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CRIMINOLOGIA IV

TEORIAS DO CONSENSO

1 – CLASSIFICAÇÕES DOUTRINÁRIAS IMPORTANTES


1.1 – TEORIAS DE NÍVEL INDIVIDUAL E TEORIAS SOCIOLÓGICAS
Os estudos dos modelos teóricos explicativos podem ser vistos a partir de dois
paradigmas, o individual e o sociológico.
→ Individual: essas teorias visam fornecer uma explicação das causas individuais do
crime.
→ Sociológico: essas teorias tentam compreender a criminalidade a partir de um
fenômeno social. Adota-se, portanto, uma terminologia muito adotada em prova:
sociedade criminógena.
Além disso, para os autores, os paradigmas se subdividem, o que podemos resumir a
partir do seguinte quadro sinóptico:

Isso significa que as teorias


que têm o objetivo de explicar
as causas individuais do
fenômeno criminal
acrescentam;
→ Se biológica ou
bioantropológicas, a intenção
de localizar e identificar em
alguma parte do
funcionamento do organismo o que possa justificar a sua conduta criminosa. Isso significa
que, para essas teorias, o crime é uma consequência patológica ou disfuncional do
indivíduo. Para Lima Júnior, a prática do crime está associada a variáveis congênitas do
indivíduo, ou melhor, a sua própria estrutura orgânica. O delinquente é um ser
organicamente distinto dos demais cidadãos.
→ Se psicológicas, tentam explicar o comportamento criminoso a partir dos processos
psíquicos do indivíduo, supervalorizando o mundo anímico. Noutras palavras, a
explicação do crime está no comportamento criminoso que se justifica nas vivências
subconscientes do criminoso, assim como, em seus processos de socialização e
aprendizagem.
Noutro giro, as teorias de cunho sociológico, se subdividem em:
→ Etiológicas: quando propõem compreender e explicar a criminalidade como um
fenômeno social nas perspectivas etiológicas (causas); ou
→ Interacionistas: quando propõem compreender e explicar a criminalidade a partir das
(reações sociais).
1.2 –TEORIAS CRIMINOLÓGICAS CRIMINOLÓGICAS SOCIOLÓGICAS
ETIOLÓGICAS E TEORIAS
Embora a conceituação seja a mesma e até complementada pela divisão de Peluzo e
Lima Júnior, os autores Eduardo Fontes e Henrique Hoffmann, preferem apenas duas
divisões como clássicas: as Teorias Criminológicas Etiológicas e Teorias Criminológicas
Sociológicas.
Teorias Criminológicas Etiológicas: são aquelas que pertencem a uma criminologia
tradicional, cujo foco está na pessoa do criminoso (perceba que este é o nível individual
de Peluzo, trabalhado acima), no entanto, valoriza-se apenas as causas do crime,
atribuindo-as à pessoa do delinquente. Os autores citam como exemplo dessa
Criminologia Tradicional: 1) Escola Clássica; 2) Escola Positiva
Teorias Criminológicas Sociológicas ou Macrossociológicas: aquelas que surgiram pós
período da Lutas das Escolas, ou seja, posteriores à Escola Clássica e Positiva e, por
isso, as chamam de teorias modernas. De acordo com os doutrinadores, essas teorias se
importam com o contexto social em que o criminoso está inserido, sendo que, o delito
ocorre por múltiplos fatores. Até porque, o foco é o contexto social que envolve o
criminoso. Os autores vão dizer que essas teorias de cunho sociológico causam uma
ruptura trazendo uma virada sociológica ou giro sociológico. Isso porque, elas rompem
com o mito da causalidade, discutido pelo modelo etiológico, aceitando que a explicação
criminológica não se subordina à determinismos e previsibilidade, mas apenas ao da
probabilidade, por isso, ciência. Para os autores, estão inseridas neste modelo moderno,
as:
→ Teorias do consenso: acredita-se que a sociedade foi formada por um consenso entre
indivíduos e, todo elemento, indivíduo, possui importância na estrutura social.
→ Teorias do conflito: A sociedade não é formada por um consenso e sim pela coerção,
imposição de membros dessa sociedade sobre os demais.
