação penal
privada, conforme entendimentos abaixo colacionados:

Enunciado 112 FONAJE – Na ação penal de iniciativa privada, cabem


transação penal e a suspensão condicional do processo, mediante proposta
do Ministério Público.

PENAL E PROCESSUAL PENAL. AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA. QUEIXA.


INJÚRIA. TRANSAÇÃO PENAL. AÇÃO PENAL PRIVADA. POSSIBILIDADE.
LEGITIMIDADE DO QUERELANTE. JUSTA CAUSA EVIDENCIADA.
RECEBIMENTO DA PEÇA ACUSATÓRIA. I - A transação penal, assim como
a suspensão condicional do processo, não se trata de direito público subjetivo
do acusado, mas sim de poder-dever do Ministério Público (Precedentes
desta e. Corte e do c. Supremo Tribunal Federal). II - A jurisprudência dos
Tribunais Superiores admite a aplicação da transação penal às ações penais
privadas. Nesse caso, a legitimidade para formular a proposta é do ofendido,
e o silêncio do querelante não constitui óbice ao prosseguimento da ação
penal. III - Isso porque, a transação penal, quando aplicada nas ações
penais privadas, assenta-se nos princípios da disponibilidade e da
oportunidade, o que significa que o seu implemento requer o mútuo
consentimento das partes. IV - Na injúria não se imputa fato determinado,
mas se formulam juízos de valor, exteriorizando-se qualidades negativas ou
defeitos que importem menoscabo, ultraje ou vilipêndio de alguém. V - O
exame das declarações proferidas pelo querelado na reunião do Conselho
Deliberativo evidenciam, em juízo de prelibação, que houve, para além do
mero animus criticandi, conduta que, aparentemente, se amolda ao tipo
inserto no art. 140 do Código Penal, o que, por conseguinte, justifica o
prosseguimento da ação penal. Queixa recebida. (APn 634/RJ, Rel. Ministro
FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em 21/03/2012, DJe
03/04/2012).

Contudo, o STJ também já adotou posicionamento contrário, entendendo que a transação


penal não se trata de direito subjetivo do autor do fato:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO EM HABEAS CORPUS.


DESCAMINHO. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. AUSÊNCIA
DE OFERECIMENTO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. FUNDAMENTAÇÃO
IDÔNEA. MENÇÃO AO FATO DE QUE O RECORRENTE OSTENTA AO

CS – JECRIM 2023.1 31

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MENOS 3 (TRÊS) OUTRAS APREENSÕES DE MERCADORIAS DE
PROCEDÊNCIA ESTRANGEIRA REGISTRADAS NOS ÚLTIMOS 5 (CINCO)
ANOS. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. AUSÊNCIA. DECISÃO QUE DEVE
SER MANTIDA. 1. Deve ser mantida a decisão monocrática em que se nega
provimento ao recurso em habeas corpus, quando não evidenciado
constrangimento ilegal decorrente da ausência de proposta de suspensão
condicional do processo. 2. No caso, o Ministério Público Federal deixou de
oferecer proposta de suspensão condicional do processo, ao argumento de
que o recorrente possui ao menos 3 (três) outras apreensões de mercadorias
de procedência estrangeira registradas nos últimos 5 (cinco) anos, a denotar
que sua conduta social demonstra não estar adimplido o requisito previsto no
art. 77, II, o Código Penal, c/c o art. 89 da Lei n. 9.099/1995. 3. Este Superior
Tribunal tem decidido que a suspensão condicional do processo não é
direito subjetivo do acusado, mas sim um poder-dever do Ministério
Público, titular da ação penal, a quem cabe, com exclusividade, analisar
a possibilidade de aplicação do referido instituto, desde que o faça de
forma fundamentada (AgRg no AREsp n. 607.902/SP, Ministro Gurgel de
Faria, Quinta Turma, DJe 17/2/2016). 4. Agravo regimental improvido.
(AgRg no RHC 74.464/PR, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA
TURMA, julgado em 02/02/2017, DJe 09/02/2017).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-RJ - Promotor - MPE-RJ - 2022): O instituto da transação penal,
previsto no art. 76, da Lei nº 9.099/95, não se aplica às ações penais privadas,
sendo previsto apenas para as ações penais públicas, condicionadas ou não
à representação. Errado.

(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Considerando o sistema de juizados


especiais criminais, previsto na Lei n.° 9.099/1995, e a jurisprudência do STJ
e STF sobre a matéria, é correto afirmar que a despeito da omissão
legislativa, é permitida a realização de transação penal para os crimes de
ação penal privada, por se tratar de direito subjetivo do autor do fato. Errado.

16.5. RECUSA INJUSTIFICADA POR PARTE DO TITULAR DA AÇÃO PENAL EM OFERECER


A PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL

Em caso de recusa injustificada, deve-se analisar separadamente os casos de ação penal


privada e de ação penal pública, visualizando-se abaixo, para tanto, cada um deles.

16.5.1. Por parte do ofendido nos crimes de ação penal privada

Aqui, não há nada a fazer, porque a ação penal privada está sujeita aos princípios da
oportunidade e da disponibilidade, isto é, o oferecimento da proposta ocorre pela vontade do
ofendido.

16.5.2. Por parte do Ministério Público nos crimes de ação penal pública

Aqui, aplica-se o art. 28 do CPP, conforme explicado acima. Assim, havendo controvérsia
entre o juiz e promotor (que não pode ser compelido a oferecer a transação penal, sob pena de

CS – JECRIM 2023.1 32

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violação de sua independência funcional), o juiz devolve o conhecimento da questão ao Procurador
Geral, a fim de que este ofereça ou não a transação penal.

16.6. MOMENTO PARA O OFERECIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL

Em regra, a transação penal é apresentada para o autor do delito antes do oferecimento da


peça acusatória.

Ressalta-se que a transação penal (e a suspensão condicional do processo), em situações


excepcionais, poderá ser concedida durante o processo, a exemplo dos casos de desclassificação
e de procedência parcial da pretensão punitiva. É o caso do agente que é processado pelo crime
de furto qualificado, mas durante a instrução constata-se que é um furto simples, ocasião em que
poderá ser ofertada a suspensão condicional do processo.

Nesse sentido, a Súmula 337 do STJ:

Súmula 337 STJ: É cabível a suspensão condicional (ou transação penal) do


processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão
punitiva.

Há, ainda, previsão no art. 383 do CPP:

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou


queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em
consequência, tenha de aplicar pena mais grave.
§ 1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade
de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de
acordo com o disposto na lei.
§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão
encaminhados os autos.

