Você está na página 1de 93

CRIMINOLOGIA

Teorias Sociológicas

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Sumário
Teorias Sociológicas. . ...................................................................................................................... 3
1. Microssociologia e Macrossociologia.. .................................................................................... 3
2. Teorias do Consenso e do Conflito.. ......................................................................................... 4
3. Teorias do Consenso................................................................................................................... 6
3.1. Escola de Chicago. . .................................................................................................................... 6
3.2. Teoria da Anomia...................................................................................................................... 9
3.3. Teoria da Associação Diferencial.........................................................................................13
3.4. Teoria da Subcultura Delinquente...................................................................................... 18
4. Teorias do Conflito.................................................................................................................... 20
4.1. Labelling Approach. . ................................................................................................................21
4.2. Criminologia Crítica............................................................................................................... 27
Resumo.............................................................................................................................................49
Mapas Mentais............................................................................................................................... 57
Questões de Concurso.................................................................................................................. 62
Gabarito.............................................................................................................................................91
Referências...................................................................................................................................... 92

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 2 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

TEORIAS SOCIOLÓGICAS
Olá, bem-vindo(a) à nossa terceira aula. Antes de começarmos, deixo meu Instagram, para
quem tiver interesse: @profmaribarreiras.
Hoje vamos analisar o assunto de Criminologia mais cobrado em provas: as teorias socio-
lógicas, que são amplamente dominantes na Criminologia contemporânea. São teorias que,
como já expliquei para você, defendem a impossibilidade de se analisar o fenômeno criminal
prescindindo do estudo da sociedade onde o delito está inserido.
Antes de analisar as teorias sociológicas propriamente ditas, vamos conhecer algumas
classificações que são feitas sobre elas.

1. Microssociologia e Macrossociologia
Essa é uma classificação sobre a qual não há exatamente um consenso entre todos os
autores e bancas.
Teorias microssociológicas são aquelas que analisam os processos individuais de sociali-
zação relacionados à criminalização. Elas estudam a integração entre o indivíduo e a socieda-
de. Ou seja, elas analisam o meio social, mas o foco principal é o indivíduo, ou melhor, o modo
como o indivíduo interage nessa sociedade. Como estão mais focadas em compreender essa
interação do indivíduo com a sociedade – e não a sociedade em si como um todo –, têm viés
fortemente empírico e menor nível de abstração.
As teorias macrossociológicas, por sua vez, estudam a estrutura da sociedade como um
todo. O foco deixa de ser a interação entre o indivíduo e sua sociedade, e passa a ser a pró-
pria sociedade criminógena. São teorias que elevam a sociedade ao patamar de fator crimi-
nógeno. O fator empírico aqui perde um pouco de força e os estudos adquirem maior nível de
abstração. Naturalmente, isso não significa que a criminologia, de modo mais amplo, deixa de
ser empírica no seio dessas escolas. Trata-se, apenas, de uma mitigação do empirismo, pois
nem todas as pesquisas necessitam ser experimentais para que a criminologia seja conside-
rada como tal.
Parte considerável dos manuais de Criminologia considera que as orientações macrosso-
ciológicas podem ser subdivididas em teorias do consenso e teorias do conflito (classificação
que analisaremos no próximo item). E de fato, podem. O que falta é dizer que as teorias micros-
sociológicas também podem ser subdividas dessa maneira, como se observa nessa pequena
polêmica que passarei a descrever.
Em geral, os manuais se abstêm de dizer se uma escola sociológica é micro ou macrosso-
ciológica. Mas, como acabei de dizer, são comuns as afirmações de que as teorias macrosso-
ciológicas se subdividem em teorias do consenso e teorias do conflito. Dito isso, os manuais

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 3 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

passam a analisar as teorias do consenso e do conflito. Praticamente, portanto, o leitor passa


a concluir que todas as teorias criminológicas estudadas ali, sejam consensuais, sejam con-
flituais, são macrossociológicas. E de fato, as bancas, de modo unânime, consideram correto
afirmar que as teorias macrossociológicas podem ser subdivididas em teorias do consenso e
do conflito (aí incluído o Cebraspe). Mas isso não significa que todas as teorias do conflito ou
do consenso são macrossociológicas.
Houve pelo menos uma oportunidade em que o próprio Cebraspe considerou que uma
teoria do conflito não era macro, mas sim microssociológica. A banca considerou que o intera-
cionismo simbólico – teoria que deu origem ao labelling approach, fundamental para o modelo
da reação social da Criminologia moderna – é microssociológico.
Resumindo: ainda que muitos manuais afirmem que as teorias macrossociológicas podem
ser subdivididas em teorias do conflito e do consenso, não se deve excluir a possibilidade de
essa subdivisão ser válida também para as teorias microssociológicas. Ainda que as teorias
microsssociológicas tenham forte enfoque no indivíduo, elas somente são sociológicas por-
que consideram relevante a interação desse indivíduo com o meio social, e a análise da socie-
dade pode se dar a partir de um paradigma consensual ou conflitivo.

2. Teorias do Consenso e do Conflito


Outra possibilidade de classificação é a que divide as teorias sociológicas do crime nas ca-
tegorias: Teorias do Consenso e Teorias do Conflito. Conforme acabamos de ver, para a maio-
ria dos autores e bancas essa subclassificação seria cabível para as teorias macrossociológi-
cas, mas já sabemos que as microssociológicas também podem obedecer a essa subdivisão.
As teorias do consenso partem do pressuposto de existência de objetivos comuns a todos
os cidadãos, que aceitam as regras vigentes. As pessoas de um grupo social possuem con-
senso em torno de uma série de valores e criam instituições para manter a ordem social. Esse
grupo de teorias também é chamado de integralista ou estrutural funcionalista, pois compre-
ende que a sociedade é uma estrutura relativamente estável de elementos, bem integrada e
que todo elemento em uma sociedade possui uma função, contribuindo para a manutenção do
sistema. Para essas teorias, o crime é uma disfunção, ou seja, uma função negativa. O delito é
um fenômeno social, normal e funcional.
Ralf Dahrendorf explica que as teorias do consenso se baseiam em quatro teses:
• Toda sociedade é um sistema relativamente constante e estável de elementos (tese da
estabilidade);
• Toda sociedade é um sistema equilibrado de elementos (tese do equilíbrio);
• Cada elemento dentro da sociedade contribui para o seu funcionamento (tese do fun-
cionalismo);

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 4 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

• Cada sociedade se mantém graças ao consenso dos seus membros sobre determina-
dos valores comuns (tese do consenso).1
• As principais teorias do consenso são:
• Escola de Chicago
• Teoria da Anomia
• Teoria da Subcultura Delinquente
• Teoria da Associação Diferencial

DICA
Recurso de memorização!
CONSENSO: Chicago, Anomia, Subcultura, Associação
É CONSENSO que todo mundo quer CASA

As teorias do conflito, por outro lado, partem do pressuposto de que há força e coerção
na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e sujeição de outros. A
produção legislativa serviria para assegurar o triunfo da classe dominadora. A sociedade está
sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento da sociedade contribui, de certa for-
ma, para sua desintegração. Para essas teorias o crime faz parte da luta pelo poder. Assim, em
lugar de uma visão de cunho funcionalista, tem-se uma visão de cunho argumentativo.
Dahrendorf, ao tentar simplificar as teorias do conflito, elenca os seguintes postulados:
• Toda sociedade – e cada um dos seus elementos – está a todo tempo submetida à mu-
dança (tese da historicidade);
• Toda sociedade é um sistema de elementos contraditórios em si e explosivos (tese da
explosividade);
• Cada elemento dentro da sociedade contribui para a sua mudança (tese da disfunciona-
lidade e da produtividade);
• Toda sociedade se mantém graças à coação que alguns dos membros exercem sobre
os demais (tese da coação).2

Para Dahrdendorf, aliás, a tese da coação é a mais apropriada para explicar os conflitos
sociais que são, no limite, conflitos que repousam sobre a desigualdade de divisão de poder
entre os membros da sociedade. Para os teóricos dessa linha, os conflitos possuem efetivida-
de criadora (eles causam mudanças) e é necessário se afastar do pensamento utópico de um
sistema social equilibrado.
A teoria do labelling approach – também chamada de interacionista, interacionismo simbó-
lico, teoria da rotulação ou do etiquetamento – e as teorias críticas – também denominadas
radicais ou dialéticas – se encaixam na categoria de teoria do conflito. Perceba, portanto, que
o Modelo de Reação Social é o modelo típico das teorias do conflito.
1
DAHRENDORF, Ralf. Sociedad y Libertad: hacia un análisis sociológico de la actualidad. Madri: Tecnos, 1971, p. 190.
2
DAHRENDORF, Ralf. Sociedad y Libertad: hacia un análisis sociológico de la actualidad. Madri: Tecnos, 1971, p. 190.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 5 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

DICA
Recurso de memorização!
CONSENSO: Chicago, Anomia, Subcultura, Associação
CONFLITO: Crítica, Interacionismo Simbólico ou Etiquetamento
É CONSENSO que todo mundo quer CASA
O CONFLITO é que estamos em CRISE

3. Teorias do Consenso
Como acabamos de analisar, as teorias do consenso também são chamadas de funciona-
listas, estrutural-funcionalistas ou integralistas. Elas partem do pressuposto de existência de
objetivos comuns a todos os cidadãos, que aceitam as regras vigentes. Essas teorias são con-
sideradas conservadoras, porque acreditam na coesão social e querem garanti-la, preservando
o status quo, ou seja, o estado vigente das coisas.

3.1. Escola de Chicago


Já falei dessa escola para você. Na primeira aula, expliquei que foi ela a responsável por
incluir as instâncias de controle social informal dentre os objetos da criminologia. E aqui quero
recordar que as instâncias de controle social informal são aquelas em que não há monopólio
estatal e de cuja atuação não decorre a aplicação de uma pena, tais como família, associa-
ções, clubes, escolas, igrejas.
Para começar, vamos recordar o que vimos na primeira aula. Disse, naquela oportunidade,
que a Escola de Chicago, com enfoque fortemente empírico e transdisciplinar, se propôs a
discutir múltiplos aspectos da vida humana, todos relacionados com a vida na cidade. Entre
os anos 1920 e 1930, Robert Ezra Park, Ernest W. Burgess e seus alunos produziram mais de
20 obras sobre a ecologia urbana da cidade de Chicago, abordando problemas como falta de
moradia, desorganização social, guetos, zonas residenciais ricas e pobres, distribuição de do-
entes mentais na cidade, entre outros. Em diversas dessas obras, os bairros de Chicago são
divididos e analisados de acordo com seus problemas sociais. Esses bairros ou áreas seriam
analisados também a partir das possibilidades moralizadoras ou de controle social que gera-
vam em seus habitantes. A cidade em geral permitia a confusão, a mobilidade e, portanto, o
refúgio e a criação de personalidades conflitivas, como vagabundos, alcoólatras, prostitutas e
delinquentes. Todos eles, porém, seriam reprimidos e censurados em determinadas áreas mo-
rais, nas quais, em virtude desse controle social, não se verificariam conflitos sociais significa-
tivos. Foi com base nesses estudos que as instâncias de controle social informal começaram
a fazer parte da lista de objetos da Criminologia.
Revistos os conceitos da primeira aula, vamos aprofundar um pouco mais.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 6 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Robert Park se apropriou de conceitos da ecologia. Comparava a cidade a um organismo


vivo e utilizava os conceitos de invasão, dominação e sucessão descritos pelos ecologistas.
A expansão e consolidação da burguesia industrial, o êxodo rural e o recebimento de gran-
des contingentes de imigrantes, fizeram com que Chicago, assim como outras cidades estadu-
nidenses, passassem por profundas mudanças em um curto espaço temporal. Várias etnias,
povos, religiões e culturas passam a conviver ali. Esse conceito de fusão de elementos hete-
rogêneos e por vezes conflitivos se denomina melting pot, em referência a um caldeirão onde
tudo se derrete e se mistura.
Também chamada de teoria da ecologia criminal ou teoria da desorganização social, a es-
cola de Chicago se dispôs a analisar comportamentos sociais, seitas, grupos, multidões, opi-
nião pública, criminalidade e outros fenômenos que ocorriam na cidade cuja população saltou
de 4.470 pessoas em 1840 para mais de um milhão de habitantes em 1900.
Grande parte da população de Chicago nessa época era de imigrantes. A cidade crescia se
expandindo em anéis, ou círculos concêntricos, do centro para a periferia. Essa é a teoria das
zonas concêntricas, de Ernest Burgess. Segundo ele, o anel mais central, chamado loop, era a
zona comercial, com bancos, grandes lojas, a administração da cidade, estações etc. A segun-
da zona, chamada zona de transição, é uma zona de comércio que conecta o loop à terceira
zona (residencial). A zona de transição, por estar constantemente sujeita à invasão do loop, era
uma área com intensa mobilidade e degradação, com barulho, agitação, mau cheiro, bordéis e
pensões – as denominadas tenement houses, espécies de cortiços para os recém-chegados à
cidade. A terceira zona abrigava trabalhadores com uma condição financeira ligeiramente me-
lhor e imigrantes de segunda geração (filhos dos imigrantes originais). Nela, as moradias ainda
são modestas, mas já ficam um pouco mais afastadas das zonas deterioradas. A quarta zona
é a da chamada classe média, com moradias um pouco melhores. E a quinta zona é aquela
habitada pelos altos-estratos da população. Esses moradores são chamados commuters: são
pessoas que gastam muito tempo em meios de transporte para chegar às regiões centrais
da cidade.

Grandes condomínios de luxo, que se assemelham a cidades, com ruas, enormes áreas de
lazer e até lojas, mais populosos que muitas cidades, cercados de muros, constantemente
vigiados, e afastados do centro da cidade são realidades bastante comuns nas metrópoles
brasileiras. Alphaville em São Paulo (e presente também em outras cidades brasileiras) e con-
domínios da Barra da Tijuca (Rio de Janeiro) são citados como exemplos que se encaixam na
descrição da zona V de Burgess. O aumento da tensão social e a decadência de certos bairros
da cidade faz com que as pessoas queiram se agrupar em comunidades fechadas, em que
fiquem distantes da confusão. Iniciativas como essa acabam por fragmentar o espaço social,
criando a cidade dual. Esse conceito de dual city aumentar a distância social entre os dois gru-
pos. Os moradores dos condomínios não veem os pobres, não convivem com eles. E quanto

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 7 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

mais desconhecemos o outro, quanto mais ficamos afastados e o consideramos um estranho,


mais fácil é criminalizar suas condutas. Segundo Nils Christie, criminólogo norueguês contem-
porâneo, falecido em 2015, a distância social aumenta a tendência de que certas condutas
sejam criminalizadas3.

Clifford Shaw e Henry McKay são outros dois nomes importantes na Escola de Chicago.
Com base na teoria das zonas concêntricas, eles se dedicaram a analisar as áreas de delinqu-
ência e a delinquência juvenil. A obras mais conhecidas deles é Delinquency Areas.
Eles foram responsáveis por demonstrar que, quanto mais perto do loop, maior a degrada-
ção e as taxas de criminalidade dos bairros. Concluíram, também, que nas áreas criminais, o
controle social informal é pouco eficiente na formatação do comportamento dos jovens, já que
familiares, amigos e vizinhos geralmente aprovam condutas antissociais. Para Shaw e McKay,
a delinquência começaria cedo, como jogo das ruas e alguns bairros ofereceriam oportunida-
des ao crime, como pessoas dispostas a adquirir bens roubados.
Não se deve, no entanto, entender que há um determinismo ecológico, ou seja: a pessoa
cometerá crimes apenas por habitar uma região. O que ocorre é que o fato de estar localizado
em uma área da cidade é um vetor criminógeno, ou seja, um fator que pode contribuir com a
prática de um delito.
A escola de Chicago percebe que é mais apropriado falar em “cidades”, no plural, pois cada
parte do Município tem sua cultura própria, sua dinâmica particular, com estatutos, usos, cos-
tumes. A cidade não é apenas um amontoado de pessoas, ruas, bairros. O complexo cultural
determina o que é típico de cada cidade e mais, de cada parte da cidade. Essas culturas são
transmitidas e aprendidas dentro dos respectivos grupos.
As formas de adaptação das pessoas à cidade fazem com que haja um processo de per-
manente interação. As interações são tantas que se fala em sobrecarga ou saturação. E ao
mesmo tempo em que há interação, é comum, nas cidades, que haja anonimato: as pessoas
têm mais liberdade de ação de modo que os freios exercidos pelas instâncias de controle so-
cial se afrouxam. As pessoas, nas cidades, se distanciam, são seletivas em seus processos
de aproximação, competem pelos escassos recursos da cidade, tudo isso resultando em uma
postura individualista que tem impacto na criminalidade.
Dentro dos bairros, dos quarteirões, dos edifícios, as pessoas se aproximam por serem
similares. Os vizinhos controlam, informalmente, as atividades uns dos outros, numa espécie
de polícia natural. Nas chamadas “regiões morais”, um grupo de habitantes se identifica. Em
cidades com muitos imigrantes, como era Chicago, havia áreas morais formadas por pessoas
de uma mesma raça ou origem, que ali vivem ou convivem (pode ser um local de residência ou
de encontro) de maneira segregada do restante da população. Há, por exemplo, regiões morais
de pobres, viciados, desajustados, criminosos.

3
FREITAS, Wagner Cinelli de Paula. Espaço urbano e criminalidade: lições da Escola de Chicago. São Paulo: IBCCRIM, 2002,
p.121 e ss.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 8 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Como as cidades são dotadas de mobilidade, há grande fluidez de pessoas pelas regiões,
o que tende e confundir e desmoralizar as pessoas, pois o controle social informal é tanto
menor quanto mais a pessoa se distancie de suas raízes. A mobilidade dificulta que a família,
a vizinhança, a igreja ou os grupos comunitários imponham inibições a condutas de vício, pro-
miscuidade e delinquência. Assim, a mobilidade está relacionada com criminalidade.
Os estudiosos de Chicago notaram que as taxas de doença mental estavam distribuídas
diferencialmente por bairro da cidade. Os bairros mais pobres apresentavam maiores taxas de
criminalidade e maiores índices de distúrbios mentais. As precárias condições das famílias,
a falta de intervenção estatal e as dificuldades de adaptação decorrentes da imigração e do
isolamento contribuíam enormemente para as altas taxas de insanidade mental.
A pessoa recém-chegada à cidade passa por um processo de desorganização social. Há
um sentimento de perda pessoal, rejeição de regras sociais, perda de raízes. A desorganização
social causa aumento de doenças, prostituição, insanidades, suicídios e crime.
Clifford Shaw é autor, também, de The Jack-roller: a delinquent boy’s own story. Shaw utiliza
o relato da história de vida (autobiografia) de um delinquente de Chicago, denominado Stanley,
que viveu em diferentes áreas de cidade. A ideia foi demonstrar como a vida em diferentes
áreas da cidade, convivendo com diferentes culturas, tinha impacto na criminogênese.
Por tudo isso, as propostas de Escola de Chicago para equacionar a questão criminal pas-
sam, necessariamente, por alterar as condições de vida nas cidades, sobretudo as condições
econômicas e sociais das crianças, diminuindo as condições para as carreiras delinquentes. O
enfoque da intervenção proposta pelos autores Clifford Shaw e Henry McKay no Chicago Area
Project era a maximização do controle social informal (famílias, vizinhanças, igrejas, clubes,
escolas). Deve haver macrointervenção na comunidade e reconstrução da solidariedade so-
cial. Os projetos devem ser feitos levando em consideração cada vizinhança e devem incluir
atividades recreativas, artesanais, culturais e melhorias nas condições sanitárias e de conver-
sação predial de alguns bairros e edifícios.
Como definitiva contribuição, a Escola de Chicago utilizou largamente os social surveys,
inquéritos sociais que consistem em interrogatório direto feito a um número considerado de
pessoas sobre itens criminologicamente relevantes. Trata-se de técnica empírica de observa-
ção da realidade até hoje utilizado largamente pela criminologia. Além disso, implicou toda
a comunidade no enfrentamento do crime. Alargou o objeto de estudo da ciência, para nele
incluir os mecanismos de controle social. Ademais, a Escola de Chicago propugnou uma inter-
venção preventiva e não repressiva.

3.2. Teoria da Anomia


Vamos analisar a teoria da anomia sob a ótica de dois grandes nomes: Émile Durkheim e
Robert Merton. O termo anomia tem origem grega e significa ausência de leis.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 9 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Émile Durkheim

Émile Durkheim foi um sociólogo francês do final do século XIX. Ele é considerado um dos
principais teóricos da anomia. Sua teoria sociológica considera que um ser vivo só pode ser
feliz e até mesmo viver se suas necessidades forem compatíveis com os meios para satisfa-
zê-las. No animal, o equilíbrio entre necessidades e meios depende de condições puramente
materiais: é o organismo, o corpo que dita quais são as necessidades (respirar, se alimentar, se
hidratar). No ser humano, a maioria das necessidades não depende do corpo. Afinal, para os
seres humanos, além do mínimo necessário para a sobrevivência, existe o desejo de condições
melhores, de situações de bem-estar. Esse apetite por conforto em algum momento tem que
encontrar limites, até mesmo porque desejos ilimitados são insaciáveis por definição e geram
um perpétuo estado de desconforto. E como esse limite não é dado pelo corpo, ele somente
pode vir da sociedade.
Para Durkheim, então, a força reguladora externa ao indivíduo que limita os desejos é a
sociedade, único poder moral superior ao indivíduo. A sociedade regula, ainda que nem sem-
pre por meio de norma jurídica, o máximo de bem-estar que cada classe social pode legitima-
mente procurar obter e cada um percebe vagamente o ponto extremo até onde podem ir suas
ambições. O contentamento com essas regras gera prazer de existir e viver. O trabalhador não
estará em harmonia com sua função social se não estiver convencido de que é mesmo aquela
a função que deve ter. Ou seja, essa disciplina que a sociedade exerce só é útil se for considera-
da justa pelos povos submetidos a ela, se for reconhecida como equitativa pela grande maioria
das pessoas.
Há momentos, explica Durkheim, em que a sociedade atravessa transformações. Nesses
transtornos, a sociedade perde a capacidade de exercer seu papel de freio moral. Não importa
se se trata de uma crise dolorosa ou de uma transformação boa, afortunada, com pujança
econômica. Em qualquer caso, como as condições de vida mudam, a escala segundo a qual
as necessidades eram reguladas já não pode permanecer a mesma. Leva tempo até que seres
humanos e coisas sejam novamente classificados pela consciência pública.
A anomia é esse estado de desregramento ou desintegração das normas sociais, produzin-
do uma situação de transgressão ou de pouca coesão4. São, por exemplo, aquelas situações
em que não se sabe quais as normas vigentes ou em que uma norma positivada deixa de ser
amplamente observada pela sociedade. Para Durkheim, o crime se torna um problema quando
existe uma situação de anomia. Caso contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal.
Afinal, ele ocorre em todas as sociedades, de todos os tipos e muitos índices criminais vêm
aumentando significativamente ao longo da história social. Por isso, ele diz:

Não há fenômeno que apresente de maneira mais inconteste todos os sintomas da normalidade.
(...) Sem dúvida, pode ser que o crime tenha formas anormais; é o que ocorre quando, por exemplo,
ele atinge uma taxa exagerada5.

4
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Edipro, 2014, p. 249.
5
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Edipro, 2014, p. 82-83.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 10 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Para Durkheim, além de normal, o crime é útil. Para entender esse ponto é importante com-
preender suas ideias sobre a consciência coletiva, que é um conjunto de crenças e sentimen-
tos comuns à média dos membros de uma sociedade e que tem vida própria. A consciência
coletiva não é simplesmente a soma de todas as consciências individuais. Ela depende das
consciências individuais, mas não se confunde com elas. Nas sociedades arcaicas, em que as
pessoas diferem pouco umas das outras, existe uma solidariedade por semelhança, mecânica.
Nessas sociedades, os membros têm sentimentos parecidos e por isso diz-se que a consci-
ência coletiva abrange a maior parte das consciências individuais, ainda que com elas não se
confunda. Nas sociedades contemporâneas, os indivíduos são menos parecidos entre si. Cada
um age de acordo com sua liberdade de crença e ação. Aqui, Durkheim fala em solidariedade
orgânica. Nessas sociedades, a consciência coletiva tem sua amplitude reduzida. O crime é
útil porque permite que a consciência coletiva evolua.

O crime é, portanto, necessário; ele está ligado às condições fundamentais de toda vida social, mas
por isso mesmo, ele é útil. Pois estas condições são indispensáveis para a evolução normal da
moral e do direito. (...) A liberdade de pensar de que gozamos atualmente jamais poderia ter sido
proclamada, se as regras que a proibiam não tivessem sido violadas antes de serem solenemente
revogadas.6

Como o crime é considerado útil, portador de uma função – a de reforçar a solidariedade da


sociedade – essa teoria tem forte traço funcional. Uma sociedade sem crimes é pouco desen-
volvida para Durkheim.

Do mesmo modo como o crime é algo natural, a sanção também é algo normal. A função
da pena é satisfazer a consciência coletiva, ferida com o crime, mantendo intacta a coesão
social. Assim, o castigo do condenado age nas pessoas honestas, já que serve para curar a
ferida feita nos sentimentos coletivos que somente residem nos indivíduos corretos. Mas a
pena segue sendo, ao menos em parte, uma vingança, pois é uma reação passional institucio-
nalizada – e que reforça a coesão social.

Robert Merton

Além de Durkheim, outro nome importante para a teoria da anomia na criminologia é o do


sociólogo estadunidense Robert Merton, que viveu de 1910 a 2003. Ele adaptou a teoria do
Durkheim para a sociedade norte-americana da década de 1930, que vivia o American Dream.
Merton defendeu, em artigo lançado em 1938, que as estruturas sociais e culturais são
compostas de vários elementos, dois dos quais são de fundamental importância: os objetivos
e os meios.
6
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Edipro, 2014, p. 87.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 11 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Os objetivos são as metas, propósitos, interesses (Ex.: comprar uma casa; ter um carro;
viajar para o exterior todo ano). Eles são social e culturalmente ordenados em uma escala
de valores.
Os meios, por sua vez, definem, regulam e controlam as maneiras consideradas aceitáveis
para o atingimento dos objetivos (Ex.: trabalhar em troca de um bom salário para poder adquirir
seus bens; praticar fraudes).
Segundo Merton, os meios são sempre limitados pelas normas instituídas. Ou seja: nem
todas as maneiras de se atingir um objetivo são toleradas, lícitas.
Os objetivos culturalmente definidos e os meios considerados válidos pelas normas ins-
tituídas operam em conjunto. Mas a relação entre os objetivos e os meios é uma relação in-
constante. Às vezes, a cultura de uma sociedade coloca muita ênfase na importância de que
se atinja um certo objetivo, mas não fornece os meios correspondentes para que o êxito se dê.
Isso é particularmente visível nas situações em que a estrutura cultural impõe aos cidadãos
padrões de consumo e riqueza, mas a estrutura social não fornece condições para que os indi-
víduos enriqueçam ou consumam do modo como se espera.
Os objetivos e meios têm, entre outras, a função de fornecer uma base de previsibilidade e
regularidade do comportamento das pessoas em sociedade. Quando esses elementos estão
dissociados, a efetividade dessas funções fica limitada. No limite, quando a previsibilidade
das condutas num grupo social é minimizada, por esse espaçamento entre os objetivos e os
meios, está configurada a anomia, que também pode ser chamada de caos cultural.
Para lidar com os objetivos e meios, os indivíduos procedem a adaptações individuais, que
podem ser de cinco tipos7:

Modos de Objetivos ou Metas


Meios Instituídos
Adaptação Culturais

Conformidade + +

Inovação + -

Ritualismo - +

Retração - -

Rebelião ± ±

• Conformidade: os indivíduos se adaptam (+) aos objetivos culturais e (+) aos meios exis-
tentes. Quando temos uma sociedade estável, esse é o tipo mais comum de adaptação.
• Inovação: a ênfase cultural muito forte no objetivo de sucesso convida a esse tipo de
adaptação, que ocorre pelo uso de meios proibidos, porém efetivos, para se alcançar ao
7
MERTON, Robert K. On Social Structure and Science. Chicago: The University of Chicago Press, 1996, p. 139.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 12 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

menos um simulacro do sucesso, ou seja, riqueza e poder. Esses indivíduos aceitam (+)
a meta “sucesso”, mas não aceitam (-) se valer dos meios permitidos, regulados pelas
normas. Aqui reside um tipo de delinquência. É aqui, especificamente, que se fala em
anomia, como não aceitação das regras que limitam os meios para o alcance das metas.
• Ritualismo: os indivíduos abandonam ou diminuem gradualmente (-) as metas de suces-
so pecuniário e mobilidade social para um ponto em que podem ser atingidas; e, ao mes-
mo tempo, continuam obedecendo (+) quase compulsivamente às normas instituídas.
• Retração: esses indivíduos rejeitam (-) tanto os objetivos culturais como (-) os meios
instituídos. Eles abdicam dos objetivos estabelecidos pela sociedade e adotam compor-
tamentos em desacordo com as normas instituídas, de modo que estão em constante
escapismo da realidade. É o caso, segundo Merton, dos psicóticos, autistas, marginais,
mendigos, pedintes, alcóolatras crônicos, viciados em drogas.
• Rebelião: essas pessoas não aceitam a estrutura social reinante, mas imaginam e pro-
curam dar vida (±) a uma estrutura modificada. A rebelião envolve necessariamente
ação, transformação dos valores, também chamada de transvaloração. É uma espécie
de adaptação coletiva, em que se deseja instalar uma estrutura social onde haveria cor-
respondência entre mérito, esforço e recompensa.

