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CRIMINOLOGIA

Escolas e Teorias Criminológicas

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
CRIMINOLOGIA
Escolas e Teorias Criminológicas
Mariana Barreiras

Sumário
Apresentação......................................................................................................................................................................3
Escolas e Teorias Criminológicas.. ..........................................................................................................................4
1. Escola Clássica..............................................................................................................................................................4
1.1. Iluminismo.....................................................................................................................................................................4
1.2. Escola Clássica..........................................................................................................................................................4
2. Escola Positivista.......................................................................................................................................................7
2.1. Positivismo no Brasil...........................................................................................................................................12
2.2. Críticas ao Positivismo.......................................................................................................................................13
3. Ideologia de Defesa Social: Componente Comum às Escolas Clássica e Positivista........14
4. Escolas Sociológicas.. .............................................................................................................................................14
4.1. Teorias do Consenso e do Conflito...............................................................................................................14
4.2. Teorias do Consenso............................................................................................................................................16
4.3. Escola de Chicago.................................................................................................................................................16
4.4. Teoria da Anomia.. .................................................................................................................................................20
4.5. Teoria da Associação Diferencial................................................................................................................ 24
4.6. Teoria da Subcultura Delinquente..............................................................................................................29
5. Quadro Sinóptico das Teorias do Consenso...............................................................................................31
5.1. Teorias do Conflito.. ...............................................................................................................................................31
5.2. Labelling Approach.............................................................................................................................................33
5.3. Criminologia Crítica.............................................................................................................................................39
5.4. Criminologia Cultural.........................................................................................................................................58
Resumo................................................................................................................................................................................60
Mapas Mentais. . .............................................................................................................................................................. 69
Questões de Concurso................................................................................................................................................75
Gabarito...............................................................................................................................................................................92
Gabarito Comentado.................................................................................................................................................... 93
Referências......................................................................................................................................................................129

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Mariana Barreiras

Apresentação
Bem-vindas, queridas alunas e queridos alunos!
Vamos dar início a nossas aulas. Começarei a aula me apresentando. Sou Consultora Le-
gislativa da Câmara dos Deputados e Mestre em Criminologia pela Universidade de São Paulo
(USP), faculdade onde também fiz minha graduação. Fui Oficial de Inteligência da Agência
Brasileira de Inteligência, de 2009 a 2018, e, antes disso, Agente de Promotoria (atual Analista
de Promotoria) do Ministério Público do Estado de São Paulo.
Ministrarei o curso de Criminologia e tentarei fazê-lo de maneira bem didática, para ajudar
tanto quem nunca teve contato com a matéria quanto quem já estudou e precisa rever os con-
ceitos de forma sistematizada.
Ao final de cada aula, apresentarei um resumo do assunto, os respectivos mapas mentais
e 50 questões comentadas. Como o universo de questões de Criminologia não é tão vasto as-
sim, vamos usar questões comentadas de bancas que sejam pertinentes.
Caso queira acompanhar minhas publicações e lives sobre Criminologia, siga meu Insta-
gram: @profmaribarreiras. Bons estudos!
Hoje vamos analisar o assunto de Criminologia mais cobrado em provas: as escolas ou
teorias criminológicas.

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ESCOLAS E TEORIAS CRIMINOLÓGICAS


1. Escola Clássica
1.1. Iluminismo
A Europa, nos séculos XV a XVIII, vivenciou o que se convencionou chamar de Antigo Re-
gime. Era a época das monarquias absolutistas, com o regime centralizado nas mãos do rei.
A figura do rei era sagrada e incontestável e a visão teocêntrica do mundo, amplamente do-
minante. Nesse período, o sistema penal era caótico, cruel e arbitrário. Os réus não possuí-
am as garantias processuais e penais que hoje existem em qualquer sistema democratica-
mente sólido.
No século XVIII surgiu o Iluminismo, movimento filosófico que exaltou o poder da razão em
detrimento do poder da religião. Ideologias absolutistas e religiosas foram substituídas pelo conhe-
cimento racional do mundo. O Iluminismo, portanto, promoveu o culto à razão e passou a fornecer
explicações racionais para os problemas sociais. O movimento iluminista é considerado a base
tanto dos autores clássicos do Direito Penal quanto dos autores positivistas da Criminologia.

1.2. Escola Clássica


Na esfera penal, o Antigo Regime contava com práticas punitivas bárbaras, aleatórias, des-
proporcionais. No século XVIII, com o advento do Iluminismo, novos códigos penais entram
em cena, com técnicas mais humanas e racionais de punição. Nasce, então, um Direito Penal
como conhecemos hoje, com elaboradas racionalizações e construções dogmáticas. O fun-
dador da moderna dogmática penal foi o alemão Paul Johann Anselm von Feuerbach, mais
conhecido nos estudos penais pelo último sobrenome.
A Escola Clássica é uma escola do Direito Penal. Nela, ainda são utilizados métodos jurídi-
cos, como a dedução (raciocínio que parte de um comando genérico – a norma –, a ser aplica-
do a um caso concreto), o dogmatismo e a abstração. Essa fase é considerada, portanto, uma
etapa pré-científica da Criminologia.
Os autores clássicos reconhecem que as pessoas são seres racionais, que possuem livre-
-arbítrio, ou seja, podem fazer escolhas. O cometimento de um crime é fruto de uma decisão
que implica quebra do pacto social de convivência pacífica. O delinquente deve ser punido
pelo mal que causou com a sua escolha. A ele, então, são aplicáveis as penas previstas no
ordenamento jurídico, utilizando-se a técnica dedutiva de subsumir uma conduta a uma norma
penal incriminadora (a dedução é típica do Direito, lembre-se! A Criminologia usa técnica indu-
tiva, mas nessa época a Criminologia ainda não havia nascido propriamente como ciência, de
modo que os clássicos são, sobretudo, juristas da área penal). A Escola Clássica teve na Itália
grande epicentro.

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Os clássicos consideram que o crime é, antes de tudo, um ente jurídico. É necessário que
haja uma previsão legal para que uma conduta seja considerada criminosa.
O enfoque clássico, portanto, se vale de um método dedutivo: parte da regra geral (normas
jurídicas por exemplo) para analisar o fenômeno criminal. O método é também abstrato, pois
baseia-se sobretudo na lei, um comando genérico. A lei é justa e deve ser aplicada de maneira
racional e igualitária para todos.
A Escola Clássica não estava tão interessada em entender a razão pela qual alguém decide
cometer um crime.

As bancas gostam de utilizar o termo etiologia. Se refere à busca de explicações das causas
do comportamento criminoso. A Escola Clássica não estava, portanto, preocupada com a etio-
logia dos delitos.

Assim, a Escola Clássica pouco contribuiu com a etiologia. Mas foi a Escola Clássica que
se preocupou, pela primeira vez, em fundamentar, delimitar e legitimar a pena. Em substituição
ao sistema penal caótico e desumano do Antigo Regime, a Escola Clássica forneceu um pano-
rama legislativo humanitário e racional, mostrando que a pena poderia e deveria ser útil, justa
e proporcional.
A pena, para os clássicos, deve ter nítido caráter de retribuição pela responsabilidade moral
do delinquente (imputabilidade moral), de modo a restaurar a ordem externa social.
Os principais autores clássicos relembrados por terem contribuído para a Criminologia são
os seguintes:
• Feuerbach

Feuerbach foi o principal redator do Código Bávaro de 1813. Lá, situou o Direito Penal den-
tro do Direito Público e o separou do processo penal. Fez a distinção entre crime e outros
tipos de ilícitos. Desenhou a autonomia da disciplina (Direito Penal) e colocou a tarefa de criar
delitos e impor penas nas mãos do soberano, entregando ao Estado a exclusividade do poder
criminal. Defendeu a separação entre direito e moral. Especificou que as penas deviam estar
previamente declaradas em leis e que somente com observância dessas leis o Direito Penal
podia ser aplicado, dando forte ênfase ao direito positivado, ao princípio da legalidade e, por-
tanto, à proteção das liberdades individuais do cidadão.
• Marquês de Beccaria

Cesare Bonesana, conhecido como Marquês de Beccaria, é o maior expoente dessa Es-
cola. Publicou, em 1764, “Dos Delitos e Das Penas”, que serviu de base para a valorização
da dignidade das pessoas e para a consequente humanização das penas, em contraposição
à crueldade das sanções existentes até a primeira metade do século XVIII. Para Beccaria, o
indivíduo escolhe ou não obedecer às leis, mas o Estado não poderia escolher tratamentos

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cruéis e desumanos. As leis, para ele, deveriam ser simples, conhecidas pelo povo. E as penas
deveriam estar previstas nessas leis. Ele criticava o sistema de provas que não admitia o tes-
temunho da mulher, não dava atenção ao depoimento do condenado e era complacente com
a tortura. Preocupava-se com a situação deplorável das prisões e defendia a necessidade de
provas robustas para a condenação de alguém. A obra de Cesare Bonesana é considerada
fundamental para o Direito Penal liberal e para a Criminologia clássica. Veja alguns trechos:

O juiz deve fazer um silogismo perfeito. A premissa maior deve ser a lei geral; a menor, a ação con-
forme ou não à lei; a consequência, a liberdade ou a pena. Se o juiz for obrigado a elaborar um racio-
cínio a mais, ou se o fizer por sua conta, tudo se torna incerto e obscuro. (...) Quando as leis forem
fixas e literais, quando apenas confiarem ao magistrado a missão de examinar os atos dos cidadão,
para indicar se esses atos são conforme a lei escrita, ou se a contrariam (...) então não se verão
mais os cidadãos submetidos ao poder de uma multidão de ínfimos tiranos (...). À proporção que as
penas forem mais suaves, quando as prisões deixarem de ser a horrível mansão do desespero e da
fome (...) as leis poderão satisfazer-se com provas mais fracas para pedir a prisão.1
• Francesco Carrara

Francesco Carrara escreveu o Programa de Direito Criminal, de 1859. Para ele, o crime não
é um ente de fato, mas sim um ente jurídico. Ou seja, só existe crime porque há uma norma
dizendo que tal fato é um crime. Os indivíduos possuem livre-arbítrio e decidem se comportar
de maneira contrária à lei, sendo a pena uma retribuição jurídica que pretende restabelecer a
ordem externa violada. Se o crime é um ente jurídico, deve ser estudado a partir das normas,
em obediência a um método dedutivo, lógico-abstrato.
• Giovanni Carmignani

Giovanni Carmignani foi um jurista italiano igualmente preocupado em fundamentar o di-


reito de castigar. Para ele, o direito de punir se fundamentava na necessidade de manter a paz
social. A pena não deve se preocupar tanto em castigar, mas sim em evitar delitos futuros.

DICA
Recurso Mnemônico:
Ao falar em Escola Clássica, pense em música clássica. Para
ouvir música clássica, você vai a um ambiente classudo, com
parede de mármore Carrara (Francesco Carrara) e lareira (fogo
em alemão é Feuer), onde vai ouvir Bach (Feuerbach). Você irá
bem-vestido, na beca (Beccaria) e quem vai te acompanhar é a
Carminha (Carmignani) da novela Avenida Brasil.

1
BECCARIA, Cesare Bonesana, Marches di. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Claret, 2014, p. 24.

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2. Escola Positivista
Depois dos clássicos (século XVIII), vieram os positivistas (século XIX). Antes de falar da
Criminologia Positivista, vamos falar um pouquinho sobre o Positivismo de maneira geral, pois
isso vai ajudar a fixar o conteúdo.
O Positivismo foi uma corrente filosófica formulada pelo francês Auguste Comte, no início
do século XIX. A Europa passava por uma transição rumo à modernidade, com urbanização
e industrialização. Comte defendia que, para enfrentar essas mudanças, os seres humanos
também deveriam passar por uma reforma, nesse caso intelectual. Nessa transformação de
pensamento, era necessário passar a explicar os fenômenos, naturais e sociais, por meio da
sua observação (emprego dos sentidos humanos) e por meio da compreensão das leis natu-
rais que os regem. A humanidade já havia passado pelo estado teológico (em que se pensava
que deuses e seres sobrenaturais seriam responsáveis por reger o mundo); pelo estado me-
tafísico (típico do pensamento clássico, em que se pensava que com argumentações lógicas,
abstratas e racionais seria possível compreender o mundo); e agora estava pronta para ingres-
sar no estado positivo, em que o ser humano empregaria a observação e o trabalho empírico
(concreto, positivo) para, de maneira científica, compreender a natureza e a sociedade, rumo
ao progresso.
Visto isso, fica mais fácil compreender o positivismo criminológico, ou Escola Positivista, ou
simplesmente Escola Positiva. Vou precisar inserir aqui alguns conceitos básicos da Criminologia.
A Criminologia tem como objetos o crime, o criminoso, a vítima e o controle social. A Cri-
minologia passa a estudar o delinquente a partir da segunda metade do século XIX, com o
advento da filosofia positivista.

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Opondo-se ao racionalismo dedutivo dos clássicos, os positivistas defendem a observa-


ção dos fenômenos criminais, com primazia para a experiência sensitiva humana. A ideia era
aplicar, nas ciências humanas, métodos oriundos das ciências naturais. Como não era possível
realizar essa aplicação em relação às normas e aos delitos nelas previstos (grande objeto de
estudo dos penalistas clássicos), começa-se a estudar o próprio delinquente. Muitos autores
identificam que aí nasce, verdadeiramente, a Criminologia como ciência. Afinal, é nesse mo-
mento que a Criminologia começa a se valer dos métodos indutivo, empírico e interdisciplinar.
No método empírico, observa-se a realidade (no caso, os delinquentes). No método induti-
vo, parte-se dos dados concretamente observados para chegar a conceitos mais gerais (como
as teorias criminológicas. No método interdisciplinar, realiza-se a construção de uma ciência
com aportes oriundos de diversos ramos do saber (como o Direito, a Biologia, a Medicina, a
Sociologia, a Psicologia etc.).

DICA
Recurso Mnemônico:
A crimINologia é INdutiva, INterdisciplinar e “INpírica”

Para os positivistas, o livre-arbítrio era uma ilusão. O delinquente era escravo do determi-
nismo biológico ou do determinismo social. No determinismo biológico, acredita-se que di-
ferenças genéticas entre os indivíduos os tornam mais propensos ao crime. São doenças,
patologias que levam o indivíduo a se tornar um delinquente. No determinismo social, são as
características do ambiente social que levam um indivíduo ao crime. Em ambos os casos, não
há espaço para a escolha do indivíduo. Há, nessa Escola, muito interesse pelo estudo da etio-
logia do delito. Ou seja, com o positivismo a Criminologia passa a tentar entender a razão pela
qual uma pessoa comete um crime.
É típica do pensamento clássico a adoção de penas proporcionais ao mal causado. A pena,
para os clássicos, é sobretudo retribuição. É característica do pensamento positivista a ado-
ção de medidas de segurança com finalidade curativa, pelo tempo em que persistisse a pato-
logia. A medida de segurança é uma medida de defesa social (defesa da sociedade) contra o
criminoso, que será sempre psicologicamente anormal.
Os autores positivistas foram bastante influenciados pelo pensamento evolucionista de
Charles Darwin, que acreditava que alguns seres eram mais evoluídos que outros. Depois de
Darwin demonstrar a teoria da evolução das espécies, o antropólogo inglês Herbert Spencer
(século XIX) defendeu que os pobres, os incapazes, os imprudentes, eram inaptos para o cres-
cimento intelectual e seriam superados pelos indivíduos mais aptos. Seu pensamento evolu-
cionista buscava justificar o neocolonialismo: os colonos, dos países ocupados, seriam seres
inferiores, que não haviam passado por uma evolução completa. As raças inferiores teriam
menos sensibilidade. Era inútil ofertar a elas muita educação ou instrução, sendo mais lógico

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reservar-lhes os trabalhos manuais. As ideias de Darwin e de Spencer influenciaram bastante


os positivistas, para quem, como veremos, os indivíduos não eram todos iguais.
O positivismo, de maneira geral, foi crucial para a Criminologia: era essencialmente inter-
disciplinar, tendo construído seu pensamento a partir da aglutinação de várias ciências; aban-
donou a perspectiva fortemente centrada nos saberes jurídicos dos clássicos; trouxe, portanto,
o método indutivo, empírico e interdisciplinar para o centro dos estudos; e transformou o delin-
quente em objeto de profunda análise.
Vamos, agora, analisar o pensamento dos principais autores positivistas e suas três fases
principais: antropológica, jurídica e sociológica.

Cesare Lombroso

Lombroso foi médico e antropólogo italiano. Ele é o principal expoente da fase antropológi-
ca do positivismo. Para a maioria dos autores, é com Lombroso que a Criminologia pode pas-
sar a ser considerada uma ciência e por isso ele é considerado o pai da Criminologia. Escreveu
O Homem Delinquente, em 1876.

DICA
Recurso Mnemônico:
Lombroso é o pai. É o cara. É o homem. O Homem Delinquente.

Utilizou algumas ideias de fisionomistas para tentar fazer um retrato do delinquente. Várias
características corporais das pessoas eram analisadas, tais como estrutura do tórax, tamanho
das mãos e das pernas, quantidade de cabelo, altura, peso, barba, rugas, tamanho da cabeça
etc. A ideia era partir da observação da realidade para chegar a regras gerais sobre o compor-
tamento delinquente. Tratou, então, de aplicar o método empírico e indutivo para analisar o
fenômeno criminal.
Para Lombroso, o crime era um fenômeno biológico, e não um ente jurídico: o delinquen-
te é um selvagem (ele não é igual ao restante da população!) que já nasce criminoso por ser
possuidor de algum tipo de epilepsia. Por isso, Lombroso utiliza amplamente o conceito de
criminoso nato. Os fatores ambientais, sociais, ou seja, exógenos, externos ao indivíduo, ape-
nas têm o poder de desencadear os fatores clínicos, biológicos, endógenos. Há, portanto, forte
negação do livre-arbítrio, já que o criminoso é um ser moralmente inferior (não evoluiu!), um
louco moral, com evidências de atavismo. A característica atávica é aquela que já estava pre-
sente em ascendentes distantes e que reaparece em determinado indivíduo.
Lombroso era, então, um evolucionista (seguia os ensinamentos de Darwin): ele entendia
que algumas pessoas seriam dotadas de uma predisposição primitiva para a delinquência.
Pessoas mais “evoluídas”, mais distantes de seus antecessores primitivos, não seriam crimi-
nosas por não serem portadoras dessas características inatas que levavam ao crime.

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Ele emanou conceitos bastante preconceituosos sobre as mulheres, consideradas cruéis,


mentirosas, fracas, tagarelas e indiscretas. As mulheres criminosas, para Lombroso, estavam in-
timamente associadas à prostituição. As grandes categorias de criminoso para Lombroso são:
• o criminoso nato;
• o louco moral;
• o epilético;
• o criminoso louco;
• o criminoso ocasional; e
• o criminoso passional.

Nas primeiras edições de O Homem Delinquente, Lombroso traça uma distinção entre o cri-
minoso nato, o louco moral e o epilético, mas com a evolução de seus estudos, ele chega à
conclusão de que criminalidade nata, loucura moral e epilepsia se confundem e se fundem.

Repare que ele não utiliza a categoria de criminoso habitual, que será empregada por seu
sucessor, Enrico Ferri.
Categorias de criminoso
Lombroso
Criminoso nato (louco moral, epilético)
Criminoso louco
Criminoso ocasional
Criminoso passional
Não há, em sua obra, uma preocupação em traçar nitidamente a distinção conceitual entre
cada uma das categorias. Partindo do pressuposto – equivocado – que essas categorias são
conceitos de cristalina compreensão, focou sua atenção em tirar medidas, analisar e compa-
rar a fisionomia e outras características corporais dos criminosos de cada tipo, buscando o
tipo criminal.

Raffaele Garofalo

Raffaele Garofalo foi um jurista italiano. Com sua obra Criminologia, de 1885, deu início à
fase jurídica do positivismo criminológico. Ele dizia que o crime é a revelação de uma natureza
degenerada. Introduziu o conceito de temibilidade (ou periculosidade), que é a perversidade
constante e ativa do delinquente e a quantidade do mal que se deve temer desse criminoso.
Esse conceito foi importante para a proposta dos positivistas de aplicação de medida de segu-
rança, espécie de sanção penal com finalidade curativa que, diferentemente da pena, não deve
ter prazo, mas sim ser aplicada pelo tempo em que persista a patologia. A finalidade da medida

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de segurança, como o próprio nome já diz, é tratar o criminoso e proteger a sociedade (medida
de defesa social) de pessoas desprovidas dos sentimentos de piedade e probidade.
Garofalo defendia, ainda, a existência de um conceito de delito natural, ou seja, condutas
que seriam consideradas crimes em todos os tempos e locais, tais como o parricídio, o la-
trocínio e o homicídio por mera brutalidade. Ele postulava a adoção de – e chegou mesmo a
redigir – um código penal internacional, no qual previa duas categorias de penas: eliminação
absoluta, que nada mais é do que a pena de morte, destinada aos homicidas; e eliminação
relativa, para os demais tipos de delinquente. Dentro da eliminação relativa havia as seguintes
espécies: “marooning” ou transporte com abandono (abandono do delinquente em algum lugar
isolado, como um deserto, ou uma ilha remota, por exemplo); internação perpétua em colônia
penal no exterior; internação por tempo indeterminado no exterior; confinamento em asilos por
tempo indeterminado, que era o tipo de pena apropriada para loucos e alcoólatras; e trabalho
compulsório.
Para ele, as categorias de criminoso seriam:
• Criminoso assassino: delinquente típico, egoísta, que segue o apetite instantâneo, como
um selvagem ou uma criança, e que apresenta sinais externos, físicos;
• Criminoso enérgico ou violento: delinquente que possui senso moral, mas é desprovido
de compaixão;
• Criminoso ladrão ou neurastênico: delinquentes desprovidos de probidade. Possuem,
em geral, olhos vivazes, nariz achatado;
• Criminoso lascivo ou cínico: delinquente que comete crimes sexuais.

Categorias de criminoso
Lombroso Garofalo
Criminoso nato Criminoso assassino
Criminoso louco Criminoso enérgico ou violento
Criminoso ocasional Criminoso ladrão ou neurastênico
Criminoso passional Criminoso lascivo ou cínico

Enrico Ferri

Enrico Ferri foi genro e sucessor de Lombroso. Com sua obra Sociologia Criminal, de 1900,
inaugurou a fase sociológica do positivismo criminológico. Defendia, assim como o sogro, que
o livre-arbítrio era uma ficção, mas reconhecia a existência de fatores antropológicos (ex: con-
dições orgânicas), físicos (cosmo-telúricos, como clima e condições atmosféricas) e sociais
(como política, densidade populacional, religião, família) que influenciavam no cometimento
de um crime. Com base nesses fatores, e muito influenciado pela aplicação dos métodos das
ciências naturais às ciências humanas, formulou a “lei da saturação”: assim como um líquido

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se comporta de maneiras diferentes a depender da temperatura, o nível de criminalidade seria


determinado pelas condições do meio físico e social, combinadas com as tendências congêni-
tas e impulsos ocasionais dos indivíduos.
Ferri dividiu os criminosos em cinco categorias:
• Criminoso nato: era impulsivo e incorrigível, agindo de maneira desproporcional aos mo-
tivos da ação;
• Criminoso louco: é levado ao crime por uma doença mental e pela atrofia da moral;
• Criminoso ocasional: apresenta menor periculosidade, maior possibilidade de ser rea-
daptado socialmente e é condicionado por fatores ambientais, como provocação, ne-
cessidades, facilidades, sem os quais a delinquência não ser verificaria;
• Criminoso passional: age impelido por alguma paixão pessoal, política ou social;
• Criminoso habitual: delinquente urbano, criado em um ambiente de miséria, que começa
com leves faltas e incorre numa escalada rumo aos crimes graves.

Categorias de criminoso
Lombroso Garofalo Ferri
Criminoso nato Criminoso assassino Criminoso nato
Criminoso enérgico
Criminoso louco Criminoso louco
ou violento
Criminoso ladrão ou
Criminoso ocasional Criminoso ocasional
assassino
Criminoso lascivo
Criminoso passional Criminoso passional
ou cínico
Criminoso habitual
Ferri, por dar o devido peso aos fatores sociais, é considerado o pai da sociologia crimi-
nal. Ele explicava que o delinquente é um anormal, que só comete delitos porque vive em
sociedade. E segundo Ferri, é papel da sociedade se defender dessas ameaças, por meio de
medidas de defesa social (que viriam a dar origem às atuais medidas de segurança). Para
ele, a pena-castigo, por tempo determinado, não era adequada, suficiente. Era fundamental
que os delinquentes fossem colocados em isolamento por tempo indeterminado, para que só
saíssem quando estivessem curados ou corrigidos, ou seja, para que retornassem ao meio
social somente quando demonstrassem capacidade de interagir em sociedade sem represen-
tar ameaças.

2.1. Positivismo no Brasil


No Brasil, três autores são particularmente identificados como conectados às ideias da
Escola Positivista Italiana:

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Tobias Barreto

Tobias Barreto, em seu livro Menores e Loucos em Direito Criminal, de 1884, apesar de pos-
suir uma concepção humanista, afirma que o direito de punir é consequência de uma fórmula
científica, algébrica, de imposição da pena aos criminosos, que perturbam a ordem social.
Tobias Barreto, assim como Lombroso, tinha uma visão bastante preconceituosa da mulher,
considerada um ser que se deixava levar pelas paixões e que, quando apaixonada, era incapaz
de pensar em qualquer outro assunto que não o amor.

Nina Rodrigues

Nina Rodrigues, em As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil, de 1894, cri-


ticou o ecletismo de Tobias Barreto e negou o livre-arbítrio invocando a heterogeneidade da
cultura mental dos brasileiros. Com postulados racistas, Nina Rodrigues dizia que o negro
era briguento, violento nas impulsões sociais e muito dado à embriaguez. Chegou a defender
a existência de, pelo menos, quatro Códigos Penais no Brasil, que atendessem diversidades
raciais e regionais.

Afrânio Peixoto

Afrânio Peixoto, autor de Hygiene, de 1917, foi no Brasil o defensor da eugenia (eu: boa;
genus: geração). Defendia a importância da medicina eugênica preventiva para o trabalho po-
licial: deviam ser investigados e resolvidos os problemas biológicos da gestação, para a pro-
dução de entes sadios, válidos. Em seu livro Criminologia, de 1933, defendeu que a disposição
ao crime é hereditária e que, por isso, é necessário fazer uma seleção das pessoas que quere-
mos em nossa sociedade. Partindo de premissas polêmicas, entendia que apenas as pessoas
biologicamente dignas deveriam prosperar, e que seria a realização de um sonho impedir a
procriação de doentes, loucos, degenerados.

2.2. Críticas ao Positivismo


Como problemas comuns aos teóricos positivistas podem ser citados a patologização do
fenômeno delitivo e a concepção do entorno social como mero fator desencadeante da crimi-
nalidade. Houve, ademais, erros metodológicos cometido pelos positivistas. Um deles foi ana-
lisar clinicamente pessoas que já haviam sido selecionadas pelo sistema sucessivo de freios
que é o Direito Penal, desconsiderando os estereótipos que guiam seu funcionamento e as
consequências e estigmas que o próprio sistema penal provoca nos criminosos. Outro erro foi
o de considerar que características encontradas nos delinquentes eram típicas desse grupo,
esquecendo-se que os mesmos traços podiam estar presentes na população de maneira geral.

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3. Ideologia de Defesa Social: Componente Comum às Escolas Clássica


e Positivista

Alessandro Baratta, importante Criminólogo Crítico, defende que havia uma ideologia de
defesa social comum às Escolas Clássica e Positivista. Ele diz que essa ideologia comum, que
buscava a defesa da sociedade contra o delito, era composta dos seguintes princípios:
• Princípio da legitimidade: o sistema penal é legítimo.
• Princípio do bem e do mal: crime e criminosos são males que devem ser combatidos.
• Princípio da culpabilidade: crime é expressão de atitude interna reprovável.
• Princípio da finalidade: a pena deve prevenir crimes.
• Princípio de igualdade: a lei penal é igual para todos.
• Princípio do interesse social: o crime é um delito natural, ofensa em qualquer sociedade.

4. Escolas Sociológicas
As Escolas Sociológicas dominam o panorama criminológico desde o início do século XX
até os dias atuais. São teorias que colocam ênfase na análise da sociedade em que o crime
está inserido.

4.1. Teorias do Consenso e do Conflito


As teorias sociológicas do crime podem ser divididas em dois grandes grupos: Teorias do
Consenso e Teorias do Conflito.
As teorias do consenso partem do pressuposto de existência de objetivos comuns a todos
os cidadãos, que aceitam as regras vigentes. As pessoas de um grupo social possuem con-
senso em torno de uma série de valores e criam instituições para manter a ordem social. Esse
grupo de teorias também é chamado de integralista ou estrutural funcionalista, pois compre-
ende que a sociedade é uma estrutura relativamente estável de elementos, bem integrada e
que todo elemento em uma sociedade possui uma função, contribuindo para a manutenção do
sistema. Para essas teorias, o crime é uma disfunção, ou seja, uma função negativa. O delito é
um fenômeno social, normal e funcional.
Ralf Dahrendorf explica que as teorias do consenso se baseiam em quatro teses:
• Toda sociedade é um sistema relativamente constante e estável de elementos (tese da
estabilidade);
• Toda sociedade é um sistema equilibrado de elementos (tese do equilíbrio);
• Cada elemento dentro da sociedade contribui para o seu funcionamento (tese do fun-
cionalismo);
• Cada sociedade se mantém graças ao consenso dos seus membros sobre determina-
dos valores comuns (tese do consenso).2
• As principais teorias do consenso são:
2
DAHRENDORF, Ralf. Sociedad y Libertad: hacia un análisis sociológico de la actualidad. Madri: Tecnos, 1971, p. 190.

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• Escola de Chicago
• Teoria da Anomia
• Teoria da Subcultura Delinquente
• Teoria da Associação Diferencial.

DICA
Recurso de memorização!
CONSENSO: Chicago, Anomia, Subcultura, Associação
É CONSENSO que todo mundo quer CASA

As teorias do conflito, por outro lado, partem do pressuposto de que há força e coerção
na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e sujeição de outros. A
produção legislativa serviria para assegurar o triunfo da classe dominadora. A sociedade está
sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento da sociedade contribui, de certa for-
ma, para sua desintegração. Para essas teorias o crime faz parte da luta pelo poder. Assim, em
lugar de uma visão de cunho funcionalista, tem-se uma visão de cunho argumentativo.
Dahrendorf, ao tentar simplificar as teorias do conflito, elenca os seguintes postulados:
• Toda sociedade – e cada um dos seus elementos – está a todo tempo submetida à mu-
dança (tese da historicidade);
• Toda sociedade é um sistema de elementos contraditórios em si e explosivos (tese da
explosividade);
• Cada elemento dentro da sociedade contribui para a sua mudança (tese da disfunciona-
lidade e da produtividade);
• Toda sociedade se mantém graças à coação que alguns dos membros exercem sobre
os demais (tese da coação).3

Para Dahrdendorf, aliás, a tese da coação é a mais apropriada para explicar os conflitos
sociais que são, no limite, conflitos que repousam sobre a desigualdade de divisão de poder
entre os membros da sociedade. Para os teóricos dessa linha, os conflitos possuem efetivida-
de criadora (eles causam mudanças) e é necessário se afastar do pensamento utópico de um
sistema social equilibrado.
A teoria do Labelling Approach – também chamada de interacionista, interacionismo sim-
bólico, teoria da rotulação ou do etiquetamento – e as teorias críticas – também denominadas
radicais ou dialéticas – se encaixam na categoria de teoria do conflito.
3
DAHRENDORF, Ralf. Sociedad y Libertad: hacia un análisis sociológico de la actualidad. Madri: Tecnos, 1971, p. 190.

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DICA
Recurso de memorização!
CONSENSO: Chicago, Anomia, Subcultura, Associação
CONFLITO: Crítica, Interacionismo Simbólico ou Etiquetamen-
to
É CONSENSO que todo mundo quer CASA
O CONFLITO é que estamos em CRISE

4.2. Teorias do Consenso


Como acabamos de analisar, as teorias do consenso também são chamadas de funciona-
listas, estrutural-funcionalistas ou integralistas. Elas partem do pressuposto de existência de
objetivos comuns a todos os cidadãos, que aceitam as regras vigentes. Essas teorias são con-
sideradas conservadoras, porque acreditam na coesão social e querem garanti-la, preservando
o status quo, ou seja, o estado vigente das coisas.

4.3. Escola de Chicago


A Escola de Chicago, com enfoque fortemente empírico e transdisciplinar, se propôs a dis-
cutir múltiplos aspectos da vida humana, todos relacionados com a vida na cidade. Nasceu na
Universidade de Chicago, que havia sido recém-inaugurada, com aportes de John Rockefeller.
Debruçou-se, sobretudo, sobre a desorganização social das grandes cidades.
Entre os anos 1920 e 1930, Robert Ezra Park, Ernest W. Burgess e seus alunos produziram
mais de 20 obras sobre a ecologia urbana da cidade de Chicago, abordando problemas como
falta de moradia, desorganização social, guetos, zonas residenciais ricas e pobres, distribuição
de doentes mentais na cidade, entre outros.
Em diversas dessas obras, os bairros de Chicago são divididos e analisados de acordo
com seus problemas sociais. Esses bairros ou áreas seriam analisados também a partir das
possibilidades moralizadoras ou de controle social que geravam em seus habitantes. A cidade
em geral permitia a confusão, a mobilidade e, portanto, o refúgio e a criação de personalida-
des conflitivas, como vagabundos, alcoólatras, prostitutas e delinquentes. Todos eles, porém,
seriam reprimidos e censurados em determinadas áreas morais, nas quais, em virtude desse
controle social, não se verificariam conflitos sociais significativos. Foi com base nesses estu-
dos que as instâncias de controle social informal começaram a fazer parte da lista de objetos
da Criminologia.

 Obs.: O controle social é um dos objetos da Criminologia, ao lado do crime, do criminoso e


da vítima. São mecanismos de controle social todos aqueles que buscam fazer com
quem alguém se comporte de acordo com as normas. O controle social pode ser divi-
dido em formal e informal.

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 - O controle social informal é aquele realizado de maneira difusa pela sociedade e do


qual não pode decorrer a aplicação de uma pena. Ex: família, amigos, escola, redes
sociais, vizinhança.
 - O controle social formal é aquele realizado pelo Estado e do qual pode decorrer a apli-
cação de uma pena. Ex: polícia, Ministério Público, Poder Judiciário, sistema carcerário.

Robert Park se apropriou de conceitos da ecologia. Comparava a cidade a um organismo


vivo e utilizava os conceitos de invasão, dominação e sucessão descritos pelos ecologistas.
A expansão e consolidação da burguesia industrial, o êxodo rural e o recebimento de gran-
des contingentes de imigrantes, fizeram com que Chicago, assim como outras cidades estadu-
nidenses, passassem por profundas mudanças em um curto espaço temporal. Várias etnias,
povos, religiões e culturas passam a conviver ali. Esse conceito de fusão de elementos hete-
rogêneos e por vezes conflitivos se denomina melting pot, em referência a um caldeirão onde
tudo se derrete e se mistura.
Também chamada de teoria da ecologia criminal ou teoria da desorganização social, a es-
cola de Chicago se dispôs a analisar comportamentos sociais, seitas, grupos, multidões, opi-
nião pública, criminalidade e outros fenômenos que ocorriam na cidade cuja população saltou
de 4.470 pessoas em 1840 para mais de um milhão de habitantes em 1900.
Grande parte da população de Chicago nessa época era de imigrantes. A cidade crescia se
expandindo em anéis, ou círculos concêntricos, do centro para a periferia. Essa é a teoria das
zonas concêntricas, de Ernest Burgess. Segundo ele, o anel mais central, chamado loop, era a
zona comercial, com bancos, grandes lojas, a administração da cidade, estações etc. A segun-
da zona, chamada zona de transição, é uma zona de comércio que conecta o loop à terceira
zona (residencial). A zona de transição, por estar constantemente sujeita à invasão do loop, era
uma área com intensa mobilidade e degradação, com barulho, agitação, mau cheiro, bordéis e
pensões – as denominadas tenement houses, espécies de cortiços para os recém-chegados à
cidade. A terceira zona abrigava trabalhadores com uma condição financeira ligeiramente me-
lhor e imigrantes de segunda geração (filhos dos imigrantes originais). Nela, as moradias ainda
são modestas, mas já ficam um pouco mais afastadas das zonas deterioradas. A quarta zona
é a da chamada classe média, com moradias um pouco melhores. E a quinta zona é aquela
habitada pelos altos-estratos da população. Esses moradores são chamados commuters: são
pessoas que gastam muito tempo em meios de transporte para chegar às regiões centrais
da cidade.

Grandes condomínios de luxo, que se assemelham a cidades, com ruas, enormes áreas de
lazer e até lojas, mais populosos que muitas cidades, cercados de muros, constantemente
vigiados, e afastados do centro da cidade são realidades bastante comuns nas metrópoles

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brasileiras. Alphaville em São Paulo (e presente também em outras cidades brasileiras) e con-
domínios da Barra da Tijuca (Rio de Janeiro) são citados como exemplos que se encaixam na
descrição da zona V de Burgess. O aumento da tensão social e a decadência de certos bairros
da cidade faz com que as pessoas queiram se agrupar em comunidades fechadas, em que
fiquem distantes da confusão. Iniciativas como essa acabam por fragmentar o espaço social,
criando a cidade dual. Esse conceito de dual city aumentar a distância social entre os dois gru-
pos. Os moradores dos condomínios não veem os pobres, não convivem com eles. E quanto
mais desconhecemos o outro, quanto mais ficamos afastados e o consideramos um estranho,
mais fácil é criminalizar suas condutas. Segundo Nils Christie, criminólogo norueguês contem-
porâneo, falecido em 2015, a distância social aumenta a tendência de que certas condutas
sejam criminalizadas4.