16.7. DESCUMPRIMENTO INJUSTIFICADO DA TRANSAÇÃO PENAL HOMOLOGADA

Ao menos 2 correntes trazem soluções para essa hipótese:

1) 1ª corrente (minoritária): homologada a proposta de transação penal, tem-se a sentença


com coisa julgada formal e material, devendo a pena ser executada, seja ela de multa
(dívida ativa), seja restritiva de direitos (execução de obrigação de fazer, não fazer ou dar).
2) 2ª corrente (majoritária): o titular da ação penal pode oferecer a respectiva peça
acusatória, pois a decisão homologatória não faz coisa julgada material, deixando de
produzir efeitos quando descumprida.

Nesse sentido, a Súmula Vinculante 35:

SV 35: A homologação de transação penal prevista no art. 76 da Lei


9.099/1995 não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas,
retoma-se a situação anterior, possibilitando ao MP a continuidade da
persecução penal mediante oferecimento de denúncia ou requisição de
inquérito policial.

CS – JECRIM 2023.1 33

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Obs.: a homologação de transação não interrompe nem suspende a
prescrição.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-PB - Delegado - CESPE - 2022): Considerando o sistema de juizados
especiais criminais, previsto na Lei n.° 9.099/1995, e a jurisprudência do STJ
e STF sobre a matéria, é correto afirmar que a sentença que homologa a
transação penal faz coisa julgada material, e o descumprimento do acordo
deve ser resolvido por meio de execução na esfera cível. Errado.

(MPE-TO - Promotor - CESPE - 2022): De acordo com a jurisprudência


majoritária e atual do STF, a homologação da transação penal prevista na Lei
dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais nº 9.099/1995 não faz coisa
julgada material. Descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação
anterior, possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução
penal mediante oferecimento da denúncia ou requisição de inquérito policial.
Correto.

(MPE-RS - Promotor - MPE-RS - 2021): A homologação da transação penal


prevista no artigo 76 da Lei nº 9.099/1995 faz coisa julgada formal e,
descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior, possibilitando-
se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante
oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial. Correto.

16.8. RECURSOS CABÍVEIS EM RELAÇÃO À TRANSAÇÃO PENAL

Da decisão homologatória, caberá Apelação no prazo de 10 dias.

Da decisão que não homologa, cabe Correição Parcial, ou ainda HC ou MS, segundo Nucci.

17. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO (art. 77 e seguintes)

17.1. AUDIÊNCIA PRELIMINAR

17.1.1. Início da ação penal - Oferecimento oral da denúncia

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de
pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese
prevista no art. 76 desta Lei (transação penal), o Ministério Público oferecerá
ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências
imprescindíveis.

Não havendo composição dos danos ou transação, cabe ao MP dar início à persecução penal,
ainda na audiência preliminar, por meio do oferecimento oral da peça acusatória (princípio da
oralidade e informalidade).

CS – JECRIM 2023.1 34

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A denúncia será reduzida a termo e deverá preencher os mesmos requisitos previstos no art.
41 do CPP:

Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com


todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos
pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando
necessário, o rol das testemunhas.

Há que se destacar que será dispensável o exame de corpo de delito (art. 77, § 1º):

Art. 77, § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base
no termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do
inquérito policial, prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a
materialidade do crime estiver aferida por boletim médico ou prova
equivalente.

Sobre o art. 77, § 1º, há 2 interpretações:

1) 1ª corrente: o corpo de delito é dispensável para o oferecimento da peça acusatória, em


se tratando de interpretação literal do § 1º. Porém, quando da sentença o exame seria
imprescindível.

2) 2ª corrente: o exame é dispensado tanto no oferecimento da peça acusatória como


também no momento da própria sentença condenatória. Com isso, haveria abdicação da
rigidez do CPP (que atrela a materialidade ao exame de corpo de delito) para a
informalidade e celeridade do JEC, em que seriam admitidas outras provas para
comprovar a materialidade da infração.

17.1.2. Diligências indispensáveis

A Lei 9.099/95 dispõe acerca das diligências imprescindíveis na parte final do art. 77:

Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de
pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese
prevista no art. 76 desta Lei (transação penal), o Ministério Público oferecerá
ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de
diligências imprescindíveis.

Antes de oferecer a denúncia, pode o MP requerer a realização de diligências, para melhor


formar sua opinio delicti, devendo essa possibilidade deve ser encarada como exceção, conforme
preleciona os §§ 2º e 3º do art. 77:

Art. 77, § 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem


a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o
encaminhamento das peças existentes, na forma do parágrafo único do art.
66 desta Lei.
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral,
cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso
determinam a adoção das providências previstas no parágrafo único do art.
66 desta Lei.

CS – JECRIM 2023.1 35

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Se perceber que a causa é complexa, é nesse momento que o MP deve requerer a remessa
do feito para o juízo comum.

17.1.3. Citação do acusado em audiência (art. 78)

Art. 78. Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregando-


se cópia ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado
da designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da
qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável
civil e seus advogados.
§ 1º Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e
68 desta Lei e cientificado da data de audiência de instrução e julgamento,
devendo a ela trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para
intimação, no mínimo cinco dias antes de sua realização.
§ 2º Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados
nos termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução
e julgamento.
§ 3º As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no art. 67
desta Lei.

O acusado será citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a


audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o
ofendido, o responsável civil e seus advogados.

Se o acusado não estiver presente, será citado pessoalmente (por mandado) ou por hora
certa:

Enunciado 110 FONAJE: No Juizado Especial Criminal é cabível a citação


por hora certa.

Outrossim, será cientificado de que deverá trazer à audiência suas testemunhas ou


apresentar requerimento para intimação, no mínimo 5 dias antes de sua realização.

É importante frisar que NÃO se admite citação por edital no JECrim. Se o acusado estiver
em lugar incerto, os autos serão remetidos ao juízo comum.

Por fim, não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos termos
do art. 67 da Lei (por qualquer meio admitido em direito).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(TJ-MG - Juiz - FGV - 2022): No rito do juizado especial criminal, o
comparecimento do acusado à audiência preliminar sem o acompanhamento
de advogado é causa de nulidade absoluta, mesmo que o réu tenha recusado
a proposta de transação penal. Errado.

17.2. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO

17.2.1. Renovação das soluções consensuais (art. 79)

CS – JECRIM 2023.1 36

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Art. 79 - No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento,
se na fase preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação
e de oferecimento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á, nos
termos dos arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.

Conforme o art. 79, antes da abertura da audiência deverão ser renovadas as tentativas de
conciliação e de transação penal.

No caso de êxito na conciliação, haverá um ato duplo: o ofendido se retrata da


representação já realizada e ao mesmo tempo renuncia ao direito de oferecer nova representação.

No caso da transação, ocorrerá um exemplo de mitigação do princípio da indisponibilidade


(na audiência preliminar a mitigação é à obrigatoriedade) da ação penal pública.

Fracassadas as tentativas de solução consensual, o juiz declarará aberta a audiência,


passando a palavra ao defensor para apresentar a defesa preliminar.

