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CRIMINOLOGIA – NOTA DE AULA

SEGUNDA PARTE

Prof: Rafael Piaia

Monitora: Ana Larisse de Souza Pinto

AS VERTENTES SOCIOLÓGICAS DA CRIMINOLOGIA

Inúmeras investigações científicas nos mais variados campos das ciências


naturais e biológicas lograram conformar um conjunto de teorias elucidativas do
fenômeno criminal. A esse conjunto costuma-se denominar "Criminologia
Clínica". Pode-se exemplificar essa corrente criminológica com alguns de seus
ramos mais destacados: Biologia Criminal, Criminologia Genética, Psiquiatria
Criminal, Psicologia Criminal, Endocrinologia Criminal, Estudos das Toxicomanias
etc.

Todas essas linhas de pesquisa têm como traço comum a busca de uma
explicação etiológica endógena do crime e do homem criminoso. Procura-se
apontar uma causa da conduta criminosa que estaria no próprio homem,
enquanto alguma forma de anormalidade física e/ou psíquica. Também todas
essas teorias apresentam um equívoco comum: pretendem explicar isoladamente
o complexo fenômeno da criminalidade.

Em contraposição à "Criminologia Clínica", surge a denominada "Criminologia


Sociológica", tendo como seu mais destacado representante Enrico Ferri. A
"Criminologia Sociológica" propõe uma revisão crítica da "Criminologia Clínica",
pondo a descoberto que a insistência desta nas causas endógenas da
criminalidade, olvidava as importantes influências ambientais ou exógenas para
a gênese do crime.
Aliás, para os defensores da "Criminologia Sociológica", as causas
preponderantes da criminalidade seriam mesmo ambientais ou exógenas, de
forma que mais relevante do que perquirir as características do homem criminoso,
seria identificar o meio criminógeno em que ele se encontra.

No entanto, a "Criminologia Sociológica" em nada inova no que tange à postura


de procurar uma etiologia do delito. Os criminólogos ainda insistem em encontrar
"causas-determinantes" para o crime, somente alterando a natureza destas,
transplantando-as do criminoso para o ambiente criminógeno.

DIVISÃO DA FASE SOCIOLÓGICA:

O percurso para tentar explicar o crime racionalmente promove a elevação da


Criminologia ao patamar de ciência. Contudo, os constantes avanços e
retrocessos neste campo de investigação promovem, em certa medida,
descrédito e desconfiança, quando o verdadeiro potencial da Criminologia para
explicar o crime e, via de consequência, contribuir para o enfrentamento do
problema criminal.

Na escola clássica as teorias focavam a explicação do crime a partir de uma


perspectiva individual – do homem delinquente; agora, na fase sociológica da
escola positivista, as explicações criminológicas se dão a partir das relações e
interações do indivíduo com a sociedade. São, pois, teorias que elevam essa
sociedade ao patamar de fator criminógeno, ou seja, ela seria um fator que
favorece a prática e manutenção dos crimes, como é o exemplo das sociedades
de consumo.

QUESTÕES:
1. (Médico Legista 2013). O método de estudo da Criminologia reúne as seguintes
características:
a) Silogismo; vedação de interdisciplinaridade; visão indutiva da realidade.
b) Empirismo; vedação de interdisciplinaridade; visão indutiva da realidade.
c) Racionalismo; interdisciplinaridade; visão indutiva da realidade.
d) Empirismo; interdisciplinaridade; visão indutiva da realidade.
e) Racionalismo; interdisciplinaridade; visão dedutiva da realidade.

2. (Agente Policial 2012). É correto afirmar que a Criminologia:

a) É uma ciência do dever-ser.


b) Não é uma ciência interdisciplinar.
c) Não é uma ciência multidisciplinar.
d) É uma ciência normativa.
e) É uma ciência empírica.

3. (Investigador de Polícia 2013). Pode-se afirmar que o pensamento


criminológico moderno é influenciado por uma visão de cunho funcionalista e
uma de cunho argumentativo, que possuem como exemplos, a Escola de Chicago
e a Teoria Crítica, respectivamente. Essas visões também são conhecidas como
teorias:
a) Da ecologia criminal e do transtorno.
b) Do consenso e do conflito.
c) Do conhecimento e da pesquisa.
d) Da formação e da dedução.
e) Do estudo e da conclusão.

Para estudar o fenômeno criminal é necessário o estudo dos fatores sociais, dos
criminosos e também como a sociedade reage ao crime. Isso mostra que o crime
não é um fenômeno individual e isolado; este resulta sempre de uma construção
social ou de uma reação social a um determinado comportamento. As teorias que
estudaram o fenômeno criminal em conexão com os fenômenos normais e
ordinários da vida cotidiana foram as teorias do consenso e do conflito.

1. TEORIAS DO CONSENSO:

Partem da existência de uma constelação de valores fundamentais, comuns a


todos os membros da sociedade, em que a ordem social se baseia e por cuja
promoção se orienta. Nesse contexto, a sociedade se mantém graças ao
consenso de todos os membros dela, acerca de determinados valores comuns.
Para a perspectiva das teorias consensuais, a finalidade da sociedade é atingida
quando há um perfeito funcionamento de suas instituições, de forma que os
indivíduos compartilhem os objetivos comuns a todos os cidadãos, aceitando as
regras vigentes e compartilhando as regras sociais dominantes.

ESCOLAS DO CONSENSO: escolas sociológicas da criminologia (não mais


biológicas).

Atenção: as escolas sociológicas dividem-se em escolas do consenso e escolas


do conflito, a partir do paradigma sociológico em relação ao qual o criminólogo
irá analisar a questão criminal.

Partem de um paradigma FUNCIONALISTA {Durkheim}. Mais conservadoras.


Toda comunidade tem em si uma determinada harmonia e as regras sociais
surgem de uma autopoiese {espontaneamente} no seio dessa sociedade a partir
da solidariedade que se estabelece entre os indivíduos e grupos sociais. As
normas são criadas para a manutenção desta harmonia.

Sociedades menos complexas apresentariam uma solidariedade mecânica e


sociedades mais complexas apresentariam uma solidariedade orgânica. Todos
tem uma função na sociedade – {se o lixeiro não recolhe o lixo temos um
problema social}.

As normas são criadas para própria existência dessa sociedade.

Exemplo: Escola de Chicago ou desorganização social, anomia ou


neutralização e associação diferencial.

(Escrivão de Polícia 2013). São teorias do consenso as teorias:


a) Da desorganização social; da identificação diferencial; da criminologia crítica.
b) Do etiquetamento; da associação diferencial; do conflito cultural.
c) Da criminologia crítica; da subcultura; do estrutural-funcionalismo.
d) Da criminologia radical; da associação diferencial; da identificação diferencial.
e) Da desorganização social; da neutralização; da associação diferencial.

