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DIREITOS

HUMANOS

Edição
2022.1
DIREITOS HUMANOS
APRESENTAÇÃO .......................................................................................................................... 8
TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................................ 9
1. CONCEITO .............................................................................................................................. 9
2. TERMINOLOGIA ..................................................................................................................... 9
2.1. DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................................................ 9
2.2. DIREITOS DO HOMEM .................................................................................................. 10
2.3. LIBERDADES PÚBLICAS E LIBERDADES FUNDAMENTAIS ....................................... 10
2.4. DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS ....................................................................... 10
3. FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS ...................................................................... 10
3.1. NEGACIONISTA............................................................................................................. 10
3.2. JUSNATURALISTA ........................................................................................................ 11
3.3. POSITIVISTA.................................................................................................................. 11
4. FONTES ................................................................................................................................ 11
4.1. CONVENÇÕES INTERNACIONAIS ............................................................................... 12
4.2. COSTUME INTERNACIONAL ........................................................................................ 12
4.3. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO ............................................................................... 13
4.4. DECISÕES JUDICIAIS E DOUTRINA ............................................................................ 13
4.5. OUTRAS FONTES ......................................................................................................... 13
5. CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................. 14
5.1. CLASSIFICAÇÃO CLÁSSICA – GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS ...................... 14
5.1.1. 1ª Geração/Dimensão .............................................................................................. 14
5.1.2. 2ª Geração/Dimensão .............................................................................................. 14
5.1.3. 3ª Geração/Dimensão .............................................................................................. 15
5.2. CLASSIFICAÇÃO CONFORME O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS
HUMANOS ................................................................................................................................ 15
5.2.1. Direitos Civis ............................................................................................................ 15
5.2.2. Direitos Políticos ...................................................................................................... 19
5.2.3. Direitos Econômicos ................................................................................................ 20
5.2.4. Direitos sociais......................................................................................................... 21
5.2.5. Direitos Culturais ..................................................................................................... 23
5.3. DIREITOS HUMANOS GLOBAIS ................................................................................... 23
6. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO ..................................................................................... 23
6.1. PRINCÍPIO PRO HOMINE OU PRO PERSONA............................................................. 24
6.2. PRINCÍPIO DA EFICÁCIA DIRETA OU DA AUTOEXECUTORIEDADE ......................... 24
6.3. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO AUTÔNOMA ........................................................... 25
6.4. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO EVOLUTIVA OU DINÂMICA ................................... 25
6.5. TEORIA DA MARGEM DE APRECIAÇÃO ...................................................................... 25
7. CARACTERÍSTICAS ............................................................................................................. 25
7.1. INERÊNCIA .................................................................................................................... 26
7.2. UNIVERSALIDADE ........................................................................................................ 26
7.3. INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA ................................................................. 27
7.4. TRANSNACIONALIDADE............................................................................................... 27
7.5. PROIBIÇÃO DO REGRESSO OU VEDAÇÃO DO RETROCESSO ................................ 28
7.6. IMPRESCRITIBILIDADE ................................................................................................ 28
7.7. INALIENABILIDADE ....................................................................................................... 28
7.8. IRRENUNCIABILIDADE ................................................................................................. 28
7.9. EFETIVIDADE ................................................................................................................ 28
.
7.10. HISTORICIDADE ............................................................................................................ 28
7.11. LIMITABILIDADE RELATIVIDADE ................................................................................. 28
7.12. ABERTURA, NÃO TIPICIDADE OU INEXAURIBILIDADE .............................................. 29
8. EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................................... 29
8.1. FASE PRÉ-ESTADO CONSTITUCIONAL ...................................................................... 29
8.1.1. A Antiguidade Oriental e o esboço da construção de direitos ................................... 29
8.1.2. A visão grega e a democracia ateniense.................................................................. 29
8.1.3. A República Romana ............................................................................................... 29
8.1.4. O Antigo e o Novo Testamento e as influências do cristianismo e da Idade Média .. 30
8.1.5. Resumo da ideia dos direitos humanos na Antiguidade: a liberdade dos antigos e a
liberdade dos modernos......................................................................................................... 30
8.2. CRISE DA IDADE MÉDIA, INÍCIO DA IDADE MODERNA E PRIMEIROS DIPLOMAS DE
DIREITOS HUMANOS .............................................................................................................. 30
8.3. DEBATE DAS IDEIAS DE HOBBERS, GRÓCIO, LOCKE, ROUSSEAU E OS
ILUMINISTAS ............................................................................................................................ 30
8.4. FASE DO CONSTITUCIONALISMO LIBERAL E DAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS.31
8.5. FASE DO SOCIALISMO E DO CONSTITUCIONALISMO SOCIAL ................................ 31
8.6. INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ................................................ 31
9. PRECEDENTES HISTÓRICOS DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
31
9.1. DIREITO HUMANITÁRIO ............................................................................................... 31
9.2. LIGA DAS NAÇÕES ....................................................................................................... 32
9.3. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO...................................................... 32
10. EIXOS DE PROTEÇÃO ..................................................................................................... 32
10.1. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS .............................................. 32
10.2. DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO .................................................................. 33
10.3. DIREITO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS ........................................................... 33
TEORIA GERAL DOS SISTEMAS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS ................................................................................................................................... 34
1. ELEMENTOS CARACTERIZADORES .................................................................................. 34
1.1. NORMAS ........................................................................................................................ 34
1.2. ÓRGÃOS ........................................................................................................................ 34
1.3. MECANISMOS DE PROTEÇÃO..................................................................................... 34
2. ESPÉCIES DE SISTEMA INTERNACIONAL ......................................................................... 35
3. PRINCÍPIOS .......................................................................................................................... 35
3.1. PRINCÍPIO DA COEXISTÊNCIA .................................................................................... 35
3.2. PRINCÍPIO DA LIVRE ESCOLHA .................................................................................. 35
3.3. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE OU DA COMPLEMENTARIEDADE....................... 35
3.4. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO ..................................................................................... 36
SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ............................................... 37
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................................... 37
1.1. CARTA DE SÃO FRANCISCO ....................................................................................... 37
1.2. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS ................................................ 37
1.3. PACTOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS................................................ 37
1.4. MECANISMOS DE PROTEÇÃO..................................................................................... 39
2. ARQUITETURA NORMATIVA DO SISTEMA GLOBAL.......................................................... 39
3. ESTRUTURA DA ONU .......................................................................................................... 40
4. MECANISMOS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS ............................................... 41
4.1. CONCEITO..................................................................................................................... 41
.
4.2. MECANISMOS CONVENCIONAIS x MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS ........... 41
4.3. MECANISMOS CONVENCIONAIS ................................................................................. 42
4.3.1. Mecanismos convencionais não contenciosos ......................................................... 43
4.3.2. Mecanismos convencionais quase-contenciosos ..................................................... 44
4.3.3. Mecanismos convencional contencioso ................................................................... 44
4.4. MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS ..................................................................... 45
4.4.1. Procedimentos especiais ......................................................................................... 45
4.4.2. Procedimento de queixa .......................................................................................... 45
4.4.3. Revisão periódica universal ..................................................................................... 46
5. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH) ....................................... 47
6. PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS..................................... 50
6.1. PROTOCOLOS FACULTATIVOS ................................................................................... 57
6.2. MECANISMO DE PROTEÇÃO: COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS ............................. 57
6.3. CASO LULA ................................................................................................................... 61
7. PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS
(PIDESC) ...................................................................................................................................... 62
7.1. MECANISMO DE PROTEÇÃO: COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E
CULTURAIS .............................................................................................................................. 65
7.1.1. Comunicações individuais (queixas ou petições) ..................................................... 65
7.1.2. Comunicações interestatais ..................................................................................... 66
7.1.3. Procedimento de investigação ................................................................................. 66
8. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE
DISCRIMINAÇÃO RACIAL ........................................................................................................... 66
8.1. COMITÊ PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL .................................... 68
9. CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO
CONTRA A MULHER ................................................................................................................... 69
9.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS
FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER ............................................................. 71
9.2. COMITÊ SOBRE A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER ............ 71
10. CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS,
DESUMANOS OU DEGRADANTES ............................................................................................. 73
10.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS
TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES ........................... 77
10.2. COMITÊ.......................................................................................................................... 78
10.3. SUBCOMITÊ PARA PREVENÇÃO DA TORTURA ......................................................... 82
11. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA ........................... 82
11.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS
DIREITOS DAS CRIANÇAS, RELATIVO À VENDA DE CRIANÇAS, PROSTITUIÇÃO INFANTIL
E PORNOGRAFIA INFANTIL .................................................................................................... 86
11.2. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS
DIREITOS DA CRIANÇA, RELATIVO À PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS EM CONFLITOS
ARMADOS ................................................................................................................................ 86
11.3. COMITÊ SOBRE OS DIREITOS DAS CRIANÇAS ......................................................... 86
12. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA ............................................................................................................................... 88
12.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA
COM DEFICIÊNCIA .................................................................................................................. 91
12.2. COMITÊ DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS ................................... 91
13. CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E PUNIÇÃO AO CRIME DE GENOCÍDIO.............. 92
.
14. CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS
CONTRA OS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS ..................................................................... 93
14.1. COMITÊ CONTRA DESAPARECIMENTOS FORÇADOS .............................................. 94
15. CONVENÇÃO PARA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DE TODOS OS TRABALHADORES
MIGRANTES E MEMBROS DAS SUAS FAMÍLIAS ...................................................................... 96
15.1. COMITÊ.......................................................................................................................... 97
SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ............................. 98
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................................................................................... 98
1.1. 1ª ETAPA: ANTECEDENTES DA CRIAÇÃO .................................................................. 98
1.2. 2ª ETAPA: INAUGURAÇÃO E FORMAÇÃO DO SISTEMA ............................................ 99
1.3. 3ª ETAPA: INÍCIO DO PERÍODO DE MONITORAMENTO ........................................... 102
1.4. 4ª ETAPA: INSTITUCIONALIZAÇÃO CONVENCIONAL DO SISTEMA ........................ 102
1.5. 5ª ETAPA: CONSOLIDAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DO SISTEMA ......................... 102
2. DIVISÃO DO SISTEMA INTERAMERICANO....................................................................... 103
3. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS............................................... 103
3.1. CONCEITO................................................................................................................... 103
3.2. ORIGEM ....................................................................................................................... 103
3.3. REGIME JURÍDICO ...................................................................................................... 104
3.4. FUNÇÕES .................................................................................................................... 104
3.5. COMPOSIÇÃO ............................................................................................................. 107
3.5.1. Membros................................................................................................................ 107
3.5.2. Processo de escolha dos membros ....................................................................... 107
3.5.3. Mandato ................................................................................................................ 109
3.5.4. Regime de incompatibilidades ............................................................................... 109
3.5.5. Impedimentos ........................................................................................................ 110
3.6. FUNCIONAMENTO ...................................................................................................... 110
3.6.1. Organização interna............................................................................................... 111
3.6.2. Período de sessões ............................................................................................... 112
3.6.3. Relatorias e grupos de trabalho ............................................................................. 112
3.6.4. Quórum de votação ............................................................................................... 114
3.7. IDIOMAS DE TRABALHO............................................................................................. 114
4. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS ..................................................... 114
4.1. CONCEITO................................................................................................................... 114
4.2. ORIGEM ....................................................................................................................... 116
4.3. REGIME JURÍDICO ...................................................................................................... 116
4.4. COMPOSIÇÃO ............................................................................................................. 116
4.4.1. Membros................................................................................................................ 117
4.4.2. Requisitos para o cargo ......................................................................................... 117
4.4.3. Eleição ................................................................................................................... 118
4.4.4. Mandato ................................................................................................................ 119
4.4.5. Juiz ad hoc ............................................................................................................ 119
4.5. JURISDIÇÃO CONSULTIVA DA CORTE ..................................................................... 120
4.5.1. Previsão normativa ................................................................................................ 120
4.5.2. Finalidade .............................................................................................................. 120
4.5.3. Alcance .................................................................................................................. 121
4.5.4. Características do procedimento consultivo ........................................................... 121
4.5.5. Objeto da consulta ................................................................................................. 121
4.5.6. Procedimento de emissão de opinião consultiva .................................................... 123
4.5.7. Efeitos jurídicos das opiniões consultivas .............................................................. 123
.
4.5.8. Opiniões consultivas emitidas pela Corte ............................................................... 124
4.6. JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA CORTE INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS
151
4.6.1. Conceito ................................................................................................................ 151
4.6.2. (Im) possibilidade de “retirar” a aceitação da competência contenciosa.................... 152
4.6.3. Competência em razão da pessoa (ratione personae) ........................................... 152
4.6.1. Competência em razão da matéria (ratione materiae)............................................ 152
4.6.2. Competência ratione temporis ............................................................................... 153
4.6.3. Competência ratione loci ....................................................................................... 153
4.6.4. Casos julgados pela Corte ..................................................................................... 153
5. APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO ........................... 153
5.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................ 153
5.2. PROCEDIMENTO PERANTE A COMISSÃO ................................................................ 154
5.2.1. Tramitação inicial ................................................................................................... 154
5.2.2. Procedimento de admissibilidade ........................................................................... 154
5.2.3. Procedimento sobre o mérito ................................................................................. 156
5.2.4. Relatório preliminar ................................................................................................ 157
5.2.5. Relatório definitivo ................................................................................................. 157
5.2.6. Acompanhamento.................................................................................................. 158
5.3. PROCEDIMENTO PERANTE A CORTE ...................................................................... 158
5.3.1. Submissão do caso pela CIDH e exame preliminar pela Presidência..................... 158
5.3.2. Notificação do caso................................................................................................ 159
5.3.3. Apresentação por escrito de petições .................................................................... 159
5.3.4. Contestação do Estado.......................................................................................... 159
5.3.5. Outros atos e procedimentos por escrito ................................................................ 160
5.3.6. Apresentação de amicus curiae ............................................................................. 160
5.3.7. Procedimento oral.................................................................................................. 160
5.3.8. Procedimento final escrito ...................................................................................... 160
5.3.9. Espaços de desistência e consenso ...................................................................... 161
5.3.10. Sentença ............................................................................................................... 161
6. MEDIDAS DE URGÊNCIA NO SISTEMA INTERAMERICANO ........................................... 161
6.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................................................ 161
6.2. MEDIDAS CAUTELARES DA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS
HUMANOS .............................................................................................................................. 162
6 3. MEDIDAS PROVISÓRIAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITO HUMANOS 163
7. SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS .................... 165
7.1. DIREITOS HUMANOS E ACESSO À JUSTIÇA ............................................................ 165
7.2. 100 REGRAS DE BRASÍLIA ......................................................................................... 166
7.2.1. Finalidade .............................................................................................................. 166
7.2.2. Natureza jurídica.................................................................................................... 166
7.2.3. Conceitos relevantes ............................................................................................. 166
7.3. A DEFENSORIA PÚBLICA E A OEA ............................................................................ 166
7.4. DEFENSORIA PÚBLICA INTERAMERICANA .............................................................. 167
7.4.1. Considerações iniciais ........................................................................................... 167
7.4.2. Conceito ................................................................................................................ 167
7.4.3. Modelos de oferecimento de assistência jurídica gratuita no âmbito de tribunais
internacionais....................................................................................................................... 167
SISTEMA EUROPEU DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS .......................................... 169
.
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................... 169
2. CONSELHO DA EUROPA ................................................................................................... 169
2.1. ESTRUTURA ................................................................................................................ 169
2.1.1. Secretário-geral ..................................................................................................... 169
2.1.2. Comitê de Ministros ............................................................................................... 169
2.1.3. Assembleia Parlamentar ........................................................................................ 169
2.1.4. Congresso dos Poderes Locais e Regionais .......................................................... 169
2.1.5. Tribunal Europeu de Direitos Humanos ................................................................. 169
2.1.6. Comissário para os Direitos Humanos ................................................................... 170
2.1.7. Conferência de ONGIs ........................................................................................... 170
2.1.8. Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Cruéis 170
2.1.9. Comitê Europeu dos Direitos Sociais ..................................................................... 170
3. CONVENÇÃO EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS (CEDH) ........................................... 170
4. ÓRGÃOS DE MONITORAMENTO ...................................................................................... 171
5. TRIBUNAL EUROPEU DE DIREITOS HUMANOS (TEDH) ................................................. 171
SISTEMA AFRICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ......................................... 172
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................... 172
2. COMISSÃO AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS ................................... 172
3. CORTE AFRICANA DE DH E DOS POVOS ........................................................................ 172
TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ........................................................................................ 173
1. DIREITO INTERNACIONAL PENAL .................................................................................... 173
2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL ...................... 173
2.1. 1º ANTECEDENTE – TRATADO DE VERSAILLES, 1919 ............................................ 173
2 2. 2º ANTECEDENTE – TRIBUNAL INTERNACIONAL MILITAR DE NUREMBERG, 1945
174
2.3. 3º ANTECEDENTE – TRIBUNAL MILITAR INTERNACIONAL PARA O EXTREMO-
ORIENTE (Tribunal de Tóquio), 1946 ...................................................................................... 174
2.4. 4º ANTECEDENTE – PRINCÍPIOS DE NUREMBERG, 1946 ...................................... 174
2.5. 5º ANTECEDENTE – CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E A PUNIÇÃO DO CRIME
DE GENOCÍDIO, 1948 ............................................................................................................ 174
2.6. 6º ANTECEDENTE – RESOLUÇÕES Nº 827/1993 E 955/1994 DO CONSELHO DE
SEGURANÇA DA ONU ........................................................................................................... 174
2.7. 7º ANTECEDENTE – ADOÇÃO DO ESTATUTO DO TP, 1998 ................................... 175
3. GERAÇÕES DE TRIBUNAIS PENAIS INTERNACIONAIS .................................................. 175
4. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO TPI ....................................................................... 175
5. COMPOSIÇÃO, CANDIDATURA E ELEIÇÃO DOS JUÍZES................................................ 176
6. CRIMES DE COMPETÊNCIA DO TPI ................................................................................. 177
7. CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA PELO TPI ................................... 182
8. DISPOSIÇÕES PENAIS APLICÁVEIS AO JULGAMENTO PELO TPI ................................. 183
8.1. NULLUM CRIMEN SINE LEGE .................................................................................... 183
8.2. NULLA POENA SINE LEGE ......................................................................................... 184
8.3. NÃO RETROATIVIDADE .............................................................................................. 184
8.4. RESPONSABILIDADE CRIMINAL INDIVIDUAL ........................................................... 184
8.5. EXCLUSÃO DA JURISDIÇÃO RELATIVAMENTE A MENORES DE 18 ANOS ............ 185
8.6. IRRELEVÂNCIA DA QUALIDADE OFICIAL.................................................................. 185
8.7. RESPONSABILIDADE DOS CHEFES MILITARES E OUTROS SUPERIORES
HIERÁRQUICOS..................................................................................................................... 185
8.8. IMPRESCRITIBILIDADE .............................................................................................. 186
8.9. ELEMENTOS PSICOLÓGICOS.................................................................................... 186
.
8.10. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL................................. 186
8.11. ERRO DE FATO OU ERRO DE DIREITO .................................................................... 187
8.12. DECISÃO HIERÁRQUICA E DISPOSIÇÕES LEGAIS .................................................. 187
9. PENAS APLICADAS ............................................................................................................ 187
10. PROCEDIMENTO DE INVESTIGAÇÃO, INSTRUÇÃO, JULGAMENTO E EXECUÇÃO DA
PENA 188
11. A RELAÇÃO DO BRASIL COM O TPI.............................................................................. 188
12. DECISÕES DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL .................................................... 189
12.1. CASO THOMAS LUBANGA DYILO .............................................................................. 189
12.2. CASO MATHIEU NGUDJOLO CHUI ............................................................................ 189
12.3. CASO GERMAIN KATANGA ........................................................................................ 190
12.4. CASO JEAN PIERRE BEMBA ...................................................................................... 190
12.5. CASO AHAMAD AL-FAQI AL-MAHDI ........................................................................... 190
12.6. CASO OMAR AL BASHIR “CASO DARFUR” ........................................................................ 190
CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE .................................................................................. 191
1. CONCEITO .......................................................................................................................... 191
2. CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................ 191
3. OBJETIVOS......................................................................................................................... 191
4. DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO E DO ALCANCE DO CONTROLE DE
CONVENCIONALIDADE ............................................................................................................ 192
4.1. PRIMEIRA ETAPA ........................................................................................................ 192
4.2. SEGUNDA ETAPA ....................................................................................................... 192
4.3. TERCEIRA ETAPA ....................................................................................................... 192
5. ELEMENTOS OU CARACTERÍSTICAS DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE
CONFORME A JURISPRUDÊNCIA DA CORTE IDH ................................................................. 192
5.1. DEVE SER EXERCIDO DE OFÍCIO E NO MARCO DE COMPETÊNCIAS E
REGULAÇÕES PROCESSUAIS CORRESPONDENTES ....................................................... 192
5.2. O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE É UMA OBRIGAÇÃO DE TODA
AUTORIDADE PÚBLICA ......................................................................................................... 193
5.3. PARÂMETRO DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE ...................................... 193
5.4. OBJETO DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE ............................................... 193
5.5. PRINCÍPIO DA ATIPICIDADE DOS MEIOS DO CONTROLE DE
CONVENCIONALIDADE ......................................................................................................... 193
SISTEMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS....................................................................... 195
1. INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA .................................................... 195
1.1. PREVISÃO E CONSIDERAÇÕES ................................................................................ 195
1.2. REQUISITOS................................................................................................................ 195
1.3. LEGITIMIDADE ............................................................................................................ 195
1.4. COMPETÊNCIA ........................................................................................................... 195
1.5. JULGAMENTOS ........................................................................................................... 196
2. PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS
HUMANOS ................................................................................................................................. 198
2.1. PODERES ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DO TRATADO NA
ORDEM JURÍDICA INTERNA ................................................................................................. 198
2.2. FASES DO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE
DIREITOS HUMANOS ............................................................................................................ 199
2.2.1. Fase de assinatura ................................................................................................ 199
2.2.2. Fase de apreciação legislativa ou fase congressual............................................... 199
2.2.3. Fase de ratificação ................................................................................................ 199
2.2.4. Fase de promulgação ............................................................................................ 199
.
3. HIERARQUIA DOS TRATADOS .......................................................................................... 200
DIREITOS HUMANOS DOS GRUPOS VULNERÁVEIS ............................................................. 202
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................... 202
2. MULHERES ......................................................................................................................... 202
3. PESSOAS NEGRAS ............................................................................................................ 203
4. CRIANÇA E ADOLESCENTE .............................................................................................. 204
5. PESSOAS IDOSAS ............................................................................................................. 207
6. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ........................................................................................... 207
7. PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA .................................................................................... 209
8. POVOS INDÍGENAS ........................................................................................................... 209
9. LGBTQI+ ............................................................................................................................. 210
10. QUILOMBOLAS ............................................................................................................... 211
11. REFUGIADOS ................................................................................................................. 211
.
APRESENTAÇÃO

Olá!

Inicialmente, gostaríamos de agradecer a confiança em nosso material. Esperamos que seja


útil na sua preparação, em todas as fases. Quanto mais contato temos com uma mesma fonte de
estudo, mais familiarizados ficamos, o que ajuda na memorização e na compreensão da matéria.

O Caderno Sistematizado de Direitos Humanos possui como base as aulas da Prof. Valério
Mazzuoli e do Prof. Caio Paiva. Além disso, utilizamos as seguintes obras: Curso de Direitos
Humanos, André de Carvalho Ramos; Curso de Direitos Humanos, Valério Mazzuoli; Jurisprudência
Internacional de Direitos Humanos, Caio Paiva e Thimotie Heemann.

Ademais, no Caderno constam os principais artigos dos tratados, mas, ressaltamos, que é
necessária leitura conjunta do seu Vade Mecum, muitas questões são retiradas da legislação.

Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.

Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer questões. É muito
importante!! As bancas costumam repetir certos temas.

Vamos juntos!! Bons estudos!!

Equipe Cadernos Sistematizados.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 8


.
TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS

1. CONCEITO

Inicialmente, destaca-se que, a partir do estudo da Teoria Geral dos Direitos Humanos, há
duas maneiras/técnicas de conceituar Direitos Humanos, quais sejam: generalista e específica.

a) Generalista

Não há diferença entre direitos humanos e direitos fundamentais. Portanto, direitos humanos
seriam um conjunto de direito essenciais para a consecução de uma vida digna para todos os seres
humanos, independentemente de previsão na Constituição ou em tratados internacionais.

b) Específica

É preciso diferenciar direitos fundamentais de direitos humanos, seja porque os mecanismos


de proteção são distintos seja porque o Direito Internacional dos Direitos Humanos é ramo
autônomo quando comparado ao Direito Constitucional.

Assim, entendem que Direitos Humanos são aqueles necessários para a consecução de
uma vida digna, previstos em instrumentos internacionais de proteção.

Observe o conceito adotado por Caio Paiva, seguindo a técnica específica: “direitos
humanos são o conjunto de direitos previstos em instrumentos internacionais 1 que proporcionam a
todos os seres, independentemente de qualquer condição2, a base essencial3 para que tenham uma
vida digna e para que se protejam contra violações praticadas ou toleradas pelo Estado4”

1) Os direitos humanos estão previstos apenas nos instrumentos internacionais.


Obviamente, que alguns também estarão previstos nas Constituições;

2) Não dependem de raça, etnia, gênero. Todos possuem direito a ter direitos;

3) Nem todo direito que é essencial para a pessoa é um direito humano, mas apenas a sua
base essencial (mínimo);

4) As violações de direitos humanos são praticadas pelo Estado ou toleradas por ele. Por
exemplo, quando “A” mata “B” não há uma violação de direitos humanos, mas quando
um Policial mata um civil o direito estará violado. O mesmo ocorre quando o Estado não
investiga o crime praticado por “A”.

2. TERMINOLOGIA

Importante, ainda, diferenciar as diversas terminologias que, algumas vezes, são


confundidas com direitos humanos.

2.1. DIREITOS FUNDAMENTAIS

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 9


Disponibilizado exclusivamente para

.
A expressão “direitos fundamentais” surgiu no contexto da proteção nacional dos direitos
humanos (proteção internacional).

2.2. DIREITOS DO HOMEM

Tal expressão é utilizada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (França,


1789), na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (Bogotá, 1948) e na Convenção
Europeia dos Direitos do Homem (Roma, 1950).

Contudo, após a Declaração Universal de Direitos Humanos passou a ser evitada, uma vez
que possui caráter sexista, excluindo as mulheres.

2.3. LIBERDADES PÚBLICAS E LIBERDADES FUNDAMENTAIS

Maior incidência na doutrina francesa, prioriza os direitos de primeira geração.

2.4. DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS

Segue a técnica generalista, não fazendo distinção entre direitos fundamentais e direitos
humanos.

QP (oral): Qual a proteção mais ampla a dos direitos humanos ou a dos direitos fundamentais1?
Pela via territorial, a proteção dos direitos humanos é mais ampla que a dos direitos fundamentais,
tendo em vista que a proteção extravasa as fronteiras dos países. Contudo, sob o aspecto material,
a proteção dos direitos fundamentais é mais ampla, especialmente no Brasil em que há uma
Constituição Prolixa, em que se protege o FGTS, o 13º salário que não estão previstos em tratados
internacionais.

3. FUNDAMENTOS DOS DIREITOS HUMANOS

Estão relacionados à razão justificadora dos direitos humanos. Há uma série de teorias que
visam justificar os direitos humanos, algumas até com sub-ramos, abordaremos as três principais:
negacionista, jusnaturalista e positivistas.

3.1. NEGACIONISTA

Norberto Bobbio é seu maior defensor.

Nega qualquer possibilidade de encontrar um fundamento único ou absoluto para os direitos


humanos, uma vez que há a expressão “direitos humanos” é muito vaga (não há consenso),

1 Caso queira aprofundar, recomenda-se a leitura do texto de Ingo Sarlet, publicado do site Conjur em 23 de
janeiro de 2015 (https://www.conjur.com.br/2015-jan-23/direitos-fundamentais-aproximacoes-tensoes-
existentes-entre-direitos-humanos-fundamentais)

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 10


.
ademais o conteúdo é muito variado (direitos políticos, civis, econômicos, sociais, culturais) e, por
fim, são dotados de heterogeneidade (cada região possui seu bloco de direitos humanos).

3.2. JUSNATURALISTA

Sustenta que o ser humano possui direitos naturais anteriores e superiores ao Estado.
Divide-se em:

a) Escola de Direito Natural de Razão Divina – os direitos humanos são advindos de Deus.

b) Escola de Direito Natural Moderno – os direitos humanos são inerentes à condição de


ser humano. A Declaração Universal de Direitos Humanos possui inspiração
jusnaturalista.

Há alguns pontos frágeis na Teoria Jusnaturalistas:

• Impossibilidade de comprovação empírica das escolas vistas acima;

• Dificuldade em explicar a imutabilidade dos direitos naturais em razão da constante


alteração do conteúdo de direitos essenciais ao indivíduo ao longo dos séculos

3.3. POSITIVISTA

A fundamentação dos direitos humanos somente pode ser encontrada no ordenamento


jurídico internacional, a exemplo de tratados, convenções.

É criticada, tendo em vista que possui dificuldade de promover a observância aos direitos
humanos em Estados que tenham se recusado a assinar, ratificar e incorporar na ordem jurídica
interna os tratados que os preveem.

4. FONTES

O tema “fontes de direitos humanos” está relacionado à origem do instituto, é tema reservado
mais ao Direito Internacional Público, tanto que é encontrado no art. 38 do Estatuto da Corte
Internacional de Justiça, são as mesmas fontes do Direito Internacional.

Artigo 38
1. A Corte, cuja função seja decidir conforme o direito internacional as
controvérsias que sejam submetidas, deverão aplicar;
2. As convenções internacionais, sejam gerais ou particulares, que
estabeleçam regras expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;
3. O costume internacional como prova de uma prática geralmente aceita
como direito;
4. Os princípios gerais do direito reconhecidos pelas nações civilizadas;
5. As decisões judiciais e as doutrinas dos publicitários de maior competência
das diversas nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de
direito, sem prejuízo do disposto no Artigo 59.

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.
6. A presente disposição não restringe a faculdade da Corte para decidir um
litígio ex aequo et bono, se convier às partes

Segundo André de Carvalho Ramos, são fontes do Direito Internacional, apesar de não
mencionadas no artigo 38, os atos unilaterais e as resoluções vinculantes das organizações
internacionais.

Importante ressaltar que não existe hierarquia entre as fontes principais. Embora seja mais
fácil e prático aplicar um tratado internacional, pois está escrito, do que um costume internacional,
algo “invisível”.

4.1. CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

Tradados são acordos juridicamente obrigatórios e vinculantes, firmados entre sujeitos de


Direito Internacional, também chamados de Convenções, Pactos, Protocolo (documento adicional,
tratado anexo a um tratado). Não se confundem com as declarações (DUDH e a Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, por exemplo) que, por não gerarem efeitos jurídicos
(direitos e obrigações), não podem ser entendidas como tratados, constituindo categoria diversa.

A Convenção de Viena, em ser art. 2.1 traz o seguinte conceito de tratado:

Art. 2.1 - tratado significa um acordo internacional concluído por escrito entre
Estados e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento
único, quer de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua
denominação específica

Entende-se por regime objetivo dos tratados internacionais de direitos humanos, a


ausência de caráter sinalagmático presente nos tratados ordinários do direito internacional. Ou seja,
não há acordo de vontades entre os Estados Contratantes, o Estado ao aderir o tratado internacional
de direitos humanos contrai obrigações, não há nenhum benefício subjetivo, por isso é considerado
um regime objetivo.

Nesse sentido, a Opinião Consultiva nº 2 da Corte Interamericana de Direitos Humanos:

“29. A Corte deve enfatizar, porém, que os tratados modernos sobre direitos
humanos, em geral, e, em particular, a Convenção Americana, não são
tratados multilaterais do tipo tradicional, concluídos em função de um
intercâmbio recíproco de direitos, para o benefício mútuo dos Estados
contratantes. Seu objeto e fim são a proteção dos direitos fundamentais dos
seres humanos, independentemente de sua nacionalidade, tanto frente a seu
próprio Estado como frente aos outros Estados contratantes. Ao aprovar
esses tratados sobre direitos humanos, os Estados se submetem a uma
ordem geral dentro da qual eles, pelo bem comum, assumem várias
obrigações, não em relação aos outros Estados, mas sim em relação aos
indivíduos sob a sua jurisdição”.

4.2. COSTUME INTERNACIONAL

O costume internacional resulta da prática geral e consistente dos Estados de reconhecer


como válida e juridicamente exigível determinada obrigação.

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.
Os costumes aplicam-se a todos os Estados, até àqueles que deliberadamente recusaram-
se a ratificação de um tratado internacional de direitos humanos, ou que tentaram liberar-se de uma
das suas disposições por meio de reservas.

O costume internacional é formado por dois elementos, quais sejam:

a) Elemento objetivo: é a prática geral, ou seja, a conduta oficial de órgãos estatais; referem-
se aos fatos interestaduais, e, por isso, podem ter relevância para a formação do novo Direito
Internacional Público.

b) Elemento subjetivo: é a opinião jurídica dos Estados. Determina que os atos praticados
pelos Estados sejam uma obrigação jurídica, por isso surgem novos direitos.

A Corte Internacional de Justiça decidiu expressamente pelo caráter de norma costumeira


da Declaração Universal de Direitos Humanos, considerada como elemento de interpretação do
conceito de direitos fundamentais insculpido na Carta da ONU.

Por fim, salienta-se que um Estado somente pode deixar de cumprir um costume
internacional quando tiver se comportado como um objetor persistente, que deve ocorrer durante o
processo de formação do costume internacional, mediante manifestações permanentes e
inequívocas de sua objeção a serem obrigados pelo respectivo costume. Tal figura não se aplica às
normas de jus cogens, também conhecidas como normas imperativas ou cogentes, a exemplo do
acesso à justiça.

4.3. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

Prevalece a posição de que os princípios gerais de direito internacional são aqueles aceitos
por (quase) todos os ordenamentos jurídicos, a exemplo da boa-fé, do respeito à coisa julgada, do
direito adquirido e do pacta sunt servanda.

4.4. DECISÕES JUDICIAIS E DOUTRINA

São consideradas fontes auxiliares do Direito Internacional dos Direitos Humanos.

a) Decisões judiciais: são as chamadas jurisprudências internacionais. São reiteradas


decisões no mesmo sentido. Nota-se que é chamada de fonte auxiliar, pois não criam
novos direitos, mas sim determinam o modo como devem ser interpretados.

b) Doutrina: refere-se aos autores de renome. Além disso, inclui-se aqui a Comissão de
Direito Internacional da ONU, criada pelas Nações Unidas para “incentivar o
desenvolvimento progressivo do direito internacional e a sua codificação”.

4.5. OUTRAS FONTES

Conforme mencionado, embora não constem no rol do art. 38 do Estatuto da CIJ, são
considerados como fonte de DIDH:

a) Atos unilaterais dos Estados: são atos que não possuem normatividade. Contudo, criam
obrigações aos Estados que os proclamam. Assim, quando assumir unilateralmente um

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 13


.
compromisso publicamente, mesmo quando não efetuado no contexto das negociações
internacionais, o Estado deverá cumpri-lo obrigatoriamente, em respeito à boa-fé.

b) Decisões de organizações internacionais: a partir do momento que um Estado é parte em


uma organização internacional, ele assume obrigações para com ela, dentre as quais a de cumprir
aquilo que vier a ser decidido em suas assembleias ou órgãos deliberativos.

c) Analogia e equidade: são soluções eficientes para enfrentar o problema da falta de norma
jurídica regulamentadora a determinado caso concreto, ou ainda para suprir a inutilidade da norma
existente, a fim de que se possa solucionar, com um mínimo de justiça, o conflito de interesses.

5. CLASSIFICAÇÃO

5.1. CLASSIFICAÇÃO CLÁSSICA – GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS

Primeiramente, destaca-se que a doutrina moderna prefere a expressão “dimensões” e não


“gerações”, pois esta traz a ideia de sucessão, contrariando o caráter complementar dos direitos
humanos. Assim, com o surgimento de uma nova dimensão a anterior não deixa de existir.

Bonavides afirma que a melhor expressão é “dimensão”, que se justifica tanto pelo fato de
não existir realmente uma sucessão ou desaparecimento de uma geração por outra, mas também
quando novo direito é reconhecido, os anteriores assumem uma nova dimensão, de modo a melhor
interpretá-los e realizá-los.

5.1.1. 1ª Geração/Dimensão

Surgiu com as revoluções burguesas dos séculos XVI e XIX. Englobam os direitos de
liberdade, chamados de prestações negativas, nas quais o Estado deve proteger a esfera de
autonomia do indivíduo. Assim, o Estado não poderia interferir na orbita individual, salvo para
garantir a prevalência do máximo de liberdade possível para todos.

Exemplos: direito à liberdade, igualdade perante a lei, propriedade, intimidade e segurança,


traduzindo o valor de liberdade.

Obs.: Na concepção contemporânea dos Direitos Humanos, os direitos de 1ª Geração não


envolvem apenas condutas negativas do Estado. Por exemplo, o direito de não ser torturado envolve
uma conduta negativa do Estado (não torturar), mas quando o Estado deixa de fornecer condições
dignas aos presos (água potável, ambiente adequado) também está torturando. Portanto, perceba
que este direito demanda sim prestações positivas dos Estados.

5.1.2. 2ª Geração/Dimensão

Surgiu em decorrência da deplorável situação da população pobre das cidades


industrializadas. Englobam os chamados direitos de igualdade. Impõe aos Estados obrigações
positivas, defendendo a intervenção estatal, como forma de reparar a iniquidade vigente.

Exemplos: direito à saúde, educação, previdência social, habitação.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 14


.
5.1.3. 3ª Geração/Dimensão

Englobam os chamados direitos de solidariedade.

Exemplos: direito ao desenvolvimento, direito à paz (5ª Geração para Bonavides), direito à
autodeterminação e, em especial, o direito ao meio ambiente equilibrado.

Além disso, segundo Paulo Bonavides, há os direitos de quarta geração, decorrentes do


desenvolvimento da globalização política, correspondente à derradeira fase de institucionalização
do Estado Social. Exemplos: direito à democracia, direito à informação.

5.2. CLASSIFICAÇÃO CONFORME O DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS


HUMANOS

5.2.1. Direitos Civis

São os direitos de autonomia do indivíduo contra interferências indevidas do Estado ou de


terceiros. Assim, o conteúdo de tais direitos é relativo à proteção dos atributos da personalidade e
dignidade da pessoa humana. Liberdade-autonomia.

O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos prevê, expressamente, os seguintes


direitos civis:

a) Direito à vida (art. 6º), estabelecendo restrições à prática da pena de morte;

Art. 6º
1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser
protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.
2. nos Países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá
ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com
legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em
conflito com as disposições do presente pacto, nem com a Convenção sobre
a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa
pena apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e
proferida por tribunal competente.
3. Quando a privação da vida constituir um crime de genocídio, entende-se
que nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte
do presente pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de quaisquer
das obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da
Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio.
4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação
da pena. A anistia, o indulto ou a comutação de pena poderão ser concedidos
em todos os casos.
5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos
por pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de
gravidez. O Pacto de San José da Costa Rica inclui o maior de 70 anos.
6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar
ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente
pacto.

b) Direito à integridade física, abolindo os tratamentos cruéis, degradantes e desumanos


(art. 7º);

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 15


.
Art. 7º ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamentos
cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo, submeter uma
pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas ou científicas.

c) Direito à liberdade (art. 11), admitindo-se os trabalhos forçados como pena, mas
proibindo-se expressamente a prisão por descumprimento de obrigação contratual;

Art. 11 Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma
obrigação contratual.

d) Direito ao devido processo legal (art. 9º);

Art. 9º
1. Toda pessoa tem à liberdade e a segurança pessoais. Ninguém poderá
ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de
sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com
os procedimentos.
2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão
e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela.
3. Qualquer pessoa presa ou encerrada em virtude de infração penal deverá
ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade
habilitada por lei a exercer funções e terá o direito de ser julgada em prazo
razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que
aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura
poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da
pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário
for, para a execução da sentença.
4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou
encarceramento terá de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a
legalidade de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão tenha
sido ilegal.
5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à
reparação.

e) Direito de locomoção e direito de intimidade (art. 12);

Art. 12
1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o
direito de nele livremente circular e escolher sua residência.
2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive
de seu próprio país.
3. Os direitos supracitados não poderão constituir objeto de restrição, a
menos que estejam previstas em lei e no intuito de proteger a segurança
nacional e a ordem, a saúde ou a moral pública, bem como os direitos e
liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros
direitos reconhecidos no presente pacto.
4. Ninguém poderá ser privado do direito de entrar em seu próprio país.

f) Direito à igualdade perante a lei (art. 26);

Art. 26 Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem
discriminação alguma, a igual proteção da lei. A este respeito, a lei deverá
proibir qualquer forma de discriminação e garantir a todas as pessoas

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 16


.
proteção igual e eficaz contra qualquer discriminação por motivo de raça, cor,
sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional
ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra situação.

g) Garantias de um julgamento justo, o que inclui o direito ao duplo grau de jurisdição (art.
14);

Art. 14
1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça.
Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas
garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra
ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil. A
imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou da totalidade de um
julgamento, que por motivo de moral pública, de ordem pública ou de
segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse
da vida privada das partes o exija, quer na medida em que isso seja
estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas,
nas quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da justiça;
entretanto, qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil deverá
tornar-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento
oposto, ou o processo diga respeito à controvérsia matrimoniais ou a tutela
de menores.
2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua
inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, a,
pelo menos, as seguintes garantias:
a) de ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma
minuciosa, da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada;
b) de dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa
e a comunicar-se com defensor de sua escolha;
c) de ser julgado sem dilações indevidas;
d) de estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por
intermédio de defender de sua escolha; de ser informado, caso não tenha
defensor, do direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da
justiça assim exija, de ter um defensor designado "ex officio" gratuitamente,
se não tiver meios para remunerá-lo;
e) de interrogar ou fazer interrogar as testemunhas da acusação e de obter o
comparecimento e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas
condições de que dispõe as de acusação;
f) de ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou
não fale a língua empregada durante o julgamento;
g) de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada.
4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores nos termos da
legislação penal levará em conta a idade dos menores e a importância de
promover sua reintegração social.
5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá o direito de recorrer da
sentença condenatória e da pena a uma instância, em conformidade com a
lei.
6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente
anulada ou se indulto for concedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos
novos que provem cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 17


.
sofreu a pena decorrente dessa condenação deverá ser indenizada, de
acordo com a lei, a menos que fique provado que se lhe pode imputar, total
ou parcialmente, não-revelação dos fatos desconhecidos em tempo útil.
7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi
absolvido ou condenado por sentença passada em julgado, em conformidade
com a lei e os procedimentos penais de cada país.

h) Direito à liberdade religiosa e seus consectários (art. 18);

Art. 18
1. Toda pessoa terá direito à liberdade de pensamento, de consciência e de
religião. Esse direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou
uma crença de sua escolha e a liberdade de professar sua religião ou crença,
individual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do
culto, da celebração de ritos, de práticas e do ensino.
2. Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam
restringir sua liberdade de ter ou de adotar uma religião ou crença de sua
escolha.
3. A liberdade de manifestar a própria religião ou crença estará sujeita
apenas a limitações previstas em lei e que se façam necessárias para
proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral pública ou os direitos e
as liberdades das demais pessoas.
4. Os Estados partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a
liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de assegurar a
educação religiosa e moral dos filhos que esteja de acordo com suas próprias
convicções.

i) Direito à liberdade de expressão (art. 19 e 20);

Art. 19
1. Ninguém poderá ser molestado por suas opiniões.
2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a
liberdade de procurar, receber e difundir informações e ideias de qualquer
natureza, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente
ou por escrito, em forma impressa ou artística, ou qualquer outro meio de sua
escolha.
3. O exercício do direito previsto no § 2º do presente artigo implicará deveres
e responsabilidades especiais.
Consequentemente, poderá estar sujeito a certas restrições, que devem,
entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam necessárias
para:
a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;
b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral pública.
Art. 20
1. Será proibida por lei qualquer propaganda em favor de guerra.
2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, radical, racial ou
religioso que constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou à
violência.

l) Direito à associação (art. 22);

Art. 22

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 18


.
1. Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente a outras, inclusive o
direito de construir sindicatos e de a eles filiar-se, para a proteção de seus
interesses.
2. O exercício desse direito estará sujeito apenas às restrições previstas em
lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse
da segurança nacional, da segurança e da ordem públicas, ou para proteger
a saúde ou a moral pública ou os direitos a liberdades das demais pessoas.
O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício
desse direito por membros das forças armadas e da polícia.
3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que Estados Partes
da Convenção de 1948 da Organização do Trabalho, relativa à liberdade
sindical e à proteção do direito sindical, venham a adotar medidas legislativas
que restrinjam - ou aplicar a lei de maneira a restringir - as garantias previstas
na referida Convenção.

m) Direito a constituir família (art. 23);

Art. 23
1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e terá o direito
de ser protegida pela sociedade e pelo Estado.
2. Será reconhecido o direito do homem e da mulher de, em idade núbil,
contrair casamento e construir família.
3. Casamento algum será sem o consentimento livre e pleno dos futuros
esposos.
4. Os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar as medidas
apropriadas para assegurar a igualdade de direitos e responsabilidades dos
esposos quanto ao casamento, durante o mesmo e o por ocasião de sua
dissolução. Em caso de dissolução, deverão adotar-se disposições que
assegurem a proteção necessária para os filhos.

n) Direito da criança a medidas de proteção por parte da sociedade e do Estado (art. 24).

Art. 24
1. Toda criança, terá direito, sem discriminação alguma por motivo de cor,
sexo, religião, origem nacional ou social, situação econômica ou nascimento,
às medidas de proteção que a sua condição de menor requerer por parte de
sua família, da sociedade e do Estado.
2. Toda criança deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e
deverá receber um nome.
3. Toda criança terá o direito de adquirir uma nacionalidade.

5.2.2. Direitos Políticos

São direitos de participação, ativa ou passiva, na elaboração das decisões políticas e na


gestão da coisa pública. Liberdade-participação.

Estão previstos no art. 25 do PIDCP, garantem o direito de participar na condução dos


assuntos públicos, bem como de votar e ser votado.

Art. 25
Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas de
discriminação mencionadas no artigo 2° e sem restrições infundadas:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 19


.
a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio
de representantes livremente escolhidos;
b) de votar e de ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por
sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a
manifestação da vontade dos eleitores;
c) de ter acesso em condições gerais de igualdade, às funções públicas de
seu país.

5.2.3. Direitos Econômicos

Possuem uma dimensão institucional, baseada no poder estatal de regulamentar o mercado,


em vista do interesse público.

Estão previstos expressamente no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e


Culturais (PIDESC), são eles:

• Direito à associação sindical (art. 8º);

Art. 8º
1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a garantir:
a) o direito de toda pessoa de fundar com outros sindicatos e de filiar-se ao
sindicato de sua escolha, sujeitando-se unicamente a organização
interessada, com o objetivo de promover e de proteger seus interesses
econômicos e sociais. O exercício desse direito só poderá ser objeto das
restrições previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade
democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou
para proteger os direitos e as liberdades alheias;
b) o direito dos sindicatos de formar federações ou confederações nacionais
e o direito desta de formar organizações sindicais internacionais ou de filiar-
se às mesmas;
c) o direito dos sindicatos de exercer livremente suas atividades, sem
quaisquer limitações além daquelas previstas em lei e que sejamnecessárias,
em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da
ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades das demais
pessoas;
d) o direito de greve, exercido de conformidade com as leis de cada país.
2. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o
exercício desses direitos pelos membros das forças armadas, da política ou
da administração pública.
3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que os Estados
Partes da Convenção de 1948 da Organização Internacional do Trabalho,
relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venha a adotar
medidas legislativas que restrinjam - ou a aplicar a lei de maneira a restringir
- as garantias previstas na referida Convenção.

• Direito a gozar de condições justas e dignas de trabalho (art. 7º)

Art. 7º
Os Estados Partes do presente pacto o reconhecem o direito de toda pessoa
de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que assegurem
especialmente:
a) uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 20


.
i) um salário equitativo e uma remuneração igual por um trabalho de igual
valor, sem qualquer distinção; em particular, as mulheres deverão ter a
garantia de condições de trabalho não inferiores às dos homens e receber a
mesma remuneração que ele por trabalho igual;
ii) uma existência decente para eles e suas famílias, em conformidade com
as disposições do presente Pacto.
b) a segurança e a higiene no trabalho;
c) igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu trabalho, a
categoria superior que lhes corresponda, sem outras considerações que as
de tempo de trabalho e capacidade;
d) o descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de trabalho e férias
periódicas remuneradas.

5.2.4. Direitos sociais

São prestações positivas proporcionadas pelo Estado direta ou indiretamente, que


possibilitam melhores condições de vida dos mais fracos, direitos que tendem a realizar a
igualização de situações sociais desiguais.

De acordo com o PIDESC, compreendem:

• Direito à vida digna (art. 11)

Art. 11
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa
a um nível vida adequado para si próprio e sua família, inclusive à
alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como a uma melhoria
contínua de suas condições de vida. Os Estados Partes tomarão medidas
apropriadas para assegurar a consecução desse direito, reconhecendo,
nesse sentido, a importância essencial da cooperação internacional fundada
no livre consentimento.
2. Os Estados Partes do presente pacto, reconhecendo o direito fundamental
de toda pessoa de estar protegida contra a fome, adotarão, individualmente
e mediante cooperação internacional, as medidas, inclusive programas
concretos, que se façam necessárias para:
a) melhorar os métodos de produção, conservação e distribuição de gêneros
alimentícios pela plena utilização dos conhecimentos técnicos e científicos,
pela difusão de princípios de educação nutricional e pelo aperfeiçoamento ou
reforma dos regimes agrários, de maneira que se assegurem a exploração e
a utilização mais eficazes dos recursos naturais;
b) assegurar uma repartição equitativa dos recursos alimentícios mundiais
em relação às necessidades, levando-se em conta os problemas tanto dos
países importadores quanto dos exportadores de gêneros alimentícios.

• Direito à saúde (art. 12)

Art. 12
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa
desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental.
2. As medidas que os Estados partes do presente Pacto deverão adotar com
o fim de assegurar o pleno exercício desse direito incluirão as medidas que
se façam necessárias para assegurar:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 21


.
a) a diminuição da mortalidade infantil, bem como o desenvolvimento das
crianças;
b) a melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio
ambiente;
c) a prevenção e tratamento das doenças epidêmicas, endêmicas,
profissionais e outras, bem como a luta contra essas doenças;
d) a criação de condições que assegurem a todos assistência médica e
serviços médicos em caso de enfermidade.

• Direito à educação (art. 13)

Art. 13
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa
à educação. Concordam em que a educação deverá visar o pleno
desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e
fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais.
Concordam ainda em que a educação deverá capacitar todas as pessoas a
participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais,
étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da
manutenção da paz.
2. Os Estados partes do Presente Pacto reconhecem que, com o objetivo de
assegurar o pleno exercício desse direito:
a) a educação primária deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a
todos;
b) a educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação
secundária técnica e profissional, deverá ser generalizada e tornar-se
acessível a todos, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela
implementação progressiva do ensino gratuito;
c) a educação de nível superior deverá igualmente tronar-se acessível a
todos, com base na capacidade de cada um, por todos os meios apropriados
e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito;
d) dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de
base para aquelas que não receberam educação primária ou não concluíram
o ciclo completo de educação primária;
e) será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede
escolar em todos os níveis de ensino, implementar-se um sistema de bolsas
estudo e melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente.
2. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a
liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de escolher
para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades
públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou
aprovados pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham a receber
educação religiosa ou moral que seja de acordo com suas próprias
convicções.
3. Nenhuma das disposições do presente artigo poderá ser interpretada no
sentido de restringir a liberdade de indivíduos e de entidades de criar e dirigir
instituições de ensino, desde que respeitados os princípios enunciados no §
1° do presente artigo e que essas instituições observem os padrões mínimos
prescritos pelo Estado.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 22


.
5.2.5. Direitos Culturais

Relacionados à participação do indivíduo na vida cultural de uma comunidade, bem como a


manutenção do patrimônio histórico-cultural, que concretiza sua identidade e a memória.

Segundo o art. 15 do PIDESC, são os direitos de participar da vida cultural e de conhecer


os avanços científicos.

Art. 15
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem a cada indivíduo o
direito de:
a) Participar da vida cultural;
b) desfrutar o progresso científico e suas aplicações;
c) beneficiar-se da proteção dos interesses morais e materiais decorrentes
de toda a produção científica, literária ou artística de que seja autor.
2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com
a finalidade de assegurar o pleno exercício desse direito aquelas necessárias
à conservação, ao desenvolvimento e à difusão da ciência e da cultura.
3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a
liberdade indispensável à pesquisa científica e à atividade criadora.
4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem os benefícios que
derivam do fomento e do desenvolvimento da cooperação e das ralações
internacionais no domínio da ciência e da cultura.

5.3. DIREITOS HUMANOS GLOBAIS

Tais direitos adquirem sua especificidade, em relação aos demais, diante da titularidade
coletiva ou difusa, pertencendo aos grupos sociais determinados, a um povo, ou mesmo, à
Humanidade inteira. Esta titularidade decorre do fato de que esses direitos objetivam proteger os
interesses que transcendem a órbita individual, o que os torna distintos dos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais, que, direta ou indiretamente, visam estabelecer e garantir a
liberdade individual.

Destes novos direitos, os que merecem maior destaque são o direito ao desenvolvimento e
o direito ao meio ambiente sadio.

Por ser o mais recente ramo surgindo no direito internacional dos direitos humanos, ele ainda
se encontra nos estágios iniciais de evolução, encontrando problemas quanto à precisão de seu
conteúdo. Em primeiro lugar, a noção de “povo” ainda é extremamente vaga, sendo apenas certo
que o critério quantitativo não é suficiente. Isso é fundamental ao se cuidar do direito à
autodeterminação, que curiosamente é previsto pelos pactos internacionais de 1966, embora não
se possa classificá-los como direitos civis e políticos, nem como econômicos, culturais e sociais.

6. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO

Há na Convenção de Viena uma regra geral (art. 31) e meios suplementares (art. 32) de
interpretação dos tratados. Observe:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 23


.
Art. 31, 1. Um tratado deve ser interpretado de boa-fé segundo o sentido
comum atribuível aos termos (interpretação gramatical ou semântica) do
tratado em seu contexto (interpretação sistemática) e à luz de seu objetivo e
finalidade (interpretação teleológica).

Art. 32 Pode-se recorrer a meios suplementares de interpretação, inclusive


aos trabalhos preparatórios do tratado e às circunstâncias de sua conclusão,
a fim de confirmar o sentido resultante da aplicação do artigo 31 ou de
determinar o sentido quando a interpretação, de conformidade com o artigo
31:
a) deixa o sentido ambíguo ou obscuro; ou
b) conduz a um resultado que é manifestamente absurdo ou desarrazoado.

A seguir iremos analisar os princípios de interpretação desenvolvidos pela doutrina e pela


jurisprudência, com base na regra geral.

6.1. PRINCÍPIO PRO HOMINE OU PRO PERSONA

Salienta-se que, inicialmente, tal princípio era chamado de pro homine. Contudo, após
inúmeras críticas, passou a ser chamado de pro persona, tendo em vista que é direcionado à
pessoa, independentemente de gênero.

Significa que todo tratado internacional de direitos humanos deve ser interpretado de forma
mais favorável à vítima. Perceba que é consequência do regime objetivo dos tratados internacionais
de direitos humanos, uma vez que a interpretação não deve beneficiar os Estados, os violadores
de direitos humanos, mas sim aqueles que têm seus direitos violados (vítimas).

Do princípio pro persona decorrerem dois subprincípios, quais sejam:

Primazia da norma Máxima efetividade


mais favorável (effet utile)

Diante do conforto entre uma norma de


direitos humanos e uma norma de Diante de duas ou mais interpretações
direitos fundamentais, prevista na de uma norma de direitos humanos, o
Constituição interna dos Estados, deve interprete deve utilizar a que mais
prevalecer a que for mais favorável à proteja e efetive os direitos humanos.
proteção dos direitos da pessoa.

6.2. PRINCÍPIO DA EFICÁCIA DIRETA OU DA AUTOEXECUTORIEDADE

Os Estados não podem alegar ausência de regulamentação interna para descumprirem uma
norma de direito internacional dos direitos humanos.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 24


.
Cita-se, como exemplo, a audiência de custódia. No início das discussões acerca do tema
(início de 2013), parte da doutrina sustentava que o art. 7.5 da CADH não podia ser diretamente
aplicado no Brasil, pois dependeria de uma normatização interna. Tal entendimento, claramente,
violava o princípio da eficácia direta.

6.3. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO AUTÔNOMA

Quando um tratado é redigido, seja no foro regional ou da ONU, deve considerar as diversas
experiencias jurídicas nacionais, por isso algumas expressões adquirem significado autônomo
(sentido próprio). Logo, o Estado não pode interpretar a partir de sua experiência interna, mas sim
com base naquele sentido próprio conferido pelo direito internacional dos direitos humanos.

Por exemplo, a expressão “comprovação legal da culpa” não pode ser interpretada como
trânsito em julgado.

6.4. PRINCÍPIO DA INTERPRETAÇÃO EVOLUTIVA OU DINÂMICA

O tratado internacional de direitos humanos um tratado deve ser interpretado não de acordo
com a época na qual foi redigido, mas de acordo com o momento da sua aplicação. Expressão
importante e já tratada em jurisprudência internacional, são que os tratados internacionais de
direitos humanos são instrumentos vivos, ou seja, são interpretados de forma dinâmica e
evolutiva.

Como exemplo, cita-se o caso discutido na Corte Interamericana de Direitos Humanos


(Artavia, Murillo e outros versus Costa Rica) que evolvia discussão acerca da fecundação in vitro.
Havia na Costa Rica lei proibindo a fecundação in vitro, na Corte entendeu-se que a partir do
momento em que a CADH protege a vida desde o momento da concepção a prática da fecundação
in vitro, na interpretação original, o descarte de embriões excedentes violaria o direito à vida. No
entanto, a Corte invocou o princípio da interpretação evolutiva e afirmou que quando o dispositivo
foi redigido não se aplicava ou se discutia técnicas de fecundação, mas, agora, deveria ser
interpretado como um dispositivo que evoluiu.

6.5. TEORIA DA MARGEM DE APRECIAÇÃO

A Teoria da Margem de Apreciação potencializa e prestigia o caráter subsidiário do sistema


internacional de proteção dos direitos humanos, o que torna excepcional a interferência do sistema
internacional de proteção na ordem jurídica interna.

Sustenta que questões polêmicas, relacionadas com as restrições estatais a direitos


protegidos devem ser discutidas e dirimidas pelas comunidades nacionais, não podendo o juiz
internacional apreciá-las.

É aplicada recorrentemente pela Corte Europeia de Direitos Humanos, mas de forma


excepcional pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Opinião Consultiva 27/2017 - sobre
questões de gênero e alterações de nome).

7. CARACTERÍSTICAS

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 25


.
7.1. INERÊNCIA

Decorre do fundamento jusnaturalista, traz a noção de que os direitos humanos são


inerentes a cada pessoa, pelo simples fato de existir como ser humano.

O reconhecimento da inerência é premissa racional para a construção da noção de direitos


humanos, porque a existência do ser humano livre, anterior à criação do estado, permite a limitação
da ação deste ou seu direcionamento para a criação de condições favoráveis à vida em sociedade.

Além disso, exerce a função de propiciar a constante alteração do sistema normativo dos
direitos humanos, sempre que se renovar ou ampliar o entendimento do que seja dignidade inerente
a todos os membros da família humana. É dizer que neste campo do Direito talvez mais que em
qualquer outro, a elaboração de suas normas tem em mente consolidar a noção atualizada da
dignidade fundamental do ser humano, fonte de seus direitos positivados, estabelecendo, desta
forma, um equilíbrio dinâmico entre direito natural e direito positivo.

Outra consequência fundamental é o caráter não taxativo dos direitos humanos até agora
reconhecidos, eis que, sendo inerentes aos seres humanos, em grupo ou individualmente, se
apresentam em constante mutação, acompanhando e interferindo na evolução social, regional e
global.

7.2. UNIVERSALIDADE

A concepção universal dos direitos humanos decorre da ideia de inerência. Significa que
estes direitos pertencem a todos os membros da espécie humana, sem qualquer distinção fundada
em atributos inerentes aos seres humanos ou na posição social que ocupem.

