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INTRODUÇÃO..............................................................................................................

1. Diferenciação entre Dogmática e Zetética.......................................................3

2. Modelo Tripartido das Ciências Criminais........................................................3

3. Funções da Criminologia..................................................................................4

4. Criminologia e Delegado de Polícia.................................................................5

CONCEITOS CRIMINOLÓGICOS BÁSICOS...............................................................6

1. Crime................................................................................................................6

1.2. Requisitos..............................................................................................6

1.3. Criminalização.......................................................................................6

1.4. Prevenção.............................................................................................7

2. Criminoso..........................................................................................................7

3. Vítima................................................................................................................7

3.1. Fases da Vítima na Persecução Penal.................................................8

3.2. Vitimização............................................................................................8

4. Controle Social.................................................................................................8

4.1. Modelos de Resposta ao Delito............................................................9

ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS...................................................................................10

1. Escola Clássica da Criminologia (Etapa Pré-Científica da Criminologia)......10

1.1. Formação do Estado Absolutista........................................................10

1.2. Inquisição............................................................................................10

1.3. As Penas do Antigo Regime...............................................................11

1.4. Iluminismo...........................................................................................11

1.5. Escola Clássica da Criminologia.........................................................11

2. Positivismo Criminológico...............................................................................12

2.1. Imperialismo........................................................................................12

2.2. Antecedentes Científicos....................................................................12


2.3. Principais Teóricos..............................................................................13

2.4. Postulados..........................................................................................14

2.5. Resquícios do Positivismo..................................................................14

3. Teorias Sociológicas (Sociologia Criminal)....................................................15

3.1. Teorias do Consenso (Etiológicas, Explicativas)................................15

3.1.1. Escola de Chicago...................................................................15

3.1.2. Teoria da Subcultura Delinquente...........................................17

3.1.3. Teoria da Anomia....................................................................19

3.1.4. Teoria da Associação Diferencial............................................20

3.2. Teorias do Conflito (Interacionistas)...................................................24

3.2.1. Labelling Approach (Teoria do Etiquetamento).......................24

3.2.2. Criminologia Crítica.................................................................27

VITIMOLOGIA.............................................................................................................33

1. CONCEITO.....................................................................................................33

1.1. Conceito de Vítima..............................................................................33

1.2. Fases da Vítima..................................................................................33

1.3. Vitimização..........................................................................................33

2. EVOLUÇÃO E FINALIDADE DA VITIMOLOGIA...........................................34

3. DUPLA PENAL...............................................................................................34

4. CLASSIFICAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO OU PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA NO


CRIME................................................................................................................34

4.1. Benjamin Mendelsohn.........................................................................34

4.2. Hans Von Henting...............................................................................35


INTRODUÇÃO

1. DIFERENCIAÇÃO ENTRE DOGMÁTICA E ZETÉTICA

O Direito Penal é uma ciência dogmática (do mundo hipotético) e a


Criminologia é uma ciência zetética (do ser, da realidade).
a) Dogmática:
 significa ensinar, doutrinar;
 parte de um objeto de pesquisa com limites bem definidos;
 renuncia a pesquisa independente, vinculando-se a questões
finitas, como por exemplo, os limites legais;
 aponta a solução para determinados problemas com base na
adesão incontestável a certos valores, chamados como dogmas;
 é a ciência do dever-ser;
 despreza elementos externos à ordem posta;
 está ligada a tarefa de interpretação e sistematização de normas
e princípios.
b) Zetética:
 significa perquirir, descobrir;
 desintegra as premissas anteriormente concebidas;
 cria teorias (pode modificar), não dogmas (absoluto);
 tem uma função de especulação infinita, isto é, o objeto de
estudo é questionado em todas as direções;
 visa conhecer a realidade, razão pela qual é a ciência do ser.

2. MODELO TRIPARTIDO DAS CIÊNCIAS CRIMINAIS

Von Liszt → criou o modelo tripartido das ciências criminais, isto é, um


sistema no qual Direito Penal, Criminologia e Política Criminal operassem de forma
conjunta, mantendo as respectivas autonomias.
a) Direito Penal → é o conjunto de princípios que subjaz o ordenamento
jurídico penal e que devem ser explicitados sistematicamente.
b) Criminologia → ciência empírica e interdisciplinar 1, que se ocupa do
estudo do crime, do criminoso, da vítima e do controle social 2 do comportamento
delitivo, e que trate de subministrar uma informação válida contrastada sob a
gênese, dinâmica e variáveis principais do crime – contemplando este como
problema individual e social -, assim como sobre os programas de sua prevenção
eficaz, as técnicas de intervenção positiva no homem delinquente e em sua vítima e
os diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito 3.
CRIMINOLOGIA DIREITO PENAL
Conhece a realidade para tentar Valorar e orientar a realidade.
explicá-la.
Aproxima-se do fenômeno delitivo sem Aproxima-se limitado pela
mediação formal ou valorativa que fragmentariedade e seletividade,
obstaculizem o seu diagnóstico. sempre através dos tipos penais.
Método Empírico (indutivo). Método dogmático (dedutivo).
Interdisciplinar Normativa
c) Política Criminal → é uma estratégia adotada pelos entes políticos
para lidar com problema da criminalidade. É a disciplina que oferece aos poderes
públicos as opções cientificas mais adequadas para o controle do crime, servindo de
ponte eficaz entre o Direito Penal e a Criminologia.
A política criminal é feita pelos Três Poderes (executivo, judiciário e
legislativo) no âmbito de todas as esferas federativas (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios).
A política criminal pode ser preventiva ou repressiva.
 política criminal preventiva: iluminação pública, campanhas de
conscientização, revitalização urbana, políticas públicas de saúde,
moradia e emprego.
 política criminal repressiva: Direito Penal.

3. FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA

a) Obter um núcleo de conhecimentos seguros sobre o crime;


b) Resolução de problemas e conflitos concretos, refuta as abstrações;

1
MÉTODO DA CRIMINOLOGIA: Empírico → calcada na observação da realidade. Interdisciplinar →
admite a influencia de outras ciências na construção do conhecimento.
2
OBJETOS DA CRIMINOLOGIA: crime, criminoso, vítima e controle social.
3
FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA.
c) Prevenir eficazmente a criminalidade, não se contenta com a mera
aplicação da pena enquanto fator de prevenção;
d) Intervir no responsável pelo crime e na vítima.