1.1 ESCOLA DE CHICAGO – 1920:

(TAMBÉM CHAMADA DE TEORIA ECOLÓGICA OU ARQUITETURA DA


CRIMINALIZAÇÃO)

Principais autores: Willian Thomas, Robert Park e Ernest Burgess.

Período histórico: Revolução Industrial, forte expansão do mercado americano


e consolidação da burguesia comercial.

Também chamada de Ecologia Criminal ou Desorganização social.

É considerada uma teoria sociológica explicativa do crime. Com o surgimento da


escola de Chicago, que possui como expoente Robert Park e Ernest Burguess, a
criminologia abandonou a figura do delinquente nato e passou a valorar a
influência do meio ambiente nas ações criminosas. Para descobrir dados,
utilizava-se de inquéritos sociais, centrando seus estudos nos problemas
populares, a partir da imersão do cientista social no meio urbano e na vida das
comunidades, tendo a pesquisa de campo como método privilegiado para a coleta
de informações, fundamentando-se assim, em uma de suas principais
características, que é empirismo e o emprego da observação direta em todas as
investigações. As teorias que compõe a Escola de Chicago são:

a) Teoria Ecológica:

Há dois conceitos básicos para que se possa entender a ecologia criminal e seu
efeito criminógeno: a ideia de “desorganização social” e a identificação de “áreas
de criminalidade”. Tem sua atenção voltada para o impacto criminológico em face
do desenvolvimento urbano. De acordo com essa teoria, a cidade é que produz
a delinquência, pois há um paralelismo entre o crescimento da cidade e o
aumento da criminalidade.

A teoria ecológica fundamenta-se na ideia da:

 Desorganização do desenvolvimento;
 Falta de controle social gerados pelo desenvolvimento urbano;
 Deterioração dos grupos primários, como família, escola, etc., resultando
em relações sociais superficiais, alta mobilidade, crise nos valores
tradicionais, superpopulação e descontrole social.

Nesse sentido, o crime nada mais é do que um subproduto da desorganização


da grande cidade. Segundo a teoria ecológica, somente uma reestruturação
urbanística e arquitetônica será capaz de influir na diminuição e prevenção da
criminalidade.

Outra importante contribuição desta escola foi a Teoria das Zonas


Concêntricas (Ernest Burguess), que baseava a cidade de Chicago em 5 zonas
concêntricas, que se expandem a partir do centro. A conclusão deste estudo foi
que quanto mais próxima fosse a localização da zona em relação ao centro da
cidade, maior a taxa de criminalidade. Além disso, constatou que taxas mais altas
indicavam os locais nos quais havia maior deterioração do espaço físico e
população em declínio. Vejamos de uma forma mais explicativa abaixo:

CHICAGO – 1840 – 4.470 habitantes → 1900 - + de 1 milhão.

A cidade de Chicago era um polo muito grande de atração de fluxos migratórios


{escravos – sul; imigrantes europeus – conflitos na Europa} e cresceu sem um
planejamento urbano adequado.

Tendo em vista que a cidade não havia planejamento para receber tanto em
pouco tempo, as pessoas começaram a se organizar em guetos que não
conversavam entre si. As leis puritanas, como a lei Seca, eram muito rígidas, e
em detrimento dessa rigidez, o cenário tornou-se favorável ao surgimento da
máfia.

Assim, os índices de criminalidade explodem na cidade.

Com a fundação da Universidade de Chicago, a ideia era investir pesadamente


em sociologia, estudando esses altos índices de criminalidade a partir de dois
fatores:

1. Desorganização Urbana

2. Perda das Raízes dos (I)Migrantes

Os autores da Escola de Chicago dividem a cidade em cinco zonas concêntricas


– partindo do centro.
O centro era comercial e industrial. {Loop}.

Os trabalhadores saíam da zona I especialmente para a Zona II, onde residiam.


Vários enclaves na Zona II e alguns na III {recebiam menos investimentos, eram
mais desorganizadas, com grande número de armazéns abandonados e onde se
concentravam os enclaves}. Os donos do meio de produção moravam nas zonas
IV e V, mais afastadas do centro, que no ponto de vista urbano eram as mais
organizadas.

b) Teoria Espacial:

A análise da área social explicariam o delito, ou seja, o nível social, a


urbanização e a segregação estariam diretamente ligados ao
crime. Essa teoria busca explicar que algumas arquiteturas propiciam o crime,
como por exemplo, a construção de uma casa de vidro em pleno centro urbano.
A Obra Defensible Space, de Oscar Newman, um dos defensores desta teoria,
defende um modelo residencial que crie obstáculos à pratica do delito. Para o
arquiteto, o desenho arquitetônico de uma casa pode favorecer ao crime, quando
essa arquitetura torna fácil o acesso a estranhos ou quando existe visibilidade de
fora para dentro. Além disso, Oscar Newman defende a construção de áreas
públicas menores, para que cada morador tenha atitudes de dono do local.
Segundo Newman, as pessoas só preservam e cuidam dos espaços que são
percebidos como seus.

Para finalizar, a Escola de Chicago atribui sobrepeso à desorganização social,


elevando-a à categoria de fator criminógeno. A desorganização urbana, unida às
leis puritanas rígidas da época (influência significativa da religião), mais
especificamente à lei seca, faz com que os armazéns abandonados do centro e
zonas próximas se transformem em cassinos/prostíbulos/bares clandestinos
{vazio à noite, sem fiscalização}.

PROPOSTAS DA ESCOLA DE CHICAGO:

 Promover a organização do espaço urbano, com planejamento urbano,


propiciando a redução do índice de criminalidade. Bairros exclusivamente
residenciais/comerciais propiciam o crescimento da criminalidade, pois
ambos se tornam desertos em determinados momentos do dia: programas
comunitários de recreação e lazer, com ruas de esportes, escotismo,
artesanato, excursões, reurbanização de bairros pobres, com melhora da
estética e do padrão das casas.

 Políticas públicas de resgate das raízes populares {com a promoção do


lazer e cultura}, escotismo {voltado para atividades na natureza e campo},
atividade musical {corais dos negros em igrejas}.

MÉRITOS DA ESCOLA DE CHICAGO:

Primeiro pensamento sobre o crime que desvincula a ideia de controle social e


punição {direito penal}. Cria um novo campo pra criminologia, pois é uma política
pública criminal. Não analisa o crime pelo ponto de vista da pessoa que o comete,
mas sim sob a perspectiva da sociedade. Preocupa-se com as estatísticas de
criminalidade.

