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Disciplina: Legislação Especial Esquematizada

Tema: Nova Lei de Abuso de Autoridade


Lei nº 13.869/2019

Prof. Diego Pureza

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Lei nº 13.869/2019

LEI nº 13.869/2019
NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE ESQUEMATIZADA

Disposições Gerais

INTRODUÇÃO

Antes da nova lei de abuso de autoridade, a lei até então em vigor havia sido
promulgada em 1965, ou seja, trava-se de legislação antiga e, como qualquer lei penal com
décadas de idade atrás da Constituição Federal de 1988, era facilmente apontar em seu corpo
pontos frágeis merecedores de reformas contundentes.
Crimes de abuso de autoridade merecem maior reprovação. Isso porque estamos
diante de, no mínimo, dupla violação: bens jurídicos das vítimas diretas, bem como a
moralidade, probidade, dentre outros princípios caríssimos que norteiam a Administração
Pública.
Todavia, não podemos deixar de avaliar o contexto histórico e político com que foi
apresentada a Lei nº 13.869/2019 pelo Congresso Nacional. Muitos parlamentares que atuaram
direta e indiretamente na construção dessa lei não fizeram nem mesmo questão de disfarçar o
sentimento de revanchismo contra autoridades públicas, em especial àquelas que atuam
diretamente no combate e prevenção à corrupção, redundando na presente lei geradora de
censuras, diversas controvérsias na comunidade jurídica e sentimento de revolta na população
em geral.
Diante da complexidade, analisaremos ponto a ponto em detalhes, sem perder,
todavia, a objetividade e clareza necessárias para o estudo voltado ao mundo dos concursos
públicos.

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º. Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente
público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-
las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade
quando praticadas pelo agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
pessoal.

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§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não


configura abuso de autoridade.

DISPOSIÇÕES GERAIS:

O “caput” antecipa a ideia de que os crimes previstos nesta lei podem ser praticados
por agentes públicos, servidores ou não, tema que trabalharemos em tópico próprio.
Já o §1º, ao exigir “finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo
ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal” como ânimo do agente na
prática do crime de abuso de autoridade, deixa claro que nesta lei não há crimes culposos, bem
como afasta-se a possibilidade até mesmo de figuras motivadas por dolo eventual.
Podemos concluir que eventual conduta culposa praticada pelo agente público poderá
ser caracterizador de, no máximo, ilícitos civil e/ou administrativo, afastando-se, portanto, o
ocorrência de crime.
Ademais, no caso concreto, esse especial fim de agir deverá constar na peça acusatória
(denúncia) sob pena de tornar-se inepta e, portanto, ser passível de rejeição (art. 395, inciso I,
do Código de Processo Penal).
Por fim, o §2º é de fundamental compreensão. A ideia foi evitar que a presente lei seja
instrumento de perseguição de autoridades e agentes públicos indiscriminadamente. Evita-se a
acusação de agentes públicos apenas com base em juízos de valores em casos concretos
divergentes com outros posicionamentos.
A título de exemplo, imagine a hipótese de um juiz decretar a prisão preventiva de um
suspeito pelo fato deste ter feito ameaças indiretas às testemunhas do processo. Impetrado
habeas corpus, o Tribunal apresenta decisão em sentido contrário ao entender que não houve
ameaças, e sim conversas alheias ao conteúdo dos autos. O que de fato houve no exemplo citado
foram divergências entre o Juiz e o Tribunal ao analisarem as evidências das conversas entre o
acusado e as testemunhas. Mesmo havendo decisão do Tribunal em sentido contrário ao juiz
que decretou a prisão, este último não poderá ser acusado por crime de abuso de autoridade,
diante da mera divergência na análise de indícios de ameaças.
Perceba que a mera divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e
provas termina por afastar o dolo específico do agente público em eventual prática de crime
de abuso de autoridade, ou seja, trata-se de causa excludente do fato típico.

CAPÍTULO II

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DOS SUJEITOS DO CRIME


Art. 2º. É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público,
servidor ou não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território,
compreendendo, mas não se limitando a:
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - membros do Poder Judiciário;
V - membros do Ministério Público;
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição,
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos
pelo caput deste artigo.

Apesar da redação extensa acima, fica claro, por meio da expressão “mas não se
limitando a”, que o art. 2º da presente lei repete, em outras palavras, o teor do art. 327 do
Código Penal (conceito de funcionário público para fins penais). Isso fica ainda mais claro com a
redação do parágrafo único.
Os incisos acima representam mero rol exemplificativo.

CAPÍTULO III
DA AÇÃO PENAL
Art. 3º. Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia
substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova,
interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante, retomar a
ação como parte principal.
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado
da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia.

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Dispositivo completamente inútil para ser inserido em lei especial, isso porque reflete
exatamente a regra já estampada na Constituição Federal, Código Penal e Código de Processo
Penal, com a regra de que os crimes aqui previstos serão perseguidos mediante ação penal
pública incondicionada e, em caso de inércia do órgão acusador, a previsão de exceção
constitucional, qual seja a ação penal privada subsidiária da pública.

CAPÍTULO IV
DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO E DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS
Seção I
Dos Efeitos da Condenação
Art. 4º. São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz,
a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos
danos causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos;
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período
de 1 (um) a 5 (cinco) anos;
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são
condicionados à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não
são automáticos, devendo ser declarados motivadamente na sentença.

A nova lei trouxe três efeitos não automáticos da condenação por crime de abuso de
autoridade.
CUIDADO! É preciso destacarmos os requisitos de cada efeito, evitando confusões e
distorções em questões de concursos públicos.

Obrigação de indenizar a Inabilitação para o exercício Perda do cargo, mandato ou


vítima de cargo, mandato ou função
função
Depende de requerimento da Só se aplicam aos reincidentes específicos, ou seja, àqueles
vítima que já foram condenados, com sentença transitada em
julgado, por crime de abuso de autoridade.

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O juiz fixará valor mínimo, Mesmo cumprindo o requisito acima (reincidência


podendo tal valor ser específica), deverá o juiz motivar a sua decisão demonstrando
rediscutido em ação civil que tais medidas se fazem necessárias no caso concreto.
própria.
Efeito permanente, sedo Duração de 1 a 5 anos Efeito permanente
apenas o valor discutível

Seção II
Das Penas Restritivas de Direitos
Art. 5º. As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade
previstas nesta Lei são:
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um)
a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens;
III - (VETADO).
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou
cumulativamente.

Na atual ordem jurídico-penal vigente no Brasil, a pena privativa de liberdade (cárcere)


já não é mais a regra, tratando-se de medida excepcional. Busca-se penas alternativas, evitando-
se os estigmas e problemas decorrentes do sistema prisional.
Os requisitos para a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de
direito estão previstos no artigo 44 do Código Penal, valendo citá-lo:
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas
de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não
for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do
condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa
substituição seja suficiente.

