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 Período de Sociologia Criminal

 A Sociologia Criminal surgiu em meados


do século XIX e teve como influências,
no seu surgimento, as figuras de
Augusto Comte e Adolphe Quetelet.
 A Sociologia Criminal, no entanto, é
criação do Enrico Ferri, tendo essa
denominação aparecido pela primeira
vez no seu livro Nuovo Orizonti del
Diritto e della Procedura Penale.
 Para Ferri a Sociologia Criminal era
uma ciência que encamparia todas as
outras disciplinas criminalísticas,
inclusive o Direito Penal.
 Entre os fatores individuais, físicos e
sociais de criminalidade, propostos por
Ferri, a Escola Sociológica dá
preferência aos últimos.
 Compreende todas as doutrinas que se
ergueram para combater a teoria
lombrosiana, calcada nos fatores
endógenos como causadores de
criminalidade.
 Ao contrário as doutrinas sociais e do
meio ambiente sustentavam que os
fatores exógenos eram efetivamente os
mais importantes causadores do delito.
 Considera-se o 3º Congresso
Internacional de Antropologia Criminal
(Bruxelas 1892) como o inicio do
desequilíbrio a favor das teorias
sociológicas.
 Sem desmerecer a importância de seus
antecessores, foi com as obras de
Lacassagne, Tarde e Durkheim que a
sociologia criminal recebeu os
contornos que ainda hoje são
conhecidos.
Émile Durkheim, sociólogo francês
(1858-1917)

 A grande novidade do pensamento de


Durkheim é considerar o crime como um
fenómeno sociológico normal, sem nada
de patológico, já que é característica de
toda a sociedade humana, constituindo
até um sistema de equilíbrio estrutural de
cada cultura no seu tempo e no seu
espaço.
 A criminalidade deve ser analisada como
elemento da estrutura social.
 Assim, “contrariamente às ideias
correntes, o criminoso não aparece
como ser radicalmente insociável, como
uma sorte de elemento parasitário, um
corpo estranho e inassimilável
introduzido na sociedade; é antes um
agente regular da vida social…”
 Entende Durkheim que a anomia, como
enfraquecimento do papel das normas
sociais, tem papel preponderante na
explicação da conduta delinquente.
 A anomia é um estado de falta de
objetivos e perda de identidade,
provocado pelas intensas
transformações ocorrentes no mundo
social moderno.

 A ciência criminal, quando trata do delito
como fato individual, cai no campo da
Biologia ou da Antropologia Criminal, e
quando cuida do delito como fenómeno
social isso é do âmbito da Sociologia
Criminal.
 No estudo do delinquente, porém, não é
possível a separação dos fatores
exógenos daqueles de ordem individual.
 A interpenetração de ambos na gênese
do delito é incontestável, pois a
dinâmica da ação do ambiente é
incindível
 Assim, o objeto da Sociologia Criminal é
a delinquência como fenómeno social
ou de massa.
 Analisando o período sociológico
criminal, Drapkin explica que as
doutrinas sociais podem ser divididas
em três grupos:
 grupo das teorias antropossociais;
 grupo das teorias sociais propriamente
ditas;
 grupo das teorias socialistas.
Teorias antropossociais:

 As teorias antropossociais relacionam os


princípios constitucionais de Lombroso
com os sociais. Segundo os adeptos
destas doutrinas, o meio social influi
sobre o criminoso antropologicamente-
nato, predispondo-o a perpetrar delitos,
sem chegar, porém, a aceitar o
criminoso-nato, mas sim considerando a
possibilidade de existir o indivíduo
predisposto.
 Essas teorias são sustentadas por
Alexandre Lacassagne; Manouvrier;
Paul Aubry; Dubuisson.
Alexandre Lacassagne (1834-1924)

 Lacassagne, professor de Medicina


Legal em Lyon, remontando ao
"quetelismo", levantou-se contra o fator
constitucional de criminalidade proposto
por Lombroso, apresentando sua
doutrina sociológica em pequenas
publicações intituladas "Marché de la
Criminalité en France
 "Que assim como no cérebro existem três
zonas com funções diversas, que regem as
faculdades do indivíduo-zona frontal, as
intelectuais; zona parietal, as volitivas; zona
occipital, as afetivas -,que devem funcionar
harmonicamente no homem normal, assim
no individuo anormal existe um desequilíbrio
no funcionamento das referidas zonas, com
predominância de umas sobre outras, o que
provoca os consequentes transtornos
 Quando há perturbações: na zona frontal
aparece o louco; na zona parietal advém a
debilidade de vontade, que permite o
aparecimento do delinquente ocasional; na
zona occipital, quando as faculdades
afetivas ficam perturbadas, aparece o
verdadeiro delinquente, ou seja, o indivíduo
predisposto para o crime, que, quando as
condições do meio e seu próprio egoísmo o
impelem, virá a delinquir.
 Observação: quanto maior for a
desorganização social, maior será a
criminalidade, e quanto menor a
desorganização, menor será o número
de crimes. É dele a frase célebre "as
sociedades têm os criminosos que
merecem".
 Comparação: dizia que a sociedade é
como um meio de cultivo.
 E que a sociedade é um meio de cultivo
que abriga em seu seio uma série de
micróbios, que são os delinquentes, e
que estes não se desenvolverão se o
meio não lhes for propício.
 Resumindo, observa-se que, para
Lacassagne, os fatores sociais, atuando
sobre um indivíduo predisposto, é que
podem dar origem ao crime
Aubry (1858-1899)

