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Lei 10.826/2003
Estatuto do Desarmamento
Edição 2023.1
Revisada
Atualizada
Ampliada
Olá!
Três livros foram utilizados para complementar nosso CS de Legislação Penal Especial: a)
Legislação Criminal para Concursos (Fábio Roque, Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar), b)
Legislação Criminal Comentada (Renato Brasileiro), ambos da Editora Juspodivm e c)
Esquematizado - Legislação Penal Especial (Victor Eduardo Rios Gonçalves), ano 2022, da Editora
Saraiva.
Como você pode perceber, reunimos em um único material diversas fontes (aulas + doutrina
+ informativos + súmulas + lei seca + questões) tudo para otimizar o seu tempo e garantir que você
faça uma boa prova.
Por fim, como forma de complementar o seu estudo, não esqueça de fazer muitas questões.
É muito importante! As bancas costumam repetir certos temas.
1. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA
O primeiro diploma legislativo a tratar sobre armas de fogo foi a Lei de Contravenções
Penais, em seu art. 19, que foi parcialmente revogado (em relação às armas de fogo), mas continua
válido no que se refere às armas brancas (dotada de ponta ou gume):
Art. 19 - Art. 19. Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta,
sem licença da autoridade:
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa, de duzentos
mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente.
Em 1997, editou-se a Lei 9.437 que tratava sobre armas de fogo. Assim, o porte ilegal de
arma de fogo e a posse ilegal de arma de fogo, antes meras contravenções, a partir de 1997,
passaram a ser considerados como crime.
Ressalta-se que todos os crimes estavam previstos no art. 10 da Lei (posse, porte, comércio,
disparo etc.), sujeitos a uma mesma pena. Assim, existiam condutas de gravidades totalmente
diferentes submetidas a uma mesma pena. Claramente, havia uma violação ao princípio da
proporcionalidade e da individualização da pena (que também se dirige ao Poder Legislativo).
Verifica-se, portanto, a redação do art. 10 da Lei 9.437/97, revogado pela Lei 10.826/03:
Art. 10. Possuir, deter, portar, fabricar, adquirir, vender, alugar, expor à venda
ou fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que
gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda e ocultar
arma de fogo, de uso permitido, sem a autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
Pena - detenção de um a dois anos e multa.
Em 2003 foi editada a Lei 10.826, conhecida como Estatuto do Desarmamento, fruto de um
processo de conscientização da retirada das armas de fogo de circulação, que revogou
integralmente a Lei 9.437/97.
Com o Estatuto, passou-se a punir a posse (art. 12), porte (art. 14), posse/porte de uso
proibido (art. 16), disparo (art. 15), comércio (art. 17), tráfico internacional (art. 18), atendendo à
proporcionalidade e à individualização da pena.
Em 2019, ainda, o Estatuto do Desarmamento foi alterado pela Lei 13.870/2019 (autorização
para a posse de arma de fogo abrange toda a extensão da propriedade rural, não apenas a sede),
pela Lei 13.886/2019 (destinação das armas de fogo apreendidas) e pela Lei 13.964/2019 (Pacote
Anticrime).
Antes, o controle de armas era exercido por cada estado através da Polícia Civil.
O art. 2º, parágrafo único é claro ao ressalvar que o Estatuto do Desarmamento não é
aplicado às Forças Armadas e Auxiliares, observe:
Art. 2º, Parágrafo único. As disposições deste artigo não alcançam as armas
de fogo das Forças Armadas e Auxiliares, bem como as demais que constem
dos seus registros próprios.
Todas as armas de fogo deverão ser cadastradas no SINARM (Sistema Nacional de Armas
de Fogo) ou no SIGMA (Sistema de Gerenciamento Militar de Armas), sendo o Decreto 9.847/2019
que determina em qual sistema a arma será cadastrada.
Conforme visto, o controle de armas é feito pelo SINARM, órgão federal. Entretanto, a
competência para julgar crimes relacionados ao Estatuto do Desarmamento, em regra, não é da
Justiça Federal, mas da Justiça Estadual. Nesse sentido:
O crime atingirá interesse federal, atraindo a competência da Justiça Federal quando, por
exemplo, um oficial da Polícia Federal for flagrado em serviço portando arma raspada ou quando
se tratar de tráfico internacional de armas, cuja competência originária é da Justiça Federal, por ser
crime à distância, envolver dois países, previsto em tratado ou convenção internacional. Ainda
Salienta-se que o crime praticado por militar poderá ser julgado pela Justiça Militar,
considerando-se a ampliação do conceito de crime militar do art. 9º do Código Penal Militar, alterado
pela Lei 13.491/2017.
Cita-se, como exemplo, o porte de uma caixa de munição que não causa perigo concreto,
pois desacompanhada da suposta arma de fogo.
Salienta-se que há doutrina – como a discussão trazida por Luiz Flávio Gomes – sustentando
a inconstitucionalidade dos crimes de perigo abstrato. No entanto, desde que estejam tipificando
comportamentos comprovadamente perigosos, de acordo com as regras de experiência, não há
qualquer inconstitucionalidade.