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Ao final, atenção para o fato de que as duas penas restritivas de direitos previstas nesta
lei podem ser aplicadas de forma autônoma ou cumulativas, dependendo sempre de motivação
judicial na decisão.

CAPÍTULO V
DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA

Art. 6º. As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente das
sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis.
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta
funcional serão informadas à autoridade competente com vistas à apuração.
Art. 7º. As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal,
não se podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando
essas questões tenham sido decididas no juízo criminal.
Art. 8º. Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar,
a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade,
em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular
de direito.

Temos alguns avanços relativamente às sanções de natureza criminal, cível e


administrativa, com correções que geravam indisfarçáveis discussões durante a vigência da lei
anterior.
Temos aqui a consagração do princípio da independência das instâncias, em que cada
esfera (cível, criminal e administrativas) são independentes – a decisão de uma, em regra, não
vinculará à outra.
Todavia, com razão agora essa independência é expressamente relativa. Isso porque,
com a redação do art. 7º, em que pese as decisões nos âmbitos cível e administrativo não
estarem vinculadas às decisões criminais, ao menos em relação à existência do fato
(prova/decisão de que o fato existiu) e autoria (identificação/decisão sobre quem praticou o
abuso), as esferas cível e administrativa estarão atreladas às decisões proferidas no âmbito
criminal, evitando decisões conflitantes sobre questões objetivas. Outras exceções sobre o
vínculo necessário entre as decisões criminal, cível e administrativa recai sobre a existência de
excludentes de ilicitude devidamente reconhecida por decisão judicial (art. 8º).

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Por fim, vale registrar que o parágrafo único do art. 6º determina que todo fato será
comunicado à autoridade competente. A intenção é que seja também instaurado, se for o caso,
o procedimento administrativo disciplinar (PAD), visando a aplicação das sanções
administrativas pelo órgão superior ao sujeito ativo do crime.

Crimes em espécie

CAPÍTULO VI
DOS CRIMES E DAS PENAS
Art. 9º. Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade
com as hipóteses legais:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de
prazo razoável, deixar de:
I - relaxar a prisão manifestamente ilegal;
II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder
liberdade provisória, quando manifestamente cabível;
III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.’

Introdução: O crime em estudo pune o agente público que indiscutivelmente decreta


a prisão de alguém. Importante registrar que o “caput” não se restringe ao juiz, já que há a prisão
em flagrante que pode ser decretada por qualquer agente público (ou qualquer do povo, porém
o particular não estará sujeito aos rigores desta lei).
Diante da pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da suspensão
condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Questão importante recai sobre a expressão “prazo razoável”. Qual seria esse prazo,
capaz de configurar o crime em estudo em suas modalidades equiparadas? Temos três correntes
na doutrina discutindo o tema:
1ªC: 24 horas (equiparação com o art. 800, III, do CPP para despacho de expediente);
2ªC: 5 dias (equiparação com o art. 800, II, do CPP para decisão interlocutória simples);
3ªC: 48 horas (equiparação com o art. 322, parágrafo único, do CPP para decisão
judicial de concessão de fiança).

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Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente


a liberdade de locomoção e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido
amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer autoridade com atribuição ou competência para
determinar medida privativa de liberdade (autoridade ou agente policial; autoridade militar;
membro do Ministério público ou autoridade judiciária). O parágrafo único limita-se à
autoridade judiciária. Sujeito Passivo: qualquer pessoa que teve seu direito de ir e vir limitado
ilegalmente pelo sujeito ativo.
Conduta: O crime em estudo pune o agente público que indiscutivelmente decreta a
prisão de alguém. Já o parágrafo único apresenta modalidades equiparadas, porém, praticadas
especificamente pelo juiz. São hipóteses de omissões dolosas em que o juiz deixa de decretar a
liberdade de alguém em situação clara de prisão ilegal.
Consumação e tentativa: Em relação ao “caput”, trata-se de crime formal,
consumando-se com a decretação da privação da liberdade de forma ilegal (não exige-se o
efetivo cárcere). Em relação às modalidades equiparadas, é necessário o transcorrer do “prazo
razoável”, além dos demais requisitos, para a consumação do crime.
Apesar de ser possível, a tentativa é de difícil configuração.
Exemplos:
1) Delegado de polícia que, após dias investigando um sujeito que furtou um veículo,
o encontra e, com a finalidade de prejudica-lo por mero capricho ou satisfação pessoal, o autua
em flagrante no momento em que este dirigia o veículo furtado (perceba que, apesar de existir
crime e a necessidade de imputação penal sobre o furtador, não havia mais situação de flagrante
delito, assim, o Delegado simula situação como se o veículo estivesse sendo furtado naquele
momento apenas para prender o criminoso);
2) Juiz que decreta a prisão preventiva de estelionatário ainda no curso do inquérito
policial e sem provocação do Ministério Público e do Delegado de Polícia, com a finalidade
específica de prejudicar outrem;
3) Juiz que, com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo,
decreta a prisão preventiva de agente primário pelo delito de furto simples (pena máxima não
superior a 4 anos).

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Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado


manifestamente descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Introdução: A condução coercitiva pode ocorrer tanto na fase policial, quanto na fase
judicial.
Diante da pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da suspensão
condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a liberdade de locomoção e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido
amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer autoridade com atribuição ou competência para
determinar condução coercitiva (juiz e, para a maioria da doutrina também podemos incluir o
Delegado de Polícia e membro do Ministério Público). Sujeito Passivo: qualquer testemunha ou
investigado que teve seu direito de ir e vir limitado ilegalmente pelo sujeito ativo. Muito
importante! O legislador se esqueceu de incluir o ofendido e o acusado no rol de vítimas e, por
isso, em eventual decretação de condução coercitiva contra estes manifestamente descabida
ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo não haverá crime, sob pena de
incorrermos em analogia in malam partem
Conduta: Pune-se a conduta da autoridade competente de decretar condução
coercitiva sobre testemunha ou investigado em hipóteses descabidas, seja nos casos em que
não há a obrigatoriedade de falar (investigado com o direito de permanecer calado), seja por
não ter intimado ao comparecimento espontâneo previamente.
Consumação e tentativa: trata-se de crime formal, consumando-se com a decretação
da condução coercitiva de forma ilegal (a efetiva condução será mero exaurimento). Não se
admite a tentativa, por se tratar de crime monossubsistente.
Exemplo: Testemunha que já foi ouvida formalmente nos autos acaba sendo
conduzida coercitivamente para que ratifique suas palavras registradas, mesmo sem nenhum
indício de que teria mentido no primeiro depoimento.

Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade


judiciária no prazo legal:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

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Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:


I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou
preventiva à autoridade judiciária que a decretou;
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde
se encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada;
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de
culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e
das testemunhas;
IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de
prisão preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo
justo e excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após
recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou
legal.