 Dizia que o crime tinha por causa


principal o contágio moral, que sofria o
indivíduo predisposto, e citava, como
exemplo, a influência do cinema sobre
as crianças e certos adolescentes com
problemas mentais.
 Embasou sua doutrina, do contágio
moral, nos delitos de vitriolage e
depeçage (esquartejamento), que
estiveram em voga durante determinada
quadra na França
 Segundo é narrado por Aubry na obra
citada, que na França reinou em certo
tempo a epidemia do vitríolo, a que
recorriam as mulheres traídas pelos
amantes para os desfigurarem.
 Dubuisson, em vez do contágio moral,
no qual não acreditava, era partidário da
influência da ocasionalidade sobre o
indivíduo predisposto, ou seja, causas
sociais, que ocasionalmente,
fortuitamente, atuam sobre uma
preexistente predisposição individual,
determinando a sucessão delituosa.
Teorias sociais propriamente ditas

 Os autores das chamadas Teorias


Sociais Propriamente Ditas, atentando
para a etiologia da delituosidade,
relegaram os fatores endógenos,
ressaltando, ao revés, a relevância dos
fatores exógenos e, destes, dão
proeminência aos sociais.
 Entre os seguidores dessas teorias de
que o crime tem uma origem puramente
social, destacam-se Gabriel Tarde,
Vaccaro, Max Nordau e Auber
 Vaccaro declara que o crime é o resultado
da falta de adaptação político-social do
delinquente com relação à sociedade em
que vive.
 Feita a lei para defender os interesses das
classes sociais dominantes, o indivíduo
que não pode se adaptar a ela se revolta,
daí resultando a violação da lei, que é
justamente o que constitui o delito
 Tarde, procurando a origem e a
natureza do crime, achou que elas
estavam nas influências sociais, agindo
complexamente sobre o indivíduo
 Gabriel Tarde não aceitava o ponto de
vista de Ferri, sobre a tríplice causa
representada pelos fatores físicos, sociais
e biológicos, argumentando "não haver
razão para que elementos cósmicos
constituam uma classe à parte, porque
esses fatores por si mesmos não
aumentam a criminalidade e só atuam
ora como fatores orgânicos, ora como
sociais";
 Ademais, acrescenta, "a influência do
clima não está ainda provada como um
fator criminal, porque se num hemisfério
os crimes contra a pessoa aumentam
na estação quente, no outro sucede
justamente o inverso.
 Neste ponto, é inequívoca também a
contradita ao que Quetelet afirmara
anteriormente em suas "Leis Térmicas"
 Em Leis de imitação Tarde assegura
que a delinquência é um fenómeno
marcadamente social e que o motor ou
alavanca que ativa o conglomerado
social é a imitação.
 Em A .filosofia penal Tarde fala que a "identidade pessoal"
e "a semelhança social" são os postulados fundamentais
da responsabilidade penal.

 Do primeiro elemento, identidade pessoal, argumenta que


só pode ser responsabilizado por um crime quem antes,
durante e após o seu cometimento é o mesmo indivíduo,
ou seja, portador da mesma personalidade.

