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2023
Brasília
3ª edição
Organizado por CP Iuris
ISBN 978-65-5701-086-0

DIREITOS HUMANOS
SOBRE O AUTOR

PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA. Graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais. Especializações em Direito Internacional e Estudos Diplomáticos pelo Centro de Direito Internacional
da Faculdade Milton Campos. Mestre em Direito pela Universidade Federal do Pará – UFPA. Doutorando em
Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Juiz Federal do Tribunal Regional Federal da 1ª
Região.
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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 – TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................................6


1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................7
2. A CONCEPÇÃO EVOLUTIVA DO CONCEITO DE HOMEM DE FÁBIO KONDER COMPARATO ...................................................7
2.1. 1ª Fase: Período Axial ........................................................................................................................7
2.2. 2ª Fase: Período Medieval .................................................................................................................8
2.3. 3ª Fase: Ética Kantiana ......................................................................................................................8
2.4. 4ª Fase: A descoberta do mundo dos valores .....................................................................................9
2.5. 5ª Fase: O pensamento existencialista ...............................................................................................9
3. ANTECEDENTES HISTÓRICOS ...........................................................................................................................10
4. DIREITOS HUMANOS E AS TEORIAS DO DIREITO ...................................................................................................17
4.1. Jusnaturalismo ................................................................................................................................17
4.2. Positivismo ......................................................................................................................................17
4.3. Realismo ..........................................................................................................................................18
4.4. Fundamentação moral.....................................................................................................................18
5. ASPECTOS TERMINOLÓGICOS ..........................................................................................................................19
5.1. Os “conceitos” de direitos humanos .................................................................................................19
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5.2. Direitos do homem ou direitos humanos ..........................................................................................19


5.3. Liberdades públicas .........................................................................................................................19
5.4. Direitos subjetivos e direitos públicos subjetivos ..............................................................................20
5.5. Direitos fundamentais e a distinção aos Direitos Humanos ..............................................................20
6. DUPLA FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS HUMANOS/FUNDAMENTAIS ..................................................................23
7. DIMENSÕES DE ABERTURA .............................................................................................................................23
8. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS........................................................................................................24
8.1. Fundamentalidade...........................................................................................................................25
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8.2. Abstração ........................................................................................................................................25


8.3. Moralidade ......................................................................................................................................25
8.4. Prioritariedade.................................................................................................................................25
8.5. Inalienabilidade ...............................................................................................................................25
8.6. Irrenunciabilidade e imprescritibilidade ...........................................................................................25
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8.7. Indivisibilidade .................................................................................................................................25


8.8. Interdependência .............................................................................................................................26
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8.9. Historicidade ...................................................................................................................................26


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8.10. Aplicabilidade imediata .................................................................................................................26


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8.11. Vedação ao retrocesso ...................................................................................................................26


8.12. Relatividade ...................................................................................................................................27
8.13. Universalidade ...............................................................................................................................27
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9. A POLÊMICA SOBRE AS GERAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS ...................................................................................33


9.1. Direitos “de primeira geração” ........................................................................................................34
9.2. Direitos “de segunda geração” ........................................................................................................34
9.3. Direitos “de terceira geração”..........................................................................................................34
9.4. Direitos de outras gerações? ............................................................................................................34
10. EFICÁCIA EXTERNA OU HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS (DRITTWIRKUNG) ................................................36
11. A TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK .....................................................................................................40
12. DEVERES FUNDAMENTAIS ............................................................................................................................41
13. LIMITES DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................................................................41
13.1. Âmbito de proteção .......................................................................................................................41
13.2. Restringibilidade dos direitos .........................................................................................................42
13.3. Limites dos limites dos direitos fundamentais e a garantia de seu núcleo essencial........................43
13.4. Princípio da proporcionalidade ......................................................................................................44
13.5. Limites à implementação dos direitos sociais: embate entre as teorias do mínimo existencial e do
princípio da reserva do possível ............................................................................................................................46
CAPÍTULO 2 – PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS ..........................................................52
1. A INTERNACIONALIZAÇÃO DA PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ...........................................................................54
2. O SISTEMA GLOBAL OU ONUSIANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ................................................................54
2.1. História ............................................................................................................................................54
2.2. A Declaração Universal dos Direitos Humanos .................................................................................56
2.3. Os Pactos de Direitos Humanos de 1966 ..........................................................................................62
3. OS SISTEMAS REGIONAIS INTERAMERICANOS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS ...................................................76
3.1. Breve histórico .................................................................................................................................76
3.2. A Carta da OEA (Carta de Bogotá) ...................................................................................................77
3.3. Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem .................................................................79
3.4. Convenção Americana de Direitos Humanos ....................................................................................81
3.5. Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San Salvador) ................................................................................99
4. O SISTEMA EUROPEU DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS ...............................................................................103
5. O SISTEMA AFRICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS ..............................................................................107
6. OS DIREITOS HUMANOS NO MERCOSUL ...........................................................................................................110
6.1. Noções Gerais sobre o Mercosul .................................................................................................... 110
6.2. O compromisso democrático dos Estados-membro do Mercosul ....................................................112
6.3. A proteção dos direitos humanos no Mercosul ...............................................................................114
7. PROCESSO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS .........................................................................................115
7.1. Conceito ........................................................................................................................................116
7.2. Classificação dos mecanismos de apuração ...................................................................................116
7.3. Justiciabilidade ..............................................................................................................................116
7.4. Os Sistemas Interamericanos de Direitos Humanos ........................................................................117
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8. DIREITOS HUMANOS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988 ..............................................................................................187


8.1. O status formal dos tratados internacionais de direitos humanos ..................................................187
8.2. Procedimento de ratificação dos tratados internacionais de direitos humanos ..............................188
8.3. O incidente de deslocamento de competência ...............................................................................191
9. O COMBATE À TORTURA ..............................................................................................................................194
9.1. Introdução .....................................................................................................................................194
9.2. Conceito de tortura ........................................................................................................................194
9.3. Vedação absoluta ..........................................................................................................................198
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9.4. Compromisso de tipificação penal..................................................................................................199


9.5. Princípio do aut dedere, aut judicare .............................................................................................199
9.6. Dever de reparação .......................................................................................................................201
9.7. Compromisso de educação e treinamento .....................................................................................202
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9.8. Mecanismos de supervisão ............................................................................................................203


9.9. Protocolo facultativo da Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,
Desumanos ou Degradantes ..............................................................................................................................206
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10. O COMBATE À DISCRIMINAÇÃO ...................................................................................................................213


Gouvea da

10.1. Normas de proteção às mulheres .................................................................................................214


Eliovaine Gouvea

10.2. Normas de combate à discriminação racial ..................................................................................234


10.3. A proteção aos deficientes ...........................................................................................................258
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GABARITO ....................................................................................................................................................295
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................................................296
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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA

TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS


TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

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1. INTRODUÇÃO

O estudo dos direitos humanos nunca foi tão necessário e atual. Sua reafirmação deve ser diuturna.
Não há “jogo ganho”, não há posição consolidada. Passados 230 anos da Bill of Rights americana, de 1791,
os direitos à vida, à liberdade, à autonomia individual, à saúde e ao meio ambiente, continuam sendo
vilipendiados, menosprezados e diminuídos tanto por particulares como pelo próprio Estado.
Talvez o estudo dos direitos humanos como eventos históricos, acabados, consolidados e,
principalmente, descontextualizados seja um problema. Exorta-se a democracia ateniense, mas se esquece
que sua aplicabilidade se restringiu aos cidadãos, maiores de 19 anos, com terras, excluindo-se os
estrangeiros, mulheres e pobres. Festeja-se a Magna Charta Libertatum, de 1215, como um documento de
limitação do poder arbitrário do Estado, mas se esquece que o documento era um contrato entre nobres e o
rei, não se aplicando à maioria da população inglesa, formada por vassalos.
Celebra-se a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, sem se dizer que, à época,
sua leitura deveria ser literal, isto é, excluindo-se as mulheres. Olympe de Gouges, pseudônimo de Marie
Gouze, autora da Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã foi, à época da Revolução Francesa,
guilhotinada por defender o direito das mulheres. Por fim, grande parte da doutrina sequer menciona que,
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enquanto a Declaração dos Direitos Humanos de 1948 foi aprovada pela Assembleia Geral da Organização
das Nações Unidas (ONU), exortando, em seu Artigo 2º, a igualdade e universalidade dos direitos humanos,
ainda haviam colônias em que seus habitantes tinham status jurídico distinto dos cidadãos das metrópoles.
Em suma, não se está discutindo a importância histórica dos documentos e experiências
mencionadas. O que se destaca é a necessidade de se entender que os direitos humanos/fundamentais, os
quais representam demandas que remontam à antiguidade, ainda hoje não são plenamente aceitos e
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implementados.
Tal “equívoco” é comum em concursos públicos, principalmente na fase objetiva, cobrando-se dos
candidatos documentos históricos relacionados aos direitos humanos. Em fases posteriores, principalmente
em concursos de magistratura e do ministério público, é possível a exigência de um pensamento crítico,
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motivo pelo qual essa premissa inicial se faz necessária.


da Silva

2. A CONCEPÇÃO EVOLUTIVA DO CONCEITO DE HOMEM DE FÁBIO KONDER


Gouvea da

COMPARATO
Eliovaine Gouvea

Fábio Konder Comparato, por sua obra “A afirmação histórica dos direitos humanos”, é o autor
Eliovaine

nacional de maior destaque que utiliza a abordagem histórico-evolutiva dos direitos humanos, e, por isso,
será utilizada como base do presente tópico.
Inicialmente, ele aponta a necessidade de entender a evolução do conceito de homem, para,
posteriormente, compreender a ideia de direitos humanos. Para o autor, o conceito de homem pode ser
compreendido através da história em cinco fases:

• Período axialꓼ
• Período medievalꓼ
• A ética kantianaꓼ
• Descoberta valorativaꓼ e
• Período existencialista.

2.1. 1ª Fase: Período Axial

Trata-se do eixo histórico entre os séculos VII e II a. C., em que concomitantemente em diversas
partes do mundo, coexistiram alguns dos maiores doutrinadores da História — Zaratustra, na Pérsia, Buda
na Índia, Confúcio e Lao-Tsé na China, Pitágoras na Grécia e Isaías em Israel — que abandonaram as

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

explicações mitológicas do mundo e fixaram diretrizes fundamentais da vida, seguidas por muitos até hoje
(COMPARATO, 2013, p. 21).
As religiões deixaram, paulatinamente, de ter um caráter nacionalista. Portanto, no período axial, as
ideias de humanidade e igualdade natural são concebidas de forma embrionária (CANOTILHO, 2003, p. 381).
Isso porque, nessa época, a escravidão era considerada natural.
Fabio Konder Comparato (2013, p. 30) destaca também que o surgimento da expressão “pessoa
humana” fecha tal período. Ela surgiu na primeira discussão conceitual entre os doutores da Igreja Católica
e não ocorreu a respeito do ser humano, mas, sim, sobre a identidade de Jesus Cristo.
Em 325 d.C., no primeiro concílio ecumênico, em Niceia, os padres concluíram que Jesus não
apresentava nem uma natureza exclusivamente divina e nem uma unicamente humana, mas, sim, uma
natureza dupla: humana e divina, reunidas em uma única pessoa, ou seja, em uma só aparência. Daí a
expressão “pessoa humana”.

2.2. 2ª Fase: Período Medieval

Boécio, no século VI, rediscutindo o dogma de Niceia, concluiu que uma pessoa é a substância
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individual da natureza racional. Portanto, a pessoa não é o exterior, a máscara, mas, sim, a substância. “A
forma que molda a matéria e que dá ao ser de um determinado ente individual as características de
permanência e invariabilidade” (COMPARATO, 2013, p. 32).
São Tomás D’Aquino na Summa Theologiae, adotando a definição boeciana, conclui que o homem é
composto de substância espiritual e corporal. Essa igualdade em essência da pessoa humana forma o
chamado núcleo dos direitos humanos.
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Do fundamento de igualdade entre os homens, os canonistas medievais concluíram que existem


direitos que são próprios ao homem, por sua própria natureza, e não por uma criação política.
Com base nesse fundamento, esses pensadores passaram a defender que todas as leis contrárias ao
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direito natural não teriam força jurídica (vigência).


da Silva

2.3. 3ª Fase: Ética Kantiana


Gouvea da
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Immanuel Kant defende que apenas o ser racional possui a faculdade de agir segundo a
representação de leis ou princípios. Um ser racional é dotado de vontade, que é uma espécie de razão,
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chamada de razão prática.


Quando um ser racional compreende algo como obrigatório para a vontade, ele representa tal ordem
ou comando por meio de um imperativo, que para Kant pode ser de dois tipos:

• Imperativo hipotético: representa a necessidade prática de uma ação possível. É considerado


como meio de se conseguir algo.
• Imperativo categórico: representa uma ação como sendo necessária em si mesma, sem relação
com qualquer finalidade exterior a ela.
Para Kant, coisas têm preço e, como tal, podem ser substituídas. Aquilo que não tem preço tem
dignidade. O ser humano, por ser racional, é insubstituível, e, portanto, dotado de dignidade.
Os seres dotados de razão são denominados pessoas e não podem servir como meio em função de
seu livre arbítrio, são, portanto, um fim em si mesmo:
No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um
preço, pode-se por em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa
está acima de todo o preço, e, portanto não permite equivalente, então tem ela dignidade.
O que se relaciona com as inclinações e necessidades gerais do homem tem um preço venal;
aquilo que, mesmo sem pressupor uma necessidade, é conforme a um certo gosto, isto é a

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uma satisfação no jogo livre e sem finalidade das nossas faculdades anímicas, tem um preço
de afeição ou de sentimento (Affektionspreis); aquilo porém que constitui a condição só
graças à qual qualquer coisa pode ser um fim em si mesma, não tem somente um valor
relativo, isto é um preço, mas um valor íntimo, isto é dignidade.
Ora a moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional um fim em si mesmo,
pois só por ela lhe é possível ser membro legislador no reino dos fins. Portanto a
moralidade, e a humanidade enquanto capaz de moralidade, são as únicas coisas que têm
dignidade (KANT, 2007, p. 77).

Para Fabio Konder Comparato (2013, p. 37), a ideia de se tratar alguém como um fim em si mesmo
implica em um dever negativo de não prejudicar ninguém, e, também, em um dever positivo para favorecer
a felicidade alheia. Essa dupla concepção é essencial para a compreensão das dimensões positivas e
negativas de todos os direitos fundamentais.

2.4. 4ª Fase: A descoberta do mundo dos valores

Para Nietzsche o bem e o mal não se encontram confinados a objetos ou ações exteriores à nossa
personalidade, mas, sim, a uma avaliação (COMPARATO, 2013, p. 37).
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Trata-se de uma preferência que cada indivíduo tem sobre os bens da vida. As pré-compreensões
dos seres humanos surgem de suas avaliações individuais dos bens da vida.
O ser humano é, portanto, o único ser vivo que dirige sua vida em função de preferências valorativas.
As pessoas, em função de valores éticos que apreciam, se submetem voluntariamente a essas normas
valorativas, tornando-se “legisladores universais” (COMPARATO, 2013, p. 38).
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Com essa virada de compreensão, os direitos humanos passaram a corresponder a um conjunto de


valores hierarquicamente superiores, prevalecentes no meio social (COMPARATO, 2013, p. 39).
Porém, essa hierarquia social nem sempre é espelhada no ordenamento jurídico, gerando uma
eterna tensão entre a consciência jurídica da coletividade e as normas positivadas pelo Estado.
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2.5. 5ª Fase: O pensamento existencialista


da Silva
Gouvea da

Como última fase, dado conceito de pessoa, Fabio Konder Comparato (2013, p. 39) cita os
Eliovaine Gouvea

ensinamentos existencialistas de Heidegger e Marx.


A essência da personalidade humana não se confunde o papel desempenhado em sua vida. A pessoa
Eliovaine

não é personagem (COMPARATO, 2013, p. 39). A identidade de cada pessoa é inconfundível.


Para Heidegger, ainda que seja possível morrer em lugar de outro, é impossível assumir a experiência
existencial da morte alheia.
Marx, por sua vez, ressaltava que o homem não é um ser abstrato, ancorado fora do mundo. O
homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade.
Ambas as afirmações querem dizer que o homem tem como característica ser um ser-no-mundo.
Apesar de dotado de razão, é após o nascimento, na sua interação social, que o homem se constrói.
A característica de cada um é moldada por todo o peso do passado, mas não deixa de ser evolutivo.
O ser humano é um contínuo devir. O ser humano evolui, mas está em eterna transformação. Ele tem como
característica singular ser permanentemente inacabado (COMPARATO, 2013, p. 42).
Portanto, surge a noção de historicidade dos direitos humanos. Eles estão sempre em evolução,
porque o homem não é um ser finito.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

3. ANTECEDENTES HISTÓRICOS

É possível aferir antecedentes dos direitos fundamentais próximos e remotos. Os remotos são
aqueles previstos no período axial, como as leis atenienses e a própria Bíblia.
A Magna Charta Libertatum, de 15 de junho de 1215, rigorosamente falando, é uma carta de
franquia medieval do rei João Sem Terra aos barões ingleses. Contudo, em função de sua redação, a
interpretação do texto passou a servir como base de diversos documentos posteriores. André Ramos Tavares
(2017, p. 340) destaca que a redação inicial se referia a “qualquer barão”, mas essa expressão foi alterada
para “qualquer homem livre”. Também na história inglesa outros documentos são importantes:

• Petition Rights, de 1628;


• Habeas corpus Act, de 1679;
• Bill of Rights, de 1689.

Nos Estados Unidos, após a declaração da independência das 13 Colônias, ficou decidido que os
novos Estados deveriam adotar suas próprias constituições. O Estado da Virgínia apresentou uma Declaração
de Direitos, na convenção de 12 de junho de 1776, sob a influência de James Madison. A Declaração de
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Direitos da Virgínia (Declaração do bom povo da Virgínia) adotou uma fundamentação jusnaturalista
justificar os referidos direitos dizendo:
Todos os homens são, por natureza, igualmente livres e independentes e têm direitos
inatos, os quais, entrando em sociedade, não podem, mediante convenção, privar ou
espoliar a posteridade, a saber, o gozo da vida, da liberdade, mediante a aquisição e a posse
da propriedade, e o direito de buscar e obter felicidade e segurança.
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A Constituição americana de 1787 não trouxe, em sua redação originária, uma declaração de
direitos. Foram as 10 primeiras emendas constitucionais, de 1791, que acrescentaram o Bill of Rights ao
documento.
Na França, Gilbert du Motier, o marquês de La Fayette, propôs à Assembleia Nacional de 1789 a
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elaboração de uma Constituição para a França, bem como a de uma declaração de direitos. A Declaração da
Virgínia foi a fonte inspiradora para o documento francês. André Ramos Tavares ressalta que a declaração
da Silva

francesa incorreu em um vício de linguagem ao utilizar um vocabulário descritivo, enquanto que, na verdade,
Gouvea da

ela teria natureza constitutiva de direitos.


Eliovaine Gouvea

Georg Jellinek tem uma obra clássica que compara as duas declarações. Para o autor, o documento
francês destaca intensamente a igualdade perante a lei; já o americano apenas menciona essa igualdade, em
Eliovaine

função de sua obviedade na experiência das colônias. A declaração francesa não teria trazido nenhuma
novidade, deixando ainda de mencionar o direito de associação, de reunião, de liberdade de circulação e o
direito de petição. Em relação à liberdade de expressão, a declaração francesa é tímida e não toca a liberdade
religiosa, como a americana, mas, sim, a tolerância. Em comum, ambas declarações visam à definição de
limites do poder do Estado.
O segundo grande período histórico seria o da virada dos Estados do modelo liberal para o social. Ao
final da Primeira Guerra Mundial, identificadas as falácias do modelo capitalista — em especial a ilusória
“mão invisível” do mercado, que por si só, chegaria ao equilíbrio —, os Estados passam a ter uma postura
ativa, intervindo na economia e prestando serviços públicos.
A primeira constituição social foi a mexicana de 1917, mas a mais importante, sob esse aspecto, foi
a Constituição de Weimar, de 1919.
A Constituição de Weimar trazia um rol de direitos liberais como:

• Igualdade perante a lei (art. 109);


• Liberdade de locomoção (art. 111);
• Direito das minorias linguísticas (art. 113);
• Princípio da legalidade (art. 114);

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

• Inviolabilidade do domicílio (art. 115);


• Irretroatividade da lei penal (art. 116);
• Inviolabilidade da correspondência e das comunicações telegráficas e telefônicas (art. 117);
• Liberdade de reunião (art. 123);
• Liberdade de expressão (art. 118).

Por outro lado, a “inovação” da Constituição de Weimar foi a previsão dos direitos sociais:

• Proteção à família e à maternidade (art. 119);


• Acesso gratuito à arte, à ciência e à educação (art. 142);
• Prestação de educação pública para os jovens (art. 143);
• Obrigatoriedade da educação básica (art. 145);
• Direitos trabalhistas (arts. 157-165);
• Direitos previdenciários (art. 161).

Ademais, Luís Roberto Barroso (2020, p. 57) ensina que a Constituição Alemã de 1919 previa que a
economia deveria ser “organizada sobre os princípios da justiça”, com o propósito de realizar a “dignidade
para todos” (art. 151). Instituindo também a função social da propriedade, ao utilizar a expressão “a
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propriedade obriga” (art. 153).


Em âmbito nacional, a Constituição de 1934 é considerada uma constituição social, influenciada
diretamente pela Constituição de Weimar.
Concomitante ao surgimento dos direitos sociais em âmbito nacional — ao final da Primeira Guerra
Mundial, em âmbito internacional — fecha-se o que Fabio Konder Comparato (2013, p. 67) chama de
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primeira fase de internacionalização dos direitos humanos.


Flávia Piovesan (2020, p. 203) explica que essa primeira fase do processo de internacionalização dos
direitos humanos é composta pelos tratados de direito humanitário (Convenção de Genebra de 1864 à
Convenção de Genebra de 1929) e pelo surgimento da Liga das Nações e da Organização Internacional do
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Trabalho (OIT). Através desses marcos, o conceito de soberania estatal é redefinido, alçando-se o indivíduo
ao status de sujeito do direito internacional.
da Silva

O direito humanitário tem por fim limitar a atuação estatal durante as guerras, observando direitos
Gouvea da

fundamentais dos militares postos fora de combate e das populações civis (PIOVESAN, 2020, p. 204). A Liga
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das Nações buscou a promoção da cooperação, da paz e da segurança entre os Estados, condenando a
agressão interna e defendendo a integridade territorial e a independência de seus membros, contando ainda
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com previsões genéricas sobre direitos humanos (PIOVESAN, 2020, p. 205). Já a OIT foi criada para promoção
de padrões internacionais mínimos de condições de trabalho e bem-estar (PIOVESAN, 2020, p. 205).
Celso D. de Albuquerque Mello (2002, p. 907) inclui os tratados de proibição ao tráfico de escravos
na primeira fase de internacionalização da proteção dos direitos humanos. O primeiro país a abolir o tráfico
de escravos foi a Dinamarca, em 1792. Já em âmbito internacional, o tratado de Paris de 1814 é o marco
inicial para o fim do tráfico de escravos, sendo sucedido pela declaração no Congresso de Viena de 1815 e
pelo segundo Tratado de Paris, de 1815. A convenção de Saint-Germain de 1919 revogou os tratados
anteriores, obrigando os Estados a pôr fim à escravidão e ao tráfico de escravos (MELLO, 2002, p. 908), sendo
sucedida por um tratado firmado no seio da Liga das Nações em 1926.
O final da Segunda Guerra Mundial gera efeitos na proteção dos direitos humanos, tanto do ponto
de vista nacional quanto internacional.
As constituições pós-guerra implementam o chamado Estado Democrático de Direito, em que
consolidam as conquistas das constituições liberais e sociais, ao passo que buscam dar maior efetividade ao
texto constitucional, reforçando o princípio da supremacia da Constituição em contraposição ao princípio
da legalidade. Passa-se a dar maior ênfase à participação popular através de instrumentos diretos do
exercício da democracia como plebiscitos, referendos e a iniciativa popular. Tanto a Lei Fundamental de
Bonn, de 1949, e a Constituição brasileira de 1988 são exemplos dessa nova etapa do constitucionalismo.

11
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Em âmbito internacional surge o moderno Direito Internacional dos Direitos Humanos (PIOVESAN,
2020, p. 210). A violação dos direitos humanos deixa de ser uma questão doméstica com o surgimento dos
sistemas de proteção de âmbito global (ou onusiano) e os sistemas regionais de proteção dos direitos
humanos.
São criadas múltiplas fontes normativas e de sistemas de proteção dos direitos humanos,
destacando-se, em âmbito global, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, o Pacto
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais
e Culturais de 1966. Já de âmbito regional, temos os sistemas de proteção da Carta da Organização dos
Estados Americanos (OEA) e da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH), também conhecida
como Pacto de San José da Costa Ricaꓼ os sistemas europeus de proteção dos direitos humanos (da Corte
Europeia de Direitos Humanos e do Tribunal, de âmbito internacional, e do Tribunal de Justiça da União
Europeia, de âmbito comunitário) ꓼ e o sistema africano pela Corte Africana dos Direitos Humanos e dos
Povos.
Por fim, no ano de 2002 entrou em vigor o Estatuto de Roma, que cria o Tribunal Penal Internacional,
o qual busca a proteção dos direitos humanos pelo combate à impunidade.
Considerando esse cenário de coexistência normativa e de sistemas protetivos (complementares e
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subsidiários), vivenciamos atualmente uma verdadeira proteção multinível dos direitos humanos (URUEÑA,
2014).

QUESTÕES
1. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-DF - Escrivão de Polícia) Foi no período pós-Segunda Guerra Mundial
que, pela primeira vez na história, foram positivados direitos humanos, em uma tentativa de
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reconstrução da sociedade marcada pelas atrocidades cometidas no regime nazista.

2. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-DF - Escrivão de Polícia) Ainda antes de Cristo, foram lançados os
primeiros fundamentos intelectuais da igualdade essencial entre todos os homens e, por conseguinte,
Silva -- CPF:

da afirmação da existência de direitos universais.


da Silva

3. (CESPE/CEBRASPE - 2019 - PRF - Policial Rodoviário Federal) Todos os direitos humanos foram
Gouvea da

afirmados em um único momento histórico.


Eliovaine Gouvea

4. (CESPE/CEBRASPE - 2012- PRF - SEDU-ES) Apesar de assegurar as liberdades individuais, a Declaração


Eliovaine

dos Direitos do Homem e do Cidadão não foi, por si só, capaz de impedir o surgimento do processo
revolucionário conhecido como Terror.

5. (CESPE/CEBRASPE - 2019 - PRF - Policial Rodoviário Federal) As pessoas naturais que violam direitos
humanos continuam a gozar da proteção prevista nas normas que dispõem sobre direitos humanos.

6. (VUNESP - 2018 - MPE-SP - Analista Jurídico do Ministério Público) Em relação ao conceito, evolução
histórica e dimensões dos Direitos Humanos, assinale a alternativa correta.
a) As Declarações americana (1776) e francesa (1789) são documentos relacionados aos direitos
humanos de segunda geração ou dimensão.
b) As distinções apresentadas na doutrina entre as expressões direitos humanos e direitos fundamentais
são focadas na ideia de que os direitos humanos são absolutos ao passo que os direitos fundamentais
podem ser relativizados no caso concreto.
c) A expressão “direitos humanos” ou “direitos do homem” é reservada aos direitos relacionados com
posições básicas das pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Estado. São direitos que vigem
numa ordem jurídica concreta, sendo, por isso, garantidos e limitados no espaço e no tempo, pois são
assegurados na medida em que cada Estado os consagra.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

d) Na visão majoritária da doutrina, a Declaração Universal dos Direitos Humanos não é um tratado
internacional, no sentido formal, e, apesar de orientar as relações sociais no âmbito da proteção da
dignidade da pessoa humana, não possui, em si, força vinculante.
e) Os direitos humanos de quarta geração ou dimensão são os direitos difusos relacionados à sociedade
atual, a exemplo do direito ambiental, frequentemente violados sob os mais diversos aspectos.

7. (VUNESP - 2018 - PC-SP - Delegado de Polícia) No tocante à temática dos direitos humanos,
considerando seu surgimento e sua evolução histórica, assinale a alternativa que contempla correta e
cronologicamente seus marcos históricos fundamentais.
a) O iluminismo, o constitucionalismo e o socialismo.
b) O cristianismo, o socialismo e o constitucionalismo.
c) A Magna Carta, a Constituição Alemã de Weimar e a Declaração de Independência dos Estados Unidos
da América.
d) A Magna Carta, a queda da Bastilha na França e a criação da Organização das Nações Unidas.
e) O iluminismo, a Revolução Francesa e o fim da Segunda Guerra Mundial.
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8. (FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto) A formação do Estado Moderno está
intimamente relacionada à intolerância religiosa, cultural, à negação da diversidade fora de
determinados padrões e de determinados limites. Como a proteção dos direitos humanos está
diretamente relacionada à atuação do poder dos Estados na ordem interna ou internacional, podemos
concluir que:
I. Ao lado do ideário iluminista da formação política do Estado, o discurso judaico-cristão criou o
pano de fundo para controlar as esferas da vida das pessoas no campo jurídico.
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II. A uniformização de valores, normalmente estandardizados, como a democracia representativa, a


ética e a moral, irá refletir nos fundamentos do direito moderno.
III. O sistema jurídico e político europeu é o modelo civilizatório ideal e universal, visto ter surgido da
falência do sistema feudal, que era descentralizado, multiético e multilinguístico.
Silva -- CPF:

IV. O mundo uniforme e global de hoje insere-se no contexto de afirmação do Estado nacional que
está condicionado, em sua existência, à intolerância com o diferente.
da Silva

Estão CORRETAS apenas as assertivas:


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

a) I, II e III.
b) I, II e IV.
c) I, III e IV.
Eliovaine

d) II, III e IV.

9. (FCC - 2018 - DPE-RS - Defensor Público) De acordo com a historiadora americana Lynn Hunt, os
direitos permanecem sujeitos a discussão porque a nossa percepção de quem tem direitos e do que
são esses direitos muda constantemente. A revolução dos direitos humanos é, por definição, contínua
(A Invenção dos Direitos Humanos; uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 2009, p. 270). Em
relação à evolução histórica do regime internacional de proteção dos direitos humanos, considere as
assertivas abaixo.
I. A Magna Carta (1215) contribuiu para a afirmação de que todo poder político deve ser legalmente
limitado.
II. O Habeas Corpus Act (1679) criou regras processuais para o habeas corpus e robusteceu a já
conhecida garantia.
III. Na Declaração de Independência dos Estados Unidos (1776) percebe-se que a dignidade da pessoa
humana exige a existência de condições políticas para sua efetivação.
IV. O processo de universalização, sistematização e internacionalização da proteção dos direitos
humanos intensificou-se após o término da 2ª Guerra Mundial.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Está correto o que consta de:


a) I, II, III e IV.
b) I, II e III, apenas.
c) I, III e IV, apenas.
d) II, III e IV, apenas.
e) I e IV, apenas.

10. (UECE-CEV - 2017 - SEAS – CE) Atente ao seguinte excerto: “O marco mais significativo da formação
do Direito Internacional dos Direitos Humanos [...], a partir do qual o tema entrou definitivamente na
agenda internacional e se tornou objeto de vasta regulamentação no Direito das Gentes e da atenção
de vários foros internacionais e internos, bem como referência mínima, às quais deveriam se
conformar todas as ordens jurídicas nacionais, e marco jurídico com pretensão de prevalência sobre
valores tradicionais no Direito Internacional, como a soberania nacional, a não intervenção em
assuntos internos e a vontade estatal”. O excerto acima se refere:
a) à Segunda Guerra Mundial.
b) à Revolução Francesa.
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c) à Revolução Industrial.
d) ao Iluminismo.

11. (UECE-CEV - 2017 - SEAS – CE) Atente ao seguinte enunciado: “[...] também guiada pelo ideário
iluminista, veio a consagrar inúmeros direitos da pessoa, em documentos como a Declaração dos
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Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, e as Constituições de 1791 e de 1793, que reconheceram


expressamente a liberdade e a igualdade inerentes ao ser humano, bem como a necessidade de limitar
os poderes estatais, de modo a que estes não interferissem na esfera de liberdade dos indivíduos”. No
que diz respeito a direitos humanos, o enunciado acima faz referência ao legado resultante da:
a) Revolução Inglesa.
Silva -- CPF:

b) Revolução Francesa.
da Silva

c) Revolução Industrial.
d) Primeira Guerra Mundial.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

12. (FEPESE - 2016 - SJC-SC) Analise o texto abaixo: “A internacionalização dos direitos humanos constitui,
Eliovaine

assim, movimento extremamente recente na história, que surgiu a partir do pós-guerra, como
resposta às atrocidades e aos horrores cometidos durante o nazismo. […] No momento em que os
seres humanos se tornam supérfluos e descartáveis, no momento em que vige a lógica da destruição,
em que cruelmente se abole o valor da pessoa humana, torna-se necessária a reconstrução dos
direitos humanos, como paradigma ético capaz de restaurar a lógica do razoável. […] Diante dessa
ruptura, emerge a necessidade de reconstruir os direitos humanos, como referencial e paradigma
ético que aproxime o direito da moral.” PIOVESAN, 2013, p. 190 O texto de Flávia Piovesan se refere
ao processo de internacionalização dos direitos humanos no cenário global e sua reconstrução a partir
do final da:
a) Guerra Fria.
b) Revolução Francesa.
c) Revolução Americana.
d) Primeira Guerra Mundial.
e) Segunda Guerra Mundial.

13. (FCC - 2016 - DPE-BA - Defensor Público) Com relação à origem histórica dos direitos humanos, um
grande número de documentos e veículos normativos podem ser mencionados, dentre eles é correto

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

afirmar que cada um dos documentos abaixo mencionados está relacionado com um direito humano
específico, com EXCEÇÃO de:
a) Declaração de Direitos do Estado da Virgínia, 1776, que disciplinou os direitos trabalhistas e
previdenciários como direitos sociais.
b) Declaração de Direitos (Bill of Rights), 1689, que previu a separação de poderes e o direito de petição.
c) Convenção de Genebra, 1864, que teve relevante destaque no tratamento do direito humanitário.
d) Constituição de Weimar, 1919, que trouxe a igualdade jurídica entre marido e mulher, equiparou os
filhos legítimos aos ilegítimos com relação à política social do Estado.
e) Constituição Mexicana, 1917, que expandiu o sistema de educação pública, deu base à reforma agrária
e protegeu o trabalhador assalariado.

14. (MPT - 2015 - MPT - Procurador do Trabalho) Qual das seguintes cláusulas NÃO CONSTA da Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 proclamada durante a Revolução Francesa:
a) A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do
homem. Esses direitos são a liberdade, a propriedade, a segurança e a resistência à opressão.
b) Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela lei e de acordo com
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as formas por esta prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens
arbitrárias devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da lei deve
obedecer imediatamente, caso contrário torna-se culpado de resistência.
c) Todos os homens em idade adulta e no pleno gozo de sua sanidade mental têm direito de votar e ser
votado.
d) A sociedade tem o direito de pedir contas a todo agente público pela sua administração.
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15. (MPT - 2015 - MPT - Procurador do Trabalho) Sobre a evolução histórica dos direitos humanos,
assinale a alternativa correta:
a) O Bill of Rights dos Estados Unidos da América consiste em um rol de direitos fundamentais inserido
Silva -- CPF:

na Declaração de Independência proclamada por Thomas Jefferson em 1776, posteriormente


incorporado aos Artigos da Confederação.
da Silva

b) O Bill of Rights dos Estados Unidos da América constitui-se de normas originárias constantes da
Constituição aprovada na Convenção da Filadélfia em 1787.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

c) O Bill of Rights dos Estados Unidos da América foi inserido somente em 1791 na Constituição
americana, sob a forma de emendas constitucionais.
d) O Bill of Rights formalmente não é uma norma federal nos Estados Unidos da América, mas sim uma
Eliovaine

interpretação extensiva da Declaração de Direitos da Virginia promovida pela jurisprudência da


Suprema Corte americana.

16. (VUNESP - 2014 - PC-SP) Abalados pela barbárie recente e com o intuito de construir um mundo sob
novos alicerces ideológicos, os dirigentes das nações que emergiram como potências no período pós-
guerra, lideradas por URSS e Estados Unidos, estabeleceram, em 1945, as bases de uma futura paz,
definindo áreas de influência das potências e acertaram a criação de uma organização multilateral que
promovesse negociações sobre conflitos internacionais, para evitar guerras, promover a paz e a
democracia, e fortalecer os direitos humanos. A fim de que houvesse esse fortalecimento dos direitos
humanos, foi elaborado documento em 1948, pela Organização das Nações Unidas, denominado:
a) Encíclica Rerum Novarum.
b) Magna Carta.
c) Declaração Universal dos Direitos Humanos.
d) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
e) Declaração do Bom Povo da Virgínia.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

17. (VUNESP - 2014 - PC-SP) Considerando a evolução histórica e cronológica dos direitos humanos em
âmbito internacional, pode-se afirmar que existiram três marcos históricos fundamentais. São eles:
a) o jusnaturalismo, a promulgação da Constituição dos Estados Unidos da América e a independência
do Brasil.
b) a queda do Império Romano, a queda da Bastilha, na França, e a criação da Organização das Nações
Unidas.
c) o Iluminismo, a Revolução Francesa e o término da Segunda Guerra Mundial.
d) o totalitarismo, a queda de Hitler e a Promulgação da Constituição Brasileira de 1988.
e) a criação da Igreja Católica, o constitucionalismo e o fim da Primeira Guerra Mundial.

18. (FCC - 2010 - AL-SP – Procurador) Considere:


I. O primeiro reconhecimento normativo da igualdade essencial da condição humana remonta a 1776 e
1789, com a proclamação das liberdades individuais e da igualdade perante a lei, nos Estados Unidos
e na França revolucionária.
II. A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) marca outra fase de regulamentação dos direitos
do homem, seguindo os moldes liberais clássicos de não intervenção.
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III. A Declaração de Viena (1993) consagra dois aspectos que caracterizam a concepção contemporânea
de direitos humanos: o alcance universal desses direitos e a unidade indivisível e interdependente que
assumem.
Está correto o que se afirma em:
a) I e II, apenas.
b) I, II e III.
c) I e III, apenas.
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d) II, apenas.
e) II e III, apenas.
Silva -- CPF:

19. (FUMARC - 2013 - TJM-MG - Oficial Judiciário) “Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da
Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, como o ideal comum a ser atingido
da Silva

por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade,
tendo sempre em mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e da educação, por promover
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e
internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto
entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua
Eliovaine

jurisdição”. O documento de que trata a conceituação acima é a:


a) Declaração Universal dos Direitos Humanos.
b) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
c) Constituição da República Federativa do Brasil (Preâmbulo).
d) Convenção Interamericana de Direitos Humanos de São José da Costa Rica.

20. (VUNESP - 2014 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) Documento histórico relevante na evolução dos
direitos humanos, elaborado no século XIII, que regulava várias matérias, de sentido puramente local
ou conjuntural, ao lado de outras que constituem as primeiras fundações da civilização moderna, que
considera que o rei se encontra vinculado pelas próprias leis que edita e que traz a essência do
princípio do devido processo legal em seu texto. Tal descrição se refere à:
a) Lei de Habeas corpus (ou Habeas corpus Act).
b) Declaração de Direitos da Inglaterra (ou Bill of Rights).
c) Declaração de Independência dos Estados Unidos da América.
d) Magna Carta (ou Magna Charta Libertatum).
e) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

21. (CESPE/CEBRASPE - 2012 - DPE-ES - Defensor Público) A concepção contemporânea dos direitos
humanos surgiu com o término da Primeira Grande Guerra Mundial.

22. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Investigador de Polícia) Dentre os documentos reconhecidos


internacionalmente e que limitaram o poder do governante em relação aos direitos do homem,
encontra-se o mais remoto e pioneiro antecedente que submetia o Rei a um corpo escrito de normas,
procurava afastar a arbitrariedade na cobrança de impostos e implementava um julgamento justo aos
homens. Esse importante documento histórico dos direitos humanos denomina-se:
a) Talmude.
b) Magna Carta da Inglaterra.
c) Alcorão.
d) Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França.
e) Bill of Rights.

4. DIREITOS HUMANOS E AS TEORIAS DO DIREITO


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4.1. Jusnaturalismo

• Clássico: compreende a existência de direitos objetivos anteriores à sua positivação pelo Estado. Os
seres humanos são dotados de direitos outorgados por um ente superior a eles. São Tomas D’Aquino,
por exemplo, desenvolveu sua teoria sobre a lex divina, lex natura e lex positivae. Há uma relação de
hierarquia entre elas. As leis divinas são as criadas por Deus. As leis naturais são leis divinas
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compreendidas através da razão humana. Já as leis positivas são aquelas escritas pelos Estados. Uma
lei positiva não poderia contrariar uma lei natural.
• Moderno: defende a existência de direitos subjetivos naturais, decorrentes, por exemplo, da
racionalidade humana. O ser humano seria titular de direitos por sua própria natureza.
Silva -- CPF:

Para ambas as correntes há preceitos jurídicos, como os direitos humanos, que são anteriores e
justificadores do Direito positivo (TAVARES, 2017, p. 345).
da Silva

O processo de positivação dos direitos humanos é a consagração normativa e algo previamente


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

existente. O processo de positivação é declaratório.

4.2. Positivismo
Eliovaine

A própria denominação “direitos naturais” é uma noção sem sentido para os positivistas. A
designação natural implica em aceitação de algo que se sustenta por si só, independentemente de qualquer
fórmula de positivação (TAVARES, 2017, p. 345).
Para os positivistas a positivação de preceitos jurídicos tem natureza constitutiva. Os direitos só
surgem quando são positivados e aceitos pelo Estado. No mais, o que há são expectativas de direitos.
André Ramos Tavares (2017, p. 340), adotando uma posição positivista, aponta que, para se falar de
direitos fundamentais, é necessária a reunião de três elementos:

• Estado: sem o qual a proclamação de direitos não seria exigível;


• Indivíduo: o detentor de tais direitos (ainda que reunido em uma coletividade). É também possível
destinatário das limitações desses direitos;
• Consagração escrita: texto com vigência territorial e superioridade aos demais atos normativos.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

4.3. Realismo

O processo de positivação não é nem declaratório, nem constitutivo. Ele é o ponto de partida para
o desenvolvimento de técnicas de proteção dos direitos fundamentais (TAVARES, 2017, p. 346).
Para essa corrente, as condições sociais determinam o sentido real dos direitos e liberdades, pois
elas condicionam a salvaguarda e proteção desses direitos. Se um direito que se diz fundamental não pode
ser invocado, justiciável ou protegido, ele não existe de fato.
Dentre as teses realistas André de Ramos Tavares (2017, p. 346) cita a da proteção processual dos
direitos fundamentais, em que “as liberdades públicas valem, na prática, o que valem sua garantia”.

4.4. Fundamentação moral

André de Carvalho Ramos (2019, p. 31) aponta que os direitos humanos representam os valores
essenciais de uma comunidade, retratados explicita ou implicitamente nas Constituições e nos tratados
internacionais.
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Portanto, os direitos humanos não retiram sua validade da positivação estatal, mas dos valores
morais da coletividade humana. Eles originam-se e antecedem à própria positivação, sem que se tenha uma
preconcepção fechada, como no jusnaturalismo, considerando que os valores de uma comunidade são
cambiáveis e históricos:
Assim, as normas de conduta são originadas de reflexões morais contidas nos princípios de
qualquer ordenamento jurídico. Os direitos morais são mais do que exigências éticas
oriundas do jusnaturalismo. São títulos, na acepção de pretensão, que permitem exercer
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direitos (RAMOS, 2016, p. 58).

QUESTÃO
23. (FUNDEP - 2019 - DPE-MG - Defensor Público, adaptada) Para a Escola Positivista, os Direitos
Silva -- CPF:

Humanos justificam-se graças a sua validade formal, tendo como fundamento a existência da lei
positiva, cujo pressuposto de validade se encontra em sua edição, conforme as regras estabelecidas
da Silva

na Constituição.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

24. (INSTITUTO AOCP - 2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil) Os direitos humanos constituem matéria
cuja tutela não se reserva unicamente ao âmbito doméstico dos Estados nacionais, mas também ocupa
Eliovaine

lugar na agenda da comunidade internacional. Sobre a teoria contemporânea dos direitos humanos,
assinale a alternativa correta.
a) Os Direitos Humanos de defesa relacionam-se com a prerrogativa de a pessoa solicitar uma conduta
ativa do Estado a fim de promover seus direitos fundamentais.
b) Pode-se afirmar que a concepção contemporânea de Direitos Humanos é marcada pela universalidade
e pela divisibilidade desses direitos.
c) Pode ser conferida interpretação aos artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) de
forma que o exercício de um direito ali previsto anule ou restrinja o exercício de outro, destruindo
esse último direito.
d) Positivistas como Hans Kelsen e Alf Ross afirmam que os direitos humanos são direitos inatos à pessoa,
que decorrem da sua própria condição de ser humano.
e) A partir de um resgate da visão kantiana, a única condição exigida para que alguém seja titular de
Direitos Humanos é sua condição de ser humano.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

5. ASPECTOS TERMINOLÓGICOS

5.1. Os “conceitos” de direitos humanos

Antonio Enrique Pérez Luño (2005, p. 23) afirma que o questionamento sobre o conceito de direitos
humanos parece ser uma questão supérflua, pois o próprio termo evidencia a atribuição de direitos a cada
ser humano. Porém, quando se indaga qual o alcance da expressão, na outorga de direitos para cada pessoa,
ou qual o conjunto de atribuições derivadas desses direitos, o que, vê são divergências profundas e respostas
contraditórias.
Para o autor, a multiplicidade dos usos do termo “direito humanos”, ou de termos correlatos, como
“direitos dos homens”, por diversos setores da sociedade, e com pontos de vistas políticos distintos, acaba
não apenas por alargar seu significado, como também torná-lo impreciso (LUÑO, 2005, p. 24). Norberto
Bobbio (2004, p. 17) destaca que a imprecisão do alcance terminológico do termo “direitos humanos” é
refletida na doutrina, sendo possível distinguir três tipos de definições:
1. Tautológicas: que não trazem nenhum elemento que permita caracterizar tais direitos (RAMOS,
2016, p. 30). Um exemplo desse tipo de conceituação é: “direitos do homem são os que cabem
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ao homem enquanto homem” (BOBBIO, 2004, p. 17).


2. Formais: não especificam o conteúdo dos direitos humanos, limitando-se a indicar algo sobre seu
regime jurídico ou pressuposto (LUÑO, 2005, p. 24). Exemplo: “direitos humanos são aqueles
pertencentes a todos os homens, em virtude de seu regime indisponível e sui generis” (RAMOS,
2016, p. 30).
3. Finalísticas ou teleológicas: utilizam o objetivo ou fim, para definir os direitos humanos,
suscetíveis de diversas interpretações (LUÑO, 2005, p. 24), “estabelecendo os direitos humanos
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como aqueles essenciais para o desenvolvimento digno da pessoa humana” (RAMOS, 2016, p. 31).
Além da inconsistência conceitual, a doutrina trava uma interminável e, porque não dizer, infrutífera
batalha sobre a terminologia a ser adotada: direitos do homem, direitos humanos, liberdades públicas,
direitos subjetivos e direitos públicos subjetivos ou direitos fundamentais.
Silva -- CPF:

5.2. Direitos do homem ou direitos humanos


da Silva
Gouvea da

Atribui-se a Thomas Paine, em 1791, na obra The Rights of Man, a difusão do termo direito do
Eliovaine Gouvea

homem, criado pelo escocês Thomas Spence na obra The Real Rights of Man, de 1775 (TAVARES, 2017, p.
350).
Eliovaine

A ideia básica das expressões direitos humanos, ou direitos do homem, é a compreensão


jusnaturalista de que o ser humano, pelo fato de existir, é dotado de um conjunto de direitos.
Essas expressões são criticadas seja pelo teor jusnaturalista, seja porque não há direitos que não
sejam do homem ou humanos (TAVARES, 2017, p. 348).
Por outro lado, para seus defensores, a expressão “direitos humanos” representa uma inversão da
figura deôntica (TAVARES, 2017, p. 351). A partir deles houve uma passagem de dever do súdito perante o
Estado para uma posição de direito do cidadão oponível ao soberano (LAFER, 1995, p. 140).
Valerio de Oliveira Mazzuoli (2020, ebook, p. 22) faz ainda uma distinção entre as expressões direitos
do homem e direitos humanos. Os primeiros não estariam positivados em textos constitucionais ou tratados
internacionais. Já os segundos, inscritos em tratados internacionais.

5.3. Liberdades públicas

O termo “liberdade pública” aparece, no singular ou no plural, nas Constituições francesas de 1814
e 1852.

19
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Fabio Konder Comparato (2013, p. 75) aponta que, a partir do final do século XVIII e sob a influência
de Benjamin Constant em sua obra “Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos”, a doutrina
distinguiu os termos liberdades públicas — empregando-o com um sentido político de autogoverno — e
liberdades privadas, como instrumentos de defesa do cidadão contra as ingerências estatais.
Assim, o termo direitos do homem tem natureza estritamente jusnaturalista, enquanto que o termo
“liberdades públicas” tem conotação positivista, em que compete ao legislador reconhecer o direito no plano
positivo aos cidadãos (GUERRA, 2020, p. 51).
Ademais, como aponta André de Ramos Tavares (2017, p. 351), a principal crítica refere-se à
imprecisão terminológica, pelo fato de que o termo da ideia de um rol de liberdades que se contrapõe às
liberdades privadas. Ele ainda gera a ideia de um poder de agir, deixando de lado a possibilidade de exigência
de uma atuação por parte do Estado ou de terceiros.
Há autores, como Manoel Gonçalves Ferreira, que identificam as liberdades públicas com os direitos
individuais.

5.4. Direitos subjetivos e direitos públicos subjetivos


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André Ramos Tavares (2017, p. 353) explica que há quem entenda que a expressão “direitos
subjetivos” é ligada a todos os atributos da personalidade, sendo os direitos humanos uma subespécie. Há
ainda aqueles que ligam a expressão direitos subjetivos por um lado estritamente jurídico, no sentido de
prerrogativa estabelecida em conformidade com determinadas regras.
Nesse caso, a impropriedade é a possibilidade de desaparecimento dos direitos humanos, em
função da transferência ou da prescrição.
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Por fim, o termo “direitos públicos subjetivos” carrega consigo uma concepção individualista própria
de um Estado liberal, e, por isso, não abarca todo o universo dos direitos humanos existentes.

5.5. Direitos fundamentais e a distinção aos Direitos Humanos


Silva -- CPF:
da Silva

Para José Afonso da Silva (2010, p. 163), o termo “direitos fundamentais” é justificado, pois se refere
a princípios que resumem a concepção do mundo e informam a ideologia de cada ordenamento jurídico.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

André Ramos Tavares (2017, p. 354), por sua vez, ressalta que o termo também se aproxima da noção de
direitos naturais, no sentido de que a natureza humana seria a portadora de certos direitos fundamentais.
Eliovaine

Ingo Sarlet (2020, p. 315), por sua parte, aponta que o termo “direitos fundamentais” aplica-se aos
direitos reconhecidos na esfera do direito constitucional positivo de um Estado. Tratam-se dos direitos tidos
como mais importantes em uma comunidade, e que serão inscritos nas constituições como fundamentos do
Estado. Já o termo “direitos humanos” é utilizado em documentos de Direito Internacional, pois se refere
às posições jurídicas reconhecidas ao ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com
determinada ordem constitucional (SARLET, p. 2020, p. 315).
Essa distinção formal foi adotada pela Constituição de 1988, em sua redação originária; enquanto o
art. 4º, II, referente aos princípios das relações internacionais, menciona o termo “direitos humanos”, e os
demais dispositivos constitucionais não. O Título II e o art. 5º, §1º utilizam o termo “direitos e garantias
fundamentais”. O art. 5º, LXXI, o termo “direitos e liberdades constitucionais” e o art. 60, §4º, IV, a expressão
“direitos e garantias individuais”.
Após a Emenda Constitucional nº 45/2004, essa distinção foi mantida, ainda que de forma um pouco
mais tênue. Afinal, a redação do art. 5º, §3º utiliza a terminologia “tratado internacional de direitos
humanos”, mas o art. 109, V-A utiliza o termo “direitos humanos”, fazendo remissão ao art. 109, §5º, que,
por sua vez, refere-se à “finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte”.
Dessa distinção meramente formal pode-se chegar às seguintes conclusões:

20
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

• Direitos fundamentais e direitos humanos têm o mesmo fundamento material (a dignidade


humana);
• É possível o reconhecimento de direitos fundamentais, em uma ordem constitucional, que ainda
não tenham sido positivados em um documento internacional, assim como um direito positivado
em um tratado internacional que não tenha correlação em uma ordem constitucional.
Porém, considerando que tanto os tratados internacionais (a exemplo do artigo 29 da Convenção
Americana de Direitos Humanos), quanto as constituições modernas (vide CF/88, art. 5º, §2º) têm cláusulas
de abertura ou comunicabilidade, com o intuito de abarcar a maior proteção ao ser humano. Para fins
didáticos, não seria equivocado reputar como sinônimos os termos direitos humanos e direitos
fundamentais. Essa posição foi adotada pela própria Corte Interamericana de Direitos Humanos, na opinião
consultiva nº 16:
76. Por outro lado, o México não solicita ao Tribunal que interprete se o objeto principal da
Convenção de Viena sobre Relações Consulares é a proteção dos direitos humanos, mas se
uma norma desta Convenção diz respeito a esta proteção, ou adquire relevância à luz da
jurisprudência consultiva deste Tribunal, que interpretou que um tratado pode dizer
respeito à proteção dos direitos humanos, com independência de qual seja seu objeto
principal. Portanto, ainda quando são exatas algumas apreciações apresentadas ao Tribunal
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sobre o objeto principal da Convenção de Viena sobre Relações Consulares, no sentido de


que esta é um tratado destinado a “estabelecer um equilíbrio entre os Estados”, isto não
obriga a descartar, de plano, que este Tratado possa dizer respeito à proteção dos direitos
fundamentais da pessoa no continente americano (CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS
HUMANOS, 1999).

ATENÇÃO!
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Não obstante a predileção em tratar os termos direitos humanos e direitos fundamentais como
sinônimos, em provas de concurso, principalmente na fase objetiva, é comum a cobrança da distinção
formal entre os termos. Portanto, para fins de prova, deve-se considerar o termo direitos humanos para
a positivação de direitos em tratados internacionais e o termo direitos fundamentais para a positivação
Silva -- CPF:

de direitos nas constituições.


da Silva

QUESTÕES
Gouvea da

25. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-SC - Promotor de Justiça Substituto) Os direitos humanos são todos
Eliovaine Gouvea

os direitos previstos em legislação nacional ou acordos e tratados internacionais que dizem respeito à
proteção da pessoa, ao passo que os direitos fundamentais são aqueles que têm como fundamento a
Eliovaine

dignidade da pessoa humana, estejam ou não positivados.

26. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-AL - Escrivão de Polícia) Os direitos humanos são os direitos básicos
essenciais à vida.

27. (CESPE/CEBRASPE - 2019 - CGE - CE – Auditor) A respeito dos marcos históricos, fundamentos e
princípios dos direitos humanos, assinale a opção correta.
a) Segundo a doutrina contemporânea, direitos humanos e direitos fundamentais são indistinguíveis; por
isso, ambas as terminologias são intercambiáveis no ordenamento jurídico.
b) Os direitos humanos estão dispostos em um rol taxativo, que foi internalizado pelo ordenamento
jurídico brasileiro com a promulgação da Constituição Federal de 1988.
c) No Brasil, os direitos políticos são considerados direitos humanos e seu exercício pelos cidadãos se
esgota no direito de votar e de ser votado.
d) A dignidade da pessoa humana, princípio basilar da Constituição Federal de 1988, é fundamento dos
direitos humanos.
e) Em razão do princípio da imutabilidade, os direitos humanos reconhecidos na Revolução Francesa
permanecem os mesmos ainda na atualidade.

21
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

28. (MPE-SC - 2016 - MPE-SC - Promotor de Justiça) Conceitualmente, os direitos humanos são os direitos
protegidos pela ordem internacional contra as violações e arbitrariedades que um Estado possa
cometer às pessoas sujeitas à sua jurisdição. Por sua vez, os direitos fundamentais são afetos à
proteção interna dos direitos dos cidadãos, os quais encontram-se positivados nos textos
constitucionais contemporâneos.

29. (ESAF - 2012 - CGU - Analista) Direitos Humanos, Direitos Fundamentais e Direitos do Homem não
possuem o mesmo significado. Assim, a primeira nomenclatura surgida foi a dos Direitos
Fundamentais, a qual remonta a época do jusnaturalismo.

30. (Prefeitura de Campinas - SP - 2016 - Prefeitura de Campinas) A diferença entre direitos humanos e
direitos de cidadania é que os
a) direitos de cidadania são sinônimos dos direitos humanos não havendo, portanto, diferenças entre
eles.
b) direitos humanos são restritos e os direitos de cidadania são amplos envolvendo todos que convivem
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num mesmo território.


c) direitos humanos são direitos assegurados aos cidadãos quando estão fora de seu país, enquanto os
direitos de cidadania são garantidos dentro do território de nacionalidade de cada indivíduo.
d) direitos humanos pertencem a todos os sujeitos, são universais e naturais, enquanto os direitos de
cidadania são próprios aos naturais de um país.
e) direitos humanos estão garantidos na Constituição Federal, enquanto os direitos de cidadania constam
das Constituições dos Estados e das Leis Orgânicas dos Municípios.
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31. (MPE-SP - 2019 - MPE-SP - Promotor de Justiça Substituto) Em relação aos direitos humanos, é correto
afirmar:
Silva -- CPF:

a) São aqueles previstos no plano interno dos Estados pelas Cartas Constitucionais.
b) São aqueles que ainda não estão expressamente previstos no direito interno ou no direito
da Silva

internacional.
c) São menos amplos que os direitos fundamentais quanto à proteção dos direitos individuais.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

d) São aqueles protegidos pela ordem internacional.


e) Podem sofrer limitações em razão de interesse dos Estados.
Eliovaine

32. (FCC - 2019 - AFAP - Analista de Fomento – Advogado) Considere o seguinte excerto da obra
doutrinária ao final identificada:
“Outra característica associada aos direitos fundamentais diz com o fato de estarem consagrados
em preceitos da ordem jurídica. Essa característica serve de traço divisor entre as expressões direitos
fundamentais e direitos humanos.
A expressão “direitos humanos”, ou direitos do homem, é reservada para aquelas reivindicações
de perene respeito a certas posições essenciais ao homem. São direitos postulados em bases
jusnaturalistas, contam índole filosófica e não possuem como característica básica a positivação numa
ordem jurídica particular.
A expressão “direitos humanos”, ainda, e até por conta da sua vocação universalista,
supranacional, é empregada para designar pretensões de respeito à pessoa humana, inseridas em
documentos de direito internacional.
Já a locução “direitos fundamentais” é reservada aos direitos relacionados com posições básicas
das pessoas, inscritos em diplomas normativos de cada Estado. São direitos que vigem numa ordem
jurídica concreta, sendo, por isso, garantidos e limitados no espaço e no tempo, pois são assegurados na

22
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

medida em que cada Estado os consagra.” (MENDES, Gilmar Ferreira e BRANCO, Paulo Gustavo Gonet.
Curso de Direito Constitucional, 13.ed., São Paulo: Saraiva Educação, 2018, p. 147)
Com base no texto transcrito,
a) não há como distinguir doutrinariamente as expressões direitos fundamentais e direitos humanos,
dada a vocação universalista da proteção da pessoa humana, reconhecida nos documentos do direito
internacional.
b) a expressão “direitos humanos” possui natureza universalista, oriunda de uma concepção filosófica
derivada do Direito Natural.
c) a expressão “direitos humanos” diz respeito ao direito positivado por cada Estado soberano e, por
essa razão, se afasta das concepções jusnaturalistas.
d) a expressão “direitos humanos”, dado o caráter nacional da positivação jurídica, não constitui objeto
do Direito Internacional Público.
e) por se tratar de concepção filosófica jusnaturalista, não limitada ao tempo e ao espaço, os direitos
fundamentais não possuem conteúdo jurídico.
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6. DUPLA FUNDAMENTALIDADE DOS DIREITOS HUMANOS/FUNDAMENTAIS

André de Tavares Ramos (2020, p. 31) aponta que, em virtude de sua importância, os direitos
fundamentais têm uma proteção especial nos ordenamentos dos Estados.
Aquilo que os justifica como fundamentais são suas circunstâncias de fundamentalidade, que são,
simultaneamente formal e material.
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A fundamentalidade formal está ligada ao direito constitucional ou internacional positivo, pois


relaciona-se com os seguintes elementos:

• Do ponto de vista interno, sendo parte integrante de Constituição, os direitos fundamentais são
Silva -- CPF:

hierarquicamente superiores às normas infraconstitucionais;


• Considerando o disposto no art. 60, §4º da Constituição de 1988, os direitos fundamentais são
da Silva

cláusulas pétreas, e, como tal, limitam o exercício do poder constituinte derivado;


• Ainda em âmbito constitucional brasileiro, o art. 5º, §1º impõe aplicabilidade direta e imediata
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

dos direitos fundamentais, de modo que sua oponibilidade independe de complementação


infraconstitucional;
• Em âmbito internacional, as normas de proteção dos direitos humanos são inseridas como
Eliovaine

normas de jus cogens (MIRANDA, 2009, p. 123) e, como tal, não podem ser derrogadas pela
vontade dos Estados.
A fundamentalidade material diz respeito ao conteúdo dos direitos, à posição de decisão política
fundamental da sociedade, que os eleva ao status de normas estruturantes do Estado.
Por isso, é possível haver um direito fundamental em um determinado Estado e não em outro, pois
a experiência constitucional de ambos é distinta. Aquilo que é fundamental para um nem sempre será para
outro Estado.

7. DIMENSÕES DE ABERTURA

André Ramos Tavares (2017, p. 364) afirma que não há um rol fechado (numerus clausus) nas
constituições, motivo pelo qual sua proteção é dinâmica, flexível ou móvel.
Busca-se evitar o engessamento ou a petrificação dos direitos fundamentais.
No âmbito da proteção dos direitos humanos, adota-se, portanto, o princípio da não tipicidade
(TAVARES, 2017, p. 365), que pode ser ilustrado pelo art. 5, §2º da Constituição de 1988:

23
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Art. 5º (...)
§2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes
do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte.

Em âmbito internacional, os tratados de direitos humanos também trazem cláusulas de


comunicabilidade, possibilitando a melhor proteção possível aos direitos fundamentais, a exemplo do artigo
29 da Convenção Americana dos Direitos Humanos:
Artigo 29. Normas de Interpretação
Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada no sentido de:
a) permitir a qualquer dos Estados-Partes, grupo ou pessoa, suprimir o gozo e exercício dos
direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a
nela prevista;
b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos
de acordo com as leis de qualquer dos Estados-Partes ou de acordo com outra convenção
em que seja parte um dos referidos Estados;
c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da
forma democrática representativa de governo; e
d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direitos e
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Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma natureza.

Além da abertura expressa, André de Ramos Tavares (2017, p. 365) aponta ainda que a abertura dos
direitos fundamentais fornece ao legislado e ao juiz no caso concreto a atividade criativa na ampliação e
aplicação dos direitos fundamentais.

QUESTÕES
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33. (MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça Substituto) Assinale a alternativa correta:
a) A natureza fundamental dos direitos, no sistema constitucional brasileiro, decorre exclusivamente do
conteúdo dos direitos, ou seja, da circunstância de consubstanciarem decisões fundamentais sobre a
estrutura do Estado e da sociedade.
Silva -- CPF:

b) O sistema constitucional brasileiro alberga direitos fundamentais não expressos no texto


da Silva

constitucional, mas que sejam decorrentes do regime e dos princípios adotados pela Constituição
Gouvea da

Federal.
Eliovaine Gouvea

c) A natureza fundamental dos direitos, no sistema constitucional brasileiro, decorre, exclusivamente, da


opção constituinte de elencá-los como tal em um catálogo de direitos fundamentais.
Eliovaine

d) Outros direitos fundamentais não previstos pelo Constituinte originário podem ser incorporados ao
sistema constitucional brasileiro, por meio de tratados internacionais, ratificados pelo Brasil, os quais,
independentemente da forma da incorporação, terão hierarquia normativa equivalente a emenda
constitucional.

8. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS

Não existe consenso na doutrina quanto às principais características dos direitos humanos.
José Eliaci Nogueira Diógenes Júnior (2012) elenca 16 características dos direitos fundamentais:
universalidade, indivisibilidade, interdependência, interrelacionaridade, imprescritibilidade,
inalienabilidade, irrenunciabilidade, historicidade, vedação ao retrocesso, efetividade, limitabilidade,
inviolabilidade, complementaridade, concorrência, aplicabilidade imediata e constitucionalização.
Já Robert Alexy (2014, ebook, p. 146) aponta cinco características: universalidade,
fundamentalidade, abstração, moralidade e prioritariedade. André de Carvalho Ramos (2016, p. 190)
adiciona características formais, como a superioridade normativa no plano internacional, tratando-os como
normas de jus cogens.

24
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

8.1. Fundamentalidade

Para Robert Alexy (2014, ebook, p. 146), os direitos humanos são fundamentais na medida em que
não protegem todas as fontes e condições do bem-estar, mas apenas os interesses e necessidades
fundamentais.

8.2. Abstração

Tratam-se de direitos abstratos, pois sua significação, no caso concreto, pode ocorrer após uma
longa disputa, apesar de todos sermos detentores de um direito (ALEXY, 2014, ebook, p. 147).

8.3. Moralidade

Os direitos humanos detêm validade apenas moral. Portanto, para o Alexy (2014, ebook, p. 147), a
validade dos direitos humanos é sua existência.
Assim sendo, a validade dos direitos humanos independe de sua positivação, conquanto essa possa
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servir para melhor garanti-los institucionalmente.


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8.4. Prioritariedade

Robert Alexy (2014, ebook, p. 147) aponta que os direitos humanos são prioritários, pois, enquanto
direitos morais, não podem ter sua força invalidada por normas jurídico-positivas, sendo também um padrão
de interpretação das normas positivadas.
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8.5. Inalienabilidade

Para Valerio de Oliveira Mazzuoli (2020, ebook, p. 28) os direitos humanos não podem ser cedidos
Silva -- CPF:

ou transferidos, onerosa ou gratuitamente por seus titulares, sendo inegociáveis.


da Silva

ATENÇÃO!
Gouvea da

Há de se distinguir a inalienabilidade da titularidade dos direitos humanos dos eventuais efeitos


Eliovaine Gouvea

patrimoniais advindos desses direitos. Exemplo: a autoria da música Twist and Shout sempre será de Phil
Medley e Bert Russell, ainda que a sua terceira versão, gravada pelos Beatles, seja a mais famosa. O direito
Eliovaine

autoral dos compositores, bem como a versão dos Beatles, não se confunde com a possibilidade de
comercialização do produto (letra ou música).

8.6. Irrenunciabilidade e imprescritibilidade

Ainda que voluntariamente, o sujeito não pode renunciar de seus direitos humanos. A autorização
do titular não justifica ou convalida eventual violação ao seu conteúdo (MAZZUOLI, 2020, ebook, p. 28).
Ademais, os direitos humanos não serão extintos por seu desuso (ROTHENBURG, 2000).

8.7. Indivisibilidade

Cada direito “constitui uma unidade incindível em seu conteúdo elementar, bem como sob o ângulo
dos diversos direitos fundamentais reconhecidos” (ROTHENBURG, 2000).

25
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

8.8. Interdependência

Antônio Augusto Cançado Trindade (1997), explica que todos os direitos humanos são situados em
um mesmo nível, sejam eles civis, políticos, econômicos, sociais ou culturais, tendo em vista sua
interdependência. Trata-se, portanto, de uma característica derivada da indivisibilidade de tais direitos.

8.9. Historicidade

Norberto Bobbio (2004, p. 13) ensina que o elenco dos direitos humanos se modifica com as
alterações das condições históricas, das carências e dos interesses das classes do poder, e, também, dos
meios disponíveis para sua realização e das transformações técnicas.
Logo, aquilo que era considerado fundamental em uma época ou civilização não é em outra época
ou cultura.
Para Arthur Kaufmann, a historicidade dos direitos humanos não significa apenas que eles estejam
presentes de fato no tempo e na história, mas significa bem mais: que eles têm história e que sua definição
se dá ao longo do tempo e da história, configurando, pois, um “fator de ordenação objetiva e não arbitrária
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para a configuração do Direito” (KAUFMANN, 1998).

8.10. Aplicabilidade imediata

Em âmbito interno, não há dúvidas acerca da aplicabilidade direta e imediata dos direitos
fundamentais, tendo em vista o disposto no art. 5º, §1º da Constituição. Ingo Sarlet (2020, p. 626) destaca
que os direitos sociais também têm aplicabilidade direta, ainda que seu alcance deva ser avaliado em seu
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contexto próprio e em harmonia com outros direitos sociais.


Portanto, ainda que a concretização dos direitos sociais dependa de atividade ulterior, normalmente
legislativa, isso não quer dizer que essa concretização discricionária.
Silva -- CPF:

André de Carvalho Ramos (2016, p. 265), a seu turno, aponta que as normas internacionais devem
ser avaliadas conforme a intenção das partes (mens legislatoris), podendo elas serem autoaplicáveis (self-
da Silva

executing) e não-autoaplicáveis (not-self executing).


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Em relação à Convenção Americana de Direitos Humanos, a própria Corte Interamericana de Direitos


Humanos (Corte IDH), na Opinião Consultiva nº 7/86, estabeleceu que o tratado é autoaplicável.
Eliovaine

8.11. Vedação ao retrocesso

Aos Estados é vedado o retrocesso na proteção dos direitos humanos. Portanto, a proteção estatal
deve ser sempre evolutiva. A essa característica chama-se, ainda, proibição de regresso, não retorno ou
efeito cliquet (MAZZUOLI, 2020, ebook, p. 28).
André de Carvalho Ramos (2017, p. 290) aponta que o princípio da vedação ao retrocesso decorre do
conceito de progressividade, extraído do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Promulgação, bem como o Protocolo de San Salvador:
Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
Artigo 2º
1. Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço
próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos planos
econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem a assegurar,
progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos
reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas.

Protocolo de San Salvador


Artigo 1. Obrigação de Adotar Medidas

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Os Estados-Partes neste Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos


Humanos comprometem-se a adotar as medidas necessárias, tanto de ordem interna como
por meio da cooperação entre os Estados, especialmente econômica e técnica, até o
máximo dos recursos disponíveis e levando em conta seu grau de desenvolvimento, a fim
de conseguir, progressivamente e de acordo com a legislação interna, a plena efetividade
dos direitos reconhecidos neste Protocolo.

8.12. Relatividade

Não existem direitos humanos absolutos. André Ramos Tavares (2017, p. 390) ressalta que as
limitações dos direitos humanos se dão porque:

• Eles não podem servir de escudo para a prática de atividades ilícitas;


• Não servem para respaldar irresponsabilidade civil;
• Não podem anular os demais direitos igualmente consagrados;
• Não podem anular igual direito das demais pessoas.
Essa característica, também denominada de “cedência recíproca” ou “princípio da convivência das
liberdades” (TAVARES, 2017, p. 390), será desenvolvida melhor no tópico dos limites dos direitos humanos.
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8.13. Universalidade

Das características dos direitos humanos, a que mais gera polêmica é a que está relacionada à sua
universalidade.
Arthur Kaufmann (1998, p. 13) afirma que o princípio da universalidade, cuja formulação atual tem
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origem em R. M. Hare, é um princípio formal e sem conteúdo. Trata-se de uma condição transcendental que
possibilita uma argumentação racional tratada na fórmula: “todo ser humano, enquanto humano, é portador
ou possuidor de direitos humanos”. A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, por exemplo,
parte de considerações desse tipo:
Silva -- CPF:

Artigo I. Todas os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São
da Silva

dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

André de Carvalho Ramos (2016, p. 190), discorrendo sobre o tema, ressalta que o desafio do Direito
Internacional dos Direitos Humanos é tentar ser universal na diversidade, equalizando decisões nacionais
Eliovaine

com os conteúdos assegurados pelas normas internacionais.


A pergunta que se faz é: considerando os diversos modelos de Estados, seria possível justificar a
pretensa universalidade dos direitos humanos ou essa é uma forma de imposição cultural do ocidente às
demais partes do globo?
Antonio Cassese (2013, p. 60) traz um rol de divergências à pretensa universalidade dos direitos
humanos sendo elas de natureza filosófica, culturais e religiosas. Já André de Carvalho Ramos (2016, p. 209),
adiciona ainda divergências relacionadas ao argumento da falta de adesão dos Estados, argumentos
geopolíticos e ao argumento desenvolvimentista.
Como argumentos filosóficos, são de natureza relativista e comunitarista. Quanto aos argumentos
relativistas, André de Carvalho Ramos sintetiza suas divergências nos seguintes termos:
[...] Na visão de DONOHO os defensores do relativismo adotam três preposições: 1) que é
possível empiricamente observar divergências nos julgamentos morais entre as mais
diversas sociedades devido às diferenças culturais, políticas e sociais; 2) que tais
divergências não possuem sentido ou validade fora de seu contexto social particular; 3) que
não há julgamentos morais justificáveis fora de contextos culturais específicos. (RAMOS,
2016, p. 209)

27
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Já Leilane Serratine Grubba (2015, p. 38) vê na categoria dos direitos humanos “o resultado dos
processos oriundos do marco de relações sociais ocidentais e hegemonicamente impostas pelos
desdobramentos do modo de relação baseado no capital”. Joaquin Herrera Flores (2009, p. 108), por sua vez,
afirma que os direitos humanos são produtos culturais que instituem condições de implementação de um
sentido político forte. Eles não são neutros, pois dependem do contexto em que surgiram e da finalidade
pela qual foram produzidos (GRUBBA, 2015, p. 38). André de Carvalho Ramos cita ainda Raimundo Panikkar,
o qual argumenta “que o conceito de direitos humanos é fundado na visão antropocêntrica do mundo,
desvinculada da visão cosmoteológica que ainda predomina em algumas culturas, o que contraria a sua
alegada universalidade” (RAMOS, 2016, p. 216).
Antonio Cassese traz um exemplo relacionado à divergência filosófica da universalidade dos direitos
humanos. Trata-se da visão jusnaturalista dos direitos humanos. Para ele, os direitos humanos seriam inatos
à qualidade da pessoa humana e, por isso, precederiam qualquer estrutura estatal, devendo ser respeitada
pelos governos. Logo, um Estado que viole, com suas leis ou ações, um direito humano poderá ser
legitimamente demandado por um indivíduo.
Por outro lado, países como a China, em que os direitos humanos existem apenas na sociedade e no
Estado — e apenas na medida em que estes os reconheçam —, eles não preexistem ao Estado, mas, sim, são
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de acordo com ele. Dessa forma, caberia ao Estado limitá-los quando entender necessário (CASSESE, 2005,
p. 62).
Outro argumento trazido por André de Carvalho Ramos é o da falta de adesão dos Estados, haja vista
que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, quando de sua aprovação na Assembleia Geral da ONU,
não contou com votos de oito países (que se abstiveram na votação): Bielorrússia, Tchecoslováquia, Polônia,
União Soviética, Ucrânia, Iugoslávia, Arábia Saudita e África do Sul (RAMOS, 2016, p. 217). A essas abstenções
CPF: 030.720.271-29

soma-se o fato de que diversas potências ainda possuíam colônias e dominavam territórios na Ásia e África.
Logo, a declaração seria fruto de uma visão imperialista e eurocêntrica.
Um terceiro argumento contrário à universalização seria o geopolítico. O discurso dos direitos
humanos serve como elemento de política de relações exteriores em alguns Estados (sobretudo os
Silva -- CPF:

ocidentais), que não corresponde às ações desses mesmos Estados em sua política interna (RAMOS, 2016, p.
218). Portanto, trata-se de uma “cortina de fumaça” para encobrir interesses políticos e econômicos. Um
da Silva

exemplo disso é a utilização do argumento de violações aos direitos humanos, empregado pelos Estados
Unidos, para dar início à II Guerra do Golfo, contrapondo-se às violações causadas pelos agentes desse país
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

na base naval de Guantánamo.


Outra versão de uma argumentação geopolítica dos direitos humanos trazida por André de Carvalho
Eliovaine

Ramos (2016, p. 218) refere-se à incoerência entre a defesa, por alguns Estados, de uma universalização
desses direitos no plano externo, mas com uma margem de discricionariedade de sua aplicação no âmbito
interno. Isso ocorre, por exemplo, com posições presentes no Sistema Europeu de Direitos Humanos, com a
teoria da margem de apreciação nacional.
Há, ainda, o argumento cultural. A pretensão de universalidade é contraposta às diferenças culturais,
especialmente na relação homem/comunidade, nas culturas ocidental e nas demais culturas (africanas,
asiáticas e dos povos tradicionais). André de Carvalho Ramos (2016, p. 219) aponta, por exemplo, que, na
maioria das comunidades africanas, os direitos da comunidade precedem os direitos individuais, sendo as
decisões tomadas por consenso do grupo. Antonio Cassese vai além, ressaltando que, nas comunidades
tribais, “o indivíduo se realiza na comunidade” (CASSESE, 2005, p. 64). Ademais, surge a contraposição entre
a propriedade privada e as chamadas propriedades comunais.
Relacionado ao tema, Antonio Cassese cita, também como exemplo, o modelo de sociedade budista,
concebido com a figura de um leader (o antigo imperador) que, como um pai de família, tem todos os
poderes, autoridade e cuidado do pater familias. Assim, a liberdade não seria a garantia de um espaço de
ação sem a invasão, mas a afirmação, tanto quanto possível, do agir do indivíduo com a de seu leader, ao
qual o indivíduo deve obediência (CASSESE, 2005, p. 63).

28
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

O autor relata, ainda, distinções análogas advindas de outras culturas e religiões. Em comunidades
confucionistas, o núcleo central da sociedade é a família, e, dentro dessa estrutura social, o papel
fundamental é desenvolvido pelo chefe de família, devendo os outros membros do grupo respeitá-lo de
forma incondicional. Essa visão patriarcal é ampliada ao Estado de modo que o imperador é visto como um
chefe de família de deferência absoluta (CASSESE, 2005, p. 64). Ainda em relação às questões religiosas, o
autor aponta também os conflitos ideológicos da relação homem/mulher nas culturas ocidentais e nos
Estados islâmicos, que adotam a sharia como lei.
Outra objeção cultural, além daquela baseada na dicotomia indivíduo-comunidade,
relaciona-se a específicos direitos que refletiriam um viés cultural ocidental e muitas vezes
apenas de algumas de suas regiões. Lindgren Alves, embaixador brasileiro com ativa
participação na Conferência Mundial de Viena, relatou que algumas delegações de Estados
afirmaram em plenário e nas suas discussões de trabalho que a Conferência “correspondia
a uma tentativa de imposição de valores ocidentais sobre o resto do mundo” (RAMOS, 2016,
p. 220).

André de Carvalho Ramos (2012, p. 99) evidencia, também, argumentos desenvolvimentistas


contrários à pretensa universalidade dos direitos humanos. O núcleo dessas teses seria a de que os direitos
humanos exigem um estágio de desenvolvimento superior para sua proteção e implementação. Ou seja,
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busca-se justificar o descumprimento de normas de direitos humanos sob a alegação de falta de recursos
econômicos. No Brasil, por exemplo, é correlata a essa argumentação a teoria da reserva do possível,
utilizada amplamente pelo Estado para justificar falhas na implementação de direitos econômicos e sociais.
As críticas feitas à pretensão universalista dos direitos humanos têm também forte contra-
argumentos.
Quanto às objeções filosóficas, André de Carvalho Ramos (2016, p. 222) aponta que existem
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conceitos como o de justiça, Direito, legitimidade, dignidade humana ou participação comunitária, que são
encontrados em qualquer sociedade.
Para o autor, não se deve confundir a origem europeia e antropocêntrica das primeiras cartas
Silva -- CPF:

relacionadas aos direitos humanos com uma generalização de um pseudocaráter ocidental desses direitos.
Ainda sobre o aspecto cultural de relativização da pretensão de universalidade dos direitos humanos,
da Silva

o autor defende que ela só poderia ser aceita como cláusula de salvaguarda àqueles que desejarem exercer
Gouvea da

os direitos de escolha, mas não como pressuposto de coação para que outros se submetam a
Eliovaine Gouvea

comportamentos sob o argumento de força ser uma “prática tradicional” (RAMOS, 2016, p. 223).
Em sentido análogo, Antonio Cassese (2005, p. 70) defende, como forma de representação de uma
Eliovaine

universalidade que se compatibiliza com a sociedade plural moderna, a teoria do “consenso da vítima”, em
que um ativista de direitos humanos jamais poderia atuar sem que estivesse em jogo a vida humana ou um
dano grave ou irreparável. Portanto, “antes de proteger um indivíduo de uma violação, o ativista dos direitos
humanos deveria pelo menos estar de acordo com a vítima, que ela está sofrendo uma violação” (CASSESE,
2005, p. 71). Hipóteses de aplicação dessa teoria seriam, por exemplo, a transfusão de sangue em
Testemunhas de Jeová, ou a aquiescência de uma potencial vítima de mutilação genitália em tribos africanas.
Em relação aos argumentos geopolíticos, André de Carvalho Ramos ressalta que sua aplicação pode
ser feita a qualquer tema do Direito Internacional. Portanto, a crítica não deve cair no direito internacional
dos direitos humanos, mas nas características da própria sociedade internacional, pois é ela a produtora,
destinatária e aplicadora das normas do direito internacional público (RAMOS, 2016, p. 224).
Em relação ao argumento desenvolvimentista, André de Carvalho Ramos destaca que o que é
buscado, na verdade, é postergar o gozo dos direitos humanos em função de uma lógica da “razão do Estado”
(RAMOS, 2016, p. 225). O exemplo brasileiro pode ser aqui destacado, tendo em vista que, mesmo passando
por uma crise econômica, o país está entre os 10 maiores Produtos Interno Brutos (PIBs) mundiais, superando
países como Canadá, Austrália, Suécia e Finlândia; e, em contrapartida, ocupa o 84º lugar no ranking de
desenvolvimento humano, segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD) de 2020, atrás de países como o Irã (70º), Uruguai (55º) e Turquia (54º).

29
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Contudo, considerando as dificuldades de compatibilização entre a pretensão de universalidade e o


pluralismo cultural, Antonio Cassese elenca duas tendências que buscam temperar e suavizar as divisões
ideológicas e políticas dos Estados: uma de unificação de alguns problemas cruciais; e outra de
“regionalização” e “setorização” dos direitos humanos, isto é, “sua especificação em problemas individuais
ou em categorias singulares de pessoas” (CASSESE, 2005, p. 71).
A primeira tendência busca elencar um núcleo restrito de valores e critérios universalmente aceitos
por todos os Estados, como a vedação ao genocídio, a autodeterminação dos povos e a vedação à
discriminação racial (CASSESE, 2005, p. 72). Jack Donnelly, por exemplo, defende um “universalismo relativo”
por meio de um “consenso sobreposto” baseado nos seguintes critérios:
1) Diferenças importantes em tratados são como justificação de variações até mesmo em
um nível conceitual. Embora ainda que haja uma forte justificação teórica para desvios
substancial das normas internacionais de direitos humanos, tais argumentos raramente são
de persuasão empírica no mundo contemporâneo. (Povos indígenas talvez sejam a exceção
que comprova a regra).
2) Participantes do consenso sobreposto merecem uma audiência simpática quando estão
presentes sérias razões argumentativas que justifiquem desvios limitados das normas
internacionais. Desacordo sobre “detalhes” devem ser abordados de forma distinta de
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desvios sistemáticos ou ataques abrangentes. Se a consequência aos direitos humanos


consistir em uma estrutura que abranja os valores da Declaração Universal, nós deveríamos
tolerar relativamente os desvios particulares.
3) Argumentos que apontam para que uma concepção particular ou implementação é, por
razões culturais ou históricas, profundamente incrustados de um significado extremamente
importante, devem ser considerados de forma simpática. Ainda que nós possamos
desvalorizar a diversidade, as escolhas autônomas de pessoas livres não podem ser
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diminuídas, especialmente quando refletem as práticas já estabelecidas ou crenças


profundas.
4) Tolerância a divergências diminui no mesmo nível que a coerção cresce. (DONNELLY,
2007, p. 301).

Flávia Piovesan, por sua vez, afirma ser necessária a abertura do diálogo entre culturas, para que,
Silva -- CPF:

com base em um reconhecimento recíproco, seja possível a celebração de uma cultura dos direitos humanos,
da Silva

inspirada em um mínimo ético irredutível, alcançado por meio de um “universalismo de confluência”


(PIOVESAN, 2018, p. 250), em que o foco não será mais o choque entre civilizações, mas o diálogo entre elas.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

A outra tendência descrita por Antonio Cassese é a regionalização e a setorização dos direitos
humanos. Com a regionalização, eventuais conceitos passam a ser admitidos e utilizados de forma represada
Eliovaine

para que, em um segundo momento, possam ser expandidos, contribuindo com a universalidade dos direitos
humanos:
Foi constatado ao contrário, como a elaboração de tratados e mecanismos de controle
regional tenha dado uma boa prova, demonstrando que “regionalização” não significa
fragmentação dos direitos humano e criação de compartimentos fechados: ao contrário,
pode-se notar uma certa tendência à “recuperação” de conceitos e interpretações, de um
âmbito regional ao outro. Em breve, qualquer quadro regional (e sobretudo, não por acaso,
o europeu) mostra uma considerável força de expansão, que pode contribuir à marcha para
a universalização. (CASSESE, 2005, p.73)

A “setorização” dos direitos humanos, por outro lado, refere-se à adoção de tratados internacionais
para problemas singulares, como o trabalho escravo, genocídio, vedação à tortura, ou discriminação racial,
ou a um grupo específico de indivíduos, como portadores de deficiência, mulheres, apátridas ou refugiados.
Nesse caso, a criação de redes normativas específicas acaba por fomentar o caminho de um tratamento
universal.
Diante dos argumentos expostos, conclui-se, aderindo aos ensinamentos de Antonio Cassese, que a
universalidade ainda é uma meta (não muito) distante, mas será alcançável através de um percurso tortuoso
e difícil (CASSESE, 2005, p. 74). Esse caminho é percorrido pelos sujeitos do Direito Internacional que, através

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

do diálogo, buscarão um consenso sobre um mínimo de preceitos comuns considerados essenciais à


dignidade humana.

QUESTÕES
34. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-AL - Escrivão de Polícia) Os direitos humanos são classificados como
universais porque mudam ao longo do tempo em diferentes países.

35. (FCC - 2021 - DPE-BA – Defensor Público) Com base no Direito Internacional dos Direitos Humanos, os
direitos humanos são
a) regidos pela proibição do retrocesso (“efeito cliquet”) porque é vedado que se diminua ou amesquinhe
a proteção que já alcançaram.
b) irrenunciáveis porque não se perdem com a passagem do tempo.
c) universais porque são atribuídos a todos os seres humanos, com exceção dos apátridas.
d) exauríveis, o que significa que o rol de direitos positivados é taxativo, podendo ser ampliado somente
por meio de novos tratados internacionais.
e) imprescritíveis porque não é possível atribuir-lhes uma dimensão pecuniária para fins comerciais.
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36. (UEG - 2013 - PC-GO - Agente de Polícia Civil) Os direitos fundamentais aplicam-se a todos os
indivíduos, independentemente de sua nacionalidade, sexo, raça, credo ou convicção político-
filosófica. Tal afirmação versa sobre a relação entre Direitos Humanos e Estado, consolidando o
Princípio da
a) Razoabilidade
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b) Universalidade
c) Imprescritibilidade
d) Proporcionalidade
Silva -- CPF:

37. (FUNDEP - 2019 - DPE-MG - Defensor Público, adaptada) A liberdade em consentir desautoriza a
alegação de ofensa aos Direitos Humanos. Ou seja, estes não limitam a autonomia privada,
da Silva

principalmente em face dos reflexos da igualdade formal das partes.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

38. (MPE-PR - 2019 - MPE-PR - Promotor Substituto, adaptada) Os direitos humanos caracterizam-se pela
existência da proibição de retrocesso, também chamada de “efeito cliquet”.
Eliovaine

39. (FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Consultor Legislativo) Uma vez estabelecidos,
os Direitos Humanos não podem ser retirados do ordenamento, em razão do princípio da
a) inter-relacionaridade.
b) indisponibilidade.
c) inerência.
d) vedação do retrocesso.
e) inesgotabilidade.

40. (IADES - 2017 - PC-DF - Perito Criminal) Em relação aos Direitos Humanos, é correto afirmar que
a) os aspectos históricos e culturais não influenciam na sua aplicação e conceituação, uma vez que toda
e qualquer ofensa aos Direitos Humanos é recebida com igual repúdio e entendimento em qualquer
povo, cultura e época.
b) os Direitos Humanos são simples leis, sempre internas a uma nação, que visam a assegurar a soberania
desse mesmo país e a manutenção de seu povo.
c) práticas que ofenderiam a dignidade da pessoa humana, em determinada época e lugar, se aplicadas
noutra localidade e em momento distinto, podem ser consideradas completamente normais.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

d) não possuem qualquer relação com a dignidade da pessoa humana; são institutos paralelos que
possuem objetivos distintos.
e) são princípios internacionais que determinam, de forma absoluta e taxativa, quais práticas passam a
ser consideradas agressões à dignidade da pessoa humana.

41. (CESPE / CEBRASPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público) Considerando a teoria geral dos direitos
humanos, assinale a opção correta.
a) Consoante a teoria da margem de apreciação, nenhuma norma de direitos humanos pode ser invocada
para limitar o exercício de qualquer direito.
b) A característica da indivisibilidade dos direitos humanos decorre da constatação de que a condição de
pessoa é o único requisito para a sua titularidade de direitos e das necessidades humanas universais.
c) A superioridade das normas de direitos humanos caracteriza-se pela aferição de idoneidade,
necessidade e equilíbrio da intervenção do Estado em determinado direito fundamental.
d) O princípio da proibição do retrocesso social é uma cláusula de defesa do cidadão em face de possíveis
arbítrios impostos pelo legislador no sentido de desconstituir as normas de direitos fundamentais.
e) Com a inclusão dos direitos sociais no rol dos direitos do homem, antes composto apenas de direitos
de liberdade, os direitos do homem passaram a constituir uma categoria homogênea.
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42. (IADES - 2019 - PC-DF - Perito Criminal) São características dos Direitos humanos
a) universalidade, indivisibilidade, renunciabilidade, historicidade, aplicabilidade imediata e caráter
declaratório.
b) universalidade, proibição de retrocesso, disponibilidade individual, historicidade, caráter meramente
declaratório e imprescritibilidade.
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c) universalidade, irrenunciabilidade, imprescritibilidade, indivisibilidade, proibição de retrocesso,


aplicabilidade imediata e caráter declaratório.
d) universalidade, interdependência, não complementariedade, alienabilidade, renunciabilidade,
imprescritibilidade e proibição de retrocesso.
Silva -- CPF:

e) universalidade, irrenunciabilidade, prescritibilidade, indivisibilidade, proibição de retrocesso,


aplicabilidade imediata e caráter declaratório.
da Silva
Gouvea da

43. (CESPE / CEBRASPE - 2015 - PRF - Policial Rodoviário Federal) Os direitos humanos têm eficácia
Eliovaine Gouvea

imediata, mas sua aplicabilidade depende de leis que os regulamentem e tornem possível sua
exigibilidade.
Eliovaine

44. (FUMARC - 2018 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto) A Constituição da República de 1988
cuidou expressamente dos direitos humanos, enumerando-os no Título que trata dos direitos e
garantias fundamentais. Existem, entretanto, outros direitos humanos não enumerados no texto, mas
cuja proteção a própria Constituição assegura, PORQUE:
a) decorrem do regime e dos princípios adotados pela própria Constituição.
b) o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional.
c) são criados pelo Poder Judiciário, após o trânsito em julgado das decisões.
d) surgem de necessidades que não foram previstas pelo legislador constituinte.

45.(FEPESE - 2017 - PC-SC - Escrivão de Polícia Civil) É correto afirmar sobre direitos humanos:
a) São direitos limitados a determinadas pessoas e grupos sociais.
b) Tratam-se de direitos divisíveis a parcela a sociedade, como forma de autoproteção social.
c) A sua natureza indivisível, inalienável e irrenunciável permite, a qualquer tempo, que o seu
beneficiário o renuncie quando violado.
d) De alcance geral, devem ser aplicados de forma igual e sem discriminação.
e) Somente poderão ser invocados para tutelar direitos quando houver ameaça a minorias étnicas.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

46. (ESAF - 2012 - CGU – Analista) “Os direitos humanos podem ser exercidos simultaneamente e
encontram limites nos outros direitos igualmente consagrados na Constituição. Assim, pode ocorrer
um conflito entre direitos e nesse caso é preciso uma solução coerente que harmonize ambos os
direitos.” Esse conceito representa a seguinte característica dos Direitos Humanos:
a) Limitabilidade.
b) Complementaridade.
c) Relatividade.
d) Interrelação.
e) Indisponibilidade.

9. A POLÊMICA SOBRE AS GERAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS

Em 1979, o professor Karel Vasak proferiu uma palestra no Curso do Instituto Internacional dos
Direitos do Homem, em Estrasburgo, distinguindo os direitos humanos em três gerações, relacionando-os
aos ideais da revolução francesa.
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Antônio Augusto Cançado Trindade, durante uma palestra que proferiu em Brasília, em 25 de maio
de 2000, comentou que perguntou pessoalmente a Karel Vasak por que ele teria desenvolvido aquela teoria.
A resposta do jurista tcheco foi bastante curiosa: "Ah, eu não tinha tempo de preparar uma
exposição, então me ocorreu de fazer alguma reflexão, e eu me lembrei da bandeira francesa" (CANÇADO
TRINDADE, 1999). A relação entre as gerações e os ideários revolucionaram se deu da seguinte forma:
• 1ª geração: direitos de liberdade. Tratam-se dos direitos civis e políticos;
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• 2ª geração: direitos de igualdade. São os direitos sociais, econômicos e culturais;


• 3ª geração: direitos de fraternidade ou solidariedade. Seriam os direitos transindividuais,
difusos e coletivos.
Silva -- CPF:

Essa separação geracional dos direitos foi difundida por Norberto Bobbio, no livro “A Era dos
Direitos”.
da Silva

A principal crítica feita por Antônio Augusto Cançado Trindade (2000) é a de que não houve, por
Gouvea da

parte de Vazak, qualquer critério jurídico ou histórico que pudesse fundamentar essa teoria.
Eliovaine Gouvea

Critica-se também o termo gerações, pois o reconhecimento de novos direitos fundamentais tem um
Eliovaine

caráter de processo cumulativo, complementar, e não de alternância ou de substituição entre gerações. Por
esse motivo, há quem prefira o termo dimensões dos direitos fundamentais.
Do ponto de vista histórico, essa divisão também se mostra problemática, já que alguns direitos de
2ª geração, no plano internacional, foram positivados, antes ou concomitantemente, a direitos de 1ª geração.
Em âmbito nacional, a Constituição brasileira de 1824 já previa direitos de natureza social como garantia dos
socorros públicos e o direito à instrução primária gratuita.
Contudo, há quem utilize essa classificação apontando apenas o critério histórico constitucional,
ainda que algumas constituições, até hoje, não prevejam muitos direitos sociais e econômicos. Há autores
que defendem, por esse critério, direitos de até 6ª geração.

33
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

9.1. Direitos “de primeira geração”

André Ramos Tavares (2017, p. 357) aponta que o primeiro direito fundamental positivado foi o de
proteção contra a prisão arbitrária (habeas corpus), promulgado pelo juiz Eduard Coke na fórmula: “Nenhum
homem pode ser levado, preso, penhorado ou encarcerado senão pelo devido processo legal e de acordo
com a lei deste país” (tradução nossa)1.
Interessante destacar que, da fórmula apresentada, é possível extrair também o direito ao devido
processo legal.
De qualquer forma, os chamados direitos fundamentais de primeira geração têm em comum
florescerem no pensamento liberal-burguês. Eles têm natureza eminentemente de defesa do indivíduo
contra o Estado, correspondendo, portanto, aos chamados direitos civis e políticos, abarcando:

• Direito à vida;
• Direito à liberdade;
• Direito à propriedade;
• Direito à liberdade de expressão;

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Direito de participação popular.

9.2. Direitos “de segunda geração”

Se os direitos individuais civis e políticos relacionam-se com o Estado Liberal, os chamados direitos
sociais, econômicos e culturais são fruto do Estado Social. Com as mazelas do capitalismo recém-surgido,
doutrinadores apontaram a desigualdade entre os homens e o aspecto meramente formal da liberdade e da
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igualdade. São identificáveis, na Constituição de 1988, em seu art. 6º:


Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o
transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância,
a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição (Redação dada pela Emenda
Silva -- CPF:

Constitucional nº 90, de 2015).


da Silva

9.3. Direitos “de terceira geração”


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Os direitos fundamentais de fraternidade ou solidariedade têm como diferencial o desprendimento


de sua titularidade do homem-indivíduo (SARLET, 2020, p. 325).
Eliovaine

Eles são destinados, portanto, à proteção de grupos humanos, tendo por característica a sua
titularidade transindividual (difusa ou coletiva). Dentre esses direitos, podem ser citados o direito ao meio
ambiente e o direito do consumidor.
Há quem insira nessa categoria as posições jurídicas decorrentes das novas tecnologias, como os
direitos reprodutivos e o direito da identidade genética ou de acesso à internet. Ingo Sarlet (2020, p. 326)
aponta que essa inclusão acaba por retirar a característica fundamental da metaindividualidade desses
direitos e, por isso, seria inoportuna.

9.4. Direitos de outras gerações?

Não bastasse o próprio critério geracional ser bastante criticado, há autores que ampliam o número
de gerações, defendendo até direitos de sexta geração.

1 “No man can be taken, arrested, attached, or imprisoned but by due process of law and according to the law of the land”, no
original.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Paulo Bonavides posicionava-se pela existência de direitos de quarta geração, decorrentes da


democracia, pluralismo e informação, ancorando-se na ideia de globalização política.
Já para Ingo Sarlet (2020, p. 327), a proposta de Bonavides apresenta a vantagem de reconhecer
direitos qualitativamente diversos das gerações anteriores, mas que, em sua maior parte, têm natureza de
direitos de liberdade: direitos contra a manipulação genética, de informática, de mudança de sexo etc.
Contudo, a crítica feita pelo autor é que esse reconhecimento está longe de ser espelhado na positivação
interna, principalmente em âmbito constitucional. Há instrumentos esporádicos, como o processo decisório
nos Conselhos Tutelares ou a previsão de orçamento participativo, mas que estão longe de se alçar esse
status pretendido (SARLET, 2020, p. 328).
Paulo Bonavides defende, ainda, o direito à paz como direito de quinta geração. Contudo, esse
direito pode ser abarcado como direito de terceira geração (SARLET, 2020, p. 328).
José Alcebíades de Oliveira e Antônio Wolkmer apontam como critério classificatório da 5ª geração,
os direitos vinculados à tecnologia, informação e ciberespaço. Já Zulmar Fachin e Deise Marcelino da Silva
defendem o direito à água potável, cada vez mais rara, como um direito fundamental de 6ª geração.
Sobre essas classificações, correta a ponderação de Ingo Sarlet (2020, p. 329) que, a rigor, esses
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direitos podem ser reconduzidos às três primeiras gerações de direitos fundamentais.

QUESTÕES
47. (CESPE / CEBRASPE - 2014 - PC-DF - Agente de Polícia) De acordo com a teoria das gerações de direitos,
a primeira geração dos direitos humanos refere-se aos direitos civis e políticos; a segunda está
relacionada aos direitos econômicos, sociais e culturais; e a terceira tem como referência os direitos à
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paz, ao desenvolvimento e a um meio ambiente sustentável.

48. (FEPESE - 2019 - SAP-SC - Agente Penitenciário) A teoria das gerações ou dimensões dos direitos
humanos expõe perspectivas desses direitos em que se incluem em cada geração ou dimensão
Silva -- CPF:

determinados direitos e princípios. Conforme essa divisão clássica da doutrina, é correto afirmar:
a) os direitos de segunda geração ou dimensão se referem aos direitos civis e políticos, compreendendo
da Silva

os direitos de liberdade, englobando as liberdades clássicas, negativas ou formais.


Gouvea da

b) os direitos de quinta geração ou dimensão consistem na possibilidade de participação na formação da


Eliovaine Gouvea

vontade do Estado, retratando os direitos à democracia e à informação.


c) os direitos de quarta geração ou dimensão se caracterizam por condensar os direitos e liberdades civis,
Eliovaine

políticas, econômicas, sociais e culturais.


d) os direitos de terceira geração ou dimensão consubstanciam como titulares a coletividade,
consagrando o princípio da solidariedade e incluindo direitos como o da paz, ao desenvolvimento, ao
meio ambiente equilibrado.
e) os direitos de primeira geração ou dimensão são aqueles relativos aos direitos econômicos, sociais e
culturais, em que se acentua o princípio da igualdade.

49. (VUNESP - 2019 - Câmara de Monte Alto - SP - Procurador Jurídico) A doutrina, ao tratar dos Direitos
Humanos de primeira geração/dimensão, estabelece que
a) são direitos à paz, ao desenvolvimento, e à autodeterminação entre outros.
b) são direitos atinentes à solidariedade social.
c) representam a modificação do papel do Estado para além de mero fiscal das regras jurídicas.
d) são denominados também direitos de defesa, ou de prestações negativas.
e) são oriundos da constatação da vinculação do homem ao planeta terra, com recursos finitos.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

50. (CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Considerando-se o surgimento e a evolução dos
direitos fundamentais em gerações, é correto afirmar que o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado é considerado, pela doutrina, direito de
a) primeira geração.
b) segunda geração.
c) terceira geração.
d) quarta geração.

51. (FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público) Podem ser considerados exemplos de direitos humanos de
terceira geração o direito
a) à imigração e refúgio, à participação na economia globalizada e à segurança.
b) ao trabalho, à paz mundial e à indivisibilidade entre os direitos.
c) à propriedade imaterial, à privacidade e ao pluralismo.
d) à bioética, o direito do consumidor e os direitos culturais
e) ao meio ambiente, ao desenvolvimento e à autodeterminação dos povos.
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52. (CESPE / CEBRASPE - 2018 - DPE-PE - Defensor Público) Os direitos humanos são concebidos como
indivisíveis e universais: basta ser pessoa para ser titular de direitos e dotado de dignidade. Por sua
vez, o conceito de cidadania representa ponto fulcral na realização da democracia e na titularidade
dos direitos humanos. Na evolução dos direitos humanos, observa-se o desenvolvimento de, pelo
menos, três dimensões da cidadania, assim como três gerações de direitos humanos, todos
interconectados. Acerca desse assunto, assinale a opção correta.
a) No Brasil, a garantia das três primeiras gerações de direitos humanos deu-se na seguinte ordem
CPF: 030.720.271-29

sequencial e sucessiva: direitos civis, direitos políticos e direitos sociais.


b) Os direitos civis referem-se à possibilidade de participação do indivíduo no processo eleitoral de sua
sociedade.
c) A participação do cidadão no governo é característica dos direitos políticos e o seu exercício consiste
Silva -- CPF:

na capacidade de fazer demonstrações políticas, de organizar partidos, de votar e de ser votado.


d) Os direitos sociais garantem a liberdade e independem da participação do Estado para sua consecução.
da Silva

e) Incorporado ao direito ao desenvolvimento e aos bens comuns da humanidade, o direito ao ambiente


sadio integra a segunda geração de direitos humanos.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

10. EFICÁCIA EXTERNA OU HORIZONTAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


Eliovaine

(DRITTWIRKUNG)

Em sua gênese, os direitos fundamentais tinham como destinatário o Estado (eficácia vertical).
Buscava-se a limitação das arbitrariedades do Estado-Leviatã (TAVARES, 2017, p. 386) através da dotação de
uma esfera de atuação aos indivíduos.
Na Alemanha, Hans Carl Nipperdey, em 1954, foi o primeiro a defender a eficácia horizontal direta
dos direitos fundamentais (Drittwirkung) — que vinculariam imediatamente os agentes particulares,
independentemente de intermediação legislativa (tese da eficácia horizontal direta) (TAVARES, 2017, p.
386).
Segundo Gilmar Ferreira Mendes (2012, p. 124), a primeira crítica feita a essa posição refere-se à
previsão expressa do art. 1º, III da Lei Fundamental de Bonn de que os direitos fundamentais vinculavam os
poderes estatais. André Ramos Tavares (2017, p. 386), por sua vez, aponta também como uma das principais
críticas a essa teoria a pretensa violação da autonomia da vontade, base das relações privadas.
Em 1956, Günter Dürig passou a defender a teoria da eficácia horizontal indireta dos direitos
fundamentais (TAVARES, 2017, p. 387). Segundo ela, os direitos fundamentais não poderiam ser aplicados
diretamente, tendo em vista não serem direitos subjetivos. Logo, para a aplicação das normas de direitos
fundamentais frente particulares, seria necessária a intermediação do legislador.

36
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

A Suprema Corte alemã, no julgamento do caso Lüth, em 1958, adotou o entendimento de que os
direitos fundamentais não poderiam atingir diretamente as relações entre os particulares (tese da
ineficácia horizontal).
Porém, em julgados posteriores, como no caso Wallraff, a Corte acaba por reconhecer efeitos
jurídico-subjetivos dos direitos fundamentais nas relações entre particulares (MENDES, 2012, p. 128):
Tal como enfatizado no “caso Blikfüer”, se o juiz não reconhece, no caso concreto, a
influência dos direitos fundamentais sobre a relação privadas, então ele não apenas lesa o
direito constitucional objetivo, como também afronta direito fundamental considerado
como pretensão em face do Estado, ao qual, enquanto órgão estatal, está obrigado a
observar.
Assim, ainda que não se possa cogitar de vinculação direta do cidadão aos direitos
fundamentais, podem esses direitos legitimar limitações à autonomia privada, seja no plano
da legislação, seja no plano da interpretação. (MENDES, 2012, p. 128).

Nos Estados Unidos, a adoção da tese do State Action Doctrine afastou a eficácia dos direitos
fundamentais nas relações privadas, como regra. Posteriormente, com o surgimento da public function
theory, passou-se a admitir a vinculação direta apenas nas hipóteses em que os particulares estejam
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atuando em situação similares frente ao Estado, como no fornecimento de energia ou transportes públicos.
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Segundo ensina André de Ramos Tavares (2017, p. 388), o principal fundamento seria de que a Bill of Rights
teria como destinatário apenas o Estado.
No Brasil, o STF adota a eficácia horizontal direta dos direitos fundamentais, em função da redação
do art. 5º, §1ª da Constituição, sendo o precedente mais famoso o RE 201.819-8:
Eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas. As violações a direitos
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fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão e o Estado,
mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de direito privado.
Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição vinculam diretamente não
apenas os poderes públicos, estando direcionados também à proteção dos particulares em
face dos poderes privados. (...) O espaço de autonomia privada garantido pela Constituição
Silva -- CPF:

às associações não está imune à incidência dos princípios constitucionais que asseguram o
respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A autonomia privada, que encontra
da Silva

claras limitações de ordem jurídica, não pode ser exercida em detrimento ou com
desrespeito aos direitos e garantias de terceiros, especialmente aqueles positivados em
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

sede constitucional, pois a autonomia da vontade não confere aos particulares, no domínio
de sua incidência e atuação, o poder de transgredir ou de ignorar as restrições postas e
definidas pela própria Constituição, cuja eficácia e força normativa também se impõem, aos
Eliovaine

particulares, no âmbito de suas relações privadas, em tema de liberdades fundamentais.


(RE 201.819, rel. p/ o ac. min. Gilmar Mendes, j. 11-10-2005, 2ª T, DJ de 27-10-2006).

André de Carvalho Ramos (2016, p. 293) aponta que, em âmbito internacional, há duas modalidades
de eficácia horizontal advindas de tratados. A primeira é a previsão expressa, com a vinculação dos
particulares aos termos do ato normativo. O artigo II da Convenção internacional sobre a Eliminação de todas
as Formas de Discriminação Racial é um exemplo dessa modalidade:
Convenção internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial
Artigo II
1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial e comprometem-se a adotar, por
todos os meios apropriados e sem tardar uma política de eliminação da discriminação racial
em todas as suas formas e de promoção de entendimento entre todas as raças e para esse
fim:
(...)
b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar, defender ou apoiar a discriminação
racial praticada por uma pessoa ou uma organização qualquer;
(...)
d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios apropriados, inclusive se as circunstâncias
o exigirem, as medidas legislativas, proibir e por fim, a discriminação racial praticadas por
pessoa, por grupo ou das organizações;

37
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

A outra forma de aplicabilidade horizontal ocorre quando os Estados se comprometem à garantia


dos direitos humanos. André de Carvalho Ramos (2016, p. 294) explica que a obrigação dos Estados de
impedirem que particulares violem direitos humanos de outros está inserida nessa garantia.
O Brasil, por exemplo, foi condenado no caso Ximenes Lopes pela deficiência da prestação de serviços
de saúde por instituição privada conveniada ao Sistema Único de Saúde (SUS). A Corte IDH decidiu que o
Estado deve ser responsabilizado pela deficiência dos serviços de saúde, independentemente de ser a
entidade pública ou privada (§§89 e 90)2 por elas estarem prestando um serviço público.
André de Carvalho Ramos (2016, p. 297) aponta a existência, ainda, de eficácia diagonal dos direitos
humanos, ocorrida em situações de vulnerabilidade entre particulares, como nas relações de consumo ou
trabalhistas.

QUESTÕES
53. (FAPEMS - 2017 - PC-MS - Delegado de Polícia) Sobre a eficácia dos direitos fundamentais, analise
as afirmativas a seguir.
I- A eficácia vertical dos direitos fundamentais foi desenvolvida para proteger os particulares
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contra o arbítrio do Estado, de modo a dedicar direitos em favor das pessoas privadas, limitando os
poderes estatais.
II- A eficácia horizontal trata da aplicação dos direitos fundamentais entre os particulares, tendo
na constitucionalização do direito privado a sua gênese.
III- A eficácia diagonal trata da aplicação dos direitos fundamentais entre os particulares nas
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hipóteses em que se configuram desigualdades fáticas.


Está correto o que se afirma em:
a) III, apenas.
Silva -- CPF:

b) I e III, apenas.
c) II e III, apenas.
da Silva

d) I e II, apenas.
Gouvea da

e) I, II e III.
Eliovaine Gouvea

54. (IF-BA - 2019 - IF Baiano - Administrador) Segundo a Constituição da República Federativa do


Eliovaine

Brasil, assinale a alternativa correta.


a) As normas definidoras dos direitos e garantais fundamentais têm aplicação condicionada às leis
ordinárias e complementares elaboradas pelo Legislativo.
b) Os direitos e garantias expressos na Constituição são taxativos, não podendo o legislador inovar no
ordenamento jurídico.
c) O Brasil não se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional, haja vista que representa violação
à sua soberania.
d) São direitos sociais somente a educação, a saúde, a alimentação e o transporte.
e) É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão se dará nos casos de improbidade
administrativa, entre outras hipóteses constitucionais.

2 Corte Interamericana de Direitos Humanos. Caso Ximenes Lopes versus Brasil: Sentença de 4 de julho de 2006 (Mérito,
Reparações e Custas). Disponível em: https://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf. Acesso em: 25 maio
2021.

38
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

55. (CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-SC - Juiz Substituto) A respeito da eficácia mediata dos direitos
fundamentais, assinale a opção correta segundo a doutrina e a jurisprudência do STF.
a) A eficácia mediata dos direitos fundamentais independe da atuação do Estado.

b) De acordo com o STF, as normas de direitos fundamentais que instituem procedimentos têm eficácia
mediata.

c) Nas relações privadas, a eficácia dos direitos fundamentais é necessariamente mediata.

d) A eficácia mediata desobriga o juiz de observar o efeito irradiante dos direitos fundamentais no caso
concreto.

e) A eficácia mediata dos direitos fundamentais dirige-se, primeiramente, ao legislador.

56. (MPF - 2011 - PGR - Procurador da República) "Eficácia Horizontal", no âmbito da Proteção
Internacional De Direitos Humanos,
a) tem o mesmo significado de "Drittwirkung".
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b) se aplica à tortura como grave violação de direitos humanos no marco da Convenção da ONU contra
a Tortura de 1984.
c) não se aplica ao trabalho escravo no marco da Convenção sobre a Escravatura de 1926.
d) só se aplica à garantia de direitos humanos no âmbito do espaço público.

57. (CESPE / CEBRASPE - 2018 - TJ-CE - Juiz Substituto) De acordo com a doutrina e a jurisprudência dos
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tribunais superiores acerca da eficácia horizontal dos direitos fundamentais, assinale a opção correta.
a) Síndico de condomínio não está obrigado a oportunizar o direito de defesa a morador para o qual
aplicará multa por comportamento antissocial.
Silva -- CPF:

b) As relações especiais de sujeição a que estão vinculados os militares justificam a restrição da


possibilidade de crítica pública veiculada por associação de praças do exército.
da Silva
Gouvea da

c) A exclusão de sócio de associação privada sem fins lucrativos independe do contraditório e da ampla
Eliovaine Gouvea

defesa, desde que haja previsão estatutária.


Eliovaine

d) O efeito horizontal indireto obriga o Poder Judiciário a observar a normatividade dos direitos
fundamentais ao decidir conflitos interindividuais.

e) A eficácia horizontal imediata impõe a igualdade de tratamento dos direitos fundamentais entre
particulares, tal como ocorre nas relações entre indivíduos e o Estado.

58. (TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - Juiz Federal Substituto) Em 1999, Damião Ximenes Lopes, pessoa com
deficiência mental, foi internado na Casa de Repouso Guararapes, na cidade de Sobral (CE), pelo
Sistema Único de Saúde (SUS), em perfeito estado físico. Poucos dias depois, sua mãe o encontrou
agonizante, sangrando, com hematomas, sujo e com as mãos amarradas para trás, vindo a falecer
nesse mesmo dia, sem qualquer assistência médica no momento de sua morte. Com a demora nos
processos cível e criminal na Justiça daquele Estado na apuração de responsabilidades, a família,
alegando violação do direito à vida, à integridade psíquica (dos familiares, pela ausência de punição
aos autores do homicídio) e ao devido processo legal em prazo razoável, peticionou à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), que veio a processar o Estado brasileiro perante a Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH). Com relação a esse caso, é CORRETO afirmar que:
a) Em face do caráter subsidiário da jurisdição internacional, foi acolhida exceção de admissibilidade por
ausência de esgotamento dos recursos internos, oposta pelo Estado brasileiro, tendo sido

39
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

determinada pela Corte IDH a suspensão do feito até o exaurimento dos mecanismos internos de
reparação.
b) A forma federativa do Estado brasileiro justificou a condenação do Estado do Ceará em litisconsórcio
passivo com a União.
c) Foi aplicada pela Corte IDH a doutrina da eficácia horizontal da proteção internacional dos direitos
humanos (“Drittwirkung”), responsabilizando o Estado brasileiro.
d) Petição dos familiares da vítima endereçada à Corte IDH, após o trâmite regular em que se afastou as
preliminares do Brasil de ausência de esgotamento dos recursos internos e denunciação à lide ao
Ceará, foi acolhida com condenação da União.

11. A TEORIA DOS QUATRO STATUS DE JELLINEK

Georg Jellinek, no século XIX, desenvolve a teoria dos quatro status, relacionando a posição do
indivíduo perante o Estado:

• Status passivo (ou subjectionis): o indivíduo está em posição de subordinação frente ao Estado;
• Status ativo: o indivíduo encontra-se com a competência de influir na formação de vontade do
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Estado através de seus direitos políticos;


• Status negativo: o indivíduo detém um espaço de liberdade em que pode agir
independentemente da ingerência estatal;
• Status positivo: o indivíduo tem o direito de exigir do Estado uma atuação positiva, isto é,
prestacional. Exemplo: direitos à educação ou à saúde.
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QUESTÕES
59. (FUNCAB - 2014 - SEPLAG-MG – Direito) Consoante a teoria dos status dos direitos fundamentais, de
autoria de Jellinek, o direito à saúde, tal como previsto na Constituição Federal, é considerado
fundamental de status:
Silva -- CPF:

a) ativo.
b) negativo.
da Silva

c) passivo.
d) positivo.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

60. (Quadrix - 2019 - CONRERP 2ª Região - Agente de Fiscalização) Na concepção tradicional da teoria
Eliovaine

dos quatro status de Georg Jellinek, os direitos fundamentais não podem ser considerados como
direitos de defesa.

61. (FJG - RIO - 2014 - Câmara Municipal do Rio de Janeiro - Analista Legislativo) Conforme a Teoria Geral
dos Direitos Fundamentais, no final do Século XIX, Jellinek desenvolveu a doutrina dos quatro status,
segundo a qual:
a) os direitos fundamentais também se aplicam às relações privadas, configurando o que a doutrina
convencionou chamar de eficácia horizontal dos direitos fundamentais.
b) o status civilitais, supremo em relação aos demais status, autoriza que o indivíduo desfrute de um
espaço de liberdade com relação a ingerência dos Poderes Públicos.
c) em uma situação ideal, sob o “véu da ignorância”, poderia o indivíduo atuar em relação ao Estado, por
abstenção, atuação, implementação imediata de direitos fundamentais e observância dos direitos
humanos.
d) o indivíduo pode encontrar-se em face do Estado por 4 status: status passivo, ativo, negativo ou
positivo.

62. (TRT 23R (MT) - 2011 - TRT - 23ª REGIÃO (MT) - Juiz do Trabalho) O grande publicista alemão Georg
Jellinek, na sua obra "Sistema dos Direitos Subjetivos Públicos" (Syzstem der subjetktiv öffentlichen),

40
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

formulou concepção original, muito citada pela doutrina brasileira no estudo da teoria dos direitos
fundamentais, segundo a qual o indivíduo, como vinculado a determinado Estado, encontra sua
posição relativamente a este cunhada por quatro espécies de situações jurídicas (status), seja como
sujeito de deveres, seja como titular de direitos. Assinale qual das alternativas abaixo contém um item
que não corresponde a um dos quatro status da teoria de Jellinek:
a) status passivo (status subjectionis).
b) status negativus.
c) status civitatis.
d) status socialis.
e) status activus.

12. DEVERES FUNDAMENTAIS

Para André Ramos Tavares, ao contrário da teoria da eficácia horizontal dos direitos fundamentais,
que apresenta um aspecto estático, a ideia de deveres fundamentais é uma vertente dinâmica, em que se
exige a atuação positiva dos particulares para a implementação de orientações constitucionais. Na
Constituição de 1988, podem ser citados como exemplos de direitos fundamentais:
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Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
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coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente


e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
Silva -- CPF:

familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,


discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
da Silva

13. LIMITES DOS DIREITOS HUMANOS


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

A discussão acerca dos limites dos direitos humanos/fundamentais é desenvolvida tanto pela
doutrina constitucionalista quanto pela internacionalista.
Eliovaine

Ingo Sarlet (2020, p. 394) aponta que o cerne do debate se encontra na discussão de matriz
germânica relacionada aos seguintes temas:

• Âmbito de proteção dos direitosꓼ


• Limites dos direitos fundamentaisꓼ
• Limites dos limites dos direitos fundamentais.

13.1. Âmbito de proteção

Segundo os ensinamentos de Ingo Sarlet (2020, p. 394), o âmbito de proteção de um direito


fundamental refere-se aos pressupostos fáticos instituídos pela norma jurídica, ou seja, ao bem jurídico
protegido.
Gilmar Ferreira Mendes (2012, p. 34) explica que, quanto ao âmbito de proteção de um direito
individual, é necessário identificar não apenas o objeto protegido (o que é?) como também o tipo de agressão
que se busca repelir (contra o que?). Assim, distinguir-se o âmbito de proteção da proteção efetiva ou
definitiva:

41
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Na dimensão dos direitos de defesa, âmbito de proteção dos direitos individuais e restrições
a esses direitos são conceitos correlatos.
Quanto mais amplo for o âmbito de proteção de um direito fundamental, tanto mais se
afigura possível qualificar qualquer ato do Estado como restrição. Ao revés, quanto mais
restrito for o âmbito de proteção, menor possibilidade existe para a configuração de um
conflito entre Estado e o indivíduo. (MENDES, 2012, p. 35)

A fixação do âmbito de proteção do direito fundamental se dá nos seguintes termos:


1. identificação do bem jurídico protegidoꓼ
2. aferição de possíveis restrições expressasꓼ
3. verificação de reservas legais de índole restritiva (MENDES, 2012, p. 35).
Tem-se como exemplo o direito de propriedade, previsto no art. 5º da Constituição:
Art. 5º (...)
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social; (...)
XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;
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Em uma primeira análise, é possível identificar que a propriedade privada tem como limites o
cumprimento da função social, podendo ser objeto de uso pelo Poder Público, nos casos de iminente perigo
público.
Porém, como bem destaca Gilmar Ferreira Mendes (2012, p. 35), a identificação do âmbito de
proteção acaba, muitas vezes, exigindo uma interpretação sistemática e abrangente de outros dispositivos
constitucionais. No caso em voga, para a análise do âmbito de proteção da propriedade na Constituição de
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1988, é necessária a análise dos artigos 182, §2º, 186, 190, 191, 222 (empresas jornalísticas, de radiodifusão
sonora e de sons e imagens) e 243.
Em âmbito internacional, a lógica é mantida, como observado na Convenção Americana sobre
Silva -- CPF:

Direitos Humanos:
ARTIGO 21. Direito à Propriedade Privada
da Silva

1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus bens. A lei pode subordinar esse uso e
Gouvea da

gozo ao interesse social.


Eliovaine Gouvea

2. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo mediante o pagamento de
indenização justa, por motivo de utilidade pública ou de interesse social e nos casos e na
forma estabelecidos pela lei.
Eliovaine

3. Tanto a usura como qualquer outra forma de exploração do homem pelo homem devem
ser reprimidas pela lei.

13.2. Restringibilidade dos direitos

Além da identificação do âmbito de proteção dos direitos fundamentais/humanos, outro ponto que
ganha relevo diz respeito à sua possibilidade de restrição.
Gilmar Ferreira Mendes (2012, p. 40) cita Friedrich Kein, para quem não há possibilidade lógica de
existir restrições a um direito individual, mas apenas a delimitação deste.
Essa ideia remete à chamada teoria interna (Innentheorie), em que um direito fundamental existe
desde sempre com seu conteúdo pré-definido (SARLET, 2020, p. 395).
Daí a ideia de restrição é substituída pela de limite ou, melhor dizendo, delimitação. Não se discute
mais amplitude da restrição, mas, sim, o próprio conteúdo do direito (MENDES, 2012, p. 41). Portanto,
eventual restrição a um direito pré-definido seria, por natureza, ilegítima.
Robert Alexy (2015, p. 277) ensina que, para a teoria externa (Aussentheorie), há uma distinção
entre o direito fundamental e a restrição em si:

42
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

(...) Se a relação entre direito e restrição for definida dessa forma, então, há, em primeiro
lugar, o direito em si, não restringido, e, em segundo lugar, aquilo que resta do direito após
a ocorrência de uma restrição, o direito restringido (ALEXY, 2015, p. 277).