Introdução: diante da pena, trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo,


ficando sujeita aos rigores da Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da suspensão
condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a liberdade e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a
Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer autoridade com a obrigação para informar a
autoridade judiciária sobre medida privativa de liberdade (Delegado de Polícia, Comando da
Polícia Militar, etc.). Sujeito Passivo: qualquer pessoa que tenha sido presa em flagrante, por
prisão temporária ou preventiva, ou mesmo que esteja em execução de pena privativa de
liberdade alongada indevidamente.
Conduta: todas as modalidades são crimes omissivos próprios, de modo que a
autoridade competente acaba dolosamente se omitindo para prolongar indevidamente medida
privativa de liberdade de um indivíduo.
Consumação e tentativa: sendo crime omissivo próprio, prevalece que a tentativa é
inalcançável. Sobre a consumação, vamos analisar cada hipótese: em relação ao caput, e incisos
I e III, além da omissão será necessário ultrapassar 24 horas de atraso (prazo previsto no CPP e
Lei de Prisão Temporária para a comunicação da medida privativa de liberdade à autoridade
judiciária). Já na hipótese do inciso III, ocorre no exato momento em que a autoridade deixa de

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comunicar a prisão à família ou pessoa indicado pelo preso. Por fim, no caso do inciso IV temos
um crime permanente, cuja consumação se estenderá enquanto o agente, de forma arbitrária,
não cumprir o alvará ou não der andamento aos trâmites de soltura do beneficiado.
Exemplo: Delegado de Polícia que, após lavrar auto de prisão em flagrante, deixa de
comunicar a autoridade judiciária do feito durante todo o final de semana visando prejudicar o
preso.

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou


redução de sua capacidade de resistência, a:
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena
cominada à violência.

Introdução: Diante da pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da


suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a integridade física, imagem, honra e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em
sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer autoridade com a obrigação para custodiar o preso
ou detento. Sujeito Passivo: qualquer pessoa (crime comum).
Conduta: apesar de as condutas serem autoexplicativas, é importante destacar que tal
crime é extremamente assemelhado a uma das modalidades do delito de tortura. Caberá ao
juiz, no caso concreto, realizar a devida distinção:

Lei de Abuso de Autoridade Lei de Tortura


Art. 13. Constranger o preso ou o detento, Art. 1º Constitui crime de tortura:
mediante violência, grave ameaça ou redução de I - constranger alguém com emprego de violência
sua capacidade de resistência, a: ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido ou mental:
à curiosidade pública; a) com o fim de obter informação, declaração ou
II - submeter-se a situação vexatória ou a confissão da vítima ou de terceira pessoa;
constrangimento não autorizado em lei; [...]
III - produzir prova contra si mesmo ou contra Pena - reclusão, de dois a oito anos.
terceiro: § 1º Na mesma pena incorre quem submete
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a
multa, sem prejuízo da pena cominada à violência. sofrimento físico ou mental, por intermédio da

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prática de ato não previsto em lei ou não


resultante de medida legal.

Consumação e tentativa: ao contrário da tortura-prova, os delitos previstos nesse


artigo são materiais, exigindo, além do constrangimento violento ou ameaçador, a efetiva
exibição do preso ou detento. A tentativa é admissível.
Exemplo: I – preso que é forçado a mostrar o rosto em programas jornalísticos
sensacionalistas para servir a curiosidade pública; II – policiais constrangem preso ao filmá-lo e,
mediante, grave ameaça, o faz praticar comportamentos vexatórios como beijar e dizer que ama
outro criminoso; III – policiais constrangem preso mediante grave ameaça a confessar que é
bandido, e apontar onde praticou o crime.

Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de
função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório:
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público,
sem a presença de seu patrono.

Introdução: Diante da pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da


suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que constrange o sujeito ouvido
ou interrogado. Sujeito Passivo: qualquer pessoa que tenha por ofício o sigilo profissional, a
exemplo do advogado, o padre, etc.
Conduta: constranger profissional que tem o dever do sigilo a depor, seja mediante
ameaça de prisão, prosseguimento de depoimento após a vítima desejar permanecer em
silêncio ou prosseguimento de depoimento sem a presença de defensor de forma indevida.
Consumação e tentativa: trata-se de delito formal, consumando-se com o mero
constrangimento em buscar o depoimento da vítima. A tentativa é possível na forma escrita.

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Exemplo: Delegado de polícia afirma que prenderá advogado pelo crime de falso
testemunho caso este último se negue a prestar depoimento contra o próprio cliente; Delegado
insiste em prosseguir com o depoimento de padre mesmo após este ter solicitado a presença
de advogado.

Violência Institucional (Incluído pela Lei nº 14.321, de 2022)


Art. 15-A. Submeter a vítima de infração penal ou a testemunha de crimes violentos
a procedimentos desnecessários, repetitivos ou invasivos, que a leve a reviver, sem
estrita necessidade:
I - a situação de violência; ou
II - outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Se o agente público permitir que terceiro intimide a vítima de crimes violentos,
gerando indevida revitimização, aplica-se a pena aumentada de 2/3 (dois terços).
§ 2º Se o agente público intimidar a vítima de crimes violentos, gerando indevida
revitimização, aplica-se a pena em dobro.

Introdução: Estamos diante de delito novo introduzido por meio da Lei nº


14.321/2022, cuja finalidade foi combater práticas que geram indevidamente a vitimização
secundária (também chamada de Sobrevitimização e Revitimização).
Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita aos rigores da
Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: o delito protege a incolumidade psíquica, a intimidade e a
privacidade da vítima de infração penal e da testemunha de crimes violentos.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade pública que atue diretamente
no atendimento de vítimas e testemunhas de crimes violentos (delegado, agentes policiais,
Promotor de Justiça, Juiz, etc.).
Sujeito Passivo: o crime é próprio em relação ao sujeito passivo, figurando como vítima
apenas vítimas de infração penal ou testemunhas de crimes violentos. Vale destacas que as
causas de aumento de pena referem-se exclusivamente às vítimas de crimes violentos, deixando
de fora as testemunhas de crimes violentos.