4. CRIMINOLOGIA E DELEGADO DE POLÍCIA

“A programação normativa baseia-se em uma realidade que não existe e


o conjunto de órgãos que deveria levar a termo essa programação atua de forma
completamente diferente” (Zaffaroni – Em busca das Penas Perdidas).
O delegado é a autoridade pública que primeiro atua devendo absorver as
mazelas sociais para a aplicação
CONCEITOS CRIMINOLÓGICOS BÁSICOS

1. CRIME

Cada escola criminológica possui um conceito diferente de crime, razão


pela qual não é possível elaborar uma definição geral em termos criminológicos.
Porém, é possível delinear os requisitos que uma determinada conduta deve
ostentar para ser considerada criminalizável.

1.2. Requisitos

 incidência massiva → conduta isolada não pode ser considerado


crime;
 incidência aflitiva → a conduta deve gerar dor, angustia, prejuízo
na sociedade;
 persistência espaço-temporal → a conduta deve persistir ao longo
do território e por espaço de tempo, não sendo devido a
criminalização de condutas sazonais;
 inequívoco consenso acerca da etiologia (origem da conduta) →
deve-se saber a origem da conduta, tomando cuidado para não
criminalizar a consequência (se não ter certeza que a criminalização
irá resolver a situação é melhor não criminalizar).

1.3. Criminalização

 criminalização primária → é o ato de criar uma lei penal, que é


feita pelo Poder Legislativo. Ela é dirigida a todos e diz respeito a
condutas abstratas;
 criminalização secundária → é o ato de aplicar a lei penal. Quem
realiza a criminalização secundária são: polícias, delegados,
promotores, administração penitenciária, exército, advocacia. É
dirigida para pessoas específicas em razão de condutas concretas;
Obs.: Cifra Oculta da Criminalidade → é a diferença entre os crimes
que de fato ocorrem e aqueles que são apurados pelo sistema de justiça.

1.4. Prevenção

 prevenção primária → é a que se destinas às causas do crime,


antes que ele ocorra. Confunde-se com políticas públicas de saúde,
moradia, emprego e educação. É muito eficaz, mas pouco aplicada;
(antes do crime)
 prevenção secundária → confunde-se com a repressão penal e é
aplicada logo após o crime acontecer. É a ideia de prevenção
através da aplicação do Direito Penal, acreditando que a
punibilidade prevenirá o crime; (após o crime)
 prevenção terciária → visa evitar a reincidência. É aplicada muito
tempo depois do crime, após o cumprimento da pena. Diz respeito a
política de atenção ao egressa do sistema penitenciário.

2. CRIMINOSO

Cada escola criminológica possui um conceito diferente em relação ao


criminoso, mas esses conceitos não se excluem, mas sim se completam, conforme
ensina Shecaira:
Dadas as diferentes perspectivas, e em face de todas as
discussões posteriores às condições originais formuladas,
entende-se que o criminoso é um ser histórico, real, complexo
e enigmático [...]. Por isso, as diferentes perspectivas não se
excluem; antes, complementam-se e permitem um grande
mosaico [...].

3. VÍTIMA

Vítima é a pessoa ou coletividade que sofre as consequências de um


delito.
3.1. Fases da Vítima na Persecução Penal

a) IDADE DE OURO → antes da criação do Estado Moderno (Sec. XV), a


vítima era protagonista da resolução do conflito e possuía o direito de
exigir a reparação do dano.
b) NEUTRALIZAÇÃO DA VÍTIMA → a consolidação do Estado Moderno e
a criação do “Ministério Público” neutraliza o papel da vítima na
persecução penal. Os interesses do Estado passam a se sobrepor em
relação aos do ofendido.
c) REVALORIZAÇÃO DA VÍTIMA → de algumas décadas para cá há uma
tentativa de se recuperar a relevância da vítima no processo penal. Ex.:
possibilidade de indenização no âmbito criminal.

3.2. Vitimização

a) VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA → é a relação que ocorre entre a vítima em


sentido estrito e o autor do delito.
b) VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA → é o processo que ocorre entre a
vítima primária e o Estado (agentes públicos do aparate persecutório).
c) VITIMIZAÇÃO TERCIÁRIA → relação de vitimização que ocorre entre
a vítima primária e o meio social em que ela esta inserida.

4. CONTROLE SOCIAL

Toda sociedade necessita de mecanismos disciplinares que assegurem a


convivência harmônica entre os indivíduos. Isso pode ocorrer de duas maneiras
articuladas entre si:
a) CONTROLE SOCIAL INFORMAL → é o controle exercido pela
sociedade civil, por exemplo, família, escola, religião e convívio social.
Ele opera ao longo da vida inteira do sujeito, educando-o de forma
branda. Este controle é mais eficiente em ambientes reduzidos.
b) CONTROLE SOCIAL FORMAL → confunde-se com o Estado (Ex.
polícia, sistema judiciário, leis, etc.). Ele é episódico, atuando de forma
abrupta, além de ser estigmatizante.
Obs.: A POLÍCIA COMUNITÁRIA é “sui generis”, considerando que ela
tem característica do controle formal, bem como do controle informal.

4.1. Modelos de Resposta ao Delito

É a forma como o Estado reage ao crime.


a) DISSUASÓRIO CLÁSSICO → é o modelo baseado na luta implacável
contra o delito. É a ideia de que o castigo resolverá a criminalidade.
b) RESSOCIALIZADOR → é o modelo que visa a reinserção social do
indivíduo, agregando um fator humanitário ao modelo dissuasório
clássico.
c) INTEGRADOR → é o modelo que visa integrar todos os interesses e
reponsabilidades envolvidos no cometimento do delito. Este modelo
pretende reparar o dano (status quo ante) causado à vítima,
pacificando as relações sociais.
Obs.: No Brasil, em tese, é aplicado o modelo Ressocializador, mas na
prática vê-se a aplicação do modelo Dissuasório Clássico.
ESCOLAS CRIMINOLÓGICAS

1. ESCOLA CLÁSSICA DA CRIMINOLOGIA (ETAPA PRÉ-CIENTÍFICA DA


CRIMINOLOGIA)

É basicamente a reação criminológica ao Direito Penal Medieval, sem


garantias e degradante.

1.1. Formação do Estado Absolutista

Antes da formação do Estado Moderno, cada povoado resolvia o conflito


à sua maneira. Era a fase de outo da vítima. A partir da necessidade de
consolidação do território, o poder é unificado na figura do soberano.
O principal teórico desse período foi Thomas Hobbes que dizia que o
homem vive em uma coisa chamada estado de natureza, só que nesse estado o
homem é o lobo do homem, ou seja, ele se mata. Quando o homem resolve unificar
o poder na mão do rei ele passa para o estado civil, tendo firmado um contrato
social.
Para Hobbes a passagem do estado de natureza para o estado civil
ocasionou a cessão de todos os direitos dos cidadãos (direitos naturais) para o
soberano, dando margem ao Estado totalitário.
Para a consolidação deste Estado, o soberano estruturou a administração
pública com conhecimento buscado nas universidades católicas. O direito penal
moderno foi assim inspirado na inquisição.