17.2.2. Defesa/resposta preliminar (art. 81 da Lei)

Não é todo procedimento que admite defesa preliminar. Atualmente, há nos seguintes
procedimentos:

1) Juizados especiais criminais;

2) Lei de drogas;

3) Procedimentos originários dos tribunais;

4) Crimes funcionais afiançáveis.

Assim, o art. 81 preleciona que:

Art. 81. Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder
à acusação, após o que o Juiz, receberá, ou não, a denúncia ou queixa;
havendo recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação
e defesa. Interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se
imediatamente aos debates orais e a prolação da sentença.

A defesa preliminar funciona como um contraditório prévio ao juízo de admissibilidade da


peça acusatória, eis que apresentada entre o oferecimento e o seu recebimento.

Pode ser oral (caso em que será reduzido a termo) ou por escrito. Visa impedir a instauração
de uma lide temerária. Objetiva também a rejeição da peça acusatória (e para alguns também a
absolvição sumária).

Destaca-se, nesse liame, o disposto no § 1º do art. 81:

Art. 81, § 1º Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e


julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas,
impertinentes ou protelatórias.

CS – JECRIM 2023.1 37

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Feita a defesa, o juiz decide se rejeita (ou se absolve sumariamente) ou recebe a peça
acusatória.

A inobservância da defesa preliminar é causa de nulidade relativa, a qual depende de


comprovação do efetivo prejuízo, bem como deve ser arguida em momento oportuno, sob pena de
preclusão.

Por fim, tem-se que:

Art. 81, § 2º De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado


pelo Juiz e pelas partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes
ocorridos em audiência e a sentença.
§ 3º A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de
convicção do Juiz.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-BA - Delegado - IBFC - 2022): No que diz respeito ao preceituado na
Lei nº 9.099/1995, a qual disciplina os Juizados especiais criminais, é correto
afirmar que todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e
julgamento, podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas,
impertinentes ou protelatórias. Correto.
(PC-PR - Delegado - NC-UFPR - 2021): No Juizado Especial Criminal, todas
as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento, podendo
o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes ou
protelatórias. Correto.

17.2.3. § 1º-A do art. 81

Possui a seguinte redação legal:

Art. 81, § 1º-A. Durante a audiência, todas as partes e demais sujeitos


processuais presentes no ato deverão respeitar a dignidade da vítima, sob
pena de responsabilização civil, penal e administrativa, cabendo ao juiz
garantir o cumprimento do disposto neste artigo, vedadas:
I - a manifestação sobre circunstâncias ou elementos alheios aos fatos
objeto de apuração nos autos;
II - a utilização de linguagem, de informações ou de material que ofendam a
dignidade da vítima ou de testemunhas.

Tal dispositivo foi incluído pela Lei n° 14.245, de 22 de novembro de 2021, também
conhecida como Lei Mariana Ferrer.

Segundo o doutrinador Rogério Sanches, a referida Lei tem como objetivo central reprimir e
prevenir a chamada “revitimização”, ou vitimização secundária, durante a instrução criminal,
justamente no momento em que a vítima e a as testemunhas são questionadas quanto ao crime,
com um olhar mais incisivo direcionado aos crimes contra a dignidade sexual.

Em síntese, o § 1º-A estabelece:

1) Prova vedada: há exclusão do objeto da prova de dados alheios aos fatos dos autos,
bem como conteúdo ou linguagem que ofendam a dignidade da vítima ou testemunha.

CS – JECRIM 2023.1 38

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2) Sujeitos processuais: a Lei impõe deveres para as partes e sujeitos processuais,
principais ou secundários.

3) Limitação processual: as partes não podem usar essa prova como argumento jurídico
ou de autoridade.

4) Consequências extraprocessuais: penais, civis e administrativas.

Trata-se, portanto, de norma processual de garantia, de reforço, que tem por finalidade
assegurar expressamente o respeito à intimidade e vida privada das vítimas e testemunhas durante
a instrução criminal. Ao mesmo tempo em que cria um dever jurídico para o juiz, constrói o legislador
um dever de zelo (de atenção) para os demais atores do processo.

17.2.4. (Des)necessidade de resposta à acusação

Resposta acusação é o nome da peça apresentada pela defesa, prevista no art. 396-A do
CPP:

Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo


o que interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar
as provas pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo
sua intimação, quando necessário

Salienta-se que a resposta à acusação não se confunde com a defesa preliminar


(apresentada entre o oferecimento da peça acusatória e o seu recebimento), pois é apresentada
após o recebimento da peça acusatória.

A Lei dos Juizados não prevê resposta à acusação. Ocorre que o art. 394, § 4º do CPP é
claro ao prever que as disposições dos arts. 395 a 398 serão aplicadas a TODOS os procedimentos
penais de primeiro grau, ainda que não regulados pelo CPP. Trata-se de verdadeira norma geral.
Assim, pelo menos em tese, seria possível aplicar tais artigos ao JECrim.

Contudo, no entender de grande parte da doutrina, não há necessidade de resposta à


acusação no âmbito dos Juizados, pois todas as teses defensivas devem ser concentradas na
defesa preliminar.

17.2.5. Juízo de admissibilidade da peça acusatória

Conforme supramencionado, dispõe o § 4º do art. 394 do CPP que:

Art. 394. O procedimento será comum ou especial.


§ 4º As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os
procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste
Código.

Em continuidade, o art. 395 do CPP discorre acerca dos aspectos formais da peça
acusatória, ao passo que o art. 396 do CPP dispõe sobre o recebimento/rejeição da peça acusatória.

CS – JECRIM 2023.1 39

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Em primeiro lugar, são analisados os aspectos formais (processuais) da denúncia (art. 395
do CPP), a saber, aptidão da peça inicial, condições da ação e pressupostos processuais, justa
causa.

Assim, a ausência de qualquer desses elementos conduz à rejeição da denúncia, decisão


que somente faz coisa julgada formal. Essa decisão é impugnável por meio de apelação (e não
RESE como no procedimento comum), nos termos do art. 82 da Lei dos Juizados:

Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá


apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em
exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

17.2.6. Possibilidade de absolvição sumária

Feito isso, o juiz passa a analisar as causas legais de absolvição sumária, seguindo-se o
previsto no art. 397 do CPP:

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste


Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou
IV - extinta a punibilidade do agente.

Apesar de a Lei dos Juizados não falar nada da absolvição, é óbvio que é cabível, nos termos
do art. 394, § 4º do CPP. Além de ser uma medida mais benéfica ao réu, possibilita o encerramento
do processo de forma mais célere, o que vai ao encontro dos princípios do JEC.

A decisão de absolvição sumária (que reconhece ausência de tipicidade, ilicitude,


culpabilidade ou punibilidade) forma coisa julgada material, exatamente por se tratar de situações
que não envolvem apenas aspectos processuais, mas de mérito.