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Conduta: Revitimização (também chamada de Vitimização Secundária e


Sobrevitimização) refere-se ao sofrimento da vítima suportado diante das etapas do sistema de
justiça criminal, etapas estas que a forçam direta ou indiretamente a reviver o episódio
criminoso traumático, tais como exames periciais, oitivas, audiências, ou seja, etapas em que a
vítima acaba sendo questionada sobre detalhes do caso e forçada a relembrar do crime que, por
vezes, foi um episódio traumático.
O crime em estudo, todavia, pune apenas as hipóteses em que a Revitimização é
realizada de forma desnecessária (sem propósito justificável, dispensável para atingir o fim
desejado), repetitiva (procedimento já realizado anteriormente, portanto, desprovido de novo
propósit) ou invasiva (questionamentos íntimos, privados, sem vínculo direto com o caso
apurado), e que venha a levar a vítima de infração penal ou testemunha de crime violento a
reviverem, sem estrita necessidade:
I – a situação de violência: remetendo, nessa hipótese, especificamente aos detalhes
violentos do crime;
II – outras situações potencialmente geradoras de sofrimento ou estigmatização: com
as expressões abertas, o legislador quis abranger situações em que o sujeito passivo possa se
sentir menosprezado, humilhado ou constrangido Exemplos: ênfases desnecessárias sobre a
profissão do sujeito passivo (prostituição, dança, etc.), comportamentos possivelmente
inadequados (“vítima que teria se insinuado para o agressor”), condição econômica
(“possivelmente oportunista por ser pobre”), dentre outras.
Além disso, importante frisar que o legislador destinou o crime em sua forma simples
apenas para os seguintes sujeitos passivos (crime próprio):
 Vítima de infração penal: pode figurar como vítima do delito em estudo a vítima
de qualquer crime ou contravenção penal;
 Testemunha de crimes violentos: no caso das testemunhas, em que pese não
existir propriamente uma Revitimização1, o legislador desejou proteger apenas as
vítimas de crimes violentos por se tratar de casos mais delicados e por
possivelmente representar sobre a vítima abalos psicológicos e possibilidade de se
sentir intimidada ao revelar detalhes de um crime violento.

1
Em alguns casos, todavia, é possível que ocorra a chamada Vitimização Indireta sobre a testemunha,
notadamente nas hipóteses em que as testemunhas possuem uma ligação de afeto com a vítima do crime;
Exemplo: pais que são constrangidos a presenciar a filha sendo violentada sexualmente. Aqui os pais são
testemunhas de um crime violento e também sofrem de vitimização indireta, por ficarem abaladas ao
tomarem ciência de um crime grave suportado por um ente tão próximo.

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Consumação e tentativa: trata-se de delito formal, consumando-se com o mero


procedimento sem estrita necessidade aplicado sobre a vítima capaz de gerar Revitimização
sobre o sujeito passivo, independentemente de a vítima se sentir efetivamente abalada.
Importa destacar que há a necessidade de a conduta praticada pelo sujeito ativo ao
menos tenha o potencial lesivo sobre o bem jurídico do sujeito passivo, sendo, portanto, crime
de perigo concreto.
A tentativa é possível quando o comportamento é praticado na forma escrita, na
medida em que a conduta torna-se fracionável.
Exemplo: Delegado de Polícia, ao indagar vítima de crime de violência doméstica e
familiar, passa a insistir em perguntas sobre a intimidade do casal, ou mesmo se a vítima não
teria provocado o marido antes das agressões (perguntas impertinentes e/ou com o viés de
justificar as ações do criminoso e de tratar a vítima como um objeto de forma desrespeitosa).
Causas de aumento de pena: temos duas causas de aumentos de pena com um
detalhe relevante: o legislador destinou ambas as figuras especificamente sobre vítimas de
crimes violentos, deixando de forma vítimas de infrações penais sem violência e testemunhas
de crimes violentos. Vejamos cada hipótese:
 Se o agente público permitir que terceiro intimide a vítima de crimes violentos,
gerando indevida revitimização, aplica-se a pena aumentada de 2/3 (dois terços):
hipótese de crime omissivo impróprio, na medida em que o agente público é
responsável por zelar pela salvaguarda da vítima e, em comportamento
totalmente antagônico, permite dolosamente por meio de omissão que um
terceiro acabe gerando indevida Revitimização sobre vítima de crimes violentos.
Exemplo: é comum que em casos envolvendo violência doméstica e familiar contra a
mulher a situação na delegacia acabe escalando para uma discussão entre famílias. De um lado,
a família do possível agressor, do outro a família da suposta vítima. Imagine, portanto, que nessa
situação o delegado de polícia responsável pelo caso acabe dolosamente permitindo que a sogra
da vítima de crime violento venha a fazer questionamentos desnecessários e invasivos em tom
de intimidação. Nesse caso, como o delegado é garantidor da realização do procedimento de
forma regular, haverá naturalmente maior reprovação em sua omissão dolosa, motivo pelo qual
se justifica a majorante.
 Se o agente público intimidar a vítima de crimes violentos, gerando indevida
revitimização, aplica-se a pena em dobro: aqui o agente público piora ainda mais
a situação da vítima de crime violento, na medida em que pratica algum
comportamento de intimidação (ameaça direta ou indireta).

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Exemplo: juiz, ao indagar vítima de crime violento em audiência, passa a falar em tom
ameaçador que se a vítima estiver mentindo ou se ir além em suas palavras então será presa e
processada. São casos de intimidações indevidas em que o agente público acaba atrapalhando
na liberdade de falar ou agir da vítima.

Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião


de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por
interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de
identificar-se ao preso ou atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função.

Introdução: o presente dispositivo havia sido vetado pelo Presidente da República


(veto cassado pelo Congresso Nacional) sob o fundamento de que tal crime colocaria em risco a
garantia da vida e integridade física de agentes de segurança pública.
Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita aos rigores da
Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a liberdade e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a
Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que proceda à prisão ou
interrogatório e que oculte a própria identidade ou a revele de forma falsa. Sujeito Passivo:
qualquer pessoa detida ou interrogada (crime comum).
Conduta: trata-se de forma especial do delito de falsa identidade. Ademais, constitui
verdadeira punição à violação do inciso LXIV, do art. 5º, da CF/88: “o preso tem direito à
identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu interrogatório policial”.
CUIDADO! É importante a presença da especial finalidade prevista no §1º, do art. 1º
desta lei (demonstrada pela acusação). Imagine-se a hipótese do agente de segurança pública
não revelar a própria identidade ao preso por saber que este último ostenta a fama de assassinar
policiais. Nesse caso, clarividente que a finalidade do agente público é de autopreservação,

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afastada, portanto, a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a


terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.
Consumação e tentativa: ocorre no instante em que o agente deixa de se identificar
(omissão própria) ou se identifica falsamente (crime comissivo), sendo a tentativa admissível na
forma escrita.
Exemplo: Delegado de polícia que, por mero capricho, ao interrogar preso na delegacia
se identifica pelo nome de “Kojak”, em tom jocoso.

Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso


noturno, salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido,
consentir em prestar declarações:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Introdução: para fins de interpretação de repouso noturno, sob a luz do inciso III, do
§1º, do art. 22 da Lei nº 13.869/2019, o período começará às 21 horas e terminará às 5 horas
Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita aos rigores da
Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da suspensão
condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer autoridade que proceda à interrogatório
indevidamente durante o repouso noturno. Sujeito Passivo: qualquer pessoa interrogada (crime
comum).
Conduta: afastando as hipóteses de prisão em flagrante, bem como de concordância
do interrogado (direito de escolha do preso), nos restará o constrangimento em interrogar
alguém durante o repouso noturno após o cumprimento de prisões preventiva e temporária.
Consumação e tentativa: consuma-se no instante em que o preso inicia o
interrogatório durante o repouso noturno contra a própria vontade. Admite-se a tentativa.
Exemplo: Após o cumprimento de prisão preventiva, a Autoridade Policial insiste no
interrogatório do preso às 21:30, contrariando vontade expressa do interrogado.