1.2. Inquisição

No final da Idade Média a igreja enviava grupos de especialistas


encarregados de apurar a verdade e aplicar penas quando da verificação de um
pecado ou ato de heresia. É nesta época que começa a existir uma confusão entre o
delito e o pecado.
O delito é o mesmo pecado, sendo Deus a vítima do pecado e o Rei a
vítima do delito, sendo o Rei equiparado a Deus.
A partir desta equiparação, o delito não gerava mais prejuízos apenas à
vítima, mas também atingia a soberania estatal. É nessa fase que surge a figura de
um órgão de acusação (procuradores do Rei - percussores do Ministério Público) e a
vítima é neutralizada. Surge o monopólio estatal da força e da persecução penal.

1.3. As Penas do Antigo Regime

a) Sanções Corporais e Estigmas → a pena mais comum do antigo


regime consistia na aplicação de castigos corporais (ex. mutilações,
chicotadas, etc.). Além disso, era comum a impressão de marcar
(estigma) no condenado.
b) Castigo e Espetáculo → naquela época a execução da pena se dava
mediante suplicio público. Era um espetáculo de desiquilíbrio e
excesso. Era interessante para o rei que a pena fosse desproporcional.
c) Trabalhos Forçados → era uma pena voltada a utilização de mão de
obra que passou a ser necessária especialmente com as grandes
navegações (ex. casas de raspagem, pena de galera - remar -, etc.).
d) Penas de Reclusão → era feita de forma indiscriminada. Prendiam
homens, mulheres, crianças, sem qualquer critério de divisão. Além
disso, a prisão provisória não tinha prazo para acabar.

1.4. Iluminismo

Para John Locke, principal autor do iluminismo, na passagem do estado


de natureza para o estado civil o homem conserva com ele alguns direitos naturais,
sobre os quais o rei não tem ingerência. Passa a haver assim, uma limitação do
poder estatal.

1.5. Escola Clássica da Criminologia

A Escola Clássica foi responsável por fazer uma sistematização acerca da


problemática do crime, elegendo-o como objeto de estudo, permitindo chamar a
criminologia de ciência autônoma.
O principal autor dessa escola é Cesare Bonesana, popularmente
conhecido como Marquês de Beccaria, e sua obra é “Dos delitos e das Penas”.
Beccaria parte do pressuposto de que o homem é dotado de livre arbítrio
e que o crime é algo racional.
A pena neste contexto não pode representar mera vingança do Estado,
sob pena de ser ilegítima. Ela serviria como exemplo para os demais não
delinquirem.
Para que seja legitima a pena deve respeitar algumas garantias, razão
pela qual Beccaria formula as principais garantias processuais penais, por exemplo,
princípio da legalidade, vedação ao confisco, vedação da pena infamante, etc.
A Escola Clássica é pré-científica, pois não adota o método empírico.
A Escola Clássica não é etiológica (não quer saber a causa do crime),
preocupa-se com o método lógico-abstrato ou dedutivo, sendo despiciendo o estudo
das causas da criminalidade.

Autor: Cesare Bonesana (Marquês de Becarria)


Obra: Dos Delitos e das Penas
Palavras-chave: garantias penais, iluminismo,
livre-arbítrio, racionalidade, castigo como
utilidade, princípio da legalidade.
Pré-científica, não é etiológica.

2. POSITIVISMO CRIMINOLÓGICO

Buscou entender as causas da criminalidade, inaugurando o paradigma


etiológico da criminologia.

2.1. Imperialismo
O contexto de colonização da África e Ásia pelas potencias industriais
europeias favoreceu a formulação de um arcabouço científico que diferenciasse os
indivíduos em razão de suas características físicas.
Outro fator que influenciou o positivismo foi o início da concentração
urbana decorrente da industrialização.

2.2. Antecedentes Científicos

a) Estudo da Fisionomia → é a análise da aparência externa do indivíduo,


que através dela seria possível encontrar a aparência do criminoso (retrato do
homem delinquente).
b) Frenologia → é o estudo do cérebro humano, sob a perspectiva de que
o peso e tamanho do cérebro influenciaria o comportamento humano.
c) Antropologia → é o estudo das características físicas do corpo
humano, sobre tudo do crânio humano, acreditando que as medidas corpóreas
influenciariam comportamentos humanos (delinquência). O conceito moderno de
antropologia nada tem a ver com este.
d) Teoria da Evolução das Espécies → desenvolvida por Charles Darwin,
que aplicada à criminologia tentava explicar o criminoso, afirmando que o homem
criminoso se comportaria conforme antepassado da cadeia evolutiva, pois sofria de
“regressão atávica”, não conseguindo reprimir os próprios extintos.
Essa teoria foi determinante para o positivismo criminológico.

2.3. Principais Teóricos

a) Cesare Lombroso:
Ele foi militar, médico, político e criminólogo.
Escreveu a obra “O homem delinquente”, principal obra do positivismo,
na qual desenvolve a teoria do criminoso nato. Para esta teoria algumas pessoas
seriam destinadas a praticar crimes, em razão de fatores biológicos.
Apesar das premissas equivocadas, Lombroso tem o mérito de inaugurar
a etapa científica da criminologia (adoção do método empírico), bem como a
etimologia criminal (estudo das causas do crime).
Lombroso acreditava que o comportamento degenerado decorria de uma
doença denominada “regressão atávica”, a qual fazia com que o indivíduo se
comportasse como um indivíduo primitivo, que não controla os seus próprios
instintos.
Tal condição seria identificável através de características físicas. O
indivíduo que as reunisse seria um criminoso nato.
Lombroso inaugura o determinismo na criminologia, isto é, o
comportamento humano é determinado pelas características físicas. Esta premissa
será posteriormente refutada pela criminologia. Além disso, a mostra empírica de
Lombroso era viciada (só fazia autópsia das pessoas pressas, ignorando a
seletividade penal).
A proposta de política criminal de Lombroso, diante da negação do livre
arbítrio do criminoso era a condenação à morte ou a internação em manicômios.
Seu pensamento era extremamente preconceituoso e foi o fundamento de
diversas atrocidades, como as do regime totalitário italiano (facismo).
No Brasil, a autora Lina Rogrigues foi a maior expressão do positivismo
criminológico.