Não sendo caso de rejeição ou absolvição sumária, tem lugar a decisão de recebimento da
peça acusatória, que dará início à instrução processual.

Nucci entende que o recebimento deve ser fundamentado, assim como todo procedimento
em que há a defesa preliminar, devido ao art. 93, IX da CF/88, agregado ao fato de que não pode
o juiz simplesmente ignorar os argumentos levantados preliminarmente pelo autor do fato:

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá


sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:
IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei
limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito
à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à
informação.

CS – JECRIM 2023.1 40

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Obs.: há quem entenda que não existe absolvição sumária no JEC,
exatamente por existir a análise de recebimento ou rejeição da
denúncia num momento imediatamente anterior. Há também quem
diga que a análise da absolvição sumária deva ser feita depois do
recebimento da denúncia, que ocorre depois de verificada a ausência
de causas de rejeição.

17.2.7. Ordem dos atos na audiência de instrução e julgamento

1) Instrução

A instrução tem a seguinte ordem de atos:

1.1) Declarações do ofendido;


1.2) Inquirição das testemunhas de acusação;
1.3) Inquirição das testemunhas de defesa;
1.4) Interrogatório do autor do fato.

2) Debates orais

Aplicam-se, por analogia, as disposições do procedimento comum: 20 minutos para cada


parte, prorrogáveis por mais 10. Se houver assistente, terá 10 minutos para falar depois do MP,
acrescendo-se igual tempo à defesa, nos termos do art. 534 do CPP:

Art. 534. As alegações finais serão orais, concedendo-se a palavra,


respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos,
prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
§ 1º Havendo mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada
um será individual.
§ 2º Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão
concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de
manifestação da defesa.

3) Sentença

Encerrados os debates, o juiz profere sentença em audiência, da qual saem pessoalmente


intimadas as partes.

Outrossim, importante reiterar que se dispensa o relatório na sentença.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-RN - Delegado - FGV - 2021): A Lei nº 9.099/1995 dispõe sobre os
Juizados Especiais Criminais, próprios para o julgamento dos delitos de
menor potencial ofensivo, prevendo regramento e institutos próprios. De
acordo com a referida legislação e outras subsequentes, a sentença deverá,
obrigatoriamente, conter relatório, fundamentação e parte dispositiva. Errado.

18. SISTEMA RECURSAL NA LEI 9.099/95

CS – JECRIM 2023.1 41

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18.1. ÓRGÃOS DO SISTEMA RECURSAL DO JECRIM

1) Juízo ad quem: Turma Recursal, composta por 3 juízes de primeira instância.

Atenção: o juiz que apreciou a causa em 1º grau, obviamente não


poderá integrar a Turma Recursal que irá julgá-lo.

A Turma Recursal funciona como juízo ad quem exclusivo dos juizados especiais criminais,
ou seja, não poderá julgar infrações de menor potencial ofensivo que saem do Juizado e vão para
a vara comum.

2) Órgão ministerial: Promotor de justiça ou Procurador da República.

18.2. APELAÇÃO NO JECRIM (art. 82)

Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença


caberá apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes
em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da
sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita,
da qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez
dias.
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética
a que alude o § 3º do art. 65 desta Lei.
§ 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela
imprensa.
§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do
julgamento servirá de acórdão.

Ante a visualização do texto legal, importante destacar a diferença do cabimento da apelação


no âmbito do CPP e no âmbito dos Juizados, razão pela qual elaborou-se o quadro comparativo
abaixo:

APELAÇÃO NO CPP APELAÇÃO NOS JUIZADOS

1) Hipóteses de cabimento: 1) Hipóteses de cabimento:

→ Sentença condenatória ou absolutória. → Sentença condenatória ou absolutória.

2) Prazo: 05 dias para interpor. → Rejeição da peça acusatória (no CPP é


3) Depois de interposta, mais 08 dias para RESE);
arrazoar.
→ Sentença homologatória da transação.

2) Prazo: 10 dias para interpor.


3) A interposição DEVE estar acompanhada
das razões recursais (fator que justifica o
prazo maior).

CS – JECRIM 2023.1 42

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Isto posto, surge o seguinte questionamento: o que ocorre no JEC se as razões não forem
apresentadas concomitantemente com a interposição? Há 2 correntes:

1) 1ª corrente: o recurso sequer deve ser conhecido (STF, 2ª Turma, HC 85.210).

2) 2ª corrente: apesar do teor do art. 82, § 1º, a não apresentação de razões não impede
o conhecimento do recurso, caso no qual terá efeito devolutivo amplo (STF, 1ª Turma,
HC 85.344).

Em qualquer caso, admite-se a apresentação de razões posteriormente à interposição,


desde que no prazo legal de 10 dias.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-PR - Promotor - MPE-PR - 2021): Da rejeição da denúncia no
processo sumaríssimo previsto na Lei 9.099/1995 cabe apelação. Correto.

(DPE-SC - Defensor - FCC - 2021): Em relação ao procedimento processual


penal relativo aos Juizados Especiais Criminais, da decisão que rejeitar a
denúncia ou queixa caberá recurso em sentido estrito, no prazo de 10 dias.
Errado.

(PC-RN - Delegado - FGV - 2021): A Lei nº 9.099/1995 dispõe sobre os


Juizados Especiais Criminais, próprios para o julgamento dos delitos de
menor potencial ofensivo, prevendo regramento e institutos próprios. De
acordo com a referida legislação e outras subsequentes, caberá recurso de
apelação contra a decisão que rejeitar a denúncia. Correto.

(TJ-MS - Juiz - FCC - 2020): Em relação aos Juizados Especiais Criminais,


correto afirmar que é cabível a interposição de recurso em sentido estrito, no
prazo de 05 (cinco) dias, contra a decisão de rejeição da denúncia ou queixa,
com abertura de vista para apresentação das razões em 08 (oito) dias.
Errado.

18.3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO JECRIM (art. 83)

Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão,


houver obscuridade, contradição ou omissão.
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no
prazo de cinco dias, contados da ciência da decisão.
§ 2º Os embargos de declaração interrompem o prazo para interposição de
recurso.
§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

CS – JECRIM 2023.1 43

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EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO CPP EMBARGOS NO JECRIM

1) Prazo: 02 dias. 1) Prazo: 05 dias.


2) Cabimento: 2) Cabimento:

→ Obscuridade; → Obscuridade;

→ Contradição; → Contradição;

→ Omissão; → Omissão.

→ Ambiguidade. 3) Efeito: interrompem o prazo recursal.

3) Efeito: interrompem o prazo recursal.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(DPE-SC - Defensor - FCC - 2021): Em relação ao procedimento processual
penal relativo aos Juizados Especiais Criminais, os embargos de declaração
serão cabíveis quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade,
contradição ou omissão, interrompendo o prazo para a interposição de
posterior recurso. Correto.

