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DIREITO EMPRESARIAL

Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada
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DIREITO EMPRESARIAL 2023.1
APRESENTAÇÃO.............................................................................................................................. 18
TEORIA GERAL DA EMPRESA........................................................................................................ 19
1. FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................... 19
1.1. PRIMÁRIAS ......................................................................................................................... 19
1.1.1. Constituição Federal .................................................................................................... 19
1.1.2. Código Civil .................................................................................................................. 19
1.1.3. Código Comercial......................................................................................................... 19
1.1.4. Leis Extravagantes ...................................................................................................... 19
1.1.5. Tratados internacionais................................................................................................ 19
1.2. SECUNDÁRIAS................................................................................................................... 19
1.2.1. Costumes ..................................................................................................................... 20
1.2.2. Princípios Gerais do Direito ......................................................................................... 20
1.2.3. Doutrina ........................................................................................................................ 20
1.2.4. Jurisprudência .............................................................................................................. 20
2. CARACTERÍSTICAS .................................................................................................................. 20
2.1. COSMOPOLITISMO ........................................................................................................... 20
2.2. FRAGMENTÁRIO ............................................................................................................... 21
2.3. INFORMALISMO OU SIMPLICIDADE ............................................................................... 21
2.4. ELASTICIDADE................................................................................................................... 21
2.5. ONEROSIDADE .................................................................................................................. 21
3. PRINCÍPIOS ............................................................................................................................... 21
3.1. LIVRE INICIATIVA .............................................................................................................. 22
3.2. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA ...................................................................................... 22
3.3. LIBERDADE DE COMPETIÇÃO ........................................................................................ 23
3.4. LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO ......................................................................................... 23
3.5. MAXIMIZAÇÃO DOS ATIVOS DO FALIDO ....................................................................... 23
3.6. PRESERVAÇÃO DA EMPRESA ........................................................................................ 24
3.7. AUTONOMIA DA VONTADE .............................................................................................. 24
3.8. CAMBIÁRIOS ...................................................................................................................... 24
4. TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO (francesa) ...................................................................... 24
4.1. HISTÓRICO......................................................................................................................... 25
4.2. DEFINIÇÃO DO “COMERCIANTE”: ATOS DE COMÉRCIO ............................................. 25
4.3. REVOGAÇÃO DO CÓDIGO COMERCIAL DE 1850 ......................................................... 27
5. TEORIA DA EMPRESA (italiana)............................................................................................... 27
6. EMPRESA E EMPRESÁRIO ..................................................................................................... 29

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6.1. EMPRESÁRIO..................................................................................................................... 29
6.1.1. Conceito de empresário: da caracterização e da inscrição ........................................ 29
6.1.2. Excluídos da atividade empresária.............................................................................. 33
6.2. EMPRESA ........................................................................................................................... 35
6.2.1. Conceito de empresa. .................................................................................................. 35
6.2.2. Microempresa e Empresa de Pequeno Porte ............................................................. 36
7. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL ...................................................................................................... 36
7.1. CONCEITO.......................................................................................................................... 36
7.2. REQUISITOS ...................................................................................................................... 36
7.2.1. Pleno gozo da capacidade civil ................................................................................... 36
7.2.2. Ausência de impedimentos legais ............................................................................... 39
7.3. RESPONSABILIDADE DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL .................................................. 43
7.4. EMPRESÁRIO CASADO .................................................................................................... 43
8. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA - EIRELI ................................ 44
8.1. NOÇÕES GERAIS .............................................................................................................. 44
8.2. REQUISITOS ...................................................................................................................... 45
8.3. VANTAGEM DA EIRELI...................................................................................................... 46
8.4. CRIAÇÃO DA SOCIEDADE UNIPESSOAL E ESVAZIAMENTO DA FUNÇÃO DA EIRELI
46
8.5. TRANSFORMAÇÃO DAS EIRELIS EM SOCIEDADES UNIPESSOAIS .......................... 47
8.6. REVOGAÇÃO DO INCISO IV DO ART. 1.033 DO CÓDIGO CIVIL .................................. 47
9. OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO ............................................................................................ 48
9.1. REGISTRO .......................................................................................................................... 48
9.1.1. Previsão legal e órgão encarregado............................................................................ 48
9.1.2. Atos de registro ............................................................................................................ 50
9.1.3. Novo Registro em caso de sucursal, filial ou agência ................................................ 50
9.1.4. Exceção ao Registro (art. 971 do CC)......................................................................... 50
9.1.5. Natureza jurídica do Registro ...................................................................................... 51
9.1.6. Inatividade da empresa................................................................................................ 52
9.1.7. Consequências da ausência de registro ..................................................................... 53
9.1.8. Registro da Cooperativa .............................................................................................. 53
9.2. ESCRITURAÇÃO DOS LIVROS COMERCIAIS OBRIGATÓRIOS ................................... 54
9.2.1. Livros obrigatórios x Livros facultativos ....................................................................... 54
9.2.2. Consequências da não escrituração do Livro Diário................................................... 55
9.2.3. Dispensados da escrituração ...................................................................................... 55
9.2.4. Princípio da sigilosidade .............................................................................................. 57

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9.2.5. Consequências da ausência de apresentação dos livros ........................................... 58
9.3. REALIZAÇÃO DE DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS PERIÓDICOS .............................. 59
9.4. MANTER EM BOA GUARDA E CONSERVAÇÃO A ESCRITURAÇÃO E
DOCUMENTAÇÃO ........................................................................................................................ 59
9.5. ESQUEMA GRÁFICO ......................................................................................................... 59
10. NOME EMPRESARIAL........................................................................................................... 60
10.1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL ..................................................................................... 60
10.2. CONCEITO ...................................................................................................................... 60
10.3. ESPÉCIES ....................................................................................................................... 60
10.4. FIRMA .............................................................................................................................. 61
10.4.1. Composição da firma individual ................................................................................... 61
10.4.2. Composição da firma social (razão social) .................................................................. 61
10.5. DENOMINAÇÃO.............................................................................................................. 62
10.5.1. Composição da denominação ..................................................................................... 62
10.6. CNPJ como nome empresarial ....................................................................................... 63
10.7. ESQUEMAS..................................................................................................................... 63
10.8. PROTEÇÃO AO NOME EMPRESARIAL ....................................................................... 65
10.9. NOME EMPRESARIAL ≠ MARCA .................................................................................. 66
10.10. NOME EMPRESARIAL ≠ TÍTULO DE ESTABELECIMENTO ....................................... 66
10.11. PRINCÍPIOS DO NOME EMPRESARIAL....................................................................... 67
10.11.1. Princípio da veracidade (autenticidade) .................................................................. 67
10.11.2. Princípio DA NOVIDADE ......................................................................................... 67
10.12. CARACTERÍSTICAS ....................................................................................................... 68
11. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL .................................................................................. 68
11.1. PREVISÃO LEGAL .......................................................................................................... 68
11.2. CONCEITO ...................................................................................................................... 70
11.3. ESTABELECIMENTO x PATRIMÔNIO EMPRESARIAL ............................................... 72
11.4. NATUREZA JURÍDICA DO ESTABELECIMENTO ........................................................ 73
11.5. COMPRA E VENDA DO ESTABELECIMENTO ............................................................. 73
11.5.1. “Trespasse” .................................................................................................................. 73
11.5.2. Produção de efeitos perante terceiros......................................................................... 73
11.5.3. Penhora do estabelecimento ....................................................................................... 74
11.5.4. Dívidas anteriores (art. 1.146) ..................................................................................... 75
11.5.5. Trespasse X cessão de quotas ................................................................................... 77
11.5.6. Cláusula de não restabelecimento → não concorrência ............................................ 77
11.5.7. Sub-rogação nos contratos .......................................................................................... 78

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11.5.8. Aviamento / Goodwill of trade/ Achalandage .............................................................. 79
12. PONTO COMERCIAL ............................................................................................................. 79
12.1. CONCEITO ...................................................................................................................... 79
12.2. AÇÃO RENOVATÓRIA ................................................................................................... 80
12.2.1. Requisitos..................................................................................................................... 80
12.2.2. Prazo ............................................................................................................................ 81
12.2.3. Sublocação................................................................................................................... 81
12.2.4. Exceção de retomada .................................................................................................. 82
12.2.5. Sentença ...................................................................................................................... 83
12.2.6. Esquema gráfico ação renovatória – renovação compulsória .................................... 84
12.3. LOCAÇÃO BUILT TO SUIT............................................................................................. 84
PROPRIEDADE INDUSTRIAL .......................................................................................................... 86
1. FINALIDADE ............................................................................................................................... 86
2. ALOCAÇÃO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL NO DIREITO ................................................. 86
3. OBJETO DE PROTEÇÃO DA LEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL ..................................... 86
4. PATENTE ................................................................................................................................... 87
4.1. CONCEITO.......................................................................................................................... 87
4.2. SEGREDO INDUSTRIAL .................................................................................................... 87
4.3. TEMPO ................................................................................................................................ 87
4.4. TERMO INICIAL .................................................................................................................. 88
4.5. PRORROGAÇÃO DO PRAZO ........................................................................................... 88
4.6. INVENÇÃO .......................................................................................................................... 88
4.7. MODELO DE UTILIDADE ................................................................................................... 90
4.8. REQUISITOS DA PATENTEABILIDADE ........................................................................... 91
4.8.1. Novidade ...................................................................................................................... 91
4.8.2. Atividade inventiva ....................................................................................................... 92
4.8.3. Aplicação industrial ...................................................................................................... 92
4.8.4. Não impedimento ......................................................................................................... 92
4.9. LICENCIAMENTO DA PATENTE: LICENÇA VOLUNTÁRIA ............................................ 93
4.10. LICENCIAMENTO DA PATENTE: LICENÇA COMPULSÓRIA ..................................... 93
4.10.1. Abuso de direito ou de poder econômico e não exploração ou não satisfação das
necessidades do mercado.......................................................................................................... 94
4.10.2. Emergência nacional, internacional ou interesse público ........................................... 95
4.11. PATENTE PIPELINE ..................................................................................................... 100
4.12. PATENTE MAILBOX ..................................................................................................... 102
4.13. NULIDADE DA PATENTE ............................................................................................. 104

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4.13.1. Disposição legal ......................................................................................................... 104
4.13.2. Processo administrativo de nulidade de patente ...................................................... 104
4.14. EXTINÇÃO DA PATENTE............................................................................................. 105
5. REGISTRO ............................................................................................................................... 106
5.1. DESENHO INDUSTRIAL (“DESIGN”) .............................................................................. 106
5.1.1. Novidade .................................................................................................................... 107
5.1.2. Originalidade .............................................................................................................. 108
5.1.3. Impedimentos ............................................................................................................. 108
5.1.4. Nulidade do registro do desenho de utilidade art. 112 ............................................. 108
5.1.5. Extinção do REGISTRO do desenho de utilidade .................................................... 109
5.2. MARCA .............................................................................................................................. 109
5.2.1. Espécies de Marca (art. 123)..................................................................................... 109
5.2.2. Espécies de marca quanto à sua apresentação ....................................................... 110
5.2.3. Princípios da marca ................................................................................................... 110
5.2.4. Requisitos para registro de marca ............................................................................. 111
5.2.5. MARCAS EVOCATIVAS E O STJ ............................................................................. 116
5.2.6. Marca degenerativa ................................................................................................... 118
5.2.7. Nulidade do registro marca ........................................................................................ 118
5.2.8. Uso indevido da marca e dano moral ........................................................................ 119
5.2.9. Conflito entre marca e nome empresarial ................................................................. 120
5.2.10. Trade Dress ............................................................................................................... 121
5.2.11. Extinção do REGISTRO da marca ............................................................................ 123
6. ASPECTOS PROCESSUAIS DA LPI ...................................................................................... 124
7. PRESCRIÇÃO .......................................................................................................................... 125
8. FORMAS DE EXTINÇÃO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL ................................................ 126
DIREITO SOCIETÁRIO ................................................................................................................... 127
1. QUADRO SOCIETÁRIO EMPRESARIAL................................................................................ 127
1.1. SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA ............................................................................. 127
1.2. SOCIEDADE PERSONIFICADA ...................................................................................... 127
2. CONCEITO DE SOCIEDADE .................................................................................................. 127
3. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS ................................................................................ 127
3.1. SOCIEDADE EM COMUM................................................................................................ 127
3.1.1. Responsabilidade dos sócios .................................................................................... 128
3.2. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO............................................................... 129
3.2.1. Sócio Ostensivo ......................................................................................................... 129
3.2.2. Sócio Participante ...................................................................................................... 130

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4. SOCIEDADES PERSONIFICADAS ......................................................................................... 131
4.1. VISÃO GERAL .................................................................................................................. 131
4.2. REGISTRO DA SOCIEDADE ........................................................................................... 131
4.3. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES PERSONIFICADAS ........................................... 132
4.3.1. Quanto ao objeto........................................................................................................ 132
4.3.2. Quanto à forma (tipo societário) ................................................................................ 133
Sociedade em nome coletivo........................................................................................................... 133
Sociedade em comandita simples ................................................................................................... 133
Sociedade em comandita por ações (C/A) ...................................................................................... 133
Sociedade anônima (S/A) ................................................................................................................ 133
Sociedade LTDA .............................................................................................................................. 133
Sociedade em nome coletivo........................................................................................................... 133
Sociedade em comandita simples ................................................................................................... 133
Sociedade LTDA .............................................................................................................................. 133
Cooperativas .................................................................................................................................... 133
Simples/simples (S/S – simples pura – não sofre influência de nenhum outro tipo societário)¹ ... 133
4.3.3. Quando ao grau de dependência às qualidades dos sócios .................................... 134
4.3.4. Quanto à constituição e dissolução ........................................................................... 136
4.3.5. Quanto à responsabilidade do sócio pelas obrigações sociais ................................ 137
5. SOCIEDADE SIMPLES ............................................................................................................ 138
5.1. CONTRATO SOCIAL ........................................................................................................ 138
5.2. PLURIPESSOALIDADE .................................................................................................... 139
5.3. QUOTAS SOCIAIS............................................................................................................ 139
5.3.1. Conceito ..................................................................................................................... 139
5.3.2. Titularidade das quotas.............................................................................................. 140
5.3.3. Formas de integralização .......................................................................................... 140
5.3.4. Sócio remisso ............................................................................................................. 140
5.3.5. Cessão de quotas sociais .......................................................................................... 141
5.3.6. (Im) possibilidade de penhora das quotas sociais .................................................... 141
5.4. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO................................................................................... 142
5.5. DIREITOS DOS SÓCIOS ................................................................................................. 142
5.6. ADMINISTRADOR ............................................................................................................ 144
5.6.1. Nomeação .................................................................................................................. 144
5.6.2. Sócio/não sócio .......................................................................................................... 144
5.6.3. Poderes do administrador .......................................................................................... 144
5.6.4. Responsabilidade do administrador .......................................................................... 145

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6. SOCIEDADE EM NOME COLETIVO ....................................................................................... 146
6.1. PREVISÃO LEGAL ........................................................................................................... 146
6.2. SÓCIOS ............................................................................................................................. 146
6.3. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS .............................................................................. 147
6.4. NOME EMPRESARIAL ..................................................................................................... 147
6.5. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE ................................................................................ 147
6.6. LIQUIDAÇÃO DA QUOTA ................................................................................................ 147
7. SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES .............................................................................. 148
7.1. PREVISÃO LEGAL ........................................................................................................... 148
7.2. SÓCIOS ............................................................................................................................. 149
7.2.1. Sócio comanditado .................................................................................................... 149
7.2.2. Sócio comanditário .................................................................................................... 150
8. SOCIEDADE LIMITADA ........................................................................................................... 150
8.1. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ............................................................................................... 150
8.2. CARACTERÍSTICAS......................................................................................................... 151
8.3. CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA ................................................................. 152
8.3.1. Requisitos gerais de validade do contrato social (TRÊS) ......................................... 152
8.3.2. Requisitos específicos de validade dos contratos sociais (DOIS) ............................ 153
8.3.3. Cláusulas Essenciais do contrato da Sociedade limitada (art. 997 do CC) ............. 155
8.4. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO NA SOCIEDADE LIMITADA (ART. 1.052 DO CC) . 156
8.5. QUOTAS SOCIAIS............................................................................................................ 159
8.5.1. Natureza jurídica: ....................................................................................................... 159
8.5.2. Transferência de quotas (cessão de quotas) ............................................................ 159
8.6. DEVERES DOS SÓCIOS ................................................................................................. 160
8.7. DIREITOS DOS SÓCIOS ................................................................................................. 160
8.8. DELIBERAÇÕES SOCIAIS............................................................................................... 161
8.8.1. Assembleia X Reunião............................................................................................... 162
8.8.2. Regras de votação nas deliberações ........................................................................ 162
8.8.3. Dispensa de assembleia ou reunião ......................................................................... 162
8.9. DIREITO DE RETIRADA (DIREITO DE RECESSO) ....................................................... 163
8.10. DIREITO DE FISCALIZAÇÃO ....................................................................................... 164
8.11. INFLUÊNCIA DOS SÓCIOS MINORITÁRIOS NA FORMAÇÃO DO CONSELHO
FISCAL 165
8.12. DIREITO DE PREFERÊNCIA (ART. 1.081 DO CC) .................................................... 165
8.13. ADMINISTRADOR DA SOCIEDADE LIMITADA .......................................................... 165
8.13.1. Responsabilidade do Administrador .......................................................................... 167

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8.13.2. Teoria “ultra vires” (Além das forças) ........................................................................ 168
8.13.3. Teoria da Aparência................................................................................................... 169
8.14. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA ................................................................. 169
8.14.1. Casos de dissolução parcial: ..................................................................................... 169
8.14.2. Casos de dissolução total .......................................................................................... 171
9. SOCIEDADE ANÔNIMA (LEI 6.404/76) .................................................................................. 173
9.1. CONCEITO........................................................................................................................ 173
9.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS ................................................................................... 173
9.3. ESPÉCIES DE SOCIEDADE ANÔNIMA (ART. 4º DA LSA)............................................ 174
9.4. CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA ................................................................ 175
9.4.1. Requisitos preliminares (art. 80 da LSA) ................................................................... 175
9.4.2. Constituição propriamente dita (arts. 82 a 93 da LSA) ............................................. 176
9.4.3. Regras gerais acerca do procedimento de subscrição ............................................. 177
9.4.4. Formalidades complementares ................................................................................. 178
9.5. ÓRGÃOS DA S/A .............................................................................................................. 178
9.5.1. Assembleia Geral ....................................................................................................... 178
9.5.2. Conselho de Administração ....................................................................................... 180
9.5.3. Diretoria ...................................................................................................................... 183
9.5.4. Conselho fiscal ........................................................................................................... 184
9.6. VALORES MOBILIÁRIOS ................................................................................................. 187
9.7. AÇÃO................................................................................................................................. 187
9.7.1. Conceito ..................................................................................................................... 187
9.7.2. Formas de integralização .......................................................................................... 187
9.7.3. Classificação das ações quanto à espécie ............................................................... 188
9.7.4. Acionista controlador e o “Acordo de Acionistas” ..................................................... 193
9.7.5. Valor das ações ......................................................................................................... 195
9.7.6. Responsabilidade do acionista de uma sociedade anônima (art. 1º) ....................... 197
9.7.7. Deveres e direitos essenciais do acionista ............................................................... 197
9.8. DEBÊNTURES .................................................................................................................. 198
9.9. COMMERCIAL PAPER ..................................................................................................... 200
9.10. BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO ........................................................................................... 200
9.10.1. Partes beneficiárias ................................................................................................... 200
10. REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA ....................................................................................... 201
10.1. TRANSFORMAÇÃO ...................................................................................................... 202
10.2. FUSÃO ........................................................................................................................... 202
10.3. INCORPORAÇÃO ......................................................................................................... 202

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10.4. CISÃO ............................................................................................................................ 203
11. SOCIEDADES COLIGADAS (ARTS. 1.097 e seguintes do CC)......................................... 203
12. DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA ................................................................. 203
12.1. ORIGEM ........................................................................................................................ 203
12.1.1. Caso Bank of United States X Deveaux .................................................................... 203
12.1.2. Caso Salomon X Salomon CB................................................................................... 204
12.2. TERMINOLOGIA ........................................................................................................... 204
12.3. CLASSIFICAÇÃO .......................................................................................................... 205
12.3.1. Teoria Maior ............................................................................................................... 205
12.3.2. Teoria Menor .............................................................................................................. 205
12.3.3. Teoria Inversa ............................................................................................................ 206
12.3.4. Teoria Indireta ............................................................................................................ 206
12.3.5. Teoria expansiva ........................................................................................................ 208
12.4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E O CPC/15 ..................... 208
12.5. A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E A MP DA LIBERDADE
ECONÔMICA ............................................................................................................................... 209
13. SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL - SAF .................................................................... 212
13.1. CONCEITO .................................................................................................................... 213
13.2. CONSTITUIÇÃO............................................................................................................ 213
13.3. OBJETO SOCIAL .......................................................................................................... 213
13.4. SUCESSÃO CONTRATUAL ......................................................................................... 214
13.5. DISPUTA DE CAMPEONATOS .................................................................................... 214
13.6. TRANSFERÊNCIA DE PATRIMÔNIO .......................................................................... 214
13.7. AÇÕES ORDINÁRIAS DE CLASSE A.......................................................................... 214
13.8. GOVERNANÇA ............................................................................................................. 215
13.9. OBRIGAÇÕES DA SAF ................................................................................................ 215
13.10. FINANCIAMENTO DA SAF ........................................................................................... 216
TÍTULOS DE CRÉDITO................................................................................................................... 217
1. NOÇÕES GERAIS DE TÍTULOS DE CRÉDITOS ................................................................... 217
1.1. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ............................................................................................... 217
1.2. CONCEITO DE TÍTULOS DE CRÉDITO ......................................................................... 217
2. CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ............................................................... 218
2.1. DOCUMENTOS FORMAIS ............................................................................................... 218
2.2. BENS MÓVEIS .................................................................................................................. 218
2.3. TÍTULOS DE APRESENTAÇÃO ...................................................................................... 218
2.4. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL .......................................................................... 218

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 9

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2.5. OBRIGAÇÕES QUESÍVEIS.............................................................................................. 218
2.6. TÍTULO DE RESGATE ..................................................................................................... 218
2.7. TÍTULO DE CIRCULAÇÃO ............................................................................................... 219
3. PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ............................................................................ 219
3.1. PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE (PRINCÍPIO DA INCORPORAÇÃO, “DOCUMENTOS
DISPOSITIVOS”) .......................................................................................................................... 219
3.2. PRINCÍPIO DA LITERALIDADE ....................................................................................... 220
3.3. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA ........................................................................................... 221
3.3.1. Subprincípio da inoponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa-fé ......... 222
3.3.2. Subprincípio da abstração ......................................................................................... 222
3.4. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 223
4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO .................................................................... 223
4.1. QUANTO ÀS HIPÓTESES DE EMISSÃO: CAUSAL E NÃO CAUSAL ........................... 223
4.1.1. Causal ........................................................................................................................ 223
4.1.2. Não-causal (abstratos)............................................................................................... 224
4.2. QUANTO AO MODELO: VINCULADO OU LIVRE........................................................... 224
4.2.1. Modelo Livre ............................................................................................................... 224
4.2.2. Modelo Vinculado....................................................................................................... 224
4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES) ........................................ 224
4.3.1. Classificação clássica/tradicional: ao portador ou nominativo.................................. 224
4.3.2. Classificação moderna (CC/2002): ao portador, nominativo e nominal ................... 226
4.4. QUANTO À ESTRUTURA: ORDEM DE PAGAMENTO OU PROMESSA DE
PAGAMENTO............................................................................................................................... 226
4.4.1. ORDEM de pagamento.............................................................................................. 226
4.4.2. PROMESSA de pagamento ...................................................................................... 226
5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO ............................ 226
5.1. CONCEITO........................................................................................................................ 226
5.2. EFEITOS DO ENDOSSO ................................................................................................. 227
5.3. MODALIDADES DE ENDOSSO ....................................................................................... 227
5.3.1. Endosso em branco ................................................................................................... 227
5.3.2. Endosso em preto ...................................................................................................... 228
5.3.3. Endosso póstumo ...................................................................................................... 228
5.3.4. Endosso impróprio ..................................................................................................... 230
5.3.5. Endosso “sem garantia” ............................................................................................. 231
6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO ......................................... 232
6.1. CONCEITO........................................................................................................................ 232

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6.2. COMO É FEITO O AVAL? ................................................................................................ 233
6.3. ESPÉCIES DE AVAL ........................................................................................................ 233
6.4. AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE ....................................................................................... 234
6.5. AVAL X FIANÇA ................................................................................................................ 235
7. LETRA DE CÂMBIO (REGRAS GERAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS) ............................ 235
7.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 235
7.2. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ............................................................................................... 235
7.3. CONCEITO........................................................................................................................ 236
7.4. REQUISITOS .................................................................................................................... 236
7.5. SAQUE E ACEITE ............................................................................................................ 236
7.5.1. Noções gerais ............................................................................................................ 236
7.5.2. Efeitos da recusa do aceite (total ou parcial) ............................................................ 237
7.5.3. Efeitos do aceite......................................................................................................... 238
7.5.4. Prazo de respiro ......................................................................................................... 238
7.6. EXIGIBILIDADE DA LETRA DE CÂMBIO ........................................................................ 239
7.7. TIPOS DE VENCIMENTO DE UMA LETRA DE CÂMBIO ............................................... 239
7.8. PROTESTO DA LETRA DE CÂMBIO .............................................................................. 240
7.9. PRAZO PRESCRICIONAL ............................................................................................... 240
7.10. GRÁFICO: LETRA DE CÂMBIO ................................................................................... 240
8. NOTA PROMISSÓRIA ............................................................................................................. 240
8.1. CONCEITO........................................................................................................................ 241
8.2. NÃO HÁ ACEITE NA NOTA PROMISSÓRIA .................................................................. 241
8.3. FORMAS DE VENCIMENTO DA NOTA PROMISSÓRIA................................................ 241
8.4. SÚMULA 258 DO STJ: NOTA PROMISSÓRIA E CONTRATO DE ABERTURA DE
CRÉDITO ..................................................................................................................................... 241
8.5. SÚMULA 504 DO STJ....................................................................................................... 242
8.6. REQUISITOS .................................................................................................................... 243
8.7. GRÁFICO: NOTA PROMISSÓRIA ................................................................................... 243
9. DUPLICATA (Lei 5.474/68) ...................................................................................................... 244
9.1. CONCEITO........................................................................................................................ 244
9.2. ACEITE DA DUPLICATA .................................................................................................. 245
9.2.1. Obrigatoriedade do aceite ......................................................................................... 245
9.2.2. Hipóteses legais que permitem a recusa do aceite (art. 8º) ..................................... 245
9.2.3. Categorias de aceite (em virtude do caráter obrigatório).......................................... 245
9.3. ENDOSSO NA DUPLICATA ............................................................................................. 246
9.4. AVAL NA DUPLICATA ...................................................................................................... 246

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9.5. VENCIMENTO DA DUPLICATA ....................................................................................... 246
9.6. MODALIDADES DE PROTESTO DE UMA DUPLICATA (ART. 13) ............................... 246
9.7. PERDA OU EXTRAVIO DE DUPLICATA (ART. 23) ........................................................ 247
9.8. FURTO OU ROUBO DE DUPLICATA .............................................................................. 247
9.9. É POSSÍVEL EXECUÇÃO DE DUPLICATA SEM ACEITE? ........................................... 247
9.10. DUPLICADA VIRTUAL E SUA EXECUTIVIDADE ....................................................... 248
9.11. GRÁFICO: DUPLICATA ................................................................................................ 252
10. CHEQUE (LEI 7.357/85) ....................................................................................................... 252
10.1. CONCEITO .................................................................................................................... 252
10.2. REQUISITOS DO CHEQUE (ART. 1º, 2º E 3º) ............................................................ 252
10.3. ACEITE DO CHEQUE ................................................................................................... 254
10.4. CHEQUE PRÉ-DATADO (PÓS-DATADO) ................................................................... 254
10.5. ENDOSSO DO CHEQUE .............................................................................................. 255
10.6. AVAL NO CHEQUE ....................................................................................................... 256
10.7. PRAZO DE APRESENTAÇÃO DO CHEQUE .............................................................. 256
10.7.1. Noção geral ................................................................................................................ 256
10.7.2. Inobservância do prazo de apresentação do cheque ao sacado ............................. 257
10.7.3. Protesto ...................................................................................................................... 258
10.8. CONTA CONJUNTA...................................................................................................... 259
10.9. DEVOLUÇÃO INDEVIDA .............................................................................................. 259
10.10. SUSTAÇÃO DE CHEQUE ............................................................................................ 259
10.10.1. Contraordem/revogação (art. 35)........................................................................... 259
10.10.2. Sustação/oposição (art. 36) ................................................................................... 260
10.11. CHEQUE SEM FUNDOS .............................................................................................. 260
10.12. AÇÃO MONITÓRIA E CHEQUE ................................................................................... 262
10.13. JUROS MORATÓRIOS ................................................................................................. 263
10.14. GRÁFICO: CHEQUE ..................................................................................................... 265
11. ESQUEMA TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE ............................................................. 266
12. PRAZO PRESCRICIONAL PARA EXECUÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO ................. 267
12.1. GRÁFICO 01.................................................................................................................. 267
13. OUTROS TÍTULOS DE CRÉDITO ....................................................................................... 268
13.1. TÍTULOS DE CRÉDITO COMERCIAL ......................................................................... 268
13.2. TÍTULOS DE CRÉDITO INDUSTRIAL ......................................................................... 269
13.3. TÍTULOS DE CRÉDITO RURAL ................................................................................... 269
13.4. TÍTULOS DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO ......................................................................... 269
13.5. NOVOS TÍTULOS IMOBILIÁRIOS ................................................................................ 270

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13.6. TÍTULOS DE CRÉDITO BANCÁRIO ............................................................................ 270
13.7. LETRA DE ARRENDAMENTO MERCANTIL ............................................................... 272
CONTRATOS EMPRESARIAIS ...................................................................................................... 273
1. CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA ............................................................................ 273
1.1. CONCEITO........................................................................................................................ 273
1.2. REGRAMENTO ................................................................................................................. 273
1.3. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS NO ÂMBITO DO MERCADO
FINANCEIRO E DE CAPITAIS (DL 911/69) ................................................................................ 273
1.4. APLICAÇÃO DAS REGRAS DO DL 911/69 AO LEASING ............................................. 279
1.5. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA REGIDA PELO CÓDIGO CIVIL ............................................ 280
1.6. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS ............................................................... 281
1.7. OUTROS PRONTOS IMPORTANTES ............................................................................. 282
1.7.1. CONTRATO INSTRUMENTAL.................................................................................. 282
1.7.2. PROPRIEDADE RESOLÚVEL E ‘AD TEMPUS’ (DIREITOS REAIS) ...................... 283
1.7.3. PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA x RESERVA DE DOMÍNIO....................................... 283
2. CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (“LEASING”) ........................................... 284
2.1. CONCEITO........................................................................................................................ 284
2.2. MODALIDADES DE LEASING ......................................................................................... 284
2.2.1. Leasing financeiro ...................................................................................................... 284
2.2.2. Leasing operacional ................................................................................................... 285
2.2.3. “Lease back” (leasing de retorno) .............................................................................. 285
2.2.4. Quadro resumo .......................................................................................................... 286
2.3. INADIMPLEMENTO DAS PRESTAÇÕES DO LEASING ................................................ 286
2.4. PURGAÇÃO DA MORA .................................................................................................... 287
3. CONTRATO DE FRANQUIA (franchising) .............................................................................. 288
3.1. CONCEITO........................................................................................................................ 288
3.2. CONTRATANTES ............................................................................................................. 288
3.3. OBJETOS DO CONTRATO .............................................................................................. 289
3.4. INEXISTÊNCIA DA RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE FRANQUEADOR E
FRANQUEADO ............................................................................................................................ 289
3.5. INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO ............................................................. 289
3.6. COF - CIRCULAR DE OFERTA DE FRANQUIA ............................................................. 289
3.6.1. Conceito ..................................................................................................................... 289
3.6.2. Prazo legal e obrigatoriedade .................................................................................... 292
3.6.3. Novidades da COF trazidas pela Lei 13.966/2019 ................................................... 292
3.6.4. COF e falsidade de informações ............................................................................... 293

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3.7. SUBLOCAÇÃO DO PONTO ............................................................................................. 293
4. CONTRATO DE FACTORING OU FOMENTO MERCANTIL ................................................. 294
4.1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS ................................................................................. 294
4.2. ESPÉCIES DE CONTRATO DE FACTORING ................................................................ 295
4.2.1. Factoring tradicional................................................................................................... 295
4.2.2. Factoring de vencimento............................................................................................ 296
4.3. JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................................... 296
5. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL ........................................................................................... 298
5.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 298
5.2. CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO X CONTRATO DE AGÊNCIA (ART. 710 DO CC)
298
5.3. EXCLUSIVIDADE NA REPRESENTAÇÃO COMERCIAL ............................................... 299
5.3.1. Exclusividade de zona geográfica (art. 31 da Lei) .................................................... 299
5.3.2. Exclusividade de representação (art. 31, parágrafo único) ...................................... 299
5.4. RESCISÃO DO CONTRATO ............................................................................................ 300
5.4.1. Contrato com prazo INDETERMINADO .................................................................... 300
5.4.2. Contrato com prazo DETERMINADO ....................................................................... 301
DIREITO FALIMENTAR (Lei 11.101/05) ......................................................................................... 302
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................................... 302
2. ÂMBITO DE INCIDÊNCIA DA LEI ........................................................................................... 302
3. JUÍZO COMPETENTE ............................................................................................................. 304
4. DA FALÊNCIA .......................................................................................................................... 305
4.1. CONCEITO........................................................................................................................ 305
4.2. OBJETIVOS ...................................................................................................................... 306
4.3. PROCESSO FALIMENTAR (VISÃO GERAL) .................................................................. 306
4.4. LEGITIMIDADE ATIVA DO PEDIDO DE FALÊNCIA ....................................................... 307
4.4.1. Próprio devedor (art. 97, I: empresário ou sociedade empresária) .......................... 307
4.4.2. Cônjuge sobrevivente, herdeiro e inventariante (art. 97, II) ...................................... 308
4.4.3. Sócio ou acionista da empresa (art. 97, III) ............................................................... 308
4.4.4. Qualquer credor (art. 97, IV) ...................................................................................... 308
4.5. LEGITIMIDADE PASSIVA DA FALÊNCIA ....................................................................... 311
4.6. FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA FALÊNCIA ................................................................. 312
4.6.1. Impontualidade injustificada (art. 94, I)...................................................................... 313
4.6.2. Execução frustrada (art. 94, II) .................................................................................. 314
4.6.3. Atos de falência (art. 94, III) ....................................................................................... 314
4.6.4. Esquema Gráfico da Insolvência do Devedor (art. 94) ............................................. 315

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4.7. COMPORTAMENTO DO DEVEDOR APÓS A SUA CITAÇÃO ...................................... 316
4.7.1. Apresentar contestação (art. 98) ............................................................................... 316
4.7.2. Depósito elisivo + contestação .................................................................................. 317
4.7.3. Depósito elisivo (impeditivo) ...................................................................................... 318
4.7.4. Requerer a recuperação judicial ................................................................................ 318
4.8. SENTENÇA e RECURSOS .............................................................................................. 319
4.8.1. Natureza jurídica ........................................................................................................ 319
4.8.2. Legitimidade recursal ................................................................................................. 321
4.8.3. Prazo do recurso ........................................................................................................ 321
4.9. SENTENÇA DECLARATÓRIA ......................................................................................... 322
4.9.1. Determinações que devem constar da sentença (art. 99 da Lei) ............................. 323
4.9.2. Efeitos jurídicos da sentença declaratória de falência quanto ao FALIDO
(DEVEDOR) .............................................................................................................................. 329
4.9.3. Efeitos da sentença declaratória quanto aos CREDORES ...................................... 332
4.9.4. Efeitos da sentença declaratória de falência quanto aos CONTRATOS (art. 117) . 335
4.9.5. Efeitos da sentença declaratória de falência quanto aos ATOS (ineficácia objetiva e
ineficácia subjetiva dos atos - art. 129 e art. 130) ................................................................... 335
4.10. FASE FALIMENTAR PROPRIAMENTE DITA .............................................................. 337
4.10.1. Arrecadação ............................................................................................................... 337
4.10.2. Avaliação .................................................................................................................... 340
4.10.3. Venda judicial dos bens ............................................................................................. 341
4.10.4. Habilitação de crédito ................................................................................................ 345
4.10.5. Incidente de classificação de crédito público ............................................................ 346
4.10.6. Quadro geral de credores .......................................................................................... 349
4.11. ORDEM DE CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS ........................................................ 349
4.11.1. Créditos concursais ................................................................................................... 350
4.11.2. Créditos extraconcursais ........................................................................................... 354
4.12. ENCERRAMENTO ........................................................................................................ 356
4.13. SENTENÇA DE ENCERRAMENTO ............................................................................. 357
4.14. REABILITAÇÃO............................................................................................................. 357
4.14.1. Hipóteses de extinção das obrigações do falido (art. 158) ....................................... 358
4.15. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CPC ........................................................................... 358
5. DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL............................................................................................... 359
5.1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 359
5.2. INCIDÊNCIA ...................................................................................................................... 360
5.3. FINALIDADE DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ................................................................. 361

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5.4. COMPETÊNCIA ................................................................................................................ 361
5.5. REQUISITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ................................................................ 361
5.5.1. Somente o DEVEDOR empresário, sociedade empresária ou a SAF pode pedir a
recuperação judicial .................................................................................................................. 362
5.5.2. O devedor deve ser empresário ou sociedade empresária que esteja em atividade
regular há mais de 02 anos. ..................................................................................................... 363
5.5.3. Não ser falido ............................................................................................................. 365
5.5.4. Não ter, há menos de 05 anos, obtido concessão de outra recuperação judicial. ... 366
5.5.5. Não ter, há menos de 05 anos, obtido concessão de recuperação judicial especial
366
5.5.6. Não ter sido condenado por crime falimentar ........................................................... 366
5.6. CONSOLIDAÇÃO PROCESSUAL ................................................................................... 367
5.7. CONSOLIDAÇÃO PROCESSUAL ................................................................................... 368
5.8. CRÉDITOS SUJEITOS AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ....................... 369
5.9. PROCEDIMENTO DA RECUPERAÇÃO.......................................................................... 374
5.9.1. Distribuição de lucros................................................................................................. 374
5.9.2. Petição inicial ............................................................................................................. 374
5.9.3. Constatação prévia .................................................................................................... 376
5.9.4. Despacho de processamento .................................................................................... 378
5.9.5. Publicação do despacho (art. 52, §1º) ...................................................................... 380
5.9.6. Comunicado ............................................................................................................... 382
5.9.7. Meios de recuperação judicial ................................................................................... 383
5.9.8. Assembleia-Geral de Credores (AGC) ...................................................................... 384
5.9.9. Cram Down ................................................................................................................ 387
5.9.10. Apresentação de plano de recuperação judicial pelos credores .............................. 388
5.9.11. Conversão da recuperação judicial em falência ....................................................... 388
5.9.12. Formas de aprovação do plano de recuperação judicial .......................................... 389
5.9.13. Decisão concessiva (art. 59) ..................................................................................... 389
5.9.14. Prazo da recuperação judicial ................................................................................... 390
5.10. CONVOLAÇÃO EM FALÊNCIA .................................................................................... 390
5.11. FINANCIAMENTO DIP .................................................................................................. 391
6. DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ESPECIAL ............................................................................ 392
6.1. PREVISÃO LEGAL ........................................................................................................... 392
6.2. DIFERENÇAS PARA A RECUPERAÇÃO JUDICIAL COMUM ....................................... 393
7. DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL .................................................................................. 394
7.1. CONSIDERAÇÕES ........................................................................................................... 394
7.2. DEVEDOR (QUEM PODE REQUERER) ......................................................................... 395

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 16

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7.3. REQUISITOS .................................................................................................................... 395
7.4. CRÉDITOS SUJEITOS À RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL ....................................... 396
7.5. ÓRGÃOS DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL .......................................................... 397
7.6. EFEITOS JURÍDICOS DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL...................................... 397
7.6.1. Efeitos restritos .......................................................................................................... 397
7.7. HOMOLOGAÇÃO ............................................................................................................. 397
7.7.1. Homologação facultativa............................................................................................ 398
7.7.2. Homologação obrigatória ........................................................................................... 398
7.7.3. Vantagens .................................................................................................................. 399
7.8. PROCEDIMENTO DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL ............................................ 399

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 17

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APRESENTAÇÃO
Olá!
Inicialmente gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja
útil na sua preparação, em todas as fases. A grande maioria dos concurseiros possui o hábito de
trocar o material de estudo constantemente, principalmente, em razão da variedade que se tem
hoje, a cada dia surge algo novo. O ideal é você utilizar sempre a mesma fonte, fazendo a
complementação necessária, eis que quanto mais contato temos com determinada fonte de estudo,
mais familiarizados ficamos, o que se torna primordial na hora da prova.
O Caderno Sistematizado de Direito Empresarial possui como base as aulas do Prof.
Juan Vasquez (CERS) e do Prof. Alexandre Gialluca (G7), com o intuito de deixar o material mais
completo, utilizados o livro de Direito Empresarial – Volume Único (9ª Ed) do André Santa Cruz.
Na parte jurisprudencial, utilizamos os informativos do site Dizer o Direito
(www.dizerodireito.com.br), os livros: Principais Julgados STF e STJ Comentados, Vade Mecum de
Jurisprudência Dizer o Direito, Súmulas do STF e STJ anotadas por assunto (Dizer o Direito).
Destacamos é importante você se manter atualizado com os informativos, reserve um dia da
semana para ler no site do Dizer o Direito.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você faça uma
boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.
Vamos juntos!! Bons estudos!!
Equipe Cadernos Sistematizados.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 18

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TEORIA GERAL DA EMPRESA

1. FONTES DO DIREITO EMPRESARIAL

Aqui, para fins didáticos, utilizamos a classificação proposta por Ricardo Negrão.

1.1. PRIMÁRIAS

1.1.1. Constituição Federal

O Direito Empresarial deve ser interpretado à luz da CF, sempre. Há vários princípios na
parte da Ordem Econômica.

1.1.2. Código Civil

Em seus arts. 966 a 1.195 trata do Direito de Empresa, são as normas que conceituam
empresário, estabelecem requisitos para o exercício do direito de empresa individualmente, regem
as sociedades empresárias etc.

1.1.3. Código Comercial

Para o Direito Marítimo.

1.1.4. Leis Extravagantes

Como exemplo, citam-se a Lei de Falência (Lei 11.101/2005), a Lei das Duplicatas, a Lei do
Cheque, dentre outras.

Obs.: A Lei 11.101/2005 foi alterada pela Lei 14.112/2020 que não é
uma nova Lei de Falências, mas apenas uma lei que reformou a Lei
11.101/2005.

1.1.5. Tratados internacionais

Segundo André Santa Cruz, os tratados internacionais são uma fonte primária de suma
importância, a exemplo da Convenção da União de Paris e os Acordos TRIPS, que orientam a nossa
Lei de Propriedade Industrial, bem como a Lei Uniforme de Genebra

1.2. SECUNDÁRIAS

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 19

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1.2.1. Costumes

Devem ser uniformes, constantes, utilizados de acordo com a boa-fé. Além disso, devem
observar a lei e a boa-fé, podem estar assentados na Junta Comercial.

Ex.: Cheque pós-datado.

A Lei 8934/94 estabelece que o costume pode ser assentado na Junta Comercial, podendo
ser provado através de certidão emitida pela Junta.

Como o tema foi cobrado em concurso?


CESPE - DPE/ES - Questão: Cabe à junta comercial, de ofício ou por
provocação da sua procuradoria ou de entidade de classe, reunir ou assentar
em livro próprio os usos e práticas decorrentes (costumes) em sua jurisdição?
Correto!

Art. 8º Às Juntas Comerciais incumbe


VI - O assentamento dos usos e práticas mercantis

1.2.2. Princípios Gerais do Direito

Segundo Haroldo Malheiros, é necessário seguir uma ordem de preferência, prevista no art.
4º da LINDB.

1.2.3. Doutrina

Segundo Juan Vasques, apesar de ser considerada por parte dos autores, não é fonte
secundária.

1.2.4. Jurisprudência

Com o CPC/15, que consagrou os precedentes, ganhou força o entendimento de que a


jurisprudência é fonte secundária e não apenas em relação às súmulas vinculantes.

2. CARACTERÍSTICAS

2.1. COSMOPOLITISMO

As regras de Direito Empresarial devem ser uniformes, independente da barreira geográfica


que separa os países.
Ex.: Lei Uniforme de Genebra.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 20

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CESPE - DPE/ES: O cosmopolitismo, uma das características do direito
empresarial, deu origem a usos e costumes comuns a todos os comerciantes,
independentemente de sua nacionalidade (caráter internacional, transcende
barreiras geográficas), a exemplo da criação, pela Convenção de Genebra,
de uma lei uniforme para a letra de câmbio e a nota promissória. Correto!

2.2. FRAGMENTÁRIO

O Direito Empresarial divide-se em Direito de Empresa, Direito Cambiário, Direito Falimentar


e Direito Societário, para cada um desses ramos há leis esparsas que o regulamentam.

2.3. INFORMALISMO OU SIMPLICIDADE

Segue a dinâmica das relações empresariais, que afastam o caráter formal, presente no
Direito Civil.

2.4. ELASTICIDADE

O Direito Empresarial sofre constantes mudanças, muitas vezes não conseguem ser
acompanhadas pela lei.

2.5. ONEROSIDADE

A atividade empresarial visa o lucro.

3. PRINCÍPIOS

O Direito Empresarial é norteado por vários princípios, a seguir um fluxograma e após a


análise.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 21

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Livre Iniciativa

Liberdade de Autonomia da
Competição Vontade

Função Social
da Empresa Princípios Cambiários

Liberdade de Preservação
Associação da Empresa

Maximização
dos ativos do
Falido

3.1. LIVRE INICIATIVA

Norteia o Direito Empresarial.

De acordo com Fábio Ulhôa Filho, o princípio da livre-iniciativa se desdobra em quatro


condições fundamentais para o funcionamento eficiente do modo de produção capitalista:

• Imprescindibilidade da empresa privada para que a sociedade tenha acesso aos bens e
serviços de que necessita para sobreviver;

• Busca do lucro como principal motivação dos empresários;

• Necessidade jurídica de proteção do investimento privado;

• Reconhecimento da empresa privada como polo gerador de empregos e de riquezas


para a sociedade.

É um dos fundamentos da República, igualmente, está prevista na ordem econômica. No


entanto, não é absoluta, há cláusulas de não concorrência.

Segundo Eros Grau, gera uma obrigação de fazer para a empresa e uma obrigação de não
fazer (não causar danos a terceiros).

3.2. FUNÇÃO SOCIAL DA EMPRESA

Previsto na Lei de S/A.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 22

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Art. 116, Parágrafo único. O acionista controlador deve usar o poder com o
fim de fazer a companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e
tem deveres e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa,
os que nela trabalham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos
e interesses deve lealmente respeitar e atender.

Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto


lhe conferem para lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as
exigências do bem público e da função social da empresa.

Salienta-se que a empresa não deve apenas atender aos interesses individuais do
empresário individual ou dos sócios da sociedade empresária, mas também aos interesses difusos
e coletivos de todos aqueles que são afetados pelo seu exercício (trabalhadores, contribuintes,
vizinhos, concorrentes, consumidores), conforme ensina André Santa Cruz.

3.3. LIBERDADE DE COMPETIÇÃO

Está relacionado ao princípio da livre iniciativa, concretizando-o.

3.4. LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO

Compreende a liberdade de associar-se e de não se associar, bem como o direito de retirada


para os sócios que assim queiram.

3.5. MAXIMIZAÇÃO DOS ATIVOS DO FALIDO

Previsto no art. 75 e 117 da Lei de Falências. Além disso, ampara o art. 141, II.

Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades,


visa a:
I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos
recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa;
II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à
realocação eficiente de recursos na economia; e
III - fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do
retorno célere do empreendedor falido à atividade econômica.
§ 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da
economia processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos
demais princípios previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
de Processo Civil).
§ 2º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e
sociais decorrentes da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata
do devedor e da rápida realocação útil de ativos na economia.

Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o
aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e
preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 23

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§ 1o O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90
(noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que,
dentro de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.
§ 2o A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao
contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário,
constituirá crédito quirografário.

Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa


ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata o
art. 142:
I – todos os credores, observada a ordem de preferência definida no art. 83
desta Lei, sub-rogam-se no produto da realização do ativo;
II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão
do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de
acidentes de trabalho.
§ 1º O disposto no inciso II do caput deste artigo não se aplica quando o
arrematante for:
I – sócio da sociedade falida, ou sociedade controlada pelo falido;
II – parente, em linha reta ou colateral até o 4º (quarto) grau, consanguíneo
ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou
III – identificado como agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão.
§ 2º Empregados do devedor contratados pelo arrematante serão admitidos
mediante novos contratos de trabalho e o arrematante não responde por
obrigações decorrentes do contrato anterior.
§ 3º A alienação nas modalidades de que trata o art. 142 desta Lei poderá ser
realizada com compartilhamento de custos operacionais por 2 (duas) ou mais
empresas em situação falimentar. .

Utilizar o ativo para reduzir o passivo.

3.6. PRESERVAÇÃO DA EMPRESA

Tem sido amplamente difundido, seja pela legislação (a exemplo da Lei de Falências) seja
fundamentando inúmeras decisões judiciais em matéria de dissolução de sociedades, de falências,
de recuperação judicial.

3.7. AUTONOMIA DA VONTADE

Relacionado aos contratos empresariais, ver enunciados da I Jornada.

3.8. CAMBIÁRIOS

Serão analisados no estudo do Direito Cambiário.

4. TEORIA DOS ATOS DE COMÉRCIO (francesa)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 24

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4.1. HISTÓRICO

A codificação napoleônica dividiu claramente o direito privado: de um lado o Direito Civil e


de outro o Direito Comercial. O CC/FRA atendia fundamentalmente aos interesses da burguesia
fundiária (direito de propriedade), já o CCom/FRA encarnava o espírito da burguesia comercial e
industrial, valorizando a riqueza mobiliária.

Função essencial era atribuir a quem praticasse os denominados “atos de comércio” a


qualidade de comerciante, pressuposto para a aplicação das normas do CCom.

De acordo com a doutrina, a codificação napoleônica operou uma objetivação do Direito


Comercial, tendo em vista a formação dos Estados Nacionais da Idade Moderna que impunham sua
soberania ao particularismo que imperava na ordem jurídica anterior e se inspiravam no princípio
da igualdade, sendo, por conseguinte, avessos a qualquer tipo de distinção de disciplinas jurídicas
que se baseiam em critérios subjetivos.

Fases do Direito
Empresarial

Teoria dos Atos de


Corporações de Ofício Teoria da Empresa
Comércio

Idade Média Sistema frances Sistema italiano


Sistema fechado Revolução Francesa Revolução Industrial
e protetivo Código Comercial 1807 Código Civil de 1812

Influência no Código Comercial do Brasil de 1850


a) Parte I - Do Comércio em geral.

b) Parte II - Do Comércio marítimo. (Ainda vigora)

c) Parte III - “Das quebras” → revogado pelo decreto lei 7.666/45 → revogado pela
11.101/05 Lei de Falências

Comerciante (pessoa física)


Sociedade Comercial (pessoa jurídica)

4.2. DEFINIÇÃO DO “COMERCIANTE”: ATOS DE COMÉRCIO

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 25

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Para estabelecer quem se submetia à disciplina do CCom era feita uma análise objetiva:
se praticava “ato de comércio” ou não. Só poderia chamar alguém de comerciante (pessoa física)
ou de sociedade comercial (pessoa jurídica) estando presentes os elementos:

• Habitualidade;
• Finalidade lucrativa;
“Atos de comércio” – eram elencados taxativamente no Regulamento 737/1850, em seu
art. 19 (primeiro ato normativo de caráter processual do Brasil). Vejamos quais eram esses atos:

• Compra e venda de bens móveis e semoventes para revenda ou locação;


• Câmbio (troca de moeda estrangeira);
• Bancos (comerciante nato: surge junto com o comércio; bancos podem falir, como
qualquer comerciante, além de sofrer liquidação extrajudicial ou intervenção extrajudicial
pelo Banco Central; nestes dois últimos casos, não poderá falir, exceto se requerido pelo
liquidante ou interventor).
• Transportes de mercadorias (atividade vinculada ao comércio);
• Fabricação, consignação e depósito de mercadorias (industrial em geral);
• Espetáculos públicos (teatro, cinema etc.);
• Contratos marítimos em geral;
• Fretamento de navios;
• Títulos de créditos em geral (os títulos de créditos rurais eram reputados civis);
Eram atividades excluídas da Mercancia:
• Especulação imobiliária;
• Agricultura e pecuária (produtor rural);
• Prestação de serviços;
• Profissões intelectuais;
O inconveniente desse sistema era a taxatividade das atividades consideradas de comércio,
de forma que aqueles que não constavam da lista ficavam sem direito ao tratamento dispensado
aos comerciantes, especialmente no que se refere à concordata.

Crítica: este regulamento pecava por não abranger todas as atividades comerciais, por
exemplo, a imobiliária, visto que ele preconizava compra e venda de bens móveis. Compra e venda
de serviços também não era prevista, não sendo considerada sociedade comercial. O problema
disso, era que não sendo sociedade comercial, não teria direito a concordata no caso de problemas
financeiros.

Rubens Requião: não tem como definir satisfatoriamente o que são atos de comércio.

Santa Cruz: e os atos mistos (unilateralmente comerciais)? Aplicam as normas do CCom


para solução de controvérsia, era a chamada vis atractiva do Direito Comercial. Preocupava o fato
de o cidadão ser submetido a normas distintas em razão da qualidade da pessoa com quem
contrata.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 26

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4.3. REVOGAÇÃO DO CÓDIGO COMERCIAL DE 1850

O CC revogou parcialmente ou totalmente o Código Comercial?

Parcialmente, revogou a parte I, a parte III já havia sido revogada pelo decreto lei 7.666/45,
que por sua vez também já foi revogado pela lei 11.101/05 (nova lei de falências). Restando apenas
a parte II, que trata do COMÉRCIO MARÍTIMO.

“Arribada forçada”: o navio normalmente não pode parar em lugares não previstos, caso
ocorra, em situações excepcionais justificadas, é chamado de arribada forçada.

Art. 741 do C. Comercial – temor fundado de inimigo ou pirata.

Art. 740 - Quando um navio entra por necessidade em algum porto ou lugar
distinto dos determinados na viagem a que se propusera, diz-se que fez
arribada forçada (artigo nº. 510).

Art. 741 - São causas justas para arribada forçada:


1 - Falta de víveres ou aguada;
2 - Qualquer acidente acontecido à equipagem, cargo ou navio, que
impossibilite este de continuar a navegar;
3 - Temor fundado de inimigo ou pirata.

5. TEORIA DA EMPRESA (italiana)

Agora temos:
• Empresário individual (pessoa física).
• Sociedade empresária (pessoa jurídica).
• EIRELI (pessoa jurídica), foi extinta pela MP 1.085/2021.
Aqui fazemos uma análise subjetiva, ou seja, uma análise da estrutura.

Com a entrada em vigor do CC/2002 foi revogada expressamente a Parte I (somente ela)
do Código Comercial, abandonando a Teoria Francesa dos Atos de Comércio e passando a adotar
a chamada TEORIA DA EMPRESA. Essa teoria surgiu na Itália, em meados de 1942, tendo como
objetivo o alargamento do âmbito de incidência do Direito Comercial.

O corporativismo fascista se contrapôs à ideia de um código de comércio autônomo e de um


regime jurídico especial das relações travadas pelos agentes econômicos. Refletia, portanto, o
caráter ideológico e a natureza político-econômica advindas da experiência fascista.

Fala-se agora em empresário, sendo este o que exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços.

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de
serviços.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 27

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Santa Cruz: o direito comercial não se limita a regular apenas as relações jurídicas em que
ocorra a prática de um determinado ato definido em lei como ato de comércio. A Teoria da Empresa
faz com que o direito comercial não se ocupe apenas com alguns atos, mas com uma forma
específica de exercer uma atividade econômica: a forma empresarial.

O empresário individual é pessoa natural, possui CNPJ apenas para ter o mesmo tratamento
tributário que a sociedade empresária, a fim de não violar a igualdade, pois a pessoa física não
conseguiria concorrer com a sociedade empresária.

Em 2011, foi inserida a EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada) no nosso


sistema. Tratava-se de uma “sociedade” de um só indivíduo, funcionando como um instrumento
para que o empresário blindasse o seu patrimônio particular, separando-o do patrimônio empresarial
no exercício da atividade empresária. Desta forma, diferentemente do que ocorre com o empresário
individual (cuja totalidade do seu patrimônio responde ilimitadamente pelas dívidas da atividade
empresária, estejam ligadas à atividade empresarial ou não), na EIRELI havia uma limitação dos
reflexos patrimoniais desta responsabilização. Contudo, a MP 1.085/2021 extinguiu a EIRELI.

Há desconsideração da pessoa jurídica para EMPRESÁRIO INDIVIDUAL?

Não há que se falar em desconsideração da PJ, visto que não há pessoa jurídica, não se
desconsidera o que não existe.

Como o tema foi cobrado em concurso?


CESPE DPE/ES: No Código Comercial do Império do Brasil, adotou-se, por
influência dos códigos francês, espanhol e português, a teoria dos atos de
comércio, no que se refere à sua abrangência e aplicação. Errado. O Código
Comercial foi influenciado pelos códigos francês, espanhol e português.
No entanto, não trouxe a definição de atos de comércio, nem sua
abrangência, que foi definida no Regulamento 737.

TJ/MG: Com a vigência do CC/02, à luz do art. 966, é correto afirmar que o
Direito brasileiro concluiu a transição para a: Teoria da empresa, de matriz
italiana.

Brasil CC/02: Busca de uma unificação, ainda que apenas formal, do direito privado.
PARA MEMORIZAR!
A EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL NO MUNDO
➔ Idade Média: renascimento mercantil e ressurgimento das cidades.
➔ Monopólio da jurisdição mercantil a cargo das Corporações de Ofício
➔ Aplicação dos usos e costumes mercantis pelos tribunais consulares
“Codificação Privada” do direito comercial; normas “pseudo
1ª FASE
sistematizadas”.
➔ Caráter subjetivista: mercantilidade da relação jurídica definida pelos seus
sujeitos.
➔ “Direito dos Comerciantes”.
➔ Idade Moderna: formação dos Estados Nacionais monárquicos
➔ Monopólio da Jurisdição mercantil a cargo dos Estados
➔ Codificação Napoleônica
2ª FASE
➔ Bipartição do direito privado
➔ “Teoria dos atos de comércio” como critério delimitador do âmbito de
incidência do regime jurídico comercial

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 28

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
➔ Objetivação do direito comercial: mercantilidade da relação jurídica
definida pelo seu objeto.
➔ CC Italiano 1942
➔ Unificação formal do direito privado
3ª FASE ➔ “Teoria da Empresa” como critério delimitador do âmbito de incidência do
regime jurídico empresarial
➔ A empresa vista como atividade econômica organizada.
A EVOLUÇÃO DO DIREITO COMERCIAL NO BRASIL
As ordenações ➔ Aplicação das leis de Portugal
do Reino ➔ Inspiração do direito estatutário italiano
➔ Inspiração do Code de Commerce napoleônico
Código
➔ Adoção da Teoria dos Atos de Comércio.
Comercial 1850
➔ Regulamento nº737: rol dos atos de comércio.
➔ Transição da Teoria dos Atos de Comércio para a Teoria de Empresa
Código Civil ➔ Tentativa de unificação formal do direito privado
2002 ➔ Definição do empresário como aquele que exerce profissionalmente
atividade econômica organizada.

6. EMPRESA E EMPRESÁRIO

São características fundamentais do Direito Empresarial que o diferenciam sobremaneira do


Direito Civil:
• Cosmopolitismo (integração entre os povos);
• Onerosidade (caráter econômico);
• Informalismo (devido ao dinamismo);
• Fragmentarismo (série de sub-ramos, exemplo: direito falimentar, societário...)

6.1. EMPRESÁRIO

6.1.1. Conceito de empresário: da caracterização e da inscrição

Art. 966. Considera-se empresário (gênero) quem exerce profissionalmente


(habitualidade, continuidade) atividade econômica (finalidade lucrativa)
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

O art. 966 do CC incide sobre a pessoa física e sobre a pessoa jurídica.


• PESSOA FÍSICA = empresário individual;
• PESSOA JURÍDICA = sociedade empresária ou empresa individual de responsabilidade
limitada (EIRELI – antes da sua revogação pela MP 1.085/2021).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 29

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EMPRESÁRIO

PESSOA PESSOA
JURÍDICA FÍSICA

SOCIEDADE EMPRESÁRIO
EIRELI
EMPRESÁRIA INDIVIDUAL

Dentro do conceito legal de empresário, destacam-se alguns subconceitos:

1) “Profissionalismo”

Está ligado aos conceitos de habitualidade/continuidade (para ser profissional a atividade


não pode ser esporádica), pessoalidade (empresário deve contratar empregados) e monopólio das
informações (o profissional deve ter amplo conhecimento do produto que está comercializando).

Por exemplo, não é porque Fernanda vendeu seu carro para o vizinho que será considerada
uma empresária do ramo de venda de automóveis.

2) “Atividade”

A empresa é a atividade e o empresário é o sujeito de direito que a explora. É ele, por


exemplo, que compra ou importa mercadorias e não a sua empresa. Ela é tão somente a atividade
de produção ou circulação de bens ou serviços.

3) “Econômica”

Finalidade lucrativa. É a característica que falta às associações.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/PI (2019) Celebram contrato de sociedade as pessoas que,
reciprocamente, se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o
exercício de uma atividade econômica e a partilhar dos resultados, podendo
ser restrita a atividade a um ou mais negócios determinados. Correta!

CESPE: Conforme entendimento dominante do STJ, a finalidade lucrativa


não é um requisito para que determinada atividade seja considerada
empresária. Errada!

4) “Organizada”

Fábio Ulhôa Coelho: organização é a reunião dos 4 fatores de produção. Sendo eles:

• Mão de obra;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 30

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• Matéria prima;

• Capital;

• Tecnologia.

Dica: “MAMACATE”

Na ausência de um deles, não se fala mais em organização. Por exemplo, se não tem mão
de obra contratada (CLT, regime autônomo...) não se tem organização, e não tendo organização
não pode ser considerado empresário. Este contexto se aplica tanto para o empresário individual
como para a sociedade empresária.

Exemplo1: pessoa que vende trufas, faz, embrulha etc. Não tem mão de obra contratada,
sendo assim não pode ser considerada empresária.

Exemplo2: dois irmãos, bar, cada um fica um dia. Não há sociedade empresária, pois não
há mão de obra contratada.

Hoje, em face da automação (em virtude do avanço tecnológico), entende-se não ser
imprescindível a mão de obra.

O entendimento atual é o seguinte: a organização ocorre quando a atividade-fim não


depender exclusivamente da pessoa física empreendedora ou do sócio da sociedade (pode
depender de pessoas ou bens).

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/RS (2022) Empresário exerce uma atividade “organizada”, entendida
como a estruturação de dois elementos apenas, a saber: mão de obra e
capital. Errada!

Santa Cruz: Essa ideia fechada de que a organização dos fatores de produção é
absolutamente imprescindível para a caracterização do empresário vem perdendo força no atual
contexto da economia capitalista. Exemplo: microempresários (trabalho próprio), empresários
virtuais.

Exemplos de sociedade empresária:

• Banco – habitualidade, finalidade lucrativa, organização (mão de obra, matéria prima


etc.), produz serviços bancários. É sociedade empresária.
• Loja de roupas no shopping, habitualidade, finalidade lucrativa, organização (vendedor,
matéria prima = roupas), circulação de bens – sociedade empresária.
• Agência de turismo, habitualidade, finalidade lucrativa, organização, circulação –
sociedade empresária.

OBS: não será considerada “empresa”, para efeitos jurídicos, a


atividade cujos benefícios sejam exclusivamente para uso próprio ou,
ainda, com sentido mutualístico, tal como ocorre com as
cooperativas.

5) “Produção ou circulação de bens ou serviços”

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 31

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No Código Comercial somente se falava em produção e circulação de bens. Bens têm
“corpo”, são materiais; já os serviços são imateriais, não têm “corpo”.
• Produção de bens: É a fabricação das mercadorias industrialmente (montadoras
de veículos, confecção de roupas etc.)
• Produção de serviços: É a própria prestação de serviços (bancos, hospitais,
escolas etc.).
• Circulação de bens: O comércio é a atividade que circula bens, faz uma
intermediação quando busca o bem no produtor para repassar ao consumidor.
Exemplo: Loja de venda de roupas.
• Circulação de serviços: Nada mais é do que intermediar a prestação de serviços,
como as agências de turismo que não prestam serviços de transporte, mas
montam um pacote de viagem para o turista.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJRS/2018: O art. 966 do CC define empresário como aquele que exerce
atividade profissional, econômica, organizada com a finalidade de produção
ou circulação de bens ou de serviços. Correto!

TJPI: Não é considerada empresária a pessoa que organiza episodicamente


a produção de certa mercadoria, ainda que destinada à venda no mercado.
Correta!

RESUMINDO:

Produção e Reunião
circulação dos fatores
Empresário
de bens ou de
serviços produção

OBS: O conceito de empresário aplica-se tanto para o empresário


individual quanto para a sociedade empresária, haja vista o conceito
legal de sociedade empresária contido no art. 982 do CC, in verbis:

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade


que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a
registro (art. 967); e, simples, as demais.

A pessoa física, sócia de sociedade empresária, não é, tecnicamente, empresária, pois


quem exerce a atividade empresária é a sociedade.

Empresário é o titular da empresa? CORRETO. A empresa não é o sujeito de direito e sim


a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou serviços.

Sistematizando o art. 982 do CC temos:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 32

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NÃO É
EMPRESÁRIO

PESSOA
PESSOA FÍSICA
JURÍDICA

EIRELI PROFISSIONAL
SOCIEDADE
LIBERAL
SIMPLES SIMPLES (AUTONOMO)

6.1.2. Excluídos da atividade empresária

Em primeiro lugar: quem não possui organização empresarial.

Art. 966 CC: Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce
profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento de empresa.

a) “Profissão intelectual”

• Científica: São os chamados profissionais autônomos: médico (não é empresário,


sua atividade é intelectual e científica), contador (ciências contábeis), advogado.
Exemplo: sociedade entre médicos (não é empresária também), sociedade entre
advogados (não é empresária também).
• Literária: escritor/jornalista.

PROVA ORAL MAGISTRATURA: Candidato, jornalista é considerado


empresário? Excelência, o jornalista não é considerado empresário, tendo em
vista que desempenha profissão intelectual literária. Portanto, nos termos do
CC está excluído da atividade empresarial.

• Artística: desenhista, artista plástico, cantor, ator, dançarino.

b) “Ainda que tenha o concurso de auxiliares ou colaboradores”

As atividades intelectuais são prestadas de forma pessoal e, ainda que contenham auxiliares
ou colaboradores, o personalismo prevalece. Na profissão intelectual a exclusão decorre do papel
secundário que a organização assume nessas atividades.

Exemplo da clínica: mesmo que contrate enfermeira e secretária não será sociedade
empresária. Será uma sociedade simples.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 33

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
c) “Salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”

Caso a profissão intelectual se torne apenas um dos vários elementos que formam uma
empresa, haverá uma sociedade empresária. Em outras palavras: a atividade intelectual leva o seu
titular a ser considerado empresário se ela estiver integrada em um objeto mais complexo, próprio
da atividade empresarial.

III JDC En.195 - Art. 966: A expressão “elemento de empresa” demanda


interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção da
atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos
fatores da organização empresarial.

Exemplos:
• A clínica, para atender melhor os pacientes, terá uma cafeteria e lanchonete. A
clínica tem uma UTI (serviço de hospedagem). Agora tem uma sala de cirurgia
tão moderna que todos os médicos da região alugam para realizar os
procedimentos. Os médicos são meros elementos dentro de um grande complexo
empresarial, deixou de ser uma atividade científica, literária ou artística pura para
ser um elemento de empresa. Podemos afirmar, por isso, que hospital é uma
sociedade empresária.
• Veterinário com clínica. Se começa a vender ração de cachorro, brinquedo para
cachorro, a clínica passa a ser uma sociedade, pois a atividade intelectual
(veterinário) passa a ser só mais um dos elementos da empresa.
Santa Cruz: quando o prestador de serviços profissionais se ‘impessoaliza’, e os serviços
até então pessoalmente prestados, passam a ser oferecidos pela organização empresarial, perante
a qual se torna um mero organizador, será considerado empresário.

Dois médicos resolvem abrir uma clínica de ortopedia chamada “Só ossos”, contrataram uma
secretária, faxineira e empregada. É sociedade empresária? NÃO. “Ainda com o concurso de
auxiliares ou colaboradores” art. 966 § único CC, salvo se, o exercício da profissão constitui
elemento de empresa.

Como o tema foi cobrado em concurso?


CESPE TJ/PI: é considerada empresária a pessoa que, exercendo profissão
intelectual de natureza artística, contrate empregados para auxiliá-la no
trabalho. Errada! Ainda que tenha colaboradores e auxiliares, não será
considerado empresário.

Melhor seria substituir a redação equivocada por ‘‘salvo se o exercício da profissão constituir
parte do objeto da empresa’’.

Além do profissional intelectual, NÃO É EMPRESÁRIO: a) a sociedade de advogados, b)


o profissional rural não registrado e c) os empresários de cooperativas, abordados a seguir.

a) Sociedade de advogados

A sociedade de advogados, nos termos do art. 15 da Lei 8.906/94, está excluída do conceito
de empresário, tendo em vista que se trata de uma sociedade simples. Não sendo admitidos
registros e nem podem funcionar quando apresentarem forma ou características de sociedade
empresária (art.16).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 34

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade simples de prestação
de serviços de advocacia ou constituir sociedade unipessoal de advocacia,
na forma disciplinada nesta Lei e no regulamento geral.

Art. 16. Não são admitidas a registro nem podem funcionar todas as espécies
de sociedades de advogados que apresentem forma ou características de
sociedade empresária, que adotem denominação de fantasia, que realizem
atividades estranhas à advocacia, que incluam como sócio ou titular de
sociedade unipessoal de advocacia pessoa não inscrita como advogado ou
totalmente proibida de advogar.

b) Exercente de atividade rural sem registro na junta comercial

Por força do art. 971 do CC, o registro para o rural é facultativo. Contudo, apenas, após a
inscrição, será considerado empresário.

Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão,
pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus
parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para
todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo à associação que
desenvolva atividade futebolística em caráter habitual e profissional, caso em
que, com a inscrição, será considerada empresária, para todos os
efeitos.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/CE (2022) A associação futebolística em caráter habitual e profissional
poderá inscrever-se no registro público de empresas mercantis, hipótese em
que será considerada como empresária, para todos os efeitos. Correta!

c) Empresários de Cooperativa (Sociedade cooperativa)

Por disposição legal expressa (art. 982, parágrafo único), é considerada sociedade simples,
portanto, excluída do conceito de empresário.

Art. 982, Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se


empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

6.2. EMPRESA

6.2.1. Conceito de empresa.

Não confundir a atividade com o praticante da atividade.

É a ATIVIDADE econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou de


serviços.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 35

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Sociedade empresária – pessoa jurídica: não é porque sou sócio de uma empresa que serei
empresário. Empresário é quem desempenha e organiza a atividade empresarial sozinho; na
sociedade empresária, quem pratica a atividade é a pessoa jurídica.

Exemplo: a empresa de uma farmácia é a comercialização de remédios.

6.2.2. Microempresa e Empresa de Pequeno Porte

Art. 3º da LC 123/06
Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se
microempresas ou empresas de pequeno porte a sociedade empresária,
a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o
empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas
Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde
que:
I - No caso da MICROEMPRESA, aufira, em cada ano-calendário, RECEITA
BRUTA IGUAL OU INFERIOR A R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil
reais); e
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-
calendário, receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e
sessenta mil reais) e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00
(quatro milhões e oitocentos mil reais).

Podem ser ME ou EPP: empresário individual, sociedade empresária, sociedade simples.


Essa qualificação diz respeito à tributação.

7. EMPRESÁRIO INDIVIDUAL

7.1. CONCEITO

É a pessoa natural (pessoa física), que individualmente, de forma profissional exerce uma
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços.

7.2. REQUISITOS

Encontram-se no art. 972 do CC.

Art. 972. Podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em


pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

Conforme o art. 972 do CC, dois são os requisitos: 1) pleno gozo da capacidade civil; 2)
ausência de impedimento legal.

7.2.1. Pleno gozo da capacidade civil

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 36

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Não pode ser empresário o menor de 18 anos não emancipado, ébrios habituais, viciados
em tóxicos, deficientes mentais, excepcionais, pródigos e, nos termos da legislação própria, os
índios.

Art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da


vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos

Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os


exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir
sua vontade;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação
especial.

Ressalte-se que o menor emancipado tem plena capacidade civil, logo é apto para o
exercício de empresa.
Art. 974. Poderá o INCAPAZ, por meio de representante ou devidamente
assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por
seus pais ou pelo autor de herança.

Iniciar a atividade o incapaz não pode. No entanto, pode continuar uma empresa
(atividade), antes exercida por seus pais ou por autor de herança da qual é sucessor. É uma regra
de preservação da empresa.
Incapacidade civil superveniente: Aquele a quem sobreveio incapacidade também é
permitida a continuidade do exercício empresarial.
Essas regras excepcionais estão previstas no art. 974 do CC, que apresenta dois requisitos
para a continuidade da empresa:
• Assistência ou representação (a depender do grau de incapacidade);
• Autorização judicial (realizada pelo chamado alvará judicial), ouvida a
manifestação do MP (art. 178 do CPC). A qualquer tempo o juiz poderá revogar
a autorização.
Art. 974. Poderá o incapaz, por MEIO DE REPRESENTANTE ou
DEVIDAMENTE ASSISTIDO, continuar a empresa antes exercida por ele
enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.
§1º Nos casos deste artigo, PRECEDERÁ AUTORIZAÇÃO JUDICIAL, após
exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da
conveniência em continuá-la podendo a autorização ser revogada pelo juiz,
ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito,
sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/TO (2022) O empresário que se tornar incapaz não poderá continuar
sua empresa, ainda que assistido ou representado. Errada!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 37

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TJ/AP (2022) Nos casos em que a lei autoriza o prosseguimento da empresa
por incapaz, ainda que seu representante ou assistente seja pessoa que
possa exercer atividade de empresário, o juiz poderá nomear um ou mais
gerentes, se entender ser conveniente. Correta!

TJ/MG (2022) João, brasileiro, casado sob o regime de comunhão universal


de bens com Maria, residente e domiciliado em Minas Gerais, pretende
constituir sociedade empresária com Carlos, brasileiro, solteiro, nascido em
2007, residente e domiciliado em São Paulo, para a consecução de compra
e venda de produtos alimentícios. Carlos, por ser absolutamente incapaz, não
poderá exercer a administração da sociedade, porém poderá dela fazer parte
desde que seja devidamente representado e o capital social esteja totalmente
subscrito e integralizado. Correta!

MPE/PI (2019) Pessoa que exercer atividade própria de empresário, apesar


de legalmente impedida, não responderá pelas obrigações contraídas ao
longo do exercício empresarial. Errada!

➔ Bens individuais X Bens empresariais

Empresário individual possui uma distribuidora de bebidas. Na distribuidora existem bens


(bens empresariais). As dívidas da distribuidora (dívidas empresariais) somente atingem os bens
empresariais ou também recaem sobre os bens pessoais? Atingem também os bens pessoais, pois
no Brasil se adotou o PRINCÍPIO DA UNIDADE PATRIMONIAL: o patrimônio da pessoa (seja
pessoa física, seja pessoa jurídica) é ÚNICO.

O inverso também é verdadeiro: as dívidas pessoais também atingem os bens empresariais.

Frise-se: Isso quando a empresa é realizada por empresário individual.

Diferente ocorre quando se trata de sociedade empresária. Nesse caso, os bens


empresariais estão em nome de uma Pessoa Jurídica, ao passo que os bens pessoais estão em
nome de uma Pessoa Física. Como são duas pessoas distintas, não há que se falar em unicidade
patrimonial. Fala-se em: PRINCÍPIO DA AUTONOMIA PATRIMONIAL. Aqui, vai existir um
patrimônio da pessoa física e um patrimônio da pessoa jurídica. As dívidas de um não recaem sobre
as do outro, EM REGRA. Adiante veremos situações excepcionais em que as dívidas de uma
pessoa atingem o patrimônio de outra, como nos casos de desconsideração da personalidade
jurídica (os bens pessoais respondem pela dívida social) ou de desconsideração inversa (quando
os bens sociais respondem pela dívida pessoal).

Se o menor continuasse a atividade empresarial, teoricamente, seus bens passariam a


responder pelas dívidas empresariais. Entretanto, o art. 974, §2º traz uma proteção ao patrimônio
do incapaz, in verbis:

Art. 974, § 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o


incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que
estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que
conceder a autorização.

Ou seja, os bens que o incapaz já possuía não respondem pelas dívidas empresariais, desde
que tais bens fiquem consignados no alvará de autorização. Este artigo traz um patrimônio de
afetação.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 38

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Como o tema foi cobrado em concurso?
FCC TJ/GO: Thiago, titular de uma empresa individual do ramo de padaria,
veio ser interditado judicialmente e declarado absolutamente incapaz para os
atos da vida civil por conta de uma doença mental que lhe sobreveio. A
Thiago, nesse caso, é permitido continuar a empresa por meio de
representante, mediante prévia autorização judicial, que poderá ser
revogada, também judicialmente, sem prejuízo dos direitos de terceiros.

O menor não poderá iniciar como empresário individual. Contudo, poderá iniciar como sócio
de uma sociedade, a exemplo de uma sociedade limitada, desde que preenchidos os requisitos do
§3º do art. 974 do CC.
Art. 974, § 3o O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas
Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade
que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os
seguintes pressupostos:
I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;
II – o capital social deve ser totalmente integralizado;
III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente
incapaz deve ser representado por seus representantes legais.

7.2.2. Ausência de impedimentos legais

São impedidos de ser empresário:

• Membros do Ministério Público;

• Magistrados;

• Membros da Defensoria Pública;

• Empresários falidos;

• Leiloeiros;

• Despachantes aduaneiros;

• Cônsules, nos seus distritos;

• Médicos, para o exercício simultâneo de farmácia, e farmacêuticos no exercício


simultâneo da medicina;

• Pessoas condenadas à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos
públicos;

• Servidores públicos civis da ativa;

• Servidores militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias Militares;

• Os deputados e senadores não poderão ser proprietários, controladores ou diretores de


empresa, que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito
público;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 39

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• Estrangeiros (sem visto permanente), em certos casos;

• Estrangeiro (com visto permanente), em certos casos.

Vejamos:

1) Membros do Ministério Público para exercer o comércio individual ou participar de


sociedade comercial (art.128, § 5º, II, “c”, da CF), salvo se acionista ou cotista, obstada
a função de administrador (art. 44, III, da Lei 8.625/1993 - LONMP);

CF, Art. 128. O Ministério Público abrange:


§ 5º - Leis complementares da União e dos Estados, cuja iniciativa é facultada
aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as
atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente
a seus membros:
II - As seguintes vedações:
c) participar de sociedade comercial, na forma da lei;

LONMP, Art. 44. Aos membros do Ministério Público se aplicam as seguintes


vedações:
III - exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, exceto como
cotista ou acionista;

Assim, o membro do MP, por exemplo, poderá ter franquia da Cacau Show, desde que
seja sócio.

2) Magistrados (art. 36, I, Lei Complementar n. 35/1977 – Lei Orgânica da Magistratura)


nos mesmos moldes da limitação imposta aos membros do Ministério Público;

LOM, Art. 36 - É vedado ao magistrado:


I - exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, inclusive de
economia mista, exceto como acionista ou quotista;

3) Membros da Defensoria Pública (art. 46, IV, da LC 80/94 - DPU; art. 91, IV da LC 80/94
– DPDFT; art. 130, IV – DPE) mesmos moldes do MP e Magistratura.

Art. 46. Além das proibições decorrentes do exercício de cargo público, aos
membros da Defensoria Pública da União é vedado
IV - Exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, exceto como
cotista ou acionista

Art. 91. Além das proibições decorrentes do exercício de cargo público, aos
membros da Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios é
vedado:
IV - Exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, exceto como
cotista ou acionista;

Art. 130. Além das proibições decorrentes do exercício de cargo público, aos
membros da Defensoria Pública dos Estados é vedado:
IV - Exercer o comércio ou participar de sociedade comercial, exceto como
cotista ou acionista;

4) Empresários falidos, enquanto não forem reabilitados (Lei de Falências, art. 102);

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 40

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
LF, Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade
empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que extingue
suas obrigações, respeitado o disposto no § 1o do art. 181 desta Lei.
Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao
juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro.

5) Leiloeiros (art. 36 do Decreto n° 21.891/32 – proíbe os leiloeiros de exercerem a empresa


direta ou indiretamente, bem como constituir sociedade empresária, sob pena de
destituição);

Decreto n° 21.891/32 - Art. 36. É proibido ao leiloeiro:


a) sob pena de destituição:
1º, exercer o comércio direta ou indiretamente no seu ou alheio nome;
2º, constituir sociedade de qualquer espécie ou denominação;
3º, encarregar-se de cobranças ou pagamentos comerciais;

6) Pessoas condenadas à pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos
públicos, ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão,
peculato ou contra a economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as
normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a
propriedade, enquanto perdurarem os efeitos da condenação;

7) Servidores públicos civis da ativa (Lei 1.711/52) e servidores federais (Lei 8.112/90,
art.117, X, inclusive Ministros de Estado e ocupantes de cargos públicos comissionados
em geral). É importante observar que o funcionário público pode participar como sócio
cotista, comanditário ou acionista, sendo obstada a função de administrador;

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/AP (2022) Caso um servidor militar da ativa exerça atividade própria de
empresário, todos os atos relacionados à empresa serão declarados nulos
pelo juiz, porém ele responderá pelas obrigações contraídas até dois anos
seguintes da data de sua prática. Errada!

CESPE – TRF2: Os funcionários públicos estão proibidos de exercer


atividade empresarial, de acordo com a CF e normas específicas; contudo, a
proibição diz respeito ao efetivo exercício da atividade empresarial, não
existindo restrição quanto ao fato de o funcionário público ser simplesmente
acionista ou quotista de sociedade empresária. Correto!

8) Servidores militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias Militares (Código Penal
Militar, arts. 180 e 204 e Decreto-Lei nº 1.029/69; arts 29 e 35 da lei nº 6.880/80), neste
caso, também poderão integrar sociedade empresário, na qualidade de cotista ou
acionista, sendo obstada a função de administrador;

9) Os deputados e senadores não poderão ser proprietários, controladores ou diretores de


empresa, que goze de favor decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito
público, nem exercer nela função remunerada ou cargo de confiança, sob pena de perda
do mandato – (arts. 54 e 55 da Constituição Federal).

Conforme bem observa Ricardo Negrão, a lei não inclui alguns outros agentes políticos,
como o Presidente da República, ministros de Estado, secretários de Estado e prefeitos
municipais, no âmbito do Poder Executivo, mas menciona as mesmas restrições dos

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 41

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senadores e deputados federais aos deputados estaduais e vereadores (art.29, IX, da
Constituição Federal). Ademais, o prestigiado autor também afirma que por se tratar de
norma de caráter restritivo, não há como estender a relação para englobar esses outros
agentes políticos, quando a lei, podendo fazê-lo, não o fez.
A esses membros do Executivo a lei não restringiu o exercício da atividade empresarial,
e, assim, não cabe ao intérprete incluí-los na proibição, sob pena de estabelecer privação
de direito não prevista em lei. Observa-se, contudo, que seus atos de administração
deverão pautar-se pelos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e demais regras previstas no art. 37 da CF. Ao contratar, portanto, aplicam-
se-lhe as mesmas restrições do art. 54, II, da CF.
Art. 54. Os Deputados e Senadores não poderão:
II - Desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor
decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer
função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis "ad nutum", nas
entidades referidas no inciso I, "a";
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se
refere o inciso I, "a";
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo

10) Estrangeiro (com visto permanente), para o exercício das seguintes atividades: pesquisa
ou lavra de recursos minerais ou de aproveitamento dos potenciais de energia hidráulica;
atividade jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens, com recursos
oriundos do exterior; atividade ligada, direta ou indiretamente, à assistência à saúde no
País, salvo nos casos previstos em lei; serem proprietários ou armadores de embarcação
nacional, inclusive nos serviços de navegação fluvial e lacustre, exceto embarcação de
pesca; serem proprietários ou exploradores de aeronave brasileira ressalvada o disposto
na legislação específica.

Entenda-se bem: empresário não é quem, pessoalmente, produz os bens ou presta os


serviços. Empresário é quem organiza a atividade de produção ou circulação de bens ou serviços.
ORGANIZAÇÃO é a palavra-chave do conceito. Para realizá-la, ele dispõe de determinado capital,
vale-se da contratação de empregados ou de prestadores de serviço, utiliza insumos e emprega
tecnologia.

Numa grande indústria automobilística, por exemplo, empresários não são os metalúrgicos
responsáveis por operar as imensas prensas ou soldas, e assim produzir os carros. Empresário é
a pessoa física ou jurídica que os contratou, que adquiriu as máquinas e os insumos, que escolheu
a tecnologia utilizada e que é, portanto, quem organiza a atividade humana da produção dos
veículos.

OBS: a proibição para o exercício de empresa não se estende, a


princípio, para ser sócio de sociedades empresárias, afinal quem
exerce neste caso é a PJ. Entretanto, a possibilidade de participarem
de sociedades empresárias não é absoluta, somente pode ocorrer se
forem sócios de responsabilidade limitada e não exercerem funções
de gerência e administração.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 42

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7.3. RESPONSABILIDADE DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL

A responsabilidade do empresário individual é ilimitada. Ou seja, a pessoa do empresário


individual responde, com seus bens pessoais, por dívidas empresariais contraídas, em respeito ao
Princípio da Unidade Patrimonial.

SITUAÇÃO HIPOTÉTICA: Imagine que João da Silva, empresário individual, possui um posto
de gasolina. Sem sombra de dúvidas, o posto possui bens (bomba de gasolina, equipamentos,
maquinários, imóvel em que se localiza), destinados à sua atividade. Igualmente, João da Silva
possui bens particulares, a exemplo de imóveis, veículos, ações, ouro. Diante da crise, o posto
de gasolina não consegue pagar as dívidas no prazo que foi contratado. O credor poderá pegar
os bens destinados ao posto de gasolina. Contudo, não sendo suficientes para saldar a dívida,
o credor poderá requerer que a cobrança recaia sobre os bens particulares de João da Silva,
tendo em vista que sua responsabilidade é ilimitada.

A ordem de preferência (benefício de ordem), primeiro os bens do posto, depois bens de


João da Silva, não está prevista no CC. Mas podemos utilizar o Enunciado 5 da I Jornada de Direito
Comercial (IJDCom).

Enunciado 5 IJDCom: Quanto às obrigações decorrentes de sua atividade,


o empresário individual tipificado no art. 966 do CC responderá primeiramente
com os bens vinculados à exploração de sua atividade econômica, nos
termos do art. 1.024 do CC.

CC Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados
por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.

Este entendimento deriva do princípio da unidade patrimonial, já que considera que tanto a
pessoa física quanto a pessoa jurídica possuem apenas um patrimônio.

Não se pode, por exemplo, afirmar que João da Silva possui dois patrimônios: um pessoal e
um empresarial, e que as dívidas só poderiam recair sobre o patrimônio empresarial.

O patrimônio é único e irá responder pelas dívidas empresariais e pelas dívidas pessoais.

7.4. EMPRESÁRIO CASADO

Pode o empresário individual casado vender um bem empresarial sem a outorga conjugal?

• Tratando-se de um bem de seu patrimônio pessoal, segue a regra do art. 1.647 do CC.

Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648 (suprimento da outorga via


judicial), nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no
regime da separação absoluta:
I - Alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

• Tratando-se de bens que integram o patrimônio da empresa, será permitida a alienação,


sem necessidade de outorga conjugal, independente do regime de bens.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 43

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga
conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que
integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real.

Art. 979. Além de no Registro Civil, serão arquivados e averbados, no


Registro Público de empresas Mercantis, os pactos e declarações
antenupciais do empresário, o título de doação, herança, ou legado, de
bens clausulados de incomunicabilidade ou inalienabilidade.

Art. 980. A sentença que decretar ou homologar a separação judicial do


empresário e o ato de reconciliação não podem ser opostos a terceiros,
antes de arquivados e averbados no Registro Público de Empresas
Mercantis.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/PI (2019) Em regra, o empresário individual casado sob qualquer regime
matrimonial dependerá de outorga conjugal para alienar imóveis que
integrarem o patrimônio da empresa. Errada!
CESPE – TJ/PR: A empresária casada sob o regime de comunhão universal
não precisa da outorga conjugal para alienar os imóveis que integrem o
patrimônio da empresa. Correto!

FCC – TJ/PB: O empresário casado pode, sem necessidade de outorga


conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que
integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real. Correto!

Atenção para o Enunciado 58, se estes atos não forem devidamente registrados na Junta
Comercial, o empresário não poderá opô-los contra terceiros.

En. 58 da II JDC - O empresário individual casado é o destinatário da norma


do art. 978 do CC e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar
de ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista
prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel ao
patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a consequente
averbação do ato à margem de sua inscrição no registro público de empresas
mercantis

8. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA - EIRELI

8.1. NOÇÕES GERAIS

A EIRELI era uma forma de pessoa jurídica composta por uma só pessoa física.
Tratava-se de uma espécie de pessoa jurídica unipessoal autônoma e que apresentava,
portanto, personalidade jurídica e patrimônio distintos daquele titularizado pela pessoa física que
explora a atividade em questão.
Consistia em uma técnica de limitação dos riscos empresariais em benefício dos
empreendedores individuais.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 44

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A EIRELI foi criada pela Lei nº 12.441/2011, que acrescentou o art. 980-A ao Código Civil, o
qual foi revogado pela MP 1.085/2021, posteriormente convertida em lei (Lei n. 14.382/2022).
Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada será constituída
por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente
integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo
vigente no País.
§ 1º O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão
"EIRELI" após a firma ou a denominação social da empresa individual de
responsabilidade limitada.
§ 2º A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade
limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa
modalidade.
§ 3º A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá
resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num
único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração.
§ 4º ( VETADO).
§ 5º Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada
constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração
decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome,
marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à
atividade profissional.
§ 6º Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que
couber, as regras previstas para as sociedades limitadas
§7º Somente o patrimônio social da empresa responderá pelas dívidas da
empresa individual de responsabilidade limitada, hipótese em que não se
confundirá, em qualquer situação, com o patrimônio do titular que a constitui,
ressalvados os casos de fraude.

Os primórdios das pessoas jurídicas sempre estiveram ligados à ideia de coletividade


(Orlando Gomes justificava a existência das pessoas jurídicas afirmando que o ser humano é
gregário por natureza), no entanto, essa noção não é mais verdadeira. Como dito, a EIRELI era
uma pessoa jurídica formada por uma única pessoa natural, que a compõe.
Antes da EIRELI, se "José" quisesse abrir uma loja no centro da cidade para vender
vestuário, ele teria duas opções:
1ª) explorar essa atividade econômica como empresário individual;
2ª) encontrar um outro indivíduo para ser seu sócio e constituir uma sociedade empresária.
A desvantagem de explorar como empresa no individual era o fato de que "José" iria
responder com seus bens pessoais e de forma ilimitada por todas as dívidas que contraísse na
atividade econômica.
Tal situação fazia com que muitas pessoas arranjassem um "laranja" para figurar como sócio
em uma sociedade limitada, normalmente com capital social de 1%. Obviamente que tal realidade
não era simples nem correta, servindo como desestímulo à livre iniciativa.

8.2. REQUISITOS

Os requisitos para a constituição da EIRELI eram os seguintes:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 45

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a) Uma única pessoa natural, que é o titular da totalidade do capital social;

b) O capital social deve estar devidamente integralizado;

c) O capital social não pode ser inferior a 100 (cem) vezes o salário-mínimo;

d) A pessoa natural que constituir EIRELI somente poderá figurar em uma única empresa
dessa modalidade. Assim, para evitar fraudes, ninguém pode ser titular de duas empresas
individuais de responsabilidade limitada.

8.3. VANTAGEM DA EIRELI

Com a criação da EIRELI no art. 980-A, o indivíduo passou a conseguir, sozinho, constituir
uma pessoa jurídica para desempenhar sua atividade empresarial, com a vantagem de que, na
EIRELI, a responsabilidade pelas dívidas era limitada ao valor do capital social.

8.4. CRIAÇÃO DA SOCIEDADE UNIPESSOAL E ESVAZIAMENTO DA FUNÇÃO DA EIRELI

Sociedade unipessoal é aquela formada por um só sócio que detém a totalidade do capital
social.

A figura da sociedade unipessoal é admitida em alguns países do mundo.

É possível a existência de sociedade unipessoal no Brasil?

Antes da Lei nº 13.874/2019: NÃO Depois da Lei nº 13.874/2019: SIM


Como regra, havia a necessidade de dois A Lei nº 13.874/2019 acrescentou dois
ou mais sócios. parágrafos ao art. 1.052 do CC prevendo
a possibilidade de a sociedade limitada
A doutrina apontava a existência de três ser composta por um único sócio:
exceções muito peculiares:
Art. 1.052. (...)
1) sociedade subsidiária integral (art. 251,
§ 2º, da Lei nº 6.404/76); § 1º A sociedade limitada pode ser
constituída por 1 (uma) ou mais pessoas.
2) empresa pública unipessoal.
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao
3) sociedade limitada que ficou com documento de constituição do sócio
apenas um sócio, situação que podia único, no que couber, as disposições
durar por, no máximo, 180 dias (art. sobre o contrato social.
1.033, IV, do CC – atualmente revogado).

Assim, a Lei nº 13.874/2019 previu a possibilidade de ser, livremente, criada a sociedade


limitada unipessoal. Vale ressaltar que, com a criação da sociedade limitada unipessoal, a EIRELI
perdeu praticamente toda a sua importância e, na prática, passou a não mais ser adotada.

Recentemente, inclusive, houve revogação expressa desta modalidade com a Lei nº 14.382,
de 2022.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 46

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Como o tema foi cobrado em concurso?
DPE/MT (2022) Luan deseja abrir uma empresa na área de soldagem e
procurou a Defensoria Pública para orientações acerca de sua
responsabilidade no tocante a eventuais dívidas cíveis da pessoa jurídica. Ele
afirmou que não possui outro interessado em ser sócio. Nessa situação
hipotética, Luan deverá ser orientado no sentido de que é possível a criação
de sociedade limitada constituída por apenas uma pessoa, ocasião em que,
via de regra, sua responsabilidade estará restrita ao valor de sua quota, desde
que o capital social esteja integralizado. Correta!

PGE/AM (2022) A sociedade limitada unipessoal é pessoa jurídica de direito


privado, podendo ter prazo de duração determinado ou indeterminado.
Correta!

PGE/GO (2021) Cláudio pescava num rio quando, ao observar as belas


paisagens do lugar, teve a ideia de constituir uma empresa, sob a forma de
sociedade limitada, para explorar o turismo na região. De acordo com o
Código Civil, essa sociedade poderá ser constituída apenas por Cláudio,
dado que a pluralidade de sócios não constitui exigência para a constituição
de sociedade limitada. Correta!

8.5. TRANSFORMAÇÃO DAS EIRELIS EM SOCIEDADES UNIPESSOAIS

Diante do modelo que caiu em desuso – e sua posterior revogação expressa, o legislador
resolveu simplificar o panorama e decidiu transformar todas as EIRELIs ainda existentes em
sociedades unipessoais. Confira o art. 41 da Lei nº 14.195/2021:

Art. 41. As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes na


data da entrada em vigor desta Lei serão transformadas em sociedades
limitadas unipessoais independentemente de qualquer alteração em seu ato
constitutivo.
Parágrafo único. Ato do Drei disciplinará a transformação referida neste
artigo.

8.6. REVOGAÇÃO DO INCISO IV DO ART. 1.033 DO CÓDIGO CIVIL

O inciso IV do art. 1.033 do Código Civil previa que se uma sociedade – que originalmente
tivesse pluralidade de sócios – ficasse com apenas um sócio (ex: os demais morreram), esta
sociedade deveria se regularizar – com a entrada de novos sócios – em um prazo de até 180 dias.
Caso não fizesse isso, tal sociedade deveria ser dissolvida, salvo se fosse transformada em uma
EIRELI. Veja:

Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:


(...)
IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e
oitenta dias;
(...)
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio
remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as quotas da
sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 47

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Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário
individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada,
observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.

Essa regra existia porque no Brasil não se admitia sociedade unipessoal.

Ocorre que, com a autorização dada pela Lei nº 13.874/2019 para que exista sociedade
unipessoal, essa regra prevista no inciso IV deixou de ter sentido. Ora, se uma sociedade, que era
composta por pluralidade de sócios, passou a contar com apenas um único sócio, ela deve se tornar
uma sociedade unipessoal, não havendo motivo para que seja dissolvida.

Assim, a Lei nº 14.195/2021 – corretamente – decidiu revogar o inciso IV e o parágrafo único


do art. 1.033 do Código Civil.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/PR (2021): A sociedade simples dissolve-se quando ocorrer a falta de
pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias.
Errada!

9. OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO

Antes de analisarmos cada uma das obrigações, é pertinente salientar que deverão ser
cumpridas pelo empresário individual e pela sociedade empresária.

9.1. REGISTRO

9.1.1. Previsão legal e órgão encarregado

Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de


Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

O art. 967 do CC prevê que o empresário deve se inscrever no Registro Público de Empresas
Mercantis, antes mesmo do início da atividade.

Esse Registro Público de Empresas, estruturado de acordo com a Lei 8.934/94 (LRE – Lei de
Registros Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins), é dividido em dois órgãos:

1) DREI (Departamento de Registro Empresarial e Integração) – órgão central do SINREM:


Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis): É um órgão federal, de caráter
normatizador e fiscalizador.

2) Junta Comercial: É um órgão estadual, de caráter executor. É na junta comercial que se


procede ao registro do empresário

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 48

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DREI (ANTIGO DNRC) JUNTAS COMERCIAIS
➢ O departamento de Registro Empresarial e ➢ Em cada Estado-membro existe uma Junta
Integração (DREI) é o órgão central do sistema Comercial (chamada de órgão local” do sistema
e fica localizado em Brasília; de Registro de Empresas Mercantis);

➢ Trata-se de órgão federal, ligado à Secretaria da ➢ Trata-se de órgão vinculado e mantido pelo
Micro e Pequena Empresa da Presidência da Governo do Estado;
República;
➢ Tem a função de executar e administrar os
➢ A principal função do DREI é a de estabelecer serviços relacionados com o registro das
normas que devem ser observadas no registro empresas. É quem, na prática registra os
das empresas, supervisionando e coordenando empresários e as sociedades empresárias,
essas regras, do plano técnico. cumprindo regramento estabelecido pelo DNRC.

➢ Vale ressaltar que o DREI substituiu o antigo


DNRC (Departamento Nacional de Registro do
Comércio).

A junta comercial tem subordinação hierárquica híbrida:


a) Subordinação técnica: Em questões de Direito Comercial se subordina ao DREI
(órgão federal).

b) Subordinação administrativa: Em questões de Direito Administrativo e Financeiro


subordina-se ao Governo do Estado. Ou seja, quem paga o salário de quem trabalha
na Junta Comercial é o estado.

Conforme entendimento do STF, contra ato denegatório de registro na Junta Comercial, cabe
a impetração de MS junto à Justiça Federal, dada a vinculação técnica da Junta ao DREI, órgão
federal. Em outras palavras, o ato de registro diz respeito ao aspecto técnico, e sendo a Junta
subordinada tecnicamente ao órgão federal, a impetração deve ser na JF.

Estado
DREI ( âmbito federal, (subordinação
normativa e fiscalizadora administrativa
– subordinação técnica)

Junta Comercial

De quem é a competência para processar e julgar crimes envolvendo a Junta


Comercial?
As juntas comerciais subordinam-se administrativamente ao Governo Estadual e,
tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do Comércio (órgão federal). Os crimes
envolvendo a Junta Comercial somente serão de competência da Justiça Federal se houver ofensa
DIRETA a bens, serviços ou interesses da união, conforme art. 109. IV, CF/88. Nos demais casos,

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 49

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a competência será da Justiça Estadual. STJ. 3ª Seção. CC 130.516-SP. Rel. Min. Rogério Schietti
Cruz, julgado em 26/02/2014. INFORMATIVO 536-STJ – Competência.

9.1.2. Atos de registro

1) Matrícula: Ato de inscrição dos profissionais de atividades “paracomerciais”. Se refere a


alguns profissionais específicos. Grosso modo: regula algumas profissões.

2) Arquivamento: Ato de inscrição do empresário individual, bem como atos de inscrição,


dissolução e alteração das sociedades empresárias, cooperativas, consórcios de empresas,
grupos de sociedades, empresas mercantis estrangeiras, assim como declarações de
microempresa e de empresas de pequeno porte.

3) Autenticação: É ligada aos demais instrumentos de escrituração, são os livros comerciais e


as fichas escriturais. Requisito extrínseco de validade da escrituração.

Art. 1.154 CC: ato sujeito a registro não pode ser oposto a terceiros antes do
cumprimento das formalidades exigidas, salvo se houver prova que o terceiro
o conhecia.

Atividades “Paracomerciais” Inscrição individual/sociedade Escrituração de livros e fichas

Matrícula Arquivamento Autenticação

9.1.3. Novo Registro em caso de sucursal, filial ou agência

Cabe observar uma situação muito comum na vida empresarial, qual seja, a instituição de
filiais, sucursais ou agências de uma mesma sociedade empresária. Nestes casos, dispõe o Código
Civil que o empresário que instituir sucursal, filial ou agência, em lugar sujeito à jurisdição de outro
Registro Público de Empresas Mercantis, neste deverá também inscrevê-la, com a prova da
inscrição originária.
Não obstante, prevê ainda que em qualquer caso, a constituição do estabelecimento
secundário deverá ser averbada no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/TO (2022) O empresário que instituir filial em lugar sujeito à jurisdição
de outro registro público de empresas mercantis deverá inscrevê-la também
neste lugar, com a prova da inscrição originária. Porém, a constituição do
estabelecimento secundário deverá ser averbada no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede. Correta!

9.1.4. Exceção ao Registro (art. 971 do CC)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 50

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão,
pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus
parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para
todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste artigo à associação que
desenvolva atividade futebolística em caráter habitual e profissional, caso em
que, com a inscrição, será considerada empresária, para todos os efeitos.
(Incluído pela Lei nº 14.193, de 2021)

Para o empresário rural o registro é facultativo. No entanto, enquanto não é feito o registro,
não recebe tratamento de empresário.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/PR (2019) Conforme o Código Civil, equipara-se à condição de pessoa
empresária um empresário rural cuja principal atividade seja a agricultura e
que esteja devidamente inscrito no Registro Público de Empresas Mercantis.
Correta!

CESPE TJ/PB: A inscrição no registro público de empresas mercantis é


obrigatória ao empresário cuja atividade rural constitua sua principal
profissão. ERRADA!

FCC TJ/AL: Renato, empresário cuja atividade rural constitui sua principal
profissão, tem a faculdade de se inscrever no Registro de Empresas, mesmo
depois de iniciadas as suas atividades. CORRETA!

ATENÇÃO: é questão recorrente em provas a indagação acerca do registro do empresário


rural.

9.1.5. Natureza jurídica do Registro

Para o empresário comum o registro é mera condição de regularidade, conforme os


Enunciados 198 e 199 do Conselho da Justiça Federal. Ou seja, o empresário sem registro não
deixa de ser empresário (o que torna o sujeito empresário é a atividade por ele empreendida), mas
o é de forma irregular, ficando tolhido de uma série de benefícios assegurados aos empresários
regulares, conforme veremos a seguir.
Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.

198 – Art. 967: A inscrição do empresário na Junta Comercial não é requisito


para a sua caracterização, admitindo-se o exercício da empresa sem tal
providência. O empresário irregular reúne os requisitos do art. 966,
sujeitando-se às normas do Código Civil e da legislação comercial, salvo
naquilo em que forem incompatíveis com a sua condição ou diante de
expressa disposição em contrário.

199 – Art. 967: A inscrição do empresário ou sociedade empresária é requisito


delineador de sua regularidade, e não da sua caracterização.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 51

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Como o tema foi cobrado em concurso?
TJ/RS (2022) Conforme o Código Civil, é obrigatória a inscrição do
empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede,
antes do início de sua atividade. Correta!

Entretanto, para o empresário rural o registro tem natureza constitutiva, ou seja, é condição
“sine qua non” para que o sujeito receba o tratamento legal de empresário.
Art. 971. O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão,
PODE, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus
parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da
respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para
todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro.

Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria
de empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um
dos tipos de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968,
requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede,
caso em que, depois de inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à
sociedade empresária.
Parágrafo único. Embora já constituída a sociedade segundo um daqueles
tipos, o pedido de inscrição se subordinará, no que for aplicável, às normas
que regem a transformação.

202 – Arts. 971 e 984: O registro do empresário ou sociedade rural na Junta


Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime
jurídico empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou
sociedade rural que não exercer tal opção.

Portanto, a sociedade rural que não fizer o registro não será sociedade empresarial e sim
sociedade simples. O ‘empresário’ rural não será empresário e sim profissional liberal autônomo.

9.1.6. Inatividade da empresa

O empresário individual e a sociedade empresária que deixavam de proceder a qualquer


arquivamento no prazo de 10 anos, se não comunicassem à Junta que ainda se encontravam em
atividade, eram considerados inativos. A inatividade da empresa autorizava a Junta a proceder ao
cancelamento do registro, perdendo assim, a proteção do nome empresarial pelo titular inativo. A
lei exigia a comunicação da Junta ao empresário antes do cancelamento, atendendo a comunicação
se desfaz a inatividade, não atendendo, efetuava-se o cancelamento do registro, informando o fisco.
Art. 60. A firma individual ou a sociedade que não proceder a qualquer
arquivamento no período de dez anos consecutivos deverá comunicar à junta
comercial que deseja manter-se em funcionamento.
§ 1º Na ausência dessa comunicação, a empresa mercantil será considerada
inativa, promovendo a junta comercial o cancelamento do registro, com a
perda automática da proteção ao nome empresarial.
§ 2º A empresa mercantil deverá ser notificada previamente pela junta
comercial, mediante comunicação direta ou por edital, para os fins deste
artigo.
§ 3º A junta comercial fará comunicação do cancelamento às autoridades
arrecadadoras, no prazo de até dez dias.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 52

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
§ 4º A reativação da empresa obedecerá aos mesmos procedimentos
requeridos para sua constituição.

A Lei 14.195/2021 revogou o art. 60 da Lei 8.934, colocando fim à inatividade das empresas
pela falta de arquivamento.

9.1.7. Consequências da ausência de registro

A ausência de registro gera algumas consequências ao empresário ou sociedade


empresária:
1) Não tem legitimidade para pedir a falência de outro empresário;

2) Não pode requerer a recuperação judicial;

3) Não pode participar de licitação.

4) Tratando-se de sociedade empresária: a responsabilidade do sócio será ilimitada.

Como o tema foi cobrado em prova?


AGU (2015) A sociedade empresária irregular não tem legitimidade ativa para
pleitear a falência de outro comerciante, mas pode requerer recuperação
judicial, devido ao princípio da preservação da empresa. Errada!

9.1.8. Registro da Cooperativa

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade


que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a
registro (art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária
a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

Não se utiliza o critério material previsto no art. 966 CC, mas um critério legal, estabelecido
no 982. A cooperativa é sempre uma sociedade simples, não importa se exerce uma atividade
empresarial de forma organizada com o intuito de lucro.

Desta feita, onde é feito o REGISTRO da cooperativa?

Uma primeira corrente, tradicional do direito brasileiro, com amparo na Lei 5.764/71, bem
como no enunciado 69 da I JDC, afirma que a cooperativa deve ser inscrita na junta comercial. Lei
8934/94, art. 32.
Art. 32. O registro compreende:
I - a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores públicos e
intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais;
II - O arquivamento:
a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção
de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas;
b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata a Lei nº
6.404, de 15 de dezembro de 1976;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 53

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
c) dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a
funcionar no Brasil;
d) das declarações de microempresa;
e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao
Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que
possam interessar ao empresário e às empresas mercantis;
III - a autenticação dos instrumentos de escrituração das empresas mercantis
registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de lei própria.

Enunciado nº69 da CJF: “as sociedades cooperativas são sociedades


simples sujeitas à inscrição nas Juntas Comerciais”.