b) Enrico Ferri:
Adota o determinismo biológico, mas além das características físicas, o
indivíduo será determinado por fatores sociais (ambiente de convívio) e fatores
telúricos (clima, temperatura e as estações do ano).
Para Ferri o fenômeno criminal se relacionava com fatores sociológicos,
pois o crime seria um fenômeno social, porém características biológicas
influenciariam os fatores sociais.
A sociologia criminal que seria capaz de solucionar o fenômeno criminal e
não o direito penal, que já estaria ultrapassado.
Ele é considerado o pai da sociologia criminal, porque escreveu um livro
intitulado “sociologia criminal” e é o primeiro autor a tratar de fatores sociais ligados
a criminologia.
Obs.: Ferri é positivista, não faz parte da sociologia americana do sec. XX
(Teorias Sociológicas).

c) Raffaele Garófalo:
Os indivíduos criminosos são despidos do sentimento de piedade e
probidade, o que os leva a cometer, respectivamente, crimes contra a vida e contra
a propriedade. Desenvolve o conceito de periculosidade (“temerità”).
Para ele o crime seria algo natural, e refuta a tese do criminoso nato, mas
admite que o criminoso possui uma anomalia moral ou psíquica.
O rigor penal seria imprescindível para a eficaz defesa da ordem social,
que goza de supremacia radical em frente aos direitos do indivíduo. Assim, a pena
de morte é perfeitamente aceitável, como penas de caráter perpétuo ou de particular
severidade.
É um dos autores que desenvolve a medida de segurança, que se
relaciona com periculosidade e propriamente não com crime.

2.4. Postulados

O positivismo pressupõe a preponderância da defesa social em


detrimento dos direitos individuais.
Contrapõem-se à escola clássica da criminologia, que buscava frear o
poder estatal, garantindo direito individuais.

2.5. Resquícios do Positivismo

A medida de segurança para o indivíduo com alta periculosidade.

Autor: Lombroso, Garófalo e Ferri


Obra: O Homem Delinquente
Palavras-chave: criminoso nato, periculosidade,
medida de segurança, regressão atávica,
preponderância da defesa social.

3. TEORIAS SOCIOLÓGICAS (SOCIOLOGIA CRIMINAL)


As teorias sociológicas se dividem em duas vertentes a do consenso
(etiológicas) e as do conflito (interacionistas).

3.1. Teorias do Consenso (Etiológicas4, Explicativas)

É a concepção sociológica que parte do pressuposto de que a sociedade


opera de forma harmônica e que o crime é algo alheio à estrutura social.
Para tais criminólogos interessa descobrir a causa da criminalidade
(etiológicas – querem descobrir a causa do crime).
Legitimam o sistema punitivo.

3.1.1. Escola de Chicago

Ecologia criminal é utilizada por alguns como sinônimo de Escola de


Chicago.

a) Contexto Histórico:
No início do século XX a cidade de Chicago recebe um grande fluxo
migratório (europeus e ex-escravos americanos). Há uma elevação populacional e
uma consequentemente elevação nos índices criminais.
O departamento de sociologia da universidade de Chicago é fundado
nesta época e nasce com forte viés pragmático, isto é, tentava resolver os
problemas concretos da cidade, dentre eles o da criminalidade.

b) Métodos:
Os sociólogos da Escola de Chicago adotavam a “ecologia criminal”, isto
é, a decomposição da cidade em zonas e áreas, a fim de examinar o fenômeno
criminal em cada uma destas.
Eles elaboravam estudos cartográficos sobre a criminalidade.
Realizavam “social survey” (inquéritos sociais), idêntico a realização de
um senso e estatísticas sobre a criminologia.

c) Constatações:
4
Etiologia → estudo da causa, da origem.
Os sociólogos Park e Burgess desenvolvem um modelo radial, isto é, a
divisão da cidade em círculos concêntricos.
No circulo central estaria o LOOP (indústrias). No segundo círculo
localiza-se o SLUM (prostíbulos, cortiços e habitações de baixo custo), no terceiro,
quarto e quinto círculos estão, respectivamente, as residências de classe baixa,
média e alta.
A maior incidência criminal foi constatada no segundo círculo onde está o
SLUM.
Thomas escreve o livro “camponês polonês na Europa e na América”, no
qual conclui que indivíduos que não cometiam crimes no país de origem passam a
cometer crimes em Chicago, rompendo com a escola positivista da criminologia.
Esse imigrante comete crimes nesse novo local porque ele chega a um
local totalmente degradado, sem vínculo afetivo com o local e com as pessoas que
vivem no mesmo local, devido a rotatividade de pessoas. Esse conjunto leva a uma
desorganização social, que é a causa do crime.

d) Conclusões:
O positivismo criminológico não explica causa da criminalidade, uma vez
que o mesmo individuo comete crimes em um lugar e em outro não.
Que a causa do crime é a desorganização social, isto é o rompimento
dos vínculos de afeto e de cuidado na cidade grande, o qual se deve à mobilidade
social, às barreiras linguísticas e culturais e a degradação urbana.
A proposta de política criminal da Escola de Chicago é revigorar o
controle social informal, através do revigoramento dos vínculos sociais.
e) Críticas:
Não é uma etiologia geral da criminalidade, ela não consegue explicar os
crimes de colarinho branco, somente explica os crimes de rua (contra a vida e
patrimônio).
Deu margem a teoria da janela quebrada, que será abordada em
Neorrealismo de Esquerda.

Autor: Thomas, Park e Burgess


Obra: O Camponês Polonês na Europa e América
Palavras-chave: sociologia criminal, ecologia
criminal, desorganização social.