(TJ-MS - Juiz - FCC - 2020): Em relação aos Juizados Especiais Criminais,


correto afirmar que cabem embargos de declaração, no prazo de 05 (cinco)
dias, quando, em sentença ou acórdão, houver obscuridade, contradição ou
omissão, sem interrupção, contudo, do prazo para a interposição de recurso.
Errado.

18.4. RECURSO EXTRAORDINÁRIO/RECURSO ESPECIAL NO JECRIM

O art. 102, inciso III, da CF/88 dispõe o seguinte:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da


Constituição, cabendo-lhe:
III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou
última instância, quando a decisão recorrida:

À vista disso, é correto afirmar que contra a decisão das Turmas Recursais, desde que
preenchidos todos os requisitos, é cabível Recurso Extraordinário, eis que houve decisão em última
instância.

Em continuidade, preleciona o art. 105, inciso III, da CF/88 que:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última
instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados,
do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

Já o Recurso Especial, nos termos da CF/88, só é cabível contra acórdão de TRIBUNAL, e


as Turmas Recursais não têm essa natureza. Portanto, não caberá Recurso Especial contra as
decisões das Turmas dos Juizados, conforme definido pela Súmula 203 do STJ:

CS – JECRIM 2023.1 44

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Súmula 203 do STJ: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por
órgão de segundo grau dos Juizados Especiais.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(TJ-MS - Juiz - FCC - 2020): Em relação aos Juizados Especiais Criminais,
correto afirmar que não cabe recurso especial contra decisão proferida por
turma recursal, competindo a esta, porém, processar e julgar mandado de
segurança contra ato de juizado especial. Correto.

18.5. HABEAS CORPUS NO JECRIM

Caberá HC, mas desde que haja risco à liberdade de locomoção. Por exemplo, o art. 28 da
Lei de Drogas é julgado nos juizados, mas como não há risco à liberdade, não será possível o HC.

Nesse sentido, destaca-se a Súmula 693 do STF:

Súmula 693: Não cabe “habeas corpus” contra decisão condenatória a pena
de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena
pecuniária seja a única cominada.

Importante frisar que o art. 51 do CPP prevê que a pena de multa é dívida de valor.

Ademais, prevalece o entendimento de que o HC contra o juiz do Juizado seja julgado pela
Turma Recursal.

Contudo, quem julga o HC contra Turma Recursal?

Antigamente havia a Súmula 690 do STF que, totalmente contrária à celeridade do


procedimento do JEC, definia que era competência do STF. Todavia, a Súmula foi superada no
julgamento do HC 86.834, apesar de ainda não ter sido cancelada. Assim, atualmente, o HC contra
Turma Recursal vai para o respectivo TJ ou TRF.

18.6. MANDADO DE SEGURANÇA

Caberá MS no JECRIM, será apreciado:

1) MS contra o juiz, caberá à Turma Recursal:

Súmula 376 do STJ: Compete à Turma Recursal processar e julgar o mandado


de segurança contra ato de juizado especial.

2) MS contra a Turma Recursal, caberá à Turma Recursal também, uma vez que se aplica
o art. 21, VI da LC 35/79:

Art. 21 - Compete aos Tribunais, privativamente:


VI - julgar, originariamente, os mandados de segurança contra seus atos, os
dos respectivos Presidentes e os de suas Câmaras, Turmas ou Seções.

18.7. REVISÃO CRIMINAL NO JECRIM

CS – JECRIM 2023.1 45

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A ação rescisória não é cabível no JEC cível, consoante disposto no art. 59:

Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento
instituído por esta Lei.

A revisão criminal, entretanto, é admissível.

Não há dispositivo semelhante ao da ação rescisória. Essa admissibilidade decorre do art. 92


da Lei, além, é claro, do princípio da ampla defesa.:

Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de


Processo Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

Nesse caso, quem julga a revisão criminal é a própria Turma Recursal, de acordo com
decidido pelo STJ no CC 47.718.

18.8. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE JECRIM E JUÍZO COMUM

Conflito de competência é um procedimento de natureza incidental que visa dirimir a


competência entre dois ou mais juízos.

Por exemplo, imagine o conflito entre um juiz do JECRIM e um juiz de Vara Criminal, como
será resolvido?

1) O conflito só ocorre quando não há hierarquia jurisdicional. Portanto, havendo hierarquia,


não há conflito.

2) Para saber quem irá solucionar o conflito, basta encontrar o órgão jurisdicional em
comum.

Para o exemplo acima, inicialmente se afirmava que o conflito deveria ser resolvido pelo
STJ. Havia, inclusive, entendimento sumulado:

Súmula 348 do STJ: Compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os


conflitos de competência entre juizado especial federal e juízo federal, ainda
que da mesma seção judiciária.

A Súmula 348 foi cancelada, editando-se nova súmula sobre o assunto:

Súmula 428 do STJ: Compete ao TRF decidir os conflitos de competência


entre juizado especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária.

Com a denominação “mesma seção judiciária”, a Súmula 428 se referiu aos estados que
estão submetidos ao mesmo TRF (região).

19. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (art. 89)

19.1. CABIMENTO

CS – JECRIM 2023.1 46

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Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer
a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz,
este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o
acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a
suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.
§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a
ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a
reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado,
no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição
imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
§ 7º Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo
prosseguirá em seus ulteriores termos.

19.1.1. “Igual ou inferior a um ano”

Pena mínima igual ou inferior a um ano, seja ou não infração de menor potencial ofensivo
(não precisa ser no JECRIM, pode ser até em processo originário dos tribunais).

Caso o delito tenha cominada pena de multa de maneira alternativa, de acordo com o STF,
a suspensão será cabível ainda que a pena mínima seja superior a um ano.

No que tange à causa aumento ou diminuição da pena, adota-se a Teoria da melhor das
hipóteses, em que:

1) Causa de aumento: quantum que menos aumente.

2) Causa de diminuição: quantum que mais diminua a pena.

Por fim, no que se refere ao concurso de crimes, se devido a ele a pena mínima ultrapassar
um ano, não caberá o benefício, conforme entendimentos sumulares abaixo:

Súmula 243 do STJ: O benefício da suspensão do processo não é aplicável


em relação às infrações penais cometidas em concurso material, concurso
formal ou continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo
somatório, seja pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01)
ano.

CS – JECRIM 2023.1 47

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Súmula 723 do STF: Não se admite a suspensão condicional do processo
por crime continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com
o aumento mínimo de um sexto for superior a um ano.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(TJ-MS - Juiz - FCC - 2020): Quanto à sentença, correto afirmar que o juiz
poderá, sem modificar a descrição contida na denúncia ou queixa, atribuir ao
fato definição jurídica diversa e, havendo possibilidade de proposta de
suspensão condicional do processo, procederá de acordo com o disposto na
lei, ainda que, por força do crime continuado, a soma da pena mínima da
infração mais grave com o aumento mínimo de um sexto for superior a um
ano. Errado.