3 – TEORIAS SOCIOLÓGICAS
Conforme dissemos acima, as teorias de cunho sociológico analisam o contexto social
que o indivíduo está inserido, bem como esse contexto tem o poder de influenciar, ou não,
no cometimento de crimes. Nesse sentido, majoritariamente, a doutrina clássica dividirá
as teorias sociológicas em dois grandes grupos, quais sejam: teorias sociológicas do
consenso e teorias sociológicas do conflito.
3.1 – TEORIAS DO CONSENSO
As TEORIAS DO CONSENSO são aquelas que, de acordo com Paulo Sumariva (2017,
p.65), concentram suas análises nas consequências do delito e defendem a tese de que a
finalidade da sociedade é atingida quando as pessoas partilham objetivos comuns e
aceitam normas vigentes na sociedade, havendo o perfeito funcionalismo das instituições.
3.2 – TEORIAS DO CONFLITO
As TEORIAS DO CONFLITO, são de cunho argumentativo e sustém que a sociedade não
se limita ao modelo de consenso, pois está em contínuas mudanças. Sendo assim,
consequentemente, os elementos de uma sociedade cooperam para a dissolução e não
cooperação ou consenso, de forma que cabe ao controle social, a partir da coerção, do
uso da força, quando da não voluntariedade dos indivíduos que habitam nessa sociedade,
promover a harmonia social.
Diga-se de passagem, o controle social é representado pela família, escola, vizinhos,
opinião pública, mídia, - modelo (IN)formal - e pela Polícia, Ministério Público,
Magistratura e Administração Penitenciária, em seu modelo Formal.
4 – TEORIAS SOCIOLÓGICAS : CONSENSUAIS
4.1 – ESCOLA DE CHICAGO
Como veremos, a maioria das teorias da Escola de Chicago, em regra, possui
fundamentação na ecologia, tendo a arquitetura da cidade, quando não planejada para
receber tantos habitantes e não preparada para um crescimento demográfico, é forte
formadora do comportamento delinquente.
Dessa forma, a doutrina destaca como principal tese da Escola a chamada ZONAS DE
DELINQUÊNCIA. Ou seja, para eles, os espaços geográficos com características
determinadas, não só explicam o crime como também a sua própria distribuição. A partir
desse cenário radical, surge a ideologia do mellting pot, no qual os elementos mais
heterógenos e conflitivos devem fundir-se para criar uma nova sociedade, um novo
mundo para viver.
Objeto e Método: O marco social da Escola de Chicago é alicerçado em um objeto de
investigação ligado às condições sociais para levar adiante suas pesquisas. Por esta
razão, fala- se que os métodos utilizados são os empíricos, com recurso às técnicas
estatísticas.
4.1.1 – Teoria Ecológica ou da Desorganização Social
Trata-se de uma teoria de Thomas, com viés completamente ecológico. Eduarda Viana
vai dizer:
De Thomas, para além da utilização da metodologia estatística, a Escola de Chicago
retira seu conceito fundamental de desorganização social, compreendido, segundo ele,
como impossibilidade de definir modelos e padrões de condutas coletivas, decorrendo daí
a ausência de limites para o indivíduo expressar suas inclinações.
A teoria Ecológica ou de desorganização social, atribuiu o aumento de criminalidade à
debilidade do controle social (IN)formal, ou seja, às famílias, escola, vizinhos, opinião
pública, mídia, etc., pois de acordo com ela, à desordem justifica-se pela falta de
integração e sentimento de solidariedade entre membros de uma sociedade.
É que, numa cidade grande por exemplo, é impossível que indivíduos estejam próximos e
mantenham laços e contatos como em cidades pequenas ou pequenos interiores. A rotina
de trabalho e agitação diária, impede a criação de laços e afinidades, fazendo com que
essa ausência de solidariedade e laços, causem uma deficiência no controle social
informal que surge no seio de uma sociedade, logo, tal debilidade, gera um aumento na
sociedade.