3.1.2. Teoria da Subcultura Delinquente

a) Cultura, Subcultura e Contracultura:


Cultura → é o conjunto de valores dominantes em uma certa sociedade,
os quais são capazes de orientar a ação social.
Subcultura → é uma espécie de cultura dentro da cultura dominante, a
qual adota valores opostos ou divergentes daquela, mas não pretende substituir a
cultura dominante.
Contracultura → é a subcultura que visa substituir a cultura dominante.

b) Subcultura Delinquente:
Na cultura o valor dominante, dentro outros, é respeitar o próximo e
cumprir a lei. Na subcultura delinquente o valor de sucesso será exatamente o
oposto, isto é, cometer crimes, desrespeitar a lei.
Essa concepção também rompe com o positivismo, na medida em que
criminosa é a cultura e não o homem.
A teoria da subcultura delinquente não é uma etiologia geral da
criminalidade, pois pretende explicar a origem de apenas alguns crimes específicos.
c) Delinquência Juvenil:
O principal autor que estuda a delinquência juvenil é Albert Cohen, no
livro “Delinquent Boys”.
Cohen elabora a tese de que o adolescente já é uma espécie de rebelde
sem causa, possui um inconformismo nato com a sociedade. Soma-se a isso o fato
de que a expectativa social do sucesso não é disponibilizada a todos, o que leva
grupos de jovens (gangs) a fundar uma subcultura na qual o sucesso consistirá no
cometimento de delitos e na humilhação de terceiros.
Características dos crimes cometidos na subcultura delinquencial juvenil:
1º não utilitarismo da ação (a ação não visa um fim útil, o fim
do crime é chocar);
2º malícia (é o prazer em desconcertar o outro, chocar,
humilhar);
3º negativismo da ação (inversão dos valores dominantes,
transformando o fracasso da cultura no sucesso da subcultura);
4º modus operandi do crime → são cometidos em grupos com
a finalidade de chamar a atenção e diminuir o sentimento de
culpa.

Autor: Albert Cohen


Obra: Delinquent Boys
Palavras-chave: cultura, subcultura, delinquência
juvenil, ausência de perspectiva, não-utilitarismo

3.1.3. Teoria da Anomia

a) Conceito de Anomia:
Anomia é a ausência de regras, uma sociedade sem regras. Não se sabe
o que é justo é o que é injusto, o que é lícito e o que é ilícito.

b) Durkheim:
Para Durkheim a existência de uma certa parcela anômica da população
é positiva, pois a sua punição reforça os valores vigentes para o restante da
sociedade, desde que essa parcela anômica se mantenha estável e baixa.
A teoria de Durkheim funda a teoria da prevenção geral da pena do direito
penal.
A causa do crime é a anomia, o desrespeito à norma, ou inexistência de
norma.

c) Merton:
Para Merton a anomia é a distância entre a pessoa e a sua expectativa de
sucesso em razão da inexistência de meios sociais para alcança-lo. Ou seja, anomia
é o lapso entre a expectativa social de sucesso e os meios sociais disponibilizados
para alcança-lo.
Diante dessa anomia o indivíduo pode se comportar de cinco meios
diferentes:
1º conformismo → é a atitude de satisfação mesmo diante da
impossibilidade de alcançar o sucesso;
2º inovação → ocorre quando o indivíduo busca o sucesso por
mios ilegítimos (se o meio ilegítimo for tipificado haverá crime).
3º ritualismo → ocorre quando o sujeito não está conformado,
mas tem medo de “inovar” (recorrer a meios ilegítimos).
4º evasão → é a renúncia à expectativa de sucesso. O
tratamento punitivo à evasão depende de cada Estado.
5º rebelião → é o comportamento que visa substituir a
expectativa social de sucesso (substituir a cultura dominante
pela contracultura). A tipificação da rebelião depende de cada
Estado.

Autor: Durkheim e Merthon


Obra: Estrutura Social e Anomia
Palavras-chave: tensão entre anseio e
possibilidade, valores sociais, ausência de
regramento
3.1.4. Teoria da Associação Diferencial

a) Contexto: a crise de 1929 e o New Deal


Até 1929 a economia americana era desregrada, se fundava na lógica da
mão invisível que controla o mercado.
Após a quebra da bolsa de 1929 o governo americano entendeu pela
necessidade de regulamentar a economia, com o pacote legislativo New Deal,
conceder direitos trabalhistas e tipificar certas condutas contrárias a tal
regulamentação.
A passagem para a economia regrada deu ensejo a muitas violações da
lei, condutas estas que já se encontravam tipificadas. Surgem assim os primeiros
crimes de colarinho branco.

b) Edwin Sutherland:
Crime de colarinho branco é o delito cometido por pessoa de alta
respeitabilidade social no âmbito da atividade econômica que exerce.
A teoria da associação diferencial é elaborada para tentar explicar a
causa do crime de colarinho branco, bem como a causa dos demais crimes. É uma
etiologia geral da criminalidade.
Sutherland pesquisou as maiores empresas americanas e constatou que
a maior parte delas havia cometido crimes, mas apenas uma ínfima parcela havia
sido condenada.

c) Teoria da Associação Diferencial:


O ponto inovador da Teoria da Associação Diferencial é a ideia de que o
crime pode ser objeto de um aprendizado.
Esse aprendizado se dá pela comunicação do agente com outras pessoas
e pela imitação de certos comportamentos. Por exemplo: O emprego tende a imitar o
empregador. E o crime se dá dentro desse processo de imitação. (Inspiração no livro
Leis da imitação).
Um sujeito idealista sai da faculdade com a intenção de abrir
uma loja de máquina de escrever, no entanto, mesmo agindo
de forma correta ele não consegue obter lucro. Vendo o
sucesso de seu concorrente, ele vai até ele e questiona como
ele consegue obter tanto lucro? O concorrente diz que sonega
imposto e mentia para os clientes e assim superfaturava.
Essa comunicação, porém, é realizada no seio de um grupo delimitado,
como, por exemplo, a família ou pessoas próximas ao agente.
O processo de aprendizagem engloba tanto as técnicas criminosas, como
a justificação da conduta.
O que faz o sujeito decidir se ele vai cometer ou não o crime?
É o juízo de custo benefício em relação ao cumprimento da lei.
O impulso será voltado à legalidade ou à ilegalidade, em razão de uma
interpretação favorável ou desfavorável dos códigos legais.
O indivíduo se torna criminoso quando as interpretações desfavoráveis da
lei predominam sobre as favoráveis.
O vendedor de máquina de escrever deseja cumprir a lei, mas
fazer uma análise do custo benefício entende que descumprir a
lei será mais vantajoso.
A desorganização social é a causa do comportamento criminoso
sistemático.
Retoma a Escola de Chicago para os crimes comuns.
Os indivíduos aprendem as técnicas criminosas quando eles entram em
contato com alguém que lhes apresentem os benefícios das condutas ilícitas. Tais
benefícios deverão ser mais atrativos do que o cumprimento da lei.

