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CRIMINOLOGIA – 1º BIMESTRE - RESUMO

INTRODUÇÃO

O fenômeno criminoso sempre despertou a curiosidade humana. Prova disso é a


quantidade enorme de seriados e filmes que elegem o crime como tema central de suas
histórias.

Scott Bonn, professor de criminologia na Drew University e autor do livro Why We Love
Serial Killers (Porque Amamos Assassinos em Série, em tradução livre) detalha em um
artigo publicado na revista Time: “As pessoas recebem uma ‘descarga’ de adrenalina
como uma recompensa ao testemunhar ações terríveis. A adrenalina é um hormônio que
produz um efeito poderoso, estimulante e até viciante no cérebro.”

Parte da nossa história e objeto da curiosidade humana, a criminologia ganha contornos


científicos e passa a ser uma ciência importante na tomada de decisões de uma sociedade.

Criminologia é um nome genérico designado a um grupo de temas estreitamente ligados:


o estudo e a explicação da infração legal; os meios formais e informais de que a sociedade
se utiliza para lidar com o crime e com os atos desviantes; A natureza das posturas que as
vítimas desses crimes serão atendidas pela sociedade; e, por derradeiro, o enfoque sobre
o autor desses atos desviantes.

Muitos, ainda hoje, escrevem sobre criminologia sob uma perspectiva médica, analisam
o comportamento antissocial como anormalidades da personalidade, constituídas ou
adquiridas. Estes são minoria, pois os profissionais da área médica devem limitar suas
observações aos infratores que sofrem distúrbios com sintomas inequívocos.

Portanto, apesar de citar os diferentes enfoques das correntes criminológicas, vamos nos
ater a análise da criminologia sob uma visão macrocriminal, sob um enfoque das ciências
sociais.

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Antes de analisarmos o conceito da criminologia, convém fazer uma observação
importante: a análise da criminologia esbarra nas diferentes perspectivas existentes nas
ciências humanas. Definir criminologia sob a perspectiva crítica é algo totalmente
diferente do que definir a mesma criminologia sob a perspectiva do positivismo.

Segundo Hilário Veiga de Carvalho, o objeto da criminologia é o estudo da criminalidade,


ou seja, do crime e do criminoso. Objeto também utilizado pelo direito penal e pela
política criminal, o que leva a alguns autores como Ernst Seelig a afirmar que a
criminologia ainda não é uma ciência autônoma perfeitamente constituída.

Para Sergio Salomão Shecaira a criminologia não é uma ciência, uma vez que não tem
objeto de estudo e teorias próprios, sendo, na verdade, um campo de conhecimentos
interligados (interdisciplinaridade), transitando pela sociologia, histórica, psicanálise,
antropologia e filosofia, todos focados no fenômeno criminal – é um arquipélago do saber.

OBS: Majoritariamente no Brasil, a criminologia é considerada uma ciência


autônoma e interdisciplinar, que possui objeto própria analisado sob uma
perspectiva particular.

CONCEITO

O crime foi sempre um motivo de atenção do meio social.

As sociedades sempre buscaram meios de atribuir marcas identificatórias aos criminosos,


usando, conforme os regimes e épocas, diversas mutilações, desde a extração dos dentes
até a amputação sistemática de órgãos: nariz, orelha, mãos, língua etc. No Antigo Regime,
na França, a marca feita com ferro em brasa constituía o traço infamante do crime, como
é ilustrado em Os três mosqueteiros, de Alexandre Dumas, pelo personagem da Senhora
de Winter. Entre os puritanos da Nova Inglaterra, o “A” de adultério era costurado na
roupa das mulheres, como é testemunhado pelo célebre romance de Nathaniel Hawthor-
ne (1804-1864), A letra escarlate.

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Etimologicamente, Criminologia deriva do latim crimen (crime, delito) e do grego logo
(tratado). Foi o antropólogo francês, Paul Topinard (1830-1911), o primeiro a utilizar este
termo no ano de 1879. Todavia, o termo só passou a ser aceito internacionalmente com a
publicação da obra Criminologia, já no ano de 1885, de Raffaele Garofalo (1851-1934).

Destarte, a Criminologia é a ciência empírica e interdisciplinar que tem por objeto o


crime, o delinquente, a vítima e o controle social do comportamento delitivo; e que
aporta uma informação válida, contrastada e confiável, sobre a gênese, dinâmica e
variáveis do crime - contemplado este como fenômeno individual e como problema
social, comunitário assim como sua prevenção eficaz, as formas e estratégias de reação
ao mesmo e as técnicas de intervenção positiva no infrator.

A criminologia é uma ciência do “ser”, empírica, na medida em que seu objeto (crime,
criminoso, vítima e controle social) é visível no mundo real e não no mundo dos valores,
como ocorre com o direito, que é uma ciência do “dever-ser”, portanto, normativa e
valorativa.