Portanto, o direito, prima facie é considerado ilimitado, sendo a restrição externa ao seu âmbito de
proteção. A restrição, segundo a teoria externa, não tem uma relação necessária ao direito, as surge a partir
de uma existência de conciliação de direitos individuais ou interesses coletivos contrapostos (ALEXY, 2015,
p. 277).
Ingo Sarlet (2020, p. 396) ressalta que a adoção da teoria externa não afasta a possibilidade de
direitos sem restrições, mas, sim, a ideia que essa restrição surgirá da necessidade de compatibilização de
bens jurídicos. Essa teoria, segundo explica o autor, oferece a vantagem, em termos jurídico-dogmáticos, de
dinamicidade na aplicação de direitos fundamentais, mas, por outro lado, exige uma transparência
metodológica no processo de compatibilização de interesses divergentes. Aqui interessa não apenas o
resultado, mas, também, o caminho percorrido.
Os limites aos direitos fundamentais podem resultar de ações ou omissões dos poderes públicos ou
de particulares que reduzam o acesso ao bem jurídico protegido (aspecto subjetivo) ou diminuam os deveres
estatais de sua promoção (aspecto objetivo) (SARLET, 2020, p. 398).
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Os direitos fundamentais podem ser restringidos de um ponto de vista formal, de forma direta ou
indireta. De forma direta, quando a restrição decorre de disposição expressa da Constituição ou tratado. Já
de forma indireta, por meio da chamada reserva de lei, que poderá ser simples ou qualificada (quando o
próprio dispositivo condiciona a atuação do legislador). Os limites formais acabam por se confundir com a
delimitação do âmbito de proteção do direito.
Para além dos limites formais, é possível que a restrições substanciais dos direitos fundamentais
CPF: 030.720.271-29

que ocorrem pela colisão de bens jurídicos também protegidos:


Em outras palavras, direitos fundamentais formalmente ilimitados (isto é, desprovidos de
reserva) podem ser restringidos caso isso se releve imprescindível para a garantia de outros
direitos constitucionais, de tal sorte que há mesmo quem tenha chegado a sustentar a
Silva -- CPF:

existência de uma verdadeira “reserva geral imanente de ponderação”. (SARLET, 2020, p.


400).
da Silva

Nesse contexto, ganha importância o estudo de outro tipo de limites, denominados limites dos
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

limites dos direitos fundamentais.

13.3. Limites dos limites dos direitos fundamentais e a garantia de seu núcleo
Eliovaine

essencial

A ideia subjacente ao núcleo essencial dos direitos fundamentais é de que existem conteúdos
invioláveis desses direitos que se reconduzem a posições indisponíveis às intervenções estatais e dos
particulares (SARLET, 2010, p. 402).
Gilmar Ferreira Mendes (2012, p. 58) ressalta que, apesar de a ideia de proteção do núcleo essencial
dos direitos fundamentais não ser unívoco na doutrina e na jurisprudência, há dois modelos básicos que
buscam delimitar seu conteúdo:

• Teoria absoluta (absolute Theorie): o núcleo essencial dos direitos fundamentais seria a unidade
substancial autônoma, que independe de qualquer situação concreta, inclusive da atividade
legislativa (MENDES, 2012, p. 58);
• Teoria relativa (relative Theorie): o núcleo essencial do direito será definido de forma casuística,
considerando-se o objetivo perseguido pela norma de caráter restritiva (MENDES, 2012, p. 59).
A aferição do núcleo essencial, em ambas as teorias, será feita por meio do processo de ponderação
de proporcionalidade, ainda que em momentos distintos:

43
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Na primeira hipótese [teoria absoluta], o respeito ao núcleo intangível dos direitos


fundamentais poderia desempenhar o papel de um “filtro” (muitas vezes subsidiário) ao
exame de proporcionalidadeꓼ na segunda [teoria relativa], estaria muito provavelmente
fadado a ser absorvido por este exame. (SARLET, 2020, p. 411)

Não obstante a Constituição de 1988 não ter expressamente previsto a garantia do núcleo essencial
dos direitos fundamentais, o STF, em diversas oportunidades, a utilizou:
A Lei 11.482/2007, que resultou da conversão da MP 340, de 2006, alterou os valores das
indenizações devidas por morte, por invalidez permanente, total ou parcial, e por despesas
de assistência médica e suplementares. (...) Com efeito, dizer que a ação estatal deva
caminhar no sentido da ampliação dos direitos fundamentais e de assegurar-lhes a máxima
efetividade possível, por certo, não significa afirmar que seja terminantemente vedada
qualquer forma de alteração restritiva na legislação infraconstitucional, desde que, é claro,
não se desfigure o núcleo essencial do direito tutelado, como seria o caso, se fôssemos
adotar a tese de que os valores devidos a título de seguro DPVAT são imodificáveis ou
irredutíveis. (...) [ARE 704.520, voto do rel. min. Gilmar Mendes, j. 23-10-2014, P, DJE de 2-
12-2014, Tema 771.]

13.4. Princípio da proporcionalidade


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A doutrina e a jurisprudência brasileira tendem a conceber os princípios da razoabilidade e da


proporcionalidade como sinônimos, ainda que os referidos princípios tenham matrizes distintas.
O princípio da razoabilidade é uma construção anglo-saxã. Luís Roberto Barroso (2020, p. 248)
remonta sua origem à cláusula law of the land, inscrita na Magna Charta, de 1215. Modernamente, sua
construção decorre das 5ª e 14ª Emendas à constituição americana.
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O princípio da razoabilidade decorre do princípio do devido processo legal.


Em sua primeira fase, o devido processo legal tinha um caráter meramente formal ou processual
(procedural due process), pois buscava garantir os aspectos formais, procedimentais dos processos. Já em
Silva -- CPF:

sua segunda fase, o devido processo legal passou a ter um alcance substantivo ou material (substantitive due
process), em que o poder judiciário desempenha controle de mérito sobre o exercício legislativo, em defesa
da Silva

dos direitos fundamentais (BARROSO, 2020, p. 249).


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

O controle de constitucionalidade passa a analisar a compatibilidade entre os fins almejados e os


meios empregados pelo legislador. Por intermédio da cláusula do devido processo legal, o judiciário norte-
americano passou a proceder ao exame de razoabilidade (reasonableness) e de racionalidade (rationality)
Eliovaine

das leis e atos normativos. Assim sendo, a razoabilidade surge nos Estados Unidos como parâmetro para o
controle de constitucionalidade (judicial review) (BARROSO, 2013, p. 249), em que se pressupõe equilíbrio
entre os fins e os meios.
O princípio ou postulado da proporcionalidade, por sua vez, surgiu na Alemanha no âmbito do
Direito Administrativo, servindo como limitação à discricionariedade administrativa (BARROSO, 2013, p.
249).
Após a Lei Fundamental de Bonn, de 1949, a ideia de proporcionalidade passa a ter fundamento
constitucional, derivado do Estado Democrático de Direito (SARLET, 2020, p. 403). Luís Roberto Barroso
(2020, p. 250) explica que o princípio da reserva legal passou a ser concebido como princípio da reserva de
lei proporcional.
Assim como a noção de razoabilidade norte-americana, o princípio da proporcionalidade está ligado
à relação entre meios e fins.
Quanto às restrições aos direitos fundamentais, o exame da proporcionalidade dos atos estatais é
feito por meio de três máximas ou subprincípios, desenvolvidas na jurisprudência alemã:

44
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

• Máxima da adequação: também denominado de pertinência, utilidade ou idoneidade. Significa


que o meio escolhido deve atingir o objetivo perquirido;
• Máxima da necessidade: por alguns, denominada exigibilidade. A adoção da medida que possa
restringir direitos só é legitimada se indispensável para o caso concreto e não puder ser
substituída por outra menos gravosa;
• Máxima da proporcionalidade em sentido estrito: é a medida necessária e adequada. Deve-se
investigar se o ato praticado, em termos de realização do objetivo pretendido, supera a restrição
a outros valores constitucionalizados. As vantagens da adoção da medida devem superar as
desvantagens. Fala-se em máxima efetividade e mínima restrição.
É importante destacar que o resultado do exame de proporcionalidade dos atos estatais pode chegar
não apenas ao excesso, mas também à proteção insuficiente. Trata-se do que André de Carvalho Ramos
(2016, p. 244) chama de dimensão positiva do princípio da proporcionalidade (em contraposição à
dimensão negativa relacionada à proibição do excesso), quando se afere se o Estado cumpriu um dever de
proteção. Nesse caso, Ingo Sarlet (2020, p. 407) aponta que as máximas devem ser analisadas da seguinte
maneira:

• Máxima da adequação ou da idoneidade: é necessário aferir se a medida adotada para a tutela


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do direito é apta para a proteção eficaz do bem jurídico protegidoꓼ


• Máxima da necessidade ou exigibilidade: busca-se averiguar se há meio mais eficaz de proteção
do bem jurídico protegido, sem que ele intervenha de forma mais gravosa a bens fundamentais
de terceiros ou interesses da coletividade.
• Máxima da proporcionalidade em sentido estrito: é necessário investigar se o impacto dos riscos
remanescentes após as medidas adotadas pode ser tolerado, em face da necessidade de
preservação de outros direitos pessoais ou coletivos. Nas palavras de André de Carvalho Ramos
CPF: 030.720.271-29

(2016, p. 244), trata-se da “ponderação entre os bens alcançados pela proteção pretendida a um
direito e os custos impostos a outros direitos, que serão comprimidos pela proteção ofertada”.
Em âmbito interno, o Supremo Tribunal Federal já utilizou o princípio da proporcionalidade em sua
dimensão positiva quando aferiu a constitucionalidade do delito de porte ilegal de arma de fogo
Silva -- CPF:

desmuniciada, por exemplo:


da Silva

HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DESMUNICIADA. (A)TIPICIDADE DA


Gouvea da

CONDUTA. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS. MANDATOS


Eliovaine Gouvea

CONSTITUCIONAIS DE CRIMINALIZAÇÃO E MODELO EXIGENTE DE CONTROLE DE


CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS EM MATÉRIA PENAL. CRIMES DE PERIGO ABSTRATO EM
FACE DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. LEGITIMIDADE DA CRIMINALIZAÇÃO DO
Eliovaine

PORTE DE ARMA DESMUNICIADA. ORDEM DENEGADA.


1. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS PENAIS.
1.1. Mandatos Constitucionais de Criminalização: A Constituição de 1988 contém um
significativo elenco de normas que, em princípio, não outorgam direitos, mas que, antes,
determinam a criminalização de condutas (CF, art. 5º, XLI, XLII, XLIII, XLIV; art. 7º, X; art. 227,
§4º). Em todas essas normas é possível identificar um mandato de criminalização expresso,
tendo em vista os bens e valores envolvidos. Os direitos fundamentais não podem ser
considerados apenas como proibições de intervenção (Eingriffsverbote), expressando
também um postulado de proteção (Schutzgebote). Pode-se dizer que os direitos
fundamentais expressam não apenas uma proibição do excesso (Übermassverbote), como
também podem ser traduzidos como proibições de proteção insuficiente ou imperativos de
tutela (Untermassverbote). Os mandatos constitucionais de criminalização, portanto,
impõem ao legislador, para o seu devido cumprimento, o dever de observância do princípio
da proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente
(HC 104.410, Relator(a): GILMAR MENDES, Segunda Turma, julgado em 6/3/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-062 DIVULG 26-03-2012 PUBLIC 27-03-2012).

Em âmbito internacional, o princípio da proporcionalidade é utilizado em suas duas dimensões. Há


vasta jurisprudência na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), por exemplo, que aponta a
inconvencionalidade das leis de anistias por retirar a proteção efetiva das normas previstas na Convenção. O

45
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

Brasil, inclusive, já foi condenado tanto no caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia) quanto no caso
Herzog sob os mesmos fundamentos.

13.5. Limites à implementação dos direitos sociais: embate entre as teorias do


mínimo existencial e do princípio da reserva do possível

Normalmente as discussões entre o princípio da reserva do possível e a teoria do mínimo existencial


ficam restritas a alguns manuais de Direito Constitucional, especificamente na implementação dos direitos
sociais. Porém, considerando o exposto — que as restrições aos direitos fundamentais são diferentes dos
direitos em si — mostra-se relevante tecer algumas palavras sobre o tema.
Gilmar Ferreira Mendes (2020, p. 697) destaca que a Corte Constitucional alemã, em famoso julgado
Numerus clausus de vagas nas Universidades (Numerus-clausus-Urteil), decidiu que, em razão da escassez de
recursos, é possível que os poderes públicos possam fazer escolhas alocativas na execução de políticas
públicas.
Portanto, o princípio da reserva do possível tem ligação à dimensão economicamente relevante dos
direitos, em especial os de natureza social em razão da preponderância de sua dimensão prestacional.
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Ingo Sarlet (2020, p. 652) ressalta que a reserva do possível abarca questões de aspectos fáticos e
jurídicos:

• Do ponto de vista fático: a escassez de recursos vincula-se ao problema da falta efetiva (em maior
ou menor medida) de recursos econômicos, humanos e técnicos;
• Do ponto de vista jurídico: a reserva do possível está ligada à separação e à independência dos
poderes. Compete ao Poder Legislativo alocar os recursos no orçamento e, ao Poder Executivo,
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gerir os gastos públicos, definindo as prioridades de governo.


A jurisprudência pátria, na implementação de direitos sociais, acaba por adotar uma “reserva de
ponderação” na implementação dos direitos sociais. Porém, a reserva do possível não é um obstáculo
Silva -- CPF:

intransponível para a efetivação dos direitos fundamentais sociais em razão principalmente da teoria do
mínimo existencial.
da Silva

O juiz e professor Otto Bachof defendia que todos os direitos fundamentais devem ser interpretados
Gouvea da

à luz do Estado de bem-estar social. Parte-se da premissa que a dignidade humana impõe não apenas a
Eliovaine Gouvea

liberdade como também um nível mínimo de segurança social (SARLET, 2020, p. 665).
Para Ricardo Lobo Torres (1990, p. 70), o mínimo existencial tem status negativo contra a intervenção
Eliovaine

estatal e positivo, demandando prestações dos poderes públicos:


O fundamento do direito ao mínimo existencial, por conseguinte está nas condições para o
exercício da liberdade, que, por seu turno, se expressam no princípio da igualdade, na
proclamação do respeito à dignidade humana, na cláusula do Estado Social de Direito e em
inúmeras outras classificações constitucionais ligadas aos direitos sociais (TORRES, 1990, p.
70).

Com base na ideia de mínimo existencial, compete ao Estado efetivar direitos prestacionais previstos
na Constituição e, também, nos tratados internacionais. Ademais, em caso de omissão do Estado na
concretização de seu mister, com base na teoria, abre-se a possibilidade de o titular do direito buscar
judicialmente sua efetivação.
A QUESTÃO DA RESERVA DO POSSÍVEL: RECONHECIMENTO DE SUA INAPLICABILIDADE,
SEMPRE QUE A INVOCAÇÃO DESSA CLÁUSULA PUDER COMPROMETER O NÚCLEO BÁSICO
QUE QUALIFICA O MÍNIMO EXISTENCIAL (RTJ 200/191-197) (...) (ARE 745.745 AgR,
Relator(a): CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 02/12/2014, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-250 DIVULG 18-12-2014 PUBLIC 19-12-2014)

46
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

QUESTÕES
63. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - PC-AL - Delegado de Polícia) Toda pessoa tem deveres para com a sua
família, a sua comunidade e a humanidade, sendo que o direito individual é limitado pelo direito dos
demais, pela segurança de todos e pelas exigências do bem comum, em uma sociedade democrática.

64. (CESPE / CEBRASPE - 2013 - DPE-DF - Defensor Público) Toda pessoa tem direito à liberdade de
expressão, independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em forma
impressa ou artística, ou por qualquer outro meio de sua escolha, não podendo o exercício desse
direito estar sujeito a qualquer tipo de restrição ou limites por parte dos Estados subscritores do pacto
em apreço.

65. (FCC - 2016 - DPE-BA - Defensor Público) É considerado pela doutrina como (sub)princípio derivado
do princípio da proporcionalidade:
a) Boa-fé objetiva.
b) Proibição de retrocesso social.
c) Estado de direito.
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d) Segurança jurídica.
e) Proibição de proteção insuficiente.

66. (FCC - 2011 - TCE-PR - Analista de Controle – Jurídica) Em matéria de colisão de direitos fundamentais,
a aplicação do princípio da proporcionalidade pressupõe, entre outros elementos, que a restrição ao
exercício de um direito fundamental somente ocorra se não houver outro meio menos gravoso e
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igualmente eficiente para a solução da colisão. O elemento do princípio da proporcionalidade ao qual


o texto se refere é o da
a) necessidade.
b) adequação.
Silva -- CPF:

c) eficácia.
d) proporcionalidade em sentido estrito.
da Silva

e) vedação do retrocesso.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

67. (PGE-MS - 2014 - PGE-MS - Procurador do Estado) Seguindo a esteira inaugurada pela Corte
Constitucional alemã (Bundesverfassungsgericht) em 1971, setores da doutrina constitucional
Eliovaine

brasileira têm desenvolvido esforços teóricos em torno do princípio da proporcionalidade como


elemento de aferição da (in)constitucionalidade de leis que estabelecem limitações ao exercício de
direitos fundamentais no campo da denominada reserva legal. Quanto a esse princípio da
proporcionalidade é correto afirmar que:
a) ele se restringe à perquirição em torno da importância dos fundamentos justificadores da plena
adequação (Geeignetheit) da intervenção estatal na hipótese concreta;
b) ele envolve três planos, o da adequação (Geeignetheit) das limitações legais no exercício do direito
fundamental, o da necessidade (Notwendigkeit) relacionado a intensidade dos meios interventivos e,
por fim, o da realização da ponderação em sentido estrito e específico (rigorosa ponderação e do
possível entre o sentido da intervenção e os objetivos perseguidos pelo legislador);
c) ele abarca dois planos, o da importância dos fundamentos que a justificam (adequação/Geeignetheit)
e, por fim, se realiza a ponderação em sentido estrito e específico (rigorosa ponderação e do possível
entre o sentido da intervenção e os objetivos perseguidos pelo legislador);
d) ele se circunscreve a uma ponderação em sentido estrito e específico (a da relevância dos elementos
justificadores dessa intervenção);
e) ele somente envolve o problema da demonstração argumentativa da importância dos fundamentos
que justificam a necessidade (Erfordelichkeit) da intervenção legislativa.

47
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

68. (MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça Substituto) Sobre o princípio da proporcionalidade
no sistema constitucional brasileiro, assinale a alternativa incorreta:
a) Apesar de não haver hierarquia entre normas constitucionais, a ponderação de interesses, como
técnica de aplicação do princípio da proporcionalidade, reconduz à criação, pelo intérprete, de uma
“hierarquia móvel” entre princípios em colisão.
b) A técnica da ponderação de interesses não pode dissolver esquemas de competências
constitucionalmente definidos.
c) Na aplicação da técnica de ponderação de interesses, a medida restritiva não será desproporcional se,
ausente peso suficiente dos motivos que justificaram a restrição, esta não afetar o núcleo essencial do
direito fundamental ou bem constitucionalmente protegido, em rota de colisão.
d) O princípio da proporcionalidade funciona como limite à proteção insuficiente pelo Estado de direitos
e bens constitucionalmente protegidos.

69. (MPF - 2015 - PGR - Procurador da República) Dentre os enunciados abaixo, estão corretos:
I - O exercício dos direitos fundamentais pode ser facultativo, sujeito, inclusive, a negociação ou
mesmo prazo fatal;
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II - A proibição de retrocesso é uma proteção contra efeitos retroativos e tem expressa previsão
constitucional na proibição de ofensa ao ato jurídico perfeito, à coisa julgada e ao direito adquirido;
III - Salvo em relação as reservas legais, para que a diminuição na proteção de um direito fundamental
seja permitida, é preciso que haja justificativa também de estatura fundamental, que se preserve o
núcleo do direito envolvido e que se observe o princípio da proporcionalidade;
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IV - Pela teoria interna, o conflito entre direitos fundamentais é meramente aparente, na medida em
que e superado pela determinação do verdadeiro conteúdo dos direitos envolvidos.
a) I, II e IV
b) I, III e IV
Silva -- CPF:

c) I e III
d) I e IV
da Silva
Gouvea da

70. (ESAF - 2015 - ESAF - Analista de Planejamento e Orçamento) Sobre o conteúdo do "direito ao mínimo
Eliovaine Gouvea

existencial" e sua relação com os "direitos fundamentais sociais", podemos fazer as seguintes
afirmações, com exceção de:
Eliovaine

a) em sede de direitos sociais, a Constituição federal fixa diretrizes básicas de políticas públicas, como,
por exemplo, a fixação de percentual mínimo de recursos a serem aplicados na manutenção de
desenvolvimento do ensino.
b) diante de uma norma constitucional que estabelece recursos mínimos para a saúde e uma decisão
discricionária de alocação de recursos orçamentários para a habitação, aliado à realidade fática que
reclama ações urgentes no âmbito da saúde pública, é muito provável que seja dada prioridade à
saúde, sacrificando a habitação naquele momento.
c) alguns direitos sociais, a exemplo da moradia, não foram contemplados com parâmetros
constitucionais para a aferição do mínimo existencial. Este tem sido o critério adotado pelo STF para
identificar omissões indevidas e artifícios utilizados para invocar a cláusula da reserva do possível.
d) a teoria do mínimo existencial tem a função de atribuir ao indivíduo um direito subjetivo contra o
Poder Público, em casos de diminuição da prestação dos serviços sociais básicos que garantem a sua
existência digna.
e) a definição de parâmetros constitucionais para determinar o que seja o valor mínimo existencial
permite um controle efetivo das ações e omissões governamentais por parte do Ministério Público e

48
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

associações legitimadas. Todavia, tal controle será exercido apenas em relação à execução, e não à
formulação de políticas públicas.

71. (FCC - 2014 - TCE-PI - Assessor Jurídico) A teoria da reserva do possível


a) significa a inoponibilidade do arbítrio estatal à efetivação dos direitos sociais, econômicos e culturais.
b) gira em torno da legitimidade constitucional do controle e da intervenção do Poder Judiciário em tema
de implementação de políticas públicas, quando caracterizada hipótese de omissão governamental.
c) considera que as políticas públicas são reservadas discricionariamente à análise e intervenção do
Poder Judiciário, que as limitará ou ampliará, de acordo com o caso concreto.
d) é sinônima, em significado e extensão, à teoria do mínimo existencial, examinado à luz da violação dos
direitos fundamentais sociais, culturais e econômicos, como o direito à saúde e à educação básica.
e) defende a integridade e a intangibilidade dos direitos fundamentais, independentemente das
possibilidades financeiras e orçamentárias do Estado.
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72. (CESPE / CEBRASPE - 2015 - DPE-RN - Defensor Público Substituto) Acerca da distinção entre
princípios e regras, do princípio da proibição do retrocesso social, da reserva do possível e da eficácia
dos direitos fundamentais, assinale a opção correta.
a) De acordo com entendimento do STF, não é cabível à administração pública invocar o argumento da
reserva do possível frente à imposição de obrigação de fazer consistente na promoção de medidas em
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estabelecimentos prisionais para assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral.
b) Os direitos fundamentais são também oponíveis às relações privadas, em razão de sua eficácia vertical.
c) As colisões entre regras devem ser solucionadas mediante a atribuição de pesos, indicando-se qual
regra tem prevalência em face da outra, em determinadas condições.
Silva -- CPF:

d) Tanto regras quanto princípios são normas, contudo, tão somente as regras podem ser formuladas
da Silva

por meio das expressões deontológicas básicas do dever, da permissão e da proibição.


Gouvea da

e) O princípio da proibição do retrocesso social constitui mecanismo de controle para coibir ou corrigir
Eliovaine Gouvea

medidas restritivas ou supressivas de direitos fundamentais, tais como as liberdades constitucionais.


Eliovaine

73. (Quadrix - 2019 - CRN) Também a efetivação do mínimo existencial está sujeita à reserva do possível
como justificativa apta a eximir o Estado de responsabilidade.

74. (FUNIVERSA - 2014 - SEAP-DF - Auditor de Controle Interno) Segundo Dieter Grimm, ex-juiz do
Tribunal Constitucional Federal alemão, as Constituições só conseguem cumprir suas missões se forem
atos normativos hierarquicamente superiores aos demais. Nesse sentido, é particularmente relevante
— senão indispensável —, que se adote um catálogo de direitos fundamentais por meio do texto
constitucional. No que se refere à teoria geral dos direitos fundamentais e à sua tutela jurídica, assinale
a alternativa correta.
a) Segundo Marcelo Neves, os direitos fundamentais podem ser princípios ou regras. Quando forem
princípios constitucionais, sempre ligar-se-ão à democracia, enquanto as regras vinculam-se
forçosamente ao despotismo.
b) Para Robert Alexy, a proteção do núcleo essencial do direito fundamental confunde-se com a máxima
da proporcionalidade, já que o autor alemão defende a teoria relativa do núcleo essencial.
c) Pessoa jurídica não possui legitimidade ativa para impetrar habeas data.
d) Para os defensores da teoria externa dos direitos fundamentais, toda limitação ao âmbito de proteção
do direito fundamental importa automaticamente na sua violação, porque toda limitação de um

49
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

direito é, ao mesmo tempo, interferência na parte integrante da determinação do seu conteúdo


definitivo.
e) Qualquer pessoa é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e
ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais
e do ônus da sucumbência.

75. (FCC - 2010 - TCE-RO – Procurador) Em demandas judiciais brasileiras, a reserva do possível é alegada
pela Administração Pública como uma limitação para a efetivação de direitos fundamentais de ordem
social. Este conceito, todavia, é interpretado, na atual jurisprudência do STF com o seguinte sentido:
a) A efetivação de direitos sociais está condicionada ao rol de direitos fundamentais de natureza
prestacional que uma determinada Constituição positiva em dado momento histórico; assim,
pretensões sociais que não estão previstas no texto constitucional não podem ser judicialmente
cobradas do Estado.
b) Normas constitucionais que preveem direitos sociais dependem de complementação legislativa para
produzir efeitos e, pelo fato de o Poder Judiciário não estar legitimado a obrigar o Poder Legislativo a
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elaborar a norma, resta à Administração Pública implementar políticas sociais no limite da


disponibilidade normativa já positivada.
c) Em Estados que adotam o federalismo, como é o caso do Brasil, as políticas públicas na área social
dependem de ações promovidas pela União em conjunto com as demais unidades federadas; assim,
se não houver a participação de um determinado Estado- Membro ou Município na execução da
política pública, a demanda por direitos sociais não será plenamente atendida.
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d) Apesar de muitos direitos sociais estarem positivados na Constituição, a falta de recursos


orçamentários para a prestação de políticas públicas nesta área é uma barreira intransponível que
impede a efetivação das normas constitucionais.
Silva -- CPF:

e) A falta de recursos orçamentários para a execução de direitos sociais previstos no texto constitucional
é um óbice, mas não pode ser um limite que nulifique o atendimento dessa demanda, já que as normas
da Silva

constitucionais consubstanciam direitos exigíveis e não simplesmente promessas dependentes do


Gouvea da

alvedrio do administrador.
Eliovaine Gouvea

76. (MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça) Sobre os direitos sociais, analise as proposições
Eliovaine

abaixo e, ao final, assinale a alternativa correta:


I - Para Robert Alexy, os direitos fundamentais sociais são direitos subjetivos prima facie, razão por
que se sujeitam a um processo de ponderação à luz do princípio da proporcionalidade, que precede o
reconhecimento desses direitos como direitos definitivos. Nesse sentido, o fato de os direitos sociais
constituírem direitos prima facie não afasta seu caráter vinculante e não os torna enunciados
meramente programáticos, cabendo ao Poder Judiciário o controle de suficiência do dever prima facie.
II - Segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, os direitos sociais caracterizam-se por uma
decisiva dimensão econômica, razão por que são passíveis de satisfação segundo conjunturas
econômicas, de acordo com as disponibilidades do momento, a partir de escolhas que competem,
primariamente, ao Poder Executivo e ao Poder Legislativo. Entretanto, admite a Suprema Corte a
intervenção do Poder Judiciário diante da inércia estatal injustificada, especialmente quando a
conduta governamental negativa puder resultar na nulificação ou até mesmo na aniquilação de
direitos constitucionais impregnados de essencial fundamentalidade.
III - Segundo se sustenta em doutrina, um conceito constitucionalmente adequado de reserva do
possível compreende aquilo que o indivíduo pode, razoavelmente, exigir da sociedade e deve levar em
conta a disponibilidade fática e jurídica dos recursos para a efetivação dos direitos sociais bem como
a proporcionalidade da prestação, quanto à sua exigibilidade e razoabilidade, o que impede

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS • 1

intervenções excessivas na esfera dos direitos fundamentais sociais, como também proíbe ações
insuficientes para assegurar a efetividade desses direitos.
IV - A tese do mínimo existencial, adotada pelo Supremo Tribunal Federal, pode ser extraída da teoria
dos princípios, conforme proposta por Robert Alexy.
a. somente as proposições I e II estão corretas;
b. somente as proposições I, II e IV estão corretas;
c. somente as proposições I, II e III estão corretas;
d. todas as proposições estão corretas.

77. (Prefeitura de Rondonópolis - MT - 2019 Procurador Jurídico) Leia o texto abaixo.


“É nessa perspectiva que (o que se registra para espancar qualquer dúvida a respeito) comungamos do
entendimento de que todos os direitos fundamentais possuem um núcleo essencial, núcleo este que, por
outro lado, não se confunde com seu conteúdo em dignidade da pessoa humana (ou, no caso dos direitos
sociais, com o mínimo existencial), embora em maior ou menor medida, a depender do direito em causa,
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um conteúdo em dignidade humana e/ou uma conexão com o mínimo existencial se faça presente, do que
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não apenas podem, como devem ser extraídas consequências para a proteção e promoção dos direitos
fundamentais.” (SARLET, I. W. Constitucionalismo transformador, inclusão e direitos sociais. Salvador:
Editora JusPodivm, 2019.) A partir do texto, em termos de dogmática jurídico-constitucional de um direito
ao mínimo existencial, é correto afirmar:
a) Na orientação jurisprudencial adotada pelo Supremo Tribunal Federal, os direitos sociais são
considerados sempre na perspectiva coletiva, cabendo ao poder público priorizar as políticas públicas,
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elaboradas de maneira técnica e impessoal, que visem assegurar o mínimo existencial.


b) Embora não seja possível estabelecer, de modo taxativo, um rol dos elementos nucleares do mínimo
existencial, há um conjunto de conquistas sedimentadas que serve de roteiro a guiar o intérprete da
norma e, de modo geral, os órgãos vinculados à concretização dessa garantia.
Silva -- CPF:

c) O núcleo essencial dos direitos e o mínimo existencial se confundem em toda a sua extensão, daí
porque o mínimo existencial funciona como parâmetro para identificar quais direitos sociais são
da Silva

essencialmente fundamentais.
Gouvea da

d) No direito constitucional brasileiro, diferentemente do que ocorre na maioria dos sistemas jurídicos
Eliovaine Gouvea

ocidentais, há previsão constitucional expressa consagrando um direito geral à garantia do mínimo


existencial.
Eliovaine

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA

PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS


A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

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A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

1. A INTERNACIONALIZAÇÃO DA PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Do ponto de vista histórico, a proteção dos direitos humanos teve seu início nos Estados-nações para,
em um segundo momento, ser alçado à proteção internacional. Se é possível falar na proteção constitucional,
a partir da implementação da Bill of Rights à Constituição Americana (através das 10 primeiras emendas à
Constituição de 1787, aprovadas pelo Congresso em 1789 e ratificadas pelos Estados em 1791), em âmbito
internacional, os precedentes da proteção internacional dos direitos humanos são datados de meados do
Século XIX, com os primeiros documentos que formaram a base do Direito Humanitário (a Declaração de
Paris de 1856 sobre a guerra marítima; a Convenção de Genebra de 1864 sobre a proteção dos feridos; a
Declaração de São Petersburgo, de 1868, a favor da interdição de algumas armas; e a Declaração de Bruxelas,
de 1874, para a distinção entre combatentes e não combatentes).
Além do Direito Humanitário — que se constitui como verdadeiro direito a ser aplicado na hipótese
de guerra, gerando limites à liberdade dos Estados (PIOVESAN, p. 204) —, a Liga das Nações buscou reforçar
a proteção do ser humano, com os sistemas de mandatos, das minorias e dos trabalhadores, com a criação
da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Vale dizer, o advento da Organização internacional do trabalho, da Liga das Nações e do
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Direito Humanitário registra o fim de uma época em que o Direito Internacional era, salvo
raras exceções, confiando a regular relações entre Estados, no âmbito estritamente
governamental. Por meio desses institutos, não mais se visava proteger arranjos e
concessões recíprocas entre os Estados; visava-se, sim, o alcance de obrigações
internacionais a serem garantidas ou implementadas coletivamente, que, por sua natureza,
transcendiam os interesses exclusivos dos Estados contratantes. Essas obrigações
internacionais voltavam-se à salvaguarda dos direitos do ser humano e não das
prerrogativas dos Estados (PIOVESAN, 2018, p. 208).
CPF: 030.720.271-29

O Direito Internacional dos Direitos Humanos moderno, por sua vez, é um fenômeno do pós-guerra,
decorrente das atrocidades cometidas pelos Estados, em especial pela Alemanha-Nazista, durante a Segunda
Guerra Mundial (GUERRA, 2020, p. 111).
Silva -- CPF:

Como bem destaca Antonio Cassese (2013, p. 85), após a Segunda Guerra Mundial, os esforços da
proteção internacional da dignidade humana multiplicaram-se; no plano internacional, indivíduos não são
da Silva

considerados apenas como membros pertencentes de um grupo ou minoria, mas, sim, como objeto de
Gouvea da

proteção enquanto indivíduos.


Eliovaine Gouvea

Buscou-se o desenvolvimento de sistemas de proteção internacional dos direitos humanos através


de novas organizações internacionais, das quais se destacam a Organização das Nações Unidas, em âmbito
Eliovaine

global, e as organizações de âmbito regional, como a Organização dos Estados Americanos, a União Africana
(que anteriormente se chamava Organização da Unidade Africana) e a União Europeia, que estudaremos a
seguir.

2. O SISTEMA GLOBAL OU ONUSIANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

2.1. História

Antonio Cassese (2004, p. 87) explica que, durante a Conferência de São Francisco, os Estados
estavam divididos em três grupos quanto à forma de tratamento dos direitos humanos no âmbito da ONU:

• O primeiro grupo era formado pelos Estados latino-americanos (Brasil, Colômbia, Chile, México,
Equador, República Dominicana e Uruguai) e países como Nova Zelândia, Austrália e Índia: tinha
como proposta emendas à Carta da ONU para que constasse expressamente uma obrigação
internacional dos Estados em respeitar os Direitos Humanos;
• O segundo grupo, com a maioria das potências ocidentais, liderado pelos Estados Unidos: se
opunha à ampliação do artigo 56 da Carta, buscando, ainda, inserir uma cláusula de tutela da
soberania Estatal para afastar interferências por parte da ONU;

54
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

• O terceiro grupo, composto por países socialistas, liderados pela União Soviética: compartilhava
com o segundo grupo a ideia de uma abordagem restritiva, mas buscou inserir, na Carta, artigos
referentes ao direito de autodeterminação dos povos (pretensões contrárias aos países ocidentais
que ainda mantinham colônias).

Ao final, as soluções encontradas foram as seguintes:


I. Não foram aprovadas obrigações específicas de ação separada para a promoção ou garantia dos
direitos humanos:
Artigo 56. Para a realização dos propósitos enumerados no Artigo 55, todos os Membros da
Organização se comprometem a agir em cooperação com esta, em conjunto ou
separadamente.

II. A autodeterminação dos povos foi declarada expressamente na Carta da ONU, mas apenas como
um princípio para guiar a ONU, sem uma versão reduzida do autogoverno (CASSESE, 2004, p. 88):
Artigo 1. Os propósitos das Nações unidas são: (...)
2. Desenvolver relações amistosas entre as nações, baseadas no respeito ao princípio de
igualdade de direitos e de autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas
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apropriadas ao fortalecimento da paz universal;

Artigo 55. Com o fim de criar condições de estabilidade e bem estar, necessárias às relações
pacíficas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade de
direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão: (...)

III. Limitação dos poderes da Assembleia Geral no campo dos direitos humanos, com a cláusula do
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domínio reservado (CASSESE, 2004, p. 88):


Artigo 2.
7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem em
assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou obrigará os
Silva -- CPF:

Membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos termos da presente Carta; este
princípio, porém, não prejudicará a aplicação das medidas coercitivas constantes do
da Silva

Capítulo VII.
Gouvea da

IV. As normas de direitos humanos da Carta da ONU foram consideradas meio para conseguir a
Eliovaine Gouvea

segurança e a paz internacionais.


Durante a Conferência de São Francisco, o então presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman,
Eliovaine

em pronunciamento à Assembleia Geral da ONU, prometeu a construção de uma carta de direitos, tendo o
órgão aprovado a criação do Terceiro Comitê relacionado a Assuntos Sociais, Humanos e Culturais,
posteriormente transformado no Conselho Econômico e Social (Economic and Social Council – ECOSOC)
(TEREZO, 2014, p. 27).
Em 1947, o ECOSOC instituiu a Comissão de Direitos Humanos (CDH), dando-lhe a incumbência de
elaborar o instrumento internacional relacionado aos Direitos Humanos. Cristina Figueiredo Terezo (2014, p.
28) explica que a CDH tinha três etapas de atividades:
1ª. A preparação da Declaração Universal dos Direitos Humanos;
2ª. A elaboração de documentos juridicamente vinculantes aos Estados com a temática dos direitos
humanos;
3ª. A formulação de mecanismos de judicialidade e exigibilidade dos direitos previstos nos tratados
internacionais, com acesso direto dos indivíduos.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

2.2. A Declaração Universal dos Direitos Humanos

O primeiro esboço da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) foi apresentado em
setembro de 1948, por Eleonor Roosevelt, que propôs o texto à Assembleia Geral da ONU, após 81 encontros
e 168 emendas. Cristina Figueiredo Terezo (2014, p. 29) destaca que até mesmo o nome da declaração gerou
debate, pois, inicialmente, seria denominada Declaração Universal dos Direitos do Homem, tal qual o texto
da revolução francesa. A questão de gênero foi levantada por Eleonor Roosevelt, para substituir o termo
homem por humano, em razão da igualdade entre homens e mulheres.
Em 10 de dezembro de 1948, a DUDH foi adotada pela Assembleia Geral da ONU, ainda que mediante
a abstenção de Estados como União Soviética, Ucrânia, Tchecoslováquia, Polônia, Iugoslávia, Arábia Saudita
e África do Sul.
Antonio Cassese (2004, p. 94) explica que, em razão das realidades políticas e econômicas díspares
entre os Estados-membros da ONU, a DUDH teve a função de achar o mínimo denominador comum entre as
diversas formas de relação entre Estados e indivíduos, para esboçar o que o autor chama de direitos
humanos fundamentais.
Uma característica que favoreceu a criação do documento é a de que, do ponto de vista formal, a
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DUDH é uma resolução da Assembleia Geral da ONU, e, em seu nascedouro, era considerada uma
recomendação aos Estados-membros das Nações Unidas.

ATENÇÃO!

Se, no momento de sua criação, a compreensão era a de que a DUDH não era vinculante aos
Estados, atualmente essa não é uma posição pacífica. Sidney Guerra (2020, p. 122) explica que há quatro
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correntes sobre o tema:


1ª. Tratando-se de uma decisão da Assembleia Geral da ONU, ela não geraria obrigações perante
o Direito Internacional;
Silva -- CPF:

2ª. Ela é vista como um elemento probante de costumes internacionais, que, por sua vez, são
vinculantes aos Estados;
da Silva

3ª. Suas normas foram, com o tempo, ascendendo ao status de costume internacional e, por isso,
vinculantes;
Gouvea da

4ª. Trata-se de um instrumento pré-jurídico não dotado de força jurídica.


Eliovaine Gouvea

Importante destacar ainda que há quem entenda, como Valerio de Oliveira Mazzuoli (2020, ebook,
Eliovaine

p. 71), que as normas da DUDH são normas de jus cogens (normas cogentes e inderrogáveis pelos Estados),
ainda que tenham sido formuladas em uma resolução da Assembleia Geral da ONU.
Portanto, doutrinariamente, a maioria dos autores (como Valerio Oliveira Mazzuoli, Flávia
Piovesan, André de Carvalho Ramos e Sidney Guerra) reconhecem um caráter vinculante à DUDH.
Por fim, para fins de concurso, há de se distinguir a assertiva sobre a forma como a DUDH foi
produzida (fonte formal) de sua vinculação propriamente dita. Entre as bancas de concurso, o
CESPE/CEBRASPE já considerou errada a alternativa que dizia que a DUDH não criava obrigações aos
Estados, mas, em concurso posterior, considerou errada a alternativa que dizia que a Corte Internacional
de Justiça reconhecia o caráter vinculante à declaração, como costume internacional.
Recomenda-se marcar como corretas as alternativas que dizem: sua criação se deu através de
resolução; a DUDH não é um tratado; a declaração não tinha caráter vinculante, apesar de atualmente
ter; não há, por parte da Corte Internacional de Justiça já se manifestou sobre o caráter vinculante da
declaração, mas não como uma norma de jus cogens.

Já em relação ao seu conteúdo, prevaleceu a visão ocidental, dando maior espaço aos direitos civis
e políticos do que aos direitos sociais, econômicos e culturais. Ademais, não há na DUDH menção a direitos
dos povos, às desigualdades econômicas entre os Estados.

56
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Não há dúvidas acerca da importância da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que teve por
maior mérito “formular um conceito unitário e universalmente reconhecido de valores que deverão ser
defendidos por todos os Estados em seus ordenamentos internos” (CASSESE, 2004, p. 95). Nesse sentido,
Sidney Guerra (2020, p. 118) ensina que a DUDH consolida a ideia de uma ética universal, proclamando a
indivisibilidade dos direitos humanos, combinando valores de liberdade e igualdade, como direitos civis e
políticos, previstos nos artigos 3 a 21, e direitos econômicos, sociais e culturais, nos artigos 22 a 28.
A DUDH trouxe, ainda, ideias e princípios que influenciaram não apenas as constituições vindouras
como também os demais instrumentos internacionais sobre a matéria. Por isso, é possível afirmar que a
DUDH deu início à fase legislativa (GUERRA, 2020, p. 114) ou à era da legislação internacional (TEREZO,
2014, p. 30).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, junto com os Pactos Internacionais sobre Direito Civil
e Políticos e sobre Direitos Econômicos, Sociais de Culturais, formam a chamada Carta Internacional de
Direitos Humanos (International Bill of Rights) (RAMOS, 2019, p. 162).
A Declaração é dividida em três partes: a primeira parte refere-se a disposições relativas aos
fundamentos filosóficos; a segunda, a princípios gerais; e a terceira, a direitos em espécie (GUERRA, 2020, p.
122).
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ATENÇÃO!
Para fins de provas de concurso, recomenda-se a leitura da DUDH em razão da cobrança literal de
seus dispositivos. Uma forma comum de cobrança são eventuais direitos não previstos no documento,
como proteção do genoma humano, transporte gratuito ou meio ambiente.
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QUESTÕES
78. (INSTITUTO AOCP - 2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil) A Declaração Universal dos Direitos
Silva -- CPF:

Humanos de 1948 surge no pós-guerra como reação aos horrores vivenciados pelo mundo com as
experiências nazi-fascistas. Dentre as seguintes alternativas, assinale a que NÃO representa uma
da Silva

garantia prevista nesse importante instrumento.


Gouvea da

a) Direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.


Eliovaine Gouvea

b) Direito à prestação jurisdicional efetiva para defesa contra atos que violem direitos fundamentais.
c) Direito de acesso à Corte Interamericana de Direitos Humanos em duplo grau de jurisdição no caso de
Eliovaine

ações propostas diretamente no Supremo Tribunal Federal.


d) Direito de procurar e de gozar asilo em outros países.
e) Direito de contrair matrimônio e fundar uma família.

79. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PRF - Policial Rodoviário Federal) A Declaração Universal dos Direitos
Humanos, um dos primeiros instrumentos normativos gerais de direitos humanos adotados por uma
organização internacional, destacou-se pelo fato de comportar a ideia de dignidade da pessoa humana
como ponto de convergência da ética universal e do fundamento valorativo do sistema protetivo
global dos direitos humanos.

80. (Quadrix - 2021 - CRP - MA - 22ª Região - Técnico) Toda pessoa, como membro da sociedade, tem
direito à segurança social e pode legitimamente exigir a satisfação dos direitos econômicos, sociais e
culturais indispensáveis, graças ao esforço nacional e à cooperação internacional de harmonia com a
organização e os recursos de cada país.

81. (Quadrix - 2021 - CRP - MA - 22ª Região - Técnico) Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento,
de consciência e de religião; esse direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção,

57
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

assim como a liberdade de manifestar a religião ou a convicção, sozinho ou em comum, tanto em


público quanto em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

82. (Quadrix - 2021 - CRP - MA - 22ª Região - Técnico) Às pessoas não é dado o direito de abandonar o
país em que se encontrem, mas lhes é garantido o direito de regressar a seu país de origem.

83. (Quadrix - 2021 - CRP - MA - 22ª Região - Técnico) Toda pessoa acusada de um ato delituoso presume-
se inocente até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público,
sendo dispensável que todas as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.

84. (Quadrix - 2021 - CRP - MA - 22ª Região - Técnico) Salvo em tempos de guerra, ninguém será
submetido à tortura nem a penas ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

85. (FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público) A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em seu
preâmbulo, de forma expressa,
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a) conclama todos os povos e nações a pactuar, por tratados e convenções, compromissos de


observância da Declaração.
b) propõe, para evitar que se repitam, o repúdio público e a sanção aos atos bárbaros que ultrajaram a
consciência da humanidade.
c) proclama a Declaração como ideal comum a ser conquistado pelos diferentes povos em suas lutas
históricas presentes e futuras.
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d) considera legítima a rebelião contra a tirania e a opressão, desde que dentro dos limites apontados na
própria Declaração.
e) destaca ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações e que os
direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei.
Silva -- CPF:

86. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-AL - Escrivão de Polícia) A Declaração Universal dos Direitos Humanos
da Silva

não cria os direitos humanos, apenas os proclama.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

87. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-DF - Escrivão de Polícia) A Declaração Universal dos Direitos Humanos,
de 1948, foi o primeiro documento normativo de alcance global a respeito desse assunto.
Eliovaine

88. (IBADE - 2021 - IAPEN - AC - Auxiliar Administrativo) Conforme a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, proclamada pela Resolução nº 217ª (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 10 de
dezembro de 1948, assinale a alternativa CORRETA.
a) Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado (Art. 9º)
b) Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se culpado até que se prove o contrário (Art. 11º
§1)
c) Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua propriedade, exceto por conflitos civis (Art. 17º §2)
d) Todos deverão fazer parte de uma associação (Art. 20º §2)
e) Todos têm direito a salário diferente por trabalho igual, devido a condições peculiares do indivíduo
(Art. 23º §2)

89. (CESPE / CEBRASPE - 2010 - DPU - Defensor Público Federal) A Declaração Universal dos Direitos
Humanos, de 1948, apesar de ter natureza de resolução, não apresenta instrumentos ou órgãos
próprios destinados a tornar compulsória sua aplicação.

58
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

90. (CESPE / CEBRASPE - 2010 - DPU - Defensor Público Federal) Os direitos humanos são indivisíveis,
como expresso na Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual englobou os direitos civis,
políticos, econômicos, sociais e culturais.

91. (CESPE / CEBRASPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) A UDHR foi redigida à luz das atrocidades
cometidas durante a 2.ª Guerra Mundial. Nesse documento, marco da proteção internacional dos
direitos humanos, foi afirmado que
a) o meio ambiente é um direito das presentes e futuras gerações.
b) o Fundo Monetário Internacional não deve conceder empréstimos para países que usem mão de obra
infantil.
c) liberdade, igualdade e fraternidade são os três princípios axiológicos fundamentais em matéria de
direitos humanos.
d) sanções econômicas deverão ser aplicadas pela ONU às nações que não adotarem as recomendações
da UDHR.
e) deverá ocorrer intervenção humanitária pela ONU caso as nações não adotem as recomendações da
UDHR.
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92. (FUMARC - 2011 - PC-MG - Delegado de Polícia) A Declaração Universal dos Direitos Humanos pode
ser caracterizada, primeiramente por sua amplitude, compreendendo um conjunto de direitos e
faculdades, sem as quais um ser humano não pode desenvolver sua personalidade física, moral e
intelectual. Em segundo lugar, pela universalidade, aplicável a todas as pessoas de todos os países,
raças, religiões e sexos, seja qual for o regime político dos territórios nos quais incide. Assinale abaixo
a assertiva que é CONTRÁRIA ao enunciado acima:
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a) Como uma plataforma comum de ação, a Declaração foi adotada em 10 de dezembro de 1948, pela
aprovação de 48 Estados, com 8 abstenções.
b) Objetiva delinear uma ordem pública mundial fundada no respeito à dignidade da pessoa humana,
para orientar o desenvolvimento de uma raça humana superior.
Silva -- CPF:

c) Introduz a indivisibilidade dos direitos humanos, ao conjugar o catálogo dos direitos civis e políticos,
com o dos direitos econômicos, sociais e culturais.
da Silva

d) Teve imediatamente, após a sua adoção, grande repercussão moral ao despertar nos povos a
consciência de que o conjunto da comunidade humana se interessava pelo seu destino.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

93. (FCC - 2010 - SJCDH-BA - Agente Penitenciário) São princípios fundamentais proclamados no artigo I
Eliovaine

da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948:


a) a igualdade entre homens e mulheres e a liberdade de pensamento e religião.
b) a presunção de inocência e a inviolabilidade da vida privada.
c) o amplo acesso à educação e ao trabalho.
d) a liberdade de ir e vir e o direito de buscar asilo em outros países.
e) a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

94. (FCC - 2018 - DPE-AP - Defensor Público) Integram a denominada Carta Internacional dos Direitos
Humanos − International Bill of Rights:
I. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
II. Carta da Organização das Nações Unidas − ONU.
III. Declaração Universal de Direitos Humanos.
IV. Convenção Americana de Direitos Humanos.
Está correto o que se afirma em
a) II e IV, apenas.

59
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

95. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - AGU - Advogado da União) De acordo com a Corte Internacional de
Justiça, as disposições da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de caráter costumeiro,
estabelecem obrigações erga omnes.

96. (FMZ - AP - 2010 - SEAD-AP - Agente Penitenciário) A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de
1948, estabelece uma série de direitos a toda a pessoa. Dentre eles, é possível citar os seguintes,
EXCETO
a) toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal
independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer
acusação criminal contra ele.
b) toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.
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c) toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país, diretamente ou por intermédio de
representantes livremente escolhidos.
d) toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de
trabalho e à proteção contra o desemprego.
e) toda pessoa, que puder por ela pagar, tem direito à instrução nos diferentes níveis. A instrução
técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.
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97. (UPENET/IAUPE - 2010 - SERES-PE - Agente Penitenciário) Na história dos Direitos Humanos, o
momento mais importante ocorreu após a 2ª guerra mundial, quando os países se uniram, buscando
restabelecer a paz mundial. Assim, no dia 10 de dezembro de 1948, durante reunião da Assembleia
Geral das Nações Unidas, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que, dentre
Silva -- CPF:

outros tópicos, consagrou, EXCETO:


a) a liberdade de pensamento, consciência e religião.
da Silva

b) o direito à alimentação e habitação.


Gouvea da

c) o direito ao trabalho e à educação.


Eliovaine Gouvea

d) o direito a fazer parte de um governo.


e) o direito ao transporte gratuito e à previdência social.
Eliovaine

98. (CESPE / CEBRASPE - 2010 - MPE-RO - Promotor de Justiça) Considerada documento basilar para a
proteção internacional dos direitos humanos, a Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948,
a) possui valor meramente declaratório; portanto, não gera obrigações aos Estados.
b) gera obrigações somente para Estados soberanos que a ratificaram e promulgaram para fins de
incorporação ao direito interno.
c) foi promulgada no Brasil logo após a sua assinatura.
d) é ato de organização internacional, de modo que prescinde de incorporação ao direito interno, como
se exige para tratados ordinários de direitos humanos.
e) constitui relevante tratado internacional do período posterior à Segunda Guerra.

99. (FMZ - AP - 2010 - SEAD-AP - Agente Penitenciário) Com base na Declaração Universal dos Direitos
Humanos é CORRETO afirmar que
a) tal Declaração constitui um ideal comum a ser atingido por todos os povos e nações ocidentais.
b) muito embora todas as pessoas nasçam livres e iguais em dignidade e direitos, nem todas são dotadas
de razão e consciência.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

c) toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem
interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer
meios e independentemente de fronteiras.
d) a proteção aos direitos assegurados através da Declaração não impede que a pessoa sofra
interferências na sua vida privada ou em seu lar, sempre que tais interferências se mostrarem
adequadas para resguardar os interesses do Estado.
e) toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos na Declaração, salvo
aquelas pessoas que ostentem condição especial, tal como os portadores de deficiência.

100. (CESPE / CEBRASPE - 2008 - MPE-RO - Promotor de Justiça) Após as conseqüências devastadoras
da Segunda Guerra Mundial, os países resolveram criar uma organização multi e supranacional para
regular as relações entre os povos. Nesse marco, surgiu, em 1945, a Carta das Nações, cujos
fundamentos visavam, essencialmente, à manutenção da paz internacional, que incluía a proteção da
integridade territorial dos Estados frente à agressão e à intervenção externa; ao fomento entre as
nações de relações de amizade, levando em conta os princípios de igualdade, soberania e livre
determinação dos povos; e à realização de cooperação internacional para solução de problemas
internacionais de caráter econômico, social, cultural e humanitário, incluindo o respeito aos direitos
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humanos e às liberdades fundamentais, sem fazer distinção por motivos de raça, sexo, idioma ou
religião. A Carta das Nações deu origem à ONU, que, posteriormente, criou uma carta de direitos - a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) - adotada e proclamada pela Resolução 217-A (III)
da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.
Acerca dos direitos fundamentais previstos no documento mencionado no texto acima, assinale a
opção incorreta.
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a) A DUDH surgiu para atender ao clamor de toda a humanidade e buscou realçar alguns princípios
básicos fundamentais para a compreensão da dignidade humana, entre eles, a liberdade e a igualdade.
b) A DUDH protege o genoma humano como unidade fundamental de todos os membros da espécie
humana e também reconhece como inerentes sua dignidade e sua diversidade. Em um sentido
Silva -- CPF:

simbólico, a DUDH reconhece o genoma como a herança da humanidade.


c) A DUDH afirma que o desrespeito aos direitos humanos é causa da barbárie.
da Silva

d) A DUDH assegura o direito de resistência.


Gouvea da

e) A DUDH correlaciona o estabelecimento de uma compreensão comum dos direitos humanos com o
Eliovaine Gouvea

seu pleno cumprimento.


Eliovaine

101. (CESPE / CEBRASPE - 2011 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal) A Declaração Universal dos Direitos
Humanos
a) não trata de direitos econômicos.
b) trata dos direitos de liberdade e igualdade.
c) trata o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos.
d) não faz referência a direitos políticos.
e) não faz referência a direitos culturais e à bioética.

102. (PC-MG - 2008 - PC-MG - Delegado de Polícia) Analise as seguintes afirmativas acerca da
Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e assinale com V as verdadeiras e com F as falsas.
( ) É, tecnicamente, uma recomendação que a Assembleia Geral das Nações Unidas faz aos seus
membros (Carta das Nações Unidas, art. 10).
( ) Mostra os abusos praticados pelas potências ocidentais após o encerramento das hostilidades, pois
foi redigida sob o impacto das atrocidades cometidas na Segunda Guerra Mundial.

61
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

( ) Enuncia os valores fundamentais da liberdade, da igualdade e da fraternidade, mas é omissa quanto


à proibição do tráfico de escravos e da escravidão.
( ) Representa a culminância de um processo ético que levou ao reconhecimento da igualdade
essencial de todo ser humano e de sua dignidade de pessoa.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência de letras CORRETA.
a) (V) (F) (V) (F)
b) (F) (V) (F) (V)
c) (V) (F) (F) (V)
d) (F) (V) (V) (F)

2.3. Os Pactos de Direitos Humanos de 1966

Ultrapassada a primeira etapa de atividade, coube à Comissão de Direitos Humanos a incumbência


de elaborar um texto com vinculação normativa aos Estados.
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Cristina Figueiredo Terezo (2014, p. 33) destaca que a ideia inicial era a produção de um único texto,
com mecanismos de controle e monitoramento idênticos. Contudo, não obstante a solicitação inicial da
Assembleia Geral da ONU, a então presidente da CDH, Eleonor Roosevelt, justificou a necessidade de cisão
dos instrumentos em quatro pontos (TEREZO, 2014, p. 34):
1º. As medidas de implementação dos direitos sociais deveriam ser adotadas de forma progressiva,
ante as diferentes realidades entre os Estados;
CPF: 030.720.271-29

2º. Enquanto direitos individuais civis e políticos necessitariam apenas de seu reconhecimento em
textos normativos, os direitos econômicos, sociais e culturais demandariam esforços da
população e de seus governantes para a implementação;
3º. Em razão da natureza distinta dos direitos, o sistema de monitoramento deveria ser diverso,
sendo possível ao CDH analisar denúncias contra direitos civis e políticos, mas não em relação aos
Silva -- CPF:

direitos sociais, por sua implementação progressiva; e


4º. A redação dos dispositivos era distinta, havendo maior detalhamento em relação aos direitos
da Silva

civis e políticos do que aos direitos econômicos, sociais e culturais.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Após a justificativa, o Terceiro Comitê da Assembleia da ONU concordou com a cisão dos textos, mas
determinou que as duas versões fossem apresentadas simultaneamente para a aprovação e assinatura dos
Estados-membros.
Eliovaine

Os sistemas de monitoramento dos tratados foram as principais causas da demora para a


consolidação dos textos definitivos submetidos à Assembleia Geral da ONU. Em 16 de dezembro de 1966, os
tratados internacionais foram aprovados, por unanimidade, sem abstenções dos membros da ONU.
Não obstante a divisão dos direitos em tratados distintos, são necessárias algumas considerações:

• Não há hierarquia entre os direitos individuais, civis e políticos, em relação aos direitos sociais,
econômicos e culturais;
• Ambos os pactos têm natureza formal de tratados, sendo vinculantes aos Estados que os
ratificarem;
• Os Estados-partes, ao ratificarem os tratados, comprometem-se a criar legislação para o seu
cumprimento (princípio do efeito útil dos tratados).
Em relação ao conteúdo dos pactos, Sidney Guerra faz as seguintes ponderações:
Fato curioso é que o pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos prevê uma série de
direitos para o indivíduo, ao passo que o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, sociais
e Culturais consagra um rol de deveres para os Estado, ou seja, a ideia apresentada de
liberdades negativas (direitos de primeira geração) e de liberdades positivas (direitos de
segunda geração) é observada da leitura dos referidos documentos internacionais, fazendo

62
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

com que os primeiros sejam considerados autoaplicáveis e os segundos, programáticos


(GUERRA, 2020, p. 126).

2.3.1. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (PIDCP)

O Pacto é dividido em seis partes:


1ª. Relacionada à disposição livre pelos povos de suas riquezas, recursos naturais e à sua
autodeterminação;
2ª. O dever dos Estados de respeitar e garantir os direitos previstos no tratado aos indivíduos que
estão em seu território, sem qualquer tipo de discriminação.
3ª. Os direitos previstos no tratado propriamente ditos (dos artigos 6 a 27).
4ª. Determina a constituição do Comitê de Direitos Humanos, que terá a incumbência de receber
relatórios sobre as medidas adotadas pelos Estados para tornar os direitos civis e políticos
efetivos, bem como as comunicações interestatais;
5ª. Dispõe sobre a interpretação das cláusulas do tratado, impedindo que os direitos humanos sejam
invocados em prejuízo da autodeterminação dos povos e de seu desenvolvimento (RAMOS, 2019,
p. 168); e
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6ª. Apresenta a forma de assinatura e ratificação, bem como a data da entrada em vigor (3 meses
após a 35ª ratificação) e possibilidade de emendas.
Antonio Cassese (2004, p. 95) destaca também que, por não haver à época unanimidade sobre o
assunto, em nenhum dos Pactos de 1966 consta disposição sobre o direito de propriedade, que está
previsto apenas na DUDH.
Flávia Piovesan (2018, p. 257), por sua vez, explica que, em relação à DUDH, o Pacto sobre Direitos
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Civis e Políticos detalha melhor algumas normas, como no caso dos artigos 10 e 11 da declaração, em
comparação aos artigos 14 e 15 do Pacto, bem como aumenta o elenco dos direitos, trazendo os seguintes:
Gouvea da
Eliovaine Gouvea
Eliovaine Silva -- CPF:
da Silva

63
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

DIREITOS PRESENTES NA DUDH E NO PIDCP


DUDH PIDCP
Direito
(Artigo) (Artigo)
Direito à vida 3 6

Vedação à tortura, penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes 5 7

Vedação à escravidão 4 8
Direito à personalidade jurídica 6 16

Direito à liberdade de locomoção 13 9

Direito à liberdade de circulação 13 12


Direito à segurança pessoal 3 9

Vedação à prisão ou detenção arbitrária 9 9


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Direito a um julgamento justo e imparcial 10 14

Igualdade formal (perante a lei) 7 26

Direito à vida privada 12 17


Direitos ao matrimônio e constituição de família 16 23
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Presunção de inocência 11 14

Princípio da anterioridade penal 11 15


Liberdades de pensamento, consciência e religião 18 18
Silva -- CPF:

Liberdade de opinião e expressão 19 19


da Silva

Liberdade de reunião pacífica 20 21


Gouvea da

Liberdade de associação 20 22
Eliovaine Gouvea

Liberdade de voto 21 25
Eliovaine

Direito à elegibilidade 21 25
Direito à nacionalidade 15 -

Direito à propriedade 17 -
Direito ao asilo político 14 -

Direito do preso de ser tratado com dignidade - 10

Vedação de prisão civil por descumprimento contratual - 11


Vedação da expulsão injustificada dos estrangeiros - 13

Direito da criança a um nome e à nacionalidade - 24

Proteção dos direitos das minorias à identidade cultural, religiosa e linguística - 27


Proibição à propaganda de guerra - 20

Direito à autodeterminação dos povos - 1

64
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O Pacto tem previsão expressa (artigo 4) permitindo a suspensão de alguns direitos, desde que
condicionada aos limites impostos por decretação de estado de emergência e não decorram de discriminação
de nenhum tipo. Contudo, o mesmo dispositivo prevê, como insuscetíveis de suspensão, os direitos previstos
nos artigos 6 (direito à vida), 7 (vedação da tortura, penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes)
8 (vedação à escravidão e servidão), 11 (vedação de prisão civil por descumprimento contratual), 15
(princípio da anterioridade penal), 16 (direito da personalidade jurídica) e 18 (liberdades de pensamento,
consciência e religião):
ARTIGO 4
1. Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam proclamadas
oficialmente, os Estados Partes do presente Pacto podem adotar, na estrita medida exigida
pela situação, medidas que suspendam as obrigações decorrentes do presente Pacto, desde
que tais medidas não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhes sejam
impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação alguma apenas por
motivo de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social.
2. A disposição precedente não autoriza qualquer suspensão dos artigos 6, 7, 8 (parágrafos
1 e 2) 11, 15, 16, e 18.
3. Os Estados Partes do presente Pacto que fizerem uso do direito de suspensão devem
comunicar imediatamente aos outros Estados Partes do presente Pacto, por intermédio do
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Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, as disposições que tenham


suspendido, bem como os motivos de tal suspensão. Os Estados partes deverão fazer uma
nova comunicação, igualmente por intermédio do Secretário-Geral da Organização das
Nações Unidas, na data em que terminar tal suspensão.

DIREITOS INSUSCETÍVEIS DE SUSPENSÃO NO PIDCP


Direito Artigo
CPF: 030.720.271-29

Direito à vida 6
Vedação da tortura, penas ou tratamento cruéis, desumanos ou degradantes 7
Silva -- CPF:

Vedação à escravidão e à servidão 8


da Silva

Vedação de prisão civil por descumprimento contratual 11


Gouvea da

Princípio da anterioridade penal 15


Eliovaine Gouvea

Direito da personalidade jurídica 16


Eliovaine

Liberdades de pensamento, consciência e religião 18

Valerio de Oliveira Mazzuoli (2020, ebook, p. 81) ressalta que os Pactos de 1966 criaram mecanismos
de monitoramento dos direitos humanos no seio da ONU, por meio dos relatórios temáticos, em que cada
Estado reporta à ONU as medidas que tomou internamente para a implementação dos direitos humanos, e
das comunicações interestatais, em que os Estados-partes podem alegar que outro violou os direitos
humanos objeto do tratado.
Além dos Pactos, o Primeiro Protocolo Facultativo Relativo ao Pacto Internacional sobre Direitos
Civis e Políticos, também de 1966, traz o mecanismo das petições individuais, possibilitando aos indivíduos
reportarem à ONU sobre violação de direitos humanos em um Estado.

65
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Comunicações Peticionamento
Relatórios temáticos
interestatais individual

Os indivíduos reportam à ONU


Os Estados informam suas ações Um Estado-membro acusa outro
violações perpetradas pelos
à ONU de violações de direitos humanos
Estados

Por fim, o Segundo Protocolo Facultativo, adotado em 1989, estabeleceu que os Estados partes
devem adotar medidas para abolir a pena de morte. Apesar de aprovado pelo Congresso Nacional, por meio
do Decreto Legislativo nº 311/2009, o tratado ainda não foi ratificado pelo Presidente da República, não
sendo vigente no país.
O artigo 2 do Protocolo prevê como ressalva admitida a possibilidade de aplicação da pena de morte
em virtude de condenação por infração penal de natureza militar, cometida em tempo de guerra, não
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gerando qualquer incompatibilidade com o art. 5º, XLVII, a da Constituição de 1988:


ARTIGO 2º
1. Não é admitida qualquer reserva ao presente Protocolo, exceto a reserva formulada no
momento da ratificação ou adesão que preveja a aplicação da pena de morte em tempo
de guerra em virtude de condenação por infração penal de natureza militar de gravidade
extrema cometida em tempo de guerra.
2. O Estado que formular tal reserva transmitirá ao Secretário-Geral das Nações Unidas, no
CPF: 030.720.271-29

momento da ratificação ou adesão, as disposições pertinentes da respectiva legislação


nacional aplicável em tempo de guerra.
3. O Estado Parte que haja formulado tal reserva notificará o Secretário-Geral das Nações
Unidas da declaração e do fim do estado de guerra no seu território.
Silva -- CPF:

ATENÇÃO!
da Silva

A forma de cobrança recorrente sobre o pacto diz respeito à literalidade de seus dispositivos
substantivos. É possível que seja arguida a possibilidade de suspensão ou a natureza de suas normas.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea
Eliovaine

QUESTÕES
103. (CESPE / CEBRASPE - 2019 - DPE-DF - Defensor Público) A clássica divisão entre direitos individuais
e políticos e direitos sociais e econômicos é útil para se compreender o fenômeno da pobreza e, com
base nisso, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais recomendam aos países com baixo desenvolvimento econômico que
priorizem direitos sociais em vez de liberdades individuais.

104. (CESPE / CEBRASPE - 2014 - MPE-AC - Promotor de Justiça) No que se refere ao sistema
internacional de proteção dos direitos humanos, assinale a opção correta.
a) O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e o Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos, adotados pela ONU, têm natureza jurídica de tratados internacionais, assim
incorporados pelo Brasil.
b) A Corte Europeia de Direitos Humanos, que compõe o quadro institucional da União Europeia, vincula
apenas os países- membros desta.
c) O Brasil reconheceu a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos desde que ela foi
instituída, tendo apoiado os processos que deram origem ao sistema interamericano de direitos
humanos

66
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

d) A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem estatuto de tratado internacional e marca o início
da chamada fase de universalização dos direitos do homem.
e) O Tribunal Penal Internacional, importante instrumento de afirmação internacional dos direitos
humanos, foi criado na década de sessenta do século passado.

105. (FCC - 2010 - DPE-SP - Defensor Público) Foi aprovada pelo plenário do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) a instalação de seções eleitorais especiais em estabelecimentos penais e de internação de
adolescentes, para viabilizar o voto de presos provisórios e de jovens em medida socioeducativa de
internação, no pleito a se realizar no segundo semestre de 2010. A respeito do tema e tendo em conta
o teor dos tratados de Direito Internacional dos Direitos Humanos ratificados pelo Brasil, é correto
afirmar:
a) O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos prevê que os direitos políticos dos condenados
criminalmente poderão ser restringidos, desde que de maneira fundada.
b) O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais proíbe a discriminação de pessoas
quanto ao direito ao voto, aí incluídos os condenados criminalmente.
c) A Convenção dos Direitos da Criança prevê que os direitos políticos de menores de dezoito anos
poderão ser limitados em razão de condenação em processo criminal.
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d) A Declaração Universal dos Direitos Humanos garante o direito a toda pessoa de tomar parte no
governo de seu país por intermédio de representantes eleitos.
e) A Convenção Americana de Direitos Humanos não dispõe expressamente sobre o tema do voto de
quem tenha sofrido condenação em processo criminal.

106. (FCC - 2012 - DPE-SP - Defensor Público) Dos direitos abaixo, qual é passível de suspensão, na
CPF: 030.720.271-29

forma do artigo 4º do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos?


a) Não ser arbitrariamente privado de sua vida.
b) Não ser submetido a tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
c) Não ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios.
Silva -- CPF:

d) Não ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual.
e) Não ser obrigado a adotar uma religião ou crença que não de sua livre escolha.
da Silva
Gouvea da

107. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - DPE-RO - Defensor Público) O Pacto Internacional Sobre Direitos Civis
Eliovaine Gouvea

e Políticos
a) garante o direito de casar e fundar família, mas nada dispõe sobre o consentimento dos nubentes.
Eliovaine

b) garante às minorias o direito de professar e praticar sua própria religião e o de usar sua própria língua,
desde que o exercício desses direitos não represente sério risco de fragmentação da vida cultural do
Estado-parte.
c) prevê que nenhuma garantia nele estabelecida poderá ser suspensa pelos Estados-partes.
d) veda qualquer forma de restrição à liberdade de expressão.
e) admite diversas restrições ao direito de reunião.

108. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - DPE-AC - Defensor Público) O Pacto Internacional sobre Direitos Civis
e Políticos
a) veda a escravidão e os trabalhos forçados ou obrigatórios, sem qualquer ressalva.
b) estabelece o ne bis in idem e a presunção de inocência, sem, contudo, referenciar o duplo grau de
jurisdição.
c) impõe a designação de defensor de ofício para assistir o acusado sempre que o interesse da justiça o
exigir.
d) permite que os Estados-membros proíbam, arbitrariamente, a entrada de qualquer pessoa, ainda que
natural do país, em seu território.
e) dispõe expressamente sobre a proibição da tortura.

67
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

109. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) Com relação à pena de morte, o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos dispõe que
a) obriga todos os Estados que ainda a apliquem a tomarem medidas para a sua abolição.
b) não deverá ser imposta em casos de crime cometido por menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres
em estado de gravidez.
c) é vedada sua imposição a pessoas maiores de 60 anos e a pessoas portadoras de deficiências físicas.
d) pode ser adotada livremente, desde que devidamente aprovada pelo respectivo Parlamento.
e) é totalmente vedada a sua adoção, ficando os Estados que ainda a adotem obrigados a suspendê-la
de imediato.

110. (VUNESP - 2013 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) Assinale a alternativa que contempla a
afirmativa que está em consonância com o disposto no Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos.
a) Ninguém poderá ser privado do direito de entrar em seu próprio país, exceto se estiver sendo
formalmente acusado de terrorismo.
b) Não haverá penas restritivas de direitos.
c) Toda pessoa que for presa e possuir diploma de curso superior terá direito a cela especial e separada
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dos demais presos.


d) Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de pena mais leve, o delinquente não
poderá dela beneficiar-se.
e) Ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios.

111. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - DPE-ES - Defensor Público) Nos termos do Pacto Internacional de
CPF: 030.720.271-29

Direitos Civis e Políticos, a autodeterminação dos povos esgota-se na possibilidade de estabelecer


livremente o seu estatuto político.

112. (VUNESP - 2014 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) Prevê o Pacto Internacional de Direitos Civis e
Silva -- CPF:

Políticos que ninguém poderá ser obrigado a executar trabalhos forçados ou obrigatórios,
da Silva

mesmo em casos de emergência ou de calamidade que ameacem o bem-estar da comunidade.


Gouvea da

a) não sendo o serviço militar considerado trabalho forçado ou obrigatório, podendo os países prever a
Eliovaine Gouvea

isenção por motivo de consciência.


b) restando proibido aos Estados-Partes legislar para que determinados crimes sejam punidos com prisão
Eliovaine

e trabalhos forçados.
c) devendo ser previstos como crimes pelos Estados-Partes a servidão, a escravidão e o tráfico de
escravos
d) não podendo qualquer trabalho ou serviço ser considerado como parte das obrigações cívicas normais.

113. (VUNESP - 2014 - PC-SP - Escrivão de Polícia Civil) O direito de reunião pacífica é reconhecido pelo
Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos que:
a) não poderá ser restringido por lei, ainda que em função de proteção à saúde ou à moral públicas.
b) permite que a lei preveja as restrições necessárias, em uma sociedade democrática, no interesse da
segurança nacional, da segurança ou da ordem pública.
c) condiciona o exercício desse direito à comunicação prévia e à autorização da autoridade competente.
d) não impedirá que se submeta a restrições legais o exercício desse direito por membros das forças
armadas e da polícia.
e) poderá ser restringido, no entanto, em períodos de legalidade extraordinária ou de guerra externa.

114. (VUNESP - 2016 - TJM-SP - Juiz de Direito Substituto) O Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos, de 1966,

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a) garante o direito do homem e da mulher de contrair casamento e constituir família, porém, a fim de
evitar confrontos de caráter cultural com alguns dos Estados-membros não tratou da dissolução dessa
união.
b) prevê que a pena de morte não deverá ser imposta sob nenhuma hipótese, salvo em situação de
guerra.
c) garante o direito de autodeterminação dos povos, exprimindo, assim, uma tomada de consciência
universal sobre a urgência de se superar o colonialismo e o imperialismo.
d) reconhece, sem restrições, o direito de reunião pacífica.
e) já apresenta uma preocupação com os imigrantes clandestinos, estabelecendo que estes também têm
o direito de circular livremente no território de um Estado.

115. (FCC - 2016 - DPE-BA - Defensor Público) Segundo o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e
Políticos, qualquer pessoa acusada de infração penal goza de presunção de inocência até que a sua
culpabilidade tenha sido legalmente estabelecida, tendo direito, pelo menos, às seguintes garantias:
I. Ser prontamente informada, numa língua que ela compreenda, de modo detalhado, acerca da
natureza e dos motivos da acusação apresentada contra ela.
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II. Ser julgada em no máximo um ano.


III. Fazer-se assistir de um intérprete, se não compreender ou não falar a língua utilizada no tribunal.
IV. Comunicar com um advogado da sua escolha e dispor do tempo, no mínimo dez dias, para a
preparação da defesa.
É correto o que se afirma APENAS em
CPF: 030.720.271-29

a) I e III.
b) I e II.
c) II e III.
Silva -- CPF:

d) III e IV.
e) II e IV.
da Silva
Gouvea da

116. (FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil) Assinale a alternativa correta em relação ao
Eliovaine Gouvea

Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos.


a) Dispõe que qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena.
Eliovaine

b) Reconhece o direito de toda pessoa a um nível de vida adequado para si próprio e sua família, inclusive
à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como a uma melhoria contínua de suas
condições de vida.
c) Proíbe a pena de morte em qualquer hipótese para menores de 21 anos e para as mulheres grávidas.
d) Estabelece que o ensino superior deve ser tornado acessível a todos em plena igualdade, em função
das capacidades de cada um, por todos os meios apropriados e nomeadamente pela instauração
progressiva da educação gratuita.
e) Reconhece expressamente o direito de todas as pessoas à segurança social, incluindo os seguros
sociais.

117. (FCC - 2017 - DPE-PR - Defensor Público) O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
somente considera justificável que os Estados-partes signatários restrinjam o direito de reunião
pacífica caso
I. haja interesse da segurança nacional.
II. haja interesse da segurança ou ordem públicas.
III. seja necessário para proteção da saúde ou a moral públicas.
IV. haja falta de autorização da autoridade competente.
V. seja necessário para proteção dos direitos e liberdades das demais pessoas.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Está correto o que se afirma APENAS em


a) II, III e IV.
b) I, II, III e V.
c) II e V.
d) I, II e IV.
e) I e III.

118. (FCC - 2017 - DPE-SC - Defensor Público Substituto) Os Direitos Civis e Políticos foram
reconhecidos no sistema global de direitos humanos pelo Pacto Internacional pelos Direitos Civis e
Políticos. O Brasil é signatário deste pacto
a) sendo somente as comunicações interestaduais aplicadas em nosso pais.
b) que tem o direito de reunião pacífica consagrado e tornou-se um direito humano sem restrições.
c) cujo primeiro protocolo facultativo tratou da abolição da pena de morte, protocolo este assinado pelo
Estado Brasileiro, com a ressalva prevista em nosso texto constitucional.
d) que entrou em vigor somente em 1976, após 35 ratificações.
e) que, de maneira inovadora, já previu na sua origem o sistema de peticionamento individual ao Comitê.
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119. (MPF - 2011 - PGR - Procurador da República) O Direito à Autodeterminação dos Povos
a) é mera retórica política, uma vez que o direito internacional só reconhece a autodeterminação dos
povos como princípio (art. 1°, para. 2°, da Carta da ONU) e não como direito;
b) se aplica indistintamente a povos sob jugo colonial e aos povos indígenas;
c) consolidou-se, como direito, a partir da Resolução nº 2625, de 1970, da Assembleia-Geral da ONU;
d) integra os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais, por força dos Pactos
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Internacionais respectivos, de 1966·

120. (FCC - 2009 - DPE-PA - Defensor Público) O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos
estabelece a aplicação
Silva -- CPF:

a) imediata de direitos civis e políticos, contemplando os mecanismos de relatórios e comunicações


interestatais e, mediante Protocolo Facultativo, a sistemática de petições individuais.
da Silva

b) progressiva de direitos civis e políticos, contem- plando os mecanismos de relatórios e, mediante


Gouvea da

Protocolo Facultativo, a sistemática de petições individuais e comunicações interestatais.


Eliovaine Gouvea

c) progressiva de direitos civis e políticos, contemplando apenas o mecanismo de relatórios.


d) imediata de direitos civis e políticos, contemplando os mecanismos de relatórios, comunicações
Eliovaine

interestatais, petições individuais e investigações in loco.


e) imediata de direitos civis e políticos, contemplando apenas o mecanismo de relatórios.

2.3.2. Pacto sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC)

André de Carvalho Ramos (2019, p. 170) considera o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais (PIDESC) como um marco por, não obstante a resistência de vários Estados e de parte da
doutrina, ter conseguido dar destaque aos direitos econômicos, sociais e culturais. Cristina Figueiredo Terezo
(2014, p. 44), por sua vez, exorta a importância do Pacto ao demonstrar que a implementação dos direitos
humanos é tão importante quanto seu reconhecimento, cabendo aos Estados agir para diminuir as
desigualdades sociais e aumentar o bem-estar social. O PIDESC entrou em vigor no Brasil em 1992, após a
ratificação pelo Decreto nº 591/1992.
O tratado é dividido em cinco partes:
1ª. Dispõe sobre a autodeterminação dos povos, garantindo-lhes a liberdade de determinação de seu
estatuto político e a obrigação de respeito pelos adotados por outros Estados;
2ª. Diz respeito ao compromisso dos Estados em dar efetividade aos direitos econômicos, sociais e
culturais, realizando-os de forma progressiva. Isso quer dizer que os direitos sociais, econômicos

70
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

e culturais são obrigatórios, tendo uma implementação progressiva, vedando-se o retrocesso


social (RAMOS, 2019, p. 171);
3ª. É o elenco dos direitos econômicos, sociais e culturais (artigos 6 a 15) e as medidas de garantia
para torná-los efetivos;
4ª. Estabelece a obrigatoriedade aos Estados em apresentarem relatórios sobre as medidas adotadas
quanto à realização progressiva dos direitos;
5ª. Estabelece a forma de assinatura, ratificação, adesão, entrada em vigor, procedimento de
emendas e aplicação do tratado.
Flávia Piovesan (2018, p. 270) destaca que, enquanto o Pacto sobre Direitos Civis e Políticos
estabelece direitos aos indivíduos, o Pacto sobre Direitos Sociais, Econômicos e Culturais estabelece deveres
aos Estados.

PIDCP PIDESC

Normas de aplicação progressiva


eliovaine@hotmail·com

Normas autoaplicáveis
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Redigido para outorgar direitos aos Redigido impondo deveres aos Estados
indivíduos

Para a autora, em decorrência da implementação progressiva dos direitos, prevista no pacto,


CPF: 030.720.271-29

compete ao Estado, além da vedação do retrocesso social, provar que tomou todas as medidas necessárias
para a implementação dos direitos sociais, econômicos e culturais, com os recursos disponíveis.

DIREITOS PRESENTES NA DUDH E NO PIDESC


Silva -- CPF:

Direito DUDH(Artigo) PIDESC(Artigo)


da Silva

Direito à segurança social 22 8º


Gouvea da

Direitos ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e 23 6º


Eliovaine Gouvea

favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego


Eliovaine

Direito a uma remuneração justa e satisfatória 23 7º


Direito de organização sindical 23 8º

Direitos ao repouso e ao lazer 24 7º


Direito a um padrão mínimo de vida 25 11
Direito à educação 26 13

Direito à participação livre da vida cultural da comunidade 27 15

Direito à previdência social - 9º


Direitos de proteção e assistência à família - 10

Direito à saúde física e mental - 12

Direito à gratuidade do ensino primário - 14

No PIDESC, o mecanismo de implementação inicial é o de relatórios a serem apresentados pelos


Estados demostrando as medidas adotadas para a realização progressiva dos direitos previstos no Pacto. O

71
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

relatório será encaminhado ao Secretário-Geral da ONU, que remeterá cópias ao Conselho Econômico e
Social (ECOSOC). Nos relatórios devem constar os fatores e dificuldades para a implementação dos direitos
previstos no Pacto.

ATENÇÃO!

Não há previsão no PIDESC de comunicações interestatais.

O Pacto também não criou um comitê específico para a monitoração de seu cumprimento, tal qual o
Comitê de Direitos Humanos, em relação ao PIDCP. Para André de Carvalho Ramos (2019, p. 174), essa
omissão já deixava clara a vontade dos Estados em não exigir a mesma força vinculante dos direitos civis e
políticos para os direitos sociais, econômicos e culturais.
Em 1985, no entanto, o Conselho Econômico e Social da ONU decidiu transformar um grupo de
trabalho sobre o cumprimento do Pacto em um Comitê de Direitos Sociais Econômicos e Culturais,
posteriormente inserido no Protocolo Facultativo.
No ano de 2008 foi adotado o Protocolo Facultativo ao Pacto sobre os Direitos Econômicos, Sociais
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e Culturais, introduzindo a sistemática de petições individuais, de medidas de urgência, de comunicações


interestatais e investigações in loco, em situação de graves violações a direitos econômicos, sociais e
culturais por um Estado-parte. O protocolo entrou em vigor em 2013, porém o Brasil ainda não o ratificou.

ATENÇÃO!

Mais uma vez, reforça-se que a principal forma de cobrança do pacto é a literalidade de seus
CPF: 030.720.271-29

dispositivos.

QUESTÕES
Silva -- CPF:

121. (FCC - 2021 - DPE-GO - Defensor Público) Leia o trecho da música a seguir:
da Silva

Atentou contra a existência


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Num humilde barracão


Joana de tal, por causa de um tal João
Eliovaine

Depois de medicada
Retirou-se pro seu lar
Aí a notícia carece de exatidão
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou
Errou na dose
Errou no amor Joana errou de
João Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal

72
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

(Notícia de Jornal. Chico Buarque)


Considerando as violações aos direitos humanos de Joana, o direito à saúde física e mental está
previsto expressamente
a) na Convenção Americana de Direitos Humanos.
b) no Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
c) na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
d) no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos.
e) na Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem.

122. (NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia) Sobre as garantias processuais dos direitos
humanos, interpretação e aplicação dos tratados internacionais de proteção aos Direitos Humanos, é
correto afirmar:
a) Situações excepcionais que ameacem a existência da nação e sejam proclamadas oficialmente
autorizam a suspensão dos arts. 6º, 7º e 8º (parágrafos 1º e 2º) do Pacto Internacional dos Direitos
Civis e Políticos (1966).
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b) Nenhuma pessoa declarada culpada por um delito terá direito de recorrer da sentença condenatória
e da pena a uma instância superior, em conformidade com a lei.
c) A garantia de ser julgado por um delito está prevista no Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais (1966).
d) Qualquer pessoa poderá ser presa ou encarcerada arbitrariamente.
e) O direito à vida é inerente à pessoa humana, devendo esse direito ser protegido pela lei, e ninguém
CPF: 030.720.271-29

poderá ser arbitrariamente privado de sua vida.

123. (FCC - 2006 - DPE-SP - Defensor Público) Comparando-se a natureza da obrigação estatal de tornar
efetivos os direitos humanos e liberdades fundamentais, nos termos do Pacto Internacional dos
Silva -- CPF:

Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e do Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, é correto
afirmar:
da Silva

a) O conceito de realização progressiva dos direitos civis e políticos constitui o reconhecimento de que a
Gouvea da

efetividade plena de tais direitos não será possível de ser alcançada em curto prazo.
Eliovaine Gouvea

b) Os direitos econômicos, sociais e culturais refletem uma aspiração política da sociedade, não
decorrendo deles direito subjetivo exigível judicialmente.
Eliovaine

c) A efetividade dos direitos econômicos, sociais e culturais decorre de sua previsão legal e não gera para
o Estado a obrigação de promovê-los.
d) O conceito de realização imediata dos direitos civis e políticos decorre de sua origem jusnatural,
inexistindo obrigação estatal decorrente.
e) O conceito de realização progressiva dos direitos econômicos, sociais e culturais não deve ser
interpretado como supressor do caráter obrigatório de promoção daqueles direitos.

124. (FCC - 2016 - DPE-ES - Defensor Público) O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais entrou em vigor no ano de 1976 e é considerado um relevante instrumento dos direitos
humanos, especialmente por
a) que a previdência social, apesar de não prevista no pacto, está no protocolo facultativo.
b) ser um relevante documento, mas omitiu-se quanto ao direito de greve, não tratando deste relevante
direito social.
c) ser um importante documento, mas não goza de nenhum tipo de mecanismo de monitoramento.
d) ser reconhecido como um documento que venceu a resistência de vários Estados e mesmo a doutrina
que viam os direitos sociais em sentido amplo como sendo meras recomendações ou exortações.
e) que as medidas cautelares estão previstas no próprio texto original do pacto.

73
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

125. (TRT 3R - 2013 - TRT - 3ª Região (MG) - Juiz do Trabalho) Sobre os direitos assegurados pelo Pacto
Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, leia as afirmações abaixo e, em seguida,
assinale a alternativa correta:
I - Toda pessoa tem direito de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que assegurem uma
remuneração que proporcione, no mínimo, a todos os trabalhadores um salário equitativo e uma
remuneração igual por um trabalho de igual valor, sem qualquer distinção.
II - Toda pessoa tem direito de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que assegurem
condições de trabalho seguras e higiênicas.
III - Toda pessoa tem direito de gozar de condições de trabalho justas e favoráveis, que assegurem o
descanso, o lazer, a limitação razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas, assim
como a remuneração dos feriados.
IV - Toda pessoa tem direito a um nível de vida adequado para si próprio e para sua família, inclusive
à alimentação, vestimenta e moradia adequadas, assim como uma melhoria contínua de suas
condições de vida.
eliovaine@hotmail·com

a) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.


030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

b) Somente as afirmativas I e II estão corretas.


c) Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas.
d) Todas as afirmativas estão corretas.
e) Somente as afirmativas II e IV estão corretas.

126. (CS-UFG - 2014 - DPE-GO - Defensor Público) O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos,
CPF: 030.720.271-29

Sociais e Culturais, adotado pela Resolução 2.200-A (XXI) da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em
1969, e ratificado pelo Brasil, dispõe que os Estados-parte se comprometem a:
a) adotar medidas de proteção e assistência às crianças e aos adolescentes, sem distinção por motivo de
filiação ou outra condição, estabelecendo o limite de idade sob o qual fica proibido o seu emprego
Silva -- CPF:

assalariado.
b) reconhecer o direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível de saúde física e mental,
da Silva

estabelecendo no pacto um percentual mínimo da renda do país destinado a assegurar este direito.
Gouvea da

c) reconhecer que nenhuma das suas disposições poderá ser interpretada em detrimento do direito
Eliovaine Gouvea

inerente a todos os povos de desfrutar e utilizar plena e livremente suas riquezas e seus recursos
naturais.
Eliovaine

d) atentar para o direito de desfrutar o progresso científico e suas aplicações e prover meios para a
aquisição material e humana para aqueles considerados de menor poder econômico
e) reconhecer o direito à educação e. com o objetivo de assegurar o pleno exercício desse direito, garantir
a educação superior obrigatória e acessível gratuitamente a todos.

127. (FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Consultor Legislativo) Segundo previsão
expressa no Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, os Estados-Partes
reconhecem que, com o objetivo de assegurar o pleno exercício do direito à educação,
a) a educação primária, incluindo creches e pré-escolas, deverá ser obrigatória e acessível gratuitamente
a todos.
b) a educação secundária deve ser voltada primordialmente à preparação profissional e técnica que
habilite o estudante ao ingresso qualificado no mercado de trabalho.
c) dever-se-á promover campanhas que sensibilizem a população sobre a importância da escolarização
formal e punam os pais que deixem de encaminhar os filhos para o ensino obrigatório.
d) a educação de nível superior deverá tornar-se acessível a todos, com base na capacidade de cada um,
por todos os meios apropriados e, principalmente, pela implementação progressiva do ensino
gratuito.

74
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

e) serão criados mecanismos que favoreçam a participação direta da comunidade escolar, no mínimo, na
definição do conteúdo curricular, jornada e calendário letivos e formação do corpo docente.

128. (FUNDEP - 2019 - DPE-MG - Defensor Público) Com relação ao Pacto Internacional sobre Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, é incorreto afirmar:
a) Reconhece o direito de associação sindical com o objetivo de promoção dos interesses econômicos,
bem como o direito de greve, salvo eventuais restrições desses direitos aos membros da Polícia, Forças
Armadas e Administração Pública.
b) Determina que ninguém poderá ser objeto de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada,
em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais às suas honra e
reputação.
c) Reconhece a liberdade dos pais de escolher para seus filhos escolas distintas daquelas criadas pelas
autoridades públicas, sempre que atendam aos padrões mínimos de ensino prescritos ou aprovados
pelo Estado, e de fazer com que seus filhos venham a receber educação religiosa ou moral que esteja
de acordo com as próprias convicções.
d) Faz menção à reforma dos regimes agrários, de maneira que seja assegurada a exploração eficaz dos
recursos naturais, como corolário ao reconhecimento do direito de toda pessoa de estar protegida
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contra a fome.

129. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - DPE-ES - Defensor Público) O Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais relaciona o direito ao trabalho ao gozo das liberdades políticas
fundamentais.
CPF: 030.720.271-29

130. (MPF - 2015 - PGR - Procurador da República, adaptada) Pacto Internacional de Direitos Sociais,
Econômicos e Culturais prevê que todos os povos podem dispor livremente de suas riquezas e de seus
recursos naturais, sem prejuízo das obrigações decorrentes da cooperação econômica internacional,
baseada no princípio do proveito mútuo, e do Direito Internacional. Em caso algum, poderá um povo
Silva -- CPF:

ser privado de seus próprios meios de subsistência.


da Silva

131. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - DPE-AC - Defensor Público) O Pacto Internacional de Direitos
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Econômicos, Sociais e Culturais


a) impõe a todos os Estados-partes a gratuidade da educação primária e secundária, mas não da
educação universitária.
Eliovaine

b) reconhece implicitamente o direito à proteção contra a fome.


c) estabelece prazo mínimo de seis meses de licença-maternidade para as mães trabalhadoras.
d) ainda não foi ratificado pelo Brasil.
e) contém disposições que concernem ao direito do trabalho.

132. (IBFC - 2020 - SAEB-BA – Soldado) O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais é caracterizado por veicular normas ditas programáticas, cuja implementação haveria de ser
progressiva, eis que preconizavam posturas dispendiosas aos Estados-partes. Sobre os direitos e
compromissos previstos no referido Pacto, assinale a alternativa incorreta.
a) A escolha da escola pelos pais, independentemente das indicações das autoridades públicas é um
direito
b) Determina o compromisso de todo Estado-parte elaborar um plano de ação para implementação
progressiva da educação primária obrigatória e gratuita para todos
c) O direito à escolha do trabalho é limitado a depender das necessidades momentâneas de
determinados profissionais
d) A greve é reconhecida como um direito
e) A previdência social é reconhecida como um direito

75
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

133. (FGV - 2019 - DPE-RJ - Técnico Superior Jurídico) O Art. 2º do Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos e Sociais afirma: “Cada Estado Parte do presente Pacto compromete-se a adotar medidas,
tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais, principalmente nos
planos econômico e técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem a assegurar,
progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dos direitos reconhecidos no
presente Pacto, incluindo, em particular, a adoção de medidas legislativas”. A ideia de realização
progressiva dos direitos sociais contém na sua base, no que se refere à responsabilidade do Estado
pelos direitos humanos, o princípio:
a) do devido processo legal;
b) da presunção de inocência;
c) da reserva do possível;
d) da irretroatividade das leis;
e) da vedação ao retrocesso.

134. (FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público) A respeito do Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos − PIDCP, é correto afirmar:
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a) Possui como mecanismo de monitoramento os relatórios elaborados pelos Estados-Partes sobre as


medidas adotadas para tornar efetivos os direitos civis e políticos submetidos ao Conselho Econômico
e Social.
b) O Protocolo Facultativo ao PIDCP institui mecanismo de análise de petições de particulares que se
considerem vítimas diretamente ao Comitê de Direitos Humanos por violações de direitos civis e
políticos.
c) O Segundo Protocolo Facultativo ao PIDCP com vistas à Abolição da Pena de Morte foi ratificado pelo
CPF: 030.720.271-29

Estado brasileiro sem ter este estabelecido qualquer reserva ao mesmo.


d) O Estado brasileiro, até o presente momento, não ratificou o Protocolo Facultativo ao PIDCP para
instituir o mecanismo de petição individual das vítimas.
e) O Protocolo Facultativo ao PIDCP também estabelece expressamente, além do sistema de petições,
Silva -- CPF:

procedimento de investigação, procedimento interestatal e medidas provisionais ou cautelares.


da Silva

3. OS SISTEMAS REGIONAIS INTERAMERICANOS DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS


Gouvea da

HUMANOS
Eliovaine Gouvea

3.1. Breve histórico


Eliovaine

Em relação ao pan-amenicanismo bolivariano, o presidente americano James Moroe organizou a


Primeira Conferência Internacional Americana, com a participação de 18 Estados, em Washington, de
outubro de 1889 a 1890.
Desde então, os Estados americanos passaram a se reunir em sessões, com intervalos variáveis,
denominadas Conferências Interamericanas. Além desses encontros, havia também reuniões de Ministros
das Relações Exteriores e reuniões especiais.
Em 1948, na 9ª Conferência Interamericana, realizada em Bogotá, foram aprovadas a Carta da OEA
(também chamada de Carta de Bogotá) e a Declaração Americana de Direitos Humanos. Posteriormente, a
Carta da OEA foi reformada em quatro oportunidades:

76
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

• Em 1967, com o Protocolo de Buenos Aires;


• Em 1985, no Protocolo de Cartagena das Índias;
• Em 1992, pelo Protocolo de Washington; e
• Em 1993, com o Protocolo de Manágua.
Como bem destaca Valerio de Oliveira Mazzuoli (2020, ebook, p. 591), apenas o texto original de
1948 foi ratificado por todos os membros da organização, de modo que há a aplicação de textos diferentes
entre os Estados-membros da OEA.

3.2. A Carta da OEA (Carta de Bogotá)

A Carta da OEA não consagra expressamente a promoção ou proteção dos direitos humanos como
objetivo do organismo. Ademais, não há menção expressa do termo proteção ou promoção dos direitos
humanos na Carta. Há, porém, remissões ao termo direitos fundamentais da pessoa humana no preâmbulo,
no artigo 3, l, e no artigo 17 do tratado:
Preâmbulo (...)
Certos de que o verdadeiro sentido da solidariedade americana e da boa vizinhança não
eliovaine@hotmail·com
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pode ser outro senão o de consolidar neste Continente, dentro do quadro das instituições
democráticas, um regime de liberdade individual e de justiça social, fundado no respeito
dos direitos essenciais do Homem;

Artigo 3. Os Estados americanos reafirmam os seguintes princípios: (...)


l) Os Estados americanos proclamam os direitos fundamentais da pessoa humana, sem fazer
distinção de raça, nacionalidade, credo ou sexo;
CPF: 030.720.271-29

Artigo 17. Cada Estado tem o direito de desenvolver, livre e espontaneamente, a sua vida
cultural, política e econômica. No seu livre desenvolvimento, o Estado respeitará os
direitos da pessoa humana e os princípios da moral universal.

A Carta de Bogotá é dividida em quatro partes (TEREZO, 2014, p. 138):


Silva -- CPF:

1ª. Refere-se aos objetivos, natureza e princípios norteadores da OEA;


da Silva

2ª. Diz respeito às obrigações dos Estados-membros entre si e com seus nacionais;
Gouvea da

3ª. Trata da estrutura da organização;


Eliovaine Gouvea

4ª. São as disposições finais, relativas à vigência, ratificação e relação com a ONU.
A Carta da OEA faz alusão a direitos sociais no artigo 45 e seguintes, prevendo os direitos a educação,
Eliovaine

previdência social, direitos trabalhistas, culturais, ciência e tecnologia:


Artigo 45. Os Estados membros, convencidos de que o Homem somente pode alcançar a
plena realização de suas aspirações dentro de uma ordem social justa, acompanhada de
desenvolvimento econômico e de verdadeira paz, convêm em envidar os seus maiores
esforços na aplicação dos seguintes princípios e mecanismos:
a) Todos os seres humanos, sem distinção de raça, sexo, nacionalidade, credo ou condição
social, têm direito ao bem-estar material e a seu desenvolvimento espiritual em condições
de liberdade, dignidade, igualdade de oportunidades e segurança econômica;
b) O trabalho é um direito e um dever social; confere dignidade a quem o realiza e deve
ser exercido em condições que, compreendendo um regime de salários justos, assegurem
a vida, a saúde e um nível econômico digno ao trabalhador e sua família, tanto durante
os anos de atividade como na velhice, ou quando qualquer circunstância o prive da
possibilidade de trabalhar;
c) Os empregadores e os trabalhadores, tanto rurais como urbanos, têm o direito de se
associarem livremente para a defesa e promoção de seus interesses, inclusive o direito de
negociação coletiva e o de greve por parte dos trabalhadores, o reconhecimento da
personalidade jurídica das associações e a proteção de sua liberdade e independência,
tudo de acordo com a respectiva legislação;
d) Sistemas e processos justos e eficientes de consulta e colaboração entre os setores da
produção, levada em conta a proteção dos interesses de toda a sociedade;

77
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

e) O funcionamento dos sistemas de administração pública, bancário e de crédito, de


empresa, e de distribuição e vendas, de forma que, em harmonia com o setor privado,
atendam às necessidades e interesses da comunidade;
f) A incorporação e crescente participação dos setores marginais da população, tanto das
zonas rurais como dos centros urbanos, na vida econômica, social, cívica, cultural e política
da nação, a fim de conseguir a plena integração da comunidade nacional, o aceleramento
do processo de mobilidade social e a consolidação do regime democrático. O estímulo a
todo esforço de promoção e cooperação populares que tenha por fim o desenvolvimento e
o progresso da comunidade;
g) O reconhecimento da importância da contribuição das organizações tais como os
sindicatos, as cooperativas e as associações culturais, profissionais, de negócios, vicinais e
comunais para a vida da sociedade e para o processo de desenvolvimento;
h) Desenvolvimento de uma política eficiente de previdência social; e
i) Disposições adequadas a fim de que todas as pessoas tenham a devida assistência legal
para fazer valer seus direitos.

Artigo 46. Os Estados membros reconhecem que, para facilitar o processo de integração
regional latino-americana, é necessário harmonizar a legislação social dos países em
desenvolvimento, especialmente no setor trabalhista e no da previdência social, a fim de
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que os direitos dos trabalhadores sejam igualmente protegidos, e convêm em envidar os


maiores esforços com o objetivo de alcançar essa finalidade.

Artigo 47. Os Estados membros darão primordial importância, dentro dos seus planos de
desenvolvimento, ao estímulo da educação, da ciência, da tecnologia e da cultura,
orientadas no sentido do melhoramento integral da pessoa humana e como fundamento
da democracia, da justiça social e do progresso.
CPF: 030.720.271-29

Artigo 48. Os Estados membros cooperarão entre si, a fim de atender às suas necessidades
no tocante à educação, promover a pesquisa científica e impulsionar o progresso
tecnológico para seu desenvolvimento integral. Considerar-se-ão individual e
solidariamente comprometidos a preservar e enriquecer o patrimônio cultural dos povos
Silva -- CPF:

americanos.

Artigo 49. Os Estados membros empreenderão os maiores esforços para assegurar, de


da Silva

acordo com suas normas constitucionais, o exercício efetivo do direito à educação,


Gouvea da

observados os seguintes princípios:


Eliovaine Gouvea

a) O ensino primário, obrigatório para a população em idade escolar, será estendido


também a todas as outras pessoas a quem possa aproveitar. Quando ministrado pelo
Eliovaine

Estado, será gratuito;


b) O ensino médio deverá ser estendido progressivamente, com critério de promoção
social, à maior parte possível da população. Será diversificado de maneira que, sem prejuízo
da formação geral dos educandos, atenda às necessidades do desenvolvimento de cada
país; e
c) A educação de grau superior será acessível a todos, desde que, a fim de manter seu alto
nível, se cumpram as normas regulamentares ou acadêmicas respectivas.

Artigo 50. Os Estados membros dispensarão especial atenção à erradicação do


analfabetismo, fortalecerão os sistemas de educação de adultos e de habilitação para o
trabalho, assegurarão a toda a população o gozo dos bens da cultura e promoverão o
emprego de todos os meios de divulgação para o cumprimento de tais propósitos.

Artigo 51. Os Estados membros promoverão a ciência e a tecnologia por meio de atividades
de ensino, pesquisa e desenvolvimento tecnológico e de programas de difusão e divulgação,
estimularão as atividades no campo da tecnologia, com o propósito de adequá-la às
necessidades do seu desenvolvimento integral; concertarão de maneira eficaz sua
cooperação nessas matérias; e ampliarão substancialmente o intercâmbio de
conhecimentos, de acordo com os objetivos e leis nacionais e os tratados vigentes.

78
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Artigo 52. Os Estados membros, dentro do respeito devido à personalidade de cada um


deles, convêm em promover o intercâmbio cultural como meio eficaz para consolidar a
compreensão interamericana e reconhecem que os programas de integração regional
devem ser fortalecidos mediante estreita vinculação nos setores da educação, da ciência e
da cultura.

Cristina Figueiredo Terezo (2014, p. 139) explica que, no momento da elaboração da Carta, houve
discussão se os princípios seriam vinculantes ou não aos Estados. Em função dessa discussão, entendeu-se
por bem separar os princípios (constantes do Capítulo II) dos deveres dos Estados (previstos no Capítulo IV),
destacando-se a igualdade entre os Estados, a autodeterminação, a proibição de interferência e a proibição
de reconhecimento como elemento de existência de um Estado.
Em 1967, a Carta teve sua primeira alteração, o Protocolo de Buenos Aires (que entrou em vigor em
1970), alterando a estrutura da organização:

• A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) passou a ser órgão autônomo no âmbito
da OEA e não organismo especializado;
• Atribuiu-se status a Secretaria Geral, como o órgão da mais alta hierarquia, ampliando o mandato
e proibindo a eleição de novo Secretário Geral da mesma nacionalidade do antecessor;
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• Foram extintas as Conferências Internacionais dos Estados Americanos;


• O Conselho da OEA passa a ser o Conselho Permanente;
• A Comissão Jurídica Internacional foi ampliada.
Cristina Figueiredo Terezo (2014, p. 141) ressalta que, em relação aos Direitos Humanos, o Protocolo
de Buenos Aires absorveu os direitos previstos na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
pela Carta, reconhecendo que tais dispositivos gozam de valor normativo. O protocolo traz ainda ampliação
CPF: 030.720.271-29

dos direitos econômicos, incluindo dispositivo referente ao apoio tecnológico e científico.


A segunda alteração foi feita em 1985, pelo Protocolo de Cartagena das Índias, vigente em 1988. Pelo
tratado, o Conselho Permanente e a Secretaria Geral passaram a ter atribuições semelhantes às da Secretaria
Geral da ONU (TEREZO, 2014, p. 142).
Silva -- CPF:

O terceiro Protocolo foi o de Washington, aprovado em 1992 e vigente em 1997. O tratado trouxe a
da Silva

chamada cláusula democrática, que permite a suspensão de um Estado-membro na hipótese de ruptura


democrática.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

O último Protocolo — o de Manágua, aprovado em 1948, entrando em vigência em 1993 — alterou


a estrutura da Organização, criando o Conselho Interamericano de Desenvolvimento Integral e extinguindo
Eliovaine

o Conselho Interamericano Econômico e Social e o Conselho Interamericano para Educação, Ciência e


Cultura.

3.3. Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem

Cristina Figueiredo Terezo (2014, p. 141) explica que a proposta de redigir uma carta de direitos em
âmbito americano surge em 1936, na Conferência Interamericana de Consolidação da Paz, realizada em
Buenos Aires, voltando à pauta dos países em 1938, na VII Conferência Internacional dos Estados Americanos,
em Lima e em 1945, em Chapultepec.
A redação final foi concluída em 1945, mas apenas na IX Conferência Internacional Americana — a
qual se reuniu em Bogotá (Colômbia), em 2 de maio de 1948, com a participação de 21 Estados — que se
adotou a Carta da Organização dos Estados Americanos, o Tratado Americano sobre Soluções Pacíficas (Pacto
de Bogotá) e a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem. Nessa mesma conferência, tentou-
se a adoção do Acordo Econômico de Bogotá (que buscava promover a cooperação econômica entre os
Estados americanos), que nunca entrou em vigor.

79
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

ATENÇÃO!
A Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem (DADDH) não é baseada na Declaração
Universal de Direitos Humanos (de 10 de dezembro de 1948). Afinal, ela foi assinada cerca oito meses antes
da DUDH.

O Comitê Jurídico Interamericano recomendou que o texto fosse assinado como um tratado, porém,
após a resistência dos Estados, o documento foi aprovado como uma Resolução, gerando a discussão sobre
seu caráter vinculante.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) pôs fim à celeuma em sua Opinião
Consultiva nº 10, quando entendeu que a DADDH não é um tratado stricto sensu (porque é uma resolução),
mas é fonte de obrigações aos Estados-membros da OEA, pelos seguintes motivos:

• O Artigo 29 da CADH prevê expressamente a Declaração como fonte de interpretação de seus


direitos:
Artigo 29. Normas de interpretação
Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada no sentido de: (...)
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

d. excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma natureza.

• Os direitos previstos na Declaração foram inseridos no sistema da OEA tanto na Carta da OEA
quanto no Protocolo de Cartagena:
39. A Carta da Organização faz referência aos direitos essenciais do homem em seu
Preâmbulo (parágrafo terceiro) e em seus arts. 3.j), 16, 43, 47, 51, 112 e 150; Preâmbulo
CPF: 030.720.271-29

(parágrafo quarto), arts. 3.k), 16, 44, 48, 52, 111 e 150 da Carta reformada pelo Protocolo
de Cartagena de Índias), porém não os enumera nem os define. Tem sido os Estados
Membros da Organização os que, por meio dos diversos órgãos da mesma, têm enunciado
precisamente os direitos humanos de que se fala na Carta e aos que se refere a Declaração
(CORTE IDH, 1989).
Silva -- CPF:

• Cabe à CIDH o dever de velar pelos direitos humanos no sistema regional. Esses direitos são os
da Silva

enunciados definidos pela Declaração Americana, conforme o Artigo 1 do Estatuto da Comissão,


com redação dada pela Resolução 447 da Assembleia Geral da OEA:
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Artigo 1
1. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos é um órgão da Organização dos Estados
Eliovaine

Americanos criado para promover a observância e a defesa dos direitos humanos e para
servir como órgão consultivo da Organização nesta matéria.
2. Para os fins deste Estatuto, entende-se por direitos humanos:
a. os direitos definidos na Convenção Americana sobre Direitos Humanos com relação aos
Estados Partes da mesma;
b. os direitos consagrados na Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem,
com relação aos demais Estados membros.

• A Assembleia Geral da OEA já reconheceu a DADDH reiteradamente como fonte de obrigações


dos Estados-membros (Ex.: Resoluções 314/77, 370/78 e 371/78).
As principais contribuições da Declaração Americana são:

• Tratar os direitos humanos como inerentes à pessoa humana;


• Ter uma concepção integrada dos direitos humanos, abarcando direitos civis, políticos,
econômicos, sociais e culturais;
• Ser a base normativa dos Estados que não fazem parte da Convenção Americana dos Direitos
Humanos;
• Correlacionar direitos e deveres. Sobre os deveres, a Declaração consagra que os indivíduos
devem proceder fraternamente uns para com os outros.

80
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

ATENÇÃO!
A DADDH não tem muita incidência em concursos públicos. Algumas bancas de concurso, inclusive
confundem a declaração com a Convenção Americana de Direitos Humanos. O mais importante, para fins
de prova, é saber o que ela faz.

QUESTÕES
135. (CESPE / CEBRASPE - 2013 - STM - Juiz-Auditor Substituto, adaptada) À elaboração da DUDH
seguiram-se a da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e a da Convenção Europeia
de Direitos Humanos.

136. (FCC - 2012 - DPE-PR - Defensor Público, adaptada) A Comissão Interamericana examina casos e
petições relacionadas com Estados membros da Organização dos Estados Americanos que não são
parte na CADH, utilizando como fundamento, nessa análise, a Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem.
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137. (FCC - 2015 - DPE-SP - Defensor Público, adaptada) Durante a ditadura civil-militar, a maior parte
das denúncias à Comissão Interamericana foi realizada por indivíduos ou grupo de indivíduos e
fundamentada na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem.

138. (ADM&TEC - 2020 - Prefeitura de Delmiro Gouveia, adaptada) Segundo o texto, a Lei Maria da
CPF: 030.720.271-29

Penha está em conformidade com a Constituição Federal (artigo 226, §8º) e com os tratados
internacionais ratificados pelo Estado brasileiro (Convenção de Belém do Pará, Pacto de San José da
Costa Rica, Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem e Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher).
Silva -- CPF:
da Silva

139. (Aroeira - 2014 - PC-TO - Agente de Polícia) No sistema Interamericano de Direitos Humanos, a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1948 e a Declaração Americana dos Direitos e Deve-
Gouvea da

res do Homem de 1969 são importantes instrumentos regionais de proteção e promoção desses
Eliovaine Gouvea

direitos.
Eliovaine

3.4. Convenção Americana de Direitos Humanos

A Convenção Americana sobre Direitos Humanos foi celebrada em San José, capital da Costa Rica,
em 1969, e internalizada pelo Brasil pelo Decreto nº 678/1992. A entrada em vigor do tratado ocorreu em
18 de julho de 1978.
Em 1965, a Resolução XXIV, da II Conferência Extraordinária Interamericana decidiu pela preparação
do documento, sendo o projeto elaborado pela Comissão Interamericana de Juristas, em 1967.
Apenas 23 dos 35 Estados-membros da OEA ratificaram a CADH. Eram 25, mas Trinidad e Tobago (em
1998) e a Venezuela (em 2012) denunciaram o tratado.
A CADH, em seu preâmbulo, faz referência à DUDH, à DADDH, à Carta da OEA e a instrumentos
internacionais e regionais.

ATENÇÃO!
É possível afirmar que a CADH é baseada nos Pactos de Direitos Humanos de 1966 e na Convenção
Europeia dos Direitos do Homem de 1950.

81
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O tratado traz também disposição genérica sobre direitos sociais, econômicos e culturais:
Artigo 26. Desenvolvimento progressivo
Os Estados Partes comprometem-se a adotar providências, tanto no âmbito interno como
mediante cooperação internacional, especialmente econômica e técnica, a fim de conseguir
progressivamente a plena efetividade dos direitos que decorrem das normas econômicas,
sociais e sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados
Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos
disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados.

Posteriormente, como será visto a seguir, foi aprovado o Protocolo de San Salvador sobre Direitos
Sociais, Econômicos e Culturais, mas o artigo 26 continua sendo o principal fundamento jurídico do sistema
interamericano para a justiciabilidade desses direitos, em razão da restrição do Protocolo adicional.
Assim como o PIDCP, a CADH traz cláusula expressa sobre a possibilidade de suspensão de direitos
humanos, bem como quais desses direitos não poderão ser suspensos:
Artigo 27. Suspensão de garantias
1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a
independência ou segurança do Estado Parte, este poderá adotar disposições que, na
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medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, suspendam as


obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que tais disposições não sejam
incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe o Direito Internacional e não
encerrem discriminação alguma fundada em motivos de raça, cor, sexo, idioma, religião ou
origem social.
2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados seguintes
artigos: 3 (Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica); 4 (Direito à vida); 5 (Direito
CPF: 030.720.271-29

à integridade pessoal); 6 (Proibição da escravidão e servidão); 9 (Princípio da legalidade e


da retroatividade); 12 (Liberdade de consciência e de religião); 17 (Proteção da família); 18
(Direito ao nome); 19 (Direitos da criança); 20 (Direito à nacionalidade) e 23 (Direitos
políticos), nem das garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos.
3. Todo Estado Parte que fizer uso do direito de suspensão deverá informar imediatamente
Silva -- CPF:

os outros Estados Partes na presente Convenção, por intermédio do Secretário-Geral da


Organização dos Estados Americanos, das disposições cuja aplicação haja suspendido, dos
da Silva

motivos determinantes da suspensão e da data em que haja dado por terminada tal
suspensão.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Outra característica importante da CADH é não se restringir a um rol de direitos aos indivíduos,
trazendo também os deveres das pessoas com a família, comunidade e toda a humanidade:
Eliovaine

Artigo 32. Correlação entre deveres e direitos


1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a humanidade.
2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela segurança de
todos e pelas justas exigências do bem comum, numa sociedade democrática.

Destaca-se também que a CADH traz uma cláusula de abertura na intepretação dos direitos nela
previstos, bem como a positivação de que o rol de seus direitos não é taxativo, possibilitando o
reconhecimento de outros que não estejam previstos no tratado:
Artigo 29. Normas de interpretação
Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada no sentido de:
a. permitir a qualquer dos Estados Partes, grupo ou pessoa, suprimir o gozo e exercício dos
direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em maior medida do que a
nela prevista;
b. limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam ser reconhecidos
de acordo com as leis de qualquer dos Estados Partes ou de acordo com outra convenção
em que seja parte um dos referidos Estados;
c. excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da
forma democrática representativa de governo; e
d. excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dos Direitos e
Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma natureza.

82
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Artigo 31. Reconhecimento de outros direitos


Poderão ser incluídos no regime de proteção desta Convenção outros direitos e liberdades
que forem reconhecidos de acordo com os processos estabelecidos nos artigos 76 e 77.

A título de curiosidade, é possível fazermos uma breve comparação entre os tratados, destacando
ainda as alterações da Convenção Europeia de Direitos do Homem após a reforma de 1998:

CADH CEDH 1950 CEDH após 1998

DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS


Direito de reconhecimento da
Sim Não Não
pessoa perante a lei

Direito ao nome Sim Não Não

Direitos da criança Sim Não Não


Direito à nacionalidade Sim Não Não
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Direito à igualdade Sim Não Não


Proíbe se o Estado já Proíbe se o Estado já Abolida após o
Pena de morte
tiver abolido tiver abolido protocolo 6 de 1983
Direitos sociais, econômicos e
Sim Só direito à educação Só direito à educação
culturais
CPF: 030.720.271-29

MECANISMO DE JUDICIALIDADE

Peticionamento individual Base mandatória Base facultativa Base mandatória


Silva -- CPF:

Comunicações interestatais Base facultativa Base mandatória Base mandatória


da Silva

Procedimento de proteção Bifásico Bifásico Unifásico


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Ademais, em relação à CADH, é necessário fazer um comparativo de seus termos com a legislação
brasileira.
Eliovaine

3.4.1. O início da proteção à vida

O primeiro ponto a ser destacado diz respeito à teoria adotada quanto ao início da vida. A doutrina
divide-se entre as teorias Natalista e Concepcionista, sobre o momento do início da proteção. O Código Civil
Brasileiro, em seu artigo 2º, aponta que o início da personalidade começa com o nascimento com vida, não
obstante a existência de salvaguardas aos direitos do nascituro, desde sua proteção:
Art. 2º. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a
salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.

O STF, no julgamento da ADI 3.510, declarou a constitucionalidade da Lei nº 11.105/2005,


entendendo que pesquisas com células-tronco embrionárias não violam o direito à vida.
A CADH, em seu artigo 4, adota expressamente a teoria concepcionista, prevendo que o direito à
vida deve ser protegido desde a concepção:

83
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Artigo 4. Direito à vida


1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido
pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida
arbitrariamente.

Porém, ao interpretar o dispositivo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos, no julgamento do


caso Artavia Murillo e outros (fecundação in vitro) vs. Costa Rica, de 2012, decidiu que somente no segundo
estágio do desenvolvimento embrionário (nidação ou implantação) é que se permite entender que houve
a concepção.

ATENÇÃO!
Para fins de concurso é correto afirmar, portanto, que a CADH adota a teoria concepcionista.
Porém, é necessário ficar atento que, para a Corte IDH, a “concepção” não ocorre com a fecundação do
óvulo, mas, sim, com a nidação. Daí é necessária a interpretação das assertivas, pois nem sempre as bancas
estarão cientes dessa posição do tribunal internacional, preferindo uma cobrança textual da convenção.

3.4.2. A prisão civil do depositário infiel


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Talvez o dispositivo mais conhecido da CADH seja o artigo 7, que prevê a prisão civil apenas na
hipótese do inadimplemento de obrigação alimentar:
Artigo 7. Direito à liberdade pessoal
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de
autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação
CPF: 030.720.271-29

alimentar.

A disposição convencional é mais restritiva que o art. 5º, LXVII da Constituição, que permite a prisão
do depositário infiel:
Art. 5º (...)
Silva -- CPF:

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
da Silva

Foi a discussão da compatibilidade entre os dispositivos que gerou a construção do Supremo Tribunal
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Federal sobre o status supralegal da CADH, por não ter sido ratificada nos termos do art. 5º, §3º da
Constituição.
Eliovaine

No julgamento do RE 349.703, a Corte consolidou o entendimento de que os tratados internacionais


de direitos humanos anteriores à EC nº 45/04 são de status normativo supralegal, isto é, abaixo da
Constituição, mas superiores às demais normas do ordenamento (adotou-se, então, uma teoria monista
nacionalista moderada). Posteriormente foi editada a súmula vinculante nº 25, de seguinte redação:
Súmula Vinculante nº 25: É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade do depósito.

3.4.3. A audiência de custódia e sua compatibilidade com a CADH

Outro ponto a ser destacado refere-se à audiência de custódia. O artigo 7.5 da CADH dispõe que uma
pessoa detida ou retida deve ser conduzida à presença de um juiz:
ARTIGO 7
Direito à Liberdade Pessoal (...)
5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, á presença de um juiz ou
outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada
dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o
processo. Sua liberdade pode ser condiciona a garantias que assegurem o seu
comparecimento em juízo.

84
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

A legislação brasileira previa tal garantia apenas em duas situações: na hipótese da prática de crimes
eleitorais e em caso de apreensão de adolescentes.
Código Eleitoral
Art. 236. Nenhuma autoridade poderá, desde 5 (cinco) dias antes e até 48 (quarenta e oito)
horas depois do encerramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor, salvo em
flagrante delito ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável,
ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto. (...)
§2º Ocorrendo qualquer prisão o preso será imediatamente conduzido à presença do juiz
competente que, se verificar a ilegalidade da detenção, a relaxará e promoverá a
responsabilidade do coator.

Estatuto da Criança e do Adolescente


Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo,
encaminhado à autoridade judiciária.
Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato infracional será, desde logo,
encaminhado à autoridade policial competente.

Em fevereiro de 2015, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo — por meio do Provimento-
Conjunto 03/2015 (em âmbito estadual) —, e posteriormente o Conselho Nacional de Justiça — por meio da
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Resolução nº 213/15 (com âmbito nacional) — passaram a determinar a apresentação do preso em flagrante,
no prazo de 24 horas, à autoridade competente:
Art. 1º. Determinar que toda pessoa presa em flagrante delito, independentemente da
motivação ou natureza do ato, seja obrigatoriamente apresentada, em até 24 horas da
comunicação do flagrante, à autoridade judicial competente, e ouvida sobre as
circunstâncias em que se realizou sua prisão ou apreensão.
CPF: 030.720.271-29

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 5240 e da ADPF/MC 347, decidiu serem
constitucionais os atos infralegais, considerando o disposto na CADH:
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PROVIMENTO CONJUNTO 03/2015 DO
Silva -- CPF:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA.


1. A Convenção Americana sobre Direitos do Homem, que dispõe, em seu artigo 7º, item 5,
da Silva

que “toda pessoa presa, detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de
um juiz”, posto ostentar o status jurídico supralegal que os tratados internacionais sobre
Gouvea da

direitos humanos têm no ordenamento jurídico brasileiro, legitima a denominada


Eliovaine Gouvea

“audiência de custódia”, cuja denominação sugere-se “audiência de apresentação”.


2. O direito convencional de apresentação do preso ao Juiz, consectariamente, deflagra o
Eliovaine

procedimento legal de habeas corpus, no qual o Juiz apreciará a legalidade da prisão, à vista
do preso que lhe é apresentado, procedimento esse instituído pelo Código de Processo
Penal, nos seus artigos 647 e seguintes.
3. O habeas corpus ad subjiciendum, em sua origem remota, consistia na determinação do
juiz de apresentação do preso para aferição da legalidade da sua prisão, o que ainda se faz
presente na legislação processual penal (artigo 656 do CPP).
4. O ato normativo sob o crivo da fiscalização abstrata de constitucionalidade contempla,
em seus artigos 1º, 3º, 5º, 6º e 7º normas estritamente regulamentadoras do procedimento
legal de habeas corpus instaurado perante o Juiz de primeira instância, em nada
exorbitando ou contrariando a lei processual vigente, restando, assim, inexistência de
conflito com a lei, o que torna inadmissível o ajuizamento de ação direta de
inconstitucionalidade para a sua impugnação, porquanto o status do CPP não gera violação
constitucional, posto legislação infraconstitucional.
5. As disposições administrativas do ato impugnado (artigos 2º, 4° 8°, 9º, 10 e 11), sobre a
organização do funcionamento das unidades jurisdicionais do Tribunal de Justiça, situam-se
dentro dos limites da sua autogestão (artigo 96, inciso I, alínea a, da CRFB). Fundada
diretamente na Constituição Federal, admitindo ad argumentandum impugnação pela via
da ação direta de inconstitucionalidade, mercê de materialmente inviável a demanda.
6. In casu, a parte do ato impugnado que versa sobre as rotinas cartorárias e providências
administrativas ligadas à audiência de custódia em nada ofende a reserva de lei ou norma
constitucional.