19.1.2. “Não esteja sendo processado”

Há doutrina que entende ser incompatível com o princípio da presunção de inocência (ex.:
Defensoria, garantismo) e, portanto, não prevalece.

19.1.3. “Condenado por outro crime”

A Lei fala em crime. Assim, a contravenção não impede a SCP.

Deve-se levar em conta, ainda, o lapso temporal da reincidência (05 anos, conforme o art.
64 do CP).

19.1.4. “Demais requisitos que autorizam a suspensão condicional da pena (sursis)” – art. 77
do CP

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois)


anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso (esse requisito
também é exigido pela PRD);
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do
agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do
benefício (circunstâncias judiciais);
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste
Código (PRD).

19.1.5. “Prévio recebimento da peça acusatória”

É preciso seguir os seguintes passos:

1) Oferecimento da denúncia e da proposta;


2) Rejeição (art. 395);
3) Recebimento;
4) Resposta à acusação;
5) Análise de possível absolvição sumária;

CS – JECRIM 2023.1 48

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6) Designação de audiência para aceitação da proposta pelo acusado e por seu defensor.

19.2. INICIATIVA PARA A PROPOSTA

Vale tudo que foi dito para transação penal. Destarte, colaciona-se o que consta acima.

A proposta de suspensão condicional do processo não pode ser concedida ex officio pelo
juiz. Se o juiz concedesse a suspensão de ofício, ele estaria “usurpando” um poder que não é seu:
poder de promover a ação penal pública.

Assim, prevalece atualmente que, caso o juiz não concorde com a recusa injustificada da
proposta de suspensão condicional do processo por parte do MP, deve remeter a questão ao
Procurador-geral (ou Câmara Criminal do MPF), nos termos do art. 28 do CPP (aplica-se, conforme
explicado acima, a redação antiga, antes do PAC).

Nesse sentido é a Súmula 696 do STF:

Súmula 696 do STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da


suspensão condicional do processo, mas se recusando o promotor de justiça
a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao procurador-geral,
aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal.

19.3. CABIMENTO EM AÇÃO PENAL PRIVADA

O art. 89 não faz nenhuma menção ao querelante, apenas ao MP.

Entretanto, prevalece na doutrina e jurisprudência que é cabível a proposta de suspensão


feita pelo querelante em ação penal privada, conforme estabelecido pelo STF no HC 81.720.

Como o tema foi cobrado em concurso?


(MPE-CE - Promotor - CESPE - 2020): Em ação penal privada, pedido de
suspensão condicional do processo é cabível, desde que oferecido pelo
ofendido. Correto.

19.4. CONDIÇÕES DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO

Estão previstas nos incisos do § 1º do art. 89.

O § 2º, por sua vez, permite, ainda, que outras condições “inominadas” sejam previstas pelo
juiz. Entretanto, as condições devem ser razoáveis, não importando em situações vexatórias, sob
pena de violação ao princípio da dignidade da pessoa humana.

Frisa-se que são condições, não penas restritivas de direitos, de acordo abaixo discriminado:

Art. 89, § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do


Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo
o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

CS – JECRIM 2023.1 49

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II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do
Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para
informar e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a
suspensão, desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

A jurisprudência, no entanto, entende que é possível a imposição de pena restritiva de


direitos como condição, in verbis:

Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial


disposta no art. 89, § 2º, da Lei nº 9.099/95, obrigações equivalentes, do
ponto de vista prático, a sanções penais (tais como a prestação de serviços
comunitários ou a prestação pecuniária), mas que, para os fins do sursis
processual, se apresentam tão somente como condições para sua incidência.
STJ. 3ª Seção. REsp 1498034-RS, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 25/11/2015 (recurso repetitivo) (Info 574).

Como o tema foi cobrado em concurso?


(PC-RN - Delegado - FGV - 2021): A Lei nº 9.099/1995 dispõe sobre os
Juizados Especiais Criminais, próprios para o julgamento dos delitos de
menor potencial ofensivo, prevendo regramento e institutos próprios. De
acordo com a referida legislação e outras subsequentes, não será possível a
suspensão condicional do processo quando não oferecida ou aceita a
transação penal. Errado.

19.5. REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO

O § 3º do art. 89 traz 2 causas OBRIGATÓRIAS de revogação da suspensão:

Art. 89, § 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário


vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado,
a reparação do dano.

1) Ser o beneficiário processado por outro crime;

2) Não efetuar, sem motivo, a reparação do dano.

O § 4º, por outro lado, traz 2 hipóteses de revogação FACULTATIVA:

Art. 89, § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser


processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer
outra condição imposta.

1) Ser o beneficiário processado por contravenção;

2) Não cumprir qualquer das outras condições (que não a reparação do dano).

Salienta-se que a prática do delito do art. 28 da Lei de Drogas, conforme entendimento do


STJ no REsp 1.795.962/SP, é causa de revogação facultativa:

CS – JECRIM 2023.1 50

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O processamento do réu pela prática da conduta descrita no art. 28 da Lei de
Drogas no curso do período de prova deve ser considerado como causa de
revogação facultativa da suspensão condicional do processo. STJ. 5ª Turma.
REsp 1.795.962-SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 10/03/2020 (Info
668).

19.6. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE

Dispõe o § 5º do art. 89 da Lei dos Juizados que:

Art. 89, § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a


punibilidade.

Importante salientar que para a jurisprudência, a suspensão condicional do processo pode


ser revogada mesmo após o termo final do seu prazo (mesmo tendo expirado o período de prova),
se constatado o não cumprimento de condição durante o curso do benefício, desde que não
tenha sido proferida sentença extintiva da punibilidade.

Contudo, há quem entenda que a revogação só pode ser realizada durante o tempo de
prova. Expirado o período, mesmo que o juiz verifique que o beneficiário cometeu algum deslize
que autorize a revogação, nada poderá fazer senão declarar extinta a punibilidade.

19.7. SUSPENSÃO DA PRESCRIÇÃO

Está prevista no § 6º do art. 89:

Art. 89, § 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do


processo.

As hipóteses de suspensão da prescrição são previstas em 3 dispositivos:

1) Art. 116 do CP (questões prejudiciais, cumprimento de pena no estrangeiro,


cumprimento de pena no Brasil);

2) Art. 366 do CPP (citação por edital - “crise de instância”);

3) Art. 89, § 6º da Lei 9.099/95 (suspensão condicional do processo).

19.8. RECURSO CABÍVEL CONTRA A DECISÃO QUE SUSPENDE O PROCESSO

Há divergência.

Para a doutrina, cabe Apelação.

Para a jurisprudência, cabe RESE, com fundamento no art. 581, XVI ou XI do CPP
(interpretação ampliativa), definido também pelo STJ no REsp 601.924 e no RMS 23.516.

