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SUMÁRIO
LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE (LEI 13.869/2019) ........................................................................................... 2
CONSIDERAÇÕES GERAIS ............................................................................................................................... 2
SUJEITOS DO CRIME .................................................................................................................................. 3
AÇÃO PENAL .............................................................................................................................................. 4
EFEITOS DA CONDENAÇÃO........................................................................................................................ 5
EXERCÍCIOS ........................................................................................................................................................ 6
GABARITO ...................................................................................................................................................... 7

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LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE (LEI 13.869/2019)


CONSIDERAÇÕES GERAIS
A chamada Nova Lei de Abuso de Autoridade surge num contexto importante para
impor balizas e evitar a autoritariedade e arbitrariedade dos Agentes Públicos no âmbito do
Poder Público.

A antiga lei, de número 4898/1965, já se mostrava ultrapassada e, como corolário da


modernização, impôs-se a necessidade de uma reforma no intuito de tornar a norma
contemporânea com a realidade apresentada.

Ademais, é sabido que o arbítrio estatal deve ser coibido na fonte. O Poder Público deve
funcionar como uma ferramenta de controle social, e não um instrumento de abusos e
desrespeito aos direitos e garantias fundamentais.

Esta Nova Lei, embora promulgada em 2019, começou a produzir efeitos no território
nacional em 03 de janeiro de 2020 e, dentre as características gerais, definições e conceitos,
apresenta um rol de 45 condutas consideradas criminosas.

Naturalmente que o exercício de uma função pública deve ser idealizado pelas premissas
constitucionais, priorizando-se a legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência.

Assim, as autoridades que compõem os Poderes da Administração devem ter uma


atuação impecável e norteada sempre pelos princípios regentes.

A criação da nova lei tem por intuito conter os excessos e permitir segurança aos
jurisdicionados.

Dessa forma, o art. 1º da Lei já consagra importantes novidades:

Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos


por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas
funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha
sido atribuído.
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de
autoridade quando praticadas pelo agente com a finalidade
específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a
terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos
e provas não configura abuso de autoridade.

De uma simples leitura, resta evidente que a lei permite que o crime de abuso de
autoridade pode ser praticado por agente público, servidor ou não, que, no exercício das
funções ou a pretexto dela, exceda seu limite de atuação. Além disso, outro ponto importante,
disposto no §1º, diz respeito à finalidade específica do agente em prejudicar alguém ou
beneficiar-se propriamente ou a terceiro ou até mesmo para uma satisfação pessoal.

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A doutrina critica a redação do §1º, na medida em que é dotado de uma subjetividade


que muitas vezes pode ser de difícil demonstração. Carecendo de comprovação ou descrição
por ocasião da inicial acusatória, é possível que a inicial seja rejeitada.

Por derradeiro, o §2º do artigo inaugural estabelece que a divergência na interpretação


ou avaliação de fatos não configura o crime. Dispositivo relativamente desnecessário, tendo
em vista que, com a divergência doutrinária e jurisprudencial saudável, natural que um mero
entendimento, praticado dentro dos limites da lei não configurem conduta ilícita, sob pena de
o direito penal intervir de maneira máxima, na oposição do que de fato é necessário e
recomendado.

Acerca da natureza jurídica do instituto, há debates. Uma corrente sugere que se trata de
causa excludente de ilicitude e outra de que se trata de afastamento do dolo.

A segunda corrente prevalece, tendo em vista que a primeira é derrotada quando se


interpreta que, para considerar causa excludente, deve ter havido previamente um ilícito.

SUJEITOS DO CRIME
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer
agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta
ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo,
mas não se limitando a:
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - membros do Poder Judiciário;
V - membros do Ministério Público;
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta
Lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou
qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput
deste artigo.

Este artigo dispõe de maneira cautelosa quem são as pessoas que praticam o abuso de
autoridade, trata-se, pois, de delito próprio, eis que só podem ser praticados por um grupo
determinado de pessoas, que tenham a condição exigida pelo tipo.