O domínio do saber criminológico possibilita um conhecimento efetivo mais próximo da


realidade que o cerca, concedendo acesso a dados e estudos que demonstram o
funcionamento correto ou não da aplicação da lei penal. Com a utilização correta da
Criminologia, por exemplo, o promotor de justiça criminal passa a gozar de uma
amadurecida relação entre a teoria e a prática. Esse saber criminológico (científico)
contrapõe-se ao saber popular, ainda muito arraigado na mente de agentes que atuam no
controle do crime, em especial, um grande número de agentes policiais.

O estudo científico do delito também inclui a sua medida e extensão, isto é, quantos
delitos são cometidos em certo período de tempo em dada unidade espacial, podendo ser
um país, uma região ou bairro. Naturalmente, a medida pode se referir também a tipos
concretos de delitos. Também se ocupa de estudar as tendências dos delitos ao longo do
tempo, por exemplo, se aumenta ou diminui; da comparação entre diferentes países,
comunidades ou outras entidades; ou de estudar se o delito se concentra em certos lugares,
momentos ou grupo de pessoas.

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Nesse sentido, toda cautela deve ser adotada quando os agentes públicos analisam a
variação da criminalidade em uma cidade em um período muito curto, forçando
inferências de queda de criminalidade, que não se sustentam sem uma análise mais
prudente por parte da Criminologia.

O saber comum ou popular está ligado estreitamente a experiências práticas,


generalizadas a partir de algum caso; nesse sentido, poder-se-ia atribuir-lhe uma
metodologia empírico-indutiva, que, como logo veremos, predomina nas ciências sociais.

Não obstante, o saber comum se produz pela convivência social, na qual se insta- lam
tabus, superstições, mitos e preconceitos, isto é, verdades estabelecidas que condicionam
fortemente a vida social pela pura convicção cultural do grupo.

E nesse sentido que (Conde, Winfried Hassemer; Francisco Munoz, 2001) ensinam que
para evitar a cegueira diante da realidade que muitas vezes tem a regulação jurídica, o
saber normativo, ou seja, o jurídico, deve ir sempre acompanhado, apoiado e ilustrado
pelo saber empírico, isto é, pelo conhecimento da realidade que brindam a Sociologia, a
Economia, a Psicologia, a Antropologia, ou qualquer outra ciência de caráter não-jurídico
que se ocupe de estudar a realidade do comportamento humano na sociedade.

Nesse contexto, não devemos nos esquecer do papel cada vez mais destinado à vítima
criminal, assunto muito estudado pela Vitimologia e pela Criminologia, mas ainda
abordado de forma tímida e precária na seara jurídico-penal.

CARACTERÍSTICAS

A criminologia possui como principais características o empirismo e a


interdisciplinaridade.

A criminologia é uma ciência do “ser”, empírica, na medida em que seu objeto (crime,
criminoso, vítima e controle social) é visível no mundo real e não no mundo dos valores,

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como ocorre com o direito, que é uma ciência do “dever-ser”, portanto, normativa e
valorativa.

A interdisciplinaridade da criminologia decorre de sua própria consolidação histórica


como ciência dotada de autonomia, à vista da influência profunda de diversas outras
ciências, tais como a sociologia, a psicologia, o direito, a medicina legal etc.

Embora exista um consenso entre os criminólogos de que a criminologia ocupe uma


instância superior, esta não se dá de forma piramidal, pois não existe preferência por
nenhum saber parcial, conforme se vê no esquema a seguir:

Para (Luiz Flávio Gomes; Antônio Garcia-Pablos de Molina, 2008) as características


da moderna criminologia são:

1. O crime deve ser analisado como um problema com sua face humana e dolorosa.
2. Aumenta o espectro de ação da criminologia, para alcançar também a vítima e as
instâncias de controle social.
3. Acentua a necessidade de prevenção, em contraposição à ideia de repressão dos
modelos tradicionais.
4. Substitui o conceito de “tratamento” (conotação clínica e individual) por
“intervenção” (noção mais dinâmica, complexa, pluridimensional e próxima da
realidade social).
5. Empresta destaque aos modelos de reação social ao delito como um dos objetos
da criminologia.
6. Não afasta a análise etiológica do delito (desvio primário).

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OBJETO

Objeto de estudo da criminologia é delito, o delinquente, a vítima e o controle social


do delito. Cada um desses objetos recebe um conceito próprio.

O delito, para o direito penal, é considerado como ação ou omissão típica, ilícita e
culpável – conceito que tem como base o juízo de subsunção de um fato individualmente
considerado perante a norma.

Para a criminologia, contudo, interessa o delito do ponto de vista coletivo, quer dizer,
como um fenômeno comunitário, questionando os parâmetros (“critérios”) para a
sociedade estabelecer que determinada conduta mereça ser taxada como criminosa.

Segundo Sérgio Salomão Shecaira os critérios são:

1. Incidência massiva na população (a conduta rejeitada não é fato isolado);


2. Incidência aflitiva do fato (a conduta rejeitada tem relevância social);
3. Persistência espaço-temporal do fato;
4. Inequívoco consenso a respeito de que a criminalização do fato é o meio mais
eficaz para repressão da conduta.