19.9. CABIMENTO DE HABEAS CORPUS

Como o processo fica suspenso, surge a dúvida: cabe HC?

CS – JECRIM 2023.1 51

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Em alguns julgados, o STJ entendeu que, como o processo está suspenso, não há risco à
liberdade de locomoção, logo não é cabível o HC. Não é a melhor posição.

Prevalece que o HC é cabível, até porque se descumpridas as condições, o processo retoma


seu curso, podendo resultar em pena privativa de liberdade.

O HC ocorre bastante quando o advogado e o acusado, sob pressão, aceitam a proposta,


mas depois verificam que seria caso de princípio da insignificância, e acabam buscando o
trancamento da ação penal por meio do HC.

19.10. DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO

O STJ entende que a suspensão pode ser concedida diante da desclassificação do delito:

Súmula 337 do STJ: É cabível a suspensão condicional do processo na


desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.

Salienta-se que tal entendimento foi adotado em virtude do disposto no art. 383 do CPP:

Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou


queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em
consequência, tenha de aplicar pena mais grave.
§ 1º Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade
de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de
acordo com o disposto na lei.

19.11. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NOS CRIMES AMBIENTAIS

Art. 89 da Lei 9.099/95 prevê a suspensão condicional do processo (“sursis processual”),


sendo esta cabível para todos os crimes com pena mínima não superior a um ano (não importa a
pena máxima), não importando se é de menor potencial ofensivo:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

Deve-se ter atenção, todavia, ao art. 28 da Lei dos Crimes Ambientais:

Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099 (suspensão condicional


do processo a crimes pena mínima não superior a 1 ano), de 26 de
setembro de 1995, aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo
(crimes com pena máxima não superior a 2 anos, cumulada ou não com
multa) definidos nesta Lei, com as seguintes modificações:

Verifica-se que o legislador restringiu a aplicação da suspensão aos crimes de menor


potencial ofensivo, em que se sabe que caberia a todos crimes com a pena mínima não superior a

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um ano. À vista disso, a doutrina menciona que houve erro material na elaboração da Lei, de modo
que aos “crimes de menor potencial ofensivo”, a intenção era dizer “aos crimes definidos nesta Lei”.

Destaca-se, por fim, os incisos do art. 28:

Art. 28, I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do


artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do
dano ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do
mesmo artigo;
II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a
reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período
máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano, com
suspensão do prazo da prescrição;
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II,
III e IV do § 1° do artigo mencionado no caput;
IV - findo o prazo de prorrogação, proceder-se-á à lavratura de novo laudo de
constatação de reparação do dano ambiental, podendo, conforme seu
resultado, ser novamente prorrogado o período de suspensão, até o máximo
previsto no inciso II deste artigo, observado o disposto no inciso III;
V - esgotado o prazo máximo de prorrogação, a declaração de extinção de
punibilidade dependerá de laudo de constatação que comprove ter o acusado
tomado as providências necessárias à reparação integral do dano.

20. (IN)APLICABILIDADE DO ART. 12-A

A Lei 13.718/2018 incluiu o art. 12-A à Lei 9.099/95, a fim de adequar ao disposto no Código
de Processo Civil, ou seja, a contagem dos prazos apenas em dias úteis.

Art. 12-A. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou pelo juiz,
para a prática de qualquer ato processual, inclusive para a interposição de
recursos, computar-se-ão somente os dias úteis.

À vista disso, indaga-se: o disposto no art. 12-A é aplicável ao JECrim? NÃO, uma vez
que:

1) Está localizado no capítulo que trata dos juizados cíveis;

2) Nos Juizados Criminais aplica-se o CPP de forma subsidiária e não o CPC. Portanto, a
contagem de prazo segue o disposto no art. 798 do CPP, que prevê a contagem em dia
não útil (final de semana e feriados).

21. DIFERENÇAS ENTRE CÓDIGO DE PROCESSO PENAL E JUIZADOS ESPECIAIS


CRIMINAIS

A fim de proporcionar melhor visualização do tema, colaciona-se abaixo o quadro


comparativo apresentado pelo doutrinador Renato Brasileiro em suas aulas sobre JECrim:

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JUIZADOS ESPECIAIS
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL
CRIMINAIS

Art. 4º A polícia judiciária será


exercida pelas autoridades policiais Art. 69. A autoridade policial que
no território de suas respectivas tomar conhecimento da
circunscrições e terá por fim a ocorrência lavrará termo
apuração das infrações penais e da circunstanciado e o
INVESTIGAÇÃO sua autoria. encaminhará imediatamente ao
PRELIMINAR
Juizado, com o autor do fato e a
Parágrafo único. A competência vítima, providenciando-se as
definida neste artigo não excluirá a requisições dos exames periciais
de autoridades administrativas, a necessários.
quem por lei seja cometida a mesma
função.
Art. 302. Considera-se em
flagrante delito quem: Art. 69, Parágrafo único. Ao autor
do fato que, após a lavratura do
I - está cometendo a infração penal; termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou
II - acaba de cometê-la;
assumir o compromisso de a ele
PRISÃO EM III - é perseguido, logo após, pela comparecer, não se imporá prisão
FLAGRANTE autoridade, pelo ofendido ou por em flagrante, nem se exigirá
qualquer pessoa, em situação que fiança. Em caso de violência
faça presumir ser autor da infração; doméstica, o juiz poderá
determinar, como medida de
IV - é encontrado, logo depois, com cautela, seu afastamento do lar,
instrumentos, armas, objetos ou domicílio ou local de convivência
papéis que façam presumir ser ele com a vítima.
autor da infração.

Art. 70. A competência será, de


regra, determinada pelo lugar em Art. 63. A competência do Juizado
COMPETÊNCIA que se consumar a infração, ou, no será determinada pelo lugar em
TERRITORIAL caso de tentativa, pelo lugar em que que foi praticada a infração penal.
for praticado o último ato de
execução.

Art. 24. Nos crimes de ação pública, Art. 76. Havendo representação
esta será promovida por denúncia ou tratando-se de crime de ação
do Ministério Público, mas penal pública incondicionada, não
PRINCÍPIO DA dependerá, quando a lei o exigir, de sendo caso de arquivamento, o
OBRIGATORIEDADE requisição do Ministro da Justiça, ou Ministério Público poderá propor a
de representação do ofendido ou de aplicação imediata de pena
quem tiver qualidade para restritiva de direitos ou multas, a
representá-lo. ser especificada na proposta.

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Princípio da discricionariedade
regrada, controlada, mitigada ou
limitada.

O recebimento de indenização do
A composição dos danos civis é
dano causado pelo crime não
INDENIZAÇÃO causa de renúncia ao direito de
implica em renúncia tácita ao direito
queixa ou de representação.
de queixa.