Clifford Shaw e Henry McKay são outros dois nomes importantes na Escola de Chicago.
Com base na teoria das zonas concêntricas, eles se dedicaram a analisar as áreas de delinqu-
ência e a delinquência juvenil. A obras mais conhecidas deles é Delinquency Areas.
Eles foram responsáveis por demonstrar que, quanto mais perto do loop, maior a degrada-
ção e as taxas de criminalidade dos bairros. Concluíram, também, que nas áreas criminais, o
controle social informal é pouco eficiente na formatação do comportamento dos jovens, já que
familiares, amigos e vizinhos geralmente aprovam condutas antissociais. Para Shaw e McKay,
a delinquência começaria cedo, como jogo das ruas e alguns bairros ofereceriam oportunida-
des ao crime, como pessoas dispostas a adquirir bens roubados.
Não se deve, no entanto, entender que há um determinismo ecológico, ou seja: a pessoa
cometerá crimes apenas por habitar uma região. O que ocorre é que o fato de estar localizado
em uma área da cidade é um vetor criminógeno, ou seja, um fator que pode contribuir com a
prática de um delito.
A escola de Chicago percebe que é mais apropriado falar em “cidades”, no plural, pois cada
parte do Município tem sua cultura própria, sua dinâmica particular, com estatutos, usos, cos-
tumes. A cidade não é apenas um amontoado de pessoas, ruas, bairros. O complexo cultural
determina o que é típico de cada cidade e mais, de cada parte da cidade. Essas culturas são
transmitidas e aprendidas dentro dos respectivos grupos.
As formas de adaptação das pessoas à cidade fazem com que haja um processo de per-
manente interação. As interações são tantas que se fala em sobrecarga ou saturação. E ao
mesmo tempo em que há interação, é comum, nas cidades, que haja anonimato: as pessoas
têm mais liberdade de ação de modo que os freios exercidos pelas instâncias de controle so-
cial se afrouxam. As pessoas, nas cidades, se distanciam, são seletivas em seus processos
de aproximação, competem pelos escassos recursos da cidade, tudo isso resultando em uma
postura individualista que tem impacto na criminalidade.
4
FREITAS, Wagner Cinelli de Paula. Espaço urbano e criminalidade: lições da Escola de Chicago. São Paulo: IBCCRIM, 2002,
p.121 e ss.

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Dentro dos bairros, dos quarteirões, dos edifícios, as pessoas se aproximam por serem
similares. Os vizinhos controlam, informalmente, as atividades uns dos outros, numa espécie
de polícia natural. Nas chamadas “regiões morais”, um grupo de habitantes se identifica. Em
cidades com muitos imigrantes, como era Chicago, havia áreas morais formadas por pessoas
de uma mesma raça ou origem, que ali vivem ou convivem (pode ser um local de residência ou
de encontro) de maneira segregada do restante da população. Há, por exemplo, regiões morais
de pobres, viciados, desajustados, criminosos.
Como as cidades são dotadas de mobilidade, há grande fluidez de pessoas pelas regiões,
o que tende e confundir e desmoralizar as pessoas, pois o controle social informal é tanto
menor quanto mais a pessoa se distancie de suas raízes. A mobilidade dificulta que a família,
a vizinhança, a igreja ou os grupos comunitários imponham inibições a condutas de vício, pro-
miscuidade e delinquência. Assim, a mobilidade está relacionada com criminalidade.
Os estudiosos de Chicago notaram que as taxas de doença mental estavam distribuídas
diferencialmente por bairro da cidade. Os bairros mais pobres apresentavam maiores taxas de
criminalidade e maiores índices de distúrbios mentais. As precárias condições das famílias,
a falta de intervenção estatal e as dificuldades de adaptação decorrentes da imigração e do
isolamento contribuíam enormemente para as altas taxas de insanidade mental.
A pessoa recém-chegada à cidade passa por um processo de desorganização social. Há
um sentimento de perda pessoal, rejeição de regras sociais, perda de raízes. A desorganização
social causa aumento de doenças, prostituição, insanidades, suicídios e crime.
Clifford Shaw é autor, também, de The Jack-roller: a delinquent boy’s own story. Shaw utiliza
o relato da história de vida (autobiografia) de um delinquente de Chicago, denominado Stanley,
que viveu em diferentes áreas de cidade. A ideia foi demonstrar como a vida em diferentes
áreas da cidade, convivendo com diferentes culturas, tinha impacto na criminogênese.
Por tudo isso, as propostas de Escola de Chicago para equacionar a questão criminal pas-
sam, necessariamente, por alterar as condições de vida nas cidades, sobretudo as condições
econômicas e sociais das crianças, diminuindo as condições para as carreiras delinquentes.
O enfoque da intervenção proposta pelos autores Clifford Shaw e Henry McKay no Chicago
Area Project era a maximização do controle social informal (famílias, vizinhanças, igrejas, clu-
bes, escolas). Deve haver macrointervenção na comunidade e reconstrução da solidariedade
social. Os projetos devem ser feitos levando em consideração cada vizinhança e devem incluir
atividades recreativas, artesanais, culturais e melhorias nas condições sanitárias e de conver-
sação predial de alguns bairros e edifícios.
Como definitiva contribuição, a Escola de Chicago utilizou largamente os social surveys,
inquéritos sociais que consistem em interrogatório direto feito a um número considerado de
pessoas sobre itens criminologicamente relevantes. Trata-se de técnica empírica de observa-
ção da realidade até hoje utilizado largamente pela criminologia. Além disso, implicou toda
a comunidade no enfrentamento do crime. Alargou o objeto de estudo da ciência, para nele

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incluir os mecanismos de controle social. Ademais, a Escola de Chicago propugnou uma inter-
venção preventiva e não repressiva.

DICA
Recurso Mnemônico:

4.4. Teoria da Anomia


Vamos analisar a teoria da anomia sob a ótica de dois grandes nomes: Émile Durkheim e
Robert Merton. O termo anomia tem origem grega e significa ausência de leis.

Émile Durkheim

Émile Durkheim foi um sociólogo francês do final do século XIX. Ele é considerado um dos
principais teóricos da anomia. Sua teoria sociológica considera que um ser vivo só pode ser
feliz e até mesmo viver se suas necessidades forem compatíveis com os meios para satisfa-
zê-las. No animal, o equilíbrio entre necessidades e meios depende de condições puramente
materiais: é o organismo, o corpo que dita quais são as necessidades (respirar, se alimentar, se
hidratar). No ser humano, a maioria das necessidades não depende do corpo. Afinal, para os
seres humanos, além do mínimo necessário para a sobrevivência, existe o desejo de condições
melhores, de situações de bem-estar. Esse apetite por conforto em algum momento tem que
encontrar limites, até mesmo porque desejos ilimitados são insaciáveis por definição e geram
um perpétuo estado de desconforto. E como esse limite não é dado pelo corpo, ele somente
pode vir da sociedade.

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Para Durkheim, então, a força reguladora externa ao indivíduo que limita os desejos é a
sociedade, único poder moral superior ao indivíduo. A sociedade regula, ainda que nem sem-
pre por meio de norma jurídica, o máximo de bem-estar que cada classe social pode legitima-
mente procurar obter e cada um percebe vagamente o ponto extremo até onde podem ir suas
ambições. O contentamento com essas regras gera prazer de existir e viver. O trabalhador não
estará em harmonia com sua função social se não estiver convencido de que é mesmo aquela
a função que deve ter. Ou seja, essa disciplina que a sociedade exerce só é útil se for considera-
da justa pelos povos submetidos a ela, se for reconhecida como equitativa pela grande maioria
das pessoas.
Há momentos, explica Durkheim, em que a sociedade atravessa transformações. Nesses
transtornos, a sociedade perde a capacidade de exercer seu papel de freio moral. Não importa
se se trata de uma crise dolorosa ou de uma transformação boa, afortunada, com pujança
econômica. Em qualquer caso, como as condições de vida mudam, a escala segundo a qual
as necessidades eram reguladas já não pode permanecer a mesma. Leva tempo até que seres
humanos e coisas sejam novamente classificados pela consciência pública.
A anomia é esse estado de desregramento ou desintegração das normas sociais, produzin-
do uma situação de transgressão ou de pouca coesão5. São, por exemplo, aquelas situações
em que não se sabe quais as normas vigentes ou em que uma norma positivada deixa de ser
amplamente observada pela sociedade. Para Durkheim, o crime se torna um problema quando
existe uma situação de anomia. Caso contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal.
Afinal, ele ocorre em todas as sociedades, de todos os tipos e muitos índices criminais vêm
aumentando significativamente ao longo da história social. Por isso, ele diz:

Não há fenômeno que apresente de maneira mais inconteste todos os sintomas da normalidade.
(...) Sem dúvida, pode ser que o crime tenha formas anormais; é o que ocorre quando, por exemplo,
ele atinge uma taxa exagerada6.

Para Durkheim, além de normal, o crime é útil. Para entender esse ponto é importante com-
preender suas ideias sobre a consciência coletiva, que é um conjunto de crenças e sentimen-
tos comuns à média dos membros de uma sociedade e que tem vida própria. A consciência
coletiva não é simplesmente a soma de todas as consciências individuais. Ela depende das
consciências individuais, mas não se confunde com elas. Nas sociedades arcaicas, em que as
pessoas diferem pouco umas das outras, existe uma solidariedade por semelhança, mecânica.
Nessas sociedades, os membros têm sentimentos parecidos e por isso diz-se que a consci-
ência coletiva abrange a maior parte das consciências individuais, ainda que com elas não se
confunda. Nas sociedades contemporâneas, os indivíduos são menos parecidos entre si. Cada
um age de acordo com sua liberdade de crença e ação. Aqui, Durkheim fala em solidariedade
orgânica. Nessas sociedades, a consciência coletiva tem sua amplitude reduzida. O crime é
útil porque permite que a consciência coletiva evolua.
5
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Edipro, 2014, p. 249.
6
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Edipro, 2014, p. 82-83.

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O crime é, portanto, necessário; ele está ligado às condições fundamentais de toda vida social, mas
por isso mesmo, ele é útil. Pois estas condições são indispensáveis para a evolução normal da
moral e do direito. (...) A liberdade de pensar de que gozamos atualmente jamais poderia ter sido
proclamada, se as regras que a proibiam não tivessem sido violadas antes de serem solenemente
revogadas.7

Como o crime é considerado útil, portador de uma função – a de reforçar a solidariedade da


sociedade – essa teoria tem forte traço funcional. Uma sociedade sem crimes é pouco desen-
volvida para Durkheim.

Do mesmo modo como o crime é algo natural, a sanção também é algo normal. A função
da pena é satisfazer a consciência coletiva, ferida com o crime, mantendo intacta a coesão
social. Assim, o castigo do condenado age nas pessoas honestas, já que serve para curar a
ferida feita nos sentimentos coletivos que somente residem nos indivíduos corretos. Mas a
pena segue sendo, ao menos em parte, uma vingança, pois é uma reação passional institucio-
nalizada – e que reforça a coesão social.

Robert Merton

Além de Durkheim, outro nome importante para a teoria da anomia na criminologia é o do


sociólogo estadunidense Robert Merton, que viveu de 1910 a 2003. Ele adaptou a teoria do
Durkheim para a sociedade norte-americana da década de 1930, que vivia o American Dream.
Merton defendeu, em artigo lançado em 1938, que as estruturas sociais e culturais são
compostas de vários elementos, dois dos quais são de fundamental importância: os objetivos
e os meios.
Os objetivos são as metas, propósitos, interesses (ex.: comprar uma casa; ter um carro;
viajar para o exterior todo ano). Eles são social e culturalmente ordenados em uma escala
de valores.
Os meios, por sua vez, definem, regulam e controlam as maneiras consideradas aceitáveis
para o atingimento dos objetivos (ex.: trabalhar em troca de um bom salário para poder adquirir
seus bens; praticar fraudes).
Segundo Merton, os meios são sempre limitados pelas normas instituídas. Ou seja: nem
todas as maneiras de se atingir um objetivo são toleradas, lícitas.
Os objetivos culturalmente definidos e os meios considerados válidos pelas normas ins-
tituídas operam em conjunto. Mas a relação entre os objetivos e os meios é uma relação in-
constante. Às vezes, a cultura de uma sociedade coloca muita ênfase na importância de que
se atinja um certo objetivo, mas não fornece os meios correspondentes para que o êxito se dê.
Isso é particularmente visível nas situações em que a estrutura cultural impõe aos cidadãos
padrões de consumo e riqueza, mas a estrutura social não fornece condições para que os indi-
víduos enriqueçam ou consumam do modo como se espera.
7
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Edipro, 2014, p. 87.

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Os objetivos e meios têm, entre outras, a função de fornecer uma base de previsibilidade e
regularidade do comportamento das pessoas em sociedade. Quando esses elementos estão
dissociados, a efetividade dessas funções fica limitada. No limite, quando a previsibilidade
das condutas num grupo social é minimizada, por esse espaçamento entre os objetivos e os
meios, está configurada a anomia, que também pode ser chamada de caos cultural.
Para lidar com os objetivos e meios, os indivíduos procedem a adaptações individuais, que
podem ser de cinco tipos8:
Modos de Objetivos ou Metas
Meios Instituídos
Adaptação Culturais
Conformidade + +
Inovação + -
Ritualismo - +
Retração - -
Rebelião ± ±
• Conformidade: os indivíduos se adaptam (+) aos objetivos culturais e (+) aos meios exis-
tentes. Quando temos uma sociedade estável, esse é o tipo mais comum de adaptação.
• Inovação: a ênfase cultural muito forte no objetivo de sucesso convida a esse tipo de
adaptação, que ocorre pelo uso de meios proibidos, porém efetivos, para se alcançar ao
menos um simulacro do sucesso, ou seja, riqueza e poder. Esses indivíduos aceitam (+)
a meta “sucesso”, mas não aceitam (-) se valer dos meios permitidos, regulados pelas
normas. Aqui reside um tipo de delinquência. É aqui, especificamente, que se fala em
anomia, como não aceitação das regras que limitam os meios para o alcance das metas.
• Ritualismo: os indivíduos abandonam ou diminuem gradualmente (-) as metas de suces-
so pecuniário e mobilidade social para um ponto em que podem ser atingidas; e, ao mes-
mo tempo, continuam obedecendo (+) quase compulsivamente às normas instituídas.
• Retração: esses indivíduos rejeitam (-) tanto os objetivos culturais como (-) os meios
instituídos. Eles abdicam dos objetivos estabelecidos pela sociedade e adotam compor-
tamentos em desacordo com as normas instituídas, de modo que estão em constante
escapismo da realidade. É o caso, segundo Merton, dos psicóticos, autistas, marginais,
mendigos, pedintes, alcoólatras crônicos, viciados em drogas.
• Rebelião: essas pessoas não aceitam a estrutura social reinante, mas imaginam e pro-
curam dar vida (±) a uma estrutura modificada. A rebelião envolve necessariamente
ação, transformação dos valores, também chamada de transvaloração. É uma espécie
de adaptação coletiva, em que se deseja instalar uma estrutura social onde haveria cor-
respondência entre mérito, esforço e recompensa.
8
MERTON, Robert K. On Social Structure and Science. Chicago: The University of Chicago Press, 1996, p. 139.

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Esse esquema de Robert Merton foi, posteriormente, ampliado e aprofundado por Talcott
Parsons, que, em 1951, criou a teoria do sistema social. Ele substituiu as duas variáveis de
Merton (objetivos e meios) por outras três duplas de fatores: atividade e passividade; predomí-
nio conformativo e predomínio alienativo; e orientação para objetos sociais e orientação para
normas. A combinação desses fatores ditará qual o tipo de resposta – delitiva por exemplo –
que uma pessoa dará a uma situação em que há uma perturbação no quadro de expectativas.
A teoria de Parsons é complexa e nunca foi cobrada em detalhes em provas. O que as bancas
cobram é que o candidato saiba que ela é uma teoria da anomia e, portanto, do consenso.

DICA
Recurso Mnemônico:

4.5. Teoria da Associação Diferencial


A Teoria da Associação Diferencial se insere num grupo maior, chamado Teorias da Apren-
dizagem Social. Esse grupo de teorias possui em comum a noção de que a chave para a com-
preensão da criminalidade está na aprendizagem. Assim como aprendem a fazer qualquer
outra coisa, as pessoas, que não nascem criminosas, aprendem a cometer delitos e a desen-
volver mecanismos de neutralização da culpa. Não se trata de uma questão de pobreza ou ri-
queza. Aliás, grande parte da importância dessas teorias reside exatamente na demonstração
de que os ricos também cometem crimes.
A Teoria da Associação Diferencial foi formulada por Edwin Sutherland, sociólogo (e cri-
minólogo) norte-americano. Suas ideias são do começo da década de 1940. Para Sutherland,
o crime não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas de qualquer
classe social aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base
essa conduta. O processo de comunicação, que permite a aprendizagem, é fundamental para
a prática criminal.

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Associação Diferencial significa, em resumo, se associar para aprender a fazer coisas dife-
rentes do que é a regra, ou seja, imitar alguém que é desviante, que comete crimes.
Segundo Sutherland, a pessoa se torna criminosa quando as definições favoráveis à viola-
ção da norma superam as definições desfavoráveis, tudo no âmbito de um processo de imita-
ção. Esse processo é tanto mais intenso quanto mais íntimas as relações estabelecidas pelo
indivíduo. As pessoas, então, interagem, aprendem umas com as outras, se associam, mas não
para seguir os padrões da sociedade, e sim para agir de modo diferente (praticando delitos).
Daí o nome associação diferencial.
Uma das causas fundamentais para a existência de associação diferencial é o conflito
cultural: na sociedade existem diversos grupos culturais, e a cultura criminosa pode prevalecer
por diversos fatores. Outra causa básica para o comportamento criminoso é a desorganização
social, que já havia sido bem explicada pela Escola de Chicago. Quando há desorganização
social, os mecanismos de controle social informal são precários em virtude da perda de raízes,
e isso pode facilitar a escolha pelo caminho do crime.
Sutherland elencou nove princípios da Teoria da Associação Diferencial:
1. A conduta criminosa se aprende, como qualquer outra atividade.
2. O aprendizado se produz por interação com outras pessoas em um processo de
comunicação.
3. A parte mais importante do aprendizado tem lugar dentro dos grupos pessoais íntimos.
4. O aprendizado do comportamento criminoso abrange tanto as técnicas para cometer o
crime, que às vezes são muito complicadas e outras, muito simples, quanto a direção específi-
ca dos motivos, atitudes, impulsos e racionalizações.
5. A direção específica dos motivos e impulsos se aprende de definições favoráveis ou
desfavoráveis a elas.
6. Uma pessoa se torna delinquente por efeito de um excesso de definições favoráveis à
violação da lei, que predominam sobre as definições desfavoráveis a essa violação.
7. As associações diferenciais podem variar tanto em frequência como em prioridade, du-
ração e intensidade.
8. O processo de aprendizagem do comportamento criminoso por meio da associação
com pautas criminais e anticriminais compreende os mesmos mecanismos abrangidos por
qualquer outra aprendizagem.
9. Se o comportamento criminoso é expressão de necessidades e valores gerais, não se
explica por estes, já que o comportamento não criminoso também é expressão dos mesmos
valores e necessidades9.
Essas ideias foram importantes para demonstrar que o crime pode ser cometido por qual-
quer pessoa na sociedade, independentemente de fatores biológicos, de pobreza, de déficit de
inteligência ou falta de inserção social. A teoria da associação diferencial foi a primeira a co-
locar o foco na criminalidade dos poderosos, estudando a forma distinta como a justiça penal
os tratava.
9
SUTHERLAND, Edwin H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015, p. 14.

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Como crítica, costuma-se delinear que a teoria de Sutherland não explicava por que, con-
vivendo no seio de uma mesma cultura, certas pessoas aprendiam ou optavam pelo com-
portamento criminoso, enquanto outras não. Ademais, a teoria da associação diferencial não
considerava, como relevantes para a prática de um crime, fatores impulsivos, ocasionais, pas-
sionais, calamitosos. Em casos em que esses fatores se apresentam, muitas vezes não há que
se falar em aprendizado, mas sim em reação isolada.

Crime do Colarinho Branco (White-Collar Crime)

Sutherland cunhou a expressão crime de colarinho branco (white collar crime). Utilizou-a
por primeira vez em um discurso de 1939. Trata-se do crime cometido no âmbito da profis-
são por uma pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social. Em seu livro que leva esse
nome – Crime de colarinho branco: versão sem cortes –, ele analisa decisões da justiça e das
comissões administrativas relativas a 70 grandes empresas americanas para defender a tese
de que as pessoas da classe socioeconômica mais alta estão engajadas em muitos comporta-
mentos criminosos e que este comportamento criminoso difere do comportamento criminoso
da classe econômica mais baixa principalmente por conta dos procedimentos administrativos
– mais brandos – para lidar com os infratores. A diferença entre a criminalidade dos poderosos
e a criminalidade das pessoas mais pobres não é, no entanto, significativa do ponto de vista
da causação do crime: a razão pela qual os crimes são cometidos é a mesma, o aprendizado
somado a definições favoráveis à violação da lei10.
São crimes que, em geral, não podem ser explicados pela pobreza ou educação de má qua-
lidade. São, ademais, crimes difíceis de se detectar ou mesmo de se sancionar.
A própria população tem, em muitos momentos, dificuldade de classificar tais condutas
como criminosas. Há um sentimento de admiração e respeito aos grandes empresários, ban-
queiros, homens de negócio, políticos. É como se houvesse uma “imunidade do negócio”. A
concessão de prisão especial para os possuidores de diploma de nível superior costuma ser
citada como exemplo de imunidade do negócio.
Sutherland relatava que costuma haver, em relação aos crimes de colarinho branco, a pre-
visão de penas não muito elevadas e de penas pecuniárias e restritivas de direito em substi-
tuição à pena privativa da liberdade, pois o pensamento dominante é que os autores desses
crimes não precisam ser ressocializados, já que têm boa situação econômica e estão integra-
dos na sociedade.
Os efeitos dos crimes de colarinho branco costumam ser significativos, porém difusos.
Não é uma pessoa particular que sente o efeito danoso da conduta, e sim uma coletividade.
Essa característica também contribui para a leveza das penas e para as baixas taxas de perse-
cução do crime.
10
SUTHERLAND, Edwin H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015, p. 33.

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Apesar de tudo isso, defende Sutherland, o crime do colarinho branco é, por diversas ra-
zões, um tipo de criminalidade organizada praticada pelos homens de negócio. É um tipo de
crime organizado porque são condutas deliberadas, com unidade relativamente consistente. É
uma criminalidade persistente, pois grande parte dos criminosos é reincidente. Mas os crimi-
nosos do colarinho branco não se veem como criminosos, até mesmo porque não são tratados
com os mesmos procedimentos oficiais destinados aos criminosos comuns; e porque, como
são oriundos de outra classe social, não se relacionam de forma pessoal e íntima com aqueles
que se definem como os criminosos típicos.

Cifras da Criminalidade

Vou falar um pouco sobre as cifras da criminalidade, porque o crime do colarinho branco
está intimamente relacionado com esse conceito. O conceito de cifras da criminalidade deriva
da percepção de quem nem todos os crimes chegam ao conhecimento das autoridades. Ao
lado da criminalidade real – isto é, da totalidade de delitos praticados – existe a criminalidade
revelada, ou seja, a parcela da criminalidade real que chega ao conhecimento do Estado.
Trata-se do chamado efeito de funil, também conhecido como mortalidade de casos crimi-
nais. Isso é natural e a criminologia reconhece que o processamento de todos os casos (total
enforcement) levaria à falência do próprio sistema penal.

Cifra Negra

Uma das consequências do efeito de funil é a existência da denominada cifra negra, aquela
parcela de crimes que não integra as contagens oficiais. São os crimes que não chegam ao co-
nhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. Quantas vezes, por exemplo, somos
assaltados ou furtados e deixamos de registrar ocorrência? Quando fazemos isso, estamos
inflando a cifra negra, que nada mais é, portanto, do que a diferença entre a criminalidade real
e a criminalidade revelada.
Os crimes do colarinho branco apresentam alta cifra negra, já que são delitos de difícil de-
tecção e punição. Outro tipo de delito que apresenta altíssimas taxas de subnotificação são os
crimes sexuais. Acredita-se que a diferença entre os crimes sexuais praticados e aqueles que
são comunicados chega a 90%. Às vezes a própria vítima sente vergonha e não denuncia; às
vezes a vítima quer denunciar, mas não se sente acolhida nos contatos com a polícia e acaba
desistindo de levar adiante seus relatos; às vezes a própria família acoberta o caso, para evitar
que se torne um escândalo, já que a maior parte dos crimes sexuais contra menores são co-
metidas por parentes próximos à vítima. Esses são apenas alguns exemplos de motivos que
estão na base desse descompasso entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida.
Por tudo isso, as estatísticas criminais não refletem a criminalidade real, mas apenas uma
parte dela, restando a cifra negra, oculta, difícil de decifrar. As pesquisas de vitimização, ou
seja, realizadas com a população em geral questionando se foram vítimas de algum crime,
procuram suprir essa lacuna.

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Cifra Dourada

Cifra negra é o nome mais genérico para designar essa diferença entre a criminalidade
real e a criminalidade conhecida. Ao longo dos anos, subclassificações das cifras negras
têm aparecido. Já disse a você que os crimes do colarinho branco possuem alta taxa de
subnotificação, porque são delitos de difícil detecção. Criou-se, então, um nome específico
para essa diferença entre criminalidade real e conhecida dos poderosos: é a chamada ci-
fra dourada.
A cifra dourada diz respeito, portanto, aos delitos cometidos pelos poderosos que são
desconhecidos e ficam impunes. Pode-se dizer que ela é um subtipo da cifra negra. Quando
alguém dos altos estratos sociais comete um crime contra o sistema financeiro ou um crime
tributário, por exemplo, é possível que fique sem punição porque o sistema penal é desenhado
para selecionar a criminalidade de rua, cometida pelos pobres.

 Obs.: Já houve questões da Vunesp considerando que o conceito de cifra dourada equivale
ao conceito de crime do colarinho branco. Tecnicamente, não é isso, como acaba-
mos de ver. Aos crimes do colarinho branco (crimes dos poderosos cometidos no
âmbito laboral) que permanecem desconhecidos ou, segundo algumas definições, em
relação aos quais há uma indulgência do sistema persecutório penal, dá-se o nome
cifra dourada.

Outras Cifras
• Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém que
não chegam a virar um processo penal. São casos, por exemplo, solucionados pe-
los próprios policiais em sua atividade rotineira; ou na própria delegacia de polícia;
ou com a renúncia da vítima ao direito de queixa ou representação. A cifra cinza
demonstra que as polícias têm papel conciliador de conflitos e é, nesse aspecto, do-
tada de muito poder, pois exerce suas competências de tratar o fenômeno delitivo
longe da supervisão direta das instâncias que seriam as intervenientes subsequen-
tes do sistema de persecução, como ministério público, defensoria pública, poder
judiciário.
• Cifra amarela: casos em que as vítimas sofreram algum tipo de violência praticada por
servidor público e deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes
pela apuração.
• Cifra verde: delitos que têm por objeto o meio ambiente e que não chegam ao conhe-
cimento policial ou não são processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
• Cifra rosa: crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento das
autoridades.

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DICA
Recurso Mnemônico:

4.6. Teoria da Subcultura Delinquente


Essa teoria se desenvolveu a partir da obra Delinquent boys, publicada por Albert Cohen
em 1955. Para ele, toda sociedade é internamente diferenciada em numerosos subgrupos.
Esses subgrupos possuem maneiras de pensar e agir: que lhe são peculiares; que as pesso-
as somente podem adquirir participando desses grupos; e que alguém raramente deixará de
adquirir se for um participante verdadeiro do grupo. Essas culturas dentro das culturas são as
subculturas. Ele explica que a subcultura delinquente se tornou comum em certos grupos da
sociedade norte-americana, que são as gangues de meninos que floresceram visivelmente nos
bairros delitivos das grandes cidades americanas. Quando crescem, alguns membros de gan-
gues passam a cumprir as leis, enquanto outros se profissionalizam no crime, mas, indepen-
dentemente disso, a tradição delitiva é mantida viva pelos jovens que os sucedem nos grupos.
A subcultura delinquente surge como um meio de lidar com problemas de ajuste: certas
crianças e adolescentes não conseguem preencher os critérios do sistema de status respei-
tável na sociedade. A subcultura delinquente fornece outros critérios de status, esses sim,
possíveis de serem alcançados por esses jovens, que são em sua maioria meninos da classe
baixa. Eles se juntam em grupos – as gangues – e nesses grupos praticam diversas atividades,
algumas delas delitivas.
A subcultura aceita alguns valores predominantes, mas também expressa sentimentos e
crenças exclusivos de seus grupos. A subcultura é, como se vê, bastante típica da juventude.

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Os grupos subculturais aceitam, por exemplo, que seus integrantes façam algazarra, vandalis-
mo, obscenidades. Os punks, skinheads, hooligans, as gangues são citadas por Cohen como
exemplos de grupos de subcultura.
Um argumento central para a teoria da subcultura delinquente é a existência de diferenças
essenciais entre a criminalidade subcultural e a criminalidade em geral. A subcultura, típica
das gangues, valoriza o não utilitarismo, a malícia, o negativismo, a versatilidade, o hedonismo
de curto prazo e a autonomia de grupo:
• Não utilitarismo: eles cometem furtos não como uma atitude racional e utilitária. Eles
roubam porque estão a fim, sem qualquer consideração sobre lucro ou ganho, mas sim
porque é uma atividade que implica renome, satisfação e valentia naquele grupo. Não
há explicação racional ou utilitária para o esforço que se emprega e o risco que se corre
em roubar coisas que muitas vezes acabam sendo descartadas, destruídas ou doadas;
• Malícia: por toda parte, há um tipo de malícia aparente, um prazer no desconforto alheio,
um deleite em desafiar tabus, uma hostilidade gratuita direcionada aos adultos e a quem
não é da gangue;
• Negativismo: a subcultura delinquente não é apenas um conjunto de regras que é dife-
rente ou em conflito com as normas dos adultos respeitáveis da sociedade. Ela é defini-
da por sua polaridade negativa em relação a essas normas. A subcultura pega empres-
tadas as normas da cultura geral e as vira de ponta cabeça. A conduta do delinquente
é correta pelos padrões de sua subcultura exatamente porque ela é errada segundo as
normas da cultura geral.
• Versatilidade: não há uma tendência à especialização. As gangues cometem furtos, van-
dalismo, danos, invasão de domicílio, com vítimas as mais variadas.
• Hedonismo de curto prazo: não há interesse em metas de longo prazo, atividades plane-
jadas ou que envolvam conhecimento e habilidade que somente possam ser adquiridos
com tempo de estudo, dedicação e prática. Os membros das gangues apenas se reú-
nem em alguma esquina sem nenhuma atividade específica em mente.
• Autonomia de grupo: as relações entre os membros da gangue tendem a ser solidárias
e prementes. As relações com outros grupos tendem a ser indiferentes, hostis ou rebel-
des. Para eles, as gangues são um foco irresistível de atração, lealdade e solidariedade,
e é exatamente isso que é a essência da subcultura.

Por ter focado na criminalidade juvenil dentro desses grupos de meninos, uma das críticas
mais frequentes que a teoria da subcultura recebe é exatamente a de não ter conseguido for-
necer uma explicação mais abrangente da criminalidade.

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DICA
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5. Quadro Sinóptico das Teorias do Consenso

Teoria Autores Ideia Principal


Robert Park
Ernest Burgess
Desorganização social das grandes cidades
Escola de Chicago Clifford Shaw
Controle social informal enfraquecido
Henry McKay
(1920-1930)
Associação Edwin Sutherland Crime é aprendizado
Diferencial (1940) Crime do colarinho branco
Émile Durkheim
Crime é normal e útil, a não ser quando
(fim séc. XIX)
Anomia ultrapassados certos limites
Robert Merton
Descompasso entre meios e objetivos
(1938)
Gangues são subculturas delinquentes
Subcultura Albert Cohen Não utilitarismo da ação, malícia,
Delinquente (1955) versatilidade, negativismo, hedonismo de
curto prazo e autonomia de grupo

5.1. Teorias do Conflito


Antes de mais nada, vamos recordar que os teóricos do conflito partem do pressuposto de
que há força e coerção na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e
sujeição de outros. A sociedade está sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento
da sociedade contribui, de certa forma, para sua desintegração. Para essas teorias, o crime faz
parte da luta pelo poder.

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As teorias do conflito alteram profundamente a maneira de pensar as questões crimino-


lógicas. Alessandro Baratta, um dos principais teóricos da Criminologia Crítica, explica que a
Criminologia consensual tradicional (e o Direito Penal) sempre se baseou em duas ideias: o
princípio do interesse social e o princípio do delito natural.
Para o princípio do interesse social, o núcleo central dos delitos previstos nos códigos re-
presenta ofensa aos principais interesses fundamentais da sociedade. A ideia de delitos natu-
rais defende a existência de crimes contra os quais toda sociedade civilizada se defende, inde-
pendentemente de época ou cultura. Assim, para a ideologia penal oficial e para a Criminologia
tradicional, a criminalidade é uma qualidade objetiva, ontológica de certos comportamentos.

As provas gostam de perguntar sobre a ontologia da criminalidade. Em linhas gerais, podemos


dizer que a ontologia estuda a natureza do ser, da existência, da realidade. Quando a Criminolo-
gia começa a debater se o crime existe ontologicamente, quer saber se ele existe por si próprio,
ou seja, se algumas condutas podem ser consideradas essencialmente criminais, objetiva-
mente criminais. Baratta explica que a Criminologia tradicional, em linhas gerais, acreditava
que sim. A Criminologia do conflito questiona esse postulado, pois para ela o crime não existe
ontologicamente. Ele possui natureza definitorial: as condutas não são criminosas em si mes-
mas, mas são definidas como criminosas em virtude de complexos processos de interação,
dominação e seleção. Ou seja: as condutas são consideradas criminosas porque alguém ou
alguma instituição define que elas são criminosas.

Além de acreditar na ontologia do crime, a Criminologia tradicional parte de um ideal de


homogeneidade dos valores e interesses protegidos pelo direito penal.
Esses princípios, do interesse social, do delito natural e da homogeneidade de valores, são
negados pelos teóricos do conflito. Para a Criminologia do conflito, a criminalidade não é uma
qualidade ontológica, mas um status social atribuído por meio de processos de definição e
mecanismos de reação. Ou seja, o crime não existe antes de um sistema de reação (Polícia,
Ministério Público, Poder Judiciário) defini-lo como tal. O foco das teorias criminológicas se
desloca da criminalidade (já que ela não existe por si própria) para os processos de criminali-
zação (que definem uma conduta como criminosa).
As teorias do conflito possuem forte tradição nos Estados Unidos, sobretudo em virtude
do contexto social de pós-guerras, em que disputas internas (raciais, de classe, de desempre-
go, de marginalização, estudantis, feministas) assumiram prevalência se comparadas a con-
flitos externos. Elas partem do pressuposto da existência, na sociedade, de uma pluralidade
de grupos e subgrupos que, eventualmente, apresentam discrepâncias em seus valores. Para
as teorias do conflito, portanto, a sociedade não é monolítica, unitária. Ela está em constante
mudança, cenário que é decorrente de visões diferentes de uma mesma situação por grupos
antagônicos que coexistem.

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Assim, para as teorias do conflito, não é o contrato social que garante a manutenção do
sistema e que faz com que os grupos sociais evoluam. Esses papeis devem ser – e são –
atribuídos ao conflito. É, portanto, o conflito que promove as alterações necessárias para o
desenvolvimento dinâmico da sociedade. Por isso, diz-se que essas teorias são progressistas,
e não conservadoras.
Os teóricos do conflito demonstram, por exemplo, que o sistema penal trata os suspeitos
de forma diferenciada com base em sua raça, etnia ou classe social, já que a sociedade não
é hegemônica e que os agentes do controle social e outros grupos poderosos podem impor
definições de desvio que atendem a seus objetivos11.
Os principais postulados da Criminologia conflitual são:
• A ordem social da sociedade industrializada não tem por base o consenso, mas sim o
conflito;
• O conflito não é patológico, senão a expressão da própria estrutura e dinâmica da mu-
dança social;
• Os interesses protegidos pelo direito penal não são interesses comuns a todos os cidadãos;
• O Direito representa os valores e interesses das classes ou setores sociais dominantes;
• O crime é uma reação à desigual e injusta distribuição de poder e riqueza na sociedade;
• A criminalidade é uma realidade social criada por meio do processo de criminalização;
• A criminalidade e o direito penal têm natureza política.

Com esses postulados, já adiantamos como pensam as escolas do conflito. Vamos, agora,
analisar especificamente cada uma delas. Ao final da aula, falarei brevemente sobre a Crimino-
logia cultural, que é um desenrolar mais contemporâneo da Criminologia crítica e que começou
a aparecer em algumas provas.

5.2. Labelling Approach


Essa é uma teoria bastante cobrada em provas. Dedique bastante atenção a ela. Ela tam-
bém é conhecida como:
• teoria da rotulação;
• teoria do etiquetamento;
• teoria da reação social;
• teoria interacionista;
• interacionismo simbólico.

Rompendo com o ideal consensual de sociedade, o labelling propugnava que estudar a


realidade social implicava estudar os processos de interação individual ocorridos no seio da
própria sociedade. Isto é, não se pode compreender o crime prescindindo do entendimento
11
SCHAEFER, Richard T. Sociologia. 6ª ed. Porto Alegre, AMGH Editora LTDA, 2014, p. 267.