4.1.2 – Teorias das zonas Concêntricas
Enerst explica que a cidade se expande radialmente, de dentro para fora, ou seja, do
centro para fora, formando zonas concêntricas, sendo assim estruturadas: Veja a imagem
ilustrativa:

a. Zona 1 – LOOP: Também conhecida por Loop, é o centro da cidade. O coração


comercial, onde se situam os principais bancos e lojas, no LOOP estão localizados à
parte central da cidade, cujas atividades financeiras e profissionais estão situadas.
b. Zona 2 – ZONA DE TRANSIÇÃO: Geralmente a parte mais antiga e degradada da
cidade, forma a chamada Zona de Transição, essencialmente habitada pela população
mais pobre, que não pode adquirir moradias melhores.
c. Zona 3: É formada pela população de trabalhadores que possui melhores condições
financeiras e, por isso mesmo, afasta-se do deteriorado centro para moradias e
apartamentos mais modestos.
d. Zona 4 - SUBURBIA: Corresponde à chamada zona de residências, habitada pela
classe média, a qual é integrada por melhores moradias.
e. Zona 5 - EXURBIA: Finalmente, áreas mais afastadas e até mesmo fora das cidades,
local que contempla os subúrbios e as cidades satélites, ocupadas pelas classes altas.
4.1.3 – Delinquency Areas
Nas primeiras investigações estatísticas, as quais também tiveram como base as Zonas
concêntricas, constatou-se a correlação entre a localização da residência em cada uma
daquelas áreas e o respectivo índice de criminalidade. Recolhendo dados entre os anos
1900 e 1940, verificaram que a zona II apresentava o maior índice de criminalidade; mais
ainda, quanto mais afastada dos centros, menor o índice de criminalidade. Essas áreas,
na caracterização de Dias e Andrade, são fisicamente degradadas, segregadas
economicamente, eticamente e racialmente, bem como sujeita à doenças.
Correlacionando-se com as características traçadas por Shaw e Mackey com o índice de
criminalidade, nesse âmbito sociológico, é inversamente proporcional ao ótimo IDH, ou
seja, regiões com o IDH baixos têm maiores taxas de criminalidade; regiões com IDH
ótimo, menores índices de criminalidade.
Nas áreas criminais, a opinião pública, ou seja, o controle informal possui débil eficiência
na formação do controlo dos jovens. Familiares e vizinhos geralmente aprovam o
comportamento jovem.
Alguns bairros oferecem oportunidades à delinquência, como por exemplo, pessoas
dispostas a adquirir bens roubados; As atividades delinquenciais começam muito cedo,
como parte de um jogo das ruas. As taxas de delinquência são mais elevadas na zona de
transição.
Contudo, mais do que entender a etiologia criminal, Shaw se preocupava com a
prevenção do crime, de modo que criou programas de políticas criminais tendentes à
prevenção delitiva, entre os quais os mais destacados foi Chicago Area Project (CAP) em
1932.
Projetos semelhantes ao de Shaw são aplicados nas comunidades brasileiras. Com o
apoio de entidades e das pessoas da própria comunidade, buscam difundir a inclusão
digital e cultural, as práticas esportivas e de lazer. Desse modo, tem por objetivo controlar
e, se possível, diminuir a violência.
4.1.4 – Teoria Espacial
Desenvolvida por Oscar Newman, foi ele quem escreveu a obra Defensible Space Crime
Prevention Through Urban Design, em 1972.
Para o autor, a estrutura física e arquitetônica das cidades é fato relevante na incidência
das práticas delitivas, pois o isolamento das pessoas em relação aos vizinhos e
inexistência de vigilância facilitam a ocorrência dos crimes.
Com isso, ele argumenta que uma área se tornará mais segura a partir do momento em
que os propósitos residentes daquela comunidade assumirem o senso de
responsabilidade e dever de cuidado. Se o criminoso percebe que determinado local está
sob intensa vigilância, certamente se sentirá menos seguro para cometer uma infração
penal. Em suma, essa teoria trabalha com as hipóteses de diminuição do delito através do
design ambiental
4.1.5 – Teoria das Janelas Quebradas
A teoria foi pensada numa situação de ausência estatal e proliferação do crime por causa
dessa falta, ainda dentro da sistemática dos três círculos concêntricos, em que a periferia
teria a grande concentração de práticas criminosas. Como se verá a seguir, a relação
conceitual que se faz é entre ordem e desordem. Seja como for, prevalece que estimula o
crime é a ausência de força policial e, consequentemente, a inexistência do Estado nas
regiões mais pobres.
– Estudo de Caso: Caos no Brasil! Paralisação da PMES: O que estimula o crime é a
ausência de força policial.