Esse esquema de Robert Merton foi, posteriormente, ampliado e aprofundado por Talcott
Parsons, que, em 1951, criou a teoria do sistema social. Ele substituiu as duas variáveis de
Merton (objetivos e meios) por outras três duplas de fatores: atividade e passividade; predomí-
nio conformativo e predomínio alienativo; e orientação para objetos sociais e orientação para
normas. A combinação desses fatores ditará qual o tipo de resposta – delitiva por exemplo –
que uma pessoa dará a uma situação em que há uma perturbação no quadro de expectativas.
A teoria de Parsons é complexa e nunca foi cobrada em detalhes em provas. O que as bancas
cobram é que o candidato saiba que ela é uma teoria da anomia e, portanto, do consenso.

3.3. Teoria da Associação Diferencial


A Teoria da Associação Diferencial se insere num grupo maior, chamado Teorias da Apren-
dizagem Social. Esse grupo de teorias possui em comum a noção de que a chave para a com-
preensão da criminalidade está na aprendizagem. Assim como aprendem a fazer qualquer
outra coisa, as pessoas, que não nascem criminosas, aprendem a cometer delitos e a desen-
volver mecanismos de neutralização da culpa. Não se trata de uma questão de pobreza ou ri-
queza. Aliás, grande parte da importância dessas teorias reside exatamente na demonstração
de que os ricos também cometem crimes.
A Teoria da Associação Diferencial foi formulada por Edwin Sutherland, sociólogo (e cri-
minólogo) norte-americano. Suas ideias são do começo da década de 1940. Para Sutherland,
o crime não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas de qualquer

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 13 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

classe social aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base
essa conduta. O processo de comunicação, que permite a aprendizagem, é fundamental para
a prática criminal.
Associação Diferencial significa, em resumo, se associar para aprender a fazer coisas dife-
rentes do que é a regra, ou seja, imitar alguém que é desviante, que comete crimes.
Segundo Sutherland, a pessoa se torna criminosa quando as definições favoráveis à viola-
ção da norma superam as definições desfavoráveis, tudo no âmbito de um processo de imita-
ção. Esse processo é tanto mais intenso quanto mais íntimas as relações estabelecidas pelo
indivíduo. As pessoas, então, interagem, aprendem umas com as outras, se associam, mas não
para seguir os padrões da sociedade, e sim para agir de modo diferente (praticando delitos).
Daí o nome associação diferencial.
Uma das causas fundamentais para a existência de associação diferencial é o conflito
cultural: na sociedade existem diversos grupos culturais, e a cultura criminosa pode prevalecer
por diversos fatores. Outra causa básica para o comportamento criminoso é a desorganização
social, que já havia sido bem explicada pela Escola de Chicago. Quando há desorganização
social, os mecanismos de controle social informal são precários em virtude da perda de raízes,
e isso pode facilitar a escolha pelo caminho do crime.
Sutherland elencou nove princípios da Teoria da Associação Diferencial:
1. A conduta criminosa se aprende, como qualquer outra atividade.
2. O aprendizado se produz por interação com outras pessoas em um processo de
comunicação.
3. A parte mais importante do aprendizado tem lugar dentro dos grupos pessoais íntimos.
4. O aprendizado do comportamento criminoso abrange tanto as técnicas para cometer o
crime, que às vezes são muito complicadas e outras, muito simples, quanto a direção específi-
ca dos motivos, atitudes, impulsos e racionalizações.
5. A direção específica dos motivos e impulsos se aprende de definições favoráveis ou
desfavoráveis a elas.
6. Uma pessoa se torna delinquente por efeito de um excesso de definições favoráveis à
violação da lei, que predominam sobre as definições desfavoráveis a essa violação.
7. As associações diferenciais podem variar tanto em frequência como em prioridade, du-
ração e intensidade.
8. O processo de aprendizagem do comportamento criminoso por meio da associação
com pautas criminais e anticriminais compreende os mesmos mecanismos abrangidos por
qualquer outra aprendizagem.
9. Se o comportamento criminoso é expressão de necessidades e valores gerais, não se
explica por estes, já que o comportamento não criminoso também é expressão dos mesmos
valores e necessidades.
Essas ideias foram importantes para demonstrar que o crime pode ser cometido por qual-
quer pessoa na sociedade, independentemente de fatores biológicos, de pobreza, de déficit de

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 14 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

inteligência ou falta de inserção social. A teoria da associação diferencial foi a primeira a co-
locar o foco na criminalidade dos poderosos, estudando a forma distinta como a justiça penal
os tratava.
Como crítica, costuma-se delinear que a teoria de Sutherland não explicava por que, con-
vivendo no seio de uma mesma cultura, certas pessoas aprendiam ou optavam pelo com-
portamento criminoso, enquanto outras não. Ademais, a teoria da associação diferencial não
considerava, como relevantes para a prática de um crime, fatores impulsivos, ocasionais, pas-
sionais, calamitosos. Em casos onde esses fatores se apresentam, muitas vezes não há que
se falar em aprendizado, mas sim em reação isolada.

Crime do Colarinho Branco (White Collar Crime)

Sutherland cunhou a expressão crime de colarinho branco (white collar crime). Utilizou-a
por primeira vez em um discurso de 1939. Trata-se do crime cometido no âmbito da profis-
são por uma pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social. Em seu livro que leva esse
nome – Crime de colarinho branco: versão sem cortes –, ele analisa decisões da justiça e das
comissões administrativas relativas a 70 grandes empresas americanas para defender a tese
de que as pessoas da classe socioeconômica mais alta estão engajadas em muitos comporta-
mentos criminosos e que este comportamento criminoso difere do comportamento criminoso
da classe econômica mais baixa principalmente por conta dos procedimentos administrativos
– mais brandos – para lidar com os infratores. A diferença entre a criminalidade dos poderosos
e a criminalidade das pessoas mais pobres não é, no entanto, significativa do ponto de vista
da causação do crime: a razão pela qual os crimes são cometidos é a mesma, o aprendizado
somado a definições favoráveis à violação da lei8.
São crimes que, em geral, não podem ser explicados pela pobreza ou educação de má qua-
lidade. São, ademais, crimes difíceis de se detectar ou mesmo de se sancionar.
A própria população tem, em muitos momentos, dificuldade de classificar tais condutas
como criminosas. Há um sentimento de admiração e respeito aos grandes empresários, ban-
queiros, homens de negócio, políticos. É como se houvesse uma “imunidade do negócio”. A
concessão de prisão especial para os possuidores de diploma de nível superior costuma ser
citada como exemplo de imunidade do negócio.
Sutherland relatava que costuma haver, em relação aos crimes de colarinho branco, a pre-
visão de penas não muito elevadas e de penas pecuniárias e restritivas de direito em substi-
tuição à pena privativa da liberdade, pois o pensamento dominante é que os autores desses
crimes não precisam ser ressocializados, já que têm boa situação econômica e estão integra-
dos na sociedade.
Os efeitos dos crimes de colarinho branco costumam ser significativos, porém difusos.
Não é uma pessoa particular que sente o efeito danoso da conduta, e sim uma coletividade.

8
SUTHERLAND, Edwin H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015, p. 33.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 15 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Essa característica também contribui para a leveza das penas e para as baixas taxas de perse-
cução do crime.
Apesar de tudo isso, defende Sutherland, o crime do colarinho branco é, por diversas ra-
zões, um tipo de criminalidade organizada praticada pelos homens de negócio. É um tipo de
crime organizado porque são condutas deliberadas, com unidade relativamente consistente. É
uma criminalidade persistente, pois grande parte dos criminosos é reincidente. Mas os crimi-
nosos do colarinho branco não se veem como criminosos, até mesmo porque não são tratados
com os mesmos procedimentos oficiais destinados aos criminosos comuns; e porque, como
são oriundos de outra classe social, não se relacionam de forma pessoal e íntima com aqueles
que se definem como os criminosos típicos.

Cifras da Criminalidade

Vou falar um pouco sobre as cifras da criminalidade, porque o crime do colarinho branco
está intimamente relacionado com esse conceito. O conceito de cifras da criminalidade deriva
da percepção de quem nem todos os crimes chegam ao conhecimento das autoridades. Ao
lado da criminalidade real – isto é, da totalidade de delitos praticados – existe a criminalidade
revelada, ou seja, a parcela da criminalidade real que chega ao conhecimento do Estado.
Trata-se do chamado efeito de funil, também conhecido como mortalidade de casos crimi-
nais. Isso é natural e a criminologia reconhece que o processamento de todos os casos (total
enforcement) levaria à falência do próprio sistema penal.

Cifra Negra

Uma das consequências do efeito de funil é a existência da denominada cifra negra, aquela
parcela de crimes que não integra as contagens oficiais. São os crimes que não chegam ao co-
nhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. Quantas vezes, por exemplo, somos
assaltados ou furtados e deixamos de registrar ocorrência? Quando fazemos isso, estamos
inflando a cifra negra, que nada mais é, portanto, do que a diferença entre a criminalidade real
e a criminalidade revelada.
Os crimes do colarinho branco apresentam alta cifra negra, já que são delitos de difícil de-
tecção e punição. Outro tipo de delito que apresenta altíssimas taxas de subnotificação são os
crimes sexuais. Acredita-se que a diferença entre os crimes sexuais praticados e aqueles que
são comunicados chega a 90%. Às vezes a própria vítima sente vergonha e não denuncia; às
vezes a vítima quer denunciar, mas não se sente acolhida nos contatos com a polícia e acaba
desistindo de levar adiante seus relatos; às vezes a própria família acoberta o caso, para evitar
que se torne um escândalo, já que a maior parte dos crimes sexuais contra menores são co-
metidas por parentes próximos à vítima. Esses são apenas alguns exemplos de motivos que
estão na base desse descompasso entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 16 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Por tudo isso, as estatísticas criminais não refletem a criminalidade real, mas apenas uma
parte dela, restando a cifra negra, oculta, difícil de decifrar. As pesquisas de vitimização, ou
seja, realizadas com a população em geral questionando se foram vítimas de algum crime,
procuram suprir essa lacuna.

Cifra Dourada

Cifra negra é o nome mais genérico para designar essa diferença entre a criminalidade
real e a criminalidade conhecida. Ao longo dos anos, subclassificações das cifras negras têm
aparecido. Já disse a você que os crimes do colarinho branco possuem alta taxa de subnoti-
ficação, porque são delitos de difícil detecção. Criou-se, então, um nome específico para essa
diferença entre criminalidade real e conhecida dos poderosos: é a chamada cifra dourada.
A cifra dourada diz respeito, portanto, aos delitos cometidos pelos poderosos que são
desconhecidos e ficam impunes. Pode-se dizer que ela é um subtipo da cifra negra. Quando
alguém dos altos estratos sociais comete um crime contra o sistema financeiro ou um crime
tributário, por exemplo, é possível que fique sem punição porque o sistema penal é desenhado
para selecionar a criminalidade de rua, cometida pelos pobres.

Obs.:
 Já houve questões da Vunesp considerando que o conceito de cifra dourada equivale ao
conceito de crime do colarinho branco. Tecnicamente, não é isso, como acabamos de
ver. Aos crimes do colarinho branco (crimes dos poderosos cometidos no âmbito labo-
ral) que permanecem desconhecidos ou, segundo algumas definições, em relação aos
quais há uma indulgência do sistema persecutório penal, dá-se o nome cifra dourada.

Outras Cifras
• Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém que não
chegam a virar um processo penal. São casos, por exemplo, solucionados pelos pró-
prios policiais em sua atividade rotineira; ou na própria delegacia de polícia; ou com a
renúncia da vítima ao direito de queixa ou representação. A cifra cinza demonstra que
as polícias têm papel conciliador de conflitos e é, nesse aspecto, dotada de muito poder,
pois exerce suas competências de tratar o fenômeno delitivo longe da supervisão direta
das instâncias que seriam as intervenientes subsequentes do sistema de persecução,
como ministério público, defensoria pública, poder judiciário.
• Cifra amarela: casos em que as vítimas sofreram algum tipo de violência praticada por
servidor público e deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes
pela apuração.
• Cifra verde: delitos que têm por objeto o meio ambiente e que não chegam ao conhe-
cimento policial ou não são processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
• Cifra rosa: crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento das autori-
dades.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 17 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

3.4. Teoria da Subcultura Delinquente


Essa teoria se desenvolveu a partir da obra Delinquent boys, publicada por Albert Cohen
em 1955. Para ele, toda sociedade é internamente diferenciada em numerosos subgrupos.
Esses subgrupos possuem maneiras de pensar e agir: que lhe são peculiares; que as pesso-
as somente podem adquirir participando desses grupos; e que alguém raramente deixará de
adquirir se for um participante verdadeiro do grupo. Essas culturas dentro das culturas são as
subculturas. Ele explica que a subcultura delinquente se tornou comum em certos grupos da
sociedade norte-americana, que são as gangues de meninos que floresceram visivelmente nos
bairros delitivos das grandes cidades americanas. Quando crescem, alguns membros de gan-
gues passam a cumprir as leis, enquanto outros se profissionalizam no crime, mas, indepen-
dentemente disso, a tradição delitiva é mantida viva pelos jovens que os sucedem nos grupos.
A subcultura delinquente surge como um meio de lidar com problemas de ajuste: certas
crianças e adolescentes não conseguem preencher os critérios do sistema de status respei-
tável na sociedade. A subcultura delinquente fornece outros critérios de status, esses sim,
possíveis de serem alcançados por esses jovens, que são em sua maioria meninos da classe
baixa. Eles se juntam em grupos – as gangues – e nesses grupos praticam diversas atividades,
algumas delas delitivas.
A subcultura aceita alguns valores predominantes, mas também expressa sentimentos e
crenças exclusivos de seus grupos. A subcultura é, como se vê, bastante típica da juventude.
Os grupos subculturais aceitam, por exemplo, que seus integrantes façam algazarra, vandalis-
mo, obscenidades. Os punks, skinheads, hooligans, as gangues são citados por Cohen como
exemplos de grupos de subcultura.
Um argumento central para a teoria da subcultura delinquente é a existência de diferenças
essenciais entre a criminalidade subcultural e a criminalidade em geral. A subcultura, típica
das gangues, valoriza o não utilitarismo, a malícia, o negativismo, a versatilidade, o hedonismo
de curto prazo e a autonomia de grupo:
• Não utilitarismo: eles cometem furtos não como uma atitude racional e utilitária. Eles
roubam porque estão a fim, sem qualquer consideração sobre lucro ou ganho, mas sim
porque é uma atividade que implica renome, satisfação e valentia naquele grupo. Não
há explicação racional ou utilitária para o esforço que se emprega e o risco que se corre
em roubar coisas que muitas vezes acabam sendo descartadas, destruídas ou doadas;
• Malícia: por toda parte, há um tipo de malícia aparente, um prazer no desconforto alheio,
um deleite em desafiar tabus, uma hostilidade gratuita direcionada aos adultos e a quem
não é da gangue;
• Negativismo: a subcultura delinquente não é apenas um conjunto de regras que é dife-
rente ou em conflito com as normas dos adultos respeitáveis da sociedade. Ela é defini-
da por sua polaridade negativa em relação a essas normas. A subcultura pega empres-

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 18 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

tadas as normas da cultura geral e as vira de ponta cabeça. A conduta do delinquente


é correta pelos padrões de sua subcultura exatamente porque ela é errada segundo as
normas da cultura geral.
• Versatilidade: não há uma tendência à especialização. As gangues cometem furtos, van-
dalismo, danos, invasão de domicílio, com vítimas as mais variadas.
• Hedonismo de curto prazo: não há interesse em metas de longo prazo, atividades plane-
jadas ou que envolvam conhecimento e habilidade que somente possam ser adquiridos
com tempo de estudo, dedicação e prática. Os membros das gangues apenas se reú-
nem em alguma esquina sem nenhuma atividade específica em mente.
• Autonomia de grupo: as relações entre os membros da gangue tendem a ser solidárias
e prementes. As relações com outros grupos tendem a ser indiferentes, hostis ou rebel-
des. Para eles, as gangues são um foco irresistível de atração, lealdade e solidariedade,
e é exatamente isso que é a essência da subcultura.

Por ter focado na criminalidade juvenil dentro desses grupos de meninos, uma das críticas
mais frequentes que a teoria da subcultura recebe é exatamente a de não ter conseguido for-
necer uma explicação mais abrangente da criminalidade.

Quadro Sinóptico das Teorias do Consenso

Teoria Autores Ideia principal

Robert Park
Ernest Burgess Desorganização social das grandes
Escola de Clifford Shaw cidades.
Chicago Henry McKay Controle social informal enfraquecido.
(1920-1930)

Associação Edwin Sutherland Crime é aprendizado.


Diferencial (1940) Crime do colarinho branco.

Émile Durkheim
Crime é normal e útil, a não ser quando
(fim séc. XIX)
Anomia ultrapassados certos limites.
Robert Merton
Descompasso entre meios e objetivos.
(1938)

Gangues são subculturas delinquentes.


Subcultura Albert Cohen Não utilitarismo da ação, malícia,
Delinquente (1955) versatilidade, negativismo, hedonismo de
curto prazo e autonomia de grupo.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 19 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

4. Teorias do Conflito
Antes de mais nada, vamos recordar que os teóricos do conflito partem do pressuposto de
que há força e coerção na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e
sujeição de outros. A sociedade está sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento
da sociedade contribui, de certa forma, para sua desintegração. Para essas teorias, o crime faz
parte da luta pelo poder.
As teorias do conflito alteram profundamente a maneira de pensar as questões crimino-
lógicas. Alessandro Baratta, um dos principais teóricos da Criminologia crítica, explica que a
Criminologia consensual tradicional (e o Direito Penal) sempre se baseou em duas ideias: o
princípio do interesse social e o princípio do delito natural.
Para o princípio do interesse social, o núcleo central dos delitos previstos nos códigos re-
presenta ofensa aos principais interesses fundamentais da sociedade. A ideia de delitos natu-
rais defende a existência de crimes contra os quais toda sociedade civilizada se defende, inde-
pendentemente de época ou cultura. Assim, para a ideologia penal oficial e para a Criminologia
tradicional, a criminalidade é uma qualidade objetiva, ontológica de certos comportamentos.

As provas gostam de perguntar sobre a ontologia da criminalidade. Em linhas gerais, podemos


dizer que a ontologia estuda a natureza do ser, da existência, da realidade. Quando a Criminolo-
gia começa a debater se o crime existe ontologicamente, quer saber se ele existe por si próprio,
ou seja, se algumas condutas podem ser consideradas essencialmente criminais, objetiva-
mente criminais. Baratta explica que a Criminologia tradicional, em linhas gerais, acreditava
que sim. A Criminologia do conflito questiona esse postulado, pois para ela o crime não existe
ontologicamente. Ele possui natureza definitorial: as condutas não são criminosas em si mes-
mas, mas são definidas como criminosas em virtude de complexos processos de interação,
dominação e seleção. Ou seja: as condutas são consideradas criminosas porque alguém ou
alguma instituição define que elas são criminosas.

Além de acreditar na ontologia do crime, a Criminologia tradicional parte de um ideal de


homogeneidade dos valores e interesses protegidos pelo direito penal.
Esses princípios, do interesse social, do delito natural e da homogeneidade de valores, são
negados pelos teóricos do conflito. Para a Criminologia do conflito, a criminalidade não é uma
qualidade ontológica, mas um status social atribuído por meio de processos de definição e
mecanismos de reação. Ou seja, o crime não existe antes de um sistema de reação (Polícia,
Ministério Público, Poder Judiciário) defini-lo como tal. O foco das teorias criminológicas se
desloca da criminalidade (já que ela não existe por si própria) para os processos de criminali-
zação (que definem uma conduta como criminosa).

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 20 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

As teorias do conflito possuem forte tradição nos Estados Unidos, sobretudo em virtude
do contexto social de pós-guerras, em que disputas internas (raciais, de classe, de desempre-
go, de marginalização, estudantis, feministas) assumiram prevalência se comparadas a con-
flitos externos. Elas partem do pressuposto da existência, na sociedade, de uma pluralidade
de grupos e subgrupos que, eventualmente, apresentam discrepâncias em seus valores. Para
as teorias do conflito, portanto, a sociedade não é monolítica, unitária. Ela está em constante
mudança, cenário que é decorrente de visões diferentes de uma mesma situação por grupos
antagônicos que coexistem.
Assim, para as teorias do conflito, não é o contrato social que garante a manutenção do
sistema e que faz com que os grupos sociais evoluam. Esses papeis devem ser – e são –
atribuídos ao conflito. É, portanto, o conflito que promove as alterações necessárias para o
desenvolvimento dinâmico da sociedade. Por isso, diz-se que essas teorias são progressistas,
e não conservadoras.
Os teóricos do conflito demonstram, por exemplo, que o sistema penal trata os suspeitos
de forma diferenciada com base em sua raça, etnia ou classe social, já que a sociedade não
é hegemônica e que os agentes do controle social e outros grupos poderosos podem impor
definições de desvio que atendem a seus objetivos9.
Os principais postulados da Criminologia conflitual são:
• A ordem social da sociedade industrializada não tem por base o consenso, mas sim o
conflito;
• O conflito não é patológico, senão a expressão da própria estrutura e dinâmica da mu-
dança social;
• Os interesses protegidos pelo direito penal não são interesses comuns a todos os cida-
dãos;
• O Direito representa os valores e interesses das classes ou setores sociais dominantes;
• O crime é uma reação à desigual e injusta distribuição de poder e riqueza na sociedade;
• A criminalidade é uma realidade social criada por meio do processo de criminalização;
• A criminalidade e o direito penal têm natureza política.

Com esses postulados, já adiantamos como pensam as escolas do conflito. Vamos, agora,
analisar especificamente cada uma delas. Ao final da aula, falarei brevemente sobre a Crimino-
logia cultural, que é um desenrolar mais contemporâneo da Criminologia crítica e que começou
a aparecer em algumas provas.

4.1. Labelling Approach


Essa é uma teoria bastante cobrada em provas. Dedique bastante atenção a ela. Ela tam-
bém é conhecida como:
9
SCHAEFER, Richard T. Sociologia. 6 ed. Porto Alegre, AMGH Editora LTDA, 2014, p. 267.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 21 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

• teoria da rotulação;
• teoria do etiquetamento;
• teoria da reação social;
• teoria interacionista;
• interacionismo simbólico.

Você deve estar lembrado(a) de que, ao longo das nossas aulas, venho falando pouco a
pouco dessa teoria. Já na nossa primeira aula, eu disse que o controle social formal se conso-
lidou como objeto da Criminologia justamente em virtude dessa escola, que floresceu a partir
dos anos de 1960, nos Estados Unidos.
Rompendo com o ideal consensual de sociedade, o labelling propugnava que estudar a
realidade social implicava estudar os processos de interação individual ocorridos no seio da
própria sociedade. Isto é, não se pode compreender o crime prescindindo do entendimento
da própria reação social. Por isso se diz que um dos postulados da teoria é o interacionismo,
ou interacionismo simbólico, ou construtivismo social. A desviação não é uma qualidade in-
trínseca da conduta, mas um atributo que lhe é conferido por meio de complexos processos
de interação social. É decisivo, então, para compreender o crime, analisar como funcionam os
mecanismos sociais que atribuem o status de delinquente a alguém.
Conforme os teóricos interacionistas, para cada uma das ações desviadas é possível en-
contrar inúmeras ações similares que não serão rotuladas de criminosas, por não serem leva-
das em consideração ou por não se apresentarem de maneira evidente como desviadas. Dian-
te de cada fato, as instituições atuam como filtros, definindo sua natureza. Frente às condutas
humanas, portanto, as agências formais de controle social atuam como uma grande peneira, a
separar quais devem ser etiquetadas como criminosas e quais não merecem o rótulo.
Assim, o labelling approach reconhece o caráter constitutivo do controle social formal, con-
siderado instrumento seletivo e discriminatório. Deixa-se de questionar por que um indivíduo
comete crimes, e passa-se a indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com o rótulo de
desviada. O labelling approach abandona o paradigma etiológico (busca da causa do crime),
substituindo a busca das causas da criminalidade pela análise das reações das instâncias
oficiais de controle social. Nesse questionamento, as agências de controle social adquirem
enorme importância e passam a ser estudadas criteriosamente. Se hoje é comum que haja
capítulos sobre a polícia, o Ministério Público, as instituições prisionais, o sistema judiciário
nos livros e manuais de Criminologia, isso, em grande parte, deve-se ao paradigma de controle
inaugurado pelo labelling approach, que tanto valor atribuiu aos respectivos papéis na consti-
tuição do delito.
O labelling defende que os estudiosos defendem a adoção da introspecção simpatizante,
isto é, a aproximação da realidade criminal para compreendê-la a partir do ponto de vista do
delinquente, tentando entender qual é o seu ponto de vista.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 22 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Há, portanto, uma importante quebra de paradigma na Criminologia. A Criminologia deslo-


ca o problema do plano da ação (conduta criminosa) para o plano da reação (controle social).
Ela deixa de analisar os bad actors e passa a enfocar nos powerful reactors. A pergunta não é
mais: por que alguém comete um crime? A pergunta passa a ser: por que algumas condutas
são selecionadas como criminosas pelos poderosos filtros de seleção do sistema criminal?

Howard Becker

Um dos principais autores do labelling approach é o norte-americano Howard Becker, da


Universidade de Chicago.

 Obs.: Os interacionistas, como Becker, evitam termos tradicionais como crime, criminoso,
bandido, dada a carga valorativa pejorativa que possuem. Preferem utilizar a nomen-
clatura deviance, que podemos traduzir como desviação. A conduta desviante é criada
pela sociedade, ao reagir a certas práticas, rotulando-as.