d) Lesividade do Crime de Colarinho Branco


O bem jurídico tutelado nos crimes de colarinho branco em geral é a
ordem econômica prevista no art. 170 da Constituição Federal. Vejamos:
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento
diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e
serviços e de seus processos de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País.
Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de
qualquer atividade econômica, independentemente de
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em
lei.
Quando atenta contra a ordem econômica, o crime de colarinho branco
inviabiliza a consecução da existência digna aos cidadãos (afeta a saúde pública,
educação pública, policiamento e a segurança pública de um modo geral), o que
denota a sua gravidade.
O custo financeiro do White-collar crime é, provavelmente,
muitas vezes maior do que o custo financeiro de todos os
crimes que normalmente são vistos como os crimes-problema.
(Sutherland).
A gravidade do crime de colarinho branco ocorre a longo prazo e atinge
um número indeterminado de vítimas, o que dificulta a percepção de sua gravidade.

e) Tratamento Diferencial
Sutherland delineia alguns motivos pelos quais os crimes de colarinho
branco recebem um tratamento mais benéfico por parte do sistema de justiça:
 Status do Agente → o status do agente do crime de colarinho
branco causa uma mistura de medo e admiração nos legisladores
e nos aplicadores da lei. Além disso, os responsáveis pelos
processos de criminalização (primária e secundária) enxergam
tais agentes uma pessoa próxima, se identificam com seus
costumes, linguajar, etc, o que dificulta o tratamento punitivo.
[...] falta naturalmente uma liderança efetiva na luta contra o
crime de colarinho branco. E isto, porque muitos dirigentes
políticos provêm dos mesmos estratos deste nível
socioeconômico, que não intervém nem praticam crimes de
colarinho branco, são, por via de regra, relutantes em atacar
outros membros de sua própria classe. (Sutherland).
 Da Cifra Oculta à Cifra Dourada → cifra dourada é a ausência dos
crimes de colarinho branco nas estatísticas oficiais da
criminalidade, o que dificulta a comoção social em torno de tais
condutas.
 Tendência de Usar Métodos não Penais → O Estado em relação
os crime de colarinho branco possui uma clara preferência
arrecadatória em detrimento da via punitiva. Por tal razão os
crimes de colarinho branco geralmente são interpretados como
meros ilícitos civis ou tributários
[...] tais agentes não são detidos por policiais uniformizados,
não são julgados em tribunais criminais e não são enviados
para prisões; este comportamento ilegal é objeto da atenção de
comissões administrativas ou de tribunais que julgam segundo
o direito civil ou a equidade (Sutherland).
 Ressentimento Desorganizado → a complexidade da conduta do
crime de colarinho branco somada à difusão das vítimas dificulta a
comoção social em torno de tal conduta, bem como eventual
reação em relação a tais agentes.
[...] a própria comunidade, mediante a opinião pública, traduz
alguma perplexidade em identificar tais fatos como delituosos.
Muitas pessoa comunas não captam a essência danosa de
alguns dos atos cometidos, normalmente identificados como
crimes de colarinho branco (Shecaria).

Autor: Edwin Sutherland


Obra: Crimes de Colarinho Branco
Palavras-chave: sociologia criminal, aprendizado
delitivo, crime de colarinho branco, leis de
repetição
3.2. Teorias do Conflito (Interacionistas)

As teorias do conflito partem do pressuposto de que a criminalidade é um


fenômeno inerente à estrutura social (está enraizado na sociedade) e decorre da
tensão entre classes. Para esta vertente não interessa descobrir a causa do crime
(não é etiológica), mas examinar a interação ou a relação entre o ente que pune e
aquele que é punido (são interacionistas).

3.2.1. Labelling Approach (Teoria do Etiquetamento)

a) Anos 1960: Contracultura e Ruptura → Na década de 60 começam a


surgir nos Estados Unidos os movimentos de contracultura que contestavam a
guerra, a desigualdade de gênero e o preconceito racial (pacifistas, feministas e
movimento negro). Tais movimentos de contracultura passaram a ser associados a
alguns crimes (drogas e violência), havendo um incremento punitivo em relação a
tais delitos.
Percebendo que o Direito Penal havia sido “manipulado” para perseguir a
contracultura, a criminologia rompe com a tradição etiológica e passa a estudar os
mecanismos de punição, percebendo que o crime não é algo natural, mas fruto da
produção humana.

b) Outsiders (Howard Becker) → o crime nada mais é do que aquilo que


a sociedade define como fato punível.
O crime deixa de ser um defeito inerente ao sujeito e passa a ser
entendico como resultado da produção normativa de um terceiro, o qual define as
condutas criminosas de acordo com diversas influências, influências políticas,
pessoais, etc.
Nenhum ato é desviante por si só, o que o faz desviante é o rótulo que lhe
é imposto.
Há um giro de enfoque na criminologia, com a transferência do objeto de
análise do criminoso para o ente punitivo.
c) Criminologia da Reação Social → de acordo com a vertente de
Becker, deixa-se de estudar o criminoso para estudar as instancias que criam e
administram o rótulo de delinquente. O estudo da criminalidade sede lugar ao estudo
do processo de criminalização.
 Quem é considerado desviante?
 Quem é que etiqueta dessa forma?
 Como se dá o etiquetamento?

d) Estigma e Internalização do Rótulo de Criminoso (Erving Goffman)


→ Goffman escreveu duas obras importantes: “Manicômios, prisões e conventos”
(desenvolve o conceito de instituição total) e “Estigma” (estuda a incorporação do
rótulo criminoso pelo indivíduo rotulado).
Instituição total é o local no qual o indivíduo perde a liberdade, os traços
da personalidade e passa a ter uma vida rigorosamente administrada. Ex:
manicômios, prisões, conventos, quarteis, etc.
Goffman desenvolve o conceito de “desestruturação do eu”, o qual pode
ser definido como uma espécie de mutilação da personalidade do indivíduo
institucionalizado. Esse processo ocorre pelas seguintes fases:
 desenvolve técnicas de sobrevivência dentro da instituição;
 passa a se sentir inferiorizado perante o indivíduo livre;
 adota o rótulo que lhe foi imposto;
 passa a acreditar que a instituição total é o seu lugar.
Goffman estuda a estigmatização decorrente do sistema punitivo, isto é, a
marca social desqualificadora que impede que o egresso do sistema seja aceito
socialmente.
Estes fatores somados favorecem a reincidência criminal. É a primeira
vez que a criminalização de condutas é encarada como um possível fato gerador de
criminalidade.