Ressalta-se, por fim, que o Estatuto do Desarmamento prevê tipos penais preventivos, que
criam uma espécie de obstáculos, de modo o legislador antecipa a tutela penal. Assim, o legislador
incrimina de forma autônoma um ato preparatório de determinado crime. Por exemplo, o porte ilegal
de arma de fogo, isoladamente considerado, é um ato preparatório para o roubo ou para o homicídio.
Tanto o STF quanto o STJ dividiram os bens jurídicos protegidos pelo Estatuto do
Desarmamento em 2 grupos, quais sejam:
2) Bem jurídico mediato ou secundário: patrimônio, liberdade, vida, integridade física etc.
A relação das armas de fogo de uso permitido encontra-se no art. 3º, parágrafo único, inciso
I do Anexo I do Decreto 10.030/2019 (alterado recentemente pelo Decreto 10.627/21).
Nos termos do art. 3º, parágrafo único, inciso II do Anexo I do Decreto 10.030/2019, as armas
de fogo de uso restrito são as armas de fogo automáticas, de qualquer tipo ou calibre,
semiautomáticas ou de repetição que sejam:
a) Não portáteis;
b) De porte, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum, atinja, na saída do
cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou mil seiscentos e
vinte joules; ou
c) Portáteis de alma raiada, cujo calibre nominal, com a utilização de munição comum,
atinja, na saída do cano de prova, energia cinética superior a mil e duzentas libras-pé ou
mil seiscentos e vinte joules.
São aquelas em que há total vedação ao uso e estão elencadas no art. 3º, parágrafo único,
inciso III do Anexo I do Decreto 10.030/2019:
2) Integrante dos órgãos definidos no art. 144 da CF (polícia federal, polícia rodoviária
federal, polícia ferroviária federal, polícias civis, polícias militares e corpos de bombeiros
militares, polícias penais federal, estaduais e distrital);
3) Integrante das guardas municipais dos Municípios com mais de 50.000 e menos de
500.000 habitantes;
6) Integrante do quadro efetivo dos agentes e guardas prisionais, das escoltas de presos e
as guardas portuárias;
Art. 28. É vedado ao menor de 25 (vinte e cinco) anos adquirir arma de fogo,
ressalvados os integrantes das entidades constantes dos incisos I, II, III, V,
VI, VII e X do caput do art. 6º desta Lei.
No que se refere às guardas municipais, é importante evidenciar que o STF decidiu que
todos os integrantes das guardas municipais possuem direito a porte de arma de fogo, em
serviço ou mesmo fora de serviço, independentemente do número de habitantes do
Município, conforme decisão abaixo colacionada:
Art. 4º,
§ 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após
atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do requerente
e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização.
§ 2o A aquisição de munição somente poderá ser feita no calibre
correspondente à arma registrada e na quantidade estabelecida no
regulamento desta Lei.
2ª ETAPA: REGISTRO
1 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Todos os integrantes das guardas municipais possuem direito a porte de arma de fogo, em serviço
ou mesmo fora de serviço, independentemente do número de habitantes do Município. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/36dcd524971019336af02550264b8a08>. Acesso em: 19/12/2022.
Para que a arma de fogo seja levada consigo em via pública ou em local distinto, será
necessária a autorização para o porte, nos termos do art. 6º e seguintes do Estatuto do
Desarmamento.
Em regra, o porte é vedado em todo o território nacional, conforme se depreende do art. 6º,
in verbis:
Contudo, a autorização para o porte poderá ser concedida em algumas hipóteses, seja em
caso de função do sujeito, seja em decorrência da obtenção de autorização junto à Polícia Federal,
após a anuência do SINARM, desde que preenchidos os requisitos legais previstos no art. 10 do
Estatuto:
Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido, em todo
o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente será
concedida após autorização do Sinarm.
§ 1º A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia
temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e
dependerá de o requerente:
I – demonstrar a sua efetiva necessidade por exercício de atividade
profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física;
II – atender às exigências previstas no art. 4o desta Lei;
III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o
seu devido registro no órgão competente.
§ 2º A autorização de porte de arma de fogo, prevista neste artigo, perderá
automaticamente sua eficácia caso o portador dela seja detido ou abordado
em estado de embriaguez ou sob efeito de substâncias químicas ou
alucinógenas.
Isto posto, questiona-se: o porte funcional se estende aos aposentados que não mais
exercem a função pública?
Contudo, com a edição do Decreto 9.847/2019, passou-se a permitir que alguns dos
indivíduos previstos no rol do art. 6º do Estatuto do Desarmamento continuem a ter o porte de arma
mesmo depois de aposentados, conforme dispõe o art. 30:
Salienta-se que o policial, quando se aposenta, perde direito ao porte de arma que tinha
quando era da ativa. Isso porque o porte como policial da ativa está condicionado ao efetivo
exercício das funções institucionais. Logo, a se aposentar ele perde automaticamente o porte e terá
que devolver a arma da corporação.
Assim, conforme redação legal visualizada acima, o art. 30 do Decreto 9.847/2019 permite
que o aposentado conserve a autorização de porte de arma de fogo de sua propriedade (apenas a
arma de fogo particular, pois a funcional deve ser devolvida), desde que cumpridos alguns
requisitos, como se submeter a testes de avaliação psicológica, realizados de 10 em 10 anos.