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da própria reação social ao crime. Por isso se diz que um dos postulados da teoria é o inte-
racionismo, ou interacionismo simbólico, ou construtivismo social. A desviação não é uma
qualidade intrínseca da conduta, mas um atributo que lhe é conferido por meio de complexos
processos de interação social, que devem ser analisados. É decisivo, então, para compreender
o crime, analisar como funcionam os mecanismos sociais que atribuem o status de delinquen-
te a alguém.
Conforme os teóricos interacionistas, para cada uma das ações desviadas é possível en-
contrar inúmeras ações similares que não serão rotuladas de criminosas, por não serem leva-
das em consideração ou por não se apresentarem de maneira evidente como desviadas. Dian-
te de cada fato, as instituições atuam como filtros, definindo sua natureza. Frente às condutas
humanas, portanto, as agências formais de controle social atuam como uma grande peneira, a
separar quais devem ser etiquetadas como criminosas e quais não merecem o rótulo.
Assim, o Labelling Approach reconhece o caráter constitutivo do controle social formal,
considerado instrumento seletivo e discriminatório. Deixa-se de questionar por que um indi-
víduo comete crimes, e passa-se a indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com o
rótulo de desviada. O Labelling Approach abandona o paradigma etiológico (busca da causa
do crime), substituindo a busca das causas da criminalidade pela análise das reações das
instâncias oficiais de controle social. Nesse questionamento, as agências de controle social
adquirem enorme importância e passam a ser estudadas criteriosamente. Se hoje é comum
que haja capítulos sobre a polícia, o Ministério Público, as instituições prisionais, o sistema
judiciário nos livros e manuais de Criminologia, isso, em grande parte, deve-se ao paradigma
de controle inaugurado pelo Labelling Approach, que tanto valor atribuiu aos respectivos papéis
na constituição do delito.
O labelling defende a adoção da introspecção simpatizante, isto é, a aproximação da reali-
dade criminal para compreendê-la a partir do ponto de vista do delinquente, tentando entender
qual é o seu ponto de vista.
Há, portanto, uma importante quebra de paradigma na Criminologia. A Criminologia deslo-
ca o problema do plano da ação (conduta criminosa) para o plano da reação (controle social).
Ela deixa de analisar os bad actors e passa a enfocar nos powerful reactors. A pergunta não é
mais: por que alguém comete um crime? A pergunta passa a ser: por que algumas condutas
são selecionadas como criminosas pelos poderosos filtros de seleção do sistema criminal?
Substitui-se, portanto, o paradigma etiológico – de busca das causas da delinquência, que
havia nascido com a Escola Positivista e que perdurava nas primeiras escolas sociológicas, as
do consenso – pelo paradigma da reação social, de análise das instâncias que reagem ao delito.

Howard Becker

Um dos principais autores do Labelling Approach é o norte-americano Howard Becker, da


Universidade de Chicago.

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 Obs.: Os interacionistas, como Becker, evitam termos tradicionais como crime, criminoso,
bandido, dada a carga valorativa pejorativa que possuem. Preferem utilizar a nomen-
clatura deviance, que podemos traduzir como desviação. A conduta desviante é criada
pela sociedade, ao reagir a certas práticas, rotulando-as.

Em seu livro Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance, de 1963, Becker relata o resul-
tado da análise de grupos de usuários de maconha e de músicos de jazz que fez na década de
1950. Ele explica que todos os grupos sociais constroem suas próprias regras. A pessoa que
quebras essas regras não é aceita como membro de um grupo. Ela é considerada uma estra-
nha, ou melhor, é etiquetada como outsider, e começa, a partir daí, a sofrer um processo de es-
tigmatização. O quanto alguém é considerado um outsider varia de caso a caso. Por exemplo:
uma pessoa que infringe as regras de trânsito é, em geral, menos outsider que um assassino
ou estuprador.
Becker defende que quando perguntamos “por que alguém quebra as regras?” ou ainda “O
que essas pessoas têm de especial que as leva a fazer coisas proibidas?”, estamos: aceitando
que há algo inerentemente desviante nesses atos que quebram as regras; partindo do pressu-
posto de que essa pessoa possui características que a levem a fazer isso; e, mais do que tudo,
aceitando os valores do grupo que faz o julgamento. Ao fazer isso, podemos deixar de fora
uma variável importante, que é exatamente esse processo de julgamento.
As regras são o produto da iniciativa de alguém e Becker denomina essas pessoas moral
entrepreneurs, ou seja, empreendedores morais, e aí se encaixam tanto aqueles que fazem as
regras como aqueles que as aplicam.
Dentre os criadores de regras existem os reformistas de cruzada moral (moral crusading re-
former ou moral crusader). Aqui, ele emprega o termo cruzada referindo-se às cruzadas medie-
vais em nome de Deus. Esses reformistas, explica Becker, estão preocupados com um mal (o
crime), que tem que ser eliminado a todo preço. Eles acreditam que a missão deles é sagrada
e querem, a todo custo, forçar a moral deles para outros grupos de pessoas. Nesse processo,
preocupam-se mais com os fins do que com os meios. É comum que os reformistas requeiram
o serviço de um profissional que possa redigir e embasar apropriadamente uma minuta de
projeto de lei. Becker cita especificamente que juristas costumam fazer esse papel e que cada
vez se torna mais comum que psiquiatras sejam empregados em alguma parte do processo. O
reformista moral passa essa parcela técnica do trabalho – que não lhe interessa – nas mãos
dos outros, e parte para a descoberta de um novo mal que ele possa resolver. Ele se torna um
descobridor profissional de erros a serem corrigidos, de situações que necessitam de novas
leis. Os crusaders que têm sucesso, criam novas regras e, com isso, novos grupos de outsiders.
Dentre os aplicadores da lei (rule enforcer), temos a força policial, que é o resultado final
de uma cruzada moral. A existência de leis a serem aplicadas dá aos policiais um trabalho,
uma profissão. Então, a polícia dedica-se a demonstrar que o problema de infrações às leis de
fato existe e é um problema sério. Eles insistem muito na existência do problema, já que isso
fornece uma boa razão para a manutenção da posição que eles ocupam. No trabalho policial,
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é importante ganhar respeito da população e isso, explica Becker, significa que uma pessoa
pode ser etiquetada como desviante não por ter efetivamente desrespeitado uma lei, mas por
ter mostrado falta de respeito com os policiais. Existe uma enorme margem de discricionarie-
dade no trabalho policial: o policial estabelece prioridades, pois sabe que não pode lidar com
o todo o mal que encontra. Assim, os enforcers aplicam as leis e criam outsiders de maneira
seletiva. Para que uma pessoa que cometeu uma desviação seja etiquetada como desviante,
muitos fatores estranhos ao seu comportamento são levados em consideração, tais como: se
o policial acha que deve agir naquele momento; se o ofensor mostrou deferência ao policial; se
o desviante conta com a ajuda de algum facilitador (um advogado ou um parente influente, por
exemplo); se o policial tem aquela conduta em sua lista de prioridades etc.
Nos grupos e organizações, explica Becker, existe conflito político. As decisões sobre quais
regras devem ser criadas, quais condutas devem ser consideradas desviantes e quais pessoas
devem ser etiquetadas como outsiders são, em sua visão, decisões políticas.
Por tudo isso, ele entende que a desviação é criada pela sociedade. Vamos ver textualmen-
te o que ele diz, em tradução livre:

Essa visão sociológica que eu acabei de discutir define a desviação como a infração de regras sobre
as quais há acordo. (...) Parece-me que essa suposição ignora o fato central sobre a desviação: ela
é criada pela sociedade. E eu não quero dizer com isso aquilo que é normalmente compreendido, ou
seja, que as causas da desviação estão localizadas na situação social do desviante (...). Ao contrá-
rio, eu quero dizer que os grupos sociais criam a desviação fazendo regras cuja infração constitui a
desviação, e aplicando essas regras para pessoas em particular e etiquetando-as como outsiders. A
partir desse ponto de vista, a desviação não é uma qualidade do ato que a pessoa comete, mas uma
consequência da aplicação, pelas outras pessoas, de regras e sanções para um ofensor. O desviante
é alguém em quem aquela etiqueta foi aplicada com sucesso; o comportamento desviante é um
comportamento que é assim etiquetado pelas pessoas12.

Assim, se a desviação é uma consequência da resposta dos outros ao ato de alguém, não
podemos supor que haja homogeneidade no grupo dos etiquetados como desviantes. Nem
todos que foram etiquetados, infringiram uma regra. E nem todos os que quebraram regras, fo-
ram etiquetados. Não é possível, então, ficar procurando traços de personalidade ou situações
de vida que expliquem a desviação. O importante, para Becker, é entender a desviação como
o produto de uma transação que ocorre entre um grupo social e aquele que é visto por esse
grupo como um transgressor (rulebreaker).
No processo de estudo da desviação, não devemos encará-la como algo depravado ou
como algo muito diferente das demais condutas. A desviação é apenas um tipo de compor-
tamento que algumas pessoas desaprovam, enquanto outras valorizam. O correto é tentar
entender o processo pelo meio do qual ambas as perspectivas são construídas e mantidas, e
aí reside a importância de manter contato próximo com os objetos de estudo.
12
BECKER, Howard S. Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance. Nova Iorque: The Free Press, 1963, p. 9.

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Para Becker, as pessoas de classe média com padrão mínimo de bem-estar e conforto não
seguem os impulsos criminais que todos têm porque elas teriam muito a perder: os laços es-
treitos com amigos e parentes; o emprego; a carreira estudantil; o conforto. Quem, no entanto,
não tem muito a perder, pode se arriscar.
E praticado o ato inicial, explica Becker, começam as cerimônias degradantes, que são
processos desmoralizantes a que é submetido o réu e que atingem sua autoestima. Tem iní-
cio, também, o processo de estigmatização. A sociedade seleciona essa etiqueta – criminoso,
ladrão – para designar o indivíduo, mesmo que ele só tenha gastos alguns minutos da sua
existência praticando o crime.
Estigmatizado e segredado da sociedade, o delinquente se aproximará de outros crimino-
sos e acabará se identificando com eles pela situação de vida em que se encontram. Começa,
então, o processo de desviação secundária: novos atos desviantes são cometidos como fruto
do processo de reação social à desviação primária. O agente mergulha no papel de delinquen-
te, num processo que se chama de role engulfment, e tem início sua carreira criminal. A profe-
cia se auto cumpre: tanto diziam que ele era um criminoso, que agora de fato o é.
Becker demonstra que os estudos interacionistas fazem com que os sociólogos percebam
que um grupo muito maior de pessoas e eventos têm que ser levados em consideração no
estudo da desviação. Nesse sentido, a desviação é um ato coletivo. É preciso, diz ele, estudar
o acusado, mas também o acusador. É preciso considerar que há pessoas, situações ou atos
suficientemente poderosos ou legitimados a impor definições (a colar as etiquetas). E ao fazer
isso, ou seja, ao tornar os empreendedores morais objetos de estudo, os estudos interacionis-
tas violam a hierarquia de credibilidade da sociedade, pois questionam o monopólio da verda-
de sobre a desviação. É mais ou menos como se, pela primeira vez, a Criminologia colocasse
em dúvida a palavra da Polícia, do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Administração
Penitenciária. Por isso, diz-se que o labelling inaugura um paradigma novo na Criminologia, o
paradigma da Reação Social.

Erving Goffman

Outro nome de peso no Labelling Approach é o do canadense Erving Goffman, que realizou
suas pesquisas nos Estados Unidos. É autor, entre outros, de Estigma: Notas sobre a Manipula-
ção da Identidade Deteriorada, de 1963, e Manicômios, Prisões e Conventos, de 1961, livros em
que se debruçou sobre a questão prisional.
Ele introduziu o conceito de instituição total que são aquelas que, como é o caso do cárce-
re, possuem barreiras à relação com o mundo externo simbolizadas por portas fechadas, pa-
redes altas, arame farpado, fossos, água, florestas ou pântanos. Nas instituições totais, todos
os aspectos da vida do condenado são realizados no mesmo local, sob uma autoridade única
e diante de um grupo de pessoas razoavelmente grande. Há horário, padrão e sequência para
as atividades. Caso a permanência do condenado na instituição total seja longa, começa a ter

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lugar um processo gradativo de desculturamento: humilhações, rebaixamentos, degradações


pessoais e profanações do “eu”. O “eu” civil é mortificado e a pessoa começa a passar por mu-
danças radicais em sua carreira moral, composta pelas progressivas mudanças que ocorrem
na crença que os outros têm a seu respeito.
A mortificação da pessoa começa por meio de medidas do processo de admissão, que é
um rito de passagem onde ocorre: a perda do nome; a atribuição de um número de prontuário; a
privação dos pertences pessoais; a adoção de um uniforme padrão; as medições pelo departa-
mento médico; as agressões físicas que recebe dos superiores e de colegas mais antigos etc.
Além desse rito inicial, o interno tem que se adaptar à nova vida, adotando novas posturas,
nova linguagem, assumindo novos papeis de submissão e inferioridade, desempenhando tra-
balhos obrigatórios que muitas vezes são vistos como inúteis, se encaixando em regras que
disciplinam minúcias da sua vida.
Goffman fala em exposição contaminadora: trata-se da dissolução da fronteira entre o ser
e o ambiente. O interno não consegue ter sua intimidade preservada. Tudo que ele faz é obser-
vado e registrado em um dossiê. E são comuns queixas de alimento sujo, locais em completa
desordem, pertences impregnados com o suor de outras pessoas, instalações sujas para o
banho. Além disso, são frequentes exames na pessoa do interno e em seu dormitório, violando
a intimidade e o território do “eu”.
Por tudo isso, as instituições totais são fatais para o eu civil do internado, diz Goffman.
Importante explicar que quando fala em instituições totais, Goffman não estava se referindo
somente a prisões, mas também a quarteis, asilos para idosos, claustros religiosos, abrigos
para órfãos, hospitais para doentes mentais, campos de concentração, internatos e tantas ou-
tras instituições em que há barreira social com o mundo externo e proibições à saída.
A pessoa institucionalizada é alguém inadaptada para o convívio em sociedade, exatamen-
te por se identificar com a instituição na qual está recolhida, e estigmatizada. Os egressos do
sistema penitenciário têm, pelo resto de suas vidas, sua ocupação laboral e sua localização
geográfica determinada pela participação na instituição total. A estadia na prisão orienta o
pertencimento ao ambiente da comunidade do submundo, de modo que isso tem efeitos em
toda a existência do ex-interno.

Implicações Político-criminais

No plano político-criminal, as teorias interacionistas propuseram a política dos 4 Ds:


• Descriminalização: como a reação social causa mais criminalidade, é prudente deixar de
considerar certas condutas como criminosas para diminuir os problemas de estigmati-
zação e ingresso na carreira criminal;
• Diversão: é necessário diversificar a resposta aos problemas da sociedade, para que se
utilize menos a resposta penal, dados os males que ela causa;

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• Devido processo legal: as regras do processo legal precisam ser estreitamente respeita-
das para que o indivíduo seja tratado pelos mecanismos de controle social formal com
respeito e dignidade;
• Desinstitucionalização: os presídios são instituições totalizadoras que provocam a mu-
tilação do “eu” e a inadaptabilidade para o convívio social, de modo que deve ser dada
preferência, quando possível, a penas alternativas à prisão13.

A reforma penal brasileira de 1984, com a instituição do regime progressivo de cumpri-


mento da pena privativa de liberdade e a adoção de penas substitutivas, pode ser citada com
um reflexo das ideias de desinstitucionalização do labelling em nosso ordenamento. O mesmo
vale para os dispositivos da Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84) que ensejam o contato
do preso com o mundo exterior; e para a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei n.
9.099/95), que elimina da esfera penal vários crimes e adota postura descarcerizadora.

5.3. Criminologia Crítica


Também chamadas de Nova Criminologia, Criminologia Radical ou, ainda, Criminologia
Dialética, as teorias de Criminologia Crítica nascem na década de 1970 com forte apelo às
ideias de Karl Marx. Para os autores críticos, há relação direta entre o modo de produção ca-
pitalista e o funcionamento dos modos punitivos. Não se trata mais de descobrir as razões
da delinquência ou de lutar contra o crime, mas sim de abolir as desigualdades sociais para
equacionar o fenômeno delitivo.
Além de Marx, outra fonte de inspiração para os teóricos críticos é a Escola de Frankfurt,
fundada em 1924, na Universidade de Frankfurt na Alemanha. A teoria crítica dos filósofos ale-
mães se opõe à teoria tradicional por não ser neutra, por analisar as condições sociopolíticas
e econômicas e buscar alterá-las.
As teorias críticas são dotadas de forte práxis (atividade prática, em oposição à mera te-
oria), ou seja, elas querem não apenas denunciar as situações de desigualdade, mas também
alterá-las profundamente.
Na Criminologia Crítica, a própria Criminologia, como vinha sendo desenvolvida tradicional-
mente, passa a ser objeto de estudo. A Criminologia passa a questionar qual deve ser o objeto
e qual deve ser o papel da investigação criminológica. Os teóricos críticos não querem defen-
der a sociedade do crime, mas sim defender os indivíduos da sociedade capitalista.
A Criminologia Crítica surgiu nos Estados Unidos, sobretudo com o pensamento de William
Chambliss, e logo se espalhou para outros países, difundindo a ideia de realizar uma reflexão
analítica sobre o real funcionamento do poder e das instituições de controle social. Essas
teorias opõem-se ao positivismo, que focava sua análise no delinquente, e demandam que o
Estado, que até então não era objeto da Criminologia, passe a sê-lo. Para a Criminologia Críti-
ca, portanto, deve-se contestar a função conservadora do status quo que a Criminologia vinha
realizando até o seu surgimento.
13
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 2ª ed. São Paulo: RT, 2008, p. 271.

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Para as teorias marxistas, o crime é um produto histórico, patológico e contingente da so-


ciedade capitalista. Na ordem social, classes antagônicas se confrontam. Uma dessas classes
se sobrepõe e explora a outra, utilizando, para isso, o direito penal e a justiça. Desse modo, o
sistema legal é um instrumento a serviço da classe dominante para oprimir a classe trabalha-
dora. A justiça penal possuiria administradores: os funcionários públicos não estão lá para
lutar contra o crime, mas sim para realizar a administração do fenômeno, recrutando a popula-
ção desviada dentre as classes trabalhadoras que são sua clientela habitual. Por isso fala-se
que é necessário formular uma definição proletária de crime.
A Criminologia Crítica, em certa medida, produz um retorno ao determinismo, mas agora
não um determinismo biológico, como dos positivistas. Trata-se de um determinismo eco-
nômico-social, que deriva do modo de produção desigual do capitalismo. Aqui, no entanto,
costuma-se dizer que não há um determinismo tão rígido como aquele do século XIX, pois
compreende-se que nem todos os marginalizados sociais cairão na engrenagem penal. Por
isso, nas provas, algumas bancas falam em determinismo econômico e social (Cebraspe, por
exemplo), enquanto outras (MPE-GO, por exemplo) defendem que existe livre-arbítrio, ou seja,
que os indivíduos são livres e escolhem o caminho da desviação como solução das contradi-
ções capitalistas.
Em resumo, para a Criminologia Crítica não é possível fazer Criminologia sem questionar
os processos de criação da lei penal de acordo com os interesses da classe dominante (cha-
mados processos de definição) e os processos discriminatórios de aplicação da lei em prejuí-
zo das classes oprimidas (chamados processos de seleção).
Do ponto de vista metodológico, a Criminologia Crítica se distancia das técnicas das ciên-
cias sociais. Não aceitam investigações puramente empíricas. Preferem o método histórico-a-
nalítico, em que são analisadas as agências de controle social da sociedade capitalista. Assim,
por exemplo, no lugar de pesquisas estatísticas e empíricas, nascem pesquisas analíticas,
descritivas, situacionais, que consideram a historicidade da situação social.
São considerados postulados da Criminologia crítica:
1. Fundamento conflitual da desviação: a criminalidade surge em resposta a um con-
flito social;
2. Máxima relevância da desviação secundária: a consideração de que as instâncias de
controle social impulsionam processos de etiquetamento e estigmatização;
3. Justiça de classe: a justiça é seletiva e discriminatória, recrutando sua clientela dos mais
baixos estratos sociais;
4. Atitude empática em relação ao desviado: apreço em relação ao criminoso comum e
atitude hostil e beligerante com o delinquente poderoso;
5. Abolicionismo: descrença no papel desempenhado pelas instâncias de controle so-
cial formal.

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William Chambliss

William Chambliss é o principal nome da Criminologia Crítica nos Estados Unidos. Autor
de Law, Order and Power, de 1971, foi ao mesmo tempo pioneiro e sistematizador da Crimi-
nologia Crítica em seu país. Resumidamente, Chambliss explica que as ciências sociais são
dominadas por duas grandes perspectivas de trabalho: o modelo funcional, ligado ao trabalho
de Durkheim, e o modelo dialético, derivado da obra de Karl Marx.
Para a visão funcionalista, o crime ofende a moralidade do povo, mas é útil porque une e
concentra as consciências íntegras. Assim, o crime estabelece e preserva os limites morais da
comunidade. É o típico pensamento de Durkheim.
Para a visão dialética, os atos são criminosos porque é do interesse da classe dominante
assim defini-los. A rotulação de pessoas como criminosas serve aos interesses da classe do-
minante. É o típico pensamento derivado de Karl Marx.
Para compreender qual modelo explica mais corretamente a distribuição do comporta-
mento criminoso, Chambliss analisa e compara a aplicação de leis criminais na Nigéria e nos
Estados Unidos, países que herdaram o direito consuetudinário britânico. Ele utiliza o método
de observação participante e de aplicação de entrevistas de informantes de todo os aspectos
do direito criminal: criminosos, prostitutas, policiais, empresários, servidores públicos etc.
Analisando especificamente dados de Ibadan (Nigéria) e Seattle (EUA), ele percebe que em
ambos os países muitas leis são sistematicamente violadas impunemente por aqueles que
detêm os recursos políticos e econômicos da sociedade.
Em Ibadan, a sistemática de suborno e propinas era virtualmente universal e contribuía de-
cisivamente para o florescimento de um grande e altamente lucrativo comércio de vícios, como
jogatina, prostituição e bebida. Quadrilhas de ladrões profissionais operavam impunemente
em virtude de suas ligações com a polícia. No gueto do grupo étnico Hausa, por exemplo, havia
poucas prisões, não obstante a existência dos mais eficientes grupos de ladrões profissionais.
Um sistema individual de pagamento de extorsões estava em funcionamento. Ia preso, na Ni-
géria, quem não dispunha de dinheiro ou influência política para eliminar a acusação criminal.
Em Seattle, as mesmas práticas eram verificadas. Prostituição, jogo, agiotagem, drogas,
contrabando de bebida e mercado de apostas ocorriam com a conivência dos policiais e políti-
cos da cidade, que mantinham uma relação simbiótica com os responsáveis por organizar es-
sas atividades. Subornos e comércio de licenças governamentais eram práticas corriqueiras.
A parte nipo-americana da cidade – em paralelo ao que ocorria no gueto Hausa – apresentava
alto índice de crimes não computados nas estatísticas oficiais. Mas na comunidade nipo-ame-
ricana o sistema de pagamento de extorsões, que operava cotidianamente, era comunitário, e
não individual.
Chambliss conclui, então, que o modelo dialético explica bem o fenômeno:

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A mais óbvia conclusão é que esses sistemas de aplicação da lei não eram organizados para reduzir o
crime ou para reforçar a moralidade pública. Eles eram antes organizados para dirigir o crime pela co-
operação com os grupos mais criminosos e aplicando as leis contra aqueles cujos crimes eram uma
ameaça mínima para a sociedade. Fazendo isto, os aplicadores da lei acabam como produtores do cri-
me. Por prometer lucros e segurança àqueles criminosos que se envolvem em atividades criminosas
organizadas, das quais os sistemas políticos e legais podem se beneficiar, as práticas da aplicação da
lei produzem o crime por selecionar e encorajar a perpetuação das carreiras criminosas.14

Taylor, Walton e Young


Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young, em seus livros A nova Criminologia, de 1973, e Crimi-
nologia crítica, de 1975, criticam as posturas tradicionais da Criminologia do consenso. Defen-
dem que o fenômeno criminal depende do modo de produção capitalista: a lei penal nada mais
é do que uma superestrutura dependente da infraestrutura do sistema de produção. O direito
não é uma ciência, mas uma ideologia que deve ser analisada no contexto de luta de classes.
Aceitar a definição burguesa de crime equivale a aceitar a ficção da neutralidade do direito.
A sociedade criminaliza atividades desenvolvidas a partir das contradições de sua eco-
nomia política. Por isso, é necessário superar a Criminologia Fabiana, ou o Fabianismo da
Criminologia.

 Obs.: O Fabianismo foi um movimento político e ideológico criado na Inglaterra em 1883.


Possui caráter democrático, socialista, reformista, porém não marxista. Em resumo
apertado, para o Fabianismo, o Estado não é um organismo de classe a ser tomado,
mas um aparelho para ser usado para promover gradualmente o bem-estar. O nome do
movimento foi inspirado no Cônsul romano Fábio Máximo, que vencia as batalhas gra-
dualmente, sem ataque direto. O Fabianismo acabou se tornando sinônimo de socia-
lismo moderado, em que se defende: geração de emprego a partir de investimentos
públicos; legislação social de amparo aos trabalhadores; estatização de setores da
economia; sistema fiscal distributivo etc.

Taylor, Walton e Young explicam que a meritocracia é uma falácia, porque as pessoas par-
ticipam do jogo capitalista com fortes desigualdades de acesso. O Fabianismo, criticam eles,
reconhecia isso, mas, em lugar de tentar destruir esse sistema, empenhava-se em racionalizar
a meritocracia, tentando dar condições iguais de acesso ao jogo capitalista. Para eles, o Fabia-
nismo tentou o impossível: criar uma sociedade verdadeiramente meritocrática sem transfor-
mar as relações de propriedade que trabalhavam continuamente para obstruir o igualitarismo
competitivo. Nessa tentativa de conceder igualdade de condições, o Partido Trabalhista inglês,
na época do pós-guerra, engajou-se em compromissos de bem-estar social e recrutou, para
14
CHAMBLISS, William. A Economia Política do Crime: um estudo comparativo da Nigéria e dos Estados Unidos. In: TAYLOR,
Ian; WALTON, Paul; YOUNG, Jock (Orgs.) Criminologia crítica. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1980, p. 218.

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isso, exércitos da classe média, como peritos, professores e assistentes sociais. As agências
de assistência social proliferavam, com a missão de ajudar aqueles cuja vida familiar os inca-
pacitasse de participar na luta meritocrática. A preocupação primária era atacar a privação e
os fatores sociais e ambientais, que estavam, aliás, na base da criminalidade.
Ocorre que essas agências de saneamento (as instituições de assistência social) se valiam
de tratamentos que, apesar de descritos como de interesse do próprio cliente, resultavam em
espirais de rotulações espúrias, posterior internamento e canalização irreversível de indivíduos
em direção a carreiras na prisão, em hospitais psiquiátricos e em áreas marginais. Ou seja, a
assistência social refletia a ideologia da cúpula: é necessário estimular o ajuste, encorajar a boa
cidadania. Com isso, a assistência social ajudava a canalizar contingentes da população rumo
a carreiras na prisão. Segundo Taylor, Walton e Young, a Criminologia ortodoxa dessa época
era uma tentativa de corrigir e controlar os piores excessos de um sistema judicial conservador
punitivo e repressivo, com melhoramento do ambiente e fortalecimento da assistência social.
A Criminologia tradicional, portanto, chancelava o sistema judicial, sem tentar alterá-lo.
A Criminologia Crítica, por sua vez, é uma tentativa de realçar os excessos do sistema
de controle social que substitui cuidado por punição. Não se trata, nesse novo enfoque, de
dar condições de igualdade para jogar o jogo meritocrático. O enfoque radical é um enfoque
materialista, ou seja, de uma Criminologia que esteja normativamente comprometida com a
abolição de desigualdades em riqueza e poder e de uma sociedade em que não se criminalize
tudo aquilo que é diferente. É preciso questionar não somente as causas dos crimes, mas tam-
bém as causas das normas. Ser radical, explicam eles, é compreender as coisas pela raiz, e o
homem é inseparável da sociedade em que vive.
É central, na Criminologia Crítica, parar de aceitar o sistema legal sem questionamentos. É
fundamental compreender como as autoridades se tornam autoridades e como elas transfor-
mam legitimidade em legalidade.

Alessandro Baratta

Alessandro Baratta foi um filósofo, sociólogo e jurista italiano. Seu pensamento, em gran-
de parte desenvolvido na Alemanha, onde recepcionou a teoria o Labelling Approach, é central
para a Criminologia Crítica e, posteriormente, para as teorias de direito penal mínimo. Em 1982,
publicou Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal.
Nesse livro, ele defende que o processo de criminalização é o mais poderoso mecanismo
de reprodução das relações de desigualdade do capitalismo. Para ele, a luta por uma socieda-
de democrática e igualitária passa pela superação do sistema penal.
Ele retoma a ideia de que a história do sistema punitivo é a história das relações entre ricos
e pobres. Na sociedade capitalista, há uma drástica repartição desigual de acesso aos recur-
sos e às chances sociais. A mobilidade social é um mito: raramente as pessoas das classes
mais baixas conseguem ascender.

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O sistema escolar – assim como o sistema penal – ajuda a refletir a estrutura vertical e
hierarquizada da sociedade. As sanções escolares negativas, tais como repetição de anos, no-
tas baixas em provas, expulsões etc., são muito maiores quando se desce aos níveis inferiores
da escala social. Começa-se a perceber que as técnicas de seleção baseadas em testes de
coeficientes de inteligência ou no conceito de mérito não são neutras. Afinal, os alunos prove-
nientes de classes mais baixas têm enorme dificuldade de se adaptar ao mundo escolar, que
é estranho a eles, em função, por exemplo, do uso de regras de comportamento e linguagem
bastante diferentes das normas de seus grupos de origem. E aí, diante dessas dificuldades,
advêm sanções negativas que refletem o quanto a escola é um instrumento de transmissão da
cultura dominante.
Os professores partem, ainda que inconscientemente, de estereótipos e preconceitos no
dia a dia de contato com alunos de grupos marginalizados. Algumas pesquisas têm demons-
trado que a cota de erros desconsiderados pelo professor é menor no caso de maus alunos
que no caso de bons alunos. Ou seja, aquele aluno que tem dificuldade de se adaptar e é con-
siderado um mau aluno, é tratado com mais rigor nas correções.
Além disso, o fenômeno da profecia autocumprida do Labelling Approach – também co-
nhecida como self-fullfilling profecy – se aplica ao mundo escolar.
Assim, os alunos que vêm de classes sociais marginalizadas encontram um ambiente for-
mado por pessoas que os encaram com estigmas e preconceitos. Desse modo, entendem que
há uma expectativa para que eles sejam maus alunos e que essa expectativa determina, de
largada, o comportamento.
Confirmada a expectativa, o mau aluno sofre com o distanciamento de colegas, que pas-
sam a rejeitá-lo e a isolá-lo. E a maioria dos alunos, que segue os modelos de comportamento,
se sente integrada e coesa, distante desses maus exemplos.
Seguindo essa lógica, a escola não facilita a mobilidade social. Ao contrário, ela ajuda a
diferenciar as classes, econômica e socialmente.
A ideia central de Baratta é demonstrar que o sistema escolar e o sistema penal são com-
plementares e ajudam a reproduzir e assegurar as relações sociais verticalizadas. Ambos os
sistemas criam contraestímulos à integração dos setores mais baixos e marginalizados do
proletariado.
Baratta utiliza os conceitos de criminalização primária e secundária para explicar o proces-
so seletivo de criminalização. A criminalização primária é o ato de aprovar ou sancionar uma
lei penal que tipifica condutas. A criminalização secundária é a ação punitiva exercida sobre
pessoas concretas.
A criminalização primária – as leis penais em abstrato – reflete o universo moral próprio da
cultura burguesa individualista, dando total ênfase ao patrimônio privado e se orientando para
atingir as formas de desvio dos grupos marginalizados. Os crimes dos poderosos – como os
crimes do colarinho branco – tendem a ficar impunes até mesmo em razão da fragmentarieda-
de do direito penal, que não é neutra.

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A fragmentariedade do direito penal segue uma lei de tendência, que leva a preservar da
criminalização primária as ações antissociais realizadas por integrantes das classes sociais
hegemônicas ou que são mais funcionais às exigências do processo de acumulação do ca-
pital. Criam-se, assim, zonas de imunização de condutas cuja danosidade se volte contra as
classes subalternas.
Já os processos de criminalização secundária – punição no caso concreto – desenrolam-
-se de uma maneira muito parecida com aquela que narrei ao falar do professor e seus maus
alunos oriundos das classes mais baixas: preconceitos e estereótipos guiam a ação dos re-
presentantes das agências de controle social formal. Policiais, delegados, promotores e juízes
procuram a verdadeira criminalidade naqueles estratos sociais em que é normal encontrá-la.
A pessoa etiquetada com o rótulo de criminosa tem a sua identidade social alterada. Ele não
é visto mais da mesma maneira e nem se vê mais do mesmo modo. Fica muito fácil que se
instale, então, a delinquência secundária (reincidência) e que nasça uma carreira criminosa.
Baratta relembra o conceito de sociedade dividida de Dahrendorf: só metade da sociedade
extrai de seu seio os juízes e eles têm, diante de si, predominantemente indivíduos provenien-
tes da outra metade. A justiça, então, não é neutra. Existe uma justiça de classe: a distância lin-
guística separa julgadores e julgados; e a menor possibilidade de desenvolver um papel ativo
no processo e de se servir do trabalho de advogados prestigiosos desfavorecem os indivíduos
das classes mais baixas.
Os juízes desconhecem a vida das pessoas marginalizadas e são incapazes de compre-
ender as nuances de um cotidiano de pobreza. Muitos dos julgamentos ocorrem com base
no senso comum. Ou seja, os juízes tendem a esperar um comportamento conforme à lei dos
indivíduos pertencentes aos estratos médios e superiores e condutas contrárias à lei de indiví-
duos provenientes de estratos inferiores. E tendem, ademais, a aplicar mais penas detentivas
em desfavor dos marginalizados, pois considera-se que ela é menos comprometedora para o
status social já baixo dos pobres do que se comparamos à sua aplicação, por exemplo, a um
acadêmico. Essa tendência de julgar conforme o senso comum é chamada, por alguns auto-
res, de teoria de todos os dias.
Voltando aos pressupostos do labelling, Baratta usa a ideia de que as instâncias de contro-
le social formal criam a criminalidade, constituem o delito e que, nesse processo, selecionam
a população carcerária nos estratos mais baixos da população. A desigual distribuição de de-
finições criminais – muito maior entre os pobres e muito menor entre os ricos – ocorre não
de maneira fortuita, mas seguindo regras próprias, que Baratta chama de second code. Esse
segundo código social, portanto, revela que o direito penal desenvolve um importante papel
de reprodução das relações sociais, especialmente na circunscrição e marginalização de uma
população criminosa recrutada nos setores mais débeis do proletariado.
Essas ideias todas questionam a neutralidade do direito, demonstram a importância que a
estigmatização produz no indivíduo e colocam em xeque a função educativa da pena.

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No mundo criminal, mais uma vez tem o lugar o fenômeno da profecia autocumprida, de
que tanto falou a teoria do Labelling Approach. A expectativa de criminalidade dirigida aos
grupos mais marginalizados faz com que, ainda que haja a mesma quantidade de condutas
ilícitas nos diferentes estratos sociais, elas sejam mais facilmente detectadas e punidas nos
estratos mais baixos da sociedade.
O sistema penal age, então, de forma bastante similar à da escola, reproduzindo a estra-
tificação e operando no sentido de mantê-la. Por isso a existência, em diferentes países, de
mecanismos de internação de menores delinquentes e por isso, também, o intercâmbio entre
internos dessas instituições e dos presídios. São a mesma população, submetem-se à mesma
lógica. Apesar de as instituições de internação de menores infratores pretenderem ressocia-
lizar, não é isso que ocorre. A cada sucessiva passagem do menor por uma instituição de as-
sistência corresponde um aumento, em lugar de diminuição, das chances de ser selecionado
para uma carreira criminal.
Os efeitos da intervenção estatal nos criminosos são tão determinantes que, aqueles que
foram submetidos às instâncias de controle social formal (investigados, processados, presos,
condenados) revelam uma criminalidade secundária mais alta do que aqueles que puderam se
subtrair a essa intervenção.
Baratta é absolutamente crítico do cárcere. Ele diz que têm se mostrado infrutíferas as
tentativas de socialização e de reinserção através dessas instituições. Os institutos de deten-
ção são o momento culminante do mecanismo de marginalização. Neles, chamam a atenção
o constante regime de privações a que são submetidos os condenados e o processo negativo
de socialização. Trata-se de um processo de socialização em que há:
• desculturação, isto é, desadaptação às condições necessárias para a vida em liberdade; e
• aculturação ou prisionalização, que é a assunção de atitudes e modelos de comporta-
mento típicos da subcultura carcerária. Na prisionalização, que também pode ser cha-
mada de prisionização, o condenado é educado tanto para ser um criminoso (copiando
os criminosos com forte orientação antissocial) como para ser um bom preso, passivo,
conformista e oportunista.