Em seu livro Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance, de 1963, Becker relata o resul-
tado da análise de grupos de usuários de maconha e de músicos de jazz que fez na década de
1950. Ele explica que todos os grupos sociais constroem suas próprias regras. A pessoa que
quebras essas regras não é aceita como membro de um grupo. Ela é considerada uma estra-
nha, ou melhor, é etiquetada como outsider, e começa, a partir daí, a sofrer um processo de es-
tigmatização. O quanto alguém é considerado um outsider varia de caso a caso. Por exemplo:
uma pessoa que infringe as regras de trânsito é, em geral, menos outsider que um assassino
ou estuprador.
Becker defende que quando perguntamos “por que alguém quebra as regras?” ou ainda “O
que essas pessoas têm de especial que as leva a fazer coisas proibidas?”, estamos: aceitando
que há algo inerentemente desviante nesses atos que quebram as regras; partindo do pressu-
posto de que essa pessoa possui características que a levem a fazer isso; e, mais do que tudo,
aceitando os valores do grupo que faz o julgamento. Ao fazer isso, podemos deixar de fora
uma variável importante, que é exatamente esse processo de julgamento.
As regras são o produto da iniciativa de alguém e Becker denomina essas pessoas moral
entrepreneurs, ou seja, empreendedores morais, e aí se encaixam tanto aqueles que fazem as
regras como aqueles que as aplicam.
Dentre os criadores de regras existem os reformistas de cruzada moral (moral crusading re-
former ou moral crusader). Aqui, ele emprega o termo cruzada referindo-se às cruzadas medie-
vais em nome de Deus. Esses reformistas, explica Becker, estão preocupados com um mal (o
crime), que tem que ser eliminado a todo preço. Eles acreditam que a missão deles é sagrada
e querem, a todo custo, forçar a moral deles para outros grupos de pessoas. Nesse processo,
preocupam-se mais com os fins do que com os meios. É comum que os reformistas requeiram
o serviço de um profissional que possa redigir e embasar apropriadamente uma minuta de
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 23 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

projeto de lei. Becker cita especificamente que juristas costumam fazer esse papel e que cada
vez se torna mais comum que psiquiatras sejam empregados em alguma parte do processo. O
reformista moral passa essa parcela técnica do trabalho – que não lhe interessa – nas mãos
dos outros, e parte para a descoberta de um novo mal que ele possa resolver. Ele se torna um
descobridor profissional de erros a serem corrigidos, de situações que necessitam de novas
leis. Os crusaders que têm sucesso, criam novas regras e, com isso, novos grupos de outsiders.
Dentre os aplicadores da lei (rule enforcer), temos a força policial, que é o resultado final
de uma cruzada moral. A existência de leis a serem aplicadas dá aos policiais um trabalho,
uma profissão. Então, a polícia dedica-se a demonstrar que o problema de infrações às leis de
fato existe e é um problema sério. Eles insistem muito na existência do problema, já que isso
fornece uma boa razão para a manutenção da posição que eles ocupam. No trabalho policial,
é importante ganhar respeito da população e isso, explica Becker, significa que uma pessoa
pode ser etiquetada como desviante não por ter efetivamente desrespeitado uma lei, mas por
ter mostrado falta de respeito com os policiais. Existe uma enorme margem de discricionarie-
dade no trabalho policial: o policial estabelece prioridades, pois sabe que não pode lidar com
o todo o mal que encontra. Assim, os enforcers aplicam as leis e criam outsiders de maneira
seletiva. Para que uma pessoa que cometeu uma desviação seja etiquetada como desviante,
muitos fatores estranhos ao seu comportamento são levados em consideração, tais como: se
o policial acha que deve agir naquele momento; se o ofensor mostrou deferência ao policial; se
o desviante conta com a ajuda de algum facilitador (um advogado ou um parente influente, por
exemplo); se o policial tem aquela conduta em sua lista de prioridades etc.
Nos grupos e organizações, explica Becker, existe conflito político. As decisões sobre quais
regras devem ser criadas, quais condutas devem ser consideradas desviantes e quais pessoas
devem ser etiquetadas como outsiders são, em sua visão, decisões políticas.
Por tudo isso, ele entende que a desviação é criada pela sociedade. Vamos ver textualmen-
te o que ele diz, em tradução livre:

Essa visão sociológica que eu acabei de discutir define a desviação como a infração de regras sobre
as quais há acordo. (...) Parece-me que essa suposição ignora o fato central sobre a desviação: ela
é criada pela sociedade. E eu não quero dizer com isso aquilo que é normalmente compreendido, ou
seja, que as causas da desviação estão localizadas na situação social do desviante (...). Ao contrá-
rio, eu quero dizer que os grupos sociais criam a desviação fazendo regras cuja infração constitui a
desviação, e aplicando essas regras para pessoas em particular e etiquetando-as como outsiders. A
partir desse ponto de vista, a desviação não é uma qualidade do ato que a pessoa comete, mas uma
consequência da aplicação, pelas outras pessoas, de regras e sanções para um ofensor. O desviante
é alguém em quem aquela etiqueta foi aplicada com sucesso; o comportamento desviante é um
comportamento que é assim etiquetado pelas pessoas10.

Assim, se a desviação é uma consequência da resposta dos outros ao ato de alguém, não
podemos supor que haja homogeneidade no grupo dos etiquetados como desviantes. Nem
todos que foram etiquetados, infringiram uma regra. E nem todos os que quebraram regras, fo-
10
BECKER, Howard S. Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance. Nova Iorque: The Free Press, 1963, p. 9.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 24 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

ram etiquetados. Não é possível, então, ficar procurando traços de personalidade ou situações
de vida que expliquem a desviação. O importante, para Becker, é entender a desviação como
o produto de uma transação que ocorre entre um grupo social e aquele que é visto por esse
grupo como um transgressor (rulebreaker).
No processo de estudo da desviação, não devemos encará-la como algo depravado ou
como algo muito diferente das demais condutas. A desviação é apenas um tipo de compor-
tamento que algumas pessoas desaprovam, enquanto outras valorizam. O correto é tentar
entender o processo pelo meio do qual ambas perspectivas são construídas e mantidas, e aí
reside a importância de manter contato próximo com os objetos de estudo.
Para Becker, as pessoas de classe média com padrão mínimo de bem-estar e conforto não
seguem os impulsos criminais que todos têm porque elas teriam muito a perder: os laços es-
treitos com amigos e parentes; o emprego; a carreira estudantil; o conforto. Quem, no entanto,
não tem muito a perder, pode se arriscar.
E praticado o ato inicial, explica Becker, começam as cerimônias degradantes, que são
processos desmoralizantes a que é submetido o réu e que atingem sua autoestima. Tem iní-
cio, também, o processo de estigmatização. A sociedade seleciona essa etiqueta – criminoso,
ladrão – para designar o indivíduo, mesmo que ele só tenha gastos alguns minutos da sua
existência praticando o crime.
Estigmatizado e segredado da sociedade, o delinquente se aproximará de outros crimino-
sos e acabará se identificando com eles pela situação de vida em que se encontram. Começa,
então, o processo de desviação secundária: novos atos desviantes são cometidos como fruto
do processo de reação social à desviação primária. O agente mergulha no papel de delinquen-
te, num processo que se chama de role engulfment, e tem início sua carreira criminal. A profe-
cia se autocumpre: tanto diziam que ele era um criminoso, que agora de fato o é.
Becker demonstra que os estudos interacionistas fazem com que os sociólogos percebam
que um grupo muito maior de pessoas e eventos têm que ser levados em consideração no
estudo da desviação. Nesse sentido, a desviação é um ato coletivo. É preciso, diz ele, estudar
o acusado, mas também o acusador. É preciso considerar que há pessoas, situações ou atos
suficientemente poderosos ou legitimados a impor definições (a colar as etiquetas). E ao fazer
isso, ou seja, ao tornar os empreendedores morais objetos de estudo, os estudos interacionis-
tas violam a hierarquia de credibilidade da sociedade, pois questionam o monopólio da verda-
de sobre a desviação. É mais ou menos como se, pela primeira vez, a Criminologia colocasse
em dúvida a palavra da Polícia, do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Administração
Penitenciária. Por isso, diz-se que o labelling inaugura um paradigma novo na Criminologia,
aquilo que em nossa terceira aula chamamos de Modelo da Reação Social.

Erving Goffman

Outro nome de peso no labelling approach é o do canadense Erving Goffman, que realizou
suas pesquisas nos Estados Unidos. É autor, entre outros, de Estigma: Notas sobre a Manipula-

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 25 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

ção da Identidade Deteriorada, de 1963, e Manicômios, Prisões e Conventos, de 1961, livros em


que se debruçou sobre a questão prisional.
Ele introduziu o conceito de instituição total que são aquelas que, como é o caso do cárce-
re, possuem barreiras à relação com o mundo externo simbolizadas por portas fechadas, pa-
redes altas, arame farpado, fossos, água, florestas ou pântanos. Nas instituições totais, todos
os aspectos da vida do condenado são realizados no mesmo local, sob uma autoridade única
e diante de um grupo de pessoas razoavelmente grande. Há horário, padrão e sequência para
as atividades. Caso a permanência do condenado na instituição total seja longa, começa a ter
lugar um processo gradativo de desculturamento: humilhações, rebaixamentos, degradações
pessoais e profanações do “eu”. O “eu” civil é mortificado e a pessoa começa a passar por mu-
danças radicais em sua carreira moral, composta pelas progressivas mudanças que ocorrem
na crença que os outros têm a seu respeito.
A mortificação da pessoa começa por meio de medidas do processo de admissão, que é
um rito de passagem onde ocorre: a perda do nome; a atribuição de um número de prontuário; a
privação dos pertences pessoais; a adoção de um uniforme padrão; as medições pelo departa-
mento médico; as agressões físicas que recebe dos superiores e de colegas mais antigos etc.
Além desse rito inicial, o interno tem que se adaptar à nova vida, adotando novas posturas,
nova linguagem, assumindo novos papeis de submissão e inferioridade, desempenhando tra-
balhos obrigatórios que muitas vezes são vistos como inúteis, se encaixando em regras que
disciplinam minúcias da sua vida.
Goffman fala em exposição contaminadora: trata-se da dissolução da fronteira entre o ser
e o ambiente. O interno não consegue ter sua intimidade preservada. Tudo que ele faz é obser-
vado e registrado em um dossiê. E são comuns queixas de alimento sujo, locais em completa
desordem, pertences impregnados com o suor de outras pessoas, instalações sujas para o
banho. Além disso, são frequentes exames na pessoa do interno e em seu dormitório, violando
a intimidade e o território do “eu”.
Por tudo isso, as instituições totais são fatais para o eu civil do internado, diz Goffman.
Importante explicar que quando fala em instituições totais, Goffman não estava se referindo
somente a prisões, mas também a quarteis, asilos para idosos, claustros religiosos, abrigos
para órfãos, hospitais para doentes mentais, campos de concentração, internatos e tantas ou-
tras instituições em que há barreira social com o mundo externo e proibições à saída.
A pessoa institucionalizada é alguém inadaptada para o convívio em sociedade, exatamen-
te por se identificar com a instituição na qual está recolhida, e estigmatizada. Os egressos do
sistema penitenciário têm, pelo resto de suas vidas, sua ocupação laboral e sua localização
geográfica determinada pela participação na instituição total. A estadia na prisão orienta o
pertencimento ao ambiente da comunidade do submundo, de modo que isso tem efeitos em
toda a existência do ex-interno.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 26 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Implicações Político-Criminais

No plano político-criminal, as teorias interacionistas propuseram a política dos 4 Ds:


• Descriminalização: como a reação social causa mais criminalidade, é prudente deixar de
considerar certas condutas como criminosas para diminuir os problemas de estigmati-
zação e ingresso na carreira criminal;
• Diversão: é necessário diversificar a resposta aos problemas da sociedade, para que se
utilize menos a resposta penal, dados os males que ela causa;
• Devido processo legal: as regras do processo legal precisam ser estreitamente respeita-
das para que o indivíduo seja tratado pelos mecanismos de controle social formal com
respeito e dignidade;
• Desinstitucionalização: os presídios são instituições totalizadoras que provocam a mu-
tilação do “eu” e a inadaptabilidade para o convívio social, de modo que deve ser dada
preferência, quando possível, a penas alternativas à prisão11.

A reforma penal brasileira de 1984, com a instituição do regime progressivo de cumpri-


mento da pena privativa de liberdade e a adoção de penas substitutivas, pode ser citada com
um reflexo das ideias de desinstitucionalização do labelling em nosso ordenamento. O mesmo
vale para os dispositivos da Lei de Execução Penal (Lei n. 7.210/84) que ensejam o contato
do preso com o mundo exterior; e para a Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei n.
9.099/95), que elimina da esfera penal vários crimes e adota postura descarcerizadora.

4.2. Criminologia Crítica


Também chamadas de Nova Criminologia, Criminologia Radical ou, ainda, Criminologia
Dialética, as teorias de Criminologia Crítica nascem na década de 1970 com forte apelo às
ideias de Karl Marx. Para os autores críticos, há relação direta entre o modo de produção ca-
pitalista e o funcionamento dos modos punitivos. Não se trata mais de descobrir as razões
da delinquência ou de lutar contra o crime, mas sim de abolir as desigualdades sociais para
equacionar o fenômeno delitivo.
Além de Marx, outra fonte de inspiração para os teóricos críticos é a Escola de Frankfurt,
fundada em 1924, na Universidade de Frankfurt na Alemanha. A teoria crítica dos filósofos
alemães se opõe à teoria tradicional por não ser neutra, por analisar as condições sociopolí-
ticas e econômicas e buscar alterá-las.
As teorias críticas são dotadas de forte práxis (atividade prática, em oposição à mera te-
oria), ou seja, elas querem não apenas denunciar as situações de desigualdade, mas também
alterá-las profundamente.

11
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 2ª ed. São Paulo: RT, 2008, p. 271.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 27 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Na Criminologia Crítica, a própria Criminologia, como vinha sendo desenvolvida tradicio-


nalmente, passa a ser objeto de estudo. A Criminologia passa a questionar qual deve ser o
objeto e qual deve ser o papel da investigação criminológica. Os teóricos críticos não querem
defender a sociedade do crime, mas sim defender os indivíduos da sociedade capitalista.
A Criminologia Crítica surgiu nos Estados Unidos, sobretudo com o pensamento de William
Chambliss, e logo se espalhou para outros países, difundindo a ideia de realizar uma reflexão
analítica sobre o real funcionamento do poder e das instituições de controle social. Essas
teorias opõem-se ao positivismo, que focava sua análise no delinquente, e demandam que
o Estado, que até então não era objeto da Criminologia, passe a sê-lo. Para a Criminologia
Crítica, portanto, deve-se contestar a função conservadora do status quo que a Criminologia
vinha realizando até o seu surgimento.
Para as teorias marxistas, o crime é um produto histórico, patológico e contingente da
sociedade capitalista. Na ordem social, classes antagônicas se confrontam. Uma dessas
classes se sobrepõe e explora a outra, utilizando, para isso, o direito penal e a justiça. Desse
modo, o sistema legal é um instrumento a serviço da classe dominante para oprimir a classe
trabalhadora. A justiça penal possuiria administradores: os funcionários públicos não estão
lá para lutar contra o crime, mas sim para realizar a administração do fenômeno, recrutando a
população desviada dentre as classes trabalhadoras que são sua clientela habitual. Por isso
fala-se que é necessário formular uma definição proletária de crime.
A Criminologia Crítica, em certa medida, produz um retorno ao determinismo, mas agora
não um determinismo biológico, como dos positivistas. Trata-se de um determinismo eco-
nômico-social, que deriva do modo de produção desigual do capitalismo. Aqui, no entanto,
costuma-se dizer que não há um determinismo tão rígido como aquele do século XIX, pois
compreende-se que nem todos os marginalizados sociais cairão na engrenagem penal. Por
isso, nas provas, algumas bancas falam em determinismo econômico e social (Cebraspe, por
exemplo), enquanto outras (MPE-GO, por exemplo) defendem que existe livre-arbítrio, ou seja,
que os indivíduos são livres e escolhem o caminho da desviação como solução das contradi-
ções capitalistas.
Em resumo, para a Criminologia Crítica não é possível fazer Criminologia sem questio-
nar os processos de criação da lei penal de acordo com os interesses da classe dominante
(chamados processos de definição) e os processos discriminatórios de aplicação da lei em
prejuízo das classes oprimidas (chamados processos de seleção).
Do ponto de vista metodológico, a Criminologia Crítica se distancia das técnicas das ci-
ências sociais. Não aceitam investigações puramente empíricas. Preferem o método históri-
co-analítico, em que são analisadas as agências de controle social da sociedade capitalista.
Assim, por exemplo, no lugar de pesquisas estatísticas e empíricas, nascem pesquisas analí-
ticas, descritivas, situacionais, que consideram a historicidade da situação social.
São considerados postulados da Criminologia crítica:

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 28 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

1. Fundamento conflitual da desviação: a criminalidade surge em resposta a um con-


flito social;
2. Máxima relevância da desviação secundária: a consideração de que as instâncias de
controle social impulsionam processos de etiquetamento e estigmatização;
3. Justiça de classe: a justiça é seletiva e discriminatória, recrutando sua clientela dos
mais baixos estratos sociais;
4. Atitude empática em relação ao desviado: apreço em relação ao criminoso comum e
atitude hostil e beligerante com o delinquente poderoso;
5. Abolicionismo: descrença no papel desempenhado pelas instâncias de controle so-
cial formal.

William Chambliss

William Chambliss é o principal nome da Criminologia Crítica nos Estados Unidos. Autor
de Law, Order and Power, de 1971, foi ao mesmo tempo pioneiro e sistematizador da Crimi-
nologia Crítica em seu país. Resumidamente, Chambliss explica que as ciências sociais são
dominadas por duas grandes perspectivas de trabalho: o modelo funcional, ligado ao trabalho
de Durkheim, e o modelo dialético, derivado da obra de Karl Marx.
Para a visão funcionalista, o crime ofende a moralidade do povo, mas é útil porque une e
concentra as consciências íntegras. Assim, o crime estabelece e preserva os limites morais da
comunidade. É o típico pensamento de Durkheim.
Para a visão dialética, os atos são criminosos porque é do interesse da classe dominante
assim defini-los. A rotulação de pessoas como criminosas serve aos interesses da classe do-
minante. É o típico pensamento derivado de Karl Marx.
Para compreender qual modelo explica mais corretamente a distribuição do comporta-
mento criminoso, Chambliss analisa e compara a aplicação de leis criminais na Nigéria e nos
Estados Unidos, países que herdaram o direito consuetudinário britânico. Ele utiliza o método
de observação participante e de aplicação de entrevistas de informantes de todo os aspectos
do direito criminal: criminosos, prostitutas, policiais, empresários, servidores públicos etc.
Analisando especificamente dados de Ibadan (Nigéria) e Seattle (EUA), ele percebe que em
ambos os países muitas leis são sistematicamente violadas impunemente por aqueles que
detêm os recursos políticos e econômicos da sociedade.
Em Ibadan, a sistemática de suborno e propinas era virtualmente universal e contribuía de-
cisivamente para o florescimento de um grande e altamente lucrativo comércio de vícios, como
jogatina, prostituição e bebida. Quadrilhas de ladrões profissionais operavam impunemente
em virtude de suas ligações com a polícia. No gueto do grupo étnico Hausa, por exemplo, havia
poucas prisões, não obstante a existência dos mais eficientes grupos de ladrões profissionais.
Um sistema individual de pagamento de extorsões estava em funcionamento. Ia preso, na Ni-
géria, quem não dispunha de dinheiro ou influência política para eliminar a acusação criminal.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 29 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Em Seattle, as mesmas práticas eram verificadas. Prostituição, jogo, agiotagem, drogas,


contrabando de bebida e mercado de apostas ocorriam com a conivência dos policiais e políti-
cos da cidade, que mantinham uma relação simbiótica com os responsáveis por organizar es-
sas atividades. Subornos e comércio de licenças governamentais eram práticas corriqueiras.
A parte nipo-americana da cidade – em paralelo ao que ocorria no gueto Hausa – apresentava
alto índice de crimes não computados nas estatísticas oficiais. Mas na comunidade nipo-ame-
ricana o sistema de pagamento de extorsões, que operava cotidianamente, era comunitário, e
não individual.
Chambliss conlui, então, que o modelo dialético explica bem o fenômeno:

A mais óbvia conclusão é que esses sistemas de aplicação da lei não eram organizados para reduzir
o crime ou para reforçar a moralidade pública. Eles eram antes organizados para dirigir o crime pela
cooperação com os grupos mais criminosos e aplicando as leis contra aqueles cujos crimes eram
uma ameaça mínima para a sociedade. Fazendo isto, os aplicadores da lei acabam como produto-
res do crime. Por prometer lucros e segurança àqueles criminosos que se envolvem em atividades
criminosas organizadas, das quais os sistemas políticos e legais podem se beneficiar, as práticas
da aplicação da lei produzem o crime por selecionar e encorajar a perpetuação das carreiras crimi-
nosas.12

Taylor, Walton e Young

Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young, em seus livros A nova Criminologia, de 1973, e Crimi-
nologia crítica, de 1975, criticam as posturas tradicionais da Criminologia do consenso. Defen-
dem que o fenômeno criminal depende do modo de produção capitalista: a lei penal nada mais
é do que uma superestrutura dependente da infraestrutura do sistema de produção. O direito
não é uma ciência, mas uma ideologia que deve ser analisada no contexto de luta de classes.
Aceitar a definição burguesa de crime equivale a aceitar a ficção da neutralidade do direito.
A sociedade criminaliza atividades desenvolvidas a partir das contradições de sua eco-
nomia política. Por isso, é necessário superar a Criminologia Fabiana, ou o Fabianismo da
Criminologia.

 Obs.: O Fabianismo foi um movimento político e ideológico criado na Inglaterra em 1883.


Possui caráter democrático, socialista, reformista, porém não -marxista. Em resumo
apertado, para o Fabianismo, o Estado não é um organismo de classe a ser tomado,
mas um aparelho para ser usado para promover gradualmente o bem-estar. O nome do
movimento foi inspirado no Cônsul romano Fábio Máximo, que vencia as batalhas gra-
dualmente, sem ataque direto. O Fabianismo acabou se tornando sinônimo de socia-
lismo moderado, em que se defende: geração de emprego a partir de investimentos
públicos; legislação social de amparo aos trabalhadores; estatização de setores da
economia; sistema fiscal distributivo etc.
12
CHAMBLISS, William. A Economia Política do Crime: um estudo comparativo da Nigéria e dos Estados Unidos. In:
TAYLOR, Ian; WALTON, Paul; YOUNG, Jock (Orgs.) Criminologia crítica. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1980, p. 218.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 30 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Taylor, Walton e Young explicam que a meritocracia é uma falácia, porque as pessoas par-
ticipam do jogo capitalista com fortes desigualdades de acesso. O Fabianismo, criticam eles,
reconhecia isso, mas, em lugar de tentar destruir esse sistema, empenhava-se em racionalizar
a meritocracia, tentando dar condições iguais de acesso ao jogo capitalista. Para eles, o Fabia-
nismo tentou o impossível: criar uma sociedade verdadeiramente meritocrática sem transfor-
mar as relações de propriedade que trabalhavam continuamente para obstruir o igualitarismo
competitivo. Nessa tentativa de conceder igualdade de condições, o Partido Trabalhista inglês,
na época do pós-guerra, engajou-se em compromissos de bem-estar social e recrutou, para
isso, exércitos da classe média, como peritos, professores e assistentes sociais. As agências
de assistência social proliferavam, com a missão de ajudar aqueles cuja vida familiar os inca-
pacitasse de participar na luta meritocrática. A preocupação primária era atacar a privação e
os fatores sociais e ambientais, que estavam, aliás, na base da criminalidade.
Ocorre que essas agências de saneamento (as instituições de assistência social) se valiam
de tratamentos que, apesar de descritos como de interesse do próprio cliente, resultavam em
espirais de rotulações espúrias, posterior internamento e canalização irreversível de indivíduos
em direção a carreiras na prisão, em hospitais psiquiátricos e em áreas marginais. Ou seja, a
assistência social refletia a ideologia da cúpula: é necessário estimular o ajuste, encorajar a boa
cidadania. Com isso, a assistência social ajudava a canalizar contingentes da população rumo
a carreiras na prisão. Segundo Taylor, Walton e Young, a Criminologia ortodoxa dessa época
era uma tentativa de corrigir e controlar os piores excessos de um sistema judicial conservador
punitivo e repressivo, com melhoramento do ambiente e fortalecimento da assistência social.
A Criminologia tradicional, portanto, chancelava o sistema judicial, sem tentar alterá-lo.
A Criminologia Crítica, por sua vez, é uma tentativa de realçar os excessos do sistema
de controle social que substitui cuidado por punição. Não se trata, nesse novo enfoque, de
dar condições de igualdade para jogar o jogo meritocrático. O enfoque radical é um enfoque
materialista, ou seja, de uma Criminologia que esteja normativamente comprometida com a
abolição de desigualdades em riqueza e poder e de uma sociedade em que não se criminalize
tudo aquilo que é diferente. É preciso questionar não somente as causas dos crimes, mas tam-
bém as causas das normas. Ser radical, explicam eles, é compreender as coisas pela raiz, e o
homem é inseparável da sociedade em que vive.
É central, na Criminologia Crítica, parar de aceitar o sistema legal sem questionamentos. É
fundamental compreender como as autoridades se tornam autoridades e como elas transfor-
mam legitimidade em legalidade.

Alessandro Baratta

Alessandro Baratta foi um filósofo, sociólogo e jurista italiano. Seu pensamento, em grande
parte desenvolvido na Alemanha, onde recepcionou a teoria o labelling approach, é central para
a Criminologia Crítica e, posteriormente, para as teorias de direito penal mínimo. Em 1982, pu-
blicou Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 31 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Nesse livro, ele defende que o processo de criminalização é o mais poderoso mecanismo
de reprodução das relações de desigualdade do capitalismo. Para ele, a luta por uma socieda-
de democrática e igualitária passa pela superação do sistema penal.
Ele retoma a ideia de que a história do sistema punitivo é a história das relações entre ricos
e pobres. Na sociedade capitalista, há uma drástica repartição desigual de acesso aos recur-
sos e às chances sociais. A mobilidade social é um mito: raramente as pessoas das classes
mais baixas conseguem ascender.
O sistema escolar – assim como o sistema penal – ajuda a refletir a estrutura vertical e
hierarquizada da sociedade. As sanções escolares negativas, tais como repetição de anos, no-
tas baixas em provas, expulsões etc., são muito maiores quando se desce aos níveis inferiores
da escala social. Começa-se a perceber que as técnicas de seleção baseadas em testes de
coeficientes de inteligência ou no conceito de mérito não são neutras. Afinal, os alunos prove-
nientes de classes mais baixas têm enorme dificuldade de se adaptar ao mundo escolar, que
é estranho a eles, em função, por exemplo, do uso de regras de comportamento e linguagem
bastante diferentes das normas de seus grupos de origem. E aí, diante dessas dificuldades,
advêm sanções negativas que refletem o quanto a escola é um instrumento de transmissão da
cultura dominante.
Os professores partem, ainda que inconscientemente, de estereótipos e preconceitos no
dia a dia de contato com alunos de grupos marginalizados. Algumas pesquisas têm demons-
trado que a cota de erros desconsiderados pelo professor é menor no caso de maus alunos
que no caso de bons alunos. Ou seja, aquele aluno que tem dificuldade de se adaptar e é con-
siderado um mau aluno, é tratado com mais rigor nas correções.
Além disso, o fenômeno da profecia autocumprida do labelling approach – também conhe-
cida como self-fullfilling profecy – se aplica ao mundo escolar.
Assim, os alunos que vêm de classes sociais marginalizadas encontram um ambiente for-
mado por pessoas que os encaram com estigmas e preconceitos. Desse modo, entendem que
há uma expectativa para que eles sejam maus alunos e que essa expectativa determina, de
largada, o comportamento.
Confirmada a expectativa, o mau aluno sofre com o distanciamento de colegas, que pas-
sam a rejeitá-lo e a isolá-lo. E a maioria dos alunos, que segue os modelos de comportamento,
se sente integrada e coesa, distante desses maus exemplos.
Seguindo essa lógica, a escola não facilita a mobilidade social. Ao contrário, ela ajuda a
diferenciar as classes, econômica e socialmente.
A ideia central de Baratta é demonstrar que o sistema escolar e o sistema penal são com-
plementares e ajudam a reproduzir e assegurar as relações sociais verticalizadas. Ambos os
sistemas criam contraestímulos à integração dos setores mais baixos e marginalizados do
proletariado.
Baratta utiliza os conceitos de criminalização primária e secundária para explicar o proces-
so seletivo de criminalização. A criminalização primária é o ato de aprovar ou sancionar uma

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 32 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

lei penal que tipifica condutas. A criminalização secundária é a ação punitiva exercida sobre
pessoas concretas.
A criminalização primária – as leis penais em abstrato – reflete o universo moral próprio da
cultura burguesa individualista, dando total ênfase ao patrimônio privado e se orientando para
atingir as formas de desvio dos grupos marginalizados. Os crimes dos poderosos – como os
crimes do colarinho branco – tendem a ficar impunes até mesmo em razão da fragmentarieda-
de do direito penal, que não é neutra.
A fragmentariedade do direito penal segue uma lei de tendência, que leva a preservar da
criminalização primária as ações antissociais realizadas por integrantes das classes sociais
hegemônicas ou que são mais funcionais às exigências do processo de acumulação do ca-
pital. Criam-se, assim, zonas de imunização de condutas cuja danosidade se volte contra as
classes subalternas.
Já os processos de criminalização secundária – punição no caso concreto – desenrolam-
-se de uma maneira muito parecida com aquela que narrei ao falar do professor e seus maus
alunos oriundos das classes mais baixas: preconceitos e estereótipos guiam a ação dos re-
presentantes das agências de controle social formal. Policiais, delegados, promotores e juízes
procuram a verdadeira criminalidade naqueles estratos sociais em que é normal encontrá-la.
A pessoa etiquetada com o rótulo de criminosa tem a sua identidade social alterada. Ele não
é visto mais da mesma maneira e nem se vê mais do mesmo modo. Fica muito fácil que se
instale, então, a delinquência secundária (reincidência) e que nasça uma carreira criminosa.
Baratta relembra o conceito de sociedade dividida de Dahrendorf: só metade da sociedade
extrai de seu seio os juízes e eles têm, diante de si, predominantemente indivíduos provenien-
tes da outra metade. A justiça, então, não é neutra. Existe uma justiça de classe: a distância lin-
guística separa julgadores e julgados; e a menor possibilidade de desenvolver um papel ativo
no processo e de se servir do trabalho de advogados prestigiosos desfavorecem os indivíduos
das classes mais baixas.
Os juízes desconhecem a vida das pessoas marginalizadas e são incapazes de compre-
ender as nuances de um cotidiano de pobreza. Muitos dos julgamentos ocorrem com base
no senso comum. Ou seja, os juízes tendem a esperar um comportamento conforme à lei dos
indivíduos pertencentes aos estratos médios e superiores e condutas contrárias à lei de indiví-
duos provenientes de estratos inferiores. E tendem, ademais, a aplicar mais penas detentivas
em desfavor dos marginalizados, pois considera-se que ela é menos comprometedora para o
status social já baixo dos pobres do que se comparamos à sua aplicação, por exemplo, a um
acadêmico. Essa tendência de julgar conforme o senso comum é chamada, por alguns auto-
res, de teoria de todos os dias.
Voltando aos pressupostos do labelling com que iniciamos nossa aula, Baratta usa a ideia
de que as instâncias de controle social formal criam a criminalidade, constituem o delito e que,
nesse processo, selecionam a população carcerária nos estratos mais baixos da população.
A desigual distribuição de definições criminais – muito maior entre os pobres e muito menor

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 33 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

entre os ricos – ocorre não de maneira fortuita, mas seguindo regras próprias, que Baratta
chama de second code. Esse segundo código social, portanto, revela que o direito penal de-
senvolve um importante papel de reprodução das relações sociais, especialmente na circuns-
crição e marginalização de uma população criminosa recrutada nos setores mais débeis do
proletariado.
Essas ideias todas questionam a neutralidade do direito, demonstram a importância que a
estigmatização produz no indivíduo e colocam em xeque a função educativa da pena.
No mundo criminal, mais uma vez tem o lugar o fenômeno da profecia autocumprida, de
que tanto falou a teoria do labelling approach. A expectativa de criminalidade dirigida aos gru-
pos mais marginalizados faz com que, ainda que haja a mesma quantidade de condutas ilí-
citas nos diferentes estratos sociais, elas sejam mais facilmente detectadas e punidas nos
estratos mais baixos da sociedade.
O sistema penal age, então, de forma bastante similar à da escola, reproduzindo a estra-
tificação e operando no sentido de mantê-la. Por isso a existência, em diferentes países, de
mecanismos de internação de menores delinquentes e por isso, também, o intercâmbio entre
internos dessas instituições e dos presídios. São a mesma população, submetem-se à mesma
lógica. Apesar de as instituições de internação de menores infratores pretenderem ressocia-
lizar, não é isso que ocorre. A cada sucessiva passagem do menor por uma instituição de as-
sistência corresponde um aumento, em lugar de diminuição, das chances de ser selecionado
para uma carreira criminal.
Os efeitos da intervenção estatal nos criminosos são tão determinantes que, aqueles que
foram submetidos às instâncias de controle social formal (investigados, processados, presos,
condenados) revelam uma criminalidade secundária mais alta do que aqueles que puderam se
subtrair a essa intervenção.
Baratta é absolutamente crítico do cárcere. Ele diz que têm se mostrado infrutíferas as
tentativas de socialização e de reinserção através dessas instituições. Os institutos de deten-
ção são o momento culminante do mecanismo de marginalização. Neles, chamam a atenção
o constante regime de privações a que são submetidos os condenados e o processo negativo
de socialização. Trata-se de um processo de socialização em que há:
• desculturação, isto é, desadaptação às condições necessárias para a vida em liberdade; e
• aculturação ou prisionalização, que é a assunção de atitudes e modelos de comporta-
mento típicos da subcultura carcerária. Na prisionalização, que também pode ser cha-
mada de prisionização, o condenado é educado tanto para ser um criminoso (copiando
os criminosos com forte orientação antissocial) como para ser um bom preso, passivo,
conformista e oportunista.