CRÍTICAS SOFRIDAS PELA ESCOLA DE CHICAGO:

É uma concepção burguesa e etnocêntrica. O fato de existir uma comunidade


pobre que se expresse de forma diferente ao padrão burguês não quer dizer que
a população que habite esse lugar seja desorganizada. É apenas uma maneira
diferente de organização. A Escola de Chicago enxerga na sociedade um
organismo, uma funcionalidade (DURKEIN). Sendo assim, tem um olhar de
distanciamento diante da pobreza e não explica a criminalidade das classes altas,
que são conhecidos como crimes de colarinho branco.

Preocupou-se muito mais em investigar os locais de residência dos criminosos do


que onde efetivamente ocorriam os crimes. A divisão das cidades em círculos
concêntricos não representava a realidade das cidades americanas. Os dados
estatísticos estão nas mãos do Estado, que pode manipulá-los.

Por isso que os projetos habitacionais no Brasil não dão certo. Pois o que se pensa
ao implantar essa política é uma organização que o poder queira. As pessoas não
se sentem vinculadas àquele território. “O que eles querem? Não é o que eu
quero que deve ser considerado?”.

A escola aplicada nos EUA, da tolerância zero, lei e ordem ou das janelas
quebradas, utilizou-se dos estudos e conclusões da Escola de Chicago,

CONCLUSÕES REFERENTES A ESCOLA DE CHICAGO:

O método utilizado de investigação qualitativa com análise em mapas, dados


estatísticos, análise de documentos, continuam aceitos até os dias atuais.
QUESTÕES:

1. (Médico Legista 2013). São propostas da Escola de Chicago (“ecologia


criminal”) para o controle da criminalidade:
a) Política de tolerância zero; criação de programas comunitários com
intensificação das atividades recreativas; aumento das áreas verdes.
b) Prevalência do controle social formal sobre o informal; criação de comitês de
apoios de pais e mães para a educação das crianças; melhoria das condições das
residências e conservação física dos prédios.
c) Aumento das penas para o cometimento de delitos simples; criação de zonas
de exclusão para isolamento das áreas mais perigosas; disseminação de
atividades recreativas como escotismo e viagens culturais.
d) Mudança efetiva nas condições econômicas e sociais das crianças;
reconstrução da ‘solidariedade social’ por meio do fortalecimento das forças
construtivas da sociedade (igrejas, escolas, associações de bairros); apoio estatal
para redução e diminuição da pobreza e desemprego.
e) Controle individualizado, ou seja, controle específico e rígido sobre cada
indivíduo; políticas uniformes em toda a cidade, diante do fracasso das
estratégias por vizinhança; implantação de escolas e postos de saúde.

2. (Delegado de Polícia 2011). O efeito criminógeno da grande cidade, valendo-


se dos conceitos de desorganização e contágio inerentes aos modernos núcleos
urbanos, é explicado pela:
a) Teoria do criminoso nato.
b) Teoria da associação diferencial.
c) Teoria da anomia.
d) Teoria do “labelling approach”.
e) Teoria ecológica.

3. (Procurador 2013). A avaliação do espaço urbano é especialmente importante


para compreensão das ondas de distribuição geográfica e da correspondente
produção das condutas desviantes. Este postulado é fundamental para
compreensão da corrente de pensamento, conhecida na literatura criminológica,
como:
a) Teoria da anomia.
b) Escola de Chicago.
c) Teoria da associação diferencial.
d) Criminologia crítica.
e) Labelling approach.

1.2 TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL – 1930:

Edwin Sutherland (1883-1950) - Contexto Social: Quebra da bolsa de valores de


NY →

Teoria criada pelo sociólogo Edwin H.Sutherland, inspirada em Gabriel Tardi


(grande opositor do Lombroso – ex-discípulo). Verificou que o crime não pode
ser definido apenas como disfunção ou inadaptação das pessoas de classes
menos favorecidas. Para o sociólogo, o comportamento criminal é aprendido e
não fruto de carga hereditária. Assim sendo, os atos delituosos, por
constituírem atos da vida humana, são normalmente aprendidos pelos indivíduos
como os atos não delituosos, em função das diversas experiências sociais que
ocorrem ao longo da vida.

Sob esse aspecto, afirma-se que as reações do indivíduo são condicionadas ou


influenciadas constantemente pelas reações daqueles que integram seu meio
social. Em outras palavras, observando as reações das pessoas que estão
à sua volta, o indivíduo passa a agir de igual maneira. Assim, pode afirmar
que o crime não é produto de uma anormalidade qualquer, seja física ou psíquica,
mas sim de um processo natural de aprendizagem baseado no contexto social.

Assim, sob a égide desta teoria, em 1939 cunha-se a expressão Crimes do


colarinho branco (White collar crimes), Na definição de Edwin Sutherland: “a
violação da lei penal por pessoas de elevado padrão socioeconômico, no exercício
abusivo de uma profissão licita”. É a delinquência econômica, (Direito Penal
Econômico). É o crime daqueles indivíduos de alto ou significativo status
socioeconómico, que tranquilamente ignoram as leis e regras fiscais rígidas para
aumentar os lucros de suas atividades ocupacionais.

Aristóteles dizia que “os crimes mais graves são cometidos pelo excesso, e não
pela necessidade.

Originário da Escola de Chicago, porém com ideias e crenças opostos ao desta


escola, a Teoria da Associação Diferencial busca suprir a seguinte lacuna deixada:
“Se o crime acontece por conta da desorganização social e detrimento das raízes,
como se explica o crime do colarinho branco?”. Desvinculando-se assim, da ideia
de organização urbana.

O crime é um comportamento aprendido. Tudo que se faz se aprendeu, exceto o


que é puramente instintivo (respirar).

Para Gabriel Tardi, o criminoso não nasce criminoso, é um tipo profissional, como
qualquer outro. Todos os hábitos se aprendem por imitação.

O aprendizado se dá pela convivência em um grupo. Alguns grupos transmite aos


membros determinadas condutas. O crime surge a partir de uma associação. As
pessoas vivem em associações e estas podem ser favoráveis ou desfavoráveis à
prática de crimes. Qualquer fato e aprendido.

Em resumo, O COMPORTAMENTO CRIMINOSO É APRENDIDO, NUNCA


HERDADO.

 Comportamento criminal é comportamento aprendido.

 Aprendido mediante a interação com outras pessoas em um processo


comunicativo.
 A maior carga de aprendizagem se dá nas relações sociais mais próximas.

 O aprendizado inclui desde a técnica do delito até a própria justificação do


ato.

 Surge o delinquente quando as definições favoráveis à violação da norma


superam as desfavoráveis.

 Aprendizado promovido por gangues urbanas na prática de furtos e


arruaças, e sonegações e fraudes comerciais pelos grupos empresariais.

Nem todas as ASSOCIAÇÕES DIFERENCIAIS têm a mesma força, variam na


frequência, na duração, nos interesses e na intensidade.