A educação para ser um bom preso acaba se tornando o verdadeiro objetivo da instituição,
enquanto a função educativa real é excluída desse processo.
Na prática, portanto, as prisões produzem efeitos contrários à reeducação e à reinserção
do condenado, e, logo, favoráveis à sua estável permanência na população criminosa.
Por tudo isso, Baratta defende a adoção de uma política criminal alternativa, que não pode
ser confundida com política penal alternativa. Seu desejo não é apenas de melhorar o direito
penal, mas de substituí-lo por algo melhor que o direito penal, parafraseando Radbruch. Na po-
lítica criminal alternativa haveria a diferenciação da criminalidade pela posição social do autor.
A criminalidade de rua, dos pobres – respostas individuais às adversidades do capitalismo

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– seria despenalizada, ou seja, seria equacionada por controles sociais não-estigmatizantes,


tais como sanções administrativas ou civis. A criminalidade dos poderosos e a criminalidade
organizada – expressão da relação funcional entre processos políticos e mecanismos legais
e ilegais de acumulação de capital – seriam destinatárias da ampliação do sistema punitivo,
pois isso significaria proteção de interesses comunitários tais como saúde, segurança no tra-
balho e integridade ecológica.
De todos os modos, ele é categórico ao dizer que uma política criminal alternativa não pode
ser uma política de substitutivos penais, limitados a uma perspectiva reformista e humanitária.
A política criminal alternativa que ele defende, ou política criminal das classes subalternas,
implica grandes reformas sociais e institucionais para o desenvolvimento da igualdade e do
contrapoder proletário, em vista da superação das relações sociais de produção capitalista.
Somente com essas reformas seria possível aliviar a pressão negativa do sistema punitivo
sobre as classes subalternas.
No limite, o objetivo último dessa reforma é a abolição da instituição carcerária, em função
da consciência do fracasso histórico da instituição. Para se chegar ao objetivo final, talvez
seja necessário passar por algumas etapas, como a ampliação do sistema de penas alternati-
vas; o alargamento das hipóteses de livramento condicional, suspensão condicional da pena e
sistema de progressão de regime; aumento das permissões de saída; reavaliação do trabalho
carcerário; e, especialmente, a abertura do cárcere para a sociedade.
A abertura do cárcere seria feita, sobretudo, com a cooperação dos presos e suas asso-
ciações com as organizações do movimento operário. Para Baratta, essa aproximação entre
presos e operários teria a finalidade de reinserir o condenado na classe trabalhadora. É que,
para ele, o cárcere tem o poder de dividir artificialmente a classe subalterna (em condena-
dos e trabalhadores), e essa aproximação poderia fazer com que os condenados adquirissem
consciência política das condições sociais impostas pelo capitalismo. Com a aquisição dessa
consciência política, seria feita a verdadeira “reeducação” do preso, bastante diferente do mito
burguês de reeducação e reinserção por meio do próprio cárcere. O preso verdadeiramente re-
educado teria condições de transformar aquela reação individual e egoísta (o delito) em ação
política dentro do movimento de classe.
A política criminal alternativa deveria levar em máxima consideração a função da opinião
pública, para compreender os processos de sustentação e legitimação do direito penal desigual
atualmente vigente. Assim, a nova política criminal teria que estar disposta a enfrentar uma
batalha cultural e ideológica para reverter a hegemonia cultural e desenvolver, com crítica ide-
ológica, produção científica e informação, uma consciência alternativa sobre a criminalidade.

Georg Rusche e Otto Kirchheimer

Vamos falar agora e no próximo item de autores que escreveram obras fundamentais para
o pano de fundo da Criminologia Crítica. O livro dos alemães Rusche e Kirchheimer, Punição

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e Estrutura Social, foi escrito entre 1938 e 1939, mas somente foi “descoberto” na década de
1970. Ele foi fundamental para o livro que abordaremos no próximo item (Vigiar e Punir, de
Michel Foucault).
Georg Rusche foi o primeiro pensador marxista a sistematizar a questão criminal e a ana-
lisar historicamente as relações entre condições sociais, mercados de trabalho e sistemas
penais. O livro foi complementado por Kirchheimer após a morte de Rusche.
Eles demonstraram que, no século XV, com mão de obra abundante, o sistema penal se
dirigia contra as massas empobrecidas, com execuções, mutilações e açoitamentos.
No mercantilismo dos séculos XVI e XVII, nasce a exploração da mão de obra na prisão,
pois havia escassez de trabalhadores. Nascem leis que punem a vadiagem e que tornam úteis
os camponeses expulsos das terras. A pena de degredo auxilia países na colonização de ter-
ras “descobertas” e a pena de galés (trabalho forçado) demonstra grande funcionalidade. As
casas de correção começam a ser lucrativas, pois conjugam nenhum ou baixos salários ao
adestramento de trabalhadores desqualificados.
Com a Revolução Industrial do século XVIII, surge o processo de acumulação de capital,
caracterizado por exploração intensa de mão de obra e miséria da classe trabalhadora. O capi-
talismo gera um exército de reserva e o mercado se encarrega de oprimir as pessoas.
No século XIX, com o crescimento da rebeldia popular, das revoluções e dos delitos contra
a propriedade, a prisão se converte na pena mais importante de todo o mundo ocidental. Rus-
che e Kirchheimer demonstram que as prisões são uma forma especificamente burguesa de
punição, que se disseminam com a passagem para o capitalismo. A construção da ideologia
burguesa de trabalho é acompanhada pelo surgimento de uma concepção burguesa de tempo,
que tornará possível o princípio fundamental da proporcionalidade da pena.
Eles defendem que:

O sistema penal de uma dada sociedade não é um fenômeno isolado sujeito apenas às suas leis
especiais. É parte de todo o sistema social, e compartilha suas aspirações e seus defeitos. A taxa de
criminalidade pode de fato ser influenciada somente se a sociedade está numa posição de oferecer
a seus membros um certo grau de segurança e de garantir um nível de vida razoável. A passagem de
uma política penal repressiva para um programa progressista de reformas pode, então, transcender
o mero humanitarismo para tornar-se uma atividade social verdadeiramente construtiva. (...) A futili-
dade da punição severa e o tratamento cruel podem ser testados mais de mil vezes, mas enquanto
a sociedade não estiver apta a resolver seus problemas sociais, a repressão, o caminho aparente-
mente mais fácil, será sempre bem aceita.15

Michel Foucault
Michel Foucault foi um filósofo francês que, em 1975, lançou Vigiar e Punir: Nascimento da
Prisão. É um estudo sobre a evolução histórica do cárcere e da legislação penal. Seu pensa-
mento surge na mesma época em que a Criminologia Crítica se desenvolvia e apresenta, com
15
RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004, p. 282.

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ela, bastante conexão. A obra de Foucault foi uma das responsáveis por descobrir o pensa-
mento de Rusche e Kirchheimer.

As bancas gostam muito de fazer perguntas sobre o pensamento de Foucault. E mais, as per-
guntas sobre Foucault são, em geral e por algum motivo nebuloso, muito exigentes. Então vou
me alongar nesse item, seja porque sua obra é extensa, seja porque os examinadores têm al-
guma predileção por complicar o que já não é muito simples. Vou tentar resumir e simplificar.
Se, ao final da aula, você sentir dificuldades nas perguntas sobre Foucault, não desanime. Para
ser vítima das questões sobre Foucault basta estar vivo!

Foucault explica que, até o século XVII, as penas eram verdadeiro suplício: esquartejamen-
to, exposição do condenado em praças públicas, execução em palanques montados a céu
aberto – chamados de patíbulos –, torturas, marcas no rosto, amputação. Eram penas despro-
porcionais, bárbaras e ostentosas. São rituais pensados para restituir a soberania do príncipe.
Posteriormente, o Iluminismo desqualifica o suplício, reprovando sua atrocidade. Surgem
agitações e protestos contra essa teatralização das penas. Ao mesmo tempo, a criminalidade
violenta, de sangue, passa a dar lugar a uma criminalidade de fraude, mais complexa, relacio-
nada com a concentração de riquezas. Essa alteração da criminalidade somada à desqualifica-
ção do suplício leva ao surgimento da ideia de penas proporcionais aos crimes. Aqui situa-se,
por exemplo, a obra de Beccaria.
Fala-se, então, da reforma humanista do século XVIII: os suplícios dão lugar a penas pro-
porcionais. O castigo deve ter a humanidade como medida (e atente-se que a prisão ainda
não era a forma por excelência de castigo). Pouco a pouco, o corpo esquartejado, amputado e
dado como espetáculo começa a desaparecer. O rito de punição que, muitas vezes, ultrapas-
sava o próprio crime em sua selvageria, vai sendo abandonado. Em suas próprias palavras, “a
melancólica festa de punição vai-se extinguindo.”16
Portanto, com uma série de reformas ocorridas em diversos países no final do século XVIII,
o suplício vai, pouco a pouco, sendo deixado de lado. Foucault fala em penalidade suaviza-
da, em que deve haver humanidade, proporcionalidade (medida), individualização das penas
e classificação dos crimes e castigos. Aliás, a partir do século XVIII, difunde-se a ideia de
que a punição das ilegalidades deve ser regular. Pune-se com menos severidade, mas com
mais universalidade. É necessário controlar a codificar as práticas ilícitas, principalmente se
se considera que passou a incomodar muito à nova burguesia a ascensão dos crimes contra a
propriedade. É que antes as principais ilegalidades eram dirigidas a direitos, mas com o desen-
volvimento da sociedade capitalista, elas se dirigiam aos bens. O roubo se torna mais comum
e incômodo, de modo que os códigos começam a separar e a classificar as ilegalidades. De um
lado, as ilegalidades dos direitos, e de outro, as ilegalidades dos bens, sobre as quais há menos
tolerância e que exigem, portanto, vigilância constante.
16
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014, p. 13.

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As reformas penais inserem novos princípios para regularizar e universalizar a arte de cas-
tigar; para diminuir o custo econômico e aumentar a eficácia da pena. Elas constituem uma
nova economia e nova tecnologia do poder de punir. O direito de punir não é mais decorrência
da sede de vingança do soberano. Ele é, agora, instrumento de defesa da sociedade. Mas isso
não significa que ele seja verdadeiramente mais suave, pois, como se verá, ele será posterior-
mente dotado de elementos tão fortes que se torna quase mais temível.
Com essa reforma dita humanista, a partir do século XIX, sobretudo entre 1830 e 1848, a
punição torna-se a parte mais velada do processo penal. A publicidade se volta para os deba-
tes e para a sentença, mas a execução fica escondida, pois é algo que a justiça tem vergonha
de impor ao condenado. É pouco glorioso punir. As práticas punitivas se tornam pudicas, e
querem tocar no corpo o mínimo possível, para atingir nele algo que não é o próprio corpo. O
que se quer, no sistema penal moderno, é atingir a liberdade, e não provocar dor em um corpo.
O que se quer é suspender direitos.

O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis a uma economia dos direitos suspensos”17.

É, em teoria, uma penalidade incorpórea.


Como já dissemos, essas mudanças são tradicionalmente descritas como consequências
de uma reforma humanista, que visava conferir mais dignidade ao cumprimento de penas. Mas
Foucault questiona essa explicação simplista e defende que permanece um fundo supliciante
na pena moderna, mas com mudança de objetivo. Não se quer mais supliciar diretamente o
corpo, mas sim a alma, o coração, o intelecto, a vontade, as disposições. Constrói-se uma nova
economia e nova tecnologia do poder de punir. A reforma “humanista” não pretende punir me-
nos, mas sim punir melhor. A alma do criminoso é levada ao tribunal e o juiz não julga sozinho,
mas sim em companhia de uma série de instâncias anexas, como peritos, psicólogos, psiquia-
tras, funcionários da administração penitenciária etc. Eles são chamados de juízes anexos, que
fracionam o poder de punir. Essa operação de incorporar, no julgamento, elementos extrajurí-
dicos, escusa o juiz da responsabilidade de castigar. É a pretensa “suavidade penal” aplicada
como técnica de poder.
Na época dos suplícios, o exemplo (a punição) era uma réplica do crime. Após as refor-
mas, considera-se que é preciso empregar a máxima economia. É preciso punir exatamente
o suficiente para impedir novos crimes. A punição passa a ser discreta. Não é mais um ritual
manifesto, é um sinal, um sinal que cria obstáculo. A semiotécnica (método para identificar
sinais que constroem um significado) do poder de punir nesse momento de reforma, explica
Foucault, repousa sobre as seguintes regras:
• Regra da quantidade mínima: o crime é cometido porque traz vantagens. Se, à ideia do cri-
me, é ligada a ideia de uma desvantagem minimamente maior, ele deixa de ser desejável.
17
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Trad. Ligia Pondé Vassalo. 3ª ed. Petrópolis: Vozes,
1984, p. 16.

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• Regra da idealidade suficiente: a eficácia da pena está na ideia de uma dor, de um desprazer.
Não é tanto a sensação de sofrimento que importa, mas sim a representação (idealização)
da pena. A representação da pena, e não sua realidade corpórea, deve ser maximizada.
• Regra dos efeitos laterais: a pena deve ter efeitos mais intensos naqueles que não come-
teram a falta, para que se comportem conforme as regras.
• Regra da certeza perfeita: é preciso que haja um laço forte unindo crime e castigo, pois
nada torna mais frágil o instrumento das leis que a esperança de impunidade.
• Regra da verdade comum: a verdade do crime somente poderá ser admitida uma vez in-
teiramente comprovada. É uma transformação importante, já que na fase dos suplícios,
frases arrancadas pelo sofrimento (confissão sob tortura) tinham valor de autenticação.
• Regra da especificação ideal: todas as infrações têm que ser classificadas e reunidas
em um código, que tenha pretensões exaustivas e generalizantes, mas que consiga, ao
mesmo tempo, individualizar a pena.

São, segundo Foucault, regras que, de modo geral, exigem a suavidade como economia
calculada do poder de punir.
Acontece que, quando as reformas foram feitas, não se imaginava e nem se pretendia
conferir à pena de prisão o caráter quase universal de pena. Naquela época, a prisão não era
sinônimo de pena como é para a gente hoje. Mas esse movimento de transformar a detenção
na forma essencial de castigo tem lugar logo após as reformas, sobretudo no século XIX. E é
por isso, explica Foucault, que o corpo (que tinha sido substituído pela alma) volta a ser o per-
sonagem principal. Há uma nova política do corpo.
Então, vamos resumindo: saímos do suplício, rituais bárbaros e ostensivos que evocavam
o poder do Monarca; passamos, a partir do século XVIII, pela reforma pretensamente humanis-
ta, que incorporou uma ideia de suavidade penal, com a humanização e universalização das
penas, já nas mãos de um juiz que divide seu poder com os juízes auxiliares; e chegamos, a
partir do século XIX, à universalização da pena de prisão.
Ou seja, agora relacionando com as escolas criminológicas: Foucault faz uma análise da
suposta suavização penal passando pelos momentos históricos dos suplícios, das penas pro-
porcionais ao delito (conectadas à Escola Clássica, direcionadas à alma) e, por fim, da dissemi-
nação do cárcere como punição por excelência (conectada ao pensamento positivista, como
veremos, e com um regresso de direcionamento ao corpo do homem delinquente).
Quando o emprego da prisão se dissemina, ainda que não sejam empregados castigos
violentos e sangrentos, trata-se, novamente, do corpo do condenado: da sua utilidade, da sua
docilidade, da sua submissão. Há uma tecnologia política do corpo: uma microfísica do poder
que sabe muito sobre o corpo (bem a cara do positivismo!) e que controla suas forças. O dis-
curso de que a nova punição é sobre a alma não consegue mascarar que continua (ou volta) a
haver, sobretudo com a disseminação da pena privativa de liberdade, uma pesada tecnologia
do poder sobre o corpo.

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É que, em realidade, já na segunda metade do século XVIII, ainda na Era Clássica, surge
uma preocupação em controlar o corpo em larga escala. Não se trata de cuidar do corpo, mas
de esquadrinhá-lo detalhadamente, de exercer sobre ele uma coerção sem folga. Essa é a
ideia do corpo dócil: um corpo que se analisa, que se manipula, que se modela, que se treina,
que obedece ao adestramento. Para que isso funcione, é necessário atentar aos detalhes:
inspeções minuciosas, regulamentos detalhados e controle das mínimas parcelas da vida e
do corpo começam a ter lugar. Ganha força, então, a ideia de poder disciplinar e de sociedade
disciplinar, que vai se fortalecendo nos séculos seguintes.
No poder disciplinar, algumas ideias são centrais. Os indivíduos são distribuídos no espaço, e
para isso: podem ser utilizadas cercas que fecham um grupo de pessoas em um local (presídio,
por exemplo, mas também pode ser uma escola, um quartel); pode ser determinado que cada in-
divíduo deva permanecer em uma parte determinada desse local (cela, por exemplo); e pode ser
determinado que cada local da construção tenha sua função (pátio, refeitório). Além da distribui-
ção espacial, existe controle das atividades: horários para as atividades, gestos a serem empre-
gados, utilização crescente do tempo. Quando fala do nascimento do poder disciplinar, Foucault
não se refere especificamente às prisões. Ele exemplifica com a vida nos quarteis, instituições
médicas, escolares e industriais. Mas ele demonstra que, com o passar do tempo, o cárcere se
revela uma importante e útil ferramenta para implementar o poder disciplinar.
Ao falar especificamente das prisões, ele retoma a ideia do panóptico, que já havia sido em-
pregada pelo inglês Jeremy Bentham na virada do século XVIII para o século XIX. O panóptico
é um sistema arquitetônico para presídios: de uma torre central, todos os corredores radiais
seriam observados. Os presos poderiam ser monitorados facilmente, com um simples virar de
cabeça dos guardas alocados na torre. Ademais, a construção arquitetônica ideal de panóptico
não permitiria a definição, pelos detentos, do ponto a partir do qual se realiza a vigilância, e
tampouco a identificação de quem os vigia. O panóptico ideal é uma máquina de dissociar o
par “ver” x “ser visto”. A ideia era utilitarista: ter a maior vigilância dos detentos com o menor
emprego de recursos. Vamos dar um exemplo:

Foto: peramblogando.blogspot.com

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O panoptismo penitenciário é um sistema de documentação individualizante e permanente


sobre o preso: tudo é visto, registrado e se transforma em saber sobre aquele corpo, saber que
regula a prática carcerária.
Foucault faz uma distinção entre infrator (ou condenado) e delinquente. A partir do momento
em que o infrator é condenado, ele passa a ser objeto do saber sobre o corpo. E aí, nesse pro-
cesso, o aparelho penitenciário efetua uma substituição: das mãos da justiça ele recebe um con-
denado (infrator), mas no lugar do condenado ele coloca o delinquente, que é o indivíduo a ser
conhecido, analisado, retreinado. O condenado ou infrator é caracterizado pelo ato que cometeu.
O delinquente, pela sua vida. A operação penitenciária deve totalizar a vida do delinquente, tornar
a prisão uma espécie de teatro artificial e coercitivo onde toda a existência do delinquente será
refeita. O castigo da justiça ao infrator diz respeito a um ato. A técnica punitiva, a uma vida.
Por trás do infrator, revela-se o caráter delinquente, e nesse processo joga importante pa-
pel a investigação biográfica. O infrator, que era apenas autor de um ato, se distingue do ho-
mem delinquente, que está amarrado ao seu delito por instintos, pulsões, tendência, tempera-
mentos. As tipologias positivistas foram cruciais nessa dinâmica de criar o delinquente, uma
unidade biográfica, núcleo de periculosidade, dotado de anomalia. Por isso, para Foucault, a
técnica penitenciária e o homem delinquente são irmãos gêmeos, que surgiram juntos e que
ajudam a formar, nos subterrâneos do aparelho judiciário, a delinquência, em substituição à
mera infração.
Para Foucault, o sistema permanente de controle, ou seja, de feições panópticas, tem
por objetivo:

[...] induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funciona-
mento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo
se descontínua em sua ação; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exer-
cício; que esse aparelho arquitetural seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder
independente daquele que o exerce; enfim, que os detentos se encontrem presos numa situação de
poder de que eles mesmos são os portadores18.

Quem quer que passe pelo cárcere leva consigo as marcas dessa coerção máxima estatal
consubstanciada na pena privativa de liberdade. Afinal, a prisão deixa traços no corpo, impõe
hábitos, determina comportamentos, envolve disciplina.
A disciplina é feita com o adestramento dos corpos, por meio de:
• vigilância hierárquica: redes verticais de relações de controle, em que os controladores ope-
ram vendo tudo o que acontece. São verdadeiros observatórios da multiplicidade humana.
• sanção normalizadora: sistema de recompensa e de punição instituído para corrigir des-
vios, especialmente mediante micropenalidades baseadas no tempo (atrasos, ausências),
na atividade (desatenção, negligência), e em maneiras de ser (grosseria, desobediência).
18
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Trad. Ligia Pondé Vassalo. 3ª ed. Petrópolis: Vozes,
1984, p. 116.

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Trata-se de uma microeconomia de penalidade perpétua, de cálculo permanente, que, no


final das contas, deixa de julgar atos, mas passa a diferenciar os indivíduos entre bons e
maus, de acordo com sua natureza, sua virtualidade. Essa penalidade perpétua, ao con-
trolar todos os instantes das instituições disciplinares, compara, diferencia, hierarquiza,
homogeniza e exclui, e isso tudo Foucault resume em uma palavra: ela “normaliza.”
• exame: os exames altamente ritualizados sobre os corpos são cerimônias de poder e
demonstração de força. Os corpos são analisados, as celas são revistadas e formam-
-se verdadeiros arquivos com documentos sobre detalhes e minúcias dos corpos e dos
dias. O indivíduo é mensurado, descrito, comparado e isso se constitui em renovação
constante do ritual de poder. O exame, com todas suas técnicas documentárias, faz de
cada indivíduo um caso.

O poder disciplinar, que começa centrado em locais determinados (“disciplina-bloco” de quar-


teis, colégios, grandes oficinas) passa a ser transportado para todo o corpo social, formando o
que Foucault chama de sociedade disciplinar (“disciplina-mecanismo”). O panoptismo também
se espalha pela sociedade, ajudando na multiplicação das instituições de disciplina, sobretudo
quando se verifica a acumulação de capital e as grandes explosões demográficas (acumulação
de seres humanos). Trata-se de uma tecnologia minuciosa e calculada da sujeição de grupos po-
pulacionais, sem a necessidade de emprego da forma de poder tradicional, ritual, dispendiosa e
violenta. O controle policial permanente, exaustivo, onipresente, produtor de inúmeros relatórios
e registros é parte importante desse fenômeno de generalização do panoptismo.

Hoje, o conceito de panoptismo extrapolou a ideia de sistema arquitetônico prisional. Ele é


aplicado também com referência a sistemas de informações que permitem localizar, observar,
esquadrinhar a vida dos cidadãos e, mais especificamente, dos condenados monitorados com
medidas alternativas, como tornozeleiras eletrônicas, que permitem à Justiça criminal saber
em tempo real onde está o réu.

A generalização dos dispositivos disciplinares traz consigo um contradireito, pois enquan-


to o direito tenta garantir a igualdade, a disciplina introduz assimetrias insuperáveis, em que o
poder está sempre do mesmo lado e inexiste equidade de posições.
Foucault explica, ainda, que a prisão tem sido denunciada como o grande fracasso da jus-
tiça penal. Mas ele chama atenção para o fato de essa não ser uma crítica recente, já que ela
aparece muito cedo, praticamente superposta ao próprio nascimento da detenção punitiva.
As prisões:
• não diminuem a taxa de criminalidade;
• provocam a reincidência;
• fabricam delinquentes (porque não pensam no homem em sociedade e porque impõem
limitações violentas, funcionando abusiva e arbitrariamente);
• favorecem a organização (solidariedade e hierarquia) de delinquentes; e

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• fabricam indiretamente mais delinquentes ao fazer cair na miséria a família do detento.

A prisão, declara Foucault, é um duplo erro econômico: pelo custo (direto) de sua organiza-
ção e pelo custo (indireto) da delinquência que ela não reprime.
Como resposta a essas críticas, sempre sobrevêm reformas penitenciárias, que reforçam
os princípios da técnica penitenciária e que, portanto, querem resolver a prisão com a própria
prisão. Esses princípios da técnica penitenciária são:
• Princípio da correção (a prisão deve ter por função a transformação do comportamento
do indivíduo);
• Princípio da classificação (os detentos devem ser isolados de acordo alguns critérios,
como a gravidade de seus atos, idade etc.);
• Princípio da modulação das penas (o desenrolar da pena deve ser modificado de acordo
com os resultados obtidos, os progressos, as recaídas);
• Princípio do trabalho como obrigação e como direito (o trabalho penal deve ser uma das
peças essenciais da transformação);
• Princípio da educação penitenciária (a educação é uma precaução no interesse da so-
ciedade e uma obrigação com o detento);
• Princípio do controle técnico da detenção (pessoal especializado com capacidade mo-
ral e técnica deve zelar pelos detentos);
• Princípio das instituições anexas (medidas de assistência devem ser tomadas até a re-
adaptação definitiva do antigo detento).

Mas o emprego desses princípios não vai resolver os males do cárcere. A prisão, seu fra-
casso e sua reforma não são momento sucessivos na história, mas momentos simultâneos,
de forma que a prisão é uma invenção desacreditada desde o seu nascimento. Ou seja, há 150
anos o fracasso da prisão acompanha sua manutenção. E isso ocorre porque o fracasso da
prisão tem uma utilidade. Afinal, a prisão não se destina a suprimir infrações, mas sim a distin-
gui-las, distribuí-las e utilizá-las. A penalidade é uma maneira de gerir as ilegalidades, de traçar
limites de tolerância, deixando algumas pessoas dentro da economia geral das ilegalidades,
e excluindo outras. Ela demarca qual a forma particular de ilegalidade sobre a qual quer jogar
luz. A delinquência (aqui usando o conceito específico de Foucault, que contrapõe delinquente
e infrator; que separa a delinquência, como sinônimo de vida criminosa, da infração, sinônimo
de ato criminal isolado) é a ilegalidade que o sistema carcerário recortou e organizou. É o que
ele chama de ilegalidade dominada, que funciona, aliás, como um agente para a ilegalidade
dos grupos dominantes. Para que a ilegalidade dos grupos dominantes funcione e tenha seus
lucros, seja na prostituição, no tráfico de armas e de drogas, controla-se e maneja-se a ilegali-
dade dos “delinquentes”. A criminalidade de necessidade (dos pobres, dos necessitados) mas-
cara, com os holofotes que atrai, a delinquência de cima. A delinquência da riqueza é tolerada
pelas leis, pelos tribunais e pela imprensa.

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Assim, para Foucault, se há um desafio global em torno da prisão, ele reside na alternativa:
prisão ou algo diferente da prisão?

Criminologia Crítica na América Latina

No Brasil, Roberta Lyra Filho chegou a ser citado pelo Ministro Nelson Jobim como o
mais crítico de nossos juristas críticos. Em seu livro Criminologia dialética, de 1972, ele de-
fendia que a Criminologia não podia andar a reboque do formalismo jurídico. A integração da
Criminologia e do direito penal precisa passar pelo reexame da filosofia jurídica e da antropo-
logia filosófica, para que se repense o próprio conceito de direito. Afinal, o conceito de crime
é historicamente determinado pelas manifestações específicas da cultura e das subculturas.
Por isso, traçar um novo conceito de crime é parte dos afazeres criminológicos. A gênese
das normas deve ser estudada, para que se compreenda como o fenômeno delituoso é um
capítulo da dialética de valores.
Outro nome importante para a Criminologia Crítica brasileira foi Juarez Cirino dos San-
tos, professor paranaense, que fez ecoar o pensamento da Criminologia Crítica em seu livro
A Criminologia Radical, escrito entre 1979 e 1981. O autor explica que se embasou no que ele
considera a linha de frente de um movimento universal de Criminologia Crítica, composto por
Foucault; Taylor, Walton e Young; e Rusche e Kirchheimer. Juarez Cirino mostra que a Crimino-
logia Radical tem por objeto as relações sociais de produção (estrutura de classes) e de repro-
dução político-jurídica (superestruturas de controle) da formação social, e que as contradições
de classes vinculam o controle do crime às relações capitalistas da estrutura econômica. A
Criminologia está ligada à economia, e ambas, à política.
Para Juarez Cirino, o processo de criminalização, tanto na produção como na aplicação
das normas, protege seletivamente os interesses das classes dominantes, pré-selecionan-
do os indivíduos estigmatizáveis distribuídos nas classes sociais subalternas. A punição é
administrada pela posição de classe do autor, uma variável independente que determina a
imunidade das elites e a repressão das massas miseráveis. O Direito não é neutro. Ele reflete
o modo de produção da sociedade. O Estado, por sua vez, é organização política do poder
das classes hegemônicas.
Assim, a Criminologia Radical nota que o sistema punitivo possui objetivos aparentes e
objetivos reais. Os objetivos ideológicos aparentes do sistema punitivo são, por exemplo, a
repressão do crime, a ressocialização, a diminuição das taxas criminais. Os objetivos reais
ocultos, por sua vez, são a reprodução das relações de produção e da massa criminalizada.

(...) o fracasso histórico do sistema penal limita-se aos objetivos ideológicos aparentes, porque os
objetivos reais ocultos do sistema punitivo representam êxito histórico absoluto desse aparelho de
reprodução do poder econômico e político da sociedade capitalista19.
19
SANTOS, Juarez Cirino dos. A Criminologia Radical. Curitiba: ICPC: Lumen Juris, 2006, p. 128.

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Ainda no Brasil, mas agora no Rio de Janeiro, Nilo Batista explica, tanto em Introdução Críti-
ca ao Direito Penal Brasileiro, de 1990, como em Matrizes Ibéricas do Sistema Penal no Brasil, de
2000, que há marcante congruência entre os fins do Estado e os fins do Direito Penal, de modo
que o conhecimento das reais e concretas funções históricas, econômicas e sociais do Estado
é fundamental para a compreensão desse ramo do direito. Nilo Batista, que foi Promotor de
Justiça e Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, escreveu Direito Penal
Brasileiro em companhia do argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, de que falaremos mais adiante.
Continuando no Rio de Janeiro, Vera Malaguti Batista em Difíceis Ganhos Fáceis: Drogas e
Juventude Pobre no Rio de Janeiro, de 1998, e em Introdução Crítica à Criminologia Brasileira, de
2011, também defende que as escolas criminológicas prévias tentavam classificar e hierarquizar,
desistoricizar, despolitizar as lutas dos pobres do mundo que são, sempre, o alvo dos sistemas
penais capitalistas. Para ela, é necessário destrinchar e desnudar os mecanismos de inflição de
dor e sofrimento às histórias tristes dos pobres e isso significa, por exemplo: mudar a política
criminal de drogas, produzindo políticas coletivas de controle pela legalidade; despenalizar os
crimes patrimoniais sem violência contra a pessoa; abrir os muros das prisões para sua comuni-
cação com o mundo externo; diminuir o número de policiais, desarmando-os e transformando-os
em agentes coletivos de defesa civil; ampliar as defensorias públicas; acabar com a exposição
de suspeitos na mídia e reduzir o noticiário emocionalizado de casos criminais.
Na Argentina, o nome de Eugenio Raúl Zaffaroni tem muito destaque no campo da Crimi-
nologia Crítica. Ele defende, em Em Busca das Penas Perdidas, de 1991, e outras obras, que os
sistemas penais não detêm legitimidade, já que são seletivos e reprodutores da violência. Zaf-
faroni incorpora dados da realidade social para demonstrar essa deslegitimação, que se mani-
festa no que ele chama de “perda” das penas, ou seja, penas como inflição de dor sem sentido.
As penas perdidas são, portanto, penas carentes de racionalidade. E a esse procedimento, de
incorporar dados da realidade para demonstrar a deslegitimação penal, ele dá o nome de rea-
lismo jurídico-penal. Como ele faz essa análise a partir de um ponto de vista da América Latina,
uma região marginal do poder planetário, ele denomina sua análise, mais especificamente, de
realismo jurídico-penal marginal.
Roberto Bergalli, também argentino, radicado em Barcelona e falecido em maio de 2020,
dedicou grande parte da sua vida ao estudo do controle social punitivo na América Latina. Ele
foi fundador de um dos primeiros cursos de pós-graduação em Criminologia Crítica na Espa-
nha, onde se exilou após ter sido perseguido pela ditadura argentina. Publicou diversas obras
nos campos da Criminologia, da sociologia jurídica e política, da teoria e filosofia do direito, e
assim se consagrou como um dos maiores nomes contemporâneos do pensamento sobre a
questão criminal, em especial, da Criminologia, que ele denominava “sociologia do controle
penal”. Bergalli defendia a importância de uma sociologia jurídica do controle penal, que ana-
lisasse tanto a etapa de criação das normas como a de sua aplicação. Seria fundamental que
essa sociologia estudasse, por exemplo, como os funcionários públicos atuam para colocar
em marcha o controle penal. Desvendar os mecanismos do interior dos aparatos policiais, ju-
diciais e penitenciários ajudaria a aprofundar a democracia.

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Na Venezuela, Lola Aniyar de Castro publicou em 1987 a obra Criminologia da Libertação.


O nome Criminologia da Libertação advém da premissa de que uma discussão sobre domina-
ção leva a uma discussão sobre libertação. E toda dominação requer o que se chama controle
social. Assim, para Lola, na Criminologia deve ser analisada a atuação dos controles ideoló-
gicos, que começam como processos de socialização, passam por modelos educacionais e
logo se transformam em modelos de intervenção penal. Por isso, seria importante analisar a
fundo não apenas as agências de controle social formal, mas também as de controle social
informal, com intensa pesquisa sobre a educação, a religião e os meios de comunicação. O
controle social serve para construir hegemonia ou, em sua falta (da hegemonia), para permitir
a submissão forçada daqueles que não se integram à ideologia dominante.
Outra importante criminóloga venezuelana foi Rosa del Olmo, autora de América Latina e
sua Criminologia, de 1981. Nessa obra, analisa a subordinação da economia e do pensamento
latino-americano às estratégias da geopolítica norte-americana para o continente. Ela lutava
contra o “silêncio histórico” da América Latina, que derivava de seu passado colonial e de sua
posterior incorporação à periferia do sistema capitalista. No pós-guerra, o crescente protago-
nismo dos Estados Unidos fez com que eles se colocassem na posição de responsáveis pelo
controle continental do delito, interferindo nos corpos policiais, no ciclo de ditaduras militares
e na guerra às drogas.

5.4. Criminologia Cultural


Em tempos mais recentes, sobretudo a partir de meados dos anos 90, surgem muitos tex-
tos e obras sobre Criminologia Cultural. Alguns autores abordam os cultural studies dentro da
Criminologia Crítica, e por isso vou falar brevemente sobre eles.
A Criminologia Cultural é um ramo da Criminologia que se debruça sobre a criminalização
da cultura diferente, como a de grafiteiros, punks, neonazistas, roqueiros, mendigos, prostitu-
tas etc. Trata-se, então, de um grupo de teóricos preocupados com a subcultura de que falava
Albert Cohen, mas agora dentro de um enfoque conflitual da sociedade.
Jeff Ferrell, nos Estados Unidos, relatou sua experiência com grafiteiros de Denver no livro
Crimes of Style e no artigo Urban grafitti: crime, control and resistance. Em 2008, Jeff Ferrell,
Keith Hayward e Jock Young lançaram Cultural Criminology.
No Brasil, Salo de Carvalho publicou Criminologia cultural e rock em 2011 e Saulo Ramos
Furquim, A Criminologia cultural e a criminalização cultural periférica, de 2016. Salah H. Khaled
Jr. e Álvaro Oxley da Rocha traduziram a obra de Jeff Ferrell e Keith Hayward e complementa-
ram suas análises. Juntos, esses quatro autores conceberam o Instituto Brasileiro de Crimino-
logia Cultural, fundado em abril de 2019, que assim define a Criminologia Cultural:

A Criminologia Cultural é uma abordagem teórica, metodológica e intervencionista de estudo do cri-


me e do desvio, que coloca a criminalidade e seu controle no contexto da cultura; isto é, considera o
crime e as agências e instituições de controle do crime como produtos culturais - como construções

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criativas. Criminologistas culturais focam incansavelmente na geração contínua de significado em
torno da interação: regras criadas, regras quebradas e uma interação constante de empreendedoris-
mo moral, inovação política e transgressão20.

A Criminologia Cultural tem um grande referencial teórico e metodológico no Labelling


Approach, mais especificamente no livro Outsiders, do Howard Becker, que, como já explica-
mos, analisou os grupos de usuários de maconha e músicos de jazz.
Em resumo, a Criminologia Cultural não é uma nova teoria: ela incorpora para o mundo
contemporâneo, multicultural, uma série de orientações teóricas da Criminologia, tais como
subculturais, interacionistas, críticas, para tentar compreender a convergência de processos
culturais, criminais e de controle do crime.
É uma Criminologia que busca entender as mudanças da sociedade e da sua cultura. Vi-
vemos em uma sociedade líquida, em que há um fluxo infinito, instantâneo e globalizado de
imagens e informações na televisão, em nossos celulares e computadores, proporcionando
possibilidades infinitas. De todos os lados surgem modelos a serem seguidos, pensamentos
a serem observados, tecnologias novas a serem dominadas. As redes sociais ajudam a pro-
pagar essa miríade de culturas e vão substituindo as mediações cotidianas por mediações
tecnológicas. Surgem novas línguas, novas etnias, novos conflitos. Como diz Shecaira,

Chegamos a um hiperpluralismo de identidades e orientações culturais que, por sua vez, é matéria-prima
que alimenta o individualismo e grande parte dos crimes estudados por esta nova área da Criminologia21.

A Criminologia Cultural, sem se preocupar com classificações pormenorizadas dos grupos


subculturais, parte da ideia de que o mundo é desigual e injusto, e procura entender como o
poder é exercido, como ele é resistido pelos grupos culturais, e como se dá o mecanismo de
criação de regras, de violação de regras e representação do crime.
O foco, na Criminologia Cultural, é o estilo, a linguagem, os significados simbólicos do cri-
me para esses grupos, e o modo empregado pelas autoridades para criminalizar essas condu-
tas diante da existência de múltiplos sistemas válidos de valores.

20
Instituto Brasileiro de Criminologia Cultural. Disponível em: <https://www.criminologiacultural.com.br/>. Acesso em 08 de
agosto de 2020.
21
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 7ª ed. São Paulo: RT, 2018, p. 369.