Uma segunda corrente (defendida por autores como Pablo Stolze, MHD, Paulo Restiffe,
Nilson Reis Júnior, André Ramos Santa Cruz), sustenta que o registro da cooperativa deve ser
feito no CRPJ. Argumentos:
As disposições legais acima devem ser reinterpretadas a partir da entrada em vigor do
CC/02, que atribuiu às cooperativas natureza de sociedade simples, afirmando ainda que as SS
devem ser registradas no CRPJ.
Art. 18 da Lei do Cooperativismo não foi recepcionada pela CF/88, eis que cuida da
autorização estatal para criação das cooperativas, visto que é vedada a intervenção pelo Estado de
acordo com a CF.
Prova objetiva: responder que o registro deve ser feito na Junta Comercial.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/MG (2021) No que a lei for omissa, aplicam-se às sociedades
cooperativas as disposições referentes à sociedade simples, desde que
respeitadas as características da sociedade cooperativa. Correta!

9.2. ESCRITURAÇÃO DOS LIVROS COMERCIAIS OBRIGATÓRIOS

9.2.1. Livros obrigatórios x Livros facultativos

É mais uma obrigação comum a todos empresários. Antes de adentrarmos no tema, cabe
uma diferenciação entre livros obrigatórios e facultativos.
1) Livro obrigatório: Trata-se de exigência legal, cuja inobservância traz consequências
sancionadoras para o empresário, conforme veremos a seguir.

a) Especial: Exigido somente em casos excepcionais. Exemplo: Livro de registro de


duplicatas. Só é obrigado a escriturar esse livro o empresário que emite duplicatas.

b) Comum: Exigido sempre. Atualmente existe apenas um livro obrigatório no Direito


Empresarial brasileiro: trata-se do chamado Livro Diário (Art. 1.180 do CC). Esse
livro pode ser substituído por fichas em caso de escrituração mecanizada ou
eletrônica.

Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário,
que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou
eletrônica.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 54

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2) Livro facultativo: Aquele que não está exigido em lei. A não escrituração não gera
qualquer consequência. Exemplo: Livro Caixa e Livro conta corrente.

9.2.2. Consequências da não escrituração do Livro Diário

A não escrituração ou a irregularidade da escrituração sujeita o empresário a sanções de


órbita civil e penal, mas no campo empresarial não sofre nenhuma sanção.
Na órbita civil, a consequência mais severa é que o empresário não terá direito a eficácia
probatória que o Código de Processo Civil dá aos livros empresariais (art. 418 do CPC/2015); na
esfera penal, essa ausência ou irregularidade na escrituração de livro obrigatório está sintetizada
no art. 178 da Lei de Falências, podendo constituir crime falimentar (isso somente no caso de ele
entrar em crise e for decretada falência).
CPC Art. 418. Os livros empresariais que preencham os requisitos exigidos
por lei provam a favor de seu autor no litígio entre empresários.

Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da


sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial ou
homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de
escrituração contábil obrigatórios:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui
crime mais grave.

Vale lembrar ainda que a falsificação do livro diário configura crime de falsificação de
documento público, conforme previsão do art. 297 do CP, § 2º.
Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar
documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
§ 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado
de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as
ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular.

Por fim, de acordo com o art. 417 do CPC, os livros serão provas contra o empresário.
Art. 417. Os livros empresariais provam contra seu autor, sendo lícito ao
empresário, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito,
que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/BA (2019) Em relação à eficácia probatória ou força probante dos livros
mercantis obrigatórios de um empresário, é correto afirmar que os dados
constantes da escrituração mercantil criam uma presunção relativa de
veracidade a favor de um litigante quando este fizer prova contra o
empresário. Correta!

9.2.3. Dispensados da escrituração

O pequeno empresário está dispensado da escrituração (1.179, § 2º do CC).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 55

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Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir
um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração
uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação
respectiva, e a levantar anualmente o BALANÇO PATRIMONIAL e o de
RESULTADO ECONÔMICO.
§ 2o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que
se refere o art. 970.

Art. 970. A lei assegurará tratamento favorecido, diferenciado e simplificado


ao empresário rural e ao PEQUENO EMPRESÁRIO, quanto à inscrição e aos
efeitos daí decorrentes.

OBS: A Lei Complementar 123/06, em seu art. 3º estabelece que


MICROEMPRESA (ME) será quando auferir receita bruta anual igual
ou inferior a R$ 360.000,00 e EMPRESA DE PEQUENO PORTE
(EPP) quando auferir receita bruta anual superior a R$ 360.000,00 e
igual ou inferior a R$ 4.800.000,00.

Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se


microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária, a
sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada e o
empresário a que se refere o art. 966 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro de Empresas
Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o caso, desde
que:
I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita bruta
igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais); e
II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário,
receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual
ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais).

Mas aqui não se trata de ME ou EPP e sim, PEQUENO EMPRESÁRIO.


No entanto, o conceito e características de pequeno empresário estão disciplinados nos arts.
68 c/c 18 – A, ambos da LC 123/06, que sofreu alterações pela LC 139/11, pela LC 147/14 e LC
155/2016
Art. 68. Considera-se PEQUENO EMPRESÁRIO, para efeito de aplicação do
disposto nos arts. 970 e 1.179 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002
(Código Civil), o EMPRESÁRIO INDIVIDUAL caracterizado como
microempresa na forma desta Lei Complementar que aufira receita bruta
anual até o limite previsto no § 1o do art. 18-A.

Art. 18-A. O Microempreendedor Individual - MEI poderá optar pelo


recolhimento dos impostos e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional
em valores fixos mensais, independentemente da receita bruta por ele
auferida no mês, na forma prevista neste artigo.
§ 1º Para os efeitos desta Lei Complementar, considera-se MEI quem tenha
auferido receita bruta, no ano-calendário anterior, de até R$ 81.000,00
(oitenta e um mil reais), que seja optante pelo Simples Nacional e que não
esteja impedido de optar pela sistemática prevista neste artigo, e seja
empresário individual que se enquadre na definição do art. 966 da Lei nº

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 56

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10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), ou o empreendedor que
exerça:
I - as atividades de que trata o § 4º-A deste artigo;
II - as atividades de que trata o § 4º-B deste artigo estabelecidas pelo CGSN;
e
III - as atividades de industrialização, comercialização e prestação de serviços
no âmbito rural.

Conclusão: só pode ser Pequeno Empresário, chamado de Microempreendedor Individual


(MEI), a Pessoa Física (empresário individual) que aufira receita bruta, no ano calendário anterior,
de até R$ 81.000,00 ou que empreenda nas atividades de (novidade trazida pela LC 188/2021):
• industrialização, comercialização e prestação de serviços no âmbito rural;
• comercialização e processamento de produtos de natureza extrativista;
• O CGSN (Comitê Gestor do Simples Nacional) determinará as atividades autorizadas a
optar pela sistemática de recolhimento de que trata este artigo, de forma a evitar a
fragilização das relações de trabalho, bem como sobre a incidência do ICMS e do ISS.

➔ Esquematizando:
EMPRESA DE PEQUENO MICROEMPREENDEDOR
MICROEMPRESA (ME)
PORTE (EPP) INDIVIDUAL (MEI)
Pode ser: Pode ser:
- Empresário individual; - Empresário Individual APENAS o empresário
- Sociedade Empresária; - Sociedade Empresária individual.

- Sociedade Simples - Sociedade Simples


Igual ou inferior a R$ Superior a R$ 360.000,00 e
Igual ou inferior R$ 81.000,00
360.000,00 igual ou inferior 4.800.000,00.

9.2.4. Princípio da sigilosidade

Os livros comerciais são regidos pelo princípio da sigilosidade (art. 1.190 do CC), não
podendo ser feita a exibição deles por simples vontade das partes ou por decisão do juiz que não
esteja dentre as hipóteses previstas em lei. A intenção do sigilo é evitar concorrência desleal.
Art. 1.190. Ressalvados os casos previstos em lei, nenhuma autoridade, juiz
ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para
verificar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em
seus livros e fichas, as formalidades prescritas em lei.

Exceções à sigilosidade:
a) Exibição PARCIAL do livro: Extração de pequena parte do livro que interessa ao juízo e
restituição imediata do livro ao empresário. É possível em qualquer ação judicial,
podendo ser decretada de ofício. Nesse sentido:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 57

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Súmula 260 do STF - O exame de livros comerciais, em ação judicial, fica
limitado às transações entre os litigantes.

CPC - Art. 421. O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a exibição parcial dos
livros e dos documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao litígio,
bem como reproduções autenticadas.

b) Exibição TOTAL (INTEGRAL) do livro: Retenção do livro em cartório durante andamento


da ação, não se assegurando o sigilo de seus dados e dificultando o acesso do
empresário. Só é possível nas hipóteses do art. 1.191 do CC, mediante requerimento
das partes. Não pode o juiz de ofício (art. 420 CPC).

Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e papéis
de escrituração quando necessária para resolver questões relativas a
sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de
outrem, ou em caso de falência.

Art. 420. O juiz pode ordenar, a requerimento da parte, a exibição integral


dos livros empresariais e dos documentos do arquivo:
I - na liquidação de sociedade;
II - na sucessão por morte de sócio;
III - quando e como determinar a lei.

c) Autoridades fazendárias: Art. 1.193 do CC, in verbis:

Art. 1.193. As restrições estabelecidas neste Capítulo ao exame da


escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades
fazendárias, no exercício da FISCALIZAÇÃO do pagamento de impostos
(TRIBUTOS), nos termos estritos das respectivas leis especiais.

Uma vez exibido em juízo, o livro possui a carga probatória conferida pelo art. 417 e 418 do
CPC, podendo ser usado tanto a favor como contra o seu titular (princípio da comunhão da prova).
Art. 417. Os livros empresariais provam contra seu autor, sendo lícito ao
empresário, todavia, demonstrar, por todos os meios permitidos em direito,
que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos.

Art. 418. Os livros empresariais que preencham os requisitos exigidos por lei
provam a favor de seu autor no litígio entre empresários.

Como o tema foi cobrado em concurso?


Vunesp TJ/SP (2015) Quando preencherem os requisitos legais, os livros
contábeis fazem prova a favor de seu titular, nos litígios entre empresários.
Correta!

9.2.5. Consequências da ausência de apresentação dos livros

Caso o empresário negue-se a apresentar os livros, após a determinação do juiz, haverá


busca e apreensão, bem como haverá presunção relativa de veracidade do que for alegada pela
parte contrária, nos termos do art. 1.192 do CC.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 58

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Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo
antecedente, serão apreendidos judicialmente e, no do seu § 1 o, ter-se-á
como verdadeiro o alegado pela parte contrária para se provar pelos livros.
Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por prova
documental em contrário.

9.3. REALIZAÇÃO DE DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS PERIÓDICOS

O empresário é obrigado a fazer dois tipos de balanço:


1) Balanço Patrimonial (1.188 CC) – apura o ativo e o passivo (que compreende todos os
bens, débitos e créditos da empresa). “PAssivo”

Art. 1.188. O BALANÇO PATRIMONIAL deverá exprimir, com fidelidade e


clareza, a situação real da empresa e, atendidas as peculiaridades desta,
bem como as disposições das leis especiais, indicará, distintamente, o ativo
e o passivo.
Parágrafo único. Lei especial disporá sobre as informações que
acompanharão o balanço patrimonial, em caso de sociedades coligadas.

2) Balanço econômico (1.189 CC) – apura o resultado, ou seja, a conta dos lucros e perdas.

Art. 1.189. O BALANÇO DE RESULTADO ECONÔMICO, ou demonstração


da conta de lucros e perdas, acompanhará o balanço patrimonial e dele
constarão crédito e débito, na forma da lei especial.

9.4. MANTER EM BOA GUARDA E CONSERVAÇÃO A ESCRITURAÇÃO E


DOCUMENTAÇÃO

CC, Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a


conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais
papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou
decadência no tocante aos atos neles consignados.

9.5. ESQUEMA GRÁFICO

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 59

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Especiais Ex: Livro de duplicadas
Obrigatórios

Comum Obrigatório: Livro diário


Escrituração dos Livros Comerciais
v

Facultativos Ex: Livro conta corrente, Livro Caixa

Exceção: MEI (até


R$81.000,00).

Balanço patrimonial – ativo/passivo

Demonstrativos Periódicos

Balanço econômico - resultado

EXCEÇÕES:

*Exibição total (provocada)


P. da Sigilosidade
*Exibição parcial (ofício)

*Autoridades fazendárias
(tributo)

10. NOME EMPRESARIAL

10.1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL

O art. 5º, XXIX consagra a proteção ao nome empresarial.


Art. 5º, XXIX - a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio
temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à
propriedade das marcas, AOS NOMES DE EMPRESAS e a outros signos
distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico
e econômico do País;

10.2. CONCEITO

É o elemento de identificação do empresário individual e da sociedade empresária.

10.3. ESPÉCIES

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 60

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O art. 1.155 do CC traz duas espécies e diz que o nome empresarial pode ser na modalidade
de firma ou denominação. A firma se subdivide em firma individual e firma social.
Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação
adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa.
Parágrafo único. Equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da
proteção da lei, a denominação das sociedades simples, associações e
fundações.

1) FIRMA

a) Individual: Só o empresário individual.

b) Social (Razão Social): Sociedade empresária, em que os sócios têm


responsabilidade ilimitada.

2) DENOMINAÇÃO: sociedade empresária, em que os sócios têm responsabilidade


limitada.

3) CNPJ como nome empresarial. O empresário individual e a sociedade empresária


precisam ter um nome empresarial, que é a expressão que os identifica em suas relações
jurídicas.
A Lei 14.195/2021 também alterou a obrigatoriedade da indicação do objeto social no nome
empresarial DENOMINAÇÃO.
Assim, a firma DEVE conter o nome do empresário e PODE ter a designação do gênero de
atividade; a denominação PODE ter a designação da atividade e PODE ter um nome (homenagem)
ou um elemento fantasia.

10.4. FIRMA

10.4.1. Composição da firma individual

Obrigatório: Nome do empresário (completo ou abreviado).


Facultativo: Acrescentar uma designação mais precisa de sua pessoa ou do gênero de
atividade.
Exemplo: A. Barros, o anjinho barroco, comércio de miniaturas.
Art. 1.156. O empresário opera sob firma constituída por seu nome,
completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa
da sua pessoa ou do gênero de atividade.

10.4.2. Composição da firma social (razão social)

Obrigatório: Nome (s) do (s) sócio (s) somente. Só pode conter na firma social nome de
sócio, ou seja, não pode haver designação mais precisa da pessoa. Exemplo: Pedro Henrique e
Rogério Faustino; P. Henrique e R. Faustino; R. Henrique e CIA.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 61

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Facultativo: Colocação de designação da atividade executada. A essa designação a doutrina
dá o nome de ramo de atividade ou designação do objeto social.

OBS: A expressão CIA significa que tem outros sócios na sociedade,


mas SOMENTE se utiliza no fim do nome empresarial.
Se colocar CIA no início ou no meio do nome empresarial muda todo
o sentido. Vai significar que se trata de uma SOCIEDADE ANÔNIMA.
Exemplo: CIA Vale do Rio Doce.

A firma social só é aplicada às sociedades com sócios com responsabilidade ILIMITADA


(art. 1.157).
Exemplo: Sociedade em nome coletivo, os sócios que respondem com seu próprio
patrimônio pelo passivo da sociedade.
Exceção: A sociedade limitada (apesar de ser de responsabilidade limitada) também pode
usar a firma social (além de poder usar a denominação). Sempre deverá trazer ao final do nome a
expressão limitada (art. 1.158).
Art. 1.157. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada
operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar,
bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a expressão "e
companhia" ou sua abreviatura.
Parágrafo único. Ficam solidária e ilimitadamente responsáveis pelas
obrigações contraídas sob a firma social aqueles que, por seus nomes,
figurarem na firma da sociedade de que trata este artigo.

Art. 1.158. Pode a sociedade LIMITADA adotar firma ou denominação,


integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura.

10.5. DENOMINAÇÃO

10.5.1. Composição da denominação

Regra geral: Designação do nome através de uma “Expressão linguística” (elemento


fantasia). Exemplo: Globex; Fandangos, OMO, Samsung.
Facultativo: Inserção do ramo da atividade ou objeto social (art. 1.158, §2º).
Exemplo: Globex distribuidora de alimentos.
A Lei 14.382 alterou o caput do art. 1.160 do CC.
• Antes: na denominação da sociedade anônima e da sociedade em comandita por ações
(quando esta adotasse denominação), era obrigatório que constasse a designação do
objeto social.

• Agora: a menção ao objeto social é facultativa.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 62

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CÓDIGO CIVIL
Antes da Lei 14.382/2022 Depois da Lei 14.382/2022
Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob
denominação designativa do objeto social, denominação, integrada pelas expressões
integrada pelas expressões "sociedade ‘sociedade anônima’ ou ‘companhia’, por
anônima" ou "companhia", por extenso ou extenso ou abreviadamente, facultada a
abreviadamente. designação do objeto social.
Parágrafo único. Pode constar da Parágrafo único. Pode constar da
denominação o nome do fundador, denominação o nome do fundador,
acionista, ou pessoa que haja concorrido acionista, ou pessoa que haja concorrido
para o bom êxito da formação da empresa. para o bom êxito da formação da empresa.
Art. 1.161. A sociedade em comandita por Art. 1.161. A sociedade em comandita por
ações pode, em lugar de firma, adotar ações pode, em lugar de firma, adotar
denominação designativa do objeto social, denominação, aditada da expressão
aditada da expressão “comandita por ‘comandita por ações’, facultada a
ações”. designação do objeto social.

É possível colocar nome de sócio na denominação?


Excepcionalmente, pode na S/A, conforme o art. 1.160, parágrafo único. Como forma de
homenagem.
Parágrafo único. pode constar da denominação o nome do fundador,
acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da
empresa.

A DENOMINAÇÃO só é utilizada quando se tratar de sociedade com responsabilidade


LIMITADA. Exemplo: Sociedade LTDA e Sociedade Anônima.
A S/A (sempre limitada) só pode ter denominação.
A LTDA (sempre limitada) é exceção, pois tem tanto denominação quanto firma social, como
vimos acima.
A sociedade em comandita por ações é outra exceção: pode ter firma social ou
denominação.

10.6. CNPJ como nome empresarial

Com o objetivo de desburocratizar, a Lei nº 14.195/2021 acrescentou o art. 35-A na Lei nº


8.934/94 dizendo que o empresário ou pessoa jurídica poderá utilizar o CNPJ como nome
empresarial.
Art. 35-A. O empresário ou a pessoa jurídica poderá optar por utilizar o
número de inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) como
nome empresarial, seguido da partícula identificadora do tipo societário ou
jurídico, quando exigida por lei.

10.7. ESQUEMAS

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 63

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FIRMA SOCIAL DENOMINAÇÃO CNPJ
Com responsabilidade Empresário ou
ILIMITADA Com responsabilidade Pessoa jurídica –
SOCIEDADE
Exceção: Sociedade limitada LIMITADA (S/A ou LTDA). responsabilidade
(deve vir ao fim: ‘LTDA’). LIMITADA
Expressão linguística
Nome do empresário ou dos (elemento fantasia) CNPJ como nome
COMPOSIÇÃO empresarial,
sócios. Exceção: Nome do sócio
como homenagem na S/A. seguido da
partícula
É o nome empresarial. Não
identificadora do
pode colocar assinatura É a assinatura pessoal do tipo societário ou
ASSINATURA
pessoal. Deve ser escrito o representante legal. jurídico
nome empresarial.
OBJETO
Facultativo Facultativo
SOCIAL

A sociedade empresária de qualquer tipo que esteja em recuperação judicial deve adotar
também a expressão “em Recuperação Judicial”.

EMPRESÁRIO NOME EMPRESARIAL


Empresário individual Firma individual
Sociedade em nome coletivo e
sociedade em comandita Firma coletiva ou razão social
simples
Sociedade anônima Denominação
Sociedade limitada, sociedade Podem escolher entre firma ou
em comandita por ações denominação
Sociedade em conta de
Não tem nome empresarial.
participação

Para que não restem dúvidas, mais um quadro esquemático.


FIRMA DENOMINAÇÃO
Empresário individual
TEM NÃO TEM
(ilimitada)
Sociedade em comandita
TEM NÃO TEM
simples (ilimitada/limitada)
Sociedade em nome coletivo
TEM NÃO TEM
(ilimitada)
S/A NÃO TEM TEM
Cooperativa NÃO TEM TEM
Sociedade LTDA1 TEM TEM (art. 1.158 do CC)
*Sociedade em comandita por
TEM TEM
ações2

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 64

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Sociedade em conta de
NÃO TEM NÃO TEM
participação3

OBSERVAÇÕES:
A lei concede a possibilidade de adotar denominação.
Deve constar LTDA ou limitada expresamente no nome, sob pena de
responsabilidade.
A lei concede a possibilidade de adotar firma.
A sociedade em conta de participação é chamada de
despersonificada, pois não possui personalidade jurídica. Desta forma,
não poderá ter firma ou denominação.

10.8. PROTEÇÃO AO NOME EMPRESARIAL

A Lei 8.934/94 (Lei de Registro Público de Empresas Mercantis), em seu art. 33, fala que a
proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do registro (ARQUIVAMENTO) do
empresário ou da sociedade empresária no respectivo Registro Público (Junta Comercial).
Art. 33. A proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do
arquivamento dos atos constitutivos de firma individual e de sociedades, ou
de suas alterações.

A proteção do nome empresarial se restringe ao âmbito estadual, uma vez que a junta
comercial é de âmbito estadual, nos termos do art. 1.166 do CC.
Art. 1.166. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas
jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso
exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado.
Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território
nacional, se registrado na forma da lei especial.

Atenção para o parágrafo único do art. 1.166. Não há lei especial, portanto, a proteção se
limita ao nível estadual.
Se o empresário quiser proteger o nome comercial em todas as unidades da federação, deve
fazer o devido registro em todas as respectivas juntas comerciais.
REsp 1686154 / SP. PROPRIEDADE INDUSTRIAL. NOME EMPRESARIAL.
ÂMBITO DE PROTEÇÃO. UNIDADE DA FEDERAÇÃO EM QUE
ARQUIVADOS OS ATOS CONSTITUTIVOS DA SOCIEDADE
EMPRESÁRIA. PREQUESTIONAMENTO. INEXISTÊNCIA. REEXAME DE
FATOS E PROVAS. INADMISSIBILIDADE. 1- Ação distribuída em
26/11/2010. Recurso especial interposto em 3/9/2014 e concluso à Relatora
em 25/8/2016. 2- O propósito recursal é definir se o nome empresarial
adotado e utilizado pelo recorrido viola direitos de propriedade industrial
titulados pelo recorrente. 3- A ausência de decisão acerca das teses
invocadas pelo recorrente impede, quanto a elas, o conhecimento do recurso
especial. 4- O nome empresarial goza de proteção jurídica tão somente
no âmbito do ente federativo onde se localiza a Junta Comercial em que
arquivados os atos constitutivos da sociedade que o titula, podendo ser

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 65

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estendida a todo território nacional apenas na hipótese de pedido de
arquivamento nas demais Juntas Comerciais. Precedentes. 5- Na
espécie, os atos constitutivos das partes foram arquivados em diferentes
entes federativos, não havendo notícia de que o recorrente tenha pleiteado
proteção em todo o território nacional, de modo que sua pretensão de
abstenção de uso não merece prosperar. 6- Ademais, o acórdão recorrido
concluiu que, dada a atividade desempenhada por cada uma das empresas,
a existência simultânea dos nomes empresariais não é capaz de acarretar
confusão e prejuízo aos consumidores. 7- O reexame de fatos e provas em
recurso especial é inadmissível. 8- Recurso especial não provido.

10.9. NOME EMPRESARIAL ≠ MARCA

O NOME EMPRESARIAL é elemento que identifica o empresário ou sociedade, registrado


na junta (proteção estadual).

A MARCA é elemento de identificação de um produto ou serviço, registrada no INPI, e tendo


aplicação a todo o território nacional.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJPR: O registro da marca no Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(INPI) garante, consequentemente, a proteção do nome empresarial,
independentemente do registro deste nas juntas comerciais. Errado! Proteção
do nome pressupõe registro na junta comercial.

TJPR: A proteção conferida ao nome empresarial se exaure nos limites do


estado federado onde fica a junta comercial na qual se fez seu registro, sendo
sua proteção nos demais estados condicionada ao seu registro nas
respectivas juntas comerciais. Correto!

10.10. NOME EMPRESARIAL ≠ TÍTULO DE ESTABELECIMENTO

Nome empresarial (ex.: CIA Brasileira de distribuição) é diferente de título de


estabelecimento (exemplo: Pão de Açúcar). Esse último é o apelido comercial dado a um
estabelecimento empresarial.
Outro exemplo:
Globex distribuição e comércio S/A → Identificação de sociedade → Denominação (pois é
S/A).
Título de estabelecimento → Ponto frio.
Alguns autores costumam chamar o título de estabelecimento de nome fantasia.
Mais um exemplo:
Pedro Almeida e Renata Franco Sorveteria LTDA → Nome empresarial. (Firma social –
exceção Ltda.)
Beijo gelado → Título de estabelecimento.
Produto Panegel® → Marca.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 66

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Como se protege o título de estabelecimento? Não tem proteção. A única proteção legal é
a do art. 195, VI da Lei 9.279/96, que prevê que o uso indevido de título de estabelecimento
configura crime de concorrência desleal. Por isso, que os títulos de estabelecimento são
comumente também registrados como marcas, a fim de serem protegidos indiretamente.

10.11. PRINCÍPIOS DO NOME EMPRESARIAL

O art. 34 da Lei 8.934/94 prevê que o nome empresarial obedecerá aos princípios da
veracidade e da novidade.

Art. 34. O nome empresarial obedecerá aos princípios da veracidade e da


novidade.

10.11.1. Princípio da veracidade (autenticidade)

Impõe que a firma individual ou firma social seja composta a partir do nome do empresário
ou dos sócios, respectivamente. Por conta desse princípio, se um dos sócios morrer, seu nome
deve ser retirado da firma.
Art. 1.165. O nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não
pode ser conservado na firma social.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJAM: Em observância ao princípio da veracidade, o nome do sócio que
falecer não pode ser considerado na firma social. Correto!

Quanto à denominação, esse princípio não se aplica integralmente, haja vista a possibilidade
de as sociedades anônimas levarem o nome de um ex-sócio na denominação como forma de
homenagem.
Se for caso de elemento fantasia (denominação), impõe o referido princípio de que a
expressão linguística não induza o consumidor a erro, guardando, assim, alguma correspondência
do nome para com a atividade desempenhada.

10.11.2. Princípio DA NOVIDADE

Não poderão coexistir, na mesma unidade federativa (estado), dois nomes empresariais
idênticos ou semelhantes, prevalecendo aquele já protegido pelo prévio arquivamento (registro).
Se sobrevier um nome igual ou parecido, cabe àquele que primeiro registrou o nome propor
a chamada ação anulatória de nome empresarial, que segundo o art. 1.167 do CC é
imprescritível.
Art. 1.167. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a
inscrição do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato.

OBS: O nome empresarial, ao contrário do nome civil, não admite


homonímia, nem semelhança que possa causar confusão.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 67

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10.12. CARACTERÍSTICAS

O nome empresarial pode ser objeto de alienação?


Conforme o art. 1.164 do CC, o nome empresarial é INALIENÁVEL → Resposta para
primeira fase.
Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.
Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode,
se o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu
próprio, com a qualificação de sucessor.

No entanto, em caso de alienação de sociedade empresária denominada por elemento


fantasia, não ofenderia o princípio da veracidade a manutenção do nome. Assim sendo, há quem
admita que nesse caso haveria a alienação do nome empresarial.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJMG (2022) O nome empresarial não pode ser objeto de alienação. O
adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se o contrato o
permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a
qualificação de sucessor. Correta!
TJPE: É vedada a alienação do nome empresarial. Correto!

Qualquer interessado pode solicitar o cancelamento da inscrição do nome empresarial, nos


termos do art. 1.168 do CC.
Art. 1.168. A inscrição do nome empresarial será cancelada, a requerimento
de qualquer interessado, quando cessar o exercício da atividade para que
foi adotado, ou quando ultimar-se a liquidação da sociedade que o inscreveu.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJPE: A inscrição do nome empresarial somente será cancelada a
requerimento do seu titular, mesmo quando cessado o exercício da atividade
para que foi dotado. Errado! O requerimento pode ser feito por qualquer
interessado.

O nome empresarial é um direito de personalidade?


O art. 52 do CC estendeu os direitos de personalidade à pessoa jurídica. Doutrina
majoritária: o nome empresarial é um direito de personalidade.
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos
da personalidade

11. ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

11.1. PREVISÃO LEGAL

Previsão legal: Art. 1.142 a 1.149 do CC.


ATENÇÃO: Cai pelo menos uma questão disso em prova. Basta ler esses artigos.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 68

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CC, Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens
organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade
empresária. (Vide Lei nº 14.195, de 2021)

§ 1º O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a


atividade empresarial, que poderá ser físico ou virtual. (Incluído pela Lei nº
14.382, de 2022)

§ 2º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for virtual, o


endereço informado para fins de registro poderá ser, conforme o caso, o
endereço do empresário individual ou o de um dos sócios da sociedade
empresária. (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

§ 3º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for físico, a


fixação do horário de funcionamento competirá ao Município, observada a
regra geral prevista no inciso II do caput do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de
setembro de 2019. (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022)

Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de


negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com
a sua natureza.

Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou


arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros
depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da
sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de
publicado na imprensa oficial.

Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu
passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento
de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou
tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.

Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos


débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados,
continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um
ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos
outros, da data do vencimento.

Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do


estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos
subsequentes à transferência.
Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do
estabelecimento, a proibição prevista neste artigo persistirá durante o prazo
do contrato.

Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-


rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do
estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros
rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da
transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a
responsabilidade do alienante.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 69

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Art. 1.149. A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido
produzirá efeito em relação aos respectivos devedores, desde o momento da
publicação da transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé
pagar ao cedente.

Doutrina majoritária: Estabelecimento comercial = Fundo de comércio = Azienda = Fundo


Empresarial.
Como o tema foi cobrado em concurso?
TJMG (2022) O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce
a atividade empresarial, que poderá ser físico ou virtual. Correta!
DPE/TO (2022) A natureza do estabelecimento empresarial é
necessariamente física, de modo que ambientes virtuais não recebem a
proteção conferida. Errada!
TJ/SP (2021) Sobre o estabelecimento, é correto afirmar que salvo
disposição expressa em contrário, é vedado ao titular do estabelecimento
fazer concorrência ao arrendatário ou usufrutuário durante o prazo do
contrato. Correta!
DPE/MG (2019) A cláusula de não concorrência empresarial proíbe que o
alienante do estabelecimento comercial se restabeleça no mesmo ramo
empresarial, porque a cláusula de não concorrência empresarial tem prazo
de duração de 5 anos. Errada!

11.2. CONCEITO

Conforme o art. 1.142 do CC, estabelecimento comercial é o complexo de bens


organizado, reunidos pelo empresário, para o exercício da atividade econômica.
Oscar Barreto Filho: é o complexo de bens, materiais e imateriais, que constituem o
instrumento utilizado pelo empresário para a exploração de uma determinada atividade de empresa.
BENS CORPÓREOS (MATERIAIS) BENS INCORPÓREOS (IMATERIAIS)
Ponto comercial, marca, patente, título de
Móveis, maquinários, imóvel, equipamentos estabelecimento, nome de domínio e perfis de
redes sociais

Atentar: a palavra-chave é ORGANIZAÇÃO.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/PA (2019) “Ponto Comercial” a denominação dada ao elemento
incorpóreo do estabelecimento empresarial pertencente ao empresário e que
concerne à localização do imóvel onde é exercida a mercancia ou atividade
industrial, que não se confunde com o imóvel propriamente dito e que muitas
vezes assume papel preponderante para o sucesso da empresa, seja pela
relação com os clientes, seja pela relação com os fornecedores, e que é
protegido pela lei de locações. Correta!

A MP 1.085/2021, posteriormente convertida na Lei 14.382/2022, incluiu os parágrafos 1º,


2º e 3º ao art. 1.142 do CC.
Art. 1.142. (...)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 70

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§ 1º O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a
atividade empresarial, que poderá ser físico ou virtual.

Essa previsão corresponde àquilo que já era defendido por André Santa Cruz: “A expressão
estabelecimento empresarial parece se referir, numa primeira leitura, ao local em que o empresário
exerce sua atividade empresarial. Trata-se, todavia, de uma visão equivocada, que representa
apenas uma noção vulgar da expressão, correspondendo tão somente ao sentido coloquial que ela
possui para as pessoas em geral. Portanto, o local em que o empresário exerce suas atividades -
ponto de negócio - é apenas um dos elementos que compõem o estabelecimento empresarial, o
qual, como visto, é composto também de outros bens materiais (equipamentos, máquinas etc.) e
até mesmo bens imateriais (marca, patente de invenção etc.).”

Art. 1.142. (...)


§ 2º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for virtual, o
endereço informado para fins de registro poderá ser, conforme o caso, o do
empresário individual ou o de um dos sócios da sociedade empresária.

Atualmente, é muito comum que várias atividades empresariais sejam desenvolvidas de


modo virtual, não necessitando de uma sede física para atendimento de clientes, fornecedores e
público em geral.

A despeito disso, algumas leis locais proibiam que o endereço informado para fins de registro
fosse a própria residência do sócio. Logo, o novo § 2º do art. 1.142 do Código Civil traz uma
relevante novidade ao autorizar expressamente essa prática, facilitando a situação de inúmeros
empresários que não mais precisam ser obrigados a contratar um endereço apenas para fins de
registro.

Sobre o tema, vale a pena mencionar o § 25 do art. 18-A da LC 123/2006, que autoriza o
microempreendedor individual a utilizar sua residência como sede do estabelecimento:

Art. 18-A. (...)


§ 25. O MEI poderá utilizar sua residência como sede do estabelecimento,
quando não for indispensável a existência de local próprio para o exercício da
atividade.

Art. 1.142. (...)


§ 3º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for físico, a
fixação do horário de funcionamento competirá ao Município, observada a
regra geral do inciso II do caput do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de setembro
de 2019.

A competência é MUNICIPAL, conforme entendimento sumulado do STF:

Súmula Vinculante 38-STF: É competente o município para fixar o horário de


funcionamento de estabelecimento comercial.

Compete aos Municípios legislar sobre o horário de funcionamento dos estabelecimentos


comerciais situados no âmbito de seus territórios. Isso porque essa matéria é entendida como sendo
“assunto de interesse local”, cuja competência é municipal, nos termos do art. 30, I, da CF/88.

Cada cidade tem suas peculiaridades, tem seu modo de vida, umas são mais cosmopolitas,
com estilo de vida agitado, muitos serviços, turistas. Por outro lado, existem aquelas menos

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 71

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urbanizadas, com costumes mais tradicionais etc. Assim, o horário de funcionamento dos
estabelecimentos comerciais deve atender a essas características próprias, análise a ser feita pelo
Poder Legislativo local.

Existe uma “exceção” à Súmula Vinculante 38: o horário de funcionamento dos bancos.
Segundo o STF e o STJ, as leis municipais não podem estipular o horário de funcionamento dos
bancos. A competência para definir o horário de funcionamento das instituições financeiras é da
União. Isso porque esse assunto (horário bancário) traz consequências diretas para transações
comerciais intermunicipais e interestaduais, transferências de valores entre pessoas em diferentes
partes do país, contratos etc., situações que transcendem (ultrapassam) o interesse local do
Município. Enfim, o horário de funcionamento bancário é um assunto de interesse nacional (STF
RE 118363/PR). O STJ possui, inclusive, um enunciado que espelha esse entendimento:

Súmula 19-STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público,


é da competência da União.

Lei municipal pode dispor sobre:

a) Horário de funcionamento de estabelecimento comercial: SIM (SV 38).

b) Horário de funcionamento dos bancos (horário bancário): NÃO (Súmula 19 do STJ).

Veja agora o que diz o art. 3º, II, da Lei nº 13.874/2019 (Declaração de Direitos de Liberdade
Econômica):

Art. 3º São direitos de toda pessoa, natural ou jurídica, essenciais para o


desenvolvimento e o crescimento econômicos do País, observado o disposto
no parágrafo único do art. 170 da Constituição Federal:
(...)
II - desenvolver atividade econômica em qualquer horário ou dia da semana,
inclusive feriados, sem que para isso esteja sujeita a cobranças ou encargos
adicionais, observadas:
a) as normas de proteção ao meio ambiente, incluídas as de repressão à
poluição sonora e à perturbação do sossego público;
b) as restrições advindas de contrato, de regulamento condominial ou de
outro negócio jurídico, bem como as decorrentes das normas de direito real,
incluídas as de direito de vizinhança; e
c) a legislação trabalhista;

11.3. ESTABELECIMENTO x PATRIMÔNIO EMPRESARIAL

Os bens devem estar DIRETAMENTE relacionados com a atividade empresarial. Muitas


vezes o bem pode integrar o patrimônio da sociedade empresária ou do empresário, mas isso não
implica em considerá-lo parte do estabelecimento comercial, se não houver um vínculo direto com
a atividade. De acordo com André Luiz Santa Cruz, pode, portanto, ser considerado um
“patrimônio de afetação”.
Exemplo: Uma padaria tem dois imóveis. No imóvel ‘A’ funciona a padaria, o imóvel ‘B’ é
alugado e o dinheiro é utilizado para comprar mercadorias para o seu funcionamento. Esse imóvel
‘B’ não faz parte do estabelecimento, e sim do patrimônio. Não podemos confundir! Às vezes o
estabelecimento está acompanhado de outros bens, que não fazem parte dele.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 72

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Vimos que os bens, para fazer parte do estabelecimento, devem estar diretamente
relacionados com a atividade empresarial.
O estabelecimento é essencial ao exercício da atividade empresarial.

11.4. NATUREZA JURÍDICA DO ESTABELECIMENTO

O estabelecimento é um objeto de direito, nos termos do art. 1.146 do CC, pode ser
vendido, arrendado, dado como usufruto. Salienta-se que o sujeito de direito é o empresário ou a
sociedade empresária.

Art. 1.143. Pode o estabelecimento ser objeto unitário de direitos e de


negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com
a sua natureza.

Além disso, o estabelecimento é considerado uma universalidade. Trata-se de


universalidade de fato ou de direito?

UNIVERSALIDADE DE DIREITO UNIVERSALIDADE DE FATO


São aqueles bens reunidos pela vontade das
partes, como ocorre com o estabelecimento,
São os bens reunidos por vontade da lei,
que é uma reunião de bens formada pela
como, por exemplo, herança e massa falida
vontade do empresário ou sociedade
empresária. Prevalece

11.5. COMPRA E VENDA DO ESTABELECIMENTO

11.5.1. “Trespasse”

O contrato de compra e venda de estabelecimento comercial recebe uma denominação


específica: TRESPASSE.

OBS: cessão de quotas não ocorre transferência de estabelecimento,


mas sim modificação do quadro social.

11.5.2. Produção de efeitos perante terceiros

Conforme o art. 1.144, o contrato de trespasse só produz efeitos perante terceiros se for
averbado no Registro Público de Empresas Mercantis (Junta Comercial) e publicado na Imprensa
Oficial.

Art. 1.144. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou


arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros
depois de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da
sociedade empresária, no Registro Público de Empresas Mercantis, e de
publicado na imprensa oficial.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 73

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Além disso, de acordo com o art. 1.145, a venda do estabelecimento depende do prévio
pagamento dos credores da empresa ou, pelo menos, da anuência destes, podendo esta ser
expressa ou tácita (falta de manifestação nos 30 dias posteriores à notificação implica em anuência
tácita).

Art. 1.145. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu
passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento
de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou
tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.

O estabelecimento empresarial, por integrar o patrimônio do empresário, é garantia dos seus


credores. Assim, a alienação do estabelecimento empresarial tem cautelas específicas que a lei
criou com vistas para a tutela dos interesses dos credores de seu titular, sujeitando a alienação à
anuência dos seus credores.

Somente em uma hipótese resta dispensada a obrigatoriedade da anuência ou do


pagamento dos credores: no caso de o alienante ter bens suficientes para cobrir o passivo da
empresa.

Exemplo: Se a “Kipão” possui 02 unidades, uma no valor de R$ 70.000 e outra no valor de


R$ 150.000,00, se houver credores com crédito de R$80.000,00, por exemplo, pode vender a
Unidade I sem que haja autorização dos credores, já que continuará com bens suficientes para
saldar as dívidas. Contudo, não poderá vender a Unidade II sem autorização.

A falta dessas cautelas torna o contrato de TRESPASSE ineficaz. Poderá ser pedida a
ineficácia, voltando ao estado anterior, caso no qual o comprador terá que devolver o
estabelecimento ao alienante devedor.

E mais, de acordo com a Lei de Falências, (art. 94, III, c), se o empresário sem patrimônio
suficiente para solver o passivo aliena seu estabelecimento sem observar as cautelas necessárias
(pagamento ou consentimento dos credores) poderá ter decretada sua falência.

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:


III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de
recuperação judicial:
...
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento
de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu
passivo.

11.5.3. Penhora do estabelecimento

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 74

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STJ - Súmula 451 É legítima a penhora da sede do estabelecimento
comercial.

Entretanto, se o empresário comprovar que o imóvel é essencial ao exercício da atividade


empresarial ele não pode ser penhorado.

Exemplo: distribuidora de bebidas não pode ter seu depósito penhorado.

Destarte, é de se concluir que a regra contida na Súmula 451 do STJ é relativa, cuja
aplicabilidade dependerá da análise de cada caso, não podendo, assim, ser utilizada para
julgamento de processos em massa, já que comporta exceções. Por fim, uma vez amparado na
orientação jurisprudencial do Superior Tribunal de Justiça é legítima a penhora da sede do
estabelecimento comercial desde que (i) inexistam outros bens passíveis de penhora e (ii) não seja
servil à residência da família.

Tanto FCC (TJ/AL) quanto CESPE (TJ/PB) cobraram o entendimento sumulado do STJ.
Vejamos:

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SC (2019) Um juiz de direito substituto que considerar as normas previstas
no Código Civil e no Código de Processo Civil acerca de estabelecimento
comercial procederá corretamente se reconhecer efeito da cessão dos
créditos referentes ao estabelecimento transferido aos devedores, desde a
publicação da transferência, porém o devedor será exonerado da obrigação
se, de boa-fé, pagar ao cedente. Correta!
CESPE TJ/PB: De acordo com entendimento sumulado pelo STJ, é vedada
a penhora da sede do estabelecimento comercial. Errada!

FCC TJ/AL: É legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial.


Correta!

11.5.4. Dívidas anteriores (art. 1.146)

Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos


débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados,
continuando o devedor primitivo SOLIDARIAMENTE obrigado pelo prazo
de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto
aos outros, da data do vencimento.

O adquirente do estabelecimento responde pelas dívidas anteriores ao trespasse, DESDE


QUE a dívida esteja regularmente contabilizada, podendo até abater do preço da transação.

Essa regra se aplica para toda e qualquer dívida QUE NÃO SEJA: dívida trabalhista - art.
10 e 448 da CLT ou dívida tributária - art. 133 do CTN. Estas dívidas têm regras próprias.

CLT, Art. 10 - Qualquer alteração na estrutura jurídica da empresa não afetará


os direitos adquiridos por seus empregados

Art. 448 - A mudança na propriedade ou na estrutura jurídica da empresa não


afetará os contratos de trabalho dos respectivos empregados.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 75

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CTN, Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de
outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial,
industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma
ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos
TRIBUTOS, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à
data do ato:
I - INTEGRALMENTE, se o alienante cessar a exploração do comércio,
indústria ou atividade;
II - SUBSIDIARIAMENTE com o alienante, se este prosseguir na exploração
ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade
no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão.

Vale lembrar que o alienante também responde por essas dívidas, de forma solidária, mas
apenas pelo prazo de UM ANO.

Em se tratando de DÍVIDA VENCIDA: conta-se o prazo a partir da PUBLICAÇÃO do


trespasse na Imprensa.

Em se tratando de DÍVIDA VINCENDA: conta-se da data do VENCIMENTO DA DÍVIDA.

Responsabilidade
Solidária
Prazo 1 ano

Dívida Vencida
Dívida Vincenda - a contar
- a contar da publicação do vencimento

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJMG (2022) O adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento
dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente
contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo
prazo de 2 (dois) anos, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação,
e, quanto aos outros, da data do vencimento. Errada!

Vale lembrar que o adquirente não responde pelas dívidas do alienante quando a compra
do estabelecimento se deu em leilão judicial promovido em processo de recuperação judicial ou
falência (LF, art. 60, parágrafo único; art. 141, II). Trata-se de um incentivo à compra do bem.

LF Art. 60 Parágrafo-único. O objeto da alienação estará livre de qualquer


ônus e não haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor de
qualquer natureza, incluídas, mas não exclusivamente, as de natureza
ambiental, regulatória, administrativa, penal, anticorrupção, tributária e
trabalhista, observado o disposto no § 1º do art. 141 desta Lei.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 76

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Enunciado 47 da I Jornada de Direito Comercial: Nas alienações realizadas
nos termos do art. 60 da Lei n. 11.101/2005, não há sucessão do adquirente
nas dívidas do devedor, inclusive nas de natureza tributária, trabalhista e
decorrentes de acidentes de trabalho

Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa


ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata o
art. 142:
II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão
do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de
acidentes de trabalho.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2019) Empregados do devedor contratados pelo arrematante serão
admitidos mediante novos contratos de trabalho, e o arrematante não
responde por obrigações decorrentes do contrato anterior. Correta!

11.5.5. Trespasse X cessão de quotas

No trespasse ocorre a transferência da titularidade do estabelecimento comercial.


A cessão de quotas é o contrato que se faz para a transferência de quotas sociais. Na cessão
de quotas, não ocorre a mudança da titularidade do estabelecimento, mas apenas a titularidade das
quotas da sociedade (alteração do quadro social).
No caso da cessão, o cedente também continua respondendo (solidariamente) pelas
dívidas, só que por um prazo maior: dois anos (parágrafo único do art. 1.003 do CC).
Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente
modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não
terá eficácia quanto a estes e à sociedade.
Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do
contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante
a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.

11.5.6. Cláusula de não restabelecimento → não concorrência

Essa cláusula, implícita em todos os contratos de trespasse, impõe ao alienante a vedação


de restabelecer-se em ramo idêntico de atividade empresarial nos cinco anos subsequentes à
alienação, salvo se de modo diverso consta em contrato, nos termos do art. 1.147 do CC, in verbis:
Art. 1.147. Não havendo autorização expressa, o alienante do
estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos
subsequentes à transferência.
Parágrafo único. No caso de arrendamento ou usufruto do estabelecimento,
a proibição prevista neste artigo persistirá durante o prazo do contrato.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 77

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Como o tema foi cobrado em concurso?
DPE/TO (2022) O estabelecimento empresarial pode ser alienado mediante
contrato oneroso, denominado trespasse, hipótese em que o alienante não
poderá fazer concorrência ao adquirente nos 10 anos seguintes ao negócio.
Errada!

O art. 1.147 do CC prevê um prazo de 5 anos para a cláusula de não concorrência.


Esse prazo poderá ser ampliado?
SIM, é possível que seja ampliado, mas ele não pode ser fixado em prazo indeterminado e,
no caso concreto, é possível que tal ampliação seja considerada abusiva se ampliar demais a
restrição. Nesse sentido, confira o Enunciado 490 da Jornada de Direito Civil do CJF:
Enunciado 490: A ampliação do prazo de 5 (cinco) anos de proibição de
concorrência pelo alienante ao adquirente do estabelecimento, ainda que
convencionada no exercício da autonomia da vontade, pode ser
revista judicialmente, se abusiva.

Neste sentido, sobre o trespasse (alienação do estabelecimento comercial), entende o STJ:


Nos contratos de trespasse (alienação do estabelecimento comercial) existe,
de forma implícita, por força de lei, uma cláusula de não concorrência
(cláusula de não restabelecimento). Isso significa que, em regra, o alienante
não pode fazer concorrência ao adquirente. Segundo o art. 1147, o prazo da
cláusula de não concorrência é de 5 anos. As partes não podem prever
cláusula de “não restabelecimento” será por prazo indeterminado. O
ordenamento jurídico pátrio, salvo expressas exceções, não aceita que
cláusulas que limitem ou vedem direitos sejam estabelecidas por prazo
determinado. Logo, a cláusula de não restabelecimento fixada por prazo
indeterminado é considerada abusiva. STJ. 4ª Turma. REsp 680.815-PR.
Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 20/03/2014 (info 554).

11.5.7. Sub-rogação nos contratos

Quando ocorre a venda do estabelecimento (do complexo de bens), de acordo com o art.
1.148, haverá uma sub-rogação do adquirente nos contratos estipulados pelo alienante (de
fornecimento de matéria prima, por exemplo).

Art. 1.148. Salvo disposição em contrário, a transferência importa a sub-


rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do
estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os terceiros
rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação da
transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a
responsabilidade do alienante.

Exceção à sub-rogação: Contrato de locação. Pela regra do art. 1.148 poderíamos dizer
que o adquirente se sub-roga na condição de locatário do imóvel, vale dizer, ocorreria uma
transferência do ponto. No entanto, a doutrina, a jurisprudência e o art. 13 da Lei de Locação
(8.245/91) dizem diversamente: O locador deve autorizar a cessão do contrato (cessão de posição
contratual - civil). Mais recentemente, na I Jornada de Direito Comercial, foi aprovado o Enunciado
8.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 78

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Lei de locação - Art. 13. A cessão da locação, a sublocação e o empréstimo
do imóvel, total ou parcialmente, dependem do consentimento prévio e
escrito do locador.
§ 1º Não se presume o consentimento pela simples demora do locador em
manifestar formalmente a sua oposição.
§ 2º Desde que notificado por escrito pelo locatário, de ocorrência de uma
das hipóteses deste artigo, o locador terá o prazo de trinta dias para
manifestar formalmente a sua oposição.

Enunciado 234 do CJF - Art. 1.148: Quando do trespasse do estabelecimento


empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto não se transmite
automaticamente ao adquirente. Fica cancelado o Enunciado n. 64.

En. 8 da I JDE - 8. A sub-rogação do adquirente nos contratos de exploração


atinentes ao estabelecimento adquirido, desde que não possuam caráter
pessoal, é a regra geral, incluindo o contrato de locação.

Santa Cruz: A matéria, como se pode perceber, é deveras polêmica. De acordo com o autor,
pela legislação brasileira (art. 13 da Lei 8.245/1991), o contrato de locação tem caráter pessoal
(intuitu personae). Portanto, na interpretação do art. 1.148 do Código Civil, deve-se entender
necessária a concordância prévia do locador do imóvel onde se situa o ponto de negócio para que
o adquirente do estabelecimento suceda o alienante como locatário.

11.5.8. Aviamento / Goodwill of trade/ Achalandage

Oscar Barreto Filho: aviamento é o potencial de lucratividade do estabelecimento.


A articulação dos bens que compõem o estabelecimento na exploração de uma atividade
econômica agregou-lhes um valor, este é chamado de aviamento. Em outras palavras, é um atributo
do estabelecimento, o aviamento está para o estabelecimento, assim como a saúde para o corpo,
assim como a velocidade está para o carro. Não há como vender separadamente, ele é inerente ao
estabelecimento. O atributo entra no cálculo do valor de venda do estabelecimento.

OBS: clientela não é elemento do estabelecimento, não se pode


vender cliente, pois ele é uma mera situação de fato, obviamente que
quanto maior a clientela, maior será o valor agregado ao
estabelecimento, acaba gerando maior potencial de lucro, entretanto,
ainda assim, não faz parte dele, não se confunde com aviamento.

12. PONTO COMERCIAL

12.1. CONCEITO

Trata-se de um bem incorpóreo. É a localização específica do estabelecimento empresarial,


que, por vezes, pode significar um acréscimo substancial em seu valor (exemplo: quando uma
pessoa em um imóvel alugado conquista um ponto, através do trabalho, do enriquecimento do lugar,
conquista da clientela etc.). Em virtude disso, a lei dispensa proteção especial ao ponto comercial.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 79

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No caso do ponto de propriedade do empresário, a proteção se dá pela tutela genérica da
propriedade do direito civil. No caso de ponto alugado, a proteção se dá através da renovação
compulsória do contrato, prevista no art. 51 da Lei do Inquilinato (Lei 8.245/91).

Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá


direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:
I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo
determinado;
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos
dos contratos escritos seja de cinco anos;
III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo
mínimo e ininterrupto de três anos.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJPA: Ponto comercial é a denominação dada ao elemento incorpóreo do
estabelecimento empresarial pertencente ao empresário e que concerne à
localização do imóvel onde é exercida a mercancia ou atividade industrial,
que não se confunde com o imóvel propriamente dito e que muitas vezes
assume papel preponderante para o sucesso da empresa, seja pela relação
com os clientes, seja pela relação com os fornecedores, e que é protegido
pela lei de locações. Correto.

12.2. AÇÃO RENOVATÓRIA

12.2.1. Requisitos

O objetivo é a renovação compulsória do contrato de locação empresarial. Para que o


empresário tenha direito à renovação compulsória, é necessário o preenchimento de alguns
requisitos cumulativos (art. 51):

1) Contrato escrito e com prazo determinado (se o contrato tem prazo indeterminado, não
cabe renovatória, exemplo: 20 anos de aluguel);

2) O contrato ou a soma (acessio temporis) ininterrupta dos contratos tem que totalizar
prazo contratual mínimo de 05 anos.

3) É necessário que o locatário esteja explorando o mesmo ramo de atividade econômica


nos três anos anteriores à data da propositura da ação, ininterruptamente.

O STJ (REsp 1.790.074-SP) entendeu que a "estação rádio base" (ERB) instalada em imóvel
locado caracteriza fundo de comércio de empresa de telefonia móvel celular, a conferir-lhe o
interesse processual no manejo de ação renovatória fundada no art. 51 da Lei n. 8.245/1991.

STJ: A Anatel, ao editar a Resolução n. 477, de 07 de agosto de 2007, no art.


3º, XVI, de seu anexo, define a Estação Rádio Base (ERB) como sendo a
"estação de radiocomunicações de base do SMP (serviço móvel pessoal),
usada para radiocomunicação com Estações Móveis". As ERBs,
popularmente conhecidas como antenas, se apresentam como verdadeiros
centros de comunicação espalhados por todo o território nacional, cuja

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 80

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
estrutura, além de servir à própria operadora, responsável por sua instalação,
pode ser compartilhada com outras concessionárias do setor de
telecomunicações, segundo prevê o art. 73 da Lei n. 9.472/1997, o que,
dentre outras vantagens, evita a instalação de diversas estruturas
semelhantes no mesmo local e propicia a redução dos custos do serviço. As
ERBs são, portanto, estruturas essenciais ao exercício da atividade de
prestação de serviço de telefonia celular, que demandam investimento da
operadora, e, como tal, integram o fundo de comércio e se incorporam ao seu
patrimônio. Por sua relevância econômica e social para o desenvolvimento
da atividade empresarial, e, em consequência, para a expansão do mercado
interno, o fundo de comércio mereceu especial proteção do legislador, ao
instituir, para os contratos de locação não residencial por prazo determinado,
a ação renovatória, como medida tendente a preservar a empresa da
retomada injustificada pelo locador do imóvel onde está instalada (art. 51 da
Lei n. 8.245/1991). No que tange à ação renovatória, seu cabimento não está
adstrito ao imóvel para onde converge a clientela, mas se irradia para todos
os imóveis locados com o fim de promover o pleno desenvolvimento da
atividade empresarial, porque, ao fim e ao cabo, contribuem para a
manutenção ou crescimento da clientela. Nessa toada, conclui-se que a
locação de imóvel por empresa prestadora de serviço de telefonia celular para
a instalação das ERBs está sujeita à ação renovatória.

12.2.2. Prazo

Do direito à renovação decai aquele que não propuser a ação no interregno de um ano, no
máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data da finalização do prazo do contrato em vigor.

Art. 51, § 5º Do direito a renovação decai aquele que não propuser a ação no
interregno de um ano, no máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à
data da finalização do prazo do contrato em vigor.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2019) Aquele que pretende renovar seu contrato de locação
empresarial deve propor ação renovatória no interregno de um ano, no
máximo, até seis meses, no mínimo, anteriores à data de finalização do prazo
do contrato em vigor, sob pena de prescrição da ação. Errada!

12.2.3. Sublocação

A lei protege o ponto comercial, portanto, a ideia é de que será o sublocatário o legitimado
a propor a renovatória, isto porque ele que está explorando o ponto comercial.
Lei 8245/91 Art. 51, § 1º O direito assegurado neste artigo poderá ser exercido
pelos cessionários ou sucessores da locação; no caso de SUBLOCAÇÃO
total do imóvel, o direito a renovação somente poderá ser exercido pelo
sublocatário.

Tratando-se de contrato de franquia, após o advento da Lei 13.966/2019, a competência


para o ajuizamento da ação renovatória, nos casos em que o franqueador alugue ao franqueado

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 81

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
(sublocatário), será de qualquer uma das partes (locatário - franqueador ou sublocatário -
franqueado).

Art. 3º Nos casos em que o franqueador subloque ao franqueado o ponto


comercial onde se acha instalada a franquia, qualquer uma das partes terá
legitimidade para propor a renovação do contrato de locação do imóvel,
vedada a exclusão de qualquer uma delas do contrato de locação e de
sublocação por ocasião da sua renovação ou prorrogação, salvo nos casos
de inadimplência dos respectivos contratos ou do contrato de franquia.
Parágrafo único. O valor do aluguel a ser pago pelo franqueado ao
franqueador, nas sublocações de que trata o caput, poderá ser superior ao
valor que o franqueador paga ao proprietário do imóvel na locação originária
do ponto comercial, desde que:
I - essa possibilidade esteja expressa e clara na Circular de Oferta de
Franquia e no contrato; e
II - o valor pago a maior ao franqueador na sublocação não implique
excessiva onerosidade ao franqueado, garantida a manutenção do equilíbrio
econômico-financeiro da sublocação na vigência do contrato de franquia.

12.2.4. Exceção de retomada

A renovação COMPULSÓRIA só é possível quando não restringir o direito constitucional de


propriedade garantido ao locador. A própria Lei do Inquilinato (art. 72) aponta um rol exemplificativo
de casos em que o direito de renovação do contrato de locação não prevalece sobre o direito
constitucional de propriedade. Vejamos:

• Quando o Poder Público solicitar reforma no imóvel que implique em sua radical
transformação;

• Quando o locador realizar reforma no imóvel que aumente o valor do negócio ou da


propriedade;

• Quando houver proposta melhor de terceiros;

• Quando a proposta for insuficiente;

• Quando o uso for próprio;

• Quando houver transferência de estabelecimento empresarial existe há mais de um ano


do locador, do seu cônjuge, de ascendente ou descendente.

Lei 8245/91, Art. 72. A contestação do locador, além da defesa de direito


que possa caber, ficará adstrita, quanto à matéria de fato, ao seguinte:
I - Não preencher o autor os requisitos estabelecidos nesta lei;
II - Não atender, a proposta do locatário, o valor locativo real do imóvel na
época da renovação, excluída a valorização trazida por aquele ao ponto ou
lugar;
III - ter proposta de terceiro para a locação, em condições melhores;
IV - Não estar obrigado a renovar a locação (incisos I e II do art. 52).

Art. 52. O locador não estará obrigado a renovar o contrato se:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 82

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I - por determinação do Poder Público, tiver que realizar no imóvel obras
que importarem na sua radical transformação; ou para fazer modificações de
tal natureza que aumente o valor do negócio ou da propriedade;
II - o imóvel vier a ser utilizado por ele próprio ou para transferência de fundo
de comércio existente há mais de um ano, sendo detentor da maioria do
capital o locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente.
1º Na hipótese do inciso II, o imóvel não poderá ser destinado ao uso do
mesmo ramo do locatário, salvo se a locação também envolvia o fundo de
comércio, com as instalações e pertences.
2º Nas locações de espaço em shopping centers, o locador não poderá
recusar a renovação do contrato com fundamento no inciso II deste artigo.
3º O locatário terá direito a indenização para ressarcimento dos prejuízos
e dos lucros cessantes que tiver que arcar com mudança, perda do lugar e
desvalorização do fundo de comércio, se a renovação não ocorrer em razão
de proposta de terceiro, em melhores condições, ou se o locador, no
prazo de três meses da entrega do imóvel, não der o destino alegado ou
não iniciar as obras determinadas pelo Poder Público ou que declarou
pretender realizar.

O locatário também terá direito a indenização no caso do §1º.


Salienta-se que o shopping center poderá alegar exceção de retomada, salvo nos casos de
alegação fundada em uso próprio ou no caso de transferência de estabelecimento empresarial
existente há mais de um ano do locador, do seu cônjuge, de ascendente ou descente.

12.2.5. Sentença

Se a ação renovatória for julgada procedente, a locação é renovada.

Se a ação renovatória for julgada improcedente: a locação comercial não será renovada e o
juiz determinará a desocupação do imóvel alugado no prazo de 30 dias, desde que haja pedido na
contestação:

Art. 74. Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a expedição de


mandado de despejo, que conterá o prazo de 30 (trinta) dias para a
desocupação voluntária, se houver pedido na contestação. (Redação dada
pela Lei nº 12.112, de 2009)

A partir de quando é contado este prazo de 30 dias? O termo inicial desse prazo é a data da
intimação pessoal do locatário, realizada por meio de mandado de despejo.

Segundo o STJ, a Lei 12.112/2009, que alterou o prazo previsto no art. 74 da Lei de
Locações, possui natureza processual, incidindo, portanto, sobre os processos em andamento no
estado em que se encontram quando do início da vigência da lei, ainda que se refiram a contratos
anteriores à alteração legislativa.

Súmula 370 do STF - Julgada improcedente a ação renovatória da locação,


terá o locatário, para desocupar o imóvel, o prazo de seis meses, acrescido
de tantos meses quantos forem os anos da ocupação, até o limite total de
dezoito meses. Desatualizada!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 83

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Este enunciado, apesar de não ter sido formalmente cancelado, não é mais aplicado porque
se baseava na Lei 1.300/1950, que foi revogada há tempos. Portanto, trata-se de súmula
completamente desatualizada e que deve ser ignorada.

12.2.6. Esquema gráfico ação renovatória – renovação compulsória

Escrito + prazo determinado

Ação Renovatória Renovação mínima ou soma de prazos: 05 anos.


(renovação compulsória)

Explorar ininterruptamente mesma atividade: 03 anos.

Não preenche requisitos da lei

Proposta não atende o valor do


imóvel à época da renovação
Locador poderá evitar alegando Determinação do poder público ou
obras que aumente valor
Proposta de 3º melhor

Não estar obrigado a renovar Transferência de estabelecimento de +


1 ano, sendo sócio ou do cônjuge,
ascendente ou descendente

*Em shopping Center não pode alegar.


*Não pode ser usado para mesmo ramo

*Se não der destino em 3 meses, locatário


terá indenização.

12.3. LOCAÇÃO BUILT TO SUIT

De acordo com Alexandre Gialluca, “cada vez mais utilizado, o built to suit é um contrato de
locação no qual o locatário encomenda a construção ou a reforma de imóvel para atender às suas
necessidades, sendo que cabe ao locador, por si ou por terceiros, construir ou promover a reforma
no imóvel que será locado.”
Art. 54-A. Na locação não residencial de imóvel urbano na qual o locador
procede à prévia aquisição, construção ou substancial reforma, por si
mesmo ou por terceiros, do imóvel então especificado pelo pretendente à
locação, a fim de que seja a este locado por prazo determinado, prevalecerão

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 84

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as condições livremente pactuadas no contrato respectivo e as disposições
procedimentais previstas nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.744, de 2012)

O professor apresenta o seguinte esquema:

Citam-se as seguintes vantagens:

PARA O PROPRIETÁRIO PARA O LOCADOR


Não utiliza capital da empresa para a
Rentabilidade para o investimento
construção da sede
Adequação do imóvel à necessidade
Investimento de baixo risco
da empresa
Baixo risco de extinção antecipada do Baixo risco de extinção antecipada do
contrato contrato

Atenção para os parágrafos 1º e 2º do art. 54-A:

Art. 54,
§ 1o Poderá ser convencionada a renúncia ao direito de revisão do valor dos
aluguéis durante o prazo de vigência do contrato de locação.
§ 2o Em caso de denúncia antecipada do vínculo locatício pelo locatário,
compromete-se este a cumprir a multa convencionada, que não excederá,
porém, a soma dos valores dos aluguéis a receber até o termo final da
locação.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJRJ: Nos contratos de locação não residencial em que há “construção sob
medida", amplamente conhecidos pela expressão inglesa built-to-suit ou
build-to-suit, é correto afirmar que a cláusula penal estabelecida por denúncia
antecipada do locatário poderá alcançar a soma dos valores dos aluguéis a
receber até o termo final da locação. Correta!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 85

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PROPRIEDADE INDUSTRIAL

1. FINALIDADE

A proteção às criações, aos inventos e às marcas visa ao interesse social e ao


desenvolvimento tecnológico e econômico do país.

Possui previsão constitucional. Observe:

CF, art. 5º, XXIX: a lei assegurará aos autores de inventos industriais
privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações
industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros
signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento
tecnológico e econômico do País”.

2. ALOCAÇÃO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL NO DIREITO

A propriedade intelectual (GÊNERO) engloba:


a) Direito autoral (estudado pelo Direito Civil)
b) Propriedade Industrial (Direito Empresarial) – Lei 9.279/96.
Quatro são os bens imateriais protegidos pelo Direito Industrial na Lei 9.279/96:
• Patentes de invenção;
• Patentes de modelo de utilidade;
• Registro de marcas;
• Registro de desenho industrial.

OBS: programa de computador não é assunto de propriedade


industrial e sim direito autoral.

A propriedade industrial faz parte do estabelecimento comercial.

3. OBJETO DE PROTEÇÃO DA LEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL

A Lei visa proteger o uso desses bens por seu titular, com total exclusividade, ou seja, só o
empresário titular desses bens tem o direito de explorar economicamente o objeto.
Outra pessoa que não for titular do bem, só poderá explorá-lo com autorização ou licença
do titular (caso no qual deverá pagar ao titular do bem os famosos royalties), entretanto as patentes
e os registros podem ser alienados por ato inter vivos ou mortis causa.
Bens (imateriais) protegidos pela lei de propriedade industrial:
• Invenção;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 86

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
• Modelo de utilidade;
• Desenho Industrial;
• Marca.
Dica (para quem utiliza mnemônicos): “Ih, Me Dei Mal”.
A lei de propriedade também abriga:
a) Repressão à concorrência desleal;
b) Repressão às falsas indicações de lugar (geográficas).
Invenção e Modelo de utilidade só terão exclusividade de uso se tiverem uma PATENTE,
que possui o escopo de proteção ao desenvolvimento tecnológico, bem como de incentivar a
pesquisa.
Desenho industrial e marca, para terem exclusividade, hão de ter REGISTRO.
Tanto a patente quanto o registro são feitos no INPI – Instituto Nacional de Propriedade
Industrial, que é uma autarquia federal.

4. PATENTE

4.1. CONCEITO

Trata-se de um título de monopólio temporário sobre a invenção ou o modelo de utilidade,


outorgado pelo Estado aos inventores ou autores (pessoas físicas ou jurídicas) detentores de
direitos sobre a criação para a exploração econômica.

O inventor, de outro lado, se obriga a revelar detalhadamente todo conteúdo técnico da


matéria protegida pela patente.

4.2. SEGREDO INDUSTRIAL

Nada mais é do que a invenção não levada à patente, que por não ter seus dados revelados
publicamente, terá proteção à informação por tempo indeterminado, a exemplo do que ocorre com
a Coca-Cola, com o Chanel 5 e com o Johnnie Walker.

4.3. TEMPO

A invenção terá o prazo máximo de 20 anos. Já o modelo de utilidade terá prazo máximo de
15 anos.
Os prazos mínimos de 10 anos para invenção e de 7 anos de modelo foram revogados pela
Lei 14.195/2021.
Art. 40. A patente de invenção vigorará pelo prazo de 20 (vinte) anos e a de
modelo de utilidade pelo prazo 15 (quinze) anos contados da data de
depósito.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 87

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Parágrafo único. O prazo de vigência não será inferior a 10 (dez) anos para
a patente de invenção e a 7 (sete) anos para a patente de modelo de utilidade,
a contar da data de concessão, ressalvada a hipótese de o INPI estar
impedido de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial
comprovada ou por motivo de força maior. Revogado pela Lei 14.195/2021

Por outro lado, tanto o desenho industrial (art. 108) quanto a marca (art. 133) terão o prazo
de 10 anos.
Art. 108. O registro vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos contados da data do
depósito, prorrogável por 3 (três) períodos sucessivos de 5 (cinco) anos cada.

Art. 133. O registro da marca vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos, contados
da data da concessão do registro, prorrogável por períodos iguais e
sucessivos.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/RS (2022) O pedido de prorrogação do registro de marca pode ser
realizado a qualquer momento, desde que durante a sua vigência. Errada!
TJ/RS (2022) Marcas semelhantes podem coexistir para identificar produtos
distintos e sem afinidade mercadológica, segundo o princípio da
especialidade. Correta!

4.4. TERMO INICIAL

Invenção, Modelo e Desenho: conta-se a partir do DEPÓSITO do projeto no INPI. Para


posterior concessão da patente.
Marca: conta-se a partir da CONCESSÃO do registro.

4.5. PRORROGAÇÃO DO PRAZO

A patente é improrrogável, portanto, após o prazo de 20 (invenção) ou 15 anos (modelo de


utilidade), a patente cai em domínio público.
O registro é prorrogável, tendo os seguintes prazos:
• Desenho industrial: Prorrogável por até 03 vezes, tendo o prazo de 05 anos cada
prorrogação (após as 03 prorrogações o desenho industrial cai em domínio público).
Então, temos: 10+05+05+05.
• Marca: Não tem limite de prorrogação, podendo sempre ser prorrogável por igual período
(ou seja, de 10 em 10 anos).
Desta forma, temos: 10+10+10... ad infinitum

4.6. INVENÇÃO

Art. 8º É patenteável a INVENÇÃO que atenda aos requisitos de novidade,


atividade inventiva e aplicação industrial.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 88

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Art. 13. A invenção é dotada de atividade inventiva sempre que, para um
técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado da
técnica.

A invenção não é definida pela lei. Trata-se da criação de algo que não existe, a exemplo da
urna eletrônica.
Para Fábio Ulhôa Coelho, a invenção é o ato original de gênio, pelo qual se cria algo até
então desconhecido. Já André Santa Cruz afirma que “trata-se de um ato original decorrente da
atividade criativa do ser humano”.
A lei limita-se a dizer o que NÃO é invenção e nem modelo de utilidade (art. 10). A saber:
• Programa de computador.
• Métodos cirúrgicos (importante, despenca em concurso!).
• Regras de jogo.
• Planejamento tributário.
• Obras científicas, literárias ou artísticas.
• Métodos matemáticos.

OBS: não confundir o art. 10 (o que não é invenção nem modelo de


utilidade), com o art. 18 (o que não pode ser patenteado, pois ilícito).

Art. 10. Não se considera INVENÇÃO nem MODELO DE UTILIDADE:


I - Descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;
II - Concepções puramente abstratas;
III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis,
financeiros, educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização;
IV - As obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer
criação estética;
V - Programas de computador em si;
VI - Apresentação de informações;
VII - regras de jogo;
VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos
terapêuticos ou de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal;
IX - O todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos
encontrados na natureza, ou ainda que dela isolados, inclusive o genoma ou
germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TRF4 (2022) Os programas de computador em si são considerados
invenções, mas não são considerados modelos de utilidade. Errada!

TJ/MS (2019) Se dois ou mais autores tiverem realizado a mesma invenção


ou modelo de utilidade, de forma independente, o direito de obter patente será
assegurado àquele cuja invenção ou criação for mais antiga,
independentemente da data do depósito. Errada!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 89

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TJ/MS (2019) É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de
novidade e atividade inventiva, ainda que desprovida de aplicação industrial.
Errada!

Observe a redação do art. 18:


Art. 18. Não são patenteáveis (leia-se: não podem ser patenteados, pois
ILÍCITOS):
I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e
à saúde públicas;
II - as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer
espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os
respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de
transformação do núcleo atômico; e (lembrar: tudo que for resultado de
transformação do núcleo atômico não poderá ser patenteado)
III - o todo ou parte dos seres vivos, exceto os micro-organismos transgênicos
que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade
inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam mera
descoberta.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, micro-organismos transgênicos são
organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais, que expressem,
mediante intervenção humana direta em sua composição genética, uma
característica normalmente não alcançável pela espécie em condições
naturais.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MS (2019) Não são patenteáveis o todo ou parte dos seres vivos, com
exceção dos microrganismos transgênicos que atendam aos requisitos legais
de patenteabilidade e que não sejam mera descoberta. Correta!

TJ/MS (2019) À pessoa de boa-fé que, antes da data de depósito ou de


prioridade de pedido de patente, explorava seu objeto no País, será
assegurado o direito de continuar a exploração, sem ônus, na forma e
condição anteriores.

4.7. MODELO DE UTILIDADE

Art. 9º É patenteável como MODELO DE UTILIDADE o objeto de uso prático,


ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma
ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional
no seu uso ou em sua fabricação.

O art. 9º da Lei trata do “objeto de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação
industrial, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em
melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação”.

É algo que traz uma utilidade maior para algo que já é considerado invenção (assim como a
contravenção é um crime anão, pode-se dizer que o modelo de utilidade é uma invenção anã).

É uma invenção melhorada. Algumas provas cobram como “mini invenção”, o CESPE já
cobrou como “invenção anã” e “microinvenção”. Deve haver melhoramento de uma invenção.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 90

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Segundo André Santa Cruz, “o modelo de utilidade tem que ser um objeto de uso prático, e
não meramente artístico ou ornamental; tem que apresentar nova forma ou disposição,
diferenciando-se, assim, do que já existe no mercado. E precisa, necessariamente, produzir uma
melhoria no uso ou na fabricação da coisa”

STF já reconheceu que churrasqueira sem fumaça é modelo de utilidade, o dispositivo que
retira a fumaça é modelo de utilidade, agregado à churrasqueira.

4.8. REQUISITOS DA PATENTEABILIDADE

• Novidade;
• Atividade inventiva;
• Aplicação industrial;
• Não impedimento (licitude);

Requisitos de
patenteabilidade

Atividade inventiva Aplicação Industrial


Novidade (art. 11)
(art. 13) (art. 15)

A criação não decorre


Não compreendido no Possa ser
de maneira óbvia do
estado de técnica industrializado
estado de técnica

4.8.1. Novidade

Aquilo que não está compreendido no estado da técnica (art. 11), vale dizer, a criação deve
ser desconhecida pela comunidade científica, técnica ou industrial.

Art. 11. A invenção e o modelo de utilidade são considerados NOVOS quando


NÃO compreendidos no estado da técnica.
§ 1º O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao
público antes da data de depósito do pedido de patente, por descrição escrita
ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasil ou no exterior, ressalvado
o disposto nos arts. 12, 16 e 17.

Art. 12. Não será considerada como estado da técnica a divulgação de


invenção ou modelo de utilidade, quando ocorrida durante os 12 (doze)
meses que precederem a data de depósito ou a da prioridade do pedido de
patente, se promovida:
I - pelo inventor;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 91

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II - pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI, através de
publicação oficial do pedido de patente depositado sem o consentimento do
inventor, baseado em informações deste obtidas ou em decorrência de atos
por ele realizados; ou
III - por terceiros, com base em informações obtidas direta ou indiretamente
do inventor ou em decorrência de atos por este realizados.

Destaca-se que, conforme ensina André Santa Cruz, a Lei de Propriedade Industrial adotou
o critério da novidade absoluta de modo que para ser privilegiável, a invenção deve ser nova de
maneira absoluta. Ela não possuirá esta característica se, antes da patente, houver sido conhecida
mesmo no país mais longínquo ou nos tempos mais recuados.

4.8.2. Atividade inventiva

Não basta que a criação seja original (conceito subjetivo). A invenção deve despertar nos
técnicos da área o sentido de um real progresso, ou seja, não pode a criação decorrer de maneira
óbvia do estado da técnica (art. 13). Quanto ao modelo de utilidade, não pode decorrer de maneira
comum ou vulgar do estado da técnica, segundo parecer de experts no assunto (art. 14).

Art. 13. A invenção é dotada de ATIVIDADE INVENTIVA sempre que, para


um técnico no assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado
da técnica.

Art. 14. O modelo de utilidade é dotado de ATO INVENTIVO sempre que,


para um técnico no assunto, não decorra de maneira comum ou vulgar do
estado da técnica.

4.8.3. Aplicação industrial

Somente criações com aproveitamento industrial podem ser patenteadas.

Exemplo de Fábio Ulhôa Coelho: um carro com o motor mais rápido do mundo que só
funciona com um combustível que não existe na terra, não tem aplicação industrial, logo não pode
ser considerado uma invenção.

Art. 15. A invenção e o modelo de utilidade são considerados suscetíveis de


APLICAÇÃO INDUSTRIAL quando possam ser utilizados ou produzidos em
qualquer tipo de indústria.

4.8.4. Não impedimento

Salienta-se que para André Santa Cruz trata-se de licitude do objeto da patente.
O art. 18 traz exemplos de criações não patenteáveis.
Art. 18. Não são patenteáveis:
I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e
à saúde públicas;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 92

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II - as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer
espécie, bem como a modificação de suas propriedades físico-químicas e os
respectivos processos de obtenção ou modificação, quando resultantes de
transformação do núcleo atômico; e (intenção do legislador: evitar o
incentivo às armas atômicas)
III - o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microrganismos transgênicos
que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade
inventiva e aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam mera
descoberta.

Novamente, destacamos que o art. 18 não se confunde com o disposto no art. 10, que arrola,
em diversos incisos, o que a lei não considera invenção e nem modelo de utilidade.
Nos dizeres de André Santa Cruz: “o art. 18 da LPI trata de casos que, em tese, podem ser
considerados uma invenção ou um modelo de utilidade, porque preenchidos os requisitos de
novidade, de atividade inventiva e da aplicação industrial. Todavia, o ordenamento jurídico prefere
não lhes conferir proteção, em homenagem a valores supostamente mais elevados, como a moral,
a segurança, entre outros”.

4.9. LICENCIAMENTO DA PATENTE: LICENÇA VOLUNTÁRIA

Os arts. 61 a 63 da LPI disciplinam a licença voluntária


Art. 61. O titular de patente ou o depositante poderá celebrar contrato de
licença para exploração.
Parágrafo único. O licenciado poderá ser investido pelo titular de todos os
poderes para agir em defesa da patente.

Art. 62. O contrato de licença deverá ser averbado no INPI para que produza
efeitos em relação a terceiros.
§ 1º A averbação produzirá efeitos em relação a terceiros a partir da data de
sua publicação.
§ 2º Para efeito de validade de prova de uso, o contrato de licença não
precisará estar averbado no INPI.

Art. 63. O aperfeiçoamento introduzido em patente licenciada pertence a


quem o fizer, sendo assegurado à outra parte contratante o direito de
preferência para seu licenciamento

Destaca-se, conforme as lições de André Santa Cruz, que “para celebrar o contrato de
licença voluntária, obviamente, o titular da patente vai exigir do licenciado uma contraprestação,
chamada royalty. No caso de licenciamento do pedido de patente, embora a lei não vede
expressamente a cobrança de royalties, o INPI não tem admitido tal prática, negando pedidos de
averbação que contenham tal previsão. Assim, os royalties só são admitidos nos casos d
licenciamento de patente, mas nos casos de licenciamento de pedido de patente”.

4.10. LICENCIAMENTO DA PATENTE: LICENÇA COMPULSÓRIA

Aqui, o titular da patente fica obrigado a licenciá-la, contra sua vontade. Será determinada
como forma de sancionar o titular da patente, bem como para atender imperativos de ordem pública.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 93

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4.10.1. Abuso de direito ou de poder econômico e não exploração ou não satisfação das
necessidades do mercado

Perceba que, aqui, a licença compulsória da patente decorre de condutas do seu próprio
titular, as quais não se coadunam com os princípios que justificam a concessão de um privilégio
legal que lhe assegura um direito de exploração exclusiva do seu invento. Assim, configurada uma
dessas situações, como o exercício abusivo dos direitos decorrentes da patente, poderá um
interessado (um concorrente, por exemplo) requerer ao INPI a licença compulsória (André Santa
Cruz).
Art. 68. O titular ficará sujeito a ter a patente licenciada compulsoriamente se
exercer os direitos dela decorrentes de forma abusiva, ou por meio dela
praticar abuso de poder econômico, comprovado nos termos da lei, por
decisão administrativa ou judicial.
§ 1º Ensejam, igualmente, licença compulsória:
I - a não exploração do objeto da patente no território brasileiro por falta de
fabricação ou fabricação incompleta do produto, ou, ainda, a falta de uso
integral do processo patenteado, ressalvados os casos de inviabilidade
econômica, quando será admitida a importação; ou
II - a comercialização que não satisfizer às necessidades do mercado.
§ 2º A licença só poderá ser requerida por pessoa com legítimo interesse e
que tenha capacidade técnica e econômica para realizar a exploração
eficiente do objeto da patente, que deverá destinar-se, predominantemente,
ao mercado interno, extinguindo-se nesse caso a excepcionalidade prevista
no inciso I do parágrafo anterior.
§ 3º No caso de a licença compulsória ser concedida em razão de abuso de
poder econômico, ao licenciado, que propõe fabricação local, será garantido
um prazo, limitado ao estabelecido no art. 74, para proceder à importação do
objeto da licença, desde que tenha sido colocado no mercado diretamente
pelo titular ou com o seu consentimento.
§ 4º No caso de importação para exploração de patente e no caso da
importação prevista no parágrafo anterior, será igualmente admitida a
importação por terceiros de produto fabricado de acordo com patente de
processo ou de produto, desde que tenha sido colocado no mercado
diretamente pelo titular ou com o seu consentimento.
§ 5º A licença compulsória de que trata o § 1º somente será requerida após
decorridos 3 (três) anos da concessão da patente.
Art. 69. A licença compulsória não será concedida se, à data do requerimento,
o titular:
I - justificar o desuso por razões legítimas;
II - comprovar a realização de sérios e efetivos preparativos para a
exploração; ou
III - justificar a falta de fabricação ou comercialização por obstáculo de ordem
legal.

Art. 70. A licença compulsória será ainda concedida quando,


cumulativamente, se verificarem as seguintes hipóteses:
I - ficar caracterizada situação de dependência de uma patente em relação a
outra;
II - o objeto da patente dependente constituir substancial progresso técnico
em relação à patente anterior; e

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 94

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III - o titular não realizar acordo com o titular da patente dependente para
exploração da patente anterior.
§ 1º Para os fins deste artigo considera-se patente dependente aquela cuja
exploração depende obrigatoriamente da utilização do objeto de patente
anterior.
§ 2º Para efeito deste artigo, uma patente de processo poderá ser
considerada dependente de patente do produto respectivo, bem como uma
patente de produto poderá ser dependente de patente de processo.
§ 3º O titular da patente licenciada na forma deste artigo terá direito a licença
compulsória cruzada da patente dependente.

Art. 72. As licenças compulsórias serão sempre concedidas sem


exclusividade, não se admitindo o sublicenciamento.

OBS: não existe licença voluntária e compulsória para REGISTRO, somente para patentes.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SP (2022) A licença compulsória de patente por interesse público não
afasta a remuneração ao seu titular. Correta!

4.10.2. Emergência nacional, internacional ou interesse público

Art. 71. Nos casos de EMERGÊNCIA NACIONAL OU INTERNACIONAL OU


DE INTERESSE PÚBLICO declarados em lei ou em ato do Poder Executivo
federal, ou de reconhecimento de estado de calamidade pública de âmbito
nacional pelo Congresso Nacional, poderá ser concedida licença
compulsória, de ofício, temporária e não exclusiva, para a exploração da
patente ou do pedido de patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo
titular, desde que seu titular ou seu licenciado não atenda a essa
necessidade.
§ 1º O ato de concessão da licença estabelecerá seu prazo de vigência e a
possibilidade de prorrogação.
§ 2º Nos casos previstos no caput deste artigo, o Poder Executivo federal
publicará lista de patentes ou de pedidos de patente, não aplicável o prazo
de sigilo previsto no art. 30 desta Lei, potencialmente úteis ao enfrentamento
das situações previstas no caput deste artigo, no prazo de até 30 (trinta) dias
após a data de publicação da declaração de emergência ou de interesse
público, ou do reconhecimento de estado de calamidade pública, excluídos
as patentes e os pedidos de patente que forem objetos de acordos de
transferência da tecnologia de produção ou de licenciamento voluntário
capazes de assegurar o atendimento da demanda interna, nos termos
previstos em regulamento.
§ 3º Entes públicos, instituições de ensino e pesquisa e outras entidades
representativas da sociedade e do setor produtivo deverão ser consultados
no processo de elaboração da lista de patentes ou de pedidos de patente que
poderão ser objeto de licença compulsória, nos termos previstos em
regulamento.
§ 4º Qualquer instituição pública ou privada poderá apresentar pedido para
inclusão de patente ou de pedido de patente na lista referida no § 2º deste
artigo.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 95

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
§ 5º A lista referida no § 2º deste artigo conterá informações e dados
suficientes para permitir a análise individualizada acerca da utilidade de cada
patente e pedido de patente e contemplará, pelo menos:
I – o número individualizado das patentes ou dos pedidos de patente que
poderão ser objeto de licença compulsória;
II – a identificação dos respectivos titulares;
III – a especificação dos objetivos para os quais será autorizado cada
licenciamento compulsório.
§ 6º A partir da lista publicada nos termos do § 2º deste artigo, o Poder
Executivo realizará, no prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período,
a avaliação individualizada das invenções e modelos de utilidade listados e
somente concederá a licença compulsória, de forma não exclusiva, para
produtores que possuam capacidade técnica e econômica comprovada para
a produção do objeto da patente ou do pedido de patente, desde que conclua
pela sua utilidade no enfrentamento da situação que a fundamenta.
§ 7º Patentes ou pedidos de patente que ainda não tiverem sido objeto de
licença compulsória poderão ser excluídos da lista referida no § 2º deste
artigo nos casos em que a autoridade competente definida pelo Poder
Executivo considerar que seus titulares assumiram compromissos objetivos
capazes de assegurar o atendimento da demanda interna em condições de
volume, de preço e de prazo compatíveis com as necessidades de
emergência nacional ou internacional, de interesse público ou de estado de
calamidade pública de âmbito nacional por meio de uma ou mais das
seguintes alternativas:
I – exploração direta da patente ou do pedido de patente no País;
II – licenciamento voluntário da patente ou do pedido de patente; ou
III – contratos transparentes de venda de produto associado à patente ou ao
pedido de patente.
§ 8º (VETADO).
§ 9º (VETADO).
§ 10. (VETADO).
§ 11. As instituições públicas que possuírem informações, dados e
documentos relacionados com o objeto da patente ou do pedido de patente
ficam obrigadas a compartilhar todos os elementos úteis à reprodução do
objeto licenciado, não aplicáveis, nesse caso, as normas relativas à proteção
de dados nem o disposto no inciso XIV do caput do art. 195 desta Lei.
§ 12. No arbitramento da remuneração do titular da patente ou do pedido de
patente, serão consideradas as circunstâncias de cada caso, observados,
obrigatoriamente, o valor econômico da licença concedida, a duração da
licença e as estimativas de investimentos necessários para sua exploração,
bem como os custos de produção e o preço de venda no mercado nacional
do produto a ela associado.
§ 13. A remuneração do titular da patente ou do pedido de patente objeto de
licença compulsória será fixada em 1,5% (um inteiro e cinco décimos por
cento) sobre o preço líquido de venda do produto a ela associado até que seu
valor venha a ser efetivamente estabelecido.
§ 14. A remuneração do titular do pedido de patente objeto de licença
compulsória somente será devida caso a patente venha a ser concedida, e o
pagamento, correspondente a todo o período da licença, deverá ser efetivado
somente após a concessão da patente.
§ 15. A autoridade competente dará prioridade à análise dos pedidos de
patente que forem objeto de licença compulsória.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 96

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§ 16. Os produtos que estiverem sujeitos ao regime de vigilância sanitária
deverão observar todos os requisitos previstos na legislação sanitária e
somente poderão ser comercializados após a concessão de autorização, de
forma definitiva ou para uso em caráter emergencial, pela autoridade sanitária
federal, nos termos previstos em regulamento.
§ 17. (VETADO).
§ 18. Independentemente da concessão de licença compulsória, o poder
público dará prioridade à celebração de acordos de cooperação técnica e de
contratos com o titular da patente para a aquisição da tecnologia produtiva e
de seu processo de transferência.

Art. 71-A. Poderá ser concedida, por razões humanitárias e nos termos de
tratado internacional do qual a República Federativa do Brasil seja parte,
licença compulsória de patentes de produtos destinados à exportação a
países com insuficiente ou nenhuma capacidade de fabricação no setor
farmacêutico para atendimento de sua população.

Art. 73. O pedido de licença compulsória deverá ser formulado mediante


indicação das condições oferecidas ao titular da patente.
§ 1º Apresentado o pedido de licença, o titular será intimado para manifestar-
se no prazo de 60 (sessenta) dias, findo o qual, sem manifestação do titular,
será considerada aceita a proposta nas condições oferecidas.
§ 2º O requerente de licença que invocar abuso de direitos patentários ou
abuso de poder econômico deverá juntar documentação que o comprove.
§ 3º No caso de a licença compulsória ser requerida com fundamento na falta
de exploração, caberá ao titular da patente comprovar a exploração.
§ 4º Havendo contestação, o INPI poderá realizar as necessárias diligências,
bem como designar comissão, que poderá incluir especialistas não
integrantes dos quadros da autarquia, visando arbitrar a remuneração que
será paga ao titular.
§ 5º Os órgãos e entidades da administração pública direta ou indireta,
federal, estadual e municipal, prestarão ao INPI as informações solicitadas
com o objetivo de subsidiar o arbitramento da remuneração.
§ 6º No arbitramento da remuneração, serão consideradas as circunstâncias
de cada caso, levando-se em conta, obrigatoriamente, o valor econômico da
licença concedida.
§ 7º Instruído o processo, o INPI decidirá sobre a concessão e condições da
licença compulsória no prazo de 60 (sessenta) dias.
§ 8º O recurso da decisão que conceder a licença compulsória não terá efeito
suspensivo.

Art. 74. Salvo razões legítimas, o licenciado deverá iniciar a exploração do


objeto da patente no prazo de 1 (um) ano da concessão da licença, admitida
a interrupção por igual prazo.
§ 1º O titular poderá requerer a cassação da licença quando não cumprido o
disposto neste artigo.
§ 2º O licenciado ficará investido de todos os poderes para agir em defesa da
patente.
§ 3º Após a concessão da licença compulsória, somente será admitida a sua
cessão quando realizada conjuntamente com a cessão, alienação ou
arrendamento da parte do empreendimento que a explore.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 97

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É o que vulgarmente se conhece por “quebra de patente”. Ocorre quando o titular da
patente não exerce o seu direito de exclusividade satisfatoriamente, caso no qual, por razões de
interesse público, emergência nacional ou emergência internacional, o titular é obrigado a licenciar
sua criação a terceiros, sendo por isso remunerado (LPI, art. 68, §§ 1º e 5º - acima).
Requisitos:
• Em caso de interesse público, emergência nacional ou internacional;
• Deve ser dada em lei ou por ato poder executivo federal, ou quando for
reconhecimento de estado de calamidade pública de âmbito nacional pelo
Congresso Nacional;
• Temporária;
• Não exclusiva;
• O titular não terá prejuízo (será remunerado pelo licenciamento), desde que seu titular
ou seu licenciado não atenda a essa necessidade.
O Decreto 6.108/07, que trata da licença compulsória de patentes referentes ao Efavirenz
(medicamento contra o HIV), apresenta todos esses requisitos. Outro exemplo, é o Decreto que
quebrou a patente do Viagra.
Estão em negrito e sublinhado as alterações trazidas pela Lei 14.200/2022. Além disso, a
nova lei previu que:
a) Publicação de lista com as patentes e pedidos de patente que podem auxiliar
O Poder Executivo federal publicará lista de patentes ou de pedidos de patente, não aplicável
o prazo de sigilo previsto no art. 30 da LPI, potencialmente úteis ao enfrentamento das situações
previstas no caput do art. 71, no prazo de até 30 (trinta) dias após a data de publicação da
declaração de emergência ou de interesse público, ou do reconhecimento de estado de calamidade
pública, excluídos as patentes e os pedidos de patente que forem objetos de acordos de
transferência da tecnologia de produção ou de licenciamento voluntário capazes de assegurar o
atendimento da demanda interna, nos termos previstos em regulamento (novo § 2º do art. 71).
b) Entidades especializadas serão consultadas para a elaboração dessa lista
Entes públicos, instituições de ensino e pesquisa e outras entidades representativas da
sociedade e do setor produtivo deverão ser consultados no processo de elaboração da lista de
patentes ou de pedidos de patente que poderão ser objeto de licença compulsória (novo § 3º do art.
71).
Qualquer instituição pública ou privada poderá apresentar pedido para inclusão de patente
ou de pedido de patente na lista (novo § 4º do art. 71).
d) Informações que deverão constar na lista
A lista conterá informações e dados suficientes para permitir a análise individualizada acerca
da utilidade de cada patente e pedido de patente e contemplará, pelo menos:
I – o número individualizado das patentes ou dos pedidos de patente que poderão ser objeto
de licença compulsória;
II – a identificação dos respectivos titulares;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 98

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III – a especificação dos objetivos para os quais será autorizado cada licenciamento
compulsório. (novo § 5º do art. 71)
e) Avaliação individualizada das patentes
A partir da lista publicada, o Poder Executivo realizará, no prazo de 30 (trinta) dias,
prorrogável por igual período, a avaliação individualizada das invenções e modelos de utilidade
listados e somente concederá a licença compulsória, de forma não exclusiva, para produtores que
possuam capacidade técnica e econômica comprovada para a produção do objeto da patente ou
do pedido de patente, desde que conclua pela sua utilidade no enfrentamento da situação que a
fundamenta (novo § 6º do art. 71).
f) Exclusão da lista
Patentes ou pedidos de patente que ainda não tiverem sido objeto de licença compulsória
poderão ser excluídos da lista referida no § 2º deste artigo nos casos em que a autoridade
competente definida pelo Poder Executivo considerar que seus titulares assumiram compromissos
objetivos capazes de assegurar o atendimento da demanda interna em condições de volume, de
preço e de prazo compatíveis com as necessidades de emergência nacional ou internacional, de
interesse público ou de estado de calamidade pública de âmbito nacional por meio de uma ou mais
das seguintes alternativas:
I – exploração direta da patente ou do pedido de patente no País;
II – licenciamento voluntário da patente ou do pedido de patente; ou
III – contratos transparentes de venda de produto associado à patente ou ao pedido de
patente. (novo § 7º do art. 71)
g) Critérios para o arbitramento da remuneração do titular
No arbitramento da remuneração do titular da patente ou do pedido de patente, serão
consideradas as circunstâncias de cada caso, observados, obrigatoriamente, o valor econômico da
licença concedida, a duração da licença e as estimativas de investimentos necessários para sua
exploração, bem como os custos de produção e o preço de venda no mercado nacional do produto
a ela associado (novo § 12 do art. 71).
A remuneração do titular da patente ou do pedido de patente objeto de licença compulsória
será fixada em 1,5% (um inteiro e cinco décimos por cento) sobre o preço líquido de venda do
produto a ela associado até que seu valor venha a ser efetivamente estabelecido (novo § 13 do art.
71)
A remuneração do titular do pedido de patente objeto de licença compulsória somente será
devida caso a patente venha a ser concedida, e o pagamento, correspondente a todo o período da
licença, deverá ser efetivado somente após a concessão da patente (novo § 14 do art. 71)
A autoridade competente dará prioridade à análise dos pedidos de patente que forem objeto
de licença compulsória (novo § 15 do art. 71)
h) Produtos somente podem ser comercializados após a autorização da vigilância sanitária
Os produtos que estiverem sujeitos ao regime de vigilância sanitária deverão observar todos
os requisitos previstos na legislação sanitária e somente poderão ser comercializados após a
concessão de autorização, de forma definitiva ou para uso em caráter emergencial, pela autoridade
sanitária federal (novo § 16 do art. 71)
i) Art. 71-A: de produtos farmacêuticos destinados à exportação por razões humanitárias.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 99

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Trata-se de importante inovação incluída pela Lei nº 14.200/2021:
Art. 71-A. Poderá ser concedida, por razões humanitárias e nos termos de
tratado internacional do qual a República Federativa do Brasil seja parte,
licença compulsória de patentes de produtos destinados à exportação a
países com insuficiente ou nenhuma capacidade de fabricação no setor
farmacêutico para atendimento de sua população. Interesse da defesa
nacional

Previsto no art. 75 da LPI, vejamos:


Art. 75. O pedido de patente originário do Brasil cujo objeto interesse à
defesa nacional será processado em caráter sigiloso e não estará sujeito às
publicações previstas nesta Lei. (Regulamento)
§ 1º O INPI encaminhará o pedido, de imediato, ao órgão competente do
Poder Executivo para, no prazo de 60 (sessenta) dias, manifestar-se sobre o
caráter sigiloso. Decorrido o prazo sem a manifestação do órgão competente,
o pedido será processado normalmente.
§ 2º É vedado o depósito no exterior de pedido de patente cujo objeto tenha
sido considerado de interesse da defesa nacional, bem como qualquer
divulgação do mesmo, salvo expressa autorização do órgão competente.
§ 3º A exploração e a cessão do pedido ou da patente de interesse da defesa
nacional estão condicionadas à prévia autorização do órgão competente,
assegurada indenização sempre que houver restrição dos direitos do
depositante ou do titular. (Vide Decreto nº 2.553, de 1998)

4.11. PATENTE PIPELINE

É quando o depósito internacional é válido como interno, por conta do acordo de TRIPS.
Também chamada de patente de revalidação, prevista nos arts. 230 e 231 da LPI, vejamos:
Art. 230. Poderá ser depositado pedido de patente relativo às substâncias,
matérias ou produtos obtidos por meios ou processos químicos e as
substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios, químico-
farmacêuticos e medicamentos de qualquer espécie, bem como os
respectivos processos de obtenção ou modificação, por quem tenha proteção
garantida em tratado ou convenção em vigor no Brasil, ficando assegurada a
data do primeiro depósito no exterior, desde que seu objeto não tenha sido
colocado em qualquer mercado, por iniciativa direta do titular ou por terceiro
com seu consentimento, nem tenham sido realizados, por terceiros, no País,
sérios e efetivos preparativos para a exploração do objeto do pedido ou da
patente.
§ 1º O depósito deverá ser feito dentro do prazo de 1 (um) ano contado da
publicação desta Lei, e deverá indicar a data do primeiro depósito no exterior.
§ 2º O pedido de patente depositado com base neste artigo será
automaticamente publicado, sendo facultado a qualquer interessado
manifestar-se, no prazo de 90 (noventa) dias, quanto ao atendimento do
disposto no caput deste artigo.
§ 3º Respeitados os arts. 10 e 18 desta Lei, e uma vez atendidas as condições
estabelecidas neste artigo e comprovada a concessão da patente no país
onde foi depositado o primeiro pedido, será concedida a patente no Brasil, tal
como concedida no país de origem.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 100

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§ 4º Fica assegurado à patente concedida com base neste artigo o prazo
remanescente de proteção no país onde foi depositado o primeiro pedido,
contado da data do depósito no Brasil e limitado ao prazo previsto no art. 40,
não se aplicando o disposto no seu parágrafo único.
§ 5º O depositante que tiver pedido de patente em andamento, relativo às
substâncias, matérias ou produtos obtidos por meios ou processos químicos
e as substâncias, matérias, misturas ou produtos alimentícios, químico-
farmacêuticos e medicamentos de qualquer espécie, bem como os
respectivos processos de obtenção ou modificação, poderá apresentar novo
pedido, no prazo e condições estabelecidos neste artigo, juntando prova de
desistência do pedido em andamento.
§ 6º Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber, ao pedido
depositado e à patente concedida com base neste artigo.

Art. 231. Poderá ser depositado pedido de patente relativo às matérias de que
trata o artigo anterior, por nacional ou pessoa domiciliada no País, ficando
assegurada a data de divulgação do invento, desde que seu objeto não tenha
sido colocado em qualquer mercado, por iniciativa direta do titular ou por
terceiro com seu consentimento, nem tenham sido realizados, por terceiros,
no País, sérios e efetivos preparativos para a exploração do objeto do pedido.
§ 1º O depósito deverá ser feito dentro do prazo de 1 (um) ano contado da
publicação desta Lei.
§ 2º O pedido de patente depositado com base neste artigo será processado
nos termos desta Lei.
§ 3º Fica assegurado à patente concedida com base neste artigo o prazo
remanescente de proteção de 20 (vinte) anos contado da data da divulgação
do invento, a partir do depósito no Brasil.
§ 4º O depositante que tiver pedido de patente em andamento, relativo às
matérias de que trata o artigo anterior, poderá apresentar novo pedido, no
prazo e condições estabelecidos neste artigo, juntando prova de desistência
do pedido em andamento.

Foi o que aconteceu com o Viagra. Para o Brasil, é válido esse primeiro depósito
internacional.
Explicação Dizer o Direito
Em palavras muito simples, porque o tema é bem complexo, a patente “pipeline”, também
chamada de “patente de importação” ou “patente de revalidação”, é aquela em que em fica
demonstrado que já houve expedição de patente no exterior, razão pela qual o INPI registra no
Brasil essa patente exigindo menores formalidades.
O sistema pipeline de patentes, disciplinado no art. 230 da Lei 9.279⁄96,
desde que cumpridos requisitos e condições próprias, reconhece o direito a
exploração com exclusividade ao inventor cujo invento – embora não
patenteável quando da vigência da Lei 5.772⁄71 – seja objeto de patente
estrangeira.” (STJ. 3ª Turma. REsp nº 1.092.139/RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 21/10/2010).

Outra característica da patente do tipo “pipeline” é que ela se refere a substâncias, matérias
ou produtos que farão parte da fórmula de produtos finais que ainda estão em fase de
desenvolvimento, ou seja, não se encontram disponíveis para o comércio. Como o produto ainda

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 101

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não está pronto, não poderia ser protegido, mas, mesmo assim, a legislação abre uma exceção e
aceita a patente da substância.
Segundo o STJ, a concessão da patente “pipeline” representa uma mitigação ao princípio
da novidade. Além disso, nesse sistema de patente não são examinados os requisitos usuais de
patenteabilidade. Trata-se, portanto, de um sistema de exceção, não previsto em tratados
internacionais, que deve ser interpretado restritivamente, seja por contrapor ao sistema comum de
patentes, seja por restringir a concorrência e a livre iniciativa (STJ. 3ª Turma. REsp nº 1.145.637/RJ,
Rel. Desembargador Convocado Vasco Della Giustina, julgado em 15⁄12⁄2009).
Sobre as regras aplicáveis ao registro de patentes no modelo pipeline, se manifestou o STJ:
O registro sob o sistema “pipeline” não se submete à regra do art. 8º, ou seja,
não se exige dele novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Os
requisitos para a concessão da patente “pipeline” estão disciplinados nos arts.
230 e 231 da Lei de Propriedade industrial e, uma vez concedida a patente
“pipeline” por outa jurisdição, ela não podrá ser anilada invocando-se a
ausência de um dos requisitos de mérito previstos no art. 8º da LPI para a
concessão das patentes ordinárias (novidade, atividade inventiva e aplicação
industrial). Assim, uma patente pipeline concedida no exterior e revalidada
no Brasil não pode ser anulada ao fundamento de falta de um dos requisitos
de mérito do art. 8º da Lei 9279/96 (Lei da Propriedade Industrial – LPI), mas
apenas por ausência de requisito especificamente aplicável a ela (como, por
exemplo, por falta de pagamento da anuidade no Brasil) ou em razão de
irregularidades formais. STJ. 3ªTurma, REsp 1.201.454-RJ, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 14/10/2014 (Info 550).

4.12. PATENTE MAILBOX

Inicialmente, importante destacar que:

• A Lei de Propriedade Industrial entrou em vigor 15 de maio de 1997, um ano após a sua
publicação;

• A legislação anterior não previa a patente de produtos farmacêuticos e produtos


químicos voltados para a agricultura;

• Em 1º de janeiro de 1995, foi internalizado o Acordo Sobre Aspectos dos Direitos de


Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPS), mediante o Decreto
1.355/1994;

• Em 15 de maio de 1997, entraram em vigor dispositivos da Lei 9.279/96 referentes ao


exame de patentes;

• Art. 229 visou proteger os pedidos de patente depositados entre 1º de janeiro de 1995 e
14 de maio de 1997.

Art. 229. Aos pedidos em andamento serão aplicadas as disposições desta


Lei, exceto quanto à patenteabilidade dos pedidos depositados até 31 de
dezembro de 1994, cujo objeto de proteção sejam substâncias, matérias ou
produtos obtidos por meios ou processos químicos ou substâncias, matérias,
misturas ou produtos alimentícios, químico-farmacêuticos e medicamentos de

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 102

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qualquer espécie, bem como os respectivos processos de obtenção ou
modificação e cujos depositantes não tenham exercido a faculdade prevista
nos arts. 230 e 231 desta Lei, os quais serão considerados indeferidos, para
todos os efeitos, devendo o INPI publicar a comunicação dos aludidos
indeferimentos.
Parágrafo único. Aos pedidos relativos a produtos farmacêuticos e produtos
químicos para a agricultura, que tenham sido depositados entre 1 o de janeiro
de 1995 e 14 de maio de 1997, aplicam-se os critérios de patenteabilidade
desta Lei, na data efetiva do depósito do pedido no Brasil ou da prioridade,
se houver, assegurando-se a proteção a partir da data da concessão da
patente, pelo prazo remanescente a contar do dia do depósito no Brasil,
limitado ao prazo previsto no caput do art. 40.

O sistema denominado mailbox consistiu em mecanismo transitório adotado para


salvaguarda de pedidos de patentes relacionadas a produtos farmacêuticos e produtos
agroquímicos, cuja tutela jurídica resultou da internalização no País, em 1/1/1995, do Acordo TRIPS
(Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio).

O prazo de vigência das patentes concedidas pelo sistema mailbox é de 20


anos contados da data do depósito. STJ. 3ª Turma. REsp 1.840.910-RJ, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/11/2019 (Info 660).

Resumindo:

• o prazo de vigência das patentes é de 20 anos, contados do depósito (art. 40, caput);

• o depositante não pode ser prejudicado se o INPI demorar muito para conceder a patente
depois de o depósito ser feito. Por isso, o parágrafo único do art. 40 prevê que o prazo
de vigência da patente de invenção não pode ser inferior a 10 anos, a contar da data de
concessão. Exceção: esse prazo pode ser menor que 10 anos se o INPI estava impedido
de proceder ao exame de mérito do pedido, por pendência judicial comprovada ou por
motivo de força maior;

• no caso da patente pelo sistema mailbox, o legislador previu uma regra específica e disse
apenas que o prazo de vigência das patentes concedidas pelo sistema mailbox é de 20
anos contados da data do depósito (art. 229, parágrafo único, da LPI);

• assim, no caso da patente pelo sistema mailbox, não se aplica a regra do parágrafo
único do art. 40 (revogado), ou seja, o prazo de vigência das patentes concedidas pelo
sistema mailbox NÃO é de 10 anos contados de sua concessão.

Seguindo este raciocínio, recentemente o STJ decidiu sob a sistemática de repercussão


geral sobre as patentes mailbox:

O sistema denominado mailbox consistiu em mecanismo transitório adotado


para salvaguarda de pedidos de patentes relacionadas a produtos
farmacêuticos e produtos agroquímicos, cuja tutela jurídica resultou da
internalização no País, em 1/1/1995, do Acordo TRIPS (Acordo sobre
Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio).
Tratando-se de patentes excepcionalmente requeridas pelo sistema mailbox,
a Lei de Propriedade Industrial, em suas disposições finais e transitórias,
estabeleceu regra expressa assegurando proteção, a partir da data da

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 103

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respectiva concessão, limitada ao prazo remanescente previsto no caput do
seu art. 40 (20 anos contados do dia do depósito). Assim, o legislador afasta
a possibilidade de incidência do prazo excepcional do parágrafo único do art.
40 (10 anos a partir da concessão). Tese fixada: O marco inicial e o prazo de
vigência previstos no parágrafo único do art. 40 da LPI não são aplicáveis às
patentes depositadas na forma estipulada pelo art. 229, parágrafo único,
dessa mesma lei (patentes mailbox). Obs: o STF decidiu que o parágrafo
único do art. 40 da LPI é inconstitucional: ADI 5529/DF, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 12/5/2021 (Info 1017). STJ. 2ª Seção. REsp 1869959-RJ, Rel.
Min. Maria Isabel Gallotti, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em
27/04/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1065) (Info 734).

4.13. NULIDADE DA PATENTE

4.13.1. Disposição legal

Art. 46. É nula a patente concedida contrariando as disposições desta Lei.

Art. 47. A nulidade poderá não incidir sobre todas as reivindicações, sendo
condição para a nulidade parcial o fato de as reivindicações subsistentes
constituírem matéria patenteável por si mesmas.

Art. 48. A nulidade da patente produzirá efeitos a partir da data do depósito


do pedido.