Explica o crime do macacão azul – pé rapado {ex: PCC} e o do colarinho


branco {ex: Maluf}.

CRÍTICAS SOFRIDAS PELA TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL:

CRÍTICA 1: Desconsideração da autonomia ética do indivíduo. Estigmatiza


também a pessoa que nasce em uma determinada associação diferencial (não
necessariamente cometeram crimes ou os mesmos crimes). Parte do pressuposto
de uma sociedade harmônica.

CRÍTICA 2: Não se está questionando a manipulação política do conceito de


crime, a arbitrariedade com a qual os gestores vão dizer o que é ou não crime,
não trata da problemática dos sistemas de repressão. Tenta apenas entender o
que leva uma pessoa a cometer crimes.

Atenção: as teorias críticas radicais não têm isso como objeto de pesquisa, mas
sim o porquê das pessoas serem punidas, serem selecionadas pelo direito penal.
A sociologia não pode explicar porque cada um comete crime. Cada um tem sua
razão. Até mesmo porque existem fatos muito mais danosos que não são
considerados crimes, como, por exemplo, uma demissão em massa.
A LEI SECA, nos EUA, estimulou o surgimento do contrabando e a formação do
gangsterismo norte-americano. O mafioso italiano Al Capone aproveitou-se da
proibição do comércio do álcool durante a vigência daquela lei, dedicando-se ao
contrabando de bebidas alcoólicas, incentivando às casas de prostituição e jogos.
Capone frequentava a alta sociedade americana, realizando frequentes reuniões
em hotéis de luxo. Segundo ele, eu pratico o crime vendendo e eles comprando.

QUESTÕES:

1. Assinale a alternativa INCORRETA sobre a teoria da associação diferencial e o


conceito de colarinho branco a partir da obra de E. Sutherland:
a) A teoria da associação diferencial explica o crime de “colarinho branco” como
próprio de uma subcultura delinquente no âmbito empresarial, caracterizada pelo
desvalor moral )em prol da maximização do lucro.
b) O conceito de “colarinho branco” de Sutherland abarca crimes cometidos por
pessoas dotadas de alto status social, no curso e no contexto de suas ocupações
profissionais.
c) A teoria da associação diferencial é uma das mais importantes dentre as
“teorias da aprendizagem”, sendo o “crime” explicado como um comportamento
aprendido a partir da prevalência, na vida do sujeito, de associações e interações
favoráveis à violação da lei.
d) De acordo com Sutherland, o processo de aprendizagem de qualquer tipo de
comportamento, incluindo aquele considerado “criminal”, abrange tanto uma
dimensão técnica como uma dimensão subjetiva, esta referente às motivações e
racionalizações que justificariam o ato.
e) A teoria da associação diferencial não estabelece relações diretas de
causalidade entre a criminalidade e a pobreza ou fenômenos a esta relacionados.

2. (Agente de Polícia 2012). Os “crimes de colarinho branco” são delitos


conhecidos na Criminologia por:
a) Crimes contra a dignidade social.
b) Crimes de menor potencial ofensivo.
c) Cifras cinza.
d) Cifras amarelas.
e) Cifras douradas.

1.3 TEORIA DA ANOMIA – 1938:

Entende-se que teoria da anomia é uma situação social que surge pela ausência
da ordem, normas e valores sociais. Foi desenvolvida por Robert King Merton,
influenciado pela obra clássica de Emile Durkheim "O suicídio", sendo enunciada
pela primeira vez em 1938 em um artigo publicado na American Sociological
Review titulada de Social Structre and Anomie.

Etimologicamente falando, anomia é composto pelo prefixo "a" que significa


"não", "ausência", "falta" com o termo de origem grega "nomia" que tem por
significado "normas", "regras", "leis", se tornando a "ausência das normas". É
considerado uma teoria de consenso.

ÉMILE DURKHEIN (fundador da sociologia) cunhou o termo anomia para


designar uma situação de falta de objetivos sociais e ausência de normas.
Enfraquecimento da consciência coletiva.

Toda sociedade tem uma CONSCIÊNCIA COLETIVA. Valores partilhados por


todos. Formas de comportamentos consensuais em uma determinada sociedade
{Ex. como as pessoas se comportam normalmente no trânsito, respeitando os
sinais, pedestres andando na calçada, etc.}. Os fatos sociais são o objeto de
estudo da sociologia. A consciência coletiva precede o sujeito. Ele nasce imbuído
de determinados valores que são sociais.

O crime em si não é um problema social, só existirá anomia quando o número de


crimes for tão alto a ponto de esfacelar a consciência coletiva.
O crime tem uma função social. Na sociedade normal, são aqueles atos que
destoam da consciência coletiva. Se o crime destoar muito dessa consciência
coletiva, serve para criar na consciência coletiva um elo. Reforça a consciência
coletiva.

Se o crime não for grave ele pode desempenhar outra função: alterar a
consciência coletiva (homossexualidade). Neste caso, há uma flexibilização da
consciência coletiva que passa a abarcar a homossexualidade, deixando de ser
crime.

ÉMILE DURKHEIM dividia a sociedade em dois tipos: SOCIEDADE PRIMITIVA


E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA. Naquela existe o tipo de
SOLIDARIEDADE MECÂNICA, em que as pessoas possuem pouca
diferenciação entre os membros que a integram, já que eles partilhariam os
mesmos valores, sentimentos e crenças religiosas, são as sociedades mais
primitivas, por exemplo o clã. Já nestas, por serem mais complexas, dinâmicas e
evoluídas, existiria a SOCIEDADE ORGÂNICA, que em função da divisão do
trabalho faz com que os indivíduos tenham metas diferentes, desintegrando os
valores e um enfraquecimento coletivo das relações, formando o ESTADO DE
ANOMIA.

ESTADO DE ANOMIA é a ideia de que a perda das referências coletivas


normativas que orientam a vida em sociedade leva ao enfraquecimento da
solidariedade social.

O crime é um fator de saúde pública e é parte integrante de toda a sociedade sã.


Aliás, uma sociedade que não apresente crime é uma sociedade primitiva e,
consequentemente, pouco evoluída.

Se o delito provoca e estimula uma reação social, ele estabiliza e reforça o


sentimento coletivo em torno dos valores, proporcionando a transformação
social.

Abordagem funcionalista nasce aqui.


Exemplos: as forças de paz no Haiti tentaram debelar o caos anômico naquele
país (2008); após a passagem do furacão Katrina em Nova Orleans (EUA, 2005),
assistiu-se a um estado calamitoso de crimes naquela cidade, como se não
houvesse nenhuma norma. ROBERT MERTON – Apropria-se desse conceito de
anomia e constrói uma teoria criminológica em “Teoria social e estrutura social”
(1938).