E é sob essa perspectiva de que o crime é a ausência de força policial e,
consequentemente, a inexistência do Estado nas regiões mais pobres, que podemos
subsidiar boa parte da explicação para a última paralisação geral da PM que ocorreu no
Brasil, especificamente no Estado do Espírito Santo.
Amplamente divulgado nas mídias, as imagens eram assustadoras. Lojas sendo
invadidas por pessoas comuns, da sociedade. E aqui não estamos falando de criminosos
(embora criminosos “tradicionais” como: traficantes, homicidas e estupradores sempre
fizeram crimes e intensificaram a atividade criminosa nesse período de ausência estatal),
mas de pessoas comuns subtraindo eletrodomésticos. O vandalismo era nítido.
Isso chamou a atenção de todo o mundo para aquele Estado. Se tratava de pessoas que,
até então, nunca praticaram condutas ilícitas, mas, naquele momento especificamente
foram estimuladas.
Nas palavras do Professor Christiano Gonzaga, o estímulo se deu e subsidiou os
inúmeros furtos e outras condutas pelo simples fato de não terem o risco de serem
presas, uma vez que a greve da polícia sinalizava que o Estado nada faria contra elas.
4.1.6 – Teoria da Tolerância Zero
Ao menor sinal de prática criminosa, como um simples furto ou uso de maconha, a ordem
era prender e punir, de forma a impedir o encorajamento de outros crimes mais graves. A
ideia era a de que se os crimes mais simples fossem punidos a sociedade estaria ciente
de que o Estado está presente e vai punir qualquer conduta praticada às margens da lei.
Isso significa que, à luz da Política de Tolerância Zero todas as condutas contrárias ao
ordenamento jurídico, por menor que sejam, devem ser punidas, sob pena de crimes
básicos como de furto e uso de drogas eclodirem em crimes de roubo e de tráfico de
drogas.
Ao que parece, não é exagero afirmar que se trata de uma aplicação nítida do Direito
Penal Máximo, em total contraposição ao chamado Direito Penal Mínimo.
4.1.7 – Teoria dos Testículos despedaçados ou Testículos quebrados ou Breaking
Balls Teory
Trata-se de uma teoria que também surgiu nos Estados Unidos, cuja ideia central está
vinculada às exposições apresentadas pela Teoria das Janelas Quebradas. Isso porque,
de acordo com ela, criminosos ao serem perseguidos de forma eficaz pela polícia, são
repelidos, em forma de fuga, para outras localidades mais distantes, oportunidade em
que, via de regra, darão continuidade às práticas criminosas, livre do controle estatal.
4.2 – TEORIAS DA APRENDIZAGEM SOCIAL OU SOCIAL LEARNING
As teorias referentes à aprendizagem social, são de cunho consensuais uma vez que
também vislumbram o meio social como influente fator na formação criminológica do
indivíduo. No entanto, a repercussão teórica da aprendizagem social na formação do
crime, está diretamente associado com a negação da correlação do crime com a pobreza.
Para esta tese, indivíduos de classe média e classe alta também estão sujeitos ao
cometimento do crime. Eles podem delinquir se seus processos de interação com
instituições sociais forem deficitários.
Traduzindo: o indivíduo aprende a ser criminoso. É que o nosso comportamento é
modelado por experiências de vida, somos fruto daquilo que vimos ou fazemos
repetidamente e que nos parece familiar. Logo, a desvio nada tem de anormal, mas
apenas um comportamento, como outro qualquer, consequente de um processo de
aprendizagem.
A doutrina classifica como teorias de aprendizagem: a Teoria da Associação Diferencial,
Reforço Diferencial, Identificação referencial e Neutralização.
4.2.1 – Teoria da Associação diferencial
A Teoria da Associação Diferencial vai dizer que o delito está estabelecido com base nos
valores dominante de um grupo e um indivíduo torna-se delinquente ao aprender o
comportamento criminoso e se associar a conduta desviante, por julgar que as
considerações favoráveis superam as considerações desfavoráveis à prática criminosa.
Tudo começou quando Gabriel Tarde elaborou uma obra em 1890 chamada As leis da
Imitação, e nela sustentou a transmissão de dogmas, sentimentos, moral e costumes pela
imitação. Nesse sentido, o autor formulou 03 leis gerais da imitação, quais sejam:
1. A imitação é desenvolvida proporcional à intensidade do contrato e inversamente
Proporcional à distância;
2. indivíduos de classes inferiores necessitam de indivíduos de classe superiores, assim,
o aluno precisa do professor e os indivíduos rural da área urbana, por exemplo;
3. em casos de conflito entre modelos comportamentais, o novo sobrepõe ao antigo.