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RESUMO
Iluminismo
• Antigo Regime (séculos XV a XVIII): Monarquias absolutistas. Visão teocêntrica do mun-
do. Sistema penal cruel, arbitrário e caótico.
• Iluminismo (século XVIII): movimento filosófico que exaltou o poder da razão em detri-
mento do poder da religião. É considerado base para a Escola Clássica e a Escola Posi-
tivista, que formam a Criminologia tradicional.

Escola Clássica (Itália, Séc. XVIII)

Crença no livre arbítrio. Delinquente e não delinquente são pessoas essencialmente iguais.
O crime, ente jurídico que significa quebra do pacto social, é o principal objeto de estudo. Uti-
lização do método dedutivo e abstrato. Preocupação com as normais penais, que devem ser
justas. A etiologia criminal não era o foco. As penas devem ser proporcionais, legítimas e deli-
mitadas e devem estar previstas em leis.
• Feuerbach – Fundador da moderna dogmática penal. Delineou a autonomia do Direito
Penal. Deu ênfase ao princípio da legalidade.
• Marquês de Beccaria – Dos delitos e das penas, 1764. Valorização da dignidade das
pessoas. Humanização das penas.
• Francesco Carrara – Programa de Direito Criminal, 1859. Crime é um ente jurídico. As
pessoas escolhem se comportar contrariamente à lei. A pena pretende restabelecer a
ordem violada.

Escola Positivista (Itália, Séc. XIX)

Aplicação, nas ciências humanas, de métodos oriundos das ciências naturais. Criminoso
como principal objeto de estudo. Crença no determinismo, em oposição ao livre-arbítrio. O
crime possui natureza ontológica e é considerado um fenômeno biológico e social. Emprego
do método indutivo, experimental e interdisciplinar. Nascimento da Criminologia como ciên-
cia. Preocupação com a etiologia dos crimes. Criminoso é doente, anormal, essencialmente
diferente do não delinquente. Influência do pensamento evolucionista de Charles Darwin. Pena
como medida de defesa social. As penas ideais são as medidas de segurança por tempo inde-
terminado. Três vertentes principais: antropológica (de Cesare Lombroso), jurídica (de Raffaele
Garofalo) e sociológica (de Enrico Ferri).
• Cesare Lombroso – O homem delinquente, 1876. Análise de características corporais.
Crime é fenômeno biológico. Criminoso possui epilepsia. Negação do livre-arbítrio. Am-
pla utilização dos conceitos de criminoso nato e de atavismo. Visão preconceituosa
da mulher. Categorias de criminoso: criminoso nato (louco moral; epilético); criminoso
louco; criminoso ocasional; e criminoso passional.

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• Raffaele Garofalo – Criminologia, 1885. Crime é revelação da natureza degenerada. Con-


ceito de temibilidade justifica a aplicação de medidas de segurança por prazo indetermi-
nado. Conceito de crime natural. Código Penal Internacional. Categorias de criminoso: cri-
minoso assassino; criminoso enérgico (ou violento); e criminoso ladrão (ou neurastênico).
• Enrico Ferri – Sociologia criminal, 1900. Livre-arbítrio é ficção. Fatores antropológicos,
físicos e sociais determinam o delinquente, que pode ser nato, louco, habitual, ocasional
e passional. Pai da sociologia criminal. Delinquente é um anormal que somente comete
crimes porque vive em sociedade. Lei da saturação criminal.

Positivismo no Brasil:
• Tobias Barreto - Menores e loucos em direito criminal, 1884. Po ssui concepção humanis-
ta, mas afirma que o direito de punir é consequência de uma fórmula científica, algébrica.
• Nina Rodrigues – As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, 1894. Negou o
livre-arbítrio invocando a heterogeneidade da cultura mental dos brasileiros. Postulados
racistas. 4 Códigos Penais.
• Afrânio Peixoto – Hygiene, de 1917, e Criminologia, de 1933. Defensor da eugenia. Dispo-
sição ao crime é hereditária.

Críticas ao Positivismo

Algumas críticas são a patologização do fenômeno delitivo; a concepção do entorno social


como mero fator desencadeante da criminalidade; e os erros metodológicos (p. ex.: analisar
pessoas que já haviam sido selecionadas pelo sistema penal, desconsiderando, a seletividade,
os estereótipos e estigmas ínsitos ao seu funcionamento).
• Teorias Sociológicas: para compreender o fenômeno criminal é necessário analisar a
sociedade onde o delito está inserido.

Teorias do Consenso x Teorias do Conflito

Teorias do consenso: existência de objetivos comuns a todos os cidadãos, que aceitam as


regras vigentes. A sociedade é uma estrutura relativamente estável de elementos, bem integra-
da. Todo elemento em uma sociedade possui uma função, contribuindo para a manutenção do
sistema. O crime é uma disfunção, ou seja, uma função negativa. São teorias do consenso a
Escola de Chicago; as Teorias da Anomia; a Teoria da Subcultura Delinquente; e Teoria da As-
sociação Diferencial. Mnemônico: é CONSENSO que todo mundo quer CASA.
Teorias do conflito: há força e coerção na sociedade. Somente existe ordem porque há
dominação de uns e sujeição de outros. São teorias do conflito as teorias críticas e a teoria do
Labelling Approach (interacionismo simbólico, etiquetamento). Mnemônico: é CONSENSO que
todo mundo quer CASA. O CONFLITO é que estamos em CRISE.

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Teorias do Consenso
• Escola de Chicago: Se propôs a discutir múltiplos aspectos da vida humana, todos rela-
cionados com a vida na cidade. Entre os anos 1920 e 1930, Robert Ezra Park, Ernest W.
Burgess e seus alunos produziram mais de 20 obras sobre a ecologia urbana da cidade
de Chicago. Os bairros de Chicago são divididos e analisados de acordo com seus pro-
blemas sociais. Burgess desenvolve a teoria das zonas concêntricas. Clifford Shaw e
Henry McKay são outros dois nomes importantes na Escola de Chicago. Preocupados
com a delinquência juvenil, na obra Delinquency Areas, demonstraram que, quanto mais
perto do loop, maior a degradação e as taxas de criminalidade dos bairros. Concluíram,
também, que nas áreas criminais, o controle social informal é pouco eficiente. A pessoa
recém-chegada à cidade passa por um processo de desorganização social. Há um sen-
timento de perda pessoal, rejeição de regras sociais, perda de raízes. A desorganização
social causa aumento de doenças, prostituição, insanidades, suicídios e crime.

Teoria da Anomia
• Émile Durkheim: sociólogo francês (final séc. XIX). Há momentos em que a sociedade
atravessa transformações e perde a capacidade de exercer o papel de freio moral. A
anomia é esse estado de desregramento ou desintegração das normas sociais, produ-
zindo uma situação de transgressão ou de pouca coesão. O crime se torna um problema
quando existe anomia. Caso contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal e
útil, porque permite que a consciência coletiva evolua.
• Robert Merton: sociólogo (EUA), final dos anos 30. Adaptou a teoria do Durkheim para
o American Dream. As estruturas sociais e culturais apresentam objetivos e meios que
têm, entre outras, a função de fornecer uma base de previsibilidade e regularidade do
comportamento humano. No limite, quando a previsibilidade das condutas num grupo
social é minimizada, pelo espaçamento entre os objetivos e os meios, está configurada
a anomia ou caos cultural. Os indivíduos procedem a adaptações individuais, que podem
ser: conformidade; inovação (anomia propriamente dita); ritualismo; retração e rebelião.
• Talcott Parsons: sociólogo (EUA), 1951. Teoria do sistema social, aprofundando as
ideias de Merton. Considerou três duplas de fatores: atividade e passividade; predomí-
nio conformativo e predomínio alienativo; e orientação para objetos sociais e orientação
para normas. A combinação deles ditará qual o tipo de resposta que uma pessoa dará a
uma situação em que há uma perturbação no quadro de expectativas.

Teoria da Associação Diferencial

Se insere nas Teorias da Aprendizagem Social. O principal autor foi Edwin Sutherland, so-
ciólogo norte-americano. No começo dos anos 40, Sutherland defendeu que o crime não é co-
metido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas aprendem a conduta desviada e
se associam com outras pessoas tendo por base essa conduta. O processo de comunicação,
é fundamental. A pessoa se torna criminosa quando as definições favoráveis à violação da
norma superam as definições desfavoráveis, em um processo de imitação.

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Crime do colarinho branco (White-collar crime): Sutherland cunhou a expressão (white-collar


crime) em 1939. É o crime cometido no âmbito da profissão por uma pessoa de respeitabilidade
e elevado estatuto social. A razão pela qual esses crimes são cometidos é a mesma da crimina-
lidade dos pobres: aprendizado somado a definições favoráveis à violação da lei. Crimes difíceis
de se detectar ou sancionar, em virtude da “imunidade do negócio”. Crimes com efeitos significa-
tivos, porém difusos. É um tipo de criminalidade organizada praticada pelos homens de negócio.

Cifras da Criminalidade
• Cifra negra: crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais di-
versas razões.
• Cifra dourada: delitos cometidos pelos poderosos que ficam impunes.
• Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém que não
chegam a virar um processo penal.
• Cifra amarela: casos em que as vítimas sofreram algum tipo de violência praticada por
servidor público e deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes
pela apuração.
• Cifra verde: delitos que têm por objeto o meio ambiente e que não chegam ao conhe-
cimento policial ou não são processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
• Cifra rosa: crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento das autoridades.

Teoria da Subcultura Delinquente

Delinquent boys, Albert Cohen (EUA), 1955. Toda sociedade é internamente diferenciada
em numerosos subgrupos, ou subculturas, com maneiras de pensar e agir: que lhe são pe-
culiares; que as pessoas somente podem adquirir participando desses grupos; e que alguém
raramente deixará de adquirir se for um participante verdadeiro do grupo. A subcultura, típica
das gangues, valoriza o não utilitarismo, a malícia, o negativismo, a versatilidade, o hedonismo
de curto prazo e a autonomia de grupo.
Quadro Sinóptico das Teorias do Consenso

Teoria Autores Ideia Principal


Robert Park
Ernest Burgess
Desorganização social das grandes cidades
Escola de Chicago Clifford Shaw
Controle social informal enfraquecido
Henry McKay
(1920-1930)
Associação Edwin Sutherland Crime é aprendizado
Diferencial (1940) Crime do colarinho branco
Émile Durkheim
Crime é normal e útil, a não ser quando
(fim séc. XIX)
Anomia ultrapassados certos limites
Robert Merton
Descompasso entre meios e objetivos
(1938)

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Teoria Autores Ideia Principal


Gangues são subculturas delinquentes
Subcultura Albert Cohen Não-utilitarismo da ação, malícia,
Delinquente (1955) versatilidade, negativismo, hedonismo de
curto prazo e autonomia de grupo

Teorias Sociológicas do Conflito

Partem do pressuposto de que há força e coerção na sociedade. Somente existe ordem


porque há dominação de uns e sujeição de outros. A criminalidade não é uma qualidade onto-
lógica, mas um status social atribuído por meio de processos de definição e mecanismos de
reação. Possuem forte tradição nos Estados Unidos, sobretudo em virtude do contexto social
de pós-guerras, em que disputas internas (raciais, de classe, de desemprego, de marginaliza-
ção, estudantis, feministas) assumiram prevalência. A sociedade não é monolítica, unitária.

Labelling Approach

Também chamada de teoria da rotulação; teoria do etiquetamento; teoria da reação social;


teoria interacionista; interacionismo simbólico. O controle social formal se consolidou como
objeto da Criminologia em virtude dessa escola, que nasceu nos anos de 1960, nos Estados
Unidos. Estudar a realidade social implica estudar os processos de interação individual ocorri-
dos no seio da própria sociedade. Reconhece o caráter constitutivo do controle social formal,
considerado instrumento seletivo e discriminatório. Deixa-se de questionar por que um indiví-
duo comete crimes, e passa-se a indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com o rótulo
de desviada. Há abandono do paradigma etiológico. Propuseram a política dos 4 Ds:
• Descriminalização (deixar de considerar certas condutas como criminosas);
• Diversão (diversificar a resposta aos problemas da sociedade);
• Devido processo legal (respeitar as regras do processo legal);
• Desinstitucionalização: (pensar em penas alternativas à prisão).

No Brasil, a Reforma Penal de 1984, a Lei de Execução Penal e a Lei dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais são citadas como reflexo das ideias do labelling.
• Howard Becker: Norte-americano, da Universidade de Chicago. Outsiders: Studies in the
Sociology of Deviance, de 1963. Relata a análise de grupos de usuários de maconha e
de músicos de jazz feita na década de 1950. Todos os grupos sociais constroem suas
próprias regras. A pessoa que quebras essas regras é etiquetada como outsider, e come-
ça, a partir daí, a sofrer um processo de estigmatização. Tem início o processo de des-
viação secundária. O agente mergulha no papel de delinquente, num processo que se
chama de role engulfment e profecia autocumprida. As regras são o produto da iniciativa

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dos moral entrepreneurs. Existe uma enorme margem de discricionariedade no trabalho


policial. O policial estabelece prioridades. Assim, os enforcers aplicam as leis e criam
outsiders de maneira seletiva. As decisões sobre quais regras devem ser criadas, quais
condutas devem ser consideradas desviantes e quais pessoas devem ser etiquetadas
como outsiders são decisões políticas. A desviação é criada pela sociedade.
• Erving Goffman: Canadense, realizou suas pesquisas nos Estados Unidos. É autor. Es-
tigma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada, de 1963, e Manicômios,
Prisões e Conventos, de 1961. Introduziu o conceito de instituição total, que possuem
barreiras à relação com o mundo externo. Nelas, todos os aspectos da vida do conde-
nado são realizados no mesmo local, sob uma autoridade única e diante de um grupo
de pessoas razoavelmente grande. Há um processo gradativo de desculturamento: hu-
milhações, rebaixamentos, degradações pessoais e profanações do “eu”. A pessoa ins-
titucionalizada é alguém inadaptada para o convívio em sociedade, exatamente por se
identificar com a instituição na qual está recolhida, e estigmatizada.

Criminologia Crítica

Também chamada de Nova Criminologia ou Criminologia Radical. Forte apelo às ideias


de Karl Marx. Há relação direta entre o modo de produção capitalista e o funcionamento dos
modos punitivos. Não se trata mais de descobrir as razões da delinquência ou de lutar contra
o crime, mas sim de abolir as desigualdades sociais para equacionar o fenômeno delitivo. O
Direito Penal e a própria Criminologia, como vinha sendo desenvolvida tradicionalmente, pas-
sam a ser objetos de estudo.
• William Chambliss: Principal nome da Criminologia Crítica nos Estados Unidos. Law, Or-
der and Power, de 1971. As ciências sociais são dominadas por duas grandes perspecti-
vas de trabalho: o modelo funcional (Durkheim) e o modelo dialético (Karl Marx). Analisa
e compara a aplicação de leis criminais na Nigéria e nos Estados Unidos e conclui que o
modelo dialético é mais adequado. Os sistemas de aplicação da lei não são organizados
para reduzir o crime, mas sim para dirigir o crime pela cooperação com os grupos mais
criminosos e pela aplicação das leis contra aqueles cujos crimes eram uma ameaça mí-
nima para a sociedade. As práticas da aplicação da lei produzem o crime por selecionar
e encorajar a perpetuação das carreiras criminosas.
• Taylor, Walton e Young: Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young. A nova Criminologia (1973)
e Criminologia crítica (1975). Defendem que o fenômeno criminal depende do modo de
produção capitalista: a lei penal nada mais é do que uma superestrutura dependente da
infraestrutura do sistema de produção. O direito não é uma ciência, mas uma ideologia
que deve ser analisada no contexto de luta de classes. É necessário superar a Criminolo-
gia Fabiana, que confiava na meritocracia e inflava as agências de assistência social, na
tentativa de igualar as condições para o jogo meritocrático. A assistência social refletia

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a ideologia da cúpula e se valia de tratamentos que resultavam em espirais de rotula-


ções espúrias. É fundamental compreender como as autoridades se tornam autoridades
e como elas transformam legitimidade em legalidade.
• Alessandro Baratta: Filósofo, sociólogo e jurista italiano. Desenvolveu seus estudos na
Alemanha. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal, 1982. O processo de criminali-
zação é o mais poderoso mecanismo de reprodução das relações de desigualdade do
capitalismo. A luta por uma sociedade democrática e igualitária passa pela superação
do sistema penal. A mobilidade social é um mito. O sistema escolar e o sistema penal
são complementares e ajudam a reproduzir e assegurar as relações sociais verticaliza-
das. Ambos criam contraestímulos à integração dos setores mais baixos e marginali-
zados do proletariado. A criminalização primária – as leis penais em abstrato – reflete
o universo moral próprio da cultura burguesa individualista, dando total ênfase ao patri-
mônio privado. Os processos de criminalização secundária – punição no caso concreto
– guiam-se por preconceitos e estereótipos. Os juízes desconhecem a vida das pessoas
marginalizadas. Muitos dos julgamentos ocorrem com base no senso comum (teoria de
todos os dias). É absolutamente crítico do cárcere. Têm se mostrado infrutíferas as ten-
tativas de socialização e de reinserção através dessas instituições, momento culminan-
te do mecanismo de marginalização, que funcionam com desculturação e aculturação
(ou prisionização). Defende a adoção de uma política criminal alternativa, em que have-
ria a diferenciação da criminalidade pela posição social do autor. No limite, o objetivo
último é uma reforma para abolição da instituição carcerária, em função do fracasso his-
tórico. Aproximação entre presos e operários, com a finalidade de reinserir o condenado
na classe trabalhadora e fazer com que os condenados adquiram consciência política
sobre o capitalismo. A nova política criminal teria que estar disposta a enfrentar uma
batalha cultural e ideológica para reverter a hegemonia cultural.
• Georg Rusche e Otto Kirchheimer: Alemães, autores de Punição e Estrutura Social, de
1939, mas somente “descoberto” na década de 1970. No século XV, com mão de obra
abundante, o sistema penal se dirigia contra as massas empobrecidas, com execuções,
mutilações e açoitamentos. No mercantilismo dos séculos XVI e XVII, nasce a explora-
ção da mão de obra na prisão, pois havia escassez de trabalhadores. No século XIX, com
o crescimento da rebeldia popular, das revoluções e dos delitos contra a propriedade, a
prisão se converte na pena mais importante de todo o mundo ocidental. As prisões são
uma forma especificamente burguesa de punição, que se disseminam com a passagem
para o capitalismo.
• Michel Foucault: Filósofo francês. Vigiar e punir: Nascimento da Prisão, de 1975. Estudo
sobre a evolução histórica do cárcere e da legislação penal. Até o século XVII, as penas
eram verdadeiro suplício, rituais bárbaros pensados para restituir a soberania do prín-
cipe. Posteriormente, o Iluminismo desqualifica o suplício, reprovando sua atrocidade.

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Advém a reforma humanista do século XVIII: os suplícios dão lugar a penas proporcio-
nais. Foucault fala em penalidade suavizada, em que deve haver humanidade, proporcio-
nalidade (medida), individualização das penas e classificação dos crimes e castigos em
códigos. Pune-se com menos severidade, mas com mais universalidade. Permanece um
fundo supliciante na pena moderna, mas com mudança de objetivo: não se quer mais
supliciar diretamente o corpo, mas sim a alma. Já na segunda metade do século XVIII,
ainda na Era Clássica, surge uma preocupação em controlar o corpo em larga escala.
Ganha força, então, a ideia de poder disciplinar e de sociedade disciplinar, que vai se for-
talecendo nos séculos seguintes. Quando as reformas foram feitas, não se imaginava e
nem se pretendia conferir à pena de prisão o caráter quase universal de pena. Esse mo-
vimento de transformar a detenção na forma essencial de castigo tem lugar logo após
as reformas, sobretudo no século XIX e se ajusta à ideia de poder disciplinar. Então a
evolução consiste em: suplício → pena proporcional → prisão.

Quando o emprego da prisão se dissemina, o corpo (que tinha sido substituído pela alma)
volta a ser o personagem principal. Há uma nova política do corpo. Ainda que não sejam em-
pregados castigos violentos e sangrentos, trata-se, novamente, do corpo do condenado: da
sua utilidade, da sua docilidade, da sua submissão. Com o passar do tempo, o cárcere se
revela uma importante e útil ferramenta para implementar o poder disciplinar, sobretudo se
empregado o modelo panóptico, que permite vigilância constante. Faz-se distinção entre in-
frator (ou condenado) e delinquente. O aparelho penitenciário efetua uma substituição: das
mãos da justiça ele recebe um condenado (infrator), mas no lugar do condenado ele coloca o
delinquente, que é o indivíduo a ser conhecido, analisado, retreinado. A disciplina é feita com o
adestramento dos corpos, por meio de: vigilância hierárquica; sanção normalizadora e exame.
A prisão é um duplo erro econômico: pelo custo (direto) de sua organização e pelo custo (indi-
reto) da delinquência que ela não reprime. Elas não diminuem a taxa de criminalidade, provo-
cam reincidência, fabricam delinquentes, favorecem a organização de delinquentes e fabricam
indiretamente mais delinquentes ao fazer cair na miséria a família do detento. A prisão, seu
fracasso e sua reforma não são momento sucessivos na história, mas momentos simultâneos.
O fracasso da prisão tem uma utilidade. A prisão não se destina a suprimir infrações, mas sim
a distingui-las, distribuí-las e utilizá-las. A penalidade é uma maneira de gerir as ilegalidades,
de traçar limites de tolerância, deixando algumas pessoas dentro da economia geral das ilega-
lidades, e excluindo outras.

Criminologia Crítica na América Latina


• Roberta Lyra Filho, Criminologia dialética, de 1972. Criminologia não pode andar a rebo-
que do formalismo jurídico. O conceito de crime é historicamente determinado pelas
manifestações da cultura e das subculturas. Traçar novo conceito de crime é parte do
afazer criminológico.

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• Juarez Cirino dos Santos, professor paranaense, A Criminologia Radical, 1981. O pro-
cesso de criminalização (produção e aplicação das normas) protege seletivamente os
interesses das classes dominantes, pré-selecionando os indivíduos estigmatizáveis das
classes subalternas. O fracasso histórico do sistema penal limita-se aos objetivos ide-
ológicos aparentes. Os objetivos reais ocultos do sistema apresentam êxito absoluto.
• Nilo Batista, Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro, 1990, e Matrizes Ibéricas do Sis-
tema Penal Brasileiro, 2000. Há marcante congruência entre os fins do Estado e os fins
do Direito Penal. O conhecimento das reais e concretas funções históricas, econômicas
e sociais do Estado é fundamental para a compreensão desse ramo do direito.
• Vera Malaguti Batista, Introdução Crítica à Criminologia Brasileira, 2011. Não se pode
desistoricizar e despolitizar as lutas dos pobres do mundo que são o alvo dos sistemas
penais capitalistas. Necessário: mudar a política criminal de drogas; despenalizar os
crimes patrimoniais sem violência; abrir os muros das prisões; diminuir o número de
policiais; ampliar as defensorias públicas; acabar com a exposição de suspeitos e o no-
ticiário emocionalizado de casos criminais na mídia.
• Eugenio Raúl Zaffaroni, argentino, Em Busca das Penas Perdidas, 1991. Os sistemas
penais não detêm legitimidade, já que são seletivos e reprodutores da violência. As pe-
nas perdidas são penas carentes de racionalidade. Denomina sua análise de realismo
jurídico-penal marginal.
• Roberto Bergalli, argentino, radicado em Barcelona. Importância de uma sociologia jurí-
dica do controle penal, que analisasse tanto a etapa de criação das normas como a de
sua aplicação.
• Lola Aniyar de Castro, venezuelana, Criminologia da Libertação, 1987. Deve ser analisada
a atuação dos controles ideológicos (processos de socialização, modelos educacionais,
que logo se transformam em modelos de intervenção penal). Importante analisar o con-
trole social informal.
• Rosa del Olmo, venezuelana, em América Latina e sua Criminologia, 1981. Subordinação
da economia e do pensamento latino-americano às estratégias da geopolítica norte-a-
mericana para o continente.
• Criminologia cultural: início na década de 1990. Criminalidade e seu controle analisados
no contexto da cultura. Criminalização da cultura diferente (grafiteiros, punks, neonazis-
tas, roqueiros, mendigos, prostitutas). Não é uma nova teoria: incorpora para o mundo
contemporâneo, multicultural, orientações teóricas da Criminologia, tais como subcultu-
rais, interacionistas, críticas. Compreender a convergência de processos culturais, crimi-
nais e de controle do crime. Nomes de destaque: Jeff Ferrell (EUA); Keith Hayward (DIN).
No Brasil, Salah Khaled Jr., Álvaro Oxley da Rocha (Instituto Brasileiro de Criminologia
Cultural); Salo de Carvalho (Criminologia cultural e rock, 2011) e Saulo Ramos Furquim (A
Criminologia cultural e a criminalização cultural periférica, 2016).

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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (FCC/2021/DPE-GO/DEFENSOR) O crime organizado é tratado
a) pela Escola de Chicago como um modo de sobrevivência e de formação de identidade do
jovem em vizinhanças socialmente organizadas que se conformam em gangues, como nas
favelas brasileiras.
b) pela teoria da reação social como um grupo de pessoas dotado de características psíquicas
peculiares rotulados pela lei, cujo estigma funciona como mecanismo de propulsão de medi-
das autoritárias no Brasil.
c) pelo positivismo criminológico como um tema central, já que para Cesare Lombroso a etio-
logia do crime era determinada pelas patologias coletivas que, por sua vez, determinavam o
comportamento individual desviante, o que não pode ser aceito em nossa realidade periférica.
d) pela teoria da subcultura delinquente como uma manifestação não utilitária e destrutiva, o
que representa um anacronismo ao ser transportada para a compreensão das facções prisio-
nais brasileiras.
e) pela criminologia cultural como uma forma legítima de organização popular de resistência
contra as mazelas do sistema penal, de modo que deve ser utilizada como forma decolonial de
análise na realidade brasileira.

002. (FCC/2021/DPE-AM/DEFENSOR) O pensamento de Émile Durkheim trouxe importantes


influxos para a criminologia. Sobre sua obra, é correto afirmar que
a) a teoria da anomia conformou o pensamento crítico de resistência ao positivismo crimino-
lógico latino-americano ao reconhecer o estado de organização social em uma perspectiva
decolonial.
b) a punição recebeu importância lateral, já que sua obra foi forjada no sentido de entender o
crime e suas motivações, preocupações centrais do pensamento social revolucionário.
c) rejeita a importância da solidariedade social para compreender o fenômeno social e a crimi-
nalidade, como faziam os estudiosos do positivismo criminológico.
d) a reação social ao delito, mais do que suas causas, é o fundamento que possibilita a crítica
do sistema penal moderno.
e) a pena é um ato de imposição de sofrimento ao ser humano que, todavia, é considerado
justo ante o abalo proporcionado à consciência coletiva pela conduta criminosa.

003. (CEBRASPE/2021/DPF/DELEGADO) Os objetos da criminologia são o delinquente, a ví-


tima, o controle social e a justiça criminal.

004. (CEBRASPE/2021/DPF/DELEGADO) A polícia, o Poder Judiciário e o sistema penitenci-


ário exercem o controle social formal.

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005. (CEBRASPE/2021/MPESC/PROMOTOR) Para a escola positivista, que se ocupa da tipi-


ficação dos delitos em termos legais e objetivos, o crime é um ente jurídico e a responsabilida-
de penal se sustenta no livre arbítrio.

006. (CEBRASPE/2021/MPESC/PROMOTOR) Para a escola clássica, o comportamento cri-


minoso é resultado da predisposição do agente, que apresenta características inatas e biológi-
cas identificáveis a partir de estigmas anatômicos.

007. (CEBRASPE/2021/MPESC/PROMOTOR) O fenômeno do crime organizado se ajusta


aos fundamentos da teoria da associação diferencial, para a qual a conduta delitiva não é in-
trínseca às condições sociais ou a fatores outros como gênero, raça e idade do agente.

008. (CEBRASPE/2021/MPESC/PROMOTOR) A crise dos valores tradicionais e familiares, a


alta mobilidade, a explosão demográfica e o enfraquecimento do controle social são conside-
rados fatores criminógenos pela escola de Chicago.

009. (CESPE/2017/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO) O desvio ou o delito, ob-


jetos da criminologia, devem ser abordados, primordialmente, como um comportamento indi-
vidual do desviante ou delinquente; em segundo plano, analisam-se as influências ambientais
e sociais.

010. (CEBRASPE/2016/PC-PE/DELEGADO DE POLÍCIA) Acerca dos modelos teóricos expli-


cativos do crime, oriundos das teorias específicas que, na evolução da história, buscaram en-
tender o comportamento humano propulsor do crime, assinale a opção correta.
a) O modelo positivista analisa os fatores criminológicos sob a concepção do delinquente
como indivíduo racional e livre, que opta pelo crime em virtude de decisão baseada em crité-
rios subjetivos.
b) O objeto de estudo da Criminologia é a culpabilidade, considerada em sentido amplo; já o
Direito Penal se importa com a periculosidade na pesquisa etiológica do crime.
c) A Criminologia clássica atribui o comportamento criminal a fatores biológicos, psicológicos
e sociais como determinantes desse comportamento, com paradigma etiológico na análise
causal-explicativa do delito.
d) Entre os modelos teóricos explicativos da Criminologia, o conceito definitorial de delito
afirma que, segundo a teoria do labeling approach, o delito carece de consistência material,
sendo um processo de reação social, arbitrário e discriminatório de seleção do comportamen-
to desviado.
e) O modelo teórico de opção racional estuda a conduta criminosa a partir das causas que
impulsionaram a decisão delitiva, com ênfase na observância da relevância causal etiológica
do delito.

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011. (CEBRASPE/2013/DPF/DELEGADO) O surgimento das teorias sociológicas em Crimino-


logia marca o fim da pesquisa etiológica, própria da escola ou do modelo positivista.

012. (CESPE/2017/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO) Considerando que, con-


forme a doutrina, a moderna sociologia criminal apresenta teorias e esquemas explicativos do
crime, assinale a opção correta acerca dos modelos sociológicos explicativos do delito.
a) Para a teoria ecológica da sociologia criminal, que considera normal o comportamento deli-
tuoso para o desenvolvimento regular da ordem social, é imprescindível e, até mesmo, positiva
a existência da conduta delituosa no seio da comunidade.
b) A teoria do conflito, sob o enfoque sociológico da Escola de Chicago, rechaça o papel das
instâncias punitivas e fundamenta suas ideias em situações concretas, de fácil comprovação e
verificação empírica das medidas adotadas para contenção do crime, sem que haja hostilidade
e coerção no uso dos meios de controle.
c) A teoria da integração, ao criticar a teoria consensual na solução do conflito, rotula o crimi-
noso quando assevera que o delito é fruto do sistema capitalista e considera o fator econômi-
co como justificativa para o ato criminoso, de modo que, para frear a criminalidade, devem-se
separar as classes sociais.
d) A Escola de Chicago, ao atentar para a mutação social das grandes cidades na análise em-
pírica do delito, interessa-se em conhecer os mecanismos de aprendizagem e transmissão das
culturas consideradas desviadas, por reconhecê-las como fatores de criminalidade.
e) A teoria estrutural-funcionalista da sociologia criminal sustenta que o delito é produto da de-
sorganização da cidade grande, que debilita o controle social e deteriora as relações humanas,
propagando-se, consequentemente, o vício e a corrupção, que são considerados anormais e
nocivos à coletividade.

013. (CESPE/2016/PC-PE/DELEGADO DE POLÍCIA) Os objetos de investigação da crimino-


logia incluem o delito, o infrator, a vítima e o controle social. Acerca do delito e do delinquente,
assinale a opção correta.
a) Para a criminologia positivista, infrator é mera vítima inocente do sistema econômico; culpá-
vel é a sociedade capitalista.
b) Para o marxismo, delinquente é o indivíduo pecador que optou pelo mal, embora pudesse
escolher pela observância e pelo respeito à lei.
c) Para os correcionalistas, criminoso é um ser inferior, incapaz de dirigir livremente os seus
atos: ele necessita ser compreendido e direcionado, por meio de medidas educativas.
d) Para a criminologia clássica, criminoso é um ser atávico, escravo de sua carga hereditária,
nascido criminoso e prisioneiro de sua própria patologia.
e) A criminologia e o direito penal utilizam os mesmos elementos para conceituar crime: ação
típica, ilícita e culpável.

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Escolas e Teorias Criminológicas
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014. (CESPE/2018/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL) De acordo com a teoria de Su-


therland, os crimes são cometidos
a) em razão do comportamento das vítimas e das condições do ambiente.
b) por pessoas de baixa renda, exatamente em razão de sua condição socioeconômica des-
privilegiada.
c) em razão do comportamento delinquente herdado, ou seja, de origem biológica.
d) por pessoas que sofrem de sociopatias ou psicopatias.
e) por pessoas que convivem em grupos que realizam e legitimam ações criminosas

015. (CESPE/2018/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL) Texto 1A14AAA: João nutria


grande desejo por sua colega de turma, Estela, mas não era correspondido. Esse desejo trans-
formou-se em ódio e fez que João planejasse o estupro e o homicídio da colega. Para isso,
ele passou a observar a rotina de Estela, que trabalhava durante o dia e estudava com João à
noite. Determinado dia, após a aula, em uma rua escura no caminho de Estela para casa, João
realizou seus intentos criminosos, certo de que ficaria impune, mas acabou sendo descober-
to e preso.
Conforme a criminologia crítica, o crime praticado contra Estela, descrito no texto 1A14AAA,
pode ser explicado
a) por traumas de infância desenvolvidos por João, o que tornou difícil a sua relação com
as mulheres.
b) pela pouca iluminação da rua que Estela elegeu para voltar para casa depois da aula.
c) pelo comportamento imprudente de Estela, que, no período noturno, andava sozinha em rua
mal iluminada.
d) pela existência de alguma característica inata de João, que fatalmente o levaria a cometer
os crimes de estupro e homicídio.
e) por multifatores, como uma cultura misógina que desvaloriza as mulheres e que legitima a
sua punição quando não forem atendidos os interesses e os desejos masculinos.

016. (CESPE/2013/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relacionados aos modelos teóri-


cos da criminologia.
A teoria funcionalista da anomia e da criminalidade, introduzida por Emile Durkheim no século
XIX, contrapunha à ideia da propensão ao crime como patologia a noção da normalidade do
desvio como fenômeno social, podendo ser situada no contexto da guinada sociológica da
criminologia, em que se origina uma concepção alternativa às teorias de orientação biológica
e caracterológica do delinquente.

017. (CESPE/2018/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relativos a modelos teóricos da


criminologia.

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Escolas e Teorias Criminológicas
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Para a teoria da reação social, o delinquente é fruto de uma construção social, e a causa dos
delitos é a própria lei; segundo essa teoria, o próprio sistema e sua reação às condutas des-
viantes, por meio do exercício de controle social, definem o que se entende por criminalidade.

018. (CESPE/2018/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL) O paradigma da reação social


a) surgiu na Europa a partir do enfoque do interacionismo simbólico.
b) afirma que os grupos sociais criam o desvio, o qual é uma qualidade do ato infracional co-
metido pela pessoa.
c) indica que é mais apropriado falar em criminalização e criminalizado que falar em crimina-
lidade e criminoso.
d) afirma que a criminalidade tem natureza ontológica.
e) pode ser chamado, também, de labbeling approach, etiquetamento ou paradigma etiológico.

019. (CESPE/2013/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relacionados aos modelos teóri-


cos da criminologia.
As ideias sociológicas que fundamentam as construções teóricas de Merton e Parsons obede-
cem ao modelo da denominada sociologia do conflito.

020. (CEBRASPE/2018/PC-SE/DELEGADO DE POLÍCIA) Na perspectiva macrossociológica,


o pensamento criminológico moderno é influenciado por duas visões: a das teorias de consen-
so e a das teorias de conflito.

021. (CEBRASPE/2018/PC-SE/DELEGADO DE POLÍCIA) As teorias sociológicas de consen-


so vinculam-se a orientações ideológicas e políticas progressistas. Essas teorias consideram
que os objetivos da sociedade são atingidos quando as instituições funcionam e os indivíduos,
que dividem os mesmos valores, concordam com as regras de convívio.

022. (CEBRASPE/2018/PC-SE/DELEGADO DE POLÍCIA) Relacionada a movimentos conser-


vadores e a orientações políticas também conservadoras, a teoria sociológica do conflito con-
sidera que a harmonia social advém da coerção e do uso da força, pois as sociedades estão
sujeitas a mudanças contínuas e são predispostas à dissolução.

023. (CEBRASPE/2018/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relativos a modelos teóricos


da criminologia.
De acordo com a teoria da anomia, o crime se origina da impossibilidade social do indivíduo de
atingir suas metas pessoais, o que o faz negar a norma imposta e criar suas próprias regras,
conforme o seu próprio interesse.

024. (CEBRASPE/2018/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relativos a modelos teóricos


da criminologia.

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Conforme a teoria ecológica, crime é um fenômeno natural e o criminoso é um delinquente


nato possuidor de uma série de estigmas comportamentais potencializados pela desorganiza-
ção social.

025. (CESPE/2018/DPE-PE/DEFENSOR PÚBLICO) Com relação às escolas e às teorias jurí-


dicas do direito penal, assinale a opção correta.
a) Os positivistas conclamavam a justiça a olhar para o crime como uma entidade jurídica,
enquanto os clássicos encaravam o crime como fatos sociais e humanos.
b) Na primeira metade do século passado, floresceu, na Universidade de Chicago, a chamada
teoria ecológica ou da desorganização social, que considerava o crime um fenômeno ligado a
áreas naturais.
c) A Labelling Approach enxerga o comportamento criminoso como motivado por razões onto-
lógicas ou intrínsecas, e não como decorrente do sistema de controle social.
d) A escola clássica ficou marcada pelo método de fundo dedutivo que empregava na ciência
do direito penal: o jurista deveria partir do concreto, ou seja, das questões jurídico-penais, para
passar ao abstrato, ou seja, ao direito positivo.
e) Os clássicos adotavam princípios relativos e que não se sobrepunham às leis em vigor, evi-
tando leis draconianas e excessivamente rigorosas, com penas desproporcionais.