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Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à


autoridade judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou
das circunstâncias de sua custódia:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento
ou da demora, deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo
competente para decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade
judiciária que o seja.

Introdução: Diante da pena mínima (um ano de detenção), admite-se o benefício da


suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
o direito de petição e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a
Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que inviabilize ou embarace
pedido de preso ao juiz sobre questões de legalidade. No caso do parágrafo único, o sujeito ativo
será a autoridade judiciária. Sujeito Passivo: qualquer pessoa presa.
Conduta: pune-se a ação de impedir ou a omissão em dar andamento (procrastinar,
retardar), sem justo motivo, o envio de pedido de preso ao juiz competente pra a análise da
legalidade da prisão ou das circunstâncias da custódia. No caso do parágrafo único, temos
hipótese de omissão própria, em que o juiz deixa de tomar as providências necessárias ou de
remeter o caso ao juízo competente.
Consumação e tentativa: em relação ao caput, para a consumação basta o atraso
doloso e sem justo motivo do pedido do preto ao juiz competente, sendo admissível a tentativa.
Já no caso do parágrafo único, em se tratando de omissão própria, a maioria da doutrina se
inclina em inadmitir a possibilidade de tentativa.
Exemplo: Delegado que, ao receber peça manuscrita de habeas corpus do próprio
preso, com a finalidade de prejudica-lo, impede a respectiva remessa ao juiz competente para
apreciá-la.

Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com
seu advogado:

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Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.


Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o
investigado de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou
defensor, por prazo razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado
e com ele comunicar-se durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no
caso de audiência realizada por videoconferência.

Introdução: o crime em estudo pune a violação do direito do acusado e do preso em


ter acesso reservado com o seu defensor, direito este assegurado por diversos diplomas
nacionais e internacionais, tais como:
- Convenção Americana Sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica): art.
8º, 2. D);
- Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/1984): art. 41, IX;
- Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/1994: art. 7º, III;
- Lei Complementar nº 40 (Defensoria Pública): art. 128, VI;
- Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990): art. 124, III;
- Código de Processo Penal: art. 185, §5º.
O presente dispositivo havia sido vetado pelo Presidente da República (veto cassado
pelo Congresso Nacional) sob o fundamento de que tal crime prevê expressões abertas, gerando
enorme insegurança jurídica.
Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita aos rigores da
Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
o exercício da ampla defesa e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido
amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que inviabilize ou embarace o
exercício do direito do preso a conversa pessoal e reservada com seu defensor ou advogado. No
caso do parágrafo único, sendo hipótese restrita de audiência, o sujeito ativo será a autoridade
judiciária. Sujeito Passivo: qualquer pessoa presa ou acusada.
Conduta: pune-se qualquer ato de impedimento do exercício do direito de entrevista
pessoal e reservada do preso ou acusado com seu defensor/advogado, em qualquer fase da
persecução penal.

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Consumação e tentativa: se tratando de delito material, ocorrerá a consumação com


qualquer ato de impedimento do direito do preso ou acusado, sendo admissível a tentativa,
apesar de difícil configuração.
Exemplo: após ser escoltado pela polícia até o fórum, o preso e o advogado têm o
pedido de entrevista pessoal e reservada negado pelo juiz sob a alegação de que “quer começar
logo a audiência”, com a clara intenção de prejudicar tanto o acusado quanto o defensor.

Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de


confinamento:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança
ou adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado,
observado o disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e
do Adolescente).

Introdução: Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional


do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que tenha por atribuição cuidar
da manutenção dos presos. Sujeito Passivo: qualquer pessoa presa ou detida.
Conduta: pune-se qualquer ato de violação no sentido de colocar no mesmo ambiente
carcerário personagens que, por lei, possuem o direito de confinamento separado de outros,
como as separações entre homens e mulheres; maiores e menores, etc.
Consumação e tentativa: consuma-se com qualquer ato que coloque pessoa em cela
ou espaço de confinamento com outra pessoa de sexo oposto ou, sendo menor de idade, com
maior de idade. Sendo crime material, admite-se a tentativa.
Exemplo: investigador que, ao receber a determinação de colocar mulher presa em
flagrante em cela, após perceber que não há vagas no setor feminino, a coloca em cela masculina
com outros presos por mero capricho.

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Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade


do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas
condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:
I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a
imóvel ou suas dependências;
II - (VETADO);
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma
horas) ou antes das 5h (cinco horas).
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver
fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de
flagrante delito ou de desastre.

Introdução: Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional


do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a inviolabilidade do domicílio e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido
amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que venha a invadir imóvel ou
suas dependências fora das hipóteses permitidas em lei. Sujeito Passivo: qualquer pessoa
possuidora do imóvel.
Conduta: trata-se de modalidade especial do delito de violação de domicílio previsto
no art. 150 do Código Penal, com a diferença de que aqui o sujeito ativo é funcionário público,
valendo-se da função e com ao menos uma das finalidades destacadas no §1º, do art. 1º desta
lei. O inciso I aponta hipótese em que o agente público forja o consentimento do ofendido. Já o
inciso III inova ao fixar os horários limites para o cometimento do crime, porém apenas quando
do cumprimento de mandado de busca e apreensão.
Consumação e tentativa: consuma-se no momento em que o agente invade o imóvel.
Com a permanência ilegal, teremos a extensão da consumação. Já em relação ao inciso I, temos
figura de delito formal, consumando-se com a mera coação, independentemente do efetivo
ingresso no imóvel. A tentativa é admissível.

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Exemplo: Agentes policiais, impacientes em aguardar o raiar do sol para cumprimento


de mandado de prisão preventiva (mero capricho ou satisfação pessoal), invadem domicílio às
3 horas da madrugada.

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de


processo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de
responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a
responsabilidade:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no
curso de diligência;
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para
desviar o curso da investigação, da diligência ou do processo.

Introdução: Diante da pena mínima (1 ano de detenção), admite-se o benefício da


suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que tenha acesso a diligências,
investigações, processos, documentos e informações oficiais. Sujeito Passivo: qualquer pessoa
prejudicada.
Conduta: temos aqui uma modalidade especial do delito de fraude processual prevista
no art. 347 do Código Penal, porém com finalidades especiais em eximir-se o agente de
responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a
responsabilidade, no nas hipóteses previstas no parágrafo único, com modalidades comissivas
e omissivas.
Consumação e tentativa: é necessário a inovação artificiosa para a consumação (crime
material), sendo admissível a tentativa.
Exemplo: Policial que, ao conduzir pessoa pela prática do delito do art. 28 da Lei de
drogas, faz constar em seu depoimento que o suspeito portava o décuplo de drogas que
efetivamente possuía, com a finalidade de prejudicar-lhe com a imputação do delito de tráfico
de drogas (art. 33 da Lei de Drogas).