O autor afirma ainda, que esses são elementos básicos para uma sociedade criminalizar
uma conduta, sendo que toda a legislação criminal e suas eventuais reformas deveriam
estar assentadas nessas premissas.

Já o conceito de criminoso pode ser dividido em perspectivas: para os clássicos,


criminoso é uma pessoa que optou cometer o delito, embora pudesse e devesse obedecer
a lei – tudo com base na ideia do livre arbítrio, e de que o mal causado pelo criminoso
deveria ser punido de forma proporcional (equivalência entre crime e pena); para os
autores positivista, o criminoso, na verdade, é “um prisioneiro de sua própria patologia
(determinismo biológico), ou de processos causais alheios (determinismo social)”,
considerando a noção de livre arbítrio uma ilusão, de modo que a consequência jurídica

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do crime pode estar mais associada à cura, restabelecimento ou contenção do indivíduo,
mas não necessariamente à uma punição proporcional (medida de segurança), embora
houvesse também positivistas que defendem-se a aplicação da pena proporcional; para a
visão correlacionista, o criminoso é um ser inferior, deficiente, incapaz de dirigir por si
mesmo a sua vida, de modo que é uma pessoa que precisa ser tutelada pelo Estado, e este
deveria adotar uma postura pedagógica e piedosa; para a visão marxista, criminoso é um
mera vítima da superestrutura econômica em que se estabelece a sociedade capitalista
(determinismo social e econômico).

O conceito de vítima é a pessoa que sofre diretamente a ofensa ou ameaça ao bem tutelado
pelo Direito.

É preciso observa que o modo como a vítima foi encarada pelos estudos penais variam:

a) 1ª fase: “idade de ouro”, que vai desde os primórdios da civilização até o


fim da alta idade média, período em que se destaca a autotutela e composição;
b) 2ª fase: neutralização do poder da vítima, uma vez que as consequências
jurídicas do ato delituoso passam a ser da responsabilidade dos poderes
públicos, os quais “esquecem” da vítima – tendo como marco histórico inicial
a publicação do Código Penal francês;
c) 3ª fase: revalorização da vítima, tendo como marco o fim da 2ª Guerra
Mundial, após a qual aparecem os primeiros estudos sobre vitimologia, com
destaque aos realizados por Benjamim Mendelsohn e Hans von Henting.

Sobre a importância deste estudo, vale colacionar o seguinte trecho do livro de Sérgio
Salomão Shecaira:

[..] A particularidade essencial da vitimologia reside em questionar a


aparente simplicidade em relação à vítima e mostrar, ao mesmo tempo, que
o estudo da vítima é complexo, seja na esfera do indivíduo, seja na inter-
relação existente entre autor e vítima. Os estudos vitimológicos são muitos
importantes, pois permitem o exame do papel desempenhado pelas vítimas
no desencadeamento do fato criminal. Ademais, propiciam estudar a
problemática da assistência jurídica, moral, psicológica e terapêutica,
especialmente naqueles casos em que há violência ou grave ameaça à pessoa,

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crimes que deixam marcas e causam traumas, eventualmente até tomando as
medidas necessárias a permitir que tais vítimas sejam indenizadas por
programas estatais, como ocorre em inúmeros países (México, Nova
Zelândia, Áustria, Finlândia e alguns Estados americanos). De outra parte,
os estudos vitimológicos permitem estudar a criminalidade real, mediante
informes facilitados pelas vítimas de delitos não averiguados (cifra negra da
criminalidade)

Por fim, chegamos ao controle social do delito, o qual é definido como “o conjunto de
mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos modelos e normas
comunitárias”, e é dividido em duas espécies: controle social informal e controle social
formal.

O Controle/Agente Sociais INFORMAIS é operado no meio da sociedade civil através


da família, escola, ambiente de trabalho e demais espaços de convivência, além da própria
opinião pública – estes elementos agem de formam mais sutil, por meio da educação e
socialização do indivíduo, acompanhando-o em toda sua existência.

Esse controle tem maior influência em sociedades menos complexas, onde os laços
comunitários são fortalecidos pela proximidade, pelo cotidiano, pelo compartilhamento
de ideais e valores comunitários (exemplo disso seria um espírito de amizade e vizinhança
nas comunidades rurais). Já nas sociedades mais complexas, onde o outro é
desconhecido, e as oportunidades são transitórias, esses laços não teriam efetiva
oportunidade de serem formados (ex.: anonimato urbano), de modo que o controle
informal é menos presente, o que deixa grande margem de manobra para controle social
formal.

“Quando as instâncias informais de controle social falham ou são ausentes, entram em


ação as agências de controle formais” (Shecaira, 2014), sendo estas marcadas pela
formalismo e coerção, que dizer, uso organizado (racional) da força, operando através das
polícias, do Ministério Público, do Poder Judiciário e da Administração Penitenciária, os
quais tem como norte a pena (repressão) como instrumento ordenador da conduta dos
indivíduos.

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Controle/Agentes sociais FORMAIS sendo estas marcadas pela formalismo e coerção,
que dizer, uso organizado (racional) da força, operando através das polícias, do Ministério
Público, do Poder Judiciário e da Administração Penitenciária, os quais tem como norte
a pena (repressão) como instrumento ordenador da conduta dos indivíduos.