026. (CEBRASPE/2019/TJ-BA/JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO) A explicação do crime como


fenômeno coletivo cuja origem pode ser encontrada nas mais variadas causas sociais, como
a pobreza, a educação, a família e o ambiente moral, corresponde à perspectiva criminológica
denominada
a) sociologia criminal.
b) criminologia da escola positiva.
c) criminologia socialista
d) labeling approach, ou etiquetamento.
e) ecologia criminal.

027. (CEBRASPE/2019/DPE-DF/DEFENSOR PÚBLICO) Acerca dos modelos teóricos da cri-


minologia, julgue o item que se segue.
Estabelecida por Durkheim, a teoria da anomia, que analisa o comportamento delinquencial
sob o enfoque estrutural-funcionalista, admite o crime como um comportamento normal, ubí-
quo e propulsor da modernidade.

028. (CEBRASPE/2019/DPE-DF/DEFENSOR PÚBLICO) Na visão do marxismo, a responsabilidade


pelo crime recai sobre a sociedade, tornando o infrator vítima do determinismo social e econômico.

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029. (FCC/2015/DPE-SP/DEFENSOR PÚBLICO) Segundo as análises de Michel Foucault em


seu livro Vigiar e punir, a necessidade de uma classificação paralela dos crimes e dos castigos,
assim como a necessidade de uma individualização das penas em conformidade com as ca-
racterísticas singulares de cada criminoso são elementos que se referem
a) à reforma do modelo prisional, no século XIX.
b) ao suplício corporal, do século XVIII.
c) à reforma humanista do Direito penal, no século XVIII.
d) à reforma judiciária do Direito, no século XX.
e) às penas físicas, no século XVII.

030. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO/REAPLICAÇÃO) Ficaria claro, com ele, que


a maneira pela qual as sociedades e suas instituições reagem diante de um fato é mais deter-
minante para defini-lo como delitivo ou desviado do que a própria natureza do fato (...). (Adap-
tado de: ANITUA, Gabriel Ignacio. Histórias dos pensamentos criminológicos. Rio de Janeiro:
Revan, 2008, p. 588)
A teoria criminológica descrita na passagem acima é conhecida por
a) Escola de Chicago.
b) Associação Diferencial.
c) Escola Positivista.
d) Reação Social.
e) Garantismo Penal.

031. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO/REAPLICAÇÃO) O funcionalismo na


criminologia
a) surge com a dogmática contemporânea alemã e suas inovações em matéria de prevenção
do delito.
b) reúne as escolas que se enquadram na crítica à guerra às drogas e o consequente controle
social da pobreza que engendra.
c) opôs-se à Escola Positivista ao propor um modelo social baseado no conflito e no papel do
sistema penal na luta de classes.
d) fundamenta os movimentos de lei e ordem e de tolerância zero surgidos na Europa na dé-
cada de 1980.
e) defende que a pena tem como função a manutenção da coesão e harmonia social em um
quadro social caracterizado pelo consenso.

032. (FCC/2018/DPE-RS/DEFENSOR PÚBLICO) A legislação penal brasileira considera típico


o ato de pichação (art. 65 da Lei n. 9.605/98 e Lei n. 12.408/11). Contudo, tal comportamen-
to humano é percebido de formas diversas na sociedade, podendo também ser interpretado

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como arte de rua. Nesse sentido, tal interferência na paisagem urbana pode ser compreendida
a partir de uma criminologia
a) iluminista, que afirma o delito como desvio não aceito pelo Rei, que na atualidade é repre-
sentado pelo Estado.
b) fenomenal, que desdobra a história do direito penal e o relaciona às tendências punitivistas
contemporâneas.
c) biológica, que condiciona o conhecimento do ilícito e a capacidade de autodeterminação do
agente à evolução da espécie humana.
d) defensivista, que pretende justificar a criminalização do comportamento ilícito na proteção
dos bens coletivos.
e) cultural, que introduz a estética e a dinâmica da vida cotidiana do século XXI na investigação
criminológica.

033. (FCC/2016/DPE-ES/DEFENSOR PÚBLICO) Na história da administração penal, várias


épocas podem ser destacadas, durante as quais vigoraram sistemas de punição completa-
mente diferentes. Indenização (penance) e fiança foram os métodos de punição preferidos na
Idade Média. Eles foram sendo gradativamente substituídos por um duro sistema de punição
corporal e capital que, por sua vez, abriu caminho para o aprisionamento, em torno do século
XVII (RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2.ed. Rio de Janeiro:
Revan, 2004, p. 23).
De acordo com o clássico trabalho de Rusche e de Kirchheimer de 1939, é correto afirmar:
a) A pena de prisão foi tida pelos autores como uma forma positiva de adaptação dos trabalha-
dores ao sistema produtivo, trazendo a ressocialização ao centro do sistema punitivo.
b) O surgimento da prisão como forma hegemônica de punição da modernidade foi uma con-
quista iluminista de humanização das penas frente à barbárie da Idade Média.
c) Os autores podem ser classificados como membros da Escola de Chicago, dominante no
período de publicação da obra.
d) As relações entre mercado de trabalho, sistema punitivo e cárcere são próprios da crimi-
nologia crítica, que surgiu na década de 1960 e foi a principal escola de oposição a Rusche e
Kirchheimer.
e) A pena de prisão é relacionada ao surgimento do capitalismo mercantil, com a consequente
necessidade de disciplina da mão de obra para beneficiar interesses econômicos.

034. (UEG/2018/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA) Sobre o Labelling Approach e sua influên-


cia sobre o pensamento criminológico do século XX, constata-se que
a) a criminalidade se revela como o processo de anteposição entre ação e reação social.
b) recebeu influência decisiva de correntes de origem fenomenológica, tais como o interacio-
nismo simbólico e o behaviorismo.
c) o sistema penal é entendido como um processo articulado e dinâmico de criminalização.

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d) parte dos conceitos de conduta desviada e reação social como termos independentes para
determinar que o desvio e a criminalidade não são uma qualidade intrínseca da conduta.
e) no processo de criminalização seletiva o funcionamento das agências formais de controle
mostra-se autossuficiente e autorregulado.

035. (FCC/2017/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) A criminologia da reação social


a) concentra seus estudos nos processos de criminalização.
b) corresponde a uma teoria do consenso.
c) explica o comportamento criminoso como fruto de um aprendizado.
d) identificou as subculturas delinquentes.
e) explica a existência do homem criminoso pelo atavismo.

036. (MPE-SC/2016/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA) No âmbito das teorias criminológi-


cas, a teoria da subcultura delinquente, originariamente conhecida como “Escola de Chicago”,
assevera que a delinquência surge como resultado da estrutura das classes sociais, que faz
com que alguns grupos aceitem a violência como forma de resolver os conflitos sociais.

037. (NC-UFPR/2014/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Em relação às distintas teorias crimi-


nológicas, a ideia de que o “desviante” é, na verdade, alguém a quem o rótulo social de crimino-
so foi aplicado com sucesso foi desenvolvida pela Teoria
a) da anomia.
b) da associação diferencial.
c) da subcultura delinquente.
d) da ecologia criminal.
e) da reação social ou Labelling Approach.

038. (FCC/2012/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Paulo, executivo do mercado financeiro,


após um dia estressante de trabalho, foi demitido. O mundo desabara sobre sua cabeça. Pe-
gou seu carro e o que mais queria era chegar em casa. Mas o horário era de rush e o trânsito
estava caótico, ainda chovia. No interior de seu carro sentiu o trauma da demissão e só pensa-
va nas dívidas que já estavam para vencer, quando fora acometido de uma sensação terrível:
uma mistura de fracasso, com frustração, impotência, medo etc. Neste instante, sem que nem
porque, apenas querendo chegar em casa, jogou seu carro para o acostamento, onde atropelou
um ciclista que por ali trafegava, subiu no passeio onde atropelou um casal que ali se encon-
trava, andou por mais de 200 metros até bater num poste, desceu do carro meio tonto e não
hesitou, agrediu um motoqueiro e subtraiu a motocicleta, evadindo- se em desabalada carreira,
rumo à sua casa. Naquele dia, Paulo, um pacato cidadão, pagador de impostos, bom pai de
família, representante da classe média-alta daquela metrópole, transformou-se num criminoso

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Escolas e Teorias Criminológicas
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perigoso, uma fera que ocupara as notícias dos principais telejornais. Diante do caso narrado,
identifique dentre as Teorias abaixo, a que melhor analisa (estuda/explica) o caso.
a) Escola de Chicago.
b) Teoria da associação diferencial.
c) Teoria da anomia.
d) Teoria do labelling approach.
e) Teoria crítica.

039. (PC-SP/2012/DELEGADO DE POLÍCIA) O efeito criminógeno da grande cidade, valendo-


-se dos conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos, é
explicado pela
a) Teoria do Criminoso Nato.
b) Teoria da Associação Diferencial
c) Teoria da Anomia.
d) Teoria do Labelling Aproach.
e) Teoria Ecológica.

040. (PC-SP/2012/DELEGADO DE POLÍCIA) Assinale a afirmativa correta.


a) A Escola de Chicago faz parte da Teoria Crítica.
b) O delito não é considerado objeto da Criminologia.
c) A Criminologia não é uma ciência empírica.
d) A Teoria do Criminoso Nato é de Merton.
e) Cesare Lombroso e Raffaelle Garofalo pertencem à Escola Positiva.

041. (FCC/2018/CLDF/CONSULTOR LEGISLATIVO DIREITOS HUMANOS) A chamada cri-


minalidade do colarinho branco foi assim designada de forma pioneira no âmbito da teoria
criminológica
a) da criminologia crítica, a partir dos estudos de Baratta.
b) do labelling aproach, a partir da obra de Becker.
c) da associação diferencial, a partir da obra Shutterland.
d) da discriminação simbólica, a partir da obra de Crane.
e) do cálculo racional, a partir dos estudos de Forman.

042. (VUNESP/2017/DPE-RO/DEFENSOR PÚBLICO SUBSTITUTO) É possível encontrar re-


latos em reportagens jornalísticas e em investigações criminais de situações em que teori-
camente o poder do Estado não alcança, exemplo é a teoria de que organizações criminosas
mantêm “códigos de condutas” próprios e que execuções de integrantes das facções são con-
sideradas “justas” dada a gravidade das “infrações” praticadas dentro das citadas “regras”.
Também é possível, ao ouvir uma música com a expressão “é melhor viver pouco como um rei

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Escolas e Teorias Criminológicas
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do que muito como um Zé”, ter a ideia de que o crime compensaria, pois se fossem respeitadas
as regras sociais, a maioria dos jovens não conseguiria alcançar uma condição de vida satis-
fatória diante da falta de oportunidades para a ascensão social.
Os fatos sugeridos podem ser usados como exemplos de quais teorias criminológicas, tam-
bém chamadas de teorias do consenso?
a) Ecologia do Crime e Desorganização Cultural.
b) Labelling Approach e Reorganização Cultural.
c) Aculturação e Reação História.
d) Distanciamento e Associação Diferencial.
e) Subcultura Delinquente e Anomia.

043. (FAPEMS/2017/PC-MS/DELEGADO DE POLÍCIA) Tendo como premissa o estudo da


Teoria Criminológica da Anomia, analise o problema a seguir.
O senhor X, 55 anos, bancário desempregado, encontrou, como forma de subsistência própria
e da família, trabalho na contravenção (apontador do jogo do bicho em frente à rodoviária da
cidade). Por lá permaneceu vários meses, sempre assustado com a presença da polícia, mas
como nunca sofreu qualquer repreensão, inclusive tendo alguns agentes como clientes dentre
outras autoridades da cidade, continuou sua labuta diária. Y, delegado de polícia, recém-chega-
do à cidade, ao perceber a prática contravencional, a despeito da tolerância de seus colegas,
prende X em flagrante. No entanto, apenas algumas horas após sua soltura, X retornou ao
antigo ponto continuando a receber apostas diárias de centenas de pessoas da comunidade.
Assinale a alternativa correta correspondente a esse caso.
a) A teoria da anomia advém do funcionalismo penal, que defende a pertinência da norma
enquanto reconhecida pela sociedade como necessária para a solução dos conflitos sociais,
tendo sido arbitrária a conduta do delegado.
b) A anomia, no contexto do problema, dá-se pelo enfraquecimento da norma, que já não in-
fluencia o comportamento social de reprovação da conduta, quando a sociedade passa a acei-
tá-la como normal.
c) A atitude dos demais policiais caracteriza o poder de discricionariedade legítimo do agente
de segurança pública, diante da anomia social caracterizada da norma que perde vigência pela
ausência de funcionalidade.
d) A atitude do delegado expressa a representação da teoria da anomia, em que a norma não
perde sua força de coerção social, pois, somente revogada por outra norma, independente do
comportamento do infrator.
e) A teoria da anomia não tem aplicação no caso em análise, pois sob o aspecto criminoló-
gico é necessário que estejam presentes no estudo do fenômeno o delinquente, a vítima e a
sociedade.

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044. (FCC/2012/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Com o surgimento das Teorias Sociológicas


da Criminalidade (ou Teorias Macrossociológicas da Criminalidade), houve uma repartição
marcante das pesquisas criminológicas em dois grupos principais. Essa divisão leva em con-
sideração, principalmente, a forma como os sociólogos encaram a composição da sociedade:
Consensual (Teorias do consenso, funcionalistas ou da integração) ou Conflitual (Teorias do
conflito social). Neste contexto são consideradas Teorias Consensuais:
a) Escola de Chicago, Teoria da Anomia e Teoria da Associação Diferencial.
b) Teoria da Anomia, Teoria Crítica e Teoria do Etiquetamento.
c) Teoria Crítica, Teoria da Anomia e Teoria da Subcultura Delinquente.
d) Teoria do Etiquetamento, Teoria da Associação Diferencial e Escola de Chicago.
e) Teoria da Subcultura Delinquente, Teoria da Rotulação e Teoria da Anomia.

045. (PC-SP/2012/DELEGADO DE POLÍCIA) Assinale a alternativa incorreta. A Teoria do


Etiquetamento
a) é considerada um dos marcos das teorias de consenso.
b) é conhecida como Teoria do Labelling Aproach.
c) tem como um de seus expoentes Ervinh Goffman.
d) tem como um de seus expoentes Howard Becker.
e) surgiu nos Estados Unidos.

046. (UEG/2018/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA) Em Vigiar e Punir, Michel Foucault (1926–


1984) aborda a transformação dos métodos punitivos a partir de uma tecnologia do corpo,
dentre cujos aspectos fundamentais destaca-se
a) a coexistência entre diversas economias políticas do castigo, mas, fundamentalmente, a
mudança qualitativa que representou substituição do carcerário pelo patibular.
b) o pensamento criminológico centrado na figura do homem delinquente, o que constitui a
força motriz para o surgimento e consolidação da prisão como mecanismo de controle.
c) o cumprimento dos fins declarados da pena de prisão na medida em que separa os espaços
sociais livres de castigo e os que devem ser objeto da repressão estatal.
d) o abandono completo do suplício corporal como tecnologia encarceradora que passa ser
utilizada a partir do século XIX.
e) o cárcere como dispositivo preponderante sobre o qual se ergue a sociedade disciplinar.

047. (FUMARC/2018/PC-MG/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO) Sobre a relação entre o


preso e a sociedade, segundo Alessandro Baratta, é CORRETO afirmar:
a) A reinserção do preso na sociedade, após o cumprimento da pena, é assegurada a partir do
momento em que, no cárcere, o preso absorve um conjunto de valores e modelos de compor-
tamento desejados socialmente.

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b) É necessário primeiro modificar os excluídos, para que eles possam voltar ao convívio social
na sociedade que está apta a acolhê-los.
c) O cárcere não reflete as características negativas da sociedade, em razão do isolamento a
que são submetidos os presos.
d) São relações sociais baseadas no egoísmo e na violência ilegal, no interior das quais os in-
divíduos socialmente mais débeis são constrangidos a papéis de submissão e de exploração.

048. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO) Trata-se da assunção das atitudes, dos mo-


delos de comportamento, dos valores característicos da subcultura carcerária. Estes aspectos
da subcultura carcerária, cuja interiorização é inversamente proporcional às chances de rein-
serção na sociedade livre, têm sido examinados sob o aspecto das relações sociais e de poder,
das normas, dos valores, das atitudes que presidem estas relações, como também sob o ponto
de vista das relações entre os detidos e o staff da instituição penal (BARATTA, Alessandro.
Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002, p. 184–185).
O fenômeno retratado pelo trecho acima é chamado de
a) criminalização da pobreza.
b) prisionização.
c) direito penal do inimigo.
d) criminologia crítica.
e) encarceramento em massa.

049. (FCC/2017/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Com fundamento no ensinamento de Michel


Foucault sobre panoptismo, é correto afirmar:
a) A localização GPS inserida em fotos de pessoas tiradas de celulares juntamente ao reconhe-
cimento facial automatizado permite um controle de deslocamento constante e invisível des-
sas pessoas, porém não é um exemplo de panóptico por não se poder visualizar quem o exerce.
b) A indefinição do ponto de vigilância, de quem vigia e de quem aplicará eventual sanção
normalizadora é considerada uma falha no sistema panóptico e exige correção, por via de pro-
cedimento de exame.
c) Há distinção entre panoptismo e sistema panóptico, sendo que este último apenas pode ser
operado via instâncias disciplinadoras oficiais do Estado, como as escolas e prisões.
d) O monitoramento eletrônico de presos, via colocação de tornozeleiras eletrônicas com SIM
Cards, é exemplo de panoptismo, cuja função de vigilância é exercida com auxílio de um sof-
tware de georrastreamento.
e) A arquitetura panóptica refere-se unicamente a estruturas físicas de edifícios (prisões, es-
colas, hospitais etc.), não se cogitando que sistemas de informação sejam arquitetados para
operar em panoptismo.

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050. (FCC/2015/DPE-SP/DEFENSOR PÚBLICO) “O atestado de que a prisão fracassa em redu-


zir os crimes deve talvez ser substituído pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem
produzir a delinquência, tipo especificado, forma política ou economicamente menos perigosa
− talvez até utilizável − de ilegalidade; produzir delinquentes, meio aparentemente marginaliza-
do mas centralmente controlado; produzir o delinquente como sujeito patologizado”.
O trecho acima, extraído de Vigiar e Punir, sintetiza uma importante conclusão de Michel Fou-
cault decorrente de suas análises sobre a prisão como uma instituição disciplinar moderna.
Para o autor, a prisão permite
a) objetivar a delinquência por trás da infração e consolidar a delinquência no movimento das
ilegalidades.
b) classificar a delinquência em suas categorias e erradicar a delinquência do meio social.
c) reduzir a delinquência através do controle e controlar a delinquência por meio da repressão.
d) combater a delinquência por meio da punição e erradicar a delinquência do meio social.
e) controlar a delinquência por meio da repressão e diferenciar a delinquência da periculosidade.

051. (MPE-SC/2013/PROMOTOR DE JUSTIÇA/MANHÃ) Os principais postulados do La-


belling Approach são o interacionismo simbólico e construtivismo social; a introspecção sim-
patizante como técnica de aproximação da realidade criminal para compreendê-la a partir do
mundo do desviado e captar o verdadeiro sentido que ele atribui a sua conduta; a natureza
“definitorial” do delito; o caráter constitutivo do controle social; a seletividade e discriminatorie-
dade do controle social; o efeito criminógeno da pena e o paradigma do controle.

052. (FCC/2012/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Um dos instrumentos do poder disciplinar,


caracterizado por Michel Foucault em seu livro Vigiar e Punir, consiste em uma forma de puni-
ção que é, ao mesmo tempo, um exercício das condutas dos indivíduos. Este instrumento da
disciplina é denominado, pelo autor,
a) pena capital.
b) sanção normalizadora.
c) execução normativa.
d) sanção repressora.
e) poder soberano.

053. (FCC/2013/AL-PB/PROCURADOR) A avaliação do espaço urbano é especialmente im-


portante para compreensão das ondas de distribuição geográfica e da correspondente produ-
ção das condutas desviantes. Este postulado é fundamental para compreensão da corrente de
pensamento, conhecida na literatura criminológica, como
a) teoria da anomia.
b) escola de Chicago.
c) teoria da associação diferencial.

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d) criminologia crítica.
e) Labelling Approach.

054. (VUNESP/2018/PC-BA/DELEGADO DE POLÍCIA) Em relação ao conceito de crime, de


criminoso e de pena nas diversas correntes do pensamento criminológico e ao desenvolvimen-
to científico de seus modelos teóricos, é correto afirmar:
a) A criminologia científica nasceu no ambiente do século XVIII, recebendo contribuições da
Escola Positivista, mas ganhando contornos mais precisos com a Escola Clássica.
b) A criminologia crítica compreende que a finalidade da sociedade é atingida quando há um
perfeito funcionamento das suas instituições, de forma que os indivíduos compartilhem as
regras sociais dominantes.
c) As teorias desenvolvidas nas escolas positivistas a partir do método dedutivo buscaram
maximizar as garantias individuais na persecução penal e fora dela.
d) No pensamento criminológico das escolas clássicas, identifica-se uma grande preocupação
com os conceitos de crime e pena como entidades jurídicas e abstratas de modo a estabelecer
a razão e limitar o poder de punir do Estado.
e) Os modelos teóricos de integração que compõem a criminologia tradicional partem da pre-
missa de que toda a sociedade está, a cada momento, sujeita a processos de mudança, exi-
bindo dissensão e conflito, haja vista que todo elemento em uma sociedade contribui, de certa
forma, para sua desintegração e mudança. Sendo assim, a sociedade é baseada na coerção de
alguns de seus membros por outros.

055. (INSTITUTO ACESSO/2019/PC-ES/DELEGADO DE POLÍCIA) O pensamento criminoló-


gico moderno, de viés macrossociológico, é influenciado pela visão de cunho funcionalista
(denominada teoria da integração, mais conhecida por teorias do consenso) e de cunho argu-
mentativo (denominada por teorias do conflito). É correto afirmar que:
a) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferen-
cial, a teoria da subcultura do delinquente e a teoria do etiquetamento.
b) São exemplos de teorias do conflito a teoria de associação diferencial a teoria da anomia, a
teoria do etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
c) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferen-
cial, a teoria da anomia e a teoria da subcultura do delinquente.
d) São exemplos da teoria do consenso a teoria de associação diferencial, a teoria da anomia,
a teoria do etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
e) São exemplos da teoria do conflito a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial,
a teoria da anomia e a teoria da subcultura do delinquente.

056. (INSTITUTO ACESSO/2019/PC-ES/DELEGADO DE POLÍCIA) Os modelos sociológicos


contribuíram decisivamente para um conhecimento realista do problema criminal demonstran-

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do a pluralidade de fatores que com ele interagem. Leia as afirmativas a seguir, e marque a
alternativa INCORRETA:
a) As teorias conflituais partem da premissa de que o conflito expressa uma realidade pato-
lógica da sociedade sendo nocivo para ela na medida em que afeta o seu desenvolvimento e
estabilidade.
b) As teorias ecológicas partem da premissa de que a cidade produz delinquência, valendo-se
dos conceitos de desorganização e contágio social inerentes aos modernos núcleos urbanos.
c) As teorias subculturais sustentam a existência de uma sociedade pluralista com diversos sis-
temas de valores divergentes em torno dos quais se organizam outros tantos grupos desviados.
d) As teorias estrutural-funcionalistas consideram a normalidade e a funcionalidade do crime
na ordem social, menosprezando o componente biopsicopatológico no diagnóstico do proble-
ma criminal.
e) As teorias de aprendizagem social sustentam que o comportamento delituoso se aprende
do mesmo modo que o indivíduo aprende também outras atividades lícitas em sua interação
com pessoas e grupos.

057. (MPE-SC/2019/PROMOTOR DE JUSTIÇA) A criminologia crítica é elaborada com base


em uma interpretação da realidade realizada a partir de um ponto de vista marxista. Trata-se
de uma proposta política que considera que o sistema penal é ilegítimo, e seu objetivo é a des-
construção desse sistema.

058. (VUNESP/2018/PC-BA/DELEGADO DE POLÍCIA) No tocante às teorias da subcultura


delinquente e da anomia, assinale a alternativa correta.
a) Uma das principais críticas às teorias da subcultura delinquente é a de que ela não conse-
gue oferecer uma explicação generalizadora da criminalidade, havendo um apego exclusivo a
determinado tipo de criminalidade, sem que se tenha uma abordagem do todo.
b) A teoria da anomia, sob a perspectiva de Durkheim, define-se a partir do sintoma do vazio
produzido no momento em que os meios socioestruturais não satisfazem as expectativas cul-
turais da sociedade, fazendo com que a falta de oportunidade leve à prática de atos irregulares
para atingir os objetivos almejados.
c) A teoria da anomia, sob a perspectiva de Merton, define-se a partir do momento em que a
função da pena não é cumprida, por exemplo, instaura-se uma disfunção no corpo social que
desacredita o sistema normativo de condutas, fazendo surgir a anomia. Portanto, a anomia
não significa ausência de normas, mas o enfraquecimento de seu poder de influenciar condu-
tas sociais.
d) O utilitarismo da ação é um dos fatores que caracterizam a subcultura deliquencial sob a
perspectiva de Albert Cohen.
e) O sentimento de impunidade vivenciado por uma sociedade é antagônico ao conceito de
anomia identificado sob a ótica de Durkheim.

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059. (FUMARC/2018/PC-MG/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO) Sobre o sistema penal


e a reprodução da realidade social, segundo Alessandro Baratta, é CORRETO afirmar:
a) A cada sucessiva recomendação do menor às instâncias oficiais de assistência e de con-
trole social corresponde uma diminuição das chances desse menor ser selecionado para uma
“carreira criminosa”.
b) A homogeneidade do sistema escolar e do sistema penal corresponde ao fato de que reali-
zam, essencialmente, a mesma função de reprodução das relações sociais e de manutenção
da estrutura vertical da sociedade.
c) A teoria das carreiras desviantes, segundo a qual o recrutamento dos “criminosos” se dá nas
zonas sociais mais débeis, não é confirmada quando se analisa a população carcerária.
d) O suficiente conhecimento e a capacidade de penetração no mundo do acusado por parte
do juiz e das partes no processo criminal são favoráveis aos indivíduos provenientes dos es-
tratos econômicos inferiores da população.

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GABARITO
1. d 37. e
2. e 38. c
3. E 39. e
4. C 40. e
5. E 41. c
6. E 42. e
7. C 43. b
8. C 44. a
9. E 45. a
10. d 46. b
11. E 47. d
12. d 48. b
13. c 49. d
14. e 50. a
15. e 51. C
16. C 52. b
17. C 53. b
18. c 54. d
19. E 55. c
20. C 56. a
21. E 57. C
22. E 58. a
23. C 59. b
24. E
25. b
26. a
27. C
28. C
29. c
30. d
31. e
32. e
33. e
34. c
35. a
36. E

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GABARITO COMENTADO
001. (FCC/2021/DPE-GO/DEFENSOR) O crime organizado é tratado
a) pela Escola de Chicago como um modo de sobrevivência e de formação de identidade do
jovem em vizinhanças socialmente organizadas que se conformam em gangues, como nas
favelas brasileiras.
b) pela teoria da reação social como um grupo de pessoas dotado de características psíquicas
peculiares rotulados pela lei, cujo estigma funciona como mecanismo de propulsão de medi-
das autoritárias no Brasil.
c) pelo positivismo criminológico como um tema central, já que para Cesare Lombroso a etio-
logia do crime era determinada pelas patologias coletivas que, por sua vez, determinavam o
comportamento individual desviante, o que não pode ser aceito em nossa realidade periférica.
d) pela teoria da subcultura delinquente como uma manifestação não utilitária e destrutiva, o
que representa um anacronismo ao ser transportada para a compreensão das facções prisio-
nais brasileiras.
e) pela criminologia cultural como uma forma legítima de organização popular de resistência
contra as mazelas do sistema penal, de modo que deve ser utilizada como forma decolonial de
análise na realidade brasileira.

Para a teoria da Subcultura Delinquente, há culturas dentro das culturas, que são denominadas
subculturas. A subcultura delinquente surge como um meio de lidar com problemas de ajuste:
certas crianças e adolescentes não conseguem preencher os critérios de status respeitável na
sociedade. A subcultura delinquente fornece outros critérios de status, esses sim, possíveis de
serem alcançados por esses jovens, que são em sua maioria meninos da classe baixa. Eles
se juntam em grupos – as gangues – e nesses grupos praticam diversas atividades, algumas
delas delitivas. Trata-se, portanto, de uma teoria que se debruçou sobre gangues e que pode
ser empregada para analisar as organizações criminosas. No entanto, essa teoria defende que
as ações dos meninos das gangues revestem-se de não utilitarismo (não se pratica o delito
porque ele é útil, porque ele dá lucros, mas sim porque é uma atividade que implica renome, sa-
tisfação e valentia naquele grupo) e de malícia e negativismo (ambos convidando os membros
da gangue a agir com grande coragem, atrevimento, confiança e desafio ao perigo). Atualmen-
te, as facções prisionais brasileiras desafiam tais características, pois pautam suas ações por
escolhas utilitárias - de lucro, por exemplo - e organizam-se de maneira a tentar proteger seus
membros, ou seja, afastando-se do destrutivismo.
a) Errada. A Escola de Chicago não falava em gangues.
b) Errada. A teoria da reação social não tratava de características psíquicas.
c) Errada. O tema não foi central para o positivismo criminológico.

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e) Errada. Apesar de realizar uma Criminologia de escuta e aproximação dos grupos culturais
que fogem ao padrão, a Criminologia Cultural não considera o crime organizado como uma
forma legítima de organização popular.
Letra d.

002. (FCC/2021/DPE-AM/DEFENSOR) O pensamento de Émile Durkheim trouxe importantes


influxos para a criminologia. Sobre sua obra, é correto afirmar que
a) a teoria da anomia conformou o pensamento crítico de resistência ao positivismo crimino-
lógico latino-americano ao reconhecer o estado de organização social em uma perspectiva
decolonial.
b) a punição recebeu importância lateral, já que sua obra foi forjada no sentido de entender o
crime e suas motivações, preocupações centrais do pensamento social revolucionário.
c) rejeita a importância da solidariedade social para compreender o fenômeno social e a crimi-
nalidade, como faziam os estudiosos do positivismo criminológico.
d) a reação social ao delito, mais do que suas causas, é o fundamento que possibilita a crítica
do sistema penal moderno.
e) a pena é um ato de imposição de sofrimento ao ser humano que, todavia, é considerado
justo ante o abalo proporcionado à consciência coletiva pela conduta criminosa.

Para Durkheim, a pena é, ao menos em parte, um tipo de vingança, que causa sofrimento, mas
que tem como função primordial satisfazer a consciência coletiva, ferida com o crime, mantendo
intacta a coesão social. Assim, o castigo do condenado age nas pessoas honestas, já que serve
para curar a ferida feita nos sentimentos coletivos, que somente residem nos indivíduos corre-
tos. A pena é, portanto, uma reação passional institucionalizada – e que reforça a coesão social.
a) Errada. A Teoria da Anomia baseia-se em postulados de uma sociologia do consenso, e não
fez parte dos alicerces de uma criminologia crítica, menos ainda em perspectiva decolonial, já
que no final do século XIX, época de desenvolvimento das ideias de Durkheim, vicejavam na
Europa teorias racistas.
b) Errada. A teoria da anomia é considerada conservadora, funcionalista, integrante das teorias
do consenso, e não revolucionária.
c) Errada. Durkheim, ao explicar o conceito de consciência coletiva, emprega a ideia de soli-
dariedade social. A consciência coletiva, para ele, não é simplesmente a soma de todas as
consciências individuais. Ela depende das consciências individuais, mas não se confunde com
elas. Nas sociedades arcaicas, em que as pessoas diferiam pouco umas das outras, existia
uma solidariedade por semelhança, mecânica. Nessas sociedades, os membros tinham sen-
timentos parecidos e por isso se dizia que a consciência coletiva abrangia a maior parte das
consciências individuais, ainda que com elas não se confundisse. Nas sociedades contempo-
râneas, os indivíduos são menos parecidos entre si. Cada um age de acordo com sua liberdade

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de crença e ação. Aqui, Durkheim fala em solidariedade orgânica. Nessas sociedades, a cons-
ciência coletiva tem sua amplitude reduzida. O crime é particularmente útil nas sociedades
contemporâneas porque permite que a consciência coletiva evolua.
d) Errada. A Teoria da Anomia não se propõe a tecer críticas aos sistemas penais e tampouco
a analisar a reação social ao delito, algo que somente vai ocorrer a partir da década de 1960,
com o Labelling Approach.
Letra e.

003. (CEBRASPE/2021/DPF/DELEGADO) Os objetos da criminologia são o delinquente, a ví-


tima, o controle social e a justiça criminal.

As categorias de objetos da Criminologia são o crime, o criminoso, a vítima e os mecanismos


de controle social. A justiça criminal não deixa, é verdade, de ser um mecanismo do controle
social formal, mas não é uma das quatro categorias de objeto da Criminologia.
Errado.

004. (CEBRASPE/2021/DPF/DELEGADO) A polícia, o Poder Judiciário e o sistema penitenci-


ário exercem o controle social formal.

O controle social formal é aquele exercido pelo Estado e do qual pode decorrer a aplicação de
uma pena. Polícia, Ministério Público, Poder Judiciário e Sistema Penitenciário são bons exem-
plos de instâncias de controle social formal.
Certo.

005. (CEBRASPE/2021/MPESC/PROMOTOR) Para a escola positivista, que se ocupa da tipi-


ficação dos delitos em termos legais e objetivos, o crime é um ente jurídico e a responsabilida-
de penal se sustenta no livre arbítrio.

A Escola Positivista não se ocupa da tipificação dos delitos em termos legais e objetivos. Para
ela, o crime é um ente mais biológico do que jurídico e a responsabilidade penal se sustenta na
periculosidade e no determinismo. A Escola Clássica encarava o crime como um ente jurídico
e a responsabilidade penal como sustentada no livre arbítrio.
Errado.

006. (CEBRASPE/2021/MPESC/PROMOTOR) Para a escola clássica, o comportamento cri-


minoso é resultado da predisposição do agente, que apresenta características inatas e biológi-
cas identificáveis a partir de estigmas anatômicos.

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O enunciado descreve a Escola Positivista, para a qual o crime é um ente mais biológico do
que jurídico e a responsabilidade penal se sustenta na periculosidade e no determinismo. Os
delinquentes, para a Escola Positivista, seriam portadores de sinais (estigmas) anatômicos,
que denotariam sua inata predisposição para a delinquência.
Errado.

007. (CEBRASPE/2021/MPESC/PROMOTOR) O fenômeno do crime organizado se ajusta


aos fundamentos da teoria da associação diferencial, para a qual a conduta delitiva não é in-
trínseca às condições sociais ou a fatores outros como gênero, raça e idade do agente.

É essencial, na teoria de Sutherland, a ideia de que o crime pode ser praticado por qualquer pes-
soa. Com os nove princípios da Teoria da Associação Diferencial, ele demonstrou que o crime
pode ser cometido por qualquer pessoa na sociedade, independentemente de fatores biológi-
cos, de pobreza, de déficit de inteligência ou falta de inserção social. A Teoria da Associação
Diferencial foi a primeira a colocar o foco na criminalidade dos poderosos, estudando a forma
distinta como a justiça penal os tratava. E quando falamos de crime organizado, estamos nos
referindo não apenas aos crimes cometidos pelas facções prisionais, mas à criminalidade mo-
derna, que abarca também a criminalidade industrial, a criminalidade ambiental internacional,
o tráfico internacional de drogas, o comércio internacional de detritos (materiais radioativos
etc.), a criminalidade econômica (crime do colarinho branco). Esses são delitos praticados por
pessoas de qualquer gênero, qualquer idade, qualquer classe social, e em muitos casos exata-
mente por aqueles que detêm o poder.
Certo.

008. (CEBRASPE/2021/MPESC/PROMOTOR) A crise dos valores tradicionais e familiares, a


alta mobilidade, a explosão demográfica e o enfraquecimento do controle social são conside-
rados fatores criminógenos pela escola de Chicago.

A Escola de Chicago se debruçou, principalmente, sobre a desorganização social das grandes


cidades, discutindo múltiplos aspectos da vida humana relacionados com o caos da metrópo-
le. Com a expansão e consolidação da burguesia industrial e com o recebimento de grandes
contingentes de imigrantes, Chicago, assim como outras cidades estadunidenses, passou por
profundas mudanças em um curto espaço temporal e era preciso compreender essas trans-
formações e seus efeitos. A cidade em geral permitia a confusão, a mobilidade e, portanto, o
refúgio e a criação de personalidades conflitivas. Além disso, essa Escola constatou que nas

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áreas criminais o controle social informal era pouco eficiente na formatação do comportamen-
to dos jovens, já que familiares, amigos e vizinhos geralmente aprovam condutas antissociais.
Certo.

009. (CESPE/2017/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO) O desvio ou o delito, ob-


jetos da criminologia, devem ser abordados, primordialmente, como um comportamento indi-
vidual do desviante ou delinquente; em segundo plano, analisam-se as influências ambientais
e sociais.

A Criminologia passou a contar com teorias sociológicas desde o início do século XX, sendo
errado dizer que as influências ambientais e sociais devem permanecer em segundo plano.
Na Criminologia, contempla-se o crime como problema individual e social, sem hierarquizar
as influências individuais ou ambientais. As análises de casos concretos poderão dizer se os
fatores individuais ou sociais tiveram mais peso em uma dada situação.
Errado.