Tal concepção, embora consagrada nos documentos internacionais, é constantemente


questionada pelos adeptos do chamado “Relativismo Cultural”, corrente de pensamento minoritário
que vê os direitos humanos como fruto da evolução e cristalização dos valores da “civilização
ocidental”. Entendem que conferir ao direito internacional dos direitos humanos caráter cogente
implicaria uma tentativa de impor aos demais povos uma determinada “cultura”, prevalecente
apenas diante da conjuntura geopolítica. Em última instância, os direitos humanos universais fariam
parte de projetos imperialistas das potências ocidentais.

Porém, a desconsideração da dignidade fundamental de cada ser humano não tem fronteiras
e não tem lugar na cultura humana.

De acordo com Carlos Weis, citando José Augusto Alves, as afirmações de que a
Declaração Universal é um documento de interesse apenas ocidental, irrelevante e inaplicável em
sociedades com valores histórico-culturais distintos, são falsas e perniciosas. Falsa porque todas
as Constituições nacionais redigidas após a adoção da Declaração pela Assembleia Geral da ONU
nela se inspiraram ao tratar dos direitos e liberdades fundamentais, pondo em evidência, assim, o
caráter hoje universal de seus valores. Perniciosas porque abrem possibilidades à invocação do
relativismo cultural como justificativa para violações concretas dos direitos já internacionalmente
reconhecidos.

A universalidade dos direitos sociais pode ser entendida no contexto mais amplo da
dignidade humana, a que toda pessoa tem direito. Não há como pensar em respeito aos direitos

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 26


.
humanos sem que o Estado tome providências que lhe competem visando a assegurar a elevação
das condições de vida ao que se convencionou chamar de padrão mínimo de dignidade humana.

Segundo Caio Paiva, há duas propostas filosóficas para superar o suposto embate entre o
universalismo e o relativismo. Vejamos:

1ª Proposta (Boaventura de Souza Santos) – defende uma hermenêutica diatópica (aquilo


que varia conforme a geografia), partindo da ideia de multiculturalismo a fim de que os valores de
cada região sejam respeitados.

2ª Proposta (Herrera Flores) – defende o universalismo de chegada ou de confluência.


Sustenta que o universalismo não pode ser “de partida”, ou seja, as discussões de direitos humanos
não podem partir do universalismo, devem percorrer um caminho e assim chegar a tal ponto
universal.

7.3. INDIVISIBILIDADE E INTERDEPENDÊNCIA

Conferência Internacional de Teerã 13 – “Como os direitos humanos e as


liberdades fundamentais são indivisíveis, a realização dos direitos civis e
políticos sem o gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais torna-se
impossível”.

Viena 1993 “Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis,


interdependentes e inter-relacionados”

A indivisibilidade está ligada ao objetivo maior do sistema internacional de direitos humanos,


a promoção e garantia da dignidade humana. Não existe meio-termo: só há vida verdadeiramente
digna se todos os direitos previstos no direito internacional dos direitos humanos estiverem sendo
respeitados, sejam civis e políticos, sejam econômicos, sociais e culturais. Trata-se de uma
característica do conjunto de normas e não de cada direito individualmente considerado.

A interdependência diz respeito aos direitos humanos considerados em espécie, ao se


entender que certo direito não alcança a eficácia plena sem a realização simultânea de alguns ou
de todos os outros direitos humanos. E essa característica não distingue direitos civis e políticos
ou econômicos, sociais ou culturais, pois a realização de um direito específico pode depender (como
geralmente ocorre) do respeito e promoção de diversos outros, independentemente de sua
classificação.

7.4. TRANSNACIONALIDADE

Carlos Weiss afirma que esta característica é bem resumida por Dalmo de Abreu Dallari,
para quem: “os direitos fundamentais da pessoa humana são reconhecidos e protegidos por todos
os Estados, embora existam variações quanto à enumeração desses direitos, bem como quanto à
forma de protegê-los. Esses direitos não dependem da nacionalidade ou cidadania, sendo
assegurados a qualquer pessoa”.

Também tem como finalidade a proteção do ser humano quando lhe recusam uma
nacionalidade e a proteção estatal dela decorrente. Se à pessoa não for garantido os direitos

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 27


.
fundamentais, tem a ordem internacional o dever de intervir, em face do caráter transcendental dos
direitos humanos.

7.5. PROIBIÇÃO DO REGRESSO OU VEDAÇÃO DO RETROCESSO

Uma vez conferido o Estado não poderá retroceder, diminuir a sua proteção aos direitos
humanos em relação ao estágio em que esta tutela se encontra.

7.6. IMPRESCRITIBILIDADE

Os direitos humanos não podem ser atingidos pelo lapso temporal. Salienta-se que a
reparação do dano pode estar sujeita à prescrição.

Em 2002, o Brasil incorporou o Estatuto de Roma (Decreto 4.388/2002), que elenca como
crimes imprescritíveis os crimes contra a humanidade, crimes de guerra, genocídio e agressão.

Desta forma, o rol constitucional de imprescritibilidades é EXEMPLIFICATIVO, pois cuida de


direito fundamental que estabelece uma proteção mínima aos direitos humanos, podendo ser
ampliada. Assim, outros crimes imprescritíveis podem ser incluídos no rol do art. 5º da CF, desde
que o objetivo seja a proteção dos direitos humanos.

7.7. INALIENABILIDADE

Os direitos humanos não podem ser alienados, transferidos, ainda que com anuência de seu
titular, e qualquer manifestação de vontade nesse sentido é nula de pleno direito.

7.8. IRRENUNCIABILIDADE

Os direitos humanos são irrenunciáveis, não podem ser abdicados, abjurados, e qualquer
manifestação de vontade nesse sentido é nula de pleno direito.

7.9. EFETIVIDADE

Não basta o singelo reconhecimento pelo Estado dos direitos humanos; ele deve empregar
medidas efetivas para a sua aplicação.

7.10. HISTORICIDADE

Os direitos humanos são históricos, pois são construídos pela convivência coletiva, que teve
origem nos direitos civis e políticos – 1ª geração – se desenvolveram como direitos econômicos,
sociais e culturais – 2ª geração – e chegaram ao seu ápice na institucionalização das garantias
coletivas – 3ª geração.

7.11. LIMITABILIDADE RELATIVIDADE

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 28


.
Ao contrário do que imagina, a maioria dos direitos humanos podem ser relativizados, a
exemplo da liberdade de expressão, da liberdade de locomoção, dos direitos humanos. Há,
obviamente, alguns direitos humanos absolutos como, por exemplo, o direito de não ser torturado,
de não ser escravizado.

7.12. ABERTURA, NÃO TIPICIDADE OU INEXAURIBILIDADE

Sempre há possibilidade de novos direitos humanos surgirem, portanto, não existe um rol
taxativo de direitos humanos.

Nesse sentido, a CADH e a Constituição Federal:

CADH – Art. 29. C – Nenhuma disposição desta Convenção pode ser


interpretada no sentido de excluir outros direitos e garantas que são inerentes
ao ser humano ou que decorrem da forma democrática representativa de
governo

CF – Art. 5º, § 2º Os direitos e garantas expressos nesta Constituição não


excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou
dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja
parte

8. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O estudo da evolução histórica dos direitos humanos é complexo e extenso. Iremos analisar
aqui a evolução apresentada por André de Carvalho Ramos.

Obs.: É cobrado pouco, ficar atento ao edital.

8.1. FASE PRÉ-ESTADO CONSTITUCIONAL

8.1.1. A Antiguidade Oriental e o esboço da construção de direitos

Possuíam códigos de comportamento baseados no amor e respeito ao outro. Ex.: o código


de Hamurabi é considerado o primeiro código de condutas (anteriormente no Antigo Egito o Código
de Menes reconheceu alguns), preceituando esboços de direitos individuais, como a vida, a
propriedade; o budismo prega o bem comum e uma sociedade pacífica.

8.1.2. A visão grega e a democracia ateniense

Sua herança para os direitos humanos é expressiva. Ex.: direitos políticos na democracia
ateniense; ideais de igualdade e justiça em Platão e Aristóteles; reflexão sobre a superioridade de
determinadas normas.

8.1.3. A República Romana

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 29


.
A Lei das Doze Tábuas, ao estipular a lexscripta sedimentou o princípio da legalidade.
Ademais foram consagrados direitos como o de propriedade, liberdade, personalidade jurídica.
Ainda, a aceitação do jus gentium, direito aplicado a todos, foi um passo para a igualdade.

8.1.4. O Antigo e o Novo Testamento e as influências do cristianismo e da Idade


Média

A Torah apregoa a solidariedade e a preocupação com o bem-estar de todos. No Antigo


Testamento está clara a necessidade de respeito a todos, especialmente os vulneráveis. O Novo
Testamento apregoa a igualdade e solidariedade. Dentre os filósofos católicos destaca-se São
Tomás de Aquino que defendeu a igualdade dos seres humanos e a aplicação justa da lei.

8.1.5. Resumo da ideia dos direitos humanos na Antiguidade: a liberdade dos


antigos e a liberdade dos modernos

As normas do Estado pré-constitucional não asseguravam ao indivíduo direitos de


contenção ao poder estatal, inclusive por isso parte da doutrina afirma que não há regras de direitos
humanos nessa época, contudo se observa que há costumes e instituições sociais que enfatizam o
respeito a valores que estão contidos em normas atuais de direitos humanos.

8.2. CRISE DA IDADE MÉDIA, INÍCIO DA IDADE MODERNA E PRIMEIROS DIPLOMAS


DE DIREITOS HUMANOS

O poder dos governantes era ilimitado, por ser fundado na vontade dívida, contudo surgem
os primeiros movimentos de reivindicação de liberdades a determinados estamentos, surgindo
limitações aos poderes do rei, por exemplo: Magna Carta, Habeas Corpus Act, Bill of Rights.

8.3. DEBATE DAS IDEIAS DE HOBBERS, GRÓCIO, LOCKE, ROUSSEAU E OS


ILUMINISTAS

Em Leviatã, Hobbes trata do direito de ser humano, pelo qual no estado da natureza o
homem é livre de quaisquer restrições e não se submete a qualquer poder, contudo para sobreviver
(já que todos estão em confronto pelo homem ser lobo do próprio homem) o homem abdica dessa
liberdade e se submete ao poder estatal.

Hugo Grócio traz a ideia de reconhecimento de normas inerentes à condição humana.

Locke, em seguida, defende que o Estado exista para preservar os direitos dos homens e
para isso não precisa ser autocrático, como era para Hobbes. Locke foi um expoente do liberalismo
emergente.

Rousseau, na obra “Do contrato social”, defendeu uma vida em sociedade baseada em um
contrato (o pacto social) entre homens livres e iguais. Assim, o autor defendia um governo que
representasse a vontade da maioria e a inalienabilidade dos direitos humanos encontra eco em
seus textos, que, inclusive, combatem a escravidão. Seus ideais estão inseridos no Iluminismo,
junto com outros como Voltaire, Diderot e D’Alembert, que defendiam o uso da razão para dirigir a
sociedade em todos os aspectos, questionando o absolutismo e o viés religioso do poder.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 30


.
Kant defendeu a existência da dignidade intrínseca a todo ser racional, de modo que o
homem é um fim em si mesmo.

8.4. FASE DO CONSTITUCIONALISMO LIBERAL E DAS DECLARAÇÕES DE DIREITOS

As revoluções liberais (inglesa, americana e francesa) e suas declarações de direitos (Bill of


Rights,1689; só com a aprovação de 10 emendas em 1791 é que foram incluídos direitos na
Constituição Americana de 1787; Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão de
1789) marcaram a primeira clara afirmação histórica dos direitos humanos. A Declaração francesa
destacou-se por sua vocação universal, sendo o grande alicerce da afirmação dos direitos humanos
no século XX.

8.5. FASE DO SOCIALISMO E DO CONSTITUCIONALISMO SOCIAL

Os movimentos socialistas surgem no século XIX na Europa. No plano do constitucionalismo


os direitos sociais são introduzidos em diversas constituições, inicialmente no México em 1917,
depois na Alemanha em 1919 e no Brasil foi em 1934. Internacionalmente foi criada em 1919,
através do Tratado de Versailles, a primeira organização internacional voltada à melhoria das
condições de trabalho, a OIT.

8.6. INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Antes do pós Segunda Guerra Mundial, os tratados internacionais eram focados na questão
trabalhista e no combate à escravidão. Em 1945, na Conferência de São Francisco a ONU foi criada,
porém não foram listados os direitos considerados essenciais, de modo que em 1948 foi elaborada
a Declaração Universal de Direitos Humanos – doutrinariamente se discute se ela possui caráter
vinculante por ser uma interpretação do que é direitos humanos, previsto na Carta da ONU, que
tem caráter vinculante, ou se possui caráter vinculante por representar o costume internacional
sobre a matéria (opinião do autor); ou ainda há quem defenda que é apenas uma soft law (orientam
os Estados).

9. PRECEDENTES HISTÓRICOS DO DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS


HUMANOS

Há, basicamente, dois fatores que proporcionaram a internacionalização dos direitos


humanos, quais sejam:

• Superação do conceito tradicional e ilimitado de soberania estatal

• Redefinição do status do indivíduo como sujeito de direito internacional

9.1. DIREITO HUMANITÁRIO

De acordo com Caio Paiva, trata-se de “conjunto de princípios e regras que limitam o recurso
à violência em período de conflito armado, possuindo os seguintes objetivos: a) proteger as pessoas

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 31


.
que não participam diretamente das hostilidades ou que já deixaram de participar, como os
combatentes feridos, os náufragos, os prisioneiros de guerra e os civis; e b) limitar os efeitos da
violência nos combates destinados a atingir os objetivos do conflito “. Afirma, ainda, que a doutrina
também o conceitua como sendo “o elemento de direitos humanos do Direito da guerra”,
consistindo, portanto, no ramo do DIDH aplicável a conflitos armados internacionais e, em alguns
casos, a conflitos armados internos”.

Salientando que “o Direito Humanitário possui como fontes o “Direito de Genebra”, que
compreende as Convenções e Protocolos internacionais elaborados sob a supervisão do Comitê
Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e que diz essencialmente à respeito à proteção das vítimas
de conflitos; o “Direito da Haia”, que diz respeito às convenções adotadas durante as Conferências
de Paz realizadas em Haia (Holanda), tendo como preocupação os meios e métodos de guerra
autorizados; e o “Direito de Nova Iorque”, que compreende a atuação da ONU com vista a assegurar
o respeito pelos direitos humanos em caso de conflito armado e a limitar o recurso a certas armas”.

9.2. LIGA DAS NAÇÕES

Criada após o fim da 1ªGM, possuía como objetivo promover a paz, a cooperação e a
segurança internacional.

A doutrina considera que a Liga das Nações serviu como uma espécie de “laboratório” para
a constituição da Organização das Nações Unidas (ONU).

Entre os motivos para o seu insucesso, estão:

a) a ausência da nova potência mundial (EUA) entre os seus Estados membros;

b) a falta de vontade política entre os países membros;

c) o colonialismo ainda existente em várias partes do mundo;

d) a mudança na política alemã, com a ascensão de Hitler e de sua política de violação de


direitos humanos em 1933.

9.3. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Projeta o ser humano como sujeito de direito internacional, estabelece parâmetros mínimos
para a proteção do trabalhador, disciplinando a sua condição no plano internacional por meio de
diversas convenções.

10. EIXOS DE PROTEÇÃO

10.1. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

Proteção do ser humano em todos os aspectos, englobando direitos civis e políticos e


direitos sociais, econômicos e culturais.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 32


.
10.2. DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

Foca na proteção do ser humano na situação específica dos conflitos armados


(internacionais e não internacionais)

10.3. DIREITO INTERNACIONAL DOS REFUGIADOS

Age na proteção do refugiado, desde a saída do seu local de residência, concessão do


refúgio e seu eventual término.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 33


.
TEORIA GERAL DOS SISTEMAS INTERNACIONAIS DE
PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

O estudo dos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos é um dos mais
cobrados em concursos públicos, por isso merece sua atenção.

1. ELEMENTOS CARACTERIZADORES

Há, pelo menos, três elementos que caracterizam os sistemas de proteção: normas, órgãos
e mecanismos.

1.1. NORMAS

Um sistema internacional de direitos humanos deve possuir uma codificação de direitos


humanos por meio de tratados, convenções, declarações, bem como uma organização internacional
que o constituía.

Por exemplo, no Sistema Global há a Organização das Nações Unidas que abriga todos os
órgãos e normas de proteção.

Segundo Aline Albuquerque e Aléssia Barroso (citadas por Caio Paiva), “as normas são o
conjunto de tratados, declarações, princípios e outras normativas de direitos humanos que integram
os Sistemas Internacionais de DH.”

1.2. ÓRGÃOS

Igualmente, não há sistema internacional de direitos humanos quando não existe órgãos que
monitorem tais direitos. No caso da ONU, por exemplo, há órgãos convencionais e extra
convencionais.

De acordo com Aline Albuquerque e Aléssia Barroso (citadas por Caio Paiva), “um órgão se
caracteriza como político quando não recebe comunicação ou petição individual e, em
consequência, não profere decisão acerca de casos específicos cujo conteúdo versa sobre a
responsabilidade do Estado por violação de direitos humanos. Um órgão é quase judicial quando
processa petições e comunicações individuais e desse processamento resulta uma decisão que
consubstancia em recomendações, as quais pressupõem a responsabilização internacional do
Estado. E, por fim, os órgãos judiciais detêm o poder jurisdicional, logo, proferem sentenças”

1.3. MECANISMOS DE PROTEÇÃO

São meios de monitoramento para a observância e a aplicação dos direitos humanos, poderá
ser convencional ou extra convencional.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 34


.
2. ESPÉCIES DE SISTEMA INTERNACIONAL

Atualmente, existem quatro sistemas de proteção internacional dos direitos humanos: um de


abrangência GLOBAL (sistema ONU) e três de abrangência REGIONAL (Interamericano, Europeu,
Africano).

Ainda não há sistemas de proteção nos países da Ásia e Árabes.

Em momento oportuno, analisaremos cada um deles.

3. PRINCÍPIOS

3.1. PRINCÍPIO DA COEXISTÊNCIA

O sistema global coexiste com os sistemas regionais, ou seja, devem conviver em harmonia,
tendo em vista que são complementares.

Conforme Flávia Piovesan (citada por Caio Paiva), “os sistemas global e regional não são
dicotômicos, mas complementares. Inspirados pelos valores e princípios da Declaração Universal,
compõem o universo instrumental de proteção dos direitos humanos no plano internacional. Nessa
ótica, os diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos indivíduos
protegidos. Ao adotar o valor da primazia da pessoa humana, tais sistemas se complementam,
somando-se ao sistema nacional de proteção, a fim de proporcionar a maior efetividade possível na
tutela e promoção de direitos fundamentais. Essa é, aliás, a lógica e a principiologia próprias do
Direito dos Direitos Humanos”

3.2. PRINCÍPIO DA LIVRE ESCOLHA

A vítima de uma violação de direitos humanos possui a opção de demandar contra o Estado
no sistema global ou no sistema regional, desde que o país tenha aceitado a competência
contenciosa dos mecanismos de proteção.

3.3. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE OU DA COMPLEMENTARIEDADE

Os sistemas internacionais de proteção aos direitos humanos atuam apenas quando não
houver proteção efetiva no direito interno ou quando a proteção houver falhado. Por isso, é
caracterizado pela subsidiariedade já que para se acessar um tribunal internacional de direitos
humanos a vítima deve comprovar que esgotou os recursos internos.

Obs.: Deve-se esgotar todos os recursos, inclusive os extraordinários. Embora a Comissão


Interamericana já tenha admitido uma petição contra o Brasil na pendência do julgamento de um
RE, diante da demora injustificada.

FÓRMULA DA QUARTA INSTÂNCIA – a Corte Interamericana não pode funcionar como um


Tribunal de revisão das decisões dos tribunais internos, ou seja, discutir sobre a justiça ou injustiça
de uma decisão. Apenas analisa se houve ou não violação de direitos humanos.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 35


.
3.4. PRINCÍPIO DA COOPERAÇÃO

Os Estados devem cooperar com os sistemas internacionais dos direitos humanos para uma
melhor solução do deslinde. Destaca-se que o Estado pode defender-se, a fim de buscar sua
absolvição perante os mecanismos de proteção.

No entender de Aline Albuquerque e Aléssia Barroso (citadas por Caio Paiva), “cabe ao
Estado envidar o máximo de esforços no sentido de cumprir seus compromissos internacionais e,
pois, à luz da Convenção de Viena sobre os Direitos dos Tratados, todo tratado em vigor obriga as
partes e deve ser cumprido por elas de boa-fé, o que implica conferir efeito razoável e útil à norma
internacional ao qual se vinculou voluntariamente. Desse modo, tendo em conta a adesão de um
Estado a determinado Sistema Internacional de DH, ele detém a obrigação internacional de respeito
aos direitos humanos reconhecidos no tratado, convenção ou em qualquer ato normativo ao qual
se vinculou. Nessa linha, o princípio da cooperação e do diálogo aponta para a atuação do Estado
e dos órgãos de direitos humanos, ou seja, ambos devem atuar de modo harmônico e amigável em
prol da efetivação dos direitos humanos, conseguintemente, posturas beligerantes e contenciosas
não são bem recepcionadas na esfera dos Sistemas Internacionais de DH”

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 36


.
SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1.1. CARTA DE SÃO FRANCISCO

Em 1945, com o fim da 2ª Guerra Mundial, a comunidade política e jurídica internacional, a


fim de evitar que novamente os flagelos da guerra atingissem pela terceira vez os direitos humanos,
criaram o Sistema Global ou Universal dos Direitos Humanos.

Tal Sistema nasceu com a constituição da ONU (Organização das Nações Unidas), em junho
de 1945, com a edição da Carta das Nações Unidas (também chamada de Carta de São Francisco
ou Carta da ONU).

Obs.: A Carta da ONU é um Tratado, foi aderido pelo Brasil por meio de promulgação do Decreto
19.841/1945.

Salienta-se que a expressão “direitos humanos” é pouco citada ao longo da Carta de São
Francisco, não há um catálogo de direitos humanos, a sua intenção principal foi a constituição da
ONU.

1.2. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS

A DUDH faz parte da Carta Internacional de Direitos Humanos, possuindo um catálogo de


direitos humanos protegidos pela Organização das Nações Unidas e seus mecanismos de proteção.

Em momento oportuno, iremos analisar a Declaração detalhadamente.

1.3. PACTOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

Os pactos internacionais constituem o mais abrangente catálogo de direitos humanos hoje


existentes, de aplicação universal, complementando e aprofundando muitos dispositivos da
Declaração Universal de 1948.

Para a elaboração de pactos distintos foram utilizados os seguintes argumentos:

1º Direitos civis e políticos têm natureza distinta dos direitos econômicos, culturais e sociais,
especialmente porque os primeiros seriam de aplicação imediata (passíveis de cobrança), enquanto
os demais seriam realizáveis progressivamente, sem que se pudesse exigir do Estado a sua
concretização.

2º Diz respeito aos mecanismos de supervisão. Os direitos civis e políticos deveriam ser
implementados imediatamente (referem-se às liberdades individuais), sua violação poderia ser
denunciada a um órgão fiscalizador (posteriormente denominado de Comitê de Direitos Humanos).
Por outro lado, os econômicos, sociais e culturais se realizariam apenas diante da cooperação
internacional e dos esforços de cada Estado, não sendo possível a aplicação do sistema de
denúncias.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 37


.
Contudo, tentativa de partir os direitos humanos em duas categorias com importância
desigual foi posta por terra menos de dois anos após a adoção dos pactos internacionais, na
Conferência Mundial realizada em Teerã em 1968, em que se afirmou peremptoriamente a
indivisibilidade dos direitos humanos: “13 – Como os direitos humanos e as liberdades fundamentais
são indivisíveis, a realização dos direitos civis e políticos sem o gozo dos direitos econômicos,
sociais e culturais torna-se impossível”.

Da análise comparada dos pactos percebem-se a semelhança dos preâmbulos, enfatizando


a inerência dos direitos humanos aos seres humanos e a inalienabilidade da liberdade e da
igualdade humana, e a perfeita identidade dos arts. 1º, introduzindo o direito à autodeterminação
dos povos, ausente no texto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, mas decorrente do
propósito da ONU de desenvolver relações amistosas entre as nações.

ARTIGO 1º
1. Todos os povos têm direito à autodeterminação. Em virtude desse direito,
determinam livremente seu estatuto político e asseguram livremente seu
desenvolvimento econômico, social e cultural.
2. Para a consecução de seus objetivos, todos os povos podem dispor
livremente de suas riquezas e de seus recursos naturais, sem prejuízo das
obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional, baseada no
princípio do proveito mútuo, e do Direito internacional. Em caso algum,
poderá um povo ser privado de seus meios de subsistência.
3. Os Estados partes do presente pacto, inclusive aqueles que tenham a
responsabilidade de administrar territórios não-autônomos e territórios sob
tutela, deverão promover o exercício do direito à autodeterminação e
respeitar esse direito, em conformidade com as disposições da Carta das
nações unidas.

De outro lado, a diferença fundamental entre os pactos é justamente aquela que originou a
edição de dois documentos distintos, estampada nos respectivos arts. 2º. Enquanto o PIDCP cria a
obrigação estatal de “tomar as providências necessárias”, inclusive de natureza legislativa, para
“garantir a todos os indivíduos que se encontrem no território e que estejam sujeitos à sua jurisdição
os direitos reconhecidos no presente Pacto”, o tratado referente aos direitos econômicos, sociais e
culturais, também no art. 2º, prevê a adoção de medidas, tanto por esforço próprio como pela
cooperação e assistência internacionais, “que visem a segurar, progressivamente, por todos os
meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto”.

PIDCP - ARTIGO 2º
1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar e a
garantir a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam
sujeito a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem
discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião política
ou outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica,nascimento
ou qualquer outra condição.
2. Na ausência de medidas legislativas ou de outra natureza destinadas a
tornar efetivos os direitos reconhecidos no presente Pacto, os Estados do
presente Pacto comprometem-se a tomar as providências necessárias com
vistas a adota-las, levando em consideração seus respectivos procedimentos
constitucionais e as disposições do presente Pacto.
3. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 38


.
a) garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reconhecidos no
presente pacto tenham sido violados, possa dispor de um recurso efetivo,
mesmo que a violência tenha sido perpetrada por pessoa que agiam no
exercício de funções oficiais;
b) garantir que toda pessoa que interpuser tal recurso terá seu direito
determinado pela competente autoridade judicial, administrativa ou legislativa
ou por qualquer outra autoridade competente prevista no ordenamento
jurídico do Estado em questão; e a desenvolver as possibilidades de recurso
judicial;
c) garantir o cumprimento, pelas autoridades competentes, de qualquer
decisão que julgar procedente tal recurso.

PIDESC - ARTIGO 2º
1. Cada Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a adotar
medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação
internacionais, principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo
de seus recursos disponíveis, que visem assegura, progressivamente, por
todos os meios apropriados, o, pleno exercício e dos direitos reconhecidos no
presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativa.
2. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a garantir que os
direitos nele enunciados se exercerão sem discriminação alguma por motivo
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza,
origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra
situação.
3. Os países em desenvolvimento, levando devidamente em consideração os
direitos humanos e a situação econômica nacional, poderão determinar em
que medida garantirão os direitos econômicos reconhecidos no presente
Pacto àqueles que não sejam seus nacionais

Porém, ainda que se entenda que tais direitos não possam ser inaugurados imediatamente,
por demandarem uma série de medidas estatais relacionadas com uma política pública, não se
pode daí inferir que não surja para os cidadãos de um dado Estado-Parte no Pacto Internacional
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais o direito subjetivo de exigir a sua implementação,
especialmente tendo em vista a melhoria de uma situação específica que viole a dignidade
fundamental dos seres humanos, ao se mostrar contrária aos patamares mínimos estatuídos pelo
Pacto ou por outros de natureza semelhante.

1.4. MECANISMOS DE PROTEÇÃO

Assim como a Carta de São Francisco (para corrente minoritária), a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, os mecanismos de proteção integram a Carta de
Proteção dos Direitos Humanos.

Em 1966, editou-se o Protocolo Facultativo ao PIDCP e em 2008, foi editado o Protocolo


Alternativo ao PIDESC, atribuindo aos respectivos Comitês competências de monitoramento dos
direitos humanos.

2. ARQUITETURA NORMATIVA DO SISTEMA GLOBAL

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 39


.
O Sistema Global não se esgota na Carta Internacional de Direitos Humanos (DUDH, Pactos
Internacionais e mecanismos de proteção), possui tratados temáticos específicos (mulher, tortura,
refugiados etc.). Além disso, incluem-se os documentos soft law, a exemplo de declarações,
princípios básicos, regras mínimas e diretrizes.

3. ESTRUTURA DA ONU

A ONU foi criada em 1945, pela Carta das Nações Unidas. Possui natureza jurídica de
organização internacional e personalidade jurídica de direito internacional público.

De acordo com o Decreto 19.841/1945, os propósitos da ONU são:

• Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar, coletivamente,


medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou outra
qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos e de conformidade com os
princípios da justiça e do direito internacional, a um ajuste ou solução das controvérsias
ou situações que possam levar a uma perturbação da paz;

• Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de


igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas
apropriadas ao fortalecimento da paz universal;

• Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de


caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito
aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça,
sexo, língua ou religião; e

• Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses
objetivos comuns.

A Organização e seus Membros (Estados que tenham assinado e ratificado a Carta de São
Francisco), para a realização dos propósitos mencionados, agirão de acordo com os seguintes
Princípios:

• A Organização é baseada no princípio da igualdade de todos os seus Membros.

• Todos os Membros, a fim de assegurarem para todos em geral os direitos e vantagens


resultantes de sua qualidade de Membros, deverão cumprir de boa-fé as obrigações por
eles assumidas de acordo com a presente Carta.

• Todos os Membros deverão resolver suas controvérsias internacionais por meios


pacíficos, de modo que não sejam ameaçadas a paz, a segurança e a justiça
internacionais.

• Todos os Membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o uso


da força contra a integridade territorial ou a dependência política de qualquer Estado, ou
qualquer outra ação incompatível com os Propósitos das Nações Unidas.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 40


.
• Todos os Membros darão às Nações toda assistência em qualquer ação a que elas
recorrerem de acordo com a presente Carta e se absterão de dar auxílio a qual Estado
contra o qual as Nações Unidas agirem de modo preventivo ou coercitivo.

• A Organização fará com que os Estados que não são Membros das Nações Unidas ajam
de acordo com esses Princípios em tudo quanto for necessário à manutenção da paz e
da segurança internacionais.

• Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em


assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará
os Membros a submeterem tais assuntos a uma solução.

Por fim, salienta-se que são órgãos principais da ONU a Assembleia Geral, o Conselho de
Segurança, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela (não está mais em
funcionamento), a Corte Internacional de Justiça e o Secretariado. Nada impede que outros órgãos,
de natureza subsidiária, sejam criados, como exemplo cita-se: o Alto Comissariado das Nações
Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA).

4. MECANISMOS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

4.1. CONCEITO

Há mecanismos de proteção convencionais e mecanismos de proteção extraconvencionais.


Observe o conceito de cada um deles:

Mecanismos convencionais encontram sua base normativa, sua estrutura orgânica e seu
modo de funcionamento em tratados ou convenções internacionais de direitos humanos, a exemplo
dos mecanismos de relatórios periódicos, de petições individuais previstos no PIDCP, monitorados
pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU.

Por outro lado, os mecanismos extraconvencionais são aqueles em que a base normativa,
a estrutura orgânica e seu modo de funcionamento não decorrem diretamente de tratados e
convenções internacionais de direitos humanos, mas sim de uma resolução ou de um ato normativo
de Órgãos Políticos das Nações Unidas, a exemplo do mecanismo de revisão periódica universal,
monitorado pelo Conselho de Direitos Humanos.

4.2. MECANISMOS CONVENCIONAIS x MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS

Antes da análise pormenorizada de cada mecanismo, observe o quadro elaborado pelo


Professor Caio Paiva com as diferenças entre cada mecanismo.

MECANISMOS CONVENCIONAIS MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 41


.
São criados por tratados internacionais São criados a partir de resoluções de órgãos
específicos. políticos da ONU.

A apresentação de petições individuais


A apresentação de denúncias por indivíduos
perante os comitês internacionais depende
ou grupos de indivíduos não depende da
da ratificação do tratado respectivo pelo
ratificação de convenções específicas
Estado denunciado.

Usualmente, a apresentação de petições


depende, ainda, de uma declaração de Não depende, tampouco, de declaração
reconhecimento da vigência de uma relativa a cláusulas facultativas ou de
cláusula facultativa do tratado ou da ratificação de protocolo adicional.
ratificação de um protocolo adicional.

As petições individuais podem versar


A apresentação de denúncias pode versar
apenas sobre os direitos previstos no
sobre quaisquer direitos humanos
tratado específico

4.3. MECANISMOS CONVENCIONAIS

No caso de mecanismos convencionais, os órgãos de monitoramento são os Comitês


vinculados aos tratados que os criaram, composto por especialistas independentes e não por
representantes dos Estados, com reconhecida competência na matéria de direitos humanos, eleitos
por voto secreto dos Estados Partes das respectivas convenções e têm em comum quatro funções:

• Receber, examinar e emitir pareceres sobre os relatórios dos Estados-Partes acerca dos
mecanismos implementados em seus territórios para aplicação dos tratados
internacionais.

• Elaborar Comentários Gerais para auxiliar os Estados-Partes a aplicar os tratados


internacionais, determinando suas obrigações.

• Decidir acerca de denúncias de descumprimento dos tratados internacionais


apresentadas por um Estado-Parte contra outro;

• Emitir decisões sobre as denúncias de descumprimento dos tratados internacionais


constantes das petições ou comunicações individuais a eles apresentadas.

De acordo com Caio Paiva, atualmente, existem 10 Comitês no Sistema Global. Observe o
quadro abaixo:

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.
TRATADO INTERNACIONAL
ÓRGÃO DE MONITORAMENTO ÓRGÃO DE MONITORAMENTO
DE DIREITOS HUMANOS

Pacto Internacional de Direitos


Relatórios, petição individual e
Civis e Políticos e seus Comitê de Direitos Humanos
petição interestatal
protocolos facultativos

Pacto Internacional de Direitos


Comitê de Direitos Econômicos, Relatórios, inquérito, petição
Econômicos, Sociais e
Sociais e Culturais individual e petição interestatal.
Culturais

Convenção Internacional sobre


Comitê para a Eliminação da Relatórios, petição individual e
a eliminação de todas as
Discriminação Racial petição interestatal
formas de discriminação racial

Convenção sobre a eliminação


de todas as formas de Comitê para a Eliminação da Relatórios, inquérito e petição
discriminação contra a mulher Discriminação contra a Mulher individual.
e seu protocolo facultativo

Convenção contra a tortura e


outros tratamentos ou penas Relatórios, inquérito, petição
Comitê contra a Tortura
cruéis, desumanos ou individual e petição interestatal.
degradantes

Convenção sobre os direitos


Relatórios, inquérito, petição
da criança e seus protocolos Comitê dos Direitos da Criança
individual e petição interestatal.
facultativos

Convenção internacional sobre Comitê para a Proteção dos


a proteção dos direitos de Direitos de todos os Relatórios, petição individual e
todos os trabalhadores Trabalhadores Migrantes e seus petição interestatal.
migrantes e de suas famílias Familiares

Convenção internacional sobre


Comitê dos Direitos das Pessoas Relatórios, inquérito e petição
os direitos das pessoas com
com Deficiência individual.
deficiência

Convenção internacional para


Relatórios, inquérito, ações
a proteção de todas as Comitê contra os
urgentes, petição individual e
pessoas contra os Desaparecimentos Forçados
petição interestatal.
desaparecimentos forçados

Visitas e recomendações; e
Subcomitê para a Prevenção da
aconselhamentos,
Protocolo Facultativo da Tortura ou outros Tratamentos ou
recomendações e cooperação
Convenção contra a Tortura Penas Cruéis, Desumanos ou
em relação aos Mecanismos
Degradantes
Preventivos Nacionais.

4.3.1. Mecanismos convencionais não contenciosos

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 43


.
O principal mecanismo convencional não contencioso é o relatório periódico, não possui
natureza coercitiva.

Os Estados, ao ratificarem os tratados internacionais de direitos humanos produzidos no


âmbito da ONU, obrigam-se a enviar relatórios aos Comitês, periodicamente (nos prazos informados
em cada tratado), informando medidas – legislativas, judiciais, administrativas ou de outra natureza
– realizadas para respeitar e garantir os direitos protegidos Direitos Humanos previstos nos tratados.

É inserido como uma cláusula obrigatória, não se admite que o Estado faça reservas.

A finalidade é preventiva.

4.3.2. Mecanismos convencionais quase-contenciosos

As petições interestaduais e individuais são os principais mecanismos convencionais quase-


contenciosos.

Por meio das petições interestatais, um Estado pode apresentar contra outro Estado uma
denúncia perante os comitês, acusando-o da violação de direitos humanos. O procedimento
desenvolve-se no âmbito de uma Comissão Especial criada para buscar a conciliação entre os
Estados Partes denunciante e denunciado. A Comissão, ao final do procedimento, apresenta um
relatório final com recomendações sobre a solução do litígio, sem que possa “impor” uma solução
concreta aos Estados.

Por meio das petições individuais, a vítima assume a condição de sujeito de direito perante
o Direito Internacional dos Direitos Humanos e pode apresentar uma denúncia contra o Estado Parte
junto aos comitês dos tratados. Trata-se de um mecanismo facultativo para os Estados Partes,que
podem aceitá-lo, a depender do tratado, mediante declaração especial ou ratificando o protocolo
facultativo.

Em regra, para que uma petição individual seja processada pelo comitê, são exigidos os
seguintes requisitos:

• Ausência de litispendência internacional (somente entre órgãos convencionais);

• Esgotamento dos recursos internos;

• Nexo causal - a denúncia deve ter como objeto uma violação de direito humanos
protegido pelo tratado que criou o respectivo comitê);

• O fato deve ter ocorrido posteriormente ao reconhecimento da competência do comitê.

O procedimento de análise da petição individual possui contraditório e tem três fases:


admissibilidade, mérito e se procedente a denúncia haverá decisão.

O Brasil já foi responsabilizado uma vez no mecanismo convencional quase-contencioso das


petições individuais (Caso Alyne Pimentel, Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher) e responde, atualmente, a uma denúncia formulada pelo ex-
presidente Lula junto ao Comitê de Direitos Humanos da ONU.

4.3.3. Mecanismos convencional contencioso

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 44


.
Não é muito relevante, destaca-se apenas que o principal mecanismo convencional
contencioso é o processo judicial de apuração de responsabilidade do Estado perante a Corte
Internacional de Justiça.

4.4. MECANISMOS EXTRACONVENCIONAIS

Como vimos, não decorrerem diretamente de um tratado ou convenção internacional, mas


sim de resoluções de órgãos políticos da ONU ou deles derivados. Surgiram no contexto de
ineficácia dos mecanismos convencionais, tendo em vista que estavam sujeitos a diversas
condicionantes.

A Comissão de Direitos Humanos, criada em 1947 pelo Conselho Econômico e Social, a


partir de sua fase intervencionista por meio de dois procedimentos, criados por resolução para
estabelecer um sistema de controle das violações de direitos humanos praticadas por Estados
membros da ONU, dá início aos mecanismos extraconvencionais.

• Resolução nº 1235, de 1967 - autorizou a Comissão de Direitos Humanos a debater


publicamente, a partir de diversas fontes, inclusive de comunicações individuais, casos
de violações notórias e sistemáticas de direitos humanos. Também conhecido como
procedimento público ou especial, se desenvolve com a indicação de grupos especiais
(natureza coletiva) ou de relatores especiais (natureza unipessoal) para determinados
temas (natureza temática) ou área geográfica (natureza geográfica). Esses órgãos
recebem a incumbência de investigar as notícias de violações de direitos humanos, com
a posterior elaboração de relatórios finais contendo as recomendações para os Estados

• Resolução nº 1503, de 1970 - autorizou a Comissão de Direitos Humanos a receber e


processar petições ou queixas individuais. O objetivo desse procedimento, de natureza
confidencial, era identificar as comunicações que indiquem a existência de um quadro
persistente de violações manifestas de direitos humanos e das liberdades fundamentais.
A violação manifesta consiste em uma situação que afete muitas pessoas por um período
dilatado.

Em 2006, a Comissão de Direitos Humanos foi extinta, tendo sido criado o Conselho de
Direitos Humanos. Segundo Caio Paiva, o motivo principal de sua extinção foi a sua grande
politização.

4.4.1. Procedimentos especiais

O Conselho de Direitos Humanos manteve os procedimentos especiais ou públicos


conforme foram previstos inicialmente na Resolução nº 1235, tendo havido apenas alterações na
forma de trabalhar.

4.4.2. Procedimento de queixa

O Conselho de Direitos Humanos manteve o procedimento de queixa, mas alterou a forma


de trabalho como estava prevista na Resolução nº 1503, visando assegurar que o processamento
da denúncia seja imparcial, objetivo e eficiente.

O Conselho aponta como vantagens do uso do seu procedimento de queixa:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 45


.
• Pode-se apresentar uma denúncia contra qualquer país membro da ONU,
independentemente de que este tenha ratificado algum tratado;

• A denúncia pode ser examinada no nível mais alto do mecanismo de direitos humanos
das Nações Unidas;

• O fato de o procedimento ser confidencial potencializa a cooperação dos Estados

Ressalta-se que há dois grupos de trabalho, são eles:

• Grupo de Trabalho sobre Comunicações, que realiza uma triagem no recebimento das
queixas, examinando o preenchimento dos requisitos de admissibilidade;

• Grupo de Trabalho sobre Situações, que analisa as queixas e as respostas dos Estados,
bem como eventuais recomendações do Grupo de Comunicações, apresentando ao final
um relatório ao Conselho de Direitos Humanos, que irá deliberar sobre a queixa.

4.4.3. Revisão periódica universal

A Revisão Periódica Universal (RPU) foi criada através da Resolução 60/251 da Assembleia-
Geral das Nações Unidas, que estabeleceu o Conselho de Direitos Humanos.

Consiste em um mecanismo extraconvencional de proteção dos direitos humanos que se


baseia no conceito de “revisão pelos pares”, ou seja, os Estados se autoavaliam mutuamente quanto
a situação dos direitos humanos em seus respectivos territórios, gerando, ao final, um conjunto de
recomendações. Perceba que a RPU não tem como objetivo assentar a responsabilidade
internacional dos Estados, mas apenas gerar recomendações mediante um “diálogo construtivo”,
ressaltando daí a sua natureza essencialmente política.

Importante consignar que o procedimento da RPU obedece a seguinte ordem:

1) O Estado examinado apresenta relatório nacional sobre a situação dos direitos humanos
em seu território;

2) É juntado ao procedimento uma compilação de todas as informações referentes ao Estado


examinado constante dos procedimentos extraconvencionais;

3) ONGs e outros atores interessados também podem apresentar seus informes e outros
documentos relevantes;

4) É realizada uma sessão de “diálogo construtivo” entre o Estado e os demais Estados


membros da ONU (membros ou não do Conselho);

5) São nomeados pelo Conselho três Estados (escolhidos entre os diversos grupos
regionais, por sorteio), conhecido como “troika”, que atuam como verdadeiros relatores da RPU do
Estado examinado;

6) A “troika” resume as discussões e elabora o Relatório de Resultado ou Relatório Final,


compilando toda a discussão, observações e sugestões aos Estados, bem como as respostas;

7) O relatório é aprovado pelo CDH.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 46


.
Por sim, destaca Caio Paiva: “a vantagem da RPU é a sua abrangência, que se estende a
todos os países membros da ONU, no que se diferencia dos procedimentos anteriormente adotados
pela Comissão de Direitos Humanos, aos quais se atribuía a característica da seletividade, fazendo
com que países reconhecidamente violadores de direitos humanos ficassem de fora do
monitoramento. Como desvantagem da RPU, aponta-se o seu caráter essencialmente político, e
isso porque esse procedimento extraconvencional aposta em algo que contradiz a história da
evolução dos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos, que diz respeito ao
julgamento dos Estados por eles mesmos, e não por órgãos ou tribunais compostos por
especialistas independentes”.

5. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH)

A DUDH foi aprovada em 10 de dezembro de 1948, não foi subscrita por todos os Países-
membros das Nações Unidas quando de sua proclamação, sendo notável o silêncio dos Países
aliados à União Soviética, provocando oito abstenções dentre os 58 Países então membros.

No preâmbulo da Declaração Universal, de 1948, encontra-se a motivação para a


elaboração de um documento universal sobre os direitos humanos, sendo a mesma motivação que
levou a criação da ONU.

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os


membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o
fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,
Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos
resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e
que o advento de um mundo em que os homens gozem de liberdade de
palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da
necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homem comum,
Considerando essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo
Estado de Direito, para que o homem não seja compelido, como último
recurso, à rebelião contra tirania e a opressão,
Considerando essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas
entre as nações,
Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua
fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoa
humana e na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, e que
decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma
liberdade mais ampla,
Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a desenvolver,
em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos
humanos e liberdades fundamentais e a observância desses direitos e
liberdades,
Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é
da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,
A Assembleia Geral proclama
A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum
a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que
cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta
Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 47


.
respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas
progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu
reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os
povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios
sob sua jurisdição.

Aliado a isso, havia a necessidade de dar concretude aos direitos humanos e liberdades
fundamentais referidos na Carta da ONU2 (art. 1ª, 3).

Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são:


1. Manter a paz e a segurança internacionais e, para esse fim: tomar,
coletivamente, medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos
de agressão ou outra qualquer ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos
e de conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a
um ajuste ou solução das controvérsias ou situações que possam levar a uma
perturbação da paz;
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao
princípio de igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar
outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
3. Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas
internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para
promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades
fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião; e
4. Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a
consecução desses objetivos comuns.

Afirma-se que o significado da DUDH decorre dos próprios objetivos da criação das Nações
Unidas, relacionados com a reconstrução da ordem mundial fundada em novos conceitos de direito
internacional, contrários à doutrina da soberania nacional absoluta e à exacerbação do positivismo
jurídico.

Pretendia-se formular um rol atualizado dos direitos humanos, com a criação de obrigações
para os Estados em decorrência da normativa internacional.

Carlos Weis, citando Dalmo Abreu Dallari, afirma que o exame dos artigos da Declaração
revela que ela consagrou três objetivos fundamentais:

• A certeza dos direitos, exigindo que haja uma fixação prévia e clara dos direitos e
deveres, para que os indivíduos possam gozar dos direitos ou sofrer imposições;

• A segurança dos direitos, impondo uma série de normas tendentes a garantir que, em
qualquer circunstância, os direitos fundamentais serão respeitados;

• A possibilidade dos direitos, exigindo que se procure assegurar a todos os indivíduos


os meios necessários à fruição dos direitos, não se permanecendo no formalismo cínico
e mentiroso da afirmação de igualdade de direitos aonde grande parte do povo vive em
condições subumanas.

2 Também chamada de Carta de São Francisco, é de 1945. É um tratado internacional - fala em DH, mas não define seu
conteúdo.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 48


.
A DUDH possui natureza jurídica de recomendação da Assembleia-Geral, com caráter
especial, diante de sua universalidade e solenidade.

Foi o primeiro documento internacional a tratar dos direitos humanos, tanto civis e políticos
quanto econômicos, sociais e culturais, de maneira indivisível, ainda que tenha reconhecido sua
distinta natureza jurídica.

Apresentou como novidade: a proibição à escravidão e à tortura; o reconhecimento da


personalidade jurídica; o direito ao asilo e à nacionalidade. Além disso, fez menção ao direito de
propriedade, seja com titularidade individual, seja coletiva.

Artigo IV - Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão


e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.
Artigo V - Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo
cruel, desumano ou degradante.
Artigo VI - Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares,
reconhecida como pessoa perante a lei.
Artigo XIV - 1. Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar
e de gozar asilo em outros países. 2. Este direito não pode ser invocado em
caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou
por atos contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XV - 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será
arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de
nacionalidade.
Artigo XVII - 1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade
com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Conforme se percebe, a DUDH não faz qualquer distinção entre as categorias dos direitos
humanos, no que diz respeito ao seu reconhecimento e gozo, ainda que o regime de implementação
das liberdades e dos demais direitos humanos possam ser diferenciados.

Há na DUDH uma completa ausência de mecanismos de implementação dos direitos


humanos – o que é explicado pelo contexto político em que se vivia, tendo-se chegado à solução
pela criação da Carta Internacional dos Direitos Humanos, com a edição dos pactos de 1966.

A DUDH reflete o conteúdo da dignidade humana auferido no pós-guerra, o qual vem


sofrendo a ação da História – o que confere aos direitos humanos contemporâneos a característica
da historicidade.

Apesar de inúmeros preceitos estarem ultrapassados (ex: casamento entre homem e mulher
apenas), não retiram o caráter simbólico da Declaração Universal, e sua quase total atualidade
demonstra a inconveniência política de se alterar seu consagrado texto, até porque a atualização
do catálogo dos direitos humanos tem se realizado constantemente, por meio de novos tratados,
declarações e programas de ação, de que fazem exemplo os do Rio de Janeiro sobre o Meio
Ambiente (1992), de Viena sobre Direitos Humanos (1993), do Cairo sobre População e
Desenvolvimento (1994) e de Pequim sobre Direitos da Mulher (1995). A vitalidade do Sistema
Universal dos Direitos Humanos, portanto, mantém em constante afinidade com os valores que
traduzem a dignidade fundamental do ser humano.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 49


.
Pontos Importantes!

• Ano: 1948
• Primeiro documento que tratou das duas gerações de Direitos Humanos (1ª
e 2ª)
• Universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos civis,
políticos, econômicos e sociais.
• Direito de propriedade: reconhecido tanto em caráter individual quanto
coletivo;
• Implementação progressiva, de acordo com as possibilidades, dos direitos
econômicos, sociais e culturais;
• Família é o núcleo natural e fundamental da sociedade

Novidades

• Proibição à escravidão e à tortura


• Reconhecimento da personalidade jurídica
• Direito ao asilo
• Direito à nacionalidade

6. PACTO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

O PIDCP cuida dos direitos humanos relacionados à liberdade individual, à proteção da


pessoa contra a ingerência estatal em sua órbita privada, bem como à participação popular na
gestão da sociedade, foi adotado pela Assembleia das Nações Unidas em 16/12/1966, entrou em
vigor em 1976 com o depósito do 35º instrumento de ratificação.

Da análise de suas normas substantivas, vale registrar as alterações feitas pelo PIDCP em
relação ao texto da Declaração Universal (arts. III a XXI), como: direito à vida (art. 6º); a não ser
submetido à tortura ou tratamentos cruéis desumanos ou degradantes (art. 7º); de não ser
escravizado ou submetido à servidão (art. 8º); à liberdade e segurança pessoal – incluindo não ser
sujeito à prisão ou detenção arbitrária (art. 9º); à igualdade perante a lei (art. 3º); a um julgamento
justo (art. 14); às liberdades de locomoção (art. 12), consciência, manifestação do pensamento,
religião (art. 18), associação (inclusive de fundar sindicatos e a eles aderir – art. 22), reunião pacífica
(art. 21); a casar e constituir família (art. 23); a ter nacionalidade (art. 24); e de votar, tomar parte do
governo – diretamente ou por meio de representantes – e ter acesso às funções públicas de seuPaís
(art. 25).

ARTIGO 3º Os Estados partes do presente pacto comprometem-se a


assegurar a homens e mulheres igualdade no gozo de todos os direitos civis
e políticos enunciados no presente pacto.

ARTIGO 6º
1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Este direito deverá ser
protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.
2. Nos Países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá
ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 50


.
legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em
conflito com as disposições do presente pacto, nem com a Convenção sobre
a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa
pena apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e
proferida por tribunal competente.
3. Quando a privação da vida constituir um crime de genocídio, entende-se
que nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte
do presente pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de quaisquer
das obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da
Convenção sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio.
4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação
da pena. A anistia, o indulto ou a comutação de pena poderão ser concedidos
em todos os casos.
5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos
por pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de
gravidez.
6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar
ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente
pacto.

ARTIGO 7º ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou


tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes. Será proibido, sobretudo,
submeter uma pessoa, sem seu livre consentimento, a experiências médicas
ou científicas.

ARTIGO 8º
1. Ninguém poderá ser submetido à escravidão; a escravidão e o tráfico de
escravos, em todos as suas formas, ficam proibidos.
2. Ninguém poderá ser submetido à servidão.
3. a) Ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou
obrigatórios;
b) A alínea "a" do presente parágrafo não poderá ser interpretada no sentido
de proibir, nos países em que certos crimes sejam punidos com prisão e
trabalhos forçados, o cumprimento de uma pena de trabalhos forçados,
imposta por um tribunal competente;
c) Para os efeitos do presente parágrafo, não serão considerados "trabalhos
forçados ou obrigatórios":
i) qualquer trabalho ou serviço, não previsto na alínea "b", normalmente
exigido de um indivíduo que tenha sido encerrado em cumprimento de
decisão judicial ou que, tendo sido objeto de tal decisão, ache-se em
liberdade condicional;
ii) qualquer serviço de caráter militar e, nos países em que se admite a
isenção por motivo de consciência, qualquer serviço nacional que a lei venha
a exigir daqueles que se oponha ao serviço militar por motivo de consciência;
iii) qualquer serviço exigido em casos de emergência ou de calamidade que
ameacem o bem-estar da comunidade;
iv) qualquer trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas
normais.

ARTIGO 9°
1. Toda pessoa tem à liberdade e a segurança pessoais.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 51


.
Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá
ser privado de sua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em
conformidade com os procedimentos.
2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão
e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela.
3. Qualquer pessoa presa ou encerrada em virtude de infração penal deverá
ser conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade
habilitada por lei a exercer funções e terá o direito de ser julgada em prazo
razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que
aguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura
poderá estar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da
pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário
for, para a execução da sentença.
4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou
encarceramento terá de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a
legalidade de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão tenha
sido ilegal.
5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à
reparação.

ARTIGO 12
1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o
direito de nele livremente circular e escolher sua residência.
2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive
de seu próprio país.
3. Os direitos supracitados não poderão constituir objeto de restrição, a
menos que estejam previstas em lei e no intuito de proteger a segurança
nacional e a ordem, a saúde ou a moral pública, bem como os direitos e
liberdades das demais pessoas, e que sejam compatíveis com os outros
direitos reconhecidos no presente pacto.
4. Ninguém poderá ser privado do direito de entrar em seu próprio país.

ARTIGO 14
1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça.
Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com as devidas
garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra
ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil. A
imprensa e o público poderão ser excluídos de parte ou da totalidade de um
julgamento, que por motivo de moral pública, de ordem pública ou de
segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse
da vida privada das partes o exija, quer na medida em que isso seja
estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas,
nas quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da justiça;
entretanto, qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil deverá
tornar-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento
oposto, ou o processo diga respeito à controvérsia matrimonial ou a tutela de
menores.
2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua
inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualdade, a, pelo
menos, as seguintes garantias:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 52


.
a) de ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma
minuciosa, da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada;
b) de dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa
e a comunicar-se com defensor de sua escolha;
c) de ser julgado sem dilações indevidas;
d) de estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por
intermédio de defender de sua escolha; de ser informado, caso não tenha
defensor, do direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da
justiça assim exija, de ter um defensor designado "ex offício" gratuitamente,
se não tiver meios para remunerá-lo;
e) de interrogar ou fazer interrogar as testemunhas da acusação e de obter o
comparecimento e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas
condições de que dispõe as de acusação;
f) de ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou
não fale a língua empregada durante o julgamento;
g) de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada.
4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores nos termos da
legislação penal levará em conta a idade dos menores e a importância de
promover sua reintegração social.
5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá o direito de recorrer da
sentença condenatória e da pena a uma instância, em conformidade com a
lei.
6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente
anulada ou se indulto for concedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos
novos que provem cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que
sofreu a pena decorrente dessa condenação deverá ser indenizada, de
acordo com a lei, a menos que fique provado que se lhe pode imputar, total
ou parcialmente, não-revelação dos fatos desconhecidos em tempo útil.
7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi
absolvido ou condenado por sentença passada em julgado, em conformidade
com a lei e os procedimentos penais de cada país.

ARTIGO 18
1. Toda pessoa terá direito à liberdade de pensamento, de consciência e de
religião. Esse direito implicará a liberdade de ter ou adotar uma religião ou
uma crença de sua escolha e a liberdade de professar sua religião ou crença,
individual ou coletivamente, tanto pública como privadamente, por meio do
culto, da celebração de ritos, de práticas e do ensino.
2. Ninguém poderá ser submetido a medidas coercitivas que possam
restringir sua liberdade de ter ou de adotar uma religião ou crença de sua
escolha.
3. A liberdade de manifestar a própria religião ou crença estará sujeita
apenas a limitações previstas em lei e que se façam necessárias para
proteger a segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos e
as liberdades das demais pessoas.
4. Os Estados partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a
liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de assegurar a
educação religiosa e moral dos filhos que esteja de acordo com suas próprias
convicções.

ARTIGO 21 - direito de reunião pacífica será reconhecido. O exercício desse


direito estará sujeito apenas às restrições previstas em lei e que se façam

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 53


.
necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da segurança
nacional, da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger à saúde
pública ou os direitos e as liberdades das pessoas.

ARTIGO 22
1. Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente a outras, inclusive o
direito de construir sindicatos e de a eles filiar-se, para a proteção de seus
interesses.
2. O exercício desse direito estará sujeito apenas às restrições previstas em
lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse
da segurança nacional, da segurança e da ordem públicas, ou para proteger
a saúde ou a moral pública ou os direitos a liberdades das demais pessoas.
O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício
desse direito por membros das forças armadas e da polícia.
3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que Estados Partes
da Convenção de 1948 da Organização do Trabalho, relativa à liberdade
sindical e à proteção do direito sindical, venham a adotar medidas legislativas
que restrinjam - ou aplicar a lei de maneira a restringir - as garantias previstas
na referida Convenção.

ARTIGO 23
1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e terá o direito
de ser protegida pela sociedade e pelo Estado.
2. Será reconhecido o direito do homem e da mulher de, em idade núbil,
contrair casamento e construir família.
3. Casamento algum será sem o consentimento livre e pleno dos futuros
esposos.
4. Os Estados Partes do presente Pacto deverão adota as medidas
apropriadas para assegurar a igualdade de direitos e responsabilidades dos
esposos quanto ao casamento, durante o mesmo e o por ocasião de sua
dissolução. Em caso de dissolução, deverão adotar-se disposições que
assegurem a proteção necessária para os filhos.

ARTIGO 24
1. Toda criança, terá direito, sem discriminação alguma por motivo de cor,
sexo, religião, origem nacional ou social, situação econômica ou nascimento,
às medidas de proteção que a sua condição de menor requerer por parte de
sua família, da sociedade e do Estado.
2. Toda criança deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e
deverá receber um nome.
3. Toda criança terá o direito de adquirir uma nacionalidade.

ARTIGO 25
Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formas de
discriminação mencionadas no artigo 2° e sem restrições infundadas:
a) de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio
de representantes livremente escolhidos;
b) de votar e de ser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por
sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a
manifestação da vontade dos eleitores;
c) de ter acesso em condições gerais de igualdade, às funções públicas de
seu país.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 54


.

Em relação à privação de liberdade (art. 10), o PIDCP, além do respeito à dignidade e


humanidade, estabelece que o regime penitenciário deve-se fundar em um tratamento, visando à
reforma e a reabilitação moral dos prisioneiros. Assim, cria para o Estado uma obrigação
relacionada a um direito de natureza social, no sentido de que deve desenvolver um programa
voltado ao tratamento do condenado.

ARTIGO 10
1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade
e respeito à dignidade inerente à pessoa humana.
2. a) as pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstância
excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto,
condizente com sua condição de pessoa não-condenada.
b) as pessoas processadas, jovens, deverão ser separadas das adultas e
julgadas o mais rápido possível.
3. O regime penitenciário num tratamento cujo objetivo principal seja a
reforma e a reabilitação moral dos prisioneiros. Os delinquentes juvenis
deverão ser separados dos adultos e receber tratamento condizente com sua
idade e condição jurídica.

O Pacto aceita a pena de trabalhos forçados apenas como exceção (art. 8º, 3 – colacionado
acima), admite como regra a realização de “serviços” ou trabalhos no cárcere como parte das
atividades regulares deste.

Não há no PIDCP qualquer dispositivo referente ao direito de propriedade. Além disso, não
reproduz a referência ao direito de procurar ou gozar de asilo político em outros Países quando a
pessoa for perseguida.