É importante evidenciar que consoante o art. 10 do Estatuto, a autorização para o porte pode
ser concedida com eficácia temporária e territorial, e perderá automaticamente sua eficácia se o
portador for detido ou abordado em estado de embriaguez ou sob o efeito de substâncias químicas
ou alucinógenas.
Outrossim, a autorização para o porte não permite o porte ostensivo da arma de fogo, ou de
entrar ou com ela permanecer em locais públicos ou com aglomeração de pessoas, conforme
dispõe o art. 20 do Decreto 9.847/2019, ressaltando-se, ainda, que quando se violar tal regra,
haverá a cassação da autorização e apreensão da arma de fogo:
Art. 20. O titular de porte de arma de fogo para defesa pessoal concedido
nos termos do disposto no art. 10 da Lei nº 10.826, de 2003, não poderá
conduzi-la ostensivamente ou com ela adentrar ou permanecer em locais
públicos, tais como igrejas, escolas, estádios desportivos, clubes, agências
bancárias ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas em
decorrência de eventos de qualquer natureza.
§ 1º A inobservância ao disposto neste artigo implicará na cassação do porte
de arma de fogo e na apreensão da arma, pela autoridade competente, que
adotará as medidas legais pertinentes.
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º na hipótese de o titular do porte de arma de
fogo portar o armamento em estado de embriaguez ou sob o efeito de drogas
ou medicamentos que provoquem alteração do desempenho intelectual ou
motor.
Por fim, o porte na categoria “caçador de subsistência” poderá ser concedido pela Polícia
Federal aos residentes em áreas rurais que comprovem depender do emprego de arma de fogo
para prover a subsistência alimentar familiar, desde que se trate de arma portátil, de uso permitido,
Arma permitida: ausência de registro Posse ilegal de arma de fogo (art. 12)
Arma permitida: ausência de autorização Porte ilegal de arma de fogo (art. 14)
para o porte
Arma de uso restrito: ausência de registro ou Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso
ausência de autorização para o porte restrito (art. 16)
Nesse liame, importante trazer à tona um julgado do STJ que entendeu que o Delegado de
Polícia que mantém arma em sua casa sem registro no órgão competente pratica crime de posse
irregular de arma de fogo:
É importante destacar um outro julgado do STJ que possui entendimento distinto do adotado
acima, no sentido de que o Magistrado que mantém sob sua guarda arma ou munição de uso
restrito não comete crime:
Caso o agressor continue com a arma, praticará o crime de posse ilegal de arma de fogo.
Por fim, salienta-se que a Lei 13.880/2019 incluiu como uma medida protetiva de urgência a
apreensão imediata de arma de fogo sob posse do agressor (art. 18, inciso IV, da Lei Maria da
Penha).
8. POSSE X PORTE
Verifica-se o quadro comparativo entre posse e porte de arma de fogo elaborado pelo
Professor Márcio Cavalcante:
2 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Magistrado que mantém sob sua guarda arma ou munição de uso restrito não comete crime.
Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/596f713f9a7376fe90a62abaaedecc2d>. Acesso em: 20/12/2022.
Segundo o Professor Márcio Cavalcante, é comum que a Polícia Federal conceda certificado
de registro de arma de fogo para pessoas que moram em zona rural, considerando que geralmente
atendem aos requisitos do art. 4º da Lei 10.826/2003. Assim, essas pessoas ficam autorizadas a
possuir armas de fogo em suas residências ou locais de trabalho.
Ocorre que a estrutura do imóvel rural é diferente dos imóveis urbanos. Isso porque no
imóvel rural é comum haver um local onde a família efetivamente mora, ou seja, onde dorme, faz
as refeições, onde é o banheiro etc. Esse local é a casa, que é conhecida como “sede da
propriedade” ou “sede da fazenda”. No entanto, essa casa (sede da propriedade) é o menor local
do terreno, existindo uma vasta área ao redor, onde os ocupantes do imóvel desenvolvem as
atividades rurais, como plantações, criação de gado, de porcos, aves etc.
Assim, a estrutura do imóvel rural é composta pela sede da fazenda e pelo terreno, sendo
este último a maior extensão territorial.
O art. 5º da Lei 10.826/2003 afirma que o titular do certificado de Registro de Arma de Fogo
tem o direito de manter a sua arma de fogo “exclusivamente no interior de sua residência ou
domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o titular
ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.”
Art. 5º, § 5º Aos residentes em área rural, para os fins do disposto no caput
deste artigo, considera-se residência ou domicílio toda a extensão do
respectivo imóvel rural. (Incluído pela Lei nº 13.870/2019)
Tem-se como exemplo a seguinte situação hipotética: João possui uma fazenda de 2 mil
hectares onde cria 10 mil cabeças de gado. Ele possui um certificado de registro de arma de fogo.
Isso significa que ele pode ficar com sua espingarda dentro da casa onde mora com a família (sede
da fazenda) e pode andar com ela por toda a extensão dos 2 mil hectares de sua fazenda.
Art. 12. Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda
no seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do
estabelecimento ou empresa:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
CONDUTA
1) 1ª corrente: para Nucci, possuir e manter sob a guarda possuem o mesmo significado.
O legislador apenas utilizou palavras sinônimas para descrever a mesma conduta.
OBJETO MATERIAL
3 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A apreensão de ínfima quantidade de munição desacompanhada da arma de fogo não implica,
por si só, a atipicidade da conduta. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/a9cf46a38a9b05e959f33215e5cdc38a>. Acesso em: 21/12/2022.