85
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

7. Os artigos 5º, inciso II, e 22, inciso I, da Constituição Federal não foram violados, na
medida em que há legislação federal em sentido estrito legitimando a audiência de
apresentação.
8. A Convenção Americana sobre Direitos do Homem e o Código de Processo Penal, posto
ostentarem eficácia geral e erga omnes, atingem a esfera de atuação dos Delegados de
Polícia, conjurando a alegação de violação da cláusula pétrea de separação de poderes.
9. A Associação Nacional dos Delegados de Polícia – ADEPOL, entidade de classe de âmbito
nacional, que congrega a totalidade da categoria dos Delegados de Polícia (civis e federais),
tem legitimidade para propor ação direta de inconstitucionalidade (artigo 103, inciso IX, da
CRFB). Precedentes.
10. A pertinência temática entre os objetivos da associação autora e o objeto da ação direta
de inconstitucionalidade é inequívoca, uma vez que a realização das audiências de custódia
repercute na atividade dos Delegados de Polícia, encarregados da apresentação do preso
em Juízo.
11. Ação direta de inconstitucionalidade PARCIALMENTE CONHECIDA e, nessa parte,
JULGADA IMPROCEDENTE, indicando a adoção da referida prática da audiência de
apresentação por todos os tribunais do país. (ADI 5240, Relator(a): LUIZ FUX, Tribunal Pleno,
julgado em 20/8/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-018 DIVULG 29-01-2016 PUBLIC 01-
02-2016)
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(...) AUDIÊNCIA DE CUSTÓDIA – OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA. Estão obrigados juízes e


tribunais, observados os artigos 9.3 do Pacto dos Direitos Civis e Políticos e 7.5 da
Convenção Interamericana de Direitos Humanos, a realizarem, em até noventa dias,
audiências de custódia, viabilizando o comparecimento do preso perante a autoridade
judiciária no prazo máximo de 24 horas, contado do momento da prisão. (ADPF 347 MC,
Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 9/9/2015, PROCESSO ELETRÔNICO
DJe-031 DIVULG 18-02-2016 PUBLIC 19-02-2016)
CPF: 030.720.271-29

Posteriormente, a Lei nº 13.964/2019 incorporou a obrigação no Código de Processo Penal, dispondo


que:
Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e
Silva -- CPF:

quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia
com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e
da Silva

o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:


(Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019)
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

No âmbito da jurisprudência da Corte IDH, o prazo de apresentação do preso deve ser fixado pela
legislação interna (PIOVESAN, 2019, ebook, p. 93), porém, já considerou serem inconvencionais a
Eliovaine

apresentação do preso após 5 (cinco) dias (Caso Cabrera García e Montiel Flores vs. México) e de 38 (trinta
e oito) horas (Caso Irmãos Landaeta Mejías e outros vs. Venezuela).
Nos casos citados, há de se destacar suas peculiaridades. No primeiro precedente, a prisão ocorreu
em uma zona com alta presença militar, o que gerara riscos ao detido; já no segundo, um dos acusados era
menor de idade (PIOVESAN, 2019, ebook, p. 94). No caso Amrheim e outros vs. Costa Rica, no entanto, a
Corte IDH não considerou inconvencional o prazo de 36 horas, previsto na legislação interna, para a
apresentação do preso (não obstante ter considerado a manutenção da prisão da prisão preventiva por 13
meses, até a prolação da sentença condenatória, contrária os dispositivos da CADH).

3.4.4. O duplo grau de jurisdição

Outro ponto de análise diz respeito à garantia do duplo grau de jurisdição. O artigo 8.2, h, da CADH
dispõe:
Artigo 8. Garantias judiciais (...)
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não
se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena
igualdade, às seguintes garantias mínimas: (...)
h. direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.

86
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

A interpretação do dispositivo é a de que todos os condenados têm direito à revisão da decisão


condenatória com cognição ampla, isto é, com alcance das questões de fato e de direito que culminaram na
resolução do mérito.
A Corte IDH, concretizando a garantia convencional, no caso Norín Catrimán e outros vs. Chile,
decidiu que os recursos devem ser ordinários, acessíveis, eficazes e permitir a revisão integral da decisão
recorrida:
270. Em particular, considerando que a Convenção Americana deve ser interpretada
levando em consideração seu objetivo e finalidade, que é a eficaz proteção dos direitos
humanos, a Corte determinou que um recurso deve ser ordinário, acessível e eficaz; deve
permitir um exame ou revisão integral da sentença recorrida; deve estar ao alcance de toda
pessoa condenada; e deve respeitar as garantias processuais mínimas:
a) Recurso ordinário: o direito de interpor um recurso contra a sentença deve ser garantido
antes que a sentença adquira a qualidade de coisa julgada, pois busca proteger o direito de
defesa, evitando que se firme uma decisão adotada em um procedimento viciado, contendo
erros que trarão prejuízo indevido aos interesses de uma pessoa.
b) Recurso acessível: sua apresentação não deve requerer maiores complexidades que
tornem ilusório este direito. As formalidades requeridas para sua admissão devem ser
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mínimas e não devem constituir um obstáculo para que o recurso cumpra com sua
finalidade de examinar e resolver as reclamações sustentadas pelo recorrente.
c) Recurso eficaz: não basta a existência formal do recurso, este deve permitir que se
obtenham resultados ou respostas, conforme a finalidade para a qual foi concebido.
Independentemente do regime ou sistema recursal que adotem os Estados Partes e da
denominação que deem ao meio de impugnação da sentença condenatória, deve constituir
um meio adequado para a correção de uma condenação equivocada. Este requisito está
intimamente vinculado com o seguinte:
CPF: 030.720.271-29

d) Recurso que permita uma análise ou revisão integral da sentença recorrida: deve
assegurar a possibilidade de um exame integral da decisão recorrida. Portanto, deve
permitir que se analisem as questões fáticas, probatórias e jurídicas em que se baseia a
sentença impugnada, posto que na atividade jurisdicional existe uma interdependência
entre as determinações fáticas e a aplicação do direito, de forma tal que uma determinação
Silva -- CPF:

equivocada dos fatos implica em uma incorreta ou indevida aplicação do direito.


Consequentemente, as causais de procedência do recurso devem possibilitar um controle
da Silva

amplo dos aspectos impugnados da sentença condenatória. Deste modo, poder-se-á obter
Gouvea da

a dupla conformidade judicial, pois a revisão integral da sentença condenatória permite


Eliovaine Gouvea

confirmar o fundamento e concede maior credibilidade ao ato jurisdicional do Estado, ao


mesmo tempo que oferece maior segurança e tutela aos direitos do condenado.
e) Recurso ao alcance de toda pessoa condenada: o direito a recorrer da sentença não
Eliovaine

poderia ser efetivo se não garantisse a todo aquele que é condenado, já que a condenação
é a manifestação do exercício do poder punitivo do Estado. Deve ser garantido, inclusive,
para quem é condenado mediante sentença que revoga uma decisão absolutória.
f) Recurso que respeite as garantias processuais mínimas: os regimes recursais devem
respeitar as garantias processuais mínimas que, segundo o artigo 8 da Convenção, são
pertinentes e necessárias para resolver as reclamações expostas pelo recorrente, sem que
isso implique na necessidade de realizar um novo juízo oral. (CORTE IDH, 2014, p. 189)

Da leitura da decisão, fica claro o afastamento da interpretação da Corte com a jurisprudência do STF
relacionado ao alcance da garantia processual em relação aos processos de competência penal originária:
ACÓRDÃO QUE, EM AÇÃO PENAL ORIGINÁRIA, CONDENOU O RECORRENTE COM BASE NA
PROVA DOS AUTOS. PRETENSÃO DE REEXAME DA MATÉRIA DE FATO. DUPLO GRAU DE
JURISDIÇÃO. Questão insuscetível de ser apreciada ante a impossibilidade de reexaminar-
se em sede extraordinária a matéria de fato, ainda que em processo criminal de
competência originária do Tribunal de Justiça, não sendo o duplo grau de jurisdição uma
garantia constitucional (RHC 79.785, Rel. Min. Sepúlveda Pertence). Agravo regimental
desprovido. (AI 248761 AgR, Relator(a): ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em
11/4/2000, DJ 23-06-2000 PP-00010 EMENT VOL-01996-02 PP-00240)

87
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Nos casos Barreto Leiva vs. Venezuela e Liakat Ali Alibux vs. Suriname, a Corte IDH deparou-se com
processos em que os acusados foram julgados originariamente pelas cortes constitucionais. Segundo o
tribunal internacional, não obstante os Estados terem margem de apreciação para definir os requisitos
recursais, isso não pode infringir a essência do direito de apresentação de recursos por parte dos indivíduos
(CORTE IDH, 2009, p. 19).
Ademais, para a Corte IDH, a competência de tribunal superior para o julgamento de processo penal
não é, em si, inconvencional, porém ao acusado deve ser dada a oportunidade de recurso, ainda que no
mesmo órgão, como ao plenário da corte:
102. A Corte constata que, como Ministro de Estado, o senhor Alibux foi submetido a uma
jurisdição diferente da ordinária para seu julgamento penal, devido ao alto cargo público
que ele exercia. Nesse sentido, com base no artigo 140 da Constituição, o processo penal
pela prática de delito de fraude no exercício de suas funções foi iniciado pelo Procurador-
Geral depois de ter sido acusado pela Assembleia Geral, para que a Alta Corte o julgasse. O
Tribunal considera que o estabelecimento da Alta Corte de Justiça, como juiz natural
competente para efeitos do julgamento do senhor Alibux é compatível, a princípio, com a
Convenção Americana.
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

103. Não obstante, a Corte verifica que não havia nenhum recurso perante o órgão máximo
de justiça que julgou o senhor Alibux que poderia ter sido interposto, a fim de garantir o
direito a recorrer da sentença condenatória, contrariamente ao disposto no artigo 8.2.h) da
Convenção Americana. Nesse sentido, a Corte considera que embora tenha sido a Alta Corte
de Justiça que julgou e condenou o senhor Alibux, o nível do tribunal que julga não pode
garantir que a decisão em instância única será proferida sem erros ou vícios. Em razão disso,
mesmo quando o processo penal em instância única estiver a cargo de uma jurisdição
diferente da ordinária, o Estado deveria ter garantido que o senhor Alibux pudesse contar
CPF: 030.720.271-29

com a possibilidade de recurso em sentença adversa, com base na natureza da garantia


mínima do devido processo que tal direito ostenta. A ausência de um recurso significou que
a condenação proferida em seu desfavor fosse definitiva e, por conseguinte, o senhor Alibux
cumpriu uma pena privativa de liberdade. (...)
Silva -- CPF:

105. Portanto, o artigo 8.2.h) da Convenção Americana estabelece o “direito de recorrer da


da Silva

sentença para juiz ou tribunal superior”. O senhor Liakat Alibux foi julgado pelo órgão
máximo de justiça do Suriname, e não existia um tribunal ou juiz superior que pudesse fazer
Gouvea da

uma revisão integral da sentença condenatória. Assim, em circunstâncias como essa, a


Eliovaine Gouvea

Corte interpreta que, não existindo um tribunal de maior hierarquia, a superioridade que
revisa a sentença condenatória se entende cumprida quando o plenário, uma turma ou
Eliovaine

câmara, dentro do mesmo órgão colegiado superior, mas de composição diferente da que
conheceu da causa originalmente, resolve o recurso interposto com a faculdade de revogar
ou modificar a sentença condenatória proferida, se considerar pertinente. Nesse sentido, a
Corte assinalou que pode ser estabelecido, “[...], por exemplo, [...] que o julgamento em
primeira instância estará a cargo do presidente ou de uma turma do órgão colegiado
superior, e o conhecimento da impugnação corresponderá ao plenário do referido órgão,
com a exclusão daqueles que já se pronunciaram a respeito do caso”. Ademais, a Corte
verifica que esta tem sido a prática de alguns Estados da região (par. 98 supra). Sem prejuízo
disso, o Tribunal estima que o Estado pode se organizar da maneira que considere
pertinente com o propósito de garantir o direito a recorrer da sentença dos altos
funcionários públicos.

Essa construção jurisprudencial da Corte IDH tem íntima ligação com o Brasil, em razão do
julgamento da Ação Penal 470 (Mensalão), cujo julgamento ocorreu no Plenário do STF, sem a oportunidade
de recurso a outro órgão, considerando que os embargos infringentes foram julgados, também, pelo plenário
da corte.
Posteriormente, com a Emenda Regimental nº 49/2014, o STF restringiu a competência originária do
pleno para o julgamento do Presidente e Vice-Presidente da República, do Presidente do Senado Federal, do
Presidente da Câmara dos Deputados, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e do Procurador-Geral da

88
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

República, minorando, na prática, a divergência de entendimentos, tendo em vista que a maioria dos
processos em trâmite na Corte referem-se aos membros do Congresso Nacional.
Contudo, com a Emenda Regimental nº 57/2020, foi restaurada a redação originária do regimento
interno, retornando ao Plenário o julgamento de todas as autoridades com prerrogativa de foro.
Em suma: em relação ao duplo grau de jurisdição, o Supremo Tribunal Federal continua a adotar uma
posição divergente em relação à jurisprudência da Corte IDH, gerando o risco de responsabilização
internacional do Brasil por violação ao artigo 8.2, h, da CADH.

3.4.5. Presunção de inocência e execução provisória da pena frente a CADH

No que diz respeito à presunção de inocência, o artigo 8.2 da CADH dispõe o seguinte:
Artigo 8. Garantias judiciais (...)
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa.

A ideia básica do dispositivo é a de que a pessoa não pode ser “condenada informalmente”
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

(PIOVESAN, 2019, ebook, p. 127), de modo a ser tratada como condenada antes da formação da culpa. Na
jurisprudência da Corte IDH é possível citar o caso Cantoral Venavides vs. Peru, em que os indivíduos foram
expostos nos meios de comunicação como terroristas antes da comprovação de sua culpa.
No Brasil, a discussão ganha relevo em relação ao dispositivo constitucional do art. 5º que prevê:
Art. 5º (...)
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
CPF: 030.720.271-29

condenatória;

Não há, na jurisprudência da Corte IDH, um marco para a determinação da culpa (PIOVESAN, 2019,
ebook, p. 130), porém o dispositivo constitucional é de clareza ímpar (até o trânsito em julgado) e,
considerando o princípio pro persona, deve-se compreender que a proteção nacional, por ser mais ampla,
Silva -- CPF:

deve ser a adotada, ainda que o tribunal internacional eventualmente fixe um marco diverso mais restritivo.
da Silva

Em âmbito interno, ao julgar as Ações Declaratórias de Constitucionalidade 43, 44 e 54, o Supremo


Tribunal Federal impediu, de regra, a execução provisória da pena antes do trânsito em julgado da decisão
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

penal condenatória:
PENA – EXECUÇÃO PROVISÓRIA – IMPOSSIBILIDADE – PRINCÍPIO DA NÃO CULPABILIDADE.
Eliovaine

Surge constitucional o artigo 283 do Código de Processo Penal, a condicionar o início do


cumprimento da pena ao trânsito em julgado da sentença penal condenatória, considerado
o alcance da garantia versada no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, no que
direciona a apurar para, selada a culpa em virtude de título precluso na via da
recorribilidade, prender, em execução da sanção, a qual não admite forma provisória. (ADC
54, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 7/11/2019, PROCESSO
ELETRÔNICO DJe-270 DIVULG 11-11-2020 PUBLIC 12-11-2020)

3.4.6. Discussão sobre a convencionalidade do delito de desacato

Ainda em relação à contraposição da CADH à legislação nacional, é relevante destacar a questão do


delito de desacato. O artigo 13 da Convenção dispõe o seguinte:
Artigo 13. Liberdade de pensamento e de expressão
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse direito
compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideias de toda
natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma
impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

89
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito a censura
prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente fixadas pela lei e
ser necessárias para assegurar:
a. o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; ou
b. a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral públicas.

No ano de 2000, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos aprovou, em seu 108º período de
sessões ordinárias, a Declaração de princípios sobre liberdade de expressão, dispondo que:
11. Os funcionários públicos estão sujeitos a maior escrutínio da sociedade. As leis que
punem a expressão ofensiva contra funcionários públicos, geralmente conhecidas como
“leis de desacato”, atentam contra a liberdade de expressão e o direito à informação.

Na jurisprudência da Corte IDH, é possível encontrar o caso Palamara Iribarne vs. Chile em que, no
curso do julgamento de processos penais, o senhor Palamara Iribarne foi processado pelo crime de desacato,
por manifestar-se sobre a condução da persecução penal. Nesse caso, a Corte IDH entendeu que o delito de
desacato teria restringido de forma desproporcional o direito de liberdade de expressão do autor,
contrariando a garantia da CADH:
88. A Corte entende que no presente caso, através da aplicação do crime de desacato, a
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

persecução penal foi utilizada de uma forma desproporcional e desnecessária em uma


sociedade democrática, pela qual ao senhor Palamara Iribarne foi privado do exercício de
seu direito de liberdade de pensamento e de expressão, em relação às opiniões e críticas
que tinha a respeito de assuntos que o afetavam diretamente e tinham relação direta com
a forma que as autoridades da justiça militar cumpriram suas funções nos processos que
ele estava sendo submetido. A Corte considera que a legislação sobre desacato aplicada ao
senhor Palamara Iribarne estabelecia sanções desproporcionais por realizar críticas sobre o
CPF: 030.720.271-29

funcionamento das instituições estatais e seus membros, suprimindo o debate essencial


para o funcionamento de um sistema verdadeiramente democrático e restringindo
desnecessariamente o direito da liberdade de pensamento e expressão. (tradução nossa)
(CORTE IDH, 2005, p. 61).
Silva -- CPF:

Para maior compreensão do julgado, é necessário comparar os delitos de desacato no Brasil e o


vigente à época dos fatos:
Eliovaine Gouvea
Eliovaine da Silva
Gouvea da

90
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

CÓDIGO PENAL CHILENO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO


(CONSIDERADO PELA DECISÃO DA
CORTE IDH)
Art. 263. O que de fato ou por palavra injuriar Desacato
gravemente o Presidente da República, ou a alguma das
casas legislativas ou suas comissões, seja em atos Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da
públicos em que os representam, seja no desempenho de função ou em razão dela:
suas atribuições particulares, ou aos tribunais superiores Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
de justiça, será castigado com reclusão menor em seus
graus médios (541 dias a 3 anos de prisão) ou máximo (3
a 5 anos de prisão) e multa de onze vezes o salário
mínimo.

Quando as injúrias forem leves, as penas serão reclusão


menor em seu grau mínimo (60 a 540 dias de prisão) e
multa de seis salários-mínimos, ou simplesmente esta
última
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Art. 264. Cometem desacato contra a autoridade:

1. Os que perturbam gravemente a ordem das sessões


das casas legislativas e os que injuriam ou ameaçam nos
mesmos atos algum deputado ou senador.
2. Os que perturbam gravemente a ordem das audiências
dos tribunais de justiça e os que injuriam ou ameaçam no
CPF: 030.720.271-29

mesmo ato a um membro dos tribunais.


3. Os que injuriam ou ameaçam:

Primeiro: a um senador ou deputado pelas opiniões


Silva -- CPF:

manifestadas no Congresso.
da Silva

Segundo: a um membro de um tribunal de justiça pelas


decisões que houver dado.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Terceiro: aos ministros de estado ou outra autoridade no


exercício de seus cargos.
Eliovaine

Quarto: a um superior seu no desempenho de suas


funções.

Em todos esses casos a provocação a uma briga, ainda


que seja privada ou escondida, será considerada ameaça
grave para todos os efeitos deste artigo.

Na análise comparativa abstrata entre os dispositivos legais, afere-se uma disparidade entre as penas
em ambos os ordenamentos. Porém, no caso concreto, o sr. Palamara Iribarne foi condenado à pena de 61
dias de prisão e suspensão do cargo.
No Brasil, a primeira vez que o delito foi considerado inconvencional foi na ação penal nº 0067370-
64.2012.8.24.0023, em sentença proferida pelo MM. Juiz Alexandre Morais da Rosa. O Superior Tribunal de
Justiça, em um primeiro momento, chegou a declarar a inconvencionalidade do delito de desacato no
julgamento do REsp 1.640.084 (Rel. Ministro Ribeiro Dantas, julgado em 15/12/2016); porém, no julgamento
do HC 379.269/MS (Rel. p/ Acórdão Ministro Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 24/5/2017), a 3ª Seção
pacificou o entendimento acerca da higidez do delito.
Sobre o tema, o Supremo Tribunal Federal, ao julgar a ADPF 496, entendeu que o crime de desacato
é constitucional e convencional:

91
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

DIREITO CONSTITUCIONAL E PENAL. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO


FUNDAMENTAL. CRIME DE DESACATO. ART. 331 DO CP. CONFORMIDADE COM A
CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. RECEPÇÃO PELA CONSTITUIÇÃO DE
1988.
1. Trata-se de arguição de descumprimento de preceito fundamental em que se questiona
a conformidade com a Convenção Americana de Direitos Humanos, bem como a recepção
pela Constituição de 1988, do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato.
2. De acordo com a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do
Supremo Tribunal Federal, a liberdade de expressão não é um direito absoluto e, em casos
de grave abuso, faz-se legítima a utilização do direito penal para a proteção de outros
interesses e direitos relevantes.
3. A diversidade de regime jurídico – inclusive penal – existente entre agentes públicos e
particulares é uma via de mão dupla: as consequências previstas para as condutas típicas
são diversas não somente quando os agentes públicos são autores dos delitos, mas, de igual
modo, quando deles são vítimas.
4. A criminalização do desacato não configura tratamento privilegiado ao agente estatal,
mas proteção da função pública por ele exercida.
5. Dado que os agentes públicos em geral estão mais expostos ao escrutínio e à crítica dos
cidadãos, deles se exige maior tolerância à reprovação e à insatisfação, limitando-se o crime
eliovaine@hotmail·com
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de desacato a casos graves e evidentes de menosprezo à função pública.


6. Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente. Fixação da
seguinte tese: “Foi recepcionada pela Constituição de 1988 a norma do art. 331 do Código
Penal, que tipifica o crime de desacato”. (ADPF 496, Relator(a): ROBERTO BARROSO,
Tribunal Pleno, julgado em 22/6/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-235 DIVULG 23-09-2020
PUBLIC 24-09-2020).

ATENÇÃO!
CPF: 030.720.271-29

Mais uma vez recorda-se que, além das peculiaridades mencionadas expressamente, é de suma
importância a leitura do tratado, considerando a tendência textualista da maioria das bancas de concurso.

QUESTÕES
Silva -- CPF:

140. (VUNESP - 2021 - TJ-GO - Titular de Serviços de Notas e de Registros – Remoção) No que concerne
da Silva

ao tema “Direito à Liberdade Pessoal”, do Pacto de São José (art. 7), é correto afirmar que
Gouvea da

a) a liberdade concedida judicialmente a pessoas detidas não pode ser condicionada a qualquer garantia
Eliovaine Gouvea

(5).
b) apenas em casos excepcionais pode haver privação de liberdade por lei que não tenha sido
Eliovaine

previamente promulgada (2).


c) ninguém pode ser submetido à detenção ou ao encarceramento antes de comunicação à autoridade
judicial (3).
d) toda pessoa detida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou de outra autoridade
autorizada pela lei a exercer funções judiciais (5).

141. (VUNESP - 2021 - TJ-GO - Titular de Serviços de Notas e de Registros – Provimento) No que
concerne ao tema “Garantias Judiciais” do Pacto de São José (artigo 8), é correto afirmar que
a) o acusado tem direito de recurso da sentença para juiz ou tribunal superior (2.h).
b) aos que necessitem, é garantido o direito a intérprete ou tradutor, mas não se garante sua gratuidade
(2.a).
c) é garantido ao acusado o direito de não se defender e, ao mesmo tempo, de renunciar a defensor
público providenciado pelo Estado (2.e).
d) a sentença condenatória não se pode fundar, unicamente, na confissão (3).

92
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

142. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-AL - Escrivão de Polícia, adaptada) À luz da Convenção Americana
dos Direitos Humanos, a apologia ao ódio religioso que constitua incitação à hostilidade deve ser
vedada por lei.

143. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-AL - Escrivão de Polícia, adaptada) À luz da Convenção Americana
dos Direitos Humanos, a sujeição do réu à medida restritiva representa exceção à proibição da
limitação de sua liberdade de conservar sua religião.

144. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-AL - Escrivão de Polícia, adaptada) À luz da Convenção Americana
dos Direitos Humanos, todos os cidadãos devem possuir o direito de participar da direção dos assuntos
públicos.

145. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-AL - Escrivão de Polícia, adaptada) À luz da Convenção Americana
dos Direitos Humanos, o Estado que abolir a pena de morte não poderá restabelecê-la.
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

146. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PC-AL - Escrivão de Polícia, adaptada) À luz da Convenção Americana
dos Direitos Humanos, a pena de reclusão tem por principal finalidade a proteção da sociedade.

147. (FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público) A Convenção Americana de Direitos Humanos prevê
expressamente que, quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade nela protegidos, a
Corte Interamericana de Direitos Humanos determinará, se couber, entre outras medidas,
a) o reconhecimento público, pelo Estado, de sua culpa pelas violações ao direito.
CPF: 030.720.271-29

b) o pagamento de indenização justa à parte lesada.


c) a anulação da regra ou da decisão que resultou na lesão do direito.
d) a persecução penal da autoridade responsável pela violação de direito.
e) a expropriação da decisão interna lesiva para instância federal ou internacional.
Silva -- CPF:

148. (INSTITUTO AOCP - 2021 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil) Principalmente a partir da segunda
da Silva

metade do Século XX, as relações internacionais entre os países geraram inúmeros tratados protetivos
Gouvea da

e afirmativos dos Direitos Humanos. Referido sistema estabelece um perene diálogo entre os tratados
Eliovaine Gouvea

e entre os tratados e os ordenamentos jurídicos internos dos países signatários. Acerca da


interpretação e da aplicação dos tratados internacionais de proteção aos Direitos Humanos pelo
Eliovaine

Supremo Tribunal Federal, assinale a alternativa correta.


a) O entendimento do Supremo Tribunal Federal em controle de convencionalidade sobre a Convenção
Americana de Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica – 1969) é de que, tendo em vista a
soberania do Estado brasileiro, nada impede que um brasileiro seja processado e julgado pelos
mesmos fatos pelos quais fora condenado em ação penal já transitada em julgado sob a jurisdição de
outro Estado.
b) O Supremo Tribunal Federal julgou incompatível com a Constituição da República e a Convenção
Interamericana de Direitos Humanos o tipo penal do desacato, previsto no art. 331 do Código Penal
brasileiro.
c) Seguindo entendimento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, é constitucional a exigência de
diploma para o exercício da profissão de jornalista, posto tratar-se de medida que assegura a
credibilidade e a liberdade de expressão e pensamento.
d) Nos termos do decidido liminarmente pelo Supremo Tribunal Federal na ADPF 347, por força do Pacto
dos Direitos Civis e Políticos, da Convenção Interamericana de Direitos Humanos e como decorrência
da cláusula do devido processo legal, a realização de audiência de apresentação é de observância
obrigatória.

93
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

e) Segundo o Supremo Tribunal Federal, não há obrigatoriedade do Estado brasileiro em adotar medidas
para garantir o pleno exercício do direito de propriedade de comunidades formadas por descendentes
de escravos fugitivos sobre as terras tradicionais com as quais mantêm relações territoriais.

149. (NCE-UFRJ - 2005 - PC-DF - Delegado de Polícia) Segundo o Pacto de São José da Costa Rica
(Decreto 678/1.992), é INCORRETO afirmar que:
a) ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições previamente
fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de acordo com elas promulgadas;
b) toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra
autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser posta em liberdade, sem
prejuízo de que prossiga o processo, não podendo sua liberdade ser condicionada a garantias;
c) toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de
que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a
prisão ou a detenção forem ilegais; nos Estados- Partes cujas leis preveem que toda pessoa que se vir
ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente a
fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem
abolido; o recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa;
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

d) toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto não se comprove
legalmente sua culpa;
e) toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias dentro de um prazo razoável, por um
juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na
apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos
ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.
CPF: 030.720.271-29

150. (FCC - 2006 - DPE-SP - Defensor Público) No que diz respeito à interpretação da Convenção
Americana de Direitos Humanos (OEA, 1969), a partir de suas regras, é possível afirmar que
a) as normas da Convenção podem excluir outros direitos ou garantias inerentes ao ser humano, nela
não expressamente previstos.
Silva -- CPF:

b) as leis dos Estados-partes podem limitar o gozo ou o exercício de direito ou liberdade previstos na
Convenção.
da Silva

c) as normas da Convenção podem excluir ou limitar o efeito que possam produzir outros atos
Gouvea da

internacionais da mesma natureza.


Eliovaine Gouvea

d) as normas da Convenção não se aplicam a Estado organizado sob a forma federativa, no que diz
respeito a violações decorrentes de ato de governo local.
Eliovaine

e) as leis dos Estados-partes podem ampliar o gozo ou o exercício de qualquer direito ou liberdade
previstos na Convenção, para além do que ela prevê.

151. (CESPE / CEBRASPE - 2009 - PC-PB - Delegado de Polícia) À luz da Convenção Americana sobre
Direitos Humanos (Pacto São José), julgue os seguintes itens.
I Admite-se a pena de morte em relação aos delitos políticos e aos delitos conexos com delitos
políticos, devendo o Estado signatário fazer tal opção expressamente, quando da ratificação da
Convenção.
II O direito à vida deve ser protegido pela lei desde o momento do nascimento, que se dá com o início
do trabalho de parto.
III As penas privativas de liberdade têm por finalidade essencial a retribuição do mal causado.
IV Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório. Nos países em que se
prescreve, para certos delitos, pena privativa de liberdade acompanhada de trabalhos forçados, essa
disposição não pode ser interpretada no sentido de proibir o cumprimento da dita pena, imposta por
um juiz ou tribunal competente.

94
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

V Ninguém deve ser detido por dívidas. Esse princípio não limita os mandados de autoridade judiciária
competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar.
Estão certos apenas os itens
a) I e II.
b) I e III.
c) II e IV.
d) III e V.
e) IV e V.

152. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) Quanto aos direitos civis contidos na Convenção
Americana de Direitos Humanos, esta estabelece que
a) nos países em que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser imposta pelos delitos
mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunal competente e em conformidade com a lei
que estabeleça tal pena, promulgada antes de o delito ter sido cometido.
b) ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório, exceto em decorrência de
crime considerado hediondo pela legislação do país que adotar punição específica para essa
eliovaine@hotmail·com
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modalidade de crime, não podendo, porém, a respectiva pena ultrapassar 30 anos de reclusão.
c) ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio, porém, não limita os mandados de autoridade
judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação alimentar ou do
depositário infiel.
d) todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente com fins ideológicos, religiosos, políticos,
econômicos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos ou de qualquer outra natureza, não podendo
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o Estado restringir ou suprimir o exercício do direito de associação aos membros das forças armadas
e da polícia.

153. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) O Pacto de San José da Costa Rica garante direitos
Silva -- CPF:

políticos e oportunidades de participação política ao cidadão. Segundo esse instrumento jurídico, o


exercício de tais direitos e oportunidades poderá ser regulado pela lei, exceto por motivo de
da Silva

a) instrução.
b) residência.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

c) idioma.
d) capacidade intelectual.
Eliovaine

154. (FCC - 2009 - DPE-MT - Defensor Público) Em face do que dispõe a Convenção Americana de
Direitos Humanos quanto ao direito de defesa da pessoa acusada da prática de um delito,
a) é direito do acusado, sempre que o interesse da justiça assim o exija, ter um defensor designado ex
officio, que atuará gratuitamente.
b) o Estado deve dispor de um órgão de assistência jurídica encarregado da defesa dos acusados que
demonstrarem insuficiência de recursos.
c) a defesa pode ser realizada pessoalmente pelo acusado, caso o Estado não disponha de meios para
lhe proporcionar um defensor.
d) a defesa pode ser realizada pessoalmente pelo acusado, caso seja ele tecnicamente habilitado e
renuncie ao defensor indicado pelo Estado.
e) é obrigatória a existência de defesa técnica, fornecida pelo Estado, caso o acusado não indique
advogado de sua confiança e nem se defenda por si mesmo.

155. (CESPE / CEBRASPE - 2009 - DPE-PI - Defensor Público) A Convenção Americana de Direitos
Humanos de 1969 (Pacto de San José da Costa Rica)
a) reproduziu a maior parte das declarações de direitos constantes do Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais.

95
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

b) foi adotada sem ressalvas pelo Brasil desde o seu início.


c) proíbe o restabelecimento da pena capital nos países que a tenham abolido.
d) não tratou do direito ao nome.
e) indica a possibilidade de asilo no caso do cometimento de crimes comuns não vinculados à atividade
política.

156. (CESPE / CEBRASPE - 2009 - PC-RN - Delegado de Polícia) De acordo com a Convenção Americana
sobre Direitos Humanos, assinale a opção incorreta.
a) Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e
submetem-se a tratamento adequado à sua condição de pessoas não-condenadas.
b) Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou de outra
autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de prazo
razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o processo. A sua liberdade pode
ser condicionada a garantias que asseverem o seu comparecimento em juízo.
c) A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita tão-somente às
limitações prescritas pela lei, e que sejam necessárias para proteger a segurança, a ordem, a saúde ou
a moral públicas ou os direitos ou as liberdades das demais pessoas.
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d) Toda pessoa atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em seu prejuízo por meios de
difusão legalmente regulamentados e que se dirijam ao público em geral tem direito a fazer, pelo
mesmo órgão de difusão, sua retificação ou sua resposta, nas condições estabelecidas pela lei.
e) Constituem trabalhos forçados os trabalhos ou os serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa
para cumprimento de sentença.
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157. (FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) Para a proteção dos direitos humanos, o
instrumento de maior importância no sistema interamericano é a Convenção Americana de Direitos
Humanos, também denomina- da Pacto de San José da Costa Rica.
Leia as assertivas abaixo:
Silva -- CPF:

I. Foi esse Pacto assinado em San José, na Costa Rica, em 1969, mas somente entrou em vigor somente
em 1988, com a promulgação da chamada Constituição Cidadã no Brasil.
da Silva

II. Apenas Estados-membros da Organização dos Estados Americanos têm o direito de aderir à
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Convenção Americana, que até março de 2010 contava com 25 Estados-partes.


III. Os Estados-partes da Convenção têm deveres negativos que consistem em não violar os direitos, as
Eliovaine

medidas necessárias para assegurar o pleno exercício dos direitos humanos internacionais são da
competência da ONU.
Marque a opção CORRETA:
a) Somente a assertiva I é incorreta.
b) As assertivas I, II e III estão corretas.
c) As assertivas I, II e III estão incorretas.
d) Somente a assertiva II está correta.

158. (FCC - 2015 - DPE-SP - Defensor Público) Sobre a compatibilidade do crime de desacato, tipificado
no artigo 331 do Código Penal brasileiro, com os tratados internacionais de direitos humanos, é correto
afirmar:
a) A Comissão Interamericana já entendeu que as leis que punem a manifestação ofensiva dirigida a
funcionários públicos, geralmente conhecidas como “leis de desacato", atentam contra a liberdade de
expressão e o direito à informação.
b) Por se tratar de crime de menor potencial ofensivo, após condenação em Turma Recursal do Juizado
Especial Criminal, o Defensor Público pode interpor Recurso Extraordinário ao Supremo Tribunal

96
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Federal em razão de precedente (RE 466.343) que consagrou a natureza constitucional dos tratados
de direitos humanos.
c) O Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos estabelece que o delito de
desacato viola o direito à liberdade de expressão e recomenda aos Estados sua exclusão das legislações
internas.
d) A Defensoria Pública do Estado de São Paulo solicitou parecer consultivo à Corte Interamericana
acerca da compatibilidade entre o dispositivo normativo e a Convenção Americana de Direitos
Humanos.
e) A Defensoria Pública do Estado de São Paulo solicitou parecer consultivo à Comissão Interamericana
acerca da compatibilidade entre o dispositivo normativo e a Convenção Americana de Direitos
Humanos.

159. (FUNCAB - 2016 - PC-PA - Delegado de Polícia Civil) Sobre as garantias penais e processuais
previstas na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, é correto afirmar que:
a) a duração razoável do processo, no que concerne à pessoa privada de sua liberdade, não encontra
referência explícita na Convenção, ao contrário da necessária e imediata apresentação da pessoa a um
juiz, expressamente mencionada.
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b) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), analisando o art. 13 do Pacto de São José da
Costa Rica, entendeu que a incriminação do desacato não é compatível com o texto da Convenção.
c) determina a Convenção que todo processo penal deve ser público, sendo vedada qualquer espécie de
sigilo, a fim de que a sociedade possa fiscalizar a correta aplicação das garantias processuais.
d) o Pacto de São José da Costa Rica estabelece a presunção de inocência enquanto não provada
legalmente a culpa da pessoa, repudiando expressamente a execução da pena após sentença
condenatória em segunda instância.
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e) a teoria concepcionista, que, em linhas gerais estabelece a proteção à vida desde o momento da
concepção, encontra respaldo no art. 4. da Convenção e determina de forma inquestionável o
momento em que surge a vida intrauterina e, consequentemente, a interpretação sobre a abrangência
do abortamento criminoso.
Silva -- CPF:
da Silva

160. (CESPE / CEBRASPE - 2013 - DPE-RR - Defensor Público) De acordo com a Convenção Americana
dos Direitos Humanos,
Gouvea da

a) é possível a expulsão coletiva de estrangeiros.


Eliovaine Gouvea

b) a proteção legal do direito à vida inicia-se, em geral, a partir do momento do nascimento.


c) é reconhecida a existência de deveres da pessoa para com a família, a comunidade e a humanidade.
Eliovaine

d) nos países onde a pena de morte tenha sido abolida, essa forma de punição só poderá ser
restabelecida para os crimes mais graves.
e) é inadmissível a limitação dos direitos estabelecidos na convenção.

161. (MPM - 2005 - MPM - Promotor de Justiça Militar) Com relação ao sistema internacional de
promoção e proteção aos direitos humanos, assinale a afirmação correta:
a) Segundo o princípio da norma mais favorável, podemos dizer que, em matéria de direitos humanos,
sendo o bem jurídico tutelado por dois instrumentos, um de âmbito global e outro de âmbito regional,
sempre prevalecerá o instrumento de âmbito global por ser este de aplicação mais ampla.
b) A necessidade de se criar órgãos internacionais de proteção aos direitos da pessoa humana está em
que as garantias internas nem sempre são suficientes. No caso brasileiro, os instrumentos
internacionais pactuados sempre prevalecerão sobre os direitos constitucionalizados, conforme
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
c) Usualmente a doutrina denomina “direitos fundamentais” os direitos humanos constantes das
declarações e convenções internacionais e “direitos humanos” aqueles positivados a nível interno.

97
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

d) Na Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de “San José da Costa Rica”- podemos
encontrar, dentre as garantias judiciais, o direito de toda pessoa ser ouvida dentro de um prazo
razoável.

162. (IBFC - 2020 - SAEB-BA – Soldado) A Convenção Americana de Direitos Humanos, também
chamado de Pacto de San José da Costa Rica, foi assinado em 22 de novembro de 1969 e ratificado
pelo Brasil em setembro de 1992. Ela busca consolidar entre os países americanos um regime de
liberdade pessoal e justiça pessoal, fundado no respeito aos direitos humanos essenciais,
independentemente do país onde a pessoa resida ou tenha nascido. Assim, quanto ao seu âmbito de
proteção, analise as afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).
( ) Não existe nenhuma relação entre o Pacto de San Jose da Costa Rica e a Declaração Universal dos
Direitos Humanos.
( ) Sobre os deveres das pessoas, determina que toda pessoa tem deveres para com a família, a
comunidade e a humanidade.
( ) Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante
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os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais
reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja
cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.
( ) Algumas disposições do Pacto de San José da Costa Rica podem excluir outros direitos e garantias
que são inerentes ao ser humano ou que decorrem da forma democrática representativa de governo.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.
CPF: 030.720.271-29

a) V, V, V, V
b) V, V, F, F
c) V, F, F, V
Silva -- CPF:

d) F, F, V, V
e) F, V, V, F
da Silva
Gouvea da

163. (CESPE / CEBRASPE - 2019 - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto) Conforme a Convenção Americana
Eliovaine Gouvea

sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica) e a posição do STF sobre as teorias natalista
e da personalidade condicional, o direito à vida deve ser respeitado desde o momento da(o)
Eliovaine

a) concepção.
b) fecundação do óvulo.
c) formação do embrião.
d) nascimento.
e) nascimento com vida.

164. (FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2019 - DPE-MG - Defensor Público) Sobre a prisão civil, analise
as seguintes afirmativas e a relação proposta entre elas.
I. Desde a adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
e à Convenção Americana sobre Direitos Humanos, não há mais base legal para prisão civil do
depositário infiel.
UMA VEZ QUE
II. O artigo 5°, LXVII, da Constituição Federal de 1988, no que diz respeito à prisão civil por dívida do
depositário infiel, foi revogado pela ratificação do Pacto de São José da Costa Rica.
A respeito dessas afirmativas e da relação entre elas, é correto afirmar que

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a) a afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa.


b) as afirmativas I e II são verdadeiras, mas a II não é a justificativa da I.
c) as afirmativas I e II são verdadeiras, e a II é a justificativa da I.
d) a afirmativa I é falsa, e a II é verdadeira.

3.5. Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos em


Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo de San
Salvador)

Após a elaboração do Pacto das Nações Unidas de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, e em
decorrência da vagueza do art. 26 da CADH, que dispunha sobre direitos sociais, a CIDH solicitou a
complementação do marco teórico de tais direitos.
Em 1982, Assembleia Geral da OEA manifestou-se e determinou a redação de um Protocolo
Adicional. Após controvérsia entre diversos temas — como direito a greve e sistema de monitoramento —,
em 1988, durante o XVIII Período Ordinário de Sessões, a Assembleia Geral aprovou o chamado Protocolo de
San Salvador, que entrou em vigor apenas em 1999.
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O protocolo, antes de enumerar os direitos, traz cláusulas gerais aos Estados signatários. Dentre elas,
destaca-se o dever de efetividade progressiva dos direitos, mediante a aplicação máxima dos recursos
disponíveis, tal qual o Pacto Internacional sobre Direitos Sociais Econômicos e Culturais.
Artigo 1. Obrigação de adotar medidas
Os Estados Partes neste Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos
Humanos comprometem se a adotar as medidas necessárias, tanto de ordem interna como
CPF: 030.720.271-29

por meio da cooperação entre os Estados, especialmente econômica e técnica, até o


máximo dos recursos disponíveis e levando em conta seu grau de desenvolvimento, a fim
de conseguir, progressivamente e de acordo com a legislação interna, a plena efetividade
dos direitos reconhecidos neste Protocolo.
Silva -- CPF:

Artigo 2. Obrigação de adotar disposições de direito interno


Se o exercício dos direitos estabelecidos neste Protocolo ainda não estiver garantido por
da Silva

disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados Partes comprometem se a adotar,


Gouvea da

de acordo com suas normas constitucionais e com as disposições deste Protocolo, as


Eliovaine Gouvea

medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos esses
direitos.
Eliovaine

Mesmo que o Estado tenha uma legislação compatível com o tratado, ele poderá ser
responsabilizado internacionalmente quando não adota medidas de satisfação integral para os direitos
protegidos no texto. Ademais, os direitos previstos no tratado não admitem restrições, apesar de admitirem
limitações temporais para observar o bem-estar geral na sociedade, mas sem contrariar o propósito e razões
dos mesmos:
Artigo 4. Não-admissão de restrições
Não se poderá restringir ou limitar qualquer dos direitos reconhecidos ou vigentes num
Estado em virtude de sua legislação interna ou de convenções internacionais, sob pretexto
de que este Protocolo não os reconhece ou os reconhece em menor grau.

Artigo 5. Alcance das restrições e limitações


Os Estados Partes só poderão estabelecer restrições e limitações ao gozo e exercício dos
direitos estabelecidos neste Protocolo mediante leis promulgadas com o objetivo de
preservar o bem-estar geral dentro de uma sociedade democrática, na medida em que não
contrariem o propósito e razão dos mesmos.

O sistema de monitoramento admite, de forma restritiva, a competência da Corte IDH, porém não
se trata de uma competência ampla, ficando restrita aos direitos sindicais e à educação:
Artigo 19. Meios de proteção

99
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

6. Caso os direitos estabelecidos na alínea a do artigo 8 (direitos sindicais), e no artigo 13


(direito à educação), forem violados por ação imputável diretamente a um Estado Parte
deste Protocolo, essa situação poderia dar lugar, mediante participação da Comissão
Interamericana de Direitos Humanos e, quando cabível, da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, à aplicação do sistema de petições individuais regulado pelos artigos 44 a 51 e
61 a 69 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

ATENÇÃO!
Não obstante a justiciabilidade internacional do Protocolo de San Salvador ser restrita aos direitos
sindicais e à educação, a Corte Interamericana de Direitos Humanos acaba por conhecer ações
relacionadas ao tema em função da dicção geral do artigo 26 da CADH.

QUESTÕES
165. (FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) Se determinado direito for violado por ação imputável
diretamente a um Estado-Parte do Protocolo de San Salvador, essa situação pode dar lugar à aplicação
do sistema de petições individuais da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, mediante
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participação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e, quando cabível, da Corte


Interamericana de Direitos Humanos, conforme previsão expressa do Protocolo adicional à Convenção
Americana sobre Direitos Humanos em matéria de direitos econômicos, sociais e culturais. Trata-se
do Direito à
a) alimentação.
b) educação.
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c) previdência social.
d) saúde.
e) greve.
Silva -- CPF:

166. (FCC - 2021 - DPE-GO - Defensor Público) Determinado Município de médio porte possuía diversas
escolas de ensino fundamental distribuídas em sua região periférica. O novo prefeito resolveu diminuir
da Silva

os gastos e reduziu as turmas implantadas em cada escola. Para isso, realizou um levantamento de
Gouvea da

turmas que contavam com menor número de alunos e determinou que os estudantes fossem
Eliovaine Gouvea

automaticamente transferidos para escolas da região central da cidade que possuíam turmas maiores.
Não houve, em paralelo, disponibilização de transporte ou de qualquer outro meio de locomoção
Eliovaine

entre a casa dos estudantes e a nova escola, ou mesmo entre a antiga escola e a nova unidade de
ensino. A Defensoria Pública realizou diversas reuniões para solução extrajudicial das violações de
direitos humanos, sem sucesso. Ajuizou, então, ação civil pública, a qual foi julgada improcedente.
Após os recursos cabíveis, a decisão transitou em julgado no mês passado, confirmando a decisão em
primeiro grau. Para obrigar o poder público a garantir o direito à educação desses estudantes, o
membro da Defensoria Pública deverá
a) enviar relatório pormenorizado ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos
Humanos, por violação de direitos humanos.
b) apresentar relato do caso como petição individual ao Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais da ONU, por violação ao Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
c) representar ao Procurador-Geral da República solicitando a instauração do incidente de deslocamento
de competência da demanda, por violação de tratados internacionais.
d) encaminhar relato do caso à Relatoria Especial para o Direito à Educação do Conselho de Direitos
Humanos da ONU, por violação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
e) elaborar relato do caso e denunciar o Brasil diretamente à Comissão Interamericana de Direitos
Humanos da OEA, por violação do Protocolo de San Salvador.

100
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

167. (FCC - 2021 - DPE-BA – Defensor Público) O “Protocolo de San Salvador” (Protocolo adicional à
Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria de direitos econômicos, sociais e culturais)
a) não foi ratificado pelo Brasil em virtude da ausência de depósito do instrumento de aprovação
congressual por meio de decreto-legislativo.
b) assegura o direito à alimentação, com nutrição adequada, que garanta a possibilidade de gozar do
mais alto nível de desenvolvimento físico, emocional e intelectual.
c) admite a restrição ou limitação, pelos Estados Partes, dos direitos reconhecidos em menor grau de
proteção pelo Protocolo em relação à legislação interna, objetivando-se conferir coerência e
integridade ao sistema jurídico de proteção.
d) prevê o acesso à Comissão de Direitos Humanos por meio de petições individuais em caso de violações
ao direito à educação e aos direitos sindicais, dentre os quais o direito de greve.
e) assegura os direitos de reunião e liberdade de associação, ao trabalho, à sindicalização, à previdência
social, à saúde, à educação e à cultura, sem previsão do direito à constituição e proteção da família.

168. (VUNESP - 2008 - DPE-MS - Defensor Público) No Sistema Interamericano de Direitos Humanos, a
proteção internacional dos direitos econômicos, sociais e culturais veio a ser concretizada pela
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Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos, em 1988, por meio do seguinte
instrumento jurídico:
a) Convenção de Cartagena.
b) Protocolo de San Salvador.
c) Pacto de San José da Costa Rica.
d) Declaração de Lima.
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169. (FCC - 2009 - DPE-MT - Defensor Público) Tendo em vista o Protocolo Adicional à Convenção
Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, NÃO
constitui direito nele reconhecido:
a) À educação primária gratuita.
Silva -- CPF:

b) À reserva de percentual de cargos públicos para as pessoas portadoras de deficiência.


da Silva

c) À licença-maternidade, antes e depois do parto.


d) A uma remuneração equitativa e igual por trabalho igual.
Gouvea da

e) À total imunização contra as principais doenças infecciosas.


Eliovaine Gouvea
Eliovaine

170. (FCC - 2009 - DPE-PA - Defensor Público) O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais e o Protocolo de San Salvador em matéria de direitos econômicos, sociais e culturais preveem
que estes direitos têm aplicação
a) imediata, devendo ser implementados pelos Estados-partes no prazo de cinco anos a contar da
ratificação dos aludidos tratados.
b) imediata, devendo ser implementados pelos Estados-partes no prazo de dois anos a contar da
ratificação dos aludidos tratados.
c) progressiva, estando condicionados à prévia implementação dos direitos civis e políticos, vedado o
retrocesso social.
d) imediata, devendo os Estados dispor do máximo dos recursos disponíveis para a sua realização,
permitido o retrocesso social com base na reserva do possível.
e) progressiva, devendo os Estados dispor do máximo dos recursos disponíveis para a sua realização,
vedado o retrocesso social.

171. (FCC - 2009 - DPE-SP - Defensor Público) No Protocolo de San Salvador está reconhecido o direito
de petição ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos nos casos de violação
a) do direito ao trabalho.
b) dos direitos econômicos, sociais e culturais.

101
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

c) dos direitos à saúde e à educação.


d) dos direitos à saúde e à moradia digna.
e) dos direitos à livre associação sindical e à educação.

172. (FEPESE - 2013 - SJC-SC - Agente de Segurança Socioeducativo) A proteção, preservação e o


melhoramento do meio ambiente estão previstos no Protocolo Adicional à Convenção Americana
sobre Direitos Humanos, também denominado
a) Rio+20.
b) Protocolo de Cruz Alta.
c) Protocolo de Assunção.
d) Protocolo de San Salvador.
e) Declaração de San José da Costa Rica.

173. (FUMARC - 2014 - PC-MG - Investigador de Polícia) O Brasil tem revelado, nos últimos anos,
crescente alinhamento à arquitetura de proteção internacional dos direitos humanos. Diante desse
posicionamento que anuncia uma esperança emancipatória do sujeito de direitos, sob o prisma
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jurídico-político, em face da proteção dos direitos humanos, é CORRETO afirmar que


a) o Brasil, mesmo depois de condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos no Caso Escher
e outros versus Brasil, que envolveu a interceptação e o monitoramento ilegal de linhas telefônicas,
não autorizou o cumprimento da sentença por entender que essa medida depende de decisão do
Supremo Tribunal Federal.
b) o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, editado no âmbito do sistema global de proteção
dos direitos humanos, tem a ele o Segundo Protocolo ao Pacto Internacional de Direitos Civis e
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Políticos, adotado em 15 de dezembro de 1989, que estabelece que cada Estado-parte deverá adotar
todas as medidas necessárias para abolir a pena de morte em sua jurisdição. O citado Protocolo ainda
não foi ratificado pelo Brasil.
c) o Protocolo à Convenção Americana referente aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Protocolo
Silva -- CPF:

de San Salvador) foi ratificado pelo Brasil.


d) o Protocolo Facultativo ao Pacto dos Direitos Civis e Políticos, no âmbito do sistema global de proteção
da Silva

aos direitos humanos, que trata do mecanismo das petições individuais, está pendente de apreciação
no Congresso Nacional.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

174. (FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público) Uma comunidade vulnerável sofreu despejo forçado pelo
Eliovaine

Poder Público, sem alternativa habitacional ou qualquer contrapartida, mesmo se tratando de


ocupação consolidada ao longo de décadas. Considerando os marcos de competência e os standards
internacionais de direitos humanos aplicáveis após o esgotamento das instâncias nacionais, pela
Defensoria Pública, mediante procedimento contencioso, é cabível o
a) encaminhamento de Relatório Sombra ao Comitê sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da
ONU.
b) acionamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, objetivando a declaração de violação
da Convenção Americana de Direitos Humanos.
c) acionamento do Comitê sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais da ONU, objetivando a
declaração de violação do Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
d) acionamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, objetivando a declaração de violação do
Protocolo de San Salvador.
e) acionamento da Comissão de Direitos Humanos da ONU, objetivando a declaração de violação da
Declaração Universal dos Direitos Humanos.

175. (MPF - 2015 - PGR - Procurador da República) Assinale a alternativa incorreta:

102
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a) O Protocolo facultativo a Convenção da Organização das Nações Unidas sobre os direitos das pessoas
com deficiência prevê que seu Comitê considerará inadmissível a comunicação de vítima sobre
violação de direitos previstos na Convenção quando a comunicação for anônima ou quando a mesma
matéria já tenha sido examinada pelo Comitê ou tenha sido ou estiver sendo examinada sob outro
procedimento de investigação ou resolução internacional, entre outros motivos de inadmissibilidade.
b) A Convenção Americana de Direitos Humanos dispõe que os Estados partes comprometem-se a adotar
as providências, tanto no âmbito interno, como mediante cooperação internacional, especialmente
econômica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos que
decorrem das normas econômicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura.
c) De acordo com o Protocolo de San Salvador, caso os direitos sindicais, o direito de greve e o direito a
educação fundamental forem violados por ação imputável a Estado Parte do Protocolo, e possível a
utilização do mecanismo de petições individuais a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
previsto na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.
d) O Comitê pela eliminação de toda forma de discriminação contra a mulher já apreciou petição
individual contra o Brasil, tendo recomendado ao Estado que, além de indenizar a família da vítima,
também assegure o direito das mulheres a maternidade segura e o acesso a assistência médica
emergencial adequada.
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4. O SISTEMA EUROPEU DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

A Convenção para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais foi assinada
em 4 de novembro de 1950, entrando em vigor em 3 de setembro de 1953. Trata-se, portanto, do primeiro
texto de proteção regional de direitos humanos e o primeiro texto que introduziu o acesso do indivíduo a
CPF: 030.720.271-29

uma instância internacional de proteção dos direitos humanos, em face de seu próprio Estado (MIRANDA,
2012, p. 329).
Jorge Miranda (2012, 329) explica que a CEDH é fruto de um contexto de pós-guerra, que ilustra a
experiência acumulada dos sistemas constitucionais de democracias pluralistas, bem como se mostra como
Silva -- CPF:

uma reação aos regimes totalitários do início do Século XX. No mesmo sentido, Flávia Piovesan (2015, p. 113)
destaca que o sistema europeu de proteção dos direitos humanos tem o contexto de ruptura e reconstrução
da Silva

dos direitos humanos através da integração e cooperação dos Estados europeus.


Gouvea da

O tratado, adotado no seio do Conselho da Europa, inicialmente fora ratificado por 8 Estados
Eliovaine Gouvea

(Dinamarca, Alemanha, Islândia, Irlanda, Luxemburgo, Noruega, Suécia e Reino Unido), atualmente conta
com 47 Estados-partes.
Eliovaine

ATENÇÃO!
Em 2016 o Reino Unido votou para sua saída da União Europeia (BREXIT). Contudo, a Convenção
Europeia dos Direitos do Homem, incorporada pelo direito inglês através do Human Rights Act de 1998, não
foi adotada no âmbito da União Europeia, mas sim do Conselho da Europa. Portanto, a saída da União
Europeia não importou em imediata saída da CEDH. Ademais, como destaca Frederick Cowell (2021), o
tratado comercial entre União Europeia e Reino Unido, na prática impede a saída do Estado da Convenção,
não obstante a possibilidade de a legislação interna restringir o cumprimento das decisões da Corte Europeia
de Direitos Humanos, à exemplo do que fizeram Rússia, Polônia e Hungria. Enfim, para fins de concurso, é
possível afirmar que até 2021, pelo menos, o Reino Unido ainda está vinculado à CEDH.

Além da CEDH coexiste no âmbito da União Europeia a Carta dos Direitos Fundamentais da União
Europeia, de 7 de dezembro de 2000 e vigente desde 1º de dezembro de 2009, com a entrada em vigor do
Tratado de Lisboa.
A coexistência desses textos normativos, em conjunto da proteção nacional dos direitos humanos,
configura o que o professor René Urueña (2014, p. 13) denomina proteção multinível dos direitos humanos
de 3 níveis e Valerio de Oliveria Mazzuoli (2020, ebook, p. 108) classifica como sistema europeu
internormativo de direitos humanos.

103
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Jorge Miranda (2012, p. 330) ressalta que os direitos previstos na Convenção são relativamente
modestos, pois havia a necessidade de se aprofundar a proteção desse rol, considerado o mais importante
que outros. No mesmo sentido, Flávia Piovesan (2015, p. 117) destaca que a inspiração liberal e individualista
pautou a escolha dos direitos, pois expressava os valores dominantes e consensuais da Europa ocidental. A
ideia era a de que os direitos civis e políticos seriam essenciais para a vida democrática, enquanto direitos
sociais, econômicos e culturais, são “mais problemáticos”, devendo ter tratamento específico a ser conferido
posteriormente.
De fato, a ampla proteção dos direitos sociais, econômicos e culturais, só ocorreu em âmbito regional
europeu com a Carta Social Europeia, que entrou em vigor em 26 de fevereiro de 1965, sofrendo uma revisão
em 1996. O direito à educação, foi inserido através do Protocolo Adicional à CEDH, de 1952, com vigência
em 18 de maio de 1954, sob o título de direito à instrução:
Artigo 2º (Direito à instrução)
A ninguém pode ser negado o direito à instrução. O Estado, no exercício das funções que
tem de assumir no campo da educação e do ensino, respeitará o direito dos pais a assegurar
aquela educação e ensino consoante as suas convicções religiosas e filosóficas.

Até 2021 a CEDH tem 16 protocolos adicionais dos seguintes temas3:


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PROTOCOLO DATA DE
TEMA:
Nº: VIGÊNCIA:

1 18/5/1954 Instituiu direitos à propriedade; à educação; e eleições livres através do voto


secreto.

2 21/9/1970 Instituiu a atribuição de requisição de parecer consultivo à Corte, elaborado pelo


CPF: 030.720.271-29

Comitê de Ministros.

3 21/9/1970 Altera normas procedimentais do sistema de peticionamento

4 2/5/1968 Institui a proibição de prisão civil por dívidas (contratuais), liberdade de circulação,
Silva -- CPF:

direito de escolha da residência, proibição de expulsão de nacionais e proibição


coletiva de estrangeiros
da Silva

5 20/12/1971 Dispõe sobre as eleições dos juízes da Corte e sobre procedimentos da audiência.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

6 1/3/1985 Institui a abolição da pena de morte em tempos de paz.

7 1/11/1988 Institui garantias processuais no caso de expulsão de estrangeiros, e os direitos de


Eliovaine

duplo grau de jurisdição em matéria penal, indenização por erro judiciário,


vedação do bis in idem e a igualdade entre os cônjuges.

8 1/1/1990 Altera o funcionamento da Comissão Europeia dos Direitos do Homem

9 1/10/1994 Prevê a possibilidade de recurso aos indivíduos à Corte EDH após a manifestação
da Comissão Europeia de Direitos Humanos

10 - Dispunha sobre o procedimento de supervisão da Convenção, mas perdeu sua


vigência após a entrada em vigor do protocolo 11

11 1/11/1998 Extingue o procedimento bifásico de peticionamento, instituindo o “novo tribunal”


com acesso direito dos indivíduos.

12 1/4/2005 Proíbe todas as formas de discriminação.

13 1/7/2003 Institui a abolição da pena de morte em todas as circunstâncias

14 1/6/2010 Altera a duração dos mandatos dos juízes, define novo critério de admissibilidade
de casos e cria novas formações judiciais para casos menos complexos

3 Fonte: https://www.echr.coe.int/Documents/Convention_Instrument_POR.pdf

104
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

15 1/8/ 2021 Versa sobre o princípio da subsidiariedade e sobre a chamada margem de


apreciação nacional. Dispõe ainda sobre a redução de prazo para recorrer à CEDH,
de seis para quatro meses.

16 1/8/2018 Permite a solicitação de pareceres consultivos à CEDH pelas mais altas instâncias
dos Estados-membros (Tribunais Superiores).

Em seu design originário da CEDH previa dois órgãos: a Comissão Europeia dos Direitos do Homem,
com a função de investigação, conciliação, recebimento e exame de petições e queijas de particulares,
previstas nos artigos 20 e seguintes do tratado; e a Corte Europeia dos Direitos do Homem, com funções,
inicialmente, exclusivamente jurisdicionais, que, após o Protocolo adicional nº 2, passa a ter também funções
consultivas.
Os particulares não tinham acesso direto à Corte até o Protocolo Adicional nº 11, que suprimiu a
Comissão e reestruturo o tribunal.
O Protocolo Adicional nº 14 fez nova reestruturação do tribunal internacional e do procedimento de
peticionamento. Outra inovação do Protocolo nº 14, foi a alteração do artigo 59 da CEDH, permitindo que a
União Europeia possa aderir ao tratado. Portanto, a CEDH não tem como membros apenas os Estados.
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Destaca-se ainda que, além da CEDH o Conselho da Europa adota centenas4 e outros tratados de
proteção dos direitos humanos, como a Convenção Europeia para a Prevenção da Tortura e de Tratamentos
Desumanos e Degradantes de 1987, a Convenção Europeia para a Proteção de Minorias Nacionais, de 1995
e a Convenção Europeia contra o tráfico de órgãos humanos, de 2015.
Para além das disposições materiais sobre os direitos previstos no tratado, Flávia Piovesan (2015, p.
118) destaca que a Corte Europeia de Direitos Humanos desenvolveu a chamada interpretação evolutiva dos
CPF: 030.720.271-29

tratados de proteção dos direitos humanos, considerando não o contexto do momento em que a CEDH foi
elaborada, mas sim a realidade contemporânea à sua aplicação. Trata-se, portanto, da ideia da convenção
como um “instrumento vivo” (living instrument) e não uma norma estática no tempo e espaço 5.
Outro ponto marcante do sistema europeu é a ideia de margem de discricionariedade ou margem
Silva -- CPF:

de apreciação nacional na proteção dos direitos humanos. André de Carvalho Ramos (2019, p. 188) explica
que a teoria da margem de apreciação nacional foi desenvolvida pela Corte Europeia de Direitos Humanos
da Silva

para permitir que Estados possam ter “formas distintas” de proteção de um determinado direito,
Gouvea da

considerando seus valores nacionais.


Eliovaine Gouvea

O autor traz as expressões “interpretação nacional dos direitos humanos internacionais” e


“internacionalização ambígua ou imperfeita dos direitos humanos” para resumir a lógica da teoria. São
Eliovaine

exemplos práticos da utilização (implícita ou explícita) da teoria a permitir a Alemanha proibir o ensino
domiciliar (Caso Konrad v. Alemanha), a França expulsar uma estrangeira por se negar a tirar a burca a um
oficial consular homem (Caso El Morsli v. França) ou o Reino Unido apreender e destruir obras consideradas
de caráter obsceno e inapropriado (Caso Handyside v. Reino Unido).
O grande risco da teoria da margem de apreciação nacional é o tratamento distinto de um problema
relacionado às violações de direitos humanos. A aplicação desmedida da teoria pode gerar um non liquet e
com isso enfraquecer, ao invés de fortalecer a proteção dos direitos humanos. Uma coisa é, por exemplo, a
escolha entre a votação pelo sistema proporcional ou pelo sistema de colégios eleitorais entre dois países ou
a permissão ou não de candidaturas avulsas (desvinculadas de partidos políticos). Outra coisa, totalmente
diferente é permitir que em um país uma pessoa possa, para exercitar seu direito de liberdade religiosa,
utilizar uma burca, e no outro ser impedida de fazê-lo, sem que esteja configurada uma violação a esse
direito.
Por fim, a Corte IDH aplica esporadicamente a teoria da margem de apreciação nacional, como o fez
no caso na Opinião Consultiva nº 4, quando respondendo consulta da Costa Rica, apontou que compete aos

4 Lista completa dos tratados pode ser encontrada no site: https://www.coe.int/en/web/conventions/full-list


5 Sobre o tema vide: https://echr.coe.int/Documents/Convention_Instrument_ENG.pdf

105
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Estados escolher os critérios de naturalização de estrangeiros, desde que respeitadas as normas do Direito
Internacional, ou na discricionariedade dos Estados permitirem candidaturas independentes (Caso
Castañeda Gutman vs. México).

QUESTÕES
176. (FUNDEP - 2019 - DPE-MG - Defensor Público) De acordo com a Teoria da Margem de Apreciação,
a) os conceitos e termos inseridos nos tratados de Direitos Humanos podem possuir sentidos próprios,
distintos dos sentidos a eles atribuídos pelo Direito Interno.
b) deve-se assegurar às disposições convencionais seus efeitos próprios, evitando-se que sejam
consideradas meramente programáticas.
c) em certos casos polêmicos, deve-se aceitar a posição nacional sobre o tema, evitando impor soluções
interpretativas às comunidades nacionais.
d) os tratados internacionais de Direitos Humanos estão sujeitos à interpretação de termos de conteúdo
indeterminado, que pode variar de acordo com o contexto de cada época.

177. (FCC - 2014 - DPE-PB - Defensor Público, adaptada) A teoria da margem da apreciação é baseada na
subsidiariedade da jurisdição internacional e ponderada pelo princípio da proporcionalidade, sendo esse
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instrumento de interpretação adotado frequentemente pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.

178. (MPF - 2017 - PGR - Procurador da República, adaptada) O princípio da não tipicidade dos direitos
humanos é incompatível com a interpretação evolutiva dos direitos em tratados de direitos humanos.

179. (MPF - 2017 - PGR - Procurador da República) Dentre os enunciados abaixo, somente estão corretos:
I - A Corte Interamericana de Direitos Humanos, na Opinião Consultiva n. 07, decidiu que cabe aos Estados a
CPF: 030.720.271-29

decisão sobre a autoaplicabilidade das normas internacionais de direitos humanos.


II - No sistema regional europeu de direitos humanos, a demanda individual pode ser considerada
inadmissível se o prejuízo causado à vítima pela violação de direitos humanos for considerado insignificante.
III - O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos possibilita a adoção de medidas de restrição e suspensão
Silva -- CPF:

de quaisquer direitos em situações excepcionais que ameacem a existência do Estado democrático.


IV- O sistema regional europeu de direitos humanos adotou a chamada satisfação justa ou equitativa para
da Silva

exigir dos Estados infratores a reparação completa e integral de todo tipo de violação de direitos humanos
apontado pela Corte Europeia de Direitos Humanos.
Gouvea da

a) apenas II
Eliovaine Gouvea

b) I e IV
c) I e II
Eliovaine

d) II, III e IV

180. (TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - Juiz Federal Substituto) “Sob a inspiração do ideal liberal-individualista,
esse ORGANISMO INTERNACIONAL tem salvaguardado o valor da liberdade e sua projeção na esfera
privada e familiar, afirmando o direito de todo e qualquer indivíduo de desenvolver sua personalidade.
Com base no princípio da proporcionalidade, tem invalidado interferências estatais abusivas. Ao proteger
de forma indireta os direitos sociais, tem entendido que o direito à vida privada requer não apenas
obrigações negativas do Estado, mas ainda prestações positivas, condenando a omissão estatal quando
afronta o direito à vida privada – por exemplo degradação ambiental causada por empresa. Referida
INSTITUIÇÃO é movida pelo respeito à vida privada e pelo ideal liberal-individualista como princípios
basilares (cf. Flavia Piovesan, “Direitos Humanos e Justiça Internacional”, 7. ed., p. 212, ADAPTADA).
Assinale a INSTITUIÇÃO a que o texto acima se refere:
a) Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
b) Corte Europeia de Direitos Humanos.
c) Tribunal Penal Internacional.
d) Corte Interamericana de Direitos Humanos.

181. (MPF - 2015 - PGR - Procurador da República) De acordo com a evolução organizacional do regime
internacional de proteção dos direitos humanos, o sistema europeu de direitos humanos passou a

106
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

prever, a partir do Protocolo n. 14, a possibilidade de adesão da União Europeia como parte da
Convenção Europeia de Direitos Humanos.

182. (CESPE - 2012 - DPE-RO - Defensor Público) No que se refere ao sistema europeu de direitos
humanos, assinale a opção correta.
a) O Protocolo nº 13, de 2002, admite a pena de morte apenas em tempo de guerra.
b) O Protocolo nº 4, de 1963, admite a expulsão coletiva de estrangeiros, desde que observados os trâmites
fixados pela legislação do Estado-parte.
c) No Protocolo nº 7, de 1984, prevê-se, no caso de condenação por infrações menores assim definidas nas
leis do Estado-parte e no caso de condenação aplicada pela mais alta corte do Estado-parte, exceção ao
direito a duplo grau de jurisdição em matéria penal.
d) Além das manifestações dos Estados-partes, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem pode admitir
apenas petições de organizações não governamentais e de coletividades ou grupos minoritários.
e) A Convenção Europeia dos Direitos do Homem veda qualquer restrição, no território por ela abrangido,
à atividade política dos estrangeiros.

183. (CESPE - 2011 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Assinale a opção correta relativamente
aos mecanismos de implementação dos direitos humanos no plano internacional.
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a) A Corte Europeia de Direitos Humanos julga exclusivamente demandas de indivíduos contra Estados.
b) Na atualidade, existem apenas duas cortes regionais em funcionamento: a Corte Interamericana de
Direitos Humanos e a Corte Europeia de Direitos.
c) A comissão Europeia de Direitos Humanos é um órgão de conciliação e mediação do sistema europeu de
proteção.
d) A Corte Europeia de Direitos Humanos dispõe de competência consultiva.
CPF: 030.720.271-29

e) Decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos são passíveis de recurso à Corte Internacional de
Justiça.

5. O SISTEMA AFRICANO DE PROTEÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS


Silva -- CPF:

Como destaca Flávia Piovesan (2015, p. 231) o sistema regional africano revela singularidade e
da Silva

complexidade, tendo em vista a luta de seus povos pela descolonização e pelo reconhecimento de sua
autodeterminação. Ademais, o continente tem ainda que lidar com o desafio de enfrentar graves violações
Gouvea da

aos direitos humanos.


Eliovaine Gouvea

André de Carvalho Ramos (2019, p. 287) explica que a temática de proteção dos direitos humanos é
Eliovaine

recorrente no continente africano, desde o final da 1ª Guerra Mundial, quando fora realizado o Primeiro
Congresso Pan-Africano de 1919. No congresso houve a abolição do trabalho forçado, dos castigos corporais
e o reconhecimento aos direitos de idioma e cultura local. Posteriormente, novos direitos passam a ser
reconhecidos, em compasso com a luta dos povos africanos para sua descolonização.
Em 1958 foi realizada em Gana a Conferência de todos os povos africanos, reunindo líderes de todo
continente, onde foi adotada uma resolução que vinculava a independência ao respeito dos direitos
humanos. Pouco depois, em 1963, em Addis Abeba, na Etiópia, 32 Estados africanos assinaram a Carta da
Organização da Unidade Africana, que tinha como um de seus objetivos, a promoção da cooperação
internacional e a observação da Carta da ONU e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Em 1981, sob os auspícios da Organização da Unidade Africana, foi elaborada a Carta Africana dos
Direitos Humanos e dos Povos, também conhecida como Carta de Banjul, Gâmbia. O tratado entrou em vigor
em 21 de outubro de 1986.
A Carta Africana foi inspirada nos Pactos de 1966, das Declarações de Direitos Humanos (universal e
americana) e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, sem, contudo, perder de vista as
peculiaridades regionais do continente.

107
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Nesse sentido, Flávia Piovesan (2015, p. 233) ressalta que já no preâmbulo da Carta, há quatro
distinções do tratado em relação aos demais instrumentos regionais de proteção aos direitos humanos:
I. A carta confere importância ímpar às tradições históricas e aos valores da civilização africana,
apontando que esses dois aspectos devem inspirara e caracterizar suas reflexões sobre a
concepção dos direitos humanos e dos povos;
II. A importância dos direitos dos povos. Portanto, ao contrário da CEDH ou da CADH, a Carta
africana adota uma perspectiva coletivista dos direitos humanos, e não individualista. Em outros
termos, enquanto a ênfase da CADH e da CEDH é a menção de um catálogo de direitos
individuais, a Carta Africana contempla direitos próprios dos povos a serem respeitados em
conjunto com os direitos individuais.
III. O preâmbulo da Carta reconhece a indissociabilidade entre os direitos civis e políticos com os
direitos econômicos, sociais e culturais. Assim sendo, o corpo do tratado também prevê direitos
sociais, econômicos e culturais.
IV. A carta refere-se, já em seu preâmbulo, à necessidade de cumprimento dos deveres de cada um,
para com a família, a comunidade e a comunidade internacional, não se limitando a dispor um
catálogo de direitos.
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André de Carvalho Ramos (2019, p. 287) aponta ainda que a Carta Africana é inovadora ao prever
direitos difusos como o meio ambiente, em seu corpo.
A Carta é composta por três partes, sendo a primeira o elenco dos direitos protegidos, a segunda
estabelecendo as regras sobre a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos e a terceira relacionada
às disposições gerais de emenda, vigência e ratificação.
A Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos, por sua vez, é o único órgão criado pela
CPF: 030.720.271-29

CADHP, composta por 11 membros que gozam da mais alta consideração, integridade e imparcialidade, com
conhecimentos sobre matérias dos direitos humanos e dos povos. Ela tem sede em Banjul na Gâmbia e não
pode ter mais de um membro com a mesma nacionalidade.
O órgão tem competência para a promoção e proteção dos direitos humanos e dos povos. A
Silva -- CPF:

Comissão Africana tem competência consultiva e interpretativa da Carta Africana.


da Silva

Em relação à proteção dos direitos humanos ela pode analisar petições individuais das vítimas dos
Gouvea da

direitos humanos e demandas interestatais.


Eliovaine Gouvea

A Comissão Africana ainda tem a incumbência de analisar relatórios estatais bienais, sobre a situação
dos direitos protegidos pela Carta.
Eliovaine

André de Carvalho Ramos (2019, p. 290) ressalta que a Comissão tem sérios problemas de
financiamento e, com isso estrutura. Ademais, o autor aponta que o mecanismo quase judicial da Carta tem
pouca força vinculante.
Em 9 de Junho de 1998, foi aprovado o Protocolo da Carta Africana dos Direitos do Homem e dos
Povos relativo à Criação de um Tribunal Africano dos Direitos do Homem e dos Povos, em Burkina Faso. O
tratado entrou em vigor em 2004, após o depósito de ratificação do 15º Estado. A Corte Africana tem sede
em Arusha, na Tanzânia. Até 2021, 31 dos 55 membros da União Africana ratificaram o protocolo6.
A Corte Africana é formada por 11 membros, juristas de elevada reputação moral e com competência
reconhecida em matéria de direitos humanos. Eles devem ser provenientes de Estados africanos, não
podendo haver dois juízes de mesma nacionalidade.
A Corte tem competência contenciosa e consultiva. Em relação à competência consultiva, segundo o
artigo 4º do Protocolo, poderão pedir opiniões para a corte os Estados da União Africana, a própria União
Africana, seus órgãos, ou qualquer organização africana reconhecida pela União Africana.

6 Para maiores informações, acesso o site: https://www.african-court.org/wpafc/informacoes-basicas/?lang=pt-pt

108
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Já em relação à sua competência consultiva, a Corte pode apreciar casos submetidos pela Comissão
Africana, por Estados ou por organização intergovernamental africana. O artigo 5º do Protocolo prevê a
possibilidade de recebimento de casos por indivíduos e organizações não governamentais diretamente à
Corte. Contudo, apenas 8 dos 32 depositaram a declaração de aceite do acesso direito dos indivíduos e ONGs
ao tribunal. André de Carvalho Ramos (2019, p. 293) ressalta a dificuldade do indivíduo e de as ONGs
acessarem a Corte é potencializada pela faculdade do tribunal em aceitar ou não a demanda.
Quanto à competência em relação à matéria, a Corte Africana tem competência expressa para
analisar os direitos sociais em sentido amplo.
Há de se destacar ainda que a União Africana, em 2006, decidiu fundir o Tribunal de Justiça da União
Africana com a Corte Africana de Direitos Humanos e dos povos, formando a Corte Africana de Justiça e
Direitos Humanos. O protocolo de criação foi elaborado em 2008, sendo necessárias 15 ratificações para
entrar em vigor. Até 2021, 15 dos 55 Estados assinaram o protocolo, sendo que ainda não houve nenhuma
ratificação, segundo os dados da União Africana7.

CADH CEDH CADHP

DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS


eliovaine@hotmail·com
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Direito de reconhecimento da
Sim Não Sim
pessoa perante a lei

Direito ao nome Sim Não Não

Direitos da criança Sim Não Sim


CPF: 030.720.271-29

Direito à nacionalidade Sim Não Não

Direito à igualdade Sim Não Sim

Proteção à família Sim Não Sim


Silva -- CPF:

Proíbe se o Estado já Abolida após o


Pena de morte Não proíbe
tiver abolido protocolo 6 de 1983
da Silva
Gouvea da

Direitos sociais, econômicos e


Sim Só direito à educação Sim
Eliovaine Gouvea

culturais
Direitos difusos e coletivos Não Não Sim
Eliovaine

MECANISMO DE JUDICIALIDADE

Base
Peticionamento individual Base mandatória Base mandatória
mandatória

Base
Comunicações interestatais Base facultativa Base mandatória
mandatória

Unifásico ou
Procedimento de proteção Bifásico Unifásico
Bifásico

QUESTÕES
184. (FCC - 2021 - DPE-GO - Defensor Público) A Carta Africana de Direitos Humanos é o documento
regional de proteção de direitos humanos que equivale, no sistema interamericano, à Convenção

7 Vide a lista no site: https://au.int/sites/default/files/treaties/36398-sl-


PROTOCOL%20ON%20AMENDMENTS%20TO%20THE%20PROTOCOL%20ON%20THE%20STATUTE%20OF%20THE%20AFRICAN%
20COURT%20OF%20JUSTICE%20AND%20HUMAN%20RIGHTS.pdf

109
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Americana de Direitos Humanos. Um direito expressamente protegido na Carta Africana que encontra
correspondência no Pacto de San José é o direito
a) à saúde física e mental.
b) ao trabalho.
c) à livre disposição das suas riquezas.
d) à proteção à família.
e) ao meio ambiente equilibrado.

185. (VUNESP - 2014 - TJ-PA - Juiz de Direito Substituto) O sistema africano de Direitos Humanos surgiu
por meio da:
a) Carta Africana de Direitos Humanos – Carta de Moçambique (1969).
b) Convenção da África do Sul (1959).
c) Carta de Banjul (1981).
d) Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948).
e) Protocolo da Carta Africana – Etiópia (1949).

186. (CESPE - 2009 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal) Assinale a opção correspondente à convenção que
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conta com um tribunal internacional para fiscalizar o cumprimento de suas disposições.


a) Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
b) Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
c) Convenção Asiática sobre Direitos Humanos
d) Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados
e) Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos
CPF: 030.720.271-29

6. OS DIREITOS HUMANOS NO MERCOSUL

6.1. Noções Gerais sobre o Mercosul


Silva -- CPF:

O Mercado Comum do Sul – MERCOSUL, é o principal mecanismo de integração regional do qual o


da Silva

Brasil faz parte, envolvendo dimensões econômicas, políticas e sociais. O principal objetivo do bloco, hoje
uma união aduaneira (quando consumada a tarifa externa comum e ausência de tarifas de importação de
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

bens e serviços entre os membros do bloco), é tornar-se um mercado comum (com a livre circulação de todos
os fatores de produção, inclusive mão-de-obra).
Eliovaine

O marco inicial da integração comercial latino-americana ocorreu em 1960, com a criação da


Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC), que tinha o objetivo de criação de uma zona de livre
comércio na região no prazo de doze anos. Em 1980 a ALALC foi sucedida pela Associação Latino-Americana
de Integração (ALADI), com o propósito de promover o livre comércio na América Latina, sem que haja um
prazo predefinido para tanto. Esse órgão ainda existe, tendo sede em Montevidéu, sendo formado por 13
membros8.
Em paralelo a essa iniciativa regional, Argentina e Brasil começaram a negociar medidas que visavam
promover o comércio bilateral, na década de oitenta. Paulo Henrique Gonçalves Portela (2021, p. 1.298)
explica que dessa iniciativa bilateral, surgiram instrumentos como a Ata de Iguaçu, em 1985, o Programa de
Integração e Cooperação Econômica Brasil-Argentina (PICAB), em 1986, e o Tratado Bilateral de Integração
e Cooperação Econômica, de 1988. Paraguai e Uruguai acabaram por se juntar a Brasil e Argentina, e
decidiram criar, por meio do Tratado de Assunção, de 1991, o Mercosul.
Desde 2012 a Venezuela passou a integrar o Mercosul, através da ratificação do Protocolo de Adesão
da República Bolivariana da Venezuela ao Mercosul (Decreto nº 7.859/12). A Venezuela só pôde ingressar no

8 Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador, México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Vide o site:
https://www.aladi.org/sitioaladi/language/pt/o-que-e-a-aladi/

110
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Mercosul porque o Paraguai foi suspenso do bloco. Durante a suspensão, que durou de julho de 2012 (após
o impeachment do Presidente Fernando Lugo) até 15 de agosto de 2013, o Congresso do Paraguai chegou,
inclusive, a vetar formalmente o ingresso da Venezuela no Mercosul. Apenas em 27 de dezembro de 2013, o
legislativo paraguaio aprovou a lei da adesão da Venezuela na organização internacional.
A Organização Internacional tem ainda sete Estados Associados: Bolívia, Chile, Colômbia, Equador,
Guiana, Peru e Suriname9.
Importante destacar que a Venezuela está suspensa do Mercosul, desde agosto de 2017, por decisão
dos Chanceleres da Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai por descumprir o Protocolo de Ushuaia sobre
Compromisso Democrático no Mercosul10. Ademais, a Bolívia está em processo de adesão ao bloco, sendo,
para tanto, necessária a ratificação dos Estados-partes do bloco. Nos termos do art. 20 do Tratado de
Assunção, é aberto a adesões dos demais Estados-membros da ALADI, desde que celebrem acordos de livre
comércio com o bloco e que adotem a democracia como regime político:
Artigo 20
O presente Tratado estará aberto à adesão, mediante negociação, dos demais países
membros da Associação Latino-Americana de Integração, cujas solicitações poderão ser
examinadas pelos Estados Partes depois de cinco anos de vigência deste Tratado.
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Não obstante, poderão ser consideradas antes do referido prazo as solicitações


apresentadas por países membros da Associação Latino-Americana de Integração que não
façam parte de esquemas de integração sub-regional ou de uma associação extra-regional.
A aprovação das solicitações será objeto de decisão unânime dos Estados Partes.

O Mercosul não detém órgão supranacional, e, por isso, é considerado uma organização
intergovernamental. Para que suas decisões sejam válidas é necessário a ratificação por todos os Estados-
Partes, como se afere dos Artigos 2 e 40 do Protocolo de Ouro Preto:
CPF: 030.720.271-29

Artigo 2
São órgãos com capacidade decisória, de natureza intergovernamental, o Conselho do
Mercado Comum, o Grupo Mercado Comum e a Comissão de Comércio do MERCOSUL.
Silva -- CPF:

Artigo 40
A fim de garantir a vigência simultânea nos Estados Partes das normas emanadas dos órgãos
da Silva

do MERCOSUL previstos no Artigo 2 deste Protocolo, deverá ser observado o seguinte


Gouvea da

procedimento:
Eliovaine Gouvea

i. Uma vez aprovada a norma, os Estados Partes adotarão as medidas necessárias para a sua
incorporação ao ordenamento jurídico nacional e comunicarão as mesmas à Secretaria
Administrativa do MERCOSUL;
Eliovaine

ii. Quando todos os Estados Partes tiverem informado sua incorporação aos respectivos
ordenamentos jurídicos internos, a Secretaria Administrativa do MERCOSUL comunicará o
fato a cada Estado Parte;
iii. As normas entrarão em vigor simultaneamente nos Estados Partes 30 dias após a data
da comunicação efetuada pela Secretaria Administrativa do MERCOSUL, nos termos do item
anterior. Com esse objetivo, os Estados Partes, dentro do prazo acima, darão publicidade
do início da vigência das referidas normas por intermédio de seus respectivos diários
oficiais.

Ademais, as decisões dentro do Mercosul só são aprovadas mediante o consenso entre seus
membros, devendo todos os Estados-partes estarem presentes para as deliberações, como se verifica do art.
37 do Protocolo de Ouro Preto:
Artigo 37
As decisões dos órgãos do MERCOSUL serão tomadas por consenso e com a presença de
todos os Estados Partes.

9 Vide: https://www.mercosur.int/pt-br/quem-somos/paises-do-mercosul/
10 Vide decisão no site: https://www.mercosur.int/pt-br/decisao-sobre-a-suspensao-da-republica-bolivariana-da-venezuela-no-
mercosul/

111
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O art. 41 do Protocolo de Ouro Preto elenca as fontes do Direito do bloco. Tais fontes têm caráter
obrigatório, nos termos o art. 42 do Protocolo de Ouro Preto, desde que, como já aduzido, sejam
incorporadas aos ordenamentos internos dos Estados-partes, de acordo com seus procedimentos de
ratificação:
Artigo 41
As fontes jurídicas do MERCOSUL são:
I. O Tratado de Assunção, seus protocolos e os instrumentos adicionais ou complementares;
II. Os acordos celebrados no âmbito do Tratado de Assunção e seus protocolos;
III. As Decisões do Conselho do Mercado Comum, as Resoluções do Grupo Mercado Comum
e as Diretrizes da Comissão de Comércio do MERCOSUL, adotadas desde a entrada em vigor
do Tratado de Assunção.

Artigo 42
As normas emanadas dos órgãos do MERCOSUL previstos no Artigo 2 deste Protocolo terão
caráter obrigatório e deverão, quando necessário, ser incorporadas aos ordenamentos
jurídicos nacionais mediante os procedimentos previstos pela legislação de cada país.

Entre os tratados ratificados pelos Estados-partes destacam-se:


eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

• Tratado de Assunção: é o tratado que constitutivo do Mercosul, também chamado de Tratado


MERCOSUL, firmado em 1991, por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
• Protocolo de Brasília: de 17 de dezembro de 1991, criando um esquema de composição dos
litígios ocorridos dentro do bloco regional.
• Protocolo de Ouro Preto: de 1994, com o objetivo de aprimorar a estruturação do arcabouço
institucional da organização internacional, conferindo-lhe, inclusive, personalidade jurídica de
CPF: 030.720.271-29

Direito Internacional Público.


• Protocolo de Ushuai: de 1998, referente ao Compromisso Democrático no Mercosul,
estabelecendo a manutenção do regime democrático como condição para a participação no
bloco ou para gozo de todos os direitos inerente aos participantes do mecanismo. Esse protocolo
ainda foi assinado por Bolívia e Chile, sendo o fundamento jurídico da suspensão da Venezuela.
Silva -- CPF:

• Protocolo de Olivos: de 2002, com o objetivo de reestruturou o sistema de Solução de


controvérsias do bloco, criando o Tribunal Permanente de Revisão (TPR) com sede em Assunção,
da Silva

no Paraguai.
Gouvea da

• Protocolo Constitutivo do Parlamento do Mercosul: de 2005, criando o Parlamento do


Eliovaine Gouvea

Mercosul (PARLASUL), em substituição à Comissão Parlamentar Conjunta (CPC), órgão


unicameral, mas sem competência de criação de normas vinculantes, mas apenas pareceres,
Eliovaine

projetos de normas ao Conselho do Mercado Comum, anteprojetos de normas para os


parlamentos dos Estados-partes, declarações sobre qualquer assunto de interesse público,
recomendações, relatórios e solicitações de opiniões consultivas ao TPR e disposições para
organização interna
• Protocolo Modificativo do Protocolo de Olivos: de 2007, reestruturando o Tribunal Permanente
de Revisão e criando a Secretaria do Tribunal Permanente de Revisão (ST).
• Protocolo de Las Leñas: denominado de Protocolo de Cooperação e Assistência Jurisdicional em
Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Administrativa. Busca integração jurisdicional de igualdade
de tratamento processual, a eficácia extraterritorial das sentenças judiciais e laudos arbitrais
entre os Estados-membros.

6.2. O compromisso democrático dos Estados-membros do Mercosul

Não obstante o objetivo principal do Mercosul ser a integração econômica entre os Estados-
membros, o bloco tem instrumentos que buscam a proteção dos direitos humanos de forma direta e indireta.

ATENÇÃO!

112
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O Tratado de Assunção e o Protocolo de Ouro Preto não mencionam a proteção dos direitos humanos
como objetivo do Mercosul.

O primeiro tratado relevante sobre o tema é o Protocolo de Ushuaia, de 1998, ratificado pelo
Decreto nº 4.210/02, em que os Estados-Partes (e também Chile e Bolívia) reconhecem a presença de
instituições democráticas como essencial ao desenvolvimento do processo de integração do bloco. Caso
ocorra uma ruptura democrática, os Estados-membros buscarão meios pacíficos para o retorno ao status
quo, e, não sendo possível, há a previsão da suspensão do Estado das reuniões do bloco, ou também a
suspensão dos direitos como Estado-membro do Mercosul:
Artigo 1
A plena vigência das instituições democráticas é condição essencial para o desenvolvimento
dos processos de integração entre os Estados Partes do presente Protocolo.

Artigo 5
Quando as consultas mencionadas no artigo anterior resultarem infrutíferas, os demais
Estados Partes do presente Protocolo, no âmbito específico dos Acordos de Integração
vigentes entre eles, considerarão a natureza e o alcance das medidas a serem aplicadas,
levando em conta a gravidade da situação existente.
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Tais medidas compreenderão desde a suspensão do direito de participar nos diferentes


órgãos dos respectivos processos de integração até a suspensão dos direitos e obrigações
resultantes destes processos.

É importante destacar que as medidas previstas no artigo 5 só seriam adotadas mediante o consenso
dos Estados-partes do protocolo, ou seja, além dos Estados-membros do Mercosul, deveriam consentir
Bolívia e Chile. As medidas só serão suspensas após a concordância dos Estados Parte, que a ordem
CPF: 030.720.271-29

democrática foi restabelecida:


Artigo 6
As medidas previstas no artigo 5 precedente serão adotadas por consenso pelos Estados
Partes do presente Protocolo, conforme o caso e em conformidade com os Acordos de
Silva -- CPF:

Integração vigentes entre eles, e comunicadas ao Estado afetado, que não participará do
processo decisório pertinente. Tais medidas entrarão em vigor na data em que se faça a
comunicação respectiva.
da Silva
Gouvea da

Artigo 7
Eliovaine Gouvea

As medidas a que se refere o artigo 5 aplicadas ao Estado Parte afetado cessarão a partir da
data da comunicação a tal Estado da concordância dos Estados que adotaram tais medidas
de que se verificou o pleno restabelecimento da ordem democrática, o que deverá ocorrer
Eliovaine

tão logo o restabelecimento seja efetivo.

Ocorre que, na suspensão da Venezuela, apenas os Estados-membros do Mercosul subscreveram a


decisão, não havendo menção do Chile e da Bolívia na reunião ou na tomada da medida de suspensão11.
É importante destacar ainda que o artigo 8 do protocolo prevê o instrumento como integrante do
Tratado de Assunção:
Artigo 8
O presente Protocolo é parte integrante do Tratado de Assunção e dos respectivos Acordos
de Integração celebrados entre o MERCOSUL e a República da Bolívia e entre o MERCOSUL
e a República do Chile.

No mesmo sentido, em 2004 o Conselho do Mercado Comum, decidiu que a ratificação do Protocolo
de Ushuaia é condição sine qua non para a adesão ao bloco (Decisão Mercosul/CMC nº 18/2004, reiterada
pela Decisão Mercosul CMC nº 11/13):

11 Vide decisão : https://www.mercosur.int/pt-br/decisao-sobre-a-suspensao-da-republica-bolivariana-da-venezuela-no-


mercosul/

113
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Art. 2 - Os países interessados em adquirir a condição de Estado Associado ao MERCOSUL


deverão apresentar a solicitação respectiva ao Conselho do Mercado Comum, por
intermédio da Presidência Pro Tempore do MERCOSUL e aderir ao Protocolo de Ushuaia
sobre Compromisso Democrático no MERCOSUL, a República da Bolívia e a República do
Chile e aderir igualmente à “Declaração Presidencial sobre Compromisso Democrático no
MERCOSUL”, celebrado em 25 de junho de 1996 em Potrero de Funes, Pcia. de San Luis,
República Argentina, bem como ao Protocolo de Montevidéu sobre o Compromisso com a
Democracia no MERCOSUL (Ushuaia I). (Redação alterada pela Decisão Mercosul CMC n.
11/13)

Posteriormente, em 2011 o Conselho do Mercado Comum, através da Decisão Mercosul/CMC nº


27/11, redigiu o Protocolo de Montevidéu sobre Compromisso com a Democracia no Mercosul, também
chamado de Protocolo Ushuaia II, com vistas a aperfeiçoar o Protocolo Ushuaia, elencando em seu artigo 6
medidas (mais rígidas) que poderão ser adotadas em caso de ruptura democrática:
Artigo 6
Em caso de ruptura ou ameaça de ruptura da ordem democrática em uma Parte do presente
Protocolo, os Presidentes das demais Partes – ou na falta destes seus Ministros das Relações
Exteriores em sessão ampliada do Conselho do Mercado Comum – poderão estabelecer,
eliovaine@hotmail·com

dentre outras, as medidas que se detalham a seguir:


030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

a. Suspender o direito de participar nos diferentes órgãos da estrutura institucional do


Mercosul.
b. Fechar de forma total ou parcial as fronteiras terrestres. Suspender ou limitar o comércio,
o tráfico aéreo e marítimo, as comunicações e o fornecimento de energia, serviços e
abastecimento.
c. Suspender a Parte afetada do gozo dos direitos e benefícios emergentes do Tratado de
Assunção e seus Protocolos, e dos Acordos de integração celebrados entre as Partes,
CPF: 030.720.271-29

conforme couber.
d. Promover a suspensão da Parte afetada no âmbito de outras organizações regionais e
internacionais. Promover junto a terceiros países ou grupos de países a suspensão à Parte
afetada de direitos e/ou benefícios derivados dos acordos de cooperação dos que for parte.
e. Respaldar os esforços regionais e internacionais, em particular no âmbito das Nações
Silva -- CPF:

Unidas, encaminhados a resolver e a encontrar uma solução pacífica e democrática para a


situação ocorrida na Parte afetada.
da Silva

f. Adotar sanções políticas e diplomáticas adicionais.


Gouvea da

As medidas guardarão a devida proporcionalidade com a gravidade da situação existente;


Eliovaine Gouvea

não deverão pôr em risco o bem-estar da população e o gozo efetivo dos direitos humanos
e liberdades fundamentais na Parte afetada; respeitarão a soberania e integridade
territorial da Parte afetada, a situação dos países sem litoral marítimo e os tratados
Eliovaine

vigentes.

Como bem destaca André de Carvalho Ramos (2021, p. 206), o novo protocolo busca, através da
proporcionalidade e razoabilidade das medidas, evitar que os “inocentes paguem pelos culpados”. Assim
sendo, a parte final do artigo 6 ressalva a necessidade de se evitar danos à população do Estado afetado,
para não por em risco o efetivo gozo de direitos humanos.
É importante destacar que o Protocolo de Ushuaia II não entrou em vigor, tendo sido ratificado
apenas por Equador e Venezuela. No Brasil, tramita ainda na Câmara dos Deputados projeto de decreto
legislativo para autorizar o presidente da República ratificar o tratado.
Por fim, até o momento o Protocolo de Ushuaia já foi utilizado duas vezes: em relação ao Paraguai,
de junho de 2012 até dezembro de 2013; e em face da Venezuela, desde 2017.

6.3. A proteção dos direitos humanos no Mercosul

Em 2005 os Estados-membros do Mercosul aprovaram o Protocolo de Assunção sobre Compromisso


com a Proteção e Promoção dos Direitos Humanos no Mercosul, ratificado pelo Brasil pelo Decreto nº
7.225/10.

114
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O preâmbulo do protocolo remete-se ao Protocolo de Ushuaia, à Declaração Americana de Direitos


e deveres do Homem, à Convenção Americana sobre Direitos Humanos e também à Carta Democrática
Interamericana.
Além disso, em seu artigo 1, o Protocolo destaca a promoção dos direitos humanos como condição
essencial para o processo de integração:
Artigo 1
A plena vigência das instituições democráticas e o respeito dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais são condições essenciais para a vigência e evolução do processo
de integração entre as Partes.

Como bem destaca André de Carvalho Ramos (2021, p. 207) o protocolo, além de tímido em sua
retórica, acabou por criar um sistema ineficaz de proteção dos direitos humanos. Trata-se de um sistema
eminentemente político, com previsão de medidas similares ao Protocolo de Ushuaia, não abarcando
situações sistêmicas de violações de direitos humanos sem uma crise institucional ou estado de exceção
(RAMOS, 2021, p. 207):
Artigo 3
O presente Protocolo se aplicará em caso de que se registrem graves e sistemáticas
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

violações dos direitos humanos e liberdades fundamentais em uma das Partes em situações
de crise institucional ou durante a vigência de estados de exceção previstos nos
ordenamentos constitucionais respectivos. A tal efeito, as demais Partes promoverão as
consultas pertinentes entre si e com a Parte afetada.

Artigo 4
Quando as consultas mencionadas no artigo anterior resultarem ineficazes, as demais
CPF: 030.720.271-29

Partes considerarão a natureza e o alcance das medidas a aplicar, tendo em vista a


gravidade da situação existente.
Tais medidas abarcarão desde a suspensão do direito a participar deste processo de
integração até a suspensão dos direitos e obrigações emergentes do mesmo.
Silva -- CPF:

Artigo 5
As medidas previstas no artigo 4 serão adotadas por consenso pelas Partes e comunicadas
da Silva

à Parte afetada, a qual não participará no processo decisório pertinente. Essas medidas
Gouvea da

entrarão em vigência na data em que se realize a comunicação respectiva à Parte afetada.


Eliovaine Gouvea

Artigo 6
As medidas a que se refere o artigo 4 aplicadas à Parte afetada, cessarão a partir da data da
Eliovaine

comunicação a dita Parte de que as causas que as motivaram foram sanadas. Tal
comunicação será transmitida pelas Partes que adotaram tais medidas.

Apesar de ter um sistema extremamente frágil, o referido protocolo não deixa de ser o primeiro
tratado específico sobre direitos humanos. Após o tratado, podem ser mencionados ainda o Acordo entre os
Estados Partes do Mercosul e Estados Associados sobre Cooperação Regional para a Proteção dos Direitos
das Crianças e Adolescentes em Situação de Vulnerabilidade (aprovado pelo Decreto Legislativo nº 16/21,
mas sem ratificação por decreto executivo) e o Memorando sobre o intercâmbio de documentação para o
esclarecimento de graves violações dos direitos humanos, de 2017, que busca a assistência mútua entre os
Estados-membros para investigação e esclarecimentos, através da troca de documentos, de graves violações
de direitos humanos ocorridos durante as ditaduras militares dos países da região.

QUESTÕES
187. (CESPE/CEBRASPE - 2013 - MTE - Auditor Fiscal do Trabalho) A eventual adoção de medida
consistente na suspensão de direitos e obrigações de Estado-membro do MERCOSUL onde estejam
ocorrendo violações graves e sistemáticas dos direitos humanos depende de consenso entre os Estados
do bloco, não podendo o Estado afetado participar do processo decisório pertinente.

7. PROCESSO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

115
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

7.1. Conceito

O processo internacional de direitos humanos é conceituado por André de Carvalho Ramos (2019, p.
26) como o conjunto de mecanismos internacionais de análise da situação de direitos humanos em um
Estado e sua eventual responsabilização em caso de violação a tais direitos.

7.2. Classificação dos mecanismos de apuração

A classificação dos mecanismos pode se dar:

• Quanto à origem:
▪ Unilateral: o próprio Estado busca constatar a violação de outro e exige a reparação. Nesse
caso, o Estado é juiz e parte na lide. A crítica a esse tipo de mecanismo é a falta de
imparcialidade (RAMOS, 2019, p. 33).
▪ Coletivo: um órgão independente e imparcial é criado para a apuração da violação e fixação
de eventual reparação.
• Quanto à natureza:
▪ Político: trata-se de uma constatação que surge de uma violação discricionária de um Estado
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ou Organismo Internacional.
▪ Judicial: a violação dos direitos humanos é feita a partir de um procedimento que assegura
a ampla defesa e o contraditório, dotado de julgadores imparciais dotados de jurisdição.
▪ Quase judicial: a violação dos direitos humanos é feita a partir de um procedimento que
assegura a ampla defesa e o contraditório, dotado de julgadores imparciais, mas sem
competência jurisdicional.
CPF: 030.720.271-29

• Quanto às finalidades:
▪ Recomendações: tem por resultado a emissão de recomendações. O caráter das decisões
não é vinculante, ainda que dotado de eficácia persuasiva (RAMOS, 2019, p. 34).
▪ Deliberativo: as decisões dos órgãos têm caráter vinculante.
• Quanto à sujeição passiva:
Silva -- CPF:

▪ Estado: admite-se como legitimado passivo apenas o Estado, ainda que indivíduos que não
da Silva

fazem parte dele sejam os responsáveis pelas violações;


▪ Indivíduo: admite como legitimado passivo o indivíduo e não o Estado (Exs. TPI e
Gouvea da

responsabilização unilateral).
Eliovaine Gouvea

• Quanto à legitimidade ativa:


▪ Comunicações interestatais;
Eliovaine

▪ Peticionamento individual.
• Quanto ao âmbito geográfico de atuação:
▪ Global: também chamado de universal ou onusiano;
▪ Regional: que são os âmbitos africano, europeu e americano.

7.3. Justiciabilidade

Segundo Cristina Figueiredo Terezo, a justiciabilidade “é caracterizada pela existência de mecanismos


ou de outras formas de procedimentos que tenham competência internacional para analisar violações de
direitos, considerando sua natureza, identificando o descumprimento de obrigações internacionais e
determinando as medidas de reparações” (TEREZO, 2014, p. 253).
A justiciabilidade é feita a partir de mecanismos de exigibilidade ou de judicialidade. Os mecanismos
de judicialidade referem-se a sistemas judiciais ou quase-judiciais, enquanto os mecanismos de exigibilidade,
os de outra natureza:

• Mecanismos de judicialidade: Cristina Figueiredo Terezo (2014, p. 253) define os meios de


judicialidade dos Direitos Humanos mediante um sistema de natureza judicial ou quase-judicial:

116
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

▪ Sistema global: Comitês temáticos com competência para apreciar comunicações


interestatais e petições individuais;
▪ Sistema interamericano: CIDH e a Corte IDH.
• Mecanismos de exigibilidade: são medidas ou remédios de busca de proteção e promoção dos
direitos humanos que não sejam de natureza judicial (TEREZO, 2014, p. 253):
▪ Em âmbito internacional:
→ Convencionais: normatizados pelos tratados:
o Sistema Interamericano: Relatórios periódicos; Opiniões consultivas; Relatórios
gerais por países; Relatórios anuais.
o Sistema Global: Relatórios periódicos, por exemplo.
→ Extraconvencionais: não previstos em tratados, mas em normatizados pelo Estatuto e
Regulamento dos órgãos ou criados por atos internos:
o Sistema interamericano: Relatórios especiais da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos e Grupos de Trabalho.
o Sistema Global: Procedimento 1503; Relatorias especiais; Grupos de trabalhos;
Representantes especiais; Revisão periódica universal.

7.4. Os Sistemas Interamericanos de Direitos Humanos


eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Ian Brownlie (1997, p. 599) destaca que a proteção dos direitos humanos no âmbito regional
americano é dotada de um sistema complexo, pois consiste na verdade em dois mecanismos sobrepostos
com pontos de partida diplomáticos diversos.
O primeiro integra a OEA e utiliza como fontes os preceitos de sua carta de criação e a Declaração
CPF: 030.720.271-29

Americana dos Direitos e Deveres do Homem, também denominado de sistema geral (GUERRA, 2019, p. 208).
O segundo tem como fonte principal a Convenção Americana de Direitos Humanos. Os “sistemas” de
proteção regionais interamericanos não se excluem. Contudo, o sistema da CADH tem aplicabilidade mais
restrita, haja vista que o tratado é aplicável a apenas 23 dos 35 Estados signatários da OEA, considerando as
Silva -- CPF:

saídas de Trinidad e Tobago (em 1998) e a Venezuela (em 2012).


da Silva

7.4.1 Órgãos dos sistemas:


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

7.4.1.1. Comissão Interamericana de Direito Humanos:


Eliovaine

Trata-se de órgão criado, em 1959, pela Resolução VIII na V Reunião de Consulta dos Ministros das
Relações Exteriores. Apenas em 1965, por meio da Resolução XXII da II Conferência Interamericana do Rio
de Janeiro, a CIDH passou a ter competência para receber petições ou comunicações de direitos humanos.
O órgão tem sede em Washington e é composto por sete membros, que deverão ser pessoas de alta
autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos (CADH, art. 34). A eleição dos
membros é feita para um mandato de quatro anos, com possibilidade de uma reeleição (CADH, art. 37). O
mandato é incompatível com o exercício de atividades que possam afetar a independência e imparcialidade
do membro, bem como com a dignidade ou prestígio de seu cargo na Comissão (CADH, art. 71).
A CIDH é um órgão principal da OEA, mas autônomo (RCIDH, art. 1.1). Seus membros atuam com
independência e imparcialidade, não representando o Estado de origem. Contudo, eles não poderão
participar da discussão, investigação, deliberação ou decisão de assunto submetido à comissão de Estado de
sua nacionalidade (RCIDH, art. 17.2).
A Comissão tem funções de promoção e averiguação do respeito e da garantia dos direitos humanos
(Carta da OEA, art. 106). Para tanto, participa em mecanismos de judiciabilidade e exigibilidade, seja pela
Carta da OEA, seja pelo Sistema da CADH.
No sistema geral, quando do mecanismo de peticionamento, as decisões da CIDH são
recomendações. Também pela Carta, são previstos mecanismos de exigibilidade.

117
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Já pelo sistema da CADH, a Comissão tem papel de destaque por recepcionar as petições individuais
na primeira fase do mecanismo, bem como a função de ombudsman durante o julgamento do caso na Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
Cristina Terezo (2014, p. 204) explica que a diferença de funções nos processos conduzidos pela CIDH
no âmbito dos dois subsistemas é que a CADH autoriza o órgão a realizar a solução amistosa da controvérsia
(CADH, art. 48.1, f), solicitar medidas provisórias (RCIDH, art. 76) e enviar um relatório de mérito à Corte IDH
(CADH, art. 50).
A CIDH se reúne em quatros reuniões regulares por ano, com duração de três semanas, e uma ou
duas sessões curtas especiais (RCIDH, art. 14).

7.4.1.2 Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH):

A Corte IDH não é órgão da OEA, mas, sim, da Convenção Americana de Direitos Humanos. Tem sede
em San José, na Costa Rica. Ela é composta por sete juízes (CADH, art. 52), escolhidos pelos Estados-partes
da Convenção a partir de uma lista de candidatos propostos pelos próprios Estados, em sessão da Assembleia
Geral da OEA (CADH, art. 53).
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Além dos sete juízes, é possível a designação de um juiz ad hoc, caso o estado-réu não possua um
juiz de sua nacionalidade em exercício na Corte (CADH, art. 55). Ressalta-se, contudo que, em 2009, ao emitir
a Opinião Consultiva nº 20, a Corte IDH interpretou o artigo 55 da CADH de forma restritiva, impedindo a
participação de um juiz da mesma nacionalidade de um dos litigantes da causa, bem como limitando o
julgamento por um juiz ad hoc apenas nos casos de demandas iniciadas pela CIDH em peticionamento
individual.
CPF: 030.720.271-29

O mandato dos juízes é de seis anos, permitida uma reeleição (CADH, art. 54). Antônio Augusto
Cançado Trindade e Roberto Figueredo Caldas foram os brasileiros a integrarem a Corte como juízes
permanentes, tendo o último deixado o cargo em maio de 2018.
Silva -- CPF:

A Corte IDH se reúne por quatro reuniões regulares por ano, com duração de duas a três semanas
(RCorte IDH, art. 11), sendo possível reunir-se em sessões extraordinárias (RCorte IDH, art. 12).
da Silva

7.4.2. Sistema de peticionamento individual perante a CIDH:


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

O peticionamento individual para CIDH têm previsão nos artigos 46, CADH, e 28 do RCIDH. A denúncia
poderá ser feita individualmente (pela vítima, seu familiar ou alguém em seu nome) ou por entidade não-
Eliovaine

governamental que tenha sede em Estado-membro da OEA (CADH, art. 44).


A denúncia direta é, em regra geral, menos formal, pois não há necessidade de se constituir
advogado para a análise do caso pela CIDH (TEREZO, 2014, p. 214). Sendo possível, ainda, a manutenção do
sigilo do denunciante (RCIDH, art. 28, 2).
O denunciante deverá informar e-mail, e, quando for o caso, número de telefone e endereço para
correspondência (RCIDH, art. 28, 3). Após a qualificação, o denunciante deverá apresentar um relato do fato
ou situação que justificou o peticionamento, especificando o local e a data das pretensas violações (RCIDH,
art. 28, 4); se possível, nome(s) da(s) vítima(s) e da autoridade pública que tenha tomado ciência da situação
denunciada (RCIDH, art. 28, 5); indicação do Estado considerado responsável pela violação; e indicação do
direito consagrado na CADH ou outro tratado de direitos humanos (não sendo necessária a referência
expressa do artigo) (RCIDH, art. 28, 6).

ATENÇÃO!
Nos termos do artigo 24 do RCIDH, é possível que a Comissão inicie, motu próprio, um caso contra
um determinado Estado. Na prática, essa possibilidade não é exercida pela Comissão (RAMOS, 2019, p.
236).

118
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Para o peticionamento, é importante a demonstração de que os recursos da jurisdição interna do


Estado violador tenham sido esgotados (CADH, art. 46.1, a). Essa regra só não é aplicável quando (CADH,
art. 46, 2):

• não existir na legislação interna forma de proteção do direito eventualmente violado;


• não tenha sido permitido ao prejudicado o acesso aos recursos da jurisdição interna, ou ele tenha
sido impedido de esgotá-los;
• em caso de demora injustificada na decisão desses recursos.
Tal característica ocorre em razão do princípio da subsidiariedade. Por ele, reconhece-se o dever
primário do Estado em prevenir ou constatar e reparar violações de direitos humanos sob sua jurisdição
(RAMOS, 2019, p. 74). Apenas quando o Estado não se desincumbe de seus deveres, pode ser invocada a
proteção internacional. Por isso, afirma-se que os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos
são coadjuvantes (TEREZO, 2014, p. 215) ou complementares (MAZZUOLI, 2013, p. 93) e não uma quarta
instância.
Nesse sentido a conclusão da Corte IDH, no julgamento do Caso Rodríguez Vera e outros
(Desaparecidos do Palácio da Justiça) vs. Colômbia:
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Este Tribunal ressalta que a jurisdição internacional tem caráter coadjuvante e


complementar e não desempenha funções de tribunal de “quarta instância”.
Adicionalmente, recorda que, a diferença de um tribunal penal, para estabelecer que se
houve uma violação aos direitos contemplados na Convenção, não é necessário que se
prove a responsabilidade do Estado além de toda dúvida razoável ou que se identifique
individualmente os agentes os quais se atribuem os fatos violado. [...] A Corte deve aplicar
uma valoração da prova que tenha em conta a gravidade e a atribuição de responsabilidade
CPF: 030.720.271-29

internacional a um Estado e que, sem prejuízo disso, seja capaz de criar a convicção de
verdade dos fatos alegados. (tradução nossa) (CORTE IDH, 2010).

André de Carvalho Ramos (2019, p. 235) ressalta que o esgotamento dos recursos internos no SIDH,
apesar do princípio da subsidiariedade, vem sendo interpretado de forma restritiva, de modo a privilegiar o
Silva -- CPF:

acesso do indivíduo às instâncias internacionais. Portanto, cabe ao denunciante comprovar as providências


que tomou para o esgotamento dos recursos internos ou a ocorrência de uma das hipóteses excepcionais
da Silva

(RCIDH, art. 31). Caso ele alegue a impossibilidade de comprovar esse requisito, e não ser possível essa
aferição de plano pela CIDH, caberá ao Estado a demonstração de que os recursos internos não foram
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

esgotados (RCIDH, art. 31, 3).


É possível que o Estado faça a exceção de admissibilidade por ausência de esgotamento dos recursos
Eliovaine

internos perante a Corte IDH. Porém, tal exceção só poderá ser utilizada perante a Corte quando a matéria
tiver sido alegada no procedimento da Comissão. Sobre o tema André de Carvalho Ramos explica que:
(...) não pode o Estado inovar e alegar a falta de esgotamento, pois seria violação do
princípio do estoppel, ou seja, da proibição de se comportar de modo contrário a sua
conduta anterior (non concedit venire contra factum proprium). (RAMOS, 2019, p. 236)

A denúncia deve ser apresentada em um prazo de seis meses da data da notificação da decisão
definitiva, em que o eventual prejudicado tenha seus direitos violados (CADH, art. 46, 1, b).
O caso denunciado não poderá ainda, ter sido submetido a outra instância internacional como o
Tribunal Penal Internacional ou Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas (CADH, art. 46, 1, c).
É possível, no entanto, o recebimento de petição quando o procedimento instaurado perante outro
órgão internacional for apenas de exame de situação geral de direitos humanos no Estado infrator (RAMOS,
2019, p. 237). Admite-se ainda a desistência da petição em outro sistema para (re)apreciação posterior do
caso pela CIDH.
Recebida a petição, a CIDH notificará o Estado que terá o prazo de três meses para resposta. Em caso
de urgência, a Comissão poderá determinar ao Estado que se manifeste no mesmo prazo sobre a
admissibilidade e o mérito da causa.

119
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Tendo as partes se manifestado, a Comissão manifestar-se-á sobre a admissibilidade da petição e,


caso positivo, instaurará um caso. Excepcionalmente, a Comissão poderá abrir um caso e postergar a análise
das condições de admissibilidade (CADH, art. 48).
A Corte IDH não tem competência para reapreciar as decisões de inadmissibilidade da petição
individual. Por esse motivo, André Carvalho Ramos (2019, p. 238) critica a disparidade de armas entre vítima
e Estado, que poderá ver reapreciadas decisões de admissibilidade como preliminar de julgamento perante
a Corte.
Recebida a petição, abre-se um prazo sucessivo de quatro meses para as partes se manifestarem
sobre o mérito (RCIDH, art. 37). É possível a prorrogação do prazo por período não superior a seis meses do
primeiro pedido de prorrogação. Em caso de urgência, a Comissão poderá solicitar o envio das observações
em prazo menor.
Antes de se manifestar sobre o mérito, a CIDH instará as partes a se manifestarem sobre a
possibilidade de uma solução amistosa (RCIDH, art. 37.4).
É possível a visita in loco de membros da Comissão para aferir informações dadas pelas partes
(RICIDH, art. 39). A comissão poderá também delegar o recebimento de prova testemunhal a um ou mais de
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

seus membros.
Não possível a solução amistosa, a CIDH deliberará sobre o mérito, por meio do primeiro relatório,
também chamado informe preliminar, relatório preliminar ou Relatório 50 (CADH, art. 50). Trata-se de um
relatório confidencial (restrito às partes). Da decisão sobre o mérito não caberá recurso, ainda que ela não
tenha sido unânime.
Por isso, André Carvalho Ramos (2019, p. 240) aponta que a Comissão tem o dominus litis absoluto
CPF: 030.720.271-29

da ação de responsabilidade internacional do Estado no Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH),


tendo em vista que não há outro colegitimado para provocar a Corte IDH após decisão favorável no âmbito
da Comissão.
Silva -- CPF:

Constatada a violação, é dado prazo para o Estado tido como violador cumprir as recomendações do
relatório.
da Silva

Se o Estado não cumprir as recomendações em até três meses após a remessa, o caso pode ser
Gouvea da

submetido à Corte, na hipótese de que ele tenha reconhecido sua jurisdição obrigatória e se a Comissão
Eliovaine Gouvea

entender conveniente para a proteção dos direitos humanos no caso concreto.


É possível, ainda, a prorrogação do prazo. Nessa hipótese, não pode o beneficiado alegar a
Eliovaine

decadência do direito da Comissão em propor a ação.


Após o relatório, a Comissão informará o peticionário sobre a possibilidade de submissão do caso à
Corte (RICIDH, art. 44). Caso tenha interesse, o peticionário deverá fornecer as seguintes informações:

• a posição da vítima ou de seus familiares, se forem diferentes do peticionário;


• as bases em que se fundamenta a consideração de que o caso deve ser submetido à Corte; e
• as pretensões em matéria de reparação e custas.
É possível que a Comissão não submeta um caso à Corte IDH, ainda que tenha reconhecido a violação
do direito humano posto em litígio e o peticionário tenha se manifestado favoravelmente. Para tanto, é
necessária decisão fundamentada aceita pela maioria de seus membros (RICIDH, art. 45).
Não tendo o Estado litigante ratificado a CIDH ou apresentado o caso à Corte IDH pela Comissão, o
órgão emite um segundo relatório, que é público, o qual também possui recomendações ao Estado violador
e prazo para adoção de medidas de reparação.
Questiona-se a existência de caráter vinculante no segundo relatório. Para André Carvalho Ramos
(2019, p. 244), o fundamento da obrigatoriedade encontra-se no princípio da boa-fé. Essa foi a posição da

120
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Corte IDH nos julgamentos dos Caso Herrera Ulloa vs. Costa Rica (§186), Baena Ricardo e outros vs. Panamá
(§192) e Loayza Tamayo vs. Peru (§§80 e 81).
O art. 25 do RICIDH prevê a possiblidade da Comissão expedir medidas cautelares, por iniciativa
própria ou a pedido da parte, em função de uma situação de gravidade e urgência, que apresente risco de
dano irreparável às pessoas, ao objeto de uma demanda ou a um caso pendente em qualquer órgão do
Sistema Interamericano (RICIDH, art. 25, 1).
As medidas cautelares têm a finalidade de proteger pessoas ou grupo de pessoas que deverão ser
identificados ou identificáveis por localização geográfica, pertencimento ou vínculo a grupo, povo,
comunidade ou organização (RICIDH, art. 25, 3).
Os pedidos de medidas cautelares deverão trazer:

• a identificação ou informações que permitam identificar as pessoas a serem beneficiadas;


• a descrição detalhada dos fatos que fundamentam o pedido e todas as demais informações
disponíveis; e
• a descrição das medidas de proteção solicitadas (RICIDH, art. 25, 4).
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As condições para a expedição das medidas, segundo o regimento interno da Comissão são:
Art. 25 (...)
2. Nas tomadas de decisão a que se refere o parágrafo 1, a Comissão considerará que:
a. “gravidade da situação” significa o sério impacto que uma ação ou omissão pode ter
sobre um direito protegido ou sobre o efeito eventual de uma decisão pendente em um
caso ou petição nos órgãos do Sistema Interamericano;
b. a “urgência da situação” é determinada pelas informações que indicam que o risco ou a
CPF: 030.720.271-29

ameaça são iminentes e podem materializar‐se, requerendo dessa maneira ação preventiva
ou tutelar; e
c. “dano irreparável” significa os efeitos sobre direitos que, por sua natureza, não são
suscetíveis de reparação, restauração ou indenização adequada.
Silva -- CPF:

Ocorre que, considerando sua natureza regimental e não convencional, alguns Estados, em especial
o Brasil, tendem a não cumprir as medidas cautelares da CIDH.
da Silva

Em 2011, por exemplo, a Comissão adotou medida cautelar contra o Brasil, determinando a
Gouvea da

suspensão do licenciamento e construção da Usina de Belo Monte, na bacia do Rio Xingu. O governo
Eliovaine Gouvea

brasileiro, sob o argumento de ausência de força vinculante das medidas cautelares, continuou a construção
da usina, dando andamento ao processo apenas em 2015, sem pedir junto à Corte IDH qualquer medida
Eliovaine

provisória.

ATENÇÃO!
Para fins de provas objetivas em concursos públicos, deve-se entender como errada afirmativa de
que as medidas cautelares têm caráter vinculante.

7.4.3. Procedimento na Corte Interamericana de Direitos Humanos

Somente Estados-partes e a CIDH podem processar Estados perante a Corte IDH (CADH, art. 61, 1).
Portanto, os indivíduos dependem de um dos legitimados para que seus casos cheguem ao tribunal, sendo a
legitimidade passiva sempre de um Estado que tenha ratificado a CADH e reconhecido a competência da
Corte. O papel da Comissão na fase judicial seria a de custos legis ou ombusdman (TEREZO, 2104, p. 239).

ATENÇÃO!
Apesar de os Estados poderem apresentar petições diretamente à Corte, todos os casos
contenciosos do Tribunal foram apresentados pela CIDH. André de Carvalho Ramos (2019 p. 254) afirma

121
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

que os Estados não apresentam petições diretas com receito de um “efeito bumerangue” ao processar
outros Estados por violações de direitos humanos.