O art. 4º do PIDCP trata do chamado direito de crise, ao prever quais direitos não podem ser
derrogados, em hipótese alguma (chamado de núcleo inderrogável dos direitos humanos), e quais
as situações especiais que permitem a suspensão dos demais.

ARTIGO 4º
1. Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam
proclamadas oficialmente, os Estados partes do presente Pacto podem
adotar, na estrita medida exigida pela situação, medidas que suspendam as
obrigações decorrentes do presente Pacto, desde que tais medidas não
sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhes sejam impostas pelo
Direito Internacional e não acarretem discriminação alguma apenas por
motivo de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social.
2. A disposição precedente não autoriza qualquer suspensão dos artigos 6°,
7°, 8° (§§1° e 2°), 11, 15, 16 e 18.
3. Os Estados Partes do presente pacto que fizerem uso do direito de
suspensão devem comunicar imediatamente aos outros Estados Partes do
Presente Pacto, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas, as
disposições que tenham suspenso, bem como os motivos de tal suspensão.
Os Estados Partes deverão fazer uma nova comunicação, igualmente por
intermédio do Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, na data
em que terminar tal suspensão.

Deste modo, mesmo que situações excepcionais ameacem a existência da Nação, não são
passíveis de derrogação:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 55


.
• Direito à vida (art. 6º - acima);

• A proibição contra a tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes (art. 7º


- acima);

• A vedação à escravidão ou servidão (art. 8º - acima);

• A proibição de prisão por descumprimento de obrigação contratual (art. 11);

ARTIGO 11 - Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com
uma obrigação contratual.

• As garantias penais de tipicidade, anterioridade, legalidade quanto ao tipo e à pena, assim


como seu abrandamento se norma posterior assim dispuser (art. 15);

ARTIGO 15
1. Ninguém poderá ser condenado por atos ou omissões que não constituam
delito de acordo com direito nacional ou internacional, no momento em que
foram cometidos. Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a
aplicável no momento da ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o
delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o delinquente deverá
beneficiar-se.
2. nenhuma disposição do presente Pacto impedirá o julgamento ou a
condenação de qualquer indivíduo por atos ou omissões que, no momento
em que foram cometidos, eram considerados delituosos de acordo com os
princípios gerais de direito reconhecidos pela comunidade das nações.

• O direito ao reconhecimento da personalidade jurídica (art. 16);

ARTIGO 16 - Toda pessoa terá direito, em qualquer lugar, ao reconhecimento


de sua personalidade jurídica.

• As liberdades de pensamento, consciência e de religião (art. 18 – acima).

O PIDCP autoriza a derrogação:

• Dos direitos à informação sobre os motivos da prisão (art. 9º - acima);

• A imediata condução a um juiz (art. 9º - acima);

• Ao imediato acesso a um tribunal para evitar uma prisão ilegal (art. 9º - acima);

• Ao tratamento do preso com humanidade (art. 10 - acima);

• Ao duplo grau de jurisdição (art. 14 – acima).

O Tratado entrou em vigor em 23.3.1976, foi ratificado pelo Brasil em 24.1.1992, sem
qualquer reserva ou objeção. Contudo, o País ainda não fez a declaração expressa, a que se refere
o art. 41 do Tratado, no sentido de que reconhece a competência do Comitê para receber e
examinar as comunicações em que um Estado-Parte alegue que outro Estado-Parte não vem
cumprindo as obrigações que lhe impõe o presente Pacto. Desta forma, o Brasil não pode

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 56


.
apresentar denúncia, perante o Comitê de Direitos Humanos, ao tempo em que não se vê na
possibilidade de ser ali questionado por outro Estado signatário do Pacto.

ARTIGO 41
1. Com base no presente Artigo, todo Estado parte do presente pacto poderá
declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê para
receber e examinar as comunicações em que um Estado parte alegue que
outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações que lhe impõe a Pacto.
As referidas comunicações só serão recebidas e examinadas nos termos do
presente Artigo no caso de serem apresentadas por um Estado Parte que
houver feito uma declaração em que reconheça, com relação a si próprio, a
competência do Comitê. O Comitê não receberá comunicação alguma
relativa a um Estado Parte que não houver feito uma declaração dessa
natureza.

6.1. PROTOCOLOS FACULTATIVOS

O PIDCP possui dois protocolos facultativos.

Primeiro Protocolo Facultativo: refere-se à possibilidade de um Estado-membro reconhecer


a competência do Comitê de Direitos Humanos para receber e analisar comunicações, advindas de
indivíduos sob a soberania daquele que aleguem serem vítimas de violação de algum direito previsto
no Pacto, desde que esgotados os remédios de jurisdição interna – salvo os casos de demora
injustificada para a solução interna da demanda. Não se admite denúncia anônima, deve ser feita
por escrito. Por fim, só será admitido se não houver litispendência em outro foro internacional. Brasil
reconheceu em 25 de setembro de 2009.

Segundo Protocolo Facultativo: Refere-se à abolição da pena de morte. No art. 2º, ao mesmo
tempo em que o protocolo veda a realizações de reservas, abre a possibilidade de o Estado Parte,
apenas no momento da ratificação, excepcionar a regra, para admitir a pena de morte somente em
tempo de guerra, decorrente de condenação por crime de natureza militar cometido em tempo de
guerra. Brasil ratificou em 25 de setembro de 2009, com a referida reserva.

ARTIGO 2.º
1. Não é admitida qualquer reserva ao presente Protocolo, exceto a reserva
formulada no momento da ratificação ou adesão prevendo a aplicação da
pena de morte em tempo de guerra em virtude de condenação por infracção
penal de natureza militar de gravidade extrema cometida em tempo de
guerra.

6.2. MECANISMO DE PROTEÇÃO: COMITÊ DE DIREITOS HUMANOS

É um mecanismo convencional de proteção, tendo em vista que se encontrada previsto


expressamente no PIDCP (art. 28), bem como só é aplicado aos Estados que aderirem.

ARTIGO 28
1. Constituir-se-á um comitê de Direitos Humanos (doravante denominado o
"Comitê" no presente pacto). O Comitê será composto de dezoito membros e
desempenhará as funções descritas adiante.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 57


.
2. O Comitê será integrado por nacionais dos Estados partes do presente
Pacto, os quais deverão ser pessoas de elevada reputação moral e
reconhecida competência em matéria de direitos humanos, levando-se em
consideração a utilidade da participação de algumas pessoas com
experiência jurídica.
3. Os membros do Comitê serão eleitos e exercerão suas funções a título
pessoal.

É um corpo independente de especialistas, que opera tanto pelo sistema de relatórios dos
Estados-Partes (devem encaminhar sempre que solicitados – art. 40), quanto pelo recebimento de
comunicações formuladas pelos países (art. 41), observando o esgotamento dos remédios internos,
e desde que não se prolonguem indefinidamente. Sua competência para receber comunicações
depende de aceitação expressa do Estado denunciado (art. 41). Da mesma forma, um estado que
não se submeta ao sistema não está autorizado a formular denúncias, obedecendo ao critério da
reciprocidade, vigente no direito internacional. O Brasil até hoje não declarou a sua aceitação,
estando, portanto, fora desse sistema.

ARTIGO 40
1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a submeter
relatórios sobre as medidas por eles adotadas para tornar efetivos os direitos
reconhecidos no presente Pacto e sobre o progresso alcançado no gozo
desses direitos:
a) dentro do prazo de um ano, a contar do início da vigência do presente
Pacto nos Estados Partes interessados;
b) a partir de então, sempre que o Comitê vier a solicitar.
2. Todos os relatórios serão submetidos ao Secretário-Geral da Organização
das nações Unidas, que os encaminhará. Para exame, ao Comitê. Os
relatórios deverão sublinhar, caso existam, os fatores e as dificuldades que
prejudiquem a implementação do presente pacto.
3. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas poderá, após
consulta ao Comitê, encaminhar às agências especializadas cópias das
partes dos relatórios que digam respeito à sua esfera de competência.
4. O Comitê estudará os relatórios apresentados pelos Estados partes do
presente pacto e transmitirá aos Estados Partes seu próprio relatório, bem
como os comentários gerais que julgar oportunos. O Comitê poderá
igualmente transmitir ao Conselho Econômico e social os referidos
comentários, bem como cópias dos relatórios que houver recebido dos
Estados partes do Presente pacto.
5. Os Estados Partes no presente pacto poderão submeter ao Comitê as
observações que desejarem formular relativamente aos comentários feitos
nos termos do § 4° do presente artigo.

ARTIGO 41
1. Com base no presente Artigo, todo Estado parte do presente pacto poderá
declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê para
receber e examinar as comunicações em que um Estado parte alegue que
outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações que lhe impõe a Pacto.
As referidas comunicações só serão recebidas e examinadas nos termos do
presente Artigo no caso de serem apresentadas por um Estado Parte que
houver feito uma declaração em que reconheça, com relação a si próprio, a
competência do Comitê. O Comitê não receberá comunicação alguma
relativa a um Estado Parte que não houver feito uma declaração dessa

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 58


.
natureza. As comunicações recebidas em virtude do presente Artigo estarão
sujeitas ao procedimento que se segue:
a) se um Estado Parte do presente Pacto considerar que outro Estado Parte
não vem cumprindo as disposições da presente Convenção poderá, mediante
comunicação escrita, levar a questão ao conhecimento deste Estado Parte.
Dentro de um prazo de três meses, a contar da data do recebimento da
comunicação, o Estado destinatário fornecerá ao Estado que enviou a
comunicação explicações ou quaisquer outras declarações por escrito que
esclareçam a questão, as quais deverão fazer referência, até onde seja
possível e pertinente, aos procedimentos, nacionais e aos recursos jurídicos
adotados, em trâmite ou disponíveis sobre a questão;
b) se, dentro de um prazo de seis meses, a contar da data do recebimento da
comunicação original pelo Estado destinatário, a questão não estiver dirimida
satisfatoriamente para ambos os Estados Partes interessados, tanto um
como o outro terão o direito de submetê-lo ao comitê, mediante notificação
endereçada ao Comitê ou outro Estado interessado;
c) o comitê tratará de todas as questões que se lhe submetam em virtude do
presente Artigo somente após ter-se assegurado de que todos os recursos
jurídicos internos disponíveis tenham sido utilizados e esgotados, em
consonância com os princípios do Direito internacional geralmente
reconhecido. Não se aplicará esta regra quando a aplicação dos
mencionados recursos se prolongar injustificadamente.
d) o comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinando as
comunicações previstas no presente Artigo;
e) sem prejuízo das disposições da alínea "c’, o Comitê colocará seus bons
ofícios à disposição dos Estados Partes interessados no intuito de se alcançar
uma solução amistosa para a questão, baseada no respeito aos direitos
humanos e a liberdades fundamentais reconhecidos no presente Pacto.
f) em todas as questões que se lhe submetem em virtude do presente artigo,
o Comitê poderá solicitar aos Estados Partes interessados, a que se faz
referência na alínea b), que lhe forneçam quaisquer informação pertinentes;
g) os estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea "b", terão
o direito de fazer-se representar quando as questões forem examinadas no
Comitê e de apresentar suas observações verbalmente e/ou por escrito;
h) o Comitê, dentro dos doze meses seguintes à data de recebimento da
notificação mencionada na b), apresentará relatório em que:
i) se houver sido alcançada uma solução nos termos da alínea e), o comitê
restringir-se-á, em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos e da
solução alcançada;
ii) se não houver sido alcançada solução alguma nos termos alínea "e", o
comitê restringir-se-á, em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos;
serão anexados ao relatório o texto das observações escritas e as atas das
observações orais apresentadas pelos Estados Partes interessados.
Para cada questão, o relatório será encaminhado aos Estados partes
interessados.
1. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento
em que dez Estados Partes do presente Pacto houverem feito as declarações
mencionadas no parágrafo §1º deste Artigo. As referidas declarações serão
depositadas pelos Estados partes junto ao Secretário-Geral da Organização
Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas aos demais Estados Partes.
Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento, mediante

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 59


.
notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem
prejuízo do exame de quaisquer questões que constituam objeto de uma
comunicação já transmitida nos termos deste artigo; em virtude do presente
artigo, não se receberá qualquer nova comunicação de um Estado Parte uma
vez que o Secretário-Geral tenha recebido a notificação sobre a retirada da
declaração, a menos que o Estado parte interessado haja feito uma nova
declaração.

Igualmente, o Comitê pode receber denúncias individuais ou de terceiras pessoas e de


ONGs, sobre a violação dos direitos estabelecidos no pacto (art. 1º do Protocolo Facultativo ao
PIDCP). Brasil aderiu em 2009.

Artigo 1º - Os Estados Partes no Pacto que se tornarem Parte no presente


Protocolo reconhecerão que o Comitê tem competência para receber e
examinar comunicações provenientes de indivíduos particulares sujeitos à
sua jurisdição que aleguem ter sido vítimas de uma violação, por esses
Estados Partes, de quaisquer dos direitos enunciados no Pacto. O Comitê
não receberá comunicação alguma relativa a um Estado Parte no Pacto que
não seja parte no presente Protocolo.

O procedimento das denúncias individuais perante o Comitê de DH possui quatro fases:


admissibilidade, instrução probatória, deliberação sobre o mérito, publicação e execução, a seguir
analisadas.

A primeira fase, de admissibilidade, exige a comprovação de certos requisitos de forma


(forma escrita, não anônima, da própria vítima ou representante) e também requer que a
comunicação não esteja sendo processada simultaneamente em outras instâncias internacionais.

Artigo 2º
Ressalvado o disposto no artigo 1º, o indivíduo que se considerar vítima de
violação de qualquer dos direitos enunciados no Pacto e que tenha esgotado
todos os recursos internos disponíveis, poderá apresentar uma comunicação
escrita ao Comitê para que este a examine.
Artigo 3º
O Comitê declarará inadmissíveis as comunicações recebidas em
conformidade com o presente Protocolo que sejam anônimas, ou que, a seu
juízo, constituam abuso de direito ou sejam incompatíveis com as disposições
do Pacto.

Na segunda fase, de instrução probatória, o Estado requerido dispõe de seis meses para
responder as questões de mérito alegadas na petição do particular. O Estado pode também
novamente atacar a admissibilidade do caso, que se for considerado inadmissível, enseja o
encerramento do procedimento.

Na terceira fase, o Comitê adota uma deliberação sobre o mérito, que consiste na
indicação de violação ou não de direitos humanos protegidos e na reparação a ser efetuada pelo
Estado. O Comitê pode decidir ainda publicar o texto com suas decisões e opiniões no informe
anual à Assembleia Geral da ONU.

A execução, quarta fase, pode ser realizada através da indicação de um Relator Especial,
apontado para acompanhar a execução dos ditames do comitê. O Comitê informará à Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas sobre as atividades deste Relator.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 60


.
Salienta-se que o Comitê de Direitos Humanos é um organismo de aplicação de um acordo.
Ele é responsável por fazer com que as obrigações do pacto sejam implementadas pelas partes.
Para garantir isso, ele necessita de uma interpretação. Isso é feito, por um lado, por meio da
utilização da disposição do pacto em casos individuais no âmbito do procedimento segundo o
protocolo facultativo. Por outro lado, a comissão também aprovou “Comentários Gerais”, com os
quais interpreta as disposições do Pacto.

6.3. CASO LULA

O Comitê de Direitos Humanos acolheu um pedido de medida provisória da defesa do ex-


presidente Lula para que ele pudesse registrar a sua candidatura, mesmo estando preso. Contudo,
o TSE não acolheu a decisão do Comitê, observe:

7. (...) Em atenção aos compromissos assumidos pelo Brasil na ordem


internacional, a manifestação do Comitê merece ser levada em conta, com o
devido respeito e consideração. Não tem ela, todavia, caráter vinculante e, no
presente caso, não pode prevalecer, por diversos fundamentos formais e
materiais. 7.1. Do ponto de vista formal, (i) o Comitê de Direitos Humanos
é órgão administrativo, sem competência jurisdicional, de modo que
suas recomendações não têm caráter vinculante; (ii) o Primeiro
Protocolo Facultativo ao PIDCP, que legitimaria a atuação do Comitê,
não está em vigor na ordem interna brasileira” (TSE, Registro de
candidatura nº 0600903-50.2018.6.00.0000, rel. Min. Roberto Barroso, j.
01.09.2018).

Acerca da vinculação das decisões do Comitê na ordem nacional, não há consenso na


doutrina, pode-se identificar duas correntes:

1ªC – as decisões dos Comitês relacionados aos tratados da ONU são meras
recomendações, não possuem força vinculante. Sustentam que quando os Estados-Partes aderem
a um tratado possuem ciência que aceitam a competência de um órgão sem natureza jurisdicional,
que espede apenas recomendações.

2ªC – as decisões dos Comitês possuem força vinculante, isto porque os tratados devem ser
interpretados de boa-fé. Assim, ao aderir o PIDCP e o seu protocolo facultativo o Estado-Parte não
poderá descumprir as decisões do Comitê, já que anuiu. Ressalta-se que o Comitê entende que
suas decisões são vinculantes.

Por fim, o argumento de que o Primeiro Protocolo Facultativo ao PIDCP ainda não está em
vigor na ordem interna brasileira, segundo Caio Paiva deve ser feito um distinguishing. Assim:

TRATADOS QUE APENAS ESTABELECEM


TRATADOS QUE CRIAM OBRIGAÇÕES DE
MECANISMOS DE PROTEÇÃO SEM CRIAR
RESPEITAR E PROTEGER DIREITOS
NOVAS OBRIGAÇÕES DE RESPEITAR E
HUMANOS
PROTEGER DIREITOS HUMANOS

Para entrarem em vigor na ordem jurídica Entram em vigor, internacional e


nacional, precisam passar também pela fase nacionalmente, com a sua ratificação, sendo
do decreto de promulgação desnecessário o decreto de promulgação

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 61


.
7. PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS
(PIDESC)

O Pacto Social foi elaborado paralelamente ao Pacto Civil, concomitantemente com a


assembleia geral aprovada em 1966, e entrou em vigor em 1976. Visa estabelecer, sob a forma de
direitos, as condições sociais, econômicas e culturais para a vida digna.

Em contraposição à noção de que a realização progressiva dos direitos econômicos, sociais


e culturais afasta a sua exigibilidade, a interpretação do Pacto é no sentido de que a primeira
obrigação estatal é adotar medidas, isto é, planejar apropriadamente as políticas públicas,
tendentes à realização destes direitos. E, ainda, da progressividade decorre a chamada cláusula de
proibição do retrocesso social, na medida em que é vedado aos Estados retroceder no campo da
implementação desses direitos. Assim, a progressividade dos direitos econômicos, sociais e
culturais proíbe o retrocesso ou a redução de políticas públicas voltadas à garantia de tais direitos.

Houve a fixação de um conteúdo mínimo de direitos, por parte do Comitê de Direitos


Econômicos, Sociais e Culturais, que dever ser imediatamente implementados, judicialmente,
inclusive, quais sejam:

• Tratamento isonômico ante a lei (art. 3º);

ARTIGO 3º - Os Estados partes do presente pacto comprometem-se a


assegurar a homens e mulheres igualdade no gozo de todos os direitos
econômicos, sociais e culturais enunciados no presente pacto.

• Remuneração igual por trabalho igual, com especial proteção à mulher (art. 7º);

ARTIGO 7 - Os Estados Partes do presente pacto reconhecem o direito de


toda pessoa de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que
assegurem especialmente:
a) uma remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores:
i) um salário equitativo e uma remuneração igual por um trabalho de igual
valor, sem qualquer distinção; em particular, as mulheres deverão ter a
garantia de condições de trabalho não inferiores às dos homens e receber a
mesma remuneração que ele por trabalho igual;
ii) uma existência decente para eles e suas famílias, em conformidade com
as disposições do presente Pacto.
b) a segurança e a higiene no trabalho;
c) igual oportunidade para todos de serem promovidos, em seu trabalho, á
categoria superior que lhes corresponda, sem outras considerações que as
de tempo de trabalho e capacidade;
d) o descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de trabalho e férias
periódicas remuneradas, assim.

• Liberdade sindical e de greve (art. 8º);

ARTIGO 8º
1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a garantir:
a) o direito de toda pessoa de fundar com outras sindicatos e de filiar-se ao
sindicato de sua escolha, sujeitando-se unicamente aos organização
interessada, com o objetivo de promover e de proteger seus interesses

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 62


.
econômicos e sociais. O exercício desse direito só poderá ser objeto das
restrições previstas em lei e que sejam necessárias, em uma sociedade
democrática, no interesse da segurança nacional ou da ordem pública, ou
para proteger os direitos e as liberdades alheias;
b) o direito dos sindicatos de formar federações ou confederações nacionais
e o direito desta de formar organizações sindicais internacionais ou de filiar-
se às mesmas;
c) o direito dos sindicatos de exercer livremente suas atividades, sem
quaisquer limitações além daquelas previstas em lei e que sejamnecessárias,
em uma sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou da
ordem pública, ou para proteger os direitos e as liberdades das demais
pessoas;
d) o direito de greve, exercido de conformidade com as leis de cada país.
2. O presente artigo não impedirá que se submeta a restrições legais o
exercício desses direitos pelos membros das forças armadas, da política ou
da administração pública.
3. nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que os Estados
Partes da Convenção de 1948 da Organização Internacional do Trabalho,
relativa à liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venha a adotar
medidas legislativas que restrinjam - ou a aplicar a lei de maneira a restringir
- as garantias previstas na referida Convenção.

• Proteção e assistência em prol de todas as crianças e adolescentes, sem distinção alguma


por motivo de filiação ou qualquer outra condição contra a exploração econômica e social
(art. 10);

ARTIGO 10 Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem que:


1. Deve-se conceder à família, que é o elemento natural e fundamental da
sociedade, as mais amplas proteção e assistência possíveis, especialmente
para a sua constituição e enquanto ela for responsável pela criação e
educação dos filhos. O matrimônio deve ser contraído com livre
consentimento dos futuros cônjuges.
2. Deve-se conceder proteção às mães por um período de tempo razoável
antes e depois do parto. Durante esse período, deve-se conceder às mães
que trabalhem licença remunerada ou licença acompanhada de benefícios
previdenciários adequados.
3. Devem-se adotar medidas especiais de proteção e de assistência em prol
de todas as crianças e adolescentes, sem distinção por motivo de filiação ou
qualquer outra condição. Devem-se proteger as crianças e adolescentes
contra a exploração econômica e social. O emprego de crianças e
adolescentes em trabalhos que lhes sejam nocivos à saúde ou que lhes
façam correr perigo de vida, ou ainda que lhes venham a prejudicar o
desenvolvimento normal, será punido por lei.
Os Estados devem também estabelecer limites de idade sob os quais fique
proibido e punido por lei o emprego assalariado da mão-de-obra infantil.

• Obrigatoriedade e gratuidade da educação primária;

ARTIGO 13
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa
à educação. Concordam em que a educação deverá visar o pleno
desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de sua dignidade e

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 63


.
fortalecer o respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais.
Concordam ainda em que a educação deverá capacitar todas as pessoas a
participar efetivamente de uma sociedade livre, favorecer a compreensão, a
tolerância e a amizade entre todas as nações e entre todos os grupos raciais,
étnicos ou religiosos e promover as atividades das Nações Unidas em prol da
manutenção da paz.
2. Os Estados partes do Presente Pacto reconhecem que, com o objetivo de
assegurar o pleno exercício desse direito:
a) a educação primária deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente a
todos;
b) a educação secundária em suas diferentes formas, inclusive a educação
secundária técnica e profissional, deverá ser generalizada e tornar-se
acessível a todos, por todos os meios apropriados e, principalmente, pela
implementação progressiva do ensino gratuito;
c) a educação de nível superior deverá igualmente tronar-se acessível a
todos, com base na capacidade de cada um, por todos os meios apropriados
e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino gratuito;
d) dever-se-á fomentar e intensificar, na medida do possível, a educação de
base para aquelas que não receberam educação primária ou não concluíram
o ciclo completo de educação primária;
e) será preciso prosseguir ativamente o desenvolvimento de uma rede
escolar em todos os níveis de ensino, implementar-se um sistema de bolsas
estudo e melhorar continuamente as condições materiais do corpo docente.
1. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a
liberdade dos pais - e, quando for o caso, dos tutores legais - de escolher
para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas autoridades
públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou
aprovados pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham a receber
educação religiosa ou moral que seja de acordo com suas próprias
convicções.
2. Nenhuma das disposições do presente artigo poderá ser interpretada no
sentido de restringir a liberdade de indivíduos e de entidades de criar e dirigir
instituições de ensino, desde que respeitados os princípios enunciados no §
1° do presente artigo e que essas instituições observem os padrões mínimos
prescritos pelo Estado.

• Liberdade de os pais decidirem quanto aos estudos dos filhos (art. 10);

• Liberdade de as escolas fixarem sua orientação pedagógica (art. 10);

Liberdade à pesquisa científica e à atividade criadora;


ARTIGO 15
1. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem a cada indivíduo o
direito de:
a) Participar da vida cultural;
b) desfrutar o progresso científico e suas aplicações;
c) beneficiar-se da proteção dos interesses morais e materiais decorrentes
de toda a produção científica, literária ou artística de que seja autor.
2. As medidas que os Estados Partes do presente Pacto deverão adotar com
a finalidade de assegurar o pleno exercício desse direito aquelas necessárias
à conservação, ao desenvolvimento e à difusão da ciência e da cultura.
3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar a
liberdade indispensável à pesquisa científica e à atividade criadora.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 64


.
4. Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem os benefícios que
derivam do fomento e do desenvolvimento da cooperação e das ralações
internacionais no domínio da ciência e da cultura.

O Brasil ratificou o Pacto em 24.1.1992, sem qualquer ressalva.

Em 2008, a Assembleia Geral da ONU, adotou o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional


de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, o qual instaura a competência do Comitê de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais para receber e analisar comunicações feitas por ou em benefícios
de indivíduos ou grupo de pessoas, sob jurisdição de um Estado Parte, alegando serem vítimas de
violação de quaisquer dos direitos previstos no Pacto, bem como comunicações interestaduais e
procedimento de investigação das violações graves ou sistemáticas dos DESC.

O PF-PIDESC foi colocado para assinatura em 2009. Entrou em vigor em 05 de maio de


2013, com a ratificação do Uruguai (10º país) - se juntando a Argentina, Bolívia, Bósnia-
Herzegovina, Equador, El Salvador, Mongólia, Portugal, Eslováquia e Espanha.

7.1. MECANISMO DE PROTEÇÃO: COMITÊ DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E


CULTURAIS

Órgão de tratado das Nações Unidas, criado pelo Conselho Econômico e Social, que
supervisiona a aplicação do PIDESC pelos Estados-Parte, composto por 18 especialistas
independentes, nomeados e escolhidos pelos Estados Parte, por um período fixo e renovável por
quatro anos.

Tem o mandato de examinar os relatórios apresentados periodicamente (dois anos e depois


a cada cinco anos) pelos Estados-Parte sobre as medidas adotadas para a aplicação das
disposições do PIDESC.

Além disso, expressa suas preocupações e recomendações aos Estados-Parte como


“observações finais”.

Para facilitar a avaliação, o Comitê adotou orientações sobre a forma e o conteúdo dos
relatórios. Adota também “observações gerais” para guiar a interpretação e aplicação dos artigos
do PIDESC.

A partir da entrada em vigor do PF-PIDESC (05 de maio de 2013), o Comitê terá a faculdade
de examinar comunicações individuais e interestatais, e investigar supostas violações ao
PIDESC.

7.1.1. Comunicações individuais (queixas ou petições)

Permite às vítimas de violações de direitos econômicos, sociais e culturais, apresentarem


reclamações perante o Comitê DESC. Todo Estado-Parte do PIDESC que ratificar o Protocolo
Facultativo reconhece as atribuições do Comitê para receber e examinar comunicações conforme
as disposições do Protocolo. Assim o Comitê poderá, por meio de casos específicos, melhorar a
compreensão dos direitos econômicos, sociais e culturais e requerer aos Estados as reparações.

Os autores da comunicação devem: esgotar os recursos internos, ou seja, que antes de


apresentar a comunicação individual devem ter utilizado todos os recursos disponíveis na jurisdição

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 65


.
interna e a resolução do caso não deve estar pendente, salvo se os recursos internos não forem
efetivos, não estiverem à disposição do autor ou se forem objeto de “dilações indevidas”; apresentar
a comunicação dentro de um ano desde o esgotamento dos recursos internos; e ter certeza de que
o mesmo caso não foi apresentado perante um mecanismo internacional semelhante.

O procedimento comporta a possibilidade de pedir medidas provisionais e, como


características inovadoras, o Protocolo Facultativo inclui também a possibilidade de uma “solução
amistosa”, estabelece um padrão de revisão particular e dá ao Comitê a faculdade de consultar
documentação pertinente elaborada por outros órgãos, organismos especializados, fundos,
programas e mecanismos das Nações Unidas e de outras organizações internacionais, incluindo os
sistemas regionais ACNUDH - Escritório Regional para América do Sul.

7.1.2. Comunicações interestatais

Permite aos Estados-Parte apresentar comunicações perante o Comitê DESC, denunciando


outro Estado que não cumpriu suas obrigações segundo o Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, desde que ambos os Estados tenham feito uma declaração de
aceitação desse mecanismo.

7.1.3. Procedimento de investigação

Permite ao Comitê DESC começar uma investigação quando receber informação fidedigna
indicando a existência de violações graves ou sistemáticas dos direitos estabelecidos no Pacto
Internacional, sempre que o Estado analisado tenha feito uma declaração de aceitação da
competência do Comitê para tais pesquisas.

8. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE


DISCRIMINAÇÃO RACIAL

O art. 1º da Convenção define discriminação racial, de forma bastante abrangente.

ARTIGO I
1. Nesta Convenção, a expressão "discriminação racial" significará qualquer
distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
descendência ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito
anula ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano,
(em igualdade de condição), de direitos humanos e liberdades fundamentais
no domínio político econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio
de sua vida.
2. Esta Convenção não se aplicará às distinções, exclusões, restrições e
preferências feitas por um Estado Parte nesta Convenção entre cidadãos.
3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado como afetando as
disposições legais dos Estados Partes, relativa à nacionalidade, cidadania e
naturalização, desde que tais disposições não discriminem contra qualquer
nacionalidade particular.
4. Não serão consideradas discriminações racial as medidas especiais
tomadas como o único objetivo de assegurar progresso adequado de certos
grupos raciais ou étnicos ou indivíduos que necessitem da proteção que

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 66


.
possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo
ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que,
tais medidas não conduzam, em consequência , á manutenção de direitos
separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sidos
alcançados os seus objetivos.

Este artigo é complementado pelo art. 4º, “a”, no sentido de que os Estados devem editar
normas penais para punir atos discriminatórios e racistas, incluindo qualquer difusão de ideias
baseadas na superioridade ou ódio racial.

ARTIGO IV - Os Estados partes condenam toda propaganda e toda as


organizações que se inspirem em ideias ou teorias baseadas na
superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de uma certa cor ou
de uma certa origem étnica ou que pretendem justificar ou encorajar qualquer
forma de ódio e de discriminação raciais e comprometem-se a adotar
imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar qualquer incitação a
uma tal discriminação, ou quaisquer atos de discriminação com este objetivo,
tendo em vista os princípios formulados na Declaração universal dos direitos
do homem e os direitos expressamente enunciados no artigo 5 da presente
convenção, eles se comprometem principalmente:
a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de ideias baseadas na
superioridade ou ódio raciais, qualquer incitamento à discriminação racial,
assim como quaisquer atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos
contra qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou de outra
origem étnica, como também qualquer assistência prestada a atividades
racistas, inclusive seu financiamento;
b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim como as atividades de
propaganda organizada e qualquer outro tipo de atividades de propaganda
que incitar à discriminação e que a encorajar e a declara delito punível por lei
a participação nestas organizações ou nestas atividades.
c) a não permissão às autoridades públicas nem às instituições públicas,
nacionais ou locais, o incitamento ou encorajamento à discriminação racial.

Outro aspecto interessante da Convenção diz respeito à possibilidade de edição de medidas


especiais para assegurar o “progresso adequado” de grupos étnicos ou raciais, a fim de criar as
condições para o pleno exercício, em condições de igualdade, dos direitos humanos – com a
ressalva de que tais medidas devem ser suspensas após o alcance dos fins pretendidos, evitando
que conduzam à criação de direitos desiguais e distintos para os diferentes grupos raciais (arts. 1º,
4, e 2º, 2). É o que se convencionou chamar de discriminação positiva.

Art. I, 4. Não serão consideradas discriminações racial as medidas especiais


tomadas como o único objetivo de assegurar progresso adequado de certos
grupos raciais ou étnicos ou indivíduos que necessitem da proteção que
possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo
ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que,
tais medidas não conduzam, em consequência , a manutenção de direitos
separados para diferentes grupos raciais e não prossigam após terem sidos
alcançados os seus objetivos.
Art. II, 2. Os Estados Parte tomarão, se as circunstâncias o exigirem, nos
campos social, econômico, cultural e outros, as medidas especiais e
concretos para assegurar como convier o desenvolvimento ou a proteção de
certos grupos raciais de indivíduos pertencentes a estes grupos com o

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 67


.
objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno exercício dos
direitos do homem e das liberdades fundamentais. Essas medidas não
deverão, em caso algum, ter a finalidade de manter direitos desiguais ou
distintos para os diversos grupos raciais, depois de alcançados os objetivos
em razão dos quais foram tomadas.

Foi ratificado pelo Brasil em 27.3.1968, sem qualquer reserva.

8.1. COMITÊ PARA A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO RACIAL

O Comité (corpo de 18 especialistas independentes) para a Eliminação da Discriminação


Racial foi criado em virtude do art.º 8.º da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Racial com o objetivo de controlar a aplicação, pelos Estados Partes,
das disposições desta Convenção.

Cada Estado-Parte deve enviar relatórios periódicos, inicialmente no primeiro ano após a
ratificação da Convenção, e desde então bienalmente.

Além do sistema de relatórios, a Convenção estabelece três outros mecanismos através dos
quais o Comitê realiza o monitoramento, a saber: o exame das reclamações interestatais; o
daquelas decorrentes dos indivíduos; o procedimento Alerta Rápido, voltado ao envio de
recomendações urgentes quanto aos procedimentos a serem tomados pelos Estados-Partes para
prevenir ou limitar a ocorrência de violações à Convenção, em face de situações de conflitos.

Inovou ao prever o sistema de denúncias individuais, ainda que mediante a concordância


expressa do Estado Parte, o que não lhe retirou a importância para o desenvolvimento do sistema.

Em 17.6.2002, o Brasil reconheceu a competência do Comitê sobre a Eliminação da


Discriminação racial para receber e processar reclamações de violações de direitos humanos, como
previsto no art. 14 da Convenção.

ARTIGO XIV
1. Todo Estado Parte poderá declarar a qualquer momento que reconhece a
competência do Comitê para receber e examinar comunicações de indivíduos
ou grupos de indivíduos sob sua jurisdição que se consideram vítimas de uma
violação pelo referido Estado Parte, de qualquer um dos direitos enunciados
na presente Convenção. O Comitê não receberá qualquer comunicação de
um Estado Parte que não houver feito tal declaração
2. Qualquer Estado Parte que fizer uma declaração de conformidade com o
parágrafo do presente artigo, poderá criar ou designar um órgão dentro da
sua ordem jurídica nacional, que terá competência para receber e examinar
as petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdição que
alegarem ser vítimas de uma violação de qualquer um dos direitos
enunciados na presente Convenção e que esgotaram os outros recursos
locais disponíveis.
3. A declaração feita de conformidade com o 1.° do presente artigo e o nome
de qualquer órgão criado ou designado pelo Estado Parte interessado
consoante o 2.° do presente artigo será depositado pelo Estado Parte
interessado junto ao Secretário geral das Nações Unidas que remeterá cópias
aos outros Estados Partes. A declaração poderá ser retirada a qualquer

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 68


.
momento mediante notificação ao Secretário Geral, mas esta retirada não
prejudicará as comunicações que já estiverem sendo estudadas pelo Comitê.
4. O órgão criado ou designado de conformidade com o 2.° do presente
artigo, deverá manter um registro de petições e cópias autenticadas do
registro serão depositadas anualmente por canais apropriados junto ao
Secretário Geral das Nações Unidas, no entendimento que o conteúdodessas
cópias não será divulgado ao público.
5. Se não obtiver reparação satisfatória do órgão criado ou designado de
conformidade com o 2.° do presente artigo, o peticionário terá o direito de
levar a questão ao Comitê dentro de seis meses.
6. a) O Comitê, a título confidencial, qualquer comunicação que lhe tenha
sido endereçada, ao conhecimento do Estado Parte que, pretensamente
houver violado qualquer das disposições desta Convenção, mas a identidade
das pessoas ou dos grupos de pessoas não poderá ser revelada sem o
consentimento expresso da referida pessoa ou grupos de pessoas. O Comitê
não receberá comunicações anônimas.
b) Nos três meses seguintes, o referido Estado submeterá, por escrito ao
Comitê, as explicações ou recomendações que esclareçam a questão e
indicará as medidas corretivas que por acaso houver adotado
7. a) O Comitê examinará as comunicações , à luz az informações que lhe
forem submetidas pelo Estado Parte interessado e pelo peticionário. OComitê
só examinará uma comunicação de um peticionário após ter-se assegurado
que este esgotou todos os recursos internos disponíveis. Entretanto, esta
regra não se aplicará se os processos de recurso excederemprazos razoáveis.
b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações eventuais, aoEstado
Parte interessado e ao peticionário.
8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo destas comunicações,
se for necessário, um resumo das explicações e declarações dos Estados
Partes interessados assim como suas próprias sugestões e recomendações.
9. O Comitê somente terá competência para exercer as funções previstas
neste artigo se pelo menos dez Estados Partes nesta Convenção estiverem
obrigados por declaração feitas de conformidade com o parágrafo deste
artigo.

9. CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO


CONTRA A MULHER

No art. 1º da Convenção encontra-se o conceito de “discriminação contra a mulher”.

Artigo 1º - Para fins da presente Convenção, a expressão "discriminação


contra a mulher" significará toda distinção, exclusão ou restrição baseada no
sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o
reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu
estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos
humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social,
cultural e civil ou em qualquer outro campo.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 69


Disponibilizado exclusivamente para 0

.
O Comitê entendeu, na Recomendação Geral nº 19/92, que a violência contra as mulheres
(violência dirigida contra uma mulher devido ao fato de ser mulher), encontra-se na definição de
discriminação contra as mulheres, embora a Convenção não refira expressamente esta questão.

O art. 2º prevê uma série de obrigações assumidas pelos Estados Partes, com o fim de
eliminar as descriminações, em virtude da ratificação ou da adesão à Convenção.

Artigo 2º - Os Estados-partes condenam a discriminação contra a mulher em


todas as suas formas, concordam em seguir, por todos os meios apropriados
e sem dilações, uma política destinada a eliminar a discriminação contra a
mulher, e com tal objetivo se comprometem a:
a) consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas Constituições nacionais
ou em outra legislação apropriada, o princípio da igualdade do homem e da
mulher e assegurar por lei outros meios apropriados à realização prática
desse princípio;
b) adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter, com as sanções
cabíveis e que proíbam toda discriminação contra a mulher;
c) estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher em uma base de
igualdade com os do homem e garantir, por meio dos tribunais nacionais
competentes e de outras instituições públicas, a proteção efetiva da mulher
contra todo ato de discriminação;
d) abster-se de incorrer em todo ato ou prática de discriminação contra a
mulher e zelar para que as autoridades e instituições públicas atuem em
conformidade com esta obrigação;
e) tomar as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a
mulher praticada por qualquer pessoa, organização ou empresa;
f) adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter legislativo, para
modificar ou derrogar leis, regulamentos, usos e práticas que constituam
discriminação contra a mulher;
g) derrogar todas as disposições penais nacionais que constituam
discriminação contra a mulher.

A Convenção determina que os Estados Partes assegurem o pleno desenvolvimento e


progresso das mulheres (art. 3º), bem como os obriga a modificar os esquemas e modelos de
comportamento sociocultural dos homens e das mulheres, baseados na ideia de superioridade ou
inferioridade de um dos sexos ou em estereótipos de gênero (art. 5º), assim como a assegurar uma
educação familiar que entenda a maternidade como função social e reconheça a responsabilidade
comum no cuidado dos filhos. Nos termos do artigo 6.º, deverão ser suprimidos o tráfico de mulheres
e a exploração da prostituição de mulheres.

No art. 4º a Convenção prevê a possibilidade de adoção de políticas públicas baseadas na


discriminação positiva, a fim de que seus fins sejam alcançados.

Artigo 4º - 1. A adoção pelos Estados-partes de medidas especiais de caráter


temporário, destinadas a acelerar a igualdade de fato entre o homem e a
mulher não se considerará discriminação na forma definida nesta Convenção,
mas de nenhuma maneira implicará, como consequência, a manutenção de
normas desiguais ou separadas; essas medidas cessarão quando os
objetivos de igualdade de oportunidade e tratamento houverem sido
alcançados.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 70


Disponibilizado exclusivamente para 0

.
2. A adoção pelos Estados-partes de medidas especiais, inclusive as contidas
na presente Convenção, destinadas a proteger a maternidade, não se
considerará discriminatória.

O Brasil ratificou a Convenção da Mulher em 1984, formulou reserva aos artigos 15,
parágrafo 4º, e artigo 16, parágrafo 1º, alíneas (a), (c), (g) e (h), e artigo 29. As reservas aos artigos
15 e 16, retiradas em 1994, foram feitas devido à incompatibilidade entre a legislação brasileira,
então pautada pela assimetria entre os direitos do homem e da mulher. A reserva ao artigo 29, que
não se refere a direitos substantivos, é relativa a disputas entre Estados partes quanto à
interpretação da Convenção e continua vigorando.

9.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS


AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER

Entrou em vigor no ano de 2000. O Brasil ratificou em 2002, sem qualquer reserva.

Conferiu ao Comitê duas competências adicionais: exame de comunicações apresentadas


por pessoas ou grupo de pessoas que aleguem serem vítimas de violação dos direitos enunciados
na Convenção; e instauração de inquéritos confidenciais em caso de suspeitas de violações graves
ou sistemáticas da Convenção.

9.2. COMITÊ SOBRE A ELIMINAÇÃO DA DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER

É um corpo de 23 especialistas, independentes, de grande prestígio moral e competência


na área abarcada pela Convenção, eleitos pelos Estados Partes para exercerem o mandato por um
período de 04 anos. Desempenham sua função a título pessoal e não como delegados ou
representantes de seu país de origem.

Possui como função:

a) Examinar os relatórios periódicos apresentados pelos Estados Partes (art. 18 da


Convenção)

Artigo 18 - Os Estados-partes comprometem-se a submeter ao Secretário


Geral das Nações Unidas, para exame do Comitê, um relatório sobre as
medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras que adotarem para
tornarem efetivas as disposições desta Convenção e dos progressos
alcançados a respeito:
a) no prazo de um ano, a partir da entrada em vigor da Convenção para o
Estado interessado; e
b) posteriormente, pelo menos a cada quatro anos e toda vez que o Comitê
vier a solicitar.
2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades que influam no grau de
cumprimento das obrigações estabelecidas por esta Convenção.

De acordo com o artigo 18 da Convenção, os Estados Partes devem apresentar relatórios


periódicos sobre as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras que adotarem para
tornarem efetivas as disposições desta Convenção e dos progressos alcançados a respeito. O
primeiro relatório deve ser apresentado um ano após a ratificação da Convenção, os demais a cada

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 71


Disponibilizado exclusivamente para 0

.
quatro anos e toda vez que o Comitê vier a solicitar. O Comitê adotou algumas recomendações
(“guidelines”) para os Estados elaborarem seus relatórios.

Após receber o relatório do Estado Parte, um grupo de trabalho do Comitê, composto por
cinco Partes reúne-se, antes da sessão, para preparar uma lista de questões e perguntas, as quais
serão enviadas aos Estados antes da apresentação do relatório. Durante o período de sessão, oito
dos Estados Partes apresentam oralmente seus relatórios. Após a apresentação, o Comitê faz
observações e comentários gerais, faz perguntas sobre artigos específicos da Convenção, que são
posteriormente respondidas pelo Estado. Por fim, o Comitê elabora comentários finais sobre os
relatórios apresentados, que serão incluídos em seu relatório final à Assembleia Geral.

b) Formular sugestões e recomendações gerais (art. 21 da Convenção);

Artigo 21 - O Comitê, através do Conselho Econômico e Social das Nações


Unidas, informará anualmente a Assembleia Geral das Nações Unidas de
suas atividades e poderá apresentar sugestões e recomendações de caráter
geral, baseadas no exame dos relatórios e em informações recebidas dos
Estados-partes. Essas sugestões e recomendações de caráter geral serão
incluídas no relatório do Comitê juntamente com as observações que os
Estados-partes tenham porventura formulado.
2. O Secretário Geral das Nações Unidas transmitirá, para informação, os
relatórios do Comitê à Comissão sobre a Condição da Mulher.

É facultado ao Comitê elaborar sugestões e recomendações gerais, baseadas no exame


dos relatórios e de informações recebidas dos Estados Partes. Em geral, as sugestões são
direcionadas a entidades das Nações Unidas, enquanto as recomendações gerais aos Estados
Partes.

As recomendações gerais adotadas tratam de temas abordados pela Convenção e oferecem


orientações aos Estados Partes sobre suas obrigações, bem como os passos necessários a seu
cumprimento. Atualmente, a elaboração do conteúdo das recomendações gerais conta com a
participação não apenas de membros do Comitê, mas de organizações da sociedade civil e de
agências e órgãos das Nações Unidas, entre outros.

c) Instaurar inquéritos confidenciais (artigos 8º e 9º do Protocolo Facultativo);

Artigo 8º
1. Caso o Comitê receba informação fidedigna indicando graves ou
sistemáticas violações por um Estado Parte dos direitos estabelecidos na
Convenção, o Comitê convidará o Estado Parte a cooperar no exame da
informação e, para esse fim, a apresentar observações quanto à informação
em questão.
2. Levando em conta quaisquer observações que possam ter sido
apresentadas pelo Estado Parte em questão, bem como outras informações
fidedignas das quais disponha, o Comitê poderá designar um ou mais de seus
membros para conduzir uma investigação e apresentar relatório
urgentemente ao Comitê. Sempre que justificado, e com o consentimento do
Estado Parte, a investigação poderá incluir visita ao território deste último.
3. Após examinar os resultados da investigação, o Comitê os transmitirá ao
Estado Parte em questão juntamente com quaisquer comentários e
recomendações.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 72


Disponibilizado exclusivamente para

.
4. O Estado Parte em questão deverá, dentro de seis meses do recebimento
dos resultados, comentários e recomendações do Comitê, apresentar suas
observações ao Comitê.
5. Tal investigação será conduzida em caráter confidencial e a cooperação
do Estado Parte será buscada em todos os estágios dos procedimentos.

Artigo 9º
1. O Comitê poderá convidar o Estado Parte em questão a incluir em seu
relatório, segundo o Artigo 18 da Convenção, pormenores de qualquermedida
tomada em resposta à investigação conduzida segundo o Artigo 18 deste
Protocolo.
2. O Comitê poderá, caso necessário, após o término do período de seis
meses mencionado no Artigo 8.4 deste Protocolo, convidar o Estado Parte a
informá-lo das medidas tomadas em resposta à mencionada investigação.

O Comitê, ao receber informação viável indicando violações graves ou sistemáticas de


direitos estabelecidos na Convenção pelos Estados Partes, convidará o Estado a apreciar a
informação, em conjunto com ele e a apresentar suas observações sobre essa questão. Além disso,
poderá encarregar alguns membros a efetuar um inquérito e a comunicar com urgência os
resultados. Caso seja justificável e haja aquiescência do Estado Parte, este inquérito poderá incluir
visitas ao território deste Estado.

Após analisar as conclusões do inquérito, o Comitê as comunica ao Estado em questão, que


disporá de um prazo de seis meses para apresentar suas observações. O procedimento de inquérito
tem caráter confidencial e a cooperação do Estado Parte poderá ser solicitada em qualquer fase do
processo.

d) Examinar comunicações apresentadas por indivíduos ou grupo de indivíduos vítimas de


violação dos direitos dispostos na Convenção (art. de 2º a 7º do Protocolo Facultativo)

A partir da adoção do Protocolo Adicional à Convenção, foi facultado ao Comitê examinar


comunicações apresentadas por indivíduos ou grupos de indivíduos, sob a jurisdição do Estado
Parte, que afirmem ser vítimas de violação de qualquer um dos direitos abordados pela Convenção.
Para tanto, o Comitê verifica apenas as comunicações as quais seja verificado o esgotamento dos
recursos internos, ou seja, que todos os meios processuais na ordem interna tenham sido
esgotados, a não ser que o meio processual previsto tenha ultrapassado os prazos razoáveis ou
que seja improvável que conduza a uma reparação efetiva do requerente.

Caso a comunicação seja admitida, o Comitê comunicará o Estado, que terá seis meses
para apresentar suas observações. O Comitê escutará os requerentes em sessões fechadas e
transmitirá suas considerações e recomendações às partes interessadas. O Estado terá mais seis
meses para apresentar documento escrito dispondo sobre as medidas adotadas.

10. CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS,


DESUMANOS OU DEGRADANTES

Trata de um tema específico e não de um grupo social de pessoas vulneráveis.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 73


Disponibilizado exclusivamente para 0

.
A Convenção foi adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1984, entrou em vigor em
1987, sendo ratificada pelo Brasil em 1989.

Está dividia em três partes: a primeira diz respeito aos sujeitos ativos e passivos da tortura,
sua definição e as medidas a serem tomadas pelos Estados que a ela aderirem; a segunda trata do
Comitê e sua atuação: membros, duração do mandato, relatórios, posicionamentos sobre casos
apresentados; a terceira cuida da adesão dos Estados-partes à Convenção, bem como emendas
que possam vir a sugerir.

No art. 1º encontra-se a definição de tortura:

ARTIGO 1º
1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer
ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos
intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira
pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato cometido; de
intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo
baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou
sofrimento são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no
exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu
consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores
ou sofrimentos consequência unicamente de sanções legítimas, ou quesejam
inerentes a tais sanções ou delas decorram.
2. O presente Artigo não será interpretado de maneira a restringir qualquer
instrumento internacional ou legislação nacional que contenha ou possa
conter dispositivos de alcance mais amplo.

A Convenção determina aos Estados-Partes que editem legislação tipificando criminalmente


a tortura, o que foi atendido pelo Brasil ante a edição da Lei Federal 9.455/97.

Comparando-se as definições contidas na lei e na Convenção, percebe-se grande


semelhança, ainda que a lei brasileira amplie o sujeito ativo do delito para qualquer pessoa,
enquanto a Convenção tem como agente apenas o funcionário público ou outra pessoa no exercício
de funções públicas ou por sua instigação. Outra diferença diz respeito à motivação baseada em
preconceito: a lei prevê apenas discriminação racial ou religiosa, enquanto a Convenção fala em
discriminação de qualquer natureza, certamente mais condizente com o objetivo de proteger a
integridade física e psíquica do ser humanos, sem as quais não sobrevive sua dignidade. Assim,
tendo em vista a regra interpretativa própria dos direitos humanos, no sentido de buscar sempre a
aplicação do instrumento jurídico que garanta maior proteção à pessoa, é possível entender como
tortura o sofrimento agudo baseado em preconceito de qualquer natureza.

O art. 2º determina que em nenhum caso, nem mesmo em situações excepcionais, será
permitida a derrogação a regra de proibição da tortura.

ARTIGO 2°
1. Cada Estado Parte tomará medidas eficazes de caráter legislativo,
administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a prática de atos
de tortura em qualquer território sob sua jurisdição.
2. Em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excepcionais tais
como ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer
outra emergência como justificação para tortura.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 74


Disponibilizado exclusivamente para

.
3. A ordem de um funcionário superior ou de uma autoridade pública não
poderá ser invocada como justificação para a tortura.

Estabelece a Convenção importantes deveres, a que os Estados (que ratificaram)


encontram-se obrigados, com vista à eliminação da prática da tortura no âmbito das respectivas
áreas de jurisdição:

a) Adopção de medidas legislativas, administrativas, judiciais ou outras que se revelem


adequadas a cumprir este objetivo (art. 2º, nº 1);

ARTIGO 2°
1. Cada Estado Parte tomará medidas eficazes de caráter legislativo,
administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a prática de atos
de tortura em qualquer território sob sua jurisdição.

b) Proibição de expulsão, de entrega ou de extradição para Estado onde existem motivos


sérios para crer que a pessoa possa ser sujeita à prática de tortura (art. 3º nº 1);

ARTIGO 3º
1. Nenhum Estado parte procederá à expulsão, devolução ou extradição de
uma pessoa para outro Estado quando houver razões substanciais para crer
que a mesma corre perigo de ali ser submetida a tortura.
2. A fim de determinar a existência de tais razões, as autoridades
competentes levarão em conta todas as considerações pertinentes, inclusive,
quando for o caso, a existência, no Estado em questão, de um quadro de
violência sistemáticas, graves e maciças de direitos humanos.

c) Tortura deverá ser considera crime, no âmbito das respectivas legislações internas (art.
4º nº 1);

ARTIGO 4°
1. Cada Estado Parte assegurará que todos os atos de tortura sejam
considerados crimes segundo a sua legislação penal. O mesmo aplicar-se-á
à tentativa de tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua
cumplicidade ou participação na tortura.
2. Cada Estado Parte punirá estes crimes com penas adequadas que levem
conta a sua gravidade.

d) Competência internacional de cada Estado, sempre que houver a prática de atos


qualificados como tortura (art. 5º);

ARTIGO 5º
1. Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias para estabelecer sua
jurisdição sobre os crimes previstos no Artigo 4° nos seguintes casos:
a) quando os crimes tenham sido cometidos em qualquer território sob sua
jurisdição ou a bordo de navio ou aeronave registrada no Estado em questão;
b) quando o suposto autor for nacional do Estado em questão;
c) quando a vítima for nacional do Estado em questão e este considerar
apropriado.
2. Cada Estado Parte tomará também as medidas necessárias para
estabelecer sua jurisdição sobre tais crimes nos casos em que o suposto
autor se encontre em qualquer território sob sua jurisdição e o Estado não

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 75


Disponibilizado exclusivamente para

.
extradite de acordo com o Artigo 8° para qualquer dos Estados mencionados
no parágrafo 1 do presente Artigo.
3. Esta Convenção não exclui qualquer jurisdição criminal exercida de acordo
com o direito interno.

e) Os Estados deverão incluir normas aplicáveis a crimes de tortura em qualquer tratado de


extradição, para que esta seja concedida (art. 8º);

ARTIGO 8º
1. Os crimes a que se refere o artigo 4º serão considerados como
extraditáveis em qualquer tratado de extradição existente entre os Estados
Partes. Os Estados Partes obrigar-se-ão a incluir tais crimes como
extraditáveis em todo tratado de extradição que vierem a concluir entre si.
2. Se um Estado Parte que condiciona a extradição à existência de tratado
receber um pedido de extradição por parte de outro Estado Parte com o qual
mantém tratado de extradição, poderá considerar a presente Convenção com
base legal para a extradição com respeito a tais crimes. A extradição sujeitar-
se-á às outras condições estabelecidas pela lei do Estado que receber a
solicitação.
3. Os Estados partes que não condicionam a extradição à existência de um
tratado reconhecerão, entre si, tais crimes como extraditáveis, dentro das
condições estabelecidas pela lei do Estado que receber a solicitação.
4. O crime será considerado, para o fim de extradição entre os Estados
partes, como se tivesse ocorrido não apenas no lugar em que ocorreu, mas
também nos territórios dos Estados chamados a estabelecerem sua
jurisdição, de acordo com o parágrafo 1 do Artigo 5°.

f) Colaboração judiciária internacional no âmbito da instrução de processos criminais,


decorrentes da prática de atos de tortura (art. 9º);

ARTIGO 9°
1. Os Estados Partes prestarão entre si a maior assistência possível em
relação aos procedimentos criminais instaurados relativamente a qualquer
dos delitos mencionados no Artigo 4°, inclusive no que diz respeito ao
fornecimento de todos os elementos de prova necessários para o processo
que estejam em seu poder.
2. Os Estados Partes cumprirão as obrigações decorrentes do parágrafo 1
do presente Artigo conforme quaisquer tratados de assistência judiciária
recíproca existente entre si.

g) Adequada formação e informação de quaisquer agentes sobre a proibição de atos de


tortura (art. 10º);

ARTIGO 10
1. Cada Estado assegurará que o ensino e a informação sobre a proibição
de tortura sejam plenamente incorporados no treinamento do pessoal civil ou
militar encarregado da aplicação da lei, do pessoal médico, dos funcionários
públicos e de quaisquer outras pessoas que possam participar da custódia,
interrogatório ou tratamento de qualquer pessoa submetida a qualquer forma
de prisão, detenção ou reclusão.
2. Cada Estados Parte incluirá a referida proibição nas normas ou instruções
relativas aos deveres e funções de tais pessoas.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 76


Disponibilizado exclusivamente para

.
h) Instauração de um inquérito sempre que existam motivos para crer que um ato de tortura
foi praticado (art. 12º);

ARTIGO 12
Cada Estado Parte assegurará que suas autoridades competentes
procederão imediatamente a uma investigação imparcial sempre que houver
motivos razoáveis para crer que um ato de tortura tenha sido cometido em
qualquer território sob sua jurisdição.

i) Garantia do direito de apresentar queixa por parte de qualquer pessoa que alegue haver
sido submetida à tortura e exame rigoroso do seu caso (art. 13º);

ARTIGO 13
Cada Estado assegurará a qualquer pessoa que alegue ter sido submetido à
tortura em qualquer território sob sua jurisdição o direito de apresentar queixa
perante as autoridades competentes do referido Estado, que procederão
imediatamente e com imparcialidade ao exame de seu caso. Serão tomadas
medidas para assegurar a proteção do queixoso e das testemunhas contra
qualquer mau tratamento ou intimidação em consequência da queixa
apresentada ou depoimento prestado.

j) Direito da vítima de tortura a obter indemnização (art. 14º);

ARTIGO 14
1. Cada Estado Parte assegurará, em seu sistema jurídico, à vítima de um
ato de tortura, o direito à reparação e a uma indenização justa e adequada,
incluídos os meios necessários para a mais completa reabilitação possível.
Em caso de morte da vítima como resultado de um ato de tortura, seus
dependentes terão direito a indenização.
2. O disposto no presente Artigo não afetará direito a indenização que a
vítima ou outra pessoa tem em decorrência das leis nacionais.

l) Proibição da utilização de declarações obtidas mediante tortura, como elemento de prova


num processo (art. 15º).

ARTIGO 15
Cada Estado Parte assegurará que nenhuma declaração que se demonstre
ter sido prestada como resultado de tortura possa ser invocada como prova
em processo, salvo contra uma pessoa acusada de tortura como prova de
que a declaração foi prestada.

10.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS


TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES

Foi adotado pela Assembleia Geral da ONU em 2002, entrou em vigor em 2006. O Brasil
ratificou, sem reservas, em 2007.

Seu objetivo é estabelecer um sistema regular de visitas, realizadas por órgãos nacionais e
internacionais aos locais de custódia de pessoas, a fim de prevenir a ocorrência de tortura e outros
tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Artigo 1

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 77


Disponibilizado exclusivamente par

.
O objetivo do presente Protocolo é estabelecer um sistema de visitas
regulares efetuadas por órgãos nacionais e internacionais independentes a
lugares onde pessoas são privadas de sua liberdade, com a intenção de
prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes.

Artigo 3
Cada Estado-Parte deverá designar ou manter em nível doméstico um ou
mais órgãos de visita encarregados da prevenção da tortura e outros
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes (doravante
denominados mecanismos preventivos nacionais).

Artigo 4
1. Cada Estado-Parte deverá permitir visitas, de acordo com o presente
Protocolo, dos mecanismos referidos nos Artigos 2 e 3 a qualquer lugar sob
sua jurisdição e controle onde pessoas são ou podem ser privadas de sua
liberdade, quer por força de ordem dada por autoridade pública quer sob seu
incitamento ou com sua permissão ou concordância (doravante denominados
centros de detenção). Essas visitas devem ser empreendidas com vistas ao
fortalecimento, se necessário, da proteção dessas pessoas contra a tortura e
outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
2. Para os fins do presente Protocolo, privação da liberdade significa qualquer
forma de detenção ou aprisionamento ou colocação de uma pessoa em
estabelecimento público ou privado de vigilância, de onde, por força de ordem
judicial, administrativa ou de outra autoridade, ela não tem permissão para
ausentar-se por sua própria vontade.