010. (CEBRASPE/2016/PC-PE/DELEGADO DE POLÍCIA) Acerca dos modelos teóricos expli-


cativos do crime, oriundos das teorias específicas que, na evolução da história, buscaram en-
tender o comportamento humano propulsor do crime, assinale a opção correta.
a) O modelo positivista analisa os fatores criminológicos sob a concepção do delinquente
como indivíduo racional e livre, que opta pelo crime em virtude de decisão baseada em crité-
rios subjetivos.
b) O objeto de estudo da Criminologia é a culpabilidade, considerada em sentido amplo; já o
Direito Penal se importa com a periculosidade na pesquisa etiológica do crime.
c) A Criminologia clássica atribui o comportamento criminal a fatores biológicos, psicológicos
e sociais como determinantes desse comportamento, com paradigma etiológico na análise
causal-explicativa do delito.
d) Entre os modelos teóricos explicativos da Criminologia, o conceito definitorial de delito
afirma que, segundo a teoria do labeling approach, o delito carece de consistência material,
sendo um processo de reação social, arbitrário e discriminatório de seleção do comportamen-
to desviado.
e) O modelo teórico de opção racional estuda a conduta criminosa a partir das causas que
impulsionaram a decisão delitiva, com ênfase na observância da relevância causal etiológica
do delito.

No modelo de reação social, tem primazia a teoria do Labelling Approach. o importante não é
compreender a razão pela qual alguém comete um crime, mas sim quais são os mecanismos

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arbitrários que fazem com que certas pessoas sejam etiquetadas como criminosas pelas ins-
tâncias de controle social formal. O crime não existe ontologicamente, isto é, por si próprio.
Parte-se do conceito definitorial de delito: o crime é definido e seus autores selecionados dis-
criminatoriamente pelas próprias instâncias de controle social formal desenhadas para com-
bater a delinquência.
a) Errada. O modelo que encara o delinquente como alguém racional e livre é o modelo clássico
da opção racional.
b) Errada. A culpabilidade não é objeto da Criminologia, e sim do Direito Penal.
c) Errada. A letra c estaria correta se a palavra “clássica” fosse substituída por “positivista”.
e) Errada. O erro está em dizer que a ênfase é colocada na etiologia. O modelo que dá ênfase
à relevância causal etiológica é o positivista.
Letra d.

011. (CEBRASPE/2013/DPF/DELEGADO) O surgimento das teorias sociológicas em Crimino-


logia marca o fim da pesquisa etiológica, própria da escola ou do modelo positivista.

As teorias sociológicas começam a surgir no seio da Escola Positivista, com Enrico Ferri. Não
implicam o fim da pesquisa sobre as causas do crime (etiologia). Ao contrário, surgem exata-
mente para dar resposta às investigações etiológicas.
Errado.

012. (CESPE/2017/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO) Considerando que, con-


forme a doutrina, a moderna sociologia criminal apresenta teorias e esquemas explicativos do
crime, assinale a opção correta acerca dos modelos sociológicos explicativos do delito.
a) Para a teoria ecológica da sociologia criminal, que considera normal o comportamento deli-
tuoso para o desenvolvimento regular da ordem social, é imprescindível e, até mesmo, positiva
a existência da conduta delituosa no seio da comunidade.
b) A teoria do conflito, sob o enfoque sociológico da Escola de Chicago, rechaça o papel das
instâncias punitivas e fundamenta suas ideias em situações concretas, de fácil comprovação e
verificação empírica das medidas adotadas para contenção do crime, sem que haja hostilidade
e coerção no uso dos meios de controle.
c) A teoria da integração, ao criticar a teoria consensual na solução do conflito, rotula o crimi-
noso quando assevera que o delito é fruto do sistema capitalista e considera o fator econômi-
co como justificativa para o ato criminoso, de modo que, para frear a criminalidade, devem-se
separar as classes sociais.
d) A Escola de Chicago, ao atentar para a mutação social das grandes cidades na análise em-
pírica do delito, interessa-se em conhecer os mecanismos de aprendizagem e transmissão das
culturas consideradas desviadas, por reconhecê-las como fatores de criminalidade.

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Escolas e Teorias Criminológicas
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e) A teoria estrutural-funcionalista da sociologia criminal sustenta que o delito é produto da de-


sorganização da cidade grande, que debilita o controle social e deteriora as relações humanas,
propagando-se, consequentemente, o vício e a corrupção, que são considerados anormais e
nocivos à coletividade.

A Escola de Chicago, com enfoque fortemente empírico e transdisciplinar, se propôs a discutir


múltiplos aspectos da vida humana, todos relacionados com a vida na cidade. Para ela, é mais
apropriado falar em “cidades”, no plural, pois cada parte do município tem sua cultura própria,
sua dinâmica particular, com estatutos, usos, costumes. O complexo cultural determina o que
é típico de cada cidade e mais, de cada parte da cidade. Essas culturas são transmitidas e
aprendidas dentro dos respectivos grupos.
a) Errada. A letra A estaria correta se substituíssemos ecológica por funcionalista.
b) Errada. A Escola de Chicago não integra as teorias do conflito. Ademais, as teorias do con-
flito baseiam a explicação da sociedade exatamente nas forças coercitivas.
c) Errada. As teorias da integração são as teorias do consenso. É a teoria crítica de base mar-
xista que assevera que o delito é fruto do sistema capitalista. De todos os modos, não propug-
na a separação das classes sociais.
e) Errada. O enunciado estaria correto se substituíssemos estrutural-funcionalista por ecológica.
Letra d.

013. (CESPE/2016/PC-PE/DELEGADO DE POLÍCIA) Os objetos de investigação da crimino-


logia incluem o delito, o infrator, a vítima e o controle social. Acerca do delito e do delinquente,
assinale a opção correta.
a) Para a criminologia positivista, infrator é mera vítima inocente do sistema econômico; culpá-
vel é a sociedade capitalista.
b) Para o marxismo, delinquente é o indivíduo pecador que optou pelo mal, embora pudesse
escolher pela observância e pelo respeito à lei.
c) Para os correcionalistas, criminoso é um ser inferior, incapaz de dirigir livremente os seus
atos: ele necessita ser compreendido e direcionado, por meio de medidas educativas.
d) Para a criminologia clássica, criminoso é um ser atávico, escravo de sua carga hereditária,
nascido criminoso e prisioneiro de sua própria patologia.
e) A criminologia e o direito penal utilizam os mesmos elementos para conceituar crime: ação
típica, ilícita e culpável.

Os correcionalistas veem o criminoso como um ser inferior, incapaz de dirigir livremente os


seus atos, e que necessita ser compreendido e direcionado, por meio de medidas educativas.

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O delinquente não é capaz de dirigir a sua vida, sendo necessária a intervenção do Estado, que
deve adotar postura pedagógica e de piedade.
a) Errada. O correto seria Criminologia Crítica ou Marxismo em vez de Criminologia Positivista.
b) Errada. O correto seria Criminologia Clássica em lugar de Marxismo.
d) Errada. O correto seria Criminologia Positivista em lugar de Clássica.
e) Errada. Ação típica, ilícita e culpável são elementos do crime para o Direito Penal, mas não
para a Criminologia. Incidência aflitiva e massiva, persistência espaço-temporal e inequívoco
consenso da população sobre a necessidade e efetividade de tipificar a conduta são elemen-
tos que definem um crime para a Criminologia.
Letra c.

014. (CESPE/2018/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL) De acordo com a teoria de Su-


therland, os crimes são cometidos
a) em razão do comportamento das vítimas e das condições do ambiente.
b) por pessoas de baixa renda, exatamente em razão de sua condição socioeconômica des-
privilegiada.
c) em razão do comportamento delinquente herdado, ou seja, de origem biológica.
d) por pessoas que sofrem de sociopatias ou psicopatias.
e) por pessoas que convivem em grupos que realizam e legitimam ações criminosas

Edwin Sutherland é o principal autor da teoria da associação diferencial. Para Sutherland, o cri-
me não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas aprendem a conduta
desviada e se associam com outras pessoas tendo por base essa conduta. Esse processo é
tanto mais intenso quanto mais íntimas as relações estabelecidas pelo indivíduo. As pesso-
as, então, interagem em grupos, aprendem umas com as outras, se associam, mas não para
seguir os padrões da sociedade, e sim para agir de modo diferente (praticando delitos). Daí o
nome associação diferencial.
Letra e.

015. (CESPE/2018/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL) Texto 1A14AAA: João nutria


grande desejo por sua colega de turma, Estela, mas não era correspondido. Esse desejo trans-
formou-se em ódio e fez que João planejasse o estupro e o homicídio da colega. Para isso,
ele passou a observar a rotina de Estela, que trabalhava durante o dia e estudava com João à
noite. Determinado dia, após a aula, em uma rua escura no caminho de Estela para casa, João
realizou seus intentos criminosos, certo de que ficaria impune, mas acabou sendo descober-
to e preso.
Conforme a criminologia crítica, o crime praticado contra Estela, descrito no texto 1A14AAA,
pode ser explicado

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a) por traumas de infância desenvolvidos por João, o que tornou difícil a sua relação com
as mulheres.
b) pela pouca iluminação da rua que Estela elegeu para voltar para casa depois da aula.
c) pelo comportamento imprudente de Estela, que, no período noturno, andava sozinha em rua
mal iluminada.
d) pela existência de alguma característica inata de João, que fatalmente o levaria a cometer
os crimes de estupro e homicídio.
e) por multifatores, como uma cultura misógina que desvaloriza as mulheres e que legitima a
sua punição quando não forem atendidos os interesses e os desejos masculinos.

É importante notar, nessa questão, que a pergunta se refere à possível explicação para os
crimes praticados contra Estela conforme a Criminologia Crítica. Parte-se, no pensamento cri-
minológico contemporâneo, da ideia de que a delinquência é fruto de muitas variáveis. Dentre
elas, encontra-se a cultura misógina, machista ou sexista. Misoginia é um termo empregado
para descrever as relações nocivas de ódio e desprezo dos homens em relação às mulheres.
Na base dessa cultura reside a ideia de hierarquia entre os sexos, com os homens ocupando
um lugar de ascendência e superioridade sobre as mulheres. Esse tipo de pensamento justifica
crimes como estupro, violência doméstica, feminicídio etc.
a) Errada. Não há, no texto, qualquer menção a traumas de infância de João, e tampouco é
esse um argumento recorrente na Criminologia Crítica.
b) Errada. A pouca iluminação da rua pode ter influenciado para a escolha do local do crime,
mas não explica, no marco da Criminologia Crítica, os crimes de estupro e homicídio em si.
c) Errada. O enunciado emprega argumentos de culpabilização da vítima primária, rechaçados
pela Criminologia Crítica.
d) Errada. O enunciado é típico da Criminologia positivista, que falava em criminosos natos e
em determinismo.
Letra e.

016. (CESPE/2013/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relacionados aos modelos teóri-


cos da criminologia.
A teoria funcionalista da anomia e da criminalidade, introduzida por Emile Durkheim no século
XIX, contrapunha à ideia da propensão ao crime como patologia a noção da normalidade do
desvio como fenômeno social, podendo ser situada no contexto da guinada sociológica da
criminologia, em que se origina uma concepção alternativa às teorias de orientação biológica
e caracterológica do delinquente.

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Émile Durkheim foi um sociólogo francês do final do século XIX. Ele é considerado um dos
principais teóricos da anomia. A anomia é o estado de desregramento, de ausência ou desin-
tegração das normas sociais, produzindo uma situação de transgressão ou de pouca coesão.
Para Durkheim, o crime se torna um problema quando existe uma situação de anomia. Caso
contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal. Sua teoria se afastava da patologiza-
ção do delito defendida, por exemplo, pelos positivistas. A criminologia sociológica se conso-
lidou como uma importante alternativa às teorias biológicas e psicológicas (sobre o caráter,
caracterológicas) do delito.
Certo.

017. (CESPE/2018/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relativos a modelos teóricos da


criminologia.
Para a teoria da reação social, o delinquente é fruto de uma construção social, e a causa dos
delitos é a própria lei; segundo essa teoria, o próprio sistema e sua reação às condutas des-
viantes, por meio do exercício de controle social, definem o que se entende por criminalidade.

Para a teoria da reação social, ou “Labelling Approach”, não se pode compreender o crime pres-
cindindo do entendimento da própria reação social. Por isso se diz que um dos postulados da
teoria é o interacionismo, ou interacionismo simbólico, ou construtivismo social. A desviação
não é uma qualidade intrínseca da conduta, mas um atributo que lhe é conferido pelas instân-
cias de controle social formal. É decisivo, então, para compreender o crime, entender como
funcionam os mecanismos de controle social que atribuem o status de delinquente a alguém.
Certo.

018. (CESPE/2018/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL) O paradigma da reação social


a) surgiu na Europa a partir do enfoque do interacionismo simbólico.
b) afirma que os grupos sociais criam o desvio, o qual é uma qualidade do ato infracional co-
metido pela pessoa.
c) indica que é mais apropriado falar em criminalização e criminalizado que falar em crimina-
lidade e criminoso.
d) afirma que a criminalidade tem natureza ontológica.
e) pode ser chamado, também, de labbeling approach, etiquetamento ou paradigma etiológico.

Surgido nos Estados Unidos, o paradigma da reação social começa a abandonar os questiona-
mentos etiológicos (estudo das causas do cometimento de crimes). Também conhecido por

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“Labelling Approach” ou Teoria do Etiquetamento, tenta se distanciar da nomenclatura crime-


-criminoso, substituindo o enfoque dos estudos. Ao enfocar os processos de criminalização,
procura entender por que a alguém é satisfatoriamente atribuído um rótulo estigmatizante,
ou seja, porque algumas condutas e pessoas são selecionadas pelos mecanismos de reação
social – são criminalizadas – e outras não.
Letra c.

019. (CESPE/2013/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relacionados aos modelos teóri-


cos da criminologia.
As ideias sociológicas que fundamentam as construções teóricas de Merton e Parsons obede-
cem ao modelo da denominada sociologia do conflito.

Robert Merton e Talcott Parsons desenvolveram a Teoria da Anomia, que obedece ao modelo
da denominada sociologia do consenso.
Errado.

020. (CEBRASPE/2018/PC-SE/DELEGADO DE POLÍCIA) Na perspectiva macrossociológica,


o pensamento criminológico moderno é influenciado por duas visões: a das teorias de consen-
so e a das teorias de conflito.

As duas grandes linhas das perspectivas sociológicas da Criminologia – aí incluídas as pers-


pectivas macrossociológicas – são as teorias do consenso e do conflito.
Certo.

021. (CEBRASPE/2018/PC-SE/DELEGADO DE POLÍCIA) As teorias sociológicas de consen-


so vinculam-se a orientações ideológicas e políticas progressistas. Essas teorias consideram
que os objetivos da sociedade são atingidos quando as instituições funcionam e os indivíduos,
que dividem os mesmos valores, concordam com as regras de convívio.

As teorias do consenso partem do pressuposto de existência de objetivos comuns a todos os


cidadãos, que aceitam as regras vigentes. De fato, essas teorias consideram que os objetivos
da sociedade são atingidos quando as instituições funcionam e os indivíduos, que dividem os
mesmos valores, concordam com as regras de convívio. No entanto, essas teorias são consi-
deradas conservadoras, porque acreditam na coesão social e querem garanti-la, preservando
o status quo, ou seja, o estado vigente das coisas. Logo, não se vinculam a orientações ideoló-
gicas e políticas progressistas.
Errado.

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022. (CEBRASPE/2018/PC-SE/DELEGADO DE POLÍCIA) Relacionada a movimentos conser-


vadores e a orientações políticas também conservadoras, a teoria sociológica do conflito con-
sidera que a harmonia social advém da coerção e do uso da força, pois as sociedades estão
sujeitas a mudanças contínuas e são predispostas à dissolução.

As teorias sociológicas do conflito são consideradas progressistas. Para elas, não é o contrato
social que garante a manutenção do sistema e que faz com que os grupos sociais evoluam.
Esses papeis devem ser – e são – atribuídos ao conflito. É, portanto, o conflito que promove
as alterações necessárias para o desenvolvimento dinâmico da sociedade. Por isso, diz-se que
essas teorias são progressistas, e não conservadoras.
Errado.

023. (CEBRASPE/2018/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relativos a modelos teóricos


da criminologia.
De acordo com a teoria da anomia, o crime se origina da impossibilidade social do indivíduo de
atingir suas metas pessoais, o que o faz negar a norma imposta e criar suas próprias regras,
conforme o seu próprio interesse.

O enunciado diz respeito à teoria da anomia de Robert Merton. Para ele, a cultura de uma socie-
dade coloca muita ênfase na importância de que se atinja um certo objetivo, mas não fornece
os meios correspondentes para que o êxito se dê. Isso é particularmente visível nas situações
em que a estrutura cultural impõe aos cidadãos padrões de consumo e riqueza, mas a estru-
tura social não fornece condições para que os indivíduos enriqueçam ou consumam do modo
como se espera. Para lidar com os objetivos e meios, os indivíduos procedem a adaptações
individuais, que podem ser de cinco tipos. Uma das possibilidades de adaptação é a inovação.
Nela, o indivíduo faz uso de meios proibidos, porém efetivos, alcançar seus objetivos. É aqui,
especificamente, que se fala em anomia, como não aceitação das regras que limitam os meios
para o alcance das metas.
Certo.

024. (CEBRASPE/2018/DPF/DELEGADO) Julgue o item a seguir, relativos a modelos teóricos


da criminologia.
Conforme a teoria ecológica, crime é um fenômeno natural e o criminoso é um delinquente
nato possuidor de uma série de estigmas comportamentais potencializados pela desorganiza-
ção social.

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A teoria ecológica, da Escola de Chicago, relaciona a criminalidade com a desorganização


social decorrente do crescimento abrupto e desordenado das grandes cidades. Não encara
o criminoso como delinquente nato possuidor de estigmas comportamentais. Esse modo de
retratar o criminoso é típico do positivismo criminológico.
Errado.

025. (CESPE/2018/DPE-PE/DEFENSOR PÚBLICO) Com relação às escolas e às teorias jurí-


dicas do direito penal, assinale a opção correta.
a) Os positivistas conclamavam a justiça a olhar para o crime como uma entidade jurídica,
enquanto os clássicos encaravam o crime como fatos sociais e humanos.
b) Na primeira metade do século passado, floresceu, na Universidade de Chicago, a chamada
teoria ecológica ou da desorganização social, que considerava o crime um fenômeno ligado a
áreas naturais.
c) A Labelling Approach enxerga o comportamento criminoso como motivado por razões onto-
lógicas ou intrínsecas, e não como decorrente do sistema de controle social.
d) A escola clássica ficou marcada pelo método de fundo dedutivo que empregava na ciência
do direito penal: o jurista deveria partir do concreto, ou seja, das questões jurídico-penais, para
passar ao abstrato, ou seja, ao direito positivo.
e) Os clássicos adotavam princípios relativos e que não se sobrepunham às leis em vigor, evi-
tando leis draconianas e excessivamente rigorosas, com penas desproporcionais.

A Teoria Ecológica ou da Desorganização Social também é chamada de Escola de Chicago.


Entre os anos 1920 e 1930, Robert Ezra Park, Ernest W. Burgess e seus alunos produziram mais
de 20 obras sobre a “ecologia” urbana da cidade de Chicago. Estudando Chicago, Park concluiu
que dentro do caos da metrópole, existem numerosas subcomunidades, ou “áreas naturais”.
As grandes cidades, exemplificava Park, possuem um distrito comercial, áreas residenciais,
distritos industriais, cidades satélites, favelas, colônias de imigrantes e essas são áreas natu-
rais de distribuição populacional que precisam ser compreendidas sociologicamente. Park fa-
lava em áreas naturais porque elas não eram – e não são – planejadas: resultam, ao contrário,
de processos ecológicos que afetam a distribuição e a função que as pessoas desempenham
na cidade. A cidade em geral permitia a confusão, a mobilidade e, portanto, o refúgio e a cria-
ção de personalidades conflitivas, como vagabundos, alcoólatras, prostitutas e delinquentes,
sobretudo a depender das áreas das cidades consideradas.
a) Errada. Eram os clássicos que consideravam o crime um fato jurídico.
c) Errada. O crime não existe ontologicamente para o “Labelling Approach” e tampouco interes-
sam, para essa teoria, as motivações delitivas.
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d) Errada. De fato, a Escola Clássica se valia de método dedutivo, mas isso significava partir do
abstrato (normas) para se chegar ao concreto (delito).
e) Errada. Os clássicos se preocupavam com as penas proporcionais, mas defendiam que prin-
cípios deveriam informar o sistema, sobrepondo-se às leis.
Letra b.

026. (CEBRASPE/2019/TJ-BA/JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO) A explicação do crime como


fenômeno coletivo cuja origem pode ser encontrada nas mais variadas causas sociais, como
a pobreza, a educação, a família e o ambiente moral, corresponde à perspectiva criminológica
denominada
a) sociologia criminal.
b) criminologia da escola positiva.
c) criminologia socialista
d) labeling approach, ou etiquetamento.
e) ecologia criminal.

As escolas sociológicas ocupam, sobretudo a partir do século XX, importância central na Cri-
minologia. Como parte da Sociologia, a Sociologia Criminal busca explicações para o fenôme-
no criminal na sociedade em que o delito está inserido. É uma ciência que explica a correlação
entre o crime e sua sociedade, tentando compreender as motivações, as possibilidades de
controle e a permanência do fenômeno criminal nos grupos sociais. Para a Sociologia Criminal,
o delito é um fenômeno social causado por variados fatores (como família, educação, pobreza,
costumes, moral), e que guarda relação com situações ordinárias da vida cotidiana.
Letra a.

027. (CEBRASPE/2019/DPE-DF/DEFENSOR PÚBLICO) Acerca dos modelos teóricos da cri-


minologia, julgue o item que se segue.
Estabelecida por Durkheim, a teoria da anomia, que analisa o comportamento delinquencial
sob o enfoque estrutural-funcionalista, admite o crime como um comportamento normal, ubí-
quo e propulsor da modernidade.

A teoria da anomia tem em Émile Durkheim seu fundador. O enfoque é estrutural-funcionalista,


inserindo-se no grupo das teorias do consenso. Para Durkheim, o crime se torna um problema
quando existe uma situação de anomia (desintegração de normas). Caso contrário, o crime é
um fenômeno relativamente normal. Afinal, ele ocorre em todas as sociedades. Aliás, explica
ele, muitos índices criminais vêm aumentando significativamente ao longo da história social.
Ou seja, o crime é ubíquo, onipresente, está em todas as partes ao mesmo tempo. Além de

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normal, o crime é útil porque propulsiona a evolução da consciência coletiva. Uma sociedade
sem crimes é pouco desenvolvida para Durkheim.
Certo.

028. (CEBRASPE/2019/DPE-DF/DEFENSOR PÚBLICO) Na visão do marxismo, a responsabi-


lidade pelo crime recai sobre a sociedade, tornando o infrator vítima do determinismo social e
econômico.

A Criminologia Crítica, derivada das ideias de Marx, produz, em certa medida, um retorno ao de-
terminismo, mas agora não um determinismo biológico, como dos positivistas. Trata-se de um
determinismo econômico-social, que deriva do modo de produção desigual do capitalismo. Aqui,
no entanto, costuma-se dizer que não há um determinismo tão rígido como aquele do século
XIX, pois compreende-se que nem todos os marginalizados sociais cairão na engrenagem penal.
Certo.

029. (FCC/2015/DPE-SP/DEFENSOR PÚBLICO) Segundo as análises de Michel Foucault em


seu livro Vigiar e punir, a necessidade de uma classificação paralela dos crimes e dos castigos,
assim como a necessidade de uma individualização das penas em conformidade com as ca-
racterísticas singulares de cada criminoso são elementos que se referem
a) à reforma do modelo prisional, no século XIX.
b) ao suplício corporal, do século XVIII.
c) à reforma humanista do Direito penal, no século XVIII.
d) à reforma judiciária do Direito, no século XX.
e) às penas físicas, no século XVII.

Na reforma humanista do século XVIII, fala-se em uma penalidade suavizada, em que deve ha-
ver humanidade, proporcionalidade (medida), individualização das penas e classificação dos
crimes e castigos. É necessário controlar a codificar as práticas ilícitas, principalmente se se
considera que passou a incomodar muito à nova burguesia a ascensão dos crimes contra a
propriedade. É que antes as principais ilegalidades eram dirigidas a direitos, mas com o de-
senvolvimento da sociedade capitalista, elas passaram a se dirigir aos bens. O roubo se tor-
nou mais comum e incômodo, de modo que os códigos começam a separar e a classificar as
ilegalidades. De um lado, as ilegalidades dos direitos, e de outro, as ilegalidades dos bens, em
relação às quais havia menos tolerância e que exigiam, portanto, vigilância constante.
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030. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO/REAPLICAÇÃO) Ficaria claro, com ele, que


a maneira pela qual as sociedades e suas instituições reagem diante de um fato é mais deter-
minante para defini-lo como delitivo ou desviado do que a própria natureza do fato (...). (Adap-
tado de: ANITUA, Gabriel Ignacio. Histórias dos pensamentos criminológicos. Rio de Janeiro:
Revan, 2008, p. 588)
A teoria criminológica descrita na passagem acima é conhecida por
a) Escola de Chicago.
b) Associação Diferencial.
c) Escola Positivista.
d) Reação Social.
e) Garantismo Penal.

A Teoria da Reação Social, ou Labelling Approach, postula que o crime não existe ontologica-
mente, ou seja, não existe por si só. O conceito de crime é definitorial: ele é resultado dos pro-
cessos de interação na sociedade e, portanto, não se pode compreender o crime prescindindo
do entendimento da própria reação social, que é quem define algo como sendo criminoso. É
decisivo, para compreender o crime, analisar como funcionam os mecanismos sociais que
atribuem o status de delinquente a alguém.
Letra d.

031. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO/REAPLICAÇÃO) O funcionalismo na


criminologia
a) surge com a dogmática contemporânea alemã e suas inovações em matéria de prevenção
do delito.
b) reúne as escolas que se enquadram na crítica à guerra às drogas e o consequente controle
social da pobreza que engendra.
c) opôs-se à Escola Positivista ao propor um modelo social baseado no conflito e no papel do
sistema penal na luta de classes.
d) fundamenta os movimentos de lei e ordem e de tolerância zero surgidos na Europa na dé-
cada de 1980.
e) defende que a pena tem como função a manutenção da coesão e harmonia social em um
quadro social caracterizado pelo consenso.

Para a Criminologia, o funcionalismo corresponde às teorias sociológicas do consenso, que


partem do pressuposto de existência de objetivos comuns a todos os cidadãos que, por sua
vez, aceitam as regras vigentes. As pessoas de um grupo social possuem consenso em torno
de uma série de valores e criam instituições para manter a ordem social. Esse grupo de teorias

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também é chamado de integralista, pois compreende-se que a sociedade é uma estrutura rela-
tivamente estável de elementos, bem integrada e que todo elemento em uma sociedade possui
uma função, contribuindo para a manutenção do sistema. Para Durkheim, expoente da Teoria
da Anomia, o crime é útil e funcional porque permite que a consciência coletiva evolua, porque
reforça a solidariedade da sociedade.
Letra e.

032. (FCC/2018/DPE-RS/DEFENSOR PÚBLICO) A legislação penal brasileira considera típico


o ato de pichação (art. 65 da Lei n. 9.605/98 e Lei n. 12.408/11). Contudo, tal comportamen-
to humano é percebido de formas diversas na sociedade, podendo também ser interpretado
como arte de rua. Nesse sentido, tal interferência na paisagem urbana pode ser compreendida
a partir de uma criminologia
a) iluminista, que afirma o delito como desvio não aceito pelo Rei, que na atualidade é repre-
sentado pelo Estado.
b) fenomenal, que desdobra a história do direito penal e o relaciona às tendências punitivistas
contemporâneas.
c) biológica, que condiciona o conhecimento do ilícito e a capacidade de autodeterminação do
agente à evolução da espécie humana.
d) defensivista, que pretende justificar a criminalização do comportamento ilícito na proteção
dos bens coletivos.
e) cultural, que introduz a estética e a dinâmica da vida cotidiana do século XXI na investigação
criminológica.

A Criminologia Cultural é um desdobramento da Criminologia Crítica que se debruça sobre a


criminalização da cultura diferente na dinâmica da vida cotidiana do século XXI, como a de
grafiteiros, punks, neonazistas, roqueiros, mendigos, prostitutas etc. Jeff Ferrell, nos Estados
Unidos, relatou sua experiência com grafiteiros de Denver no livro Crimes of Style e no artigo
Urban grafitti: crime, control and resistance.
Letra e.

033. (FCC/2016/DPE-ES/DEFENSOR PÚBLICO) Na história da administração penal, várias


épocas podem ser destacadas, durante as quais vigoraram sistemas de punição completa-
mente diferentes. Indenização (penance) e fiança foram os métodos de punição preferidos na
Idade Média. Eles foram sendo gradativamente substituídos por um duro sistema de punição
corporal e capital que, por sua vez, abriu caminho para o aprisionamento, em torno do século
XVII (RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2.ed. Rio de Janeiro:
Revan, 2004, p. 23).
De acordo com o clássico trabalho de Rusche e de Kirchheimer de 1939, é correto afirmar:

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a) A pena de prisão foi tida pelos autores como uma forma positiva de adaptação dos trabalha-
dores ao sistema produtivo, trazendo a ressocialização ao centro do sistema punitivo.
b) O surgimento da prisão como forma hegemônica de punição da modernidade foi uma con-
quista iluminista de humanização das penas frente à barbárie da Idade Média.
c) Os autores podem ser classificados como membros da Escola de Chicago, dominante no
período de publicação da obra.
d) As relações entre mercado de trabalho, sistema punitivo e cárcere são próprios da crimi-
nologia crítica, que surgiu na década de 1960 e foi a principal escola de oposição a Rusche e
Kirchheimer.
e) A pena de prisão é relacionada ao surgimento do capitalismo mercantil, com a consequente
necessidade de disciplina da mão de obra para beneficiar interesses econômicos.

Os alemães Georg Rusche e Otto Kirchheimer, em 1939, na obra Punição e Estrutura Social,
estabeleceram uma relação entre mercado de trabalho e cárcere. Nela, defendiam exatamente
que a pena de prisão é relacionada ao surgimento do capitalismo mercantil, com a consequen-
te necessidade de disciplina da mão de obra para beneficiar interesses econômicos.
a) Errada. A ressocialização não foi trazida para o centro do sistema punitivo com o aprisiona-
mento: para Rusche e Kirchheimer a sociedade capitalista depende da existência de excluídos
e por isso a ressocialização pelo trabalho não consegue ter sucesso. São ideias conflitantes.
b) Errada. O nascimento da prisão como forma hegemônica não foi uma conquista humanista.
Ele se deu porque era necessário encontrar mão de obra para o sistema capitalista. Ou seja, a
hegemonia da prisão não existe em função da necessidade de humanizar as penas, mas por
uma razão econômica.
c) Errada. Rusche e Kirchheimer não são pertencentes à Escola de Chicago, ainda que tenham
publicado a obra em período de pleno florescimento dessa corrente de pensamento.
d) Errada. Não há oposição entre o pensamento de Rusche e Kirchheimer e a Criminologia Críti-
ca. O pensamento dos autores alemães foi redescoberto e difundido pela Criminologia Crítica.
Letra e.

034. (UEG/2018/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA) Sobre o Labelling Approach e sua influên-


cia sobre o pensamento criminológico do século XX, constata-se que
a) a criminalidade se revela como o processo de anteposição entre ação e reação social.
b) recebeu influência decisiva de correntes de origem fenomenológica, tais como o interacio-
nismo simbólico e o behaviorismo.
c) o sistema penal é entendido como um processo articulado e dinâmico de criminalização.
d) parte dos conceitos de conduta desviada e reação social como termos independentes para
determinar que o desvio e a criminalidade não são uma qualidade intrínseca da conduta.

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e) no processo de criminalização seletiva o funcionamento das agências formais de controle


mostra-se autossuficiente e autorregulado.

O Labelling Approach, Teoria da Reação Social ou do Etiquetamento, reconhece o caráter consti-


tutivo do controle social formal, considerado instrumento seletivo e discriminatório. Assim o sis-
tema penal cria a criminalidade, que não existe ontologicamente (por si própria). O sistema penal
não é um conjunto de leis penais, mas sim um processo dinâmico e articulado de criminalização.
a) Errada. A criminalidade não se antepõe à ação e à reação social, mas delas decorre.
b) Errada. O Labelling recebeu influência do interacionismo simbólico, que possui ligações com
a fenomenologia (estudo descritivo dos fenômenos, de tudo o que se pode observar na natu-
reza a partir dos sentidos individuais) social. Mas ele não recebeu influência decisiva do Beha-
viorismo, teoria e método de investigação psicológica que procura examinar de modo mais
objetivo o comportamento humano e dos animais, com ênfase nos fatos objetivos (estímulos
e reações), sem fazer recurso à introspecção.
d) Errada. Os conceitos de conduta desviada e reação social não são independentes, já que,
para o Labelling, é a reação que cria o desvio.
e) Errada. A investigação das agências formais de controle não pode considerá-las como
agências isoladas umas das outras, autossuficientes e autorreguladas. Requer, ao contrário,
uma análise integrada, que permita apreender o funcionamento do sistema de criminalização
como um todo.
Letra c.

035. (FCC/2017/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) A criminologia da reação social


a) concentra seus estudos nos processos de criminalização.
b) corresponde a uma teoria do consenso.
c) explica o comportamento criminoso como fruto de um aprendizado.
d) identificou as subculturas delinquentes.
e) explica a existência do homem criminoso pelo atavismo.

O Labelling Approach, ou Teoria da Reação Social, reconhece o caráter constitutivo do controle


social formal, considerado instrumento seletivo e discriminatório. Deixa de questionar por que
um indivíduo comete crimes, e passa a indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com
o rótulo de desviada. Nesse questionamento, as agências de controle social e os processos
de criminalização que realizam adquirem enorme importância e passam a ser estudados crite-
riosamente. O crime não existe por si só, ontologicamente. O crime deriva desse processo de
criminalização, que nada mais é do que a atribuição da etiqueta de criminoso a certas pessoas
realizada cotidianamente pelas instâncias de controle social formal. Se hoje é comum que haja

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capítulos sobre a Polícia, o Ministério Público, as instituições prisionais, o sistema judiciário


nos livros e manuais de Criminologia, isso, em grande parte, deve-se ao paradigma inaugurado
pelo Labelling Approach, que tanto valor atribuiu aos respectivos papéis na constituição do
delito.
b) Errada. A Teoria da Reação Social insere no grupo de teorias do conflito, e não do consenso.
c) Errada. A principal teoria que explica o comportamento criminoso como fruto de aprendiza-
do foi a Teoria da Associação Diferencial, de Sutherland.
d) Errada. Refere-se à Teoria da Subcultura Delinquente de Albert Cohen.
e) Errada. Coube ao Positivismo, e mais especificamente a Lombroso, a explicação da existên-
cia do homem criminoso pelo atavismo.
Letra a.

036. (MPE-SC/2016/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA) No âmbito das teorias criminológi-


cas, a teoria da subcultura delinquente, originariamente conhecida como “Escola de Chicago”,
assevera que a delinquência surge como resultado da estrutura das classes sociais, que faz
com que alguns grupos aceitem a violência como forma de resolver os conflitos sociais.

A Teoria da Subcultura Delinquente e a Escola de Chicago são teorias distintas. A Escola de


Chicago analisa a criminogênese a partir do estudo dos problemas urbanos das grandes cida-
des. A Teoria da Subcultura Delinquente trata das gangues, que surgem como uma alternativa
para os jovens incapazes de preencher os critérios do sistema de status respeitável na socie-
dade. As subculturas fornecem outros tipos de critérios de status, de modo que eles passam a
poder lidar com esses problemas de ajuste.
Errado.

037. (NC-UFPR/2014/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Em relação às distintas teorias crimi-


nológicas, a ideia de que o “desviante” é, na verdade, alguém a quem o rótulo social de crimino-
so foi aplicado com sucesso foi desenvolvida pela Teoria
a) da anomia.
b) da associação diferencial.
c) da subcultura delinquente.
d) da ecologia criminal.
e) da reação social ou Labelling Approach.

A teoria da reação social ou do Labelling Approach também é conhecida por teoria do etique-
tamento ou da rotulação social porque, entre outros aspectos, estuda o processo de reação do

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controle social formal ao crime e se debruça sobre a questão de como uma etiqueta de crimi-
noso é aplicada, colada, atribuída com sucesso a certos delinquentes.
Letra e.

038. (FCC/2012/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Paulo, executivo do mercado financeiro,


após um dia estressante de trabalho, foi demitido. O mundo desabara sobre sua cabeça. Pe-
gou seu carro e o que mais queria era chegar em casa. Mas o horário era de rush e o trânsito
estava caótico, ainda chovia. No interior de seu carro sentiu o trauma da demissão e só pensa-
va nas dívidas que já estavam para vencer, quando fora acometido de uma sensação terrível:
uma mistura de fracasso, com frustração, impotência, medo etc. Neste instante, sem que nem
porque, apenas querendo chegar em casa, jogou seu carro para o acostamento, onde atropelou
um ciclista que por ali trafegava, subiu no passeio onde atropelou um casal que ali se encon-
trava, andou por mais de 200 metros até bater num poste, desceu do carro meio tonto e não
hesitou, agrediu um motoqueiro e subtraiu a motocicleta, evadindo- se em desabalada carreira,
rumo à sua casa. Naquele dia, Paulo, um pacato cidadão, pagador de impostos, bom pai de
família, representante da classe média-alta daquela metrópole, transformou-se num criminoso
perigoso, uma fera que ocupara as notícias dos principais telejornais. Diante do caso narrado,
identifique dentre as Teorias abaixo, a que melhor analisa (estuda/explica) o caso.
a) Escola de Chicago.
b) Teoria da associação diferencial.
c) Teoria da anomia.
d) Teoria do labelling approach.
e) Teoria crítica.