Mais tarde, Sutherland, inspirado nos pensamentos de Tarde, amadurece a teoria da
associação diferencial. Ao reformular essa teoria, Sutherland, abandona o termo
desorganização social em atenção a diversidade da cultural, e passa a adotar o termo
organização social diferenciada.
- Organização social diferenciada
Compreendendo o fenômeno criminal a partir de uma perspectiva social, essa teoria
sustenta que ninguém nasce criminoso, resultando a delinquência de um processo de
socialização diferencial, em que há aprendizado do comportamento desviante, assim
como é possível o aprendizado do comportamento conforme o Direito, mediante a
interação e comunicação com outras pessoas, sendo a influência criminógena
proporcional ao grau de intimidade do contato interpessoal. Dessa forma, rechaça a
decorrência do comportamento criminoso de fatores biológicos hereditários, atribuindo-lhe
uma origem social.
É com o amadurecimento dessa visão que não limita o crime às classes menos
favorecidas, ao contrário, entende que as classes nobres também estão sujeitas ao crime
é que surge a expressão White-Collar Crime – ou Crimes do colarinho branco.
- White-Collar Crime ou Crimes do Colarinho Branco
Pelo que se percebe, claramente, os executivos sempre estão bem alinhados em ternos
caríssimos e com camisas com colarinho-branco impecável, daí surgindo a expressão
white-collar. De outro lado, os operários braçais que trabalham no chão da fábrica, bem
como motoristas de ônibus e pessoas de baixa renda, usam uniformes azuis com
colarinhos da mesma cor, o que se convencionou chamar de blue-collar.
Em sua obra, Sutherland destaca dois pontos como alicerces de sua análise, a saber:
1. Evidenciar que as pessoas de classe socioeconômica alta cometem muitos delitos e
estas condutas deveriam ser incluídas no campo das teorias gerais do delito; e, face às
evidências;
2. Apresentar hipóteses que possam explicar tanto os crimes de colarinho-branco como
os demais ilícitos.
A conduta criminosa pode ser aprendida como qualquer comportamento. A conduta
criminosa é aprendida mediante um processo de comunicação com outras pessoas, o que
requer um comportamento ativo por parte do agente. Isso significa que o simples fato de o
indivíduo viver em um ambiente criminógeno não irá necessariamente torná-lo num
infrator.
A parte decisiva da aprendizagem da conduta criminosa ocorre no seio familiar e no
círculo de amizade íntimas. Durante o processo de aprendizagem também são
transmitidas as técnicas para a execução do delito, e até as justificativas para a conduta
delituosa.
Os impulsos criminosos são aprendidos a partir de do ponto de vista que os contatos
diferenciais apresentam sobre a lei e o sistema de valores vigente. O indivíduo se torna
um delinquente quando aprendeu com seus contatos diferenciais mais sobre crimes que
sobre leis. Os contatos diferenciais poder ter duração, intensidade influencia diferentes.
4.2.2 – Teoria da Identificação Diferencial
Ao contrário da Teoria da Associação Diferencial, a Teoria da Identificação Diferencial
indicava a conduta delitiva não a partir da interação ou comunicação, mas sim, a partir da
identificação diferencial com criminosos tomados como referência. Daniel Glaser, o
defensor da teoria acrescentou ao conceito de aprendizagem a teoria dos papéis
indicando a responsabilidade dos meios de comunicação de massa sobre a conduta do
indivíduo.
Sendo assim, Glaser vai dizer que a identificação pode se dar com indivíduos reais ou
fictícios, próximos ou distantes, mas sempre por intermédio de uma relação positiva com
os papéis representados pelos delinquentes ou uma reação negativa contra as forças que
se opõem à criminalidade.
4.2.3 – Teoria do Condicionamento Operante
A Teoria do Condicionamento operante foi fruto dos estudos de Ronald Akers e Robert
Burgess. Ambos defendiam a tese de que a conduta criminosa deriva de uma série de
estímulos que o indivíduo recebe em sua vida, sendo portanto, fruto de suas experiências
passadas. Neste caso, cita exemplo de pessoas que sofreram abusos na adolescência
como pessoas mais propensas a praticar abusos.