e) Seletividade Penal:
i. seletividade criminalizante → decorre da escassez de recursos
materiais e humanos dos órgãos incumbidos pelo controle
social formal, sobretudo a polícia, a qual acaba priorizando a
persecução a crimes facilmente identificáveis, cometidos por
pessoas que ofereçam menos resistência ao processo de
criminalização.
Dentro dessa perspectiva a chance de ser capturado pelo
sistema punitivo pode ser demonstrado através do seguinte
esquema:
1º → Estereótipo do criminoso e que ofereça menos resistência
ao processo de criminalização;
2º → Não se enquadra no estereótipo, mas comete crime tosco
(classe média alta que comete homicídio);
3º → Não se enquadra no estereótipo e nem comete crime
tosco, mas perde uma disputa de poder.
Exemplo: “laranja” de organização criminosa.
A seletividade criminalizante é prioritariamente exercida pela
polícia e não pelo poder judiciário é uma característica inerente
ao sistema punitivo.
ii. seletividade vitimizante → o Estado é mais anômico (omisso)
em termos de segurança pública nas regiões mais pobres das
cidades. Além disso, a população mais pobre não possui meios
para garantir a segurança de forma privada. Isto gera duas
consequências:
1º → ocorre a instalação de lideranças locais que visam
substituir a segurança pública, por exemplo, as milícias.
2º → a população mais pobre fica mais exposta à vitimização e
consequentemente passa a clamar por maior rigor punitivo.
iii. seletividade policizante → em regra os agentes das polícias são
recrutados nas mesmas camadas sociais em que ocorre a
seletividade criminalizante e seletividade vitimizante. Tais
profissionais serão mal remunerados, passarão por precário
treinamento, trabalharão em condições extremas.
Tal profissional passará a aderir um discurso autoritário e
hierárquico dentro de uma instituição total (processo de
policização).
A soma de tais circunstâncias dá margem para o direito penal
subterrâneo, isto é, os desvios cometidos pelas forças policiais
no exercício da função, por exemplo, corrupção, violência
arbitrária, tortura, execuções extrajudiciais.
O direito penal subterrâneo conduz a criação do estereótipo do
policial desonesto, corrupto e violento.

3.2.2. Criminologia Crítica

a) Introdução
A criminologia crítica para fins de prova é sinônimo de criminologia
radical, criminologia marxista ou nova criminologia.
O primórdio da criminologia crítica é a obra: “Punição e estrutura social”
de George Rushe e Otto Kircheimer (é a primeira obra que relaciona o sistema
punitivo a modelo capitalista).
Inglaterra: Conferência Nacional do desvio. Walton, Taylor e Young
publicam o livro “A nova Criminologia”. Esse é o marco inicial da criminologia crítica.
Na nova criminologia o Walton, Taylor e Young propunham visualizar as
origens estruturais e supraestruturas do desvio assim como as reações mais
imediatas das instancias oficiais e do público e que deve-se buscar a abolição das
desigualdades sociais, afirmando que a redução da criminalidade passa pela
eliminação da exploração econômica e da opressão política de classe.
França: Foucault, escreveu o livro “Vigiar e Punir”.
Itália: Escola de Bolonha teve os criminólogos principais: Pavanini,
Baratta e Melossi.
EUA: União de Criminólogos Radicais.
Brasil: Juarez Cirino dos Santos e o Nilo Batista.

b) O Mito da Igualdade
O direito penal é o direito desigual por excelência (Baratta).
Os criminólogos críticos desconstroem o mito da igualdade, isto é, a ideia
de que o direito penal protege igualmente todos os cidadãos contra ofensas apenas
a bens essenciais, dos quais todos estão igualmente interessados.
Outro fator do mito da igualdade é de que a lei penal é igual para todos,
isto é, todos os autores de crimes têm iguais chances de serem objeto do processo
de criminalização.
Os criminólogos críticos negam isso e afirmam que:
1º → o direito penal não incide apenas sobre bens essenciais, e quando o
faz atua de forma fragmentária.
2º → a lei penal não é igual para todos o status de criminoso é distribuído
de modo desigual entre os indivíduos.
3º → a distribuição do status de criminoso independe da danosidade
social da ação.

c) Ideias Centrais
 a teoria do consenso é insuficiente para explicar o fenômeno criminal;
 para a criminologia crítica os atos são criminosos porque é de interesse
da classe dominante assim defini-los;
 o delito é um fenômeno dependente do modo de produção capitalista;
 as pessoas são rotuladas criminosas, pois assim as definindo, serve-se
aos interesses das classes dominantes;
 as classes mais pobres são rotuladas e as mais ricas não, pois estas
detém os meios de produção, o que lhes dá controle do Estado e da
aplicação da lei (a criminologia tradicional afirma que os mais pobres
são mais propensos a serem rotulados, pois cometeriam mais crimes);
 o homem não tem livre-arbítrio. Ele está submetido a um vetor
econômico insuperável que produz a criminalidade como um fenômeno
global; (determinismo econômico);
 o problema criminal é insolúvel dentro dos marcos de uma sociedade
capitalista;
 o crime não é uma constante em todas as sociedades (doutrina
funcionalista). Ele varia dependendo da estrutura econômica;
 definir certas pessoas como criminosas permite maior controle sobre o
proletariado, acentuando a hostilidade do oprimido para longe dos
opressores e em direção à sua própria classe (seleção vitimizante);
 redefinição do próprio conceito de crime. Aceitar a definição neutra de
crime é aceitar uma ficção. Aceitar as soluções “neutras” para o
controle da criminalidade também;
 enquanto a solução dita “neutra” para o problema da criminalidade se
dirige ao controle da população vulnerável (pobres, jovens, mulheres),
a solução da criminologia crítica se dirige na transformação
revolucionária da sociedade e na eliminação da exploração política e
econômica;

d) Derivações
d1) Neorrealismo de Esquerda:
Parte dos criminólogos críticos se depara com a postura autoritária de
governos conservadores especialmente nas décadas de 70 e 80. Os exemplos
desses governos são, Ronald Reagan nos Estados Unidos e Margaret Thatcher no
Reino Unido.
Tais governos adotam a política criminal de “tolerância zero”, fundada na
teoria das janelas quebradas.
Teoria das janelas quebradas → parte da premissa de que pequenas
desordens dão causa a problemas maiores. O controle social formal sobre essas
pequenas incivilidades seria a melhor forma de prevenir crimes mais graves.
Há assim a substituição do controle informal sobre estas incivilidades pelo
controle formal.
A polícia passa a realizar o patrulhamento ostensivo, não para prevenir os
crimes graves, mas para reprimir condutas antissociais. Ex: vadiagem, pichação,
prostituição, etc.
Política Criminal de Tolerância Zero → é a técnica policial decorrente da
teoria das janelas quebradas.
O efeito colateral é a punição desproporcional das pequenas incivilidades,
sobretudo daquelas atribuídas às minorias (população negra e latina que vivem em
Nova York no final da década de 80).
O neorrealismo de esquerda é um retrocesso no idealismo fundante da
criminologia critica. Os neorrealistas de esquerda voltam a fazer etiologia criminal,
acreditar nas funções da pena, bem como no fato de que vários crimes possuem
consenso dentre a população. É um neopolitivismo.
d2) Garantismo Penal:
 Alessandro Baratta
A criminalidade é um bem negativo, distribuído desigualmente
conforme a hierarquia dos interesses fixada no sistema
socioeconômico e conforme a desigualdade social entre os
indivíduos. (Baratta)
Baratta propõe a criação de uma criminalidade dos oprimidos, a qual
agravaria o tratamento punitivo para crimes mais relevantes, por exemplo, crime de
colarinho branco, racismo, crimes de gênero e crimes ambientais. Ao mesmo tempo
haveria um abrandamento de tratamento para os crimes toscos.
Esta proposta de Baratta é criticada pelos abolicionistas, os quais a
denominam “esquerda punitiva”. Esta crítica afirma que mesmo invertido o direito
penal operaria com os mesmos problemas (seletividade e fragmentariedade),
transmitindo a falsa sensação de que o problema estaria resolvido. (Esquerda
Punitiva)