Aqui, verifica-se também um excesso de zelo, pois apenas o caput já tem o condão de
demonstrar o âmbito de aplicação da Lei, sendo desnecessária a imposição dos incisos.

O excesso de zelo também é demonstrado ao longo do parágrafo único, tendo em vista


que repete o conteúdo daquilo que já vinha esmiuçado no art. 327 do Código penal e, ainda,
insiste que, mesmo o agente não estando no exercício da função, ele pode praticar crime,
desde que aja invocando a autoridade/graduação/importância do seu cargo.

Sobre os militares, de se ressaltar que não foram excluídos da prática de crimes, todavia,
deve ser observado de maneira categórica as regras de competência, a fim de se verificar se o

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julgamento se dará perante a justiça comum ou perante a justiça castrense/militar1.


Importante enfatizar que a alteração legislativa fez com que alguns entendimentos sumulados
restassem superados, como ocorreu com a Súmula 172 (“Compete à Justiça Comum Criminal
processar e julgar policial militar acusado da prática de vias de fato e de crime de abuso de
autoridade, eis que não se encontram previstos no Código Penal Militar.”) e 75 (“Compete à
Justiça Comum Estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover ou facilitar
a fuga de preso de estabelecimento penal.”), ambas do STJ. O mesmo raciocínio se aplica à
primeira parte da súmula 6, também do Tribunal da Cidadania (“Compete à Justiça Comum
Estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de trânsito envolvendo viatura de
Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem Policiais Militares em situação de atividade.”)

Neste aspecto, fazemos menção à lição de Renee Souza 2:

“As férias ou licenças não desligam os vínculos jurídicos entre o agente


público e o Estado, razão pela qual, desde que a autoridade se valha do cargo e
cometa algum abuso, pode incorrer na Lei dos Crimes de Abuso de Autoridade.
De outro lado, caso a conduta seja praticada com total desvinculação ao
cargo, em ato ligado essencialmente à vida privada do agente, não há que se falar
em abuso de autoridade.”

Inclusive, nesta mesma seara, o entendimento que prevalece é que o servidor


aposentado não pratica abuso de autoridade, em razão de já ter desvinculado das
funções até então atribuídas.

Em arremate, relativamente aos sujeitos da infração, hodiernamente


considera-se que o advogado, durante suas ocupações habituais e rotineiras, não
pode praticar crime de abuso de autoridade (exceto se atuando nos interesses da
Administração), eis que, conforme julgamento da ADI n. 3.026/DF, o STF entendeu
que a OAB possui natureza jurídica de entidade “sui generis”/ímpar, prestando um
serviço público independente, sem enquadramento nas categorias existentes em
nosso ordenamento jurídico, e sem qualquer vinculação à Administração Direta ou
Indireta.

Ressalvamos também a possibilidade de um particular responder pelo abuso de


autoridade, quando atuar na modalidade de concurso de pessoas, e desde que conheça a
condição pessoal do autor, nos termos do que preconiza o art. 30 do Código Penal.

AÇÃO PENAL
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública
incondicionada.
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for
intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a

1
Avaliar as especificidades dos critérios de competências estabelecidos pela Lei 13.491/2017, que alterou o art. 9º do
Código Penal Militar.
2
SOUZA, Renee do Ó. Comentários à Nova Lei de Abuso de Autoridade. 1. Ed. São Paulo: Juspodivm, 2020, p. 40.

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queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em


todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor
recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante,
retomar a ação como parte principal.
§2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis)
meses, contado da data em que se esgotar o prazo para
oferecimento da denúncia.

Acerca da modalidade da ação penal a ser utilizada para dar início à fase judicial, não
vemos novidades. Isso porque labora com a regra de que as infrações serão judicializadas
através de Ação Penal Pública Incondicionada (independe do preenchimento de condições
autorizadoras) e, no caso de inércia do órgão acusador, dá-se início à persecução penal
através da ação penal substitutiva (ação penal privada subsidiária da pública), ressalvando-se
a contagem do prazo decadencial, que se inicia a partir do decurso do prazo legal do MP.