10.2. COMITÊ

É um corpo de dez especialistas independentes, de elevada reputação moral e reconhecida


competência em matéria de direitos humanos.

Possui como função:

a) Exame dos relatórios apresentados pelos Estados partes (art. 19);

ARTIGO 19
1. Os Estados Partes submeterão ao Comitê, por intermédio do Secretário-
Geral das Nações Unidas, relatórios sobre as medidas por eles adotadas no
cumprimento das obrigações assumidas em virtude da presente Convenção,
dentro do prazo de um ano, a contar do início da vigência da presente
Convenção no Estado Parte interessado, a partir de então, os Estados Partes
deverão apresentar relatórios suplementares a cada quatro anos sobre todas
as novas disposições que houverem adotado, bem como outros relatórios que
o Comitê vier a solicitar.
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas transmitirá os relatórios a todos os
Estados Partes.
3. Cada relatório será examinado pelo Comitê, que poderá fazer os
comentários gerais que julgar oportunos e os transmitirá ao Estado Parte
interessado. Este poderá, em resposta ao Comitê, comunicar-lhe todas as
observações que deseje formular.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 78


Disponibilizado exclusivamente para

.
4. O Comitê poderá, a seu critério, tomar a decisão de incluir qualquer
comentário que houver feito de acordo com o que estipular o parágrafo 3 do
presente Artigo, junto com as observações conexas recebidas do Estado
Parte interessado, em seu relatório anual que apresentará em conformidade
com o Artigo 24. Se assim o solicitar o Estado Parte interessado, o Comitê
poderá também incluir cópia do relatório apresentado em virtude do parágrafo
1 do presente Artigo.

b) Instauração de inquéritos confidenciais (art. 20);

ARTIGO 20
1. O Comitê, no caso de vir a receber informações fidedignas que lhe
pareçam indicar, de forma fundamentada, que a tortura é praticada
sistematicamente no território de um Estado Parte, convidará o Estado Parte
em Questão a cooperar no exame das informações e, nesse sentido, a
transmitir as observações que julgar pertinentes.
2. Levando em consideração todas as observações que houver apresentado
o Estado parte interessado, bem como quaisquer outras informações
pertinentes de que dispuser, o Comitê poderá, se lhe parecer justificável,
designar um ou vários de seus membros para que procedam a uma
investigação confidencial e informem urgentemente o Comitê.
3. No caso de realizar-se uma investigação nos termos do parágrafo 2 do
presente Artigo, o Comitê procurará obter a colaboração do Estado Parte
interessado. Com a concordância do Estado parte em questão, a investigação
poderá incluir uma visita a seu território.
4. Depois de haver examinado as conclusões apresentadas por um ou vários
de seus membros, nos termos do parágrafo 2 do presente Artigo, o Comitê
as transmitirá ao Estado Parte interessado, junto com as observações ou
sugestões que considerar pertinentes em vista da situação.
5. Todos os trabalhos do Comitê a que se faz referência nos parágrafos 1 ao
4 do presente Artigo serão confidenciais e, em todas as etapas dos referidos
trabalhos, procurar-se-á obter a cooperação do Estado Parte. Quando
estiverem concluídos os trabalhos relacionados com uma investigação
realizada de acordo com o parágrafo 2, o Comitê poderá, após celebrar
consultas com o Estado Parte interessado, tomar a decisão de incluir um
resumo dos resultados da investigação em seu relatório anual, que
apresentará em conformidade com o Artigo 24.

c) Apreciação de comunicações apresentadas contra Estados partes, por outros Estados


partes (art. 21)

ARTIGO 21
1. Com base no presente Artigo, todo Estado Parte da presente Convenção
poderá declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do
Comitê para receber e examinar as comunicações em que um Estado Parte
alegue que outro Estado Parte não vem cumprindo as obrigações que lhe
impõe a Convenção. As referidas comunicações só serão recebidas e
examinadas nos termos do presente Artigo no caso de serem apresentadas
por um Estado Parte que houver feito uma declaração em que reconheça,
com relação a si próprio, a competência do Comitê. O Comitê não receberá
comunicação alguma relativa a um Estado Parte que não houver feito uma
declaração dessa natureza. As comunicações recebidas em virtude do
presente Artigo estarão sujeitas ao procedimento que se segue:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 79


Disponibilizado exclusivamente para

.
a) se um Estado Parte considerar que outro Estado Parte não vem cumprindo
as disposições da presente Convenção poderá, mediante comunicação
escrita, levar a questão ao conhecimento deste Estado Parte. Dentro de um
prazo de três meses, a contar da data do recebimento da comunicação, o
Estado destinatário fornecerá ao Estado que enviou a comunicação
explicações ou quaisquer outras declarações por escrito que esclareçam a
questão, as quais deverão fazer referência, até onde seja possível e
pertinente, aos procedimentos, nacionais e aos recursos jurídicos adotados,
em trâmite ou disponíveis sobre a questão;
b) se, dentro de um prazo de seis meses, a contar da data do recebimento da
comunicação original pelo Estado destinatário, a questão não estiver dirimida
satisfatoriamente para ambos os Estados Partes interessados, tanto um
como o outro terão o direito de submetê-lo ao comitê, mediante notificação
endereçada ao Comitê ou outro Estado interessado;
c) o comitê tratará de todas as questões que se lhe submetam em virtude do
presente Artigo somente após ter-se assegurado de que todos os recursos
jurídicos internos disponíveis tenham sido utilizados e esgotados, em
consonância com os princípios do Direito internacional geralmente
reconhecido. Não se aplicará esta regra quando a aplicação dos
mencionados recursos se prolongar injustificadamente ou quando não for
provável que a aplicação de tais recursos venham a melhorar realmente a
situação da pessoa que seja vítima de violação da presente convenção;
d) o comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinando as
comunicações previstas no presente Artigo;
e) sem prejuízo das disposições da alínea (c), o Comitê colocará seus bons
ofícios à disposição dos Estados Partes interessados no intuito de se alcançar
uma solução amistosa para a questão, baseada no respeito às obrigações
estabelecidas na presente Convenção. Com vistas a atingir esse objetivo, o
comitê poderá constituir, se julgar conveniente, uma comissão de conciliação
ad hoc;
f) em todas as questões que se lhe submetem em virtude do presente Artigo,
o Comitê poderá solicitar aos Estados Partes interessados, a que se
referência na alínea (b), que lhe forneçam quaisquer informação pertinentes;
g) os estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea (b), terão
o direito de fazer-se representar quando as questões forem examinadas no
Comitê e de apresentar suas observações verbalmente e/ou por escrito;
h) o Comitê, dentro dos doze meses seguintes à data de recebimento da
notificação mencionada na (b), apresentará relatório em que:
i) se houver sido alcançada uma solução nos termos da alínea (e), o comitê
restringir-se-á, em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos e da
solução alcançada;
ii) se não houver sido alcançada solução alguma nos termos alínea (e), o
comitê restringir-se-á, em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos;
serão anexados ao relatório o texto das observações escritas e as atas das
observações orais apresentadas pelos Estados Partes interessados.
Para cada questão, o relatório será encaminhado aos Estados partes
interessados.
2. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento
em que cinco Estados Partes da presente convenção houverem feito as
declarações mencionadas no parágrafo 1 deste Artigo. As referidas
declarações serão depositadas pelos Estados partes junto ao Secretário
Geral das Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas aos demais

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 80


Disponibilizado exclusivamente para

.
Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento,
mediante notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada
sem prejuízo do exame de quaisquer questões que constituam objeto de uma
comunicação já transmitida nos termos deste Artigo; em virtude do presente
Artigo, não se receberá qualquer nova comunicação de um Estado Parte uma
vez que o Secretário-Geral haja recebido a notificação sobre a retirada da
declaração, a menos que o Estado parte interessado haja feito uma nova
declaração

d) Apreciação de comunicações apresentadas contra Estados partes, por particulares (art.


22).

ARTIGO 22
1. Todo Estado Parte da presente Convenção poderá, em virtude do presente
Artigo, declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do
Comitê para receber e examinar as comunicações enviadas por pessoas sob
sua jurisdição, ou em nome delas, que aleguem ser vítimas de violação, por
um Estado Parte, das disposições da Convenção. O Comitê não receberá
comunicação alguma relativa a um Estado parte que não houver feito
declaração dessa natureza.
2. O Comitê considerará inadmissível qualquer comunicação recebida em
conformidade com o presente Artigo que seja anônima, ou seu juízo,
constitua abuso de direito de apresentar as referidas comunicações, ou que
seja incompatível com as disposições da presente Convenção.
3. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 2, o Comitê levará todas as
comunicações apresentadas em conformidade com este Artigo ao
conhecimento do Estado Parte da presente Convenção que houver feito uma
declaração nos termos do parágrafo 1 e sobre o qual ter violado qualquer
disposição da Convenção. Dentro dos seis meses seguintes, o Estado
destinatário submeterá ao Comitê as explicações ou declarações por escrito
que elucidem a questão e, se for o caso, indiquem o recurso jurídico adotado
pelo Estado em questão.
4. O Comitê examinará as comunicações recebidas em conformidade com o
presente Artigo à luz de todas as informações a ele submetidas pela pessoa
interessada, ou em nome dela, e pelo Estado parte interessado.
5. O Comitê não examinará comunicação alguma de uma pessoa, nos
termos do presente Artigo, sem que se haja assegurado de que:
a) a mesma questão não foi, nem está sendo examinada perante outra
instância internacional de investigação ou solução;
b) a pessoa em questão esgotou todos os recursos jurídicos internos
disponíveis; não se aplicará esta regra quando a aplicação dos mencionados
recursos se prolongar injustificadamente ou quando não for provável que a
aplicação de tais recursos venha a melhorar realmente a situação da pessoa
que seja vítima de violação da presente Convenção.
6. O Comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinando as
comunicações previstas no presente Artigo.
7. O Comitê comunicará seu parecer ao Estado Parte e à pessoa em
questão.
8. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento
em que cinco Estado Partes da presente Convenção houverem feito as
declarações mencionadas no parágrafo 1 deste Artigo. As referidas
declarações serão depositadas pelos Estados Partes junto ao Secretário-

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 81


Disponibilizado exclusivamente para

.
Geral das Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas aos demais
Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento,
mediante notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada
sem prejuízo do exame de quaisquer questões que constituam objeto de uma
comunicação já transmitida nos termos deste Artigo; em virtude do presente
Artigo, não se receberá nova comunicação de uma pessoa, ou em nome dela,
uma vez que o Secretário-Geral haja recebido a notificação sobre retirada da
declaração, a menos que o Estado parte interessado haja feito uma nova
declaração.

10.3. SUBCOMITÊ PARA PREVENÇÃO DA TORTURA

Foi criado pelo artigo 2.º do Protocolo Facultativo, iniciou suas funções em 2007. É composto
por dez especialistas independentes, eleitos pelos Estados Partes para mandatos de quatro anos,
podendo ser reeleitos.

O Subcomité visita, não apenas prisões e delegacias de polícia, mas qualquer local de onde
a pessoa não possa sair por sua livre vontade (como instituições de saúde mental e centros de
acolhimento para jovens, imigrantes ilegais e requerentes de asilo). Durante as visitas, os membros
do Subcomité examinam as condições de vida nos locais de detenção e reúnem-se em privado com
qualquer preso, funcionário ou outra pessoa que possa fornecer informação relevante.

Artigo 2.º
1. Deverá ser criado um Subcomitê para a Prevenção da Tortura e de Outras
Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes do Comitê contra
a Tortura (doravante denominado o Subcomitê para a Prevenção), que
deverá desempenhar as funções previstas no presente Protocolo.
2 - O Subcomitê para a Prevenção deverá realizar o seu trabalho no quadro
da Carta das Nações Unidas e orientar-se pelos objetivos e princípios da
mesma, bem como pelas normas das Nações Unidas relativas ao tratamento
de pessoas privadas de liberdade.
3 - O Subcomitê para a Prevenção deverá também orientar-se pelos
princípios da confidencialidade, imparcialidade, não seletividade,
universalidade e objetividade.
4 - O Subcomitê para a Prevenção e os Estados Partes deverão cooperar na
aplicação do presente Protocolo.

11. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA

A Convenção foi adotada em 1989, pela Assembleia Geral da ONU. Em 1990, o Brasil
ratificou-a, sem qualquer reserva.

É composta por um preâmbulo e 54 artigos.

O Preâmbulo lembra os princípios fundamentais das Nações Unidas e as disposições de


vários tratados de direitos humanos. Reafirma o fato de as crianças, devido à sua vulnerabilidade,
necessitarem de proteção e de atenção especiais. Destaca, ainda, a necessidade de proteção
jurídica e não jurídica da criança antes e após o nascimento; a importância do respeito pelos valores

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 82


Disponibilizado exclusivamente para

.
culturais da comunidade da criança, e o papel vital da cooperação internacional para que os direitos
da criança sejam uma realidade.

A criança é definida como todo o ser humano com menos de dezoito anos, exceto se a lei
nacional confere a maioridade mais cedo.

Artigo 1
Para efeitos da presente Convenção considera-se como criança todo ser
humano com menos de dezoito anos de idade, a não ser que, em
conformidade com a lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada
antes.
Todos os direitos aplicam-se a todas as crianças, sem exceção. O Estado
tem obrigação de proteger a criança contra todas as formas de discriminação
e de tomar medidas positivas para promover os seus direitos.
Artigo 2
1. Os Estados Partes respeitarão os direitos enunciados na presente
Convenção e assegurarão sua aplicação a cada criança sujeita à sua
jurisdição, sem distinção alguma, independentemente de raça, cor, sexo,
idioma, crença, opinião política ou de outra índole, origem nacional, étnica ou
social, posição econômica, deficiências físicas, nascimento ou qualquer outra
condição da criança, de seus pais ou de seus representantes legais.
2. Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar
a proteção da criança contra toda forma de discriminação ou castigo por
causa da condição, das atividades, das opiniões manifestadas ou das
crenças de seus pais, representantes legais ou familiares.

Todas as decisões que digam respeito à criança devem ter plenamente em conta o seu
interesse superior. O Estado deve garantir à criança cuidados adequados quando os pais, ou outras
pessoas responsáveis por ela não tenham capacidade para isso.

Artigo 3
1. Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições
públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, autoridades
administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o
interesse maior da criança.
2. Os Estados Partes se comprometem a assegurar à criança a proteção e o
cuidado que sejam necessários para seu bem-estar, levando em
consideração os direitos e deveres de seus pais, tutores ou outras pessoas
responsáveis por ela perante a lei e, com essa finalidade, tomarão todas as
medidas legislativas e administrativas adequadas.
3. Os Estados Partes se certificarão de que as instituições, os serviços e os
estabelecimentos encarregados do cuidado ou da proteção das crianças
cumpram com os padrões estabelecidos pelas autoridades competentes,
especialmente no que diz respeito à segurança e à saúde das crianças, ao
número e à competência de seu pessoal e à existência de supervisão
adequada.

Todas as crianças têm o direito inerente à vida, e o Estado tem obrigação de assegurar a
sobrevivência e desenvolvimento da criança.

Artigo 6
1. Os Estados Partes reconhecem que toda criança tem o direito inerente à
vida.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 83


Disponibilizado exclusivamente para

.
2. Os Estados Partes assegurarão ao máximo a sobrevivência e o
desenvolvimento da criança.

A criança tem direito a um nome desde o nascimento, também tem o direito de adquirir uma
nacionalidade e, na medida do possível, de conhecer os seus pais e de ser criada por eles.

Artigo 7
1. A criança será registrada imediatamente após seu nascimento e terá
direito, desde o momento em que nasce, a um nome, a uma nacionalidade e,
na medida do possível, a conhecer seus pais e a ser cuidada por eles.
2. Os Estados Partes zelarão pela aplicação desses direitos de acordo com
sua legislação nacional e com as obrigações que tenham assumido em
virtude dos instrumentos internacionais pertinentes, sobretudo se, de outro
modo, a criança se tornaria apátrida.

A criança tem o direito de exprimir livremente a sua opinião sobre questões que lhe digam
respeito e de ver essa opinião tomada em consideração, tanto na esfera administrativa quanto
judicial.

Artigo 12
1. Os Estados Partes assegurarão à criança que estiver capacitada a formular
seus próprios juízos o direito de expressar suas opiniões livremente sobre
todos os assuntos relacionados com a criança, levando-se devidamente em
consideração essas opiniões, em função da idade e maturidade da criança.
2. Com tal propósito, se proporcionará à criança, em particular, a
oportunidade de ser ouvida em todo processo judicial ou administrativo que
afete a mesma, quer diretamente quer por intermédio de um representante
ou órgão apropriado, em conformidade com as regras processuais da
legislação nacional.

Além disso, a Convenção consagra a liberdade de pensamento, consciência e religião;


liberdade de reunião e de associação.

Artigo 14
1. Os Estados Partes respeitarão o direito da criança à liberdade de
pensamento, de consciência e de crença.
2. Os Estados Partes respeitarão os direitos e deveres dos pais e, se for o
caso, dos representantes legais, de orientar a criança com relação ao
exercício de seus direitos de maneira acorde com a evolução de sua
capacidade.
3. A liberdade de professar a própria religião ou as próprias crenças estará
sujeita, unicamente, às limitações prescritas pela lei e necessárias para
proteger a segurança, a ordem, a moral, a saúde pública ou os direitos e
liberdades fundamentais dos demais.

Artigo 15
1 Os Estados Partes reconhecem os direitos da criança à liberdade de
associação e à liberdade de realizar reuniões pacíficas.
2. Não serão impostas restrições ao exercício desses direitos, a não ser as
estabelecidas em conformidade com a lei e que sejam necessárias numa
sociedade democrática, no interesse da segurança nacional ou pública, da
ordem pública, da proteção à saúde e à moral públicas ou da proteção aos
direitos e liberdades dos demais.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 84


Disponibilizado exclusivamente para

Por fim, a criança suspeita, acusada ou reconhecida como culpada de ter cometido um delito
tem direito a um tratamento que favoreça a sua dignidade e seu valor pessoal, que leve em conta a
sua idade e que vise a sua reintegração na sociedade. A criança tem direito a garantias
fundamentais, bem como a uma assistência jurídica ou outra forma adequada à sua defesa. Os
procedimentos judiciais e a colocação em instituições devem ser evitados sempre que possível.

Artigo 40
1. Os Estados Partes reconhecem o direito de toda criança a quem se alegue
ter infringido as leis penais ou a quem se acuse ou declare culpada de ter
infringido as leis penais de ser tratada de modo a promover e estimular seu
sentido de dignidade e de valor e a fortalecer o respeito da criança pelos
direitos humanos e pelas liberdades fundamentais de terceiros, levando em
consideração a idade da criança e a importância de se estimular sua
reintegração e seu desempenho construtivo na sociedade.
2. Nesse sentido, e de acordo com as disposições pertinentes dos
instrumentos internacionais, os Estados Partes assegurarão, em particular:
a) que não se alegue que nenhuma criança tenha infringido as leis penais,
nem se acuse ou declare culpada nenhuma criança de ter infringido essas
leis, por atos ou omissões que não eram proibidos pela legislação nacional
ou pelo direito internacional no momento em que foram cometidos;
b) que toda criança de quem se alegue ter infringido as leis penais ou a quem
se acuse de ter infringido essas leis goze, pelo menos, das seguintes
garantias:
I) ser considerada inocente enquanto não for comprovada sua culpabilidade
conforme a lei;
II) ser informada sem demora e diretamente ou, quando for o caso, por
intermédio de seus pais ou de seus representantes legais, das acusações
que pesam contra ela, e dispor de assistência jurídica ou outro tipo de
assistência apropriada para a preparação e apresentação de sua defesa;
III) ter a causa decidida sem demora por autoridade ou órgão judicial
competente, independente e imparcial, em audiência justa conforme a lei,
com assistência jurídica ou outra assistência e, a não ser que seja
considerado contrário aos melhores interesses da criança, levando em
consideração especialmente sua idade ou situação e a de seus pais ou
representantes legais;
IV) não ser obrigada a testemunhar ou a se declarar culpada, e poder
interrogar ou fazer com que sejam interrogadas as testemunhas de acusação
bem como poder obter a participação e o interrogatório de testemunhas em
sua defesa, em igualdade de condições;
V) se for decidido que infringiu as leis penais, ter essa decisão e qualquer
medida imposta em decorrência da mesma submetidas a revisão por
autoridade ou órgão judicial superior competente, independente e imparcial,
de acordo com a lei;
VI) contar com a assistência gratuita de um intérprete caso a criança não
compreenda ou fale o idioma utilizado;
VII) ter plenamente respeitada sua vida privada durante todas as fases do
processo.
3. Os Estados Partes buscarão promover o estabelecimento de leis,
procedimentos, autoridades e instituições específicas para as crianças de
quem se alegue ter infringido as leis penais ou que sejam acusadas ou
declaradas culpadas de tê-las infringido, e em particular:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 85


Disponibilizado exclusivamente para

.
a) o estabelecimento de uma idade mínima antes da qual se presumirá que a
criança não tem capacidade para infringir as leis penais;
b) a adoção sempre que conveniente e desejável, de medidas para tratar
dessas crianças sem recorrer a procedimentos judiciais, contando que sejam
respeitados plenamente os direitos humanos e as garantias legais.
4. Diversas medidas, tais como ordens de guarda, orientação e supervisão,
aconselhamento, liberdade vigiada, colocação em lares de adoção,
programas de educação e formação profissional, bem como outras
alternativas à internação em instituições, deverão estar disponíveis para
garantir que as crianças sejam tratadas de modo apropriado ao seu bem-
estar e de forma proporcional às circunstâncias e ao tipo do delito.

11.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS


DIREITOS DAS CRIANÇAS, RELATIVO À VENDA DE CRIANÇAS, PROSTITUIÇÃO
INFANTIL E PORNOGRAFIA INFANTIL

Entrou em vigor em 18.1.2002.

Cuida da proibição de venda de crianças, prostituição e pornografia infantil.

Os Estados-Partes deverão prestar apoio integral às vítimas, inclusive em caso de processo


criminal. Devem tomar medidas para o confisco de bens de pessoas envolvidas nas práticas objeto
do Protocolo, bem como do material que dela decorrer, e para o fechamento de locais em que as
práticas tenham sido cometidas.

Além disso, devem elaborar legislação sobre o tema e implementar políticas públicas para
prevenir a ocorrência dos atos previstos no Protocolo.

Foi ratificado pelo Brasil em 27.1.2004, sem qualquer reserva ou declaração.

Por conta disso, os crimes de pedofilia praticados na internet, quando há divulgação na rede
(e não troca de e-mails), são de competência da Justiça Federal.

11.2. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS


DIREITOS DA CRIANÇA, RELATIVO À PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS EM
CONFLITOS ARMADOS

Entrou em vigor em 12.2.2002.

Cuida do envolvimento de crianças em conflitos armados.

Estabeleceu que pessoas, menores de 18 anos, não podem tomar parte em conflitos
armados nem ser recrutadas compulsoriamente, embora, de acordo com a legislação interna de
cada País, possam integrar as Forças armadas, de maneira voluntária.

Foi ratificado pelo Brasil em 27.1.2004, sem qualquer reserva ou declaração.

11.3. COMITÊ SOBRE OS DIREITOS DAS CRIANÇAS

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 86


Disponibilizado exclusivamente para

.
Nos termos do art. 43, 2, é um órgão composto de 18 "peritos de alta autoridade moral e de
reconhecida competência no domínio abrangido pela presente Convenção".

Possui como função:

a) Examinar os relatórios dos Estados Partes

O primeiro relatório deve ser enviado após 02 anos da ratificação da Convenção. Os demais
a cada cinco anos.

Ao acabar de examinar os relatórios, o Comitê emite suas observações finais que realçam
os aspectos positivos, os fatores e dificuldades que impedem a aplicação da Convenção e os
principais motivos de preocupação do Comitê, bem como um conjunto de sugestões e
recomendações dirigidas ao Estado Parte.

b) Formulação de comentários gerais

Poderá preparar comentários gerais baseados nos artigos e disposições da Convenção, com
o intuito de promover a sua melhor aplicação e de auxiliar os Estados Partes no cumprimento das
suas obrigações.

c) Organização de debates temáticos

d) Pedidos de estudos

O Comitê pode recomendar à Assembleia Geral que solicite ao Secretário-Geral, a


elaboração de estudos sobre matérias específicas relativas aos direitos da criança.

e) Fazer recomendações gerais

O Comité pode fazer recomendações de ordem geral com base nas informações recebidas
dos relatórios estaduais, da autoria de órgãos das Nações Unidas ou outros organismos
competentes.

Até dezembro de 2011, o Comité dos Direitos da Criança era o único dos comitês dos
tratados de direitos humanos das Nações Unidas que não dispunha de competência para examinar
queixas de particulares (já foi, inclusive, questão de prova). Em dezembro de 2011, a Assembleia
Geral da ONU aprovou o terceiro Protocolo Facultativo, que permite a apresentação de queixas por
particulares que se sintam vítimas de violação de qualquer dos direitos previstos na Convenção ou
seus Protocolos Facultativos (sobre venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil e
sobre a participação de crianças em conflitos armados).

Entre os direitos, cuja alegada violação poderá dar lugar a queixa, encontram-se os direitos
da criança à vida, sobrevivência e desenvolvimento, a ser ouvida nos processos judiciais e
administrativos que lhe digam respeito, à saúde e assistência médica, à educação, à segurança
social, a um nível de vida suficiente e à proteção contra todas as formas de violência e maus tratos,
exploração econômica e trabalhos perigosos, consumo ilícito de drogas e todas as formas de
exploração e violência sexuais.

As queixas serão dirigidas ao Comitê sobre os Direitos da Criança. Com a entrada em vigor
do terceiro Protocolo Facultativo, o Comitê fica também dotado de competência para instaurar

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 87


Disponibilizado exclusivamente para

.
inquéritos em caso de violação grave ou sistemática da Convenção e, para os Estados Partes que
o reconheçam, de competência para examinar queixas apresentadas por outros Estados Partes.

O Brasil ratificou em 29 de dezembro de 2017, sem qualquer reserva.

12. CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA

A Convenção reafirma os princípios universais (dignidade, integralidade, igualdade e não


discriminação – art. 3º) em que se baseia, define as obrigações gerais dos Estados Partes, relativas
à integração das várias dimensões da deficiência nas suas políticas, bem como as obrigações
específicas relativas à sensibilização da sociedade para a deficiência, ao combate aos estereótipos
e à valorização das pessoas com deficiência.

Art. 3º - Os princípios da presente Convenção são:


a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a
liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas;
b) A não-discriminação;
c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade;
d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência
como parte da diversidade humana e da humanidade;
e) A igualdade de oportunidades;
f) A acessibilidade;
g) A igualdade entre o homem e a mulher;
h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com
deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua
identidade.

A Convenção trata dos direitos das pessoas com deficiência de maneira integral, seus
artigos não distinguem as medidas a serem adotadas conforme sejam das chamadas primeira,
segunda ou terceira dimensões dos direitos humanos, mas estabelecem aquelas que devem ser
adotadas imediatamente e outras que vão do simples reconhecimento da situação à elaboração de
programas voltados à superação de preconceitos e à integração de tais pessoas.

No art. 1º, encontra-se a definição de pessoa com deficiência e o propósito da Convenção.

Art. 1º O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar


o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito
pela sua dignidade inerente.

Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais
pessoas.

O art. 4º traz um rol de obrigações assumidas pelos Estados, ao ratificar a Convenção.

Artigo 4

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 88


Disponibilizado exclusivamente para

.
1. Os Estados Partes se comprometem a assegurar e promover o pleno
exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas
as pessoas com deficiência, sem qualquer tipo de discriminação por causa
de sua deficiência. Para tanto, os Estados Partes se comprometem a:
a) Adotar todas as medidas legislativas, administrativas e de qualquer outra
natureza, necessárias para a realização dos direitos reconhecidos na
presente Convenção;
b) Adotar todas as medidas necessárias, inclusive legislativas, para modificar
ou revogar leis, regulamentos, costumes e práticas vigentes, que constituírem
discriminação contra pessoas com deficiência;
c) Levar em conta, em todos os programas e políticas, a proteção e a
promoção dos direitos humanos das pessoas com deficiência;
d) Abster-se de participar em qualquer ato ou prática incompatível com a
presente Convenção e assegurar que as autoridades públicas e instituições
atuem em conformidade com a presente Convenção;
e) Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação
baseada em deficiência, por parte de qualquer pessoa, organização ou
empresa privada;
f) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento de produtos,
serviços, equipamentos e instalações com desenho universal, conforme
definidos no Artigo 2 da presente Convenção, que exijam o mínimo possível
de adaptação e cujo custo seja o mínimo possível, destinados a atender às
necessidades específicas de pessoas com deficiência, a promover sua
disponibilidade e seu uso e a promover o desenho universal quando da
elaboração de normas e diretrizes;
g) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento, bem como a
disponibilidade e o emprego de novas tecnologias, inclusive as tecnologias
da informação e comunicação, ajudas técnicas para locomoção, dispositivos
e tecnologias assistivas, adequados a pessoas com deficiência, dando
prioridade a tecnologias de custo acessível;
h) Propiciar informação acessível para as pessoas com deficiência a respeito
de ajudas técnicas para locomoção, dispositivos e tecnologias assistivas,
incluindo novas tecnologias bem como outras formas de assistência, serviços
de apoio e instalações;
i) Promover a capacitação em relação aos direitos reconhecidos pela
presente Convenção dos profissionais e equipes que trabalham com pessoas
com deficiência, de forma a melhorar a prestação de assistência e serviços
garantidos por esses direitos.
2. Em relação aos direitos econômicos, sociais e culturais, cada Estado Parte
se compromete a tomar medidas, tanto quanto permitirem os recursos
disponíveis e, quando necessário, no âmbito da cooperação internacional, a
fim de assegurar progressivamente o pleno exercício desses direitos, sem
prejuízo das obrigações contidas na presente Convenção que forem
imediatamente aplicáveis de acordo com o direito internacional.
3. Na elaboração e implementação de legislação e políticas para aplicar a
presente Convenção e em outros processos de tomada de decisão relativos
às pessoas com deficiência, os Estados Partes realizarão consultas estreitas
e envolverão ativamente pessoas com deficiência, inclusive crianças com
deficiência, por intermédio de suas organizações representativas.
4. Nenhum dispositivo da presente Convenção afetará quaisquer disposições
mais propícias à realização dos direitos das pessoas com deficiência, as
quais possam estar contidas na legislação do Estado Parte ou no direito

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 89


Disponibilizado exclusivamente para

.
internacional em vigor para esse Estado. Não haverá nenhuma restrição ou
derrogação de qualquer dos direitos humanos e liberdades fundamentais
reconhecidos ou vigentes em qualquer Estado Parte da presente Convenção,
em conformidade com leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob a
alegação de que a presente Convenção não reconhece tais direitos e
liberdades ou que os reconhece em menor grau.
5. As disposições da presente Convenção se aplicam, sem limitação ou
exceção, a todas as unidades constitutivas dos Estados federativos.

Há, ainda, uma proteção especial às mulheres e às crianças com deficiência.

Trata, igualmente, da participação na vida política dos Estados partes.

Art. 29 - Os Estados Partes garantirão às pessoas com deficiência direitos


políticos e oportunidade de exercê-los em condições de igualdade com as
demais pessoas, e deverão:
a) Assegurar que as pessoas com deficiência possam participar efetiva e
plenamente na vida política e pública, em igualdade de oportunidades com
as demais pessoas, diretamente ou por meio de representantes livremente
escolhidos, incluindo o direito e a oportunidade de votarem e serem votadas,
mediante, entre outros:
i) Garantia de que os procedimentos, instalações e materiais e equipamentos
para votação serão apropriados, acessíveis e de fácil compreensão e uso;
ii) Proteção do direito das pessoas com deficiência ao voto secreto em
eleições e plebiscitos, sem intimidação, e a candidatar-se nas eleições,
efetivamente ocupar cargos eletivos e desempenhar quaisquer funções
públicas em todos os níveis de governo, usando novas tecnologias assistivas,
quando apropriado;
iii) Garantia da livre expressão de vontade das pessoas com deficiência como
eleitores e, para tanto, sempre que necessário e a seu pedido, permissão
para que elas sejam auxiliadas na votação por uma pessoa de sua escolha;
b) Promover ativamente um ambiente em que as pessoas com deficiência
possam participar efetiva e plenamente na condução das questões públicas,
sem discriminação e em igualdade de oportunidades com as demais pessoas,
e encorajar sua participação nas questões públicas, mediante:
i) Participação em organizações não-governamentais relacionadas com a
vida pública e política do país, bem como em atividades e administração de
partidos políticos;
ii) Formação de organizações para representar pessoas com deficiência em
níveis internacional, regional, nacional e local, bem como a filiação de
pessoas com deficiência a tais organizações.

Não são admitidas reservas à Convenção (art. 46).

Artigo 46
1. Não serão permitidas reservas incompatíveis com o objeto e o propósito
da presente Convenção.
2. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento.

O Brasil ratificou a Convenção em 2008, incorporando-a ao ordenamento interno nos ternos


do art. 5º, §3º da CF. Portanto, possui natureza de emenda constitucional.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 90


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Em 2018, o Brasil aprovou e promulgou o Tratado de Marraqueche, nos termos do art. 5º,
§3º, da CF, que havia sido assinado em 2013. Possui como objetivo permitir que pessoas cegas,
pessoas com deficiência visual e pessoas com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso
possam ter acesso às obras publicadas (livros, apostilas etc.).

Observe o quadro elaborado pelo Professor Márcio Cavalcante:

TRATADOS INTERNACIONAIS EQUIVALENTES A EMENDA CONSTITUCIONAL


CONVENÇÃO DE NOVA YORK
TRATADO DE MARRAQUECHE
(E SEU PROTOCOLO FACULTATIVO)
Tratado firmado com o objetivo
de facilitar o acesso a obras publicadas
Convenção Internacional sobre
às pessoas cegas, com deficiência visual
os Direitos das Pessoas com
ou com outras dificuldades para ter
Deficiência e seu Protocolo Facultativo.
acesso ao texto impresso.
Assinados em Nova York, em 30 de Assinado em Marraqueche, em 27 de
março de 2007. junho de 2013.
Aprovado pelo Congresso Nacional por Aprovado pelo Congresso Nacional por
meio do Decreto legislativo nº 186/2008 meio do Decreto Legislativo nº 261/2015.
Promulgado pelo Presidente da Promulgado pelo Presidente da
República por meio do Decreto nº República por meio do Decreto nº
6.949/2009. 9.522/2018.

12.1. PROTOCOLO FACULTATIVO À CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA


COM DEFICIÊNCIA

Criou um sistema de denúncias pessoais de violação das disposições da Convenção,


dirigidas ao Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

As denúncias, como nos demais casos, não poderão ser anônimas, não sendo ainda
recebidas se houver litispendência internacional, não tiverem esgotados os remédios jurídicos
internos, forem manifestadamente contrárias aos objetivos da Convenção, forem mal
fundamentadas ou estiverem desprovidas de substância ou referirem-se a fatos anteriores à entrada
em vigor do protocolo, salvo se persistirem desde então.

Foi ratificado pelo Brasil em 2008, sem qualquer reserva ou declaração. Incorporado ao
ordenamento interno nos ternos do art. 5º, §3º da CF.

12.2. COMITÊ DOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS

Foi instituído pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (artigo 34.º) a
fim de controlar a aplicação, pelos respectivos Estados Partes, das disposições da Convenção.

O Comitê é formado por 18 especialistas independentes, eleitos pelos Estados Partes na


Convenção.

Possui como funções (vale o que já foi dito acima):

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 91


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.
a) Examinar relatórios elaborados pelos Estados Partes (art. 35);

Artigo 35
1. Cada Estado Parte, por intermédio do Secretário-Geral das Nações
Unidas, submeterá relatório abrangente sobre as medidas adotadas em
cumprimento de suas obrigações estabelecidas pela presente Convenção e
sobre o progresso alcançado nesse aspecto, dentro do período de dois anos
após a entrada em vigor da presente Convenção para o Estado Parte
concernente.
2. Depois disso, os Estados Partes submeterão relatórios subsequentes, ao
menos a cada quatro anos, ou quando o Comitê o solicitar.
3. O Comitê determinará as diretrizes aplicáveis ao teor dos relatórios.
4. Um Estado Parte que tiver submetido ao Comitê um relatório inicial
abrangente não precisará, em relatórios subsequentes, repetir informações
já apresentadas. Ao elaborar os relatórios ao Comitê, os Estados Partes são
instados a fazê-lo de maneira franca e transparente e a levar em
consideração o disposto no Artigo 4.3 da presente Convenção.
5. Os relatórios poderão apontar os fatores e as dificuldades que tiverem
afetado o cumprimento das obrigações decorrentes da presente Convenção
.
b) Organizar debates temáticos

c) Adotar comentários gerais relacionados aos temas da Convenção

d) Examinar comunicações de particulares

e) Instaurar inquéritos em caso de suspeitas de violações graves ou sistemáticas da


Convenção

13. CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E PUNIÇÃO AO CRIME DE GENOCÍDIO

É o primeiro tratado internacional específico do sistema das Nações Unidas, adotado um dia
antes da própria Declaração Universal dos Direitos Humanos.

O genocídio é reconhecido como crime internacional pelos Estados-Partes, havidos quer em


tempo de paz, quem em de guerra, envolvendo, a conspiração para a prática de genocídio; o
incitamento público e direito a tanto; a tentativa e a cumplicidade em praticá-lo.

Para os Estados-Partes surge a obrigação de criar uma legislação interna e garantir a


extradição dos criminosos, sendo que o genocídio não deve ser considerado crime político para fins
de extradição, de modo a impedi-la.

Segundo o art. 6º da Convenção, “as pessoas acusadas de genocídio serão julgadas pelos
tribunais competentes do Estado em cujo território foi o ato cometido ou pela corte penal
internacional competente com relação às Partes Contratantes que lhe tiverem reconhecido a
jurisdição”. Todos esses eventos convergiram esforços internacionais para a criação de um
organismo intergovernamental permanente, o Tribunal Penal Internacional (TPI), competente para
examinar quatro tipos de ilícitos, desde que sejam de maior gravidade e que afetem a comunidade
internacional em seu conjunto: crimes de guerra, crimes contra a humanidade, crimes de agressão
e genocídio.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 92


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.
Foi ratificado pelo Brasil em 1952, sem qualquer reserva.

14. CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A PROTEÇÃO DE TODAS AS PESSOAS


CONTRA OS DESAPARECIMENTOS FORÇADOS

A definição de desaparecimento forçado encontra-se no art. 2º da Convenção:

Artigo 2º Para os efeitos desta Convenção, entende-se por “desaparecimento


forçado” a prisão, a detenção, o sequestro ou qualquer outra forma de
privação de liberdade que seja perpetrada por agentes do Estado ou por
pessoas ou grupos de pessoas agindo com a autorização, apoio ou
aquiescência do Estado, e a subsequente recusa em admitir a privação de
liberdade ou a ocultação do destino ou do paradeiro da pessoa desaparecida,
privando-a assim da proteção da lei.

A Convenção, em seu art. 1º, 2 consagra o direito absoluto de não ser vítima de
desaparecimento forçado.

Artigo 1
1. Nenhuma pessoa será submetida a desaparecimento forçado.
2. Nenhuma circunstância excepcional, seja estado de guerra ou ameaça de
guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública,
poderá ser invocada como justificativa para o desaparecimento forçado.

Apesar de estar previsto um mandado internacional de criminalização, no art. 4º da


Convenção, o Brasil ainda tipificou o crime de desaparecimento forçado.

Artigo 4 - Cada Estado Parte tomará as medidas necessárias para assegurar


que o desaparecimento forçado constitua crime em conformidade com o seu
direito penal.

Nos termos do art. 5º da Convenção, os Estados que praticarem sistematicamente a prática


de desaparecimento forçado cometem crime contra a humanidade, de acordo com o direito penal
internacional aplicável – Estatuto de Roma. Deverão ser responsabilizados.

Artigo 5º - A prática generalizada ou sistemática de desaparecimento forçado


constitui crime contra a humanidade, tal como define o direito internacional
aplicável, e estará sujeito às consequências previstas no direito internacional
aplicável.

De acordo com o art. 24, são consideradas vítimas tanto as pessoas desaparecidas, quanto
as pessoas atingidas indiretamente pelo ato, como familiares. Além disso, este artigo traz as
responsabilidades do Estado perante as vítimas.

Artigo 24
1. Para os fins da presente Convenção, o termo “vítima” se refere à pessoa
desaparecida e a todo indivíduo que tiver sofrido dano como resultado direto
de um desaparecimento forçado.
2. A vítima tem o direito de saber a verdade sobre as circunstâncias do
desaparecimento forçado, o andamento e os resultados da investigação e o

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 93


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.
destino da pessoa desaparecida. O Estado Parte tomará medidas
apropriadas a esse respeito.
3. Cada Estado Parte tomará todas as medidas cabíveis para procurar,
localizar e libertar pessoas desaparecidas e, no caso de morte, localizar,
respeitar e devolver seus restos mortais.
4. Cada Estado Parte assegurará que sua legislação garanta às vítimas de
desaparecimento forçado o direito de obter reparação e indenização rápida,
justa e adequada.
5. O direito a obter reparação, a que se refere o parágrafo 4º deste artigo,
abrange danos materiais e morais e, se couber, outras formas de reparação,
tais como:
a) Restituição;
b) Reabilitação;
c) Satisfação, inclusive o restabelecimento da dignidade e da reputação; e
d) Garantias de não repetição.
6. Sem prejuízo da obrigação de prosseguir a investigação até que o destino
da pessoa desaparecida seja estabelecido, cada Estado Parte adotará as
providências cabíveis em relação à situação jurídica das pessoas
desaparecidas cujo destino não tiver sido esclarecido, bem como à situação
de seus familiares, no que respeita à proteção social, a questões financeiras,
ao direito de família e aos direitos de propriedade.
7. Cada Estado Parte garantirá o direito de fundar e participar livremente de
organizações e associações que tenham por objeto estabelecer as
circunstâncias de desaparecimentos forçados e o destino das pessoas
desaparecidas, bem como assistir as vítimas de desaparecimentos forçados.

Em nenhuma hipótese, nem mesmo quanto se tratar de circunstâncias excepcionais, será


admita a prática do desaparecimento forçado (art. 1º).

Artigo 1º
1. Nenhuma pessoa será submetida a desaparecimento forçado.
2. Nenhuma circunstância excepcional, seja estado de guerra ou ameaça de
guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência pública,
poderá ser invocada como justificativa para o desaparecimento forçado.

Entrou em vigor em 23 de dezembro de 2010. O Brasil ratificou em 29 de novembro de 2010,


sem qualquer reserva, sendo promulgada pelo Decreto 8.767/2016.

Obs.; De acordo com a doutrina e com a jurisprudência internacional de direitos humanos, o crime
de desaparecimento forçado atinge três níveis: vítima propriamente dita (1º nível), familiares da
vítima (2º nível) e direito da sociedade de conhecer a verdade sobre os fatos (3º nível).

14.1. COMITÊ CONTRA DESAPARECIMENTOS FORÇADOS

A terceira parte da Convenção trata do Comitê, o qual será formado por 10 especialistas
independentes.

Suas funções são:

a) Receber relatórios periódicos dos Estados-Parte sobre medidas tomadas para cumprir
suas obrigações, além de fazer comentários, observações e recomendações (art. 29).

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 94


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.
Artigo 29
1. Cada Estado Parte submeterá ao Comitê, por intermédio do Secretário-
Geral das Nações Unidas, um relatório sobre as medidas tomadas em
cumprimento das obrigações assumidas ao amparo da presente Convenção,
dentro de dois anos contados a partir da data de entrada em vigor da presente
Convenção para o Estado Parte interessado.
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas disponibilizará o referido relatório a
todos os Estados Partes.
3. O relatório será examinado pelo Comitê, que emitirá os comentários,
observações e recomendações que julgar apropriados. Esses comentários,
observações e recomendações serão comunicados ao Estado Parte
interessado, que poderá responder de iniciativa própria ou por solicitação do
Comitê.
4. O Comitê poderá também solicitar informações adicionais aos Estados
Partes a respeito da implementação da presente Convenção.

b) Receber e atender aos pedidos em casos individuais de desaparecimento forçado, e


comunicar suas observações e recomendações ao Estado para localizar e proteger a pessoa
desaparecida (art. 31 e 32).

Artigo 31
1. Um Estado Parte poderá declarar, quando da ratificação da presente
Convenção ou em qualquer momento posterior, que reconhece a
competência do Comitê para receber e considerar comunicações
apresentadas por indivíduos ou em nome de indivíduos sujeitos à sua
jurisdição, que alegam serem vítimas de violação pelo Estado Parte de
disposições da presente Convenção. O Comitê não aceitará comunicações a
respeito de um Estado Parte que não tiver feito tal declaração.
2. O Comitê considerará uma comunicação inadmissível quando:
a) For anônima;
b) Constituir abuso do direito de apresentar essas comunicações ou for
inconsistente com as disposições da presente Convenção;
c) A mesma questão estiver sendo examinada em outra instância
internacional de exame ou de solução de mesma natureza; ou
d) Todos os recursos efetivos disponíveis internamente não tiverem sido
esgotados. Essa regra não se aplicará se os procedimentos de recurso
excederem prazos razoáveis.
3. Se julgar que a comunicação satisfaz os requisitos estipulados no
parágrafo 2º deste artigo, o Comitê transmitirá a comunicação ao Estado
Parte interessado, solicitando-lhe que envie suas observações e comentários
dentro de um prazo fixado pelo Comitê.
4. A qualquer momento, depois de receber uma comunicação e antes de
chegar a uma conclusão sobre seu mérito, o Comitê poderá dirigir ao Estado
Parte interessado um pedido urgente para que tome as medidas cautelares
necessárias para evitar eventuais danos irreparáveis às vítimas da violação
alegada. O exercício dessa faculdade pelo Comitê não implica conclusão
sobre a admissibilidade ou o mérito da comunicação.
5. O Comitê examinará em sessões fechadas as comunicações previstas
nesse artigo. O Comitê informará o autor da comunicação das respostas
apresentadas pelo Estado Parte em consideração. Quando decidir concluir o
procedimento, o Comitê comunicará seu parecer ao Estado Parte e ao autor
da comunicação.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 95


Disponibilizado exclusivamente para

Artigo 32
Um Estado Parte da presente Convenção poderá a qualquer momento
declarar que reconhece a competência do Comitê para receber e considerar
comunicações em que um Estado Parte alega que outro Estado Parte não
cumpre as obrigações decorrentes da presente Convenção. O Comitê não
receberá comunicações relativas a um Estado Parte que não tenha feito tal
declaração, nem tampouco comunicações apresentadas por um Estado Parte
que não tenha feito tal declaração.

Obs.: Brasil, ainda, não reconheceu a competência do Comitê para isso.

c) Receber e analisar os pedidos apresentados por um Estado-Parte relativos à violação de


outro Estado das suas obrigações segundo a Convenção (art. 31 e 32).

Obs.: Brasil, ainda, não reconheceu a competência do Comitê para isso.

d) Visitar os Estados, seja a pedido dos mesmos, ou com base em informação fidedigna
indicando graves violações da Convenção em seu território, e, logo após, apresentar suas
observações e recomendações (art. 33).

Artigo 33
1. Caso receba informação confiável de que um Estado Parte está incorrendo
em grave violação do disposto na presente Convenção, o Comitê poderá,
após consulta com o Estado Parte em questão, encarregar um ou vários de
seus membros a empreender uma visita a esse Estado e a informá-lo a
respeito o mais prontamente possível.

e) Por fim, caso o Comitê receba informações de uma prática sistemática de


desaparecimento forçado, ele poderá apresentar o caso com urgência perante a Assembleia Geral
das Nações Unidas (art. 34).

Artigo 34
Caso receba informação que pareça conter indicações bem fundamentadas
de que desaparecimentos forçados estão sendo praticados de forma
generalizada ou sistemática em território sob a jurisdição de um Estado Parte,
o Comitê poderá, após solicitar ao Estado Parte todas as informações
relevantes sobre a situação, levar urgentemente o assunto à atenção da
Assembleia Geral das Nações Unidas, por intermédio do Secretário-Geral
das Nações Unidas.

15. CONVENÇÃO PARA A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DE TODOS OS TRABALHADORES


MIGRANTES E MEMBROS DAS SUAS FAMÍLIAS

Foi aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 1990, entrou em vigor em 2003.

De acordo com a Convenção, migrantes regularizados pelo acordo gozam dos mesmos
direitos e estão sujeitos às mesmas obrigações de natureza laboral em vigor para os trabalhadores
nacionais do Estado receptor e da mesma proteção no que se refere à aplicação das leis relativas
à higiene e à segurança do trabalho.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 96


Disponibilizado exclusivamente para

.
De todos os tratados do Sistema Global, é o que menos possui adesão.

O Brasil não assinou a Convenção.

15.1. COMITÊ

Possui competência para:

a) Examinar relatórios apresentados pelos Estados Partes sobre as medidas adotadas para
dar cumprimento às obrigações impostas pela Convenção;

b) Organizar debates e adotar comentários gerais sobre matérias relacionadas à


Convenção.

c) Apreciar comunicações apresentadas por outros Estados e por particulares (mas não está
em vigor, por não se ter atingido o número mínimo de aceitações – dez).

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 97


Disponibilizado exclusivamente para

.
SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS

1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Conforme leciona Caio Paiva, “a história do sistema interamericano se desenvolve, no início,


de forma paralela ao princípio da solidariedade panamericana, remontando ao Congresso do
Panamá, realizado em 1826, que, por sua vez, teve raízes na Carta da Jamaica (1815), que
apresentava a ideia original de Simón Bolívar, e na Doutrina Monroe, anunciada pelo então
presidente dos Estados Unidos, James Monroe, em 1823. Tanto Bolívar quanto Monroe, cada um
a seu modo, o primeiro pelo sul, e o segundo pelo norte, lutaram pela independência dos Estados
americanos contra a ameaça de recolonização por parte de potências europeias, em especial as
que integravam a Santa Aliança, uma coligação das monarquias do Império Russo, do Império
Austríaco e do Reino da Prússia”

A seguir analisar-se-á as cinco etapas da evolução histórica do Sistema Interamericano.

1.1. 1ª ETAPA: ANTECEDENTES DA CRIAÇÃO

Inicia-se em 1826 e vai até 1948, divide-se em três fases, são elas:

1ª FASE - Congresso do Panamá, em 1826. Trata-se do primeiro de uma série de encontros


regionais em que se discutiu formas de cooperação entre os Estados americanos, ocasião em que
se aprovou o Tratado de União Perpétua, Liga e Confederação, que uniu a Grande Colômbia
(Colômbia, Equador, Panamá e Venezuela), México, América Central e Peru.

Os principais pontos do Tratado foram:

o Criação de uma confederação dos Estados americanos para a consolidação da paz e


da defesa solidária dos direitos desses países;

o Defesa da independência política e integridade territorial dos Estados americanos;

o Princípio da democracia representativa como condição sine qua non para pertencer
à União;

o Codificação do direito internacional, o princípio da cidadania continental que


estabelecia a igualdade jurídica entre os nacionais e os estrangeiros de um Estado;
e

o Compromisso das altas partes contratantes de cooperarem na abolição da


escravatura.

Caio Paiva destaca que, embora o tratado não tenha entrado em vigor (foi ratificado somente
pela Grande Colômbia), é apontado como o grande antecedente do sistema interamericano de
proteção dos direitos humanos.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 98


Disponibilizado exclusivamente para

.
2ª FASE - caracterizada por um ciclo de conferências internacionais americanas realizadas
a cada quatro anos (até 1938), em diferentes capitais do continente. De forma gradual, as
conferências foram construindo o que viria a ser o sistema interamericano de proteção dos direitos
humanos.

Em virtude da Segunda Guerra Mundial (de 1939 a 1945), os Estados americanos reuniram-
se em seis ocasiões durante o período de 1936 a 1947 para examinar problemas sobre guerra, paz
e segurança.

3ª FASE – inicia-se com a Conferência Interamericana de Chapultepec, realizada após a


Segunda GM (1945), no México, para discutir os “Problemas da Guerra e da Paz”, em que se
aprovou diversas resoluções, algumas sobre proteção internacional dos direitos humanos, como a
que tratava da reorganização, consolidação e fortalecimento do sistema interamericano,
fornecendo, portanto, as bases concretas para que fosse criada uma organização de Estados
americanos.

1.2. 2ª ETAPA: INAUGURAÇÃO E FORMAÇÃO DO SISTEMA

Período compreendido entre 1948 e 1959.

Em 1948, na 9ª Conferência Internacional Americana, realizada em Bogotá, é inaugurado o


sistema interamericano de proteção dos direitos humanos propriamente dito, com a aprovação de
diversos documentos, mas principalmente da Carta da Organização dos Estados Americanos (Carta
da OEA) e da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem (DADDH).

A Carta da OEA foi editada em 1948, sofreu reformas em 1967, 1985, 1994 e 1995. Traz,
em seu art. 2º, os objetivos da OEA.

Artigo 2º
Para realizar os princípios em que se baseia e para cumprir com suas
obrigações regionais, de acordo com a Carta das Nações Unidas, a
Organização dos Estados Americanos estabelece como propósitos
essenciais os seguintes:
a) Garantir a paz e a segurança continentais;
b) Promover e consolidar a democracia representativa, respeitado o princípio
da não-intervenção;
c) Prevenir as possíveis causas de dificuldades e assegurar a solução
pacífica das controvérsias que surjam entre seus membros;
d) Organizar a ação solidária destes em caso de agressão;
e) Procurar a solução dos problemas políticos, jurídicos e econômicos que
surgirem entre os Estados membros;
f) Promover, por meio da ação cooperativa, seu desenvolvimento econômico,
social e cultural;
g) Erradicar a pobreza crítica, que constitui um obstáculo ao pleno
desenvolvimento democrático dos povos do Hemisfério; e
h) Alcançar uma efetiva limitação de armamentos convencionais que permita
dedicar a maior soma de recursos ao desenvolvimento econômico-social dos
Estados membros.

Ao longo de seus artigos, incluindo o preâmbulo, é possível observar diversas menções


genéricas aos direitos humanos fundamentais.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 99


Disponibilizado exclusivamente para

.
Preâmbulo - Certos de que o verdadeiro sentido da solidariedade americana
e da boa vizinhança não pode ser outro senão o de consolidar neste
Continente, dentro do quadro das instituições democráticas, um regime de
liberdade individual e de justiça social, fundado no respeito dos direitos
essenciais do Homem;

Artigo 3º – Os Estados americanos reafirmam os seguintes princípios:


l) Os Estados americanos proclamam os direitos fundamentais da pessoa
humana, sem fazer distinção de raça, nacionalidade, credo ou sexo.

Artigo 17 Cada Estado tem o direito de desenvolver, livre e


espontaneamente, a sua vida cultural, política e econômica. No seu livre
desenvolvimento, o Estado respeitará os direitos da pessoa humana e os
princípios da moral universal.

Artigo 33 O desenvolvimento é responsabilidade primordial de cada país e


deve constituir um processo integral e continuado para a criação de uma
ordem econômica e social justa que permita a plena realização da pessoa
humana e para isso contribua.

Artigo 45 Os Estados membros, convencidos de que o Homem somente


pode alcançar a plena realização de suas aspirações dentro de uma ordem
social justa, acompanhada de desenvolvimento econômico e de verdadeira
paz, convêm em envidar os seus maiores esforços na aplicação dos
seguintes princípios e mecanismos.

Igualmente, a Carta trata de direitos sociais, tais como: direito ao bem-estar material, o direito
ao trabalho, direito à livre-associação, direito à greve e à negociação coletiva, direito à previdência
social e à assistência jurídica para fazer valer seus direitos, direito à educação.

A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem foi adota em 1948, na mesma
Conferência em que se editou a Carta da OEA. É anterior à Declaração Universal de Direitos
Humanos. É formada por um preâmbulo, consagra os objetivos e deveres, e por 38 artigos, os quais
tratam de direitos e deveres.

Preâmbulo
Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos e, como são
dotados pela natureza de razão e consciência, devem proceder
fraternalmente uns para com os outros.
O cumprimento do dever de cada um é exigência do direito de todos. Direitos
e deveres integram-se correlativamente em toda a atividade social e política
do homem. Se os direitos exaltam a liberdade individual, os deveres
exprimem a dignidade dessa liberdade.
Os deveres de ordem jurídica dependem da existência anterior de outros de
ordem moral, que apoiam os primeiros conceitualmente e os fundamentam.
É dever do homem servir o espírito com todas as suas faculdades e todos os
seus recursos, porque o espírito é a finalidade suprema da existência humana
e a sua máxima categoria.
É dever do homem exercer, manter e estimular a cultura por todos os meios
ao seu alcance, porque a cultura é a mais elevada expressão social e histórica
do espírito.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 100


Disponibilizado exclusivamente para

.
E, visto que a moral e as boas maneiras constituem a mais nobre
manifestação da cultura, é dever de todo homem acatar-lhes os princípios.

Trata tanto de direitos civis e políticos quanto dos direitos econômicos, sociais e culturais,
os quais devem ser implementados progressivamente.

Destaca-se que ao contrário da DUDH, a DADDH não proíbe a pena de morte, a tortura, a
escravidão e a servidão, bem como consagra o caráter individual da propriedade.

Além disso, seu valor jurídico difere do valor conferido à DUDH, na medida em que ao
documento regional foi indiretamente conferida força obrigatória, especialmente após a reforma da
Carta da OEA, fazendo com que a Declaração, juntamente com a Convenção Americana, forme um
conjunto normativo.

A Corte Interamericana já afirmou que a Declaração deve ser considerada interpretação


autêntica dos dispositivos genéricos de proteção dos direitos humanos da Carta da OEA.

São direitos consagrados na Declaração:

• Direito à vida, à liberdade, à segurança e integridade da pessoa.


• Direito de igualdade perante a lei.
• Direito de liberdade religiosa e de culto.
• Direito de liberdade de investigação, opinião, expressão e difusão.
• Direito à proteção da honra, da reputação pessoal e da vida particular e familiar.
• Direito à constituição e proteção da família.
• Direito de proteção à maternidade e à infância.
• Direito de residência e trânsito.
• Direito à inviolabilidade do domicílio.
• Direito à inviolabilidade do domicílio.
• Direito à preservação da saúde e ao bem-estar.
• Direito à educação.
• Direito aos benefícios da cultura.
• Direito ao trabalho e a uma justa retribuição.
• Direito ao descanso e ao seu aproveitamento.
• Direito à previdência social.
• Direito de reconhecimento da personalidade jurídica e dos direitos civis.
• Direito à justiça.
• Direito à nacionalidade.
• Direito de sufrágio e de participação no governo.
• Direito de reunião.
• Direito de associação.
• Direito de propriedade.
• Direito de petição.
• Direito de proteção contra prisão arbitrária.
• Direito a processo regular.
• Alcance dos direitos do homem.

A declaração enumera os seguintes deveres:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 101


Disponibilizado exclusivamente para

.
• Deveres perante a sociedade.
• Deveres para com os filhos e os pais.
• Deveres de instrução.
• Dever do sufrágio.
• Dever de obediência à Lei.
• Dever de servir a coletividade e a nação.
• Deveres de assistência e previdência sociais.
• Dever de pagar impostos.
• Dever do trabalho.
• Dever de se abster de atividades políticas em países estrangeiros.

1.3. 3ª ETAPA: INÍCIO DO PERÍODO DE MONITORAMENTO

Período compreendido entre 1959 e 1969.

Em 1959, cria-se a Comissão Interamericana de Direitos Humanos que nasce sem base
convencional e com poderes limitados à “promoção dos direitos humanos”, o que compreendia,
segundo a interpretação da própria comissão, a formulação de recomendações gerais para os
estados membros da OEA, a preparação de relatórios geográficos e até mesmo, com a anuência
do respectivo governo, as visitas in loco.

1.4. 4ª ETAPA: INSTITUCIONALIZAÇÃO CONVENCIONAL DO SISTEMA

Período compreendido entre 1969 e 1978.

Em 1969, realizou a Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em


San José da Costa Rica, ocasião em que foi editada a Convenção Interamericana sobre Direitos
Humanos (CIDH) também chamada de Pacto de San José da Costa Rica.

Trata-se de um instrumento normativo de caráter vinculante que estabeleceu um catálogo


de direitos humanos e os meios de proteção para tais direitos.

De acordo com Caio Paiva, a 4ª Etapa teve fim em 1978, quando a CADH entrou em vigor,
após o depósito do 11º instrumento de ratificação na Secretaria-Geral da OEA.

1.5. 5ª ETAPA: CONSOLIDAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DO SISTEMA

Inicia-se em 1978 e vai até os dias atuais.