A educação para ser um bom preso acaba se tornando o verdadeiro objetivo da instituição,
enquanto a função educativa real é excluída desse processo.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 34 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Na prática, portanto, as prisões produzem efeitos contrários à reeducação e à reinserção


do condenado, e, logo, favoráveis à sua estável permanência na população criminosa.
Por tudo isso, Baratta defende a adoção de uma política criminal alternativa, que não pode
ser confundida com política penal alternativa. Seu desejo não é apenas de melhorar o direito
penal, mas de substituí-lo por algo melhor que o direito penal, parafraseando Radbruch. Na po-
lítica criminal alternativa haveria a diferenciação da criminalidade pela posição social do autor.
A criminalidade de rua, dos pobres – respostas individuais às adversidades do capitalismo
– seria despenalizada, ou seja, seria equacionada por controles sociais não estigmatizantes,
tais como sanções administrativas ou civis. A criminalidade dos poderosos e a criminalidade
organizada – expressão da relação funcional entre processos políticos e mecanismos legais
e ilegais de acumulação de capital – seriam destinatárias da ampliação do sistema punitivo,
pois isso significaria proteção de interesses comunitários tais como saúde, segurança no tra-
balho e integridade ecológica.
De todos modos, ele é categórico ao dizer que uma política criminal alternativa não pode
ser uma política de substitutivos penais, limitados a uma perspectiva reformista e humanitária.
A política criminal alternativa que ele defende, ou política criminal das classes subalternas,
implica grandes reformas sociais e institucionais para o desenvolvimento da igualdade e do
contrapoder proletário, em vista da superação das relações sociais de produção capitalista.
Somente com essas reformas seria possível aliviar a pressão negativa do sistema punitivo
sobre as classes subalternas.
No limite, o objetivo último dessa reforma é a abolição da instituição carcerária, em função
da consciência do fracasso histórico da instituição. Para se chegar ao objetivo final, talvez
seja necessário passar por algumas etapas, como a ampliação do sistema de penas alternati-
vas; o alargamento das hipóteses de livramento condicional, suspensão condicional da pena e
sistema de progressão de regime; aumento das permissões de saída; reavaliação do trabalho
carcerário; e, especialmente, a abertura do cárcere para a sociedade.
A abertura do cárcere seria feita, sobretudo, com a cooperação dos presos e suas asso-
ciações com as organizações do movimento operário. Para Baratta, essa aproximação entre
presos e operários teria a finalidade de reinserir o condenado na classe trabalhadora. É que,
para ele, o cárcere tem o poder de dividir artificialmente a classe subalterna (em condena-
dos e trabalhadores), e essa aproximação poderia fazer com que os condenados adquirissem
consciência política das condições sociais impostas pelo capitalismo. Com a aquisição dessa
consciência política, seria feita a verdadeira “reeducação” do preso, bastante diferente do mito
burguês de reeducação e reinserção por meio do próprio cárcere. O preso verdadeiramente re-
educado teria condições de transformar aquela reação individual e egoísta (o delito) em ação
política dentro do movimento de classe.
A política criminal alternativa deveria levar em máxima consideração a função da opinião
pública, para compreender os processos de sustentação e legitimação do direito penal desigual
atualmente vigente. Assim, a nova política criminal teria que estar disposta a enfrentar uma

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 35 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

batalha cultural e ideológica para reverter a hegemonia cultural e desenvolver, com crítica ide-
ológica, produção científica e informação, uma consciência alternativa sobre a criminalidade.

Georg Rusche e Otto Kirchheimer

Vamos falar agora e no próximo item de autores que escreveram obras fundamentais para
o pano de fundo da Criminologia Crítica. O livro dos alemães Rusche e Kirchheimer, Punição
e Estrutura Social, foi escrito entre 1938 e 1939, mas somente foi “descoberto” na década de
1970. Ele foi fundamental para o livro que abordaremos no próximo item (Vigiar e Punir, de
Michel Foucault).
Georg Rusche foi o primeiro pensador marxista a sistematizar a questão criminal e a ana-
lisar historicamente as relações entre condições sociais, mercados de trabalho e sistemas
penais. O livro foi complementado por Kirchheimer após a morte de Rusche.
Eles demonstraram que, no século XV, com mão de obra abundante, o sistema penal se
dirigia contra as massas empobrecidas, com execuções, mutilações e açoitamentos.
No mercantilismo dos séculos XVI e XVII, nasce a exploração da mão de obra na prisão,
pois havia escassez de trabalhadores. Nascem leis que punem a vadiagem e que tornam úteis
os camponeses expulsos das terras. A pena de degredo auxilia países na colonização de ter-
ras “descobertas” e a pena de galés (trabalho forçado) demonstra grande funcionalidade. As
casas de correção começam a ser lucrativas, pois conjugam nenhum ou baixos salários ao
adestramento de trabalhadores desqualificados.
Com a Revolução Industrial do século XVIII, surge o processo de acumulação de capital,
caracterizado por exploração intensa de mão de obra e miséria da classe trabalhadora. O capi-
talismo gera um exército de reserva e o mercado se encarrega de oprimir as pessoas.
No século XIX, com o crescimento da rebeldia popular, das revoluções e dos delitos contra
a propriedade, a prisão se converte na pena mais importante de todo o mundo ocidental. Rus-
che e Kirchheimer demonstram que as prisões são uma forma especificamente burguesa de
punição, que se disseminam com a passagem para o capitalismo. A construção da ideologia
burguesa de trabalho é acompanhada pelo surgimento de uma concepção burguesa de tempo,
que tornará possível o princípio fundamental da proporcionalidade da pena.
Eles defendem que:

O sistema penal de uma dada sociedade não é um fenômeno isolado sujeito apenas às suas leis
especiais. É parte de todo o sistema social, e compartilha suas aspirações e seus defeitos. A taxa de
criminalidade pode de fato ser influenciada somente se a sociedade está numa posição de oferecer
a seus membros um certo grau de segurança e de garantir um nível de vida razoável. A passagem de
uma política penal repressiva para um programa progressista de reformas pode, então, transcender
o mero humanitarismo para tornar-se uma atividade social verdadeiramente construtiva. (...) A futili-
dade da punição severa e o tratamento cruel podem ser testados mais de mil vezes, mas enquanto
a sociedade não estiver apta a resolver seus problemas sociais, a repressão, o caminho aparente-
mente mais fácil, será sempre bem aceita.13

13
RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004, p. 282.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 36 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Michel Foucault

Michel Foucault foi um filósofo francês que, em 1975, lançou Vigiar e punir: Nascimento da
Prisão. É um estudo sobre a evolução histórica do cárcere e da legislação penal. Seu pensa-
mento surge na mesma época em que a Criminologia Crítica se desenvolvia e apresenta, com
ela, bastante conexão. A obra de Foucault foi uma das responsáveis por descobrir o pensa-
mento de Rusche e Kirchheimer.

As bancas gostam muito de fazer perguntas sobre o pensamento de Foucault. E mais, as per-
guntas sobre Foucault são, em geral e por algum motivo nebuloso, muito exigentes. Então vou
me alongar nesse item, seja porque sua obra é extensa, seja porque os examinadores têm al-
guma predileção por complicar o que já não é muito simples. Vou tentar resumir e simplificar.
Se, ao final da aula, você sentir dificuldades nas perguntas sobre Foucault, não desanime. Para
ser vítima das questões sobre Foucault basta estar vivo!

Foucault explica que, até o século XVII, as penas eram verdadeiro suplício: esquartejamen-
to, exposição do condenado em praças públicas, execução em palanques montados a céu
aberto – chamados de patíbulos –, torturas, marcas no rosto, amputação. Eram penas despro-
porcionais, bárbaras e ostentosas. São rituais pensados para restituir a soberania do príncipe.
Posteriormente, o Iluminismo desqualifica o suplício, reprovando sua atrocidade. Surgem
agitações e protestos contra essa teatralização das penas. Ao mesmo tempo, a criminalidade
violenta, de sangue, passa a dar lugar a uma criminalidade de fraude, mais complexa, relacio-
nada com a concentração de riquezas. Essa alteração da criminalidade somada à desqualifica-
ção do suplício leva ao surgimento da ideia de penas proporcionais aos crimes. Aqui situa-se,
por exemplo, a obra de Beccaria.
Fala-se, então, da reforma humanista do século XVIII: os suplícios dão lugar a penas pro-
porcionais. O castigo deve ter a humanidade como medida (e atente-se que a prisão ainda
não era a forma por excelência de castigo). Pouco a pouco, o corpo esquartejado, amputado e
dado como espetáculo começa a desaparecer. O rito de punição que, muitas vezes, ultrapas-
sava o próprio crime em sua selvageria, vai sendo abandonado. Em suas próprias palavras, “a
melancólica festa de punição vai-se extinguindo.”14
Portanto, com uma série de reformas ocorridas em diversos países no final do século XVIII,
o suplício vai, pouco a pouco, sendo deixado de lado. Foucault fala em penalidade suaviza-
da, em que deve haver humanidade, proporcionalidade (medida), individualização das penas
e classificação dos crimes e castigos. Aliás, a partir do século XVIII, difunde-se a ideia de
que a punição das ilegalidades deve ser regular. Pune-se com menos severidade, mas com
mais universalidade. É necessário controlar a codificar as práticas ilícitas, principalmente se
14
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014, p. 13.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 37 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

se considera que passou a incomodar muito à nova burguesia a ascensão dos crimes contra a
propriedade. É que antes as principais ilegalidades eram dirigidas a direitos, mas com o desen-
volvimento da sociedade capitalista, elas se dirigiam aos bens. O roubo se torna mais comum
e incômodo, de modo que os códigos começam a separar e a classificar as ilegalidades. De um
lado, as ilegalidades dos direitos, e de outro, as ilegalidades dos bens, sobre as quais há menos
tolerância e que exigem, portanto, vigilância constante.
As reformas penais inserem novos princípios para regularizar e universalizar a arte de cas-
tigar; para diminuir o custo econômico e aumentar a eficácia da pena. Elas constituem uma
nova economia e nova tecnologia do poder de punir. O direito de punir não é mais decorrência
da sede de vingança do soberano. Ele é, agora, instrumento de defesa da sociedade. Mas isso
não significa que ele seja verdadeiramente mais suave, pois, como se verá, ele será posterior-
mente dotado de elementos tão fortes que se torna quase mais temível.
Com essa reforma dita humanista, a partir do século XIX, sobretudo entre 1830 e 1848, a
punição torna-se a parte mais velada do processo penal. A publicidade se volta para os deba-
tes e para a sentença, mas a execução fica escondida, pois é algo que a justiça tem vergonha
de impor ao condenado. É pouco glorioso punir. As práticas punitivas se tornam pudicas, e que-
rem tocar no corpo o mínimo possível, para atingir nele algo que não é o próprio corpo. O que
se quer, no sistema penal moderno, é atingir a liberdade, e não provocar dor em um corpo. O
que se quer é suspender direitos. “O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis
a uma economia dos direitos suspensos”15. É, em teoria, uma penalidade incorpórea.
Como já dissemos, essas mudanças são tradicionalmente descritas como consequências
de uma reforma humanista, que visava conferir mais dignidade ao cumprimento de penas. Mas
Foucault questiona essa explicação simplista e defende que permanece um fundo supliciante
na pena moderna, mas com mudança de objetivo. Não se quer mais supliciar diretamente o
corpo, mas sim a alma, o coração, o intelecto, a vontade, as disposições. Constrói-se uma nova
economia e nova tecnologia do poder de punir. A reforma “humanista” não pretende punir me-
nos, mas sim punir melhor. A alma do criminoso é levada ao tribunal e o juiz não julga sozinho,
mas sim em companhia de uma série de instâncias anexas, como peritos, psicólogos, psiquia-
tras, funcionários da administração penitenciária etc. Eles são chamados de juízes anexos, que
fracionam o poder de punir. Essa operação de incorporar, no julgamento, elementos extrajurí-
dicos, escusa o juiz da responsabilidade de castigar. É a pretensa “suavidade penal” aplicada
como técnica de poder.
Na época dos suplícios, o exemplo (a punição) era uma réplica do crime. Após as refor-
mas, considera-se que é preciso empregar a máxima economia. É preciso punir exatamente
o suficiente para impedir novos crimes. A punição passa a ser discreta. Não é mais um ritual
manifesto, é um sinal, um sinal que cria obstáculo. A semiotécnica (método para identificar
sinais que constroem um significado) do poder de punir nesse momento de reforma, explica
Foucault, repousa sobre as seguintes regras:

15
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Trad. Ligia Pondé Vassalo. 3ª ed. Petrópolis: Vozes,
1984, p. 16.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 38 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

• Regra da quantidade mínima: o crime é cometido porque traz vantagens. Se, à ideia do
crime, é ligada a ideia de uma desvantagem minimamente maior, ele deixa de ser dese-
jável.
• Regra da idealidade suficiente: a eficácia da pena está na ideia de uma dor, de um des-
prazer. Não é tanto a sensação de sofrimento que importa, mas sim a representação
(idealização) da pena. A representação da pena, e não sua realidade corpórea, deve ser
maximizada.
• Regra dos efeitos laterais: a pena deve ter efeitos mais intensos naqueles que não come-
teram a falta, para que se comportem conforme as regras.
• Regra da certeza perfeita: é preciso que haja um laço forte unindo crime e castigo, pois
nada torna mais frágil o instrumento das leis que a esperança de impunidade.
• Regra da verdade comum: a verdade do crime somente poderá ser admitida uma vez in-
teiramente comprovada. É uma transformação importante, já que na fase dos suplícios,
frases arrancadas pelo sofrimento (confissão sob tortura) tinham valor de autenticação.
• Regra da especificação ideal: todas as infrações têm que ser classificadas e reunidas
em um código, que tenha pretensões exaustivas e generalizantes, mas que consiga, ao
mesmo tempo, individualizar a pena.

São, segundo Foucault, regras que, de modo geral, exigem a suavidade como economia
calculada do poder de punir.
Acontece que, quando as reformas foram feitas, não se imaginava e nem se pretendia
conferir à pena de prisão o caráter quase universal de pena. Naquela época, a prisão não era
sinônimo de pena como é para a gente hoje. Mas esse movimento de transformar a detenção
na forma essencial de castigo tem lugar logo após as reformas, sobretudo no século XIX. E é
por isso, explica Foucault, que o corpo (que tinha sido substituído pela alma) volta a ser o per-
sonagem principal. Há uma nova política do corpo.
Então, vamos resumindo: saímos do suplício, rituais bárbaros e ostensivos que evocavam
o poder do Monarca; passamos, a partir do século XVIII, pela reforma pretensamente humanis-
ta, que incorporou uma ideia de suavidade penal, com a humanização e universalização das
penas, já nas mãos de um juiz que divide seu poder com os juízes auxiliares; e chegamos, a
partir do século XIX, à universalização da pena de prisão.
Ou seja, agora relacionando com as escolas criminológicas: Foucault faz uma análise da
suposta suavização penal passando pelos momentos históricos dos suplícios, das penas pro-
porcionais ao delito (conectadas à Escola Clássica, direcionadas à alma) e, por fim, da dissemi-
nação do cárcere como punição por excelência (conectada ao pensamento positivista, como
veremos, e com um regresso de direcionamento ao corpo do homem delinquente).

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 39 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Quando o emprego da prisão se dissemina, ainda que não sejam empregados castigos
violentos e sangrentos, trata-se, novamente, do corpo do condenado: da sua utilidade, da sua
docilidade, da sua submissão. Há uma tecnologia política do corpo: uma microfísica do poder
que sabe muito sobre o corpo (bem a cara do positivismo!) e que controla suas forças. O dis-
curso de que a nova punição é sobre a alma não consegue mascarar que continua (ou volta) a
haver, sobretudo com a disseminação da pena privativa de liberdade, uma pesada tecnologia
do poder sobre o corpo.
É que, em realidade, já na segunda metade do século XVIII, ainda na Era Clássica, surge
uma preocupação em controlar o corpo em larga escala. Não se trata de cuidar do corpo, mas
de esquadrinhá-lo detalhadamente, de exercer sobre ele uma coerção sem folga. Essa é a
ideia do corpo dócil: um corpo que se analisa, que se manipula, que se modela, que se treina,
que obedece ao adestramento. Para que isso funcione, é necessário atentar aos detalhes:
inspeções minuciosas, regulamentos detalhados e controle das mínimas parcelas da vida e
do corpo começam a ter lugar. Ganha força, então, a ideia de poder disciplinar e de sociedade
disciplinar, que vai se fortalecendo nos séculos seguintes.
No poder disciplinar, algumas ideias são centrais. Os indivíduos são distribuídos no espa-
ço, e para isso: podem ser utilizadas cercas que fecham um grupo de pessoas em um local
(presídio, por exemplo, mas também pode ser uma escola, um quartel); pode ser determinado
que cada indivíduo deva permanecer em uma parte determinada desse local (cela, por exem-
plo); e pode ser determinado que cada local da construção tenha sua função (pátio, refeitório).
Além da distribuição espacial, existe controle das atividades: horários para as atividades, ges-
tos a serem empregados, utilização crescente do tempo. Quando fala do nascimento do poder
disciplinar, Foucault não se refere especificamente às prisões. Ele exemplifica com a vida nos
quarteis, instituições médicas, escolares e industriais. Mas ele demonstra que, com o passar
do tempo, o cárcere se revela uma importante e útil ferramenta para implementar o poder
disciplinar.
Ao falar especificamente das prisões, ele retoma a ideia do panóptico, que já havia sido em-
pregada pelo inglês Jeremy Bentham na virada do século XVIII para o século XIX. O panóptico
é um sistema arquitetônico para presídios: de uma torre central, todos os corredores radiais
seriam observados. Os presos poderiam ser monitorados facilmente, com um simples virar de
cabeça dos guardas alocados na torre. Ademais, a construção arquitetônica ideal de panóptico
não permitiria a definição, pelos detentos, do ponto a partir do qual se realiza a vigilância, e
tampouco a identificação de quem os vigia. O panóptico ideal é uma máquina de dissociar o
par “ver” x “ser visto”. A ideia era utilitarista: ter a maior vigilância dos detentos com o menor
emprego de recursos. Vamos dar um exemplo:

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 40 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Foto: peramblogando.blogspot.com

O panoptismo penitenciário é um sistema de documentação individualizante e permanente


sobre o preso: tudo é visto, registrado e se transforma em saber sobre aquele corpo, saber que
regula a prática carcerária.
Foucault faz uma distinção entre infrator (ou condenado) e delinquente. A partir do mo-
mento em que o infrator é condenado, ele passa a ser objeto do saber sobre o corpo. E aí,
nesse processo, o aparelho penitenciário efetua uma substituição: das mãos da justiça ele
recebe um condenado (infrator), mas no lugar do condenado ele coloca o delinquente, que é o
indivíduo a ser conhecido, analisado, retreinado. O condenado ou infrator é caracterizado pelo
ato que cometeu. O delinquente, pela sua vida. A operação penitenciária deve totalizar a vida
do delinquente, tornar a prisão uma espécie de teatro artificial e coercitivo onde toda a existên-
cia do delinquente será refeita. O castigo da justiça ao infrator diz respeito a um ato. A técnica
punitiva, a uma vida.
Por trás do infrator, revela-se o caráter delinquente, e nesse processo joga importante pa-
pel a investigação biográfica. O infrator, que era apenas autor de um ato, se distingue do ho-
mem delinquente, que está amarrado ao seu delito por instintos, pulsões, tendência, tempera-
mentos. As tipologias positivistas foram cruciais nessa dinâmica de criar o delinquente, uma
unidade biográfica, núcleo de periculosidade, dotado de anomalia. Por isso, para Foucault, a
técnica penitenciária e o homem delinquente são irmãos gêmeos, que surgiram juntos e que
ajudam a formar, nos subterrâneos do aparelho judiciário, a delinquência, em substituição à
mera infração.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 41 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Para Foucault, o sistema permanente de controle, ou seja, de feições panópticas, tem


por objetivo:

[...] induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funciona-
mento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo
se descontínua em sua ação; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exer-
cício; que esse aparelho arquitetural seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder
independente daquele que o exerce; enfim, que os detentos se encontrem presos numa situação de
poder de que eles mesmos são os portadores16.

Quem quer que passe pelo cárcere leva consigo as marcas dessa coerção máxima estatal
consubstanciada na pena privativa de liberdade. Afinal, a prisão deixa traços no corpo, impõe
hábitos, determina comportamentos, envolve disciplina.
A disciplina é feita com o adestramento dos corpos, por meio de:
• vigilância hierárquica: redes verticais de relações de controle, em que os controladores
operam vendo tudo o que acontece. São verdadeiros observatórios da multiplicidade
humana.
• sanção normalizadora: sistema de recompensa e de punição instituído para corrigir des-
vios, especialmente mediante micropenalidades baseadas no tempo (atrasos, ausên-
cias), na atividade (desatenção, negligência), e em maneiras de ser (grosseria, desobedi-
ência). Trata-se de uma microeconomia de penalidade perpétua, de cálculo permanente,
que, no final das contas, deixa de julgar atos, mas passa a diferenciar os indivíduos entre
bons e maus, de acordo com sua natureza, sua virtualidade. Essa penalidade perpétua,
ao controlar todos os instantes das instituições disciplinares, compara, diferencia, hie-
rarquiza, homogeniza e exclui, e isso tudo Foucault resume em uma palavra: ela “norma-
liza.”
• exame: os exames altamente ritualizados sobre os corpos são cerimônias de poder e
demonstração de força. Os corpos são analisados, as celas são revistadas e formam-
-se verdadeiros arquivos com documentos sobre detalhes e minúcias dos corpos e dos
dias. O indivíduo é mensurado, descrito, comparado e isso se constitui em renovação
constante do ritual de poder. O exame, com todas suas técnicas documentárias, faz de
cada indivíduo um caso.

O poder disciplinar, que começa centrado em locais determinados (“disciplina-bloco” de


quarteis, colégios, grandes oficinas) passa a ser transportado para todo o corpo social, forman-
do o que Foucault chama de sociedade disciplinar (“disciplina-mecanismo”). O panoptismo
também se espalha pela sociedade, ajudando na multiplicação das instituições de disciplina,
sobretudo quando se verifica a acumulação de capital e as grandes explosões demográficas
(acumulação de seres humanos). Trata-se de uma tecnologia minuciosa e calculada da sujei-

16
Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Trad. Ligia Pondé Vassalo. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1984, p. 116.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 42 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

ção de grupos populacionais, sem a necessidade de emprego da forma de poder tradicional,


ritual, dispendiosa e violenta. O controle policial permanente, exaustivo, onipresente, produtor
de inúmeros relatórios e registros é parte importante desse fenômeno de generalização do
panoptismo.

Hoje, o conceito de panoptismo extrapolou a ideia de sistema arquitetônico prisional. Ele é


aplicado também com referência a sistemas de informações que permitem localizar, observar,
esquadrinhar a vida dos cidadãos e, mais especificamente, dos condenados monitorados com
medidas alternativas, como tornozeleiras eletrônicas, que permitem à Justiça criminal saber
em tempo real onde está o réu.

A generalização dos dispositivos disciplinares traz consigo um contradireito, pois enquan-


to o direito tenta garantir a igualdade, a disciplina introduz assimetrias insuperáveis, em que o
poder está sempre do mesmo lado e inexiste equidade de posições.
Foucault explica, ainda, que a prisão tem sido denunciada como o grande fracasso da jus-
tiça penal. Mas ele chama atenção para o fato de essa não ser uma crítica recente, já que ela
aparece muito cedo, praticamente superposta ao próprio nascimento da detenção punitiva.
As prisões:
• não diminuem a taxa de criminalidade;
• provocam a reincidência;
• fabricam delinquentes (porque não pensam no homem em sociedade e porque impõem
limitações violentas, funcionando abusiva e arbitrariamente);
• favorecem a organização (solidariedade e hierarquia) de delinquentes; e
• fabricam indiretamente mais delinquentes ao fazer cair na miséria a família do detento.

A prisão, declara Foucault, é um duplo erro econômico: pelo custo (direto) de sua organiza-
ção e pelo custo (indireto) da delinquência que ela não reprime.
Como resposta a essas críticas, sempre sobrevêm reformas penitenciárias, que reforçam
os princípios da técnica penitenciária e que, portanto, querem resolver a prisão com a própria
prisão. Esses princípios da técnica penitenciária são:
• Princípio da correção (a prisão deve ter por função a transformação do comportamento
do indivíduo);
• Princípio da classificação (os detentos devem ser isolados de acordo alguns critérios,
como a gravidade de seus atos, idade etc.);
• Princípio da modulação das penas (o desenrolar da pena deve ser modificado de acordo
com os resultados obtidos, os progressos, as recaídas);
• Princípio do trabalho como obrigação e como direito (o trabalho penal deve ser uma das
peças essenciais da transformação);

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 43 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

• Princípio da educação penitenciária (a educação é uma precaução no interesse da so-


ciedade e uma obrigação com o detento);
• Princípio do controle técnico da detenção (pessoal especializado com capacidade mo-
ral e técnica deve zelar pelos detentos);
• Princípio das instituições anexas (medidas de assistência devem ser tomadas até a re-
adaptação definitiva do antigo detento).