Logo, o que se pode concluir é que, para a Teoria do Condicionamento Operante,
condutas são reforçadas mediante estímulos positivos ou negativos, como recompensas e
castigos.
4.2.4 – Teoria do Reforço Diferencial
Trata-se de uma teoria que justifica o comportamento delitivo como operante e que está
em processo contínuo de interação com o meio, norteado pelo condicionamento, em
especial, pelas ideias de privação e saciedade, de modo que, as pessoas privadas de
algo respondem de forma diferente ao crime, daquelas saciadas.
4.2.5 – Teoria da Neutralização
A Teoria da Neutralização compreende três palavras chaves, quais sejam: racionalização
neutralização e autojustificação.
A partir dos estudos de delinquência juvenil a teoria abrange a racionalização da conduta
delitiva pelo emprego de técnicas de neutralização pelo para justificar sua conduta
desviante, momento que ocorre a autojustificação.
Da mesma forma, digo, o comportamento criminoso também deriva de um processo de
aprendizagem a partir de uma interação social, em que o criminoso, comungando dos
valores dominantes na sociedade, utiliza técnicas capazes de racionalizar e justificar sua
violação, neutralizando a sua culpa. Como bem disse Lima Júnior, o criminoso se vê como
vítima e não criminoso. Assim, entende que a vítima é merecedora do mal a que é
submetida, razão pela qual, é culpada pelo delito, de forma que os meios de controle
social formais são veemente criticados, enquanto os grupos marginais a que a “vítima”
pertence, são enaltecidos.
4.3 – TEORIAS SUBCULTURA SUBCULTURAIS
O temo subcultura tem sido amplamente estendido para referir-se à minoria,
precisamente, a uma cultura inferior, que, nas teorias de cunho sociológicos, estão
associadas à jovens e adolescentes das classes mais baixas. Exatamente por isso, por
referir-se à reação de minorias, fala-se em subcultura.
Nesse sentido, a subcultura, especificamente, da delinquência juvenil, é trabalhada a
partir de uma perspectiva de rebeldia e reação de minorias desfavorecidas contra valores
oficiais da classe média. É um verdadeiro sistema que se opõe.
4.3.1 – Delinquent Boys: Teoria da Subcultura Delinquente
A teoria da subcultura delinquente é uma criação de Albert Cohen, em sua obra chamada
de Delinquent Boys de 1955.
A obra de Albert Cohen verificou a existência de subculturas criminosas nas gangues de
delinquentes juvenis ao investigar o motivo de elevadas taxas de criminalidade nos jovens
de classes baixas que residiam em bairros mais pobres.
De acordo com o autor, isso ocorre pois, nesses bairros mais periféricos, existe uma
estrutura delinquente que elabora códigos de condutas e valores diversos, evidentemente,
daqueles professados pela classe média. Isso só ocorre, pois a classe baixa sofre uma
limitação aos valores adotados pela classe média, na verdade, pode-se dizer que ela não
tem esse acesso.
Daí porque, surge um natural estado de frustração que vai impelir o jovem a aderir uma
subcultura (de grupo). Consequentemente, o comportamento criminoso, segundo Cohen,
é uma rebelião contra o sistema, norma e valores estabelecidos pela classe média.
Evidentemente, o conceito da teoria da subcultura pode ser aplicado ainda nos dias de
hoje, veja que, de fato, alguns grupos de excluídos socialmente aglutinam-se e formam
verdadeiros Estados Paralelos, a exemplo: Comando Vermelho (CV), Primeiro Comando
da Capital (PCC) e Família do Norte (FDN).
No entanto, é importante destacar que há a teoria da Contracultura que não pode ser
confundida com a teoria da subcultura.
Subcultura Contracultura
Leva a ideia de uma cultura dentro de outra Cria-se apenas uma aversão ao que é tido
cultura, o que gera dificuldade, uma vez como socialmente aceito, numa forma de
que se deve definir o que vem a ser cultura. rebeldia sem causa. Os seus integrantes
simplesmente não concordam com o
establishment e opõem-se a tudo que é tido
como tradicional. Trata-se de uma espécie
de anarquia.