A consolidação e o aperfeiçoamento do sistema foram marcados pelo início da construção


jurisprudencial contenciosa e consultiva da Corte IDH, pela ampliação do corpus normativo do
sistema interamericano e pela proposta ou implementação de medidas para aperfeiçoar o sistema.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 102


Disponibilizado exclusivamente para

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2. DIVISÃO DO SISTEMA INTERAMERICANO

O Sistema Interamericano divide-se em dois subsistemas: SUBSISTEMA GERAL e


SUBSISTEMA EXIGENTE. Observe as diferenças:

SUBSISTEMA GERAL SUBSISTEMA EXIGENTE

Subsistema da Convenção
Nomenclatura Subsistema da OEA Interamericana sobre Direitos
Humanos

Carta da OEA, Declaração


Americana dos Direitos e Deveres Convenção Americana de Direitos
Base normativa
do Homem e Estatuto da Comissão Humanos
Interamericana de Direitos Humanos

Comissão Interamericana de Direitos


Órgão de Comissão Interamericana de Direitos
Humanos e Corte Interamericana de
proteção Humanos
Direitos Humanos

TODOS os Estados membros da APENAS aos Estados que tenham


Aplicação
OEA ratificado a CIDH

Perceba que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos participa dos dois


subsistemas, possuindo um papel dúplice.

3. COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

3.1. CONCEITO

Trata-se de um órgão de monitoramento, proteção e promoção dos direitos humanos no


continente americano. A Comissão possui um papel dúplice, isto porque integra a OEA e a CADH
(dupla integração orgânica).

Está sediada em Washington (EUA), podendo também se reunir em qualquer Estado


americano quando o decidir por maioria absoluta de votos e com a anuência ou a convite do
respectivo Governo.

Obs.: A Corte Interamericana de Direitos Humanos também é um órgão de monitoramento, proteção


e promoção dos direitos humanos, mas integra apenas a CADH.

3.2. ORIGEM

A CIDH foi criada em agosto de 1959 (dez anos antes da adoção da Convenção Americana),
em Santiago, no Chile. Era considerada uma unidade autônoma da OEA, tendo em vista que não
possuía base convencional, ou seja, não estava prevista em um tratado.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 103


Disponibilizado exclusivamente para

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Em 1960, após a aprovação do primeiro estatuto, ocorreu o primeiro período de sessões,
com a eleição dos primeiros membros. A partir de 1961, a Comissão deu início à prática das visitas
in loco para observar a situação geral dos direitos humanos num país ou para investigar um caso
em particular, publicando posteriormente informes especiais com suas observações.

Em 1965, os seus poderes foram ampliados, passou a ter competência para receber
petições ou comunicações individuais sobre violações de direitos humanos. Já em 1967, foi
aprovado um Protocolo de Reformas à Carta da OEA (Protocolo de Buenos Aires), incluindo a CIDH
entre os órgãos permanentes da Organização dos Estados Americanos, conferindo-lhe, portanto, a
base convencional.

De acordo com Caio Paiva, o processo de institucionalização da CIDH se completa com a


adoção da CADH em 1969 e com a sua entrada em vigor em 1978, que a previu como órgão
competente – junto com a Corte – para conhecer de assuntos relacionados com o cumprimento dos
compromissos assumidos pelos Estados-partes da Convenção, estabelecendo sua organização,
suas funções, sua competência e também diretrizes procedimentais para processar uma petição ou
comunicação na qual se alegue uma violação de direitos humanos consagrados na CADH.

3.3. REGIME JURÍDICO

A CIDH está inserida na Carta da OEA como um órgão da Organização (art. 106), é também
regida juridicamente pela CADH (artigos 34 a 50), e pelo seu Estatuto, elaborado pela própria
Comissão e aprovado pela Assembleia Geral da OEA em 1979.

Art. 39 da CADH: A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à


aprovação da Assembleia Geral e expedirá seu próprio Regulamento.

3.4. FUNÇÕES

Em um primeiro momento, a função da Comissão Interamericana se limitava à uma atividade


de promoção dos direitos humanos por meio da preparação de estudos, de relatórios e de
recomendações aos Estados. Com o passar dos tempos, a Comissão foi alcançando mais poderes,
tornando-se, um órgão do sistema interamericano competente para receber e processar as petições
individuais sobre violação de direitos humanos.

Destaca-se que as funções da CIDH estão previstas no art. 41 da CADH e nos artigos 18,
19 e 20 do seu Estatuto (divididas segundo o papel dúplice desempenhado pela Comissão).

Na prática o papel dúplice ou a dualidade de regime jurídico da CIDH traz a possibilidade de


a Comissão atuar tanto em face de estados que tenham aderido à CADH (utiliza o seu texto), quanto
em face de Estados membros da OEA que não tenham aderido à Convenção, contra os quais
utilizará o texto da Carta da OEA e da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.

Artigo 51. Recebimento da petição - A Comissão receberá e examinará a


petição que contenha denúncia sobre presumidas violações dos direitos
humanos consagrados na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do
Homem com relação aos Estados membros da Organização que não sejam
partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 104


Disponibilizado exclusivamente para

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O papel dúplice da CIDH também determinará a consequência processual nos casos em
que a apreciação de mérito for no sentido do estabelecimento da violação de direitos humanos pelo
Estado demandado:

ESTADO NÃO ADERIU À CADH OU ADERIU


ESTADO ADERIU À CADH E ACEITOU A
E NÃO ACEITOU A JURISDIÇÃO
JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA CORTE
CONTENCIOSA DA CORTE

Comissão poderá apenas aplicar ao Estado


Comissão poderá ajuizar uma ação de uma medida de caráter não decisória que traz
responsabilidade internacional contra o consigo apenas um constrangimento político
respectivo Estado na Corte Interamericana. internacional, consistente na publicação de
A CIDH funciona como uma espécie de relatório e na inclusão deste no Relatório
“Ministério Público” no âmbito internacional Anual à Assembleia-Geral da OEA ou em
qualquer meio que considerar adequado.

É possível identificar três categorias de funções da CIDH, são elas:

1ªCategoria: consideração de petições individuais denunciando a violação de algum dos


direitos protegidos;

2ªCategoria: preparação e publicação de informes sobre a situação dos direitos humanos


num determinado país;

3ªCategoria: outras atividades orientadas à promoção dos direitos humanos, tais como os
trabalhos de assessoria que pode oferecer aos Estados ou a preparação de projetos de tratados
que permitam oferecer uma maior proteção aos direitos humanos.

De acordo com o Estatuto da CIDH (arts. 18 e 20), em relação aos Estados membros da
OEA que não aderiram à CADH, a Comissão tem as seguintes atribuições:

• Estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;

• Formular recomendações aos Governos dos Estados no sentido de que adotem medidas
progressivas em prol dos direitos humanos, no âmbito de sua legislação, de seus
preceitos constitucionais e de seus compromissos internacionais, bem como disposições
apropriadas para promover o respeito a esses direitos;

• Preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de


suas funções;

• Solicitar aos Governos dos Estados que lhe proporcionem informações sobre as medidas
que adotarem em matéria de direitos humanos;

• Atender às consultas que, por meio da Secretaria- Geral da Organização, lhe formularem
os Estados membros sobre questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de
suas possibilidades, prestar assessoramento que eles lhe solicitarem;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 105


Disponibilizado exclusivamente para

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• Apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Organização no qual se levará na
devida conta o regime jurídico aplicável aos Estados Partes da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos e aos Estados que não o são;

• Fazer observações in loco em um Estado, com a anuência ou a convite do Governo


respectivo;

• Apresentar ao Secretário-Geral o orçamento-programa da Comissão, para que o


submeta à Assembleia Geral;

• Dispensar especial atenção à tarefa da observância dos direitos humanos mencionados


nos artigos I, II, III, IV, XVIII, XXV e XXVI da Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem;

• Examinar as comunicações que lhe forem dirigidas e qualquer informação disponível;


dirigir-se ao Governo de qualquer dos Estados membros não Partes da Convenção a fim
de obter as informações que considerar pertinentes; e formular-lhes recomendações,
quando julgar apropriado, a fim de tornar mais efetiva a observância dos direitos
humanos fundamentais; e

• Verificar, como medida prévia ao exercício da atribuição indicada no item anterior,


anterior, se os processos e recursos internos de cada Estado membro não Parte da
Convenção foram devidamente aplicados e esgotados.

Em relação aos Estados que aderiram à CADH, nos termos do art. 19 do Estatuto da CIDH,
a Comissão ainda terá as seguintes:

• Atuar com respeito às petições e outras comunicações de conformidade com os artigos


44 a 51 da Convenção;

• Comparecer perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos nos casos previstos


na Convenção;

• Solicitar à Corte Interamericana de Direitos Humanos que tome as medidas provisórias


que considerar pertinente sobre assuntos graves e urgentes que ainda não tenham sido
submetidos a seu conhecimento, quando se tornar necessário a fim de evitar danos
irreparáveis às pessoas;

• Consultar a Corte a respeito da interpretação da Convenção Americana sobre Direitos


Humanos ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos dos
Estados americanos;

• Submeter à Assembleia Geral projetos de protocolos adicionais à Convenção Americana


sobre Direitos Humanos, com a finalidade de incluir progressivamente no regime de
proteção da referida Convenção outros direitos e liberdades; e

• Submeter à Assembleia Geral para o que considerar conveniente, por intermédio do


Secretário-Geral, propostas de emenda à Convenção Americana sobre Direitos
Humanos.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 106


Disponibilizado exclusivamente para

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3.5. COMPOSIÇÃO

3.5.1. Membros

A comissão é composta por sete membros, chamados de Comissários ou de


Comissionados, os quais devem ter autoridade moral e reconhecido saber em matéria de direitos
humanos, nos termos do art. 34 da CADH, art. 2.1 do Estatuto da CIDH e do art. 1.3 do Regulamento
da CIDH.

CADH - Artigo 34 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor-


se-á de sete membros, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e
de reconhecido saber em matéria de direitos humanos.

Estatuto - Artigo 2
1. A Comissão compõe-se de sete membros, que devem ser pessoas de alta
autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos.
2. A Comissão representa todos os Estados membros da Organização.
Regulamento Artigo 1. Natureza e composição
1. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos é um órgão autônomo
da Organização dos Estados Americanos que tem como função principal
promover a observância e a defesa dos direitos humanos e servir como órgão
consultivo da Organização em tal matéria.
2.A Comissão representa todos os Estados membros que compõem a
Organização.
3.A Comissão compõe-se de sete membros, eleitos a título pessoal pela
Assembleia Geral da Organização, que deverão ser pessoas de alta
autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos.

Os membros da Comissão não precisam ter formação jurídica, diferente do que se exige de
um juiz da Corte Interamericana. De acordo com Caio Paiva, a dispensa está em conformidade com
a dimensão política de atuação da CIDH.

Por fim, os membros da Comissão devem ser de países diversos, a fim de que ocorra uma
maior representatividade geográfica.

CADH – Art. 37, 2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional
de um mesmo Estado.

3.5.2. Processo de escolha dos membros

Está disciplinado no art. 36 da CADH e nos arts. 3º a 5º do Estatuto da Comissão,


basicamente:

• Seis meses antes da realização do período ordinário de sessões da Assembleia Geral


da OEA, antes da expiração do mandato para o qual houverem sido eleitos os membros
da Comissão, o Secretário-Geral da OEA pedirá, por escrito, a cada Estado membro da
Organização que apresente, dentro do prazo de 90 dias, seus candidatos (art. 4.1 do
Estatuto);

• Cada Estado-membro da OEA pode propor até 3 candidatos, nacionais do Estado que
os propuser ou de qualquer Estado-membro da OEA, sendo que quando for proposta

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 107


Disponibilizado exclusivamente para

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uma lista de 3 candidatos, pelo menos 1 deles deverá ser nacional de Estado diferente
do proponente (art. 36 da CADH e art. 3.2 do Estatuto).

Note que, ao contrário da exigência feita ao Estado que pretenda se qualificar para propor
candidato ao cargo de juiz da Corte IDH, para indicar candidato ao cargo de membro da CIDH, o
Estado não precisa ter aderido aos termos da Convenção Americana.

• O Secretário Geral preparará uma lista em ordem alfabética dos candidatos que forem
apresentados e a encaminhará aos Estados membros da Organização, pelo menos 30
dias antes da Assembleia Geral seguinte (art. 4.2 do Estatuto);

• A eleição dos membros da Comissão será feita dentre os candidatos que figurem na lista,
pela Assembleia Geral, em votação secreta, e serão declarados eleitos os candidatos
que obtiverem maior número de votos e a maioria absoluta dos votos dos Estados
membros. Se, para eleger todos os membros da Comissão for necessário efetuar vários
escrutínios, serão eliminados sucessivamente, na forma que a Assembleia Geral
determinar, os candidatos que receberam menor número de votos (art. 5º do estatuto).

Salienta-se que diferentemente do que ocorre na eleição dos juízes da Corte IDH, em que
somente Estados-partes da CADH podem votar, todos os Estados-membros da OEA possuem
direito de voto na escolha dos membros da CIDH.

De acordo com Caio Paiva, a diferença no processo eleitoral dos membros da Corte IDH e
da CIDH se justifica porque a Comissão é um órgão da OEA e também da CADH, daí decorrendo
sua competência dúplice; ao passo que a Corte é uma instituição judicial autônoma vinculada à
Convenção.

Salienta-se que ocorrendo vaga na CIDH que não seja decorrente de expiração normal do
mandato, a exemplo da renúncia ou da morte de um comissário, o processo de eleição para o
preenchimento deve obedecer ao previsto na CADH (art. 38) e no Estatuto da Comissão (art. 11),
Eleição de membro para ocupar vaga não decorrente de expiração normal do mandato.

Artigo 38 - As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se devam à


expiração normal do mandato, serão preenchidas pelo Conselho Permanente
da Organização, de acordo com o que dispuser o Estatuto da Comissão.

Artigo 11
1. Ao verificar-se uma vaga que não se deva à expiração normal de
mandato, o Presidente da Comissão notificará imediatamente ao Secretário-
Geral da Organização, que, por sua vez, levará a ocorrência ao conhecimento
dos Estados membros da Organização.
2. Para preencher as vagas, cada Governo poderá apresentar um
candidato, dentro do prazo de 30 dias, a contar da data de recebimento da
comunicação do Secretário-Geral na qual informe da ocorrência de vaga.
3. O Secretário-Geral preparará uma lista, em ordem alfabética, dos
candidatos e a encaminhará ao Conselho Permanente da Organização, o qual
preencherá a vaga.
4. Quando o mandato expirar dentro dos seis meses seguintes à data em
que ocorrer uma vaga, esta não será preenchida.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 108


Disponibilizado exclusivamente para

.
3.5.3. Mandato

O mandato será de quatro anos – contato a partir de 01/01 do ano seguinte ao da eleição –
, sendo possível apenas uma reeleição.

CADH - Artigo 37, 1. Os membros da Comissão serão eleitos por quatro


anos e só poderão ser reeleitos uma vez, porém o mandato de três dos
membros designados na primeira eleição expirará ao cabo de dois anos.
Logo depois da referida eleição, serão determinados por sorteio, na
Assembleia Geral, os nomes desses três membros.

Estatuto - Artigo 6: Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e


só poderão ser reeleitos uma vez. Os mandatos serão contados a partir de1º
de janeiro do ano seguinte ao da eleição.

Regulamento - Artigo 2. Duração do mandato


Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderão
ser reeleitos uma vez.
No caso de não haverem sido eleitos os novos membros da Comissão
para substituir os membros cujos mandatos expiram, estes últimos
continuarão no exercício de suas funções até que se efetue a eleição dos
novos membros.

A previsão do art. 37.1 da CADH visa evitar riscos à continuidade dos trabalhos, caso
ocorresse uma substituição total da composição da CIDH a cada eleição. Por isso, adotou o
mecanismo da renovação parcial, estabelecendo que o mandato de três dos comissários eleitos
para a primeira composição expiraria após 2 anos, garantindo assim, sucessivamente, que novos
membros sempre trabalhem por um período com membros escolhidos na eleição anterior.

3.5.4. Regime de incompatibilidades

A condição de membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos é incompatível


com o exercício de atividades que possam afetar sua independência e sua imparcialidade, ou a
dignidade ou o prestígio do cargo na Comissão (art. 8.1 do Estatuto da CIDH). No momento de
assumir suas funções os membros se comprometerão a não representar a vítima ou seus familiares
nem Estados em medidas cautelares, petições e casos individuais perante a CIDH, por um prazo
de dois anos, contados a partir da expiração de seu mandato como membros da Comissão (art. 4.1
do Regulamento da CIDH).

O procedimento para verificação da incompatibilidade está previsto no Regulamento (art. 4º)


e no Estatuto (art. 8.2) da CIDH. Basicamente:

• A Comissão, com o voto afirmativo de pelo menos 5 de seus membros, determinará se


existe uma situação de incompatibilidade (art. 4.2 do Regulamento);

• A Comissão, antes de tomar uma decisão, ouvirá o membro ao qual se atribui a


incompatibilidade (art. 4.3 do Regulamento);

• A decisão sobre incompatibilidade, com todos os seus antecedentes, será enviada por
intermédio do Secretário-Geral à Assembleia-Geral da Organização, que decidirá a
respeito (art. 4.4 do Regulamento);

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 109


Disponibilizado exclusivamente para

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• A declaração de incompatibilidade pela Assembleia-Geral será adotada pela maioria de
2/3 dos Estados membros da Organização e resultará na imediata separação do cargo
de membro da Comissão sem invalidar, porém, as atuações de que este membro houver
participado (art. 8.3 do Estatuto).

De acordo com Caio Paiva, embora não conste no regime jurídico da CIDH quais cargos ou
atividades são incompatíveis com o exercício do mandato de comissário, implicitamente o
Regulamento da Comissão admite a compatibilidade das funções de diplomata com o cargo de
membro da CIDH quando proíbe o comissário de participar na discussão, investigação, deliberação
ou decisão de assunto submetido à Comissão relacionado ao Estado no qual está acreditado ou
cumprindo missão especial como diplomata (art. 17.2.a).

Por fim, conforme prevê o art. 4.1 do Regulamento da CIDH, no momento de assumir suas
funções os membros se comprometerão a não representar a vítima ou seus familiares nem Estados
em medidas cautelares, petições e casos individuais perante a CIDH, por um prazo de 2 anos,
contados a partir da expiração de seu mandato como membros da Comissão.

3.5.5. Impedimentos

Os membros da Comissão não poderão participar na discussão, investigação, deliberação


ou decisão de assunto submetido à consideração da Comissão, nos seguintes casos:

• se forem cidadãos do Estado objeto da consideração geral ou específica da Comissão,


ou se estiverem credenciados ou cumprindo missão especial como diplomatas perante
esse Estado;

• se houverem participado previamente, a qualquer título, de alguma decisão sobre os


mesmos fatos em que se fundamenta o assunto ou se houveram atuado como
conselheiros ou representantes de uma das partes interessadas na decisão;

Além disso, o membro da Comissão que for nacional ou que residir no território do Estado
em que se deva realizar uma observação in loco estará impedido de nela participar. Caio Paiva
considera que tal previsão é incompatível com a CADH.

Segundo Ledesma, citado por Caio Paiva, “no que concerne às disposições antes referidas,
que excluem os comissários de participarem nos assuntos de seus próprios países, há que observar
que elas não correspondem nem ao espírito nem à letra da Convenção, que ressalta que os
comissários são eleitos a título pessoal e não representando a um Estado; ademais de não serem
sinceras, elas são totalmente inúteis, pois não impedem que essa pessoa possa dialogar com seus
colegas e trocar impressões sobre o caso. Por conseguinte, resultaria mais saudável o abandono
dessas regras, o que estaria em sintonia com o art. 55 da Convenção, aplicável aos juízes da Corte,
que não impede o juiz da nacionalidade de algum dos Estados partes no caso de seguir conhecendo
do mesmo. Obviamente, isso supõe um mecanismo de seleção que assegure plenamente a
independência dos membros da Comissão”.

Por fim, a Comissão pode decidir sobre o impedimento a partir de comunicação voluntária
do comissário que se considera impedido, bem como por pedido fundamentado por outro membro.

3.6. FUNCIONAMENTO

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 110


Disponibilizado exclusivamente para

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Os aspectos gerais do funcionamento da Comissão estão previstos na CADH, já os aspectos
específicos encontram-se no seu Estatuto e no seu Regulamento.

3.6.1. Organização interna

A Comissão é composta por:

a) DIRETORIA

É formada por um Presidente, um Primeiro Vice-Presidente e um Segundo Vice-Presidente,


para um mandato de 1 ano, podendo ser reeleitos para seus respectivos cargos apenas uma vez
em cada 4 anos.

São atribuições do Presidente:

• representar a Comissão perante os outros órgãos da Organização e outras instituições;

• convocar sessões da Comissão, de conformidade com o Estatuto e o presente


Regulamento;

• presidir as sessões da Comissão e submeter à sua consideração as matérias que


figurem na ordem do dia do programa de trabalho aprovado para o período de sessões
respectivo; decidir as questões de ordem levantadas nas discussões da Comissão; e
submeter assuntos a votação, de acordo com as disposições pertinentes deste
Regulamento;

• dar a palavra aos membros, na ordem em que a tenham pedido;

• promover os trabalhos da Comissão e velar pelo cumprimento do seu orçamento-


programa;

• apresentar relatório escrito à Comissão, ao iniciar esta seus períodos de sessões, sobre
as atividades desenvolvidas nos períodos de recesso em cumprimento às funções que
lhe são conferidas pelo Estatuto e pelo presente Regulamento;

• velar pelo cumprimento das decisões da Comissão;

• assistir às reuniões da Assembleia Geral da Organização e participar nas atividades que


se relacionem com a promoção e a proteção dos direitos humanos;

• trasladar-se à sede da Comissão e nela permanecer durante o tempo que considerar


necessário para o cumprimento de suas funções;

• designar comissões especiais, comissões ad hoc e subcomissões, constituídas por


vários membros, para cumprir qualquer mandato relacionado com sua competência; e

• exercer quaisquer outras atribuições que lhe sejam conferidas neste Regulamento;

b) SECRETARIA EXECUTIVA

A Secretaria Executiva preparará os projetos de relatórios, resoluções, estudos e outros


trabalhos de que seja encarregada pela Comissão ou o Presidente. Ademais, receberá e fará

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 111


Disponibilizado exclusivamente para

.
tramitar a correspondência e as petições e comunicações dirigidas à Comissão. A Secretaria
Executiva também poderá solicitar às partes interessadas a informação que considere pertinente,
de acordo com o disposto no presente Regulamento.

É formada por um Secretário Executivo (uma pessoa com independência e alta autoridade
moral, com experiência e trajetória reconhecida na área de direitos humanos), por pelo menos um
Secretário Executivo Adjunto e pelo pessoal profissional, técnico e administrativo necessário para
o desempenho de suas atividades.

O processo de escolha do Secretário Executivo está disciplinado no art. 11.3 do


Regulamento. Basicamente:

• A CIDH abre um concurso público para preenchimento da vaga e publica os critérios e


as qualificações para o cargo, bem como a descrição das tarefas a serem
desempenhadas;

• A CIDH examina as inscrições recebidas e seleciona de 3 a 5 finalistas, os quais são


entrevistados para o cargo;

• Os currículos dos finalistas são publicados, inclusive no endereço eletrônico da


Comissão, um mês antes da seleção final, para que sejam recebidos comentários sobre
os candidatos;

• A CIDH determina o candidato mais qualificado, levando em conta os comentários, por


maioria absoluta dos seus membros;

• Após, o Secretário-Geral da OEA procede com a nomeação do Secretário Executivo da


CIDH, que exerce um mandato de 4 anos, podendo ser renovado uma vez.

Importante consignar que, antes de assumir o cargo e durante o mandato, o Secretário


Executivo e o Secretário Executivo Adjunto devem revelar à CIDH todo interesse que possa estar
em conflito com o exercício de suas funções.

3.6.2. Período de sessões

A Comissão realizará pelo menos dois períodos ordinários de sessões por ano, no lapso que
haja determinado previamente, bem como tantas sessões extraordinárias quantas considerem
necessárias. Antes do término do período de sessões, a Comissão determinará a data e o lugar do
período de sessões seguinte.

As sessões da Comissão serão realizadas em sua sede. Entretanto, a Comissão, pelo voto
da maioria absoluta dos seus membros, poderá decidir reunir-se em outro lugar, com a anuência
ou a convite do respectivo Estado.

O membro que, por doença ou por qualquer motivo grave, se vir impedido de assistir, no
todo ou em parte, a qualquer período de sessões ou reunião da Comissão, ou de desempenhar
qualquer outra função, deverá notificá-lo, com a brevidade possível, ao Secretário Executivo, que
informará o Presidente e fará constar essa notificação em ata.

3.6.3. Relatorias e grupos de trabalho

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 112


Disponibilizado exclusivamente para

.
De acordo com Caio Paiva, com o intuito de acompanhar o processo natural do direito
internacional dos direitos humanos, reconhecendo as suas especificidades, seus desafios e as
demandas de cada grupo de vulneráveis, a Comissão Interamericana passou a criar, a partir de
1990, relatorias temáticas para fortalecer, impulsionar e sistematizar o seu próprio trabalho.

O art. 15 do Regulamento da Comissão disciplina a forma de criação. Vejamos:

Artigo 15. Relatorias e grupos de trabalho


1. A Comissão poderá atribuir tarefas ou mandatos específicos a um dos
seus membros, ou grupo de membros, para a preparação dos seus períodos
de sessões ou para a execução de programas, estudos ou projetos especiais.
2. A Comissão poderá designar um dos seus membros como
responsável pelas relatorias de país e, neste caso, assegurará que cada
Estado membro da OEA conte com um relator ou relatora. Na primeira sessão
do ano ou quando seja necessário, a CIDH considerará o funcionamento e
trabalho das relatorias de país e decidirá sobre sua designação. Ademais, os
relatores ou relatoras de país exercerão suas responsabilidades de
acompanhamento que a Comissão lhes incumba e, ao menos uma vez ao
ano, informarão ao plenário sobre as atividades realizadas.
3. A Comissão poderá criar relatorias com mandatos relacionados ao
cumprimento das suas funções de promoção e proteção dos direitos
humanos em relação às áreas temáticas de especial interesse para este fim.
Os fundamentos da decisão serão consignados em uma resolução adotada
por maioria absoluta de votos dos membros da Comissão, na qual constará:
a. a definição do mandato conferido, incluindo suas funções e alcances; e
b. a descrição das atividades a serem desenvolvidas e os métodos de
financiamento projetados para tal fim.
Os mandatos serão avaliados periodicamente e serão sujeitos a revisão,
renovação ou término pelo menos a cada três anos.
4. As relatorias indicadas no inciso anterior poderão funcionar tanto
como relatorias temáticas, sob a responsabilidade de um membro da
Comissão, ou como relatorias especiais, incumbidas a outras pessoas
escolhidas pela Comissão. As relatoras ou relatores temáticos serão
designados pela Comissão em sua primeira sessão do ano ou em qualquer
outro momento que seja necessário. As pessoas a cargo das relatorias
especiais serão designadas pela Comissão conforme os seguintes
parâmetros:
a. chamado a concurso aberto para a ocupação de cargo, com
publicidade dos critérios a serem utilizados na seleção dos postulantes, dos
seus antecedentes de idoneidade para o cargo, e da resolução da CIDH
aplicável ao processo de seleção;
b. eleição por voto favorável da maioria absoluta dos membros da CIDH
e publicidade dos fundamentos da decisão.
Antes do processo de designação e durante o exercício do seu cargo, os
relatores e relatoras especiais devem revelar à Comissão qualquer interesse
que possa conflitar com o mandato da relatoria. Os relatores e relatoras
especiais exercerão seu cargo por um período de três anos renováveis por
um período adicional, salvo que o mandato da relatoria conclua antes de
cumprir este período. A Comissão, por decisão da maioria absoluta dos seus
membros, poderá decidir substituir um relator ou relatora especial por motivo
razoável.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 113


Disponibilizado exclusivamente para

.
5. As pessoas a cargo das relatorias especiais exercerão suas funções
em coordenação com a Secretaria Executiva, a qual poderá delegar-lhes a
preparação de informes sobre petições e casos.
6. As pessoas a cargo das relatorias temáticas e especiais exercerão
suas atividades em coordenação com aquelas a cargo das relatorias de país.
Os relatores e relatoras apresentarão seus planos de trabalho ao plenário da
Comissão para aprovação. Entregarão um relatório escrito à Comissão sobre
os trabalhos realizados, ao menos uma vez ao ano.
7. O exercício das atividades e funções previstas nos mandatos das
relatorias ajustar-se-ão às normas do presente Regulamento e às diretivas,
códigos de conduta e manuais que a Comissão possa adotar.
8. Os relatores e relatoras deverão informar ao plenário da Comissão
questões que, ao chegar a seu conhecimento, possam ser consideradas
como matéria de controvérsia, grave preocupação ou especial interesse da
Comissão.

3.6.4. Quórum de votação

Para constituir quórum será necessária a presença da maioria absoluta dos membros da
Comissão, ou seja, quatro comissários.

Igualmente, a Comissão, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros, decidirá a
respeito dos seguintes assuntos:

• Eleição dos membros da Diretoria da Comissão;

• Interpretação do presente Regulamento;

• Aprovação de relatório sobre a situação dos direitos humanos em determinado Estado;


e

• Quando essa maioria estiver prevista na Convenção Americana, no Estatuto ou no


presente Regulamento.

Em relação a outros assuntos, será suficiente o voto da maioria dos membros presentes.

3.7. IDIOMAS DE TRABALHO

Os idiomas oficiais da Comissão serão o espanhol, o francês, o inglês e o português. Os


idiomas de trabalho serão os que a Comissão determinar, conforme os idiomas falados por seus
membros (art. 22.1 Regulamento).

4. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

4.1. CONCEITO

Trata-se de uma instituição judicial autônoma do Sistema Interamericano cujo objetivo é


aplicar e interpretar a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, podendo também, no

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 114


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.
exercício da sua competência consultiva, expandir a atividade interpretativa para outros tratados
concernentes à proteção dos direitos humanos nos estados americanos (art. 1º do Estatuto da Corte
IDH).

Artigo 1. Natureza e regime jurídico


A Corte Interamericana de Direitos humanos é uma instituição judiciária
autônoma cujo objetivo é a aplicação e a interpretação da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos. A Corte exerce suas funções em
conformidade com as disposições da citada Convenção e deste Estatuto.

Conforme já mencionado, a Corte integra apenas a CADH não integra a OEA. Contudo, a
OEA participa nos seguintes trabalhos da Corte:

• Escolha dos juízes da Corte por meio de sua Assembleia-Geral (art. 53.1 da CADH);

Artigo 53, 1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo voto
da maioria absoluta dos Estados Partes na Convenção, na Assembleia Geral
da Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos
Estados.

• Determina o lugar da sede da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 58.1 da
CADH);

Artigo 58, 1. A Corte terá sua sede no lugar que for determinado, na
Assembleia Geral da Organização, pelos Estados Partes na Convenção, mas
poderá realizar reuniões no território de qualquer Estado membro da
Organização dos Estados Americanos em que o considerar conveniente pela
maioria dos seus membros e mediante prévia aquiescência do Estado
respectivo. Os Estados Partes na Convenção podem, na Assembleia Geral,
por dois terços dos seus votos, mudar a sede da Corte.

• Dirige – no que não for incompatível com a independência da Corte – a Secretaria da


Corte por meio do seu Secretário-Geral (art. 59 da CADH);

Artigo 59 - A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e funcionará sob


a direção do Secretário da Corte, de acordo com as normas administrativas
da Secretaria-Geral da Organização em tudo o que não for incompatível com
a independência da Corte. Seus funcionários serão nomeados pelo
Secretário-Geral da Organização, em consulta com o Secretário da Corte.

• Aprova o Estatuto da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 60 da CADH);

Artigo 60 - A Corte elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da


Assembleia Geral e expedirá seu regimento.

• Auxilia na supervisão do cumprimento das decisões da Corte, devendo esta submeter à


Assembleia-Geral, em cada período ordinário de sessões, um relatório sobre as suas
atividades do ano anterior (art. 65 da CADH);

Artigo 65 - A Corte submeterá à consideração da Assembleia Geral da


Organização, em cada período ordinário de sessões, um relatório sobre suas
atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 115


Disponibilizado exclusivamente para

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pertinentes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado
cumprimento a suas sentenças.

• Aprova o orçamento da Corte por meio da sua Assembleia-Geral (art. 72 da CADH);

Artigo 72 - Os juízes da Corte e os membros da Comissão perceberão


honorários e despesas de viagem na forma e nas condições que
determinarem os seus estatutos, levando em conta a importância e
independência de suas funções. Tais honorários e despesas de viagem serão
fixados no orçamento-programa da Organização dos Estados Americanos,
no qual devem ser incluídas, além disso, as despesas da Corte e da sua
Secretaria. Para tais efeitos, a Corte elaborará o seu próprio projeto de
orçamento e submetê-lo-á à aprovação da Assembleia Geral, por intermédio
da Secretaria-Geral. Esta última não poderá nele introduzir modificações.

• Exerce poder disciplinar e sancionatório sobre os juízes da Corte por meio da sua
Assembleia-Geral (art. 73 da CADH).

Artigo 73 - Somente por solicitação da Comissão ou da Corte, conforme o caso,


cabe à Assembleia Geral da Organização resolver sobre as sanções aplicáveis
aos membros da Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos casos
previstos nos respectivos estatutos. Para expedir uma resolução, será
necessária maioria de dois terços dos votos dos Estados Membros da
Organização, no caso dos membros da Comissão; e, além disso, de dois terços
dos votos dos Estados Partes na Convenção, se se tratar dos juízes da Corte.

4.2. ORIGEM

A origem da Corte é convencional, tendo em vista que foi criada pela Convenção Americana
de Direitos Humanos.

Conforme os ensinamentos de Caio Paiva, a Corte demorou para exercer a sua função
contenciosa, vindo a proferir a primeira sentença de mérito somente em julho de 1988, quando
julgou o Caso Velásquez Rodríguez vs. Honduras. Isso deve-se à inércia da Comissão
Interamericana para submeter casos à Corte e ao lento processo de aceitação da competência
contenciosa da Corte pelos Estados.

Salienta-se, portanto, que os primeiros anos da Corte IDH foram marcados pelo exercício
exclusivo da competência consultiva, tendo emitido nove delas até o ano em que proferiu a primeira
sentença de mérito.

4.3. REGIME JURÍDICO

A Corte Interamericana é regida juridicamente pela CADH (artigos 52 a 69), pelo seu
Estatuto (disposições essencialmente orgânica, que desenvolvem e complementam a Convenção
Americana), elaborado por ela e aprovado pela Assembleia-Geral da OEA em 1979, e pelo seu
Regulamento (trata predominantemente de questões processuais), expedido por ela própria.

4.4. COMPOSIÇÃO

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 116


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4.4.1. Membros

A Corte é composta por sete juízes.

Artigo 52
1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais dos Estados membros
da Organização, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade
moral, de reconhecida competência em matéria de direitos humanos, que
reúnam as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções
judiciais, de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do
Estado que os propuser como candidatos.
2. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.

4.4.2. Requisitos para o cargo

Os juízes integrantes da Corte devem:

• Ter independência

Ao estabelecer que os juízes da Corte IDH são eleitos a título pessoal, a CADH quis ressaltar
que os juízes não representam os Estados do qual são nacionais ou os Estados que os propuseram
como candidatos.

• Ser nacional de algum dos Estados-membros da OEA.

Não se exige que o Estado do qual o candidato é nacional tenha ratificado a CADH e
aceitado sua jurisdição contenciosa.

• Ter a mais alta autoridade moral.

Trata-se de um requisito muito genérico e de difícil definição. Segundo Caio Paiva, a


Convenção parece exigir uma autoridade moral dos juízes da Corte IDH ainda mais elevada do que
aquela requerida dos membros da CIDH, tanto que a reforça com a expressão “mais”.

Além disso, segundo Caio Paiva, a dificuldade de se conceituar mais alta autoridade moral
não impede que se estabeleçam condições essenciais para que alguém dispute a vaga de juiz da
Corte Interamericana, entre as quais:

a. ter reconhecimento público pela atuação pessoal e profissional na defesa dos


direitos humanos;

b. apoiar uma agenda progressista no campo da proteção de grupos vulneráveis; e

c. não ter participado de violações de direitos humanos nem ter assumido posições
ideológicas incompatíveis com a dignidade humana e com a proteção dos direitos
humanos.

• Ser jurista

Deve reunir as condições requeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais,
de acordo com a lei do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como
candidatos.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 117


Disponibilizado exclusivamente para

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Perceba que se exige a formação jurídica para integrar a Corte IDH, diferentemente da
exigência que se faz para integrar a CIDH.

• Ter reconhecida competência em matéria de direitos humanos

Não basta ser jurista para integrar a Corte Interamericana. Exige-se um conhecimento
especializado na matéria de direitos humanos.

É importante ressaltar que essa competência não está necessariamente ligada à formação
acadêmica ou à produção doutrinária, podendo decorrer também da atuação profissional da pessoa.

4.4.3. Eleição

O processo de escolha dos juízes da Corte Interamericana está previsto no art. 53 da CADH
e nos artigos 6º a 9º do seu Estatuto.

Observe:

Artigo 53
1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo voto da
maioria absoluta dos Estados Partes na Convenção, na Assembleia Geral da
Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados.
2. Cada um dos Estados Partes pode propor até três candidatos,
nacionais do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado membro
da Organização dos Estados Americanos. Quando se propuser uma lista de
três candidatos, pelo menos um deles deverá ser nacional de Estado
diferente do proponente.

Artigo 6. Data de eleição dos juízes


1. A eleição dos juízes far-se-á, se possível, no decorrer do período de
sessões da Assembleia Geral da OEA, imediatamente anterior à expiração do
mandato dos juízes cessantes.
2. As vagas da Corte decorrentes de morte, incapacidade permanente,
renúncia ou remoção dos juízes serão preenchidas, se possível, no próximo
período de sessões da Assembleia Geral da OEA. Entretanto, a eleição não
será necessária quando a vaga ocorrer nos últimos seis meses do mandato do
juiz que lhe der origem.
3. Se for necessário, para preservar o quórum da Corte, os Estados Partes
da Convenção, em sessão do Conselho Permanente da OEA, por solicitação do
Presidente da Corte, nomearão um ou mais juízes interinos, que servirão até
que sejam substituídos pelos juízes eleitos.

Artigo 7. Candidatos
1. Os juízes são eleitos pelos Estados Partes da Convenção, na
Assembleia Geral da OEA, de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos
Estados.
2. Cada Estado Parte pode propor até três candidatos, nacionais do Estado
que os propõe ou de qualquer outro Estado membro da OEA.
3. Quando for proposta uma lista tríplice, pelo menos um dos candidatos
deve ser nacional de um Estado diferente do proponente.

Artigo 8. Eleição: Procedimento prévio

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 118


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.
1. Seis meses antes da realização do período ordinário de sessões da
Assembleia Geral da OEA, antes da expiração do mandato para o qual
houverem sido eleitos os juízes da Corte, o Secretário-Geral da OEA solicitará,
por escrito, a cada Estado Parte da Convenção, que apresente seus candidatos
dentro do prazo de noventa dias.
2. O Secretário-Geral da OEA preparará uma lista em ordem alfabética dos
candidatos apresentados e a levará ao conhecimento dos Estados Partes, se
for possível, pelo menos trinta dias antes do próximo período de sessões da
Assembleia Geral da OEA.
3. Quando se tratar de vagas da Corte, bem como nos casos de morte ou
de incapacidade permanente de um candidato, os prazos anteriores serão
reduzidos de maneira razoável a juízo do Secretário-Geral da OEA.

Artigo 9. Votação
1. A eleição dos juízes é feita por votação secreta e pela maioria absoluta
dos Estados Partes da Convenção, dentre os candidatos a que se refere o artigo
7 deste Estatuto.
2. Entre os candidatos que obtiverem a citada maioria absoluta, serão
considerados eleitos os que receberem o maior número de votos. Se forem
necessárias várias votações, serão eliminados sucessivamente os candidatos
que receberem menor número de votos, segundo o determinem os Estados
Partes.

4.4.4. Mandato

Os juízes da Corte serão eleitos para um mandato de seis anos e só poderão ser reeleitos
uma vez. O juiz eleito para substituir outro cujo mandato não haja expirado, completará o mandato
deste.

Os mandatos dos juízes serão contados a partir de 1º de janeiro do ano seguinte ao de sua
eleição e estender-se-ão até 31 de dezembro do ano de sua conclusão.

O mandato de três dos juízes designados na primeira eleição expirará ao cabo de três anos.
Imediatamente depois da referida eleição, determinar-se-ão por sorteio, na Assembleia Geral, os
nomes desses três juízes, visa evitar o risco à continuidade dos trabalhos.

De acordo com Caio Paiva, o princípio ou a garantia do juiz natural recebe um tratamento
mais amplo na normativa dos tratados que dispõe sobre o funcionamento de tribunais
internacionais, projetando um vínculo do julgador com o caso que pode superar o término do
mandato. Nesse sentido:

Art. 54, 3. Os juízes permanecerão em funções até o término dos seus


mandatos. Entretanto, continuarão funcionando nos casos de que já
houverem tomado conhecimento e que se encontrem em fase de sentença e,
para tais efeitos, não serão substituídos pelos novos juízes eleitos.

4.4.5. Juiz ad hoc

Está disciplinado no art. 55 da CADH. Vejamos:

Artigo 55

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 119


Disponibilizado exclusivamente para

.
1. O juiz que for nacional de algum dos Estados Partes no caso
submetido à Corte, conservará o seu direito de conhecer do mesmo.
2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacionalidade
de um dos Estados Partes, outro Estado Parte no caso poderá designar uma
pessoa de sua escolha para fazer parte da Corte na qualidade de juiz ad hoc.
3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum for da
nacionalidade dos Estados Partes, cada um destes poderá designar um juiz
ad hoc.
4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52.
5. Se vários Estados Partes na Convenção tiverem o mesmo interesse
no caso, serão considerados como uma só Parte, para os fins das
disposições anteriores. Em caso de dúvida, a Corte decidirá.

Importante consignar que a Corte IDH, na Opinião Consultiva 20/2009, entendeu que a figura
do juiz ad hoc somente deve ser admitida nas demandas originadas por comunicações interestatais;
logo, nas demandas iniciadas pela Comissão Interamericana, o Estado demandado não possui o
direito de indicar juiz nacional ad hoc. Por fim, na mesma OP, a Corte IDH restringiu a possibilidade
de o juiz que possuir a mesma nacionalidade do Estado réu atuar no caso, somente a admitindo
nas demandas interestatais.

4.5. JURISDIÇÃO CONSULTIVA DA CORTE

4.5.1. Previsão normativa

Está disciplinada nos arts. 64 e 65 da CADH e nos arts. 70 a 75 do Regulamento da Corte.


Vejamos:

Artigo 64
1. Os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte
sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes
à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão
consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da
Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de
Buenos Aires.
2. A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir
pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os
mencionados instrumentos internacionais.

Artigo 65 - A Corte submeterá à consideração da Assembleia Geral da


Organização, em cada período ordinário de sessões, um relatório sobre suas
atividades no ano anterior. De maneira especial, e com as recomendações
pertinentes, indicará os casos em que um Estado não tenha dado
cumprimento a suas sentenças.

4.5.2. Finalidade

A finalidade da função consultiva da Corte IDH é obter uma interpretação judicial sobre uma
ou várias disposições da CADH ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos
humanos nos estados americanos.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 120


Disponibilizado exclusivamente para

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4.5.3. Alcance

Salienta Caio Paiva que a amplitude da competência consultiva da Corte IDH não se
confunde com uma ausência de limites.

De acordo com a Corte o pedido de opinião consultiva:

• não pode ter como objetivo determinar o alcance dos compromissos internacionais
assumidos por Estados que não sejam membros do sistema interamericano;

• não pode buscar a interpretação das normas que regulam a estrutura ou o


funcionamento de órgãos ou organismos internacionais alheios ao sistema
interamericano;

• não deve disfarçar um caso contencioso ou pretender de forma prematura um


pronunciamento sobre um tema ou assunto que poderá eventualmente ser submetido à
Corte através de um caso contencioso;

• não deve ser utilizada como um mecanismo para obter um pronunciamento indireto
sobre um assunto em litígio ou em controvérsia a nível interno;

• não deve ser utilizada como um instrumento de um debate político interno;

• não deve abranger, exclusivamente, temas sobre os quais a Corte já tenha se


pronunciado em sua jurisprudência;

• não deve procurar a resolução de questões de fato, mas sim buscar o sentido, o propósito
e a razão das normas internacionais sobre direitos humanos e, sobretudo, coadjuvar os
Estados membros e os órgãos da OEA para que cumpram de maneira efetiva suas
obrigações internacionais; e

• não deve partir de especulações abstratas, sem uma previsível aplicação a situações
concretas que justifiquem o interesse de que seja emitida uma opinião consultiva. Sobre
essa questão, a Corte IDH já esclareceu, porém, que o mero fato de que existam casos
contenciosos relacionados com o tema da consulta ou petições ante a CIDH não basta
para que se inviabilize o pedido de opinião consultiva.

4.5.4. Características do procedimento consultivo

No procedimento consultivo há ausência de partes (demandante e demandado), de


sentença, de sanções e reparações. Existe apenas a emissão de uma opinião consultiva, com
caráter multilateral e não litigioso.

Além disso, trata-se de uma competência obrigatória, ativada automaticamente com a


ratificação pelo Estado.

4.5.5. Objeto da consulta

Está disciplinado no art. 64 da CADH.

Artigo 64

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 121


Disponibilizado exclusivamente para

.
1. Os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte
sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes
à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão
consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados no capítulo X da
Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de
Buenos Aires.
2. A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir
pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas
e os mencionados instrumentos internacionais.

OPINIÃO CONSULTIVA DE OPINIÃO CONSULTIVA DE


INTERPRETAÇÃO (art. 64.1 da CADH) COMPATIBILIDADE (art. 64.2 da CADH)

Visa examinar a compatibilidade entre qualquer


Visa a interpretação da Convenção Americana lei interna e os mencionados instrumentos
ou de outros tratados concernentes à proteção internacionais
dos direitos humanos nos Estados americanos.
Obs.: abrange toda legislação nacional e todas
Obs.: a Corte IDH também já reconheceu a sua as normas jurídicas de qualquer natureza,
competência para interpretar a Declaração incluindo disposições constitucionais. Além
Americana dos Direitos e Deveres do Homem, disso, a Corte IDH entende que pode ser
que, mesmo não tendo a natureza jurídica de consultada também sobre a compatibilidade de
um tratado, contém e define direitos humanos projetos de lei ou de emenda constitucional,
referidos na Carta da OEA, podendo a sob pena de obrigar os Estados a primeiro
Declaração, portanto, ser objeto de opinião aprovarem uma lei possivelmente contrária a
quando isso seja necessário para que a Corte tratados internacionais concernentes à
interprete disposições da CADH ou da Carta da proteção dos direitos humanos nos Estados
OEA. americanos para, somente depois, solicitarem
a opinião consultiva.

São legitimados para solicitar uma opinião


consultiva de interpretação os estados
membros da OEA (independentemente de
terem ratificado a CADH) e os órgãos previstos
no art. 53 da Carta da OEA, que são os
Somente os estados membros da OEA podem
seguintes: a Assembleia-Geral; a Reunião de
solicitar uma opinião consultiva de
Consulta dos Ministros das Relações
compatibilidade.
Exteriores; os Conselhos; a Comissão Jurídica
Interamericana; a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos; a Secretaria-Geral; as
Conferências Especializadas; e os Organismos
Especializados.

Requisitos (art. 70 do Regulamento): Requisitos (art. 72 do Regulamento):

a) formular com precisão as perguntas; a) Instruir o pedido de cópia das disposições


internas a que se refere a consulta;
b) especificar as disposições que devem ser
interpretadas; b) indicar as disposições de direito interno, bem
como as da Convenção ou de outros tratados

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 122


Disponibilizado exclusivamente para

.
c) indicar as considerações que a originaram; e concernentes à proteção dos direitos humanos
que são objeto da consulta;
d) informar o nome e endereço do Agente ou
dos Delegados que comparecerão no c) indicar as perguntas específicas sobre as
procedimento perante a Corte. quais se pretende obter o parecer da Corte; e

d) indicar o nome e endereço do Agente do


solicitante.

4.5.6. Procedimento de emissão de opinião consultiva

Previsto no art. 73 do Regulamento da Corte, observe:

Artigo 73. Procedimento


1. Uma vez recebido um pedido de parecer consultivo, o Secretário enviará
cópia deste a todos os Estados membros, à Comissão, ao Conselho
Permanente por intermédio da sua Presidência, ao Secretário Geral e aos
órgãos da OEA a cuja esfera de competência se refira o tema da consulta, se
for pertinente.
2. A Presidência fixará um prazo para que os interessados enviem suas
observações por escrito.
3. A Presidência poderá convidar ou autorizar qualquer pessoa interessada
para que apresente sua opinião por escrito sobre os itens submetidos a
consulta. Se o pedido se referir ao disposto no artigo 64.2 da Convenção,
poderá fazê-lo mediante consulta prévia com o Agente.
4. Uma vez concluído o procedimento escrito, a Corte decidirá quanto à
conveniência ou não de realizar o procedimento oral e fixará a audiência, a
menos que delegue essa última tarefa à Presidência. No caso do previsto no
artigo 64.2 da Convenção, será realizada uma consulta prévia ao Agente.

Perceba que há cinco fases no procedimento de emissão de opinião consultiva, são elas:

1ªFase – Admissibilidade;

2ªFase – Notificação da consulta;

3ªFase – Observações escritas;

4ªFase – Audiência pública;

5ªFase – Pronunciamento da Corte.

Importante salientar que se o solicitante da opinião consultiva decide retirá-la, a Corte IDH
não fica impedida de exercer a sua competência consultiva, isto porque o solicitante da opinião
consultiva não é o único titular de um interesse legítimo no resultado do procedimento. Portanto, a
desistência ou retirada manifestada pelo solicitante não a impede que a Corte exerça a sua
competência consultiva.

4.5.7. Efeitos jurídicos das opiniões consultivas

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 123


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.
Há divergência acerca do tema:

1ª Posição (entendimento da própria Corte e da doutrina majoritária.) - as opiniões


consultivas não possuem efeito vinculante, mas sim “efeitos jurídicos inegáveis”. A força das
opiniões consultivas decorre, segundo o entendimento da doutrina, da autoridade científica e moral
da Corte.

2ª Posição (Caio Paiva) – A Corte é soberana e a última intérprete da Convenção, e como


instituição judicial a quem também foi incumbida a função de interpretar os tratados concernentes
à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos, emite opiniões consultivas com efeito
vinculante para os Estados-partes da Convenção, independentemente de estes terem solicitado ou
participado do procedimento consultivo.

Por fim, o caráter vinculante das opiniões consultivas não as torna executáveis, tendo em
vista que no procedimento consultivo não há partes nem litígio.

4.5.8. Opiniões consultivas emitidas pela Corte

Até o momento, a Corte emitiu 26 Opiniões Consultivas. A seguir fizemos um pequeno


resumo de cada uma delas.

OPINIÃO CONSULTIVA 1/82:

Foi solicitada pelo Peru.

Indagou-se a função consultiva da Corte, definida no art. 64 da CADH, eis que o referido
artigo, ao contrário do que ocorre na Convenção Europeia, coloca de forma ampla e vaga a
competência consultiva da Corte.

Artigo 64 - 1. Os Estados-membros da Organização poderão consultar a


Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados
concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.
Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados
no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada
pelo Protocolo de Buenos Aires.
2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, poderá emitir
pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os
mencionados instrumentos internacionais.

Ressalta-se que a função consultiva da Corte não é ilimitada. Os limites para sua atuação
são definidos tanto pelo objeto e pela finalidade da CADH quanto pelo traço geral do art. 64.

Foi feito um profundo estudo acerca do âmbito da função consultiva da Corte, atribuída pela
CADH, para isso se discutiu sobre: tratados bilaterais e multilaterais; tratados subscritos e não
subscritos pelos Estados Partes; normas usadas na interpretação da Convenção; a integração do
sistema regional com o sistema global (universal).

A Corte concluiu que:

a) Em regra, a competência consultiva pode ser exercida sobre toda disposição concernente
à proteção de Direitos humanos;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 124


Disponibilizado exclusivamente para

.
b) Será exercida sobre qualquer tratado internacional aplicável aos Estados Americanos,
independentemente de ser bilateral ou multilateral;

c) Frente a um caso concreto, desde que motivadamente, a Corte pode abster-se de


manifestar-se, caso entenda que a questão excede os limites de sua função consultiva

OPINIÃO CONSULTIVA 2/82

Solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Indagou-se em qual momento, efetivamente, um Estado passa a fazer parte da Convenção


e qual momento da ratificação deve ser considerado. Requereu-se, assim, a interpretação dos
artigos 74 e 75 da CADH.

Artigo 74 - 1. Esta Convenção está aberta à assinatura e à ratificação de todos


os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos.
2. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar-se-á mediante
depósito de um instrumento de ratificação ou adesão na Secretaria Geral da
Organização dos Estados Americanos. Esta Convenção entrará em vigor logo
que onze Estados houverem depositado os seus respectivos instrumentos de
ratificação ou de adesão. Com referência a qualquer outro Estado que a
ratificar ou que a ela aderir ulteriormente, a Convenção entrará em vigor na
data do depósito do seu instrumento de ratificação ou adesão.
3. O Secretário Geral comunicará todos os Estados-membros da
Organização sobre a entrada em vigor da Convenção.

Artigo 75 - Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em conformidade


com as disposições da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados,
assinada em 23 de maio de 1969.

Analisou-se o procedimento de ratificação e depósito de um tratado, bem como a


possibilidade de serem feitas reservas à CADH, nos termos dos artigos 19 e 20 da Convenção de
Viena.

Artigo 19 - Formulação de Reservas Um Estado pode, ao assinar, ratificar,


aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, formular uma reserva, a não
ser que:
a) A reserva seja proibida pelo tratado;
b) O tratado disponha que só possam ser formuladas determinadas reservas,
entre as quais não figure a reserva em questão; ou
c) Nos casos não previstos nas alíneas a e b, a reserva seja incompatível
com o objeto e a finalidade do tratado.
Artigo 20 - Aceitação de Reservas e Objeções às Reservas
1. Uma reserva expressamente autorizada por um tratado não requer
qualquer aceitação posterior pelos outros Estados contratantes, a não ser que
o tratado assim disponha.
2. Quando se infere do número limitado dos Estados negociadores, assim
como do objeto e da finalidade do tratado, que a aplicação do tratado na
íntegra entre todas as partes é condição essencial para o consentimento de
cada uma delas em obrigar-se pelo tratado, uma reserva requer a aceitação
de todas as partes.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 125


Disponibilizado exclusivamente para

.
3. Quando o tratado é um ato constitutivo de uma organização internacional,
a reserva exige a aceitação do órgão competente da organização, a não ser
que o tratado disponha diversamente.
4. Nos casos não previstos nos parágrafos precedentes e a menos que o
tratado disponha de outra forma:
a) a aceitação de uma reserva por outro Estado contratante torna o Estado
autor da reserva parte no tratado em relação àquele outro Estado, se o tratado
está em vigor ou quando entrar em vigor para esses Estados;
b) a objeção feita a uma reserva por outro Estado contratante não impede
que o tratado entre em vigor entre o Estado que formulou a objeção e o
Estado autor da reserva, a não ser que uma intenção contrária tenha sido
expressamente manifestada pelo Estado que formulou a objeção;
c) um ato que manifestar o consentimento de um Estado em obrigar-se por
um tratado e que contiver uma reserva produzirá efeito logo que pelo menos
outro Estado contratante aceitar a reserva.
5. Para os fins dos parágrafos 2 e 4, e a não ser que o tratado disponha
diversamente, uma reserva é tida como aceita por um Estado se este não
formulou objeção à reserva quer no decurso do prazo de doze meses que se
seguir à data em que recebeu a notificação, quer na data em que manifestou
o seu consentimento em obrigar-se pelo tratado, se esta for posterior.

A Corte, unanimemente, concluiu que:

a) A CADH entra em vigor para um Estado que a ratificou, com ou sem reservas, na data do
depósito de seu instrumento de ratificação ou adesão.

OPINIÃO CONSULTIVA 3/83

Solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Indagou-se sobre a possibilidade de imposição de pena de morte, bem como para quais
crimes será admitida.

Foi feita uma análise minuciosa do art. 4º da CADH, trazendo diversas linhas de
interpretação, quais sejam: caso de países que aboliram a pena de morte no momento da ratificação
da CADH; países que, após abolirem a pena de morte, pretendem reintroduzi-la; tipos de crimes
que admitem a pena de morte.

Artigo 4º - Direito à vida


1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve
ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém
pode ser privado da vida arbitrariamente.
2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá
ser imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de
tribunal competente e em conformidade com a lei que estabeleça tal pena,
promulgada antes de haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá
sua aplicação a delitos aos quais não se aplique atualmente.
3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam
abolido.
4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada a delitos políticos,
nem a delitos comuns conexos com delitos políticos.
5. Não se deve impor a pena de morte à pessoa que, no momento da
perpetração do delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta (no

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 126


Disponibilizado exclusivamente para

.
PIDCP não consta esta proibição), nem aplicá-la a mulher em estado de
gravidez.
6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou
comutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não
se pode executar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de
decisão ante a autoridade competente.

A Corte concluiu que:

a) Não pode um país aplicar a pena de morte para os delitos que não estivesse,
expressamente, prevista em sua legislação interna;

b) O Estado não pode, após a entrada em vigor da CADH, legislar com o intuito de impor a
pena de morte aos delitos não previstos, no momento da ratificação. Por exemplo, o Estado admite
a pena de morte para o delito de homicídio. Após a adesão a CADH quer aplicar ao latrocínio (antes
não prevista).

c) A possibilidade de reservas não permite a imposição da pena de morte para outros delitos
que não estiverem previstos no momento da ratificação da CADH;

d) Estado que aboliu a pena de morte não pode reintroduzi-la.

OPINIÃO CONSULTIVA 4/84

Feita pela Costa Rica.

Indagou-se a compatibilidade da proposta de alteração legislativa sobre nacionalidade com


as normas que tratam sobre o tema (art. 20) na CADH.

Artigo 20 - Direito à nacionalidade


1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.
2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território
houver nascido, se não tiver direito a outra.
3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade, nem do
direito de mudá-la.

A Corte concluiu que:

a) Não contraria a CADH o estabelecimento de critérios diferentes de naturalização para


pessoas nascidas em países diferentes.

b) O fato de a Costa Rica ter estabelecido um critério de naturalização para centro


americanos, um para ibero-americanos e outros para espanhóis, não ofende à CADH.

OPINIÃO CONSULTIVA 5/85

Feita pela Costa Rica.

Indagou-se sobre a obrigatoriedade da formação de jornalista e sobre a compatibilidade de


tal exigência (ou não) com as leis internas dos Estados. Requereu-se, para tanto, uma interpretação
dos artigos 13 e 29 da CADH.

Artigo 13 - Liberdade de pensamento e de expressão

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 127


Disponibilizado exclusivamente para

.
1. Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento e de expressão.
Esse direito inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações e
ideias de qualquer natureza, sem considerações de fronteiras, verbalmente
ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por qualquer meio de
sua escolha.
2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito
à censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser
expressamente previstas em lei e que se façam necessárias para assegurar:
a) o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;
b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da
moral públicas.
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias e meios indiretos,
tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa,
de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na
difusão de informação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar
a comunicação e a circulação de ideias e opiniões.
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com o
objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância
e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda
apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitamento à
discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.

Artigo 29 - Normas de interpretação


Nenhuma disposição da presente Convenção pode ser interpretada no
sentido de:
a) permitir a qualquer dos Estados-partes, grupo ou indivíduo, suprimir o gozo
e o exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-
los em maior medida do que a nela prevista;
b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser
reconhecidos em virtude de leis de qualquer dos Estados-partes ou em
virtude de Convenções em que seja parte um dos referidos Estados;
c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que
decorrem da forma democrática representativa de governo;
d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana
dos Direitos e Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma
natureza.

Analisou-se a liberdade de expressão e pensamento, fazendo-se, inclusive, uma


comparação com as previsões da Comissão Europeia.

A Corte concluiu que:

a) São incompatíveis com o art. 13 da CADH, a exigência de formação obrigatória de


jornalistas e sua inscrição em ordem profissional, pois isso impede o uso pleno dos meios de
comunicação, consequentemente, impedem a liberdade de expressão e de transmissão de
opiniões.