POSSE PORTE
Imagine que João é gerente de um posto de gasolina. Durante o dia, Flávio faz a segurança
armada do estabelecimento. Indaga-se: há crime? João e Flávio praticaram quais condutas?
João responderá por posse ilegal de arma de fogo, tendo em vista que é o responsável legal
pelo posto de gasolina. Flávio, por sua vez, responderá por porte ilegal de arma de fogo, já que está
portando em qualquer outro lugar (fora de sua residência e não é nem proprietário e nem
responsável legal pelo posto de gasolina).
Há, ainda, outro elemento normativo do tipo, consagrado na expressão “em desacordo com
determinação legal ou regulamentar”:
Por fim, destaca-se que a entrega espontânea da arma extingue a punibilidade por posse
ilegal de arma de fogo, nos termos do art. 32 do Estatuto do Desarmamento:
SUJEITOS DO DELITO
Qualquer pessoa poderá ser sujeito ativo. Trata-se de crime comum ou geral.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Não é ilegal a prisão realizada por agentes públicos que não tenham
competência para a realização do ato quando o preso foi encontrado em
estado de flagrância. Os tipos penais previstos nos arts. 12 e 16 da Lei n.
10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) são crimes permanentes e, de
acordo com o art. 303 do CPP, o estado de flagrância nesse tipo de crime
persiste enquanto não cessada a permanência. Segundo o art. 301 do
CPP, qualquer do povo pode prender quem quer que seja encontrado em
situação de flagrante, razão pela qual a alegação de ilegalidade da prisão -
pois realizada por agentes que não tinham competência para tanto - não se
sustenta. HC 244.016-ES, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 16/10/2012.
Além disso, é um crime de mera conduta ou de simples atividade, eis que o tipo penal se
limita a descrever uma conduta, não há resultado naturalístico. O crime se consuma com a mera
posse irregular, não importa a finalidade. Nesse liame, evidencia-se julgado do STJ:
De acordo com Renato Brasileiro, parte da doutrina prefere dizer que não é possível a
tentativa. Isso porque na eventualidade de o agente ser surpreendido, enquanto tentava, por
exemplo, adquirir ilegalmente uma arma de fogo de uso permitido para guardar em sua residência,
o crime será o do art. 14, na forma tentada, e não o do art. 12 do Estatuto do Desarmamento.
A cada 3 anos, o titular da arma de fogo deve renovar o seu registro, nos termos do art. 5º,
§ 2º do Estatuto do Desarmamento, in verbis:
Nos casos em que o agente mantém a arma de fogo, sem renovar o registro, o STJ entende
que não há o crime do art. 12, mas mera infração administrativa. Nesse sentido, verifica-se a
excelente explicação do Prof. Márcio Cavalcante (Dizer o Direito) sobre o tema, no Info 572 do STJ:
Contudo, o entendimento acima é restrito aos casos de delito de posse ilegal de arma de
fogo de uso permitido (art. 12), não se aplicando ao crime de porte ilegal de arma de fogo (art. 14),
muito menos ao delito de porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16), cujas elementares
são diversas e a reprovabilidade mais intensa.
AÇÃO PENAL
O Estatuto do Desarmamento estabeleceu, em seu art. 30, um prazo de 180 dias para que
os possuidores e proprietários de armas de fogo de uso permitido fizessem a solicitação de registro.
Após sucessivas prorrogações, o prazo limite foi estipulado em 31 de dezembro de 2009, nos
termos do art. 20 da Lei 11.922/20.
Com base neste dispositivo, passou-se a entender que houve uma abolitio criminis
temporária para o crime de posse irregular de arma de fogo de uso permitido. De fato, se o cidadão
foi flagrado com uma arma dessa espécie em sua residência, por exemplo, entre a entrada em vigor
do Estatuto do Desarmamento e o dia 31 de dezembro de 2009, não poderia ser punido, pois ainda
possuía prazo para efetuar a solicitação do registro da arma.
Em suma:
d) O porte ilegal de qualquer arma sempre configurou crime, desde a entrada em vigor do
Estatuto do Desarmamento.
PENA
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).
Salienta-se que, como a pena não ultrapassa 4 anos, o próprio Delegado de Polícia poderá
arbitrar a fiança.
Por fim, estando presentes os requisitos do art. 44 do CP, é perfeitamente possível que a
pena seja convertida em restritiva de direitos, pois cabe a conversão quando é aplicada pena
privativa de liberdade não superior a 4 anos e o crime não for cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa.
2. OMISSÃO DE CAUTELA
Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor
de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere
de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade:
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
SUJEITOS DO DELITO
Pode ser qualquer pessoa, trata-se de crime comum ou geral. Se o agente não possui o
registro da arma de fogo, incorre também no delito do art. 12.
Frisa-se que a omissão de cautela em relação à munição ou acessório não está prevista no
tipo penal.
1) A coletividade;
2) O menor de 18 anos;
ELEMENTO SUBJETIVO
É crime material, o qual depende da produção do resultado naturalístico. Assim, não basta
que o agente seja negligente, é necessário que o menor ou que o portador de transtorno mental se
apodere da arma.