Mas o emprego desses princípios não vai resolver os males do cárcere. A prisão, seu fra-
casso e sua reforma não são momento sucessivos na história, mas momentos simultâneos,
de forma que a prisão é uma invenção desacreditada desde o seu nascimento. Ou seja, há 150
anos o fracasso da prisão acompanha sua manutenção. E isso ocorre porque o fracasso da
prisão tem uma utilidade. Afinal, a prisão não se destina a suprimir infrações, mas sim a distin-
gui-las, distribuí-las e utilizá-las. A penalidade é uma maneira de gerir as ilegalidades, de traçar
limites de tolerância, deixando algumas pessoas dentro da economia geral das ilegalidades,
e excluindo outras. Ela demarca qual a forma particular de ilegalidade sobre a qual quer jogar
luz. A delinquência (aqui usando o conceito específico de Foucault, que contrapõe delinquente
e infrator; que separa a delinquência, como sinônimo de vida criminosa, da infração, sinônimo
de ato criminal isolado) é a ilegalidade que o sistema carcerário recortou e organizou. É o que
ele chama de ilegalidade dominada, que funciona, aliás, como um agente para a ilegalidade
dos grupos dominantes. Para que a ilegalidade dos grupos dominantes funcione e tenha seus
lucros, seja na prostituição, no tráfico de armas e de drogas, controla-se e maneja-se a ilegali-
dade dos “delinquentes”. A criminalidade de necessidade (dos pobres, dos necessitados) mas-
cara, com os holofotes que atrai, a delinquência de cima. A delinquência da riqueza é tolerada
pelas leis, pelos tribunais e pela imprensa.
Assim, para Foucault, se há um desafio global em torno da prisão, ele reside na alternativa:
prisão ou algo diferente da prisão?

Criminologia Crítica na América Latina

No Brasil, Roberta Lyra Filho chegou a ser citado pelo Ministro Nelson Jobim como o mais
crítico de nossos juristas críticos. Em seu livro Criminologia dialética, de 1972, ele defendia que
a Criminologia não podia andar a reboque do formalismo jurídico. A integração da Criminologia
e do direito penal precisa passar pelo reexame da filosofia jurídica e da antropologia filosófica,
para que se repense o próprio conceito de direito. Afinal, o conceito de crime é historicamente
determinado pelas manifestações específicas da cultura e das subculturas. Por isso, traçar
um novo conceito de crime é parte dos afazeres criminológicos. A gênese das normas deve
ser estudada, para que se compreenda como o fenômeno delituoso é um capítulo da dialética
de valores.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 44 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Outro nome importante para a Criminologia Crítica brasileira foi Juarez Cirino dos San-
tos, professor paranaense, que fez ecoar o pensamento da Criminologia Crítica em seu livro
A Criminologia Radical, escrito entre 1979 e 1981. O autor explica que se embasou no que ele
considera a linha de frente de um movimento universal de Criminologia Crítica, composto por
Foucault; Taylor, Walton e Young; e Rusche e Kirchheimer. Juarez Cirino mostra que a Crimino-
logia Radical tem por objeto as relações sociais de produção (estrutura de classes) e de repro-
dução político-jurídica (superestruturas de controle) da formação social, e que as contradições
de classes vinculam o controle do crime às relações capitalistas da estrutura econômica. A
Criminologia está ligada à economia, e ambas, à política.
Para Juarez Cirino, o processo de criminalização, tanto na produção como na aplicação
das normas, protege seletivamente os interesses das classes dominantes, pré-selecionando
os indivíduos estigmatizáveis distribuídos nas classes sociais subalternas. A punição é admi-
nistrada pela posição de classe do autor, uma variável independente que determina a imunida-
de das elites e a repressão das massas miseráveis. O Direito não é neutro. Ele reflete o modo
de produção da sociedade. O Estado, por sua vez, é organização política do poder das classes
hegemônicas.
Assim, a Criminologia Radical nota que o sistema punitivo possui objetivos aparentes e
objetivos reais. Os objetivos ideológicos aparentes do sistema punitivo são, por exemplo, a
repressão do crime, a ressocialização, a diminuição das taxas criminais. Os objetivos reais
ocultos, por sua vez, são a reprodução das relações de produção e da massa criminalizada.

(...) o fracasso histórico do sistema penal limita-se aos objetivos ideológicos aparentes, porque os
objetivos reais ocultos do sistema punitivo representam êxito histórico absoluto desse aparelho de
reprodução do poder econômico e político da sociedade capitalista17.

Ainda no Brasil, mas agora no Rio de Janeiro, Nilo Batista explica, tanto em Introdução Críti-
ca ao Direito Penal Brasileiro, de 1990, como em Matrizes Ibéricas do Sistema Penal no Brasil, de
2000, que há marcante congruência entre os fins do Estado e os fins do Direito Penal, de modo
que o conhecimento das reais e concretas funções históricas, econômicas e sociais do Estado
é fundamental para a compreensão desse ramo do direito. Nilo Batista, que foi Promotor de
Justiça e Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, escreveu Direito Penal
Brasileiro em companhia do argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, de que falaremos mais adiante.
Continuando no Rio de Janeiro, Vera Malaguti Batista em Difíceis Ganhos Fáceis: Drogas e
Juventude Pobre no Rio de Janeiro, de 1998, e em Introdução Crítica à Criminologia Brasileira,
de 2011, também defende que as escolas criminológicas prévias tentavam classificar e hierar-
quizar, desistoricizar, despolitizar as lutas dos pobres do mundo que são, sempre, o alvo dos
sistemas penais capitalistas. Para ela, é necessário destrinchar e desnudar os mecanismos
de inflição de dor e sofrimento às histórias tristes dos pobres e isso significa, por exemplo:
mudar a política criminal de drogas, produzindo políticas coletivas de controle pela legalidade;
17
SANTOS, Juarez Cirino dos. A Criminologia Radical. Curitiba: ICPC: Lumen Juris, 2006, p. 128.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 45 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

despenalizar os crimes patrimoniais sem violência contra a pessoa; abrir os muros das prisões
para sua comunicação com o mundo externo; diminuir o número de policiais, desarmando-
-os e transformando-os em agentes coletivos de defesa civil; ampliar as defensorias públicas;
acabar com a exposição de suspeitos na mídia e reduzir o noticiário emocionalizado de casos
criminais.
Na Argentina, o nome de Eugenio Raúl Zaffaroni tem muito destaque no campo da Crimi-
nologia Crítica. Ele defende, em Em Busca das Penas Perdidas, de 1991, e outras obras, que os
sistemas penais não detêm legitimidade, já que são seletivos e reprodutores da violência. Zaf-
faroni incorpora dados da realidade social para demonstrar essa deslegitimação, que se mani-
festa no que ele chama de “perda” das penas, ou seja, penas como inflição de dor sem sentido.
As penas perdidas são, portanto, penas carentes de racionalidade. E a esse procedimento, de
incorporar dados da realidade para demonstrar a deslegitimação penal, ele dá o nome de rea-
lismo jurídico-penal. Como ele faz essa análise a partir de um ponto de vista da América Latina,
uma região marginal do poder planetário, ele denomina sua análise, mais especificamente, de
realismo jurídico-penal marginal.
Roberto Bergalli, também argentino, radicado em Barcelona e falecido em maio de 2020,
dedicou grande parte da sua vida ao estudo do controle social punitivo na América Latina. Ele
foi fundador de um dos primeiros cursos de pós-graduação em Criminologia Crítica na Espa-
nha, onde se exilou após ter sido perseguido pela ditadura argentina. Publicou diversas obras
nos campos da Criminologia, da sociologia jurídica e política, da teoria e filosofia do direito, e
assim se consagrou como um dos maiores nomes contemporâneos do pensamento sobre a
questão criminal, em especial, da Criminologia, que ele denominava “sociologia do controle
penal”. Bergalli defendia a importância de uma sociologia jurídica do controle penal, que ana-
lisasse tanto a etapa de criação das normas como a de sua aplicação. Seria fundamental que
essa sociologia estudasse, por exemplo, como os funcionários públicos atuam para colocar
em marcha o controle penal. Desvendar os mecanismos do interior dos aparatos policiais, ju-
diciais e penitenciários ajudaria a aprofundar a democracia.
Na Venezuela, Lola Aniyar de Castro publicou em 1987 a obra Criminologia da Libertação.
O nome Criminologia da Libertação advém da premissa de que uma discussão sobre domina-
ção leva a uma discussão sobre libertação. E toda dominação requer o que se chama controle
social. Assim, para Lola, na Criminologia deve ser analisada a atuação dos controles ideoló-
gicos, que começam como processos de socialização, passam por modelos educacionais e
logo se transformam em modelos de intervenção penal. Por isso, seria importante analisar a
fundo não apenas as agências de controle social formal, mas também as de controle social
informal, com intensa pesquisa sobre a educação, a religião e os meios de comunicação. O
controle social serve para construir hegemonia ou, em sua falta (da hegemonia), para permitir
a submissão forçada daqueles que não se integram à ideologia dominante.
Outra importante criminóloga venezuelana foi Rosa del Olmo, autora de América Latina e
sua Criminologia, de 1981. Nessa obra, analisa a subordinação da economia e do pensamento

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 46 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

latino-americano às estratégias da geopolítica norte-americana para o continente. Ela lutava


contra o “silêncio histórico” da América Latina, que derivava de seu passado colonial e de sua
posterior incorporação à periferia do sistema capitalista. No pós-guerra, o crescente protago-
nismo dos Estados Unidos fez com que eles se colocassem na posição de responsáveis pelo
controle continental do delito, interferindo nos corpos policiais, no ciclo de ditaduras militares
e na guerra às drogas.

Criminologia Cultural

Em tempos mais recentes, sobretudo a partir de meados dos anos 90, surgem muitos tex-
tos e obras sobre Criminologia Cultural. Alguns autores abordam os cultural studies dentro da
Criminologia Crítica, e por isso vou falar brevemente sobre eles.
A Criminologia Cultural é um ramo da Criminologia que se debruça sobre a criminalização
da cultura diferente, como a de grafiteiros, punks, neonazistas, roqueiros, mendigos, prostitu-
tas etc. Trata-se, então, de um grupo de teóricos preocupados com a subcultura de que falava
Albert Cohen, mas agora dentro de um enfoque conflitual da sociedade.
Jeff Ferrell, nos Estados Unidos, relatou sua experiência com grafiteiros de Denver no livro
Crimes of Style e no artigo Urban grafitti: crime, control and resistance. Em 2008, Jeff Ferrell,
Keith Hayward e Jock Young lançaram Cultural Criminology.
No Brasil, Salo de Carvalho publicou Criminologia cultural e rock em 2011 e Saulo Ramos
Furquim, A Criminologia cultural e a criminalização cultural periférica, de 2016. Salah H. Khaled
Jr. e Álvaro Oxley da Rocha traduziram a obra de Jeff Ferrell e Keith Hayward e complementa-
ram suas análises. Juntos, esses quatro autores conceberam o Instituto Brasileiro de Crimino-
logia Cultural, fundado em abril de 2019, que assim define a Criminologia Cultural:

A Criminologia Cultural é uma abordagem teórica, metodológica e intervencionista de estudo do


crime e do desvio, que coloca a criminalidade e seu controle no contexto da cultura; isto é, considera
o crime e as agências e instituições de controle do crime como produtos culturais – como constru-
ções criativas. Criminologistas culturais focam incansavelmente na geração contínua de significado
em torno da interação: regras criadas, regras quebradas e uma interação constante de empreende-
dorismo moral, inovação política e transgressão18.

A Criminologia Cultural tem um grande referencial teórico e metodológico no labelling


approach, mais especificamente no livro Outsiders, do Howard Becker, que, como já explica-
mos, analisou os grupos de usuários de maconha e músicos de jazz.
Em resumo, a Criminologia Cultural não é uma nova teoria: ela incorpora para o mundo
contemporâneo, multicultural, uma série de orientações teóricas da Criminologia, tais como
subculturais, interacionistas, críticas, para tentar compreender a convergência de processos
culturais, criminais e de controle do crime.
18
Instituto Brasileiro de Criminologia Cultural. Disponível em: https://www.criminologiacultural.com.br/. Acesso
em 08 ago. 2020.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 47 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

É uma Criminologia que busca entender as mudanças da sociedade e da sua cultura. Vi-
vemos em uma sociedade líquida, em que há um fluxo infinito, instantâneo e globalizado de
imagens e informações na televisão, em nossos celulares e computadores, proporcionando
possibilidades infinitas. De todos os lados surgem modelos a serem seguidos, pensamentos
a serem observados, tecnologias novas a serem dominadas. As redes sociais ajudam a propa-
gar essa miríade de culturas e vão substituindo as mediações cotidianas por mediações tecno-
lógicas. Surgem novas línguas, novas etnias, novos conflitos. Como diz Shecaira, “chegamos
a um hiperpluralismo de identidades e orientações culturais que, por sua vez, é matéria-prima
que alimenta o individualismo e grande parte dos crimes estudados por esta nova área da Cri-
minologia”19.
A Criminologia Cultural, sem se preocupar com classificações pormenorizadas dos grupos
subculturais, parte da ideia de que o mundo é desigual e injusto, e procura entender como o
poder é exercido, como ele é resistido pelos grupos culturais, e como se dá o mecanismo de
criação de regras, de violação de regras e representação do crime.
O foco, na Criminologia Cultural, é o estilo, a linguagem, os significados simbólicos do cri-
me para esses grupos, e o modo empregado pelas autoridades para criminalizar essas condu-
tas diante da existência de múltiplos sistemas válidos de valores.

19
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 7ª ed. São Paulo: RT, 2018, p. 369.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 48 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

RESUMO
Teorias Sociológicas: para compreender o fenômeno criminal é necessário analisar a so-
ciedade onde o delito está inserido.

Microssociologia x Macrossociologia

Teorias microssociológicas: analisam os processos individuais de socialização relaciona-


dos à criminalização; a integração entre o indivíduo e a sociedade.
Teorias macrossociológicas: estudam a estrutura da sociedade. O foco deixa de ser a inte-
ração entre o indivíduo e sua sociedade, e passa a ser a própria sociedade criminógena. Para
a maioria da doutrina e das bancas, as teorias macrossociológicas se dividem em teorias do
consenso e do conflito.

Teorias do Consenso x Teorias do Conflito

Teorias do consenso: existência de objetivos comuns a todos os cidadãos, que aceitam as


regras vigentes. A sociedade é uma estrutura relativamente estável de elementos, bem integra-
da. Todo elemento em uma sociedade possui uma função, contribuindo para a manutenção do
sistema. O crime é uma disfunção, ou seja, uma função negativa. São teorias do consenso a
Escola de Chicago; as Teorias da Anomia; a Teoria da Subcultura Delinquente; e Teoria da As-
sociação Diferencial. Mnemônico: é CONSENSO que todo mundo quer CASA.
Teorias do conflito: há força e coerção na sociedade. Somente existe ordem porque há
dominação de uns e sujeição de outros. São teorias do conflito as teorias críticas e a teoria do
labelling approach (interacionismo simbólico, etiquetamento). Mnemônico: é CONSENSO que
todo mundo quer CASA. O CONFLITO é que estamos em CRISE.

Teorias do Consenso

Escola de Chicago: Se propôs a discutir múltiplos aspectos da vida humana, todos relacio-
nados com a vida na cidade. Entre os anos 1920 e 1930, Robert Ezra Park, Ernest W. Burgess
e seus alunos produziram mais de 20 obras sobre a ecologia urbana da cidade de Chicago. Os
bairros de Chicago são divididos e analisados de acordo com seus problemas sociais. Burgess
desenvolve a teoria das zonas concêntricas. Clifford Shaw e Henry McKay são outros dois
nomes importantes na Escola de Chicago. Preocupados com a delinquência juvenil, na obra
Delinquency Areas, demonstraram que, quanto mais perto do loop, maior a degradação e as
taxas de criminalidade dos bairros. Concluíram, também, que nas áreas criminais, o controle
social informal é pouco eficiente. A pessoa recém-chegada à cidade passa por um processo
de desorganização social. Há um sentimento de perda pessoal, rejeição de regras sociais, per-
da de raízes. A desorganização social causa aumento de doenças, prostituição, insanidades,
suicídios e crime.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 49 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Teoria da Anomia

Émile Durkheim: sociólogo francês (final séc. XIX). Há momentos em que a sociedade atra-
vessa transformações e perde a capacidade de exercer o papel de freio moral. A anomia é esse
estado de desregramento ou desintegração das normas sociais, produzindo uma situação de
transgressão ou de pouca coesão. O crime se torna um problema quando existe anomia. Caso
contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal e útil, porque permite que a consciên-
cia coletiva evolua.
Robert Merton: sociólogo (EUA), final dos anos 30. Adaptou a teoria do Durkheim para o
American Dream. As estruturas sociais e culturais apresentam objetivos e meios que têm, entre
outras, a função de fornecer uma base de previsibilidade e regularidade do comportamento
humano. No limite, quando a previsibilidade das condutas num grupo social é minimizada, pelo
espaçamento entre os objetivos e os meios, está configurada a anomia ou caos cultural. Os in-
divíduos procedem a adaptações individuais, que podem ser: conformidade; inovação (anomia
propriamente dita); ritualismo; retração e rebelião.
Talcott Parsons: sociólogo (EUA), 1951. Teoria do sistema social, aprofundando as ideias
de Merton. Considerou três duplas de fatores: atividade e passividade; predomínio conforma-
tivo e predomínio alienativo; e orientação para objetos sociais e orientação para normas. A
combinação deles ditará qual o tipo de resposta que uma pessoa dará a uma situação em que
há uma perturbação no quadro de expectativas.
Teoria Da Associação Diferencial: se insere nas Teorias da Aprendizagem Social. O princi-
pal autor foi Edwin Sutherland, sociólogo norte-americano. No começo dos anos 40, Suther-
land defendeu que o crime não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pes-
soas aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base essa
conduta. O processo de comunicação, é fundamental. A pessoa se torna criminosa quando as
definições favoráveis à violação da norma superam as definições desfavoráveis, em um pro-
cesso de imitação.
Crime do colarinho branco (White-collar crime): Sutherland cunhou a expressão (white
collar crime) em 1939. É o crime cometido no âmbito da profissão por uma pessoa de respei-
tabilidade e elevado estatuto social. A razão pela qual esses crimes são cometidos é a mesma
da criminalidade dos pobres: aprendizado somado a definições favoráveis à violação da lei.
Crimes difíceis de se detectar ou sancionar, em virtude da “imunidade do negócio”. Crimes com
efeitos significativos, porém difusos. É um tipo de criminalidade organizada praticada pelos
homens de negócio.

Cifras da Criminalidade

Cifra negra: crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais diver-
sas razões.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 50 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Cifra dourada: delitos cometidos pelos poderosos que ficam impunes.


Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém que não che-
gam a virar um processo penal.
Cifra amarela: casos em que as vítimas sofreram algum tipo de violência praticada por
servidor público e deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes
pela apuração.
Cifra verde: delitos que têm por objeto o meio ambiente e que não chegam ao conhecimen-
to policial ou não são processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
Cifra rosa: crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento das autoridades.
Teoria Da Subcultura Delinquente: Delinquent boys, Albert Cohen (EUA), 1955. Toda socie-
dade é internamente diferenciada em numerosos subgrupos, ou subculturas, com maneiras de
pensar e agir: que lhe são peculiares; que as pessoas somente podem adquirir participando
desses grupos; e que alguém raramente deixará de adquirir se for um participante verdadeiro
do grupo. A subcultura, típica das gangues, valoriza o não utilitarismo, a malícia, o negativismo,
a versatilidade, o hedonismo de curto prazo e a autonomia de grupo.

Quadro Sinóptico das Teorias do Consenso

Teoria Autores Ideia principal

Robert Park
Ernest Burgess Desorganização social das grandes
Escola de Clifford Shaw cidades.
Chicago Henry McKay Controle social informal enfraquecido.
(1920-1930)

Associação Edwin Sutherland Crime é aprendizado.


Diferencial (1940) Crime do colarinho branco.

Émile Durkheim
Crime é normal e útil, a não ser quando
(fim séc. XIX)
Anomia ultrapassados certos limites.
Robert Merton
Descompasso entre meios e objetivos.
(1938)

Gangues são subculturas delinquentes.


Subcultura Albert Cohen Não utilitarismo da ação, malícia,
Delinquente (1955) versatilidade, negativismo, hedonismo de
curto prazo e autonomia de grupo.

Teorias Sociológicas do Conflito

Partem do pressuposto de que há força e coerção na sociedade. Somente existe ordem


porque há dominação de uns e sujeição de outros. A criminalidade não é uma qualidade onto-

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 51 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

lógica, mas um status social atribuído por meio de processos de definição e mecanismos de
reação. Possuem forte tradição nos Estados Unidos, sobretudo em virtude do contexto social
de pós-guerras, em que disputas internas (raciais, de classe, de desemprego, de marginaliza-
ção, estudantis, feministas) assumiram prevalência. A sociedade não é monolítica, unitária.

Labelling Approach

Também chamada de teoria da rotulação; teoria do etiquetamento; teoria da reação social;


teoria interacionista; interacionismo simbólico. O controle social formal se consolidou como
objeto da Criminologia em virtude dessa escola, que nasceu nos anos de 1960, nos Estados
Unidos. Estudar a realidade social implica estudar os processos de interação individual ocorri-
dos no seio da própria sociedade. Reconhece o caráter constitutivo do controle social formal,
considerado instrumento seletivo e discriminatório. Deixa-se de questionar por que um indiví-
duo comete crimes, e passa-se a indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com o rótulo
de desviada. Há abandono do paradigma etiológico. Propuseram a política dos 4 Ds:
• Descriminalização (deixar de considerar certas condutas como criminosas);
• Diversão (diversificar a resposta aos problemas da sociedade);
• Devido processo legal (respeitar as regras do processo legal);
• Desinstitucionalização: (pensar em penas alternativas à prisão).

No Brasil, a Reforma Penal de 1984, a Lei de Execução Penal e a Lei dos dos Juizados Es-
peciais Cíveis e Criminais são citadas como reflexo das ideias do labelling.
Howard Becker: Norte-americano, da Universidade de Chicago. Outsiders: Studies in the So-
ciology of Deviance, de 1963. Relata a análise de grupos de usuários de maconha e de músicos
de jazz feita na década de 1950. Todos os grupos sociais constroem suas próprias regras. A
pessoa que quebras essas regras é etiquetada como outsider, e começa, a partir daí, a sofrer
um processo de estigmatização. Tem início o processo de desviação secundária. O agente
mergulha no papel de delinquente, num processo que se chama de role engulfment e profe-
cia autocumprida. As regras são o produto da iniciativa dos moral entrepreneurs. Existe uma
enorme margem de discricionariedade no trabalho policial. O policial estabelece prioridades.
Assim, os enforcers aplicam as leis e criam outsiders de maneira seletiva. As decisões sobre
quais regras devem ser criadas, quais condutas devem ser consideradas desviantes e quais
pessoas devem ser etiquetadas como outsiders são decisões políticas. A desviação é criada
pela sociedade.
Erving Goffman: Canadense, realizou suas pesquisas nos Estados Unidos. É autor. Estig-
ma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada, de 1963, e Manicômios, Prisões e
Conventos, de 1961. Introduziu o conceito de instituição total, que possuem barreiras à rela-
ção com o mundo externo. Nelas, todos os aspectos da vida do condenado são realizados
no mesmo local, sob uma autoridade única e diante de um grupo de pessoas razoavelmente

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 52 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

grande. Há um processo gradativo de desculturamento: humilhações, rebaixamentos, degrada-


ções pessoais e profanações do “eu”. A pessoa institucionalizada é alguém inadaptada para o
convívio em sociedade, exatamente por se identificar com a instituição na qual está recolhida,
e estigmatizada.

Criminologia Crítica

Também chamada de Nova Criminologia ou Criminologia Radical. Forte apelo às ideias


de Karl Marx. Há relação direta entre o modo de produção capitalista e o funcionamento dos
modos punitivos. Não se trata mais de descobrir as razões da delinquência ou de lutar contra
o crime, mas sim de abolir as desigualdades sociais para equacionar o fenômeno delitivo. O
Direito Penal e a própria Criminologia, como vinha sendo desenvolvida tradicionalmente, pas-
sam a ser objetos de estudo.
William Chambliss: Principal nome da Criminologia Crítica nos Estados Unidos. Law, Order
and Power, de 1971. As ciências sociais são dominadas por duas grandes perspectivas de
trabalho: o modelo funcional (Durkheim) e o modelo dialético (Karl Marx). Analisa e compara
a aplicação de leis criminais na Nigéria e nos Estados Unidos e conclui que o modelo dialético
é mais adequado. Os sistemas de aplicação da lei não são organizados para reduzir o crime,
mas sim para dirigir o crime pela cooperação com os grupos mais criminosos e pela aplicação
das leis contra aqueles cujos crimes eram uma ameaça mínima para a sociedade. As práticas
da aplicação da lei produzem o crime por selecionar e encorajar a perpetuação das carreiras
criminosas.
Taylor, Walton e Young: Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young. A nova Criminologia (1973) e
Criminologia crítica (1975). Defendem que o fenômeno criminal depende do modo de produção
capitalista: a lei penal nada mais é do que uma superestrutura dependente da infraestrutura do
sistema de produção. O direito não é uma ciência, mas uma ideologia que deve ser analisada
no contexto de luta de classes. É necessário superar a Criminologia Fabiana, que confiava na
meritocracia e inflava as agências de assistência social, na tentativa de igualar as condições
para o jogo meritocrático. A assistência social refletia a ideologia da cúpula e se valia de trata-
mentos que resultavam em espirais de rotulações espúrias. É fundamental compreender como
as autoridades se tornam autoridades e como elas transformam legitimidade em legalidade.
Alessandro Baratta: Filósofo, sociólogo e jurista italiano. Desenvolveu seus estudos na Ale-
manha. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal, 1982. O processo de criminalização é o
mais poderoso mecanismo de reprodução das relações de desigualdade do capitalismo. A
luta por uma sociedade democrática e igualitária passa pela superação do sistema penal. A
mobilidade social é um mito. O sistema escolar e o sistema penal são complementares e aju-
dam a reproduzir e assegurar as relações sociais verticalizadas. Ambos criam contraestímu-
los à integração dos setores mais baixos e marginalizados do proletariado. A criminalização
primária – as leis penais em abstrato – reflete o universo moral próprio da cultura burguesa

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 53 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

individualista, dando total ênfase ao patrimônio privado. Os processos de criminalização se-


cundária – punição no caso concreto – guiam-se por preconceitos e estereótipos. Os juízes
desconhecem a vida das pessoas marginalizadas. Muitos dos julgamentos ocorrem com base
no senso comum (teoria de todos os dias). É absolutamente crítico do cárcere. Têm se mos-
trado infrutíferas as tentativas de socialização e de reinserção através dessas instituições,
momento culminante do mecanismo de marginalização, que funcionam com desculturação
e aculturação (ou prisionização). Defende a adoção de uma política criminal alternativa, em
que haveria a diferenciação da criminalidade pela posição social do autor. No limite, o objetivo
último é uma reforma para abolição da instituição carcerária, em função do fracasso histórico.
Aproximação entre presos e operários, com a finalidade de reinserir o condenado na classe tra-
balhadora e fazer com que os condenados adquiram consciência política sobre o capitalismo.
A nova política criminal teria que estar disposta a enfrentar uma batalha cultural e ideológica
para reverter a hegemonia cultural.
Georg Rusche e Otto Kirchheimer: Alemães, autores de Punição e Estrutura Social, de 1939,
mas somente “descoberto” na década de 1970. No século XV, com mão de obra abundante, o
sistema penal se dirigia contra as massas empobrecidas, com execuções, mutilações e açoi-
tamentos. No mercantilismo dos séculos XVI e XVII, nasce a exploração da mão de obra na
prisão, pois havia escassez de trabalhadores. No século XIX, com o crescimento da rebeldia
popular, das revoluções e dos delitos contra a propriedade, a prisão se converte na pena mais
importante de todo o mundo ocidental. As prisões são uma forma especificamente burguesa
de punição, que se disseminam com a passagem para o capitalismo.
Michel Foucault: Filósofo francês. Vigiar e punir: Nascimento da Prisão, de 1975. Estudo
sobre a evolução histórica do cárcere e da legislação penal. Até o século XVII, as penas eram
verdadeiro suplício, rituais bárbaros pensados para restituir a soberania do príncipe. Posterior-
mente, o Iluminismo desqualifica o suplício, reprovando sua atrocidade. Advém a reforma hu-
manista do século XVIII: os suplícios dão lugar a penas proporcionais. Foucault fala em penali-
dade suavizada, em que deve haver humanidade, proporcionalidade (medida), individualização
das penas e classificação dos crimes e castigos em códigos. Pune-se com menos severidade,
mas com mais universalidade. Permanece um fundo supliciante na pena moderna, mas com
mudança de objetivo: não se quer mais supliciar diretamente o corpo, mas sim a alma. Já na
segunda metade do século XVIII, ainda na Era Clássica, surge uma preocupação em controlar
o corpo em larga escala. Ganha força, então, a ideia de poder disciplinar e de sociedade disci-
plinar, que vai se fortalecendo nos séculos seguintes. Quando as reformas foram feitas, não
se imaginava e nem se pretendia conferir à pena de prisão o caráter quase universal de pena.
Esse movimento de transformar a detenção na forma essencial de castigo tem lugar logo após
as reformas, sobretudo no século XIX e se ajusta à ideia de poder disciplinar. Então a evolução
consiste em:
suplício → pena proporcional → prisão.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 54 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Quando o emprego da prisão se dissemina, o corpo (que tinha sido substituído pela alma)
volta a ser o personagem principal. Há uma nova política do corpo. Ainda que não sejam em-
pregados castigos violentos e sangrentos, trata-se, novamente, do corpo do condenado: da
sua utilidade, da sua docilidade, da sua submissão. Com o passar do tempo, o cárcere se
revela uma importante e útil ferramenta para implementar o poder disciplinar, sobretudo se
empregado o modelo panóptico, que permite vigilância constante. Faz-se distinção entre in-
frator (ou condenado) e delinquente. O aparelho penitenciário efetua uma substituição: das
mãos da justiça ele recebe um condenado (infrator), mas no lugar do condenado ele coloca o
delinquente, que é o indivíduo a ser conhecido, analisado, retreinado. A disciplina é feita com o
adestramento dos corpos, por meio de: vigilância hierárquica; sanção normalizadora e exame.
A prisão é um duplo erro econômico: pelo custo (direto) de sua organização e pelo custo (indi-
reto) da delinquência que ela não reprime. Elas não diminuem a taxa de criminalidade, provo-
cam reincidência, fabricam delinquentes, favorecem a organização de delinquentes e fabricam
indiretamente mais delinquentes ao fazer cair na miséria a família do detento. A prisão, seu
fracasso e sua reforma não são momento sucessivos na história, mas momentos simultâneos.
O fracasso da prisão tem uma utilidade. A prisão não se destina a suprimir infrações, mas sim
a distingui-las, distribuí-las e utilizá-las. A penalidade é uma maneira de gerir as ilegalidades,
de traçar limites de tolerância, deixando algumas pessoas dentro da economia geral das ilega-
lidades, e excluindo outras.