MÉTODO E FINALIDADE

Segundo a doutrina majoritária, método é o meio pelo qual o raciocínio humano procura
desvendar um fato, referente à natureza, à sociedade e ao próprio homem. No campo da
criminologia, essa reflexão humana deve estar apoiada em bases científicas,
sistematizadas por experiências, comparadas e repetidas, visando buscar a realidade que
se quer alcançar.

A criminologia se utiliza dos métodos biológico e sociológico. Como ciência empírica e


experimental que é, a criminologia utiliza-se da metodologia experimental, naturalística
e indutiva para estudar o delinquente, não sendo suficiente, no entanto, para delimitar as
causas da criminalidade. Por consequência disso, busca auxílio dos métodos estatísticos,
históricos e sociológicos, além do biológico.

Vale citar a existência de métodos empíricos consagrados:

Estudos comparativos ou de cotejo de réplicas, chamados de diacrônicos e


sincrônicos: o diacrônico busca averiguar em que se difere (objetivo, elementos, técnicas
e conclusões) de estudos anteriores, tendo forte teor de histórico, podendo retratar uma
evolução do contexto estudado; o sincrônico busca averiguar em que se difere estudos
realizados em diversas localidades (outras cidades, outros países), o que pode viabilizar
um uma “sintonia fina” entre esses estudos.

Inquéritos sociais (social surveys), constituídos por realização de interrogatórios diretos


em número considerável de pessoas, colhendo-se repostas a respeito de dados
criminologicamente relevantes, o que resulta na formação de diagramas, e, dessa forma,

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no mapeamento da criminalidade, ferramenta extremamente útil à formação da políticas
e estratégias criminais.

Estudo biográfico de casos individuais (case studies), que é um estudo descritivo e


analítico de indivíduos e suas experiências na delinquência – é busca de porquês (causas)
pessoais do cometimento de delitos. Temos aqui um enfoque
microcriminal.

Observação participante, pesquisa que se opera mediante a inclusão do pesquisador


no local, no contexto em que realidade é examinada. Essa pesquisa pode ser realizada
da seguinte forma: viver em uma comunidade onde a criminalidade tem alta incidência;
trabalhar no seio da administração da justiça, penitenciária ou policial; passar pela
experiência de estar preso

Técnica de grupos de controle: comparação estatística entre dois grupos com algum
traço distintivo, objetivando obter conclusões a respeito da relevância dessa variável nos
indivíduos. Exemplo: acompanhar o grau de reincidência entre grupos condenados
criminais, tendo como traço distintivos a aplicação ou não da pena privativa de liberdade.

Observando em minúcias o delito, a criminologia usa, portanto, métodos científicos em


seus estudos.

Os fins básicos (por vezes confundidos com suas funções) da criminologia são
informar a sociedade e os poderes constituídos acerca do crime, do criminoso, da
vítima e dos mecanismos de controle social. Ainda: a luta contra a criminalidade
(controle e prevenção criminal).

A criminologia tem enfoque multidisciplinar, porque se relaciona com o direito penal,


com a biologia, a psiquiatria, a psicologia, a sociologia etc.

Em relação a análise do seu objeto em si, a criminologia moderna se baseia no método


empírico e interdisciplinar. Por isso, para conhecer bem o assunto de criminologia é

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necessário se aventurar em leituras pouco comuns aos bacharéis em direito e dominar
conceitos filosóficos, sociológicos, biológicos entre outros.

FUNÇÕES

A função prioritária da Criminologia, como ciência interdisciplinar e empírica, é aportar


um núcleo de conhecimentos mais seguros e contrastados com o crime, a pessoa do
delinquente, a vítima e o controle social.

A investigação criminológica, enquanto atividade científica, reduz ao máximo a intuição


e o subjetivismo, ao submeter o fenômeno criminal a uma análise rigorosa, com técnicas
adequadas e empíricas. Sua metodologia interdisciplinar permite coordenar os
conhecimentos obtidos setorialmente nos distintos campos de saber pelos respectivos
especialistas, eliminando contradições e completando as inevitáveis lacunas. Oferece,
pois, um diagnóstico qualificado e de conjunto do fato criminal mais confiável.

CLASSIFICAÇÃO DA CRIMINOLOGIA: CRIMINOLOGIA GERAL


(MACROCRIMINOLOGIA) E CRIMINOLOGIA CLÍNICA
(MICROCRIMINOLOGIA).

A classificação é uma disposição de coisas segundo dada ordem (classes) para melhor
compreensão de todas elas. Já se disse que a criminologia se ocupa de pesquisar os fatores
físicos, sociais, psicológicos que inspiram o criminoso, a evolução do delito, as relações
da vítima com o fato e as instâncias de controle social, abrangendo sinteticamente
diversas disciplinas criminais, como a antropologia criminal, a biologia criminal, a
sociologia criminal, a política criminal etc.