OPINIÃO CONSULTIVA 6/86

Solicitada pelo Uruguai.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 128


Disponibilizado exclusivamente para

.
Indagou-se a possibilidade de restrições ao uso e ao gozo dos direitos e liberdades
reconhecidos na Convenção Americana.

Fez-se um estudo detalhado sobre o conceito “leis”, consagrado no art. 30 da CADH. Para
isso, ponderou-se que alguns Estados se inserem no sistema common law e outros seguem a
tradição romanista.

Artigo 30 - Alcance das restrições


As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao gozo e exercício
dos direitos e liberdades nela reconhecidos, não podem ser aplicadas senão
de acordo com leis que forem promulgadas por motivo de interesse geral e
com o propósito para o qual houverem sido estabelecidas.

O debate central da OC nº 6 deu-se em relação ao sistema de crises, ou seja, situações


extremas e excepcionais em que se admite a restrição de direitos humanos, bem como que tipo de
“lei” (qualquer norma jurídica) pode autorizar as restrições.

A Corte concluiu que:

a) A expressão “lei”, prevista no art. 30 da CADH, significa norma jurídica de caráter geral,
emanada de órgãos legislativos constitucionalmente previstos e democraticamente eleitos,
elaboradas segundo procedimento previamente estabelecido nas Constituições dos Estados.

b) Além disso, a Corte interpretou o significado de termos vagos, como: “bem comum” e
“ordem pública”, fazendo um paralelo com o Estado Democrático de Direito e suas finalidades.

OPINIÃO CONSULTIVA 7/86

Feita pela Costa Rica.

Solicitou-se uma interpretação e a delimitação do alcance do art. 14.1 da CADH, em relação


ao art. 11, 1 e 2 da CADH. Além disso, indagou-se a compatibilidade da lei interna do Estado com
a CADH quando estabelecer outras formas de exercer o direito de resposta e retificação, previstos
na CADH.

Artigo 14 - Direito de retificação ou resposta


1. Toda pessoa, atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em
seu prejuízo por meios de difusão legalmente regulamentados e que se
dirijam ao público em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão,
sua retificação ou resposta, nas condições que estabeleça a lei.
2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das outras
responsabilidades legais em que se houver incorrido.
3. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publicação ou
empresa jornalística, cinematográfica, de rádio ou televisão, deve ter uma
pessoa responsável, que não seja protegida por imunidades, nem goze de
foro especial.

Artigo 11 - Proteção da honra e da dignidade


1. Toda pessoa tem direito ao respeito da sua honra e ao reconhecimento de
sua dignidade.
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua
vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência,
nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 129


Disponibilizado exclusivamente para

.
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais
ofensas.

Obs.: Antes de expor a conclusão da Corte, é importante destacar que a admissibilidade da OC nº


7 não foi unanime (4x3). A minoria entendeu que a pergunta não foi formulada em relação à
compatibilidade ou incompatibilidade, bem como que tal questão estava fora das funções
consultivas da Corte, pois visa definir se tais direitos (respostas e retificação) estão ou não
garantidos pela ordem interna do Estado.

Concluiu a Corte que:

a) Os direitos estabelecidos no art. 14 da CADH devem ser observados e respeitados,


obrigatoriamente pelos Estados.

b) A obrigatoriedade ocorre mesmo que tais direitos não se encontrem positivados no


ordenamento interno.

OPINIÃO CONSULTIVA 8/87

Solicitada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Tratou-se da prisão realizada em período de exceção (estado de sítio ou defesa) e sobre a


possiblidade de suspensão do habeas corpus em tais caos. Por fim, sobre a admissibilidade de
incomunicabilidade do preso.

Analisou-se de forma detalhada o art. 25 e do art. 7º, 6, da CADH.

Artigo 25 - Proteção judicial


1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido (moldes do habeas
corpus) ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais
competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais
reconhecidos pela Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo
quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no
exercício de suas funções oficiais.
2. Os Estados-partes comprometem-se:
a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do
Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;
b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e
c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda
decisão em que se tenha considerado procedente o recurso.
Artigo 7º - Direito à liberdade pessoal
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e
nas condições previamente fixadas pelas Constituições políticas dos
Estados-partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas.
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da detenção
e notificada, sem demora, da acusação ou das acusações formuladas contra
ela.
5. Toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à
presença de um juiz ou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções
judiciais e tem o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 130


Disponibilizado exclusivamente para

.
liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser
condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou
tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a
legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a
detenção forem ilegais. Nos Estados-partes cujas leis preveem que toda
pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a
recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida sobre a
legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido.
O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa.
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os
mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de
inadimplemento de obrigação alimentar.

Concluiu a Corte que:

a) Os procedimentos jurídicos consagrados nos artigos 25.1 e 7º, 6 da CADH não podem
ser suspensos, conforme o artigo 27.2 da mesma, porque constituem garantias judiciais
indispensáveis para proteção dos direitos e liberdades, que também não podem ser suspensas,
conforme a mesma disposição.

Artigo 27 - Suspensão de garantias


1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace
a independência ou segurança do Estado-parte, este poderá adotar as
disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às
exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude
desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com
as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem
discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião
ou origem social.
2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos
determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhecimento da
personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6
(proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da
retroatividade), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da
família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à
nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis
para a proteção de tais direitos.
3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do direito de suspensão
deverá comunicar imediatamente aos outros Estados-partes na presente
Convenção, por intermédio do Secretário Geral da Organização dos Estados
Americanos, as disposições cuja aplicação haja suspendido, os motivos
determinantes da suspensão e a data em que haja dado por terminada tal
suspensão.

OPINIÃO CONSULTIVA 9/87:

Formulada pelo Uruguai.

Indagaram-se quais os direitos não podem ser suspensos em caso de guerra, perigo público
ou emergência, com o intuito que fosse dado uma interpretação harmônica dos artigos 27 (2), 25 e
8º da CADH.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 131


Disponibilizado exclusivamente para

.
Artigo 8º - Garantias judiciais
1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e dentro
de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente, independente e
imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer
acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus direitos e
obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua
inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou
intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal;
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação
de sua defesa;
d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por
um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular,
com seu defensor;
e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo
Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não
se defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido
pela lei;
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de
obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas
que possam lançar luz sobre os fatos;
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se
culpada; e
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma
natureza.
4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser
submetido a novo processo pelos mesmos fatos.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para
preservar os interesses da justiça.

Artigo 25 - Proteção judicial


1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro
recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja
contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela
Constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal
violação seja cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de
suas funções oficiais.
2. Os Estados-partes comprometem-se:
a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do
Estado decida sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;
b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e
c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda
decisão em que se tenha considerado procedente o recurso.

Artigo 27 - Suspensão de garantias


1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace
a independência ou segurança do Estado-parte, este poderá adotar as

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 132


Disponibilizado exclusivamente para

.
disposições que, na medida e pelo tempo estritamente limitados às
exigências da situação, suspendam as obrigações contraídas em virtude
desta Convenção, desde que tais disposições não sejam incompatíveis com
as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não encerrem
discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião
ou origem social.
2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos
determinados nos seguintes artigos: 3 (direito ao reconhecimento da
personalidade jurídica), 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 6
(proibição da escravidão e da servidão), 9 (princípio da legalidade e da
retroatividade), 12 (liberdade de consciência e religião), 17 (proteção da
família), 18 (direito ao nome), 19 (direitos da criança), 20 (direito à
nacionalidade) e 23 (direitos políticos), nem das garantias indispensáveis
para a proteção de tais direitos.
3. Todo Estado-parte no presente Pacto que fizer uso do direito de suspensão
deverá comunicar imediatamente aos outros Estados-partes na presente
Convenção, por intermédio do Secretário Geral da Organização dos Estados
Americanos, as disposições cuja aplicação haja suspendido, os motivos
determinantes da suspensão e a data em que haja dado por terminada tal
suspensão

Antes de externar suas conclusões, a Corte percorreu uma série de direitos e garantias
consagrados na CADH. Destaque-se a preocupação voltada à proteção da liberdade individual da
pessoa; a lisura e a imparcialidade diante dos remédios processuais adequados (que devem ser
efetivos) à proteção de tais garantias. Para a Corte, a simples previsão de tais direitos no
ordenamento interno, sem que o Estado forneça os meios para o seu exercício efetivo, é ineficaz.

A Corte concluiu que:

a) As garantias judiciais indispensáveis para a proteção dos direitos humanos não


suscetíveis de suspensão, segundo o disposto no artigo 27.2 da Convenção, são aquelas as quais
se refere expressamente nos artigos 7º(6) e 25.1, consideradas dentro do âmbito e segundo os
princípios do artigo 8º e também as inerentes às liberdades individuais.

OPINIÃO CONSULTIVA 10/89:

Feita pela Colômbia.

Indagou-se a possibilidade da Corte, nos termos do art. 64 da CADH, emitir opiniões


consultivas acerca da interpretação das normas contidas na Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem, a qual não se trata de um tratado propriamente dito.

Artigo 64 - 1. Os Estados-membros da Organização poderão consultar a


Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados
concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.
Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos enumerados
no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada
pelo Protocolo de Buenos Aires.
2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, poderá emitir
pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os
mencionados instrumentos internacionais.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 133


Disponibilizado exclusivamente para

.
Ao longo da análise, a Corte afirmou que, diante de uma interpretação sistematizada, os
Estados-Parte entendem que a Declaração contém e define os direitos humanos essenciais
contidos na Carta da OEA. Assim, não se pode interpretar e aplicar a Carta da OEA, em matéria de
direitos humanos, sem integrar as normas com ela pertinente, constantes na Declaração.

Concluiu a Corte:

a) O art. 64 da CADH autoriza a Corte a emitir opiniões consultivas sobre a interpretação da


Declaração, dentro dos limites de sua competência em relação à Carta da OEA e a Convenção.

OPINIÃO CONSULTIVA 11/90.

Feita pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Indagou-se a possibilidade de aplicação das exceções sobre o esgotamento interno,


previstas no art. 46 da CADH, aos casos de miserabilidade do requerente e a inexistência de
advogado que defenda os interesses do requerente, tendo em vista o temor de represálias.

Artigo 46 - Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo


com os artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será necessário:
a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna,
de acordo com os princípios de Direito Internacional geralmente
reconhecidos;
b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em
que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da
decisão definitiva;
c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro
processo de solução internacional; e
d) que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a
profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do
representante legal da entidade que submeter a petição.
2. As disposições das alíneas "a" e "b" do inciso 1 deste artigo não se
aplicarão quando:
a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido
processo legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham
sido violados;
b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o
acesso aos recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de
esgotá-los; e
c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.

Concluiu a Corte que:

a) Por razoes de indigência ou por temor do advogado para representar legalmente um


reclamante ante a Comissão, for impedido de utilizar os recursos internos necessários para proteger
um direito garantido pela Convenção, não pode exigir seu esgotamento.

b) Se um Estado provar a disponibilidade dos recursos internos o reclamante deverá


demonstrar que a ele deverá ser aplicada as exceções do artigo 46.2 e que foi impedido de obter a
assistência legal necessária para a proteção dos direitos garantidos pela Convenção.

OPINIÃO CONSULTIVA 12/91

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 134


Disponibilizado exclusivamente para

.
Solicitada pela Costa Rica.

Indagou-se a compatibilidade de projeto de lei que reforma a garantia do duplo grau de


jurisdição com o art. 8, 2, h da CADH.

Artigo 8º - Garantias judiciais


1. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida, com as devidas garantias e
dentro de um prazo razoável, por um juiz ou Tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de
qualquer acusação penal formulada contra ela, ou na determinação de seus
direitos e obrigações de caráter civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra
natureza.
2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua
inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o
processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes
garantias mínimas:
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por um tradutor ou
intérprete, caso não compreenda ou não fale a língua do juízo ou tribunal;
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios necessários à preparação
de sua defesa;
d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por
um defensor de sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular,
com seu defensor;
e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo
Estado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não
se defender ele próprio, nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido
pela lei;
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no Tribunal e de
obter o comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas
que possam lançar luz sobre os fatos;
g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se
culpada; e
h) direito de recorrer da sentença a juiz ou tribunal superior.
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma
natureza.
4. O acusado absolvido por sentença transitada em julgado não poderá ser
submetido a novo processo pelos mesmos fatos.
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para
preservar os interesses da justiça.

Concluiu a Corte que:

a) Diante da faculdade de não se manifestar, optou por não responder à consulta, a fim de
que não desvirtuasse a aplicação de sua jurisdição contenciosa, pois havia petições contra o Estado
solicitante tratando sobre o tema.

OPINIÃO CONSULTIVA 13/93

Feita pelos Estados da Argentina e Uruguai.

Requereu-se, à luz da interpretação da CADH, uma delimitação de determinadas atribuições


da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 135


Disponibilizado exclusivamente para

.
Formularam três questões:

• Pode a Comissão manifestar-se sobre a regularidade jurídica de leis internas adotadas


em consonância com as respectivas Constituições, quanto a razoabilidade, conveniência
ou autenticidade?

• Pode a Comissão, após ter declarado inadmissível uma solução, pronunciar-se sobre o
mérito dela?

• Podem-se condensar, em um só, os relatórios previstos nos artigos 50 e 51 da CADH. É


possível o relatório do art. 50 ser publicado antes do previsto no art. 51?

Artigo 50 - 1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for


fixado pelo Estatuto da Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá
os fatos e suas conclusões. Se o relatório não representar, no todo ou em
parte, o acordo unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá
agregar ao referido relatório seu voto em separado. Também se agregarão
ao relatório as exposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos
interessados em virtude do inciso 1, "e", do artigo 48.
2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não
será facultado publicá-lo.
3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e
recomendações que julgar adequadas.
Artigo 51 - 1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados
interessados do relatório da Comissão, o assunto não houver sido
solucionado ou submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado
interessado, aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto
da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a
questão submetida à sua consideração.
2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro
do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe competir para remediar a
situação examinada.
3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria
absoluta dos seus membros, se o Estado tomou ou não as medidas
adequadas e se pública ou não seu relatório.

A Corte concluiu que:

a) A Comissão, nos termos dos artigos 41 e 42, é competente para qualificar qualquer norma
de direito interno de um Estado, como violadora de obrigações que este tenha assumida ao ratificar
a CADH. No entanto, não possui competência para determinar se determinada norma contradiz ou
não o ordenamento jurídico interno.

Artigo 41 - A Comissão tem a função principal de promover a observância e


a defesa dos direitos humanos e, no exercício de seu mandato, tem as
seguintes funções e atribuições:
a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;
b) formular recomendações aos governos dos Estados-membros, quando
considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas progressivas em
prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos
constitucionais, bem como disposições apropriadas para promover o devido
respeito a esses direitos;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 136


Disponibilizado exclusivamente para

.
c) preparar estudos ou relatórios que considerar convenientes para o
desempenho de suas funções;
d) solicitar aos governos dos Estados-membros que lhe proporcionem
informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos
humanos;
e) atender às consultas que, por meio da Secretaria Geral da Organização
dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados-membros sobre
questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas
possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que lhes solicitarem;
f) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua
autoridade, de conformidade com o disposto nos artigos 44 a 51 desta
Convenção; e
g) apresentar um relatório anual à Assembleia Geral da Organização dos
Estados Americanos.

Artigo 42 - Os Estados-partes devem submeter à Comissão cópia dos


relatórios e estudos que, em seus respectivos campos, submetem
anualmente às Comissões Executivas do Conselho Interamericano
Econômico e Social e do Conselho Interamericano de Educação, Ciência e
Cultura, a fim de que aquela zele para que se promovam os direitos
decorrentes das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e
cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos,
reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

b) Após a declaração de inadmissibilidade de uma petição ou comunicação individual, a


Comissão não pode mais manifestar-se sobre ela, em respeito ao princípio da segurança jurídica,
bem como ao propósito e objeto da CADH.

c) Os artigos 50 e 51 da CADH contemplam relatórios diferentes, embora tenham conteúdos


similares. Por isso, o primeiro não pode ser publicado.

OPINIÃO CONSULTIVA 14/94.

Feita pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Perguntaram-se as consequências da edição de uma lei contrária à CADH, tanto em relação


ao Estado quanto aos seus agentes (responsabilização).

Concluiu a Corte que:

a) A expedição de uma lei manifestadamente contraria as obrigações assumidas por um


Estado, ao ratificar ou aderir a Convenção, constitui sua violação. Quando a violação afetar os
direitos e as liberdades dos indivíduos, gera a responsabilidade internacional de tal Estado.

b) O cumprimento, por parte de agentes ou funcionários do Estado, de uma lei


manifestamente contrária a Convenção, gera responsabilidade internacional para o Estado. Quando
o ato constituir, por si só, um crime internacional, gera também a responsabilidade internacional dos
agentes ou funcionários que o executaram.

OPINIÃO CONSULTIVA 15/97.

Feita pelo Chile.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 137


Disponibilizado exclusivamente para

.
Indagou-se acerca da competência para propor e exercer o direito de consulta e à
possibilidade do Estado que formula a consulta ter legitimidade para dela desistir, retirando a
matéria consultiva da esfera de competência jurisdicional da Corte. Além disso, sobre a
interpretação do art. 51 da CADH.

Artigo 51 - 1. Se no prazo de três meses, a partir da remessa aos Estados


interessados do relatório da Comissão, o assunto não houver sido
solucionado ou submetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado
interessado, aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto
da maioria absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a
questão submetida à sua consideração.
2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro
do qual o Estado deve tomar as medidas que lhe competir para remediar a
situação examinada.
3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria
absoluta dos seus membros, se o Estado tomou ou não as medidas
adequadas e se publica ou não seu relatório.

Na apreciação de tais pontos, foi desenvolvida uma profunda interpretação acerca do artigo
64 da Convenção e dos princípios norteadores da jurisdição internacional, no sentido de se
estabelecer qual o pressuposto de atuação da jurisdição internacional e quais os alicerces em que
se fundamenta. Afirmando-se o procedimento consultivo internacional, que não se mostra relevante
apenas às partes envolvidas no caso que ensejou a consulta, mas a todos os Estados membros da
OEA, que podem se valer do parecer e votos dissidente e concorrente emitidos, formando um
verdadeiro juízo de valor, norteador de sua atuação no cumprimento das obrigações
internacionalmente assumidas.

A Corte concluiu que:

Obs.: Não foi uma decisão unanime.

a) O Estado que solicita uma opinião consultiva não é o único interessado nela e mesmo
quando pode dela desistir, sua desistência não é vinculativa para a Corte, que pode continuar a
tramitação do assunto.

b) A Comissão, no exercício das funções conferidas pelo artigo 51, não está autorizada a
modificar opiniões, conclusões e recomendações transmitidas a um Estado Membro, salvo nas
circunstâncias excepcionais previstas nos artigos 54 a 59.

c) O pedido de modificação somente se dará pelas partes interessadas, os peticionários e


os Estados, antes da publicação do próprio informe, dentro de um prazo razoável contado a partir
de sua notificação. Nessas hipóteses, deve ser conferida a parte oportunidade de se manifestar, de
acordo com o princípio da equidade processual. De qualquer forma, sob nenhuma hipótese fica
autorizada a expedição de um terceiro parecer.

OPINIÃO CONSULTIVA 16/99:

Formulada pelo México.

Indagou-se acerca do direito de informação sobre a possibilidade de assistência consular,


no âmbito das garantias processuais penais.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 138


Disponibilizado exclusivamente para

.
Diante da questão, a Corte teceu algumas considerações acerca da Convenção de Viena,
do PIDCP e da CADH, referindo-se às consequências jurídicas da imposição e aplicação da pena
de morte, nos casos de indivíduo estrangeiro.

Concluiu a Corte que:

a) Por unanimidade, que o artigo 36 da Convenção de Viena reconhece aos estrangeiros


direitos individuais, entre eles o direito à informação sobre a assistência consular, integrando a
proteção internacional dos direitos humanos.

Artigo 36 - Tratados que Criam Direitos para Terceiros Estados

1. Um direito nasce para um terceiro Estado de uma disposição de um tratado


se as partes no tratado tiverem a intenção de conferir, por meio dessa
disposição, esse direito quer a um terceiro Estado, quer a um grupo de
Estados a que pertença, quer a todos os Estados, e o terceiro Estado nisso
consentir. Presume-se o seu consentimento até indicação em contrário, a
menos que o tratado disponha diversamente.
2. Um Estado que exerce um direito nos termos do parágrafo 1 deve respeitar,
para o exercício desse direito, as condições previstas no tratado ou
estabelecidas de acordo com o tratado.

b) Por unanimidade que a expressão “sem dilação” usada no artigo 36 da Convenção de


Viena, significa que o Estado deve cumprir seu dever de informar o estrangeiro no momento de sua
privação de liberdade. E, em todo caso, antes que faça sua primeira manifestação perante a
autoridade competente. Afirma ainda que tais direitos não podem ser protestados pelo Estado.

c) Por unanimidade, que os artigos 2, 6, 14 e 50 do PIDCP concernem à proteção de direitos


humanos em todos os Estados Americanos. Afirma, ainda, que todas as disposições internacionais
que se referem à proteção de direitos humanos devem ser respeitadas pelos estados americanos,
independentemente de sua estrutura federal ou unitária.

ARTIGO 2
1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e
garantir a todos os indivíduos que se achem em seu território e que estejam
sujeitos a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem
discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo. língua, religião, opinião
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica,
nascimento ou qualquer condição.
2. Na ausência de medidas legislativas ou de outra natureza destinadas a
tornar efetivos os direitos reconhecidos no presente Pacto, os Estados Partes
do presente Pacto comprometem-se a tomar as providências necessárias
com vistas a adotá-las, levando em consideração seus respectivos
procedimentos constitucionais e as disposições do presente Pacto.
3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a:
a) Garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reconhecidos no
presente Pacto tenham sido violados, possa de um recurso efetivo, mesmo
que a violência tenha sido perpetra por pessoas que agiam no exercício de
funções oficiais;
b) Garantir que toda pessoa que interpuser tal recurso terá seu direito
determinado pela competente autoridade judicial, administrativa ou legislativa
ou por qualquer outra autoridade competente prevista no ordenamento

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 139


Disponibilizado exclusivamente para

.
jurídico do Estado em questão; e a desenvolver as possibilidades de recurso
judicial;
c) Garantir o cumprimento, pelas autoridades competentes, de qualquer
decisão que julgar procedente tal recurso.

ARTIGO 6
1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Esse direito deverá ser
protegido pela lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.
2. Nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá
ser imposta apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com
legislação vigente na época em que o crime foi cometido e que não esteja em
conflito com as disposições do presente Pacto, nem com a Convenção sobra
a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio. Poder-se-á aplicar essa
pena apenas em decorrência de uma sentença transitada em julgado e
proferida por tribunal competente.
3. Quando a privação da vida constituir crime de genocídio, entende-se que
nenhuma disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do
presente Pacto a eximir-se, de modo algum, do cumprimento de qualquer das
obrigações que tenham assumido em virtude das disposições da Convenção
sobre a Prevenção e a Punição do Crime de Genocídio.
4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação
da pena. A anistia, o indulto ou a comutação da pena poderá ser concedido
em todos os casos.
5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos
por pessoas menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de
gravidez.
6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar
ou impedir a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente
Pacto

ARTIGO 14
1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça.
Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e com devidas
garantias por um tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal formulada contra
ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de caráter civil. A
imprensa e o público poderão ser excluídos de parte da totalidade de um
julgamento, quer por motivo de moral pública, de ordem pública ou de
segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse
da vida privada das Partes o exija, que na medida em que isso seja
estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias específicas,
nas quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da justiça;
entretanto, qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil deverá
torna-se pública, a menos que o interesse de menores exija procedimento
oposto, ou processo diga respeito à controvérsia matrimoniais ou à tutela de
menores.
2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua
inocência enquanto não for legalmente comprovada sua culpa.
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualmente, a,
pelo menos, as seguintes garantias:
a) De ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma
minuciosa, da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 140


Disponibilizado exclusivamente para

.
b) De dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa
e a comunicar-se com defensor de sua escolha;
c) De ser julgado sem dilações indevidas;
d) De estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por
intermédio de defensor de sua escolha; de ser informado, caso não tenha
defensor, do direito que lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da
justiça assim exija, de ter um defensor designado ex officio gratuitamente, se
não tiver meios para remunerá-lo;
e) De interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e de obter
o comparecimento e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas
condições de que dispõem as de acusação;
f) De ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou
não fale a língua empregada durante o julgamento;
g) De não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada.
4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores nos termos da
legislação penal em conta a idade dos menos e a importância de promover
sua reintegração social.
5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá direito de recorrer da
sentença condenatória e da pena a uma instância superior, em conformidade
com a lei.
6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente
anulada ou se um indulto for concedido, pela ocorrência ou descoberta de
fatos novos que provem cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa
que sofreu a pena decorrente desse condenação deverá ser indenizada, de
acordo com a lei, a menos que fique provado que se lhe pode imputar, total
ou parcialmente, a não revelação dos fatos desconhecidos em tempo útil.
7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi
absolvido ou condenado por sentença passada em julgado, em conformidade
com a lei e os procedimentos penais de cada país.

ARTIGO 50 - Aplicar-se-ão as disposições do presente Pacto, sem qualquer


limitação ou exceção, a todas as unidades constitutivas dos Estados
federativos.

d) Por maioria de votos, que a inobservância do direito à informação aqui tratado afeta as
garantias do devido processo legal, e nessas circunstâncias a imposição da pena de morte constitui
uma violação do direito de não ser privado de sua vida arbitrariamente, com as consequências
jurídicas inerentes a uma violação dessa natureza, a saber, as atinentes a responsabilidade
internacional do Estado e o dever de reparação.

OPINIÃO CONSULTIVA 17/97:

Feita pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Solicitou-se a interpretação dos artigos 8º e 25 da CADH, a fim de determinar se as medidas


previstas no art. 19 constituem limites ao arbítrio ou a discricionariedade do Estado com relação às
crianças, bem como a formulação de critérios gerais sobre a matéria.

Artigo 19 - Direitos da criança


Toda criança terá direito às medidas de proteção que a sua condição de
menor requer, por parte da sua família, da sociedade e do Estado.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 141


Disponibilizado exclusivamente para

.
Antes das conclusões da Corte, destaque-se que a Comissão firmou entendimento no
sentido de que existem certas interpretações, utilizadas por vários países americanos, que tendem
a suprimir ou limitar as garantias previstas na CADH. A corte por sua vez, salientou que na última
década configurou-se um novo cenário no Direito da Criança, baseado, essencialmente, na doutrina
da proteção integral do menor, cujo fundamento principal é o reconhecimento da criança como
sujeito de direito e não como mero objeto de proteção.

A Corte concluiu que:

a) A proteção aos direitos da criança deve ser compreendida como uma obrigação erga
omnes, imposta tanto aos Estados quanto aos particulares.

OPINIÃO CONSULTIVA 18/03:

Formulada pelo México.

Questionou-se a aplicação dos princípios da igualdade e da não discriminação aos


imigrantes iguais.

Destaca-se que, segundo a Corte, a não discriminação em conjunto com a igualdade, são
elementos básicos indispensáveis à proteção dos direitos humanos. São intrinsecamente ligados:
somente é possível resguardar a igualdade por meio da não discriminação. Da importância desses
valores, nascem para os Estados à obrigação de combater qualquer espécie de conduta
discriminatória e, principalmente, de revertê-las, por meio das chamadas ações afirmativas
(discriminações positivas).

Trata-se de princípios de eficácia erga omnes, de forma a alcançar todas as pessoas que
estejam no território e sob a jurisdição de um determinado Estado, não importando se nacionais ou
estrangeiros, ainda que em situação irregular.

A Corte concluiu que:

a) O princípio fundamental da igualdade e da não discriminação deve ser aplicado por todos
os Estados, independentemente de ser ou não parte de determinado tratado internacional. No atual
estado da evolução do direito internacional, esses direitos ingressaram no domínio jus cogens;

b) A qualidade de ser imigrante não é motivo suficiente para afastar os direitos inerentes ao
homem, de forma que os Estados não podem discriminar ou tolerar qualquer tipo de discriminação
contra imigrantes, mesmo que estes sejam ilegais.

OPINIÃO CONSULTIVA 19/05:

Feita pela Venezuela.

Questionou-se acerca da existência de algum órgão, dentro do sistema interamericano de


direitos humanos, com competência para exercer controle de legalidade sobre a atuação da
Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Concluiu a Corte que:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 142


Disponibilizado exclusivamente para

.
a) A Comissão é um órgão do sistema interamericano, possui plena autonomia e
independência no exercício de seu mandato, conforme previsto pela CADH, atuando dentro dos
limites impostos.

b) A Corte, no exercício de suas funções, efetua o controle de legalidade das atuações da


Comissão, referentes ao tramite dos assuntos que estejam no âmbito de conhecimento da própria
corte.

OPINIÃO CONSULTIVA 20/09:

Proposta pela Argentina.

Indagou-se sobre a figura do juiz ad hoc, previsto no art. 55 da CADH, da nacionalidade dos
magistrados e sobre o direito a um juiz imparcial, bem como sobre a igualdade de armas nos
processos perante a Corte, derivados de petição individual.

Artigo 55 - 1. O juiz, que for nacional de algum dos Estados-partes em caso


submetido à Corte, conservará o seu direito de conhecer do mesmo.
2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacionalidade de
um dos Estados-partes, outro Estado-parte no caso poderá designar uma
pessoa de sua escolha para integrar a Corte, na qualidade de juiz ad hoc.
3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum for da
nacionalidade dos Estados-partes, cada um destes poderá designar um juiz
ad hoc.
4. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no artigo 52.
5. Se vários Estados-partes na Convenção tiverem o mesmo interesse no
caso, serão considerados como uma só parte, para os fins das disposições
anteriores. Em caso de dúvida, a Corte decidirá.

Concluiu a Corte que:

a) Apenas nos casos contenciosos, originados em comunicações interestaduais, poderá o


Estado indicar um juiz ad hoc, quando não houver no Tribunal um juiz de sua nacionalidade.

b) Não é possível que um juiz nacional do Estado demandado participe do julgamento de


casos contenciosos originados de petições individuais, pois haveria quebra no equilíbrio processual,
colocando em risco o direito de ter um julgamento imparcial.

OPINIÃO CONSULTIVA 21/2014

Feita pelo Brasil, Uruguai e Paraguai.

Solicitou-se que a Corte a definição de padrões jurídicos acerca dos seguintes temas:

• Procedimentos para a determinação de necessidade de proteção internacional e de


medidas de proteção especial dos meninos, meninas e adolescente migrantes;

• Sistema de garantias que se deveriam aplicar nos procedimentos migratórios que


envolvam meninos, meninas, adolescentes migrantes;

• Padrões para a aplicação de medidas cautelares em um procedimento migratório


sobre a base do princípio de não detenção de meninas e meninos migrantes;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 143


Disponibilizado exclusivamente para

.
• Medidas de proteção de direitos que deveriam dispor-se de maneira prioritária e que
não implicam restrições à liberdade pessoal;

• Obrigações estatais em casos de custódia de meninos e meninas por motivos


migratórios;

• Garantias do devido processo perante medidas que impliquem privação da liberdade


de meninos e meninas no âmbito de procedimentos migratórios;

• Princípio de não devolução em relação a meninas e meninos migrantes;

• Procedimentos para a identificação e tratamento de meninos e meninas eventuais


solicitantes de asilo ou refúgio;

• O direito à vida familiar dos meninos e meninas em casos de dispor-se a expulsão

A Corte concluiu que:

a) Criança é toda pessoa menor de 18 anos de idade, os Estados devem priorizar o enfoque
dos direitos humanos desde uma perspectiva que tenha em conta de forma transversal os direitos
das crianças e, em particular, sua proteção e desenvolvimento integral, os quais devem prevalecer
sobre qualquer consideração da nacionalidade ou do status migratório, a fim de assegurar a plena
vigência de seus direitos.

b) Os Estados se encontram obrigados a identificar as crianças estrangeiras que requeiram


proteção internacional dentro de suas jurisdições, através de uma avaliação inicial com garantias
de segurança e privacidade, com o fim de lhes proporcionar tratamento adequado e individualizado
que seja necessário de acordo com a sua condição de criança e, no caso de dúvida sobre a idade,
analisar e determiná-la; determinar se se trata de menina ou menino não acompanhado ou
separado, assim como sua nacionalidade ou, se for o caso, sua condição de apátrida; obter
informação sobre os motivos de sua saída do país de origem, de sua separação familiar se for o
caso, de suas vulnerabilidades e qualquer outro elemento que evidencie ou negue sua necessidade
de algum tipo de proteção internacional; e adotar, caso seja necessário e pertinente de acordo com
o interesse superior da criança, medidas de proteção especial.

c) Com o propósito de assegurar um acesso à justiça em condições de igualdade, um efetivo


devido processo e velar para que o interesse superior da criança seja uma consideração primordial
em todas as decisões que sejam adotadas, os Estados devem garantir que os processos
administrativos ou judiciais nos quais se resolva acerca de direitos das crianças migrantes estejam
adaptados a suas necessidades e sejam acessíveis para eles.

d) As garantias do devido processo que, conforme o direito internacional dos direitos


humanos, devem reger em todo processo migratório, seja administrativo ou judicial, que envolva
crianças, são as seguintes: o direito a ser notificado da existência de um procedimento e da decisão
que seja adotada no marco do processo migratório; o direito a que os processos migratórios sejam
conduzidos por um funcionário ou juiz especializado; o direito a ser ouvido e a participar nas
diferentes etapas processuais; o direito a ser assistido gratuitamente por um tradutor e/ou intérprete;
o acesso efetivo à comunicação e assistência consular; o direito a ser assistido por um
representante legal e a comunicar- se livremente com dito representante; o dever de designar um
tutor no caso de crianças não acompanhadas ou separadas; o direito a que a decisão que seja

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 144


Disponibilizado exclusivamente para

.
adotada considere o interesse superior da criança e seja devidamente fundamentada; o direito a
recorrer da decisão perante um juiz ou tribunal superior com efeito suspensivo; e o prazo razoável
de duração do processo.

e) Os Estados não podem recorrer à privação de liberdade de crianças para cautelar os fins
de um processo migratório nem tampouco podem fundamentar tal medida no descumprimento dos
requisitos para ingressar e permanecer no país no fato de que a criança se encontre só ou separada
de sua família, ou na finalidade de assegurar a unidade familiar, toda vez que possam e devam
dispor de alternativas menos lesivas e, ao mesmo tempo, proteger de forma prioritária e integral os
direitos da criança.

f) Os Estados devem criar e incorporar em seus respectivos ordenamentos internos um


conjunto de medidas não privativas de liberdade a serem aplicadas enquanto se desenvolvem os
processos migratórios, que tenham como prioridade a proteção integral dos direitos da criança, com
estrito respeito de seus direitos humanos e ao princípio de legalidade, e as decisões que sejam
ordenadas devem ser adotadas por uma autoridade administrativa ou judicial competente em
procedimento que respeite determinadas garantias mínimas.

g) Os espaços de alojamento devem respeitar o princípio de separação e o direito à unidade


familiar, de modo tal que as crianças não acompanhadas ou separadas sejam alojadas em locais
distintos ao que correspondem aos adultos e, tratando-se de crianças não acompanhadas, alojar-
se com seus familiares, salvo se for mais conveniente a separação em aplicação do princípio do
interesse superior da criança e, ademais, assegurar condições materiais e um regime adequado
para as crianças num ambiente não privativo de liberdade.

h) Em situações de restrição de liberdade pessoal que possam constituir ou eventualmente


gerar, pelas circunstâncias do caso concreto, uma medida que materialmente corresponda a uma
privação de liberdade, os Estados devem respeitar as garantias que sejam necessárias diante
destas situações.

i) Os Estados são proibidos de devolver, expulsar, deportar, retornar, rechaçar em fronteira


ou não admitir, ou de qualquer maneira transferir ou remover uma criança a um Estado quando sua
vida, segurança e/ou liberdade estejam em risco de violação pela persecução ou ameaça da
mesma, violência generalizada ou violações massivas aos direitos humanos, entre outros, assim
como aonde ocorra o risco de ser submetido a tortura ou outros tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes, ou a um terceiro Estado no qual possa ser enviado e nele possa correr esses riscos.

j) De acordo com o estabelecido na Convenção sobre os Direitos da Criança e outras normas


de proteção dos direitos humanos, qualquer decisão sobre a devolução da criança ao país de origem
ou a um terceiro país seguro somente poderá ser feito segundo o interesse superior da criança,
tendo em conta que o risco de violação de seus direitos humanos pode adquiri manifestações
particulares e específicas em razão da idade.

l) A obrigação estatal de estabelecer e seguir procedimentos justos e eficientes para poder


identificar os potenciais solicitantes de asilo e determinar a condição de refugiado através de uma
análise adequada e individualizada das petições com as correspondentes garantias deve incorporar
os componentes específicos desenvolvidos à luz da proteção integral devida a todas as crianças,
aplicando os princípios reitores e, em especial, o referente ao interesse superior da criança e sua
participação.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 145


Disponibilizado exclusivamente para

.
m) Qualquer órgão administrativo ou judicial que deva decidir acerca da separação familiar
por expulsão motivada pela condição migratória de um ou ambos os genitores devem empregar
uma análise de ponderação, que contemple as circunstâncias particulares do caso concreto e
garanta uma decisão individual, priorizando em cada caso o interesse superior da criança. Naqueles
casos em que a criança tem direito à nacionalidade do país do qual um ou ambos os genitores
possam ser expulsos, ou cumpre com as condições legais para residir permanentemente ali, os
Estados não podem expulsar um ou ambos os genitores por infrações migratórias de caráter
administrativo, pois se sacrifica de forma irrazoável ou desmedida o direito à vida familiar da criança.

n) Considerando que as obrigações determinadas anteriormente se referem a um tema tão


próprio, complexo e instável da época atual, elas devem ser entendidas como parte do
desenvolvimento progressivo do Direito Internacional dos Direitos Humanos, processo em que,
consequentemente, essa opinião consultiva se insere.

OPINIÃO CONSULTIVA 22/2016

Feita pelo Panamá.

Indagou-se acerca do alcance do art. 1.2 da CADH em relação as pessoas jurídicas e os


demais dispositivos da Convenção.

Art. 1º
2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.

A Corte concluiu que:

a) O art. 1.2 somente consagra direitos a favor de pessoas físicas, de modo que as pessoas
jurídicas não são titulares dos direitos consagrados na Convenção.

b) As comunidades indígenas e tribais são titulares dos direitos protegidos na Convenção e,


portanto, podem acessar o Sistema Interamericano.

c) O art. 8.1 do Protocolo de San Salvador outorga titularidade de direitos aos sindicatos, às
federações e às confederações, o que lhes permite apresentarem-se perante o sistema
interamericano em defesa de seus próprios direitos no marco do estabelecido no referido
dispositivo.

d) As pessoas físicas em alguns casos podem chegar a exercer seus direitos através de
pessoas jurídicas, de modo que nestas situações poderão acessar o sistema interamericano para
apresentar as presumidas violações a seus direitos.

e) As pessoas físicas, em algumas situações, podem esgotar os recursos internos mediante


recursos interpostos pelas pessoas jurídicas.

OPINIÃO CONSULTIVA 23/2017

Feita pela Colômbia.

Indagou-se acerca das obrigações estatais em relação ao meio ambiente, dentro da


proteção e garantia dos direitos à vida e à integridade pessoal, interpretação e alcance dos artigos
4.1 e 5.1 em relação aos artigos 1.1 e 2º da CADH.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 146


Disponibilizado exclusivamente para

.
Artigo 4. Direito à vida
1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve
ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém
pode ser privado da vida arbitrariamente.

Artigo 5. Direito à integridade pessoal


1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física,
psíquica e moral.

Artigo 1. Obrigação de respeitar os direitos


1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os
direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício
a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma
por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de
qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica,
nascimento ou qualquer outra condição social.

Artigo 2. Dever de adotar disposições de direito interno


Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo 1 ainda não
estiver garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os
Estados Partes comprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas
constitucionais e com as disposições desta Convenção, as medidas
legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos
tais direitos e liberdades.

A Corte concluiu que:

a) Com o propósito de respeitar e garantir os direitos à vida e à integridade das pessoas sob
sua jurisdição, os Estados têm a obrigação de prevenir danos ambientais significativos, dentro ou
fora do seu território, devendo regular, supervisionar e fiscalizar as atividades sob sua jurisdição
que possam produzir um dano significativo ao meio ambiente; realizar estudos de impacto ambiental
quando exista risco de dano significativo ao meio ambiente; estabelecer um plano de contingência
para o fim de ter medidas de segurança e procedimentos para minimizar a possibilidade de grandes
acidades ambientais, e militar o dano ambiental significativo que tenha produzido.

b) Os Estados devem atuar conforme o princípio da precaução para o fim de proteger o


direito à vida e à integridade pessoal frente a possíveis danos graves ou irreversíveis ao meio
ambiente, mesmo na ausência de certeza científica.

c) Com o propósito de respeitar e garantir os direitos à vida e à integridade das pessoas sob
sua jurisdição, os Estados têm a obrigação de cooperar, de boa-fé, para a proteção contra danos
transfronteiriços significativos ao meio ambiente. Para o cumprimento desta obrigação, os Estados
devem notificar os Estados potencialmente afetados quando tenham conhecimento que uma
atividade planejada sob sua jurisdição possa gerar um risco de danos significativos transfronteiriços
e em casos de emergências ambientais, assim como consultar e negociar, de boa-fé, com os
Estados potencialmente afetados por danos transfronteiriços significativos.

d) Com o propósito de garantir os direitos à vida e à integridade das pessoas sob sua
jurisdição, em relação à proteção do meio ambiente, os Estados têm a obrigação de garantir o direito
ao acesso à informação relacionada com possíveis afetações ao meio ambiente; o direito à
participação pública das pessoas sob sua jurisdição na tomada de decisões e políticas que possam

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 147


Disponibilizado exclusivamente para

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afetar o meio ambiente, assim como o direito de acesso à justiça em relação com as obrigações
ambientais estatais.

OPINIÃO CONSULTIVA 24/2017

Solicitada pela Costa Rica.

Indagou-se acerca das obrigações estatais em relação à mudança de nome, à identidade


de gênero e os direitos derivados de um vínculo entre casais do mesmo sexo. Interpretação e
alcance dos artigos 1.1, 3, 7, 11.2, 13, 17, 18 e 24, em relação ao art. 1º da Convenção Americana
sobre Direitos Humanos.

Artigo 1. Obrigação de respeitar os direitos


1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os
direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício
a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma
por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de
qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica,
nascimento ou qualquer outra condição social.

Artigo 3. Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade


jurídica.

Artigo 7. 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.

Artigo 11. 2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas


em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua
correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação.

Artigo 13. Liberdade de pensamento e de expressão


1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão.
Esse direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir
informações e ideias de toda natureza, sem consideração de fronteiras,
verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artística, ou por
qualquer outro processo de sua escolha.
2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar
sujeito a censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser
expressamente fixadas pela lei e ser necessárias para assegurar:
a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou
b. a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou
da moral públicas.
3. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios
indiretos, tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de
imprensa, de frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos
usados na difusão de informação, nem por quaisquer outros meios
destinados a obstar a comunicação e a circulação de ideias e opiniões.
4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com o
objetivo exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância
e da adolescência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.
5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda
apologia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à
discriminação, à hostilidade, ao crime ou à violência.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 148


Disponibilizado exclusivamente para

Artigo 17. Proteção da família


1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e deve ser
protegida pela sociedade e pelo Estado.
2. É reconhecido o direito do homem e da mulher de contraírem
casamento e de fundarem uma família, se tiverem a idade e as condições
para isso exigidas pelas leis internas, na medida em que não afetem estas o
princípio da não-discriminação estabelecido nesta Convenção.
3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno
consentimento dos contraentes.
4. Os Estados Partes devem tomar medidas apropriadas no sentido de
assegurar a igualdade de direitos e a adequada equivalência de
responsabilidades dos cônjuges quanto ao casamento, durante o casamento
e em caso de dissolução do mesmo. Em caso de dissolução, serão adotadas
disposições que assegurem a proteção necessária aos filhos, com base
unicamente no interesse e conveniência dos mesmos.
5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nascidos fora do
casamento como aos nascidos dentro do casamento.

Artigo 18. Direito ao nome


Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus pais ou ao de
um destes. A lei deve regular a forma de assegurar a todos esse direito,
mediante nomes fictícios, se for necessário.

Artigo 24. Igualdade perante a lei


Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem
discriminação, a igual proteção da lei.

A Corte concluiu que:

a) A mudança de nome e em geral a adequação dos registros públicos e dos documentos


de identidade para que estes sejam conformes à identidade de gênero autopercebida constitui um
direito protegido pelos artigos 3º, 7.1, 11.2 e 18 da CADH, em relação aos artigos 1.1 e 24 da
Convenção, de modo que os Estados estão na obrigação de reconhecer, regular e estabelecer os
procedimentos adequados para tais fins;

b) Os Estados devem garantir que as pessoas interessadas na retificação da anotação do


gênero ou no caso as menções do sexo, sem mudar seu nome, adequar sua imagem nos registros
e/ou nos documentos de identidade de conformidade com sua identidade de gênero autopercebida;

c) A CADH, em virtude do direito à proteção da vida privada e familiar, assim como do direito
à proteção da família, protege o vínculo familiar que possa derivar de uma relação de um casal do
mesmo sexo.

d) O Estado deve reconhecer e garantir todos os direitos que derivem de um vínculo familiar
entre pessoas do mesmo sexo em conformidade com o estabelecido nos artigos 11.2 e 17.1 da
CADH.

e) De acordo com os artigos 1.1, 2, 11.2, 17 e 24 da CADH, é necessário que os Estados


garantam o acesso a todas as figuras já existentes nos ordenamentos jurídicos internos, incluindo
o direito ao matrimônio, para assegurar a proteção de todos os direitos das famílias integradas por
casas do mesmo sexo, sem discriminação a respeito das constituídas por casais heterossexuais.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 149


Disponibilizado exclusivamente para

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OPINIÃO CONSULTIVA 25/20148

Solicitada pelo Equador.

Indagou-se acerca da instituição do asilo e seu reconhecimento como direito humano no


sistema interamericano de proteção. Interpretação e alcance dos artigos 22.7 e 22.8 em relação
com o art. 1.1 da CADH.

Artigo 22.
7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em território
estrangeiro, em caso de perseguição por delitos políticos ou comuns conexos
com delitos políticos e de acordo com a legislação de cada Estado e com os
convênios internacionais.
8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro
país, seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal
esteja em risco de violação por causa da sua raça, nacionalidade, religião,
condição social ou de suas opiniões políticas.

A Corte concluiu que:

a) O direito de buscar e receber asilo no marco do sistema interamericano se encontra


configurado como um direito humano a buscar e receber proteção internacional em território
estrangeiro, incluindo com esta expressão o estatuto do refugiado segundo os instrumentos
pertinentes das Nações Unidas ou as correspondentes leis nacionais, e o asilo territorial conforme
as diversas convenções interamericanas sobre a matéria.

b) O asilo diplomático não se encontra protegido pelo art. 22.7 da CADH ou pelo art. XXVII
da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, regendo-se pelas próprias
convenções de caráter interestatal que o regulam e pelo disposto nas legislações internas.

c) O princípio da não devolução é exigível por qualquer pessoa estrangeira, incluídas


aquelas em busca de proteção internacional, sobre a qual o Estado em questão esteja exercendo
autoridade ou que se encontre sob seu controle efetivo, independentemente de se encontrar no
território terrestre, fluvial, marítimo ou aéreo do Estado.

d) O princípio da não devolução não somente exige que a pessoa não seja devolvida, mas
também impõe obrigações positivas para os Estados

OPINIÃO CONSULTIVA 26/2020

Feita pela República da Colômbia.

Indagou-se acerca das obrigações em matéria de direitos humanos de um Estado a) que


denunciou a Convenção Americana sobre Direitos Humanos; b) que objetiva retirar-se da
Organização dos Estados Americanos, além das obrigações; c) dos demais Estados da
Organização para responder a um quadro de violações graves e sistemáticas de direitos humanos
que possa se configurar nesse Estado denunciante.

Obs.: importante consignar que a Corte flexibilizou requisito formal contido em seu Regulamento,
de apresentação de uma pergunta precisa e com a indicação dos dispositivos convencionais a
serem interpretados, considerando suficiente que a Colômbia tenha anexado ao pedido uma lista

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 150


Disponibilizado exclusivamente para

.
de dispositivos relevantes. Permitiu-se pela primeira vez que outros dispositivos não indicados na
solicitação, mas que surgiram em diversas observações escritas e nas falas dos participantes da
audiência pública, sejam objeto de consideração.

A Corte concluiu que:

a) As obrigações permanecem intactas até a denúncia efetiva ocorrer, a retirada não possui
efeito retroativo, mantendo o poder de investigação de atos iniciados no período de vigência e
continuados, além do dever de cumprir com obrigações estipuladas e interpretadas nos termos dos
órgãos de monitoramento;

b) As normas consuetudinárias, as derivadas de princípios gerais de direito e as pertinentes


ao jus cogens continuam a vincular o Estado em virtude do direito internacional geral. Portanto,
ainda que ocorra a saída do tratado, os Estados permanecem vinculados a um conjunto de direito
e intepretações que fazem parte do direito consuetudinário geral ou regional;

c) Os demais Estados possuem o dever de realizar os esforços diplomáticos bilaterais e


multilaterais, assim como exercer seus bons ofícios de forma pacífica, para que aqueles Estados
que tenham efetivado sua retirada da OEA voltem a se incorporar ao sistema regional.

4.6. JURISDIÇÃO CONTENCIOSA DA CORTE INTERNACIONAL DE DIREITOS


HUMANOS

4.6.1. Conceito

Trata-se de uma cláusula facultativa (lembre-se que a competência consultiva da Corte é


cláusula obrigatória), em que os Estados-membros poderão aceitar ou não a competência da Corte,
podendo ocorrer quando fizerem o depósito de ratificação ou em qualquer momento posterior.

Artigo 62
1. Todo Estado Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de
ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento
posterior, declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem
convenção especial, a competência da Corte em todos os casos relativos à
interpretação ou aplicação desta Convenção.
2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob condição de
reciprocidade, por prazo determinado ou para casos específicos. Deverá ser
apresentada ao Secretário-Geral da Organização, que encaminhará cópias
da mesma aos outros Estados membros da Organização e ao Secretário da
Corte.
3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à
interpretação e aplicação das disposições desta Convenção que lhe seja
submetido, desde que os Estados Partes no caso tenham reconhecido ou
reconheçam a referida competência, seja por declaração especial, como
preveem os incisos anteriores, seja por convenção especial.

A aceitação da competência da Corte IDH poderá ser feita de quatro formas, previstas no
rol taxativo do art. 62.2 da CADH, são elas:

• Incondicionalmente;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 151


Disponibilizado exclusivamente para

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• Sob condição de reciprocidade;

• Por prazo determinado;

• Para casos específicos.

4.6.2. (Im) possibilidade de “retirar” a aceitação da competência contenciosa

Durante o processo do caso Ivcher Bronstein vs. Peru, este comunicou à Corte de IDH o
desejo de revogar a aceitação da cláusula facultativa de submissão à jurisdição contenciosa.

A Corte entendeu não ser possível, afirmou que a aceitação da competência contenciosa
constitui uma cláusula pétrea que não admite limitações que não estejam expressamente contidas
no art. 62 da CADH. A única via de que dispõe o Estado para desvincular-se da competência
contenciosa da Corte IDH é a denúncia da CADH como um todo; e ainda, se isso ocorrer, a denúncia
somente produz efeitos nos termos art. 78 da CADH, que exige aviso prévio de 1 ano, continuando
o Estado obrigado aos termos da Convenção até a data na qual a denúncia passe a produzir efeito.

Artigo 78
1. Os Estados Partes poderão denunciar esta Convenção depois de expirado
um prazo de cinco anos, a partir da data da entrada em vigor da mesma e
mediante aviso prévio de um ano, notificando o Secretário-Geral da
Organização, o qual deve informar as outras Partes.
2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado Parte interessado das
obrigações contidas nesta Convenção, no que diz respeito a qualquer ato
que, podendo constituir violação dessas obrigações, houver sido cometido
por ele anteriormente à data na qual a denúncia produzir efeito.

4.6.3. Competência em razão da pessoa (ratione personae)

A Corte IDH somente tem competência para processar e julgar casos iniciados pelacomissão
interamericana ou pelos estados-partes da CADH (legitimados ativos) contra Estados que tenham
aceitado a sua competência contenciosa (legitimados passivos).

4.6.1. Competência em razão da matéria (ratione materiae)

A Corte possui competência para decidir sobre:

• Violação às normas da CADH;

• Documentos indicados em normas de reenvio, a exemplo do art. 75 da CADH invoca


a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados para tratar das reservas e do art.
29 da CADH que afirma que a interpretação da Convenção não pode excluir nem
limitar direito previsto na Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem;

• Tratados que expressamente lhe concedam competência, como por exemplo o art.
19.6 do Protocolo de Sal Salvador, o art. 13, da Convenção Interamericana sobre o
Desaparecimento Forçado;

• Outros documentos, como a Convenção Interamericana contra a Tortura, que prevê


que o caso, esgotados os recursos internos, pode ser submetido a “instâncias

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 152


Disponibilizado exclusivamente para

.
internacionais” (art. 8º), e a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher, cujo art. 7º, embora se refira somente à CIDH,
indica que esta considerará as normas e os requisitos de procedimento previstos na
CADH, sem excluir, portanto, a competência da Corte.

4.6.2. Competência ratione temporis

A competência da Corte incide apenas sobre violações de direitos humanos que tenham
ocorrido posteriormente à entrada em vigor da CADH para o Estado e da aceitação da competência
contenciosa, salvo no caso de atos violatórios que persistam no tempo ou de violação contínua. É
a aplicação do chamado Princípio da Irretroatividade.

4.6.3. Competência ratione loci

A Corte IDH somente tem competência para conhecer de violações de direitos humanos que
afetem pessoas sob a jurisdição do Estado supostamente responsável por aquelas. Não se exige
que as pessoas sejam nacionais do Estado, mas apenas que se encontrem sob a sua jurisdição.

4.6.4. Casos julgados pela Corte

Em tópicos separados analisaremos os casos que envolvem ao Brasil e os casos mais


importantes julgados pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.

5. APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO

5.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Analisar-se-á aqui apenas os procedimentos iniciado pela vítima junto à Comissão e pela
Comissão junto à Corte Interamericana.

O procedimento de apuração da responsabilidade internacional do Estado no Sistema


Interamericano de proteção dos direitos humanos se desenvolve em duas fases, trata-se de um
procedimento bifásico.

1ª FASE 2ª FASE
Perante a Comissão Perante a Corte
Interamericana de Ineramericana de
Direitos Humanos Direitos Humanos

Ambas as bases estão disciplinadas na CADH, bem como nos regulamentos da Comissão
IDH e da Corte IDH.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 153


Disponibilizado exclusivamente para

.
5.2. PROCEDIMENTO PERANTE A COMISSÃO

5.2.1. Tramitação inicial

A Secretaria Executiva da Comissão será responsável pelo estudo e pela tramitação inicial
das petições que forem apresentadas à Comissão e que preencham os requisitos estabelecidos no
seu Estatuto e no seu Regulamento (art. 28).

Caso os requisitos não estejam preenchidos, a petição inicial poderá não ser processada.

5.2.2. Procedimento de admissibilidade

Preenchidos os requisitos da petição inicial, a Secretaria Executiva notificará o Estado para


que responda no prazo de três meses. Antes de se pronunciar sobre a admissibilidade, a Comissão
poderá convidar as partes para apresentarem observações adicionais, por escrito em audiência.

O relatório de admissibilidade ou de inadmissibilidade é público e deve ser incluído no


relatório anula da CIDH enviado à OEA.

Importante consignar que há cinco requisitos para que uma petição inicial seja considerada
pela CIDH. Observe os art. 46 da CADH e do art. 28 do Regulamento da CIDH.

Regulamento Artigo 28. Requisitos para a consideração de petições


As petições dirigidas à Comissão deverão conter a seguinte informação:
a. o nome, a nacionalidade e a assinatura do denunciante ou
denunciantes ou, no caso de o peticionário ser uma entidade não-
governamental, o nome e a assinatura de seu representante ou seus
representantes legais;
b. se o peticionário deseja que sua identidade seja mantida em reserva
frente ao Estado;
c. o endereço para o recebimento de correspondência da Comissão e, se
for o caso, número de telefone e fax e endereço de correio eletrônico;
d. uma relação do fato ou situação denunciada, com especificação do
lugar e data das violações alegadas;
e. se possível, o nome da vítima, bem como de qualquer autoridade
pública que tenha tomado conhecimento do fato ou situação denunciada;
f. a indicação do Estado que o peticionário considera responsável, por
ação ou omissão, pela violação de algum dos direitos humanos consagrados
na Convenção Americana sobre Direitos Humanos e outros instrumentos
aplicáveis, embora não se faça referência específica ao artigo supostamente
violado;
g. o cumprimento do prazo previsto no artigo 32 deste Regulamento;
h. as providências tomadas para esgotar os recursos da jurisdição interna
ou a impossibilidade de fazê-lo de acordo com o artigo 31 deste
Regulamento;
i. a indicação de se a denúncia foi submetida a outro procedimento
internacional de solução de controvérsias de acordo com o artigo 33 deste
Regulamento.

CADH - Artigo 46

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 154


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1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com
os artigos 44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será necessário:
a. que haja sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna,
de acordo com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos;
b. que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data
em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da
decisão definitiva;
c. que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro
processo de solução internacional; e
d. que, no caso do artigo 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade,
a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do
representante legal da entidade que submeter a petição.
2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se
aplicarão quando:
a. não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido
processo legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham
sido violados;
b. não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o
acesso aos recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de
esgotá-los; e
c. houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados
recursos.

A seguir analisar-se-á cada dos requisitos:

1º REQUISITO: Esgotamento dos recursos internos.

Caio Paiva destaca que os recursos de natureza extraordinária só devem ser esgotados
quando efetivamente puderem contribuir para a violação dos direitos humanos.

Além disso, as ações de controle de constitucionalidade não devem ser consideradas como
forma de esgotamento para possibilitar o ajuizamento de petição em ação de responsabilidade
internacional por violação de direitos humanos. No Brasil, por exemplo, a vítima sequer tem
legitimidade para ajuizar as ações de controle de constitucionalidade

Nos casos em que o peticionário alegar a impossibilidade de comprovar o esgotamento dos


recursos internos, caberá ao Estado demonstrar que os recursos internos não foram previamente
esgotados, a menos que isso se deduza claramente dos autos. Para isso, o Estado, na primeira
oportunidade de se manifestar (durante o procedimento de admissibilidade), deve apresentar uma
exceção preliminar sobre o não esgotamento dos recursos internos.

Obs.: Caso o Estado não apresente a preliminar na primeira oportunidade de se manifestar, haverá
preclusão e a renúncia tácita. É o que se chama de Princípio de Estoppel.

O primeiro requisito não precisará ser observado nos casos em que:

• não exista na legislação interna do Estado de que se trate o devido processo legal
para a proteção do direito ou dos direitos que se alegue tenham sido violados;

• não se tenha permitido ao suposto lesado em seus direitos o acesso aos recursos da
jurisdição interna, ou haja sido impedido de esgotá-los;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 155


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.
• haja atraso injustificado na decisão sobre os mencionados recursos;

• faltar defensores ou houver barreiras de acesso à justiça (Opinião Consultiva


11/1990).

2º REQUISITO: Apresentação da petição dentro do prazo de seis meses, a partir da data


em que a presumida vítima tenha sido notificada da decisão definitiva

3º REQUISITO: A matéria da petição não deve estar pendente em outro processo de solução
internacional ou já ter sido examinada e resolvida pela própria CIDH ou por outro órgão internacional

Regulamento - Artigo 33. Duplicação de processos


1. A Comissão não considerará uma petição nos casos em que a respectiva
matéria:
a. encontre-se pendente de outro processo de solução perante organização
internacional governamental de que seja parte o Estado aludido; ou
b constitua substancialmente a reprodução de uma petição pendente ou já
examinada e resolvida pela Comissão ou por outro organismo internacional
governamental de que faça parte o Estado aludido.
2. Contudo, a Comissão não abster-se-á de examinar as petições a que se
refere o parágrafo 1, quando:
a. o procedimento seguido perante o outro organismo se limitar ao exame
geral dos direitos humanos no Estado aludido e não existir uma decisão sobre
os fatos específicos que forem objeto da petição ou não conduzir à sua efetiva
solução;
b. o peticionário perante a Comissão for a presumida vítima da violação, ou
algum familiar seu, e o peticionário perante o outro organismo for uma terceira
pessoa ou uma entidade não-governamental, sem mandato dos primeiros.