Art. 49. No caso de inobservância do disposto no art. 6º, o inventor poderá,


alternativamente, reivindicar, em ação judicial, a adjudicação da patente.

4.13.2. Processo administrativo de nulidade de patente

Art. 50. A nulidade da patente será declarada ADMINISTRATIVAMENTE


quando:
I - não tiver sido atendido qualquer dos requisitos legais;
II - o relatório e as reivindicações não atenderem ao disposto nos arts. 24 e
25, respectivamente;

Art. 24. O relatório deverá descrever clara e suficientemente o objeto, de


modo a possibilitar sua realização por técnico no assunto e indicar, quando
for o caso, a melhor forma de execução.
Parágrafo único. No caso de material biológico essencial à realização prática
do objeto do pedido, que não possa ser descrito na forma deste artigo e que
não estiver acessível ao público, o relatório será suplementado por depósito
do material em instituição autorizada pelo INPI ou indicada em acordo
internacional.

Art. 25. As reivindicações deverão ser fundamentadas no relatório descritivo,


caracterizando as particularidades do pedido e definindo, de modo claro e
preciso, a matéria objeto da proteção.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 104

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III - o objeto da patente se estenda além do conteúdo do pedido originalmente
depositado; ou
IV - no seu processamento, tiver sido omitida qualquer das formalidades
essenciais, indispensáveis à concessão.

Prazo para o processo ADMINISTRATIVO requerendo a nulidade da patente: Art. 51: 06


meses da concessão.
Art. 51. O processo de nulidade poderá ser instaurado de ofício ou mediante
requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, no prazo de 6
(SEIS) MESES contados da CONCESSÃO da PATENTE.

OBS: para declaração de nulidade no âmbito administrativo do


REGISTRO (desenho industrial ou marca) o prazo é de 05 anos.

Parágrafo único. O processo de nulidade prosseguirá ainda que extinta a


patente.

Art. 52. O titular será intimado para se manifestar no prazo de 60 (sessenta)


dias.

Art. 53. Havendo ou não manifestação, decorrido o prazo fixado no artigo


anterior, o INPI emitirá parecer, intimando o titular e o requerente para se
manifestarem no prazo comum de 60 (sessenta) dias.

Art. 54. Decorrido o prazo fixado no artigo anterior, mesmo que não
apresentadas as manifestações, o processo será decidido pelo Presidente do
INPI, encerrando-se a instância administrativa.

Art. 55. Aplicam-se, no que couber, aos certificados de adição, as disposições


desta Seção.

Prazo para pleitear JUDICIALMENTE (ação de competência da Justiça Federal) requerendo


a nulidade: art. 56. Não tem prazo
Art. 56. A AÇÃO DE NULIDADE poderá ser proposta a qualquer tempo da
vigência da patente, pelo INPI ou por qualquer pessoa com legítimo interesse.
§ 1º A nulidade da patente poderá ser arguida, a qualquer tempo, como
matéria de defesa.
§ 2º O juiz poderá, preventiva ou incidentalmente, determinar a suspensão
dos efeitos da patente, atendidos os requisitos processuais próprios.

Art. 57. A ação de nulidade de patente será ajuizada no foro da Justiça


Federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
§ 1º O prazo para resposta do réu titular da patente será de 60 (sessenta)
dias.
§ 2º Transitada em julgado a decisão da ação de nulidade, o INPI publicará
anotação, para ciência de terceiros

4.14. EXTINÇÃO DA PATENTE

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 105

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O art. 78 da LPI prevê as hipóteses em que haverá a extinção da patente.
Art. 78. A patente extingue-se:
I - pela expiração do prazo de vigência;
II - pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros;
III - pela caducidade;
IV - pela falta de pagamento da retribuição anual, nos prazos previstos no §
2º do art. 84 e no art. 87; e
V - pela inobservância do disposto no art. 217.
Parágrafo único. Extinta a patente, o seu objeto cai em domínio público.

Art. 79. A renúncia só será admitida se não prejudicar direitos de terceiros.

Conforme o art. 80, terminado o prazo do licenciamento compulsório e permanecendo a


situação que ensejou a medida (exploração insatisfatória da invenção, por exemplo), ocorrerá a
caducidade da patente, perdendo o inventor todos os direitos industriais que possuía, caindo a
invenção em domínio público.

Art. 80. Caducará a patente, de ofício ou a requerimento de qualquer pessoa


com legítimo interesse, se, decorridos 2 (dois) anos da concessão da primeira
licença compulsória, esse prazo não tiver sido suficiente para prevenir ou
sanar o abuso ou desuso, salvo motivos justificáveis.
§ 1º A patente caducará quando, na data do requerimento da caducidade ou
da instauração de ofício do respectivo processo, não tiver sido iniciada a
exploração.
§ 2º No processo de caducidade instaurado a requerimento, o INPI poderá
prosseguir se houver desistência do requerente.

Art. 81. O titular será intimado mediante publicação para se manifestar, no


prazo de 60 (sessenta) dias, cabendo-lhe o ônus da prova quanto à
exploração.

Art. 82. A decisão será proferida dentro de 60 (sessenta) dias, contados do


término do prazo mencionado no artigo anterior.

Art. 83. A decisão da caducidade produzirá efeitos a partir da data do


requerimento ou da publicação da instauração de ofício do processo.

Por fim, a inobservância da regra do art. 217 da LPI é causa de extinção da patente.

Art. 217. A pessoa domiciliada no exterior deverá constituir e manter


procurador devidamente qualificado e domiciliado no País, com poderes para
representá-la administrativa e judicialmente, inclusive para receber citações.

5. REGISTRO

5.1. DESENHO INDUSTRIAL (“DESIGN”)

Art. 95. Considera-se DESENHO INDUSTRIAL a forma plástica ornamental


de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser
aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 106

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sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação
industrial.

Conforme o art. 95 é “a forma plástica ornamental, de um objeto ou o conjunto ornamental


de linhas e cores, que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e
original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial”.

Expressões: visual novo, configuração externa, estética, design, visual arrojado.

Doutrina: desenho industrial é elemento fútil, pois não traz nenhum tipo de utilidade, só está
preocupado com a configuração externa.

Preservativo com sabor é o que? Modelo de utilidade. Diferentemente de preservativo


colorido, como muda a estética, é desenho industrial.

André Ramos sujeita o desenho industrial aos seguintes requisitos: NOVIDADE - art. 96 §3º,
ORIGINALIDADE (ao invés da ‘atividade inventiva’ da patente) – art. 97, APLICAÇÃO INDUSTRIAL
e LICITUDE (ou desimpedimento). - “NOA”

5.1.1. Novidade

Estará atendida quando o desenho industrial não for compreendido no estado de técnica.
Art. 96. O desenho industrial é considerado NOVO quando não compreendido
no estado da técnica.
§ 1º O estado da técnica é constituído por tudo aquilo tornado acessível ao
público antes da data de depósito do pedido, no Brasil ou no exterior, por uso
ou qualquer outro meio, ressalvado o disposto no § 3º deste artigo e no art.
99.
§ 2º Para aferição unicamente da novidade, o conteúdo completo de pedido
de patente ou de registro depositado no Brasil, e ainda não publicado, será
considerado como incluído no estado da técnica a partir da data de depósito,
ou da prioridade reivindicada, desde que venha a ser publicado, mesmo que
subsequentemente.
§ 3º Não será considerado como incluído no estado da técnica o desenho
industrial cuja divulgação tenha ocorrido durante os 180 (cento e oitenta) dias
que precederem a data do depósito ou a da prioridade reivindicada, se
promovida nas situações previstas nos incisos I a III do art. 12.

Art. 12. Não será considerada como estado da técnica a divulgação de


invenção ou modelo de utilidade, quando ocorrida durante os 12 (doze)
meses que precederem a data de depósito ou a da prioridade do pedido de
patente, se promovida:
I - pelo inventor;
II - pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial - INPI, através de
publicação oficial do pedido de patente depositado sem o consentimento do
inventor, baseado em informações deste obtidas ou em decorrência de atos
por ele realizados; ou
III - por terceiros, com base em informações obtidas direta ou indiretamente
do inventor ou em decorrência de atos por este realizados.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 107

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5.1.2. Originalidade

Trata-se da necessidade de o desenho industrial apresentar um caráter distinto em relação


aos demais já existentes.
Art. 97. O desenho industrial é considerado original quando dele resulte uma
configuração visual distintiva, em relação a outros objetos anteriores.
Parágrafo único. O resultado VISUAL ORIGINAL poderá ser decorrente da
combinação de elementos conhecidos

5.1.3. Impedimentos

Art. 100. Não é registrável como desenho industrial:


I - o que for contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou
imagem de pessoas, ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto
religioso ou ideia e sentimentos dignos de respeito e veneração;
II - a forma necessária comum ou vulgar do objeto ou, ainda, aquela
determinada essencialmente por considerações técnicas ou funcionais.

5.1.4. Nulidade do registro do desenho de utilidade art. 112

Art. 112. É NULO o registro concedido em desacordo com as disposições


desta Lei.
§ 1º A nulidade do registro produzirá efeitos a partir da data do depósito do
pedido.
§ 2º No caso de inobservância do disposto no art. 94, o autor poderá,
alternativamente, reivindicar a adjudicação do registro.

Prazo para o processo administrativo: art. 113 – 05 anos da concessão.


Art. 113. A nulidade do registro será declarada administrativamente quando
tiver sido concedido com infringência dos arts. 94 a 98.
§ 1º O processo de nulidade poderá ser instaurado de ofício ou mediante
requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, no prazo de 05
(cinco) anos contados da CONCESSÃO do registro, ressalvada a hipótese
prevista no parágrafo único do art. 111.

OBS: para declaração de nulidade no âmbito administrativo da PATENTE (invenção ou


modelo de utilidade) o prazo é de 06 meses.

§ 2º O requerimento ou a instauração de ofício suspenderá os efeitos da


concessão do registro se apresentada ou publicada no prazo de 60 (sessenta)
dias da concessão.

Prazo judicial (ação de nulidade): art. 56/57 - sem prazo.


Art. 118. Aplicam-se à ação de nulidade de registro de desenho industrial, no
que couber, as disposições dos arts. 56 e 57.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 108

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Art. 56. A ação de nulidade poderá ser proposta a qualquer tempo da
vigência da patente, pelo INPI ou por qualquer pessoa com legítimo
interesse.
§ 1º A nulidade da patente poderá ser arguida, a qualquer tempo, como
matéria de defesa.
§ 2º O juiz poderá, preventiva ou incidentalmente, determinar a suspensão
dos efeitos da patente, atendidos os requisitos processuais próprios.

Art. 57. A ação de nulidade de patente será ajuizada no foro da Justiça


Federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
§ 1º O prazo para resposta do réu titular da patente será de 60 (sessenta)
dias.
§ 2º Transitada em julgado a decisão da ação de nulidade, o INPI publicará
anotação, para ciência de terceiros.

5.1.5. Extinção do REGISTRO do desenho de utilidade

Art. 119. O registro extingue-se:


I - pela expiração do prazo de vigência;
II - pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros;
III - pela falta de pagamento da retribuição prevista nos arts. 108 e 120; ou
IV - pela inobservância do disposto no art. 217.

Não haverá extinção por caducidade.

5.2. MARCA

Art. 122. São suscetíveis de REGISTRO como marca os sinais distintivos


visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais.

A marca é um sinal visualmente perceptível que serve como meio distintivo. Um sinal
sonoro não pode ser registrado como marca, pois não é visual.

5.2.1. Espécies de Marca (art. 123)

Art. 123. Para os efeitos desta Lei, considera-se:


I - marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou
serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa;

ATENÇÃO: NÃO se confunde com nome empresarial (designativo do empresário ou


sociedade) nem com título do estabelecimento (designativo do próprio do estabelecimento
empresarial).
II - marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de um
produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas,
notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia
empregada; e

Exemplo: INMETRO, ISO.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 109

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III - marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços
provindos de membros de uma determinada entidade.

Exemplo: Lata de café = Associação Brasileira dos Produtores de Café, serve para trazer
maior credibilidade ao produto.

5.2.2. Espécies de marca quanto à sua apresentação

ESPÉCIES
É o sinal constituído por uma ou mais palavras no sentido
amplo do alfabeto romano, compreendendo, também, os
NOMINATIVA OU neologismos e as combinações de letras e/ou algarismos
VERBAL romanos e/ou arábicos, desde que esses elementos não se
apresentem sob forma fantasiosa ou figurativa.
Exemplo: SONY, Google
É o sinal constituído por desenho, imagem, figura e/ou
símbolo; qualquer forma fantasiosa ou figurativa de letra ou
algarismo isoladamente, ou acompanhado por desenho,
FIGURATIVA OU imagem, figura ou símbolo; palavras compostas por letras
EMBLEMÁTICA de alfabetos distintos da língua vernácula, tais como
hebraico, cirílico, árabe, etc.; ideogramas, tais como o
japonês e o chinês.
Exemplo: Globo, Apple
É o sinal constituído pela combinação de elementos
nominativos e figurativos ou mesmo apenas por elementos
MISTA OU COMPOSTA nominativos cuja grafia se apresente sob forma fantasiosa
ou estilizada.
Exemplos: Nike, Cadernos Sistematizados, Toyota
É o sinal constituído pela forma plástica distintiva em si,
capaz de individualizar os produtos ou serviços a que se
TRIDIMENSIONAL aplica. Assim, é possível registrar a marca da própria forma
plástica desse produto ou mesmo da embalagem.
Exemplo: Coca-Cola

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/PI (2022) O sinal constituído pela combinação de elementos
nominativos e figurativos cuja grafia se apresente sob forma fantasiosa ou
estilizada é considerado marca mista. Correta!

5.2.3. Princípios da marca

O Direito de Marcas é regido por três princípios fundamentais. Vejamos:

• Princípio da Territorialidade (art. 129 da LPI) – o âmbito de proteção da marca é todo o


território nacional.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 110

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Art. 129. A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente
expedido, conforme as disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular
seu uso exclusivo em todo o território nacional, observado quanto às marcas
coletivas e de certificação o disposto nos arts. 147 e 148.

• Princípio da Especialidade – a proteção assegurada à marca recai sobre produtos ou


serviços correspondentes à atividade do requerente, visando a distingui-los de outros
idênticos ou similares, de origem diversa.

Por exemplo, há um produto de limpeza VEJA e a revista VEJA, mesmo nome, mas
produtos e serviços diversos.

• Princípio do Sistema Atributivo - o sistema de registro de marca adotado no Brasil é


atributivo de direito, isto é, sua propriedade e seu uso exclusivo só são adquiridos pelo
registro, conforme define o art. 129 da LPI. O titular da marca é aquele que tem o seu
registo.

5.2.4. Requisitos para registro de marca

• Novidade (Relativa);
• Originalidade (Não colidência com marca notória);
• Não há impedimento legal.
Vejamos:

1) Novidade (Relativa)

Não se exige novidade absoluta, ou seja, não se exige que o sinal distintivo tenha sido criado
pelo empresário. O que deve ser nova é a utilização daquele sinal em relação àquele tipo de produto
ou serviço (princípio da especificidade ou especialidade). Ex: Produtos com a marca “Sol”,
existem vários, desde cerveja a bronzeador.
A novidade está relacionada à classificação do INPI. Se não estiver presente na lista do
INPI, pode ser utilizada.
Veja como o STJ decidiu no caso a seguir.
A empresa “A oferece serviços de orientação e reeducação pedagógica a alunos com
dificuldades escolares. Essa instituição registrou no INPI a expressão “CRESCER”, adquirindo o
direito de uso da marca.
Alguns anos depois, foi inaugurada uma escola (empresa “B”) e passou a também utilizar a
palavra “CRESCER” em suas atividades empresariais.
O STJ entendeu que o uso da expressão “CRESCER” por parte da escola viola o direito de
uso exclusivo de marca pertencente à empresa “A”. Isso porque, embora as atividades exercidas
sejam distintas, elas se enquadram na mesma classe de serviços, a de serviços de educação.
Ainda sobre o julgado, colacionamos um trecho da ementa para reforçar alguns dos
argumentos usados pela Corte como ratio decidendi:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 111

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DIREITO EMPRESARIAL. DIREITO DE USO EXCLUSIVO
DE MARCA REGISTRADA. O uso, por quem presta serviço de ensino
regular, da mesma marca anteriormente registrada, na classe dos
serviços de educação, por quem presta, no mesmo Município, serviços
de orientação e reeducação pedagógica a alunos com dificuldades
escolares viola o direito de uso exclusivo de marca. O registro da
marca, embora garanta proteção nacional à exploração exclusiva por parte
do titular, encontra limite no princípio da especialidade, que restringe a
exclusividade de utilização do signo a um mesmo nicho de produtos e
serviços. Assim, uma mesma marca pode ser utilizada por titulares distintos
se não houver qualquer possibilidade de se confundir o consumidor. Para se
verificar a possibilidade de confusão na utilização da mesma marca por
diferentes fornecedores de produtos e serviços, deve ser observada,
inicialmente, a Classificação Internacional de Produtos e de Serviços,
utilizada pelo INPI como parâmetro para concessão ou não do registro de
uma marca. É verdade que a tabela de classes não deve ser utilizada de
forma absoluta para fins de aplicação do princípio da
especialidade, servindo apenas como parâmetro inicial na análise de
possibilidade de confusão. Porém, na hipótese, embora os serviços
oferecidos sejam distintos, eles são complementares, pois têm finalidades
idênticas, além de ocuparem os mesmos canais de comercialização. REsp
1.309.665-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
4/9/2014.

d) Originalidade (não colidência com marca notória)

Marca notória é aquela ostensivamente pública e conhecida, de popularidade internacional,


que é protegida independentemente de registro no INPI, devido à Convenção da União de Paris,
da qual o Brasil é signatário.
Atenção: MARCA NOTÓRIA é somente protegida no seu ramo de atividade (ou seja,
protegida em relação a produtos idênticos ou similares), diferentemente da MARCA DE ALTO
RENOME, que após ser registrada no INPI e ter reconhecida essa qualificação especial (alto
renome), passa a ser protegida em TODOS OS RAMOS da atividade econômica, conforme o art.
125 da LPI (proteção em todos os itens da classificação do INPI).
Não confundir:
MARCA DE ALTO RENOME MARCA NOTÓRIA
Precisa de registro Não precisa de registro (Convenção da
União de Paris)
Proteção em todos os itens de Apenas no ramo de atividade
classificação
Brasil Internacional
Exceção ao Princípio da Especialidade Exceção ao Princípio da Territorialidade

Art. 125. À marca registrada no Brasil considerada de ALTO RENOME será


assegurada proteção especial, em todos os ramos de atividade.

Em relação à marca de alto renome, importante conhecer a decisão do STJ:


É legítimo o interesse do titular de uma marca em obter do INPI, pela via
direta, uma declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 112

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Caso inexista uma declaração administrativa do INPI a respeito da
caracterização, ou não, de uma marca como sendo de alto renome, não pode
o Poder Judiciário conferir, pela via judicial, a correspondente proteção
especial.

A 3ª Turma do STJ alterou, em parte, seu entendimento.


O STJ decidiu que o titular da marca possui legítimo interesse em obter, por via direta, uma
declaração geral e abstrata de que sua marca é de alto renome. Veja alguns argumentos veiculados
pela Min. Nancy Andrighi:
• O reconhecimento do alto renome só pela via incidental (de defesa) imporia ao titular um
ônus injustificado de ficar constantemente acompanhando todos os pedidos de registro
de marcas a fim de identificar eventuais ofensas ao seu direito marcário;
• Ademais, acontece muitas vezes de a pessoa que está utilizando indevidamente a marca
de alto renome nem sequer tentar fazer o registro no INPI por saber que seria
questionado. Ex: a pessoa possui uma confecção de roupas Natura (com o mesmo
símbolo da marca registrada). Logo, ela nem vai tentar registrar esta marca porque tem
consciência de que haveria oposição por parte da empresa de cosméticos. Nesses
casos, a controvérsia não chega ao INPI, impedindo que o titular da marca adote
qualquer medida administrativa incidental visando à declaração do alto renome.
• Verifica-se, portanto, haver efetivo interesse do titular em obter uma declaração geral e
abstrata de que sua marca é de alto renome.
• Os atos do INPI relacionados com o registro do alto renome de uma marca, por derivarem
do exercício de uma discricionariedade técnica e vinculada, encontram-se sujeitos a
controle pelo Poder Judiciário, sem que isso implique violação do princípio da separação
dos poderes.
O STJ decidiu, no entanto, que o Poder Judiciário não poderá declarar diretamente que a
marca é de alto renome por meio de uma decisão judicial. O que o Judiciário pode fazer é determinar
que o INPI examine, em um certo prazo, se a marca é realmente de alto renome.
Art. 126. A marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos
termos do art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da
Propriedade Industrial, goza de proteção especial, independentemente de
estar previamente depositada ou registrada no Brasil.
§ 1º A proteção de que trata este artigo aplica-se também às marcas de
serviço.
§ 2º O INPI poderá indeferir de ofício pedido de registro de marca que
reproduza ou imite, no todo ou em parte, marca notoriamente conhecida.

Lembrar de processo civil: fato notório não precisa ser provado, assim como a marca notória
não precisa de registro no INPI para ser protegida.
A proteção de marca notória registrada no INPI produz efeitos ex nunc,
não atingindo registros regularmente constituídos em data anterior. O
direito de exclusividade ao uso da marca em decorrência do registro no INPI,
excetuadas as hipóteses de marcas notórias, é limitado à classe para a qual
foi deferido, não abrangendo produtos não similares, enquadrados em outras
classes. O registro da marca como notória, ao afastar o princípio da
especialidade, confere ao seu titular proteção puramente defensiva e
acautelatória, a fim de impedir futuros registros ou uso por terceiros de

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 113

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outras marcas iguais ou parecidas, não retroagindo para atingir registros
anteriores. Precedente citado: REsp 246.652-RJ, DJ 16/4/2007. AgRg
no REsp 1.163.909-RJ, Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 2/10/2012.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/PI (2022) Marca de alto renome, registrada no Brasil, alcança proteção
em seu ramo de atividade, apresentando-se como exceção ao princípio da
especialidade. Errada!

DPE/PI (2022) Marca notoriamente conhecida detém proteção especial em


todos os ramos de atividade, apresentando-se como exceção ao princípio da
territorialidade. Errada!

PGE/MS (2021) Determinado empreendedor brasileiro criou dois produtos,


sendo o primeiro deles um perfume e o outro um sabonete. Deu ao primeiro
nome idêntico ao de uma famosa marca francesa, a qual não tinha registro
no Brasil. Batizou o segundo com o mesmo nome de uma marca nacional
registrada havia mais de cinquenta anos e com pedido de renovação deferido
havia cinco anos.
Nessa situação hipotética, o deferimento do registro da marca nacional pelo
INPI não impediria que o mesmo título dessa marca fosse utilizado pelo
empreendedor brasileiro como nome de um edifício residencial, pois, nesse
caso, se trataria de um ato da vida civil. Correta!

e) Não impedimento legal

Os signos impedidos por lei de serem registrados como marcas estão previstos no art. 124
da LPI (ler todos), desatando-se como os mais importantes:
• Símbolo oficial e monumentos nacionais ou internacionais não podem ser registrados
como marca. Exemplo: Não é possível registrar a bandeira do Brasil como marca de um
produto.
• A marca não pode representar falsa indicação geográfica. Exemplo: Se fiz um perfume
em Campinas, não posso registrar como francês; se faço um chocolate em Santo André,
não posso chamar de Gramado, sendo assim estaria induzindo o consumidor a erro.
• Designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não requerido o registro pela
própria entidade ou órgão público. Exemplo: Não posso abrir um cursinho jurídico com
nome de STF, STJ.
Art. 124. Não são registráveis como marca:
I - brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento
oficiais, públicos, nacionais, estrangeiros ou internacionais, bem como a
respectiva designação, figura ou imitação;
II - letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de
suficiente forma distintiva;
III - expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à moral e
aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas ou atente
contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou ideia e sentimento
dignos de respeito e veneração;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 114

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IV - designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não requerido
o registro pela própria entidade ou órgão público;
V - reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de
título de estabelecimento ou nome de empresa de terceiros, suscetível de
causar confusão ou associação com estes sinais distintivos;
VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente
descritivo, quando tiver relação com o produto ou serviço a distinguir, ou
aquele empregado comumente para designar uma característica do produto
ou serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época
de produção ou de prestação do serviço, salvo quando revestidos de
suficiente forma distintiva;
VII - sinal ou expressão empregada apenas como meio de propaganda;
VIII - cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas de modo
peculiar e distintivo;
IX - indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão ou sinal
que possa falsamente induzir indicação geográfica;
X - sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência, natureza,
qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a marca se destina;
XI - reprodução ou imitação de cunho oficial, regularmente adotada para
garantia de padrão de qualquer gênero ou natureza;
XII - reprodução ou imitação de sinal que tenha sido registrado como marca
coletiva ou de certificação por terceiro, observado o disposto no art. 154;
XIII - nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo, artístico, cultural, social,
político, econômico ou técnico, oficial ou oficialmente reconhecido, bem como
a imitação suscetível de criar confusão, salvo quando autorizados pela
autoridade competente ou entidade promotora do evento;
XIV - reprodução ou imitação de título, apólice, moeda e cédula da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos Municípios, ou de país;
XV - nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e imagem
de terceiros, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou sucessores;
XVI - pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome artístico
singular ou coletivo, salvo com consentimento do titular, herdeiros ou
sucessores;
XVII - obra literária, artística ou científica, assim como os títulos que estejam
protegidos pelo direito autoral e sejam suscetíveis de causar confusão ou
associação, salvo com consentimento do autor ou titular;
XVIII - termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que tenha
relação com o produto ou serviço a distinguir;
XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com acréscimo,
de marca alheia registrada, para distinguir ou certificar produto ou serviço
idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou associação
com marca alheia;
XX - dualidade de marcas de um só titular para o mesmo produto ou serviço,
salvo quando, no caso de marcas de mesma natureza, se revestirem de
suficiente forma distintiva;
XXI - a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de
acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser dissociada de efeito
técnico;
XXII - objeto que estiver protegido por registro de desenho industrial de
terceiro; e
XXIII - sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o
requerente evidentemente não poderia desconhecer em razão de sua
atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado em território nacional ou em

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 115

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país com o qual o Brasil mantenha acordo ou que assegure reciprocidade de
tratamento, se a marca se destinar a distinguir produto ou serviço idêntico,
semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou associação com
aquela marca alheia.

OBS: pode-se utilizar para divulgação, para marketing o que é não


registrável.

Neste sentido, entendeu recentemente o STJ:


Vocábulos genéricos, de uso comum, e que designam produtos ou serviços
inseridos do segmento de atuação da empresa, bem como as cores e suas
denominações, exceto se combinadas de modo peculiar e distintivo, não são
registráveis como marca.
Caso concreto: STJ entendeu que os elementos nominativos da marca
“ROSE & BLEU” não alcançam distintividade suficiente para serem
registrados como marca de uso exclusivo. Isso porque, além de tratarem de
signos referentes a cores, que não são registráveis, configuram expressão
sugestiva que possui laço conotativo com a atividade comercial
desempenhada pela empresa (comércio de roupas infantis).
Fundamento: art. 124, incisos VI e VIII, da Lei de Propriedade Industrial:
Art. 124. Não são registráveis como marca: (...) VI - sinal de caráter genérico,
necessário, comum, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação
com o produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para
designar uma característica do produto ou serviço, quanto à natureza,
nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de prestação
do serviço, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva; (...) VIII -
cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas de modo
peculiar e distintivo;
STJ. 4ª Turma. REsp 1339817-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em
11/10/2022 (Info 753).

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/PI (2022) É possível registrar como marca qualquer forma fantasiosa ou
figurativa de letra ou algarismo isoladamente ou acompanhado por desenho,
imagem, figura ou símbolo. Correta!

DPE/PI (2022) É possível registrar como marca termo técnico usado na


indústria, na ciência e na arte e que tenha relação como produto ou serviço a
distinguir. Errada!

TJ/PR (2021) Não são registráveis como marca as expressões ou sinais


empregados apenas como meio de propaganda e tais elementos distintivos
são insuscetíveis de registro no âmbito da propriedade industrial.

5.2.5. MARCAS EVOCATIVAS E O STJ

É aquela que se utiliza, em sua composição, de uma palavra de uso comum que remete ao
produto ou serviço.

Evocativa vem de “evocar”, verbo que significa “trazer à lembrança”.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 116

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Assim, a marca evocativa é aquela que traz à lembrança (que evoca) o próprio nome do
produto ou serviço.

A marca evocativa possui reduzido grau de distintividade, por estar associada ao produto ou
serviço que pretende assinalar. Em outras palavras, ela não se distingue tanto de outras marcas
porque utiliza, no todo ou em parte, o próprio nome do produto ou serviço. Não possui, portanto,
“características distintivas”.

Chokito®, Chocobon® (são marcas que remetem ao chocolate). Caso alguém registre uma
marca parecida envolvendo, no todo ou em parte, a palavra “chocolate”, não se poderá dizer, a
princípio, que houve uma violação a essas marcas anteriormente registradas.

Por não ter características distintivas, as marcas evocativas são consideradas “marcas
fracas”. Possuem um âmbito de proteção limitado, de modo que a exclusividade a elas conferida
admite mitigação. Assim, a ideia de que somente quem registrou a marca evocativa poderá utilizar
aquele nome ou nomes parecidos é flexibilizada.

Segundo aponta, com razão, a Min. Nancy Andrighi, conferir monopólio para que apenas um
comerciante utilize um nome ou sinal genérico seria aceitar uma exclusividade inadmissível. Isso
porque os demais comerciantes ficariam impedidos de divulgar a fabricação de produtos
semelhantes através de expressões de conhecimento comum, obrigando-os à busca de nomes
alternativos estranhos ao domínio público.

O monopólio de um nome ou sinal genérico em benefício de um comerciante


implicaria uma exclusividade inadmissível, a favorecer a detenção e o
exercício do comércio de forma única, com prejuízo não apenas à
concorrência empresarial — impedindo os demais industriais do ramo de
divulgarem a fabricação de produtos semelhantes através de expressões de
conhecimento comum, obrigando-os à busca de nomes alternativos
estranhos ao domínio público — mas sobretudo ao mercado em geral, que
teria dificuldades para identificar produtos similares aos do detentor da marca.
STJ. 3ª Turma. REsp 1315621-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
4/6/2013 (Info 526).

STJ – Resp. 1.848.654: O registro do medicamento "Nebacetin" não impede


que outras farmacêuticas usem os radicais "Neba" ou "Nebac", como o
"Nebacimed". Assim decidiu a 4ª turma do STJ, ao considerar que a
semelhança entre o nome das marcas decorre do fato de que o início de suas
denominações advém dos prefixos das substâncias que as compõem.
NEBACETIN é uma marca fraca, sem originalidade, por utilizar expressão
evocativa/sugestiva do produto que identifica. O Prefixo NEBA remete, ainda
que indiretamente, à substância que compõem o medicamento (sulfato de
neomicina e bacitrina zínica).

A marca evocativa goza de proteção. No entanto, essa proteção é mitigada. Por que se diz
que é mitigada? Porque o seu titular é obrigado a conviver com outras marcas parecidas,
semelhantes. Vale ressaltar, no entanto, que o titular de uma marca evocativa pode se insurgir e
conseguir a proibição de outra marca semelhante se isso gerar confusão no público consumidor.

Ex: uma loja de calçados que registre a marca “Shopping do Pé” pode ser obrigada a
conviver com outra marca chamada de “Mercado do pé”; por outro lado, é possível que essa loja

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 117

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consiga, em tese, a proibição de outra marca chamada “Shop do Pé” porque, nesse caso, haveria
um potencial muito grande de gerar confusão no público consumidor.

TEORIA DA DISTINTIVIDADE ADQUIRIDA (significação secundária ou secondary


meaning) – ocorre quando um signo de caráter comum, descritivo ou evocativo foi utilizado durante
tanto tempo, alcançando tantas pessoas, que passou a adquirir eficácia distintiva suficiente, a ponto
de possibilitar seu registro como marca. Por exemplo, Iphone.

De acordo com o STJ, o único efeito que a “distintividade adquirida” gera é o de permitir o
registro da marca, mesmo ela sendo “comum”. Essa teoria não autoriza, contudo, que se impeça o
registro de marcas semelhantes. Em se tratando de marcas “fracas”, descritivas ou evocativas, é
descabida qualquer alegação de anterioridade de registro quando o intuito da parte for o de
assegurar o uso exclusivo de expressão dotada de baixo vigor inventivo.

5.2.6. Marca degenerativa

Com o passar do tempo, algumas marcas ficam muito famosas e acabam sendo
extremamente conhecidas do público, a ponto de perderem a capacidade distintiva que possuíam
na época do registro, no fenômeno conhecido por degeneração.

A degeneração representa a perda da capacidade distintiva das marcas; ela passa a se


confundir com o próprio produto. A população em geral substitui a identificação do produto por
aquela marca mais famosa, de tal modo que não importa mais o fabricante titular da marca, uma
vez que todos os produtos passam a ter a mesma designação.

Por exemplo, isopor (polímero estendido), zíper (fecho corrediço), gilete (lâmina de barbear),
maisena (amido de milho), pincel atômico (marcador para quadro branco), durex (fita adesiva).

5.2.7. Nulidade do registro marca

Administrativo: art. 169. 06 meses da concessão.


Art. 169. O processo de nulidade poderá ser instaurado de ofício ou mediante
requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, no prazo de 180
(cento e oitenta) dias contados da data da expedição do certificado de
registro.

Destaca-se que para declaração de nulidade no âmbito administrativo da PATENTE


(invenção ou modelo de utilidade) o prazo também é de 06 meses.
Judicial: art. 174: 05 anos da concessão.
Art. 174. Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para declarar a nulidade do
REGISTRO, contados da data da sua concessão.

Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro da justiça


federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
§ 1º O prazo para resposta do réu titular do registro será de 60 sessenta) dias.
§ 2º Transitada em julgado a decisão da ação de nulidade, o INPI publicará
anotação, para ciência de terceiros.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 118

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Importante salientar que, em ação de nulidade de registro de marca, a natureza da
participação processual do INPI, quando não figurar como autor ou corréu, é de intervenção sui
generis (ou atípica) obrigatória, na condição de assistente especial.
Em ação de nulidade de registro de marca, a natureza da participação
processual do INPI, quando não figurar como autor ou corréu, é de
intervenção sui generis (ou atípica) obrigatória, na condição de assistente
especial (ou até de amicus curiae). STJ. 4ª Turma. REsp 1.817.109-RJ, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 23/02/2021 (Info 686).

Para declaração de nulidade no âmbito judicial da PATENTE (invenção ou modelo de


utilidade) e do REGISTRO de desenho industrial não há prazo.
PATENTE (invenção
REGISTRO do
e modelo de REGISTRO da marca
desenho de utilidade
utilidade)
Prazo para
declaração de
06 meses 05 anos 180 dias (06 meses)
nulidade no âmbito
administrativo
Prazo para ação de
nulidade (âmbito Enquanto vigente Enquanto vigente 05 anos
judicial)

5.2.8. Uso indevido da marca e dano moral

De acordo com o STJ, o dano moral pelo uso indevido da marca decorre de mera
comprovação da prática da conduta ilícita. Em outras palavras, a utilização da marca sem
autorização configura dano moral, sendo desnecessária a demonstração de prejuízos concretos ou
a comprovação de abalo moral.

STJ - REsp 1327773: “RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE


INDUSTRIAL. USO INDEVIDO DE MARCA DE EMPRESA. SEMELHANÇA
DE FORMA. DANO MATERIAL. OCORRÊNCIA. PRESUNÇÃO. DANO
MORAL. AFERIÇÃO. IN RE IPSA. DECORRENTE DO PRÓPRIO ATO
ILÍCITO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. RECURSO PROVIDO. 1. A marca é
qualquer sinal distintivo (tais como palavra, letra, numeral, figura), ou
combinação de sinais, capaz de identificar bens ou serviços de um
fornecedor, distinguindo-os de outros idênticos, semelhantes ou afins de
origem diversa. Trata-se de bem imaterial, muitas vezes o ativo mais valioso
da empresa, cuja proteção consiste em garantir a seu titular o privilégio de
uso ou exploração, sendo regido, entre outros, pelos princípios
constitucionais de defesa do consumidor e de repressão à concorrência
desleal. 2. Nos dias atuais, a marca não tem apenas a finalidade de assegurar
direitos ou interesses meramente individuais do seu titular, mas objetiva,
acima de tudo, proteger os adquirentes de produtos ou serviços, conferindo-
lhes subsídios para aferir a origem e a qualidade do produto ou serviço, tendo
por escopo, ainda, evitar o desvio ilegal de clientela e a prática do proveito
econômico parasitário. 3. A lei e a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça reconhecem a existência de dano material no caso de uso indevido
da marca, uma vez que a própria violação do direito revela-se capaz de gerar

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 119

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lesão à atividade empresarial do titular, como, por exemplo, no desvio de
clientela e na confusão entre as empresas, acarretando inexorável prejuízo
que deverá ter o seu quantum debeatur, no presente caso, apurado em
liquidação por artigos. 4. Por sua natureza de bem imaterial, é ínsito que haja
prejuízo moral à pessoa jurídica quando se constata o uso indevido da marca.
A reputação, a credibilidade e a imagem da empresa acabam atingidas
perante todo o mercado (clientes, fornecedores, sócios, acionistas e
comunidade em geral), além de haver o comprometimento do prestígio e da
qualidade dos produtos ou serviços ofertados, caracterizando evidente
menoscabo de seus direitos, bens e interesses extrapatrimoniais. 5. O dano
moral por uso indevido da marca é aferível in re ipsa, ou seja, sua
configuração decorre da mera comprovação da prática de conduta ilícita,
revelando-se despicienda a demonstração de prejuízos concretos ou a
comprovação probatória do efetivo abalo moral. 6. Utilizando-se do critério
bifásico adotado pelas Turmas integrantes da Segunda Seção do STJ,
considerado o interesse jurídico lesado e a gravidade do fato em si, o valor
de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), a título de indenização por danos
morais, mostra-se razoável no presente caso. 7. Recurso especial provido.”

Como o tema foi cobrado em prova?


TJRS (2022) Segundo a legislação brasileira, na indenização pelo uso
indevido de marca, os lucros cessantes serão determinados pelo critério mais
favorável ao prejudicado. Correta!

TJ/AC (2019) A respeito dos direitos da proteção conferida pela patente,


dispõe a Lei n° 9.279/96 que ao titular da patente é assegurado o direito de
obter indenização pela exploração indevida de seu objeto, inclusive em
relação à exploração ocorrida entre a data da publicação do pedido e a da
concessão da patente. Correta!

5.2.9. Conflito entre marca e nome empresarial

Como já vimos, o nome empresarial possui proteção estadual e a marca proteção federal.

1ª Hipótese:

Nome empresarial registrado no Estado X e marca quer registro nacional.

Não haverá conflito, poderão coexistir.

2ª Hipótese:

Nome empresarial registrado em todos os estados da federação e a marca quer registro


nacional.

Aplica-se o Princípio da Especialidade, deve-se verificar o ramo da atividade de cada um.

• Atividades diversas – não haverá conflito, podem coexistir;

• Mesma atividade – a marca não poderá fazer o registro

3ª Hipótese

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 120

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Há uma marca registrada e se quer registrar um nome empresarial. Neste caso, é necessário
avaliar se a marca é de alto renome ou não.

• Marca de alto renome: está protegida em todos os ramos de atividade. Portanto, não
poderá haver o registro;

• Não é marca de alto renome: aplica-se o Princípio da Especialidade. Portanto, se o ramo


de atividade for distinto, poderão coexistir; caso seja o mesmo, não poderá haver o
registro do nome empresarial.

STJ (RESp. 1209919/SC): RECURSO ESPECIAL. DIREITO MARCÁRIO.


PRETENSÃO DA AUTORA DE EXCLUSIVIDADE DE USO DO NOME
"CHANDON" EM QUALQUER ATIVIDADE. AUSÊNCIA DE REGISTRO
COMO MARCA DE ALTO RENOME. MARCA NOTORIAMENTE
CONHECIDA. PROTEÇÃO RESTRITA AO RESPECTIVO RAMO DE
ATIVIDADE. MANUTENÇÃO DO REGISTRO DE MARCA DA RECORRIDA.
EXERCÍCIO DE RAMOS DE ATIVIDADES DIVERSOS. RECURSO
IMPROVIDO. 1. As marcas de alto renome, registradas previamente no INPI
como tal, gozam, nos termos do art. 125 da Lei 9.279/96, de proteção em
todos os ramos de atividade, enquanto as marcas notoriamente conhecidas
gozam de proteção internacional, independentemente de formalização de
registro no Brasil, apenas em seu ramo de atividade, consoante dispõem os
arts. 126 da referida lei e 6º bis, 1, da Convenção da União de Paris, ratificada
pelo Decreto 75.572/75. Neste último, é plenamente aplicável o princípio da
especialidade, o qual autoriza a coexistência de marcas idênticas, desde que
os respectivos produtos ou serviços pertençam a ramos de atividades
diversos. 2. O aludido princípio visa a evitar a confusão no mercado de
consumo do produto ou serviço prestado por duas ou mais marcas, de modo
que, para tanto, deve ser levado em consideração o consumidor sob a
perspectiva do homem médio. 3. No caso dos autos, o uso das duas marcas
não é capaz de gerar confusão aos consumidores, assim considerando o
homem médio, mormente em razão da clara distinção entre as atividades
realizadas por cada uma delas. Não há risco, de fato, de que o consumidor
possa ser levado a pensar que a danceteria seria de propriedade (ou
franqueada) da MOET CHANDON francesa, proprietária do famoso
champanhe. 4. Não se tratando a recorrente de marca de alto renome, mas
de marca notoriamente conhecida e, portanto, protegida apenas no seu
mesmo ramo de atividade, não há como alterar as conclusões constantes do
acórdão recorrido. 5. Recurso especial improvido.

5.2.10. Trade Dress

Trade dress ou conjunto-imagem consiste no conjunto de elementos distintivos que


caracterizam um produto, um serviço ou um estabelecimento comercial fazendo com que o mercado
consumidor os identifique. É o conjunto de características visuais que forma a aparência geral de
um produto ou serviço.

O denominado trade dress, não disciplinado na legislação nacional atual, tem por finalidade
proteger o conjunto visual global de um produto ou a forma de prestação de um serviço. Materializa-
se, portanto, pela associação de variados elementos que, conjugados, traduzem uma forma peculiar

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 121

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e suficientemente distintiva de inserção do bem no mercado consumidor, vinculando-se à identidade
visual dos produtos ou serviços.

Apesar de não haver legislação específica, a proteção do trade dress é assegurada com
fundamento no dever geral de garantia de livre mercado, ou seja, no dever estatal de assegurar o
funcionamento saudável do mercado, de forma a expurgar condutas desleais tendentes a criar
distorções de concorrência.

(...) A despeito da ausência de expressa previsão no ordenamento jurídico


pátrio acerca da proteção ao trade dress, é inegável que o arcabouço legal
brasileiro confere amparo ao conjunto-imagem, sobretudo porque sua
usurpação encontra óbice na repressão da concorrência desleal. Incidência
de normas de direito de propriedade industrial, de direito do consumidor e do
Código Civil. (...) STJ. 3ª Turma. REsp 1677787/SC, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 26/09/2017.

O trade dress é violado quando uma empresa imita sutilmente diversas características da
marca concorrente (normalmente a líder do mercado) com o objetivo de confundir o público e
angariar vendas com base na fama da marca copiada.

Em um caso concreto, o TJ/SP entendeu que uma empresa cuja marca era “Uai in box” teria
violado a trade dress da “China in box”. Além do nome parecido, a empresa “Uai in box” também
oferecia comida em delivery com pacotes iguais ao da “China in box”.

Segundo já decidiu o STJ (REsp 1.677.787/SC, Terceira Turma, DJe 02/10/2017), para a
configuração da prática de atos de concorrência desleal derivados de imitação de trade dress, não
basta que o titular comprove que utiliza determinado conjunto-imagem, sendo necessária a
observância de alguns requisitos básicos para garantia da proteção jurídica. Vejamos:

1) Em primeiro lugar, há que se atentar para o fato de que as características gráfico-visuais


do produto ou embalagem não podem guardar relação com exigências inerentes à técnica ou à
funcionalidade precípua do produto. Ou seja, os elementos que formam o conjunto-imagem não
podem ter outra função ou propósito que não seja especificamente a diferenciação do bem no
mercado onde está inserido.

2) Deve haver a possibilidade de confusão ou associação indevida entre os produtos, na


medida em que configura prática anticoncorrencial a utilização de artifícios capazes de ensejar
desvio de clientela (art. 195, III, da LPI).

3) Outro elemento que deve estar presente para que o titular do direito possa reclamar tutela
jurisdicional - além da anterioridade do uso do conjunto-imagem - é sua distintividade frente aos
concorrentes. Em outras palavras, protege-se o trade dress que é diferente, distinto dos demais, e
não o que é comum, ordinário.

Para a caracterização da infringência de marca, não é suficiente que se


demonstrem a semelhança dos sinais e a sobreposição ou afinidade das
atividades, é necessário que a coexistência das marcas seja apta a causar
confusão no consumidor ou prejuízo ao titular da marca anterior, configurando
concorrência desleal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1726804-RJ, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em
27/09/2022 (Info 752).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 122

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Para configuração da prática de atos de concorrência desleal derivados de
imitação de trade dress, não basta que o titular, simplesmente, comprove que
utiliza determinado conjunto-imagem, sendo necessária a observância de
alguns pressupostos para garantia da proteção jurídica: a) ausência de
caráter meramente funcional; b) distintividade; c) confusão ou associação
indevida; d) anterioridade de uso. STJ. 3ª Turma. REsp 1.943.690-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
19/10/2021 (Info 715).

5.2.11. Extinção do REGISTRO da marca

Caducidade: 05 anos (art. 143).


Art. 142. O registro da marca extingue-se:
I - pela expiração do prazo de vigência;
II - pela renúncia, que poderá ser total ou parcial em relação aos produtos ou
serviços assinalados pela marca;
III - pela caducidade; ou
IV - pela inobservância do disposto no art. 217.

Art. 143 - Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com


legítimo interesse se, decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na data
do requerimento:
I - o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou
II - o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos
consecutivos, ou se, no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com
modificação que implique alteração de seu caráter distintivo original, tal como
constante do certificado de registro.
§ 1º Não ocorrerá caducidade se o titular justificar o desuso da marca por
razões legítimas.
§ 2º O titular será intimado para se manifestar no prazo de 60 (sessenta) dias,
cabendo-lhe o ônus de provar o uso da marca ou justificar seu desuso por
razões legítimas.

Sobre a possibilidade de o registro da marca caducar em função do não uso, vejamos


o esquema construído pelo Dizer o Direito1 sobre o julgado a seguir.
A Lei 9.279/96 prevê a possibilidade de o registro da marca caducar se não for usada:
Art. 143. Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse se,
decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na data do requerimento:
I — o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou
II — o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos consecutivos, ou se,
no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com modificação que implique alteração de seu caráter
distintivo original, tal como constante do certificado de registro.

1
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Caducidade de marca (art. 143 da LPI). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/c1fea270c48e8079d8ddf7d06d26ab52>. Acesso em:
16/12/2022.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 123

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Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa começa a fabricá-lo aqui no Brasil,
mas ele só é vendido para o mercado externo, nunca sendo comercializado aqui. Há risco de haver
a caducidade da marca com base no inciso I?
NÃO. Se o titular da marca registrada no Brasil industrializa, fabrica, elabora o produto em
território nacional, claramente inicia e faz uso da marca no Brasil, merecendo toda proteção legal,
pois aqui empreende, gerando produção, empregos e riqueza, sendo indiferente que a mercadoria
aqui produzida seja destinada ao mercado interno ou exclusivamente ao externo. Produzir no País
o produto com a marca aqui registrada atende suficientemente ao requisito legal de “uso da marca
iniciado no Brasil”.
Imagine que uma marca é registrada no INPI. A empresa (de grande porte) começa a fabricá-
lo aqui no Brasil, mas depois de mais de 5 anos, somente produziu cerca de 70 pacotes do produto.
Há risco de haver a caducidade da marca com base no inciso II?
SIM. É possível que se reconheça a caducidade do registro da marca quando, em um
período de cinco anos, o valor e o volume de vendas do produto relacionado à marca forem
inexpressivos.
No caso analisado pelo STJ, o uso esporádico da marca, com escassas negociações no
mercado, foi considerado inexpressivo dentro da magnitude das operações bilionárias realizadas
pela empresa, portanto, insuficiente para configurar e comprovar o uso efetivo da marca.

6. ASPECTOS PROCESSUAIS DA LPI

Ações de Nulidade do registro ou patente: Tanto pode ser ação judicial quanto ação
administrativa.

a) Patente (invenção / modelo de utilidade)


Prazo administrativo: 06 meses contados da CONCESSÃO da patente.
Prazo judicial: Pode ingressar com a ação enquanto a patente estiver vigente.
Art. 51. O processo de nulidade poderá ser instaurado de ofício ou mediante
requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, no prazo de 6 (seis)
meses contados da concessão da patente.
Parágrafo único. O processo de nulidade prosseguirá ainda que extinta a
patente.

b) Desenho industrial
Prazo administrativo: 05 anos contados da CONCESSÃO do registro.
Prazo Judicial: Enquanto permanecer o registro.

Art. 113. A nulidade do registro será declarada administrativamente quando


tiver sido concedido com infringência dos arts. 94 a 98.
§ 1º O processo de nulidade poderá ser instaurado de ofício ou mediante
requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, no prazo de 5
(cinco) anos contados da concessão do registro, ressalvada a hipótese
prevista no parágrafo único do art. 111.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 124

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§ 2º O requerimento ou a instauração de ofício suspenderá os efeitos da
concessão do registro se apresentada ou publicada no prazo de 60 (sessenta)
dias da concessão.

c) Marca
Prazo administrativo: 180 dias contados da EXPEDIÇÃO do certificado de registro.
Prazo judicial: 05 anos contados da concessão.

Art. 169. O processo de nulidade poderá ser instaurado de ofício ou mediante


requerimento de qualquer pessoa com legítimo interesse, no prazo de 180
(cento e oitenta) dias contados da data da expedição do certificado de registro

Art. 174. Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para declarar a nulidade do


registro, contados da data da sua concessão.

A ação de nulidade (seja de marca/patente) deve ser ajuizada na JF. Se o INPI não for o
autor da ação, ele deverá intervir no processo.
O prazo de resposta do réu é de 60 dias, tanto nas ações judiciais quanto administrativas
(art. 175, §1º).
Art. 175. A ação de nulidade do registro será ajuizada no foro da justiça
federal e o INPI, quando não for autor, intervirá no feito.
§ 1º O prazo para resposta do réu titular do registro será de 60 (sessenta)
dias.

DESENHO
INVENÇÃO MODELO DE U. MARCA
INDU.
ADMINISTRATIVO 06 meses 06 meses 05 anos 180 dias
JUDICIAL - - - 05 anos

7. PRESCRIÇÃO

Art. 225 da LPI, será de cinco anos.


Art. 225. Prescreve em 5 (cinco) anos a ação para reparação de dano
causado ao direito de propriedade industrial.

➔ Qual o termo inicial deste prazo prescricional?


O termo inicial do prazo prescricional de cinco anos (art. 225, Lei 9279/1996) para pleitear
indenização pelos prejuízos decorrentes do uso de marca industrial que imite outa preexistente,
suscetível de causar confusão ou associação com marca alheia registrada (Art. 124, XIX) é a data
da violação do direito à propriedade intelectual e se renova enquanto houve o indevido uso.
Isso porque o prazo prescricional começa a correr tão logo nasça a pretensão, a qual tem
origem com a violação do direito subjetivo (o direito de propriedade industrial). No entanto,
considerando que a citada violação é permanente, enquanto o réu continuar a utilizar marca alheia
registrada, diariamente o direito será violado, nascendo nova pretensão indenizatória.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 125

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8. FORMAS DE EXTINÇÃO DA PROPRIEDADE INDUSTRIAL

1) Expiração do prazo de vigência (cai em domínio público).

2) Renúncia (que somente poderá ser feita se não houver prejuízo para terceiros, como
licenciados, por exemplo).

Art. 79. A RENÚNCIA só será admitida se não prejudicar direitos de terceiros.

3) Caducidade: Falta de uso da propriedade ou uso insatisfatório. Exemplo: art. 143, ambos da
LPI.

Art. 143 - Caducará o registro, a requerimento de qualquer pessoa com


legítimo interesse se, decorridos 5 (cinco) anos da sua concessão, na data
do requerimento:
I - o uso da marca não tiver sido iniciado no Brasil; ou
II - o uso da marca tiver sido interrompido por mais de 5 (cinco) anos
consecutivos, ou se, no mesmo prazo, a marca tiver sido usada com
modificação que implique alteração de seu caráter distintivo original, tal como
constante do certificado de registro.

Tem-se uma marca e não utiliza por 5 anos, haverá caducidade da marca.

4) Falta de pagamento da retribuição anual (taxa anual devida ao INPI)

5) Inobservância do art. 217 da LPI:

Art. 217. A pessoa domiciliada no exterior deverá constituir e manter


procurador devidamente qualificado e domiciliado no País, com poderes para
representá-la administrativa e judicialmente, inclusive para receber citações.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 126

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DIREITO SOCIETÁRIO

1. QUADRO SOCIETÁRIO EMPRESARIAL

Quadro geral das sociedades (empresárias):

1.1. SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA

Aquela que não possui personalidade jurídica, divide-se em:


a) Sociedade em comum
b) Sociedade em conta de participação

1.2. SOCIEDADE PERSONIFICADA

Possui personalidade jurídica, são as:


a. Sociedade em nome coletivo (1.039 a 1.044 CC)
b. Sociedade em comandita simples (1.045 a 1.051 CC)
c. Sociedade limitada (1.052 a 1.087 CC)
d. Sociedade anônima (1.088 a 1.089 CC e Lei 6.404/76 - LSA)
e. Sociedade em comandita por ações (1.090 a 1.092 CC)

2. CONCEITO DE SOCIEDADE

O conceito de sociedade está previsto no art. 981 do CC. Observe:

Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se


obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade
econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

É possível perceber pela redação do art. 981 do CC que a sociedade exige, em regra,
pluralidade de sócios.

Admite-se, excepcionalmente, a sociedade unipessoal, formada por um único sócio, a


exemplo da subsidiária integral, da sociedade unipessoal LTDA, da sociedade unipessoal de
advocacia.

3. SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS

3.1. SOCIEDADE EM COMUM

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 127

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Muitos a chamavam de irregular ou sociedade de fato, não existe mais esta denominação,
quando uma sociedade não tem registro, se chama sociedade em comum. Sociedade que ainda
não inscreveu seus atos constitutivos no órgão de registro competente, qual seja, a Junta Comercial.
O entendimento majoritário é no sentido de se tratar de sociedades contratuais em
formação.
Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade,
exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas,
subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da
sociedade simples (= não empresária).

3.1.1. Responsabilidade dos sócios

A responsabilidade do sócio é ilimitada.


Não basta só saber que a sociedade é ilimitada, a responsabilidade que o sócio tem perante
a sociedade é subsidiária.
Enunciado 212 da JDC - Embora a sociedade em comum não tenha
personalidade jurídica, o sócio que tem seus bens constritos por dívida
contraída em favor da sociedade, e não participou do ato por meio do qual foi
contraída a obrigação, tem o direito de indicar bens afetados às atividades
empresariais para substituir a constrição.

O sócio tem o chamado benefício de ordem (ordem a ser seguida: 1º bens da sociedade, 2º
bens dos sócios, art. 1.024 CC).
Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por
dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.

Regra 2: responsabilidade que sócio tem perante os demais sócios → solidária.


Aquele que contratou pela sociedade não pode alegar benefício de ordem, somente podem
alegar os demais sócios. Art. 990 cc.
Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas
obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024,
aquele que contratou pela sociedade.

Art. 988 do CC chama o patrimônio da sociedade comum de patrimônio especial e diz que
quem vai ser o titular deste patrimônio serão os sócios desta sociedade, serão cotitulares deste
patrimônio. Não é da sociedade pois ela não tem personalidade jurídica, consequentemente não
tem autonomia patrimonial.
Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por
escrito podem provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem
prová-la de qualquer modo.

Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual


os sócios são titulares em comum.

Perceber:
Sócio → Sociedade. Responsabilidade subsidiária. 1.024 CC.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 128

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Sócio → Sócio(s). Responsabilidade solidária. 990 CC.
Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por
dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas


obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024,
aquele que contratou pela sociedade.

Responsabilidade subsidiária
perante a sociedade

Como o tema foi cobrado em concurso?


TRF4 (2022) A sociedade em comum caracteriza-se pela não inscrição dos
atos constitutivos e pela responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios
pelas obrigações sociais. Correta!

DPE/SC (2021) Em uma sociedade em comum, todos os sócios respondem


solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de
ordem aquele que contratou pela sociedade. Correta!

3.2. SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do


objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome
individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os
demais dos resultados correspondentes.

Aqui, então temos duas categorias de sócio:

3.2.1. Sócio Ostensivo

Exerce o objeto social.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 129

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Responsabilidade exclusiva (responde perante terceiros).
Agir em seu nome individual

Obs.: como ela não tem personalidade jurídica, não terá nome
empresarial. Tudo que o sócio ostensivo faz, faz em favor da
sociedade, mas em seu nome individual e não em nome da sociedade.

3.2.2. Sócio Participante

Participa dos resultados.


André Santa Cruz diz que na verdade não se trata, propriamente de uma sociedade, mas de
um contrato especial de investimento.
Mais de 90% dos “Flats” no Brasil são em conta de participação. Temos uma construtora
com equipamentos e funcionários suficientes para levantar uma obra, entretanto não há dinheiro
suficiente para levantar uma obra, faço uma sociedade em conta de participação, eu serei o sócio
ostensivo, e vocês os participantes, me concederão o capital e eu farei a obra. Em decorrência da
administração, peço ainda uma parcela do rendimento mensal dos aluguéis, e apartamentos. Caso
caia este prédio, a priori, somente eu responderei.
Tudo que eu faço tenho que fazer em meu nome individual, visto que a sociedade não tem
nome empresarial. Se sofre uma ação, quem figura no polo passivo é o sócio ostensivo, e não
a sociedade.
Quando se leva o contrato para registro na Junta Comercial do Estado se está querendo
obter a sua personalidade jurídica. Logo, não tem justificativa registrar este contrato. Por esta razão,
o sócio é chamado de “oculto” ou “participante”, pois não se tem como tomar ciência do contrato.
Logo, para quem está vendendo móveis está vendendo para a construtora (sócio ostensivo) e não
para a sociedade em conta de participação.
Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no
registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e
1.150).

Entretanto:
Exceção da Sociedade em Conta de Participação:
Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual
inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere
personalidade jurídica à sociedade.
Parágrafo único. Sem prejuízo do direito de fiscalizar a gestão dos negócios
sociais, o sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio
ostensivo com terceiros, sob pena de responder solidariamente com este
pelas obrigações em que intervier.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TRF4 (2022) Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva
do objeto social deverá ser exercida em conjunto pelo sócio ostensivo e pelo
sócio participante. Errada!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 130

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TRF4 (2022) A inscrição em registro do contrato conferirá personalidade
jurídica à sociedade em conta de participação. Errada!

DPE/TO (2022) Na sociedade em conta de participação, a atividade


constitutiva do objeto social deve ser exercida unicamente pelo sócio
ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva
responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes.
Correta!

TJ/RS (2022) A sociedade em conta de participação é regida,


subsidiariamente, pelas regras aplicáveis à sociedade simples. Correta!

TJ/RS (2022) Os bens e dívidas sociais não constituem patrimônio especial


na sociedade em comum. Errada!

4. SOCIEDADES PERSONIFICADAS

4.1. VISÃO GERAL

Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade


que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a
registro (art. 967); e, simples, as demais.

Quanto ao objeto (natureza), a sociedade personificada pode ser uma sociedade empresária
ou uma sociedade simples.

4.2. REGISTRO DA SOCIEDADE

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 131

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Sociedade empresária: Registro na Junta Comercial (art. 1.150) (que como já vimos é a
‘faceta’ estadual do Registro Público de Empresas Mercantis, ver acima).
Sociedade simples: Registro no Registro Civil de Pessoa Jurídica (art. 1.150) → Cartório.
Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro
Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a
sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá
obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples
adotar um dos tipos de sociedade empresária

Exceções:
• Sociedade de advogados (sociedade simples) é registrada na OAB para adquirir
personalidade jurídica.
• Cooperativa, que apesar de sempre ser sociedade simples (mesmo se desenvolver
atividade empresária), deve ser registrada na Junta Comercial (Lei 8.934/94, art. 32).
Art. 32. O registro compreende:
I - a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores públicos e
intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais;
II - O arquivamento:
a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção
de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas;

4.3. CLASSIFICAÇÃO DAS SOCIEDADES PERSONIFICADAS

4.3.1. Quanto ao objeto

a) Sociedade empresária

É aquela que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário, sujeito a registro.
Organização empresarial e produção ou circulação de bens ou serviços.

b) Sociedade simples

Tida por não empresária. Não classificada como de empresário, se a sociedade simples tem
como atividade uma profissão intelectual (de natureza científica, literária ou artística – ver início do
caderno), como diz o código civil, será uma sociedade simples.
A sociedade não deve possuir também organização empresarial.
Profissão intelectual + sociedade que não possui organização empresarial.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 132

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4.3.2. Quanto à forma (tipo societário)

Sociedade Empresária (DEVE constituir-se Sociedade Simples (PODE constituir-se por


por alguma dessas formas – 982 CC alguma dessas formas – 982 CC segunda
primeira parte) parte)

Sociedade em nome coletivo


Sociedade em nome coletivo
Sociedade em comandita simples
Sociedade em comandita simples
Sociedade LTDA
Sociedade em comandita por ações (C/A)
Cooperativas
Sociedade anônima (S/A)
Simples/simples (S/S – simples pura –
Sociedade LTDA
não sofre influência de nenhum
outro tipo societário)¹

*não pode ser cooperativa, assim como não


*perceber, só não pode constituir-se em
pode ser “empresária/simples”.
sociedade por ações (C/A e S/A)!
Registro: Junta Comercial Registro: Registro Civil de Pessoa Jurídica.
Art. 983. A sociedade empresária deve Exceções:
constituir-se segundo um dos tipos regulados Sociedade de Advogados é simples, sendo o
nos arts. 1.039 a 1.092; a sociedade simples registro feito na OAB.
pode constituir-se de conformidade com um
desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se Cooperativa – ainda que seja sociedade
às normas que lhe são próprias. simples, deve ser registrada na Junta
Comercial (lei 8934/94).
Art. 982. Salvo as exceções expressas,
considera-se empresária a sociedade que tem Art. 982 - Parágrafo único.
por objeto o exercício de atividade própria de Independentemente de seu objeto, considera-
empresário sujeito a registro (art. 967); e, se empresária a sociedade por ações; e,
simples, as demais. simples, a cooperativa.

¹Assim, a “sociedade simples” pode ser:

- Natureza jurídica da sociedade (não empresária)


- Tipo societário (simples pura)
- Regras gerais de direito societário (dispositivos referentes a outros tipos remetem a este,
de maneira suplementar).
Exemplos (regra geral): art. 1.040, 1.053.
Art. 1.040. A sociedade em nome coletivo se rege pelas normas deste
Capítulo e, no que seja omisso, pelas do Capítulo antecedente (capítulo da
sociedade simples).

Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas
normas da sociedade simples.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 133

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Muito importante é estudar a estrutura das Sociedades Simples, pois será a base de quase
todos os tipos societários no caso de omissão.
Portanto, o mais interessante foi perceber que alguns institutos previstos para as sociedades
simples não aparecem nas demais sociedades, assim, no momento de estudo precisamos sempre
compará-los, porque poderão ser aplicados supletivamente quando previsto em lei.

OBS: Tendo em vista que as S/A são formalizadas por Estatuto com
regramento próprio, as regras das sociedades simples são, na maioria
das vezes, aplicadas em grande quantidade às LTDA. Sendo assim,
iremos confrontar os dois institutos para trabalharmos apenas com as
diferenças, pois é assim que vem sendo cobrado em provas.

Assim, após as confrontações chegamos às seguintes conclusões: As seguintes seções das


sociedades simples são de leitura OBRIGATÓRIA, pois nas provas eles pedem esse conteúdo nas
LTDA.
Seção I Do Contrato Social (art. 997 a 1.009);
Seção II Dos Direitos e
Obrigações dos Sócios; Seção IV Das Relações com Terceiros (art. 1.022 a 1.027).

4.3.3. Quando ao grau de dependência às qualidades dos sócios

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 134

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Critério: Leva em conta o grau de dependência da sociedade em relação às qualidades
subjetivas dos sócios (competência, honestidade etc.).

a) Sociedade de pessoas

Quando os atributos dos sócios são relevantes para o sucesso da atividade empresarial,
estamos diante de sociedade de pessoas. Ex.: Sociedade de conserto de computadores.
Nesses casos, os integrantes da sociedade precisam ter garantias acerca do perfil de quem
pretenda integrar o quadro social. Por isso, a alienação de uma cota ou ação dessa sociedade
depende de prévia anuência dos demais sócios.
Ou seja, na sociedade de pessoas os sócios têm o direito de vetar o ingresso de estranho
no quadro associativo. É o caso da sociedade em nome coletivo (N/C) e em comandita simples
(C/S).
É em razão disso que se entende que as quotas sociais das sociedades de pessoas são
impenhoráveis, ou seja, para garantir que um terceiro não venha a fazer parte da sociedade sem
a anuência dos demais integrantes.
O STJ, no entanto, já decidiu de modo diverso ao dizer que as quotas da sociedade limitada
são penhoráveis, mesmo que seja sociedade de pessoa. Argumentos do STJ:

• Princípio da ordem pública (art. 789 do CPC):

Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros
para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas
em lei.

• O CPC/2015 (art. 833) estabelece quais são os bens impenhoráveis, não estando as
quotas sociais entre eles. Temos ainda no art. 835, IX do CPC/2015 a possibilidade
penhora de ações e quotas de sociedades empresárias.
Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;

Entretanto, ao credor, hoje o mais interessante é a utilização do art. 1.026 do CC:


Art. 1.026. O credor particular de sócio pode, na insuficiência de outros bens
do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da
sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação.

Ou seja, nem precisa penhorar a cota, não entra nessa discussão.


Nesse sentido, o STJ entende que a penhora sobre as quotas sociais não deve ser a primeira
opção porque esta medida poderá acarretar o fim da pessoa jurídica e nosso Direito consagra os
princípios da conservação da empresa e da menor onerosidade da execução.
Assim, não se pode autorizar desde logo a penhora sobre as quotas sociais. Cabia ao
exequente requerer, antes disso, a penhora dos lucros relativos às quotas sociais correspondentes
à meação do devedor, não podendo ser deferida, de imediato, a penhora das quotas sociais de
sociedade empresária que se encontra em plena atividade, o que poderia causar prejuízo a

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 135

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terceiros, como funcionários, fornecedores etc. Somente se não houvesse lucros é que poderia
ser feita a penhora das quotas com a liquidação da sociedade (art. 1.026 do CC).

b) Sociedade de capital

Por outro lado, quando as características subjetivas dos sócios forem irrelevantes para o
sucesso da empresa, ou seja, quando somente tem importância o capital investido, nesse caso
estaremos diante de sociedade de capital.
Quanto à sociedade de capital, vige o princípio da livre circulação na participação societária,
ou seja, os integrantes sociais não têm o direito de vetar o ingresso de terceiro estranho. É o caso
da sociedade anônima (S/A) e da sociedade em comandita por ações (C/A).
Esta classificação é importante para falarmos em 03 assuntos:
Sociedade de pessoas Sociedade de Capital
A característica pessoal é importante.
Cessão de Quotas Então precisa de autorização dos A cessão de quotas é livre.
sócios para a cessão das quotas.
Ingresso de herdeiro
em caso de Da mesma forma que a anterior,
O ingresso do herdeiro é livre.
falecimento de precisa de autorização dos sócios.
sócio/acionista
Penhoráveis. Por isso as
Impenhoráveis, pois o ingresso do
quotas de uma S/A são
Penhora de Quotas terceiro estranho pode comprometer o
penhoráveis, por serem uma
funcionamento da sociedade
sociedade de capital.

4.3.4. Quanto à constituição e dissolução

Critério de distinção: Regime de constituição e dissolução do vínculo societário.

a) Contrato Social

Na sociedade contratual o ato constitutivo é o contrato social. É o caso da sociedade em


nome coletivo, comandita simples e limitada (LTDA). Além da despersonificada sociedade em conta
de participação.

b) Estatuto Social

Na sociedade institucional o ato constitutivo é o estatuto social. É o caso da sociedade em


comandita por ações e sociedade anônima.
Estatuto X Contrato
Sobre o contrato incidem os princípios contratuais. Sobre o Estatuto não incidem princípios
contratuais, mas sim a lei de sociedades por ações (Lei 6.404/76).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 136

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As sociedades contratuais são constituídas em função de interesses particulares, por isso,
a interferência do legislador é mínima, entretanto, nas sociedades institucionais o vínculo dos sócios
não é contratual, mas estatutário, estes cuidam de interesse geral da sociedade como instituição.
Por isso, a intervenção do legislador é importante, principalmente pelo fato destas se
dedicarem, na maioria dos casos, ao macro empreendimento.
Exemplos:
• Sociedade limitada é contratual. Se morrer um sócio, o herdeiro só assume a posição se
quiser (ninguém é obrigado a contratar).
• Sociedade anônima é institucional. Se morrer um acionista, os herdeiros
automaticamente têm as ações, como manda a lei.

4.3.5. Quanto à responsabilidade do sócio pelas obrigações sociais

Critério: Responsabilidade do sócio pelas obrigações sociais.

a) Responsabilidade ilimitada

Se o patrimônio social é insuficiente, o sócio responde ilimitadamente pelas dívidas sociais


com seu patrimônio pessoal. Ex.: sociedade em nome coletivo.

b) Responsabilidade limitada

O sócio só responde pelo valor das suas quotas ou ações, não recaindo a dívida sobre seu
patrimônio pessoal, salvo se houver quotas subscritas e não integralizadas. Ex.: Sociedade
anônima.

c) Responsabilidade mista

Presença de Sócios com responsabilidade limitada e sócios com responsabilidade ilimitada.


Ex.: Sociedade em comandita simples.

4.3.6. Quanto à nacionalidade

Pouco importa a nacionalidade dos sócios ou a origem do capital. Para a sociedade ser
considerada brasileira deve preencher os dois requisitos do art. 1.126 do CC:
• A sociedade deve ser organizada de acordo com a lei brasileira.
• Sede da administração deve ser no Brasil.
Art. 1.126. É nacional a sociedade organizada de conformidade com a lei
brasileira e que tenha no País a sede de sua administração.

O CC não traz definição de sociedade estrangeira. Assim, faltando qualquer dos requisitos,
a sociedade é considerada estrangeira.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 137

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OBS: o art. 1.134 é importantíssimo, fala da sociedade estrangeira:
não importa que tipo de atividade a sociedade estrangeira exerça, ela
somente poderá ser constituída no Brasil, se o poder executivo federal
autorizar.

Art. 1.134. A sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu objeto, não
pode, sem autorização do Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por
estabelecimentos subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos
expressos em lei, ser acionista de sociedade anônima brasileira.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/BA (2019) De acordo com o Código Civil, é característica das sociedades
cooperativas o concurso de sócios em número mínimo necessário para
compor a administração da sociedade, sem limitação de número máximo.
Correta!

MPE/PR (2019) Não é característica da sociedade cooperativa


Intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade,
salvo por herança. Correta!

Vamos agora ao estudo pormenorizado de cada um dos tipos societários (de sociedades
empresárias).

5. SOCIEDADE SIMPLES

5.1. CONTRATO SOCIAL

A sociedade simples é uma sociedade contratual, consequentemente será regida por um


contrato social, o qual será regido pelo art. 997 do CC.
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou
público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se
pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos
sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em
serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus
poderes e atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações
sociais.
Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado,
contrário ao disposto no instrumento do contrato.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 138

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5.2. PLURIPESSOALIDADE

A sociedade simples, ao ser constituída, precisa de dois ou mais sócios.


Salienta-se que a sociedade unipessoal de advocacia admite apenas um sócio, sendo uma
exceção à pluripessoalidade.
Estatuto da OAB
Art. 15. Os advogados podem reunir-se em sociedade simples de prestação
de serviços de advocacia ou constituir sociedade unipessoal de advocacia,
na forma disciplinada nesta Lei e no regulamento geral. (Redação dada
pela Lei nº 13.247, de 2016)

Art. 16. Não são admitidas a registro nem podem funcionar todas as espécies
de sociedades de advogados que apresentem forma ou características de
sociedade empresária, que adotem denominação de fantasia, que realizem
atividades estranhas à advocacia, que incluam como sócio ou titular de
sociedade unipessoal de advocacia pessoa não inscrita como advogado ou
totalmente proibida de advogar. (Redação dada pela Lei nº 13.247, de
2016)

Após a constituição da sociedade simples, admitia-se a unipessoalidade temporária ou


incidental. Ou seja, pelo prazo de 180 dias, sob pena de dissolução, era possível que a sociedade
simples tivesse apenas um sócio, nos termos do revogado inciso IV, do art. 1.033 do CC.
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
(...)
IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e
oitenta dias; (Revogado pela Lei nº 14.195, de 2021)
(...)
Parágrafo único. Não se aplica o disposto no inciso IV caso o sócio
remanescente, inclusive na hipótese de concentração de todas as quotas da
sociedade sob sua titularidade, requeira, no Registro Público de Empresas
Mercantis, a transformação do registro da sociedade para empresário
individual ou para empresa individual de responsabilidade limitada,
observado, no que couber, o disposto nos arts. 1.113 a 1.115 deste Código.
(Revogado pela Lei nº 14.195, de 2021)

Essa regra existia porque no Brasil não se admitia sociedade unipessoal.

Ocorre que, com a autorização dada pela Lei nº 13.874/2019 para que exista sociedade
unipessoal, a previsão do inciso IV deixou de ter sentido. Ora, se uma sociedade, que era composta
por pluralidade de sócios, passou a contar com apenas um único sócio, ela deve se tornar uma
sociedade unipessoal, não havendo motivo para que seja dissolvida. Assim, a Lei nº 14.195/2021
decidiu revogar o inciso IV e o parágrafo único do art. 1.033 do Código Civil.

5.3. QUOTAS SOCIAIS

5.3.1. Conceito

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 139

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Trata-se de frações do capital social que conferem ao seu titular o direito de sócio de uma
sociedade.

5.3.2. Titularidade das quotas

Tanto a pessoa física quanto a pessoa jurídica podem ser sócios de uma sociedade simples.

Ressalta-se que o incapaz poderá ser sócio, desde que preencha os três requisitos
cumulativos previsto no art. 974, §3º do CC:

• Não pode exercer administração;

• Capital social totalmente integralizado;

• Esteja devidamente assistido ou representado.

Vale destacar que faculta-se a sociedade entre os cônjuges, desde que o regime de bens
seja diverso da comunhão universal de bens ou da separação obrigatória de bens.

Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com


terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal
de bens, ou no da separação obrigatória.

JDC CJF204 Art. 977: A proibição de sociedade entre pessoas casadas sob
o regime da comunhão universal ou da separação obrigatória só atinge as
sociedades constituídas após a vigência do Código Civil de 2002 .

5.3.3. Formas de integralização

Trata-se do pagamento das quotas, podendo ser feito através de:

• Dinheiro;

• Bens móveis;

• Bens imóveis;

• Prestação de serviços.

Art. 1.006. O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode, salvo
convenção em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade,
sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído.

5.3.4. Sócio remisso

É aquele sócio que não integralizou as suas quotas sociais.

Imagine, por exemplo, que Fernanda possui 50% das quotas, Antônio 30% e Rafaela 20%.
Fernanda e Antônio integralizaram o valor total das quotas, enquanto Rafaela integralizou apenas

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 140

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10%. Diante disso, é possível cobrar uma indenização, excluir o sócio remisso ou reduzir a sua
quota.

Art. 1.004. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às


contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de fazê-
lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá
perante esta pelo dano emergente da mora.
Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios
preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota
ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no §
1º do art. 1.031.

5.3.5. Cessão de quotas sociais

Está disciplinada no art. 1.003 do CC, só será possível com a modificação do contrato social,
bem como com a autorização dos demais sócios.

Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente


modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não
terá eficácia quanto a estes e à sociedade.
Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do
contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a
sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/CE (2021) Quando omisso o contrato social, a cessão, total ou parcial,
da quota de uma sociedade limitada a quem seja sócio independerá da
audiência dos demais sócios. Correta!

5.3.6. (Im) possibilidade de penhora das quotas sociais

Conforme entendimento do STJ, é perfeitamente possível a penhora das quotas sociais,


inclusive estão previstas no art. 835 do CPC.

Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:


I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
II - títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com
cotação em mercado;
III - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV - veículos de via terrestre;
V - bens imóveis;
VI - bens móveis em geral;
VII - semoventes;
VIII - navios e aeronaves;
IX - ações e quotas de sociedades simples e empresárias;
X - percentual do faturamento de empresa devedora;
XI - pedras e metais preciosos;
XII - direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de
alienação fiduciária em garantia;
XIII - outros direitos.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 141

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§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais
hipóteses, alterar a ordem prevista no caput de acordo com as circunstâncias
do caso concreto.
§ 2º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança
bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do
débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento.
§ 3º Na execução de crédito com garantia real, a penhora recairá sobre a
coisa dada em garantia, e, se a coisa pertencer a terceiro garantidor, este
também será intimado da penhora.

5.4. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO

Deve constar no contrato social se os sócios respondem ou não pelas obrigações sociais.

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou


público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

Assim, a responsabilidade do sócio na sociedade simples poderá ser:

• LIMITADA – o sócio não responde com seus bens particulares sociais por dívidas da
sociedade;

• ILIMITADA – o sócio responde com seus bens pessoais por dívidas da sociedade.
Podendo ser de forma:

o Subsidiária – os bens do sócio só serão atingidos após o esgotamento dos bens


da sociedade. Portanto, primeiro o credor cobra a sociedade, não sendo
suficiente para o pagamento da dívida, irá cobrar os sócios.

o Solidária – a dívida pode recair diretamente sobre os bens dos sócios.

Em caso de omissão do contrato social, a responsabilidade será ilimitada (art. 1.023 do CC)
de forma subsidiária (art. 1.024 do CC)

Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem


os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais,
salvo cláusula de responsabilidade solidária.
Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por
dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.

Nesse sentido, o Enunciado 479 da V Jornada de Direito Civil.

ENUNCIADO 479 Art. 997, VII. Na sociedade simples pura (art. 983, parte
final, do CC/2002), a responsabilidade dos sócios depende de previsão
contratual. Em caso de omissão, será ilimitada e subsidiária, conforme o
disposto nos arts. 1.023 e 1.024 do CC/2002.

5.5. DIREITOS DOS SÓCIOS

São direitos dos sócios:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 142

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• Direito de participação dos lucros sociais de forma proporcional às suas quotas, salvo
estipulação em contrário.

A participação dos lucros, remuneração decorrente do investimento, não se confunde


com o pró-labore que é uma remuneração decorrente do trabalho.

Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de


participar dos lucros e das perdas.

Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das
perdas, na proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição
consiste em serviços, somente participa dos lucros na proporção da média do
valor das quotas.

• Direito de retirada (sair) da sociedade

No caso de contrato de prazo determinado, é necessária justa causa, devendo ser


comprovada de forma judicial.

No caso de contrato de prazo indeterminado, deverá comunicar aos demais sócios a


saída, através de uma notificação com antecedência mínima de 60 dias.

Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio
pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante
notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias;
se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, podem os
demais sócios optar pela dissolução da sociedade.

• Direito de exclusão de sócio

É possível a exclusão do sócio remisso, do sócio que cometer falta grave ou que tiver se
tornado incapaz (incapacidade superveniente).

Art. 1.004. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às


contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de fazê-
lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá
perante esta pelo dano emergente da mora.
Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios
preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota
ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no §
1º do art. 1.031.

Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode
o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais
sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por
incapacidade superveniente.
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio
declarado falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do
parágrafo único do art. 1.026.

• Direito de participar das deliberações sociais

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 143

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As deliberações são tomadas em reunião ou em assembleia.

Art. 1.010. Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir
sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão tomadas por maioria
de votos, contados segundo o valor das quotas de cada um.
§ 1 o Para formação da maioria absoluta são necessários votos
correspondentes a mais de metade do capital.
§ 2 o Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de
empate, e, se este persistir, decidirá o juiz.
§ 3 o Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação
interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove
graças a seu voto.

5.6. ADMINISTRADOR

5.6.1. Nomeação

Poderá ocorrer no contrato social ou em ato separado (ex.: ata da assembleia).

Art. 1.012. O administrador, nomeado por instrumento em separado, deve


averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar,
antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a
sociedade.

5.6.2. Sócio/não sócio

O administrador poderá ser um sócio ou um não sócio.

A administração só pode ser feita por pessoa natural (art. 997, VI)

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou


público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus
poderes e atribuições;

Caso o contrato seja omisso em relação ao administrador, todos os sócios irão administrar
a sociedade.

Art. 1.013. A administração da sociedade, nada dispondo o contrato social,


compete separadamente a cada um dos sócios.
§ 1 o Se a administração competir separadamente a vários administradores,
cada um pode impugnar operação pretendida por outro, cabendo a decisão
aos sócios, por maioria de votos.
§ 2 o Responde por perdas e danos perante a sociedade o administrador que
realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em
desacordo com a maioria.

5.6.3. Poderes do administrador

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 144

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CONTRATO SOCIAL ATO EM SEPARADO
SÓCIO Poderes IRREVOGÁVEIS Poderes REVOGÁVEIS
NÃO SÓCIO Poderes REVOGÁVEIS Poderes REVOGÁVEIS

Art. 1.018. Ao administrador é vedado fazer-se substituir no exercício de suas


funções, sendo-lhe facultado, nos limites de seus poderes, constituir
mandatários da sociedade, especificados no instrumento os atos e operações
que poderão praticar.
Art. 1.019. São irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração
por cláusula expressa do contrato social, salvo justa causa, reconhecida
judicialmente, a pedido de qualquer dos sócios.
Parágrafo único. São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a
sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio.

5.6.4. Responsabilidade do administrador

O administrador representa a vontade da pessoa jurídica (é a sua voz). Portanto, quem


responde pelos atos praticados pelo administrador é a própria sociedade.

Excepcionalmente, o administrador irá responder solidariamente com a sociedade quando


age com culpa no desempenho das suas funções.

Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a


sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas
funções.

Antes do advento da Lei 14.195/2021, o administrador respondia sozinho nos seguintes


casos:

• Se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no contrato social;

• Provando-se que era conhecida de terceiros;

• Tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

Tratava-se da aplicação da Teoria Ultra Vires, introduzida no nosso ordenamento jurídico


pelo CC/02, segundo a qual a pessoa jurídica só responde pelos atos praticados em seu nome
quando compatíveis com o seu objeto. Se estranhos às finalidades da pessoa jurídica o ato deve
ser imputado à pessoa física que agiu em nome da sociedade.

Até o CC/2002, adotava-se a Teoria da Aparência, segundo a qual serão considerados


válidos os atos praticados em nome da sociedade, ainda que a possibilidade da prática desses atos
não esteja prevista em contrato ou seja estranha aos negócios da sociedade, desde que, perante
terceiros que contratem com a sociedade, exista uma aparência de que as pessoas que praticaram
o ato em nome da sociedade detinham poderes para tanto.

Atualmente, com a revogação do parágrafo único do art. 1.015 do CC, pela Lei 14.195/2021,
não se fala mais em Teoria Ultra Vires. Portanto, aplica-se a Teoria da Aparência no tocante à
responsabilidade do administrador, cabendo à sociedade responder pelos seus atos.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 145

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Como o tema foi cobrado em concurso?
TRF4 (2022) Na sociedade simples, os herdeiros do cônjuge de sócio
poderão exigir desde logo a parte que lhes couber na quota social. Errada!

6. SOCIEDADE EM NOME COLETIVO

6.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 1.039 a 1.044 do CC.


Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em
nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas
obrigações sociais.
Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem
os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar
entre si a responsabilidade de cada um.

Art. 1.040. A sociedade em nome coletivo se rege pelas normas deste


Capítulo e, no que seja omisso, pelas do Capítulo antecedente.

Art. 1.041. O contrato deve mencionar, além das indicações referidas no art.
997, a firma social.

Art. 1.042. A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios,


sendo o uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os
necessários poderes.

Art. 1.043. O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a


sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor.
Parágrafo único. Poderá fazê-lo quando:
I - a sociedade houver sido prorrogada tacitamente;
II - tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição
do credor, levantada no prazo de noventa dias, contado da publicação do ato
dilatório.

Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas
enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da
falência.

6.2. SÓCIOS

Pode ser simples ou empresária.


É uma sociedade contratual, ou seja, constituída na forma de contrato social, obedecendo
às regras do CC.
Apenas pessoas físicas podem ser sócias, nos termos do art. 1.039 do CC.
Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em
nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas
obrigações sociais.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 146

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Não admite incapaz como sócio, eis que os sócios têm contribuição não só pessoal como
patrimonial e os incapazes não podem se obrigar.
Sócios têm ampla liberdade para disciplinar suas relações sociais, desde que não
desnaturem o tipo societário.
É uma sociedade de pessoas, o que significa que depende do consentimento dos demais
sócios a entrada de estranhos ao quadro social.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/PR (2019) Sociedade em nome coletivo admite como sócio pessoa
jurídica de responsabilidade limitada, que responderá por até o valor de seu
capital social subscrito. Errada!

6.3. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS

A responsabilidade é solidária, todos responderão de forma ilimitada.


Ressalta-se que é subsidiária, pois há o benefício de ordem. Ou seja, primeiro cobra-se a
sociedade e, havendo saldo remanescente, demanda-se os sócios.
Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem
os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar
entre si a responsabilidade de cada um.

6.4. NOME EMPRESARIAL

Firma social, pois é sociedade com responsabilidade ilimitada. Como todos os sócios têm
responsabilidade ilimitada, o nome de qualquer um pode constar da firma social (art. 1.157).
Art. 1.157. A sociedade em que houver sócios de responsabilidade ilimitada
operará sob firma, na qual somente os nomes daqueles poderão figurar,
bastando para formá-la aditar ao nome de um deles a expressão "e
companhia" ou sua abreviatura.

6.5. ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE

De acordo com o art. 1.042 do CC, a administração só poderá ser feita por sócios.
Art. 1.042. A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios,
sendo o uso da firma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os
necessários poderes.

Não pode ser administrada por pessoa jurídica, já que só pessoa física pode ser sócia.

6.6. LIQUIDAÇÃO DA QUOTA

Em regra, não se admite pedido de liquidação de quota na sociedade em nome coletivo.


Somente após a dissolução da sociedade (art. 1.043 do CC).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 147

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Art. 1.043. O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a
sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor.
Parágrafo único. Poderá fazê-lo quando:
I - a sociedade houver sido prorrogada tacitamente;
II - tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição
do credor, levantada no prazo de noventa dias, contado da publicação do ato
dilatório.

Porém, há duas exceções:


• Prorrogação tácita da sociedade: após o prazo estipulado, pode-se requerer.
• Juiz acolhe oposição do credor, em até 90 dias, contra a prorrogação contratual
É um tipo societário muito raro atualmente, exatamente por não trazer proteção ao
patrimônio pessoal dos sócios.

7. SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES

7.1. PREVISÃO LEGAL

Está prevista nos arts. 1.045 a 1051 do CC.


Art. 1.045. Na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas
categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e
ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados
somente pelo valor de sua quota.
Parágrafo único. O contrato deve discriminar os comanditados e os
comanditários.

Art. 1.046. Aplicam-se à sociedade em comandita simples as normas da


sociedade em nome coletivo, no que forem compatíveis com as deste
Capítulo.
Parágrafo único. Aos comanditados cabem os mesmos direitos e obrigações
dos sócios da sociedade em nome coletivo.

Art. 1.047. Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da


sociedade e de lhe fiscalizar as operações, não pode o comanditário praticar
qualquer ato de gestão, nem ter o nome na firma social, sob pena de ficar
sujeito às responsabilidades de sócio comanditado.
Parágrafo único. Pode o comanditário ser constituído procurador da
sociedade, para negócio determinado e com poderes especiais.

Art. 1.048. Somente após averbada a modificação do contrato, produz efeito,


quanto a terceiros, a diminuição da quota do comanditário, em consequência
de ter sido reduzido o capital social, sempre sem prejuízo dos credores
preexistentes.

Art. 1.049. O sócio comanditário não é obrigado à reposição de lucros


recebidos de boa-fé e de acordo com o balanço.
Parágrafo único. Diminuído o capital social por perdas supervenientes, não
pode o comanditário receber quaisquer lucros, antes de reintegrado aquele.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 148

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Art. 1.050. No caso de morte de sócio comanditário, a sociedade, salvo
disposição do contrato, continuará com os seus sucessores, que designarão
quem os represente.

Art. 1.051. Dissolve-se de pleno direito a sociedade:


I - por qualquer das causas previstas no art. 1.044;
II - quando por mais de cento e oitenta dias perdurar a falta de uma das
categorias de sócio.
Parágrafo único. Na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão
administrador provisório para praticar, durante o período referido no inciso II
e sem assumir a condição de sócio, os atos de administração.

*Pode ser simples ou empresária.

7.2. SÓCIOS

Possui duas categorias de sócios, é uma característica peculiar.


É essencial que haja as duas categorias, na ausência de uma delas, o prazo será de 180
dias para regularizar.

7.2.1. Sócio comanditado

Somente a pessoa natural poderá ser sócia comanditada.


A responsabilidade é ilimitada e solidária.
Poderá ser administrador, é o único, em verdade, que pode administrar.
Seu nome poderá constar no nome empresarial.
Exemplo:

Bernardo

Comanditados

Bruno
Sociedade em
comandita
simples
Sabrina

Comandatários

Saulo

O nome empresarial, na espécie firma, só poderá usar Bernardo e Bruno, jamais os nomes
de Sabrina e Saulo, podendo ser:
• Bernardo, Bruno & Cia livros jurídicos;
• Bernardo & Cia livros jurídicos

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 149

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• Bruno & Cia livros jurídicos
Comanditado → Advogado (com responsabilidade maior).

7.2.2. Sócio comanditário

Tanto a pessoa natural quanto a pessoa jurídica poderão ser sócias, não há restrição aqui.
Possui responsabilidade limitada ao preço de sua quota.
Não poderá administrar a sociedade e nem emprestar seu nome ao nome empresarial. Caso
o faça, sua responsabilidade será ilimitada.
RELEMBRANDO: Neste tipo de sociedade, é necessário SEMPRE ter as duas categorias
de sócio. A ausência de uma das categorias implica que, em 180 dias, seja recomposta a categoria
faltante.
Faltando a categoria comanditado, não poderá o comanditário exercer a administração,
haverá a necessidade de designação de um administrador provisório.
Parágrafo único. Na falta de sócio comanditado, os comanditários nomearão
administrador provisório para praticar, durante o período referido no inciso II
e sem assumir a condição de sócio, os atos de administração

Comanditário → Estagiário (responsabilidade menor).


Entre os comanditados a sociedade é “de pessoas”; entre os comanditários é “de capital”;
salvo se o contrato dispuser de modo diverso (ver acima).

8. SOCIEDADE LIMITADA

8.1. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

O Código Civil trata a sociedade limitada em capítulo próprio, devendo, nos casos de
omissão, ser aplicada as regras da sociedade simples.

Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas
normas da sociedade simples.
Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da
sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima.

E a regência supletiva da LSA (Lei 6.404/76 - Lei de sociedades por ações), é aplicável?
É aplicável, desde que o contrato social assim preveja (art. 1.053, parágrafo único do CC). Ou seja,
em havendo essa previsão expressa, as regras da sociedade simples são afastadas para a
aplicação supletiva das regras da LSA (especificamente as regras da sociedade anônima).
É a situação que Ulhôa Coelho chama de “duas limitadas”, pois o CC permite que a limitada
seja regida nos casos de omissão pelas regras da sociedade simples (limitada de vínculo instável)
ou pelas regras da LSA (limitada de vínculo estável). Essa instabilidade decorre da possibilidade de
na sociedade simples o sócio se retirar imotivadamente, o que não ocorre nas S/A.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 150

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Como o tema foi cobrado em concurso?
TJ/SP (2021) As omissões do seu regime legal são, em qualquer hipótese,
supridas pelas normas de sociedades anônimas. Errada!

TJ/GO (2021) A sociedade limitada pode ser constituída por uma ou mais
pessoas; se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do
sócio único, no que couber, as disposições do contrato social. Correta!

TJ/MS (2020) Um grupo de amigos constituiu uma sociedade limitada para


exploração da atividade de organização de festas de casamento. O capital
social dessa espécie de sociedade divide-se em quotas, que poderão ser
desiguais. Correta!

8.2. CARACTERÍSTICAS

• Possui natureza de simples ou empresária;


• Sociedade contratual (ato constitutivo é um contrato social). É uma das três sociedades
personificadas contratuais, junto com a sociedade em nome coletivo e sociedade em
comandita simples;
• Pluripessoal – precisa ter dois ou mais sócios no momento da sua constituição.
Contudo, desde a Lei 13.874/2019 admite-se a sociedade limitada unipessoal. Portanto,
é possível que a sociedade limitada tenha um único sócio.
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita
ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela
integralização do capital social.
§ 1º A sociedade limitada pode ser constituída por 1 (uma) ou mais
pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º Se for unipessoal, aplicar-se-ão ao documento de constituição do sócio
único, no que couber, as disposições sobre o contrato social. (Incluído pela
Lei nº 13.874, de 2019)

Em 2011, criou-se a figura da EIRELI (empresa individual de responsabilidade limitada),


regida pelo revogado art. 980-A. Posteriormente, em 2019, criou-se a sociedade limitada
unipessoal. A Lei 14.195/21 transformou todas as empresas EIRELIs existentes em
sociedades limitadas unipessoais.
Art. 41. As empresas individuais de responsabilidade limitada existentes na
data da entrada em vigor desta Lei serão transformadas em sociedades
limitadas unipessoais independentemente de qualquer alteração em seu ato
constitutivo.
Parágrafo único. Ato do Drei disciplinará a transformação referida neste
artigo.

No final de 2021, a MP 1.035/2021 revogou expressamente o art. 44, VI do CC, excluindo


de vez a EIRELI do ordenamento jurídico brasileiro.
• “Affectio Societatis”

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 151

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Conforme Ulhôa Coelho, a “affectio societatis” é a disposição dos sócios em formar e manter
a sociedade uns com os outros. Quando não existe ou desaparece esse ânimo, a sociedade não
se constitui ou deve ser dissolvida.
Trata-se da vontade comum entre os sócios. O ajuste de vontade entre os sócios.

8.3. CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA

É constituída por meio de contrato social, que exige, para ter plena validade, o
preenchimento de certos requisitos e pressupostos.

*OBS: Os requisitos e pressupostos que veremos a seguir se referem


a todos os contratos sociais, ou seja, aos atos constitutivos de todas
as sociedades contratuais e não somente da sociedade limitada (+
comandita simples e em nome coletivo).

8.3.1. Requisitos gerais de validade do contrato social (TRÊS)

São os mesmos requisitos de validade do negócio jurídico.


a) Agente capaz

O incapaz pode ser sócio de sociedade limitada? SIM, desde que preencha determinados
requisitos:
- Estar devidamente assistido ou representado
- Não pode exercer a administração;
- Capital social deve estar totalmente integralizado. Do contrário, ele pode ser
responsabilizado solidariamente pela cota não integralizada de outro sócio.
Art. 974, § 3o O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas
Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade
que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os
seguintes pressupostos:
I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;
II – o capital social deve ser totalmente integralizado;
III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente
incapaz deve ser representado por seus representantes legais.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/SE (2022) A responsabilização dos sócios é solidária em relação à
integralização do capital social. Correta!

b) Objeto lícito

Ex.: Sociedade para exercer atividade de prostituição ou bingo. O ato constitutivo dessas
sociedades é nulo, pois ilícito o objeto (art. 166, II do CC).

c) Forma legal

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 152

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A forma legal pode ser um instrumento particular ou instrumento público (escritura pública).
Em regra, o instrumento (particular ou público) exige o visto do advogado, sob pena de
nulidade absoluta do contrato (EAOB - Lei 8.906/94).
EXCEÇÃO: Ato constitutivo de ME ou EPP não precisa do visto.

8.3.2. Requisitos específicos de validade dos contratos sociais (DOIS)

Os requisitos específicos são extraídos do próprio conceito de contrato social previsto no art.
981 do CC, in verbis:
Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se
obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade
econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

a) Contribuição do sócio: Todos os sócios devem contribuir com a formação do capital


social, seja com bens, créditos ou dinheiro.

Capital social é o valor destinado para a exploração da atividade, provindo da contribuição


dos sócios.
Subscrição: É o comprometimento do sócio a contribuir.
Integralização: Efetivo pagamento da contribuição.

Formas de integralização (Crédito, Dinheiro e Bens – CDB):


- Dinheiro;
- Créditos: Quem integraliza com créditos fica responsável pelo pagamento (solvência, pró
solvendo) desse título.
IMPORTANTE: Art. 1.055, §2º do CC:
Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo
uma ou diversas a cada sócio.
§ 2º É vedada contribuição que consista em prestação de serviços.

Obs.: na sociedade simples – não empresária – pode prestação em


serviço.

- Bens (móveis ou imóveis): Quem integraliza com bens responde pela evicção.
IMPORTANTE: art. 1.055, §1º do CC:
Art. 1.055, § 1º Pela exata estimação de bens conferidos ao capital social
respondem solidariamente todos os sócios, até o prazo de cinco anos da
data do registro da sociedade.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 153

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Ex.: Sócio que integraliza sua cota de 30mil com uma casa que diz valer 30mil.
Posteriormente, verifica-se que o valor da casa é de 10mil. Nesse caso, todos os sócios respondem
solidariamente pelos 20mil faltantes.
OBS: Quando o sócio integraliza com bem imóvel, em tese deveria incidir o ITBI sobre a
operação (art. 156, II da CF). Entretanto, o §2º traz uma hipótese de imunidade para esse caso
específico.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/SE (2022) Na formação do capital social, é possível a contribuição
mediante prestação de serviços. Errada!

TJ/SP (2021) É possível que as quotas possuam valores desiguais. Correta!

Art. 156,
§ 2º - O imposto previsto no inciso II:
I - não incide sobre a transmissão de bens ou direitos incorporados ao
patrimônio de pessoa jurídica em realização de capital, nem sobre a
transmissão de bens ou direitos decorrente de fusão, incorporação, cisão ou
extinção de pessoa jurídica, salvo se, nesses casos, a atividade
preponderante do adquirente for a compra e venda desses bens ou direitos,
locação de bens imóveis ou arrendamento mercantil;

OBS: O que é Capital Aguado? É quando os sócios integralizam com bens


supervalorizando esses bens.
OBS: E se integralizar com bem imóvel, ele será transferido para a sociedade e por
disposição constitucional não haverá incidência do ITBI se for feita como forma de integralização
de sua quota social (art. 156, II c/c §2º, I, CF/88).
É possível uma sociedade entre cônjuges (sociedade marital)? Sim, SALVO quando o
regime for o de comunhão universal de bens ou de separação obrigatória (CC, art. 977).
Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com
terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal
de bens, ou no da separação obrigatória.

Quanto à comunhão universal, o objetivo dessa vedação é impedir a confusão


patrimonial, pois o credor da sociedade não teria como saber as quotas de cada sócio.
Quanto à separação obrigatória, o objetivo é evitar o que se popularmente chama-se de
“golpe do baú”. Ex.: Sociedade entre “A” de 90 anos e “B” de 20 (casados no regime de separação
obrigatória). “B” com 1%; “A” com 99%. Quando “A” morre, todo o capital social vai para a “B”.
A sociedade entre cônjuges era permitida antes do CC/2002. O parecer jurídico n. 125/03
do DNRC (Departamento Nacional de Registro de Comércio), bem como o Enunciado 204 da 3ª
Jornada, afirmam que a proibição prevista no art. 977 só se aplica a sociedades constituídas após
a entrada em vigor do CC/2002. As sociedades já constituídas nessa forma podem assim
permanecer, em razão da proteção ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 154

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JDC CJF204 Art. 977: A proibição de sociedade entre pessoas casadas sob
o regime da comunhão universal ou da separação obrigatória só atinge as
sociedades constituídas após a vigência do Código Civil de 2002 .

DNRC PJ 125/03 [...] De outro lado, em respeito ao ato jurídico perfeito, essa
proibição não atinge as sociedades entre cônjuges já constituídas quando da
entrada em vigor do Código, alcançando, tão somente, as que viessem a ser
constituídas posteriormente. Desse modo, não há necessidade de se
promover alteração do quadro societário ou mesmo da modificação do regime
de casamento dos sócios-cônjuges, em tal hipótese.

OBS: é possível a alteração do regime de bens no art. 1.639, §2º


CC/02, desde que seja motivadamente. Portanto, é possível a
constituição da sociedade, desde que alterado o regime.

OBS: MINORIA doutrinária dizia que a regra do art. 977 só se aplica à


sociedade empresária, não se aplicando a sociedade simples. Isto
porque o artigo estava dentro do capítulo do direito de empresa.
Entretanto, no REsp 1058165/RS foi pacificado que se aplica a todas
sociedades.

b) Distribuição dos resultados (art. 1.008 do CC)

Art. 1.008. É nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de


participar dos lucros e das perdas.

Todos os sócios devem participar dos resultados da sociedade, positivos ou negativos. Uma
cláusula contratual que exclua algum sócio dos lucros ou perdas é nula de pleno direito.
ATENÇÃO: Excluir não é o mesmo que limitar. Assim, nada impede que um sócio tenha
0,001% de participação.

8.3.3. Cláusulas Essenciais do contrato da Sociedade limitada (art. 997 do CC)

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou


público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se
pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos
sócios, se jurídicas;
II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em
serviços;
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus
poderes e atribuições;
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações
sociais.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 155

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Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado,
contrário ao disposto no instrumento do contrato.

As demais cláusulas são chamadas de acidentais. São aquelas prescindíveis


(dispensáveis).
Exemplo de cláusula acidental é a que define o ‘pró-labore’.
Pró-labore é diferente de lucro. Este decorre do investimento na sociedade. Aquele decorre
do trabalho em favor da sociedade. Só tem ‘pró-labore’ quem labora em favor da sociedade. O lucro
independe do trabalho, pois decorre do investimento feito.

8.4. RESPONSABILIDADE DO SÓCIO NA SOCIEDADE LIMITADA (ART. 1.052 DO CC)

Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita


ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela
integralização do capital social.

A responsabilidade dos sócios é limitada, ou seja, exaurido o patrimônio social, os credores


só podem executar o patrimônio pessoal dos sócios até um certo montante.
O limite da responsabilidade do sócio, na sociedade limitada, é o total do capital subscrito e
não integralizado. Ou seja, o sócio é responsável pela integralização. Uma vez integralizado o total
do valor subscrito, a responsabilidade pessoal do sócio termina.

OBS: Capital subscrito é aquele que o sócio se compromete a entregar


à sociedade. Capital integralizado é o capital efetivamente entregue à
sociedade.

Ex: Sociedade com capital social de 100mil (totalmente integralizado) e com dívidas de
200mil. Os 100mil faltantes não podem atingir o patrimônio pessoal dos sócios. Cada sócio será
responsável apenas pelo valor que integralizou.
Situação diferente ocorre com o chamado SÓCIO REMISSO, que é aquele que não
integraliza total ou parcialmente suas quotas sociais (aquele que não integraliza o total do capital
subscrito).
Se um dos sócios deixa de integralizar suas quotas, os demais respondem solidariamente
sobre o que foi subscrito e não integralizado pelo sócio remisso. Há direito de regresso contra o
sócio remisso.
Ex.: Sociedade limitada entre ‘A’ (50%) e ‘B’ (50%), com capital social de 100mil. ‘A’
integraliza 50mil (total das quotas); ‘B’ integraliza apenas 25mil (sócio remisso). Se a sociedade tem
dívida de 100mil, os 25mil faltantes podem ser cobrados tanto de ‘A’ quanto de ‘B’, pois a
responsabilidade pela integralização do capital social é solidária. Obviamente, se ‘A’ pagar os 25mil
faltantes, poderá cobrar o valor em ação de regresso contra ‘B’.
É por isso que o CC só permite que o incapaz seja sócio em sociedade limitada com capital
totalmente integralizado, pois do contrário poderia ser cobrado pelo valor não integralizado pelo
sócio remisso.
Esquematizando:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 156

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1º CONTEXTO 2º CONTEXTO
LTDA CREDORES DA LTDA
Cada sócio responderá por suas quotas Solidariedade pela integralização do capital
social.
Ao tornar-se sócio de uma LTDA, o sócio possui Os credores da LTDA podem cobrar de
o dever de integralizar o capital social. Assim, a qualquer sócio a integralização do capital.
LTDA será credora do sócio remisso (está em
mora com a contribuição).

Exemplos:

O sócio B comprometeu-se a integralizar 30% do


Sócio A capital social, em três parcelas de 10%.
70% Contudo, integralizou apenas 10%, ficando em
Sociedade aberto 20% do valor do capital social. No caso
Limitada apresentando, B é chamado de sócio remisso,
Sócio B
eis que está em mora com a sociedade LTDA.
30% (3 parcelas de
10%) Neste caso, a LTDA poderá fazer a cobrança,
APENAS, do sócio B. Nos termos do art. 1.004
(constituição em mora “ex persona” – depende
de notificação), assim a sociedade notificará o
sócio para que, no prazo de 30 dias, o sócio
integralize o capital faltante, é o que a doutrina
chama de CHAMADA DE CAPITAL.

Na situação hipotética apresentada, como regra


CREDOR (Marcelo) geral, não pode o credor cobrar diretamente dos
Cobrou da LTDA, mas
NP: emitente é a LTDA não recebeu nada!
sócios, mesmo que a LTDA não pague o débito.
R$ 100.000,00 Desta forma, o credor Marcelo não poderá
cobrar a NP dos sócios, mas sim de exigir de
qualquer sócio a integralização do capital.

A regra da limitação da responsabilidade dos sócios da sociedade limitada comporta


EXCEÇÕES, vale dizer, existem situações em que o sócio da limitada tem responsabilidade
ILIMITADA, respondendo com seu patrimônio pela totalidade das dívidas sociais. São as seguintes
situações:
a) Dívidas com o INSS;
b) Dívidas trabalhistas: Nesse caso, a dívida não se restringe ao valor da cota, mas também
atinge o patrimônio pessoal dos sócios.
c) Casos de desconsideração da personalidade jurídica;
d) Quando a sociedade não for levada a registro ou este tiver sido cancelado;
e) Violação da regra do art. 977 do CC (limitação da sociedade entre cônjuges);

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 157

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Nessas hipóteses, TODOS OS SÓCIOS respondem de forma subsidiária (benefício de
ordem), mas ilimitadamente.
Em outras situações, também há mitigação da regra que limita a responsabilidade dos
sócios, entretanto, nesses casos a responsabilidade não recairá sobre a totalidade de sócios.
Vejamos quais são essas situações:
• Art. 1.080 do CC. A responsabilidade ilimitada não é de TODOS os sócios, mas só
daqueles que deliberaram contra a lei ou contra o contrato.

Art. 1.080. As deliberações infringentes do contrato ou da lei tornam ilimitada


a responsabilidade dos que expressamente as aprovaram.

Ex.: Contrato veda a prestação de fiança e aval. Na assembleia aprovam o aval. Nesse caso,
somente aqueles que aprovaram responderão ilimitadamente pelas dívidas do avalizado.
• No caso de dívidas tributárias (art. 135, III do CTN), a responsabilidade ilimitada recai
pessoalmente sobre o Administrador da Sociedade (somente ele). Não é tecnicamente um caso de
desconsideração de pessoa jurídica, mas sim de imputação direta de responsabilidade.
(Santa Cruz)

Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a


obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes
ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
III - os diretores, gerentes ou representantes (ADMINISTRADOR) de pessoas
jurídicas de direito privado.

A regra é a mesma para a dívida tributária resultante da Seguridade Social (lei 8.620/93
tentou criar regra específica ampliando a responsabilidade dos administradores etc., entretanto STJ
considerou desprovida de aplicabilidade).
Mas a falta de pagamento de tributo não seria, por si só, uma infração à lei, de modo há
sempre ensejar a responsabilidade ilimitada do administrador?
STJ: Quando a sociedade deixa de pagar a dívida por não ter recursos suficientes, diz que
há INADIMPLÊNCIA. Nesse caso, o Administrador não responde pessoalmente pela dívida.
Quando a sociedade tem recursos, mas não paga os tributos por outros motivos, diz que há
SONEGAÇÃO. Nesse caso, o Administrador responde pessoalmente.
Ressalta-se que a Súmula 435 do STJ acrescentou como mais uma hipótese: a dissolução
irregular da sociedade. Desta forma, pode-se afirmar que o mero inadimplemento tributário NÃO
acarreta a responsabilidade do sócio.