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A doutrina dominante entende que a criminologia é uma ciência aplicada que se subdivide
em dois ramos: criminologia geral e criminologia clínica.

A criminologia geral (Macrocriminologia) consiste na sistematização, comparação e


classificação dos resultados obtidos no âmbito das ciências criminais acerca do crime,
criminoso, vítima, controle social e criminalidade.

A criminologia clínica (Microcriminologia) consiste na aplicação dos conhecimentos


teóricos daquela para o tratamento dos criminosos. A análise é voltada ao indivíduo.

CIFRAS NA CRIMINOLOGIA

A expressão cifra, segundo os estudiosos e nas doutrinas mais aceitas, nasceu através do
sociólogo EDWIN SUTHERLAND – a partir da Teoria da Associação Diferencial, na
qual enfatizava alguns “crimes ocultos”, através da expressão cifra negra (genitora de
todas as outras cifras) e seus subtipos.

Assim, um dos métodos utilizados para estudar o fato e os crimes, é por intermédio da
ESTATÍSTICA, chamada de ESTATÍSTICA CRIMINAL, podendo e possibilitando
conhecer o liame causal (conduta/o que liga) entre os fatores da criminalidade e os ilícitos
criminais praticados.

No entanto, é preciso ter cuidado ao analisar as estatísticas criminais oficiais, na medida


em que há uma quantia significativa de delitos não comunicados ao Poder Público,
quer por inércia ou desinteresse das vítimas, quer por outras causas, dentre as quais os
erros de coleta e a manipulação de dados pelo Estado.

Portanto, temos 3 pontos IMPORTANTES: CRIMINALIDADE REAL;


CRIMINALIDADE REVELADA e a CIFRA NEGRA (ou CIFRA CRIMINAL)

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CIFRA NEGRA

São os casos que não chegam ao conhecimento das autoridades públicas, demonstrando
que os níveis de criminalidade são maiores do que aqueles oficialmente registrados.
EX: Crimes sexuais (a própria vítima fica com vergonha); ameaça; calúnia,
difamação e/ou injúria; briga entre vizinhos, etc...

CIFRA DOURADA

Trata-se dos delitos cometidos pelos poderosos que ficam impunes. Quando alguém dos
altos estratos sociais comete um crime contra o sistema financeiro ou um crime tributário,
por exemplo, é possível que fique sem punição porque o sistema penal é desenhado para
selecionar a criminalidade de rua ou até cometida por pessoas das classes mais baixas da
sociedade. Aos crimes do colarinho branco (crimes dos poderosos) que permanecem
desconhecidos ou em relação aos quais há uma indulgência do sistema persecutório penal,
dá-se o nome cifra dourada.

CIFRA CINZA

Trata-se dos crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém, que não
chegam a virar um processo penal. São casos, por exemplo, solucionados pelos próprios
policiais em sua atividade rotineira; ou na própria delegacia de polícia; ou com a renúncia
da vítima ao direito de queixa ou representação. A cifra cinza demonstra que as polícias
têm papel conciliador de conflitos e, nesse aspecto, dotada de muito poder, pois
exerce suas competências de tratar o fenômeno delitivo longe da supervisão direta das
instâncias que seriam as intervenientes subsequentes do sistema de persecução, como
ministério público, defensoria pública, poder judiciário.

Ex: Lei 9.099/05 (Lei dos Juizados Especiais) – Composição dos Danos civis

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CIFRA AMARELA

São aquelas em que as vítimas são pessoas que sofreram alguma forma de violência
cometida por um funcionário público e deixam de denunciar o fato aos órgãos
responsáveis por receio ou medo de represália.

Ex: Concussão (funcionário exige propina/vantagem indevida ao particular)


Ex: abuso de autoridade (agride; tortura).

OBS: Crime praticado por funcionário público, que não seja colarinho branco (cifra
amarela); Elites/Colarinho Branco (cifra dourada)

CIFRA VERDE

Consiste nos crimes que não chegam ao conhecimento policial e que a vítima diretamente
destes é o meio ambiente.

CIFRA ROSA

Crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento do Estado.

TEORIA DO CONSENSO E DO CONFLITO

Nesta parte do estudo da criminologia, há uma análise do delito segundo a visão da


sociedade como um todo.

Assim, o pensamento criminológico moderno é influenciado por 2 visões:

• TEORIA DO CONSENSO → cunho funcionalista, denominada teoria de


integração.

• TEORIA DO CONFLITO → Cunho argumentativo.

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TEORIA DO CONSENSO

Quando falamos de Teoria do Consenso, está ligada à movimentos conservadores e


ligados à movimentos políticos de direita.

A sociedade funciona como uma máquina, onde cada instituição, órgão, pessoa, parte da
sociedade, funciona com uma engrenagem. Assim, se cada um está cumprindo o seu
papel, a máquina está girando e, está tudo bem. Entretanto, à partir do momento que um
membro, instituição, órgão ou qualquer parte desse corpo social infringe um regra, comete
um ilicitude, estamos diante, portanto, de um crime e, portanto vamos para tudo e
resolver.