4.3.2 – Teoria da Oportunidade diferencial
Criada por Richard Cloward e Lloyd Ohlin, pode ser sintetizada nos seguintes termos, de
acordo com os próprios autores: O defasamento entre o que os jovens das classes
inferiores são levados a querer e o que lhes é efetivamente acessível origina um grave
problema de ajustamento. Os adolescentes que forma as subculturas delinquentes
interiorizam uma grande ênfase nos objetivos e incapazes de reduzir o teor das suas
aspirações, experimentam uma intensa frustração. O resultado poderá ser a exploração
de alternativas não conformistas.
Assim, diz-se que como é variável a oportunidade de ser bem-sucedido por meios
legítimos, a forma ilegítima de sucesso também é variável. Tudo na mesma proporção.
4.3.3 – Cultura da classe inferior
Walter B. Miller foi o autor da teoria, pela qual tentou explicar a subcultura da classe
baixa, ou, conforme o nome, da classe inferior. No entanto, diferentemente das outras
culturas que trabalham a subcultura, esta em especial, não concorda, tampouco, seus
fundamentos não estão orientados no teor econômico das classes, mas com o
conformismo cultural que cada classe prega.
Explico.
Miller acreditava sim, que americanos da faixa social mais baixa desenvolviam uma
subcultura a partir de seus próprios valores e tradições, mas que esses valores são, de
certa forma, passados de geração à geração. Por isso, a realidade completamente
diferente da classe média e, de acordo com ele, isso nada tem a ver com rebeldia de
valores como defendia Cohen, mas sim, porque o delinquente é um conformista com os
valores que sua própria classe social, a classe baixa, lhe transmitiu.
4.4 – TEORIA DA ANOMIA
A sociedade é vislumbrada como um organismo humano, que necessita realizar certas
funções vitais para manter a própria sobrevivência. Quando isso não ocorre, surge a
disfunção, falha no sistema de funcionamento da sociedade.
Nesse caso deve a sociedade reagir para saná-la. Caso os mecanismos reguladores da
vida em sociedade não consigam cumprir sua função, instala-se a anomia, ou seja, a
ausência ou decomposição das normas sociais.
Noutras palavras, a anomia em Merton seria esse desequilíbrio entre os meios
disponíveis para poucos e as metas culturais estabelecidas para todos, o que geraria uma
ausência de oportunidades (desigualdade material) para a consecução dos fins tidos
como essenciais (fortuna, sucesso e poder).
Para sistematizar essa abordagem, no trabalho de Merton, pode ser destacado o que ele
chamou de modos de adaptação (citados acima), consubstanciados em cinco formas:
conformidade, inovação, ritualismo, evasão/retraimento e rebelião. São modos
relacionados à forma com que os cidadãos reagem perante as metas culturais existentes,
tendo em vista os recursos disponíveis para obtê-las: a conformidade, inovação,
ritualismo, evasão ou retraimento e a rebelião.
→ Conformidade
Há uma adesão total e não ocorre comportamento desviante, tendo em vista a aceitação
daquilo que está disponível para alcançar o estabelecido socialmente.
→ Inovação
Os indivíduos aceitam as metas culturais previamente estabelecidas, mas não se alinham
com os meios institucionalizados disponíveis para obtê-las. Quando constatam que nem
todos os meios estão disponíveis para eles, rompem com o sistema e buscam atingir as
metas culturais por meio do caminho fácil do comportamento desviado, isto é, por meio do
crime.
→ Ritualismo
Renunciam às metas culturais preestabelecidas por entender que são incapazes de
alcançá-las, numa clara alusão ao comportamento depressivo de que elas são elevadas
demais para a sua capacidade diminuída, restando apenas fugir delas e viver no seu
mundo ínfimo e sem maiores pretensões.
→ Evasão ou retraimento
Na evasão ou retraimento os indivíduos abrem mão tanto das metas culturais quanto dos
meios institucionalizados. Aqui se acham os excluídos sociais, como mendigos, hippies e
toda a sorte de pessoas que preferem viver às margens da sociedade por terem a real
certeza de que as metas e os meios culturais não são relevantes.
→ Rebelião
Por derradeiro, cita-se a rebelião, caracterizada pelo inconformismo e revolta, em que os
indivíduos rejeitam as metas e os meios estabelecidos socialmente (establishment),
lutando pela criação de novos paradigmas ou uma nova ordem social.

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