 Luigi Ferrajoli - Obra “Direito e Razão”


Ferrajoli propõe um resgate ao direito penal limitador do poder estatal
(Beccaria), isto é, propõe um direito penal “como ele deveria ter sido”.
Para Ferrajoli já que o poder punitivo é um fato inegável, que ao menos
seja regulamentado pelo direito penal. Elabora assim uma lista de dez princípios
“sine qua non” para legitimar o direito penal:
Retributividade – não há pena sem crime;
Legalidade – não há crime sem lei;
Necessidade – não há pena sem necessidade;
Lesividade – não há crime sem dano;
Materialidade – todo crime deve produzir um resultado;
Culpabilidade ou responsabilidade pessoal – veda a
responsabilidade objetiva;
Jurisdicionalidade – só o juiz pode aplicar penas;
Separação entre juiz e acusação (princípio acusatório);
Prova;
Contraditório.
 Eugenio Raúl Zaffaroni
Funda o Realismo Marginal. Por realismo entende-se a renúncia às
ficções e metáforas que sustentam o direito penal. Por marginal entende-se a
posição da américa latina diante do poder planetário, bem como a população latino
americano marginalizado do poder, mas alvo do sistema punitivo.

d3) Abolicionismo Penal


Louk Hulsman – metáfora dos cinco estudantes → propõem a solução do
conflito sem a resposta do castigo, mas através do consenso entre os afetados.
Por que abolir?
 Já vivemos em uma sociedade sem direito penal (cifra oculta)
 O sistema é anomico;
 Não há prova empírica que a lei penal diminui o crime;
 Cria estigmas;
 O sistema é burocrata;
 O sistema não se preocupa com a vítima;
 Produz dor, não transforma apenas destrói;
 A pena é ilegítima pois não supõe o consentimento do acusado;
VITIMOLOGIA

1. CONCEITO

A vitimologia é a ciência que se ocupa da vítima e da vitimização, cujo


objeto é a existência de menos vítimas na sociedade, quando esta tiver real
interesse nisso. (Benjamim Mendelsohn).

1.1. Conceito de Vítima

Conceito Amplo → é a pessoa que sofre os resultados infelizes dos


próprios atos, dos atos de outrem ou do acaso.
Conceito Estrito → é a pessoa ou comunidade que sofre diretamente os
efeitos de um crime.

1.2. Fases da Vítima

IDADE DE OURO → antes da criação do Estado Moderno (Sec. XV), a


vítima era protagonista da resolução do conflito e possuía o direito de exigir a
reparação do dano.
NEUTRALIZAÇÃO DA VÍTIMA → a consolidação do Estado Moderno e a
criação do “Ministério Público” neutraliza o papel da vítima na persecução penal. Os
interesses do Estado passam a se sobrepor em relação aos do ofendido.
REVALORIZAÇÃO DA VÍTIMA → de algumas décadas para cá há uma
tentativa de se recuperar a relevância da vítima no processo penal. Ex.:
possibilidade de indenização no âmbito criminal.

1.3. Vitimização

“Ação ou efeito de alguém, grupos de pessoas ou nações vitimarem-se e


vitimarem pessoas, grupos ou povos.” (Edgar de Moura).
VITIMIZAÇÃO PRIMÁRIA → é a relação que ocorre entre a vítima em
sentido estrito e o autor do delito.
VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA → é o processo que ocorre entre a vítima
primária e o Estado (agentes públicos do aparate persecutório).
VITIMIZAÇÃO TERCIÁRIA → relação de vitimização que ocorre entre a
vítima primária e o meio social em que ela esta inserida.

2. EVOLUÇÃO E FINALIDADE DA VITIMOLOGIA

Procura entender e analisar as condições e os processos de vitimização


pelos quais certos tipos de pessoas e certas categorias sociais aparecem mais
grave e frequentemente como vítimas. (Edgard Bittencourt)
De acordo com Mendelsohn, a vitimologia possui os seguintes objetos:
 Vítima dos delinquentes;
 Vítima sem intervenção de terceiros (acidente de trabalho);
 Fatores comuns às vítimas
 Diversas categorias de vítimas,
 Reincidência criminal.

3. DUPLA PENAL

Dupla penal é composta pelo criminoso e pela vítima. A rigor tais


personagens apresentam interesses contrapostos, mas em determinados casos há
uma gradação desta contraposição.

4. CLASSIFICAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO OU PROVOCAÇÃO DA VÍTIMA NO


CRIME

4.1. Benjamin Mendelsohn

Vítima ideal → completamente inocente, interesse contraposto ao


interesse do criminoso;
Vítima Menos Culpada que os criminosos →
Vítima tão culpada quanto o criminoso → ex. gestante que consente
com o aborto realizado por terceiro.
Vítima mais culpada que o criminoso → vítima que provoca;
Vítima como única culpada → imaginária, simulada, agressora.

4.2. Hans Von Henting

1° Grupo: criminoso - vítima - criminoso (sucessivamente) → é o


criminoso que novamente se torna reincidente após sofrer um processo de
vitimização no cárcere.
2° Grupo: criminoso - vítima - criminoso (simultaneamente) → é o caso do
usuário de drogas que é vítima e passa a traficar para consumir.
3° Gripo: criminoso - vítima (imprevisível) → é a vítima que se torna
criminosa por um fator imprevisível. Ex: linchamento, saque de caminhão tombado,
uso de drogas.

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