O parágrafo único traz um crime diferente em que é aplicado a mesma pena do art. 13, a
omissão de comunicação de perda ou subtração de arma de fogo:
Art. 13, Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor
responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem
de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto,
roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição
que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de
ocorrido o fato.
Nos casos em que ocorre a perda, furto, roubo ou outra forma de extravio de arma de fogo,
a empresa de segurança tem a obrigação de comunicar à autoridade competente em 24h, sob pena
de responder pelo delito do art. 13, parágrafo único.
1) Sujeito ativo: trata-se de crime próprio ou especial, uma vez que somente pode ser
praticado pelo proprietário da empresa ou pelo diretor responsável por empresa de
segurança ou de transporte de valores.
2) O registro e autorização para o porte, expedido pela Polícia Federal, deverão ser
elaborados em nome da empresa.
O delito de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido está previsto no art. 14 do Estatuto
do Desarmamento:
Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,
ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem
autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo quando a
arma de fogo estiver registrada em nome do agente.
Ressalta-se que o STF, na ADI 3.112-1, considerou o parágrafo único inconstitucional, pois,
atualmente, apenas a CF/88 pode dizer, de forma genérica e abstrata, que um crime é inafiançável.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
SUJEITOS DO DELITO
É preciso ter atenção com o disposto no art. 20 do Estatuto do Desarmamento, que traz uma
causa de aumento de pena, quando o crime é praticado por um dos integrantes dos órgãos e
empresas constantes nos arts. 6º, 7º e 8º da Lei:
ELEMENTO NORMATIVO
Embora a denominação legal do delito seja “porte ilegal de arma de fogo de uso permitido”,
é fácil notar que o texto legal possui abrangência maior, já que existem inúmeras outras condutas
típicas. Com efeito, as ações nucleares são portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob
sua guarda ou ocultar.
Destaca-se, nesse liame, que o STJ adotou o seguinte posicionamento quanto à modalidade
“transportar”:
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
É possível a tentativa quando, por exemplo, o agente inicia os atos de execução, mas não
logra êxito em adquirir a arma de fogo de uso permitido.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
Quando se diz que o crime é de perigo presumido ou abstrato, conclui-se apenas que é
desnecessária prova de situação de risco a pessoa determinada. Exige-se, porém, que a arma
À vista disso, o STJ entendeu que é atípica a conduta de portar arma de fogo ineficaz:
4 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Atipicidade da conduta de posse/porte ilegal de arma de fogo ineficaz. Buscador Dizer o Direito,
Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/92af93f73faf3cefc129b6bc55a748a9>.
Acesso em: 19/12/2022.
As armas de brinquedo, simulacros ou réplicas não constituem armas de fogo, de modo que
o seu porte não está abrangido na figura penal.
Se o agente, utilizando arma de fogo, atira e mata alguém, haverá homicídio e porte de arma
de fogo ou apenas homicídio? Se uma pessoa pratica homicídio com arma de fogo, a acusação por
porte deverá ser absorvida? Aplica-se o princípio da consunção? Depende da situação.
O crime de porte não será absorvido (haverá concurso material de crimes) se ficar provado
nos autos que o agente portava ilegalmente a arma de fogo em outras oportunidades antes ou
depois do homicídio e que ele não se utilizou da arma tão somente para praticar o assassinato. Ex.:
a instrução demonstrou que João adquiriu a arma de fogo 3 meses antes de matar Pedro e não a
comprou com a exclusiva finalidade de ceifar a vida da vítima.
Contudo, crime de porte será absorvido se não houver provas de que o réu já portava a arma
antes do homicídio ou se ficar provado que ele a utilizou somente para matar a vítima. Ex.: o agente
compra a arma de fogo e, em seguida, dirige-se até a casa da vítima, e contra ela desfere dois tiros,
matando-a.
Em regra, o agente que age em legítima defesa utilizando arma de fogo sem registro poderá
responder pelo crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo. Contudo, o crime poderá ser
absorvido quando a conduta foi exclusiva para o ato de legítima defesa.
O crime se aperfeiçoa com o disparo de arma de fogo ou, simplesmente, com o acionamento
da munição (engatilhar a arma).
Importante destacar a expressão “desde que essa conduta não tenha como finalidade a
prática de outro crime”, a qual configura um crime expressamente subsidiário. Trata-se do princípio
da subsidiariedade expressa na solução do conflito aparente de normas. Assim, tem-se as seguintes
hipóteses:
1) Se o agente dispara arma de fogo sem nenhum intuito, responderá pelo art. 15 do
Estatuto do Desarmamento;
2) Se o agente dispara arma de fogo para matar outra pessoa, responderá por homicídio
(art. 121 do CP), pois o disparo será absorvido pelo homicídio.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
OBJETO MATERIAL
SUJEITOS DO DELITO
É crime comum ou geral, tendo em vista que pode ser praticado por qualquer pessoa.
O disparo deve ocorrer em via pública ou em direção a ela, bem como em lugar habitado ou
em suas adjacências. Portanto, o disparo de arma de fogo em lugar ermo é conduta atípica.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES
É preciso que realmente ocorra o disparo de uma arma de fogo. Assim, disparo de arma de
borracha não configura este crime.
O agente irá responder apenas pelo crime mais grave. O disparo fica absorvido.