Criminologia Crítica na América Latina

Roberta Lyra Filho, Criminologia dialética, de 1972. Criminologia não pode andar a reboque
do formalismo jurídico. O conceito de crime é historicamente determinado pelas manifestações
da cultura e das subculturas. Traçar novo conceito de crime é parte do afazer criminológico.
Juarez Cirino dos Santos, professor paranaense, A Criminologia Radical, 1981. O processo
de criminalização (produção e aplicação das normas) protege seletivamente os interesses das
classes dominantes, pré-selecionando os indivíduos estigmatizáveis das classes subalternas.
O fracasso histórico do sistema penal limita-se aos objetivos ideológicos aparentes. Os objeti-
vos reais ocultos do sistema apresentam êxito absoluto.
Nilo Batista, Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro, 1990, e Matrizes Ibéricas do Siste-
ma Penal Brasileiro, 2000. Há marcante congruência entre os fins do Estado e os fins do Direito
Penal. O conhecimento das reais e concretas funções históricas, econômicas e sociais do
Estado é fundamental para a compreensão desse ramo do direito.
Vera Malaguti Batista, Introdução Crítica à Criminologia Brasileira, 2011. Não se pode de-
sistoricizar e despolitizar as lutas dos pobres do mundo que são o alvo dos sistemas penais
capitalistas. Necessário: mudar a política criminal de drogas; despenalizar os crimes patri-
moniais sem violência; abrir os muros das prisões; diminuir o número de policiais; ampliar as
defensorias públicas; acabar com a exposição de suspeitos e o noticiário emocionalizado de
casos criminais na mídia.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 55 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Eugenio Raúl Zaffaroni, argentino, Em Busca das Penas Perdidas, 1991. Os sistemas penais
não detêm legitimidade, já que são seletivos e reprodutores da violência. As penas perdidas são
penas carentes de racionalidade. Denomina sua análise de realismo jurídico-penal marginal.
Roberto Bergalli, argentino, radicado em Barcelona. Importância de uma sociologia jurí-
dica do controle penal, que analisasse tanto a etapa de criação das normas como a de sua
aplicação.
Lola Aniyar de Castro, venezuelana, Criminologia da Libertação, 1987. Deve ser analisada
a atuação dos controles ideológicos (processos de socialização, modelos educacionais, que
logo se transformam em modelos de intervenção penal). Importante analisar o controle so-
cial informal.
Rosa del Olmo, venezuelana, em América Latina e sua Criminologia, 1981. Subordinação da
economia e do pensamento latino-americano às estratégias da geopolítica norte-americana
para o continente.
Criminologia cultural: início na década de 1990. Criminalidade e seu controle analisados no
contexto da cultura. Criminalização da cultura diferente (grafiteiros, punks, neonazistas, roquei-
ros, mendigos, prostitutas). Não é uma nova teoria: incorpora para o mundo contemporâneo,
multicultural, orientações teóricas da Criminologia, tais como subculturais, interacionistas, crí-
ticas. Compreender a convergência de processos culturais, criminais e de controle do crime.
Nomes de destaque: Jeff Ferrell (EUA); Keith Hayward (DIN). No Brasil, Salah Khaled Jr., Álvaro
Oxley da Rocha (Instituto Brasileiro de Criminologia Cultural); Salo de Carvalho (Criminologia
cultural e rock, 2011) e Saulo Ramos Furquim (A Criminologia cultural e a criminalização cultural
periférica, 2016).

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 56 de 93
MAPAS MENTAIS
Criminalidade que não integra
as estatísticas oficiais
Crimes de caráter homofóbico que não
chegam ao conhecimento das autoridades Cifra Cifra Diferença entre criminalidade
rosa negra real e criminalidade conhecida

Criminalidade que não integra


as estatísticas oficiais
Delitos que têm por objeto o meio
ambiente e que não são processados Cifra Cifras da Cifra Diferença entre criminalidade
verde dourada real e criminalidade conhecida
Criminalidade
Casos em que as vítimas sofreram algum tipo
de violência praticada por servidor público e
deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às Crimes conhecidos pelos policiais
unidades competentes pela apuração. Cifra Cifra que não viram um processo penal
amarela cinza

www.grancursosonline.com.br 57 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Funcionalistas
Integralistas
Teorias do Conservadoras
Consenso Existência de objetivos
comuns a todos os cidadãos
Teorias
Sociológicas Argumentativas
Teorias do Existência de dominação,
Conflito coerção, coação

Escola de Chicago
Teorias da Anomia
Teorias do
CASA Subcultura Delinquente
Consenso
Associação Diferencial

Teorias
Sociológicas
Teoria Crítica
Teorias do Labelling Approach (Interacionismo
CRISE
Conflito Simbólico, Etiquetamento)

Integração entre indivíduo e sociedade


Microssociologia

Teorias
Sociológicas

Estrutura da sociedade como um todo


Macrossociologia

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 58 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Labelling Approach Controle social é seletivo,


discriminatório e criminógeno
Teoria da Reação Social
Teoria da Rotulação Howard Becker Outsiders, 1963
Teoria do Etiquetamento Manicômios, Prisões e Conventos, 1961
Teoria Interacionista Erving Goffman
Estigma, 1963
Interacionismo Simbólico (Déc. 60)
Descriminalização
Diversão
Política dos 4Ds
Devido Processo Legal
Desinstitucionalização

Relação direta entre o modo de produção capitalista


e o funcionamento dos modos punitivos
Teorias do
Conflito William Chambliss (EUA) Law, Order and Power, 1971

Taylor, Walton e Young (ING) A Nova Criminologia, 1973

Alessandro Baratta (ITA) Criminologia Crítica e Crítica


radicado na Alemanha do Direito Penal, 1982

Georg Rusche e Otto


Kirchheimer (ALE) Punição e Estrutura Social, 1939
Criminologia Crítica
Michel Foucault (FRA) Vigiar e Punir, 1975
Criminologia Radical
Roberto Lyra Filho Criminologia Dialética.1972
Nova Criminologia
Juarez Cirino dos Santos A Criminologia Radical, 1981
(Déc. 70) Brasil
Nilo Batista Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro, 1990
Vera Malaguti Batista Difíceis Ganhos Fáceism 1998

América Latina Eugenio Raúl Zaffaroni Em Busca das Penas Perdidas, 1991
Argentina Roberto Bergalli
(radicado em Barcelona) Sociologia Jurídica do Controle Penal

Lola Aniyar de Castro Criminologia da Libertação,1987


Venezuela
Rosa del Olmo América Latina e sua Criminologia, 1981

Jeff Ferrell (EUA)


Keith Hayward (DIN)

Criminologia Cultural Instituto Brasileiro de Salah Khaled Jr.


Criminologia Cultural
Álvaro Oxley da Rocha
Brasil Salo de Carvalho
Saulo Ramos Furquim

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 59 de 93
Controle social é seletivo, discriminatório e criminógeno

Labelling Approach
Howard Becker Outsiders, 1963
Teoria da Reação Social
Teoria da Rotulação Manicômios, Prisões e Conventos, 1961
Erving Goffman
Teoria do Etiquetamento Estigma, 1963
Teoria Interacionista
Descriminalização
Interacionismo Simbólico
Diversão
(Déc. 60) Política dos 4Ds
Devido Processo Legal
Desinstitucionalização

Brasil: Reforma Penal de 1984, LEP e Juizados Especiais


Teorias do
Conflito Crime é normal e útil, a não ser quando
Émile Durkheim (fim séc XIX) ultrapassados certos limites
Robert Merton (1938) Descompasso entre meios e objetivos
Teorias da Anomia
Talcott Parsons (1951)

Edwin Sutherland
Crime do Colarinho Branco
Teoria da Associação Crime é aprendizado, interação que se
Diferencial (1940) dá nos grupos sociais mais íntimos
Poderosos também cometem crimes

www.grancursosonline.com.br 60 de 93
Robert Ezra Park
Ernest W. Burgess
Clifford Shaw
Escola de Chicago
Henry McKay
(1920-1930)
Desorganização social das grandes cidades
Controle social informal enfraquecido

Crime é normal e útil, a não


Émile Durkheim ser quando ultrapassados
(fim séc XIX) certos limites

Robert Merton Descompasso entre


Teorias do Teorias da (1938) meios e objetivos

Consenso Anomia
Talcott
Parsons (1951)

Teoria da Subcultura Edwin Sutherland


Delinquente (1955) Crime do Colarinho Branco
Teoria da
Crime é aprendizado, interação que se dá
Associação nos grupos sociais mais íntimos
Albert Cohen Diferencial (1940)
Poderosos também cometem crimes
Gangues são subculturas delinquentes
Não utilitarismo da ação, malícia,
versatilidade, negativismo, hedonismo
de curto prazo e autonomia de grupo

www.grancursosonline.com.br 61 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

QUESTÕES DE CONCURSO
001. (FCC/2012/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Com o surgimento das Teorias Sociológicas
da Criminalidade (ou Teorias Macrossociológicas da Criminalidade), houve uma repartição
marcante das pesquisas criminológicas em dois grupos principais. Essa divisão leva em con-
sideração, principalmente, a forma como os sociólogos encaram a composição da sociedade:
Consensual (Teorias do consenso, funcionalistas ou da integração) ou Conflitual (Teorias do
conflito social). Neste contexto são consideradas Teorias Consensuais:
a) Escola de Chicago, Teoria da Anomia e Teoria da Associação Diferencial.
b) Teoria da Anomia, Teoria Crítica e Teoria do Etiquetamento.
c) Teoria Crítica, Teoria da Anomia e Teoria da Subcultura Delinquente.
d) Teoria do Etiquetamento, Teoria da Associação Diferencial e Escola de Chicago.
e) Teoria da Subcultura Delinquente, Teoria da Rotulação e Teoria da Anomia.

Somente na alternativa A constam teorias consensuais. A Teoria Crítica e a Teoria do Eti-


quetamento (ou teoria da rotulação, ou labelling approach) inserem-se no grupo de teorias
conflituais.

002. (VUNESP/2014/PC-SP/MÉDICO LEGISTA/Q760795) São propostas da Escola de Chica-


go (“ecologia criminal”) para o controle da criminalidade:
a) política de tolerância zero; criação de programas comunitários com intensificação das ati-
vidades recreativas; aumento das áreas verdes.
b) prevalência do controle social formal sobre o informal; criação de comitês de apoios de
pais e mães para a educação das crianças; melhoria das condições das residências e con-
servação física dos prédios.
c) aumento das penas para o cometimento de delitos simples; criação de zonas de exclusão
para isolamento das áreas mais perigosas; disseminação de atividades recreativas como es-
cotismo e viagens culturais.
d) mudança efetiva nas condições econômicas e sociais das crianças; reconstrução da “so-
lidariedade social” por meio do fortalecimento das forças construtivas da sociedade (igre-
jas, escolas, associações de bairros); apoio estatal para redução e diminuição da pobreza e
desemprego.
e) controle individualizado, ou seja, controle específico e rígido sobre cada indivíduo; políticas
uniformes em toda a cidade, diante do fracasso das estratégias “por vizinhança”; implantação
de escolas e postos de saúde.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 62 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

A Escola de Chicago insere as instâncias de controle social informal no rol de objetos da Cri-
minologia e defende o fortalecimento desses freios comunitários. A diminuição da pobreza e
do desemprego é igualmente propugnada por reduzir a desorganização social. A política de
tolerância zero; a prevalência de controle social formal; o aumento de pena para delitos sim-
ples; o controle rígido sobre cada indivíduo; e o fracasso das estratégias por vizinhança não
são corolários da Escola de Chicago.

003. (FCC/2015/DPE-SP/CIENTISTA SOCIAL/Q860318/ADAPTADA) O modelo das zonas


concêntricas de Ernest Watson Burgess (1886-1966) buscava demonstrar a tendência de ex-
pansão radial da cidade a partir de seu centro, em íntima relação com os processos de diferen-
ciação interna de cada um dos cinco setores por ele considerados.

Segundo a teoria de Burgess, a cidade crescia se expandindo em círculos concêntricos, do


centro para a periferia. O anel mais central, chamado loop, era a zona comercial, com bancos,
grandes lojas, a administração da cidade, estações etc. A segunda zona, chamada zona de
transição, é uma zona de comércio que conecta o loop à terceira zona (residencial). A zona
de transição, por estar constantemente sujeita à invasão do loop, era uma área com intensa
mobilidade e degradação, com barulho, agitação, mau cheiro, bordéis e pensões – as deno-
minadas tenement houses, espécies de cortiços para os recém-chegados à cidade. A terceira
zona abrigava trabalhadores com uma condição financeira ligeiramente melhor e imigrantes
de segunda geração (filhos dos imigrantes originais). Nela, as moradias ainda são modestas,
mas já ficam um pouco mais afastadas das zonas deterioradas. A quarta zona é a da chama-
da classe média, com moradias um pouco melhores. E a quinta zona é aquela habitada pelos
altos-estratos da população. Esses moradores são chamados commuters: são pessoas que
gastam muito tempo em meios de transporte para chegar às regiões centrais da cidade.

004. (CESPE/2013/DPF/DELEGADO/Q788067) De acordo com o interacionismo simbólico, ou


simplesmente interacionismo, cuja perspectiva é macrossociológica, deve-se indagar como
se define o criminoso, e não quem é o criminoso.

Questão difícil. O interacionismo se insere no modelo teórico da reação social. A ideia princi-
pal do interacionismo é considerar que, como o ser humano interage a todo tempo, qualquer
estudo que se debruce sobre somente um dos lados da interação, é incompleto. Ou seja, não
se pode estudar o delito prescindindo do estudo das instâncias que reagem ao delito. A Cri-
minologia deixa de perguntar por que alguém comete um crime e passa a perguntar como
funcionam as instâncias de controle que decidem, definem que alguém é criminoso. Nisso, o

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 63 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

enunciado está correto. O erro estaria, conforme a banca, na catalogação dessa perspectiva
como macrossociológica. A imensa maioria dos autores insere o interacionismo simbólico
(e a teoria do labelling approach a que ele deu origem) nas teorias do conflito que, por sua
vez, segundo parte dos manuais de Criminologia, seriam uma espécie das teorias macros-
sociológicas (a outra espécie seriam as teorias do consenso). Mas, como já explicamos, as
teorias macrossociológicas e as microssociológicas podem ser do conflito ou do consenso.
JUSTIFICATIVA DA BANCA: A afirmativa está errada apenas no tocante à perspectiva do in-
teracionismo como macrossociológica, quando, ao contrário, trata-se do enfoque conhecido
como microssociológico, com menor nível de abstração, atenção à empiria e aos processos
individuais relacionados à criminalização, bem como à complexidade dos conflitos sociais.
As teorias da anomia, ou estruturais-funcionalistas e as chamadas estruturalistas, estas sim,
são macrossociológicas, com maior nível de abstração e déficit empírico.

005. (INSTITUTO ACESSO/2019/PC-ES/DELEGADO DE POLÍCIA/Q1084575) Constitui um


dos objetivos metodológicos da teoria do Labelling approach (Teoria do Etiquetamento Social)
o estudo detalhado da atuação do controle social na configuração da criminalidade. Assinale
a alternativa correta:
a) Para o labelling approach, o controle social penal possui um caráter seletivo e discriminató-
rio gerando a criminalidade.
b) O labelling approach é uma teoria da criminalidade que se aproxima do paradigma etiológico
convencional para explicar a distribuição seletiva do fenômeno criminal.
c) Para o labelling approach, um sistemático e progressivo endurecimento do controle social
penal viabilizaria o alcance de uma prevenção eficaz do crime.
d) O labelling approach, como explicação interacionista do fato delitivo, destaca o problema
hermenêutico da interpretação da norma penal.
e) O labelling approach surge nos EUA nos anos 80, admitindo a normalidade do fenômeno
delitivo e do delinquente.

O labelling approach reconhece o caráter constitutivo do controle social formal, considerado


instrumento seletivo e discriminatório. Deixa-se de questionar por que um indivíduo comete
crimes, e passa-se a indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com o rótulo de desvia-
da. Na letra “b”, o labelling se afasta do paradigma etiológico, pois deixa de questionar por que
um indivíduo comete crimes, e passa a indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com o
rótulo de desviada. Na letra “c”, como o controle social é discriminatório e estigmatizante, seu
fortalecimento gera mais criminalidade do que a que ele pretende equacionar. Na letra “d”, de
fato o labelling é interacionista, mas não está preocupado com a hermenêutica (interpretação)
da norma penal, mas sim com a atuação concreta das instâncias formais de controle social.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 64 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Na letra “e”, o labelling surge na década de 1960 nos Estados Unidos e defende que a crimina-
lização decorre da reação seletiva às ações desviantes.

006. (CESPE/2016/PC-PE/DELEGADO DE POLÍCIA/Q815975) Considerando que, conforme


a doutrina, a moderna sociologia criminal apresenta teorias e esquemas explicativos do crime,
assinale a opção correta acerca dos modelos sociológicos explicativos do delito.
a) Para a teoria ecológica da sociologia criminal, que considera normal o comportamento deli-
tuoso para o desenvolvimento regular da ordem social, é imprescindível e, até mesmo, positiva
a existência da conduta delituosa no seio da comunidade.
b) A teoria do conflito, sob o enfoque sociológico da Escola de Chicago, rechaça o papel das
instâncias punitivas e fundamenta suas ideias em situações concretas, de fácil comprovação e
verificação empírica das medidas adotadas para contenção do crime, sem que haja hostilidade
e coerção no uso dos meios de controle.
c) A teoria da integração, ao criticar a teoria consensual na solução do conflito, rotula o crimi-
noso quando assevera que o delito é fruto do sistema capitalista e considera o fator econômi-
co como justificativa para o ato criminoso, de modo que, para frear a criminalidade, devem-se
separar as classes sociais.
d) A Escola de Chicago, ao atentar para a mutação social das grandes cidades na análise em-
pírica do delito, interessa-se em conhecer os mecanismos de aprendizagem e transmissão das
culturas consideradas desviadas, por reconhecê-las como fatores de criminalidade.
e) A teoria estrutural-funcionalista da sociologia criminal sustenta que o delito é produto da de-
sorganização da cidade grande, que debilita o controle social e deteriora as relações humanas,
propagando-se, consequentemente, o vício e a corrupção, que são considerados anormais e
nocivos à coletividade.

A Escola de Chicago, com enfoque fortemente empírico e transdisciplinar, se propôs a discutir


múltiplos aspectos da vida humana, todos relacionados com a vida na cidade. Para ela, é mais
apropriado falar em “cidades”, no plural, pois cada parte do Município tem sua cultura própria,
sua dinâmica particular, com estatutos, usos, costumes. O complexo cultural determina o que
é típico de cada cidade e mais, de cada parte da cidade. Essas culturas são transmitidas e
aprendidas dentro dos respectivos grupos. A letra A estaria correta se substituíssemos eco-
lógica por funcionalista. Na letra B, a Escola de Chicago não integra as teorias do conflito. Na
letra C, a teoria crítica de base marxista assevera que o delito é fruto do sistema capitalista.
De todos modos, não propugna a separação das classes sociais. E a teoria da integração
pode ser considerada sinônimo de teoria do consenso. Na letra E, o enunciado poderia estar
correto se substituíssemos estrutural-funcionalista por ecológica.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 65 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

007. (PC-SP/2012/PC-SP/DELEGADO DE POLÍCIA/Q741772) O efeito criminógeno da gran-


de cidade, valendo-se dos conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos
núcleos urbanos, é explicado pela
a) Teoria do Criminoso Nato.
b) Teoria da Associação Diferencial
c) Teoria da Anomia.
d) Teoria do Labelling Aproach.
e) Teoria Ecológica.

Também chamada de teoria da ecologia criminal ou teoria da desorganização social, a escola


de Chicago se dispôs a analisar comportamentos sociais, seitas, grupos, multidões, opinião
pública, criminalidade e outros fenômenos que ocorriam na cidade cuja população saltou de
4.470 pessoas em 1840 para mais de um milhão de habitantes em 1900.

008. (FCC/2013/AL-PB/PROCURADOR/Q616134) A avaliação do espaço urbano é especial-


mente importante para compreensão das ondas de distribuição geográfica e da corresponden-
te produção das condutas desviantes. Este postulado é fundamental para compreensão da
corrente de pensamento, conhecida na literatura criminológica, como
a) teoria da anomia.
b) escola de Chicago.
c) teoria da associação diferencial.
d) criminologia crítica.
e) labelling approach.

A teoria ecológica da Escola de Chicago se dedicou a analisar as cidades e o impacto crimi-


nógeno que a desorganização social urbana possui.

009. (MPE-SC/2016/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA/Q1086674) No âmbito das teorias


criminológicas, a teoria da subcultura delinquente, originariamente conhecida como “Escola
de Chicago”, assevera que a delinquência surge como resultado da estrutura das classes
sociais, que faz com que alguns grupos aceitem a violência como forma de resolver os con-
flitos sociais.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 66 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

A teoria da subcultura delinquente e a Escola de Chicago são teorias distintas. A Escola de


Chicago analisa a criminogênese a partir do estudo das grandes cidades e não a partir da
estrutura das classes sociais.

010. (CEBRASPE/2018/PC-SE/DELEGADO DE POLÍCIA/Q1013844) Em seu início, a socio-


logia criminal buscava associar a gênese delituosa a fatores biológicos. Posteriormente, ela
passou a englobar as chamadas teorias macrossociológicas, que não se limitavam à análise
do delito segundo uma visão do indivíduo ou de pequenos grupos, mas consideravam a so-
ciedade como um todo.
Tendo esse fragmento de texto como referência inicial, julgue o item a seguir, relativo a teo-
rias sociológicas em criminologia.
Na perspectiva macrossociológica, o pensamento criminológico moderno é influenciado por
duas visões: a das teorias de consenso e a das teorias de conflito.

As duas grandes linhas da perspectiva macrossociológica da Criminologia são as teorias do


consenso e do conflito.

011. (INSTITUTO ACESSO/2019/PC-ES/DELEGADO DE POLÍCIA/Q1084570) O pensamen-


to criminológico moderno, de viés macrossociológico, é influenciado pela visão de cunho fun-
cionalista (denominada teoria da integração, mais conhecida por teorias do consenso) e de
cunho argumentativo (denominada por teorias do conflito). É correto afirmar que:
a) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferen-
cial, a teoria da subcultura do delinquente e a teoria do etiquetamento.
b) São exemplos de teorias do conflito a teoria de associação diferencial a teoria da anomia,
a teoria do etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
c) São exemplos de teorias do consenso a Escola de Chicago, a teoria de associação diferen-
cial, a teoria da anomia e a teoria da subcultura do delinquente.
d) São exemplos da teoria do consenso a teoria de associação diferencial, a teoria da anomia,
a teoria do etiquetamento e a teoria crítica ou radical.
e) São exemplos da teoria do conflito a Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial,
a teoria da anomia e a teoria da subcultura do delinquente.

A escola de Chicago, as teorias do aprendizado, aí incluída a teoria da associação diferencial,


a teoria da anomia e a teoria da subcultura delinquente são teorias do consenso, também
chamadas de funcionalistas ou de integração. A teoria do etiquetamento e a teoria crítica (ou
radical) são teorias do conflito ou argumentativas.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 67 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

012. (INSTITUTO ACESSO/2019/PC-ES/DELEGADO DE POLÍCIA/Q1084564) Os modelos


sociológicos contribuíram decisivamente para um conhecimento realista do problema cri-
minal demonstrando a pluralidade de fatores que com ele interagem. Leia as afirmativas a
seguir, e marque a alternativa INCORRETA:
a) As teorias conflituais partem da premissa de que o conflito expressa uma realidade pato-
lógica da sociedade sendo nocivo para ela na medida em que afeta o seu desenvolvimento e
estabilidade.
b) As teorias ecológicas partem da premissa de que a cidade produz delinquência, valendo-se
dos conceitos de desorganização e contágio social inerentes aos modernos núcleos urbanos.
c) As teorias subculturais sustentam a existência de uma sociedade pluralista com diver-
sos sistemas de valores divergentes em torno dos quais se organizam outros tantos grupos
desviados.
d) As teorias estrutural-funcionalistas consideram a normalidade e a funcionalidade do crime
na ordem social, menosprezando o componente biopsicopatológico no diagnóstico do pro-
blema criminal.
e) As teorias de aprendizagem social sustentam que o comportamento delituoso se aprende
do mesmo modo que o indivíduo aprende também outras atividades lícitas em sua interação
com pessoas e grupos.

As teorias conflituais não falam de patologia. Elas partem do pressuposto de que há força e
coerção na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e sujeição de ou-
tros. A sociedade está sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento da sociedade
contribui, de certa forma, para sua desintegração. Para essas teorias o crime faz parte da luta
pelo poder.

013. (CEBRASPE/2019/TJ-BA/JUIZ DE DIREITO SUBSTITUTO/Q1032593) A explicação do


crime como fenômeno coletivo cuja origem pode ser encontrada nas mais variadas causas
sociais, como a pobreza, a educação, a família e o ambiente moral, corresponde à perspectiva
criminológica denominada
a) sociologia criminal.
b) criminologia da escola positiva.
c) criminologia socialista
d) labeling approach, ou etiquetamento.
e) ecologia criminal.

As teorias criminológicas têm adotado, cada vez mais, um enfoque sociológico. A Sociologia
criminal entende que o crime é um fenômeno social causado por variados fatores e que guar-

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 68 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

da relação com situações ordinárias da vida cotidiana. A Sociologia criminal entende que o
crime é um fenômeno social causado por variados fatores (como família, educação, pobreza,
costumes, moral) e que guarda relação com situações ordinárias da vida cotidiana.