Súmula 435 STJ - Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que


deixar de funcionar no seu domicílio sem comunicação aos órgãos
competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o
sócio-gerente.

*CDA: se o nome do sócio consta também da CDA, não se trata de típico redirecionamento,
e o ônus da prova de inexistência de infração de lei, contrato social ou estatuto é do sócio, eis que
a CDA goza de presunção de liquidez e certeza.
• Art. 1.003, parágrafo único. Cessão de quotas.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 158

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Art. 1.003, Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação
do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a
sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.

• Art. 1.025. O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das dívidas
sociais anteriores à admissão.

Art. 1.025. O sócio, admitido em sociedade já constituída, não se exime das


dívidas sociais anteriores à admissão.

Quando o sujeito entra na sociedade, deve estar ciente das dívidas, pois certamente irá
responder por elas, nos limites de suas quotas, obviamente.

8.5. QUOTAS SOCIAIS

8.5.1. Natureza jurídica:

Conforme Rubens Requião, a natureza jurídica é de direito de duplo aspecto. A cota


confere um direito patrimonial e também um direito pessoal.
Direito patrimonial: Identificado como um crédito consistente em percepção de lucros
durante a existência da sociedade e, em particular, na partilha da massa residual, decorrendo de
sua liquidação final.
Direito pessoal: É aquele decorrente do status de sócio. Nessa ordem, podemos alinhar o
direito de participar das deliberações sociais, o direito de fiscalização dos atos da administração e
o direito de preferência para a subscrição de quotas no caso de aumento de capital social.

8.5.2. Transferência de quotas (cessão de quotas)

É o contrato social que define se é possível ou não a transferência de quotas. Na omissão


do contrato social, aplica-se a regra do art. 1.057 do CC, in verbis:
Art. 1.057. Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou
parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos
outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um
quarto do capital social.

Ou seja:
• Cessão de quotas para um sócio: Não é necessária a autorização de ninguém.
• Cessão de quotas para um estranho: Só é possível se não houver a oposição de
mais ¼ do capital social.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 159

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De acordo com o art. 1.055 do CC, as quotas podem ser iguais ou desiguais quanto ao valor.
Ex: Sociedade com capital social de 100mil dividido em quotas no valor de 1 real.
Sócio ‘A’ tem 60%. 60mil quotas
Sócio ‘B’ tem 40%. 40mil quotas.
Aqui as quotas têm o mesmo valor. É a forma mais comum, até pela facilidade.
Ex2: Sociedade com capital social de 100mil.
Sócio A tem 60%. 1 cota no valor de 60mil.
Sócio B tem 40%. 1 cota no valor de 40mil.
Aqui as quotas são desiguais.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2021) Na omissão do contrato social, o sócio pode ceder total ou
parcialmente suas quotas a quem seja sócio, independentemente da
audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de
mais de 1/4 do capital social. Correta!

8.6. DEVERES DOS SÓCIOS

Basicamente dois deveres:


a) Dever de integralização do capital social.

b) Dever de lealdade: É o dever de o sócio colaborar com o desenvolvimento da sociedade,


abstendo-se de praticar atos que possam prejudicar a sociedade. Dever de portar-se
com lealdade, não podendo, portanto, tumultuar o ambiente da sociedade ou concorrer
com esta.

8.7. DIREITOS DOS SÓCIOS

a) Participação nos lucros sociais: Que além de direito é um requisito específico de validade
do contrato social.

b) Fiscalização da Administração

c) Direito de retirada (CC, art. 1.029)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 160

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Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio
pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante
notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias;
se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, podem os
demais sócios optar pela dissolução da sociedade.

d) Participação nas deliberações sociais

Art. 1.072. As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010,


serão tomadas em reunião ou em assembleia, conforme previsto no contrato
social, devendo ser convocadas pelos administradores nos casos previstos
em lei ou no contrato.
§ 1o A deliberação em assembleia será obrigatória se o número dos sócios
for superior a dez.

OBS1: No entanto, se a Ltda. possuir mais de 10 sócios, é obrigatória


a realização de Assembleia.
OBS2: Se a Ltda. for microempresa ou empresa de pequeno porte é o
quórum do art. 70 da LC 123/06.

Art. 70. As microempresas e as empresas de pequeno porte são


desobrigadas da realização de reuniões e assembleias em qualquer das
situações previstas na legislação civil, as quais serão substituídas por
deliberação representativa do primeiro número inteiro superior à metade do
capital social.

e) Direito de preferência.

8.8. DELIBERAÇÕES SOCIAIS

Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias


indicadas na lei ou no contrato:
I - a aprovação das contas da administração;
II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado;
III - a destituição dos administradores;
IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
V - a modificação do contrato social;
VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do
estado de liquidação;
VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas
contas;
VIII - o pedido de concordata.

Conforme o art. 1.072 do CC, as deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010
(que traz as regras de votação), serão tomadas em reunião ou em assembleia, conforme previsto
no contrato social, devendo ser convocadas pelos administradores nos casos previstos em lei (art.
1071) ou no contrato.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 161

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REGRA: Deliberações PODEM ser tomadas em assembleia ou em reunião, conforme
previsão contratual.
EXCEÇÃO: Se forem mais de 10 sócios (11 ou mais - um time de futebol), as deliberações
só podem ser tomadas em assembleia (Art. 1.072, §1º).
Art. 1.072. As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010,
serão tomadas em reunião ou em assembleia, conforme previsto no contrato
social, devendo ser convocadas pelos administradores nos casos previstos
em lei ou no contrato.
§ 1o A deliberação em assembleia será obrigatória se o número dos sócios
for superior a dez.

8.8.1. Assembleia X Reunião

A grande diferença entre assembleia e reunião diz respeito às disposições legais. O CC, a
partir do art. 1.074 dispõe sobre uma série de regras relativas às Assembleias. Doutro lado, o art.
1.079 permite que o contrato social disponha livremente sobre as reuniões, sendo-lhes aplicadas
as regras das assembleias somente quando da omissão contratual (é o que mais acontece na
prática).
Art. 1.079. Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos omissos no contrato,
o estabelecido nesta Seção sobre a assembleia, obedecido o disposto no §
1o do art. 1.072.

E mais: art. 1.072, §5º


Art. 1.072, § 5o As deliberações tomadas de conformidade com a lei e o
contrato vinculam todos os sócios, ainda que ausentes ou dissidentes.

8.8.2. Regras de votação nas deliberações

As regras de votação são previstas no art. 1.010 (regras relativas às sociedades simples),
in verbis:
Art. 1.010 Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir
sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão tomadas por maioria
de votos, contados segundo o valor das quotas de cada um.
§ 1º Para formação da maioria absoluta são necessários votos
correspondentes a mais de metade do capital.
§ 2º Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de
empate, e, se este persistir, decidirá o juiz.
§ 3º Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação
interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove
graças a seu voto.

8.8.3. Dispensa de assembleia ou reunião

Dois são os casos em que é dispensada a instituição de reunião social ou assembleia:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 162

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1) A deliberação pode ser por escrito, quando subscrita por TODOS os sócios (CC, art.
1.072, §3º).
§ 3o A reunião ou a assembleia tornam-se dispensáveis quando todos os
sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto delas.

2) É dispensada a assembleia ou reunião nas deliberações das sociedades limitadas


microempresárias ou empresárias de pequeno porte (LC 123/2006, art. 70).

8.9. DIREITO DE RETIRADA (DIREITO DE RECESSO)

É a possibilidade que o sócio tem de retirar-se da sociedade. Esse direito deve estar
diretamente relacionado com a regra do art. 1.029 do CC, ou seja, tudo depende do contrato:
a) Contrato com prazo determinado: A saída só é possível com justa causa, que deve ser
provada em juízo.

b) Contrato com prazo indeterminado: A saída pode ser imotivada. A lei só exige que ocorra
a notificação dos demais sócios com antecedência mínima de 60 dias. É uma forma de não pegar
os demais sócios desprevenidos (manifestação da boa-fé objetiva).

Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio
pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante
notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias;
se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, podem os
demais sócios optar pela dissolução da sociedade. (Especial importância
em sociedades pessoais, contrariamente ao que ocorre nas sociedades
de capital)

Exemplo: Sociedade com prazo: Lanchonete na festa do mar. Se o sócio resolvesse sair
sem justificativa, iria ser altamente prejudicial para a sociedade e consequentemente para os
demais sócios.

➔ QUESTÃO: caso a sociedade limitada opção pela aplicação das normas das
sociedades anônimas à sua gestão, permanece o direito de retirada (recesso) previsto no
Código Civil?

Sim. O STJ tem entendido que é direito do sócio retirar-se imotivadamente de sociedade
limitada regida de forma supletiva pelas normas da sociedade anônima
O art. 1.029 do Código Civil prevê que, se a sociedade empresária
for por prazo indeterminado, o sócio terá o direito de se retirar, de forma
imotivada, sem que seja necessária, para tanto, a propositura de ação de
dissolução parcial.

Este dispositivo está inserido no capítulo relativo às sociedades


simples. Apesar disso, o STJ entende que ele é perfeitamente aplicável às
sociedades limitadas.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 163

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Vale ressaltar que a sociedade limitada possui regras próprias
previstas nos arts. 1.052 a 1.087 do CC. Além disso, aplicam-se às
sociedades limitadas, supletivamente, as regras da sociedade simples (arts.
997 a 1.038) ou da sociedade anônima (Lei nº 6.404/76), se o contrato social
assim estipular (art. 1.053, parágrafo único, CC).

Ainda que o contrato social tenha optado pela regência supletiva da


Lei nº 6.404/76 (sociedades anônimas), há direito potestativo de retirada
imotivada do sócio na sociedade limitada. Assim, o fato de a sociedade
limitada ser regida supletivamente pela Lei das Sociedades Anônimas não
afasta a possibilidade de retirada imotivada do sócio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1839078/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso


Sanseverino, julgado em 09/03/2021 (Info 688).

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/MS (2021) A sociedade limitada por tempo indeterminado ZZZ Ltda. era
composta por cinco sócios: Alberto, Bernardo, Caio, Diana e Esdras. Diana
realizou apenas metade das quotas do capital social a que estava obrigada,
mesmo depois de decorridos sessenta dias da notificação para promover a
complementação. Caio praticou ato de extrema gravidade, capaz de por em
risco a empresa. Por causa desses dois fatos, Esdras decidiu se retirar da
sociedade. Nessa situação hipotética, ainda que se trate de sociedade
limitada, Esdras tem o direito potestativo de se retirar do referido ente social,
mesmo que de forma imotivada. Correta!

8.10. DIREITO DE FISCALIZAÇÃO

O sócio tem total direito de fiscalizar os atos praticados pela Administração da sociedade.
Geralmente, é o contrato social que disciplina a forma que ocorre a fiscalização.
IMPORTANTE: É possível na sociedade limitada a instituição de um Conselho Fiscal.
Entretanto, não é um órgão obrigatório (como na S/A), conforme dispõe o art. 1.066 do CC, in
verbis:
Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembleia dos sócios, pode o
contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros e
respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na
assembleia anual prevista no art. 1.078.

Composição do Conselho Fiscal: 03 ou mais membros, com um número igual de suplentes.


Não há necessidade de o membro ser sócio. A única exigência é a residência no Brasil do
Conselheiro.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/AC (2019) Sem prejuízo dos poderes da assembleia dos sócios, pode o
contrato instituir conselho fiscal composto de dois ou mais membros e
respectivos suplentes, residentes no País, eleitos em assembleia anual,
vedada a eleição de membros não sócios nos termos da lei. Errada!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 164

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8.11. INFLUÊNCIA DOS SÓCIOS MINORITÁRIOS NA FORMAÇÃO DO CONSELHO FISCAL

Como em outras passagens, o Código Civil buscou incluir a participação das minorias na
formação de órgãos importantes na tomada de decisão da sociedade.
Assim, é assegurado aos sócios minoritários, que representarem pelo menos um quinto
do capital social, o direito de eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o
respectivo suplente (art. 1.066, §2º).

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SP (2021) Qualquer sócio minoritário pode eleger, separadamente, um
membro do conselho fiscal. Errada!

8.12. DIREITO DE PREFERÊNCIA (ART. 1.081 DO CC)

Em caso de aumento de capital social, surgem novas quotas sociais. Quem tem preferência
para adquirir as novas quotas são os sócios.
Art. 1.081. Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as quotas,
pode ser o capital aumentado, com a correspondente modificação do
contrato.
§ 1o Até trinta dias após a deliberação, terão os sócios preferência para
participar do aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares.

8.13. ADMINISTRADOR DA SOCIEDADE LIMITADA

A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social
ou em ato separado (Art. 1.060).
Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas
designadas no contrato social ou em ato separado.
Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não
se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade.

Ato separado → Ex: Ata de Assembleia em que se elege o Administrador.


O art. 1.061 do CC diz que o Administrador pode ser sócio ou não-sócio, não precisa ter
previsão no contrato social.
OBS: Antes do CC/2022, só o sócio poderia ser Administrador de sociedade limitada.

Art. 1.061. A designação de administradores não sócios dependerá da


aprovação de, no mínimo, 2/3 (dois terços) dos sócios, enquanto o capital não
estiver integralizado, e da aprovação de titulares de quotas correspondentes
a mais da metade do capital social, após a integralização.

Administrador não-sócio:

a) Aprovação dos sócios com o seguinte quórum:

- Se o capital estiver totalmente integralizado → Mais da metade do capital social.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 165

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- Se o capital não estiver totalmente integralizado → No mínimo 2/3 dos sócios.
O mandato do administrador pode ter prazo determinado ou indeterminado, a depender da
previsão do ato que o designou (contrato ou ato separado).

Administração da Soc. LTDA

Contrato Em ato
Social Separado

Adm. nomeado no Requisitos do art.


Ata da Assembleia
início pelos sócios 1.061, CC

Quórum de
aprovação

Totalmente
Não integralizado
integralizado

Mais da Metade do No mínimo 2/3 dos


Capital Social sócios

Art. 1.062. O administrador designado em ato separado investir-se-á no cargo


mediante termo de posse no livro de atas da administração.
§ 1o Se o termo não for assinado nos trinta dias seguintes à designação, esta
se tornará sem efeito.
§ 2o Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o administrador requerer
seja averbada sua nomeação no registro competente, mencionando o seu
nome, nacionalidade, estado civil, residência, com exibição de documento de
identidade, o ato e a data da nomeação e o prazo de gestão.
Art. 1.063. O exercício do cargo de administrador cessa pela destituição, em
qualquer tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato ou
em ato separado, não houver recondução.
§ 1º Tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato, sua
destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas
correspondentes a mais da metade do capital social, salvo disposição
contratual diversa. (Redação dada pela Lei nº 13.792, de 2019)
§ 2o A cessação do exercício do cargo de administrador deve ser averbada
no registro competente, mediante requerimento apresentado nos dez dias
seguintes ao da ocorrência.
§ 3o A renúncia de administrador torna-se eficaz, em relação à sociedade,
desde o momento em que esta toma conhecimento da comunicação escrita
do renunciante; e, em relação a terceiros, após a averbação e publicação.

Art. 1.064. O uso da firma ou denominação social é privativo dos


administradores que tenham os necessários poderes.

Art. 1.065. Ao término de cada exercício social, proceder-se-á à elaboração


do inventário, do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 166

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Como o tema foi cobrado em concurso?
TJ/MG (2022) Uma sociedade empresária limitada composta por 16
(dezesseis) sócios reuniu-se em assembleia para designar administradores
em ato separado e o modo de sua remuneração. Todos os sócios se
declararam cientes do local, data, hora e ordem do dia. Para aprovação da
matéria indicada - designação de administradores por ato em separado e o
modo de sua remuneração quando não estabelecidos no contrato - serão
necessários votos correspondentes a mais de metade do capital social.
Correta!

PGE/CE (2021) A administração atribuída no contrato social a todos os sócios


se estenderá de pleno direito aos que posteriormente adquirirem a qualidade
sócios. Errada!

PGE/AL (2021) O administrador designado em ato separado investir-se-á no


cargo mediante a emissão de certificado solicitado à junta comercial em que
estiverem registrados os atos constitutivos da sociedade. Errada!

TJ/GO (2021) A designação de administradores não sócios dependerá de


aprovação de dois terços dos sócios, enquanto o capital não estiver
integralizado, e de metade mais um após a integralização. Errada!

TJ/RO (2019) Nas sociedades limitadas, a alteração do contrato social e a


destituição de administrador profissional externo ao quadro societário
dependem da deliberação dos sócios, tomada em reunião ou assembleia,
exigindo votos correspondentes, no mínimo, a três quartos do capital social,
para a alteração do contrato, e votos correspondentes a mais de metade do
capital social, no tocante à destituição. Correta!

➔ Pessoa Jurídica pode ser Administrador de Sociedade Limitada?


Não, somente a pessoa natural pode ser Administrador, nos termos do art. 997, VI e art.
1.062, §2º do CC.
Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou
público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:
VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus
poderes e atribuições;

Art. 1.062, § 2º Nos dez dias seguintes ao da investidura, deve o


administrador requerer seja averbada sua nomeação no registro competente,
mencionando o seu nome, nacionalidade, estado civil, residência, com
exibição de documento de identidade, o ato e a data da nomeação e o prazo
de gestão.

Esse artigo só menciona caracteres das pessoas físicas. O legislador omitiu caracteres da
pessoa jurídica intencionalmente.

8.13.1. Responsabilidade do Administrador

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 167

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Em princípio, os atos praticados pelo Administrador são de responsabilidade da Sociedade.
ENTRETANTO, se o administrador agir com dolo ou culpa no desempenho de suas funções aplica-
se o art. 1.016 do CC, in verbis:
Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a
sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas
funções.

Se agir com culpa, responde solidariamente com a sociedade.

8.13.2. Teoria “ultra vires” (Além das forças)

Ato ‘ultra vires’ é aquele praticado pelo administrador, além das forças a ele atribuídas pelo
contrato social, ou seja, com extrapolação dos limites de seus poderes estatutários. Segundo esta
teoria, não é imputável à sociedade o ato ultra vires, devendo somente o administrador responder
por eles. Tratava-se da regra presente no art. 1.015, parágrafo único do CC.
Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos
os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a
oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios
decidir.
Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser
oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:
I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio
da sociedade;
II - provando-se que era conhecida do terceiro;
III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da
sociedade.

O excesso por parte dos administradores somente poderia ser oposto a terceiros se
ocorresse pelo menos uma das seguintes hipóteses:
I - Se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no contrato social
Exemplo: Contrato social estabelece que o Administrador não pode prestar fiança nem aval.
Vai o Administrador e realiza uma fiança em nome da sociedade. Se o afiançado não paga, quem
vai arcar com a dívida é o Administrador de forma pessoal, excluindo-se a sociedade da relação.
II - Provando-se que o terceiro que contratou com a sociedade sabia que o Administrador
não tinha poderes para tanto
Exemplo: Ex-Administrador da sociedade (agora terceiro) contrata com esta, sabendo que o
objeto da contratação ia além dos poderes do atual Administrador.
III - Tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.
Redação muito criticada pela doutrina.
Exemplo: Sócio administrador de padaria compra tintas para pintar a padaria. Esse ato é
estranho aos negócios da sociedade. Deveria então o administrador responder pessoalmente pelo
débito?
Concluindo: o CC/2002 adotava expressamente a Teoria ‘ultra vires’, no entanto, conforme
a doutrina, tal previsão legal andou na contramão da jurisprudência.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 168

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A 14.195/2021 revogou o parágrafo único do art. 1.015 do CC, acabando com as três
exceções acima explicadas. Essas exceções recebiam críticas de parcela significativa da doutrina.
Isso porque elas enfraqueciam a proteção que deve ser conferida ao terceiro de boa-fé que
contratava com a sociedade. Além disso, tais exceções contribuíam para uma situação de
insegurança jurídica.
Em suma:
• A sociedade responde pelos atos de seus administradores, ainda que estes
tenham extrapolado seus poderes e atribuições.
• As três exceções a essa regra, que eram previstas no parágrafo único do art. 1.015
do CC, foram revogadas. O objetivo foi o de prestigiar, ainda mais, a boa-fé do
terceiro com quem os atos foram praticados e resguardar a segurança jurídica das
relações.
Com a Lei nº 14.195/2021, o ordenamento jurídico brasileiro abandonou a teoria ultra vires.

8.13.3. Teoria da Aparência.

Ocorre quando o Administrador age em nome da sociedade, APARENTEMENTE ele possui


poderes para a prática do ato. Para essa Teoria, quem responde é a SOCIEDADE, pois elegeu mal
seu Administrador. Caberá, posteriormente, à Sociedade ingressar com ação de regresso contra o
Administrador.
Essa Teoria tem a finalidade de proteger o terceiro de boa-fé que contratou com a sociedade.
José Edivaldo Tavares Borba: culpa in eligendo. A sociedade deve saber escolher seu
administrador. Para este doutrinador, ela responde.
A dinâmica das relações contratuais (modernidade e operações em massa), a modernidade,
e a intensificação das relações, exige a proteção do terceiro de boa-fé, razão pela qual a
jurisprudência tem aplicado a Teoria da Aparência.
O que foi consagrado pela Lei 14.195/2021. Portanto, aplica-se a TEORIA DA APARÊNCIA.

8.14. DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE LIMITADA

A dissolução pode ser total ou parcial.


Dissolução Parcial: Ocorre quando um ou mais sócios saem da sociedade, porém a
sociedade é mantida, preservada, continua em atividade (arts. 1.028 a 1.032).
Dissolução Total: Há a extinção da sociedade. Encerra as atividades (arts. 1.085 e 1.086 do
CC).

8.14.1. Casos de dissolução parcial:

a) Vontade dos sócios: Deliberação que decide pela saída não contenciosa de alguns (s)
sócios (s).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 169

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b) Falecimento do sócio: Morrendo o sócio, os herdeiros não ficam obrigados a ingressar na
sociedade, podendo promover a liquidação das quotas do de cujus.

Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:


I - se o contrato dispuser diferentemente;
II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade;
III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio
falecido.

c) Direito de retirada;

Art. 1.029. Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio
pode retirar-se da sociedade; se de prazo indeterminado, mediante
notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias;
se de prazo determinado, provando judicialmente justa causa.
Parágrafo único. Nos trinta dias subsequentes à notificação, podem os
demais sócios optar pela dissolução da sociedade.

d) Falência do sócio (não da sociedade, que é caso de dissolução total);

Art. 1.030, Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o


sócio declarado falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos
do parágrafo único do art. 1.026.

e) Exclusão de sócio
Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode
o sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais
sócios, por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por
incapacidade superveniente.

Principais casos de exclusão de sócio

• Sócio remisso (art. 1.004, parágrafo único). Pode ser realizada extrajudicialmente.
• Falta grave do sócio, mediante decisão judicial (art. 1.030);
Exemplo de falta grave: concorrência desleal.
• Incapacidade superveniente do sócio, mediante decisão judicial (art. 1.030)
OBS: Diz a doutrina que a incapacidade só é causa de exclusão nas sociedades de
pessoas; e não nas de capitais. Ver acima.
• Sócio minoritário, se presentes todos os seguintes requisitos (art. 1.085):
a) Atos de inegável gravidade;
b) Coloque em risco a empresa;
c) Previsão expressa no contrato de exclusão por justa causa;
OBS: A exclusão ocorre mediante simples alteração do contrato, ou seja, é uma
medida extrajudicial.
d) Assembleia ou reunião, especialmente, convocada para esse fim, sendo
assegurado o direito de defesa do sócio (parágrafo único) – por maioria absoluta,
mais da metade do capital social.

Art. 1.085. Ressalvado o disposto no art. 1.030, quando a maioria dos sócios,
representativa de mais da metade do capital social, entender que um ou

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 170

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mais sócios estão pondo em risco a continuidade da empresa, em virtude de
atos de inegável gravidade, poderá excluí-los da sociedade, mediante
alteração do contrato social, desde que prevista neste a exclusão por justa
causa.
Parágrafo único. Ressalvado o caso em que haja apenas dois sócios na
sociedade, a exclusão de um sócio somente poderá ser determinada em
reunião ou assembleia especialmente convocada para esse fim, ciente o
acusado em tempo hábil para permitir seu comparecimento e o exercício do
direito de defesa. (Redação dada pela Lei nº 13.792, de 2019).

Salienta-se que a Lei 13.792/2019 alterou a redação do parágrafo único do art. 1.085,
prevendo que se na sociedade empresária houver apenas dois sócios, a exclusão de um sócio não
precisa ser feita em reunião ou assembleia especialmente convocada para esse fim.
Em não sendo observados TODOS os requisitos, a exclusão será NULA.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/TO (2022) Na sociedade limitada, a exclusão extrajudicial de um dos
sócios, por justa causa, independe de previsão expressa do contrato social.
Errada!

TJ/BA (2019) A resolução de uma sociedade simples pode ocorrer por morte
do sócio, se não houver disposição diferente no contrato social, ou por
exclusão judicial do sócio devido a falta grave no cumprimento de obrigações
societárias. Correta!

Artigos referentes, ainda à dissolução parcial:

Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio,


o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado,
liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação
patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço
especialmente levantado.
§ 1o O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais
sócios suprirem o valor da quota.
§ 2o A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a
partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.

Art. 1.032. A retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus


herdeiros, da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois
anos após averbada a resolução da sociedade; nem nos dois primeiros casos,
pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se requerer a averbação.

8.14.2. Casos de dissolução total

a) Vontade dos sócios (art. 1.033, II e III);

Se for sociedade por tempo DETERMINADO, somente a unanimidade dos sócios pode
dissolvê-la; se for por tempo indeterminado, basta a vontade da maioria absoluta. A jurisprudência
tem admitido que apenas um sócio (ainda que minoritário) continue na sociedade (princípio da
conservação da empresa), desde que constitua novo sócio dentro do prazo legal.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 171

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Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
II - o consenso unânime dos sócios; (prazo determinado)
III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo
indeterminado;

b) Decurso do prazo determinado de duração da sociedade (art. 1.033, I)

Se chegar ao fim do prazo e não for providenciada a dissolução (não entrar em liquidação),
haverá a prorrogação da sociedade por prazo indeterminado. Nesse caso, entretanto, a sociedade
passará a ser IRREGULAR, sendo-lhe aplicáveis as regras da sociedade em comum.
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição
de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará
por tempo indeterminado;

c) Falência da sociedade;

Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas
enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da
falência.

d) Extinção de autorização para funcionamento (art. 1.033, V)

Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:


V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.

Art. 1.037. Ocorrendo a hipótese prevista no inciso V do art. 1.033, o


Ministério Público, tão logo lhe comunique a autoridade competente,
promoverá a liquidação judicial da sociedade, se os administradores não o
tiverem feito nos trinta dias seguintes à perda da autorização, ou se o sócio
não houver exercido a faculdade assegurada no parágrafo único do artigo
antecedente (transformação de sociedade empresária em empresário
individual).

É o único caso em que o MP interfere.


e) Anulação do ato constitutivo.

Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de


qualquer dos sócios, quando:
I - anulada a sua constituição;

f) Exaurimento ou inexequibilidade do objeto social: Exaurimento se dá no caso da


sociedade constituída exclusivamente para realizar determinada obra, operação ou serviço.
Exaurido seu objeto, desaparece a razão para a continuidade da pessoa jurídica. (Art. 1.034, II).

Inexequibilidade nada mais é do que a ausência de mercado. Ex: Loja que vende antena
VHF.
Art. 1.034. A sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de
qualquer dos sócios, quando:
II - exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 172

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Além dessas hipóteses, o próprio ato constitutivo pode prever outras causas de dissolução
total da sociedade.
Como o tema foi cobrado em concurso?
Delegado Polícia Federal (2021) A dissolução de sociedade limitada
constituída por prazo indeterminado deve ocorrer por consenso unânime dos
sócios. Errada!

9. SOCIEDADE ANÔNIMA (LEI 6.404/76)

9.1. CONCEITO

É a sociedade cujo capital está dividido em ações. É também chamada de “Companhia”.


Rege-se pela Lei 6.404/76 (Lei das Sociedades por Ações – LSA), aplicando-se o CC apenas na
omissão desta.

9.2. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

• Sociedade institucional, ou seja, o seu ato constitutivo não é um contrato, mas sim
um estatuto social (mais formal que um contrato).
• Sociedade empresária (sempre!), nos termos do art. 982, parágrafo único do CC.
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade
que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a
registro (art. 967); e, simples, as demais.
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária
a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

• Sociedade de capital, ou seja, os títulos sociais são livremente negociáveis, não


sendo dado aos sócios (acionistas) vetar o ingresso de terceiros no quadro social
(diferentemente da limitada que pode ser de capital OU assumir uma feição
personalista).
O capital social é fracionado em unidades denominadas AÇÕES. Por isso, os sócios
são também chamados de acionistas, respondendo pelas dívidas sociais até o limite
do que falta para a integralização total das ações que sejam titulares (“a
responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das
ações subscritas ou adquiridas”).

• Nome empresarial a sociedade anônima adota Denominação, obrigatoriamente.


Deve constar do nome empresarial a expressão Sociedade Anônima (S/A) ou a
expressão Companhia (Cia), sendo facultativo a designação do objeto social (antes
era obrigatório). Essa última só pode estar presente no início ou meio da
denominação (para não confundir com as demais sociedades). Exceção: pode ter,
em homenagem, nome de sócio.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 173

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Art. 1.160. A sociedade anônima opera sob denominação integrada
pelas expressões “sociedade anônima” ou “companhia”, por extenso ou
abreviadamente, facultada a designação do objeto social. (Redação dada
pela Lei nº 14.382, de 2022).
Parágrafo único. Pode constar da denominação o nome do fundador,
acionista, ou pessoa que haja concorrido para o bom êxito da formação da
empresa.

9.3. ESPÉCIES DE SOCIEDADE ANÔNIMA (ART. 4º DA LSA)

A companhia é aberta ou fechada conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam


ou não admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários.
Art. 4o Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou fechada conforme
os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não admitidos à negociação
no mercado de valores mobiliários.
§ 1o Somente os valores mobiliários de emissão de companhia registrada na
Comissão de Valores Mobiliários podem ser negociados no mercado de
valores mobiliários.
§ 2o Nenhuma distribuição pública de valores mobiliários será efetivada no
mercado sem prévio registro na Comissão de Valores Mobiliários.
§ 3o A Comissão de Valores Mobiliários poderá classificar as companhias
abertas em categorias, segundo as espécies e classes dos valores
mobiliários por ela emitidos negociados no mercado, e especificará as
normas sobre companhias abertas aplicáveis a cada categoria.
§ 4o O registro de companhia aberta para negociação de ações no mercado
somente poderá ser cancelado se a companhia emissora de ações, o
acionista controlador ou a sociedade que a controle, direta ou indiretamente,
formular oferta pública para adquirir a totalidade das ações em circulação no
mercado, por preço justo, ao menos igual ao valor de avaliação da
companhia, apurado com base nos critérios, adotados de forma isolada ou
combinada, de patrimônio líquido contábil, de patrimônio líquido avaliado a
preço de mercado, de fluxo de caixa descontado, de comparação por
múltiplos, de cotação das ações no mercado de valores mobiliários, ou com
base em outro critério aceito pela Comissão de Valores Mobiliários,
assegurada a revisão do valor da oferta, em conformidade com o disposto no
art. 4o-A.
§ 5o Terminado o prazo da oferta pública fixado na regulamentação expedida
pela Comissão de Valores Mobiliários, se remanescerem em circulação
menos de 5% (cinco por cento) do total das ações emitidas pela companhia,
a assembleia-geral poderá deliberar o resgate dessas ações pelo valor da
oferta de que trata o § 4o, desde que deposite em estabelecimento bancário
autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, à disposição dos seus
titulares, o valor de resgate, não se aplicando, nesse caso, o disposto no §
6o do art. 44.
§ 6o O acionista controlador ou a sociedade controladora que adquirir ações
da companhia aberta sob seu controle que elevem sua participação, direta ou
indireta, em determinada espécie e classe de ações à porcentagem que,
segundo normas gerais expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários,
impeça a liquidez de mercado das ações remanescentes, será obrigado a
fazer oferta pública, por preço determinado nos termos do § 4 o, para aquisição
da totalidade das ações remanescentes no mercado.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 174

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Companhia aberta: É aquela em que seus valores mobiliários (ações) são admitidos à
negociação no mercado de valores mobiliários (bolsa de valores).
Companhia fechada: É aquela em que seus valores mobiliários NÃO são admitidos à
negociação do mercado de valores mobiliários.
Não se quer dizer que as ações não são negociáveis. Somente não o são em mercado de
valores mobiliários.
O mercado de valores mobiliários se subdivide em:
Bolsa de valores: São entidades privadas constituídas sob a forma de associações civis ou
sociedades anônimas, tendo por membros corretoras de valores mobiliários. Conquanto sejam
privadas, sua criação depende de autorização do Banco Central, bem como seu funcionamento é
supervisionado pela CVM (Comissão de valores mobiliários). Esse controle se explica pelo fato de
as Bolsas de Valores exercerem um serviço público de grande relevância na economia interna.
Fábio Ulhôa: Se alguém quer comprar ou vender veículos, é mais fácil ir até um feirão, onde
só existem interessados nesses negócios, do que negociar por fora. A bolsa de valores é como um
feirão de valores mobiliários. A função da bolsa é aumentar o fluxo de negociação de valores
mobiliários.
CVM: É uma entidade autárquica federal com qualidade de agência reguladora, vinculada
ao Ministério da Fazenda. É dotada de autoridade administrativa.
Mercado de balcão: Compreende todas as operações realizadas fora da bolsa de valores.
Ocorre quando o sujeito compra ações diretamente de uma corretora de valores ou de uma
instituição financeira autorizada. O mercado de balcão pode realizar tanto mercado primário quanto
mercado secundário. Vejamos:
• Mercado primário: Quando a operação ocorre entre a CIA emissora e o investidor
(ações compradas diretamente da S/A).
• Mercado secundário: Quando a operação ocorre entre investidores.
IMPORTANTE: O mercado primário só ocorre com o mercado de balcão; já o mercado
secundário pode ser tanto de balcão quanto na bolsa de valores. Ou seja, na Bolsa de Valores só
existe o mercado secundário, em que um investidor emite um título para outro investidor.

9.4. CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE ANÔNIMA

9.4.1. Requisitos preliminares (art. 80 da LSA)

Art. 80. A constituição da companhia depende do cumprimento dos seguintes


requisitos preliminares:
I - subscrição, pelo menos por 2 (duas) pessoas, de todas as ações em que
se divide o capital social fixado no estatuto;
II - realização, como entrada, de 10% (dez por cento), no mínimo, do preço
de emissão das ações subscritas em dinheiro;
III - depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento bancário
autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários, da parte do capital
realizado em dinheiro.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 175

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Parágrafo único. O disposto no número II não se aplica às companhias para
as quais a lei exige realização inicial de parte maior do capital social.

1) Subscrição, pelo menos por duas pessoas, de todas as ações em que se divide o capital
social fixado no Estatuto.
A subscrição é o contrato pelo qual uma pessoa se torna titular de ação emitida por uma
S/A.
Exceções em que se admite a unipessoalidade: Empresa pública (Ente político como único
acionista) ou Subsidiária integral.
Subsidiária integral (art. 251 da LSA): É um tipo de sociedade anônima que admite um único
acionista, que necessariamente será uma sociedade nacional. Ex: Transpetro. Subsidiária integral.
Tem como único acionista a Petrobras. Itaú S/A, tem como único acionista Itaú Holding.
Art. 251. A companhia pode ser constituída, mediante escritura pública, tendo
como único acionista sociedade brasileira.
§ lº A sociedade que subscrever em bens o capital de subsidiária integral
deverá aprovar o laudo de avaliação de que trata o artigo 8º, respondendo
nos termos do § 6º do artigo 8º e do artigo 10 e seu parágrafo único.
§ 2º A companhia pode ser convertida em subsidiária integral mediante
aquisição, por sociedade brasileira, de todas as suas ações, ou nos termos
do artigo 252.

2) Integralização, em dinheiro, de pelo menos 10% do preço das ações subscritas.


Exceção: Em sendo instituição financeira, esse percentual passa para 50%, nos termos da
Lei 4.595/64.
3) Depósito dessa quantia no Banco do Brasil ou em outro estabelecimento bancário
autorizado pela CVM. Quem realiza esse depósito é o fundador da CIA, em nome do subscritor e
em favor da CIA.
Esse valor é levantado pela Cia depois de concluído o processo de constituição. Agora, se
em 06 meses do depósito a CIA não se constituir, o valor depositado é restituído ao subscritor.

9.4.2. Constituição propriamente dita (arts. 82 a 93 da LSA)

a) Constituição da CIA aberta (subscrição pública ou sucessiva)

Ocorre através de uma sucessão de etapas (por isso é chamada de sucessiva):


1ª Etapa: Registro na CVM, que analisará o Estatuto e a viabilidade econômica da S/A.
2ª Etapa: Se autorizada pela CVM, passa-se à contratação de instituição financeira para
intermediar a venda dessas ações no mercado de valores mobiliários (“underwriter” – a empresa
faz os serviços de ‘underwrinting’: quais sejam, apresentação dos documentos necessários à CVM,
assinando-os e a colocação das ações junto aos investidores, o objetivo da lei é ampliar as garantias
dos investidores.).
O papel da instituição financeira underwriter é extremamente importante, visto que cabe a
ela captar os recursos no mercado, atraindo investidores para o empreendimento a ser desenvolvido
pela cia.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 176

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Nas cias abertas, todo capital deve ser subscrito, sob pena de cancelamento do registro
de emissão anteriormente concedido pela CVM.
Art. 86. Encerrada a subscrição e havendo sido subscrito todo o capital
social, os fundadores convocarão a assembleia-geral que deverá:
I - promover a avaliação dos bens, se for o caso (artigo 8º);
II - deliberar sobre a constituição da companhia.
Parágrafo único. Os anúncios de convocação mencionarão hora, dia e local
da reunião e serão inseridos nos jornais em que houver sido feita a
publicidade da oferta de subscrição.

3ª Etapa: Assembleia de fundação. (Primeira convocação, no mínimo metade do capital


social, na segunda, com qualquer número). Estabelece o §2º do art. 87 que cada ação,
independentemente de sua espécie ou classe, dá direito a um voto, sendo que a maioria não tem
poder para alterar o projeto de estatuto, ou seja, é necessário para isso deliberação unânime.
Art. 87. A assembleia de constituição instalar-se-á, em primeira convocação,
com a presença de subscritores que representem, no mínimo, metade do
capital social, e, em segunda convocação, com qualquer número.
§ 1º Na assembleia, presidida por um dos fundadores e secretariada por
subscritor, será lido o recibo de depósito de que trata o número III do artigo
80, bem como discutido e votado o projeto de estatuto.
§ 2º Cada ação, independentemente de sua espécie ou classe, dá direito a
um voto; a maioria não tem poder para alterar o projeto de estatuto.

b) Constituição da CIA fechada (subscrição particular ou simultânea)

Aqui, o procedimento é bem mais simplificado, sem a captação de recursos junto a


investidores no mercado de capitais.
Os acionistas escolhem entre:
• Escritura pública de fundação ou;
• Assembleia de fundação.
IMPORTANTE: Somente a CIA aberta é que precisa de autorização da CVM para sua
constituição. É por isso que quando a CIA aberta não consegue a autorização, ela se constitui na
forma de CIA fechada.

9.4.3. Regras gerais acerca do procedimento de subscrição

Art. 89. A incorporação de imóveis para formação do capital social não exige
escritura pública.

Art. 90. O subscritor pode fazer-se representar na assembleia-geral ou na


escritura pública por procurador com poderes especiais.

Art. 91. Nos atos e publicações referentes a companhia em constituição, sua


denominação deverá ser aditada da cláusula "em organização".

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 177

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Art. 92. Os fundadores e as instituições financeiras que participarem da
constituição por subscrição pública responderão, no âmbito das respectivas
atribuições, pelos prejuízos resultantes da inobservância de preceitos legais.
Parágrafo único. Os fundadores responderão, solidariamente, pelo prejuízo
decorrente de culpa ou dolo em atos ou operações anteriores à constituição.

Art. 93. Os fundadores entregarão aos primeiros administradores eleitos


todos os documentos, livros ou papéis relativos à constituição da companhia
ou a esta pertencentes.

9.4.4. Formalidades complementares

Satisfeitos esses procedimentos preliminares, deverão ainda ser observados procedimentos


complementares, comuns a qualquer espécie de CIA, quais sejam o Registro do Ato Constitutivo
na Junta Comercial e a sua devida publicação.
A LSA determina uma série de documentos para o arquivamento na Junta Comercial, no
caso de constituição da Cia que ocorre por meio de assembleia de fundação. No caso de CIA
constituída por meio de lavratura de escritura pública em cartório, o que só pode ocorrer nas Cias
fechadas, a LSA determina que basta o arquivamento da certidão.

9.5. ÓRGÃOS DA S/A

(Antes de Cristo, Depois de Cristo (ACDC) = Assembleia, Conselho de administração,


Diretoria, Conselho fiscal)
A - Assembleia Geral;
C - Conselho de Administração;
D - Diretoria;
C - Conselho Fiscal.
DETA: Destinação, Eleição, Tomar contas, Aprovação

9.5.1. Assembleia Geral

É órgão mais importante, possuindo caráter exclusivamente deliberativo, em que são


tomadas as principais decisões da S/A.
A assembleia geral pode ser:
1) Ordinária: Competência privativa da AGO (art. 132 da LSA):
- Deliberar sobre a destinação dos lucros;
- Tomar as contas dos administradores (prestação de contas);
- Eleger os administradores e membros do Conselho Fiscal.
- Aprovar a correção da expressão monetária do capital social.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 178

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Art. 132. Anualmente, nos 4 (quatro) primeiros meses seguintes ao término
do exercício social, deverá haver 1 (uma) assembleia-geral para:
I - tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as
demonstrações financeiras;
II - deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição
de dividendos;
III - eleger os administradores e os membros do conselho fiscal, quando for o
caso;
IV - aprovar a correção da expressão monetária do capital social (artigo 167).

IMPORTANTE: Todo e qualquer tema que não seja esses 04 só poderá ser objeto de
assembleia geral extraordinária.
2) Extraordinária: Todo e qualquer tema que não seja os 04 acima.
Ex.: Destituição de administrador (art. 122 da LSA).
Art. 131. A assembleia-geral é ordinária quando tem por objeto as matérias
previstas no artigo 132, e extraordinária nos demais casos.
Parágrafo único. A assembleia-geral ordinária e a assembleia-geral
extraordinária poderão ser, cumulativamente, convocadas e realizadas no
mesmo local, data e hora, instrumentadas em ata única.

O quórum de instauração será de ¼ do total dos votos das ações de direito a voto.

Art. 125. Ressalvadas as exceções previstas em lei, a assembleia geral


instalar-se-á, em primeira convocação, com a presença de acionistas que
representem, no mínimo, 1/4 (um quarto) do total de votos conferidos pelas
ações com direito a voto e, em segunda convocação, instalar-se-á com
qualquer número. (Redação dada pela Lei nº 14.195, de 2021)
Parágrafo único. Os acionistas sem direito de voto podem comparecer à
assembleia-geral e discutir a matéria submetida à deliberação.

Quórum de aprovação

Art. 129. As deliberações da assembleia-geral, ressalvadas as exceções


previstas em lei, serão tomadas por maioria absoluta de votos, não se
computando os votos em branco.
§ 1º O estatuto da companhia fechada pode aumentar o quorum exigido para
certas deliberações, desde que especifique as matérias.
§ 2º No caso de empate, se o estatuto não estabelecer procedimento de
arbitragem e não contiver norma diversa, a assembleia será convocada, com
intervalo mínimo de 2 (dois) meses, para votar a deliberação; se permanecer
o empate e os acionistas não concordarem em cometer a decisão a um
terceiro, caberá ao Poder Judiciário decidir, no interesse da companhia.

Quórum qualificado

Art. 136. É necessária a aprovação de acionistas que representem metade,


no mínimo, do total de votos conferidos pelas ações com direito a voto,
se maior quórum não for exigido pelo estatuto da companhia cujas ações não
estejam admitidas à negociação em bolsa ou no mercado de balcão, para
deliberação sobre:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 179

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I - criação de ações preferenciais ou aumento de classe de ações
preferenciais existentes, sem guardar proporção com as demais classes de
ações preferenciais, salvo se já previstos ou autorizados pelo
estatuto;
II - alteração nas preferências, vantagens e condições de resgate ou
amortização de uma ou mais classes de ações preferenciais, ou criação de
nova classe mais favorecida;
III - redução do dividendo obrigatório;
IV - fusão da companhia, ou sua incorporação em outra;
V - participação em grupo de sociedades (art. 265);
VI - mudança do objeto da companhia;
VII - cessação do estado de liquidação da companhia;
VIII - criação de partes beneficiárias;
IX - cisão da companhia;
X - dissolução da companhia.
§ 1º Nos casos dos incisos I e II, a eficácia da deliberação depende de prévia
aprovação ou da ratificação, em prazo improrrogável de um ano, por titulares
de mais da metade de cada classe de ações preferenciais prejudicadas,
reunidos em assembleia especial convocada pelos administradores e
instalada com as formalidades desta Lei.
§ 2º A Comissão de Valores Mobiliários pode autorizar a redução do quórum
previsto neste artigo no caso de companhia aberta com a propriedade das
ações dispersa no mercado e cujas 3 (três) últimas assembleias tenham sido
realizadas com a presença de acionistas que representem menos da metade
do total de votos conferidos pelas ações com direito a voto.
§ 2º-A Na hipótese do § 2º deste artigo, a autorização da Comissão de
Valores Mobiliários será mencionada nos avisos de convocação e a
deliberação com quórum reduzido somente poderá ser adotada em terceira
convocação.
§ 3º O disposto nos §§ 2º e 2º-A deste artigo aplica-se também às
assembleias especiais de acionistas preferenciais de que trata o § 1º deste
artigo.
§ 4º Deverá constar da ata da assembleia-geral que deliberar sobre as
matérias dos incisos I e II, se não houver prévia aprovação, que a deliberação
só terá eficácia após a sua ratificação pela assembleia especial prevista no §
1º.

9.5.2. Conselho de Administração

É um órgão facultativo, em regra. Trata-se de colegiado de caráter deliberativo, ao qual a


lei atribui parte das competências da Assembleia-Geral.
Em quatro situações o Conselho é obrigatório (arts. 138 e 238 da LSA):
• CIA aberta;
• Sociedade de capital autorizado (art. 168 da LSA) → Trata-se da sociedade onde o
Estatuto permite previamente a alteração do capital, sem que seja necessária à sua
modificação (do Estatuto).
• Sociedade de economia mista.
• Sociedade anônima de futebol

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 180

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Por que é obrigatório? Qual a finalidade do Conselho de Administração?
O art. 142 da LSA estabelece a competência do Conselho, dentre as principais atribuições:
• A Eleição e destituição dos membros da diretoria. (Não confundir: à AGO compete
eleição e destituição dos administradores e Conselho fiscal)
• Estabelecimento das diretrizes e planejamento da S/A;
• Supervisão dos atos da Diretoria.
Nas exceções percebe-se um interesse público envolvido, por isso exige-se o Conselho de
Administração, para supervisionar os atos da diretoria.
Art. 142. Compete ao conselho de administração:
I - fixar a orientação geral dos negócios da companhia;
II - eleger e destituir os diretores da companhia e fixar-lhes as atribuições,
observado o que a respeito dispuser o estatuto;
III - fiscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e
papéis da companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em
via de celebração, e quaisquer outros atos;
IV - convocar a assembleia-geral quando julgar conveniente, ou no caso do
artigo 132;
V - manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria;
VI - manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto
assim o exigir;
VII - deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou
de bônus de subscrição;
VIII – autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens
do ativo não circulante, a constituição de ônus reais e a prestação de
garantias a obrigações de terceiros;
IX - escolher e destituir os auditores independentes, se houver.
§ 1o Serão arquivadas no registro do comércio e publicadas as atas das
reuniões do conselho de administração que contiverem deliberação destinada
a produzir efeitos perante terceiros.
§ 2o A escolha e a destituição do auditor independente ficará sujeita a veto,
devidamente fundamentado, dos conselheiros eleitos na forma do art. 141, §
4o, se houver.

*Composição do Conselho de Administração


Mínimo de 03 membros, devendo todos serem acionistas e pessoas naturais (nas
limitadas o mínimo é 01) O mandato é fixado no estatuto, não podendo exceder a 03 anos, permitida
a reeleição (nas limitadas o prazo é fixado no contrato). Não precisa ser residente no país.
Perceba que o administrador da sociedade limitada não precisa ser sócio, o contrato que
define.

OBS: a CIA aberta pode ser composta por dois acionistas? Não, pois
a CIA Aberta tem que ter Conselho de Administração que deve ter uma
composição mínima de três acionistas.

Questão de Prova: Os órgãos de administração da S/A são o Conselho de Administração e


a Diretoria; ou apenas Diretoria, quando o Conselho não for obrigatório.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 181

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
No art. 155 §1º temos a proibição do INSIDER TRADING = proibição do trânsito de
informações por parte daqueles que ocupam lugar na diretoria.
Art. 155. O administrador deve servir com lealdade à companhia e manter
reserva sobre os seus negócios, sendo-lhe vedado:
§ 1º Cumpre, ademais, ao administrador de companhia ABERTA, guardar
sigilo sobre qualquer informação que ainda não tenha sido divulgada para
conhecimento do mercado, obtida em razão do cargo e capaz de influir de
modo ponderável na cotação de valores mobiliários, sendo-lhe vedado valer-
se da informação para obter, para si ou para outrem, vantagem mediante
compra ou venda de valores mobiliários.

No art. 157 encontramos o dever de DESCLOSURE – dever da administração de informar


ao mercado financeiro da saúde financeira da sua empresa. Transparecer e informar todas as
informações econômicas e financeiras da sociedade com veracidade.
Art. 157. O administrador de companhia aberta deve declarar, ao firmar o
termo de posse, o número de ações, bônus de subscrição, opções de compra
de ações e debêntures conversíveis em ações, de emissão da companhia e
de sociedades controladas ou do mesmo grupo, de que seja titular.

Responsabilidade do administrador: a ultra vires, que estava prevista para LTDA nunca
se aplicou à S/A? Enunciado 219 do CJF
219 Art. 1.015: Está positivada a teoria ultra vires (NÃO MAIS, conforme já
mencionado) no Direito brasileiro, com as seguintes ressalvas: (a) o ato ultra
vires não produz efeito apenas em relação à sociedade; (b) sem embargo, a
sociedade poderá, por meio de seu órgão deliberativo, ratificá-lo; (c) o Código
Civil amenizou o rigor da teoria ultra vires, admitindo os poderes implícitos
dos administradores para realizar negócios acessórios ou conexos ao objeto
social, os quais não constituem operações evidentemente estranhas aos
negócios da sociedade; (d) não se aplica o art. 1.015 às sociedades por
ações, em virtude da existência de regra especial de responsabilidade
dos administradores (art. 158, II, Lei n. 6.404/76).

CC Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar


todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto
social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos
sócios decidir.
REVOGADO PELA LEI 14.195/2021
Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser
oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:
I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio
da sociedade;
II - provando-se que era conhecida do terceiro;
III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da
sociedade.

No art. 158 temos a S/A possui regra própria.


Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações
que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão;
responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder:
I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 182

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II - com violação da lei ou do estatuto.

9.5.3. Diretoria

1) Composição

O diretor é o representante legal da S.A. Ele que vai representá-la.


Mínimo de 01 membro, acionistas ou não, devendo ser residentes no país. O mandato é
fixado pelo Estatuto, não podendo ser superior a 03 anos, permitida a reeleição.
Art. 143. A Diretoria será composta por 1 (um) ou mais membros eleitos e
destituíveis a qualquer tempo pelo conselho de administração ou, se
inexistente, pela assembleia geral, e o estatuto estabelecerá:
I - o número de diretores, ou o máximo e o mínimo permitidos;
II - o modo de sua substituição;
III - o prazo de gestão, que não será superior a 3 (três) anos, permitida a
reeleição;
IV - as atribuições e poderes de cada diretor.
§ 1º Os membros do conselho de administração, até o máximo de 1/3 (um
terço), poderão ser eleitos para cargos de diretores.
§ 2º O estatuto pode estabelecer que determinadas decisões, de competência
dos diretores, sejam tomadas em reunião da diretoria.

Apenas pessoas naturais podem integrar os órgãos de administração.

Art. 146. Apenas pessoas naturais poderão ser eleitas para membros dos
órgãos de administração.
§ 1o A ata da assembleia-geral ou da reunião do conselho de administração
que eleger administradores deverá conter a qualificação e o prazo de gestão
de cada um dos eleitos, devendo ser arquivada no registro do comércio e
publicada.
§ 2º A posse de administrador residente ou domiciliado no exterior fica
condicionada à constituição de representante residente no País, com poderes
para, até, no mínimo, 3 (três) anos após o término do prazo de gestão do
administrador, receber:
I - citações em ações contra ele propostas com base na legislação societária;
e
II - citações e intimações em processos administrativos instaurados pela
Comissão de Valores Mobiliários, no caso de exercício de cargo de
administração em companhia aberta.

2) Competência da diretoria (art. 144 da LSA)

A diretoria é órgão de representação legal da CIA e de execução das deliberações da


Assembleia e do Conselho de Administração.
Compete a qualquer diretor a representação da CIA e a prática dos atos necessários ao seu
funcionamento regular, salvo se existir deliberação ou previsão estatutária prevendo tais
competências a um diretor específico.
Art. 144. No silêncio do estatuto e inexistindo deliberação do conselho de
administração (artigo 142, n. II e parágrafo único), competirão a qualquer

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 183

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
diretor a representação da companhia e a prática dos atos necessários ao
seu funcionamento regular.

PROVA: Quais os órgãos de Administração da S/A?


Diretoria e Conselho de Administração (quando existir).
“Sistema dualista de administração da S/A”: conselho de administração e diretoria.

9.5.4. Conselho fiscal

1) Composição

Mínimo de 03 membros e máximo de 05, com igual número de suplentes, acionistas ou


não, porém residentes no país.
Art. 161. A companhia terá um conselho fiscal e o estatuto disporá sobre
seu funcionamento, de modo permanente ou nos exercícios sociais em que
for instalado a pedido de acionistas.
§ 1º O conselho fiscal será composto de, no mínimo, 3 (três) e, no máximo, 5
(cinco) membros, e suplentes em igual número, acionistas ou não, eleitos pela
assembleia-geral.

Interpretação:
- O Conselho Fiscal é órgão de existência obrigatória, porém seu funcionamento é
facultativo, o qual deverá ocorrer mediante deliberação dos acionistas.
EXCEÇÃO:
• Na Sociedade de economia mista o funcionamento também é obrigatório (art. 240 da
LSA).
Art. 240. O funcionamento do conselho fiscal será permanente nas
companhias de economia mista; um dos seus membros, e respectivo
suplente, será eleito pelas ações ordinárias minoritárias e outro pelas ações
preferenciais, se houver.

• Sociedade anônima de futebol


• Companhia aberta em recuperação judicial – art. 48-A da Lei de Falências
Art. 48-A. Na recuperação judicial de companhia aberta, serão obrigatórios a
formação e o funcionamento do conselho fiscal, nos termos da Lei nº 6.404,
de 15 de dezembro de 1976, enquanto durar a fase da recuperação judicial,
incluído o período de cumprimento das obrigações assumidas pelo plano de
recuperação.

*Perceba que a existência de tal órgão é obrigatória na S/A que não seja SEM, a outro giro,
instituição de tal órgão é facultativa na sociedade limitada
Cabe ao Conselho fiscalizar os órgãos da administração da sociedade (Conselho
Administrativo e Diretoria), protegendo, assim, os interesses da companhia e de todos os acionistas.
Sua competência é detalhada no art. 163 da LSA.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 184

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Questão de Prova: O Conselho Fiscal é órgão de existência obrigatória, mas de
funcionamento facultativo!
Como o tema foi cobrado em concurso?
TJMG (2022) Na recuperação judicial de companhia aberta, serão
obrigatórios a formação e o funcionamento do conselho fiscal, enquanto durar
a fase da recuperação judicial, incluído o período de cumprimento das
obrigações assumidas pelo plano de recuperação. Correta!

Resumindo:
SOCIEDADE S/A LTDA
Regramento LSA CC
Tipo Empresária. Simples ou empresária
Vínculo Institucional. Contratual
Capitalista.
Espécie Personalística ou capitalista.
Capital aberto/fechado.
Regras da sociedade simples, o
Omissão CC. contrato pode prever a LSA.
Fábio Ulhôa: “duas limitadas”.
-Assembleia de fundação (capital
aberto/fechado).
Instituição Contrato Social
-Escritura pública (somente capital
fechado).
Em nome coletivo e comandita
Outras do mesmo gênero Comandita por ações.
simples.
-Subscrição de pelo menos 2
pessoas.
-Integralização de 10% em
dinheiro.
-Depósito BB ou agência
autorizada pela CVM.

***Aberta: Contrato social exige:


-CVM avaliação.
Exigências -Underwriter -Contribuição do sócio
-Todo capital deve ser subscrito. -Distribuição dos resultados
-Assembleia de fundação.
Obs.: aqui, as ações só podem ser
negociadas depois de integralizado
30% do valor de emissão.

***Fechada:
-Escritura pública de fundação ou
assembleia de fundação.
Restrita ao valor das quotas
(subscritas), mas todos
-Restrita às ações. respondem solidariamente pela
Responsabilidade dos sócios -Disregard doctrine. integralização.

Exceções (responsabilidade
ilimitada)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 185

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
*Crédito trabalhista
*INSS
*Disregard Doctrine
*Administrador – teoria da
aparência
*Registro cancelado
*Sociedade entre cônjuges.

Todos os sócios respondem de


forma subsidiária (primeiro capital
social)
-Para sócio: independe de
consentimento.
-Para não sócio: somente se não
Cessão de ações/quotas Livre.
houver oposição de titulares de
mais de ¼ do capital social.

Assembleia Geral: Assembleias ou reuniões. (mais


de 10 sócios a assembleia é
-Ordinária (AGO) obrigatória).
*Deliberar sobre a destinação
dos lucros.
*Tomar as contas dos
administradores (prestação de
contas).
Deliberações
*Eleger os administradores e
membros do Conselho Fiscal.
*Aprovar a correção da
expressão monetária do capital
social.

-Extraordinária (AGE)
*Tudo que não tiver acima.
-Deliberação subscrita por todos
Dispensa da assembleia -
-ME e EPP
-Prazo determinado: justa causa,
senão → juiz.
Direito de retirada -Livre
-Prazo indeterminado: 60 dias de
antecedência.
Fiscaliza a administração da Fiscaliza a administração da
sociedade. sociedade.
Existência facultativa.
-Mínimo 03, máximo 05.
-Acionistas ou não.
Conselho fiscal
-DEVE residir no BR.
-Existência obrigatória,
-Funcionamento facultativo (exceto
nas SEMs em que tanto existência
como funcionamento são obrigatórios).
-Sócio.
→Conselho de administração:
Administração -Não sócio: previsão no contrato
-Facultativo regra.
e exigências:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 186

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
-Obrigatório: sociedade aberta, *Capital integralizado: voto de 2/3
SEMs, ‘Capital autorizado’. do capital.
-Administradores: somente sócio. *Capital não integralizado:
Mínimo 03. Não precisa residir no votação unânime.
BR. Prazo certo: 03 anos com
reeleição. -Sem administrador definido:
cabe aos sócios.
→Diretoria:
-Não precisa ser sócio. Mínimo 01
membro. 03 anos com reeleição.

9.6. VALORES MOBILIÁRIOS

Trata-se dos títulos de investimento que a sociedade emite para arrecadar recursos. São
eles:
• Ação;
• Debênture;
• “Commercial paper”;
• Bônus de subscrição;
• Partes beneficiárias.

9.7. AÇÃO

9.7.1. Conceito

Ações são frações do capital social que conferem ao seu titular a qualidade de sócio de uma
S/A. Quem tem ação é chamado de acionista, que é o sócio da S/A.

9.7.2. Formas de integralização

As ações subscritas podem ser pagas em dinheiro, com bens (móveis ou imóveis) ou com
créditos (ex: nota promissória, duplicata etc.).
Art. 7º O capital social poderá ser formado com contribuições em dinheiro ou
em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro.

O dever principal do acionista é o de pagar o preço de emissão das ações que subscrever.
O vencimento das prestações será o definido pelo estatuto ou pelo boletim de subscrição (art. 106
da LSA). Se omissos tais instrumentos, os órgãos da administração procederão à chamada dos
subscritores, por avisos publicados na imprensa, por três vezes pelo menos, estabelecendo prazo
não inferior a 30 dias para o pagamento.
Art. 106. O acionista é obrigado a realizar, nas condições previstas no
estatuto ou no boletim de subscrição, a prestação correspondente às ações
subscritas ou adquiridas.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 187

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
§ 1° Se o estatuto e o boletim forem omissos quanto ao montante da
prestação e ao prazo ou data do pagamento, caberá aos órgãos da
administração efetuar chamada, mediante avisos publicados na imprensa,
por 3 (três) vezes, no mínimo, fixando prazo, não inferior a 30 (trinta) dias,
para o pagamento.
§ 2° O acionista que não fizer o pagamento nas condições previstas no
estatuto ou boletim, ou na chamada, ficará de pleno direito constituído em
mora, sujeitando-se ao pagamento dos juros, da correção monetária e da
multa que o estatuto determinar, esta não superior a 10% (dez por cento)
do valor da prestação.

O acionista que deixar de pagar a prestação devida (o chamado acionista REMISSO), no


prazo assim fixado, estará constituído em mora independentemente de qualquer interpelação (mora
ex re). Nesta situação, deverá pagar o principal de seu débito, acrescido de juros, correção
monetária e multa estatutária de, no máximo, 10%. Estas três parcelas são devidas apenas se existir
previsão estatutária.
A companhia poderá promover, contra o acionista remisso, a cobrança judicial do devido,
por ação de execução, servindo o boletim de subscrição, acompanhado, se for o caso, da chamada,
como título executivo extrajudicial. Poderá, também, optar pela venda das ações subscritas pelo
acionista remisso em Bolsa, independentemente de a S/A ser ou não de capital aberto, sendo que
eventual montante já integralizado pelo acionista deve ser restituído.
Explica-se: A referida venda em bolsa se faz mediante leilão especial, que também é cabível
nas companhias fechadas. Do produto arrecadado nessa venda serão descontadas as despesas
com a operação e os juros, correção monetária e multa previstos em estatuto, ficando o saldo à
disposição do ex-acionista.
A lei faculta à companhia promover a venda em Bolsa mesmo após o ajuizamento da
execução judicial, assim como promover esta em caso de se revelar frustrada a venda em leilão
especial da Bolsa.
Baldadas, no entanto, ambas as providências, a companhia pode declarar a caducidade das
ações, apropriando-se das entradas porventura já realizadas. Se, então, possuir fundos ou reservas
(exceto a legal) disponíveis, poderá integralizar a ação, para vendê-la, se e quando desejar. Se não
possuir fundos ou reservas suficientes para a integralização, terá a companhia o prazo de 1 ano
para conseguir um comprador para as ações em questão, findo o qual, o capital social deverá ser
reduzido, por decisão da assembleia geral, em importância correspondente.

9.7.3. Classificação das ações quanto à espécie

a) Ações Ordinárias (ON): São aquelas que conferem direitos comuns se sócio ao
acionista. Exemplo de direitos comuns: Participação nos lucros; Fiscalização; direito de retirada etc.
É a espécie de ação que obrigatoriamente deve ser emitida pela CIA, vale dizer, não existe
S/A sem ações ordinárias. Emissão obrigatória.
IMPORTANTE: Toda a ação ordinária confere direito de VOTO ao acionista (LSA, art. 110).
Art. 110. A cada ação ordinária corresponde 1 (um) voto nas deliberações da
assembleia-geral.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 188

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A Lei 14.195/2021 trouxe a possibilidade de voto plural ou super voto, mitigando a regra do
art. 110, já que agora uma única ação ordinária pode valer 10 votos.

Art. 110-A. É admitida a criação de uma ou mais classes de ações ordinárias


com atribuição de voto plural, não superior a 10 (dez) votos por ação
ordinária:
I - na companhia fechada; e
II - na companhia aberta, desde que a criação da classe ocorra previamente
à negociação de quaisquer ações ou valores mobiliários conversíveis em
ações de sua emissão em mercados organizados de valores mobiliários.
§ 1º A criação de classe de ações ordinárias com atribuição do voto plural
depende do voto favorável de acionistas que representem:
I - metade, no mínimo, do total de votos conferidos pelas ações com direito a
voto; e
II - metade, no mínimo, das ações preferenciais sem direito a voto ou com
voto restrito, se emitidas, reunidas em assembleia especial convocada e
instalada com as formalidades desta Lei.
§ 2º Nas deliberações de que trata o § 1º deste artigo, será assegurado aos
acionistas dissidentes o direito de se retirarem da companhia mediante
reembolso do valor de suas ações nos termos do art. 45 desta Lei, salvo se
a criação da classe de ações ordinárias com atribuição de voto plural já estiver
prevista ou autorizada pelo estatuto.
§ 3º O estatuto social da companhia, aberta ou fechada, nos termos dos
incisos I e II do caput deste artigo, poderá exigir quórum maior para as
deliberações de que trata o § 1º deste artigo.
§ 4º A listagem de companhias que adotem voto plural e a admissão de
valores mobiliários de sua emissão em segmento de listagem de mercados
organizados sujeitar-se-ão à observância das regras editadas pelas
respectivas entidades administradoras, que deverão dar transparência sobre
a condição de tais companhias abertas.
§ 5º Após o início da negociação das ações ou dos valores mobiliários
conversíveis em ações em mercados organizados de valores mobiliários, é
vedada a alteração das características de classe de ações ordinárias com
atribuição de voto plural, exceto para reduzir os respectivos direitos ou
vantagens.
§ 6º É facultado aos acionistas estipular no estatuto social o fim da vigência
do voto plural condicionado a um evento ou a termo, observado o disposto
nos §§ 7º e 8º deste artigo.
§ 7º O voto plural atribuído às ações ordinárias terá prazo de vigência inicial
de até 7 (sete) anos, prorrogável por qualquer prazo, desde que:
I - seja observado o disposto nos §§ 1º e 3º deste artigo para a aprovação da
prorrogação;
II - sejam excluídos das votações os titulares de ações da classe cujo voto
plural se pretende prorrogar; e
III - seja assegurado aos acionistas dissidentes, nas hipóteses de
prorrogação, o direito previsto no § 2º deste artigo.
§ 8º As ações de classe com voto plural serão automaticamente convertidas
em ações ordinárias sem voto plural na hipótese de:
I - transferência, a qualquer título, a terceiros, exceto nos casos em que:
a) o alienante permanecer indiretamente como único titular de tais ações e no
controle dos direitos políticos por elas conferidos;
b) o terceiro for titular da mesma classe de ações com voto plural a ele
alienadas; ou (Incluída pela Lei nº 14.195, de 2021)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 189

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c) a transferência ocorrer no regime de titularidade fiduciária para fins de
constituição do depósito centralizado; ou
II - o contrato ou acordo de acionistas, entre titulares de ações com voto plural
e acionistas que não sejam titulares de ações com voto plural, dispor sobre
exercício conjunto do direito de voto.
§ 9º Quando a lei expressamente indicar quóruns com base em percentual
de ações ou do capital social, sem menção ao número de votos conferidos
pelas ações, o cálculo respectivo deverá desconsiderar a pluralidade de
voto.
§ 10. (VETADO).
§ 11. São vedadas as operações:
I - de incorporação, de incorporação de ações e de fusão de companhia
aberta que não adote voto plural, e cujas ações ou valores mobiliários
conversíveis em ações sejam negociados em mercados organizados, em
companhia que adote voto plural;
II - de cisão de companhia aberta que não adote voto plural, e cujas ações ou
valores mobiliários conversíveis em ações sejam negociados em mercados
organizados, para constituição de nova companhia com adoção do voto
plural, ou incorporação da parcela cindida em companhia que o adote.
§ 12. Não será adotado o voto plural nas votações pela assembleia de
acionistas que deliberarem sobre:
I - a remuneração dos administradores; e
II - a celebração de transações com partes relacionadas que atendam aos
critérios de relevância a serem definidos pela Comissão de Valores
Mobiliários.
§ 13. O estatuto social deverá estabelecer, além do número de ações de cada
espécie e classe em que se divide o capital social, no mínimo:
I - o número de votos atribuído por ação de cada classe de ações ordinárias
com direito a voto, respeitado o limite de que trata o caput deste artigo;
II - o prazo de duração do voto plural, observado o limite previsto no § 7º deste
artigo, bem como eventual quórum qualificado para deliberar sobre as
prorrogações, nos termos do § 3º deste artigo; e
III - se aplicável, outras hipóteses de fim de vigência do voto plural
condicionadas a evento ou a termo, além daquelas previstas neste artigo,
conforme autorizado pelo § 6º deste artigo.
§ 14. As disposições relativas ao voto plural não se aplicam às empresas
públicas, às sociedades de economia mista, às suas subsidiárias e às
sociedades controladas direta ou indiretamente pelo poder público.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/RJ (2022) As sociedades anônimas podem ser companhias abertas ou
fechadas. Sobre os temas que envolvem as companhias abertas, pela
legislação ora vigente e aplicável à matéria, é correto afirmar na companhia
aberta, é vedada a manutenção de mais de uma classe de ações ordinárias,
ressalvada a adoção do voto plural. Correta!

TJ/MG (2022) São vedadas as operações de incorporação, de incorporação


de ações e de fusão de companhia aberta que não adote voto plural, e cujas
ações ou valores mobiliários conversíveis em ações sejam negociados em
mercados organizados, em companhia que adote voto plural. Correta!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 190

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TJ/SP (2021) O exercício do direito a voto na companhia pode ser regulado
em acordo de acionistas. Correta!

b) Ações Preferenciais (PN): São aquelas que conferem ao titular uma ação de direitos
diferenciados, que podem se constituir em vantagens econômicas (maioria das vezes) ou políticas.

Vantagem econômica: Quem tem ação preferencial PODE ter prioridade de recebimento de
dividendos, ou seja, o acionista preferencial recebe primeiro os lucros da sociedade. Nesse caso,
somente se sobrar dinheiro é que os acionistas ordinários receberiam.
Outra vantagem econômica: Quem tem ação preferencial pode receber, no mínimo, 10% a
mais de lucros que o acionista ordinário.
Art. 111. O estatuto poderá deixar de conferir às ações preferenciais algum
ou alguns dos direitos reconhecidos às ações ordinárias, inclusive o de voto,
ou conferi-lo com restrições, observado o disposto no artigo 109.

IMPORTANTE: A ação preferencial das duas uma: ou não tem direito a voto; ou tem o direito
a voto limitado. É a contrapartida às vantagens recebidas.
Vantagem política: Em caso de desestatização de empresa, o Estado transfere o controle
da S/A ao particular. Como quem tem direito a voto é o acionista ordinário, a forma de transferir o
controle da S/A para o particular é colocá-lo na titularidade das ações ordinárias.
Porém, para não perder totalmente o controle da S/A com a transferência das ações
ordinárias para o particular, é facultado ao ente desestatizante a criação da chamada “golden share”
(ação dourada), prevista no art. 17, §7º da LSA com o nome de “ação preferencial de classe
especial”.
Art. 17, § 7º Nas companhias objeto de desestatização poderá ser criada ação
preferencial de classe especial (golden share), de propriedade exclusiva do
ente desestatizante, à qual o estatuto social poderá conferir os poderes que
especificar, inclusive o poder de veto às deliberações da assembleia-geral
nas matérias que especificar.

As ações “golden share”, que ficam obrigatoriamente na titularidade do Estado, apesar de


terem limitação quanto ao direito de voto (pois são preferenciais e não ordinárias), podem conferir
uma série de poderes especiais ao seu titular, conforme dispuser o Estatuto. Dentre esses poderes
especiais se encontra o direito de VETO às deliberações sociais.
ATENÇÃO
Art. 111, § 1º As ações preferenciais sem direito de voto adquirirão o exercício
desse direito se a companhia, pelo prazo previsto no estatuto, não superior a
3 (três) exercícios consecutivos, deixar de pagar os dividendos fixos ou
mínimos a que fizerem jus, direito que conservarão até o pagamento, se tais
dividendos não forem cumulativos, ou até que sejam pagos os cumulativos
em atraso.

Se o sujeito fica três exercícios consecutivos sem participar dos lucros (ou até mesmo um
prazo menor, se assim dispuser o estatuto) passa a ter direito de voto. Esse direito perdura até que
ele receba suas vantagens. Depois disso, volta a ser um mero acionista preferencial sem direito a
voto.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 191

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Obs.: de acordo com o art. 15, §1º, as ações preferenciais sempre podem ser divididas em
classes, na cia fechada ou aberta (Classe A – direito tal-, Classe B – direito tal...), cabendo ao
estatuto especificar a gama de direitos e restrições correspondente a cada uma. Já em relação as
ordinárias, só se admite a divisão em classes na companhia fechada.
PROVA: Qual é o número máximo de ações preferenciais sem voto que uma Cia pode
emitir?
No máximo de 50% do total de ações (art. 15, §2º).
Art. 15. As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que
confiram a seus titulares, são ordinárias, preferenciais, ou de fruição.
§ 1º As ações ordinárias e preferenciais poderão ser de uma ou mais classes,
observado, no caso das ordinárias, o disposto nos arts. 16, 16-A e 110-A
desta Lei.
§ 2o O número de ações preferenciais sem direito a voto, ou sujeitas a
restrição no exercício desse direito, não pode ultrapassar 50% (cinquenta por
cento) do total das ações emitidas.

c) Ações de fruição/gozo (art. 44, §5º da LSA): Não tem nada a ver com usufruto de ação.
A palavra-chave para essa forma de ação é “amortização”, que significa antecipação de pagamento.

Quando a S/A sofre uma dissolução total, ela passa pela chamada liquidação. A partir daí
todos os bens da CIA são arrecadados. Posteriormente, os bens são vendidos, sendo a receita da
venda utilizada no pagamento dos credores. Se após o pagamento de todos os credores sobrar
algum dinheiro, dá-se a esse montante o nome de ACERVO. O que se faz com o acervo? Deve ser
repartido entre os acionistas, de acordo com a proporção de cada um.
OBS: Só se fala em acervo quando a sociedade fecha, é dissolvida.
A ação de gozo e fruição nada mais é do que uma ação ordinária ou preferencial que já foi
totalmente amortizada (já houve total antecipação do pagamento do acervo). É importante a
classificação da ação como tal para que o adquirente da ação saiba desde já que não terá direito a
nada no momento da liquidação da sociedade (art. 44, §5º da LSA).

Art. 44, § 5º As ações integralmente amortizadas poderão ser substituídas


por ações de fruição, com as restrições fixadas pelo estatuto ou pela
assembleia-geral que deliberar a amortização; em qualquer caso, ocorrendo
liquidação da companhia, as ações amortizadas só concorrerão ao acervo
líquido depois de assegurado às ações não a amortizadas valor igual ao da
amortização, corrigido monetariamente.

Lógica: evitar o prejuízo do acionista. Imagine que não houvesse esse tipo de ação. O sujeito
recebe os valores do acervo e vende a ação. O adquirente na liquidação se propõe a receber, mas
é informado que a ação já foi amortizada. Prejuízo. A ação de fruição é como se fosse um carimbo
na ação comum – “amortizada”.
V
Ordinária
T
O
Preferencial

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 192

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CUIDADO: o direito de voto não é essencial, tanto é que a ação PREFERENCIAL não tem
voto ou tem de forma limitada.

OBS: ação nominativa é aquela que consta o nome do acionista, de


forma que nesse caso há expedição de certificado, seja qual for o tipo
de ação. Nas ações escriturais não há tal emissão de certificado de
acionista porque o acionista não é identificado.

9.7.4. Acionista controlador e o “Acordo de Acionistas”

Exemplo:
A - 40% PN
B - 10% PN
C - 30% ON
D - 20% ON
Acionista majoritário: É o A, pois tem o maior número de ações.
Acionista controlador: É o C, pois tem a maioria de ações com Direito de Voto.
Conclusão: Nem sempre o acionista majoritário é o acionista controlador.
Essa regra é prevista no art. 116 da LSA, in verbis:
Art. 116. Entende-se por acionista controlador a pessoa, natural ou jurídica,
ou o grupo de pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob controle
comum, que:
a) é titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente,
a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de
eleger a maioria dos administradores da companhia; e
b) usa efetivamente seu poder (importante) para dirigir as atividades sociais
e orientar o funcionamento dos órgãos da companhia.

Requisitos para ser acionista controlador


- Maioria de votos da CIA;
- Poder de eleger a maioria dos Administradores da Cia.
- Uso efetivo desse poder (PROVA).
É possível que um bloco de acionistas seja controlador. Para isso, no entanto, é necessário
que exista um “acordo de voto” que vincule esses acionistas. Não basta que eles cheguem na
Assembleia e resolvam votar no mesmo sentido.
O “Acordo de voto” é uma das matérias objeto do famoso acordo de acionistas, previsto
no art. 118 da LSA. O acordo de acionistas nada mais é que um CONTRATO celebrado entre os
acionistas, que deve tratar de uma das matérias previstas no art. 118:
Art. 118. Os acordos de acionistas, sobre a compra e venda de suas ações,
preferência para adquiri-las, exercício do direito a voto, ou do poder de
controle deverão ser observados pela companhia quando arquivados na sua
sede.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 193

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Assim, quando o acordo versar sobre um dos quatro temas acima, tais acordos estarão
sujeitos a uma proteção especificamente liberada pela legislação do anonimato, e o seu registro
junto à companhia implicará nas seguintes modalidades de tutela:
a) a sociedade anônima não poderá praticar atos que contrariem o conteúdo próprio do
acordo;
b) poderá ser obtida a execução específica do avençado, mediante ação judicial.
Dessa forma, se um acionista fez um contrato e concedeu o direito de preferência a outro,
porém vendeu suas ações a um outro acionista, descumprindo o acordo, a companhia não poderá
registrar a transferência de titularidade das ações, caso o acordo se encontre averbado.
Art. 118, § 8o O presidente da assembleia ou do órgão colegiado de
deliberação da companhia não computará o voto proferido com infração de
acordo de acionistas devidamente arquivado.

FRISE-SE: Esse acordo de acionistas, para produzir efeitos perante a S/A, deve ser
arquivado na sede da CIA. É chamado de contrato parassocial.
Vejamos um exemplo:
A - 30% ON
B - 09% ON
C - 21% ON
A e B celebraram um acordo segundo o qual devem votar em João para o Conselho de
Administração.
Chega na Assembleia:
A vota em João.
C em Maria.
B em Maria (contrariando o acordo).
Resultado: Empate 30 a 30.
O que ocorre? O presidente da assembleia ou do órgão colegiado de deliberação da
companhia não computará o voto proferido com infração de acordo de acionistas devidamente
arquivado (LSA, art. 118, §8º).
Nesse caso, ao desconsiderar o voto daquele que infringiu o acordo, ficará 30% X 21% em
favor do João.
Outro exemplo:
A - 31% ON
B - 10% ON
C - 22% ON
Acordo entre B e C para votar em Maria (totalizando 32% do capital votante).
A vota em João (31%).
C vota em Maria (22%).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 194

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B vota em João (10%).
Resultado
Executa-se o acordo para que o sujeito vote conforme o acordo (LSA, art. 118, §3º).
Art. 118, § 3º Nas condições previstas no acordo, os acionistas podem
promover a execução específica das obrigações assumidas.

Essa execução específica se dá de acordo com o art. 498 do CPC/2015.


Não comparecimento do acionista
O não comparecimento à assembleia ou às reuniões dos órgãos de administração da
companhia, bem como as abstenções de voto de qualquer parte de acordo de acionistas, assegura
à parte prejudicada o direito de votar com as ações pertencentes ao acionista ausente ou omisso
(art. 118, §9º).
Art. 118, § 9o O não comparecimento à assembleia ou às reuniões dos órgãos
de administração da companhia, bem como as abstenções de voto de
qualquer parte de acordo de acionistas ou de membros do conselho de
administração eleitos nos termos de acordo de acionistas, assegura à parte
prejudicada o direito de votar com as ações pertencentes ao acionista
ausente ou omisso e, no caso de membro do conselho de administração, pelo
conselheiro eleito com os votos da parte prejudicada.

9.7.5. Valor das ações

a) Valor nominal
É o valor do capital social dividido pelo número de ações.
Ex.: Capital social de 1 milhão. Dividido pelo número de ações (1 milhão), cada ação tem o
valor nominal de 1 real.
A Companhia poderá ou não ter ações com valor nominal, a depender do estatuto. A função
de atribuir valor nominal reside na garantia dada ao acionista da não ocorrência de excessiva
diluição do valor patrimonial de suas ações (ver abaixo).
b) Valor patrimonial
É o patrimônio líquido (ativo subtraído do passivo) dividido pelo número de ações. É o valor
devido ao acionista em caso de liquidação ou reembolso.

OBS: O valor nominal, quando existente, é previsto nos estatutos.


Já o valor patrimonial se pode conhecer pelas demonstrações
contábeis que a sociedade anônima é obrigada a levantar ao término
do exercício social. Observe que o valor patrimonial pode ser maior ou
menor que o valor nominal, dependendo do desenvolvimento
experimentado pela sociedade.

c) Ação (de mercado)


É o preço que o titular da ação consegue obter na sua alienação. O valor pago pelo
adquirente é definido por uma série de fatores econômicos, como as perspectivas de rentabilidade,

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 195

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o patrimônio líquido da sociedade, o desempenho do setor em que ela atua, a própria conjuntura
macroeconômica etc.
O valor de negociação pode ser maior ou menor que o valor patrimonial, porquanto é de livre
definição pelas partes envolvidas no negócio.
d) Valor econômico
É o valor calculado por avaliadores de ativos, através de técnicas específicas (por exemplo,
a do "fluxo de caixa descontado"), e representa o montante que é racional pagar por uma ação,
tendo em vista as perspectivas de rentabilidade da companhia emissora.
*Diluição acionária
Capital social de 100mil / 100mil ações / Patrimônio líquido é 200mil
- Valor nominal das ações: 1 real.
- Valor patrimonial: 2 reais.
E se a CIA emite mais 50mil ações = 150mil ações.
Se a CIA pede por essas ações o preço de 2 reais (preço de emissão), em nada alterará o
valor patrimonial das antigas ações.
Agora, caso a CIA estabeleça em 1 real o preço de emissão dessas ações, o valor
patrimonial de cada uma das 150mil ações da S/A será reduzido para 1 real. Ou seja, aqueles que
já eram sócios vão acabar sofrendo um prejuízo. A esse prejuízo dá-se o nome de diluição acionária.
Diluição acionária: É o aumento de ações da CIA com preço de emissão inferior ao valor
patrimonial da ação. Ocorrendo isso, o resultado será a diminuição do valor patrimonial das ações.
Essa diluição gera prejuízos ao acionista. Para que o prejuízo não seja tão grande, o art. 13
veda a emissão de ações por preço inferior ao valor nominal. Daí a importância de se fixar o valor
nominal no Estatuto. É uma garantia para o acionista.
A infração dessa regra importará nulidade do ato ou operação e responsabilidade dos
infratores, sem prejuízo da ação penal que no caso couber (art. 13, §1º).
Por outro lado, a contribuição do subscritor que ultrapassar o valor nominal constituirá
reserva de capital (art. 13, §2º).
Art. 13. É vedada a emissão de ações por preço inferior ao seu valor nominal.
§ 1º A infração do disposto neste artigo importará nulidade do ato ou operação
e responsabilidade dos infratores, sem prejuízo da ação penal que no caso
couber.
§ 2º A contribuição do subscritor que ultrapassar o valor nominal constituirá
reserva de capital (artigo 182, § 1º).

e) Preço de emissão
É o valor cobrado pela sociedade anônima para a subscrição das ações emitidas. É o preço
pago pelo acionista que subscreve a ação recém-emitida. O preço de emissão tem a finalidade de
mensurar o limite da responsabilidade social do acionista.
O preço de emissão é fixado pelos fundadores, quando da constituição da companhia, e
pela assembleia geral ou pelo conselho de administração, quando do aumento do capital social com
emissão de novas ações. Se a companhia tem o seu capital social representado por ações com
valor nominal, o preço de emissão das ações não poderá ser inferior ao seu valor nominal (sob pena

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 196

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de excessiva diluição acionária). E se for superior, a diferença, chamada ágio, constituirá reserva
de capital, que poderá posteriormente ser capitalizada (LSA, arts. 13 e 200, IV).
Art. 13. É vedada a emissão de ações por preço inferior ao seu valor nominal.

Art. 200. As reservas de capital somente poderão ser utilizadas para:


[...]
IV - incorporação ao capital social;

9.7.6. Responsabilidade do acionista de uma sociedade anônima (art. 1º)

Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações,


e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de
emissão das ações subscritas ou adquiridas.

A responsabilidade do acionista é limitada ao preço de emissão das ações, que é o valor


cobrado pela CIA para subscrever as ações. Se um outro acionista deixa de integralizar a ação que
subscreveu, o problema é dele (diferentemente da Sociedade Limitada, em que todos os sócios
são solidariamente responsáveis pelo capital subscrito não integralizado).

9.7.7. Deveres e direitos essenciais do acionista

Diz-se essenciais os direitos dos quais o acionista não pode ser privado nem pela
Assembleia-geral nem pelo Estatuto social.
Todos os direitos essenciais são previstos no art. 109 da LSA:
Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembleia-geral poderão privar o
acionista dos direitos de:
I - participar dos lucros sociais;

Participação nos lucros: O acionista tem o direito de receber o dividendo, que é a parcela
dos lucros que lhe cabe.
II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;

Participação no acervo da CIA em caso de liquidação.


III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;

Direito de fiscalização.
IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis
em ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição,
observado o disposto nos artigos 171 e 172;

Direito de preferência: As novas ações emitidas devem ser oferecidas preferencialmente aos
acionistas.
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 197

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Direito de retirada: Possibilidade que o acionista tem de retirar-se da S/A, recebendo o
reembolso de suas ações (art. 45), baseado no valor patrimonial das suas ações.
§ 1º As ações de cada classe conferirão iguais direitos aos seus titulares.
§ 2º Os meios, processos ou ações que a lei confere ao acionista para
assegurar os seus direitos não podem ser elididos pelo estatuto ou pela
assembleia-geral.
§ 3o O estatuto da sociedade pode estabelecer que as divergências entre os
acionistas e a companhia, ou entre os acionistas controladores e os acionistas
minoritários, poderão ser solucionadas mediante arbitragem, nos termos em
que especificar.

Art. 45. O reembolso é a operação pela qual, nos casos previstos em lei, a
companhia paga aos acionistas dissidentes de deliberação da assembleia-
geral o valor de suas ações.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJMG (2022) As ações, conforme a natureza dos direitos ou vantagens que
confiram a seus titulares, são ordinárias, preferenciais, ou de fruição. O
número de ações preferenciais sem direito a voto, ou sujeitas a restrição no
exercício desse direito, não pode ultrapassar 50% (cinquenta por cento) do
total das ações emitidas. As ações da companhia aberta somente poderão
ser negociadas depois de realizados 30% (trinta por cento) do preço de
emissão. Correta!

9.8. DEBÊNTURES

Estão expressamente previstas no art. 52 da LSA, in verbis:


Art. 52. A companhia poderá emitir debêntures que conferirão aos seus
titulares direito de crédito contra ela, nas condições constantes da escritura
de emissão e, se houver, do certificado.

Quando a S/A precisa de recursos, ela tem opções:


- Ou procura uma instituição financeira para pegar um empréstimo bancário (com juros
definidos pelo banco).
- Ou emite debêntures.
As debêntures são títulos representativos de um contrato de mútuo, em que a companhia é
a mutuaria e o debenturista o mutuante. O empréstimo é feito e, algum tempo depois (médio e longo
prazo) o titular da debênture recebe o valor investido, acrescido de juros e correção monetária.
As debêntures conferirão aos seus titulares direito de crédito contra a CIA, nas condições
constantes da escritura de emissão e, se houver, do certificado.
Diferentemente dos contratos de empréstimos com bancos, nas debêntures a própria cia
que define as taxas de juros e correção, daí porque ser considerado um meio mais vantajoso de
arrecadar recursos para a sociedade.
As debêntures, de acordo com a garantia oferecida aos seus titulares, podem ser de quatro
espécies:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 198

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a) com garantia real, em que um bem, pertencente ou não à companhia, é onerado
(hipoteca de um imóvel, por exemplo);
b) com garantia flutuante, que confere aos debenturistas um privilégio geral sobre o ativo
da companhia, pelo qual terão preferência sobre os credores quirografários, em caso de falência da
companhia emissora;
c) quirografária, cujo titular concorre com os demais credores sem garantia, na massa
falida;
d) subordinada (ou subquirografária), em que o titular tem preferência apenas sobre os
acionistas, em caso de falência da sociedade devedora.
Se no fim do prazo o valor não for reembolsado, o titular da debênture pode ajuizar uma
ação de execução, porquanto a debênture é um título executivo extrajudicial (art. 784, I do
CPC/2015).
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:
I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;

A debênture PODERÁ ser conversível em ação da CIA, mas na maioria das vezes não é.
Vai depender do que for estabelecido na escritura de emissão.
Debêntures perpétuas (art. 55, § 3º): Também conhecida como open end. Esta espécie de
debênture não vence, como outras, em data certa, mas possui o seu vencimento condicionado a
certas situações, como, por exemplo, ocorre o vencimento quando a companhia deixar de pagar
juros ou ocorrer a sua dissolução. Pode ainda prever, o que é mais usual, que a debênture vence
com a ocorrência de determinado fato, como, por exemplo, o término de construção de um parque
industrial.
Compete à Assembleia Geral deliberar sobre debêntures.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2022) Debêntures, títulos representativos de um contrato de mútuo
entre a companhia e pessoas indeterminadas, são valores mobiliários que
conferem aos investidores (mutuantes) o direito de crédito perante a
sociedade anônima (mutuária), nas condições constantes do certificado, se
houver, e da escritura de emissão, podendo sua emissão ser pública ou
privada. Nas emissões de debêntures destinadas ao mercado de capital, é
obrigatória a figura do agente fiduciário, para representar a comunhão de
interesses dos debenturistas. A respeito do agente fiduciário, é correto afirmar
que poderá ser pessoa física que satisfaça aos requisitos para o exercício de
cargo de administração na companhia ou instituição financeira, autorizada
pelo Banco Central para o exercício da função e que tenha por objeto a
administração ou custódia de bens de terceiros; será escolhido pela
sociedade anônima emissora, podendo este (o agente fiduciário), na
condição de substituto processual dos debenturistas, para proteção de
direitos ou defesa de interesses dos debenturistas, dentre outras atribuições,
declarar o vencimento antecipado das debêntures e promover a execução do
principal e dos juros, excutindo garantias se houver, ou pedir a falência da
companhia emissora na ausência dea outros meios para realização do crédito
debenturístico, sendo que, no caso de decretação da falência, recuperação
judicial ou liquidação extrajudicial da sociedade anônima, o agente fiduciário
será o representante dos debenturistas, salvo deliberação em contrário da
assembleia deles (debenturistas). Correta. Sim, havia uma questão desta

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 199

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extensão na prova para o cargo de Promotor de Justiça do Estado de
São Paulo. A resposta consta literalmente dos arts. 66 e 68 da LSA,
portanto, reforçamos a importância da leitura da lei seca para o êxito
nas provas objetivas!

9.9. COMMERCIAL PAPER

Nada mais é que uma debênture com pagamento a curto prazo.


A única diferença refere-se ao prazo de reembolso. Apesar de a lei não mencionar prazo, a
Instrução Normativa n. 134 da CVM faz essa definição:
a) Se for CIA aberta, o reembolso deve ser feito de 30 a 360 dias;
b) Se for CIA fechada, o reembolso deve ser feito de 30 a 180 dias.
O Commercial paper é chamado também de “nota promissória da S/A”.

9.10. BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO

É previsto no art. 75 da LSA, in verbis:


Art. 75. A companhia poderá emitir, dentro do limite de aumento de capital
autorizado no estatuto (artigo 168), títulos negociáveis denominados "Bônus
de Subscrição".
Parágrafo único. Os bônus de subscrição conferirão aos seus titulares, nas
condições constantes do certificado, direito de subscrever ações do capital
social, que será exercido mediante apresentação do título à companhia e
pagamento do preço de emissão das ações.

Trata-se de títulos negociáveis que conferirão aos seus titulares direito de subscrever ações
do capital social, que será exercido mediante apresentação do título à CIA e pagamento do preço
de emissão das ações.
Ou seja, o bônus de subscrição nada mais é do que um direito de preferência na aquisição
(subscrição) de novas ações emitidas.
Compete à Assembleia Geral deliberar sobre bônus de subscrição, se não for dada
competência ao Conselho de Administração, pelo estatuto.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MG (2022) A companhia poderá emitir, dentro do limite de aumento de
capital autorizado no estatuto, títulos negociáveis denominados "Bônus de
Subscrição" que conferirão aos seus titulares, direito de subscrever ações do
capital social, que será exercido mediante apresentação do título à
companhia e pagamento do preço de emissão das ações. Somente a
assembleia-geral pode deliberar sobre a emissão de bônus de subscrição.
Errada!

9.10.1. Partes beneficiárias

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 200

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São títulos negociáveis, estranhos ao capital social, que conferirão aos seus titulares
direito de crédito eventual contra a CIA, consistente na participação dos lucros anuais.
O titular desse título tem direito ao lucro, porém não é acionista.
O direito de crédito é eventual, pois só existe na eventualidade de a CIA produzir lucro.
Esse título é uma forma utilizada para incentivar o diretor da Cia a se empenhar na melhora
do desempenho social, sem que seja necessário colocá-lo como acionista. Ou seja, ao mesmo
tempo que remunera o sujeito, ainda o incentiva a trabalhar da melhor forma possível pelo
desenvolvimento social.
OBS: Às partes beneficiárias não pode ser destinado a mais do que 10% dos lucros da
sociedade (art. 46, §2º da LSA).
Art. 46. A companhia pode criar, a qualquer tempo, títulos negociáveis, sem
valor nominal e estranhos ao capital social, denominados "partes
beneficiárias".
§ 1º As partes beneficiárias conferirão aos seus titulares direito de crédito
eventual contra a companhia, consistente na participação nos lucros anuais
(artigo 190).
§ 2º A participação atribuída às partes beneficiárias, inclusive para formação
de reserva para resgate, se houver, não ultrapassará 0,1 (um décimo) dos
lucros.

Compete à Assembleia Geral deliberar sobre partes beneficiárias.

OBS1: Quem tem bônus prefere inclusive ao acionista sem bônus,


mesmo que o possuidor do bônus não seja acionista.
OBS2: Diferença de uma ação para uma parte beneficiária: as ações
são frações do capital social, enquanto a parte beneficiária é estranha
ao capital social.
OBS3: Assim, participa dos lucros, mas NÃO é acionista (não tem
direito de voto, não tem direito de retirada).
OBS4: É vedado às companhias ABERTAS emitir partes beneficiárias.
Somente as FECHADAS.
OBS5: prazo máximo de participação é de 10 anos.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/RJ (2022) A companhia aberta somente poderá criar partes
beneficiárias para alienação onerosa, ou para atribuição gratuita a
sociedades ou fundações beneficentes de seus empregados. Errada!

10. REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA

O regramento dos institutos a seguir no Código Civil consta dos artigos 1.113 a 1.122, cuja
leitura recomendamos e que são aplicáveis à sociedades do tipo limitada que não tenham previsão
em seus contratos de aplicação supletiva das normas da sociedade anônima.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 201

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10.1. TRANSFORMAÇÃO

É a modificação do tipo societário. Uma LTDA que se torna S/A.


A pessoa jurídica continua sendo a mesma, somente “muda de roupa”.
Portanto, não há que se falar em extinção da PJ.
A transformação exige o consentimento unânime dos sócios ou acionistas, salvo se prevista
no estatuto ou no contrato social, caso em que o sócio dissidente terá o direito de retirar-se da
sociedade.

Obs: S/A Fechada → S/A Aberta. Não é transformação.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJMG (2022) A sociedade empresária ABC – Comércio e Indústria Ltda. foi
transformada em uma sociedade anônima, ABC- Comércio e Indústria S/A.
Ato contínuo, incorporou a sociedade empresária XK – Empreendimentos
Ltda., lhe sucedendo em todos os direitos e obrigações. A falência da
sociedade transformada somente produzirá efeitos em relação aos sócios
que, no tipo anterior, a eles estariam sujeitos, se o pedirem os titulares de
créditos anteriores à transformação, e somente a estes, beneficiará. Correta!

TJMG (2022) A transformação depende do consentimento da maioria dos


sócios, salvo se prevista no ato constitutivo, caso em que o dissidente poderá
retirar-se da sociedade. Errada!

10.2. FUSÃO

Dá-se com a união de duas ou mais sociedades que, ao se unirem, são extintas dando
origem a uma terceira nova sociedade, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações.

10.3. INCORPORAÇÃO

É a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra, que lhes sucede
em todos os direitos e obrigações.
A incorporada, ao ser absorvida, é extinta. A incorporadora permanece.
Aqui, NÃO ocorre a criação de uma terceira sociedade.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/AP (2022) Ocorrendo, no prazo de noventa dias após a publicação dos
atos relativos à incorporação, a falência da sociedade incorporadora,
qualquer credor anterior terá direito a pedir a separação dos patrimônios da
incorporadora e da incorporada. Correta!

TJ/AP (2022) A deliberação dos sócios da sociedade incorporadora


compreenderá a nomeação dos peritos para a avaliação do patrimônio líquido
da sociedade que tenha de ser incorporada. Correta!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 202

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TJ/AP (2022) Até noventa dias após a publicação dos atos relativos à
incorporação, o credor anterior, prejudicado pela operação, poderá promover
judicialmente a anulação dos atos referentes a ela. Correta!

10.4. CISÃO

É nada mais que VENDA DE PATRIMÔNIO.


Parcial: Venda de parcela do patrimônio. A sociedade vendedora não é extinta.
Total: Venda de totalidade de patrimônio. A sociedade vendedora é extinta.
Prova oral: quando haverá extinção? Incorporação (incorporada), Cisão se for total, fusão
(fusionadas).

11. SOCIEDADES COLIGADAS (ARTS. 1.097 e seguintes do CC)

Existem três tipos de coligação:


Sociedades Filiadas (Art. 1.099): Ocorre quando uma sociedade participa de 10% ou mais
do capital de outra sociedade, porém sem controlá-la.
Art. 1.099. Diz-se coligada ou filiada a sociedade de cujo capital outra
sociedade participa com dez por cento ou mais, do capital da outra, sem
controlá-la.

Sociedade de simples participação (art. 1.100): É a sociedade que possui menos de 10% do
capital com direito a voto de outra sociedade.
Art. 1.100. É de simples participação a sociedade de cujo capital outra
sociedade possua menos de dez por cento do capital com direito de voto.

Sociedade controladora (art. 1.098): É a sociedade que tem a maioria de votos da outra
sociedade e tem o poder de eleger a maioria dos administradores da outra sociedade.
Art. 1.098. É controlada:
I - a sociedade de cujo capital outra sociedade possua a maioria dos votos
nas deliberações dos quotistas ou da assembleia geral e o poder de eleger a
maioria dos administradores;
II - a sociedade cujo controle, referido no inciso antecedente, esteja em poder
de outra, mediante ações ou quotas possuídas por sociedades ou sociedades
por esta já controladas

12. DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

12.1. ORIGEM

12.1.1. Caso Bank of United States X Deveaux

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 203

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Foi o primeiro caso que tratou sobre o assunto, em 1809 nos EUA.
A Suprema Corte dos EUA reconheceu a competência da justiça federal para julgar o litígio,
pois envolvia pessoas domiciliadas em estados diversos, já que considerou os sócios e não o
domicílio do banco.

12.1.2. Caso Salomon X Salomon CB

Ocorreu em 1856, na Inglaterra.


Salomon, empresário individual, passava por problemas financeiros e criou uma CIA, sendo
mero sócio de uma pessoa jurídica, com 20 mil ações, a qual possuía seis sócios, cada um com
apenas uma ação.

12.2. TERMINOLOGIA

➔ Questão: é correto afirmar que a desconsideração e a despersonificação da pessoa


jurídica são sinônimas?
Não! A desconsideração não dissolve a sociedade, apenas afasta a pessoa jurídica, a fim
de que se entre no patrimônio do sócio.
Despersonificação – significa a extinção da pessoa jurídica. Segundo Fábio Coelho, está
dividida em três fases:
1ª Dissolução-Ato: são os motivos que levam a extinção, previstos no art. 1.033 do CC.
Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer:
I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição
de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará
por tempo indeterminado;
II - o consenso unânime dos sócios;
III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo
indeterminado;
IV - revogado;
V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar.
Parágrafo único. revogado

2ª Liquidação: ocorre a realização do ativo e do passivo. Aqui ainda há a pessoa jurídica. O


art. 51 afirma que a perda da pessoa jurídica ocorre com o fim da liquidação. Contudo, apenas com
a averbação da ata de assembleia de liquidação é que se perde realmente (art. 1.109 CC)
Art. 51. Nos casos de dissolução da pessoa jurídica ou cassada a autorização
para seu funcionamento, ela subsistirá para os fins de liquidação, até que esta
se conclua.
§ 1o Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação
de sua dissolução.
§ 2o As disposições para a liquidação das sociedades aplicam-se, no que
couber, às demais pessoas jurídicas de direito privado.
§ 3o Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da
pessoa jurídica.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 204

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Art. 1.109. Aprovadas as contas, encerra-se a liquidação, e a sociedade se
extingue, ao ser averbada no registro próprio a ata da assembleia.
Parágrafo único. O dissidente tem o prazo de trinta dias, a contar da
publicação da ata, devidamente averbada, para promover a ação que couber.

3ª Partilha: ocorre a distribuição dos bens entre os sócios. Aqui não há mais personalidade
jurídica.

12.3. CLASSIFICAÇÃO

12.3.1. Teoria Maior

É a regra no nosso direito.


O artigo 50 do CC adota a teoria maior da desconsideração (isso não mudou com a Lei
13.874/2019), reclamando para a sua incidência o abuso da personalidade jurídica, caracterizado
pelo desvio da finalidade (teoria maior subjetiva) ou a confusão patrimonial (teoria maior objetiva).
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo
desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento
da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de
sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso.
(Redação dada pela Lei nº 13.874, de 2019)

12.3.2. Teoria Menor

É uma exceção em nosso ordenamento jurídico.


O §5° do artigo 28 do Código de Defesa do Consumidor adota a teoria menor, pois dispensa
a presença do abuso da personalidade, bastando para a sua aplicação que a pessoa jurídica seja
um obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores, partindo do pressuposto
que o risco da atividade empresarial não pode ser transferido aos consumidores que são vulneráveis
frente à pessoa jurídica.
Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade
quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de
poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato
social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência,
estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração.
§ 1° (Vetado).
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades
controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações
decorrentes deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis pelas
obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 205

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.

Ex.: direito ambiental, direito do consumidor, direito trabalhista.

12.3.3. Teoria Inversa

A pessoa jurídica irá responder por dívida do sócio.


Reconhecida pelo STJ.
A desconsideração inversa, segundo CARLOS GONÇALVES, caracteriza-se “quando é
afastado o princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica para responsabilizar a sociedade
por obrigação do sócio, como, por exemplo, na hipótese de um dos cônjuges, ao adquirir bens de
maior valor, registrá-los em nome de pessoa jurídica sob seu controle, para livrá-los da partilha a
ser realizada nos autos da separação judicial. Ao se desconsiderar a autonomia patrimonial, será
possível responsabilizar a pessoa jurídica pelo devido ao ex-cônjuge do sócio. É comum verificar,
nas relações conjugais e de uniões estáveis, que os bens adquiridos para uso dos consortes ou
companheiros, móveis e imóveis, encontram-se registrados em nome de empresas de que participa
um deles. Como observa Guillermo Júlio Borda, “é fácil encontrar, nas relações afetivas entre
marido e mulher, “manobras fraudatórias de um dos cônjuges que, valendo-se da estrutura
societária, esvazia o patrimônio da sociedade conjugal em detrimento do outro (no mais das vezes
o marido em prejuízo da esposa) e, assim, com colaboração de terceiro, reduzem a zero o
patrimônio do casal”. Não raras vezes, também, o pai esconde seu patrimônio pessoal, na estrutura
societária da pessoa jurídica, com o reprovável propósito de esquivar-se do pagamento de pensão
alimentícia devida ao filho. A aplicação da teoria da desconsideração da pessoa jurídica, quando se
configurar o abuso praticado pelo marido, companheiro ou genitor em detrimento dos legítimos
interesses de seu cônjuge, companheiro ou filho, constituirá um freio às fraudes e abusos
promovidos sob o véu protetivo da pessoa jurídica. Igualmente no campo do direito das sucessões
podem ocorrer abusos que justificam a aplicação da aludida teoria, especialmente nas hipóteses de
utilização de pessoas jurídicas por genitores que pretendem beneficiar alguns filhos em detrimento
de outros, frustrando o direito à herança destes. A aplicação da teoria da desconsideração inversa
poderá também ser invocada pelo prejudicado, para obter o reconhecimento de seu direito integral
à herança. CEI DPE.

12.3.4. Teoria Indireta

É a extensão para pessoas jurídicas de um grupo econômico (art. 265, LSA). Além disso,
pode alcançar pessoas jurídicas de outros grupos econômicos.
Art. 265. A sociedade controladora e suas controladas podem constituir, nos
termos deste Capítulo, grupo de sociedades, mediante convenção pela qual
se obriguem a combinar recursos ou esforços para a realização dos
respectivos objetos, ou a participar de atividades ou empreendimentos
comuns.
§ 1º A sociedade controladora, ou de comando do grupo, deve ser brasileira,
e exercer, direta ou indiretamente, e de modo permanente, o controle das

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 206

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
sociedades filiadas, como titular de direitos de sócio ou acionista, ou mediante
acordo com outros sócios ou acionistas.
§ 2º A participação recíproca das sociedades do grupo obedecerá ao disposto
no artigo 244.

Lamy Filho: constelações de sociedades.


Há uma PJ chamada de Holding (controladora), que controla diversas pessoas jurídicas
(controladas) que compõem o mesmo grupo econômico.
Exemplo: determinado trabalhador possui seus direitos violados e consegue a indenização
da PJ6. Nesse caso, pode-se desconsiderar indiretamente, a fim de que atinge pessoas jurídicas
do mesmo grupo econômico, PJ5, PJ4, PJ3.
Destaca-se que para isso acontecer, é necessário que haja uma unidade gerencial, laboral
e patrimonial.
Neste sentido, colacionamos alguns julgados do STJ sobre o tema:
Inf.: 480 – Grupo econômico X, formado por uma Holding que controla
diversas pessoas jurídicas. Grupo Y, formado por uma Holding que controla
diversas pessoas jurídicas. Nesse informativo, foi estendida a
responsabilidade jurídica para grupo distintos, desde que haja a influência de
um grupo sobre outro, que não precisa ser, necessariamente, através do
capital social. É a figura do controle indireto e externo.
“Em situação na qual dois grupos econômicos, unidos em torno de um
propósito comum, promovem uma cadeia de negócio formalmente lícitos,
mas com o intuito substancial de desviar patrimônio de empresa em situação
pré-falimentar, é necessário que o Poder Judiciário também inove sua
atuação, no intuito de encontrar meios eficazes de rever manobras lesivas,
punindo e responsabilizando os envolvidos. É possível ao juízo antecipar a
decisão e estender os efeitos de sociedade falida a empresas coligadas na
hipótese em que, verificando claro conluio para prejudicar credores, há
transferência de bens para desvio patrimonial. Inexiste nulidade no exercício
diferido de defesa nessas hipóteses. A extensão da falência a sociedades
coligadas pode ser feita independentemente da instauração de processo
autônomo. A verificação da existência de coligação entre sociedades pode
ser feita com base em elementos fáticos que demostrem a efetiva influência
de um grupo societário nas decisões do outro, independentemente de se
constatar a existência de participação no capital sócia. Na hipótese de fraude
par desvio de patrimônio de sociedade falida, em prejuízo da massa de
credores, perpetrada mediante utilização de complexas formas societárias, é
possível utilizar a técnica da desconsideração da personalidade jurídica com
nova roupagem, de modo a atingir o patrimônio de todos os envolvidos”
Inf.: 513 - No caso de falência decretada antes do início da vigência da
Lei n. 11.101/2005, não é possível a realização de sustentação oral no
agravo de instrumento se, na data da sessão de julgamento, já não mais
vigorava o § 1º do art. 207 do Decreto-lei n. 7.661/1945, revogado pela
Lei n. 6.014/1973. A falência decretada antes da entrada em vigor da Lei n.
11.101/2005 deve seguir as regras contidas no Decreto-lei n. 7.661/1945. A
Lei n. 6.014/1973 excluiu o § 1º do art. 207 do referido decreto-lei, eliminando
a possibilidade de sustentação oral no julgamento do agravo de instrumento
em processo falimentar e determinando que, em tais processos, os
procedimentos e os prazos do agravo de instrumento deveriam observar as
normas contidas no CPC. Assim, se, na data da sessão de julgamento, já não

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 207

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mais vigorava o § 1º do art. 207 do Decreto-lei n. 7.661/1945, devem ser
aplicadas, subsidiariamente, as normas do CPC, que não autorizam a
realização de sustentação oral em agravo de instrumento.