O crime em si não significa anomia. Existe anomia quando os MODOS NÃO-


CONFORMISTAS de adaptação da sociedade superam os MODOS
CONFORMISTAS.

MEIOS INSTITUCIONAIS → trabalho formal, aparato familiar, aparato


econômico, aparato cultural (escola, trabalho, etc).

METAS CULTURAIS → Dinheiro, prestígio, estima das pessoas próximas


(status, poder, riqueza, etc).

Quando o indivíduo não é privilegiado pelos meios institucionais, ele busca as


metas culturais de formas não-institucionais:

MEIOS INSTITUCIONAIS METAS MODOS

+ + Conformista

+ - Ritualista

- - Apatia

- + Inovação
+/- +/- Rebelião

Ritualista, apatia, inovação e rebelião: modos não conformistas.

Na inovação é que está o crime. Não havendo os meios institucionais, buscará


atingir as metas de outra forma.

A sociedade brasileira é uma sociedade anômica, visto que a maioria é não-


conformista, não podendo ser estudada pelo ponto de vista funcionalista.

MÉRITOS DA TEORIA DA ANOMIA:

Demonstra como a sociedade é excludente, segregacionista e desmistifica a


meritocracia.

CRÍTICA SOFRIDAS PELA TEORIA DA ANOMIA:

Ainda é uma escola do consenso, não problematiza o conceito de crime,


considerando que há muito crime nas pessoas que possuem os meios e as metas
{conformistas} – explica mais o crime do macacão azul que do colarinho branco.

1.4 TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE - 1955

Albert K. Cohen (1955) – “Delinquent boys: the culture of the gang”. Analisa uma
criminalidade bem específica: gangues de adolescentes nos EUA.

O conceito de subcultura decorre das chamadas sociedades complexas. Pode ser


imaginado como uma “cultura dentro da cultura”. É, na realidade, a existência de
padrões normativos opostos – ou pelo menos divergentes – dos que presidem à
cultura dominante.
Subcultura – pessoas “se retiram da sociedade”.

Contracultura – pessoas “contestam e confrontam a sociedade”.

Ambas as expressões surgiram dos enfrentamentos desviantes dos jovens em


relação à sociedade adulta tradicional, o chamado establishment. As subculturas,
em uma primeira abordagem, aceitam certos aspectos dos sistemas de valores
predominantes, mas também expressam sentimentos e crenças exclusivas de seu
próprio grupo, enquanto a contracultura é uma subcultura que desafia a cultura
e a sociedade tradicional, porém com um sinal invertido. A lealdade é valorizada,
enquanto o traidor será considerado arqui-inimigo do grupo.

A juventude contracultural, por sua vez, faz uma negação mais compreensiva e
articulada da sociedade. Como exemplo pode ser lembrado os
movimentos hippies, beatniks etc. A contracultura é, pois, caracterizada por um
conjunto de valores e padrões de comportamento que contradizem diretamente
os da sociedade dominante.

A sociedade norte-americana é falsamente meritocrática. A ideia de meritocracia


{quem se esforça vence na vida} só se aplica dentro de determinada classe
(média e alta). A periferia não compete em pé de igualdade.

No entanto, a ideia de meritocracia é vendida a todas as classes, inclusive na


periferia, o que causa uma dor muito grande, sofrimento psíquico. Aqueles que
não conseguem se sentem frustrados. Isso porque a falsa meritocracia imputa
ao indivíduo a responsabilidade total sobre o fracasso {looser}.

“Se você não venceu na vida, é porque não se esforçou”. Culpa individual.

Leva os jovens à negação dos valores da classe média e fuga das metas culturais
{mecanismo psíquico – formação reativa. Rejeito valores que me causam dor}.
Encontram, assim, outros na mesma situação, criando uma subcultura. Entendem
que esses valores não são adequados para eles, podendo ser criadas novas
molduras valorativas que sejam mais adequadas.

Os principais crimes cometidos por estas gangues são vandalismo e pequenos


furtos. Tem como objetivo demonstrar que eles não são adeptos dos valores do
patrimônio e da ordem.

- Ver documentário: PIXO.

CARACTERÍSTICAS DA TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE:

1) Malícia (prazer perverso na conduta)

2) Não utilitarismo (o furto não se presta a nenhuma utilidade racional, é quase


um grito de desespero, ele pretende se convencer de que a propriedade não tem
valor)

3) Negatividade (Significa que a delinquência subcultural traduz uma adesão ao


polo negativo do valor/conduta – gaba-se pelo furto)
1. (Investigador de Polícia 2013). Do ponto de vista criminológico, a conduta dos
membros de facções criminosas, das gangues urbanas e das tribos de pichadores
são exemplos da teoria sociologica da(o):
a) Abolicionismo penal.
b) Subcultura delinquente.
c) Identidade pessoal.
d) Minimalismo penal.
e) Predisposição nata à criminalidade.

2. (Médico Legista 2013). Escola Criminológica que tem como expoente Albert
Cohen, e que procura equacionar, por meio de respostas não criminais e não
punitivas, o comportamento geralmente juvenil que desafia os modelos da
produção consumista:
a) Escola da Contracultura Contemporânea.
b) Teoria da subcultura delinquente.
c) Escola Socialista Cultural.
d) Teoria do Comunismo Consciente.
e) Teoria do Socialmente Razoável.

ITENS JÁ COBRADOS EM PROVAS CESPE/UNB


( F ) As ideias sociológicas que fundamentam as construções teóricas de Merton
e Parsons
obedecem ao modelo da denominada sociologia do conflito.

( V ) A teoria funcionalista da anomia e da criminalidade, introduzida por Emile


Durkheim no século XIX, contrapunha à ideia da propensão ao crime como
patologia a noção da normalidade do desvio como fenômeno social, podendo ser
situada no contexto da guinada sociológica da criminologia, em que se origina
uma concepção alternativa às teorias de orientação biológica e caracterológica
do delinquente.

3. (CESPE) No que concerne à sociologia criminal da primeira metade do século


XX, assinale a alternativa INCORRETA:
a) Para a Escola de Chicago, o conceito de “controle social” é menos voltado à
ideia de temor e medo da autoridade do Estado, e mais à ideia de convencimento
e persuasão a partir de instâncias não-estatais de controle.
b) As teorias ecológicas da criminalidade vincularam a criminalidade urbana à
desorganização social e à degradação de espaços públicos.
c) Para a teoria da anomia de Robert Merton, o comportamento de inovação é
aquele que assume as metas culturais mas não os meios disponíveis para atingi-
las.
d) Tanto a teoria da anomia de Robert Merton como a Escola de Chicago
assumiram uma postura de rejeição do funcionalismo, podendo ser
caracterizadas como teorias fundadas sobre o conflito, e não sobre o consenso.
e) A Escola de Chicago teve grande importância e influência sobre o
interacionismo simbólico e a teoria do etiquetamento.
2. TEORIAS DO CONFLITO:

Coesão e a ordem são fundadas na força; toda sociedade se mantém graças à


coação que alguns de seus membros exercem sobre os outros. É o planejamento
de produção de normas (criminalização primária) voltado para assegurar o triunfo
da classe dominadora, conforme postulam os advogados da teoria da reação
social, que defende a ideia de programa criminalizante pelas classes inferiores.