Assim, a teoria do consenso parte do pressuposto de que se todo mundo buscar o bem
comum, está tudo certo.

Deste modo, quando falamos de Teoria do Consenso, está ligada à movimentos


conservadores e ligados à movimentos políticos de direita, porque ela busca a
responsabilização pessoal e racional do delinquente, pois, se o sujeito que é uma
engrenagem da sociedade, se ele decidiu infringir uma regra... ELE É O ERRADO; ele é
a engrenagem que falhou – merecendo assim, um estudo para saber o porquê fez isso e,
ele merecerá a retribuição do mau causado.

Na teoria do Consenso temos os seguintes estudos: Escola de Chicago; Teoria da


Associação Diferencial; Teoria da Anomia; Teoria da Desorganização Social (Não
estudaremos); Teoria da Subcultura Delinquente e Teoria da Neutralização (não
estudaremos). Vejamos:

1- ESCOLA DE CHICAGO

Umas das principais Teorias Sociológicas da Criminalidade, a Escola de Chicago se


tornou de fundamental importância para o estudo da criminalidade urbana. As teorias
estabelecidas por seus seguidores – sociólogos durante aquele período influenciaram

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estudos urbanos sobre o crime, mais tarde seriam conduzidos nos Estados Unidos e
Inglaterra.

Sua atuação foi marcada pelo pragmatismo, e, dentre outras inovações que preconizou,
destacam-se o método da observação participante e o conceito de ecologia humana.

O ponto de estudo da Escola de Chicago são as cidades, e mais precisamente as áreas de


delinquência, que diz respeito aos guetos, bairros mais pobres, onde percebem que há
uma degeneração física e moral das pessoas.

Com o crescimento desenfreados dos centros urbanos e da economia, começou-se a


enfraquecer aquilo que a Criminologia chama de agentes de controle social informal
(amizades, vizinhança, família). As pessoas começaram a perderem aquele sentimento
com o próximo, dando lado para as individualidades, perdendo-se assim, os freios para a
criminalidade.

Assim, as casas não são pintadas, há lixo nas ruas, um ambiente em degradação, de modo
que também seus habitantes jogam lixo nas ruas, falam palavrões, vivem de forma imoral,
refletindo-se assim, no aumento da criminalidade.

A Escola de Chicago eleva a cidade à condição de fator criminógeno.

As principais teorias da Escola de Chicago são:

✓ Teoria Ecológica: A teoria ecológica explica o efeito criminógeno da


grande cidade, valendo-se dos conceitos de desorganização e contágio
inerentes aos modernos núcleos urbanos.

✓ Teoria Espacial: trata da reestruturação arquitetônica e urbanística


das grandes cidades como medida preventiva da criminalidade.

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✓ Teoria da Janelas Quebradas: Experimento realizado em 1969 por Philip Zimbardo,
psicólogo da Universidade de Stanford:

Para o experimento, foram utilizados dois locais, um bairro de classe pobre (Bronx em Nova Iorque) e outro
considerado de alto padrão (Palo Alto na Califórnia).

Em ambos, colocaram um veículo com a tampa do motor aberta. Em pouco tempo, o veículo foi
completamente depredado no Bronx por vândalos, enquanto que em Palo Alto o veículo permaneceu intacto.

Antes que alguns concluíssem de forma limitada e precipitada que a criminalidade estava vinculada apenas à
classe social de cada região, Zimbardo quebrou uma das janelas do veículo até então preservado que havia
estacionado em Palo Alto.

Com isso, poucas horas após a janela ter sido quebrada, o veículo foi completamente destruído por pessoas
que por ali passavam.

✓ Teoria da Tolerância Zero: baseada em decisões desprovidas de


discricionariedade por parte das autoridades policiais de uma
organização, as quais agem, seguindo padrões predeterminados.

✓ Teoria dos Testículos Quebrados: Para esta teoria a atuação policial


deve ser firme, com rigor, inflexível, até mesmo contra crimes
considerados leves ou de menor potencial ofensivo pois, aos policiais
pressionarem os criminosos com firmeza, farão com que estes últimos
fujam.

A Escola de Chicago valia-se das seguintes características

Método Empírico → Analisava cada caso; para depois perceber onde aconteciam os
crimes e sua particularidades/peculiaridades;
Apresentava finalidade pragmática → Não estudava para fins teóricos, mas tinha
finalidade de combater a criminalidade, ou seja, era um estudo prático;

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Utilizava Inquéritos Sociais → Estudos sociais (rendas; famílias; condições; se
pertenciam à alguma religião, etc..).

Com isso a proposta da escola de Chicago para redução ou prevenção da criminalidade


era:

- Mudança efetiva nas condições econômicas e sociais das crianças (longo prazo);
- Fortalecimentos dos mecanismos de controle social informal;
- Estado atuante especialmente sobre a pobreza e desemprego, visando a
desigualdade social.

2. TEORIA DA ASSOCIAÇÃO DIFERENCIAL

Parte da ideia segundo a qual o crime não pode ser definido simplesmente como disfunção
ou inadaptação das pessoas de classes menos favorecidas, não sendo ele exclusividade
dessas.