4º REQUISITO: Elementos de identificação da vítima, de seu representante e do Estado


demandado

5º REQUISITO: Relato do fato ou da situação denunciada, com especificação de lugar e


data das violações

5.2.3. Procedimento sobre o mérito

Com a abertura do caso, a Comissão fixará o prazo de três meses para que os peticionários
apresentem suas observações adicionais quanto ao mérito. As partes pertinentes dessas
observações serão transmitidas ao Estado em questão, para que este apresente suas observações
no prazo de três meses.

Antes de pronunciar-se sobre o mérito da petição, a Comissão fixará um prazo para que as
partes se manifestem sobre o seu interesse em iniciar o procedimento de solução amistosa (acordo
perante um processo internacional de apuração de responsabilidade do Estado).

Obs.: O primeiro caso brasileiro em que houve um acordo de solução amistosa foi o dos meninos
Emasculados do Maranhão.

O peticionário poderá desistir de sua petição ou caso a qualquer momento, devendo para
tanto manifestá-lo por instrumento escrito à Comissão. A manifestação do peticionário será

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 156


Disponibilizado exclusivamente para

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analisada pela Comissão, que poderá arquivar a petição ou caso, se assim considerar procedente,
ou prosseguir na sua tramitação no interesse de proteger determinado direito.

5.2.4. Relatório preliminar

Após deliberar e votar quanto ao mérito do caso, a Comissão observará o seguinte


procedimento:

• Estabelecida a inexistência de violação em determinado caso, a Comissão assim o


manifestará no seu relatório quanto a mérito. O relatório será transmitido às partes,
publicado e incluído no Relatório Anual da Comissão à Assembleia Geral da
Organização.

• Estabelecida a existência de uma ou mais violações, a Comissão preparará um


relatório preliminar com as proposições e recomendações que considerar pertinentes
e o transmitirá ao Estado de que se trate. Neste caso, fixará um prazo para que tal
Estado informe a respeito das medidas adotadas em cumprimento a essas
recomendações. O Estado não estará facultado a publicar o relatório até que a
Comissão haja adotada um decisão a respeito.

A Comissão notificará ao peticionário sobre a adoção do relatório e sua transmissão ao


Estado. No caso dos Estados partes da Convenção Americana que tenham aceitado a jurisdição
contenciosa da Corte Interamericana, a Comissão, ao notificar o peticionário, dar-lhe-á
oportunidade para apresentar, no prazo de um mês, sua posição a respeito do envio do caso à
Corte. O peticionário, se tiver interesse em que o caso seja elevado à Corte, deverá fornecer os
seguintes elementos:

• a posição da vítima ou de seus familiares, se diferentes do peticionário;

• os dados sobre a vítima e seus familiares;

• as razões com base nas quais considera que o caso deve ser submetido à Corte; e

• as pretensões em matéria de reparação e custos.

5.2.5. Relatório definitivo

Se, no prazo de três meses da transmissão do relatório preliminar ao Estado de que se trate,
o assunto não houver sido solucionado ou, no caso dos Estados que tenham aceitado a jurisdição
da Corte Interamericana, a Comissão ou o próprio Estado não haja submetido o assunto à sua
decisão, a Comissão poderá emitir, por maioria absoluta de votos, um relatório definitivo que
contenha o seu parecer e suas conclusões finais e recomendações.

O relatório definitivo será transmitido às partes, que apresentarão, no prazo fixado pela
Comissão, informação sobre o cumprimento das recomendações.

A Comissão avaliará o cumprimento de suas recomendações com base na informação


disponível e decidirá, por maioria absoluta de votos de seus membros, a respeito da publicação do
relatório definitivo. Ademais, a Comissão disporá a respeito de sua inclusão no Relatório Anual à
Assembleia Geral da Organização ou em qualquer outro meio que considerar apropriado.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 157


Disponibilizado exclusivamente para

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Obs.: Não haverá relatório definitivo quando o caso for encaminhado à Corte IDH ou quando o
Estado cumpre as recomendações do relatório preliminar.

Por fim, a Corte no Caso Loayza Tamayo entendeu que o relatório preliminar não vincula os
Estados; enquanto o relatório definitivo vincula, mas não possui efeito coercitivo.

5.2.6. Acompanhamento

Publicado um relatório sobre solução amistosa ou quanto ao mérito, que contenha suas
recomendações, a Comissão poderá adotar as medidas de acompanhamento que considerar
oportunas, tais como a solicitação de informação às partes e a realização de audiências, a fim de
verificar o cumprimento de acordos de solução amistosa e de recomendações.

A Comissão informará, na forma que considerar oportuna, sobre os avanços no cumprimento


de tais acordos e recomendações.

5.3. PROCEDIMENTO PERANTE A CORTE

5.3.1. Submissão do caso pela CIDH e exame preliminar pela Presidência

O caso deve ser levado à Secretaria, mediante a apresentação do relatório preliminar,


contendo todos os fatos supostamente violatórios, inclusive a identificação das supostas vítimas.
Além disso, para que o caso possa ser examinado, a Corte deverá receber a seguinte informação:

• os nomes dos Delegados;

• os nomes, endereço, telefone, correio eletrônico e fac-símile dos representantes das


supostas vítimas devidamente credenciados, se for o caso;

• os motivos que levaram a Comissão a apresentar o caso ante a Corte e suas


observações à resposta do Estado demandado às recomendações do relatório;

• cópia da totalidade do expediente ante a Comissão, incluindo toda comunicação


posterior ao relatório;

• as provas que recebeu, incluindo o áudio ou a transcrição, com indicação dos fatos
e argumentos sobre os quais versam. Serão indicadas as provas que se receberam
em um procedimento contraditório;

• quando se afetar de maneira relevante a ordem pública interamericana dos direitos


humanos, a eventual designação dos peritos, indicando o objeto de suas declarações
e acompanhando seu currículo;

• as pretensões, incluídas as que concernem a reparações.

Em casos de supostas vítimas sem representação legal devidamente credenciada, oTribunal


poderá designar um Defensor Interamericano de ofício que as represente durante a tramitação do
caso.

Por fim, se no exame preliminar da submissão do caso, a Presidência verificar que algum
requisito fundamental não foi cumprido, solicitará que seja sanado no prazo de 20 dias.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 158


Disponibilizado exclusivamente para

.
5.3.2. Notificação do caso

O Secretário notificará a apresentação do caso à Presidência e aos Juízes, ao Estado


demandado, à Comissão, se não for ela que apresenta o caso, à suposta vítima, seus
representantes ou o Defensor Interamericano, se for o caso. Igualmente, informará sobre a
apresentação do caso aos outros Estados partes, ao Conselho Permanente por intermédio da sua
Presidência e ao Secretário Geral.

Junto com a notificação, o Secretário solicitará que:

• no prazo de 30 dias, o Estado demandado designe o ou os respectivos Agentes. Ao


credenciar os Agentes, o Estado interessado deverá informar o endereço no qual se
considerarão oficialmente recebidas as comunicações pertinentes;

• os representantes das supostas vítimas, no prazo de 30 dias, confirmem o endereço


no qual se considerarão oficialmente recebidas as comunicações pertinentes.

5.3.3. Apresentação por escrito de petições

Destaca-se que antes, a CIDH era uma representante da vítima no sistema da Corte IDH,
apresentando a petição inicial. Com a alteração realizada em 2009, a CIDH envia apenas o relatório
preliminar. A Corte IDH notifica a vítima/seus representantes, que deverá apresentar a petição
inicial.

Notificada a apresentação do caso à suposta vítima ou aos seus representantes, estes


disporão de um prazo improrrogável de dois meses, contado a partir do recebimento desse escrito
e de seus anexos, para apresentar autonomamente à Corte seu escrito de petições, argumentos e
provas.

O escrito de petições, argumentos e provas deverá conter:

• a descrição dos fatos dentro do marco fático estabelecido na apresentação do caso


pela Comissão;

• as provas oferecidas devidamente ordenadas, com indicação dos fatos e argumentos


sobre os quais versam;

• a individualização dos declarantes e o objeto de sua declaração. No caso dos peritos,


deverão ademais remeter seu currículo e seus dados de contato;

• as pretensões, incluídas as que concernem a reparações e custas

5.3.4. Contestação do Estado

O Estado será notificado, no prazo improrrogável de dois meses, para apresentar sua
contestação.

Na contestação, o Estado indicará:

• se aceita os fatos e as pretensões ou se os contradiz;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 159


Disponibilizado exclusivamente para

.
• as provas oferecidas devidamente ordenadas, com indicação dos fatos e argumentos
sobre os quais versam;

• a propositura e identificação dos declarantes e o objeto de sua declaração. No caso


dos peritos, deverá ademais remeter seu currículo e seus dados de contato;

• os fundamentos de direito, as observações às reparações e às custas solicitadas,


bem como as conclusões pertinentes.

5.3.5. Outros atos e procedimentos por escrito

Posteriormente à recepção do escrito de submissão do caso, ao escrito de petições,


argumentos e provas e ao escrito de contestação, e antes da abertura do procedimento oral, a
Comissão, as supostas vítimas ou seus representantes, o Estado demandado e, se for o caso, o
Estado demandante poderão solicitar à Presidência a realização de outros atos do procedimento
escrito. Se a Presidência estimar pertinente, fixará os prazos para a apresentação dos respectivos
documentos.

5.3.6. Apresentação de amicus curiae

Nos casos contenciosos, um escrito em caráter de amicus curiae poderá ser apresentado
em qualquer momento do processo, porém no mais tardar até os 15 dias posteriores à celebração
da audiência pública. Nos casos em que não se realize audiência pública, deverá ser remetido
dentro dos 15 dias posteriores à resolução correspondente na qual se outorga prazo para o envio
de alegações finais.

5.3.7. Procedimento oral

A Presidência determinará a data de abertura do procedimento oral e indicará as audiências


necessárias.

Na audiência:

• a Comissão exporá os fundamentos do relatório;

• a Corte ouvirá os declarantes, as testemunhas e as vítimas, se for o caso;

• a Presidência concederá a palavra às supostas vítimas ou aos seus representantes


e ao Estado demandado para que exponham suas alegações.

• Concluídas as alegações, a Comissão apresentará suas observações finais;

• Por último, a Presidência dará a palavra aos Juízes

5.3.8. Procedimento final escrito

As supostas vítimas ou seus representantes, o Estado demandado e, se for o caso, o Estado


demandante terão a oportunidade de apresentar alegações finais escritas no prazo que determine
a Presidência.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 160


Disponibilizado exclusivamente para

.
5.3.9. Espaços de desistência e consenso

Quando quem fez a apresentação do caso notificar a Corte de sua desistência, esta decidirá,
ouvida a opinião de todos os intervenientes no processo, sobre sua procedência e seus efeitos
jurídicos.

Se o demandado comunicar à Corte sua aceitação dos fatos ou seu acatamento total ou
parcial das pretensões que constam na submissão do caso ou no escrito das supostas vítimas ou
seus representantes, a Corte, ouvido o parecer dos demais intervenientes no processo, resolverá,
no momento processual oportuno, sobre sua procedência e seus efeitos jurídicos.

Quando a Comissão, as vítimas ou supostas vítimas ou seus representantes, o Estado


demandado e, se for o caso, o Estado demandante em um caso perante a Corte comunicarem a
esta a existência de uma solução amistosa, de um acordo ou de outro fato idôneo para dar solução
ao litígio, a Corte resolverá, no momento processual oportuno, sobre sua procedência e seus efeitos
jurídicos.

5.3.10. Sentença

Na sentença, a Corte deliberará em privado e aprovará a sentença, a qual será notificada


pela Secretaria à Comissão, às vítimas ou supostas vítimas ou a seus representantes, ao Estado
demandado e, se for o caso, ao Estado demandante.

A sentença será definitiva e não estará sujeita à apelação.

A supervisão das sentenças e das demais decisões da Corte realizar-se-á mediante a


apresentação de relatórios estatais e das correspondentes observações a esses relatórios por parte
das vítimas ou de seus representantes. A Comissão deverá apresentar observações ao relatório do
Estado e às observações das vítimas ou de seus representantes.

6. MEDIDAS DE URGÊNCIA NO SISTEMA INTERAMERICANO

6.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O Direito Internacional, quando atua em na dimensão pré-violatória, conta com medidas de


urgência a fim de que danos irreparáveis às pessoas possam ser evitados.

Tanto a Comissão IDH quanto a Corte IDH podem expedir medidas de urgência. Vejamos
as diferenças entre cada uma.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 161


Disponibilizado exclusivamente para

.
MEDIDAS DE URGÊNCIA NA MEDIDAS DE URGÊNCIA NA
COMISSÃO IDH CORTE IDH

NOMENCLATURA Medidas cautelares Medidas provisórias

Não possui base convencional


(não está prevista em tratado), é Possui base convencional, é
STATUS NORMATIVO
disciplinada pelo Regulamento disciplina pela CADH
da CIDH

EFEITO JURÍDICO Não possuem efeito vinculante É dotada de efeito vinculante

A Corte somente pode ordenar


medidas provisórias contra os
Estados que tenham aderido à
CADH e tenham aceitado sua
jurisdição contenciosa.
A Comissão poderá adotar
medidas cautelares contra Obs.: Doutrina minoritária,
ABRANGÊNCIA qualquer Estado membro da contrariando o próprio
OEA. Inclusive contra os Estados entendimento da Corte, sustenta
que não tiverem aderido à CADH que a medidas provisória poderá
ser expedida contra qualquer
Estado que tenha aderido à
CADH, independentemente de ter
aceitado a jurisdição contenciosa
da Corte

6.2. MEDIDAS CAUTELARES DA COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS


HUMANOS

O regramento está disciplinado no art. 25 do Regulamento da CIDH. Observe:

Artigo 25. Medidas cautelares


1. Em situações de gravidade e urgência a Comissão poderá, por iniciativa
própria ou a pedido da parte, solicitar que um Estado adote medidas
cautelares para prevenir danos irreparáveis às pessoas ou ao objeto do
processo relativo a uma petição ou caso pendente.
2. Em situações de gravidade e urgência a Comissão poderá, por iniciativa
própria ou a pedido da parte, solicitar que um Estado adote medidas
cautelares para prevenir danos irreparáveis a pessoas que se encontrem sob
sua jurisdição, independentemente de qualquer petição ou caso pendente.
3. As medidas às quais se referem os incisos 1 e 2 anteriores poderão ser de
natureza coletiva a fim de prevenir um dano irreparável às pessoas em virtude
do seu vínculo com uma organização, grupo ou comunidade de pessoas
determinadas ou determináveis.
4. A Comissão considerará a gravidade e urgência da situação, seu contexto,
e a iminência do dano em questão ao decidir sobre se corresponde solicitar
a um Estado a adoção de medidas cautelares. A Comissão também levará
em conta:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 162


Disponibilizado exclusivamente para

.
a. se a situação de risco foi denunciada perante as autoridades competentes
ou os motivos pelos quais isto não pode ser feito;
b. a identificação individual dos potenciais beneficiários das medidas
cautelares ou a determinação do grupo ao qual pertencem; e
c .a explícita concordância dos potenciais beneficiários quando o pedido for
apresentado à Comissão por terceiros, exceto em situações nas quais a
ausência do consentimento esteja justificada.
5. Antes de solicitar medidas cautelares, a Comissão pedirá ao respectivo
Estado informações relevantes, a menos que a urgência da situação justifique
o outorgamento imediato das medidas.
6. A Comissão avaluará periodicamente a pertinência de manter a vigência
das medidas cautelares outorgadas.
7. Em qualquer momento, o Estado poderá apresentar um pedido
devidamente fundamentado a fim de que a Comissão faça cessar os efeitos
do pedido de adoção de medidas cautelares. A Comissão solicitará
observações aos beneficiários ou aos seus representantes antes de decidir
sobre o pedido do Estado. A apresentação de tal pedido não suspenderá a
vigência das medidas cautelares outorgadas.
8. A Comissão poderá requerer às partes interessadas informações
relevantes sobre qualquer assunto relativo ao outorgamento, cumprimento e
vigência das medidas cautelares. O descumprimento substancial dos
beneficiários ou de seus representantes com estes requerimentos poderá ser
considerado como causa para que a Comissão faça cessar o efeito do pedido
ao Estado para adotar medidas cautelares. No que diz respeito às medidas
cautelares de natureza coletiva, a Comissão poderá estabelecer outros
mecanismos apropriados para seu seguimento e revisão periódica.
9. O outorgamento destas medidas e sua adoção pelo Estado não constituirá
pré-julgamento sobre a violação dos direitos protegidos pela Convenção
Americana e outros instrumentos aplicáveis.

Observações:

• A CIDH pode expedir medidas cautelares de ofício ou a pedido da parte, havendo ou


não caso em tramitação na Comissão;

• As medidas podem ser de natureza individual ou coletiva;

• A concessão de medidas cautelares não constitui pré-julgamento do mérito;

• No âmbito das medidas de urgência, não se exige que a vítima esgote os recursos
internos. A vítima deve apenas ter denunciado a situação de risco perante as
autoridades ou dizer à CIDH porque assim não o fez.

6.3. MEDIDAS PROVISÓRIAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITO HUMANOS

Encontra-se prevista no art. 63.2 da CADH e seu procedimento está disciplinado no art. 27
do Regulamento da Corte IDH. Vejamos os dispositivos:

Art. 63. 2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer


necessário evitar danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de
que estiver conhecendo, poderá tomar as medidas provisórias que considerar

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 163


Disponibilizado exclusivamente para

.
pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não estiverem submetidos
ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.

Artigo 27. Medidas provisórias


1. Em qualquer fase do processo, sempre que se tratar de casos de extrema
gravidade e urgência e quando for necessário para evitar danos irreparáveis
às pessoas, a Corte, ex officio, poderá ordenar as medidas provisórias que
considerar pertinentes, nos termos do artigo 63.2 da Convenção.
2. Tratando-se de assuntos ainda não submetidos à sua consideração, a
Corte poderá atuar por solicitação da Comissão.
3. Nos casos contenciosos que se encontrem em conhecimento da Corte, as
vítimas ou as supostas vítimas, ou seus representantes, poderão apresentar
diretamente àquela uma petição de medidas provisórias, as quais deverão ter
relação com o objeto do caso.
4. A solicitação pode ser apresentada à Presidência, a qualquer um dos
Juízes ou à Secretaria, por qualquer meio de comunicação. De qualquer
forma, quem houver recebido a solicitação deverá levá-la de imediato ao
conhecimento da Presidência.
5. A Corte ou, se esta não estiver reunida, a Presidência poderá requerer ao
Estado, à Comissão ou aos representantes dos beneficiários, quando
considerar possível e indispensável, a apresentação de informação sobre um
pedido de medidas provisórias antes de resolver sobre a medida solicitada.
6. Se a Corte não estiver reunida, a Presidência, em consulta com a
Comissão Permanente e, se for possível, com os demais Juízes, requererá
do Estado interessado que tome as providências urgentes necessárias a fim
de assegurar a eficácia das medidas provisórias que a Corte venha a adotar
depois, em seu próximo período de sessões.
7. A supervisão das medidas urgentes ou provisórias ordenadas realizar-se-
á mediante a apresentação de relatórios estatais e das observações
correspondentes aos referidos relatórios por parte dos beneficiários de tais
medidas ou seus representantes. A Comissão deverá apresentar
observações ao relatório do Estado e às observações dos beneficiários das
medidas ou de seus representantes.
8. Nas circunstâncias que estimar pertinentes, a Corte poderá requerer a
outras fontes de informação dados relevantes sobre o assunto, que permitam
apreciar a gravidade e a urgência da situação e a eficácia das medidas. Para
os mesmos efeitos, poderá também requerer as perícias e relatórios que
considerar oportunos.
9. A Corte ou, se esta não estiver reunida, a Presidência poderá convocar a
Comissão, os beneficiários das medidas ou seus representantes e o Estado
a uma audiência pública ou privada sobre as medidas provisórias.
10. A Corte incluirá em seu relatório anual à Assembleia Geral uma relação
das medidas provisórias que tenha ordenado durante o período do relatório
e, quando tais medidas não tenham sido devidamente executadas, formulará
as recomendações que considere pertinentes.

Observações:

• Nos casos ainda não submetidos à Corte IDH, a medida provisória somente poderá
ser decretada a pedido da CIDH;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 164


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.
• Nos casos já submetidos à Corte, a medida provisória poderá ser decretada de ofício,
a pedido das vítimas ou seus representante, bem como a pedido da CIDH;

• A supervisão do cumprimento das medidas provisórias pelos Estados é feita através


do sistema de relatórios periódicos, podendo haver também a realização de
audiência pública ou privada sobre esta questão;

• A Corte entende ser possível que a Comissão solicite a aplicação de medidas


provisórias, mesmo que não tenha aplicado medida cautelar.

7. SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

7.1. DIREITOS HUMANOS E ACESSO À JUSTIÇA

O acesso à justiça está previsto em diversos tratados de direitos humanos, a exemplo do


Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos.

PIDCP - ARTIGO 14, 1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e


as cortes de justiça. Toda pessoa terá o direito de ser ouvida publicamente e
com devidas garantias por um tribunal competente, independente e imparcial,
estabelecido por lei, na apuração de qualquer acusação de caráter penal
formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e obrigações de
caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte da
totalidade de um julgamento, quer por motivo de moral pública, de ordem
pública ou de segurança nacional em uma sociedade democrática, quer
quando o interesse da vida privada das Partes o exija, que na medida em que
isso seja estritamente necessário na opinião da justiça, em circunstâncias
específicas, nas quais a publicidade venha a prejudicar os interesses da
justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em matéria penal ou civil
deverá torna-se pública, a menos que o interesse de menores exija
procedimento oposto, ou processo diga respeito à controvérsia matrimoniais
ou à tutela de menores.

CADH - Artigo 8, 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas
garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente,
independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de
qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem
seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer
outra natureza.

O acesso à justiça só será efetivo e real quando determinadas “barreiras” forem eliminadas,
promovendo-se uma assistência jurídica integral e gratuita.

A Corte IDH, no julgamento do Caso Ruano Torres vs. El Salvador afirmou que a defesa
técnica prestada pela Defensoria Pública não deve ser concebida como uma mera formalidade
processual, exigindo-se, ao contrário, que o defensor público atue de forma diligente com o objetivo
de proteger as garantias processuais do acusado e evitar que seus direitos sejam violados.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 165


Disponibilizado exclusivamente para

.
7.2. 100 REGRAS DE BRASÍLIA

7.2.1. Finalidade

Em março de 2008, na XIV Conferência da Cúpula Judicial Ibero-americana, foram


aprovadas as 100 Regras de Brasília, com a finalidade de “garantir as condições de acesso efetivo
à justiça das pessoas em condições de vulnerabilidade, sem discriminação alguma, englobando o
conjunto de políticas, medidas, facilidades e meios que permitam que as referidas pessoas
usufruam do pleno gozo dos serviços do sistema judicial”.

7.2.2. Natureza jurídica

Segundo Caio Paiva, as 100 Regras de Brasília são meras diretrizes internacionais, sem
força vinculante. Como não são fruto de um acordo entre Estados e por não terem sido produzidas
no âmbito de uma organização internacional, não podem sequer ser consideradas como uma norma
internacional, ainda que de soft law.

7.2.3. Conceitos relevantes

• Pessoa em situação de vulnerabilidade: - pessoas que, por razão da sua idade,


género, estado físico ou mental, ou por circunstâncias sociais, económicas, étnicas
e/ou culturais, encontram especiais dificuldades em exercitar com plenitude perante
o sistema de justiça os direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico. A concreta
determinação das pessoas em condição de vulnerabilidade em cada país dependerá
das suas características específicas, ou inclusive do seu nível de desenvolvimento
social e económico.

• Causas de vulnerabilidade: a idade, a incapacidade, a pertença a comunidades


indígenas ou a minorias, a Regras de Brasília sobre Acesso à Justiça das Pessoas
em condição de Vulnerabilidade 6 vitimização, a migração e o deslocamento interno,
a pobreza, o género e a privação de liberdade.

• Vitimização: considera-se vítima toda a pessoa física que tenha sofrido um dano
ocasionado por uma infracção penal, incluída tanto a lesão física ou psíquica, como
o sofrimento moral e o prejuízo económico. O termo vítima também poderá incluir, se
for o caso, a família imediata ou as pessoas que estão a cargo da vítima direta.

• Condição de vulnerabilidade: aquela vítima do delito que tenha uma relevante


limitação para evitar ou mitigar os danos e prejuízos derivados da infração penal ou
do seu contato com o sistema de justiça, ou para enfrentar os riscos de sofrer uma
nova vitimização. A vulnerabilidade pode proceder das suas próprias características
pessoais ou das circunstâncias da infracção penal. Destacam para estes efeitos,
entre outras vítimas, as pessoas menores de idade, as vítimas de violência doméstica
ou intrafamiliar, as vítimas de delitos sexuais, os adultos maiores, assim como os
familiares de vítimas de morte violenta

7.3. A DEFENSORIA PÚBLICA E A OEA

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 166


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A OEA possui resoluções valorizando o trabalho da Defensoria Pública e incentivando os
Estados a adotarem o modelo público de assistência jurídica por meio da criação e do fortalecimento
da defensoria púbica. Além disso, tem incentivado os Estados a assegurarem autonomia às
Defensorias Públicas.

7.4. DEFENSORIA PÚBLICA INTERAMERICANA

7.4.1. Considerações iniciais

Com o objetivo de evitar que dificuldades financeiras ou de outra natureza impeçam as


vítimas de contarem com a devida representação legal no procedimento perante a Corte, em 2009,
reformou-se o Regulamento da Corte, surgindo figura do defensor público interamericano (DPI).

Obs.: A figura do DPI não possui base convencional, tendo em vista que está prevista apenas no
Regulamento da Corte IDH.

A finalidade é garantir que toda presumida vítima tenha um advogado que faça valer seus
interesses perante a Corte e evitar que razões econômicas impeçam as vítimas de contar com
representação legal. Por outro lado, evita-se que a Comissão tenha uma posição dual ante a Corte,
de representante das vítimas e de órgão do sistema.

7.4.2. Conceito

A expressão “Defensor Interamericano” significa a pessoa que a Corte designe para assumir
a representação legal de uma suposta vítima que não tenha designado um defensor por si mesma.

Em casos de supostas vítimas sem representação legal devidamente credenciada, oTribunal


poderá designar um Defensor Interamericano de ofício que as represente durante a tramitação do
caso (art. 37 do Regulamento da Corte).

7.4.3. Modelos de oferecimento de assistência jurídica gratuita no âmbito de


tribunais internacionais

SISTEMA CONCENTRADO SISTEMA INDEPENDENTE

“terceiriza” a organização da prestação e da


Órgão de defesa pública dentro da estrutura
designação específica do defensor a uma
do próprio tribunal
entidade independente

Corte IDH - mediante convênio celebrado


TPI - possui alguns escritórios entre a Corte IDH e a Associação
semiautônomos, tais como o Escritório de Interamericana de Defensorias Públicas
Defensoria Pública para as Vítimas e o (AIDEF), concedeu-se a esta a atribuição para
Escritório de Advocacia Pública para a Defesa; organizar o serviço da assistência jurídica
gratuita no processo judicial interamericano.

Importante consignar que até o ano de 2018, a Defensoria Pública Interamericana atuava
exclusivamente em procedimentos perante a Corte IDH. A partir de 2013, a AIDEF celebra um

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 167


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.
convênio também com a CIDH, viabilizando a atuação de defensores interamericanos perante o
procedimento inicial na Comissão.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 168


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SISTEMA EUROPEU DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O Sistema Europeu de proteção aos direitos humanos surgiu em 1949, NO Tratado de


Londres, com a criação do Conselho da Europa.

2. CONSELHO DA EUROPA

Trata-se de uma organização internacional, criada para defender os direitos humanos, a


democracia e o Estado de Direito.

2.1. ESTRUTURA

2.1.1. Secretário-geral

Eleito pela Assembleia Parlamentar para liderar a Organização. É responsável pelo


planejamento estratégico, pela orientação do programa de atividades e pelo orçamento do Conselho
da Europa.

O Secretário-Geral dirige e representa a Organização.

2.1.2. Comitê de Ministros

Órgão de decisão do Conselho, composto pelos Ministros das Relações Exteriores de cada
Estado membro ou pelos seus representantes diplomáticos permanentes em Estrasburgo.

O Comitê de Ministros determina a política do Conselho da Europa e aprova o seu orçamento


e programa de atividades.

2.1.3. Assembleia Parlamentar

Reúne 324 parlamentares dos 47 Estados-membros.

A Assembleia elege o Secretário-Geral, o Comissário dos Direitos Humanos e os juízes do


TEDH. E, ainda, oferece fórum democrático para debates e observa as eleições.

2.1.4. Congresso dos Poderes Locais e Regionais

É composto por 648 membros eleitos que representam mais de 200.000 autoridades locais
e regionais, com a finalidade de reforçar a democracia local e regional.

2.1.5. Tribunal Europeu de Direitos Humanos

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 169


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Órgão judiciário permanente que garante os direitos consagrados na Convenção Europeia
de Direitos Humanos e demais documentos do sistema europeu de proteção dos direitos humanos.

2.1.6. Comissário para os Direitos Humanos

Trata-se de uma instituição não-judicial independente e imparcial, estabelecido em 1999


pelo Conselho da Europa para promover a conscientização e o respeito pelos direitos humanos nos
47 Estados membros do Conselho.

Por ser uma instituição não-judicial, não pode agir sobre queixas individuais, mas pode tirar
conclusões e tomar iniciativas mais amplas, com base em informações confiáveis sobre violações
dos direitos humanos sofridas por indivíduos.

Sua atividade se concentra em trêŝ áreas principais:

• visitas aos países e diálogo com as autoridades nacionais e da sociedade civil;

• relatórios temáticos e aconselhamento sobre direitos humanos para a sua


implementação sistemática; e

• atividades de sensibilização.

2.1.7. Conferência de ONGIs

Composta por aproximadamente 400 ONGIs, a Conferência cria um elo vital entre os
representantes políticos e os cidadãos e faz ouvir a voz da sociedade civil no Conselho.

2.1.8. Comitê Europeu para a Prevenção da Tortura e Outros Tratamentos ou Penas


Cruéis

Sua função é visitar estabelecimentos de privação de liberdade, não processa petições


individuais.

2.1.9. Comitê Europeu dos Direitos Sociais

Responsável por relatórios periódicos da Carta Social Europeia e pelas queixas coletivas.

3. CONVENÇÃO EUROPEIA DE DIREITOS HUMANOS (CEDH)

Como o Estatuto do Conselho da Europa continha apenas referências vagas sobre o tema
dos direitos humanos, foi adotada, em 1950, no âmbito do Conselho da Europa, a CEDH.

A CEDH entrou em vigor em 1953, após 10 ratificações, possui diversos protocolos


facultativos.

Obs.: A ratificação da CEDH é um pré-requisito para o estado integrar o Conselho da Europa. No


Sistema Interamericano para integrar a OEA não se exige a ratificação da CADH

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 170


Disponibilizado exclusivamente para

.
Além da CEDH que protege, essencialmente, direitos civis e políticos, o Sistema Europeu
conta com uma Carta Social Europeia, que complemente a CEDH e para proteger os direitos
econômicos, sociais e culturais, bem como com Convenções temáticas adotadas pelo Conselho da
Europa.

4. ÓRGÃOS DE MONITORAMENTO

Durante muito tempo o sistema europeu de proteção dos direitos humanos contou com um
importante órgão de monitoramento, que foi a Comissão Europeia de Direitos Humanos, com
competência e atuação muito similares a da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. A
Comissão Europeia podia analisar petições interestatais e individuais.

Em 1998, por meio do Protocolo Facultativo 11 à Convenção Europeia de Direitos Humanos,


a comissão europeia foi extinta e as suas funções foram fundidas com a do TEDH, passando o
sistema europeu a funcionar com apenas um órgão jurisdicional de natureza permanente – o tribunal
europeu de direitos humanos (TEDH), eliminando-se, então, o procedimento bifásico (que ainda
existe no sistema interamericano).

A partir do Protocolo Facultativo 11/1998, o indivíduo passou a ter direito de acesso direto
ao TEDH.

5. TRIBUNAL EUROPEU DE DIREITOS HUMANOS (TEDH)

O TEDH foi instituído em 1959, com as funções de interpretar e aplicar as normas de direitos
humanos do sistema europeu. Possui competências contenciosa e consultiva, sendo integrado por
47 juízes (um para cada Estado Parte do Conselho da Europa e da Convenção Europeia de Direitos
Humanos), que exercem suas funções à título pessoal. Os juízes do TEDH são eleitos pela
Assembleia Parlamentar, órgão do Conselho da Europa, para um mandato de 9 anos, vedada a
reeleição.

Com o Protocolo Facultativo 11/1998, que extinguiu a Comissão Europeia, o TEDH tornou-
se órgão permanente e a sua jurisdição contenciosa passou a ser obrigatória*(antes, era
facultativa).

Podem acessar diretamente o TEDH (legitimados ativos) qualquer pessoa física, ONG ou
grupo de pessoas que se considere vítima de violação dos direitos previstos na CEDH e nos seus
protocolos, cometido por qualquer Estado- Parte. Por fim, os estados-partes também podem
submeter ao TEDH qualquer denúncia de violação praticada por outro Estado-Parte.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 171


Disponibilizado exclusivamente para

.
SISTEMA AFRICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em 1981 foi elaborada a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, conhecida
também como Carta de Banjul, e entrou em vigor em outubro de 1986.

A Carta buscou um caminho próprio, no preâmbulo estabelece que “as virtudes das suas
tradições históricas e os valores da civilização africana” devem “inspirar e caracterizar as suas
reflexões sobre a concepção dos direitos humanos e dos povos”.

Foi o primeiro tratado de DH a elencar de uma só vez os direitos civis e políticos com os
econômicos, sociais e culturais, além de ter inovado mencionando expressamente o direito ao meio-
ambiente como direito fundamental (e também direito ao desenvolvimento). Todos os 53 Estados
africanos ratificaram a Carta de Banjul.

2. COMISSÃO AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS E DOS POVOS

Foi o único órgão criado pela Carta, é composta por 11 membros, votação secreta pelos
Estados (cada um apresenta até 2 nomes), o mandato é de 6 anos (com uma recondução). Ela
admite petições de indivíduos e demandas interestatais.

A petição deve ser proposta em prazo razoável, a partir do esgotamento dos recursos
internos e não pode ter sido resolvida por outro órgão internacional.

3. CORTE AFRICANA DE DH E DOS POVOS

Criada com o Protocolo de 1998, que só entrou em vigor em 1994 após a 15ª ratificação.

É composta por 11 membros e a votação é no mesmo sistema, com duração de mandato


igual, só se diferenciando por cada Estado poder nomear até 3 nomes e ela pode possuir até 2
representantes de cada Estado em sua formação, além de trabalhar em 4 sessões por ano.

Podem propor ações perante a Corte: a Comissão; o Estado, uma Organização internacional
intergovernamental africana e, a depender do critério da Corte e da adesão facultativa dos Estados-
partes, o indivíduo ou ONG.

A Corte ainda pode emitir opiniões consultivas, a única ressalva é que o pedido não possa
recair em matéria sob apreciação da Comissão.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 172


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TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

1. DIREITO INTERNACIONAL PENAL

Inicialmente, é importante diferenciar os objetivos do Direito Internacional Penal de Direito


Penal Internacional.

DIREITO INTERNACIONAL PENAL DIREITO PENAL INTERNACIONAL

Estabelecer crimes internacionais

Impor aos Estados a obrigação de punir os A aplicação da lei penal no espaço


autores destes crimes
A cooperação penal internacional
Criar a jurisdição penal internacional para
A eficácia da sentença penal estrangeira
atuar diante de eventual ineficiência da
jurisdição penal interna

Obs.: Há temas que, em razão da sua dupla normatização (previstos na lei interna e nos tratados
internacionais), como a extradição por exemplo, são objeto tanto do Direito Internacional Penal
quanto do Direito Penal Internacional.

De acordo com Caio Paiva, o Direito Internacional Penal baseia-se na responsabilidade


penal internacional dos indivíduos e traz a superação de dois dogmas, quais sejam:

• Abandono do mito do monopólio das jurisdições nacionais em matéria penal; e

• Rompimento da barreira de que apenas os Estados é que poderiam ser


responsabilizados na arena internacional.

Fundamenta-se na ideia de que certos crimes, em razão da sua gravidade, constituem uma
ameaça à paz, à segurança e ao bem-estar da humanidade, afetando a comunidade internacional
no seu conjunto, de modo que não devem ficar impunes e a sua repressão deve ser efetivamente
assegurada através da adoção de medidas em nível nacional e do reforço da cooperação
internacional.

2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

2.1. 1º ANTECEDENTE – TRATADO DE VERSAILLES, 1919

Foi um tratado de paz que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Mundial. Em seu art. 227
estava previsto a criação de um “tribunal especial”, composto por juízes das potências vencedoras,
para julgar o Kaiser (Imperador) Guilherme da Alemanha vencida. De acordo com Caio Paiva, o art.
227 e seguintes do Tratado de Versailles pode ser considerado embrião do moderno Direito

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 173


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Internacional Penal, que permite a responsabilização do indivíduo por crimes graves, superando a
ideia de blindagem absoluta da proteção estatal.

2.2. 2º ANTECEDENTE – TRIBUNAL INTERNACIONAL MILITAR DE NUREMBERG, 1945

Trata-se do primeiro tribunal internacional com competência penal para julgar crimes contra
a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade praticados por oficiais do regime nazista.

2.3. 3º ANTECEDENTE – TRIBUNAL MILITAR INTERNACIONAL PARA O EXTREMO-


ORIENTE (Tribunal de Tóquio), 1946

Trata-se do segundo tribunal internacional com competência penal, criado por ato unilateral
dos EUA, com competência para julgar integrantes do núcleo militar e civil do governo japonês por
crimes contra a paz, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

2.4. 4º ANTECEDENTE – PRINCÍPIOS DE NUREMBERG, 1946

A Assembleia-Geral da ONU consagrou os princípios de Direito Internacional acolhidos pelos


Estatutos dos Tribunais de Nuremberg e Tóquio, ficando conhecidos como Princípios de
Nuremberg, são eles:

• Todo aquele que comete ato que consiste em crime internacional é passível de
punição;

• Lei nacional que não considera o ato crime é irrelevante;

• As imunidades locais são irrelevantes;

• A obediência às ordens superiores não são eximentes;

• Todos os acusados têm direito ao devido processo legal;

• São crimes internacionais os julgados em Nuremberg; e

• Conluio para cometer tais atos é crime.

2.5. 5º ANTECEDENTE – CONVENÇÃO PARA A PREVENÇÃO E A PUNIÇÃO DO CRIME


DE GENOCÍDIO, 1948

A ONU passou a codificar normas de direito internacional penal e de direito humanitário.

2.6. 6º ANTECEDENTE – RESOLUÇÕES Nº 827/1993 E 955/1994 DO CONSELHO DE


SEGURANÇA DA ONU

As resoluções criaram, respectivamente, o TPI para os crimes contra o Direito Humanitário


cometidos na ex-Iugoslávia e o TPI para os crimes ocorridos em Ruanda, os dois contribuíram para
a consolidação normativa e para a criação jurisprudencial do Direito Internacional Penal.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 174


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2.7. 7º ANTECEDENTE – ADOÇÃO DO ESTATUTO DO TP, 1998

Em Roma, no ano de 1998, criou-se Tribunal Penal Internacional, instituição permanente e


independente.

3. GERAÇÕES DE TRIBUNAIS PENAIS INTERNACIONAIS

A partir dos antecedentes históricos, a doutrina identifica quatro gerações de tribunais penais
internacionais.

1ª Geração 2ª Geração 3ª Geração 4ª Geração

Tribunais penais
Tribunais Tribunais criados
Tribunal internacionalizados
precursores, com pelo Conselho de
permanente ou híbridos*
natureza militar Segurança da ONU

TPI para a Ex- Tribunal Especial


Tribunal de Tribunal Penal de para Serra Leoa
Iugoslávia e TPI
Nuremberg e (criado após acordo
para Ruanda Roma
Tribunal de Tóquio entre a ONU e o
governo local)

De acordo com Caio Paiva, tribunais internacionais híbridos são aqueles cuja formação é
solicitada pelo governo do Estado onde os crimes foram cometidos. Nestes tribunais, há juízes do
Estado requerente e também juízes internacionais, aplica-se tanto o direito interno quanto o direito
internacional, por isso sua natureza híbrida.

4. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO TPI

O TPI se organiza a partir de três órgãos, são eles:

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 175


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TRIBUNAL PENAL
ASSEMBLEIA DOS FUNDO FIDUCIÁRIO PARA
INTERNACIONAL
ESTADOS PARTES AS VÍTIMAS
PROPRIAMENTE DITO

Composto pela presidência,


por três Divisões Judiciais
Visa implementar reparações
(seção de instrução; seção de
Órgão normativo e de ordenadas pelo TPI; e
julgamento em 1ª instância e
supervisão da administração fornecer apoio físico,
seção de recurso), pelo
do TPI psicológico e material às
Gabinete do Procurador (MP
vítimas e suas famílias
perante o TPI) e pela
Secretaria.

5. COMPOSIÇÃO, CANDIDATURA E ELEIÇÃO DOS JUÍZES

Tribunal é composto por 18 juízes, não poderá ter mais de um juiz nacional do mesmo
Estado. Desta forma, a pessoa que for considerada nacional de mais de um Estado será
considerada nacional do Estado em que exerce habitualmente os seus direitos civis e políticos.

Na seleção dos juízes, os Estados Partes ponderarão sobre a necessidade de assegurar


que a composição do Tribunal inclua:

• A representação dos principais sistemas jurídicos do mundo;

• Uma representação geográfica equitativa; e

• Uma representação justa de juízes do sexo feminino e do sexo masculino;

E, ainda, os Estados Partes levarão igualmente em consideração a necessidade de


assegurar a presença de juízes especializados em determinadas matérias incluindo, entre outras,
a violência contra mulheres ou crianças.

O art. 36.3 do Estatuto de Roma traz os requisitos que cada candidato deve possuir:

Art. 36,
3. a) Os juízes serão eleitos dentre pessoas de elevada idoneidade moral,
imparcialidade e integridade, que reúnem os requisitos para o exercício das
mais altas funções judiciais nos seus respectivos países.
b) Os candidatos a juízes deverão possuir:
i) Reconhecida competência em direito penal e direito processual penal e a
necessária experiência em processos penais na qualidade de juiz,procurador,
advogado ou outra função semelhante; ou
ii) Reconhecida competência em matérias relevantes de direito internacional,
tais como o direito internacional humanitário e os direitos humanos, assim
como vasta experiência em profissões jurídicas com relevância para a função
judicial do Tribunal;
c) Os candidatos a juízes deverão possuir um excelente conhecimento e
serem fluentes em, pelo menos, uma das línguas de trabalho do Tribunal.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 176


Disponib

No art. 36.4 do Estatuto de Roma está disciplinado o processe de eleição. Vejamos:

4. a) Qualquer Estado Parte no presente Estatuto poderá propor candidatos


às eleições para juiz do Tribunal mediante:
O procedimento previsto para propor candidatos aos mais altos cargos
judiciais do país; ou
O procedimento previsto no Estatuto da Corte Internacional de Justiça para
propor candidatos a esse Tribunal.
As propostas de candidatura deverão ser acompanhadas de uma exposição
detalhada comprovativa de que o candidato possui os requisitos enunciados
no parágrafo 3o;
Qualquer Estado Parte poderá apresentar uma candidatura de uma pessoa
que não tenha necessariamente a sua nacionalidade, mas que seja nacional
de um Estado Parte;
A Assembleia dos Estados Partes poderá decidir constituir, se apropriado,
uma Comissão consultiva para o exame das candidaturas, neste caso, a
Assembleia dos Estados Partes determinará a composição e o mandato da
Comissão.

Por fim, os juízes do TPI são eleitos para um mandato não renovável de 9 anos. Contudo,
de acordo com o art. 38.10 do ER, um juiz afeto a um Juízo de Julgamento em Primeira Instância
ou de Recurso permanecerá no exercício de suas funções até a conclusão do julgamento ou do
recurso dos casos que tiver a seu cargo.

6. CRIMES DE COMPETÊNCIA DO TPI

De acordo como Estatuto de Roma, a competência do TPI se restringe aos crimes mais
graves, que afetam a comunidade internacional no seu conjunto, sendo eles os crimes de genocídio,
contra a humanidade, de guerra e de agressão.

Artigo 6o - Crime de Genocídio


Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "genocídio", qualquer
um dos atos que a seguir se enumeram, praticado com intenção de destruir,
no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto
tal:
a) Homicídio de membros do grupo;
b) Ofensas graves à integridade física ou mental de membros do grupo;
c) Sujeição intencional do grupo a condições de vida com vista a provocar a
sua destruição física, total ou parcial;
d) Imposição de medidas destinadas a impedir nascimentos no seio do grupo;
e) Transferência, à força, de crianças do grupo para outro grupo.

Artigo 7o Crimes contra a Humanidade


1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a
humanidade", qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro
de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil,
havendo conhecimento desse ataque:
a) Homicídio;
b) Extermínio;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 177


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c) Escravidão;
d) Deportação ou transferência forçada de uma população;
e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação
das normas fundamentais de direito internacional;
f) Tortura;
g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez
forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo
sexual de gravidade comparável;
h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por
motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de
gênero, tal como definido no parágrafo 3o, ou em função de outros critérios
universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional,
relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer
crime da competência do Tribunal;
i) Desaparecimento forçado de pessoas;
j) Crime de apartheid;
k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem
intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade
física ou a saúde física ou mental.
2. Para efeitos do parágrafo 1o:
a) Por "ataque contra uma população civil" entende-se qualquer conduta que
envolva a prática múltipla de atos referidos no parágrafo 1o contra uma
população civil, de acordo com a política de um Estado ou de uma
organização de praticar esses atos ou tendo em vista a prossecução dessa
política;
b) O "extermínio" compreende a sujeição intencional a condições de vida, tais
como a privação do acesso a alimentos ou medicamentos, com vista a causar
a destruição de uma parte da população;
c) Por "escravidão" entende-se o exercício, relativamente a uma pessoa, de
um poder ou de um conjunto de poderes que traduzam um direito de
propriedade sobre uma pessoa, incluindo o exercício desse poder no âmbito
do tráfico de pessoas, em particular mulheres e crianças;
d) Por "deportação ou transferência à força de uma população" entende-se o
deslocamento forçado de pessoas, através da expulsão ou outro ato coercivo,
da zona em que se encontram legalmente, sem qualquer motivo reconhecido
no direito internacional;
e) Por "tortura" entende-se o ato por meio do qual uma dor ou sofrimentos
agudos, físicos ou mentais, são intencionalmente causados a uma pessoa
que esteja sob a custódia ou o controle do acusado; este termo não
compreende a dor ou os sofrimentos resultantes unicamente de sanções
legais, inerentes a essas sanções ou por elas ocasionadas;
f) Por "gravidez à força" entende-se a privação ilegal de liberdade de uma
mulher que foi engravidada à força, com o propósito de alterar a composição
étnica de uma população ou de cometer outras violações graves do direito
internacional. Esta definição não pode, de modo algum, ser interpretada como
afetando as disposições de direito interno relativas à gravidez;
g) Por "perseguição'' entende-se a privação intencional e grave de direitos
fundamentais em violação do direito internacional, por motivos relacionados
com a identidade do grupo ou da coletividade em causa;
h) Por "crime de apartheid" entende-se qualquer ato desumano análogo aos
referidos no parágrafo 1°, praticado no contexto de um regime

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 178


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institucionalizado de opressão e domínio sistemático de um grupo racial sobre
um ou outros grupos nacionais e com a intenção de manter esse regime;
i) Por "desaparecimento forçado de pessoas" entende-se a detenção, a prisão
ou o sequestro de pessoas por um Estado ou uma organização política ou
com a autorização, o apoio ou a concordância destes, seguidos de recusa a
reconhecer tal estado de privação de liberdade ou a prestar qualquer
informação sobre a situação ou localização dessas pessoas, com o propósito
de lhes negar a proteção da lei por um prolongado período de tempo.
3. Para efeitos do presente Estatuto, entende-se que o termo "gênero"
abrange os sexos masculino e feminino, dentro do contexto da sociedade,
não lhe devendo ser atribuído qualquer outro significado.

Artigo 8o Crimes de Guerra


1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de guerra, em particular
quando cometidos como parte integrante de um plano ou de uma política ou
como parte de uma prática em larga escala desse tipo de crimes.
2. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crimes de guerra":
a) As violações graves às Convenções de Genebra, de 12 de Agosto de 1949,
a saber, qualquer um dos seguintes atos, dirigidos contra pessoas ou bens
protegidos nos termos da Convenção de Genebra que for pertinente:
i) Homicídio doloso;
ii) Tortura ou outros tratamentos desumanos, incluindo as experiências
biológicas;
iii) O ato de causar intencionalmente grande sofrimento ou ofensas graves à
integridade física ou à saúde;
iv) Destruição ou a apropriação de bens em larga escala, quando não
justificadas por quaisquer necessidades militares e executadas de forma
ilegal e arbitrária;
v) O ato de compelir um prisioneiro de guerra ou outra pessoa sob proteção
a servir nas forças armadas de uma potência inimiga;
vi) Privação intencional de um prisioneiro de guerra ou de outra pessoa sob
proteção do seu direito a um julgamento justo e imparcial;
vii) Deportação ou transferência ilegais, ou a privação ilegal de liberdade;
viii) Tomada de reféns;
b) Outras violações graves das leis e costumes aplicáveis em conflitos
armados internacionais no âmbito do direito internacional, a saber, qualquer
um dos seguintes atos:
i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que
não participem diretamente nas hostilidades;
ii) Dirigir intencionalmente ataques a bens civis, ou seja bens que não sejam
objetivos militares;
iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material,
unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz ou
de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas,
sempre que estes tenham direito à proteção conferida aos civis ou aos bens
civis pelo direito internacional aplicável aos conflitos armados;
iv) Lançar intencionalmente um ataque, sabendo que o mesmo causará
perdas acidentais de vidas humanas ou ferimentos na população civil, danos
em bens de caráter civil ou prejuízos extensos, duradouros e graves no meio
ambiente que se revelem claramente excessivos em relação à vantagem
militar global concreta e direta que se previa;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 179


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v) Atacar ou bombardear, por qualquer meio, cidades, vilarejos, habitações
ou edifícios que não estejam defendidos e que não sejam objetivos militares;
vi) Matar ou ferir um combatente que tenha deposto armas ou que, não tendo
mais meios para se defender, se tenha incondicionalmente rendido;
vii) Utilizar indevidamente uma bandeira de trégua, a bandeira nacional, as
insígnias militares ou o uniforme do inimigo ou das Nações Unidas, assim
como os emblemas distintivos das Convenções de Genebra, causando deste
modo a morte ou ferimentos graves;
viii) A transferência, direta ou indireta, por uma potência ocupante de parte
da sua população civil para o território que ocupa ou a deportação ou
transferência da totalidade ou de parte da população do território ocupado,
dentro ou para fora desse território;
ix) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios consagrados ao culto religioso,
à educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos,
hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se
trate de objetivos militares;
x) Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de uma parte
beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas
ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário
ou hospitalar, nem sejam efetuadas no interesse dessas pessoas, e que
causem a morte ou coloquem seriamente em perigo a sua saúde;
xi) Matar ou ferir à traição pessoas pertencentes à nação ou ao exército
inimigo;
xii) Declarar que não será dado quartel;
xiii) Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que tais destruições ou
apreensões sejam imperativamente determinadas pelas necessidades da
guerra;
xiv) Declarar abolidos, suspensos ou não admissíveis em tribunal os direitos
e ações dos nacionais da parte inimiga;
xv) Obrigar os nacionais da parte inimiga a participar em operações bélicas
dirigidas contra o seu próprio país, ainda que eles tenham estado ao serviço
daquela parte beligerante antes do início da guerra;
xvi) Saquear uma cidade ou uma localidade, mesmo quando tomada de
assalto;
xvii) Utilizar veneno ou armas envenenadas;
xviii) Utilizar gases asfixiantes, tóxicos ou outros gases ou qualquer líquido,
material ou dispositivo análogo;
xix) Utilizar balas que se expandem ou achatam facilmente no interior do
corpo humano, tais como balas de revestimento duro que não cobre
totalmente o interior ou possui incisões;
xx) Utilizar armas, projéteis; materiais e métodos de combate que, pela sua
própria natureza, causem ferimentos supérfluos ou sofrimentos
desnecessários ou que surtam efeitos indiscriminados, em violação do direito
internacional aplicável aos conflitos armados, na medida em que tais armas,
projéteis, materiais e métodos de combate sejam objeto de uma proibição
geral e estejam incluídos em um anexo ao presente Estatuto, em virtude de
uma alteração aprovada em conformidade com o disposto nos artigos 121 e
123;
xxi) Ultrajar a dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos
humilhantes e degradantes;
xxii) Cometer atos de violação, escravidão sexual, prostituição forçada,
gravidez à força, tal como definida na alínea f) do parágrafo 2o do artigo 7o,

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 180


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esterilização à força e qualquer outra forma de violência sexual que constitua
também um desrespeito grave às Convenções de Genebra;
xxiii) Utilizar a presença de civis ou de outras pessoas protegidas para evitar
que determinados pontos, zonas ou forças militares sejam alvo de operações
militares;
xxiv) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e
veículos sanitários, assim como o pessoal que esteja usando os emblemas
distintivos das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito
internacional;
xxv) Provocar deliberadamente a inanição da população civil como método
de guerra, privando-a dos bens indispensáveis à sua sobrevivência,
impedindo, inclusive, o envio de socorros, tal como previsto nas Convenções
de Genebra;
xxvi) Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais
ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades;
c) Em caso de conflito armado que não seja de índole internacional, as
violações graves do artigo 3o comum às quatro Convenções de Genebra, de
12 de Agosto de 1949, a saber, qualquer um dos atos que a seguir se indicam,
cometidos contra pessoas que não participem diretamente nas hostilidades,
incluindo os membros das forças armadas que tenham deposto armas e os
que tenham ficado impedidos de continuar a combater devido a doença,
lesões, prisão ou qualquer outro motivo:
i) Atos de violência contra a vida e contra a pessoa, em particular o homicídio
sob todas as suas formas, as mutilações, os tratamentos cruéis e a tortura;
ii) Ultrajes à dignidade da pessoa, em particular por meio de tratamentos
humilhantes e degradantes;
iii) A tomada de reféns;
iv) As condenações proferidas e as execuções efetuadas sem julgamento
prévio por um tribunal regularmente constituído e que ofereça todas as
garantias judiciais geralmente reconhecidas como indispensáveis.
d) A alínea c) do parágrafo 2o do presente artigo aplica-se aos conflitos
armados que não tenham caráter internacional e, por conseguinte, não se
aplica a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos
de violência esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante;
e) As outras violações graves das leis e costumes aplicáveis aos conflitos
armados que não têm caráter internacional, no quadro do direito
internacional, a saber qualquer um dos seguintes atos:
i) Dirigir intencionalmente ataques à população civil em geral ou civis que não
participem diretamente nas hostilidades;
ii) Dirigir intencionalmente ataques a edifícios, material, unidades e veículos
sanitários, bem como ao pessoal que esteja usando os emblemas distintivos
das Convenções de Genebra, em conformidade com o direito internacional;
iii) Dirigir intencionalmente ataques ao pessoal, instalações, material,
unidades ou veículos que participem numa missão de manutenção da paz ou
de assistência humanitária, de acordo com a Carta das Nações Unidas,
sempre que estes tenham direito à proteção conferida pelo direito
internacional dos conflitos armados aos civis e aos bens civis;
iv) Atacar intencionalmente edifícios consagrados ao culto religioso, à
educação, às artes, às ciências ou à beneficência, monumentos históricos,
hospitais e lugares onde se agrupem doentes e feridos, sempre que não se
trate de objetivos militares;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 181


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Saquear um aglomerado populacional ou um local, mesmo quando tomado
de assalto;
Cometer atos de agressão sexual, escravidão sexual, prostituição forçada,
gravidez à força, tal como definida na alínea f do parágrafo 2 o do artigo 7o;
esterilização à força ou qualquer outra forma de violência sexual que
constitua uma violação grave do artigo 3o comum às quatro Convenções de
Genebra;
Recrutar ou alistar menores de 15 anos nas forças armadas nacionais ou
em grupos, ou utilizá-los para participar ativamente nas hostilidades;
Ordenar a deslocação da população civil por razões relacionadas com o
conflito, salvo se assim o exigirem a segurança dos civis em questão ou
razões militares imperiosas;
Matar ou ferir à traição um combatente de uma parte beligerante;
Declarar que não será dado quartel;
Submeter pessoas que se encontrem sob o domínio de outra parte
beligerante a mutilações físicas ou a qualquer tipo de experiências médicas
ou científicas que não sejam motivadas por um tratamento médico, dentário
ou hospitalar nem sejam efetuadas no interesse dessa pessoa, e que causem
a morte ou ponham seriamente a sua saúde em perigo;
Destruir ou apreender bens do inimigo, a menos que as necessidades da
guerra assim o exijam;
f) A alínea e) do parágrafo 2o do presente artigo aplicar-se-á aos conflitos
armados que não tenham caráter internacional e, por conseguinte, não se
aplicará a situações de distúrbio e de tensão internas, tais como motins, atos
de violência esporádicos ou isolados ou outros de caráter semelhante;
aplicar-se-á, ainda, a conflitos armados que tenham lugar no território de um
Estado, quando exista um conflito armado prolongado entre as autoridades
governamentais e grupos armados organizados ou entre estes grupos.
3. O disposto nas alíneas c) e e) do parágrafo 2o, em nada afetará a
responsabilidade que incumbe a todo o Governo de manter e de restabelecer
a ordem pública no Estado, e de defender a unidade e a integridade territorial
do Estado por qualquer meio legítimo.

7. CONDIÇÕES PARA O EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA PELO TPI

De acordo com o Estatuto de Roma, para que o TPI exerça a sua jurisdição devem ser
observadas algumas condições. Vejamos:

• As instâncias judiciais internas devem ter falhado na persecução penal do caso –


característica da complementaridade ou da subsidiariedade do TPI;

• Os crimes devem ter ocorrido após a entrada em vigor do Estatuto de Roma (1º de
julho de 2002);

• Os crimes devem ter sido cometidos no território de um Estado Parte (art. 12.2.a) ou
por um nacional de um Estado Parte (art. 12.2.b), podendo, ainda, esta aderência se
dar mediante declaração específica por Estado não contratante caso o crime tenha
ocorrido em seu território ou for cometido por seu nacional (art. 11.2), ou ainda, ter o
CSNU adotado resolução vinculante adjudicando o caso ao TPI, independentemente
de o Estado onde ocorreu o crime ou do qual o autor é nacional ter ratificado o ER

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 182


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(art. 13.b), competência esta exercida de acordo com o Capítulo VII da Carta das
Nações Unidas, referente à “ação relativa a ameaças à paz, ruptura da paz e atos de
agressão.

O art. 20 do ER trata da garantia do bis in idem e da coisa julgada fraudulenta. Observe o


dispositivo:

Artigo 20 Ne bis in idem


Salvo disposição contrária do presente Estatuto, nenhuma pessoa poderá
ser julgada pelo Tribunal por atos constitutivos de crimes pelos quais este já
a tenha condenado ou absolvido.
Nenhuma pessoa poderá ser julgada por outro tribunal por um crime
mencionado no artigo 5°, relativamente ao qual já tenha sido condenada ou
absolvida pelo Tribunal.
O Tribunal não poderá julgar uma pessoa que já tenha sido julgada por
outro tribunal, por atos também punidos pelos artigos 6 o, 7o ou 8o, a menos
que o processo nesse outro tribunal:
Tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua responsabilidade criminal
por crimes da competência do Tribunal; ou
Não tenha sido conduzido de forma independente ou imparcial, em
conformidade com as garantias de um processo equitativo reconhecidas pelo
direito internacional, ou tenha sido conduzido de uma maneira que, no caso
concreto, se revele incompatível com a intenção de submeter a pessoa à ação
da justiça.

Por fim, a competência do TPI pode ser ativada através de denúncia feita por um Estado
parte ao Procurador, denúncia feita pelo Conselho das Nações Unidas ao Procurador e de ofício
pelo Procurador.

8. DISPOSIÇÕES PENAIS APLICÁVEIS AO JULGAMENTO PELO TPI

Estão disciplinadas no Capítulo III do Estatuto de Roma os princípios gerais do direito que
são aplicados ao TPI. Abaixo analisaremos cada um deles.