Primeiro método científico da criminologia. (EUA).

As escolas do conflito partem de outro paradigma: modo marxista de pensar a


sociedade. Luta entre classes. Esta regra existe para favorecer uma classe em
detrimento da outra.

ESCOLAS DO CONFLITO: questionam a existência de uma realidade ontológica


(realidade das coisas/palpável) no delito, passando a entender o delito como uma
entidade originalmente jurídica.

Pergunta central das escolas do conflito: Porque determinados atos e


pessoas são criminalizados?

MARX: A sociedade é um eterno conflito de classes.

O Direito serve apenas para manter o status quo – a exploração de classes.

INFRAESTRUTURA - relações de troca econômica e relação de produção de trabalho.

- Burguesia: Proprietários dos meios de produção

- Proletariado: Detentores da força de trabalho. Tem determinado valor agregado aliado


aos meios de produção. Em troca de sua força de trabalho, o proletário recebe um salário
que, no entanto, não coincide com sua força de trabalho. O salário é o valor da força de
trabalho menos a mais valia {apropriada pelo capitalista}. O valor do salário deve ser tal
que garanta minimamente a subsistência do proletariado a ponto de garantir lucros
expressivos.

SUPRAESTRUTURA - Discursos que mantém o proletário alienado para que não se revolte
contra o sistema predatório de exploração do homem contra o homem. Ideologia: falsa
percepção de realidade. Cristaliza-se em instituições → filosofia, religião e direito.

Direito surge para proteger a propriedade privada.

Vide Código Penal Brasileiro: Extorsão mediante sequestro X Redução à condição análoga
de escravo. Análise das penas.

Ambos são similares: restringe-se a liberdade de alguém para conseguir um lucro ilícito.
A diferença é apenas o sujeito: sujeito ativo na extorsão é o proletário/na redução à
condição análoga de escravo é o detentor dos meios de produção; sujeito passivo, inverte-
se.

Logo, o direito pretende manter a exploração de classes. No entanto, o discurso é que o


direito deve ser cumprido, causando alienação.

Inversão da causa/efeito: o proletário não é proletário porque é pobre; ele é pobre porque
é proletário. A pobreza é intencionalmente criada.

O. Kirchheimer e G. Rusche: “Punição e Estrutura Social” – Principal antecessor


da Teoria Crítica da Criminologia. Traz a perspectiva marxista pela primeira vez.
Analisa como as práticas punitivas vão se alterando de acordo com as oscilações
do mercado.

 Excesso de mão-de-obra: penas graves (cortar mãos).


 Escassez de mão-de-obra: penas mais leves (depois de guerras e pragas).

A humanização das penas decorreu da redução de mão de obra. Com a escassez


de mão-de-obra não se pode mais matar o proletário por pequenos delitos.

O cárcere tem uma função econômica: criação de um exército de mão de obra


de reserva → faz com que o salário sempre se mantenha em um patamar baixo.
MARX chama tais pessoas de lumpen {não se pode esperar a revolução destas
pessoas}. As pessoas não contratam egresso do sistema penal. No entanto, há
um discurso de que o trabalho do proletário é dispensável, pois há um exército
de mão de obra que aceitaria o emprego. Possibilita a manutenção de salários
baixos, o que não significa que a pessoa realmente pretenda contratá-los. Isso
aumenta a mais valia. O fato dessas pessoas permanecerem desempregadas faz
com que as pessoas não demandem por salários maiores.

2.1 TEORIA DA ROTULAÇÃO SOCIAL (LABELLING APPROACH):

Sinônimos: Interacionismo simbólico, abordagem do etiquetamento, reação


social, rotulação. Conhecida também como Teoria do Etiquetamento ou Reação
Social, criada na década de 60 e considerada como um marco das teorias de
conflito, mudou a forma de analisar o crime, deixando de focar o fenômeno
delitivo e passando a valorar a reação social proveniente de um crime, tem
como principais expoentes foram Erving Goffman e Howard Becker.

De acordo com Sampaio (p. 64): “Por meio dessa teoria ou enfoque, a
criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de
um processo em que se atribui tal “qualidade” (estigmatização)”.

A essência desta teoria pode ser definida, em termos gerais, que cada um se
torna aquilo que os outros veem em nós. Entende-se, sob esse ponto de vista,
que a conduta humana é decisivamente influenciada pelos processos de interação
social, sendo que o indivíduo tem de si a imagem que os outros fazem
dele. Por essa razão, a natureza delitiva de uma conduta praticada por esse
indivíduo não se encontra na conduta em si, e muito menos na pessoa de que a
pratica, mas na valorização que a sociedade confere a ela.

Assim, crime e reação social são manifestações de uma só realidade onde o


criminoso apenas se distingue do homem normal devido a rotulação que recebe,
tanto pelas instancias formais como pelas informais. De acordo com essa teoria,
o indivíduo se converte em delinquente não porque tenha realizado uma conduta
negativa, mas sim porque determinadas instituições sociais etiquetaram lhe como
tal, tendo ele assumido o referido status de delinquente que as instituições do
controle social distribuem de forma discriminatória.

Questiona a própria existência de uma realidade ontológica do delito → realidade


em torno das coisas/ fato. O enfoque muda dos “bad actors” para os “powerful
reactors”.

Contexto Cultural: Anos 60 (a contracultura efetivamente aflora)

 Guerra do Vietnã;

 Movimento Beatnik e Hippie;

 Thimoty Leary populariza o LSD;

 Pacifismo;

 Feminismo (Nancy Fraser);

 Martin Luther King e Malcom X – Panteras Negras;

 América Latina – resistência às ditaduras.


Neste contexto começa-se a questionar o que seria o desvio. A pergunta
fundamental não é mais “porque as pessoas cometem crimes” (escolas de
consenso), mas “porque determinados atos ou pessoas são criminalizados
(escolas de conflito).

O que é crime é imposto, escolhido pelas classes dominantes.

Para Lombroso, por exemplo, crime era um sintoma de uma personalidade


degenerada. Nas escolas de conflito, crime é aquilo que os detentores do poder
em determinada sociedade definem como crime. Nenhum ato é desviante por si
só. A escolha do será ou não crime é iminentemente política.