Encabeçada por Edwin Sutherland, representante mais conhecido dessa teoria e a quem
se atribui o nome teoria da associação diferencial propriamente dita.

Partindo dos preceitos de Chicago, Sutherland notabilizou-se por buscar uma explicação
para a criminalidade de colarinho branco.

Segundo ele, os conceitos de desorganização social, falta de controle social informal e


distribuição ecológica não seriam capazes de explicar a criminalidade dos poderosos, uma
vez que estes residiam nas melhores regiões da cidade e não tinham qualquer
desadaptação social ou cultural.

Sutherland propõe que a conduta criminosa não é algo anormal, não é sinal de uma
personalidade imatura, de um déficit de inteligência, antes é um comportamento
adquirido por meio do aprendizado que resulta da socialização num determinado meio
social.

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A teoria da associação diferencial entende que indivíduos, principalmente os mais jovens,
aprendem comportamentos delinquentes mediante convívio com outros indivíduos que já
são criminosos.

A ideia da teoria é: “SOMOS A MÉDIA DAS PESSOAS QUE MAIS VIVEMOS”

3. TEORIA DA ANOMIA / ESTRUTURAL-FUNCIONALISTA

Inovando as Teorias Sociológicas da Criminalidade, a Teoria da Anomia, desenvolvida


por Robert Merton, influenciado por Émile Durkheim, enfatiza que as causas das
condutas desviadas estão relacionadas ao estado de anomia, fruto de um processo de
desintegração social derivado do abandono das regras, em geral ocasionado pela falta de
valores e princípios.

Em essência, pretende descobrir as razões pelas quais, em alguns casos, as normas não
são eficazes para orientar o comportamento das pessoas.

De acordo com a teoria da anomia, o crime se origina da impossibilidade social do


indivíduo de atingir suas metas pessoais, o que o faz negar a norma imposta e criar suas
próprias regras, conforme o seu próprio interesse.

A teoria da Anomia considera que o crime é um fenômeno natural da vida em sociedade;


todavia, sua ocorrência deve ser tolerada, mediante estabelecimento de limites razoáveis,
sob pena de subverter a ordem pública, os valores cultuados pela sociedade e o sistema
normativo vigente.

Dito isso, Merton afirmar que, diante dessa tensão, existem 5 (cinco) tipos de
comportamentos/camadas:

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a) conformismo – comportamento de pessoa que se adequa aos objetivos e meios da
sociedade. Consiste na maioria da população, pois é ela que sustenta a estrutura cultural;

b) inovação – pessoa que adere aos objetivos culturalmente impostos (riqueza e poder),
mas que decide alcançá-los por meios ilícitos (meio inovadores). Este é o criminoso,
inclusive o do tipo do “colarinho branco”;

c) ritualismo – pessoa que se adequa aos meios, mas não aos objetivos da sociedade, pois
ela se vê incapaz de alcançá-los. Ela não conteste ou ignora os objetivos sociais, mas
segue compulsivamente as normas da sociedade;

d) evasão/retraimento – pessoa que renuncia os objetivos e as normas sociais. Ex.:


mendigos, viciados, ébrios habituais etc. São marcados pelo derrotismo, pela introspecção
e pela resignação, expressados por um afastamento da sociedade e suas regras;

e) rebelião – pessoa que contesta os valores e objetivos da sociedade, defendendo novas


metas e restruturação da social.

Anomia, portanto, significa a ausência de lei. A falta de normas que vinculam as pessoas
num contexto social.

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4. TEORIA DA SUBCULTURA DELINQUENTE

Desenvolvida por Marvin Wolfgang e Franco Ferracuti (1967). Esta teoria defende a
existência de uma subcultura da violência, que faz com que alguns grupos passem a
aceitar a violência como um modo normal de resolver os conflitos sociais.

Mais que isso, sustenta que algumas subculturas, na verdade, valorizam a violência, e,
assim como a sociedade dominante impõe sanções àqueles que deixam de cumprir as leis,
a subcultura violenta pune com o ostracismo, o desdém ou a indiferença os indivíduos
que não se adaptam aos padrões do grupo.

A ideia da subcultura delinquente foi consagrada na literatura criminológica pela obra


de Albert Cohen: Delinquent boys.

O conceito não é exclusivo da área criminal, sendo utilizado igualmente em outras esferas
do conhecimento, como na antropologia e na sociologia.

Trata-se de um conceito importante dentro das sociedades complexas e diferenciadas


existentes no mundo contemporâneo, caracterizado pela pluralidade de classes, grupos,
etnias e raças.

Os pressupostos da Teoria da Subcultura Delinquente são a ausência de utilitarismo da


ação, a malícia da conduta e seu respectivo negativismo.

Uma das principais críticas às teorias da subcultura delinquente é a de que ela não
consegue oferecer uma explicação generalizadora da criminalidade, havendo um apego
exclusivo a determinado tipo de criminalidade, sem que se tenha uma abordagem do todo.