Para determinar os crimes que o agente irá responder, é necessário analisar o contexto
fático, a fim de determinar se há ou não ligação entre as condutas. Observe-se, então, as seguintes
hipóteses:
1) João está em sua residência, assistindo ao jogo de seu time de futebol. Após o gol,
dirige-se até a rua e efetua um disparo para o alto. Em seguida, retorna para sua casa.
Perceba que João portou ilegalmente a arma de fogo apenas com a finalidade de efetuar
o disparo. Assim, o disparo irá absorver o porte ilegal.
2) João saiu de sua residência, com a arma de fogo, atravessou a cidade inteira para chegar
ao estádio de futebol, após o jogo, novamente, atravessou a cidade para voltar para
casa. Ocasião em que efetuou um disparo para o alto. Nesta hipótese, temos dois
contextos distintos, por isso João irá responder pelos dois delitos (porte e disparo) em
concurso material de crimes.
Esta Corte Superior entende que a absorção do delito de porte de arma pelo
de disparo não é automática, pois depende do contexto fático do caso
concreto em que se deram as condutas. Não ficou caracterizada a hipótese
de aplicação do princípio da consunção, na espécie, porque os momentos
consumativos dos delitos ocorreram em situações diversas, em contextos
destacados. (AgRg no REsp 1.347.003/SC, Rel. Min. Moura Ribeiro, 5ª
Turma, julgado em 17/12/2013, DJe 03/02/2014).
PENA
2) Não é possível a suspensão condicional do processo, pois a pena mínima prevista para
o crime ultrapassa 1 ano;
3) É muito provável que a pena seja convertida em restritiva de direitos, desde que
cumpridos os requisitos legais;
4) Tendo em vista que a pena máxima não ultrapassa o patamar de 4 anos, o próprio
Delegado poderá arbitrar a fiança.
A posse e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito estão previstas no art. 16 do Estatuto
do Desarmamento. Há nos incisos do parágrafo primeiro uma série de figuras equiparadas. Verifica-
se, portanto, o dispositivo legal:
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar,
manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso
restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – suprimir ou alterar marca, numeração ou qualquer sinal de identificação
de arma de fogo ou artefato;
II – modificar as características de arma de fogo, de forma a torná-la
equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar
ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz;
III – possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato explosivo ou incendiário,
sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar
IV – portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado;
V – vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo,
acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente; e
VI – produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de
qualquer forma, munição ou explosivo.
§ 2º Se as condutas descritas no caput e no § 1º deste artigo envolverem
arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze)
anos.
Quando a arma de fogo é de uso restrito, o crime será o mesmo tanto para a posse ilegal
quanto para o porte ilegal. De outra banda, quando se trata de arma de fogo de uso permitido, os
crimes serão distintos: posse ilegal (art. 12) e porte ilegal (art. 14)
Nota-se que a Lei 13.964/2019 modificou o art. 16 do Estatuto do para diferenciar arma de
fogo de uso restrito de arma de fogo de uso proibido:
OBJETIVIDADE JURÍDICA
Assim como nos demais crimes do Estatuto, protege-se a incolumidade pública, mais
especificamente a segurança pública.
SUJEITOS DO DELITO
Qualquer pessoa poderá praticar o delito do art. 16, pois se trata de crime comum ou geral.
Aqui, novamente, aplica-se a regra do art. 20 do Estatuto, segundo a qual a pena será
aumentada quando o crime for praticado por integrantes dos órgãos e empresas referidas nos arts.
6º, 7º e 8º.
O delito em análise é uma espécie de figura qualificada dos crimes de posse e porte de
arma, previsto, porém, em um tipo penal autônomo. A pena maior se justifica em virtude da maior
potencialidade lesiva das armas de fogo de uso proibido ou restrito, que, por tal razão, elevam o
risco à coletividade.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
É crime de perigo abstrato, a Lei presume o perigo com a prática de qualquer uma das
condutas descritas no art. 16.
Igualmente, é um crime de mera conduta, ou seja, basta a prática da conduta para que se
presuma o perigo.
FIGURAS EQUIPARADAS
Trata-se de crimes autônomos com condutas e objetos materiais próprios, para os quais se
aproveitou a pena do caput do art. 16.
Pune-se apenas o responsável pela modificação. Qualquer outra pessoa que a porte ou
possua irá responder pelo caput do art. 16.
Aqui, tem-se um crime formal. Não incide o art. 347 do CP, que pune o crime de fraude
processual.
Em relação aos artefatos explosivos, este dispositivo prevalece sobre o art. 253 do CP.
O art. 253 do CP continua em vigor em relação a gases tóxicos ou asfixiantes, bem como
em relação a substâncias explosivas (ex.: tolueno), já que o inciso III só se refere a artefato
explosivo pronto (ex.: dinamite).
Não será considerado explosivo o artefato que, embora ativado por explosivo, não projete
nem disperse fragmentos perigosos, como metal, vidro ou plástico quebradiço, não possuindo,
portanto, considerável potencial de destruição. Assim, para ser considerado artefato explosivo, é
necessário que ele seja capaz de gerar alguma destruição.
5.6.4. Portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo com numeração,
marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou adulterado
Quem suprime ou modifica responde pelo inciso I. Já quem porta, possui, adquire, transporta
ou fornece responde pelo inciso IV.