12.3.5. Teoria expansiva

Visa à responsabilização do sócio oculto que vale de terceiros para a constituição de uma
pessoa jurídica, visando camuflar a sua real identidade de sócio e poder de controle. É também
possível visualizá-la quando “alguns “empresários” mal intencionados fecham uma porta e abrem
outra, às vezes para exercer a mesma atividade com uma nova roupagem, deixando para trás todo
um passivo que contribui para prejuízos ou mesmo a quebra de terceiros de boa-fé, além de
desfalcar os cofres públicos do pagamento dos tributos decorrentes do exercício de sua atividade,
através da simples constituição de uma nova empresa, com ou sem o uso de “laranjas”, para iniciar
um novo ciclo parasitário de utilização dos instrumentos jurídicos de proteção de seus patrimônios
pessoais, em prejuízo de toda a sociedade”.
O STF tratou desta modalidade no que MS 32494 MC DF, onde a decisão do TCU, que
aplicou a desconsideração expansiva para permitir que a Administração Pública se estendesse a
proibição de licitar proferida contra uma pessoa jurídica a outra constituída com os mesmos sócios
e mesmo endereço, foi suspensa.

12.4. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E O CPC/15

O novo CPC prevê em seus artigos 133 a 137 o chamado “incidente de desconsideração da
personalidade jurídica”, que poderá ocorrer em qualquer do processo de conhecimento,
cumprimento de sentença ou da execução.
Art. 133. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica será
instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber
intervir no processo.
§ 1o O pedido de desconsideração da personalidade jurídica observará os
pressupostos previstos em lei.
§ 2o Aplica-se o disposto neste Capítulo à hipótese de desconsideração
inversa da personalidade jurídica.
Art. 134. O incidente de desconsideração é cabível em todas as fases do
processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e na execução
fundada em título executivo extrajudicial.
§ 1o A instauração do incidente será imediatamente comunicada ao
distribuidor para as anotações devidas.
§ 2o Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da
personalidade jurídica for requerida na petição inicial, hipótese em que será
citado o sócio ou a pessoa jurídica.
§ 3o A instauração do incidente suspenderá o processo, salvo na hipótese do
§ 2o.
§ 4o O requerimento deve demonstrar o preenchimento dos pressupostos
legais específicos para desconsideração da personalidade jurídica.
Art. 135. Instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para
manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por
decisão interlocutória.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 208

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo interno.
Art. 137. Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração
de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao
requerente.

O §2° do artigo 133 passa a admitir expressamente a desconsideração inversa, que até
então não contava com previsão legal em nosso ordenamento jurídico.
Instaurado o incidente, o processo será suspenso, sendo o sócio ou a pessoa jurídica citada
para, no prazo comum de quinze dias, se manifestar e requerer as provas cabíveis. Após a
conclusão da instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória
impugnável por agravo de instrumento.
Acolhido o pedido de desconsideração, a alienação ou a oneração de bens, havida em
fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente.
Dispensa-se a instauração do incidente se a desconsideração da personalidade jurídica se
esta for requerida na própria petição inicial.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/RS (2021) Na medida em que o direito brasileiro adota a
desconsideração da personalidade jurídica o tema da tutela da integridade do
capital social mostra-se irrelevante, razão pela qual dele não se ocupa a
legislação federal vigente. Errada!

12.5. A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA E A MP DA LIBERDADE


ECONÔMICA

Por Pablo Stolze2.


Visando a imprimir um aspecto claro, preciso e objetivo a este texto, permitindo que o nosso
leitor compreenda as alterações decorrentes da Medida Provisória, cuidaremos de estabelecer uma
argumentação comparativa com a antiga redação do art. 50.
Pois bem, originalmente, a norma assim estava redigida:
Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo
desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a
requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações
sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da
pessoa jurídica.

Com a publicação da nova MP, a redação do caput passou a ser:


Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo
desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, pode o juiz, a requerimento
da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo,
desconsiderá-la para que os efeitos de certas e determinadas relações de
obrigações sejam estendidos aos bens particulares de administradores ou de

2
Disponível em: http://genjuridico.com.br/2019/05/06/a-medida-provisoria-da-liberdade-economica-e-a-
desconsideracao-da-personalidade-juridica-art-50-cc-primeiras-impressoes/

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 209

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sócios da pessoa jurídica beneficiados direta ou indiretamente pelo
abuso. (grifamos)

Houve a substituição do verbo decidir, o que não alterou o sentido do texto, dada opções
feita pelo legislador em adotar o verbo “desconsiderar”.
Andou muito bem o novo diploma ao acrescentar, no final do texto legal, a expressão
“beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso”, porquanto a desconsideração é instrumento de
imputação de responsabilidade, não podendo, por certo, sob pena de se ignorar a exigência do
próprio nexo causal, atingir sócio que não experimentou nenhum benefício (direito ou indireto) em
decorrência do ato abusivo perpetrado por outrem.
Ultrapassada a análise do caput, os parágrafos seguintes não constavam na redação original
do Código Civil:
§1º Para fins do disposto neste artigo, desvio de finalidade é a utilização
dolosa da pessoa jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática
de atos ilícitos de qualquer natureza.

Este parágrafo conceituou o desvio de finalidade.


A sua redação não nos agrada.
É tarefa primordial da doutrina firmar conceitos.
Mas, ainda que se obtempere que a definição trazida pelo legislador traria uma maior
segurança jurídica, por outro, a expressa menção à “utilização dolosa” como requisito para
caracterizar o desvio é, em nosso sentir, um retrocesso.
A desnecessidade de se comprovar o dolo específico – a intenção, o propósito, o desiderato
– daquele que, por meio da pessoa jurídica, perpetrou o ato abusivo, moldou a teoria objetiva, mais
afinada à nossa realidade socioeconômica e sensível à condição a priori mais vulnerável daquele
que, tendo o seu direito violado, invoca o instituto da desconsideração.
FÁBIO KONDER COMPARATO afirmava que a “desconsideração da personalidade jurídica
é operada como consequência de um desvio de função, ou disfunção, resultando, sem dúvida, as
mais das vezes, de abuso ou fraude, mas que nem sempre constitui um ato ilícito”[10].
Ora, a exigência do elemento subjetivo intencional (dolo) para caracterizar o desvio,
colocaria por terra o reconhecimento objetivo da tese da disfunção.
§2º Entende-se por confusão patrimonial a ausência de separação de fato
entre os patrimônios, caracterizada por:
I – cumprimento repetitivo pela sociedade de obrigações do sócio ou do
administrador ou vice-versa;
II – transferência de ativos ou de passivos sem efetivas contraprestações,
exceto o de valor proporcionalmente insignificante; e
III – outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial.

O inciso III, deste § 2º, ao mencionar, genericamente, que caracterizam a confusão


patrimonial “outros atos de descumprimento da autonomia patrimonial”, resultou por tornar
meramente exemplificativos os incisos anteriores.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 210

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Podem traduzir confusão patrimonial, por exemplo, a movimentação bancária em conta
individual do sócio para as operações habituais da sociedade, o lançamento direto como despesa
da pessoa jurídica de gastos pessoais do sócio ou administrador etc.
§3º O disposto no caput e nos § 1º e § 2º também se aplica à extensão das
obrigações de sócios ou de administradores à pessoa jurídica.

Em nossa visão, consagrou-se, aqui, a desconsideração inversa ou invertida, o que significa


ir ao patrimônio da pessoa jurídica, quando a pessoa física que a compõe esvazia fraudulentamente
o seu patrimônio pessoal.
Trata-se de uma visão desenvolvida notadamente nas relações de família, de forma original,
em que se visualiza, com frequência, a lamentável prática de algum dos cônjuges que, antecipando-
se ao divórcio, retira do patrimônio do casal bens que deveriam ser objeto de partilha, incorporando-
os na pessoa jurídica da qual é sócio, diminuindo o quinhão do outro consorte.
Nesta hipótese, pode-se vislumbrar a possibilidade de o magistrado desconsiderar a
autonomia patrimonial da pessoa jurídica, buscando bens que estão em seu próprio nome, para
responder por dívidas que não são suas e sim de seus sócios, o que tem sido aceito pela força
criativa da jurisprudência:
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO MONITÓRIA.
CONVERSÃO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. COBRANÇA.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS. TERCEIROS.
COMPROVAÇÃO DA EXISTÊNCIA DA SOCIEDADE. MEIO DE PROVA.
DESCONSIDERAÇÃO INVERSA DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
OCULTAÇÃO DO PATRIMÔNIO DO SÓCIO. INDÍCIOS DO ABUSO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. EXISTÊNCIA. INCIDENTE PROCESSUAL.
PROCESSAMENTO. PROVIMENTO. O propósito recursal é determinar se:
a) há provas suficientes da sociedade de fato supostamente existente entre
os recorridos; e b) existem elementos aptos a ensejar a instauração de
incidente de desconsideração inversa da personalidade jurídica. A existência
da sociedade pode ser demonstrada por terceiros por qualquer meio de
prova, inclusive indícios e presunções, nos termos do art. 987 do CC/02. A
personalidade jurídica e a separação patrimonial dela decorrente são véus
que devem proteger o patrimônio dos sócios ou da sociedade,
reciprocamente, na justa medida da finalidade para a qual a sociedade se
propõe a existir. Com a desconsideração inversa da personalidade jurídica,
busca-se impedir a prática de transferência de bens pelo sócio para a pessoa
jurídica sobre a qual detém controle, afastando-se momentaneamente o
manto fictício que separa o sócio da sociedade para buscar o patrimônio que,
embora conste no nome da sociedade, na realidade, pertence ao sócio
fraudador. No atual CPC, o exame do juiz a respeito da presença dos
pressupostos que autorizariam a medida de desconsideração, demonstrados
no requerimento inicial, permite a instauração de incidente e a suspensão do
processo em que formulado, devendo a decisão de desconsideração ser
precedida do efetivo contraditório. Na hipótese em exame, a recorrente
conseguiu demonstrar indícios de que o recorrido seria sócio e de que teria
transferido seu patrimônio para a sociedade de modo a ocultar seus bens do
alcance de seus credores, o que possibilita o recebimento do incidente de
desconsideração inversa da personalidade jurídica, que, pelo princípio do
tempus regit actum, deve seguir o rito estabelecido no CPC/15. Recurso
especial conhecido e provido. (STJ, REsp 1647362/SP, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 03/08/2017, DJe 10/08/2017)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 211

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O Código de Processo Civil de 2015 expressamente contemplou a possibilidade jurídica
desta modalidade de desconsideração, conforme se verifica do § 2.º do seu art. 133.

§4º A mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos


de que trata o caput não autoriza a desconsideração da personalidade da
pessoa jurídica.

Nada demais é dito aqui.


Nenhuma desconsideração poderá ser decretada, se os requisitos legais não forem
obedecidos.
Um detalhe, todavia, deve ser salientado.
Se, por um lado, a mera existência de grupo econômico sem a presença dos requisitos legais
não autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica, por outro, nada impede que,
uma vez observados tais pressupostos, o juiz decida, dentro de um mesmo grupo, pelo afastamento
de um ente controlado, para alcançar o patrimônio da pessoa jurídica controladora que, por meio
da primeira, cometeu um ato abusivo.
Trata-se da denominada desconsideração indireta, segundo MARCIO SOUZA:
A desconsideração da personalidade jurídica para alcançar quem está por trás dela não se
afigura suficiente, pois haverá outra ou outras integrantes das constelações societárias que também
têm por objetivo encobrir algum fraudador.(…)
A jurisprudência tem adotado tal posicionamento: “Hipótese em que o acórdão embargado
admitiu a aplicação da doutrina do “disregard of legal entity”, para impedir a fraude contra credores,
considerando válida penhora sobre bem pertencente a embargante, nos autos de execução
proposta contra a outra sociedade do mesmo grupo econômico.” No mesmo sentido: “Sendo as
empresas mera fachada de seu presidente comum, é de ser aplicado à hipótese a teoria da
“disregard”, agasalhada em nosso ordenamento, pelo art. 28, da Lei 8078/90 (Código de Defesa do
Consumidor).”
§5º Não constitui desvio de finalidade a mera expansão ou a alteração da
finalidade original da atividade econômica específica da pessoa jurídica.

Aqui, o desvio de finalidade – um dos requisitos para a desconsideração da personalidade


jurídica segundo o art. 50 – recebeu um segundo golpe (o primeiro decorreu da exigência do “dolo”
para a sua configuração, conforme o §1º já analisado acima).
Ao dispor que não constitui desvio de finalidade a “alteração da finalidade original da
atividade econômica específica da pessoa jurídica”, o legislador dificultou sobremaneira o seu
reconhecimento: aquele que “ expande” a finalidade da atividade exercida – como pretende a
primeira parte da norma – pode não desviar, mas aquele que “altera” a própria finalidade original da
atividade econômica da pessoa jurídica, muito provavelmente, desvia-se do seu propósito.
Caberá, portanto, neste ponto, à jurisprudência, estabelecer as balizas razoáveis de
interpretação para que o instituto da desconsideração não perca a sua eficácia, tão importante para
a salvaguarda do crédito no Brasil.

13. SOCIEDADE ANÔNIMA DO FUTEBOL - SAF

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 212

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13.1. CONCEITO

O conceito de SAF está previsto no art. 1º da Lei 14.193/2021, trata-se de uma sociedade
constituída na forma de sociedade anônima, possuindo como atividade principal o futebol feminino
e masculino, para participar de competições profissionais. Observe:
Art. 1º Constitui Sociedade Anônima do Futebol a companhia cuja atividade
principal consiste na prática do futebol, feminino e masculino, em competição
profissional, sujeita às regras específicas desta Lei e, subsidiariamente, às
disposições da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e da Lei nº 9.615,
de 24 de março de 1998.

13.2. CONSTITUIÇÃO

A constituição da SAF poderá ocorrer de três formas, quais sejam:


• pela transformação do clube ou pessoa jurídica original em Sociedade Anônima do
Futebol;
• pela cisão do departamento de futebol do clube ou pessoa jurídica original e
transferência do seu patrimônio relacionado à atividade futebol;
• pela iniciativa de pessoa natural ou jurídica ou de fundo de investimento.

13.3. OBJETO SOCIAL

O objeto da SAF poderá conter as seguintes atividades:

• o fomento e o desenvolvimento de atividades relacionadas com a prática do futebol,


obrigatoriamente nas suas modalidades feminino e masculino;

• a formação de atleta profissional de futebol, nas modalidades feminino e masculino,


e a obtenção de receitas decorrentes da transação dos seus direitos desportivos;

• a exploração, sob qualquer forma, dos direitos de propriedade intelectual de sua


titularidade ou dos quais seja cessionária, incluídos os cedidos pelo clube ou pessoa
jurídica original que a constituiu;

• a exploração de direitos de propriedade intelectual de terceiros, relacionados ao


futebol;

• a exploração econômica de ativos, inclusive imobiliários, sobre os quais detenha


direitos;

• quaisquer outras atividades conexas ao futebol e ao patrimônio da Sociedade


Anônima do Futebol, incluída a organização de espetáculos esportivos, sociais ou
culturais;

• a participação em outra sociedade, como sócio ou acionista, no território nacional,


cujo objeto seja uma ou mais das atividades mencionadas acima, com exceção da
formação de atleta profissional de futebol.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 213

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13.4. SUCESSÃO CONTRATUAL

A SAF irá suceder obrigatoriamente o clube ou pessoa jurídica original nas relações com as
entidades de administração, bem como nas relações contratuais, de qualquer natureza, com atletas
profissionais do futebol.

13.5. DISPUTA DE CAMPEONATOS

A Sociedade Anônima do Futebol terá o direito de participar de campeonatos, copas ou


torneios em substituição ao clube ou pessoa jurídica original, nas mesmas condições em que se
encontravam no momento da sucessão, competindo às entidades de administração a devida
substituição sem quaisquer prejuízos de ordem desportiva.

Além disso, o clube ou pessoa jurídica original não poderá participar, direta ou indiretamente,
de competições profissionais do futebol, sendo a participação prerrogativa da Sociedade Anônima
do Futebol por ele constituída.

13.6. TRANSFERÊNCIA DE PATRIMÔNIO

A transferência dos direitos e do patrimônio para a Sociedade Anônima do Futebol


independe de autorização ou consentimento de credores ou partes interessadas, inclusive aqueles
de natureza pública, salvo se disposto de modo diverso em contrato ou outro negócio jurídico.

13.7. AÇÕES ORDINÁRIAS DE CLASSE A

A Lei 14.193/2021 prevê que a SAF emitirá obrigatoriamente ações ordinárias (sempre terá
direito a voto) da classe A para subscrição exclusivamente pelo clube ou pessoa jurídica original
que a constituiu.
Quando as ações ordinárias da classe A corresponderem a pelo menos 10% do capital social
votante ou do capital social total, o voto afirmativo do seu titular no âmbito da assembleia geral será
condição necessária para a Sociedade Anônima do Futebol deliberar sobre:
• alienação, oneração, cessão, conferência, doação ou disposição de qualquer bem
imobiliário ou de direito de propriedade intelectual conferido pelo clube ou pessoa
jurídica original para formação do capital social;
• qualquer ato de reorganização societária ou empresarial, como fusão, cisão,
incorporação de ações, incorporação de outra sociedade ou trespasse;
• dissolução, liquidação e extinção; e
• participação em competição desportiva sobre a qual dispõe o art. 20 da Lei nº 9.615,
de 24 de março de 1998.
Além de outras matérias previstas no estatuto da Sociedade Anônima do Futebol, depende
da concordância do titular das ações ordinárias da classe A, independentemente do percentual da
participação no capital votante ou social, a deliberação, em qualquer órgão societário, sobre as
seguintes matérias:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 214

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• alteração da denominação;
• modificação dos signos identificativos da equipe de futebol profissional, incluídos
símbolo, brasão, marca, alcunha, hino e cores; e
• mudança da sede para outro Município.

13.8. GOVERNANÇA

Importante consignar que o acionista controlador da Sociedade Anônima do Futebol,


individual ou integrante de acordo de controle, não poderá deter participação, direta ou indireta, em
outra Sociedade Anônima do Futebol.
Na Sociedade Anônima do Futebol, o conselho de administração e o conselho fiscal são
órgãos de existência obrigatória e funcionamento permanente.

Obs.: o conselho de administração é obrigatório nos casos de


sociedade de economia mista, sociedade de capital autorizado e
companhia aberta. Apesar de não ser obrigatório na companhia
fechada, na SAF é obrigatório.

13.9. OBRIGAÇÕES DA SAF

Em regra, a SAF não responde pelas atividades do clube, exceto quanto às atividades
específicas do seu objeto social.
Art. 9º A Sociedade Anônima do Futebol não responde pelas obrigações do
clube ou pessoa jurídica original que a constituiu, anteriores ou posteriores à
data de sua constituição, exceto quanto às atividades específicas do seu
objeto social, e responde pelas obrigações que lhe forem transferidas
conforme disposto no § 2º do art. 2º desta Lei, cujo pagamento aos credores
se limitará à forma estabelecida no art. 10 desta Lei.
Parágrafo único. Com relação à dívida trabalhista, integram o rol dos credores
mencionados no caput deste artigo os atletas, membros da comissão técnica
e funcionários cuja atividade principal seja vinculada diretamente ao
departamento de futebol.

Art. 10. O clube ou pessoa jurídica original é responsável pelo pagamento


das obrigações anteriores à constituição da Sociedade Anônima do Futebol,
por meio de receitas próprias e das seguintes receitas que lhe serão
transferidas pela Sociedade Anônima do Futebol, quando constituída
exclusivamente:
I - por destinação de 20% (vinte por cento) das receitas correntes mensais
auferidas pela Sociedade Anônima do Futebol, conforme plano aprovado
pelos credores, nos termos do inciso I do caput do art. 13 desta Lei;
II - por destinação de 50% (cinquenta por cento) dos dividendos, dos juros
sobre o capital próprio ou de outra remuneração recebida desta, na condição
de acionista.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 215

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Salienta-se que enquanto o clube ou pessoa jurídica original cumprir os pagamentos
previstos, é vedada qualquer forma de constrição ao patrimônio ou às receitas, por penhora ou
ordem de bloqueio de valores de qualquer natureza ou espécie sobre as suas receitas.

13.10. FINANCIAMENTO DA SAF

A SAF pode emitir debêntures, que serão denominadas “debêntures-fut”, com as seguintes
características:
• remuneração por taxa de juros não inferior ao rendimento anualizado da caderneta
de poupança, permitida a estipulação, cumulativa, de remuneração variável,
vinculada ou referenciada às atividades ou ativos da Sociedade Anônima do Futebol;
• prazo igual ou superior a 2 (dois) anos;
• vedação à recompra da debênture-fut pela Sociedade Anônima do Futebol ou por
parte a ela relacionada e à liquidação antecipada por meio de resgate ou pré-
pagamento, salvo na forma a ser regulamentada pela Comissão de Valores
Mobiliários;
• pagamento periódico de rendimentos;
• registro das debênture-fut em sistema de registro devidamente autorizado pelo
Banco Central do Brasil ou pela Comissão de Valores Mobiliários, nas suas
respectivas áreas de competência.
Os recursos captados por meio de debêntures-fut deverão ser alocados no desenvolvimento
de atividades ou no pagamento de gastos, despesas ou dívidas relacionadas às atividades típicas
da Sociedade Anônima do Futebol previstas nesta Lei, bem como em seu estatuto social.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 216

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
TÍTULOS DE CRÉDITO

1. NOÇÕES GERAIS DE TÍTULOS DE CRÉDITOS

1.1. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

Não há uma legislação codificada acerca dos títulos de crédito. Perceba que a depender da
espécie de título de crédito será aplicado determinada lei.

Assim, tratando-se de:

• Letra de câmbio e nota promissória → aplica-se o Dec. 57.663/66 (Lei Uniforme de


Genebra - LUG).

• Duplicata → aplica-se a Lei 5.474/68.

• Cheque → aplica-se a Lei 7.357/85.

Salienta-se que o Código Civil possui capítulo específico acerca dos títulos de crédito (art.
887 ao art. 926). Diante disso, indaga-se: o CC será aplicado?

A simples leitura do art. 903 do CC esclarece a questão, observe:

Art. 903. Salvo disposição diversa em lei especial, regem-se os títulos de


crédito pelo disposto neste Código.

Perceba, portanto, que a aplicação do CC é SUBSIDIÁRIA.

De acordo André Santa Cruz, “as disposições do CC, em princípio não se aplicam aos títulos
de crédito nominados/típicos que possuem legislação especial. O CC funciona, pois, na parte
relativa aos títulos de crédito, como uma teoria geral para os chamados títulos atípicos ou
inominados, isto é, que não possuem lei específica”.

1.2. CONCEITO DE TÍTULOS DE CRÉDITO

Segundo Cesare Vivante, título de crédito é o documento necessário para o exercício do


direito LITERAL e AUTÔNOMO nele mencionado.

O CC, por sua vez, praticamente copiou o conceito de Vivante em seu art. 886:

Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito


literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha
os requisitos da lei.

Para Fabio Ulhôa, os títulos de crédito são documentos representativos de obrigações


pecuniárias. Não se confundem com a própria obrigação, mas se distinguem dela na exata medida
em que a REPRESENTAM.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 217

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A doutrina costuma dizer que os títulos de crédito são dotados de dois atributos especiais:
negociabilidade (facilidade na circulação/negociação do crédito) e executividade (maior
efetividade e celeridade na cobrança do crédito).

2. CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Utilizamos, aqui, as características apresentadas por André Santa Cruz, vejamos:

2.1. DOCUMENTOS FORMAIS

Devem observar os requisitos essenciais previstos na legislação cambiária.

2.2. BENS MÓVEIS

Seguem o que dispõem os arts. 82 a 84 do CC, sujeitando-se aos princípios que norteiam,
a circulação de bens móveis, como o que prescreve que a posse de boa-fé vale como propriedade.

2.3. TÍTULOS DE APRESENTAÇÃO

Por serem documentos necessários ao exercício dos direitos neles contidos.

2.4. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL

Por configurarem uma obrigação líquida e certa, nos termos do art. 784 do CPC.

2.5. OBRIGAÇÕES QUESÍVEIS

Cabe ao credor dirigir-se ao devedor para receber a importância devida. A emissão do título
e a sua entrega ao credor tem, em regra, natureza pro solvendo, ou seja, não implica novação no
que se refere à relação jurídica que deu origem ao título. Portanto, não irá se confundir com a
relação cambiária representada pelo título emitido.

STJ (RESp. 1745652) - 5- Em regra, a emissão do título de crédito é pro


solvendo, isto é, a simples entrega do título ao credor não significa a
efetivação do pagamento. 6- No entanto, terá natureza pro soluto quando
emitido e entregue ao beneficiário visando extinguir a obrigação que gerou a
sua criação, ou seja, quando dado em pagamento da relação causal.

2.6. TÍTULO DE RESGATE

A emissão pressupõe futuro pagamento em dinheiro que extinguirá a relação cambiária.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 218

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2.7. TÍTULO DE CIRCULAÇÃO

Objetiva a circulação de crédito.

3. PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Neste ponto, existem os seguintes princípios a serem estudados:


1) Princípio da cartularidade (princípio da incorporação, “documentos dispositivos”);
2) Princípio da literalidade;
3) Princípio da autonomia;
3.1) Subprincípio da inoponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa-fé;
3.2) Subprincípio da abstração;

3.1. PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE (PRINCÍPIO DA INCORPORAÇÃO, “DOCUMENTOS


DISPOSITIVOS”)

Cartularidade vem do latim “chartula”, que significa pequeno papel. O princípio da


cartularidade impõe que o crédito (obrigação pecuniária) deva estar materializado
(REPRESENTADO) em um documento (TÍTULO).

Por conta disso, para a transferência do crédito é imprescindível a transferência do título


(tradição), porquanto não há que se falar em exigibilidade do crédito sem a apresentação do
documento.

CC Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito


literal e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha os
requisitos da lei.

Quem tem a posse do documento é presumidamente considerado o credor da obrigação


nele representada, exatamente pelo princípio da cartularidade, podendo, quando do
inadimplemento, executá-lo judicialmente, uma vez que os títulos de crédito são considerados pela
lei processual como títulos executivos extrajudiciais (CPC/2015, art. 784, I).

Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:


I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture (tipo de
ações das sociedades anônimas) e o cheque;

Como decorrência da cartularidade, a execução só é possível mediante a apresentação do


documento original que representa o crédito na peça inicial da ação. Sequer se admite a cópia
autenticada.

Esse princípio, no entanto, vem sendo relativizado em razão dos modernos títulos de
créditos eletrônicos ou virtuais, expressamente previstos no art. 889, §3º do CC.

CC Art. 889. Deve o título de crédito conter a data da emissão, a indicação


precisa dos direitos que confere, e a assinatura do emitente.
§ 1o É à vista o título de crédito que não contenha indicação de vencimento.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 219

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
§ 2o Considera-se lugar de emissão e de pagamento, quando não indicado
no título, o domicílio do emitente.
§ 3o O título poderá ser emitido a partir dos caracteres criados em
computador ou meio técnico equivalente e que constem da escrituração do
emitente, observados os requisitos mínimos previstos neste artigo.

Nesses casos, por não existir a figura do documento; da cártula, do papel, diz-se que a
cartularidade é MITIGADA.

Enunciado 461 DA V JORNADA DE DIREITO CIVIL: “As duplicatas


eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão título
executivo extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de
protesto, acompanhado do comprovante de entrega das mercadorias ou de
prestação de serviços”.

Enunciado 462 DA V JORNADA DE DIREITO CIVIL: “Art. 889, § 3º: Os títulos


de crédito podem ser emitidos, aceitos, endossados ou avalizados
eletronicamente, mediante assinatura com certificação digital, respeitadas as
exceções previstas em lei.

Outra exceção ao princípio: Lei de Duplicatas (Lei 5.474/68), art. 13, §1º.

Lei 5.474/68 Art. 13, § 1º Por falta de aceite, de devolução ou de pagamento,


o protesto será tirado, conforme o caso, mediante apresentação da duplicata,
da triplicata (2ª via da duplicata), ou, ainda, por simples indicações do
portador, na falta de devolução do título.

Cartularidade é a materialização do título de crédito.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/SE (2022) Entre os princípios básicos que regem os títulos de crédito,
aquele que exige a existência material do título é o princípio da cartularidade.
Correta!

3.2. PRINCÍPIO DA LITERALIDADE

Pelo princípio da literalidade só tem eficácia para o direito cambiário o que está literalmente
constando (ESCRITO) do título de crédito (da cártula).

CC Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito


LITERAL e autônomo nele contido, somente produz efeito quando preencha
os requisitos da lei.

Segundo esse princípio, pode-se dizer que “O que não está no título não está no mundo
cambiário”. Um aval constituído fora da nota promissória, por exemplo, não produzirá os efeitos do
aval, podendo, no máximo, produzir efeitos na órbita do direito civil como fiança.

Objetivo da literalidade: assegurar certeza quanto à natureza, ao conteúdo e à modalidade


de prestação prometida ou ordenada.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 220

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Título sem mais espaço para endosso. O que fazer para negociá-lo? Prolongamento do
título.

Termo de quitação deve ser dado no título. Fora do título o termo de quitação não tem
validade para o Direto Cambiário. Garante, no máximo, uma ação de regresso contra o emissor do
termo, mas isso depois de o portador do título já ter executado e compelido o sujeito a pagar de
novo a obrigação.

Pagar sem exigir o termo de quitação no próprio título é exemplo de pagar mal. Quem paga
mal paga duas vezes.

Atenção!

Súmula 387 do STF: A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em


branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do
protesto.

Salienta-se que o Princípio da Literalidade NÃO se aplica integralmente às duplicatas, tendo


em vista que a quitação ocorre em separado (art. 9º) e pode ocorrer a compensação de valores não
previstos no título (art. 10).

Lei 5.474/68
Art. 9: “É lícito ao comprador resgatar a duplicata antes de aceitá-la ou antes
da data do vencimento.
§ 1º A prova do pagamento é o recibo, passado pelo legítimo portador ou por
seu representante com poderes especiais, no verso do próprio título ou em
documento, em separado, com referência expressa à duplicata.
§ 2º Constituirá, igualmente, prova de pagamento, total ou parcial, da
duplicata, a liquidação de cheque, a favor do estabelecimento endossatário,
no qual conste, no verso, que seu valor se destina a amortização ou
liquidação da duplicata nele caracterizada.

Art. 10: “No pagamento da duplicata poderão ser deduzidos quaisquer


créditos a favor do devedor resultantes de devolução de mercadorias,
diferenças de preço, enganos, verificados, pagamentos por conta e outros
motivos assemelhados, desde que devidamente autorizados

O STJ admite, em determinadas situações, a literalidade indireta. A duplicata, por ser um


título causal, permite a incidência da literalidade indireta, que autoriza a identificação de seus
elementos no documento da compra e venda mercantil ou da prestação de serviços que lhe serve
de ensejo. Mesmo sem a assinatura do sacador, fica evidente que o devedor tem a ciência de que
aquela obrigação também tem seus limites definidos em outro documento.

A assinatura do sacador/emitente da duplicata é requisito que pode ser


suprido por outro meio. STJ. 3ª Turma. REsp 1.790.004-PR, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 13/10/2020 (Info 681).

3.3. PRINCÍPIO DA AUTONOMIA

Pelo princípio da autonomia as relações jurídico-cambiais representadas por um título são


autônomas e independentes entre si. Uma relação não depende da outra. Ou seja, um eventual

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 221

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
vício em uma das relações representadas pelo título de crédito não tem o condão de comprometer
a validade ou eficácia das demais.

“Se o comprador de um bem a prazo emite nota promissória em favor do vendedor e este
pagar sua dívida, perante terceiro, transferindo a este o crédito representado pela nota promissória,
em sendo restituído o bem, por vício redibitório, ao vendedor, não se livrará o comprador de honrar
o título no seu vencimento junto ao terceiro portador. Deverá, ao contrário, pagá-lo e, em seguida,
demandar ressarcimento perante o vendedor do negócio frustrado”. (Fábio Ulhôa Coelho).

Exemplo: Tício (devedor) emite uma nota promissória para Caio, como pagamento de uma
casa. Caio transfere (endossa) a nota para Mévio, como pagamento de um iate. Verifica-se que
Tício é incapaz, ou seja, sua relação com Caio é inválida (Tício não poderia ter emitido um título).

Entretanto, isso não invalida a relação de Caio com Mévio (compra do iate), que é autônoma
e independente em relação à obrigação inválida. Mévio pode tranquilamente cobrar de Caio, pois
quando ele endossou o título se transformou em codevedor (ver abaixo endosso).
R1 R2
Tício Caio Mévio

R2 é totalmente independente de R1, por isso, Mévio pode perfeitamente cobrar de Caio.

Atenção!

Súmula 298 do STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de


crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.

O princípio da autonomia se desdobra em DOIS subprincípios:

3.3.1. Subprincípio da inoponibilidade de exceções pessoais a terceiros de boa-fé

Trata-se de uma garantia daquele que recebe um título como pagamento de ter seu crédito
satisfeito pelo devedor. Assim, não é dado ao devedor primário do título opor defesas processuais
contra outrem que não seja aquele a quem emitiu o título.

Exemplo: Caio vende celular para Renato. Renato paga com nota promissória (800 reais)
com vencimento em 30/03/2021. Caio (credor da venda do celular) transfere a nota para Maria, por
meio de endosso, como instrumento de compra de uma bicicleta. Na data do vencimento, Maria vai
atrás do Renato cobrando.

Suponhamos que o celular estivesse com um vício. O Renato não pode opor esse vício em
face do terceiro de boa-fé (Maria) para não pagar a dívida, como poderia fazer em face do Caio,
credor primitivo (em eventuais embargos à execução). Ao contrário, Renato deverá pagar o crédito
à Maria, e posteriormente demandar ressarcimento em face do Caio.

Essa é mais uma decorrência da autonomia. É uma garantia de pagamento daquele que
recebe um título de crédito. Se não houvesse essa garantia, ninguém se arriscaria a receber um
título de crédito como pagamento.

3.3.2. Subprincípio da abstração

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 222

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Por este subprincípio, com a circulação, o título de crédito se DESVINCULA do negócio
jurídico que lhe deu origem. Deste modo, o que autoriza a ação de execução é
EXCLUSIVAMENTE o título e não a obrigação que o gerou.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/PA (2019) A omissão de qualquer requisito legal, que tire ao escrito a sua
validade como título de crédito, implicará a invalidade também do negócio
jurídico que lhe tiver dado origem. Errada!

MPE/PI (2019) O princípio da autonomia preconiza que, para que o crédito


possa circular, a obrigação representada pelo título não dependa de mais
nada do que esteja escrito no documento, desvinculando-se o negócio
jurídico inicialmente firmado da cártula originada. Correta!

3.4. CONCLUSÃO

Com efeito, existe todo um aparato jurídico armado (o regime jurídico-cambial) que garante
ao comerciante credor receber com segurança o valor constante num título que lhe tenha sido
transferido. Vejamos:

• Aquela pessoa que lhe transfere o título (o seu devedor) não poderá cobrá-lo mais
(PRINCÍPIO DA CARTULARIDADE);

• Todas as relações jurídicas que poderão interferir com o crédito adquirido são
apenas aquelas que constam, expressamente, do título e nenhuma outra
(PRINCÍPIO DA LITERALIDADE);

• Nenhuma exceção pertinente à relação da qual ele não tenha participado terá
eficácia jurídica quando da cobrança do título (PRINCÍPIO DA AUTONOMIA,
INOPONIBILIDADE CONTRA TERCEIROS, ABSTRAÇÃO).

Tendo, então, todas estas garantias, o comerciante se sentirá seguro em receber, em


pagamento de seu crédito, um título de responsabilidade de um desconhecido. Desta forma, o
direito protege o próprio crédito comercial e possibilita a sua circulação com mais facilidade e
segurança, contribuindo para o desenvolvimento da atividade comercial. Trata-se de exemplo de
determinação jurídica do modo de produção (Ulhôa).

4. CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

4.1. QUANTO ÀS HIPÓTESES DE EMISSÃO: CAUSAL E NÃO CAUSAL

4.1.1. Causal

Somente podem ser emitidos nas hipóteses (causas) autorizadas por lei. É o caso da
duplicata mercantil, que pode ser emitida quando se tratar de: a) Compra e venda mercantil ou;
b) Prestação de serviços.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 223

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4.1.2. Não-causal (abstratos)

A sua emissão não depende de causa específica, razão pela qual servem para documentar
diversos tipos de negócio. Ex.: Cheque.

4.2. QUANTO AO MODELO: VINCULADO OU LIVRE

4.2.1. Modelo Livre

É o título que não tem padronização definida em lei, podendo adotar qualquer forma, desde
que obedecidos os REQUISITOS legais. Exemplo: Letra de câmbio. Nota promissória, que pode
ser feita em qualquer pedaço de papel.

4.2.2. Modelo Vinculado

É o título que tem padronização definida em lei. Exemplo: Duplicata mercantil e cheque.

4.3. QUANTO À SUA CIRCULAÇÃO (DUAS CLASSIFICAÇÕES)

4.3.1. Classificação clássica/tradicional: ao portador ou nominativo.

1) Título ao portador: É aquele que NÃO identifica o beneficiário/credor, portanto


transferível por mera tradição.

2) Título nominativo: É aquele que IDENTIFICA o beneficiário, portanto sua transferência


pressupõe, além da tradição, a ocorrência de outro ato jurídico.

Desde a Lei 8.088/90 não se admite mais a emissão de títulos ao portador, EXCETO se com
previsão expressa em lei especial. Exemplo de lei especial: A Lei 9.069/95 (Lei que instituiu o plano
real) permite que cheque de valor igual ou inferior a 100 reais possa ser emitido ao portador.
OBS1: Circulação dos títulos.
1) O título ao portador circula por mera tradição (entrega).

2) O título nominativo, além da tradição, depende de outro ato jurídico, que varia conforme
a espécie de título nominativo tratada:
2.1) Título nominativo À ORDEM: circula por meio de endosso.
2.2) Título nominativo NÃO À ORDEM: circula por meio de cessão civil de crédito.

OBS2: Endosso X Cessão civil. Endosso e cessão civil são atos jurídicos trasladadores da
titularidade de crédito que se diferenciam quanto aos efeitos, basicamente em dois aspectos: quanto
à extensão da responsabilidade do alienante (endossante) do crédito perante o adquirente
(endossatário) e quanto aos limites de defesa do devedor (sacado) em face da execução do crédito
pelo adquirente (endossatário).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 224

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ASPECTO 01 (extensão da responsabilidade do alienante (endossante/cedente): Quem
endossa um título responde não só pela sua existência, mas também pelo seu pagamento
(solvência, pro solvendo). Em outros termos, se o devedor (sacado) não paga o título, o tomador
pode cobrar e executar o endossante.
Na cessão civil o cedente responde, em regra, tão-somente pela existência do título (pro
soluto), nos termos do art. 296 do Código Civil (cessão de crédito).
CC Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela
SOLVÊNCIA do devedor (somente pela existência do crédito).

Exemplo: Renato paga Maria com cheque clonado ou uma duplicata fria (vício de existência).
Nesse caso, sendo transferido por endosso ou cessão, Renato vai responder pelo título (pois
responde não só pela solvência, como pela existência dele).
Outro exemplo: Renato paga com cheque autêntico, porém sem fundos. Se o cheque foi
transferido por endosso, o endossante (Renato) pode ser executado. Se o cheque foi transferido
por cessão civil, o cedente (Renato) não responde pelo pagamento.
Para quem recebe um cheque, é mais garantido receber por endosso. Por conta disso, há
uma presunção de que os títulos nominativos são ‘À ORDEM’, ou seja, transferíveis por endosso.
Para que o título seja ‘não à ordem’ deve haver expressa menção no título.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/TO (2022) Títulos nominativos são aqueles em que há expressa
identificação do seu credor, de modo que a validade de sua transferência
depende de endosso. Errada!

ASPECTO 02: limites de defesa do devedor (sacado/cedido):

O devedor poderá defender-se, quando executado pelo cessionário, arguindo matérias


atinentes a sua relação jurídica com o cedente (CC, art. 294), mas não poderá defender-se, quando
executado pelo endossatário, arguindo matérias atinentes a sua relação jurídica com o endossante
(princípio da autonomia das obrigações cambiais e subprincípio da inoponibilidade das exceções
pessoais aos terceiros de boa-fé, referidos no art. 17 da LU e 916 do CC).
LU Art. 17. As pessoas acionadas em virtude de uma letra não podem opor
ao portador exceções fundadas sobre as relações pessoais delas com o
sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador ao adquirir
a letra tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor.

CC Art. 294. O devedor pode opor ao CESSIONÁRIO as exceções que lhe


competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter conhecimento
da cessão, tinha contra o cedente. (Cessão de crédito)

Art. 916. As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores


precedentes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao
adquirir o título, tiver agido de má-fé. (Endosso)

Para transferência de um cheque é suficiente o endosso. ERRADO. É necessária também


a tradição.
Conclusão: O endosso, tal qual a cessão civil, somente se aperfeiçoam com a TRADIÇÃO.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 225

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4.3.2. Classificação moderna (CC/2002): ao portador, nominativo e nominal

1) Título ao portador: Não identifica o beneficiário, transferível por tradição (CC, art. 904).

Art. 904. A transferência de título AO PORTADOR se faz por simples


tradição.

2) Título nominativo: Tem acepção diversa da classificação tradicional. É título nominativo o


emitido em favor de pessoa cujo nome conste no registro do emitente (art. 921 do CC).

O nome do credor não está no título (como na classificação acima), mas sim no registro do
emitente. Essa regra do Código Civil teria aplicação aos títulos que viessem a surgir após 2002. Na
prática, não tem qualquer aplicação. Esse título nominativo pode circular por termo ou endosso.
Art. 921. É título NOMINATIVO o emitido em favor de pessoa cujo nome
conste no registro do emitente.

3) Nominal (à ordem): É o título nominativo à ordem da classificação tradicional, transferível


por meio de endosso.

4.4. QUANTO À ESTRUTURA: ORDEM DE PAGAMENTO OU PROMESSA DE PAGAMENTO

4.4.1. ORDEM de pagamento

Um sujeito dá uma ordem para que interposta pessoa efetue o pagamento a um terceiro
beneficiário. Existem, aqui, TRÊS figuras distintas:
1) O Sujeito que dá a ordem de pagamento, sacador; correntista.
2) O Sujeito que recebe a ordem (destinatário da ordem), sacado; banco.
3) O beneficiário/tomador da ordem. Aquele que vai ao caixa descontar o cheque.

Exemplo: duplicata; letra de câmbio; cheque.

4.4.2. PROMESSA de pagamento

O próprio devedor se compromete a pagar determinado valor ao beneficiário. DUAS figuras:


1) Promitente; (“sacador/sacado”).
2) Tomador/beneficiário (aquele que vai ao caixa descontar).

Exemplo: nota promissória.

5. ENDOSSO: TRANSFERÊNCIA DO DIREITO DO TÍTULO DE CRÉDITO

5.1. CONCEITO

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 226

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Endosso é o ato jurídico pelo qual o credor de um título crédito nominativo (‘nominal’), com
a cláusula à ordem, TRANSMITE o direito ao valor constante no título à outra pessoa, sendo
acompanhado da tradição da cártula.

5.2. EFEITOS DO ENDOSSO

• Transferência da titularidade do crédito do tomador/endossante (Caio) para o


endossatário (Daniel).
• Tornar o endossante codevedor do título de crédito. Passa a ser corresponsável ao
pagamento do título. Se na data do vencimento o endossatário (Daniel) for cobrar do
sacado (Renato) e ele não pagar, Daniel pode executar qualquer um dos codevedores
(sacado – Renato; sacador – Maria; tomador/endossante - Caio).
O endosso é dado no VERSO do título, bastando para tanto uma simples assinatura. No
entanto, também é possível a realização do endosso no ANVERSO do título, caso no qual, além da
assinatura, é necessária uma expressão identificadora do endosso (exemplo: pague-se a...,
endosso a..., transfiro a...). Não confundir com o ACEITE que é dado com assinatura no ANVERSO.
Não há qualquer limite para o número de endossos de um título de crédito (no cheque existia
limite – ver adiante); ele pode ser endossado diversas vezes, como pode, simplesmente, não ser
endossado.

5.3. MODALIDADES DE ENDOSSO

Existem as seguintes modalidades de endosso:


1) Endosso em branco;
2) Endosso em preto;
3) Endosso póstumo;
4) Endosso impróprio:
4.1) Endosso-mandato (por procuração);
4.2) Endosso-caução (pignoratício);
5) Endosso "sem garantia".

Vejamos cada uma destas espécies.

5.3.1. Endosso em branco

É aquele em que NÃO está identificado o endossatário. Ocorre aqui a transformação de um


título nominativo em um título ao portador.
De acordo com André Santa Cruz, o beneficiário do endosso em branco pode tomar três
atitudes, quais sejam:
• Transformá-lo em endosso em preto, completando-o com seu nome ou de terceiros;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 227

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• Endossar novamente o título, em branco ou em preto. Aqui, o endossatário, ao realizar
o endosso, passa a integrar a cadeia de codevedores, responsabilizando-se pelo
adimplemento da obrigação constante no título.
• Transferir o título sem praticar novo endosso, ou seja, por mera tradição da cártula. Aqui,
o endossatário transfere o crédito sem assumir nenhuma responsabilidade pelo seu
adimplemento, já que não pratica novo endosso.

5.3.2. Endosso em preto

É aquele em que está identificado o endossatário (exemplo: pague-se a fulano).


Endosso PARCIAL existe? O endossante pode transferir pelo endosso só uma parte do
valor constante no título? NEGATIVO. O endosso parcial é nulo, até porque a transferência do título
exige além do endosso a tradição. Não é possível entregar apenas parte da cártula para o
endossatário (LU, art. 12; CC, art. 912, parágrafo único). Não confundir com o aceite (visto acima)
parcial, que é válido.
CC Art. 912. Considera-se não escrita no endosso qualquer condição a que
o subordine o endossante.
Parágrafo único. É NULO o endosso parcial.

LU Art. 12. O endosso deve ser puro e simples. Qualquer condição a que ele
seja subordinado considera-se como não escrita. O endosso parcial é NULO.
O endosso ao portador vale como endosso em branco.

Por outro lado, o ENDOSSO CONDICIONAL, em que a transferência do crédito fica


subordinada a alguma condição, resolutiva ou suspensiva, não é nulo, mas referida condição será
ineficaz, porque a lei a considera não escrita (art. 12)

5.3.3. Endosso póstumo

É o endosso dado DEPOIS do VENCIMENTO e do PROTESTO do título. Nesse caso, não


produz os efeitos de endosso, mas sim da cessão civil de crédito.

O endosso póstumo não se confunde com o endosso dado depois do vencimento, mas
ANTES do PROTESTO. Este último é um endosso comum, produzindo todos os efeitos a ele
inerentes.

Como vimos, o endosso tem como efeito atribuir ao endossante a responsabilidade pela
existência e solvência do crédito (é uma transmissão pro solvendo), conforme a disposição das
leis especiais nesse sentido.

ATENÇÃO: O CC, em seu art. 914, prevê efeito diverso para o endosso: responsabilidade
apenas pela existência e não pela solvência do crédito (tal como a cessão civil de crédito – pro
soluto). Não esquecer: O CC só se aplica no silêncio da lei especial (CC, art. 903). Consequência
prática: Esse dispositivo do CC/2002 não tem aplicação.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 228

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CC Art. 914. Ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do
endosso, não responde o endossante pelo cumprimento da prestação
constante do título.

Esse endosso que vimos até aqui é chamado pela doutrina de ENDOSSO TRANSLATIVO
ou PRÓPRIO (para concurso é somente endosso).

OBS1: súmula do 475 STJ

STJ Súmula 475: Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o


endossatário que recebe por endosso translativo título de crédito contendo
vício formal extrínseco ou intrínseco, ficando ressalvado seu direito de
regresso contra os endossantes e avalistas.

Explicando a súmula: “B”, empresa do ramo de vendas, emitiu uma duplicata (título de
crédito) por conta de mercadorias que seriam vendidas a “A”. Ocorre que o negócio jurídico acabou
não sendo concretizado (não existiu). Mesmo sem ter existido o negócio jurídico, “B” emitiu a
duplicata (sem causa) e, além disso, fez o endosso translativo desse título para “C” (banco).

Como visto, o endosso translativo (também chamado de endosso próprio), é o ato cambiário
por meio do qual o endossante transfere ao endossatário o título de crédito e, em consequência, os
direitos nele incorporados. Em outras palavras, “B” transmitiu a “C” seu suposto crédito que teria
em relação a “A”.

Ocorre que “A” recusou aceite a essa duplicata.

Diante disso, “C” apresentou a duplicata para ser protestada pelo tabelionato de protesto, o
que foi feito. Assim, “A” foi intimado pelo tabelião de protesto, a pedido de “C” para que pagasse a
duplicata. Como “A” não pagou, foi inscrito no SPC e SERASA.

“A” quer ajuizar ação de cancelamento de protesto cumulada com reparação por
danos morais. Quem deverá ser réu nessa ação? Quem é o responsável por esse protesto
indevido, “B” (que emitiu a duplicata) ou “C” (que recebeu a duplicata mediante endosso)?

Resposta: “C”.

Responde pelos danos decorrentes de protesto indevido o endossatário (“C”) que recebe
por endosso translativo título de crédito (no caso, uma duplicata) contendo vício formal extrínseco
ou intrínseco (no caso, a ausência de compra e venda).

Caso o endossatário (“C”), que levou o título a protesto indevidamente, seja condenado a
pagar a indenização, terá direito de cobrar esse valor pago (direito de regresso) contra o endossante
(no caso, “B”) e eventuais avalistas do título de crédito.

O endossatário que recebe, por endosso translativo, título de crédito contendo vício formal,
sendo inexistente a causa para conferir lastro à emissão de duplicata, responde pelos danos
causados diante de protesto indevido, ressalvado seu direito de regresso contra os endossantes e
avalistas.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 229

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Como o tema foi cobrado em concurso?
TJ/PR (2019) Em caso de endosso translativo, o endossatário que responder
por dano decorrente de protesto indevido de título com vício formal tem direito
de regresso contra endossantes e avalistas. Correta!

5.3.4. Endosso impróprio

A doutrina menciona, ainda, uma quarta espécie de endosso: ENDOSSO IMPRÓPRIO. É


chamado impróprio, pois não tem como efeito a transferência da titularidade do crédito (o
endossante continua credor). O efeito do endosso impróprio é a LEGITIMAÇÃO DA POSSE do
terceiro que detém a cártula, permitindo assim o exercício dos direitos representados na cártula.

Duas são as modalidades de endosso impróprio:


• Endosso-mandato (por procuração);
• Endosso-caução (pignoratício).
Vejamos:

1) Endosso-mandato (por procuração)

É utilizado para transferir poderes e autorizar um TERCEIRO a exercer os direitos inerentes


ao título (sem transferir a titularidade). Exemplo: o endossante contrata um banco para efetuar a
cobrança do crédito. Para legitimar a posse do banco sobre seu título, bem como a cobrança, é
realizado o endosso mandato.

Como fazer o endosso mandato? Acrescentar a expressão: ‘para cobrança’ ou ‘por


procuração’. Se o sacado realiza o pagamento ao detentor do título, sem a presença do endosso-
mandato, não se desobrigará do débito (quem paga mal paga duas vezes).

O art. 917 do CC disciplina o endosso-mandato.

CC Art. 917. A cláusula constitutiva de mandato, lançada no endosso, confere


ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título, salvo restrição
expressamente estatuída.
§ 1º O endossatário de endosso-mandato só pode endossar novamente o
título na qualidade de procurador, com os mesmos poderes que recebeu.
§ 2º Com a morte ou a superveniente incapacidade do endossante, não perde
eficácia o endosso-mandato.
§ 3º Pode o devedor opor ao endossatário de endosso-mandato somente as
exceções que tiver contra o endossante.

OBS: 476 Súmula do STJ.

STJ Súmula 476: O endossatário de título de crédito por endosso-mandato


só responde por danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os
poderes de mandatário.

Explicando a súmula: O endossatário recebe o título de crédito apenas para efetuar a


cobrança do valor nele mencionado e dar a respectiva quitação; após a cobrança, o endossatário
deverá devolver o dinheiro ao endossante, descontada sua remuneração por esse serviço.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 230

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“B”, empresa do ramo de vendas, emitiu uma duplicata (título de crédito) por conta de
mercadorias vendidas a “A”. “B”, após emitir a duplicata, fez o endosso-mandato desse título para
“C” (banco), a fim de que este efetuasse a cobrança do valor de “A”.

Ocorre que “A” recusou o pagamento dessa duplicata alegando que já havia pagado. Mesmo
assim, “C” apresentou a duplicata para ser protestada pelo tabelionato de protesto, o que foi feito.
Assim, “A” foi intimado pelo tabelião de protesto, a pedido de “C” para que pagasse a duplicata.
Como “A” não pagou, foi inscrito no SPC e SERASA.

“A” quer ajuizar ação de cancelamento de protesto cumulada com reparação por danos
morais. Quem deverá ser réu nessa ação? Quem é o responsável por esse protesto indevido (“B”
ou “C”)?

Resposta: como regra, “B” (endossante). “C” (endossatário de endosso-mandato) somente


responderá se ficar provado que EXTRAPOLOU os poderes de mandatário.

No endosso-mandato, o endossatário não age em nome próprio, mas sim em nome do


endossante.

Exemplo em que o endossatário responderia: diante da resposta do devedor de que já havia


pagado o débito, o endossante solicitou ao endossatário que aguardasse para protestar o título
somente após conferir se houve realmente a quitação. O endossatário, descumprindo essa
determinação, realizou o protesto imediatamente, mesmo sem aguardar essa conferência.

2) Endosso-caução (pignoratício)

É o instrumento adequado para a instituição de penhor sobre o título de crédito. Usa-se a


expressão: ‘para penhor’ ou ‘para garantia’. É a forma de dar um título de crédito como garantia.

No endosso-caução, o crédito não se transfere para o endossatário, que é investido na


qualidade de credor pignoratício do endossante. Cumprida a obrigação garantida pelo penhor, deve
a letra retornar à posse do endossante. Somente na eventualidade de não cumprimento da
obrigação garantida, é que o endossatário por endosso-caução se apropria do crédito representado
pela letra. O endossatário por endosso-caução não pode endossar o título, salvo para praticar o
endosso-mandato (LU, art. 19; CC, art. 918).

LU Art. 19. Quando o endosso contém a menção "valor em garantia", "valor


em penhor" ou qualquer outra menção que implique uma caução, o portador
pode exercer todos os direitos emergentes da letra, mas um endosso feito por
ele só vale como endosso a título de procuração. Para cobrança!
[...]

CC Art. 918. A cláusula constitutiva de penhor, lançada no endosso, confere


ao endossatário o exercício dos direitos inerentes ao título.
§ 1o O endossatário de endosso-penhor só pode endossar novamente o título
na qualidade de procurador.

5.3.5. Endosso “sem garantia”

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 231

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Por fim, há o endosso que não produz o efeito de vincular o endossante ao pagamento do
título: trata-se do chamado endosso "sem garantia", previsto no art. 15 da LU. Com esta cláusula,
o endossante transfere a titularidade da letra, sem se obrigar ao seu pagamento. A regra, como
visto, é a da vinculação do endossante (lembre-se que o art. 914 do CC não se aplica em razão do
art. 903 do mesmo Código). O ato do endossante de inserir no endosso a cláusula "sem garantia",
porém, afasta a vinculação prevista na lei especial.

LUG Art. 15. O endossante, salvo cláusula em contrário (pode ser


estabelecido pro soluto), é garante tanto da aceitação como do pagamento
da letra (regra: pro solvendo). O endossante pode proibir um novo endosso,
e, neste caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a letra for
posteriormente endossada.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/PA (2019) O endossatário-pignoratício poderá endossar novamente o
título apenas mediante endosso-mandato. Correta!

TJ/SC (2019) A aposição de cláusula proibitiva de endosso no título de crédito


é considerada pelo Código Civil como não escrita. Correta!

6. AVAL: GARANTIA DO PAGAMENTO DO TÍTULO DE CRÉDITO

6.1. CONCEITO

É a declaração cambiária decorrente de uma manifestação unilateral de vontade pela qual


uma pessoa física ou jurídica, assume a obrigação cambiária autônoma e incondicional de garantir
no vencimento o pagamento do título nas condições nele estabelecidas. Duas figuras existem no
instituto do aval:
1) Avalista: É aquele que garante o pagamento do título de crédito em favor do devedor
principal ou de um corresponsável.

2) Avalizado: É devedor ou corresponsável que tem a obrigação de pagar o crédito garantido


pelo avalista.

Obrigação autônoma: A relação do avalista com o credor do título é autônoma a do


avalizado com o credor. Vale dizer, mesmo que o avalizado venha a morrer, falir ou tornar-se
incapaz, permanece a obrigação do avalista para com o tomador do título.
CC Art. 899. O avalista equipara-se àquele cujo nome indicar; na falta de
indicação, ao emitente ou devedor final.
§ 1° Pagando o título, tem o avalista ação de regresso contra o seu avalizado
e demais coobrigados anteriores.
§ 2o Subsiste a responsabilidade do avalista, ainda que NULA a obrigação
daquele a quem se equipara, A MENOS QUE a nulidade decorra de VÍCIO
DE FORMA.

O avalista que garante antecipadamente a dívida do sacado responde por ela até mesmo se
este não vier a dar o ACEITE.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 232

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Exemplo: Daniel (endossatário), ao receber o título de Caio (tomador ou beneficiário/
endossante), exige uma garantia a mais. Então, Caio pede para o Gugu ser seu avalista. Gugu dá
o aval. Se o sacado (devedor principal - Renato) não pagar, Daniel pode cobrar de qualquer dos
codevedores, dentre eles o avalista do Renato (sacado), Gugu (avalista).

6.2. COMO É FEITO O AVAL?

Como é feito o aval? Tem que lembrar o endosso.


Endosso pode ser no VERSO (simples assinatura) ou no ANVERSO (assinatura +
expressão identificadora). Lembrando: o aceite é só assinatura no anverso.
O AVAL, por sua vez, deve ser dado de forma inversa: no ANVERSO (simples assinatura)
ou VERSO (assinatura + expressão identificadora).

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SC (2019) Determinado título de crédito foi emitido com eficácia sujeita às
normas previstas no Código Civil, não sendo aplicável, na espécie, nenhuma
norma especial. A respeito desse título, é correto afirmar que será possível a
realização do aval, que será válido com a simples assinatura do avalista no
anverso do título. Correta!

6.3. ESPÉCIES DE AVAL

Tal como no endosso, existe o AVAL EM PRETO (identifica o avalizado) e o AVAL EM


BRANCO (não identifica o avalizado).
Quando o aval é em branco, garante-se aquele que CRIOU o título (e não o devedor
principal: sacado - Renato), ou seja, o sacador (Maria), nos termos do art. 31 da LU.
Art. 31. [...] O aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta de
indicação, entender-se-á pelo sacador.

Há ainda: o AVAL SIMULTÂNEO ocorre quando todos os avalistas garantem o mesmo


avalizado; AVAL SUCESSIVO ocorre quando temos avais superpostos, ou seja, um avalista
garante outro avalista.
Súmula 189 do STF: A existência de avais em branco superpostos implica em garantia
simultânea (os obrigados são coavalistas do sacador) e não sucessiva (os obrigados não são
avalistas de avalistas).
SÚMULA Nº 189 AVAIS EM BRANCO E SUPERPOSTOS CONSIDERAM-
SE SIMULTÂNEOS E NÃO SUCESSIVOS.

É possível também a realização de AVAL PARCIAL, em que somente PARTE do crédito é


garantida, nos termos do art. 30 da LU. (Perceber que o endosso parcial não é permitido,
entretanto, o aceite parcial é permitido. Lógica: no endosso, o título é passado a diante. Tem como
‘rasgar’ o título para passar somente parte dele? Tendo em vista dentre outras razões, o princípio
da Cartularidade, não. Já o aceite pode ser limitativo ou modificativo (quem está aceitando pagar
pode querer pagar parte ou de forma diversa). Então, no aval parcial, o avalista pode garantir parte
apenas da obrigação contida no título, afinal ele não fica com esse título, apenas garante).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 233

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LUG Art. 30. O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em parte
garantido por aval. Esta garantia é dada por um terceiro ou mesmo por um
signatário da letra.

OBS: O CC, em seu art. 897, parágrafo único diz que é VEDADO o
aval parcial. Mais uma vez ressaltamos: dada a subsidiariedade do
CC, tal regra não tem aplicação prática.

CC Art. 897. O pagamento de título de crédito, que contenha obrigação de


pagar soma determinada, pode ser garantido por aval.
Parágrafo único. É vedado o aval parcial. Vale para os casos de títulos de
créditos inominados, os quais são regidos pelas normas do CC. Aos títulos
de crédito que possuem regramento próprio esta regra não se aplica.

O aval dado depois de vencimento e do protesto possui os MESMOS EFEITOS do aval dado
antes. Não confundir com o endosso póstumo, o qual produzirá os efeitos da cessão civil de
crédito. Lógica: no aval o avalista está garantindo a obrigação cambiária contida no título, no
endosso, o endossante é quem foi sujeito de uma obrigação e pagou endossando o título de crédito.
O avalista deve continuar garantindo a dívida, afinal: é uma obrigação autônoma. No caso do
endosso, não pode o criador do título ficar para sempre obrigado à dívida do endosso, por isso,
depois de vencido e protestado, terá direito a se defender como se o título tivesse sido repassado
por cessão civil.

DICA: Quem dá aval é amigo. Sendo amigo, assina somente na FRENTE (anverso). Se ele
é amigo, é amigo antes, durante ou depois (aval produz efeitos antes, durante e depois do
vencimento e protesto).

6.4. AUTORIZAÇÃO DO CÔNJUGE

O art. 1.647 do CC prevê que o aval precisa de autorização do cônjuge, tal regra aplica-se
aos títulos existentes quando a lei especial não tratava do assunto. Assim, a ausência da
autorização do cônjuge na prestação do aval, era causa de nulidade.
O STJ, em mudança de entendimento, passou a entender que a regra do art. 1.647 do CC
aplica-se apenas aos títulos de créditos atípicos/inominados. Os títulos existentes, regulados
em leis especiais, não sofrerão a incidência do inciso III do referido artigo.
Vejamos a explicação do Dizer o Direito no Informativo 604 do STJ.
O art. 1.647, III, do Código Civil de 2002 previu que uma pessoa casada
somente pode prestar aval se houver autorização do seu cônjuge (exceção:
se o regime de bens for da separação absoluta). Essa norma exige uma
interpretação razoável e restritiva, sob pena de descaracterizar o aval como
instituto cambiário. Diante disso, o STJ afirmou que esse art. 1.647, III, do CC
somente é aplicado para os títulos de créditos inominados, considerando que
eles são regidos pelo Código Civil. Por outro lado, os títulos de créditos
nominados (típicos), que são regidos por leis especiais, não precisam
obedecer a essa regra do art. 1.647, III, do CC. Em suma, o aval dado aos
títulos de créditos nominados (típicos) prescinde de outorga uxória ou marital.
Exemplos de títulos de créditos nominados: letra de câmbio, nota promissória,
cheque, duplicata, cédulas e notas de crédito.

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STJ. 3ª Turma. REsp 1526560-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino,
julgado em 16/3/2017 (Info 604).
STJ. 4ª Turma. REsp 1633399-SP, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em
10/11/2016.

Conforme já explicado, no que tange aos títulos de crédito nominados, o Código Civil tem
uma aplicação apenas subsidiária, respeitando-se as disposições especiais, pois o objetivo básico
da regulamentação dos títulos de crédito, no Código Civil, foi apenas o de permitir a criação dos
denominados títulos atípicos ou inominados.
Assim, não deve ser aplicado art. 1.647, III, do CC aos títulos nominados porque esta regra
é incompatível com as características dos títulos de crédito típicos.
A exigência de autorização do cônjuge do avalista enfraquece a garantia dos títulos de
crédito, gerando intranquilidade e insegurança. O aval consiste em uma declaração unilateral de
vontade inserida no próprio título por meio da qual o avalista declara garantir o pagamento do valor
inscrito no título. É, portanto, um instituto comercial muito mais ágil e informal do que a fiança, que
é feita por intermédio de contrato.
A outorga uxória ou marital é compatível com o contrato de fiança, mas não com o aval que,
como dito, é uma declaração unilateral. O portador do título de crédito, em regra, não tem contato
algum com o avalista e, menos ainda, com algum documento de identificação deste por meio do
qual possa descobrir seu estado civil.

6.5. AVAL X FIANÇA

AVAL FIANÇA
Só pode ser dado em título de crédito. Só pode ser dada em contrato.
Aval é autônomo
OBS: Em caso de morte, incapacidade ou falência
Fiança é acessória.
do avalizado, o avalista continua responsável.
Extinto o contrato, extinta a fiança.
Ainda que nula a obrigação a garantia permanece,
exceto se o vício for de forma.
Aval não possui benefício de ordem. Fiança possui benefício de ordem.
O credor pode executar direto o avalista.

7. LETRA DE CÂMBIO (REGRAS GERAIS DOS TÍTULOS DE CRÉDITOS)

7.1. INTRODUÇÃO

De início, vale lembrar que no estudo da letra de câmbio trataremos das REGRAS GERAIS
de constituição, transferência e exigibilidade do crédito cambiário. No estudo das demais espécies
de títulos de crédito restará apenas o trato daquilo que for especial em relação ao regramento geral
aplicado às letras de câmbio.

7.2. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 235

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Parte da Lei Uniforme de Genebra - LUG, parte do Dec. 2.044/1908 e, subsidiariamente o
CC.

7.3. CONCEITO

A letra de câmbio é um título de crédito decorrente de relações de crédito, entre dois ou mais
sujeitos, pelo qual o denominado SACADOR dá a ordem de pagamento, pura e simples, a outrem
denominado sacado, a seu favor (do sacador) ou de terceira pessoa (tomador/beneficiário), no valor
e nas condições dela constantes.
Percebe-se que a letra de câmbio constitui uma ordem de pagamento, que conta com a
presença de três figuras, como veremos no seguinte exemplo:
1) Dá a ordem – sacador (Maria).
2) Recebe a ordem – sacado (Renato).
3) Tomador/beneficiário (Caio).

7.4. REQUISITOS

São requisitos da letra de câmbio necessários (quando ausentes o título não será
considerado uma letra de câmbio):

• Palavra “letra” inserta no próprio texto do título, deve estar escrita na língua empregada
para a redação desse título;

• Uma ordem incondicional de pagar uma quantia determinada;

• Nome daquele que deve pagar (sacado);

• Nome do tomador;

• Assinatura do sacador;

• Data do saque;

• Lugar do saque;

Há ainda dois requisitos acidentais ou supríveis:

• Época do pagamento, na sua ausência entende-se como sendo à vista;

• Lugar em que se deve efetuar o pagamento, na sua ausência o pagamento será feito no
domicílio do sacado.

7.5. SAQUE E ACEITE

7.5.1. Noções gerais

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Valor da operação 10.000 reais, com vencimento em 30/03/2022.
Quando Maria cria/emite o título, ela realiza o ato cambial chamado de SAQUE. O ato de
criação/emissão é chamado de saque.
O saque é o movimento que coloca o título em circulação, realizado pelo SACADOR. Aquele
que recebe a ordem de pagamento é o SACADO.
Quem fica com a ordem de pagamento (letra de câmbio) é o TOMADOR (Caio), que
apresenta o título ao Renato (sacado). Feito isso, caberá ao Renato concordar ou não em pagar a
ordem no dia aprazado. Quando Renato concorda, ele dá o chamado ACEITE.
Portanto, aceite é o ato de concordância com a ordem de pagamento dada. Ato PRIVATIVO
do sacado.
O aceite corresponde à simples assinatura do sacado no ANVERSO (frente) do título.
IMPORTANTE: A ordem de pagamento dada pelo SACADOR (Maria) também pode ter ela
própria como tomador/beneficiário (Lei Uniforme, art. 3º). Exemplo: sacador emite uma letra de
câmbio tendo ele mesmo como beneficiário. Após a emissão, deve apresentar a letra para o aceite
do sacado. Se o sacado aceita, deverá realizar o pagamento na data do vencimento do título.
LUG Art. 3º - A letra pode ser a ordem do próprio sacador. Pode ser
sacada sobre o próprio sacador. Pode ser sacada por ordem e conta de
terceiro.

Também é possível que o SACADOR ocupe a posição de SACADO. É o caso do sacador


que emite um título no qual ele próprio se obriga a pagar certo valor ao tomador após dar o aceite
(LU, art. 3º).
O sacado é obrigado a dar o ACEITE? NÃO. Na letra de câmbio o aceite é ato
FACULTATIVO, ou seja, o sacado poderá recusar o aceite, parcial ou totalmente.
A recusa PARCIAL pode ocorrer na forma de ACEITE LIMITATIVO (aceita pagar parte do
título) ou MODIFICATIVO (aceita pagar o título em condições distintas).

7.5.2. Efeitos da recusa do aceite (total ou parcial)

• Torna o SACADOR (Maria) o devedor principal;


• Provoca o vencimento antecipado do título (o título que venceria em 30/03, vencerá no
momento da recusa do aceite), nos termos do art. 43 da LU.
LUG Art. 43. O portador de uma letra pode exercer os seus direitos de ação
contra os endossantes, sacador e outros coobrigados: no vencimento; se o
pagamento não foi efetuado; mesmo antes do vencimento:
1º) se houve recusa total ou parcial de aceite;

OBS: É possível incluir na letra de câmbio a chamada CLÁUSULA NÃO ACEITÁVEL, que
veda que o tomador (Caio) apresente o título para aceite do sacado (Renato), permitindo que o título
seja apresentado apenas na data do vencimento, não para o aceite do Renato, mas sim para que
efetue o pagamento. Se o sacado (Renato) não paga, o sacador (Maria) se torna o devedor principal
(mesmo efeito da recusa do aceite). Essa cláusula não é cabível em qualquer caso (LU, art.
22).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 237

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LUG Art. 22. O sacador pode, em qualquer letra, estipular que ela será
apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo. Doutrina Vinculada.
Pode proibir na própria letra a sua apresentação ao aceite, salvo se se
tratar de uma letra pagável em domicilio de terceiro, ou de uma letra pagável
em localidade diferente da do domicílio do sacado, ou de uma letra sacada a
certo termo de vista.

7.5.3. Efeitos do aceite

Quando o sacado (Renato) dá o aceite, ele se torna o DEVEDOR PRINCIPAL DO TÍTULO


de crédito. Ato contínuo, o sacador (Maria) passa a ser o CODEVEDOR (corresponsável) do título.
Vencido e não pago o título (aceito) pelo Renato (sacado), Caio (tomador) poderá cobrar do
sacador e posteriormente ingressar com uma execução contra qualquer dos devedores. Cabe ao
credor escolher o executado.
REGRA: O credor pode executar um, alguns ou todos os devedores. Sempre quem escolhe
é o credor.
Caso Caio (tomador) execute Maria (sacador), esta será obrigada a pagar. No entanto, como
Maria não é a devedora principal do título, terá direito de regresso contra o Renato (sacado).
De outra forma, se Caio (tomador) executa somente o Renato (sacado), este não terá
qualquer direito de regresso, porquanto se trata do devedor principal do título (a partir do momento
do aceite).

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/RS (2022) A nota promissória e o cheque não admitem a figura do aceite,
mas admitem as figuras do endosso, do aval e do protesto. Correta!

TJ/BA (2019) João era o sacado de uma letra de câmbio no valor de mil reais,
com vencimento previsto para 31/12/2018. Em 1.º/11/2018, ao receber o título
para aceite, ele discordou do valor e declarou no anverso que aceitaria pagar
somente quinhentos reais. Nessa situação hipotética, o aceite foi parcial e
limitativo, com a possibilidade de execução do título após a recusa parcial,
com vencimento antecipado do título. Correta!

7.5.4. Prazo de respiro

Apresentado o título ao sacado, este tem o direito de pedir que ele lhe seja reapresentado
no dia seguinte, nos termos do art. 24 da LU. É o chamado PRAZO DE RESPIRO, que se destina
a possibilitar ao sacado a realização de consultas ou a meditação acerca da conveniência de aceitar
ou recusar o título (art. 24).
LU Art. 24. O sacado pode pedir que a letra lhe seja apresentada uma
segunda vez no dia seguinte ao da primeira apresentação. Os
interessados somente podem ser admitidos a pretender que não foi dada
satisfação a este pedido no caso de ele figurar no protesto. O portador não é
obrigado a deixar nas mãos do aceitante a letra apresentada ao aceite.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 238

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Realizado o aceite pelo sacado (tornando-o devedor principal), duas possibilidades se abrem
para o tomador:
• Esperar até a data de vencimento para receber o pagamento ou;
• Transferir o título para um terceiro.
A transferência se dá através do chamado ENDOSSO, em que o tomador é o designado
endossante (ou endossador) enquanto o terceiro que recebe o título é o designado endossatário.

7.6. EXIGIBILIDADE DA LETRA DE CÂMBIO

Para tornar-se exigível o crédito cambiário contra o devedor principal (aceitante), basta o
vencimento do título; já em relação aos coobrigados (endossantes e sacador), é necessária, ainda,
a negativa de pagamento do título vencido por parte do devedor principal.
Em virtude do princípio da literalidade, a comprovação deste fato deve ser feita por
PROTESTO do título, o qual se consubstancia, então, em CONDIÇÃO da exigibilidade do crédito
cambiário contra os coobrigados. O protesto do título também é condição de exigibilidade deste
crédito, nos mesmos termos, na hipótese de recusa do aceite. Para produzir este efeito, contudo,
o protesto deve ser providenciado pelo credor dentro de um prazo estabelecido por lei.
O coobrigado que paga o título de crédito tem o direito de regresso contra o devedor principal
e contra os coobrigados anteriores. As obrigações representadas por um título de crédito só se
extinguem, todas, com o pagamento, pelo aceitante, do valor do crédito. Para se localizarem os
coobrigados na cadeia de anterioridade das obrigações cambiais, adotam-se os seguintes critérios:
1) O SACADOR da letra de câmbio é ANTERIOR aos endossantes;

2) Os ENDOSSANTES são dispostos, na cadeia, segundo o critério cronológico;

3) O AVALISTA se insere na cadeia em posição imediatamente posterior ao respectivo


avalizado.

Organizando os devedores de um título de crédito, de acordo com estes critérios, na cadeia


de anterioridade, será possível definir quem, dentre eles, é credor, em regresso, de quem.

7.7. TIPOS DE VENCIMENTO DE UMA LETRA DE CÂMBIO

1) À vista: aquela que é exigível de imediato. Logo após o saque.

2) Data certa: vence em 30/03/2022 → exemplo acima.

3) A certo termo da vista: É o vencimento que se dá num determinado número de dias contados
da data do aceite, que é o termo a quo.

DICA: Hasta la vista aceite. Neste último, não é possível a inclusão da cláusula não aceitável,
visto que o vencimento pressupõe o aceite.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 239

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4) A certo termo da data: É o vencimento que se dá em determinado número de dias, contados
da data de emissão do título (saque), que é o termo a quo.

7.8. PROTESTO DA LETRA DE CÂMBIO

A falta de aceite, de data do aceite ou de pagamento de uma letra de câmbio deve ser
provada por protesto cambial, que é ato formal de responsabilidade do portador do título.

1) Protesto por falta de ACEITE: Ocorre quando há recusa do aceite pelo sacado. Nesse caso,
o protesto é dirigido ao sacador, a quem caberá pagar o crédito (se torna o devedor
principal). Antecipa o vencimento.

2) Protesto por falta de DATA do aceite: Extraído contra o aceitante, destinado às letras de
câmbio a certo termo de vista, nas quais não conste a data do aceite.

3) Protesto por falta de PAGAMENTO: Extraído contra o aceitante, trata-se de requisito para a
manutenção do direito de cobrança em face dos demais codevedores (protesto necessário).

7.9. PRAZO PRESCRICIONAL

• Devedor principal (sacado quando dá o aceite) – três anos, contados do vencimento;

• Codevedor (sacado/endossante) – um ano, contado do protesto.

Caso ocorra a prescrição, apesar da perda da natureza cambial, o valor poderá ser cobrado
em cinco anos, já que a letra de câmbio prescrita será considerada como um instrumento particular
de dívida.

7.10. GRÁFICO: LETRA DE CÂMBIO

8. NOTA PROMISSÓRIA

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 240

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8.1. CONCEITO

A nota promissória é uma promessa de pagamento que uma pessoa faz em favor de outra.
Com o saque da nota promissória, surgem dois personagens distintos:
• Promitente (emitente/subscritor/sacador): Aquele que promete pagar.
• Tomador/beneficiário: O credor do valor prometido.
São apenas quatro artigos sobre nota promissória no Dec 57.663/66.
Tudo que vimos até agora sobre letra de câmbio se aplica às notas promissórias, SALVO as
seguintes diferenças:
• Não há aceite;
• Formas de vencimento;
• Súmula 258 do STJ: nota promissória e contrato de abertura de crédito.
• Súmula 504 do STJ: ação monitória
Vejamos:

8.2. NÃO HÁ ACEITE NA NOTA PROMISSÓRIA

Nota promissória não é ordem de pagamento, mas sim promessa de pagamento. Em


decorrência disso, não há que se falar em aceite (se não há ordem, não há o que se aceitar), nem
em seus institutos decorrentes, tais como vencimento antecipado por recusa de aceite, cláusula não
aceitável etc.

8.3. FORMAS DE VENCIMENTO DA NOTA PROMISSÓRIA

São possíveis as quatro formas de vencimento da letra de câmbio. Quando o prazo for a
certo termo de vista, o marco inicial logicamente não é o aceite, mas sim o visto do subscritor (art.
23). O tomador deve apresentar a nota para o visto do subscritor num prazo de 01 ano do saque. A
partir do visto, conta-se o prazo de vencimento “a certo termo de vista”.
LUG Art. 23. As letras a certo termo de vista devem ser apresentadas ao
aceite dentro do prazo de 1 (um) ano das suas datas. O sacador pode reduzir
este prazo ou estipular um prazo maior. Esses prazos podem ser reduzidos
pelos endossantes.

8.4. SÚMULA 258 DO STJ: NOTA PROMISSÓRIA E CONTRATO DE ABERTURA DE


CRÉDITO

Súmula 258 do STJ: “A nota promissória vinculada a contrato de abertura de


crédito não goza de autonomia em razão da ILIQUIDEZ do título que a
originou”.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 241

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O que acontecia: O banco exigia uma nota promissória do devedor que abria um crédito no
banco (cujo contrato não raras vezes era constituído de juros sobre juros e outros abusos).
Posteriormente, endossava a nota, de forma que nem ele (o banco) e nem o endossatário tivesse
que discutir com o devedor a origem da dívida (juros abusivos etc.). Assim, quem sempre saía
prejudicado era o devedor, que era executado pelo endossatário sem poder se defender dos abusos
praticados pelo banco.
O que diz a Súmula: tudo que seria possível discutir com o Banco em sede de embargos à
execução também é possível de ser discutido em sede de embargos à execução promovida pelo
terceiro endossatário.

Obs1: a nota promissória, vinculada ao contrato de mútuo bancário,


não perde sua executoriedade – STJ. Veja: mútuo e não abertura de
crédito (que é ilíquido).
Obs2 (André Santa Cruz): quando a nota promissória for emitida em
vinculação a um determinado contrato, não apenas os bancários, tal
fato deve constar expressamente do título. Sendo assim, fica
descaracterizada a abstração/autonomia do título já que o terceiro
está consciente da relação de origem e de que contra ele poderão ser
opostas exceções ligadas ao referido contrato. O título passa a ter uma
ligação intrínseca com o contrato, podendo dizer, grosso modo, que o
acessório seguirá o principal.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/CE (2020) A mera vinculação de nota promissória a contrato de abertura
de crédito não é apta a retirar a autonomia do referido título cambial. Errada!

8.5. SÚMULA 504 DO STJ

SÚMULA 504-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do


emitente de nota promissória sem força executiva é quinquenal, a contar do
dia seguinte ao vencimento do título.

A nota promissória é um título executivo extrajudicial (art. 784, I, do CPC/2015).

Assim, se não for paga, poderá ser ajuizada ação de execução cobrando o valor.

Qual é o prazo prescricional para a execução da nota promissória contra o emitente e o


avalista? 3 anos (art. 70 da Lei Uniforme).

Mesmo que tenha passado esse prazo e a nota promissória tenha perdido sua força
executiva (esteja prescrita), ainda assim será possível a sua cobrança? SIM, por meio de ação
monitória.

Qual é o prazo máximo para ajuizar a ação monitória de nota promissória prescrita? 5 anos,
com base no art. art. 206, § 5º, I, CC:

Art. 206. Prescreve:


§ 5º Em cinco anos:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 242

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I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento
público ou particular;

A nota promissória prescrita é considerada um instrumento particular que representa uma


obrigação líquida. Logo, enquadra-se no dispositivo acima.

Qual é o termo inicial desse prazo, isto é, a partir de quando ele é contado? O prazo de 5
anos para a ação monitória é contado do dia seguinte ao vencimento do título.

O prazo prescricional de 5 (cinco) anos a que submetida a ação monitória se


inicia, de acordo com o princípio da actio nata, na data em que se torna
possível o ajuizamento desta ação. (...) o credor, mesmo munido de título de
crédito com força executiva, não está impedido de cobrar a dívida
representada nesse título por meio de ação de conhecimento ou mesmo de
monitória. É de se concluir que o prazo prescricional da ação monitória
fundada em título de crédito (prescrito ou não prescrito), começa a fluir no dia
seguinte ao do vencimento do título. (...) STJ 3ª Turma. REsp 1367362/DF,
Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 16/04/2013.

8.6. REQUISITOS

Assim como a letra de câmbio, a nota promissória apresenta requisitos essenciais (ausência
retira a natureza cambial – deixa de ser um título executivo extrajudicial) e requisitos supríveis ou
acidentais.

São requisitos essenciais:

• Expressão nota promissória;

• Uma promessa incondicional de pagar quantia determinada;

• Nome do tomador (beneficiário);

• Data do saque;

• Assinatura do subscritor;

• Lugar do saque.

São requisitos supríveis:

• Lugar do pagamento, na falta será o domicílio do subscritor;

• Época do pagamento, sua falta torna à vista.

8.7. GRÁFICO: NOTA PROMISSÓRIA

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 243

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9. DUPLICATA (Lei 5.474/68)

9.1. CONCEITO

Duplicata é um título de crédito à ordem extraído pelo vendedor ou prestador de serviços,


que visa a documentar o saque fundado sobre crédito decorrente de compra e venda mercantil
ou prestação de serviço, que tem como pressuposto a extração de uma fatura.
É um título CAUSAL, ou seja, só pode ser emitido para representar créditos previstos em
Lei, quais sejam: compra e venda mercantil e prestação de serviços. É possível emitir duplicata
para cobrar aluguel? Não, pois não é uma das causas previstas em lei.
Exemplo: Empresa ‘A’ de elevadores resolve adquirir aço da empresa ‘B’ (compra e venda
mercantil). A empresa ‘A’ é a compradora; a empresa ‘B’ é a vendedora.
OBS: Toda vez que se tem operação de compra e venda mercantil ou prestação de serviço
a lei obriga a emissão da chamada fatura (a NF-fatura, para quem a usa, é obrigatória; a fatura
comum é obrigatória nos contratos a prazo não inferior a 30 dias).
Por fatura entende-se a relação pormenorizada das mercadorias vendidas ou dos serviços
prestados. Do crédito representado nessa fatura PODERÁ ser extraída uma duplicata. Ou seja, a
emissão de duplicata não é obrigatória e sempre decorre de uma fatura.
Aqui três figuras novamente:
1) Sacador: Vendedor ou prestador.
2) Sacado: Comprador ou beneficiário do serviço prestado.
3) Tomador/beneficiário: Vendedor ou prestador.
O sacador é o vendedor. Ele dá uma ordem (emite a duplicata) para quem comprou a
mercadoria efetuar o pagamento. Como o pagamento deve ser realizado a ele mesmo, o próprio
vendedor/sacador será o tomador/beneficiário.
No caso do prestador de serviço é a mesma coisa. O prestador dá uma ordem para quem
recebeu a prestação pagar para ele (vendedor) o valor correspondente ao serviço prestado.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 244

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IMPORTANTE: Se o comprador do aço resolve pagar em 05 prestações, deverão ser emitidas
05 duplicatas, ou 01 duplicata que represente as 05 parcelas. Entretanto, o que jamais é possível é
existir uma ÚNICA duplicata representativa de mais de uma fatura.

9.2. ACEITE DA DUPLICATA

9.2.1. Obrigatoriedade do aceite

Na duplicata, o aceite do devedor/sacado é ato obrigatório (ao contrário da letra de câmbio).


É o único título de crédito no qual o aceite é obrigatório. (Como seria possível ao próprio comprador
se negar a pagar pelo que comprou?).

9.2.2. Hipóteses legais que permitem a recusa do aceite (art. 8º)

Lei 5.474/68 Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por


motivo de:
I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não
entregues por sua conta e risco;
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das
mercadorias, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

• Em caso de avaria/não recebimento da mercadoria ou de não prestação dos serviços.


• Vício/defeito de quantidade ou qualidade do produto ou serviço.
• Divergências quanto ao prazo, preço e condições de pagamento.
Emitida a duplicata, o sacador tem 30 DIAS para remetê-la ao sacado. Se for À VISTA, o
sacado, ao recebê-la, deve realizar o pagamento; se for a PRAZO, terá prazo de 10 DIAS para
devolver a duplicata ao sacador com o devido ACEITE ou com as razões motivadoras da recusa do
aceite.

9.2.3. Categorias de aceite (em virtude do caráter obrigatório)

Em função do seu caráter obrigatório, o aceite da duplicata mercantil pode ser discriminado
em três categorias:
• Aceite ORDINÁRIO/PLENO/OSTENSIVO — resulta da assinatura do comprador aposta
no local apropriado do título de crédito.
• Aceite por COMUNICAÇÃO — resulta da retenção da duplicata mercantil pelo
comprador autorizado por eventual instituição financeira cobradora, com a comunicação,
por escrito, ao vendedor, de seu aceite.
• Aceite por PRESUNÇÃO — resulta do recebimento das mercadorias pelo comprador,
desde que não tenha havido causa legal motivadora de recusa, com ou sem devolução
do título ao vendedor.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 245

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9.3. ENDOSSO NA DUPLICATA

Idem à letra de câmbio.

9.4. AVAL NA DUPLICATA

Idem à letra de câmbio.


Peculiaridade: Aval em branco garante o obrigado cuja assinatura estiver acima da do
avalista. Em não existindo assinatura acima, garante-se o Comprador.

9.5. VENCIMENTO DA DUPLICATA

• À vista;
• Data certa;

9.6. MODALIDADES DE PROTESTO DE UMA DUPLICATA (ART. 13)

• Por falta de aceite: quando o sacado não dá o aceite e tampouco oferece as razões da
recusa.
• Por falta de devolução: Quando no prazo de 10 dias o sacado não devolve o título.
• Por falta de pagamento: sacado dá o aceite e devolve o título, porém na data do
vencimento não honra o aceite; não paga a dívida.
Se o devedor não restitui a duplicata ao credor, o protesto (qualquer deles) deve se dar por
indicações do credor fornecidas ao cartório de protesto (art. 13, §1º, ‘in fine’). Usualmente, no
entanto, tem-se admitido a emissão de TRIPLICATA para esse fim, apesar de a lei não trazer essa
previsão (ver triplicata abaixo).

Lei 5.474/68. Art. 13. A duplicata é protestável por falta de aceite de


devolução ou pagamento.
§ 1º Por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, o protesto será tirado,
conforme o caso, mediante apresentação da duplicata, da triplicata, ou, ainda,
por simples indicações do portador, na falta de devolução do título.

O protesto deve ser feito nos 30 DIAS subsequentes ao vencimento da duplicata. A


inobservância do prazo legal importa a perda, por parte do credor, do direito creditício contra os
coobrigados, vale dizer, os endossantes e seus avalistas. Contra o devedor principal do título —
o sacado — e seu avalista, não é necessário o protesto, ou seja, a inobservância do prazo de 30
dias a contar do vencimento para se promover o protesto da duplicata não importa a perda do direito
creditício contra o comprador das mercadorias e eventual avalista (art. 13, §§ 3º e 4º).
Lei 5.474/68 Art. 13 § 3º O protesto será tirado na praça de pagamento
constante do título.
§ 4º O portador que não tirar o protesto da duplicata, em forma regular e
dentro do prazo de 30 (trinta) dias, contado da data de seu vencimento,

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 246

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
perderá o direito de regresso contra os endossantes e respectivos
avalistas.

OBS: No caso de falta de aceite do devedor principal, o protesto se faz necessário para
executá-lo, porém pode ser feito a qualquer tempo.

9.7. PERDA OU EXTRAVIO DE DUPLICATA (ART. 23)

Deverá o vendedor extrair uma segunda via da duplicata, a denominada triplicata.


Lei 5.474/68 Art. 23. A perda ou extravio da duplicata obrigará o vendedor
a extrair TRIPLICATA, que terá os mesmos efeitos e requisitos e obedecerá
às mesmas formalidades daquela.

9.8. FURTO OU ROUBO DE DUPLICATA

O título deve ser cancelado.

9.9. É POSSÍVEL EXECUÇÃO DE DUPLICATA SEM ACEITE?

Nos termos do art. 15, II da Lei 5.474/68 é possível, desde que:


• Haja prévio protesto (sem exigência do prazo legal dos 30 dias);
• Exista comprovante da entrega da mercadoria ou da prestação do serviço
OBS: O simples contrato de compra e venda ou de prestação de serviços não é idôneo para
comprovar a entrega ou prestação do serviço.
Lei 5.474/68 Art. 15 - A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será
efetuada de conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos
extrajudiciais, de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil ,quando
se tratar:
l - de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não;
II - de duplicata ou triplicata NÃO ACEITA, contanto que, cumulativamente:
a) haja sido protestada;
b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e
recebimento da mercadoria; e
c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas
condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º desta Lei.

Art. 7º A duplicata, quando não for à vista, deverá ser devolvida pelo
comprador ao apresentante dentro do prazo de 10 (dez) dias, contado da data
de sua apresentação, devidamente assinada ou acompanhada de
declaração, por escrito, contendo as razões da falta do aceite.
§ 1º Havendo expressa concordância da instituição financeira cobradora, o
sacado poderá reter a duplicata em seu poder até a data do vencimento,
desde que comunique, por escrito, à apresentante o aceite e a retenção.
§ 2º - A comunicação de que trata o parágrafo anterior substituirá, quando
necessário, no ato do protesto ou na execução judicial, a duplicata a que se
refere.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 247

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não
entregues por sua conta e risco;
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das
mercadorias, devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

§ 1º - Contra o sacador, os endossantes e respectivos avalistas caberá o


processo de execução referido neste artigo, quaisquer que sejam a forma e
as condições do protesto.
§ 2º - Processar-se-á também da mesma maneira a execução de duplicata
ou triplicata não aceita e não devolvida, desde que haja sido protestada
mediante indicações do credor ou do apresentante do título, nos termos do
art. 14, preenchidas as condições do inciso II deste artigo.

“Conhecimento de transporte”: É o documento que comprova que a mercadoria foi entregue.


Já a comprovação da prestação de serviços vai depender do caso concreto.
Esses comprovantes somente são necessários para a constituição do título executivo
(juntamente com o protesto) quando se tratar de ação cambial oferecida em face do devedor
principal/sacado (comprador da mercadoria) ou seu avalista.
Quando a execução se der em face de um codevedor, basta para constituição do título
executivo o protesto realizado no prazo legal (30 dias).

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2019) A duplicata mercantil é título de aceite obrigatório e somente
poderá ser recusado em caso de desistência do negócio por parte do
comprador, no prazo de 15 dias após a entrega das mercadorias. Errada!

9.10. DUPLICADA VIRTUAL E SUA EXECUTIVIDADE

➔ Questão: admitem-se duplicatas virtuais?

O STJ considera válida a duplicata virtual.


As duplicatas virtuais, emitidas e recebidas por meio magnético ou de gravação eletrônica,
podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título não é imprescindível
para o ajuizamento da execução, conforme previsto no art. 8º, parágrafo único, da Lei n.
9492/1997.
Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual devidamente acompanhados
dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da
prestação dos serviços suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em
princípio, títulos executivos extrajudiciais.

Como visto, toda duplicata sempre terá origem em uma fatura.


Fatura: a fatura é o documento que descreve a compra e venda mercantil ou a prestação de
serviços. Na fatura constam a descrição e os preços dos produtos vendidos ou do serviço prestado.
A fatura não é título de crédito. O título é a duplicata, que é emitida a partir de uma fatura. A fatura
apenas prova a existência do contrato.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 248

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Exemplo: o distribuidor X vendeu para a loja Y setenta pares de sapatos. O distribuidor X
(vendedor) extrai uma fatura dos produtos e emite uma duplicata mercantil dando uma ordem à loja
Y (compradora) para que ela pague ao próprio vendedor o preço dos pares de sapato e eventuais
encargos contratuais.
Uma duplicata só pode corresponder a uma única fatura (art. 2°, § 2°, da Lei).
Remessa da duplicata para aceite:
Aceite é o ato por meio do qual o sacado se obriga a pagar o crédito constante do título na
data do vencimento. Assim, emitida a duplicata, nos 30 dias seguintes, o sacador (quem emitiu o
título) deve remeter o título ao sacado (comprador ou tomador dos serviços) para que ele assine a
duplicata no campo próprio para o aceite, restituindo-a ao sacador no prazo de 10 dias.
Conforme já mencionado, o aceite na duplicata é obrigatório: o título documenta uma
obrigação surgida a partir de um contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços.
Desse modo, se o vendedor/prestador do serviço, que no caso foi o sacador, cumpriu as suas
obrigações contratuais, não há motivo para o devedor recusar o aceite. A doutrina afirma que o
aceite na duplicata é, em regra, obrigatório, somente podendo ser recusado nas hipóteses previstas
nos arts. 8º e 21 da Lei n. 5.474/68.
E o protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião de protesto,
com a finalidade de provar:
• A inadimplência do devedor;
• O descumprimento de obrigação constante de título de crédito; ou
• Qualquer outro ato importante relacionado com o título (ex: falta de aceite).
No caso da duplicata, para que serve o protesto? O protesto poderá servir para provar
três situações distintas:
• A falta de pagamento;
• A falta de aceite da duplicata;
• A falta de devolução da duplicata;
Protesto por indicações: O procedimento para que haja o protesto de um título de crédito
é, resumidamente, o seguinte:
• O credor leva o título até o tabelionato de protesto e faz a apresentação, pedindo que
haja o protesto e informando os dados e endereço do devedor;
• O tabelião de protesto examina os caracteres formais do título;
• Se o título não apresentar vícios formais, o tabelião realiza a intimação do suposto
devedor no endereço apresentado pelo credor;
• A intimação é realizada para que o apontado devedor, no prazo de 3 dias, pague ou
providencie a sustação do protesto antes de ele ser lavrado;
• Se o devedor ficar inerte ou tentar e não conseguir sustar o protesto, será lavrado e
registrado o protesto.
O procedimento do protesto da duplicata é exatamente este acima explicado, havendo, no
entanto, uma diferença: o chamado protesto por indicações.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 249

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Como vimos acima, na etapa 1, para que haja o protesto é necessário que o credor leve o
título original. Assim, em regra, para o protesto de títulos de crédito, exige-se a apresentação do
original em razão do princípio da cartularidade.
Ocorre que, como já vimos também, existe a possibilidade de o sacado (comprador ou
tomador dos serviços) receber a duplicata para fazer o aceite e acabar não devolvendo o título para
o sacador. Desse modo, além de não
apor o aceite, o devedor não devolve o título. Nesse caso, se fosse exigida a apresentação
do título, o protesto seria impossível, já que o título ficou em poder do devedor.
Logo, se o sacado não devolveu a duplicata, o sacador (vendedor ou prestador dos serviços)
poderá fazer o protesto da duplicata por indicações (dando apenas as informações do título), ou
seja, sem apresentar a duplicata no Tabelionato de Protesto.
Se a duplicata foi remetida para aceite e não foi devolvida pelo sacado, poderá haver
protesto mediante simples indicações dos dados do título, ou seja, são fornecidas ao Tabelionato
de Protesto as informações do título retiradas do Livro de emissão de duplicatas, livro que é
obrigatório para os empresários que emitem duplicata.
Essas indicações da duplicata poderão ser encaminhadas, inclusive, por meio magnético ou
de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabilidade do apresentante os dados
fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a mera instrumentalização das mesmas (art. 8º,
parágrafo único, da Lei n. 9.492/97).
O protesto por indicações somente pode ser feito no caso de falta de devolução ou
também nas hipóteses de falta de aceite ou de falta de pagamento?
1ª corrente: o protesto por indicações somente pode ser feito no caso de falta de devolução.
Posição tradicional defendida por Wille Duarte Costa.
2ª corrente: o protesto por indicações pode ser feito em qualquer hipótese. É defendida pela
doutrina mais moderna, como Fábio Ulhoa Coelho e Marlon Tomazette.
Duplicata virtual: A Lei de Duplicatas (Lei n. 5.474/68) não previu as chamadas duplicatas
virtuais, até mesmo porque naquela época os sistemas informatizados ainda não estavam tão
desenvolvidos. A Min. Nancy Andrighi afirma, contudo, que as duplicatas virtuais encontram
previsão legal no art. 8º, parágrafo único, da Lei n. 9.492/97 e no art. 889, § 3º do CC-2002.
Como funciona a duplicata virtual?
O contrato de compra e venda ou de prestação de serviços é celebrado.
Ao invés de emitir uma fatura e uma duplicata em papel, o vendedor ou fornecedor dos
serviços transmite em meio magnético (pela internet) a uma instituição financeira os dados
referentes a esse negócio jurídico (partes, relação das mercadorias vendidas, preço etc.).
A instituição financeira, também pela internet, encaminha ao comprador ou tomador de
serviços um boleto bancário para que o devedor pague a obrigação originada no contrato. Ressalte-
se que esse boleto bancário não é o título de crédito. O título é a duplicata que, no entanto, não
existe fisicamente. Esse boleto apenas contém as características da duplicata virtual.
Se chegar o dia do vencimento e não for pago o valor, o credor ou o banco (encarregado da
cobrança) encaminharão as indicações do negócio jurídico ao Tabelionato, também em meio
magnético, e o Tabelionato faz o protesto do título por indicações.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 250

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Após ser feito o protesto, se o devedor continuar inadimplente, o credor ou o banco ajuizarão
uma execução contra ele, sendo que o título executivo extrajudicial será: o boleto de cobrança
bancária + o instrumento de protesto por indicação + o comprovante de entrega da mercadoria ou
da prestação dos serviços.
Segundo decidiu o STJ, as duplicatas virtuais emitidas e recebidas por meio magnético ou
de gravação eletrônica podem ser protestadas por mera indicação, de modo que a exibição do título
não é imprescindível para o ajuizamento da execução, conforme previsto no art. 8º, parágrafo único,
da Lei n. 9.492/1997.
Os boletos de cobrança bancária vinculados ao título virtual devidamente acompanhados
dos instrumentos de protesto por indicação e dos comprovantes de entrega da mercadoria ou da
prestação dos serviços suprem a ausência física do título cambiário eletrônico e constituem, em
princípio, títulos executivos extrajudiciais. TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial.
Títulos de crédito. Vol. 2. 2ª ed., São Paulo: Atlas, 2011.
Seguindo esta lógica, a Lei 14.301/2022 passou a permitir expressamente que a execução
da duplicata ou triplicata não aceita contanto que, cumulativamente: a) haja sido protestada; b)
esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e do recebimento da
mercadoria, permitida a sua comprovação por meio eletrônico e c) o sacado não tenha,
comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas condições e pelos motivos previstos nos arts.
7º e 8º desta Lei.
Art 15 - A cobrança judicial de duplicata ou triplicata será efetuada de
conformidade com o processo aplicável aos títulos executivos extrajudiciais,
de que cogita o Livro II do Código de Processo Civil ,quando se tratar:
(Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
l - de duplicata ou triplicata aceita, protestada ou não;
II - de duplicata ou triplicata não aceita, contanto que, cumulativamente:
a) haja sido protestada;
b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e
recebimento da mercadoria; e
b) esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e
do recebimento da mercadoria, permitida a sua comprovação por meio
eletrônico; (Redação dada pela Lei nº 14.301, de 2022)
c) o sacado não tenha, comprovadamente, recusado o aceite, no prazo, nas
condições e pelos motivos previstos nos arts. 7º e 8º desta Lei.
(Redação dada pela Lei nº 6.458, de 1º.11.1977)
(...)
§ 3º A comprovação por meio eletrônico de que trata a alínea b do inciso
II do caput deste artigo poderá ser disciplinada em ato do Poder
Executivo federal. (Incluído pela Lei nº 14.301, de 2022)

Vemos, portanto, que a celeuma quanto à admissibilidade ou não da duplicata virtual está
superada.
Por fim, destaca-se que a duplicata só pode espelhar uma fatura, ou seja, para cada fatura,
uma duplicata. No entanto, a fatura pode corresponder à soma de diversas notas parciais. A
nota parcial é o documento representativo de uma venda parcial ou de venda realizada dentro do
lapso de um mês, que poderá ser agrupada a outras vendas efetivadas nesse período pelo mesmo
comprador. Não há proibição legal para que se somem vendas parceladas procedidas no curso de
um determinado período (ex: um mês), e do montante se formule uma fatura única ao seu final.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 251

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Como o tema foi cobrado em concurso?
TJ/RS (2022) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça indica que não
se admite o protesto por indicação no caso das duplicatas virtuais. Errada!

9.11. GRÁFICO: DUPLICATA

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/TO (2022) De acordo com a Lei n.º 9.492/1997, o pagamento do título
apresentado para protesto será feito diretamente no tabelionato competente,
no valor igual ao declarado pelo apresentante, acrescido dos emolumentos e
demais despesas. Correta!

DPE/TO (2022) A duplicata é classificada como um título nominal à ordem,


causal e de modelo vinculado. Correta!

10. CHEQUE (LEI 7.357/85)

10.1. CONCEITO

Conforme Fábio Ulhôa, o cheque é uma ordem de pagamento À VISTA, sacada contra um
banco e com base em suficiente provisão de fundos depositados pelo sacador em mãos do sacado
ou decorrente de contrato de abertura de crédito entre ambos. Três figuras:
1) Sacador: Correntista.
2) Sacado: Banco.
3) Tomador/beneficiário: Credor do cheque.

10.2. REQUISITOS DO CHEQUE (ART. 1º, 2º E 3º)

Lei 7.357/85 Art. 1º O cheque contém:


I - a denominação ‘’cheque’’ inscrita no contexto do título e expressa na língua
em que este é redigido;
II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada;
III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 252

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IV - a indicação do lugar de pagamento;
V - a indicação da data e do lugar de emissão;
VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes
especiais.
Parágrafo único - A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com
poderes especiais pode ser constituída, na forma de legislação específica,
por chancela mecânica ou processo equivalente.

Art. 2º O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo


precedente não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir:
I - na falta de indicação especial, é considerado LUGAR DE PAGAMENTO o
lugar designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o
cheque é pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o
cheque é pagável no lugar de sua emissão;
II - não indicado O LUGAR DE EMISSÃO, considera-se emitido o cheque no
lugar indicado junto ao nome do emitente.

Art. 3º O cheque é emitido contra banco, ou instituição financeira que lhe seja
equiparada, sob pena de não valer como cheque.

Destacam-se:
1) A expressão "cheque" inserta no próprio texto do título na língua empregada para a
sua redação;

2) A ordem incondicional de pagar quantia determinada (observe-se que a inexistência


ou insuficiência de fundos não desnatura o cheque como um título de crédito);

3) A identificação do banco sacado (não vale, no Brasil, como cheque aquele que for
emitido contra um sacado não banqueiro);

4) Identificação do local do saque ou a indicação de um lugar ao lado do nome do


sacado ou, ainda, a menção de um local ao lado do nome do emitente;

5) Data de emissão;

6) Assinatura do emitente (sacador).

Observações:

1) Havendo divergência entre o valor da quantia entre as INDICAÇÕES POR EXTENSO e


em ALGARISMOS, prevalece a primeira (art. 12);

Lei 7.357/85 Art. 12 Feita a indicação da quantia em algarismos e por


extenso, prevalece esta no caso de divergência. indicada a quantia mais de
uma vez, quer por extenso, quer por algarismos, prevalece, no caso de
divergência, a indicação da menor quantia.

2) O lugar do saque é sumamente importante, como veremos abaixo no que se refere ao


prazo de apresentação;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 253

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3) Os cheques superiores a 100 reais devem, obrigatoriamente, ser nominais, vale dizer,
com a indicação do beneficiário. Pode ser ‘à ordem’ ou ‘não à ordem’.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/AC (2019) Feita a indicação da quantia em algarismos e por extenso,
prevalece esta no caso de divergência, e, indicada a quantia mais de uma
vez, quer por extenso, quer por algarismos, prevalece, no caso de
divergência, a indicação da menor quantia. Correta!

10.3. ACEITE DO CHEQUE

Conforme o art. 6º da Lei, não se admite a figura do aceite no cheque.


Fundamento: Não há que se falar em concordância do sacado com o pagamento do crédito
(aceite), porquanto existe um contrato entre sacador e sacado que obriga o banco a pagar a ordem
de pagamento, quando existir provisão de fundos.
Lei 7.357/85 Art. 6º O cheque não admite aceite considerando-se não escrita
qualquer declaração com esse sentido.

10.4. CHEQUE PRÉ-DATADO (PÓS-DATADO)

A cláusula ‘bom para’ é considerada o que para o Direito Empresarial?


Conforme o art. 32 da Lei, dada a natureza do cheque de ordem de pagamento à vista,
qualquer cláusula que preveja algo em contrário é considerada NÃO ESCRITA.
Lei 7.357/85 Art. 32 O cheque é pagável à vista. Considera-se não estrita
qualquer menção em contrário.
Parágrafo único - O cheque apresentado para pagamento antes do dia
indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação.

Assim, o banco tem obrigação de pagar um cheque apresentado pelo tomador, mesmo que
se trate de “pré-datado”. Em não havendo fundos, é possível até mesmo protestar um cheque pré-
datado. Frise-se: Isso na disciplina legal do Direito Empresarial.
Para o Direito Civil, no entanto, a apresentação antecipada equivale ao rompimento da boa-
fé contratual, caracterizando dano moral (Súmula 370 do STJ). O dano, nesse caso, é ‘in re ipsa’
(ínsito na própria coisa), não necessitando de prova do prejuízo do sacador.
STJ Súmula: 370. Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de
cheque pré-datado.

O credor pode preencher cambial em branco ou com lacunas (exemplo: máquina que
preenche cheque)?
Conforme a Súmula 387 do STF é plenamente possível que o credor de boa-fé complete a
cambial.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 254

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
STF SÚMULA Nº 387 A CAMBIAL EMITIDA OU ACEITA COM OMISSÕES,
OU EM BRANCO, PODE SER COMPLETADA PELO CREDOR DE BOA-FÉ
ANTES DA COBRANÇA OU DO PROTESTO.

10.5. ENDOSSO DO CHEQUE

Tudo que foi visto na letra de câmbio se aplica ao cheque. Peculiaridades:


• Motivo (ou alínea) 36: Era uma causa de devolução do cheque pelo fato de possuir mais
de um endosso. Razão dessa previsão: CPMF. Ao permitir-se mais de um endosso, o
cheque circulava e a arrecadação da CPMF restava prejudicada. Como não mais existe
esse tributo, entende-se que não há mais limite de endosso para o cheque.
• Não se admite o endosso-caução no cheque, dada sua natureza de ordem de
pagamento à vista.
• O endosso feito APÓS o prazo de apresentação (ver abaixo) é considerado póstumo, de
forma que produz apenas os efeitos de cessão civil de crédito.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/CE (2022) O cheque admite a estipulação escrita de juros inserida no
próprio título de crédito. Errada!
DPE/CE (2022) O cheque pode ser endossado parcialmente e de forma
condicionada. Errada!

Endossatário de boa-fé

Imagine a seguinte situação adaptada:


Maria contratou João para fazer os móveis de sua casa. Ficou combinado que Maria iria
pagar 10 mil reais em 5 cheques pré-datados de 2 mil reais, que deveriam ser descontados um em
cada mês.
João não entregou os móveis e sumiu, razão pela qual Maria determinou ao banco a
sustação dos cheques (art. 36 da Lei n. 7.357/85).
Ocorre que, posteriormente, Maria foi surpreendida com o aviso de que os cheques que ela
tinha sustado foram levados a protesto por Pedro. Pedro adquiriu, de boa-fé, os cheques de João
por meio de endosso e, quando foi cobrá-los, não conseguiu recebê-los, razão pela qual os levou a
protesto.
Pedro poderia ter levado os cheques a protesto?

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 255

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SIM. O STJ decidiu que é possível o protesto de cheque, por endossatário terceiro de boa-
fé, após o decurso do prazo de apresentação, mas antes da expiração do prazo para ação cambial
de execução, ainda que, em momento anterior, o título tenha sido sustado pelo emitente em razão
do inadimplemento do negócio jurídico subjacente à emissão da cártula.