Ainda que a CIDH tenha papel de fiscalização, é através de sua iniciativa que se determinam os limites
objetivos e subjetivos do processo, não podendo ser agregados fatos novos ou novas vítimas (ou seja, não
cabe a figura do litisconsórcio ativo posterior).
Desde 2009, o papel da vítima foi profundamente alterado no sistema de peticionamento. As vítimas
e seus representantes são intimados a apresentar a petição inicial do processo no prazo de dois meses
(RCorte IDH, art. 36), podendo, inclusive, requerer, diretamente à Corte, medida provisória no curso do
processo (a Comissão, nesse caso, já deve ter se provocado a Corte). A petição deverá conter (RICIDH, art.
33):

• os pedidos (incluídos os referentes às reparações e custas);


• as partes no caso, a exposição dos fatos, as resoluções de abertura do procedimento e de
admissibilidade da denúncia pela Comissão;
• as provas oferecidas, com a indicação dos fatos sobre os quais as mesmas versarão;
• a individualização das testemunhas e peritos e o objeto de suas declarações;
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• os fundamentos do direito e as conclusões pertinentes;


• o nome e o endereço do denunciante original, bem como o nome e o endereço das supostas
vítimas, seus familiares ou seus representantes devidamente acreditados, caso seja possível (se
estas informações não estiverem assinaladas na demanda, a Comissão será a representante
processual daquelas como garantidora do interesse público sob a Convenção Americana, de modo
a evitar a falta de sua defesa);
CPF: 030.720.271-29

• os nomes dos Agentes ou dos Delegados.


O Estado será notificado a apresentar defesa no prazo de quatro meses (RCorte IDH, art. 38). No
mesmo prazo, deverá indicar as provas que pretende produzir e as exceções preliminares. Ao opor as
exceções, o Estado deve expor os fatos, fundamentos jurídicos e conclusões e meios de provas que as
Silva -- CPF:

embasam (RCorte IDH, art. 37).


da Silva

O procedimento é essencialmente oral (TEREZO, 2014, p. 241), com determinação de audiências para
a coleta dos depoimentos das vítimas, testemunhas e peritos.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Há possibilidade da prestação de declarações ante um agente dotado de fé pública (affidavit) (RCorte


IDH, art. 47). Nesse caso, é possível que as partes formulem por escrito as perguntas.
Eliovaine

Há, ainda, previsão de utilização de recursos eletrônicos audiovisuais para a prática dos atos (RCorte
IDH, art. 43).
Cabe ao presidente da Corte moderar o interrogatório e decidir sobre a pertinência das perguntas
formuladas, podendo dispensar de respondê-las a pessoa a quem se dirijam (RCorte IDH, art. 41).
A Corte pode determinar a produção ex officio da prova (RCorte IDH, art. 45), podendo encarregar
um ou vários de seus membros para a realização de qualquer medida de instrução, inclusive audiências. O
ônus financeiro da produção da prova é da parte que a requerer, nos termos do art. 46 do Regulamento da
Corte IDH.

ATENÇÃO!
O Estado não poderá processar as testemunhas ou peritos, nem os submeter, ou a seus familiares,
a represálias por conta das declarações ou laudos apresentados à Corte.

A fase se encerra com a apresentação de alegações finais escritas pelas partes e pela Comissão, caso
entenda necessário.

122
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O processo pode ter fim pela solução amistosa, desistência da vítima, reconhecimento do pedido
pelo Estado ou sentença de mérito. Nas três primeiras, não há automatismo na eventual extinção do
processo, podendo a Corte poderá prosseguir com o processo (RCorte IDH, art. 55).
As deliberações da Corte são feitas em sessão secreta (RCorte IDH, art. 14.2). É elaborada uma
minuta, sendo possível que os juízes façam votos em separado (CADH, art. 66.2 c/c RCorte IDH, art. 14.4).
As sentenças da Corte IDH são definitivas e inapeláveis. Em caso de divergência sobre o sentido ou
alcance, é cabível a interposição de recurso ou pedido de interpretação da sentença, em um prazo de 90 dias
(CADH, art. 67).
O artigo 63 da CADH prevê a possibilidade de adoção de medidas provisórias, por parte da Corte
IDH, em caso de extrema gravidade e urgência, para evitar danos irreparáveis às pessoas:
Artigo 63
1. Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade protegidos nesta
Convenção, a Corte determinará que se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou
liberdade violados. Determinará também, se isso for procedente, que sejam reparadas as
consequências da medida ou situação que haja configurado a violação desses direitos, bem
como o pagamento de indenização justa à parte lesada.
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2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar danos


irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo, poderá tomar as
medidas provisórias que considerar pertinentes. Se se tratar de assuntos que ainda não
estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá atuar a pedido da Comissão.

A Corte pode agir ex officio ou por provocação da vítima ou da Comissão.


Diante de sua natureza convencional, cabe ao Estado cumprir a medida provisória e informar
CPF: 030.720.271-29

periodicamente à Corte o modo de seu cumprimento.


A Corte incluirá, em seu relatório anual à Assembleia Geral, a relação de medidas provisórias que
tenha ordenado durante o período do relatório, bem como as medidas que não foram executadas,
Silva -- CPF:

formulando recomendações que considere pertinente.


da Silva

7.4.4. O exercício da competência consultiva da Corte Interamericana de


Direitos Humanos:
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Para André de Carvalho Ramos (2019, p. 270), ao lado da jurisdição contenciosa, cabe à “jurisdição”
consultiva das Cortes Internacionais interpretar as normas jurídicas internacionais, fixando seu alcance e
Eliovaine

conteúdo.
Nos termos do artigo 64 da CADH, qualquer Estado-parte da OEA ou órgão da organização poderá
instar a Corte sobre a intepretação da Convenção.
Em sua Opinião Consultiva nº 2/82, a Corte IDH decidiu que a CIDH tem pertinência universal para
requerer uma opinião consultiva. Já os demais órgãos da OEA têm pertinência especial, estando restritos à
sua temática.
Os Estados-partes poderão, ainda, requerer um parecer consultivo acerca da compatibilidade de sua
legislação em face da CADH.
Flavia Piovesan (2020, p. 369) aponta que a interpretação da Corte IDH não é estática, mas, sim,
dinâmica e evolutiva, considerando o contexto temporal da interpretação, o que permite a expansão dos
direitos.
André de Carvalho Ramos (2019, p. 274) destaca que, nos chamados pareceres interpretativos, a
Corte realiza um controle de interpretação abstrato das normas internacionais aos operadores do Direito
internos. Já nos pareceres de compatibilidade normativa, a Corte faz um controle de convencionalidade
internacional em abstrato.

123
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

A Corte IDH apontou que em sua competência opinativa:

• Não há partes, pois não há lide propriamente dita;


• Não há sanção prevista;
• É possível a aplicação futura da interpretação escolhida pela Corte em sua jurisdição contenciosa;
• Não deve ser acessada para “antecipar” o julgamento de casos pendentes na CIDH (Op. C 12/91).
Além de emitir pareceres sobre as normas da CADH, a Corte IDH tem a competência para opinar
sobre quaisquer outros tratados de direitos humanos aplicáveis aos Estados americanos. Trata-se do único
tribunal internacional com tal competência.
Segundo a própria Corte, em sua Opinião Consultiva nº 1/82, o tratado objeto do parecer não
necessita ser concluído por Estados americanos, mas ser concernente à proteção dos direitos humanos
nesses Estados.
A restrição aqui é material. O tratado deve ter por objeto a proteção de direitos humanos.
Quanto à vinculação das opiniões consultivas, há de se destacar que, não obstante elas não serem
formalmente vinculantes (OC nº 1/82), a adequação dos Estados aos seus termos tem o condão de evitar sua
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responsabilização internacional posterior.

QUESTÕES
188. (MPM - 2021 - MPM - Promotor de Justiça) A Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem
as seguintes funções e atribuições, exceto:
a) Estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América.
CPF: 030.720.271-29

b) Preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de suas funções.
c) Solicitar aos governos dos Estados membros que lhe proporcionem informações sobre as medidas que
adotarem em matéria de direitos humanos.
d) Apresentar relatórios trienais à Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos.
Silva -- CPF:

189. (FCC - 2021 - DPE-BA - Defensor Público) Acerca do funcionamento do sistema interamericano de
da Silva

proteção aos direitos humanos, é correto:


Gouvea da

a) Caso a Comissão Interamericana de Direitos Humanos julgue a demanda inadmissível ou infundada, a


Eliovaine Gouvea

vítima ou representante pode recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos, sendo-lhe


nomeado(a) um(a) Defensor(a) Público(a) Interamericano para representá-la, caso não possua
Eliovaine

representação jurídica.
b) A Corte Interamericana de Direitos Humanos exerce jurisdição consultiva sobre a interpretação da
Convenção Americana de Direitos Humanos, podendo para tanto ser provocada pelos Estados-
membros da OEA, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pelas vítimas ou
representantes.
c) Somente a vítima pode acionar a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sendo, por
conseguinte, vedada apresentação de caso com base em alegação de violação de direitos humanos de
terceiros não representados.
d) São condições de admissibilidade previstas no Pacto de San José para peticionamento à Comissão
Interamericana de Direitos Humanos o esgotamento dos recursos locais; a ausência do decurso do
prazo de seis meses para o protocolo, contados do esgotamento dos recursos internos, e a ausência
de litispendência internacional e de coisa julgada internacional.
e) A Corte Interamericana de Direitos Humanos pode adotar medidas provisórias ou cautelares para
evitar danos irreparáveis às pessoas apenas naqueles casos em que for provocada pelas vítimas ou
representantes.

124
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

190. (DPE-RJ - 2021 - DPE-RJ - Residência Jurídica) “A Corte Interamericana de Direitos Humanos (...) é
órgão jurisdicional do sistema interamericano que resolve sobre os casos de violação de direitos
humanos perpetrados pelos Estados-partes da OEA e que tenham ratificado a Convenção Americana.
Sua sede é na cidade de San José, Costa Rica. Trata-se de um tribunal supranacional interamericano,
capaz de condenar os Estados-partes na Convenção Americana por violação de direitos humanos,
desde que estes tenham aceitado a competência contenciosa do tribunal”. (MAZZUOLI, Valerio de
Oliveira. Curso de direitos humanos. 4. ed. São Paulo: Método, 2017, p. 149). Considerando o texto
acima e as regras contidas na Convenção Americana de Direitos Humanos, quem ou quais órgãos
podem submeter um caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos?
a) Somente os Estados e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos podem submeter um caso à
Corte Interamericana de Direitos Humanos.
b) Somente a Comissão Interamericana de Direitos Humanos pode submeter um caso à Corte
Interamericana de Direitos Humanos.
c) A Defensoria Pública, o Ministério Público, os Estados e a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos podem submeter um caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
d) Qualquer pessoa natural pode submeter um caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
e) A Defensoria Pública, o Ministério Público e as Cortes Constitucionais de cada Estado, além da
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Comissão Interamericana de Direitos Humanos podem submeter um caso à Corte Interamericana de


Direitos Humanos.

191. (UFMT - 2016 - DPE-MT - Defensor Público) Sobre jurisdição e responsabilidade internacional, no
que se refere à proteção dos Direitos Humanos, assinale a afirmativa correta.
a) Os Estados que aderiram à Convenção Americana de Direitos Humanos submetem-se a sua jurisdição,
CPF: 030.720.271-29

excluindo-se, assim, aquela prevista na Carta da Organização dos Estados Americanos, quando da
violação de direitos humanos.
b) Hoje, para que um Estado possa aderir à Organização dos Estados Americanos, deve ser membro da
Convenção Americana de Direitos Humanos.
Silva -- CPF:

c) A Comissão Interamericana de Direitos Humanos foi criada pela Convenção Americana de Direitos
Humanos, com a função exclusiva de receber denúncias de violação a direitos humanos nos Estados-
da Silva

membros da Convenção.
d) A Convenção Americana de Direitos Humanos prevê um sistema de responsabilização por violação aos
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

direitos nela reconhecidos; os Estados que a ela aderirem, seguindo o procedimento de adoção de
tratado internacional, externa e internamente, exercem jurisdição subsidiária no que se refere à
proteção desses direitos.
Eliovaine

e) A Comissão Interamericana de Direitos Humanos exerce dupla função na proteção de direitos


humanos: uma no âmbito da própria Organização dos Estados Americanos e outra dentro do sistema
da Convenção Americana de Direitos Humanos.

192. (CESPE / CEBRASPE - 2015 - AGU - Advogado da União) Sem prejuízo do direito de os Estados-
partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos submeterem-se voluntariamente à Corte
Interamericana de Direitos Humanos, nos termos da cláusula facultativa de jurisdição obrigatória
constante do Pacto de San José da Costa Rica, o referido tribunal internacional tem a faculdade,
inerente às suas atribuições, de determinar o alcance de sua própria competência — compétence de
la compétence.

193. (FAPEMS - 2017 - PC-MS - Delegado de Polícia) Na seara dos tratados e das convenções
internacionais sobre direitos humanos incorporados pelo ordenamento jurídico brasileiro, destaca-se
a Convenção Americana de Direitos Humanos. Também conhecida como Pacto de San José da Costa
Rica, tal Convenção foi adotada em 22 de novembro de 1969, durante a Conferência Especializada
Interamericana sobre Direitos Humanos. Sobre ela, é correto afirmar que

125
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a) em seu bojo, dentre os direitos protegidos, destaca a proteção à família, embora se omita sobre o
direito da criança.
b) no âmbito regional trata-se do documento mais importante do sistema interamericano, excluindo a
subordinação ao sistema global de proteção dos direitos humanos.
c) estabelece como competentes para conhecerem os assuntos relacionados com o cumprimento dos
compromissos assumidos pelos Estados-Partes a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a
Corte Interamericana de Direitos Humanos.
d) embora assinada em 1969, foi ratificada pelo Brasil apenas em 1988, possivelmente em razão da
resistência do regime militar em acolher os compromissos nela estipulados.
e) reitera princípios consagrados na Carta da Organização dos Estados Americanos, na Declaração
Americana dos Direitos e Deveres do Homem e no Estatuto de Roma.

194. (VUNESP - 2015 - MPE-SP - Analista de Promotoria) A Corte Interamericana de Direitos Humanos
é uma instituição judicial autônoma cujo objetivo é aplicar e interpretar a Convenção Americana,
exercendo, dentre outras, a função contenciosa, na qual se encontra a resolução de casos
contenciosos e o mecanismo de supervisão de sentenças. Para que um caso possa ser submetido à
decisão da Corte, é necessário que ele seja apresentado
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a) por um dos Estados-Parte ou pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.


b) pelo próprio interessado ou por uma entidade internacional de direitos humanos devidamente
reconhecida como tal pela Corte.
c) por um Estado-Nação, integrante ou não do Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos.
d) pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos ou por entidade de direitos humanos sediada no
país onde o caso ocorreu.
e) por um dos Estados-Parte, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, ou pelo interessado
CPF: 030.720.271-29

ou seus sucessores.

195. (CESPE / CEBRASPE - 2013 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Federal) Com relação ao Comitê de Direitos
Silva -- CPF:

Humanos (CDH) do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, assinale a opção correta.
a) Em casos excepcionais, admite-se que haja no CDH dois nacionais de um mesmo Estado.
da Silva

b) As comunicações interestatais podem ser processadas pelo CDH independentemente de qualquer


aceitação prévia pelo Estado-parte.
Gouvea da

c) É de seis anos o mandato dos membros do CDH.


Eliovaine Gouvea

d) Após a apresentação do primeiro relatório pelo Estado-parte, o CDH pode solicitar novos relatórios a
qualquer tempo.
Eliovaine

e) Os membros do CDH são eleitos para representar os Estados de que são nacionais.

196. (MPF - 2012 - PGR - Procurador da República) O Sistema de Relatórios Periódicos como
instrumento de monitoramento de tratados internacionais de Direitos Humanos
a) é inócuo porque estados podem escrever o que querem e distorcer a verdade;
b) tem que ser articulado com outras faculdades do órgão de monitoramento que lhe permitam conferir
a correção das informações prestadas pelo estado-parte;
c) exclui, de um modo geral, a participação de outros atores como vítimas ou sociedade civil, nesse
mecanismo de monitoramento;
d) se destina apenas a instrumentalizar a atuação do órgão de monitoramento na elaboração dos
comentários gerais sobre a interpretação do tratado.

197. (VUNESP - 2008 - MPE-SP - Promotor de Justiça) Considerando que o Brasil é signatário da
Convenção Americana de Direitos Humanos, também conhecida como Pacto de San José da Costa Rica,
assinale a alternativa correta.
a) O Brasil está sujeito à jurisdição contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos, porque se
trata de cláusula obrigatória da Convenção.

126
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

b) A competência da Corte Interamericana de Direitos Humanos está limitada à emissão de sentença


declaratória por violações da Convenção.
c) A cláusula da Convenção relativa à jurisdição obrigatória da Corte é facultativa e o Brasil a ela não
aderiu até hoje.
d) O Brasil sujeitou-se voluntariamente à jurisdição da Corte e pode ser condenado à obrigação de fazer
cessar as violações à Convenção e indenizar as vítimas.
e) A Constituição Federal não permite a sujeição do Brasil à jurisdição de Tribunais Internacionais.

198. (VUNESP - 2014 - TJ-RJ - Juiz Substituto) Assinale a alternativa correta a respeito da Convenção
Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica).
a) Para a Comissão Interamericana aceitar uma petição na qual se alegue violação de um direito, é
necessário que o Estado-parte se manifeste oficialmente, afirmando que não conseguiu solucionar a
questão.
b) A convenção proibiu a prisão civil por dívidas, mesmo aquelas relativas ao depositário infiel e em razão
de inadimplemento de obrigação alimentar.
c) A decisão da Corte Interamericana caracteriza-se por ser definitiva e inapelável, cabendo ao Estado-
parte seu imediato cumprimento.
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d) A Convenção proibiu a pena de morte para todo e qualquer tipo de crime e determinou a sua abolição
por todos os Estados-partes que a adotem.

199. (CESPE / CEBRASPE - 2004 - DPU - Defensor Público Federal) A competência da CIDH alcança, por
um lado, todos os Estados-partes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, em relação aos
direitos e garantias nesta consagrados e, por outro lado, alcança todos os Estados-membros da
CPF: 030.720.271-29

Organização dos Estados Americanos, em relação aos direitos consagrados na Declaração Americana
de 1948.

200. (VUNESP - 2014 - PC-SP - Investigador de Polícia) Segundo expressamente estabelecido pela
Silva -- CPF:

Convenção Americana de Direitos Humanos, apresentar petições que contenham denúncias ou


queixas de violação da Convenção por um Estado-parte perante a Comissão Interamericana de Direitos
da Silva

Humanos é da competência de:


Gouvea da

a) juízes criminais legalmente responsáveis para remeter o caso à Comissão


Eliovaine Gouvea

b) membros da Defensoria Pública, do Ministério público, das Procuradorias Estaduais e Federais, além
de representantes governamentais investidos na função de polícia judiciária.
Eliovaine

c) qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental legalmente reconhecida em


um ou mais Estados-membros da Organização.
d) representantes do Ministério de Relações Exteriores de cada país interessado no esclarecimento da
respectiva violação da Convenção.
e) membros do Ministério Público legalmente investidos no respectivo cargo público de qualquer Estado-
membro da Organização.

201. (FCC - 2018 - IAPEN-AP - Agente Penitenciário) A Convenção Americana sobre Direitos Humanos
estabelece que “são competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o cumprimento dos
compromissos assumidos pelos Estados partes nesta Convenção”:
a) a Organização dos Estados Americanos e o Protetorado Regional de Direitos Humanos.
b) todas as cortes supremas dos Estados partes quando acionadas pela Procuradoria Americana de
Direitos Humanos.
c) o Tribunal Penal Internacional e o Comitê Americano de Direitos Humanos.
d) o Alto Comissariado Latino-Americano e a Corte Federal de Direitos Humanos.
e) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.

127
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

202. (VUNESP - 2014 - DPE-MS - Defensor Público) Nos termos do art. 67 da Convenção Americana de
Direitos Humanos, “A sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos será definitiva e
inapelável. Em caso de divergência sobre o sentido ou alcance da sentença, a Corte interpretá-la-á, a
pedido de qualquer das partes, desde que o pedido seja apresentado dentro de
a) noventa dias a partir da data da notificação da sentença”.
b) sessenta dias a partir da data da notificação das partes”.
c) trinta dias a partir da data da notificação das partes”.
d) dez dias a partir da data da notificação da sentença”.

203. (FUMARC - 2013 - PC-MG - Perito Criminal) De acordo com a Convenção Americana de Direitos
Humanos de 1969, para que uma petição ou comunicação seja admitida pela Comissão, será
necessário que, EXCETO:
a) a matéria da petição não esteja pendente de outro processo de solução internacional.
b) seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado em
seus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva.
c) o país violador haja ratificado ou aderido à Convenção, mesmo que ainda não tenha se manifestado
expressamente sobre a competência da Comissão, tendo em vista que o modelo previsto garante a
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“prevalência dos direitos humanos”.


d) a petição seja apresentada por pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental
legalmente reconhecida em um ou mais Estados-Membros da Organização, devendo conter o nome,
a nacionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou das pessoas, ou do representante
legal da entidade que submeter a petição ou comunicação.
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204. (VUNESP - 2013 - MPE-ES - Promotor de Justiça) Em relação ao Sistema Interamericano de Direitos
Humanos, previsto na Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa
Rica), assinale a alternativa correta.
a) Constitui atribuição da Comissão Interamericana de Direitos Humanos conhecer dos casos relativos à
Silva -- CPF:

interpretação ou aplicação da Convenção Americana sobre Direitos Humanos e proferir sentença que
será definitiva e inapelável.
da Silva

b) A Corte Interamericana de Direitos Humanos possui competência privativa para conhecer dos assuntos
relacionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados Partes na Convenção
Gouvea da

Americana sobre Direitos Humanos.


Eliovaine Gouvea

c) A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor-se-á de onze membros, que deverão ser
pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos humanos
Eliovaine

d) A Corte Interamericana de Direitos Humanos, a pedido de um Estado-membro da Organização, poderá


emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os tratados
concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.
e) No Estado brasileiro, compete privativamente ao Ministério Público Federal ou Estadual apresentar à
Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violação da Convenção sobre Direitos
Humanos por um Estado Parte.

205. (CESPE / CEBRASPE - 2013 - DPE-DF - Defensor Público) Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou
entidade não governamental legalmente reconhecida em um ou mais Estados-membros da OEA tem
competência para ingressar com petições que contenham denúncias ou queixas de violação da
Convenção sobre Direitos Humanos perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

206. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia) É assegurado a qualquer pessoa apresentar
à Comissão Interamericana de Direitos Humanos petições que contenham denúncias ou queixas de
violação da CADH por um Estado-parte.

128
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

207. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - PC-AL - Escrivão de Polícia) Somente os Estados-partes e a Comissão
Interamericana de Direitos Humanos têm o direito de submeter um caso à decisão da Corte
Internacional de Direitos Humanos.

208. (FCC - 2012 - DPE-PR - Defensor Público) Diferentemente do Direito Internacional Público clássico,
os conceitos e categorias jurídicas do Direito Internacional dos Direitos Humanos formaram-se e
cristalizaram-se no plano das relações intraestatais, ou seja, das relações entre os Estados e os seres
humanos sob suas respectivas jurisdições. Essa especificidade conduz à necessidade de que o Direito
Internacional dos Direitos Humanos tenha regras e princípios próprios de interpretação. Sobre essa
temática, é INCORRETO afirmar:
a) Em função do art. 68 da Convenção Americana de Direitos Humanos - CADH, que estabelece a
exequibilidade da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no plano interno do Estado,
na parte relativa a eventual indenização compensatória, caso o Estado levante óbices jurídicos para
viabilizar a execução da referida sentença em conformidade com o processo interno vigente, estará
incorrendo em violação adicional da CADH (art. 2º), por não adotar providências no sentido de adequar
o seu direito interno às obrigações internacionalmente as- sumidas.
b) Ao dispor que os Estados-Parte “comprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas
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constitucionais e com as disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza


que forem necessárias para tornar efetivos” (art. 2º) os direitos e liberdades reconhecidos na
Convenção Americana de Direitos Humanos - CADH, o texto convencional está obrigando não somente
o Poder Legislativo, mas também os poderes Executivo e Judiciário do Estado-Parte.
c) Para a Corte Interamericana, as obrigações contraídas em virtude da Convenção Americana de Direitos
Humanos - CADH somente podem ser suspensas nas hipóteses de seu artigo 27, ou seja, em caso de
guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do
CPF: 030.720.271-29

Estado-Parte, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação, ficando desse
modo inacessíveis todas as garantias judiciais para a proteção de direitos somente nesse contexto
especialíssimo.
d) Como a regra do esgotamento dos recursos internos não é aplicada com flexibilidade no Direito
Silva -- CPF:

Internacional Geral, a jurisprudência das cortes internacionais de direitos humanos desenvolveu vários
entendimentos que mitigam ou estabelecem pré-requisitos para a plena incidência da referida regra,
da Silva

como, por exemplo, fazendo recair o ônus da prova da existência de um recurso “acessível e
Gouvea da

suficiente” sobre o Estado demandado, ou estabelecendo que o Estado requerido estaria obrigado a
Eliovaine Gouvea

levantar a objeção no primeiro momento em que fosse chamado perante a Comissão Interamericana,
sob pena de ficar impedido de invocar o não- esgotamento no julgamento perante a Corte
Eliovaine

Interamericana (estoppel).
e) Havendo duas ou mais possibilidades de interpretação concomitante de dispositivos correspondentes
ou equivalentes de distintos tratados de direitos humanos, aplica-se o critério da primazia da norma
mais favorável às supostas vítimas, favorecendo a complementaridade dos mecanismos de proteção
dos direitos humanos em níveis global e regional.

7.4.5. Controle de convencionalidade:

7.4.5.1 Introdução:

O termo controle de convencionalidade surgiu na França, na década de 1970, quando o Conselho


Constitucional firmou sua incompetência para analisar a compatibilidade das leis internas com tratados
ratificados pelo Estado francês, por não se tratar de um controle de constitucionalidade (MAZZUOLI, 2013,
p. 88). A expressão foi utilizada pela primeira vez pela Corte IDH no julgamento do caso Myrna Mack Chang
vs. Guatemala, em 2003, relatado pelo juiz Sérgio Garcia Ramírez.
No julgamento do caso Tibi vs. Ecuador, no ano seguinte, a Corte IDH avançou na construção da
teoria, apontando o papel das cortes nacionais e do próprio tribunal e sua realização. Foi na sentença do caso
Almonacid Arellano e outros vs. Chile, de 2006, que a Corte desenvolveu suas linhas mestras.

129
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O conceito convencional da doutrina pátria sobre o controle de convencionalidade seria o da análise


de compatibilidade entre normas internas (ou nacionais) com os tratados de direitos humanos (MAZZUOLI,
2013, p. 25).
Porém, não obstante sua difusão, a definição apresentada está aquém da teoria do controle de
convencionalidade desenvolvida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) e pela doutrina
internacionalista sobre o tema.
Essa conceituação esconde feições positivistas e formalistas, que, na prática, diminuem o alcance
real do instituto. Ela é positivista porque parte do pressuposto de que apenas tratados internacionais são
fontes formais do Direito Internacional (deixando de lado o papel dos costumes e da jurisprudência
internacionais como integrantes do chamado "bloco" ou "parâmetro" de convencionalidade). Formalista, por
solucionar as antinomias normativas por um critério de validade formal hierárquico (CONCI, 2014); isto é,
por considerar apenas o status hierárquico normativo entre as convenções de direitos humanos e as normas
nacionais, deixando de lado o conteúdo das referidas normas.
Por isso, parafraseando Jorge Miranda (2013, p. 9), em explicação da noção de constitucionalidade,
é possível afirmar que a convencionalidade designa um conceito relacional. Uma relação entre uma coisa (as
normas internacionais de proteção dos direitos humanos) e outra coisa (um comportamento), que está ou
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não conforme, que cabe ou não no seu sentido, que tem neles ou não sua base.
Trata-se de uma relação normativa e valorativa, que pode abarcar comportamentos comissivos e
omissivos. Assim, apesar de instintivamente pensar-se que o controle de convencionalidade é feito por meio
da aferição de compatibilidade de normas, tal raciocínio está parcialmente correto. A questão analisada pode
implicar na responsabilização do Estado por uma situação inconvencional gerada pela ausência de uma
norma interna de proteção dos direitos humanos ou ante a constatação de que uma norma existente protege
CPF: 030.720.271-29

insuficientemente um direito.
Portanto, um conceito abrangente de controle de convencionalidade seria o de análise de
compatibilidade de uma conduta (comissiva ou omissiva) interna com as normas do Direito Internacional dos
Direitos Humanos (DIDH).
Silva -- CPF:

Destaca-se ainda que, apesar de o termo "controle de convencionalidade" ser utilizado


da Silva

predominantemente no Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH), ele corresponde a uma mera
Gouvea da

designação. É um nome dado à análise de compatibilidade de atos com as normas internacionais de proteção
Eliovaine Gouvea

dos direitos humanos. Sua prática não se restringe ao SIDH ou à Corte IDH. Uma nomenclatura diversa, ou
mesmo a ausência de uma designação específica a essa técnica em outro sistema, não significa que eles não
Eliovaine

façam o que aqui se chama controle de convencionalidade.

7.4.5.2. Competência para a realização do controle

Nos países que integram o SIDH, o controle de convencionalidade pode ser feito em dois níveis,
internacional e nacional, não havendo um plano supranacional, como ocorre em países europeus que
integram a União Europeia (URUEÑA, 2017, p. 13). No plano internacional, a ideia de controle de
convencionalidade confunde-se com a de justiciabilidade. Dessa forma, pode-se entender que coexistem dois
sistemas de proteção específica de direitos humanos, classificados por seu âmbito geográfico: o global e o
regional.
Ainda concernente ao nível externo, é possível que normas de direitos humanos sejam utilizadas
como paradigma de controle de condutas por mecanismos que não detenham competência exclusiva
relacionada aos direitos humanos. No caso A. S. Diallo (Guiné vs. R. D. Congo), a Corte Internacional de Justiça
(CIJ), declarou a responsabilização internacional de um Estado utilizando como paradigma as disposições de
tratados de direitos humanos (o Pacto de Direitos Civis e Políticos de 1966 e a Carta Africana de Direitos
Humanos e dos Povos de 1981).
O controle de convencionalidade, em âmbito internacional, pode ser feito por órgãos de natureza
política, judicial e quase-judicial.

130
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

No âmbito da Organização dos Estados Americanos (OEA), o controle de natureza política é exercido
pela Assembleia Geral da organização, que, nos termos dos artigos 53 e 54, é órgão detentor de competência
para decidir as ações e políticas da Organização, assim como propor sanções coletivas pelo descumprimento
dos preceitos da OEA. André de Carvalho Ramos (2019, p. 204) destaca esse poder da Assembleia Geral da
OEA, como a Resolução nº 1/91, que suspendeu as relações econômicas, financeiras e comerciais dos países
membros da OEA com o Haiti, em função do golpe militar contra o Presidente Jean Bertrand Aristide, em 29
de setembro de 1991.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, com natureza quase-judicial, tem a competência
de recebimento de peticionamento individual tanto pelo sistema da CADH quanto da Carta da OEA. Como já
aludido, quando a CIDH não admite a remessa de um caso à Corte IDH, ela faz um controle de
convencionalidade definitivo, pois não há possibilidade de recurso ao tribunal.
A Corte Interamericana de Direitos Humanos, por sua vez, é o órgão jurisdicional do sistema.
Já em âmbito interno ou nacional, o controle de convencionalidade deve ser feito por todas as
autoridades do Estado, conforme destacado pela Corte IDH no julgamento do Caso Cabrera García e Montiel
Flores vs. México:
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Este Tribunal estabeleceu em sua jurisprudência que é consciente de que as autoridades


internas estão sujeitas ao império da lei e, por isso, estão obrigadas a aplicar as disposições
vigentes no ordenamento jurídico. Porém, quando um Estado é parte de um tratado
internacional como a Convenção Americana, todos seus órgãos, incluídos seus juízes,
também estão submetidos àquele, o que os obriga a velá-lo por que os efeitos das
disposições da Convenção não se veem diminuídas pela aplicação de normas contrárias ao
seu objeto e fim. (CORTE IDH, 2010).
CPF: 030.720.271-29

7.4.5.3. Momento de realização do controle de convencionalidade

O controle convencionalidade (por ação) é eminentemente repressivo, tendo em vista que, em regra,
ele é realizado após a perfectibilização do ato.
Silva -- CPF:

No plano internacional, há divergência doutrinária quanto à possibilidade do controle preventivo.


da Silva

Para Valerio de Oliveira Mazzuoli (2013, p. 106), a Corte, em sua competência consultiva, não
Gouvea da

controla a convencionalidade de uma norma ou ato administrativo interno de um Estado, mas, sim, "afere a
Eliovaine Gouvea

convencionalidade". A distinção entre controle e aferição seria a de que o primeiro traz efeitos jurídicos
vinculantes e a segunda, não. No âmbito interno, o resultado de um controle prévio de constitucionalidade
Eliovaine

ou convencionalidade realizado pelo Legislativo seria a não aprovação da proposta legislativa. Isso não
ocorreria nos casos de manifestação da Corte IDH em sua competência consultiva, pois os pareceres não
teriam força vinculante perante os Estados-partes.
Não obstante tais ponderações, há de se distinguir a técnica de avaliação de compatibilidade, com
seus efeitos. Uma proposta de lei aprovada pelas duas casas do Congresso Nacional pode ser vetada pelo
Presidente da República, sob a justificativa de padecer de um vício de inconvencionalidade ou
inconstitucionalidade. O fato de a segunda análise ter o resultado de impedir que a proposta de lei seja
promulgada não retira o fato dessa mesma proposta ter tramitado pelas duas casas, sendo analisada pelas
respectivas comissões e plenários. O controle não está vinculado ao seu resultado. Não é porque as CCJs
concluíram que uma proposta legislativa é constitucional (ou convencional) que o seu controle de
constitucionalidade ou convencionalidade não tenha sido feito. Afinal, fazendo um paralelismo com o
controle judicial repressivo, a existência da Ação Direita de Constitucionalidade tem por fim atestar a
constitucionalidade de uma norma já promulgada. Em outras palavras, trata-se de uma ação que busca
reforçar todo o trâmite de uma lei e todos os controles de constitucionalidade feitos no decorrer de sua
tramitação.
O Artigo 64 da CADH dispõe sobre a competência voluntária da Corte IDH:
Artigo 64

131
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

1. Os Estados-membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação


desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos
Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os órgãos
enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada
pelo Protocolo de Buenos Aires.
2. A Corte, a pedido de um Estado-membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre
a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os mencionados instrumentos
internacionais.

Da leitura do dispositivo verifica-se a possibilidade de três tipos de consultas à Corte: as que se


referem à interpretação da CADH; as que se referem à interpretação de outros tratados de proteção dos
direitos humanos nos Estados americanos; e as que tratam sobre a compatibilidade de uma lei interna do
Estado-parte "autor" da consulta com os tratados de direitos humanos.
A consulta baseada no Artigo 64.2 nada mais é do que um controle de convencionalidade posterior.
O resultado da consulta pode atestar a incompatibilidade de uma norma já em vigor em relação à CADH ou
outro tratado de proteção dos direitos humanos. Na Opinião Consultiva nº 5/85, por exemplo, a Corte IDH
considerou que a Lei nº 4.420 da Costa Rica violava a Convenção, ao exigir diploma universitário de jornalistas
e filiação ao Conselho Profissional da categoria.
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Por outro lado, nada impede que uma consulta feita com base no Artigo 64.1 oportunize à Corte IDH
realizar um controle prévio de convencionalidade. A Opinião Consultiva nº 3/83 da Corte IDH é um exemplo
disso. A CIDH consultou a Corte sobre a possibilidade de os Estados instaurarem a pena de morte a delitos
que a reprimenda não era prevista no momento da entrada em vigor da CADH. A Corte entendeu que os
Artigo 4.2 e 4.3 da Convenção Americana fixam um limite definitivo à imposição da pena de morte, através
de um processo progressivo e irreversível destinado a ser cumprido por todos os países que ainda não a
CPF: 030.720.271-29

tenham abolido.
Portanto, apesar de não ter sido suprimida, a pena de morte não pode ser expandida, sendo, ainda,
proibido seu reestabelecimento. Também não seria possível a um Estado formular uma reserva ao
dispositivo. Afinal, se o direito à vida, previsto no Artigo 4 da Convenção, não pode ser suspenso em caso de
Silva -- CPF:

guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a independência ou segurança do Estado-
parte, por força do Artigo 27.2 da CADH, eventual reserva que venha a incluir o dispositivo seria incompatível
da Silva

com o objeto e finalidade do tratado, o que é vedado pelo artigo 75 da Convenção.


Gouvea da

Apesar de a Corte IDH ter se manifestado na Opinião Consultiva nº 1/82 que "os pareceres não têm
Eliovaine Gouvea

o mesmo efeito vinculante que se reconhece para suas sentenças em matéria contenciosa", o resultado da
Opinião Consultiva nº 14/94 foi que a promulgação de uma lei manifestamente contrária às obrigações de
Eliovaine

um Estado-parte na Convenção constitui uma violação desta e, caso a lei violadora afete direitos de
indivíduos determinados é possível a responsabilização internacional do Estado em questão. Ademais, se a
aplicação da lei constituir um fato tipificado como crime internacional, seria possível a responsabilização não
apenas do Estado como também de seus agentes.
Aqui são necessárias algumas ponderações. O teor da consulta na OP 1/82 referia-se à amplitude dos
tratados internacionais de direitos humanos que poderiam ser interpretados pela Corte, conforme a segunda
parte do Artigo 64.1 da CADH. Já o pano de fundo da OP 14/94 refere-se à lei promulgada pelo Peru
instituindo a pena de morte, mesmo após a Corte IDH já ter se manifestado sobre a impossibilidade dos
Estados-parte da Convenção de fazê-lo, quando do parecer da OC 3/83.
Portanto, no primeiro caso, é compreensível a análise da Corte, pois o objeto de interpretação não
se resume à CADH ou a um tratado regional de proteção aos direitos humanos. Já no segundo caso, a situação
é distinta. No seio da OC 3/83, a Corte IDH fixou o alcance e conteúdo do Artigo 4 da CADH (RAMOS, 2019,
p. 256). Ao fazê-lo, cabe aos Estados-parte da Convenção, adotar as medidas legislativas ou de outra natureza
para efetivar o direito, nos termos do Artigo 2º da Convenção e reafirmado na OC 14/94. Outra não foi então
a conclusão da Corte IDH na OP 21/14:
(...) a partir da norma convencional interpretada através da emissão de uma opinião
consultiva, todos os órgãos dos Estados Membros da OEA, incluindo os que não são parte

132
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

da Convenção mas que são obrigados a respeitar os direitos humanos em virtude da Carta
da OEA (artigo 3.1) e a Carta Democrática Interamericana (artigos 3, 7, 8 e 9) contam com
uma fonte que, de acordo com sua própria natureza, contribui também e especialmente
de maneira preventiva, a garantir o eficaz respeito e garantia dos direitos humanos e, em
particular, constitui m guia a ser utilizado para resolver as questões sobre infância no
contexto da migração e assim evitar eventuais vulnerações de direitos humanos.(tradução
nossa) (CORTE IDH, 2014).

Em relação ao controle de convencionalidade judicial repressivo, é possível distinguir os modelos


difuso e concentrado de controle.
Sabe-se que a posição dominante na doutrina brasileira é a de que o controle de constitucionalidade
no sistema nacional é misto, pois coexistiriam tanto o sistema incidental (americano) quanto o abstrato
(austríaco).
Como já citado, na discussão do desacato, o controle de convencionalidade que começa de forma
incidental na primeira instância do TJSC, acaba por ser feito também de forma abstrata no julgamento da
ADPF 496 pelo Supremo Tribunal Federal.
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7.4.5.4. Parâmetro ou bloco de convencionalidade


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O denominado bloco ou parâmetro de convencionalidade é constituído por todas as normas de


direito internacional dos direitos humanos que servem como paradigma para a análise de compatibilidade
da conduta interna.
No sistema interamericano, o bloco de convencionalidade é o corpus juris em matéria de direitos
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humanos que fundamenta as decisões de seus órgãos de proteção (MAC-GREGOR, 2014, p. 583). Ele não se
restringe às normas atinentes à CADH e seus protocolos facultativos (CADH, Artigo 77), pois inclui todas as
fontes formais primárias do DIDH.
O Artigo 64.1 da Convenção prevê a possibilidade de a Corte IDH ser consultada para interpretar
Silva -- CPF:

outros tratados de direitos humanos aplicáveis a um Estado Parte. Na opinião consultiva nº 1/82, a Corte
concluiu que pode decidir sobre toda disposição concernente à proteção dos direitos humanos de qualquer
da Silva

tratado internacional aplicável nos Estados americanos — seja ele bilateral ou multilateral —
Gouvea da

independentemente de seu objeto principal ou de qual possa ser ratificado por outros Estados que não façam
Eliovaine Gouvea

parte do sistema americano.


Em sua competência contenciosa, a Corte IDH vale-se das disposições do Artigo 29 da CADH, 31 e 32
Eliovaine

da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados e, principalmente, dos princípios pro homine e do efeito
útil, para alargar seu parâmetro de avaliação para as normas previstas nos demais tratados de direitos
humanos.
Pelo princípio pro homine ou pro persona (extraído do Artigo 29, b, da CADH), as normas
internacionais devem ser interpretadas de modo a outorgar aos indivíduos uma proteção máxima
(BURGORGUE-LARSEN, 2014, p.4), privilegiando-se uma interpretação extensiva naquilo que os favoreça e
restritiva quando lhes excluírem, restringirem, condicionarem ou excetuarem direitos.
Já pelo princípio do efeito útil, os juízes devem velar pelo effet utile dos tratados internacionais para
que não sejam diminuídos ou anulados pela aplicação de normas ou práticas internas contrárias ao objeto e
ao fim do instrumento convencional ou do standard internacional de proteção aos direitos humanos (MAC-
GREGOR , 2017, p. 36). Sobre o tema, a Corte IDH decidiu, no caso dos Irmãos Gómez Paquiyauri vs. Perú, o
seguinte:
91. O dever geral do Estado de adequar seu direito interno às disposições da Convenção
Americana para garantir os direitos nela consagrados inclui a promulgação de normas e o
desenvolvimento de práticas conducente à observância efetiva dos direitos e liberdades
consagrados na mesma, assim como a adoção de medida para suprimir as normas e práticas
de qualquer natureza que violarem as garantias previstas na Convenção. Esse dever geral

133
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

do Estado Parte implica que as medidas de direito interno sejam de ser efetivas (princípio
do effet utile), para o qual o Estado deve adaptar sua atuação à normativa de proteção da
Convenção (tradução nossa) (CORTE IDH, 2004).

A Corte IDH compreende que todas suas manifestações também compõem o bloco de
convencionalidade.
Desde 2006, o tribunal manifesta-se sobre a inclusão das decisões tomadas no seio de sua
competência contenciosa, tem-se como exemplo o Caso López Mendoza vs. Venezuela:
226. (...) Os juízes e órgãos vinculados à administração da justiça em todos os níveis têm a
obrigação de exercer ex officio um "controle de convencionalidade" entre as normas
internas e a Convenção Americana, no marco de suas respectivas competências e das
regulamentações processuais correspondentes. Nessa tarefa, os juízes e órgãos vinculados
à administração da justiça devem ter em conta não apenas o tratado, mas também a
interpretação que a Corte Interamericana, intérprete última da Convenção Americana, fez.
227. Assim, por exemplo, tribunais das mais altas hierarquias da região, tal como a Sala
Constitucional da Corte Suprema de Justiça da Costa Rica, o Tribunal Constitucional da
Bolívia, a Suprema Corte de Justiça da República Dominicana, o Tribunal Constitucional do
Peru, a Corte Suprema de Justiça da Nação Argentina e a Corte Constitucional da Colômbia,
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

se referiram e aplicaram o controle de convencionalidade levando em consideração


interpretações efetuadas pela Corte Interamericana.
228. Concluindo, independentemente das reformas legais que o Estado deve dotar (supra
parágrafo 225), com base no controle de convencionalidade, é necessário que as
interpretações judiciais e administrativas e as garantias judiciais sejam aplicadas,
adequando-se aos princípios estabelecidos na jurisprudência deste Tribunal que foram
reiterados no presente caso". (tradução nossa) (CORTE IDH, 2011).
CPF: 030.720.271-29

Ademais, na opinião consultiva nº 21/14, a Corte IDH manifestou-se expressamente sobre a inclusão
das manifestações tomadas em sede de sua competência consultiva, como integrantes do bloco de
convencionalidade, como já citado.
Silva -- CPF:

Outro ponto a ser destacado diz respeito à vinculação dos tribunais internos à jurisprudência dos
tribunais internacionais, que versa sobre direitos humanos. Três possibilidades são imagináveis: a existência
da Silva

de jurisprudência internacional (regional ou global) mais favorável que a interna ao direito posto em
julgamento; a existência de jurisprudência mais favorável, em âmbito interno, do que a jurisprudência
Gouvea da

internacional (do âmbito regional e global); e a existência de precedentes de um tribunal internacional, mais
Eliovaine Gouvea

favoráveis que de outro tribunal internacional e do que a jurisprudência interna.


Eliovaine

Nas três hipóteses, a solução será sempre a mesma. Através do princípio pro homine, o juiz nacional,
no momento do controle de convencionalidade, deve privilegiar a interpretação mais favorável ao direito
posto em julgamento. No caso dos juízes brasileiros, aplica-se o Artigo 29.b e d da CADH, cumulado com o
art. 5º, §2º da Constituição. Trata-se do mesmo raciocínio de Antônio Augusto Cançado Trindade, no
contexto do debate entre o monismo e o dualismo:
No presente domínio da proteção, não mais há pretensão de primazia do direito
internacional ou do direito interno, como ocorria na polêmica clássica superada entre
monistas e dualistas. No presente contexto, a primazia é da norma mais favorável às
vítimas, que melhor as proteja, seja ela norma de direito internacional ou de direito interno.
Este e aquele aqui interagem em benefício dos seres protegidos. É a solução expressamente
consagrada em diversos tratados de direitos humanos, da maior relevância por suas
implicações práticas (CANÇADO TRINDADE, 2007, p. 435).

Não obstante a saída doutrinária, na prática, a jurisprudência nacional é outra. Isso porque os
tribunais pátrios sequer consideram as decisões internacionais e, com isso, passam a fazer interpretações
próprias das normas internacionais. O resultado é a dissonância entre as decisões internas e internacionais
sobre temas análogos, como os já citados no estudo da CADH.

QUESTÕES

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

209. (DPE-RJ - 2021 - DPE-RJ - Residência Jurídica) A respeito do controle de convencionalidade,


assinale a alternativa correta, considerando o ordenamento jurídico interno e a jurisprudência da
Corte Interamericana de Direitos Humanos.
a) Só pode ser realizado em âmbito interno pelo Superior Tribunal de Justiça, haja vista o caráter
supralegal do parâmetro de controle.
b) Em âmbito interno, é um poder-dever não só dos membros do Poder Judiciário, mas de toda e
qualquer autoridade pública.
c) Trata-se de poder-dever exclusivo das cortes e tribunais internacionais, como a Corte Interamericana
de Direitos Humanos;
d) Em âmbito interno, é uma faculdade dos membros do Poder Judiciário.
e) Só pode ser realizado em âmbito interno pelo Supremo Tribunal de Federal, por ser o órgão de cúpula
do Poder Judiciário brasileiro.

210. (MPT - 2020 - MPT - Procurador do Trabalho) Analise as seguintes assertivas:


I – O controle de convencionalidade consiste no exame da compatibilidade entre a norma nacional
e as normas internacionais, sobretudo as convenções internacionais.
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II - Os agentes estatais estão adstritos ao dever de proteção dos direitos humanos, inclusive os
previstos em tratados internacionais ratificados pelo Brasil. Portanto, cabe ao Ministério Público e ao
Poder Judiciário, diante de norma contrária a tais direitos, cada um com as respectivas atribuições,
proceder ao controle de convencionalidade de tais normas. É possível afirmar que a própria Constituição
de 1988 fundamenta tal dever, ao prever que os direitos e garantias nela expressos não excluem outros
decorrentes dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
CPF: 030.720.271-29

III – Conforme se pode extrair da Convenção Americana sobre os Direitos Humanos, o dever de
garantir os direitos humanos previstos em normas internacionais alcança até mesmo a atuação legislativa,
uma vez que os Estados-Partes devem adotar as medidas legislativas ou de outra natureza que forem
Silva -- CPF:

necessárias para tornar efetivos os direitos e liberdades reconhecidos na referida Convenção.


Assinale a alternativa CORRETA:
da Silva

a) Apenas a assertiva I está incorreta.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

b) Apenas a assertiva II está incorreta.


c) Apenas a assertiva III está incorreta.
d) Todas as assertivas estão corretas.
Eliovaine

211. (FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público) O controle de convencionalidade deve


a) levar em conta a jurisprudência contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos, desde que
decorrente de casos nos quais o Estado tenha sido parte.
b) ser realizado ex officio como função e tarefa de qualquer autoridade pública, no marco de suas
competências, e não apenas por juízes ou tribunais, que sejam competentes, independentes,
imparciais e estabelecidos anteriormente por lei.
c) ter como objeto de confronto a normativa infraconstitucional dos Estados, ficando a compatibilidade
das normas constitucionais para solução pelo controle de constitucionalidade.
d) implicar na supressão das normas confrontadas, constatada incompatibilidade com a Convenção
Americana de Direitos Humanos.
e) ser realizado em nível internacional independentemente de que o Estado tenha a oportunidade de,
internamente, declarar a violação e reparar o dano por seus próprios meios.

212. (FCC - 2018 - DPE-AM - Analista) No âmbito da proteção dos direitos humanos, entende-se por
controle de convencionalidade

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a) o trabalho de adequação da normativa internacional anterior ao conteúdo de novos tratados


internacionais pactuados sobre o mesmo tema.
b) o trabalho de compatibilização ou controle de validade das normas do ordenamento jurídico interno
de um Estado tendo como parâmetro os tratados de direitos humanos ratificados por este Estado que
estejam em vigor.
c) a avaliação periódica, promovida por comissões especiais das Nações Unidas, do grau de incorporação
das convenções internacionais de direitos humanos no âmbito interno de cada Estado signatário.
d) a tarefa de filtragem, à luz das Convenções Internacionais, da legislação, jurisprudência e doutrina
vigentes em determinado Estado sobre temas sensíveis de direitos humanos.
e) toda e qualquer iniciativa, judicial ou legislativa, que tenha como escopo o cumprimento de um
"preceito fundamental" previsto em tratados de direitos humanos formalmente constitucionais.

213. (FCC - 2016 - DPE-BA - Defensor Público) O controle de convencionalidade na sua vertente
nacional quando comparado com a vertente internacional apresenta inúmeras diferenças,
destacando-se:
a) Para que o controle de convencionalidade seja exercido, no âmbito interno, é necessário o prévio
esgotamento das vias ordinárias e a matéria precisa ser objeto de prequestionamento.
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b) Na vertente internacional o parâmetro de controle é a norma internacional e pouco importa a


hierarquia da lei local, podendo, inclusive, ser oriunda do poder constituinte originário.
c) No que diz respeito ao aspecto nacional apenas o Supremo Tribunal Federal tem competência para
exercê-lo e, por isso, é uma forma de se apresentar o controle concentrado de constitucionalidade.
d) Na vertente internacional o parâmetro de controle é a norma internacional, porém, é impossível
exercer tal controle no que diz respeito às normas oriundas do poder constituinte originário.
e) Em que pese ser objeto de estudo, o controle de convencionalidade se resume à aplicação doutrinária.
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214. (FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público) A decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos
que inaugurou a doutrina acerca do “controle de convencionalidade” no âmbito da sua jurisdição foi
Silva -- CPF:

adotada no caso
a) López Álvarez vs. Honduras.
da Silva

b) Gómez Palomino vs. Peru.


c) Goiburú e outros vs. Paraguai.
Gouvea da

d) Velásquez Rodriguez vs. Honduras.


Eliovaine Gouvea

e) Almonacid Arellano e outros vs. Chile.


Eliovaine

215. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - PC-AL - Delegado de Polícia) De acordo com a CF, os tratados
internacionais de direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em
dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, terão status de norma
constitucional. Tais tratados podem fundamentar tanto o controle de constitucionalidade quanto o
controle de convencionalidade.

216. (MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça) "Todo tratado em vigor obriga as partes e deve
ser cumprido por elas de boa-fé " (art. 26 da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados). Essa
norma estampa um importante princípio do direito internacional público atual, que é a obrigação de
respeitar os tratados, além de constituir um dos fundamentos do chamado controle de
convencionalidade. Informar a alternativa incorreta:
a) É possível afirmar que a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em razão dos valores
fundamentais e existenciais desses mesmos direitos, atribui a si a obrigação primária, inicial ou
imediata de compatibilização das normas internas com os instrumentos internacionais de direitos
humanos dos quais o Estado é parte.
b) A Corte Interamericana de Direitos Humanos não toma apenas os tratados de direitos humanos como
paradigmas do controle de convencionalidade, mas também a sua própria jurisprudência.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

c) Para além do controle jurisdicional de convencionalidade, são possíveis, no atual modelo brasileiro, os
controles legislativo e executivo dessa mesma convencionalidade.
d) A Corte Interamericana de Direitos Humanos entende que é paradigma de controle de
convencionalidade das normas domésticas, no sistema interamericano de proteção dos direitos
humanos, todo o corpo jurídico internacional de proteção, o que inclui o sistema global de direitos
humanos.

7.4.6. As condenações do Brasil perante a Corte Interamericana de Direitos


Humanos:

A Corte Interamericana de Direitos Humanos, até 22 de julho de 2022, publicou 11 sentenças em que
a República Federativa do Brasil foi parte demandada. Dos 11 litígios, o Estado brasileiro foi condenado em
10, sendo absolvido apenas no Caso Nogueira de Carvalho e outro vs. Brasil, de 28 de novembro de 2006.
O presente tópico analisará cada uma das condenações do Brasil no âmbito da SIDH, apresentando
os aspectos fáticos de cada um dos casos e os principais pontos jurídicos fixados na sentença da Corte IDH12.
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7.4.6.1. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil:

Em 4 de julho de 2006, a Corte IDH publicou a sentença do Caso Ximenes Lopes vs. Brasil,
condenando, pela primeira vez, o Estado brasileiro pelo descumprimento das normas previstas na CADH.
O Brasil foi acusado de violação das normas previstas nos artigos 4 (direito à vida), 5 (direito à
integridade pessoal), 8 (garantias judiciais) e 25 (proteção judicial) de Damião Ximenes Lopes, portador de
CPF: 030.720.271-29

deficiência mental, por tratamento desumano e morte ocorridos no hospital psiquiátrico privado conveniado
ao Sistema Único de Saúde, “Casa de Repouso Guararapes”, no município de Sobral/CE.
Damião Ximenes Lopes morava com sua mãe na cidade de Varjota, e foi internado inicialmente em
1995 na Casa de Repouso Guararapes, em Sobral, por um período de dois meses. Após esse período foram
Silva -- CPF:

encontradas feridas em seus joelhos e tornozelos, ensejando a primeira queixa por maus-tratos (§112.5). Em
1999, após uma crise nervosa, ele foi novamente internado. No momento de sua admissão, ele já não
da Silva

apresentava sinais de agressividade ou de lesões corporais (§112.5), porém, dois dias após a nova internação,
Gouvea da

ele teria tido uma crise de agressividade, sendo contido por um auxiliar de enfermagem e dois pacientes,
Eliovaine Gouvea

sofrendo lesões no rosto. Após a contenção física, ele foi medicado. No mesmo dia, ele teve um novo episódio
de agressividade, voltando a ser contido fisicamente (§112.8).
Eliovaine

No dia seguinte às crises, Damião recebeu a visita de sua mãe, Albertina Ximenes Lopes, que o
encontrou sangrando, com ferimentos, sujo de excremento e com as mãos atadas. Ele estava com dificuldade
para respirar e agonizava, gritando por ajuda da polícia (§112.9).
Quando sua mãe pediu aos funcionários do hospital para que seu filho fosse atendido e limpo,
encontrou com o Diretor Clínico e médico do local que, sem realizar exames físicos, receitou-lhes remédios
e se retirou do local. Duas horas após ser medicado, e com sinais de violência, Damião faleceu, sem qualquer
assistência médica.
Após o óbito, o médico da clínica retornou e declarou a ausência de lesões no corpo da vítima,
informando que a causa da morte teria sido uma “parada cardiorrespiratória”. Após insistência da família, o
corpo foi levado ao Instituto Médico Legal, em Fortaleza, onde o mesmo médico que declarou o óbito

12 Para uma análise aprofundada sobre as condenações do Brasil até 31 de dezembro de 2018, abordando-se os desdobramentos
fáticos ocorridos após a publicação das sentenças condenatórias pela Corte IDH, bem como a postura jurisprudencial do Supremo
Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça e os cinco Tribunais Regionais Federais, remete-se ao leitor a obra “O PODER
JUDICIÁRIO NACIONAL E A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Diálogo ou indiferença?”, publicada pela Arraes
Editores, de minha autoria.

137
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

trabalhava, para ser feita a necropsia. Do relatório constava que as lesões eram compatíveis com a contensão
física e que a causa mortis era indeterminada.
O Ministério Público Estadual foi acionado e, ao oficiar o IML, recebeu informações de que as lesões
descritas foram provocadas por ação de instrumento contundente (por espancamento ou por tombos), não
sendo possível afirmar o modo específico (§112.15).
Em 2002, o corpo foi exumado, após determinação judicial. Devido ao lapso entre o fato e o exame,
não foi possível atestar a causa da morte.
A mãe de Damião apresentou denúncia à Coordenação Municipal de Controle e Avaliação da
Secretaria de Saúde e Assistência Social, pelos fatos ocorridos, em 13 de outubro de 1999. A irmã da vítima,
por sua vez, apresentou denúncia à Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do
Ceará.
Em novembro de 1999, o Ministério Público solicitou a instauração de inquérito policial. Em
dezembro de 1999, o inquérito foi concluído, sendo remetido ao Ministério Público com a conclusão de
provável responsabilidade da clínica psiquiátrica e dos agentes envolvidos, por condutas relacionadas a
maus-tratos, tortura e homicídio de Damião Ximenes Lopes.
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Em março de 2000, o representante do Ministério Público apresentou a denúncia. Em setembro de


2003, em alegações finais, o representante do Ministério Público aditou a denúncia, para que o médico e a
enfermeira presentes na data do fato fossem condenados pelo delito de maus-tratos (CP, art. 136, parágrafo
único). O aditamento foi recebido em fevereiro de 2004, sendo reaberta a instrução. Até o julgamento do
caso na Corte IDH, o processo não havia tido sequer a sentença em primeiro grau.
Os fundamentos de mérito da Corte IDH foram:
CPF: 030.720.271-29

I. o Estado deveria ser responsabilizado por violação aos artigos 8 e 25, tendo em vista que após
6 anos do evento, os processos de responsabilização civil e penal dos agentes não foram
concluídos;
Silva -- CPF:

II. por se tratar de uma obrigação erga omnes, os Estados devem, além de respeitar as normas de
proteção dos direitos humanos, garantir a projeção de seus efeitos às pessoas submetidas à sua
da Silva

jurisdição (§85).
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

III. o Estado é responsável por atos praticados por agentes ou entidades privadas autorizados pela
legislação interna a exercer atribuições estatais (§86).
Eliovaine

IV. a deficiência dos serviços de saúde, deve ser imputada ao Estado, independentemente de sido
ela prestada por entidade pública ou privada (§§89 e 90), tendo em vista se tratar de um serviço
público.
V. o Estado tem a obrigação de fornecer aos portadores de deficiência metal tratamento
preferencial apropriado à sua condição (§104), buscando eliminar as formas de discriminação
relacionas a eles, propiciando sua integração à sociedade (§105).
VI. há pessoas com deficiência mental, que vivem em instituições psiquiátricas, compõem um grupo
vulnerável, suscetível de serem submetidos a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes,
ou torturas (§106). Portanto, cabe aos Estados o dever de supervisionar e garantir o direito dos
pacientes de receber tratamento digno e humano (§108).
VII. o tratamento a pessoas com deficiência mental deve observar a dignidade e a autonomia do
paciente, reduzindo-se o impacto da doença e melhorando sua qualidade de vida (§110).
Em razão da responsabilização internacional, a Corte IDH condenou o Brasil nas seguintes prestações:
I. O pagamento de indenização por danos materiais e morais aos familiares da vítima.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

II. A reabertura das investigações para que os responsáveis pela violação sejam conhecidos e
punidos, devendo ser aplicada diretamente as normas da CADH.
III. A publicação da sentença no Diário Oficial e em jornal de grande circulação nacional, no prazo
de 6 meses da notificação da sentença.
IV. A manutenção de desenvolvimento de um programa de formação e capacitação para o pessoal
médico, de psiquiatria e psicologia, de enfermagem e auxiliares de enfermagem, bem como para
todas as pessoas vinculadas ao atendimento de saúde mental, que deverá adotar as normas
internacionais fixadas na sentença.

7.4.6.2. Caso Escher e outros vs. Brasil

Em 6 de julho de 2009, a Corte IDH publicou nova sentença condenatória em face do Brasil.
A CIDH submeteu à Corte a apreciação do caso apresentado pela Rede Nacional de Advogados
Populares e Justiça Global, representando as organizações Cooperativa Agrícola de Conciliação Avante Ltda.
(COANA) e a Associação Comunitária de Trabalhadores Rurais (ADECON), em que acusaram o Brasil de violar
os artigos 8.1 (garantias judiciais) e 25 (proteção judicial); 11 (proteção à honra e à dignidade); e 16 (liberdade
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de associação) da CADH.
Arlei José Escher, Dalton Luciano de Vargas, Delfino José Becker, Pedro Alves Cabral e Celso Aghinoni,
em 1999, eram membros da ADECON e da COANA, organizações da sociedade civil com objetivos de
desenvolvimento comunitário e integração dos trabalhadores rurais (§88). Ambas as organizações tinham
relações com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), compartilhando o objetivo de
realização da reforma agrária no país.
CPF: 030.720.271-29

Em 28 de abril de 1999, o então subcomandante e Chefe do Estado Maior da Policia Militar do Paraná,
coronel Valdemar Kretschmer, solicitou autorização para o Secretário da Segurança Pública Estadual para
pleitear judicialmente a interceptação e monitoramento das linhas telefônicas da COANA junto ao juízo da
Silva -- CPF:

comarca de Loanda. Pedido deferido no mesmo dia.


Em 5 de maio do mesmo ano, o major Waldir Copetti Neves, chefe do Grupo Águia da Policia Militar
da Silva

do Paraná, apresentou nova requisição de interceptação e monitoramento de telefones instalados na sede


Gouvea da

da COANA, sob o argumento de haver fortes evidências de as linhas estavam sendo utilizadas por líderes do
Eliovaine Gouvea

MST para práticas criminosas.


O pedido foi deferido no mesmo dia, com a seguinte decisão “fundamentada”: “R e A. Concedo.
Eliovaine

Oficie-se”.
Após o deferimento do pedido, o Ministério Público Estadual não foi intimado da decisão (§91).
Em 12 de maio do mesmo ano, fora apresentado mais um pedido de interceptação e monitoramento,
agora das linhas telefônicas instaladas no escritório da ADCON. O pedido foi deferido, em cota ao
requerimento, sem qualquer fundamentação. Mais uma vez o Ministério Público não foi cientificado da
decisão (§92).
Em 25 de maio de 1999, a autoridade policial solicitou o fim do monitoramento. O pedido foi
deferido, sendo expedido ofício à companhia telefônica no mesmo dia (§93). O desligamento do
monitoramento, porém, ocorreu apenas em 2 de julho do mesmo ano.
Em 7 de junho de 1999, o Jornal Nacional veiculou partes dos diálogos gravados nas respectivas
interceptações telefônicas (§94).
No dia seguinte, o ex-Secretário de Segurança Pública convocou entrevista coletiva comentando a
atuação da policial em operações de desalojamento de acampamentos do MST, disponibilizando à imprensa
parte de diálogos interceptados por membros da COANA e da ADECON (§95).

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Em 1º de julho, a Polícia Militar do Estado do Paraná entregou 123 fitas com conversas telefônicas
gravadas. As gravações teriam sido feitas nos períodos de 14 a 26 de maio e 9 a 23 de julho de 1999 (§97).
Não foi apresentada a transcrição integral do material, mas apenas resumos das partes consideradas
relevantes pelos policiais.
O ofício apresentado apontou a manutenção do monitoramento até 30 de julho de 1999, não
obstante, por problemas técnicos, as gravações tenham perdurado até 23 de junho do mesmo ano.
O major alegou ainda que um policial militar seria um “agente infiltrado na corporação”, e por isso
teria entregue parte do material gravado à imprensa, em troca de dinheiro ou favores para o MST (§98).
Apenas em 30 de maio de 2000, o juízo enviou o procedimento investigativo para o Ministério
Público, que, em 8 de setembro de 2000, manifestou-se pela declaração da nulidade das interceptações
telefônicas e da destruição das fitas gravadas (§102).
Em 18 de abril de 2002, o pedido do Ministério Público foi deferido, tendo sido ordenada a
incineração das fitas, ocorrida em 23 de abril de 2002.
Em 19 de agosto de 1999, o MST e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) representaram criminalmente
o ex-Secretário de Segurança do Paraná, a juíza responsável pelo caso, um coronel e um major da Polícia
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Militar do Paraná. Solicitaram investigações sobre as condutas das autoridades, imputando-lhes os delitos
de usurpação da função pública, interceptação telefônica ilegal, divulgação de segredo de justiça e abuso de
autoridade (§105).
O Ministério Público requereu a instauração de investigação criminal, tendo o Órgão Especial do
Tribunal de Justiça determinado o arquivamento da investigação em relação aos acusados, enviando os autos
que versavam sobre a interceptação telefônica ao juízo de primeiro grau para a análise da conduta do ex-
CPF: 030.720.271-29

Secretário de Segurança, pela divulgação dos diálogos interceptados. Em relação à conduta da juíza do caso,
o tribunal decidiu que não estava configurado crime, mas sim, em primeira análise, falta funcional (§105).
No ano de 2001, o ex-Secretário de Segurança foi condenado em primeira instância pela prática do
Silva -- CPF:

delito previsto no art. 10 da Lei nº 9.296/96. Contudo, no ano de 2004, foi absolvido pela Câmara Criminal
do TJPR sob o fundamento de que o segredo dos dados já havia sido violado, quando de sua divulgação na
da Silva

rede de televisão no dia anterior.


Gouvea da

Em 5 de outubro de 1999, Arlei José Escher, Celso Aghinoni e Avanilson Alves Araújo apresentaram
Eliovaine Gouvea

mandado de segurança contra ato da juíza da comarca de Loanda, solicitando a suspensão das interceptações
telefônicas e a destruição das fitas eventualmente gravadas. O Grupo de Câmaras Criminais do TJPR decidiu
Eliovaine

pela extinção do feito, sem a resolução do mérito, em virtude da cessação das interceptações.
Em 17 de novembro de 1999, foi apresentada denúncia administrativa contra a juíza para aferir a
conduta da magistrada no caso. A Corregedoria-Geral do TJPR reportou-se à decisão do Órgão Especial do
tribunal, no sentido de que não houve a prática de nenhum crime pela juíza, ordenando o arquivo do feito.
Posteriormente, após recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, a Secretaria Especial
de Direitos Humanos junto à Presidência da República enviou o caso ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ),
que decidiu pela ausência de interesse no procedimento em virtude de a ação penal já ter tratado da matéria.
Em 4 de maio de 2004, Arlei José Escher e Dalton Luciano de Vargas apresentaram ações civis de
reparação de danos contra o Estado do Paraná.
Até o julgamento do caso pela Corte IDH, apenas a ação de Dalton Luciano de Vargas foi julgada,
tendo o juízo negado o pedido. Apresentada apelação por parte do requerente, o processo estava pendente
de julgamento.
A sentença condenatória do caso Escher fundamentou-se nos seguintes pontos:
I. Não obstante o artigo 11 da CADH ser omisso em relação a conversas telefônicas, ele as linhas
instaladas nas residências particulares ou no local dos empregos dos indivíduos. Alcança ainda
o conteúdo (interceptação) e os dados telefônicos. Logo, ele é aplicável tanto ao conteúdo das

140
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

conversas, como à gravação ou escuta, ou ainda qualquer outra técnica que possa identificar
chamadas, interlocutores, a frequência, a duração ou o horário das chamadas telefônicas. Assim
sendo, da cláusula de proteção da vida privada é decorre o direito de que terceiros não saibam
do conteúdo das conversas telefônicas ou de outros aspectos técnicos do processo de
comunicação (§114).
II. O direito à vida privada, no entanto, não se trata de um direito fundamental absoluto, podendo
ser restringido pelo Estado, desde tais restrições não se configurem como abusivas ou
arbitrárias, estejam previstas em lei, persigam um fim legítimo e sejam necessárias em uma
sociedade democrática (§116).
III. É dever do Estado proibir ataques ilegais contra a honra (valor próprio dos indivíduos) e a
reputação (o valor que terceiros dão à pessoa) dos indivíduos, bem como efetivar a proteção
legal a tais ataques (§117).
IV. Caberia apenas à Polícia Civil, isto é, à polícia judiciária, a investigação de crimes, bem como o
pedido de interceptação telefônica, em virtude do disposto no art. 144 da Constituição brasileira
(§136).
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ATENÇÃO
Sobre esse ponto é necessário destacar que a Corte IDH desconsiderou que a Polícia Federal também
tem função de polícia judiciária, cuja atribuição é mais ampla do que da Justiça Federal, tendo em vista que
apura infrações que a prática tenha repercussão interestadual ou internacional em que se exija repressão
uniforme, nos termos do art. 1º da Lei nº 10.446/02.
Outra questão relevante é a desconsideração da existência de crimes militares na sentença
CPF: 030.720.271-29

condenatória, em que tanto as forças armadas quanto as polícias militares, exercerão a função de
investigação.
Por fim, no julgamento do RE 593.727, julgado sob o rito de repercussão geral, por sete votos a
Silva -- CPF:

quatro, o Plenário do STF decidiu que o Ministério Público tem atribuições para a realização de investigações.
da Silva

V. As decisões que possam afetar direitos humanos devem ser motivadas e fundamentadas, sob
pena de serem arbitrárias. Portanto, devem expor de forma racional, os motivos em que se
Gouvea da

fundam, tendo em conta as alegações e o acervo probatório presente nos autos. Em processos
Eliovaine Gouvea

cuja decisão deva ocorrer sem a oitiva prévia da parte contrária (contraditório diferido), a
motivação e a fundamentação devem demonstrar o cumprimento de todos os requisitos legais
Eliovaine

e os elementos que justificam a decisão (§139).


VI. Ambos os períodos de interceptação se mostraram ilegais, o primeiro por falta de decisão
fundamentada e por ter sido solicitado por autoridade incompetente, e o segundo por não ter
sido autorizado judicialmente (§141).
VII. A ausência de oitiva do MP sobre a interceptação para a sua supervisão, e a ausência de
transcrição integral do conteúdo gravado mostraram-se ilegais (§§142 e 143).
VIII. Em razão das ilegalidades citadas, o Brasil violou o direito à vida privada previsto no artigo 11 da
CADH (§146).
IX. O direito de liberdade de associação, previsto no artigo 16 da CADH, pode ser restringido, desde
que com previsão legal, para buscar um fim legítimo e se mostrar necessária a uma sociedade
democrática (§173).
X. A divulgação das interceptações telefônicas ilegais causou sofrimento e temor às vítimas, bem
como problemas entre os associados e agricultores vinculados à COANA e à ADECON, afetando
sua imagem (§180). Logo, violaram o do direito de livre associação previsto.

141
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

XI. Em relação aos artigos 8 e 25 da Convenção, a Corte IDH decidiu que o Brasil deixou de investigar
e punir o ex-Secretário de Segurança Pública que, em sua entrevista coletiva, divulgou material
adicional às conversas veiculadas pela imprensa (§163) e, com isso, violou os artigos 11.1 e 11.2,
da CADH.
XII. O dever de investigar é uma obrigação de meio e não de resultado. Trata-se de uma obrigação
jurídica e não uma mera formalidade, condenada ao insucesso (§195).
XIII. O cumprimento do art. 25 da CADH não se dá apenas com a existência formal de recursos
internos, mas também por sua efetiva aplicação pelas autoridades competentes (§195).
XIV. O Brasil não comprovou a adoção de medidas investigativas relacionadas à entrega do material
colhido à imprensa (§205).
XV. A Corregedoria Geral do TJPR deixou de fundamentar a decisão de arquivamento do
procedimento administrativo contra a juíza (§209).
XVI. Não havia, no entanto, à época do julgamento pela Corte IDH, provas que justificassem a
alegação de violação das garantias judiciais e da proteção judicial, em relação às três vítimas,
relacionadas às ações civis, em virtude da ausência de trânsito em julgado dos referidos
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processos (§§211 e 213).


Diante da responsabilização internacional, o Brasil foi condenado às seguintes prestações:
I. O pagamento de U$ 20.000,00 a Arlei José Escher, Dalton Luciano de Vargas, Delfino José Becker,
Pedro Alves Cabral e Celso Aghinoni por danos morais;
II. A publicação da sentença no Diário Oficial da União, em jornal de grande circulação nacional e
CPF: 030.720.271-29

em jornal de grande circulação no Estado do Paraná, os Capítulos I, VI a XI, sem as notas de


rodapé, e a parte resolutiva da presente Sentença, no prazo de 6 meses.
III. A publicação integral da sentença nos websites oficiais da União Federal e do Estado do Paraná,
no prazo de 2 meses;
Silva -- CPF:

IV. Determinou ao Estado à manutenção do desenvolvendo a formação e a capacitação dos


funcionários da justiça e da polícia, através de cursos; e
da Silva

V. A investigação da entrega e divulgação das fitas com as conversas gravadas à imprensa.


Gouvea da

ATENÇÃO
Eliovaine Gouvea

A Corte IDH não acolheu o pedido de indenização por danos materiais à COANA e ADECON, por
Eliovaine

entender não restarem comprovados eventuais prejuízos decorrentes dos atos objeto do feito.
Além disso, o tribunal indeferiu o pedido de reconhecimento público do Estado da responsabilização
internacional, em razão da condenação na publicação da sentença.
Houve pedido de revogação da Lei estadual nº 15.662/07, que concedeu à juíza o título de cidadã
honorária do Estado do Paraná. O pedido foi indeferido por ausência de demonstração que a referida lei
ofendesse os termos da CADH.

7.4.6.3. Caso Garibaldi vs. Brasil:

Em 23 de setembro de 2009, a Corte IDH publicou a sentença condenatória do Caso Garibaldi vs.
Brasil.
A CIDH, solicitou a condenação do Brasil pela violação dos artigos 8 e 25 da CADH, após
peticionamento das organizações Justiça Global, Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares
(RENAP) e Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
Em 27 de novembro de 1998, durante uma operação extrajudicial de despejo de cerca de 50 famílias
de trabalhadores sem-terra de uma fazenda localizada no município de Querência do Norte/PR (§2º), o
agricultor Sétimo Garibaldi foi assassinado.

142
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Cerca de 20 homens, encapuzados e armados, foram ao acampamento dos trabalhadores atirando


para o ar e ordenando a saída de suas barracas e mandando que ficassem deitados no centro do
acampamento. Durante essa ação, o Sr. Garibaldi foi ferido na perna. Contudo, não resistiu ao ferimento e
veio a falecer.
No mesmo dia policiais militares se dirigiram ao acampamento e efetuaram diligências, tendo detido
o administrador da Fazenda, Ailton Lobato, portando uma arma sem registro. Na mesma data, o inquérito
policial foi iniciado.
Em 9 de dezembro de 1998, a representante do Ministério Público requereu a prisão temporária de
Ailton Lobato e do fazendeiro Morival Favoreto, identificado como integrante do grupo (§76).
Em 14 de dezembro, a juíza da comarca de Loanda indeferiu o pedido e determinou o cumprimento
de diligências (§77).
Em 20 de janeiro de 1999, o delegado responsável pelo inquérito requereu a prorrogação do prazo
de conclusão da investigação. Em 17 de fevereiro do mesmo ano, a representante do Ministério Público se
manifestou favoravelmente à prorrogação, reiterando o pedido de prisão temporária conta Morival Favoreto
(§81).
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Após diversas diligências e pedidos de prorrogação de prazos para a conclusão do inquérito, em 12


de maio de 2004, o representante do Ministério Público solicitou o arquivamento do inquérito alegando a
prescrição do crime de posse de arma e a ausência de provas dos demais envolvidos no crime.
Em 18 de maio de 2004, o pedido de arquivamento foi deferido.
Em 16 de setembro do mesmo ano, Iracema Garibaldi impetrou mandado de segurança solicitando
CPF: 030.720.271-29

o desarquivamento do inquérito, sob o argumento de falta de motivação da decisão proferida.


O Tribunal de Justiça do Estado do Paraná indeferiu o pedido em razão pois a impetrante não haveria
direito líquido e certo em seu favor.
Silva -- CPF:

Em 20 de abril de 2009, o Ministério Público solicitou a reabertura do inquérito ante o surgimento


de novas provas.
da Silva

O Brasil foi condenado pela violação dos artigos 8 e 25 da CADH, tendo a sentença condenatória
Gouvea da

como pontos principais os seguintes:


Eliovaine Gouvea

I. Investigar violações de direitos humanos é uma medida positiva a ser adotada pelo Estado,
Eliovaine

garantidas pela CADH (§112).


II. A investigação é uma obrigação de meio, e não de resultado, devendo ser assumida pelo Estado
como um dever jurídico próprio e não uma mera formalidade a fadada ao fracasso (§113).
III. Em casos de morte violenta, as autoridades estatais devem tentar, no mínimo (§115):
a. Identificar a vítima;
b. Recuperar e preservar as provas relacionadas ao óbito para contribuir com as
investigações;
c. Identificar possíveis testemunhas sobre o caso;
d. Determinar a causa, forma, lugar e momento do óbito;
e. Distinguir, no caso concreto, se tratar de morte natural, acidental, suicídio ou homicídio.
IV. Os parentes das vítimas devem ter ampla possibilidade de ser ouvidos e atuar no processo para
o esclarecimento do crime.
V. Compete ao Estado prover recursos efetivos para garantir aos parentes da vítima, acesso à
justiça, investigação e sanção dos responsáveis pelas violações de direitos humanos (§116).

143
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

VI. A falta de razoabilidade do prazo das investigações constitui uma violação das garantias judiciais.
VII. Para se aferir a razoabilidade da duração das investigações devem ser levados em conta: a
complexidade do assunto, a atividade processual do interessado, a conduta das autoridades
judiciais e o efeito gerado na situação jurídica dos envolvidos (§133).
VIII. O Estado não pode alegar obstáculos internos (falta de infraestrutura ou pessoal para a
condução de processos investigativos) como motivos para o insucesso das investigações (§137).
Em razão da responsabilização internacional, a Corte IDH condenou o Brasil nas seguintes prestações:
I. A publicação da sentença no Diário Oficial da União e em jornal de grande circulação nacional,
os capítulos I, VI e VII, sem as notas de rodapé, e a parte dispositiva da decisão, no prazo de seis
meses.
II. A publicação integral da sentença nos websites oficiais da União e do Estado do Paraná, no prazo
de dois meses.
III. O pagamento de indenização por danos materiais e morais aos familiares da vítima.
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IV. A reabertura das investigações para que o Estado, dentro de um prazo razoável o identifique,
julgue e, eventualmente, sancione os autores da morte do senhor Garibaldi.
V. O pagamento de indenização a título de danos materiais à vítima, no montante de US$ 1.000,00.
VI. O pagamento de indenização por danos morais que variaram entre US$ 20.000,00 a US$
50.000,00 aos parentes da vítima.
CPF: 030.720.271-29

ATENÇÃO
A Corte IDH indeferiu o pedido de reconhecimento público do Estado da responsabilização
internacional, em razão da condenação na publicação da sentença.
Silva -- CPF:

Nesse caso também houve pedido de revogação da Lei estadual nº 15.662/07, que concedeu à juíza
o título de cidadã honorária do Estado do Paraná. O pedido foi indeferido por ausência de demonstração que
da Silva

a referida lei ofendesse os termos da CADH, tal como ocorreu no Caso Escher.
Gouvea da

O Tribunal não se manifestou sobre os pedidos relacionados à medidas a serem adotadas pelo Estado
Eliovaine Gouvea

em caso de desocupações de terras, em razão da ausência de competência temporal para a análise dos fatos.
Eliovaine

7.4.6.4. Caso Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”) vs. Brasil:

Em 24 de novembro de 2010, a Corte IDH publicou nova sentença condenatória contra o Brasil, que
talvez seja a decisão condenatória mais conhecida internamente.
Trata-se de demanda apresentada pela CIDH originada de peticionamento de 7 de agosto de 1995,
pelo Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e pela Human Rights Watch/Americas, substituindo
os desaparecidos da chamada Guerrilha do Araguaia, bem como seus familiares.
A demanda buscou a responsabilização do Brasil pelo descumprimento dos artigos 1.1, 2, 4, 5, 7, 8,
13 e 25 da CADH, em virtude de atos de tortura e desaparecimento forçado de 70 membros do Partido
Comunista do Brasil e camponeses da região do Araguaia, pelo Exército brasileiro, em operações ocorridas
entre 1972 a 1975.
Destacou-se que, em virtude da Lei nº 6.683/79 (Lei de Anistia), o Estado brasileiro deixou de
investigar e punir os responsáveis pelas violações dos direitos humanos e os parentes das vítimas não tiveram
acesso à informação de seus familiares.

144
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Uma importante informação histórica sobre o caso é o fato de que a sentença da Corte IDH ter sido
proferida meses após o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADPF nº 153, ter decidido pela
compatibilidade Lei de Anistia com a Constituição de 1988.
A sentença da Corte IDH, em termos gerais, nada mais fez do que reafirmar sua jurisprudência de
que as chamadas “leis de anistia” próprias do período das ditaduras militares nos países latino-americanos,
são inconvencionais, pois abarcam “graves violações aos direitos humanos”.
Os principais fundamentos da decisão são:
I. O desaparecimento forçado tem caráter contínuo ou permanente e perdura durante todo o
tempo em que o fato continua. Ainda que o Brasil tenha reconhecido a competência contenciosa
da Corte, apenas em 10 de dezembro de 1998, por não ter sido cessada a conduta, a Corte IDH
é competente para o julgamento dos desaparecimentos forçados (§17).
II. A decisão do STF na ADPF 153 não é objeto de revisão por parte da Corte IDH, mas sim os atos
do Estado brasileiro perante os preceitos da CADH (§§48 e 49).
III. O desaparecimento forçado de pessoas consiste em uma pluralidade de condutas com o fim de
violar diversos preceitos da Convenção Americana (§§101 a 103).
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IV. Havendo motivos razoáveis de que uma pessoa tenha sido submetida a desaparecimento
forçado, compete ao Estado investigar o ato ex officio, isto é, independentemente da
apresentação de denúncia por algum interessado (§108).
V. É necessário um marco normativo adequado por parte dos Estados para que tal conduta seja
considerada crime (§109).
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VI. Os Estados devem garantir a ausência de obstáculo normativo ou de outra natureza, para a
investigação e punição dos responsáveis por desaparecimentos forçados (§109).
VII. Considerando que os agentes estatais foram responsáveis pelo desaparecimento forçado de 62
Silva -- CPF:

pessoas, no período entre 1972 e 1974, na região do Araguaia, e até a prolação da sentença, o
Brasil teria identificado apenas duas vítimas, comprovada a violação dos artigos 3, 4, 5 e 7 da
da Silva

CADH.
Gouvea da

VIII. Investigar violações de direitos humanos é uma obrigação de meio e não de resultado. Logo,
Eliovaine Gouvea

compete ao Estado assumir tal dever, que não deve se tornar uma formalidade com resultados
infrutíferos ou como gestão de interesses particulares, que depende da iniciativa das vítimas ou
Eliovaine

seus familiares (§138).


IX. A Corte IDH destacou sua jurisprudência (tomada em casos relacionados à Argentina, Chile, El
Salvador, Haiti, Peru e Uruguai) no sentido de que as Leis de Anistias são incompatíveis com as
obrigações internacionais assumidas pelos Estados (§149).
X. A forma como as autoridades brasileiras, incluído o Supremo Tribunal Federal, interpretaram e
aplicaram a Lei de Anistia brasileira impediu o Estado cumprir com seu dever internacional de
investigação e punição a graves violações dos direitos humanos (§172 e 174).
XI. A jurisprudência da Corte IDH sobre as chamadas “leis de anistia” é ampla e não se restringe às
chamadas autoanistias. Ela busca impedir a impunidade de graves violações dos direitos
humanos. Logo, o que importa é o ponto de vista material e não formal (§175).

ATENÇÃO
Esse ponto é uma resposta direta ao Supremo Tribunal Federal. Alguns dos ministros, em
seus votos, alegaram que a jurisprudência da Corte IDH abarcaria apenas as “autoanistias”, em que o Estado
edita a lei apenas a seus agentes. No caso brasileiros, segundo esses ministros, a anistia seria geral, tanto
para agentes dos Estado quanto para os “revolucionários” e, por isso, se afastaria das decisões do tribunal
internacional.

145
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

XII. Compete às autoridades nacionais, inclusive o judiciário, realizar o controle de


convencionalidade, ex officio, entre as normas internas da CADH, considerando ainda a
interpretação da Corte Interamericana à Convenção, pois o tribunal internacional é o último
interprete do tratado.
XIII. O direito de liberdade de expressão e de pensamento abrange, além do direito de liberdade de
expressar o próprio pensamento, o direito e a liberdade de buscar, receber e divulgar
informações e ideias de toda índole (§196);
XIV. O Estado deve fornecer informações sem a necessidade de comprovação de interesse direto
para a obtenção ou uma afetação pessoal, exceto quando justificada por uma restrição legítima
(§197). Logo, todos têm o direito de conhecer a verdade, inclusive os familiares das vítimas
(§200).
XV. As autoridades não podem se amparar em mecanismos como confidencialidade da informação
ou segredo de Estado (como razões de interesse público ou de segurança nacional) para não
divulgar informações relacionadas às graves violações de direitos humanos ou para impedir as
investigações sobre tais fatos (§202).
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XVI. O Estado também não pode se amparar por uma suposta falta de documentos solicitados, para
deixar de prestar informações, sem que tenha demonstrado a adoção de todas as medidas a seu
alcance para comprovar efetivamente a inexistência da informação solicitada (§211).
XVII. O direito ao acesso à justiça deve assegurar às vítimas e seus familiares o direito de conhecer a
verdade e, eventualmente, sancionar os responsáveis.
XVIII. O acesso à justiça deve se dar em um prazo razoável, a ser determinado considerando os
CPF: 030.720.271-29

seguintes elementos: complexidade do assunto; atividade processual do interessado; conduta


das autoridades judiciais; e afetação provocada na situação jurídica dos envolvidos no processo
(§219).
Silva -- CPF:

XIX. No caso, a ação ordinária foi proposta pelas vítimas sido distribuída em 1982, e a sentença de
primeira instância ter sido proferida apenas 2003. Seu o cumprimento foi iniciado em 2009
da Silva

(§220). As vítimas e seus familiares em nenhum momento tentaram obstruir o processo judicial
(§221). Logo, o Brasil violou as garantias judiciais estabelecidas no art. 8.1 da CADH.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

XX. A Corte IDH decidiu não ter ocorrido demonstração concreta de que o marco normativo nacional
relacionado com o direito à informação é incompatível com a CADH, considerando haver a perda
Eliovaine

de objeto, nesse ponto, em função da promulgação da Lei nº 9.140/95.


XXI. O direito de acesso à informação pública em poder do Estado não é absoluto, podendo sofrer
restrições, desde que fixadas em lei e corresponder aos objetivos previstos no art. 13.2 da CADH
(§229).
XXII. O Estado tem a obrigação de garantir a efetividade de um procedimento para a tramitação e
resolução de solicitações de informações. Deve garantir ainda um recurso judicial simples,
rápido e efetivo para determinar se houve violação ao acesso à informação (§231).
XXIII. Os familiares das vítimas de violações dos direitos humanos também podem ser vítimas, sendo
presumido o dano à integridade psíquica e moral dos familiares diretos (cônjuges,
companheiros, ascendentes e descendentes de primeiro grau). Portanto, caberia ao Estado
descaracterizar tal presunção (§235).
XXIV. Os familiares indiretos (irmãos e demais familiares) devem comprovar o dano à sua integridade
imaterial (§237).
XXV. Para a Corte IDH, a privação do acesso à verdade, relacionada ao desaparecimento forçado,
constitui forma de tratamento cruel e desumano aos familiares diretos.

146
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Diante da responsabilização internacional do Estado, a Corte IDH condenou o Brasil às seguintes


prestações:
I. Reabrir as investigações em relação aos fatos objeto do caso, determinando os autores materiais
e intelectuais do desaparecimento forçado das vítimas e da execução extrajudicial, não podendo
aplicar a Lei de Anistia em benefício dos autores, assim como prescrição, irretroatividade da lei
penal, coisa julgada, ne bis in idem ou qualquer excludente similar de responsabilidade;
II. Determinar a busca dos restos mortais das vítimas, bem como sua identificação para que os
familiares possam sepultá-los dignamente. Competirá ao Estado brasileiro arcar com as
despesas funerárias.
III. Arcar com os custos de tratamento psicológico aos familiares das vítimas, a ser prestado por
pessoal e instituições estatais especializadas no atendimento de vítimas de fatos análogos aos
ocorridos no caso.
IV. A publicação da sentença, sem notas de rodapé, no diário oficial da União, no prazo de 6 meses.
V. A publicação integral da sentença em jornal de grande circulação nacional, bem como no
website oficial da União, no prazo de 6 meses, devendo o documento ficar disponível para
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

acesso público, por pelo menos um ano.


VI. A publicação integral da sentença em formato de livro eletrônico, localizado em website
adequado.
VII. A realização de ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional em relação
aos fatos objeto da sentença. Tal ato deverá contar com o convite às vítimas e seus familiares,
CPF: 030.720.271-29

bem como ampla divulgação nos meios de comunicação.


VIII. A manutenção de programas de capacitação dos membros das Forças Armadas sobre os
princípios e normas de proteção dos direitos humanos e os limites de sua atuação.
Silva -- CPF:

IX. A adequação da legislação interna para a tipificação do crime de desaparecimento forçado.


X. A criação de uma Comissão da Verdade para contribuir para a construção e preservação da
da Silva

memória histórica, o esclarecimento de fatos e a determinação de responsabilidades


Gouvea da

institucionais, sociais e políticas do período da Guerrilha do Araguaia.


Eliovaine Gouvea

XI. O pagamento de US$ 3.000,00 por familiar das pessoas consideradas vítimas na sentença, à
Eliovaine

título de indenização por danos materiais.


XII. O pagamento de US$ 45.000,00 por familiar direto e US$ 15.000,00 por familiar não direto, das
pessoas consideradas vítimas na sentença, à título de indenização por danos morais.

7.4.6.5. Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil

Em 20 de outubro de 2016, a Corte IDH publicou mais uma sentença condenatória contra o Brasil.
Trata-se de caso submetido pela CIDH em 4 de março de 2015, referente à suposta prática de
trabalho escravo e servidão por dívidas na Fazenda Brasil Verde, localizada no sul do Estado do Pará, bem
como o desaparecimento forçado de Iron Canuto da Silva e Luis Ferreira da Cruz.
Em dezembro de 1988, a Comissão Pastoral da Terra e a Diocese de Conceição do Araguaia
apresentaram representação junto à Polícia Federal, alegando o desaparecimento de lron Canuto da Silva,
de 17 anos, e de Luis Ferreira da Cruz, de 16 anos, bem como a prática de trabalho escravo na Fazenda Brasil
Verde (§129).
Em fevereiro de 1989, a Polícia Federal realizou vistoria na Fazenda Brasil Verde constatando em seu
relatório o recrutamento de trabalhadores pelos chamados “gatos”. Os trabalhadores desejavam melhores
salários, mas continuavam na fazenda por não haver local com melhor remuneração (§134). Nessa ocasião,

147
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

os trabalhadores afirmaram não haver privação de liberdade. Na fiscalização não foi constatado indícios de
trabalho escravo, mas de baixos salários e infrações à legislação trabalhista (§135). Ainda nessa fiscalização,
noticiou-se a fuga de Iron Canuto e Luis Ferreira da Cruz para a Fazenda Belém.
Em março de 1992, a CPT oficiou junto à Procuradoria Geral da República reiterando a representação
feita à Polícia Federal e ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (em 1989) (§136), sendo
instaurado processo administrativo em junho do mesmo ano. Após dois pedidos de informações à Polícia
Federal (em junho e setembro de 1992), o Coordenador Central do Departamento da Polícia Federal reiterou
as informações prestadas na visita de 1989.
Em agosto de 1993, a Delegacia Regional do Trabalho informou à PGR que realizou duas fiscalizações
em junho e julho de 1993 na Fazenda Brasil Verde, não tendo encontrado a prática de trabalho escravo.
Porém, mais de 49 trabalhadores encontravam-se sem os registros trabalhistas ou CTPSs assinadas (§138).
Em novembro de 1996, o Grupo Móvel do Ministério do Trabalho realizou nova fiscalização à Fazenda
Brasil Verde, tendo encontrado 78 trabalhadores no local, dos quais 34 não detinham CTPS. Foi relatado
ainda condições de trabalho contrárias à legislação trabalhista (§142).
Em março de 1997, dois trabalhadores prestaram declaração junto à Polícia Federal de que haviam
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

escapado da Fazenda Brasil Verde. Teriam sido contratados para trabalhar na fazenda e ao chegar foram-lhe
imputadas dívidas referentes às despesas da hospedagem e material de trabalho. Ademais, informaram que
os demais trabalhadores eram ameaçados de morte caso denunciassem o “gato” ou o fazendeiro, assim
como se tentassem fugir. Por fim, informaram ser prática comum dos trabalhadores se esconder quando das
fiscalizações no local (§143).
Com base na denúncia, o Grupo Móvel do Ministério do Trabalho realizou nova fiscalização na
CPF: 030.720.271-29

fazenda em abril de 1997, concluindo que os trabalhadores estavam alojados em local sem qualquer higiene;
vários dos trabalhadores eram portadores de doenças de pele e não recebiam atendimento médico; os
trabalhadores não tinham acesso à água potável; eles eram impedidos de sair da fazenda, inclusive através
de ameaça por homens armados; nos momentos de fiscalização os trabalhadores eram “escondidos”; e dos
81 trabalhadores encontrados, cerca de 45 não possuíam CPTS.
Silva -- CPF:

Em função da fiscalização, em junho de 1997, o MPF apresentou denúncia contra Raimundo Alves da
da Silva

Rocha, Antônio Alves Vieira e João Luiz Quagliato Neto pela prática dos delitos previstos nos artigos 149 13,
Gouvea da

197, I14, 20315 e 20716, todos do Código Penal Brasileiro.


Eliovaine Gouvea

Considerando que à época o delito do art. 203 do Código Penal trazia pena máxima em abstrato de
detenção de um ano, o MPF propôs a suspensão condicional do processo em relação a João Luiz Quagliato
Eliovaine

Neto.
A citação dos réus foi determinada em julho de 1997, tendo sido feitas diligências para a citação de
João Luiz Quagliato Neto até meados de 1999 (§148). Em setembro de 1999, o réu aceitou as condições do
sursis processual (a entrega de seis sextas básicas a uma instituição de caridade em Ourinhos/SP), tendo sido
deferida a suspensão condicional do processo em 23 de setembro de 1999.
Os réus Raimundo Alves da Rocha e Antônio Alves Vieira apresentaram defesa escrita em maio de
1999.

13 Redação vigente à época dos fatos: “Art. 149 – Reduzir alguém a condição análoga à de escravo: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8
(oito) anos”.
14 Art. 197 – Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça: I – a exercer ou não exercer arte, ofício, profissão ou
indústria, ou a trabalhar ou não trabalhar durante certo período ou em determinados dias: Pena – detenção, de um mês a um
ano, e multa, além da pena correspondente à violência;
15 Art. 203 – Frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho: Pena – detenção, de um mês a
um ano, e multa, de dois contos a dez contos de réis, além da pena correspondente à violência.
16 Art. 207 – Aliciar trabalhadores, com o fim de levá-los de uma para outra localidade do território nacional: Pena – detenção, de
dois meses a um ano, e multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de réis.

148
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Após realização de audiência para a oitiva de testemunhas no ano 2000, o juiz federal, em março de
2001, se declarou incompetente para julgamento do feito, declinado a competência para a justiça estadual
da comarca de Xinguara/PA (§155). Ao recebimento do processo, em agosto de 2001, na justiça estadual, a
denúncia foi ratificada pelo representante do Ministério Público do Estado do Pará em outubro do mesmo
ano, sendo recebida em maio de 2002 (§156).
Ainda em maio de 2002, a defesa de João Luiz Quagliato Neto pleiteou a declaração da extinção da
ação penal (§156).
Os réus Raimundo Alves da Rocha e Antônio Alves Vieira protocolaram nova defesa escrita em
novembro de 2002, tendo sido apresentadas alegações finais das partes em novembro de 2003 (§157).
Em novembro de 2004, o juiz estadual declarou-se incompetente para o julgamento do feito, gerando
um conflito negativo de competência a ser resolvido pelo STJ. Em setembro de 2007, a 3ª Seção do STJ fixou
a competência da justiça federal para o julgamento do feito, sendo os autos remetidos à Subseção Judiciária
de Marabá em dezembro do mesmo ano (§159).
Em julho de 2008, o MPF, em alegações finais, pleiteou a declaração da extinção da ação penal, em
razão da prescrição da pretensão punitiva, nos termos do art. 109, VI, do Código Penal (§160), em relação
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aos delitos dos artigos 197, I, e 207 do CP. Já em relação ao art. 149, o representante do MPF requereu a
aplicação da prescrição em perspectiva, considerando que, em eventual condenação, a pena dos réus não
seria alta, motivo pelo qual seria abarcada pela prescrição retroativa.
O juiz federal, em 10 de julho de 2008, extinguiu o processo, acatando o pedido do MPF (§161).
Em março de 2000, Antônio Francisco da Silva e Gonçalo Luiz Furtado fugiram da Fazenda Brasil
Verde, tendo se dirigido à Delegacia de Polícia para relatar a situação desumana em que se encontravam.
CPF: 030.720.271-29

Após dois dias sem serem devidamente atendidos, os jovens foram encaminhados à CPT, que contatou o
Ministério do Trabalho para que fosse realizada nova fiscalização no local (§§174 e 176).
Em 15 de março de 2000, realizou-se nova fiscalização do Ministério do Trabalho e da Polícia Federal,
Silva -- CPF:

quando foram encontrados inicialmente 45 trabalhadores. Após buscas, verificou-se que o restante dos
trabalhadores (num total de 82 trabalhadores) estava em uma fazenda próxima ao local (§177).
da Silva

Na fiscalização, aferiu-se a presença de vigilância armada na fazenda (§171), bem como a


Gouvea da

determinação que os trabalhadores assinassem contratos em branco, com prazo determinado e


Eliovaine Gouvea

indeterminado (§177). Eram proibidos de sair do local (§172). Os trabalhadores foram aliciados no Estado do
Piauí, e acomodados em galpões sem energia elétrica, camas ou armários. Paredes de tábua e telhado de
Eliovaine

lona. Eram obrigados a dormir em redes. O banheiro era localizado fora do galpão, não contendo teto ou
paredes (§166). Recebiam alimentação insuficiente e de má qualidade. A água provinha de um poço no meio
da mata, armazenada em recipientes inadequados e distribuídas em garrafas coletivas. A comida consumida
era descontada dos salários (§167).
A jornada de trabalho iniciava às três da manhã, sendo que os trabalhadores eram acordados de
forma violenta pelos encarregados da fazenda. Ela tinha duração de 12 horas, havendo apenas os domingos
como dia de descanso (§168).
As condições de trabalho facilitavam a proliferação de doença entre os trabalhadores, contudo não
havia fornecimento de serviços médicos, nem por parte do empregador, nem pelas autoridades públicas.
Caso fosse necessária a compra de medicamentos, os encarregados da fazenda iam à cidade comprá-los,
descontando os custos dos salários dos empregados (§169). Ademais, para o recebimento do salário, os
empregados necessitavam alcançar metas de produtividade de difícil cumprimento (§170).
Considerando a situação encontrada na Fazenda, o Ministério Público do Trabalho ajuizou Ação Civil
Pública em desfavor de João Luiz Quagliado, pleiteando a cessação do trabalho escravo no local (§§179 e
180).
Em junho de 2000, realizou-se audiência de conciliação, tendo o réu se comprometido a não admitir
mais trabalhadores em regime de escravidão; fornecer moradia, instalações sanitárias, água potável e

149
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

alojamento digno aos trabalhadores; e não mais colher assinaturas dos trabalhadores em documentos em
branco; tudo sob pena de multa (§181). Em agosto do mesmo, ano o processo foi arquivado.
Ainda relacionado a essa fiscalização, abriu-se inquérito policial autuado sob o nº 0472001, o juiz
federal de Marabá declinou a competência para a análise do procedimento para a Justiça Estadual,
remetendo os autos à Comarca de Xinguara. Após a remessa dos autos, não há informações sobre o
andamento do procedimento penal. Em relação ao desaparecimento de Iron Canuto da Silva e Luis Ferreira
da Cruz, os parentes das vítimas relataram que ambos faleceram em razões não relacionadas aos fatos (§§186
e 188).
Em sua sentença de mérito, a Corte IDH analisou dois grandes grupos de direitos. O primeiro
relacionado à vedação do trabalho escravo propriamente dito, tráfico de pessoas e de trabalhos forçados ou
obrigatórios, direito das crianças e discriminação estrutural por parte do Estado. O segundo relacionado a
garantias e proteção judiciais.
Em relação ao primeiro grupo, a Corte fez uma distinção relacionada ao direito intertemporal,
aplicando ainda o princípio pro homine17. Isso porque à época dos fatos vigia internamente a redação original
do art. 149 do Código Penal. O dispositivo foi alterado pela Lei nº 10.803/03, trazendo uma redação mais
ampla que os tratados de direito internacional analisados pelo tribunal18. Considerando essa premissa inicial,
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os principais pontos relacionados ao primeiro grupo de direitos analisados pela Corte IDH foi:
I. O caso deve ser analisado à luz do que prevê o art. 6.1 e 6.2 da CADH em conjunto com as demais
fontes do Direito Internacional Público (§§242, 246 e 247), sendo considerados elementos para o
conceito de escravidão (§269):
a. o estado ou condição de um indivíduo e
CPF: 030.720.271-29

b. o exercício de algum dos atributos do direito de propriedade, isto é, que o escravizador


exerça poder ou controle sobre a pessoa escravizada ao ponto de anular a personalidade
da vítima
Silva -- CPF:

II. O estado ou condição da pessoa refere-se a uma situação de fato, que independe de comprovação
documental para norma jurídica permissiva (como na escravidão clássica ou chattel, em que o
da Silva

escravo é considerado um bem ou coisa e não uma pessoa) (§270).


Gouvea da

III. Já o elemento propriedade refere-se à demonstração de controle de uma pessoa sobre a outra,
Eliovaine Gouvea

de modo que a pessoa controlada perde sua própria vontade ou há uma diminuição considerável
de sua autonomia (§271).
Eliovaine

IV. O referido artigo é, nos termos do art. 27.2 da CADH, inderrogável, não podendo os Estados-
partes suspender sua aplicação em caso de guerra, perigo público ou ameaças de outras espécies
(§243).
V. Trata-se, pois, de norma de jus cogens que implica obrigações erga omnes (§249).

17 312. A leitura literal do inciso b) do artigo 29 é clara ao demonstrar que a Convenção não permite uma interpretação que limite
o gozo e o exercício dos direitos humanos. A interpretação pro personae exige que a Corte interprete os direitos humanos
previstos na Convenção Americana à luz da norma mais protetora em relação à qual as pessoas sob sua jurisdição estão
submetidas.
18 A Lei nº 10.803/03 inseriu o seguinte dispositivo no Código Penal: Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo,
quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer
restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: Pena - reclusão,
de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência. § 1º Nas mesmas penas incorre quem: I – cerceia o uso de
qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho; II – mantém vigilância ostensiva
no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido: I – contra criança ou adolescente; II – por motivo de preconceito de
raça, cor, etnia, religião ou origem.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

VI. A servidão tem também sua proibição absoluta, originada na Convenção Suplementar de 1956 e
nas demais fontes do DIP consideradas anteriormente (§257);
VII. Portanto, a proibição absoluta da escravidão tradicional evoluiu, compreendendo formas
análogas desse fenômeno, como no caso de controle por coação física ou psicológica, que
signifique a perda da autonomia do indivíduo ou sua exploração contra sua vontade (§276).
VIII. A CADH também proíbe o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres em todas suas formas, sendo
essa proibição ampla. Em relação ao tráfico de escravos, a vedação no plano internacional se deu
desde a Convenção de 1926. Já em relação ao tráfico de mulheres e de crianças, a tutela
internacional se intensificou durante o século XX, iniciando-se pela Convenção para Repressão do
Tráfico de Pessoas e do Lenocínio, de 1949 (§281), e demais fontes do DIP.
IX. Portanto, a proibição do tráfico de escravos e tráficos de mulheres, prevista no art. 6.1 da CADH,
deve ser lida como: recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de
pessoas; mediante ameaça ou uso da força ou outra forma de coação, rapto, fraude, engano
abuso de autoridade ou uma situação de vulnerabilidade ou entrega ou aceitação de pagamentos
ou benefícios, em prol do consentimento de uma pessoa para se ter autoridade sobre ela; com
qualquer fim de exploração (§290).
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X. Em relação ao trabalho forçado ou obrigatório, previsto no art. 6.2 da CADH, a Corte IDH
rememorou sua própria jurisprudência no Caso dos Massacres de Ituango Vs. Colômbia, em que
acatou a definição de trabalho forçado, prevista no art. 2.1 da Convenção 29 da OIT (§291), que
para sua configuração, deve cumular dois elementos: I. trabalho exigido de forma coercitiva (sob
ameaça de alguma pena) e II. sua realização de forma involuntária (§292):
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XI. Considerando a fiscalização ocorrida no ano de 2000 na Fazenda Brasil Verde, restou comprovado
o aliciamento de trabalhadores no Estado do Piauí para o trabalho no local (§297); a entrega das
CTPS e a assinatura de documentos em branco por parte dos trabalhadores, inclusive com a
adulteração de um documento para que um incapaz pudesse prestar serviços na fazenda (§299);
as condições degradantes de vida e de trabalho que os trabalhadores se encontravam, como
Silva -- CPF:

ausência de água potável, jornada exaustiva de trabalho e comida de má qualidade (§300); a


imputação de dívidas aos trabalhadores e a ameaça armada por funcionários da Fazenda,
da Silva

impedindo-os de sair do local ou de comprar produtos em outra localidade (§301). Portanto,


Gouvea da

configurada a situação de escravidão dos 85 trabalhadores presentes na Fazenda, no ano de 2000.


Eliovaine Gouvea

XII. Não basta aos Estados membros abster-se de violar direitos humanos, como também a obrigação
Eliovaine

positiva de adotar medidas para a proteção desses direitos (§316).


XIII. O Estado não pode ser responsabilizado por qualquer violação de direitos humanos cometida
entre particulares, mas sim quando relacionadas ao seu dever de adotar medidas de prevenção e
proteção de particulares que se encontram em situação de risco real e imediato (§323).
XIV. No caso concreto, o Estado deixou de adotar medidas reais de proteção em uma situação que foi
noticiada desde 1988 (§§325 e 326). Ademais, a situação de risco das vítimas foi verificada quando
da fuga dos trabalhadores Antônio Francisco da Silva e Gonçalo Luiz Furtado (§327).
XV. Em relação ao direito das crianças, a Corte IDH decidiu que a CADH, em seu art. 19, conta com
medidas especiais de proteção, devendo os Estados adotarem medidas a favor de toda criança
em virtude de sua condição de vulnerabilidade. Para o Tribunal, é necessário levar em
consideração as características e necessidades próprias das crianças, para que elas vivam e
desenvolvam suas aptidões, aproveitando suas potencialidades (§330).
XVI. Tanto a CADH, como também a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança e as
Convenções 138 e 182 da OIT preveem a obrigação de os Estados proteger as crianças contra a
exploração econômica e contra o desempenho de qualquer trabalho que possa ser perigoso ou
interferir em sua educação (§331).

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

XVII. Cabe aos Estados, portanto, adotarem medidas para eliminar as piores formas de trabalho
infantil; dar assistência direta para a retirada das crianças dessa atividade e assegurar sua
reabilitação e reinserção social; assegurar às crianças liberadas o acesso ao ensino básico e
gratuito e, se possível à formação profissional; identificar as crianças expostas à situações de risco;
levar em consideração a situação de maior vulnerabilidade das meninas (§332).
XVIII. No caso concreto, a Corte IDH decidiu que Antônio Francisco da Silva foi vítima de escravidão
enquanto criança. Logo, o Estado deveria ter adotado as medidas necessárias para pôr fim à
situação da escravidão identificada, assegurando a reabilitação e a reinserção social da vítima,
assegurando-lhe acesso à educação básica e, se possível, à formação profissional (§333)
XIX. O Brasil também violou o art. 24 da CADH, que veda tratamento discriminatório. A discriminação
vedada pelo dispositivo refere-se a uma proteção desigual da lei interna ou sua aplicação por
parte do Estado (§334). Os Estados devem abster-se de agir de qualquer forma, direta ou indireta,
quando há a criação de situações de discriminação de fato ou de direito, sendo obrigados a
reverter ou alterar situações discriminatórias já existentes em sua sociedade (§§336). Os Estados
incorrem em responsabilidade internacional, portanto, quando existindo uma discriminação
estrutural, não adotam medias específicas em prol dos vitimados (§338).
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XX. No caso em tela, as vítimas da fiscalização de 2000 compartilham das seguintes características:
provenientes de uma das regiões mais pobres do Brasil; estavam em situação de pobreza; eram
analfabetos ou tinham pouca escolarização (§339). Para a Corte IDH, o Estado desconsiderou essa
situação de vulnerabilidade social em razão da situação econômica das vítimas, violando os
artigos 1.1 e 6.1 da CADH.
Em relação aos direitos e garantias judiciais, bem como à proteção judicial, a sentença da CIDH teve
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como principais pontos os seguintes:


I. Tratando-se da proteção contra a escravidão uma obrigação internacional erga omnes, os
Estados devem, ex officio, iniciar a investigação e estabelecer a responsabilidade individual
daqueles que violaram o respectivo direito (§362).
Silva -- CPF:

II. Caberia ao Estado brasileiro atuar de forma preventiva em relação aos fatos do processo, bem
da Silva

como de forma repressiva para inibir uma situação de impunidade (§363).


Gouvea da

III. O Estado deveria ainda, no caso concreto, levar em consideração a situação de vulnerabilidade
Eliovaine Gouvea

das vítimas da Fazenda Brasil Verde, bem como a extrema gravidade das denúncias, evitando
atrasos processuais e garantindo a eficácia do processo (§364).
Eliovaine

IV. No caso, ocorreu demora injustificada na resolução do conflito de competência entre a Justiça
Federal e a Justiça Estadual, pois o Estado não demonstrou qualquer justificativa para a inação
das autoridades judiciais (§367).
V. Em relação à celeridade do processo, a Corte IDH rememorou sua jurisprudência, que leva em
consideração os seguintes pontos de aferição: a complexidade do assunto; a atividade
processual das partes interessadas; a conduta das autoridades judiciais; e a afetação gerada na
situação jurídica da pessoa envolvida no processo (§370). No caso, considerando os critérios
mencionados, não houve justificativa plausível para que a ação penal, iniciada em 1997, tenha
findado pela declaração de prescrição da pretensão punitiva em 2008 (§382).
VI. Em relação à efetividade dos processos judiciais e à existência de recurso efetivo, previstos no
art. 25.1 da CADH, a Corte IDH rememorando sua jurisprudência sobre o tema destaca que não
basta existir recurso judicial na legislação do Estado, mas também que esse recurso dê resultado
ou responda às violações dos direitos humanos. Ademais, o recurso efetivo não é aquele em que
a autoridade competente se manifestará por mera formalidade, mas sim aquele em que serão
examinadas as razões invocadas pelos demandantes, com manifestação expressa sobre elas
(§392).

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

VII. Para o tribunal, decorrem do art. 25 da CADH duas obrigações específicas aos Estados: consagrar
a aplicação de recursos efetivos às autoridades competentes contra atos violadores de direitos
humanos; e garantir os meios para a execução das decisões e sentenças proferidas pelas
autoridades competentes, para a proteção dos direitos declarados ou reconhecidos (§393).
VIII. No caso concreto, o Brasil cumpriu com a primeira obrigação, pois detém um marco normativo
capaz de garantir a proteção judicial das vítimas (§396). Contudo, em relação ao processo penal
de 1997, o Estado descumpriu seu dever de efetividade na punição dos violadores dos direitos
humanos (§§397 a 400). O mesmo ocorreu na ação trabalhista de 1999, em que não houve
diligência por parte do Estado para corrigir as falhas verificadas na fiscalização e 1997 (§401).
Não houve ainda informações sobre a ação penal de 2001 (§403). Portanto, o Estado, apesar da
extrema gravidade dos fatos, não analisou o mérito da questão apresentada; não imputou
responsabilidade adequada aos responsáveis; não ofereceu mecanismo de reparação às vítimas;
e não atuou para prevenir a continuidade das violações dos direitos humanos no caso concreto.
IX. Apesar de a prescrição penal ser um instrumento de limitação do poder punitivo do Estado, ela
é inadmissível quando assim dispõe o Direito Internacional. No caso em tela, a vedação da
escravidão é uma norma de jus cogens, sendo ainda considerada crime internacional (§§412 e
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413). Logo, para a Corte IDH, a aplicação da prescrição em casos de investigação e a


responsabilização ao delito de submissão de alguém à condição de escravo são incompatíveis
(§413).
X. Para a Corte IDH, a falta de diligência para a responsabilização dos infratores está relacionada
às condições dos trabalhadores das fazendas do norte e nordeste do Brasil. Essa ideia gerou uma
atuação discriminatória em relação às vítimas do caso, e impactou a atuação das autoridades,
CPF: 030.720.271-29

de modo a inibir a punição dos responsáveis (§419).


Diante da responsabilização internacional do Estado, a Corte IDH condenou o Brasil às seguintes
prestações:
I. Reabrir as investigações dos fatos objeto do feito, considerando a imprescritibilidade do crime
Silva -- CPF:

de redução à condição análoga a de escravo, não podendo o Estado recorrer a figuras como a
anistia, bem como qualquer obstáculo processual para escusar-se desta obrigação;
da Silva
Gouvea da

II. Publicar o resumo oficial da sentença no Diário Oficial e em um jornal de grande circulação
Eliovaine Gouvea

nacional, por uma única vez, no prazo de seis meses.


III. Publicar a sentença em sua integralidade no website oficial da União, mantendo-se o documento
Eliovaine

por um período mínimo de um ano.


IV. Condenar o Estado a readequar sua legislação para que reste expressa a imprescritibilidade do
crime de escravidão e suas formas análogas.
V. O pagamento de US$ 30.000,00 para cada um dos 43 trabalhadores da Fazenda Brasil Verde,
que foram encontrados durante a fiscalização de 23 de abril de 1997 a título de danos morais.
VI. O pagamento a título de danos morais, de US$ 40.000,00 para cada um dos 85 trabalhadores da
Fazenda Brasil Verde, que foram encontrados durante nas fiscalizações de 1997 e 2000.

ATENÇÃO
A Corte IDH rejeitou os pedidos de realização de ato público para o reconhecimento de
responsabilidade internacional, de indenização por danos materiais e de garantias de não repetição por
ausência de políticas públicas.
Houve pedido de condenação para a adequação da legislação interna, com a alteração do tipo de
tráfico de pessoas, bem como para o aumento da pena pelo delito de redução à condição análoga a de
escravo. A Corte IDH deixou de acolher os pedidos em razão da existência de tipo análogo no Código Penal e
por não ter condições de definir uma pena mínima ao delito de redução à condição análoga a de escravo.

153
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

7.4.6.6. Caso Cosme Rosa Genoveva, Evandro de Oliveira e outros vs. Brasil
(Favela Nova Brasília) vs. Brasil:

O Brasil foi novamente condenado pela Corte IDH em sentença publicada em 16 de fevereiro de
2017.

ATENÇÃO
O caso também é conhecido pelo nome Favela Nova Brasília, porém em concursos ele pode ser
cobrado com o nome “Caso Cosme Rosa Genoveva, Evandro de Oliveira e outros vs. Brasil” ou “Caso Cosme
Rosa Genoveva”.

A CIDH, em 19 de maio de 2015, submeteu o caso à Corte, referente a falhas e demoras na


investigação e punição de agentes estatais pelo homicídio de 26 pessoas e pela prática de tortura e violência
sexual de três mulheres, sendo duas menores, durante duas incursões da Polícia Civil do estado do Rio de
Janeiro na Favela Nova Brasília, em 18 de outubro de 1994 e 8 de maio de 1995 (§1).
A Comissão pediu a responsabilização do Estado pela violação dos artigos 1.1, 4.1, 5.2, 8.1, 11, 19 e
25.1 da CADH, bem como pela violação dos artigos 1, 6 e 8 da Convenção Interamericana para Prevenir e
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Punir a Tortura e o art. 7 da Convenção de Belém do Pará.


Em 18 de outubro de 1994, um grupo de 40 a 80 policiais (civis e militares) iniciou uma incursão
policial na Favela Nova Brasília. Desse contingente, apenas 28 agentes foram identificados (§113). Durante a
incursão, os policiais invadiram pelo menos 5 casas, disparando contra os ocupantes ou detendo-os para,
posteriormente, assassiná-los, tendo os corpos sido depositados na praça da comunidade (§114). Em duas
casas invadidas, os policiais “interrogaram” três jovens e cometeram atos de violência sexual contra eles.
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Destaca-se o fato de dois deles terem, à época dos fatos, 15 e 16 anos de idade (§115). Nessa incursão, 13
residentes do sexo masculino foram mortos, sendo 4 crianças.
Um primeiro inquérito sobre a incursão foi aberto em 18 de outubro de 1994, conduzido pela Divisão
de Repressão a Entorpecentes (DRE) da Polícia Civil do Rio de Janeiro, tendo sido autuado sob o nº 187/94.
Silva -- CPF:

As mortes ocorridas durante as ações policiais foram relatadas como legítima defesa, ainda que a
da Silva

autópsia das vítimas tenha relatado que as causas das mortes ocorreram por disparos em regiões vitais do
Gouvea da

corpo, evidenciando serem casos de execuções sumárias por “esquadrões da morte”, em que membros das
Eliovaine Gouvea

forças de segurança fazem parte (§105).


Nova investigação foi aberta, agora pela Divisão de Assuntos Internos da Polícia Civil do Estado do
Eliovaine

Rio de Janeiro, em razão de uma carta da jornalista Fernanda Botelho Portugal.


Em 19 de outubro do mesmo ano, o Governador do Estado do Rio de Janeiro criou uma Comissão
Especial de Sindicância, que colheu depoimento das três vítimas de violência sexual (§§123 e 124).
Em novembro de 1994, as vítimas realizaram exames forenses no Instituto Médico Legal, para
verificar lesões físicas ou sexuais, bem como reconhecer os agressores. Em função do tempo entre os fatos
e o exame, o resultado da perícia foi inconclusivo. Foram identificados 10 policiais como participantes da
incursão (§125).
No mesmo mês, o Secretário de Estado da Polícia Civil solicitou a remessa dos autos do inquérito à
Delegacia Especial de Tortura e Abuso de Autoridade, não sendo a ordem atendida por anos (§126).
Em dezembro de 1994, a Comissão Especial de Sindicância emitiu relatório em que afirma haver
fortes indícios de execução sumária e abusos sexuais contra crianças na incursão à favela (§127). Em função
desse relatório, novo inquérito policial foi instaurado, sendo autuado sob o nº 52/94 (§125).
Em agosto de 2002, o Inquérito nº 52/94 foi renumerado para 141/02 pela Corregedoria Interna da
Polícia Civil (COINPOL) (§138).

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Já em dezembro de 2003, o Inquérito nº 1894 foi renumerado pela COINPOL para o nº 225/03, tendo
sido apresentadas várias solicitações de realização de diligência até fevereiro de 2007 (§139).
Apenas em 2007, a ordem do Secretário de Estado da Polícia Civil, no IP nº 187/04, foi atendida,
sendo os autos dos inquéritos unificados no IP nº 141/02 na Corregedoria Geral de Polícia.
Em 14 de agosto de 2009, o Delegado responsável emitiu relatório final noticiando a extinção da
punibilidade, em função da prescrição. Em outubro do mesmo ano, o Ministério Público solicitou o
arquivamento dos autos, tendo o juízo da 31ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do estado do Rio de Janeiro
determinado o arquivamento em 3 de novembro de 2009.
Em 7 de março de 2013, em razão do Relatório de Mérito nº 141/11 da CIDH, o Subprocurador-Geral
de Justiça solicitou o desarquivamento do Inquérito nº 141/94, alegando a falta de manifestação sobre os
delitos de abuso de autoridade, agressões, torturas e homicídios, estando prescrita a pretensão punitiva dos
delitos relacionados à violência sexual.
Em maio de 2013, o MP denunciou seis policiais pelos atos ocorridos na incursão da Favela Nova
Brasília, sendo o processo autuado sob o nº 2009.001.272489-7.
Também se insere no bojo dos fatos analisados pela Corte IDH uma segunda incursão na Favela Nova
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Brasília, ocorrida em 8 de maio de 1995, por um grupo de 14 policiais civis, acompanhados do apoio aéreo
de dois helicópteros. O objetivo da incursão seria deter um carregamento de armas a ser entregue a
traficantes.
Segundo relatos de testemunhas, houve um tiroteio entre policiais e os supostos traficantes, tendo
como resultado 3 policiais feridos e 13 homens da comunidade mortos (§§117 e 118). As autópsias realizadas
nos mortos indicaram que os disparos desferidos atingiram o peito e a cabeça das vítimas, com frequência.
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Em decorrência da incursão, foi aberto o Inquérito policial nº 61/95, conduzido pela Delegacia de
Repressão a Roubos e Furtos contra Estabelecimentos Financeiros (DRRFCEF) da Polícia Civil do Rio de Janeiro
(§§130 a 131). Inicialmente, os fatos foram qualificados como “tráfico de drogas, grupo armado e resistência
Silva -- CPF:

seguida de morte” (§131).


O delegado responsável, em setembro de 1995, emitiu relatório final no inquérito policial, alegando
da Silva

que a operação buscava interceptar a entrega de um carregamento de armas, mas que após um ataque
Gouvea da

desferido por parte dos moradores da favela a polícia reagiu ferindo 13 indivíduos, que não sobreviveram e
Eliovaine Gouvea

faleceram (§136).
Em janeiro de 1996, o representante do Ministério Público requereu a oitiva dos familiares das 13
Eliovaine

vítimas, que prestaram depoimentos de fevereiro a março de 1996.