Ressalta-se que pode ser qualquer tipo de arma de fogo, isto é, de uso restrito ou permitido.
Não há vinculação ao caput. Nesse sentido, o HC 99.582/RS, noticiado no Informativo 558 do STF:
Info 558 do STF: Para a caracterização do crime previsto no art. 16, parágrafo
único, IV, da Lei 10.826/2003, é irrelevante se a arma de fogo é de uso
permitido ou restrito, bastando que o identificador esteja suprimido.
5.6.5. Vender, entregar ou fornecer, ainda que gratuitamente, arma de fogo, acessório,
munição ou explosivo a criança ou adolescente
De acordo com Victor Eduardo Rios Gonçalves, pela comparação desse tipo penal com
outros da Lei 10.826/2003, pode-se concluir que:
2) Quem deixa de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de idade ou
deficiente mental se apodere de arma de fogo, que esteja sob sua posse ou que seja de
sua propriedade, responde pelo crime do art. 13. Trata-se de conduta culposa. Se quem
se apodera da arma é pessoa maior de idade, o fato é atípico, porque a modalidade
culposa não mencionou tal hipótese.
3) O sujeito que fornece, empresta ou cede dolosamente arma de fogo de uso permitido a
pessoa maior de idade pratica o crime do art. 14.
4) Quem fornece, empresta ou cede dolosamente arma de fogo de uso proibido ou restrito
a pessoa maior de idade incide no crime do art. 16, caput, ou § 2º.
5) Aquele que fornece explosivo a pessoa menor de 18 anos comete o crime do art. 16, §
1º, V, mas, se o destinatário for pessoa maior de idade, o crime será o do art. 253 do CP.
A finalidade desse dispositivo é a de abranger algumas condutas não elencadas nos arts.
14 e 16 do Estatuto do Desarmamento, em relação a munições e explosivos.
NATUREZA HEDIONDA
A Lei 13.497, de 26 de outubro de 2017, introduziu no rol dos crimes hediondos o crime de
porte e de posse ilegal de arma de fogo de uso restrito ou proibido. Posteriormente, contudo, a Lei
13.964/2019 modificou o art. 1º, parágrafo único, II, da Lei 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos) e
passou a prever que somente as condutas relacionadas a armas de fogo de uso proibido é
que configuram crime hediondo:
Por se tratar de norma benéfica em relação às armas de uso restrito, tal Lei retroage para
afastar a natureza hedionda daqueles que foram flagrados em poder de arma de fogo de uso restrito.
PENA
Por fim, para melhor fixação dos temas abordados, colaciona-se os seguintes quadros
sinóticos da posse irregular e do porte ilegal de armas de fogo:
O parágrafo § 1º possui uma norma explicativa, o dispositivo deixa claro que a atividade não
precisa ser formal, mas deve ser habitual.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
Tutela-se, mais uma vez, incolumidade pública, no sentido de evitar que armas ilegais,
acessórios ou munições entrem em circulação. A pena do delito foi aumentada com a aprovação
da Lei 13.964/2019, que também inseriu o delito no rol dos crimes hediondos.
SUJEITOS DO DELITO
É crime próprio, ou seja, exige-se qualidade especial do agente, que deve exercer atividade
comercial ou industrial. Ressalta-se que o dispositivo é de grande abrangência, na medida em que
o seu parágrafo único equiparou à atividade comercial ou industrial qualquer forma de prestação de
serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em residência.
OBJETO MATERIAL
O tipo penal do art. 17 não faz distinção entre arma de fogo de uso permitido e arma de fogo
de uso restrito. Assim, o crime será o mesmo.
Contudo, o art. 19 da Lei traz uma causa de aumento quando for de uso restrito ou proibido:
Art. 19. Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada da
metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou
restrito.
ELEMENTO NORMATIVO
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
Isto posto, pode-se concluir que se consuma com a prática de qualquer uma das condutas
previstas em lei, presumindo-se, de forma absoluta, o perigo ao bem jurídico.
O Pacote Anticrime incluiu o crime de comércio ilegal de arma de fogo ao rol de crimes
hediondos:
PENA
O Pacote Anticrime aumentou a pena para 6 a 12 anos (era de 4 a 8 anos) e multa. Por isso,
não é possível aplicação dos institutos despenalizadores, como a transação penal e a suspensão
condicional do processo.
Por fim, o último crime previsto no Estatuto do Desarmamento está previsto no art. 18 e trata-
se do tráfico internacional de arma de fogo:
Destaca-se que o tipo penal prevê o tráfico internacional de armas de fogo. Não existe,
aqui, o tráfico interestadual, que entrará em outra conduta.
OBJETIVIDADE JURÍDICA
OBJETO MATERIAL
Pode ser qualquer arma de fogo, acessório ou munição, tanto de uso restrito ou permitido.
Quando for de uso restrito ou proibido, incide o art. 19, aumentando-se a pena de metade.
SUJEITOS DO DELITO
É a coletividade.
CONSUMAÇÃO E TENTATIVA
A lei presume de forma absoluta o perigo à segurança pública com a entrada de uma arma
clandestina.