10.6. AVAL NO CHEQUE

Duas peculiaridades:
• O aval em branco aproveita ao sacador (art. 30, parágrafo único);
Lei 7.357/85 Art. 30 O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento.
Exprime-se pelas palavras ‘’por aval’’, ou fórmula equivalente, com a
assinatura do avalista. Considera-se como resultante da simples assinatura
do avalista, aposta no anverso do cheque, salvo quando se tratar da
assinatura do emitente.
Parágrafo único - O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação,
considera-se avalizado o emitente.

• Proíbe-se o aval por parte do sacado (art. 29).


Lei 7.357/85 Art. 29 O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou
em parte, por aval prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por
signatário do título.

10.7. PRAZO DE APRESENTAÇÃO DO CHEQUE

10.7.1. Noção geral

Trata-se do prazo que o tomador tem para apresentar o cheque ao banco para pagamento.
Não se confunde com o prazo prescricional (ver abaixo).
O prazo de apresentação varia conforme o local do saque indicado na cártula:
Mesma praça → 30 dias.
Praça diferente → 60 dias.
30 dias 60 dias

Se o cheque é da mesma praça do pagamento Se o cheque for de praça diferente (município onde foi
(município onde foi assinado é o município da agência assinado é diferente do município da agência pagadora).
pagadora)

O prazo será de 30 dias se o local da emissão do cheque O prazo será de 60 dias se o local da emissão do cheque
(preenchido pelo emitente) for o mesmo lugar do pagamento (preenchido pelo emitente) for diferente do lugar do
(local da agência pagadora impressa no cheque). Nesse pagamento (local da agência pagadora impressa no cheque).
caso, diz-se que o cheque é da mesma praça (mesmo Nesse caso, diz-se que o cheque é de outra praça.
município).
Ex. em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o
Ex. em um cheque de uma agência de São Paulo (SP), o emitente datou e assinou Manaus (AM) como local da
emitente datou e assinou São Paulo (SP) como local da emissão.
emissão.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 256

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Termo ‘a quo’ do prazo: Data de emissão do cheque (data indicada na cártula).

Mesma praça bancária: Quando o local de saque indicado na cártula corresponder ao local
da agência pagadora.
Praças bancárias diferentes: Quando não há coincidência entre a praça do saque e a praça
da agência pagadora.
OBS: O que importa para essa verificação é a praça e a data de saque indicados pelo
sacador no cheque e não o local e a data em que efetivamente ocorreu a emissão do cheque
(princípio da cartularidade).

10.7.2. Inobservância do prazo de apresentação do cheque ao sacado

1) O transcurso do prazo de apresentação representa o TERMO INICIAL do prazo prescricional


de execução do cheque contra o devedor principal.

2) Só é possível executar os coobrigados do cheque (endossantes e seus avalistas) se a


apresentação do cheque se der dentro do prazo legal (Art. 47, II da Lei). Se a apresentação
se der fora do prazo, caberá apenas a execução do emitente e seus avalistas, nos termos
da Súmula 600 do STF.

Lei 7.357/85 - Art. 47 Pode o portador promover a execução do cheque:


I - contra o emitente e seu avalista;
II - contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em
tempo hábil e a recusa pagamento é comprovada pelo protesto ou por
declaração do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com indicação do dia
de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada por câmara de
compensação.

STF Súmula 600. CABE AÇÃO EXECUTIVA CONTRA O EMITENTE E


SEUS AVALISTAS, AINDA QUE NÃO APRESENTADO O CHEQUE AO
SACADO NO PRAZO LEGAL, DESDE QUE NÃO PRESCRITA A AÇÃO
CAMBIÁRIA.

3) A não apresentação do cheque no prazo legal pode causar a perda do direito de o credor
executar até mesmo o emitente do título. É uma hipótese excepcional, mas existe. Dá-se
quando havia fundos durante o prazo de apresentação e eles deixaram de existir, em
seguida ao término deste prazo, por culpa não imputável ao correntista (como, por exemplo,
a falência do banco, o confisco governamental etc.). É o que prevê o art. 47, II, e seu §3º da
Lei do Cheque. Sobrará ao credor apenas a chance de executar o avalista do emitente.

Lei 7.357/85 Art. 47 Pode o portador promover a execução do cheque:


§ 3º O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não
comprovar a recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o
direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis
durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 257

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Concluindo, mesmo depois de transcorrido o prazo de apresentação, o cheque poderá ser
apresentado e pago pelo sacado, desde que não se encontre prescrito e, evidentemente, haja
suficiente provisão de fundos em seu poder (art. 35, parágrafo único). A inobservância do prazo de
apresentação, portanto, não desconstitui o título de crédito como ordem de pagamento à vista, mas
importa as graves sanções acima mencionadas.
O PORTADOR do cheque pode recusar pagamento PARCIAL do cheque?

Art. 38, parágrafo único da Lei.

Lei 7.357/85 Art. 38, Parágrafo único. O portador não pode recusar
pagamento parcial, e, nesse caso, o sacado pode exigir que esse pagamento
conste do cheque e que o portador lhe dê a respectiva quitação.

O que não significa que o portador possa EXIGIR o pagamento parcial.

10.7.3. Protesto

Protesto de títulos é o ato público, formal e solene, realizado pelo tabelião, com a finalidade
de provar a inadimplência e o descumprimento de obrigação constante de título de crédito ou de
outros documentos de dívida.

É possível o protesto do cheque contra o emitente mesmo após ter se passado o prazo de
apresentação?

SIM. É legítimo o protesto de cheque efetuado contra o emitente depois do prazo de


apresentação, desde que não escoado o prazo prescricional relativo à ação cambial de execução.

Mas o art. 48 da Lei n. 7.357/85 afirma que o protesto do cheque deve ocorrer durante o
prazo de apresentação. Veja:

Art. 48 O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no


lugar de pagamento ou do domicílio do emitente, antes da expiração do prazo
de apresentação.

A exigência de realização do protesto antes de expirado o prazo de apresentação prevista


no art. 48 da Lei n. 7.357/85 é dirigida apenas ao protesto necessário, isto é, contra os coobrigados,
para o exercício do direito de regresso, e não em relação ao emitente do título.

Portanto, nada impede o protesto facultativo do cheque, mesmo que apresentado depois do
prazo mencionado no art. 48, c/c o art. 33, ambos da Lei n. 7.357/85. Isso porque o protesto do

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 258

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título pode ser utilizado pelo credor com outras finalidades que não o ajuizamento da ação de
execução do título executivo.

Findo o prazo de apresentação previsto no caput do art. 48 da Lei n. 7.357/1985, o credor


tem a faculdade de cobrar seu crédito por outros meios, sendo legítima a realização do protesto.

Em suma, de acordo com o STJ, sempre será possível, no prazo para a execução cambial,
o protesto cambiário de cheque com a indicação do emitente como devedor.

Por fim, o protesto irregular de cheque prescrito não caracteriza abalo de crédito apto a
ensejar danos morais ao devedor, se ainda remanescer ao credor vias alternativas para a cobrança
da dívida consubstanciada no título (STJ – Info 6616).

10.8. CONTA CONJUNTA

Se um dos correntistas emite cheque sem fundos, quem será responsável pelo
pagamento?
STJ: Na conta conjunta existe solidariedade ATIVA, vale dizer, qualquer dos cotitulares pode
movimentar a conta. Entretanto, a solidariedade PASSIVA não é reconhecida. Dessa forma, só
responde pelo cheque aquele que o emitiu. Só ele pode ser protestado e executado (REsp.
336.632/ES).
Se no protesto constar o nome daquele que não emitiu a cártula, estará configurado o dano
moral.

10.9. DEVOLUÇÃO INDEVIDA

Quando o correntista possui fundo disponível para pagamento do cheque, e este é devolvido,
trata-se da chamada devolução indevida. Sobre esse assunto:
STJ - Súmula 388: “A simples devolução indevida de cheque caracteriza
dano moral” (leia-se: independentemente de prova do prejuízo sofrido pela
vítima – in re ipsa).

10.10. SUSTAÇÃO DE CHEQUE

Sustação pode ser gênero ou espécie. Existem duas ESPÉCIES de sustação:


• Contraordem/revogação (art. 35);
• Sustação/oposição (art. 36).

10.10.1. Contraordem/revogação (art. 35)

Lei 7.357/85 Art. 35 O emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-


lo, mercê de contraordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou
extrajudicial, com as razões motivadoras do ato.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 259

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Parágrafo único - A revogação ou contraordem só produz efeito depois
de expirado o prazo de apresentação e, não sendo promovida, pode o
sacado pagar o cheque até que decorra o prazo de prescrição, nos termos do
art. 59 desta Lei.

Só pode ser realizada pelo emitente do cheque. Só produz efeitos depois do prazo de
apresentação. É uma forma de controle bancário, na qual o correntista ordena que após o prazo
de apresentação o cheque não deve ser pago.

10.10.2. Sustação/oposição (art. 36)

Lei 7.357/85 Art. 36 Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o


portador legitimado podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao
sacado, por escrito, oposição fundada em relevante razão de direito.
§ 1º A oposição do emitente e a revogação ou contraordem se excluem
reciprocamente.
§ 2º Não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo
oponente.

Além do emitente, o PORTADOR LEGITIMADO também pode dar sustação. Produz efeitos
imediatos (mesmo durante o prazo de apresentação). Requerida a sustação, o banco não mais
deve pagar o cheque. Só é admitida em casos devidamente fundamentados (exemplo: furto,
extravio etc. – André Santa Cruz crítica: não deve ser “fundamentado” o banco deve apenas acatar
a ordem).
Durante assalto ocorrido em um banco, os ladrões roubaram 50 talonários de
cheques. Tais talonários estavam impressos com nomes de clientes e seriam
ainda entregues aos correntistas para que iniciassem seu uso. Diante desse
fato, o banco efetuou o cancelamento dos referidos cheques. Cerca de um
mês depois do assalto, um dos ladrões foi até o supermercado e comprou
diversos produtos. A conta foi paga com o cheque roubado. O funcionário do
supermercado foi tentar descontar o cheque, mas ele foi devolvido, tendo a
bancária informado que aquele cheque não poderia ser pago porque havia
sido cancelado pela instituição financeira, com base no motivo 25 da
Resolução 1.631/1989, do Banco Central. O banco deverá responder pelo
prejuízo do supermercado? NÃO. A instituição financeira não deve responder
pelos prejuízos suportados por sociedade empresária que, no exercício de
sua atividade empresarial, recebera como pagamento cheque que havia sido
roubado durante o envio ao correntista e que não pode ser descontado em
razão do prévio cancelamento do talonário (motivo 25 da Resolução
1.631/1989 do Bacen). STJ. 3ª Turma. REsp 1324125-DF, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, julgado em 21/5/2015 (Info 564).

10.11. CHEQUE SEM FUNDOS

O cheque NÃO pago pelo sacado por falta de fundos deve ser PROTESTADO pelo credor
ATÉ a data limite de apresentação, a fim de que assegure a sua pretensão executória contra
todos os coobrigados. Se NÃO for realizado o protesto nesse prazo, somente poderá executar o
devedor principal.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 260

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OBS: O protesto pode ser substituído pela declaração do sacado da câmara de
compensação que comprove a recusa de pagamento por falta de fundos.
Conforme Fábio Ulhôa, na execução do cheque sem fundos, o credor terá direito à
importância do título acrescida das seguintes verbas:
• Juros legais a partir da apresentação a pagamento;
• Despesas com protesto, avisos e outras;
• Correção monetária prevista no art. 52, IV, da Lei do Cheque.

Lei 7.357/85 Art. 52 portador pode exigir do demandado:


I - a importância do cheque não pago;
II - os juros legais desde o dia da apresentação;
III - as despesas que fez;
IV - a compensação pela perde do valor aquisitivo da moeda, até o embolso
das importâncias mencionadas nos itens antecedentes.

A execução do cheque sem fundos prescreve, contra qualquer devedor, no prazo de 06


meses, contados do término do prazo de apresentação.

Lei 7.357/85 - Art. 59 Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração


do prazo de apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao
portador.

Art. 47 Pode o portador promover a execução do cheque:...


I - contra o emitente e seu avalista;
II - contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque apresentado em
tempo hábil e a recusa de pagamento é comprovada pelo protesto ou por
declaração do sacado, escrita e datada sobre o cheque, com indicação do dia
de apresentação, ou, ainda, por declaração escrita e datada por câmara de
compensação.
§ 1º Qualquer das declarações previstas neste artigo dispensa o protesto e
produz os efeitos deste.
§ 2º Os signatários respondem pelos danos causados por declarações
inexatas.
§ 3º O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não
comprovar a recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o
direito de execução contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis
durante o prazo de apresentação e os deixou de ter, em razão de fato que
não lhe seja imputável.
§ 4º A execução independe do protesto e das declarações previstas neste
artigo, se a apresentação ou o pagamento do cheque são obstados pelo fato
de o sacado ter sido submetido a intervenção, liquidação extrajudicial ou
falência.

Lei 7.357/85 Art. 59 Parágrafo único - A ação de regresso de um obrigado ao


pagamento do cheque contra outro prescreve em 6 (seis) meses, contados
do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi demandado.

Transcorrido esse prazo de 06 meses (contados da expiração do prazo para apresentação:


30 dias mesma praça, 60 dias praças diversas) sem que tenha sido proposta a execução, sobra

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 261

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para o credor a possibilidade de ajuizamento de ação de conhecimento em face do emitente,
endossantes e avalistas, baseada no cheque que, embora prescrito, ainda tem natureza cambial
(art. 61).
Essa pretensão (ação de conhecimento), com base no título de crédito, prescreve em 02
anos, contados do termo final do prazo para ajuizamento da execução.
Art. 61 A ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados, que
se locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque, prescreve
em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição prevista
no art. 59 e seu parágrafo desta Lei.

Prescrita também essa pretensão, nenhuma outra ação caberá com base em título de
crédito. Poderá ser ajuizada nova ação de conhecimento (ação monitória), servindo o cheque
prescrito como uma PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. Essa obedecerá aos prazos prescricionais da lei
civil.

10.12. AÇÃO MONITÓRIA E CHEQUE

Ponto feito com base nas explicações do Professor Márcio Cavalcante (Livro: Súmulas do
STF e STJ – Ed. 2019).

Duas súmulas merecem destaque quando se fala em ação monitória e cheque prescrito,
quais sejam: Súmula 531 e Súmula 503 do STJ, a seguir breve comentário.

Súmula 531-STJ: Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada


contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico subjacente à
emissão da cártula.

Como visto, o prazo de prescrição do cheque é de 6 meses, contados do fim do prazo de


apresentação do cheque.

Atente-se que o prazo prescricional somente se inicia quando termina o prazo de


apresentação, e não da sua efetiva apresentação ao banco sacado. Logo, os seis meses iniciam-
se com o fim do prazo de 30 dias (mesma praça) ou com o término do prazo de 60 dias (se de
praças diferentes).

Mesmo estando o cheque prescrito, ainda assim será possível a sua cobrança? SIM. Com
o fim do prazo de prescrição, o beneficiário não poderá mais executar o cheque. Diz-se que o
cheque perdeu sua força executiva. No entanto, mesmo assim o beneficiário poderá cobrar o valor
desse cheque por outros meios, quais sejam:

• Ação de enriquecimento sem causa (“ação de locupletamento”): prevista no art. 61


da Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85). Essa ação tem o prazo de 2 anos, contados do
dia em que se consumar a prescrição da ação executiva.

Art. 61 A ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados, que


se locupletaram injustamente com o não-pagamento do cheque, prescreve
em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a prescrição prevista
no art. 59 e seu parágrafo desta Lei

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 262

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• Ação de cobrança (ação causal): prevista no art. 62 da Lei do Cheque. O prazo é de
5 anos, nos termos do art. 206, § 5º, I, CC.

Art. 62 Salvo prova de novação, a emissão ou a transferência do cheque não


exclui a ação fundada na relação causal, feita a prova do não-pagamento

• Ação monitória.

Desse modo, estando o cheque prescrito (sem força executiva), ele poderá ser cobrado do
emitente por meio de ação monitória? SIM. O beneficiário do cheque poderá ajuizar uma ação
monitória para cobrar do emitente o valor consignado na cártula. Existe até uma súmula que
menciona isso:

Súmula 299-STJ: É admissível a ação monitória fundada em cheque


prescrito.

Na petição inicial da ação monitória fundada em cheque prescrito, é necessário que o autor
mencione o negócio jurídico que gerou a emissão daquele cheque? É necessário que o autor da
monitória indique a origem da dívida expressa no título de crédito (uma compra e venda, p. ex.)?
NÃO. Em ação monitória fundada em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a
menção ao negócio jurídico subjacente à emissão da cártula. É desnecessária a demonstração da
causa de sua emissão, cabendo ao réu o ônus de provar, se quiser, a inexistência do débito. O
autor da ação monitória não precisará, na petição inicial, mencionar ou comprovar a relação causal
(causa debendi) que deu origem à emissão do cheque prescrito (não precisa explicar o motivo pelo
qual o réu emitiu aquele cheque). (STJ. 2ª Seção. REsp 1.094.571-SP, Rel. Min. Luís Felipe
Salomão, julgado em 4/2/2013) (recurso repetitivo)

Isso não significa uma forma de cercear o direito de defesa do réu? NÃO. Não há
cerceamento de defesa, pois o demandado poderá, nos embargos à monitória (nome da “defesa”
na ação monitória), discutir a causa debendi. Na ação monitória há inversão da iniciativa do
contraditório, cabendo ao demandado a faculdade de opor embargos à monitória, suscitando toda
a matéria de defesa, visto que recai sobre ele o ônus probatório. Cabe ao réu o ônus de provar, se
quiser, a inexistência do débito.

Qual é o prazo máximo para ajuizar a ação monitória de cheque prescrito?

Súmula 503-STJ: O prazo para ajuizamento de ação monitória em face do


emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia
seguinte à data de emissão estampada na cártula.

O prazo prescricional de 5 (cinco) anos a que submetida a ação monitória se inicia, de acordo
com o princípio da actio nata, na data em que se torna possível o ajuizamento desta ação.

(...) o credor, mesmo munido de título de crédito com força executiva, não
está impedido de cobrar a dívida representada nesse título por meio de ação
de conhecimento ou mesmo de monitória. É de se concluir que o prazo
prescricional da ação monitória fundada em título de crédito (prescrito ou não
prescrito), começa a fluir no dia seguinte ao do vencimento do título. (...) STJ
3ª Turma. REsp 1367362/DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 16/04/2013.

10.13. JUROS MORATÓRIOS

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 263

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Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a
correção monetária incide a partir da data de emissão estampada na cártula,
e os juros de mora a contar da primeira apresentação à instituição financeira
sacada ou câmara de compensação. STJ. 2ª Seção. REsp 1556834-SP, Rel.
Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 22/6/2016 (recurso repetitivo) (Info
587).

Se o devedor não paga na data prevista o valor que estava previsto no cheque como sendo
de sua obrigação, o credor poderá cobrá-lo e terá direito de receber a quantia acrescida de juros
moratórios e correção monetária por conta do atraso. A dúvida que existia dizia respeito ao termo
inicial desses juros e correção monetária. A partir de quando eles deveriam ser contados e
calculados: a partir da data de emissão, da data de apresentação ou do dia da citação?
Vejamos o seguinte exemplo:
Em 15/01/2017, João emitiu um cheque de R$ 5 mil em favor de Pedro.
Em 02/02/2017, Pedro foi até o banco descontar o cheque, mas este não tinha fundos.
Em 2021, Pedro ajuíza ação monitória contra João, que é citado no dia 04/04/2018.
O juiz julgou procedente o pedido, condenando o réu a pagar o valor cobrado.
Na sentença, o magistrado consignou que os juros moratórios e a correção monetária
deveriam ser contados desde a data da citação inicial do réu (04/04/2021), nos termos do art. 405 do
CC e art. 240 do CPC/2015:
Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente,
induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor,
ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro
de 2002 (Código Civil).

O juiz acertou no momento da fixação do termo inicial dos juros de mora e da correção
monetária? NÃO.
Qual é o termo inicial da CORREÇÃO MONETÁRIA na cobrança de cheque?
A data de emissão estampada na cártula.
Em qualquer ação utilizada pelo portador para cobrança de cheque, a correção monetária
incide a partir da data de emissão estampada na cártula. STJ. 2ª Seção. REsp 1.556.834-SP, Rel.
Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 22/6/2016 (recurso repetitivo) (Info 587).
A possibilidade de o credor cobrar correção monetária está disciplinada na Lei do Cheque (Lei
nº 7.357/85), que prevê que o portador pode exigir a compensação pela perda do valor aquisitivo da
moeda. Veja:
Art. 52. O portador pode exigir do demandado:
I - a importância do cheque não pago;
(...)
IV - a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda, até o embolso
das importâncias mencionadas nos itens antecedentes.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 264

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A correção monetária não representa acréscimo ao valor devido, mas mera recomposição
inflacionária. Assim, ela deve ser exigida desde a data de emissão do cheque a fim de recompor
inteiramente o valor que seria devido ao beneficiário da cártula.
Qual é o termo inicial dos JUROS na cobrança de cheque? A data da primeira apresentação.
Os juros de mora sobre a importância de cheque não pago são contados da primeira
apresentação pelo portador ao banco, e não da citação do sacador. Logo, em nosso exemplo, os
juros deveriam ser contados desde 02/02/2017.
Os juros de mora decorrem do inadimplemento da obrigação pelo devedor, ou seja, os juros
de mora são consequência da mora do devedor da obrigação (art. 395 do CC). Dessa forma, nada
mais lógico que a sua contagem se inicie exatamente a partir do momento em que surge a mora.
Além disso, a Lei do Cheque (Lei nº 7.357/85) possui regra expressa que disciplina os juros
relacionados com a cobrança de crédito estampado em cheque.
Segundo a referida Lei, os juros de mora devem ser contados desde a data da primeira
apresentação do cheque pelo portador à instituição financeira, conforme previsto no art. 52, II:
Art. 52 portador pode exigir do demandado:
(...)
II - os juros legais desde o dia da apresentação;

Não se aplica, portanto, a regra do art. 405 do CC, que conta os juros a partir da citação
inicial.
Obs.: a Lei do Cheque veda a cobrança de juros compensatórios (art. 10).
No exemplo dado acima, o credor ajuizou ação monitória. Haveria diferença do termo inicial
caso ele tivesse proposto uma ação de locupletamento ou uma ação de cobrança?
NÃO. Não haveria diferença. O termo inicial continuaria sendo o mesmo. Isso porque a data
de início da fluência da correção monetária e dos juros de mora está relacionada com a relação de
direito material (e não com o instrumento processual utilizado para cobrança). O que importa é a
natureza da obrigação inadimplida, e não o tipo da ação proposta.

Termo inicial na cobrança de cheque (não importa qual seja a ação)

Correção monetária: data de EMISSÃO Juros moratórios: primeira APRESENTAÇÃO

10.14. GRÁFICO: CHEQUE

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 265

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11. ESQUEMA TÍTULOS DE CRÉDITO EM ESPÉCIE

LETRA DE CÂMBIO NOTA PROMISSÓRIA CHEQUE DUPLICATA


Saque efetuado pelo
emitente a partir de um
Promessa de
Ordem de pagamento à Ordem de pagamento à contrato de compra e
pagamento à vista ou a
vista ou a prazo vista. venda mercantil ou de
prazo
prestação de um
serviço.
Participam da relação: Participam da relação: Participam da relação: Participam da relação:
1) Sacador: quem emite; 1) Sacador: emitente e 1) Sacador: emitente e 1) Sacador: vendedor
devedor; devedor; ou prestador de serviço
2) Sacado: devedor;
(credor);
2) Beneficiário: credor 2) Sacado: devedor;
3) Tomador: credor
2) Sacado: comprador
3) Beneficiário: credor
ou tomador de serviço
Admite endosso: Admite endosso: Admite endosso: Admite endosso:
- Mandato - Mandato - Mandato - Mandato
- Caução - Caução - Próprio - Caução
- Próprio - Próprio - Próprio
Admite aceite Não admite aceite, Não admite aceite, Aceite do sacado é
porque o título é emitido porque o título é emitido obrigatório, salvo nos
(A recusa de sacado ou
pelo próprio devedor. pelo próprio devedor. casos de: avaria ou não
mesmo o aceite parcial
entrega do produto,
provoca o vencimento
vício na qualidade, erro
antecipado, obrigando-
no prazo de entrega ou
se o sacado pelo que
nos preções. Nesses
aceitou).
casos, o sacado está
Não havendo aceite, o livre de responder pelo
sacador é o devedor pagamento do título.
principal.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 266

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Admite aval parcial ou Admite aval parcial ou Admite aval parcial ou Admite aval parcial ou
total total total total
(Obs.: Banco não pode
prestar aval)
Vencimento do título Vencimento do título Vencimento do título Vencimento do título
À vista: será o prazo da À vista: será o prazo da À vista: dentro do prazo À vista: será o prazo da
apresentação; apresentação; de apresentação ao apresentação;
banco que é de 30 dias
A certo termo de vista: A certo termo da data: Num dia fixado: vem
(mesma praça) e de 60
tantos dias do aceite; tantos dias do saque; definido no título
dias (praças diversas.
A certo termo da data: Num dia fixado: vem Após esse prazo, é
tantos dias do saque; definido no título facultado o pagamento;
Num dia fixado: vem
definido no título
O pagamento do título O pagamento do título No prazo de 30 ou de O pagamento do título
deve ser exigido deve ser exigido 60 dias o título deve ser deve ser exigido,
primeiro do obrigado primeiro do obrigado apresentado para inicialmente, do sacado.
principal. Caso esse não principal. Caso esse não pagamento. Não Somente após, pode-se
pague, qualquer um dos pague, qualquer um dos satisfeito o crédito tem o cobrar os coobrigados.
obrigados indiretos obrigados indiretos credor o prazo de 180 Vale ação de cobrança
poderá ser compelido a poderá ser compelido a dias, contado do fim de obedecidas as
fazê-lo sem respeitar a fazê-lo sem respeitar a apresentação, para seguintes regras:
ordem pela qual se ordem pela qual se promover a execução
- Com aceite:
obrigaram. No caso de obrigaram. No caso de do título, seja contra o
dispensável o protesto
não ser paga, caberá não ser paga, caberá devedor principal ou
contra o sacado;
execução. execução. contra os devedores
indiretos. - Sem aceite: precisa do
protesto até mesmo
Após esse prazo, é
contra o sacado.
possível ação monitória.
O protesto é fundado na O protesto só pode ser O protesto pode ser por O protesto é fundado na
falta de pagamento por falta de pagamento falta de pagamento (180 falta de pagamento, de
(prazo de dois dias do dias) aceite ou de devolução
vencimento) ou de do título remetido ao
aceite (prazo até p fim sacado. O prazo é de
do prazo de 30 dias do vencimento.
apresentação).

12. PRAZO PRESCRICIONAL PARA EXECUÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

12.1. GRÁFICO 01

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 267

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CONTRA DEVEDOR CONTRA DIREITO DE REGRESSO
PRINCIPAL/AVALISTA CODEVEDOR/AVALISTA

01 ano do PROTESTO (que 06 meses do PAGAMENTO


LETRA DE
por sua vez tem prazo de 02 ou de quando DEMANDADO
CÂMBIO E NOTA
dias do vencimento – art. 44 o obrigado.
PROMISSÓRIA
03 anos do VENCIMENTO do LUG).
título.
01 ano do PROTESTO (que 01 ano do PAGAMENTO ou
DUPLICATAS por sua vez tem prazo de 30 de quando DEMANDADO o
dias do vencimento). obrigado.
06 meses do término do 06 meses do término do 06 meses, do PAGAMENTO
PRAZO DE APRESENTAÇÃO PRAZO DE ou de quando DEMANDADO
– que é 30 dias se na mesma APRESENTAÇÃO (não o obrigado.
praça, 60 dias em praça importa a data da efetiva
CHEQUE
diferente (não importa a data da apresentação), desde que o
efetiva apresentação). título tenha sido
protestado no prazo de
apresentação (art. 59).

OBS: protesto da nota promissória: prazo? A lei remete à letra de câmbio.


Finalidade do protesto: Interrupção do prazo prescricional (art. 202, III do CC).
CC Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma
vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;

13. OUTROS TÍTULOS DE CRÉDITO

Aqui falaremos de outros títulos, títulos não tão “famosos” por assim dizer. São títulos de
crédito causais, representativos de promessa de pagamento, com ou sem garantia real, conforme
a natureza e a área de atividade própria. Destacam-se entre estes: CÉDULAS DE CRÉDITO
(providas de garantia real) e NOTAS DE CRÉDITO (sem garantia real, mas gozam de privilégio
especial sobre bens livres do devedor, em caso de insolvência ou falência).
Neste ponto, estudaremos os seguintes títulos de crédito (gêneros):
1) Títulos de crédito comercial;
2) Títulos de crédito industrial;
3) Títulos de crédito rural;
4) Títulos de crédito imobiliário;
5) Novos títulos imobiliários;
6) Títulos de crédito bancário;
7) Letra de arrendamento mercantil.

13.1. TÍTULOS DE CRÉDITO COMERCIAL

• Conhecimento de depósito (DL 1.102/1903): título representativo da mercadoria


depositada, a qual pode ser transferida com o endosso do título.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 268

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• Warrant (DL 1.102/1903): título constitutivo de promessa de pagamento, cuja
garantia é a própria mercadoria depositada.
• Cédula de crédito comercial/nota de crédito comercial (lei nº 6.840/80): títulos
causais resultantes de financiamento obtido por empresas no mercado financeiro,
para finalidade comercial. Ambos constituem promessa de pagamento, com a
distinção já apontada: crédito ostenta garantia real incorporada à própria cártula, nota
de crédito não (apenas é um crédito com privilégio especial).

13.2. TÍTULOS DE CRÉDITO INDUSTRIAL

Cédula de crédito industrial/nota de crédito industrial (DL 413/69): títulos causais,


resultantes de financiamento obtido por empresas no mercado financeiro, para finalidade industrial.
Ambas constituem promessa de pagamento, com a distinção acima apontada.

13.3. TÍTULOS DE CRÉDITO RURAL

• Cédula de crédito rural/nota de crédito rural (DL 167/67): títulos causais, de


natureza civil, resultantes de financiamento de cooperativa, empresa ou produtor
rural. Ambas constituem promessa de pagamento, valendo o que se disse acima.
STJ entende que aqui se aplica súmula 296, no sentido de ser possível cobrança de
juros remuneratórios.
STJ Súmula nº 296. Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a
comissão de permanência, são devidos no período de inadimplência, à taxa
média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao
percentual contratado.

• Nota promissória rural e duplicata rural (DL 167/67): títulos causais, fundada em
operações de compra e venda de natureza rural, contratadas a prazo, não
constitutivas de financiamento no âmbito do crédito rural.

• Cédula de PRODUTO rural (Lei 8.929/94): título de natureza causal, emitido por
produtor ou cooperativa rural, como promessa de entrega de produtos rurais,
podendo conter garantia hipotecaria, pignoratícia ou fiduciária.
Aval em cédula de crédito rural

13.4. TÍTULOS DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 269

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1) Letra imobiliária (lei 4.380/64): título causal, representativo de promessa de pagamento,
emitido para captação de recursos destinados à execução de projeto imobiliário, mediante
garantia do governo federal.

2) Letra hipotecária (DL 2.478/88 e Lei 7.684/88)/cédula hipotecária (DL 70/66): títulos
causais, representativos da promessa de pagamento, ambos emitidos com lastro sobre o
crédito hipotecário: LETRA hipotecária por instituição financeira; a CÉDULA hipotecária por
associação de poupança e empréstimo.

13.5. NOVOS TÍTULOS IMOBILIÁRIOS

1) Certificado de recebíveis imobiliários (lei 9.514/97): título causal, companhias


securitizadoras de crédito, como promessa de pagamento, sob a forma escritural com
registro no sistema CETIP.

2) Letra de crédito imobiliário (lei 10.931/04): causal, por instituição financeira, promessa de
pagamento, lastro em crédito imobiliário decorrente de hipoteca ou alienação fiduciária.

3) Cédula de crédito hipotecário (lei 10.931/04): emitido pelo tomador do crédito imobiliário,
em favor da instituição financeira credora, com garantia real ou fidejussória, ou mesmo sem
garantia.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/RJ (2022) A constrição judicial que recaia sobre crédito representado
por Cédula de Crédito Imobiliário será efetuada nos registros da instituição
custodiante ou mediante apreensão da respectiva cártula. Correta!

13.6. TÍTULOS DE CRÉDITO BANCÁRIO

1) Cédula de crédito bancário (lei 10.931/04): emitido em favor da instituição financeira, com
garantia real ou fidejussória, ou sem garantia, em operação de crédito de qualquer
modalidade. A diferença desta cédula para as que vimos acima, é que nestas, o objeto do
financiamento é específico, devendo voltar-se para o desenvolvimento de atividades
comerciais, rurais etc. Aqui, o capital pode ser utilizado no desenvolvimento de qualquer
atividade.

Previsão legal: A Cédula de Crédito Bancário foi criada por Medida Provisória 1.925/99,
convertida, após inúmeras reedições, na Lei n.10.931/2004.
Em suma:

1) A Cédula de Crédito Bancário é ...


2) Um título de crédito...
3) Emitido por pessoa física ou jurídica...
4) Em favor de instituição financeira ou de entidade a esta equiparada...
5) Representando promessa de pagamento em dinheiro...

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 270

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
6) Decorrente de operação de crédito, de qualquer modalidade...

Exemplo: Pedro vai até o Banco “X” para abrir uma conta corrente. O gerente lhe oferece
um contrato bancário de abertura de crédito. Por meio desse contrato, o Banco “X” irá colocar certa
quantia à disposição de Pedro, que pode ou não se utilizar desses recursos, caso necessite. O lucro
do Banco será nos juros cobrados de Pedro caso ele use a quantia disponibilizada. O contrato de
abertura de crédito não é considerado título executivo extrajudicial. Desse modo, para conferir maior
segurança ao Banco caso Pedro tome emprestado o dinheiro, a assinatura do contrato fica
condicionada à emissão, por Pedro, de uma Cédula de Crédito Bancário na qual ele promete pagar
ao Banco “X” o valor que tomar emprestado. Na hipótese de não pagar, o Banco “X” executa esta
Cédula de Crédito, sem precisar de um processo de conhecimento.

DIREITO BANCÁRIO E TÍTULOS DE CRÉDITO. A Cédula de Crédito


Bancário, desde que atendidas as prescrições da Lei n. 10.931/2004, é título
executivo extrajudicial, ainda que tenha sido emitida para documentar a
abertura de crédito em conta corrente. Quarta Turma. REsp 1.103.523-PR,
Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 10/4/2012.

A Cédula de Crédito Bancário serve para documentar contrato de abertura de crédito?


SIM. É possível a emissão de uma cédula de crédito bancário para documentar a abertura de crédito
em conta corrente.
A Cédula de Crédito é título executivo extrajudicial? SIM. A Lei n. 10.931/2004 confere
à Cédula de Crédito Bancário natureza de título executivo extrajudicial:
Art. 28. A Cédula de Crédito Bancário é título executivo extrajudicial e
representa dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela
indicada, seja pelo saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos
extratos da conta corrente, elaborados conforme previsto no § 2º.

Mesmo com a previsão legal de que a Cédula de Crédito Bancário é título executivo
extrajudicial havia alguma polêmica sobre o tema? SIM. O STJ firmou o entendimento de que o
contrato de abertura de crédito não goza dos atributos para ser considerado título executivo. Nesse
sentido:
Súmula 233-STJ: O contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado
de extrato da conta corrente, não é título executivo.

Súmula 258-STJ: A nota promissória vinculada a contrato de abertura de


crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que a originou.

Os contratos de abertura de crédito não são reconhecidos como títulos executivos


extrajudiciais, porque tais contratos são ilíquidos, já que seu valor é apurado unilateralmente pelo
banco exequente.
Desse modo, alguns doutrinadores defendem que a Cédula de Crédito Bancário seria uma
forma de burlar o entendimento do STJ expresso nestas duas súmulas, considerando que a Cédula
de Crédito Bancário é título executivo e serve para documentar contrato de abertura de crédito.
Logo, os bancos teriam encontrado uma forma de executar, por meio da Cédula, os contratos
bancários.
O que o STJ decidiu?

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 271

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
A 2ª Seção do STJ pacificou o tema e decidiu que a Cédula de Crédito Bancário, de acordo
com a Lei n. 10.931/2004, é título executivo extrajudicial, representativo de operações de crédito de
qualquer natureza, que autoriza sua emissão para documentar a abertura de crédito em
contracorrente, nas modalidades crédito rotativo ou cheque especial.
Para tanto, a cártula deve vir acompanhada de claro demonstrativo acerca dos valores
utilizados pelo cliente, consoante as exigências legais enumeradas nos incisos I e II do § 2º do art.
28 da lei mencionada – de modo a lhe conferir liquidez e exequibilidade.
Em suma:
A Cédula de Crédito Bancário, desde que atendidas as prescrições da Lei n. 10.931/2004, é
título executivo extrajudicial, ainda que tenha sido emitida para documentar a abertura de crédito
em conta corrente.

2) Certificado de depósito bancário (lei 4.728/65): promessa de pagamento, título de


captação de depósito a prazo, com ou sem certificado.

3) Certificado de depósito em garantia (lei 4.728/65 e lei 6.404/76 - LSA): emitido por
instituição financeira, relativo ao depósito em garantia de títulos de crédito ou valores
mobiliários, que permanecem no estabelecimento bancário, como lastro da operação, até a
devolução do certificado.

13.7. LETRA DE ARRENDAMENTO MERCANTIL

Emitida pelas sociedades de arrendamento mercantil (leasing).

OBS: Súmula 93 do STJ.

STJ Súmula nº 93. A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial e


industrial admite o pacto de capitalização de juros.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 272

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
CONTRATOS EMPRESARIAIS

1. CONTRATO DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

1.1. CONCEITO

A alienação fiduciária em garantia é um contrato instrumental em que uma das partes, em


confiança, aliena a outra a propriedade de um determinado bem, ficando esta parte (uma instituição
financeira, em regra) obrigada a devolver àquela o bem que lhe foi alienado quando verificada a
ocorrência de determinado fato.

1.2. REGRAMENTO

O Código Civil de 2002 trata de forma genérica sobre a propriedade fiduciária em seus arts.
1.361 a 1.368-B. Existem, no entanto, leis específicas que também regem o tema:

• alienação fiduciária envolvendo bens imóveis: Lei nº 9.514/97;

• alienação fiduciária de bens móveis no âmbito do mercado financeiro e de capitais: Lei nº


4.728/65 e Decreto-Lei nº 911/69. É o caso, por exemplo, de um automóvel comprado por meio de
financiamento bancário com garantia de alienação fiduciária.

Nas hipóteses em que houver legislação específica, as regras do CC-2002 aplicam-se


apenas de forma subsidiária:

Art. 1.368-A. As demais espécies de propriedade fiduciária ou de titularidade


fiduciária submetem-se à disciplina específica das respectivas leis especiais,
somente se aplicando as disposições deste Código naquilo que não for
incompatível com a legislação especial.

Resumindo:
Alienação fiduciária de Alienação fiduciária de
bens MÓVEIS fungíveis e bens MÓVEIS infungíveis
Alienação fiduciária de
infungíveis quando o quando o credor fiduciário
bens IMÓVEIS
credor fiduciário for for pessoa natural ou
instituição financeira jurídica (sem ser banco)
Lei nº 4.728/65 Código Civil de 2002
Lei nº 9.514/97
Decreto-Lei nº 911/69 (Arts. 1.361 a 1.368-B)

1.3. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS MÓVEIS NO ÂMBITO DO MERCADO FINANCEIRO


E DE CAPITAIS (DL 911/69)

Imagine a seguinte situação hipotética:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 273

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Antônio quer comprar um carro de R$ 30.000,00, mas somente possui R$ 10.000,00. Antônio
procura o Banco “X”, que celebra com ele contrato de financiamento com garantia de alienação
fiduciária.

Assim, o Banco “X” empresta R$ 20.000,00 a Antônio, que compra o veículo. Como garantia
do pagamento do empréstimo, a propriedade resolúvel do carro ficará com o Banco “X” e a posse
direta com Antônio.

Em outras palavras, Antônio ficará andando com o carro, mas no documento, a propriedade
do automóvel é do Banco “X” (constará “alienado fiduciariamente ao Banco X”). Diz-se que o banco
tem a propriedade resolúvel porque, uma vez pago o empréstimo, a propriedade do carro pelo banco
“resolve-se” (acaba) e o automóvel passa a pertencer a Antônio.

O que acontece em caso de inadimplemento do mutuário (em nosso exemplo, Antônio)?

Havendo mora por parte do mutuário, o procedimento será o seguinte (regulado pelo DL
911/69):

1) NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR:

No contrato de alienação fiduciária, a mora decorre do simples vencimento do prazo para


pagamento, mas a lei exige que o credor (mutuante) demonstre a ocorrência desse atraso
notificando o devedor.

Assim, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial do devedor de que este se encontra
em débito, comprovando, assim, a mora. Essa notificação é indispensável para que o credor possa
ajuizar ação de busca e apreensão. Confira:

Súmula 72 do STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e


apreensão do bem alienado fiduciariamente.

Pergunta importante: como é feita a notificação do devedor? Essa notificação precisa ser realizada
por intermédio do Cartório de Títulos e Documentos?

NÃO. Essa notificação é feita por meio de carta registrada com aviso de recebimento. Logo,
não precisa ser realizada por intermédio do Cartório de RTD. Essa foi uma das mudanças operadas
pela Lei n. 13.043/2014 no § 2º do art. 2º do DL 911/69.

NOTIFICAÇÃO DO DEVEDOR NA ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Antes da Lei n. 13.043/2014 ATUALMENTE

O credor deveria demonstrar a mora do Ficou mais fácil. O credor pode demonstrar a
devedor por duas formas: mora do devedor por meio de carta registrada
com aviso de recebimento.
a) por carta registada expedida por
intermédio de Cartório de Títulos e Não mais se exige que a carta registrada seja
Documentos; ou expedida pelo Cartório de Títulos e
Documentos.
b) pelo protesto do título, realizado pelo
Tabelionato de Protesto. É dispensável que haja o protesto do título.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 274

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O objetivo da alteração foi o de reduzir o custo da notificação, permitindo que seja feita por
mera emissão de carta via Correios, evitando assim que a instituição financeira tenha que pagar os
emolumentos para os titulares de Cartórios.

O aviso de recebimento da carta (AR) precisa ser assinado pelo próprio devedor?

NÃO. A Lei n. 13.043/2014 alterou o § 2º do art. 2º do DL 911/69, deixando expresso que


não se exige que a assinatura constante do aviso de recebimento seja a do próprio destinatário.

Obs.: apesar de não estar expressamente prevista no DL 911/69, a jurisprudência do STJ já


entendia que a notificação não precisava ser pessoal, bastando que fosse entregue no endereço
do devedor:

(...) Esta Corte consolidou entendimento no sentido de que, para a


constituição em mora por meio de notificação extrajudicial, é suficiente que
seja entregue no endereço do devedor, ainda que não pessoalmente. (...)
STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 419.667/MS, Rel. Min. Luís Felipe Salomão,
julgado em 06/05/2014.

Portanto, a alteração legislativa confirma a solução que já havia sido dada pelo STJ ao tema.

2) AJUIZAMENTO DA AÇÃO:

Após comprovar a mora, o mutuante (Banco “X”) poderá ingressar com uma ação de busca
e apreensão requerendo que lhe seja entregue o bem (art. 3º do DL 911/69). Essa busca e
apreensão prevista no DL 911/69 é uma ação especial autônoma e independente de qualquer
procedimento posterior.

Art. 3o O proprietário fiduciário ou credor poderá, desde que comprovada a


mora, na forma estabelecida pelo § 2 o do art. 2o, ou o inadimplemento,
requerer contra o devedor ou terceiro a busca e apreensão do bem alienado
fiduciariamente, a qual será concedida liminarmente, podendo ser apreciada
em plantão judiciário.

3) CONCESSÃO DA LIMINAR:

O juiz concederá a busca e apreensão de forma liminar (sem ouvir o devedor), desde que
comprovada a mora ou o inadimplemento do devedor (art. 3º do DL 911/69).

Liminar concedida no plantão judiciário:

A Lei n. 13.043/2014 alterou o caput do art. 3º do DL 911/69, deixando expressamente


previsto que a concessão liminar da busca e apreensão pode ocorrer no plantão judiciário.

CONCESSÃO DA LIMINAR NA AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO DO DL 911/69


Antes da Lei n. 13.043/2014 ATUALMENTE
Art. 3º O Proprietário Fiduciário ou credor, Art. 3º O proprietário fiduciário ou credor
poderá requerer contra o devedor ou poderá, desde que comprovada a mora,
terceiro a busca e apreensão do bem na forma estabelecida pelo § 2º do art. 2º,
alienado fiduciariamente, a qual será ou o inadimplemento, requerer contra o
concedida Iiminarmente, desde que devedor ou terceiro a busca e apreensão
comprovada a mora ou o inadimplemento do bem alienado fiduciariamente, a qual
do devedor. será concedida liminarmente, podendo
ser apreciada em plantão judiciário.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 275

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Apesar de a nova redação do art. 3º utilizar a expressão “podendo ser apreciada”, o que
poderia indicar uma faculdade do juiz, a leitura mais adequada do dispositivo é a de que, estando
presentes os requisitos legais, o magistrado tem o poder-dever de apreciar e conceder a liminar.

4) INSERÇÃO DE RESTRIÇÕES SOBRE O VEÍCULO

Se o bem objeto da alienação fiduciária for um veículo, caso seja concedida a liminar na
busca e apreensão, uma medida de grande eficácia para conseguir localizar e recuperar o bem é
inserir uma restrição judicial no “registro” do veículo.

Pensando nisso, a Lei n. 13.043/2014 acrescentou o § 9º ao art. 3º do DL 911/69 estipulando


que o juiz, ao decretar a busca e apreensão de veículo, deverá inserir uma restrição judicial na base
de dados do RENAVAM.

RENAVAM significa Registro Nacional de Veículos Automotores e consiste em um banco de


dados que funciona como um registro de todos os veículos existentes no Brasil. Cada veículo recebe
um número identificador que é chamado de “código RENAVAM” e lá são registradas todas as
informações sobre a “vida” do automóvel, desde o momento da sua fabricação ou importação,
passando pelo emplacamento, mudanças de proprietário, alterações em sua cor e características,
até o instante em que o veículo sai de circulação.

O Poder Judiciário mantém convênio com o DENATRAN por meio do qual os magistrados
possuem acesso ao sistema informatizado do RENAVAM. Assim, o juiz pode digitar seu login e sua
senha, entrar na página interna do RENAVAM e inserir restrições judiciais incidentes sobre os
veículos objeto do processo. Assim, quando o carro for parado em uma blitz ou for realizar uma
inspeção de rotina no DETRAN, aparecerá aquela informação no sistema e o veículo será
apreendido e entregue à Justiça.

Dessa forma, quando o juiz decreta a busca e apreensão, ele próprio, com sua senha,
deverá inserir diretamente a restrição judicial no RENAVAM. Caso ele não tenha acesso à base de
dados, deverá expedir um ofício ao DETRAN para que:

I - registre o gravame referente à decretação da busca e apreensão do veículo; e

II - retire o gravame após a apreensão do veículo.

(§§ 9º e 10 do art. 3º do DL 911/69, acrescentados pela Lei n. 13.043/2014).

5) APREENSÃO DO BEM:

Caso o bem seja localizado em comarca diferente da qual onde está tramitando a ação (ex:
o processo tramita em Belo Horizonte e o carro foi encontrado em Lavras), a parte interessada
poderá requerer diretamente ao juízo dessa comarca pedindo a apreensão do veículo, bastando
que em tal requerimento conste a cópia da petição inicial da ação e, quando for o caso, a cópia do
despacho que concedeu a busca e apreensão do veículo (§ 12 do art. 3º do DL 911/69,
acrescentado pela Lei n. 13.043/2014).

A apreensão do veículo será imediatamente comunicada ao juízo, que intimará a instituição


financeira para retirá-lo do local depositado no prazo máximo de 48 horas (§ 13 do art. 3º do DL
911/69, acrescentado pela Lei n.13.043/2014).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 276

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O devedor, por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão, deverá entregar
o bem e seus respectivos documentos (§ 14 do art. 3º do DL 911/69, acrescentado pela Lei
n. 13.043/2014).

6) POSSIBILIDADE DE PAGAMENTO INTEGRAL DA DÍVIDA:

No prazo de 5 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor fiduciante


poderá pagar a integralidade da dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor
fiduciário na inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus (§ 2º do art. 3º do DL
911/69). Veja o dispositivo legal:

Art. 3º (...)
§ 1º Cinco dias após executada a liminar mencionada no caput, consolidar-
se-ão a propriedade e a posse plena e exclusiva do bem no patrimônio do
credor fiduciário, cabendo às repartições competentes, quando for o caso,
expedir novo certificado de registro de propriedade em nome do credor, ou
de terceiro por ele indicado, livre do ônus da propriedade fiduciária. (Redação
dada pela Lei 10.931/2004)
§ 2º No prazo do § 1º, o devedor fiduciante poderá pagar a integralidade da
dívida pendente, segundo os valores apresentados pelo credor fiduciário na
inicial, hipótese na qual o bem lhe será restituído livre do ônus. (Redação
dada pela Lei 10.931/2004)

O que se entende por “integralidade da dívida pendente”? Para que o devedor tenha de volta
o bem, ele deverá pagar todo o valor do financiamento ou somente as parcelas já vencidas e
não pagas (purgação da mora)? Ex: Antônio financiou o veículo em 60 parcelas. A partir da
20ª prestação ele começou a não mais pagar. Estão vencidas 5 parcelas. Para ter de volta o
bem ele terá que pagar somente as 5 parcelas vencidas (purgação mora) ou todo o
financiamento restante (40 parcelas)?

Todo o débito.

Segundo decidiu o STJ, a Lei n. 10.931/2004, que alterou o DL 911/69, não mais faculta ao
devedor a possibilidade de purgação de mora, ou seja, não mais permite que ele pague somente
as prestações vencidas.

Para que o devedor fiduciante consiga ter o bem de volta, ele terá que pagar a integralidade
da dívida, ou seja, tanto as parcelas vencidas quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo
de 5 dias após a execução da liminar.

Em nosso exemplo, Antônio terá que pagar, em 5 dias, as 40 parcelas restantes.

O devedor purga a mora quando ele oferece ao credor as prestações que estão vencidas e
mais o valor dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso, purgando a mora, o
devedor consegue evitar as consequências do inadimplemento. Ocorre que na alienação fiduciária
em garantia, a Lei n. 10.931/2004 passou a não mais permitir a purgação da mora.

Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de recurso repetitivo, tendo o STJ
firmado à seguinte conclusão, que será aplicada em todos os processos semelhantes:

Nos contratos firmados na vigência da Lei n. 10.931/2004, que alterou o art.


3º, §§ 1º e 2º, do Decreto-lei 911/1969, compete ao devedor, no prazo de

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 277

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cinco dias após a execução da liminar na ação de busca e apreensão, pagar
a integralidade da dívida – entendida esta como os valores apresentados e
comprovados pelo credor na inicial –, sob pena de consolidação da
propriedade do bem móvel objeto de alienação fiduciária. STJ. 2ª Seção.
REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em 14/5/2014
(recurso repetitivo).

Nos contratos anteriores à vigência da Lei n. 10.931/2004 é permitida a purgação da mora?

SIM. Antes da Lei n. 10.931/2004 era permitida a purgação da mora, desde que o devedor
já tivesse pagado no mínimo 40% do valor financiado. Tal entendimento estava, inclusive,
consagrado em um enunciado do STJ:

Súmula 284-STJ: A purga da mora, nos contratos de alienação fiduciária, só


é permitida quando já pagos pelo menos 40% (quarenta por cento) do valor
financiado.

A súmula 284-STJ ainda é válida?

• Para contratos anteriores à Lei 10.931/2004: SIM.

• Para contratos posteriores à Lei 10.931/2004: NÃO.

7) CONTESTAÇÃO:

No prazo de 15 dias após o cumprimento da liminar (apreensão do bem), o devedor


fiduciante apresentará resposta (uma espécie de contestação).

Obs1: a resposta poderá ser apresentada ainda que o devedor tenha decidido pagar a integralidade
da dívida, caso entenda ter havido pagamento a maior e deseje a restituição.

Obs2: nesta defesa apresentada pelo devedor, é possível que ele invoque a ilegalidade das
cláusulas contratuais (ex: juros remuneratórios abusivos). Se ficar provado que o contrato era
abusivo, isso justificaria o inadimplemento e descaracterizaria a mora.

8) VENDA DO BEM

Se houve o inadimplemento ou mora e o bem foi apreendido, o credor (proprietário fiduciário)


poderá vender a coisa a terceiros, independentemente de leilão, hasta pública, avaliação prévia ou
qualquer outra medida judicial ou extrajudicial, salvo disposição expressa em contrário prevista no
contrato (art. 2º do DL 911/69).

O preço da venda, isto é, o valor apurado com a alienação, deverá ser utilizado para pagar
os débitos do devedor para com o credor e para custear as despesas decorrentes da cobrança
dessa dívida.

Se após o pagamento da dívida ainda sobrar dinheiro esse saldo apurado deverá ser
entregue ao devedor.

Dever do credor de prestar contas

A Lei n. 13.043/2014 alterou o caput do art. 2º do DL 911/69, deixando expresso que o


credor, após fazer a alienação do bem, tem o dever de prestar contas ao devedor a fim de que este

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 278

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tenha ciência do valor que foi apurado com a venda e possa fiscalizar para saber se sobrou algum
saldo, já que tais recursos lhe pertencem.

9) SENTENÇA

Da sentença proferida cabe apelação, apenas no efeito devolutivo.

10) BEM NÃO ENCONTRADO

Se o bem alienado fiduciariamente não for encontrado ou não se achar na posse do devedor,
o credor poderá requerer, nos mesmos autos, a conversão do pedido de busca e apreensão
em AÇÃO EXECUTIVA (execução para a entrega de coisa) (art. 4º do DL 911/69, com redação
dada pela Lei n. 13.043/2014).

Caso o credor tenha optado por recorrer à ação executiva serão penhorados, a critério do
autor da ação, tantos bens do devedor quantos bastem para assegurar a execução (art. 5º do DL
911/69, com redação dada pela Lei n. 13.043/2014).

OBSERVAÇÕES FINAIS SOBRE A ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA

Se o devedor do contrato de alienação fiduciária estiver em processo de recuperação judicial


ou extrajudicial, mesmo assim será possível a busca e apreensão do bem?

SIM. Mesmo já existindo pedido de recuperação judicial ou extrajudicial envolvendo o


devedor do contrato de alienação fiduciária, tal fato não impedirá a distribuição e a busca e
apreensão do bem (art. 6º-A do DL 911/69, inserido pela Lei n. 13.043/2014).

Se, além da instituição financeira mutuante, o devedor do contrato de alienação fiduciária


possuir débitos com outros credores, estes poderão pedir o bloqueio judicial do bem objeto
da alienação fiduciária?

NÃO. Não será aceito bloqueio judicial de bens constituídos por alienação fiduciária de que
trata o DL 911/69. Se os outros credores quiserem alegar que possuem créditos preferenciais em
relação à instituição financeira mutuante, tal discussão sobre concursos de preferências deverá ser
resolvida pelo valor da venda do bem após ele ser apreendido (art. 7º-A do DL 911/69, inserido pela
Lei n. 13.043/2014).

1.4. APLICAÇÃO DAS REGRAS DO DL 911/69 AO LEASING

O arrendamento mercantil (também chamado de leasing) é uma espécie de contrato de


locação, no qual o locatário tem a possibilidade de, ao final do prazo do ajuste, comprar o bem
pagando uma quantia chamada de valor residual garantido (VRG).

A Lei n. 6.099/74 dispõe sobre o tratamento tributário das operações de arrendamento


mercantil, mas não trata, de forma detalhada, a respeito das regras e procedimentos aplicáveis nos
casos de leasing.

Pensando nisso, a Lei n. 13.043/2014 determinou que o procedimento adotado pelo DL


911/69 para o caso de inadimplemento do devedor na alienação fiduciária, inclusive o regramento
sobre a ação de busca e apreensão deveria ser também aplicado para o arrendamento mercantil.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 279

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Importante:

Assim, a partir de agora, os procedimentos previstos no art. 2º, caput e § 2º e no art. 3º do


DL 911/69 (regras relacionadas com a alienação fiduciária) deverão ser aplicadas às operações de
arrendamento mercantil (leasing).

1.5. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA REGIDA PELO CÓDIGO CIVIL

O Código Civil traz regras sobre a alienação fiduciária de bens MÓVEIS infungíveis quando
o credor fiduciário for pessoa natural ou jurídica (sem ser banco).

A Lei n. 13.043/2014 promoveu duas mudanças nessas regras do CC-2002. Vejamos:

ANTES DEPOIS

Art. 1.367. Aplica-se à propriedade Art. 1.367. A propriedade fiduciária em


fiduciária, no que couber, o disposto nos garantia de bens móveis ou imóveis
arts. 1.421, 1.425, 1.426, 1.427 e 1.436. sujeita-se às disposições do Capítulo I do
Título X do Livro III da Parte Especial
deste Código e, no que for específico, à
legislação especial pertinente, não se
equiparando, para quaisquer efeitos, à
propriedade plena de que trata o art.
1.231.

O legislador teve três objetivos ao modificar a redação desse dispositivo:

a) Deixar claro que existem várias espécies de alienação fiduciária e que cada uma delas
possui um regramento próprio, aplicando-se as normas do Código Civil apenas para os casos em
que a alienação fiduciária não for tratada em lei específica;

b) Ressaltar que as regras da propriedade fiduciária são diferentes e especiais em relação


à propriedade plena (art. 1.231 do CC);

c) Determinar que sejam aplicadas à espécie de propriedade fiduciária regida pelo Código
Civil as normas dos arts. 1.419 a 1.430 do CC.

Alienação fiduciária confere direito real de aquisição

A alienação fiduciária em garantia de bem móvel ou imóvel confere direito real de aquisição
ao fiduciante, seu cessionário ou sucessor (art. 1.368-B do CC, inserido pela Lei n. 13.043/2014).

Responsabilidades do credor fiduciário pelo bem em caso de consolidação da propriedade

O credor fiduciário que se tornar proprietário pleno do bem, por efeito de realização da
garantia, mediante consolidação da propriedade, adjudicação, dação ou outra forma pela qual lhe
tenha sido transmitida a propriedade plena, passa a responder pelo pagamento dos tributos sobre
a propriedade e a posse, taxas, despesas condominiais e quaisquer outros encargos, tributários ou
não, incidentes sobre o bem objeto da garantia, a partir da data em que vier a ser imitido na posse
direta do bem (parágrafo único do art. 1.368-B do CC, inserido pela Lei n. 13.043/2014).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 280

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1.6. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS

Como já visto acima, a alienação fiduciária em caso de bens imóveis é regida pela
Lei 9.514/97.

A alteração promovida pela Lei 13.043/2014 na alienação fiduciária de imóveis foi muito
singela e teve como objetivo apenas deixar claro que o prazo para purgação da mora é contado da
última publicação do edital. Compare:

Lei 13.043/2014 (ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA DE BENS IMÓVEIS)

ANTES DEPOIS

Art. 26 (...) Art. 26 (...)

§ 4º Quando o fiduciante, ou seu § 4º Quando o fiduciante, ou seu


representante legal ou procurador cessionário, ou seu representante legal ou
regularmente constituído se encontrar em procurador encontrar-se em local
outro local, incerto e não sabido, o oficial ignorado, incerto ou inacessível, o fato
certificará o fato, cabendo, então, ao oficial será certificado pelo serventuário
do competente Registro de Imóveis encarregado da diligência e informado ao
promover a intimação por edital, publicado oficial de Registro de Imóveis, que, à vista
por três dias, pelo menos, em um dos da certidão, promoverá a intimação por
jornais de maior circulação local ou noutro edital publicado durante 3 (três) dias, pelo
de comarca de fácil acesso, se no local menos, em um dos jornais de maior
não houver imprensa diária. circulação local ou noutro de comarca de
fácil acesso, se no local não houver
imprensa diária, contado o prazo para
purgação da mora da data da última
publicação do edital.

Importante destacar que os direitos do devedor fiduciante sobre imóvel objeto de contrato
de alienação fiduciária em garantia possuem a proteção da impenhorabilidade do bem de família
legal. STJ. 3ª Turma. REsp 1677079-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
25/09/2018 (Info 635).
Ex: João fez um contrato de alienação fiduciária para aquisição de uma casa; ele está
morando no imóvel enquanto paga as prestações; enquanto não terminar de pagar, a casa pertence
ao banco; apesar disso, ou seja, a despeito de possuir apenas a posse, os direitos de João sobre o
imóvel não podem ser penhorados porque incide a proteção do bem de família.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/RS (2022) A alienação fiduciária de bem imóvel poderá ser contratada por
pessoa física ou jurídica, não sendo privativa das entidades que operam no
Sistema de Financiamento Imobiliário. Correta!

TJ/RS (2022) Uma vez ajuizada a ação de busca e apreensão de bem móvel
alienado fiduciariamente, é vedada a purga da mora pelo devedor. Errada!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 281

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TJ/RS (2022) Na alienação fiduciária de bens móveis, a mora decorre do
simples vencimento do prazo, mas sua demonstração depende de
interpelação do devedor comprovada pela assinatura de próprio punho.
Correta!

TJ/SP (2021) Salvo disposição expressa em contrário, deve o proprietário


fiduciário vender a coisa a terceiros por leilão, hasta pública ou qualquer outra
medida judicial. Errada!

TJ/GO (2021) No caso de inadimplemento de obrigação garantida por


alienação fiduciária em garantia, no regime do Decreto-lei n° 911, de 1° de
outubro de 1969, o credor fiduciário, comprovando previamente a mora, por
meio de carta registrada com aviso de recebimento, assinado ou não pelo
próprio destinatário, requererá busca e apreensão do bem contra o devedor
fiduciante, que, para se ver restituído do bem, livre de ônus, deverá pagar a
integralidade da dívida em até cinco dias da execução da liminar. Correta!

MPE/CE (2020) Deferida a reintegração de posse e alienado o bem a terceiro,


se a soma da importância antecipada a título de VRG com o valor da venda
do bem ultrapassar o total do VRG previsto contratualmente, o arrendatário
deverá receber a respectiva diferença, cabendo o desconto de outras
despesas que tenham sido pactuadas contratualmente. Correta!

TJ/RJ (2019) A empresa Kero celebrou um contrato de arrendamento


mercantil financeiro, mas, após várias parcelas adimplidas, entra em crise
financeira e interrompe o pagamento dos valores devidos à arrendadora, que
toma as medidas necessárias para a reintegração de posse do bem
arrendado. Em vista disso, é correto afirmar que se a soma da importância
antecipada a título de valor residual garantido com o valor da venda do bem
ultrapassar o total do valor residual garantido previsto contratualmente, a
arrendatária terá direito de receber essa diferença, deduzidos eventuais
descontos previstos no respectivo contrato. Correta!

1.7. OUTROS PRONTOS IMPORTANTES

1.7.1. CONTRATO INSTRUMENTAL

A alienação fiduciária é um CONTRATO INSTRUMENTAL, pois é utilizado para viabilizar


outro contrato, que geralmente é um contrato de compra e venda com financiamento.
Exemplo: Alexandre (mutuário) faz um financiamento de 50mil com o banco (mutuante) para
comprar um carro. O banco exige garantia, e Alexandre dá o próprio carro recém-adquirido como
garantia ao banco. Alexandre aliena o carro em confiança para o banco e passa a ser DEVEDOR
FIDUCIANTE, enquanto o banco passa a ser o CREDOR FIDUCIÁRIO.
Alienação em confiança: Quando Alexandre transfere o carro, ele transfere a
PROPRIEDADE RESOLÚVEL do carro. Por que resolúvel? Porque há uma condição resolutiva,
qual seja a quitação do empréstimo. Com o efetivo pagamento a propriedade deixa de ser do banco
e volta a ser do Alexandre.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 282

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1.7.2. PROPRIEDADE RESOLÚVEL E ‘AD TEMPUS’ (DIREITOS REAIS)

Na propriedade RESOLÚVEL, a titularidade já nasce com perspectiva de durabilidade


subordinada a um acontecimento FUTURO e CERTO (termo final) ou INCERTO (condição
resolutiva, art. 121 CC). Resolvida a propriedade, a extinção é ex tunc (1.359 CC). Terceiros que
adquiriram a propriedade neste ínterim serão sacrificados. Exemplo: retrovenda.
Na propriedade AD TEMPUS, inexiste cláusula contratual de limitação temporal da eficácia
do NJ, não seria uma propriedade resolúvel, mas REVOGÁVEL. A extinção ocorre de fato
superveniente e é ex nunc (os atos praticados pelo ‘temporário’ proprietário são mantidos, devendo
o proprietário que recuperou buscar indenização). Exemplo: revogação da doação por
descumprimento do encargo (art. 555 CC), toda liberalidade é potencialmente revogável.

1.7.3. PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA x RESERVA DE DOMÍNIO

Na PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA ocorre a imediata transferência da propriedade do


fiduciante (“devedor”, “alienante”, “possuidor direto”) ao credor fiduciário (“credor”, “adquirente”,
“possuidor indireto”), como premissa para que o vendedor possa imediatamente receber o preço e
se satisfazer. Ou seja, o vendedor não integra a relação jurídica de direito real, restringe-se o
negócio fiduciário ao comprador e o financiador, sendo que este último recebe a propriedade
resolúvel (posse indireta) da coisa móvel como garantia do pagamento realizado ao vendedor, o
comprador fica na posse direta da coisa.
A RESERVA DE DOMÍNIO nada mais é do que uma cláusula de garantia inserida no
contrato de compra e venda. Então, até que o preço seja integralmente pago, o vendedor reserva a
propriedade da coisa para si. Condiciona a obtenção da propriedade ao pagamento integral do valor,
ou seja, condiciona a transferência da propriedade à quitação do preço. Neste caso temos, na
prática, uma verdadeira alienação fiduciária dentro de um contrato de compra e venda.
Na RESERVA DE DOMÍNIO a relação jurídica se circunscreve a vendedor e comprador,
pois o próprio alienante realiza o financiamento da aquisição em prestações subordinando-se a
passagem da propriedade a uma condição suspensiva, ou seja, o vendedor mantém consigo a
propriedade da coisa (posse indireta) sob a condição suspensiva do pagamento integral das
prestações pelo comprador (posse direta).
CC Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a
propriedade, até que o preço esteja integralmente pago.

A diferença entre reserva de domínio e alienação fiduciária é que esta é um contrato em si


enquanto aquela é uma cláusula inserida no contrato de compra e venda.
Embora a lei permita a reserva de domínio apenas aos bens MÓVEIS, como a alienação
fiduciária se aplica aos bens IMÓVEIS e MÓVEIS (lei 9514/97), deve-se estender a reserva de
domínio aos bens IMÓVEIS. Pois o art. 521 foi redigido quando a alienação fiduciária era exclusiva
de bens móveis, não interpretando com razoabilidade, chegaríamos à obrigatoriedade de feitura de
dois contratos, um de compra e venda e um de alienação fiduciária, quando se tratasse de bem
imóvel. Seria contraproducente. Portanto, a doutrina interpreta o art. 521 no sentido de admitir tanto
para bem móvel como para bem imóvel.
PROVA: se expressamente o examinador perguntar se CONFORME O CC a cláusula de
reserva de domínio é exclusiva para bem móvel, está correto.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 283

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2. CONTRATO DE ARRENDAMENTO MERCANTIL (“LEASING”)

É regulado pela Resolução 2309/BACEN.

2.1. CONCEITO

É um contrato de locação de bem MÓVEL ou IMÓVEL, com opção de compra do bem ao


fim do contrato.
No leasing existem duas principais figuras:
• Arrendador: Empresa de leasing. Necessariamente, deve ser uma S/A.
• Arrendatário: Pode ser tanto uma pessoa física quanto uma pessoa jurídica.
O arrendatário, ao fim do contrato, tem as seguintes opções:
• Devolução do bem;
• Renovação do contrato;
• Compra do bem arrendado.
Frise-se: A compra não é uma OBRIGAÇÃO, mas sim uma OPÇÃO.
O arrendatário que faz a opção da compra deve pagar o chamado VRG (valor residual
garantido). Teoricamente, o VRG deveria ser pago somente ao final do contrato de leasing. No
entanto, na prática a situação é diferente. O que ocorre é a famosa cobrança antecipada do VRG,
que vem sendo feita de duas formas: Ou o VRG é diluído nas parcelas do arrendamento; ou a
empresa faz uma cobrança mensal à parte do VRG.
Atualmente, o posicionamento do STJ relacionado ao contrato de leasing está previsto na
Súmula 293:
STJ Súmula: 293. A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG)
NÃO DESCARACTERIZA o contrato de arrendamento mercantil.

O entendimento do STJ foi baseado nos princípios da liberdade de escolha e da livre


convenção das partes.

2.2. MODALIDADES DE LEASING

As modalidades de leasing são as seguintes:


1) Leasing financeiro;
2) Leasing operacional;
3) Lease back.

Vejamos:

2.2.1. Leasing financeiro

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 284

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É o mais usual, que conta com as figuras do ARRENDADOR, do ARRENDATÁRIO e do
FORNECEDOR.
Exemplo: Leasing de carro. Eu vou até a concessionária (fornecedora), escolho o veículo
que me interessa e indico-o para a empresa de leasing. Esta, então, compra o carro e realiza comigo
o contrato de leasing. Eu arrendo/loco da empresa o carro.
Em relação ao leasing de carro, importante mencionar que NÃO SE APLICA a Súmula 492
do STF, vale dizer, a EMPRESA DE LEASING não tem qualquer responsabilidade.
STF SÚMULA 492. A EMPRESA LOCADORA DE VEÍCULOS RESPONDE,
CIVIL E SOLIDARIAMENTE COM O LOCATÁRIO, PELOS DANOS POR
ESTE CAUSADOS A TERCEIRO, NO USO DO CARRO LOCADO.

2.2.2. Leasing operacional

Existem apenas dois intervenientes: arrendador e arrendatário. Nesse caso, o arrendador


também é o fornecedor. Confundem-se na mesma pessoa.
Exemplo: Leasing de Máquina de “Xerox”. Contrato de leasing com a própria empresa que
fabrica o equipamento.
Art.6º da Resolução: O valor total das prestações somadas NÃO PODE ser superior a
90% do valor do bem.
Além disso, a soma dos valores da prestação de aluguel não pode ultrapassar 75% do valor
do bem.
Qual a vantagem da empresa? A vantagem é a operacionalização. Exemplo: Se quebra
a máquina, o arrendatário só pode arrumar com a assistência técnica pré-estabelecida; se precisar
comprar uma peça, só pode comprar com a empresa; acabou o ‘toner’ da máquina: de acordo com
o contrato só pode comprar da empresa.
O leasing operacional tem como característica fundamental a assistência técnica.
CORRETO.

2.2.3. “Lease back” (leasing de retorno)

Ao contrário dos demais, somente pessoa jurídica pode realizar (sendo arrendatária) o
leasing de retorno.
Exemplo: Indústria têxtil passando por crise. Em vez de fazer um empréstimo bancário, a
indústria pode fazer o ‘lease back’. A indústria vende o equipamento para a empresa de leasing
(contrato de compra e venda) e utiliza o valor obtido para se reerguer.
OBS: O lease back só é possível em duas operações: contrato de compra e venda ou dação
em pagamento. O bem só pode sair da titularidade da Pessoa Jurídica para a empresa de leasing
por meio de uma dessas operações.
Voltando ao exemplo: A indústria pega o dinheiro recebido com a venda e utiliza como capital
de giro. E para não ficar sem o equipamento, a indústria arrenda-o da empresa de leasing. Por isso
é leasing de retorno: o bem sai do patrimônio da PJ (por meio da venda ou dação) e retorna por
meio do leasing.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 285

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2.2.4. Quadro resumo

Leasing FINANCEIRO Leasing OPERACIONAL Leasing DE


RETORNO (Lease back)
Previsto no art. 5º da Previsto no art. 6º da Sem previsão na Resolução
Resolução 2.309/96-BACEN Resolução 2.309/96-BACEN 2.309-BACEN
É a forma típica e clássica do Ocorre quando a arrendadora já Ocorre quando determinada
leasing. é proprietária do bem e o aluga pessoa, precisando se
Ocorre quando uma pessoa ao arrendatário, capitalizar, aliena seu bem à
jurídica (arrendadora) compra comprometendo-se também a empresa de leasing, que
o bem solicitado por uma prestar assistência técnica em arrenda de volta o bem ao
pessoa física ou jurídica relação ao maquinário. antigo proprietário a fim de
(arrendatária) para, então, que ele continue utilizando a
alugá-lo à arrendatária. coisa. Em outras palavras, a
pessoa vende seu bem e
celebra um contrato de
arrendamento com o
comprador, continuando na
posse direta.
Ex: determinada empresa Ex: Boeing Capital Corporation® Ex: em 2001, a Varig®, a fim
(arrendatária) quer utilizar uma (arrendadora) celebra contrato de se recapitalizar, vendeu
nova máquina em sua linha de de arrendamento para alugar algumas aeronaves à Boeing®
produção, mas não tem cinco aeronaves à GOL® e os alugou de volta por meio
recursos suficientes para (arrendatária) a fim de que esta de um contrato de lease back.
realizar a aquisição. Por esse utilize os aviões em seus
motivo, celebra contrato voos. A arrendadora também O nome completo desse
de leasing financeiro com um ficará responsável pela negócio jurídico, em inglês,
Banco (arrendador), que manutenção dos aviões. é sale and lease back (venda e
compra o bem e o arrenda arrendamento de volta).
para que a empresa utilize o
maquinário.
Normalmente, a intenção da Normalmente, a intenção da Em geral é utilizado como uma
arrendatária é, ao final do arrendatária é, ao final do forma de obtenção de capital
contrato, exercer seu direito contrato, NÃO exercer seu de giro.
de compra do bem. direito de compra do bem.

2.3. INADIMPLEMENTO DAS PRESTAÇÕES DO LEASING

Em ocorrendo inadimplemento, o credor tem a seu favor a ação de REINTEGRAÇÃO DE


POSSE (não confundir com alienação fiduciária: busca e apreensão). Para ajuizar essa ação, no
entanto, é imprescindível que o devedor esteja constituído em mora (mora ex persona).
Nesse sentido, a Súmula 369 do STJ:
STJ Súmula: 369. No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda
que haja cláusula resolutiva expressa, é necessária a notificação prévia do
arrendatário para constituí-lo em mora.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 286

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2.4. PURGAÇÃO DA MORA

Até a Lei nº 13.043/2014 (14/11/2014): SIM


O STJ entendia que era possível a purgação da mora do devedor em contrato de
arrendamento mercantil, a despeito da ausência de previsão na Lei nº 6.099/74, haja vista a regra
geral do Código Civil e do Código de Defesa do Consumidor.

A partir da Lei nº 13.043/2014 (14/11/2014): NÃO


A Lei nº 6.099/74 dispõe sobre o tratamento tributário das operações de arrendamento
mercantil, mas não trata, de forma detalhada, a respeito das regras e procedimentos aplicáveis nos
casos de leasing. Pensando nisso, a Lei nº 13.043/2014 acrescentou o § 15 ao art. 3º do DL 911/69,
afirmando que o procedimento adotado pelo DL 911/69 para o caso de inadimplemento do devedor
na alienação fiduciária, inclusive o regramento sobre a ação de busca e apreensão, deveria ser
também aplicado para o arrendamento mercantil.

Assim, a partir da Lei nº 13.043/2014, os procedimentos previstos no art. 2º, caput e § 2º e


no art. 3º do DL 911/69 (regras relacionadas com a alienação fiduciária) passaram a ser aplicados
às operações de arrendamento mercantil (leasing).

Ocorre que os §§ 1º e 2º do art. 3º do DL 911/69 não autorizam a purgação de mora, ou seja, não
permitem que o devedor pague somente as prestações vencidas.

Para que o devedor consiga ter o bem de volta, ele terá que pagar a integralidade da dívida, ou
seja, tanto as parcelas vencidas quanto as vincendas (mais os encargos), no prazo de 5 dias após a
execução da liminar.

Resumindo:

Em contrato de arrendamento mercantil de veículo automotor - com ou sem cláusula


resolutiva expressa -, a purgação da mora realizada nos termos do art. 401, I, do CC deixou de ser
possível somente a partir de 14/11/2014, data de vigência da Lei 13.043/2014, que incluiu o § 15º
do art. 3º do Decreto-Lei 911/1969.STJ. 4ª Turma. REsp 1.381.832-PR, Rel. Min. Maria Isabel
Gallotti, julgado em 5/11/2015 (Info 573).

Como o tema é cobrado em concurso?


TJ/RS (2022) Durante toda a vigência do contrato de arrendamento, o
arrendante não poderá realizar concorrência ao arrendatário, exceto se
houver autorização expressa. Correta!

TJ/SP (2021) A cláusula de opção de compra não é obrigatória no contrato


de arrendamento mercantil. Correta!

MPE/AP (2021) Determinada empresa firmou com uma instituição financeira


contrato cujo objeto é a aquisição de um equipamento que a empresa locará
pelo prazo de cinco anos, ao fim do qual poderá a parte optar por devolver o
equipamento, renovar a locação ou adquiri-lo pelo preço residual fixado no
momento inicial do contrato. Nessa situação hipotética, está configurado o
contrato de arrendamento mercantil.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 287

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3. CONTRATO DE FRANQUIA (franchising)

O contrato de franquia está previsto na Lei 13.966/2019 que revogou a Lei 8.955/94.
Salienta-se que nova Lei de Franquia foi publicada em 26 de dezembro de 2019, entrará em vigor
março de 2019 (90 dias após sua publicação).
Art. 9º Revoga-se a Lei nº 8.955, de 15 de dezembro de 1994 (Lei de
Franquia).

3.1. CONCEITO

O conceito de franquia foi ampliado pela Lei 13.966/2019. Observe o quadro abaixo:
ANTIGO CONCEITO DE FRANQUIA NOVO CONCEITO DE FRANQUIA
(art. 2º da Lei 8.955/94) (art. 1º da Lei 13.966/2019)
Art. 2º Franquia empresarial é o sistema pelo Art. 1º Esta Lei disciplina o sistema de franquia
qual um franqueador cede ao franqueado o empresarial, pelo qual um franqueador autoriza
direito de uso de marca ou patente, associado por meio de contrato um franqueado a usar
ao direito de distribuição exclusiva ou marcas e outros objetos de propriedade
semiexclusiva de produtos ou serviços e, intelectual, sempre associados ao direito de
eventualmente, também ao direito de uso de produção ou distribuição exclusiva ou não
tecnologia de implantação e administração de exclusiva de produtos ou serviços e também
negócio ou sistema operacional desenvolvidos ao direito de uso de métodos e sistemas de
ou detidos pelo franqueador, mediante implantação e administração de negócio ou
remuneração direta ou indireta, sem que, no sistema operacional desenvolvido ou detido
entanto, fique caracterizado vínculo pelo franqueador, mediante remuneração
empregatício. (Revogado) direta ou indireta, sem caracterizar relação de
consumo ou vínculo empregatício em relação
ao franqueado ou a seus empregados, ainda
que durante o período de treinamento.

3.2. CONTRATANTES

O contrato de franquia possui dois contratantes:


• Franqueador (a): deve ser titular ou requerente de direitos sobre as marcas e outros
objetos de propriedade intelectual negociados no âmbito do contrato de franquia, ou
estar expressamente autorizado pelo titular.
Salienta-se que mesmo antes da previsão legal do requerente como franqueador, a
doutrina e a jurisprudência já admitiam tal hipótese.
• Franqueado (a): Empresário individual ou sociedade empresária.
A Lei 13.966/2019 passou a prever que empresa estatal ou entidades sem fins lucrativos
também podem adotar sistema de franquia, independentemente do segmento em que desenvolva
suas atividades.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 288

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3.3. OBJETOS DO CONTRATO

• Contratação da licença de uso de marca ou outros objetos de propriedade intelectual


(gênero que possui como espécie o direito autoral e a propriedade industrial);
• Contratação do direito de distribuição exclusiva ou não exclusiva de produtos ou
serviços.
• Contratação do direito de produção de distribuição exclusiva ou não exclusiva de
produtos ou serviços
• Transferência de know-how (conhecimento técnico) do franqueador para o
franqueado.

3.4. INEXISTÊNCIA DA RELAÇÃO DE CONSUMO ENTRE FRANQUEADOR E


FRANQUEADO

De acordo com o entendimento pacífico da jurisprudência, não existe qualquer relação de


consumo entre o franqueador e o franqueado, tendo em vista que:
• O franqueado não é considerado parte mais fraca em relação ao franqueador;
• O franqueado não é destinatário final de seus produtos e serviços, já que os bens e
serviços contratados são indispensáveis ao desenvolvimento de seu negócio;
• Aplicam-se as regras dos contratos empresariais.
A Lei 13.966/2019 confirma o entendimento jurisprudencial, afirmando em seu art. 1º que o
contrato de franquia não caracteriza relação de consumo

3.5. INEXISTÊNCIA DE VÍNCULO EMPREGATÍCIO

A Lei 13.966/2019 reforçou o entendimento anterior dispondo que o contrato de franquia não
gera vínculo empregatício em relação ao franqueado ou a seus empregados, nem mesmo durante
o período de treinamento.

3.6. COF - CIRCULAR DE OFERTA DE FRANQUIA

3.6.1. Conceito

É uma ‘ESPÉCIE DE PROPOSTA’ por escrito do franqueador que deve ser fornecida ao
interessado em implantar o sistema de franquia empresarial. No art. 2º da Lei estão descritas todas
as cláusulas que obrigatoriamente devem constar na COF.
Art. 2º Para a implantação da franquia, o franqueador deverá fornecer ao
interessado Circular de Oferta de Franquia, escrita em língua portuguesa, de
forma objetiva e acessível, contendo obrigatoriamente:
I - histórico resumido do negócio franqueado;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 289

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II - qualificação completa do franqueador e das empresas a que esteja ligado,
identificando-as com os respectivos números de inscrição no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ);
III - balanços e demonstrações financeiras da empresa franqueadora,
relativos aos 2 (dois) últimos exercícios;
IV - indicação das ações judiciais relativas à franquia que questionem o
sistema ou que possam comprometer a operação da franquia no País, nas
quais sejam parte o franqueador, as empresas controladoras, o
subfranqueador e os titulares de marcas e demais direitos de propriedade
intelectual;
V - descrição detalhada da franquia e descrição geral do negócio e das
atividades que serão desempenhadas pelo franqueado;
VI - perfil do franqueado ideal no que se refere a experiência anterior,
escolaridade e outras características que deve ter, obrigatória ou
preferencialmente;
VII - requisitos quanto ao envolvimento direto do franqueado na operação e
na administração do negócio;
VIII - especificações quanto ao:
a) total estimado do investimento inicial necessário à aquisição, à implantação
e à entrada em operação da franquia;
b) valor da taxa inicial de filiação ou taxa de franquia;
c) valor estimado das instalações, dos equipamentos e do estoque inicial e
suas condições de pagamento;
IX - informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem
pagos pelo franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados,
detalhando as respectivas bases de cálculo e o que elas remuneram ou o fim
a que se destinam, indicando, especificamente, o seguinte:
a) remuneração periódica pelo uso do sistema, da marca, de outros objetos
de propriedade intelectual do franqueador ou sobre os quais este detém
direitos ou, ainda, pelos serviços prestados pelo franqueador ao franqueado;
b) aluguel de equipamentos ou ponto comercial;
c) taxa de publicidade ou semelhante;
d) seguro mínimo;
X - relação completa de todos os franqueados, subfranqueados ou
subfranqueadores da rede e, também, dos que se desligaram nos últimos 24
(vinte quatro) meses, com os respectivos nomes, endereços e telefones;
XI - informações relativas à política de atuação territorial, devendo ser
especificado:
a) se é garantida ao franqueado a exclusividade ou a preferência sobre
determinado território de atuação e, neste caso, sob que condições;
b) se há possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços
fora de seu território ou realizar exportações;
c) se há e quais são as regras de concorrência territorial entre unidades
próprias e franqueadas;
XII - informações claras e detalhadas quanto à obrigação do franqueado de
adquirir quaisquer bens, serviços ou insumos necessários à implantação,
operação ou administração de sua franquia apenas de fornecedores
indicados e aprovados pelo franqueador, incluindo relação completa desses
fornecedores;
XIII - indicação do que é oferecido ao franqueado pelo franqueador e em quais
condições, no que se refere a:
a) suporte;
b) supervisão de rede;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 290

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
c) serviços;
d) incorporação de inovações tecnológicas às franquias;
e) treinamento do franqueado e de seus funcionários, especificando duração,
conteúdo e custos;
f) manuais de franquia;
g) auxílio na análise e na escolha do ponto onde será instalada a franquia; e
h) leiaute e padrões arquitetônicos das instalações do franqueado, incluindo
arranjo físico de equipamentos e instrumentos, memorial descritivo,
composição e croqui;
XIV - informações sobre a situação da marca franqueada e outros direitos de
propriedade intelectual relacionados à franquia, cujo uso será autorizado em
contrato pelo franqueador, incluindo a caracterização completa, com o
número do registro ou do pedido protocolizado, com a classe e subclasse,
nos órgãos competentes, e, no caso de cultivares, informações sobre a
situação perante o Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC);
XV - situação do franqueado, após a expiração do contrato de franquia, em
relação a:
a) know-how da tecnologia de produto, de processo ou de gestão,
informações confidenciais e segredos de indústria, comércio, finanças e
negócios a que venha a ter acesso em função da franquia;
b) implantação de atividade concorrente à da franquia;
XVI - modelo do contrato-padrão e, se for o caso, também do pré-contrato-
padrão de franquia adotado pelo franqueador, com texto completo, inclusive
dos respectivos anexos, condições e prazos de validade;
XVII - indicação da existência ou não de regras de transferência ou sucessão
e, caso positivo, quais são elas;
XVIII - indicação das situações em que são aplicadas penalidades, multas ou
indenizações e dos respectivos valores, estabelecidos no contrato de
franquia;
XIX - informações sobre a existência de quotas mínimas de compra pelo
franqueado junto ao franqueador, ou a terceiros por estes designados, e
sobre a possibilidade e as condições para a recusa dos produtos ou serviços
exigidos pelo franqueador;
XX - indicação de existência de conselho ou associação de franqueados, com
as atribuições, os poderes e os mecanismos de representação perante o
franqueador, e detalhamento das competências para gestão e fiscalização da
aplicação dos recursos de fundos existentes;
XXI - indicação das regras de limitação à concorrência entre o franqueador e
os franqueados, e entre os franqueados, durante a vigência do contrato de
franquia, e detalhamento da abrangência territorial, do prazo de vigência da
restrição e das penalidades em caso de descumprimento;
XXII - especificação precisa do prazo contratual e das condições de
renovação, se houver;
XXIII - local, dia e hora para recebimento da documentação proposta, bem
como para início da abertura dos envelopes, quando se tratar de órgão ou
entidade pública.
§ 1º A Circular de Oferta de Franquia deverá ser entregue ao candidato a
franqueado, no mínimo, 10 (dez) dias antes da assinatura do contrato ou pré-
contrato de franquia ou, ainda, do pagamento de qualquer tipo de taxa pelo
franqueado ao franqueador ou a empresa ou a pessoa ligada a este, salvo no
caso de licitação ou pré-qualificação promovida por órgão ou entidade
pública, caso em que a Circular de Oferta de Franquia será divulgada logo no
início do processo de seleção.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 291

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
§ 2º Na hipótese de não cumprimento do disposto no § 1º, o franqueado
poderá arguir anulabilidade ou nulidade, conforme o caso, e exigir a
devolução de todas e quaisquer quantias já pagas ao franqueador, ou a
terceiros por este indicados, a título de filiação ou de royalties, corrigidas
monetariamente.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SP (2021) Caso o franqueado não receba a Circular de Oferta de Franquia
no prazo legalmente estabelecido, poderá exigir devolução de todas e
quaisquer quantias pagas ao franqueador a título de filiação, mas não de
royalties. Errada!

TJ/BA (2019) O contrato de franquia pode ocorrer no âmbito da administração


pública indireta e visa à prestação de serviço uti singuli, aplicando-se ao
contrato, subsidiariamente, as regras da Lei de Franquia Empresarial.
Correta!

3.6.2. Prazo legal e obrigatoriedade

A Lei 13.966/2019 manteve o prazo legal e a obrigatoriedade da circular de oferta de


franquia.
PRAZO DE REFLEXÃO – é o prazo para que o candidato a franqueado reflita sobre o COF.
A Lei prevê o prazo mínimo de 10 dias, salvo no caso de licitação.
Art. 2º, § 1º A Circular de Oferta de Franquia deverá ser entregue ao
candidato a franqueado, no mínimo, 10 (dez) dias antes da assinatura do
contrato ou pré-contrato de franquia ou, ainda, do pagamento de qualquer
tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador ou a empresa ou a pessoa ligada
a este, salvo no caso de licitação ou pré-qualificação promovida por
órgão ou entidade pública, caso em que a Circular de Oferta de Franquia
será divulgada logo no início do processo de seleção.

Em relação ao desrespeito do prazo de 10 dias, observe o quadro comparativo:


Lei 8.955/94 (revogada) Lei 13.966/2019)
Art. 4º, Parágrafo único. Na hipótese do não Art. 2º,§ 2º Na hipótese de não cumprimento
cumprimento do disposto no caput deste artigo, do disposto no § 1º, o franqueado poderá arguir
o franqueado poderá arguir a anulabilidade do anulabilidade ou nulidade, conforme o caso, e
contrato e exigir devolução de todas as exigir a devolução de todas e quaisquer
quantias que já houver pagado ao franqueador quantias já pagas ao franqueador, ou a
ou a terceiros por ele indicados, a título de taxa terceiros por estes indicados, a título de filiação
de filiação e royalties, devidamente corrigidas, ou de royalties, corrigidas monetariamente.
pela variação da remuneração básica dos
Não há mais previsão de perdas e danos.
depósitos de poupança mais perdas e danos.

3.6.3. Novidades da COF trazidas pela Lei 13.966/2019

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 292

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a) Histórico resumido do negócio
Na lei anterior havia apenas a previsão de histórico do franqueador. Com a Lei 13.966/2019
é necessário que haja o histórico do negócio e do franqueador, para que haja uma tomada de
decisão consciente.
b) Ampliação do prazo da relação de franqueados
A COF deve apresentar uma relação completa dos franqueados, pelo prazo de 24 meses
(era de 12 meses antes), deve incluir até os tenham se desligado da rede.
c) Regras de transferência ou de sucessão
A COF deve indicar as regras de transferência ou de sucessão
d) Indicação de penalidades, multas e indenizações
A Lei prevê que a COF deve indicar as situações em que são aplicadas penalidades, multas
ou indenizações e dos respectivos valores, estabelecidos no contrato de franquia
e) Quotas mínimas de compras
A COF deve conter informações sobre a existência de quotas mínimas de compra pelo
franqueado junto ao franqueador, ou a terceiros por estes designados, e sobre a possibilidade e as
condições para a recusa dos produtos exigido pelo franqueador.
f) Atuação territorial
Na vigência da Lei 8.955/94 a COF deveria especificar:
• Se é garantida ao franqueado exclusividade ou preferência sobre determinado
território de atuação e, caso positivo, em que condições o faz;
• Possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços fora de seu
território ou realizar exportações.
A Lei 13.966/2019 manteve os dois casos acima e determinou que também deve ser
especificado se há e quais são as regras de concorrência territorial entre unidades próprias e
franqueadas.

3.6.4. COF e falsidade de informações

Nos casos em que o franqueador omitir informações ou prestar informações inverídicas, sem
prejuízo das sanções penais cabíveis, poderá ser exigida a devolução de todas e quaisquer quantias
já pagas ao franqueador, ou a terceiros por estes indicados, a título de filiação ou de royalties,
corrigidas monetariamente.

3.7. SUBLOCAÇÃO DO PONTO

Observe o disposto no art. 3º da Lei 13.966/2019:


Art. 3º Nos casos em que o franqueador subloque ao franqueado o ponto
comercial onde se acha instalada a franquia, qualquer uma das partes terá
legitimidade para propor a renovação do contrato de locação do imóvel,
vedada a exclusão de qualquer uma delas do contrato de locação e de

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 293

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sublocação por ocasião da sua renovação ou prorrogação, salvo nos casos
de inadimplência dos respectivos contratos ou do contrato de franquia.
Parágrafo único. O valor do aluguel a ser pago pelo franqueado ao
franqueador, nas sublocações de que trata o caput, poderá ser superior ao
valor que o franqueador paga ao proprietário do imóvel na locação originária
do ponto comercial, desde que:
I - essa possibilidade esteja expressa e clara na Circular de Oferta de
Franquia e no contrato; e
II - o valor pago a maior ao franqueador na sublocação não implique
excessiva onerosidade ao franqueado, garantida a manutenção do equilíbrio
econômico-financeiro da sublocação na vigência do contrato de franquia.

Na Lei de Locação há a previsão de que apenas o franqueado poderia ajuizar a ação


renovatória. A Lei 13.966/2019 passou a prever a legitimidade do franqueado e do franqueador para
propor a ação renovatória.
Por fim, salienta-se que para franquia não mais se aplica o art. 21 da Lei de Locação, mas
sim o parágrafo único do art. 3º da Lei 13.966/2019, assim será possível que o valor de sublocação
seja maior que o valor de locação, desde que esteja expresso na COF e que o valor não implique
excessiva onerosidade ao franqueado.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SP (2021) Sobre o regime de franquia empresarial, é correto afirmar que
pode ser adotado por empresa privada, empresa estatal ou entidade sem fins
lucrativos. Correta!

4. CONTRATO DE FACTORING OU FOMENTO MERCANTIL

4.1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

Esses contratos de agora não são tão importantes quanto os 03 primeiros.


Não existe previsão legal para esse contrato. Por isso, que ao contrato de ‘FACTORING’
aplicam-se as regras de cessão de crédito do CC/2002 (arts. 286 e seguintes).
Apesar de não ter previsão legal, o contrato de factoring tem seu conceito dado pelo art. 17
da LC 123/06:
Factoring é o contrato que explora atividade de prestação cumulativa e contínua de serviços
de assessoria creditícia, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de contas a pagar e a
receber, compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou de prestação
de serviços.
Art. 17. Não poderão recolher os impostos e contribuições na forma do
Simples Nacional a microempresa ou a empresa de pequeno porte:
I - que explore atividade de prestação cumulativa e contínua de serviços de
assessoria creditícia, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de
contas a pagar e a receber, gerenciamento de ativos (asset management),
compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou
de prestação de serviços (FACTORING);

Na factoring existem duas figuras:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 294

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• Faturizador (a): Empresa de factoring.
• Faturizado (a): Quem vende o crédito para a empresa.
Por meio dessa espécie de contrato, permite-se ao titular de um crédito (faturizado),
normalmente expresso por um título de crédito, negociar com uma empresa (faturizadora) a cessão
de seu direito creditício, quando a faturizadora assumirá a propriedade do título mediante
pagamento de um determinado valor ao cedente, normalmente inferior ao valor do título, daí
decorrendo a lucratividade da atividade.
Ou seja, a empresa de factoring realiza a compra do faturamento do faturizado (normalmente
títulos e crédito), transformando em dinheiro vivo o que até então era mero direito creditício,
fomentando, assim, a atividade mercantil do faturizado.
Exemplo: A empresa vende mercadorias e emite duplicatas ao comprador-devedor, com
vencimentos futuros. Vai, então, até a empresa de faturização e vende essas duplicatas. No entanto,
a empresa de factoring não irá pagar pelas duplicatas o valor total dos créditos. Vai descontar o
chamado fator de compra (valor de deságio), que terá a função de remunerar o risco pela
inadimplência, as despesas com a administração do crédito, bem como fornecer algum lucro à
atividade.
Quando ocorre essa cessão de crédito, deve-se atentar para a regra do art. 296 do CC. O
cedente (faturizado) não responde pelo pagamento do título (pro solvendo), apenas pela sua
existência (pro soluto). Essa é a diferença para o desconto bancário (outra espécie de contrato
empresarial).

FACTORING DESCONTO BANCÁRIO


O cessionário do título não precisa ser instituição O adquirente do crédito só pode ser instituição
financeira. financeira.
O cedente não responde pelo adimplemento da O cedente responde pela existência + pagamento (pro
dívida, mas tão somente pela existência do crédito solvendo).
(pro soluto).

OBS1 (Santa Cruz): há decisão do STJ permitindo no factoring o direito de regresso do


faturizador contra o faturizado, em caso de inadimplemento dos títulos cedidos se assim acordado
(como se fosse um endosso). Pro solvendo.
O contrato de factoring é um contrato de prestação cumulativa, ou seja, pressupõe uma
continuidade nas operações de compra e venda de créditos. Dessa forma, a faturizadora dá um
verdadeiro serviço de assessoria ao faturizado, de modo que este somente receba títulos bons, a
fim de que todos (faturizado e faturizadora) saiam ganhando.

4.2. ESPÉCIES DE CONTRATO DE FACTORING

Há duas espécies: FACTORING TRADICIONAL e FACTORING DE VENCIMENTO.


Vejamos:

4.2.1. Factoring tradicional

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 295

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O faturizado vende o faturamento para a empresa (faturizadora) e ela paga antecipadamente
(ANTES dos vencimentos dos créditos).
O empresário cede à factoring os títulos de crédito que recebeu em sua atividade empresária
e que somente irão vencer em uma data futura, e a empresa de factoring antecipa esse pagamento,
recebendo, como contraprestação, um percentual desses créditos. Trata-se de uma forma de o
empresário obter capital de giro nas vendas a prazo.
Ex.: uma loja recebe um cheque “pré-datado” (pós-datado) para 90 dias no valor de R$ 10
mil. Ocorre que a loja precisa de dinheiro logo. Então, ela cede o cheque para a empresa de
factoring, que irá pagar à vista para a loja R$ 9.700,00 e, daqui a 90 dias, irá descontar o cheque,
ficando com os R$ 10 mil. A loja recebeu o crédito à vista e teve que pagar um percentual à factoring.
É como se o cliente tivesse “vendido” o título para a factoring, que irá cobrar do devedor no
momento do vencimento da dívida.
O contrato de convencional factoring é um contrato de mútuo? NÃO. Em verdade, consiste
em uma compra e venda de créditos (direitos), por um preço ajustado entre as partes.

4.2.2. Factoring de vencimento

Aqui, a faturizadora não antecipa qualquer pagamento ao empresário. O faturizado somente


irá receber realmente na data do vencimento.
Nesta modalidade de factoring, a faturizadora apenas fica responsável pela prestação de
serviços de administração do crédito.
Ex.: a faturizada recebe inúmeros cheques pós-datados e duplicatas que somente vencerão
daqui a alguns dias, cada um em uma data diferente. Para evitar preocupações com esse controle
das datas e das cobranças, o empresário manda esses títulos para a factoring, que ficará
responsável por gerenciar esses créditos e fazer a cobrança nas datas de vencimento. Na data do
vencimento de cada título, a factoring paga o crédito ao empresário e vai cobrar dos devedores
originários, dispensando a faturizada desse trabalho.

4.3. JURISPRUDÊNCIA

Empresa de factoring que recebeu cessão dos créditos de contrato tem legitimidade para
figurar no polo passivo da ação que pede a revisão do pacto
A empresa de factoring, que figura como cessionária dos direitos e obrigações estabelecidos
em contrato de compra e venda em prestações, de cuja cessão foi regularmente cientificado o
devedor, tem legitimidade para figurar no polo passivo de demandas que visem à revisão das
condições contratuais. Ex: Pedro comprou da loja uma moto parcelada. No mesmo instrumento
contratual, a loja cedeu esse crédito para uma factoring. Assim, no próprio contrato de compra e
venda havia uma cláusula dizendo que a loja estava cedendo o crédito para a factoring, a quem o
devedor deveria pagar as parcelas e que, em caso de inadimplemento, a factoring iria pleitear a
restituição do bem vendido. Se Pedro desejar propor ação pedindo a revisão deste contrato, poderá
ajuizá-la diretamente contra a factoring. STJ. 4ª Turma. REsp 1343313-SC, Rel. Min. Luís Felipe
Salomão, Rel. para acórdão Min. Antônio Carlos Ferreira, julgado em 1/6/2017 (Info 608).
Riscos do inadimplemento

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 296

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Caso a faturizadora não consiga receber do devedor o valor do título, ela poderá cobrar essa
quantia do faturizado que lhe cedeu esse crédito? Ex.: mulher foi até a loja de sapatos e pagou com
um cheque pós-datado de R$ 700,00. A loja “vendeu” esse cheque para a factoring. Ocorre que o
cheque não foi descontado por falta de fundos. A faturizadora poderá cobrar a quantia do faturizado
(loja)? Regra: NÃO. O risco assumido pelo faturizador é inerente à operação de factoring, não
podendo o faturizado ser demandado para responder regressivamente. Essa impossibilidade de
regresso decorre do fato de que a faturizada não garante a solvência do título. Exceção: o faturizado
pode ser demandado para responder regressivamente se tiver dado causa ao inadimplemento dos
contratos cedidos. STJ. 4ª Turma. REsp 1163201/PE, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, julgado em
02/12/2014.
A empresa faturizada não responde pelo simples inadimplemento dos títulos cedidos, salvo
se der causa à inadimplência
A empresa faturizada não responde pelo simples inadimplemento dos títulos cedidos, salvo
se der causa à inadimplência do devedor. Mesmo que o contrato de factoring preveja a
responsabilidade da faturizada nesses casos, tal cláusula deverá ser considerada nula. Assim, deve
ser declarada nula a cláusula de recompra, tendo em vista que a estipulação contratual nesse
sentido retira da empresa de factoring o risco inerente aos contratos dessa natureza. STJ. 4ª Turma.
AgRg no REsp 1361311/MG, Rel. Min. Antônio Carlos Ferreira, julgado em 20/11/2014.
A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de factoring
vinculado a nota promissória, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente
Em regra, a empresa de factoring não tem direito de regresso contra a faturizada — com
base no inadimplemento dos títulos transferidos —, haja vista que esse risco é da essência do
contrato de factoring. Essa impossibilidade de regresso decorre do fato de que a faturizada não
garante a solvência do título, o qual, muito pelo contrário, é garantido exatamente pela empresa de
factoring. Essa característica, todavia, não afasta a responsabilidade da cedente em relação à
existência do crédito, pois tal garantia é própria da cessão de crédito comum — pro soluto. É por
isso que a doutrina, de forma uníssona, afirma que no contrato de factoring e na cessão de crédito
ordinária, a faturizada/cedente não garante a solvência do crédito, mas a sua existência sim. Nesse
passo, o direito de regresso da factoring contra a faturizada deve ser reconhecido quando estiver
em questão não um mero inadimplemento, mas a própria existência do crédito. Ex: a faturizadora
terá direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de factoring vinculado a nota
promissória, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente. Neste caso, fica claro que as duplicatas
que ensejaram o processo executivo são desprovidas de causa ("frias"), e tal circunstância
consubstancia vício de existência dos créditos cedidos — e não mero inadimplemento —, o que
gera a responsabilidade regressiva da cedente perante a cessionária. STJ. 4ª Turma. REsp
1289995-PE, Rel. Ministro Luís Felipe Salomão, julgado em 20/2/2014 (Info 535).
Sociedade empresária que contrata com factoring não é consumidora
As empresas de factoring não são instituições financeiras, visto que suas atividades
regulares de fomento mercantil não se amoldam ao conceito legal, tampouco efetuam operação de
mútuo ou captação de recursos de terceiros. Uma sociedade empresária que contrata os serviços
de uma factoring não pode ser considerada consumidora porque não é destinatária final do serviço
e, tampouco se insere em situação de vulnerabilidade, já que não se apresenta como sujeito mais
fraco, com necessidade de proteção estatal. Logo, não há relação de consumo no contrato entre
uma sociedade empresária e a factoring. STJ. 4ª Turma. REsp 938979-DF, Rel. Min. Luís Felipe
Salomão, julgado em 19/6/2012.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 297

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Factoring não é instituição financeira
As empresas popularmente conhecidas como factoring desempenham atividades de
fomento mercantil, de cunho meramente comercial, em que se ajusta a compra de créditos
vencíveis, mediante preço certo e ajustado, e com recursos próprios, não podendo ser
caracterizadas como instituições financeiras. STJ. 3ª Seção. CC 98062/SP, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 25/08/2010.
Juros limitados a 12% ao ano
As empresas de “factoring” não se enquadram no conceito de instituições financeiras e, por
isso, os juros remuneratórios estão limitados em 12% ao ano, nos termos da Lei de Usura. STJ. 4ª
Turma. REsp 1048341/RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julgado em 10/02/2009.

5. REPRESENTAÇÃO COMERCIAL

É o menos importante dos contratos. Previsão legal: Lei 4.886/65.

5.1. INTRODUÇÃO

Prevalece que na doutrina que a REPRESENTAÇÃO COMERCIAL não se confunde com


CONTRATO DE AGÊNCIA (que tem previsão no CC).
Há autores que defendem que a representação e a agência são o mesmo instituto (Maria
Helena Diniz, André Santa Cruz), de forma que a Lei teria sido revogada pelo CC/2002.
Lei 4.886/65 Art. 1º Exerce a representação comercial autônoma a pessoa
jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que desempenha, em
caráter não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a
realização de negócios mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para,
transmiti-los aos representados, praticando ou não atos relacionados com a
execução dos negócios.

Temos aqui duas figuras:


• Representante: Empresário individual ou sociedade empresária.
• Representado: Empresário individual ou sociedade empresária.
Entre eles não há vínculo empregatício: trata-se de contrato empresarial, que pressupõe não
eventualidade.
Operação realizada pelo representante: Mediação de negócios mercantis. O representante
aproxima os negócios da empresa representada com os estabelecimentos comerciais de
determinada localidade. As lojas realizam os pedidos para o representante, que repassa para a
empresa representada, que os avalia e entrega os pedidos diretamente à loja. Por cada transação
efetivada, o representante é remunerado na forma de comissão.

5.2. CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO X CONTRATO DE AGÊNCIA (ART. 710 DO CC)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 298

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O objeto da mediação no CC é mais amplo. O representante comercial só agência negócios
empresariais. O agente, por sua vez, realiza negócios de outras naturezas (ex.: agente de
associação vende um pacote recreativo de associação para pessoas físicas).
CC Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não
eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta
de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona
determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua
disposição a coisa a ser negociada.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2019) Pelo contrato de distribuição, uma pessoa assume, em
caráter não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de
promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos
negócios, em zona determinada, tendo à sua disposição a coisa a ser
negociada. Correta!

5.3. EXCLUSIVIDADE NA REPRESENTAÇÃO COMERCIAL

Existem dois tipos de exclusividade:


• Exclusividade de zona geográfica (art. 31 da Lei);
• Exclusividade de representação (art. 31, parágrafo único).
Vejamos:

5.3.1. Exclusividade de zona geográfica (art. 31 da Lei)

O contrato pode prever que o representante tenha exclusividade de representação em


determinada localidade ou região. Na omissão do contrato, a exclusividade é presumida (art. 31 da
Lei).
Lei 4.886/65 Art. 31. Prevendo o contrato de representação a exclusividade
de zona ou zonas, ou quando este for omisso, fará jus o representante à
comissão pelos negócios aí realizados, ainda que diretamente pelo
representado ou por intermédio de terceiros.

5.3.2. Exclusividade de representação (art. 31, parágrafo único)

Em não existindo previsão no contrato, presume-se que não há qualquer exclusividade, ou


seja, o sujeito pode representar quantas empresas do mesmo ramo ele bem entender.
Lei 4.886/65 Art. 31, Parágrafo único. A exclusividade de REPRESENTAÇÃO
não se presume na ausência de ajustes expressos.

OBS: NÃO CONFUNDIR. Exclusividade na agência: Aplica-se o art. 711 do CC. Em


QUALQUER dos casos haverá presunção de exclusividade. Ou seja, o proponente
(representado) não poderá instituir outro agente naquela zona, tampouco o agente poderá
representar outra empresa do mesmo ramo.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 299

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CC Art. 711. Salvo ajuste, o proponente não pode constituir, ao mesmo
tempo, mais de um agente, na mesma zona, com idêntica incumbência; nem
pode o agente assumir o encargo de nela tratar de negócios do mesmo
gênero, à conta de outros proponentes.

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/MS (2021) Magnólia assinou contrato para representar comercialmente
determinada marca de perfumes em uma zona geográfica. Tal contrato não
tratava de eventual exclusividade nas operações daquela região. Magnólia
poderá cobrar do representado as comissões por negócios realizados em sua
área, mesmo que feitos diretamente pelo representado, desde que demonstre
a exclusividade geográfica por outros meios. Correta!