EFEITOS DA CONDENAÇÃO
Art. 4º São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime,
devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o
valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos por ele sofridos;
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função
pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos;
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput
deste artigo são condicionados à ocorrência de reincidência em
crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser
declarados motivadamente na sentença.

Relativamente aos efeitos da condenação, podemos observar o efeito penal, que consiste
no cumprimento da pena prevista, bem como efeitos extrapenais, que atingem a esfera cível e
a administrativa.

O art. 4º em análise nos traz os efeitos extrapenais decorrentes da condenação. Dentre


eles, apenas o constante do inciso I é o que pode ser aplicado ao indivíduo primário da prática
desta conduta (isso se constata a partir de uma interpretação inversa ao parágrafo único). Os
efeitos, neste caso, são brandos, permitindo ao infrator uma espécie de benevolência para
evitar novas práticas. Na hipótese do inciso I, para que exista a possibilidade de o magistrado
fixar valor mínimo para indenização, deve haver requerimento prévio do ofendido.

Acerca do momento do pedido, embora existam entendimentos no sentido de que este


pode ser feito pelo ofendido (mesmo que não titular do domínio da ação) a qualquer tempo,
desde que seja assegurado o contraditório e ampla defesa, o entendimento predominante,
inclusive em sede de Tribunal Superior, é o de que tal pedido, para que seja valorado e
apreciado pelo juízo, deve constar na inicial acusatória, pena de não poder o juiz fixar valor
para indenização (STJ – AgRg no AREsp 389234-DF, Rel. Maria Thereza de Assis Moura, j. em
08.10.2013, DJe17.10.2013).

Neste exato sentido, o TRF da 4ª Região editou a súmula 131, que menciona: “Para que o
juiz possa fixar o valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração, é necessário

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que a denúncia contenha pedido expresso nesse sentido ou que a controvérsia desta natureza
tenha sido submetida ao contraditório da instrução criminal”.

O inciso II, que só pode ter sua aplicação destinada aos reincidentes, dispõe que o
magistrado pode proibir o condenado de praticar atos da vida pública, estendendo a
“indisponibilidade”, até mesmo ao exercício de mandato. E o período de duração varia num
intervalo de 1 a 5 anos.

Já o inciso III pressupõe o desligamento do infrator da Administração Pública.

Porém, muita cautela! Os efeitos dos incisos II e III somente poderão atingir o indivíduo
nos casos de reincidência e desde que seja declarado expressa e motivadamente na sentença.

EXERCÍCIOS
1. Pessoa jurídica pode ser sujeito ativo do crime de abuso de autoridade

Certo ( ) Errado ( )

Como o rol do art. 2º da Lei 13.869/2019 não menciona, entende-se que


somente a pessoa física, ao que a lei denomina de “agente público”, é que pode
praticar o crime de abuso de autoridade.

2. A representação da vítima é condição necessária para autorizar o processamento do


agente.
Certo ( ) Errado ( )

A representação da vítima não é uma condicionante, tendo em vista que a


ação penal prevista para esta modalidade de crime é a ação penal pública
incondicionada, em que não se exige absolutamente nenhuma condição específica
para o agir do Ministério Público.

3. Pode haver concurso de pessoas com relação ao particular que atua em coautoria com o
agente público, desde que o particular conheça a condição funcional do agente.
Certo ( ) Errado ( )

Nos termos do art. 30 do Código Penal, a elementar subjetiva e comunica


com o agente, desde que tenha conhecimento da condição do autor do fato.

4. Os efeitos extrapenais de inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função


pública, pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos e a perda do cargo, mandato ou função
pública pode ser aplicado para qualquer condenado pelo crime de abuso de autoridade,
inclusive os primários.
Certo ( ) Errado ( )

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Os efeitos extrapenais decorrentes da condenação pelo crime de abuso de


autoridade devem se dar de maneira cautelosa.
As medidas mais gravosas, consistentes na inabilitação para o serviço público
ou mandato e a perda do cargo só podem ser aplicadas aos condenados
reincidentes na prática do abuso de autoridade, e desde que haja motivação idônea
na sentença.

GABARITO
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