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Legislação Extravagante - Lei 13869/2019

Disposições gerais; Dos sujeitos do crime;


Da ação penal - Arts. 1º a 3º
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Legislação Extravagante
Lei 13869/2019 - Disposições gerais; Dos sujeitos do crime;
Da ação penal - Arts. 1º a 3º

Apresentação
Olá alunos,

Sou o Professor Francisco Ubirajara Camargo Fadel das áreas de Direito Penal,
Direito Processual Penal e Legislação Penal Especial. Tenho graduação em Direito pela UFPR,
com especialização em Ciências Criminais e pós-graduação em Direito Processual pelo IBEJ.
Leciono na graduação do curso de Direito, desde 2003, onde também atuei como coordenador
e coordenador adjunto durante quase quatro anos. Ministro aulas para cursos preparatórios
para concursos públicos, presenciais e online, desde 2011. Atuo também como advogado na
área criminal, inclusive Tribunal do Júri.

Sumário

Lei 13869/2019 ............................................................................................................................................ 3

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Legislação Extravagante
Lei 13869/2019 - Disposições gerais; Dos sujeitos do crime; Da ação penal - Arts. 1º a 3º

Lei 13869/2019

Art. 1º Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por agente público, servidor ou não, que,
no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.
Qualquer agente público pode praticar Abuso de Autoridade, mesmo que no momento em que
praticar o delito ainda não esteja exercendo a função.
Toda função pública é atribuída e delimitada por uma norma legal. Essa atribuição e delimitação
funcional configuram a competência do órgão, do cargo, e do agente, ou seja, a natureza da função
e o limite de poder para o seu desempenho. Daí por que, quando o agente ultrapassa esse limite,
atua com abuso ou excesso de poder.
Os poderes administrativos conferidos aos agentes públicos são decorrência do Princípio da
Supremacia do Interesse Público, porém, referidos poderes encontram limitação na medida da
necessidade para que as necessidades públicas sejam atendidas.
Se o agente público desempenhar sua função desrespeitando direitos e garantias fundamentais,
haverá abuso de poder.
O abuso de poder, por sua vez, pode se dar:
a. Excesso de poder: ocorre quando o agente atua fora dos limites de sua competência.
b. Desvio de poder: embora dentro de sua competência, o agente contraria a finalidade geral ou específica
do ato.
§ 1º. As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo agente
com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por
mero capricho ou satisfação pessoal.
Todas as infrações previstas nesta lei são dolosas, porém, para sua caracterização exige-se
um elemento subjetivo especial, ou seja, exige-se um especial fim de agir, isto é, um agir animado,
direcionado, motivado, com a intenção de:
• prejudicar outrem;
• beneficiar a si mesmo ou a terceiro;
• por mero capricho: que nada mais é que uma vontade desprovida de qualquer razão anterior;
• por satisfação pessoal: para agradar interesses pessoais.
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura abuso de autoridade.
Os operadores do Direito usualmente se veem obrigados a interpretar leis e atos normativos,
bem como e a fazer a apreciação de fatos e provas, por isso o § 2º, deste artigo 1º, deixa claro que
a Lei de Abuso de Autoridade não trata de crimes de hermenêutica, divergências na interpretação
da lei ou na avaliação dos fatos e provas.
O dispositivo encontra-se voltado a impedir a ocorrência do chamado “crime de hermenêutica”,
expressão cunhada por Rui Barbosa e que ocorre quando o operador do Direito, em especial, o
Magistrado, é responsabilizado criminalmente pelo fato de sua interpretação ter sido considerada
errada pelo Tribunal revisor.

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Porém, tratando-se de ordem manifestamente ilegal não caberá, a título de argumentação de-
fensiva, valer-se do crime de hermenêutica.
De acordo com renomados estudiosos do Direito, este parágrafo segundo, do art. 1º, da Lei de
Abuso de Autoridade, tem natureza jurídica de excludente de fato típico.

CAPÍTULO II -
DOS SUJEITOS DO CRIME
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração
direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios
e de Território, compreendendo, mas não se limitando a:
I. servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II. membros do Poder Legislativo;
III. membros do Poder Executivo;
IV. membros do Poder Judiciário;
V. membros do Ministério Público;
VI. membros dos tribunais ou conselhos de contas.
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos
pelo caput deste artigo.