014. (CESPE/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA/2018/Q949270) De acordo com a teoria de


Sutherland, os crimes são cometidos
a) em razão do comportamento das vítimas e das condições do ambiente.
b) por pessoas de baixa renda, exatamente em razão de sua condição socioeconômica des-
privilegiada.
c) em razão do comportamento delinquente herdado, ou seja, de origem biológica.
d) por pessoas que sofrem de sociopatias ou psicopatias.
e) por pessoas que convivem em grupos que realizam e legitimam ações criminosas.

Edwin Sutherland é o principal autor da teoria da associação diferencial. Para Sutherland,


o crime não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas aprendem a
conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base essa conduta. Esse pro-
cesso é tanto mais intenso quanto mais íntimas as relações estabelecidas pelo indivíduo. As
pessoas, então, interagem em grupos, aprendem umas com as outras, se associam, mas não
para seguir os padrões da sociedade, e sim para agir de modo diferente (praticando delitos).

015. (VUNESP/PC-SP/MÉDICO LEGISTA SUPERIOR/2014/Q760796) Assinale a alternativa


que completa as lacunas do texto. Os estudos de Sociologia Criminal de Sutherland (Teoria da
Associação Diferencial) estão principalmente ligados aos crimes de ________________ e tiveram
como foco ______________.
a) genocídio... a Alemanha
b) organizações criminosas... a Itália
c) jogo ilegal... a atual Rússia (ex-URSS)
d) discriminação de gênero... países do Oriente Médio
e) colarinho branco... os Estados Unidos da América

Edwin Sutherland é o principal autor da teoria da associação diferencial. Ele produziu seus
estudos nos Estados Unidos. Para Sutherland, o crime não é cometido somente por pessoas
menos favorecidas. Ele cunhou a expressão crime de colarinho branco (white collar crime).
Trata-se do crime cometido no âmbito da profissão por uma pessoa de respeitabilidade e
elevado estatuto social.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 69 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

016. (VUNESP/PC-SP/MÉDICO LEGISTA SUPERIOR/2014/Q760797) Escola Criminológica


que tem como expoente Albert Cohen, e que procura equacionar por meio de respostas não
criminais e não punitivas o comportamento geralmente juvenil que desafia os modelos de pro-
dução consumista:
a) Escola da Contracultura Contemporânea.
b) Teoria da Subcultura Delinquente.
c) Escola Socialista Cultural.
d) Teoria do Comunismo Consciente.
e) Teoria do Socialmente Razoável.

A teoria da subcultura delinquente se desenvolveu a partir da obra Delinquent boys, de Albert


Cohen, que versa sobre os grupos de gangues de meninos que não preenchem os critérios do
sistema de status respeitável na sociedade consumista.

017. (VUNESP/PC-CE/DELEGADO DE POLÍCIA/2015/Q1087712) Sobre a teoria da “ano-


mia”, é correto afirmar:
a) é classificada como uma das “teorias de conflito” e teve, como autores, Erving Goffman e
Howard Becker.
b) foi desenvolvida pelo sociólogo americano Edwin Sutherland e deu origem à expressão whi-
te collar crimes.
c) surgiu em 1890 com a escola de Chicago e teve o apoio de John Rockefeller.
d) iniciou-se com as obras de Émile Durkheim e Robert King Merton, e significa ausência de lei.
e) foi desenvolvida por Rudolph Giuliani, também conhecida como “Teoria da Tolerância Zero”.

A teoria da anomia se insere no ramo das teorias estruturais funcionalistas, que se caracteri-
zam por considerar o crime um fenômeno social, normal e funcional. Émile Durkheim e Robert
Merton foram importantes pioneiros da teoria da anomia. O termo anomia advém do grego e
significa “ausência de lei”.

018. (VUNESP/PC-SP/AGENTE POLICIAL/2018/Q1081848) A teoria sociológica da crimi-


nalidade que teve, entre seus principais autores, Émile Durkheim e Robert Merton é conhecida-
mente denominada na criminologia como
a) Escola de Chicago.
b) Teoria Ecológica do Crime.
c) Labeling approach ou “etiquetamento”.
d) Associação Diferencial.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 70 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

e) Anomia.

Durkheim e Merton são expoentes da teoria da anomia.

019. (VUNESP/PC-SP/ESCRIVÃO DE POLÍCIA/2013/Q663848) Veículos de comunicação


em massa de todo o país noticiaram, em 12 de junho de 2012, que a região dorsal da estátua
do Cristo Redentor de Belo Horizonte foi pichada naquela madrugada por dois homens, com a
inscrição “...... RONADINHO 49” (sic), em homenagem ao novo craque do Clube Atlético Minei-
ro. O comportamento desses indivíduos é relacionado à teoria sociológica
a) da cifra dourada.
b) do conflito cultural.
c) das áreas criminais.
d) da subcultura delinquente.
e) do labelling approach.

A teoria da subcultura delinquente se desenvolveu a partir da obra Delinquent boys, de Albert


Cohen. Para ele, toda sociedade é internamente diferenciada em numerosos subgrupos. A
subcultura delinquente se tornou comum em certos grupos da sociedade norte-americana,
que são as gangues de meninos que floresceram visivelmente nos bairros delitivos das gran-
des cidades americanas. A subcultura á bastante típica da juventude. Os grupos subculturais
aceitam, por exemplo, que seus integrantes façam algazarra, vandalismo (como a pichação
do enunciado), obscenidades. Os punks, skinheads, hooligans, as gangues são grupos de
subcultura.

020. (VUNESP/PC-SP/INVESTIGADOR DE POLÍCIA/2018/Q988399) É considerada como


teoria de consenso, criada pelo sociólogo Albert Cohen. Segundo Cohen, esta teoria se carac-
teriza por três fatores: não utilitarismo da ação; malícia da conduta e negativismo.
Trata-se da seguinte teoria sociológica da criminalidade:
a) escola de Chicago.
b) associação diferencial.
c) labelling approach.
d) subcultura delinquente.
e) teoria crítica.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 71 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

A teoria da subcultura delinquente defende a existência de uma subcultura que faz com que
alguns grupos (como os de delinquentes juvenis) passem a aceitar um sistema alternativo
de valores e crenças, que tem origem na interação com outros adolescentes em situação
semelhante e que soluciona os problemas de adaptação causados pela cultura dominante.
A criminalidade desses subgrupos possui características como o não utilitarismo da ação,
malícia, versatilidade, negativismo, hedonismo de curto prazo e autonomia de grupo. Duas
observações, portanto: os fatores do enunciado (não utilitarismo, malícia e negativismo) es-
tão incompletos; e eles não caracterizam a teoria, mas sim a delinquência dos subgrupos.

021. (VUNESP/2018/PC-SP/AGENTE POLICIAL/Q1081847) O comportamento criminal é


aprendido, mediante a interação com outras pessoas, resultante de um processo de comuni-
cação, ou seja, o crime não pode ser definido simplesmente como disfunção ou inadaptação
de pessoas de classes menos favorecidas, não sendo exclusividade destas.
Trata-se, nesse texto, da ideia que é base da teoria sociológica da criminalidade surgida em um
ambiente pós-Primeira Guerra Mundial e denominada como
a) Anomia.
b) Teoria Ecológica do Crime.
c) Associação Diferencial.
d) Subcultura Delinquente.
e) Labeling approach ou “etiquetamento”.

Para a teoria da associação diferencial, surgida no começo da década de 1940, o crime não
é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas de qualquer classe social
aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base essa con-
duta. O processo de comunicação, que permite a aprendizagem, é fundamental para a prática
criminal. Essas ideias foram importantes para demonstrar que o crime pode ser cometido
por qualquer pessoa na sociedade, independentemente de fatores biológicos, de pobreza, de
déficit de inteligência ou falta de inserção social.

022. (VUNESP/PC-SP/PAPILOSCOPISTA POLICIAL/2018/Q1246354) Na questão, assinale


a alternativa contendo a informação que preenche corretamente a lacuna.
A teoria _______ considera que o crime é um fenômeno natural da vida em sociedade; todavia,
sua ocorrência deve ser tolerada, mediante estabelecimento de limites razoáveis, sob pena de
subverter a ordem pública, os valores cultuados pela sociedade e o sistema normativo vigente.
a) da associação diferencial
b) do etiquetamento ou labelling approach
c) behaviorista

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 72 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

d) da anomia
e) da subcultura delinquente

O termo anomia, na criminologia, diz respeito à ausência ou desintegração entre os sistemas


de valores e o sistema das normas sociais. Para a teoria da anomia de Durkheim, a desviação
é um fenômeno normal de toda estrutura social e somente quando se ultrapassam certos
limites o crime é um fenômeno negativo. Do contrário, o crime é necessário e útil para o equi-
líbrio e desenvolvimento sociocultural.

023. (VUNESP/2018/PC-SP/AUXILIAR DE PAPILOSCOPISTA POLICIAL) Segundo a teoria


sociológica da criminalidade denominada associação diferencial, é correto afirmar que
a) é o grau de autocontrole apresentado por um indivíduo que irá determinar sua maior ou me-
nor propensão ao crime, autocontrole esse que é adquirido por meio da socialização familiar.
b) nos termos propostos por Sutherland, a conduta criminosa não é algo anormal, não é sinal
de uma personalidade imatura, de um deficit de inteligência, antes é um comportamento adqui-
rido por meio do aprendizado que resulta da socialização num determinado meio social.
c) a tensão entre as metas socioculturais recomendadas pelo sistema social e as reais con-
dições de alcançá-las pelos meios legítimos, sobretudo para certos indivíduos, cria um rompi-
mento por meio do qual as normas sociais entram em conflito com os valores de um indivíduo
ou de uma subcultura exigindo um comportamento ilegal para alcance do fim legítimo.
d) diferentes atos criminosos são intercambiáveis, porque estes mostram as mesmas característi-
cas como o imediatismo e o baixo grau de esforço. Assim, as diferenças entre crimes instrumentais
e expressivos, ou entre crimes violentos e crimes não coercitivos, “são sem sentido e enganosas”.
e) as diferenças de aspirações individuais e os meios disponíveis, as oportunidades bloquea-
das e a privação relativa são fatores que, articulados, ocasionam a prática de crimes.

Edwin Sutherland é o principal autor da teoria da associação diferencial. Para ele, o crime não
é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas de qualquer classe social
aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base essa con-
duta. O processo de comunicação, que permite a aprendizagem, é fundamental para a prática
criminal. Essas ideias foram importantes para demonstrar que o crime pode ser cometido
por qualquer pessoa na sociedade, independentemente de fatores biológicos, de pobreza, de
déficit de inteligência ou falta de inserção social.

024. (VUNESP/2018/PC-SP/AGENTE POLICIAL) A ausência de utilitarismo da ação, a malí-


cia da conduta e seu respectivo negativismo são fatores associados à teoria sociológica da
criminalidade denominada como

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 73 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

a) Subcultura Delinquente.
b) Anomia
c) Teoria Ecológica do Crime.
d) Labeling approach ou “etiquetamento”.
e) Associação Diferencial.

Um argumento central para a teoria da subcultura delinquente é a existência de diferenças es-


senciais entre a criminalidade subcultural e a criminalidade em geral. A subcultura, típica das
gangues, valoriza o não utilitarismo, a malícia, o negativismo, a versatilidade, o hedonismo de
curto prazo e a autonomia de grupo.

025. (VUNESP/2017/DPE-RO/DEFENSOR PÚBLICO SUBSTITUTO) Assinale a alternativa


que contém somente teorias consagradas na Sociologia Criminal.
a) Teoria do recolhimento e Teoria da reação típica.
b) Teorias Multifatoriais e Teoria “ecológica da escola de Chicago”.
c) Labelling Aproach e Teoria “escatológica da escola de Boston”.
d) Teoria do Processo Crime e Teoria do Processo Penal.
e) Teoria do Livre Arbítrio e Teoria da reação cultural.

A alternativa B é a única que contém duas teorias da Sociologia Criminal, ou Criminologia So-
ciológica. A teoria multifatorial se debruçava preferencialmente sobre a delinquência juvenil e
defendia que a criminalidade nunca é resultado de único fator ou causa. A Escola de Chicago
era uma teoria sobre a ecologia urbana da cidade de Chicago, e abordava problemas como
falta de moradia, desorganização social, guetos, zonas residenciais ricas e pobres, distribui-
ção de doentes mentais na cidade, entre outros.

026. (CESPE/2013/DPF/DELEGADO/Q788070) Julgue o item a seguir, relacionados aos mo-


delos teóricos da criminologia.
A teoria funcionalista da anomia e da criminalidade, introduzida por Emile Durkheim no século
XIX, contrapunha à ideia da propensão ao crime como patologia a noção da normalidade do
desvio como fenômeno social, podendo ser situada no contexto da guinada sociológica da
criminologia, em que se origina uma concepção alternativa às teorias de orientação biológica
e caracterológica do delinquente.

Émile Durkheim foi um sociólogo francês do final do século XIX. Ele é considerado um dos
principais teóricos da anomia. A anomia é o estado de desregramento, de ausência ou desin-

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 74 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

tegração das normas sociais, produzindo uma situação de transgressão ou de pouca coesão.
Para Durkheim, o crime se torna um problema quando existe uma situação de anomia. Caso
contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal. Sua teoria se afastava da patologiza-
ção do delito defendida, por exemplo, pelos positivistas. A criminologia sociológica se conso-
lidou como uma importante alternativa às teorias biológicas e psicológicas (sobre o caráter,
caracterológicas) do delito.

027. (FCC/2012/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO) Paulo, executivo do mercado financeiro,


após um dia estressante de trabalho, foi demitido. O mundo desabara sobre sua cabeça. Pe-
gou seu carro e o que mais queria era chegar em casa. Mas o horário era de rush e o trânsito
estava caótico, ainda chovia. No interior de seu carro sentiu o trauma da demissão e só pensa-
va nas dívidas que já estavam para vencer, quando fora acometido de uma sensação terrível:
uma mistura de fracasso, com frustração, impotência, medo e etc. Neste instante, sem quê
nem porque, apenas querendo chegar em casa, jogou seu carro para o acostamento, onde
atropelou um ciclista que por ali trafegava, subiu no passeio onde atropelou um casal que ali
se encontrava, andou por mais de 200 metros até bater num poste, desceu do carro meio tonto
e não hesitou, agrediu um motoqueiro e subtraiu a motocicleta, evadindo– se em desabalada
carreira, rumo à sua casa. Naquele dia, Paulo, um pacato cidadão, pagador de impostos, bom
pai de família, representante da classe média-alta daquela metrópole, transformou-se num cri-
minoso perigoso, uma fera que ocupara as notícias dos principais telejornais. Diante do caso
narrado, identifique dentre as Teorias abaixo, a que melhor analisa (estuda/explica) o caso.
a) Escola de Chicago.
b) Teoria da associação diferencial.
c) Teoria da anomia.
d) Teoria do labeling approach.
e) Teoria crítica.

Questão difícil. O gabarito é letra C porque o foco da narrativa está nas consequências deli-
tivas da demissão de Paulo. Ele, integrante da classe média-alta, pensava nas dívidas a pa-
gar, na sensação de frustração, impotência e medo. Naquele momento, seus objetivos (suas
metas, suas compras, suas contas) não podiam mais ser satisfeitos pelos meios disponíveis
(seu salário), já que ele deixava de ter uma renda. E esse é o eixo central da teoria da anomia
de Robert Merton.

028. (PC-SP/PC-SP/DELEGADO DE POLÍCIA/2012) Assinale a alternativa incorreta. A Teoria


do Etiquetamento
a) é considerada um dos marcos das teorias de consenso.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 75 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

b) é conhecida como Teoria do Labelling Aproach.


c) tem como um de seus expoentes Erving Goffman.
d) tem como um de seus expoentes Howard Becker.
e) surgiu nos Estados Unidos.

A teoria do etiquetamento – também conhecida como teoria do labelling approach – nasceu


nos EUA e tem como expoentes Becker e Goffman. Ela é uma teoria que se encaixa no marco
das teorias criminológicas do conflito.

029. (MPE-SC/2013/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA/MANHÃ) Os principais postulados do


labelling approach são o interacionismo simbólico e construtivismo social; a introspecção
simpatizante como técnica de aproximação da realidade criminal para compreendê-la a partir
do mundo do desviado e captar o verdadeiro sentido que ele atribui a sua conduta; a natureza
“definitorial” do delito; o caráter constitutivo do controle social; a seletividade e discriminato-
riedade do controle social; o efeito criminógeno da pena e o paradigma do controle.

Pergunta difícil! Todos os postulados enunciados se enquadram no labelling approach: 1– In-


teracionismo simbólico e construtivismo social (o saber criminológico passa necessariamen-
te pelo conhecimento de todas as partes envolvidas no processo de interação social e o con-
ceito que um indivíduo tem de si mesmo, de sua sociedade e da situação que nela representa
– como ele se constrói socialmente e como simboliza essas interações –, é ponto importante
do significado genuíno da conduta criminal); 2– Introspecção simpatizante como técnica de
aproximação da realidade criminal para compreendê-la a partir do mundo do desviado e cap-
tar o verdadeiro sentido que ele atribui a sua conduta (os teóricos do labelling defendem que é
necessário tentar ver o mundo com os olhos do desviado); 3– Natureza “definitorial” do delito
(o caráter delitivo de uma conduta e de seu autor não é ontológico, ou seja, não existe isola-
damente, mas depende de certos processos sociais de definição, que lhe atribuem tal caráter,
e de seleção, que etiquetam o autor como delinquente); 4– Caráter constitutivo do controle
social (a criminalidade é criada, constituída, pelo controle social, que seleciona condutas e
etiqueta seus autores); 5– Seletividade e discriminatoriedade do controle social (o controle
social é altamente discriminatório e seletivo, pois seleciona sua clientela sempre dos mes-
mos estratos e grupos sociais); 6– Efeito criminógeno da pena (a pena potencializa e perpe-
tua a desviação, consolidando o desviado em um status de delinquente, gerando estereótipos
e etiologias que se supõe que pretende evitar. O condenado assume uma nova imagem de si
mesmo, redefinindo sua personalidade em torno do papel de desviado, desencadeando-se
a denominada desviação secundária); 7– Paradigma de controle (a Criminologia passa a se
dedicar ao estudo das instâncias de controle social formal, isto é, do processo de definição e
seleção que atribui a etiqueta de delinquente a um indivíduo).

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 76 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

030. (FUMARC/2018/PC-MG/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO) “Por debaixo do problema


da legitimidade do sistema de valores recebido pelo sistema penal como critério de orienta-
ção para o comportamento socialmente adequado e, portanto, de discriminação entre con-
formidade e desvio, aparece como determinante o problema da definição do delito, com as
implicações político-sociais que revela, quando este problema não seja tomado por dado, mas
venha tematizado como centro de uma teoria da criminalidade. Foi isto o que aconteceu com
as teorias da ‘reação social’, ou labelling approach, hoje no centro da discussão no âmbito da
sociologia criminal.”
BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à sociologia
do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan: Instituto Carioca de Criminologia. p. 86. (Coleção
Pensamento Criminológico)
Com base no excerto acima, referente ao paradigma do labeling approach, analise as asser-
ções a seguir:
I – O labelling approach tem se ocupado em analisar, especialmente, as reações das instâncias
oficiais de controle social, ou seja, tem estudado o efeito estigmatizante da atividade da polí-
cia, dos órgãos de acusação pública e dos juízes.
PORQUE
II – Não se pode compreender a criminalidade se não se estuda a ação do sistema penal, pois
o status social de delinquente pressupõe o efeito da atividade das instâncias oficiais de con-
trole social da delinquência.
Está CORRETO o que se afirma em:
a) I e II são proposições falsas.
b) I e II são proposições verdadeiras e II é uma justificativa correta da I.
c) I é uma proposição falsa e II é uma proposição verdadeira.
d) I é uma proposição verdadeira e II é uma proposição falsa.

O labelling approach abandona o paradigma etiológico, substituindo a busca das causas da


criminalidade pela análise das reações das instâncias oficiais de controle social. Essa mu-
dança ocorre porque o paradigma da reação social, próprio do labelling, propugna que a crimi-
nalidade não existe ontologicamente. Ela depende de processos de definição e de atribuição
de status de delinquente a comportamento e indivíduos.

031. (CESPE/2018/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/Q949272) O paradigma da re-


ação social
a) surgiu na Europa a partir do enfoque do interacionismo simbólico.
b) afirma que os grupos sociais criam o desvio, o qual é uma qualidade do ato infracional co-
metido pela pessoa.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 77 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

c) indica que é mais apropriado falar em criminalização e criminalizado que falar em crimina-
lidade e criminoso.
d) afirma que a criminalidade tem natureza ontológica.
e) pode ser chamado, também, de labbeling approach, etiquetamento ou paradigma etiológico.

Surgido nos Estados Unidos, o paradigma da reação social começa a abandonar os questio-
namentos etiológicos (estudo das causas do cometimento de crimes). Também conhecido
por labelling approach ou teoria do etiquetamento, tenta se distanciar da nomenclatura crime-
-criminoso, substituindo o enfoque dos estudos. Ao enfocar os processos de criminalização,
procura entender por que a alguém é satisfatoriamente atribuído um rótulo estigmatizante,
ou seja, porque algumas condutas e pessoas são selecionadas pelos mecanismos de reação
social – são criminalizadas – e outras não.

032. (FCC/2017/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO/Q860567) A Criminologia da reação social


a) concentra seus estudos nos processos de criminalização.
b) corresponde a uma teoria do consenso.
c) explica o comportamento criminoso como fruto de um aprendizado.
d) identificou as subculturas delinquentes.
e) explica a existência do homem criminoso pelo atavismo.

O labelling approach, ou teoria da reação social, reconhece o caráter constitutivo do contro-


le social formal, considerado instrumento seletivo e discriminatório. Deixa-se de questionar
por que um indivíduo comete crimes, e passa-se a indagar a razão de certa conduta ser eti-
quetada com o rótulo de desviada. Nesse questionamento, as agências de controle social e
os respectivos processos de criminalização adquirem enorme importância e passam a ser
estudadas criteriosamente. Se hoje é comum que haja capítulos sobre a polícia, o Ministério
Público, as instituições prisionais, o sistema judiciário nos livros e manuais de Criminologia,
isso, em grande parte, deve-se ao paradigma inaugurado pelo labelling approach, que tanto
valor atribuiu aos respectivos papéis na constituição do delito.

033. (FCC/2017/DPE/DEFENSOR PÚBLICO/Q901638) A teoria do labelling approach:


a) também é conhecida como teoria da anomia e exerceu forte influência sobre o funciona-
lismo penal.
b) possui uma perspectiva transdisciplinar na discussão da questão urbana e da ecolo-
gia criminal.
c) surge no Reino Unido na década de 1950 em reação à teoria da associação diferencial.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 78 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

d) tem o interacionismo simbólico na sociologia como forte influência para seu desenvolvi-
mento em ruptura aos modelos de consenso até então imperantes na Criminologia.
e) tem sua raiz na sociologia marxista do conflito.

O controle social formal se consolidou como objeto da Criminologia a partir dos anos de 1960,
nos Estados Unidos, com o labelling approach, também conhecido como teoria do etiqueta-
mento, teoria da rotulação social ou teoria interacionista. Trata-se de uma teoria do conflito.
Rompendo com o ideal consensual de sociedade, o labelling valia-se das ideias do interacio-
nismo simbólico para defender que estudar a realidade social implicava estudar os processos
de interação individual ocorridos no seio da própria sociedade.

034. (VUNESP/2013/PC-SP/INVESTIGADOR DE POLÍCIA/Q663926) A Teoria do Etiqueta-


mento ou do labelling approach inspirou no Direito Penal Brasileiro a instituição
a) da Lei de Segurança Nacional.
b) do Código Penal Militar.
c) da Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
d) da Teoria do Direito Penal do Inimigo.
e) da Lei dos Crimes Hediondos.

O reconhecimento, aportado pela teoria do labelling approach, de que as instâncias de contro-


le social formal são estigmatizantes e criminógenas, levou à criação de modelos de juizados
em que os procedimentos são mais céleres e em que se buscam penas alternativas, medidas
que foram positivadas com a Lei n. 9.099/95, Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.

035. (NC-UFPR/2014/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO/Q1263892) Em relação às distintas te-


orias criminológicas, a ideia de que o “desviante” é, na verdade, alguém a quem o rótulo social
de criminoso foi aplicado com sucesso foi desenvolvida pela Teoria
a) da anomia.
b) da associação diferencial.
c) da subcultura delinquente.
d) da ecologia criminal.
e) da reação social ou Labelling approach.

A teoria da reação social ou do labelling approach também é conhecida por teoria do etique-
tamento ou da rotulação social porque, entre outros aspectos, estuda o processo de reação

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 79 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

do controle social formal ao crime e se debruça sobre a questão de como uma etiqueta de
criminoso é aplicada, colada, atribuída com sucesso a certos delinquentes.

036. (UEG/2018/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA/Q999254) Sobre o labelling approach e sua


influência sobre o pensamento criminológico do século XX, constata-se que
a) a criminalidade se revela como o processo de anteposição entre ação e reação social.
b) recebeu influência decisiva de correntes de origem fenomenológica, tais como o interacio-
nismo simbólico e o behaviorismo.
c) o sistema penal é entendido como um processo articulado e dinâmico de criminalização.
d) parte dos conceitos de conduta desviada e reação social como termos independentes para
determinar que o desvio e a criminalidade não são uma qualidade intrínseca da conduta.
e) no processo de criminalização seletiva o funcionamento das agências formais de controle
mostra-se autossuficiente e autorregulado.

O labelling approach, ou teoria da reação social, reconhece o caráter constitutivo do controle


social formal, considerado instrumento seletivo e discriminatório. Assim o sistema penal cria
a criminalidade, que não existe ontologicamente. O sistema penal é um processo de crimi-
nalização. Na letra “a”, a criminalidade não se antepõe à ação e à reação social, mas delas
decorre. Na letra “b”, o labelling recebeu influência do interacionismo simbólico, que possui
ligações com a fenomenologia (estudo descritivo dos fenômenos, de tudo o que se pode ob-
servar na natureza a partir dos sentidos individuais) social. Mas ele não recebeu influência
decisiva do behaviorismo, teoria e método de investigação psicológica que procura examinar
do modo mais objetivo o comportamento humano e dos animais, com ênfase nos fatos ob-
jetivos (estímulos e reações), sem fazer recurso à introspecção. Na letra “d”, os conceitos de
conduta desviada e reação social não são independentes, já que, para o labelling, é a reação
que cria o desvio. Na letra “e”, o funcionamento das agências formais de controle é seletivo,
discriminatório, estigmatizante, e, portanto, não está autorregulado.

037. (FUMARC/2018/PC-MG/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO/Q989112) Sobre a re-


lação entre o preso e a sociedade, segundo Alessandro Baratta, é CORRETO afirmar:
a) A reinserção do preso na sociedade, após o cumprimento da pena, é assegurada a partir do
momento em que, no cárcere, o preso absorve um conjunto de valores e modelos de compor-
tamento desejados socialmente.
b) É necessário primeiro modificar os excluídos, para que eles possam voltar ao convívio social
na sociedade que está apta a acolhê-los.
c) O cárcere não reflete as características negativas da sociedade, em razão do isolamento a
que são submetidos os presos.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 80 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

d) São relações sociais baseadas no egoísmo e na violência ilegal, no interior das quais os in-
divíduos socialmente mais débeis são constrangidos a papéis de submissão e de exploração.

Para Baratta, as relações entre o preso e a sociedade são perversas, porque reafirmam e apro-
fundam a marginalização social, num mecanismo egoísta, fruto de uma sociedade capitalista,
e violento, permeado de privações e ilegalidades. O sistema penal ajuda a reproduzir e asse-
gurar as relações sociais verticalizadas. Ele cria contraestímulos à integração dos setores
mais baixos e marginalizados do proletariado e é orientando para atingir as formas de desvio
desses grupos socialmente mais débeis. Na letra “a”, Baratta é absolutamente crítico do cár-
cere. Ele diz que têm se mostrado infrutíferas as tentativas de socialização e de reinserção
através dessas instituições. Nas prisões, chamam a atenção o constante regime de privações
a que são submetidos os condenados e o processo negativo de socialização. Trata-se de
um processo de socialização em que há desculturação, isto é, desadaptação às condições
necessárias para a vida em liberdade, e aculturação ou prisionalização, que é a assunção de
atitudes e modelos de comportamento típicos da subcultura carcerária. Na letra “b”, o mais
importante para Baratta é modificar a sociedade capitalista excludente. Na letra “c”, os insti-
tutos de detenção são o momento culminante do mecanismo de marginalização, refletindo,
portanto, as características negativas da sociedade.

038. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO) Trata-se da assunção das atitudes, dos mo-


delos de comportamento, dos valores característicos da subcultura carcerária. Estes aspec-
tos da subcultura carcerária, cuja interiorização é inversamente proporcional às chances de
reinserção na sociedade livre, têm sido examinados sob o aspecto das relações sociais e de
poder, das normas, dos valores, das atitudes que presidem estas relações, como também sob
o ponto de vista das relações entre os detidos e o staff da instituição penal.
(BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro:
Revan, 2002, p. 184-185)
O fenômeno retratado pelo trecho acima é chamado de
a) criminalização da pobreza.
b) prisionização.
c) direito penal do inimigo.
d) Criminologia crítica.
e) encarceramento em massa.

O processo de socialização do preso contém uma faceta de desculturação e outra de prisio-


nalização (ou prisionização), também chamada de aculturação. A prisionização é a assunção
de atitudes, modelos e valores característicos da subcultura carcerária. Quanto mais interio-

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 81 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

rizados os valores dessa nova subcultura, menor são as chances de reinserção na sociedade
posteriormente.

039. (MPE-PR/2011/MPE-PR/PROMOTOR DE JUSTIÇA) Examine as afirmações abaixo e


após responda:
I – A Criminologia crítica parte da premissa de que a Criminologia não deve ter por objeto
apenas o crime e o criminoso como institucionalizados pelo direito positivo, mas deve
questionar também as bases estruturais econômicas e sociais que caracterizam a so-
ciedade na qual vive o autor da infração penal.
II – Entende a doutrina que cabe à Criminologia crítica questionar os fatos como expres-
são da decadência dos sistemas socioeconômicos e políticos.
III – Conforme entendimento doutrinário, cabe à Criminologia crítica reter como material de
interesse para o Direito Penal apenas o que efetivamente mereça punição reclamada
pelo consenso social, e denunciando todos os expedientes destinados a incriminar
condutas que, apenas por serem contrárias aos poderosos do momento, política ou
economicamente, venham a ser transformadas em crimes.
IV – Na visão dos doutrinadores da Criminologia crítica, o princípio do fim ou da prevenção
da pena é questionado a partir do entendimento de que a ressocialização não pode ser
obtida numa instituição como a prisão, que sempre seria convertida num microcosmo
no qual se reproduzem e agravam as graves contradições existentes no sistema social
exterior.
V – No entendimento dos doutrinadores da Criminologia crítica, o princípio da culpabilida-
de é questionado a partir da teoria das subculturas, segundo a qual o comportamento
humano não representa a expressão de uma atitude interior dirigida contra o valor que
tutela a norma penal, pois não existe apenas o sistema de valor oficial, mas uma série
de subsistemas de valores decorrentes dos mecanismos de socialização e de aprendi-
zagem dos grupos e do ambiente em que o indivíduo se encontra inserto.

a) todas as afirmativas estão corretas.


b) as afirmativas I, III, IV e V são as únicas corretas.
c) as afirmativas IV e V são as únicas corretas.
d) as afirmativas II e III são incorretas.
e) todas as afirmativas são incorretas.

Questão difícil! Todas as afirmações estão corretas. No item I, a Criminologia Crítica tem forte
apelo marxista e, portanto, considera que há relação direta entre o modo de produção ca-
pitalista e o funcionamento dos modos punitivos. Não se trata mais de descobrir as razões
da delinquência ou de lutar contra o crime, mas sim de abolir as desigualdades sociais para

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 82 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

equacionar o fenômeno delitivo. No item II, a Criminologia Crítica entende que os problemas
decorrentes das condições sociopolíticas e econômicas deterioradas têm reflexo no proces-
so de criminalização e, portanto, devem ser analisados. No item III, o conceito de crime para
a Criminologia requer que haja inequívoco consenso sobre a necessidade de criminalizar
uma conduta e, ademais, a Criminologia Crítica denuncia a imunidade penal dos poderosos.
O sistema legal é um instrumento a serviço da classe dominante para oprimir a classe tra-
balhadora. A justiça penal possuiria administradores: os funcionários não estão lá para lutar
contra o crime, mas sim para realizar a administração do fenômeno, recrutando a população
desviada dentre as classes trabalhadoras que são sua clientela habitual. Por isso fala-se que
é necessário formular uma definição proletária de crime. No item IV, a prevenção especial po-
sitiva (ressocialização) da pena é questionada porque o cárcere é o momento culminante do
processo de marginalização social, refletindo as desigualdades e agravando-as. No item V, a
Criminologia Crítica, a partir da década de 1990, sobretudo no aspecto específico da Crimi-
nologia Cultural, abarca o conceito de subculturas para questionar a existência de um único
sistema de valor oficial. A partir desse ponto de vista, a reprovabilidade (culpabilidade) da
conduta pode passar a ser questionada.

040. (FCC/2016/DPE-ES/DEFENSOR PÚBLICO) Na história da administração penal, várias


épocas podem ser destacadas, durante as quais vigoraram sistemas de punição completamen-
te diferentes. Indenização (penance) e fiança foram os métodos de punição preferidos na Idade
Média. Eles foram sendo gradativamente substituídos por um duro sistema de punição corporal
e capital que, por sua vez, abriu caminho para o aprisionamento, em torno do século XVII.
(RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2.ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004, p. 23)

De acordo com o clássico trabalho de Rusche e de Kirchheimer de 1939, é correto afirmar:


a) A pena de prisão foi tida pelos autores como uma forma positiva de adaptação dos trabalha-
dores ao sistema produtivo, trazendo a ressocialização ao centro do sistema punitivo.
b) O surgimento da prisão como forma hegemônica de punição da modernidade foi uma con-
quista iluminista de humanização das penas frente à barbárie da Idade Média.
c) Os autores podem ser classificados como membros da Escola de Chicago, dominante no
período de publicação da obra.
d) As relações entre mercado de trabalho, sistema punitivo e cárcere são próprios da Crimi-
nologia crítica, que surgiu na década de 1960 e foi a principal escola de oposição a Rusche e
Kirchheimer.
e) A pena de prisão é relacionada ao surgimento do capitalismo mercantil, com a consequente
necessidade de disciplina da mão de obra para beneficiar interesses econômicos.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 83 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Os alemães Georg Rusche e Otto Kirchheimer, em 1939, na obra Punição e Estrutura Social,
estabelecem uma relação entre mercado de trabalho e cárcere. Nela, defendem exatamente
que a pena de prisão é relacionada ao surgimento do capitalismo mercantil, com a conse-
quente necessidade de disciplina da mão de obra para beneficiar interesses econômicos. A
letra “a” contém erro ao afirmar que a ressocialização é trazida para o centro do sistema pu-
nitivo: para Rusche e Kirchheimer a sociedade capitalista depende da existência de excluídos
e por isso a ressocialização pelo trabalho não consegue ter sucesso. São ideias conflitantes.
Na letra “b”, o erro existe porque o nascimento da prisão não foi uma conquista humanista.
Ele se deu porque era necessário encontrar mão de obra para o sistema capitalista. Ou seja,
não em função da necessidade de humanizar as penas, mas por uma razão econômica. Na
letra “c”, o erro está em enquadrá-los como pertencentes à Escola de Chicago. E na letra “d”,
o erro está em colocá-los como opositores da Criminologia Crítica, quando em realidade são
precursores dela.

041. (MPE-SC/2019/MPE-SC/PROMOTOR DE JUSTIÇA/Q1087843) A Criminologia Crítica é


elaborada com base em uma interpretação da realidade realizada a partir de um ponto de vista
marxista. Trata-se de uma proposta política que considera que o sistema penal é ilegítimo, e
seu objetivo é a desconstrução desse sistema.

Também chamada de Nova Criminologia ou Criminologia Radical, as teorias de Criminologia


Crítica nascem com forte apelo às ideias de Karl Marx. Para os autores críticos, há relação
direta entre o modo de produção capitalista e o funcionamento dos modos punitivos. Não
se trata mais de descobrir as razões da delinquência ou de lutar contra o crime, mas sim de
abolir as desigualdades sociais para equacionar o fenômeno delitivo. O sistema legal é um
instrumento a serviço da classe dominante para oprimir a classe trabalhadora. Em virtude da
descrença no papel desempenhado pelas instâncias de controle social formal, que são se-
letivas, discriminatórias e estigmatizantes, possuem um postulado abolicionista, ou seja, de
desconstrução do sistema penal.

042. (CESPE/2016/PC-PE/DELEGADO DE POLÍCIA/Q815978) Os objetos de investigação


da Criminologia incluem o delito, o infrator, a vítima e o controle social. Acerca do delito e do
delinquente, assinale a opção correta.
a) Para a Criminologia positivista, infrator é mera vítima inocente do sistema econômico; cul-
pável é a sociedade capitalista.
b) Para o marxismo, delinquente é o indivíduo pecador que optou pelo mal, embora pudesse
escolher pela observância e pelo respeito à lei.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 84 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

c) Para os correcionalistas, criminoso é um ser inferior, incapaz de dirigir livremente os seus


atos: ele necessita ser compreendido e direcionado, por meio de medidas educativas.
d) Para a Criminologia clássica, criminoso é um ser atávico, escravo de sua carga hereditária,
nascido criminoso e prisioneiro de sua própria patologia.
e) A Criminologia e o direito penal utilizam os mesmos elementos para conceituar crime: ação
típica, ilícita e culpável.

Os correcionalistas veem o criminoso como um ser inferior, incapaz de dirigir livremente os


seus atos, e que necessita ser compreendido e direcionado, por meio de medidas educativas.
O delinquente não é capaz de dirigir a sua vida, sendo necessária a intervenção do Estado,
que deve adotar postura pedagógica e de piedade. Na letra “a”, o correto seria Marxismo em
vez de Criminologia Positivista. Na letra “b”, o correto seria Criminologia Clássica em lugar de
Marxismo. Na letra “d”, o correto seria Criminologia Positivista em lugar de Clássica. E na letra
“e”, ação típica, ilícita e culpável são elementos do crime para o Direito Penal, mas não para a
Criminologia. Incidência aflitiva e massiva, persistência espaço-temporal e inequívoco con-
senso da população sobre a necessidade e efetividade de tipificar a conduta são elementos
que definem um crime para a Criminologia.

043. (FCC/2013/DPE-SP/DEFENSOR PÚBLICO/Q754103) Para Michel Foucault, em Vigiar e


punir, as razões de ser essenciais da reforma penal no século XVIII, também denominada Re-
forma Humanista do Direito penal, são constituir uma nova economia e uma nova tecnologia
do poder de:
a) recuperar.
b) ressocializar.
c) humanizar.
d) punir.
e) descriminalizar.

A reforma humanista do direito penal busca mudar o poder de punir. São reformas penais que
inserem novos princípios: para regularizar e universalizar a arte de castigar; para diminuir o
custo econômico e aumentar a eficácia da pena. Elas constituem uma nova economia e nova
tecnologia do poder de punir. O direito de punir não é mais decorrência da sede de vingança
do soberano. Ele é, agora, instrumento de defesa da sociedade.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 85 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

044. (FCC/2017/DPE-PR/DEFENSOR PÚBLICO/Q860625) Com fundamento no ensinamento


de Michel Foucault sobre panoptismo, é correto afirmar:
a) A localização GPS inserida em fotos de pessoas tiradas de celulares juntamente ao re-
conhecimento facial automatizado permite um controle de deslocamento constante e invi-
sível dessas pessoas, porém não é um exemplo de panóptico por não se poder visualizar
quem o exerce.
b) A indefinição do ponto de vigilância, de quem vigia e de quem aplicará eventual sanção
normalizadora é considerada uma falha no sistema panóptico e exige correção, por via de pro-
cedimento de exame.
c) Há distinção entre panoptismo e sistema panóptico, sendo que este último apenas pode ser
operado via instâncias disciplinadoras oficiais do Estado, como as escolas e prisões.
d) O monitoramento eletrônico de presos, via colocação de tornozeleiras eletrônicas com SIM
Cards, é exemplo de panoptismo, cuja função de vigilância é exercida com auxílio de um sof-
tware de georrastreamento.
e) A arquitetura panóptica refere-se unicamente a estruturas físicas de edifícios (prisões, es-
colas, hospitais etc.), não se cogitando que sistemas de informação sejam arquitetados para
operar em panoptismo.

O panóptico, originalmente, é um sistema arquitetônico para presídios: de uma torre central,


todos os corredores radiais seriam observados. No panoptismo penal há vigilância perma-
nente. Hoje, o conceito de panoptismo extrapolou a ideia de sistema arquitetônico prisional.
Ele é aplicado também com referência a sistemas de informações que permitem localizar,
observar a vida dos cidadãos e, mais especificamente, dos condenados monitorados com
medidas alternativas, como tornozeleiras eletrônicas, que permitem à Justiça criminal saber
em tempo real onde está o réu. Nas letras “a” e “b”, faz parte do conceito de panoptismo não
saber quem exerce o controle. O efeito mais importante do panóptico é induzir no detento um
estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento automático
de poder, ainda que o detento não visualize quem o exerce. Na letra “c”, essa distinção inexiste
na literatura. O panoptismo é a situação gerada pelo emprego do sistema panóptico. Na letra
“e”, o panoptismo extrapolou os muros prisionais. Os sistemas de informação operam em
panoptismo na atualidade.

045. (FCC/2015/DPE-SP/DEFENSOR PÚBLICO/Q861174) “O atestado de que a prisão fracassa


em reduzir os crimes deve talvez ser substituído pela hipótese de que a prisão conseguiu muito
bem produzir a delinquência, tipo especificado, forma política ou economicamente menos pe-
rigosa − talvez até utilizável − de ilegalidade; produzir delinquentes, meio aparentemente mar-
ginalizado mas centralmente controlado; produzir o delinquente como sujeito patologizado”.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 86 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

O trecho acima, extraído de Vigiar e punir, sintetiza uma importante conclusão de Michel Fou-
cault decorrente de suas análises sobre a prisão como uma instituição disciplinar moderna.
Para o autor, a prisão permite
a) objetivar a delinquência por trás da infração e consolidar a delinquência no movimento das
ilegalidades.
b) classificar a delinquência em suas categorias e erradicar a delinquência do meio social.
c) reduzir a delinquência através do controle e controlar a delinquência por meio da repressão.
d) combater a delinquência por meio da punição e erradicar a delinquência do meio social.
e) controlar a delinquência por meio da repressão e diferenciar a delinquência da periculosidade.

Para Foucault, o sistema penitenicário revela a delinquência por trás da infração. O panoptis-
mo penitenciário é um sistema de documentação individualizante e permanente sobre o pre-
so: tudo é visto, registrado e se transforma em saber sobre aquele corpo, saber que regula a
prática carcerária. A partir do momento em que o infrator é condenado, ele passa a ser objeto
desse saber. O aparelho penitenciário efetua uma substituição: das mãos da justiça ele rece-
be um condenado (ou infrator), mas no lugar do condenado ele coloca o delinquente, que é o
indivíduo a ser conhecido, analisado, retreinado. O condenado ou infrator é caracterizado pelo
ato que cometeu. O delinquente, pela sua vida. Ou seja, por trás da infração (um ato), existe
a delinquência (uma vida), que o aparelho penitenciário desvenda. Além disso, para Foucault,
a prisão serve para demarcar a delinquência no campo maior das ilegalidades. A prisão não
se destina a suprimir infrações, mas sim a distingui-las, distribuí-las e utilizá-las. A penalida-
de é uma maneira de gerir as ilegalidades, de traçar limites de tolerância, deixando algumas
pessoas dentro da economia geral das ilegalidades, e excluindo outras. Ela demarca qual a
forma particular de ilegalidade sobre a qual quer jogar luz. A delinquência é a ilegalidade que
o sistema carcerário recortou e organizou. Nas letras “b” e “d”, a prisão não permite erradicar
a delinquência do meio social. Na letra “c”, a prisão não permite reduzir a delinquência. Fou-
cault, ao explicar que a prisão tem sido denunciada como o grande fracasso da justiça penal,
recorda que elas não diminuem a taxa de criminalidade e fabricam delinquentes. Na letra “e”,
a delinquência e a periculosidade estão conectadas para Foucault. As tipologias positivistas
foram cruciais na dinâmica de criar o delinquente, uma unidade biográfica, núcleo de pericu-
losidade, dotado de anomalia. Por isso, para Foucault, a técnica penitenciária e o homem de-
linquente são irmãos gêmeos, que surgiram juntos e que ajudam a formar, nos subterrâneos
do aparelho judiciário, a delinquência, em substituição à mera infração.

046. (FCC/2013/DPE-SP/DEFENSOR PÚBLICO/Q754099) “Levado pela onipresença dos dis-


positivos de disciplina, apoiando-se em todas as aparelhagens carcerárias, este poder se tor-
nou uma das funções mais importantes de nossa sociedade. Nela há juízes da normalidade

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 87 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

em toda parte. Estamos na sociedade do professor-juiz, do médico-juiz, do educador-juiz,


do ‘assistente social’-juiz; todos fazem reinar a universalidade do normativo; e cada um no
ponto em que se encontra, aí submete o corpo, os gestos, os comportamentos, as condutas,
as aptidões, os desempenhos”.
No trecho acima, extraído da obra Vigiar e punir, Michel Foucault refere-se ao tipo de poder cujo
grande apoio, na sociedade moderna, foi a rede carcerária, em suas formas concentradas ou
disseminadas, com seus sistemas de inserção, distribuição, vigilância, observação. Este poder
é denominado pelo filósofo de pode:
a) totalitário
b) total.
c) judiciário.
d) massificador.
e) normalizador.

A sanção normalizadora advém do poder normalizador. Ela é um dos pilares da disciplina (ao
lado da vigilância hierárquica e do exame) e é fortemente visível nas micropenalidades como
as que estão descritas no texto. A sanção normalizadora é um sistema de recompensa e de
punição instituído para corrigir desvios, especialmente mediante micropenalidades basea-
das no tempo (atrasos, ausências), na atividade (desatenção, negligência), e em maneiras de
ser (grosseria, desobediência). Trata-se de uma microeconomia de penalidade perpétua, de
cálculo permanente, que, no final das contas, deixa de julgar atos, mas passa a diferenciar
os indivíduos entre bons e maus, de acordo com sua natureza, sua virtualidade. Essa pe-
nalidade perpétua, ao controlar todos os instantes das instituições disciplinares, compara,
diferencia, hierarquiza, hogomeniza e exlcui, e isso tudo Foucault resume em uma palavra: ela
“normaliza.”

047. (FCC/2018/DPE-AM/DEFENSOR PÚBLICO) Michel Foucault, na obra Vigiar e punir, dis-


cute três formas punitivas históricas e relaciona, cada uma dessas formas punitivas, a uma
determinada “economia de poder”. As formas punitivas estudadas pelo filósofo, segundo a
ordem cronológica de sua efetivação na história do direito penal ocidental, a partir do século
XVII até o século XX, são, respectivamente,
a) penas físicas – penas proporcionais aos crimes – prisão.
b) multa – penas pecuniárias – açoite.
c) prisão – multa – prestação de serviços comunitários.
d) penas proporcionais aos crimes – multa – prisão.
e) prisão – prestação de serviços comunitários – suplícios.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 88 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

O histórico das penas descrito por Foucault demonstra que há uma passagem das penas físi-
cas, de suplício, bárbaras, de execução nos patíbulos; para penas proporcionais aos crimes; e,
enfim, para a consolidação das penas privativas de liberdade no século XIX. Ele faz uma análi-
se da suposta suavização penal passando por esses três momentos históricos das punições.

048. (FCC/2015/DPE-SP/DEFENSOR PÚBLICO/Q861169) Segundo as análises de Michel


Foucault em seu livro Vigiar e punir, a necessidade de uma classificação paralela dos crimes
e dos castigos, assim como a necessidade de uma individualização das penas em conformi-
dade com as características singulares de cada criminoso são elementos que se referem
a) à reforma do modelo prisional, no século XIX.
b) ao suplício corporal, do século XVIII.
c) à reforma humanista do Direito penal, no século XVIII.
d) à reforma judiciária do Direito, no século XX.
e) às penas físicas, no século XVII.

Na reforma humanista do século XVIII, fala-se em uma penalidade suavizada, em que deve
haver humanidade, proporcionalidade (medida), individualização das penas e classificação
dos crimes e castigos. É necessário controlar a codificar as práticas ilícitas, principalmente
se se considera que passou a incomodar muito à nova burguesia a ascensão dos crimes con-
tra a propriedade. É que antes as principais ilegalidades eram dirigidas a direitos, mas com o
desenvolvimento da sociedade capitalista, elas se dirigiam aos bens. O roubo se torna mais
comum e incômodo, de modo que os códigos começam a separar e a classificar as ilegalida-
des. De um lado, as ilegalidades dos direitos, e de outro, as ilegalidades dos bens, sobre as
quais há menos tolerância e que exigem, portanto, vigilância constante.

049. (FUMARC/2018/PC-MG/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO/Q989110) Sobre o siste-


ma penal e a reprodução da realidade social, segundo Alessandro Baratta, é CORRETO afirmar:
a) A cada sucessiva recomendação do menor às instâncias oficiais de assistência e de con-
trole social corresponde uma diminuição das chances desse menor ser selecionado para uma
“carreira criminosa”.
b) A homogeneidade do sistema escolar e do sistema penal corresponde ao fato de que reali-
zam, essencialmente, a mesma função de reprodução das relações sociais e de manutenção
da estrutura vertical da sociedade.
c) A teoria das carreiras desviantes, segundo a qual o recrutamento dos “criminosos” se dá
nas zonas sociais mais débeis, não é confirmada quando se analisa a população carcerária.
d) O suficiente conhecimento e a capacidade de penetração no mundo do acusado por parte
do juiz e das partes no processo criminal são favoráveis aos indivíduos provenientes dos es-
tratos econômicos inferiores da população.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 89 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

Para Baratta, o sistema escolar – assim como o sistema penal – ajuda a refletir a estrutura
vertical e hierarquizada da sociedade. As sanções escolares negativas, tais como repetição
de anos, notas baixas em provas, expulsões etc., são muito maiores quando se desce aos ní-
veis inferiores da escala social. Começa-se a perceber que as técnicas de seleção baseadas
em testes de coeficientes de inteligência ou no conceito de mérito não são neutras. Afinal,
os alunos provenientes de classes mais baixas têm enorme dificuldade de se adaptarem ao
mundo escolar, que é estranho a eles, em função, por exemplo, do uso de regras de compor-
tamento e linguagem bastante diferentes das normas de seus grupos de origem. E aí, diante
dessas dificuldades, advêm sanções negativas que refletem o quanto a escola é um instru-
mento de transmissão da cultura dominante.

050. (ACAFE/2014/PC-SC/DELEGADO DE POLÍCIA/Q1098463) São referências de teorias


penais e criminológicas latino-americanas e brasileiras que tiveram grande repercussão entre
os anos 60 a 80 do século XX:
a) A Criminologia dialética desenvolvida pelos brasileiros Roberto Lyra (pai) e Roberto Lyra Filho.
b) Criminologia da Liberação desenvolvida em colaboração pelas Venezuelanas Lola Aniyar de
Castro e Rosa Del Olmo.
c) A Sociologia do controle penal desenvolvida conjuntamente pelo argentino Roberto Bergalli
e pelo chileno Eduardo Novoa Monreal.
d) O Realismo jurídico-penal marginal, a partir do ponto de vista de uma região marginal do
poder planetário, desenvolvido pelo argentino Eugenio Raúl Zaffaroni.
e) A Criminologia radical desenvolvida pelo brasileiro Juarez Cirino dos Santos e As matrizes
Ibéricas do Direito Penal brasileiro, desenvolvida conjuntamente pelos brasileiros Nilo Batista
e Vera Malaguti W. de Souza Batista.

O argentino Eugenio Raúl Zaffaroni denomina de realismo jurídico-penal marginal a sua análi-
se da deslegitimação do direito penal a partir do ponto de vista da América Latina, uma região
marginal do poder planetário. Na letra “a”, a Criminologia Dialética foi desenvolvida somente
por Roberto Lyra Filho. Na letra “b”, a Criminologia da Liberação (ou Libertação) foi desenvol-
vida somente por Lola Aniyar da Castro. Na letra “c”, a ideia de fortalecimento da Sociologia
do Controle Penal é somente do argentino Roberto Bergalli. E na letra “e”, As Matrizes Ibéricas
do Direito Penal Brasileiro é obra de Nilo Batista, somente.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 90 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

GABARITO
1. a 38. b
2. d 39. a
3. C 40. e
4. E 41. C
5. a 42. c
6. d 43. d
7. e 44. d
8. b 45. a
9. E 46. e
10. C 47. a
11. c 48. c
12. a 49. b
13. a 50. d
14. e
15. e
16. b
17. d
18. e
19. d
20. d
21. c
22. d
23. b
24. a
25. b
26. C
27. c
28. a
29. C
30. b
31. c
32. a
33. d
34. c
35. e
36. c
37. d

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 91 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

REFERÊNCIAS

ANITUA, Gabriel Ignacio. História dos pensamentos criminológicos. Rio de Janeiro: Revan: ICC,
2008.

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do


direito penal. 3 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002.

BATISTA, Nilo. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro. 12 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2011.

BATISTA, Vera Malaguti. Difíceis Ganhos Fáceis: Drogas e Juventude Pobre no Rio de Janeiro. 2
ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003.

BECKER, Howard S. Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance. Nova Iorque: The Free
Press, 1963.

CASTRO, Lola Aniyar de. Criminologia da libertação. Rio de Janeiro: Revan: ICC, 2005.

CHAMBLISS, William J.; SEIDMAN, Robert B. Law, Order and Power. Reading, Massachusetts
(EUA): Addison-Wesley, 1971.

CHAMBLISS, William. A Economia Política do Crime: um estudo comparativo da Nigéria e dos


Estados Unidos. In: TAYLOR, Ian; WALTON, Paul; YOUNG, Jock (Orgs.) Criminologia crítica. Rio
de Janeiro: Edições Graal, 1980.

COHEN, Albert K. Delinquent Boys: The Culture of the Gang. Nova Iorque: The Free Press, 1971.

DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia: o homem delinquente e a


sociedade criminógena. 2ª reimpressão. Coimbra: Coimbra Editora, 1997.

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Edipro, 2014.

__________ O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Edipro, 2014.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luis Flávio. Criminologia: introdução a seus


fundamentos teóricos; introdução às bases criminológicas da Lei n. 9.099/95, Lei dos Juizados
Especiais Criminais. 5ª ed. São Paulo: RT, 2006.

GOFFMAN, Erving. Manicômios, Prisões e Conventos. 8 ed. São Paulo: Perspectiva, 2008.

MORAES, Alexandre Rocha Almeida de; FERRACINI Neto, Ricardo. Criminologia. Salvador: Jus-
Podium, 2019.
O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 92 de 93
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas

OLMO, Rosa del. A América Latina e sua Criminologia. Rio de Janeiro: Revan, 2004.

PENTEADO Filho, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 7. ed. São Paulo: Sa-
raiva, 2017.

RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2 ed. Rio de Janeiro: Revan,
2004.

SANTOS, Juarez Cirino dos. A Criminologia Radical. Curitiba: ICPC: Lumen Juris, 2006.

SCHAEFER, Richard T. Sociologia. 6 ed. Porto Alegre, AMGH Editora LTDA, 2014.

SERRANO Maíllo, Alfonso; PRADO Luiz Regis. Curso de Criminologia. 3 ed. São Paulo: RT, 2016.

SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 2ª ed. São Paulo: RT, 2008.

__________. Criminologia. 7ª ed. São Paulo: RT, 2018.

SUTHERLAND, Edwin H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan,
2015.

TAYLOR, Ian; WALTON, Paul; YOUNG, Jock (Orgs.) Criminologia crítica. Rio de Janeiro: Edições
Graal, 1980.

YOUNG, Jock. A Sociedade Excludente: exclusão social, criminalidade e diferença na modernida-


de recente. Rio de Janeiro: Revan, 2002.

VIANA, Eduardo. Criminologia. 6 ed. Salvador: JusPodium, 2018.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema
penal. 5 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001.

ZAFFARONI, Eugenio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito Penal
Brasileiro: primeiro volume – Teoria Geral do Direito Penal. 3 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003.

O conteúdo deste livro eletrônico é licenciado para VINICIUS BASTOS CAPELARI - 46581674842, vedada, por quaisquer meios e a qualquer título,
a sua reprodução, cópia, divulgação ou distribuição, sujeitando-se aos infratores à responsabilização civil e criminal.

www.grancursosonline.com.br 93 de 93

Você também pode gostar