5.4. RESCISÃO DO CONTRATO

Devemos fazer duas análises:


• Contrato com prazo indeterminado;
• Contrato com prazo determinado.
Vejamos:

5.4.1. Contrato com prazo INDETERMINADO

No contrato de REPRESENTAÇÃO por prazo indeterminado, a lei prevê a necessidade de


aviso prévio de 30 dias para ser possível a rescisão sem justa causa, caso o contrato haja vigorado
por mais de 06 meses.
Lei 4.886/65 Art. 34. A denúncia, por qualquer das partes, sem causa
justificada, do contrato de representação, ajustado por tempo indeterminado
e que haja vigorado por mais de seis meses, obriga o denunciante, salvo
outra garantia prevista no contrato, à concessão de pré-aviso, com
antecedência mínima de trinta dias, ou ao pagamento de importância
igual a um terço (1/3) das comissões auferidas pelo representante, nos
três meses anteriores.

No contrato de AGÊNCIA, conforme o art. 720 do CC, esse aviso prévio sobe para 90 dias,
e pressupõe que já tenha transcorrido prazo compatível com a natureza do investimento (espécie
de prazo de fidelidade).
CC Art. 720. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes
poderá resolvê-lo, mediante aviso prévio de noventa dias, desde que
transcorrido prazo compatível com a natureza e o vulto do investimento
exigido do agente.
Parágrafo único. No caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da
razoabilidade do prazo e do valor devido.

Valor Indenização: Em não sendo observados esses prazos de aviso prévio, a outra parte
contratante fará jus à indenização de 1/12 do total já auferido como representante.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 300

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Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos comuns
e outros a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente:
...
j) indenização devida ao representante pela rescisão do contrato fora dos
casos previstos no art. 35, cujo montante não poderá ser inferior a 1/12 (um
doze avos) do total da retribuição auferida durante o tempo em que exerceu
a representação.

Art. 35. Constituem motivos justos para rescisão do contrato de


representação comercial, pelo representado:

5.4.2. Contrato com prazo DETERMINADO

A rescisão antecipada do contrato sem justa causa dá ao agente direito à indenização (art.
27, §1º da Lei).
Valor da indenização: Média mensal da retribuição auferida até então VEZES metade dos
meses restantes para o fim do contrato.

Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos comuns


e outros a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente:
...
§ 1° Na hipótese de contrato a prazo certo, a indenização corresponderá à
importância equivalente à média mensal da retribuição auferida até a data da
rescisão, multiplicada pela metade dos meses resultantes do prazo
contratual.

OBS: Contrato de AGÊNCIA: O CC não fala nada em valores de indenização. E mais: Manda que
se aplique a legislação especial, qual seja, a lei de contrato de representação.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SP (2021) A desídia do representante no cumprimento das obrigações
decorrentes do contrato de representação comercial não constitui motivo
justo para sua rescisão. Errada!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 301

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
DIREITO FALIMENTAR (Lei 11.101/05)

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Lei 11.101/05 disciplina a falência, a recuperação judicial e a recuperação extrajudicial.


Em 2021 entrou em vigor a Lei 14.112/2020 que alterou substancialmente a Lei de Falências, mas
cuidado não se trata de uma Nova Lei de Falências (como muitos dizem), a Lei de Falências
continua sendo a Lei 11.101/2005.

O que se busca na falência é a par conditio creditorium, ou seja, a igualdade de tratamento


entre os credores. A falência não deixa de ser uma execução coletiva, não beneficia apenas quem
a pediu, mas todos os credores conforme a ordem de classificação (execução concursal).

2. ÂMBITO DE INCIDÊNCIA DA LEI

LF Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação


extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante
referidos simplesmente como devedor.

Art. 2o Esta Lei não se aplica a:


I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio,
entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de
assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e
outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

A Lei de Falência só se aplica ao empresário individual e à sociedade empresária. A


sociedade simples, por exemplo, não pode falir ou pedir recuperação judicial (pois não explora
atividade empresarial).
DETALHE: A Lei não se aplica a todo e qualquer empresário ou sociedade empresária; o
art. 2º apresenta o rol dos chamados excluídos da incidência da lei.
O art. 2º se subdivide em dois incisos: O inciso I trata dos totalmente excluídos; o inciso II
traz os parcialmente excluídos.

1) TOTALMENTE excluídos:

• Empresa Pública;
• Sociedade de economia mista
Em hipótese alguma, essas pessoas podem falir ou pedir recuperação.

2) PARCIALMENTE excluídos:

• Instituição financeira pública ou privada;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 302

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• Consórcio;
• Cooperativa de crédito;
• Seguradora;
• Operadora de plano de saúde;
• Entidade de previdência complementar;
• Sociedade de capitalização;
• Outras entidades legalmente equiparadas a estas (ex.: empresa de leasing;
administradora de cartão de crédito etc.).
Essas pessoas, a princípio não podem falir, porém TODOS os casos podem passar por uma
liquidação extrajudicial, situação na qual é nomeado um liquidante. Esse liquidante, e somente
ele, pode pedir a falência das pessoas do inciso II.
Sobre o tema, vale a pena conferir o seguinte julgado:
FALÊNCIA. A competência para processar e julgar o pedido de falência de
empresa em liquidação extrajudicial, ou seja, sob intervenção do BACEN é
da Justiça Estadual (e não da Justiça Federal). Terceira Turma. REsp
1.162.469-PR, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJ 12/4/2012.

Explicando o julgado. O art. 109, I, da CF estabelece:


Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal
forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes,
exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça
Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Por sua vez, a Lei 6.024/74, que dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial de
instituições financeiras, estabelece o seguinte:
Lei n. 6.024/74 Art. 34. Aplicam-se a liquidação extrajudicial no que couberem
e não colidirem com os preceitos desta Lei, as disposições da Lei de
Falências (Decreto-lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945), equiparando-se ao
síndico, o liquidante, ao juiz da falência, o Banco Central do Brasil, sendo
competente para conhecer da ação revocatória prevista no artigo 55 daquele
Decreto-lei, o juiz a quem caberia processar e julgar a falência da instituição
liquidanda.

Art. 44. Se o inquérito concluir pela inexistência de prejuízo, será, no caso de


intervenção e de liquidação extrajudicial, arquivado no próprio Banco Central
do Brasil, ou, no caso de falência, será remetido ao competente juiz, que
o mandará apensar aos respectivos autos.

A Lei de Falências (Lei 11.101/2005), em seu art. 2º, II, como vimos, prevê a NÃO aplicação
de suas disposições às instituições financeiras públicas ou privadas, cooperativas de crédito,
consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à
saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente
equiparadas às anteriores. Entretanto, o art. 197 do referido diploma legal dispõe:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 303

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
LF Art. 197 Enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas,
esta Lei aplica-se subsidiariamente, no que couber, aos regimes previstos no
Decreto-Lei n. 73, de 21 de novembro de 1966, na Lei n. 6.024, de 13 de
março de 1974, no Decreto-Lei n. 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, e na Lei
n. 9.514, de 20 de novembro de 1997.

Desse modo, segundo o Ministro Relator, a partir da interpretação dos dispositivos legais
acima mencionados, a competência para processar e julgar o pedido de falência de empresa em
liquidação extrajudicial, ou seja, sob intervenção do BACEN é do Juízo das Falências que, segundo
o art. 109, I, da CF/88 está excluído da competência da Justiça Federal, sendo, portanto, de
competência da Justiça Estadual.
Temos como pressupostos da falência:
• Condição de empresário ou sociedade empresária – pressuposto material subjetivo
• Estado de insolvência – pressuposto material objetivo
• Declaração judicial de falência – pressuposto formal

Como o tema foi o cobrado em concurso?


MPE/SC (2021) As instituições financeiras se sujeitam às disposições da Lei
de Recuperações e Falências. Errada!

3. JUÍZO COMPETENTE

A ação de falência compete à Justiça Comum Estadual, mesmo que o autor da ação seja
entidade federal, nos termos da exceção contida no art. 109, I da CF, in verbis:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal
forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes,
EXCETO AS DE FALÊNCIA, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

O foro competente é do local do principal estabelecimento do devedor (do ponto de vista


econômico – local com o maior volume de negócios). Se a sede for fora do Brasil, será competente
o juízo do local da filial.
LF Art. 3o É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial,
deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do
principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede
fora do Brasil.

(...) A qualificação de principal estabelecimento, referido no art. 3º da Lei n.


11.101/2005, revela uma situação fática vinculada à apuração do local onde
exercidas as atividades mais importantes da empresa, não se confundindo,
necessariamente, com o endereço da sede, formalmente constante do
estatuto social e objeto de alteração no presente caso. (...) STJ. 4ª Turma.
REsp 1006093/DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 20/05/2014.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 304

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Além disso, o STJ entende que é absoluta a competência do local em que se encontra o
principal estabelecimento para julgar a recuperação judicial; isso é aferido no momento da
propositura da demanda, sendo irrelevante eventual modificação posterior do volume negocial.
No curso do processo de recuperação judicial, as modificações em relação
ao principal estabelecimento, por dependerem exclusivamente de decisões
de gestão de negócios, sujeitas ao crivo do devedor, não acarretam a
alteração do juízo competente, uma vez que os negócios ocorridos no curso
da demanda nem mesmo se sujeitam à recuperação judicial. STJ. 2ª Seção.
CC 163818-ES, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 23/09/2020 (Info
680).

Ressalta-se que o art. 6º, §8º da Lei de Falências foi alterado a fim de que a distribuição da
homologação de recuperação extrajudicial, ao lado do pedido de falência e da recuperação judicial,
torne o juiz prevento.
Art. 6º, § 8º A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial ou
a homologação de recuperação extrajudicial previne a jurisdição para
qualquer outro pedido de falência, de recuperação judicial ou de
homologação de recuperação extrajudicial relativo ao mesmo
devedor. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

OBS: Atenção para a Súmula 480 do STJ


STJ Súmula 480 O juízo da recuperação judicial não é competente para
decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação
da empresa.

O principal precedente que deu origem a essa súmula foi o CC 103.711/RJ, Rel. p/ Acórdão
Ministro Sidnei Beneti, Segunda Seção, julgado em 10/06/2009.
Com a concessão da recuperação judicial, o juízo que decretou essa recuperação (“juízo da
recuperação”) passa a ser considerado “juízo universal” uma vez que será apenas dele a
competência para realizar os atos de execução, tais como alienação de ativos e pagamento de
credores.
Nesta súmula o STJ afirma que, se determinados bens da empresa em recuperação não
estiverem abrangidos pelo plano de recuperação, eles poderão sofrer constrição (penhora, arresto,
sequestro etc.) por parte de OUTROS juízos, como, por exemplo, a Justiça do Trabalho, não
havendo necessidade de que tais medidas sejam decididas pelo juízo da recuperação judicial.

4. DA FALÊNCIA

4.1. CONCEITO

Define-se a falência como o processo de execução concursal (antigamente denominada


execução coletiva) contra o devedor insolvente (necessariamente empresário ou sociedade
empresária), através do qual se arrecadam judicialmente os bens do falido, a fim de satisfazerem
seus credores.
Ricardo Negrão: falência é um processo de execução coletiva, no qual, todo patrimônio de
um empresário declarado falido (pessoa física/jurídica) é arrecadado, visando o pagamento da

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 305

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universalidade de seus credores de forma completa ou proporcional. É um processo judicial
complexo que compreende a arrecadação dos bens, sua administração e conservação, bem como
a verificação e o acertamento dos créditos, para posterior liquidação dos bens e rateio entre os
credores.
Exemplo: O credor ajuíza uma ação de falência contra um devedor, se dizendo credor de 30
mil reais. Se o juiz julgar a ação procedente e decretar a falência do empresário, o que acontecerá?
TODOS OS BENS do falido serão arrecadados. Esses bens serão vendidos. Com o dinheiro
arrecadado, todos os credores serão pagos, e não apenas aquele que ajuizou a ação. O juiz ordena
o pagamento de todos os credores que forem encontrados durante o processo falimentar,
respeitando a ordem de classificação.

4.2. OBJETIVOS

Os objetivos da falência estão disciplinados no art. 75 da Lei 11.101/05. Até o advento da


Lei 14.112/2020 tínhamos que a falência visava apenas preservar e otimizar a utilização produtiva
dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa.

Atualmente, são objetivos da falência:

• Preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos recursos
produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa;

• Permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à realocação eficiente
de recursos na economia (novidade);

• Fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do retorno célere


do empreendedor falido à atividade econômica (novidade). Trata-se do chamado
fresh start.

Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades,


visa a:
I - preservar e a otimizar a utilização produtiva dos bens, dos ativos e dos
recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa;
II - permitir a liquidação célere das empresas inviáveis, com vistas à
realocação eficiente de recursos na economia; e
III - fomentar o empreendedorismo, inclusive por meio da viabilização do
retorno célere do empreendedor falido à atividade econômica.
§ 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da
economia processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos
demais princípios previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código
de Processo Civil).
§ 2º A falência é mecanismo de preservação de benefícios econômicos e
sociais decorrentes da atividade empresarial, por meio da liquidação imediata
do devedor e da rápida realocação útil de ativos na economia.

4.3. PROCESSO FALIMENTAR (VISÃO GERAL)

O processo se desencadeia da seguinte forma:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 306

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1) Fase pré-falimentar (começa do pedido e vai até a sentença declaratória).
2) Fase falimentar (vai da sentença declaratória até a sentença de encerramento – põe
fim ao processo de falência propriamente dito, neste lapso, muita coisa acontece, é a
principal fase).
3) Fase reabilitação (se inicia com a sentença de extinção das obrigações).

Sentença de
Pedido de Sentença Sentença de
Extinção das
Falência Declaratória Encerramento
obrigações

4.4. LEGITIMIDADE ATIVA DO PEDIDO DE FALÊNCIA

LF Art. 97. Podem requerer a falência do devedor:


I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei;
II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante;
III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo
da sociedade;
IV – qualquer credor.
§ 1o O credor EMPRESÁRIO apresentará certidão do Registro Público de
Empresas que comprove a regularidade de suas atividades. (perceba: para a
sociedade empresária pedir a falência de outra, aquela deve ser regular –
consequência: sociedade em comum não pode pedir a falência de outra
sociedade empresária, mas pode pedir sua autofalência, ver abaixo).
§ 2o O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa
às custas e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei.

Art. 101. Quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na
sentença que julgar improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-
se as perdas e danos em liquidação de sentença.

Conforme o artigo supra, são os legitimados ativos:

4.4.1. Próprio devedor (art. 97, I: empresário ou sociedade empresária)

É a chamada autofalência (art. 105 da Lei).


É a “insolvência confessada” (a insolvência pode ser confessada ou presumida. A
presumida será vista no tópico ‘fundamentos jurídicos da falência’, abaixo).
LF Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender
aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo
sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da
atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos:[...]

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 307

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Para tanto, dois são os requisitos:
• O devedor deve estar em crise econômico-financeira;
• O requerente deve julgar não atender aos requisitos da recuperação judicial. A
falência só é cabível em último caso, vale dizer, quando não cabe a recuperação de
empresa (atendendo o princípio da função social da empresa).

OBS: Conforme a Lei, estando presentes esses requisitos, o


empresário deverá pedir sua falência. PORÉM, é um dever cujo
descumprimento não implica sanção, o que torna a norma ineficaz.

➔ QUESTÃO: sociedade empresária em comum pode pedir autofalência?


SIM. A sociedade em comum (não registrada) só não pode é pedir a falência de outra
empresa, nos termos do art. 105, IV da Lei. Lembrando que a sociedade simples (não empresária)
é o contrário: não pode pedir autofalência, mas pode pedir a falência de outrem (é encaixada no
inciso IV: “qualquer credor”).
LF Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender
aos requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo
sua falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da
atividade empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos:
IV – prova da condição de empresário, contrato social ou estatuto em vigor
ou, se não houver, a indicação de todos os sócios, seus endereços e a
relação de seus bens pessoais;

4.4.2. Cônjuge sobrevivente, herdeiro e inventariante (art. 97, II)

Ocorre no caso de empresário individual que morre e os seus herdeiros percebem que o
falecido estava em situação de insolvência, razão pela qual optam por requerer a falência.
Esse pedido deve ser feito no prazo de 01 ano contado da morte do empresário.

4.4.3. Sócio ou acionista da empresa (art. 97, III)

É pouco usual.
Segundo André Santa Cruz, “quando um sócio entende ser essa a melhor alternativa, mas
a maioria dos sócios não concorda com seu posicionamento, o que ocorre, comumente, é a
dissolução parcial da sociedade, com a retirada do sócio dissidente e a continuidade da empresa ”

4.4.4. Qualquer credor (art. 97, IV)

Seja pessoa física ou jurídica; seja sociedade empresária ou simples (não empresária).
Em se tratando de credor empresário, deve ser REGULAR (registrado). É, por isso, que a
sociedade em comum não pode pedir falência de terceiro (art. 97, §1º).
LF Art. 97, § 1o O credor EMPRESÁRIO apresentará certidão do Registro
Público de Empresas que comprove a regularidade de suas atividades.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 308

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(perceba: para a sociedade empresária pedir a falência de outra, aquela deve
ser regular – consequência: sociedade em comum não pode pedir a falência
de outra sociedade empresária, mas pode pedir sua autofalência, ver abaixo).

O Credor que não tem domicílio no Brasil pode pedir falência, porém deve prestar caução.
É o único caso de exigência de caução no pedido de falência (art. 97 - acima).
LF Art. 97, § 2o O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar
caução relativa às custas e ao pagamento da indenização de que trata o art.
101 desta Lei.

Motivo: Dar celeridade e economia ao processo. Existem pedidos temerários de falência que
têm como objetivo macular a imagem do empresário. Quando isso ocorre (dolo do credor), o juiz
pode condenar o autor a pagar perdas e danos em favor do empresário, na própria ação de falência.
Agora, se o credor for estrangeiro, a cobrança da indenização será extremamente complexa e
onerosa, o que vai contra os princípios do processo falimentar. É por isso que se exige a caução.
Além disso, o art. 75, §1º da Lei de Falências prevê como princípios do processo falimentar
a celeridade e economia processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e dos demais
princípios previstos no CPC.
Art. 75. § 1º O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e
da economia processual, sem prejuízo do contraditório, da ampla defesa e
dos demais princípios previstos na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil).

Destaca-se que até mesmo o credor trabalhista pode fazer o pedido de falência. Nesse
sentido:
A natureza trabalhista do crédito não impede que o credor requeira a falência
do devedor. Assim, o credor trabalhista tem legitimidade ativa para ingressar
com pedido de falência, considerando que o art. 97, IV, da Lei nº 11.101/2005
não faz distinção entre credores. STJ. 3ª Turma. REsp 1544267-DF, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/8/2016 (Info 589).

Em relação à Fazenda Pública, há enunciado da 1ª Jornada de Direito Comercial


entendendo pela sua ilegitimidade e falta de interesse de agir para requer a falência do devedor
empresário, tendo em vista que possui meios próprios para a satisfação do seu crédito.

Enunciado 56 – A Fazenda Pública não possui legitimidade ou interesse de


agir para requerer a falência do devedor empresário.

No mesmo sentido entende o STJ:

TRIBUTÁRIO E COMERCIAL ? CRÉDITO TRIBUTÁRIO ? FAZENDA


PÚBLICA ? AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE PARA REQUERER A FALÊNCIA
DE EMPRESA. 1. A controvérsia versa sobre a legitimidade de a Fazenda
Pública requerer falência de empresa. 2. O art. 187 do CTN dispõe que os
créditos fiscais não estão sujeitos a concurso de credores. Já os arts. 5º, 29
e 31 da LEF, a fortiori, determinam que o crédito tributário não está abrangido
no processo falimentar, razão pela qual carece interesse por parte da
Fazenda em pleitear a falência de empresa. 3. Tanto o Decreto-lei n. 7.661/45
quanto a Lei n. 11.101/2005 foram inspirados no princípio da conservação da
empresa, pois preveem respectivamente, dentro da perspectiva de sua

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 309

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função social, a chamada concordata e o instituto da recuperação judicial,
cujo objetivo maior é conceder benefícios às empresas que, embora não
estejam formalmente falidas, atravessam graves dificuldades econômico-
financeiras, colocando em risco o empreendimento empresarial. 4. O princípio
da conservação da empresa pressupõe que a quebra não é um fenômeno
econômico que interessa apenas aos credores, mas sim, uma manifestação
jurídico-econômica na qual o Estado tem interesse preponderante. 5. Nesse
caso, o interesse público não se confunde com o interesse da Fazenda, pois
o Estado passa a valorizar a importância da iniciativa empresarial para a
saúde econômica de um país. Nada mais certo, na medida em que quanto
maior a iniciativa privada em determinada localidade, maior o progresso
econômico, diante do aquecimento da economia causado a partir da geração
de empregos. 6. Raciocínio diverso, isto é, legitimar a Fazenda Pública a
requerer falência das empresas inviabilizaria a superação da situação de
crise econômico-financeira do devedor, não permitindo a manutenção da
fonte produtora, do emprego dos trabalhadores, tampouco dos interesses dos
credores, desestimulando a atividade econômico-capitalista. Dessarte, a
Fazenda poder requerer a quebra da empresa implica incompatibilidade com
a ratio essendi da Lei de Falências, mormente o princípio da conservação da
empresa, embasador da norma falimentar. Recurso especial improvido.
(REsp 363.206/MG, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA
TURMA, julgado em 04/05/2010, DJe 21/05/2010).

Obs.: O Tribunal de Justiça do Estado de SP possui entendimento que


a Fazenda Pública poderia pedir a falência, com base no art. 94, II, da
Lei de Falências, nos casos em que a execução fiscal tiver sido
frustrada.

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:


II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não
nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;

Processo nº 1001975-61.2019.8.26.0491, julgado pela 1ª Câmara de Direito


Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo. A 1ª Câmara Reservada de
Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo reformou sentença
de primeiro grau e acolheu o pedido de falência formulado pela Fazenda
Nacional contra uma empresa de comércio e distribuição de produtos
alimentícios. Consta dos autos que a empresa acumulava uma dívida de mais
de R$ 20 milhões em tributos com a Fazenda Nacional. A autora realizou
várias tentativas de cobrança extrajudicial, sem sucesso, a posterior
execução fiscal foi malsucedida e não foram localizados bens suficientes para
satisfação da dívida. Para o relator do recurso, desembargador Alexandre
Lazzarini, apesar do entendimento predominante de que a Fazenda Pública
não possui legitimidade ativa para requerer a falência por dispor de vias
próprias para satisfazer o débito tributário, tal interpretação não pode ser
aplicada em todas as situações. O magistrado apontou que, de acordo com
a Lei de Falências, se a Fazenda Pública não logrou êxito na execução fiscal,
esgotados todos os meios de cobrança que tem a sua disposição, ela pode
pedir a falência. “Não se discute, por certo, que o entendimento mais restritivo
deve prevalecer nos casos de pedido de falência embasado no art. 94, I, da
Lei nº 11.101/05, ou seja, de mero título protestado. (...) O mesmo não se
pode dizer, porém, em casos de pedido de falência baseados no inciso II, do

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 310

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art. 94, da Lei nº 11.101/05, como a hipótese concreta, em que a Fazenda
Pública valeu-se das vias apropriadas para satisfação de seu crédito, mas
não logrou êxito”, escreveu Lazzarini. “Além disso, nos termos do art. 97, IV,
da Lei nº 11.101/05: ‘Art. 97. Podem requerer a falência do devedor: (...) IV
qualquer credor.’ Verifica-se, a partir do referido dispositivo, que a atual Lei
de Falências e Recuperações Judiciais cuidou de ampliar o rol de legitimados
para o pedido de falência”, completou. O desembargador ressaltou que o fato
de a Fazenda Nacional ter pedido de falência contra empresa acolhido
judicialmente não configura violação aos princípios da impessoalidade e da
preservação da empresa, pois, de acordo com a mesma Lei de Falências, a
recuperação judicial da empresa visa proteger a economia nacional da
sonegação fiscal. “Desse modo, o pedido falimentar, nesses casos, tem por
objetivo, precipuamente, a repressão aos agentes econômicos nocivos ao
mercado e à livre concorrência, os quais, muitas vezes, não pagam seus
débitos tributários e concorrem deslealmente com aqueles agentes
econômicos que atuam regularmente, adimplindo as obrigações tributárias”,
pontuou Lazzarini. “Entender de maneira contrária, inclusive, equivaleria a
incentivar o comportamento, muitas vezes adotado por esses agentes
econômicos, de inadimplir constantemente as obrigações tributárias,
acumulando vultosas dívidas de tal natureza, aproveitando-se do menor
poder de constrangimento da Fazenda Pública em relação ao poder dos
demais credores.” Participaram do julgamento os desembargadores Eduardo
Azuma Nishi, Manoel de Queiroz Pereira Calças, Cesar Ciampolini Neto e
Marcelo Fortes Barbosa Filho.

Por fim, a doutrina tem entendido, com base na nova redação do art. 73, V da Lei de
Falências, que a Fazenda Pública poderá pedir a falência quando houver o descumprimento do
parcelamento pelo devedor que está em recuperação judicial.

Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:


V - por descumprimento dos parcelamentos referidos no art. 68 desta Lei ou
da transação prevista no art. 10-C da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002;
e (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

4.5. LEGITIMIDADE PASSIVA DA FALÊNCIA

1) Empresário individual;
2) Sociedade empresária.
Lembrando os excluídos do art. 2º da Lei.

➔ Questão: pessoa física pode falir?


Não, a pessoa física se submete a um procedimento próprio, denominado insolvência civil.
É uma espécie de execução coletiva e universal em que todo o patrimônio do devedor civil (não
empresário) será liquidado para satisfação de suas obrigações (Min. Luis Felipe Salomão). É como
se fosse uma “falência”, com a diferença que se trata de devedor civil (e a falência atinge devedor
empresário). A insolvência civil era disciplinada pelos arts. 748 a 786-A do CPC/73. O art. 1.052 do
CPC/15 afirmou que o legislador deverá editar uma lei disciplinando a insolvência civil. No entanto,

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 311

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enquanto não for elaborada essa legislação, permanecem em vigor os artigos do CPC/73 que tratam
sobre o tema.
Constatada a ausência de bens penhoráveis, a declaração de insolvência civil
dos executados não pode ser feita no bojo da própria ação executiva. O
processo de insolvência é autônomo, de cunho declaratório-constitutivo, e
busca um estado jurídico para o devedor, com as consequências de direito
processual e material, não podendo ser confundido com o processo de
execução, em que a existência de bens é pressuposto de desenvolvimento
do processo. STJ. 3ª T. REsp 1823944-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
19/11/19 (Info 661).

Como o tema foi cobrado em prova?


MPE/SP (2022) Acerca da execução por quantia certa contra o devedor
insolvente, que institui o concurso universal de credores com traços de
falência civil, é correto afirmar que o Código de Processo Civil de 2015 não
dispôs a respeito, mantendo em vigor as disposições do Código de Processo
Civil revogado (1973) a respeito da matéria até que seja editada futura lei
especial. Correta!

4.6. FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA FALÊNCIA

A insolvência do devedor (pressuposto da falência) não deve ser assimilada no sentido


estritamente patrimonial (passivo maior que o ativo), mas de acordo com uma das hipóteses
(fundamentos jurídicos) enumeradas pelo art. 94, incisos I, II e III da Lei.
Assim, em ocorrendo algumas das hipóteses que veremos a seguir, a falência deve ser
decretada, independentemente de o empresário estar ou não efetivamente insolvente (passivo
maior que o ativo), ou seja, são hipóteses de “insolvência presumida”.
Nesse sentido, já se pronunciou o STJ (Info 596)
O autor do pedido de falência não precisa demonstrar que existem indícios
da insolvência ou da insuficiência patrimonial do devedor, bastando que a
situação se enquadre em uma das hipóteses do art. 94 da Lei nº 11.101/2005.
Assim, independentemente de indícios ou provas de insuficiência patrimonial,
é possível a decretação da quebra do devedor que não paga, sem relevante
razão de direito, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou
títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40
(quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I, da Lei
nº 11.101/2005). STJ. 3ª Turma. REsp 1532154-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, julgado em 18/10/2016 (Info 596).

As hipóteses são as seguintes:


• Impontualidade injustificada;
• Execução frustrada;
• Atos de falência.
Senão, vejamos:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 312

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4.6.1. Impontualidade injustificada (art. 94, I)

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:


I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse
o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;

Características:
• Deixar de pagar obrigação LÍQUIDA no VENCIMENTO.
OBS: Algumas obrigações, embora líquidas, não podem servir de base à
impontualidade justificada. São aquelas que não podem ser reclamadas em falência,
previstas no art. 5º da Lei: Obrigações gratuitas, por exemplo.
Art. 5o Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência:
I – as obrigações a título gratuito;
II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação
judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o
devedor.

• SEM RELEVANTE RAZÃO de direito.


Exemplos de situações que justificam o não pagamento (rol do art. 96): Obrigação nula;
cheque clonado etc.
Obrigação líquida materializada em título executivo (judicial ou extrajudicial) PROTESTADO.
Exemplo: Sentença condenatória que transitou na Justiça do Trabalho, devidamente
protestada.
Atenção!
Súmula 361 do STJ – A notificação do protesto, para requerimento de falência
da empresa devedora, exige a identificação da pessoa que a recebeu.

Além disso, há entendimento (TJ/SP) de que o protesto comum dispensa o protesto para fins
falimentares.
• O valor da obrigação deve ser SUPERIOR a 40 salários-mínimos.
Conforme o art. 94, §1º, é possível que dois ou mais credores formem litisconsórcio
ativo no pedido de falência, a fim de somarem seus créditos, atingindo assim mais
de 40 salários-mínimos.
LF Art. 94 § 1o Credores podem reunir-se em litisconsórcio a fim de perfazer
o limite mínimo para o pedido de falência com base no inciso I do caput deste
artigo.

Destaca-se que, conforme o entendimento do STJ (Info 547), para pedir a falência com base
neste inciso não é necessário que o requerente tenha tentado executar o título. Não se revela como
exigência para a decretação da quebra a execução prévia. Assim, é desnecessário o prévio
ajuizamento de execução forçada para se requerer falência com fundamento na impontualidade do
devedor.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 313

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Por fim, entende ainda o STJ (Info 547) que a duplicata virtual protestada por indicação é
título executivo apto a instruir pedido de falência com base na impontualidade do devedor. Logo, se
o devedor não pagar uma duplicata virtual em valor superior a 40 salários-mínimos, é possível que
seja decretada a sua falência.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/RJ (2021) o juiz pode decretar a falência da sociedade mesmo que na
notificação do respectivo protesto não seja identificada a pessoa que recebeu
a intimação. Errada!

4.6.2. Execução frustrada (art. 94, II)

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:


[...]
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não
nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal.

Será decretada a falência do devedor que é executado por qualquer quantia e não paga,
não deposita e não nomeia bens suficientes a penhora, dentro do prazo legal.
Frise-se: Aqui o empresário já está sofrendo uma execução individual do credor. O credor
deve, então, com base em cópia dessa execução frustrada, ajuizar o pedido de falência.
Importante: A falência com base em execução frustrada independe de protesto e é possível
por qualquer valor. Não precisa ser superior a 40 salários.
Motivo: Se o sujeito já não conseguiu pagar a execução individual, deve ter decretada sua
falência de qualquer forma.
Adotou-se o critério da enumeração legal.

4.6.3. Atos de falência (art. 94, III)

Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:


...
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de
recuperação judicial:

São condutas, comportamentos, expressamente previstos no rol do art. 94, que, uma vez
sendo praticados, atestam, PRESUMIDAMENTE, o estado de insolvência patrimonial do devedor
(passivo maior que o ativo).
Assim, presume-se insolvente o empresário ou sociedade empresária que:

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio


ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;

Liquidação precipitada: Trata-se da liquidação abrupta de bens (venda dos bens), sem a
devida reposição. Por isso, não se confunde com a queima de estoque que tem finalidade de
reposição de estoque.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 314

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b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte
ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento
de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu
passivo; (trespasse, ver acima)
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo
de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia real a credor, em momento posterior à constituição
do crédito, sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para
saldar seu passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes
para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de
seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de
recuperação judicial.

O plano de recuperação é acompanhado pelo juiz por 02 anos apenas, mesmo que o plano
tenha prazo maior. Se o descumprimento das obrigações se der durante esses 02 anos, não será
necessário o ajuizamento da ação de falência; bastará um pedido direto ao juiz para que converta
a recuperação em falência (art. 73, IV).
Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:
...
IV – por descumprimento de QUALQUER obrigação assumida no plano de
recuperação, na forma do § 1o do art. 61 desta Lei.

No entanto, se o descumprimento se der depois dos 02 anos (momento em que o juiz encerra
o plano, ou seja, deixa de acompanhar a recuperação) será necessário o ajuizamento de ação
de falência, isso se o credor não preferir a execução do título executivo não cumprido (contrato de
recuperação).
Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o juiz poderá
determinar a manutenção do devedor em recuperação judicial até que sejam
cumpridas todas as obrigações previstas no plano que vencerem até, no
máximo, 2 (dois) anos depois da concessão da recuperação judicial,
independentemente do eventual período de carência. (Redação dada pela
Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1o Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento
de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da
recuperação em falência, nos termos do art. 73 desta Lei.

4.6.4. Esquema Gráfico da Insolvência do Devedor (art. 94)

DESCUMPRIMENTO DE
IMPONTUALIDADE DECISÃO TRANSITADA EM ATOS DE FALÊNCIA
JULGADO

I – sem relevante razão de II – executado por qualquer III – pratica qualquer dos seguintes atos,
direito, não paga, no vencimento, quantia líquida, não paga, exceto se fizer parte de plano de
obrigação líquida materializada não deposita e não nomeia à recuperação judicial:
em título ou títulos executivos
protestados cuja soma

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 315

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ultrapasse o equivalente a 40 penhora bens suficientes a) procede à liquidação precipitada de
(quarenta) salários-mínimos dentro do prazo legal; seus ativos ou lança mão de meio ruinoso
na data do pedido de falência; ou fraudulento para realizar pagamentos;

OBS: Não possui patamar b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta
mínimo; realizar, com o objetivo de retardar
pagamentos ou fraudar credores, negócio
• Obrigações líquidas já simulado ou alienação de parte ou da
executadas em juízo e não totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou
pagas não;

c) transfere estabelecimento a terceiro,


QUESTÃO DA PROVA: art. 94, credor ou não, sem o consentimento de
§2º são créditos líquidos, mas todos os credores e sem ficar com bens
não legitimam o pedido de suficientes para solver seu passivo;
falência.
§ 2º Ainda que líquidos, não d) simula a transferência de seu principal
legitimam o pedido de falência os estabelecimento com o objetivo de burlar a
créditos que nela não se possam legislação ou a fiscalização ou para
reclamar. prejudicar credor;

Art. 5º Não são exigíveis do e) dá ou reforça garantia a credor por


devedor, na recuperação dívida contraída anteriormente sem ficar
judicial ou na falência: com bens livres e desembaraçados
suficientes para saldar seu passivo;
I – as obrigações a título
gratuito; f) ausenta-se sem deixar representante
habilitado e com recursos suficientes para
pagar os credores, abandona
II – as despesas que os estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu
credores fizerem para tomar domicílio, do local de sua sede ou de seu
parte na recuperação judicial principal estabelecimento;
ou na falência, salvo as
custas judiciais
decorrentes de litígio com o g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido,
devedor. obrigação assumida no plano de
recuperação judicial.

4.7. COMPORTAMENTO DO DEVEDOR APÓS A SUA CITAÇÃO

4.7.1. Apresentar contestação (art. 98)

Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10


(dez) dias.

Prazo de apenas 10 dias, contados em dias corridos.


É a única resposta cabível para o devedor, uma vez que a lei não prevê reconvenção ou
reconhecimento de procedência do pedido.
A contestação pode ter como fundamento uma das hipóteses do art. 96, a saber:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 316

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Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei,
não será decretada se o requerido provar:
I – falsidade de título;
II – prescrição;
III – nulidade de obrigação ou de título;
IV – pagamento da dívida;
V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a
cobrança de título;
VI – vício em protesto ou em seu instrumento;
VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da
contestação, observados os requisitos do art. 51 desta Lei;
VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do
pedido de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de
Empresas, o qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato
registrado.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/PE (2022) A sociedade Belém e Maria Comércio de Pneus Ltda. teve sua
falência requerida pela sociedade Goitá Transportes e Logística Ltda. em
razão da impontualidade no pagamento de duplicatas de prestação de
serviços cujo valor total é de R$ 83.500,00, protestadas para fins falimentares.
Após a citação da devedora, e no prazo da contestação, foi apresentado ao
juízo da Comarca de Catende pedido de recuperação judicial, sem elisão do
pedido de falência. A falência não poderá ser decretada em razão da
apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação.
Correta!

DPE/RJ (2021) A decisão que decreta a falência é passível de impugnação


por recurso de agravo de instrumento, no prazo de quinze dias úteis,
contando-se em dobro para a parte assistida pela Defensoria Pública. Errada!

4.7.2. Depósito elisivo + contestação

Apesar de o empresário achar que a dívida não é devida, ele deposita o valor da cobrança
como forma de elidir (impedir) o juiz de decretar a falência.

OBS: O depósito corresponde ao valor principal + correção monetária


+ juros + honorários advocatícios. É por isso que na citação da falência
o juiz já deve arbitrar os honorários.

Feito isso, o juiz deverá analisar a contestação do requerido, a fim de verificar com quem
está a razão.
Acolhendo as razões do devedor, profere SENTENÇA DENEGATÓRIA, autorizando o
levantamento do depósito pelo requerido, condenando o requerente nas verbas de sucumbência.
Desacolhendo a contestação, igualmente proferirá SENTENÇA DENEGATÓRIA, porém
autorizará o levantamento do depósito em favor do requerente, bem como condenará o requerido
nas verbas de sucumbência.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 317

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4.7.3. Depósito elisivo (impeditivo)

O devedor apenas deposita o valor pleiteado pelo autor da ação, SEM contestar a cobrança
da dívida. Ou seja, equivale esse depósito ao reconhecimento de procedência da cobrança.
Deverá o juiz decretar a IMPROCEDÊNCIA da falência e autorizar o levantamento do
depósito em favor do requerente, condenando o requerido nas verbas de sucumbência.
Conforme o art. 98, parágrafo único, o depósito elisivo deve ser feito dentro do prazo de
contestação.
Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10
(dez) dias.
Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I (não paga obrigação
líquida materializada em título protestado no valor de mais de 40 SM) e II
(executado não nomeia bens a penhora, não deposita e não paga) do caput
do art. 94 desta Lei, o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar
o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção
monetária, juros e honorários advocatícios, hipótese em que a falência não
será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz
ordenará o levantamento do valor pelo autor.

Salienta-se que se o pedido de decretação da falência for feito com base no art. 94, I, mesmo
com o depósito elisivo, embora seja afastada a falência, será possível converter o rito falimentar
para uma ação de cobrança, conforme decidiu o STJ no Indo 550.
Diante de depósito elisivo de falência requerida com fundamento na
impontualidade injustificada do devedor (art. 94, I, da Lei 11.101/2005),
admite-se, embora afastada a decretação de falência, a conversão do
processo falimentar em verdadeiro rito de cobrança para apurar questões
alusivas à existência e à exigibilidade da dívida cobrada, sem que isso
configure utilização abusiva da via falimentar como sucedâneo de ação de
cobrança/execução. Assim, se o autor da ação de falência fez o requerimento
baseado no inciso I do art. 94 e a dívida não paga era realmente superior a
40 salários-mínimos, não se pode dizer que o pedido tenha sido abusivo,
mesmo que a devedora tenha grande porte econômico. Nesse caso, se a
devedora efetuar o depósito elisivo, não cabe ao magistrado extinguir o
processo sem resolução de mérito, devendo continuar o feito como se fosse
uma ação de cobrança, discutindo a dívida e, ao final, proferindo sentença
resolvendo o mérito quanto à dívida e julgando improcedente a falência. STJ.
4ª Turma. REsp 1433652-RJ, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em
18/9/2014 (Info 550).

4.7.4. Requerer a recuperação judicial

Dentro do prazo de contestação, o devedor pode pedir a recuperação judicial, o que irá
suspender o processo de falência.
Alguns doutrinadores chamam essa recuperação de “recuperação judicial suspensiva”.
Essa forma de recuperação seria semelhante à antiga concordata suspensiva?
A concordada podia ser PREVENTIVA (possível somente antes de decretação da falência)
ou SUSPENSIVA (depois da decretação da falência).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 318

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Resposta: NÃO é semelhante, pois na recuperação suspensiva o que está sendo suspenso
não são os efeitos da falência já decretada (como na concordata), mas sim o próprio processo
falimentar, antes de qualquer decretação de falência.
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da
recuperação judicial implica:
I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao
regime desta Lei;
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas
dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações
sujeitos à recuperação judicial ou à falência;
III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro,
busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do
devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou
obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/RR (2021) A decretação da falência ou o deferimento do processamento
da recuperação judicial implica a suspensão das execuções ajuizadas contra
o devedor, inclusive daquelas dos credores particulares do sócio solidário,
relativas a créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência.
Correta!

TJ/PA (2019) Ação de compensação por danos morais movida contra


empresa em recuperação judicial não deve permanecer suspensa até o
trânsito em julgado da decisão final proferida no processo de soerguimento.
Correta!

4.8. SENTENÇA e RECURSOS

4.8.1. Natureza jurídica

Manifestando-se sobre o pedido do autor da ação de falência, uma de duas espécies de


sentença será proferida:

1) Sentença declaratória

É a sentença de procedência do pedido, que decreta a falência do devedor. É recorrível por


agravo de instrumento (art. 100).

Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença


que julga a improcedência do pedido cabe apelação.

2) Sentença denegatória

É a sentença de improcedência do pedido, ou seja, que não reconhece a falência do


devedor.
Recorrível por apelação.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 319

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Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que
julga a improcedência do pedido cabe apelação.

3) Motivo da diferença dos recursos

A sentença declaratória não encerra o processo falimentar, mas apenas uma das três fases
do procedimento. Depois da sentença declaratória tem início a fase falimentar propriamente dita
(realização do ativo, apuração do passivo, administração da massa etc.), que termina com a
chamada sentença de encerramento. Por fim, existe ainda a derradeira fase de reabilitação do
falido, que só termina a chamada sentença de extinção das obrigações do falido, que é aquela
que o reabilita, nos termos do art. 102, e encerra definitivamente o processo falimentar.
Pelo que vimos, a sentença declaratória tem mais natureza de decisão interlocutória do que
de sentença, por isso a recorribilidade por agravo. Até porque, se recorrível por apelação, deveriam
os autos subir, o que acabaria prejudicando o seguimento do processo.
OBS: Eram admissíveis embargos infringentes em processo de falência (Súmula 88 do STJ).
ATENÇÃO! Essa súmula foi superada pelo CPC/2015, tendo em vista que o NCPC acabou
com os embargos infringentes.

4) Decisões interlocutórias

Importante consignar que fora das hipóteses do art. 100 da Lei de Falências, contra as
decisões interlocutórias falimentares caberá agravo de instrumento, mesmo que não tenha previsão
de tal recurso na Lei 11.101/2005. Aplica-se o Código de Processo Civil, vejamos a brilhante
explicação do Professor Márcio Cavalcante.
O art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015 prevê o seguinte:
Art. 1.015 (...)
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de
cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de
inventário.

Para o STJ, o mesmo raciocínio que inspirou a permissão do agravo de instrumento para o
processo de execução e para o processo de inventário, deve ser aplicado para a aplicação deste
recurso ao processo falimentar e recuperacional.
Veja o que disse o Min. Luís Felipe Salomão:
“Assim como nos procedimentos previstos no parágrafo único em comento,
as decisões de maior relevância na recuperação judicial e na falência são
tomadas antes da sentença propriamente dita (muitos não a consideram,
inclusive, como de mérito), que, geralmente, se limita a reconhecer fatos e
atos processuais firmados anteriormente. Consequentemente, aguardar a
análise pelo Tribunal apenas em sede de apelação equivaleria à
irrecorribilidade prática da interlocutória, devendo incidir a interpretação
extensiva do art. 1.015, parágrafo único, do CPC à LREF, sendo que, pela
sua natureza, as decisões judiciais proferidas durante seu curso devem ser
de logo combatidas.”

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 320

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Desse modo, o STJ determinou que o parágrafo único do art. 1.015 do CPC deveria ser
interpretado extensivamente para abranger também as decisões interlocutórias proferidas nos
processos de falência e recuperação judicial.
Essa já havia sido a conclusão adotada na I Jornada de Direito Processual Civil do CJF:
Enunciado nº 69: A hipótese do art. 1.015, parágrafo único, do CPC abrange
os processos concursais, de falência e recuperação.

Trata-se da opinião manifestada pela imensa maioria da doutrina especializada: (...) o


entendimento correto é no sentido de continuar sendo possível o agravo de instrumento, em todos
os casos de decisão interlocutória na LREF, aplicando-se analogicamente ao processo falimentar e
recuperacional, a exceção prevista no parágrafo único do art. 1.015 do CPC.” (BEZERRA FILHO,
Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e falência. São Paulo: RT, 2018, p. 448)
Em suma:
É cabível a interposição de agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias em processo falimentar e recuperacional, ainda que não haja
previsão específica de recurso na Lei nº 11.101/2005 (LREF). Fundamento:
interpretação extensiva do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015. STJ. 4ª
Turma. REsp 1.722.866-MT, Rel. Min. Luís Felipe Salomão, julgado em
25/09/2018 (Info 635).

4.8.2. Legitimidade recursal

a) Legitimidade para AGRAVAR (sentença DECLARATÓRIA)


- Devedor;
- MP, como fiscal da ordem jurídica;
- Credor também tem interesse (ver adiante)
b) Legitimidade para APELAR (sentença DENEGATÓRIA)
- Credor;
- MP, como fiscal da ordem jurídica;
- O devedor tem interesse quando se tratar de autofalência.

4.8.3. Prazo do recurso

A lei silencia, logo se aplicam os mesmos prazos do CPC, nos termos do art. 189 da Lei, in
verbis:
Art. 189. Aplica-se, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei, o
disposto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil), desde que não seja incompatível com os princípios desta Lei.
§ 1º Para os fins do disposto nesta Lei:
I - todos os prazos nela previstos ou que dela decorram serão contados em
dias corridos; e

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 321

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II - as decisões proferidas nos processos a que se refere esta Lei serão
passíveis de agravo de instrumento, exceto nas hipóteses em que esta Lei
previr de forma diversa.
§ 2º Para os fins do disposto no art. 190 da Lei nº 13.105, de 16 de março de
2015 (Código de Processo Civil), a manifestação de vontade do devedor será
expressa e a dos credores será obtida por maioria, na forma prevista no art.
42 desta Lei.

Aplicação subsidiária do CPC/2015: 15 dias para agravar; 15 dias para apelar.


Destaca-se que a previsão de prazo em dobro (art. 229 do CPC/15) é aplicada aos
processos falimentares.
Mesmo não havendo previsão expressa na Lei nº 11.101/2005, deve ser
reconhecida a incidência da norma do art. 191 do CPC/1973 (art. 229 do
CPC/2015) para a prática de atos processuais pelos credores habilitados no
processo falimentar quando representados por diferentes procuradores.
Assim, se no processo de falência uma decisão desagradar aos credores e
eles decidirem recorrer, terão prazo em dobro caso possuam diferentes
procuradores, de escritórios de advocacia distintos. Em outras palavras,
aplica-se aos credores da sociedade falida o prazo em dobro do art. 229 do
CPC/2015. STJ. 3ª Turma. REsp 1634850/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 20/03/2018.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2022) A sentença que decreta a falência sujeita-se ao recurso de
agravo. Correta!

MPE/SP (2022) A sentença que julga pedido de restituição sujeita-se ao


recurso de apelação com efeito suspensivo. Errada!

MPE/SC (2021) É cabível agravo contra decisão que decrete a falência, bem
como contra sentença que julgue a improcedência do pedido de falência.
Errada!

DPE/RJ (2021) No curso do processo de falência, é possível estabelecer


negócios processuais entre os credores e o falido, desde que a decisão seja
tomada pela deliberação de credores que representem mais da metade do
valor total dos créditos. Correta!

4.9. SENTENÇA DECLARATÓRIA

Apesar de denominada “declaratória”, produz efeitos CONSTITUTIVOS, pois insere devedor


e credores em um regime jurídico específico. Em outras palavras, é a partir desta sentença que
incidirá o regime falimentar sobre o empresário ou sociedade empresária, colocando-os em uma
situação jurídica diversa da anterior, tendo como efeitos, dentre outros: o vencimento antecipado
da dívida, a constituição da massa falida, a nomeação do administrador judicial etc.
*FREDIE DIDIER: Muitos comercialistas colocam a ação de falência como ação declaratória
de falência, você vai ao judiciário para declarar a falência do comerciante – ERRO GRAVE: não se
vai ao judiciário para pedir a declaração de falência, se vai ao juízo para tirar o comerciante da
administração do seu negócio, para que quebre a empresa, ele percebe que o comerciante não

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 322

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está pagando ninguém e coloca alguém que possa gerir e pagar os credores. Juiz não declara a
falência, ele decreta a falência. Mudança de situação jurídica – sentença constitutiva.

4.9.1. Determinações que devem constar da sentença (art. 99 da Lei)

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações:
I – conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes dos que
forem a esse tempo seus administradores;
II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90
(noventa) dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação
judicial ou do 1o (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para
esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados;
III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias,
relação nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza
e classificação dos respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos
autos, sob pena de desobediência;
IV – explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o
disposto no § 1o do art. 7o desta Lei;
V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido,
ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1o e 2o do art. 6o desta Lei;
VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do
falido, submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se
houver, ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do
devedor se autorizada a continuação provisória nos termos do inciso XI do
caput deste artigo;
VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses
das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de
seus administradores quando requerida com fundamento em provas da
prática de crime definido nesta Lei; (ver processo penal – Renato Brasileiro)
VIII - ordenará ao Registro Público de Empresas e à Secretaria Especial da
Receita Federal do Brasil que procedam à anotação da falência no registro
do devedor, para que dele constem a expressão “falido”, a data da decretação
da falência e a inabilitação de que trata o art. 102 desta Lei; ;
IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na
forma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na
alínea a do inciso II do caput do art. 35 desta Lei;
X – determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições
públicas e outras entidades para que informem a existência de bens e
direitos do falido;
XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do
falido com o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos,
observado o disposto no art. 109 desta Lei;
XII – determinará, quando entender conveniente, a convocação da
assembleia-geral de credores para a constituição de Comitê de
Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do Comitê eventualmente
em funcionamento na recuperação judicial quando da decretação da falência;
XIII - ordenará a intimação eletrônica, nos termos da legislação vigente e
respeitadas as prerrogativas funcionais, respectivamente, do Ministério
Público e das Fazendas Públicas federal e de todos os Estados, Distrito

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 323

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Federal e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para que
tomem conhecimento da falência. .
§ 1º O juiz ordenará a publicação de edital eletrônico com a íntegra da decisão
que decreta a falência e a relação de credores apresentada pelo falido.
§ 2º A intimação eletrônica das pessoas jurídicas de direito público
integrantes da administração pública indireta dos entes federativos referidos
no inciso XIII do caput deste artigo será direcionada:
I - no âmbito federal, à Procuradoria-Geral Federal e à Procuradoria-Geral do
Banco Central do Brasil;
II - no âmbito dos Estados e do Distrito Federal, à respectiva Procuradoria-
Geral, à qual competirá dar ciência a eventual órgão de representação judicial
específico das entidades interessadas; e
III - no âmbito dos Municípios, à respectiva Procuradoria-Geral ou, se inexistir,
ao gabinete do Prefeito, à qual competirá dar ciência a eventual órgão de
representação judicial específico das entidades interessadas.
§ 3º Após decretada a quebra ou convolada a recuperação judicial em
falência, o administrador deverá, no prazo de até 60 (sessenta) dias, contado
do termo de nomeação, apresentar, para apreciação do juiz, plano detalhado
de realização dos ativos, inclusive com a estimativa de tempo não superior a
180 (cento e oitenta) dias a partir da juntada de cada auto de arrecadação,
na forma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei.

Agora, alguns comentários sobre os incisos mais importantes:

1) Apresentação da relação nominal dos credores

O devedor deve apresentar uma relação completa dos credores, de forma detalhada, sob
pena de praticar crime de desobediência.

2) Nomeação do Administrador Judicial (inciso IX)

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações:
...
IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na
forma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na
alínea a do inciso II do caput do art. 35 desta Lei;

Administrador judicial é o auxiliar do juízo no processo falimentar. É equiparado a funcionário


público para fins penais.

1.1) Quem é o Administrador Judicial?

Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente


advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa
jurídica especializada.
Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica,
declarar-se-á, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional
responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação
judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 324

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OBS: Essa sequência tem que ser seguida.

1.2) Obrigações do Administrador judicial (art. 22)

Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do


Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe:
I – na recuperação judicial e na falência:
a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o
inciso III do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II
do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de
recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a
classificação dada ao crédito;
b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores
interessados;
c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de
servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos;
d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer
informações;
e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2º do art. 7º desta Lei;
f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei;
g) requerer ao juiz convocação da assembleia-geral de credores nos casos
previstos nesta Lei ou quando entender necessária sua ouvida para a tomada
de decisões;
h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas
especializadas para, quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas
funções;
i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei;
j) estimular, sempre que possível, a conciliação, a mediação e outros métodos
alternativos de solução de conflitos relacionados à recuperação judicial e à
falência, respeitados os direitos de terceiros, na forma do § 3º do art. 3º da
Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil);
k) manter endereço eletrônico na internet, com informações atualizadas sobre
os processos de falência e de recuperação judicial, com a opção de consulta
às peças principais do processo, salvo decisão judicial em sentido
contrário;
l) manter endereço eletrônico específico para o recebimento de pedidos de
habilitação ou a apresentação de divergências, ambos em âmbito
administrativo, com modelos que poderão ser utilizados pelos credores, salvo
decisão judicial em sentido contrário;
m) providenciar, no prazo máximo de 15 (quinze) dias, as respostas aos
ofícios e às solicitações enviadas por outros juízos e órgãos públicos, sem
necessidade de prévia deliberação do juízo;
II – na recuperação judicial:
a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de
recuperação judicial;
b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no
plano de recuperação;
c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades
do devedor, fiscalizando a veracidade e a conformidade das informações
prestadas pelo devedor;
d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que
trata o inciso III do caput do art. 63 desta Lei;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 325

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e) fiscalizar o decurso das tratativas e a regularidade das negociações entre
devedor e credores;
f) assegurar que devedor e credores não adotem expedientes dilatórios,
inúteis ou, em geral, prejudiciais ao regular andamento das negociações;
g) assegurar que as negociações realizadas entre devedor e credores sejam
regidas pelos termos convencionados entre os interessados ou, na falta de
acordo, pelas regras propostas pelo administrador judicial e homologadas
pelo juiz, observado o princípio da boa-fé para solução construtiva de
consensos, que acarretem maior efetividade econômico-financeira e proveito
social para os agentes econômicos envolvidos;
h) apresentar, para juntada aos autos, e publicar no endereço eletrônico
específico relatório mensal das atividades do devedor e relatório sobre o
plano de recuperação judicial, no prazo de até 15 (quinze) dias contado da
apresentação do plano, fiscalizando a veracidade e a conformidade das
informações prestadas pelo devedor, além de informar eventual ocorrência
das condutas previstas no art. 64 desta Lei;
III – na falência:
a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores
terão à sua disposição os livros e documentos do falido;
b) examinar a escrituração do devedor;
c) relacionar os processos e assumir a representação judicial e extrajudicial,
incluídos os processos arbitrais, da massa falida;
d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o
que não for assunto de interesse da massa;
e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo
de compromisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e
circunstâncias que conduziram à situação de falência, no qual apontará a
responsabilidade civil e penal dos envolvidos, observado o disposto no art.
186 desta Lei;
f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de
arrecadação, nos termos dos arts. 108 e 110 desta Lei;
g) avaliar os bens arrecadados;
h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial,
para a avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para a
tarefa;
i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos
credores;
j) proceder à venda de todos os bens da massa falida no prazo máximo de
180 (cento e oitenta) dias, contado da data da juntada do auto de
arrecadação, sob pena de destituição, salvo por impossibilidade
fundamentada, reconhecida por decisão judicial;
l) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a
cobrança de dívidas e dar a respectiva quitação;
m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens
apenhados, penhorados ou legalmente retidos;
n) representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário,
advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo
Comitê de Credores;
o) requerer todas as medidas e diligências que forem necessárias para o
cumprimento desta Lei, a proteção da massa ou a eficiência da
administração;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 326

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p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10o (décimo) dia do mês
seguinte ao vencido, conta demonstrativa da administração, que especifique
com clareza a receita e a despesa;
q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu
poder, sob pena de responsabilidade;
r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou
renunciar ao cargo.;
s) arrecadar os valores dos depósitos realizados em processos
administrativos ou judiciais nos quais o falido figure como parte, oriundos de
penhoras, de bloqueios, de apreensões, de leilões, de alienação judicial e de
outras hipóteses de constrição judicial, ressalvado o disposto nas Leis
nos 9.703, de 17 de novembro de 1998, e 12.099, de 27 de novembro de 2009,
e na Lei Complementar nº 151, de 5 de agosto de 2015.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/PE (2022) É representada pelo administrador judicial, que pode ajuizar
as medidas judiciais necessárias em favor dela, defendê-la nas contrárias e
dar prosseguimento aos negócios do devedor falido, se assim o autorizar o
juízo da falência. Correta!

MPE/PE (2022) Na recuperação judicial, compete ao administrador judicial


fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação
judicial. Correta!

MPE/PE (2022) Na recuperação judicial, compete ao administrador judicial


avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores
terão à sua disposição os livros e documentos do devedor. Errada!

TJ/PR (2021) A sentença constitutiva de falência atinge as obrigações do


devedor contraídas antes da decretação, inclusive seus contratos. Tratando-
se de promessa de compra e venda de imóveis, prevalecerá a regra de que:
o contrato não se resolverá; em caso de falência do proprietário (promitente-
vendedor), incumbirá ao administrador judicial dar cumprimento ao contrato;
se a falência for do compromissário-comprador, seus direitos serão
arrecadados e alienados judicialmente. Correta!

1.3) Remuneração

Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do


administrador judicial, observados a capacidade de pagamento do devedor,
o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para
o desempenho de atividades semelhantes.
§ 1º Em qualquer hipótese, o total pago ao administrador judicial não
excederá 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos à
recuperação judicial ou do valor de venda dos bens na falência.
§ 2º Será reservado 40% (quarenta por cento) do montante devido ao
administrador judicial para pagamento após atendimento do previsto nos arts.
154 e 155 desta Lei.
§ 3º O administrador judicial substituído será remunerado proporcionalmente
ao trabalho realizado, salvo se renunciar sem relevante razão ou for destituído
de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações
fixadas nesta Lei, hipóteses em que não terá direito à remuneração.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 327

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§ 4º Também não terá direito a remuneração o administrador que tiver suas
contas desaprovadas.
§ 5º A remuneração do administrador judicial fica reduzida ao limite de 2%
(dois por cento), no caso de microempresas e de empresas de pequeno porte,
bem como na hipótese de que trata o art. 70-A desta Lei.

1.4) Impedimentos (art. 30)

Art. 30. Não poderá integrar o Comitê ou exercer as funções de administrador


judicial quem, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de
administrador judicial ou de membro do Comitê em falência ou recuperação
judicial anterior, foi destituído, deixou de prestar contas dentro dos prazos
legais ou teve a prestação de contas desaprovada.
§ 1º Ficará também impedido de integrar o Comitê ou exercer a função de
administrador judicial quem tiver relação de parentesco ou afinidade até o 3º
(terceiro) grau com o devedor, seus administradores, controladores ou
representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente.
§ 2º O devedor, qualquer credor ou o Ministério Público poderá requerer ao
juiz a substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê
nomeados em desobediência aos preceitos desta Lei.
§ 3º O juiz decidirá, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sobre o
requerimento do § 2º deste artigo.

3) Fixação do termo legal da falência (inciso II)

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras


determinações:
...
II – fixará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90
(noventa) dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação
judicial ou do 1o (primeiro) protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para
esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados;

Termo legal é o lapso temporal que antecede a decretação da falência no qual todos os atos
patrimoniais praticados pelo devedor são investigados.
Se durante esse período o devedor tiver praticado algum dos atos do art. 129 (“atos
objetivamente ineficazes”, ou seja, que não admite perquirir a intenção dos agentes), o juiz
declarará, de ofício, a ineficácia desses atos perante a massa falida (ex.: pagamento antecipado de
dívida não vencida).
Temos também os “atos subjetivamente ineficazes” (art. 130), aqui é ineficácia subjetiva
porque perquirimos a intenção dos agentes. O consilium fraudis deve ser provado e o juiz não pode
declarar de ofício.
Perceber que aqui os atos são REVOGADOS e não INEFICAZES (embora o nome seja
‘subjetivamente ineficazes’).
O termo legal é chamado por muitos de período suspeito ou período cinzento. É o período
em que se investigam todos os atos do devedor, para ver se não ocorreu nenhuma fraude.
Prazo do termo legal: Prazo máximo de 90 dias contados para o passado, tendo como
termo inicial:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 328

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• A data do primeiro protesto (quando o pedido da falência for com base no art. 94, I);
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação
líquida materializada em título ou títulos executivos PROTESTADOS cuja
soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do
pedido de falência;

• A data do ajuizamento da AÇÃO DE FALÊNCIA (quando o pedido da falência for


com base no art. 94, II ou III)
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:
...
II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não
nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;
III – pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano de
recuperação judicial: [...]

• A data do pedido de recuperação judicial (no caso de convolação de recuperação


judicial em falência - ver adiante).

É aqui que existe o interesse do CREDOR em agravar a sentença declaratória: quando o


termo legal fixado pelo juiz não é correto e não alcança um ato fraudulento.

4) Continuidade da empresa ou lacração do estabelecimento

Art. 99, XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das


atividades do falido com o administrador judicial ou da lacração dos
estabelecimentos, observado o disposto no art. 109 desta Lei;

5) Ordenar a intimação eletrônica

Art. 99, XIII - ordenará a intimação eletrônica, nos termos da legislação


vigente e respeitadas as prerrogativas funcionais, respectivamente, do
Ministério Público e das Fazendas Públicas federal e de todos os Estados,
Distrito Federal e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para
que tomem conhecimento da falência.

4.9.2. Efeitos jurídicos da sentença declaratória de falência quanto ao FALIDO


(DEVEDOR)

Os efeitos da sentença declaratória de falência quanto ao falido são os seguintes:


• Inabilitação do empresário;
• Indisponibilidade de bens;
• Dissolução da sociedade;
• Extinção de concessão de serviço público (se houver).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 329

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Vejamos:

1) Inabilitação do empresário (art. 102 da Lei)

Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade


empresarial a partir da decretação da falência e até a sentença que
extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1 o do art. 181 desta
Lei.
Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao
juiz da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro.

Atenção: A inabilitação atinge a PESSOA falida, que pode ser tanto física quanto jurídica.
Ou seja, se decretam a inabilitação de PJ, nada impede que o sócio exerça atividade empresarial
posteriormente.

2) Indisponibilidade dos bens (art. 103)

Art. 103. Desde a decretação da falência ou do sequestro, o devedor perde o


direito de administrar os seus bens ou deles dispor.
Parágrafo único. O falido poderá, contudo, fiscalizar a administração da
falência, requerer as providências necessárias para a conservação de seus
direitos ou dos bens arrecadados e intervir nos processos em que a massa
falida seja parte ou interessada, requerendo o que for de direito e interpondo
os recursos cabíveis.

Desde a decretação da falência ou do sequestro, o devedor perde o direito de administrar


os seus bens ou deles dispor (art. 103).
ATENÇÃO: Sociedade empresária que contém sócios com responsabilidade ILIMITADA (ou
seja, sócio responde com patrimônio pessoal, como por exemplo, a sociedade em nome coletivo,
ou ainda a sociedade em comum, lembrando que esta pode pedir autofalência, mas não pode pedir
a falência de outrem). Nesse caso específico, os efeitos da falência (inabilitação, indisponibilidade
de bens etc.) atingem não apenas a pessoa jurídica, mas também a pessoa física dos sócios (art.
81).
Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios
ilimitadamente responsáveis também acarreta a falência destes, que ficam
sujeitos aos mesmos efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade
falida e, por isso, deverão ser citados para apresentar contestação, se
assim o desejarem.

Art. 82, caput, da Lei nº 11.101/05. A responsabilidade pessoal dos sócios de


responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da
sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio
juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova da
sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário
previsto no Código de Processo Civil.

STJ: Quando a sociedade NÃO faz a sua baixa regular (dissolução regular) na Junta
Comercial, ela torna-se irregular, e neste caso, a responsabilidade do sócio passa a ser ilimitada.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 330

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Assim, caso seja decretada a falência da sociedade, também serão decretadas as falências dos
sócios.
Atenção para o art. 82-A, prevendo a possibilidade de desconsideração da personalidade
jurídica em relação aos sócios da limitada.
Art. 82-A. É vedada a extensão da falência ou de seus efeitos, no todo ou em
parte, aos sócios de responsabilidade limitada, aos controladores e aos
administradores da sociedade falida, admitida, contudo, a desconsideração
da personalidade jurídica. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
Parágrafo único. A desconsideração da personalidade jurídica da sociedade
falida, para fins de responsabilização de terceiros, grupo, sócio ou
administrador por obrigação desta, somente pode ser decretada pelo juízo
falimentar com a observância do art. 50 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 (Código Civil) e dos arts. 133, 134, 135, 136 e 137 da Lei nº 13.105, de
16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), não aplicada a suspensão
de que trata o § 3º do art. 134 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015
(Código de Processo Civil).

Como o tema foi cobrado em concurso?


DP/DF (2019) Se o capital social estiver integralizado, apenas o sócio-
administrador responderá pelas obrigações civis da falida, subsidiariamente.
Errada!
DPE/DF (2019) Como efeito da decretação da falência, haverá a inabilitação
empresarial de todos os sócios. Errada!

3) Dissolução total da sociedade (art. 1.044 CC)

Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas
enumeradas no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da
falência.

4) Extinção da concessão de serviço público, na forma da lei (art. 195 LF)

Art. 195. A decretação da falência das concessionárias de serviços públicos


implica extinção da concessão, na forma da lei.

É o que ocorre quando for decretada a falência de concessionária de serviço público.

5) Deveres do falido (art. 104 LF)

Art. 104. A decretação da falência impõe aos representantes legais do


falido os seguintes deveres: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
I - assinar nos autos, desde que intimado da decisão, termo de
comparecimento, com a indicação do nome, da nacionalidade, do estado civil
e do endereço completo do domicílio, e declarar, para constar do referido
termo, diretamente ao administrador judicial, em dia, local e hora por ele
designados, por prazo não superior a 15 (quinze) dias após a decretação da
falência, o seguinte: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 331

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a) as causas determinantes da sua falência, quando requerida pelos
credores;
b) tratando-se de sociedade, os nomes e endereços de todos os sócios,
acionistas controladores, diretores ou administradores, apresentando o
contrato ou estatuto social e a prova do respectivo registro, bem como suas
alterações;
c) o nome do contador encarregado da escrituração dos livros obrigatórios;
d) os mandatos que porventura tenha outorgado, indicando seu objeto, nome
e endereço do mandatário;
e) seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no estabelecimento;
f) se faz parte de outras sociedades, exibindo respectivo contrato;
g) suas contas bancárias, aplicações, títulos em cobrança e processos em
andamento em que for autor ou réu;
II - entregar ao administrador judicial os seus livros obrigatórios e os demais
instrumentos de escrituração pertinentes, que os encerrará por
termo; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
III – não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo
justo e comunicação expressa ao juiz, e sem deixar procurador bastante, sob
as penas cominadas na lei;
IV – comparecer a todos os atos da falência, podendo ser representado por
procurador, quando não for indispensável sua presença;
V - entregar ao administrador judicial, para arrecadação, todos os bens,
papéis, documentos e senhas de acesso a sistemas contábeis, financeiros e
bancários, bem como indicar aqueles que porventura estejam em poder de
terceiros; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
VI – prestar as informações reclamadas pelo juiz, administrador judicial,
credor ou Ministério Público sobre circunstâncias e fatos que interessem à
falência;
VII – auxiliar o administrador judicial com zelo e presteza;
VIII – examinar as habilitações de crédito apresentadas;
IX – assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame dos livros;
X – manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz;
XI - apresentar ao administrador judicial a relação de seus credores, em
arquivo eletrônico, no dia em que prestar as declarações referidas no inciso I
do caput deste artigo; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
XII – examinar e dar parecer sobre as contas do administrador judicial.
Parágrafo único. Faltando ao cumprimento de quaisquer dos deveres que
esta Lei lhe impõe, após intimado pelo juiz a fazê-lo, responderá o falido por
crime de desobediência.

4.9.3. Efeitos da sentença declaratória quanto aos CREDORES

Os efeitos são os seguintes:


• Incidência do princípio da universalidade do juízo falimentar;
• Suspensão de todas as ações e execuções contra o falido;
• Suspensão da fluência de juros;
• Vencimento antecipado de todas as dívidas do falido;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 332

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• Suspensão da prescrição;
Vejamos:

1) Princípio da Universalidade do Juízo Falimentar

Uma vez declarada a falência, todas as ações e execuções envolvendo interesses


econômicos do falido são atraídas pelo juízo da falência. É a chamada força atrativa do juízo
falimentar (vis attractiva).
Motivo: Todos os credores devem ser pagos, e não apenas aquele que ajuizou o pedido de
falência. E esse pagamento se dá no juízo da falência. Assim, é neste juízo que todos os credores
do falido devem se habilitar para receberem seus créditos.
Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as
ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas
trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido
figurar como autor ou litisconsorte ativo.
Parágrafo único. Todas as ações, inclusive as excetuadas no caput deste
artigo, terão prosseguimento com o administrador judicial, que deverá ser
intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo.

EXCEÇÕES: Há ações que não se submetem à força atrativa do juízo falimentar, ou seja,
continuam correndo em seus respectivos juízos, para só depois de concluídas atingirem a massa
falida. Vejamos as exceções:
• Ações trabalhistas: Correm na Justiça Especializada até que seja liquidado o valor
da condenação, momento no qual a decisão vai para a massa falida.
• Ações fiscais: O valor obtido com a execução fiscal vai para a massa falida, ocasião
em que será rateado, conforme a Lei de Falências.
• Ações que demandarem quantias ilíquidas: ex.: dano moral. Seguem correndo no
juízo em que se encontram e somente depois de atingido um valor líquido de
condenação são transferidas para o juízo falimentar.
Art. 6º § 1º Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a
ação que demandar quantia ilíquida.

• Ações não reguladas pela Lei, em que o falido ou massa falida seja autor ou
litisconsorte ativo.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/PR (2019) O juízo falimentar é universal: atrai todas as ações e os
interesses da sociedade falida e da massa falida. De acordo com a regra geral
da Lei de Falências, essa atratividade ocorrerá na ação em tramitação em
que a massa falida figure na condição de sujeito passivo no cumprimento de
sentença líquida por reparação de danos. Correta!

2) Suspensão de todas as execuções contra o falido

É uma decorrência da força atrativa do juízo falimentar. Com a decretação da falência é o


juízo falimentar que se torna competente para todas as questões patrimoniais do falido (juízo

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 333

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
universal). Assim, caso alguma execução já tenha sido proposta contra o falido, necessariamente
deve ser SUSPENSA, juntamente com o prazo prescricional da obrigação.
As únicas ações que NÃO são suspensas são que NÃO se submetem à força atrativa do
juízo falimentar, ou seja, as quatro exceções vistas no tópico acima.
Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da
recuperação judicial implica: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas
dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações
sujeitos à recuperação judicial ou à falência; (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)
III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro,
busca e apreensão e constrição judicial ou extrajudicial sobre os bens do
devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou
obrigações sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência. (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)

Obs.: se a execução já está com a hasta designada, suspende


também? Pela economia processual, deve ser realizada a hasta
pública e o valor obtido com a renda será levado para a massa falida.
Por outro lado, nos casos em que a hasta já foi realizada, haverá o
pagamento do exequente e o saldo remanescente deve ser
encaminhando à massa falida.

3) Suspensão da fluência de juros

A partir da decretação da falência não mais fluem juros.


Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a
decretação da falência, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado
não bastar para o pagamento dos credores subordinados.
Parágrafo único. Excetuam-se desta disposição os juros das debêntures e
dos créditos com garantia real, mas por eles responde, exclusivamente, o
produto dos bens que constituem a garantia.

4) Vencimento antecipado de todas as dívidas do falido

Objetivo: satisfazer todos os credores. Aliás, essa é a intenção da lei: pagar todo mundo.
Art. 77. A decretação da falência determina o vencimento antecipado das
dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, com
o abatimento proporcional dos juros, e converte todos os créditos em moeda
estrangeira para a moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial,
para todos os efeitos desta Lei.

5) Suspensão da prescrição

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da


recuperação judicial implica: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 334

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I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao
regime desta Lei; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

4.9.4. Efeitos da sentença declaratória de falência quanto aos CONTRATOS (art. 117)

Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o
aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e
preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
§ 1º O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90
(noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que,
dentro de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.
§ 2º A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao
contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário,
constituirá crédito quirografário.

Ex.: Contrato de franquia. A franqueadora faliu. O que ocorre com o contrato? É rescindido
automaticamente? NEGATIVO. Pode continuar a franquia, sendo que o pagamento vai direito para
a massa falida.
Ou seja, quem decide é o Administrador da massa falida. E nem poderia ser diferente, uma
vez que a manutenção do contrato pode ser até benéfica para o pagamento dos credores, como no
exemplo acima. Caso decida pela rescisão, o contratante fará jus à indenização, que constituirá
crédito quirografário.
Art. 118. O administrador judicial, mediante autorização do Comitê, poderá
dar cumprimento a contrato unilateral se esse fato reduzir ou evitar o aumento
do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação
de seus ativos, realizando o pagamento da prestação pela qual está obrigada.

4.9.5. Efeitos da sentença declaratória de falência quanto aos ATOS (ineficácia objetiva
e ineficácia subjetiva dos atos - art. 129 e art. 130)

Caso o devedor tenha praticado algum dos atos do art. 129 (“ATOS OBJETIVAMENTE
INEFICAZES”, ou seja, que não admitem perquirir a intenção dos agentes), o juiz declarará, de
ofício, a ineficácia desses atos perante a massa falida (ex.: pagamento antecipado de dívida não
vencida).
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o
contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do
devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro
do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que
pelo desconto do próprio título;
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo
legal, por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do
termo legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados
em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a
parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 335

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IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação
da falência;
V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação
da falência;
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento
expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes,
não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo,
salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias, não houver oposição dos credores, após
serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de
títulos e documentos;
VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre
vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis
realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação
anterior.
Parágrafo único. A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada
em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso
do processo.

Art. 131. Nenhum dos atos referidos nos incisos I, II, III e VI do caput do art.
129 desta Lei que tenham sido previstos e realizados na forma definida no
plano de recuperação judicial ou extrajudicial será declarado ineficaz ou
revogado. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

Perceba que além de poderem ser declarados de ofício, podem ser alegados em defesa,
mediante ação própria ou ainda incidentalmente no processo de falência. Ou seja, mesmo nos atos
objetivamente ineficazes, o STJ tem entendido que sendo o ato realizado no termo da falência e
antes da quebra, é necessária a PROVA da fraude.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/RO (2019) Em relação à massa falida, considera(m)-se ineficaz(es) a
venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento
expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes,
não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo,
salvo se, no prazo legalmente previsto, não houver oposição dos credores,
após serem devidamente notificados. Correta!

TJ/AC (2019) A ineficácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada
em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso
do processo. Correta!

Temos também os “ATOS SUBJETIVAMENTE INEFICAZES” (art. 130), aqui é ineficácia


subjetiva porque perquirimos a intenção dos agentes. Aqui o consilium fraudis deve ser provado e
o juiz não pode declarar de ofício. Perceber que aqui os atos são revogados e não ineficazes
(embora o nome seja ‘subjetivamente ineficazes’).
Art. 130. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar
credores, provando-se o CONLUIO FRAUDULENTO entre o devedor e o
terceiro que com ele contratar e o EFETIVO PREJUÍZO sofrido pela massa
falida.

De acordo com Fábio Ulhôa Coelho, a ação própria que deve ser ajuizada, nos casos do art.
130 é a AÇÃO REVOCATÓRIA, e no art. 129, seria uma AÇÃO INOMINADA (DECLARATÓRIA

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 336

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DE INEFICÁCIA). Entretanto prevalece que em ambos os casos se trata de ação revocatória
(Amador Paes de Almeida).
O art. 132, estabelece que esta ação revocatória pode ser ajuizada pelo administrador
judicial, por qualquer credor e agora também pelo MP, no prazo de 3 anos contado da decretação
da falência.
Art. 132. A AÇÃO REVOCATÓRIA, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá
ser proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo
Ministério Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da
falência.

4.10. FASE FALIMENTAR PROPRIAMENTE DITA

A fase falimentar propriamente dita engloba:


• Arrecadação;
• Avaliação;
• Venda judicial dos bens;
• Ordem de preferência na realização do ativo (venda dos bens);
• Pagamento dos credores: Ordem de preferência.

4.10.1. Arrecadação

Depois de nomeado, o administrador deve providenciar a arrecadação de TODOS os bens


do falido. Tudo que está na posse do falido DEVE SER arrecadado.
Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do
Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe:
...
III – na falência:
...
f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de
arrecadação, nos termos dos arts. 108 e 110 desta Lei;
j) proceder à venda de todos os bens da massa falida no prazo máximo de
180 (cento e oitenta) dias, contado da data da juntada do auto de
arrecadação, sob pena de destituição, salvo por impossibilidade
fundamentada, reconhecida por decisão judicial; (Redação dada pela Lei
nº 14.112, de 2020)

Art. 99, § 3º Após decretada a quebra ou convolada a recuperação judicial


em falência, o administrador deverá, no prazo de até 60 (sessenta) dias,
contado do termo de nomeação, apresentar, para apreciação do juiz, plano
detalhado de realização dos ativos, inclusive com a estimativa de tempo não
superior a 180 (cento e oitenta) dias a partir da juntada de cada auto de
arrecadação, na forma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei. (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 337

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Art. 108. Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o administrador
judicial efetuará a arrecadação dos bens e documentos e a avaliação dos
bens, separadamente ou em bloco, no local em que se encontrem,
requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias.
§ 1o Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador judicial ou
de pessoa por ele escolhida, sob responsabilidade daquele, podendo o falido
ou qualquer de seus representantes ser nomeado depositário dos bens.
§ 2o O falido poderá acompanhar a arrecadação e a avaliação.
§ 3o O produto dos bens penhorados ou por outra forma apreendidos entrará
para a massa, cumprindo ao juiz deprecar, a requerimento do administrador
judicial, às autoridades competentes, determinando sua entrega.
§ 4o Não serão arrecadados os bens absolutamente impenhoráveis.
§ 5o Ainda que haja avaliação em bloco, o bem objeto de garantia real será
também avaliado separadamente, para os fins do § 1o do art. 83 desta Lei.

Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a
execução da etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da
massa falida ou dos interesses dos credores.

Art. 110. O auto de arrecadação, composto pelo inventário e pelo respectivo


laudo de avaliação dos bens, será assinado pelo administrador judicial, pelo
falido ou seus representantes e por outras pessoas que auxiliarem ou
presenciarem o ato.
§ 1o Não sendo possível a avaliação dos bens no ato da arrecadação, o
administrador judicial requererá ao juiz a concessão de prazo para
apresentação do laudo de avaliação, que não poderá exceder 30 (trinta) dias,
contados da apresentação do auto de arrecadação.
§ 2o Serão referidos no inventário:
I – os livros obrigatórios e os auxiliares ou facultativos do devedor,
designando-se o estado em que se acham, número e denominação de cada
um, páginas escrituradas, data do início da escrituração e do último
lançamento, e se os livros obrigatórios estão revestidos das formalidades
legais;
II – dinheiro, papéis, títulos de crédito, documentos e outros bens da massa
falida;
III – os bens da massa falida em poder de terceiro, a título de guarda,
depósito, penhor ou retenção;
IV – os bens indicados como propriedade de terceiros ou reclamados por
estes, mencionando-se essa circunstância.
§ 3o Quando possível, os bens referidos no § 2o deste artigo serão
individualizados.
§ 4o Em relação aos bens imóveis, o administrador judicial, no prazo de 15
(quinze) dias após a sua arrecadação, exibirá as certidões de registro,
extraídas posteriormente à decretação da falência, com todas as indicações
que nele constarem.

E se o administrador arrecada um bem que NÃO é do falido?


O titular do bem (exemplo: freezer da Coca-Cola) deve realizar pedido de restituição da
coisa arrecadada, nos termos do art. 85 da Lei. Trata-se de uma AÇÃO PRÓPRIA.
Art. 85. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou que se
encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá
pedir sua restituição.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 338

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Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a
crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao
requerimento de sua falência, se ainda não alienada.

STF SÚMULA Nº 495 A RESTITUIÇÃO EM DINHEIRO DA COISA VENDIDA


A CRÉDITO, ENTREGUE NOS QUINZE DIAS ANTERIORES AO PEDIDO
DE FALÊNCIA OU DE CONCORDATA, CABE, QUANDO, AINDA QUE
CONSUMIDA OU TRANSFORMADA, NÃO FAÇA O DEVEDOR PROVA DE
HAVER SIDO ALIENADA A TERCEIRO.

É possível a restituição em dinheiro? É possível. Exemplo: o falido desconta a contribuição


previdenciária dos empregados, mas não faz o repasse ao INSS. O procurador federal deverá fazer
o pedido de restituição em dinheiro (está indevidamente com o falido).
Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro:
I – se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese
em que o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de
ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor
atualizado;
II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional,
decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na
forma do art. 75, §§ 3o e 4o, da Lei no 4.728, de 14 de julho de 1965, desde
que o prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda
o previsto nas normas específicas da autoridade competente;
III – dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese
de revogação ou ineficácia do contrato, conforme disposto no art. 136 desta
Lei.
IV - às Fazendas Públicas, relativamente a tributos passíveis de retenção na
fonte, de descontos de terceiros ou de sub-rogação e a valores recebidos
pelos agentes arrecadadores e não recolhidos aos cofres
públicos. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

Art. 136. Reconhecida a ineficácia ou julgada procedente a ação revocatória,


as partes retornarão ao estado anterior, e o contratante de boa-fé terá direito
à restituição dos bens ou valores entregues ao devedor.

Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos


nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5
(cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja
disponibilidade em caixa.

OBS: Quando a restituição for em bens, ela deve ser feita em 48 horas. Em caso de a
restituição ser em dinheiro, ela se dará quando do pagamento dos credores.
Art. 88. A sentença que reconhecer o direito do requerente determinará a
entrega da COISA no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.
Parágrafo único. Caso não haja contestação, a massa não será condenada
ao pagamento de honorários advocatícios.

Atenção!

Art. 114-A. Se não forem encontrados bens para serem arrecadados, ou se


os arrecadados forem insuficientes para as despesas do processo, o

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 339

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
administrador judicial informará imediatamente esse fato ao juiz, que, ouvido
o representante do Ministério Público, fixará, por meio de edital, o prazo de
10 (dez) dias para os interessados se manifestarem. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
§ 1º Um ou mais credores poderão requerer o prosseguimento da falência,
desde que paguem a quantia necessária às despesas e aos honorários do
administrador judicial, que serão considerados despesas essenciais nos
termos estabelecidos no inciso I-A do caput do art. 84 desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 2º Decorrido o prazo previsto no caput sem manifestação dos interessados,
o administrador judicial promoverá a venda dos bens arrecadados no prazo
máximo de 30 (trinta) dias, para bens móveis, e de 60 (sessenta) dias, para
bens imóveis, e apresentará o seu relatório, nos termos e para os efeitos
dispostos neste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 3º Proferida a decisão, a falência será encerrada pelo juiz nos
autos. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MG (2022) Se não forem encontrados bens para serem arrecadados, ou
se os arrecadados forem insuficientes para as despesas do processo, o
administrador judicial informará imediatamente esse fato ao juiz, que, ouvido
o representante do Ministério Público, fixará, por meio de edital, o prazo de
10 (dez) dias para os interessados se manifestarem. Decorrido o prazo sem
manifestação dos interessados, o administrador judicial promoverá a venda
dos bens arrecadados no prazo máximo de 30 (trinta) dias, para bens imóveis,
e de 60 (sessenta) dias, para bens móveis, e apresentará o seu relatório, nos
termos e para os efeitos legais. Errada!

4.10.2. Avaliação

Depois da arrecadação, os bens devem ser avaliados pelo Administrador.


Art. 108. Ato contínuo à assinatura do termo de compromisso, o
administrador judicial efetuará a arrecadação dos bens e documentos e a
avaliação dos bens, separadamente ou em bloco, no local em que se
encontrem, requerendo ao juiz, para esses fins, as medidas necessárias.
§ 1o Os bens arrecadados ficarão sob a guarda do administrador judicial ou
de pessoa por ele escolhida, sob responsabilidade daquele, podendo o falido
ou qualquer de seus representantes ser nomeado depositário dos bens.
§ 2o O falido poderá acompanhar a arrecadação e a avaliação.
§ 3o O produto dos bens penhorados ou por outra forma apreendidos entrará
para a massa, cumprindo ao juiz deprecar, a requerimento do administrador
judicial, às autoridades competentes, determinando sua entrega.
§ 4o Não serão arrecadados os bens absolutamente impenhoráveis.
§ 5o Ainda que haja avaliação em bloco, o bem objeto de garantia real será
também avaliado separadamente, para os fins do § 1 o do art. 83 desta Lei.

Art. 110. O auto de arrecadação, composto pelo inventário e pelo respectivo


laudo de avaliação dos bens, será assinado pelo administrador judicial, pelo
falido ou seus representantes e por outras pessoas que auxiliarem ou
presenciarem o ato.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 340

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§ 1o Não sendo possível a avaliação dos bens no ato da arrecadação, o
administrador judicial requererá ao juiz a concessão de prazo para
apresentação do laudo de avaliação, que não poderá exceder 30 (trinta) dias,
contados da apresentação do auto de arrecadação.
§ 2o Serão referidos no inventário:
I – os livros obrigatórios e os auxiliares ou facultativos do devedor,
designando-se o estado em que se acham, número e denominação de cada
um, páginas escrituradas, data do início da escrituração e do último
lançamento, e se os livros obrigatórios estão revestidos das formalidades
legais;
II – dinheiro, papéis, títulos de crédito, documentos e outros bens da massa
falida;
III – os bens da massa falida em poder de terceiro, a título de guarda,
depósito, penhor ou retenção;
IV – os bens indicados como propriedade de terceiros ou reclamados por
estes, mencionando-se essa circunstância.
§ 3o Quando possível, os bens referidos no § 2o deste artigo serão
individualizados.
§ 4o Em relação aos bens imóveis, o administrador judicial, no prazo de 15
(quinze) dias após a sua arrecadação, exibirá as certidões de registro,
extraídas posteriormente à decretação da falência, com todas as indicações
que nele constarem.

4.10.3. Venda judicial dos bens

Depois se procede à venda judicial dos bens, que recebe o nome de “realização do ativo”.
Existem três modalidades de venda judicial no processo falimentar:
• Leilão: Serve tanto para bem MÓVEL quanto para bem IMÓVEL.
• Proposta fechada: O juiz publica edital em que vai ser vendido o bem. Os
interessados realizam suas propostas em envelopes fechados, no cartório onde
corre a ação. Em audiência o juiz abre as propostas e escolhe a maior proposta.
• Pregão: é uma modalidade híbrida.
Art. 139. Logo após a arrecadação dos bens, com a juntada do respectivo
auto ao processo de falência, será iniciada a REALIZAÇÃO DO ATIVO.

Art. 140. A alienação dos bens será realizada de uma das seguintes formas,
observada a seguinte ordem de preferência:
I – alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;
II – alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas
isoladamente;
III – alienação em bloco dos bens que integram cada um dos
estabelecimentos do devedor;
IV – alienação dos bens individualmente considerados.
§ 1o Se convier à realização do ativo, ou em razão de oportunidade, podem
ser adotadas mais de uma forma de alienação.
§ 2o A realização do ativo terá início independentemente da formação do
quadro-geral de credores.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 341

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§ 3o A alienação da empresa terá por objeto o conjunto de determinados bens
necessários à operação rentável da unidade de produção, que poderá
compreender a transferência de contratos específicos.
§ 4o Nas transmissões de bens alienados na forma deste artigo que
dependam de registro público, a este servirá como título aquisitivo suficiente
o mandado judicial respectivo.

Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa


ou de suas filiais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata o
art. 142: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020):
I – todos os credores, observada a ordem de preferência definida no art. 83
desta Lei, sub-rogam-se no produto da realização do ativo;
II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão
do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza
tributária, as derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de
acidentes de trabalho.
§ 1o O disposto no inciso II do caput deste artigo não se aplica quando o
arrematante for:
I – sócio da sociedade falida, ou sociedade controlada pelo falido;
II – parente, em linha reta ou colateral até o 4 o (quarto) grau, consanguíneo
ou afim, do falido ou de sócio da sociedade falida; ou
III – identificado como agente do falido com o objetivo de fraudar a sucessão.
§ 2o Empregados do devedor contratados pelo arrematante serão admitidos
mediante novos contratos de trabalho e o arrematante não responde por
obrigações decorrentes do contrato anterior.

Art. 142. A alienação de bens dar-se-á por uma das seguintes


modalidades: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
I - leilão eletrônico, presencial ou híbrido; (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)
II - (revogado);
III - (revogado);
IV - processo competitivo organizado promovido por agente especializado e
de reputação ilibada, cujo procedimento deverá ser detalhado em relatório
anexo ao plano de realização do ativo ou ao plano de recuperação judicial,
conforme o caso; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
V - qualquer outra modalidade, desde que aprovada nos termos desta
Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º (Revogado).
§ 2º (Revogado).
§ 2º-A. A alienação de que trata o caput deste artigo: (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)
I - dar-se-á independentemente de a conjuntura do mercado no momento da
venda ser favorável ou desfavorável, dado o caráter forçado da
venda; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
II - independerá da consolidação do quadro-geral de credores; (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)
III - poderá contar com serviços de terceiros como consultores, corretores e
leiloeiros; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
IV - deverá ocorrer no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias, contado
da data da lavratura do auto de arrecadação, no caso de falência; (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 342

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V - não estará sujeita à aplicação do conceito de preço vil. (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 3º Ao leilão eletrônico, presencial ou híbrido aplicam-se, no que couber, as
regras da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil). (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 3º-A. A alienação por leilão eletrônico, presencial ou híbrido dar-se-
á: (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
I - em primeira chamada, no mínimo pelo valor de avaliação do
bem; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
II - em segunda chamada, dentro de 15 (quinze) dias, contados da primeira
chamada, por no mínimo 50% (cinquenta por cento) do valor de avaliação;
e (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
III - em terceira chamada, dentro de 15 (quinze) dias, contados da segunda
chamada, por qualquer preço. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 3º-B. A alienação prevista nos incisos IV e V do caput deste artigo,
conforme disposições específicas desta Lei, observará o
seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
I - será aprovada pela assembleia-geral de credores; (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
II - decorrerá de disposição de plano de recuperação judicial aprovado;
ou (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
III - deverá ser aprovada pelo juiz, considerada a manifestação do
administrador judicial e do Comitê de Credores, se existente. (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 4º (Revogado).
§ 5º (Revogado).
§ 6º (Revogado).
§ 7º Em qualquer modalidade de alienação, o Ministério Público e as
Fazendas Públicas serão intimados por meio eletrônico, nos termos da
legislação vigente e respeitadas as respectivas prerrogativas funcionais, sob
pena de nulidade. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 8º Todas as formas de alienação de bens realizadas de acordo com esta
Lei serão consideradas, para todos os fins e efeitos, alienações
judiciais. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Art. 143. Em qualquer das modalidades de alienação referidas no art. 142


desta Lei, poderão ser apresentadas impugnações por quaisquer credores,
pelo devedor ou pelo Ministério Público, no prazo de 48 (quarenta e oito)
horas da arrematação, hipótese em que os autos serão conclusos ao juiz,
que, no prazo de 5 (cinco) dias, decidirá sobre as impugnações e, julgando-
as improcedentes, ordenará a entrega dos bens ao arrematante, respeitadas
as condições estabelecidas no edital.
§ 1º Impugnações baseadas no valor de venda do bem somente serão
recebidas se acompanhadas de oferta firme do impugnante ou de terceiro
para a aquisição do bem, respeitados os termos do edital, por valor presente
superior ao valor de venda, e de depósito caucionário equivalente a 10% (dez
por cento) do valor oferecido. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 2º A oferta de que trata o § 1º deste artigo vincula o impugnante e o terceiro
ofertante como se arrematantes fossem. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
§ 3º Se houver mais de uma impugnação baseada no valor de venda do bem,
somente terá seguimento aquela que tiver o maior valor presente entre
elas. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 343

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§ 4º A suscitação infundada de vício na alienação pelo impugnante será
considerada ato atentatório à dignidade da justiça e sujeitará o suscitante à
reparação dos prejuízos causados e às penas previstas na Lei nº 13.105, de
16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), para comportamentos
análogos. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Art. 144. Havendo motivos justificados, o juiz poderá autorizar, mediante


requerimento fundamentado do administrador judicial ou do Comitê,
modalidades de alienação judicial diversas das previstas no art. 142 desta
Lei.

Art. 144-A. Frustrada a tentativa de venda dos bens da massa falida e


não havendo proposta concreta dos credores para assumi-los, os bens
poderão ser considerados sem valor de mercado e destinados à
doação. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
Parágrafo único. Se não houver interessados na doação referida
no caput deste artigo, os bens serão devolvidos ao falido. (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)

Art. 145. Por deliberação tomada nos termos do art. 42 desta Lei, os credores
poderão adjudicar os bens alienados na falência ou adquiri-los por meio de
constituição de sociedade, de fundo ou de outro veículo de investimento, com
a participação, se necessária, dos atuais sócios do devedor ou de terceiros,
ou mediante conversão de dívida em capital. (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)
§ 1º Aplica-se irrestritamente o disposto no art. 141 desta Lei à transferência
dos bens à sociedade, ao fundo ou ao veículo de investimento mencionados
no caput deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 2º (Revogado).
§ 3º (Revogado).
§ 4º Será considerada não escrita qualquer restrição convencional à venda
ou à circulação das participações na sociedade, no fundo de investimento ou
no veículo de investimento a que se refere o caput deste artigo. (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)

Art. 146. Em qualquer modalidade de realização do ativo adotada, fica a


massa falida dispensada da apresentação de certidões negativas.

Art. 147. As quantias recebidas a qualquer título serão imediatamente


depositadas em conta remunerada de instituição financeira, atendidos os
requisitos da lei ou das normas de organização judiciária.

Art. 148. O administrador judicial fará constar do relatório de que trata a alínea
p do inciso III do art. 22 os valores eventualmente recebidos no mês vencido,
explicitando a forma de distribuição dos recursos entre os credores,
observado o disposto no art. 149 desta Lei.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/SC (2022) Serra Alta Eletrônicos Ltda., na condição de credora
extraconcursal, apresentou impugnação tempestiva ao leilão de bens da
sociedade falida Maracajá & Cerqueira Ltda., realizado de forma híbrida. A
impugnante alega as seguintes irregularidades: (i) o leilão ocorreu justamente

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 344

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no momento de extrema desvalorização do imóvel onde funcionava a sede
da falida, em razão da enchente que atingiu a cidade e destruiu parte da
vizinhança, acarretando desvalorização injustificada do ativo e contrariando
o princípio da otimização; (ii) a alienação ocorreu em terceira chamada, por
preço vil, equivalente a 30% do valor de avaliação do bem, após a ausência
de licitantes nas chamadas anteriores. Os fatos alegados são incontestes.
Como juiz da falência, sua decisão será pelo indeferimento total da
impugnação, em razão do caráter forçado da venda e da não sujeição ao
conceito de preço vil. Correta!

4.10.4. Habilitação de crédito

É encaminhada ao administrador judicial, no prazo de 15 dias, não há custas.

Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial,


com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor
e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo
contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas.
§ 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1º , ou no parágrafo único do art.
99 desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar
ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos
créditos relacionados.
§ 2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos
colhidos na forma do caput e do § 1º deste artigo, fará publicar edital
contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias,
contado do fim do prazo do § 1º deste artigo, devendo indicar o local, o horário
e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8º desta Lei terão
acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.

Caso não concorde com a relação de credores, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou
seus sócios, bem como o MP, no prazo de 10 dias, podem apresentar ação de impugnação.

Art. 8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida


no art. 7º , § 2º , desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus
sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra
a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou
manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de
crédito relacionado.
Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos
termos dos arts. 13 a 15 desta Lei.

Caso não seja observado o prazo de 15 dias para apresentação das habilitações, serão
recebidas como retardatárias.

Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7º , § 1º , desta Lei, as


habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias.
§ 1º Na recuperação judicial, os titulares de créditos retardatários, excetuados
os titulares de créditos derivados da relação de trabalho, não terão direito a
voto nas deliberações da assembleia-geral de credores.
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo ao processo de falência, salvo
se, na data da realização da assembleia-geral, já houver sido homologado o
quadro-geral de credores contendo o crédito retardatário.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 345

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§ 3º Na falência, os créditos retardatários perderão o direito a rateios
eventualmente realizados e ficarão sujeitos ao pagamento de custas, não se
computando os acessórios compreendidos entre o término do prazo e a data
do pedido de habilitação.
§ 4º Na hipótese prevista no § 3º deste artigo, o credor poderá requerer a
reserva de valor para satisfação de seu crédito.
§ 5º As habilitações de crédito retardatárias, se apresentadas antes da
homologação do quadro-geral de credores, serão recebidas como
impugnação e processadas na forma dos arts. 13 a 15 desta Lei.
§ 6º Após a homologação do quadro-geral de credores, aqueles que não
habilitaram seu crédito poderão, observado, no que couber, o procedimento
ordinário previsto no Código de Processo Civil, requerer ao juízo da falência
ou da recuperação judicial a retificação do quadro-geral para inclusão do
respectivo crédito.
§ 7º O quadro-geral de credores será formado com o julgamento das
impugnações tempestivas e com as habilitações e as impugnações
retardatárias decididas até o momento da sua formação. (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)
§ 8º As habilitações e as impugnações retardatárias acarretarão a reserva do
valor para a satisfação do crédito discutido. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)
§ 9º A recuperação judicial poderá ser encerrada ainda que não tenha havido
a consolidação definitiva do quadro-geral de credores, hipótese em que as
ações incidentais de habilitação e de impugnação retardatárias serão
redistribuídas ao juízo da recuperação judicial como ações autônomas e
observarão o rito comum. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 10. O credor deverá apresentar pedido de habilitação ou de reserva de
crédito em, no máximo, 3 (três) anos, contados da data de publicação da
sentença que decretar a falência, sob pena de decadência. (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)

4.10.5. Incidente de classificação de crédito público

O art. 29 da Lei de Execução Fiscal prevê que a cobrança judicial de crédito tributário não é
sujeita a lei de falências, no mesmo sentido o art. 187 do CTN.

Art. 29 - A cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública não é sujeita


a concurso de credores ou habilitação em falência, concordata, liquidação,
inventário ou arrolamento. (Vide ADPF 357)

Art. 187. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de


credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata,
inventário ou arrolamento. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005) (Vide
ADPF 357)

Apesar da previsão do art. 29 da LEF e do art. 187 do CTN, na prática, os créditos fiscais já
eram habilitados na falência. Perceba, portanto, que a Fazenda Pública renunciava à execução
fiscal e habilitava o seu crédito na falência.

STJ - AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. COMERCIAL


E PROCESSO CIVIL. FALÊNCIA. HABILITAÇÃO DE CRÉDITO
TRIBUTÁRIO. POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE OBRIGATORIEDADE DE

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 346

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PROPOSITURA DE EXECUÇÃO FISCAL. ADMISSIBILIDADE DE OPÇÃO
DA VIA ADEQUADA AO CASO CONCRETO. 1. A jurisprudência desta Corte
Superior se firmou na vertente de que os arts. 187 do CTN e 29 da LEF (Lei
6.830/80) conferem, na realidade, ao Ente de Direito Público a prerrogativa
de optar entre o ajuizamento de execução fiscal ou a habilitação de crédito
na falência, para a cobrança em juízo dos créditos tributários e equiparados.
Assim, escolhida uma via judicial, ocorre a renúncia com relação a outra, pois
não se admite a garantia dúplice.

A Lei 14.112/2020 criou o incidente de classificação de crédito público (instaurado de ofício),


com a finalidade de facilitar a habilitação de crédito público pela Fazenda Pública. Após a intimação
da Fazenda Pública, há o prazo de 15 dias para que ela comunique que há um crédito a receber.

Art. 7º-A. Na falência, após realizadas as intimações e publicado o edital,


conforme previsto, respectivamente, no inciso XIII do caput e no § 1º do art.
99 desta Lei, o juiz instaurará, de ofício, para cada Fazenda Pública credora,
incidente de classificação de crédito público e determinará a sua
intimação eletrônica para que, no prazo de 30 (trinta) dias, apresente
diretamente ao administrador judicial ou em juízo, a depender do momento
processual, a relação completa de seus créditos inscritos em dívida ativa,
acompanhada dos cálculos, da classificação e das informações sobre a
situação atual. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
§ 1º Para efeito do disposto no caput deste artigo, considera-se Fazenda
Pública credora aquela que conste da relação do edital previsto no § 1º do
art. 99 desta Lei, ou que, após a intimação prevista no inciso XIII do caput do
art. 99 desta Lei, alegue nos autos, no prazo de 15 (quinze) dias, possuir
crédito contra o falido. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
§ 2º Os créditos não definitivamente constituídos, não inscritos em dívida
ativa ou com exigibilidade suspensa poderão ser informados em momento
posterior. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
§ 3º Encerrado o prazo de que trata o caput deste artigo: (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
I - o falido, os demais credores e o administrador judicial disporão do prazo
de 15 (quinze) dias para manifestar objeções, limitadamente, sobre os
cálculos e a classificação para os fins desta Lei; (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020) (Vigência)
II - a Fazenda Pública, ultrapassado o prazo de que trata o inciso I deste
parágrafo, será intimada para prestar, no prazo de 10 (dez) dias, eventuais
esclarecimentos a respeito das manifestações previstas no referido
inciso; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
III - os créditos serão objeto de reserva integral até o julgamento definitivo
quando rejeitados os argumentos apresentados de acordo com o inciso II
deste parágrafo; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
IV - os créditos incontroversos, desde que exigíveis, serão imediatamente
incluídos no quadro-geral de credores, observada a sua
classificação; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
V - o juiz, anteriormente à homologação do quadro-geral de credores,
concederá prazo comum de 10 (dez) dias para que o administrador judicial e
a Fazenda Pública titular de crédito objeto de reserva manifestem-se sobre a
situação atual desses créditos e, ao final do referido prazo, decidirá acerca
da necessidade de mantê-la. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 347

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§ 4º Com relação à aplicação do disposto neste artigo, serão observadas as
seguintes disposições: (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
I - a decisão sobre os cálculos e a classificação dos créditos para os fins do
disposto nesta Lei, bem como sobre a arrecadação dos bens, a realização do
ativo e o pagamento aos credores, competirá ao juízo falimentar; (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
II - a decisão sobre a existência, a exigibilidade e o valor do crédito, observado
o disposto no inciso II do caput do art. 9º desta Lei e as demais regras do
processo de falência, bem como sobre o eventual prosseguimento da
cobrança contra os corresponsáveis, competirá ao juízo da execução
fiscal; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
III - a ressalva prevista no art. 76 desta Lei, ainda que o crédito reconhecido
não esteja em cobrança judicial mediante execução fiscal, aplicar-se-á, no
que couber, ao disposto no inciso II deste parágrafo; (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020) (Vigência)
IV - o administrador judicial e o juízo falimentar deverão respeitar a presunção
de certeza e liquidez de que trata o art. 3º da Lei nº 6.830, de 22 de setembro
de 1980, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III deste
parágrafo; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
V - as execuções fiscais permanecerão suspensas até o encerramento da
falência, sem prejuízo da possibilidade de prosseguimento contra os
corresponsáveis; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
VI - a restituição em dinheiro e a compensação serão preservadas, nos
termos dos arts. 86 e 122 desta Lei; e (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
VII - o disposto no art. 10 desta Lei será aplicado, no que couber, aos créditos
retardatários. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
§ 5º Na hipótese de não apresentação da relação referida no caput deste
artigo no prazo nele estipulado, o incidente será arquivado e a Fazenda
Pública credora poderá requerer o desarquivamento, observado, no que
couber, o disposto no art. 10 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
§ 6º As disposições deste artigo aplicam-se, no que couber, às execuções
fiscais e às execuções de ofício que se enquadrem no disposto nos incisos
VII e VIII do caput do art. 114 da Constituição Federal. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020) (Vigência)
§ 7º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, aos créditos do Fundo
de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
§ 8º Não haverá condenação em honorários de sucumbência no incidente de
que trata este artigo. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

Conclui-se, portanto, que a Fazenda Pública tem a faculdade de optar por ingressar com a
cobrança judicial ou requerer a habilitação de seu crédito na ação falimentar, utilizando-se inclusive
o procedimento especial acima transcrito. De modo que eventual ineficácia do negócio jurídico
decretada no Juízo Falimentar não impede prosseguimento da Execução Fiscal. Neste sentido,
inclusive entendeu o STJ:
Os atos considerados ineficazes pelo juízo falimentar não produzem qualquer
efeito jurídico perante a massa. Por outro lado, isso não vincula o juízo da
execução fiscal. A decretação da ineficácia do negócio jurídico por parte do
juízo falimentar não impede que o juízo da execução fiscal continue decidindo

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 348

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que houve responsabilidade tributária decorrente de sucessão empresarial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1822226-RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
27/09/2022 (Info 753).

4.10.6. Quadro geral de credores

Os arts. 14, 10, §§ 7º e 8º tratam da formação do quadro geral de credores. Observe:

Art. 14. Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como quadro-geral
de credores, a relação dos credores de que trata o § 2º do art. 7º, ressalvado
o disposto no art. 7º-A desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)

Art. 10.
§ 7º O quadro-geral de credores será formado com o julgamento das
impugnações tempestivas e com as habilitações e as impugnações
retardatárias decididas até o momento da sua formação. (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)
§ 8º As habilitações e as impugnações retardatárias acarretarão a reserva do
valor para a satisfação do crédito discutido. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)
Art. 19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante
do Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou
da falência, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no
pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos
casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou,
ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da
inclusão no quadro-geral de credores.

§ 1º A ação prevista neste artigo será proposta exclusivamente perante o


juízo da recuperação judicial ou da falência ou, nas hipóteses previstas no
art. 6º , §§ 1º e 2º , desta Lei, perante o juízo que tenha originariamente
reconhecido o crédito.

§ 2º Proposta a ação de que trata este artigo, o pagamento ao titular do crédito


por ela atingido somente poderá ser realizado mediante a prestação de
caução no mesmo valor do crédito questionado.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SC (2019) Segundo redação da Lei n. 11.101/2005 (Lei da Recuperação
Judicial), o administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o
representante do Ministério Público poderá, até o encerramento da
recuperação judicial ou da falência, observado, no que couber, o
procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, pedir a
exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos
de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda,
documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no
quadro-geral de credores. Correta!

4.11. ORDEM DE CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 349

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O quadro geral de credores deve respeitar a ordem de classificação da falência, primeiro
deve-se efetuar o pagamento dos créditos extraconcursais (art. 84) e, após, os créditos concursais
(art. 83).

1º créditos trabalhistas

2º créditos com garantia


real

1º créditos extraconcursais
3º créditos tributários
DEVEDOR = MASSA FALIDA

ORDEM DE CLASSIFICAÇÃO

2º créditos concursais
4º créditos quirografários
DEVEDOR = FALIDO

5º multas

6º créditos subordinados

7º juros vencidos após


falência

4.11.1. Créditos concursais

Os créditos concursais devem ser pagos após os créditos extraconcursais. Faremos seu
estudo antes apenas para fins didáticos.

ANTES DA LEI 14.112/2020 APÓS A LEI 14.112/2020


Créditos trabalhistas Continua existindo
Créditos com garantia real Continua existindo
Créditos tributários Continua existindo
Créditos com privilégio especial NÃO EXISTE MAIS
Créditos com privilégio geral NÃO EXISTE MAIS
Créditos quirografários Continua existindo
Multas Continua existindo
Créditos subordinados Continua existindo

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 350

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- JUROS

Observe a redação do art. 83 da LF:

Art. 83. A classificação dos créditos na falência obedece à seguinte ordem:


I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e
cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de acidentes
de trabalho; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor do
bem gravado; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do tempo
de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas
tributárias; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
VI - os créditos quirografários, a saber: (Redação dada pela Lei nº 14.112,
de 2020)
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens
vinculados ao seu pagamento; e (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)
c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem
o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; (Redação dada
pela Lei nº 14.112, de 2020)
VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais
ou administrativas, incluídas as multas tributárias; (Redação dada pela Lei
nº 14.112, de 2020)
VIII - os créditos subordinados, a saber: (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)
a) os previstos em lei ou em contrato; e (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício
cuja contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas
e as práticas de mercado; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no
art. 124 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como
valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada
com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do
bem individualmente considerado.
§ 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio
ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.
§ 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as
obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.
§ 5º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos cedidos a qualquer título
manterão sua natureza e classificação. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)
§ 6º § 6º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos que disponham de
privilégio especial ou geral em outras normas integrarão a classe dos créditos
quirografários. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

1) Créditos trabalhistas

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 351

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Art. 83, I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150
(cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de
acidentes de trabalho;

A limitação de 150 salários-mínimos é para cada credor trabalhista. Além disso, a limitação
é apenas para a relação trabalhista, não alcança o acidente de trabalho.