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TEORIA DO CONFLITO

A teoria do conflito é totalmente o oposto à teoria do consenso, pois está ligada à


movimentos revolucionários e a movimentos de esquerda.

Em dado momento, quando há apenas um controle mínimo, eles entendem que até bom
o conflito social; que a briga entre pessoas, instituições e até crimes, é bom, pois eles
entendem que esses conflitos é que vai acarretar na evolução e progresso da sociedade,
entendendo que você tem que destruir um pouco para progredir.

Assim, eles entendem que não tem essa historinha de engrenagem. Eles entendem que o
poder está concentrado nas mãos de poucos e, esses poucos estão subjugando os muitos
ou a maioria, havendo assim, uma classe dominante e dominada.

Assim, essa minoria que detém o poder, para manter-se no poder está sempre subjugando
a maioria e, por conta dessas diferenças de interesses, acaba gerando conflitos e, assim,
eles entendem que esse conflito controlado ou não, podem ser positivos para evolução.

Temos aqui um viés marxista, ou seja, baseado Karl Marx, havendo 2 classificações:
Teorias do Conflito Marxista e Teoria do Conflito Não Marxistas – Destarte, quem faz
essa distinção é a doutrina, porém, para quem é a mais aprofundado sobre Karl Marx,
percebe que ambas classificações são baseadas nele.

Teorias do Conflito Marxista → A causa da Criminalidade estaria na luta de classes,


gerada pelo capitalismo. Sendo o capitalismo o vilão da sociedade.

Teorias do Conflito Não Marxistas → Relacionam a criminalidade com as tensões


geradas pela distribuição desigual de poder, ou seja, uma minoria tem grande poder e, a
maioria não tem poder nenhum, só é subjugada e deve sempre obedecer. Portanto, diante
desses poderes conflitantes, acabam gerando a criminalidade.
EX: Labelling approunch (etiquetamento ou rotualação) e Teoria Crítica Radical.

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TEORIA DO LABELLING APPROACH, ETIQUETAMENTO OU REAÇÃO
SOCIAL

Surgiu nos EUA em 1960, sendo sua premissa principal que a rotulação dos criminosos
cria um processo de estigma aos condenados, com caráter seletivo e discriminatório, uma
vez que a prisão possui uma função reprodutora: o indivíduo rotulado como criminoso
assume finalmente o papel que lhe é designado, sendo uma das mais importantes teorias
do conflito, tendo como principais expoentes Erving Goffman e Howard Becker.

Para esta teoria, a criminalidade se revela como um status atribuído a determinados


indivíduos mediante um duplo processo: a definição legal de crime que etiqueta e
estigmatiza.

Essa teoria considera que as questões centrais da teoria e da prática criminológicas não
se relacionam ao crime e ao delinquente, mas, particularmente, ao sistema de controle
adotado pelo Estado no campo preventivo, no campo normativo e na seleção dos meios
de reação à criminalidade.

Para a teoria da reação social, o delinquente é fruto de uma construção social, e a causa
dos delitos é a própria lei; segundo essa teoria, o próprio sistema e sua reação às condutas
desviantes, por meio do exercício de controle social, definem o que se entende por
criminalidade.

Essa Teoria também faz uma crítica ao sistema carcerário, no qual diz que, o sistema
é uma verdadeira escola do crime, defendendo, portanto, o desencarceramento.

Ademais, com base nessa teoria, inspirou a criação da Lei 9.099/95 – Lei do Juizado
Especial Criminal, no qual é uma Lei com diversos institutos despenalizadores, pois
trata de crimes de menor potencial ofensivo.

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TEORIA CRÍTICA, RADICAL OU “NOVA CRIMINOLOGIA”

A criminologia crítica estuda a criminalidade como criminalização, explicada por


processos seletivos de construção social do comportamento criminoso e de sujeitos
criminalizados, como forma de garantir as desigualdades sociais entre riqueza e poder,
das sociedades contemporâneas.

Para os críticos da criminologia “o homem é socialmente variável, malgrado sua


individualidade”.

A criminologia crítica tem como tese a afirmação de que o desvio nasce dos conflitos
socioeconômicos e que esses conflitos, por sua vez, maximizam os efeitos do
etiquetamento secundário.

Outrossim, a Justiça é classista, seletiva, tanto no direito quanto no sistema penal.

A Criminologia Crítica contempla uma concepção conflitual da sociedade e do Direito.

Logo, para a criminologia crítica, o conflito social é um conflito de classe sendo que o
sistema legal é um mero instrumento da classe dominante para oprimir a classe
trabalhadora.

Defende que o homem não teria o livre arbítrio, ou liberdade de escolha quando pratica
um determinado delito por encontra-se sujeito a um determinado sistema de produção.

Para a teoria crítica, a culpa será sempre do Capitalismo, isentando sempre o


delinquente/criminoso, uma vez que, a divisão de classes no sistema capitalista gera
desigualdades e violência a ser contida por meio da legislação penal.

Conclui que a norma penal surge como instrumento de controle social preconceituoso,
por recair apenas sobre a classe trabalhadores e menos favorecida, não sendo aplicada a
mesma forma às elites.

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