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Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de


instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo
óbito já tenha ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime,
prejudicando sua apuração:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente
à violência.

Introdução: Diante da pena mínima (1 ano de detenção), admite-se o benefício da


suspensão condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo constrangido,
especialmente a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a
Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade, sendo que claramente o
legislador visou prescrever esse delito para o agente de segurança pública. Sujeito Passivo:
qualquer pessoa prejudicada.
Conduta: trata-se de figura similar ao delito anterior, porém com características
específicas pois o fato é praticado antes de qualquer diligência e com o constrangimento
violento ou ameaçador sobre funcionário de instituição hospitalar. É necessário que o agente
público conheça a condição de morto do paciente, pois, caso acredite que está socorrendo
vítima até o pronto socorro mais próximo, não tendo detectado o óbito, o dolo estará afastado.
Consumação e tentativa: consuma-se com o constrangimento violento ou ameaçador
sobre funcionário de instituição hospitalar para que receba cadáver na condição de paciente
vivo, independentemente da efetiva alteração de momento ou local do crime (crime formal).
Em que pese a difícil configuração, especialmente por se tratar de delito formal, a tentativa é
admissível.
Exemplo: policial que executou em excesso sujeito abordado, visando forjar boa-fé ou
mesmo o arrependimento eficaz, conduz cadáver até o pronto socorro mais próximo e ameaça
enfermeiro para que dê entrada nos procedimentos protocolares como se a vítima ainda
estivesse viva.

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Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou


fiscalização, por meio manifestamente ilícito:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do
investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.

Introdução: Sabemos que a Constituição Federal inadmite as provas obtidas por meios
ilícitos (art. 5º, inciso LVI). A presente figura típica pune os agentes públicos que dolosamente
extraem provas ilícitas ou delas se utilizam em investigação ou fiscalização.
Diante da pena mínima (1 ano de detenção), admite-se o benefício da suspensão
condicional do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo constrangido,
especialmente a intimidade, a vida privada, a honra e a dignidade da pessoa humana. É também
protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que atue na produção de
provas ou utilização delas na fase de investigação ou fiscalização. Sujeito Passivo: qualquer
pessoa prejudicada.
Conduta: pune-se o agente público que procede à obtenção de prova ilícita contra
investigado ou fiscalizado, bem como daquele que, sabendo da ilicitude, a utiliza. Perceba que
o legislador cometeu um grave equívoco ao se esquecer da fase processual, deixando de
amparar o réu/acusado. Não poderemos estender a mesma interpretação caso a ação penal
tenha se iniciado e o agente público produza ou faça uso de prova ilícita de forma dolosa nessa
fase, sob pena de incorrermos em analogia in malam partem.
Consumação e tentativa: tratando-se de crime material, é necessário a efetiva
produção da prova ilícita ou a sua utilização contra investigado ou fiscalizado, sendo, portanto,
admissível a tentativa.
Exemplo: Delegado, mesmo após o indeferimento do juiz, procede à interceptação
telefônica de investigado com o claro fim de prejudica-lo. Logo após, Promotor de Justiça, ciente
da ilicitude da prova, a utiliza visando pedir a prisão preventiva do investigado, também com a
finalidade de prejudica-lo.

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Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de


infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer
indício da prática de crime, de ilícito funcional ou de infração administrativa:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação
preliminar sumária, devidamente justificada.

Introdução: Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita


aos rigores da Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que tenha a atribuição para
requisitar a instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou
administrativa. Sujeito Passivo: qualquer pessoa prejudicada.
Conduta: pune-se a conduta do agente público que instaura, por exemplo, inquérito
policial contra alguém sabidamente inocente. Também se pune a conduta daquele que também
conhecendo a inexistência de infração, requisita a instauração do respectivo procedimento. O
parágrafo único do artigo em estudo cria ressalva importante, no sentido de afastar a figura
típica quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar sumária, devidamente
justificada.
Cuidado para não confundir esse delito com o crime de denunciação caluniosa,
previsto no art. 339 do Código penal:

Art. 27 da Lei nº 13.869 Denunciação Caluniosa (Art. 339 do CP)


Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar Art. 339. Dar causa à instauração de
procedimento investigatório de infração investigação policial, de processo judicial,
penal ou administrativa, em desfavor de instauração de investigação administrativa,
alguém, à falta de qualquer indício da prática inquérito civil ou ação de improbidade
de crime, de ilícito funcional ou de infração administrativa contra alguém, imputando-lhe
administrativa: crime de que o sabe inocente:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.
anos, e multa.

Segundo posição majoritária da doutrina, um Promotor de Justiça que requisita a


instauração de inquérito contra alguém sabidamente inocente apenas com a finalidade de

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prejudica-lo, praticará o crime de denunciação caluniosa, e não o abuso de autoridade, visto que
aquele delito possui sanção penal mais rigorosa. Contudo, parcela minoritária discorda,
alertando que a depender do caso concreto o caso melhor poderá se amoldar ao delito em
estudo diante do princípio da especialidade.
Consumação e tentativa: Na modalidade requisitar o delito é formal, bastante a
exigência de abertura das investigações para a consumação. Já na modalidade instaurar, trata-
se de delito material, exigindo-se, portanto, o efetivo início formal das investigações. Admite-se
em ambas as hipóteses a tentativa, embora na primeira seja de difícil configuração.
Exemplo: Delegado de Polícia, com a única finalidade de prejudicar Fulano, instaura
inquérito policial contra este mesmo ciente que Fulano não praticara crime algum.

Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se
pretenda produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a
imagem do investigado ou acusado:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Introdução: Cumpre relembrar que há mandamento constitucional de proteção do


sigilo das comunicações (art. 5º, inciso XII), apenas por ordem judicial e para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal será admitida a sua abertura.
Perceba que o tipo em estudo punirá o excesso doloso, ou seja, informações
divulgadas publicamente sem pertinência com a persecução penal.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a intimidade e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a
Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que tenha o dever de guardar
sigilo das comunicações (Juiz, Promotor de Justiça, Delegado, Defensor Público, etc. Sujeito
Passivo: qualquer pessoa prejudicada.
Conduta: preenche verdadeira lacuna que havia na Lei nº 9.269/96 (interceptações
telefônicas), pois agora pune-se também, com o delito em estudo, a divulgação de gravação ou
trechos de gravação sem vínculo com a prova que se pretenda produzir. Vale destacar que o

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delito é punido apenas na forma dolosa, assim, eventual descuido imprudente lançando aos
autos públicos trecho de gravação impertinente com o caso concreto não configurará crime.
Consumação e tentativa: é necessário a efetiva divulgação do teor íntimo da gravação
e impertinente com o caso concreto para a consumação. Admite-se a tentativa.
Exemplo: Delegado que, em investigações sobre crime de tráfico de drogas, tendo a
finalidade de prejudicar investigado, divulga trecho de interceptação telefônica em que o sujeito
combina adultério com a vizinha.

Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou
administrativo com o fim de prejudicar interesse de investigado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Introdução: Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita


aos rigores da Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que tenha a obrigação de
prestar esclarecimentos em procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo. Sujeito
Passivo: qualquer pessoa prejudicada.
Conduta: não raras vezes autoridades são instadas a prestarem esclarecimentos sobre
casos concretos em que atuaram. Cuida-se aqui de hipótese de falsidade ideológica especial, em
que o agente público apresenta informação falsa contra alguém.
Consumação e tentativa: é crime formal, dispensando o efetivo prejuízo contra a
vítima, bastando a prestação de informação falsa. A tentativa é possível na forma escrita.
Exemplo: juiz que, em sede de habeas corpus, figurando como autoridade coatora de
prisão, sabendo da ilegalidade da medida aplicada, presta falsos esclarecimentos com o fim de
prejudicar ainda mais o paciente.

Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa
causa fundamentada ou contra quem sabe inocente:

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Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Introdução: o presente dispositivo havia sido vetado pelo Presidente da República


(veto cassado pelo Congresso Nacional) sob o fundamento de que tal geraria indisfarçável
insegurança jurídica.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a honra e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a
Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que proceda competência para
dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa. Sujeito Passivo: qualquer
pessoa detida ou interrogada (crime comum).
Conduta: tem-se figura mais ampla comparada com a denunciação caluniosa (art. 339
do CP). O delito previsto no Código Penal exige a falsa imputação de crime ou contravenção
contra a vítima, já o delito em estudo não faz a mesma exigência, bastando o início ou
andamento à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa fundamentada ou contra
quem sabe inocente. A expressão “justa causa” vem gerando indisfarçável controvérsia na
doutrina, por ser vaga e aberta (principal motivo do veto presidencial), prevalecendo que caberá
ao juiz verificar se há ou não justa causa diante do caso concreto.
Consumação e tentativa: É necessário o início da persecução formal para a
consumação, logo, não se admite a tentativa.
Exemplo: Mesmo sabendo que Fulano, funcionário público, não praticou infração
administrativa, o Superior Hierárquico, visando prejudicar Beltrano, instaura contra este último
procedimento de persecução administrativa visando investiga-lo.

Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo


do investigado ou fiscalizado:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução
ou conclusão de procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o
em prejuízo do investigado ou do fiscalizado.

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Introdução: Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita


aos rigores da Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
o direito a duração razoável de um procedimento e a dignidade da pessoa humana. É também
protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que tenha a responsabilidade
de condução de procedimentos investigatórios. Sujeito Passivo: qualquer pessoa prejudicada.
Conduta: a Constituição Federal consagra a duração razoável do processo (cabível
também sobre procedimentos) como um direito fundamental (art. 5º, inciso LXXVIII). Assim,
pune-se a conduta de procrastinar injustificadamente (acrescida das finalidades previstas no art.
1º, §1º, desta lei) o andamento de investigação em prejuízo de investigado ou fiscalizado. O
parágrafo único estende o crime nos casos de procedimentos sem previsão legal para a
conclusão. Nesta hipótese, caberá ao juiz do caso concreto verificar se o procedimento foi
estendido de forma desnecessária, sem a devida motivação/justificativa e com a finalidade
específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero
capricho ou satisfação pessoal.
Consumação e tentativa: não é necessário o efetivo prejuízo sobre o investigado ou
fiscalizado, bastando, para a consumação, que haja a extrapolação do prazo para a conclusão do
procedimento investigatório de forma injustificada. Admite-se a tentativa apenas em hipóteses
comissivas (atrasos praticados por ação)
Exemplo: Delegado de polícia que, mesmo já tendo finalizado todas as diligências,
deixa de concluir o inquérito policial e extrapola o prazo previsto em lei para a sua finalização
com o objetivo de prejudicar a imagem e reputação do investigado.

Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de
investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro
procedimento investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como
impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências
em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja
imprescindível:

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Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Introdução: O Presidente da República havia vetado o presente crime (cassado pelo


Congresso Nacional), diante da insegurança jurídica por se tratar de um tipo penal
demasiadamente aberto, que exige interpretação do caso concreto. Além disso, uma das razões
do veto foi o fato de que o STF já havia pacificado entendimento do tema por meio da Súmula
Vinculante nº 14:
“É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa”.

Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita aos rigores da
Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
o direito investigado e do advogado, bem como a dignidade da pessoa humana. É também
protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente ou autoridade que tenha a atribuição em
presidir termo circunstanciado, investigação preliminar, inquérito policial ou qualquer outro
procedimento de investigação de infração penal, administrativa ou civil. Sujeito Passivo:
qualquer pessoa constrangida pela recusa indevida.
Conduta: Conforme acima, trata-se da criminalização do ato de desrespeitar o teor da
Súmula Vinculante nº14, violando o direito do defensor em ter acesso aos autos já encartados
em procedimento investigatório preliminar.
Consumação e tentativa: consuma-se com a prática de qualquer ato de embaraço
sobre o acesso do defensor aos autos de procedimento investigatório preliminar de interesse
do seu cliente/assistido. Admite-se a tentativa.
Exemplo: Delegado de Polícia impede que advogado tenha acesso e extraia cópia de
peças já encartadas nos autos de inquérito policial com a clara finalidade em prejudicar o
advogado e o investigado (“atrasando” o lado da defesa em eventual impetração de habeas
corpus).

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Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer


ou de não fazer, sem expresso amparo legal:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função pública
ou invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para
obter vantagem ou privilégio indevido.

Introdução: Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita


aos rigores da Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente público. Sujeito Passivo: qualquer pessoa
constrangida pela recusa indevida.
Conduta: A CF/88, em seu art. 5º, inciso II, determina que “ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. No jargão popular, o presente
crime representa a chamada “carteirada”. O agente público, buscando algum privilégio ou
vantagem, se vale do status de servidor público que ostenta para exigir informações,
cumprimento de obrigação sem amparo legal, ou até mesmo eximir-se do cumprimento de
obrigação legal.
Importante se atentar ao fato de que, se no caso concreto o agente empregar violência
ou grave ameaça, a conduta se amoldará no delito de tortura:

Art. 33 da Lei nº 13.869 Tortura (Lei nº 9.455/1997)


Art. 33. Exigir informação ou cumprimento Art. 1º Constitui crime de tortura:
de obrigação, inclusive o dever de fazer ou de I - constranger alguém com emprego de
não fazer, sem expresso amparo legal: violência ou grave ameaça, causando-lhe
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) sofrimento físico ou mental:
anos, e multa. a) com o fim de obter informação, declaração
ou confissão da vítima ou de terceira pessoa.