Questão difícil. O foco da narrativa está nas consequências delitivas da demissão de Paulo.
Ele, integrante da classe média-alta, pensava nas dívidas a pagar, na sensação de frustração,
impotência e medo. Naquele momento, seus objetivos de longo prazo (suas metas, suas com-
pras, suas contas, seus impostos) não podiam mais ser satisfeitos pelos meios disponíveis
(seu salário), já que ele deixava de ter uma renda. Além disso, seu objetivo imediato (chegar
rápido à sua casa) tampouco podia ser satisfeito pelo meio disponível (carro), já que havia
engarrafamento e chuva. Esse distanciamento entre os objetivos e os meios disponíveis para
alcançá-los é o eixo central da teoria da anomia de Robert Merton. Pode-se dizer que, em rela-
ção ao roubo da motocicleta, Paulo agiu com o comportamento de inovação: não aceitou as
regras que limitavam seus meios, e tratou de descumpri-las para alcançar a meta de chegar
logo em casa.
Letra c.

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039. (PC-SP/2012/DELEGADO DE POLÍCIA) O efeito criminógeno da grande cidade, valendo-


-se dos conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos urbanos, é
explicado pela
a) Teoria do Criminoso Nato.
b) Teoria da Associação Diferencial
c) Teoria da Anomia.
d) Teoria do Labelling Aproach.
e) Teoria Ecológica.

Também chamada de teoria da ecologia criminal ou teoria da desorganização social, a escola


de Chicago se dispôs a analisar comportamentos sociais, seitas, grupos, multidões, opinião
pública, criminalidade e outros fenômenos que ocorriam na cidade, cuja população saltou de
4.470 pessoas em 1840 para mais de um milhão de habitantes em 1900.
Letra e.

040. (PC-SP/2012/DELEGADO DE POLÍCIA) Assinale a afirmativa correta.


a) A Escola de Chicago faz parte da Teoria Crítica.
b) O delito não é considerado objeto da Criminologia.
c) A Criminologia não é uma ciência empírica.
d) A Teoria do Criminoso Nato é de Merton.
e) Cesare Lombroso e Raffaelle Garofalo pertencem à Escola Positiva.

Lombroso e Garofalo são dois dos principais expoentes da Escola Positivista italiana.
a) Errada. A Escola de Chicago é uma das teorias do consenso e não faz parte da Teoria Crítica,
que é uma das teorias do conflito.
b) Errada. O delito é um dos objetos da Criminologia, ao lado do delinquente, da vítima e das
instâncias de controle social.
c) Errada. A Criminologia se vale de método empírico, de observação da realidade.
d) Errada. A teoria do criminoso nato foi utilizada sobretudo por Cesare Lombroso.
Letra e.

041. (FCC/2018/CLDF/CONSULTOR LEGISLATIVO DIREITOS HUMANOS) A chamada cri-


minalidade do colarinho branco foi assim designada de forma pioneira no âmbito da teoria
criminológica
a) da criminologia crítica, a partir dos estudos de Baratta.
b) do labelling aproach, a partir da obra de Becker.
c) da associação diferencial, a partir da obra Shutterland.

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d) da discriminação simbólica, a partir da obra de Crane.


e) do cálculo racional, a partir dos estudos de Forman.

Edwin Sutherland (e não Shutterland!), defensor da teoria da associação diferencial, cunhou a


expressão crime de colarinho branco (“white collar crime”). Utilizou-a por primeira vez em um
discurso de 1939. Trata-se do crime cometido no âmbito da profissão por uma pessoa de res-
peitabilidade e elevado estatuto social.
Letra c.

042. (VUNESP/2017/DPE-RO/DEFENSOR PÚBLICO SUBSTITUTO) É possível encontrar re-


latos em reportagens jornalísticas e em investigações criminais de situações em que teori-
camente o poder do Estado não alcança, exemplo é a teoria de que organizações criminosas
mantêm “códigos de condutas” próprios e que execuções de integrantes das facções são con-
sideradas “justas” dada a gravidade das “infrações” praticadas dentro das citadas “regras”.
Também é possível, ao ouvir uma música com a expressão “é melhor viver pouco como um rei
do que muito como um Zé”, ter a ideia de que o crime compensaria, pois se fossem respeitadas
as regras sociais, a maioria dos jovens não conseguiria alcançar uma condição de vida satis-
fatória diante da falta de oportunidades para a ascensão social.
Os fatos sugeridos podem ser usados como exemplos de quais teorias criminológicas, tam-
bém chamadas de teorias do consenso?
a) Ecologia do Crime e Desorganização Cultural.
b) Labelling Approach e Reorganização Cultural.
c) Aculturação e Reação História.
d) Distanciamento e Associação Diferencial.
e) Subcultura Delinquente e Anomia.

A Teoria da Subcultura Delinquente pode ser usada para explicar as regras próprias das fac-
ções criminosas, pois é uma teoria que explica o florescimento de gangues nos bairros deli-
tivos das grandes cidades americanas. As gangues aceitam alguns valores predominantes,
mas também expressam sentimentos e crenças exclusivos de seus grupos (regras próprias,
códigos de conduta próprios). E a teoria da anomia, sobretudo a de Robert Merton, se dedica
a explicar as consequências criminológicas desse descompasso entre objetivos (condição de
vida satisfatória) e meios (oportunidades para a ascensão social).
Letra e.

043. (FAPEMS/2017/PC-MS/DELEGADO DE POLÍCIA) Tendo como premissa o estudo da


Teoria Criminológica da Anomia, analise o problema a seguir.

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O senhor X, 55 anos, bancário desempregado, encontrou, como forma de subsistência própria


e da família, trabalho na contravenção (apontador do jogo do bicho em frente à rodoviária da
cidade). Por lá permaneceu vários meses, sempre assustado com a presença da polícia, mas
como nunca sofreu qualquer repreensão, inclusive tendo alguns agentes como clientes dentre
outras autoridades da cidade, continuou sua labuta diária. Y, delegado de polícia, recém-chega-
do à cidade, ao perceber a prática contravencional, a despeito da tolerância de seus colegas,
prende X em flagrante. No entanto, apenas algumas horas após sua soltura, X retornou ao
antigo ponto continuando a receber apostas diárias de centenas de pessoas da comunidade.
Assinale a alternativa correta correspondente a esse caso.
a) A teoria da anomia advém do funcionalismo penal, que defende a pertinência da norma
enquanto reconhecida pela sociedade como necessária para a solução dos conflitos sociais,
tendo sido arbitrária a conduta do delegado.
b) A anomia, no contexto do problema, dá-se pelo enfraquecimento da norma, que já não in-
fluencia o comportamento social de reprovação da conduta, quando a sociedade passa a acei-
tá-la como normal.
c) A atitude dos demais policiais caracteriza o poder de discricionariedade legítimo do agente
de segurança pública, diante da anomia social caracterizada da norma que perde vigência pela
ausência de funcionalidade.
d) A atitude do delegado expressa a representação da teoria da anomia, em que a norma não
perde sua força de coerção social, pois, somente revogada por outra norma, independente do
comportamento do infrator.
e) A teoria da anomia não tem aplicação no caso em análise, pois sob o aspecto criminológico é
necessário que estejam presentes no estudo do fenômeno o delinquente, a vítima e a sociedade.

A anomia, para Durkheim, é o estado de desregramento ou desintegração das normas sociais,


produzindo uma situação de transgressão ou de pouca coesão. São, por exemplo, aquelas si-
tuações em que não se sabe quais as normas vigentes ou em que uma norma positivada deixa
de ser amplamente observada pela sociedade. No caso concreto descrito na questão, a proibi-
ção do jogo do bicho é uma norma que se desintegrou. A situação está desregrada, anômica,
apesar de não ter havido revogação expressa do tipo penal que proíbe o jogo do bicho.
a) Errada. A conduta do delegado foi conforme a lei, portanto não se pode dizer que foi arbitrá-
ria. E a teoria da anomia não advém do funcionalismo penal (ela é uma teoria do funcionalismo
criminológico).
c) Errada. Os demais policiais tinham, em teoria, diante de uma ilegalidade, o dever de fazer
cumprir a lei, não havendo que se falar em discricionariedade. Afinal, discricionariedade é uma
margem de liberdade que o servidor público tem para eleger, segundo critérios consistentes de
razoabilidade, um dentre pelo menos dois comportamentos cabíveis perante cada caso con-

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creto. Ignorar um ato ilícito não é, ao menos não em teoria, para um policial, uma atitude que
se encaixe na margem de discricionariedade.
d) Errada. Em uma situação de anomia a norma perde, sim, sua capacidade de regrar a socie-
dade, sua capacidade de coerção.
e) Errada. A teoria da anomia, que fala dessas situações em que as normas perdem a capaci-
dade de regrar os comportamentos, aplica-se ao caso em análise.
Letra b.

044. (FCC/2012/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Com o surgimento das Teorias Sociológicas


da Criminalidade (ou Teorias Macrossociológicas da Criminalidade), houve uma repartição
marcante das pesquisas criminológicas em dois grupos principais. Essa divisão leva em con-
sideração, principalmente, a forma como os sociólogos encaram a composição da sociedade:
Consensual (Teorias do consenso, funcionalistas ou da integração) ou Conflitual (Teorias do
conflito social). Neste contexto são consideradas Teorias Consensuais:
a) Escola de Chicago, Teoria da Anomia e Teoria da Associação Diferencial.
b) Teoria da Anomia, Teoria Crítica e Teoria do Etiquetamento.
c) Teoria Crítica, Teoria da Anomia e Teoria da Subcultura Delinquente.
d) Teoria do Etiquetamento, Teoria da Associação Diferencial e Escola de Chicago.
e) Teoria da Subcultura Delinquente, Teoria da Rotulação e Teoria da Anomia.

A Escola de Chicago, a Teoria da Anomia e a Teoria da Associação Diferencial são teorias


consensuais.
b/c/d/e) Erradas. A Teoria Crítica e a Teoria do Etiquetamento (ou Teoria da Rotulação, ou La-
belling Approach) inserem-se no grupo de teorias conflituais.
Letra a.

045. (PC-SP/2012/DELEGADO DE POLÍCIA) Assinale a alternativa incorreta. A Teoria do


Etiquetamento
a) é considerada um dos marcos das teorias de consenso.
b) é conhecida como Teoria do Labelling Aproach.
c) tem como um de seus expoentes Ervinh Goffman.
d) tem como um de seus expoentes Howard Becker.
e) surgiu nos Estados Unidos.

A teoria do etiquetamento – também conhecida como teoria do Labelling Approach – nasceu


nos EUA e tem como expoentes Becker e Goffman. Ela é uma teoria que se encaixa no marco
das teorias criminológicas do conflito.
Letra a.

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046. (UEG/2018/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA) Em Vigiar e Punir, Michel Foucault (1926–


1984) aborda a transformação dos métodos punitivos a partir de uma tecnologia do corpo,
dentre cujos aspectos fundamentais destaca-se
a) a coexistência entre diversas economias políticas do castigo, mas, fundamentalmente, a
mudança qualitativa que representou substituição do carcerário pelo patibular.
b) o pensamento criminológico centrado na figura do homem delinquente, o que constitui a
força motriz para o surgimento e consolidação da prisão como mecanismo de controle.
c) o cumprimento dos fins declarados da pena de prisão na medida em que separa os espaços
sociais livres de castigo e os que devem ser objeto da repressão estatal.
d) o abandono completo do suplício corporal como tecnologia encarceradora que passa ser
utilizada a partir do século XIX.
e) o cárcere como dispositivo preponderante sobre o qual se ergue a sociedade disciplinar.

Questão difícil. Foucault, em Vigiar e Punir, não faz, ele mesmo, uma criminologia do homem
delinquente. Passa muito longe disso. O que a banca quis dizer é que Foucault aborda a trans-
formação dos métodos punitivos a partir de uma tecnologia do corpo, e que, em sua aborda-
gem, ele considera que a Criminologia do século XIX, centrada na figura do homem delinquen-
te, constitui força motriz para a consolidação da prisão como mecanismo de controle. Afinal,
naquela época, o mundo estava preocupado com o controle do corpo. Não se trata de cuidar
do corpo, mas de esquadrinhá-lo detalhadamente, de exercer sobre ele uma coerção sem fol-
ga. Essa é a ideia do corpo dócil: um corpo que se analisa, que se manipula, que se modela,
que se treina, que obedece ao adestramento. Esse corpo que se esquadrinha é um conceito
que se potencializa com a Escola Positivista, do século XIX. Para que isso funcione, é neces-
sário atentar aos detalhes: inspeções minuciosas, regulamentos detalhados e controle das
mínimas parcelas da vida e do corpo começam a ter lugar. Ganha força, então, a ideia de poder
disciplinar e de sociedade disciplinar, onde o cárcere desempenha importante papel. As tipo-
logias positivistas foram cruciais na dinâmica de criar o delinquente (uma unidade biográfica,
núcleo de periculosidade, dotado de anomalia) e colocá-lo no lugar do infrator (mero autor de
um fato). Por isso, para Foucault, a técnica penitenciária e o homem delinquente são irmãos
gêmeos, que surgiram juntos e que ajudam a formar, nos subterrâneos do aparelho judiciário,
a delinquência, em substituição à mera infração.
a) Errada. Foucault fala exatamente do contrário, substituição do patibular (suplício) pelo cárcere.
c) Errada. Ele não argumenta que os fins declarados (ressocialização, por exemplo) da pena
de prisão sejam cumpridos.
d) Errada. O suplício corporal não foi completamente abandonado com o cárcere. Ainda que
não sejam necessariamente empregados castigos violentos e sangrentos, trata-se, ainda, do
corpo do condenado: da sua utilidade, da sua docilidade, da sua submissão. Há uma tecnolo-
gia política do corpo: uma microfísica do poder que sabe muito sobre o corpo e que controla
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suas forças. O discurso de que a nova punição é sobre a alma não consegue mascarar que
continua a haver, sobretudo com a disseminação da pena privativa de liberdade, uma pesada
tecnologia do poder sobre o corpo.
e) Errada. Que induz muita gente a erro, quando fala do nascimento do poder disciplinar, Fou-
cault não se refere especificamente às prisões. Ele exemplifica com a vida nos quarteis, insti-
tuições médicas, escolares e industriais, instituições onde começa de fato a se erguer o poder
disciplinar. Mas ele demonstra que, com o passar do tempo, o cárcere se revela uma importan-
te ferramenta para implementar o poder disciplinar.
Letra b.

047. (FUMARC/2018/PC-MG/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO) Sobre a relação entre o


preso e a sociedade, segundo Alessandro Baratta, é CORRETO afirmar:
a) A reinserção do preso na sociedade, após o cumprimento da pena, é assegurada a partir do
momento em que, no cárcere, o preso absorve um conjunto de valores e modelos de compor-
tamento desejados socialmente.
b) É necessário primeiro modificar os excluídos, para que eles possam voltar ao convívio social
na sociedade que está apta a acolhê-los.
c) O cárcere não reflete as características negativas da sociedade, em razão do isolamento a
que são submetidos os presos.
d) São relações sociais baseadas no egoísmo e na violência ilegal, no interior das quais os in-
divíduos socialmente mais débeis são constrangidos a papéis de submissão e de exploração.

Para Baratta, as relações entre o preso e a sociedade são perversas, porque reafirmam e apro-
fundam a marginalização social, num mecanismo egoísta, fruto de uma sociedade capitalista,
e violento, permeado de privações e ilegalidades. O sistema penal ajuda a reproduzir e assegu-
rar as relações sociais verticalizadas. Ele cria contraestímulos à integração dos setores mais
baixos e marginalizados do proletariado e é orientando para atingir as formas de desvio des-
ses grupos socialmente mais débeis.
a) Errada. Baratta é absolutamente crítico do cárcere. Ele diz que têm se mostrado infrutíferas
as tentativas de socialização e de reinserção através dessas instituições. Nas prisões, cha-
mam a atenção o constante regime de privações a que são submetidos os condenados e o
processo negativo de socialização. Trata-se de um processo de socialização em que há des-
culturação, isto é, desadaptação às condições necessárias para a vida em liberdade, e acultu-
ração ou prisionalização, que é a assunção de atitudes e modelos de comportamento típicos
da subcultura carcerária.
b) Errada. O mais importante para Baratta é modificar a sociedade capitalista excludente.
c) Errada. Os institutos de detenção são o momento culminante do mecanismo de marginali-
zação, refletindo, portanto, as características negativas da sociedade.
Letra d.

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048. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO) Trata-se da assunção das atitudes, dos mo-


delos de comportamento, dos valores característicos da subcultura carcerária. Estes aspectos
da subcultura carcerária, cuja interiorização é inversamente proporcional às chances de rein-
serção na sociedade livre, têm sido examinados sob o aspecto das relações sociais e de poder,
das normas, dos valores, das atitudes que presidem estas relações, como também sob o ponto
de vista das relações entre os detidos e o staff da instituição penal (BARATTA, Alessandro.
Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002, p. 184–185).
O fenômeno retratado pelo trecho acima é chamado de
a) criminalização da pobreza.
b) prisionização.
c) direito penal do inimigo.
d) criminologia crítica.
e) encarceramento em massa.

O processo de socialização do preso contém uma faceta de desculturação e outra de prisio-


nalização (ou prisionização), também chamada de aculturação. A prisionização é a assunção
de atitudes, modelos e valores característicos da subcultura carcerária. Quanto mais interio-
rizados os valores dessa nova subcultura, menor são as chances de reinserção na sociedade
posteriormente.
Letra b.

049. (FCC/2017/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Com fundamento no ensinamento de Michel


Foucault sobre panoptismo, é correto afirmar:
a) A localização GPS inserida em fotos de pessoas tiradas de celulares juntamente ao reconhe-
cimento facial automatizado permite um controle de deslocamento constante e invisível des-
sas pessoas, porém não é um exemplo de panóptico por não se poder visualizar quem o exerce.
b) A indefinição do ponto de vigilância, de quem vigia e de quem aplicará eventual sanção
normalizadora é considerada uma falha no sistema panóptico e exige correção, por via de pro-
cedimento de exame.
c) Há distinção entre panoptismo e sistema panóptico, sendo que este último apenas pode ser
operado via instâncias disciplinadoras oficiais do Estado, como as escolas e prisões.
d) O monitoramento eletrônico de presos, via colocação de tornozeleiras eletrônicas com SIM
Cards, é exemplo de panoptismo, cuja função de vigilância é exercida com auxílio de um sof-
tware de georrastreamento.
e) A arquitetura panóptica refere-se unicamente a estruturas físicas de edifícios (prisões, es-
colas, hospitais etc.), não se cogitando que sistemas de informação sejam arquitetados para
operar em panoptismo.

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O panóptico, originalmente, é um sistema arquitetônico para presídios: de uma torre central,


todos os corredores radiais seriam observados. No panoptismo penal há vigilância permanen-
te. Hoje, o conceito de panoptismo extrapolou a ideia de sistema arquitetônico prisional. Ele é
aplicado também com referência a sistemas de informações que permitem localizar, observar
a vida dos cidadãos e, mais especificamente, dos condenados monitorados com medidas al-
ternativas, como tornozeleiras eletrônicas, que permitem à Justiça criminal saber em tempo
real onde está o réu.
a/b) Erradas. Faz parte do conceito de panoptismo não saber quem exerce o controle. O efeito
mais importante do panóptico é induzir no detento um estado consciente e permanente de visi-
bilidade que assegura o funcionamento automático de poder, ainda que o detento não visualize
quem o exerce.
c) Errada. Essa distinção inexiste na literatura. O panoptismo é a situação gerada pelo emprego
do sistema panóptico.
e) Errada. O panoptismo extrapolou os muros prisionais. Os sistemas de informação operam
em panoptismo na atualidade.
Letra d.

050. (FCC/2015/DPE-SP/DEFENSOR PÚBLICO) “O atestado de que a prisão fracassa em redu-


zir os crimes deve talvez ser substituído pela hipótese de que a prisão conseguiu muito bem
produzir a delinquência, tipo especificado, forma política ou economicamente menos perigosa
− talvez até utilizável − de ilegalidade; produzir delinquentes, meio aparentemente marginaliza-
do mas centralmente controlado; produzir o delinquente como sujeito patologizado”.
O trecho acima, extraído de Vigiar e Punir, sintetiza uma importante conclusão de Michel Fou-
cault decorrente de suas análises sobre a prisão como uma instituição disciplinar moderna.
Para o autor, a prisão permite
a) objetivar a delinquência por trás da infração e consolidar a delinquência no movimento das
ilegalidades.
b) classificar a delinquência em suas categorias e erradicar a delinquência do meio social.
c) reduzir a delinquência através do controle e controlar a delinquência por meio da repressão.
d) combater a delinquência por meio da punição e erradicar a delinquência do meio social.
e) controlar a delinquência por meio da repressão e diferenciar a delinquência da periculosidade.

Para Foucault, o sistema penitenciário revela a delinquência por trás da infração. O panoptis-
mo penitenciário é um sistema de documentação individualizante e permanente sobre o pre-
so: tudo é visto, registrado e se transforma em saber sobre aquele corpo, saber que regula a
prática carcerária. A partir do momento em que o infrator é condenado, ele passa a ser objeto
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desse saber. O aparelho penitenciário efetua uma substituição: das mãos da justiça ele rece-
be um condenado (ou infrator), mas no lugar do condenado ele coloca o delinquente, que é o
indivíduo a ser conhecido, analisado, retreinado. O condenado ou infrator é caracterizado pelo
ato que cometeu. O delinquente, pela sua vida. Ou seja, por trás da infração (um ato), existe a
delinquência (uma vida), que o aparelho penitenciário desvenda. Além disso, para Foucault, a
prisão serve para demarcar a delinquência no campo maior das ilegalidades. A prisão não se
destina a suprimir infrações, mas sim a distingui-las, distribuí-las e utilizá-las. A penalidade é
uma maneira de gerir as ilegalidades, de traçar limites de tolerância, deixando algumas pes-
soas dentro da economia geral das ilegalidades, e excluindo outras. Ela demarca qual a forma
particular de ilegalidade sobre a qual quer jogar luz. A delinquência é a ilegalidade que o siste-
ma carcerário recortou e organizou.
b/d) Erradas. A prisão não permite erradicar a delinquência do meio social.
c) Errada. A prisão não permite reduzir a delinquência. Foucault, ao explicar que a prisão tem
sido denunciada como o grande fracasso da justiça penal, recorda que elas não diminuem a
taxa de criminalidade. Em realidade, fabricam delinquentes.
e) Errada. A delinquência e a periculosidade estão conectadas para Foucault. As tipologias po-
sitivistas foram cruciais na dinâmica de criar o delinquente, uma unidade biográfica, núcleo de
periculosidade, dotado de anomalia. Por isso, para Foucault, a técnica penitenciária e o homem
delinquente são irmãos gêmeos, que surgiram juntos e que ajudam a formar, nos subterrâneos
do aparelho judiciário, a delinquência, em substituição à mera infração.
Letra a.

051. (MPE-SC/2013/PROMOTOR DE JUSTIÇA/MANHÃ) Os principais postulados do La-


belling Approach são o interacionismo simbólico e construtivismo social; a introspecção sim-
patizante como técnica de aproximação da realidade criminal para compreendê-la a partir do
mundo do desviado e captar o verdadeiro sentido que ele atribui a sua conduta; a natureza
“definitorial” do delito; o caráter constitutivo do controle social; a seletividade e discriminatorie-
dade do controle social; o efeito criminógeno da pena e o paradigma do controle.

Pergunta difícil! Todos os postulados enunciados se enquadram no Labelling Approach:


1. Interacionismo simbólico e construtivismo social (o saber criminológico passa necessa-
riamente pelo conhecimento de todas as partes envolvidas no processo de interação social
e o conceito que um indivíduo tem de si mesmo, de sua sociedade e da situação que nela
representa – como ele se constrói socialmente e como simboliza essas interações –, é ponto
importante do significado genuíno da conduta criminal);
2. Introspecção simpatizante como técnica de aproximação da realidade criminal para com-
preendê-la a partir do mundo do desviado e captar o verdadeiro sentido que ele atribui a sua

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conduta (os teóricos do labelling defendem que é necessário tentar ver o mundo com os olhos
do desviado);
3. Natureza “definitorial” do delito (o caráter delitivo de uma conduta e de seu autor não é
ontológico, ou seja, não existe isoladamente, mas depende de certos processos sociais de
definição, que lhe atribuem tal caráter, e de seleção, que etiquetam o autor como delinquente);
4. Caráter constitutivo do controle social (a criminalidade é criada, constituída, pelo controle
social, que seleciona condutas e etiqueta seus autores);
5. Seletividade e discriminatoriedade do controle social (o controle social é altamente dis-
criminatório e seletivo, pois seleciona sua clientela sempre dos mesmos estratos e grupos
sociais);
6. Efeito criminógeno da pena (a pena potencializa e perpetua a desviação, consolidando o des-
viado em um status de delinquente, gerando estereótipos e etiologias que se supõe que pretende
evitar. O condenado assume uma nova imagem de si mesmo, redefinindo sua personalidade em
torno do papel de desviado, desencadeando-se a denominada desviação secundária);
7. Paradigma de controle (a criminologia passa a se dedicar ao estudo das instâncias de con-
trole social formal, isto é, do processo de definição e seleção que atribui a etiqueta de delin-
quente a um indivíduo).
Certo.

052. (FCC/2012/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Um dos instrumentos do poder disciplinar,


caracterizado por Michel Foucault em seu livro Vigiar e Punir, consiste em uma forma de puni-
ção que é, ao mesmo tempo, um exercício das condutas dos indivíduos. Este instrumento da
disciplina é denominado, pelo autor,
a) pena capital.
b) sanção normalizadora.
c) execução normativa.
d) sanção repressora.
e) poder soberano.

A sanção normalizadora é, ao lado da vigilância e do exame, um dos pilares da disciplina para


Foucault e consiste em um sistema instituído para corrigir e reduzir desvios.
Letra b.

053. (FCC/2013/AL-PB/PROCURADOR) A avaliação do espaço urbano é especialmente im-


portante para compreensão das ondas de distribuição geográfica e da correspondente produ-
ção das condutas desviantes. Este postulado é fundamental para compreensão da corrente de
pensamento, conhecida na literatura criminológica, como

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a) teoria da anomia.
b) escola de Chicago.
c) teoria da associação diferencial.
d) criminologia crítica.
e) Labelling Approach.

A teoria ecológica da Escola de Chicago se dedicou a analisar as cidades, as zonas urbanas


onde a criminalidade está distribuída e o impacto criminógeno que a desorganização social
urbana possui.
Letra b.

054. (VUNESP/2018/PC-BA/DELEGADO DE POLÍCIA) Em relação ao conceito de crime, de


criminoso e de pena nas diversas correntes do pensamento criminológico e ao desenvolvimen-
to científico de seus modelos teóricos, é correto afirmar:
a) A criminologia científica nasceu no ambiente do século XVIII, recebendo contribuições da
Escola Positivista, mas ganhando contornos mais precisos com a Escola Clássica.
b) A criminologia crítica compreende que a finalidade da sociedade é atingida quando há um
perfeito funcionamento das suas instituições, de forma que os indivíduos compartilhem as
regras sociais dominantes.
c) As teorias desenvolvidas nas escolas positivistas a partir do método dedutivo buscaram
maximizar as garantias individuais na persecução penal e fora dela.
d) No pensamento criminológico das escolas clássicas, identifica-se uma grande preocupação
com os conceitos de crime e pena como entidades jurídicas e abstratas de modo a estabelecer
a razão e limitar o poder de punir do Estado.
e) Os modelos teóricos de integração que compõem a criminologia tradicional partem da pre-
missa de que toda a sociedade está, a cada momento, sujeita a processos de mudança, exi-
bindo dissensão e conflito, haja vista que todo elemento em uma sociedade contribui, de certa
forma, para sua desintegração e mudança. Sendo assim, a sociedade é baseada na coerção de
alguns de seus membros por outros.

Os clássicos consideram que o crime é, antes de tudo, um ente jurídico. A Escola Clássica se preo-
cupou, pela primeira vez, em fundamentar, delimitar e legitimar a pena. Em substituição ao sistema
penal caótico e desumano do Antigo Regime, a Escola Clássica forneceu um panorama legislativo
humanitário e racional, mostrando que a pena poderia e deveria ser útil, justa e proporcional.
a) Errada. Os positivistas, no século XIX, deram contornos mais precisos à Criminologia
como ciência.

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b) Errada. A Criminologia Crítica é uma teoria do conflito que, com viés predominantemen-
te marxista, enxerga no modo de vida capitalista as razões para a prática criminal, fazendo
duras críticas às teorias do consenso e às ideias de existência de objetivos comuns a todos
os cidadãos.
c) Errada. As teorias positivistas eram indutivas.
e) Errada. Os modelos de integração são os modelos de consenso, que não falam de coerção,
dissensão e conflito. Para os modelos de integração, as pessoas de um grupo social possuem
consenso em torno de uma série de valores e criam instituições para manter a ordem social.
Letra d.

055. (INSTITUTO ACESSO/2019/PC-ES/DELEGADO DE POLÍCIA) O pensamento criminoló-


gico moderno, de viés macrossociológico, é influenciado pela visão de cunho funcionalista
(denominada teoria da integração, mais conhecida por teorias do consenso) e de cunho argu-
mentativo (denominada por teorias do conflito). É correto afirmar que:
a) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferen-
cial, a teoria da subcultura do delinquente e a teoria do etiquetamento.
b) São exemplos de teorias do conflito a teoria de associação diferencial a teoria da anomia, a
teoria do etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
c) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferen-
cial, a teoria da anomia e a teoria da subcultura do delinquente.
d) São exemplos da teoria do consenso a teoria de associação diferencial, a teoria da anomia,
a teoria do etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
e) São exemplos da teoria do conflito a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial,
a teoria da anomia e a teoria da subcultura do delinquente.

A Escola de Chicago; as Teorias do Aprendizado, aí incluída a Teoria da Associação Diferencial;


a Teoria da Anomia; e a Teoria da Subcultura Delinquente são teorias do consenso, também
chamadas de funcionalistas ou de integração. A Teoria do Etiquetamento e a Teoria Crítica (ou
radical) são teorias do conflito ou argumentativas.
Letra c.

056. (INSTITUTO ACESSO/2019/PC-ES/DELEGADO DE POLÍCIA) Os modelos sociológicos


contribuíram decisivamente para um conhecimento realista do problema criminal demonstran-
do a pluralidade de fatores que com ele interagem. Leia as afirmativas a seguir, e marque a
alternativa INCORRETA:
a) As teorias conflituais partem da premissa de que o conflito expressa uma realidade patológica
da sociedade sendo nocivo para ela na medida em que afeta o seu desenvolvimento e estabilidade.

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b) As teorias ecológicas partem da premissa de que a cidade produz delinquência, valendo-se


dos conceitos de desorganização e contágio social inerentes aos modernos núcleos urbanos.
c) As teorias subculturais sustentam a existência de uma sociedade pluralista com diver-
sos sistemas de valores divergentes em torno dos quais se organizam outros tantos grupos
desviados.
d) As teorias estrutural-funcionalistas consideram a normalidade e a funcionalidade do crime
na ordem social, menosprezando o componente biopsicopatológico no diagnóstico do proble-
ma criminal.
e) As teorias de aprendizagem social sustentam que o comportamento delituoso se aprende
do mesmo modo que o indivíduo aprende também outras atividades lícitas em sua interação
com pessoas e grupos.

As teorias conflituais não falam de patologia. Elas partem do pressuposto de que há força e
coerção na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e sujeição de ou-
tros. A sociedade está sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento da sociedade
contribui, de certa forma, para sua desintegração. Para essas teorias o crime faz parte da luta
pelo poder.
Letra a.

057. (MPE-SC/2019/PROMOTOR DE JUSTIÇA) A criminologia crítica é elaborada com base


em uma interpretação da realidade realizada a partir de um ponto de vista marxista. Trata-se
de uma proposta política que considera que o sistema penal é ilegítimo, e seu objetivo é a des-
construção desse sistema.

Também chamada de Nova Criminologia ou Criminologia Radical, as teorias de Criminologia


Crítica nascem com forte apelo às ideias de Karl Marx. Para os autores críticos, há relação dire-
ta entre o modo de produção capitalista e o funcionamento dos modos punitivos. Não se trata
mais de descobrir as razões da delinquência ou de lutar contra o crime, mas sim de abolir as
desigualdades sociais para equacionar o fenômeno delitivo. O sistema legal é um instrumento
a serviço da classe dominante para oprimir a classe trabalhadora. Em virtude da descrença no
papel desempenhado pelas instâncias de controle social formal, que são seletivas, discrimina-
tórias e estigmatizantes, possuem um postulado abolicionista, ou seja, de desconstrução do
sistema penal.
Certo.

058. (VUNESP/2018/PC-BA/DELEGADO DE POLÍCIA) No tocante às teorias da subcultura


delinquente e da anomia, assinale a alternativa correta.

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a) Uma das principais críticas às teorias da subcultura delinquente é a de que ela não conse-
gue oferecer uma explicação generalizadora da criminalidade, havendo um apego exclusivo a
determinado tipo de criminalidade, sem que se tenha uma abordagem do todo.
b) A teoria da anomia, sob a perspectiva de Durkheim, define-se a partir do sintoma do vazio
produzido no momento em que os meios socioestruturais não satisfazem as expectativas cul-
turais da sociedade, fazendo com que a falta de oportunidade leve à prática de atos irregulares
para atingir os objetivos almejados.
c) A teoria da anomia, sob a perspectiva de Merton, define-se a partir do momento em que a
função da pena não é cumprida, por exemplo, instaura-se uma disfunção no corpo social que
desacredita o sistema normativo de condutas, fazendo surgir a anomia. Portanto, a anomia
não significa ausência de normas, mas o enfraquecimento de seu poder de influenciar condu-
tas sociais.
d) O utilitarismo da ação é um dos fatores que caracterizam a subcultura deliquencial sob a
perspectiva de Albert Cohen.
e) O sentimento de impunidade vivenciado por uma sociedade é antagônico ao conceito de
anomia identificado sob a ótica de Durkheim.

Por ter focado na criminalidade juvenil dos subgrupos (gangues, facções), uma das críticas
mais frequentes sobre a teoria da subcultura é exatamente a de não ter conseguido fornecer
uma explicação mais abrangente da criminalidade.
b) Errada. A teoria da anomia apresentada é de Robert Merton.
c) Errada. A teoria da anomia apresentada é a de Durkheim.
d) Errada. O correto seria “não-utilitarismo”.
e) Errada. O sentimento de impunidade é convergente com o conceito de anomia de Durkheim,
que significa desintegração de normas, como por exemplo no caso que normas punitivas que
deixam de ser aplicadas, abrindo espaço para a impunidade.
Letra a.

059. (FUMARC/2018/PC-MG/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO) Sobre o sistema penal


e a reprodução da realidade social, segundo Alessandro Baratta, é CORRETO afirmar:
a) A cada sucessiva recomendação do menor às instâncias oficiais de assistência e de con-
trole social corresponde uma diminuição das chances desse menor ser selecionado para uma
“carreira criminosa”.
b) A homogeneidade do sistema escolar e do sistema penal corresponde ao fato de que reali-
zam, essencialmente, a mesma função de reprodução das relações sociais e de manutenção
da estrutura vertical da sociedade.
c) A teoria das carreiras desviantes, segundo a qual o recrutamento dos “criminosos” se dá nas
zonas sociais mais débeis, não é confirmada quando se analisa a população carcerária.

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d) O suficiente conhecimento e a capacidade de penetração no mundo do acusado por parte


do juiz e das partes no processo criminal são favoráveis aos indivíduos provenientes dos es-
tratos econômicos inferiores da população.

Para Baratta, o sistema escolar – assim como o sistema penal – ajuda a refletir a estrutura ver-
tical e hierarquizada da sociedade. Há homogeneidade entre eles, porque operam de maneira
similar. As sanções escolares negativas, tais como repetição de anos, notas baixas em provas,
expulsões etc., são muito maiores quando se desce aos níveis inferiores da escala social.
Começa-se a perceber que as técnicas de seleção baseadas em testes de coeficientes de in-
teligência ou no conceito de mérito não são neutras. Afinal, os alunos provenientes de classes
mais baixas têm enorme dificuldade de se adaptarem ao mundo escolar, que é estranho a eles,
em função, por exemplo, do uso de regras de comportamento e linguagem bastante diferentes
das normas de seus grupos de origem. E aí, diante dessas dificuldades, advêm sanções nega-
tivas que refletem o quanto a escola é um instrumento de transmissão da cultura dominante.
Letra b.

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Mariana Barreiras

Servidora pública federal desde 2009. Graduada em Direito e Mestre em Direito Penal e Criminologia pela
Universidade de São Paulo (USP). Professora de Legislação de Interesse da Atividade de Inteligência, Direito
Penal e Criminologia em cursos preparatórios para concurso público. Autora do livro “ABIN - Legislação de
Inteligência Sistematizada e Comentada”, publicado pela editora JusPodivm. Foi Assessora Técnica da
Comissão Nacional da Verdade da Presidência da República (2012 a 2014). Foi Agente de Promotoria do
Ministério Público do Estado de São Paulo (2006-2009). Lecionou as disciplinas Direito Penal e Criminologia
na Faculdade de Direito da USP, dentro do Programa de Aperfeiçoamento do Ensino. Foi membro de diversas
coordenações do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, tendo orientado pesquisas do Laboratório de
Iniciação Científica. Coautora do livro “Criminologia e os problemas da atualidade” e autora de artigos nos
temas de Direito Penal e Criminologia.

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