8.1. NULLUM CRIMEN SINE LEGE

Não há crime sem lei.

Artigo 22
1. Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, nos
termos do presente Estatuto, a menos que a sua conduta constitua, no
momento em que tiver lugar, um crime da competência do Tribunal.
2. A previsão de um crime será estabelecida de forma precisa e não será
permitido o recurso à analogia. Em caso de ambiguidade, será interpretada a
favor da pessoa objeto de inquérito, acusada ou condenada.
3. O disposto no presente artigo em nada afetará a tipificação de uma conduta
como crime nos termos do direito internacional, independentemente do
presente Estatuto.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 183


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8.2. NULLA POENA SINE LEGE

Não há pena sem lei.

Artigo 23 - Qualquer pessoa condenada pelo Tribunal só poderá ser punida


em conformidade com as disposições do presente Estatuto.

8.3. NÃO RETROATIVIDADE

Nenhuma pessoa será considerada criminalmente responsável, de acordo com o presente


Estatuto, por uma conduta anterior à entrada em vigor do presente Estatuto (art. 24.1). se o direito
aplicável a um caso for modificado antes de proferida sentença definitiva, aplicar-se-á o direito mais
favorável à pessoa objeto de inquérito, acusada ou condenada (ART. 24.2).

8.4. RESPONSABILIDADE CRIMINAL INDIVIDUAL

De acordo com o Estatuto de Roma, o Tribunal será competente para julgar as pessoas
físicas. Portanto, perceba que o TPI não julga Estados.

Será considerado criminalmente responsável e poderá ser punido pela prática de um crime
da competência do Tribunal quem:

• Cometer esse crime individualmente ou em conjunto ou por intermédio de outrem,


quer essa pessoa seja, ou não, criminalmente responsável;

• Ordenar, solicitar ou instigar à prática desse crime, sob forma consumada ou sob a
forma de tentativa;

• Com o propósito de facilitar a prática desse crime, for cúmplice ou encobridor, ou


colaborar de algum modo na prática ou na tentativa de prática do crime,
nomeadamente pelo fornecimento dos meios para a sua prática;

• Contribuir de alguma outra forma para a prática ou tentativa de prática do crime por
um grupo de pessoas que tenha um objetivo comum. Esta contribuição deverá ser
intencional e ocorrer, conforme o caso:

o Com o propósito de levar a cabo a atividade ou o objetivo criminal do grupo,


quando um ou outro impliquem a prática de um crime da competência do
Tribunal; ou

o Com o conhecimento da intenção do grupo de cometer o crime;

• No caso de crime de genocídio, incitar, direta e publicamente, à sua prática;

• Tentar cometer o crime mediante atos que contribuam substancialmente para a sua
execução, ainda que não se venha a consumar devido a circunstâncias alheias à sua
vontade. Porém, quem desistir da prática do crime, ou impedir de outra forma que
este se consuma, não poderá ser punido em conformidade com o presente Estatuto
pela tentativa, se renunciar total e voluntariamente ao propósito delituoso.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 184


Disponibilizado exclusivamente para

.
8.5. EXCLUSÃO DA JURISDIÇÃO RELATIVAMENTE A MENORES DE 18 ANOS

O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data da alegada prática do crime, não
tenham ainda completado 18 anos de idade.

8.6. IRRELEVÂNCIA DA QUALIDADE OFICIAL

O Estatuto de Roma será aplicável de forma igual a todas as pessoas sem distinção alguma
baseada na qualidade oficial. Em particular, a qualidade oficial de Chefe de Estado ou de Governo,
de membro de Governo ou do Parlamento, de representante eleito ou de funcionário público, em
caso algum eximirá a pessoa em causa de responsabilidade criminal nos termos do presente
Estatuto, nem constituirá de per se motivo de redução da pena.

As imunidades ou normas de procedimento especiais decorrentes da qualidade oficial de


uma pessoa; nos termos do direito interno ou do direito internacional, não deverão obstar a que o
Tribunal exerça a sua jurisdição sobre essa pessoa.

8.7. RESPONSABILIDADE DOS CHEFES MILITARES E OUTROS SUPERIORES


HIERÁRQUICOS

Observe o art. 28 do ER:

Art. 28 - Além de outras fontes de responsabilidade criminal previstas no


presente Estatuto, por crimes da competência do Tribunal:
a) O chefe militar, ou a pessoa que atue efetivamente como chefe militar, será
criminalmente responsável por crimes da competência do Tribunal que
tenham sido cometidos por forças sob o seu comando e controle efetivos ou
sob a sua autoridade e controle efetivos, conforme o caso, pelo fato de não
exercer um controle apropriado sobre essas forças quando:
i) Esse chefe militar ou essa pessoa tinha conhecimento ou, em virtude das
circunstâncias do momento, deveria ter tido conhecimento de que essas
forças estavam a cometer ou preparavam-se para cometer esses crimes; e
ii) Esse chefe militar ou essa pessoa não tenha adotado todas as medidas
necessárias e adequadas ao seu alcance para prevenir ou reprimir a sua
prática, ou para levar o assunto ao conhecimento das autoridades
competentes, para efeitos de inquérito e procedimento criminal.
b) Nas relações entre superiores hierárquicos e subordinados, não referidos
na alínea a), o superior hierárquico será criminalmente responsável pelos
crimes da competência do Tribunal que tiverem sido cometidos por
subordinados sob a sua autoridade e controle efetivos, pelo fato de não ter
exercido um controle apropriado sobre esses subordinados, quando:
a) O superior hierárquico teve conhecimento ou deliberadamente não levou
em consideração a informação que indicava claramente que os subordinados
estavam a cometer ou se preparavam para cometer esses crimes;
b) Esses crimes estavam relacionados com atividades sob a sua
responsabilidade e controle efetivos; e
c) O superior hierárquico não adotou todas as medidas necessárias e
adequadas ao seu alcance para prevenir ou reprimir a sua prática ou para
levar o assunto ao conhecimento das autoridades competentes, para efeitos
de inquérito e procedimento criminal.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 185


Disponibilizado exclusivamente para

.
8.8. IMPRESCRITIBILIDADE

Os crimes da competência do Tribunal não prescrevem.

8.9. ELEMENTOS PSICOLÓGICOS

Salvo disposição em contrário, nenhuma pessoa poderá ser criminalmente responsável e


punida por um crime da competência do Tribunal, a menos que atue com vontade de o cometer e
conhecimento dos seus elementos materiais.

Entende-se que atua intencionalmente quem:

• Relativamente a uma conduta, se propuser adotá-la;

• Relativamente a um efeito do crime, se propuser causá-lo ou estiver ciente de que


ele terá lugar em uma ordem normal dos acontecimentos .

8.10. CAUSAS DE EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE CRIMINAL

Sem prejuízo de outros fundamentos para a exclusão de responsabilidade criminal previstos


no presente Estatuto, não será considerada criminalmente responsável a pessoa que, no momento
da prática de determinada conduta:

• Sofrer de enfermidade ou deficiência mental que a prive da capacidade para avaliar


a ilicitude ou a natureza da sua conduta, ou da capacidade para controlar essa
conduta a fim de não violar a lei;

• Estiver em estado de intoxicação que a prive da capacidade para avaliar a ilicitude


ou a natureza da sua conduta, ou da capacidade para controlar essa conduta a fim
de não transgredir a lei, a menos que se tenha intoxicado voluntariamente em
circunstâncias que lhe permitiam ter conhecimento de que, em consequência da
intoxicação, poderia incorrer numa conduta tipificada como crime da competência do
Tribunal, ou, de que haveria o risco de tal suceder;

• Agir em defesa própria ou de terceiro com razoabilidade ou, em caso de crimes de


guerra, em defesa de um bem que seja essencial para a sua sobrevivência ou de
terceiros ou de um bem que seja essencial à realização de uma missão militar, contra
o uso iminente e ilegal da força, de forma proporcional ao grau de perigo para si, para
terceiro ou para os bens protegidos. O fato de participar em uma força que realize
uma operação de defesa não será causa bastante de exclusão de responsabilidade
criminal, nos termos desta alínea;
• Tiver incorrido numa conduta que presumivelmente constitui crime da competência
do Tribunal, em consequência de coação decorrente de uma ameaça iminente de
morte ou ofensas corporais graves para si ou para outrem, e em que se veja
compelida a atuar de forma necessária e razoável para evitar essa ameaça, desde
que não tenha a intenção de causar um dano maior que aquele que se propunha

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 186


Disponibilizado exclusivamente para

.
evitar. Essa ameaça tanto poderá: ter sido feita por outras pessoas; ou ser constituída
por outras circunstâncias alheias à sua vontade.

8.11. ERRO DE FATO OU ERRO DE DIREITO

O erro de fato só excluirá a responsabilidade criminal se eliminar o dolo requerido pelo crime.

O erro de direito sobre se determinado tipo de conduta constitui crime da competência do


Tribunal não será considerado fundamento de exclusão de responsabilidade criminal. No entanto,
o erro de direito poderá ser considerado fundamento de exclusão de responsabilidade criminal se
eliminar o dolo requerido pelo crime ou se decorrer do artigo 33 do presente Estatuto.

8.12. DECISÃO HIERÁRQUICA E DISPOSIÇÕES LEGAIS

Quem tiver cometido um crime da competência do Tribunal, em cumprimento de uma


decisão emanada de um Governo ou de um superior hierárquico, quer seja militar ou civil, não será
isento de responsabilidade criminal, a menos que:

• Estivesse obrigado por lei a obedecer a decisões emanadas do Governo ou superior


hierárquico em questão;

• Não tivesse conhecimento de que a decisão era ilegal; e

• A decisão não fosse manifestamente ilegal.


Para os efeitos do presente artigo, qualquer decisão de cometer genocídio ou crimes contra
a humanidade será considerada como manifestamente ilegal.

9. PENAS APLICADAS

O TPI, nos termos do art. 77 do Estatuto de Roma, poderá aplicar as seguintes penas:

• Pena de prisão por um número determinado de anos, até ao limite máximo de 30


anos; ou

• Pena de prisão perpétua, se o elevado grau de ilicitude do fato e as condições


pessoais do condenado o justificarem;

• Pena de multa, de acordo com os critérios previstos no Regulamento Processual;

• Perda de produtos, bens e haveres provenientes, direta ou indiretamente, do crime,


sem prejuízo dos direitos de terceiros que tenham agido de boa-fé.

Não há aplicação de pena de morte.

Observe a redação do art. 78 do ER que trata dos critérios para determinar a pena:

Artigo 78

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 187


Disponibilizado exclusivamente para

.
Na determinação da pena, o Tribunal atenderá, em harmonia com o
Regulamento Processual, a fatores tais como a gravidade do crime e as
condições pessoais do condenado.
O Tribunal descontará, na pena de prisão que vier a aplicar, o período
durante o qual o acusado esteve sob detenção por ordem daquele. O Tribunal
poderá ainda descontar qualquer outro período de detenção que tenha sido
cumprido em razão de uma conduta constitutiva do crime.
Se uma pessoa for condenada pela prática de vários crimes, o Tribunal
aplicará penas de prisão parcelares relativamente a cada um dos crimes e
uma pena única, na qual será especificada a duração total da pena de prisão.
Esta duração não poderá ser inferior à da pena parcelar mais elevada e não
poderá ser superior a 30 anos de prisão ou ir além da pena de prisão perpétua
prevista no artigo 77, parágrafo 1o, alínea b).

10. PROCEDIMENTO DE INVESTIGAÇÃO, INSTRUÇÃO, JULGAMENTO E EXECUÇÃO DA


PENA

De acordo com os ensinamentos de Caio Paiva, “o procedimento no TPI se assemelha ao


procedimento brasileiro para persecução penal dos crimes de competência do TRIBUNAL DO JÚRI,
pois se desenvolve a partir de um inquérito e depois passa, se o Procurador oferecer a acusação,
por uma etapa judicial dividida em duas fases, sendo uma de pré-julgamento, onde são analisados
os requisitos para o julgamento (equivalente à “pronúncia” no Júri), e uma segunda fase do
julgamento propriamente dito, em que se analisa o mérito”.

1ª FASE 2ª FASE
Seção de
Seção de Julgamento em
Instrução Primeira
Instância

Tantos as decisões interlocutórias quanto as decisões finais podem ser objeto de recurso
para a Seção de Recursos.

11. A RELAÇÃO DO BRASIL COM O TPI

O Estatuto de Roma foi internalizado em 2002.

O art. 5º, §4º, da CF, com redação dada pela EC 45/04, prevê que o Brasil se submete à
jurisdição do Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.

Há entre o Estatuto de Roma e a Constituição Federal cinco incompatibilidades. São elas:

1ª Incompatibilidade: entrega de brasileiro nato

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 188


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.
O Estatuto de Roma prevê que os Estados-partes devem entregar a pessoa investigada ou
condenada pelo TPI ao Tribunal para cumprir prisão preventiva ou pena definitiva, assim como para
comparecer a atos que exijam a sua presença física.

Artigo 102 - Termos Usados


Para os fins do presente Estatuto:
a) Por "entrega", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao
Tribunal nos termos do presente Estatuto. Mecanismo de cooperação
internacional vertical
b) Por "extradição", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a
outro Estado conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no
direito interno. Mecanismo de cooperação internacional horizontal

A Constituição veda a extradição de brasileiro nato. De acordo com maioria da doutrina, é


possível a entrega de brasileiro nato para ser julgado perante o TPI.

2ª Incompatibilidade: Coisa julgada pro reo.

O ER não aceita a coisa julgada “fraudulenta” e a supera, inclusive contra o réu.

3ª Incompatibilidade: Imunidades materiais e formais previstas

Por exemplo, as imunidades parlamentares previstas na CF/88.

4ª Incompatibilidade: Imprescritibilidade.

A CF, art. 5º, XLII e XLIV, prevê taxativamente os crimes que são imprescritíveis. Já o ER
GENERALIZA a imprescritibilidade.

5ª Incompatibilidade: Pena de caráter perpétuo.

A CF veda a pena perpétua, permitida pela ER.

Segundo entendimento majoritário, todas as incompatibilidades devem ser resolvidas EM


favor do Estatuto de Roma, tendo em vista que o Direito Internacional dos Direitos Humanos está
fundado na premissa de que o Estado, depois de aderir ao texto de um tratado, não pode invocar
disposições de direito interno para descumprir os seus termos.

Além disso, o ER não admite reservas, de modo que, quando o Estado adere ao seu texto,
está concordando com a sua integralidade.

12. DECISÕES DO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

12.1. CASO THOMAS LUBANGA DYILO

Foi a primeira condenação proferida pelo TPI.

Entendeu-se que a utilização das testemunhas de ouvir dizer deve ser excepcional.

12.2. CASO MATHIEU NGUDJOLO CHUI

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 189


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Trata-se da primeira absolvição proferida pelo TPI.

12.3. CASO GERMAIN KATANGA

Trata-se da segunda condenação proferida pelo TPI.

12.4. CASO JEAN PIERRE BEMBA

Utilizou-se pela primeira vez o princípio do comando ou da responsabilidade superior para


condenar um indivíduo por crimes praticados por seus subordinados.

Aplicação do princípio da irrelevância da qualidade de oficial.

Em 2018, em recurso da defesa, o TPI absolveu Bemba das acusações.

12.5. CASO AHAMAD AL-FAQI AL-MAHDI

O TPI enfrentou a questão da impunidade da destruição do patrimônio cultural.

12.6. CASO OMAR AL BASHIR “CASO DARFUR”

Primeiro litígio internacional que o Conselho de Segurança da ONU adjudicou e remeteu o


caso ao TPI.

Tema extra: Ecocídio - consiste na conduta, ativa ou omissiva, que causa ou pode causar
uma destruição em larga escala do meio ambiente.

Discute-se na doutrina se a tipificação do Ecocídio está consolidada no Estatuto de Roma


do TPI ou dependeria de uma emenda.

1ªC - Defendem que a tipificação já está consolidada no Estatuto de Roma. O ecocídio é


considerado um crime contra a humanidade, nos termos do art. 7.1.k: atos desumanos, cometidos
no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, que causem
intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade física ou a saúde física
ou mental.

2ª C: o ecocídio NÃO pode ser extraído do art. 7.1.k do Estatuto de Roma, pois isso
equivaleria a se admitir uma analogia in malam partem, proibida pelo próprio Estatuto de Roma (art.
22.2).

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 190


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.
CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

1. CONCEITO

Consiste em um processo de verificação da compatibilidade de uma norma ou prática interna


em face de normas internacionais de proteção dos direitos humanos. Salienta-se que a expressão
“normas” é empregada em sentido amplo, abrangendo os tratados, a jurisprudência internacional e,
em alguns casos, até mesmo outras fontes do Direito Internacional dos Direitos Humanos, como o
costume internacional e as normas soft law.

2. CLASSIFICAÇÃO

Conforme os ensinamentos de André de Carvalho Ramos, o controle de convencionalidade


classifica-se em:

CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DE CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE DE


MATRIZ INTERNACIONAL MATRIZ NACIONAL

Autêntico ou Definitivo Provisório

Atribuído a órgãos internacionais compostos


por julgadores independentes, criados por Exame de compatibilidade do ordenamento
tratados internacionais, para evitar que os jurídico interno diante das normas
próprios estados sejam, ao mesmo tempo, internacionais incorporadas.
fiscais e fiscalizados.

Corte IDH, Tribunal Europeu de Direitos


Juízes internos
Humanos, Comitês da ONU

Além disso, o controle de convencionalidade interno divide em duas subcategorias:

• DIFUSO: exercido por qualquer juízo ou tribunal nacional; e

• CONCENTRADO: exercido pelo STF, tendo como parâmetro apenas os tratados


incorporados pelo procedimento especial do art. 5º, § 3º, da CF.

3. OBJETIVOS

Caio Paiva cita três objetivos do controle de convencionalidade. Vejamos:

• Prevenir a aplicação de normas nacionais que sejam manifestamente incompatíveis


com os tratados e a sua respectiva interpretação pelos tribunais internacionais de
direitos humanos;

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 191


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.
• Servir como uma instituição que permita a todas as autoridades do Estado cumprir
adequadamente com sua obrigação de respeito e garantia dos direitos humanos;

• Servir como um meio ou ponte para permitir o diálogo, especialmente o diálogo


jurisprudencial em matéria de direitos humanos, entre os tribunais nacionais e a Corte
IDH, constituindo um elemento essencial na formação e integração de um Direito
Constitucional comum.

4. DESENVOLVIMENTO DO CONTEÚDO E DO ALCANCE DO CONTROLE DE


CONVENCIONALIDADE

4.1. PRIMEIRA ETAPA

Primeiras aproximações com o controle de convencionalidade nos votos do juiz Sérgio


García Ramírez, da Corte IDH.

• 2003 - Myrna Mack Chang vs. Guatemala;

• 2004 - Tibi vs. Equador;

• 2006 - López Álvarez vs. Honduras

4.2. SEGUNDA ETAPA

Em 2006, ao julgar o Caso Almonacid Arellano e outros vs. Chile, a Corte IDH citou pela
primeira vez, de forma expressa, o termo “controle de convencionalidade” para apontar a falha do
Poder Legislativo de suprimir leis contrárias à CADH, frente à qual o Poder Judiciário permanece
vinculado ao dever de garantia, devendo se abster de aplicar qualquer normativa contrária à
Convenção.

4.3. TERCEIRA ETAPA

Definição do alcance do controle de convencionalidade.

O Caso Almonacid Arellano foi o ponto de partida.

Posteriormente, em outros casos, a Corte IDH definiu mais precisamente o conteúdo e o


alcance do controle de convencionalidade.

5. ELEMENTOS OU CARACTERÍSTICAS DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE


CONFORME A JURISPRUDÊNCIA DA CORTE IDH

5.1. DEVE SER EXERCIDO DE OFÍCIO E NO MARCO DE COMPETÊNCIAS E


REGULAÇÕES PROCESSUAIS CORRESPONDENTES

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 192


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No julgamento do Caso Trabalhadores Demitidos do Congresso vs. Peru (2006), a Corte
IDH ressaltou que “(...) os órgãos do Poder Judiciário devem exercer não somente um controle de
constitucionalidade, mas também de convencionalidade de ofício entre as normas internas e a
convenção americana, evidentemente no marco de suas respectivas competências e das
regulações processuais correspondentes”.

Segundo Caio Paiva, nos países em que os juízes podem fazer controle difuso de
constitucionalidade, também será possível fazer o controle difuso de convencionalidade e, se for o
caso, afastar a aplicação da norma. Porém, nos países em que não seja permitido aos juízes fazer
o controle difuso de constitucionalidade, também não será possível fazer o controle difuso de
convencionalidade. O que deverá ser feito, ao menos, é uma interpretação da norma interna
conforme as disposições do tratado internacional.

5.2. O CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE É UMA OBRIGAÇÃO DE TODA


AUTORIDADE PÚBLICA

No julgamento do Caso Gelman vs. Uruguai (2011), a Corte IDH decidiu que “quando um
Estado é parte de um tratado internacional como a Convenção Americana, todos seus órgãos,
incluindo seus juízes, estão submetidos àquele, que lhes obriga a velar para que os efeitos das
disposições da Convenção não se vejam menosprezados pela aplicação de normas contrárias a
seu objeto e fim, pelo que os juízes e órgãos vinculados à administração de justiça em todos os
níveis estão na obrigação de exercer de ofício um controle de convencionalidade (...),
evidentemente no marco de suas respectivas competências e regulações processuais
competentes”

Perceba que não apenas os juízes devem exercer o controle de convencionalidade, mas
todos os funcionários públicos ligados à administração da justiça, como delegados, membros da
Defensoria Pública e do Ministério Público.

5.3. PARÂMETRO DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

No julgamento do Caso Gudiel Álvarez e outros vs. Guatemala (2012), a Corte IDH decidiu
que o parâmetro do controle de convencionalidade não se limita à CADH, abrangendo também
outros tratados de direitos humanos que o estado tenha aderido. Em outros casos, a Corte IDH tem
ressaltado que a sua jurisprudência também deve servir como parâmetro do controle de
convencionalidade. e não apenas a jurisprudência contenciosa, mas também a advinda do exercício
da competência consultiva.

5.4. OBJETO DO CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE

Todas as normas e práticas estatais devem ser objeto do controle de convencionalidade,


inclusive normas constitucionais.

5.5. PRINCÍPIO DA ATIPICIDADE DOS MEIOS DO CONTROLE DE


CONVENCIONALIDADE

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 193


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No julgamento do Caso Liakat Ali Alibux vs. Suriname, a Corte IDH decidiu que “(...) em
relação aos argumentos da Comissão sobre a violação do direito à proteção judicial decorrente da
ausência de um Tribunal Constitucional, embora a Corte reconheça a importância destes órgãos
como protetores dos mandatos constitucionais e dos direitos fundamentais, a Convenção
Americana não impõe um modelo específico para realizar o controle de constitucionalidade e
convencionalidade. Neste sentido, a Corte recorda que a obrigação de exercer um controle de
convencionalidade entre as normas internas e a CADH compete a todos os órgãos do Estado”.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 194


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SISTEMA NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

1. INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA

1.1. PREVISÃO E CONSIDERAÇÕES

Está previsto no art. 109, §5º da CF, in verbis:

CF Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
...
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-
Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de
obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos
quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de
Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal.

O IDC foi introduzido no ordenamento jurídico brasileiro por via da EC 45/2004 para
possibilitar a transferência de investigações ou julgamentos, da Justiça Estadual para a Justiça
Federal, nos casos em que identificadas graves violações de diretos humanos passíveis de atrair a
responsabilização do Estado brasileiro no plano internacional - CF, artigo 109, § 5º.

1.2. REQUISITOS

São dois:

• Crime cometido com violação os direitos humanos;

• Risco de descumprimento dos tratados internacionais de direitos humanos firmados


pelo Brasil em virtude da desídia do Estado-membro em proceder à persecução
pena;

• incapacidade oriunda de inércia, negligência, falta de vontade política, de condições


pessoais, materiais etc., de o Estado-membro, por suas instituições e autoridades,
levar a cabo, em toda a sua extensão, a persecução criminal (criação do STJ).

1.3. LEGITIMIDADE

É do Procurador Geral da República.

O IDC 4 e o IDC 11 não foram ajuizados pelo PGR, por isso foram extintos.

1.4. COMPETÊNCIA

É do Superior Tribunal de Justiça.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 195


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1.5. JULGAMENTOS

A seguir um resumo dos principais IDCs

IDC 1 – Foi o caso da missionária norte-americana Dorothy Stang, assassinada no Pará. Foi
julgado improcedente, tendo em vista que restou reconhecido que as autoridades estaduais do Pará
estavam efetivamente dispostas a apurar e a investigar os fatos. Logo, o STJ não deslocou a
competência para a Justiça Federal.

IDC 2 – foi o primeiro IDC deferido, o defensor dos direitos humanos, vereador e advogado
Manoel Mattos, foi assassinado em decorrência de sua atuação contra grupos de extermínio que
agiam livremente em Pernambuco e na Paraíba. O STJ reconheceu a incapacidade das autoridades
locais e da Justiça Estadual em apurar o referido homicídio, deslocando, então, o feito para a Justiça
Federal.

IDC 3 – grupos de extermínio em Goiás. Julgado parcialmente procedente, determinando o


deslocamento de apenas alguns dos feitos tratados no IDC. STJ entendeu que em algumas das
demandas analisadas, não restou patente a “a incapacidade, ineficácia, omissão ou inércia por parte
das autoridades goianas, requisito indispensável à procedência deste incidente”

IDC 4 – foi proposto pelo Ministro do Tribunal de Contas de Pernambuco. STJ extinguiu
devido a ilegitimidade, já que apenas o PGR pode propor IDC.

IDC 5 - Assassinato do Promotor de Justiça Thiago Faria Soares, praticado por grupo de
extermínio que agia no interior do Estado de Pernambuco, em região conhecida como “Triângulo
da Pistolagem”. Destaca-se que foi proposto durante a investigação. Julgado procedente para o fim
de determinar a transferência do inquérito policial da Polícia Civil para a Polícia Federal, sob o
acompanhamento do Ministério Público Federal. Foi reconhecida “a incapacidade conjuntural, a
incontornável dificuldade de autoridades do Estado de Pernambuco em reprimir e apurar” o crime
praticado contra o promotor.

IDC 11 – foi proposto pela vítima, por isso também houve a extinção por falta de legitimidade.

IDC 14 – greve da Polícia Militar do Espírito Santo, o PGR alega que, em razão da greve,
houve diversas mortes, prejuízo de milhões para lojistas, suspensão de aulas e do transporte
público. Como, neste caso, a apuração de eventual responsabilidade cabe à Justiça Militar Estadual,
o PGR, alegando risco de parcialidade, pleiteia o deslocamento das investigações para aJustiça
Militar da União ou para a Justiça Federal. O STJ indeferiu, tendo em vista que:

STJ (...) ausente prova de leniência, inércia ou falta de comprometimento das


instâncias locais em processar e julgar os crimes militares próprios objeto do
IDC, inviável se cogitar sobre o risco de responsabilização internacional do
Estado brasileiro. 2.2. Parcialidade da Justiça Militar Estadual não
demonstrada. Alegações especulativas a revelar mero inconformismo com o
modelo de deliberação da Justiça Castrense. Desfecho - no sentido de que
pressões exógenas estão a influenciar a lisura dos julgamentos – não
evidenciado. 2.3. Eventuais dificuldades nos julgamentos de oficiais de altas
patentes devem ser superadas dentro da própria institucionalidade da Justiça
Militar - excepcionalidade e subsidiariedade (última ratio) do instituto. O IDC
não se legitima como alternativa meramente conveniente de substituição de
competência constitucional.”

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 196


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.
IDC 24 - O STJ indeferiu o pedido no caso dos homicídios de Marielle Franco e Anderson
Gomes.

INCIDENTE DE DESCOLAMENTO DE COMPETÊNCIA. HOMICÍDIOS DE


MARIELLE FRANCO E ANDERSON GOMES. TENTATIVA DE HOMICÍDIO
DE FERNANDA GONÇALVES CHAVES. INQUÉRITO POLICIAL CIVIL EM
ANDAMENTO, COM SUPERVISÃO DO GAECO DO MPRJ. PRETENDIDO
DESCOLAMENTO DAS INVESTIGAÇÕES DOS MANDANTES PARA A
POLÍCIA FEDERAL. INEXISTÊNCIA DOS PRESSUPOSTOS
CONSTITUCIONAIS PARA A EXCEPCIONAL MEDIDA. PEDIDO JULGADO
IMPROCEDENTE. 1. À mingua de legislação ordinária que disciplinasse a
norma do § 5.º do art. 109 da Constituição Federal, acrescentado pela
Emenda Constitucional n.º 45/2004, o Superior Tribunal de Justiça, dando-
lhe aplicação imediata, tratou de delinear seus contornos. 2. Desde os
primeiros julgamentos dos Incidentes de Deslocamento de Competência,
ficaram estabelecidas as diretrizes para o acolhimento do pedido, quais
sejam, excepcionalidade, necessidade, imprescindibilidade, razoabilidade e
proporcionalidade da medida, observada a exigência de se reunir os
seguintes pressupostos para o seu deferimento: (1) a existência de grave
violação a direitos humanos; (2) o risco de responsabilização internacional
decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas assumidas em
tratados internacionais; e (3) a incapacidade das instâncias e autoridades
locais de oferecer respostas efetivas. 3. As circunstâncias que pairam sobre
o caso, ainda inconcluso, parecem apontar para uma execução planejada,
com indicativos de participação de organização criminosa, o que,
evidentemente, configura gravíssimo atentado não só aos direitos humanos,
mas ao próprio Estado Democrático de Direito. Afinal, estar-se-ia diante de
uma ação delituosa contra parlamentar atuante perpetrada por criminosos
que, em tese, integrariam grupo armado que exerce um poder paralelo ao do
Estado constituído. 4. A alegação do MPF de "contaminação" do aparato
policial do Estado do Rio de Janeiro pelo crime organizado é feita de forma
genérica, sem a indicação de nenhum elemento ou indício de prova concreta
do suposto comprometimento dos investigadores do caso.5. Quanto aos
agentes públicos que supostamente atuaram para atrapalhar as
investigações, todos foram afastados e há investigações e ações penais em
andamento para apuração dos fatos e punição de eventuais culpados. Assim,
ao contrário do alegado na petição inicial do Incidente, para cada suposto
desvio de conduta de membros da corporação houve uma reação firme no
sentido de se reestabelecer a ordem. 6. A opinião de distinto Desembargador
do TJRJ acerca da capacidade de a Polícia Civil desvendar os crimes em
questão, dada em entrevista a um jornalista, não se transmuda em
fundamento apto a justificar o pedido de intervenção, notadamente em razão
das aludidas providências legais adotadas, que desdizem a insinuação de
incapacidade. 7. Convém esclarecer que, até o momento, não se tem notícia
de abertura de nenhum procedimento formal perante as Cortes Internacionais
para apurar eventual responsabilidade do Brasil decorrente de suposto
descumprimento de obrigações jurídicas assumidas em tratados
internacionais.8. É certo que o Brasil se comprometeu, ao aderir a acordos
multilaterais, a garantir proteção a direitos internacionalmente consagrados,
em especial, os direitos humanos. Contudo, a responsabilização por eventual
descumprimento, necessariamente, deve decorrer de inércia, descaso,
condescendência, ou seja, de uma inação ou de uma ação
descompromissada com o bem jurídico tutelado. Hipótese inexiste no caso.
9. A condução das investigações pelas autoridades locais, até o momento,
repele a alegação de inércia, ressaltando que já foram ouvidas mais de 230
pessoas, dentre elas, testemunhas, informantes e indiciados, e realizadas
diversas medidas cautelares, como interceptação telefônica, quebra de sigilo
de dados telemáticos, interceptação ambiental, buscas e apreensões no
curso da investigação. 10. No transcorrer das investigações realizadas pela
Polícia Civil do Estado em conjunto com o Ministério Público, houve encontro

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 197


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fortuito de crimes graves, envolvendo grupos armados e perigosos,
justamente aqueles que são apontados como resistentes ao bom andamento
do trabalho investigatório, o que denota efetiva reação do Estado contra o
crime organizado.11. Pelo que se pode inferir dos autos, não há sombra de
descaso, desinteresse, desídia ou falta de condições pessoais ou materiais
das instituições estaduais encarregadas por investigar, processar e punir os
eventuais responsáveis pela grave violação a direitos humanos decorrente
dos homicídios da vereadora Marielle Francisco da Silva e seu motorista,
Anderson Pedro Matias Gomes. Ao revés, constata-se notório empenho da
equipe de policiais civis da Delegacia de Homicídios e do Grupo de Atuação
Especial de Repressão ao Crime Organizado - GAECO do Ministério Público
do Estado do Estado do Rio De Janeiro, o que desautoriza o atendimento ao
pedido de deslocamento do caso para a esfera federal. 12. Ademais,
considerando o vasto acervo já formado, com centenas de diligências
cumpridas e outras tantas em andamento, o pretendido deslocamento das
investigações para a Polícia Federal, ao que tudo indica, acarretaria efeito
contrário ao que se defende no incidente suscitado, isto é, traria mais atraso
às investigações, militando em desfavor do objetivo perquirido. 13. O auxílio
que outras instituições federais ou, quiçá, de outros Estados podem dar à
persecução penal, com expressa autorização legal (art. 3.º, inciso VIII, da Lei
n.º 12.850/2013), não deve ser desprezado, mormente em razão da
complexidade da investigação em tela. Revela-se, pois, bem-vindo o registro
lançado pelo Parquet Estadual de que, "nesta parte da investigação, o
Ministério da Justiça atua diretamente e prestando apoio ao Ministério Público
do Rio do Janeiro, onde diversos atos de investigação vêm sendo praticados
em conjunto com o GAECO MPRJ". 14. Pedido de deslocamento de
competência julgado improcedente. (IDC 24/DF, Rel. Ministra LAURITA VAZ,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 27/05/2020, DJe 01/07/2020)

2. PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS


HUMANOS

Segundo Caio Paiva, as interações entre o Direito Internacional dos Direitos Humanos e o
Direito Constitucional, principalmente no que diz respeito ao processo de incorporação dos tratados
internacionais de direitos humanos na ordem jurídica interna, gera espaço para um novo ramo do
Direito para realizar o estudo desta problemática, o qual tem sido denominado de Direito
Constitucional dos Direitos Humanos ou Direito Constitucional Internacional.

2.1. PODERES ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DO TRATADO NA


ORDEM JURÍDICA INTERNA

Quanto à incorporação dos tratados no Brasil, foi adotada a teoria da junção de vontades ou
teoria dos atos complexos, pois o procedimento de incorporação do tratado é complexo, havendo a
participação do Executivo e Legislativo na formação da vontade em celebrar definitivamente um
tratado internacional.

Os fundamentos constitucionais deste procedimento são os artigos 84, VIII (estabelece


competir ao Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais sujeitos a
referendo do Congresso Nacional) e 49, I (dispõe que é da Competência exclusiva do Congresso
Nacional resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional).

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 198


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2.2. FASES DO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS
DE DIREITOS HUMANOS

O procedimento de incorporação passa por quatro fases.

2.2.1. Fase de assinatura

Segundo André de Carvalho Ramos, é iniciada com as negociações do teor do futuro tratado.
As negociações dos tratados internacionais não possuem destaque no corpo da Constituição de
1988, sendo consideradas de atribuição do Chefe de Estado, por decorrência implícita do disposto
no art. 84, VIII.

. Essa fase é protagonizada pelo PR, que pode atuar diretamente, como Chefe de Estado,
ou por representantes considerados capazes para assinar tratados pela Convenção de Viena sobre
Direito dos Tratados (art. 7º), como, por exemplo, o Ministro das Relações Exteriores.

Assinado o tratado, o Estado ainda não se compromete internacional nem nacionalmente,


mas deve, pautado pelo princípio da boa-fé, abster-se da prática de atos que possam frustrar o
objeto e a finalidade do tratado.

2.2.2. Fase de apreciação legislativa ou fase congressual

Tem início da Câmara dos Deputados, observado por analogia o art. 64, caput, da CF.

Se aprovada a matéria na Câmara e no Senado Federal, o Presidente do Senado promulga


e faz publicar o decreto legislativo, acompanhado do texto do tratado, no Diário Oficial da União. Se
rejeitada a matéria, em quaisquer das Casas Legislativas, não tem cabimento exprimir essa rejeição
em decreto legislativo, mas apenas comunicar o Presidente da República mediante mensagem.

2.2.3. Fase de ratificação

Feita pelo Presidente da República. Trata-se do ato por meio do qual o Estado consente em
obrigar-se aos termos do ato internacional. Com a ratificação, o tratado entra em vigor no plano
internacional para o Estado, exceto se no texto contiver outra exigência para que isso ocorra, a
exemplo do número mínimo de ratificações ou fixação de data.

No momento da ratificação, o Presidente da República pode opor reservas ao texto do


tratado, que não precisam ser submetidas à apreciação do Congresso Nacional para que possam
ser apresentadas perante o organismo internacional responsável pela gestão dos atos de
celebração do tratado.

2.2.4. Fase de promulgação

A promulgação se exterioriza mediante a publicação de decreto do PR. Segundo o


entendimento da doutrina tradicional, seria o que faz culminar a inserção dos tratados no direito
brasileiro, já que o tratado não pode ser considerado uma fonte de direito interno. Sem o decreto de
promulgação do Presidente da República, o tratado internacional não teria vigor no plano interno.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 199


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3. HIERARQUIA DOS TRATADOS

Art. 5º, § 3º, CF “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos


humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais.”

Tanto os direitos humanos quanto os direitos fundamentais estão ligados aos valores
liberdade e igualdade e visam à proteção da dignidade da pessoa humana. A diferença é que os
primeiros (direitos humanos) estão localizados no plano internacional, ao passo que os direitos
fundamentais estão consagrados no plano interno, em geral, nas constituições.

O dispositivo foi inserido na Constituição pela EC n. 45/04 porque os internacionalistas


vinham sustentando que qualquer tratado internacional de direitos humanos seria equivalente às
normas constitucionais. No entanto, o Supremo sempre entendeu que qualquer tratado
internacional, fosse ele de direitos humanos ou não, seria equivalente à lei ordinária.

Os tratados internacionais de direitos humanos, aprovados em dois turnos, por três quintos
de votos, conforme art. 5º, § 3º, CF, à medida que passam a fazer parte do plano interno
transformam-se em direitos fundamentais e não existe hierarquia. Caso o tratado trate de direitos
humanos, mas não siga o rito do artigo, terá natureza supralegal.

Tratados internacionais, que não são de direitos humanos, possuem natureza de lei
ordinária.

Após o advento desta Emenda, o Supremo passou a adotar uma terceira hierarquia em
relação aos tratados internacionais. Segundo o entendimento, caso os tratados e convenções
internacionais tratassem de direitos humanos, mas não fossem aprovados por 3/5 e dois turnos,
não teriam o status de emenda constitucional, mas supralegal.

STF - RE 466.343/SP (voto Min. Gilmar Mendes): “[...] parece mais


consistente a interpretação que atribui a característica de supralegalidade aos
tratados e convenções de direitos humanos. Essa tese pugna pelo argumento
de que os tratados sobre direitos humanos seriam infraconstitucionais,
porém, diante de seu caráter especial em relação aos demais atos normativos
internacionais, também seriam dotados de um atributo de supralegalidade”.

A tese acima, sustentada pelo Ministro Gilmar Mendes, já vinha sendo defendida pelo
Ministro Sepúlveda Pertence:

STF - RHC 79.785-RJ (voto Min. Sepúlveda Pertence): “Certo, com o alinhar-
me ao consenso em torno da estatura infraconstitucional, na ordem positiva
brasileira, dos tratados a ela incorporados, não assumo compromisso de logo
[...] com o entendimento, então majoritário - que, também em relação às
convenções internacionais de proteção de direitos fundamentais - preserva a
jurisprudência que a todos equipara hierarquicamente às leis (...) Se assim é,
à primeira vista, parificar às leis ordinárias os tratados a que alude o art. 5º, §
2º, da Constituição, seria esvaziar de muito do seu sentido útil a inovação,
que, malgrado os termos equívocos do seu enunciado, traduziu uma abertura
significativa ao movimento de internacionalização dos direitos humanos.”

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 200


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Em suma:

CF/88 - Tratatados e Convenções


Internacionais de Direitos Humanos
(aprovados por 3/5 e em dois turnos)

Tratados e Convenções
Internacionais de Direitos Humanos
(SUPRALEGAL)

Leis Ordinárias e Tratados e


Convenções Internacionais

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DIREITOS HUMANOS DOS GRUPOS VULNERÁVEIS

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Procuramos apontar os principais tratados, fazendo um comparativo entre o Sistema Global


e o Sistema Interamericano, apontando os principais casos envolvendo os grupos vulneráveis.

2. MULHERES

NORMATIVA
ÓRGÃO DE PROTEÇÃO
INTERNACIONAL

Convenção sobre a Convenção Interamericana


Eliminação de Todas as para Prevenir, Punir e
SISTEMA GLOBAL Formas de Discriminação Erradicar a Violência contra a
contra a Mulher e seu Mulher ou Convenção de
Protocolo Facultativo Belém do Pará

Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH)
SISTEMA Comitê para a Eliminação da
Corte IDH
INTERAMERICANO Discriminação contra a Mulher
Comissão Interamericana de
Mulheres (CIM)1

Observações:

1. A CIM é organismo especializado e permanente da OEA, com finalidade de promover e


proteger os direitos da mulher, bem como apoiar os Estados membros em seus esforços para
assegurar pleno acesso aos direitos das mulheres. É destinatária dos relatórios periódicos dos
Estados e possui competência para requerer opinião consultiva à Corte IDH sobre a Convenção

2. A Convenção Interamericana, comparada com o documento do Sistema Universal, aborda


de forma mais extensa e integrada os direitos humanos, visando uma maior proteção às mulheres.
Reconheceu a violência contra as mulheres como um problema generalizado na sociedade.

3. A Convenção da ONU prevê expressamente e de forma mais específica o direito à igual


remuneração e igualdade de tratamento com os homens no trabalho tratando-se de trabalho de
igual valor.

Jurisprudência internacional:

• Caso Alyne Pimentel: o Brasil foi condenado pelo Comitê sobre a Eliminação da
Discriminação contra a Mulher em um caso que envolvia a mortalidade materna.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 202


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• Caso do Presídio Miguel Castro vs. Peru, 2006: foi primeira vez que a Corte IDH
aplicou a Convenção de Belém do Pará.

• Caso Gonzáles e outros (Campo Algodoeiro) vs. México, 2009: foi a primeira vez que
a Corte IDH analisou um caso envolvendo situação de violência estrutural de gênero.
Reconheceu-se pela primeira vez a figura do feminicídio.

• Caso Artavia Murillo e outros (fecundação in vitro) vs. Costa Rica: a Corte IDH tratou
da autonomia reprodutiva, que também está prevista no art. 16.e da Convenção de
Belém do Pará. Para a Corte IDH, “este direito é violado quando se obstaculizam os
meios através dos quais uma mulher poder exercer o direito a controlar sua
fecundidade. (...) a proteção à vida privada inclui o respeito das decisões tanto de
converter-se em mãe ou pai, incluindo a decisão do casal de se converterem em pais
genéticos”

• Caso Velásquez Paiz e outros vs. Guatemala, 2015: a Corte IDH decidiu que quando
se tratar de mulher que tenha sofrido uma violência contra a sua liberdade pessoal,
as autoridades estatais devem incluir na investigação uma perspectiva de gênero,
investigando as possíveis conotações discriminatórias por razão de gênero num ato
de violência praticado contra uma mulher, especialmente quando existem indícios
concretos de violência sexual.

• Caso Favela Nova Brasília vs. Brasil: a corte IDH decidiu que a violência sexual é
uma forma de tortura. Consequentemente, não deveria se submeter às regras de
prescrição.

3. PESSOAS NEGRAS

NORMATIVA
ÓRGÃO DE PROTEÇÃO
INTERNACIONAL

Convenção sobre a Convenção Interamericana


Eliminação de Todas as contra o Racismo, a
SISTEMA GLOBAL
Formas de Discriminação Discriminação e Formas
Racial Conexas de Intolerância1

Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH)

Corte IDH
SISTEMA Comitê para a Eliminação da
INTERAMERICANO Discriminação Racial Comitê Interamericano para a
Prevenção e Eliminação do
Racismo, da Discriminação
Racial e Todas as Formas de
Discriminação e Intolerância

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 203


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Observações:

1. Aprovada nos termos do art. 5º, §3º da CF. Portanto, possui status de emenda
constitucional;

2. Discriminação racial indireta é a que se produz, na esfera pública ou privada, quando uma
disposição, um critério ou uma prática, aparentemente neutro, é suscetível de implicar uma
desvantagem particular para as pessoas que pertencem a um grupo específico, a menos que esta
disposição, critério ou prática tenha um objetivo ou justificação razoável e legítimo à luz do direito
internacional dos direitos humanos.

Jurisprudência Internacional:

• Caso Simone André Diniz: o Brasil foi responsabilizado na CIDH pela prática do
racismo.

4. CRIANÇA E ADOLESCENTE

NORMATIVA
ÓRGÃO DE PROTEÇÃO
INTERNACIONAL

Convenção sobre os Direitos


da Criança e seus 3
Protocolos Facultativos

1º - envolvimento de criança
em conflito armado;

2º - venda de crianças,
Convenção Interamericana
SISTEMA GLOBAL prostituição infantil e
sobre Tráfico de Menores
pornografia infantil;

3º - procedimento de
comunicação

Convenção sobre os Aspectos


Civis do Sequestro
Internacional de Crianças

Comissão Interamericana de
SISTEMA Comitê para os Direitos da Direitos Humanos (CIDH)
INTERAMERICANO Criança
Corte IDH

Jurisprudência Internacional:

• Corte IDH, Caso Rosendo Cantú e outra vs. México –

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 204


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Medidas a serem adotadas pelo estado em relação à criança vítima de crime: a
obrigação de proteger o interesse superior das crianças durante qualquer
procedimento no qual estejam envolvidos pode implicar o seguinte:

▪ subministrar a informação e implementar os procedimentos


adequados, adaptando-os às suas necessidades particulares,
garantindo que contêm com assistência letrada e de outra índole em
todo momento, de acordo com suas necessidades;

▪ assegurar - especialmente em casos nos quais crianças tenham sido


vítimas de delitos como abusos sexuais ou outras formas de maltrato
- que seu direito a serem escutadas seja exercido garantindo-se sua
plena proteção, vigilando para que o pessoal esteja capacitado para
lhes atender e que as salas de entrevistas representem um entorno
seguro e não intimidatório, hostil, insensível ou inadequado; e

▪ procurar que as crianças não sejam interrogadas em mais ocasiões


que as necessárias para evitar, na medida do possível, a revitimização
ou um impacto traumático na criança

• Corte IDH, Caso Instituto de Reeducação do Menor vs. Paraguai

Direitos e garantias do adolescente privado de liberdade: “Quando o Estado se


encontra na presença de crianças privadas de liberdade, tem, além das obrigações
assinaladas para toda pessoa, uma obrigação adicional estabelecida no art. 19 da
Convenção Americana. Por uma parte, deve assumir sua posição especial de
garante com maior cuidado e responsabilidade, e deve tomar medidas especiais
orientadas no princípio do interesse superior da criança. Por outra, a proteção da
vida da criança requer que o Estado se preocupe particularmente das circunstâncias
de vida que levará enquanto se mantenha privado de liberdade, pois esse direito não
se extingue nem se restringe por sua situação de detenção ou de prisão”

Prisão ou detenção preventiva de adolescentes: “no caso de privação de liberdade


de crianças, a regra da prisão preventiva deve ser aplicada com maior rigor, já que o
normal deve ser a aplicação de medidas substitutivas da prisão preventiva. Estas
medidas podem ser, p. ex., a supervisão estrita, a custódia permanente, o envio a
uma família, o envio para um lar ou uma instituição educativa, assim como o cuidado,
as ordens de orientação e supervisão, o assessoramento, a liberdade vigiada, os
programas de ensinamento e formação profissional, e outras possibilidades
alternativas à internação em instituições. A aplicação destas medidas substitutivas
tem a finalidade de assegurar que as crianças sejam tratadas de maneira adequada
e proporcional às suas circunstâncias e à infração. Ademais, quando se estime que
a prisão preventiva é procedente no caso de crianças, esta deve ser aplicada sempre
durante o prazo mais breve possível, tal como estabelece o art. 37.b da Convenção
sobre os Direitos da Criança”.

• Corte IDH, Caso Mendoza e outros vs. Argentina

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 205


Disponibilizado exclusivamente para

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Prisão ou detenção preventiva de adolescentes: “No que diz respeito particularmente
a medidas ou penas privativas de liberdade das crianças, aplicam-se especialmente
os seguintes princípios:

▪ Da última ratio e de máxima brevidade;

▪ De delimitação temporal desde o momento de sua imposição, pois se


a privação da liberdade deve ser excepcional e o mais breve possível,
isso implica que as penas privativas de liberdade cuja duração seja
indeterminada ou que impliquem na privação deste direito de forma
absoluta não devem ser aplicadas a crianças;

▪ A revisão periódica das medidas de privação de liberdade das


crianças”

• Corte IDH, Caso Irmãos Landaeta Mejias e outros vs. Venezuela

A audiência de custódia para adolescentes: “Esta Corte constatou que desde o


momento da detenção de Eduardo Landaeta às 17h do dia 29 de dezembro de 1996,
até o segundo traslado aonde perdeu sua vida, sendo às 8h do dia 31 de dezembro,
esteve detido aproximadamente durante 38h sem ter sido apresentado ante um juiz
ou autoridade competente de menores de idade, o que, a critério da corte, excede o
parâmetro de ser colocado à disposição da autoridade competente sem demora
aplicável a menores de idade, o que evidencia uma violação ao disposto no art. 7.5
da Convenção Americana”

• Corte IDH, Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil

A Corte destaca que as obrigações que o Estado deve adotar para eliminar as piores
formas de trabalho infantil têm caráter prioritário e incluem, entre outras, elaborar e
colocar em prática programas de ação para assegurar o exercício e o desfrute pleno
de seus direitos. Concretamente, o Estado tem a obrigação de: a) impedir a ocupação
de crianças nas piores formas de trabalho infantil; b) prestar a assistência direta
necessária e adequada para livrar crianças das piores formas de trabalho infantil e
assegurar sua reabilitação e inserção social; c) assegurar a todas as crianças que
tenham sido libertadas das piores formas de trabalho infantil o acesso ao ensino
básico gratuito e, quando seja possível e adequado, a formação profissional; d)
identificar as crianças que estão particularmente expostas a riscos e entrar em
contato direto com elas; e e) ter em conta a situação particular das meninas

• Corte IDH, OC 24/2017 - Direito à identidade de gênero

“As considerações relacionadas com o direito à identidade de gênero que foram


desenvolvidas anteriormente também são aplicáveis às crianças que desejem
apresentar solicitações para que se reconheça nos documentos e registros sua
identidade de gênero autopercebida. Este direito deve ser entendido conforme as
medidas de proteção especial que existam a nível interno em conformidade com o
art. 19 da Convenção, as quais devem estar necessariamente em concordância com
os princípios do interesse superior da criança, da autonomia progressiva, a escutado
e a que se leve em conta sua opinião em todo procedimento que o afete, em respeito

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 206


Disponibilizado exclusivamente para

.
ao direito à vida, à sobrevivência e ao desenvolvimento, assim como ao princípio de
não discriminação. Por último, resulta importante ressaltar que qualquer restrição que
se imponha ao exercício pleno desse direito através de disposições que tenham
como finalidade a proteção das crianças, somente poderá se justificar conforme a
esses princípios e ela não deverá resultar desproporcional”

• Corte IDH, OC 21/2014 - Direitos e garantias de crianças no contexto da migração


e/ou necessidade de proteção internacional;

• Corte IDH, OC 17/2002 – a carência de recursos materiais não pode ser o único
fundamento para uma decisão judicial ou administrativa que determine a separação
da criança de sua família;

5. PESSOAS IDOSAS

NORMATIVA
ÓRGÃO DE PROTEÇÃO
INTERNACIONAL

Apenas normas de soft law, a


Convenção Interamericana
exemplo dos Princípios das
SISTEMA GLOBAL sobre a Proteção dos Direitos
Nações Unidas em favor de
Humanos das Pessoas Idosas
pessoas idosas

Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH)

Corte IDH
SISTEMA
Nenhum específico
INTERAMERICANO Comitê de Especialistas da
Convenção Interamericana
sobre a Proteção dos Direitos
Humanos das Pessoas Idosas

6. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

NORMATIVA
ÓRGÃO DE PROTEÇÃO
INTERNACIONAL

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 207


Disponibilizado exclusivamente para

.
Convenção Internacional Convenção Interamericana
sobre os Direitos das Pessoas para a Eliminação de Todas
com Deficiência e seu as
SISTEMA GLOBAL Protocolo Facultativo Formas de Discriminação
(internalizado no Brasil pelo contra Pessoas Portadoras de
procedimento do art.5º, §3º, Deficiência
da CF)

Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH)

Corte IDH
SISTEMA Comitê sobre os Direitos das
INTERAMERICANO Pessoas com Deficiência Comissão para a Eliminação
de Todas as Formas de
Discriminação contra as
Pessoas Portadoras de
Deficiência

Observações:

1. Encontram-se no art. 1º da Convenção uma série de conceitos, que relacionam uma noção
própria da primeira dimensão de direitos humanos, qual seja: a vedação à discriminação como
corolário da isonomia, ao contexto socioeconômico que inspirou a segunda dimensão daqueles
direitos;

2. Há na Convenção várias providências que deverão ser tomadas pelos Estados, com o
intuito de eliminar-se, de forma progressiva, a discriminação e promover a integração das pessoas
portadoras de deficiência;

Jurisprudência Internacional:

• Caso Ximenes Lopes vs. Brasil

Primeiro precedente da Corte IDH sobre violação de direitos humanos de pessoa


com deficiência mental, o que levou a corte a estabelecer deveres para o Brasil a
respeito da elaboração de uma política antimanicomial.

• Caso Gonzales Lluy vs. Equador

A Corte IDH reconheceu a existência de uma discriminação histórica contra as


pessoas portadoras de HIV em razão das diferentes crenças sociais e culturais que
têm criado um estigma em torno da doença. Para a Corte, “a vida com HIV/AIDS, ou
mesmo a suposição de que uma pessoa tem, pode criar barreiras sociais e
comportamentais para acessá-lo em condições de igualdade a todos seus direitos”.
Assim, como o conceito de deficiência não se define unicamente pela presença de
uma deficiência física, mental, intelectual ou sensorial, mas interage com diferentes
barreiras ou limitações sociais, a Corte advertiu que o fato de portar HIV não é, por

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 208


Disponibilizado exclusivamente para

.
si só, situação geradora de deficiência, mas pode, sim, em algumas circunstâncias,
consideradas as barreiras atitudinais que enfrenta a pessoa com HIV, configurar
aquela situação. A determinação de se alguém pode ser considerado uma pessoa
com deficiência depende de sua relação com o ambiente em que vive, e não apenas
a uma lista de diagnósticos”.

• Caso Chichilla Sandoval vs. Guatemala

A Corte IDH no julgamento do direito de acessibilidade das pessoas com deficiência


privadas de liberdade entendeu que os Estados têm o dever de ajustar um ambiente
no qual o sujeito com qualquer limitação possa gozar da maior independência
possível, para que participe plenamente em todos os aspectos da vida em igualdade
de condições com as demais.

7. PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA

Não há tratados específicos.

No ordenamento interno encontramos o Decreto 7.053/2009 que Institui a Política Nacional


para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial de Acompanhamento e
Monitoramento, e dá outras providências.

Art. 1o Fica instituída a Política Nacional para a População em Situação de


Rua, a ser implementada de acordo com os princípios, diretrizes e objetivos
previstos neste Decreto.
Parágrafo único. Para fins deste Decreto, considera-se população em situação
de rua o grupo populacional heterogêneo que possui em comum a pobreza
extrema, os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a inexistência de
moradia convencional regular, e que utiliza os logradouros públicos e as áreas
degradadas como espaço de moradia e de sustento, de forma temporária ou
permanente, bem como as unidades de acolhimento para pernoite temporário ou
como moradia provisória.

8. POVOS INDÍGENAS

Igualmente, não há um tratado que contemple todos os direitos dos povos indígenas, mas
apenas normas soft law no âmbito da ONU (2006) e da OEA (2016).

A Convenção 169 da OIT trata de alguns direitos deste grupo vulnerável, internalizada no
Brasil pelo Decreto nº 5.051/2004.

Além disso, a matéria é tratada no Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973).

Os órgãos de proteção internacional dos direitos humanos dos povos indígenas são os
gerais (CIDH, Corte IDH e Comitês da ONU), a depender do direito humano violado.

Jurisprudência Internacional:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 209


Disponibilizado exclusivamente para

.
• Caso Awas Tingni vs. Nicarágua

A Corte IDH, ao analisar o direito de propriedade previsto no art. 21 da CADH,


conferiu interpretação evolutiva ao dispositivo, reconhecendo que, além do direito à
propriedade privada, o texto da Convenção também abrange a proteção da
propriedade comunal dos povos indígenas em suas peculiaridades.

• Caso López Álvarez vs. Honduras

A Corte IDH se pronunciou sobre a violação do direito de se expressar no próprio


idioma.

• Caso Povos Kaliña e Lokono vs. Suriname

A Corte IDH tratou do tema referente à dupla afetação das terras indígenas, que
consiste em compatibilizar a proteção, em uma mesma propriedade, de interesses e
direitos ambientais e direitos das comunidades tradicionais

9. LGBTQI+

NORMATIVA
ÓRGÃO DE PROTEÇÃO
INTERNACIONAL

Apenas normas de soft law, a Convenção Interamericana


SISTEMA GLOBAL exemplo dos Princípios de contra Toda Forma de
Yogyakarta Discriminação e Intolerância

Comissão Interamericana de
SISTEMA Direitos Humanos (CIDH)
Nenhum específico
INTERAMERICANO
Corte IDH

Jurisprudência Internacional:

• Corte IDH, Caso Atala Riffo e crianças vs. Chile

A orientação sexual dos pais da criança não pode ser invocada para decidir processo
judicial de guarda.

• Corte IDH, Caso Duque vs. Colômbia

A orientação sexual não pode ser entendida como fator determinante para impedir a
obtenção do benefício de pensão por morte.

• Corte IDH, Caso Flor Freire vs. Equador

A orientação sexual não deve ser fator determinante para selecionar quem deve ou
não ser membro das forças armadas.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 210


Disponibilizado exclusivamente para

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10. QUILOMBOLAS

Não há um tratado específico sobre os quilombolas, mas algumas disposições da


Convenção no 169 da OIT podem ser aproveitadas para este grupo vulnerável.

Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto,
os étnico-raciais, segundo critérios de auto atribuição, com trajetória própria, dotados de relações
territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à
opressão histórica sofrida.

Atenção para o art. 68 do ADCT:

Art. 68 do ADCT, aos remanescentes das comunidades dos quilombolas que


estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva,
devendo o estado emitir-lhes os títulos respectivos.

11. REFUGIADOS

De acordo com Caio Paiva, há diversas normas soft law tanto no sistema global quanto no
sistema interamericano relativas à proteção internacional dos direitos humanos dos refugiados, mas
o documento internacional central, com natureza de tratado é a Convenção Relativa ao Estatuto
dos Refugiados, adotada pela ONU em 1951.

Considera-se pessoa refugiada aquela que temendo ser perseguida por motivos de raça,
religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua
nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse
país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência
habitual em consequência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer
voltar a ele.

Atenção para o art. 33 da Convenção que trata do princípio da não devolução, da proibição
do rechaço ou do non refoulement.

Art. 33 - Proibição de expulsão ou de rechaço


1. Nenhum dos Estados Contratantes expulsará ou rechaçará, de maneira
alguma, um refugiado para as fronteiras dos territórios em que a sua vida 16
ou a sua liberdade seja ameaçada em virtude da sua raça, da sua religião, da
sua nacionalidade, do grupo social a que pertence ou das suas opiniões
políticas.
2. O benefício da presente disposição não poderá, todavia, ser invocado por
um refugiado que por motivos sérios seja considerado um perigo para a
segurança do país no qual ele se encontre ou que, tendo sido condenado
definitivamente por crime ou delito particularmente grave, constitui ameaça
para a comunidade do referido país.

Jurisprudência Internacional:

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 211


Disponibilizado exclusivamente para

.
• Caso Família Pacheco Tineo vs. Bolívia

Foi a primeira vez que a Corte IDH apreciou um caso envolvendo a aplicação do
princípio do non refoulement.

CS – DIREITOS HUMANOS 2022 212

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