 Se alguém apresentar-se depois do delito sem guardar


semelhança com a personalidade anterior ao crime, não é
um indivíduo normal seria um alienado cuja
responsabilidade cairia por terra.
 Esse conceito serviu de pedra angular
para a fixação de circunstâncias
eximentes e atenuantes da
responsabilidade criminal que os
códigos reconhecem em favor dos
loucos e dos portadores de
personalidade psicopática,
respetivamente.
 Com relação à semelhança social, Tarde
defende que não pode ser
responsabilizado penalmente o indivíduo
que não tem relação com o grupo no
qual convive, como o inadaptado, que
traria consigo um instinto impulsivo
insopitável e que em virtude disso não se
une ao grupo, devendo, como tal, ser
alvo de medidas de caráter preventivo.
 Tarde rejeita a tese de Durkheim da
normalidade do crime.
 Sendo por definição um fenómeno
social, o crime é simultâneamente, um
fenómeno anti-social: e fundamenta
que, na mesma medida que um cancro
não deixa de condenar à morte um
organismo pelo fato de participar da sua
vida.
 Max Nordau diz que a causa
determinante do crime é o parasitismo
social, que tem por característica a
marginalização do indivíduo ao grupo, e,
assim, transformado em pária, ele em
nada contribui para com a sociedade,
quer no aspeto moral, quer no sentido
material. ·
 Auber sustenta que as causas que
levam o indivíduo a delinquir são as
fobias de que é portador, assim o temor
à pobreza levaria o homem à prática de
delitos contra o patrimônio e o medo o
levaria a matar.
 Teorias socialistas
 No século XIX, com a extinção do
feudalismo e em seguida à Revolução
Francesa, surgiu o capitalismo e com ele
os seus analistas e opositores e, entre
estes últimos, aqueles que ergueram a
bandeira de que o regime capitalista
estava a influenciar o aumento da
criminalidade. Colocava-se, no sistema
de produção, as razões do crescimento
da delituosidade.
 Para os partidários dessa doutrina, a
miséria e a pobreza influenciam nas
cifras crescentes do crime, e o sistema
económico em si seria, no entanto, o
fator preponderante.
 Havia a crença no desaparecimento ou
redução sistemática do crime depois de
instaurado o socialismo.
 Surgiram várias obras influenciadas
pelos ensinamentos de Marx e Engels,
encarando o crime nessa perspectiva.
 Principais defensores das teorias
socialistas, F. Turatti e N. Colajanni,
principalmente, e depois para Bataglia,
Loria, Lafargue, Bebel, W Bonger...
 FilippoTuratti (1857-1932) dizia que os
motivos da prática dos delitos não
devem ser monopolizados apenas na
necessidade ou precisão e na
indigência, mas também na cobiça que
o sistema económico imperante, ao seu
tempo, propiciava, pelo contraste
existente entre a riqueza e a pobreza.
 Com relação aos delitos contra a
propriedade, assinalava Turatti a
importância do influxo que têm as
circunstâncias materiais na mente
humana: a indigência a torna vil, ao
passo que a ignorância a faz grosseira,
companheiras inseparáveis que são da
cobiça, transformam-se todas em
poderosos fatores na etiologia dos crimes
contra a propriedade.
 Turatti dizia residir na cobiça e na
promiscuidade a essência do regime
capitalista. Tendo nascido em 1857 na
Itália, Turatti morreu na França em
1932, para onde havia sido exilado pelo
fascismo.
 Napoleone Colajanni (1874-1921):
segue mais ou menos as ideias de
Turatti.
 Alicerçado nas teorias socialistas,
preocupou-se em analisar qual o
sistema económico ideal na prevenção
à criminalidade, visando, por
consequência, a diminuição da prática
de delitos em seu país (Itália).
 Ultimados seus estudos, Colajanni
argumentava que tão somente um
sistema económico baseado em uma
distribuição da riqueza mais equitativa
e, por isso, mais justa, aliado a um
máximo de estabilidade do próprio
regime, possibilitaria a exclusão ou
eliminação da criminalidade.
 Bataglia, Lafargue e Bebel apontaram
também os efeitos nefastos da má
distribuição de riquezas, como vício
económico da sociedade capitalista que,
assegurando privilégios a alguns,
condena muitos outros à miséria, à fome,
à revolta, à violência e ao crime. Do
mesmo parecer é Beguim, que dizia que
60% ou mais dos crimes têm origem
econômica.
 Willen Bonger (1876-1940):
 parte da representação do capitalismo
como sistema virado para a obtenção
do lucro e a competição, propício ao
exacerbamento do egoísmo e hostil ao
florescimento dos sentimentos de
altruísmo e solidariedade.
 O capitalismo tornaria os homens mais
individualistas e “mais propensos à
prática do crime.
 Tanto as colocações de Turatti quanto as de Colajanni, e
dos demais socialistas enumerados, pecam pela
unilateralidade dos respectivos enfoques, pelo que não
podem ser aceitas, malgrado, sob certo aspecto,
apresentem algo de verdadeiro.
 Mas como explicar somente pelas influências
económicas a prática de crimes, se, entre outras
determinantes inequívocas, eles têm a seu redor as
inafastáveis causas individuais; e se, outrossim, existem
fatores económicos ponderáveis, é incontestável que as
hipóteses sociais, como um todo, têm e continuarão
tendo bem maior importância na explicação da gênese
do crime

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