Em setembro de 2000, a pedido do MP, foi apresentado um laudo pericial sobre as autópsias das
vítimas. A perita designada concluiu que os ferimentos e documentos indicavam que a intenção dos ataques
seria o de eliminar o opositor e de não neutralizar um injusto praticado (§§149 e 150).
Após novas diligências, o Delegado responsável emitiu relatório afirmando que os atos investigados
se relacionam a um conflito armado consequente de uma “guerra” que culminou em pessoas mortas e feridas
(§154). O representante do MP requereu o arquivamento do inquérito em junho de 2009, sendo o pedido
acatado pelo juízo da 3ª Vara Criminal em 18 de junho de 2009.
Em outubro de 2012, o MP requereu o desarquivamento dos autos, alegando falhas na condução do
inquérito. O juiz da 3ª Vara Criminal decidiu pela impossibilidade de desarquivamento.
Em 9 de julho de 2013, foi aberto novo inquérito policial, contudo, em 7 de maio de 2015, o TJRJ
determinou o arquivamento dos autos, declarando a nulidade das provas produzidas, em função da
contrariedade da reabertura das investigações em contraposição à decisão judicial.
Em 15 de julho de 2002, Mônica Santos de Souza Rodrigues e Evelyn Santos de Souza Rodrigues,
parentes de Jacques Douglas Melo Rodrigues, ingressaram com uma ação cível contra o Estado do Rio de

155
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Janeiro, autuada sob o nº 0087743-75.2002.819.0001, pleiteando indenização pela morte da vítima na


incursão de 1994.
Em setembro de 2004, o juiz da 4ª Vara da Fazenda Pública do Rio de Janeiro declarou a prescrição
da pretensão de Mônica Santos de Souza Rodrigues. Já em fevereiro de 2005, proferiu sentença, julgando
improcedente o pedido, sob o fundamento de ausência de provas de que a morte de Jacques Douglas Melo
Rodrigues foi ocasionada pela ação de um agente público.
Ao contextualizar a violência policial no Brasil (Capítulo VI, B, B1), a Corte IDH evidenciou que as
investigações de tais execuções sumárias tendem à impunidade, em função dos chamados “formulários de
resistência à prisão” (§107). Neles é feita uma investigação do perfil da vítima falecida, encerrando-se
eventual investigação, por considerar a vítima um possível criminoso. Tais considerações basearam-se em
dois relatórios produzidos pelas Nações Unidas, em visitas nos anos de 2003 e 2007 no Brasil.
A sentença da Corte IDH analisou o caso em três grandes grupos de direitos: referentes às garantias
judiciais e à proteção judicial; à integridade pessoal; e ao direito de circulação e residência. Em relação ao
primeiro grupo, a sentença apartou a situação dos homicídios da relativa aos casos de violência sexual.
Sobre as garantias judiciais e a proteção judicial das vítimas mortas nas incursões de 1994 e 1995, os
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principais pontos da sentença foram:


I. Cabe ao Estados oferecer recursos judiciais efetivos, destinados às vítimas de violações de
direitos humanos, devendo sua tramitação observar o devido processo legal, para que elas
tenham garantido o exercício dos direitos reconhecidos pela CADH (§174).
II. Para o cumprimento desse dever, o Estados tem a obrigação positiva de adoção de condutas
que se relacionam diretamente com o direito substantivo em discussão (§175).
CPF: 030.720.271-29

III. Cabe ao Estado especial atenção nos casos de uso da força letal por parte dos seus agentes,
considerando que o direito à vida impede sua privação de modo arbitrário (§176).
IV. O dever de investigação por parte do Estado é uma obrigação de meio e não de resultado. Não
Silva -- CPF:

pode ser vista pelo Estado como uma simples formalidade fadada ao insucesso (§178).
da Silva

V. Em relação à investigação médico-legal, o Tribunal manifestou-se sobre a necessidade de


manutenção de um registro escrito preciso, complementado, se possível, de fotos e elementos
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

gráficos, “para documentar a história do elemento de prova à medida que passa pelas mãos de
diversos investigadores encarregados do caso” (§181).
Eliovaine

VI. Os órgãos encarregados da investigação, em especial os que exerçam funções de natureza


materialmente jurisdicional, devem adotar decisões justas, que respeitem as garantias do
devido processo legal (§183).
VII. As exigências do devido processo legal, independência e imparcialidade, se estendem aos órgãos
não judiciais de investigação (§185), logo os Princípios Relativos a uma Eficaz Prevenção e
Investigação das Execuções Extralegais, Arbitrárias ou Sumárias, e seu Manual (conhecidos como
Protocolo de Minnesota) são aplicáveis ao caso, devendo ter sido criada uma comissão de
inquérito especial (§186). Isso porque, em situações em que agentes estatais estão sendo
acusados de envolvimento no incidente, a independência das investigações implica na ausência
de relação institucional ou hierárquica: Ministério Público ou autoridade judicial, assistidos por
um corpo técnico próprio ou não pertencente ao órgão do acusado (§187).
VIII. Para a Corte IDH o órgão de investigação deve ser independente das pessoas e estruturas cuja
responsabilização esteja sendo atribuída no caso concreto.
IX. Cabe à autoridade judicial proceder um exame mais rigoroso para aferir a independência e
imparcialidade das investigações quando elas são questionadas, tendo a Corte IDH trazido
alguns critérios a serem analisados: a adequação das medidas adotadas; a celeridade do

156
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

procedimento; a participação da família da vítima; a independência da investigação; a


comprovação de necessidade ou justificação do uso de força letal (§190).
X. As investigações das incursões objeto da lide (de 1994 e 1995) iniciaram após o chamado “auto
de resistência à prisão”, que tivera impacto em toda a investigação (§192). Essa prática, adotada
pelas autoridades brasileiras mostra-se habitual nas hipóteses de mortes ocasionadas por
policiais, propiciando um aspecto de legalidade em hipóteses de execuções sumárias (§194).
Isso ocorre porque as investigações partem do pressuposto de que as autoridades agiram com
a presunção do cumprimento do dever legal (§195). Já a principal consequência é a de que a
linha de investigação busca determinar a responsabilidade das pessoas executadas, focando em
seus eventuais antecedentes criminais (§195). Logo, as investigações geraram um contexto de
legítima defesa por parte dos agentes públicos (§196).
XI. No caso concreto, a Corte IDH entendeu ter havido uma demora injustificada nas investigações,
com a consequente prescrição da pretensão punitiva, em função da falta de diligências das
autoridades e longos períodos das atividades judiciais (§§205 e 206).
XII. A falta de independência e imparcialidade dos investigadores gerou a morosidade dos
procedimentos (§§207 a 214), tendo as autoridades atuado com negligência e com
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corporativismo (§215 e 216).


XIII. Em relação à duração das investigações, e ao acesso à justiça, a Corte IDH rememorou sua
jurisprudência, destacando que para a aferição da razoabilidade do prazo é necessário
considerar a complexidade do assunto em discussão, a atuação do interessado, a conduta das
autoridades judiciais, e o dano provocado à vítima.
CPF: 030.720.271-29

XIV. No caso, as investigações iniciadas em 1994 foram encerradas em 2009, após a declaração da
prescrição da pretensão punitiva do Estado. Posteriormente, as investigações reabertas em
2013 continuam sem avanço processual relevante. Para o Tribunal, o assunto em discussão não
tem complexidade alta. Não há evidência de que os familiares das vítimas ou as próprias vítimas
tenham contribuído para a demora do processo. As autoridades judiciais, no entanto,
Silva -- CPF:

contribuíram preponderantemente para o insucesso da punição aos autores dos fatos. Por fim,
em relação aos danos causados, a Corte considerou que não é necessária a sua análise para
da Silva

determinar a razoabilidade do prazo das investigações do caso concreto (§§217 a 223).


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

XV. Portanto, a Corte IDH concluiu que o Brasil violou as garantias judiciais da devida diligência e da
razoável duração do processo, previstas no art. 8.1 da CADH (§231).
Eliovaine

XVI. O Tribunal destacou também que cabe aos Estados oferecer aos seus jurisdicionados recursos
judiciais efetivos contra atos que violam direitos fundamentais. Não basta, portanto, a previsão
meramente formal desse recurso, mas sim resultados concretos às violações de direitos
previstos no ordenamento jurídico. Rememorou seu entendimento de que um recurso efetivo
implica na análise do recurso judicial pela autoridade competente, considerando as razões
invocadas pelo demandante e manifestando-se especificamente a cada uma delas. (§§232 e
233)
XVII. Do art. 25 da CADH decorrem duas obrigações aos Estados: assegurar a aplicação de recursos
específicos perante as autoridades competentes e garantir os meios de execução das respectivas
decisões emitidas por elas. (§234)
XVIII. Os familiares têm o direito de participar em todas as etapas do processo, apresentando
sugestões, recebendo informações, produzindo provas com o intuito de fazer valer seus direitos.
Contudo, no processo penal brasileiro, as vítimas têm uma posição secundária, tratada como
meras testemunhas, sem ter acesso às investigações e com posição limitada na fase judicial
(§238). Portanto, o Estado brasileiro violou o art. 25 da CADH, violando a proteção judicial das
vítimas (§§239 e 242).

157
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

XIX. A Corte IDH condenou, portanto, o Brasil a reabrir as investigações relacionadas às incursões de
1994 e 1995, devendo ser assegurados o pleno acesso e a capacidade de agir dos familiares no
curso das investigações (§292).
XX. O Estado deve abster-se de recorrer a qualquer obstáculo processual para eximir-se da sua
obrigação, pois o caso trata de prováveis execuções extrajudiciais e atos de tortura. (§292).
No que diz respeito à violação das garantias judiciais e da proteção judicial das vítimas de violência
sexual, a Corte IDH se manifestou no seguinte sentido:
I. Os Estados têm a obrigação de adotar medidas integrais de devida diligência contra vítimas de
violência sexual, adotando uma estrutura jurídica de proteção e a aplicação efetiva desse aparato
para a prevenção e repressão de agressores (§243).
II. A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
(Convenção de Belém do Pará), em seu art. 7.b, obriga aos Estados a utilização da devida diligência
para a prevenção, punição e erradicação da violência contra a mulher, o que incumbe às
autoridades investigativas um papel preponderante para tal mister (§244).
III. A Corte IDH considera violência sexual: “as ações de natureza sexual que se cometem contra uma
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pessoa sem seu consentimento, que, além de compreender a invasão física do corpo humano,
podem incluir atos que não impliquem penetração ou, inclusive, contato físico algum” (§246).
IV. O estupro é um tipo de agressão sexual que, dada sua natureza, não se espera que sua prova
dependa de documentos ou provas gráficas, sendo fundamental a declaração da vítima sobre o
caso. A Corte IDH destacou ainda que as autoridades devem levar em conta que o estupro é um
tipo de delito que a vítima não costuma denunciar, haja vista o estigma social produzido (§248).
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V. A ausência de sinais físicos não implica na ausência de maus-tratos. Sendo essa lógica aplicável
aos casos de violência sexual e estupro. Portanto, nem sempre um exame médico poderá
comprovar a ocorrência do fato (§249).
Silva -- CPF:

VI. A violação do direito à integridade física e psíquica das pessoas apresenta diversos graus, podendo
abranger desde a tortura até outra forma de tratamento cruel, desumano ou degradantes. Logo,
da Silva

as sequelas físicas e psíquicas variam de intensidade, devendo ser analisadas no caso concreto
Gouvea da

(§250).
Eliovaine Gouvea

VII. No caso concreto, o próprio Estado admitiu a violação do art. 5 da CADH, reconhecendo que os
agentes públicos violaram a integridade física das vítimas L.R.J, C.S.S e J.F.C. (§251).
Eliovaine

VIII. A Corte IDH tem jurisprudência no sentido de que o estupro é uma forma de tortura, devendo o
Estado atuar com diligência para evitar atos de tortura ou tratamentos cruéis, desumanos e
degradantes (§§252 e 253).
IX. Em relação às investigações sobre violência sexual, o Tribunal baseou-se em documentos
internacionais e em sua própria jurisprudência para fixar os seguintes critérios: a vítima deve
prestar depoimento em ambiente seguro que lhe ofereça privacidade e confiança; seu
depoimento deve ser registrado de forma a evitar sua repetição; à vítima deve ser prestado
atendimento médico, sanitário, mediante protocolo de atendimento que reduza as
consequências da violação.; exames médicos e psicológicos devem ser realizados imediatamente,
por profissionais idôneos e capacitados, se possível do sexo da vítima, sendo-lhe facultado o
acompanhamento por alguém de sal confiança; os atos da investigação devem ser documentados,
devendo ainda ser retiradas amostras suficientes para a realização de estudos para determinar a
possível autoria do crime; deve ser oferecida assistência jurídica gratuita à vítima em todas as
fases do processo; deve ainda ser fornecido atendimento médico, sanitário e psicológico à vítima
de forma contínua e sempre que solicitado (§254).
X. Em crimes de violência contra a mulher, compete aos Estados adotarem investigações penais sob
perspectiva de gênero, a ser realizada por profissionais capacitados (§254).

158
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

XI. No caso em análise, as vítimas, sob a custódia de agentes estatais, sofreram violência sexual. Seus
depoimentos não foram tomados em ambiente cômodo e seguro; nenhuma recebeu tratamento
médico, sanitário ou psicológico após os atos; elas não passaram por exame médico ou
psicológico; não puderam intervir no processo, atuando como meras testemunhas. A reabertura
do inquérito, ocorrida em 2013, não considerou os crimes de estupro contra as vítimas, ainda que
eles tenham ocorrido em possíveis casos de tortura (§256).
XII. Considerando a inação do Estado em relação às vítimas, a Corte IDH concluiu que o Brasil violou
não apenas os artigos 8.1 e 25 da CADH, mas também os artigos 1, 6 e 8 da Convenção
Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura e o art. 7 da Convenção de Belém do Pará (§§258
e 259).
XIII. Por fim, em relação à violação do art. 19 da CADH, o Tribunal concluiu que, no momento de
entrada em vigor da competência da Corte, as vítimas eram maiores, não lhe sendo possível
manifestar-se sobre fatos ocorridos quando elas eram crianças, por estarem fora do âmbito de
sua competência temporal (§259).
XIV. O Estado foi condenado, portanto, à reabertura das investigações, devendo, em relação aos atos
de violência sexual, incluir uma perspectiva de gênero, incluindo a participação das vítimas
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durante as investigações. Ademais, essa investigação deve ser realizada por funcionário
capacitado em casos similares, em virtude da discriminação das vítimas e da violência de gênero
(§293).
XV. O Estado foi condenado ainda a oferecer gratuitamente tratamento psicológico e psiquiátrico às
vítimas, após seu consentimento fundamento, pelo tempo que se fizer necessário, incluindo, se
for o caso, o fornecimento de medicamentos (§296).
CPF: 030.720.271-29

Sobre as violações ao direito à integridade pessoal, a Corte IDH se manifestou no seguinte sentido:
I. Os familiares das vítimas de direitos humanos podem ser também vítimas, por terem violado seu
direito à integridade psíquica e moral, por motivo de sofrimento adicional relacionados aos atos
Silva -- CPF:

que seus entes queridos sofreram (§269).


II. No caso em comento, a falta de investigação dos fatos e a impunidade geraram prejuízo aos
da Silva

familiares das vítimas (§270).


Gouvea da

III. A inação do Estado afetou o desenvolvimento normal das atividades diárias dos familiares e seu
Eliovaine Gouvea

projeto de vida. Portanto, a Corte IDH concluiu que tal omissão implicou na violação pelo Estado
brasileiro do direito à integridade pessoal, prevista no art. 5.1 da CADH.
Eliovaine

Em razão da responsabilização internacional do Estado, o Brasil foi condenado à cumprir as seguintes


prestações:
I. Conduzir eficazmente as investigações sobre os fatos relacionados com as mortes ocorridas na
incursão de 1994, em prazo razoável, para identificar, processar e, eventualmente punir os
responsáveis.
II. Assegurar o pleno acesso e a capacidade de agir dos familiares em todas as etapas dessas
investigações;
III. Se abster de recorrer a qualquer empecilho processual (como a prescrição, coisa julgada, etc.)
para se eximir da obrigação de investigar, processar e punir os responsáveis.
IV. Em relação aos delitos com violência sexual, o Estado deve garantir que as investigações sejam
realizadas por funcionários capacitados em casos similares e em atenção a vítimas de
discriminação e violência de gênero;
V. Tratamento psicológico às vítimas, em centros de sua escolha, inclusive com o fornecimento
gratuito de medicamentos.

159
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

VI. Publicação do resumo oficial da sentença no Diário Oficial da União, e em jornal de grande
circulação nacional, no prazo de seis meses.
VII. Publicação do resumo oficial da presente Sentença, e a decisão em sua integralidade, em uma
página eletrônica oficial do governo federal, na página eletrônica oficial do Governo do Estado do
Rio de Janeiro e na página eletrônica da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, devendo o
documento ser disponibilizado por prazo mínimo de três anos.
VIII. Divulgação nas contas das redes sociais Twitter e Facebook, da Secretaria Especial de Direitos
Humanos do Ministério da Justiça, do Ministério das Relações Exteriores, da Polícia Civil do Estado
do Rio de Janeiro, da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro e do Governo
do Estado do Rio de Janeiro, da página eletrônica em que figure a Sentença e seu Resumo, por
meio de um post semanal pelo prazo de um ano.
IX. Realização de ato público de reconhecimento de responsabilização internacional pelos fatos do
caso.
X. Inauguração de duas placas, em memória das vítimas reconhecidas pela Sentença, na praça
principal da Favela Nova Brasília.
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XI. Prosseguimento das políticas de capacitação e formação de profissionais, em todos os níveis


hierárquicos, das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro e dos funcionários de atendimento à
saúde.
XII. A adequação da legislação interna para permitir às vítimas de delitos ou seus familiares
participação formal e efetiva na investigação criminal realizada pela polícia ou pelo Ministério
Público, sem prejuízo da necessidade de reserva legal ou confidencialidade desses
CPF: 030.720.271-29

procedimentos.
XIII. O pagamento de indenização, à título de danos morais, entre US$ 15.000,00 a US$ 35.000,00 às
vítimas.
Silva -- CPF:

7.4.6.7. Caso Povo Indígena Xucuru e seus membros vs. Brasil:


da Silva

Em 5 de fevereiro de 2018 foi publicada mais uma sentença condenatória em face do Brasil.
Gouvea da

A CIDH submeteu em 16 de março de 2016 o caso à Corte IDH, acusando o Brasil de violação do
Eliovaine Gouvea

direito à propriedade coletiva e também da integridade pessoal do Povo Indígena Xucuru. Tais violações
teriam ocorrido em razão da demora do processo administrativo de demarcação e titulação das terras
Eliovaine

indígenas e a demora na desintrusão dessas terras, para que o povo indígena pudesse exercer pacificamente
seus direitos no território. Ademais, o Brasil teria violado também garantias judiciais e a proteção judicial,
em razão na demora irrazoável do processo administrativo, bem como na resolução e ações civis propostas
por pessoas não indígenas, que têm por objeto parte da terra do Povo Xucuru.
O Povo Indígena Xucuru consta de vários documentos históricos desde o século XVI, no Estado de
Pernambuco (§60). Quando da prolação da sentença, 24 comunidades viviam no território indígena Xucuru,
no município de Pesqueira/PE.
Em 1989 foi aberto processo administrativo para a demarcação das terras do Povo Xucuru. À época,
o procedimento de demarcação era regulamentado pelo Decreto nº 94.945/87.
No decorrer do procedimento administrativo, a regulamentação da demarcação e titulação das
terras foi substituída pelo Decreto nº 1.775/96, sendo composto por 5 fases:

• Identificação e delimitação: que o Presidente da FUNAI, por portaria, designa grupo de trabalho
para a identificação da terra indígena, propondo a área a ser delimitada;
• Declaração: em que a FUNAI analisa objeções e emite seu parecer, encaminhando o processo ao
Ministro da Justiça, que poderá negar a identificação e devolver o processo ou aprovar o
procedimento e editar portaria de demarcação administrativa;

160
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

• Demarcação física: que é a execução da demarcação realizada pelos estudos.


• Homologação: a ser feita por decreto do Presidente da República; e
• Registro: a ser feito na Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e no registro de imóvel da
comarca.
Até a entrada do novo decreto, já haviam sido realizadas três etapas de demarcação, tendo sido
demarcada fisicamente uma área de 27.555,0483 hectares do território.
Porém, com a alteração normativa foi aberto prazo para terceiros impugnarem a demarcação e
interpor ações judiciais solicitando direitos referentes à propriedade e indenizações.
Cerca de 270 objeções foram feitas em relação à demarcação do Povo Xucuru, tendo todas sido
julgadas improcedentes pelo Ministro da Justiça em 10 de junho de 1996.
Um mandado de segurança foi interposto perante o Superior Tribunal de Justiça em 28 de maio de
1997, tendo sido concedida a segurança, reabrindo-se prazo para as objeções administrativas.
Após a realização das objeções, o Ministro da Justiça manteve a decisão anterior, tendo o Presidente
da República homologado a demarcação do território em 2 de maio de 2001.
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Quando a FUNAI solicitou o registro do território no Registro de Imóveis da Comarca de Pesqueira,


em 17 de maio de 2001, o Oficial de Registro de Imóveis interpôs ação de suscitação de dúvida, questionando
aspectos formais da solicitação da fundação federal.
O processo proposto em agosto de 2002 foi julgado improcedente em 22 de junho de 2005.
Em 18 de novembro de 2005 foi executada a sentença, tendo as terras sido registradas como
CPF: 030.720.271-29

propriedade da União.
Após a regularização das terras, iniciou-se o cadastro e pagamento de indenização por benfeitorias
de boa-fé de não indígenas localizado nas terras demarcadas. O processo foi iniciado em 1989, concluído em
2007 e a última indenização efetuada em 2013.
Silva -- CPF:

Até a prolação da sentença da Corte IDH 45 ex-ocupantes não indígenas não tinham ainda recebido
da Silva

indenização. Ademais, haviam 6 ocupantes não indígenas dentro do território Xucuru.


Gouvea da

Consta ainda da sentença que uma série de ações civis passaram a tramitar no curso da demarcação
Eliovaine Gouvea

das terras indígenas.


Em março de 1992 foram propostas duas ações de reintegração de posse em face do Povo Indígena
Eliovaine

Xucuru, com o MPF, a FUNAI e a União.


Foi suscitado conflito de competência, em julho de 1994, tendo o STJ fixado a competência da 9ª
Vara Federal do Estado de Pernambuco como juízo competente.
Em 17 de julho de 1998 foi proferida sentença de procedência do pedido de reintegração de posse.
Foram apresentados recursos por parte da FUNAI, do Povo indígena Xucuru, do MPF e da União, todos
negados pelo TRF5.
Da decisão foi interposto Recurso Especial ao STJ, e, após a negativa de provimento em 2007, uma
série de embargos de declaração, até a ocorrência de uma decisão favorável em 10 de maio de 2011.
A sentença transitou em julgado em 28 de março de 2014, tendo a FUNAI interposto uma ação
rescisória junto ao TRF5.
Em fevereiro de 2002 foi proposta ação ordinária solicitando a anulação do processo administrativo
de demarcação, tendo como fundamento a ausência de notificação pessoal para a apresentação de objeções
no curso do procedimento.

161
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Em junho de 2010 o pedido foi julgado parcialmente procedente, excluindo a União da lide e
condenando a FUNAI ao pagamento de R$ 1.385.375,86 de indenização. Foi interposta apelação ao TRF5 que
manteve a União no polo passivo da lide, e, no mérito, manteve a condenação por perdas e danos.
Em dezembro de 2012 foram interpostos recurso extraordinário e especial que, até a prolação da
sentença da Corte IDH, estavam pendentes de julgamento.
Durante todo o período de delimitação de demarcação da terra do povo Xucuru, vários atos de
violência foram praticados.
O Cacique Xicão, do Povo Xucuru, foi assassinado em 21 de maio de 1998 (§76). Foram indiciados um
fazendeiro, indiciado como autor intelectual do crime, um homem identificado como Ricardo, como autor
material do delito e ainda um homem de nome Rivaldo, que teria sido intermediário.
O fazendeiro se suicidou enquanto estava sob custódia da Polícia Federal. Já Ricardo foi morto no
Estado do Maranhão, por fatos não relacionados ao caso. Rivaldo após ser denunciado por homicídio simples
e condenado pelo Tribunal do Juri em novembro de 2004, a 19 anos de reclusão, foi assassinado na cadeia,
em 2006, durante o cumprimento da pena (§78).
O filho do Cacique Xicão, Cacique Marquinhos e sua mãe, receberam diversas ameaças em razão de
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sua posição de liderança. Inclusive, em outubro de 2002 a CIDH concedeu medidas cautelares em favor dos
dois.
Em fevereiro de 2003 o Cacique Marquinhos sofreu um atentado. Apesar de ter sobrevivido dois de
seus acompanhantes acabaram por falecer. Após esse atentado cerca de 500 membros da comunidade
indígena Xucuru foram expulsos das terras.
CPF: 030.720.271-29

Em março de 2008 o Cacique foi incluído em programa de proteção aos defensores dos direitos
humanos.
A Corte IDH, antes de adentrar ao mérito, decidiu que a exceção preliminar do Estado brasileiro,
quanto à competência ratione temporis, estaria parcialmente correta, tendo em vista que o tribunal só
Silva -- CPF:

poderia julgar fatos ocorridos após 10/12/1998 (data que o Brasil reconheceu a competência contenciosa da
Corte).
da Silva

O Brasil alegou ainda que o Tribunal não teria competência ratione materiae para o julgamento do
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

feito, tendo em vista que a Convenção 169 da OIT não faz parte do SIDH. Para o Tribunal, não obstante a sua
competência ser atinente às violações da CADH e aos instrumentos do SIDH, a utilização de outros tratados
internacionais é útil e apropriada para analisar o conteúdo e alcance das normas dos instrumentos regionais,
Eliovaine

e, com isso desenvolver o Sistema Interamericano (§35). Logo, a exceção preliminar foi julgada improcedente
(§36).
Quanto ao mérito, os principais pontos da decisão, relacionados ao direito de propriedade coletiva
do povo indígena, foram os seguintes:
I. Emana do artigo 21 da CADH, da Convenção nº 169 da OIT e da Declaração das Nações Unidas
sobre os Direitos dos Povos Indígenas, o direito de propriedade dos povos indígenas sobre seus
territórios tradicionais (§116).
II. A Corte rememorou sua jurisprudência sobre a propriedade comunitária das terras indígenas de
que (§117):
a. A posse tradicional dos indígenas sobre suas terras tem efeitos equivalentes ao de
propriedade concedido pelo Estado;
b. A posse tradicional confere aos indígenas o direito de reconhecimento oficial da
propriedade e registro;
c. Os membros dos povos indígenas, que tenham saído ou perdido a posse da terra, por
motivos alheios à sua vontade, têm o direito de propriedade das terras, apesar da falta de
título, salvo quando elas foram transmitidas a terceiros de boa-fé de forma legítima;

162
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

d. Compete ao Estado delimitar, demarcar e conceder o título de propriedade coletiva aos


membros das comunidades indígenas;
e. Os membros das comunidades indígenas que tenham perdido involuntariamente a posse
de seu território tradicional tem o direito de obter outras terras de igual extensão e
qualidade;
f. Compete ao Estado garantir o direito dos povos indígenas e controlar seu território, sem
nenhum tipo de interferência externa de terceiros;
g. O Estado deve garantir aos povos indígenas o controle e uso dos recursos naturais e do
território.
III. Em razão do princípio da segurança jurídica o Estado deve materializar os direitos territoriais dos
povos indígenas, através de medidas legislativas e administrativas (§119).
IV. Nem sempre haverá prevalência dos interesses territoriais de uma comunidade indígena sobre
particulares ou o Estado, afinal tanto a propriedade privada dos particulares, quanto a
propriedade coletiva das populações indígenas, são protegidas pelo artigo 21 da CADH. Em caso
de conflito entre ambos os direitos é necessário analisar a legalidade, a necessidade, a
proporcionalidade e a consecução de um objetivo legítimo em uma sociedade democrática para
a restrição do direito de propriedade privada, em prol do direito às terras tradicionais (§125).
V. No caso brasileiro, tanto a Constituição quanto o STF adotam uma posição que confere
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preeminência ao direito de propriedade coletiva sobre o direito à propriedade privada. A


demarcação trata-se de ato declaratório e não constitutivo (§§127 e 128).
VI. O procedimento de demarcação deve cumprir as regras do devido processo legal (§131).
VII. Compete ao Estado oferecer a proteção efetiva ao acesso à justiça, através de recurso simples e
rápido perante juízes e tribunais competentes (§131).
VIII. Não basta, portanto, um procedimento de demarcação, sendo necessário a sua efetividade
CPF: 030.720.271-29

prática, possibilitando às comunidades indígenas a defesa de seus direitos e o exercício de


controle efetivo de seu território, sem nenhuma interferência interna (§132). Isso não se limita à
titulação formal da propriedade coletiva, incluindo ainda a retirada de pessoas não indígenas do
território (§133).
Silva -- CPF:

IX. Em relação à duração do procedimento de demarcação e desintrusão, a Corte IDH rememorou


sua jurisprudência, destacando que para a aferição da razoabilidade do prazo é necessário
da Silva

considerar a complexidade do assunto em discussão, a pluralidade dos sujeitos envolvidos ou


Gouvea da

número de vítimas, as características dos recursos previstos na legislação interna e o contexto


Eliovaine Gouvea

fático (§137).
X. Apesar de as provas dos autos apontarem um contexto de relativo sucesso de desocupação do
Eliovaine

território Xucuru (de 70% do território ocupado por não indígenas em 1992 para 0,5% em 2016),
o transcurso de 28 anos sem a total desintrusão se mostra irrazoável (§141), tendo sido violado o
direito da razoável duração do processo do artigo 8.1 da CADH.
XI. Por outro lado, a Corte entendeu que as diversas ações civis violaram o direito à proteção judicial
e o direito à propriedade coletiva, previstos nos artigos 25 e 21 da CADH, pois colocam em risco
boa parte do território do povo Xucuru (§162). Sendo que uma delas tem sentença transitada em
julgado desde 2016 e a outra, apesar de ter sentença de mérito desde 2012 ainda tem recursos
passíveis de julgamento (§159).
XII. As partes não demostraram incompatibilidade da legislação brasileira com a CADH, no que se
refere ao direito de propriedade coletiva, previsto no art. 21 da Convenção.
Quanto ao direito de integridade pessoal, a decisão da Corte IDH teve os seguintes pontos:
I. A violação do direito de integridade física e psíquica das pessoas abrange desde a tortura até
outro tipo de constrangimento ou tratamento cruel, desumano ou degradante, que deixam
sequelas físicas ou psíquicas, variando de intensidade segundo fatores endógeno e exógeno da
vítima, a serem avaliados na situação concreta (§171).

163
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

II. O Estado, diante da obrigação e garantia, deve prevenir as violações dos direitos humanos e
investigar seriamente quando elas ocorrem, identificando os responsáveis, impondo-lhes as
sanções pertinentes e assegurando às vítimas a adequada reparação (§172).
III. O Estado só é responsável por violações de direitos humanos entre particulares em sua jurisdição
quando tem conhecimento de uma situação de risco real e imediato a indivíduo ou grupo de
indivíduos determinados e tem possibilidades razoáveis de prevenir ou evitar tal risco (§173).
IV. A defesa dos direitos humanos só pode ser livremente exercida se as pessoas não forem vítimas
de ameaças físicas, psíquicas ou morais, sendo dever do Estado garantir condições legais e fáticas
aos defensores de direitos humanos para que eles possam desenvolver livremente sua função
(§175).
V. Não obstante as balizas normativas mencionadas, no caso concreto a Comissão e os
representantes das vítimas não trouxeram aos autos provas suficientes que pudessem comprovar
a violação do artigo 5º da CADH, referente à integridade física, do povo Xucuru. Isso porque as
mortes comprovadas ocorreram antes da data de competência da Corte IDH e não houve provas
de fatos ocorridos após essa data.
Em razão da responsabilização internacional do Estado, o Brasil foi condenado pela Corte IDH ao
cumprimento das seguintes prestações:
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I. A desintrusão do território indígena Xucuru, que permanece na posse de terceiros não indígenas,
com o pagamento das indenizações pendentes por benfeitorias de boa-fé no território indígena.
II. Caso não seja possível a desintrusão e reintegração do território, o oferecimento ao Povo Indígena
Xucuru terras alternativas, na mesma qualidade física ou melhor às ocupadas, devendo ser
contíguas ao território já titulado e sem nenhum vício material ou formal 19.
III. A publicação do resumo oficial da sentença no Diário Oficial da União no prazo de seis meses.
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IV. A publicação da íntegra da sentença em website oficial do governo federal, com disponibilização
do documento por prazo mínimo de um ano.
V. A criação de um fundo em um prazo de 18 meses, no valor de US$ 1.000,000,00, destinado ao
Povo Indígena Xucuru, a título de indenização por danos morais coletivos.
Silva -- CPF:

7.4.6.8. Caso Herzog e outros vs. Brasil:


da Silva

Em 15 de março de 2018 a Corte IDH publicou nova sentença condenatória ao Brasil.


Gouvea da

Em 25 de outubro de 1975 dois agentes do DOI/CODI se dirigiram à TV Cultura e intimaram Vladimir


Eliovaine Gouvea

Herzog a acompanha-los à sede da organização, para prestar declarações. Após intervenção do canal de TV,
o jornalista se apresentou “voluntariamente” no dia seguinte (§121), quando já estavam detidos mais 11
Eliovaine

jornalistas no local.
Ao se apresentar Herzog foi preso, interrogado, torturado e assassinado por estrangulamento,
segundo perícia da Comissão Nacional da Verdade, aos 38 anos de idade (§123).
O Comando do II Exército, no entanto, emitiu comunicado dizendo que o jornalista se suicidara.
A morte do jornalista fez com que o General Comandante do II Exército determinasse um inquérito
policial militar para descobrira “as circunstâncias de seu suicídio” (§126). No curso do processo foram
produzidos laudos de necrópsia atestando que o óbito se tratava de um “quadro típico de suicídio por
enforcamento”, sendo encerradas as “investigações” (§128).

19 196. Caso, por motivos objetivos e fundamentados, não seja, definitivamente, material e legalmente possível a reintegração total
ou parcial desse território específico, o Estado deverá, de maneira excepcional, oferecer ao Povo Indígena Xucuru terras
alternativas, da mesma qualidade física ou melhor, as quais deverão ser contíguas a seu território titulado, livres de qualqu er
vício material ou formal e devidamente tituladas em seu favor. O Estado deverá entregar as terras, escolhidas mediante consenso
com o Povo Indígena Xucuru, conforme suas próprias formas de consulta e decisão, valores, usos e costumes. Uma vez acordado
o exposto, essa medida deverá ser efetivamente executada no prazo de um ano, contado a partir da notificação de vonta de do
Povo Indígena Xucuru. O Estado se encarregará das despesas decorrentes do referido processo bem como dos respectivos gastos
por perda ou dano que possam sofrer em consequência da concessão dessas terras alternativas.

164
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Em abril de 1976 os filhos e esposa do jornalista apresentaram ação declaratória junto à Justiça
Federal de São Paulo buscando a responsabilização da União pela detenção, tortura e morte de Vladimir
Herzog. Após a produção de prova testemunhal, a sentença de primeira instância foi proferida em outubro
de 1978, onde declarou-se que a morte de Herzog se deu por causas não naturais, bem como que havia sido
comprovada a prática de tortura pro parte dos agentes do DOI/CODI/SP (§133).
A União apresentou apelação ao Tribunal Federal de Recursos que manteve a decisão de primeira
instância em 1983. O Tribunal apontou ainda que a condenação da União ao pagamento de indenização
decorrentes dos fatos comprovados deveria ser precedida de ação de responsabilização por danos (§135).
Relacionado aos fatos a Corte rememorou a sentença condenatória no Caso Gomes Lund, em que a
embora a Lei de Anistia brasileira ter sido considerada recepcionada pelo STF, foi considerada inconvencional
pela Corte IDH (§§136 a 139).
Em novembro de 1992 foi publicada uma entrevista à revista Isto é Senhor, em que Pedro Antonio
Mira Grancieri afirmara ser o único responsável pelo interrogatório de Herzog (§140).
Após suas declarações, o Ministério Público solicitou a abertura de inquérito policial para sua
investigação pela morte de Herzog.
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Em julho de 1992 Grancieri impetrou habeas corpus junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo
alegando que os fatos já teriam sido objeto e inquérito militar e que estariam abarcados pela Lei de Anistia.
Em outubro do mesmo ano a 4ª Câmara do TJSP concedeu o habeas corpus por unanimidade.
Em dezembro de 1995 foi promulgada a Lei nº 9.140/95 reconhecendo a responsabilidade do Estado
pelo assassinato de opositores políticos no período entre 2/9/1961 e 15/8/1979. A lei ainda criou a Comissão
Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos e estabeleceu regras para indenizar os familiares das vítimas.
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Clarice Herzog recebeu em 1997 R$ 100.000,00 de indenização pela morte e tortura de Vladimir
Herzog (§149).
Em novembro de 2007 o Ministério Público Federal foi instado a investigar os fatos, tendo em vista
Silva -- CPF:

o relatório da Comissão da Verdade. Após a abertura de novo inquérito, o representante do MPF, em


setembro de 2008, pleiteou ao TRF3 o arquivamento das investigações, alegando que não há marco
da Silva

normativo que tipificasse os fatos como crimes contra a humanidade; que não obstante a Lei de Anistia não
Gouvea da

ser aplicável ao caso, haveria coisa julgada material nas investigações anteriores; teria ocorrido a prescrição
Eliovaine Gouvea

da pretensão punitiva; e que os fatos não seriam imprescritíveis, ainda que o Brasil seja signatário da CADH
(§§154 a 158).
Eliovaine

A manifestação do representante do MPF foi acolhida, sendo determinado o arquivamento do


inquérito pelo juízo de primeira instância em janeiro de 2009 (§160).
Em maio de 2008 o MPF propôs ação civil pública em face da União e dois ex-comandantes do
DOI/CODI/SP. Os pedidos foram julgados improcedentes em 2010, tendo por fundamento a Lei de Anistia e
a decisão do STF na ADPF 153.
Em novembro de 2011 foi promulgada a Lei nº 12.528/11 criando a Comissão Nacional da Verdade
para examinar e esclarecer grandes violações de direitos humanos entre 18 de setembro de 1946 e 5 de
outubro de 1988. O órgão atuou entre maio de 2012 a dezembro de 2015. Os peritos do órgão, após perícia
indireta, concluíram que Herzog foi vítima de homicídio por estrangulamento e que a carta escrita instantes
antes da morte, não teria sido espontânea (§§165 e 166).
Em preliminar a Corte IDH decidiu que não deve apreciar fatos anteriores a 10 de dezembro de 1998,
tendo em vista o princípio da irretroatividade, mas tem competência para a análise de omissões do Estado
ocorridas após essa data.
Adentrando ao mérito, os principais pontos da sentença da Corte foram:

165
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

I. Em seus 40 anos de história a Corte IDH já utilizou a figura dos crimes contra a humanidade, crimes
de guerra, delitos de direito internacional em diversos casos para explicitar o alcance da
responsabilidade do estado no âmbito da CADH (§213).
II. Crimes contra a humanidade são considerados parte do direito internacional geral pela
Convenção sobre Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e Contra a Humanidade, de 1968
(§214).
III. Considerando a interpretação do preâmbulo da Convenção sobre Imprescritibilidade dos Crimes
de Guerra e Contra a Humanidade, o tratado internacional apenas reafirma princípios e normas
de direito internacional geral, preexistentes, de modo que (§215):
a. Compete aos Estados aplicar seu conteúdo, independentemente da ratificação da
convenção;
b. As normas da Convenção têm alcance temporal a fatos anteriores a sua elaboração, por se
tratar de uma positivação de uma norma consuetudinária preexistente.
IV. Para a Corte Interamericana de Direitos Humanos a imprescritibilidade dos crimes contra a
humanidade se deduz da gravidade da conduta e a sua diferença em relação aos crimes do direito
interno. Sendo daí necessária a repressão eficaz de tais atos, “em razão da consciência universal
contra a impunidade desses crimes, e porque a falta de punição provoca reações violentas de
amplo alcance” (§216).
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V. Essa interpretação coaduna com o Projeto de Artigos sobre os crimes contra a Humanidade,
aprovado pela Comissão de Direito Internacional (§219), assim como pela Corte Internacional de
Justiça (§220).
VI. A característica fundamental de um delito de direito Internacional é que a ameaça à paz e a
segurança da humanidade choca com a consciência da humanidade sendo composto por três
requisitos gerais (§222):
CPF: 030.720.271-29

a. Ato que seja cometido como parte de um ataque generalizado;


b. Praticado contra uma população civil;
c. Que os autores ajam com o conhecimento desse ataque, como parte de uma política ou
plano de ação determinado e estabelecido pelo Estado.
VII. Da proibição dos crimes contra a humanidade surge ao Estado a vedação de qualquer acordo
Silva -- CPF:

contrário para modificação da norma jurídica. Por isso, compete aos Estados assegurar que os
agentes sejam processos penalmente e punidos para que a conduta não seja deixada impune
da Silva

(§230).
Gouvea da

VIII. Eventual norma de direito interno não exime seus autores da responsabilidade internacional por
Eliovaine Gouvea

sua prática, nem o Estado do dever de puni-las (§231).


IX. Da obrigação de investigar e punir delitos contra a humanidade surge aos Estados a vedação de
Eliovaine

invocar (§232):
a. A prescrição;
b. O princípio ne bis in idem;
c. A lei de anistia;
d. Qualquer disposição analógica ou excludente de responsabilidade.
X. Além disso, surge a obrigação dos Estados de cooperação com a aplicação do princípio de
jurisdição universal (§232).
XI. Considerando as balizas normativas citadas, a Corte IDH considerou que a prisão, tortura e
assassinato de Vladimir Herzog configura um crime contra a humanidade, competindo ao Estado
a obrigação de investigar, processar e punir os agentes responsáveis (§246).
XII. Tratando-se de crime de lesa humanidade, a prescrição não pode servir como um obstáculo para
a ação penal, por contrariar as normas do Direito Internacional e em especial a CADH (§269).
XIII. O princípio ne bis in idem e a coisa julgada material também não poderiam ser considerados
obstáculos para as investigações e punição, tendo em vista que surgiram do manifesto
descumprimento do Estado de investigar e punir os responsáveis (§272).
XIV. Do mesmo modo, a Corte IDH considerou inaplicável a Lei de Anistia, reafirmando a sua
jurisprudência sobre o tema (§§274 a 294).
XV. Portanto, para o tribunal internacional, não foi exercido o controle de convencionalidade nas
ações e investigações de 2008 e 2009, tendo o Brasil violado os direitos às garantias judicias, à

166
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

proteção judicial previstos nos artigos 8.1 e 25.1 da CADH, bem como os artigos 1, 6, e 8 da
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura (§312).
Quanto à ao direito de conhecer a verdade, a Corte IDH decidiu o seguinte:
I. Toda pessoa, inclusive os familiares das vítimas de graves violações de direitos humanos, tem o
direito de conhecer a verdade, devendo ser informados de todo o ocorrido em relação às
violações (§328);
II. As comissões da verdade não são órgãos judicias e não têm a autoridade de decidir sobre a
responsabilidade penal das pessoas (§331). Logo, processos judiciais têm um papel significativo
na reparação das vítimas, pois trazem o reconhecimento das vítimas como titulares de direitos
(§332).
III. Apenas em 2007 o Estado divulgou a verdade dos fatos, através do relatório da Comissão Especial
de Mortos e Desparecidos Políticos, tendo a família retificado a causa mortis na certidão de óbito
de Vladimir Herzog somente em 2013 (§335).
IV. A própria Comissão Nacional da Verdade identificou que a recusa do Exército para liberar acesso
aos seus arquivos, sob a alegação de que eles teriam sido destruídos, foi um dos obstáculos à
averiguação da verdade (§336).
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V. O Estado, tem a obrigação de buscar a informação por todos os meios possíveis, diante do direito
à verdade, não podendo alegar simplesmente que a informação foi destruída (§337).
VI. Portanto o Brasil violou o direito das vítimas de conhecer a verdade, pois não esclareceu
judicialmente os fatos que violaram os direitos humanos, e não apurou as responsabilidades
individuais pela tortura e assassinato de Vladimir Herzog, por meio de investigação e julgamento
na jurisdição ordinária (§339).
CPF: 030.720.271-29

Quanto ao direito à integridade pessoal, a Corte IDH manifestou-se nos seguintes termos:
I. Familiares de vítimas de violações de direitos humanos também podem ser vítimas, tendo em
vista o direito à integridade psíquica e moral de familiares de vítimas, por sofrimento adicional
pelo que passaram, como resultado das violações de direitos humanos cometidas contra seus
Silva -- CPF:

entes queridos (§351).


II. Trata-se de presunção juris tantum que competiria ao Estado desconstituí-la (§352).
da Silva

III. A divulgação de versão inverídica sobre a detenção, tortura e execução Vladimir Herzog geraram
dano à integridade de todo seu núcleo familiar, assim como a falta de investigação a respeito de
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

sua morte (§§354 e 355). Logo, o Brasil violou o direito à integridade pessoal, prevista no art. 5.1
da CADH, de Zora Herzog, Clarice Herzog, Ivo Herzog e André Herzog.
Eliovaine

Em razão da responsabilização internacional do Estado, o Brasil foi condenado a cumprir as seguintes


prestações:
I. reabrir as investigações sobre o caso, determinando os autores materiais e intelectuais da tortura
e morte do Sr. Herzog, não podendo aplicar a Lei de Anistia em benefício dos autores, assim como
nenhuma outra disposição análoga, prescrição, coisa julgada, ne bis in idem ou qualquer
excludente similar de responsabilidade, para escusar-se dessa obrigação.
II. assegurar o pleno acesso e capacidade de agir das vítimas e seus familiares em todas as etapas da
investigação;
III. garantir que as investigações e processos pelos fatos do presente caso sejam mantidos na
jurisdição ordinária (e não sejam remetidos à justiça militar);
IV. adequar a legislação interna para que seja reconhecida a imprescritibilidade dos crimes contra a
humanidade.
V. Realização de ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional, em memória à
Vladimir Herzog e à falta de investigação, julgamento e punição dos responsáveis por sua tortura
e morte, que deverão estar presentes altos funcionários do Estado, das Forças Armadas e os
familiares da vítima;
VI. Publicação da sentença integral no Diário Oficial da União, no prazo de seis meses;

167
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

VII. Publicação do resumo oficial da sentença em jornal de grande circulação nacional, no prazo de
seis meses;
VIII. Publicação do resumo e da integralidade da sentença nas páginas eletrônicas oficiais da Secretaria
Especial de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e Cidadania e do Exército brasileiro, de
maneira acessível ao público, pelo prazo de um ano;
IX. Divulgação nas redes sociais, da sentença nas contas das redes sociais Twitter e Facebook da
Secretaria Especial de Direitos Humanos e do Exército, por meio de um post semanal, pelo prazo
de um ano.
X. O pagamento de US$ 20.000,00 a título de indenização por danos materiais (dano emergente), a
ser pago à Clarice Herzog.
XI. O pagamento de US$ 40.000,00, a título de indenização por danos morais aos familiares da vítima
(Clarice, André, Ivo e Zora Herzog).

7.4.6.9. Caso dos empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus


e seus familiares vs. Brasil:
Em 15 de julho de 2020 a Corte IDH publicou a sentença do Caso dos empregados da Fábrica de Fogos
de Santo Antônio de Jesus e seus familiares vs. Brasil.
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Santo Antônio de Jesus é um município localizado a 187 km de Salvador. Trata-se da segunda maior
cidade com produção de fogos de artifício do Brasil.
Comumente a fabricação dos fogos de artifício acontece em tendas clandestinas e insalubres,
localizada na periferia do município, sem o respeito das normas de segurança e saúde do trabalhador (§62).
A produção clandestina chega a empregar 10% da população do município, com pessoas de baixa renda,
normalmente mulheres afrodescendentes, sem o ensino fundamental completo, recrutadas a partir dos 10
CPF: 030.720.271-29

anos de idade, (§§63 a 65). Homens são normalmente empregados na chamada “massa” (mistura de nitrato
de prata, areia, álcool e ácido nítrico), enquanto as mulheres na produção de traque.
Em 11 de dezembro de 1998, a fábrica Vardo dos Fogos, localizada na zona rural do município de
Silva -- CPF:

Santo Antônio de Jesus explodiu, matando 60 pessoas (40 mulheres, 19 meninas e um menino) e ferindo
outras 6 (3 mulheres, 2 meninos e 1 menina). Um total de 23 crianças, além de quatro óbitos de mulheres
da Silva

gestantes, e um quinto óbito de uma mãe grávida, que chegou a dar a luz, mas veio a falecer logo em seguida
(§75).
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Os sobreviventes foram atendidos em Salvador, tendo em vista que no município não havia leitos
para o tratamento de pessoas com queimaduras. Nenhuma delas recebeu tratamento médico adequado,
Eliovaine

sendo que a maioria ainda sofre com as consequências do acidente, como perda auditiva e queimaduras no
corpo (§76).
A fábrica, consistia no conjunto de tendas, localizada em uma área de pasto. O material explosivo era
armazenado junto às trabalhadoras. Não havia espaços destinados a descanso, alimentação ou banheiros
(§70). Ainda assim a fábrica tinha autorização do Ministério do Exército e do Município, para funcionamento
(§78).
Não há notícias nos autos de qualquer fiscalização na fábrica, desde a expedição de seu Certificado
de Registro, em 19 de dezembro de 1995 (§78).
As vítimas eram mulheres, afrodescendentes, que viviam, em sua maioria, em condições de pobreza.
Foram contratadas verbalmente, recebendo R$ 0,50 por mil traques. A grande maioria não tinha ensino
fundamental completo (§§70 e 71). Não lhe foram oferecidos equipamento de proteção individual ou
treinamento para o exercício do trabalho. As crianças tinham uma rotina trabalho de seis horas diárias
durante o período letivo e o dia inteiro nas férias, feriados e finais de semana. As mulheres trabalhavam o
dia inteiro, a partir das 6h da manhã, com uma produção média de 3 a 6 mil traques por dia.
Dois dias após a explosão uma equipe do Exército compareceu ao local, confirmando o
armazenamento de explosivos e diversos materiais sem autorização, procedendo sua apreensão (§79). O

168
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

processo administrativo conduzido pelo Comando Militar do Nordeste nº 6, concluiu pela existência de
diversas irregularidades na fábrica, cassando o certificado do estabelecimento (§81).
Em seu inquérito, de 8 de janeiro de 1999, a Polícia Civil concluiu que a explosão foi causada pela
falta de segurança no local em relação ao armazenamento dos propulsores e acessórios explosivos, bem
como pela manipulação dos materiais por pessoas não capacitadas (§80).
Foram distribuídos processos trabalhistas, civis penais e administrativos após a explosão.
Transcorridos mais de 18 anos do acidente, nenhum deles havia concluído a execução das decisões
reparatórias (§82).
Em relação ao processo penal, a denúncia foi apresentada pelo Ministério Público em 12 de abril de
1999 em face dos donos da fábrica (Mário Fróes Prazeres Bastos e Osvaldo Prazeres Bastos) e outras seis
pessoas que exerciam funções administrativas no local. Em 9 de novembro de 2004 foi proferida decisão de
pronúncia dos acusados. Em 18 de julho de 2007 o Ministério Público requereu o desaforamento do processo
e sua remeça à comarca de Salvador. O pedido foi acolhido em 7 de novembro de 2007, sendo o feito julgado
em 20 de outubro de 2010, com a condenação de cinco acusados e a absolvição de três (§§83 a 85).
Após a condenação foram interpostos recursos junto ao TJBA e habeas corpus perante o STF. O
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condenado Osvaldo Prazeres Bastos teve a pena extinta em razão da prescrição da pretensão punitiva do
Estado. Os demais habeas corpus julgados pelo Superior Tribunal de Justiça foram concedidos, pois os
advogados dos acusados não teriam sido convocados para a sessão de julgamento das apelações (§85).
Foi proposta uma ação civil em face da União, do Estado da Bahia, o Município de Santo Antônio de
Jesus e a fábrica de fogos, pelas vítimas diretas e indiretas do acidente. Nos autos foi feito pedido de
antecipação dos efeitos da tutela para que menores de 18 anos, que as mães haviam falecido na explosão,
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recebessem uma pensão mensal, até o final do processo. Tal pedido foi deferido (§86).
Posteriormente o processo foi desmembrado, em razão do elevado número de pessoas no polo ativo
da lide. Os pedidos de reparação foram julgados procedentes em 7 de julho de 2010 e 26 de agosto de 2011.
Das decisões foram interpostos recursos em face das sentenças. Até o momento da decisão da Corte IDH, 12
Silva -- CPF:

dos 14 processos, estavam pendentes de julgamento de recursos especiais (§§87 a 89).


da Silva

Em 9 de janeiro de 1999 foi proposta ação civil pública em face dos donos da fábrica, buscando a
reparação de danos. Em 10 de dezembro de 2013 foi feito um acordo em que se estabeleceu uma indenização
Gouvea da

de R$ 1.280.000,00 a ser dividido entre as vítimas. Após pagamento parcial da dívida, foi feito um novo
Eliovaine Gouvea

acordo em 2019 para sua quitação (§§90 e 91).


Eliovaine

Foram propostas 76 reclamações trabalhistas, das quais 30 foram arquivadas e 28 julgadas


improcedentes. Das demandas, 6 processos foram arquivados provisoriamente por não terem sido
encontrados bens suficientes para a execução (§91).
O processo administrativo junto ao Exército resultou na destruição do material apreendido em 15 de
dezembro de 1998. Em 6 de julho de 1999 foi determinado o cancelamento definitivo do registro da empresa
(§93).
A sentença de mérito da Corte IDH foi dividida em 4 partes:
I. Possíveis danos ao direito à vida e à integridade pessoal e direitos das crianças (artigos 4.1, 5.1 e
19 da CADH).
II. Direito a condições equitativas e satisfatórias que garantam a segurança, saúde e higiene do
trabalho, aos direitos das crianças ao direito à igualdade e à proibição de discriminação (artigos
1.1, 19, 24 e 26 da CADH).
III. Direitos às garantias judiciais e proteção judicial (artigos 8.1 e 25 da Convenção).
IV. Direito à integridade pessoal dos familiares das supostas vítimas (artigo 5 da CADH).
Quanto à análise do direito à vida, à integridade pessoal e das crianças e às obrigações de respeito e
garantia, a Corte IDH decidiu o seguinte:

169
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

I. Os Estados têm a obrigação erga omnes de garantir e respeitar a normas de proteção dos direitos
humanos, bem como a efetividade da CADH (artigo. 1.1). Logo, a responsabilidade internacional
do Estado é fundada em ações e omissões de seus órgãos em face das normas da Convenção. Não
basta que os Estados se abstenham de violar direitos, mas também que adotem medidas positivas
para que tais normas sejam respeitadas (§115).
II. O direito à vida tem um papel fundamental na Convenção Americana, sendo sua garantia
indispensável ao exercício dos demais direitos. Disso decorre a obrigação negativa, em que
nenhuma pessoa pode ter sua vida privada arbitrariamente a obrigação positiva de que os Estados
devem adotar medidas para a proteção e preservação do direito à vida (§116).
III. Em relação às crianças, de acordo com o artigo 19 da CADH os Estados devem adotar medidas de
proteção, em razão de sua condição especial de vulnerabilidade (§116).
IV. A obrigação de garantia de proteção a esses direitos pelo Estado não se resume à relação de seus
agentes com indivíduos, como também relações entre particulares. Porém, para a Corte, os
Estado não pode ser responsabilizado por qualquer violação de direitos humanos cometida entre
particulares sob sua jurisdição, devendo ser analisada as circunstâncias do caso concreto para
aferir a concretização das obrigações de garantia (§117).
V. O Estado tem o dever de regulamentar, supervisionar e fiscalizar a prática de atividades
perigosas, que coloque em risco a vida e a integridade das pessoas submetidas à sua jurisdição
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(§118). Tal dever ocorri inclusive quando a atividade é exercida por uma entidade privada (§120).
VI. Para aferir se houve responsabilidade do Estado no caso concreto, a Corte analisou se a
regulamentação vigente à época impunha o dever de fiscalização do Estado; e se é possível a
atribuir a responsabilidade no caso concreto (§122).
VII. À época vigia o Decreto nº 55.649/65, que previa o registro obrigatório de empresas que
produziam fogos de artifício, habilitando-as com um Título de Registro de validade de 3 anos.
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Cabia a cada região militar registar e inspecionar as empresas com colaboração da Polícia Civil e
os governos municipais. Também havia legislação estadual sobre o tema, datada de 1997. Logo,
a Corte concluiu que o dever de regulamentação foi cumprido pelo Brasil (§§124 a 132).
VIII. A fábrica tinha licença para funcionar, nos termos da legislação. Caberia, portanto, ao Estado o
dever de supervisionar e fiscalizar seu funcionamento. Não há nos autos provas de qualquer
Silva -- CPF:

fiscalização antes da explosão, tendo o próprio Estado reconhecido que falhou no seu dever de
fiscalização (§§133 e 134).
da Silva

IX. A omissão do estado propiciou a violação dos direitos à vida das 60 vítimas fatais e o direito à
Gouvea da

integridade pessoal das 6 pessoas sobreviventes. Ademais, devido à presença de crianças entre
Eliovaine Gouvea

as pessoas falecidas e sobreviventes, ocorreu ainda a violação do art. 19 da CADH.


Eliovaine

Quanto aos direitos das crianças, a igual proteção da lei, a proibição de discriminação e ao trabalho,
a sentença da Corte teve como principais pontos os seguintes:
I. A Constituição de 1988 veda de forma absoluta o trabalho de menores de 18 anos em atividades
perigosas. Caberia, portanto, ao Estado a obrigação da adoção de medidas para prevenir
eventuais violações dos direitos das crianças assegurando que menores de idade não
trabalhassem lá (§152).
II. O artigo 26 do Pacto de San José da Costa Rica faz referência às normas de direitos sociais,
econômicos e culturais. A partir de sua leitura em conjunto com a Carta da OEA, é possível
identificar uma série de normas relacionadas ao direito do trabalho, como o art. 45.b20 da Carta
da OEA. Diante da leitura desses dispositivos a Corte compreende que o direito a condições
equitativas e satisfatórias que garantam a segurança, a saúde e a higiene do trabalho é um direito
protegido pelo artigo 26 da CADH. (§§154 e 155).

20 Artigo 45. Os Estados membros, convencidos de que o Homem somente pode alcançar a plena realização de suas aspirações
dentro de uma ordem social justa, acompanhada de desenvolvimento econômico e de verdadeira paz, convêm em envidar os
seus maiores esforços na aplicação dos seguintes princípios e mecanismos: (...) b. O trabalho é um direito e um dever social;
confere dignidade a quem o realiza e deve ser exercido em condições que, compreendendo um regime de salários justos,
assegurem a vida, a saúde e um nível econômico digno ao trabalhador e sua família, tanto durante os anos de atividade como na
velhice, ou quando qualquer circunstância o prive da possibilidade de trabalhar;

170
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

III. A Corte não está assumindo competência sobre tratados que não é competente, mas sim
interpretando os dispositivos conforme os artigos 29 e 26 da CADH, de modo a fazer uma
interpretação evolutiva do corpus iuris internacional (§158).
IV. O direito a condições equitativas e satisfatórias de trabalho foi reconhecida por diversos
instrumentos internacionais como a Carta da OEA, a Declaração Americana, o Protocolo de San
Salvador, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Convenção sobre a Eliminação de todas
as formas de Discriminação contra a Mulher, o ato constitutivo da OIT e a Convenção 155 da OIT
(§§159 a 166). Além disso, as constituições e legislação dos países signatários da CADH, entre eles
o Brasil, também prevê tal direito (§169).
V. Para a Corte IDH a exigibilidade do direito da proteção das condições de trabalho é imediata,
apresentando aspectos de caráter progressivo. Os Estados devem garantir o exercício, sem
discriminação, de medidas eficazes para sua plena realização (obrigação de exigibilidade
imediata), porém têm a obrigação concreta e constante de avançar da forma mais eficaz possível
à plena efetividade do direito, na medida dos recursos disponíveis (obrigações de caráter
progressivo), sem que ocorra uma regressividade frente aos direitos alcançados (§172).
VI. No caso dos autos, está-se diante de uma obrigação de exigibilidade imediata e não progressiva,
tendo em vista que a atividade implica significativo risco para a vida e a integridade das pessoas
(§174).
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VII. O Estado brasileiro violou, portanto o direito a condições equitativas e satisfatórias de trabalho
quando deixou de cumprir seu dever de prevenir acidentes do trabalho. Portanto, violado o art.
26 da CADH (§§175 e 176).
VIII. Além da CADH, há em âmbito interamericano a Convenção sobre os Direitos da Criança que
protegem os direitos das crianças determinando medidas de proteção especial. O artigo 32 da
Convenção proíbe crianças de exercerem trabalhos perigosos, tal qual a legislação brasileira.
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Portanto, considerando que 19 dos 60 falecidos eram crianças, a partir de 11 anos de idade, o
Estado brasileiro violou os artigos 19 e 26 da CADH (§181).
IX. O princípio da igualdade e o direito de não discriminação é, para a Corte IDH uma norma de jus
cogens, devendo os Estados se abster de adotar medidas que importem em situações de
discriminação de direito ou de fato direta ou indireta (§182).
Silva -- CPF:

X. A Corte IDH rememorou sua jurisprudência no sentido de que situações de exclusão e


marginalização pela situação de pobreza aprofundam o impacto da vitimização, tendo o Brasil,
da Silva

inclusive, sido condenado no Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil, ante a
Gouvea da

situação de discriminação estrutural histórica em razão a posição econômica das vítimas (§§186
Eliovaine Gouvea

e 187).
XI. No caso a Corte constatou que as vítimas eram pessoas que não podiam ter acesso a outra fonte
Eliovaine

de renda, e, por isso, eram obrigados a aceitar trabalhos em condições precárias, tendo em vista
a discriminação estrutural ocasionada por sua condição de pobreza (§188).
XII. Além disso, no caso em tela, outros fatores de discriminação aumentaram as desvantagens
comparativas das vítimas, questões de gênero, raça e estado gravídico (§§191 e 192).
XIII. Portanto, o Estado Brasileiro violou o artigo 24 da CADH pois não garantiu a igualdade material às
vítimas, deixando de adotar medidas positivas para pôr fim à discriminação e marginalização
histórica das vítimas (§§197 a 203).
Sobre os direitos às garantias judiciais e à proteção judicial, a sentença da Corte IDH trouxe os
seguintes pontos:
I. Para a Corte o artigo 8.1 da CADH tem íntima ligação ao devido processo legal, enquanto o artigo
25 da Convenção refere-se ao acesso a recurso judicial simples eficaz e efetivo. Ambos os artigos
se relacionam e a efetividade dos recursos deve ser avaliada no caso concreto (§§217 e 218).
II. No caso, a devida diligência do Estado estará comprovada no processo penal, se o Estado
conseguir comprovar que envidou todos os esforços para determinar a verdade, identificar e punir
todos os responsáveis. Em relação aos processos civis, analisa-se as ações das autoridades estatais
na condução de procedimentos simples e rápidos para a identificação dos agentes e reparação
das vítimas. Acerca de processos trabalhistas, a devida diligência é aferida quando a autoridade

171
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

judicial estabelece o vínculo entre os trabalhadores da fábrica e seus donos, determinando e


efetivando o pagamento de valores devidos (§221).
III. Quanto ao prazo razoável, sua verificação é feita através da duração total entre a distribuição do
processo e a sentença definitiva, considerando-se: a complexidade do assunto; a atividade
processual do interessado; a conduta das autoridades judiciais e o prejuízo à situação jurídica da
vítima (§223).
IV. Em relação ao processo administrativo, considerando que seu início foi em 13 de dezembro de
1998 e fim 6 de junho de 1999, a Corte IDH decidiu que o Brasil agiu com a devida diligência em
um prazo razoável (§227).
V. No âmbito penal, após o inquérito policial foi apresentada denúncia em 12 de abril de 1999, tendo
o julgamento no Tribunal do Júri ocorrido em 20 de outubro de 2010, com decisão mantida em
2012 pelo TJBA. Porém, em 2019, o Superior Tribunal de Justiça concedeu três habeas corpus,
extinguindo a punibilidade pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva do Estado, em
relação a um dos condenados e anulando os julgamentos de segunda instância dos outros quatro.
Portanto, ainda que tenham sido os agentes rapidamente identificados, houve no caso, falta de
diligência, diante de atrasos injustificados das autoridades judiciais (§§228 a 231).
VI. Na esfera cível uma primeira ação foi proposta em 4 de março de 2002, para a responsabilização
dos donos da fábrica, tendo sido feito pedido de antecipação de tutela para o pagamento de
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pensão aos menores de 18 anos, cujas mães falecerem na explosão. Tal pedido foi deferido no dia
seguinte pelo juiz da causa. 39 crianças foram beneficiadas pela decisão, porém apenas 16
receberam efetivamente o pagamento. Os demais familiares não haviam recebido, até o
julgamento da Corte IDH qualquer pagamento. No caso, a complexidade do assunto não pode se
invocada pelo Estado. Ademais, a conduta dos agentes judiciais aponta um atraso injustificado.
Houve ainda prejuízo agravado às vítimas, que não dispunham de mios econômicos para
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pagamento de despesas médicas e psicológicas decorrentes do acidente. Por isso o Estado violou
seu dever de garina do prazo razoável (§§233 e 234).
VII. Na segunda ação cível, proposta em 2010 pelo Ministério Público, aferiu-se que apesar de ter sido
firmado um acordo em 2013, e um novo acordo em 2019, foram necessários mais de 20 anos para
que as vítimas tivessem acesso à indenização. Logo, as autoridades judiciais não garantiram meios
Silva -- CPF:

para conseguir a reparação adequada em tempo razoável (§238).


VIII. Em relação às ações trabalhistas a Corte concluiu que o Estado não tomou medidas efetivas par o
da Silva

êxito da execução das reclamações trabalhistas, pois apenas após 18 anos foi possível penhorar
Gouvea da

um bem de um dos donos para o pagamento dos valores (§241).


Eliovaine Gouvea

IX. Ademais, a Corte destaca que passados amais de 20 anos dos fatos nenhuma pessoa foi
efetivamente punida e as famílias não foram devidamente reparadas. Logo, não foi efetivada a
Eliovaine

garantia de proteção judicial efetiva às trabalhadoras da fábrica de fogos (§§244 a 247).


Em relação ao direito à integridade pessoal dos familiares das vítimas, a Corte IDH decidiu o seguinte:
I. Membros dos núcleos familiares podem ser vítimas de violações do artigo 5 da CADH, em razão
do sofrimento decorrente de violações dos direitos humanos de seus entes queridos (§251).
II. O próprio Estado recusou a inclusão de 26 pessoas no feito, sob o fundamento de que não havia
prova sobre o dano a seus direitos. Por esse motivo, a Corte entendeu que em relação às demais
pessoas, restou comprovado a relação familiar, bem como o sofrimento direto decorrente dos
fatos e a inação de mais de 20 anos do estado em fazer justiça.
Em função da responsabilização internacional do Estado, o Brasil foi condenado ao cumprimento das
seguintes prestações:
I. Prosseguir com as investigações e processo penal para identificar e eventualmente punir os
responsáveis pela explosão da fábrica de fogos de Santo Antônio de Jesus, não podendo o Estado
valer-se de instrumentos processuais (como prescrição, coisa julgada, ne bis in idem) que
resultem na obstrução ou atraso do andamento processual.
II. Dar prosseguimento às ações cíveis e trabalhistas em curso, para que em prazo razoável as
sentenças sejam cumpridas definitivamente, sendo as vítimas devidamente ressarcidas;

172
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

III. Fornecer tratamento médico, psicológico e psiquiátrico de que as vítimas necessitem, após seu
consentimento informado, e pelo tempo que seja preciso, por meio de instituições de saúde
especializadas e de forma imediata, adequada e efetiva, inclusive com o fornecimento gratuito de
medicamentos.
IV. Publicação do resumo oficial da sentença, no prazo de seis meses, no Diário Oficial da União e em
jornal de grande circulação nacional.
V. Publicação da sentença em sua integralidade, nas páginas eletrônicas do governo federal e do
Estado da Bahia, devendo o arquivo permanecer disponível no prazo mínimo de um ano.
VI. Produção de material para rádio e televisão, de não menos de cinco minutos, em que apresente
o resumo da sentença, a ser divulgado, às expensas do Estado, no horário de maior audiência
pelas cadeias públicas de rádio e televisão do Estado da Bahia, caso existam, ou, na sua falta, por
pelo menos uma das cadeias públicas de rádio e televisão do Governo Federal.
VII. Transmissão do material produzido para rádio e televisão nas redes sociais do Governo Federal e
do Estado da Bahia e sua manutenção nas respectivas plataformas eletrônicas, pelo prazo mínimo
de um ano.
VIII. Realização de ato público de reconhecimento de responsabilização internacional em relação aos
fatos do caso, com a presença de altos funcionários do Estado da Bahia e do Governo Federal,
bem como das vítimas, seus familiares e representantes.
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IX. A adoção de medidas para implementar uma política sistemática de inspeções periódicas nos
locais de produção de fogos de artifício, bem como a verificação das condições de segurança e
salubridade do trabalho, quanto o cumprimento das normas relativas ao armazenamento dos
insumos.
X. A implementação de programa social à população de Santo Antônio de Jesus, no prazo máximo
de dois anos, para fazer frente à falta de alternativas de trabalho, especialmente para os jovens
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maiores de 16 anos e as mulheres afrodescendentes que vivem em condição de pobreza na


produção de fogos na cidade21.
XI. Apresentar, no prazo de um ano, relatório sobre a implementação e aplicação das Diretrizes
Nacionais sobre Empresas e Direitos Humanos, com dados relativos à: promoção e ao apoio a
medidas de inclusão e não discriminação, mediante a criação de programas de incentivo à
Silva -- CPF:

contratação de grupos vulneráveis; e à implementação pelas empresas de atividades educacionais


em direitos humanos, com a divulgação da legislação nacional e dos parâmetros internacionais, e
da Silva

de um enfoque nas normas relevantes para a prática das pessoas e os riscos para os direitos
Gouvea da

humanos.
Eliovaine Gouvea

XII. Pagamento de US$ 50.000,00, a título de danos materiais, em favor de cada uma das vítimas da
explosão da fábrica de fogos.
Eliovaine

XIII. Pagamento de indenização por danos morais, entre US$ 10.000,00 a US$ 60.000,00 às vítimas da
explosão da fábrica de fogos e seus familiares.

7.4.6.10. Caso Barbosa de Souza e outros vs. Brasil:


Márcia Barbosa de Souza era uma estudante afrodescendente que residia no município de Cajazeiras,
no interior do Estado da Paraíba, junto do pai, e sua irmã mais nova, até maio de 1998, quando passou a
residir em João Pessoa (§65).
Em 17 de julho de 1998, tendo recebido uma ligação do então deputado estadual Aércio Pereira de
Lima e saiu para encontra-lo. Às 21 horas, no Motel Trevo, foi realizada uma ligação do telefone do deputado
a um número de telefone residencial na cidade de Cajazeiras. Durante a ligação, Márcia conversou com várias
pessoas, sendo que uma delas conversou com o deputado (§67).

21 (...) O programa deve incluir, entre outros: a criação de cursos de capacitação profissional e/ou técnicos que permitam a inserção
de trabalhadoras e trabalhadores em outros mercados de trabalho, como o comércio, o agropecuário e a informática, entre
outras atividades econômicas relevantes na região; medidas destinadas a enfrentar a evasão escolar causada pelo ingresso de
menores de idade no mercado de trabalho, e campanhas de sensibilização em matéria de direitos trabalhistas e riscos inerentes
à fabricação de fogos de artifício (§ 289).

173
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Na manhã seguinte o corpo de Márcia Barbosa de Souza foi deixado em um terreno baldio no bairro
de Altiplano Cabo Branco, próximo à cidade de João Pessoa (§68). O corpo apresentava escoriações na região
frontal, nasal e labial, tendo sido fixada como causa mortis a asfixia por sufocamento, resultante de ação
mecânica (§68).
Aércio Pereira de Lima foi denunciado pelo Ministério Público pelo homicídio (§69) junto ao tribunal
de Justiça em 8 de outubro de 1998.
Em razão de sua imunidade parlamentar, era necessária a autorização da Assembleia Legislativa para
o início da persecução penal. A Assembleia Legislativa da Paraíba negou a autorização em 17 de dezembro
de 1998 e 29 de setembro de 1999 (§75).
Em 12 de abril de 2002, o presidente do Tribunal de Justiça fora informado das alterações à
Constituição de 1988 pela Emenda 35/01, que dispensava a autorização prévia da casa legislativa para o início
da persecução penal.
Após consulta ao TER/PB verificou-se que Aércio Pereira de Lima não teria sido reeleito para nenhum
carto, tendo o caso sido enviado à primeira instância.
O processo fora iniciado apenas em 14 de março de 2003, tendo sido proferida sentença de
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pronúncia em julho de 2005.


Em 25 de julho de 007 foi realizada primeira sessão no tribunal do Júri, adiada devido a ausência do
advogado do réu. No dia 26 de setembro de 2007 a sessão foi retomada, tendo Aércio Pereira de Lima sido
condenado a 16 anos de reclusão por homicídio e ocultação de cadáver.
Após a sentença o réu apresentou apelação, mas veio a óbito em 12 de fevereiro de 2008 de infarto.
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O corpo de Aércio Pereira de Lima foi velado no Salão Nobre da Assembleia Legislativa do Estado da
Paraíba.
Outros quatro envolvidos foram investigados pela participação no delito, tendo as investigações se
Silva -- CPF:

iniciado em 1ª de outubro de 1998. Em dezembro de 1998 o representante do MP solicitou a realização de


novas diligências à autoridade policial. Durante o ano de 1999 não foram feitas medidas significantes tendo
da Silva

em vista que dois promotores se alegaram impedidos por motivo de foro íntimo (§83).
Gouvea da

Até dezembro de 2002 o Delegado responsável pelo caso não realizou as diligências complementares
Eliovaine Gouvea

solicitadas pelo representante do Ministério Público (§86).


Eliovaine

Em março de 2003, o Ministério Público opinou pelo arquivamento do inquérito, por insuficiência de
provas, tendo sido o pedido acatado pelo juiz (§87).
Antes de adentrar ao mérito, a Corte IDH fixou sua competência para o julgamento de fatos ocorridos
após o reconhecimento de sua competência contenciosa pelo Brasil (10 de dezembro de 1998).
A sentença da Corte analisou os seguintes temas: direitos às garantias judiciais, à proteção judicial e
à igualdade perante a lei, em relação às obrigações de respeito e garantia e o dever de adotar disposições de
direito interno para o cumprimento da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência
contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará); e direito à integridade pessoal dos familiares de Márcia
Barbosa de Souza.
Em relação ao primeiro ponto, a Corte IDH decidiu o seguinte:
I. A imunidade parlamentar é um instituto que visa a independência do órgão legislativo em
conjunto, bem como de seus membros, não podendo servir como privilégio pessoal ou
transformar-se em mecanismo de impunidade (§100).
II. Interessa ao caso apenas a imunidade formal do parlamentar, à época do caso.
III. A Assemblei Legislativa, segundo as regras anteriores à EC nº 35/01 deveria observar a finalidade
da imunidade formal, no momento da análise do pedido de seu levantamento, considerando o

174
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

fumus persecutionis. A análise da Assembleia não pode derivar de uma atuação arbitrária, que
ignore a natureza do conflito e a proteção dos interesses dos envolvidos (§108).
IV. Caberia, portanto, à Assembleia Legislativa motivar a decisão que não autorizou o início da
persecução penal, que no caso, não se exige a mesma forma de uma decisão judicial, bastando o
relatório técnico com motivação sobre a decisão adotada (§110).
V. Portanto, para o levantamento da imunidade parlamentar processual por parte da casa
parlamentar era necessário (§111):
a. Seguir procedimento célere previsto no regimento interno ou lei, contendo regras claras que
respeitem as garantias do devido processo legal;
b. Incluir um teste de proporcionalidade estrito para analisar a acusação contra o parlamentar
e o impacto direto ao acesso à justiça das pessoas afetadas pelo julgamento; e
c. Motivar a decisão através de motivação vinculada à existência de fumus persecutionis no
exercício da ação penal proposta contra o parlamentar.
VI. No caso concreto, segundo às normas da época, havia um procedimento perante o Conselho de
ética da casa, mas não havia regulamentação constitucional, legal ou regimental sobre o tema e,
por isso tal regulamentação violava o direito de acesso à justiça (§§114 e 115).
VII. Do mesmo modo, as decisões que negaram o início da persecução penal não foram motivadas e
a opinião da deputada relatora do parecer sequer foi considerada. Logo a ausência do
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levantamento da imunidade parlamentar foi arbitrária, impactando diretamente no direito de


acesso à justiça dos parentes da vítima (§§116 a 124).
VIII. Em relação a alegada falta de diligência na investigação sobre os demais suspeitos, a Corte
entendeu verossímil que o homicídio de Márcia Barbosa de Souza tenha sido cometido por razões
de gênero e que o Estado não realizou qualquer diligência para determiná-lo (§125).
IX. Competiria ao Estado conseguir provar que empreendeu todos os esforços, em tempo razoável,
CPF: 030.720.271-29

para permitir a determinação da verdade, a identificação dos responsáveis, sejam eles


particulares ou agentes públicos (§127).
X. O dever de investigar é uma obrigação de meio e não de resultado, a ser assumida pelo Estado
como uma obrigação e não como um mero formalismo fadado ao insucesso ou à mera gestão de
interesses particulares (§128).
Silva -- CPF:

XI. Em casos de violência contra a mulher, as obrigações gerais dos artigos 8 e 25 da CADH são
complementadas pelas obrigações da Convenção de Belém do Pará, devendo os Estados levar em
da Silva

consideração o dever da sociedade de rejeitar a violência de gênero e as obrigações do Estado de


Gouvea da

erradica-la e oferecer confiança às vítimas nas instituições estatais para sua proteção (§§129 e
Eliovaine Gouvea

130).
XII. As autoridades estatais tem obrigação de investigar possíveis conotações discriminatórias por
Eliovaine

razão de gênero em um ato de violência contra uma mulher. As investigações penais devem incluir
uma perspectiva de gênero e ser realizada por funcionários capacitados em casos similares e em
atenção a vítima (§130).
XIII. No caso concreto não foram realizadas uma série de diligências solicitadas pelo representante do
Ministério Público, tendo a justificativa do Delegado responsável para sua inércia o acúmulo de
trabalho. Logo, restou comprovada a violação do dever de atuação com a devida diligência por
parte do Estado (§132 e 133).
XIV. Para a Corte o Brasil violou o prazo razoável na investigação e tramitação do processo penal, tendo
em vista o prazo de 5 anos para o início do processo, em decorrência da falta de autorização da
Assembleia Legislativa e de 10 anos para a prolação da sentença condenatória em primeira
instância (§§134 a 137).
XV. Segundo o tribunal, a noção de igualdade decorre diretamente da unidade de natureza do gênero
humano, sendo inseparável da dignidade. Portanto, toda situação que considera um grupo
superior a outro, de modo a trata-lo com privilégios, ou em sentido contrário, trate com
hostilidade ou discriminação um grupo por considera-lo inferior, são incompatíveis com as
normas do Direito Internacional (§138).
XVI. O princípio da igualdade e da não discriminação é, para a Corte IDH norma de jus cogens, logo, os
Estados devem abster-se de realizar ações que, de qualquer maneira criem discriminação de fato
ou de direito (§138).

175
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

XVII. O artigo 24 da CADH contém mandato orientando a garantir a igualdade material, devendo os
Estados adotar medidas positivas de promoção a grupos historicamente marginalizados ou
discriminados, nos termos do artigo 1.1 do Pacto de San José da Costa Rica (§§139 e 140). No
mesmo sentido fazem a Convenção sobre Eliminação de todas as formas de Discriminação contra
a Mulher e a Convenção de Belém do Pará (§§141 e 142).
XVIII. Para a Corte IDH, no caso concreto, existiu a intenção de desvalorizar a vítima, por meio da
neutralização de valores. Durante toda a investigação a sexualidade e o comportamento da vítima
foi um tema especial, de modo a construir a imagem de que ela seria merecedora do ocorrido.
Perguntas repetidas relacionadas ao consumo de drogas, álcool e sobre a sexualidade da vítima
buscaram construir tal imagem tanto nos autos, quanto em jornais e revistas (§§145 a 149).
XIX. Em virtude desse comportamento adotado nos autos, o Estado foi responsabilizado por não
adotar medidas dirigidas a garantia da igualdade material e do direito ao acesso à justiça sem
discriminação (§150).
Quanto ao direito à integridade pessoal dos familiares de Márcia Barbosa de Souza, a Corte IDH
decidiu o seguinte:
I. Familiares de vítimas de violações de direitos humanos também podem ser vítimas, segundo as
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reiteradas decisões da Corte, em razão do sofrimento adicional causados pelas violações


perpetradas contra seus entes queridos, as ações e omissões das autoridades frete ao caso e a
gestão para a obtenção da justiça (§155).
II. No caso concreto os pais da vítima padeceram de sofrimento e angústia profunda em razão do
homicídio de sua filha. O pai da vítima, inclusive, veio a falecer em função de alcoolismo iniciado
após a busca de justiça pela morte da vítima (§§156 e 157).
III. Há nos autos ainda provas de cerca de 320 notas jornalísticas, em um período de 10 anos sobre o
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caso, reforçando estereótipos de gênero contidos nas investigações e expondo a família da vítima
a revitimização, causando-lhe maior sofrimento (§160).
IV. A Corte destacou ainda que, mesmo após a condenação em primeira instância, a Assembleia
Legislativa considerou pertinente homenagear o autor do homicídio, decretando luto oficial d 3
Silva -- CPF:

dias e velando seu corpo no Salão Nobre da casa. Fatos esses que intensificaram o sofrimento dos
familiares (§161).
da Silva

V. Portanto, com base em todos esses pontos, o Estado brasileiro violou a integridade pessoal,
prevista no artigo 5.1 da CADH, dos familiares da vítima.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Diante da responsabilização internacional do Estado, o Brasil foi condenado a cumprir as seguintes


prestações:
Eliovaine

I. A publicação, no prazo de seis meses, do resumo oficial da sentença no Diário Oficial da União,
nas páginas de internet da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba e do Poder Judiciário da
Paraíba e em jornal de circulação nacional.
II. A publicação, no prazo de seis meses, da sentença em sua integralidade, nas páginas de internet
dos Governos Federal e Estadual da Paraíba, mantendo-se a disponibilização do arquivo pelo
prazo de um ano.
III. Realização de ato de reconhecimento de responsabilização internacional, decorrente dos fatos
dos autos, que poderá ser realizado na Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba, caso as
vítimas assim desejem. Deverão estar presentes no ato uma alta autoridade do Ministério de
Relações Exteriores e da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba.
IV. O pagamento do tratamento psicológico ou psiquiátrico da mãe da vítima pelo Estado.
V. Desenhar e implementar, nos prazos de um e três anos, um sistema nacional de recopilação de
dados desagregados (idade, raça, classe social, perfil de vítima, lugar de ocorrência, perfil do
agressor) relacionado às vítimas de violência contra mulher. Assim como dados referentes aos
processos judiciais, identificando o número de acusações, condenações e absolvições.
VI. Condenação da a Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba para, no prazo de dois anos, realizar
uma jornada de reflexão e sensibilização, com o nome de Márcia Barbosa de Souza, sobre o

176
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

impacto do feminicídio, da violência contra a mulher e da utilização da figura da imunidade


parlamentar.
VII. Criação de um protocolo nacional para o estabelecimento de critérios claros e uniformes para a
investigação de feminicídios22.
VIII. O pagamento de US$ 150.000,00 para cada uma das vítimas, a título de indenização por danos
materiais e morais (incluindo o valor decorrente da impossibilidade de reabertura das
investigações).

ATENÇÃO:
A Corte IDH apesar de condenar o Brasil por erros na investigação e na persecução penal, não
determinou a reabertura das investigações, tendo em vista a situação de vulnerabilidade maior da mãe da
vítima23.

7.4.6.11. Caso Sales Pimenta e outros vs. Brasil:

Essa é a última condenação do Brasil, no âmbito da Corte IDH, com sentença publicada em 30 de
junho de 2022.
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Gabriel Sales Pimenta era advogado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá e, em razão
de sua profissão, estava recebendo diversas ameaças de morte. Tal fato foi reportado para a Secretaria de
Segurança Pública do Pará, bem como o pedido de proteção estatal.
Em 18 de julho de 1982, no entanto, ele foi assassinado por três homens, quando saia de um bar. A
morte foi imputada ao contexto de lutas pela reforma agrária no país.
CPF: 030.720.271-29

Segundo os dados apresentados na sentença condenatória, assim como Gabriel Sales Pimenta, 30
defensores de direitos humanos (trabalhadores rurais) foram assassinados apenas no ano de 1982 no Brasil.
35% dos casos ocorreram no Estado do Pará. Entre 1985 a março de 2001, 1207 trabalhadores rurais foram
vítimas de homicídios, sendo que em 95% dos casos, não houve nenhuma resposta estatal (§51). Apenas no
Silva -- CPF:

município de Marabá/PA, entre 1975 a 2005 a taxa de impunidade foi de 100% (§51).
Três pessoas foram denunciadas pela prática do crime (M.C.N., J.P.N. e C.O.S.), sendo a denúncia
da Silva

admitida em 23 de agosto de 1983.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Apenas J.P.N. foi citado, tendo sido decretada a prisão preventiva dos outros dois em julho de 1984.
Em novembro de 1987 o acusado M. C. N. pediu a revogação a preventiva, alegando ter bons
Eliovaine

antecedentes e ser réu primário. Ele foi interrogado em abril de 1988.


Em 8 de julho de 1992 o Ministério Público apresentou alegações finais. Apenas em 27 de abril de
1998 todos acusados apresentaram alegações finais.
Em 23 de novembro de 1999 o Ministério Público peticionou requerendo a extinção da punibilidade
de J. P. N. em razão de seu falecimento. Requereu ainda a absolvição de C. O. S. por falta de provas.

22 201. Em consequência, a Corte considera pertinente ordenar ao Estado que adote e implemente um protocolo nacional que
estabeleça critérios claros e uniformes para a investigação dos feminicídios. Este instrumento deverá ajustar-se às diretrizes
estabelecidas no Modelo de Protocolo Latino-Americano de Investigação de Mortes Violentas de Mulheres por Razões de Gênero,
bem como à jurisprudência deste Tribunal. Este protocolo deverá estar dirigido ao pessoal da administração de justiça que, de
alguma maneira, intervenha na investigação e tramitação de casos de mortes violentas de mulheres. Ademais, deverá incorporar-
se ao trabalho dos referidos funcionários através de resoluções e normas internas que obriguem sua aplicação por todos os
funcionários estatais.
23 173. A Corte considera que uma eventual reabertura das investigações quanto aos quatro possíveis partícipes do homicídio de
Márcia Barbosa não é procedente. Sem prejuízo disso, o sofrimento gerado pela impunidade derivada da flagrante falta de devida
diligência na realização de atos investigativos essenciais para o esclarecimento da possível participação de outras pessoas no
grave delito em questão, bem como o particular efeito negativo da impunidade prolongada sobre pessoas que se encontram em
uma situação de maior vulnerabilidade, como a mãe da Márcia, que é uma pessoa idosa, serão consideradas oportunamente no
capítulo de indenizações.

177
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Apenas M. C. N. foi pronunciado, tomando ciência da sentença de pronúncia em 7 de janeiro de 2002.


Em 20 de fevereiro de 2004 o juiz remeteu os autos para a Vara Agrária. Em 28 de julho de 2005, em
julgamento de conflito de competência, o TJPA determinou o julgamento do feito pelo juiz da Vara Penal.
Em 6 de março de 2006 agentes da Polícia Federal conseguiram cumprir o mandado de prisão na
cidade de Pitangui/MG.
Em abril de 2006 foi impetrado habeas corpus tendo como fundamento a extinção da punibilidade
pela ocorrência da prescrição da pretensão punitiva. Em 2 de maio de 2006 adveio a decisão negando o
pedido. Porém, em 8 de maio de 2006 o TJPA reformou a decisão de primeiro grau, extinguindo o feito sem
resolução do mérito.
No mérito da decisão, a Corte IDH destacou o seguinte:
I. O direito à verdade integra o direito de acesso à justiça. Portanto as vítimas e seus familiares tem
o direito subjetivo de conhecer, em prazo razoável a verdade sobre os fatos e de verem punidos
os responsáveis por violações de direitos humanos (§83).
II. O dever de investigar é uma obrigação de meio e não de resultado, a ser assumida pelo Estado
como uma obrigação e não como um mero formalismo fadado ao insucesso ou à mera gestão de
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interesses particulares (§85).


III. Por se tratar de caso envolvendo defensores de direitos humanos, caberia ao Estado reforçar a
sua devida diligência, criando-se um ambiente de proteção e reconhecimento de seu papel
essencial para a democracia e o Estado de Direito (§88). Isso porque a violência contra defensores
de direitos humanos tem um efeito amedrontador (chilling effect), principalmente quando
acompanhado de um estado de impunidade.
CPF: 030.720.271-29

IV. O Estado brasileiro não atuou com a devida diligência no curso do processo penal, seja em face
da proteção das testemunhas, seja para identificar os acusados e permitir a prática dos atos
processuais.
V. Houve uma demora injustificada (de mais de um ano) para o julgamento do conflito de
competência. Fato que contribuiu para a impunidade (§101).
Silva -- CPF:

VI. A aplicação da prescrição da pretensão punitiva no caso não resultou do trâmite normal do
processo, mas sim de uma série de ações e omissões estatais durante o curso do feito (§104).
da Silva

VII. O direito à verdade não decorrente apenas dos artigos 8 e 25 da CADH, mas também do art. 13
Gouvea da

que se refere à liberdade de expressão.


Eliovaine Gouvea

114. Esta Corte já expressou que “toda pessoa, incluindo os familiares das vítimas de graves
violações a direitos humanos, têm o direito de conhecer a verdade (sobre as mesmas), o
Eliovaine

que implica que “devem ser informadas de todo o ocorrido em relação a tais violações. O
direito à verdade se relaciona, de modo geral, com o direito a que o Estado realize ações
tendentes a conseguir “o esclarecimento dos direitos violados e as responsabilidades
correspondentes. A satisfação deste direito é de interesse não apenas dos familiares das
vítimas, mas também de toda a sociedade em seu conjunto, que com ela vê facilitada a
prevenção deste tipo de violação no futuro.

Em razão da responsabilização internacional do Estado, o Brasil foi condenado ao cumprimento das


seguintes prestações:
I. A reabertura das investigações, a serem efetuadas por um grupo de trabalho formado por cinco
especialistas, coordenado por um membro do Conselho Nacional de Justiça 24.

24 146. O grupo de trabalho será formado por cinco especialistas com capacidade técnica, idoneidade moral e conhecimentos
específicos para realizar esse trabalho. Um de seus membros será integrante do Conselho Nacional de Justiça, que exercerá a
coordenação do grupo e facilitará o seu funcionamento logístico. Para a seleção dos/as quatro outros integrantes, o Estado e os
representantes, respectivamente, no prazo de seis meses, contados a partir da notificação desta Sentença, proporão à Corte uma
lista de quatro especialistas independentes, dos quais a Corte selecionará dois integrantes de cada uma das listas. O grupo d e
trabalho deverá ser financiado pelo Estado. A fim de cumprir seus objetivos, consultará órgãos públicos, instituições acadêmicas

178
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

II. O fornecimento pelo Estado de tratamento psicológico e/ou psiquiátrico gratuito, em instituições
de saúde especializadas, aos irmãos do senhor Sales Pimenta, caso assim eles o requeriam no
prazo de seis meses.
III. A publicação, no prazo de seis meses, do resumo oficial da sentença, nos Diários Oficiais da União
e do Estado do Pará, bem como em jornal de grande circulação nacional.
IV. A publicação da sentença em sua integralidade, no prazo de seis meses, de maneira acessível ao
público mediante um banner de destaque, na página de início dos websites do Governo Federal,
do Ministério Público e do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, devendo o arquivo ser
disponibilizado por pelo menos um ano.
V. A realização de ato público de reconhecimento de responsabilização internacional referente aos
fatos dos autos, com a presença de altas autoridades do Governo Federal e do Governo do Estado
do Pará, devendo ainda ser realizado realizar “um reconhecimento expresso sobre o trabalho das
defensoras e defensores de direitos humanos, bem como uma condenação expressa a qualquer
tipo de atentados e delitos cometidos contra elas e eles e a respeito da obrigação de devida
diligência reforçada de todas as correspondentes autoridades estatais de prevenir, investigar,
processar e sancionar os responsáveis por ameaças, perseguições e homicídios de defensores/as
de direitos humanos” (§158).
VI. A nomeação de uma praça pública no município de Marabá, com o nome Gabriel Sales Pimenta,
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onde deverá ser instalada uma placa de bronze com seu nome e uma breve explicação de sua
vida.
VII. A criação de um espaço público, na cidade de Belo Horizonte, para valorizar, proteger e resguardar
o ativismo das pessoas defensoras de direitos humanos no Brasil, desde que com anuência dos
familiares da vítima.
VIII. A criação de um protocolo nacional unificado, com diretrizes de investigação de crimes praticados
CPF: 030.720.271-29

contra defensores de direitos humanos, levando em consideração os riscos inerentes de seu


trabalho.
Art. 170. (...) Para tanto, esse protocolo deverá (i) observar os princípios de devida diligência
para
Silva -- CPF:

identificar a todos os responsáveis, e as diretrizes “que complementam e reforçam a devida


diligência
da Silva

na investigação de violações de direitos humanos contra defensores de direitos humanos”,


elaboradas pelo Relator Especial sobre a situação dos defensores dos direitos humanos,
Gouvea da

Michel Forst; (ii) estabelecer critérios claros e uniformes de investigação; (iii) incluir
Eliovaine Gouvea

parâmetros para todas as etapas das investigações; (iv) regulamentar de maneira integrada
as atribuições e responsabilidades específicas do Ministério Público, da Polícia, do Poder
Eliovaine

Judiciário, dos institutos de perícia e demais órgãos envolvidos nas investigações de graves
violações de direitos humanos e, ademais, deverá considerar:
1) O conceito de pessoa defensora de direitos humanos;
2) Os padrões sobre o desenvolvimento de instrumentos de investigação com devida
diligência, incluindo as melhores práticas e padrões internacionais sobre devida diligência
de acordo com o tipo de crime (por exemplo, execuções extrajudiciais, homicídios, tortura,
ameaças, inter alia);
3) Os riscos inerentes ao trabalho de defesa dos direitos humanos no Brasil, com as
especificidades regionais existentes;
4) O contexto no qual as defensoras e defensores de direitos humanos desenvolvem seu
trabalho e os interesses que enfrentam no país e em cada região;
5) A existência de padrões de ameaças e todos os tipos de ações utilizadas para amedrontar,
ameaçar, intimidar ou agredir defensoras e defensores de direitos humanos no exercício de
suas atividades;
6) Critérios e técnicas de investigação para determinar se o fato delitivo possui relação com
a atividade realizada pela pessoa defensora de direitos humanos;

e organizações da sociedade civil que possam oferecer elementos de juízo para elaborar o seu relatório. O Estado deverá garantir
pleno acesso à informação necessária para que o grupo de trabalho possa realizar sua tarefa. As funções do grupo de trabalho
terão caráter consultivo, orientador e complementar às atividades dos organismos estatais, sem prejuízo das funções próprias
dos órgãos do Estado.

179
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

7) Técnicas para investigar a existência e funcionamento de estruturas criminosos


complexas na região de trabalho das defensoras e defensores, bem como uma análise de
contexto de outros grupos de poder alheios ao poder público;
8) Técnicas para investigar autoria material e intelectual;
9) Perspectivas de gênero e étnica na investigação dos delitos envolvidos, eliminando
estereótipos e estigma.

IX. A implementação, no Estado do Pará, de um plano de capacitação sobre o protocolo a ser criado,
destinado aos funcionários que participam na investigação e tramitação de casos de crimes contra
pessoas defensoras de direitos humanos.
X. Revisar e adequar os mecanismos existentes proteção de defensores de direitos humanos, em
particular o Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e
Ambientalistas, nos âmbitos federal e estadual.
XI. Implementar um sistema nacional de coleta de dados e cifras relacionados a casos de violência
contra as pessoas defensoras de direitos humanos.
XII. Adequar a legislação interna para que sejam criados instrumentos de reabertura de investigações
ou processos judiciais, incluindo-se os atingidos pela prescrição, quando a Corte IDH determine a
responsabilização internacional do Estado, pelo descumprimento de seu dever de investigar e
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punir violações aos direitos humanos.


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XIII. O pagamento de indenização por danos materiais, que variam entre US$ 10.000,00 a US$
30.000,00 para os familiares da vítima.
XIV. O pagamento de indenização por danos morais, que variam entre US$ 30.000,00 a US$ 50.000,00,
aos familiares da vítima.

ATENÇÃO:
CPF: 030.720.271-29

Chama muita atenção na sentença o reconhecimento pela Corte IDH de uma situação de impunidade
estrutural relacionada aos defensores de direitos humanos dos trabalhadores rurais.
Por tal motivo, nas medidas condenatórias, foi determinada a criação de um comitê de peritos para
identificar as causas e circunstâncias dessa situação de impunidade, bem como as linhas de ação a serem
Silva -- CPF:

adotadas para pôr fim a ela.


da Silva

O tribunal determinou ainda a criação, no prazo de 3 anos, de um protocolo de investigação,


Gouvea da

unificado e integral, dirigido aos crimes cometidos contra pessoas defensoras de direitos humanos (§170).
Eliovaine Gouvea

Outra medida, no mínimo polêmica, foi a condenação do Brasil para que altere sua legislação interna,
no prazo de 3 anos, para abarcar instrumentos de abertura de investigações ou processos judiciais, incluindo-
Eliovaine

se os atingidos pela prescrição, quando a Corte IDH determine a responsabilização internacional do Estado,
pelo descumprimento de seu dever de investigar e punir violações aos direitos humanos (§180).

180
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

QUESTÕES

217. (INSTITUTO AOCP - 2022 - DPE-PR - Defensor Público) Considere os seguintes casos em que o Brasil
foi condenado pela Corte interamericana de Direitos Humanos:
• Caso Favela Nova Brasília;
• Caso Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e Seus Familiares vs. Brasil;
• Caso Márcia Barbosa de Souza e Outros vs. Brasil;
• Caso Ximenes Lopes vs. Brasil.
O que tais condenações têm em comum?
a) Em todas elas, considerou-se que o Brasil, dentre outros pontos, violou a independência e a
imparcialidade previstas no artigo 8.1 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos.
b) Em todas elas, considerou-se que o Brasil, dentre outros pontos, violou a igualdade perante a lei prevista
no art. 24 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos.
c) Em todas elas, discutiu-se o direito de circulação e residência previsto no art. 22 da Convenção.
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d) Em todas elas, considerou-se que o Brasil, dentre outros pontos, violou o prazo razoável previsto no
artigo 8.1 da Convenção Interamericana de Direitos Humanos.
e) Não há nenhum direito previsto na Convenção Interamericana de Direitos Humanos que foi discutido em
todas as condenações listadas.

218. (PGR - 2022 - PGR - Procurador da República) Acerca das seguintes decisões da Corte Interamericana
CPF: 030.720.271-29

de Direitos Humanos envolvendo o Estado brasileiro é correto afirmar:


a) No caso “Gomes Lund” a Corte declarou que as disposições da Lei de Anistia brasileira, no ponto em que
impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos, são incompatíveis com a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, porém se absteve de determinar que o Estado brasileiro
reconheça sua responsabilidade, por se tratar de atos cometidos por regime de exceção.
Silva -- CPF:

b) No caso “Povo Indígena Xucuru e seus Membros” a Corte considerou o Estado brasileiro responsável pela
violação do direito à garantia de prazo razoável na demarcação do território do Povo Indígena Xucuru.
da Silva

c) No caso “Cosme Rosa Genoveva, Evandro de Oliveira e outros”, também conhecido como caso “Favela
Gouvea da

Nova Brasília”, a Corte determinou que o Procurador-Geral da República requeresse, perante o Superior
Eliovaine Gouvea

Tribunal de Justiça, o deslocamento da competência dos feitos criminais para a Justiça Federal.
d) O caso “Trabalhadores da Fazenda Rio Verde”, referente à prática de trabalho forçado e servidão por
Eliovaine

dívidas, inseriu-se na reiterada jurisprudência do Tribunal Interamericano sobre o fenômeno do trabalho


escravo.

219. (CESPE / CEBRASPE - 2022 - MPE-SE - Promotor de Justiça) Em relação aos casos Trabalhadores da
Fazenda Brasil Verde e Trabalhadores da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus Familiares,
assinale a opção correta.
a) No caso Fazenda Brasil Verde, foi aplicado o conceito de discriminação histórica, apresentado pela
primeira vez no precedente Campo Algodoeiro.
b) Ambos os casos citados versaram sobre o racismo estrutural e interseccional, ou seja, pessoas pobres e
negras escolhidas como trabalhadores em razão da sua situação de vulnerabilidade.
c) No caso Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus Familiares, foi reconhecida a
imprescritibilidade do crime de escravidão.
d) No caso Fazenda Brasil Verde, foi reconhecida a pobreza estrutural que envolvia, em sua maioria,
mulheres campesinas.
e) No caso Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus Familiares, foram estabelecidos conceitos
como o da neoescravidão.

181
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

220. (FCC - 2022 - DPE-MT - Defensor Público) A Corte Interamericana de Direitos Humanos reconheceu
que o Estado brasileiro violou o direito à liberdade de associação reconhecido no art. 16 da Convenção
Americana de Direitos Humanos no julgamento do caso
a) Nogueira de Carvalho e Outro.
b) Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde.
c) Antonio Tavares Pereira e outros.
d) Garibaldi.
e) Escher e outros.

221. (FCC - 2022 - DPE-CE - Defensor Público) A Corte Interamericana de Direitos Humanos reconheceu
que o estupro constitui uma forma de tortura no julgamento dos casos
a) Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil e caso Artavia Murillo vs. Costa Rica.
b) Gomes Lund vs. Brasil e caso Wong Ho Wing vs. Peru.
c) Favela Nova Brasília vs. Brasil e caso Velásquez Paiz vs. Guatemala.
d) Herzog e outros vs. Brasil e caso Carvajal Carvajal vs. Colômbia.
e) Garibaldi vs. Brasil e caso Vásquez Durand vs. Equador.
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222. (FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia) Joana, ativista dos Direitos Humanos, consultou um
advogado a respeito dos efeitos da sentença proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH), no “Caso Favela Nova Brasília vs. Brasil”, mais especificamente se permaneciam adstritos ao caso
concreto, que envolvia os órgãos de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro, ou se assumiam
contornos mais amplos. O advogado respondeu corretamente que a decisão da CIDH
a) somente produziu efeitos em relação ao caso concreto, não alcançando a segurança pública como um
CPF: 030.720.271-29

todo, a exemplo da imposição de obrigações de caráter geral ao Estado brasileiro.


b) somente produziu efeitos pecuniários, relacionados ao caso concreto, não alcançando a segurança
pública como um todo, de modo a impor obrigações de caráter geral ao Estado brasileiro.
c) produziu efeitos em relação ao caso concreto e à segurança pública como um todo, sendo determinado
Silva -- CPF:

ao Estado brasileiro que altere o regime jurídico dos órgãos de segurança pública brasileiros.
d) produziu efeitos em relação ao caso concreto e a outros aspectos da segurança pública, sendo
da Silva

determinado ao Estado brasileiro que publique relatórios com mortes resultantes de operações policiais
em todo o país.
Gouvea da

e) produziu efeitos em relação ao caso concreto e à segurança pública como um todo, sendo definidas, de
Eliovaine Gouvea

modo detalhado, as situações em que podem ser utilizados helicópteros e armas de fogo em operações
policiais.
Eliovaine

223. (CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-TO - Defensor Público Substituto) Acerca dos casos brasileiros na
Corte Interamericana de Direitos Humanos, assinale a opção correta
a) No Caso Escher, a sentença determinou a implementação de uma política antimanicomial no país, o que
se deu através da Lei nº 10.216/2001 — em que pese ter sido anterior à sentença, foi posterior à
submissão do caso à Corte.
b) O Caso Márcia Barbosa envolveu um crime de feminicídio, no entanto, por não estarem dentro da
competência temporal da Corte, em sede de sentença, não houve a apreciação do mérito.
c) Em sede de sentença condenatória no Caso Trabalhadores da Fábrica de Fogos, foi reconhecida natureza
da proibição do trabalho escravo como norma de jus cogens e obrigação erga omnes, além da
imprescritibilidade do crime de escravidão.
d) Ao julgar o Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde, a Corte reconheceu a situação de discriminação
estrutural e interseccional, diante da situação de pobreza estrutural vivenciada pelos trabalhadores, em
especial mulheres e meninas afrodescendentes.
e) No Caso Favela Nova Brasília, na sentença de condenação houve repúdio aos autos de resistência à prisão
e de resistência seguida de morte, prática comum nos órgãos de segurança pública para dar aspecto de
legalidade a execuções sumárias.

182
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

224. (CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-TO - Defensor Público Substituto - adaptada) No Caso Povo
Indígena Xucuru, a Corte entendeu que o ônus da demonstração do esgotamento dos recursos internos
é de quem alega, assim desincumbiu o Estado brasileiro de tal demonstração, sob o fundamento de que
a inversão do ônus acarretaria a chamada "prova diabólica".

225. (FGV - 2021 - DPE-RJ - Defensor Público) Segundo a jurisprudência da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, reforçada no “Caso Ximenes Lopes vs. Brasil”, são fundamentos da responsabilidade
internacional do Estado:
a) as ações atribuíveis aos órgãos ou funcionários do Estado;
b) somente as ações dos particulares, desde que atribuíveis às omissões do Estado;
c) as ações dos particulares que violem qualquer direito consagrado na Convenção Americana de Direitos
Humanos;
d) as ações de qualquer pessoa ou órgão estatal que esteja autorizado pela legislação do Estado a exercer
autoridade governamental, seja pessoa física ou jurídica, sempre e quando estiver atuando na referida
competência;
e) tanto as ações ou omissões atribuíveis aos órgãos ou funcionários do Estado, como a omissão do Estado
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em prevenir que terceiros vulnerem os bens jurídicos que protegem os direitos humanos consagrados
na Convenção Americana de Direitos Humanos.

226. (FGV - 2021 - PC-RJ - Inspetor de Polícia Civil) A Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou
o Estado brasileiro no chamado Caso Nova Brasília. Entre as medidas determinadas pela Corte IDH,
consta o ponto resolutivo de número 18 da sentença, que estabelece que o Estado deverá implementar,
CPF: 030.720.271-29

em prazo razoável, um programa ou curso permanente e obrigatório sobre atendimento a mulheres


vítimas de estupro, destinado a todos os níveis hierárquicos das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro
e a funcionários de atendimento de saúde. A citada determinação vai ao encontro do princípio expresso
da administração pública que espera o melhor desempenho possível do agente público em suas
Silva -- CPF:

atribuições, para lograr melhores resultados.


Trata-se do princípio da:
da Silva

a) impessoalidade, segundo o qual as pessoas vulneráveis devem receber tratamento compatível com suas
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

necessidades, a fim de que seja alcançado o interesse público;


b) autotutela, que determina que a Administração Pública deve qualificar e capacitar constantemente seus
servidores públicos, valendo-se das escolas internas de cada instituição, como a Academia de Polícia Civil
Eliovaine

(Acadepol);
c) continuidade dos serviços públicos, segundo o qual as atividades executadas pelos agentes públicos não
devem ser interrompidas e devem ser desempenhadas com presteza e qualidade;
d) razoabilidade, que se relaciona com a proporcionalidade, de maneira que os agentes públicos devem ser
qualificados para atender à demanda social com capacitação específica para oitiva qualificada e
especializada dos grupos de vítimas mais vulneráveis;
e) eficiência, que se relaciona com o comando constitucional que prevê que a lei disciplinará as formas de
participação do usuário na administração pública direta e indireta, regulando especialmente as
reclamações relativas à prestação dos serviços públicos em geral.

227. (FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público) A Corte Interamericana de Direitos Humanos dispôs que o
Estado brasileiro deve adotar, em um prazo razoável, as medidas necessárias para tipificar o delito de
desaparecimento forçado de pessoas em conformidade com os parâmetros interamericanos. Tal
determinação se deu ao julgar o caso
a) Ximenes Lopes.
b) Nogueira de Carvalho e outros.
c) Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde.
d) Cosme Rosa Genoveva e outros.

183
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

e) Gomes Lund e outros.

228. (FCC - 2021 - DPE-AM - Defensor Público) Considerando a condenação do Estado Brasileiro pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH) no caso Damião Ximenes vs Brasil, encontra-se ainda
pendente de cumprimento a seguinte obrigação, segundo a própria Corte IDH:
a) estabelecer programa de formação e capacitação para pessoal vinculado à atenção em saúde mental,
em particular acerca dos princípios que devem reger o cuidado com as pessoas com transtornos mentais,
de acordo com os parâmetros internacionais para a matéria.
b) publicar em prazo de seis meses, no diário oficial e em outro jornal de ampla circulação nacional, o
capítulo relativo aos fatos provados da sentença e aqueles relativos à parte dispositiva da sentença, nos
termos do parágrafo 249 da mesma.
c) pagar à irmã e à mãe indenização por dano moral e por dano imaterial nos termos e na quantidade fixada
na sentença, assim como os custos e gastos gerados no âmbito interno e no processo internacional
perante o sistema interamericano de proteção de direitos humanos.
d) garantir, em um prazo razoável, que os processos internos criminal e civil tendentes a investigar e
sancionar os responsáveis pelos fatos criminosos do caso surtam os devidos efeitos, nos termos da
sentença.
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e) estabelecer uma legislação nacional protetora do direito das pessoas com transtorno mental, que preveja
a fiscalização e reforma da atenção psiquiátrica oferecida a todas as pessoas com transtorno mental no
Estado-Parte.

229. (FGV - 2021 - FUNSAÚDE - CE – Advogado) Instado a se manifestar a respeito das obrigações impostas
ao Estado brasileiro pela Corte Interamericana de Direitos Humanos no Caso “Nova Brasília”, o assessor
CPF: 030.720.271-29

de um deputado federal afirmou que:


I. deve ser publicado um relatório, a cada biênio, a respeito de todas as mortes ocasionadas durante as
operações da polícia em todos os Estados do País;
Silva -- CPF:

II. deve ser realizado um ato público de reconhecimento de responsabilidade internacional em relação aos
fatos do referido caso e sua posterior investigação;
da Silva

III. devem ser estabelecidos, no prazo de um ano, a contar da notificação da sentença, os mecanismos
Gouvea da

normativos necessários para que, entre outras situações, nas hipóteses de violência sexual decorrente de
Eliovaine Gouvea

intervenção policial, em que policiais apareçam como possíveis acusados, a investigação seja delegada a um
órgão independente e diferente da força pública envolvida no incidente, como uma autoridade judicial ou o
Eliovaine

Ministério Público.
Considerando o teor da sentença proferida pela Corte, está correto o que se afirma em:
a) I, II e III.
b) II e III, apenas.
c) I e III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II, apenas.

230. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - MPE-AP - Promotor de Justiça Substituto) No julgamento do caso
Trabalhadores da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus e seus Familiares versus Brasil, a Corte
Interamericana de Direitos Humanos estabeleceu parâmetros importantes na definição da discriminação
estrutural e intersecional. Nessa sentença, a referida corte
I. pronunciou-se, pela primeira vez na história, sobre a pobreza e a proibição de discriminação por posição
econômica.
II. considerou que a instalação de uma atividade econômica especialmente perigosa na área não
necessariamente estava relacionada à pobreza e à marginalização da população ali residente.

184
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

III. baseou-se no entendimento de que, em um caso de discriminação estrutural, deve-se considerar em que
medida a vitimização do caso concreto evidencia a vulnerabilidade das pessoas que pertencem a um grupo.
Assinale a opção correta.
a) Apenas o item I está certo.
b) Apenas o item III está certo.
c) Apenas os itens I e II estão certos.
d) Apenas os itens II e III estão certos.
e) Todos os itens estão certos.

231. (FCC - 2021 - DPE-BA – Defensor Público) Sobre a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos
Humanos, o Brasil foi condenado no caso
a) “Garibaldi e outros”, em virtude de interceptações e gravações telefônicas secretas de membros do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra pela Polícia Militar do Estado do Paraná.
b) “Damião Ximenes Lopes”, advogado e defensor dos direitos humanos no Rio Grande do Norte,
assassinado por denunciar a atuação de um grupo de extermínio que contava com a participação de
agentes de segurança do Estado.
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c) “Favela Nova Brasília”, pela ausência e falhas de investigações sobre execuções sumárias, tortura e atos
de violência sexual perpetrados contra membros da comunidade em operações da Polícia Civil do Rio de
Janeiro.
d) “Gomes Lund e outros” (“Guerrilha do Araguaia”), porque a Lei de Anistia (Lei n° 6.683/1979) é
incompatível com a Convenção Americana de Direitos Humanos, tal como já havia decidido em 2010 o
Supremo Tribunal Federal.
CPF: 030.720.271-29

e) “Empregados da Fábrica de Fogos de Santo Antônio de Jesus”, em virtude da exposição de trabalhadores


a trabalho forçado e servidão por dívidas.

232. (FGV - 2021 - DPE-RJ - Defensor Público) Sobre o “Caso Favela Nova Brasília”, é correto afirmar que:
Silva -- CPF:

a) os representantes reclamaram que, se a investigação dos fatos tivesse sido registrada como “auto de
resistência”, teria sido diligente e efetiva;
da Silva

b) para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o dever de investigar é uma obrigação de resultado
que corresponde ao direito das vítimas à justiça e à punição dos perpetradores;
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

c) para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o cumprimento da obrigação de empreender uma


investigação séria, imparcial e efetiva do ocorrido, no âmbito das garantias do devido processo, implica
também um exame do prazo da referida investigação e independe da participação dos familiares da
Eliovaine

vítima durante essa primeira fase;


d) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos ressaltou que as investigações policiais foram realizadas
pelas mesmas delegacias da Polícia Civil que haviam realizado as operações, o que gerou a falta de
independência das autoridades encarregadas pelas investigações, violando os artigos 7.1 e 25.1, em
relação ao artigo 1.1 da Convenção Americana de Direitos Humanos;
e) a Corte Interamericana de Direitos Humanos considera essencial, em uma investigação penal sobre
morte decorrente de intervenção policial, a garantia de que o órgão investigador seja independente dos
funcionários envolvidos no incidente. Essa independência implica a ausência de relação institucional ou
hierárquica, bem como sua independência na prática.

233. (FGV - 2021 - DPE-RJ - Defensor Público) Segundo a jurisprudência da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, reforçada no “Caso Ximenes Lopes vs. Brasil”, são fundamentos da responsabilidade
internacional do Estado:
a) as ações atribuíveis aos órgãos ou funcionários do Estado;
b) somente as ações dos particulares, desde que atribuíveis às omissões do Estado;
c) as ações dos particulares que violem qualquer direito consagrado na Convenção Americana de Direitos
Humanos;

185
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

d) as ações de qualquer pessoa ou órgão estatal que esteja autorizado pela legislação do Estado a exercer
autoridade governamental, seja pessoa física ou jurídica, sempre e quando estiver atuando na referida
competência;
e) tanto as ações ou omissões atribuíveis aos órgãos ou funcionários do Estado, como a omissão do Estado
em prevenir que terceiros vulnerem os bens jurídicos que protegem os direitos humanos consagrados
na Convenção Americana de Direitos Humanos.

234. (FUNDEPES – 2019 - DPE-MG) Acerca do(s) posicionamento(s) do STF (ADPF 153/DF) e da Corte
Interamericana de Direitos Humanos (Caso Gomes Lund e outros vs. Brasil) sobre a Lei nº 6.683/79 (Lei
da Anistia), quanto à sua extensão aos crimes praticados pelos agentes do Estado contra os que lutavam
contra o Estado de exceção, assinale a alternativa correta.
a) Segundo o STF, a Lei estendeu a conexão aos crimes praticados pelos agentes do Estado contra os que
lutavam contra o Estado de exceção; daí o caráter bilateral da anistia. Enquanto que, para a Corte
Interamericana de Direitos Humanos, as disposições da Lei de Anistia brasileira não podem continuar a
representar um obstáculo para a investigação dos fatos nem para a identificação e punição dos
responsáveis.
b) Segundo o STF, as disposições da Lei de Anistia brasileira não podem continuar a representar um
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obstáculo para a investigação dos fatos nem para a identificação e punição dos responsáveis. Enquanto
que, para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, a Lei estendeu a conexão aos crimes praticados
pelos agentes do Estado contra os que lutavam contra o Estado de exceção; daí o caráter bilateral da
anistia.
c) Tanto o STF, quanto a Corte Interamericana de Direitos Humanos, entenderam que a Lei estendeu a
conexão aos crimes praticados pelos agentes do Estado contra os que lutavam contra o Estado de
exceção; daí o caráter bilateral da anistia. A Lei nº 6.683/79 precede a Convenção das Nações Unidas
CPF: 030.720.271-29

contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes e não alcança, por
impossibilidade lógica, anistias anteriormente à sua vigência consumadas.
d) Tanto o STF, quanto a Corte Interamericana de Direitos Humanos, entenderam que as disposições da Lei
de Anistia brasileira, que impedem a investigação e a sanção de graves violações de Direitos Humanos,
Silva -- CPF:

carecem de efeitos jurídicos. Em consequência, não podem continuar a representar um obstáculo para
a investigação dos fatos, nem para a identificação e punição dos responsáveis, nem podem ter igual ou
da Silva

similar impacto sobre outros casos de graves violações de direitos humanos.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

235. (FCC - 2019 - DPE-AM - Analista Jurídico de Defensoria) Em 2014, a Corte Interamericana de Direitos
Humanos proferiu sentença na qual, entre outras obrigações, determinou que o Brasil adotasse, em
Eliovaine

prazo razoável, medidas necessárias para tipificar o delito de desaparecimento forçado de pessoas
conforme os parâmetros interamericanos. Tal sentença se refere ao caso conhecido como
a) Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde.
b) Amarildo Dias de Souza.
c) Setimo Garibaldi.
d) Gomes Lund e outros (“Guerrilha do Araguaia”).
e) Favela Nova Brasília.

236. (FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público) O Estado brasileiro figura em inúmeros casos já julgados e
pendentes de julgamento perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos. O tema da impunidade
em situações de violência policial praticada contra pessoas de baixa renda no Brasil é objeto do caso
a) Gomes Lund e outros vs. Brasil.
b) Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil.
c) Ximenes Lopes vs. Brasil.
d) Cosme Rosa Genoveva e outros vs. Brasil.
e) Maria da Penha Maia Fernandes vs. Brasil.

186
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

237. (CESPE/CEBRASPE - 2012 - DPE-RO - Defensor Público) Considerando a sentença da Corte


Interamericana de Direitos Humanos no caso Escher e outros, de 6 de julho de 2009, assinale a opção
correta.
a) Nos termos de precedente da Corte, a comunicação telefônica é abrangida pela garantia de proteção à
privacidade prevista na Convenção Americana sobre Direitos do Homem, ainda que esta não preveja
expressamente o sigilo desse tipo de comunicação.
b) Segundo a Corte, abstratamente considerada, a lei de interceptação das comunicações telefônicas
brasileira não é compatível com as disposições da Convenção Americana sobre Direitos Humanos
voltadas à proteção da privacidade.
c) A Corte considerou, nessa sentença, que a quebra de sigilo das comunicações telefônicas de integrantes
de entidades associativas, fundada em lei cuja inadequação abstrata seja constatada, não implica
necessariamente a violação ao direito à livre associação garantido pela Convenção Americana sobre
Direitos Humanos.
d) A Corte decidiu que o Brasil deveria adequar sua lei de interceptação das comunicações telefônicas às
disposições da Convenção Americana sobre Direitos Humanos relativas à proteção da privacidade.
e) De acordo com a referida Corte, a apresentação, pelo Estado- parte, da exceção preliminar embasada no
descumprimento do requisito de esgotamento dos recursos internos pode ocorrer depois da adoção do
relatório de admissibilidade pela Comissão Interamericana, mas nunca depois do encaminhamento da
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denúncia à Corte.

8. DIREITOS HUMANOS E A CONSTITUIÇÃO DE 1988

8.1. O status formal dos tratados internacionais de direitos humanos


CPF: 030.720.271-29

O constituinte ao redigir a Constituição de 1988 diferencia os termos “direitos humanos” e “direitos


fundamentais”, utilizando a forma de sua positivação como critério distintivo.
O art. 1º, III da Constituição traz a dignidade humana como princípio fundamental da República
Federativa do Brasil, enquanto o art. 4º, II dispõe que a prevalência dos direitos humanos é um princípio das
Silva -- CPF:

relações internacionais a serem seguidos pelo Brasil. No mesmo sentido, o Título II e o art. 5º, §1º dispõe
da Silva

sobre os direitos (e garantias) fundamentais enquanto o art. 5º, §3º prevê o temo “tratados internacionais
de direitos humanos”, assim como o art. 109-V e o art. 109, §3º, quando da previsão da competência da
Gouvea da

Justiça Federal para julgar ações referentes “ao cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
Eliovaine Gouvea

internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte” (dispositivos inseridos pela Emenda
Constitucional nº 45/04).
Eliovaine

A proteção dos direitos humanos na Constituição de 1988 é ainda potencializada pelo art. 5º, §2º da
Constituição, que traz a clausula de abertura entre instrumentos internos e internacionais, remetendo a
aplicabilidade da norma mais protetiva (princípio pro persona ou pro homine).
Antes da promulgação da Emenda Constitucional nº 45/04, havia um grande debate doutrinário
acerca do status formal dos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos.
Parte da doutrina, como Augusto Cançado Trindade e Flávia Piovesan defendiam que, em razão do
art. 5º, §2º da Constituição, os tratados internacionais deveriam ser considerados materialmente
constitucionais. Já doutrinadores, normalmente de origem constitucionalista, defendiam que os tratados
internacionais de direitos humanos não eram distintos dos demais tratados e daí deveriam ser considerados
com status de lei (ordinária ou complementar a depender do autor).
A importância prática da distinção refere-se à possibilidade do controle de constitucionalidade das
normas e dos próprios tratados internacionais. Afinal, caso fossem considerados de status constitucionais,
os tratados passariam a ser parâmetro de controle de constitucionalidade. A corrente majoritária
constitucionalista por adotar o critério formal como relevante ao controle de constitucionalidade, entendia
que os tratados internacionais não poderiam ser parâmetro de controle. O caso paradigmático sobre o tema

187
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

era a prisão civil do depositário infiel. Afinal, a Constituição expressamente prevê a possibilidade da prisão,
enquanto a CADH a veda.
O Poder Constituinte derivado, em razão dos problemas de cunho prático, entendeu por bem inserir
o art. 5º, §3º na Constituição, prevendo que os tratados internacionais aprovados por maioria de três quintos
das casas do Congresso Nacional, em votação bicameral, teriam força equivalente às emendas
constitucionais.
A nova previsão constitucional não deixou dúvidas que os tratados de direitos humanos ratificados
após sua vigência teriam status formal constitucional. Com isso podem ser parâmetro de controle de
constitucionalidade tanto em âmbito incidental quanto abstrato de constitucionalidade. Porém, novos
questionamentos surgiram a respeito dos tratados anteriores a emenda.
O debate acerca dos tratados internalizados antes da EC nº 45/04 ganhou fôlego e os autores que
defendiam o status constitucional acabaram por receber um novo argumento, relacionado à teoria da
recepção. Afinal, além de os tratados de direitos humanos ter normas de “natureza constitucional”, pois,
assim como os direitos fundamentais, ambos são provenientes do princípio da dignidade humana, agora, era
possível defender que tais instrumentos teriam sido recepcionados como emendas constitucionais após a EC
nº 45/04. Isso porque, pela teoria da recepção, a análise de compatibilidade entre normas (anterior e após a
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alteração constitucional) é feita do ponto de vista material e não formal. Um exemplo claro é o Código
Tributário Nacional. O art. 146, III prevê que compete à Lei Complementar dispor sobre normas gerais de
direito tributário. Mesmo sendo uma Lei Ordinária (Lei nº 5.172/66) o CTN foi recepcionado pela Constituição
de 1988 como uma Lei Complementar, logo, sua alteração só é possível através de uma lei complementar.
Para parte da doutrina, a mesma lógica deveria ser aplicada em relação aos tratados internacionais de
direitos humanos.
CPF: 030.720.271-29

O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 349.703, pacificou as discussões firmando os seguintes


entendimentos:
I. Tratados internacionais de direitos humanos ratificados nos termos do art. 5º, §3º da
Constituição, têm status constitucional;
Silva -- CPF:

II. Tratados internacionais de direitos humanos ratificados antes da EC nº 45/04 não foram
da Silva

recepcionados como normas constitucionais. Eles têm status formal supralegal. Eles não podem
ser parâmetro de controle de constitucionalidade, mas são hierarquicamente superiores à
Gouvea da

legislação ordinária. Logo, eles são dotados de eficácia paralisante, isto é, eles impedem a
Eliovaine Gouvea

vigência da legislação ordinária com disposições contrárias às suas normas.