Consumação e tentativa: trata-se de crime formal, consumando-se com a prática de


ao menos um ato de exigência de informação ou cumprimento de obrigação, ou até mesmo no
sentido de obtenção de vantagem ou privilégio, visando eximir-se de obrigação legal.

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Exemplo: juiz de direito que, visando obter privilégio sobre os demais passageiros,
invoca o status de sua função para não ser revistado em aeroporto.

Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em


quantia que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da
dívida da parte e, ante a demonstração, pela parte, da excessividade da medida,
deixar de corrigi-la:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Introdução: Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional


do processo, bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: diante do teor de outras legislação, apenas o juiz poderá figurar
como autor, possibilitando apenas a participação de outros agentes públicos. Sujeito Passivo:
qualquer pessoa constrangida pela indisponibilidade de bens em valores superiores ao devido.
Conduta: a indisponibilidade de bens é medida cautelar que visa assegurar futura
satisfação de crédito. Porém, como qualquer medida cautelar, é excepcional e deve ser realizada
com total cautela. Assim, pune-se o juiz que, visando prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo
ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal, decreta a indisponibilidade de
ativos financeiros do devedor em quantia muito superior ao valor estimado para a satisfação da
dívida. Ou então, imbuído das mesmas finalidades, após a demonstração de que a medida foi
excessiva, deixa de corrigi-la.
Consumação e tentativa: consuma-se no momento em que, após ter ficado claro que
a medida de constrição foi excessiva, o magistrado deixa dolosamente de corrigir o equívoco.
Sendo crime unissubsistente, não se admite a tentativa.
Exemplo: réu em processo civil é processado pela dívida de R$ 30.000,00 reais. Diante
do pedido de indisponibilidade de bens da parte autora, o magistrado defere o pedido, todavia,
por equívoco, determina medida de indisponibilidade no montante de R$ 300.000,00. Após
manifestação da parte prejudicada, percebendo o grave equívoco, em novo comportamento,
agora com a finalidade de prejudicar ainda mais o réu, o magistrado deixa de corrigir a medida.

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Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que


tenha requerido vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu
andamento ou retardar o julgamento:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Introdução: Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita


aos rigores da Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
o direito de duração razoável do processo a dignidade da pessoa humana. É também protegida
em sentido amplo a Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente público integrante de órgão colegiado de
julgamento (Desembargadores, Ministros, etc.). Sujeito Passivo: qualquer pessoa constrangida
pela demora excessiva.
Conduta: membros de colegiados de julgamento podem pedir vistas de processos
antes de proferirem o voto – especialmente em casos complexos. Porém, não raras vezes
extrapolam (e muito!) os prazos regimentais a bel prazer, ou seja, sem qualquer justificativa
plausível. Essa demora, verdadeira omissão dolosa em muitos casos, configura o presente crime.
Aqui o réu poderá ser prejudicado, mas há casos em que a demora visa beneficiar o próprio réu,
mesmo assim não estará afastada a incidência do crime em estudo pois até nessas hipóteses há
prejudicados: as vítimas e a própria ordem jurídica.
Consumação e tentativa: a consumação exigirá a análise do caso concreto. O julgador
deverá verificar se a demora foi “demasiada” (expressão por demais aberta e sem definição
legal). Sendo assim, inadmissível será a modalidade tentada.
Exemplo: Ministro, visando beneficiar determinado réu e, consequentemente
prejudicar as vítimas e a ordem jurídica, pede vista de processo demorando por meses (até anos)
no respectivo exame visando alcança a prescrição (extinção da punibilidade do réu).

Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação,


inclusive rede social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e
formalizada a acusação:

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Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Introdução: O presente crime havia sido vetado pelo Presidente da República (veto
cassado pelo Congresso Nacional), especialmente sob o fundamento de violação do princípio
constitucional da publicidade, princípio este que norteia a Administração Pública no sentido de
prestação de contas à sociedade.
Trata-se de infração penal de menor potencial ofensivo, ficando sujeita aos rigores da
Lei nº 9.099/95.
Diante da pena mínima, admite-se o benefício da suspensão condicional do processo,
bem como do acordo de não persecução penal.
Bem jurídico tutelado: direitos e garantias fundamentais do indivíduo, especialmente
a imagem e a dignidade da pessoa humana. É também protegida em sentido amplo a
Administração Pública.
Sujeitos: Sujeito Ativo: qualquer agente público responsável por presidir investigação
penal, administrativa ou civil. Sujeito Passivo: qualquer pessoa prejudicada pela divulgação.
Conduta: pune-se o ato de má-fé da autoridade em antecipar-se de forma precipitada
apontando alguém como culpado, mesmo antes do fim das investigações.
Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a divulgação pública, antecipada
e precipitada da identidade de investigado, atribuindo-o culpa.
Exemplo: Delegado de Polícia, diante de um caso de repercussão midiática, visando
beneficiar a si mesmo (quer fama), convoca entrevista coletiva na primeira semana após
instauração de inquérito com réu solto, divulgando a identidade do culpado e afirmando
categoricamente ser ele o culpado pelo respectivo crime.

Procedimento

CAPÍTULO VII
DO PROCEDIMENTO
Art. 39. Aplicam-se ao processo e ao julgamento dos delitos previstos nesta Lei, no
que couber, as disposições do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código
de Processo Penal), e da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

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Muitos crimes previstos nesta lei possuem pena máxima de 2 (dois) anos, figurando
como infrações penais de menor potencial ofensivo. Nesses casos, estão sujeitas ao
procedimento previsto na Lei nº 9.099/95 (Juizado Especial Criminal). São casos em que o
inquérito policial será dispensado e, para o oferecimento da peça acusatória com prova da
materialidade, bastará a aferição do crime por boletim médico ou prova equivalente (art. 77,
§1º, da Lei nº 9.099/95).
Outros delitos, por sua vez, apresentam pena máxima de 4 (quatro) anos, ficando
sujeitas às regras procedimentais previstas no Código de Processo Penal. Todavia, importante
salientar que tais delitos possuem pena mínima de 1 (um) ano, admitindo, portanto, o benefício
da suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei nº 9.099/95).
Para os demais casos, aplica-se subsidiariamente o Código de Processo Penal.

CAPÍTULO VIII
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, e o § 2º do art. 150 e
o art. 350, ambos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal).
Art. 45. Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua
publicação oficial.

Diego Luiz Victório Pureza

Advogado.

Professor de Criminologia, Direito Penal e Legislação Penal Especial em diversos cursos


preparatórios para concursos públicos.

Pós-graduado em Ciências Criminais.

Pós-graduado em Docência do Ensino Superior.

Pós-graduado em Combate e Controle da Corrupção: Desvios de Recursos Públicos.

Palestrante e autor de diversos artigos e obras jurídicos.

Autor do Manual de Criminologia, pela editora Nova Concursos.

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