O Pacote Anticrime incluiu o crime de tráfico ilegal de arma de fogo ao rol de crimes
hediondos:
PENA
O Pacote Anticrime aumentou a pena para 8 a 16 anos (era de 4 a 8 anos) e multa. Por isso,
não é possível aplicação dos institutos despenalizadores, como a transação penal e a suspensão
condicional do processo.
O parágrafo único do art. 14 veda a fiança, salvo se a arma estiver registrada no nome do
infrator:
Art. 14, Parágrafo único. O crime previsto neste artigo é inafiançável, salvo
quando a arma de fogo estiver registrada em nome do agente.
Já o parágrafo único do art. 21 veda a liberdade provisória, com ou sem fiança, para os
crimes dos arts. 16, 17 e 18 do Estatuto do Desarmamento:
9. PERFIL BALÍSTICO
Com o intuito de deixar o material mais completo, colaciona-se os principais julgados do STJ
acerca do tema:
1) O crime de posse irregular de arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido (art.
12 da Lei 10.826/2003) é de perigo abstrato, prescindindo de demonstração de efetiva
situação de perigo, porquanto o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física e sim
a segurança pública e a paz social.
2) O crime de porte ilegal de arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido (art. 14
da Lei 10.826/2003) é de perigo abstrato e de mera conduta, bastando para sua
caracterização a prática de um dos núcleos do tipo penal, sendo desnecessária a
realização de perícia.
3) O art. 14 da Lei 10.826/2003 é norma penal em branco, que exige complementação por
meio de ato regulador, com vistas a fornecer parâmetros e critérios legais para a
penalização das condutas ali descritas.
5) O crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito
(art. 16, caput, da Lei 10.826/2003) é crime de perigo abstrato, que presume a ocorrência
de dano à segurança pública e prescinde, para sua caracterização, de resultado
naturalístico à incolumidade física de outrem.
7) São atípicas as condutas descritas nos arts. 12 e 16 da Lei 10.826/2003, praticadas entre
23/12/2003 e 23/10/2005, mas, a partir desta data, até 31/12/2009, somente é atípica a
conduta do art. 12, desde que a arma de fogo seja apta a ser registrada (numeração
íntegra).
8) A regra dos arts. 30 e 32 da Lei 10.826/2003 alcança, também, os crimes de posse ilegal
de arma de fogo praticados sob a vigência da Lei 9.437/1997, em respeito ao princípio
da retroatividade da lei penal mais benéfica.
9) A forma qualificada do art. 10, § 3º, IV, da Lei 9.437/1997, que foi suprimida do
ordenamento jurídico com o advento da Lei 10.826/03, não tem o condão de tornar
atípica a conduta, mas apenas de desclassificar o delito para a forma simples, prevista
no caput do dispositivo legal mencionado.
10) Não se aplica o princípio da consunção quando os delitos de posse ilegal de arma de
fogo e disparo de arma em via pública são praticados em momentos diversos e em
contextos distintos.
11) A simples conduta de possuir ou de portar arma, acessório ou munição é suficiente para
a configuração dos delitos previstos nos arts. 12, 14 e 16 da Lei 10.826/2003, sendo
inaplicável o princípio da insignificância.
13) O simples fato de possuir ou portar munição caracteriza os delitos previstos nos arts. 12,
14 e 16 da Lei 10.826/2003, por se tratar de crime de perigo abstrato e de mera conduta,
sendo prescindível a demonstração de lesão ou de perigo concreto ao bem jurídico
tutelado, que é a incolumidade pública.
15) Demonstrada por laudo pericial a inaptidão da arma de fogo para o disparo, é atípica a
conduta de portar ou de possuir arma de fogo, diante da ausência de afetação do bem
jurídico incolumidade pública, tratando-se de crime impossível pela ineficácia absoluta
do meio.
16) A conduta de possuir, portar, adquirir, transportar ou fornecer arma de fogo, seja de uso
permitido, restrito ou proibido, com numeração, marca ou qualquer outro sinal de
identificação raspado, suprimido ou adulterado, implica a condenação pelo crime
estabelecido no art. 16, parágrafo único, IV, do Estatuto do Desarmamento.
18) O delito de comércio ilegal de arma de fogo, acessório ou munição, tipificado no art. 17,
caput e parágrafo único, da Lei de Armas, nunca foi abrangido pela abolitio criminis
temporária prevista nos arts. 5º, § 3º, e 30 da Lei de Armas ou nos diplomas legais que
prorrogaram os prazos previstos nos referidos dispositivos.
20) O crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, tipificado no art.
18 da Lei 10.826/03, é de perigo abstrato ou de mera conduta e visa a proteger a
segurança pública e a paz social.
21) Para a configuração do tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição não
basta apenas a procedência estrangeira do artefato, sendo necessário que se comprove
a internacionalidade da ação.
22) É típica a conduta de importar arma de fogo, acessório ou munição sem autorização da
autoridade competente, nos termos do art. 18 da Lei 10.826/2003, mesmo que o réu
detenha o porte legal da arma, em razão do alto grau de reprovabilidade da conduta.
23) É atípica a conduta de colecionador, com registro para a prática desportiva e guia de
tráfego, que se dirigia ao clube de tiros sem portar consigo a guia de trânsito da arma de
fogo. STJ. 5ª Turma. AgRg no AgRg no RHC 148.516-SC, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik,
julgado em 09/08/2022 (Info 753).