III. Tratados internacionais de direitos humanos ratificados após a EC nº 45/04, sem o procedimento
Eliovaine

do art. 5º, §3º da Constituição, também têm status formal supralegal.


Portanto, é correto afirmar que formalmente os tratados internacionais de direitos humanos,
ratificados nos termos do art. 5º, §3º da Constituição integram o chamado bloco de constitucionalidade,
servindo como parâmetro para o controle de constitucionalidade abstrato (através de Ação Direita de
Inconstitucionalidade, Ação Declaratória de Constitucionalidade, etc.) e incidental (quando todos os juízes e
tribunais poderão declarar a inconstitucionalidade de um ato).

8.2. Procedimento de ratificação dos tratados internacionais de direitos


humanos

No Brasil, a ratificação é ato privativo do presidente da República, nos termos dos arts. 84, VII e VIII,
da CF/88:
Art. 84 (...)
VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes
diplomáticos;
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso
Nacional;

188
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

A ratificação é ato discricionário do chefe do Poder Executivo, que, em tratados que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional, está condicionado à autorização prévia do
Congresso Nacional:
Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

É possível concluir, portanto, que, em regra, a ratificação no sistema brasileiro é um ato complexo,
pois necessita da manifestação de dois órgãos distintos para sua perfectibilização. A autorização da
ratificação ocorre mediante decreto-legislativo, enquanto a ratificação se dá por decreto do presidente da
República.
É na Constituição da República - e não na controvérsia doutrinária que antagoniza monistas
e dualistas - que se deve buscar a solução normativa para a questão da incorporação dos
atos internacionais ao sistema de direito positivo interno brasileiro. O exame da vigente
Constituição Federal permite constatar que a execução dos tratados internacionais e a sua
incorporação à ordem jurídica interna decorrem, no sistema adotado pelo Brasil, de um
ato subjetivamente complexo, resultante da conjugação de duas vontades homogêneas:
a do Congresso Nacional, que resolve, definitivamente, mediante decreto legislativo,
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sobre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49, I) e a do Presidente da


República, que, além de poder celebrar esses atos de direito internacional (CF, art. 84,
VIII), também dispõe - enquanto Chefe de Estado que é - da competência para promulgá-
los mediante decreto. O iter procedimental de incorporação dos tratados internacionais -
superadas as fases prévias da celebração da convenção internacional, de sua aprovação
congressional e da ratificação pelo Chefe de Estado - conclui-se com a expedição, pelo
Presidente da República, de decreto, de cuja edição derivam três efeitos básicos que lhe são
CPF: 030.720.271-29

inerentes: (a) a promulgação do tratado internacional; (b) a publicação oficial de seu texto;
e (c) a executoriedade do ato internacional, que passa, então, e somente então, a vincular
e a obrigar no plano do direito positivo interno (ADI 1480 MC, Relator(a): Min. CELSO DE
MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 4/9/1997, DJ 18-05-2001 PP-00429 EMENT VOL-02031-
02 PP-00213) .
Silva -- CPF:

O procedimento de ratificação, com a necessidade do executivo após a promulgação do decreto


da Silva

legislativo não está expresso na Constituição, configurando-se, portanto, verdadeira norma costumeira
interna, em outros termos um costume constitucional.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Esse tema se mostra atual em relação à Convenção Interamericana Contra o Racismo, a


Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância.
Eliovaine

Em 18 de fevereiro de 2021, o Congresso Nacional, utilizando o procedimento do art. 5º, §3º da


Constituição, aprovou o tratado por quórum superior a três quintos dos membros de cada uma de suas Casas,
em dois turnos de votação, publicando o Decreto-legislativo nº 1/21.
No dia 12 de maio de 2021 o Presidente da República, por meio de notícia da Agência Brasil, divulgou
a assinatura do decreto executivo de ratificação do tratado. Porém, em buscas no Diário Oficial da União, e
no website do Planalto, não é possível encontrar a publicação do referido decreto de ratificação do tratado.
A situação se torna mais pitoresca pelo fato de que há no website da OEA uma “carta de ratificação”
do Presidente da República, datada de 12 de maio de 2021, de seguinte redação:
Faço saber, aos que esta Carta de Ratificação virem que o Congresso Nacional aprovou, por
meio do Decreto Legislativo nº 1, de 18 de fevereiro de 2021, o texto da Convenção
Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de
Intolerância, adotada na Guatemala, por ocasião da 43ª Sessão Ordinária da Assembleia
Geral da Organização dos Estado Americanos, em 5 de julho de 2013.

Apesar do teor da “Carta de Ratificação”, o costume constitucional da ratificação do tratado


internacional não foi respeitado em âmbito interno. Tanto que em 20 de outubro de 2021, a Procuradoria

189
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Federal dos Direitos do Cidadão emitiu nota pública25 conclamando ao Presidente a perfectibilização do ato
de ratificação.
O decreto nº 10.932/22 foi publicado apenas em 11/1/2022, perfectibilizando o procedimento de
ratificação, tendo sido a convenção internalizada com status constitucional.
QUESTÕES
238. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - DEPEN - Cargo 8 - Agente Federal de Execução Penal) Desde a entrada
em vigor da Constituição Federal de 1988, os tratados internacionais de direitos humanos em que o Brasil
seja signatário equivalem às emendas constitucionais.

239. (IADES - 2021 - Instituto Rio Branco - Diplomata) A Emenda Constitucional n° 45/2004 estabelece
que os tratados e as convenções internacionais a respeito de direitos humanos que forem aprovados,
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por maioria simples dos votos dos respectivos
membros serão equivalentes às emendas constitucionais.

240. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PRF - Policial Rodoviário Federal) A Convenção Internacional dos Direitos
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das Pessoas com Deficiência possui status supraconstitucional no ordenamento pátrio, sendo um
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

exemplo de instrumento normativo internacional de caráter inclusivo adotado pelo Brasil para promover
a acessibilidade e a autodeterminação de pessoas com deficiência.

241. (COTEC - 2016 - Prefeitura de Bonito de Minas - MG – Advogado) Artigo 5º, §3º - Os tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
CPF: 030.720.271-29

emendas constitucionais (BRASIL, 1988). A partir do enunciado, pode-se afirmar:


a) Desde a adesão do Brasil, sem qualquer reserva, ao Pacto de San José da Costa Rica, ambos no ano de
1992, não há mais base legal para prisão civil do depositário infiel, pois o caráter especial desses diplomas
internacionais sobre direitos humanos lhes reserva lugar específico no ordenamento jurídico, estando
equiparados à Lei Complementar.
Silva -- CPF:

b) A subscrição pelo Brasil do Pacto de São José da Costa Rica, limitando a prisão civil por dívida ao
da Silva

descumprimento inescusável de prestação alimentícia, implicou a derrogação das normas estritamente


legais referentes à prisão do depositário infiel, reafirmado o status constitucional do referido Pacto.
Gouvea da

c) O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil
Eliovaine Gouvea

torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela anterior seja posterior ao
ato de adesão. Assim ocorreu com o art. 1.287, do CC, de 1916, e com o DL 911/1969, bem como em
Eliovaine

relação ao art. 652 do Novo CC (Lei 10.406/2002).


d) No Brasil, duas são a convenções internacionais que ingressaram no ordenamento jurídico nos termos
do artigo 5º, §3º da CRFB/88, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e
a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial.

242. (FURB - 2019 - Prefeitura de Porto Belo - SC - Procurador Municipal) A relação entre tratados
internacionais e a ordem jurídica nacional ficou determinada pela Constituição Federal no art. 5°, §§2° e
3°, cuja interpretação promovida pelo STF resultou num plexo normativo diverso daquele anterior ao da
vigência da Emenda Constitucional n° 45/2004. Assim sendo, assinale a alternativa correta:
a) Os tratados e convenções internacionais sujeitam-se ao processo legislativo especial próprio das
emendas à Constituição, em que cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, aprovarão sua internalização com status de norma constitucional.
b) Os direitos previstos em tratado internacional têm, no ordenamento jurídico brasileiro, hierarquia
constitucional.
c) Os tratados internacionais têm, no ordenamento jurídico brasileiro, hierarquia supralegal, conforme
entendimento do STF.

25 Vide: http://www.mpf.mp.br/pfdc/manifestacoes-pfdc/notas-publicas/nota-publica-6-2021-pfdc-mpf

190
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

d) Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos somente podem ser internalizados no
Brasil por meio de lei infraconstitucional.
e) A supralegalidade consiste nas normas de tratados internacionais sobre direitos humanos internalizadas
por meio de Decreto legislativo e Decreto presidencial, respectivamente.

243. (FCC - 2005 - TCE-MA – Procurador) A Constituição federal estabelece que não haverá pena de morte,
salvo em caso de guerra declarada de acordo com procedimento estabelecido pela própria Constituição.
Na hipótese de a República Federativa do Brasil vir a ser parte de tratado internacional celebrado no ano
corrente, no bojo do qual se vede a instituição de pena de morte, sem exceções,
a) a norma decorrente do tratado revogará a norma constitucional, em decorrência do princípio segundo o
qual, havendo duas normas de mesmo grau hierárquico, a posterior revoga a anterior.
b) o tratado internacional será equivalente a uma emenda constitucional, se aprovado, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros.
c) o tratado internacional não terá o condão de alterar o conteúdo da norma constitucional, na medida em
que esta é mais favorável à liberdade do que aquela contida no tratado.
d) a norma constitucional terá sua eficácia suspensa pelo advento do tratado internacional, que, por
determinação da própria Constituição, tem aplicabilidade imediata, por conter norma definidora de um
eliovaine@hotmail·com
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direito fundamental.
e) somente terá validade a norma decorrente do tratado internacional no âmbito da jurisdição de Tribunal
Penal Internacional cuja criação o Estado brasileiro tenha manifestado adesão.

8.3. O incidente de deslocamento de competência


CPF: 030.720.271-29

O incidente de deslocamento de competência é um instrumento inserido na Constituição pela


Emenda Constitucional nº 45/04, prevendo que, em casos de grave violação de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República poderá pedir ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) a alteração da competência
de inquérito ou processo, para julgamento perante a Justiça Federal.
Silva -- CPF:

Na década de 90 diversas chacinas praticadas por agentes dos Estados no Brasil como o massacre da
Candelária (Rio de Janeiro, 1993), a chacina da Casa de Detenção (São Paulo, 1992) e o conflito de Eldorado
da Silva

dos Carajás (Pará, 1996) tiveram repercussão internacional, sendo determinantes para a alteração da
Constituição (FREITAS, 2013, p. 1463). Buscou-se a alteração do julgamento para que a União pudesse
Gouvea da

participar de demandas com potencial para a responsabilização internacional da República Federativa do


Eliovaine Gouvea

Brasil.
Eliovaine

A também chamada "federalização dos crimes contra os direitos humanos" (PIOVESAN, 2013, p. 396)
foi inicialmente prevista no Programa Nacional de Direitos Humanos, de 1996, do qual decorreu a proposta
de emenda constitucional nº 368-A.
Com a promulgação da EC nº 45/04, foi incluído o §5º no art. 109, de seguinte redação:
Art. 109 (...)
§5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República,
com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de
deslocamento de competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional
nº 45, de 2004)

A legitimidade ativa para a propositura do IDC é, por disposição literal do §5º do art. 109, da
Constituição, exclusiva do Procurador-Geral da República. No julgamento dos IDCS 4 e 11, o STJ, por meio de
decisões monocráticas proferidas pelos Ministros Rogerio Schietti Cruz e Antonio Saldanha Palheiro,
ratificaram a legitimidade exclusiva do PGR, negando seguimento a pedidos formulados por advogado.
O IDC é possível em procedimentos em fase pré-processual ou processual. Contudo, não há consenso
na doutrina sobre a abrangência do termo "grave violação dos direitos humanos".

191
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Parcela da doutrina trata o instituto como instrumento de "federalização dos crimes contra os
direitos humanos". Por isso, Renato Brasileiro de Lima (2011, p. 633), Eugênio Pacelli de Oliveira (2010, p.
269) e Flavia Piovesan (2005) compreendem-no restrito a processos e investigações criminais. De outro lado,
Fredie Didier (2015, p. 257) André de Carvalho Ramos (2016, p. 566) e Valerio de Oliveira Mazzuoli (2020,
ebook, p. 191) não fazem tal distinção, admitindo a possibilidade de deslocamentos de processos e
procedimentos investigatórios cíveis (como inquéritos civis públicos).
O Superior Tribunal de Justiça, até o momento, julgou casos referentes a investigações criminais, e
há precedentes que adotam a posição restritiva do termo, incluindo apenas crimes graves, como homicídios
e tortura:
Nesse ponto, muito se discutiu acerca da necessidade de norma legal definindo
expressamente quais seriam os crimes praticados com grave violação aos direitos humanos.
(...) As conclusões foram no sentido de que seria da Justiça Federal a competência para
processar e julgar os crimes de tortura; os homicídios dolosos qualificados praticados por
agente funcional de quaisquer dos entes federados; os cometidos contra as comunidades
indígenas ou seus integrantes; os homicídios dolosos quando motivados por preconceito de
origem, raça, sexo, opção sexual, cor, religião, opinião política ou idade ou quando
decorrente de conflitos fundiários de natureza coletiva; e os crimes de uso, intermediação
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

e exploração de trabalho escravo ou de criança e adolescente em quaisquer das formas


previstas em tratados internacionais (IDC 1/PA, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 08/06/2005, DJ 10/10/2005, p. 217)

3. A expressão grave violação a direitos humanos coaduna-se com o cenário da prática dos
crimes de tortura e homicídio, ainda mais quando levados a efeito por agentes estatais da
segurança pública. (IDC 3/GO, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
10/12/2014, DJe 2/2/2015)
CPF: 030.720.271-29

O STJ considera como requisitos para o provimento do pedido:


• a existência de grave violação aos direitos humanos;
• o risco de responsabilização internacional do Estado brasileiro decorrente de obrigações
Silva -- CPF:

contraídas em tratados internacionais; e


da Silva

• a incapacidade das autoridades locais de oferecer respostas efetivas ao problema.


Gouvea da

O risco de responsabilização internacional do Brasil é aferido com base nos principais tratados
Eliovaine Gouvea

internacionais, de âmbito regional ou global, ratificados pelo país.


Por fim, o requisito que, na prática, gera maior restrição é a demonstração da incapacidade das
Eliovaine

autoridades locais para a apuração dos fatos, que pode ser ilustrada da seguinte passagem:
6. O incidente de deslocamento de competência não pode ter o caráter de prima ratio, de
primeira providência a ser tomada em relação a um fato (por mais grave que seja). Deve ser
utilizado em situações excepcionalíssimas, em que efetivamente demonstrada a sua
necessidade e a sua imprescindibilidade, ante provas que revelem descaso, desinteresse,
ausência de vontade política, falta de condições pessoais e/ou materiais das instituições -
ou de uma ou outra delas - responsáveis por investigar, processar e punir os responsáveis
pela grave violação a direito humano, em levar a cabo a responsabilização dos envolvidos
na conduta criminosa, até para não se esvaziar a competência da Justiça Estadual e
inviabilizar o funcionamento da Justiça Federal. (IDC 5/PE, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/8/2014, DJe 1/9/2014)

Na prática, dificilmente um IDC é julgado procedente. Em pesquisa à jurisprudência do Superior


Tribunal de Justiça é possível aferir a parcial procedência do IDC 3 e a procedência do IDC 5. Nos demais
processos, o tribunal negou seguimento ou julgou no mérito sua improcedência. A título exemplificativo,
podem ser citados o IDC 21 relacionado ao caso da Favela Nova Brasília, no Rio de Janeiro e o IDC 24 do caso
Marielle Franco, ambos julgados improcedentes ante a não comprovação da incapacidade das autoridades
locais de oferecer respostas efetivas ao problema.
QUESTÕES

192
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

244. (CESPE - 2020 - MPE-CE - Promotor de Justiça) Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos,
a fim de se assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratado internacional, o incidente de
deslocamento de competência para a justiça federal poderá ser suscitado ao
a) STF pelo procurador-geral da República ou pelo advogado-geral da União.
b) STJ pelo procurador-geral da República ou pelo advogado-geral da União.
c) STJ pelo procurador-geral da República.
d) STF pelo procurador-geral da República.
e) STF pelo procurador-geral da República, pelo advogado-geral da União ou pelo presidente do Senado
Federal.

245. (TRF - 3ª REGIÃO - 2018 - TRF - 3ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) “(...) a União, na qualidade de
ente federado com personalidade jurídica na esfera internacional, quem tem o poder de contrair obrigações
jurídicas internacionais em matéria de direitos humanos, mediante ratificação de tratados.
Consequentemente, a sistemática de monitoramento e fiscalização de tais obrigações recai na pessoa jurídica
da União. Deste modo, por coerência, há de caber à União a responsabilidade para apurar, processar e julgar
casos de violação de direitos humanos (...)” (extraído do Boletim dos Procuradores da República nº 14, junho
1999). Sob esse enfoque, a reforma constitucional de 2004 trouxe importante contribuição e pode-se julgar
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CORRETO que:
a) De acordo com a jurisprudência do STJ, a ocorrência de grave violação a direitos humanos ocasiona ipso
jure o acolhimento do Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) para a Justiça Federal, suscitado
pelo Procurador Geral da República.
b) A primeira federalização de grave violação de direitos humanos deu-se no caso do homicídio do defensor
de direitos humanos Manoel Mattos.
c) A introdução do IDC pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004, foi relevante por criar o único
CPF: 030.720.271-29

instrumento que possibilita à União cumprir, no plano interno, suas obrigações internacionais de defesa
dos direitos humanos.
d) No caso Dorothy Stang, o incidente foi acolhido pelo STJ por somar-se à grave violação dos direitos
humanos, decorrente do assassinato da religiosa, a inércia das autoridades estaduais em processar e
Silva -- CPF:

punir os autores do crime.


da Silva

246. (FCC - 2018 - DPE-AM - Defensor Público) Acerca do Incidente de Deslocamento de Competência,
Gouvea da

nas hipóteses de grave violação de direitos humanos,


Eliovaine Gouvea

a) o Superior Tribunal de Justiça concedeu a primeira federalização de grave violação de direitos humanos
no caso do defensor de direitos humanos Manoel Mattos, assassinado após ter denunciado a atuação de
Eliovaine

grupos de extermínio nos Estados de Pernambuco e Paraíba.


b) o Incidente de Deslocamento de Competência para a Justiça Federal somente poderá ser suscitado ante
a existência prévia de processo judicial em trâmite perante a Justiça Estadual.
c) o primeiro Incidente de Deslocamento de Competência suscitado perante o STJ refere-se ao caso
envolvendo o homicídio de Dorothy Stang, religiosa norte-americana naturalizada brasileira, ocorrido no
Estado do Pará, tendo o mesmo sido julgado improcedente na ocasião sob o argumento da
inconstitucionalidade do instituto.
d) segundo entendimento do Superior Tribunal de Justiça, o deslocamento da competência para a Justiça
Federal deverá ser deferido ante a verificação de situação de grave violação aos direitos humanos,
dispensando-se a demonstração concreta da inércia, negligência, falta de vontade política ou de
condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução penal.
e) cabe ao Procurador-Geral da República e ao Ministro da Justiça, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o
Brasil seja parte, suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal.

247. (CESPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto, adaptada) Para que ocorra o Incidente de
Deslocamento de Competência para a Justiça Federal, é obrigatória a demonstração inequívoca da total

193
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas às ocorrências de grave violação aos
direitos humanos.

248. (FCC - 2014 - DPE-RS - Defensor Público) Na disciplina constitucional brasileira sobre o Incidente de
Deslocamento de Competência, também conhecido como Incidente de “federalização dos crimes contra os
direitos humanos”, há previsão expressa de que
a) apenas o Procurador-Geral da República é legitimado para a propositura do incidente.
b) somente é admitido o incidente durante o curso do inquérito policial.
c) o incidente pode ser proposto em toda e qualquer hipótese de violação de direitos humanos.
d) a competência para o julgamento do incidente é do Supremo Tribunal Federal.
e) no julgamento do incidente não deve ser considerado o risco de responsabilização internacional do
estado brasileiro.

9. O COMBATE À TORTURA

9.1. Introdução
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A tortura é uma prática extremamente grave e, infelizmente, bastante difundida no mundo (CASSES,
2009, p. 171), merecendo tratamento internacional, tanto no âmbito global quanto regional. Como bem
destaca Antoni Cassese, o combate a tortura não ocorre apenas em face de agentes privados com inclinação
para o mal, mas sim de agentes públicos, dotados de autoridade (militar, política, etc.) que agem de forma
oficial, normalmente mediante instruções de seus superiores políticos ou militares. Ademais, o autor aponta
que os exemplos das prisões de Guantánamo e Abu Ghraib demonstram que sequer sistema democráticos
CPF: 030.720.271-29

bem consolidados estão imunes a tal tipo de barbárie.


A vedação à tortura, em âmbito convencional global, está prevista no artigo 5º da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, no artigo 7 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, de 1966, além
de ser objeto da Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Silva -- CPF:

Degradantes de 1984 (ratificada pelo Decreto nº 40/91).


da Silva

Em âmbito regional, não há disposição expressa sobre a vedação à tortura na Declaração Americana
dos Direitos e Deveres do Homem, não obstante tal proibição decorrer do direito à integridade pessoal,
Gouvea da

prevista no Artigo 1. A CADH, por sua vez, veda expressamente a tortura em seu artigo 5.2. Por fim, em há
Eliovaine Gouvea

ainda, em sede regional, a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985, ratificada
pelo Brasil pelo Decreto nº 98.286/89, também chamada de Convenção de Cartagena, tendo em vista que
Eliovaine

ela foi assinada em Cartagena das Índias, na Colômbia.


O Estatuto de Roma, ratificado pelo Decreto nº 4.388/02, prevê em seu art. 7º a tortura como uma
das formas de crimes contra a humanidade. Nesse caso, segundo a própria disposição convencional, ela
deverá ser praticada em um quadro de ataque, generalizado ou sistemático, contra uma população civil.
Em âmbito interno, o art. 5º, III da Constituição traz a cláusula geral de vedação à tortura, enquanto
o inciso XLIII do art. 5º, dispõe que a prática de tortura é um crime inafiançável e insuscetível de graça ou
anistia. Em âmbito infraconstitucional, coube à Lei nº 9.455/97 dispor sobre os crimes de tortura e a Lei nº
12.847/13 instituir o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT).

9.2. Conceito de tortura

Os instrumentos normativos gerais não trazem um conceito de tortura, isto é, a DUDH, o PIDCP, a
CADH e a Constituição de 1988, trazem a cláusula geral de vedação à tortura, mas não uma conceituação
propriamente dita. Já os instrumentos específicos dispõem de uma conceituação:
CONVENÇÃO CONTRA A CONVENÇÃO ESTATUTO DE ROMA LEI Nº 9.455/97
TORTURA E OUTROS INTERAMERICANA PARA
TRATAMENTOS OU

194
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

PENAS CRUÉIS, PREVENIR E PUNIR A


DESUMANOS OU TORTURA
DEGRADANTES

ARTIGO 1º ARTIGO 2 ARTIGO 7º ARTIGO 1º

1. Para os fins da presente Para os efeitos desta Crimes contra a Constitui crime de
Convenção, o termo Convenção, entender-se-á Humanidade tortura:
"tortura" designa por tortura todo ato pelo
qualquer ato pelo qual qual são infligidos
dores ou sofrimentos intencionalmente a uma 1. Para os efeitos do I - constranger
agudos, físicos ou pessoa penas ou presente Estatuto, alguém com
mentais, são infligidos sofrimentos físicos ou entende-se por "crime emprego de
intencionalmente a uma mentais, com fins de contra a humanidade", violência ou grave
pessoa a fim de obter, investigação criminal, qualquer um dos atos ameaça,
dela ou de uma terceira como meio de seguintes, quando causando-lhe
pessoa, informações ou intimidação, como castigo
eliovaine@hotmail·com

cometido no quadro de sofrimento físico


030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

confissões; de castigá-la pessoal, como medida um ataque, generalizado ou mental:


por ato que ela ou uma preventiva, como pena ou ou sistemático, contra
terceira pessoa tenha com qualquer outro fim. qualquer população civil, a) com o fim de
cometido ou seja suspeita Entender-se-á também havendo conhecimento obter informação,
de ter cometido; de como tortura a aplicação, desse ataque: (...) declaração ou
intimidar ou coagir esta sobre uma pessoa, de confissão da
f) Tortura; (...) vítima ou de
CPF: 030.720.271-29

pessoa ou outras métodos tendentes a


pessoas; ou por qualquer anular a personalidade da terceira pessoa;
2. Para efeitos do
motivo baseado em vítima, ou a diminuir sua parágrafo 1º: (...) b) para provocar
discriminação de capacidade física ou ação ou omissão
qualquer natureza; mental, embora não e) Por "tortura" entende-
Silva -- CPF:

de natureza
quando tais dores ou causem dor física ou se o ato por meio do qual criminosa;
sofrimentos são infligidos angústia psíquica. uma dor ou sofrimentos
da Silva

por um funcionário agudos, físicos ou c) em razão de


Gouvea da

público ou outra pessoa mentais, são discriminação


Eliovaine Gouvea

no exercício de funções Não estarão intencionalmente racial ou religiosa;


públicas, ou por sua compreendidos no causados a uma pessoa
II - submeter
Eliovaine

instigação, ou com o seu conceito de tortura as que esteja sob a custódia


ou o controle do acusado; alguém, sob sua
consentimento ou penas ou sofrimentos
este termo não guarda, poder ou
aquiescência. Não se físicos ou mentais que
compreende a dor ou os autoridade, com
considerará como tortura sejam unicamente
sofrimentos resultantes emprego de
as dores ou sofrimentos conseqüência de medidas
unicamente de sanções violência ou grave
que sejam conseqüência legais ou inerentes a elas,
legais, inerentes a essas ameaça, a intenso
unicamente de sanções contato que não incluam a sofrimento físico
legítimas, ou que sejam realização dos atos ou sanções ou por elas
ocasionadas; ou mental, como
inerentes a tais sanções aplicação dos métodos a forma de aplicar
ou delas decorram. que se refere este Artigo. castigo pessoal ou
medida de caráter
Artigo 8º preventivo.
2. O presente Artigo não
Crimes de Guerra
será interpretado de
maneira a restringir 1. O Tribunal terá Pena - reclusão, de
qualquer instrumento competência para julgar
dois a oito anos.
internacional ou os crimes de guerra, em
legislação nacional que particular quando
contenha ou possa conter

195
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

dispositivos de alcance cometidos como parte §1º Na mesma


mais amplo. integrante de um plano pena incorre quem
ou de uma política ou submete pessoa
como parte de uma presa ou sujeita a
prática em larga escala medida de
desse tipo de crimes. segurança a
sofrimento físico
2. Para os efeitos do ou mental, por
presente Estatuto, intermédio da
entende-se por "crimes prática de ato não
de guerra": previsto em lei ou
a) As violações graves às não resultante de
Convenções de Genebra, medida legal.
de 12 de Agosto de 1949,
a saber, qualquer um dos
seguintes atos, dirigidos
contra pessoas ou bens
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protegidos nos termos da


Convenção de Genebra
que for pertinente:
ii) Tortura ou outros
tratamentos desumanos,
incluindo as experiências
CPF: 030.720.271-29

biológicas;

Comparando os conceitos trazidos, vê que que o mais restritivo é o do Estatuto de Roma, pois ele
Silva -- CPF:

se restringe a situações de ataques, generalizados ou sistemáticos, contra uma população civil, quando
tratar-se de crime contra a humanidade ou, em caso de crime de guerra, quando a prática for cometida
da Silva

“como parte integrante de um plano ou de uma política ou como parte de uma prática em larga escala”.
Gouvea da

A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, por sua vez, traz uma conceituação
Eliovaine Gouvea

mais ampla, pois prevê a imposição de sofrimento físico ou psíquico com qualquer fim, isto é, para
investigação criminal ou não. Também considerada tortura “a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos
Eliovaine

tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não
causem dor física ou angústia psíquica”. Trata-se da “figura equiparada”, segundo André de Carvalho Ramos
(2021, p. 369).
Sobre a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, Fabiano Melo Gonçalves de Oliveira (2016, p. 442) explica que é possível dividir a conduta nos
seguintes elementos:
• Elemento objetivo: ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais a uma pessoa.
• Elemento subjetivo: intenção de obter da vítima ou de terceira pessoa informações ou
confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita
de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo
baseado em discriminação de qualquer natureza;
• Sujeito ativo: a conduta só poderá ser praticada por funcionário público ou pessoa que esteja
exercendo funções públicas.
Verifica-se, portanto, que a prática da tortura é considerada uma “conduta própria” (não crime
próprio, pois a convenção não tipifica um crime propriamente dito), tendo em vista que o agente deve ser
um funcionário público ou estar no exercício de função pública, disso, a Convenção de 1984 prevê a exigência
de sofrimento agudo (RAMOS, 2021, p. 367).

196
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

A Convenção Interamericana prevê a possibilidade de a conduta ser praticada por pessoa que não é
funcionário púbico, mas desde que ela seja instigada por um:
ARTIGO 3
Serão responsáveis pelo delito de tortura:
a) Os empregados ou funcionários públicos que, atuando nesse caráter, ordenem sua
comissão ou instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou, podendo impedi-lo,
não o façam;
b) As pessoas que, por instigação dos funcionários ou empregados públicos a que se refere
a alínea a, ordenem sua comissão, instiguem ou induzam a ela, comentam-no diretamente
ou nela sejam cúmplices.

Na Lei dos Crimes de Tortura, a compreensão é que se trata de um crime comum, tendo em vista
que o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa (NUCCI, 2014, p. 811).
Quanto à autoria, destaca-se a impossibilidade de alegação de estrito cumprimento de ordens
superiores para eximir o agente de sua conduta:
CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR
TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS E PUNIR A TORTURA
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OU DEGRADANTES.

ARTIGO 2º ARTIGO 4
(...)
3. A ordem de um funcionário superior ou de uma O fato de haver agido por ordens superiores não
autoridade pública não poderá ser invocada como eximirá da responsabilidade penal correspondente.
CPF: 030.720.271-29

justificação para a tortura.

André de Carvalho Ramos (2021, p. 368), por sua vez, destaca que a Convenção de 1984 sofreu
Silva -- CPF:

críticas não apenas por sua conceituação restritiva, como também por não abarcar eventuais condutas
omissivas e negligentes. Nesse ponto, percebe-se que o art. 1º, I, b da Lei nº 9.455/97 traz proteção mais
da Silva

abrangente, prevendo a tipificação em condutas omissivas.


Gouvea da

Outro ponto controverso na Convenção de 1984 e repetido no Estatuto de Roma é o termo “sanções
Eliovaine Gouvea

legítimas” (“lawful sanctions”). Celso Eduardo Faria Coracini (2006, p. 310) explica que intenção originária
do termo seria excluir do conceito da tortura algumas formas de sanções disciplinares e também penas
Eliovaine

corporais baseadas na Shari’a.


O autor aponta que o Comitê contra a Tortura, teve uma postura ambígua em relação às penas
corporais, como flagelação e amputação de membros, até 1997. Desde então, a partir do relatório
apresentado pela Namíbia, o Comitê passou a recomendar a extinção das penas corporais, por considera-las
uma afronta ao artigo 1 da Convenção (CORACINI, 2006, p. 315).
Na prática, algumas situações são consideradas inseridas na cláusula de “sanções legítimas” como o
isolamento penitenciário (solitárias), algemas nos pés e também a pena de morte.
André de Carvalho Ramos (2021, p. 368) aponta que alguns Estados, como os Estados Unidos, tentam
utilizar a cláusula para justificar seus métodos de interrogatórios. Sobre o tema, importante destacar que o
Comitê contra a Tortura, em relatório de 2014 (p. 8) recomendou aos Estados Unidos o fim de técnicas de
interrogatório como a técnica de separação física (physical separation technique) que impede a comunicação
entre os presos por período de 30 dias, prorrogáveis posteriormente, a privação de sono por mais de 4 horas
por dia, ou acessórios como vendas que criam um estado psicológico de separação.

ATENÇÃO!

Considerando o princípio pro homine, eventuais distinções nos tratados internacionais ou entre
tratados e o direito interno deverão ser coordenadas buscando-se a maior proteção às vítimas. Logo, sendo

197
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a lei de tortura brasileira mais protetiva quanto ao sujeito da conduta, ela deve prevalecer em relação aos
tratados internacionais. Além disso, os tratados trazem cláusulas de abertura, como o artigo 1.2 da
Convenção de 1984, que possibilitam esse diálogo normativo.

9.3. Vedação absoluta

Tanto a Convenção de 1984, quanto a Convenção Interamericana trazem cláusulas que vedam, de
forma absoluta, a prática da tortura pelos Estados:
CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR
TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS E PUNIR A TORTURA
OU DEGRADANTES.
ARTIGO 2º ARTIGO 5
(...) Não se invocará nem admitirá como justificativa do
delito de tortura a existência de circunstâncias tais
2. Em nenhum caso poderão invocar-se como o estado de guerra, a ameaça de guerra, o
circunstâncias excepcionais tais como ameaça ou estado de sítio ou emergência, a comoção ou
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estado de guerra, instabilidade política interna ou conflito interno, a suspensão das garantias
qualquer outra emergência pública como constitucionais, a instabilidade política interna, ou
justificação para tortura. outras emergências ou calamidades públicas.

Nem a periculosidade do detido ou condenado,


CPF: 030.720.271-29

nem a insegurança do estabelecimento carcerário


ou penitenciário podem justificar a tortura.
Silva -- CPF:

Aqui tem-se a resposta normativa prévia a exemplos reais e doutrinários semelhantes ao “dilema do
bonde” (trolley problem) de Philippa Foot (1967, p. 7)26. O primeiro refere-se à tortura de um preso para
da Silva

obter informações que podem salvar um batalhão inteiro durante uma batalha. O segundo diz respeito à
Gouvea da

tortura de um terrorista para saber a exata localização de uma bomba relógio (caso Irlanda c. Grã Bretanha).
Eliovaine Gouvea

Os Estados, em ambos instrumentos internacionais, escolheram impedir qualquer tipo de justificativa para a
prática da tortura. Trata-se, para Antonio Cassese (2009, p. 194) de uma forma de se prevenir, através de um
Eliovaine

instrumento racional (a palavra), a recaída na barbárie.


Decorre da vedação absoluta, o compromisso dos Estados de não considerarem como prova válida,
em desfavor da vítima, declarações feitas mediante tortura. Por outro lado, tais declarações poderão servir
como meio de prova para a punição dos acusados:
CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR
TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS E PUNIR A TORTURA
OU DEGRADANTES.
ARTIGO 15 ARTIGO 10

Cada Estado Parte assegurará que nenhuma Nenhuma declaração que se comprove haver sido
declaração que se demonstre ter sido prestada obtida mediante tortura poderá se admitida como
como resultado de tortura possa ser invocada como prova num processo, salvo em processo instaurado

26 Em sua versão originária, a filósofa propôs o seguinte dilema: suponha que você é o condutor de um bonde desgovernado que
só pode agir de duas formas diante de uma bifurcação. De um lado encontram-se cinco trabalhadores, consertando a linha, de
outro há apenas um homem. Qualquer que seja o caminho que o bonde entrar, alguém morrerá. Resta a você escolher.

198
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

prova em qualquer processo, salvo contra uma conta a pessoa ou pessoas acusadas de havê-la
pessoa acusada de tortura como prova de que a obtido mediante atos de tortura unicamente como
declaração foi prestada. prova de que, por esse meio, o acusado obteve tal
declaração.

9.4. Compromisso de tipificação penal

Tanto a Convenção de 1984 quanto a Convenção Interamericana preveem o compromisso dos


Estados de tipificar como crime as práticas de tortura, tanto em sua forma consumada quanto tentada.

CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR


TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS E PUNIR A TORTURA
OU DEGRADANTES.

ARTIGO 4º ARTIGO 6
eliovaine@hotmail·com
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1. Cada Estado Parte assegurará que todos os atos Em conformidade com o disposto no artigo 1, os
de tortura sejam considerados crimes segundo a Estados Partes tomarão medidas efetivas a fim de
sua legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à prevenir e punir a tortura no âmbito de sua
tentativa de tortura e a todo ato de qualquer pessoa jurisdição.
que constitua cumplicidade ou participação na
tortura. Os Estados Partes segurar-se-ão de que todos os
atos de tortura e as tentativas de praticar atos dessa
CPF: 030.720.271-29

2. Cada Estado Parte punirá estes crimes com penas natureza sejam considerados delitos em seu direito
adequadas que levem em conta a sua gravidade. penal, estabelecendo penas severas para sua
punição, que levem em conta sua gravidade.
Os Estados Partes obrigam-se também a tomar
Silva -- CPF:

medidas efetivas para prevenir e punir outros


tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
da Silva

degradantes, no âmbito de sua jurisdição.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

A exposição de motivos do projeto de lei que originou a Lei nº 9.455/97, apresentado pelo Ministro
Eliovaine

da Justiça, menciona expressamente o compromisso assumido pelo Brasil em ambas as convenções 27.

9.5. Princípio do aut dedere, aut judicare

Em ambas as convenções os Estados se comprometeram a extraditar ou punir pessoas acusadas da


prática de tortura, independentemente da nacionalidade do acusado, da vítima ou do local do fato. Trata-se
da aplicação do princípio da jurisdição universal, que tem como condição a presença do acusado no
território do Estado (RAMOS, 2021, p. 368):

CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR


TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS E PUNIR A TORTURA
OU DEGRADANTES.

ARTIGO 8° ARTIGO 13

27 Vide: http://imagem.camara.gov.br/Imagem/d/pdf/DCD26OUT1994.pdf#page=10

199
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

1. Os crimes a que se refere o Artigo 4° serão O delito a que se refere o Artigo 2 será considerado
considerados como extraditáveis em qualquer incluído entre os delitos que são motivo de
tratado de extradição existente entre os Estados extradição em todo tratado de extradição celebrado
Partes. Os Estados Partes obrigar-se-ão a incluir tais entre Estados Partes. Os Estados Partes
crimes como extraditáveis em todo tratado de comprometem-se a incluir o delito de tortura como
extradição que vierem a concluir entre si. caso de extradição em todo tratado de extradição
que celebrarem entre si no futuro.
2. Se um Estado Parte que condiciona a extradição
à existência de tratado de receber um pedido de Todo Estado Parte que sujeitar a extradição à
extradição por parte do outro Estado Parte com o existência de um tratado poderá, se receber de
qual não mantém tratado de extradição, poderá outro Estado Parte, com o qual não tiver tratado,
considerar a presente Convenção com base legal uma solicitação de extradição, considerar esta
para a extradição com respeito a tais crimes. A Convenção como a base jurídica necessária para a
extradição sujeitar-se-á ás outras condições extradição referente ao delito de tortura. A
estabelecidas pela lei do Estado que receber a extradição estará sujeita às demais condições
solicitação. exigíveis pelo direito do Estado requerido.
3. Os Estado Partes que não condicionam a Os Estados Partes que não sujeitarem a extradição
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

extradição à existência de um tratado à existência de um tratado reconhecerão esses


reconhecerão, entre si, tais crimes como delitos como casos de extradição entre eles,
extraditáveis, dentro das condições estabelecidas respeitando as condições exigidas pelo direito do
pela lei do Estado que receber a solicitação. Estado requerido.
4. O crime será considerado, para o fim de Não se conhecerá a extradição nem se procederá à
extradição entre os Estados Partes, como se tivesse devolução da pessoa requerida quando houver
CPF: 030.720.271-29

ocorrido não apenas no lugar em que ocorreu, mas suspeita fundada de que corre perigo sua vida, de
também nos territórios dos Estados chamados a que será submetida à tortura, tratamento cruel,
estabelecerem sua jurisdição, de acordo com o desumano ou degradante, ou de que será julgada
parágrafo 1 do Artigo 5º. por tribunais de exceção ou adhoc, no estado
requerente.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea Silva -- CPF:
da Silva

ARTIGO 14
Eliovaine

ARTIGO 7º
Quando um Estado Parte não conceder a
1. O Estado Parte no território sob a jurisdição doextradição, submeterá o caso às suas autoridades
qual o suposto autor de qualquer dos crimes
competentes, como se o delito houvesse sido
mencionados no Artigo 4º for encontrado, se não o cometido no âmbito de sua jurisdição, para fins de
extraditar, obrigar-se-á, nos casos contemplados noinvestigação e, quando for cabível, da ação penal,
Artigo 5º, a submeter o caso as suas autoridades de conformidade com sua legislação nacional. A
competentes para o fim de ser o mesmo decisão tomada por essas autoridades será
processado. comunicada ao Estado que houver solicitado a
2. As referidas autoridades tomarão sua decisão de extradição.
acordo com as mesmas normas aplicáveis a
qualquer crime de natureza grave, conforme a
legislação do referido Estado. Nos casos previstos
no parágrafo 2 do Artigo 5º, as regras sobre prova
para fins de processo e condenação não poderão de
modo algum ser menos rigorosas do que as que se
aplicarem aos casos previstos no parágrafo 1 do
Artigo 5º.

200
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

3. Qualquer pessoa processada por qualquer dos


crimes previstos no Artigo 4º receberá garantias de
tratamento justo em todas as fases do processo.

Sobre o tema é importante destacar que a Convenção Interamericana traz a cláusula de vedação de
extradição quando houver risco de vida por parte do acusado, ou que ele será vítima de tortura, tratamento
cruel, desumano ou degradante. Além disso, há ainda a vedação em caso de julgamento do acusado por
tribunais de exceção no Estado requerente.

9.6. Dever de reparação

Ambas as convenções preveem o dever do Estado de reparar as vítimas de tortura. A Convenção de


1984 menciona ainda que em caso de falecimento decorrente da prática de tortura, os dependentes da
vítima terão direito à indenização.

CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR


eliovaine@hotmail·com

TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS E PUNIR A TORTURA


030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

OU DEGRADANTES.

ARTIGO 14 ARTIGO 9

1. Cada Estado Parte assegurará, em seu sistema Os Estado Partes comprometem-se a estabelecer,
jurídico, à vítima de um ato de tortura, o direito à em suas legislações nacionais, normas que
reparação e a uma indenização justa e adequada, garantam compensação adequada para as vítimas
CPF: 030.720.271-29

incluídos os meios necessários para a mais completa do delito de tortura.


reabilitação possível. Em caso de morte da vítima
como resultado de um ato de tortura, seus Nada do disposto neste Artigo afetará o direito que
possa ter a vítima ou outras pessoas de receber
dependentes terão direito à indenização.
Silva -- CPF:

compensação em virtude da legislação nacional


2. O disposto no presente Artigo não afetará existente.
da Silva

qualquer direito a indenização que a vítima ou outra


pessoa possam ter em decorrência das leis
Gouvea da

nacionais.
Eliovaine Gouvea
Eliovaine

Em âmbito interno é necessário destacar que a responsabilização civil do Estado ocorrerá, nos
termos do art. 37, §6º da Constituição de 1988, de forma objetiva, não sendo necessária comprovação de
elemento subjetivo pelo autor da ação.
Além disso, há de se destacar que em relação aos atos de tortura praticados durante o período
militar. Mesmo que o Brasil já tenha sido condenado tanto no caso Herzog quanto no caso Gomes Lund pela
Corte IDH, sob o fundamento de que os crimes contra humanidade são imprescritíveis, a jurisprudência pátria
aplica as normas de prescrição do Código Penal. Em razão desse entendimento o Supremo Tribunal Federal
já deixou de extraditar pessoas acusadas de tortura em outros países, como a Argentina:
PRISÃO PREVENTIVA – EXTRADIÇÃO – DUPLA PUNIBILIDADE – NÃO OCORRÊNCIA. Impõe-se
a devolução da liberdade de ir e vir ao extraditando, uma vez que não se mostram puníveis,
no Brasil, fatos semelhantes ocorridos durante o período da ditadura militar, presente a
anistia bilateral, ampla e geral, prevista na Lei nº 6.683/1979. PRISÃO PREVENTIVA –
EXTRADIÇÃO – PRESCRIÇÃO – LEGISLAÇÃO BRASILEIRA. Incidindo a prescrição segundo a
legislação brasileira – artigo 109, inciso I, do Código Penal –, considerado o transcurso de
mais de quarenta anos do fato sem a ocorrência de circunstância interruptiva, cumpre
afastar a custódia provisória. (Ext 1327 AgR, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Primeira Turma,
julgado em 27/06/2017, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-197 DIVULG 31-08-2017 PUBLIC 01-
09-2017)

201
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Do ponto de vista da responsabilidade civil do Estado, em razão da prática de tortura por seus
agentes durante o período militar, a posição consolidada no Superior Tribunal de Justiça é da
imprescritibilidade da responsabilização. Logo, tanto as vítimas como seus familiares podem, hoje, pleitear a
responsabilização civil do Estado pela prática de tortura sofrida durante o regime militar.
Segundo o entendimento consolidado pelo tribunal, a prescrição quinquenal do Decreto nº
20.910/1932 é afastada em razão do art. 8º, §3º do ADCT28:
3. A violação dos direitos humanos ou dos direitos fundamentais da pessoa humana como
a proteção da sua dignidade lesada, pela tortura e prisão por delito de opinião durante o
Regime Militar de exceção, enseja ação de reparação ex delicto imprescritível que ostenta
amparo constitucional no art. 8º, §3º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
4. No julgamento do Agravo Interno no REsp 1.710.240/RS, da relatoria do Ministro
Francisco Falcão, ocorrido em 8.5.2018 e publicado no DJe 14.5.2018, a Segunda Turma do
STJ reafirmou o entendimento de que a prescrição quinquenal, disposta no art. 1º do
Decreto 20.910/1932, é inaplicável aos danos decorrentes de violação de direitos
fundamentais, que são imprescritíveis, principalmente quando ocorreram durante o
Regime Militar, época na qual os jurisdicionados não podiam deduzir a contento suas
pretensões.
eliovaine@hotmail·com
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5. Inexiste vedação para a acumulação da reparação econômica com indenização por danos
morais, porquanto são verbas indenizatórias com fundamentos e finalidades diversos:
aquela visa à recomposição patrimonial (danos emergentes e lucros cessantes), ao passo
que esta tem por escopo a tutela da integridade moral, expressão dos direitos da
personalidade. Nesse sentido: AgRg no AREsp 266.082/RS, Rel. Ministro Herman Benjamin,
Segunda Turma, DJe 24.6.2013; REsp 890.930/RJ, Rel. Ministra Denise Arruda, Primeira
Turma, DJ 14.6.2007; AgRg no REsp 1.467.148/SP, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, DJe 11.2.2015; AgInt no REsp 1.583.375/SP, Rel. Ministra Assusete Magalhães,
CPF: 030.720.271-29

Segunda Turma, DJe 16.8.2016; AgRg no REsp 1.445.346/SP, Rel. Ministro Humberto
Martins, Segunda Turma, DJe 21.10.2015; REsp 1.485.260/PR, Rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, DJe 19.4.2016. (...) (AREsp n. 1.865.976/PR, relator Ministro Herman
Benjamin, Segunda Turma, julgado em 10/8/2021, DJe de 23/8/2021.)
Silva -- CPF:

9.7. Compromisso de educação e treinamento


da Silva

Como forma de prevenção à prática da tortura, os Estados comprometeram-se a treinar seus agentes
Gouvea da

públicos, conscientizando-os da proibição dessa prática:


Eliovaine Gouvea

CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR


Eliovaine

TRATAMENTOS OU PENAS CRUÉIS, DESUMANOS E PUNIR A TORTURA


OU DEGRADANTES.

ARTIGO 10 ARTIGO 7

1. Cada Estado Parte assegurará que o ensino e a Os Estados Partes tomarão medidas para que, no
informação sobre a proibição de tortura sejam treinamento de agentes de polícia e de outros
plenamente incorporados no treinamento do funcionários públicos responsáveis pela custódia de
pessoal civil ou militar encarregado da aplicação da pessoas privadas de liberdade, provisória ou
lei, do pessoal médico, dos funcionários públicos e definitivamente, e nos interrogatórios, detenção ou
de quaisquer outras pessoas que possam participar prisões, se ressalte de maneira especial a proibição
da custódia, interrogatório ou tratamento de do emprego da tortura.

28 ADCT, Art. 8º (...) § 3º Aos cidadãos que foram impedidos de exercer, na vida civil, atividade profissional específica, em
decorrência das Portarias Reservadas do Ministério da Aeronáutica nº S-50-GM5, de 19 de junho de 1964, e nº S-285-GM5 será
concedida reparação de natureza econômica, na forma que dispuser lei de iniciativa do Congresso Nacional e a entrar em vigor
no prazo de doze meses a contar da promulgação da Constituição.

202
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

qualquer pessoa submetida a qualquer forma de Os Estados Partes tomarão medidas semelhantes
prisão, detenção ou reclusão. para evitar outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes.
2. Cada Estado Parte incluirá a referida proibição
nas normas ou instruções relativas aos deveres e
funções de tais pessoas.

9.8. Mecanismos de supervisão

A Convenção de 1984 tem como mecanismo de supervisão a entrega de relatórios periódicos para o
Comitê contra a Tortura, criado pela própria convenção. O órgão é composto por 10 membros de elevada
reputação moral e reconhecida competência em matéria de direitos humanos O Comitê ao receber o
relatório e fará comentários pertinentes:
ARTIGO 19
1. Os Estados Partes submeterão ao Comitê, por intermédio do Secretário-Geral das Nações
Unidas, relatórios sobre as medidas por eles adotadas no cumprimento das obrigações
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

assumidas em virtude da presente Convenção, dentro de prazo de um ano, a contar do


início da vigência da presente Convenção no Estado Parte interessado. A partir de então, os
Estados Partes deverão apresentar relatórios suplementares a cada quatro anos sobre
todas as novas disposições que houverem adotado, bem como outros relatórios que o
Comitê vier a solicitar.
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas transmitirá os relatórios a todos os Estados Partes.
3. Cada relatório será examinado pelo Comitê, que poderá fazer os comentários gerais que
CPF: 030.720.271-29

julgar oportunos e os transmitirá ao Estado Parte interessado. Este poderá, em resposta ao


Comitê, comunicar-lhe todas as observações que deseje formular.

4. O Comitê poderá, a seu critério, tomar a decisão de incluir qualquer comentário que
houver feito de acordo com o que estipula o parágrafo 3 do presente Artigo, junto com as
Silva -- CPF:

observações conexas recebidas do Estado Parte interessado, em seu relatório anual que
apresentará em conformidade com o Artigo 24. Se assim o solicitar o Estado Parte
da Silva

interessado, o Comitê poderá também incluir cópia do relatório apresentado em virtude do


parágrafo 1 do presente Artigo.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

A Convenção prevê também a possibilidade de comunicações interestatais ao Comitê, desde que os


Estados reconheçam a competência do órgão para tanto (cláusula de reciprocidade):
Eliovaine

ARTIGO 21
1. Com base no presente Artigo, todo Estado Parte da presente Convenção poderá declarar,
a qualquer momento, que reconhece a competência dos Comitês para receber e examinar
as comunicações em que um Estado Parte alegue que outro Estado Parte não vem
cumprindo as obrigações que lhe impõe a Convenção. As referidas comunicações só serão
recebidas e examinadas nos termos do presente Artigo no caso de serem apresentadas por
um Estado Parte que houver feito uma declaração em que reconheça, com relação a si
próprio, a competência do Comitê. O Comitê não receberá comunicação alguma relativa a
um Estado Parte que não houver feito uma declaração dessa natureza. As comunicações
recebidas em virtude do presente Artigo estarão sujeitas ao procedimento que se segue:
a) se um Estado Parte considerar que outro Estado Parte não vem cumprindo as disposições
da presente Convenção poderá, mediante comunicação escrita, levar a questão ao
conhecimento deste Estado Parte. Dentro de um prazo de três meses a contar da data do
recebimento da comunicação, o Estado destinatário fornecerá ao Estado que enviou a
comunicação explicações ou quaisquer outras declarações por escrito que esclareçam a
questão, as quais deverão fazer referência, até onde seja possível e pertinente, aos
procedimentos nacionais e aos recursos jurídicos adotados, em trâmite ou disponíveis sobre
a questão;
b) se, dentro de um prazo de seis meses, a contar da data do recebimento da comunicação
original pelo Estado destinatário, a questão não estiver dirimida satisfatoriamente para

203
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

ambos os Estado Partes interessados, tanto um como o outro terão o direito de submetê-
la ao Comitê, mediante notificação endereçada ao Comitê ou ao outro Estado interessado;
c) o Comitê tratará de todas as questões que se lhe submetam em virtude do presente
Artigo somente após ter-se assegurado de que todos os recursos jurídicos internos
disponíveis tenham sido utilizados e esgotados, em consonância com os princípios do
Direito internacional geralmente reconhecidos. Não se aplicará esta regra quando a
aplicação dos mencionados recursos se prolongar injustificadamente ou quando não for
provável que a aplicação de tais recursos venha a melhorar realmente a situação da pessoa
que seja vítima de violação da presente Convenção;
d) o Comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinando as comunicações
previstas no presente Artigo;
e) sem prejuízo das disposições da alínea c), o Comitê colocará seus bons ofícios à disposição
dos Estados Partes interessados no intuito de se alcançar uma solução amistosa para a
questão, baseada no respeito às obrigações estabelecidas na presente Convenção. Com
vistas a atingir esse objetivo, o Comitê poderá constituir, se julgar conveniente, uma
comissão de conciliação ad hoc;
f) em todas as questões que se lhe submetam em virtude do presente Artigo, o Comitê
poderá solicitar aos Estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea b), que
lhe forneçam quaisquer informações pertinentes;
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

g) os Estados Partes interessados, a que se faz referência na alínea b), terão o direito de
fazer-se representar quando as questões forem examinadas no Comitê e de apresentar suas
observações verbalmente e/ou por escrito;
h) o Comitê, dentro dos doze meses seguintes à data de recebimento de notificação
mencionada na b), apresentará relatório em que:
i) se houver sido alcançada uma solução nos termos da alínea e), o Comitê restringir-se-á,
em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos e da solução alcançada;
ii) se não houver sido alcançada solução alguma nos termos da alínea e), o Comitê restringir-
CPF: 030.720.271-29

se-á, em seu relatório, a uma breve exposição dos fatos; serão anexados ao relatório o texto
das observações escritas e as atas das observações orais apresentadas pelos Estados Partes
interessados.
Para cada questão, o relatório será encaminhado aos Estados Partes interessados.
Silva -- CPF:

2. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento em que cinco


Estado Partes da presente Convenção houverem feito as declarações mencionadas no
parágrafo 1 deste Artigo. As referidas declarações serão depositadas pelos Estados Partes
da Silva

junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas aos demais
Gouvea da

Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento, mediante
Eliovaine Gouvea

notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo do exame


de quaisquer questões que constituam objeto de uma comunicação já transmitida nos
Eliovaine

termos deste Artigo; em virtude do presente Artigo, não se receberá qualquer nova
comunicação de um Estado Parte uma vez que o Secretário-Geral haja recebido a
notificação sobre a retirada da declaração, a menos que o Estado Parte interessado haja
feito uma nova declaração.

A convenção prevê ainda a possibilidade de peticionamento individual por pessoas sob a jurisdição
do Estado que reconheça a competência do Comitê para seu recebimento:
ARTIGO 22
1. Todo Estado Parte da presente Convenção poderá, em virtude do presente Artigo,
declarar, a qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê para receber e
examinar as comunicações enviadas por pessoas sob sua jurisdição, ou em nome delas, que
aleguem ser vítimas de violação, por um Estado Parte, das disposições da Convenção. O
Comitê não receberá comunicação alguma relativa a um Estado Parte que não houver feito
declaração dessa natureza.
2. O Comitê considerará inadmissível qualquer comunicação recebida em conformidade
com o presente Artigo que seja anônima, ou que, a seu juízo, constitua abuso do direito de
apresentar as referidas comunicações, ou que seja incompatível com as disposições da
presente Convenção.
3. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 2, o Comitê levará todas as comunicações
apresentadas em conformidade com este Artigo ao conhecimento do Estado Parte da
presente Convenção que houver feito uma declaração nos termos do parágrafo 1 e sobre o

204
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

qual se alegue ter violado qualquer disposição da Convenção. Dentro dos seis meses
seguintes, o Estado destinatário submeterá ao Comitê as explicações ou declarações por
escrito que elucidem a questão e, se for o caso, indiquem o recurso jurídico adotado pelo
Estado em questão.
4. O Comitê examinará as comunicações recebidas em conformidade com o presente Artigo
á luz de todas as informações a ele submetidas pela pessoa interessada, ou em nome dela,
e pelo Estado Parte interessado.
5. O Comitê não examinará comunicação alguma de uma pessoa, nos termos do presente
Artigo, sem que se haja assegurado de que;
a) a mesma questão não foi, nem está sendo, examinada perante uma outra instância
internacional de investigação ou solução;
b) a pessoa em questão esgotou todos os recursos jurídicos internos disponíveis; não se
aplicará esta regra quando a aplicação dos mencionados recursos se prolongar
injustificadamente ou quando não for provável que a aplicação de tais recursos venha a
melhorar realmente a situação da pessoa que seja vítima de violação da presente
Convenção.
6. O Comitê realizará reuniões confidenciais quando estiver examinado as comunicações
previstas no presente Artigo.
7. O Comitê comunicará seu parecer ao Estado Parte e à pessoa em questão.
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

8. As disposições do presente Artigo entrarão em vigor a partir do momento em que cinco


Estado Partes da presente Convenção houverem feito as declarações mencionadas no
parágrafo 1 deste Artigo. As referidas declarações serão depositadas pelos Estados Partes
junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, que enviará cópia das mesmas ao demais
Estados Partes. Toda declaração poderá ser retirada, a qualquer momento, mediante
notificação endereçada ao Secretário-Geral. Far-se-á essa retirada sem prejuízo do exame
de quaisquer questões que constituam objeto de uma comunicação já transmitida nos
termos deste Artigo; em virtude do presente Artigo, não se receberá nova comunicação de
CPF: 030.720.271-29

uma pessoa, ou em nome dela, uma vez que o Secretário-Geral haja recebido a notificação
sobre retirada da declaração, a menos que o Estado Parte interessado haja feito uma nova
declaração.

Por fim, o próprio Comitê poderá, ex officio, realizar investigações em um dos Estados signatários da
Silva -- CPF:

convenção:
da Silva

ARTIGO 20
1. O Comitê, no caso de vir a receber informações fidedignas que lhe pareçam indicar, de
Gouvea da

forma fundamentada, que a tortura é praticada sistematicamente no território de um


Eliovaine Gouvea

Estado Parte, convidará o Estado Parte em questão a cooperar no exame das informações
e, nesse sentido, a transmitir ao Comitê as observações que julgar pertinentes.
Eliovaine

2. Levando em consideração todas as observações que houver apresentado o Estado Parte


interessado, bem como quaisquer outras informações pertinentes de que dispuser, o
Comitê poderá, se lhe parecer justificável, designar um ou vários de seus membros para que
procedam a uma investigação confidencial e informem urgentemente o Comitê.
3. No caso de realizar-se uma investigação nos termos do parágrafo 2 do presente Artigo, o
Comitê procurará obter a colaboração do Estado Parte interessado. Com a concordância do
Estado Parte em questão, a investigação poderá incluir uma visita a seu território.
4. Depois de haver examinado as conclusões apresentadas por um ou vários de seus
membros, nos termos do parágrafo 2 do presente Artigo, o Comitê as transmitirá ao Estado
Parte interessado, junto com as observações ou sugestões que considerar pertinentes em
vista da situação.
5. Todos os trabalhos do Comitê a que se faz referência nos parágrafos 1 ao 4 do presente
Artigo serão confidenciais e, em todas as etapas dos referidos trabalhos, procurar-se-á
obter a cooperação do Estado Parte. Quando estiverem concluídos os trabalhos
relacionados com uma investigação realizada de acordo com o parágrafo 2, o Comitê
poderá, após celebrar consultas com o Estado Parte interessado, tomar a decisão de incluir
um resumo dos resultados da investigação em seu relatório anual, que apresentará em
conformidade com o Artigo 24.

205
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

É importante destacar que em todos os mecanismos, o Comitê não tem a competência de editar
decisões mandamentais vinculantes, mas sim editar relatórios em face do Estado acusado da prática da
tortura.
No âmbito da Convenção de Cartagena, a supervisão de cumprimento do tratado foi atribuída à CIDH,
que poderá, em relatório anual, reportar eventual situações em um dos Estados membros da OEA:
ARTIGO 17
Os Estados Partes comprometem-se a informar a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos sobre as medidas legislativas, judiciais, administrativas e de outra natureza que
adotarem em aplicação desta Convenção.
De conformidade com suas atribuições, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
procurará analisar, em seu relatório anual, a situação prevalecente nos Estados Membros
da Organização dos Estados Americanos, no que diz respeito à prevenção e supressão da
tortura.

Isso não quer dizer, no entanto, que eventual contrariedade no âmbito interamericano não possa ser
ensejar eventual lide perante a Corte IDH, com base no procedimento da CADH.

9.9. Protocolo facultativo da Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos


eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes

O Decreto nº 6.085/07 ratificou o Protocolo facultativo da Convenção Contra a Tortura e Outros


Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, que criou o Subcomitê de Prevenção da Tortura
e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes do Comitê contra a Tortura, constituído
por 10 membros, escolhidos, nos termos do Artigo 5.2 do tratado por seu “elevado caráter moral, de
CPF: 030.720.271-29

comprovada experiência profissional no campo da administração da justiça, em particular o direito penal e a


administração penitenciária ou policial, ou nos vários campos relevantes para o tratamento de pessoas
privadas de liberdade”.
As atribuições do órgão estão previstas no artigo 11 do protocolo:
Silva -- CPF:

ARTIGO 11
da Silva

O Subcomitê de Prevenção deverá:


a) Visitar os lugares referidos no Artigo 4 e fazer recomendações para os Estados-Partes a
Gouvea da

respeito da proteção de pessoas privadas de liberdade contra a tortura e outros


Eliovaine Gouvea

tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes;


b) No que concerne aos mecanismos preventivos nacionais:
Eliovaine

(i) Aconselhar e assistir os Estados-Partes, quando necessário, no estabelecimento desses


mecanismos;
(ii) Manter diretamente, e se necessário de forma confidencial, contatos com os
mecanismos preventivos nacionais e oferecer treinamento e assistência técnica com vistas
a fortalecer sua capacidade;
(iii) Aconselhar e assisti-los na avaliação de suas necessidades e no que for preciso para
fortalecer a proteção das pessoas privadas de liberdade contra a tortura e outros
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes;
(iv) Fazer recomendações e observações aos Estados-Partes com vistas a fortalecer a
capacidade e o mandato dos mecanismos preventivos nacionais para a prevenção da
tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes;
c) Cooperar para a prevenção da tortura em geral com os órgãos e mecanismos relevantes
das Nações Unidas, bem como com organizações ou organismos internacionais, regionais
ou nacionais que trabalhem para fortalecer a proteção de todas as pessoas contra a tortura
e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

Verifica-se, portanto, que também o Subcomitê de Prevenção, não edita decisões mandatórias, mas
apenas recomendações aos Estados. Competirá ao Subcomitê elaborar relatório sobre suas visitas:
ARTIGO 16

206
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

1. O Subcomitê de Prevenção deverá comunicar suas recomendações e observações


confidencialmente para o Estado-Parte e, se for o caso, para o mecanismo preventivo
nacional.
2. O Subcomitê de Prevenção deverá publicar seus relatórios, em conjunto com qualquer
comentário do Estado-Parte interessado, quando solicitado pelo Estado-Parte. Se o Estado-
Parte fizer parte do relatório público, o Subcomitê de Prevenção poderá publicar o relatório
total ou parcialmente. Entretanto, nenhum dado pessoal deverá ser publicado sem o
expresso consentimento da pessoa interessada.
3. O Subcomitê de Prevenção deverá apresentar um relatório público anual sobre suas
atividades ao Comitê contra a Tortura.
4. Caso o Estado-Parte se recuse a cooperar com o Subcomitê de Prevenção nos termos dos
Artigos 12 e 14, ou a tomar as medidas para melhorar a situação à luz das recomendações
do Subcomitê de Prevenção, o Comitê contra a Tortura poderá, a pedido do Subcomitê de
Prevenção, e depois que o Estado-Parte tenha a oportunidade de fazer suas observações,
decidir, pela maioria de votos dos membros, fazer declaração sobre o problema ou publicar
o relatório do Subcomitê de Prevenção.

Para o cumprimento das atribuições do Subcomitê, compete aos Estados receber os membros do
órgão em seu território e cooperar, fornecendo as informações solicitadas e permitindo acesso aos locais de
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

detenção:
ARTIGO 12
A fim de que o Subcomitê de Prevenção possa cumprir seu mandato nos termos descritos
no Artigo 11, os Estados-Partes deverão:
a) Receber o Subcomitê de Prevenção em seu território e franquear-lhe o acesso aos centros
de detenção, conforme definido no Artigo 4 do presente Protocolo;
b) Fornecer todas as informações relevantes que o Subcomitê de Prevenção solicitar para
CPF: 030.720.271-29

avaliar as necessidades e medidas que deverão ser adotadas para fortalecer a proteção das
pessoas privadas de liberdade contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes;
c) Encorajar e facilitar os contatos entre o Subcomitê de Prevenção e os mecanismos
preventivos nacionais;
Silva -- CPF:

d) Examinar as recomendações do Subcomitê de Prevenção e com ele engajar-se em diálogo


sobre possíveis medidas de implementação.
da Silva

Como consequência da ratificação do protocolo facultativo, o Brasil editou a Lei nº 12.847/13 que
Gouvea da

instituiu o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT), bem como o Comitê Nacional de
Eliovaine Gouvea

Prevenção e Combate à Tortura – CNPCT.


Eliovaine

O art. 2º, §2º da Lei do SNPCT prevê os órgãos de integrarão o sistema nos seguintes termos:
Art. 2º (...)
§2º O SNPCT poderá ser integrado, ainda, pelos seguintes órgãos e entidades, dentre
outros:
I - comitês e mecanismos estaduais e distrital de prevenção e combate à tortura;
II - órgãos do Poder Judiciário com atuação nas áreas de infância, de juventude, militar e de
execução penal;
III - comissões de direitos humanos dos poderes legislativos federal, estaduais, distrital e
municipais;
IV - órgãos do Ministério Público com atuação no controle externo da atividade policial,
pelas promotorias e procuradorias militares, da infância e da juventude e de proteção ao
cidadão ou pelos vinculados à execução penal;
V - defensorias públicas;
VI - conselhos da comunidade e conselhos penitenciários estaduais e distrital;
VII - corregedorias e ouvidorias de polícia, dos sistemas penitenciários federal, estaduais e
distrital e demais ouvidorias com atuação relacionada à prevenção e combate à tortura,
incluídas as agrárias;
VIII - conselhos estaduais, municipais e distrital de direitos humanos;
IX - conselhos tutelares e conselhos de direitos de crianças e adolescentes; e
X - organizações não governamentais que reconhecidamente atuem no combate à tortura.

207
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Já as atribuições do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, composto por 23 membros,


estão previstas no art. 6º da Lei:
Art. 6º Fica instituído no âmbito da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura - CNPCT, com a função de
prevenir e combater a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes, mediante o exercício das seguintes atribuições, entre outras:
I - acompanhar, avaliar e propor aperfeiçoamentos às ações, aos programas, aos projetos e
aos planos de prevenção e combate à tortura e a outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes desenvolvidos em âmbito nacional;
II - acompanhar, avaliar e colaborar para o aprimoramento da atuação de órgãos de âmbito
nacional, estadual, distrital e municipal cuja função esteja relacionada com suas finalidades;
III - acompanhar a tramitação dos procedimentos de apuração administrativa e judicial, com
vistas ao seu cumprimento e celeridade;
IV - acompanhar a tramitação de propostas normativas;
V - avaliar e acompanhar os projetos de cooperação firmados entre o Governo brasileiro e
organismos internacionais;
VI - recomendar a elaboração de estudos e pesquisas e incentivar a realização de
campanhas;
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

VII - apoiar a criação de comitês ou comissões semelhantes na esfera estadual e distrital


para o monitoramento e a avaliação das ações locais;
VIII - articular-se com organizações e organismos locais, regionais, nacionais e
internacionais, em especial no âmbito do Sistema Interamericano e da Organização das
Nações Unidas;
IX - participar da implementação das recomendações do MNPCT e com ele se empenhar em
diálogo sobre possíveis medidas de implementação;
X - subsidiar o MNPCT com dados e informações;
CPF: 030.720.271-29

XI - construir e manter banco de dados, com informações sobre a atuação dos órgãos
governamentais e não governamentais;
XII - construir e manter cadastro de alegações, denúncias criminais e decisões judiciais;
XIII - difundir as boas práticas e as experiências exitosas de órgãos e entidades;
XIV - elaborar relatório anual de atividades, na forma e no prazo dispostos em seu
Silva -- CPF:

regimento interno;
XV - fornecer informações relativas ao número, tratamento e condições de detenção das
da Silva

pessoas privadas de liberdade; e


Gouvea da

XVI - elaborar e aprovar o seu regimento interno.


Eliovaine Gouvea

QUESTÕES
Eliovaine

249. (CESPE/CEBRASPE - 2019 - CGE - CE - Auditor de Controle Interno) Acerca da Convenção Contra a
Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes e de suas disposições, julgue
os itens que se seguem.
I A referida convenção entrou em vigor no Brasil alguns anos após a promulgação da Constituição Federal de
1988.
II Essa convenção não se opõe à utilização excepcional de tortura em caso de ameaça ou estado de guerra,
instabilidade política interna, atos comprovados de terrorismo ou uso de armas de destruição em massa.
III Policiais e outros encarregados de custódia, interrogatório ou tratamento de pessoa submetida a qualquer
forma de prisão, detenção ou reclusão que eventualmente participarem de treinamento sobre a
proibição de aplicar tortura receberão incentivos salariais como forma de ampliar a divulgação da
referida convenção no território nacional.
IV A referida convenção prevê que cada Estado-parte assegurará à vítima de ato de tortura o direito à
reparação justa e adequada dos danos sofridos, incluídos os meios necessários para a mais completa
reabilitação possível, e, em caso de morte da vítima como resultado de ato de tortura, seus dependentes
terão direito à indenização.
Estão certos apenas os itens
a) I e III.
b) I e IV.
c) II e IV.

208
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

d) I, II e III.
e) II, III e IV.

(CESPE/CEBRASPE - 2015 - DPE-PE - Defensor Público) No ano de 1993, João foi preso no Brasil durante uma
manifestação popular motivada por reivindicações diversas. Na delegacia policial, sofreu maus tratos por
parte dos policiais e foi encarcerado na condição de preso provisório. Durante o período de
encarceramento, ele foi torturado e submetido a abuso sexual por algumas autoridades policiais para
que informasse quem eram os líderes daquele movimento, informação essa não conhecida por João. No
julgamento pela participação na manifestação, o tempo de sua condenação foi inferior ao tempo que ele
já havia cumprido como preso provisório. Logo após sua libertação, João aceitou convite de uma
organização não governamental francesa para residir em Paris, obteve cidadania francesa e passou a
visitar o Brasil eventualmente para relatar essa experiência. Em uma dessas visitas, já em 2001, ele
identificou e localizou um de seus torturadores. Nesse mesmo ano, por intermédio de um conhecido, já
que não tinha condições financeiras para custear os honorários de um advogado, João ingressou com
pedido judicial em que requereu indenização contra a unidade federativa onde foi preso em razão dos
danos decorrentes da tortura e dos maus tratos sofridos no período de encarceramento. Esse processo
ainda não foi julgado e encontra-se atualmente na primeira instância. João procura a Defensoria para
passar a representá-lo. A respeito dessa situação hipotética, julgue os itens a seguir:
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

250. No processo judicial em curso, João tem direito a receber indenização pelos maus tratos e pela
tortura sofridos, caso seja possível comprová-los.

251. É correto afirmar que já havia em 1993 um entendimento na comunidade internacional a respeito
da gravidade das práticas de maus tratos e tortura. Ainda que o crime não fosse tipificado no Brasil, havia
CPF: 030.720.271-29

o consenso global de que nenhum cidadão poderia ser submetido a tortura em nenhuma circunstância.

252. É correto afirmar que a cidadania francesa de João e o fato de ele não residir mais no Brasil justificam
Silva -- CPF:

a improcedência da ação por ele proposta.


da Silva

253. O responsável por ter prendido e torturado João deverá, pessoalmente, pagar indenização por danos
Gouvea da

morais.
Eliovaine Gouvea

254. (FAPEMS - 2017 - PC-MS - Delegado de Polícia) O Decreto n°40, de 15 de fevereiro de 1991,
Eliovaine

promulgou a Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e


Degradantes, passando a ser executada e cumprida tão inteiramente como nela se contém, conforme
dispõe o artigo 1° desse decreto. Segundo essa Convenção,
a) será excluída qualquer jurisdição criminal exercida de acordo com o direito interno.
b) nenhum Estado-Parte procederá à expulsão, à devolução ou à extradição de uma pessoa para outro
Estado quando não houver razões substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali ser submetida
a tortura.
c) nenhum Estado-Parte procederá à expulsão, à devolução ou à extradição de uma pessoa para outro
Estado quando houver razões substanciais para crer que a mesma corre perigo de ali ser submetida à
tortura.
d) cada Estado-Parte assegurará que todos os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a sua
legislação penal, o mesmo se aplicando à tentativa de tortura, não se estendendo às hipóteses de
participação na tortura.
e) a pessoa processada por crime de tortura não poderá receber tratamento justo em todas as fases do
processo.

255. (PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia) De acordo com a Convenção Interamericana para
Prevenir e Punir a Tortura (1985), podem ser sujeitos ativos do crime de tortura

209
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a) apenas funcionários ou empregados públicos, ou particulares desde que instigados pelos dois primeiros
b) apenas funcionários ou empregados públicos, ainda que em período de estágio probatório ou
equivalente.
c) qualquer pessoa, desde que tenha a intenção de impor grave sofrimento físico ou mental.
d) exclusivamente empregados ou funcionários públicos, agindo em razão do ofício ou função
e) qualquer pessoa, desde que seja penalmente responsável nos termos da lei do Estado Parte

256. (FGV - 2022 - PC-AM - Delegado de Polícia) Determinado agente público, ao interpretar a Convenção
Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, afirmou que a sua
organicidade interna impedia a sua interpretação fragmentada, permeada por normas do direito interno.
A partir dessa premissa, concluiu que a legislação nacional, quando veicula comandos de contornos mais
amplos, deve ser preterida, já que a combinatória de normas, ainda que mais favorável à pessoa humana,
romperia com o equilíbrio do sistema e conduziria a resultados absurdos. É correto afirmar que a
conclusão do agente público
a) está correta, sendo expressamente acolhida pela Convenção.
b) está incorreta, sendo expressamente rechaçada pela Convenção.
c) está incorreta, considerando a preeminência das normas internas sobre o Direito Internacional.
d) está correta, considerando a preeminência do direito internacional sobre as normas internas.
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e) somente não é correta, por expressa previsão da Convenção, caso as normas internas tenham estatura
constitucional.

257. (CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-TO - Defensor Público Substituto - adaptada) A Convenção contra
a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes é o único tratado do
sistema convencional da ONU que possui dois órgãos de monitoramento, sendo um deles
CPF: 030.720.271-29

especificamente destinado a fiscalizar os estabelecimentos penais, como forma, por exemplo, de


prevenir tratamentos degradantes.
Silva -- CPF:

258. (CESPE / CEBRASPE - 2022 - MPE-TO - Promotor de Justiça Substituto) De acordo com a Convenção
das Nações Unidas contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes
da Silva

e seu Protocolo Facultativo, bem como a Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura,
assinale a opção correta.
Gouvea da

a) As técnicas de tortura invisível, não reconhecidas como uma forma da prática de tortura no célebre Caso
Eliovaine Gouvea

Irlandês, têm previsão em ambas as convenções mencionadas (sistema universal e sistema


interamericano).
Eliovaine

b) Diferentemente da referida convenção interamericana, a citada convenção da ONU prevê a punição de


agentes públicos por tortura praticada por particulares quando tiver havido omissão dos agentes
públicos, que, podendo impedila, não o tenham feito.
c) Ambas as convenções em questão preveem como tortura as dores ou os sofrimentos físicos decorrentes
do regular cumprimento de pena privativa de liberdade ou de medida de segurança.
d) A referida convenção interamericana não considera como tortura os métodos tendentes a anular a
personalidade da vítima, por não causarem dor física.
e) A citada convenção da ONU não prevê como tortura o ato de castigar uma pessoa por uma conduta que
ela tenha efetivamente cometido.

259. (FGV - 2022 - DPE-MS - Defensor Público Substituto) A Convenção contra a Tortura e outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes foi incorporada ao ordenamento jurídico
brasileiro por meio do Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de 1991. Tal convenção prevê que cada Estado-
parte tomará medidas eficazes de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim
de impedir a prática de atos de tortura em qualquer território sob sua jurisdição. De acordo com a
Constituição da República de 1988 e o entendimento do Supremo Tribunal Federal, a mencionada
convenção possui status de:

210
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a) emenda constitucional, sendo certo que uma das formas atuais de combate à tortura é a adoção da
audiência de custódia, que fundamenta-se em tratados internacionais ratificados pelo Brasil, como o
Pacto de São José da Costa Rica e o Protocolo de San Salvador;
b) emenda constitucional, sendo certo que uma das formas atuais de combate à tortura é a determinação
de diminuição da letalidade policial, conforme condenação do Brasil na Corte Interamericana de Direitos
Humanos, no chamado Caso Favela Nova Brasília;
c) norma supralegal, sendo certo que uma das formas atuais de combate à tortura é a determinação de
diminuição da letalidade policial, conforme condenação do Brasil na Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, no chamado Caso Gudiel Álvares;
d) norma supralegal, sendo certo que uma das formas atuais de combate à tortura é a adoção da audiência
de custódia, que fundamenta-se em tratados internacionais ratificados pelo Brasil, como o Pacto de São
José da Costa Rica e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.

260. (FUMARC - 2021 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto) Sobre a Convenção Interamericana para
Prevenir e Punir a Tortura (1985), é CORRETO afirmar que
a) considera tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da
vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica.
eliovaine@hotmail·com
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b) estabelece que casos de tortura ocorridos no território dos Estados Partes da Convenção podem ser
apreciados por instâncias internacionais, independentemente de esgotamento das instâncias internas,
em razão da gravidade do crime de tortura.
c) foi ratificada pelo Estado brasileiro e possui status de norma constitucional, haja vista sua aprovação de
acordo com o rito previsto no §3º, do art. 5º, da Constituição Federal de 1988.
d) são considerados responsáveis os empregados ou funcionários públicos que, nessa condição, ordenem
sua comissão ou instiguem ou induzam a ela, cometam-no diretamente ou, podendo impedi-lo, não o
CPF: 030.720.271-29

façam, excluindo a responsabilização daqueles que agiram por determinação de superior hierárquico.

261. (FAPEC - 2021 - PC-MS - Delegado de Polícia) A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a
Silva -- CPF:

Tortura, reafirmando que todo ato de tortura ou outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou
degradantes constituem uma ofensa a dignidade humana, traz em seu bojo normas que consolidam
da Silva

nesse continente as condições que permite o reconhecimento e o respeito da dignidade inerente à


pessoa humana e assegurem o exercício pleno das suas liberdades e dos seus direitos fundamentais.
Gouvea da

Considerando as normas expressas preconizadas nessa Convenção, da qual Brasil é signatário, assinale a
Eliovaine Gouvea

alternativa INCORRETA.
a) Os Estados Partes tomarão medidas para que, no treinamento de agentes de polícia e de outros
Eliovaine

funcionários públicos responsáveis pela custódia de pessoas privadas de liberdade, provisória ou


definitivamente, e nos interrogatórios, detenções ou prisões, se ressalte, de maneira especial, a proibição
do emprego da tortura.
b) Serão responsáveis pelo delito de tortura os empregados ou os funcionários públicos que, atuando nesse
caráter, ordenem sua comissão ou instiguem ou induzam a ele, cometam-no diretamente ou, podendo
impedi-lo, não o façam.
c) Nenhuma declaração que se comprove haver sido obtida mediante tortura poderá ser admitida como
prova num processo, salvo em processo instaurado contra a pessoa ou pessoas acusadas de havê-la
obtido mediante atos de tortura e unicamente como prova de que, por esse meio, o acusado obteve tal
declaração.
d) Quando houver denúncia ou razão fundada para supor que haja sido cometido ato de tortura no âmbito
de sua jurisdição, os Estados Partes garantirão que suas autoridades procederão de ofício e
imediatamente à realização de uma investigação sobre o caso e iniciarão, se for cabível, o respectivo
processo penal.
e) O fato de haver agido por ordens superiores poderá, dependendo do caso concreto, eximir da
responsabilidade penal correspondente.

211
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

262. (NC-UFPR - 2021 - PC-PR - Delegado de Polícia) Sobre a Convenção contra a Tortura e outros
Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanas ou Degradantes (1984), considere as seguintes afirmativas:
1. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconhece a prescritibilidade da reparação de danos morais e/ ou
materiais decorrentes de violação de direitos fundamentais, violação esta perpetrada durante o regime
militar.
2. A declaração prestada sob tortura não poderá ser invocada como prova em qualquer processo, exceto
contra uma pessoa acusada de tortura como prova de que a declaração foi prestada.
3. O termo “tortura” designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são
infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou
confissões.
4. Cabe às Nações Unidas assegurar que todos os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a
legislação penal dos Estados-membros.
Assinale a alternativa correta.
a) Somente a afirmativa 1 é verdadeira.
eliovaine@hotmail·com
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b) Somente as afirmativas 2 e 3 são verdadeiras.


c) Somente as afirmativas 2 e 4 são verdadeiras.
d) Somente as afirmativas 1, 3 e 4 são verdadeiras.
e) As afirmativas 1, 2, 3 e 4 são verdadeiras.

263. (FCC - 2021 - DPE-GO - Defensor Público) O Protocolo Facultativo à Convenção Internacional contra
CPF: 030.720.271-29

a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotado em 18 de


dezembro de 2002, prevê
a) um sistema de visitas regulares efetuadas por órgãos nacionais e internacionais independentes.
b) o estabelecimento de um Subcomitê de Prevenção à Tortura responsável pelo recebimento de petições
Silva -- CPF:

individuais.
c) a possibilidade de petições individuais e comunicações interestatais ao Comitê contra a Tortura (CAT).
da Silva

d) o estabelecimento do Comitê contra a Tortura (CAT), composto por dez peritos eleitos a título pessoal.
e) a abolição da pena de morte, da prisão perpétua e de outras penas cruéis, desumanas ou degradantes.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

264. (FCC - 2021 - DPE-BA - Defensor Público) A Lei n° 12.847/2013 criou o Mecanismo Nacional de
Eliovaine

Prevenção e Combate à Tortura, responsável pela prevenção e combate à tortura e a outros tratamentos
ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. O Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura
visa dar cumprimento ao que está previsto expressamente
a) na sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso Favela Nova Brasília.
b) na Convenção Internacional contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes.
c) no Protocolo Facultativo à Convenção Internacional contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes.
d) na Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura.
e) na Convenção Interamericana sobre o Desaparecimento Forçado de Pessoas.

265. (FCC - 2019 - DPE-AM - Analista Jurídico de Defensoria) Conforme prevê a Convenção contra a
Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, NÃO são considerados como
tortura dores ou sofrimentos
a) que sejam consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou
delas decorram.
b) produzidos por agentes públicos com o intuito de obter informações essenciais para segurança nacional,
saúde ou vida de um número indeterminado de pessoas, esgotadas outras alternativas.

212
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

c) de natureza mental, moral ou psicológica produzidos em meio a situações de conflito deflagrado ou


emergência pública.
d) decorrentes de condições inadequadas de encarceramento, ainda que sistemáticas, graves e maciças.
e) produzidos em contextos de dominação quando diretamente relacionados com a violência estrutural
baseada na idade, gênero e etnia.

266. (MPE-GO - 2019 - MPE-GO - Promotor de Justiça – Adaptada) Conforme preceitua o artigo 6º da
Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes, praticado
crime de tortura no Brasil por estrangeiro, serão assegurados os meios necessários para que a pessoa
detida se comunique imediatamente com o representante mais próximo do Estado de que é nacional.
Entretanto, caso o sujeito ativo do crime seja um apátrida, desnecessária qualquer comunicação.

10. O COMBATE À DISCRIMINAÇÃO

Flávia Piovesan no artigo “Internalização dos Direito Humanos e Humanização do Direito


Internacional: desafios contemporâneos” de 2017, elencou 7 grandes desafios do Direito Internacional dos
Direitos Humanos na sociedade contemporânea:
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• Universalismo vs. relativismo cultural;


• Laicidade estatal vs. fundamentalismo religioso;
• Direito ao desenvolvimento vs. assimetrias globais;
• Proteção dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais vs. dilemas da globalização
econômica;
• Combate ao terrorismo vs. liberdades públicas;
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• Direito da força vs. força do Direito: desafios da justiça internacional; e


• Respeito à diversidade vs. intolerância;
O que aqui nos interessa é o último desafio, isto é, o “respeito à diversidade vs. intolerância”, tendo
Silva -- CPF:

em vista que, como a autora rememora, as maiores violações de direitos humanos da história foram
praticadas através do fundamento “eu vs. o outro”, sendo a diversidade utilizada como elemento para
da Silva

aniquilar direitos (PIOVESAN, 2017, p. 375).


Gouvea da

Portanto, para além de uma igualdade formal, ou igualdade perante à lei, importante para o fim de
Eliovaine Gouvea

privilégios, a autora defende a necessidade de mais duas concepções de igualdade, ambas de cunho material:


Eliovaine

na primeira a ideia de igualdade corresponde ao ideal de justiça social ou justiça (re)distributiva,


tendo uma conotação de redução das desigualdades socioeconômicas.
• na segunda, a igualdade material se refere à ideia de reconhecimento de identidades, em que
competirá ao Estado adotar medidas de enfretamento de injustiças baseadas em preconceitos e
padrões discriminatórios (PIOVESAN, 2017, p. 377).
Roger Raupp Rios (2008, p. 14), conceitua como direito da antidiscriminação (anti-discrimination
law) o conjunto de iniciativas (positivas e negativas) de combate à discriminação, decorrentes da
compreensão de que o princípio da igualdade traz implicitamente a proibição de discriminação.
Para o autor é necessário distinguir os termos preconceito e discriminação, pois, apesar de
correlatos, eles designam fenômenos diversos (RIOS, 2008, p. 14):

• Preconceito: designa uma percepção mental negativa em relação a um indivíduo ou grupo


social, em um sentido de inferiorização, bem como representações sociais conectadas a essa
percepção.
• Discriminação: é a materialização de atitudes, comissivas e omissivas, relacionadas ao
preconceito, que têm por consequência a violação de direitos dos indivíduos ou do grupo social.
Roger Raupp Rios (2008, p. 14) classifica ainda a discriminação em direta e indireta:

213
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

• Discriminação direta (disparate treatment): relaciona-se a práticas intencionais e conscientes


de tratamento diferenciado em consequência de um preconceito.
• Discriminação indireta (disparate impact): são medidas aparentemente neutras, mas
efetivamente discriminatórias, que reproduzem e se reforçam ao longo do tempo, decorrentes
de preconceitos.
Como ensina Ângela Figueruelo Burrieza (2009, p. 25) a proibição de discriminação não significa a
proscrição dos elementos distintivos entre os sujeitos. Proíbe-se a discriminação (tratamento direto ou
indireto violador de direitos), mas não a diferenciação entre situações objetivamente distintas.
Decorre da diferenciação atuações agrupadas pelo designo “diferenciação positiva” (também
chamada de discriminação benigna, discriminação inversa, discriminação positiva ou discriminação reversa),
conceituada por Roger Raupp Rios (2008, p. 22) como tratamento especial requerido pelas especificidades
de certos indivíduos ou grupos (accomodation clause do direito americano). Entre as medidas de
diferenciação positiva as mais famosas são as ações afirmativas.
É importante destacar também a existência da chamada discriminação múltipla, que é aquela
motivada por mais de um critério proibido (RIOS e SILVA, 2015, p. 22). O termo “discriminação múltipla”
acaba sendo um termo guarda-chuva, que abarca distinções quantitativas e qualitativas.
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Do ponto de vista quantitativo a discriminação múltipla pode ser:

• Discriminação aditiva: ocorre quando alguém é discriminado por mais de um critério proibido,
mas em momentos distintos (RIOS e SILVA, 2015, p. 23). O exemplo trazido por Roger Raupp Rios
e Rodrigo da Silva (2015, p. 23) é de uma mulher com deficiência, que sofre discriminação em
seu emprego por ser mulher, não recebendo promoções em razão de seu gênero. Ademais, essa
CPF: 030.720.271-29

mesma mulher não tem acessibilidade ao local de trabalho, gerando mais uma discriminação.
• Discriminação composta: refere-se à discriminação sofrida por alguém, por mais de um critério
proibido, em uma mesma situação (RIOS e SILVA, 2015, p. 23). Aqui o exemplo mais claro seria o
da seleção de emprego, em que alguém deixa de ser escolhido em razão de mais de um critério
Silva -- CPF:

discriminatório, como gênero e raça.


Além do aspecto quantitativo, de um ponto qualitativo é possível se falar em discriminação
da Silva

interseccional, quando dois ou mais critérios proibidos interagem de forma que se impossibilite a
Gouvea da

decomposição entre eles (RIOS e SILVA, 2015, p. 24). Sobre o tema Roger Raupp Rios e Rodrigo da Silva
Eliovaine Gouvea

explicam o seguinte:
A discriminação interseccional implica uma análise contextualizada, dinâmica e estrutural,
Eliovaine

a partir de mais de um critério proibido de discriminação. Por exemplo, uma mulher


pertencente a certa minoria está sujeita a estigmas diversos daqueles experimentados por
homens pertencentes ao mesmo grupo. (...)
Assim, a discriminação interseccional fornece ferramentas para a identificação de
estruturas de subordinação que ocasionam determinadas invisibilidades perpetuadoras de
injustiças. Por exemplo, em um caso de discriminação contra a mulher, a percepção pode
ser reduzida meramente ao critério sexual, ficando invisível o contexto racial. A
interseccionalidade permite visualizar não só o aspecto imediato, mas também que certos
contextos nada têm de neutro ou natural, ainda que cotidianos. (RIOS e SILVA, 2015, p. 24).

Exemplos de discriminação interseccional são os de mulheres negras em relação a homens negros


ou em relação às mulheres brancas. Há uma distinção qualitativa da forma de discriminação, pela adição
indissociável dos critérios gênero e raça, nas duas situações.
Os três próximos tópicos revelam-se inseridos no alcance da igualdade material em um contexto do
direito de antidiscriminação, pois dizem respeito às normas de proteção às mulheres, de combate à
discriminação racial e de proteção aos deficientes.

10.1. Normas de proteção às mulheres

214
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

10.1.1. A revolução epistemológica do gênero

Mailô de Menezes Vieira Andrade (2018, p. 7) explica que a partir da década de 70, as teorias
feministas passaram a diferenciar os termos “sexo” e “gênero” enquanto categorias analíticas distintas,
gerando uma verdadeira revolução epistemológica. Joan Scott (1995, p. 72) destaca que o termo gênero
passa a ser utilizado como referência à organização social da relação entre os séculos.
Desde os feminismos, gênero, como categoria analítica, cobra maior importância, pois sua
utilização teórica, epistemológica e política tem servido para desnaturalizar o que significa
ser mulher, concebida como o outro em relação ao homem ou ao masculino e para
explicitar as desigualdades entre os sexos como uma questão social e histórica e não
natural. (ANDRADE, 2018, p. 7).

Através da análise da categoria gênero, é possível a reconstrução histórico-social dos papeis feminino
e masculino na sociedade e, com isso, analisar as relações de poder e de desigualdades entre eles.
Tal relação pode ser claramente identificada pela constatação de Simone de Beauvoir (2009, ebook,
p. 140) de que não obstante as rubricas masculino e feminino serem formalmente simétricas, a relação entre
os sexos não o é, afinal, o termo “homem” significa ao mesmo tempo positivo e neutro, afinal, é comum
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dizermos homens em um sentido de sinônimo de humanidade. Já o termo mulher aparece em um polo


negativo, como limitação e sem qualquer reciprocidade.
Nesse sentido, Mailô de Menezes Vieira Andrade (2018, p. 8) aponta que o ponto de vista masculino
historicamente acaba por monopolizar a produção do conhecimento, inclusive o científico. Há de se destacar
o exemplo histórico de Olympes de Gouges (Marie Gouze), autora da “Declaração dos Direitos da Mulher e
da Cidadã”, em resposta à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, durante a revolução francesa
CPF: 030.720.271-29

defendendo: o direito ao trabalho, direito à educação, acesso a todas as carreiras, melhoria na legislação
para as mulheres abandonadas, mães solteiras, direito de dispor de seus bens, sem qualquer “outorga
marital”, o direito de divórcio, a igualdade cívica e a possibilidade de as mulheres estarem representadas nos
Estados Gerais (COLLING, 2017, p. 12). Ela fora guilhotinada em 1793, em razão de “dois pecados” segundo
explica Ana Maria Colling (2017, p. 12) “querer ser um homem de Estado e trair a natureza de seu sexo”.
Silva -- CPF:

Através do estudo da categoria “gênero” é possível, portanto, aferir o androcentrismo científico, isto
da Silva

é, a ideia do homem como figura central de análise, em que se mostra relevante a experiência desse próprio
Gouvea da

homem, que se faz alçado a uma categoria universal e imparcial (ANDRADE, 2018, p. 9). Sobre o tema,
Eliovaine Gouvea

importantes os ensinamentos de Simone de Beauvoir:


(...) assim como para os antigos havia uma vertical absoluta em relação à qual se definia a
Eliovaine

oblíqua, há um tipo humano absoluto que é o tipo masculino. A mulher tem ovários, um
útero; eis as condições singulares que encerram na sua subjetividade; diz-se de bom grado
que ela pensa com suas glândulas. O homem esquece soberbamente que sua anatomia
também comporta hormônios e testículos. Encara o corpo como uma relação direta e
normal com o mundo, que acredita apreender na sua objetividade, ao passo que
considerada o corpo da mulher sobrecarregado por tudo que o especifica: um obstáculo,
uma prisão. (BEAUVOIR, 2009, ebook. p. 181)

ATENÇÃO!
Feminismo e machismo não são termos que se equivalem em uma suposta radicalização. Enquanto
o machismo refere-se à uma pseudo superioridade do homem em relação às mulheres, as teorias feministas
buscam a igualdade entre os gêneros. Igualdade essa baseada em uma noção de isonomia material e não
meramente formal.

10.1.2. Do silenciamento histórico à necessidade de uma legislação


simbólica:

Através desse tipo de tratamento histórico e cultural de universalização da realidade masculina


como neutra, e generalizações sexistas do tipo o “homem pensa com a razão e a mulher com a emoção”, as

215
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

mulheres acabaram por sofrer um processo de silenciamento histórico, desumanizando a experiência


feminina:
O silêncio é o que permite que as pessoas sofram sem remédio, o que permite que as
mentiras e hipocrisias cresçam e floresçam, que os crimes passem impunes. Se nossas vozes
são aspectos essenciais da nossa humanidade, ser privado de voz é ser desumanizado ou
excluído da sua humanidade. E a história do silêncio é central na história das mulheres.
(SOLNIT, 2017, ebook, p. 18)

As normas de protetivas das mulheres, em especial as de natureza penal, como a Lei Maria da Penha,
têm não apenas a função de punir os agentes, mas também de nomear violências sofridas por um tipo
específico de vítimas, as mulheres (ANDRADE, 2018, p. 19). É retirara da invisibilidade uma realidade posta,
em que pessoas sofrem são vítimas de condutas (muitas vezes objeto da criminologia tradicional) em razão
de ser o que é, isto é, uma mulher. Portanto, normas como a tipificação específica do feminicídio, têm uma
importante função simbólica, no qual se dá visibilidade ao problema para que ele seja melhor enfrentado.
Ocorre que a atividade legislativa de forma isolada não basta. A aplicação do direito se mostra tão
importante quanto a previsão legal de normas de diferenciação. Não por acaso o Conselho Nacional de
Justiça, em 2021, publicou o Protocolo para o julgamento com perspectiva de gênero29, para que juízes e
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juízas, durante os processos postos em julgamento, não perpetuem relações de silenciamento e de


discriminação. Um exemplo é o cuidado que o magistrado ou magistrada deve ter para não permitir que
ocorra o processo de revitimização da mulher em crimes sexuais, de pedopornografia ou pornografia de
vingança, no curso da instrução processual, como na tomada de depoimento da vítima.

10.1.3. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação


contra a Mulher e seu Protocolo Facultativo:
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O primeiro tratado internacional a ser mencionado é a Convenção sobre a Eliminação de Todas as


Formas de Discriminação contra a Mulher de 1979, assinada em Nova York. Flávia Piovesan (2018, p. 434)
explica que a convenção foi impulsionada pela proclamação do ano de 1975 como o Ano Internacional da
Silva -- CPF:

Mulher, e que, no mesmo ano foi realizada a Conferência Mundial sobre a Mulher no México.
da Silva

A autora explica que o tratado internacional se fundamenta em dois pilares ou duas obrigações: na
vedação da discriminação e na busca de garantia de igualdade.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

A Convenção é dividida em seis partes, sendo a primeira relacionada às normas gerais, a segunda aos
direitos da nacionalidade e políticos, a terceira aos direitos sociais (educação, trabalho e seguridade social),
Eliovaine

a quarta parte aos direitos civis (em especial capacidade jurídica e direitos de família), a quinta parte ao
sistema de monitoramento de cumprimento da Convenção, e a sexta e última parte, normas gerais de
ratificação, clausula de abertura e obrigação de adequação da legislação nacional.
O artigo 1º da Convenção traz uma conceituação de discriminação, nos seguintes termos:
ARTIGO 1º
Para os fins da presente Convenção, a expressão "discriminação contra a mulher" significará
toda a distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado
prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente
de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos humanos e
liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em
qualquer outro campo.

Em razão da discriminação contra a mulher, os Estados signatários comprometeram-se a adoção de


medidas para eliminar qualquer forma de discriminação:
ARTIGO 2º

29 Disponível em: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2021/10/protocolo-18-10-2021-final.pdf

216
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Os Estados Partes condenam a discriminação contra a mulher em todas as suas formas,


concordam em seguir, por todos os meios apropriados e sem dilações, uma política
destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com tal objetivo se comprometem
a:
a) Consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas constituições nacionais ou em outra
legislação apropriada o princípio da igualdade do homem e da mulher e assegurar por lei
outros meios apropriados a realização prática desse princípio;
b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter, com as sanções cabíveis e que
proíbam toda discriminação contra a mulher;
c) Estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher numa base de igualdade com os
do homem e garantir, por meio dos tribunais nacionais competentes e de outras instituições
públicas, a proteção efetiva da mulher contra todo ato de discriminação;
d) Abster-se de incorrer em todo ato ou prática de discriminação contra a mulher e zelar
para que as autoridades e instituições públicas atuem em conformidade com esta
obrigação;
e) Tomar as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher praticada
por qualquer pessoa, organização ou empresa;
f) Adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter legislativo, para modificar ou
derrogar leis, regulamentos, usos e práticas que constituam discriminação contra a mulher;
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g) Derrogar todas as disposições penais nacionais que constituam discriminação contra a


mulher.

ARTIGO 3º
Os Estados Partes tomarão, em todas as esferas e, em particular, nas esferas política, social,
econômica e cultural, todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter legislativo, para
assegurar o pleno desenvolvimento e progresso da mulher, com o objetivo de garantir-lhe
o exercício e gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais em igualdade de
CPF: 030.720.271-29

condições com o homem.

É importante destacar que a Convenção prevê que as medidas de diferenciação positiva, a serem
adotadas de forma temporária e com o objetivo de alcançar a igualdade material, podem e devem ser
instituídas pelos Estados, não se configurando discriminação, nos termos do tratado:
Silva -- CPF:

ARTIGO 4º
da Silva

1. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais de caráter temporário destinadas a


acelerar a igualdade de fato entre o homem e a mulher não se considerará discriminação
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

na forma definida nesta Convenção, mas de nenhuma maneira implicará, como


conseqüência, a manutenção de normas desiguais ou separadas; essas medidas cessarão
quando os objetivos de igualdade de oportunidade e tratamento houverem sido
Eliovaine

alcançados.
2. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais, inclusive as contidas na presente
Convenção, destinadas a proteger a maternidade, não se considerará discriminatória.

A Convenção prevê ainda que os Estados devem atuar para alterar padrões sociais e culturais
baseados em estereótipos e hierarquia de gênero. Além disso, em conjugação com medidas repressivas,
compete aos Estados deverão adotar medidas de educação familiar para a adequada compreensão de
aspectos relacionados à maternidade e a responsabilidade comum de ambos os genitores na educação e
desenvolvimento dos filhos:
ARTIGO 5º
Os Estados-Partes tornarão todas as medidas apropriadas para:
a) Modificar os padrões socioculturais de conduta de homens e mulheres, com vistas a
alcançar a eliminação dos preconceitos e práticas consuetudinárias e de qualquer outra
índole que estejam baseados na ideia da inferioridade ou superioridade de qualquer dos
sexos ou em funções estereotipadas de homens e mulheres.
b) Garantir que a educação familiar inclua uma compreensão adequada da maternidade
como função social e o reconhecimento da responsabilidade comum de homens e mulheres
no que diz respeito à educação e ao desenvolvimento de seus filhos, entendendo-se que o
interesse dos filhos constituirá a consideração primordial em todos os casos.

217
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

A Convenção prevê ainda que os Estados deverão adotar medidas afirmativas, para que as mulheres
passem a participar da vida política de seu país, eliminando qualquer tipo de restrição na participação de
pleitos ou de candidatura a cargos públicos e representativos, sejam eles nacionais ou internacionais:
ARTIGO 7º
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação
contra a mulher na vida política e pública do país e, em particular, garantirão, em igualdade
de condições com os homens, o direito a:
a) Votar em todas as eleições e referenda públicos e ser elegível para todos os órgãos cujos
membros sejam objeto de eleições públicas;
b) Participar na formulação de políticas governamentais e na execução destas, e ocupar
cargos públicos e exercer todas as funções públicas em todos os planos governamentais;
c) Participar em organizações e associações não-governamentais que se ocupem da vida
pública e política do país.

ARTIGO 8º
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas para garantir, à mulher, em
igualdade de condições com o homem e sem discriminação alguma, a oportunidade de
representar seu governo no plano internacional e de participar no trabalho das
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organizações internacionais.

Há previsão expressa ainda sobre a manutenção dos direitos à nacionalidade da mulher, impedindo
a perda da nacionalidade em razão do matrimônio com um estrangeiro:
ARTIGO 9º
1. Os Estados-Partes outorgarão às mulheres direitos iguais aos dos homens para adquirir,
mudar ou conservar sua nacionalidade. Garantirão, em particular, que nem o casamento
CPF: 030.720.271-29

com um estrangeiro, nem a mudança de nacionalidade do marido durante o casamento,


modifiquem automaticamente a nacionalidade da esposa, convertam-na em apátrida ou a
obriguem a adotar a nacionalidade do cônjuge.
2. Os Estados-Partes outorgarão à mulher os mesmos direitos que ao homem no que diz
respeito à nacionalidade dos filhos.
Silva -- CPF:

O direito de igualdade de condições de educação também foi tratado na Convenção, com o fim de
da Silva

impedir uma desescolarização parcial ou total da mulher em razão de seu gênero:


Gouvea da

ARTIGO 10
Eliovaine Gouvea

Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação


contra a mulher, a fim de assegurar-lhe a igualdade de direitos com o homem na esfera da
educação e em particular para assegurarem condições de igualdade entre homens e
Eliovaine

mulheres:
a) As mesmas condições de orientação em matéria de carreiras e capacitação profissional,
acesso aos estudos e obtenção de diplomas nas instituições de ensino de todas as
categorias, tanto em zonas rurais como urbanas; essa igualdade deverá ser assegurada na
educação pré-escolar, geral, técnica e profissional, incluída a educação técnica superior,
assim como todos os tipos de capacitação profissional;
b) Acesso aos mesmos currículos e mesmos exames, pessoal docente do mesmo nível
profissional, instalações e material escolar da mesma qualidade;
c) A eliminação de todo conceito estereotipado dos papéis masculino e feminino em todos
os níveis e em todas as formas de ensino mediante o estímulo à educação mista e a outros
tipos de educação que contribuam para alcançar este objetivo e, em particular, mediante a
modificação dos livros e programas escolares e adaptação dos métodos de ensino;
d) As mesmas oportunidades para obtenção de bolsas-de-estudo e outras subvenções para
estudos;
e) As mesmas oportunidades de acesso aos programas de educação supletiva, incluídos os
programas de alfabetização funcional e de adultos, com vistas a reduzir, com a maior
brevidade possível, a diferença de conhecimentos existentes entre o homem e a mulher;
f) A redução da taxa de abandono feminino dos estudos e a organização de programas para
aquelas jovens e mulheres que tenham deixado os estudos prematuramente;
g) As mesmas oportunidades para participar ativamente nos esportes e na educação física;

218
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

h) Acesso a material informativo específico que contribua para assegurar a saúde e o bem-
estar da família, incluída a informação e o assessoramento sobre planejamento da família.

Há também normas relacionadas ao fim da discriminação na relação de emprego:


ARTIGO 11
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação
contra a mulher na esfera do emprego a fim de assegurar, em condições de igualdade entre
homens e mulheres, os mesmos direitos, em particular:
a) O direito ao trabalho como direito inalienável de todo ser humano;
b) O direito às mesmas oportunidades de emprego, inclusive a aplicação dos mesmos
critérios de seleção em questões de emprego;
c) O direito de escolher livremente profissão e emprego, o direito à promoção e à
estabilidade no emprego e a todos os benefícios e outras condições de serviço, e o direito
ao acesso à formação e à atualização profissionais, incluindo aprendizagem, formação
profissional superior e treinamento periódico;
d) O direito a igual remuneração, inclusive benefícios, e igualdade de tratamento relativa a
um trabalho de igual valor, assim como igualdade de tratamento com respeito à avaliação
da qualidade do trabalho;
e) O direito à seguridade social, em particular em casos de aposentadoria, desemprego,
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doença, invalidez, velhice ou outra incapacidade para trabalhar, bem como o direito de
férias pagas;
f) O direito à proteção da saúde e à segurança nas condições de trabalho, inclusive a
salvaguarda da função de reprodução.
2. A fim de impedir a discriminação contra a mulher por razões de casamento ou
maternidade e assegurar a efetividade de seu direito a trabalhar, os Estados-Partes tomarão
as medidas adequadas para:
CPF: 030.720.271-29

a) Proibir, sob sanções, a demissão por motivo de gravidez ou licença de maternidade e a


discriminação nas demissões motivadas pelo estado civil;
b) Implantar a licença de maternidade, com salário pago ou benefícios sociais comparáveis,
sem perda do emprego anterior, antigüidade ou benefícios sociais;
c) Estimular o fornecimento de serviços sociais de apoio necessários para permitir que os
Silva -- CPF:

pais combinem as obrigações para com a família com as responsabilidades do trabalho e a


participação na vida pública, especialmente mediante fomento da criação e
da Silva

desenvolvimento de uma rede de serviços destinados ao cuidado das crianças;


d) Dar proteção especial às mulheres durante a gravidez nos tipos de trabalho
Gouvea da

comprovadamente prejudiciais para elas.


Eliovaine Gouvea

3. A legislação protetora relacionada com as questões compreendidas neste artigo será


examinada periodicamente à luz dos conhecimentos científicos e tecnológicos e será
Eliovaine

revista, derrogada ou ampliada conforme as necessidades.

O acesso igualitário aos serviços médicos às mulheres em geral e às gestantes especificamente


também foram consagrados pela Convenção:
ARTIGO 12
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação
contra a mulher na esfera dos cuidados médicos a fim de assegurar, em condições de
igualdade entre homens e mulheres, o acesso a serviços médicos, inclusive os referentes ao
planejamento familiar.
2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1o, os Estados-Partes garantirão à mulher
assistência apropriadas em relação à gravidez, ao parto e ao período posterior ao parto,
proporcionando assistência gratuita quando assim for necessário, e lhe assegurarão uma
nutrição adequada durante a gravidez e a lactância.

Importante destacar que a convenção reconhece a questão singular das mulheres que habitam na
zona rural, trazendo normas relacionadas à interseccionalidade desse grupo específico, que se encontra em
situação de maior vulnerabilidade:
ARTIGO 14
1. Os Estados-Partes levarão em consideração os problemas específicos enfrentados pela
mulher rural e o importante papel que desempenha na subsistência econômica de sua

219
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

família, incluído seu trabalho em setores não-monetários da economia, e tomarão todas as


medidas apropriadas para assegurar a aplicação dos dispositivos desta Convenção à mulher
das zonas rurais.
2. Os Estados-Partes adotarão todas as medias apropriadas para eliminar a discriminação
contra a mulher nas zonas rurais a fim de assegurar, em condições de igualdade entre
homens e mulheres, que elas participem no desenvolvimento rural e dele se beneficiem, e
em particular as segurar-lhes-ão o direito a:
a) Participar da elaboração e execução dos planos de desenvolvimento em todos os níveis;
b) Ter acesso a serviços médicos adequados, inclusive informação, aconselhamento e
serviços em matéria de planejamento familiar;
c) Beneficiar-se diretamente dos programas de seguridade social;
d) Obter todos os tipos de educação e de formação, acadêmica e não-acadêmica, inclusive
os relacionados à alfabetização funcional, bem como, entre outros, os benefícios de todos
os serviços comunitário e de extensão a fim de aumentar sua capacidade técnica;
e) Organizar grupos de auto-ajuda e cooperativas a fim de obter igualdade de acesso às
oportunidades econômicas mediante emprego ou trabalho por conta própria;
f) Participar de todas as atividades comunitárias;
g) Ter acesso aos créditos e empréstimos agrícolas, aos serviços de comercialização e às
tecnologias apropriadas, e receber um tratamento igual nos projetos de reforma agrária e
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de reestabelecimentos;
h) gozar de condições de vida adequadas, particularmente nas esferas da habitação, dos
serviços sanitários, da eletricidade e do abastecimento de água, do transporte e das
comunicações.

Os direitos civis, em especial o da personalidade e os direitos de família também foram inseridos na


Convenção. Em relação aos direitos de família é necessário destacar que há ainda previsão expressa
relacionada a eventuais benefícios sociais interdependentes:
CPF: 030.720.271-29

ARTIGO 15
1. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher a igualdade com o homem perante a lei.
2. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher, em matérias civis, uma capacidade jurídica
idêntica do homem e as mesmas oportunidades para o exercício dessa capacidade. Em
Silva -- CPF:

particular, reconhecerão à mulher iguais direitos para firmar contratos e administrar bens
e dispensar-lhe-ão um tratamento igual em todas as etapas do processo nas cortes de
da Silva

justiça e nos tribunais.


3. Os Estados-Partes convém em que todo contrato ou outro instrumento privado de efeito
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

jurídico que tenda a restringir a capacidade jurídica da mulher será considerado nulo.
4. Os Estados-Partes concederão ao homem e à mulher os mesmos direitos no que respeita
à legislação relativa ao direito das pessoas à liberdade de movimento e à liberdade de
Eliovaine

escolha de residência e domicílio.

ARTIGO 16
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas adequadas para eliminar a discriminação
contra a mulher em todos os assuntos relativos ao casamento e às ralações familiares e, em
particular, com base na igualdade entre homens e mulheres, assegurarão:
a) O mesmo direito de contrair matrimônio;
b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de contrair matrimônio somente
com livre e pleno consentimento;
c) Os mesmos direitos e responsabilidades durante o casamento e por ocasião de sua
dissolução;
d) Os mesmos direitos e responsabilidades como pais, qualquer que seja seu estado civil,
em matérias pertinentes aos filhos. Em todos os casos, os interesses dos filhos serão a
consideração primordial;
e) Os mesmos direitos de decidir livre a responsavelmente sobre o número de seus filhos e
sobre o intervalo entre os nascimentos e a ter acesso à informação, à educação e aos meios
que lhes permitam exercer esses direitos;
f) Os mesmos direitos e responsabilidades com respeito à tutela, curatela, guarda e adoção
dos filhos, ou institutos análogos, quando esses conceitos existirem na legislação nacional.
Em todos os casos os interesses dos filhos serão a consideração primordial;

220
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

g) Os mesmos direitos pessoais como marido e mulher, inclusive o direito de escolher


sobrenome, profissão e ocupação;
h) Os mesmos direitos a ambos os cônjuges em matéria de propriedade, aquisição, gestão,
administração, gozo e disposição dos bens, tanto a título gratuito quanto à título oneroso.
2. Os esponsais e o casamento de uma criança não terão efeito legal e todas as medidas
necessárias, inclusive as de caráter legislativo, serão adotadas para estabelecer uma idade
mínima para o casamento e para tornar obrigatória a inscrição de casamentos em registro
oficial.

ARTIGO 13
Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação
contra a mulher em outras esferas da vida econômica e social a fim de assegurar, em
condições de igualdade entre homens e mulheres, os mesmos direitos, em particular:
a) O direito a benefícios familiares;
b) O direito a obter empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de crédito financeiro;
c) O direito a participar em atividades de recreação, esportes e em todos os aspectos da
vida cultural.

Flávia Piovesan (2018, p. 438) destaca que o artigo referente à igualdade entre homem e mulher na
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família foi o dispositivo que mais sofreu reservas entre os Estados signatários da convenção. As justificativas
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

dos Estados foram de ordem religioso e cultural.


O sistema de monitoramento previsto na Convenção é o de relatórios, a serem produzidos pelo
Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, composto por 23 peritos, cujos membros serão
eleitos para um mandato de quatro anos.
Os Estados-partes remeterão ao Comitê relatórios sobre as medidas legislativas, judiciárias e
CPF: 030.720.271-29

administrativas, que concernem ao cumprimento das normas previstas na Convenção. Os Estados devem
enviar relatórios em um prazo de 4 anos ou todas as vezes que for solicitado pelo próprio Comitê. Logo, não
há previsão expressa de comunicações interestatais ou de peticionamento individual no tratado originário
(houve alterações apenas com o Protocolo Facultativo, de 1999):
Silva -- CPF:

ARTIGO 17
1. Com o fim de examinar os progressos alcançados na aplicação desta Convenção, será
da Silva

estabelecido um Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher (doravante


Gouvea da

denominado o Comitê) composto, no momento da entrada em vigor da Convenção, de


Eliovaine Gouvea

dezoito e, após sua ratificação ou adesão pelo trigésimo-quinto Estado-Parte, de vinte e três
peritos de grande prestígio moral e competência na área abarcada pela Convenção. Os
peritos serão eleitos pelos Estados-Partes entre seus nacionais e exercerão suas funções a
Eliovaine

título pessoal; será levada em conta uma repartição geográfica eqüitativa e a representação
das formas diversas de civilização assim como dos principais sistemas jurídicos;
2. Os membros do Comitê serão eleitos em escrutínio secreto de uma lista de pessoas
indicadas pelos Estados-Partes. Cada um dos Estados-Partes poderá indicar uma pessoa
entre seus próprios nacionais;
3. A eleição inicial realizar-se-á seis meses após a data de entrada em vigor desta
Convenção. Pelo menos três meses antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral das
Nações Unidas dirigirá uma carta aos Estados-Partes convidando-os a apresentar suas
candidaturas, no prazo de dois meses. O Secretário-Geral preparará uma lista, por ordem
alfabética de todos os candidatos assim apresentados, com indicação dos Estados-Partes
que os tenham apresentado e comunica-la-á aos Estados Partes;
4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reunião dos Estados-Partes convocado
pelo Secretário-Geral na sede das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quorum será
alcançado com dois terços dos Estados-Partes, serão eleitos membros do Comitê os
candidatos que obtiverem o maior número de votos e a maioria absoluta de votos dos
representantes dos Estados-Partes presentes e votantes;
5. Os membros do Comitê serão eleitos para um mandato de quatro anos. Entretanto, o
mandato de nove dos membros eleitos na primeira eleição expirará ao fim de dois anos;
imediatamente após a primeira eleição os nomes desses nove membros serão escolhidos,
por sorteio, pelo Presidente do Comitê;

221
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

6. A eleição dos cinco membros adicionais do Comitê realizar-se-á em conformidade com o


disposto nos parágrafos 2, 3 e 4 deste Artigo, após o depósito do trigésimo-quinto
instrumento de ratificação ou adesão. O mandato de dois dos membros adicionais eleitos
nessa ocasião, cujos nomes serão escolhidos, por sorteio, pelo Presidente do Comitê,
expirará ao fim de dois anos;
7. Para preencher as vagas fortuitas, o Estado-Parte cujo perito tenha deixado de exercer
suas funções de membro do Comitê nomeará outro perito entre seus nacionais, sob reserva
da aprovação do Comitê;
8. Os membros do Comitê, mediante aprovação da Assembléia Geral, receberão
remuneração dos recursos das Nações Unidas, na forma e condições que a Assembléia Geral
decidir, tendo em vista a importância das funções do Comitê;
9. O Secretário-Geral das Nações Unidas proporcionará o pessoal e os serviços necessários
para o desempenho eficaz das funções do Comitê em conformidade com esta Convenção.

ARTIGO 18
1. Os Estados-Partes comprometem-se a submeter ao Secretário-Geral das Nações Unidas,
para exame do Comitê, um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias,
administrativas ou outras que adotarem para tornarem efetivas as disposições desta
Convenção e sobre os progressos alcançados a esse respeito:
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

a) No prazo de um ano a partir da entrada em vigor da Convenção para o Estado


interessado; e
b) Posteriormente, pelo menos cada quatro anos e toda vez que o Comitê a solicitar.
2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades que influam no grau de cumprimento
das obrigações estabelecidos por esta Convenção.

ARTIGO 19
1. O Comitê adotará seu próprio regulamento.
CPF: 030.720.271-29

2. O Comitê elegerá sua Mesa por um período de dois anos.

ARTIGO 20
1. O Comitê se reunirá normalmente todos os anos por um período não superior a duas
Silva -- CPF:

semanas para examinar os relatórios que lhe sejam submetidos em conformidade com o
Artigo 18 desta Convenção.
2. As reuniões do Comitê realizar-se-ão normalmente na sede das Nações Unidas ou em
da Silva

qualquer outro lugar que o Comitê determine.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

ARTIGO 21
1. O Comitê, através do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas, informará
Eliovaine

anualmente a Assembléia Geral das Nações Unidas de suas atividades e poderá apresentar
sugestões e recomendações de caráter geral baseadas no exame dos relatórios e em
informações recebidas dos Estados-Partes. Essas sugestões e recomendações de caráter
geral serão incluídas no relatório do Comitê juntamente com as observações que os
Estados-Partes tenham porventura formulado.
2. O Secretário-Geral transmitirá, para informação, os relatórios do Comitê à Comissão
sobre a Condição da Mulher.
As Agências Especializadas terão direito a estar representadas no exame da aplicação das
disposições desta Convenção que correspondam à esfera de suas atividades. O Comitê
poderá convidar as Agências Especializadas a apresentar relatórios sobre a aplicação da
Convenção nas áreas que correspondam à esfera de suas atividades.

É importante destacar que a Convenção traz uma cláusula de abertura, permitindo a melhor proteção
à mulher, seja através de uma norma nacional ou de outro tratado internacional ratificado pelo Estado
signatário:
ARTIGO 23
Nada do disposto nesta Convenção prejudicará qualquer disposição que seja mais propícia
à obtenção da igualdade entre homens e mulheres e que seja contida:
a) Na legislação de um Estado-Parte ou
b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo internacional vigente nesse Estado.

222
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

A Convenção traz, por fim, norma concernente ao princípio do effet utile, em que competirá aos
Estados adotarem todas as medidas necessárias para o devido cumprimento de seus termos:
ARTIGO 24
Os Estados-Partes comprometem-se a adotar todas as medidas necessárias em âmbito
nacional para alcançar a plena realização dos direitos reconhecidos nesta Convenção.

O Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra


a Mulher foi assinado em 1999, na 43ª Sessão da Comissão do Status da Mulher da Organização das Nações
Unidas, instituindo dois novos mecanismos de monitoramento: o de peticionamento individual; e o de
investigações ex officio do próprio Comitê.
Em relação ao sistema de peticionamento individual, a comunicação poderá ser feita pela vítima ou
um grupo de indivíduos, em nome próprio ou de terceiras, mas desde que com sua anuência. As
comunicações deverão ser feitas por escrito e não poderão ser apócrifas:
ARTIGO 2
As comunicações podem ser apresentadas por indivíduos ou grupos de indivíduos, que se
encontrem sob a jurisdição do Estado Parte e aleguem ser vítimas de violação de quaisquer
dos direitos estabelecidos na Convenção por aquele Estado Parte, ou em nome desses
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

indivíduos ou grupos de indivíduos. Sempre que for apresentada em nome de indivíduos ou


grupos de indivíduos, a comunicação deverá contar com seu consentimento, a menos que
o autor possa justificar estar agindo em nome deles sem o seu consentimento.

ARTIGO 3
As comunicações deverão ser feitas por escrito e não poderão ser anônimas. Nenhuma
comunicação relacionada a um Estado Parte da Convenção que não seja parte do presente
CPF: 030.720.271-29

Protocolo será recebida pelo Comitê.