A teoria da Rotulação Social surge na sociologia a partir da publicação de


Outsiders (studies in the socielogy os deviance), de Howard S. Becker → Estuda
os músicos de jazz e usuário de maconha. Não é um criminólogo. Ele cria a
expressão “labelling approach”: abordagem do Etiquetamento/Interacionismo
simbólico.

Determinados setores da sociedade são estigmatizados e tratados como


desviantes e a partir desse estigma as pessoas passam a se comportar
efetivamente como desviantes.

CONCLUSÃO DA TEORIA DO ETIQUETAMENTO:

Nenhum ato é desviante por si próprio, mas o desvio é criado por um rótulo
imposto, criado pelo “gestores morais”, que são as classes dominantes
culturalmente, igreja, mídia, elites políticas e Estado e agências punitivas {MP,
Judiciário, Polícia}. Eles não apenas criam as regras, como garantem que tais
regras sejam aplicadas, garantindo sua manutenção do poder.
OUTROS AUTORES DO LABELLING APPROACH

- Kai T. Erikson;

- Edwin Lemert;

- Edwin Schur;

- Erving Goffman → “Manicômios, Prisões e Conventos” e”Estigma”

Instituições Totais: Goffman diz que, em regra, as instituições se prestam a uma


determinada finalidade; no entanto, algumas instituições têm características peculiares,
onde os internos praticam todas as suas atividades básicas dentro delas {trabalha, estuda
e tem lazer no mesmo lugar} Ex: leprosário, campo de concentração, quartel, convento,
prisão. Em todas elas o principal objetivo é a mortificação do eu. São assim, uma
continuidade do rótulo que se impõe à pessoa. A partir do momento que uma pessoa é
rotulada como criminosa e levada para a prisão, esta completa seu processo de
criminalização - por ser uma instituição total - promovendo mudanças bastante
significativas no indivíduo e em sua identidade. A pessoa vai absorvendo esse rótulo.

Existe uma adequação da identidade da pessoa ao que a instituição espera dela.

CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO LABBERING APPROACH:

ROLE ENGULFMENT: (mergulho no papel desviado) – a partir da imposição do


estigma de criminoso, doente mental, etc. A pessoa passa a se comportar a partir
das expectativas dos gestores da moral.

PROFECIA AUTO-REALIZÁVEL: O estigma molda a pessoa a partir da identidade


social virtual → (o que a sociedade acha que é a sua realidade). Os rotulados se
afastam da sociedade e se comportam exatamente da maneira como foram
rotulados. O estigma é um desnível grande entre a identidade social real {como
a pessoa realmente é nas suas relações sociais} e a identidade social virtual
{como as pessoas pensam que a pessoa é}.

PRISIONIZAÇÃO: Deterioração da identidade do indivíduo por conta da vivência


num ambiente prisional (Donald Clemmer).

QUESTÕES:

1. (Perito Criminal 2013). A teoria do labelling approach, a qual explica que a


criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de
um processo em que se atribui tal estigmatização, também é denominada teoria:
a) Da desorganização social
b) Da rotulação ou do etiquetamento
c) Da neutralização
d) Da identificação diferencial
e) Da anomia

2. (Delegado de Polícia 2011). Assinale a alternativa incorreta. A teoria do


etiquetamento:
a) É considerada um dos marcos das teorias de consenso.
b) É conhecida como teoria do “labelling approach”.
c) Tem como um de seus expoentes Ervin Goffman.
d) Tem como um de seus expoentes Howard Becker.
e) Surgiu nos Estados Unidos.

3. Considerando a teoria do etiquetamento e as perspectivas:


a) A sanção penal é definida como a consequência jurídica do delito, na medida
em que a toda ação corresponde uma reação.
b) O comportamento desviante e criminal pode ser explicado como consequência
da pobreza e da desigualdade social.
c) O desvio secundário é determinado pela reação social ao desvio primário.
d) A criminologia crítica pode ser vista como um componente ou dimensão interna
à teoria do etiquetamento.
e) Uma das características dos teóricos do etiquetamento sempre foi seu forte
engajamento e militância política, tendo por fulcro a crítica ao modo de produção
capitalista.

2.2 TEORIA CRÍTICA – 1975:

Também chamada de Teoria Radical ou Teoria da Nova Criminologia.

Consolidou-se ao criticar as posturas tradicionais da teoria de consenso e,


ancorada no pensamento marxista, acreditava ser o modelo econômico adotado
em terminado local o principal fator gerador da criminalidade.

A criminologia Radical assume o papel da classe trabalhadora, da classe


explorada e passa a criticar o modo de produção capitalista, bem como os meios
de reprodução dos modos de produção. Critica o modo de produção capitalista,
baseada na mais-valia, por ser uma forma de exploração da mão de obra e
provocar injustiças sociais e desigualdades ocasionadoras dos altos índices de
criminalidade. O Grupo de Berkeley surge como reação aos objetivos básicos
da escola de Criminologia que se consubstanciava na formação de técnicos e
profissionais treinados para a luta contra o crime. (CALHAU, p. 85)

Nestor Sampaio (p. 68) afirma que é: “Uma vertente diferenciada surge nos
Estados Unidos, com a denominação lei e ordem ou tolerância zero (zero
tolerance), decorrente da teoria das “janelas quebradas” (broken windows
theory), inspirada pela escola de Chicago, dando um caráter “sagrado” aos
espaços públicos”.

São várias linhas de pensamentos que acabam sendo agrupadas como teorias
críticas. Existem várias vertentes: abolicionistas, minimalistas, garantistas,
feminista, etc.
Todas essas linhas de pensamento tem como base a teoria marxista (ao menos
no que diz respeito à visão da sociedade como conflito), bem como a
dúvida/crítica quanto ao conceito de delito.

FUNDADORES: Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young “A nova criminologia” –


1973 – e “criminologia crítica” – 1975.

É um termo extremamente equívoco pois cada um o conceitua de maneira


diversa, tendo apenas linhas mestras. Propõem a revisão dos fatos
criminalizados, para a descaracterização do direito penal como forma de
manutenção da exploração das classes proletárias. O direito não é ciência, mas
uma ideologia. Poderia ser colocado a serviço das classes proletárias para fazer
a revolução. Crime deveria ser entendido como os atos de exploração.

Base do “neo-realismo de esquerda” – a solução do crime consiste na


transformação revolucionária e na eliminação da exploração do homem pelo
homem.

PROPOSTAS DA TEORIA CRÍTICA:

Criminalização dos atos que proliferam a exploração (colarinho branco, crimes


econômicos e ambientais) e minimização da repressão penal sobre as classes
exploradas.