Sujeito ativo das infrações previstas na Lei de Abuso de Autoridade


A Lei de Abuso de Autoridade, para conceituar Agente Público, se serviu do disposto na Lei de
Improbidade Administrativa (Lei nº 8.429/1992). Referida Lei conceitua Agente Público como “todo
aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, desig-
nação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou
função nas entidades mencionadas no artigo anterior”.
Trata-se de um gênero.
De início, importante observar que boa parte dos estudiosos entende que Agentes Públicos apo-
sentados não pratica crime de Abuso de Autoridade, tendo em vista estar totalmente desvinculado
funcionalmente.
Importante lembrar que o caput do art. 1º desta Lei deixa claro que o Agente Público pode ser
servidor público ou não e para a prática do crime de abuso de autoridade é desnecessário que o
sujeito esteja no exercício das suas funções, bastando que ele abuse do poder a ele conferido a
pretexto de exercer essas funções.
Assim, Agente Público em sentido amplo, e este é o alcance da Lei, vem a ser todo aquele que
presta qualquer tipo de serviço ao Estado, que exerce funções públicas, no sentido amplo da ex-
pressão, abrangendo, assim, qualquer atividade pública.

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Particulares em colaboração, que vem a ser aquele que colabora com o Estado exercendo função
pública, mas que, porém, não perde a condição de particular, também é alcançado pela Lei de Abuso
de Autoridade.
Podem ser requisitados ou voluntários (também chamados de honoríficos).
• requisitados: são os que são convocados para trabalhar, tal como jurados, mesários etc.
• voluntários: são aqueles que participam espontaneamente junto ao serviço público;
• delegação de função: aqui exige-se a aprovação em concurso público, porém o serviço prestado é privati-
zado. É o que ocorre, por exemplo, nos serviços notariais (art. 236, CF/1988).
Considerando a proibição da utilização da analogia in malan partem, não se admite que os tutores,
curadores, inventariantes judiciais, administradores judiciais, depositários judiciários, diretores de
sindicatos ou quaisquer outros que exerçam os chamados múnus públicos não podem ser sujeitos
ativos isolados dos crimes de abuso de autoridade, salvo a hipótese acima aventada de concurso
de agentes.
No que se refere à determinação da competência para julgamento do fato imputado ao agente
público, remetemos o leitor às considerações introdutórias.

CAPÍTULO III -
DA AÇÃO PENAL
Art. 3º Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada.
§ 1º Será admitida ação privada se a ação penal pública não for intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério
Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do proces-
so, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do querelante,
retomar a ação como parte principal.
§ 2º A ação privada subsidiária será exercida no prazo de 6 (seis) meses, contado da data em que se esgotar o
prazo para oferecimento da denúncia.
De acordo com o texto legal, todas as infrações previstas neste diploma devem ser apuradas
através da propositura de ação penal pública incondicionada, cabendo privativamente ao Ministério
Público o exercício de referido direito de ação, nos termos do art. 129, I, da CF/1988.
Assim, conforme art. 46 do CPP, recebidos os autos de inquérito policial, independentemente de
qualquer manifestação da vítima ou de seu representante legal, terá o órgão do Ministério Público,
o prazo de 5 (cinco) ou 15 (quinze) dias para oferecer a denúncia, caso esteja o acusado preso ou
solto, respectivamente.
Evidentemente, se entender que ainda não há elementos suficientes para o exercício do direito
de ação, poderá o representante do Ministério Público, ao invés de oferecer denúncia, requisitar
novas diligências à autoridade policial.
Poderá, ainda, noutra vertente, nos termos da novel redação do art. 28 do CPP, promover o arqui-
vamento das peças de informação, cumprindo-lhe comunicar à vítima, ao investigado, bem como à
autoridade policial e, sequencialmente, encaminhar os autos à instância de revisão ministerial para
fins de homologação, na forma da lei (redação do art. 28 do CPP, conforme Lei n. 13.964/2019).
Outra alternativa que lhe compete é requerer a declinação de competência.

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Porém, caso deixe escoar integralmente o prazo legalmente fixado e não tome qualquer das
atitudes acima elencadas sem justificativa para referida inércia, poderá o ofendido ou seu represen-
tante legal, no prazo decadencial de 6 (seis) meses, contados do término do prazo para o regular
oferecimento da denúncia, propor ação penal privada subsidiária da pública.
a ação penal privada subsidiária da pública somente poderá ser ajuizada em caso de inércia
injustificada do representante do Ministério Público, não servindo como instrumento para que o
ofendido discorde da providência tomada pelo Parquet.

Enfatizando:
A ação penal privada subsidiária da pública somente poderá ser ajuizada em caso
de inércia injustificada do representante do Ministério Público, não servindo como
instrumento para que o ofendido discorde da providência tomada pelo Parquet.

Confira o julgado abaixo:


A ação privada subsidiária da pública só é possível quando o Órgão Minis-
terial se mostrar desidioso e não se manifestar no prazo previsto em lei.
Se o Ministério Público promove o arquivamento do inquérito ou requer o
seu retorno ao delegado de polícia para novas diligências, não cabe queixa
subsidiária; se oferecida, a rejeição se impõe por ilegitimidade de parte,
falta de pressuposto processual da ação. (STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp
1049105/DF, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/10/2018).

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