Art. 351. A citação inicial far-se-á


por mandado, quando o réu estiver
no território sujeito à jurisdição do
juiz que a houver ordenado. Art. 66. A citação será pessoal e
far-se-á no próprio Juizado,
Art. 361. Se o réu não for sempre que possível, ou por
encontrado, será citado por edital, mandado.
com o prazo de 15 (quinze) dias.
Parágrafo único. Não encontrado
CITAÇÃO
Art. 362. Verificando que o réu se o acusado para ser citado, o Juiz
encaminhará as peças existentes
oculta para não ser citado, o oficial
ao Juízo comum para adoção do
de justiça certificará a ocorrência e procedimento previsto em lei.
procederá à citação com hora certa,
na forma estabelecida nos arts. 227
a 229 da Lei no 5.869, de 11 de
janeiro de 1973 - Código de
Processo Civil.

Art. 81. Aberta a audiência, será


Art. 396. Nos procedimentos
dada a palavra ao defensor para
ordinário e sumário, oferecida a
responder à acusação, após o
denúncia ou queixa, o juiz, se não a
que o Juiz receberá, ou não, a
rejeitar liminarmente, recebê-la-á e
denúncia ou queixa; havendo
ordenará a citação do acusado para
recebimento, serão ouvidas a
RESPOSTA À responder à acusação, por escrito,
vítima e as testemunhas de
ACUSAÇÃO no prazo de 10 (dez) dias.
acusação e defesa, interrogando-
Parágrafo único. No caso de se a seguir o acusado, se
citação por edital, o prazo para a presente, passando-se
defesa começará a fluir a partir do imediatamente aos debates orais
comparecimento pessoal do e à prolação da sentença.
acusado ou do defensor constituído.
Trata-se da defesa preliminar.

É dividida em relatório, Dispensa o relatório, nos termos


SENTENÇA
fundamentação e dispositivo. do art. 81.

22. JURISPRUDÊNCIA EM TESE

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Com o intuito de complementar o material, insere-se os principais julgados do STJ com
relação ao JECrim:

1) Compete aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais o julgamento dos
pedidos de habeas corpus quando a autoridade coatora for Turma Recursal dos Juizados
Especiais.

2) A aceitação pelo paciente do benefício da suspensão condicional do processo, nos


termos do art. 89 da Lei 9.099/95, não inviabiliza a impetração de habeas corpus nem
prejudica seu exame, tendo em vista a possibilidade de se retomar o curso da ação penal
caso as condições impostas sejam descumpridas.

3) No âmbito dos Juizados Especiais Criminais, não se exige a intimação pessoal do


defensor público, admitindo-se a intimação na sessão de julgamento ou pela imprensa
oficial.

4) Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade judicial disposta no


art. 89, § 2º, da Lei 9.099/1995, obrigações equivalentes, do ponto de vista prático, a
sanções penais (tais como a prestação de serviços comunitários ou a prestação
pecuniária), mas que, para os fins do sursis processual, se apresentam tão somente
como condições para sua incidência.

5) A perda do valor da fiança constitui legítima condição do sursis processual, nos termos
do art. 89, § 2º, da Lei 9.099/95.

6) A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na hipótese


de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

7) A transação penal não tem natureza jurídica de condenação criminal, não gera efeitos
para fins de reincidência e maus antecedentes e, por se tratar de submissão voluntária
à sanção penal, não significa reconhecimento da culpabilidade penal nem da
responsabilidade civil.

8) A homologação da transação penal prevista no artigo 76 da Lei 9.099/1995 não faz coisa
julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação anterior,
possibilitando-se ao Ministério Público a continuidade da persecução penal mediante
oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial.

9) O prazo de 5 (cinco) anos para a concessão de nova transação penal, previsto no art.
76, § 2º, inciso II, da Lei 9.099/95, aplica-se, por analogia, à suspensão condicional do
processo.

10) É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na


procedência parcial da pretensão punitiva.

11) Nos casos de aplicação da Súmula 337 do STJ, os autos devem ser encaminhados ao
Ministério Público para que se manifeste sobre a possibilidade de suspensão condicional
do processo ou de transação penal.

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12) A Lei 10.259/01, ao considerar como infrações de menor potencial ofensivo as
contravenções e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a 2 (dois) anos,
não alterou o requisito objetivo exigido para a concessão da suspensão condicional do
processo prevista no art. 89 da Lei 9.099/95, que continua sendo aplicado apenas aos
crimes cuja pena mínima não seja superior a 1 (um) ano.

13) É cabível a suspensão condicional do processo e a transação penal aos delitos que
preveem a pena de multa alternativamente à privativa de liberdade, ainda que o preceito
secundário da norma legal comine pena mínima superior a 1 ano.

14) A suspensão condicional do processo não é direito subjetivo do acusado, mas sim um
poder-dever do Ministério Público, titular da ação penal, a quem cabe, com
exclusividade, analisar a possibilidade de aplicação do referido instituto, desde que o
faça de forma fundamentada.

15) Se descumpridas as condições impostas durante o período de prova da suspensão


condicional do processo, o benefício poderá ser revogado, mesmo se já ultrapassado o
prazo legal, desde que referente a fato ocorrido durante sua vigência.

16) Opera-se a preclusão se o oferecimento da proposta de suspensão condicional do


processo ou de transação penal se der após a prolação da sentença penal condenatória.

17) O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às infrações penais


cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a
pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante,
ultrapassar o limite de um (01) ano.

18) A existência de inquérito policial em curso não é circunstância idônea a obstar o


oferecimento de proposta de suspensão condicional do processo.

19) É constitucional o art. 90-A da Lei 9.099/95, que veda a aplicação desta aos crimes
militares.

20) Na hipótese de apuração de delitos de menor potencial ofensivo, deve-se considerar a


soma das penas máximas em abstrato em concurso material, ou, ainda, a devida
exasperação, no caso de crime continuado ou de concurso formal, e ao se verificar que
o resultado da adição é superior a dois anos, afasta-se a competência do Juizado
Especial Criminal.

21) O crime de uso de entorpecente para consumo próprio, previsto no art. 28 da Lei
11.343/06, é de menor potencial ofensivo, o que determina a competência do juizado
especial estadual, já que ele não está previsto em tratado internacional e o art. 70 da Lei
11.343/06 não o inclui dentre os que devem ser julgados pela Justiça Federal.

22) A conduta prevista no art. 28 da Lei 11.343/06 admite tanto a transação penal quanto a
suspensão condicional do processo.

23) A falta de acordo entre as partes quanto ao valor a ser pago a título de reparação do
dano inviabiliza o benefício legal da suspensão condicional do processo. STJ. 6ª Turma.
RHC 163.897-RS, Rel. Min. Olindo Menezes, julgado em 18/10/2022 (Info 754).

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Como o tema foi cobrado em concurso?
(PC-PR - Delegado - NC-UFPR - 2021): A existência de outro inquérito
policial em curso contra o acusado constitui obstáculo ao oferecimento de
suspensão condicional do processo. Errado.

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