Criação de uma nova criminalidade e diminuição da velha criminalidade de massa.

Ler texto da Maria Lúcia Karam: A Esquerda Punitiva.

ABOLICIONISTAS:

Thomas Mathiesen (Noruega – vertente marxista) – The politics of abolition


(1974) – o direito é uma instância de manutenção da exploração e nunca será
usado para reduzir desigualdades (vide os crimes econômicos e seu déficit de
aplicação versus furto de pequeno valor). Por mais que se pense em um direito
penal das classes altas, a própria seleção e o modo de funcionamento das
instancias penais fazem com que essa norma não seja aplicada. Os juízes e
promotores são selecionados de uma classe específica (alta/média) e tendem a
ser muito mais benevolentes com delitos/pessoas que lhe são afins.

No Brasil, ainda que os crimes econômicos possuam penal altas, pelo REFIS se
você parcelar o debito suspende o processo; se você pagar integralmente, o
processo é extinto; se a dívida for inferior a 20 mil reais, há a aplicação do
princípio da insignificância.

Crimes de distância: mão em sua casa vê seus filhos brigarem e um lesiona o


outro: mera bronca (crime de lesão corporal?); esta mesma mãe verifica no
elevador que o filho de uma vizinha depredou o elevador e exige
multa/indenização (crime de dano?); esta mesma mãe sai do apartamento e tem
sua carteira furtada e vai à delegacia, noticiar o crime de furto.

Nils Christie (Noruega – vertente marxista) – 1966 – Indústria do Controle do


Crime. Analisa o ganho econômico advindo da exploração do crime no imaginário
popular (segurança privada).

Louk Hulsman – Holanda – Penas Perdidas (1982) – Jacqueline Bernat de Celis


→ Nega a própria utilização do conceito de crime. O que entendemos como crime
são situações-problema que não podem ser tratadas como se fossem fruto de
um mesmo conflito. Perde-se a oportunidade de solucionar o conflito. O fato de
existir o conceito de crime faz com que não se consiga enxergar a situação
problema que se encontra por trás disso. Os direitos penal/processual penal
bidimensionalizam os conflitos, pois o conflito deixa de ser entendido como uma
situação social, familiar, econômica e torna-se tema jurídico. O direito penal não
só não soluciona o problema, como cria outro: o problema familiar torna-se um
problema familiar e um problema penal.
1.3 TEORIA DAS JANELAS QUEBRADAS (BROKEN WINDOWS THEORY)
– 1982 E SUA APLICAÇÃO NA TEORIA DA TOLẼNCIA ZERO:

Relação entre desordem e criminalidade. Parte da premissa que existe relação de


causalidade entre a desordem e a criminalidade.

A teoria baseia-se num experimento de Philip Zimbardo, psicólogo da


Universidade de Stanford, com automóvel deixado em um bairro de classe média
de Palo Alto (Califórnia) e outro deixado no Bronx (Nova York). Neste o veículo
foi depredado em apenas 30 minutos, em Palo Alto o carro permaneceu intacto
por uma semana. Porém, após o pesquisador quebrar uma das janelas, o carro
foi completamente destroçado e saqueado por grupos de vândalos em poucas
horas.

Nesse sentido, caso se quebre uma janela de um prédio e ela não seja
imediatamente consertada, os transeuntes pensarão que não existe autoridade
responsável pela conservação de ordem naquela localidade. Logo todas as outras
janelas serão quebradas. Ou seja, haverá decadência daquele espaço urbano em
pouco tempo, facilitando a permanência de marginais no lugar, um terreno
propício à criminalidade.

Essa teoria foi aplicada em Nova York, pelo Chefe de Polícia Wiliam Bratton, e
pelo Prefeito Rudolph Giuliani, nos anos 90.

Nessa época Nova York era considerada a Capital do Crime, e após a aplicação
da teoria, houve redução satisfatória da criminalidade, considerando Nova York
hoje a cidade mais segura dos EUA.

Ela foi aplicada aos vândalos do metrô, pela ideia de lei e ordem, em que agia
contra os grupos de vândalos que levavam os para-brisas de veículos e
extorquiam dinheiro dos motoristas. Essa conduta era punida com serviços
comunitários e não levava a prisão. Assim, as pessoas eram intimadas e muitas
vezes não cumpriam a determinação judicial, cujo descumprimento autorizava,
então, a prisão. A prisões foram feitas às centenas, o que intimidava os demais,
levando os nova-iorquinos a acabar em semanas com o temor de anos.

Em Nova York os índices de criminalidade caíram 57% em geral, e em relação


soa homicídios em 65%.

Índices semelhantes foram obtidos em Los Angeles, Las Vegas e São Francisco.

CRÍTICAS SOFRIDAS PELA TEORIA:

O fato de que houve o encarceramento em massa dos menos favorecidos


(prostitutas, mendigos, sem-teto). Expansão irracional do direito penal. Tipos
penais de conteúdo vago e indeterminado.

Pensamento de Michel Foucault

- Vigiar e Punir (1975)

Desenvolve a tese de que o poder soberano cedeu espaço, na sociedade


moderna, a uma nova forma de dominação, que pode ser identificada nas
instituições modernas como a prisão, a escola e o hospital psiquiátrico – poder
disciplinar.

A prisão, como conhecemos, é recente. Sempre foi utilizada para contenção


daquele que espera a punição e não como punição em si. Isomorfismo penal:
mesma resposta para diversos crimes.

Antes tínhamos o rei e o condenado. O rei tinha poder absoluto, inclusive sobre
o corpo do condenado e o condenado sem poder sequer sobre o próprio corpo.
Atualmente, as sociedades disciplinar adestram o comportamento, conformam o
corpo.

A prisão é uma consequência do novo modo de pensar. Há ainda interesses


econômicos. É um poder que não tem face, é mais difícil ser contestado.

Poder disciplinar é construtivo, tornar aquilo que se espera. Não é tão-somente


repressivo. Como adestrar?

Táticas para o bom adestramento:

1. Vigilância hierárquica {o indivíduo sempre deve achar que está sendo


vigiado, ainda que não seja, pois assim se comportará conforme o que se
espera dele, caso não se comporte incide a sanção normalizadora}.
Panóptico: prisão disciplinar modelo. Forma circular. Os presos podem
estar sendo vigiados a qualquer momento e, então, começam a se
comportar da forma que esperam dele.

2. Sanção normalizadora {traz o indivíduo de volta ao que é entendido como


normalidade}

3. Exame. {Há um saber que consegue adentrar na mente do indivíduo para


constatar se ele está suficientemente normalizado/adestrado}. Exame
criminológico.

Ele deve ser dócil e não ressocializado. O potencial revolucionário vira bandido
dócil. Politicamente dócil e economicamente útil.

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