Créditos decorrentes Créditos decorrentes


da relação de de acidente de
trabalho trabalho

Limite de Não há
150 SM limitação
Salienta-se que o valor excedente a 150 salários-mínimos será considerado crédito
quirografário.

Atenção para o art. 44 da Lei do 4.886/65 que prevê que os créditos devidos ao
representante comercial serão considerados créditos trabalhistas.

Art. 44. No caso de falência ou de recuperação judicial do representado, as


importâncias por ele devidas ao representante comercial, relacionadas com
a representação, inclusive comissões vencidas e vincendas, indenização e
aviso prévio, e qualquer outra verba devida ao representante oriunda da
relação estabelecida com base nesta Lei, serão consideradas créditos da
mesma natureza dos créditos trabalhistas para fins de inclusão no pedido de
falência ou plano de recuperação judicial. (Redação dada pela Lei nº
14.195, de 2021)

Além disso, entende o STJ que os honorários advocatícios se equiparam aos créditos
trabalhistas para fins falimentares.

Antes da Lei 14.112/2020, os créditos trabalhistas que eram cedidos a terceiros eram
considerados como quirografários. Tal previsão não existe mais, a partir da Lei 14.112/2020, os
créditos cedidos a terceiros não perdem sua natureza e classificação.

ANTES DA LEI 14.112/2020 APÓS A LEI 14.112/2020


Para os fins do disposto nesta Lei,
Os créditos trabalhistas cedidos a
os créditos cedidos a qualquer título
terceiros serão considerados
manterão sua natureza e
quirografários
classificação.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/CE (2020) Em razão de sua natureza alimentar, os créditos decorrentes
de honorários advocatícios se equiparam aos trabalhistas para efeito de
habilitação em falência. Correta!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 352

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TJ/BA (2019) De acordo com a legislação pertinente, trabalhador que possua
crédito remuneratório trabalhista com uma empresa em falência deverá
recebê-lo primeiramente, antes dos demais créditos, no limite de até cento e
cinquenta salários-mínimos. Correta!

2) Créditos com garantia real

Art. 83, II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do
valor do bem gravado; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

Imagine, por exemplo, que a Empresa X oferece como garantia um imóvel avaliado em R$
800.000,00 para obter um empréstimo de R$ 1.000.000,00.

A habilitação do crédito será no valor de R$ 1.000.000,00, mas apenas o valor de R$


800.000,00 entrará na classificação de crédito com garantia real, o valor excedente será
considerado crédito quirografário.

3) Créditos tributários

Art. 83, III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do


tempo de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas
tributárias; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

Aplicava-se à falência a ordem de preferência dos arts. 29 da Lei de Execução Fiscal e do


art. 187 do CTN. Contudo, o STF (ADPF 357) declarou a não recepção da preferência da União em
relação a Estados, Municípios e Distrito Federal na cobrança judicial de créditos da dívida ativa.

Art. 29. (...)


Parágrafo único. O concurso de preferência somente se verifica entre
pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem:
I - União e suas autarquias;
II - Estados, Distrito Federal e Territórios e suas autarquias, conjuntamente e
pro rata;
III - Municípios e suas autarquias, conjuntamente e pro rata.

Art. 187. (...)


Parágrafo único. O concurso de preferência somente se verifica entre
pessoas jurídicas de direito público, na seguinte ordem:
I - União;
II - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e pró rata;
III - Municípios, conjuntamente e pró rata.

Como consequência, cancelou a Súmula 563.

Súmula 563-STF: O concurso de preferência a que se refere o parágrafo


único, do art. 187, do Código Tributário Nacional, é compatível com o disposto
no art. 9º, inciso I, da Constituição Federal. CANCELADA

4) Créditos quirografários

Art. 83, VI - os créditos quirografários, a saber: (Redação dada pela Lei


nº 14.112, de 2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 353

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens
vinculados ao seu pagamento; e (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)
c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem
o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; (Redação dada
pela Lei nº 14.112, de 2020)

Salienta-se que, a partir das alterações promovidas pela Lei 14.112/2020, os créditos de
privilégio especial e geral passam a integrar a categoria de créditos quirografários.

Art. 83, § 6º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos que disponham de
privilégio especial ou geral em outras normas integrarão a classe dos créditos
quirografários. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

5) Multas

Art. 83, VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das
leis penais ou administrativas, incluídas as multas tributárias; (Redação
dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

A Súmula 565 do STF não se aplica mais, tendo em vista que a Lei 14.112/2020 passou a
prever o pagamento de multa.

Súmula 565 - A multa fiscal moratória constitui pena administrativa, não se


incluindo no crédito habilitado em falência. SUPERADA.

6) Créditos subordinados

Art. 83, VIII - os créditos subordinados, a saber: (Redação dada pela Lei
nº 14.112, de 2020)
a) os previstos em lei ou em contrato; e (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício
cuja contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas
e as práticas de mercado; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

7) Juros

Art. 83, IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme


previsto no art. 124 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Trata-se de uma novidade trazida pela Lei 14.112/2020.

4.11.2. Créditos extraconcursais

Os créditos extraconcursais serão pagos antes dos créditos concursais. Trata-se de crédito
devido pela massa falida, instituídos após a sentença declaratória de falência.

O art. 84 da LF disciplina os créditos extraconcursais. Vejamos:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 354

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Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com
precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir,
aqueles relativos: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
I-A - às quantias referidas nos arts. 150 e 151 desta Lei; (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)
I-B - ao valor efetivamente entregue ao devedor em recuperação judicial pelo
financiador, em conformidade com o disposto na Seção IV-A do Capítulo III
desta Lei; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
I-C - aos créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme previsto no art.
86 desta Lei; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
I-D - às remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus auxiliares,
aos reembolsos devidos a membros do Comitê de Credores, e aos créditos
derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho
relativos a serviços prestados após a decretação da falência; (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)
I-E - às obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a
recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação
da falência; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
II - às quantias fornecidas à massa falida pelos credores; (Redação dada
pela Lei nº 14.112, de 2020)
III - às despesas com arrecadação, administração, realização do ativo,
distribuição do seu produto e custas do processo de falência; (Redação
dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
IV - às custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa
falida tenha sido vencida; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
V - aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da
falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. (Redação
dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º As despesas referidas no inciso I-A do caput deste artigo serão pagas
pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa. (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 2º O disposto neste artigo não afasta a hipótese prevista no art. 122 desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

1) Às quantias referidas nos arts. 150 e 151 desta Lei;

Art. 150. As despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à


administração da falência, inclusive na hipótese de continuação provisória
das atividades previstas no inciso XI do caput do art. 99 desta Lei, serão
pagas pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa.

Art. 151. Os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos


nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5
(cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja
disponibilidade em caixa.

2) Ao valor efetivamente entregue ao devedor em recuperação judicial pelo


financiador

Trata-se do financiamento DIP, concedido durante a recuperação judicial.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 355

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
3) Aos créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme previsto no art. 86 da LF

Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro:


I – se a coisa não mais existir ao tempo do pedido de restituição, hipótese em
que o requerente receberá o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter
ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos os casos no valor
atualizado;
II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional,
decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma
do art. 75, §§ 3º e 4º , da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o
prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o
previsto nas normas específicas da autoridade competente;
III – dos valores entregues ao devedor pelo contratante de boa-fé na hipótese
de revogação ou ineficácia do contrato, conforme disposto no art. 136 desta
Lei.
IV - às Fazendas Públicas, relativamente a tributos passíveis de retenção na
fonte, de descontos de terceiros ou de sub-rogação e a valores recebidos
pelos agentes arrecadadores e não recolhidos aos cofres
públicos. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

4) Às remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus auxiliares, aos


reembolsos devidos a membros do Comitê de Credores, e aos créditos derivados da
legislação trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho relativos a serviços
prestados após a decretação da falência

5) Às obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação


judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência;

6) Às quantias fornecidas à massa falida pelos credores;

7) Às despesas com arrecadação, administração, realização do ativo, distribuição do seu


produto e custas do processo de falência;

8) Às custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa falida tenha


sido vencida;

9) Aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência,


respeitada a ordem estabelecida no art. 83

4.12. ENCERRAMENTO

Após a realização do ativo e da distribuição do produto entre os credores, o administrador


judicial deverá prestar contas no prazo de 30 dias.

As contas poderão ser impugnadas por qualquer interessado, no prazo de 10 dias, após a
publicação do comunicado pelo juiz. Além disso, o MP deverá ser intimado para se manifestar se
está ou não de acordo com as contas.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 356

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Art. 154. Concluída a realização de todo o ativo, e distribuído o produto entre
os credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo
de 30 (trinta) dias.
§ 1º As contas, acompanhadas dos documentos comprobatórios, serão
prestadas em autos apartados que, ao final, serão apensados aos autos da
falência.
§ 2º O juiz ordenará a publicação de aviso de que as contas foram entregues
e se encontram à disposição dos interessados, que poderão impugná-las no
prazo de 10 (dez) dias.
§ 3º Decorrido o prazo do aviso e realizadas as diligências necessárias à
apuração dos fatos, o juiz intimará o Ministério Público para manifestar-se no
prazo de 5 (cinco) dias, findo o qual o administrador judicial será ouvido se
houver impugnação ou parecer contrário do Ministério Público.
§ 4º Cumpridas as providências previstas nos §§ 2º e 3º deste artigo, o juiz
julgará as contas por sentença.
§ 5º A sentença que rejeitar as contas do administrador judicial fixará suas
responsabilidades, poderá determinar a indisponibilidade ou o sequestro de
bens e servirá como título executivo para indenização da massa.
§ 6º Da sentença cabe apelação.
Art. 155. Julgadas as contas do administrador judicial, ele apresentará o
relatório final da falência no prazo de 10 (dez) dias, indicando o valor do ativo
e o do produto de sua realização, o valor do passivo e o dos pagamentos
feitos aos credores, e especificará justificadamente as responsabilidades com
que continuará o falido.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/PR (2021) Considerando-se a ordem de preferência entre os créditos
extraconcursais para efeito de pagamento na falência, a ordem correta é os
créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos três
meses anteriores à decretação da falência, até o limite de cinco salários
mínimos por trabalhador; os reembolsos devidos a membros do Comitê de
Credores; as custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a
massa falida tenha sido vencida. Correta!

4.13. SENTENÇA DE ENCERRAMENTO

Terminado o pagamento, com satisfação ou não de todos os credores, cabe ao juiz prolatar
a sentença de encerramento, devendo intimar as Fazendas Públicas (art. 156).
Art. 156. Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença
e ordenará a intimação eletrônica às Fazendas Públicas federal e de todos
os Estados, Distrito Federal e Municípios em que o devedor tiver
estabelecimento e determinará a baixa da falida no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica (CNPJ), expedido pela Secretaria Especial da Receita
Federal do Brasil. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
Parágrafo único. A sentença de encerramento será publicada por edital e dela
caberá apelação.

4.14. REABILITAÇÃO

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 357

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
O falido somente se reabilita (torna-se apto a exercer empresa) com outra sentença: a
sentença de extinção das obrigações do falido. Essa sentença é prolatada quando ocorre uma
das hipóteses do art. 158 da Lei, mediante requerimento do falido.

4.14.1. Hipóteses de extinção das obrigações do falido (art. 158)

Art. 158. Extingue as obrigações do falido:


I – o pagamento de todos os créditos;
II - o pagamento, após realizado todo o ativo, de mais de 25% (vinte e cinco
por cento) dos créditos quirografários, facultado ao falido o depósito da
quantia necessária para atingir a referida porcentagem se para isso não tiver
sido suficiente a integral liquidação do ativo; (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)
III - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
IV - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
V - o decurso do prazo de 3 (três) anos, contado da decretação da falência,
ressalvada a utilização dos bens arrecadados anteriormente, que serão
destinados à liquidação para a satisfação dos credores habilitados ou com
pedido de reserva realizado; (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

ANTES DA LEI 14.112/2020 APÓS A LEI 14.112/2020


Pagamento de todos os credores Pagamento de todos os credores
Pagamento de mais de 50% dos créditos Pagamento de mais de 25% dos créditos
quirografários quirografários
Decurso do prazo de 05 anos, contados do
encerramento da falência, DESDE QUE o
falido não seja condenado por crime
Decurso do prazo de 03 anos, contado da
falimentar
decretação da falência.
Decurso do prazo de 10 anos, contados do
encerramento, no caso de o falido ter sido
condenado por crime falimentar
Encerramento sumário da falência

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MG (2022) Extingue as obrigações do falido o pagamento de todos os
créditos; o pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50%
(cinquenta por cento) dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o
depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem, se para tanto
não bastou a integral liquidação do ativo. Errada!

4.15. APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA DO CPC

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 358

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
Como se nota, o procedimento falimentar denota um rito especial, com particularidades
previstas na Lei. Não obstante, como é comum em nosso ordenamento, o próprio texto legal remete
às normas gerais do CPC desde que sejam compatíveis.
Por exemplo, o legislador dispôs expressamente que os prazos previstas na lei devem ser
contados em dias corridos e não em dias úteis, tal como dita o CPC (art. ).
Art. 189. Aplica-se, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei, o
disposto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil), desde que não seja incompatível com os princípios desta Lei.
(Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º Para os fins do disposto nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)
I - todos os prazos nela previstos ou que dela decorram serão contados em
dias corridos; e (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Há casos, no entanto, que se faz necessário acionar o CPC. Vejamos este recente julgado
do STJ que tratou da aplicação das medidas atípicas aplicadas à falência:
A apreensão do passaporte do devedor é medida atípica e restritiva da
liberdade de locomoção do indivíduo, podendo caracterizar constrangimento
ilegal e arbitrário, susceptível de análise em sede de habeas corpus, como
via processual adequada. Em homenagem ao princípio do resultado na
execução, o CPC/2015 inovou no ordenamento jurídico ao prever, em seu art.
139, IV, a adoção de medidas executivas atípicas, tendentes à satisfação da
obrigação exequenda. Sendo a falência um processo de execução coletiva
decretado judicialmente, deve o patrimônio do falido estar comprometido
exclusivamente com o pagamento da massa falida, de modo que se tem como
cabível, de forma subsidiária, a aplicação da referida regra do art. 139, IV,
conforme previsto no art. 189 da Lei 11.101/2005. No caso concreto, o STJ
considerou que a apreensão do passaporte do falido foi uma medida
coercitiva dotada de razoabilidade tendo em vista que determinada mediante
decisão fundamentada e com observância do contraditório prévio, em sede
de processo de falência que perdura por mais de dez anos, após constatados
fortes indícios de ocultação de vasto patrimônio em paraísos fiscais e que as
luxuosas e frequentes viagens internacionais do paciente são custeadas com
patrimônio indevidamente transferido a familiares pelo próprio falido, tudo
como forma de subtrair-se pessoalmente aos efeitos da quebra. STJ. 4ª
Turma. HC 742879-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 13/09/2022 (Info
749).

5. DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

5.1. INTRODUÇÃO

A recuperação judicial é uma permissão legal que concede ao devedor empresário ou


sociedade empresária a possibilidade de negociar diretamente com todos os seus credores ou tão
somente parte destes, de acordo com suas reais possibilidades, ampliando o seu universo de
medidas eficazes e suficientes à satisfação dos créditos negociados, mantendo os direitos dos
credores não incluídos no plano, garantindo o controle do poder judiciário e dos credores por

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 359

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instrumentos próprios, com a finalidade de recuperar e preservar a empresa viável com a
reorganização.
A Recuperação Judicial substituiu a antiga CONCORDATA, prevista no DL 7.661/45. A
concordata era um instituto que pouco ajudava efetivamente na recuperação do devedor em
dificuldades, conduzindo quase sempre à falência da empresa.
Problemas da CONCORDATA:
• Só tratava de créditos quirografários Ex.: Se o empresário tivesse várias dívidas com
garantia real, a concordata não lhe seria útil.
• A concordata era considerada um favor legal. Se o devedor preenchia os requisitos,
ela era concedida, independentemente da concordância dos credores. Essa falta de
concordância, além da falta de medidas alternativas de pagamento (só existia o
parcelamento da dívida ou remissão parcial), não agradava aos
credores/fornecedores, que simplesmente deixavam de negociar e fornecer
produtos, o que acabava gerando a quebra da empresa.
Vantagens da RECUPERAÇÃO JUDICIAL:

1) Envolve vários créditos e não apenas os quirografários. Até mesmo os créditos


trabalhistas podem ser pagos na recuperação judicial (art. 50, VIII).
Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação
pertinente a cada caso, dentre outros:
VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva;

2) O credor participa do processo. O plano de recuperação depende de sua aquiescência.


3) Existem vários mecanismos de superação de crise. Métodos modernos e mais eficazes
de recuperação do devedor (art. 50 → mecanismos de recuperação → rol
exemplificativo).
Exemplos desses meios:
• Fusão de empresas, que pode reduzir custos;
• Transferência do controle societário para o credor, que vai injetar recursos na
empresa e recuperá-la.
CONCORDATA (não existe mais) RECUPERAÇÃO JUDICIAL
DL 7.661/45 LEI 11.101/05
“Favor legal” – O Credor não participa. Credor participa.
Somente podia ser pago o crédito quirografário. Vários créditos podem ser pagos (trabalhistas,
garantias reais etc.).
Só permitia a remissão parcial ou a dilação do Meios modernos de superação da crise.
prazo.

5.2. INCIDÊNCIA

Estão sujeitos à recuperação judicial o empresário individual, a sociedade empresária e a


sociedade anônima de futebol.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 360

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5.3. FINALIDADE DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da


situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua
função social e o estímulo à atividade econômica.

A finalidade primordial da recuperação judicial é a chamada preservação da empresa


(função social da empresa), que está ligada aos seguintes objetivos:
• Manutenção de empregos;
• Manutenção da fonte produtora;
• Preservação dos interesses dos credores: Porque se o juiz decreta a falência é muito
provável que os credores não tenham seus créditos satisfeitos.
• Manutenção do desenvolvimento na região: Existem empresas que carregam uma
cidade nas costas.

5.4. COMPETÊNCIA

Será do local do principal estabelecimento. Caso a sede seja fora do Brasil, a competência
será do local da filial.

5.5. REQUISITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do


pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que
atenda aos seguintes requisitos, CUMULATIVAMENTE:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste
Capítulo; (Redação dada pela Lei Complementar nº 147, de 2014)
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
§ 1º A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge
sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
§ 2º No caso de exercício de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a
comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo por meio da
Escrituração Contábil Fiscal (ECF), ou por meio de obrigação legal de
registros contábeis que venha a substituir a ECF, entregue
tempestivamente. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
§ 3º Para a comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo, o
cálculo do período de exercício de atividade rural por pessoa física é feito com
base no Livro Caixa Digital do Produtor Rural (LCDPR), ou por meio de

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 361

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
obrigação legal de registros contábeis que venha a substituir o LCDPR, e pela
Declaração do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF) e balanço
patrimonial, todos entregues tempestivamente. (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020) (Vigência)
§ 4º Para efeito do disposto no § 3º deste artigo, no que diz respeito ao
período em que não for exigível a entrega do LCDPR, admitir-se-á a entrega
do livro-caixa utilizado para a elaboração da DIRPF. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020) (Vigência)
§ 5º Para os fins de atendimento ao disposto nos §§ 2º e 3º deste artigo, as
informações contábeis relativas a receitas, a bens, a despesas, a custos e a
dívidas deverão estar organizadas de acordo com a legislação e com o
padrão contábil da legislação correlata vigente, bem como guardar
obediência ao regime de competência e de elaboração de balanço patrimonial
por contador habilitado. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

Vejamos:

5.5.1. Somente o DEVEDOR empresário, sociedade empresária ou a SAF pode pedir a


recuperação judicial

O credor só pode pedir a falência.


Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o DEVEDOR que, no
momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois)
anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: ...

Lembrar os excluídos da lei, art. 2º que só podem liquidação extrajudicial.


LF Art. 2o Esta Lei não se aplica a:
I – empresa pública e sociedade de economia mista;
II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio,
entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de
assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e
outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

O art. 2º se subdivide em dois incisos: O inciso I trata dos totalmente excluídos; o inciso II
traz os parcialmente excluídos.
1) TOTALMENTE excluídos:
• Empresa Pública;
• Sociedade de economia mista
Em hipótese alguma, essas pessoas podem falir ou pedir recuperação.
2) PARCIALMENTE excluídos:
• Instituição financeira pública ou privada;
• Consórcio;
• Cooperativa de crédito;
• Seguradora;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 362

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
• Operadora de plano de saúde;
• Entidade de previdência complementar;
• Sociedade de capitalização;
• Outras entidades legalmente equiparadas a estas (ex.: empresa de leasing;
administradora de cartão de crédito etc.).
Essas pessoas, a princípio não podem falir, porém TODOS os casos podem passar por uma
liquidação extrajudicial, situação na qual é nomeado um liquidante. Esse liquidante, e somente
ele, pode pedir a falência dessas pessoas do inciso II.

OBS: A legitimidade se estende ao cônjuge sobrevivente, herdeiros do


devedor, inventariante ou sócio remanescente (art. 48, §1º).

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do


pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que
atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:[....]
§1º A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo CÔNJUGE
SOBREVIVENTE, HERDEIROS do devedor, INVENTARIANTE ou SÓCIO
REMANESCENTE.

➔ QUESTÃO: uma associação civil pode pedir recuperação judicial?


A possibilidade, ou não, de associações civis pedirem recuperação judicial é um tema
polêmico na doutrina e jurisprudência. Pela leitura da lei, nota-se que não há permissão nem
proibição expressa na lei.
Mas, analisando o caput do art. 1º da Lei nº 11.101/2005, tem-se que a recuperação judicial
se aplica para o empresário e para as sociedades empresárias. Logo, não menciona as associações
civis.
Por outro lado, o art. 2º da Lei traz as pessoas jurídicas que não podem ser beneficiadas
com a recuperação judicial e ali não se mencionou as associações civis: Deste modo, vê-se que as
associações civis não constam deste rol proibitivo, razão pela qual tem prevalecido a admissão da
recuperação e falência a elas. Veja o que decidiu o STJ:
Associações civis sem fins lucrativos com finalidade e atividades econômicas
detêm legitimidade para requerer recuperação judicial.
STJ. 4ª Turma. AgInt no TP 3654-RS, Rel. Min. Raul Araújo, Rel. Acd. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 15/03/2022 (Info 729).

5.5.2. O devedor deve ser empresário ou sociedade empresária que esteja em atividade
regular há mais de 02 anos.

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento


do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos
e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:[....]

Sociedade em comum não pode pedir, pois não é regular (não tem registro – mas pode pedir
autofalência, embora não possa pedir a falência de outrem).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 363

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O menor emancipado pode pedir? Para ser emancipado, ele deve ter 16 anos completos,
conforme CC art. 5º, parágrafo único, V. Então, deveria ter mais de 18 anos no pedido, portanto,
não seria mais “menor emancipado”, pois já maior de idade. Exceto no caso de continuação da
empresa, conforme o art. 974 CC, pois aqui poderá ter menos de 16 anos.
CC Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente
assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por
seus pais ou pelo autor de herança.

➔ QUESTÃO: e o produtor rural, pode pedir falência?

Sim! Conforme o STJ, o empresário rural pode pedir falência! Neste caso, embora precise
estar registrado na Junta Comercial para requerer a recuperação judicial, pode computar o período
anterior à formalização do registro para cumprir o prazo mínimo de dois anos exigido pelo art. 48
da LF.
Sobre este ponto, destacamos o recente julgado do STJ, no Recurso Especial Repetitivo
1.905.573-MT (tema 1145):

O art. 48 da Lei n. 11.101/2005 anuncia as condições de admissibilidade do


requerimento da recuperação judicial. Assim, quanto ao produtor rural, a
condição de procedibilidade da recuperação judicial estará satisfeita sempre
que realizado o registro na forma da lei e comprovada a exploração da
atividade rural de forma empresarial por mais de dois anos.
No que diz respeito à "exploração da atividade rural de forma empresarial
por mais de dois anos", entendem ambas as Turmas da Segunda Seção
deste Superior Tribunal que, apesar da necessidade do registro antes do
pedido de recuperação, não há, por parte da legislação, exigência de que o
ato registral ocorra há dois anos da formalização do pedido.
Ademais, conforme elucida a doutrina, um período mínimo de exploração de
atividade econômica por parte do requerente da recuperação judicial precisou
ser estipulado, porque o legislador considerou não consolidada a importância
da empresa que atua há menos de dois anos para economia local, regional
ou nacional.
O argumento é coerente. A consolidação de uma empresa não ocorre do dia
para a noite. A conquista da clientela, a fixação do ponto comercial e o
desenvolvimento de técnica particular são fatores construídos com o tempo
de atuação da empresa. O que a lei pretende, em verdade, é assegurar a
utilização do instituto a empresas já consolidadas. A contrario sensu, uma vez
comprovado, por quaisquer meios, o exercício consolidado da atividade pelo
período determinado pela lei, atestada estará a relevância da empresa rural,
qualificando-a, assim, ao deferimento do processamento da recuperação.
Destarte, o registro empresarial deve, sim, ser realizado antes da impetração
da recuperação judicial (critério formal). Contudo, a comprovação da
regularidade da atividade empresarial pelo biênio mínimo (art. 48 da Lei n.
11.101/2005) será aferida pela manutenção e continuidade do exercício
profissional (critério material).
Cabe ainda salientar a publicação da Lei n. 14.112/2020, que alterou a Lei n.
11.101/2005, reformulando o sistema de insolvência empresarial brasileiro,
com previsão orientada à regulamentação da situação do produtor rural.
Nesse passo, deve ser fixada tese do recurso repetitivo nos seguintes
termos: "Ao produtor rural que exerça sua atividade de forma empresarial há

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 364

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
mais de dois anos é facultado requerer a recuperação judicial, desde que
esteja inscrito na Junta Comercial no momento em que formalizar o pedido
recuperacional, independentemente do tempo de seu registro". REsp
1.905.573-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, por
unanimidade, julgado em 22/06/2022, DJe 03/08/2022. (Tema 1145)
(Informativo n. 743).

Observe que a Lei 14.112/2020 já havia incorporado o entendimento do STJ, que novamente
ganhou reforço no julgamento do recurso especial acima:

Art. 48 (...)
§ 2º No caso de exercício de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a
comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo por meio da
Escrituração Contábil Fiscal (ECF), ou por meio de obrigação legal de
registros contábeis que venha a substituir a ECF, entregue
tempestivamente. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 3º Para a comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo, o
cálculo do período de exercício de atividade rural por pessoa física é feito com
base no Livro Caixa Digital do Produtor Rural (LCDPR), ou por meio de
obrigação legal de registros contábeis que venha a substituir o LCDPR, e pela
Declaração do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF) e balanço
patrimonial, todos entregues tempestivamente. (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)

Conforme o STJ é possível as empresas integrantes de grupo econômico postularem em


litisconsórcio ativo a recuperação judicial, desde que demostrem de forma individual o cumprimento
do requisito temporal de dois anos de exercício regular de suas atividades. Trata-se da chamada
consolidação processual, consagrada no art. 69-G da Lei de Falências.

Art. 69-G. Os devedores que atendam aos requisitos previstos nesta Lei e
que integrem grupo sob controle societário comum poderão requerer
recuperação judicial sob consolidação processual. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
§ 1º Cada devedor apresentará individualmente a documentação exigida no
art. 51 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 2º O juízo do local do principal estabelecimento entre os dos devedores é
competente para deferir a recuperação judicial sob consolidação processual,
em observância ao disposto no art. 3º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)
§ 3º Exceto quando disciplinado de forma diversa, as demais disposições
desta Lei aplicam-se aos casos de que trata esta Seção. (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)

5.5.3. Não ser falido

Se já o foi, deve ter suas obrigações declaradas extintas por sentença transitada em julgado
(sentença de extinção das obrigações do falido).
Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do
pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que
atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 365

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I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

5.5.4. Não ter, há menos de 05 anos, obtido concessão de outra recuperação judicial.

O prazo a quo é a obtenção e não o pedido.


Art. 48, II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, OBTIDO concessão de
recuperação judicial;

Pode pedir estando em concordata? Existia a concordada preventiva (antes da decretação


da falência), e a suspensiva, depois da decretação falência. Se for suspensiva, o indivíduo já está
falido e, portanto, ele não preencheu o requisito supra. Se a concordata for preventiva PODE, isto
porque não houve a decretação da falência.

5.5.5. Não ter, há menos de 05 anos, obtido concessão de recuperação judicial especial

Art. 48, III – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, OBTIDO concessão de
recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste
Capítulo (trata das ME e EPP);

5.5.6. Não ter sido condenado por crime falimentar

Art. 48, IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

Antes da nova lei, vários outros crimes vedavam a concordata. Atualmente, somente o
CRIME FALIMENTAR veda a recuperação.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/TO (2022) Conforme as disposições da Lei n.º 11.101/2005, poderá
requerer recuperação judicial o devedor falido, cujas responsabilidades
decorrentes da falência tenham sido declaradas extintas por sentença
definitiva. Correta!

MP/PR (2021) Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no


momento do pedido e entre outros requisitos, exerça regularmente suas
atividades há mais de um ano. Errada!

TJ/SP (2021) O credor empresário deve demonstrar a regularidade das suas


atividades para pedir a falência de terceiro. Correta!

TJ/PR (2021) Ficam sujeitos aos efeitos da recuperação judicial os contratos


e obrigações decorrentes dos atos cooperativos praticados pelas sociedades
cooperativas com seus cooperados, em razão da possibilidade de a
cooperativa médica pleitear recuperação judicial. Correta!

Delegado PF (2022) Quatro amigos trabalham juntos há dez anos com a


compra e a venda de carros usados. A sociedade não tem registro em junta

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 366

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comercial. Seu funcionamento ocorre em um imóvel de propriedade de
Geraldo, sócio que assina todos os contratos da sociedade. A sede é
mobiliada com itens de propriedade comum de todos e dispõe de espaço para
a exposição de veículos, os quais são comprados pelos quatro sócios
conjuntamente, para posterior venda a terceiros. Recentemente, eles
passaram a enfrentar dificuldades negociais e problemas financeiros, razão
por que os credores começaram a ajuizar ações e fazer cobranças. Nessa
situação, para tentar superar a fase crítica, os sócios podem pedir a
recuperação judicial da empresa. Errada!

5.6. CONSOLIDAÇÃO PROCESSUAL

Conforme mencionado acima, a Lei 14.112/2020 consagrou a consolidação processual, em


que é possível a recuperação judicial de várias empresas pertencentes ao grupo econômico, o que
permite uma coordenação dos atos processuais.

Art. 69-G. Os devedores que atendam aos requisitos previstos nesta Lei e
que integrem grupo sob controle societário comum poderão requerer
recuperação judicial sob consolidação processual. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
§ 1º Cada devedor apresentará individualmente a documentação exigida no
art. 51 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 2º O juízo do local do principal estabelecimento entre os dos devedores é
competente para deferir a recuperação judicial sob consolidação processual,
em observância ao disposto no art. 3º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)
§ 3º Exceto quando disciplinado de forma diversa, as demais disposições
desta Lei aplicam-se aos casos de que trata esta Seção.

Salienta-se que haverá a nomeação de apenas um administrador judicial, bem como cada
devedor deverá apresentação individualmente a sua documentação.

Art. 69-H. Na hipótese de a documentação de cada devedor ser considerada


adequada, apenas um administrador judicial será nomeado, observado o
disposto na Seção III do Capítulo II desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)

Os devedores serão considerados de forma independentes.

Art. 69-I. A consolidação processual, prevista no art. 69-G desta Lei, acarreta
a coordenação de atos processuais, garantida a independência dos
devedores, dos seus ativos e dos seus passivos. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
§ 1º Os devedores proporão meios de recuperação independentes e
específicos para a composição de seus passivos, admitida a sua
apresentação em plano único. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 2º Os credores de cada devedor deliberarão em assembleias-gerais de
credores independentes. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 3º Os quóruns de instalação e de deliberação das assembleias-gerais de
que trata o § 2º deste artigo serão verificados, exclusivamente, em referência
aos credores de cada devedor, e serão elaboradas atas para cada um dos
devedores. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 367

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§ 4º A consolidação processual não impede que alguns devedores obtenham
a concessão da recuperação judicial e outros tenham a falência
decretada. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 5º Na hipótese prevista no § 4º deste artigo, o processo será desmembrado
em tantos processos quantos forem necessários. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/AP (2022) A consolidação dos ativos e passivos para fins de votação do
plano único de recuperação judicial é medida excepcional e exclusiva para
devedores integrantes do mesmo grupo econômico que estejam em
recuperação judicial sob consolidação processual. Correta!

5.7. CONSOLIDAÇÃO PROCESSUAL

Trata-se de medida excepcional, autorizada pelo juiz para devedores do mesmo grupo
econômico.

Art. 69-J. O juiz poderá, de forma excepcional, independentemente da


realização de assembleia-geral, autorizar a consolidação substancial de
ativos e passivos dos devedores integrantes do mesmo grupo econômico que
estejam em recuperação judicial sob consolidação processual, apenas
quando constatar a interconexão e a confusão entre ativos ou passivos dos
devedores, de modo que não seja possível identificar a sua titularidade sem
excessivo dispêndio de tempo ou de recursos, cumulativamente com a
ocorrência de, no mínimo, 2 (duas) das seguintes hipóteses: (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)
I - existência de garantias cruzadas; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
II - relação de controle ou de dependência; (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)
III - identidade total ou parcial do quadro societário; e (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
IV - atuação conjunta no mercado entre os postulantes. (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)
Art. 69-K. Em decorrência da consolidação substancial, ativos e passivos de
devedores serão tratados como se pertencessem a um único
devedor. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º A consolidação substancial acarretará a extinção imediata de garantias
fidejussórias e de créditos detidos por um devedor em face de
outro. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 2º A consolidação substancial não impactará a garantia real de nenhum
credor, exceto mediante aprovação expressa do titular. (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)
Art. 69-L. Admitida a consolidação substancial, os devedores apresentarão
plano unitário, que discriminará os meios de recuperação a serem
empregados e será submetido a uma assembleia-geral de credores para a
qual serão convocados os credores dos devedores. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
§ 1º As regras sobre deliberação e homologação previstas nesta Lei serão
aplicadas à assembleia-geral de credores a que se refere o caput deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 368

`ˆÌi`ÊÕȘ}Ê̅iÊvÀiiÊÛiÀȜ˜ÊœvʘvˆÝÊ* Ê `ˆÌœÀʇÊÜÜÜ°ˆVi˜ˆ°Vœ“
§ 2º A rejeição do plano unitário de que trata o caput deste artigo implicará a
convolação da recuperação judicial em falência dos devedores sob
consolidação substancial. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

5.8. CRÉDITOS SUJEITOS AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na


data do pedido, ainda que não vencidos (o que vem DEPOIS do pedido não
entra mais na recuperação judicial).

Conforme o art. 49, todos os créditos existentes ATÉ a data do pedido, vencidos ou
vincendos, podem ser objeto do plano de recuperação judicial.
Ressalta-se que são considerados créditos existentes não apenas os líquidos, consideram-
se os créditos que estão em fase de apuração, mas que já existiam à época do pedido de
recuperação. Vejamos o Info 604 do STJ:
Os créditos trabalhistas litigiosos referentes a serviços prestados pelo
trabalhador à empresa antes da recuperação judicial deverão estar sujeitos a
ela, mesmo que no momento do pedido tais créditos não estivessem
consolidados? SIM. A partir do momento em que o empregado trabalha, ele
se torna credor de seu empregador, tendo direito ao recebimento das verbas
trabalhistas. Esse crédito existe independentemente de decisão judicial. Se o
empregador não paga e o empregado ingressa com reclamação trabalhista,
a sentença apenas reconhecerá (declarará) a existência do direito do
trabalhador, condenando o patrão a pagar. Não é a sentença, contudo, que
constitui o direito, mas apenas o declara. Isso significa que, se este crédito
foi constituído em momento anterior ao pedido de recuperação judicial,
deverá se submeter aos seus efeitos. Desse modo, se as verbas trabalhistas
estão relacionadas com serviços prestados pelo empregado em momento
anterior ao pedido de recuperação judicial, tais verbas também estarão
sujeitas a esse procedimento, mesmo que a sentença trabalhista tenha sido
prolatada somente depois do deferimento da recuperação. A consolidação do
crédito trabalhista (ainda que inexigível e ilíquido) não depende de provimento
judicial que o declare — e muito menos do transcurso de seu trânsito em
julgado —, para efeito de sua sujeição aos efeitos da recuperação judicial.
STJ. 3ª Turma. REsp 1634046-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. para
acórdão Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/4/2017 (Info 604).

Assim, de acordo com precedente do Superior Tribunal de Justiça firmado em julgamento


de recurso especial repetitivo, considera-se que a existência do crédito é determinada pela data em
que ocorreu o seu fato gerador, para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial.
Para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial,
considera-se que a existência do crédito é determinada pela data em que
ocorreu o seu fato gerador.

STJ. 2ª Seção. REsp 1.842.911-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas


Cueva, julgado em 09/12/2020 (Recurso Repetitivo – Tema 1051) (Info 684).

Vejamos o exemplo trazido pelo Prof. Márcio do site “Dizer o Direito”:

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 369

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Ex: em janeiro/2017, Lucas consumiu leite estragado comprado no Supermercado BR. Em
fevereiro/2017, ajuizou ação de indenização contra o Supermercado. Em setembro/2017, o
supermercado ingressou com pedido de recuperação judicial. Em outubro/2017, o juiz julgou o
pedido de Lucas procedente e condenou a empresa a pagar R$ 50 mil. Houve o trânsito em julgado.
Diante disso, Lucas ingressou com pedido de habilitação de seu crédito na recuperação judicial.
Esse crédito poderá ser habilitado na recuperação (art. 49 da Lei nº 11.101/2005) porque foi
constituído na data do acidente de consumo (janeiro/2017) e não na data da sentença, que apenas
declarou uma obrigação já existente.

Créditos EXCLUÍDOS:
1) Créditos posteriores ao pedido de recuperação;
2) Crédito tributário;
3) Crédito fiscal;
4) Art. 49, §3º: Os créditos decorrentes de:
• Propriedade fiduciária;
• Arrendamento mercantil (leasing);
• Compra e venda com reserva de domínio;
• Compra e venda de bem IMÓVEL com cláusula de irrevogabilidade ou
irretratabilidade.
5) ACC → Adiantamento de contrato de câmbio.
Vejamos:

1) Crédito tributário:

Art. 6º, §7º-B c/c Art. 57. Motivo: Poderia quebrar a isonomia entre os contribuintes.
Execução Fiscal.
Art. 6º, § 7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se
aplica às execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do juízo da
recuperação judicial para determinar a substituição dos atos de constrição
que recaiam sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade
empresarial até o encerramento da recuperação judicial, a qual será
implementada mediante a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o
disposto no art. 805 do referido Código.

Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembleia-geral
de credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção
de credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos tributários
nos termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966
- Código Tributário Nacional.

2) Crédito fiscal

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 370

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O art. 187 do CTN prevê expressamente que o crédito tributário não é sujeito a concurso de
credores. Esse dispositivo nada fala sobre os créditos de natureza não tributária. A despeito disso,
os créditos de natureza não tributária não se submetem aos efeitos do plano de recuperação judicial,
por força do art. 6º, § 7º-B da Lei nº 11.101/2005.

Além disso, o art. 29 da Lei nº 6.830/80 afirma, de forma ampla, que a cobrança judicial da
dívida ativa da Fazenda Pública não está sujeita a habilitação em concordata (atual recuperação
judicial). A dívida ativa abrange tanto débitos tributários como não tributários. Assim, por exemplo,
o crédito concernente à multa administrativa aplicada pela ANVISA não se submete aos efeitos da
recuperação judicial da devedora.

Nesse sentido:

O crédito fiscal não tributário não se submete aos efeitos do plano de


recuperação judicial. STJ. 3ª Turma. REsp 1.931.633-GO, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 03/08/2021 (Info 703).

3) Art. 49, §3º: Os créditos decorrentes de:

• Propriedade fiduciária;
• Arrendamento mercantil (leasing);
• Compra e venda com reserva de domínio;
• Compra e venda de bem IMÓVEL com cláusula de irrevogabilidade ou
irretratabilidade.
Art. 49 (propriedade fiduciária, arrendamento mercantil, compra e venda com
reserva de domínio, compra e venda bem imóvel com cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade)
§ 3o Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens
móveis ou imóveis, de arrendador mercantil (leasing), de proprietário ou
promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham
cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade (promessa de compra e
venda: direito real à aquisição), inclusive em incorporações imobiliárias, ou
de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito
não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os
direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada
a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de
suspensão a que se refere o § 4o do art. 6o desta Lei, a venda ou a retirada
do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade
empresarial.

Salienta-se que o STJ entende que:


A Lei nº 11.101/2005, embora tenha excluído expressamente dos efeitos da
recuperação judicial o crédito de titular da posição de proprietário fiduciário
de bens imóveis ou móveis, acentuou que os “bens de capital”, objeto de
garantia fiduciária, essenciais ao desenvolvimento da atividade empresarial,
permanecem na posse da recuperanda durante o stay period. A
conceituação de “bem de capital”, referido na parte final do § 3º do art. 49 da
LRF, há de ser objetiva. Assim, “bem de capital” é o bem corpóreo (móvel ou
imóvel) utilizado no processo produtivo da empresa recuperanda e que não

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 371

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seja perecível nem consumível. STJ. 3ª Turma. REsp 1758746-GO, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, julgado em 25/09/2018 (Info 634).

Assim, por exemplo, se a empresa tinha feito uma alienação fiduciária para adquirir um
caminhão “XYZ”; como não tinha dinheiro para pagar à vista, fez um financiamento e o veículo ficou
na propriedade fiduciária do banco “ABC”, sendo usado pela empresa (tinha a posse direta do bem).
Se a empresa entra com pedido de recuperação judicial, esse crédito do banco não está submetido
aos efeitos do plano de credores. Em outras palavras, a empresa terá que continuar pagando as
prestações da mesma forma que já estava ajustada no contrato e, se atrasar, o banco poderá propor
a ação de busca e apreensão.
Resumindo:
• REGRA: estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data
do pedido de recuperação judicial, ainda que não vencidos (art. 49, caput). Devem
obedecer ao plano de recuperação e as ações ficam suspensas.
• EXCEÇÃO: os créditos de alienação fiduciária não estão sujeitos à recuperação
judicial e as ações relacionadas com tais créditos podem continuar a ser propostas
(§ 3º do art. 49). Aqui o Banco “comemora” porque seu crédito está fora da
recuperação judicial.
• EXCEÇÃO DA EXCEÇÃO (volta para regra): se a garantia da alienação fiduciária for
o imóvel que funciona o estabelecimento do devedor ou forem bens de capital (bens
móveis) essenciais à atividade empresarial da sociedade em recuperação judicial,
nesse caso, mesmo sendo crédito de alienação fiduciária, deverá ficar sujeita aos
efeitos da recuperação judicial. Aqui o Banco “lamenta” porque seu crédito deverá
ficar sujeito à recuperação judicial. Prevalece o princípio da preservação da empresa,
impondo restrição temporária ao proprietário fiduciário (ex: banco) em relação a bem
de capital que se revele indispensável à manutenção do desenvolvimento da
atividade econômica exercida pela empresa recuperanda.
Atenção: para se enquadrar na parte final do § 3º (exceção da exceção – situação 3), o bem
objeto da alienação fiduciária deve ser bem de capital essencial à atividade empresarial.
Se o contrato de alienação fiduciária for referente a: um bem que seja bem de capital; ou a
um bem de capital não essencial esse crédito continua fora da recuperação judicial (situação 2).
Se determinado bem, alienado fiduciariamente, não puder ser classificado como “bem de
capital”, o Juízo da recuperação nem analisa se ele é essencial ou não para a empresa. Isso porque
o § 3º do art. 49 somente “salva” e mantém na empresa os bens de capital essenciais. São, portanto,
dois “requisitos”: ser bem de capital + ser essencial. Veja novamente este trecho da Lei:
§ 3º (...) não se permitindo, contudo, durante o prazo de suspensão a que se
refere o § 4º do art. 6º desta Lei, a venda ou a retirada do estabelecimento do
devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial.

Em não se tratando de bem de capital, o bem cedido ou alienado fiduciariamente não pode
ficar retido na posse da empresa em recuperação judicial, afigurando-se, para esse efeito,
absolutamente descabido qualquer juízo de essencialidade.
Desse modo, a caracterização do bem dado em garantia fiduciária como “bem de capital”
constitui questão pressuposta ao subsequente juízo de essencialidade, a fim de mantê-lo na posse
da empresa recuperanda.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 372

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Quem avalia a essencialidade do bem de capital? O Juízo da recuperação judicial, que
detém todas as informações relacionadas à real situação econômico-financeira da recuperanda. É
considerado essencial aquele bem que se mostra indispensável ao soerguimento da empresa.
O que é “bem de capital” mencionado no § 3º do art. 49?
“Bem de capital” é o bem corpóreo (móvel ou imóvel) utilizado no processo produtivo da
empresa recuperanda e que não seja perecível nem consumível. Assim, o bem, para se caracterizar
como bem de capital, precisa ser utilizado no processo produtivo da empresa, já que necessário ao
exercício da atividade econômica exercida pelo empresário.
Verifica-se, ainda, que o bem, para se enquadrar neste conceito, precisa estar na posse da
empresa recuperanda. Isso porque, como já dito, ele tem que estar sendo utilizado em seu processo
produtivo.
Logo, se o bem não está na posse da empresa, ele não se enquadra no § 3º do art. 49.
Por fim, não se pode considerar como bem de capital aquele que for perecível ou
consumível. Isso porque não se pode atribuir tal qualidade a um bem cuja utilização signifique o
próprio esvaziamento da garantia fiduciária. Deve-se lembrar que, ao final do stay period, o bem
deverá ser restituído ao proprietário, ou seja, ao credor fiduciário. Se o bem for perecível ou
consumível, não será possível essa devolução.

4) Créditos posteriores ao pedido de recuperação

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos EXISTENTES


NA DATA DO PEDIDO, ainda que não vencidos (o que vem DEPOIS do
pedido não entra mais na recuperação judicial).

5) ACC → Adiantamento de contrato de câmbio.

Art. 49, §4º c/c Art. 86 (ACC)


Art. 49, § 4o Não se sujeitará aos efeitos da recuperação judicial a importância
a que se refere o inciso II do art. 86 desta Lei.

Art. 86, II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional,


decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma
do art. 75, §§ 3o e 4o, da Lei no 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o
prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o
previsto nas normas específicas da autoridade competente; (lembrando que
no caso de falência, o ACC será restituído em dinheiro – vide acima)

ATENÇÃO! Caso seja movida alguma execução judicial contra a recuperanda, será
competente para decidir sobe o destino dos bens e valores objeto de execuções singulares o juízo
onde tramita o processo de recuperação judicial, ainda que se trate de crédito decorrente de
relação de consumo.
Depois de ter sido deferido o processamento da recuperação judicial, todas
as ações execuções contra o devedor que está em recuperação judicial ficam
suspensas, excetuadas as que demandarem quantia ilíquida (§1º do art. 6º
da Lei 11.101/2005) e as execuções fiscais (§7º). Além de as ações e
execuções contra o devedor em recuperação ficarem suspensas, o destino
do patrimônio da sociedade em processo de recuperação judicial não poderá

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 373

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ser atingido por decisões prolatadas por juízo diverso daquele onde tramita o
processo de reerguimento, sob pena de violação ao princípio maior da
preservação da atividade empresarial. Em outras palavras, qualquer decisão
que afete os bens da empresa em recuperação deverá ser tomada pelo juízo
onde tramita a recuperação. O juízo onde tramita o processo de recuperação
judicial é o competente para decidir sobe o destino dos bens e valores objeto
de execuções singulares movidas contra a recuperanda, ainda que se trate
de crédito decorrente de relação de consumo. Ex. João comprou uma
geladeira em uma loja. O produto apresentou vício e o consumidor propôs,
no Juizado Especial, ação de indenização contra o fornecedor. O juiz julgou
o pedido procedente, condenando a empresa a pagar R$10mil. Como não
houve pagamento espontâneo, o magistrado determinando a penhora online
da quantia. Ocorre que, em março de 2017, antes que o dinheiro penhorado
fosse transferido para João, o juízo da Vara Cível deferiu a recuperação
judicial da referida loja. Como já foi deferida a recuperação judicial, a
competência para decidir sobe o patrimônio do devedor passa a ser do juízo
da recuperação judicial. STJ. 3ª Turma, REsp 1.630.702./RJ, Rel, Min. Nancy
Andrighi, julgado em 02/02/2017 (Info 598).

Como o tema foi cobrado em concurso?


PGE/PA (2022) De acordo com precedente do Superior Tribunal de Justiça
firmado em julgamento de recurso especial repetitivo, considera-se que a
existência do crédito é determinada pela data em que ocorreu o seu fato
gerador, para o fim de submissão aos efeitos da recuperação judicial. Correta!

5.9. PROCEDIMENTO DA RECUPERAÇÃO

5.9.1. Distribuição de lucros

Está proibida até a aprovação do plano.

Art. 6º-A. É vedado ao devedor, até a aprovação do plano de recuperação


judicial, distribuir lucros ou dividendos a sócios e acionistas, sujeitando-se o
infrator ao disposto no art. 168 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)

5.9.2. Petição inicial

Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com:


I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e
das razões da crise econômico-financeira;
II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios
sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas
com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas
obrigatoriamente de:
A) balanço patrimonial;

Revisando (ver Teoria da Empresa – obrigações do empresário):

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 374

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• Realização de demonstrativos contábeis periódicos. O empresário é obrigado a fazer
dois tipos de balanço:
• Balanço Patrimonial (1.188 CC) – apura o ativo e o passivo (que compreende todos
os bens, débitos e créditos da empresa). “PAssivo”
• Balanço Econômico (1.189 CC) – apura o rEsultado, ou seja, a conta dos lucros e
perdas.
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
e) descrição das sociedades de grupo societário, de fato ou de
direito; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
III - a relação nominal completa dos credores, sujeitos ou não à recuperação
judicial, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação
do endereço físico e eletrônico de cada um, a natureza, conforme
estabelecido nos arts. 83 e 84 desta Lei, e o valor atualizado do crédito, com
a discriminação de sua origem, e o regime dos vencimentos; (Redação
dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas
funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o
correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores
pendentes de pagamento;
V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o
ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;
VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos
administradores do devedor;
VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas
eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em
fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas
instituições financeiras;
VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio
ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;
IX - a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais e
procedimentos arbitrais em que este figure como parte, inclusive as de
natureza trabalhista, com a estimativa dos respectivos valores
demandados; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
X - o relatório detalhado do passivo fiscal; e (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)
XI - a relação de bens e direitos integrantes do ativo não circulante, incluídos
aqueles não sujeitos à recuperação judicial, acompanhada dos negócios
jurídicos celebrados com os credores de que trata o § 3º do art. 49 desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
o
§ 1 Os documentos de escrituração contábil e demais relatórios auxiliares,
na forma e no suporte previstos em lei, permanecerão à disposição do juízo,
do administrador judicial e, mediante autorização judicial, de qualquer
interessado.
§ 2o Com relação à exigência prevista no inciso II do caput deste artigo, as
microempresas e empresas de pequeno porte poderão apresentar livros e
escrituração contábil simplificados nos termos da legislação específica.
§ 3o O juiz poderá determinar o depósito em cartório dos documentos a que
se referem os §§ 1o e 2o deste artigo ou de cópia destes.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 375

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§ 5º O valor da causa corresponderá ao montante total dos créditos sujeitos
à recuperação judicial. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 6º Em relação ao período de que trata o § 3º do art. 48 desta Lei: (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)
I - a exposição referida no inciso I do caput deste artigo deverá comprovar a
crise de insolvência, caracterizada pela insuficiência de recursos financeiros
ou patrimoniais com liquidez suficiente para saldar suas dívidas; (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)
II - os requisitos do inciso II do caput deste artigo serão substituídos pelos
documentos mencionados no § 3º do art. 48 desta Lei relativos aos últimos 2
(dois) anos. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Deve atender aos requisitos do art. 51 da Lei:


• Expor as causas da crise;
• Demonstrativos contábeis dos últimos três exercícios sociais.
• Relação de credores.
• Valor da causa

5.9.3. Constatação prévia

Em 2019, o CNJ emitiu recomendação a todos os juízes para realizarem uma constatação
prévia antes de proferirem o despacho de processamento, a fim de constatar as reais condições da
empresa.

Recomendação Nº 57 de 22/10/2019 CNJ


Art. 1º Recomendar a todos os magistrados responsáveis pelo
processamento e julgamento dos processos de recuperação empresarial, em
varas especializadas ou não, que determinem a constatação das reais
condições de funcionamento da empresa requerente, bem como a verificação
da completude e da regularidade da documentação apresentada pela
devedora/requerente, previamente ao deferimento do processamento da
recuperação empresarial, com observância do procedimento estabelecido
nesta Recomendação.
Art. 2º Logo após a distribuição do pedido de recuperação empresarial,
poderá o magistrado nomear um profissional de sua confiança, com
capacidade técnica e idoneidade para promover a constatação das reais
condições de funcionamento da empresa requerente e a análise da
regularidade e da completude da documentação apresentada juntamente
com a petição inicial. Parágrafo único. A remuneração do profissional deverá
ser arbitrada posteriormente à apresentação do laudo, observada a
complexidade do trabalho desenvolvido.

Art. 3º O magistrado deverá conceder o prazo máximo de cinco dias para que
o perito nomeado apresente laudo de constatação das reais condições de
funcionamento da devedora e de verificação da regularidade documental,
decidindo, em seguida, sem a necessidade de oitiva das partes.

Art. 4º A constatação prévia consistirá, objetivamente, na análise da


capacidade da devedora de gerar os benefícios mencionados no art. 47, bem

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 376

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como na constatação da presença e regularidade dos requisitos e
documentos previstos nos artigos 48 e 51 da Lei nº 11.101/2005.

Art. 5º Não preenchidos os requisitos legais, o magistrado poderá indeferir a


petição inicial, sem convolação em falência.

Art. 6º Caso a constatação prévia demonstre que o principal estabelecimento


da devedora não se situa na área de competência do juízo, o magistrado
deverá determinar a remessa dos autos, com urgência, ao juízo competente.

A Lei 14.112/2020 passou a prever a constatação prévia, a fim de que seja constatado a
inexistência de qualquer atividade empresarial, irregularidades ou incompletudes documental,
fraudes e eventual incompetência funcional do juízo.

Art. 51-A. Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, poderá o juiz,


quando reputar necessário, nomear profissional de sua confiança, com
capacidade técnica e idoneidade, para promover a constatação
exclusivamente das reais condições de funcionamento da requerente e da
regularidade e da completude da documentação apresentada com a petição
inicial. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º A remuneração do profissional de que trata o caput deste artigo deverá
ser arbitrada posteriormente à apresentação do laudo e deverá considerar a
complexidade do trabalho desenvolvido. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)
§ 2º O juiz deverá conceder o prazo máximo de 5 (cinco) dias para que o
profissional nomeado apresente laudo de constatação das reais condições de
funcionamento do devedor e da regularidade documental. (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)
§ 3º A constatação prévia será determinada sem que seja ouvida a outra parte
e sem apresentação de quesitos por qualquer das partes, com a possibilidade
de o juiz determinar a realização da diligência sem a prévia ciência do
devedor, quando entender que esta poderá frustrar os seus
objetivos. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 4º O devedor será intimado do resultado da constatação prévia
concomitantemente à sua intimação da decisão que deferir ou indeferir o
processamento da recuperação judicial, ou que determinar a emenda da
petição inicial, e poderá impugná-la mediante interposição do recurso
cabível. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 5º A constatação prévia consistirá, objetivamente, na verificação das reais
condições de funcionamento da empresa e da regularidade documental,
vedado o indeferimento do processamento da recuperação judicial baseado
na análise de viabilidade econômica do devedor. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
§ 6º Caso a constatação prévia detecte indícios contundentes de utilização
fraudulenta da ação de recuperação judicial, o juiz poderá indeferir a petição
inicial, sem prejuízo de oficiar ao Ministério Público para tomada das
providências criminais eventualmente cabíveis. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
§ 7º Caso a constatação prévia demonstre que o principal estabelecimento
do devedor não se situa na área de competência do juízo, o juiz deverá
determinar a remessa dos autos, com urgência, ao juízo
competente. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 377

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Importante consignar que a constatação prévia é facultativa, não é uma obrigatoriedade
imposta ao juiz. O seu prazo será de cinco dias (mesmo da recomendação do CNJ). Além disso, a
constatação prévia é inaudita altera partes, ou seja, não há oitiva das partes e nem apresentação
de quesitos.

Salienta-se que a constatação prévia é uma análise objetiva das reais condições de
funcionamento da empresa e da regularidade de seus documentos. Não há análise de viabilidade
econômica.

Após o recebimento da constatação prévia, o juiz poderá:

• Constatar que a atividade empresarial não existe – deve indeferir a petição inicial e
o processo será extinto sem resolução de mérito por falta de interesse processual na
modalidade adequação;

• Verificar que os documentos apresentados pelo devedor estão incompletos ou


irregulares – deve deferir à autora prazo para que emende a inicial, corrigindo os
vícios apurados pela constatação prévia.

o Regularizada a documentação, o juiz deferirá o processamento do pedido,


iniciando-se o processo de recuperação judicial;

o Não regularizada a documentação, o juiz deve indeferir a petição inicial e


extinguir o processo sem resolução de mérito, com base no art. 321 do CPC.

• Detectar indícios contundentes de utilização fraudulenta da ação de recuperação


judicial - deve indeferir a petição inicial, sem prejuízo de oficiar ao Ministério Público
para tomada das providências criminais eventualmente cabíveis.

• Constatar que o principal estabelecimento do devedor não se situa na área de


competência do juízo – deve determinar a remessa dos autos, com urgência, ao juízo
competente.

5.9.4. Despacho de processamento

Conforme o art. 52, caso o juiz vislumbre o preenchimento dos requisitos, irá deferir o
processamento da recuperação judicial. É o famoso DESPACHO DE PROCESSAMENTO.
É no despacho de processamento que se nomeia o administrador judicial da recuperação
judicial.
Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o
juiz deferirá o PROCESSAMENTO da recuperação judicial e, no mesmo
ato:
I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta
Lei; (lembrando que na falência o Administrador só é nomeado com a
sentença declaratória).
II - determinará a dispensa da apresentação de certidões negativas para que
o devedor exerça suas atividades, observado o disposto no § 3º do art. 195
da Constituição Federal e no art. 69 desta Lei; (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 378

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III – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o
devedor, na forma do art. 6o desta Lei, permanecendo os respectivos autos
no juízo onde se processam, ressalvadas as ações previstas nos §§ 1o, 2o
e 7o do art. 6o desta Lei e as relativas a créditos excetuados na forma
dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei;
IV – determinará ao devedor a apresentação de contas demonstrativas
mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição
de seus administradores;
V - ordenará a intimação eletrônica do Ministério Público e das Fazendas
Públicas federal e de todos os Estados, Distrito Federal e Municípios em que
o devedor tiver estabelecimento, a fim de que tomem conhecimento da
recuperação judicial e informem eventuais créditos perante o devedor, para
divulgação aos demais interessados. (Redação dada pela Lei nº 14.112,
de 2020) (Vigência)
§1º Ver abaixo.
§ 2o Deferido o processamento da recuperação judicial, os credores poderão,
a qualquer tempo, requerer a convocação de assembleia-geral para a
constituição do Comitê de Credores ou substituição de seus membros,
observado o disposto no § 2o do art. 36 desta Lei.
§ 3o No caso do inciso III (suspensão das ações e execuções) do caput deste
artigo, caberá ao DEVEDOR comunicar a suspensão aos juízos competentes.
§ 4o O devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o
deferimento de seu processamento, salvo se obtiver aprovação da
desistência na assembleia-geral de credores.

O art. 6º, II, da LF prevê a suspensão das execuções, também chamada de stay period.
Segundo Sérgio Campinho, citado pelo Prof. Alexandre Gialluca, “terá o devedor um período de
tranquilidade no qual buscará recompor sua atividade e recuperar a sua empresa. Buscou o
legislador falimentar, portanto, conferir ao devedor um período de verdadeira oxigenação,
resguardando-o para que tenha condições mínimas de formular um plano de recuperação judicial
que atenda ao anseio dos seus credores, sem que tenha que se preocupar com execuções.”

Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da


recuperação judicial implica: (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020)
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas
dos credores particulares do sócio solidário, relativas a créditos ou obrigações
sujeitos à recuperação judicial ou à falência; (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)

A suspensão perdurará pelo prazo de 180 dias, contado do processamento da recuperação


judicial, podendo ser prorrogado uma única vez por igual período.

Art. 6º, § 4º Na recuperação judicial, as suspensões e a proibição de que


tratam os incisos I, II e III do caput deste artigo perdurarão pelo prazo de 180
(cento e oitenta) dias, contado do deferimento do processamento da
recuperação, prorrogável por igual período, uma única vez, em caráter
excepcional, desde que o devedor não haja concorrido com a superação do
lapso temporal. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 379

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Exceção: As ações e execuções dos créditos excluídos do procedimento de recuperação e
as execuções fiscais não são suspensas, nos termos dos §§ 7º-A e 7º-B do art. 6º da Lei de
Falências.

Art. 6º,
§ 7º-A. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica
aos créditos referidos nos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei, admitida, todavia, a
competência do juízo da recuperação judicial para determinar a suspensão
dos atos de constrição que recaiam sobre bens de capital essenciais à
manutenção da atividade empresarial durante o prazo de suspensão a que
se refere o § 4º deste artigo, a qual será implementada mediante a
cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de março
de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805 do
referido Código. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 7º-B. O disposto nos incisos I, II e III do caput deste artigo não se aplica às
execuções fiscais, admitida, todavia, a competência do juízo da recuperação
judicial para determinar a substituição dos atos de constrição que recaiam
sobre bens de capital essenciais à manutenção da atividade empresarial até
o encerramento da recuperação judicial, a qual será implementada mediante
a cooperação jurisdicional, na forma do art. 69 da Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil), observado o disposto no art. 805
do referido Código. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Do despacho de processamento caberá agravo de instrumento.

5.9.5. Publicação do despacho (art. 52, §1º)

Art. 52
§ 1o O juiz ordenará a expedição de edital, para publicação no órgão oficial,
que conterá:
I – o resumo do pedido do devedor e da decisão que defere o processamento
da recuperação judicial;
II – a relação nominal de credores, em que se discrimine o valor atualizado e
a classificação de cada crédito;
III – a advertência acerca dos prazos para habilitação dos créditos, na forma
do art. 7o, § 1o, desta Lei, e para que os credores apresentem objeção ao
plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor nos termos do art.
55 desta Lei.

Assim, o despacho deve ser publicado em edital, contendo:


• Pedido do autor;
• Termos da decisão que deferiu o processamento;
• Relação de credores (aquela da petição inicial).
A publicação do edital abre o prazo para a prática de dois atos:
Ato 1-Habilitação de crédito, por parte do credor cujo nome não constou do plano (art. 7º,
§1º). Prazo de 15 dias da publicação do edital.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 380

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Encerrado o prazo de 15 dias, tem início o prazo de 45 dias para que o Administrador Judicial
providencie uma nova relação de credores, contemplando, agora, os que habilitaram seu crédito
(art. 7º, §2º). É a conhecida relação do art. 7º, §2º.
Art. 7º § 1o Publicado o edital previsto no art. 52, § 1 o, ou no parágrafo único
do art. 99 desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para
apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências
quanto aos créditos relacionados.

Perceber: habilita-se o crédito para o administrador e não mais para o juiz (como era antes).
§ 2o O administrador judicial, com base nas informações e documentos
colhidos na forma do caput e do § 1o deste artigo, fará publicar edital
contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias,
contado do fim do prazo do § 1o deste artigo, devendo indicar o local, o horário
e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8 o desta Lei terão
acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.

Em caso de habilitação de crédito retardatário (prazo até a sentença que encerra o processo
de recuperação judicial), os seus titulares não terão direito a voto.

Ato 2-Apresentação do plano de recuperação: Publicado o despacho, o devedor terá prazo


improrrogável de 60 dias para apresentação do plano de recuperação judicial, sob pena de
convolação da recuperação em falência (art. 53). O plano deverá conter:
Art. 53. O plano de recuperação será apresentado pelo devedor em juízo no
prazo improrrogável de 60 (sessenta) dias da publicação da decisão que
deferir o processamento da recuperação judicial, sob pena de convolação em
falência, e deverá conter:
I – discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a ser
empregados, conforme o art. 50 desta Lei, e seu resumo;
II – demonstração de sua viabilidade econômica; e
III – laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor,
subscrito por profissional legalmente habilitado ou empresa especializada.

Conforme prevê o art. 189 da Lei de Falências, todos os prazos serão contados em dias
corridos.

Art. 189. Aplica-se, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei, o
disposto na Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
Civil), desde que não seja incompatível com os princípios desta
Lei. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º Para os fins do disposto nesta Lei: (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)
I - todos os prazos nela previstos ou que dela decorram serão contados em
dias corridos; e (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Em regra, há total liberdade para elaboração do plano de recuperação judicial. Contudo,


tratando-se de créditos trabalhistas há limitação, uma vez que não poderá prever prazo superior a
um ano (art. 54 da LF).

Art. 54. O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a
1 (um) ano para pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 381

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ou decorrentes de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de
recuperação judicial.
§ 1º. O plano não poderá, ainda, prever prazo superior a 30 (trinta) dias para
o pagamento, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos
créditos de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses
anteriores ao pedido de recuperação judicial. (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)

Não há na Lei referência ao início da contagem do prazo. Diante disso, o STJ (Resp.
1.924.164) entendeu que o termo inicial da contagem do prazo para pagamento dos credores
trabalhistas é a data da concessão da recuperação judicial, e não o término do período de
suspensão.

Isto porque a concessão da recuperação judicial é verdadeira condição para o início do


cumprimento das obrigações previstas no plano de soerguimento. O plano de recuperação judicial
gera uma novação do crédito que apenas terá eficácia com a decisão que homologa o plano e
concede a recuperação judicial. Não há lógica em obrigar o devedor em recuperação a realizar o
cumprimento da obrigação novada antes de concluída a novação, com a aprovação do plano.

A Lei 14.112/2020, ao incluir o §2º ao art. 54 da Lei de Falências, previu a possibilidade de


ampliação do prazo, desde que o valor seja pago de forma integral, bem como haja concordância
dos credores e apresentação de garantias.

§ 2º O prazo estabelecido no caput deste artigo poderá ser estendido em até


2 (dois) anos, se o plano de recuperação judicial atender aos seguintes
requisitos, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
I - apresentação de garantias julgadas suficientes pelo juiz; (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)
II - aprovação pelos credores titulares de créditos derivados da legislação
trabalhista ou decorrentes de acidentes de trabalho, na forma do § 2º do art.
45 desta Lei; e (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
III - garantia da integralidade do pagamento dos créditos
trabalhistas. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) .

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/AL (2019) Depois de deferido o processamento da recuperação judicial, a
desistência do pedido pelo devedor dependerá de aprovação da Assembleia
Geral de Credores. Correta!

5.9.6. Comunicado

Art. 53 Parágrafo único. O juiz ordenará a publicação de edital contendo aviso


aos credores sobre o recebimento do plano de recuperação e fixando o prazo
para a manifestação de eventuais objeções, observado o art. 55 desta Lei.

Se o credor não concordar com o plano, ele pode apresentar a chamada objeção ao plano
(art. 55 da lei). Qualquer credor pode objetar o plano, no prazo de 30 dias, contados da publicação
da relação do art. 7º, §2º (segunda relação de credores).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 382

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Art. 55. Qualquer credor poderá manifestar ao juiz sua objeção ao plano de
recuperação judicial no prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação da
relação de credores de que trata o § 2o do art. 7o desta Lei.

Caso já tenham decorridos esses 30 dias sem que tenha ocorrido o comunicado sobre a
apresentação do plano, será da publicação deste o termo a quo do prazo para as objeções (art. 55,
parágrafo único).
Parágrafo único. Caso, na data da publicação da relação de que trata o caput
deste artigo, não tenha sido publicado o aviso previsto no art. 53, parágrafo
único, desta Lei, contar-se-á da publicação deste o prazo para as
objeções.

Ou seja: se o prazo para a apresentação da segunda relação de credores (pelo


administrador judicial) não coincidir com a apresentação do plano de recuperação (pelo devedor),
ou se simplesmente não houver sua publicação.
Em não havendo objeção, significa que o plano está aprovado.
Se algum credor apresentar objeção, segue-se a regra do art. 56 da Lei.
Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação
judicial, o juiz convocará a assembleia-geral de credores para deliberar sobre
o plano de recuperação.

5.9.7. Meios de recuperação judicial

Estão previstos no art. 50 da Lei de Falências, em rol exemplificativo.

Art. 50. Constituem meios de recuperação judicial, observada a legislação


pertinente a cada caso, dentre outros:
I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das
obrigações vencidas ou vincendas;
II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição
de subsidiária integral, ou cessão de quotas ou ações, respeitados os direitos
dos sócios, nos termos da legislação vigente;
III – alteração do controle societário;
IV – substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou
modificação de seus órgãos administrativos;
V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de
administradores e de poder de veto em relação às matérias que o plano
especificar;
VI – aumento de capital social;
VII – trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade
constituída pelos próprios empregados;
VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva;
IX – dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem
constituição de garantia própria ou de terceiro;
X – constituição de sociedade de credores;
XI – venda parcial dos bens;
XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer
natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 383

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recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural,
sem prejuízo do disposto em legislação específica;
XIII – usufruto da empresa;
XIV – administração compartilhada;
XV – emissão de valores mobiliários;
XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em
pagamento dos créditos, os ativos do devedor.
XVII - conversão de dívida em capital social; (Incluído pela Lei nº 14.112,
de 2020)
XVIII - venda integral da devedora, desde que garantidas aos credores não
submetidos ou não aderentes condições, no mínimo, equivalentes àquelas
que teriam na falência, hipótese em que será, para todos os fins, considerada
unidade produtiva isolada. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou
sua substituição somente serão admitidas mediante aprovação expressa do
credor titular da respectiva garantia.
§ 2º Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial será conservada
como parâmetro de indexação da correspondente obrigação e só poderá ser
afastada se o credor titular do respectivo crédito aprovar expressamente
previsão diversa no plano de recuperação judicial.
§ 3º Não haverá sucessão ou responsabilidade por dívidas de qualquer
natureza a terceiro credor, investidor ou novo administrador em decorrência,
respectivamente, da mera conversão de dívida em capital, de aporte de novos
recursos na devedora ou de substituição dos administradores
desta. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 4º O imposto sobre a renda e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido
(CSLL) incidentes sobre o ganho de capital resultante da alienação de bens
ou direitos pela pessoa jurídica em recuperação judicial poderão ser
parcelados, com atualização monetária das parcelas, observado o
seguinte: (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
I - o disposto na Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002; e (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)
II - a utilização, como limite, da mediana de alongamento no plano de
recuperação judicial em relação aos créditos a ele sujeitos. (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)
§ 5º O limite de alongamento de prazo a que se refere o inciso II do § 4º deste
artigo será readequado na hipótese de alteração superveniente do plano de
recuperação judicial. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

5.9.8. Assembleia-Geral de Credores (AGC)

1) Convocação

Deve ser feita no prazo de 150 dias, contado do deferimento do processamento da


recuperação judicial.

2) Composição

-Classe I: crédito trabalhista/acidente trabalho. Quórum de aprovação: maioria dos credores


presentes (voto por cabeça).

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 384

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-Classe II: créditos com garantia real. Quórum de aprovação: Maioria dos credores presentes
e maioria dos créditos presentes.
Ex1: (BB 20% + Itaú 11% → SIM) x (Bradesco 30% → NÃO) = Plano aprovado.
Ex2: (BB 20% + Itaú 9% → SIM) x (Bradesco 30% → NÃO) = Plano não aprovado.
-Classe III: créditos quirografários. Quórum de aprovação: Maioria dos credores presentes e
maioria dos créditos presentes.
-Classe IV: créditos das pequenas empresas e empresas de pequeno porte. Quórum de
aprovação: maioria dos credores presentes (voto por cabeça).
Art. 41. A assembleia-geral será composta pelas seguintes classes de
credores:
I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de
acidentes de trabalho;
II – titulares de créditos com garantia real;
III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio
geral ou subordinados.
IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de
pequeno porte.
§ 1º Os titulares de créditos derivados da legislação do trabalho votam com a
classe prevista no inciso I do caput deste artigo com o total de seu crédito,
independentemente do valor.
§ 2º Os titulares de créditos com garantia real votam com a classe prevista
no inciso II do caput deste artigo até o limite do valor do bem gravado e com
a classe prevista no inciso III do caput deste artigo pelo restante do valor de
seu crédito.

3) Quórum de aprovação

Conforme o art. 45, o plano só será aprovado pela AGC se TODAS as classes aprovarem o
plano.
Art. 45. Nas deliberações sobre o plano de recuperação judicial, todas as
classes de credores referidas no art. 41 desta Lei deverão aprovar a proposta.
§ 1º Em cada uma das classes referidas nos incisos II e III do art. 41 desta
Lei, a proposta deverá ser aprovada por credores que representem mais da
metade do valor total dos créditos presentes à assembleia e,
cumulativamente, pela maioria simples dos credores presentes.
§ 2º Nas classes previstas nos incisos I e IV do art. 41 desta Lei, a proposta
deverá ser aprovada pela maioria simples dos credores presentes,
independentemente do valor de seu crédito.
§ 3º O credor não terá direito a voto e não será considerado para fins de
verificação de quórum de deliberação se o plano de recuperação judicial não
alterar o valor ou as condições originais de pagamento de seu crédito.

Ou seja, o juiz deverá convocar a Assembleia-Geral de Credores para deliberar sobre o


plano de recuperação apresentado. Decisões possíveis da Assembleia:
• Aprovação do plano com o quórum qualificado da lei;
• Aprovação do plano sem o quórum qualificado;
• Reprovação do plano;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 385

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Em qualquer dos casos, o resultado será submetido ao juiz, variando as decisões que esse
poderá tomar:
• No caso de reprovação do plano, o juiz irá verificar se cabe o cram down.
• No caso de aprovação com quórum, cabe ao juiz homologar a aprovação;
• No caso de aprovação sem quórum, cabe ao JUIZ decidir de homologa ou decreta a
falência.
Salienta-se que os credores suficientes para a aprovação do plano podem assinar o termo
de adesão, dentro dos quóruns, isso substituirá a realização da assembleia.

➔ QUESTÃO: se algum dos credores se manifestar pela abstenção, como isso deve
influenciar na aprovação ou reprovação do plano?

Transcrevemos a explicação disponível no Buscador Dizer o Direito, do Professor Márcio


Cavalcante3:
Conforme dispõem os arts. 42 e 45 da Lei n. 11.101/2005, a aprovação da proposta do plano
de recuperação judicial apresentada pelo devedor exige a obtenção de “votos favoráveis de
credores que representem mais da metade do valor total dos créditos presentes à assembleia-
geral”.
No entanto, diante da lacuna na lei quanto à qualificação do credor que, apesar de presente
na assembleia geral, se abstém do exercício do seu direito de voto, não se mostra viável
compreender, que aquele que não manifesta sua posição, independentemente do motivo, anuiu
com o plano proposto, de modo a computar sua abstenção como apta a compor a aprovação do
plano de recuperação judicial.
Não se aplica esse dispositivo porque a Lei nº 11.101/2005 impõe a necessidade de votação
favorável da maioria dos credores, ou seja, é imprescindível a declaração de vontade expressa
favorável para a aprovação do plano de recuperação.
Desse modo, não é possível conferir-se uma interpretação extensiva ao art. 45 da Lei nº
11.101/2005 para atribuir à abstenção a qualidade de voto “positivo (sim)”, porquanto a lei de
recuperação judicial exige a manifestação expressa e favorável dos credores, para efeito de
aprovação do plano recuperacional, sendo inviável a mera presunção de anuência.
Por fim, ao credor que, presente na assembleia geral, se abstém de votar, deve ser conferido
o mesmo tratamento dado ao credor ausente, ou seja, não pode compor o quórum de deliberação,
seja pelo valor do crédito seja pelo número de credores, pois a abstenção não pode influenciar no
resultado da deliberação pela aprovação ou rejeição da proposta.
Nesse sentido:
Na apuração do resultado de votação em assembleia geral de credores,
somente serão computados os votos daqueles que efetivamente se
manifestaram pela aprovação ou rejeição do plano de recuperação, não se
considerando a abstenção para qualquer efeito. Não é possível conferir-se

3
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Na assembleia-geral de credores da recuperação judicial, se algum dos credores
se manifestar pela abstenção, isso deverá ser computado como voto favorável ou contrário à aprovação do plano?.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/411c451fa50ccb4a60206a83c8d5d8a4>. Acesso
em: 29/12/2022

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 386

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uma interpretação extensiva ao art. 45 da Lei nº 11.101/2005 para atribuir à
abstenção a qualidade de voto ‘positivo (sim)’, porquanto a lei de recuperação
judicial exige a manifestação expressa e favorável dos credores, para efeito
de aprovação do plano recuperacional, sendo inviável a mera presunção de
anuência. Ao credor que, presente na assembleia geral, se abstém de votar,
deve ser conferido o mesmo tratamento dado ao credor ausente, ou seja, não
pode compor o quórum de deliberação, seja pelo valor do crédito seja pelo
número de credores, pois a abstenção não pode influenciar no resultado da
deliberação pela aprovação ou rejeição da proposta. STJ. 4ª Turma. REsp
1992192-SC, Rel. Ministro Luis Felipe Salomão, Rel. para acórdão Ministro
Raul Araújo, julgado em 6/12/2022 (Info 760).

Art. 56-A - Até 5 (cinco) dias antes da data de realização da assembleia geral
de credores convocada para deliberar sobre o plano, o devedor poderá
comprovar a aprovação dos credores por meio de termo de adesão,
observado o quórum previsto no art. 45 desta Lei, e requerer a sua
homologação judicial.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/SP (2019) Para aprovação do plano de recuperação judicial é
necessária a aprovação de credores que representem mais da metade do
valor total dos créditos presentes à assembleia em cada uma das instâncias
classistas. Errada!

5.9.9. Cram Down

De acordo com Alexandre Gialluca, o cram down origina-se do direito americano e consiste
em uma faculdade dada ao juiz em aprovar o plano de recuperação judicial rejeitado por alguma
classe de credores, desde que se verifique a viabilidade econômica daquele plano e a necessidade
de se tutelar o interesse social vinculado à preservação da empresa. Trata-se, portanto, de
fenômeno jurídico viabilizador da aprovação do plano de recuperação, mesmo que este seja
recusado pela assembleia geral de credores. Assim, caracteriza-se pela permissão dada ao juiz de
aprovar/conceder a recuperação mesmo sendo o plano desaprovado.

Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação


judicial do devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos
do art. 55 desta Lei ou tenha sido aprovado pela assembleia-geral de
credores na forma dos arts. 45 ou 56-A desta Lei. (Redação dada pela Lei
nº 14.112, de 2020)
§ 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que
não obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma
assembleia, tenha obtido, de forma cumulativa:
I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de
todos os créditos presentes à assembleia, independentemente de classes;
II - a aprovação de 3 (três) das classes de credores ou, caso haja somente 3
(três) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 2 (duas)
das classes ou, caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes,
a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas, sempre nos termos do art. 45
desta Lei; (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um
terço) dos credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 387

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§ 2º A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1º
deste artigo se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores
da classe que o houver rejeitado.
§ 3º Da decisão que conceder a recuperação judicial serão intimados
eletronicamente o Ministério Público e as Fazendas Públicas federal e de
todos os Estados, Distrito Federal e Municípios em que o devedor tiver
estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/RS (2022) Somente é possível aprovar o plano de recuperação judicial por
meio de cram down quando apenas uma das classes de credores tenha
rejeitado o plano. A rejeição de duas classes ou mais impede a sua
homologação, mesmo que haja o voto favorável de credores que representem
mais da metade do valor de todos os créditos presentes à assembleia,
independentemente de classes. Errada!

5.9.10. Apresentação de plano de recuperação judicial pelos credores

Rejeitado o plano de recuperação judicial e não sendo caso de cabimento do cram down, o
administrador judicial abrirá votação para que no prazo de 30 dias os próprios credores apresentem
um plano de recuperação judicial.

Trata-se de uma novidade trazida pela Lei 14.112/2020.

Art. 56,
§ 4º Rejeitado o plano de recuperação judicial, o administrador judicial
submeterá, no ato, à votação da assembleia-geral de credores a concessão
de prazo de 30 (trinta) dias para que seja apresentado plano de recuperação
judicial pelos credores. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 5º A concessão do prazo a que se refere o § 4º deste artigo deverá ser
aprovada por credores que representem mais da metade dos créditos
presentes à assembleia-geral de credores. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)

Além disso, após o prazo de 180 dias de suspensão, sem a deliberação a respeito do plano
de recuperação proposto pelo devedor, será possível a propositura de plano alternativo pelos
próprios credores.

Art. 6º, § 4º-A. O decurso do prazo previsto no § 4º deste artigo sem a


deliberação a respeito do plano de recuperação judicial proposto pelo
devedor faculta aos credores a propositura de plano alternativo, na forma dos
§§ 4º, 5º, 6º e 7º do art. 56 desta Lei, observado o seguinte: (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)

5.9.11. Conversão da recuperação judicial em falência

Caso a assembleia geral reprove o plano de recuperação judicial do devedor e não sendo
caso de cram down, bem como havendo rejeição do plano dos credores, o juiz irá convolar a
recuperação judicial em falência.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 388

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Da decisão caberá agravo de instrumento.

Art. 58-A. Rejeitado o plano de recuperação proposto pelo devedor ou pelos


credores e não preenchidos os requisitos estabelecidos no § 1º do art. 58
desta Lei, o juiz convolará a recuperação judicial em falência. (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)
Parágrafo único. Da sentença prevista no caput deste artigo caberá agravo
de instrumento. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

5.9.12. Formas de aprovação do plano de recuperação judicial


APROVAÇÃO DO PLANO DE RJ

Quando não há objeção Plano é aprovado

APROVA

Havendo objeção Juiz convoca a AGC APLICA O CRAM DOWN

REPROVA
CREDORES APRESENTAM
PLANO E APROVAM NA AGC

Após a aprovação do plano pelos credores, o juiz dará uma decisão concessiva da
recuperação judicial, desde que preenchido o requisito do art. 57: apresentação de Certidão
negativa de débitos tributários.
Art. 57. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembleia-geral
de credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção
de credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos
tributários nos termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei no 5.172, de 25 de
outubro de 1966 - Código Tributário Nacional.

Doutrina e jurisprudência, com fundamento no princípio da conservação da empresa,


admitem a concessão da recuperação judicial, ainda que o devedor não apresente a certidão
negativa de débito.

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/RS (2021) O plano de recuperação judicial será aprovado ou reprovado,
mas não poderá sofrer alterações na assembleia-geral. Errada!

5.9.13. Decisão concessiva (art. 59)

Art. 59. O plano de recuperação judicial implica novação dos créditos


ANTERIORES ao pedido, e obriga o devedor e todos os credores a ele
sujeitos, sem prejuízo das garantias, observado o disposto no § 1 o do art. 50
desta Lei.
§ 1o A decisão judicial que conceder a recuperação judicial constituirá título
executivo JUDICIAL, nos termos do art. 584, inciso III, do caput da Lei no
5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 389

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§ 2o Contra a decisão que conceder a recuperação judicial caberá AGRAVO,
que poderá ser interposto por qualquer credor e pelo Ministério Público.

1) A decisão implica em novação da dívida (art. 59, caput): extingue-se a dívida anterior,
criando uma nova dívida em seu lugar.
2) A decisão é um título executivo judicial (art. 59, §1º): ou seja, o descumprimento do plano
pode ensejar execução ou pedido de falência (pois é um dos denominados ‘atos de
falência’);
3) Da decisão concessiva cabe agravo de instrumento, que poderá ser interposto por
qualquer credor ou pelo MP (Art. 59, §2º).
Essa recuperação que vimos até agora é a recuperação judicial comum.

Como o tema foi cobrado em concurso?


DPE/PI (2022) Na hipótese de o juiz acolher o pedido de recuperação judicial,
ocorrerá a novação dos créditos anteriores ao pedido inseridos no plano de
recuperação judicial, sem prejuízo das garantias oferecidas por fiadores e
obrigados regressivamente. Correta!

5.9.14. Prazo da recuperação judicial

O prazo poderá ser superior a dois anos. O prazo de 02 anos do art. 61 é o prazo em que
haverá acompanhamento judicial. Ou seja, a recuperação pode ter 08 anos, 10 anos.
Art. 61. Proferida a decisão prevista no art. 58 desta Lei, o devedor
permanecerá em recuperação judicial até que se cumpram todas as
obrigações previstas no plano que se vencerem até 2 (dois) anos depois da
concessão da recuperação judicial.
§ 1o Durante o período estabelecido no caput deste artigo, o descumprimento
de qualquer obrigação prevista no plano acarretará a convolação da
recuperação em falência, nos termos do art. 73 desta Lei.

Findo o prazo, o juiz encerra o processo de recuperação, proferindo a sentença de


encerramento.
Caso o devedor descumpra o plano de recuperação dentro do prazo de 02 anos, isso
ocasionará a convolação em falência.
Se for após os 02 anos, tendo em vista ele ter um título executivo, das duas uma: ou ele
ajuíza uma ação de execução ou pede a falência do empresário (porque a recuperação já foi
encerrada).

5.10. CONVOLAÇÃO EM FALÊNCIA

Trata-se da conversão da recuperação judicial em falência, ocorre nos casos previstos no


art. 73 da Lei de Falências.

Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial:


I – por deliberação da assembleia-geral de credores, na forma do art. 42 desta
Lei;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 390

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II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação no prazo
do art. 53 desta Lei;
III - quando não aplicado o disposto nos §§ 4º, 5º e 6º do art. 56 desta Lei, ou
rejeitado o plano de recuperação judicial proposto pelos credores, nos termos
do § 7º do art. 56 e do art. 58-A desta Lei; (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)
IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano de
recuperação, na forma do § 1º do art. 61 desta Lei.
V - por descumprimento dos parcelamentos referidos no art. 68 desta Lei ou
da transação prevista no art. 10-C da Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002;
e (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
VI - quando identificado o esvaziamento patrimonial da devedora que
implique liquidação substancial da empresa, em prejuízo de credores não
sujeitos à recuperação judicial, inclusive as Fazendas Públicas. (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º. O disposto neste artigo não impede a decretação da falência por
inadimplemento de obrigação não sujeita à recuperação judicial, nos termos
dos incisos I ou II do caput do art. 94 desta Lei, ou por prática de ato previsto
no inciso III do caput do art. 94 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº
14.112, de 2020)
§ 2º A hipótese prevista no inciso VI do caput deste artigo não implicará a
invalidade ou a ineficácia dos atos, e o juiz determinará o bloqueio do produto
de eventuais alienações e a devolução ao devedor dos valores já distribuídos,
os quais ficarão à disposição do juízo. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)
§ 3º Considera-se substancial a liquidação quando não forem reservados
bens, direitos ou projeção de fluxo de caixa futuro suficientes à manutenção
da atividade econômica para fins de cumprimento de suas obrigações,
facultada a realização de perícia específica para essa finalidade. (Incluído
pela Lei nº 14.112, de 2020)

5.11. FINANCIAMENTO DIP

Também chamado de DIP Financing (debtor-in-possession), trata-se de uma inovação


trazida pela Lei 14.112/2020.

Consiste em um financiamento, feito durante a recuperação judicial, autorizado pelo juiz,


depois de ouvir o Comitê de Credores. O crédito do financiamento DIP será considerado um crédito
extraconcursal.

Art. 69-A. Durante a recuperação judicial, nos termos dos arts. 66 e 67 desta
Lei, o juiz poderá, depois de ouvido o Comitê de Credores, autorizar a
celebração de contratos de financiamento com o devedor, garantidos pela
oneração ou pela alienação fiduciária de bens e direitos, seus ou de terceiros,
pertencentes ao ativo não circulante, para financiar as suas atividades e as
despesas de reestruturação ou de preservação do valor de
ativos. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
Art. 69-B. A modificação em grau de recurso da decisão autorizativa da
contratação do financiamento não pode alterar sua natureza extraconcursal,
nos termos do art. 84 desta Lei, nem as garantias outorgadas pelo devedor
em favor do financiador de boa-fé, caso o desembolso dos recursos já tenha
sido efetivado. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 391

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Art. 69-C. O juiz poderá autorizar a constituição de garantia subordinada
sobre um ou mais ativos do devedor em favor do financiador de devedor em
recuperação judicial, dispensando a anuência do detentor da garantia
original. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º A garantia subordinada, em qualquer hipótese, ficará limitada ao eventual
excesso resultante da alienação do ativo objeto da garantia
original. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 2º O disposto no caput deste artigo não se aplica a qualquer modalidade
de alienação fiduciária ou de cessão fiduciária
. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
Art. 69-D. Caso a recuperação judicial seja convolada em falência antes da
liberação integral dos valores de que trata esta Seção, o contrato de
financiamento será considerado automaticamente rescindido. (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)
Parágrafo único. As garantias constituídas e as preferências serão
conservadas até o limite dos valores efetivamente entregues ao devedor
antes da data da sentença que convolar a recuperação judicial em
falência. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
Art. 69-E. O financiamento de que trata esta Seção poderá ser realizado por
qualquer pessoa, inclusive credores, sujeitos ou não à recuperação judicial,
familiares, sócios e integrantes do grupo do devedor. (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
Art. 69-F. Qualquer pessoa ou entidade pode garantir o financiamento de que
trata esta Seção mediante a oneração ou a alienação fiduciária de bens e
direitos, inclusive o próprio devedor e os demais integrantes do seu grupo,
estejam ou não em recuperação judicial. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)

Como o tema foi cobrado em concurso?


MPE/RJ (2022) Não poderão ser constituídas garantias subordinadas sobre
ativos já concedidos em garantia na modalidade de cessão fiduciária. Correta!

6. DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ESPECIAL

6.1. PREVISÃO LEGAL

Art. 70. As pessoas de que trata o art. 1o desta Lei e que se incluam nos
conceitos de microempresa ou empresa de pequeno porte, nos termos
da legislação vigente, sujeitam-se às normas deste Capítulo.
§ 1o As microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas
em lei, poderão apresentar plano especial de recuperação judicial, desde que
afirmem sua intenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o art. 51 desta
Lei.
§ 2o Os credores não atingidos pelo plano especial não terão seus créditos
habilitados na recuperação judicial.

Trata-se da recuperação de microempresas e empresas de pequeno porte. Essa é a


especialidade dessa forma de recuperação.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 392

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A recuperação especial é uma FACULDADE das pequenas empresas, vale dizer, não afasta
a possibilidade de pedir a recuperação judicial comum.
Além disso, o produtor rural também poderá apresentar plano especial de recuperação
judicial, devendo respeitar o valor de R$ 4.800.000,00.
Art. 70-A. O produtor rural de que trata o § 3º do art. 48 desta Lei poderá
apresentar plano especial de recuperação judicial, nos termos desta Seção,
desde que o valor da causa não exceda a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e
oitocentos mil reais). (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) .

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJGO (2021) Carlos José, produtor rural, está inscrito no Registro Público de
Empresas Mercantis (Junta Comercial) como empresário. Para requerer a
recuperação judicial deverá comprovar o exercício de sua atividade há mais
de dois anos, podendo incluir o período anterior à formalização do registro.
Correta!

TJ/PR (2021) Em razão das alterações promovidas pela Lei nº 14.112/2020


na Lei nº 11.101/2005, quanto à legitimidade para pleitear recuperação
judicial pelo plano especial, o produtor rural poderá apresentar plano especial
de recuperação judicial, desde que exerça regularmente suas atividades há
mais de dois anos e desde que o valor da causa não exceda a R$
4.800.000,00. Correta!

TJ/SC (2019) Para recuperação judicial nos termos legais, as microempresas


e as empresas de pequeno porte, assim definidas em lei, poderão apresentar
plano especial de recuperação judicial, o qual não deverá acarretar a
suspensão do curso da prescrição nem das ações e execuções por créditos
não abrangidos pelo plano de recuperação judicial. Correta!

6.2. DIFERENÇAS PARA A RECUPERAÇÃO JUDICIAL COMUM

Art. 71. O plano especial de recuperação judicial será apresentado no prazo


previsto no art. 53 desta Lei e limitar-se á às seguintes condições:
I - abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não
vencidos, excetuados os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os
fiscais e os previstos nos §§ 3o e 4o do art. 49.

1) Art. 71 da Lei: A recuperação judicial especial, antes da LC 147/2014, só abrangia o


crédito quirografário (como era com a concordata). Após a LC 147/2014, passou a
abranger TODOS os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos.
2) A petição inicial é idêntica, porém só pode relacionar credor quirografário.
3) O despacho de deferimento da recuperação só suspende as ações que envolvam
créditos quirografários.
4) No edital só constará o nome dos credores quirografários.
5) Somente podem se habilitar os credores quirografários;

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 393

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6) Mesmos prazos, inclusive para apresentar o plano de recuperação (60 dias). A diferença
é o conteúdo do plano, que é pré-pronto. Conteúdo do plano:
7) Pagamento em ATÉ 36 parcelas mensais, iguais e sucessivas, antes da LC 147/2014, a
correção e os juros eram de 12% ao ano. Após a LC 147/2014, as parcelas mensais
passaram a ser acrescidas de juros equivalentes à taxa SELIC.
Art. 71 II - preverá parcelamento em até 36 (trinta e seis) parcelas mensais,
iguais e sucessivas, acrescidas de juros equivalentes à taxa Sistema Especial
de Liquidação e de Custódia - SELIC, podendo conter ainda a proposta de
abatimento do valor das dívidas;

8) Pagamento da 1ª parcela em ATÉ 180 dias contado da distribuição do pedido de RJ.


Art. 71 III – preverá o pagamento da 1a (primeira) parcela no prazo máximo
de 180 (cento e oitenta) dias, contado da distribuição do pedido de
recuperação judicial;

9) Não existe assembleia de credores. O plano é aprovado pelo juiz, mesmo que existam
objeções, SALVO SE mais da metade dos créditos quirografários apresentarem objeção,
caso no qual não restará outra opção ao juiz se não reprovar o plano e decretar a
falência.
Art. 72. Caso o devedor de que trata o art. 70 desta Lei opte pelo pedido de
recuperação judicial com base no plano especial disciplinado nesta Seção,
não será convocada assembleia-geral de credores para deliberar sobre o
plano, e o juiz concederá a recuperação judicial se atendidas as demais
exigências desta Lei.
Parágrafo único. O juiz também julgará improcedente o pedido de
recuperação judicial e decretará a falência do devedor se houver objeções,
nos termos do art. 55, de credores titulares de mais da metade de qualquer
uma das classes de créditos previstos no art. 83, computados na forma do
art. 45, todos desta Lei.;

OBS1: As objeções só podem versar sobre a adequação do plano à lei.


Art. 71, IV – estabelecerá a necessidade de autorização do juiz, após ouvido
o administrador judicial e o Comitê de Credores, para o devedor aumentar
despesas ou contratar empregados.
Parágrafo único. O pedido de recuperação judicial com base em plano
especial não acarreta a suspensão do curso da prescrição nem das ações e
execuções por créditos não abrangidos pelo plano.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MS (2020) De acordo com a atual redação da Lei n° 11.101/2005, o pedido
de recuperação judicial, com base em plano especial para microempresas e
empresas de pequeno porte, dispensa a convocação de assembleia-geral de
credores para deliberar sobre o plano. Correta!

7. DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

7.1. CONSIDERAÇÕES

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 394

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É o acordo privado que o devedor faz diretamente com seus credores. É uma espécie de
acordo privado celebrado entre o devedor e seus credores de forma extrajudicial. Caso não cumpra
o acordo, por ser este extrajudicial, NÃO provoca a conversão automática em falência.

7.2. DEVEDOR (QUEM PODE REQUERER)

Empresário individual, sociedade empresária e clubes de futebol (SAFs) (Lei 14.193/2021).

Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá
propor e negociar com credores plano de RECUPERAÇÃO
EXTRAJUDICIAL.

7.3. REQUISITOS

Estão disciplinados no art. 48 da Lei de Falência, são os mesmos requisitos da recuperação


judicial, somado à previsão do art. 161, §3º.

Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do


pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que
atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:
I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação
judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste
Capítulo;
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
§ 1o A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge
sobrevivente, herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
§ 2º No caso de exercício de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a
comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo por meio da
Escrituração Contábil Fiscal (ECF), ou por meio de obrigação legal de
registros contábeis que venha a substituir a ECF, entregue
tempestivamente. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)

Art. 161, § 3º O devedor não poderá requerer a homologação de plano


extrajudicial, se estiver pendente pedido de recuperação judicial ou se houver
obtido recuperação judicial ou homologação de outro plano de recuperação
extrajudicial há menos de 2 (dois) anos.

Um dos requisitos é ter 02 anos do REGISTRO. Por conta disto, então, sociedades não
personificadas (sociedade em comum e a em conta em participação) não poderão pedir
recuperação extrajudicial. Assim, percebe-se que é exigida também a CONDIÇÃO DE SOCIEDADE
EMPRESÁRIA, por conta disto, a sociedade simples (exemplo: cooperativa, mesmo que registrada
na JC), não poderá requerer a recuperação extrajudicial.

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 395

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7.4. CRÉDITOS SUJEITOS À RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Estão sujeitos à recuperação extrajudicial TODOS os créditos existentes na data do pedido,


exceto o de natureza tributária e os previstos no art. 49, §3º e art. 86, II da Lei de Falências.
Importante consignar que, após a Lei 14.112/2022, os créditos trabalhistas e de acidente de
trabalho entram na recuperação judicial.
CRÉDITOS ABRANGIDOS CRÉDITOS EXCLUÍDOS
Trabalhista e de acidente de trabalho
Tributário
Com garantia real
Art. 49, §3º
Quirografário
Art. 86, II
Subordinados

Art. 161, § 1º Estão sujeitos à recuperação extrajudicial todos os créditos


existentes na data do pedido, exceto os créditos de natureza tributária e
aqueles previstos no § 3º do art. 49 e no inciso II do caput do art. 86 desta
Lei, e a sujeição dos créditos de natureza trabalhista e por acidentes de
trabalho exige negociação coletiva com o sindicato da respectiva categoria
profissional. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020) .

Art. 49. Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na


data do pedido, ainda que não vencidos.
...
§ 3o Tratando-se de credor titular da posição de proprietário fiduciário de bens
móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente
vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de
irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias,
ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio, seu crédito
não se submeterá aos efeitos da recuperação judicial e prevalecerão os
direitos de propriedade sobre a coisa e as condições contratuais, observada
a legislação respectiva, não se permitindo, contudo, durante o prazo de
suspensão a que se refere o § 4o do art. 6o desta Lei, a venda ou a retirada
do estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade
empresarial.

Art. 86. Proceder-se-á à restituição em dinheiro:


...
II – da importância entregue ao devedor, em moeda corrente nacional,
decorrente de adiantamento a contrato de câmbio para exportação, na forma
do art. 75, §§ 3o e 4o, da Lei no 4.728, de 14 de julho de 1965, desde que o
prazo total da operação, inclusive eventuais prorrogações, não exceda o
previsto nas normas específicas da autoridade competente.

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MG (2022) Estão sujeitos à recuperação extrajudicial todos os créditos
existentes na data do pedido, inclusive os de natureza tributária e trabalhista
e por acidentes de trabalho. Errada!

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 396

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7.5. ÓRGÃOS DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

• Não é obrigatória a participação do MP, mas pode atuar na hipótese de crime


oferecendo a denúncia.
• Não exige nomeação de administrador judicial.
• Não há Comitê de credores e Assembleia Geral de Credores (assim como não há na
recuperação das ME e EPP), pois estes são exclusivos da FALÊNCIA E DA
RECUPERAÇÃO JUDICIAL.
Conclusão: só a autoridade judiciária é órgão da recuperação extrajudicial. No entanto,
sua função é só homologar, não tem competência para atrair outras questões de caráter econômico.

7.6. EFEITOS JURÍDICOS DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

7.6.1. Efeitos restritos

• Não suspende a prescrição de outras ações e execuções do devedor e dos


participantes do plano;
• Não suspende a prescrição da rescisão de contratos bilaterais;
• O credor não envolvido no plano de recuperação pode pedir (não é automático) a
falência, assim como os demais participantes do plano quando descumprida suas
obrigações.
• A homologação do plano não afeta ou restringe os bens do devedor e o
funcionamento da empresa. Mas, proíbe o pagamento antecipado da dívida ou
tratamento desfavorável aos credores
Art. 161
§ 2o O plano não poderá contemplar o pagamento antecipado de dívidas nem
tratamento desfavorável aos credores que a ele não estejam sujeitos.
§ 3o O devedor não poderá requerer a homologação de plano extrajudicial, se
estiver pendente pedido de recuperação judicial ou se houver obtido
recuperação judicial ou homologação de outro plano de recuperação
extrajudicial há menos de 2 (dois) anos.
§ 4o O pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial não
acarretará suspensão de direitos, ações ou execuções, nem a
impossibilidade do pedido de decretação de falência pelos credores não
sujeitos ao plano de recuperação extrajudicial.
§ 5o Após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão
desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais
signatários.
§ 6o A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial
constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso III do caput,
da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo Civil.

7.7. HOMOLOGAÇÃO

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 397

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7.7.1. Homologação facultativa

Ocorre quando todos os credores concordam com a recuperação extrajudicial.

Art. 162. O devedor poderá requerer a homologação em juízo do plano de


recuperação extrajudicial, juntando sua justificativa e o documento que
contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos credores que a
ele aderiram.

7.7.2. Homologação obrigatória

Ocorre quando mais da metade dos credores concordam com o plano, a homologação
obriga os demais credores (aqueles que concordaram).

Art. 163. O devedor poderá também requerer a homologação de plano de


recuperação extrajudicial que obriga todos os credores por ele abrangidos,
desde que assinado por credores que representem mais da metade dos
créditos de cada espécie abrangidos pelo plano de recuperação
extrajudicial. (Redação dada pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1º O plano poderá abranger a totalidade de uma ou mais espécies de
créditos previstos no art. 83, incisos II, IV, V, VI e VIII do caput, desta Lei, ou
grupo de credores de mesma natureza e sujeito a semelhantes condições de
pagamento, e, uma vez homologado, obriga a todos os credores das espécies
por ele abrangidas, exclusivamente em relação aos créditos constituídos até
a data do pedido de homologação.
§ 2º Não serão considerados para fins de apuração do percentual previsto
no caput deste artigo os créditos não incluídos no plano de recuperação
extrajudicial, os quais não poderão ter seu valor ou condições originais de
pagamento alteradas.
§ 3º Para fins exclusivos de apuração do percentual previsto no caput deste
artigo:
I – o crédito em moeda estrangeira será convertido para moeda nacional pelo
câmbio da véspera da data de assinatura do plano; e
II – não serão computados os créditos detidos pelas pessoas relacionadas no
art. 43 deste artigo.
§ 4º Na alienação de bem objeto de garantia real, a supressão da garantia ou
sua substituição somente serão admitidas mediante a aprovação expressa do
credor titular da respectiva garantia.
§ 5º Nos créditos em moeda estrangeira, a variação cambial só poderá ser
afastada se o credor titular do respectivo crédito aprovar expressamente
previsão diversa no plano de recuperação extrajudicial.
§ 6º Para a homologação do plano de que trata este artigo, além dos
documentos previstos no caput do art. 162 desta Lei, o devedor deverá
juntar:
I – exposição da situação patrimonial do devedor;
II – as demonstrações contábeis relativas ao último exercício social e as
levantadas especialmente para instruir o pedido, na forma do inciso II
do caput do art. 51 desta Lei; e
III – os documentos que comprovem os poderes dos subscritores para novar
ou transigir, relação nominal completa dos credores, com a indicação do
endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do

CS – DIREITO EMPRESARIAL 2023.1 398

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crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a
indicação dos registros contábeis de cada transação pendente.
§ 7º O pedido previsto no caput deste artigo poderá ser apresentado com
comprovação da anuência de credores que representem pelo menos 1/3 (um
terço) de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos e com o
compromisso de, no prazo improrrogável de 90 (noventa) dias, contado da
data do pedido, atingir o quórum previsto no caput deste artigo, por meio de
adesão expressa, facultada a conversão do procedimento em recuperação
judicial a pedido do devedor. (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020) (Vigência)
§ 8º Aplica-se à recuperação extrajudicial, desde o respectivo pedido, a
suspensão de que trata o art. 6º desta Lei, exclusivamente em relação às
espécies de crédito por ele abrangidas, e somente deverá ser ratificada pelo
juiz se comprovado o quórum inicial exigido pelo § 7º deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)

Como o tema foi cobrado em concurso?


TJ/MG (2022) O devedor poderá, também, requerer a homologação de plano
de recuperação extrajudicial que obriga a todos os credores por ele
abrangidos, desde que assinado por credores que representem mais de 3/5
(três quintos) de todos os créditos de cada espécie por ele abrangidos.
Errada!

7.7.3. Vantagens

• Ter um título executivo judicial;

Art. 161, § 6º A sentença de homologação do plano de recuperação


extrajudicial constituirá título executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso
III do caput, da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo
Civil.

• Impede a desistência

Art. 161, § 5º Após a distribuição do pedido de homologação, os credores não


poderão desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos
demais signatários.

• Viabilizar a alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor

Art. 166. Se o plano de recuperação extrajudicial homologado envolver


alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o
juiz ordenará a sua realização, observado, no que couber, o disposto no art.
142 desta Lei.

7.8. PROCEDIMENTO DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

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A petição inicial deve conter a justificativa para o pedido de recuperação extrajudicial, bem
como ser acompanhada de documento que contenha seus termos e condições, com a assinatura
dos credores que a ela aderiram.

Art. 164. Recebido o pedido de homologação do plano de recuperação


extrajudicial previsto nos arts. 162 e 163 desta Lei, o juiz ordenará a
publicação de edital eletrônico com vistas a convocar os credores do devedor
para apresentação de suas impugnações ao plano de recuperação
extrajudicial, observado o disposto no § 3º deste artigo. (Redação dada
pela Lei nº 14.112, de 2020)
§ 1o No prazo do edital, deverá o devedor comprovar o envio de carta a todos
os credores sujeitos ao plano, domiciliados ou sediados no país, informando
a distribuição do pedido, as condições do plano e prazo para impugnação.
§ 2o Os credores terão prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação do
edital, para impugnarem o plano, juntando a prova de seu crédito.
§ 3o Para opor-se, em sua manifestação, à homologação do plano, os
credores somente poderão alegar:
I – não preenchimento do percentual mínimo previsto no caput do art. 163
desta Lei;
II – prática de qualquer dos atos previstos no inciso III do art. 94 (atos de
falência) ou do art. 130 (atos subjetivamente ineficazes) desta Lei, ou
descumprimento de requisito previsto nesta Lei;
III – descumprimento de qualquer outra exigência legal.
§ 4o Sendo apresentada impugnação, será aberto prazo de 5 (cinco) dias para
que o devedor sobre ela se manifeste.
§ 5o Decorrido o prazo do § 4o deste artigo, os autos serão conclusos
imediatamente ao juiz para apreciação de eventuais impugnações e decidirá,
no prazo de 5 (cinco) dias, acerca do plano de recuperação extrajudicial,
homologando-o por sentença se entender que não implica prática de atos
previstos no art. 130 desta Lei (atos subjetivamente ineficazes) e que não há
outras irregularidades que recomendem sua rejeição.
§ 6o Havendo prova de simulação de créditos ou vício de representação dos
credores que subscreverem o plano, a sua homologação será indeferida.
§ 7o Da sentença cabe APELAÇÃO sem efeito suspensivo.
§ 8o Na hipótese de não homologação do plano o devedor poderá, cumpridas
as formalidades, apresentar novo pedido de homologação de plano de
recuperação extrajudicial.

Art. 165. O plano de recuperação extrajudicial produz efeitos após sua


homologação judicial.
§ 1o É lícito, contudo, que o plano estabeleça a produção de efeitos anteriores
à homologação, desde que exclusivamente em relação à modificação do
valor ou da forma de pagamento dos credores signatários.
§ 2o Na hipótese do § 1o deste artigo, caso o plano seja posteriormente
rejeitado pelo juiz, devolve-se aos credores signatários o direito de exigir seus
créditos nas condições originais, deduzidos os valores efetivamente pagos.

Art. 166. Se o plano de recuperação extrajudicial homologado envolver


alienação judicial de filiais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o
juiz ordenará a sua realização, observado, no que couber, o disposto no art.
142 desta Lei (modalidades de alienação na falência...).

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Art. 167. O disposto neste Capítulo não implica impossibilidade de realização
de outras modalidades de acordo privado entre o devedor e seus credores.

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