É necessário respeitar os princípios da subsidiariedade e da ausência de litispendência internacional:


ARTIGO 4
1. O Comitê não considerará a comunicação, exceto se tiver reconhecido que todos os
Silva -- CPF:

recursos da jurisdição interna foram esgotados ou que a utilização desses recursos estaria
sendo protelada além do razoável ou deixaria dúvida quanto a produzir o efetivo amparo.
da Silva

2. O Comitê declarará inadmissível toda comunicação que:


Gouvea da

(a) se referir a assunto que já tiver sido examinado pelo Comitê ou tiver sido ou estiver
Eliovaine Gouvea

sendo examinado sob outro procedimento internacional de investigação ou solução de


controvérsias;
(b) for incompatível com as disposições da Convenção;
Eliovaine

(c) estiver manifestamente mal fundamentada ou não suficientemente consubstanciada;


(d) constituir abuso do direito de submeter comunicação;
(c) tiver como objeto fatos que tenham ocorrido antes da entrada em vigor do presente
Protocolo para o Estado Parte em questão, a não ser no caso de tais fatos terem tido
continuidade após aquela data.

Recebida a comunicação, o Comitê fará seu exame em caráter sigiloso, apresentando ao Estado suas
opiniões e recomendações, que deverão ser respondidas em um prazo de 6 meses:
ARTIGO 7
1. O Comitê considerará as comunicações recebidas segundo o presente Protocolo à luz das
informações que vier a receber de indivíduos ou grupos de indivíduos, ou em nome destes,
ou do Estado Parte em questão, desde que essa informação seja transmitida às partes em
questão.
2. O Comitê realizará reuniões fechadas ao examinar as comunicações no âmbito do
presente Protocolo.
3. Após examinar a comunicação, o Comitê transmitirá suas opiniões a respeito, juntamente
com sua recomendação, se houver, às partes em questão.
4. O Estado Parte dará a devida consideração às opiniões do Comitê, juntamente com as
recomendações deste último, se houver, e apresentará ao Comitê, dentro de seis meses,

223
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

resposta por escrito incluindo informações sobre quaisquer ações realizadas à luz das
opiniões e recomendações do Comitê.
5. O Comitê poderá convidar o Estado Parte a apresentar informações adicionais sobre
quaisquer medidas que o Estado Parte tenha tomado em resposta às opiniões e
recomendações do Comitê, se houver, incluindo, quando o Comitê julgar apropriado,
informações que passem a constar de relatórios subseqüentes do Estado Parte segundo o
Artigo 18 da Convenção.

Em relação às investigações ex officio, o Protocolo prevê a necessidade de informação fidedigna que


indique violações graves ou sistemáticas da Convenção, por um Estado-parte. As investigações serão
confidenciais, devendo o Estado investigado cooperar em todos os estágios do procedimento. Ao final da
investigação o Comitê apresentará seus comentários e recomendações ao Estado, que, dentro de 6 meses,
deverá apresentar suas observações ao Comitê:
ARTIGO 8
1. Caso o Comitê receba informação fidedigna indicando graves ou sistemáticas violações
por um Estado Parte dos direitos estabelecidos na Convenção, o Comitê convidará o Estado
Parte a cooperar no exame da informação e, para esse fim, a apresentar observações
quanto à informação em questão.
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

2. Levando em conta quaisquer observações que possam ter sido apresentadas pelo Estado
Parte em questão, bem como outras informações fidedignas das quais disponha, o Comitê
poderá designar um ou mais de seus membros para conduzir uma investigação e apresentar
relatório urgentemente ao Comitê. Sempre que justificado, e com o consentimento do
Estado Parte, a investigação poderá incluir visita ao território deste último.
3. Após examinar os resultados da investigação, o Comitê os transmitirá ao Estado Parte em
questão juntamente com quaisquer comentários e recomendações.
4. O Estado Parte em questão deverá, dentro de seis meses do recebimento dos resultados,
CPF: 030.720.271-29

comentários e recomendações do Comitê, apresentar suas observações ao Comitê.


5. Tal investigação será conduzida em caráter confidencial e a cooperação do Estado Parte
será buscada em todos os estágios dos procedimentos.

10.1.4. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência


Silva -- CPF:

contra a Mulher
da Silva

A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, também
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

chamada de Convenção de Belém do Pará, foi assinada em 9 de junho de 1994, e ratificada pelo Brasil em 1º
de agosto de 1996, pelo Decreto nº 1.973/96. Segundo Flávia Piovesan (2018, p. 441) a inspiração da
convenção interamericana foi a Declaração das Nações Unidas sobre a Eliminação da Violência contra a
Eliovaine

Mulher, de 1993.
O artigo 1º da Convenção de Belém do Pará traz conceituação de violência contra a mulher, similar à
Declaração da ONU:

DECLARAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE A CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR,


ELIMINAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER PUNIR E ERRADICAR A VIOLÊNCIA CONTRA A
MULHER

ARTIGO 1º ARTIGO 1º
Para os fins da presente Declaração, a expressão Para os efeitos desta Convenção, entender-se-á por
“violência contra as mulheres” significa qualquer violência contra a mulher qualquer ato ou conduta
ato de violência baseado no gênero do qual resulte, baseada no gênero, que cause morte, dano ou
ou possa resultar, dano ou sofrimento físico, sexual sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher,
ou psicológico para as mulheres, incluindo as tanto na esfera pública como na esfera privada.
ameaças de tais atos, a coação ou a privação
arbitrária de liberdade, que ocorra, quer na vida
pública, quer na vida privada.

224
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Aqui o conceito de violência não se trata resume à violência física, abrangendo também a violência
psicológica.
Sobre o tema, Flávia Piovesan (2018, p. 442) destaca que a conceituação de violência contra mulher
rompe a dicotomia entre espaço público e privado, com vistas à proteção dos direitos da humanos da mulher.
Em outros termos, a proteção da mulher não se faz apenas na esfera pública, competindo ao Estado a
proteção da mulher também em sua casa.
ARTIGO 2
Entende-se que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica.
a) ocorrida no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer relação
interpessoal, quer o agressor compartilhe, tenha compartilhado ou não a sua residência,
incluindo-se, entre outras turmas, o estupro, maus-tratos e abuso sexual;
b) ocorrida na comunidade e comedida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras
formas, o estupro, abuso sexual, tortura, tráfico de mulheres, prostituição forçada,
seqüestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em instituições educacionais,
serviços de saúde ou qualquer outro local; e
c) perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra.
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

ARTIGO 3
Toda mulher tem direito a uma vida livre de violência, tanto na esfera pública como na
esfera privada.

Ademais, para a autora, a Convenção de Belém do Pará é o primeiro instrumento internacional a


reconhecer a violência contra a mulher como um fenômeno generalizado (PIOVESAN, 2018, p. 442).
CPF: 030.720.271-29

A Convenção Interamericana reforça, em rol exemplificativo, os direitos humanos das mulheres,


independentemente de sua natureza, bem como a vedação ao tratamento discriminatório em razão do
gênero:
Silva -- CPF:

ARTIGO 4
Toda mulher tem direito ao reconhecimento, desfrute, exercício e proteção de todos os
da Silva

direitos humanos e liberdades consagrados em todos os instrumentos regionais e


internacionais relativos aos direitos humanos. Estes direitos abrangem, entre outros:
Gouvea da

a) direito a que se respeite sua vida;


Eliovaine Gouvea

b) direitos a que se respeite sua integridade física, mental e moral;


c) direito à liberdade e à segurança pessoais;
Eliovaine

d) direito a não ser submetida a tortura;


e) direito a que se respeite a dignidade inerente à sua pessoa e a que se proteja sua família;
f) direito a igual proteção perante a lei e da lei;
g) direito a recesso simples e rápido perante tribunal competente que a proteja contra atos
que violem seus direitos;
h) direito de livre associação;
i) direito à liberdade de professar a própria religião e as próprias crenças, de acordo com a
lei; e
j) direito a ter igualdade de acesso às funções públicas de seu pais e a participar nos assuntos
públicos, inclusive na tomada de decisões.

ARTIGO 5
Toda mulher poderá exercer livre e plenamente seus direitos civis, políticos, econômicos,
sociais e culturais, e contará com a total proteção desses direitos consagrados nos
instrumentos regionais e internacionais sobre direitos humano. Os Estados Partes
reconhecem que a violência contra a mulher impede e anula o exercício desses direitos.

ARTIGO 6
O direito de toda mulher a ser livre de violência abrange, entre outros:
a) o direito da mulher a ser livre de todas as formas de discriminação; e

225
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

b) o direito da mulher a ser valorizada e educada livre de padrões estereotipados de


comportamento de comportamento e costumes sociais e culturais baseados em conceitos
de inferioridade ou subordinação.

Os artigos 7 e 8 da Convenção elencam uma série de obrigações dos Estados signatários para reprimir
e prevenir, respectivamente, a violência contra a mulher:
ARTIGO 7
Os Estados Partes condenam todas as formas de violência contra a mulher e convêm em
adotar, por todos os meios apropriados e scan demora, políticas destinadas a prevenir,
punir e erradicar tal violência e a empenhar-se em:
a) abster-se de qualquer ato ou prática de violência contra a mulher e velar por que as
autoridades, seus funcionários e pessoal, bem como agentes e instituições públicos ajam de
conformidade com essa obrigação;
b) agir com o devido zelo para prevenir, investigar e punira violência contra a mulher;
c) incorporar na sua legislação interna normas penais, civis, administrativas e de outra
natureza, que sejam necessárias para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher,
bem como adotar as medidas administrativas adequadas que forem aplicáveis;
d) adotar medidas jurídicas que exijam do agressor que se abstenha de perseguir, intimidar
e ameaçar a mulher ou de fazer uso de qualquer método que danifique ou ponha em perigo
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

sua vida ou integridade ou danifique sua propriedade;


e) tomar todas as medidas adequadas, inclusive legislativas, para modificar ou abolir leis e
regulamentos vigentes ou modificar práticas jurídicas ou consuetudinárias que respaldem
a persistência e a tolerância da violência contra a mulher;
f) estabelecer procedimentos jurídicos justos e eficazes para a mulher sujeitada a violência,
inclusive, entre outros, medidas de proteção, juízo oportuno e efetivo acesso a tais
processos;
CPF: 030.720.271-29

g) estabelecer mecanismos judiciais e administrativos necessários para assegurar que a


mulher sujeitada a violência tenha efetivo acesso a restituição, reparação do dano e outros
meios de compensação justos e eficazes;
h) adotar as medidas legislativas ou de outra natureza necessárias à vigência desta
Convenção.
Silva -- CPF:

ARTIGO 8
da Silva

Os Estados Partes convêm em adotar, progressivamente, medidas especificas, inclusive


programas destinados a:
Gouvea da

a) promover o conhecimento e a observância do direito da mulher a unia vida livre de


Eliovaine Gouvea

violência e o direito da mulher a que se respeitem e protejam teus direitos humanos;


b) modificar os padrões sociais e culturais de conduta de homens e mulheres, inclusive a
Eliovaine

formulação de programas formais e não formais adequados a todos os níveis do processo


educacional, a fim de combater preconceitos e costumes e todas as outras práticas
baseadas na premissa da inferioridade ou superioridade de qualquer dos gêneros ou nos
papéis estereotipados para o homem e a mulher, que legitimem ou exacerbem a violência
contra a mulher;
e) promover a educação e treinamento de todo pessoal judiciário e policial e demais
funcionários responsáveis pela aplicação da lei, bem como do pessoal encarregado da
implementação de políticas de prevenção, punição e erradicação da violência contra a
mulher;
d) prestar serviços especializados apropriados a mulher sujeitada a violência, por
intermédio de entidades dos setores público e privado, inclusive abrigos, serviços de
orientação familiar, quando for o caso, e atendimento e custódia dos menores afetados;
e) promover e apoiar programas de educação governamentais é privados, destinados a
conscientizar o público para os problemas da violência contra a mulher, recursos jurídicos
e reparação relacionados com essa violência;
f) proporcionar à mulher sujeita a violência acesso a programas eficazes de recuperação e
treinamento que lhe permitam participar plenamente da vida pública, privada e social;
g) incentivar os meios de comunicação a que formulem diretrizes adequadas, de divulgação
que contribuam para a erradicação da violência contra a mulher em todas as suas formas e
enalteçam o respeito pela dignidade da mulher;

226
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

h) assegurar a pesquisa e coleta de estatísticas e outras informações relevantes


concernentes às causas, conseqüências o freqüência da violência contra a mulher, a fim de
avaliar a eficiência das medidas tomadas para prevenir, punir e erradicar a violência contra
a mulher, bem como formular e implementar as mudanças necessárias; e
i) promover a cooperação internacional para o intercâmbio de idéias e experiências, bem
cosmo a execução de programas destinados à proteção da mulher sujeitada a violência.

O artigo 9 da Convenção prevê também a necessidade de o Estado identificar e proteger mulheres


em razão de vulnerabilidade interseccional, em que a situação de vulnerabilidade é ampliada por outra
situação discriminatória, como raça, religião, estado de saúde, situação migratória:
ARTIGO 9
Para a adoção das medidas a que se refere este capitulo, os Estados Partes levarão
especialmente em conta a situação da mulher vulnerável a violência por sua raça, origem
étnica ou condição de migrante, de refugiada ou de deslocada, entre outros motivos.
Também será considerada violência a mulher gestante, deficiente, menor, idosa ou em
situação sócio-econômica desfavorável, afetada por situações de conflito armado ou de
privação da liberdade.

Acerca dos sistemas de supervisão, o artigo 10 prevê o sistema de envio de relatórios por parte dos
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Estados à CIDH:
ARTIGO 10
A fim de proteger o direito de toda mulher a uma vida livre de violência, os Estados Partes
deverão incluir nos relatórios nacionais à Comissão Interamericana de Mulheres
informações sobre as medidas adotadas para prevenir e erradicar a violência contra a
mulher, para prestar assistência à mulher afetada pela violência, bem como sobre as
dificuldades que observarem na aplicação das mesmas e os fatores que contribuam para a
CPF: 030.720.271-29

violência contra a mulher.

Já o artigo 12 prevê a possibilidade de peticionamento individual dirigido à Comissão Interamericana


de Direitos Humanos, desde que observado o princípio da subsidiariedade:
Silva -- CPF:

ARTIGO 12
Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou qualquer entidade não-governamental
da Silva

juridicamente reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização, poderá


Gouvea da

apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos petições referentes a


Eliovaine Gouvea

denúncias ou queixas de violação do Artigo 7 desta Convenção por um Estado Parte,


devendo a Comissão considerar tais petições de acordo com as normas e procedimentos
estabelecidos na Convenção Americana sobre Direitos Humanos e no Estatuto e
Eliovaine

Regulamento da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para a apresentação e


consideração de petições.

Para Flávia Piovesan (2018, p. 444) a simples possibilidade de peticionamento individual perante um
órgão internacional já impõe ao Estado violador o ônus político e moral relacionado à uma condenação. Além
disso, eventual relatório da CIDH tem um efeito de constrangimento perante a sociedade internacional.

10.1.5. Regras de Bangkok:

As chamadas Regras de Bangkok30 foram instituídas pela Resolução nº 2010/16, de 22 de julho de


2010, das Nações Unidas e referem-se ao tratamento de mulheres encarceradas e que estão cumprindo
medidas cautelares diversas da prisão. Por se tratar de uma resolução da Assembleia Geral da ONU, o
documento não seria formalmente vinculante. Contudo, o Conselho Nacional de Justiça reconhece a
resolução como um compromisso internacional do Brasil, a ser observado pelo Poder Judiciário.

30 Vide: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/cd8bc11ffdcbc397c32eecdc40afbb74.pdf

227
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

As Regras de Bangkok são uma complementação às Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos
(Regras Mandela31) e às regras mínimas para o Tratamento de medidas não privativas de Liberdade (Regras
de Tóquio 32 ), que consideram as questões do encarceramento sob uma perspectiva de gênero. Serão
expostas as principais regras, não obstante ser necessário a leitura integral do documento, disponível no
website do Conselho Nacional de Justiça.
A primeira regra exorta a igualdade material entre reclusos e reclusas, devendo os Estados tem em
conta a distinção de tratamento entre eles:
Regra 1
A fim de que o princípio de não discriminação, incorporado na regra 6 das Regras mínimas
para o tratamento de reclusos, seja posto em prática, deve-se ter em consideração as
distintas necessidades das mulheres presas na aplicação das Regras. A atenção a essas
necessidades para atingir igualdade material entre os gêneros não deverá ser considerada
discriminatória.

A segunda regra refere-se a situações de vulnerabilidade potencializada por questões interseccionais.


Além disso prevê a possibilidade de suspensão da pena privativa de liberdade, em casos de guarda de
crianças, em razão do princípio do melhor interesse da criança:
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Regra 2
1. Atenção adequada deve ser dedicada aos procedimentos de ingresso de mulheres e
crianças, devido à sua especial vulnerabilidade nesse momento. Recém ingressas deverão
ser providas de condições para contatar parentes; acesso a assistência jurídica; informações
sobre as regras e regulamentos das prisões, o regime prisional e onde buscar ajuda quando
necessário e em um idioma que elas compreendam; e, em caso de estrangeiras, acesso aos
seus representantes consulares.
CPF: 030.720.271-29

2. Antes ou no momento de seu ingresso, deverá ser permitido às mulheres responsáveis


pela guarda de crianças tomar as providências necessárias em relação a elas, incluindo a
possibilidade de suspender por um período razoável a medida privativa de liberdade,
levando em consideração o melhor interesse das crianças.
Silva -- CPF:

Também relacionada aos filhos das detentas, a Regra 3 prevê o devido cadastro das crianças, bem
como sua localização. Tais informações serão confidenciais, e seu uso deve observar o melhor interesse da
da Silva

criança:
Gouvea da

Regra 3
Eliovaine Gouvea

1. No momento do ingresso, deverão ser registrados o número e os dados pessoais dos/as


filhos/as das mulheres que ingressam nas prisões. Os registros deverão incluir, sem
Eliovaine

prejudicar os direitos da mãe, ao menos os nomes das crianças, suas idades e, quando não
acompanharem a mãe, sua localização e situação de custódia ou guarda.
2. Toda informação relativa à identidade das crianças deverá ser confidencial e o uso de tais
informações deverá sempre obedecer à exigência de garantir o melhor interesse das
crianças.

As mulheres deverão ficar em alocações próximas de suas famílias, considerando-se suas


responsabilidades como fonte de cuidado e sua preferência pessoal:
Regra 4
Mulheres presas deverão permanecer, na medida do possível, em prisões próximas ao seu
meio familiar ou local de reabilitação social, considerando suas responsabilidades como
fonte de cuidado, assim como sua preferência pessoal e a disponibilidade de programas e
serviços apropriados.

As normas preveem ainda a necessidade de observância dos cuidados de higiene próprio das
mulheres, em especial o fornecimento de absorventes higiênicos gratuitos e água para as detentas e crianças:

31 Vide : https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/a9426e51735a4d0d8501f06a4ba8b4de.pdf
32 Vide: https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2019/09/6ab7922434499259ffca0729122b2d38-2.pdf

228
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Regra 5
A acomodação de mulheres presas deverá conter instalações e materiais exigidos para
satisfazer as necessidades de higiene específicas das mulheres, incluindo absorventes
higiênicos gratuitos e um suprimento regular de água disponível para cuidados pessoais das
mulheres e crianças, em particular mulheres que realizam tarefas na cozinha e mulheres
gestantes, lactantes ou durante o período da menstruação.

As regras 6 a 18 preveem normas referentes à saúde da mulher, desde seu ingresso, até medidas de
prevenção e tratamento de doenças como o HIV. Ademais, a regra 10 prevê a possibilidade de a detenta
solicitar atendimento por uma profissional mulher tanto na realização de exames quanto de procedimentos.
As regras 19 a 21 refere-se às revistas e medidas de segurança nos presídios, que deverão respeitar
a dignidade das mulheres presas. Revistas íntimas deverão ser substituídas por outros meios não invasivos.
Os procedimentos devem ser feitos por profissionais devidamente treinados e com competência,
profissionalismo e sensibilidade para tanto:
Regra 19
Medidas efetivas deverão ser tomadas para assegurar a dignidade e o respeito às mulheres
presas durante as revistas pessoais, as quais deverão ser conduzidas apenas por
funcionárias que tenham sido devidamente treinadas em métodos adequados e em
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

conformidade com procedimentos estabelecidos.

Regra 20
Deverão ser desenvolvidos outros métodos de inspeção, tais como escâneres, para
substituir revistas íntimas e revistas corporais invasivas, de modo a evitar os danos
psicológicos e possíveis impactos físicos dessas inspeções corporais invasivas.
CPF: 030.720.271-29

Regra 21
Funcionários/as da prisão deverão demonstrar competência, profissionalismo e
sensibilidade e deverão preservar o respeito e a dignidade ao revistarem crianças na prisão
com a mãe ou crianças visitando presas.
Silva -- CPF:

Em relação às sanções disciplinares as regras 22 e 23 vedam as sanções de isolamento às mulheres


gestantes ou lactantes, bem como a de proibição com membros de sua família, em especial crianças:
da Silva

Regra 22
Gouvea da

Não se aplicarão sanções de isolamento ou segregação disciplinar a mulheres gestantes,


Eliovaine Gouvea

nem a mulheres com filhos/as ou em período de amamentação.


Eliovaine

Regra 23
Sanções disciplinares para mulheres presas não devem incluir proibição de contato com a
família, especialmente com crianças.

QUESTÕES
267. (CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-DF - Analista de Apoio à Assistência Judiciária – Direito) Conforme a
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, os Estados-partes
devem tomar medidas apropriadas para eliminar preconceitos e práticas baseadas na ideia de
superioridade ou inferioridade de qualquer dos sexos ou de suas funções estereotipadas, sem, no
entanto, alterar os padrões socioculturais de condutas de homens e mulheres.

268. (CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-PI - Defensor Público) Considerando a Convenção de Belém do Pará
(Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher), que
estabeleceu as bases para a formalização da Lei Maria da Penha, assinale a opção correta.
a) Essa convenção firmou o entendimento de que a violência contra a mulher constitui violação dos direitos
humanos e das liberdades fundamentais, mas não convencionou, de forma expressa, que os Estados-
partes deveriam adotar medidas destinadas a modificar os padrões sociais e culturais de conduta de

229
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

homens e mulheres, a fim de combater preconceitos e costumes e todas as outras práticas baseadas na
premissa da inferioridade ou superioridade de qualquer dos gêneros.
b) Para o atendimento dos deveres estipulados pela convenção em questão, os Estados-partes devem levar
em conta somente a situação geral de violência contra a mulher, independentemente de a violência ter
sido praticada em razão da raça, origem étnica ou condição social da vítima.
c) Apenas órgãos governamentais e associações de defesa dos direitos da mulher ou dos direitos humanos
poderão apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos petições referentes a denúncias
ou queixas de que um dos Estados-partes tenha violado o artigo dessa Convenção que estabelece os
deveres dos Estados-partes.
d) Em seu texto, essa convenção restringiu-se à violência contra a mulher ocorrida no âmbito da família ou
unidade doméstica, independentemente de o agressor compartilhar ou ter compartilhado a sua
residência, incluindo-se, entre outras formas, estupro, maus-tratos e abuso sexual.
e) A fim de proteger o direito de toda mulher a uma vida livre de violência, os Estados-partes dessa
convenção devem incluir, nos relatórios nacionais à Comissão Interamericana de Mulheres, informações
sobre as medidas adotadas para prevenir e erradicar a violência contra a mulher, para prestar assistência
à mulher afetada pela violência, bem como sobre as dificuldades que observarem na aplicação de tais
medidas e os fatores que contribuam para a violência contra a mulher.
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269. (FGV - 2022 - DPE-MS - Defensor Público Substituto) O inciso XXXV do Art. 5º da Constituição da
República de 1988 assegura a inafastabilidade da jurisdição ou do acesso à justiça, definindo que a lei
não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. O acesso à justiça pode ser
compreendido como o acesso de fato e de direito a instâncias e recursos judiciais de proteção frente a
atos de violência em conformidade com os parâmetros internacionais de direitos humanos. Todavia, o
relatório da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH/OEA) sobre acesso à justiça para
CPF: 030.720.271-29

mulheres vítimas de violência nas Américas aponta que essas mulheres não têm obtido acesso a
recursos judiciais idôneos e efetivos após a realização da denúncia, permanecendo a grande maioria dos
feitos em impunidade e resultando em direitos desprotegidos. A partir da legislação brasileira e tratados
internacionais indicados no edital, é correto afirmar que
a) ao Estado Brasileiro recomenda-se adotar as medidas necessárias para assegurar à vítima adequada
Silva -- CPF:

reparação simbólica e material pelas violações, ainda que em prejuízo das ações que possam ser
instauradas contra o responsável civil da agressão;
da Silva

b) atenção adequada deve ser dedicada aos procedimentos de ingresso de mulheres e crianças nas prisões,
Gouvea da

devido à sua especial vulnerabilidade nesse momento; as recém-ingressas deverão ser providas de
Eliovaine Gouvea

condições para contatar parentes, acessar a assistência jurídica, sempre na língua do país em que se
encontra, independentemente de sua nacionalidade;
Eliovaine

c) o Estado Brasileiro deve reconhecer à mulher, em matérias civis, uma capacidade jurídica idêntica à do
homem, para firmar contratos e administrar bens e em todas as etapas do processo nas cortes de justiça
e nos tribunais, contudo, com oportunidades distintas para o exercício dessa capacidade;
d) o Estado Brasileiro deve estabelecer procedimentos jurídicos justos e eficazes para a mulher sujeitada à
violência, inclusive, entre outros, medidas de proteção, juízo oportuno e efetivo acesso a tais processos.

270. (FUMARC - 2021 - PC-MG - Escrivão de Polícia) Sobre a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir
e Erradicar a Violência Contra a Mulher (“Convenção de Belém do Pará”), NÃO é correto afirmar que
a) considera violência contra a mulher aquela perpetrada por particulares, não incluindo atos realizados
pelo Estado ou por seus agentes.
b) determina que a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual ou psicológica, quer tenha
ocorrido no âmbito da família ou unidade doméstica ou em qualquer outra relação interpessoal, em que
o agressor conviva ou haja convivido no mesmo domicílio que a mulher e que compreende, entre outros,
estupro, violação, maus-tratos e abuso sexual, no âmbito da comunidade e seja perpetrada por qualquer
pessoa.
c) é uma das referências para a criação da Lei nº. 11.340/2006, conhecida como “Lei Maria da Penha”.
d) estabelece, entre outros, o direito a ter igualdade de acesso às funções públicas de seu país e a participar
nos assuntos públicos, inclusive na tomada de decisões.

230
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

271. (FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) De acordo com as Regras de Bangkok, as sanções disciplinares
de mulheres presas
a) são vedadas em todas as suas modalidades em caso de gestante.
b) devem durar a metade do tempo correspondente à sanção masculina em caso de isolamento.
c) são vedadas se a unidade prisional não dispuser de toda a infraestrutura adaptada ao gênero.
d) só são válidas em caso de falta disciplinar de natureza grave, vedadas as de natureza média e leve.
e) não devem incluir proibição de contato com a família, especialmente com crianças.

272. (FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, estabelece expressamente que os Estados-Partes
a) tomarão todas as medidas apropriadas para garantir, à mulher, em igualdade de condições com o
homem e sem discriminação alguma, a oportunidade de representar seu governo no plano internacional
e de participar no trabalho das organizações internacionais.
b) assegurarão condições de educação para as mulheres, garantindo acesso aos currículos adaptados e
pessoal docente de nível adequado, bem como instalações, material escolar, bolsas de estudos e
subvenções estudantis, adaptados ao nível e à diferença de conhecimento existentes.
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c) tomarão as medidas adequadas para fomentar o debate sobre o conceito dos papéis masculino e
feminino em todos os níveis de ensino mediante o estímulo à educação que contribua para alcançar
esse objetivo e, em particular, mediante a modificação dos livros e programas escolares e adaptação
dos métodos de ensino.
d) assegurarão condições de participação diferenciada para mulheres nas atividades de educação física e
em esportes, mediante reserva de vagas especialmente destinadas para competições de âmbito
internacional, efetivando o direito a participar em atividades de recreação, esportes e em todos os
CPF: 030.720.271-29

aspectos da vida cultural.


e) levarão em consideração os problemas específicos enfrentados pela mulher migrante e o importante
papel que desempenha na subsistência econômica de sua família, incluído seu trabalho em setores não
monetários da economia, e tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar a aplicação dos
Silva -- CPF:

dispositivos desta Convenção.


da Silva

273. (FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
Gouvea da

Violência contra a Mulher, de 1994, estabelece que toda mulher tem direito ao reconhecimento,
Eliovaine Gouvea

desfrute, exercício e proteção de todos os direitos humanos e liberdades consagrados em todos os


instrumentos regionais e internacionais relativos aos direitos humanos, prevendo expressamente o
Eliovaine

direito
a) a recesso pelo tempo que julgar necessário perante tribunal competente que a proteja contra atos que
violem seus direitos.
b) a não ser submetida a tortura e a não ser submetida a pena de morte.
c) a que se respeite sua integridade física, mental e moral e à interrupção da gravidez.
d) à liberdade de professar a própria religião e à liberdade sexual, de acordo com a lei.
e) à liberdade e à segurança pessoais e a não ser submetida a tortura.

274. (FCC - 2021 - DPE-RR - Defensor Público) A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher estabelece normas gerais de proteção dos direitos das mulheres, sendo,
dentre outras, normas que
a) reconhecem o direito da mulher de escolher livremente o cônjuge e a obrigação dos estados signatários
de estabelecer uma idade mínima para o casamento.
b) preveem o estabelecimento de medidas especiais de caráter permanente destinadas a acelerar a
igualdade de fato entre o homem e a mulher.
c) consagram, pioneiramente, os variados direitos sexuais e reprodutivos da mulher e, de forma
embrionária, o combate à violência obstétrica.

231
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

d) vinculam os estados signatários na oferta de proteção eficaz e diferenciada de toda mulher contra
violência sofrida nos ambientes doméstico e laboral.
e) superam a noção de discriminação centrada na diferença sexual, de cunho biológico, por aquela fundada
na ideia de gênero, de natureza social.

275. (COSEAC - 2019 - Prefeitura de Maricá - RJ - Guarda Municipal) A Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW) prevê, dentre outros pontos, que os
Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter legislativo, para
a) editar novas disposições penais nacionais que criem ou constituam discriminação contra a mulher.
b) editar novas disposições internacionais que constituam discriminação ou criminalização da figura
feminina.
c) garantir que a educação familiar inclua o reconhecimento da responsabilidade comum de homens e
mulheres no que diz respeito à educação e ao desenvolvimento de seus filhos, entendendo-se que o
interesse do homem constituirá a consideração primordial em todos os casos.
d) suprimir todas as formas de tráfico de mulheres e exploração da prostituição da mulher.
e) suprimir todas as formas de tráfico de crianças e de prostituição da mulher.
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276. (FCC - 2019 - DPE-SP - Defensor Público) Desde a década de 1990, o Brasil estabeleceu uma política de
ação afirmativa para aumentar o número de mulheres no Poder Legislativo. Na ADI 5617 o STF decidiu
que a distribuição de recursos do Fundo Partidário destinado ao financiamento das campanhas eleitorais
direcionadas às candidaturas de mulheres deve ser feita na exata proporção das candidaturas de ambos
os sexos, respeitado o patamar mínimo de 30% de candidatas mulheres previsto no art. 10, parágrafo
3º, da Lei nº 9.504/97. Em meio à polêmica causada pelas chamadas “candidaturas-laranjas” de
CPF: 030.720.271-29

mulheres nas eleições de 2018, foi proposto no Senado Federal projeto de lei que revoga a
obrigatoriedade de os partidos preencherem 30% de suas candidaturas com um dos sexos. Sobre a
política de cotas para as candidaturas de mulheres, é correto afirmar que:
I. encontra suporte na Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
Silva -- CPF:

(Convenção CEDAW) que determina a adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais de caráter
temporário destinadas a acelerar a igualdade de fato entre o homem e a mulher e na Constituição
da Silva

Federal de 1988 ao prever a igualdade entre mulheres e homens.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

II. a Constituição Federal de 1988 prevê a igualdade entre mulheres e homens, e não há nela ou na
legislação infraconstitucional nenhum impeditivo para a candidatura de mulheres, portanto, seria
desnecessária para aumentar o número de mulheres parlamentares.
Eliovaine

III. a destinação de recursos financeiros equivalentes às mulheres para as campanhas eleitorais,


respeitado o patamar mínimo de 30%, foi um aperfeiçoamento na política de ação afirmativa para
aumentar a participação das mulheres, pois sem recursos equivalentes não seria atingido o objetivo de
acelerar a igualdade material.
IV. o Brasil ocupa a 133º posição em ranking mundial de representatividade feminina na Câmara dos
Deputados, segundo pesquisa produzida pela Inter-Parlamentary Union. No Senado, dos 54 senadores
eleitos em 2018, apenas 7 são mulheres. A política de cotas para mulheres seria mais efetiva se houvesse
reserva de assentos.
Está correto o que se afirma APENAS em:
a) I, III e IV.
b) II e IV.
c) I e III.
d) I, II e IV.
e) II e III.

232
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

277. (MPE-PR - 2019 - MPE-PR - Promotor Substituto) Assinale a alternativa incorreta. Nos termos da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher:
a) Nenhuma das disposições da referida Convenção poderá ser interpretada no sentido de restringir ou
limitar as da Convenção Americana sobre Direitos Humanos ou de qualquer outra convenção
internacional que ofereça proteção igual ou maior nesta matéria.
b) Os Estados partes devem adotar medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher
praticada por qualquer pessoa ou organização pública, respeitada a autonomia conferida às atividades
empresariais.
c) O direito de toda mulher a ser livre de violência abrange, entre outros, o direito da mulher a ser
valorizada e educada livre de padrões estereotipados de comportamento e costumes sociais e culturais
baseados em conceitos de inferioridade ou subordinação.
d) Os Estados Partes convêm em adotar, progressivamente, medidas específicas, inclusive programas
destinados a prestar serviços especializados apropriados a mulher sujeitada a violência, por intermédio
de entidades dos setores público e privado, inclusive abrigos, serviços de orientação familiar, quando
for o caso, e atendimento e custódia dos menores afetados.
e) Entre os direitos assegurados a toda mulher encontra-se o direito à liberdade de professar a própria
religião e as próprias crenças, de acordo com a lei.
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278. (FCC - 2018 - DPE-AP - Defensor Público) A Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar
a Violência Contra a Mulher − “Convenção de Belém do Pará” estabelece que
a) sua abrangência está restrita a regular os direitos civis e políticos das mulheres, como, por exemplo, a
vida e a integridade física e psíquica, não tratando dos seus direitos econômicos, sociais e culturais.
b) violência contra a mulher é qualquer ato ou conduta baseado no gênero, que cause morte, dano ou
sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, restrita à esfera privada.
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c) a violência contra a mulher abrange a violência física, sexual e psicológica ocorrida na comunidade e
cometida por qualquer pessoa, incluindo, entre outras formas, o estupro, abuso sexual, tortura, tráfico
de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no local de trabalho, bem como em
instituições educacionais, serviços de saúde ou qualquer outro local, bem como a perpetrada ou
Silva -- CPF:

tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra.


d) os Estados Partes deverão incluir nos relatórios nacionais à Corte Interamericana de Direitos Humanos
da Silva

informações sobre as medidas adotadas para prevenir e erradicar a violência contra a mulher.
Gouvea da

e) os Estados Partes e a Comissão Interamericana de Mulheres poderão solicitar à Comissão


Eliovaine Gouvea

Interamericana de Direitos Humanos parecer sobre a interpretação da Convenção.


Eliovaine

279. (PGR - 2017 - PGR - Procurador da República) Dentre os enunciados abaixo, somente estão corretos:
I - De acordo com as Regras de Bangkok, os Estados devem adotar medidas efetivas para assegurar a
dignidade e o respeito às mulheres presas durante as revistas pessoais, desenvolvendo métodos de
inspeção, tais como escâneres, para substituir revistas íntimas e revistas corporais invasivas.
II - De acordo com a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, a negativa geral de
autorização de procedimento de fertilização in vitro viola o direito à liberdade pessoal e à vida privada,
uma vez que tais direitos abarcam a autonomia reprodutiva e o acesso a serviços de saúde reprodutiva.
III - Não são incompatíveis com o direito à igualdade previsto na Convenção da ONU pela Eliminação de
Toda Forma de Discriminação contra a Mulher a adoção de medidas especiais, de caráter temporário,
para acelerar a igualdade entre homens e mulheres, que devem cessar quando os objetivos de igualdade
de oportunidade e tratamento forem alcançados.
IV - O Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher pode, a qualquer momento após o
recebimento de comunicação e antes que tenha sido alcançada determinação sobre o mérito da
questão, solicitar ao Estado Parte que tome as medidas antecipatórias necessárias para evitar possíveis
danos irreparáveis à vítima da alegada violação.
a) II e III

233
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

b) II e IV
c) I, III e IV
d) todos estão corretos

280. (VUNESP - 2017 - DPE-RO - Defensor Público Substituto) A respeito da Convenção sobre a Eliminação
de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, assinale a alternativa correta.
a) Prevê a possibilidade por seu Comitê próprio de recebimento e exame de petições individuais e
investigações in loco.
b) Não previu, originalmente, ações afirmativas para acelerar o processo de obtenção da igualdade.
c) Teve adesão ampla dos Estados-membros, contudo, dentre os tratados internacionais de direitos
humanos, é o instrumento que recebeu, até hoje, o maior número de reservas formuladas pelos Estados.
d) As controvérsias entre dois ou mais Estados-partes, com relação à interpretação ou aplicação da presente
Convenção, que não puderem ser dirimidas por meio de negociação, serão submetidas diretamente à
Corte Internacional de Justiça, independentemente de solicitação de uma das partes.
e) Foi aprovada em 1983, em conjunto com a Declaração sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher.

10.2. Normas de combate à discriminação racial


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10.2.1. Os conceitos de raça e de discriminação racial

Silvio Almeida (2019, p. 18) destaca que o termo “raça” gera uma grande controvérsia em sua
definição. Não se trata de um termo estático, não obstante ter como caráter central alguma forma de
estabelecimento de classificações que, inicialmente foi usada para plantas e animais e, mais tarde, aplicado
aos seres humanos. Para o autor, o termo raça tem um conceito relacional e histórico (ALMEIDA, 2019, p.
CPF: 030.720.271-29

18), ligado à história da constituição política e econômica das sociedades contemporâneas.


Historicamente o termo raça foi empregado para designar dois registros “que se entrecruzam e
complementam” (ALMEIDA, 2019, p. 18):
Silva -- CPF:

• Como características biológicas e ascendência: grupamentos humanos de características físicas


comuns (cor de pele, cabelo, formato do nariz, etc.) tendo em vista a variabilidade dos seres
da Silva

humanos em termos físicos (PAIXÃO, 2013, p. 32). Nas palavras de Tzvetan Todorov (2012, p.
Gouvea da

108), seria uma tentativa (equivocada cientificamente) de assimilar o termo às espécies de


Eliovaine Gouvea

animais aos seres humanos.


• Como característica étnico-cultural: aqui o termo refere-se à identidade de um determinado
Eliovaine

grupo social, normalmente ligada à origem geográfica, religião, língua, costumes ou forma de
existir.
Tzvetan Todorov (2012, p. 109) explica que as duas concepções se relacionam na medida em que há
uma tentativa de estabelecimento de uma relação causal entre elas: “as diferenças físicas determinam as
diferenças culturais” (TODOROV, 2012, p. 109).
Ocorre que ambos os sentidos acabam por ser equivocados. Afinal, como destaca Silvio Almeida, não
há nada na realidade natural que corresponda à essa concepção biológica de raça. Como bem resume Tzvetan
Todorov (2012, p. 108) os serem humanos se misturam desde tempos imemoriais e se fosse correta a
concepção biológica de raça, seria necessária uma diferença entre os grupamentos humanos, que inexiste.
Até mesmo em um suposto grupo homogêneo de seres humanos, há grandes diferenças entre os indivíduos,
motivo pelo qual não é possível justificar essa suposta classificação entre os seres humanos. Por fim, o projeto
Genoma acabou por eliminar cientificamente qualquer dúvida sobre a existência de raças humanas. Do ponto
de vista biológico há uma raça humana.
Não obstante a ausência científica de raças humanas, fato é que a noção de raça, como um fato
político e cultural, ainda é utilizada para naturalizar desigualdades e legitimar a segregação de grupos
sociologicamente vulneráveis (ALMEIDA, 2019, p. 22).

234
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Do ponto de vista doutrinário é necessário ainda conceituar os termos “racismo”, “preconceito


racial” e “discriminação racial”, tendo como fundamento os ensinamentos de Silvio Almeida:

• Racismo: “uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se
manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou
privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual pertençam” (ALMEIDA, 2019, p.
22).
• Preconceito racial: “é o juízo (negativo) baseado em estereótipos acerca de indivíduos que
pertençam a um determinado grupo racializado, e que pode ou não resultar em práticas
discriminatórias” (ALMEIDA, 2019, p. 23).
• Discriminação racial: é a atribuição de tratamento diferenciado a membros de grupos racialmente
identificados. Tem como fundamento o poder, isto é, a possibilidade do uso efetivo da força. Do
conceito de discriminação racial o autor ainda faz a seguinte subdivisão (próximo do que já foi
exposto acima):
o Discriminação direta: trata-se do “repúdio ostensivo a indivíduos ou grupos, motivado pela
condição racial” (ALMEIDA, 2019, p. 23);
o Discriminação indireta: também chamada de “discriminação de fato”, em que a situação
de grupos minoritários é ignorada ou lhes são aplicadas normas de “neutralidade racial”,
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sem levar em consideração a existência de diferenças sociais significativas (ALMEIDA, 2019,


p. 23).
Por fim, o autor ainda diferencia três formas de racismo:

• Racismo individualista: é concebido como uma espécie de patologia ou anormalidade, a ser


combatido no campo jurídico através de sanções civis ou penais (ALMEIDA, 2019, p. 25). Para
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Silvio Almeida (2019, p. 25) com base nessa concepção o racismo não seria um fenômeno social
(no sentido de uma dada sociedade) ou institucional, mas sim de indivíduos racistas, que agem
sozinhos ou em grupo.
• Racismo institucional: o racismo não se resume a um comportamento individual, mas é o
resultado do funcionamento das instituições que conferem direta ou indiretamente, privilégios,
Silva -- CPF:

baseados na raça (ALMEIDA, 2019, p. 26). Instituições são modos de orientação e coordenação da
ação social. A sua estabilidade depende de sua capacidade de absorver, através de normas,
da Silva

padrões de condutas humanas. As instituições, portanto, condicionam as ações dos indivíduos.


Gouvea da

Por outro lado, como elas são formadas por membros de uma dada sociedade, as instituições
Eliovaine Gouvea

carregam em si os conflitos existentes (ALMEIDA, 2019, p. 27). Portanto, a compreensão do


racismo institucional equivale a identificar que as instituições podem ser utilizadas para impor
Eliovaine

determinados interesses políticos, que no caso do racismo, refere-se ao estabelecimento de


parâmetros discriminatórios baseados na raça, como forma de manutenção da hegemonia de um
dado grupo racial no poder (ALMEIDA, 2019, p. 27).
• Racismo estrutural: para Silvio Almeida (2019, p. 31) instituições são racistas porque a sociedade
é racista. As instituições nada mais fazem eu replicar os padrões de funcionamento de
determinados grupos sociais. Há uma naturalização de práticas racistas por toda sociedade que
são levadas às instituições. Além disso, para o autor o racismo não se limita a uma questão de
representatividade (ALMEIDA, 2019, p. 32). Afinal, é possível ver “representantes” de grupos
vulneráveis em cargos de poder, que nada mais fazem do que replicar padrões discriminatórios.
Portanto, a compreensão de um racismo estrutural surge do reconhecimento de que o racismo
“é uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo ‘normal’ com que se constituem
as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia social e nem
um desarranjo institucional” (ALMEIDA, 2019, p. 33).
A compreensão dessas categorias, não importa na ausência de responsabilização de indivíduos que
praticam atos racistas ou na busca de alteração de práticas institucionais. Ao contrário, fundamenta a busca
de ações que não são pautadas em reducionismos, mas sim que compreendam que o racismo é uma questão
complexa e enraizada na sociedade. Nesse sentido, Silvio Almeida destaca que:

235
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

A mudança da sociedade não se faz apenas com denúncias ou com o repúdio moral do
racismo: depende, antes de tudo, da tomada de posturas e da adoção de práticas
antirracistas (ALMEIDA, 2019, p. 34).

Para além da conceituação dogmática, os termos “raça” e “discriminação racial” são objeto de atos
normativas internacionais e nacionais, que devem ser coordenados com base nos princípios pro homine e do
effet utile, para a maior proteção às vítimas da discriminação racial.
Os instrumentos gerais que vedam o tratamento discriminatório, como o Pacto Internacional sobre
Direitos Civis e Políticos de 1966 e a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, ou mesmo a própria
Constituição, não trazem um conceito jurídico desses termos.
Contudo, o Brasil é signatário da Convenção Internacional para a Eliminação de todas as formas de
Discriminação Racial (CERD) (Decreto nº 65.810/69) e da Convenção Interamericana Contra o Racismo, a
Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância (CICRDR) (Decreto nº 10.932/22) que dispõe sobre
conceitos jurídicos de “discriminação racial”. Ademais, no plano nacional a Lei nº 7.716/89 prevê a tipificação
do crime de racismo e na Lei nº 12.888/10 (Estatuto da Igualdade Racial) traz uma conceituação de
discriminação racial.
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É importante destacar que a CICRDR foi ratificada nos termos do art. 5º, §3º da Constituição. Logo,
tem status formal de norma constitucional servindo de parâmetro para o controle de constitucionalidade.
Já a CERD, por ter sido ratificada anteriormente à Emenda Constitucional nº 45/04, tem status formal
supralegal, de acordo com a jurisprudência do STF. Por isso, normas legais internas incompatíveis com suas
disposições acabam por perder sua validade.
Além dos instrumentos normativos, é necessário ainda destacar a construção feita pelo Supremo
Tribunal Federal no combate ao racismo e à discriminação racial, desde o Caso Ellwanger, até ao caso da
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criminalização da Transfobia e Homofobia, que têm como núcleo uma concepção cultural de raça pelo
tribunal.

CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O


Silva -- CPF:

ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E FORMAS


DISCRIMINAÇÃO RACIAL CORRELATAS DE INTOLERÂNCIA
da Silva

ARTIGO 1º ARTIGO 1º
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

1. Nesta Convenção, a expressão “discriminação 1. Discriminação racial é qualquer distinção,


racial” significará qualquer distinção, exclusão exclusão, restrição ou preferência, em qualquer
Eliovaine

restrição ou preferência baseadas em raça, cor, área da vida pública ou privada, cujo propósito ou
descendência ou origem nacional ou étnica que tem efeito seja anular ou restringir o reconhecimento,
por objetivo ou efeito anular ou restringir o gozo ou exercício, em condições de igualdade, de
reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo um ou mais direitos humanos e liberdades
plano, (em igualdade de condição), de direitos fundamentais consagrados nos instrumentos
humanos e liberdades fundamentais no domínio internacionais aplicáveis aos Estados Partes. A
político econômico, social, cultural ou em qualquer discriminação racial pode basear-se em raça, cor,
outro domínio de vida pública. (...) ascendência ou origem nacional ou étnica. (...)
4. Não serão consideradas discriminação racial as 4. Racismo consiste em qualquer teoria, doutrina,
medidas especiais tomadas com o único objetivo de ideologia ou conjunto de ideias que enunciam um
assegurar progresso adequado de certos grupos vínculo causal entre as características fenotípicas ou
raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem genotípicas de indivíduos ou grupos e seus traços
da proteção que possa ser necessária para intelectuais, culturais e de personalidade, inclusive
proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gôzo o falso conceito de superioridade racial. O racismo
ou exercício de direitos humanos e liberdades ocasiona desigualdades raciais e a noção de que as
fundamentais, contanto que, tais medidas não relações discriminatórias entre grupos são moral e
conduzam, em conseqüência, à mauntenção de cientificamente justificadas. Toda teoria, doutrina,
direitos separados para diferentes grupos raciais e ideologia e conjunto de ideias racistas descritas
neste Artigo são cientificamente falsas, moralmente

236
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

não prossigam após terem sidos alcançados os seus censuráveis, socialmente injustas e contrárias aos
objetivos. princípios fundamentais do Direito Internacional e,
portanto, perturbam gravemente a paz e a
segurança internacional, sendo, dessa maneira,
condenadas pelos Estados Partes.

Sobre os conceitos dos documentos internacionais, é necessário observar que, o Comitê CERD33 –
órgão com atribuição para fiscalizar a aplicação do tratado, bem como dirimir conflitos entre Estados e
receber petições individuais relacionados à convenção – editou a Resolução XXX, de 2005, que prevê
expressamente que diferenças de tratamento baseadas na nacionalidade ou imigração constituem
discriminações contrárias aos objetivos e propósitos da Convenção:
4. Sob a Convenção, diferenças de tratamento baseadas na cidadania ou status imigratórios
constituirão discriminação se o critério de tal tratamento dessa diferenciação, julgado à luz
dos objetivos e propósitos da Convenção, não para alcançar um objetivo legítimo ou não
forem proporcionais no alcance desse objetivo. Diferenciações incluídas no âmbito do
artigo 1º parágrafo 4, da Convenção, relacionadas a medidas especiais, não são
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consideradas discriminatórias”. (tradução e grifos nossos).

Não obstante essa interpretação, a Corte Internacional De Justiça (CIJ), no julgamento do Caso
Aplicação da Convenção Internacional para a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial (Qatar
vs. Emirados Árabes), afastou-se de sua própria jurisprudência nos Casos Diallo 34 e Caso do Muro 35 , e
discordando da interpretação dada pelo Comitê CERD na Resolução XXX, de 2005, e decidiu que o termo
“origem nacional” da Convenção deveria ser lido de forma restritiva, abarcando apenas membros de uma
CPF: 030.720.271-29

determinada nação (agrupamento ligado por uma cultura própria), e se declarou incompetente para julgar
as medidas, supostamente discriminatórias, tomadas pelos Emirados Árabes em relação aos nacionais
catarenses em seu território.
Já sobre a CICRDR, a Corte IDH, na Opinião Consultiva nº 24/17, manifestou-se expressamente sobre
Silva -- CPF:

o alcance da interpretação o Artigo 1.1 da CICRDR, enfatizando que o objetivo central da Convenção é evitar
qualquer tipo de discriminação, independentemente de sua origem:
da Silva

63. A este respeito, o Tribunal estabeleceu que o artigo 1.1 da Convenção é uma norma de
Gouvea da

caráter geral cujo conteúdo se estende a todas às disposições do tratado, e estabelece a


Eliovaine Gouvea

obrigação dos Estados Partes de respeitar e garantir o pleno e livre exercício dos direitos e
liberdades nele reconhecidos "sem qualquer discriminação". Ou seja, independentemente
Eliovaine

da origem ou da forma que assuma, qualquer tratamento que possa ser considerado
discriminatório em relação ao exercício de qualquer um dos direitos garantidos na
Convenção é, per se, incompatível com a mesma. A violação pelo Estado da obrigação geral
de respeitar e garantir os direitos humanos, por meio de qualquer tratamento diferente que
possa resultar discriminatório, ou seja, que não persiga fins legítimos, seja desnecessário
e/ou desproporcional, gera responsabilidade internacional. É por isso que existe uma
ligação indissolúvel entre a obrigação de respeitar e garantir os direitos humanos e o
princípio da igualdade e da não discriminação. (Corte IDH. Opinião Consultiva nº 24,
publicada em 24/11/2017).

No Caso Norín Catrimán e outros (Dirigentes, membros e ativistas do povo Indígena Mapuche) vs.
Chile, a Corte IDH conceituou discriminação como um tratamento diferenciado às pessoas que tem por
objetivo um fim ilegítimo ou quando não há uma relação tem objetiva e razoável dos meios utilizados e
dos fins pretendidos36.

33 Regulamentado na Parte II da Convenção em seus Artigos VIII a XVI.


34 República da Guiné vs. República Democrática do Congo, julgado em 30/11/2010.
35 Parecer Consultivo sobre as consequências jurídicas da edificação de um muro no território ocupado da Palestina, de 9/7/2004.
36 Corte IDH. Caso Norín Catrimán e outros (Dirigentes, membros e ativistas do povo Indígena Mapuche) vs. Chile. Sentença
publicada em 29/5/2004.

237
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Na Opinião Consultiva nº 18 de 2003 a Corte IDH vai além, e destaca expressamente que o direito à
igualdade perante a lei e a vedação da discriminação são normas de jus cogens, sendo essa posição foi
reiterada no julgamento do Caso Yatama vs. Nicaragua de 2005, posteriores como o Caso Comunidade
Indígena Xákmok Kásek vs. Paraguai de 2010 e o Caso Trabalhadores da Fazenda Brasil Verde vs. Brasil, de
2016:
101. Em concordância com isso, este Tribunal considera que o princípio da igualdade
perante a lei, igual proteção perante a lei e não discriminação, pertencem ao jus cogens,
visto que sobre eles descansam todo fundamento jurídico da ordem pública nacional e
internacional e é um princípio fundamental que permeia todo ordenamento jurídico. Hoje
em dia não se admite nenhum ato jurídico discriminatório em prejuízo de nenhuma pessoa,
por motivos de gênero, raça, cor, idioma, religião ou convicção, opinião política ou de outra
índole, origem nacional, étnico ou social, nacionalidade, idade, situação económica
patrimônio, estado civil, nascimento ou qualquer outra condição. Na etapa atual da
evolução do direito internacional os princípios fundamentais da igualdade e da não
discriminação ingressaram ao domínio do jus cogens. (Corte IDH, Opinião Consultiva nº 18.
Publicada em 19.01.1984)

Em âmbito constitucional, apesar de não haver nenhuma conceituação específica, o racismo é


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refutado expressamente no art. 4º, VIII, que trata dos princípios das relações internacionais da República
Federativa do Brasil. No art. 5º, além da cláusula geral de igualdade, prevista em seu caput, o inciso XLI traz
a determinação de elaboração de lei para punir toda forma de discriminação atentatória a direitos
fundamentais e em o inciso XLII, prevê a imprescritibilidade do crime de racismo. Além disso, o art. 3º, IV
prevê como objetivo da República a promoção do bem de todos, sem preconceitos relacionados à raça ou
outras formas de discriminação. O art. 7º, XXX, proíbe a distinção de salários, exercício de funções e critérios
de admissão por motivos de cor, sexo, idade ou estado civil. O art. 227 prevê um dever do Estado, da
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sociedade e da família de proteger crianças, adolescentes e jovens de toda forma de discriminação.


Em âmbito infraconstitucional é possível citar dois instrumentos legais que trazem conceituações
normativas:
Silva -- CPF:

LEI Nº 12.888/10 ESTATUTO DA IGUALDADE LEI Nº 7.716/89 LEI DE RACISMO


RACIAL
da Silva

Art. 1º Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação
Gouvea da

Racial, destinado a garantir à população negra a ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
Eliovaine Gouvea

efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa procedência nacional. (Redação dada pela Lei nº
dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e 9.459, de 15/5/97)
Eliovaine

o combate à discriminação e às demais formas de


intolerância étnica. Pena: reclusão de um a três anos e multa. (Redação
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, dada pela Lei nº 9.459, de 15/5/97)
considera-se: §1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular
I - discriminação racial ou étnico-racial: toda símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou
distinção, exclusão, restrição ou preferência propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada,
baseada em raça, cor, descendência ou origem para fins de divulgação do nazismo. (Redação dada
nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou pela Lei nº 9.459, de 15/5/97)
restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em
igualdade de condições, de direitos humanos e Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
liberdades fundamentais nos campos político, (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/5/97)
econômico, social, cultural ou em qualquer outro §2º Se qualquer dos crimes previstos no caput é
campo da vida pública ou privada; cometido por intermédio dos meios de
II - desigualdade racial: toda situação injustificada comunicação social ou publicação de qualquer
de diferenciação de acesso e fruição de bens, natureza: (Redação dada pela Lei nº 9.459, de
serviços e oportunidades, nas esferas pública e 15/5/97)
privada, em virtude de raça, cor, descendência ou
origem nacional ou étnica;

238
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

III - desigualdade de gênero e raça: assimetria Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.
existente no âmbito da sociedade que acentua a (Incluído pela Lei nº 9.459, de 15/5/97)
distância social entre mulheres negras e os demais
segmentos sociais;
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se
autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito
cor ou raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), ou que adotam
autodefinição análoga;
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e
programas adotados pelo Estado no cumprimento
de suas atribuições institucionais;
VI - ações afirmativas: os programas e medidas
especiais adotados pelo Estado e pela iniciativa
privada para a correção das desigualdades raciais e
para a promoção da igualdade de oportunidades.
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No plano jurisprudencial, o Supremo Tribunal Federal, a partir do julgamento do famoso Caso


Ellwanger (HC 82.424), desenvolveu uma interpretação acerca do conceito de racismo, e com isso acabou
por ampliar a proteção às vítimas de discriminação racial. No caso o paciente fora condenado na qualidade
de escritor e editor da empresa Revisão Editora Ltda. por escrever, editar, distribuir e vender as seguintes
obras consideradas antissemitas. O principal argumento do paciente foi que o delito de discriminação contra
judeus não seria abarcado pelo art. 20 da Lei de Racismo, tendo em vista que os judeus não poderiam ser
considerados uma raça.
CPF: 030.720.271-29

Capitaneados pelo voto do ministro Maurício Correa, a maioria dos membros do STF decidiu que a
leitura do dispositivo constitucional, e consequentemente da Lei de Racismo, não deveria ser restrita a um
conceito biológico de raça, mas sim a um conceito cultural e social, em que o racismo seria configurado pela
Silva -- CPF:

hierarquização de grupos e em medida que buscam justificar a subjugação ou destruição de um grupo em


detrimento de outro.
da Silva

O conceito cultural e social de raça foi fundamento em julgamentos posteriores, como no RHC
Gouvea da

146.303, interposto por Tupirani da Hora Lopes, pastor da “Igreja Pentecostal Geração Jesus Cristo”, em face
Eliovaine Gouvea

da decisão do Superior Tribunal de Justiça que manteve sua condenação pela prática do crime de racismo
(Lei nº 7.716/89, art. 20), por vídeos distribuídos na internet em que pregava o fim das Igrejas Assembleia de
Eliovaine

Deus e praticava a intolerância religiosa contra as religiões católica, judaica, espírita, satânica, wicca, islâmica,
umbandista e outras vertentes da religião evangélica. A maioria da 2ª turma do Tribunal decidiu que o
proselitismo não é um direito absoluto, e, por isso, está limitado ao dever de tolerância. O ministro Dias
Toffoli (relator para o acórdão) defendeu que a liberdade de crença e culto tem duas dimensões: a dimensão
positiva, que é a liberdade de um indivíduo de expressar e viver de acordo coma própria fé; e a dimensão
negativa, que corresponde à tolerância religiosa. Portanto, pautado na conceituação cultural de raça, os atos
do recorrente de discriminar e incitar a discriminação de pessoas em razão de suas crenças seriam
configurados como crime de racismo, sendo por isso, imprescritíveis.
Destaca-se ainda que no julgamento da ADO 26 o Supremo Tribunal Federal manteve o seu conceito
cultural de raça para fundamentar a aplicação da lei de racismo aos crimes de homofobia e transfobia:
O conceito de racismo, compreendido em sua dimensão social, projeta-se para além de
aspectos estritamente biológicos ou fenotípicos, pois resulta, enquanto manifestação de
poder, de uma construção de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar
a desigualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação social
e à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade daqueles que, por integrarem
grupo vulnerável (LGBTI+) e por não pertencerem ao estamento que detém posição de
hegemonia em uma dada estrutura social, são considerados estranhos e diferentes,
degradados à condição de marginais do ordenamento jurídico, expostos, em consequência
de odiosa inferiorização e de perversa estigmatização, a uma injusta e lesiva situação de

239
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

exclusão do sistema geral de proteção do direito (STF - ADO: 26. Rel.: Min. Celso de Mello,
j. 13/6/2019, p. 6/10/2020)

A proteção às vítimas de discriminação racial foi novamente aplicada pelo Supremo Tribunal Federal
no julgamento do HC 154.248, quando a Corte entendeu que a cláusula constitucional de imprescritibilidade
prevista para o racismo abarca não apenas os crimes previstos na Lei nº 7.716/89, como também o tipo de
injúria racial, previsto no art. 140, §3º do Código Penal:
HABEAS CORPUS. MATÉRIA CRIMINAL. INJÚRIA RACIAL (ART. 140, §3º, DO CÓDIGO PENAL).
ESPÉCIE DO GÊNERO RACISMO. IMPRESCRITIBILIDADE. DENEGAÇÃO DA ORDEM.
1. Depreende-se das normas do texto constitucional, de compromissos internacionais e de
julgados do Supremo Tribunal Federal o reconhecimento objetivo do racismo estrutural
como dado da realidade brasileira ainda a ser superado por meio da soma de esforços do
Poder Público e de todo o conjunto da sociedade.
2. O crime de injúria racial reúne todos os elementos necessários à sua caracterização como
uma das espécies de racismo, seja diante da definição constante do voto condutor do
julgamento do HC 82.424/RS, seja diante do conceito de discriminação racial previsto na
Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.
3. A simples distinção topológica entre os crimes previstos na Lei 7.716/1989 e o art. 140,
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§3º, do Código Penal não tem o condão de fazer deste uma conduta delituosa diversa do
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racismo, até porque o rol previsto na legislação extravagante não é exaustivo.


4. Por ser espécie do gênero racismo, o crime de injúria racial é imprescritível.
5. Ordem de habeas corpus denegada. (STF - HC: 154248, Rel. Edson Fachin, j. 28/10/2021,
p. 23/2/2022)

10.2.2. Dever dos Estados:


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A partir de agora, buscar-se-á uma análise comparativa entre o Estatuto da Igualdade Racial, com as
convenções internacionais, tendo em vista a similaridade de conteúdo e forma.
O primeiro ponto a ser destacado é o compromisso dos Estados signatários em adotar medidas para
Silva -- CPF:

eliminar toda e qualquer forma de discriminação racial.


Em relação à CERD é importante ressaltar a menção específica à proibição de políticas oficiais de
da Silva

segregação racial, como o apartheid da África do Sul e a política americana do “Separados, mas iguais”
Gouvea da

(Separate but equal). Lembre-se que a CERD foi elaborada em 1965, na vigência do apartheid sul-africano,
Eliovaine Gouvea

que só teve fim em 1991.


Outro ponto a ser mencionado é a forma de redação da CICRDR. Enquanto a CERD traz um rol extenso
Eliovaine

de direitos, a CICRDR traz um rol de deveres dos Estados, que vão além de condutas negativas (não fazer).
Trazendo a imposição do dever de ação por parte dos Estados, de todas as formas de eliminação da
discriminação racial, as normas da CICRDR podem ser lidas, a contrario sensu, como um verdadeiro rol de
direitos. Em outros termos, o artigo que impõe ao estado “prevenir, eliminar proibir e punir”, é um
verdadeiro rol de direito dos indivíduos, decorrentes da vedação de tratamento discriminatório.
CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O
ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E FORMAS
DISCRIMINAÇÃO RACIAL CORRELATAS DE INTOLERÂNCIA
CERD CICRDR
ARTIGO II ARTIGO 4
1. Os Estados Partes condenam a discriminação Os Estados comprometem-se a prevenir, eliminar,
racial e comprometem-se a adotar, por todos os proibir e punir, de acordo com suas normas
meios apropriados e sem tardar uma política de constitucionais e com as disposições desta
eliminação da discriminação racial em tôdas as suas Convenção, todos os atos e manifestações de

240
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

formas e de promoção de entendimento entre racismo, discriminação racial e formas correlatas de


tôdas as raças e para êsse fim: intolerância, inclusive:
a) Cada Estado Parte compromete-se a efetuar i. apoio público ou privado a atividades racialmente
nenhum ato ou prática de discriminação racial discriminatórias e racistas ou que promovam a
contra pessoas, grupos de pessoas ou instituições e intolerância, incluindo seu financiamento;
fazer com que tôdas as autoridades públicas
nacionais ou locais, se conformem com esta ii. publicação, circulação ou difusão, por qualquer
obrigação; forma e/ou meio de comunicação, inclusive a
internet, de qualquer material racista ou
b) Cada Estado Parte compromete-se a não racialmente discriminatório que:
encorajar, defender ou apoiar a discriminação racial
praticada por uma pessoa ou uma organização a) defenda, promova ou incite o ódio, a
discriminação e a intolerância; e
qualquer;
c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas b) tolere, justifique ou defenda atos que constituam
eficazes, a fim de rever as políticas governamentais ou tenham constituído genocídio ou crimes contra
nacionais e locais e para modificar, ab-rogar ou a humanidade, conforme definidos pelo Direito
anular qualquer disposição regulamentar que tenha Internacional, ou promova ou incite a prática desses
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como objetivo criar a discriminação ou perpetrá-la atos;


onde já existir; iii. violência motivada por qualquer um dos critérios
d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios estabelecidos no Artigo 1.1;
apropriados, inclusive, se as circunstâncias o iv. atividade criminosa em que os bens da vítima
exigirem, as medidas legislativas, proibir e por fim, sejam alvos intencionais, com base em qualquer um
a discriminação racial praticadas por pessoa, por dos critérios estabelecidos no Artigo 1.1;
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grupo ou das organizações;


v. qualquer ação repressiva fundamentada em
e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer, qualquer dos critérios enunciados no Artigo 1.1, em
quando fôr o caso, as organizações e movimentos vez de basear-se no comportamento da pessoa ou
multi-raciais e outros meios próprios a eliminar as em informações objetivas que identifiquem seu
Silva -- CPF:

barreiras entre as raças e a desencorajar o que envolvimento em atividades criminosas;


da Silva

tende a fortalecer a divisão racial.


vi. restrição, de maneira indevida ou não razoável,
Gouvea da

2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o do exercício dos direitos individuais à propriedade,


Eliovaine Gouvea

exigirem, nos campos social, econômico, cultural e administração e disposição de bens de qualquer
outros, as medidas especiais e concretas para tipo, com base em qualquer dos critérios
Eliovaine

assegurar como convier o desenvolvimento ou a enunciados no Artigo 1.1;


proteção de certos grupos raciais ou de indivíduos
pertencentes a êstes grupos com o objetivo de vii. qualquer distinção, exclusão, restrição ou
garantir-lhes, em condições de igualdade, o pleno preferência aplicada a pessoas, devido a sua
exercício dos direitos do homem e das liberdades condição de vítima de discriminação múltipla ou
fundamentais. agravada, cujo propósito ou resultado seja negar ou
prejudicar o reconhecimento, gozo, exercício ou
Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a proteção, em condições de igualdade, dos direitos e
finalidade de manter direitos desiguais ou distintos liberdades fundamentais;
para os diversos grupos raciais, depois de
alcançados os objetivos em razão dos quais foram viii. qualquer restrição racialmente discriminatória
tomadas. do gozo dos direitos humanos consagrados nos
instrumentos internacionais e regionais aplicáveis e
pela jurisprudência dos tribunais internacionais e
ARTIGO III regionais de direitos humanos, especialmente com
relação a minorias ou grupos em situação de
Os Estados Partes especialmente condenam a vulnerabilidade e sujeitos à discriminação racial;
segregação racial e o apartheid e comprometem-se

241
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a proibir e a eliminar nos territórios sob sua ix. qualquer restrição ou limitação do uso de idioma,
jurisdição tôdas as práticas dessa natureza. tradições, costumes e cultura das pessoas em
atividades públicas ou privadas;
x. elaboração e implementação de material,
métodos ou ferramentas pedagógicas que
reproduzam estereótipos ou preconceitos, com
base em qualquer critério estabelecido no Artigo
1.1 desta Convenção;
xi. negação do acesso à educação pública ou
privada, bolsas de estudo ou programas de
financiamento educacional, com base em qualquer
critério estabelecido no Artigo 1.1 desta
Convenção;
xii. negação do acesso a qualquer direito
econômico, social e cultural, com base em qualquer
critério estabelecido no Artigo 1.1 desta
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Convenção;
xiii. realização de pesquisas ou aplicação dos
resultados de pesquisas sobre o genoma humano,
especialmente nas áreas da biologia, genética e
medicina, com vistas à seleção ou à clonagem
humana, que extrapolem o respeito aos direitos
CPF: 030.720.271-29

humanos, às liberdades fundamentais e à dignidade


humana, gerando qualquer forma de discriminação
fundamentada em características genéticas;
xiv. restrição ou limitação, com base em qualquer
Silva -- CPF:

dos critérios enunciados no Artigo 1.1 desta


da Silva

Convenção, do direito de toda pessoa de obter


acesso à água, aos recursos naturais, aos
Gouvea da

ecossistemas, à biodiversidade e aos serviços


Eliovaine Gouvea

ecológicos que constituem o patrimônio natural de


cada Estado, protegido pelos instrumentos
Eliovaine

internacionais pertinentes e suas próprias


legislações nacionais, bem como de usá-los de
maneira sustentável; e
xv. restrição do acesso a locais públicos e locais
privados franqueados ao público pelos motivos
enunciados no Artigo 1.1 desta Convenção.

Ganha destaque também o compromisso dos Estados de adotarem leis que proibiam propagandas
baseadas em ideologias de superioridade racial:

CONVENÇÃO INTERNACIONAL PARA A CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O


ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE RACISMO, A DISCRIMINAÇÃO RACIAL E FORMAS
DISCRIMINAÇÃO RACIAL CORRELATAS DE INTOLERÂNCIA
CERD CICRDR
ARTIGO IV ARTIGO 7

242
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Os Estados partes condenam toda propaganda e Os Estados Partes comprometem-se a adotar


todas as organizações que se inspirem em ideias ou legislação que defina e proíba expressamente o
teorias baseadas na superioridade de uma raça ou racismo, a discriminação racial e formas correlatas
de um grupo de pessoas de uma certa cor ou de de intolerância, aplicável a todas as autoridades
uma certa origem étnica ou que pretendem públicas, e a todos os indivíduos ou pessoas físicas
justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e de e jurídicas, tanto no setor público como no privado,
discriminação raciais e comprometem-se a adotar especialmente nas áreas de emprego, participação
imediatamente medidas positivas destinadas a em organizações profissionais, educação,
eliminar qualquer incitação a uma tal discriminação, capacitação, moradia, saúde, proteção social,
ou quaisquer atos de discriminação com este exercício de atividade econômica e acesso a
objetivo, tendo em vista os princípios formulados na serviços públicos, entre outras, bem como revogar
Declaração universal dos direitos do homem e os ou reformar toda legislação que constitua ou
direitos expressamente enunciados no artigo 5 da produza racismo, discriminação racial e formas
presente convenção, eles se comprometem correlatas de intolerância.
principalmente:
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a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer


difusão de ideias baseadas na superioridade ou ódio
raciais, qualquer incitamento à discriminação racial,
assim como quaisquer atos de violência ou
provocação a tais atos, dirigidos contra qualquer
raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou
de outra origem étnica, como também qualquer
CPF: 030.720.271-29

assistência prestada a atividades racistas, inclusive


seu financiamento;
b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim
como as atividades de propaganda organizada e
Silva -- CPF:

qualquer outro tipo de atividade de propaganda


que incitar à discriminação racial e que a encorajar
da Silva

e a declarar delito punível por lei a participação


Gouvea da

nestas organizações ou nestas atividades.


Eliovaine Gouvea

c) a não permitir às autoridades públicas nem às


instituições públicas, nacionais ou locais, o
Eliovaine

incitamento ou encorajamento à discriminação


racial.

ARTIGO VII
Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as
medidas imediatas e eficazes, principalmente no
campo do ensino, educação, da cultura e da
informação, para lutas contra os preconceitos que
levem à discriminação racial e para promover, o
entendimento, a tolerância e a amizade entre
nações e grupos raciais e étnicos assim como para
propagar ao objetivo e princípios da Carta das
Nações Unidas, da Declaração Universal dos
Direitos do Homem, da Declaração das Nações
Unidas sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação racial e da presente Convenção.

243
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

10.2.3. Dos direitos protegidos:

Os documentos estudados (CERD, CICRDR e Estatuto da Igualdade) trazem um rol de direitos a serem
protegidos pelo Estado.
Em relação à CICRDR, o capítulo próprio traz apenas dispositivos. Isso se dá porque no capítulo de
obrigações dos Estados, verifica-se verdadeiras clausulas mandamentais aos Estados signatários, de respeito
aos direitos dos indivíduos:
DIREITOS PROTEGIDOS

Artigo 2
Todo ser humano é igual perante a lei e tem direito à igual proteção contra o racismo, a
discriminação racial e formas correlatas de intolerância, em qualquer esfera da vida pública
ou privada.

Artigo 3
Todo ser humano tem direito ao reconhecimento, gozo, exercício e proteção, em condições
de igualdade, tanto no plano individual como no coletivo, de todos os direitos humanos e
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liberdades fundamentais consagrados na legislação interna e nos instrumentos


internacionais aplicáveis aos Estados Partes.

A CERD, por sua vez, traz mais dispositivos sobre direitos dos indivíduos, fazendo uma divisão
topográfica em relação à natureza dos direitos. O Artigo V refere-se aos direitos civis e políticos e direitos
sociais e o Artigo VI diz respeito ao acesso à justiça:
Artigo V
CPF: 030.720.271-29

De conformidade com as obrigações fundamentais enunciadas no artigo 2, os Estados


Partes comprometem-se a proibir e a eliminar a discriminação racial em todas suas formas
e a garantir o direito de cada um à igualdade perante a lei sem distinção de raça , de cor ou
de origem nacional ou étnica, principalmente no gozo dos seguintes direitos:
a) direito a um tratamento igual perante os tribunais ou qualquer outro órgão que
Silva -- CPF:

administre justiça;
b) direito à segurança da pessoa ou à proteção do Estado contra violência ou lesão corporal
da Silva

cometida, quer por funcionários de Governo, quer por qualquer indivíduo, grupo ou
Gouvea da

instituição.
Eliovaine Gouvea

c) direitos políticos principalmente direito de participar às eleições – de votar e ser votado


– conforme o sistema de sufrágio universal e igual, direito de tomar parte no Governo, assim
como na direção dos assuntos públicos, em qualquer grau e o direito de acesso, em
Eliovaine

igualdade de condições, às funções públicas.


d) Outros direitos civis, principalmente,
i) direito de circular livremente e de escolher residência dentro das fronteiras do Estado;
ii) direito de deixar qualquer país, inclusive o seu, e de voltar a seu país;
iii) direito a uma nacionalidade;
iv) direito de casar-se e escolher o cônjuge;
v) direito de qualquer pessoa, tanto individualmente como em conjunto, à propriedade;
vi) direito de herdar;
vii) direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião;
viii) direito à liberdade de opinião e de expressão;
ix) direito à liberdade de reunião e de associação pacífica;
e) direitos econômicos, sociais e culturais, principalmente:
i) direitos ao trabalho, a livre escolha de seu trabalho, a condições equitativas e satisfatórias
de trabalho, à proteção contra o desemprego, a um salário igual para um trabalho igual, a
uma remuneração equitativa e satisfatória;
ii) direito de fundar sindicatos e a eles se filiar;
iii) direito à habitação;
iv) direito à saúde pública, a tratamento médico, à previdência social e aos serviços sociais;
v) direito à educação e à formação profissional;
vi) direito a igual participação das atividades culturais;

244
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

f) Direito de acesso a todos os lugares e serviços destinados ao uso do público, tais como,
meios de transportes, hotéis, restaurantes, cafés, espetáculos e parques.

Artigo VI
Os Estados Partes assegurarão a qualquer pessoa que estiver sob sua jurisdição, proteção e
recursos efetivos perante os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado competentes,
contra quaisquer atos de discriminação racial que, contrariamente à presente Convenção,
violarem seus direitos individuais e suas liberdades fundamentais, assim como o direito de
pedir a esses tribunais uma satisfação ou reparação justa e adequada por qualquer dano de
que foi vítima em decorrência de tal discriminação.

Em relação ao Estatuto da Igualdade, o Título II da Lei (arts. 6º a 46) ditam normas referentes aos
direitos à saúde (arts. 9º e 10), educação (arts. 11 a 16), cultura (arts. 17 a 20), esporte e lazer (arts. 23 a 26),
acesso à terra (arts. 27 a 34), moradia (arts. 35 a 37), trabalho (arts. 38 a 42) e comunicação social (arts. 43 a
46).

10.2.4. Ações afirmativas:

Todos os instrumentos normativos preveem a adoção pelo Estado, de ações afirmativas definidas
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por Flavia Piovesan e Silvio José Albuquerque e Silva como:


As ações afirmativas constituem medidas especiais e temporárias que, buscando remediar
um passado discriminatório, objetivam acelerar o processo de igualdade, com o alcance da
igualdade substantiva por parte de grupos socialmente vulneráveis, como as minorias
étnicas e raciais, dentre outros grupos. Enquanto políticas compensatórias adotadas para
aliviar e remediar as condições resultantes de um passado discriminatório, as ações
CPF: 030.720.271-29

afirmativas objetivam transformar a igualdade formal em igualdade material e substantiva,


assegurando a diversidade e a pluralidade social. As ações afirmativas devem ser
compreendidas tanto pelo prisma retrospectivo (vocacionado a remediar o peso de um
passado discriminatório), como pelo prisma prospectivo (vocacionado a construir um
presente e um futuro marcados pela pluralidade e diversidade étnico-racial). (PIOVESAN e
Silva -- CPF:

SILVA, 2021, p. 10).


da Silva

CONVENÇÃO INTERNACIONAL CONVENÇÃO INTERAMERICANA ESTATUTO DA IGUALDADE


PARA A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS CONTRA O RACISMO, A RACIAL
Gouvea da

FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO DISCRIMINAÇÃO RACIAL E


Eliovaine Gouvea

RACIAL FORMAS CORRELATAS DE


INTOLERÂNCIA
Eliovaine

CERD
CICRDR

ARTIGO I ARTIGO 5 ARTIGO 4


(...)
4. Não serão consideradas Os Estados Partes comprometem- A participação da população
discriminação racial as medidas se a adotar as políticas especiais e negra, em condição de
especiais tomadas com o único ações afirmativas necessárias para igualdade de oportunidade,
objetivo de assegurar progresso assegurar o gozo ou exercício dos na vida econômica, social,
adequado de certos grupos raciais direitos e liberdades fundamentais política e cultural do País
ou étnicos ou de indivíduos que das pessoas ou grupos sujeitos ao será promovida,
necessitem da proteção que possa racismo, à discriminação racial e prioritariamente, por meio
ser necessária para proporcionar a formas correlatas de intolerância, de: (...)
tais grupos ou indivíduos igual gôzo com o propósito de promover
VII - implementação de
ou exercício de direitos humanos e condições equitativas para a
liberdades fundamentais, contanto igualdade de oportunidades, programas de ação
que, tais medidas não conduzam, inclusão e progresso para essas afirmativa destinados ao
em conseqüência, à mauntenção de pessoas ou grupos. Tais medidas ou enfrentamento das
desigualdades étnicas no

245
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

direitos separados para diferentes políticas não serão consideradas tocante à educação, cultura,
grupos raciais e não prossigam após discriminatórias ou incompatíveis esporte e lazer, saúde,
terem sidos alcançados os seus com o propósito ou objeto desta segurança, trabalho,
objetivos. Convenção, não resultarão na moradia, meios de
manutenção de direitos separados comunicação de massa,
para grupos distintos e não se financiamentos públicos,
estenderão além de um período acesso à terra, à Justiça, e
razoável ou após terem alcançado outros.
seu objetivo.
Parágrafo único. Os
programas de ação
afirmativa constituir-se-ão
em políticas públicas
destinadas a reparar as
distorções e desigualdades
sociais e demais práticas
discriminatórias adotadas,
nas esferas pública e privada,
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durante o processo de
formação social do País.

Na execução da referida obrigação, o Estado brasileiro editou duas importantes leis. A Lei nº
12.711/12 e a Lei nº 12.990/14 que se referem à reserva de vagas nas instituições federais de ensino técnico,
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médio e superior; e de vagas oferecidas em concursos públicos para o provimento de cargos efetivos e
empregos públicos da administração direta e indireta da União, respectivamente.
LEI Nº 12.711/12 LEI Nº 12.990/14
Silva -- CPF:

Art. 1º As instituições federais de educação superior Art. 1º Ficam reservadas aos negros 20% (vinte por
vinculadas ao Ministério da Educação reservarão, cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos
da Silva

em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos para provimento de cargos efetivos e empregos
de graduação, por curso e turno, no mínimo 50% públicos no âmbito d a administração pública
Gouvea da

(cinquenta por cento) de suas vagas para federal, das autarquias, das fundações públicas, das
Eliovaine Gouvea

estudantes que tenham cursado integralmente o empresas públicas e das sociedades de economia
ensino médio em escolas públicas. mista controladas pela União, na forma desta Lei.
Eliovaine

Parágrafo único. No preenchimento das vagas de §1º A reserva de vagas será aplicada sempre que o
que trata o caput deste artigo, 50% (cinquenta por número de vagas oferecidas no concurso público for
cento) deverão ser reservados aos estudantes igual ou superior a 3 (três).
oriundos de famílias com renda igual ou inferior a
1,5 salário-mínimo (um salário-mínimo e meio) per §2º Na hipótese de quantitativo fracionado para o
número de vagas reservadas a candidatos negros,
capita.
esse será aumentado para o primeiro número
inteiro subsequente, em caso de fração igual ou
maior que 0,5 (cinco décimos), ou diminuído para
Art. 3º Em cada instituição federal de ensino número inteiro imediatamente inferior, em caso de
superior, as vagas de que trata o art. 1º desta Lei fração menor que 0,5 (cinco décimos).
serão preenchidas, por curso e turno, por
autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por §3º A reserva de vagas a candidatos negros constará
pessoas com deficiência, nos termos da legislação, expressamente dos editais dos concursos públicos,
em proporção ao total de vagas no mínimo igual à que deverão especificar o total de vagas
proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas correspondentes à reserva para cada cargo ou
e pessoas com deficiência na população da emprego público oferecido.
unidade da Federação onde está instalada a
instituição, segundo o último censo da Fundação

246
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - Art. 2º Poderão concorrer às vagas reservadas a


IBGE. (Redação dada pela Lei nº 13.409, de 2016) candidatos negros aqueles que se autodeclararem
pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso
Parágrafo único. No caso de não preenchimento das público, conforme o quesito cor ou raça utilizado
vagas segundo os critérios estabelecidos no caput
pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e
deste artigo, aquelas remanescentes deverão ser Estatística - IBGE.
completadas por estudantes que tenham cursado
integralmente o ensino médio em escolas públicas. Parágrafo único. Na hipótese de constatação de
declaração falsa, o candidato será eliminado do
concurso e, se houver sido nomeado, ficará sujeito
Art. 4º As instituições federais de ensino técnico de à anulação da sua admissão ao serviço ou emprego
nível médio reservarão, em cada concurso seletivo público, após procedimento administrativo em que
para ingresso em cada curso, por turno, no mínimo lhe sejam assegurados o contraditório e a ampla
50% (cinquenta por cento) de suas vagas para defesa, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.
estudantes que cursaram integralmente o ensino
fundamental em escolas públicas.
Art. 3º Os candidatos negros concorrerão
Parágrafo único. No preenchimento das vagas de concomitantemente às vagas reservadas e às vagas
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que trata o caput deste artigo, 50% (cinquenta por destinadas à ampla concorrência, de acordo com a
cento) deverão ser reservados aos estudantes sua classificação no concurso.
oriundos de famílias com renda igual ou inferior a
1,5 salário-mínimo (um salário-mínimo e meio) per §1º Os candidatos negros aprovados dentro do
capita. número de vagas oferecido para ampla
concorrência não serão computados para efeito do
preenchimento das vagas reservadas.
CPF: 030.720.271-29

Art. 5º Em cada instituição federal de ensino técnico §2º Em caso de desistência de candidato negro
de nível médio, as vagas de que trata o art. 4º desta aprovado em vaga reservada, a vaga será
Lei serão preenchidas, por curso e turno, por preenchida pelo candidato negro posteriormente
autodeclarados pretos, pardos e indígenas e por classificado.
Silva -- CPF:

pessoas com deficiência, nos termos da legislação,


em proporção ao total de vagas no mínimo igual à §3º Na hipótese de não haver número de
da Silva

proporção respectiva de pretos, pardos, indígenas e candidatos negros aprovados suficiente para
Gouvea da

pessoas com deficiência na população da unidade ocupar as vagas reservadas, as vagas


Eliovaine Gouvea

da Federação onde está instalada a instituição, remanescentes serão revertidas para a ampla
segundo o último censo do IBGE. (Redação dada pela Lei concorrência e serão preenchidas pelos demais
Eliovaine

nº 13.409, de 2016) candidatos aprovados, observada a ordem de


classificação.
Parágrafo único. No caso de não preenchimento das
vagas segundo os critérios estabelecidos no caput
deste artigo, aquelas remanescentes deverão ser
preenchidas por estudantes que tenham cursado Art. 4º A nomeação dos candidatos aprovados
integralmente o ensino fundamental em escola respeitará os critérios de alternância e
pública. proporcionalidade, que consideram a relação entre
o número de vagas total e o número de vagas
reservadas a candidatos com deficiência e a
candidatos negros.

Art. 5º O órgão responsável pela política de


promoção da igualdade étnica de que trata o §1º do
art. 49 da Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010, será
responsável pelo acompanhamento e avaliação
anual do disposto nesta Lei, nos moldes previstos no
art. 59 da Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010.

247
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Verifica-se da legislação citada, que o principal critério de identificação dos candidatos é a


autodeclaração. Contudo, não se trata de um requisito absoluto, sendo possível a adoção de critérios de
heteroidentificação, com a finalidade de evitar eventuais fraudes. O Supremo Tribunal Federal no julgamento
da ADC 41, declarou a constitucionalidade das Lei n° 12.990/14, e definiu os limites da aferição heterônoma
de identificação:
Direito Constitucional. Ação Direta de Constitucionalidade. Reserva de vagas para negros
em concursos públicos. Constitucionalidade da Lei n° 12.990/2014. Procedência do pedido.
1. É constitucional a Lei n° 12.990/2014, que reserva a pessoas negras 20% das vagas
oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos
no âmbito da administração pública federal direta e indireta, por três fundamentos.
1.1. Em primeiro lugar, a desequiparação promovida pela política de ação afirmativa em
questão está em consonância com o princípio da isonomia. Ela se funda na necessidade de
superar o racismo estrutural e institucional ainda existente na sociedade brasileira, e
garantir a igualdade material entre os cidadãos, por meio da distribuição mais equitativa de
bens sociais e da promoção do reconhecimento da população afrodescendente.
1.2. Em segundo lugar, não há violação aos princípios do concurso público e da eficiência. A
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reserva de vagas para negros não os isenta da aprovação no concurso público. Como
qualquer outro candidato, o beneficiário da política deve alcançar a nota necessária para
que seja considerado apto a exercer, de forma adequada e eficiente, o cargo em questão.
Além disso, a incorporação do fator “raça” como critério de seleção, ao invés de afetar o
princípio da eficiência, contribui para sua realização em maior extensão, criando uma
“burocracia representativa”, capaz de garantir que os pontos de vista e interesses de toda
a população sejam considerados na tomada de decisões estatais.
1.3. Em terceiro lugar, a medida observa o princípio da proporcionalidade em sua tríplice
CPF: 030.720.271-29

dimensão. A existência de uma política de cotas para o acesso de negros à educação


superior não torna a reserva de vagas nos quadros da administração pública desnecessária
ou desproporcional em sentido estrito. Isso porque: (i) nem todos os cargos e empregos
públicos exigem curso superior; (ii) ainda quando haja essa exigência, os beneficiários da
ação afirmativa no serviço público podem não ter sido beneficiários das cotas nas
Silva -- CPF:

universidades públicas; e (iii) mesmo que o concorrente tenha ingressado em curso de


ensino superior por meio de cotas, há outros fatores que impedem os negros de competir
da Silva

em pé de igualdade nos concursos públicos, justificando a política de ação afirmativa


Gouvea da

instituída pela Lei n° 12.990/2014.


Eliovaine Gouvea

2. Ademais, a fim de garantir a efetividade da política em questão, também é constitucional


a instituição de mecanismos para evitar fraudes pelos candidatos. É legítima a utilização,
além da autodeclaração, de critérios subsidiários de heteroidentificação (e.g., a exigência
Eliovaine

de autodeclaração presencial perante a comissão do concurso), desde que respeitada a


dignidade da pessoa humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa.
3. Por fim, a administração pública deve atentar para os seguintes parâmetros: (i) os
percentuais de reserva de vaga devem valer para todas as fases dos concursos; (ii) a reserva
deve ser aplicada em todas as vagas oferecidas no concurso público (não apenas no edital
de abertura); (iii) os concursos não podem fracionar as vagas de acordo com a
especialização exigida para burlar a política de ação afirmativa, que só se aplica em
concursos com mais de duas vagas; e (iv) a ordem classificatória obtida a partir da aplicação
dos critérios de alternância e proporcionalidade na nomeação dos candidatos aprovados
deve produzir efeitos durante toda a carreira funcional do beneficiário da reserva de vagas.
4. Procedência do pedido, para fins de declarar a integral constitucionalidade da Lei n°
12.990/2014. Tese de julgamento: “É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas
nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito
da administração pública direta e indireta. É legítima a utilização, além da autodeclaração,
de critérios subsidiários de heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa
humana e garantidos o contraditório e a ampla defesa”. (ADC 41, Relator(a): ROBERTO
BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 8/6/2017, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-180 DIVULG
16-08-2017 PUBLIC 17-08-2017)

248
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Quanto às vagas destinadas em unidades de ensino federal, o Supremo Tribunal Federal já havia
decidido por sua constitucionalidade na ADPF nº186:
ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. ATOS QUE INSTITUÍRAM
SISTEMA DE RESERVA DE VAGAS COM BASE EM CRITÉRIO ÉTNICO-RACIAL (COTAS) NO
PROCESSO DE SELEÇÃO PARA INGRESSO EM INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO SUPERIOR.
ALEGADA OFENSA AOS ARTS. 1º, CAPUT, III, 3º, IV, 4º, VIII, 5º, I, II XXXIII, XLI, LIV, 37, CAPUT,
205, 206, CAPUT, I, 207, CAPUT, E 208, V, TODOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. AÇÃO
JULGADA IMPROCEDENTE.
I – Não contraria - ao contrário, prestigia – o princípio da igualdade material, previsto no
caput do art. 5º da Carta da República, a possibilidade de o Estado lançar mão seja de
políticas de cunho universalista, que abrangem um número indeterminados de indivíduos,
mediante ações de natureza estrutural, seja de ações afirmativas, que atingem grupos
sociais determinados, de maneira pontual, atribuindo a estes certas vantagens, por um
tempo limitado, de modo a permitir-lhes a superação de desigualdades decorrentes de
situações históricas particulares.
II – O modelo constitucional brasileiro incorporou diversos mecanismos institucionais para
corrigir as distorções resultantes de uma aplicação puramente formal do princípio da
igualdade.
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III – Esta Corte, em diversos precedentes, assentou a constitucionalidade das políticas de


ação afirmativa.
IV – Medidas que buscam reverter, no âmbito universitário, o quadro histórico de
desigualdade que caracteriza as relações étnico-raciais e sociais em nosso País, não podem
ser examinadas apenas sob a ótica de sua compatibilidade com determinados preceitos
constitucionais, isoladamente considerados, ou a partir da eventual vantagem de certos
critérios sobre outros, devendo, ao revés, ser analisadas à luz do arcabouço principiológico
sobre o qual se assenta o próprio Estado brasileiro.
CPF: 030.720.271-29

V - Metodologia de seleção diferenciada pode perfeitamente levar em consideração


critérios étnico-raciais ou socioeconômicos, de modo a assegurar que a comunidade
acadêmica e a própria sociedade sejam beneficiadas pelo pluralismo de ideias, de resto, um
dos fundamentos do Estado brasileiro, conforme dispõe o art. 1º, V, da Constituição.
VI - Justiça social, hoje, mais do que simplesmente redistribuir riquezas criadas pelo esforço
Silva -- CPF:

coletivo, significa distinguir, reconhecer e incorporar à sociedade mais ampla valores


culturais diversificados, muitas vezes considerados inferiores àqueles reputados
da Silva

dominantes.
Gouvea da

VII – No entanto, as políticas de ação afirmativa fundadas na discriminação reversa apenas


Eliovaine Gouvea

são legítimas se a sua manutenção estiver condicionada à persistência, no tempo, do


quadro de exclusão social que lhes deu origem. Caso contrário, tais políticas poderiam
converter-se benesses permanentes, instituídas em prol de determinado grupo social, mas
Eliovaine

em detrimento da coletividade como um todo, situação – é escusado dizer – incompatível


com o espírito de qualquer Constituição que se pretenda democrática, devendo, outrossim,
respeitar a proporcionalidade entre os meios empregados e os fins perseguidos.
VIII – Arguição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente.
(ADPF 186, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 26/4/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-205 DIVULG 17-10-2014 PUBLIC 20-10-2014 RTJ VOL-00230-
01 PP-00009)

Há de se destacar que enquanto a Lei nº 12.711/12 prevê o prazo de 10 anos para a revisão dos
critérios de reservas de vagas, a Lei nº 12.990/14, prevê sua vigência no prazo de 10 anos. Logo, caso não
haja alteração futura, a Lei nº 12.990/14 terá vigência até 9 de junho de 2024:
LEI Nº 12.711/12 LEI Nº 12.990/14

Art. 7º No prazo de dez anos a contar da data de Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua
publicação desta Lei, será promovida a revisão do publicação e terá vigência pelo prazo de 10 (dez)
programa especial para o acesso às instituições de anos.
educação superior de estudantes pretos, pardos e
indígenas e de pessoas com deficiência, bem como
daqueles que tenham cursado integralmente o

249
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

ensino médio em escolas públicas. (Redação dada Brasília, 9 de junho de 2014; 193º da Independência
pela Lei nº 13.409, de 2016) e 126º da República.

10.2.5. Sistemas de monitoramento:

A CERD tem como sistema de monitoramento o de relatórios, de comunicações interestatais e de


peticionamento individual.
No primeiro sistema os Estados remeterão ao Comitê CERD relatório sobre medidas legislativas,
judiciárias e administrativas que adotaram para o efetivo cumprimento da Convenção. Caberá ao Comitê
elaborar relatório anual à Assembleia Geral da ONU sobre as informações recebidas, inserindo sugestões e
recomendações:
Artigo IX
1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao Secretário Geral, para exame do
Comitê, um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras
que tomarem para tornarem efetivas as disposições da presente Convenção:
eliovaine@hotmail·com
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a) dentro do prazo de um ano a partir da entrada em vigor da Convenção, para cada Estado
interessado no que lhe diz respeito, e posteriormente, cada dois anos, e toda vez que o
Comitê o solicitar. O Comitê poderá solicitar informações complementares aos Estados
Partes.
2. O Comitê submeterá anualmente à Assembléia Geral, um relatório sobre suas atividades
e poderá fazer sugestões e recomendações de ordem geral baseadas no exame dos
relatórios e das informações recebidas dos Estados Partes. Levará estas sugestões e
CPF: 030.720.271-29

recomendações de ordem geral ao conhecimento da Assembléia Geral, e, se as houver,


juntamente com as observações dos Estados Partes.

No sistema de comunicação interestatais, um Estado poderá levar ao Comitê informações sobre


eventual descumprimento do tratado por outro Estado signatário. Ao receber a comunicação o Comitê abrirá
Silva -- CPF:

um prazo de 3 meses para o Estado destinatário se manifestar por escrito. Recebidas as informações o Comitê
CERD decidirá em 6 meses, caso os Estados litigantes não tenham chegado a uma composição bilateral:
da Silva

Artigo XI
Gouvea da

1. Se um Estado Parte julgar que outro Estado igualmente Parte não aplica as disposições
Eliovaine Gouvea

da presente Convenção, poderá chamar a atenção do Comitê sobre a questão. O Comitê


transmitirá, então, a comunicação ao Estado Parte interessado. Num prazo de três meses,
Eliovaine

o Estado destinatário submeterá ao Comitê as explicações ou declarações por escrito, a fim


de esclarecer a questão e indicar as medidas corretivas que por acaso tenham sido tomadas
pelo referido Estado.
2. Se, dentro de um prazo de seis meses a partir da data do recebimento da comunicação
original pelo Estado destinatário a questão não foi resolvida a contento dos dois estados,
por meio de negociações bilaterais ou por qualquer outro processo que estiver a sua
disposição, tanto um como o outro terão o direito de submetê-la novamente ao Comitê,
endereçando uma notificação ao Comitê assim como ao outro Estado interessado.
3. O Comitê só poderá tomar conhecimento de uma questão, de acordo com o parágrafo 2
do presente artigo, após ter constatado que todos os recursos internos disponíveis foram
interpostos ou esgotados, de conformidade com os princípios do direito internacional
geralmente reconhecidos. Esta regra não se aplicará se os procedimentos de recurso
excederem prazos razoáveis.
4. Em qualquer questão que lhe for submetida, o Comitê poderá solicitar aos Estados-Partes
presentes que lhe forneçam quaisquer informações complementares pertinentes.
5. Quando o Comitê examinar uma questão conforme o presente Artigo os Estados-Partes
interessados terão o direito de nomear um representante que participará sem direito de
voto dos trabalhos no Comitê durante todos os debates.

Artigo XII

250
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

1. a) Depois que o Comitê obtiver e consultar as informações que julgar necessárias, o


Presidente nomeará uma Comissão de Conciliação ad hoc (doravante denominada “A
Comissão”), composta de 5 pessoas que poderão ser ou não membros do Comitê. Os
membros serão nomeados com o consentimento pleno e unânime das partes na
controvérsia e a Comissão fará seus bons ofícios à disposição dos Estados presentes, com o
objetivo de chegar a uma solução amigável da questão, baseada no respeito à presente
Convenção.
b) Se os Estados Partes na controvérsia não chegarem a um entendimento em relação a
toda ou parte da composição da Comissão num prazo de três meses, os membros da
Comissão que não tiverem o assentimento do Estados Partes, na controvérsia, serão eleitos
por escrutínio secreto – entre os membros do Comitê por maioria de dois terços dos
membros do Comitê.
2. Os membros da Comissão atuarão a título individual. Não deverão ser nacionais de um
dos Estados-Partes na controvérsia nem de um Estado que não seja parte da presente
Convenção.
3. A Comissão elegerá seu Presidente e adotará seu regulamento interno.
4. A Comissão reunir-se-á normalmente na sede nas Nações Unidas ou em qualquer outro
lugar apropriado que a Comissão determinar.
5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10 prestará igualmente seus serviços à
eliovaine@hotmail·com
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Comissão cada vez que uma controvérsia entre os Estados Partes provocar sua formação.
6. Todas as despesas dos membros da Comissão serão divididas igualmente entre os
Estados-Partes na controvérsia baseadas num cálculo estimativo feito pelo Secretário-
Geral.
7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for necessário, as despesas dos membros
da Comissão, antes que o reembolso seja efetuado pelos Estados-Partes na controvérsia,
de conformidade com o parágrafo 6 do presente artigo.
8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comitê serão postas à disposição da
CPF: 030.720.271-29

Comissão, e a Comissão poderá solicitar aos Estados interessados de lhe fornecer qualquer
informação complementar pertinente.

Artigo XIII
Silva -- CPF:

1. Após haver estudado a questão sob todos os seus aspectos, a Comissão preparará e
submeterá ao Presidente do Comitê um relatório com as conclusões sobre todas as
questões de fato relativas à controvérsia entre as partes e as recomendações que julgar
da Silva

oportunas a fim de chegar a uma solução amistosa da controvérsia.


Gouvea da

2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da Comissão a cada um dos Estados Partes


Eliovaine Gouvea

na controvérsia. Os referidos Estados comunicarão ao Presidente do Comitê num prazo de


três meses se aceitam ou não, as recomendações contidas no relatório da Comissão.
Eliovaine

3. Expirado o prazo previsto no parágrafo 2º do presente artigo, o Presidente do Comitê


comunicará o Relatório da Comissão e as declarações dos Estados partes interessadas aos
outros Estados Partes na Comissão.

Em relação à CICRDR, há a previsão dos sistemas de peticionamento individual e comunicações


interestatais, dirigidas à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sendo possível a remessa do caso à
Corte IDH:
Artigo 15
A fim de monitorar a implementação dos compromissos assumidos pelos Estados Partes na
Convenção:
i. qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental juridicamente
reconhecida em um ou mais Estados membros da Organização dos Estados Americanos,
pode apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos petições que contenham
denúncias ou queixas de violação desta Convenção por um Estado Parte. Além disso,
qualquer Estado Parte pode, quando do depósito de seu instrumento de ratificação desta
Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece
a competência da Comissão para receber e examinar as comunicações em que um Estado
Parte alegue que outro Estado Parte incorreu em violações dos direitos humanos dispostas
nesta Convenção. Nesse caso, serão aplicáveis todas as normas de procedimento
pertinentes constantes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos assim como o
Estatuto e o Regulamento da Comissão;

251
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

ii. os Estados Partes poderão consultar a Comissão sobre questões relacionadas com a
aplicação efetiva desta Convenção. Poderão também solicitar à Comissão assessoria e
cooperação técnica para assegurar a aplicação efetiva de qualquer disposição desta
Convenção. A Comissão, na medida de sua capacidade, proporcionará aos Estados Partes
os serviços de assessoria e assistência solicitados;
iii. qualquer Estado Parte poderá, ao depositar seu instrumento de ratificação desta
Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior, declarar que reconhece
como obrigatória, de pleno direito, e sem acordo especial, a competência da Corte
Interamericana de Direitos Humanos em todas as matérias referentes à interpretação ou
aplicação desta Convenção. Nesse caso, serão aplicáveis todas as normas de procedimento
pertinentes constantes da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, bem como o
Estatuto e o Regulamento da Corte;

A Convenção Interamericana ainda prevê a criação de um Comitê de Prevenção e Eliminação do


Racismo, Discriminação Racial e Todas as Formas de Discriminação e Intolerância para monitorar o
cumprimento das disposições da convenção:
Artigo 15
(...)
iv. será estabelecido um Comitê Interamericano para a Prevenção e Eliminação do Racismo,
eliovaine@hotmail·com
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Discriminação Racial e Todas as Formas de Discriminação e Intolerância, o qual será


constituído por um perito nomeado por cada Estado Parte, que exercerá suas funções de
maneira independente e cuja tarefa será monitorar os compromissos assumidos nesta
Convenção. O Comitê também será responsável por monitorar os compromissos assumidos
pelos Estados que são partes na Convenção Interamericana contra Toda Forma de
Discriminação e Intolerância. O Comitê será criado quando a primeira das Convenções
entrar em vigor, e sua primeira reunião será convocada pela Secretaria-Geral da OEA uma
CPF: 030.720.271-29

vez recebido o décimo instrumento de ratificação de qualquer das Convenções. A primeira


reunião do Comitê será realizada na sede da Organização, três meses após sua convocação,
para declará-lo constituído, aprovar seu Regulamento e metodologia de trabalho e eleger
suas autoridades. Essa reunião será presidida pelo representante do país que depositar o
primeiro instrumento de ratificação da Convenção que estabelecer o Comitê; e
Silva -- CPF:

v. o Comitê será o foro para intercambiar ideias e experiências, bem como examinar o
progresso alcançado pelos Estados Partes na implementação desta Convenção, e qualquer
da Silva

circunstância ou dificuldade que afete seu cumprimento em alguma medida. O referido


Comitê poderá recomendar aos Estados Partes que adotem as medidas apropriadas. Com
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

esse propósito, os Estados Partes comprometem-se a apresentar um relatório ao Comitê,


transcorrido um ano da realização da primeira reunião, com o cumprimento das obrigações
constantes desta Convenção. Dos relatórios que os Estados Partes apresentarem ao Comitê
Eliovaine

também constarão dados e estatísticas desagregados sobre os grupos vulneráveis.


Posteriormente, os Estados Partes apresentarão relatórios a cada quatro anos. A Secretaria-
Geral da OEA proporcionará ao Comitê o apoio necessário para o cumprimento de suas
funções.

O Estatuto da Igualdade Racial, por sua vez, prevê a criação do Sistema Nacional de Promoção da
Igualdade Racial (Sinapir), com o intuito de implementar políticas e serviços destinados a superar as
desigualdades existentes no Brasil. Estados, Municípios e o Distrito Federal poderão participar do SINAPIR:
Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir) como
forma de organização e de articulação voltadas à implementação do conjunto de políticas
e serviços destinados a superar as desigualdades étnicas existentes no País, prestados pelo
poder público federal.
§1º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão participar do Sinapir mediante
adesão.
§2º O poder público federal incentivará a sociedade e a iniciativa privada a participar do
Sinapir.

O SINAPIR será organizado em âmbito nacional, e tem os seguintes objetivos:


Art. 48. São objetivos do Sinapir:

252
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

I - promover a igualdade étnica e o combate às desigualdades sociais resultantes do


racismo, inclusive mediante adoção de ações afirmativas;
II - formular políticas destinadas a combater os fatores de marginalização e a promover a
integração social da população negra;
III - descentralizar a implementação de ações afirmativas pelos governos estaduais, distrital
e municipais;
IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à promoção da igualdade étnica;
V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados para a implementação das ações
afirmativas e o cumprimento das metas a serem estabelecidas.

Além do acesso aos órgãos essenciais à Justiça, como a Defensoria Pública e o Ministério Público, a
lei prevê a criação de ouvidorias no âmbito dos três poderes, para o recebimento de denúncias de
preconceito e discriminação.
Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e no âmbito dos Poderes
Legislativo e Executivo, Ouvidorias Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para
receber e encaminhar denúncias de preconceito e discriminação com base em etnia ou cor
e acompanhar a implementação de medidas para a promoção da igualdade.

Ganha destaque ainda o reconhecimento de um múltiplo fator de vulnerabilidade, em relação às


eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

mulheres negras em situação de violência, em que a Lei prevê expressamente a especial atenção a ser
prestada pelo Estado:
Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o acesso aos órgãos de Ouvidoria
Permanente, à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em todas as
suas instâncias, para a garantia do cumprimento de seus direitos.
Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres negras em situação de violência,
CPF: 030.720.271-29

garantida a assistência física, psíquica, social e jurídica.

QUESTÕES
281. (FUMARC - 2022 - PC-MG - Analista da Polícia Civil) A respeito da Convenção Interamericana Contra o
Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância (2013), NÃO é correto afirmar:
Silva -- CPF:

a) Considera que a discriminação racial pode basear-se em raça, cor, ascendência ou origem nacional ou
da Silva

étnica.
b) Define crimes e penas para os casos de racismo, discriminação racial e formas correlatas de intolerância.
Gouvea da

c) Estabelece que todo ser humano é igual perante a lei e tem direito à igual proteção contra o racismo, a
Eliovaine Gouvea

discriminação racial e formas correlatas de intolerância, em qualquer esfera da vida pública ou privada.
d) Foi aprovada pelo Congresso Nacional nos termos do §3° do artigo 5º da Constituição da República de
Eliovaine

1988 e incorporada ao direito brasileiro com status de Emenda Constitucional, após sua promulgação
pelo Presidente da República.

282. (CESPE / CEBRASPE – 2022 – DPE-DF – Analista) A Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas
as Formas de Discriminação Racial aponta o necessário comprometimento dos Estados-partes na
eliminação da discriminação racial em todas as suas formas, garantindo principalmente o direito a igual
tratamento perante os tribunais, o direito à segurança e à proteção do Estado contra a violência ou a
lesão corporal e os direitos políticos.

283. (FGV – 2022 – DPE-MS – Defensor Público Substituto) O discurso de ódio (hate speech) racial é a
manifestação de ideias que incitam a intolerância e a discriminação de raça contra determinado grupo,
extrapolando ilegalmente a liberdade de expressão, com violação à Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.
a) Tal convenção prevê que os Estados-partes condenem a discriminação racial e comprometam-se a
adotar, por todos os meios apropriados e sem tardar, uma política de eliminação da discriminação racial
em todas as suas formas e de promoção de entendimento entre todas as raças, e, para esse fim, cada
Estado-parte:

253
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

b) compromete-se a tratar com igualdade formal, sem favorecimento, as organizações e movimentos


multirraciais que visam a eliminar o racismo estrutural;
c) compromete-se a não encorajar, defender ou apoiar a discriminação racial praticada por uma pessoa ou
uma organização qualquer;
d) deve, por todos os meios de competência do Poder Executivo, combater a discriminação racial praticada
por pessoa ou grupo, não havendo referência às medidas legislativas, diante do princípio da separação
dos poderes;
e) deve adotar medidas eficazes, a fim de instituir novas políticas governamentais que tenham por objetivo
combater a discriminação, vedada a adoção de ações afirmativas, que são consideradas discriminação às
avessas.

284. (FUMARC - 2021 - PC-MG - Escrivão de Polícia I) A respeito da Convenção Internacional sobre a
Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, NÃO é correto afirmar:
a) Admite a adoção de ações que objetivam transformar a igualdade formal em igualdade material e
substantiva, assegurando a diversidade e a pluralidade social.
b) Apresentou como precedentes históricos o ingresso de dezessete novos países africanos nas Nações
Unidas em 1960, bem como o ressurgimento de atividades nazifascistas na Europa e as preocupações
ocidentais com o antissemitismo.
eliovaine@hotmail·com
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c) Consagra a Convenção exclusivamente a vertente repressivo-punitiva, pela qual é dever dos Estados
proibir e eliminar a discriminação racial.
d) Foi o primeiro instrumento jurídico internacional sobre direitos humanos a introduzir mecanismo próprio
de supervisão para examinar petições individuais, relatórios encaminhados pelos Estados-partes e
comunicações interestatais.
CPF: 030.720.271-29

285. (FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) O “racismo estrutural”, consoante Silvio Luiz de Almeida,
a) é produto de uma patologia social e de um desarranjo institucional, sendo um fenômeno incontornável,
revelando-se inúteis as ações e políticas institucionais antirracistas.
b) é resultante da produção de padrões de comportamento e conduta de instituições hegemonizadas por
Silva -- CPF:

determinados grupos raciais que impõem seus interesses políticos e econômicos ao restante da
sociedade.
da Silva

c) decorre unicamente de indivíduos e grupos estruturalmente racistas.


Gouvea da

d) é uma decorrência da forma com que se constituem as relações sociais, de modo que o direito faz parte
Eliovaine Gouvea

da mesma estrutura social que o reproduz enquanto prática política e como ideologia.
e) é uma manifestação irracional do Estado moderno, que funciona norteado pela impessoalidade e pela
Eliovaine

técnica, de maneira que o direito é o melhor instrumento para combatê-lo, seja punindo criminal e
civilmente os racistas, seja estruturando políticas públicas de promoção de igualdade.

286. (FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial estabelece que os Estados-partes condenem toda propaganda e todas as
organizações que se inspirem em ideias ou teorias baseadas na superioridade de uma raça ou de um
grupo de pessoas de uma certa cor ou de uma certa origem ética ou que pretendem justificar ou
encorajar qualquer forma de ódio e de discriminação raciais, prevendo expressamente a adoção das
seguintes medidas positivas expressamente destinadas a eliminar qualquer incitação à discriminação:
a) estabelecer proteção e recursos efetivos perante os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado
competentes, contra quaisquer atos de discriminação racial.
b) declarar delitos puníveis por lei qualquer difusão de ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais e
qualquer incitamento à discriminação racial.
c) condenar a segregação racial e o apartheid e comprometer-se a proibir e a eliminar, nos territórios sob
sua jurisdição, todas as práticas dessa natureza.
d) assegurar medidas especiais como convier ao desenvolvimento ou à proteção de certos grupos raciais
ou de indivíduos pertencentes a esses grupos contra quaisquer atos de discriminação racial.
e) assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da
proteção que possa ser necessária contra quaisquer atos de segregação racial.

254
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

287. (FCC - 2018 - DPE-MA - Defensor Público) A convenção sobre a eliminação de todas as formas de
discriminação racial,
a) inclui no âmbito da “discriminação racial”, que busca eliminar, aquela baseada em raça, cor, etnia,
religião, descendência e origem nacional.
b) obriga os Estados-Membros a oferecer proteção especial aos grupos étnicos historicamente vitimizados
por discriminação violenta, destinando, se as circunstâncias o exigirem, parte de seu território, para
assentamento seguro e protegido destas populações.
c) prevê a criação do Comitê sobre a Eliminação da Discriminação Racial, cuja jurisdição se limita à análise
de relatórios periódicos dos Estados-Membros, vedado, em qualquer caso, o recebimento e o exame de
denúncias enviadas por indivíduos ou grupos de indivíduos pertencente a algum dos Estados-Membros.
d) obriga os Estados-Membros, em qualquer circunstância, a adotarem ações afirmativas de caráter
permanente que assegurem aos grupos historicamente discriminados, pelo exercício de direitos e
privilégios distintos, a igualdade no gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais.
e) não se aplica às distinções, exclusões, restrições e preferências feitas por um Estado-Membro entre
cidadãos e não-cidadãos.
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288. (CESPE/ CEBRASPE - 2017 - TRF - 5ª REGIÃO - Juiz Federal Substituto) Com base no princípio da
igualdade, o STF julgou constitucional a Lei das Cotas Raciais (Lei n° 12.990/2014), que reserva para
negros o percentual de vinte por cento das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de
cargos efetivos e empregos públicos. De acordo com o STF, contudo, tal percentual abrange apenas a
administração
a) direta, autárquica e fundacional do Poder Executivo federal.
b) pública federal direta e indireta, no âmbito dos três Poderes.
CPF: 030.720.271-29

c) pública federal, estadual, distrital e municipal, no âmbito do respectivo Poder Executivo.


d) direta do Poder Executivo federal.
e) direta e indireta do Poder Executivo federal.
Silva -- CPF:

289. (CESPE/ CEBRASPE - 2018 - MPU - Analista do MPU) Medidas que visem garantir a certo grupo de
da Silva

minorias a superação de barreiras resultantes de desigualdade histórica e impeditivas ao exercício pleno


de direitos e garantias fundamentais não devem ser consideradas discriminatórias, pois representam
Gouvea da

compromisso com a promoção de valores universais concernentes à paz e à igualdade entre diferentes
Eliovaine Gouvea

povos, raças e nações.


Eliovaine

290. (CESPE/ CEBRASPE - 2018 - MPU - Analista do MPU) Situação hipotética: O professor de história de
uma escola pública de ensino fundamental está temporariamente impedido pela direção de continuar
ministrando conteúdos sobre história e cultura da África. A medida foi tomada após a associação de pais
ter alegado que o professor havia abordado o tema religiões africanas em uma aula, o que, para a
associação, é incompatível com a educação formal.
Assertiva: Embora o professor, por força da lei, deva ministrar conteúdos sobre história e cultura da África,
o ordenamento jurídico veda que ele trate de temas de cunho religioso, porque isso fere o princípio da
laicidade do Estado.

291. (CESPE/ CEBRASPE - 2018 - MPU - Analista do MPU) Embora a legislação brasileira preveja proteção
contra discriminação racial, não existe definição legal para o termo população negra, uma vez que a
miscigenação característica da população brasileira inviabiliza tal definição.

292. (NUCEPE - 2018 - PC-PI - Delegado de Polícia Civil) De acordo com o disposto na Convenção
Internacional sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial, marque a alternativa
CORRETA:

255
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

a) Segundo a convenção a expressão “discriminação racial” significa: toda distinção, exclusão, restrição ou
preferência baseada em raça, idade, cor, descendência ou origem nacional ou étnica, grau de
escolaridade, que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício
em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos
campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública.
b) Serão consideradas discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar
o progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção
que possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos
humanos e liberdades fundamentais.
c) Os Estados Membros condenam toda propaganda e todas as organizações que se inspirem em ideias ou
teorias baseadas na superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de uma certa cor ou de uma
certa origem étnica ou que pretendam justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e de discriminação
raciais.
d) Os Estados Membros assegurarão, a seus nacionais somente, proteção e recursos eficazes perante os
tribunais nacionais e outros órgãos do Estado, competentes, contra quaisquer atos de discriminação
racial e que, contrariamente à presente Convenção, violarem seus diretos individuais e suas liberdades
fundamentais, assim como o direito de expressar a sua tribunas uma satisfação ou reparação justa e
adequada, por qualquer dano, de expressar que foi vítima, em decorrência tal discriminação.
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e) Os Estados Membros comprometem-se a não encorajar, ou apoiar a discriminação racial praticada por
uma pessoa, entretanto não poderá tomar medidas legislativas ou políticas que ainda não existam para
modificar ou anular tal discriminação.

293. (PGR - 2015 - PGR - Procurador da República – ADAPTADA) O Comitê pela eliminação de toda forma de
discriminação racial pode apreciar petição de um Estado parte em face de conduta de outro Estado
CPF: 030.720.271-29

parte, não sendo necessário o esgotamento prévio dos recursos internos, devido a peculiaridades das
demandas interestatais.
Silva -- CPF:

294. (FCC - 2016 - CREMESP - Analista de Gestão de Pessoas) A Lei n° 12.990/2014, sobre a “Reserva aos
negros 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos
da Silva

efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações
Gouvea da

públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela União”, dispõe
Eliovaine Gouvea

que
a) por se constituir como ação afirmativa, seja estabelecido percentual igual ao das cotas para pessoas com
Eliovaine

deficiência.
b) a definição de cor seja dada pela pessoa no ato da inscrição no concurso, autodeclarando-se negra ou
parda, sendo essa declaração passível de verificação e contestação e, se comprovada declaração falsa,
acarretará em perda da vaga.
c) nos concursos públicos, pessoas com deficiência e de cor negra concorram às mesmas vagas.
d) se não houver inscrição de candidatos negros, as vagas reservadas não poderão ser disponibilizadas para
os demais concorrentes.
e) no caso de uma pessoa negra ser aprovada e desistir da vaga, ela não poderá concorrer a outro concurso
da mesma natureza por um período de dois anos.

295. (FCC - 2014 - DPE-RS - Defensor Público) O enfrentamento das discriminações que, no Brasil, estão
proibidas por força da Constituição Federal e dos tratados internacionais de direitos humanos dos quais
o país é signatário, atualmente tem discussão em um campo próprio, conhecido como “direito da
antidiscriminação”. Nesse campo, e considerando os conceitos legais vigentes, considera-se
discriminação indireta a
a) adoção de medidas com aparência de neutralidade, mas que são concebidas intencionalmente para
atingir e prejudicar determinados indivíduos ou grupos.
b) instituição, pelo poder público, de medida em evidente violação a um critério proibido de discriminação.

256
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

c) diferenciação ilegítima, com o propósito de prejuízo, por meio de tratamento menos favorável
direcionado a um indivíduo ou grupo.
d) adoção de medidas, decisões ou práticas com a aparência de neutralidade que têm o efeito ou resultam
em um impacto diferenciado ilegítimo sobre um indivíduo ou grupo.
e) aplicação ou execução, de forma manifestamente desigual, de uma lei neutra.

296. (VUNESP - 2014 - DPE-MS - Defensor Público) “Direito à segurança da pessoa ou à proteção do Estado
contra violência ou lesão corporal cometida, quer por funcionários de Governo, quer por qualquer
indivíduo, grupo ou instituição” é um compromisso dos Estados partes que consta da
a) Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
b) Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial.
c) Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher.
d) Convenção sobre os Direitos da Criança.

297. (FCC - 2013 - PGE-BA – Analista) São objetivos do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial -
SINAPIR:
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a) Articular planos, ações e mecanismos voltados a reprimir a prática de crimes raciais e implementar ações
afirmativas.
b) Promover a igualdade étnica e o combate às desigualdades sociais resultantes da intolerância, inclusive
mediante adoção de políticas públicas de integração.
c) Coordenar as ações afirmativas dos governos estaduais, distrital e municipais e formular políticas sociais
educativas.
d) Formular políticas destinadas a combater os fatores de marginalização e a promover a integração social
CPF: 030.720.271-29

da população negra.
e) Promover, com a colaboração da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o censo
demográfico da população negra e promover a integração internacional da população negra.
Silva -- CPF:

298. (CESPE/CEBRASPE – 2013 – DPE-RR – Defensor Público) A respeito da Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, assinale a opção correta.
da Silva

a) Os signatários da convenção em apreço devem apresentar, pelo menos uma vez, a cada seis anos,
Gouvea da

relatório concernente às medidas adotadas no respectivo Estado-parte para a efetivação das disposições
Eliovaine Gouvea

acordadas.
b) A tipificação penal da difusão de ideias embasadas no ódio racial é medida imposta por essa convenção.
Eliovaine

c) A exclusão, distinção, restrição ou preferência embasada na raça, cor, descendência ou origem étnica
esgotam as modalidades de discriminação proibidas pela convenção em pauta.
d) O Comitê Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial receberá comunicações de indivíduos
ou grupos de indivíduos, relativas a qualquer Estado-parte da referida convenção, independentemente
da declaração prévia do Estado-parte sobre a aceitação da competência do comitê.
e) Até o ano de 2012, o Brasil não havia reconhecido a competência do Comitê Internacional para a
Eliminação da Discriminação Racial.

299. (CESPE/CEBRSPE - 2012 - DPE-ES - Defensor Público) Nos termos da Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, a exclusão de direitos baseada unicamente na
origem nacional também poderá caracterizar discriminação racial.

300. (CESPE/CEBRSPE - 2012 - DPE-SE - Defensor Público) De acordo com as disposições da Convenção
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial,
a) as disposições da referida convenção não implicam em restrição alguma às disposições legais dos
Estados-partes sobre nacionalidade, cidadania e naturalização.
b) os elementos relevantes para a caracterização da discriminação racial se restringem à raça, à cor e à
origem étnica.

257
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

c) a origem nacional, por si só, não é elemento relevante para a caracterização da discriminação racial.
d) considera-se discriminatória a medida especial que, destinada a assegurar a proteção de grupos raciais,
institua qualquer espécie de segregação jurídica permanente.
e) a restrição ou a anulação de liberdades fundamentais é irrelevante para a caracterização da
discriminação racial.

301. (CESPE / CEBRASPE - 2012 - PC-CE – Inspetor) Discriminação racial é toda distinção, exclusão, restrição
ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto
ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em
igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico,
social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública.

302. (MPT - 2009 - MPT - Procurador do Trabalho – ADAPTADA) A Convenção Internacional sobre a
Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial estabelece que não serão consideradas
discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo de assegurar o progresso
adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que possa
eliovaine@hotmail·com
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ser necessária para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos
e liberdades fundamentais.

10.3. A proteção aos deficientes

10.3.1. Introdução
CPF: 030.720.271-29

A proteção aos deficientes tem sido objeto de documentos internacionais e nacionais.


Em âmbito constitucional, já no art. 7º, XXXI, tem-se a proibição de distinção salarial entre
empregados, em razão da existência de uma deficiência. O art. 23 prevê a competência comum da União,
Silva -- CPF:

Estados, Distrito Federal e Municípios para cuidar da saúde, assistência proteção e garantia das pessoas com
deficiência. O art. 24 dispõe sobre a competência concorrente da União e dos Estados e Distrito Federal para
da Silva

legislar sobre a proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência. O art. 37, VIII, remete ao
legislador estabelecer os percentuais dos cargos e empregos públicos para as pessoas portadoras de
Gouvea da

deficiência bem como a definição dos critérios de sua admissão. O art. 40, §4º-A prevê que lei complementar
Eliovaine Gouvea

poderá distinguir idade e tempo de contribuição para que os servidores portadores de deficiência tenham
acesso a benefícios previdenciários. O art. 100, §2º prevê preferência no pagamento de precatórios aos
Eliovaine

portadores de deficiência. O art. 201, §1º dispõe que lei complementar fixará critérios diferenciados para a
concessão de aposentadorias no regime geral da previdência social, aos portadores de deficiência. Já o art.
203, IV prevê a reabilitação profissional dos portadores de deficiência, enquanto o inciso V refere-se ao
benefício de prestação continuada aos portadores de deficiência em condição de vulnerabilidade social. O
art. 208, III prevê o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente
na rede regular de ensino. O art. 227, em seu inciso II dispõe sobre o dever de o Estado criar programas de
prevenção e atendimento especializado para as pessoas portadoras de deficiência, bem como integrar
socialmente o adolescente e o jovem portador de deficiência. Já o art. 227, §2º determina que seja editada
lei que disponha sobre critérios para a construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de
fabricação de veículos de transporte coletivo, para garantir acesso adequado às pessoas portadoras de
deficiência. No mesmo sentido, o art. 244 da Constituição prevê que lei disporá sobre a adaptação dos
logradouros, dos edifícios de uso público e dos veículos de transporte coletivo atualmente existentes a fim
de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.
Além das normas do corpo permanente da Constituição, é importante destacar que três dos quatro
tratados internacionais de direitos humanos com status formal de norma constitucional são referentes à
proteção das pessoas com deficiência. Os primeiros deles são a Convenção Internacional sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, cujo processo de ratificação foi perfectibilizado pelo
Decreto nº 6.949/09. Já em 2018, o Decreto nº 9.522/18 promulgou o Tratado de Marraqueche para Facilitar

258
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com Outras Dificuldades para Ter
Acesso ao Texto Impresso.
O Brasil também ratificou a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, através do Decreto nº 3.956/01, que tem status
formal de norma supralegal.
Em âmbito legal, a Lei nº 13.146/15 introduziu no ordenamento brasileiro o Estatuto da Pessoa com
Deficiência. Merecem destaque também as normas do benefício de prestação continuada (BPC) previstas na
Lei orgânica da assistência social (Lei nº 8.742/93) e as normas referentes ao auxílio-inclusão, inseridas pela
Lei nº 14.176/21.

10.3.2. A Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com


Deficiência e seu Protocolo Facultativo:

Valerio de Oliveira Mazzuoli (2021, p. 292) ressalta que a Convenção de Nova York é o marco mais
significativo de proteção às pessoas com deficiência no âmbito das Nações Unidas.
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Uma de suas maiores inovações refere-se à conceituação de deficiência, feita nos seguintes termos:
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Artigo 1
Propósito
(...)
Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras,
podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições
CPF: 030.720.271-29

com as demais pessoas.

Destaca-se que esse conceito é repetido por outros atos normativos nacionais, como a Lei Orgânica
da Assistência Social e a Lei Complementar nº 142/13 que dizem respeito ao benefício de prestação
continuada ao deficiente e à aposentadoria aos deficientes, respectivamente.
Silva -- CPF:

O objetivo da Convenção de Nova York é, segundo seu próprio artigo 1, a promoção da igualdade do
da Silva

exercido dos direitos humanos e liberdades fundamentais das pessoas com deficiência:
Gouvea da

Artigo 1
Eliovaine Gouvea

Propósito
O propósito da presente Convenção é promover, proteger e assegurar o exercício pleno e
eqüitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas
Eliovaine

com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente.

Flávia Piovesan (2018, p. 554) ressalta que a Convenção é um instrumento que revela “o processo de
especificação do sujeito de direito”, pois além de proteger os direitos das pessoas com deficiência, em razão
de sua dignidade, instauram um tratamento diferenciado que leva em consideração suas peculiaridades e
necessidades específicas.
Não por acaso, o Artigo 3 traz os princípios gerais da Convenção, apontando o reconhecimento das
diferenças para o tratamento igualitário das pessoas com deficiência:
Artigo 3
Princípios gerais
Os princípios da presente Convenção são:
a) O respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer
as próprias escolhas, e a independência das pessoas;
b) A não-discriminação;
c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade;
d) O respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da
diversidade humana e da humanidade;
e) A igualdade de oportunidades;
f) A acessibilidade;

259
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

g) A igualdade entre o homem e a mulher;


h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo
direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade.

O artigo 4 da Convenção traz um rol de compromissos assumidos pelos Estados que buscarão, de um
lado, adaptar o ordenamento interno para os padrões mínimos da Convenção e, por outro, adotar normas
medidas para alcançar os objetivos propostos no tratado internacional. É importante destacar que no rol
compromissos assumidos pelos estados no Artigo 4.1 da Convenção encontram-se medias relacionadas a
obtenção de dados para a análise da situação em seu território, o desenvolvimento de pesquisas para a
adaptação de equipamentos para atender as necessidades das pessoas com deficiência, bem como as de sua
locomoção. Além disso, há o compromisso de informar as pessoas com deficiência acerca das novas
tecnologias e instalações disponíveis, além da capacitação de profissionais para trabalhar com pessoas com
deficiência.
Artigo 4
Obrigações gerais
1. Os Estados Partes se comprometem a assegurar e promover o pleno exercício de todos
os direitos humanos e liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência, sem
qualquer tipo de discriminação por causa de sua deficiência. Para tanto, os Estados Partes
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se comprometem a:
a) Adotar todas as medidas legislativas, administrativas e de qualquer outra natureza,
necessárias para a realização dos direitos reconhecidos na presente Convenção;
b) Adotar todas as medidas necessárias, inclusive legislativas, para modificar ou revogar leis,
regulamentos, costumes e práticas vigentes, que constituírem discriminação contra pessoas
com deficiência;
c) Levar em conta, em todos os programas e políticas, a proteção e a promoção dos direitos
CPF: 030.720.271-29

humanos das pessoas com deficiência;


d) Abster-se de participar em qualquer ato ou prática incompatível com a presente
Convenção e assegurar que as autoridades públicas e instituições atuem em conformidade
com a presente Convenção;
e) Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação baseada em
Silva -- CPF:

deficiência, por parte de qualquer pessoa, organização ou empresa privada;


f) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento de produtos, serviços,
da Silva

equipamentos e instalações com desenho universal, conforme definidos no Artigo 2 da


presente Convenção, que exijam o mínimo possível de adaptação e cujo custo seja o mínimo
Gouvea da

possível, destinados a atender às necessidades específicas de pessoas com deficiência, a


Eliovaine Gouvea

promover sua disponibilidade e seu uso e a promover o desenho universal quando da


elaboração de normas e diretrizes;
Eliovaine

g) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento, bem como a disponibilidade e o


emprego de novas tecnologias, inclusive as tecnologias da informação e comunicação,
ajudas técnicas para locomoção, dispositivos e tecnologias assistivas, adequados a pessoas
com deficiência, dando prioridade a tecnologias de custo acessível;
h) Propiciar informação acessível para as pessoas com deficiência a respeito de ajudas
técnicas para locomoção, dispositivos e tecnologias assistivas, incluindo novas tecnologias
bem como outras formas de assistência, serviços de apoio e instalações;
i) Promover a capacitação em relação aos direitos reconhecidos pela presente Convenção
dos profissionais e equipes que trabalham com pessoas com deficiência, de forma a
melhorar a prestação de assistência e serviços garantidos por esses direitos.
2. Em relação aos direitos econômicos, sociais e culturais, cada Estado Parte se compromete
a tomar medidas, tanto quanto permitirem os recursos disponíveis e, quando necessário,
no âmbito da cooperação internacional, a fim de assegurar progressivamente o pleno
exercício desses direitos, sem prejuízo das obrigações contidas na presente Convenção que
forem imediatamente aplicáveis de acordo com o direito internacional.

Outro ponto importante do artigo 4 diz respeito à obrigatoriedade de consulta informada e prévia às
pessoas com deficiência, pelos Estados no processo de elaboração de legislação de políticas públicas:
Artigo 4
Obrigações gerais

260
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

(...)
3. Na elaboração e implementação de legislação e políticas para aplicar a presente
Convenção e em outros processos de tomada de decisão relativos às pessoas com
deficiência, os Estados Partes realizarão consultas estreitas e envolverão ativamente
pessoas com deficiência, inclusive crianças com deficiência, por intermédio de suas
organizações representativas.

Destaca-se ainda que o artigo 4.4 traz a chamada cláusula de abertura, em que se permite aos
Estados adotarem normas mais favoráveis à proteção das pessoas com deficiência. Porém, de forma
inovadora, o mesmo dispositivo refuta qualquer restrição ou derrogação de direitos humanos quando seu
conteúdo for mais restritivo:
Artigo 4
Obrigações gerais
(...)
4. Nenhum dispositivo da presente Convenção afetará quaisquer disposições mais propícias
à realização dos direitos das pessoas com deficiência, as quais possam estar contidas na
legislação do Estado Parte ou no direito internacional em vigor para esse Estado. Não haverá
nenhuma restrição ou derrogação de qualquer dos direitos humanos e liberdades
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fundamentais reconhecidos ou vigentes em qualquer Estado Parte da presente Convenção,


030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

em conformidade com leis, convenções, regulamentos ou costumes, sob a alegação de que


a presente Convenção não reconhece tais direitos e liberdades ou que os reconhece em
menor grau.

Do ponto de vista prático, no contexto brasileiro, o artigo 4.4 simplesmente não recepciona normas
infraconstitucionais contrárias às disposições da Convenção, e é fundamento para a declaração de
inconstitucionalidade de eventuais atos normativos posteriores menos protetivos.
CPF: 030.720.271-29

Interessante ainda, em relação ao artigo 4, é a cláusula federal, em que a Convenção, uma vez
ratificada, terá validade em todo o Estado federal:
Artigo 4
Silva -- CPF:

Obrigações gerais
(...)
da Silva

5. As disposições da presente Convenção se aplicam, sem limitação ou exceção, a todas as


unidades constitutivas dos Estados federativos.
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

O dispositivo visa evitar que Estados federados tentem descumprir as normas da Convenção em
razão de normas de divisão de competência interna.
Eliovaine

O artigo 5 da Convenção traz o artigo de não-discriminação. Por ele o Estado se compromete a não
prejudicar pessoas em razão de sua deficiência, sendo possível, no entanto, a adoção de medidas afirmativas,
com vistas ao tratamento igualitário entre as pessoas:
Artigo 5
Igualdade e não-discriminação
1. Os Estados Partes reconhecem que todas as pessoas são iguais perante e sob a lei e que
fazem jus, sem qualquer discriminação, a igual proteção e igual benefício da lei.
2. Os Estados Partes proibirão qualquer discriminação baseada na deficiência e garantirão
às pessoas com deficiência igual e efetiva proteção legal contra a discriminação por
qualquer motivo.
3. A fim de promover a igualdade e eliminar a discriminação, os Estados Partes adotarão
todas as medidas apropriadas para garantir que a adaptação razoável seja oferecida.
4. Nos termos da presente Convenção, as medidas específicas que forem necessárias para
acelerar ou alcançar a efetiva igualdade das pessoas com deficiência não serão consideradas
discriminatórias.

Os artigos 6 e 7 explicitam situações de vulnerabilidade interseccionais relacionadas às mulheres,


crianças e adolescentes:
Artigo 6

261
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Mulheres com deficiência


1. Os Estados Partes reconhecem que as mulheres e meninas com deficiência estão sujeitas
a múltiplas formas de discriminação e, portanto, tomarão medidas para assegurar às
mulheres e meninas com deficiência o pleno e igual exercício de todos os direitos humanos
e liberdades fundamentais.
2. Os Estados Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar o pleno
desenvolvimento, o avanço e o empoderamento das mulheres, a fim de garantir-lhes o
exercício e o gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais estabelecidos na
presente Convenção.

Artigo 7
Crianças com deficiência
1. Os Estados Partes tomarão todas as medidas necessárias para assegurar às crianças com
deficiência o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais, em
igualdade de oportunidades com as demais crianças.
2. Em todas as ações relativas às crianças com deficiência, o superior interesse da criança
receberá consideração primordial.
3. Os Estados Partes assegurarão que as crianças com deficiência tenham o direito de
expressar livremente sua opinião sobre todos os assuntos que lhes disserem respeito,
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tenham a sua opinião devidamente valorizada de acordo com sua idade e maturidade, em
igualdade de oportunidades com as demais crianças, e recebam atendimento adequado à
sua deficiência e idade, para que possam exercer tal direito.

O artigo 8 da Convenção determina ao Estado a adoção de medidas de educação e conscientização


de seus cidadãos, para evitar a ocorrência de discriminações e estereótipos relacionados às pessoas com
deficiência:
CPF: 030.720.271-29

Artigo 8
Conscientização
1. Os Estados Partes se comprometem a adotar medidas imediatas, efetivas e apropriadas
para:
a) Conscientizar toda a sociedade, inclusive as famílias, sobre as condições das pessoas com
Silva -- CPF:

deficiência e fomentar o respeito pelos direitos e pela dignidade das pessoas com
deficiência;
da Silva

b) Combater estereótipos, preconceitos e práticas nocivas em relação a pessoas com


deficiência, inclusive aqueles relacionados a sexo e idade, em todas as áreas da vida;
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

c) Promover a conscientização sobre as capacidades e contribuições das pessoas com


deficiência.
2. As medidas para esse fim incluem:
Eliovaine

a) Lançar e dar continuidade a efetivas campanhas de conscientização públicas, destinadas


a:
i) Favorecer atitude receptiva em relação aos direitos das pessoas com deficiência;
ii) Promover percepção positiva e maior consciência social em relação às pessoas com
deficiência;
iii) Promover o reconhecimento das habilidades, dos méritos e das capacidades das pessoas
com deficiência e de sua contribuição ao local de trabalho e ao mercado laboral;
b) Fomentar em todos os níveis do sistema educacional, incluindo neles todas as crianças
desde tenra idade, uma atitude de respeito para com os direitos das pessoas com
deficiência;
c) Incentivar todos os órgãos da mídia a retratar as pessoas com deficiência de maneira
compatível com o propósito da presente Convenção;
d) Promover programas de formação sobre sensibilização a respeito das pessoas com
deficiência e sobre os direitos das pessoas com deficiência.

O artigo 9, por sua vez, traz normas que visam a acessibilidade das pessoas com deficiência para que
elas possam viver de forma independente e participar plenamente de todos os aspectos da vida:
Artigo 9
Acessibilidade

262
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

1. A fim de possibilitar às pessoas com deficiência viver de forma independente e participar


plenamente de todos os aspectos da vida, os Estados Partes tomarão as medidas
apropriadas para assegurar às pessoas com deficiência o acesso, em igualdade de
oportunidades com as demais pessoas, ao meio físico, ao transporte, à informação e
comunicação, inclusive aos sistemas e tecnologias da informação e comunicação, bem
como a outros serviços e instalações abertos ao público ou de uso público, tanto na zona
urbana como na rural. Essas medidas, que incluirão a identificação e a eliminação de
obstáculos e barreiras à acessibilidade, serão aplicadas, entre outros, a:
a) Edifícios, rodovias, meios de transporte e outras instalações internas e externas, inclusive
escolas, residências, instalações médicas e local de trabalho;
b) Informações, comunicações e outros serviços, inclusive serviços eletrônicos e serviços de
emergência.
2. Os Estados Partes também tomarão medidas apropriadas para:
a) Desenvolver, promulgar e monitorar a implementação de normas e diretrizes mínimas
para a acessibilidade das instalações e dos serviços abertos ao público ou de uso público;
b) Assegurar que as entidades privadas que oferecem instalações e serviços abertos ao
público ou de uso público levem em consideração todos os aspectos relativos à
acessibilidade para pessoas com deficiência;
c) Proporcionar, a todos os atores envolvidos, formação em relação às questões de
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acessibilidade com as quais as pessoas com deficiência se confrontam;


d) Dotar os edifícios e outras instalações abertas ao público ou de uso público de sinalização
em braille e em formatos de fácil leitura e compreensão;
e) Oferecer formas de assistência humana ou animal e serviços de mediadores, incluindo
guias, ledores e intérpretes profissionais da língua de sinais, para facilitar o acesso aos
edifícios e outras instalações abertas ao público ou de uso público;
f) Promover outras formas apropriadas de assistência e apoio a pessoas com deficiência, a
fim de assegurar a essas pessoas o acesso a informações;
CPF: 030.720.271-29

g) Promover o acesso de pessoas com deficiência a novos sistemas e tecnologias da


informação e comunicação, inclusive à Internet;
h) Promover, desde a fase inicial, a concepção, o desenvolvimento, a produção e a
disseminação de sistemas e tecnologias de informação e comunicação, a fim de que esses
Silva -- CPF:

sistemas e tecnologias se tornem acessíveis a custo mínimo.

Os artigos 10 a 30 da Convenção trazem uma gama de normas especificando direitos fundamentais


da Silva

das pessoas com deficiência, sejam eles de natureza civil e política, como também sociais, econômicos e
Gouvea da

culturais, como direito à saúde e educação. Dentre eles destacam-se os direitos de vida independente, de
Eliovaine Gouvea

mobilidade pessoal e o de padrão de vida e proteção social adequado:


Artigo 19
Eliovaine

Vida independente e inclusão na comunidade


Os Estados Partes desta Convenção reconhecem o igual direito de todas as pessoas com
deficiência de viver na comunidade, com a mesma liberdade de escolha que as demais
pessoas, e tomarão medidas efetivas e apropriadas para facilitar às pessoas com deficiência
o pleno gozo desse direito e sua plena inclusão e participação na comunidade, inclusive
assegurando que:
a) As pessoas com deficiência possam escolher seu local de residência e onde e com quem
morar, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, e que não sejam obrigadas
a viver em determinado tipo de moradia;
b) As pessoas com deficiência tenham acesso a uma variedade de serviços de apoio em
domicílio ou em instituições residenciais ou a outros serviços comunitários de apoio,
inclusive os serviços de atendentes pessoais que forem necessários como apoio para que as
pessoas com deficiência vivam e sejam incluídas na comunidade e para evitar que fiquem
isoladas ou segregadas da comunidade;
c) Os serviços e instalações da comunidade para a população em geral estejam disponíveis
às pessoas com deficiência, em igualdade de oportunidades, e atendam às suas
necessidades.

Artigo 20
Mobilidade pessoal

263
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Os Estados Partes tomarão medidas efetivas para assegurar às pessoas com deficiência sua
mobilidade pessoal com a máxima independência possível:
a) Facilitando a mobilidade pessoal das pessoas com deficiência, na forma e no momento
em que elas quiserem, e a custo acessível;
b) Facilitando às pessoas com deficiência o acesso a tecnologias assistivas, dispositivos e
ajudas técnicas de qualidade, e formas de assistência humana ou animal e de mediadores,
inclusive tornando-os disponíveis a custo acessível;
c) Propiciando às pessoas com deficiência e ao pessoal especializado uma capacitação em
técnicas de mobilidade;
d) Incentivando entidades que produzem ajudas técnicas de mobilidade, dispositivos e
tecnologias assistivas a levarem em conta todos os aspectos relativos à mobilidade de
pessoas com deficiência.

Artigo 28
Padrão de vida e proteção social adequados
1. Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência a um padrão
adequado de vida para si e para suas famílias, inclusive alimentação, vestuário e moradia
adequados, bem como à melhoria contínua de suas condições de vida, e tomarão as
providências necessárias para salvaguardar e promover a realização desse direito sem
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discriminação baseada na deficiência.


2. Os Estados Partes reconhecem o direito das pessoas com deficiência à proteção social e
ao exercício desse direito sem discriminação baseada na deficiência, e tomarão as medidas
apropriadas para salvaguardar e promover a realização desse direito, tais como:
a) Assegurar igual acesso de pessoas com deficiência a serviços de saneamento básico e
assegurar o acesso aos serviços, dispositivos e outros atendimentos apropriados para as
necessidades relacionadas com a deficiência;
b) Assegurar o acesso de pessoas com deficiência, particularmente mulheres, crianças e
CPF: 030.720.271-29

idosos com deficiência, a programas de proteção social e de redução da pobreza;


c) Assegurar o acesso de pessoas com deficiência e suas famílias em situação de pobreza à
assistência do Estado em relação a seus gastos ocasionados pela deficiência, inclusive
treinamento adequado, aconselhamento, ajuda financeira e cuidados de repouso;
Silva -- CPF:

d) Assegurar o acesso de pessoas com deficiência a programas habitacionais públicos;


e) Assegurar igual acesso de pessoas com deficiência a programas e benefícios de
aposentadoria.
da Silva
Gouvea da

A Convenção previu a criação do Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência para o
Eliovaine Gouvea

monitoramento de seu cumprimento. No texto da Convenção, o sistema de monitoramento é o de relatórios.


O Estado remeterá ao Comitê um relatório sobre as medidas adotadas para o cumprimento da Convenção
em um prazo de 2 anos de sua entrada em vigor e, posteriormente, a cada quatro anos. O Comitê fara as
Eliovaine

considerações e recomendações aos relatórios submetidos pelos Estados:


Artigo 34
Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
1. Um Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (doravante denominado
"Comitê") será estabelecido, para desempenhar as funções aqui definidas.
2. O Comitê será constituído, quando da entrada em vigor da presente Convenção, de 12
peritos. Quando a presente Convenção alcançar 60 ratificações ou adesões, o Comitê será
acrescido em seis membros, perfazendo o total de 18 membros.
3. Os membros do Comitê atuarão a título pessoal e apresentarão elevada postura moral,
competência e experiência reconhecidas no campo abrangido pela presente Convenção. Ao
designar seus candidatos, os Estados Partes são instados a dar a devida consideração ao
disposto no Artigo 4.3 da presente Convenção.
4. Os membros do Comitê serão eleitos pelos Estados Partes, observando-se uma
distribuição geográfica eqüitativa, representação de diferentes formas de civilização e dos
principais sistemas jurídicos, representação equilibrada de gênero e participação de peritos
com deficiência.
5. Os membros do Comitê serão eleitos por votação secreta em sessões da Conferência dos
Estados Partes, a partir de uma lista de pessoas designadas pelos Estados Partes entre seus
nacionais. Nessas sessões, cujo quorum será de dois terços dos Estados Partes, os

264
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

candidatos eleitos para o Comitê serão aqueles que obtiverem o maior número de votos e
a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados Partes presentes e votantes.
6. A primeira eleição será realizada, o mais tardar, até seis meses após a data de entrada
em vigor da presente Convenção. Pelo menos quatro meses antes de cada eleição, o
Secretário-Geral das Nações Unidas dirigirá carta aos Estados Partes, convidando-os a
submeter os nomes de seus candidatos no prazo de dois meses. O Secretário-Geral,
subseqüentemente, preparará lista em ordem alfabética de todos os candidatos
apresentados, indicando que foram designados pelos Estados Partes, e submeterá essa lista
aos Estados Partes da presente Convenção.
7. Os membros do Comitê serão eleitos para mandato de quatro anos, podendo ser
candidatos à reeleição uma única vez. Contudo, o mandato de seis dos membros eleitos na
primeira eleição expirará ao fim de dois anos; imediatamente após a primeira eleição, os
nomes desses seis membros serão selecionados por sorteio pelo presidente da sessão a que
se refere o parágrafo 5 deste Artigo.
8. A eleição dos seis membros adicionais do Comitê será realizada por ocasião das eleições
regulares, de acordo com as disposições pertinentes deste Artigo.
9. Em caso de morte, demissão ou declaração de um membro de que, por algum motivo,
não poderá continuar a exercer suas funções, o Estado Parte que o tiver indicado designará
um outro perito que tenha as qualificações e satisfaça aos requisitos estabelecidos pelos
eliovaine@hotmail·com
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dispositivos pertinentes deste Artigo, para concluir o mandato em questão.


10. O Comitê estabelecerá suas próprias normas de procedimento.
11. O Secretário-Geral das Nações Unidas proverá o pessoal e as instalações necessários
para o efetivo desempenho das funções do Comitê segundo a presente Convenção e
convocará sua primeira reunião.
12. Com a aprovação da Assembléia Geral, os membros do Comitê estabelecido sob a
presente Convenção receberão emolumentos dos recursos das Nações Unidas, sob termos
e condições que a Assembléia possa decidir, tendo em vista a importância das
CPF: 030.720.271-29

responsabilidades do Comitê.
13. Os membros do Comitê terão direito aos privilégios, facilidades e imunidades dos
peritos em missões das Nações Unidas, em conformidade com as disposições pertinentes
da Convenção sobre Privilégios e Imunidades das Nações Unidas.
Silva -- CPF:

Artigo 35
Relatórios dos Estados Partes
da Silva

1. Cada Estado Parte, por intermédio do Secretário-Geral das Nações Unidas, submeterá
Gouvea da

relatório abrangente sobre as medidas adotadas em cumprimento de suas obrigações


Eliovaine Gouvea

estabelecidas pela presente Convenção e sobre o progresso alcançado nesse aspecto,


dentro do período de dois anos após a entrada em vigor da presente Convenção para o
Eliovaine

Estado Parte concernente.


2. Depois disso, os Estados Partes submeterão relatórios subseqüentes, ao menos a cada
quatro anos, ou quando o Comitê o solicitar.
3. O Comitê determinará as diretrizes aplicáveis ao teor dos relatórios.
4. Um Estado Parte que tiver submetido ao Comitê um relatório inicial abrangente não
precisará, em relatórios subseqüentes, repetir informações já apresentadas. Ao elaborar os
relatórios ao Comitê, os Estados Partes são instados a fazê-lo de maneira franca e
transparente e a levar em consideração o disposto no Artigo 4.3 da presente Convenção.
5. Os relatórios poderão apontar os fatores e as dificuldades que tiverem afetado o
cumprimento das obrigações decorrentes da presente Convenção.

Artigo 36
Consideração dos relatórios
1. Os relatórios serão considerados pelo Comitê, que fará as sugestões e recomendações
gerais que julgar pertinentes e as transmitirá aos respectivos Estados Partes. O Estado Parte
poderá responder ao Comitê com as informações que julgar pertinentes. O Comitê poderá
pedir informações adicionais ao Estados Partes, referentes à implementação da presente
Convenção.
2. Se um Estado Parte atrasar consideravelmente a entrega de seu relatório, o Comitê
poderá notificar esse Estado de que examinará a aplicação da presente Convenção com
base em informações confiáveis de que disponha, a menos que o relatório devido seja

265
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

apresentado pelo Estado dentro do período de três meses após a notificação. O Comitê
convidará o Estado Parte interessado a participar desse exame. Se o Estado Parte responder
entregando seu relatório, aplicar-se-á o disposto no parágrafo 1 do presente artigo.
3. O Secretário-Geral das Nações Unidas colocará os relatórios à disposição de todos os
Estados Partes.
4. Os Estados Partes tornarão seus relatórios amplamente disponíveis ao público em seus
países e facilitarão o acesso à possibilidade de sugestões e de recomendações gerais a
respeito desses relatórios.
5. O Comitê transmitirá às agências, fundos e programas especializados das Nações Unidas
e a outras organizações competentes, da maneira que julgar apropriada, os relatórios dos
Estados Partes que contenham demandas ou indicações de necessidade de consultoria ou
de assistência técnica, acompanhados de eventuais observações e sugestões do Comitê em
relação às referidas demandas ou indicações, a fim de que possam ser consideradas.

O sistema de peticionamento individual foi inserido pelo Protocolo Facultativo. Por ele, qualquer
pessoa ou grupo de pessoa poderá submeter uma comunicação ao Comitê, em relação a um Estado que
tenha ratificado o protocolo.
O Estado será informado da petição e terá o prazo de 6 meses para se manifestar. Após a resposta o
eliovaine@hotmail·com

Comitê, às portas fechadas, decidirá sobre o caso, informando o Estado de suas sugestões ou
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

recomendações.
Artigo 1
1. Qualquer Estado Parte do presente Protocolo (“Estado Parte”) reconhece a competência
do Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (“Comitê”) para receber e
considerar comunicações submetidas por pessoas ou grupos de pessoas, ou em nome deles,
sujeitos à sua jurisdição, alegando serem vítimas de violação das disposições da Convenção
CPF: 030.720.271-29

pelo referido Estado Parte.


2. O Comitê não receberá comunicação referente a qualquer Estado Parte que não seja
signatário do presente Protocolo.

Artigo 2
Silva -- CPF:

O Comitê considerará inadmissível a comunicação quando:


a) A comunicação for anônima;
da Silva

b) A comunicação constituir abuso do direito de submeter tais comunicações ou for


incompatível com as disposições da Convenção;
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

c) A mesma matéria já tenha sido examinada pelo Comitê ou tenha sido ou estiver sendo
examinada sob outro procedimento de investigação ou resolução internacional;
d) Não tenham sido esgotados todos os recursos internos disponíveis, salvo no caso em que
Eliovaine

a tramitação desses recursos se prolongue injustificadamente, ou seja improvável que se


obtenha com eles solução efetiva;
e) A comunicação estiver precariamente fundamentada ou não for suficientemente
substanciada; ou
f) Os fatos que motivaram a comunicação tenham ocorrido antes da entrada em vigor do
presente Protocolo para o Estado Parte em apreço, salvo se os fatos continuaram ocorrendo
após aquela data.

Artigo 3
Sujeito ao disposto no Artigo 2 do presente Protocolo, o Comitê levará confidencialmente
ao conhecimento do Estado Parte concernente qualquer comunicação submetida ao
Comitê. Dentro do período de seis meses, o Estado concernente submeterá ao Comitê
explicações ou declarações por escrito, esclarecendo a matéria e a eventual solução
adotada pelo referido Estado.

Artigo 4
1. A qualquer momento após receber uma comunicação e antes de decidir o mérito dessa
comunicação, o Comitê poderá transmitir ao Estado Parte concernente, para sua urgente
consideração, um pedido para que o Estado Parte tome as medidas de natureza cautelar
que forem necessárias para evitar possíveis danos irreparáveis à vítima ou às vítimas da
violação alegada.

266
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

2. O exercício pelo Comitê de suas faculdades discricionárias em virtude do parágrafo 1 do


presente Artigo não implicará prejuízo algum sobre a admissibilidade ou sobre o mérito da
comunicação.

Artigo 5
O Comitê realizará sessões fechadas para examinar comunicações a ele submetidas em
conformidade com o presente Protocolo. Depois de examinar uma comunicação, o Comitê
enviará suas sugestões e recomendações, se houver, ao Estado Parte concernente e ao
requerente.

Há também a previsão de investigações ex officio pelo Comitê.


Artigo 6
1. Se receber informação confiável indicando que um Estado Parte está cometendo violação
grave ou sistemática de direitos estabelecidos na Convenção, o Comitê convidará o referido
Estado Parte a colaborar com a verificação da informação e, para tanto, a submeter suas
observações a respeito da informação em pauta.
2. Levando em conta quaisquer observações que tenham sido submetidas pelo Estado Parte
concernente, bem como quaisquer outras informações confiáveis em poder do Comitê, este
poderá designar um ou mais de seus membros para realizar investigação e apresentar, em
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

caráter de urgência, relatório ao Comitê. Caso se justifique e o Estado Parte o consinta, a


investigação poderá incluir uma visita ao território desse Estado.
3. Após examinar os resultados da investigação, o Comitê os comunicará ao Estado Parte
concernente, acompanhados de eventuais comentários e recomendações.
4. Dentro do período de seis meses após o recebimento dos resultados, comentários e
recomendações transmitidos pelo Comitê, o Estado Parte concernente submeterá suas
observações ao Comitê.
CPF: 030.720.271-29

5. A referida investigação será realizada confidencialmente e a cooperação do Estado Parte


será solicitada em todas as fases do processo.

Os resultados das medidas adotadas pelo Estado podem ser incluídas no relatório periódico feito
pelo Estado:
Silva -- CPF:

Artigo 7
1. O Comitê poderá convidar o Estado Parte concernente a incluir em seu relatório,
da Silva

submetido em conformidade com o disposto no Artigo 35 da Convenção, pormenores a


Gouvea da

respeito das medidas tomadas em conseqüência da investigação realizada em


Eliovaine Gouvea

conformidade com o Artigo 6 do presente Protocolo.


2. Caso necessário, o Comitê poderá, encerrado o período de seis meses a que se refere o
parágrafo 4 do Artigo 6, convidar o Estado Parte concernente a informar o Comitê a respeito
Eliovaine

das medidas tomadas em conseqüência da referida investigação.

10.3.3. O Tratado de Marraqueche:

O Tratado de Marraqueche tem por objetivo facilitar o acesso de textos impressos às pessoas cegas
e com deficiência visual, implementando o direito à educação e cultura, e também possibilitando seu pleno
desenvolvimento e autonomia de pensamento. Como destaca Valerio de Oliveira Mazzuoli (2021, p. 295),
menos de 1% das obras publicadas no mundo são convertidas em formatos acessíveis aos deficientes visuais.
O artigo 2 do tratado traz as definições de “obras”, que serão objeto da conversão, de “exemplar
acessível” que será o produto da conversão e de “entidade autorizada” que diz respeito à pessoa que irá
realizar a conversão da obra em exemplar acessível:
Artigo 2º
Definições
Para os efeitos do presente Tratado:
a) “obras” significa as obras literárias e artísticas no sentido do Artigo 2.1 da Convenção de
Berna sobre a Proteção de Obras Literárias e Artísticas, em forma de texto, notação e/ou
ilustrações conexas, que tenham sido publicadas ou tornadas disponíveis publicamente por
qualquer meio1.

267
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

b) “exemplar em formato acessível” significa a reprodução de uma obra de uma maneira ou


forma alternativa que dê aos beneficiários acesso à obra, inclusive para permitir que a
pessoa tenha acesso de maneira tão prática e cômoda como uma pessoa sem deficiência
visual ou sem outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso. O exemplar em formato
acessível é utilizado exclusivamente por beneficiários e deve respeitar a integridade da obra
original, levando em devida consideração as alterações necessárias para tornar a obra
acessível no formato alternativo e as necessidades de acessibilidade dos beneficiários.
c) “entidade autorizada” significa uma entidade que é autorizada ou reconhecida pelo
governo para prover aos beneficiários, sem intuito de lucro, educação, formação
pedagógica, leitura adaptada ou acesso à informação. Inclui, também, instituição
governamental ou organização sem fins lucrativos que preste os mesmos serviços aos
beneficiários como uma de suas atividades principais ou obrigações institucionais².
A entidade autorizada estabelecerá suas próprias práticas e as aplicará:
i) para determinar que as pessoas a que serve são beneficiárias;
ii) para limitar aos beneficiários e/ou às entidades autorizadas a distribuição e colocação à
disposição de exemplares em formato acessível;
iii) para desencorajar a reprodução, distribuição e colocação à disposição de exemplares
não autorizados; e
iv) para exercer o devido cuidado no uso dos exemplares das obras e manter os registros
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

deste uso, respeitando a privacidade dos beneficiários em conformidade com o Artigo 8º.
1 Declaração acordada relativa ao Artigo 2º(a): Para os efeitos do presente Tratado, fica entendido
que nesta definição se encontram compreendidas as obras em formato áudio, como os audiolivros.
2 Declaração acordada relativa ao Artigo 2º(c): Para os efeitos do presente Tratado, fica entendido

que “entidades reconhecidas pelo governo” poderá incluir entidades que recebam apoio financeiro
do governo para fornecer aos beneficiários, sem fins lucrativos, educação, formação pedagógica,
leitura adaptada ou acesso à informação.
CPF: 030.720.271-29

Os beneficiários do tratado são pessoas cegas ou com outra deficiência visual ou dificuldade de
acesso a texto impresso, nos termos do artigo 3 do Tratado. Compete aos Estado respeitar a privacidade dos
beneficiários, para que eles sejam tratados de forma igualitária:
Artigo 3º
Silva -- CPF:

Beneficiários
Será beneficiário toda pessoa:
da Silva

a) cega;
Gouvea da

b) que tenha deficiência visual ou outra deficiência de percepção ou de leitura que não
Eliovaine Gouvea

possa ser corrigida para se obter uma acuidade visual substancialmente equivalente à de
uma pessoa que não tenha esse tipo de deficiência ou dificuldade, e para quem é impossível
ler material impresso de uma forma substancialmente equivalente à de uma pessoa sem
Eliovaine

deficiência ou dificuldade; ou³


c) que esteja, impossibilitada, de qualquer outra maneira, devido a uma deficiência física,
de sustentar ou manipular um livro ou focar ou mover os olhos da forma que normalmente
seria apropriado para a leitura;
d) independentemente de quaisquer outras deficiências.

Artigo 8º
Respeito à Privacidade
Na implementação das limitações e exceções previstas neste Tratado, as Partes
Contratantes empenhar-se-ão para proteger a privacidade dos beneficiários em condições
de igualdade com as demais pessoas.
3Declaração acordada relativa ao Artigo 3º(b): Nada nessa linguagem implica que “não pode ser
corrigida” requer o uso de todos os procedimentos de diagnóstico e tratamentos médicos possíveis.

Como bem ressalta Valerio de Oliveria Mazzuoli (2021, p. 296) a principal inovação do Tratado de
Marraqueche é a limitação do direito de propriedade intelectual dos autores e editores para facilitar o acesso
dos beneficiários às obras:
Artigo 4º
Limitações e Exceções na Legislação Nacional sobre Exemplares em Formato Acessível

268
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

1.(a) As Partes Contratantes estabelecerão na sua legislação nacional de direito de autor


uma limitação ou exceção aos direitos de reprodução, de distribuição, bem como de
colocação à disposição do público, tal como definido no Tratado da OMPI sobre Direito de
Autor, para facilitar a disponibilidade de obras em formatos acessíveis aos beneficiários. A
limitação ou exceção prevista na legislação nacional deve permitir as alterações necessárias
para tornar a obra acessível em formato alternativo.
(b) As Partes Contratantes podem também estabelecer uma exceção ao direito de
representação ou execução pública para facilitar o acesso a obras para beneficiários.
2. Uma Parte Contratante poderá cumprir o disposto no Artigo 4(1) para todos os direitos
nele previstos, mediante o estabelecimento de uma limitação ou exceção em sua legislação
nacional de direitos de autor de tal forma que:
(a) Seja permitido às entidades autorizadas, sem a autorização do titular dos direitos de
autor, produzir um exemplar em formato acessível de uma obra obter de outra entidade
autorizada uma obra em formato acessível e fornecer tais exemplares para o beneficiário,
por qualquer meio, inclusive por empréstimo não-comercial ou mediante comunicação
eletrônica por fio ou sem fio; e realizar todas as medidas intermediárias para atingir esses
objetivos, quando todas as seguintes condições forem atendidas:
(i) a entidade autorizada que pretenda realizar tal atividade tenha acesso legal à obra ou a
um exemplar da obra;
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

(ii) a obra seja convertida para um exemplar em formato acessível, o que pode incluir
quaisquer meios necessários para consultar a informação nesse formato, mas não a
introdução de outras mudanças que não as necessárias para tornar a obra acessível aos
beneficiários;
(iii) os exemplares da obra no formato acessível sejam fornecidos exclusivamente para
serem utilizados por beneficiários; e
(iv) a atividade seja realizada sem fins lucrativos ; e
(b) Um beneficiário , ou alguém agindo em seu nome , incluindo a pessoa principal que cuida
CPF: 030.720.271-29

do beneficiário ou se ocupe de seu cuidado, poderá produzir um exemplar em formato


acessível de uma obra para o uso pessoal do beneficiário ou de outra forma poderá ajudar
o beneficiário a produzir e utilizar exemplares em formato acessível , quando o beneficiário
tenha acesso legal a essa obra ou a um exemplar dessa obra .
Silva -- CPF:

3. Uma Parte Contratante poderá cumprir o disposto no Artigo 4(1) estabelecendo outras
limitações ou exceções em sua legislação nacional de direito de autor nos termos dos
Artigos 10 e 114.
da Silva

4. Uma Parte Contratante poderá restringir as limitações ou exceções nos termos deste
Gouvea da

Artigo às obras que, no formato acessível em questão, não possam ser obtidas
Eliovaine Gouvea

comercialmente sob condições razoáveis para os beneficiários naquele mercado. Qualquer


Parte Contratante que exercer essa faculdade deverá declará-la em uma notificação
Eliovaine

depositada junto ao Diretor-Geral da OMPI no momento da ratificação, aceitação ou adesão


a esse Tratado ou em qualquer momento posterior 5 .
5. Caberá à lei nacional determinar se as exceções ou limitações a que se refere o presente
artigo estão sujeitas à remuneração.
4Declaração acordada relativa ao Artigo 4º(3): Fica entendido que este parágrafo não reduz nem
estende o âmbito de aplicação das limitações e exceções permitidas pela Convenção de Berna no que
diz respeito ao direito de tradução, com referência a pessoas com deficiência visual ou com outras
dificuldades para ter acesso ao texto impresso.

O tratado prevê ainda o intercâmbio de exemplares acessíveis entre as partes contratantes, bem
como a importação
Artigo 5º
Intercâmbio Transfronteiriço de Exemplares em Formato Acessível
1. As Partes Contratantes estabelecerão que, se um exemplar em formato acessível de uma
obra é produzido ao amparo de uma limitação ou exceção ou de outros meios legais, este
exemplar em formato acessível poderá ser distribuído ou colocado à disposição por uma
entidade autorizada a um beneficiário ou a uma entidade autorizada em outra Parte
Contratante 6.
2. Uma Parte Contratante poderá cumprir o disposto no Artigo 5(1) instituindo uma
limitação ou exceção em sua legislação nacional de direito de autor de tal forma que:

269
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

(a) será permitido às entidades autorizadas, sem a autorização do titular do direito,


distribuir ou colocar à disposição para o uso exclusivo dos beneficiários exemplares em
formato acessível a uma entidade autorizada em outra Parte Contratante; e
(b) será permitido às entidades autorizadas, sem a autorização do titular do direito e em
conformidade com o disposto no Artigo 2º
(c), distribuir ou colocar à disposição exemplares em formato acessível a um beneficiário
em outra Parte Contratante;
(d) desde que antes da distribuição ou colocação à disposição, a entidade autorizada
originária não saiba ou tenha motivos razoáveis para saber que o exemplar em formato
acessível seria utilizado por outras pessoas que não os beneficiários 7.
3. Uma Parte Contratante poderá cumprir o disposto no Artigo 5(1) instituindo outras
limitações ou exceções em sua legislação nacional de direito de autor nos termos do Artigo
5(4), 10 e 11.
4. (a) Quando uma entidade autorizada em uma Parte Contratante receber um exemplar
em formato acessível nos termos do artigo 5(1) e essa Parte Contratante não tiver as
obrigações decorrentes do Artigo 9 da Convenção de Berna, a Parte Contratante garantirá,
de acordo com suas práticas e seu sistema jurídico, que os exemplares em formato acessível
serão reproduzidos, distribuídos ou colocados à disposição apenas para o proveito dos
beneficiários na jurisdição dessa Parte Contratante.
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

(b) A distribuição e a colocação à disposição de exemplares em formato acessível por uma


entidade autorizada nos termos do Artigo 5(1) deverá ser limitada a essa jurisdição, salvo
se a Parte Contratante for parte do Tratado da OMPI sobre Direito de Autor ou de outra
forma limitar as exceções e limitações ao direito de distribuição e ao direito de colocação à
disposição do público que implementam esse Tratado a determinados casos especiais, que
não conflitem com a exploração normal da obra e não prejudiquem injustificadamente os
interesses legítimos do titular do direito 8 9.
(c) Nada neste Artigo afeta a determinação do que constitui um ato de distribuição ou um
CPF: 030.720.271-29

ato de colocação à disposição do público.


5. Nada neste Tratado será utilizado para tratar da questão da exaustão de direitos.

Artigo 6º
Silva -- CPF:

Importação de Exemplares em Formato Acessível


Na medida em que a legislação nacional de uma Parte Contratante permita que um
beneficiário, alguém agindo em seu nome, ou uma entidade autorizada produza um
da Silva

exemplar em formato acessível de uma obra, a legislação nacional dessa Parte Contratante
Gouvea da

permitirá, também, que eles possam importar um exemplar em formato acessível para o
Eliovaine Gouvea

proveito dos beneficiários, sem a autorização do titular do direito10.


Eliovaine

Artigo 9º
Cooperação para Facilitar o Intercâmbio Transfronteiriço
1. As Partes Contratantes envidarão esforços para promover o intercâmbio transfronteiriço
de exemplares em formato acessível incentivando o compartilhamento voluntário de
informações para auxiliar as entidades autorizadas a se identificarem. O Escritório
Internacional da OMPI estabelecerá um ponto de acesso à informação para essa finalidade.
2. As Partes Contratantes comprometem-se a auxiliar suas entidades autorizadas envolvidas
em atividades nos termos do Artigo 5º a disponibilizarem informações sobre suas práticas
conforme o Artigo 2º(c), tanto pelo compartilhamento de informações entre entidades
autorizadas como pela disponibilização de informações sobre as suas políticas e práticas,
inclusive as relacionadas com o intercâmbio transfronteiriço de exemplares em formato
acessível, às partes interessadas e membros do público, conforme apropriado.
3. O Escritório Internacional da OMPI é convidado a compartilhar informações, quando
disponíveis, sobre o funcionamento do presente Tratado.
4. As Partes Contratantes reconhecem a importância da cooperação internacional e de sua
promoção em apoio aos esforços nacionais para a realização do propósito e dos objetivos
deste Tratado¹².
6 Declaração acordada relativa ao Artigo 5º(1): Fica entendido ainda que nada neste Tratado reduz ou
estende o âmbito de direitos exclusivos sob qualquer outro Tratado.
7 Declaração acordada relativa ao Artigo 5º(2): Fica entendido que, para distribuir ou colocar à

disposição exemplares em formato acessível diretamente a beneficiários em outra Parte Contratante,

270
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

pode ser apropriado para uma entidade autorizada aplicar medidas adicionais para confirmar que a
pessoa que ela está servindo é uma pessoa beneficiária e para seguir suas práticas conforme o Artigo
2º(c).
8 Declaração acordada relativa ao Artigo 5º(4)(b): Fica entendido que nada neste Tratado requer ou

implica que uma Parte Contratante adote ou aplique o teste dos três passos além de suas obrigações
decorrentes deste instrumento ou de outros tratados internacionais.
9 Declaração acordada relativa ao Artigo 5º(4)(b): Fica entendido que nada neste Tratado cria

quaisquer obrigações para uma Parte Contratante ratificar ou aceder ao Tratado da OMPI sobre
Direito de Autor (WCT) ou de cumprir quaisquer de seus dispositivos e nada neste Tratado prejudica
quaisquer direitos, limitações ou exceções contidas no Tratado da OMPI sobre Direito de Autor (WCT).
10 Declaração acordada relativa ao Artigo 6º: Fica entendido que as Partes Contratantes têm as

mesmas flexibilidades previstas no Artigo 4º na implementação de suas obrigações decorrentes do


Artigo 6º.
12 Declaração acordada relativa ao Artigo 9º: Fica entendido que o Artigo 9º não implica um registro

obrigatório para as entidades autorizadas nem constitui uma condição prévia para que as entidades
autorizadas exerçam atividades reconhecidas pelo presente Tratado; confere, contudo, a
possibilidade de compartilhamento de informações para facilitar o intercâmbio transfronteiriço de
exemplares em formato acessível.

O referido tratado traça obrigações progressivas aos Estados-partes que, por sua vez, obrigam-se a
adotar medidas de implementação das normas convencionais:
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Artigo 10
Princípios Gerais sobre Implementação
1. As Partes Contratantes comprometem-se a adotar as medidas necessárias para garantir
a aplicação do presente Tratado.
2. Nada impedirá que as Partes Contratantes determinem a forma mais adequada de
implementar as disposições do presente Tratado no âmbito de seus ordenamentos jurídicos
e práticas legais¹³ .
CPF: 030.720.271-29

3. As Partes Contratantes poderão exercer os seus direitos e cumprir com as obrigações


previstas neste Tratado por meio de limitações ou exceções específicas em favor dos
beneficiários, outras exceções ou limitações, ou uma combinação de ambas no âmbito de
seus ordenamentos jurídicos e práticas legais nacionais. Estas poderão incluir decisões
judiciais, administrativas ou regulatórias em favor dos beneficiários, relativa a práticas, atos
Silva -- CPF:

ou usos justos que permitam satisfazer as suas necessidades, em conformidade com os


direitos e obrigações que as Partes Contratantes tenham em virtude da Convenção de
da Silva

Berna, de outros tratados internacionais e do Artigo 11.


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Artigo 11
Obrigações Gerais sobre Limitações e Exceções
Ao adotar as medidas necessárias para assegurar a aplicação do presente Tratado, uma
Eliovaine

Parte Contratante poderá exercer os direitos e deverá cumprir com as obrigações que essa
Parte Contratante tenha no âmbito da Convenção de Berna, do Acordo Relativo aos
Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio e do Tratado
da OMPI sobre Direito de Autor, incluindo os acordos interpretativos dos mesmos, de modo
que:
(a) em conformidade com o Artigo 9(2) da Convenção de Berna, a Parte Contratante pode
permitir a reprodução de obras em certos casos especiais, contanto que tal reprodução não
afete a exploração normal da obra nem cause prejuízo injustificado aos interesses legítimos
do autor;
(b) em conformidade com o Artigo 13 do Acordo Relativo aos Aspectos do Direito da
Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio, a Parte Contratante deverá
restringir as limitações ou exceções aos direitos exclusivos a determinados casos especiais,
que não conflitem com a exploração normal da obra e não prejudiquem injustificadamente
os interesses legítimos do titular do direito;
(c) em conformidade com o Artigo 10(1) do Tratado da OMPI sobre Direito de Autor, a Parte
Contratante pode prever limitações ou exceções aos direitos concedidos aos autores no
âmbito do Tratado da OMPI sobre Direito de Autor em certos casos especiais, que não
conflitem com a exploração normal da obra e não prejudiquem os interesses legítimos do
autor;

271
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

(d) em conformidade com o Artigo 10(2) do Tratado da OMPI sobre Direito de Autor, a Parte
Contratante deve restringir, ao aplicar a Convenção de Berna, qualquer limitação ou
exceção aos direitos a determinados casos especiais que não conflitem com a exploração
normal da obra e não prejudiquem injustificadamente os interesses legítimos do autor.

Artigo 12
Outras Limitações e Exceções
1. As Partes Contratantes reconhecem que uma Parte Contratante pode implementar em
sua legislação nacional outras limitações e exceções ao direito de autor para o proveito dos
beneficiários além das previstas por este Tratado, tendo em vista a situação econômica
dessa Parte Contratante e suas necessidades sociais e culturais, em conformidade com os
direitos e obrigações internacionais dessa Parte Contratante, e, no caso de um país de
menor desenvolvimento relativo, levando em consideração suas necessidades especiais,
seus direitos e obrigações internacionais particulares e as flexibilidades derivadas destes
últimos.
2. Este Tratado não prejudica outras limitações e exceções para pessoas com deficiência
previstas pela legislação nacional.

O tratado prevê a criação de uma Assembleia, em que cada um dos Estados parte terá um
eliovaine@hotmail·com

representante com direito a voto, com a função de resolução de questões relativas à manutenção,
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

desenvolvimento, aplicação e operação do Tratado.


Não há um sistema de supervisão de cumprimento do tratado, seja por relatórios, comunicações
interestatais ou peticionamento individual.
Interessante observar ainda, que é possível que organizações intergovernamentais sejam parte do
tratado e, com isso, tenham representação e voto na assembleia. Porém, tais organizações só poderão votar
CPF: 030.720.271-29

nas deliberações da assembleia quando os Estados que a compõem não participarem da votação:
Artigo 13
Assembleia
1. (a)As Partes Contratantes terão uma Assembleia.
Silva -- CPF:

(b) Cada Parte Contratante será representada na Assembleia por um delegado, que poderá
ser assistido por suplentes, assessores ou especialistas.
da Silva

(c) Os gastos de cada delegação serão custeados pela Parte Contratante que tenha
designado a delegação. A Assembleia pode pedir à OMPI que conceda assistência financeira
Gouvea da

para facilitar a participação de delegações de Partes Contratantes consideradas países em


Eliovaine Gouvea

desenvolvimento, em conformidade com a prática estabelecida pela Assembleia Geral das


Nações Unidas, ou que sejam países em transição para uma economia de mercado.
Eliovaine

2. (a) A Assembleia tratará as questões relativas à manutenção e desenvolvimento deste


Tratado e da aplicação e operação deste Tratado.
(b) A Assembleia realizará a função a ela atribuída pelo Artigo 15 no que diz respeito à
admissão de certas organizações intergovernamentais como Parte do presente Tratado.
(c) A Assembleia decidirá a convocação de qualquer conferência diplomática para a revisão
deste Tratado e dará as instruções necessárias ao Diretor-Geral da OMPI para a preparação
de tal conferência diplomática.
3.(a) Cada Parte Contratante que seja um Estado terá um voto e votará apenas em seu
próprio nome.
(b) Toda Parte Contratante que seja uma organização intergovernamental poderá participar
na votação, no lugar de seus Estados Membros, com um número de votos igual ao número
de seus Estados Membros que sejam parte deste Tratado. Nenhuma dessas organizações
intergovernamentais poderá participar na votação se qualquer um de seus Estados
Membros exercer seu direito ao voto e vice-versa.
4. A Assembleia se reunirá mediante convocação do Diretor-Geral e, na ausência de
circunstâncias excepcionais, durante o mesmo período e no mesmo local que a Assembleia
Geral da OMPI.
5. A Assembleia procurará tomar as suas decisões por consenso e estabelecerá suas
próprias regras de procedimento, incluindo a convocação de sessões extraordinárias, os
requisitos de quórum e, sujeita às disposições do presente Tratado, a maioria exigida para
os diversos tipos de decisões.

272
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Artigo 14
Escritório Internacional
O Escritório Internacional da OMPI executará as tarefas administrativas relativas a este
Tratado.

Artigo 15
Condições para se tornar Parte do Tratado
(1) Qualquer Estado Membro da OMPI poderá se tornar parte deste Tratado.
(2) A Assembleia poderá decidir a admissão de qualquer organização intergovernamental
para ser parte do Tratado que declare ter competência e ter sua própria legislação
vinculante para todos seus Estados Membros sobre os temas contemplados neste Tratado
e que tenha sido devidamente autorizada, em conformidade com seus procedimentos
internos, a se tornar parte deste Tratado.
(3) A União Europeia, tendo feito a declaração mencionada no parágrafo anterior na
Conferência Diplomática que adotou este Tratado, poderá se tornar parte deste Tratado.

10.3.4. Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de


Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência:
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

A Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as


Pessoas Portadoras de Deficiência teve seu processo de ratificação finalizado pelo Decreto nº 3.956/01. Por
ser um tratado internacional de direitos humanos ratificado antes da Emenda Constitucional nº 45/04, nos
termos da jurisprudência do STF, ele detém status formal de norma supralegal.
O artigo 1 do tratado traz um rol de definições, das quais se destaca a de deficiência. Ocorre que, em
CPF: 030.720.271-29

comparativamente, a conceituação da convenção é menos protetiva que o conceito da Convenção de Nova


York, devendo esse último prevalecer, em observância do princípio pro homine ou pro persona. Outras
definições importantes do dispositivo são as de discriminação e a exceção feita em relação à diferenciação
positiva:
Silva -- CPF:

Artigo I
Para os efeitos desta Convenção, entende-se por:
da Silva

1. Deficiência
Gouvea da

O termo "deficiência" significa uma restrição física, mental ou sensorial, de natureza


Eliovaine Gouvea

permanente ou transitória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais atividades


essenciais da vida diária, causada ou agravada pelo ambiente econômico e social.
2. Discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência
Eliovaine

a) o termo "discriminação contra as pessoas portadoras de deficiência" significa toda


diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência,
conseqüência de deficiência anterior ou percepção de deficiência presente ou passada, que
tenha o efeito ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício por
parte das pessoas portadoras de deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades
fundamentais.
b) Não constitui discriminação a diferenciação ou preferência adotada pelo Estado Parte
para promover a integração social ou o desenvolvimento pessoal dos portadores de
deficiência, desde que a diferenciação ou preferência não limite em si mesma o direito à
igualdade dessas pessoas e que elas não sejam obrigadas a aceitar tal diferenciação ou
preferência. Nos casos em que a legislação interna preveja a declaração de interdição,
quando for necessária e apropriada para o seu bem-estar, esta não constituirá
discriminação.

O artigo 2 da Convenção define o seu propósito que é a integração da pessoa com deficiência à
sociedade e a vedação da discriminação em razão da deficiência:
Artigo II
Esta Convenção tem por objetivo prevenir e eliminar todas as formas de discriminação
contra as pessoas portadoras de deficiência e propiciar a sua plena integração à sociedade.

273
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O artigo 3 da Convenção Interamericana prevê um rol de medidas a serem adotadas pelo Estado de
natureza preventiva, repressiva e de conscientização para o combate à discriminação em razão da
deficiência:
Artigo III
Para alcançar os objetivos desta Convenção, os Estados Partes comprometem-se a:
1. Tomar as medidas de caráter legislativo, social, educacional, trabalhista, ou de qualquer
outra natureza, que sejam necessárias para eliminar a discriminação contra as pessoas
portadoras de deficiência e proporcionar a sua plena integração à sociedade, entre as quais
as medidas abaixo enumeradas, que não devem ser consideradas exclusivas:
a) medidas das autoridades governamentais e/ou entidades privadas para eliminar
progressivamente a discriminação e promover a integração na prestação ou fornecimento
de bens, serviços, instalações, programas e atividades, tais como o emprego, o transporte,
as comunicações, a habitação, o lazer, a educação, o esporte, o acesso à justiça e aos
serviços policiais e as atividades políticas e de administração;
b) medidas para que os edifícios, os veículos e as instalações que venham a ser construídos
ou fabricados em seus respectivos territórios facilitem o transporte, a comunicação e o
acesso das pessoas portadoras de deficiência;
c) medidas para eliminar, na medida do possível, os obstáculos arquitetônicos, de
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

transporte e comunicações que existam, com a finalidade de facilitar o acesso e uso por
parte das pessoas portadoras de deficiência; e
d) medidas para assegurar que as pessoas encarregadas de aplicar esta Convenção e a
legislação interna sobre esta matéria estejam capacitadas a fazê-lo.
2. Trabalhar prioritariamente nas seguintes áreas:
a) prevenção de todas as formas de deficiência preveníveis;
b) detecção e intervenção precoce, tratamento, reabilitação, educação, formação
ocupacional e prestação de serviços completos para garantir o melhor nível de
CPF: 030.720.271-29

independência e qualidade de vida para as pessoas portadoras de deficiência; e


c) sensibilização da população, por meio de campanhas de educação, destinadas a eliminar
preconceitos, estereótipos e outras atitudes que atentam contra o direito das pessoas a
serem iguais, permitindo desta forma o respeito e a convivência com as pessoas portadoras
Silva -- CPF:

de deficiência.

O tratado prevê ainda que os Estados deverão cooperar entre si para atingir os objetivos previstos
da Silva

na Convenção, bem como buscar a participação das pessoas com deficiência para elaborarem as medidas
Gouvea da

necessárias para sua consecução:


Eliovaine Gouvea

Artigo IV
Para alcançar os objetivos desta Convenção, os Estados Partes comprometem-se a:
Eliovaine

1. Cooperar entre si a fim de contribuir para a prevenção e eliminação da discriminação


contra as pessoas portadoras de deficiência.
2. Colaborar de forma efetiva no seguinte:
a) pesquisa científica e tecnológica relacionada com a prevenção das deficiências, o
tratamento, a reabilitação e a integração na sociedade de pessoas portadoras de
deficiência; e
b) desenvolvimento de meios e recursos destinados a facilitar ou promover a vida
independente, a auto-suficiência e a integração total, em condições de igualdade, à
sociedade das pessoas portadoras de deficiência.

Artigo V
1. Os Estados Partes promoverão, na medida em que isto for coerente com as suas
respectivas legislações nacionais, a participação de representantes de organizações de
pessoas portadoras de deficiência, de organizações não-governamentais que trabalham
nessa área ou, se essas organizações não existirem, de pessoas portadoras de deficiência,
na elaboração, execução e avaliação de medidas e políticas para aplicar esta Convenção.
2. Os Estados Partes criarão canais de comunicação eficazes que permitam difundir entre
as organizações públicas e privadas que trabalham com pessoas portadoras de deficiência
os avanços normativos e jurídicos ocorridos para a eliminação da discriminação contra as
pessoas portadoras de deficiência.

274
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O sistema de monitoramento da Convenção é através de relatórios, a serem dirigidos pelos Estados


à Comissão para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de
Deficiência, criada pela Convenção, em período de 4 anos:
Artigo VI
1. Para dar acompanhamento aos compromissos assumidos nesta Convenção, será
estabelecida uma Comissão para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
as Pessoas Portadoras de Deficiência, constituída por um representante designado por cada
Estado Parte.
2. A Comissão realizará a sua primeira reunião dentro dos 90 dias seguintes ao depósito do
décimo primeiro instrumento de ratificação. Essa reunião será convocada pela Secretaria-
Geral da Organização dos Estados Americanos e será realizada na sua sede, salvo se um
Estado Parte oferecer sede.
3. Os Estados Partes comprometem-se, na primeira reunião, a apresentar um relatório ao
Secretário-Geral da Organização para que o envie à Comissão para análise e estudo. No
futuro, os relatórios serão apresentados a cada quatro anos.
4. Os relatórios preparados em virtude do parágrafo anterior deverão incluir as medidas
que os Estados membros tiverem adotado na aplicação desta Convenção e qualquer
progresso alcançado na eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

portadoras de deficiência. Os relatórios também conterão todas circunstância ou


dificuldade que afete o grau de cumprimento decorrente desta Convenção.
5. A Comissão será o foro encarregado de examinar o progresso registrado na aplicação da
Convenção e de intercambiar experiências entre os Estados Partes. Os relatórios que a
Comissão elaborará refletirão o debate havido e incluirão informação sobre as medidas que
os Estados Partes tenham adotado em aplicação desta Convenção, o progresso alcançado
na eliminação de todas as formas de discriminação contra as pessoas portadoras de
deficiência, as circunstâncias ou dificuldades que tenham tido na implementação da
CPF: 030.720.271-29

Convenção, bem como as conclusões, observações e sugestões gerais da Comissão para o


cumprimento progressivo da mesma.
6. A Comissão elaborará o seu regulamento interno e o aprovará por maioria absoluta.
7. O Secretário-Geral prestará à Comissão o apoio necessário para o cumprimento de suas
Silva -- CPF:

funções.

Observa-se, portanto, que a Convenção criou sua própria Comissão de monitoramento, não
da Silva

delegando tal função à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Ademais, ao contrário de outros
Gouvea da

instrumentos regionais, não há qualquer cláusula que remeta a um sistema de peticionamento individual ou
Eliovaine Gouvea

possibilidade de acesso à Corte IDH.

10.3.5. O Estatuto da Pessoa com Deficiência:


Eliovaine

A Lei nº 13.146/15 decorre da ratificação da Convenção de Nova York e tem por objetivos assegurar
e promover a igualdade no gozo de direitos e liberdades fundamentais das pessoas com deficiência:
Art. 1º É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa
com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o
exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à
sua inclusão social e cidadania.
Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Nacional por meio do
Decreto Legislativo nº 186, de 9 de julho de 2008 , em conformidade com o procedimento
previsto no §3º do art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil , em vigor para
o Brasil, no plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e promulgados pelo Decreto
nº 6.949, de 25 de agosto de 2009 , data de início de sua vigência no plano interno.

Buscando regulamentar o conceito de deficiência, o Estatuto prevê a necessidade de avaliação


biopsicossocial a ser realizada por equipe multidisciplinar:
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo
de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais

275
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de


condições com as demais pessoas.
§1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe
multiprofissional e interdisciplinar e considerará:
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e
IV - a restrição de participação.
§2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.

O art. 3º da Lei traz as definições legais, merecendo destaque a de acessibilidade, e as diversas formas
de barreiras para a vida plena em sociedade:
Art. 3º Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se:
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e
autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes,
informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros
serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo,
tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade
reduzida;
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II - desenho universal: concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem


usados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de projeto específico,
incluindo os recursos de tecnologia assistiva;
III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos,
metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade,
relacionada à atividade e à participação da pessoa com deficiência ou com mobilidade
reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social;
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IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou


impeça a participação social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus
direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de expressão, à comunicação, ao
acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros,
classificadas em:
Silva -- CPF:

a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos
ao público ou de uso coletivo;
da Silva

b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios públicos e privados;


c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas e meios de transportes;
Gouvea da

d) barreiras nas comunicações e na informação: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou


Eliovaine Gouvea

comportamento que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de


mensagens e de informações por intermédio de sistemas de comunicação e de tecnologia
Eliovaine

da informação;
e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem a
participação social da pessoa com deficiência em igualdade de condições e oportunidades
com as demais pessoas;
f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com
deficiência às tecnologias;
V - comunicação: forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as
línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o
sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos
multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios
de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de
comunicação, incluindo as tecnologias da informação e das comunicações;
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações e ajustes necessários e adequados
que não acarretem ônus desproporcional e indevido, quando requeridos em cada caso, a
fim de assegurar que a pessoa com deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de
condições e oportunidades com as demais pessoas, todos os direitos e liberdades
fundamentais;
VII - elemento de urbanização: quaisquer componentes de obras de urbanização, tais como
os referentes a pavimentação, saneamento, encanamento para esgotos, distribuição de
energia elétrica e de gás, iluminação pública, serviços de comunicação, abastecimento e

276
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

distribuição de água, paisagismo e os que materializam as indicações do planejamento


urbanístico;
VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes nas vias e nos espaços públicos,
superpostos ou adicionados aos elementos de urbanização ou de edificação, de forma que
sua modificação ou seu traslado não provoque alterações substanciais nesses elementos,
tais como semáforos, postes de sinalização e similares, terminais e pontos de acesso
coletivo às telecomunicações, fontes de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, quiosques
e quaisquer outros de natureza análoga;
IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que tenha, por qualquer motivo, dificuldade
de movimentação, permanente ou temporária, gerando redução efetiva da mobilidade,
da flexibilidade, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso, gestante,
lactante, pessoa com criança de colo e obeso;
X - residências inclusivas: unidades de oferta do Serviço de Acolhimento do Sistema Único
de Assistência Social (Suas) localizadas em áreas residenciais da comunidade, com
estruturas adequadas, que possam contar com apoio psicossocial para o atendimento das
necessidades da pessoa acolhida, destinadas a jovens e adultos com deficiência, em
situação de dependência, que não dispõem de condições de autossustentabilidade e com
vínculos familiares fragilizados ou rompidos;
XI - moradia para a vida independente da pessoa com deficiência: moradia com estruturas
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adequadas capazes de proporcionar serviços de apoio coletivos e individualizados que


respeitem e ampliem o grau de autonomia de jovens e adultos com deficiência;
XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da família, que, com ou sem remuneração,
assiste ou presta cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência no exercício de suas
atividades diárias, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões
legalmente estabelecidas;
XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce atividades de alimentação, higiene e
locomoção do estudante com deficiência e atua em todas as atividades escolares nas quais
CPF: 030.720.271-29

se fizer necessária, em todos os níveis e modalidades de ensino, em instituições públicas e


privadas, excluídas as técnicas ou os procedimentos identificados com profissões
legalmente estabelecidas;
XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pessoa com deficiência, podendo ou não
Silva -- CPF:

desempenhar as funções de atendente pessoal.

O art. 4º da Lei traz a clausula geral de tratamento igualitário, vedando a discriminação e permitindo
da Silva

a adoção de ações afirmativas para minorar a desigualdade:


Gouvea da

Art. 4º Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as
Eliovaine Gouvea

demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.


§1º Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição
Eliovaine

ou exclusão, por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir
ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais de
pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento de
tecnologias assistivas.
§2º A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação
afirmativa.

Art. 5º A pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência,


discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano
ou degradante.
Parágrafo único. Para os fins da proteção mencionada no caput deste artigo, são
considerados especialmente vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com
deficiência.

O art. 6º da Lei é claro no sentido de distinguir a deficiência da capacidade civil. Um deficiente tem
direito à vida independente, não podendo sua deficiência ser confundida com incapacidade civil,
principalmente no que tange aos direitos de família e reprodutivos:
Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
I - casar-se e constituir união estável;
II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;

277
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações
adequadas sobre reprodução e planejamento familiar;
IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando,
em igualdade de oportunidades com as demais pessoas.

O art. 6º tem também importante caráter histórico, pois ao afirmar a independência e os direitos
familiares dos deficientes, acaba por afastar qualquer tipo de política ou legislação eugênica, como por
exemplo o Decreto-Lei nº 406/38 que impedia a imigração de deficientes:
Art. 1º – Não será permitida a entrada de estrangeiros, de um ou outro sexo:
l – aleijados ou mutilados, inválidos, cégos, surdos-mudos;
II – indigentes, vagabundos, ciganos e congêneres;
III – que apresentem afecção nervosa ou mental de qualquer natureza, verificada na
forma do regulamento, alcoolistas ou toxicomanos;
IV – doentes de moléstias infecto-contagiosas graves, especialmente tuberculose,
tracoma, infecção venérea, lepra e outras referidas nos regulamentos de saúde pública;
V – que apresentem lesões orgânicas com insuficiência funcional;
VI – menores de 18 anos e maiores de 60, que viajarem sós, salvo as exceções previstas no
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regulamento;
VII – que não provem o exercício de profissão lícita ou a posse de bens suficientes para
manter-se e às pessoas que os acompanhem na sua dependência;
VIII – de conduta manifestamente nociva à ordem pública, è segurança nacional ou à
estrutura das instituições;
IX – já anteriormente expulsos do país, salvo si o ato de expulsão tiver sido revogado;
X – condenados em outro país por crime de natureza que determine sua extradição,
CPF: 030.720.271-29

segundo a lei brasileira;


XI – que se entreguem à prostituição ou a explorem, ou tenham costumes manifestamente
imorais.
Parágrafo único – A enumeração acima não exclue o reconhecimento de outras
circunstâncias impeditivas, não se aplicando aos estrangeiros que vierem em caráter
Silva -- CPF:

temporário o disposto nos incisos I, V e VI.


da Silva

Caso uma autoridade tome ciência de lesão ou ameaça de lesão de direitos de pessoas com
deficiência, compete-lhe oficiar o Ministério Público, para que sejam adotas as previdências legais:
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

Art. 7º É dever de todos comunicar à autoridade competente qualquer forma de ameaça


ou de violação aos direitos da pessoa com deficiência.
Eliovaine

Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os juízes e os tribunais tiverem


conhecimento de fatos que caracterizem as violações previstas nesta Lei, devem remeter
peças ao Ministério Público para as providências cabíveis.

Ademais, pessoas com deficiência têm atendimento prioritário, nos termos da lei:
Art. 9º A pessoa com deficiência tem direito a receber atendimento prioritário, sobretudo
com a finalidade de:
I - proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;
II - atendimento em todas as instituições e serviços de atendimento ao público;
III - disponibilização de recursos, tanto humanos quanto tecnológicos, que garantam
atendimento em igualdade de condições com as demais pessoas;
IV - disponibilização de pontos de parada, estações e terminais acessíveis de transporte
coletivo de passageiros e garantia de segurança no embarque e no desembarque;
V - acesso a informações e disponibilização de recursos de comunicação acessíveis;
VI - recebimento de restituição de imposto de renda;
VII - tramitação processual e procedimentos judiciais e administrativos em que for parte ou
interessada, em todos os atos e diligências.
§1º Os direitos previstos neste artigo são extensivos ao acompanhante da pessoa com
deficiência ou ao seu atendente pessoal, exceto quanto ao disposto nos incisos VI e VII deste
artigo.

278
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

§2º Nos serviços de emergência públicos e privados, a prioridade conferida por esta Lei é
condicionada aos protocolos de atendimento médico.

O art. 8º do Estatuto prevê um rol (exemplificativo) de direitos às pessoas com deficiência, que são
aprofundados pelos arts. 10 a 87 da lei:
Art. 8º É dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência,
com prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à sexualidade, à
paternidade e à maternidade, à alimentação, à habitação, à educação, à profissionalização,
ao trabalho, à previdência social, à habilitação e à reabilitação, ao transporte, à
acessibilidade, à cultura, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à comunicação,
aos avanços científicos e tecnológicos, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência
familiar e comunitária, entre outros decorrentes da Constituição Federal, da Convenção
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo e das leis e de
outras normas que garantam seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Destaca-se ainda que o Estatuto introduziu tipos penais cometidos contra pessoas com deficiência.
Os delitos, têm sua função simbólica, em especial do art. 88 que se refere à discriminação de uma pessoa em
razão de sua deficiência. Há ainda tipos especais de abandono, estelionato e apropriação indébita:
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Art. 88. Praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
§1º Aumenta-se a pena em ⅓ (um terço) se a vítima encontrar-se sob cuidado e
responsabilidade do agente.
§2º Se qualquer dos crimes previstos no caput deste artigo é cometido por intermédio de
meios de comunicação social ou de publicação de qualquer natureza:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§3º Na hipótese do §2º deste artigo, o juiz poderá determinar, ouvido o Ministério Público
CPF: 030.720.271-29

ou a pedido deste, ainda antes do inquérito policial, sob pena de desobediência:


I - recolhimento ou busca e apreensão dos exemplares do material discriminatório;
II - interdição das respectivas mensagens ou páginas de informação na internet.
§4º Na hipótese do §2º deste artigo, constitui efeito da condenação, após o trânsito em
Silva -- CPF:

julgado da decisão, a destruição do material apreendido.


da Silva

Art. 89. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão, benefícios, remuneração ou


qualquer outro rendimento de pessoa com deficiência:
Gouvea da

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.


Eliovaine Gouvea

Parágrafo único. Aumenta-se a pena em ⅓ (um terço) se o crime é cometido:


I - por tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante, testamenteiro ou depositário
Eliovaine

judicial; ou
II - por aquele que se apropriou em razão de ofício ou de profissão.

Art. 90. Abandonar pessoa com deficiência em hospitais, casas de saúde, entidades de
abrigamento ou congêneres:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem não prover as necessidades básicas de
pessoa com deficiência quando obrigado por lei ou mandado.

Art. 91. Reter ou utilizar cartão magnético, qualquer meio eletrônico ou documento de
pessoa com deficiência destinados ao recebimento de benefícios, proventos, pensões ou
remuneração ou à realização de operações financeiras, com o fim de obter vantagem
indevida para si ou para outrem:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena em ⅓ (um terço) se o crime é cometido por tutor ou
curador.

10.3.6. Normas assistenciais de proteção aos deficientes:

279
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O benefício de prestação continuada da assistência social (BPC), é um benefício substitutivo de


renda, no valor de um salário-mínimo somente será pago aos necessitados (incapazes de prover a sua
manutenção) que, nos termos do art. 203, V da Constituição são os idosos e os portadores de deficiência.
A Lei Orgânica da Assistência Social ou LOA (Lei nº 8.724/93) regulamenta os requisitos para a
concessão do benefício em seu art. 20.
Em relação à pessoa idosa, sua idade deve ser igual ou superior a 65 anos. Portanto, não se deve
confundir com o conceito legal de idoso, que nos termos do art. 1º do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03) é
a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos de idade.
Quanto à pessoa com deficiência, o art. 20, §2º da lei traz o conceito de deficiência, para fins de
percepção do benefício, nos seguintes termos:
Art. 20 (...)
§2º Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa
com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
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Fábio Zambitte Ibrahim, Kerlly Huback Bragança e Melissa Folmann (2021, p. 15) explicam que o
caráter distintivo da deficiência é a impossibilidade de vida plena em sociedade. Portanto, não é necessária
incapacidade para o trabalho propriamente dita, mas sim um fator físico, intelectual ou sensorial que
imponha barreira para inteiração plena em sociedade.
Nos termos do art. 20, §10º da LOA, para a configuração do impedimento de longo prazo é necessário
CPF: 030.720.271-29

que o elemento físico, mental ou sensorial produza efeitos pelo prazo de no mínimo 2 anos:
Art. 20 (...)
§10. Considera-se impedimento de longo prazo, para os fins do §2º deste artigo, aquele
que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 12.470, de
Silva -- CPF:

2011)

É possível que mais de um membro da família receba o benefício:


da Silva

Art. 20 (...)
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

§15. O benefício de prestação continuada será devido a mais de um membro da mesma


família enquanto atendidos os requisitos exigidos nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.982, de
2020)
Eliovaine

Quanto à vulnerabilidade social, o art. 20 em sua redação originária previa que a renda per capta da
família deveria ser de até ¼ do salário-mínimo vigente.
O critério, segundo a jurisprudência, não é absoluto. Para o Superior Tribunal de Justiça outros
fatores poderiam comprovar a vulnerabilidade do idoso ou do deficiente:
PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL. ASSISTÊNCIA SOCIAL.
BENEFÍCIO DA PRESTAÇÃO CONTINUADA. REQUISITOS LEGAIS. ART. 20, §3º, DA LEI Nº
8.742/93.
I - A assistência social foi criada com o intuito de beneficiar os miseráveis, pessoas incapazes
de sobreviver sem a ação da Previdência.
II - O preceito contido no art. 20, §3º, da Lei nº 8.742/93 não é o único critério válido para
comprovar a condição de miserabilidade preceituada no artigo 203, V, da Constituição
Federal. A renda familiar per capita inferior a ¼do salário-mínimo deve ser considerada
como um limite mínimo, um quantum objetivamente considerado insuficiente à
subsistência do portador de deficiência e do idoso, o que não impede que o julgador faça
uso de outros fatores que tenham o condão de comprovar a condição de miserabilidade do
autor. Precedentes.
Agravo regimental desprovido.

280
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

(AgRg no REsp n. 523.864/SP, relator Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em
26/8/2003, DJ de 20/10/2003, p. 293.)

Posteriormente, o Supremo Tribunal Federal acabou por declarar a inconstitucionalidade, sem


pronúncia de nulidade do dispositivo (RE 567.985), para que esse critério não seja observado de forma
absoluta.
Além disso, o próprio legislador em outros programas assistenciais fixou o limite ½ salário-mínimo
para percepção de benefícios assistenciais. Daí, como regra, esse foi o valor adotado como regra na
jurisprudência.
Em 2020, a Lei nº 13.981/20 chegou a alterar os parâmetros para ½ salário-mínimo de forma geral.
Porém, em 2021, a lei foi novamente alterada, retornando o parâmetro de ¼ do salário-mínimo, mas com
possibilidade de sua flexibilização:
Art. 20 (...)
§3º Observados os demais critérios de elegibilidade definidos nesta Lei, terão direito ao
benefício financeiro de que trata o caput deste artigo a pessoa com deficiência ou a pessoa
idosa com renda familiar mensal per capita igual ou inferior a ¼ (um quarto) do salário-
mínimo. (Redação dada pela Lei nº 14.176, de 2021)
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

(...)
§11. Para concessão do benefício de que trata o caput deste artigo, poderão ser utilizados
outros elementos probatórios da condição de miserabilidade do grupo familiar e da
situação de vulnerabilidade, conforme regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
(...)
§11-A. O regulamento de que trata o §11 deste artigo poderá ampliar o limite de renda
mensal familiar per capita previsto no §3º deste artigo para até ½ (meio) salário-mínimo,
CPF: 030.720.271-29

observado o disposto no art. 20-B desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)
(...)
Art. 20-B. Na avaliação de outros elementos probatórios da condição de miserabilidade e
da situação de vulnerabilidade de que trata o §11 do art. 20 desta Lei, serão considerados
os seguintes aspectos para ampliação do critério de aferição da renda familiar mensal per
Silva -- CPF:

capita de que trata o §11-A do referido artigo: (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)
I – o grau da deficiência; (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)
da Silva

II – a dependência de terceiros para o desempenho de atividades básicas da vida diária; e


(Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

III – o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata o §3º do art. 20


desta Lei exclusivamente com gastos médicos, com tratamentos de saúde, com fraldas, com
alimentos especiais e com medicamentos do idoso ou da pessoa com deficiência não
Eliovaine

disponibilizados gratuitamente pelo SUS, ou com serviços não prestados pelo Suas, desde
que comprovadamente necessários à preservação da saúde e da vida. (Incluído pela Lei nº
14.176, de 2021)
§1º A ampliação de que trata o caput deste artigo ocorrerá na forma de escalas graduais,
definidas em regulamento. (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)
§2º Aplicam-se à pessoa com deficiência os elementos constantes dos incisos I e III do caput
deste artigo, e à pessoa idosa os constantes dos incisos II e III do caput deste artigo. (Incluído
pela Lei nº 14.176, de 2021)
§3º O grau da deficiência de que trata o inciso I do caput deste artigo será aferido por meio
de instrumento de avaliação biopsicossocial, observados os termos dos §§1º e 2º do art. 2º
da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), e do §6º do
art. 20 e do art. 40-B desta Lei. (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)
§4º O valor referente ao comprometimento do orçamento do núcleo familiar com gastos
de que trata o inciso III do caput deste artigo será definido em ato conjunto do Ministério
da Cidadania, da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia
e do INSS, a partir de valores médios dos gastos realizados pelas famílias exclusivamente
com essas finalidades, facultada ao interessado a possibilidade de comprovação, conforme
critérios definidos em regulamento, de que os gastos efetivos ultrapassam os valores
médios. (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)

281
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

O conceito de família, utilizado para o cálculo da renda per capta, para fins de percepção do benefício
está previsto no art. 20, §1º da Lei:
Art. 20 (...)
§1º Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge
ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos
solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o
mesmo teto. (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011)

Desde 2015 a lei prevê expressamente que valores recebidos na condição de aprendiz ou estagiário
não serão considerados no cômputo da renda per capta:
Art. 20 (...)
§9º Os rendimentos decorrentes de estágio supervisionado e de aprendizagem não serão
computados para os fins de cálculo da renda familiar per capita a que se refere o §3º deste
artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)

Seguindo a jurisprudência, a LOA passou a prever que o recebimento de um BPC por outro
beneficiário membro da família, não deverá ser considerado para o cômputo da renda per capta:
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Art. 20 (...)
§14. O benefício de prestação continuada ou o benefício previdenciário no valor de até 1
(um) salário-mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos de idade ou
pessoa com deficiência não será computado, para fins de concessão do benefício de
prestação continuada a outro idoso ou pessoa com deficiência da mesma família, no cálculo
da renda a que se refere o §3º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020)

A inscrição no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) é um requisito
CPF: 030.720.271-29

para a concessão do BPC, desde 2019, nos termos do art. 20, §12 da LOA:
Art. 20 (...)
§12. São requisitos para a concessão, a manutenção e a revisão do benefício as inscrições
no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e no Cadastro Único para Programas Sociais do
Silva -- CPF:

Governo Federal - Cadastro Único, conforme previsto em regulamento. (Incluído pela Lei nº
13.846, de 2019)
da Silva

O auxílio-inclusão, por sua vez, foi inserido pela Lei nº 14.176/21, tratando-se de um benefício de
Gouvea da

complementação de renda.
Eliovaine Gouvea

Apenas as pessoas com deficiência moderada ou grave que recebam o BPC e passem a exercer
Eliovaine

atividade, sendo enquadradas como seguradas do RGPS ou RPPS, ganhando remuneração de até 2 salários-
mínimos, serão beneficiárias desse novo benefício.
Ademais, eventual beneficiário deverá atender os critérios de manutenção do BPC relacionados à
vulnerabilidade social.
Art. 26-A. Terá direito à concessão do auxílio-inclusão de que trata o art. 94 da Lei nº
13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), a pessoa com
deficiência moderada ou grave que, cumulativamente: (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)
I – receba o benefício de prestação continuada, de que trata o art. 20 desta Lei, e passe a
exercer atividade:
a) que tenha remuneração limitada a 2 (dois) salários-mínimos; e
b) que enquadre o beneficiário como segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência
Social ou como filiado a regime próprio de previdência social da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios;
II – tenha inscrição atualizada no CadÚnico no momento do requerimento do auxílio-
inclusão;
III – tenha inscrição regular no CPF; e
IV – atenda aos critérios de manutenção do benefício de prestação continuada, incluídos os
critérios relativos à renda familiar mensal per capita exigida para o acesso ao benefício,
observado o disposto no §4º deste artigo.

282
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Como bem destaca Marisa Ferreira dos Santos (2022, p. 159) o intuito do benefício é que a pessoa
com deficiência consiga sua independência financeira.
O valor do benefício é de 50% do BPC, isto é, ½ salário-mínimo:
Art. 26-B. O auxílio-inclusão será devido a partir da data do requerimento, e o seu valor
corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do valor do benefício de prestação continuada
em vigor. (Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)

A lei previu ainda que pessoas que tenham recebido o BPC em um prazo de 5 anos do pedido
administrativo ou tenham o benefício suspenso pelo exercício de atividade remunerada, possam pedir a
benesse. Porém, em ambas as hipóteses não haverá a retroatividade do pagamento:
Art. 26-A. (...)
§1º O auxílio-inclusão poderá ainda ser concedido, nos termos do inciso I do caput deste
artigo, mediante requerimento e sem retroatividade no pagamento, ao beneficiário:
I – que tenha recebido o benefício de prestação continuada nos 5 (cinco) anos
imediatamente anteriores ao exercício da atividade remunerada; e
II – que tenha tido o benefício suspenso nos termos do art. 21-A desta Lei.
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

Para fins de apuração da renda per capta familiar, não serão computados:

• a remuneração advinda do auxílio-inclusão do beneficiário ou de membro de sua família.


• valores recebidos à título de BPC de membro da família do beneficiário;
• rendas provenientes de estágio remunerado ou aprendizagem; e
• renda de atividade labora de lapso inferior a 2 anos.
CPF: 030.720.271-29

Art. 26-A (...)


§2º O valor do auxílio-inclusão percebido por um membro da família não será considerado
no cálculo da renda familiar mensal per capita de que trata o inciso IV do caput deste artigo,
Silva -- CPF:

para fins de concessão e de manutenção de outro auxílio-inclusão no âmbito do mesmo


grupo familiar.
da Silva

§3º O valor do auxílio-inclusão e o da remuneração do beneficiário do auxílio-inclusão de


que trata a alínea “a” do inciso I do caput deste artigo percebidos por um membro da família
Gouvea da

não serão considerados no cálculo da renda familiar mensal per capita de que tratam os
Eliovaine Gouvea

§§3º e 11-A do art. 20 desta Lei para fins de manutenção de benefício de prestação
continuada concedido anteriormente a outra pessoa do mesmo grupo familiar.
Eliovaine

§4º Para fins de cálculo da renda familiar per capita de que trata o inciso IV do caput deste
artigo, serão desconsideradas:
I – as remunerações obtidas pelo requerente em decorrência de exercício de atividade
laboral, desde que o total recebido no mês seja igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos;
e
II – as rendas oriundas dos rendimentos decorrentes de estágio supervisionado e de
aprendizagem.

O auxílio-inclusão não pode ser recebido pelo titular de forma acumulada com:

• BPC;
• Benefícios previdenciários por incapacidade (temporária ou permanente); e
• Seguro-desemprego.

Art. 26-B
Parágrafo único. Ao requerer o auxílio-inclusão, o beneficiário autorizará a suspensão do
benefício de prestação continuada, nos termos do art. 21-A desta Lei.

Art. 26-C. O pagamento do auxílio-inclusão não será acumulado com o pagamento de:
(Incluído pela Lei nº 14.176, de 2021)

283
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

I – benefício de prestação continuada de que trata o art. 20 desta Lei;


II – prestações a título de aposentadoria, de pensões ou de benefícios por incapacidade
pagos por qualquer regime de previdência social; ou
III – seguro-desemprego.

O auxílio-inclusão cessará quando o beneficiário deixa de atender os critérios de manutenção do BPC


ou não os critérios para o recebimento do benefício:
Art. 26-D. O pagamento do auxílio-inclusão cessará na hipótese de o beneficiário: (Incluído
pela Lei nº 14.176, de 2021)
I – deixar de atender aos critérios de manutenção do benefício de prestação continuada; ou
II – deixar de atender aos critérios de concessão do auxílio-inclusão.
Parágrafo único. Ato do Poder Executivo federal disporá sobre o procedimento de
verificação dos critérios de manutenção e de revisão do auxílio-inclusão.

10.3.7. A aposentadoria dos portadores de deficiência no âmbito do Regime


Geral da Previdência Social:

As pessoas com deficiência sempre tiveram tutela previdenciária na condição de dependentes de


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segurados dos regimes de previdência social. A Lei nº 8.213/91, por exemplo, em sua redação originária
previa como dependente o “filho inválido”, “cônjuge, companheira ou companheiro inválido” e o “irmão
inválido”. Tal “categoria” abarcava as pessoas que não poderiam trabalhar, o que, historicamente, estavam
inseridas as pessoas com deficiência.
Posteriormente, esse estereótipo foi sendo mitigado, havendo uma cisão entre a invalidez para o
trabalho e a deficiência. A Lei nº 12.470/11, passou a considerar dependentes filhos, cônjuges ou
CPF: 030.720.271-29

companheiros e irmãos inválidos ou que portadores de deficiência intelectual ou mental que os tornassem
absoluta ou relativamente incapazes, desde que declarado judicialmente.
Atualmente, após a Lei nº 13.146/15 são considerados dependentes apenas filhos, cônjuges ou
companheiros e irmãos, que tenham deficiência intelectual ou mental ou deficiência grave.
Silva -- CPF:

A Emenda Constitucional nº 47/05 inseriu no texto constitucional a possibilidade de lei


da Silva

complementar dispor sobre critérios diferenciados de idade e tempo de contribuição para a aposentadoria
dos segurados com deficiência. Vê-se, portanto, que desde aqui passa-se a entender que uma pessoa com
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

deficiência não só pode trabalhar e, com isso, ter direitos previdenciários, como também deve, em razão de
suas peculiaridades, ter requisitos diferenciados para a concessão de aposentadoria, em observância do
princípio da igualdade material.
Eliovaine

A previsão constitucional foi mantida pela Emenda Constitucional nº 103/19 (Nova reforma da
previdência), porém, com a exigência de avaliação biopsicossocial do segurado:
Art. 201 (...)
§1º É vedada a adoção de requisitos ou critérios diferenciados para concessão de
benefícios, ressalvada, nos termos de lei complementar, a possibilidade de previsão de
idade e tempo de contribuição distintos da regra geral para concessão de aposentadoria
exclusivamente em favor dos segurados: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 103,
de 2019)
I - com deficiência, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada por
equipe multiprofissional e interdisciplinar; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 103, de
2019)

A norma constitucional foi regulamentada apenas em 2013, com a Lei Complementar nº 142/13.
A Emenda Constitucional nº 103/19 previu expressamente que para os servidores do RPPS, com
tempo mínimo de 10 anos de efetivo exercício no setor público e 5 anos em cargo efetivo, aplicando-se as
demais normas da Lei Complementar nº 142/13.

284
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Art. 22. Até que lei discipline o §4º-A do art. 40 e o inciso I do §1º do art. 201 da Constituição
Federal, a aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de
Previdência Social ou do servidor público federal com deficiência vinculado a regime próprio
de previdência social, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 10
(dez) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em
que for concedida a aposentadoria, será concedida na forma da Lei Complementar nº 142,
de 8 de maio de 2013, inclusive quanto aos critérios de cálculo dos benefícios.
Parágrafo único. Aplicam-se às aposentadorias dos servidores com deficiência dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios as normas constitucionais e infraconstitucionais
anteriores à data de entrada em vigor desta Emenda Constitucional, enquanto não
promovidas alterações na legislação interna relacionada ao respectivo regime próprio de
previdência social.

O conceito de deficiência previsto na lei repete o conceito da Convenção de Nova York, reproduzidos
também na Lei Orgânica da Assistência Social e no Estatuto das Pessoas com Deficiência:
Art. 2º Para o reconhecimento do direito à aposentadoria de que trata esta Lei
Complementar, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com
diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em
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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

igualdade de condições com as demais pessoas.

Fábio Zambitte Ibrahim, Kerlly Huback Bragança e Melissa Folmann (2021, p. 612) destacam que a
noção de deficiência atualmente nada tem a ver com a habilidade para o trabalho. Ao contrário, a pessoa é
plenamente apta a trabalhar, tanto que é segurada do RGPS, porém ela não tem as mesmas condições que
os demais para a realização de tarefas diárias e, por isso, merece tratamento diferenciado.
CPF: 030.720.271-29

A Lei Complementar prevê alterações no tempo mínimo de contribuição, considerando-se o grau de


deficiência do segurado:

GRAU MULHERES HOMENS


Silva -- CPF:

Leve 28 anos 33 anos


da Silva
Gouvea da

Moderada 24 anos 29 anos


Eliovaine Gouvea

Grave 20 anos 25 anos


Eliovaine

A idade também foi alterada pela Lei Complementar, devendo as mulheres ter 55 anos de idade e os
homens 60 anos de idade, independentemente do grau da deficiência. A deficiência, por sua vez, deve estar
presente há pelo menos 15 anos.
A Lei Complementar nº 142/13 delegou ao Poder Executivo a definição dos graus de deficiência,
tendo o Decreto nº 8.145/13 remetido à ato conjunto do Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos
Humanos da Previdência da República e dos Ministros da Previdência Social, da Fazenda e do Planejamento,
Orçamento e Gestão, com o Advogado-Geral da União, os critérios de avaliação a serem praticados pelo INSS.
O art. 2º, §1º do Estatuto da Pessoa com Deficiência dispõe que para a aferição da deficiência deverão
ser considerados as seguintes condições:
Art. 2º (...)
§1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe
multiprofissional e interdisciplinar e considerará:
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e

285
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

IV - a restrição de participação.
§2º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.

Sobre o tema, ganha destaque a Lei nº 14.126/21 buscou pôr fim a uma controvérsia jurisprudencial,
inserindo a visão monocular como uma deficiência sensorial, do tipo visual.
Sendo perfeitamente possível que o segurado adquira a deficiência após ter se filiado ao RGPS, ou
mesmo que haja alterações de seu grau no decorrer de sua vida (agravamento ou melhora), a lei prevê a
possibilidade de conversão do tempo de contribuição comum para o tempo de contribuição relacionado ao
grau de deficiência:

MULHERES

Tempo a ser convertido Para 20 anos Para 24 anos Para 28 anos Para 30 anos

De 20 anos 1 1,2 1,4 1,5

De 24 anos 0,83 1 1,17 1,25


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030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

De 28 anos 0,71 0,86 1 1,07

De 30 anos 0,67 0,8 0,93 1


CPF: 030.720.271-29

HOMENS

Tempo a ser convertido Para 25 anos Para 29 anos Para 33 anos Para 35 anos
Silva -- CPF:
da Silva

De 25 anos 1 1,16 1,32 1,4


Gouvea da
Eliovaine Gouvea

De 29 anos 0,86 1 1,14 1,21


Eliovaine

De 33 anos 0,76 0,88 1 1,06

De 35 anos 0,71 0,83 0,94 1

Todos os segurados portadores de deficiência são elegíveis à aposentadoria por tempo de


contribuição, desde que não contribuam com alíquota reduzida. Já para a aposentadoria por idade, todos os
segurados são elegíveis, independentemente da forma de contribuição.
O tempo de carência para a concessão do benefício é de 180 contribuições mensais.
Em relação ao cálculo da renda mensal inicial, no caso da aposentadoria por tempo de contribuição,
a RMI será de 100% do salário de benefício. Tratando-se da aposentadoria por idade, a RMI é de 70% do
salário de benefício, acrescidos de 1% por grupo de 12 contribuições mensais, até o máximo de 30%.
Interessante notar que o antigo cálculo do salário de contribuição foi mantido expressamente pela
Emenda Constitucional nº 103/19:
Art. 22. Até que lei discipline o §4º-A do art. 40 e o inciso I do §1º do art. 201 da Constituição
Federal, a aposentadoria da pessoa com deficiência segurada do Regime Geral de

286
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

Previdência Social ou do servidor público federal com deficiência vinculado a regime próprio
de previdência social, desde que cumpridos, no caso do servidor, o tempo mínimo de 10
(dez) anos de efetivo exercício no serviço público e de 5 (cinco) anos no cargo efetivo em
que for concedida a aposentadoria, será concedida na forma da Lei Complementar nº 142,
de 8 de maio de 2013, inclusive quanto aos critérios de cálculo dos benefícios.

Logo, deve ser considerada a média aritmética simples dos 80% maiores salários de contribuição,
desde julho de 1994. Há de se aplicar compulsoriamente o fator previdenciário para a aposentadoria por
tempo de contribuição, sendo esse facultativo na aposentadoria por idade.
Não obstante a disposição constitucional, o Decreto nº 10.410/20 determinou a apuração do salário
de contribuição nos termos do art. 26 da Emenda Constitucional nº 103/19, considerando 100% dos salários
de contribuição, mas sem a multiplicação pelo fator previdenciário.

QUESTÕES
303. (CESPE / CEBRASPE - 2022 - DPE-SE - Defensor Público) Considerando-se o que prevê a Convenção
Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência a respeito do trabalho e emprego, é correto
afirmar que é dever dos Estados-partes dessa convenção
eliovaine@hotmail·com

a) garantir incentivos remuneratórios específicos, de caráter compensatório e superior ao pago aos seus
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

pares, como forma de indenizar os custos de adaptação ao trabalho.


b) exigir que os empregadores efetuem todas as adaptações no local de trabalho necessárias para garantir
o máximo conforto e eficiência das pessoas com deficiência.
c) custear, de forma gratuita e universal, a reabilitação profissional e o retorno ao trabalho das pessoas
com deficiência.
d) promover o emprego de pessoas com deficiência no setor privado, mediante políticas e medidas
CPF: 030.720.271-29

apropriadas, que poderão incluir programas de ação afirmativa, incentivos e outras medidas.
e) estabelecer ações afirmativas e uma política de cotas para que as pessoas com deficiência tenham vagas
reservadas nas entidades sindicais ou de representação de direitos trabalhistas.
Silva -- CPF:

304. (FUMARC - 2021 - PC-MG - Escrivão de Polícia) Sobre a Convenção Interamericana para a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, NÃO é correto afirmar
da Silva

que
Gouvea da

a) estabelece como mecanismo de monitoramento a criação da Comissão para a Eliminação de Todas as


Eliovaine Gouvea

Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, que é constituída por um


representante designado por cada Estado Parte.
Eliovaine

b) foi aprovada, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, nos termos do §3º, do art. 5º, da Constituição Federal de 1988, incorporada,
portanto, com hierarquia interna equivalente ao de emenda constitucional.
c) permite a adoção de ações afirmativas em benefício das pessoas com deficiência, ao explicitar que não
constitui discriminação a diferenciação ou preferência adotada pelo Estado para promover a integração
social ou o desenvolvimento pessoal dessas pessoas, desde que a diferenciação ou preferência não limite
em si mesma o seu direito à igualdade e que as pessoas com deficiência não sejam obrigadas a aceitar
tal diferenciação ou preferência.
d) prevê que os Estados devem tomar as medidas de caráter legislativo, social, educacional, trabalhista, ou
de qualquer outra natureza, que sejam necessárias para eliminar a discriminação contra as pessoas com
deficiência e proporcionar a sua plena integração à sociedade.

305. (FUMARC - 2021 - PC-MG - Delegado de Polícia Substituto) A respeito do Tratado de Marraqueche sobre
acesso facilitado a obras publicadas, NÃO é correto afirmar:
a) Estabelece que a permissão de acesso a obras em formato alternativo às pessoas com dificuldade para
leitura de material impresso é exceção ou limitação aos direitos de reprodução.
b) Nos termos do Tratado de Marraqueche, para que a obra seja convertida para um exemplar em formato
acessível, é imprescindível a autorização do titular do direito autoral.

287
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

c) O Tratado de Marraqueche foi negociado no seio da Organização Mundial da Propriedade Intelectual


(OMPI), tendo sido fruto de proposta apresentada por Brasil, Equador e Paraguai, em maio de 2009, para
pagar dívida histórica com as pessoas com deficiência visual.
d) Prevê o Intercâmbio Transfronteiriço de Exemplares em Formato Acessível.

306. (FCC - 2021 - DPE-SC - Defensor Público) Acerca da Convenção Interamericana sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência e da Declaração das Nações
Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, considere:
I. Para alcançar os objetivos da Convenção Interamericana sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra Pessoas Portadoras de Deficiência, os Estados Partes comprometem-se a trabalhar
prioritariamente na prevenção de todas as formas de deficiência preveníveis.
II. A Convenção Interamericana sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra Pessoas
Portadoras de Deficiência estabelece que os Estados reconhecem que mulheres e meninas com deficiência
estão sujeitas a múltiplas formas de discriminação e, assim, tomarão medidas para assegurar-lhes o pleno e
igual exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais.
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III. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas garante o direito de os povos
indígenas manterem e desenvolverem seus sistemas ou instituições políticas, econômicas e sociais, e que
lhes seja assegurado o desfrute de seus próprios meios de subsistência e desenvolvimento e de dedicar-se
livremente a todas as suas atividades econômicas, tradicionais e de outro tipo.
IV. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas permite o desenvolvimento de
atividades militares nas terras ou territórios dos povos indígenas, justificadas por um interesse público
CPF: 030.720.271-29

pertinente, caso em que se dispensa a consulta por procedimentos específicos ou por instituições
representativas.
V. A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas estabelece o direito das crianças
indígenas a todas as formas de educação do Estado até o ensino fundamental, garantida a educação em sua
Silva -- CPF:

própria cultura e em seu próprio idioma.


da Silva

Está correto o que se afirma APENAS em


Gouvea da

a) II e V.
Eliovaine Gouvea

b) I e II.
c) III e IV.
Eliovaine

d) I e III.
e) III, IV e V.

307. (FGV - 2021 - FUNSAÚDE - CE – Advogado) Joana e Ana, ativistas dos Direitos Humanos, travaram
intenso debate a respeito dos fatores a serem considerados para a identificação de uma pessoa com
deficiência. Joana considerava, como tal, aquela que tivesse impedimento, de curto ou de longo prazo,
decorrente de fatores pessoais e de sua interação com um ou mais fatores externos (barreiras), sendo
tal impedimento passível de obstruir a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas.
Ana, por sua vez, entendia que a deficiência era uma característica afeta exclusivamente aos aspectos
inerentes à pessoa, daí decorrendo a desconsideração de fatores externos para a sua caracterização, gerando
um impedimento de longo prazo para a participação, em igualdade, no ambiente social. À luz da sistemática
vigente, assinale a afirmativa correta.
a) Joana erra ao admitir a caracterização da pessoa com deficiência como aquela que tem impedimento de
curto prazo, enquanto Ana também erra, ao desconsiderar a influência de fatores externos para a sua
caracterização.

288
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

b) Ana está errada ao considerar somente os aspectos inerentes à pessoa como caracterizadores da
deficiência, desconsiderando a influência das barreiras, e ao negar a deficiência de curto prazo.
c) Joana está errada ao admitir a caracterização da pessoa com deficiência como aquela que tem
impedimento de curto prazo, bem como ao reconhecer que fatores externos podem concorrer para
tanto.
d) Ana está completamente certa, enquanto Joana erra ao admitir que fatores externos possam concorrer
para a caracterização de uma pessoa com deficiência.
e) Joana está completamente certa, enquanto Ana erra ao negar a possibilidade de o impedimento de curto
prazo caracterizar a pessoa como deficiente.

308. (FCC - 2021 - DPE-BA - Defensor Público) Defensor(a) público(a) realizou diversas inspeções em
entidades de acolhimento social e internação em saúde voltadas para pessoas com deficiência no estado
da Bahia, financiadas pelo governo estadual, e constatou graves violações de direitos previstos na Lei
Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência e na Convenção Internacional sobre Direitos das
Pessoas com Deficiência. Assim, propôs ação civil pública para que as entidades e o próprio Estado
realizassem adequações na forma de atendimento disponibilizado, a qual foi indeferida liminarmente
com base na teoria da reserva do possível. A seguir, manejou todos os recursos cabíveis internamente,
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os quais não foram aceitos. Nesse sentido, após analisar a jurisprudência interamericana sobre o tema,
o(a) defensor(a) público(a) entende que a melhor estratégia é acionar o Comitê sobre Direitos das
Pessoas com Deficiência da ONU. Diante do exposto e para formalizar a denúncia individual junto ao
Comitê sobre Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, o(a) defensor(a) público(a) deverá
a) representar à Associação Interamericana de Defensorias Públicas (AIDEF) para que seja formalizada a
denúncia individual junto ao Comitê sobre Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU.
b) representar ao(à) Procurador(a)-Geral da República para que suscite incidente de deslocamento de
CPF: 030.720.271-29

competência para a Justiça Federal e, em caso de indeferimento, formalizar a denúncia junto ao Comitê
sobre Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU.
c) elaborar a denúncia individual e encaminhar ao(à) Defensor(a) Público(a) Interamericano(a) com atuação
no Brasil, para que esse(a) represente o grupo de vítimas hipossuficientes já identificadas.
Silva -- CPF:

d) relatar o caso e encaminhar ao Ministério das Relações Exteriores para que formalize denúncia ao Comitê
sobre Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU.
da Silva

e) elaborar a denúncia individual e formalizá-la diretamente ao Comitê sobre Direitos das Pessoas com
Gouvea da

Deficiência da ONU, sem prejuízo dos trâmites de comunicação interna na Defensoria Pública do Estado
Eliovaine Gouvea

da Bahia.
Eliovaine

309. (DPE-RJ - 2021 - DPE-RJ - Residência Jurídica) Acerca da caracterização e do conceito de pessoa com
deficiência na ordem interna e internacional, considere as seguintes afirmativas.
I – As deficiências são definidas a partir de uma lista fechada de diagnósticos.
II – A avaliação da deficiência deve ser feita de acordo com critérios biopsicossociais.
III – O modelo atualmente em vigor para caracterização das pessoas com deficiência é o modelo médico.
IV – O modelo atualmente em vigor para caracterização das pessoas com deficiência é o modelo social.
Estão corretas as afirmativas constantes dos itens:
a) I, II, III e IV.
b) I, II e III.
c) I, II e IV.
d) I e III.
e) II e IV.

289
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

310. (CESPE / CEBRASPE - 2021 - PRF) A Convenção Internacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência
possui status supraconstitucional no ordenamento pátrio, sendo um exemplo de instrumento normativo
internacional de caráter inclusivo adotado pelo Brasil para promover a acessibilidade e a
autodeterminação de pessoas com deficiência.

311. (IBFC - 2020 - TRE-PA - Analista Judiciário) Dentre as medidas apropriadas para assegurar que as pessoas
com deficiência possam exercer seu direito à liberdade de expressão e opinião, analise as afirmativas
abaixo e dê valores de Verdadeiro (V) ou Falso (F).
( ) Fornecer, prontamente e sem custo adicional, às pessoas com deficiência, todas as informações
destinadas ao público em geral, em formatos acessíveis e tecnologias apropriadas aos diferentes tipos de
deficiência.
( ) Aceitar e facilitar, em trâmites oficiais, o uso de línguas de sinais, braille, comunicação aumentativa e
alternativa, e de todos os demais meios, modos e formatos acessíveis de comunicação, à escolha das pessoas
com deficiência.
( ) Urgir as entidades públicas que oferecem serviços ao público em geral, inclusive por meio da Internet, a
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fornecer informações e serviços em formatos acessíveis, que possam ser usados por pessoas com deficiência,
sendo que tal medida não poderá ser feita com as entidades privadas.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.
a) V, V, V
b) V, V, F
c) V, F, V
CPF: 030.720.271-29

d) F, F, V

312. (IBFC - 2020 - TRE-PA - Analista Judiciário) O Decreto Legislativo nº 186/2008, que aprovou o texto da
Silva -- CPF:

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, aborda a
mobilidade pessoal das pessoas com deficiência. Sobre o assunto, analise as afirmativas abaixo:
da Silva

I. Facilitar a mobilidade pessoal das pessoas com deficiência, na forma e no momento em que elas quiserem,
Gouvea da

e a custo acessível.
Eliovaine Gouvea

II. Propiciar às pessoas com deficiência e ao pessoal especializado uma capacitação em técnicas de
mobilidade.
Eliovaine

III. Incentivar o isolamento das pessoas com deficiência, para que não se machuquem diante das barreiras
existentes na sociedade.
Assinale a alternativa correta sobre as medidas efetivas para assegurar às pessoas com deficiência sua
mobilidade pessoal com a máxima independência possível.
a) As afirmativas I, II e III estão corretas
b) Apenas as afirmativas I e II estão corretas
c) Apenas as afirmativas I e III estão corretas
d) Apenas a afirmativa I está correta

313. (IBFC - 2020 - TRE-PA - Técnico Judiciário) No que diz respeito aos deveres e condutas dos Estados
Partes, de acordo com o Decreto Legislativo nº 186/2008, que aprovou o texto da Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, analise as afirmativas abaixo e dê valores Verdadeiro (V) ou Falso
(F).
( ) Os Estados Partes reconhecem que todas as pessoas são iguais perante e sob a lei e que fazem jus, sem
qualquer discriminação, a igual proteção e igual benefício da lei.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

( ) Os Estados Partes proibirão qualquer discriminação baseada na deficiência e garantirão às pessoas com
deficiência igual e efetiva proteção legal contra a discriminação por qualquer motivo.
( ) Os Estados Partes adotarão medidas para aplicação do desenho universal, mas não para que a adaptação
razoável seja oferecida.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo:
a) V, V, V
b) V, V, F
c) V, F, V
d) F, F, V

314. (IBFC - 2020 - TRE-PA - Técnico Judiciário) Sobre as definições estabelecidas pelo Decreto Legislativo nº
186/2008, que aprovou o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu
Protocolo Facultativo, assinados em Nova Iorque, em 30 de março de 2007, assinale a alternativa
correta.
a) "Adaptação razoável" significa qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência,
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com o propósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em


igualdade de oportunidades com as demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais nos âmbitos político, econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro
b) "Discriminação por motivo de deficiência" significa as modificações e os ajustes necessários e adequados
que não acarretem ônus desproporcional ou indevido, quando requeridos em cada caso, a fim de
assegurar que as pessoas com deficiência possam gozar ou exercer, em igualdade de oportunidades com
as demais pessoas, todos os direitos humanos e liberdades fundamentais
CPF: 030.720.271-29

c) "Comunicação" abrange as línguas, a visualização de textos, o braille, a comunicação tátil, os caracteres


ampliados, os dispositivos de multimídia acessível, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os
sistemas auditivos e os meios de voz digitalizada e os modos, meios e formatos aumentativos e
alternativos de comunicação, inclusive a tecnologia da informação e comunicação acessíveis
Silva -- CPF:

d) "Desenho universal" abrange as línguas faladas e de sinais e outras formas de comunicação não-falada
da Silva

315. (FURB - 2019 - Prefeitura de Porto Belo - SC – Advogado) A Convenção Internacional sobre os Direitos
Gouvea da

das Pessoas com Deficiência, assinada em Nova York, em 30 de março de 2007, tem por propósito
Eliovaine Gouvea

promover, proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente.
Eliovaine

Essa Convenção Internacional estabeleceu os seguintes princípios gerais: a) O respeito pela dignidade
inerente, a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência
das pessoas; b) A não discriminação; c) A plena e efetiva participação e inclusão na sociedade; d) O
respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana
e da humanidade; e) A igualdade de oportunidades; f) A acessibilidade; g) A igualdade entre o homem e
a mulher; h) O respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças com deficiência e pelo
direito das crianças com deficiência de preservar sua identidade.
Sabendo que essa Convenção foi aprovada em cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos de votação
e por unanimidade, assinale a alternativa correta:
a) Essa Convenção Internacional ingressará no ordenamento jurídico brasileiro e será equivalente à emenda
constitucional.
b) Essa Convenção Internacional ingressará no ordenamento jurídico brasileiro e será equivalente à lei
ordinária.
c) Essa Convenção Internacional não ingressará no ordenamento jurídico brasileiro, porque não respeitou
o procedimento legislativo do §3º do art. 5º da Constituição da República.
d) Essa Convenção Internacional ingressará no ordenamento jurídico brasileiro e será equivalente à lei
complementar, já que versa sobre direitos humanos.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

e) Essa Convenção Internacional não ingressará no ordenamento jurídico brasileiro (porque não respeitou
o procedimento legislativo do §3º do art. 5º da Constituição da República), a menos que o Congresso
Nacional lhe confira o status de medida provisória, hipótese que deverá ser ratificada pelo Presidente da
República mediante Decreto.

316. (FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) Segundo o disposto no Protocolo Facultativo à
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Decreto n° 6.949/2009) acerca das
comunicações submetidas ao Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, por pessoas ou
grupo de pessoas que aleguem serem vítimas de violação das disposições da Convenção por Estados-
Partes,
a) devem ter sido esgotados todos os recursos internos disponíveis, ainda que a tramitação desses recursos
se prolongue injustificadamente.
b) é admissível a comunicação anônima.
c) os fatos que motivaram a comunicação podem ter ocorrido antes da entrada em vigor do Protocolo para
o Estado-Parte em apreço, ainda que não mais continuem ocorrendo.
d) o fato de a comunicação estar precariamente fundamentada ou não suficientemente substanciada não
impede a sua admissibilidade.
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e) a comunicação será inadmissível quando a mesma matéria já tenha sido ou esteja sendo examinada sob
outro procedimento de investigação ou resolução internacional.

317. (FCC - 2019 - MPE-MT - Promotor de Justiça Substituto) A propósito da Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo (Decreto n° 6.949/2009),
a) a aprovação havida por meio de Decreto Legislativo do Congresso Nacional com o quórum qualificado
CPF: 030.720.271-29

de maioria absoluta dos membros de suas Casas assegura-lhe o status de norma supralegal no
ordenamento jurídico brasileiro.
b) os Estados-Partes reconhecerão que as pessoas com deficiência gozam de capacidade legal limitada, em
desigualdade de condições com as demais pessoas em todos os aspectos da vida.
Silva -- CPF:

c) as pessoas com deficiência deverão ter assegurado acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e
gratuito, e ao ensino secundário, em desigualdade de condições com as demais pessoas na comunidade
da Silva

em que vivem.
d) os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas para assegurar o pleno desenvolvimento, o
Gouvea da

avanço e o empoderamento das mulheres, a fim de garantir-lhes o exercício e o gozo dos direitos
Eliovaine Gouvea

humanos e liberdades fundamentais estabelecidos na Convenção.


e) o Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência poderá receber comunicações submetidas por
Eliovaine

pessoas ou grupo de pessoas que aleguem serem vítimas de violação das disposições da Convenção,
referentes a qualquer Estado, signatário ou não do Protocolo Facultativo à Convenção.

318. (VUNESP - 2019 - Câmara de Piracicaba - SP – Advogado) Assinale a alternativa que contém uma
informação correta a respeito do Comitê sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, nos termos do
que prevê o Decreto n° 6.949/09, que promulgou a Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.
a) O Comitê entrou em vigor com 18 membros, podendo ser acrescido de mais seis membros ao alcançar
60 ratificações ou adesões.
b) Os membros desse Comitê são eleitos por votação aberta e justificada em sessões da Conferência dos
Estados Partes, a partir de uma lista de pessoas designadas pelos Estados Partes entre seus nacionais.
c) O Comitê tem liberdade para estabelecer suas próprias normas de procedimento.
d) Em caso de morte, demissão ou declaração de um membro de que, por algum motivo, não poderá
continuar a exercer suas funções, o Estado Parte que o tiver indicado não terá direito de designar um
outro perito abrindo-se imediatamente novas eleições.
e) O mandato dos membros eleitos na primeira eleição expirou ao fim de quatro anos da vigência da
Convenção.

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

319. (CESPE - 2019 - TJ-PR - Juiz Substituto) Entre os princípios gerais previstos no texto da Convenção
Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência inclui-se, expressamente, o princípio
a) da tolerância.
b) da igualdade entre homem e mulher.
c) do cuidado em tempo integral.
d) da prioridade de atendimento.

320. (FUMARC - 2018 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil) Sobre o acesso das pessoas cegas ou com deficiência
visual (Tratado de Marraquexe) à leitura, pode-se afirmar, EXCETO:
a) No Brasil, o Congresso Nacional aprovou o Tratado por três quintos dos votos dos membros de cada Casa,
em dois turnos, isto é, pelo procedimento previsto no art. 5º, §3º, da Constituição.
b) O Tratado do Livro Acessível define as expressões “obras”, “exemplar em formato acessível” e “entidade
autorizada”.
c) O Tratado do Livro Acessível não limita os direitos de propriedade intelectual de autores e editores.
d) O tratado tem por destinatários todas as pessoas: a) cegas; b) que tenham uma deficiência visual ou
outra incapacidade de percepção ou de leitura que não possa ser corrigida para se obter uma acuidade
eliovaine@hotmail·com
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visual substancialmente equivalente à de uma pessoa que não tenha esse tipo de deficiência ou
dificuldade, e para quem é impossível ler material impresso de uma forma substancialmente equivalente
à de uma pessoa sem essa deficiência ou dificuldade; c) que estejam impossibilitadas, de qualquer outra
maneira, devido a uma incapacidade física, de sustentar ou manipular um livro ou focar ou mover os
olhos da forma que normalmente seria apropriado para a leitura.
CPF: 030.720.271-29

321. (FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Consultor Legislativo) O Decreto n° 6.949/2009,
que promulgou a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo
Facultativo, prevê, dentre as medidas de conscientização sobre as condições das pessoas com
deficiência e respeito por seus direitos e dignidade:
Silva -- CPF:

a) Assegurar que as entidades privadas que oferecem instalações e serviços abertos ao público ou de uso
público levem em consideração todos os aspectos relativos à acessibilidade para pessoas com deficiência.
da Silva

b) Fomentar em todos os níveis do sistema educacional, incluindo neles todas as crianças desde tenra idade,
uma atitude de respeito para com os direitos das pessoas com deficiência.
Gouvea da

c) Promover outras formas apropriadas de assistência e apoio a pessoas com deficiência, a fim de assegurar
Eliovaine Gouvea

a essas pessoas o acesso a informações.


d) Assegurar o efetivo acesso das pessoas com deficiência à justiça, em igualdade de condições com as
Eliovaine

demais pessoas.
e) Proibir a privação ilegal ou arbitrária da liberdade de pessoas com deficiência e que toda privação de
liberdade esteja em conformidade com a lei e a existência da deficiência não justifique tal privação.

322. (FCC - 2018 - DPE-AM - Analista Jurídico de Defensoria) O Brasil, tendo ratificado a Convenção dos
Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, comprometeu-se a assegurar e
promover o pleno exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais das pessoas com
deficiência, o que englobou:
a) Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação baseada em deficiência, por parte de
qualquer pessoa, organização ou empresa, desde que não privada.
b) Adotar medidas necessárias para revogar leis que possam constituir discriminação contra a pessoa com
deficiência.
c) Reconhecer que o fator limitador da pessoa com deficiência é sua própria deficiência e não o ambiente
em que a pessoa está inserida.
d) Proteger a pessoa com deficiência por meio da interdição civil.
e) Assegurar que todos os programas e instalações destinados a atender pessoas com deficiência sejam
monitorados por autoridades locais, ligados ao poder central executivo do Estado.

293
PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS • 2

323. (PGR - 2017 - PGR - Procurador da República) Dentre os enunciados abaixo, somente estão corretos:
I - O "Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência
Visual ou com outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso" adotou o "teste dos três passos", pelo
qual é admissível a limitação do direito do autor de determinada obra, mesmo sem o consentimento do
titular dos direitos autorais.
II - A proteção da pessoa com transtorno do espectro autista abrange o direito à educação na escola regular,
bem como estabelece a proibição do uso de denominações pejorativas ou discriminatórias.
III - A Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência não prevê, de modo expresso, o
respeito à autonomia e independência das pessoas com deficiência.
IV - De acordo com a Convenção da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, o ambiente
econômico e social não afeta a inclusão e o exercício de direitos por parte das pessoas com deficiência.
a) III e IV
b) I e II
c) I, III e IV
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

d) todos estão corretos


Gouvea da
Eliovaine Gouvea
Eliovaine CPF: 030.720.271-29
Silva -- CPF:
da Silva

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PAULO MÁXIMO DE CASTRO CABACINHA GABARITO

GABARITO

1. E 48.D 95.E 142. C 189. D 236. D 283. C


2. C 49.D 96.E 143. E 190. A 237. A 284. C
3. E 50.C 97.E 144. C 191. E 238. E 285. D
4. C 51.E 98.C 145. C 192. C 239. E 286. B
5. C 52.C 99.D 146. E 193. C 240. E 287. E
6. D 53.E 100. B 147. B 194. A 241. C 288. B
7. E 54.E 101. B 148. D 195. D 242. E 289. C
8. B 55.E 102. C 149. B 196. B 243. B 290. E
9. A 56.A 103. E 150. E 197. D 244. C 291. E
10.A 57.D 104. A 151. E 198. C 245. B 292. C
11.B 58.C 105. A 152. A 199. E 246. A 293. E
12.E 59.D 106. C 153. D 200. C 247. C 294. B
13.A 60.E 107. E 154. E 201. E 248. A 295. D
eliovaine@hotmail·com
030.720.271-29 -- eliovaine@hotmail·com

14.C 61.D 108. E 155. C 202. A 249. B 296. B


15.C 62.D 109. B 156. E 203. C 250. C 297. D
16.C 63.C 110. E 157. D 204. D 251. C 298. B
17.C 64.E 111. E 158. A 205. C 252. E 299. C
18.C 65.E 112. A 159. B 206. C 253. E 300. D
19.A 66.A 113. B 160. C 207. C 254. C 301. C
20.B 67.B 114. C 161. D 208. C 255. A 302. C
CPF: 030.720.271-29

21.E 68.C 115. A 162. E 209. B 256. B 303. D


22.B 69.D 116. A 163. A 210. D 257. C 304. B
23.C 70.E 117. B 164. A 211. B 258. A 305. B
24.E 71.B 118. D 165. B 212. B 259. D 306. D
Silva -- CPF:

25.E 72.A 119. D 166. E 213. B 260. A 307. A


da Silva

26.C 73.E 120. A 167. B 214. E 261. E 308. E


27.D 74.B 121. B 168. B 215. C 262. B 309. E
Gouvea da
Eliovaine Gouvea

28.C 75.E 122. E 169. B 216. A 263. A 310. E


29.E 76.D 123. E 170. E 217. D 264. C 311. B
30.D 77.B 124. D 171. E 218. B 265. A 312. B
Eliovaine

31.D 78.C 125. D 172. D 219. B 266. E 313. B


32.B 79.C 126. C 173. C 220. E 267. E 314. C
33.B 80.C 127. D 174. B 221. C 268. E 315. A
34.E 81.C 128. B 175. C 222. D 269. D 316. E
35.A 82.E 129. C 176. D 223. E 270. A 317. D
36.B 83.E 130. C 177. E 224. E 271. E 318. C
37.E 84.E 131. E 178. E 225. E 272. A 319. B
38.C 85.E 132. C 179. A 226. E 273. E 320. C
39.D 86.C 133. E 180. B 227. E 274. A 321. B
40.C 87.C 134. B 181. C 228. A 275. D 322. B
41.D 88.A 135. E 182. C 229. B 276. A 323. B
42.C 89.C 136. C 183. D 230. B 277. B
43.E 90.C 137. C 184. D 231. C 278. C
44.A 91.C 138. E 185. C 232. E 279. D
45.D 92.B 139. E 186. E 233. E 280. C
46.C 93.E 140. D 187. C 234. A 281. B
47.C 94.C 141. A 188. D 235. D 282. C

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